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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Tatiana Brocardo de Castro
Jovens Blogueiras - Um Estudo Sobre Identidades Juvenis na Internet
Canoas
2006
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Tatiana Brocardo de Castro
Jovens Blogueiras - Um Estudo Sobre Identidades Juvenis na Internet
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Luterana do Brasil como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Educação.
Orientadora: Profª. Drª. Rosa Maria Hessel Silveira
Canoas
2006
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Bibliotecária Responsável: Claudia Petinelli Souza CRB10/1647
C355j Castro, Tatiana Brocardo de
Jovens blogueiras: um estudo sobre identidades juvenis na
Internet. / Tatiana Brocardo de Castro; orientadora Drª. Rosa Maria
Hessel Silveira. – Canoas: ULBRA, 2006.
146 p.
Dissertação (Mestrado em Educação) – ULBRA, Programa
de Pós Graduação em Educação.
1. Identidade. 2. Autonarrativas. 3. Juventude. 4. Blog.
5. Internet. I. Título.
CDU 37: 004.738.5
Tatiana Brocardo de Castro
Jovens Blogueiras – Um Estudo Sobre Identidades Juvenis na
Internet
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Luterana do Brasil como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Educação.
Comissão Julgadora
Profª. Drª. Rosa Maria Hessel Silveira (Orientadora)
_________________________________________________________
Profª. Drª. Cristianne Famer Rocha (Professora PPGEDU - ULBRA)
_________________________________________________________
Profª. Drª. Elisabete Maria Garbin (Professora PPGEDU - UFRGS)
_________________________________________________________
Profª. Drª. Marisa Vorraber Costa (Professora PPGEDU - ULBRA)
_________________________________________________________
Aprovado em 09 de Out. de 2006
Dedicatória
Aos meus pais, por sempre acreditarem em mim, pelo amor,
pelo carinho, dedico-lhes essa conquista como gratidão.
Mãe, pela paciência, pelos cafés, pelas comidinhas gostosas,
pela parceria, pelo incentivo de sempre...
Pai, pelos desafios que me colocaste desde o início do
mestrado, de lutar sozinha muitas vezes, quando ficaste
doente.
Aos meus verdadeiros amigos, que estiveram ao meu lado em
todos os momentos desta caminhada, tiveram paciência
comigo e souberam entender as minhas ausências.
A Deus pela sua mão amiga nas horas mais difíceis em que
sempre esteve ao meu lado.
Agradecimentos
Agradeço o acolhimento no final desta caminhada à minha
querida orientadora, Profª. Rosa, pelas orientações
maravilhosas, sem as quais não teria chegado até aqui;
Agradeço a meus professores que sempre souberam me
sinalizar os caminhos nesta empreitada;
Agradeço aos meus colegas pelas discussões acadêmicas,
apoio e estímulo.
[...
] Cyber concerto de rock, cyber namoro, cyber bate papo, cyberfesta,
cyber fanzine, cyber publicação, cyber vida. Nada demais. Para muitos,
parte do cotidiano. Apenas mais uma extensão do homem. Os jovens
(de todas as idades) hoje tem uma cyber comunidade no espaço
eletrônico da Internet. Utilizam os fios da aldeia global para fazer ecoar
suas impressões de viagem, seus gritos de alegria e dor, seus protestos
e suas festas, sua alegria juvenil. Os jovens não se preocupam em
definir se estão no mundo virtual ou real. Da sua forma vão
configurando esta tão falada e discutida cyber sociedade, de forma
tranqüila, sem assombros, sem complexos de caramuru
1
. Apenas
ocupam um (cyber) espaço social e utilizam sem maiores
perplexidades, de forma lúdica uma técnica que encontram ao seu
dispor. É um processo ainda em estágio inicial, mas não menos
interessante que os dos jovens dos anos 50, que usaram as extensões
tecnológicas disponíveis então: discos de Elvis Presley e Chuck Berry,
toca discos, televisores, salões de baile, rádios, carros modelo rabo de
peixe, estradas e, guitarras elétricas. Esperamos que nossa (cyber)
festa seja tão boa quanto a deles. (MILITÃO apud PELLANDA, 2000, p.
204).
1
Relativo ao assombro que os índios brasileiros teriam demonstrado ao ver o funcionamento do
arcabuz – um aparato então desconhecido – de um navegante português, na época do
descobrimento. Ao medo que certas pessoas tem das novidades tecnológicas a que se tem acesso
nesta época atual e das alterações que elas podem introduzir em seus cotidianos – mesmo que para
melhor...(MILITÃO apud PELLANDA, 200, p. 204).
RESUMO
Entendendo que as representações das identidades podem ser múltiplas e
cambiantes e que se evidenciam também nas práticas de escrita íntima que se
observa nos blogs, comumente chamados de “diários íntimos da internet”, este
trabalho tem como objetivo investigar as representações das identidades das jovens
blogueiras que escrevem nesse gênero virtual de escrita íntima. O trabalho tem
como base teórica os Estudos Culturais em Educação e os estudos sobre
Cibercultura e utilizou como material de análise quatro blogs de jovens brasileiras na
faixa etária suposta entre 10 e 18 anos. Outro critério de escolha foi o de selecionar
blogs de blogueiras de diferentes regiões geográficas brasileiras, devido à riqueza
possível vinda desta dispersão. Foram coletados todos os posts dos quatro blogs no
período de dois meses. Assume-se a hipótese de que a escrita íntima em blogs
emerge em meio às múltiplas possibilidades de representações das identidades
juvenis, através da exposição pública do universo da intimidade, em narrativas sobre
as atividades diárias do cotidiano. Do nosso ponto de vista, a forma como é
representado o universo juvenil na escrita íntima destas blogueiras é caracterizada
pela relação que estabelecem com o leitor, através da publicização de si. Tal relação
se estabelece num espaço em que também se constituem e expressam identidades,
a partir da “escrita de si” e compartilhamento com o outro. Esta prática recente de
escrita íntima nos blogs é associada aos diários íntimos do passado, mas comporta
uma forma de escrita diferenciada, que se dá através da conjunção de textos verbais
escritos, em uma linguagem típica da internet, e de textos imagéticos, de imagens
capturadas da própria Rede. Entendemos que esta é uma forma destas jovens
blogueiras expressarem as suas representações do universo escolar, família,
amigos, preferências musicais, muito mais do que a busca da espetacularização.
Entre os vários achados da análise, encontraram-se identidades juvenis em que o
universo escolar adquire importância, através das constantes narrativas relativas a
escolas, professores, tarefas escolares, e em que o mundo do consumo não se
mostrou de forma tão evidente. Esta análise aponta, portanto, para a necessidade
de considerar a multiplicidade das identidades juvenis na contemporaneidade,
fugindo ao estereótipo e à simplificação.
Palavras-chave: Identidade, autonarrativas, juventude, blog, internet.
ABSTRACT
Understanding that representations of identities may be multiple and interchangeable
and that are also evinced in the intimate writing practices which are observed in the
blogs, usually called ‘intimate diaries on the Internet’, this thesis has as its objective
investigating representations of identities of young bloggers who write in this virtual
class of intimate writing. The work is theoretically based on the Cultural Studies in
Education and studies of cyberculture, and has used as analysis material four blogs
by Brazilian girls between 10 and 18 years old. Another way of choosing the blogs
was by selecting blogs by girls from different places in the country as for the possible
richness coming from this diffusion. All posts in the four blogs during two months
were collected. The assumption is that the intimate writing in blogs emerges among
the multiple possibilities to represent the young identities through the public exposure
of the intimate world in narratives about daily activities. From our point of view, the
way in which the young world is represented in these bloggers’ intimate writing is
characterised by the relationship they establish with the reader through their own
publicising. This relationship occurs in a space in which also identities are shaped
and told, from ‘self-writing’ and sharing with the other. This recent practice of intimate
writing in blogs is associated with early intimate diaries but constitutes a different kind
of writing enabled by way of written verbal texts in a typical Internet language and
imagetic texts, images captured the Web. We understand that this is a way these
bloggers use to express their representations of the school, family, friends and
musical preferences. Among the several findings, we have found young identities
where the school is significant through the narratives about school, teachers,
homework, and where the consumer’s world was not showed that clearly. Thus this
analysis points towards the need to consider the multiple contemporary young
identities escaping from the stereotype and reduction.
Keywords: identity, self-narratives, youth, blog, Internet
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: As empresas entram no bloosferap 37
Figura 2: Blog é Coisa Séria 38
Figura 3: Bem Perto dos Fãs 39
Figura 4: Nova Mania Leva Vídeos a Diários Virtuais 40
Figura 5: A Descoberta do Blog 41
Figua 6: Atualize seu Blog na Mesma Hora que Você Atualizar sua Vida
42
Figura 7: Tela Inicial do Site da Vivo Moblog
43
Figura 8: Figura capturada no blog: Pink and Black 48
SUMÁRIO
1 A CAMINHADA ATÉ O OBJETIVO DA PESQUISA 11
2 ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE A CIBERCULTURA
19
2.1 CIBERESPAÇO
21
2.2 TÉCNICA E CIBERCULTURA: IMPLICAÇÕES NAS PERCEPÇÕES DO
ESPAÇO E DO TEMPO NA PÓS-MODENIDADE 23
3 OS BLOGS E A CIBERCULTURA
30
3.1.1 DESCRIÇÃO DOS BLOGS
32
3.2 DIFERENTES TIPOS DE BLOGS 35
3.3 BLOGS: UM NOVO TIPO DE TEXTO? 43
4 PROBLEMA DA PESQUISA E OS CAMINHOS DA INVESTIGAÇÃO 50
4.1PROBLEMA DA PESQUISA 50
4.2 BUSCANDO O MATERIAL – ESCOLHA DE BLOGS 52
4.3 ANALISANDO – FORMAS DE INVESTIGAÇÃO 60
5 CULTURA E IDENTIDADE 62
5.1 IDENTIDADE E INTERNET 62
5.2 CULTURA JUVENIL 68
6 ANALISANDO DIMENSÕES DA IDENTIDADE 73
6.1 A ESCOLA 73
6.2 O EROTISMO NA SALA DE AULA
90
6.3 A INTIMIDADE DE OS SENTIMENTOS
93
6.4 A ESTÉTICA – GIFS – TEMPLANTES PREMIAÇÕES
117
6.5 A MÚSICA
128
7 FECHANDO O TRABALHO
133
REFERÊNCIAS
138
12
1 A CAMINHADA ATÉ O OBJETO DE PESQUISA
O caminho que percorri para chegar até o Mestrado em Educação talvez
tenha sido parecido com o de muitas outras pessoas que trabalham na área e
aspiram desenvolver estudos de mestrado. É possível dizer que foi parecido, porém
não igual, já que em minha trajetória muitas foram as experiências que se tornaram
apenas minhas, devido à forma como me interpelaram e me constituíram.
Acredito que um bom momento para começar a descrever minha trajetória
seja iniciar pelo ano de 1996, no qual comecei minha graduação. O curso escolhido
foi Pedagogia, com habilitação em Orientação Educacional, por entender que essa é
uma profissão que oferece a possibilidade de trabalhar com assuntos relacionados
ao entendimento do ser humano e à compreensão de como alguns modos de vida
atuam na formação desse nos âmbitos pessoal, social e educacional.
Devido à minha atuação profissional no Serviço de Orientação Educacional,
tenho contato diariamente com alunos, pais e professores, em diferentes situações
que ocorrem dentro da escola. Nos atendimentos que realizo, é possível perceber os
diferentes contextos e experiências de vida destes, oportunizando assim a
observação das influências que a cultura como um todo tem sobre a vida deles. A
partir desta convivência, venho sendo interpelada por diferentes situações, as quais
têm me levado a refletir sobre algumas questões que atravessam a escola, o
sistema educativo, a sala de aula, o momento do recreio, a sala dos professores e
todas as inquietações que o papel de orientadora pode causar. Uma das principais
queixas que chegam até mim, sendo recorrentes em diferentes contextos da escola,
é a questão que se entende como o impacto
2
da cultura digital
3
que interpela
2
Utilizo a palavra impacto, por considerá-la coerente neste contexto, porém Lévy (1999) coloca
que as tecnologias não têm o poder de gerar algum impacto, “comparável a um projétil (pedra,
obus, míssil?) e a cultura ou a sociedade a um alvo vivo...” (p. 21).
13
também as crianças e os jovens; observo que tanto pais quanto educadores vêm
considerando a televisão e, mais recentemente, o uso do computador como mais um
dos problemas de que a escola também deve dar conta.
Observo que as queixas mais freqüentes estão relacionadas ao uso que os
jovens estão fazendo da televisão, do computador (considerando os diferentes usos
da internet
4
), do celular, do vídeo game, do walkman e mais recentemente do iPod
5
,
um aparelho usado para a reprodução de músicas retiradas da internet. Tais
artefatos
6
têm gerado um campo de tensão entre estas duas gerações: de um lado
estão os pais que se queixam das poucas horas que seus filhos dedicam aos
estudos para passar horas na frente da televisão, do computador ou com os fones
nos ouvidos ouvindo música. Para os pais, os filhos estão a cada dia mais isolados
do mundo à sua volta, e eles se sentem impotentes para regular o uso que seus
filhos fazem destes artefatos. De outro lado, estão os filhos e alunos que consideram
tanto pais quanto professores desatualizados em relação a esta cultura digital.
Quanto aos professores que atendo, alguns também responsabilizam a
televisão e a internet pelo aumento do consumismo dos alunos, por um possível
desinteresse pelos estudos, pelas poucas horas de sono, por um desligamento cada
vez maior dos assuntos tratados em sala de aula, etc. A forma como estas
3
Um dos conceitos utilizado para definir a cultura digital foi elaborado por Costa (2003, p. 9); ele faz
referência às novas tecnologias, surgidas no final do segundo milênio, que permitiriam novas formas
de acesso ao conhecimento: os computadores pessoais, a internet, os telefones celulares, os
palmtops e a tv digital. O autor (op.cit) discute as mudanças de hábitos dos indivíduos e afirma que
estas tecnologias não estariam apenas afetando “suas vidas num contexto estritamente tecnológico,
mas também alcançam as zonas mais amplas de uma autêntica cultura digital”. Aprofundarei este
tema no capítulo 02.
4
O programa de browser world wide web, que permite a navegação tal como fazemos hoje e que foi
o propulsor da popularização da rede, foi criado por Berners-Lee, cientista britânico do CERN,
durante suas horas livres. O “www” ou “w3” – como é conhecido – obteve êxito devido à sua
qualidade de facilitar enormemente a transferência de textos em modo de gráficos e imagens, o que
tornou a rede muito atrativa (cf. MACHADO, 2002).
5
Conforme Clebsch (2006) o nome iPod refere-se a uma série de players de áudio individual digital
projetados e vendidos pela Apple Computer. Os aparelhos da família iPod oferecem uma interface
simples para o usuário, centrada no uso de uma roda clicável, ou click Wheel. Como a maioria dos
players portáteis digitais, o iPod pode servir como um armazenador de dados quando conectado a um
computador.
6
Para Fabris (2000): “artefato cultural é aquele objeto que possui um conjunto de significados
construídos sobre si”. Kellner (1995, p.127) explica que “a análise de artefatos culturais familiares
pode demonstrar a natureza social e culturalmente construída da subjetividade e dos valores, de
como a sociedade constrói algumas atividades como tendo valor e como sendo benéficas, enquanto
desvaloriza outras”.
14
pedagogias culturais
7
estão interpelando a sociedade é, atualmente, discutida em
diversas áreas do conhecimento e algumas escolas já vêm realizando ciclos de
palestras e eventos que estabelecem como um dos focos de discussão a
constituição das juventudes e o mundo virtual. Neste sentido, a autora Garbin (2005,
p. 2), que pesquisa as manifestações culturais da juventude, aponta:
Das revoluções culturais do nosso tempo, a emergência da
chamada 'cultura da mídia' - incluindo-se nela as tecnologias virtuais - em
sua dimensão global, resulta numa espécie de mix cultural sustentado pelas
diferenças nas condutas de jovens em suas práticas culturais que podem
ser constatadas em grupos diversificados em uma mesma sala de aula.
Somos interpelados incessantemente por símbolos do consumo que, ao
mesmo tempo em que nos constituem dessa ou daquela maneira, acabam
sendo ressignificados a todo o momento. Logo, se problematizarmos o
conceito de juventude(s) com as lentes da cultura, podemos ver tais
juventudes como, no mínimo, comunidades de estilos, atravessadas por
identidades de pertencimento, desde o look de suas vestimentas e
adereços, incluindo aqui estilos musicais, comportamentos, gírias, atitudes
corporais, etc.
Impulsionada por estas inquietações profissionais, comecei a procurar, após
finalizar minha graduação, por um curso de especialização que contemplasse, em
seu currículo, de uma forma mais ampla, uma discussão, na área educacional, dos
usos das mídias, discussão diferente daquela que conhecia até então. Foi assim que
fui me construindo e desconstruindo para chegar ao meu atual objeto de pesquisa,
considerando que, conforme Bujes (2002, p.14):
A pesquisa nasce sempre de uma preocupação com alguma
questão, ela provém, quase sempre, de uma insatisfação com respostas
que já temos, com explicações das quais passamos a duvidar, com
desconfortos mais ou menos profundos em relação a crenças que, em
algum momento, julgamos inabaláveis. Ela se constitui na inquietação.
Todos estes desconfortos e dúvidas me levaram a cursar a especialização
em Pedagogias do Corpo e da Saúde na Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), no ano de 2003, quando comecei a olhar o mundo através de outras
lentes, porque a linha de pesquisa da especialização era fundamentada nos Estudos
7
Conforme Silva (2000) a pedagogia cultural “é na nomenclatura de analistas como Shirley Steinberg
e Henry Giroux, inspirada nos Estudos Culturais, qualquer instituição ou dispositivo cultural que, tal
como a escola, esteja envolvida – em conexão com relações de poder – no processo de transmissão
de atitudes e valores, tais como o cinema, a televisão, as revistas, os museus, etc”.
15
Culturais
8
em educação. Meu objeto de estudo inicial era a TV e os atravessamentos
desta na educação, porém ainda era muito difícil eu conseguir fazer uma outra
leitura destes; naquele momento minhas idéias eram as mesmas dos pais e
professores que atendia; não tinha ainda este outro olhar. Aos poucos fui
compreendendo que existiam várias e diferentes análises relacionadas à TV, e que
no campo dos Estudos Culturais os recortes que vinham sendo realizados por
diversos pesquisadores eram bem mais amplos do que eu imaginava até aquele
momento. Dentro desta perspectiva, uma das pesquisas que Fischer (2001) realizou
não tinha, segundo ela, como objetivo linear, trabalhar o discurso
9
da violência na
mídia ou da erotização infantil. Para ela, “tais temas certamente são importantes,
mas recusamos o entendimento vertical e linear dos processos culturais”. Em tal
pesquisa, ela conclui:
Não há dúvidas, por exemplo, de que a TV seria um lugar
privilegiado de aprendizagens diversas; aprendemos com ela desde formas
de olhar e tratar nosso próprio corpo até modos de estabelecer e de
compreender diferenças de gênero (isto é, de como “são” ou “devem ser”
homens e mulheres), diferenças políticas, econômicas, étnicas, sociais,
geracionais. As profundas alterações naquilo que hoje compreendemos
como “público” ou “privado” igualmente têm um tipo de visibilidade especial
no espaço da televisão e da mídia de um modo geral (p. 16).
Após cursar a disciplina com a autora acima mencionada, fui
compreendendo aos poucos que não era só a televisão, o computador e os vídeos
games que estavam perpassando o currículo da escola, uma vez que as
“aprendizagens diversas”, que ocorrem através de outras vivências das quais fala
Fischer (2001), podiam ocorrer em outros espaços.
Esta caminhada foi árdua; sair de um discurso cartesiano
10
no qual havia
me formado e tentar compreender os novos conceitos discutidos na especialização,
8
Esta linha de pesquisa em Estudos Culturais está fundamentada na teoria britânica que se ocupa
em estudar as práticas culturais a partir da produção cultural da sociedade.
9
A autora (op.cit) utiliza a palavra discurso baseando-se nas discussões realizadas por Foucault
(1993, p. 96) que explica: “É preciso admitir um jogo complexo e estável em que o discurso pode ser,
ao mesmo tempo, instrumento e efeito de poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e
ponto de partida de uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz poder: reforça-o, mas
também o mina, expõe, debilita e permite barrá- lo”.
10
O pensamento cartesiano está ancorado nas idéias do filosofo francês René Descartes (séculos
XVI e XVII). Para ele, as análises dos modelos de existência da cultura, do homem e da sociedade se
davam através do modo científico: através da ciência tudo é possível explicar; a ciência seria um novo
Deus, o destino da ciência é onipotência.
16
buscar entender o significado do enunciado proferido por quase todos os
professores do Programa: “somos todos socialmente construídos”, aceitar que tudo
aquilo que até então me parecia pertencer a esta ou aquela visão cultural
hegemônica e unitária passava a pertencer a várias categorias de análises, e que
dentro dos Estudos Culturais aprendemos a ter este outro olhar sobre a cultura
11
não
foi fácil. Neste sentido, Costa (2000, p. 1) argumenta que:
Hoje em dia vem tomando corpo um conjunto de novas formas de
problematizar a educação, entre elas, as que empreendem uma
desconstrução das assertivas da modernidade, admitidas como
sustentáculo de uma razão unitária, mediadora e reguladora de todos os
discursos.
No decorrer da especialização, fui ampliando meu olhar, e deixando de lado
a visão binária
12
que eu tinha dos artefatos culturais; compreendi que, como
educadora, deveria me interessar em entender a lógica do discurso cultural que se
fazia da cultura digital, cultura da mídia, cultura visual
13
.
Ainda durante o curso, na disciplina: Pedagogias da Infância e da Juventude
tive acesso ao artigo: Cultur@s juvenis, identid@des e Internet: questões atuais, de
Garbin (2003) em que a autora discutia o uso que os jovens estavam fazendo dos
blogs
14
e outros serviços disponíveis na internet, analisando a relação destes com
a cultura e apontando a possibilidade do uso destes como uma modalidade de
lazer juvenil. Ao assistir a um grupo de colegas discutir sobre o texto, fui me
11
Silva (2000, p. 32) afirma que a expressão tem diferentes conotações e sentidos nas diferentes
vertentes da teoria educacional crítica e pós-critica. E que “na teorização introduzida pelos Estudos
Culturais, sobretudo naquela inspirada pelo pós-estruturalismo, a cultura é teorizada como campo de
luta entre os diferentes grupos sociais em torno da significação. A educação e o currículo são vistos
como campos de conflito em torno das duas dimensões centrais da cultura: o conhecimento e a
identidade”. Hall (2003, p. 70) destaca que a instituição de significados se dá nos diferentes
momentos ou práticas do que ele denomina o circuito da cultura – na construção da identidade e na
delimitação da diferença, na produção e no consumo bem como na regulação das condutas sociais.
Assim os Estudos Culturais ocupam-se com a cultura como campo de lutas em torno do significado.
12
Silva (2000, p. 85) explica que: “Segundo Jaques Derrida, grande parte do pensamento filosófico
ocidental organiza-se em torno de oposições binárias tais como natureza/ cultura, escrita/ voz,
masculino/ feminino, nas quais um dos termos é privilegiado relativamente ao outro”.
13
Mirzoeff (1999) aponta a cultura visual como um campo fluído e sujeito a debates, que se dedica a
discutir os eventos visuais em que a informação, os significados e os prazeres são vistos pelo
consumidor em uma interface com a tecnologia visual, esta entendida pelo autor, como qualquer
forma de aparato visual projetado para ser olhado ou para ampliar as capacidades da visão, desde
uma pintura a óleo, passando pela televisão até a internet.
14
A autora explica que a palavra Blog é derivada de weblog, ferramenta na internet que permite a
qualquer usuário se cadastrar e ter um espaço próprio para escrever o que quiser. Este tema será
mais desenvolvido no capitulo 3
.1.1.
17
interessando pelo assunto e ampliando o entendimento desta nova modalidade
cultural. Foi então que os weblogs ou simplesmente blogs, ou diários pessoais
publicados na internet se tornaram o meu tema de pesquisa para a elaboração da
monografia final do curso. Passei a perceber que meu interesse estava além da
questão da televisão; naquele momento interessava-me estudar sobre esta nova
prática de cultura juvenil. Afinal, a cultura juvenil é um dos focos das minhas
inquietações profissionais, que abarca inúmeras práticas. Meu problema de pesquisa
então foi discutir se os blogs
15
, considerando aqueles usados como diários íntimos
16
poderiam ser considerados como um novo tipo de lazer juvenil. Minha pergunta
inicial foi: “O tempo gasto pelos jovens na criação e manutenção de seus blogs pode
ser considerado como um novo tipo de lazer juvenil”?
O título da minha monografia
17
foi: Lazer e Educação: Relação a partir dos
Estudos Culturais. O recorte que realizei foi o de analisar a possibilidade da escrita
íntima nos blogs
18
como uma das modalidades de lazer juvenil. Parti então para a
leitura das análises relacionadas ao lazer e, para ter mais clareza e precisão do meu
objeto de pesquisa, pesquisei e analisei o tema à luz de vários campos disciplinares.
É importante ressaltar que os Estudos Culturais não se ocupam especificamente do
tema do lazer, mas o estudam enquanto uma das transformações no conceito de
cultura.
Em meus estudos para a elaboração da monografia, constatei que segundo
Rybczynski (2000) o comércio do lazer teve início na primeira metade do séc. XVIII,
quando os comerciantes europeus da época promoveram o crescimento da música,
teatro, cinema, jornais, revistas, alguns tipos de jogos e esportes ligados a apostas e
competições. Nesta época estas atividades eram consideradas especificamente
como lazer, e não como uma forma de cultura. Posteriormente, com os avanços da
indústria e a conquista das horas de não trabalho, a forma de viver das pessoas foi
15
Através do site de busca do google cheguei ao primeiro site que acessei sobre os blogs
http://blogger.com/index.isp. Neste é possível ler os últimos blogs atualizados, ou ainda conferir os
dez blogs que mais chamaram a atenção dos que gerenciam este site na última semana.
16
A escrita íntima tornou-se um dos possíveis usos que vem sendo realizados pelos usuários dos
blogs: existem vários deles em que os seus autores os utilizam para contar sua vida privada.
Explorarei este tema no capítulo 6.0.
17
Monografia apresentada ao Programa de Especialização em Pedagogias do Corpo e da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do título de
Especialista em Pedagogias do Corpo e da Saúde.
18
alterada e a sociedade passou a se organizar não só em função do trabalho, mas
também em função do lazer. Nesse contexto, surgiram novas maneiras de viver,
instituindo um novo discurso, de acordo com as novas configurações sociais da
época. As leituras que então realizei me levaram à observação de que o lazer é um
tema muito estudado por outras áreas do conhecimento sob diferentes perspectivas.
Especificamente em relação aos blogs, entretanto, como uma nova
possibilidade de lazer juvenil, encontrei até aquele momento somente uma
consideração. Em um artigo, Garbin (2003), aponta que a respeito dos chats,
È importante salientar como os eixos de identificação em todos os
chats analisados que aqui menciono estão relacionados de uma ou outra
forma com o espaço de lazer, e não com espaços de obrigação – “escola,
estudo e, eventualmente, trabalho” (se é que os internautas trabalham
segundo uma concepção usual). A Internet e os chats localizam-se já neste
espaço de lazer, e os tópicos neles tematizados também gravitam em torno
do lazer, do “não-obrigatório”. (p. 130)
Através da revisão bibliográfica que então realizei, observei que o meu
objeto de pesquisa sinalizava para inúmeras dimensões encontradas no ato de
escrever em um diário virtual, ou postar
19
, utilizando aqui a linguagem da internet, e
que apenas tentar classificar (ainda no sentido de uma visão cartesiana) os blogs
como um tipo de lazer não era suficiente.
Concluí a monografia com vários questionamentos, mas sem nenhuma
resposta, o que, depois, no decorrer do mestrado, fui entender que não encontraria.
Meus questionamentos naquele tempo foram: Afinal qual o significado que tem para
um jovem escrever, diariamente no seu blog? E para quem lê? Qual o objetivo? Qual
a expectativa de ambos?
Algumas conclusões - mesmo provisórias - que então encontrei apontavam
para uma ampla discussão em torno da utilização que os jovens estavam fazendo
deste meio não somente em relação ao lazer, mas também em relação às novas
práticas de culturas juvenis. Fiquei com mais dúvidas que já tinha, e com o objetivo
de dar continuidade a esta pesquisa, sobre a utilização dos blogs pelos jovens, foi
18
Um dos blogs que utilizei para análise está disponível em: http: //www. Patisinha. Blogger. com. br/
index.html.
19
Post é um bloco de texto escrito e enviado para o sistema da internet (KOMESU, 2005, p. 45),
termo que também adotei no corpo desta dissertação. Postar é enviar um post.
19
que ingressei no mestrado em Estudos Culturais em Educação, que segue a mesma
linha de pesquisa da minha especialização. Durante as disciplinas cursadas ao
longo destes dois anos de mestrado, fui compreendendo vários e riquíssimos pontos
de vista em relação a: cibercultura, cultura visual, consumo, disciplinamento, escola,
identidades, juventude, modernidade, pós-modernidade, tempo, espaço, dentre
outros.
Entendendo que, na área educacional, somos interpelados também pelo
impacto destes novos arranjos sociais, observando cotidianamente em nossos
alunos a modificação de alguns hábitos como, por exemplo, em relação à escrita que
utilizam na internet, a forma como se relacionam com estas novas tecnologias, os
namoros virtuais, a escrita em diários íntimos, o pertencimento a comunidades como
o Orkut
20
, os cursos de ensino a distância (EAD), as pesquisas na internet entre
outros tantos usos possíveis para as ferramentas que a rede mundial de
computadores oferece. Continuei com o objetivo de seguir pesquisando sobre este
tema, devido às mudanças que estão presentes no dia -a- dia da escola, alterando a
forma de aprender e as relações sociais que estas implicam, tornando-se assim
necessário discutir no meio acadêmico estas possíveis transformações, no sentido
de auxiliar o entendimento destas de forma mais aprofundada. Desta forma, penso
ser importante analisar as possíveis representações das identidades juvenis nos
diários virtuais, para uma melhor compreensão da sociedade da informação na qual
este jovem está inserido.
20
Na reportagem veiculada na revista Veja em Abril de 2006, Marthe (p. 67) explica que o Orkut é um
site de relacionamentos onde é permitido ao usuário criar seu perfil “e uma rede de amizades virtuais,
onde seus usuários participam de comunidades de discussão, trocam mensagens e exibem fotos”.
20
2 Alguns apontamentos sobre a cibercultura
Não basta aprender o que tem de se
dizer em todos os casos sobre um
objeto, mas também como devemos falar
dele. Temos sempre de começar por
aprender o método de o abordar.
Wittgenstein (apud VEIGA-NETO, 2003,
p.51).
O termo cibercultura ou também sociedade da comunicação ou da
informação ou também informacional
21
aparece quotidianamente na imprensa e nas
discussões sobre as novas tecnologias da informação. A todo o momento, somos
interpelados por notícias que fazem algum tipo de referência a este fenômeno da
atualidade, através da própria internet ou através de revistas semanais
22
, que
trazem, em suas edições, seções onde é possível observar que há uma
preocupação em informar ao leitor as últimas novidades ligadas à sociedade da
informação. Alguns jornais
23
têm um caderno semanal especial dedicado a tratar
deste assunto, englobando desde informações sobre os últimos softwares
disponíveis no mercado, até questões ligadas, por exemplo, à ética na internet. Em
um dos cadernos especiais semanais de um dos jornais
24
pesquisados, destinado
aos pais, observa-se que há também esta discussão e a preocupação de informar ao
21
Terminologia utilizada por Lemos, (2004, p.15).
22
Estou me referindo às revistas Veja e Época, ambas de circulação nacional e veiculação
semanal.
23
Os jornais aos quais me refiro são: Folha de São Paulo, que apresenta o caderno semanal
chamado: “Folha Informática”, e o jornal Zero Hora, e que apresenta o caderno semanal: “ZH
Digital”. Ambos têm distribuição nacional e veiculação diária
24
Caderno “Meu Filho” de 06/03/2006, do jornal Zero Hora.
21
leitor uma “forma” ideal para lidar com as questões da cibercultura. A manchete de
uma edição do citado jornal era:Só dá ele em casa. Avalie: o uso do computador é
exagerado se a criança deixa de desenvolver outras atividades”.
A cibercultura (ou: as ciberculturas) tem, cada vez mais, desempenhado um
papel fundamental na produção e no estabelecimento de nossos desejos,
necessidades, opiniões, vontades, interesses e compreensões frente aos nossos
corpos, aos nossos filhos, ao consumo, à nossa vida sexual, aos nossos
relacionamentos, enfim, frente à vida contemporânea. É nesse sentido que se atribui
a ela, hoje, um caráter pedagógico/ educativo, já que é através de suas ferramentas,
textos e imagens que grande parte das idéias, crenças, sentimentos e emoções são
produzidas, veiculadas e estabelecidas na cultura pós-moderna. Diante destas
evidências, é que se faz pertinente dedicar um capítulo, para esta discussão, que
atualmente é abordada por vários teóricos
25
de diferentes campos do saber. Neste
capítulo, pretendo delinear um panorama daquilo que tem sido pesquisado e
discutido sobre o tema da cibercultura nos dias atuais, marcando e sinalizando as
possibilidades dos usos desta, mas reconhecendo que os estudos e análises deste
tema ainda são relativamente novos. Pontuo que meu objetivo aqui não é realizar
uma longa descrição histórica sobre a cibercultura, mas sim discutir as implicações
de seus usos na cultura juvenil da pós-modernidade e a sua relação com o meu
objeto de pesquisa que são os blogs.
