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Muito mais do que uma experiência estética, a música é concebida como uma
experiência fisiológica mental e psicológica, conjugando culturas, ideologias,
expressão de sentimentos, valores, despertando a comunicação do indivíduo consigo
mesmo e com o meio que o circunda. Nossa memória auditiva produz ressonâncias
que vão tecendo o passado, o presente e o futuro, estabelecendo referências,
discursos com dimensões variadas, constituindo indivíduos pertencentes a uma
cultura, uma comunidade, uma sociedade. (SEKEFF, 2000, p. 163)
Essa linguagem mobiliza a nossa sensibilidade, proporcionando-nos uma experiência
única, indivisível, pois,
[...] a música sendo uma ordem que se constrói de sons, em perpétua aparição e
desaparição, escapa à esfera tangível e se presta à identificação com uma outra
ordem do real: isso faz com que se tenha atribuído a ela, nas mais diferentes
culturas, as propriedades do espírito. O som, um poder mediador, hermético: é o elo
comunicante do mundo material com o mundo espiritual e invisível. (WISNIK,
2002, p. 28).
O autor citado acima se refere à atuação da música sobre o corpo e a mente, formando
indivíduos que cantam suas melodias e dançam embalados por seu ritmo, agrupando
identidades, referindo momentos, lembranças, culturas, histórias. Como linguagem, a música
possui seus símbolos quase universais, carregando as suas especificidades, pois ela é flexível
e repleta de “dialetos” diferentes. Talvez por isso possa se dizer que a linguagem musical só
existe mesmo concretizada através de “línguas” particulares ou de “falas” determinadas. Essas
manifestações podem até, em parte, ser compreendidas, mas nunca vivenciadas em alguns dos
seus elementos de base por aqueles que não pertencem à cultura que as gerou (MORAES,
1983). Essa teia de linguagens que envolve as palavras e os sons constitui o discurso musical.
A música, associada a outros campos de conhecimento como a comunicação e ciências
políticas, serve de instrumento de saber. O discurso musical, por suas infinitas atribuições e
recursos, está presente nas relações de poder, que estão imersas redes discursivas.
A música é um fenômeno físico (som-objeto da acústica) e psicológico (relações
sonoras-objeto da psicologia) e seus elementos constitutivos induzem movimentos biológicos,
fisiológicos e psicológicos. Essa linguagem possui um caráter objetivo e subjetivo que
interagem e são constituídos de signos e convenções próprias: símbolos musicais que aguçam
os sentidos, transmitindo significados que não podem ser transmitidos por outro tipo de
linguagem, pois o som é um objeto subjetivo que está dentro e fora, não pode ser tocado
diretamente, mas nos toca com precisão. Ele tem um poder mediador.
Sekeff (2000, p. 10) argumenta que “os poderes da música e seus usos e recursos
estão particularmente subordinados à ação de seus parâmetros constitutivos e de sua sintaxe
relacional”. Portanto, será realizada uma análise dos elementos constituintes (letra, ritmo,