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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC/SP
Vera Maria Daher Maluf
Mulher, trabalho e maternidade
Uma visão contemporânea
DOUTORADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
O PAULO
2009
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
PUC/SP
Vera Maria Daher Maluf
Mulher, trabalho e maternidade
Uma visão contemporânea
Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial
para obtenção do título de Doutor em Psicologia Clínica pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação
Profa. Dra. Edna Peters Kahhale.
O PAULO
2009
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Banca Examinadora
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Para Lily, minha mãe, pela magia de nascer;
Para Fernanda, Eduardo e Ricardo, meus filhos, pela maravilha de gerar;
Para Lara e Karen, minhas netas, pela alegria da continuidade.
Agradecimentos
________________________________________________________________________
À minha família, pelo apoio carinhoso e sustentação afetiva durante o
trabalho.
À minha orientadora Profa. Dra. Edna Peters Kahhale, por seu incentivo,
suporte, generosidade, competência e dedicação.
Aos componentes da Banca Examinadora, Profa. Dra. Ana Maria Maaz
Acosta Alvarez, Profa. Dra. Ceres Alves de Araújo, Profa. Dra. Elisa Maria
Barbosa Esper e Prof. Dr. Marcos Reinaldo Severino Peters, pela generosa
contribuição para o aperfeiçoamento do trabalho.
Aos Professores do Núcleo de Psicossomática do Programa de Psicologia
Clínica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelo incentivo durante a
aprendizagem.
À Profa. Dra. Yara Pisanelli Gustavo de Castro, pela ajuda na área de
Estatística.
À Bernadette Siqueira Abrão, pelo apoio.
Ao Carlos Antonio "Chester" Ferreira, pela colaboração.
Às minhas colegas do grupo de orientação, pela rica troca de ideias.
Às executivas que participaram da pesquisa. Sem elas, esse trabalho não
teria sido possível.
Ninguém nasce mulher, aprende a ser mulher.
Beauvoir (1949)
Resumo
________________________________________________________________________
MALUF, Vera Maria Daher. Mulher, trabalho e maternidade: uma visão contemporânea.
São Paulo: PUC/SP, 2009.
Palavras-chave: mulher, trabalho, maternidade, gênero, mãe.
O trabalho avaliou a relação de mulheres executivas com a realização profissional,
a maternidade e a contemporaneidade. É uma pesquisa qualitativa/quantitativa realizada
via internet com 45 mulheres executivas, de diversas empresas prestadoras de serviços.
Para coleta de informações foram utilizados os seguintes instrumentos:
Questionário de Percepção Social, composto de cinco partes, em que foram abordados os
conceitos de Homem-Mulher, Maternidade, Profissão, Relação afetiva,
Contemporaneidade; Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida SF 36;
Questionário Sociodemográfico.
Os resultados mostraram que, das mulheres pesquisadas, parte está em um
momento de construção, e parte está conflitada. Elas administram a qualidade de vida
criando possibilidades, o que desconstrói a literatura. Até hoje acreditou-se que pessoas
que trabalham de 10 a 14 horas/dia m a qualidade de vida extremamente
comprometida, e elas não têm. O fato delas estarem em cargos de extrema complexidade
não é visto como sobrecarga, é visto como eustress. Apesar de declararem acreditar que
a maternidade é um fundante do feminino, não se comportam e/ou não fizeram escolhas
norteadas pela maternidade. Declararam que para ter filhos é necessário ter condições
financeiras e um companheiro que também queira ter filhos. Declararam tamm que a
busca pela realização profissional trouxe relações mais igualitárias para as instâncias
profissionais e pessoais.
Concluindo, vivem um momento histórico complexo e contraditório, divididas entre
o desejo de se afirmar como protagonistas que constroem história junto com os homens,
história esta não só profissional como econômica, política e social, e entre o desejo da
maternidade e seu exercício pleno em relação ao acompanhamento do desenvolvimento
dos filhos.
Abstract
________________________________________________________________________
MALUF, Vera Maria Daher. Women, work and motherhood: a contemporary view. São
Paulo: PUC-SP, 2009.
Keywords: woman, work, motherhood, gender, mother.