Primeiramente, esclareço a diferença entre ciberespaço e cibercultura e,
após, discuto a relação entre técnica e cibercultura e as suas implicações com as
percepções do espaço e do tempo na pós-modernidade; trago também os
apontamentos de alguns autores sobre a insuficiência de análises sobre a
cibercultura pela academia. Após, realizarei uma descrição de blogs, dos diferentes
tipos encontrados atualmente na rede, e finalizo este capítulo com a questão: Blogs,
um novo tipo de texto?
25
Lévy (1999); Lemos (2004); Lemos e Cunha (2003); Lemos e Palacio (2001); Marques (2003);
Ribeiro (2001); Ramal (2002); Rüdiger (2003); Salmito (2001); Mielniczuk (2001), entre outros.
22
2.1 CIBERESPAÇO
A palavra ciberespaço foi utilizada pela primeira vez pelo escritor ficcionista
Willian Gibson
26
(apud LEMOS, 2004, p.132) no seu livro Neuromancer (1984). O
ciberespaço é um espaço não-material e não configurado geograficamente,
composto por redes de computadores, telecomunicações, programas, interfaces e
banco de dados onde a experiência humana passa a existir sob a forma de bits. Ele
seria uma projeção da realidade, que só existe virtualmente dentro de tais redes,
onde os signos da experiência humana se convertem em pixels (contração de
picture element) na tela do computador. Gibson (apud RIBEIRO, 2001, p. 140) define
o ciberespaço como “um mundo virtual, onde transitam as mais diferentes formas de
informação e onde as pessoas que fazem parte da sociedade da informação se
relacionam virtualmente, por meios eletrônicos”.
O filósofo e estudioso francês Pierre Lévy esclarece a diferença entre as
palavras ciberespaço e cibercultura. Ele nomeia o ciberespaço como “rede” e afirma:
“É o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos
computadores”. Acrescenta que “este termo não especifica apenas a infra-estrutura
material da comunicação digital, mas também todo o universo oceânico de
informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e
alimentam esse universo” (1999, p. 17).
Para André Lemos, professor e coordenador do centro de pesquisa em
cibercultura da Universidade Federal da Bahia, o ciberespaço pode ser
compreendido sob “a luz de duas perspectivas: como o lugar onde estamos quando
entramos em um ambiente simulado (realidade virtual), e como um conjunto de
redes de computadores, interligadas ou não, em todo o planeta, a Internet” (2004,
p.128). O autor aponta que “estamos caminhando para uma interligação total das
duas concepções de ciberespaço” e continua: “O ciberespaço não é desconectado
da realidade, mas um complexificador do real”. Por fim conclui,
26
Escritor cyberpunk de ficção científica. Para Gibson, o ciberespaço é um espaço não-físico ou
territorial composto por um conjunto de redes de computadores através das quais todas as
informações (sob as suas mais diversas formas) circulam (apud LEMOS, 2004, p. 132).
23
O ciberespaço faz parte do processo de desmaterialização do
espaço e de instantaneidade temporal contemporâneos, após dois séculos
de industrialização moderna que insistiu na dominação física de energia e
de matérias e na compartimentalização do tempo. O ciberespaço é então,
um operador meta-social (Benedikt), um espaço pós-tribal, uma arena
cultural criativa
27
, um universo de pura informação (p.128).
O que podemos observar com estas várias conceituações é que o ciberespaço é um
meio que proporciona aos seus usuários uma forma de tempo e espaço
diferenciados, modificando a nossa percepção destes. Trata-se de algo bastante
novo na história da humanidade. A lógica deste é a de um espaço inerentemente
não-físico, não configurável, flexível, moldável, sem vínculos efetivos com a
geografia convencional. O jornalista Rogério Costa, em sua análise sobre a cultura
digital (2003, p. 76), afirma que
O ciberespaço é mesmo um lugar desprovido de materialidade, de
presença física - aliás aquilo que muitos reclamam. O ciberespaço é
basicamente, um meio que favorece a comunicação não-presencial.
Já a cibercultura surge com os impactos socioculturais da microinformática na
metade dos anos 70. Lemos (2004, p.101) pretende que:
O que vai marcar a cibercultura não é somente o potencial das
novas tecnologias, mas uma atitude que, no meio dos anos 70, influenciada
pela contracultura americana, acena contra o poder tecnocrático. O lema da
microinformática será: “computadores para o povo” (“computer to the
people”).
Lévy (1999) é um dos autores nos quais me apoiei para poder esclarecer alguns
conceitos; ele é criticado por alguns teóricos que o consideram otimista demais,
mas, mesmo assim optei em fazer uso, mais uma vez, de suas idéias, trazendo seu
conceito da cibercultura, que ele situa como “um conjunto de técnicas (materiais e
intelectuais), das práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que
se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”.
27
O autor (2004, p. 267) explica em nota: “Todo o desenvolvimento da microinformática é ligado a
essa “sopa cultural”. Os micro computadores, a rede, internet e a explosão do Web não são diretivas
24
2.2 TÉCNICA E CIBERCULTURA: IMPLICAÇÕES NAS PERCEPÇÕES DO
ESPAÇO E DO TEMPO NA PÓS-MODERNIDADE
Nos autores já citados, observa-se a preocupação em situar o leitor na
questão histórica da técnica na modernidade.Todos, de alguma forma, observam
que a técnica é que tornou possível o advento da cibercultura. Neste sentido, Lemos
(2004) dedica dois capítulos em seu livro à discussão sobre a tekhnè grega, phusis e
poiésis, e todos os acontecimentos históricos e filosóficos que envolveram a questão
da técnica (p. 26). O autor, assim como Lévy (1999), argumenta que esta discussão
que busca “nas raízes do fenômeno técnico, a compreensão da cultura
contemporânea”, supõe que a técnica seria uma preparação para a modernidade,
“onde entramos numa fase da evolução histórica de eliminação de tudo o que não é
técnico, sendo o desafio da modernidade um desafio técnico” (2004, p. 50). Para o
autor,
O paradigma eletricidade/ petróleo, motor elétrico e química de
síntese do fim do século XIX muda, depois da Segunda Guerra Mundial,
para um novo paradigma: energia nuclear, informática, engenharia genética.
Este novo sistema técnico vai afetar a vida cotidiana de forma radical com a
formação e planetarização da sociedade de consumo e do espetáculo. Este
é o pano de fundo para o surgimento da cibercultura (p. 52).
Outras análises das relações contemporâneas entre desenvolvimento
tecnológico e sociedade também são realizadas por Marques (2003, p.177), que, em
artigo, apóia-se em alguns autores, para a sua discussão, como Lévy e Shaff. Este
último, segundo Marques, “foi um dos primeiros autores a pensar a ‘sociedade da
informação’; Lemos (2004) segue na mesma linha de análise de Schaff (apud
MARQUES, 2003), que condiciona o surgimento da cibercultura ao processo de
automação, gerado pelo advento das novas tecnologias.
O surgimento da cibercultura não é só fruto de um projeto técnico dos
cientistas precursores que criaram a microinformática, mas é também de uma
“relação estreita com a sociedade e a cultura contemporâneas” (LEMOS, 2004, p.
tecnocráticas de nenhuma instituição. Essa relação, entre técnica e o social, sem que nenhum dos
dois tenha a chave da equação, é que caracteriza a cibercultura”.
25
26). Neste sentido ele considera o ciberespaço como ligado a um rito de passagem
da era industrial para o que ele nomeia de era pós-industrial, apoiando-se nas idéias
de Negroponte (apud LEMOS, 2004) que pontua a passagem da modernidade dos
átomos à pós-modernidade dos bits. Estes ritos de passagem que Lemos aborda,
referindo-se ao ciberespaço, fazem uma alusão também à questão do sagrado e do
profano: assim, atravessaríamos uma fronteira entre a “existência banal do dia-a-dia
e o espaço eletrônico de circulação de informações”. O autor afirma que:
Existem várias similaridades entre as estruturas dos ritos de
passagem e os mecanismos simbólicos do ciberespaço. O ato de se
conectar ao ciberespaço sugere versões dos ritos de agregação e de
separação, onde a tela do monitor possibilita a passagem a um outro
mundo. A tela é fronteira entre o individual e o coletivo, entre o orgânico e o
artificial, entre o corpo e o espírito.O ciberespaço é o espaço simbólico onde
se realizam, todos os dias, ritos de passagem do espaço físico e analógico
ao espaço digital sem fronteiras. Conectar-se ao ciberespaço significa
ainda, mesmo que simbolicamente, a passagem da modernidade (onde o
espaço é esculpido pelo tempo) à pós-modernidade (onde o tempo
comprime o espaço); de um social marcado pelo individuo autônomo e
isolado ao coletivo tribal e digital (2004, p.132).
Para o autor (op.cit), “o século XIX é o palco de grandes invenções para a
comunicação: animação, fotografia, cinema, máquinas de calcular, fonógrafo,
telégrafo e telefone”. Estas novas tecnologias passam a criar o que ele nomeia como
“desejo de simulação (désir de simulation)”. Este desejo, de simular o espaço e o
tempo, é discutido desde o advento da fotografia; esta é capaz de paralisar o tempo
dentro de um espaço, um dos sonhos da humanidade. Assim, a cibercultura estaria
marcada pelas tecnologias da simulação, proporcionando o sentimento de
deslocamento do aqui e agora, do espaço e do tempo (LEMOS, 2004, p. 239).
O antropólogo italiano Massino Canevacci (2005) analisa a cibercultura na
perspectiva do que ele nomeia como “culturas eXtremas
28
”, em relação ao espaço e
tempo. O autor nomeia o ciberespaço de
28
O autor utiliza a letra X em maiúscula, na obra acima citada para referir-se às culturas eXtremas. E
conforme nota da tradutora: “Na comunicação juvenil de oposição afirma-se o uso do X. X como
contrário (versus), X como excessivo (extra large), X como alienígena (X-file), X como proibido. O
autor mostra como se dá a transformação do extremo no eXtremo e como é absolutamente
impossível compreendê-lo sem estar disponível e aceitar o que está fora da regra, sem estar disposto
a entrar no incontível e dar forma ao incompreensível.
26
E-espace, considerando este como um “espaço eletrônico”. Alguma
coisa que não é mais determinável em termos negativos (não-lugar) ou
materiais (a cidade como pólis...), muito menos que pratica delitos perfeitos
(o detetive Baudrillard) ou excessos de velocidade (as multas de Virilio). O
e-espace não é nem um a priori nem um a posteriori. È um presente
dilatado e móvel. Um presente líquido (p.167).
Em sua obra ele percorre e discute as várias mutações que ocorreram e que
ocorrem desde o advento desta nova cultura, fazendo apontamentos no sentido da
utilização deste meio pela juventude, analisando as manifestações culturais desta;
porém, deixa claro: “recuso-me explicitamente a elaborar tipologias que servem para
a banalização resumitiva e rígida” (p. 8). Referindo-se à internet como rede, o autor
entende que esta
Se apresenta como uma modificação radical das percepções e das
alterações comunicacionais que não acabaram e nem poderiam acabar-
culturas intermináveis no sentido mais móvel e mais desordenado possível-
mas que configuram um e-espace em relação ao qual todas as definições
anteriores e também as recentes tornaram-se precocemente envelhecidas.
Decrépitas (2005, p. 147).
Estas “definições anteriores e também recentes” sobre o e-espace, que “tornaram-
se precocemente envelhecidas”, das quais nos fala Canevacci (2005), levam ao
sentimento que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001) nomeia como o mal
estar da pós-modernidade. Vivemos na modernidade “líquida”, termo utilizado por
este autor para associar a fluidez e leveza do líquido às questões do espaço e do
tempo na pós-modernidade; ele explica que
A modernidade começa quando o espaço e o tempo são separados
da prática da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias
distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação; quando
deixam de ser como eram ao longo dos séculos pré-modernos, aspectos
entrelaçados e dificilmente distinguíveis da experiência vivida, presos numa
estável e aparentemente invulnerável correspondência biunívoca. Na
modernidade, o tempo tem história, tem história por causa de sua
“capacidade de carga”,
perpetuamente em expansão – o alongamento dos
trechos do espaço que unidades de tempo permitem “passar”, “atravessar”,
“cobrir” – ou conquistar. O tempo adquire história uma vez que a velocidade
do movimento através do espaço (diferentemente do espaço
eminentemente inflexível, que não pode ser esticado e que não encolhe) se
torna uma questão de engenho, da imaginação e capacidade humanas
(p.16).
27
As modificações da percepção do espaço e do tempo na contemporaneidade estão
também diretamente ligadas aos usos que fazemos da cibercultura, da mídia e da
instantaneidade da informação. Não há mais como separar o espaço do tempo.
O autor David Harvey, antropólogo e sociólogo, observa que esta “condição de
fragmentação” do espaço e do tempo é própria do pós-modernismo. Ele utiliza as
idéias do autor Frederic Jameson (HARVEY 2005, p. 187), e este
Atribui a mudança pós-moderna a uma crise de nossa experiência do
espaço e do tempo, crise na qual categorias espaciais vêm a dominar as
temporais, ao mesmo tempo que sofrem uma mutação de tal ordem que não
conseguimos acompanhar. “Ainda não possuímos o equipamento
perceptual que nos permita perceber este novo tipo de “hiperespaço”,
escreve ele, “em parte porque os nossos hábitos de percepção” foram
formados naquele antigo tipo de espaço que denominei o espaço do alto
modernismo.
Todas essas mudanças geradas por estas modificações são analisadas por
Suely Fragoso (LEMOS e CUNHA, 2003), que aponta em seu artigo “Um e muitos
ciberespaços”, o sentimento de mudança na percepção geográfica que a
cibercultura e a internet causam na pós-modernidade. Considerando que uma das
visões do autor Nick Bingham (FRAGOSO 2003, p. 212) em relação à cibercultura
aponta “para uma penosa angústia e abatimento e de um impulso arrebatador que
se traduz em sentimento de poder pessoal
29
...”, Fragoso assinala que
ao lado desse sentimento dúbio de amedrontada atração, outro
freqüente ponto em comum entre os textos dos autores que procuram
problematizar as tecnologias digitais de comunicação e os daqueles que se
propõem a enfrentar o desafio de formular considerações suficientemente
abrangentes a respeito da vida social contemporânea é a
identificação de
profundas alterações em nossa relação com o espaço e com o tempo (2003
p. 213).
As questões relacionadas ao espaço e ao tempo estão diretamente
imbricadas com as discussões em torno da modernidade e da pós-modernidade.
Então não há como fazer uma análise da cibercultura sem entrar nesta discussão.
Embora alguns teóricos ainda insistam em afirmar que vivemos na modernidade, me
parece pertinente fazer algumas argumentações na perspectiva de tempos pós-
29
“O texto de Bingham correlaciona, mais genericamente, as abordagens do ciberespaço e a idéia de
‘sublime tecnológico’ “ (cf. nota da autora).
28
modernos. Para tal empreitada utilizei algumas idéias de autores que são
considerados, conforme afirma Costa (2000b) como educadores radicais.
Para a autora (acima citada), que se inclui entre estes pesquisadores por “inspirar-se
nos aportes do que tem sido chamado por alguns de crítica pós-estruturalista
30
, tais
autores “empreendem uma desconstrução das assertivas da modernidade,
admitidas como sustentáculo de uma razão unitária, mediadora e reguladora de
todos os discursos” (p.1).
Veiga-Neto (2005, p. 4), um dos grandes estudiosos da obra de Michel Foucault,
discute a pós-modernidade sob a perspectiva de
estado ou forma de vida e da cultura contemporâneas, que alguns
chamam de hipermodernidade (LIPOVETSKY), modernidade tardia
(ROUANET), modernidade avançada, modernidade líquida (BAUMAN), e
que, descartando as metanarrativas iluministas, ressignifica as percepções
e usos do tempo e do espaço. Para Usher & Edwards (1994, p. 7), ‘talvez
tudo o que possamos dizer com algum grau de segurança é o que o pós-
moderno não é. Certamente não é um termo que designa uma teoria
sistemática ou uma filosofia compreensiva. Nem se refere a um sistema de
idéias ou conceitos no sentido convencional; nem é uma palavra que denota
um movimento social ou cultural unificado. Tudo o que podemos dizer é que
ele é complexo e multiforme, que resiste a uma explanação redutiva e
simplista’.
Todas estas questões relacionadas ao espaço e ao tempo levam também à
discussão sobre o processo de desterritorialização
31
que a internet, segundo alguns
teóricos, vem causando. Castells (2003) não vê este processo como negativo, e
magnifica a importância das transformações sociais produzidas pela internet.
O geógrafo Rogério Haesbaert (2002) utiliza o conceito de globalização e
pós-modernidade para discutir o processo geográfico da desterritorialização, de uma
forma mais ampla, não especificamente voltada para a cibercultura.
Mais uma vez, Lévy (1999, p. 199) discute as questões que envolvem a
cibercultura, apontando que a desterritorialização é uma das grandes preocupações
30
Ver, a respeito, a obra organizada por Veiga-Neto (1995) intitulada Crítica pós-Estruturalista e
Educação.
31
Conforme Silva (2000, p.38) esta nomenclatura foi introduzida por Deleuze; Guattari.“Territorializar”
significa codificar, submetendo a regras e controles, setores ou elementos da vida social, como por
exemplo, a família, o trabalho, o corpo. Na análise destes dois autores, o capitalismo caracteriza-se
por um processo generalizado de desterritorialização, isto é, de descodificação ou afrouxamento de
regras e controles tradicionais, seguidos por um processo de reterritorialização, isto é, de instituição
de novos e renovados controles e regras.
29
dos Estados, que “se enfrentam entre si para fazer prevalecer seus campeões
industriais e culturas nacionais”. Ele coloca que este conflito está ligado aos
“interesses próprios dos Estados, ligados a sua soberania e sua territorialidade e,
por outro lado, o caráter desterritorializante e ubiqüitário do ciberespaço”.
Maffesoli (1987) discute o conceito de “territórios tribais”, que seriam a
espacialização (concreta ou simbólica) de microgrupos que hoje, especialmente nas
grandes cidades, tendem a formar comunidades unidas por laços afetuais e
territoriais, rompendo assim, com o individualismo das massas.
Embora este tema seja relativamente novo, como já havia escrito
anteriormente, é possível encontrar um número considerável de autores de áreas
diferentes que se ocupam desta discussão. Tais autores podem ser divididos em três
grupos: um, que defende o ciberespaço apenas como uma extensão dos campos
sociais, considerando-o também responsável pelo aumento da exclusão social,
cultural, política e econômica; o outro grupo acredita que as novas tecnologias
podem resolver grandes problemas, trazendo quase sempre benefícios,
argumentando sobre as transformações contemporâneas. E o terceiro grupo não se
dedica a analisar os males ou potencialidades da cibercultura, mas sim as questões
da sociabilidade que estão imbricadas neste assunto.
Dentre os autores que fazem parte do primeiro grupo, destaco dois para
fundamentar algumas das idéias que circulam, neste sentido, na literatura
acadêmica. O autor Dominique Wolton citado no livro de Marques (2003, p. 179),
aponta que:
Hoje em dia, é surpreendente o número de autores que
consideram, por exemplo, que a Internet é uma verdadeira revolução e que
ipso facto dará lugar ao nascimento de uma ‘nova sociedade’. Apóiam este
argumento na suposição de que a tecnologia irá mudar directamente a
sociedade e os indivíduos! Ao fazê-lo, engrossam a corrente da tese do
determinismo técnico, segundo a qual uma revolução no domínio
tecnológico provocaria uma revolução na estrutura global das sociedades.
Assim se passa de uma concepção materialista da comunicação a uma
verdadeira ideologia – a ideologia
técnica – da comunicação. Todavia, a
história mostra bem os limites das teses deterministas.
Eugênio Trivinho, citado no livro de Lemos e Cunha (2003, p. 58), também
dedica-se em um dos seus artigos à análise da cibercultura, em alguns momentos
30
questionando este otimismo atribuído a cibercultura e pontuando que: “a
cibercultura ainda não foi dissecada a contento pela categoria critica”. Ele argumenta
que a comunidade acadêmica e intelectual como um todo deveria ter “um
posicionamento de contrapartida mais definido” nesta direção, “em nome da
renovação epistemológica da teoria social orientada para a desconstrução da cultura
mediática avançada
32
”.
Para finalizar esta discussão utilizo a sustentação que faz Lévy (1999, p. 11) a
respeito da temática:
Aqueles que denunciam a cibercultura hoje têm uma estranha
semelhança com aqueles que desprezavam o rock nos anos 50 e 60. O rock
era anglo-americano, e tornou-se indústria. Isso não o impediu, contudo, de
ser o porta-voz das aspirações de uma enorme parcela da juventude
mundial. Também não impediu que muitos de nós nos divertíssemos
ouvindo ou tocando juntos essa música. A música pop dos anos 70 deu
uma consciência a uma ou duas gerações e contribuiu para o fim da Guerra
do Vietnã. É bem verdade que nem o rock nem a música pop resolveram o
problema da miséria ou da fome no mundo. Mas isso seria razão para “ser
contra?”
32
As criticas relacionadas à internet são aprofundadas por alguns dos autores analisados durante
a dissertação. Optei por não aprofundar esta temática, porque foge das esferas de argumentação
que utilizei.
31
3 OS BLOGS E A CIBERCULTURA
Nesta seção, de caráter de aproximação do objeto, tracei as principais
definições que encontrei de blogs durante este estudo.
Os weblogs, também chamados de blogs, ou seja, diários virtuais proliferam
na internet como ferramentas de uma narrativa híbrida (misto de diários íntimos,
diários de celebridades, de torcedores de um time de futebol, diários jornalísticos,
dentre outros), que representa, simultaneamente, a individualidade e a coletividade,
dimensões presentes no imaginário desta sociedade nomeada por alguns autores,
como os que pontuei anteriormente, como pós-moderna.
A cultura da atualidade está, conforme Costa (2003, p. 8) “intimamente ligada
à idéia de interatividade, de interconexão, de inter-relação entre homens,
informações e imagens dos mais variados gêneros”. Esta inter-relação também é
observada nos blogs, onde esta vontade de estar em contato direto e permanente
com o outro é clara, através da “comunidade de pertença”, ou seja: ao acessar os
links preferidos de um determinado blogueiro, percebe-se que outras pessoas que o
acessaram apresentam algum tipo de afinidade, com ele fazendo com que neste
individuo haja uma percepção de comunidade e de colaboração anônima na rede.
Para o autor acima citado:
A construção dessa percepção de comunidade, que é diferente e,
no entanto, convive com o ato efetivo de participar de uma comunidade
virtual (...), vê sua importância ligada à necessidade crescente que as
pessoas têm de se sentirem situadas no dilúvio informacional que tomou
conta de nossa sociedade. Isso significa que, hoje, não basta
compartilharmos espaço físico com parentes, vizinhos, colegas e amigos. É
preciso, igualmente, compartilhar zonas de conhecimento, gostos e
preferências, onde o que importa é saber que outras pessoas, anônimas,
mas situadas em constelações de sentido próximas à nossa, podem de
algum modo colaborar conosco.
32
É delas que, por intermédio das máquinas inteligentes, aceitamos e
aceitaremos cada vez mais sugestões sobre livros, músicas, filmes,
programas televisivos, restaurantes, etc (p. 51).
O sentimento de comunidade de pertença, ao qual Costa (2003) se refere, é
igualmente abordado por Sherry Turkle (1997), uma socióloga que pesquisou nos
MUDs
33
sobre as relações humanas criadas pelo e através do computador e que
observa que o ciberespaço para muitos de nós faz parte das rotinas da nossa vida
cotidiana. E escreve:
Quando lemos nosso correio electrónico, enviamos mensagens para
um painel de notícias ou reservamos bilhetes de avião através duma rede
de computadores, estamos no ciberespaço, podemos conversar, trocar
idéias e adoptar identidades fictícias que nós criamos. Temos oportunidade
de construir novos tipos de comunidades virtuais nas quais participamos
juntamente com pessoas de todos os cantos do mundo, pessoas com quem
dialogamos diariamente, com quem podemos estabelecer relações bastante
íntimas, mas que talvez nunca venhamos a encontrar fisicamente (p. 12).
Esta nova forma de “fazer sociedade”, na expressão de Lévy (1999), que, na
referida obra, não se reporta especificamente aos blogs, está presente nesta nova
forma de interação e de comunidade on line. Os blogueiros trocam as mais diversas
informações em seu blogs, que vão desde narrativas sobre a sua vida diária até
sugestões sobre onde adquirir este ou aquele recurso para ornamentar o seu blog.
Para Costa (2003) “a chegada dos blogs contraria os que viam na web apenas um
foco de proliferação de identidades simuladas (p. 78)”. Este autor aponta que, com a
“explosão dos chats e nicknames
34
nos anos 90, difundiu-se a idéia que na internet
as pessoas não seriam elas mesmas, de que haveria aí um enorme jogo de faz-de-
conta, mascarando milhares de mentes ‘verdadeiras’ (p. 79)”. Os blogs vão
proporcionar, segundo este autor, uma “autêntica representação de seus autores”,
através do investimento afetivo, imaginário e intelectual, o que me parece uma
afirmativa um tanto arriscada, porque (embora não seja este o foco de minha
análise), no meu entendimento, não há como discutir a autenticidade das
representações dos autores dos blogs.
33
MUD – Multi User Dungeon – Calabouço Multi – usuário. É um tipo de jogo que requer
comunicação em tempo real e existência virtual, onde é necessário criar a vida e a personalidade de
um personagem para desempenhar um papel dentro de uma determinada história.
34
Apelido escolhido pelos internautas para iniciar a interação nos bate-papos virtuais.
33
O autor (op.cit) afirma que, através dos blogs, é possível uma visão de “mundo da
web”, mais palpável do que aquela das comunidades virtuais, via chat e fóruns.
Estes, para ele, representariam comunidades que se “freqüenta, mas que não são
onde se mora. Já os blogs estariam mais próximos de condomínios”, fazendo uma
analogia dos blogs com a casa: “onde cada um cuida de sua casa da melhor
maneira possível, mas não se deixa de receber visitas e de freqüentar a casa dos
vizinhos” (p.80).
Já a pesquisadora de comunicação social Paula Jung Rocha (2003, p. 73) entende
que os blogs representariam, na sua forma e conteúdo
Os contornos de uma nascente sociedade pós-moderna, que
privilegia a ética da estética, ou seja, de ser apenas em relação ao outro a
partir do compartilhamento de sentimentos, idéias e atitudes. Sendo assim,
o blog, na sua essência (diário virtual) teria tamanha repercussão na
contemporaneidade em função de ser um produto e (reprodutor) de uma
parcela de indivíduos que encontra na rede a possibilidade de se comunicar
com o outro, de tocar o outro através da narrativa bem particular que pode
variar desde a confecção de artigos, crônicas, até a exposição de fatos e
histórias de interesses peculiares como poesia, fotografias e relatos
autobiográficos.
3.1.1 DESCRIÇÃO DOS BLOGS
Alguns pesquisadores da recente história do Weblog afirmam que o
termo foi criado em dezembro de 1997, pelo norte-americano Jonh Barger,
editor do
site robot wisdom weblog
35
, para descrever sites pessoais que fossem atualizados
freqüentemente e contivessem comentários e links. Esta ferramenta permite a
utilização de textos escritos, de imagens e de som. Para outros, o primeiro website
foi construído por Tim Beners-Lee quando foi criada a Web. Em 1999, aconteceu a
criação do software Blogger, da empresa Pyra Labs, que permitiu a popularização
dessa atividade de escrita
36
.
Conforme o dicionário Aurélio (2004), a palavra blog significa abreviatura
de weblog, o qual é um serviço, na web, que permite ao internauta criar e manter
uma página em que as informações são apresentadas em ordem cronológica
35
Disponível em: http://www.robotwisdom.com.
36
Blood, 2000 (on line). (cf. nota da autora).
34
reversa (as mais recentes aparecem primeiro), tendo cada publicação sua data e
hora de inserção, e também um espaço onde outros internautas podem incluir
comentários associados. O autor alerta para o fato de que inicialmente os blogs
tenham sido utilizados como diários, mas, com a popularização, tornaram-se
também um meio para publicação de notícias e divulgação de idéias. Atualmente, a
maior parte de provedores não cobra taxa para a hospedagem de um blog. A
jornalista e professora Denise Schittine (2004), que publicou em livro a pesquisa de
dissertação de mestrado que realizou sobre os blogs, analisa estes como uma
possibilidade de escrita íntima na internet, e explica que o gênero blog
começou a se desenrolar no Brasil por volta do início do ano 2000,
embora já tivesse surgido em outros países, e recebeu o nome blog, criado
pelos próprios praticantes do gênero... A palavra é uma contração em si
mesma, uma contração entre web (página na Internet) e log (diário de
bordo). Por isso o uso da expressão “diário íntimo na Internet” para
substituir o termo blog (p. 12).
Outra autora, Komesu (2005) recentemente escreveu sua tese de doutorado: “Entre
o público e o privado: um jogo enunciativo na constituição do escrevente de blogs da
internet”, apóia-se nas pesquisas realizadas por Blood (2000), Oliveira (2002, 2003),
Recuero (2003, 2004) e Schittine (2004), para descrever seu objeto de estudo. Estes
autores argumentam que o suporte material que é oferecido aos blogs é o que
facilita a popularização dos usos deste (apud KOMESU, 2005, p. 96). Porém a
autora argumenta que este é apenas o “aspecto mais aparente” dos blogs; ela
explica que seu interesse está em “analisar a emergência dos blogs nas tramas da
multiplicidade das relações que positivam a visibilidade da intimidade na sociedade
atual”. E continua:
A criação de um dispositivo como o Blogger ou ferramentas
similares somente pode ser justificada sob as condições históricas nas quais
os sujeitos são impelidos a falar de si em âmbito público, com a participação
fundamental do leitor interessado em olhar (vigiar) o cotidiano alheio (p. 96).
Conforme os estudos realizados pela autora (op.cit), os blogs haviam sido criados
inicialmente como uma alternativa de acesso mais fácil para a população para a
publicação de textos on-line, dispensando um conhecimento mais técnico em
computação. Segundo ela, “a facilidade para edição, atualização e manutenção dos
textos em rede foi - e é - considerada como um dos principais fatores para o sucesso
35
e a difusão dessa chamada ferramenta de auto-expressão”. Ela conclui que, até o
término de sua pesquisa, a melhor e mais completa definição que havia encontrado
é a que está disponível no site Blogger
37
, que segue abaixo:
O blog é uma página da web atualizada freqüentemente, composta
por pequenos parágrafos apresentados de forma cronológica. É como uma
página de notícias ou um jornal que segue uma linha de tempo com um
fato após o outro. O conteúdo e tema dos blogs abrangem (sic) uma
infinidade de assuntos que vão desde diários, piadas, links, notícias,
poesia, idéias, fotografias, enfim, tudo que a imaginação do autor permitir.
Usar um blog é como mandar uma mensagem instantânea para toda a
web: você escreve sempre que tiver vontade e todos que visitam seu blog
têm (sic) acesso ao que você escreveu. Vários blogs são pessoais,
exprimem idéias ou sentimentos do autor. Outros são resultados da
colaboração de um grupo de pessoas que se reúnem para atualizar um
mesmo blog.
Alguns blogs são voltados para a diversão, outros para
trabalho e há até mesmo os que misturam tudo...(p.98).
Durante o período de minha pesquisa, visitei vários sites para o embasamento
desta e, em um deles, o do jornal Estadão
38
, encontrei um artigo que fazia referência
às últimas estatísticas divulgadas sobre os blogs, as quais apontam a existência de
três milhões desses endereços, dos quais 1,65 milhões classificados como ativos:
uma definição benevolente para as páginas que receberam alguma atualização no
último trimestre. “Se considerarmos os blogs atualizados diariamente, o número cai
para uma faixa em torno de 275 mil ou 9% da amostra total”.
Dentre as definições encontradas, pude observar que há uma coerência
entre os autores pesquisados no sentido de apontar os blogs como um novo espaço
de escrita na web, tanto para uma utilização pessoal quanto para um cunho mais
comercial. Há pesquisadores que estudam especificamente a questão da linguagem
utilizada nos blogs, outros, a questão da desterritorialização que a internet e seus
recursos propiciam; para outros, a intimidade publicada on line é um campo rico e de
inúmeras discussões que gravitam entre os aspectos sociais, psicológicos, e a crise
da identidade na pós-modernidade. Em algumas pesquisas realizadas
recentemente, é possível encontrar uma rica digressão em torno da busca por
status, por espetáculo, ou pelo voyeurismo
39
e ainda a possibilidade da construção
37
Disponível em: http://blogger. globo.com.br (cf. nota da autora).
38
Disponível em: http://www.estadao.com.br. Acesso em: 13 de Maio de 2006.
39
Voyeurismo é um dos aspectos analisados nas identidades dos blogueiros; é discutido nas duas
obras acadêmicas pesquisadas por mim, tanto na dissertação de mestrado de Schittine (2004),
quanto na tese de doutorado de Komesu (2005). Para Schittine (2004, p. 40), o que leva um indivíduo
36
de uma memória virtual
40
que a escrita nos diários virtuais propiciaria. Há também
uma longa discussão sobre a cibercultura, e as questões do espaço e do tempo
relacionadas aos inúmeros usos desta. Estas são algumas das aproximações que
encontrei nas pesquisas recentes sobre os blogs às quais tive acesso. Porém é
importante ressaltar que a definição que mais se aproxima com a do estudo que
realizei é a de Komesu (2005, p. 99), que afirma:
O blog pode ser definido, portanto, como uma página da web,
composta de parágrafos dispostos em ordem cronológica (dos mais aos
menos atuais colocados em circulação na rede), atualizada com freqüência
pelo usuário. O dispositivo permite a qualquer usuário a produção de textos
verbais (escritos) e não-verbais (com fotos, desenhos, animações, arquivos
de som), a ação de copiar e colar um link e sua publicação na web, de
maneira rápida e eficaz, às vezes, praticamente simultânea ao
acontecimento que se pretende narrar.
