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Apesar de admitir que dificilmente a confusão alucinatória aconteça
concomitantemente à histeria, Freud chama atenção para o fato de que, não raramente,
vemos surtos de uma psicose de defesa irromper no decurso de uma neurose histérica.
Essa idéia nos mostra que Freud utiliza, neste momento, a sintomatologia para
diagnosticar. Ou seja, ainda não estava presente no pensamento freudiano a concepção
de estrutura psíquica. Pouco depois, em um texto encontrado entre os documentos
enviados a Fliess, juntamente com uma carta datada de Janeiro de 1895, Freud apresenta
sua primeira discussão sobre a paranóia
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Neste texto chamado “Rascunho H” e intitulado “Paranóia”, Freud situa a
Paranóia ao lado da “loucura obsessiva” como uma “psicose intelectual”, situando as
idéias obsessivas ao lado das idéias delirantes como distúrbios puramente intelectuais.
Partindo de um paralelo com as idéias obsessivas, Freud conclui que também os
delírios devem ser conseqüência de distúrbios afetivos. Ele explica que as obsessões
encontram força em um conflito e que o mesmo deve valer para os delírios. Mas, ao
mesmo tempo, fala de uma força radicada em um processo psicológico, o que nos leva a
concluir que essa força estaria em um conflito psicológico.
Freud situa a histeria, a neurose obsessiva e a confusão alucinatória ao lado da
paranóia crônica como um “modo patológico de defesa” (E.S.B. I Pág. 254). Neste
artigo, as idéias de doença e defesa se confundem. Em alguns momentos, a paranóia
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Freud manteve extensa e volumosa correspondência com seu amigo Fliess entre os anos de
1887 e 1902. Segundo Garcia-Roza (1995), a partir de 1893. Freud submetia à apreciação de Fliess
documentos nomeados de manuscritos, quatorze no total. Esses documentos (chamados na ESB de
rascunhos) foram publicados juntamente com parte da correspondência a Fliess em 1950 sob o nome de
Aus den ‘Anfänen der Psychoanalyse’ e traduzidos para o idioma inglês em 1954 sob o título de: ‘The
Origins of Psycho-Analysis’. A publicação destes rascunhos juntamente com parte da correspondência
enviada a Fliess deve-se, principalmente, à princesa Marie Bonaparte que, segundo o editor Inglês da
Edição Standard, “não só adquiriu os documentos imediatamente, como teve a extraordinária coragem de
resistir aos intentos do autor deles, e seu mestre, de destruí-los”.(E.S.B. I pp.220). Na Edição Standard
Brasileira, esses escritos chegam com o título de “Extratos dos Documentos Dirigidos a Fliess” (E.S.B. I).
Trata-se de uma seleção (assim como a primeira edição alemã) desses documentos e cartas. A íntegra da
correspondência só seria publicada no Brasil em 1986 pela Imago Editora.