The study examined the relationships of women executives with high professional
achievement, who are also mothers. It is qualitative-quantitative research conducted via
the Internet with 45 women executives from various service companies.
For data collection we used the following instruments: Social Perception
Questionnaire, which consists of five parts that measure Gender Differences, Motherhood,
Occupation, Emotional Relationships; Contemporary View, Brazilian Version of the
Quality of Life Questionaire - SF 36 and Sociodemographic Questionnaire.
The results showed that, for the women surveyed, it is in part a time of growth, and
in part a time of conflict. The study's finding that the women surveyed manage the quality
of life by providing opportunities contradicts much of the previous literature. Until now, it
was believed that the quality of life for such women, who work 10 to 14 hours a day, is
greatly compromised. The study does not support this conclusion. The fact that these
women are in positions of extreme complexity is not seen as burdensome, but instead
stimulating. Despite the belief that motherhood is the paramount value to women, the
women surveyed do not behave and / or made choices guided primarily by motherhood.
They stated that in order to have children, financial conditions are necessary and also a
companion who wants children. They also reported that the quest for professional
achievement helped to foster more egalitarian relationships promoting personal and
professional satisfaction.
In conclusion, living in a historic moment, full of complexity and contradiction, the
women surveyed are torn between the desire to assert themselves as actors who
construct history with men, and the desire for motherhood and their role in monitoring the
development of children. The place of these women in history remains both professional,
economic, political, social, and intensely personal as well with respect to their role as
mothers.
Résumé
________________________________________________________________________
MALUF, Vera Maria Daher. Femme, travail et maternité: une vision contemporaine. São
Paulo: PUC/SP, 2009.
Mots-clefs: femme, travail, maternité, genre, mère.
Le travail a évalué le rapport des femmes qui occupent une charge executive avec
la réalisation profesionnelle et la contemporaneité. C'est une recherce
qualitative/quantitative, alisée via internet avec 45 femmes executives, de différentes
entreprises qui fournissent des services.
Pour la récolte d'informationt été réalisés les instruments suivants: Questionnaire
de Perception Sociale, composé de cinq parties, òu ont é abors des concepts
Homme/Femme, Maternité, Profession, Relation Affective, Contemporaneité; Version
Brésiliènne du Questionnaire de Qualité de Vie SF-36; Questionnaire
Sociodémographiques.
Les résultats ont montré que, une partie des ces femmes étudiées se situe dans un
moment de construction, et l'autre partie est en conflit. Elles administrent la qualité de vie
et créent des possibilités, ce que déconstruit la litterature. Jusqu'aujourdui on a cru que les
gens qui travaillent de 10 a 14 heures par jour ont la qualité de vie extrèmement
compromise, mais elles ne l'ont pas. Le fait d'être en charges d'extréme complexité n'est
pas vu comme surcharge, cela est vu comme eustress. Malgré leur croyance à la
maternité comme un des elements fondamentaux du féminin, elles ne se comportent et/ou
n'ont pas fait leur choix dirigés à la maternité. Elles ont déclaré que pour avoir des enfants
il leur faut avoir des conditions financières et un compagne qui veiulle aussi avoir des
enfants. Elles ont déclaaussi que la recherche pour la réalisation profesionelle leur a
apporté des rapports plus égalitaires pour les demandes profesionnelles et personnelles.
En conclusion, elles vivent un moment historique, complexe et contradictoire,
divisées entre le désir de s'affirmer comme des êtres sociaux, lesquels construisent
l'histoire auprès des hommes, et que cette histoire ne soit seulement professionnelle mais
aussi économique, politique et sociale et entre le désir de la maternité et le plein exercice
par rapport à l'accompagnement du véloppement de leurs enfants.