Para o que nos interessa, o recurso a um breve histórico dos blogs é
relevante na medida em que permite visualizar um panorama “oficial” em
contraposição às condições históricas que possibilitam a emergência dessa
prática de escrita que buscamos problematizar.
3.1.2 DIFERENTES TIPOS DE BLOGS
Devido às inúmeras e diversificadas formas de utilização pelos usuários de um blog,
torna-se difícil fazer uma classificação, porque este pode fazer parte de mais de uma
categoria. É visível a variedade de temáticas encontradas nos blogs. Devido a estas
questões, Recuero (apud RODRIGUES, 2005, p. 23), distinguiu duas grandes
categorias de weblogs:
Os diários eletrônicos e publicações eletrônicas. Os primeiros
caracterizam-se por funcionarem como um espaço de escrita íntima e o
segundo por caracterizarem-se, sobretudo pelas informações que
transmitem acerca de um determinado assunto (normalmente têm um tema
a olhar a intimidade do outro através da televisão (Big Brother) ou da internet seria “uma imensa
curiosidade pela vida alheia e um voyeurismo desenfreado fazendo com que aumente, cada vez
mais, o interesse pela rotina dos estranhos e anônimos”[...]. Essa leve possibilidade arrasta uma
multidão de curiosos que, na maior parte do tempo, vêem na tela do computador a intimidade de suas
próprias vidas [...].
40
Para Bauman (1998 apud SCHITTINE, 2004) esta é uma forma de buscar a imortalidade através da
escrita íntima. Para Schittine (2004, p. 125), é através da escrita íntima que é possível narrar a si
mesmo “(...) com o surgimento do diário íntimo na internet, tornou-se mais fácil para o diarista
armazenar informações sobre si mesmo juntamente com tantas outras pessoas em tempo real”.
37
central), sendo que os comentários pessoais são evitados. Recuero fala
ainda de uma terceira categoria de weblogs que são as publicações mistas
que resultam precisamente da mistura das duas categorias anteriores, ou
seja, de um misto de informação com comentários pessoais.
A seguir apresento alguns tipos de blogs que selecionei e que atualmente vêm
sendo mencionados pela imprensa. Estes podem ser classificados como: diários
íntimos, jornalísticos, políticos, crônicas, de humor, empresariais, de moda, de
celebridades, etc... Os blogs também são mencionados em artefatos como agendas
destinadas ao público juvenil ou fazendo parte da literatura infanto juvenil. É
importante salientar que, na maior parte das reportagens e outras fontes
pesquisadas que faziam alusão aos blogs, foi possível visualizar uma explicação ao
leitor do que vinha a ser um blog ou a indicação de como construir um. Para ilustrar,
utilizo esta explicação mais lúdica referente à palavra blog, encontrada em um livro
destinado ao público juvenil: O Blog da Marina
41
:
Blog é uma palavra que vem da contração de weblog, vocábulo
formado por web (world wide web, isto é, “teia do tamanho do mundo”, “que
abrange o mundo todo”), que costuma ser usado como sinônimo da Internet,
e log (“diário de bordo”). É a versão eletrônica dos diários pessoais: o que
antes era guardado a sete chaves agora está escancaradamente disponível
para todos aqueles que quiserem conhecer, bisbilhotar, fazer comentários,
críticas e até dar conselhos. Fácil de ser feito, o blog permite integrar textos,
imagens, músicas e animações; é uma invasão consentida da privacidade
alheia. Em um blog cabe de tudo e, por isso, hoje não se restringe apenas
aos diários dos adolescentes, a maioria dos “blogueiros”. Na internet, há
blogs dedicados aos mais diversos temas como também blogs mais
específicos: de artistas, profissionais liberais, advogados, jornalistas. Há
aqueles que fazem de seus blogs um mero passatempo e há outros que se
utilizam deles para exorcizar os seus fantasmas. Qualquer que seja o
pretexto para criar um blog, ou seja, para manter um diário onde se fala de
si mesmo, não se esqueça de que há vida fora da internet (2003, p. 69).
Passo, brevemente, a caracterizar sete tipos de blogs, além dos já mencionados,
sendo que alguns correspondem a uma escrita mais pessoal.
Blogs empresariais
42
. São aqueles utilizados por empresas como a
General Motors, Microsoft, Sun Microsystems, entre outras. São postados por uma
só pessoa da empresa, ou por toda equipe de uma determinada área, com o objetivo
41
Neste livro é contada a história de uma adolescente e a sua relação diária com seu blog. Seus
autores são: Braz, Júlio Emilio; Vieira, Janaina (cf. bibliografia).
42
Estas informações foram retiradas da reportagem vinculada no Jornal Zero Hora, de publicação
diária, que ilustra a forma como estes vêm sendo adotados também no meio empresarial.
38
de permitirem uma ampliação no alcance comunicacional com seus clientes,
gerando discussões sobre seus produtos e estimulando a lealdade do consumidor.
Figura 1: As empresas entram na blogosfera.
Blogs comunitários ou coletivos. Para Primo e Recuero (2003), tais blogs
seguem “as características da escrita coletiva, segundo o conceito de hipertexto
43
cooperativo”. Estes são utilizados tanto por um grupo de pessoas quanto por uma
empresa, não deixando o trabalho para uma só pessoa. Porém o conceito de escrita
coletiva, para os autores acima citados, tem outra forma que seria a de uma
construção coletiva, ou seja:
Quando o leitor de um texto é convidado a verificar a fonte (através
de um link), observa a discussão em torno do assunto (através de
comentários), é convidado a ler outros textos que tratam do mesmo assunto
em outros blogs (através do trackback) e pode, inclusive, fazer suas
próprias relações através de uma participação ativa como comentarista ou
como blogueiro, em seu próprio blog (p. 57).
43
Este assunto será tratado mais detalhadamente no próximo subcapítulo.
39
Blogs políticos. São usados para fixar a imagem tanto positiva quanto
negativa de um político. Para Marthe (2005), redator da matéria
44
Blog é coisa séria,
os blogs “surgidos há pouco mais de cinco anos, e com a velocidade típica das
invenções do mundo virtual, os blogs - ou diários na Internet - estão deixando a
adolescência para entrar na fase adulta...” (p. 86). Segundo ele, o blog político
“tornou-se referência obrigatória também na política americana desde 2002”, quando
o republicano Trent Lott, após um discurso, sentiu na pele as críticas recebidas
através dos blogs de seus oponentes, que se utilizaram deste meio de comunicação
de rápido acesso e de grande circulação de notícias. O autor destaca também a
profissão dos chamados blogueiros de plantão; estes, segundo ele, seriam pagos
para denegrir a imagem de políticos opositores.
Figura 2: Blog é coisa séria.
Blogs dos famosos
45
. Segundo a matéria publicada, este tipo de blog é
utilizado por pessoas do meio artístico para manter contato com o seu público, de
uma forma mais direta e segura. Ou, como argumenta Komesu (2004, p. 112), este
44
Matéria publicada na revista Veja com chamada na capa em: 01º de Junho de 2005. Trata-se de
revista de veiculação nacional e publicação semanal.
45
Matéria publicada no jornal Zero Hora no caderno ‘ZH digital’ em 17/10/05.
40
meio é utilizado “para uma exibição da vida particular de celebridades”. Conforme
Nunes
46
(2005), os blogs dos famosos também apresentam visuais contrastantes,
oferecendo uma diversidade de formas de apresentação. Ela observa que “... basta
acessar o diário da apresentadora e atriz gaúcha Fernanda Lima - com design
discreto - e, em seguida, o de Carla Perez, onde animações de Hello Kitty pulam
entre fotos de família da ex-dançarina do É o Tchan” (p. 1).
[...] Mas as duas cantoras
47
não são as únicas celebridades que se
renderam ao fascínio do blog, ferramenta de comunicação já utilizada por
milhões de pessoas em todo o mundo. Blogueiros famosos são unânimes
em afirmar: as páginas virtuais funcionam como um elo com os fãs [...] (p.
1).
Figura 3: Bem perto dos fãs
46
Vanessa Nunes, redatora da reportagem.
47
Referindo-se às cantoras Kelly Key e Vanessa Camargo.
41
Videoblogues
48
: Trata-se de uma nova categoria dos diários virtuais
49
, com
uma estrutura semelhante a dos fotologues
50
. Não há uma data precisa do início
desta nova categoria, mas conforme a jornalista Juliana Barreto, o serviço foi
oferecido pelo site www.videolog.tv, em outubro de 2004 e, após um mês de
existência, já havia conquistado mais de 15 mil usuários. Conforme assinala Barreto
(2004), “as páginas ainda apresentam algumas limitações técnicas, como a demora
para carregar e a baixa qualidade dos vídeos, mas já há quem aposte que os
videoblogues serão a próxima mania da Internet” (p. 2). São blogues com vídeos que
mostram a vida de seus criadores, podendo tanto oferecer um formato mais íntimo,
com vídeos do cotidiano da vida de uma pessoa, quanto um caráter mais jornalístico,
mostrando manifestações políticas de várias partes do mundo, entre outras
utilizações.
Figura 4: Nova mania leva vídeos a diários virtuais
48
Reportagem veiculada em 22/11/04, no caderno ‘Folha Informática’ do jornal Folha de São Paulo,
com publicação diária e veiculação nacional.
49
Alguns endereços disponíveis: blog de Andreas Haugstrup http:// www. solitude.dk, site que conta a
vida de uma estudante na Dinamarca. E outro de: Steve Garfield’s Vídeo blog
http://stevegarfield.blogs.com/videoblog que conta o cotidiano de um norte- americano.
50
Para Costa (2003, p. 79), “Os fotologs ou (flogs), são uma espécie de diário sem um texto, onde o
assunto são as fotos publicadas por seus autores”, constituindo um tipo de blog. Conforme ele
explica: “É possível navegar horas por flogs através da lista de fotologs preferidos de cada autor.
Como a lista é composta por pequenas fotos, podemos navegar de flog em flog só pelo prazer que as
fotos nos despertam. Então, há uma relação entre flogs e a construção de uma comunidade orientada
42
Blog de moda
51
: Têm como temática a moda e são direcionados, segundo
a autora do artigo, Constanza Pascolato, para os leitores “fashionaholics”, que se
identificam com as vozes idiossincráticas particulares e rebeldes dos blogs. A
linguagem utilizada neste tipo de blog é, para ela, “mais direta, livre e sem
preconceitos, formando uma comunidade mais informada, assertiva, animada,
ousada e, por vezes, “deixam no chinelo” revistas especializadas, com textos muito
formais”. Por intermédio de blogs sobre moda, “criam-se fóruns de discussão que
refletem opiniões de uma geração hipercomunicativa...” (p. 14).
Figura 5: A Descoberta do Blog
pelo olhar, pela fruição das imagens. È uma forma de compartilhar coletivamente seu ponto de vista
sobre o mundo, assim como de incluir nele sua estética.
51
Reportagem vinculada na revista VOGUE, destinada ao público que aprecia notícias sobre o
mundo da moda internacional.
43
Blog no celular
52
: Este serviço, mais recente, está disponível através do
aparelho celular, proporcionando ao dono do blog, postar os últimos acontecimentos
ou fotos, sem ser necessário sentar em frente a um computador. Esta propaganda
foi retirada de um jornal
53
e, após acessar o site: http://www.moblog.vivo.com.br,
(figura: 7), visualizei várias pessoas que já fazem uso desta nova modalidade de
blog. O formato das páginas é o mesmo oferecido por outros tipos de blogs e a única
diferença é que, para se cadastrar e criar seu próprio blog, é necessário ser cliente
da operadora de telefonia celular que oferece este serviço.
Figura 6: Atualize seu blog na mesma hora que você atualizar sua vida.
52
Serviço disponível aos usuários da operadora de telefonia móvel Vivo.
53
Propaganda veiculada em 19/08/05, na capa do caderno semanal ‘Patrola’, destinado ao público
jovem, do jornal Zero Hora de publicação diária e veiculação nacional.
44
Figura 7: Site do Vivo Moblog
54
3.1.3 BLOGS: UM NOVO TIPO DE TEXTO?
Quinta-feira, Junho 15, 2006
55
aaaaaahhhh.... q alívio!!! ufa... finalmente fiz a prova da ete! acertei 72% das questões e
tenho 8% a mais na pontuação por estudar em escola pública (já são 80%) =D eeeee!!!
agora eh soh torcer pra num ter 40 pessoas q foram melhores do q eu x| iiiihhhh..... mas
vamos lá, pensamento positivo ++++++ heheheheh
aiai... to tristi x'( mas por favor non pergunte pq tah?! num gosto d falar dessas coisas
aki no blog... pensamentos embaralhados, dúvidas, confusões... fazer o q? eh a vida =\
Será q Schopenhauer está certo??? Viver eh sofrer... ai =\ tomara q naum...
Brasil ganhou da Croácia... eh... legal... x)
Aiai... tô sem nenhuma vontade d postar hj ¬¬
baum vo indo -.-
xau***
56
Postado por ::G®äz¡::
às 2:25 PM
-->Comente aki<-- 5
54
Disponível em: http://moblog.vivo.com.br/v1/default.aspx. Acesso em 13 nov. 2005.
55
Optamos por utilizar a fonte Verdana e tamanho 10, fazendo a utilização do parágrafo alinhado à
esquerda, quando não foi possível deixar justificado como no resto do texto. Utilizamos este recurso
porque as citações das blogueiras foram capturadas de seus diários da internet.
56
Todas as citações de textos dos blogs seguem rigorosamente a formulação (gráfica e ortográfica)
original, ressalvada a observação da nota 55.
45
Início este subcapítulo, utilizando o recorte acima, da narrativa de um dos
blogs que analisei, que se chama *~::LoVeLy WiTcH::~*, para ilustrar a
forma como vem sendo realizada a escrita nestes. É inegável que a internet permitiu
levar essas práticas a limites antes impensáveis. Assim, o recurso do texto escrito
aliou-se às modernas tecnologias de transmissão de imagem em tempo real. O
interesse em investigar esta forma de escrita íntima que, é exposta de maneira
pública na internet, tenciona assim o paradoxo entre o público e o privado. A vida da
blogueira
57
LoVeLy WiTcH, sua rotina, suas preocupações com a escola, seus não
ditos, suas tristezas e felicidades, seus gostos musicais, poderiam estar sendo
registrados em um diário ou em uma agenda, ou sendo divididos com as pessoas
mais próximas de suas relações, porém só tivemos contato com a história de vida da
LoVeLy WiTcH porque ela decidiu escrever em um blog, tornando públicos muitos
aspectos de sua vida. Assim como ela, existem milhares de pessoas no mundo que,
neste momento, estão escrevendo sobre as mais diversas e possíveis temáticas.
Esta escrita está endereçada a alguém que irá lê-la. Neste sentido Chartier (1999, p.
77) sinaliza que:
A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados.
Segundo a bela imagem de Michel de Certeau, o leitor é um caçador que
percorre terras alheias. Aprendido pela leitura, o texto não tem de modo
algum - ou pelo menos totalmente - o sentido que lhe atribui seu autor, seu
editor ou seus comentadores. Toda a história da leitura supõe, em seu
princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro
tenta lhe impor. Mas esta liberdade leitora não é jamais absoluta. Ela é
cercada por limitações derivadas das capacidades, convenções e hábitos
que caracterizam, suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos mudam
segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas
atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex
medieval, do livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores
dividem a longa história das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a
relação entre o corpo e o livro, os possíveis usos da escrita e as categorias
intelectuais que asseguram sua compreensão.
A escrita nos blogs é estudada não somente como a possibilidade de uma nova
modalidade de escrita pela área da lingüística, mas também como um local onde é
possível constituir-se através do olhar do outro. Chartier (op. cit) aponta: “A leitura é
57
Conforme Garbin (2003, p. 120), “blogueiro/a é aquele jovem, adulto que tem um computador
conectado à internet e que substitui seu “diário”, objeto tradicional, quase exclusivo do gênero
46
sempre apropriação, invenção, produção de significados”. Para Rocha (2003, p. 74),
“o blog na sua essência (diário virtual) teria tamanha repercussão na
contemporaneidade em função de ser produto e (re) produtor de uma parcela de
indivíduos que encontra na rede a possibilidade de se comunicar com o outro
através de uma narrativa bem particular, que pode variar desde a confecção de
artigos, crônicas, até a exposição de fatos e histórias de interesses peculiares como
poesia, fotografias e relatos autobiográficos”. Esta “possibilidade de se comunicar
com o outro”, apontada por Rocha (op. cit), é demonstrada nesta frase do blog da
Lovely Witcht, onde a autora pergunta ao leitor: Será q Schopenhauer está certo???
Viver eh sofrer... ai =\ tomara q naum...
Sabe-se que a linguagem é o berço do sujeito, que somente pode se constituir como
tal a partir da interação com os outros e da sua inserção em um universo simbólico
compartilhado através do equipamento lingüístico (SIBILIA, 2003, p. 5). Este
universo simbólico sobre o qual argumenta a autora é discutido por Silva (2003, p.
20), que explica que ele tem sua extensão através da linguagem utilizada na
Internet; ele tem, nos últimos anos, “inaugurado novos modos de gerir informação,
de produzir conhecimentos, de estabelecer relações sócio- culturais”. Para o autor:
“a internet e, em especial, a Comunicação Mediada por Computador (CMC), em
suas modalidades síncronas (bate-papo), e assíncronas (fóruns, lista de discussão,
correio eletrônico), tem permitido o exercício da linguagem de forma diferenciada” (p.
22). O uso desta linguagem diferenciada é possível observar também na forma de
escrita encontrada nos blogs, como neste outro recorte do blog da Nany, que
analisei nesta pesquisa:
Domingo, 16 de Abril de 2006
olah ;D
template novo..
e se ele n resolver me abandonar tb ele vai ficar por um booom tempo ;D
e eu tô com sono.. e jah vou dormir.. ateh pq amnhã eu nem vou domrir mto..
e ontem eu fui p o bs com a kaname.. e foi bm legal..
princ lembrar da viagem..
e a souza é tão cruel cmigo.. e ela nem gosta de mim
;___;
mas n tem prob.. q isso n me impede de adorar ela mto mto e mto..
feminino,às vezes fechado à chave, por um weblog, que hoje ocupa bits e bytes de computadores e
é usado tanto por garotos quanto garotas”.
47
^___^v
e como eu tinha avisado...
16/04 >>>>>>>>>>>>>>>>>>> 16/01 _ sea worlds.. mas a gent já tinha voltado p
o hotel e tals..
nhaa.. e eu nem vou dizer q eu quero q o tempo volte
tah.. já disse.
hmm.. e eu estou fazendo posts grandes e tals..
e eu nem falo coisa com coisa.. hauhauahauah
mas eu acho q nem tem tanto prob, neh??
hauahahauauauauaha
vou para o meu pólo norte agora.. XDD ;**
:: por nany :: 12:32 AM :: Comments
Este tipo de linguagem escrita abreviada utilizada na internet é discutida por
Fernanda Castro (2006). Em sua dissertação de mestrado, a autora estuda sobre o
uso que os jovens vem fazendo desta nova forma de escrita que ela nomeia como
Internetês, e sinaliza: “Ao perceber que era muito mais fácil, prático e rápido abreviar
o máximo de palavras, passei a escrever internetês quando conversava com os/as
alunos/as no Messenger, naturalmente. Tornei-me familiarizada e adepta de tal
linguagem em poucas semanas” (p. 44). Como estas práticas têm sido recorrentes
nas diversas modalidades de CMC, vários teóricos, dentre eles Silva (2003), vem
estudando esta forma de escrita e o uso de “abreviaturas, recursos gráficos que
ocupam o lugar de palavras, gírias, sinais de pontuação decorados com desenhos,
onomatopéias, letras estilizadas com formas gráficas definidas, palavras de outra
língua (aportuguesadas ou não) ganham sentido no texto [...]” (SILVA, p. 24).
Embora estas formas de escrita também possam ser visualizadas nos blogs
analisados nesta pesquisa, este não é foco deste estudo, já que o que nos interessa
discutir aqui são as práticas de narrativas realizadas pelas quatro blogueiras
escolhidas para este estudo. Uma das estudiosas da área da lingüística que vem
analisando esta e outras práticas de escrita na internet, a autora Komesu (2004),
explica que estas e outras formas de diálogo (E-mails, bate-papos virtuais, os fóruns
de discussão, ensino á distância, etc.) vêm sendo investigadas a partir dos
elementos lingüísticos que emergem do trabalho do escrevente/ leitor de páginas
hipertextuais (KOMESU, 2004, p. 110). O hipertexto, do ponto de vista da teoria
literária, altera consideravelmente o estatuto da literatura. Baseando-se nesta
afirmação, o sociólogo Frederico Casalegno (2003) apóia-se em dois autores para
explicar o que é um hipertexto; para Casalegno (2003, p. 273),
48
Trata-se de um texto composto de blocos de palavras, ou de
imagens, conectados eletronicamente, conforme múltiplos percursos, numa
textualidade sempre aberta e infinita. Barthes utiliza termos como ligação,
nó, rede, teia, percurso. As redes são múltiplas e interagem sem que uma
possa englobar as outras: o texto é uma galáxia de significantes e não uma
estrutura de significados. Não há começo, mas reversibilidade, com vários
acessos possíveis.
Em relação ao termo “nó” utilizado por Barthes (op.cit), Primo e Recuero (2003, p.
56), assinalam: “Mais do que seguir links e trilhas pré estabelecidos nos websites, o
blog permite ao blogueiro e aos internautas criar novas trilhas, criar novos nós e
links” . Estes são possíveis porque a maioria dos sistemas de blogs conta com duas
ferramentas: uma, que é a ferramenta de comentários, que permite ao leitor deixar
suas observações sobre o que o dono do blog postou, como esta do link do blog da
LoVeLy WiTcH : --> Comente aki>-- que inicia com sinais de pontuação. No caso a
autora, solicita que este outro (o leitor) participe deste espaço de sua escrita
íntima
58
. Ela deixa não só uma pergunta, como a do recorte acima, mas sugere um
certo mistério quando escreve:
aiai... to tristi x'( mas por favor non pergunte pq tah?! num gosto d falar dessas
coisas aki no blog... pensamentos embaralhados, dúvidas, confusões... fazer o q? eh
a vida =\
E a outra é a ferramenta chamada trackback que, conforme explicam Primo e
Recuero (2003, p. 56),
permite que outros posts, em outros blogs, que fizeram referência a
um texto sejam linkados junto dele, de modo a mostrar ao internauta a
discussão que está sendo realizada em torno do assunto também por outros
blogs. São exatamente essas ferramentas que fazem do blog um sistema
que traz uma organização diferenciada para a Web. Em uma caixa de
trackbacks é possível ler a repercussão de uma determinada discussão em
outros blogs, aumentando e complexificando a rede hipertextual que um
blog pode proporcionar.
Uma das formas de linkar também outros blogs, dando continuidade a essa rede
hipertextual, é através das indicações que o dono/ na do blog faz quando indica os
blogs que visita,como estes indicados no blog da Pink and Black:
58
Esta é uma das categorias de análise da pesquisa que é discutida mais profundamente adiante.
49
Blogs que visito constantemente
Figuras nº.8: blog Pink and Black
Ainda na análise da hipertextualidade podemos contar com uma conceituação dos
anos 70 de Theodor H. Nelson (apud CASALEGNO, 2003 p. 274), que entende o
hipertexto como “uma escrita não seqüencial, um texto dividido que permite ao leitor
escolher a parte do seu interesse”. Casalegno (2003, p. 274) complementa a idéia
deste autor sinalizando que o hipertexto seria
Uma série de fragmentos intermediados por ligações pelas quais o
leitor estabelece diferentes esquemas.Enfim, o hipertexto compreende a
noção de hipermídia, o que inclui modos de informação visuais, sonoros,
animados, bem como outras formas de organização de dados. A difusão da
Internet tornou familiar aos usuários esse novo tipo de escrita/ aquisição de
informação.
Outro autor no qual me apóio para tal discussão é Araújo (2004); este analisou, da
perspectiva da área do discurso, os chats (salas de bate-papo), na internet. O autor
50
utiliza a abordagem teórica de Bakhtin (1997), acerca dos conceitos de gênero,
esfera e transmutação, concluindo que os chats adquirem o status de gênero
discursivo. Ele considera a Web como: “uma esfera complexa de comunicação
humana”, ou, como prefere Marcuschi (2004), “um domínio discursivo”. Sendo um
espaço de práticas humanas de comunicação, conseqüentemente, tal esfera
originará muitos gêneros para organizar as práticas linguajeiras vividas ali.
Alguns autores (KOMESU 2004 e 2005; PRIMO E RECUERO 2003; SCHITTINE
2004; e SIBILIA 2003) têm se ocupado em analisar a escrita nos blogs pessoais ou
diários virtuais, de formas diferentes. A jornalista Denise Schittine (2004, p. 157)
aponta que é difícil querer classificar os blogs dentro de uma categoria devido a eles
serem considerados como um espaço de escrita íntima. Explica que:
A verdade é que os blogs acabam sendo um meio caminho entre a
ficção e a informação, entre o jornalismo e o escrito íntimo, isso quando não
misturam bastante uma coisa com outra... Por outro lado, por ser
considerado um escrito íntimo, o blog esbarra numa série de preconceitos
históricos relativos ao “gênero” – como chamaremos aqui o escrito íntimo,
embora com algumas exceções. A condenação da subjetividade como meio
de expressão e a acusação da autobiografia como um “gênero menor” são
questões com as quais os blogueiros vão se deparar novamente – questões
estas que os diaristas tradicionais já enfrentavam.
Finalizo com a pergunta da autora Rocha (2003 p. 75): Não seriam os blogs os
herdeiros de diversos gêneros literários e jornalísticos na era da cibercultura?
51
4 PROBLEMA DA PESQUISA E OS CAMINHOS DA
INVESTIGAÇÃO
4.1 PROBLEMA DA PESQUISA
Meu problema de pesquisa pode ser assim apresentado: como as
identidades das jovens blogueiras se constituem e se expressam através de suas
narrativas, comentários e outros tipos de textos verbais e imagéticos encontrados
em blogs?
Com base nos Estudos Culturais de inspiração britânica e nos estudos sobre
cibercultura e juventude que foram retomados brevemente nos capítulos anteriores,
é que situo a minha pesquisa, buscando discutir como as diferentes formas de
narrativas e outros textos encontrados nos blogs analisados criam o que Lemos
(2004) nomeia como comunidades simbólicas e, em conexão com as mesmas,
identidades. Sob esta perspectiva, ele aponta que “o que agrega os internautas são
afinidades intelectuais ou espirituais, formando coletivos de interesses comuns” (p.
140). Porém, seguindo na linha de argumentação dos Estudos Culturais, há de se
fazer o contraponto entre as “comunidades simbólicas” de Lemos (2004), e as
identidades na pós-modernidade discutidas por Bauman (2005). Este aponta para o
questionamento de que os sujeitos são interpelados pela “natureza provisória de
toda e qualquer identidade”. Será que podemos pensar que esta recente prática de
escrever em um diário virtual constitui-se no desejo de busca de uma identidade por
estas jovens em uma comunidade simbólica?
A autora portuguesa Silveirinha (2001) discute, em seu artigo: Novos Media,
Velhas Questões, a passagem da comunicação face a face para a comunicação
mediada por computadores, considerando esta como “uma forma de articulação das
52
sociedades modernas que implicou uma ampla e generalizada mediação das
relações sociais” (p. 1). O referido autor, utilizando-se das idéias de Parrish, R.
sinaliza que:
Para os comunitários virtuais são as tecnologias da comunicação
que surgem - depois de durante uma boa parte do século terem
representado precisamente aquilo que nos afastava impondo a sua
unidereccionalidade-como a solução para os problemas de sociabilidade e
para o desejo de estar em comunidade oferecendo a possibilidade de criar
comunidades virtuais. Na transposição da comunidade clássica para a
virtual, no entanto, muito muda nos discursos. O novo contexto implica
habitualmente que, mais do que reencarnar uma velha arena, temos um
contexto inteiramente novo, que abre possibilidades totalmente novas, quer
para a criação de comunidades quer, por extensão, para a criação de novas
identidades (p. 7-8).
É importante realizar este recorte para delinear as análises desta pesquisa,
considerando, aqui, que há diferentes formas de pensar as comunidades virtuais,
assim como diferentes formas de utilização dos blogs que remetem a diferentes
identidades. Neste sentido é importante considerar os estudos que outros teóricos já
realizaram sobre os blogs; tanto Schittine (2004) quanto Komesu (2005) abordaram
em suas pesquisas a necessidade do espetáculo ou “exposição pública” (SIBILIA,
2003; 2005) e da busca pela fama na sociedade atual; ambas abordam os reality
shows em suas pesquisas, para ilustrar a aparente necessidade de
espetacularização da vida íntima na pós-modernidade. É importante destacar que,
na modernidade, a preservação da intimidade era mantida e cultuada; Prost e Vicent
(1992) observaram que, na história da vida privada, aconteceu um desdobramento
desta intimidade, e o processo de individualização dos espaços foi cada vez mais
aprimorado. Os quartos, antes coletivos, passaram a ser individuais, com todos os
itens necessários para que o sujeito mantivesse a sua privacidade. Já na pós-
modernidade, observa-se uma manutenção do espaço físico da individualidade e, ao
mesmo tempo, uma necessidade de mostrar-se a qualquer custo, utilizando, neste
sentido, os meios midiáticos; como exemplo, temos os programas Big Brother ou a
exposição da vida privada através das narrativas de si em blogs com a possibilidade
da utilização simultânea de webcams, entre outras práticas que vêm ocorrendo com
o uso também da web. Para ilustrar uma destas discussões me apóio em Sibilia
53
(2005), que inspira-se também nas idéias sobre “interioridade psicológica” do
psicanalista Bezerra Jr.(2002), e escreve:
Acompanhando as mudanças que estão acontecendo em todos os
âmbitos, as narrativas do eu também estão vivenciando profundas
transformações. “Se na cultura do psicológico e da intimidade o sofrimento
era experimentado como conflito interior, ou como choque entre aspirações
e desejos reprimidos e as regras rígidas das convenções sociais, hoje o
quadro é outro: na cultura das sensações e do espetáculo, o mal-estar
tende a se situar no campo da performance física ou mental que falha, muito
mais do que numa interioridade enigmática que causa estranheza”
(BEZERRA Jr. 2002). O fenômeno dos diários publicados na Web, com toda
a sua parafernália de confissões multimídia e, especialmente, as webcans
que transmitem “cenas da vida privada” ao vivo 24 horas por dia, fornecem
um prisma privilegiado para examinar este desvanecimento da interioridade
e as novas tendências exibicionistas e performáticas (p. 3-4).
Pontuo porém que o aspecto central da minha análise está na ênfase das
narrativas que constituem os processos identitários das jovens blogueiras, tentando
construir uma argumentação apoiada por estes dois eixos: Estudos Culturais e
cibercultura. Para tal, entendemos que o campo dos Estudos Culturais é um espaço
fértil para articular diferentes problematizações acerca dos temas escolhidos.
Venho estudando discursos que tratam da juventude contemporânea como
aquela que é afetada por estas novas tecnologias, e leio que a cibercultura estaria
produzindo uma juventude nomeada como alienada, desinteressada, desmotivada,
individualista e tantos outros adjetivos que circulam pela sociedade. Manifesto,
assim, o meu interesse em discutir se este discurso circulante se efetiva na
observação das narrativas de si destas blogueiras, e qual a relação destas com o
universo dos estudos, da família, com a expressão da intimidade, assim como
observar a relação que estas blogueiras desenvolvem com o leitor.
4.2 BUSCANDO O MATERIAL – ESCOLHA DE BLOGS
Na primeira fase da pesquisa, que foi exploratória, pesquisei em jornais e revistas
as reportagens que tratavam do assunto de blogs; na segunda fase, que
correspondeu à fase de delimitação do estudo, pesquisei diariamente durante dois
meses (maio a junho de 2006) sites especializados em hospedar blogs pessoais.
54
Nesta segunda fase, a observação se deu através de leitura das narrativas de si de
quatro blogs de meninas pertencentes a diferentes faixas etárias e diferentes
estados brasileiros. Enfim, para o critério de escolha dos blogs selecionados levei
em consideração os seguintes aspectos: adequação à faixa etária pretendida,
freqüência regular das postagens; a consistência e a riqueza dos relatos
autobiográficos, incluindo dimensões variadas como menção à escola ou aos
estudos, à família, aos amigos, os detalhes gráficos, os ídolos, as músicas, e as
referências que as blogueiras faziam aos seus próprios blogs.
Apresento com detalhes a seguir o itinerário que percorri para chegar a
esses blogs. Parti, inicialmente, de pesquisa no site da revista Veja
59
. Escolhi esta
por considerar que suas reportagens são sempre vinculadas a questões da
atualidade. Ao colocar a palavra de busca “blog” encontrei na primeira vez 33
ocorrências
60
; a primeira referência aos blogs encontrada foi na reportagem
publicada na edição: Especial Jovens
61
, na seção Comportamento com o seguinte
titulo: Blogs: O diário do século XXI é público. Na página da referida matéria
encontrei o seguinte título: Meu querido Blog - O diário do século XXI é on-line, para
a galera poder bisbilhotar.
