38
PRIMEIRA PARTE: REFLEXÕES SOBRE A ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA
aberta na sua própria essência e exige a participação do leitor para ser completada.
É ele que vai descobrir ou inventar simbolismos, entrelinhas, associações não explícitas.
Há sempre um segundo sentido, um terceiro, um enésimo sentido.
Vista deste modo, não difere da boa arquitetura, repleta de componentes cuja função não é unicamente o uso
prático, e que estão situados no nível simbólico, expressivo.”
12
Compreendendo que tanto a crítica como a arquitetura, não são ciência, poderemos analisar algumas
armações inseridas em seus próprios contextos. O próprio Kenneth Frampton no mesmo trabalho, anteriormente
citado, arma sobre a arquitetura moderna: “ Em sua preocupação bem intencionada, mas as vezes equivocada,
de assimilar realidades ligadas a técnicas e processos do século XX, a arquitetura adotou uma linguagem em que a
expressão reside quase inteiramente em componentes secundários técnicos, como rampas, caminhos, elevadores,
escadas, escadas rolantes, tubulações e lixeiras”.
13
Me parece um exemplo claro de enorme redução do universo da arquitetura moderna, colocado logo na
introdução do livro, com entonação conclusiva, mesmo que depois de forma contraditória, no desenvolvimento de seu
trabalho ao analisar a produção cronologicamente e de forma segmentada, o mesmo demonstre análises diversas
de sua conclusão inicial. Esta postura subestima o esforço de diversas gerações de interpretar as transformações
de seu tempo, procurando criar novos programas, desenvolver novas técnicas, novos espaços, nova relação entre o
espaço urbano e o objeto construido, nova relação entre o espaço interior e o exterior, nova escala adaptada a nova
ideologia e outras questões, muito mais signicativas do que a redução apresentada pelo crítico.
Existem interpretações menos redutoras , como a de Josep Maria Montaner, de caráter essencialmente
losóco, “ Em grande parte das obras do movimento moderno tentou-se sugerir uma associação, mesmo de forma
inconsistente entre a forma e a política, a partir do ponto de vista ético. Assim, a transparência das fachadas,
conseguida com a estrutura independente e as paredes de vidro, é comparável à honestidade; a planta livre, a
12 João Rodolfo STROETER. Arquitetura e teoria, 1986,p.37.
13 Kenneth FRAMPTON. História crítica da arquitetura moderna, 2003, p 21.