Devido a esta incursão pelas reportagens veiculadas pela referida revista,
comecei a pesquisar nos sites especializados em hospedar este tipo de serviço;
primeiramente pesquisei o site Blogger.globo.com, que oferece a possibilidade de
pesquisar em FRESH BLOGS - os últimos 10 blogs atualizados, que estão
relacionados por nomes tais como: CaRpE DIEm, Meu bloguinho. Ou então, é
possível pesquisar em: BLOGS OF NOTE - “Navegue por aqui e confira os 10 Blogs
que chamaram nossa atenção esta semana”, sendo que estes também aparecem
relacionados pelos nomes dos blogs tais como: Vinicius Valentim ou outro como: 100
sal.
Nesta página, é oferecido o link para criar um blog próprio, assim como a
coluna: WHAT´S UP, que aponta trechos de alguns blogs hospedados neste site que
transcrevo
62
:
59
Disponível em: http: //veja.abril.com.br/busca/resultado. Acesso em: 09 maio 2005.
60
Disponível em: http: //veja.abril.com.br/busca/resultado. Acesso em: 24 maio 2005.
61
Data da publicação: Julho de 2003.
62
Transcrevi apenas três dos oito trechos de blogs oferecidos.
55
Blog: Meias verdades:
-Insights profundos vindos de onde menos se espera: meias. Cartoons
simples, cores primárias, três meias e um blog. Quem gostava de As cobras de Luis
Fernando Veríssimo vai reconhecer o tom irônico e o humor ácido das Meias
Verdades. Confira e veja que há vida inteligente dentro das gavetas de seu
armário...
- BloggerMan [4.5.04].
Blog: Instante Anterior:
Quem se atreve a me dizer do que é feito o Instante Anterior? Um blog sobre
a vida de mais um rosto na multidão? Seria ele feito dos devaneios de um cara
estranho que ganha a vida tocando numa banda de sucesso? Se por ventura você
descobrir a identidade do autor, considere-se um vencedor!
- BloggerMan [3.5.04].
Blog: Pipoca Latina:
O Pipoca Latina anuncia: entra em cartaz no Brasil um grande filme, “Diários
de Motocicleta” de Walter Salles, o incensado diretor de “Central do Brasil”. Vemos
um Che Guevara no auge de seus 20 anos viajando com um amigo á bordo de uma
motocicleta pela América Latina. Suas impressões ajudaram a provocar, nove anos
depois, a Revolução de Cuba. È hora de orgulhar-se de seu sangue latino e correr
aos cinemas!
- BloggerMan [12.5.04]
Acessei todos os blogs apontados neste site e fui delineando a minha escolha
conforme a análise destes. Alguns eram blogs de adultos, outros eram temáticos: de
poesias, crônicas, música, futebol, cinema, enfim, com uma variedade enorme.
Como pretendia focar minha pesquisa em blogs de jovens meninas, continuei
pesquisando durante longas horas na internet em outros sites que oferecem este
mesmo serviço, até chegar no site: http://www.blogs.com.br, que se auto denomina
como: “Ponto de encontro dos blogueiros” e o “maior guia de blogs e flogs do Brasil,
com mais de 42188 blogs cadastrados”. Foi possível fazer uma pesquisa mais
56
detalhada nele, porque é oferecida a busca de blogs por assunto, Estado, os novos,
os mais clicados, blogs aleatórios, etc. Segui na pesquisa visitando primeiramente o
link oferecido na página inicial:
Últimos blogs
Karine100%Pink
MY Sweet Life
Cantinho da Hello Kitty
Rodrigo e Fernanda
Garotas Zipadas
Badalinho
MEU DIARIO DE BORDO.
A Vida de Sininho
EuZiNhYaX
Sejam Bem Vindos
(¯`•¸·´¯)-=Þëqµëñä Þö놡zä=-(¯`·¸•´¯)
Entre Quatro Paredes
jekinhadoida
Gustavo Brasil
Diario de um sonho
Comecei então a navegar em alguns dos blogs deste site e, conforme ia lendo,
decidi, evitando uma certa dispersão nos conteúdos e tipos de blogs, focalizar os
blogs de meninas. Nos blogs dos meninos, era possível encontrar algumas
narrativas de si, porém os mais ricos em histórias e ornamentações eram os das
meninas. Também procedi a outro recorte: pesquisar blogs por tema; neste há várias
opções, mas a minha decisão foi pelos blogs pessoais. Como resultado desta busca,
apareceram 37829 blogs pessoais, e uma amostra deles trago abaixo:
Resultado da Busca: Blogs pessoais
paz harmonia luz
novo
página pessoal que deseja harmonia e paz para todo belford roxo rj
Adicionado: 21:Aug:06 | Cliques: 0 | Link Quebrado
Peccata Minuta
novo
Pecados, próprios e alheios, confessados, comentados, criticados, celebrados. Humor e mau humor. Opinião,
pensamentos, histórias, filosofias estranhas e por vezes rebeldes. Um ponto de vista diferente, em muitas palavras.
Em poucas palavras, mulher. Montevideo - Uruguay
Adicionado: 14:Jul:06 | Cliques: 5 | Link Quebrado
57
Sobre meu mundo.
novo
Blog criado em uma tarde fatídica! É um blog pessoal, onde falo de coisas que acontecem no meu dia a dia.
Adicionado: 30:Jun:06 | Cliques: 9 | Link Quebrado
Stupid Thought
novo
um blog muito pessoal onde podem ler um pouco acerca de mim ... tambem com algumas coisinhas para os meus
visitantes . Portugal
Adicionado: 16:Jun:06 | Cliques: 14 | Link Quebrado
Um bebê em minha vida...
novo
Blog pessoal onde contarei detalhes da minha nova experiência: minha gravidez.
Adicionado: 21:Jul:06 | Cliques: 8 | Link Quebrado
*_* dia - a - dia de [Princesa]
É só mais um blog pessoal, mas ainda há de melhorar :)
Adicionado: 29:Oct:03 | Cliques: 55 | Link Quebrado
*_Paulinha_*
Aê, pessoal entrem no blog da Paulinha (Paula Flumian Soubhia). É um blog muito legal, com um guest map,
enquete e comentários!!! Entre e deixe seu recado!!!! Campo Grande
Adicionado: 23:Feb:04 | Cliques: 196 | Link Quebrado
*{Blog Da Thais Mara}*
Um blog pessoal q eu tento dizer como me sinto pra pessoas q eu amo.... Sao paulo
Adicionado: 17:Jan:03 | Cliques: 28 | Link Quebrado
*~::LoVeLy WiTcH::~*
Meu dia-a-dia expresso em gifs ^^
Adicionado: 30:Apr:06 | Cliques: 261 | Link Quebrado
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Fui visitando e descartando alguns, embora de muitos tivesse a impressão de que
se travam de blogs de meninas, em função do nome ou do pequeno texto que vinha
abaixo. Por exemplo, havia um blog com o nome de: Cantinho da Hello Kitty, mas,
ao ler os posts, não encontrava o recorte que precisava. Alguns são blogs de
mulheres adultas que utilizam o nome de algum tipo de ícone juvenil, como por
exemplo o da Hello Kitty. Outros que visitei ofereciam pouca riqueza das narrativas
de si, e eram muito mais relacionados a letras de músicas, fotos de sua cidade, ou
blogs muito recentes sem muita história, ou ainda com narrativas que não faziam
nenhuma alusão a escola, sendo que esta é uma das categorias de análise que
havia escolhido.
Outra dificuldade encontrada foi relativa aos endereços inexistentes, embora os links
para o blog continuassem disponíveis na página. Ao acessá-los encontrava
mensagens do seguinte tipo:
58
Segui na pesquisa e optei pela escolha de blogs de meninas na faixa etária-suposta
- entre 10 e 18 anos, devido à riqueza das recorrências e rupturas nas narrativas
encontradas nessa faixa etária.
Considerei, também, o critério de que nesta faixa etária encontram-se jovens no
nível regular de idade escolar; assim seria possível perceber também a preocupação
destas jovens com vários aspectos ligados ao universo escolar e também na escolha
profissional para o vestibular. Outro critério de escolha foi o de selecionar blogs de
diferentes regiões geográficas do Brasil, devido à riqueza possível por esta
dispersão.
O material de pesquisa, enfim, ficou constituído por blogs de quatro diaristas
brasileiras entre 10 e 18 anos, todos hospedados no site Blogger; nos referidos
blogs estão disponíveis os perfis das blogueiras. Os blogs escolhidos foram:
a) Blog: By Nany - (http://www.bynanny.blogger.com.br).
Cidade: Rio de Janeiro.
Idade: 15 anos.
Perfil:
[Ariane]
e o que vc deve saber sobre ela???
* Nany
* Rio do Janeiro \O//
* Nasceu em Belo Horizonte
* Tem 3 irmãos
* Tb tem 1 cachorro.. o Nick
* Boa ouvinte
* Porém má conselheira
* Adora³³³³³³³³³³ seus amigos
59
* Nada criativa
* Perfeccionista
* Paciente (quase sempre)
* Detalhista
* Distraída²²
* Não consegue ficar séria por mto tempo_e isto ñ a agrada
* 10000x a msma música as usual
* Não atualiza o blog com mta frequência
* Não gosta de praia
* Tímida³³³³³³³³³³³³³³
* Fala Pouco
* Leonina(01/08)
* Anti-bush³³³³³³³
* Harry Potter
* Simple Plan
* Verde *-*V
* Sempre (..), nunca (...)
* Fato. Fato. Fato. Fato³²¹.E ela ama essa palavra.. pq? nem ela sabe.
* E ela irá se lembrar da cor da camiseta q vc usou na 7ª vez q ela te viu.. mas n vai se
lembrar do que vc disse p ela meia hora atrás..
* ah! e o seu quarto é lilás tb.. hauhauahuah
^___~
b) Blog: Loveley Witch - (http://www.witch_grazi.blogger.com.br)
Cidade: São Roque - SP.
Idade: 16 anos.
Perfil:
MeU NoMi:
ApeLiDo: Zi
NíVeR: 19/07
IdAdE: 16 invernos
SiGnO: câncer
MoRo eM: São Roque/ SP
IcQ: Ñ tenho +
CeL.: Siemens A57, TIM, Pré-pago (e daí?!)
MúSiK: No momento 'Lonely' (Akon)
BaNdAs: Linkin Park, Green Day, Blink 182, Evanescence, The Calling, Good Charlotte,
Nickelback, Nightwish, CPM22, CBJr, RHCP, Hoobastank, Simple Plan...
FrAsE: "Não faça da sua vida um rascunho, pois pode não dar tempo de passá-la a
limpo"
AmIgO: Aquele q ao invés de enxugar suas lágrimas ñ as deixa cair
SeGrEdO: Se eu contar ñ vai + ser segredo...
MeDo: De escuro x)
SoU fÃ: Da revista Witch
FiLmEs: Passaporte p/ Paris (meu sonho é conhecer Paris¬¬), Pearl Harbor (axo q
gostei pq já tinha estudado isso na escola, entaum eh um dos únicos filmes baseados em
fatos reais q eu entendi^^), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (o melhor filme da
60
série até agora)
LiVrO: Harry Potter e a Ordem da Fênix (Eu Liiii!!! XD)
JoGo: Xadrez (aprendi por brincadeira, gostei e comecei a levar a sério =))
EsTiLo MuSiCaL: Rock (emocore, metal melódico, punk rock, hard core... depende da
músik)
GoStO D+: Dos meu amigos... (ser filha única é legal, mas tem seu lado solitário é por
isso q faço dos meus amigos meus irmãos! Dolu mto vcs!!! XD)
NãO AdMiTo: Rótulo! odeeeeio qndo me rotulam, seja pelo jeito de falar, de se vestir ou
pelo estilo de músik... enfim, não sou um produto sou apenas -->EU!<--
Me ArrEpEnDo: Só de ter me arrependido =P
UmA PeSSoA: Você!!!
Um LuGaR: Aqui ou ali... depende do meu humor ^^
CoNsIdEAaÇõEs FiNaIs: Essa sou eu!
c) Blog: Mesma Vidinha de Sempre - (http://simples-vida.blogspot.com)
Cidade: Rio de Janeiro.
Idade: 18 anos.
PERFIL
Nome: Carol
Idade:18
Aniversário:
Signo:
Cidade: Rio de Janeiro
Nacinalidade:
Descendência: portuguesa (por parte de mãe) e japonesa (por parte de pai)
Amigos: não muitos, mas q eu gosto muito!
Formatura:
Contato:
d) Blog: Pink and Black - (http://www.pinkseblacks2.zip.net)
Cidade: Rio Grande do Norte.
Idade: 10 anos.
Perfil
Nome:Rebecca
Apelido:Alguns amigos me chamam de becca as vezes
Idade:10
Cidade:Natal/RN
Gosto de:Hummm...sorvete, MSN,NEC e dos meus amigos
Não gosto de:Meu irmão,power rangers,computador travado
Signo:Áries
61
4.3 ANALISANDO – FORMAS DE INVESTIGAÇÃO
A metodologia escolhida por mim consiste de uma análise de todos os textos-
verbais e imagéticos - encontrados nos blogs, considerando os usos destes artefatos
culturais pelas blogueiras como oferecendo uma possibilidade de entender algumas
das relações entre as tecnologias da comunicação e os processos de construção de
identidades juvenis. Minha pesquisa, de cunho qualitativo, está amparada pelos
estudos sobre a pesquisa qualitativa desenvolvidos por Denzin e Lincoln (2000), os
quais apontam que a própria pesquisa qualitativa é um campo de investigação, e
que este tipo de pesquisa atravessa as disciplinas, os campos e os sujeitos. Neste
sentido utilizamos possibilidades oferecidas pelos Estudos Culturais, seguindo
Treichler e Grossberg (SILVA, 1995, p. 9).
A metodologia dos Estudos Culturais fornece uma marca igualmente
desconfortável, pois eles, na verdade, não têm nenhuma metodologia
distinta, nenhuma análise estatística, etnometodológica ou textual singular
que possam reinvidicar como sua. Sua metodologia, ambígua desde o
início, pode ser mais bem entendida como uma bricolage. Isto é, sua
escolha da prática é pragmática, estratégica e auto-reflexiva [...]. A escolha
de práticas de pesquisa depende das questões que são feitas, e as
questões dependem de seu contexto. È problemático para os Estudos
Culturais simplesmente adotar, de forma acrítica, quaisquer das práticas
disciplinares formalizadas da academia, pois essas práticas, tanto quanto as
distinções que inscrevem, carregam uma herança de investimentos e
exclusões disciplinares e uma história de efeitos sociais que os Estudos
Culturais estão freqüentemente inclinados a repudiar.
Neste viés da análise interpretativa é que se inscreve a utilização de alguns
elementos dos métodos biográficos na análise de trajetórias de vida; destaco as
contribuições, sobretudo, dos trabalhos de Jean-Philippe Miraux e Leonor Arfuch.
Numa pesquisa de caráter qualitativo, conforme aponta Thiollent (1985) o
pesquisador deve estar ciente de que o processo reflexivo e de construção do
conhecimento se encontra centrado no sujeito da pesquisa (pesquisador ou
pesquisado), entendido em sua postura interpretativa e compreensiva acerca do
objeto (ou sujeito de estudo) e das condições sociais da realidade que o circunda.
A pesquisa de observação das narrativas de si nos blogs de meninas deu-se
integralmente a partir do site: http://blogs.com.br. A escolha foi intencional, pois foi o
site que proporcionou uma rica oportunidade de escolhas. Efetuei uma leitura
62
interessada e atenta destes textos e fui agrupando-os por um conjunto de registros
encontrados em cada blog, reagrupando-os posteriormente de forma sucessiva, até
formar os grandes grupos temáticos, as denominadas categorias de análise. Ao
concluir as análises das narrativas, elas ficaram organizadas da seguinte forma: o
universo escolar, as confissões do “eu”, incluindo-se nesta categoria as relações
familiares e com os amigos; a relação que estas blogueiras estabelecem com o leitor
e as preocupações que estas demonstram em relação aos aspectos de atualização
e estética de seus blogs, e a música que foi outro aspecto evidenciado tanto nas
narrativas, quanto nas preocupações destas em agradar ao leitor.
As recorrências nos materiais dos quatro blogs foram classificadas apenas para fins
analíticos em cinco categorias de análise:
1. A escola;
2. O Erotismo na sala de aula;
3. A Intimidade e os sentimentos;
4. A estética: giftstemplates - premiação;
5. A música.
Essas escolhas foram realizadas por meio de eixos de análise específicos, que
busquei compreender através das seguintes questões:
Escola: De que forma esta juventude vê a escola? Quais são as relações que se
estabelecem com a escola e a vida destas jovens?
Intimidade e a relação com o blog (subjetividades): A relação das jovens com a
família; as incógnitas/ os não ditos, confissões, amigos, a relação com o leitor e o
estado de humor.
O Erotismo na sala de aula: Embora a temática ainda seja pouco discutida, esta
é também recorrente na escrita de duas blogueiras.
A estética: gifts, templates, premiações: A preocupação em justificar-se para o
leitor, quando eventualmente não podem escrever, a preocupação estética com o
blog, mudança do layout, colocação de figuras, mensagens deixadas para o leitor
através de poesias, a participação em concursos de blogs.
A música: Questões das músicas utilizadas ao acessar a página do blog e estilos
musicais com as quais se identificam estas jovens.
63
5 CULTURA E IDENTIDADE
A cultura, em seu sentido mais amplo, é uma forma de atividade que
implica alto grau de participação, na qual as pessoas criam sociedades e
identidades. A cultura modela os indivíduos, evidenciando e cultivando suas
potencialidades e capacidades de fala, ação e criatividade (KELLNER,
2001, p. 11).
Partindo do entendimento de Kellner (2001, p. 11) de que “a cultura modela
os indivíduos”, situo primeiramente que os estudos sobre cultura são amplamente
discutidos por Norbert Elias (1994), que analisa este “modelar”, também referido por
Kellner (2001), da seguinte forma: através do condicionamento e do adestramento,
em relação aos processos culturais ou civilizatórios (p. 10). É importante situar que
Elias (1994) explica que a palavra civilização em francês ou inglês, ou o alemão
Kultur são inteiramente claras no emprego interno da sociedade a que pertencem
O conceito francês e inglês de civilização pode se referir a fatos
políticos ou econômicos, religiosos ou técnicos, morais ou sociais. O
conceito alemão de Kultur alude basicamente a fatos intelectuais, artísticos
e religiosos e apresenta a tendência a traçar uma nítida linha divisória entre
fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais por
outro (p. 24).
Estas interpretações realizadas por Elias (1994) sobre o significado das
palavras em diferentes línguas apontam para a questão de que a cultura não é mais
analisada em uma perspectiva universal, mas, sim, multicultural.
A articulação entre cultura e identidade vem sendo também discutida a partir
de 1960, pelos Estudos Culturais britânicos, que situam a cultura no âmbito de uma
teorização mais geral. Nesse sentido, a cultura é capaz de produzir então
identidades e ensinar maneiras de ser. Kellner (2001) aponta que, através desta
discussão, em torno dos modos de produção cultural, é possível
64
Delinear o modo como as produções culturais articulam ideologias,
valores e representações de sexo, raça e classe na sociedade, e o modo
como esses fenômenos se inter-relacionam. Portanto, situar os textos
culturais em seu contexto social implica traçar as articulações pelas quais as
sociedades produzem cultura e o modo como a cultura, por sua vez,
conforma a sociedade por meio de sua influência sobre indivíduos e grupos
(p. 39).
Para o empreendimento desta análise crítica da cultura, Kellner (2001)
propõe que esta seja realizada através de uma perspectiva multicultural, entendendo
que: “o multiculturalismo reconhece que há muitos componentes culturais de
identidade, e o estudo cultural crítico indica o modo como a cultura fornece material
e recursos para a construção de identidades e como as produções culturais são
acatadas e usadas no processo de formação de identidades individuais no dia-a-dia
(p. 127). O autor argumenta que a:
Distinção entre “cultura” e “comunicações” é arbitrária e rígida,
devendo ser desconstruída. Quer tomemos “cultura” como os produtos da
cultura superior, quer como modos de vida, quer como o contexto do
comportamento humano, etc., vermos que há intima ligação com a
comunicação. Toda cultura, para se tornar um produto social, portanto
“cultura”, serve de mediadora da comunicação e é por esta mediada, sendo
portanto comunicacional por natureza. No entanto, a “comunicação”, por sua
vez, é mediada pela cultura, é um modo pelo qual a cultura é disseminada,
realizada e efetivada. Não há comunicação sem cultura e não há cultura
sem comunicação (p. 53).
Nos Estudos Culturais a cultura não é entendida da primeira forma, como
“conjunto de produtos da cultura superior”, mas sim como manifestações da cultura
de uma forma geral. A análise empreendida pelos estudiosos dos estudos culturais é
no sentido de escrever e reescrever a história sempre buscando analisar o contexto
no qual estão ocorrendo as práticas culturais.
Para falar em cultura e identidade, é preciso abordar mais uma vez a
questão do tempo e do espaço. A idéia de tempo na pós-modernidade nos leva à
percepção do efêmero, do líquido, usando aqui um dos conceitos de Bauman
(2001), ou do tempo fragmentário e descontínuo, discutido por Harvey (2005). Essas
novas percepções temporais e espaciais são consideradas por Hall (2003, p. 68),
como:
Um movimento de distanciamento da idéia sociológica clássica de
“sociedade” como um sistema bem delimitado e sua substituição por uma
65
perspectiva que se concentra na forma como a vida social está ordenada ao
longo do tempo e do espaço... Essas novas características temporais e
espaciais, que resultam na compreensão de distâncias e de escalas
temporais, estão entre os aspectos mais importantes da globalização a ter
efeito sobre as identidades culturais.
Esta nova forma de entender as identidades como híbridas, cambiantes,
inacabadas, relaciona-se também com as novas tecnologias; estas, conforme
Kellner, (2001, p. 28) farão com que “os novos indivíduos pós-modernos, como se
afirma, tenham de aprender a conviver com uma imensa fragmentação e proliferação
de imagens, informações e tecnologias novas, que precisarão processar”.
Para Bauman (2001), esta convivência com a fragmentação de imagens,
informações e tecnologias leva o sujeito pós-moderno a optar por “escolhas
racionais”, buscando “a gratificação e evitando as conseqüências”. E o autor
continua:
Corpo esguio e adequação ao movimento, roupa leve e tênis,
telefones celulares (inventados para o uso dos nômades que têm que estar
“constantemente em contato”), pertencentes portáteis ou descartáveis – são
os principais objetos culturais da era da instantaneidade... É difícil conceber
uma cultura indiferente à eternidade e que evita a durabilidade. Também é
difícil conceber a moralidade indiferente às conseqüências das ações
humanas e que evita a responsabilidade pelos efeitos que essas ações
podem ter sobre outros. O advento da instantaneidade conduz a cultura e a
ética humanas a um território não-mapeado e inexplorado, onde a maioria
dos hábitos aprendidos para lidar com os afazeres da vida perdeu sua
utilidade e sentido. Na famosa frase de Guy Debord, “os homens se
parecem mais com seu tempo que com os seus pais” (BAUMAN, 2001, p.
149).
Partindo destas considerações sobre a cultura e identidade, que levam ao
entendimento de não considerar essas últimas como estruturas fixas ou estáveis do
sujeito moderno, vemos que elas são culturalmente construídas através dos
discursos atravessados por poder estabelecidos nas relações sociais e culturais.
Woodward (2000, p. 18) explica que “todas as práticas de significação que produzem
significados envolvem relações de poder, incluindo o poder para definir quem é
incluído e quem é excluído”.
A partir do entendimento de que as identidades são transitórias, Bauman (2005a, p.
12) explica que “qualquer tentativa de “solidificar” o que se tornou líquido por meio
de uma política de identidade levaria inevitavelmente o pensamento crítico a um
beco sem saída”. Desta forma ele entende que
66
[...] Identidades que você assume num momento,
mas muitas outras, ainda não testadas, estão na esquina esperando que
você as escolha. Muitas outras identidades não sonhadas ainda estão por
ser inventadas e cobiçadas durante a sua vida. Você nunca saberá ao certo
se a identidade que agora exibe é a melhor que pode obter e a que
provavelmente lhe trará maior satisfação [...] (p. 92).
Para Hall (2003) a questão da identidade está sendo extensamente
discutida na teoria social. Conforme escreve, “as velhas identidades, que por tanto
tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas
identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito
unificado” (p. 7). O autor discute a crise de identidade, a partir do que ele nomeia
como “deslocamento ou descentração do sujeito”; observa que este deslocamento
cria uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis e neste
sentido, seu pensamento converge com o de Bauman (2005a). Os dois autores
(op.cit) discutem a globalização e seus efeitos sobre as representações da
identidade na pós-modernidade.
A identidade, ou as identidades na pós-modernidade, conforme os teóricos
que anteriormente abordei, situam-se não somente nas três concepções de
identidades que Hall (2003) aponta (sujeito do Iluminismo, sujeito sociológico e
sujeito pós-moderno), mas vão além delas. Na verdade, as identidades sempre
foram fragmentadas, embora fossem antes guiadas pela família, escola e igreja. Mas
nunca foram totalmente moldadas, se assim se pode dizer, por somente uma destas
instituições; ou seja, no meu entendimento sempre houve várias identidades, talvez
não reconhecidas e, assim, pode-se concluir que a identidade sempre foi
fragmentada. Penso que o que se modificou na pós-modernidade foi o nosso
entendimento de que esta fragmentação da identidade é mais uma forma de
compreendermos que é possível uma multiplicidade de possíveis identidades que
serão temporárias ou não. Maffesoli (1996) utiliza o exemplo do discurso de
recepção de uma poeta, na Academia Francesa, que diz reconhecer-se
diferentemente em cada obra, colocando a questão do “eu incerto e flutuante”,
referido por esta, para introduzir a discussão filosófica sobre as variações identitárias
que sofremos durante a vida e coloca que
67
Por um lado, no decorrer de uma mesma existência, cada um muda
diversas vezes. Variações, modificações, conversões, revoluções, inúmeros
são os termos que traduzem estas mudanças. E elas afetam sua aparência
física, de inicio, mas também suas representações, suas relações amicais
ou amorosas, sem falar de sua vida profissional. Quando empregamos uma
expressão comum do tipo “fulano não é mais o que era” aonde foi o
conceito de identidade? Do outro lado, num tempo “x” de sua existência,
esse mesmo individuo é raramente homogêneo a si próprio (p. 304).
5.1 IDENTIDADES E INTERNET
Como anteriormente delineado, as questões referentes a identidades são
discutidas por diferentes teóricos. Alguns deles apontam seus estudos para a
análise das identidades nos espaços proporcionados pela cibercultura; talvez neste
meio as identidades sejam tão ou mais flutuantes que “no mundo real” devido à
diferente percepção do espaço e do tempo. Conforme Lídia Oliveira Silva (2001, p.
152), a internet é um novo espaço que proporciona um novo tipo de “organização
sociotécnica”, a qual “facilita a mobilidade no e do conhecimento, as trocas, os
saberes, a construção coletiva dos sentidos, em que a identidade sofre uma
expansão do eu baseada na diluição da corporeidade”.
Esta “diluição da corporeidade” na internet é também abordada por Canevacci
(2005, p. 149), que a ilustra através de um trecho que ele capturou em um dos sites
de sua pesquisa sobre os nomadismos tecnocomunicacionais:
O corpo se desmaterializa e o jogo começa. Podemos ser o que
queremos, eu poderia ser mulher, homem, homossexual, lésbica, transexual
ou todos ao mesmo tempo, e a relação que instauro poderia ser com uma
mulher, um homem, um homossexual, uma lésbica, um transexual ou todos
ao mesmo tempo. A liberdade de escolhermos nossa identidade, e portanto
a liberdade do anonimato, é totalmente desconstrutivista, seja de um ponto
de vista conflitante em relação a organização institucional repressiva (que
não poderia mais controlar o individuo, por ele ser nômade em seu transitar
identitário), seja em relação a uma cultura da definição que estereotipiza a
sexualidade ( http://www.kyuzz.org/ordanomade) .
Todas estas problemáticas referentes à identidade tomam um novo rumo com essas
recentes possibilidades de “sermos o que queremos” na internet; esta parece feita à
medida de uma modernidade tardia, marcada pela emergência do pluralismo cultural
e pela ênfase na individualidade. A análise de Schittine (2004), referente a este
68
individualismo, aponta que, após a transição de uma busca de individualidade,
descrita por Antoine Prost, em História da Vida Privada:
O individuo busca a delimitação do seu próprio espaço... O
narcisismo, o culto ao corpo e as relações superficiais só servem para
reforçar esse individualismo. A necessidade de conforto e, com ela, o uso
dos meios de comunicação na vida privada – que a princípio integram (o
rádio ouvido em grupo, a televisão assistida em família) e mais tarde isolam
(o walkman e a televisão para cada individuo dentro do quarto) – contribuem
para demarcar esse individualismo (p. 18).
Para Turkle (1997) este individualismo, que antes se estabelecia entre o computador
e o usuário, não se processa da mesma forma internet. A internet “liga milhões de
pessoas em novos espaços que estão a alterar a forma como pensamos a natureza
da nossa sexualidade, a organização das nossas comunidades e até mesmo a
nossa identidade” (p. 11). A referida autora explica que, no final dos anos sessenta,
teve contato com as idéias de vários autores franceses, dentre eles: Jaques Lacan,
Michael Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari, e que estes discutiam as relações
entre a mente e o corpo. Para ela, naquele tempo, tais discussões pouco ou muito
pouco tinham a ver com as suas idéias, já que não comungava com a possibilidade
de um “eu” fragmentado; entretanto ela explica que
Assim, mais de vinte anos depois de encontrar as idéias de Lacan,
Foucault, Deleuze e Guattari, eis que volto a encontrá-las na minha nova
vida no ecrã. Mas desta vez, as abstrações gaulesas são mais concretas.
Nos meus mundos mediados pelo computador, o eu é múltiplo, fluido e
constituído em interacção com uma rede de máquinas; é formado e
transformado pela linguagem; as relações sexuais são trocas de
significantes; e a compreensão resulta da navegação sem rumo aparente,
mais do que análise. E no mundo dos MUDs, gerado por máquinas,
encontro personagens que me fazem estabelecer uma nova relação com a
minha própria identidade (1997, p. 21).
Turkle (1997) baseou parte de seu estudo na análise, dos comportamentos das
pessoas quando assumiam papéis diferentes nos MUDs
63
, onde ela observou um Eu
fluido, um Eu múltiplo, que é construído pela linguagem. Nesse espaço, as
pessoas e as máquinas mantêm uma nova relação entre si. Sibilia (2005) aponta
para as análises que vêm ocorrendo em torno do fenômeno da “crise das
63
MUD-Multi User Dungeon-calabouço Multi-usuário. Programa de informática utilizado para os jogos
interativos em rede onde é possível o jogador simular diferentes papéis em um ambiente de virtual.
69
identidades”, que segundo a sua ótica “não é necessariamente uma má notícia”. A
autora sinaliza que a imaterialidade do ciberespaço seria “especialmente propícia
para a invenção de identidades e para a estilização do eu. A comparação com as
cartas e os diários íntimos pode revelar aspectos interessantes nesse sentido” (p. 5).
São estas e outras formas de análises que hoje vêm se constituindo como
alternativa de estudos no que se refere a identidade e a internet. Embora as análises
incidam sobre diferentes objetos dentro da Comunicação Mediada por Computador
(CMC), Chats, webcans, MUDs,blogs, em algumas o suporte teórico está mais
centrado nos estudos sobre cibercultura, em outras nos teóricos da pós-
modernidade e em suas análises sobre os Estudos Culturais. Nos estudos que
analisei, há convergência de que todos esses meios possibilitam uma nova forma de
imagem identitária, não entrando na discussão se esta é boa ou má, mas, sim,
ocupando-se em discutir de que forma estas novas formas de nos relacionarmos
com o outro através de uma máquina possibilitam um novo entendimento das várias
identidades que podemos assumir nestes tempos líquidos e de instantaneidade
nomeados por Bauman.
5.2 CULTURA JUVENIL
As novas configurações antropológicas formadas a partir das múltiplas
formas de se viver a juventude na contemporaneidade são acessíveis à nossa
observação cotidiana. Deparamo-nos diariamente com os mais variados artefatos
culturais
64
que remetem para o lugar que vem ocupando a juventude na sociedade
contemporânea ou para as discussões acerca das culturas juvenis Canevacci (2005,
p. 18), a esse respeito, afirma que:
O conceito de cultura como algo global e unificado, complexo e
identitário, que elabora leis universais, dissolveu-se seja debaixo de golpes
da nova antropologia critica, seja ainda antes, pela difusão de fragmentos
parciais que não aspiram mais a ser unificados, mas que reivindicam,
vivem... Contudo, ao longo dos fluxos móveis das culturas juvenis
contemporâneas – plurais, fragmentárias, disjuntivas – as identidades não
são mais unitárias, igualitárias, compactas, ligadas a um sistema produtivo
64
Para Jameson (1996), os artefatos culturais são como mercadorias capazes de colonizar da
natureza ao inconsciente.
70
de tipo industrial, a um sistema sexual do tipo monossexista, a um sistema
racial tipo purista, a um sistema geracional de tipo biologista.
Na análise contemporânea da juventude, aponta-se que não há uma única
maneira de ser jovem: existem várias maneiras de ser jovem que se espalham para
muitos campos da vida atual: “a juventude coloniza todos os espaços” (VIANNA,
1997, p. 13). Canevacci (2005, p. 20) sinaliza que “as tradicionais distinções em
faixas etárias se abrem e a idéia de jovem se dilata. Em termos sociológicos,
sabemos que a identificação do “jovem” como faixa etária é recente”.
Para Vianna (1997, p. 10), que argumenta na mesma direção, é difícil definir
o jovem contemporâneo, pois segundo ele, o conceito de juventude
parece ter “colonizado” todo o espaço social. Os “conflitos
geracionais”, que embalaram muitos sonhos de revoluções de costumes e
mudanças políticas, perdem grande parte de sua relevância quando, para
quase todas as idades, “ser jovem ou” se manter jovem (“de corpo e alma“)
passou a ser um objetivo permanente. A juventude é uma espécie de
categoria vendida em clinicas de cirurgia plástica, livros de auto-ajuda e
lojas de departamentos. Se algumas décadas atrás, uma calça jeans
desbotada identificava seu proprietário jovem, hoje seu uso – mesmo
mantendo (e principalmente por manter) a conotação juvenil – foi adotado
por todas as gerações
.
Diante destas observações é que presenciamos diversos teóricos que vêm se
ocupando de estudar a juventude ou o “ser jovem”. Alguns a definem como uma
categoria social, não fixa, dos limites da idade biológica. De qualquer forma, as
classificações encontradas na literatura correspondem a uma construção social das
sociedades modernas, que fixam tais verdades através dos discursos das ciências,
do Direito e do Estado, os quais definem a juventude através do critério universal de
categorizá-la através das idades da vida. Vianna (1997, p. 10) sinaliza que
Os ensaios de cientistas sociais que até o final dos anos 70,
tentavam entender esse fenômeno afirmavam que cultura jovem ou
adolescente (termos eram usados em conjunto - Edgar Morin falava de uma
cultura “juvenil – adolescente”) teria sido formada no “seio da cultura de
massas a partir de 1950” e que “há civilizações sociologicamente sem
adolescência” (MORIN, 1975:137). Hoje, em livros como a coletânea
História dos jovens, aprendemos que a juventude, “em todas as sociedades
é objeto de uma atenção ambígua, ao mesmo tempo cautelosa e plena de
expectativas”. Além disso “as sociedades sempre ‘ construíram’ a juventude
como um fato social intrinsecamente instável” (LEVI & SCHMITT, 1996: 8).
71
A categoria social adolescência, oriunda do discurso da psicologia, é
discutida por Soares (2000), que utiliza tanto a palavra adolescência como juventude
e informa que a categoria juventude é a mais utilizada pelos estudiosos dos Estudos
Culturais. Ela indica, baseando-se em Áries (1981), que o estudo sobre a juventude
tem primeiramente um caráter histórico, apontando para “o período que representa a
transição entre a infância e a idade adulta como um fenômeno inaugurado pela
Modernidade sob condições especificas de cultura e de história, fora das quais ela
não ocorreria” (p. 153). O sociólogo Luis Antonio Groppo (2002, p. 75) explica que,
ao definirmos juventude como categoria social, “a juventude torna-se ao mesmo
tempo, uma representação sociocultural e uma situação social”. Ele observa que
esse processo de institucionalização e legitimação sociocultural da categoria
juventude foi um dos projetos da civilização ocidental moderna, e que, em um
segundo momento, esta situação social sofreu o que ele denomina como um choque
da juventude com os mecanismos de institucionalização. Tal choque tem início no
movimento de contracultura que emergiu em Paris e se estendeu por toda a Europa;
a expressão contracultura nasce, conforme Canevacci (2005, p. 13) “pelo final dos
anos 1960 e morre no início dos 1980. O prefixo “contra” atestava a dimensão da
oposição que as novas culturas juvenis dirigiam à cultura dominante ou
hegemônica”. Esta cultura hegemônica da qual nos fala o autor é aquela que nasce
na América do Norte por volta de 1954, no período de pós-guerra e é discutida por
Militão (2000). No seu estudo Do rock and roll à Internet: música, comunicação e
juventude dos anos 50 aos anos 90, o referido autor explica que, através da música,
os jovens nesta época criam uma:
Identidade grupal, uma rede de traços comuns entre os jovens que
os encorajou a adotar gradualmente novos padrões de comportamento
pessoal, social e sexual. As tribos jovens formaram suas identidades em
grupo, em torno de discos, lanchonetes, festas, sessões de cinema e
audições de programas de rádio (escutados solitariamente em casa ou em
grupo no carro). Esta juventude, embora tivesse suas preferências e seus
canais de mídia específicos, dispunha de tecnologias comunicacionais
limitadas quase totalmente ao sentido unidirecional, que as fazia na maior
parte do tempo receptores de mensagens (p. 198).
O referido autor explica que, a partir de 1960, o fenômeno da cultura POP,
que se expande através dos meios de comunicação em massa, levaria a juventude a
72
partilhar alguns aspectos de identidade em comum. Estas identidades em comum
levam à frente, também, o movimento de contracultura, que é extensamente
discutido por Canevacci (2005). Ele explica que essa cultura juvenil posiciona-se
contra “a” cultura do poder – aquela cultura burguesa, de classe, ou dominante,
herdeira do Iluminismo que tendia a virar ideologia: uma falsa consciência
historicamente necessária que buscava afirmar sua imparcialidade como se fosse
universal. Perante estes diferentes apontamentos, Margulis e Urresti (1998) em seus
estudos sobre a juventude sinalizam que não existiria então uma única juventude ou
um único conceito que pudesse comportá-la, mas sim diferentes juventudes, que
estariam de acordo com a história da condição de juventude da qual fazem parte.
Nos estudos que seguem esta perspectiva, é possível observar que há diferentes
tipos de análises referentes a juventude, não estando apenas relacionadas a
questões históricas , mas também a questões da música popular como
anteriormente citado, e todos os movimentos sociais da juventude que ocorreram a
partir desta. Canevacci (2005, p. 26) sinaliza que:
È ao redor das anarquias elétricas e das descomposturas corporais
emitidas pelo rock que estão nascendo as culturas juvenis. Emergem em
primeiro lugar com clareza e com dureza nos Estados Unidos, porque ali
nasce a indústria cultural. E porque ali nascem as metrópoles
.
Também é possível observar que há uma ampla discussão pelos teóricos dos
Estudos Culturais das questões relacionadas ao gênero e sexualidade conectadas à
juventude. A discussão realizada por Soares (2000), por exemplo, versa sobre as
identidades juvenis e as construções de gênero e sexualidade. A autora (op.cit)
explica que a juventude ou adolescência foram constituídas a partir da divisão desta
em campos disciplinares: psicológico, biológico e sociológico, e perspectivas
culturais: gênero, classe, sexualidade. Em um dos seus artigos, Adolescência
monstruosidade cultural? a autora explica, baseando-se em Corso, (1995) que
“Crescer é um tema recorrente. Mesmo os filmes dirigidos às crianças como o Rei
Leão, Branca de Neve e os Sete anões e Cinderela, falam do processo de crescer,
ou melhor, de se tornar homem ou mulher heterossexual e constituir família”
(SOARES, 2000, p. 152). Assim, os filmes analisados por Soares (2000)
endereçados aos jovens ensinam modos de ser um adolescente homem e
73
heterossexual, assim como uma menina ser uma mulher e heterossexual. As
contribuições dos estudos desenvolvidos pela academia têm sido extremamente
úteis para a educação, na medida em que possibilitam compreender que a juventude
é muito mais que os discursos que aprendemos como os certos e que através da
cultura da mídia são reforçados os modos de ser, parecer e permanecer
eternamente jovem.
Outro estudo realizado nesta linha é o de Fischer (1996) que, em sua tese
de doutorado, intitulada: Adolescência em discurso: mídia e produção de
subjetividade, pesquisou o discurso sobre corpo nas revistas femininas, fazendo um
recorte de uma revista que se dedica ao público juvenil feminino. A autora aponta
que:
No mesmo “tom amigo, mas firme” daquelas primeiras revistas
européias da década de 30, Capricho vem falar à menina de 11, 13, 15 ou
17 anos, sobre sua vida em família, o convívio com pais e irmãos, a relação
principal com os meninos, o namoro, a virgindade, os modos de se fazer
bonita, os exercícios e dietas para cuidar dos excessos de peso, as formas
de resolver problemas escolares, as dificuldades com as amigas. No centro
de todos esses textos, uma constante: o direcionamento ao corpo e à
sexualidade feminina (p. 208-209).
Todos esses pontos de vista e discussões em torno da juventude apontam que há
um grande interesse por parte da academia em discutir este tema sob o olhar deste
na cultura de um modo geral. As tentativas que ocorrem em tentar fixar o conceito de
juventude nos levam a compreender, dentro da perspectiva dos Estudos Culturais,
que o que se chama, às vezes, de cultura juvenil é uma cultura fragmentada, híbrida,
e que, dentro desta perspectiva, não há um interesse em fixá-la em faixas etárias
definidas e ou características intrínsecas do ser humano em determinada idade, mas
compreender que:
Cada jovem, ou melhor, cada ser humano, cada indivíduo pode
perceber sua própria condição de jovem como não terminada e inclusive
como não terminável. Por isso, assiste-se a um conjunto de atitudes que
caracterizam de modo absolutamente único nossa era: as dilatações
juvenis. O dilatar-se da autopercepção enquanto jovem sem limites de idade
definidos e objetivos dissolve as barreiras tradicionais, tanto sociológicas
quanto biológicas. Morrem as faixas etárias, morre o trabalho, morre o corpo
natural, desmorona a demografia multiplicam-se as identidades moveis e
nômades. E nasce a antropologia da juventude (CANEVACCI, 2005, p. 29).
74
6 ANALISANDO DIMENSÕES DA IDENTIDADE
6.1 A ESCOLA
A partir da leitura dos quatro blogs decidi realizar a análise dividindo-a pelas
temáticas mais recorrentes e que, ao meu ver, mais contribuem para o delineamento
das identidades das jovens blogueiras.Os recortes sobre as narrativas relacionadas
ao universo escolar nos quatro blogs da pesquisa são mencionados a seguir com as
seguintes marcações:
Blog: Loveley Witch [1]
65
;
Blog: Mesma Vidinha de Sempre [2];
Blog: By Nany [3];
Blog: Pink and Black [4];
Durante a análise das narrativas nos blogs, um dos temas com maior recorrência e
freqüência de escrita é referente ao universo da escola. Esclareço que no blog da
Loveley Witch [1] e no da Nany [3], coloquei o ano de seus posts, porque ambas
escrevem em seus blogs há mais de um ano. Vejamos com que freqüência este
tema foi abordado pelas jovens.
A blogueira [1] escreve desde 2003, e o seu blog se chama Bruxinha Witch até
2005; em 2006 ela muda o nome para Loveley Witch. No ano de 2003 está
disponível o arquivo de somente quinze dias e, neste período, não há nenhuma
referência ao universo escolar. A maior recorrência de seus escritos durante este
65
Na transcrição dos trechos dos blogs aqui analisados, o uso da numeração em negrito ao lado
do nome de cada blog é de minha responsabilidade.
75
período é em relação ao seu próprio blog e a ligação deste com o leitor. Já no ano
de 2004 a referida blogueira [1] postou 56 dias e, em dezesseis desses, ela faz
algum tipo de referência ao universo escolar. No ano de 2005, está disponível o
arquivo de vinte e nove dias de posts, e em nove é possível visualizar algum tipo de
consideração aos assuntos ligados à vida escolar: amigos, provas, professores,
estudo, notas... E, no ano de 2006 até o mês de junho, ela postou quinze dias e
destes, em oito, é possível visualizar as considerações que ela [1] faz da escola.
No blog da Nany [3], de 2005, o período dos posts disponíveis é de quinze dias e
destes, em onze, é possível observar a recorrência referente à escola. Em seu blog
de 2006, dos vinte e dois dias em que escreve, em dezoito posts Nany [3] menciona
questões ligadas ao universo escolar, sendo possível observar através da forma
como se refere à escola que esta é uma das suas preocupações freqüentes.
No blog: Mesma Vidinha de Sempre [2], até junho de 2006, a blogueira postou
dezessete dias, sendo que em quinze dias ela faz referência ao universo dos
estudos. Observa-se sua preocupação com a escolha profissional e o futuro.
Importante considerar a idade desta blogueira [2], que é de dezoito anos. A análise
de suas narrativas mostra um aspecto interessante não evidenciado nos blogs
anteriormente citados, que é o erotismo que ela expressa em relação a seus
professores, mencionando também suas colegas.
No blog da Pink and Black [4], até junho de 2006, ela havia postado vinte e quatro
dias e, em doze dias, é possível observar alguma narrativa ligada a escola.
Entre os quatro blogs analisados, é possível observar, através da narrativa de uma
das blogueiras, que esta estuda em escola pública:
[1] 2005 Uma coisa não tão boa é que não vou ter aula a semana inteira pela falta
d'água que está tendo aqui em São Roque... Sexta feira fomos dispensados mais cedo
por dois motivos: Não tinha água para fazer a merenda, nem pra usar o banheiro, muito
menos pra beber! o outro motivo é que teve a comemoração do dia das crianças, nós
assistimos uma peça e depois teve a premiação dos campeonatos que teve no folclore,
eu ganhei naquele jogo dos saquinhos =) teve também uma premiação para o melhor
aluno da escola que por acaso foi eu quem ganhei... Não sou cdf... é que... hã... ai tenho
que ir eheheh!
É em relação a esta mesma escola pública, que se comentam alguns problemas
típicos, de escolas com instalações às vezes um pouco mais precárias que as
privadas, onde a prática de “dispensar” alunos é mais recorrente que na rede
76
privada. Entretanto, também é possibilitada aos alunos a aprendizagem do jogo de
xadrez, que esta blogueira [1] não só joga, como, além disso, tem a preocupação
em ganhar:
[1] 2005 1
o
: Não sei se já comentei, mas tá tendo interclasse na escola e eu estou no
xadrez (pra variar), ganhei da Rê e da Talita, fui pra final c/ o Felipe, até agora
conhecido como o melhor jogador da escola... eu já estava conformada em ganhar a
medalha de prata (q eh a q falta na minha coleção), no fim nós empatamos e a final ficou
pra segunda-feira...
[1] 2005 Terça ganhei do prof. Nal no xadrez, mas é como dizem "sorte no jogo, azar
no amor"
[1] 2005 Ganhei medalha de ouro no xadrez, ouro com valor de prata, mas isso é uma
longa história.
[1] 2005 Dia 25 tem outro interclasse eu já me inscrevi no xadrez de novo... ê vicio!
[1] 2005*Eu e + 3 amigas fomos escaladas pela professora para ensinar xadrez p/ as
crianças das 3a 4a, 5a e 6a séries, as da 6a são nossas piores inimigas (será que devo?).
Taí pelo menos uma coisa que eu faço direito!
[1] 2005 Me inscrevi no treinamento de xadrez que vai ter na escola, como no fim do
ano tem campeonato nós vamos treinando desde já!
Em outro momento, registram-se brincadeiras a partir da reprodução de um diálogo
do senso comum: “quem estuda em escola pública não entra em boas
universidades”.
[1] 2006 O prof Adroaldo disse q talvez vai ter excursão p/ o museu de anatomia, na
USP, alguém aí ainda tem dúvidas de q eu vou? eu sempre digo p/ o meu pai: "Pai, eu
ainda vou entar na USP..." e ele sempre me responde: "Estudando em escola pública? vai
sonhando... Mas quem disse q tem q ser p/ estudar lá? só de entrar eu já ganhei a
aposta!
hehehehehe
É isso... bye e até + ;)
A jovem [4], em muitas das narrativas referentes à escola, apresenta a preocupação
em ser a melhor aluna e em tirar boas notas. Não apenas ela narra várias situações
escolares em que foi bem sucedida, como usa recursos de intensificação para dar
mais ênfase a tais conquistas: vogais repetidas, interjeições (O!ê,ê,ê,ê,ê,ê), risos
“escritos”,etc.
A blogueira [1] também expõe a preocupação referente ao aspecto “nota”, inclusive
quando escreve que perdeu ½ ponto na sua matéria favorita. Preocupação
semelhante também é revelada pela blogueira [3], quando se considera “burra”
77
porque “não gabaritei a prova de mat”. Para Philippe Perrenoud (1999) este tipo de
avaliação do êxito escolar é aquela onde
Os alunos são considerados como tendo êxito ou fracasso na
escola porque são avaliados em função de exigências manifestadas pelos
professores ou outros avaliadores, que seguem os programas e outras
diretrizes determinadas pelo sistema educativo. As normas de excelência e
as práticas de avaliação,sem engendrar elas mesmas as desigualdades no
domínio dos saberes e das competências, desempenham um papel crucial
em sua transformação em classificações e depois em julgamentos de êxito
ou de fracasso: sem normas de excelência, não há avaliação; sem
avaliação, não há hierarquias de excelência; sem hierarquias de excelência,
não há êxitos ou fracassos declarados e, sem eles, não há seleção, nem
desigualdades de acesso às habilitações almejadas do secundário ou aos
diplomas (p. 26).
Observa-se claramente toda a hierarquização avaliativa, as referências ao êxito ou
ao fracasso e os sentimentos deles decorrentes nos segmentos abaixo.
[4] 2006 Porque eu tirei um 10 na prova de ciências!hahahahahah!um 10,gente!um
deeeeeeeeeeeeeezz!!!e o melhor é que fui só eu
66
que tirei 10!o resto todo,no máximo
tirou 9,0!êêêêê!!aah,só falta mais hoje e amanhã...
[1] 2005 tirei 10 na prova de química (ñ querendo me gabar, mas como química é uma
das matérias que eu odeio...)...
[1]Recesso...Ôoooblz!
Aconteceram muuuitas coisas nessas últimas semanas... meu rendimento
escolar caiu =/ No 1
o
bimestre eu tinha ficado c/ 10 em Ed. Artística e nesse fiquei c/
7,5. Em Física eu tinha 7, caí pra 6, em matemática (minha matéria favorita) caí ½
ponto... as outras disciplinas eu nem quis saber!
[3] 2005 pq eu sou burra e não gabaritei a prova de mat pq eu não sei subtrair e
transferir um número pro outro lado da operação sem esquecer o maldito do 0..
É importante observar que em um dos blogs [3], mesmo sem explicar muito, a
blogueira aponta para a questão da competitividade na hora das provas, o que já
ficou implícito em várias outras passagens dos blogs analisados (“foi só eu”, “São
nossas piores inimigas”, etc).
[3] 2006 e a moda agora eh colocar competitividade em quase todas as questões da
prova de geografia e ser feliz XD~
Outra grande temática recorrente que está ligada a nota diz respeito aos trabalhos e
provas escolares, onde também é possível visualizar que estas blogueiras dedicam
boa parte de seu tempo ao estudo; muitas vezes, ao postarem em seus blogs
78
narrativas de suas rotinas escolares e as suas preocupações com estas,
expressam, através da linguagem, suas representações e identificações com o
universo escolar no qual estão inseridas. Podemos relembrar que Komesu (2005, p.
31) em seus estudos sobre os blogs, afirmou “que estes podem estar associados às
práticas dos diários íntimos, cujo tema privilegia o foro íntimo do escrevente”. Este
“foro íntimo do escrevente” do qual nos fala Komesu (2005) se concretiza nessas
escritas, e nelas encontramos o universo da escola. Através destes diálogos com “o
outro”, considerando aqui o outro que visita tais blogs, é que estas blogueiras
reforçam, em suas narrativas, discursos bastante tradicionais sobre currículo, sobre
as práticas avaliativas as quais são submetidas, assim como a percepção de
aspectos do contexto dos trabalhos escolares, como vemos nos trechos a seguir:
[1] 2006 Gente, essa semana foi uma coisa! prova de português, física e biologia e a
semana q vem vai ter prova de química e geografia, ainda tem o trabalho sobre Isaac
Newton p/ apresentar, o trabalho de geografia q eu nem lembro + sobre o q é e tenho q
fazer a tabela periódica...
[1] 2006 Tô cheia d trabalhos pra fazer... e ainda tenho q estudar pra prova! preciso d
um dia d 48 horas pra colocar td em ordem xP
[1] 2005 Tá, tá... vamos parar d reclamar... bom, essa semana até q ñ foi tão ruim...
as provas ñ foram bichos d sete kbças huahauahuah...
[1] 2005 Essa semana foi só de provas, a "Semana do Provão", acho que não fui muito
bem na de geografia (eu nunca gostei dessa matéria!), na de história eu estava indo bem
até que apareceu uma pergunta que eu não tinha a mínima idéia de como era a resposta,
a de inglês foi fácil e a de ciências também, matemática é a minha matéria preferida,
então sem comentários, português foi interpretação de texto, não tava tão difícil e ed.
artística foi a mais fácil, esqueci de alguma? acho que não!
[1] 2005 Começou mesmo! ontem tive prova de matemática, quarta-feira vou fazer
uma prova de português, tenho 2 trabalhos para entregar, um de geografia, sobre as
olimpíadas (ñ sei o q geografia tem a ver com as olimpíadas, mas tenho que fazer) e um
de português, sobre situações que desvalorizam a mulher, por falar nisso, dia 8 é o dia
internacional da mulher (parabéns à todas e à mim!).
[4] 2006 Eitaaa...hoje eu estou frita...frita no óleo de no azeite...sabem porque?eu digo
em 3 palavras simples: Olimpíada Brasileira de Matemática.Pra quem não sabe,é uma
prova de matemática que o brasil todinho faz(se quiser)nas escolas,pro governo saber se
as crianças tão inteligentes.Quem me conhece sabe que eu não ia nem morta,mas meu
pai me obrigou a ir então,me desejem boa sorte...
66
Os grifos estão no original.
79
E possível observar através do detalhamento destas narrativas a forte marcação de
uma identidade de “aluno em permanente estado de avaliação”. E a preocupação
com as provas, que se revela com as seguintes frases: “acho que não fui muito bem
na de geografia”, “a de inglês foi fácil e a de ciências também”.
“...hoje eu estou frita...frita no óleo de no azeite...sabem porque?eu digo em 3
palavras simples: Olimpíada Brasileira de Matemática é uma prova de matemática
que o brasil todinho faz”, “passei quase o dia todinho na escola, poque hoje teve
simuladão de quase todas as matérias...” .
A avaliação escolar é sempre uma arena de grandes discussões no meio
acadêmico, portanto sendo importante pontuar que está diretamente ligada ao
currículo. Silva (1995) em artigo sobre currículo sinaliza que:
Não é apenas o currículo – aquilo que ocorre na experiência
educacional – que está implicado em processos de regulação e governo da
conduta humana. É o próprio discurso sobre o currículo – a própria Teoria
do currículo - que constitui um dos elementos de nexos entre saber e poder
analisados por Foucault (...).
De qualquer forma, os discursos sobre currículo e sobre avaliação que encontramos
nas escritas das blogueiras refletem e constituem suas subjetividades.
[4] 2006 Olaaah...uaaah,tô ficando com sono..também né,depois desse dia de hoje,só
pode!passei quase o dia todinho na escola,porque hoje teve simuladão de todas as
matérias...até que estava fácil!mas eu não consegui ver se estava tudo certo porque
quando colocaram o gabarito lá na parede pra todo mundo ver as meninas ficavam
pulando,gritando e dizendo-ACERTEI!-
[3] 2006 eoferiadoacabou¬¬"
e amanhã tem aula e prova [¬¬"]³³³³
[3] 2006 nhaa.. e hj eu fiz tudo menos estudar..
e eu tenho prova do brasas amanhã ¬¬
então tvz eu estude agora.
80
[3] 2006 ai ai.. e amanhã tem aula.. e isso n é nada justo..
e seg começam os testes..
;___;
[3] 2005 tirando o fato d q eu fui mtu mal na prova de religião.. mas eu naum vou me
estressar por isso.. não mesmo...
[3] 2005 as provas começam essa semana.. u-u
[3] 2005 hj teve prova de fisica... pior do que tirar 2/4 é saber q tinha acertado a
questão mais dificil da prova e apagou pq "não tinha lógica".. aff.. mas e acho q fui bm
na de quimica..
no domingo eu fui na bienall. e foi bm legal.. mas eu acabei chegando tarde e estudando
pouco quimica..
Outro aspecto importante a apontar é o que faz alusão às dificuldades que estas
blogueiras encontram para realizar os trabalhos e relatórios, referindo-se também à
pressão escolar dos prazos de “entrega”, quando escrevem: “Tenho q fazer um
relatório d Ed. Física pra terça-feira”, e pela primeira vez na vida eu terminei um
trabalho uma semana antes da data de entrega!!!”. Também aparece a
preocupação em tornar-se mais responsável em relação aos estudos: “e eu preciso
com urgência me tornar uma pessoa responsável q estuda todos os dias”.
[1] 2006 Tenho q fazer um relatório d Ed. Física pra terça-feira... sobre uma aula d
semanas atrás... tá vendo o q dá ñ praticar esportes??? =P num tenho a mínima idéia do
que vou escrever ¬¬
[1] 2005 sem muitas novidades... aliás, tem uma novidade sim: pela primeira vez na
vida eu terminei um trabalho uma semana antes da data de entrega!!! justo EU,
que sempre deixo tudo pra última hora (um ótimo progresso, vcs não acham?).
[3] 2006 mtooo cansada da escola³³³³³.. e ainda existem segs para acabar cmgo e n
deixar nem um restinho p o resto da semana.. acho q nunca desejei tanto férias.. e os
testes ainda começam seg.. e eu preciso com urgência me tornar uma pessoa
responsável q estuda todos os dias o____O.
É notável o disciplinamento (usando aqui esta palavra no sentido Foucaultiano) ao
qual estas jovens são submetidas quando referem-se ao “eu preciso com urgência
me tornar uma pessoa responsável q estuda todos os dias”. Veiga-Neto (2005)
aponta que “o cotidiano que a pedagogia moderna se encarregou, nos últimos
trezentos anos, foi o de centrar-se na disciplinaridade (dos corpos e dos saberes)”.
Observa que a escola “foi sendo concebida e montada como a grande – e (mais
recentemente) a mais ampla e mais universal – máquina capaz de fazer, dos corpos,
81
o objeto de poder disciplinar, e assim, torná-los dóceis” (2003). Sob a ótica do autor
(op.cit) a escola é, depois da família (mas, muitas vezes, antes dessa), a instituição
de seqüestro pela qual todos passam (ou deveriam passar) o maior tempo de suas
vidas, no período da infância e da juventude.Os efeitos desse processo disciplinar
de subjetivação é muito grande e foi a partir daí que se estabeleceu o tipo especial
de sociedade que Foucault chamou de disciplinar. Veiga-Neto (2003), apoiando-se
nas idéias desenvolvidas no texto - A maquinaria escolar -, de Varela e Alvarez –Uria
explica que os autores
[...] descrevem, com pormenores, a escola moderna como uma
imensa maquinaria que se encarrega de criar o sujeito moderno. Além de A
maquinaria escolar, vários outros estudos têm sido unânimes em mostrar
que a escola foi a instituição moderna mais poderosa, ampla, disseminada
e minuciosa a proceder uma íntima articulação entre o poder e o saber, de
modo a fazer dos saberes a correia (ao mesmo tempo) transmissora e
legitimadora dos poderes que estão ativos nas sociedades modernas e que
instituíram e continuam instituindo o sujeito (p. 139).
É interessante observar também a importância que estas blogueiras atribuem à
apreciação da/ do professor/ a sobre seus trabalhos escolares, quando escrevem;
por exemplo “ela leu a minha pra classe”, “a professora amou nosso trabalho”.
[1] 2005 Oiê pessoal, td blzinha com vcs?!
Minha semana foi... digamos... legal,
Ai ai, na aula de Filosofia a prof. pediu p/ escrevermos uma carta de amor (q vai fazer
parte de um projeto aí), vcs jah imaginam como ficou a minha neh?! do jeito que eu sou
romântica! ela leu a minha pra classe, nossa... moh mico!
Ontem tive prova de química.
[1] 2005 A professora amou nosso trabalho sobre o meio ambiente, eh que nós fizemos
em uma televisão, quando gira a manivela aparecem as imagens mto dez!
[1] 2005 Oie! só tô dando uma passadinha, tenho que fazer uma pesquisa "A Revolução
Russa", faz tempo que eu tô conectada mas me distraí, vcs sabem como eh internet...
Bom, eh isso, até mais!
A pressão referente às provas pode ser narrada de forma dramática: “não agüento
mais provas...”, e o final dela como um alívio: “... as provas acabaram e isto eh mais
que perfeito”.
[3] 2005 q feliz.. heheheh.. não aguento mais provas.. realment.. não dá.. e isso pq
semana q vem tem prova todo dia.. mas eu nem quero lembrar disso..
hj teve prova d português.. bm.. na interpretação eu naõ sei como fui..
e na gramática tb.. huahauhua.. só sei q errei um super hiper ultra besteira na ult
oq eu vou fazr hj?? nem sei.. acho q vou estudar um pouco.. pq nm tem dever..
82
[3] 2006 e.. as provas acabaram
e isto eh mais q perfeito.. ateh pq dps de milhares de xicaras de cafeh.. litros de mate..
msmo n gostande de nada disso.. e ainda banhos gelados seguidos.. e menos de 4hrs
diárias de sono.. ela n surtou O__o
[3] 2006 só tô cansada pq acordei 4hs e tals..
ai ai.. e se eu me estresso com bio e info, quero só ver oq será his e fis..
juro q surto e tals..
pronto.. agora eu paro de comemorar pq eu vou ficar o feriado todo estudando..
pq eu prefiro uma montanha russa 10x maior do q a shreika do q a prova de mat seg..
Outro aspecto que se revela interessante é: para o aluno, sempre estudar é tido
como algo penoso; por isso, a blogueira [3] abaixo, revela surpresa com o interesse
que o trabalho lhe despertou:
[3] 2006 hm.. a visita do trab de religião foi super interessante e tals..
e minha opnião mudou bastant em relação a algumas coisas dps disso
(quem diria.. um trab de rel me fazendo mudar d idéia)
[3] 2006 e tb qdo vc n estuda p provas a tarde pq vc tem q fazer um trab q a
professora de rel q nem se acha marcou p o dia do teste de mat..
ai ai..
Embora a blogueira escreva “nha mais eu estou cansada d falar d provas..” , é
visivelmente forte o autodisciplinamento, isto é, a produção do “aluno estudioso”,
que se revela em alguns posts. São identidades de alunas reguladas pelo discurso
do “dever estudar”, quando elas mesmas escrevem “estou com a consciência
pesada porque hoje não estudei nada”. Considero este um contraponto interessante
para traçar, pois um enunciado que freqüentemente nos interpela nos discursos
proferidos de diferentes fontes, é que os alunos atuais “não querem nada com
nada”, não estudam, não se preocupam com o futuro, são descomprometidos.
Cansaço, muito estudo, expectativas, insucessos, diversão às vezes, são tópicos
que se entrelaçam às narrativas cotidianas das blogueiras.
[3] 2006 pq ontem teve prova de bio.. e foi divertido estudar para ela..
pq hj o dia foi normal..
[3] 2006 pq a sessão de estudos aki em casa foi mto divertida.. eu ri mto
pq ela tem q estudar história agora, mas ela continua feliz
[3] 2005 e sem contar no fato d q eu acabei não estudando para a prova..
[3] 2005 oii.. hj eu tive prova de his.. acho q foi bem.. tomara.. nha mais eu tô cansada
d falar d provas..
83
[3] 2005 oii.. hj eu tive prova de portugues..
tipo.. eu estudei tanto para essa prova.. mas acho q não fiu bem.. pelo menos na
interpretação.. fazr oq.. mas pelo mesno o prox livro é melhor.. mais fácil d entender..
tomara.. e na seg teve a de mat.. tô com esperanças de fikr na média.. acertei 5 quest..
nhaa..
não quero me estrassar com isso..
bm.. oq dizer sobre os meus ults dias..
na sexta eu fiz a prova para ver se eu ia conseguir voltar para minha turma do ing ( para
kem não sabe eu tinha saído em dez..), e não passei.. fikei meio trist.. sei lá.. era um
livro.. mas.. eu achava q conseguia..
[2] 2006 Fora esse detalhe, num tenho mais o q contar.. ah, sim, ontem fui fazer a
prova do curso de inglês.. é.. fui meio mal.. num tinha estudado.. =/ mas tranqüilo, na
próxima eu estudo.. hehehe é q eu tava acostumada com a outra profa.. ela sempre
dava exercício extra pra gente fazer em sala (eu adorava pq era uma forma de eu
estudar.. e num precisa estudar em casa..), mas a profa desse semestre num dá nenhum
exercício extra.. =S fazer o q, né?
O sentimento de dever (“ter que...”), a referência à consciência, a preocupação com
o estudo podem ser consideradas como expressão de “tecnologias do eu”, estas
discutidas por Veiga-Neto (2003), a partir do seu entendimento de uma das obras de
Foucault (1991): História da sexualidade. Veiga-Neto explica que Foucault, no que
ele denomina como terceiro domínio: “o ser consigo”,
amarra coerentemente a subjetivação que deu, como resultado,
isso a que denominamos sujeito moderno. Trata-se de um conjunto de
tecnologias que podem ser agrupadas em quatro tipos, cada uma delas
representando uma matriz da razão prática: 1) Tecnologias de produção,
que nos permitem produzir, transformar o manipular coisas; 2) Tecnologias
de sistemas de signos, que nos permitem utilizar signos, sentidos, símbolos
ou significados; 3) tecnologias do poder, que determinam a conduta dos
indivíduos, submetem-nos a certos tipos de fins ou de denominação, e
consistem numa objetivação do sujeito; 4) tecnologias do eu, que permitem
que os indivíduos efetuem, por conta própria ou com ajuda de outros, certo
número de operações sobre o seu corpo e sua alma, pensamentos, conduta
ou qualquer forma de ser, obtendo, assim, uma transformação de si
mesmos, com o fim de alcançar certo estado de felicidade, pureza,
sabedoria ou imortalidade (FOUCAULT, apud VEIGA-NETO, 2003, p. 99-
100).
Tais tecnologias (do eu) parecem muito evidentes nos posts abaixo:
[3] 2006 ...consciência pesada pq n estudamos qse nada*
[3] 2006 E agora eu vou ter q estudar domingo ¬¬""""""""""""
[3] 2006 Tenho q terminar de decorar as 25 figuras de ling O__ô
isso pq eu ainda nem fiz o dever e tals.
84
deveria estar estudando e estou no pc..
[3] 2006 eu realment quero q a escola acabe rápido e tals..
ahh..
eu tenho q estudar..
e estudar
e estudar..
e estudar..
e estudar..
ai ai.. isso dá ateh mais sono..
mas eu vou estudar sim..
[3] 2005 deveria estar relendo capitaes da areia.. mas está aki ouvindo a musica...
[3] 2006 hmm.. acho q nem vou precisar fazer um post específico p o trab de red..
e portanto n teremos mais o primeiro post coerente e organizado \O//
eu decididamente n aguento mais mat.. e isso pq comecei hj e amanhã tem mais
;___;
sério..
acho q vou surtar ants da vespera de fis e his..
Embora a referência a notas baixas e a punição, que neste caso está relacionada a
não poder postar em seu blog durante um mês , apareça em só um dos blogs,
penso ser importante mencioná-la para realizar um contraponto, porque esta
mesma blogueira, que relata ter ficado de castigo, escreve, no primeiro post depois
de terminado o período de castigo, que teria aprendido potência e raiz na escola :
[4] 2006 Olaah!voltei!sentiram saudade?aposto que não ¬¬...mesmo assim eu fiquei
um mês sem postar aqui porque eu tava de castigo(antes que você,como todo mundo,se
pergunte "por que?o que você fez?" eu digo logo: por que fiquei em recuperação em
matemática e história da arte)mas agora eu voltei e tô cheia de coisas pra fazer
aqui...mas antes,eu vou dizer o que aconteceu esse mes enquanto eu tava fora:agente
aprendeu potência e raiz na escola,eu comprei o cd da banda Evanescence,tô
aprendendo a tocar My Immortal no teclado,fiz uma casinha de bonecas e a minha turma
fez uma excurção do colégio pra Fortaleza-CE.
É também esta mesma blogueira que, mesmo sem querer participar das Olimpíadas
nacionais de Matemática, é “obrigada pelo pai a participar”. No relato,
se pode ter contato com a pressão familiar em relação aos estudos que esta
blogueira passa, porém ao mesmo tempo, é visível nas entrelinhas que talvez exista
também uma satisfação própria...
[4] 2006 Eitaaa...hoje eu estou frita...frita no óleo de no azeite...sabem porque?eu digo
em 3 palavras simples: Olimpíada Brasileira de Matemática.Pra quem não sabe,é uma
prova de matemática que o brasil todinho faz (se quiser)nas escolas,pro governo saber
se as crianças tão inteligentes.Quem me conhece sabe que eu não ia nem morta,mas
meu pai me obrigou a ir então,me desejem boa sorte...
85
A escola é também o espaço para - talvez - as mais importantes comemorações da
vida dessas blogueiras: trata-se da formatura da série ou do ensino médio.
Considero a formatura como um rito de passagem para os jovens, momento este
que gera grandes expectativas nos alunos em relação ao futuro e ao próprio evento.
Um exemplo explícito desta importância é observado quando a blogueira [1] escreve
“um super motivo para ficar feliz é que agora nós vamos ter formatura!!!”. A reflexão
sobre o momento, com detalhes, mostra a importância do evento para a narradora,
até com a presença de um clichê tradicional desses momentos: “gostaria de fazer
uma homenagem à todos amigos que estiveram comigo este ano e aos professores
que nos ajudaram a passar por mais uma etapa de nossa vida”.
[1] 2005 Ontem foi minha formatura, sei que formaturas são cansativas, mas eu adorei!
A decoração estava linda, os professores muito chic e os formandos simplesmente
maravilhosos! Nós adoramos o discurso do Toinho (o orador da nossa classe) e quando
ele esqueceu a lembrancinha da paraninfa na cadeira hehehe!, o Felipe (orador da 8
a
B),
nem conseguia falar direito, não sei se era emoção ou nervosismo mesmo XD, agora a
Rebeca (oradora da 8
a
C), fez um discurso enorme e cheio de poemas, deu até sono!. O
Ewerton, como sempre, não perdeu a oportunidade de tirar sarro dos colegas. É...
acabou o ano letivo, alguns colegas irão mudar de escola, outros irão estudar em período
diferente, os professores serão novos... vai mudar muita coisa, por isso gostaria de fazer
um a homenagem à todos amigos que estiveram comigo este ano e aos professores que
nos ajudaram a passar por mais uma etapa de nossa vida.
Aos amigos: Este foi o ano mais divertido, o ano em que tive mais amigos. Adorei tudo,
os trabalhos em grupo, a festa de halloween, as piadas, os apelidos, as pérolas,
assinaturas na camiseta, a formatura... Vcs são o máximo!
Como sou filha única os considero como irmãos, pq são vcs que me escutam, me
aconselham, me mostram quando estou errada, me divertem e me fazem companhia
(mesmo que seja só 4 horas por dia).
86
Amigos que nunca me deixaram na mão, que fazem o possível para me ver sorrindo e
que, às vezes, aceitam uma derrota só para te dar a vitória (Felipe, a medalha poderia
ter sido sua). São vcs: Ana Paula Muniz, Ana Paula Fernandes, Bruna Camila,
Bárbara, Carol, Jéssica, Marília, Renata, Shirley, Talita Bento, Talita Maria,
Thaís, Alan, André, Antônio, Anderson (Harry), Diego, Ewerton (apesar de só
encher o saco), Felipe Joaquim, Felipe Novaes (nos conhecemos a pouco, mas
valeu pelo ano todo!), Felipe Rodrigues, Lucas Justo, Lucas Fagner, Marcelo,
Marcos, Paulo (Vida Loka), Rafael, Rodrigo e Samuel. Desculpe se esqueci de
alguém, só quero que saibam que todos vcs são muito especiais
para mim, são meus
irmãozinhos queridos!.
Para quem vai mudar de escola: "Lembre-se de não se esquecer de mim!" e para quem
vai continuar aqui: "Nos vemos o ano que vem!"
[1] 2005 2
o
: Minha formatura vai ser dia 11 (sábado), aí essa semana a gente vai ter
que ensaiar as músicas que vamos cantar, por isso tenho que continuar indo à escola
mesmo já estando de férias!
[1] 2005 # Um super motivo para ficar feliz é que agora nós vamos ter formatura!!!,
quase todos já tinham desistido, inclusive eu, porque ninguém se interessava por nada,
eram poucos que ajudavam e o dinheiro não ia dar nem pra comprar uma florzinha de
enfeite. Aí a professora Gislene, que é super legal, pesquisou algumas empresas que
fazem formatura e nós vamos pagar por mês, bem melhor! assim não vai dar nenhuma
confusão, a única coisa "chata" é que o direito de imagem é todo da empresa, nós não
podemos tirar nenhuma foto que não sejam com os fotógrafos deles =( Mas tudo bem,
pelo menos nós vamos ter nossa tão esperada formatura, e até que em fim vamos
concluir o ensino fundamental neh? parece que escola não acaba nunca, ainda bem que
eu gosto!
Esta blogueira [2] escreve sobre a escola e a formatura referindo-se a esta também
como um espaço de sociabilidade, de encontrar amigos, de divertir-se, de construir
laços (aí, não mediados pelo ciberespaço), ficando evidente que a relação com a
escola está sempre presente, mesmo que as blogueiras estejam na rede.
87
Sábado, 06 de maio (ontem).. apesar da chuva de manhã, foi mto³³ bom!! revi os
meus amigos lindos q num via há mto tempo.. (bom, vou explicar, 06 de maio é o niver
do colégio e, todo ano, tem uma formatura de comemoração, no final da form tem o
desfile com ex-alunos, alunos e outros colégios..) então, de manhã teve a formatura lá
no colégio..[2] 2006.
Amigos, não virtuais, da escola, também são freqüentemente citados como motivo
de saudade – atual ou antecipada.
[1] 2006 E amanhã começam as aulas... bah! eu tô c/ saudadi dos amigos mas da
escola eu num keru nem saber xP hihihih mas vou ter q ir neh fazer o q?!
[1] 2006 Minhas aulas começam dia 13, eu tô ansiosa pra rever os amigos e por a
fofoca em dia, mas só de pensar em provas, trabalhos, lição... ai keru férias d novo ¬¬
[1] 2005 Aew pessoal!
Finalmente chegou o final da semana e... o fim das aulas!!!
É... mais um ano se foi..., e parece q passou num piscar de olhos ;)
e a novidade foi q esse foi o primeiro ano q eu chorei no último dia de aula =P axo q me
apeguei mto à algumas pessoas q não vão mais estudar aki ='( mas td bem... vamos
continuar amigos né pessoal?!
Eu não posso deixar de fazer "aquela" homenagem para os amigos + chegados! então aí
vai ela:
Durante o ano todo vcs fizeram parte da minha vida, me fizeram sorrir, alguns me
fizeram chorar, me zuaram, foram zuados por mim, me ajudaram, me aconselharam...
enfim foram para mim como verdadeiros irmãos! e vcs sabem q eu os considero como os
irmãos q eu não tive (eu disse isso em outra homenagem^^). Ah... não tenho nem o
que falar... só sei q adoro muito vcs, não sei o que seria de mim sem a sua amizade!!!
Tenham ótimas férias, um feliz natal e um ano novo bem legal! XD
Pra quem vai ficar aki: Até logo ^^
e pra quem vai mudar de escola: Valeu a pena ter conhecido vcs, naum esqueçam de
mim q eu nunca lhes esquecerei, BJUSSS!!!
e ela vai para: Alan, Antônio, Alex, Ana Paula (as 2, apesar de td), Bruna, Clarke,
Carol, Danilo, Diego (os 3), Felipe, Gustavo, José, Juninho, Lucas, Marília, Paulo,
Renata (apesar da distância ^^), Shirley, Suzana, Samuel, Talita (as 2) e
Willian
Tenham ótimas férias, um feliz natal e um ano novo bem legal! XD
Pra quem vai ficar aki:
Até
logo
e pra quem vai mudar de escola: Valeu a pena ter conhecido vcs, naum esqueçam de
mim q eu nunca lhes esquecerei, BJUSSS!!!
67
67
Esclareço que no final do post, havia uma foto de uma turma de amigos que optamos não
utilizar aqui.
88
Por outro lado, a entrada na universidade continua sendo um evento crucial para a
vida de jovens da classe média brasileira e esta também é uma temática encontrada.
Vejamos alguns trechos:
[1] 2006 aaaaaahhhh.... q alívio!!! ufa... finalmente fiz a prova da ete! acertei 72% das
questões e tenho 8% a mais na pontuação por estudar em escola pública (já são 80%)
=D eeeee!!! agora eh soh torcer pra num ter 40 pessoas q foram melhores do q eu x|
iiiihhhh..... mas vamos lá, pensamento positivo ++++++ heheheheh
[1] 2006 Aaaahhh! fiz a inscrição na ETE!!! e agora??? tô cum medo!!! x( Baum... agora
jah era... só fazendo a prova pra saber se vou passar =\
Aqui o blog serve de espaço para a blogueira conversar consigo mesma sobre as
aflições, dúvidas e angústias do vestibular.
[1] 2006 Fim d bimestre... provas, provas e provas... aiaiai =S e eu ainda tô querendo
fazer o vestibulinho pra entrar na escola técnica... será q dou conta?! xP eh... agora vou
ter que estudar muito... eh por isso q talvez eu fique em hiatus por mais algum tempo
(pode ser q eu apareça d vez em qndo...) axo q eu tenho somatismo... pq só d pensar
em vestibulinho me dá dor d barriga... e se eu ñ passar? x| se eu ñ tentar ñ vou saber ñ
eh?! rsrsrsrsrs calma Zi... otimismo em primeiro lugar! x)
Chega d falar d escola!!! num agüento mais... preciso d férias x) ainda bem q segunda-
feira eh feriado... heheheheh
Também aqui se vê a encenação de um diálogo argumentativo onde entram
argumentos econômicos, afetivos, práticos, etc. A autora Maria Teresa Santos
Cunha (2000, p. 177), ao analisar os diários íntimos escritos de professoras, aponta
que, no diário de M. escrito no período de 1965 a 1970, a diarista sinaliza para a
mesma preocupação em relação ao futuro que a blogueira [2].
Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 1970.
Passei no Vestibular da Universidade Federal. Sinto-me privilegiada.
Sou uma jovem universitária. Quero fazer Letras: ser poliglota, diz o pai, já
que tenho <língua grande>. Minha boina é linda e tem o emblema da
Universidade. Já andei, hoje, com ela!(Diário de M.).
Com outra linguagem, outro estilo, sentimentos semelhantes parecem acontecer
com trinta e seis anos de diferença.
[2] 2006 Oii! blzinha? ontem nem deu pra postar.. mas tô tão feliz!! =D Ontem saiu a
3ª reclassificação da UFRJ e eu... PASSEI!!! Nem acredito! td bem q eu passei pro 2º
semestre à noite, mas num tem o menor problema! o importante é q eu passei! O único
detalhe é q eu já comecei o cursinho.. agora tô na dúvida: continuo até o 2º semestre e
tento direito na UERJ e cinema na UFF (o q eu queria mto) ou paro o cursinho e volto a
89
fazer a CEFET de administração? .. É, acho q vou voltar pra CEFET.. cinema vai ficar pra
depois q eu me formar em direito... fazer o q.. Mas é fato: vou ter q continuar o cursinho
pelo menos até o fim do mês.. afinal, eles num vão me reembolsar a mensalidade de
março..
[2] 2006 Esse ano está sendo meio ruinzinho, pelo menos esse começo (e espero q seja
soh esse começo! rs), tô esperando a 3ª reclassificação da UFRJ (pq a esperança é a
última q morre..) mas como a minha já tá morrendo, vou começar a pensar no vestiba
desse ano.. vou começar o cursinho hoje =/ só espero q naum seja mto chato, neh?
[2] 2006 Oii! td bem? hoje de manhã fui fazer minha matrícula na UFRJ! nem acredito q
eu consegui! tô mto feliz!..
Um tópico sempre freqüente nas escritas de jovens diz respeito a planos para o
futuro. No blog Mesma Vidinha de Sempre [2] aparecem dois links referentes a esta
preocupação:
! Formatura:
Este primeiro está localizado no item perfil do referido blog, e o segundo em um
sub item do perfil com ás coisas que ela quer, aparecendo novamente a relação
com o estudo.
QUERO
fazer facul e me formar em Direito e em Cinema, um mundo melhor (sonho é
sonho..), q o Bush se exploda (ah, sim.. seria bom.. rs)
Os professores são uma temática freqüente nos blogs, apontando a continuidade de
uma tendência já secular para os jovens. É possível observar, através das narrativas
destas blogueiras, um delineamento de vários tipos de professores, como já houve
em outras épocas. Como Costa (1999, p. 133) aponta,
tudo que têm sido dito sobre as professoras, sobre a docência, não
apenas “fala sobre”, mas cria, inventa, institui’. A forma como a identidade
do magistério tem sido relatada, narrada, interpela as próprias professoras,
numa dinâmica em que resistir ou acolher significa participar do jogo
constitutivo das identidades.
Neste sentido me inspiro na pesquisa sobre Textos, discursos e representações,
realizada pelo Núcleo de Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade do Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
90
que tratou, conforme Silveira (2002), “das representações de professora e professor
- em variadas nuances que vão muito além de qualquer dicotomia bondade/
ruindade - que circulam num tipo especifico de artefato cultural: livros de literatura
infanto-juvenil”. A referida autora (op.cit) explica que os estudos foram realizados
com o enfoque dos Estudos Culturais e que:
Não nos interessava “desvelar” a professora ou o professor real, ou
“denunciar” o quanto ele/ ela estaria sendo deturpado/ a na literatura
infanto-juvenil. Interessa-nos rastrear e articular as imagens de professores/
as que nelas se encontram, buscando ver sua produtividade e eficiência de
traços, suas conexões com representações circulantes em outros produtos
culturais (p. 10).
Na mesma direção é possível observar as representações que esta blogueira [1]
tem de seus professores quando escreve: “vou sentir falta das piadas do Felippe”,
referindo-se a um tipo de professor engraçado (talvez um professor “show”); “das
roupas chiques da Gi”, “do jeito engraçado do Danilo”, “do jeito “meigo” da Luiza”,
referindo-se a uma professora carinhosa, “das lições de moral da Janete”, podendo
interpretar como aquela professora mais rígida. Ao mesmo tempo, escreve “Para os
profs que não irão lecionar no ensino médio:"Não se esqueçam da aluna maluka que
adora vcs!".
Vê-se assim, uma relação de afetividade desta blogueira com seus professores (ou
alguns deles). O post abaixo exemplifica de forma rica esta apreciação dos
professores pela blogueira.
[1] 2005Aos professores: Yeah, finalmente concluí o ensino fundamental! Vou sentir
saudades dos meus professores queridos, das piadas do Felippe, das roupas chic da Gi,
do jeito engraçado do Danilo, das coreografias do Renatinho, da simpatia do Nal, do jeito
meigo da Luzia, das lições de moral da Janete, das aulas de ed. física da Regina, das
aulas de espanhol da Edna, dos projetos da Fátima, das provas fáceis do Adrô, do verbo
to be da Alcilene (hehehe!)...
Aprendi muita coisa, não só com meus acertos mas também com meus erros
(principalmente com os erros), amei os projetos, aquele do meio ambiente foi
legal! um super abraço a todos vcs: Adroaldo "Fubá" (ciências), Alcilene (inglês),
Gislene (ed. artística), Felippe "Madruga" (matemática), Luzia (português),
Janete (história), Regina (ed. física), Fátima (geografia), Renatinho (dança),
Edna, Ronaldo "Nal", Thiago "Pikachu" e Danilo "Presuntinho" (eventuais).
Para os profs que não irão lecionar no ensino médio: "Não se esqueçam da aluna maluka
que adora vcs!" e para os profs que continuarão me dando aula: "Prontos p/ me
aguentar mais um ano?"
Todos vcs ocupam um lugar especial em meu coração, desejo-lhes um feliz natal, um
ano novo repleto de alegrias, ótimas férias, que vcs alcancem todos os objetivos e que
acima de tudo sejam felizes! nunca vou esquecê-los!
91
O próprio fato de registrar o nome de cada professor (às vezes seu apelido), ao lado
das disciplinas, torna evidente a importância que ela concede a seus mestres. Por
outro lado, outra representação dos professores que a blogueira [1], traz é que “tem
professores que não tem senso de humor”, ou “tenho um trabalho de física para
fazer e o prof. não quer que seja digitado, ah! fala sério!!! esses profs que não
evoluem, estamos em pleno século 21!”. Também a blogueira [3] se refere aos
professores comparando-os aos presidentes “Mas vai ler o livro do Maquiavel ants..
p entender o comportamento dos professores e dos presidentes”, ou seja,
comparando o maquiavelismo de suas atitudes.
Vejamos um trecho exemplificativo:
[1] 2006 tbm, eu num consigo me controlar... kero fazer piada c/ td... até c/ o
professor xP só q tem uns q ñ têm o meu senso d humor aí... jah sabe neh ele vem com
quatro pedras na mão e... eu fico com cara d passarinho escrevendo td no blog heheheh
=\
6.2 O EROTISMO NA SALA DE AULA
Outra temática bastante antiga e também presente nas narrativas analisadas das
blogueiras é referente ao encantamento de alunos/as pelos professores/as. A
blogueira [3] usa o termo “cachésimo”, e explica o que significa: “OBS.: "cacho" é
tipo uma gíria cria/usada pela Tathi (mas todas as meninas q andam com ela já
pegaram essa mania de "cacho", inclusive eu.. =P) e significa algo do tipo "bonito",
"charmoso".. tah a definição num é exatamente essa, mas pra num complicar fica
essa mesmo...” e utiliza este termo para sinalizar a beleza do professor de
português. Ela escreve: “Ano passado, meu prof de Geografia do Brasil era assim tb:
cachééésimo, super maneiro e engraçado! só q ele tem cabelo preto e o de Port II
tem cabeo loiro.. mas os dois são super cachésimos!! ai ai.. dá até gosto de assistir
aula... Dentro desta temática, Daniela Ripoll (2002), no seu artigo: “Formosura
parelhada na inteligência”: a beleza que ensina nos livros infanto-juvenis, traz suas
análises sobre as representações das questões de gênero, sexualidade e docência
que atravessavam os livros de literatura infanto-juvenil. A partir de suas análises, ela
aponta que:
92
Não faltaram trechos que contêm, explicitamente, esse caráter de
visibilidade - são alunas que adoram olhar a bunda do professor de História
enquanto ele escreve na lousa (livro 5, p.15), é a aluna Paula que quase
enlouquece quando seu professor “surge com aquela camisa azul aberta na
altura do peito, meu coração quase derrete de amor, amor é pouco, de
tesão mesmo. Dá uma vontade de tocar, de cheirar a pele, sinto o maior
calafrio (...)”(idem, p. 48), é Luisinho (livro 2), de dez anos, que ama dona
Maria e seus seios fartos e roupas justas (p. 90).
Pode-se ver, assim uma similaridade entre representações deste encantamento
professor/ aluno na literatura infanto-juvenil e nos blogs.
A blogueira [3] inicia um de seus posts com a seguinte chamada: “Espetáculo de
sol”, este referente a um fragmento da explicação usada em aula por este mesmo
professor. Há também a referência ao professor que não é bonito, mas é engraçado:
“Física até q foi maneiro.. o prof num é cachéésimo, mas até q num é horra (=feio) e
é mto engraçado”. Nota-se aí, o “julgamento” da aula pelo “julgamento” de como o
professor se apresenta para a aluna. Chama a atenção a ênfase à qualidade de
“engraçado” para os professores apreciados; na era da comunicação, o professor
hoje tem que ser um show “midiático”.
A respeito dessa temática a autora bell hooks (1999), em seu artigo: Eros, Erotismo
e o Processo Pedagógico, explica que durante suas aulas foi aprendendo a perceber
o lugar de eros e do erotismo na sala de aula, não apenas em termos sexuais, e
afirma, como professora, que
Nós, professores e professoras, raramente falamos de prazer de
Eros ou do erótico na sala de aula.Treinadas no contexto filosófico do
dualismo metafísico ocidental, muitas de nós aceitamos a noção de que há
uma separação entre o corpo e a mente. Ao acreditar nisso, os indivíduos
entram na sala de aula para ensinar como se apenas a mente estivesse
presente, e não o corpo (p. 115).
O encantamento da blogueira pelo professor se revela nos detalhes dos episódios
narrados, sempre aliados ao humor.
Espetáculo de sol!
[2] 2006 Ah, q bom q eu fui.. hj teve aula de Port II, sabe, aquela do prof cachésimo..
ele disse uma coisa hj q eu fiquei pensando "uau.. concordo plenamente!" o q ele disse?
93
ah, uma coisa"bem" modesta.. "Vcs sabem o q significa a palavra 'aluno', né? 'Luno' é
luz, 'a' é um prefixo de 'sem', 'aunsência'. Por isso, aluno é alguém com ausência de luz,
com sede de saber, e qm leva a luz até o aluno? Exatamente (apontado para si mesmo)
o Sol! (olhando para si mesmo) Mas q espetáculo de sol!!" acho q já deu pra sacar
com qual parte eu concordo, não? Hehehehe
[2] 2006 Num fiz nada de interessante.. fui pro cursinho (...) Física até q foi maneiro.. o
prof num é cachéésimo, mas até q num é horra (=feio) e é mto engraçado.. td bem q às
vezes ele força bastante, mas na maioria das vezes foi mto engraçado!
[2] 2006 Depois fui pro cursinho. A 2ª (e última) aula de hoje foi de Port II (redação e
interpretação de texto), o prof é cachééésimo!!! e engraçado! acho q tô começando a
adorar redação e interpretação... hehehehe.. É esse tipo de prof q me faz pensar.. "Por
que não tem alunos na minha turma tão cachos e engraçados como esse prof?!? Ano
passado, meu prof de Geografia do Brasil era assim tb: cachééésimo, super maneiro e
engraçado! só q ele tem cabelo preto e o de Port II tem cabeo loiro.. mas os dois são
super cachésimos!! ai ai.. dá até gosto de assistir aula..
1ª Impressão do Cursinho
[2] 2006 Hoje as aulas foram Port I e Mat II.. o prof de Port I parece bem engraçado
(ainda bem, esse tipo de prof q eh bom.. a aula num fica cansativa..) já o de Mat II
nem é mto.. mas ele eh um pouco cachinho.. soh q eh mto baixo.. a Kika nem acho
ele cachinho, mas ele é sim.. nem vem.. td bem q num é o q se diga: "Nossa!
cachéssimo!", mas num é feio, naum..
OBS.: "cacho" é tipo uma gíria cria/usada pela Tathi (mas todas as meninas q andam
com ela já pegaram essa mania de "cacho", inclusive eu.. =P) e significa algo do tipo
"bonito", "charmoso".. tah a definição num é exatamente essa, mas pra num
complicar fica essa mesmo..
Para finalizar este subcapítulo, mostro que as próprias blogueiras, como, aliás,
alunos de outras épocas, verbalizam avaliações positivas da escola. Pode-se
perceber este aspecto nos trechos a seguir:
[1] 2005 É que começaram as aulas e eu não estava com muito pique para atualizar o
blog, bom vou fazer um resumo das novidades:
A escola tá muito legal, misturaram todas as turmas, mas tudo bem todos já se
conhecem.
[3] 2005 percebi q na escola não é só para aprender as coisas que vão cair na prova.. q
vc mata de estudar.. E dps da prova esquece tudo..
Eu aprend uma coisa mtu important.. que tá fazendo eu repensar um monte de coisas..
e.. mesmo confusa.. eu estou feliz por isso...
[2] 2006 O q mais posso falar? Me formei ano passado no colégio, onde estudei
durante 7 anos! da 5ª série ao 3º ano.. amo aquele lugar apesar de td.. claro q tem
muuuiiitos defeitos e tinha mta gente q eu num gostava, mas lá conheci pessoas
maneiras e vivi mtas coisas boas e só de pensar q num vou mais estudar lá, já sinto
saudades.. claro q num sinto falta de acordar às 5 da manhã, mas sinto falta de ver
meus amigos todos os dias, de matar aula.. pagar uns micos báásicos.. e até das aulas
mesmo...
94
6.3 A INTIMIDADE E OS SENTIMENTOS
Os recortes sobre as escritas de si das quatro blogueiras da pesquisa estão
organizados com as mesmas marcações do capítulo anterior. Verifiquei que as
escritas íntimas dessas blogueiras giram em torno de algumas questões recorrentes
e que foram agrupadas da seguinte forma: a relação das jovens com a família; as
incógnitas/ os não-ditos; confissões; amigos, a relação com o leitor; e os estados de
humor.
Penso ser importante pontuar que, quando as blogueiras falam de si, quase
que simultaneamente se referem ao blog ou ao leitor. Por exemplo, no blog da Nany
[3], que já escreve desde 2005, nos quinze dias de arquivos disponíveis em 2005,
observa-se em treze posts suas autonarrativas e, em oito posts, esta expressa a
relação da escrita no blog com o leitor. Em 2006, dos 28 dias em que postou, vinte,
mensagens estão relacionadas às autonarrativas e, em dezesseis posts, evidencia-
se a relação da escrita no blog com o leitor. É possível visualizar estas evidências no
recorte abaixo:
[3] 2006 olah
2 meses de blog.. XD~
e eu ia escrever algo importante sobre isso.. mas esqueci O__o
e eu p variar tinha um mont de coisas p postar mas esqueci de novo O__o
e qto aquela história de todos seres simples mortais..
acho q tô ateh mais radical.. cansei.
sei lá.. agora p eu mudar de idéia vou ter q ter um motivo mto bom e tals.
mto bom MSMO.
pois eh.
mas sabe.. eh engraçado como qdo vc jah tah cansada de tudo.. com vontade de parar e
mandar tudo p o espaço.. e aih coisas boas acontecem..
pois eh.. agora eu tô com sono e n sei oq postar(e essa eh a 3ª vez q eu escrevo isso)
então chega de encher lingüiça(uahuahuahauhahauhauhauahha)
tchau.
Efetivamente, o post parece bastante “vazio” de informações e de inspiração. Há
apenas a reiteração dos verbos postar e escrever. É possível observar que talvez
esta seja uma forma de interagir com e explicar ao leitor, quando ela escreve...,
“2 meses de blog..XD~
e eu ia escrever algo importante sobre isso..mas esqueci O__o
e eu p variar tinha um mont de coisas p postar mas esqueci de novo O__o”.
95
Uma outra característica na forma de narrar-se desta blogueira é que inúmeras
vezes refere-se a si na terceira pessoa e gosta de escrever frases enigmáticas,
como no trecho abaixo:
[3] 2006 olah
nany mtoo feliz postando !!
pq quartas são quartas. e msmo q n comecem bem, sempre acabam perfeitas e tals.
e ela ama quartas por isso .
E ela ama tanto as estrelas. elas são tão perfeitas tb. e realizam seus desejos ^__~v
tornando quartas ainda mais perfeitas
*____*
aiaiaiai. como ela está feliz. mto feliz.
tah, nem tanto. exagerei agora.
[legal isso.. ficar oscilando entre 1a e 3a pessoa do nada XP]
mas eh fato que ela está feliz
cada coisa no sense q eu escrevo O___o
ahh sim. todo mundo viajou e eu fiquei aqui ^___^v
jah disse q estou extremamente feliz ??
tah, parei.
e a questão eh: O que um sorriso n faz?
nany feliz ^____~
bjooooos
[3] 2006 olahh
tô começando a postar com menos frequência..
então comemorem pq os posts tendem a ficar menos inúteis(ou n)..
bem antes de tudo..
além disso?
semana normal-inútil e tals..
e a frase indecifrável?? nem tenho uma..
nada criativa nos ults tempos..
mas q todos continuam sendo mortais continuam..
msmo a nany insistindo em ser boba..
e insistindo em n esquecer O__ô
e o pior eh qdo vc n sabe se vc quer esquecer
deixa pra lah.
;**
Efetivamente, há todo um jogo de não-ditos, insinuações, expressão e ocultação de
sentimentos e fatos, dentro da forma subjetiva escolhida por esta blogueira [3] de
relacionar-se com seu leitor, usando de frases intencionalmente indecifráveis: “e a
frase indecifrável?? Nen tenho uma.. nada criativa nos ults tempos..mas q todos
continuam sendo mortais continuam..”. Ela mesma está consciente de que se narra
às vezes como se fosse outra pessoa: “[legal isso.. ficar oscilando entre 1a e 3a
pessoa do nada XP]”, ao mesmo tempo em que escreve: “e isto o torna um post sem
significado com importância Ô__Ô”. Isto nos leva a pensar que esta forma de escrita
96
seja uma das formas desta blogueira de construir e reconstruir suas identidades
através da escrita. Neste sentido Sibilia (2003, p. 5) sinaliza:
Nos diversos gêneros da escrita íntima, os sujeitos modernos aprenderam a
modelar a própria subjetividade através desse mergulho introspectivo, dessa
hermenêutica incessante de si mesmo: no papel, a partir da matéria caótica
e da experiência fragmentaria de cada vida, era preciso narrar uma história
coerente e criar um eu igualmente coerente.Nessa atividade criativa, bem
como em qualquer outra modalidade de construção de si, sabe-se, a
linguagem é o berço do sujeito, que somente pode se constituir como tal a
partir da interação com os outros e da sua inserção em um universo
simbólico compartilhado através do equipamento lingüístico. “Eu é um
outro”, reza a famosa frase de Rimbaud, que define da melhor maneira
possível os protagonistas dos relatos autobiográficos e, também, a
qualidade sempre fictícia do eu.
Esses “gêneros de escrita íntima dos sujeitos modernos”, dos quais nos fala Sibilia
(2003) são discutidos também por Lemos (2002), em seu artigo: “A arte da vida:
Diários pessoais e webcams na internet”, onde ele aponta que a escrita atua como
forma de construção identitária e social e que é através do percebimento de um
outro que ele nomeia como “genérico”, que um indivíduo pode construir expectativas
sobre o que as pessoas irão pensar das várias e diversas situações sociais. O autor
considera esta uma prática de lapidação da imagem identitária que ocorre com os
usos das webcams e dos ciberdiários” (p. 311). E o autor (op.cit) enfatiza que os
blogs “podem ser considerados como formas de escritas de si” já que o que está em
jogo “são formas de apresentação do eu no ciberespaço” (p. 311).
Estas “formas de apresentação do eu no ciberespaço” que Lemos aponta são
constantes nos blogs. No blog [2], por exemplo, há a organização dos assuntos
divididos por três tópicos na tela. No primeiro: “Na minha vida”, a blogueira escreve
assuntos mais ligados à sua vida privada, mas também direcionados ao leitor, como
se pode visualizar no terceiro trecho:
Na minha vida..
[2] 2006 Oii! td bem? deixe-me ver as novidades.. hum..sexta, teve outra palestra q eu
ia, mas nem fui.. ia chegar com 1 hora de atraso.. (ah, sim, pra qm num sabe, aqui em
casa, todo mundo vive chegando atrasado nos compromissos.. deve ser genético.. =P eu
num gosto mto não, mas o q posso fazer? eu tive q esperar minha mãe, meu irmão..)
Na minha vida...
[2] 2006 Oii! td certinho? eu tô bem, mas meio chateada com a minha mãe..
lembram q eu estava pretendendo me matricular na academia segunda-feira? pois é,
nem foi.. =/ minha mãe é q tinha q ir lá fazer a matrícula pra liberar a verba.. mas num
97
fez.. pois é, minha mãe tá resolvendo os problemas do meu avô e do meu tio, então fica
toda enrolada.. até aí td bem, eu compreendo, mas ir lá fazer a matrícula gasta só uns
15 min, de verdade, o clube é bem em frente à minha casa, é só atravessar a rua.. pois
eh.. mas, blz..
FELIZ PÁSCOA PRA VOCÊS!!
Bjos
~> Na minha vida.. <~
[3] 2006
Oii! td bem com vcs? gente, desculpa a demora em postar.. (quase duas
semanas sem postar!
) eu tô com tantas encomendas do meu template shop (Casa
dos Templates) q nem tive tempo de passar aqui.. =S Mas blz, agora estou aqui!
No segundo tópico que se chama: “No meu blog”, a blogueira escreve mais sobre
questões do próprio blog, que parece se confundir com ela mesma, como se lê no
uso da primeira pessoa do singular.
~> No meu blog.. <~
[2] 2006 Sou destaque no Blog da Pri!! que lindo, né? Brigadinha! Fiquei mto feliz!
No terceiro tópico, que se chama: “Neste exato momento”, durante os períodos de
análise, foi possível observar duas recorrências; neste ela condensa várias
informações a seu respeito de forma sintética e lançando mão de vários recursos, do
internetês outras mais gerais, através de ícones e palavras.
98
~> Neste exato momento.. <
: feliz
: calça de malha e camiseta
: minha casa
: calmo
: vazio
: Kaká (cachésimo!! =^.^=)
: nada
: encomendas
: nenhuma
: "Vamos lá Brasil!"
: ir ao cinema!
: noite fresquinha
: 19:50h
~> Neste exato momento.. <
: tranqüila
: calça jeans e camiseta
: minha casa
: calmo
: vazio
: Jesse McCartney
: nada
: me arrumando pro curso de inglês
: "1 Min P/ o Fim do Mundo" - CPM22
: "Sua vida é vc qm escreve"
: ir ao cinema!
: sol e ventinho fresco
: 11:36h
Outra blogueira que utiliza este mesmo recurso de condensar várias informações
pessoais, em um tópico na tela fazendo uso de palavras e ícones é a [4]; este
recurso é visualizado no início do blog e ela o atualiza quase que diariamente, sendo
importante salientar que o blog é dividido em dois lados: o lado pink, que se localiza
à direita e onde este recurso é representado:
Outros
Agora eu estou:
Triste,agoniada,preocupada.
99
E lado black, à esquerda do blog, que é apresentado assim:
Lado black
†Meu Humor†
Mastigabdo chiclete
Me sentindo
agoniada,aperriada,triste
e preocupada.
Pensando em como
amanhã vai ser um dia
ruim...
Shorte e blusa
Nada,ué?!
Nada...
A música dos
padrinhos mágicos,vinda
do quarto lá do meu
irmão
O Guia do Mochileiro
das Galáxias
De certa maneira, a blogueira se apresenta como dividida entre a identidade de um
lado mais “patty”, quando utiliza todos os artefatos visuais em rosa no lado direito do
blog, realizando inclusive uma enquete sobre este aspecto, e um lado mais sombrio,
onde os artefatos que ela utiliza remetem mais a um universo “dark”. Abaixo segue a
pergunta da enquete mencionada:
†Enquete†
Você acha este blog muito patty?
Sim.
Não.
Mais ou menos.
Votar
resultado parcial...
100
A blogueira [1], que escreve desde 2003, mostra também a mesma recorrência de
uma escrita híbrida entre a autonarrativa e a intenção de avisar ou informar ao leitor
aspectos de seu blog. Em seu blog de 2003, os arquivos disponíveis são referentes
a quinze dias, dos quais oito contêm algum tipo de alusão ao próprio blog ou
interpelações ao leitor; na maioria das vezes em que postou, ela solicita ao leitor que
comente o post. Em cinco posts há relação com os aspectos autobiográficos;
importante salientar que, neste seu primeiro blog, quando dizia ter treze anos, ela
apresenta um maior interesse em postar gifts com poesias e mensagens
relacionadas ao seu estado de humor, talvez como uma forma de caracterizar seus
sentimentos através de outros recursos, não somente verbais. Isso é possível
visualizar abaixo. Veja-se ainda no seu texto no recurso à intertextualidade explicita:
Poesias/ ditos...
[1] 2003 Oi gentiii!!!!
Bom, minha semana até q foi legalzinha... msm assim não tenho mta coisa pra falar =\
vou postar um texto q eu tirei do jornal d hoje rsrsrsrs
Pequenos Gestos
É curioso observar como a vida nos oferece resposta aos mais variados questionamentos
do cotidiano... Vejamos:
A mais longa caminhada só é possível passo a passo...
O mais belo livro do mundo foi escrito letra por letra...
Os milênios se sucedem, segundo a segundo...
As mais violentas cachoeiras se formam de pequenas fontes...
A imponência do pinheiro e a beleza do ipê começaram ambas na simplicidade das
sementes...
Não fosse a gota e não haveria chuvas...
O mais singelo ninho se fez de pequenos gravetos e a mais bela construção não se teria
efetuado senão a partir do primeiro tijolo...
As imensas dunas se compõem de minúsculos grãos de areia...
Como já refere o adágio popular, nos menores frascos se guardam as melhores
fragrâncias...
É quase incrível imaginar que apenas sete notas musicais tenham dado vida à ¿Ave
Maria¿, de Bach, e à ¿Aleluia¿, de Hendel...
O brilhantismo de Einstein e a ternura de Tereza de Calcutá tiveram que estagiar no
período fetal e nem mesmo Jesus, expressão maior de Amor, dispensou a fragilidade do
berço...
101
... Assim também o mundo de paz, de harmonia e de amor com que tanto sonhamos só
será construído a partir de pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito,
ternura, fraternidade, benevolência, indulgência e perdão, dia-a-dia...
Ninguém pode mudar o mundo, mas podemos mudar uma pequena parcela dele: esta
parcela que chamamos de ¿Eu¿.
Não é fácil nem rápido...
Mas vale a pena tentar!
Sorria!
Este texto, bastante semelhante aqueles que há décadas atrás enchiam os álbuns
de adolescentes, também tem conexões com a literatura de auto-ajuda.
Penso ser importante pontuar neste momento a reflexão de Lemos (2004), que
observa os diversos usos que vem sendo realizados do ciberespaço:
“o ciberespaço é a encarnação tecnológica do velho sonho de criação de um mundo
paralelo, de uma memória coletiva, do imaginário, dos mitos e símbolos que
persegue o homem desde os tempos ancestrais” (p. 128). O referido autor, assim
como Schittine (2004), Komesu (2004) e outros, fazem referência à busca do homem
pela imortalidade, e que esta imortalidade seria possível através de seus escritos
autobiográficos. E Schittine aponta:
Se, para alguns, pouco importa que o diário virtual seja como um
livro de areia sem um fim determinado e que a memória do computador
talvez não seja suficiente para suportá-lo, para outros o ponto final que um
dia terão de dar aos seus escritos é um assunto de suma importância. Na
opinião destes, simplesmente escrever um diário e ter um público
determinado não é suficiente; eles querem ter seus diários virtuais
lembrados por seus contemporâneos e, quem sabe, pelas próximas
gerações. Em outras palavras, gostariam de “eternizar” de alguma maneira
seus escritos (p. 143).
Entretanto, essa eternização de que fala Schittine (2004) não parece se colocar
como expectativa para nossas blogueiras, que em nossa analise parecem buscar
principalmente expressão e cumplicidade do leitor. Neste viés do leitor é que se
inscreve uma das idéias do autor Miraux (2005) em seu livro: La autobiografia: Las
Escrituras Del Yo, quando aponta que:
Por otro lado, la autobiografía “presenta la individualidad como si
fuera un desfile”, es decir, le impone un cierto orden a la existencia que se
dispone a contar. La escritura de la existencia transforma la existencia en
escritura e incluso de si respeta escrupulosamente la cronología, los
hechos, las acciones y los acontecimientos, plantea al yo como nueva
realidad representada, como presencia fijada en la inmortalidad de la
escritura (p. 16).
102
Já a menção a família parece vir diluída na caracterização geral das blogueiras ou
nas narrativas do cotidiano, ou seja, há poucas referências à família no blog [3], que
já foram contempladas na autobiografia e este blog [3] está mais direcionado à
escola, amigos e autonarrativas. Isto é possível visualizar abaixo, nos dois perfis
(2006 e 2005) e nos gifts do blog:
Perfil 2006
* Nany
* Rio do Janeiro \O//
* Nasceu em Belo Horizonte
* Tem 3 irmãos
Perfil 2005
Nome: Nany
Niver/idade: 01/08 - 14 anos
Cidade: Rio de Janeiro
Adoro: *amigos *familia *msn *santosfc *ciências *história *Inglaterra *meu cachorro-
nick *chuva *...
Também no blog [2], é possível visualizar no perfil, no post inicial do blog e em
mais outros dois as referências que a blogueira faz à família:
ADORO
minha família, minha cidade (q num é tão maravilhosa assim, mas q eu adoro do msm
jeito), sair com os amigos, viajar, conversar
...
[2] 2006 Oii! ai ai.. detesto posts iniciais.. acho q devo me apresentar, certo? (tb odeio
me apresentar.. =P) Mas blz.. lá vai..
Me chamo Caroline, tenho 18 anos, sou brasileira com orgulho e carioca com mto mais!!
Moro com meus pais, meus irmãos e meu avô. Tenho dois irmãos: um mais velho e um
mais novo.. esse fato é extremamente terrível! eles sempre se jutam contra mim.. mas
fazer o q?
[2] 2006 Oii! td bem? é, já tem quase uma semana q num posto.. vejamos.. o q
aconteceu.. é, nada de mto importante.. Quinta, fui ao curso de inglês e ao cursinho. No
sábado, fui andar na praia com meus pais.. foi legal até.. a gente tb ia no domingo, mas
choveu mto então não fomos...
103
[2] 2006 Oiie! tô cansadinha.. =S Fui pro cursinho hoje.. minha mãe meio q me induziu
a continuar indo até o fim do mês.. eu já tinha desisto de ir, mas fazer o que?
Também no perfil do blog [4] visualizamos uma pequena referência ao seu universo
familiar:
Perfil
Não gosto de:Meu irmão,power rangers,computador travado
Pai, mãe, irmãos, avós... compõem o quadro familiar em que as meninas se
inserem. Às vezes, são apenas citados, em outras situações são protagonistas –
agradando ou desagradando as blogueiras. Vejamos a narração de um episódio
trivial de confronto de decisões e gostos dos pais e dos filhos.
[4] 2006 ...tudo isso só aconteceu porque meu pai quis ir pra uma reunião da igreja
fora da cidade,é sempre assim,sempre que podem eles chamam agente pra ir pra algum
lugar quando não tem nada pra fazer(geralmente nos feriados)e dessa vez parece que foi
até uma cidade chamada Zumbi...depois de chegar em uma casa onde todo mundo
estava "hospedado",meu pai pediu pra eu e meu irmão lavar o carro dele,e até que
estava sendo legal,mas aí chegaram 2 meninos lá e começaram a molhar agente com a
mangueira e atrapalhar tudo...por isso eu tive que ir lavando o carro "por partes"...aí eu
ficava pedindo direto pra minha mãe,só que ela sempre dizia "agente vai embora depois
do almoço" passou o almoço,e ela dizia "agora eu vou dormir 10 minutinhos,agente vai
embora depois que eu acordar",acontece que enquanto ela dormia,choveu,e quando ela
acordou eu pedi pra ela e ela disse "só vamos embora quando seu pai quiser" ai eu fui
perguntar pra ele(já estava de noite) ai ele olhou pra minha cara por alguns segundos,e
depois disse "é porque choveu muito,a estrada está cheia de lama,e está muito
escuro,então agente vai dormir aqui"...
[4] 2006 Hoje eu não fiz nada de interessante,só um bonequinho de neve...mas eu já
fiz um bocado deles.Talvez você pense "neve??no nordeste??que diacho é isso??" bom,eu
pego uma colher(porque se eu fizer isso com as mãos eu fico sem sentir meus dedos
e,dãã,é muito frio lá dentro)e fico raspando o gelo do meu freezer,aí coloco tudo em um
funil e coloco o funil em cima de um copo pro gelo derretido cair lá dentro e não fazer
lambança!fica que nem neve.Eu pedi pro meu irmão pra tirar uma foto pra eu colocar
aqui,mas ela saiu tremida:
104
Como vocês podem(ou não)notar,eu estou de luvas :P...Bom,terminando de ler esse post
só tem duas coisas que vocês podem pensar:"aah,eu fasso isso também!" ou "essa
menina é doida.".
Interessante é a ocorrência num post de uma mensagem explícita para a mãe, que
provavelmente lê o blog da filha
[4] 2006 hoje a cordedadora foi lá na sala entregar os convites para o carnaval
do NEC.Ela disse que não vai ter aula apartir de quarta,viu mãe??não vai ter aula
apartir de quartaaa!
Mas também os ditos e subentendidos nos diários constituem uma recorrência
freqüente. È possível observar que, mesmo se tratando de um diário íntimo, há
trechos destas narrativas que são ocultados, como podemos observar no trecho a
seguir:
[3] 2006 olah
"Quando você ficar triste que seja por um dia, e não o ano inteiro"
frase perfeita e tals.
nany q muda te idéia todo dia. aiaiaiiaia
e qdo vc n planeja e n espera as coisas mais felizes acontecem. e aih vc fica toda boba
feliz e tals.
mas isso passa tão rápido, neh?
e a questão continua sendo a msma: O que um sorriso n faz??
bm, um sorriso pode fazer quase tudp, ela disse qse.
bjooooooo
Porém ao leitor não é dito o porquê da tristeza e da alegria, e ela deixa o
motivo subentendido quando escreve: “O que um sorriso n faz??” É como se as
blogueiras partilhassem apenas um pouco dos seus sentimentos com os leitores,
105
mas não todos. Esta mesma forma de escrita - como uma charada para o leitor - é
observada neste outro blog:
[2] 2006 aiai... to tristi x'( mas por favor non pergunte pq tah?! num gosto d falar
dessas coisas aki no blog... pensamentos embaralhados, dúvidas, confusões... fazer o q?
eh a vida =\
Será q Schopenhauer está certo??? Viver eh sofrer... ai =\ tomara q naum...
Aiai... tô sem nenhuma vontade d postar hj ¬¬
baum vo indo -.-
xau***
A menção a Schopenhauer – possivelmente abordado na escola – sinaliza a
relação entre os sentimentos íntimos e uma tradição da chamada cultura ocidental.
Observa-se, assim, na escrita das jovens uma relação de intimidade e de ao mesmo
tempo resguardo em relação ao leitor. Vejamos alguns trechos, exemplificativos:
[1] 2006 A viagem pra Campos foi muuuuuito loka!!! ô cidadezinha linda viu?!
pedalinho, teleférico, cachoeira... as casas são maravilhosas! ameeeei!
Eu ia colocar as fotos da viagem no meu flog... mas ñ sei o q aconteceu com o servidor
do flogmais, deve ter saído do ar =\ q droga!!!
Gente-do-céu!!! meu coração está a mil!!! aiaiai... eu tô muuuuuito feliz!!! xD
huhuhuhuuuh!!! como p/ bom entendedor meia palavra basta... olha só o gif q eu fiz!
[3] 2006 eh engraçado como as coisas mudam rápido..
em um dia vc tah toda feliz.. feliz msmo..
com tudo e todos
o mundo ateh parece perfeito..
e o universo conspira para q tudo dê certo
pois eh.
aih no outro dia tudo muda
um bando de problemas surgem do nada e acabam com tudo
com aquele mundo perfeito..
e eles ainda se juntam com um péssimo dia..
q começa e acaba mal..
e no fim vc fica com raiva de tudo.. tudo msmo..
eh.. ontem n foi um bom dia.
mas tudo isso faz vc tomar certas decisões.
e vc ainda percebe outras coisas e tals..
mas sabe q vc aprende bastant com isso?
106
e o engraçado eh q coisas inesplicáveis acontecem
como por exemplo coisas q as pessoas falam sobre elas se encaixarem perfeitamente
para vc..
eh.. n adianta eu ficar brava, estressada, mal humorada, etc..
e.. hm.. nem tô mais com raiva de tudo e todos.. uahuauahuaau
eu tava msmo revoltada hj .. u_u~
Questões do coração, sobressaltos, surpresas, dúvidas continuam a aparecer
nos blogs do ciberespaço, assim como eram narrados em textos escritos em livros,
jornais, álbuns, cartas, etc... Lemos (2004, p. 128) neste sentido fala desse
partilhamento:
Toda sociedade é, ao mesmo tempo, formada por indivíduos
separados e indivíduos agrupados [...]. O mesmo acontece hoje no
ciberespaço: indivíduos isolados em seus quartos, com a porta bem
fechada, buscam, ao mesmo tempo, individualizar e socializar, fazendo
pontes e fechando portas na sua relação com o outro mundo. No
ciberespaço, como em toda vida em sociedade, “separação e religação são
dois aspectos do mesmo ato”.
[1] 2006 Karak!!! essa semana foi cheia de surpresas hihihihihih mundinho pequeno né
gente?! é q eu tava indo pra eletrônica do meu pai... qndo na msm rua onde ela fica eu
encontrei uma pessoa q eu ñ via há um tempinho (eu esperava encontrá-la em qq lugar,
menos nakela rua) x)...
Ela termina o post, após escrever sobre coisas de sua vida diária com o seguinte
gift:
[2] 2005 Nossa! faz tempo q eu ñ posto né? Às vezes eu acho q a vida ñ passa, corre,
mas nos últimos dias eu tô achando q a vida ñ corre, ela voa!
Aconteceram muuuitas coisas nessas últimas semanas..
Terça ganhei do prof. Nal no xadrez, mas é como dizem "sorte no jogo, azar no amor",
no msm dia q ganhei o jogo terminei meu "namoro-relâmpago", resolvi chamá-lo assim
pq durou apenas 2 semanas... felizmente eu posso dizer q durou tempo o bastante pra
se tornar inesquecível =|
107
Erro!
[1] 2006 A última semana foi tão confusa...
*Um fato q me deixou feliz essa semana foi: um telefonema
*O q me deixou triste: essa confusão dentro d mim
*O q foi indiferente: umas broncas pelos msms motivos d sempre =\
*E, finalmente, o q me deixou confusa: ah... vcs acharam msm q eu ia falar?! pelo
menos aki não! talvez no msn... mas só para os amigos mais chegados (quem sabe vc ñ
é ou ñ pode se tornar um... é só tentar!)
É isso... por enquanto!
bjs***
A auto-reflexão sobre suas próprias mudanças também cabe nesta escrita íntima:
[3] 2005 oii
quanto tempo..
blog abandonado né? uhaua
tava meio a toa.. ai eu lembrei de um diário q eu tinha na internet.. q eu naum escrevia
desda 6a serie..
eu tava lendo ele.. cheguei à conclusão d q eu mudei mtu desde aquela época.. mais do
que eu imaginava.. mtu mais..
sei lá.. eu era tão diferente.. eu achoq mudei pra melhor.. mas tem uma coisa q não
consegui ainda.. não vou dizer q a partir de agora vai mudar como no inicio do ano.. pq
eu realmente achoq naum é asim.. não é o tempo.. não sei oq é necessário..
é isso..
[2] 2006 E aí tem esse blog q mais me estressa do q me ajuda... a psicóloga tá d
férias e só volta dia 23... meu aniversário tah chegando, eu tô envelhecendo...
aaaahhhh!!!!
calma, calma... respira... ... ... ufa!!! ainda tem mais só q eh melhor eu parar por aki
antes q me dê um ataque de pânico x(
baum... vamos pensar em coisas boas...
a copa do mundo! Brasil rumo ao hexa!!! eeee! 1 coisa boa!
hmmm... o q mais???
108
parece q vem um feriado por aí neh?! na quinta! oba! feriado prolongado!!! rsrsrs tah
vendo! já são 2 coisas boas....
tah baum neh... 1 eh pouco, 2 eh baum! heheheh xD
pronto, jah estou sorrindo d novo ^^
aaahhh q alívio! apesar d td eu amo esse blog! huauhauahuahuh!
[2] 2006 Cmg td vira gif... mas esse "dodói" a q me referi ñ é físico, estou
doente da alma... aff! nd a vê! heheheheh na verdade tive uns problemas
emocionais... mas tá td bem, já vou começar a tratar (amanhã nem vou pra
escola... vou ao médico).
[4] 2006 Hoje eu estou meio triste...as vezes eu penso "Todo mundo gosta de mim!" e
as vezes eu penso "Se eu contar direito,ninguém gosta de mim...todo mundo só me
atura,com tantas pessoas para nascer tinha que nascer logo eu pra estragar a vida de
todo mundo...eu queria nunca ter nascido,assim as pessoas não iam ter que me
aturar..."...e é assim que eu estou pensando agora...
Os blogs, com passagens semelhantes àquelas que acima reproduzimos, parecem
se enquadrar como mais um gênero de escrita íntima das cartas e dos diários
íntimos dos quais nos fala Sibilia:
[...] A comparação com as cartas e os diários íntimos pode revelar
aspectos interessantes nesse sentido. Apesar da sua rígida materialidade e
de sua categorização como “escritas intimas” de uma época em que ainda
vigorava a crença na identidade fixa e estável, contudo, somente sob uma
perspectiva muito ingênua essas formas mais antigas continuam sendo
vistas como expressão do “verdadeiro eu” do autor, um território reservado a
confissão, à espontaneidade, à expurgação pura e à sinceridade sem
dobras. Pelo contrário, também nessas formas, é a “máscara” que
predomina. O sentido deste termo, porém, não pretende ser pejorativo, mas
de “criação de si”, visto que nessa perspectiva não haveria um eu original,
autêntico e essencial por trás da máscara, mas apenas outras máscaras
(pois, como diz uma das frases mais citadas de Paul Valery: “O mais
profundo é a pele”). [...] As diversas formas em que o eu se apresenta na
escrita, portanto, seja no papel ou na tela, podem oferecer pistas
interessantes sobre as mutações nos processos de conformação das
subjetividades contemporâneas (2005, p. 5).
Também a astrologia é invocada, o acaso, o destino, o imprevisto, arrematados com
mensagens de auto-ajuda:
109
[1] 2005 Oi gente... =(
Devem ser os astros..., foi isso q eu disse no post passado por causa da maré de sorte,
mas como tava bom demais pra ser verdade... essa semana foi uma maré de azar!
Até q faz sentido... meu signo é regido pela lua! Bom, uma das coisas q aconteceu foi q
meu celular caiu na privada (consegui salvá-lo a tempo, mas não vou dizer q isso foi
sorte), outra é q eu levei um tombo... imaginem só: um tombo numa praça lotada! (o
mico c/ certeza foi maior q a dor), a última coisa q aconteceu, e q foi a pior, eu prefiro
não comentar ='(
Não quero aborrecê-los c/ meus problemas... então vou postar um gif q eu fiz antes q
tudo isso acontecesse... não sei se volto a semana q vem, talvez eu desapareça por um
tempo... talvez eu esteja on-line no msn, não sei! agora eu descobri q nós não podemos,
mesmo, prever o futuro... ninguém sabe o q vai acontecer amanhã, por isso devemos
aproveitar o máximo possível todos os momentos...
Tchau pra vcs e até mais =\
[2] 2005 Oiêêêê!!!!!
E aí como vão vcs?!
Essa semana passou tão devagar... Para Shakespeare o tempo eh lento p/ os que
esperam, mas até onde eu sei, eu não estou esperando nada =\
Uma coisa q eu achei interessante eh q só aconteceram coisas "boas" nos dias pares: 2
a
,
4
a
e 6
a
, será q eh coincidência ou são os astros?! XD
Eu não tinha nada pra postar hoje, aí eu resolvi fazer um gif c/ um trecho da música do
CPM22 (Um minuto p/ o fim do mundo)... olha ele aí:
O universo relacionado aos amigos é outra temática recorrente destas jovens
blogueiras, sendo possível visualizar através da escrita ou outros recursos
imagéticos as identificações que se estabelecem entre as jovens e os amigos. A
seguir alguns trechos e imagens que consideramos interessantes para pontuar esta
110
percepção. Os trechos tanto podem ter um estilo mais “casual”, de conversa [2],
como constituir uma “história exemplar” [3].
[2] 2006 Saí da aula e fui pro Buxixo.. eh, ainda tinha mta (e pões mta nisso..)
gente lá.. encontrei a Ana (mas ela tava com um pessoal q eu num gosto mto) então
fiquei com o Xicão, o Jorge e a Fernanda.. a pata da Monique chegou uma hora depois de
mim, mas blz.. pra falar a verdade, se num fosse pelos meu amigos eu nem teria ido.. o
ambiente num mto divertido pra qm (como eu) num fuma, num bebe, nem gosta de
aparecer.. é isso msm.. 90% das pessoas (homens e mulheres!) estavam bêbadas!! é
meio ruim ver o estado em q se encontravam (qndo eu digo bêbados, é bêbados
mesmo!), mas como meus amigos num tavam assim, num me importei mto não.. tava
morrendo de saudades e agora já falei bastante com tds eles! ^_^ Ah, eu já disse q
tinha mto cacho lá? pois é, eu virava pra um lado e tinha pelo menos um cara bonito,
virava pro outro lado e tinha mais cacho.. ai ai.. lindo de ver.. XD hehehe
[3]2005 "Amizade”
bm.. há dois anos e meio uma garota começou a estudar em um colégio..
ela era um tanto o quanto calada.. timida..
e estava triste.. pq tinha se mudado de um lugar q gostava mtu..
então ela conheceu 9 outras garotas..
e com o tempo elas passaram a ser suas amigas..
ela mudou bastante.. para melhor..
e mtas dessas mudanças ela deve a esta amigas..
amigas q ela adora mtu.. mas mtu mesmo..
q ensinaram mtas coisas a ela..
q mostraram para ela oq realmente importa..
q mostraram tb q ela está no melhor lugar q ela poderia estar..
e q.. mesmo q tenha sofrido ao se mudar de bh..
foi uma das melhores coisas q poderiam ter acontecido em sua vida..
e hj.. quando ela está entre estas amigas.. ela olha.. e sente uma coisa estranha..
q ela naum sabe explicar.. q ela não consegue traduzir em palavras..
mas ela pode realmente afirmar q é algo mtu bom.. q faz com q ela se sinta realmente
feliz, alegre
OBRIGADO!!!"
com carinho
[3] 2005 nem tenho novs.. nem sei pq eu tõ postado..
vou colocar algumas frases d amizade q eu achei outro dia e que eu acho lindas.. e ovu
colocar em negrito a minha favorita..
"A amizade é a coisa mais difícil do mundo de se explicar.
Não é uma coisa que se aprende na escola.
Mas, se você não aprendeu o significado da amizade, você realmente não
aprendeu nada."
"O verdadeiro amigo é aquele que aparece quando o resto do mundo desaparece".
"Os amigos são a forma de Deus cuidar de nós"
"Um amigo é alguém que sabe a canção de seu coração e pode cantá-la quando você
tiver esquecido a letra" - Autor desconhecido
.
111
Esta jovem blogueira [3], além de escrever, também demonstra através de figuras os
valores que atribui a amizade, como é possível visualizar na seção: “Minhas
Koisinhas fofas”:
Esta mesma manifestação sobre o universo dos amigos é recorrente no blog [1],
sendo possível visualizá-la tanto através do perfil (onde ela escreve que é filha
única, e “faz dos seus amigos seus irmãos”), quanto através das narrativas e figuras,
que seguem abaixo:
112
Parte do perfil:
AmIgO: Aquele q ao invés de enxugar suas lágrimas ñ as deixa cair
GoStO D+: Dos meu amigos... (ser filha única é legal, mas tem seu lado solitário é por
isso q faço dos meus amigos meus irmãos! Dolu mto vcs!!! XD)
[1] 2006 Ah! eh... eu tbm num controlei a língua e acabei falando coisas q ñ eram pra
serem ditas... aí... levei outra! e o pior?! kem veio tirar satisfação foi um dos meus
melhores amigos... depois q td se resolveu xorei q nem uma condenada...! (pô... a
escola inteira pode ficar contra mim, mas o meu melhor e quase único amigo não!!!)...
na verdade foi como akela brincadeira "telefone sem fio"... comentei uma coisa inocente,
aí foi parar no ouvido d uma pessoa q me odeia... q acabou aumentaaaando td pra esse
amigo ¬¬ (e por falar nisso... hj é o níver dele)
Olha... se a vida tem altos e baixos... eu estou passando pelos muuuito baixos! karak! td
numa semana só x(
Mas td bem... tudo passa ñ é?! então blz! Heheheh
[1] 2005 Buááá!!! tá acabando as férias =(
Mas como tudo tem seu lado positivo... vou rever meus coleguinhas queridos! e por falar
nisso gostaria de destacar duas amigas: A Shirley e a Renata foram as únicas q
lembraram de mim no dia 19... a Shi me mandou um sms e a Rê me ligou. Valeu
meninas ;)
Dos primos quero agradecer (em ordem alfabética pra ñ ter briga rsrsrs) à Andressa,
Carol, Natália e Serginho
Não posso esquecer de agradecer meus amiguinhos do orkut e do msn que me
mandaram mensagens lindas =
Nos blogs [2] e [4] observamos as mesmas evidências sobre os amigos, citadas
acima, e as jovens oferecem também os links para os blogs de suas amigas que são
representados através de figuras:
Blog [2]:
PERFIL
Nome: Carol
Idade: 18 anos
Amigos: não muitos, mas q eu gosto muito!
113
Links para blogs de amigas:
LINKS
Blog [4]:
Blogs que visito constantemente
Lado Black
†Links†
Blog da minha prima(Princess Of Punk)
Meu site da Nick
Blog do Rodrigo-Pokemon
A relação destas blogueiras com, a mais conhecida rede de relacionamentos da
intenet, o Orkut, é visível, através de suas narrativas. Uma delas [1] criou inclusive
uma comunidade no Orkut para o seu blog, sendo possível visualizar em um dos
posts abaixo:
[1] 2006 Hello miguxosss!!!
Olha só... finalmente fizeram uma comu pra mim!!! Clica aki e entra!
114
[1] 2006 vou tentar deixar o orkut d lado por um tempinho e arrumar alguns defeitos
desse e do outro blog... x\
Bom... eh isso! depois q tiver td arrumadinho eu volto ;)
bjs*** e té +
[2] 2006 Passou uma reportagem no programa da Luciana Gimenez sobre o orkut... ou
melhor sobre os perigos do orkut. Td tem seu lado bom e seu lado perigoso mas a mídia
só está mostrando o lado ruim das coisas ~.^ ae... minha mãe mandou eu tirar minha
foto do orkut... até aí da pra aguentar né... mas depois ela me mandou excluir meu
profile!!! ah não! ae jah eh demais!!! mas axo q agora tah td bem... argumentei
bastante, expliquei como eh q funcionam as coisas e tô levando... droga de programas q
só prestam pra nos atrapalhar né?! >.<
Ah... axo q eh só issu msm ^^
Bye e Bjux =***
[2] 2006 Agora, essa semana eu ñ vou ficar em casa d jeito nenhum... vou pra SR
passear, já tô combinando c/ a Carol e c/ a Adria... vamos na lan house, ñ tem + jeito,
me viciei em orkut e mandei convites pra elas tbm se viciarem... ^^' assim eu ñ fico
sozinha né?! XP
Por enquanto é só... bye e bjs ;)
[1] 2005 Oi gente!
Minha rotina tá quase voltando ao normal, já fiz outro login no orkut... o link taí:
Graziella Diffonso
O msn eu ainda não fiz, mas logo, logo eu faço outro ok?!
[1] 2005 Ai gente... tá difícil! não dá pra acessar meu e-mail de jeito nenhum, acho q
vou ter q criar outra conta... por enquanto tô usando uma conta provisória se quiserem
me mandar e-mail mandem p/ [email protected]om
Tô chorando de raiva ='( como é q vou lembrar o e-mail de todos da minha lista de
contatos???! eram + de 100 pessoas! e o orkut??? vou ter q pedir outro convite p/
alguém, fazer outro login e ñ vou poder excluir o outro!
A relação com o leitor e a forma de interpelá-lo é visível nos quatro blogs analisados,
porem somente no blog [3], interpelação é mais velada. Nos demais observa-se não
só uma preocupação em “agradar” o leitor como em dar uma justificativa quando as
jovens por algum motivo não postam, assim como foi possível perceber as
solicitações que as blogueiras fazem ao leitor de serem acrescentadas, ou linkadas
(utilizando aqui uma linguagem usada por elas). Através das figuras disponíveis, ao
visitar o blog, é possível transportá-la para o próprio blog do leitor (é claro, se este
tiver um), levando assim ao que podemos nomear como: comunidades hipertextuais
de blogs. Abaixo selecionamos alguns links e posts exemplificativos:
Selo disponibilizado no blog [1]
.:: Link-me ::.
115
Selo disponibilizado no blog [2]
LINK ME
Se vc me linkar, me avise para que eu possa te linkar também!
A forma com que o leitor do blog é interpelado a escrever para as blogueiras [1], [3]
inclui palavras ou gifts e em alguns casos observamos que os dois recursos são
utilizados para capturar o leitor:
Gifts do blog [1]:
Gifts do blog [3]
116
Oieeee!!
[1] 2004 Eu estava navegando por aí e resolvi atualizar o blog, aliás os blogs!
O Bruxinhas Witch
também foi atualizado hoje e tem gifs das bruxinhas pra vcs
copiarem!
Qualquer novidade eu volto!
[4] 2006 Olá!voltei!dessa vez é sério mesmo!vou voltar a postar todos os dias...é que
tava tão bom as férias...tenho que entrar em Hiatus mais vezes,hehehe!mas hoje me
deu vontade de postar...e graças a ela,eu estou aqui de volta.
[4] 2006 Oi,pessoal...o blog não saiu do hiatus não,eu só vim dar o último post(meio
atrasado,lembra que eu não postei terça?) Ah,e eu mudei meu humor no lado pink e no
lado black,se é que alguém lê aquilo...
[4] 2006 e depois FÉRIAS DO BLOG!para quem não leu,aqui vai:
BLOG EM HIATUS:
O blog vai ficar sim em Hiatus...e se reclamarem eu tiro logo ele do ar(hehehe,não sou
tão doida a ponto de fazer isso!)mas é sério,não reclamem...eu só vou ficar em Hiatus
até 1 ª de Abril,e só vou começar a não postar depois do meu aniversário,que vai ser
amanhã...ora,considerem esse período como férias!eu também preciso
descançar,gente!eu sou humana!
Notaram o novo template?é,ele é a versão de aniversário.Eu ia deixar pra colcocar
amanhã,mas como eu só ia poder usar o pc de tarde acei melhor colocar agora...
[4] 2006 Ah,sim,eu tenho que decidir logo com vocês,não dá pra ficar atualizando o
blog um dia sim e um dia não,então temos que decidir logo se eu fico em Hiatus...eu
voto por ficar...
[4] 2006 DESISTO
Nossa...eu e a minha preguissa tentamos escapar mais acabamos levando a maior
bronca de todo mundo,hehe!nossa...cada um que passou aqui deu uma bronca em
mim...podem ver lá,é sério...tá bom,já que a maioria vence,ok,não vou entrar em hiatus
não...mas se eu não postar diariamente não reclamem!!
[4] 2006 Blog em Hiatus
Oi povo!ó,só vim aqui para dizer que talvez o blog fique em hiatus...
Oque danado é hiatus?
Hiatus é quando o dono do blog perde
a vontade de postar e fica sem
atualizar o blog por alguns dias...
no meu caso é preguissa mesmo rsrsrsrs!
então,té mais!
[1] 2004 Nossa, como 1 semana demora p/ passar!
Fiquei com saudades! Andei visitando uns blogs... (Se vc comentar eu visito o seu!)
Bom vou postar gifs... Ah! visitem o Bruxinhas Witch
já postei alguns gifs, amanhã vou
postar muito mais, na semana que vem também... Quer saber? visite todo dia!
117
[1] 2003 Olá "Querido Bloguinho"!
Em primeiro lugar queria avisar que vou postar menos aki pois estou 'trabalhando'
no outro blog. Estou com muita raiva, sabe o que meu pai fez?
Bom, ele estava "fuçando" no computador, como de costume, e fez com que os gifs
só abrissem com o visualizador de fontes, fala sério, o que gif tem a ver com fonte?!
Se algúem quiser visitar o meu outro blog, que como eu já disse fala sobre as Witch,
o endereço está nos links (Bruxinhas Witch), mas só pra lembrar: ainda ñ tem nada
qdo tiver eu aviso, ok?
Bom é isso, ñ vou mais ficar implorando para vcs comentarem, mas se quiserem...=)
[1] 2003 Hoje tá difícil postar no blog...
Só queria pedir uma coisinha: Comenta vai!
[1] 2004 Tenho uma boa e uma notícia:
A boa é que vou trocar de pc :-) e a má é que por isso talvez eu não poste a semana que
vem :-(
Olá visitantes!
Eu queria muito poder postar um gif hoje, mas não tenho nenhum pronto e outra coisa,
formatei meu pc e perdi meu editor de gifs, se alguém souber de algum programa, por
favor me comunique por comentário ou e-mail.
Se tiver alguma novidade volto mais tarde!
[4] 2006 Olaah...queria pedir desculpa pela minha falta de atualização :P,é que eu tô
me ajeitando aqui ainda.Nossa,eu levei 3 dias pra responder todos os comentários!ainda
bem que parte deles é da Corrente dos Blogs(acho que o nome é esse)e esses não
precisa responder...
[1] 2004 Não tenho nada legal pra postar hoje... tô desanimada, ninguém comenta
nesse blog =( o q adianta fazer de tudo p/ o blog ficar lindo e não ter nenhum
comentário.
118
6.3 A ESTÉTICA: GIFTS - TEMPLATES - PREMIAÇÃO
Durante a análise das narrativas juvenis nos blogs, observamos nos quatro blogs
que há uma preocupação não só em justificar ao leitor os motivos pelos quais as
jovens blogueiras não postaram, ou porque demoraram a fazê-lo, mas também com
as questões visuais do próprio blog, que parece merecer cuidados como se fossem
espelhos das donas. Observamos que os templates são cuidadosamente escolhidos
e trocados, porém optamos por capturar somente um de cada ano que estavam
disponíveis durante o período da pesquisa. Nos blogs [1] e [3], que as donas tem há
mais de um ano, observamos a troca do template de um ano para o outro. Por
exemplo: no blog Loveley Witch [1] de 2006 o template é da Hello Kity, personagem
do mercado globalizado, que evoca feminilidade, doçura e graça. Assim como a
manutenção dos gifts no blog [1] logo abaixo do nome do blog, sua dona avisa:
“Meu dia-a-dia expresso em gifts^^”, e insere figuras que elas escolhem para
ornamentar seus blogs, assim como para enfatizar o sentido de alguns posts.
Seguem abaixo, primeiro os referidos templates e, após, alguns recortes das
evidências da preocupação das jovens com a ornamentação dos blogs:
Template do blog [1] Meu Perfil
119
O uso da cor da fonte em rosa (uma cor culturalmente associada ao gênero
feminino) para os dias da semana faz uma harmonia com a cor do template
da Hello Kity
Quinta-feira, Junho 15, 2006
Sexta-feira, Abril 21, 2006
Domingo, Abril 30, 2006
Template do blog [1] de 2005
Outro aspecto interessante a apontar são os gifts com os quais esta blogueira [1] se
identifica tais como: “Eu leio Harry Potter” (relembre-se que Harry Potter se tornou
um personagem midiático), e “Eu brilho no escuro” que estão organizados em uma
das seções de seu blog que se chama:
.:: Minhas Koisinhas ::.
120
[1] 2004 Como não tenho nenhuma novidade vou postar um gif, é um improvérbio.
Acho que todos conhecem o provérbio: "Não deixe para amanhã o que pode ser feito
hoje", o do gif é um pouquinho diferente, vejam vcs mesmos e comentem!
[1] 2004 Fazia tempo que eu não trocava o lay não é?
Resolvi trocar hoje... Tô sentindo falta dos comentários, qual é vcs vão comentar ou
não?!
[1] 2006 Aiaiai... qndo criei esse blog estava pensando em algo q me distraísse, algo
onde eu pudesse desabafar e q ñ me desse trabalho... mas esses problemas em
alguns servidores por aí acabam me deixando d cabelos em pé! + uma vez terei q
trocar o lay!
121
[1] 2006 Ai... num consigo axar um lay q tenha + a ver cmg... esse aí até q eh
bonitinho, mas eu queria uma coisa diferente... e agora com esses servidores q ñ
param quietos... num sei pq deletar as imagens... aí eu fico tendo trabalho em dobro
d ficar trocando... eh código aki, eh código ali... tive q deixar td salvo no pc... vai q
suma d novo =\ preciso aprender a fazer templates ¬¬ rsrsrs
Meu flog eh outro problema... o flogmais ficou fora do ar... agora só tem uma página
lá dizendo q em breve voltará c/ uma surpresa... q surpresa??? só falta terem
deletado tds as fotos tbm ~.o aiaiai... o q eu disse no começo num tá adiantando
(otimismo em 1° lugar... kd o meu??? rsrsrsrs)
[1] 2005 Aê pessoal blz?!
Finalmente troquei o lay, o q vcs acharam?
[1] 2005 ... não consigo achar um que seja freeware (se alguém souber de um, por
favor me avise), tô sem crédito no celular e o O - é porque: Eu não acredito no vice-
dir, acho que ele não vai marcar jogo nenhum!, tô sem gif animator papi não quer
liberar a verba (pq faz uma semana que eu fiz a última recarga), meu drive de diskete
já era e o software do meu gravador de cd ficou doido.
Obs.: Não vou mais ficar implorando comentários pq não sei qdo vou postar gifs de
novo, a partir de hoje esse não vai mais ser um "blog pessoal cheio de gifs" vai ser
apenas um "blog pessoal", onde vou desabafar minhas alegrias, tristezas, raivas e
outras coisas do gênero.
Template do blog [3] de 2006
122
[3] 2006 olah ;D
template novo..
só pq o meu simplesment foi embora e n quer voltar.. e eu amava ele tanto ;___;
tah.. parei.
bem.. depois de milhares de tentativas[e ela nem é exagerada.. pq ela só testou 2
templates].. eu consigo um template com imagens q abrem e tals...
Template do blog [3] 2005
Coisas fofas
+ sobre mim + sobre mim
123
Template do blog [3]
124
Gifts
MEU TEMPLATE SHOP
[2] 2006 Ahola! e ae? gostaram do novo visu do meu bloguinho? espero q sim.. fui eu
mesma q fiz! agora ele já tá mais com a minha cara.. rosa claro, amarelo claro.. cheio de
gifs.. é, definitivamente tá mais fofo.. hehehehe
Tô preparando um template fofésimo (pelo menos eu acho) pra colocar aqui no blog, mas
ainda num tá pronto.. talvez amanhã esteja.. qm sabe.. tô meio sem tempo.. Ah, tb tô
preparando outros templates pra reabrir meu site de templates (na verdade, criar outro e
mandar o antigo pro lixo.
Template do blog [4]
125
Meu button
Fanlistings
Mascote
Butter
Olha só!!esta é a mascote do blog,a Butter.Eu tirei este nome de "butterfly",que é
borboleta em inglês,mas se pronuncia "buterflai".Se tiverem sugestões de nomes pra
ela,podem dizer!
O nosso objetivo em expor aqui as evidências estéticas encontradas nos blogs, -
escolhidas e capturadas da própria rede - foi no sentido do que Kellner (2001, p. 77)
aponta: “Os Estudos Culturais examinam os efeitos dos textos da cultura da mídia,
os modos como imagens, figuras e discursos da mídia funcionam dentro da cultura
geral”. Julgamos possível, assim, visualizar através das imagens utilizadas pelas
blogueiras, o universo com o qual elas se identificam. Neste mesmo sentido nos
apoiamos em Veiga-Neto (2000, p. 10), que utiliza também as idéias de Kellner
(1995), ao realizar uma análise de uma propaganda específica:
Meu objetivo principal é mostrar uma das muitas maneiras de
proceder a uma leitura crítica, o que “implica aprender como apreciar,
decodificar e interpretar imagens, analisando tanto a forma como elas são
126
construídas e operam em nossas vidas, quanto o conteúdo que elas
comunicam em situações concretas”
(KELLNER, 1995, p. 109).
A participação das blogueiras em concursos de outros blogs é uma temática
recorrente. Desta forma é possível visualizar que, de alguma forma, há um
estabelecimento de um processo de identificação e pertencimento destas blogueiras
com estes concursos e entre elas. È possível observar que a blogueira [2], participa
de concursos onde as representações do universo feminino se fazem presentes.
Vejamos a seguir os pedidos de “votos” ao leitor da blogueira [1] e em seguida os
concursos de que participa a jovem blogueira [2]:
[1] 2005 E aí pessoal blz?!
Vcs viram meu selinho? sou destaque no Prédio Witch!!!
[1] 2004 Bom, é isso, ah! votem em mim para o Top Blogs e deixem comentários!
[1] 2004 Oi gente!
Preciso da ajuda de vcs estou participando do concurso Top Blogs, votem em mim, por
favor!
[1] 2004Hello!
Tudo bem com vcs?
Já votaram em mim para o Top Blogs? eu já não coloquei nenhum pop-up para não
pressioná-los, estou pedindo com toda a educação... blá, blá, blá, vou parar de falar em
concurso (pelo menos por hoje).
Tchau, votem em mim... ops, foi mal!
Concursos que estou participando
ME AJUDE A GANHAR ESTES CONCURSOS!VOTE EM MIM!NÃO ACHA QUE EU MEREÇO?
Top30 Brasil, concurso de sites.
127
Blog [2]
Me inscrevi para outro concurso.. o City Of The Girls é o concurso da Bia..
participem também! Selo abaixo:
[3]2006 Ah, tô participando de mais um concurso.. Pink Blog.. participem tb.. Tb tô
na Comunidade Sweet Girls
.. super fofa..
[3]2006 Estou oficialmente participando do concurso Fashion Girl
! tô mto contente!
SOU/FUI TOP
128
PARTICIPO
CONCURSOS
É possível observar neste blog [2] manifestações de identidades juvenis. Utilizamos
os estudos que Garbin (2004, p.130) vêm realizando sobre esta temática e
consideramos o que ela nos traz:
129
Cumpre destacar que, na perspectiva de autores tais como,
Maffesoli (1998, 2004, 2005) e Filardo et al (2002) vivemos em um momento
no qual os sujeitos estabelecem processos de identificação na interação
com os outros, nas relações com os grupos. Para os referidos autores, tais
processos, denominados como tribos juvenis ou urbanas, se embasam em
novas formas de sociabilidade, que são fluidas e provisórias. Para Maffesoli
(2005) o “neotribalismo” configura justamente o momento pelo qual a
juventude busca nos grupos as múltiplas formas de se relacionar,
estabelecer vínculos afetivos e se identificar ou diferenciar dos outros. Ou
seja, nas tribos/grupos os jovens através de processos contínuos de
identificação se criam e [re]criam através das vestimentas, dos adornos
corporais, das músicas que consomem, das suas atividades de ócio e das
manifestações que expressam suas crenças e valores.
As recorrências das representações femininas nas identidades juvenis dos blogs são
visíveis através das figuras disponibilizadas acima, que nos indicam que estas
blogueiras também são interpeladas pela forma hegemônica representada na mídia
de ser mulher: branca, loira, alta... Kellner (2001, p. 82) sinaliza que:
Numa cultura de imagem dos meios de comunicação de massa, são
as representações que ajudam a constituir a visão de mundo do individuo, o
senso de identidade e sexo, consumando estilos e modos de vida, bem
como pensamentos [...].
6.4 A MÚSICA
Tradicionalmente, a música tem sido um dos grandes instrumentos de identificação
dos jovens em especial a partir do surgimento dos meios eletrônicos de reprodução.
Assim, os blogs [2] e [4] oferecem ao leitor que acessa, a possibilidade de ouvir a
música escolhida pela jovem blogueira (em ambos as músicas são de bandas de
rock americanas), enquanto lê, aprecia ou escreve comentários no blog. Mesclam-se
aí questões estéticas relacionadas à intenção de prender o leitor.
[1]
[1]
130
[1]
[1]
Estas figuras nos remetem ao gosto musical da blogueira [1], e são disponibilizadas
no blog no ícone: Minhas Koisinhas, em nome bem sugestivo. Em seu perfil ela
também escreve sobre música, como podemos ver abaixo.
EsTiLo MuSiCaL: Rock (emocore, metal melódico, punk rock, hard core... depende da
músik)
NãO AdMiTo: Rótulo! odeeeeio qndo me rotulam, seja pelo jeito de falar, de se vestir ou
pelo estilo de músik... enfim, não sou um produto sou apenas -->EU!<-- MúSiK: No
momento 'Lonely' (Akon)
BaNdAs: Linkin Park, Green Day, Blink 182, Evanescence, The Calling, Good Charlotte,
Nickelback, Nightwish, CPM22, CBJr, RHCP, Hoobastank, Simple Plan...
Veja-se como esta blogueira revela o anseio da individualidade, aliado à consciência
da existência de rótulos, produtos, consumo, enfim demonstrando as suas
identificações com o universo da música.
A blogueira [3] traz em seu perfil também as suas preferências musicais.
* 10000x a msma música as usual
* Simple Plan
As formas de apresentar as preferências musicais são descritas pela blogueira [4]
da seguinte maneira: através da descrição de seus sites favoritos, dos seus links,
onde aparecem também outros tipos de sites que ela acessa, e de duas figuras: uma
relacionada ao Pop Rock e a outra a cantora brasileira Pitty. Esta jovem também
disponibiliza em seu blog uma enquete ao leitor, que tem a opção de escolher o tipo
de música que ele gostaria e ouvi-la, como se o blog fosse uma espécie de “sala de
visita” em que a blogueira quer criar um ambiente agradável para todos os visitantes.
[ Favoritos ]
~ Petition: coldplay no brasil!
~ [ SP:BR ] Fórum
131
Links
Amamos Emma Roberts(Normal D+)
Lay Shop da Chang
As Aventuras de Charlote
The Shiver
Enquete
Qual música você acha melhor?
Ironic-Alanis Morissette
Since You Been Gone-Kelly Clarckson
Losin Grip-Avril Lavigne
Pieces Of Me-Ashley Simpson
Votar
Resultado parcial
No blog [3], acontece o uso do mesmo tipo de recurso imagético onde se observa a
mesma identificação com o rock da blogueira [1], assim como é possível visualizar o
tipo de música de que ela não gosta: funk e pagode.
[3]
[3]
[3]
No blog [2] a identidade musical desta jovem é expressa no ícone: ADORO, e nele
ela marca através destas duas figuras, o seu gosto musical: . Através do link
das figuras há a descrição de suas escolhas musicais.
132
Relembremos que a música e mais precisamente o estilo musical rock tornou-
se parte importante da cultura juvenil e, como já nos referimos anteriormente, esta
começou com um movimento de contracultura associado a música. A autora Eva
Giberti (1998, p. 177), em seu artigo: Hijos Del Rock, descreve a cultura do rock
El rock dispone de sus propios discursos según sea la època en la
cual se desarolla y de acuerdo con las ideologias de cada conjunto; también
cuenta con los discursos de su público, es decir, gestó su proprio campo
discursivo, que excede al lenguaje, al habla y se plenifica con sus otras
produciones. En dicho campo la ropa de los participantes adquiere particular
importancia, así como el corte o teñido del cabello o los colgantes que
lucen.
Neste sentido entendemos que as análises de Garbin (2003, p.130) em torno da
música nos remetem ao que a referida autora sinaliza:
[...] já que os jovens se constituem identitariamente através de uma
“comunhão” de gostos e apreciações, a desterrirorialização e o advento do
rock – um dos assuntos preferidos da Rede – favorecem identidades não
mais relacionadas a bairros, clubes, regiões, nações... mas a um “estilo”[...]
Abaixo seguem alguns posts onde as blogueiras se referem à música:
[4] 2006 (e falando nisso eu já mudei a música desse mes do blog não coloquei
nenhuma da lista porque deu empate entre Shut Up-Simple Plan e My Immortal-
Evanescence.Também mudei a enquete)
[3] 2005 sim.. hj eu vou começar o post deferent..
pq é estranho quando vc está ouvindo a mesma musica a mais de uma semana(9 dias
exatamente).. e nao entende pq ainda nao enjoou dela.. uma musica que é exatamente
o oposto do que vc sempre ouve.. e ela diz tantas coisas lindas.. ai vc decora ela.. e
passa o dia inteiro pensando nela.. ela parece perfeita.. e vc nao entende oq essa musica
tem.. pq vc deveria estar relendo capitaes da areia.. mas está aki ouvindo a musica.. ai
vc decidi que naum vai ouvir mais.. mas coloca ela denovo.. mesmo sabedno q vai se
arrepender dpois..
nany
[3] 2006
ah.. e ela adora o simple plan.. e n tah nem aih se vc gosta ou n.. cada um
com seu gosto e tals.. mas nem vem falar mal deles aki, ok? pq vc n vai ter uma
resposta agradável e tals..
[1] 2004 Ah! troquei meus pontos da Coca-Cola pelo mini CD, o de Pop Rock
internacional (é que só tinha desse aqui em São Roque), mas é muito 10! Tem The
Calling, Santana Feat, Dido, Maroon, Justin Timberlake (eu não gosto de Justin, mas o Cd
é legal!).
133
[1] 2004 Vcs viram o clipe novo do The Calling? eh legalzinho...
Sexta fiquei grudada no telefone tentando ligar para o cliperama, só depois que fui ligar
para a casa da minha tia percebi que o aparelho estava quebrado, que raiva!!!
[1] 2005 E aí pessoal, blz?!
Tudo passa... até minha maré de azar! ... Minha vida não é complicada, mas tbm não é
tão simples... olha só, parece a música do Charlie Brown Jr... "Não tão complicado
demais, mas nem tão simples assim..."
No meu blog..
[2] 2006 Gente, eu nem falei no outro post, mas eu mudei a música do meu bloguinho..
coloquei "Não Me Conte Os Seus Problemas", Banda Eva e Ivete Sangalo.. é engraçado
pq nunca fui super fã de axé, mas eu adoro essa música, na verdade, até tô gostando de
várias músicas de axé.. acho q foi a convivência com a Tathi, a Gabi e a Kika no ano
passado.. =P Apesar de eu não falar com elas há um tempão, a influência ficou..
hehehehe
Observo que, além das preferências internacionais, aparecem músicas brasileiras,
que possivelmente agradam porque algumas letras têm um potencial de
identificação com as vivências das blogueiras. Isso é sugerido, por exemplo, na
menção à canção de Charlie Brown. Enfim a música se torna mais uma evidência
das identidades juvenis destas blogueiras. Enfim, a presença de links e músicas nos
blogs das quatro jovens que estamos analisando, além de narrativas sobre o ouvir, o
comprar, o “mudar a música”, o escolher músicas para propor enquetes, mostram a
permanência da importância dessa dimensão identitária para a juventude, dimensão
que também serve como um elo para o grupo. Como diz a blogueira [2], “acho que
foi a convivência com a Tathi, a Gabi e a Kika no ano passado.... Apesar de eu não
falar com elas há um tempão, a influência ficou... hehehehehhehehe”.
134
7 FECHANDO O TRABALHO
No desenvolvimento desta dissertação, buscamos discutir primeiramente o impacto
da cultura digital sobre a sociedade e, em um segundo momento, mais
especificamente os jovens e as identidades na cibercultura. O motivo pelo qual
optamos por este recorte foi também no sentido de nos aproximarmos um pouco
mais das representações de identidade juvenis através das narrativas nos diários
virtuais de jovens blogueiras. Nossa opção metodológica foi pelos estudos que vêm
sendo realizados pelos teóricos dos Estudos Culturais. Iniciamos realizando um
breve histórico sobre a cibercultura e o ciberespaço, considerando que as análises
nas quais nos baseamos são recentes, devido ao pouco tempo de existência de uma
discussão mais acadêmica no sentido de cibercultura e blogs, e tentando
compreender - mesmo que brevemente - a forma de sua construção social e as
interpelações que a cibercultura vem fazendo em nossas vidas e nas dos jovens na
pós-modernidade. A partir, principalmente, da noção das modificações das nossas
percepções do espaço e do tempo na contemporaneidade, somos levados à
compreensão de que, dentro da cibercultura, não há mais como separar o espaço do
tempo. Neste sentido, Green e Bigum (1995) apontam que
A permutabilidade entre texto e contexto caracteriza o livro de
Gibson, Neuromancer (1984), no qual cowboys da informática penetram nos
computadores através de seus sistemas nervosos e entram no
“ciberespaço” (Benedikt, 1991), um termo agora comumente usado para
descrever o espaço vetorial através do qual milhões de computadores estão
interconectados. Nesse espaço, no qual pouco resta do contexto no sentido
tradicional, modernista, imensas quantidades de informação são injetadas e
mantidas numa espécie de nebulosidade ruidosa de “1s” e “0s”. Projeta-se
nesse espaço virtualmente qualquer coisa, desde receitas, previsões do
tempo e cotações da bolsa até discussões políticas, idéias religiosas e
fantasias sexuais. Mais recentemente, os /as acadêmicos/as começam a
“assistir” a conferências no ciberespaço (p. 231).
135
Dentro desta nova percepção do tempo e do espaço na cibercultura, procuramos
problematizar também a concepção de uma forma de escrita híbrida nos blogs,
evidenciada durante as análises desta pesquisa, sob a perspectiva das discussões
que giram em torno do Internetês (CASTRO, 2006) e do bloguês que, conforme
Luccio (2006, p.16), “é uma nova língua, criada por uma nova comunidade, uma
língua ‘estrangeira’, a língua do “outro”, a língua do eu virtual”. Para a autora, o
bloguês é uma nova linguagem que “é usada para marcar, representar e afirmar a
identidade dessa nova comunidade virtual, comunidade esta que tem a liberdade de
se expressar de uma forma muito peculiar”, forma esta que também está presente
nas incógnitas e nos não-ditos das jovens blogueiras analisadas. Tal forma de
escrita reflete e representa também a identidade desta comunidade blogueira, que
foi analisada não somente em relação a escrita mas também nas práticas identitárias
observadas através dos links em seus blogs, do gosto musical e das narrativas de
suas relações familiares e com os amigos.
As narrativas destas jovens blogueiras foram analisadas na busca da compreensão
do que leva estas jovens a escreverem suas vidas íntimas em um blog. As
conclusões – sempre provisórias - às quais chegamos não nos remeteram, por
exemplo, à pura busca do espetáculo, como outros autores e autoras afirmam em
relação a blogs. Encontramos, sim, nos blogs destas jovens suas narrativas de
“vida”, no sentido pleno da palavra; vidas que são narradas e iguais ou muito
semelhantes às de outros jovens, em suas preocupações com coisas banais do dia-
a-dia, assim como com amores, amigos... É claro que somos todos excêntricos e
precisamos do olhar do outro para nos constituirmos; assim, nas análises que
realizamos das formas que estas blogueiras utilizam para capturar o leitor,
observamos o uso do texto escrito e imagético no endereçamento ao leitor. Neste
sentido nos apoiamos em Schittine (2004)
No escrito íntimo – como o diário na internet, em que vale a rapidez,
a concisão e a compreensão do tempo – é preciso buscar meios individuais
muito criativos para não passar ao largo da memória alheia. È como se
todos os que escrevessem tivessem, de repente, em grande destaque e
uma das coisas mais difíceis para cada um deles fosse fazer seu “solo”
sobressair diante desses refletores. A fixação na mente do leitor – esse
Outro para quem escrevemos – se dá quando mostramos que somos
também um pouco parecidos com ele. É dando a ele a sensação de que,
quando está lendo sobre nós, lê sobre si mesmo. Como bem definiu Stella
136
Cavalcanti numa entrevista: “Os blogs permitem que diferentes pessoas se
conheçam melhor, nem que seja pela simples identificação. Todo mundo
tem seus dias bons e ruins”. O leitor precisa sentir que está tendo acesso a
uma memória que também é sua. Que quando o diarista constrói uma
memória, ela é elaborada em conjunto com a dele (p.150).
As autonarrativas das vidas das blogueiras nos levam a constatar que a escrita
intima nos diários virtuais da internet constituem um espaço e um tempo nas vidas
dessas jovens com os quais elas podem organizar-se interiormente, levando aqui em
consideração a afirmação do psicanalista Benilton Bezzera Jr.: “o homo
psychologicus aprendeu a organizar sua experiência em torno de um eixo situado no
centro de sua vida interior” (apud SIBILIA, 2003, p.4). Neste mesmo sentido Sibilia
(2003, p. 4) aponta:
Nos diversos gêneros da escrita íntima, os sujeitos modernos
aprenderam a modelar a própria subjetividade através desse mergulho
introspectivo, dessa hermenêutica incessante de si mesmo: no papel, a
partir da matéria caótica e da experiência fragmentária de cada vida, era
preciso narrar uma história coerente e criar um eu igualmente coerente
.
Apesar dessas considerações, mesmo que provisórias, sobre o universo íntimo
destas jovens, apontamos que, de certa forma, os textos e imagens encontrados nos
blogs em muito se assemelham aos antigos diários. Porém pontuamos que talvez a
maior diferença seja a de que agora se escreva e se ornamente o blog também para
o olhar do outro, como se pode ver pelas enquetes e explicações ao leitor,
referentes aos aspectos visuais e musicais de seus próprios blogs.
Dayrell (2003), ao analisar o jovem enquanto sujeito social aponta o “devir” da
juventude, também discutido por Canevacci (2005), que é o que nos leva a
compreender a afirmação de Dayrell (2003) “não é que eles não se construam como
sujeitos, ou o sejam pela metade, mas sim eles se constroem como tais na
especificidade dos recursos de que dispõem. È essa realidade que nos leva a
perguntar se esses jovens não estariam nos mostrando um jeito próprio de viver”
(p.43). O referido autor explica que sua opção por adotar o termo “sujeito” para se
referir aos jovens “não se reduz a uma opção teórica. Diz respeito a uma postura
metodológica e ética, não apenas durante o processo de pesquisa mas também em
seu cotidiano enquanto educador”.
137
A partir da leitura das escritas de si destas jovens, procuramos analisar também o
discurso que freqüentemente circula por nossa sociedade de que a juventude é ou
está mais consumista – isso não se evidenciou em nossas análises. Tínhamos, no
inicio desta pesquisa, eleito como uma das categorias de análise o consumo, o que
abandonamos por encontrarmos somente duas evidências nos post que
exemplificamos a seguir:
Consumo
[3]2006
Na quinta, comprei uma bolsa super fofa pra usar ontem (formatura de comemoração do
aniversário do colégio em q eu estudava..).. comprei lá na Renner.. mta coincidência..
minha mãe tava assistindo a novela das 8, na sexta, e a personagem comprou uma bolsa
igualzinha a minha.. eh.. minha bolsa na no horário nobre.. rs
[2]2006 feriado mtoo legal por demais [e a intenção foi ser reduntante, sim]
e ontem eu fui no saara e comprei mtaaas coisas felizes e verdes *____*
e ainda teve mais festenha ake!
As maiores e recorrentes evidências que encontramos foram referentes ao universo
escolar, o que nos surpreendeu, devido às leituras que vínhamos realizando sobre
os blogs, como um espetáculo, como produtos de uma juventude consumista e
desligada dos assuntos referentes á escola. Encontramos o contrário: essa
juventude que passa horas na frente do computador tem uma grande preocupação,
sim, com a escola, com o futuro. Neste sentido nos apoiamos em dois autores para
sinalizar esta questão; o primeiro é Canevacci (2005), que, sem referir-se aos blogs
especificamente, mas analisando a cultura juvenil, aponta que
Os jovens como faixa etária autônoma da modernidade nascem
entre os fios que ligam à escola de massa, à mídia, à metrópole. Escola,
mídia e metrópole constituem os três eixos que suportam a constituição
moderna do jovem como categoria social (p. 23).
Pontuamos, assim, que a escola foi e continua sendo uma das formas de
identificação que ao menos uma parcela de jovens busca, independentemente de
uma pretensa espetacularização dos blogs. Hoje passamos a compreender que não
existe mais uma única forma de identificação juvenil e que esta é fragmentada,
subjetiva e múltipla. Coracini (2006, p.145) em artigo sobre identidades, sinaliza que:
Basta ler um blog, cada vez mais acessível na internet para
perceber que os bloguistas, como também os orkutistas, expõem, em tom
138
ora mais, ora menos confidencial – numa linguagem que transgride as
regras gramaticais e tende a rapidez da abreviação (CORACINI, 2005)-, a
narrativa da própria vida ou de uma vida que bem que poderia ser a sua, e
que, por isso mesmo, sempre tem muito de seu, dos acontecimentos mais
relevantes até os mais banais. Dentre esses acontecimentos, encontram-se
aqueles que dizem respeito à escola: queixam-se das provas, dos
professores, dos estudos [...].
Diante dessas análises, vemos que a juventude atual está vivenciando de uma
forma ora semelhante, ora diferente, as práticas das escritas de si dos antigos
diários, agora nos blogs - uma das formas de aprender e fazer uso das
possibilidades que a cibercultura oferece. Para Green e Bigum (1995) uma das
diferenças está na velocidade das informações de que hoje dispomos; por este
motivo, ao lado de outros, os autores (op.cit) nomeiam cada nova geração de
geração cyborg. Para eles, “ O/a jovem cyborg, cuja experiência é constituída de
uma rica gama de contextos espaço-temporais tecnologicamente capacitados e
reforçados – ou, nos termos da informática, “de mundos virtuais” - é
necessariamente diferente de cyborgs mais velhos/as” (p. 238).
Deixamos aqui a pergunta: estamos nós, pais, mães, professores, professoras e
demais, “antenados” para esta forma subjetiva e híbrida de narrativa e
representação de identidades juvenis nos blogs? Buscamos compreender esta
prática muito além do que só uma mera busca de espetáculo ou uma perda de
tempo “na frente do computador”?
Sem termos a pretensão de responder, mas sim de sinalizar possíveis hipóteses de
compreensão, optamos por finalizar utilizando mais uma vez as sensatas
observações sobre jovens e escola trazidas por Green e Bigum (1995, p. 240)
Os alienígenas da ficção científica são criaturas de outros mundos.
Em nossa presente e emergente ecologia digital, existem muitos desses
mundos que estão aparentemente fora do alcance de cyborgs mais velhos,
mas no interior dos quais os/as jovens cyborgs estão ocupados, neste exato
momento, na tarefa de moldar e fabricar suas identidades. As escolas
podem perfeitamente se tornar locais singulares, como mundos próprios nos
quais cyborgs geracionalmente diferentes se encontram e trocam narrativas
sobre suas viagens na tecno-realidade – desde que nós nos permitamos
reimaginá-los e reconstruí-los de uma forma inteiramente nova, em
negociação com aqueles que um dia tomarão o nosso lugar.
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