Lista de Figuras
________________________________________________________
Figura 1 Distribuição em % das participantes segundo o local de nascimento 81
Figura 2 Distribuição em % das participantes segundo a idade .......................81
Figura 3 Distribuição em % das participantes segundo o grau de instrução ....82
Figura 4 Distribuição em % das participantes segundo a profissão .................83
Figura 5 Distribuição em % das participantes segundo o cargo .......................85
Figura 6 Distribuição em % das participantes segundo tempo de trabalho ......85
Figura 7 Distribuição em % das participantes segundo período de trabalho ....85
Figura 8 Distribuição em % das participantes segundo a renda mensal ......... 86
Figura 9 Distribuição em % das participantes segundo a participação do salário
no orçamento familiar mensal ............................................................ 87
Figura 10 Distribuição em % das participantes segundo o estado civil ............87
Figura 11 Distribuição em % das participantes segundo o tempo de relação ..88
Figura 12 Distribuição em % das participantes segundo a relação atual .........88
Figura 13 Distribuição em % das participantes segundo o número de filhos ...89
Figura 14 Distribuição em % das participantes segundo a idade dos filhos .....89
Figura 15 - Representação da média dos resultados do SF-36 - Qualidade de
Vida ....................................................................................................91
Lista de Tabelas
_______________________________________________________
Tabela 1 Taxas de atividade segundo faixas de idade no Brasil ....................... 55
Tabela 2 Taxas de atividade segundo o sexo e a escolaridade no Brasil ..........56
Tabela 3 Ensino Superior: graduadas do sexo feminino segundo as áreas de
conhecimento no Brasil ...................................................................... 57
Tabela 4 Participação feminina em ocupações selecionadas no Brasil ............ 59
Tabela 5 Empregos para diretores gerais, segundo o sexo e a remuneração
média mensal no Brasil, 2004 ............................................................ 62
Tabela 6 Evolução das mulheres por nível hierárquico nos últimos 11 anos .... 65
Tabela 7 Aumentos percentuais na área de atuação entre 2007 e 2008 ........... 66
Tabela 8 Idade mediana para executivos atingirem cargo de nível elevado ......67
Lista de Quadros
______________________________________________________
Quadro 1 Porcentagem de mulheres de acordo com o tamanho da empresa...66
Quadro 2 O papel da mulher visto com a Escala de Qualidade de Vida ........... 92
Quadro 3 O desenvolvimento profissional da mulher visto com a Escala de
Qualidade de Vida............................................................................... 94
Sumário
________________________________________________________
Introdução ............................................................................................................15
Uma visão sócio-histórica da mulher contemporânea em relação à família
nuclear ...................................................................................................... 36
Continuidades e rupturas da mulher na contemporaneidade: uma questão de
gênero? ..................................................................................................... 47
Trabalho e realização profissional: uma possibilidade para as mulheres?.......... 51
Objetivo ............................................................................................................... 68
Método ................................................................................................................ 69
Local ............................................................................................................. 70
Sujeitos ......................................................................................................... 70
Instrumentos ................................................................................................. 72
Cuidados éticos ............................................................................................ 74
Procedimentos .............................................................................................. 75
Critérios da análise dos dados ...................................................................... 76
Resultados .......................................................................................................... 79
Caracterização da amostra Dados sociodemográficos ..............................79
Sobre qualidade de vida ................................................................................89
Síntese dos dados sociodemográficos ..........................................................94
Concepção de feminino/masculino, maternidade, profissão, relação
afetiva e contemporaneidade ............................................................. 95
Concepção de mulher ................................................................................. 98
Concepção de homem ................................................................................101
Mulher executiva e maternidade ................................................................ 105
Mulher e relações profissionais ................................................................. 107
Mulher executiva e relações afetivas ......................................................... 112
Concepção de contemporaneidade ........................................................... 114
Síntese dos núcleos de significado ........................................................... 115
Discussão ......................................................................................................... 120
Conclusão ......................................................................................................... 137
Referências bibliográficas ................................................................................. 141
Anexos .............................................................................................................. 155
Anexo A Carta Comitê de Ética ................................................................ 156
Anexo B Consentimento livre e esclarecido ............................................. 158
Anexo C Questionário de Percepção Social ............................................. 161
Anexo D Questionário de Qualidade de Vida ........................................... 171
Anexo E Questionário Sóciodemográfico ................................................. 178
15
Introdução
_______________________________________________________________________
A mulher livre está apenas nascendo.
Beauvoir (1949)
A ideia desse trabalho nasceu da declaração de algumas mulheres
executivas que, durante suas sessões de psicoterapia, abordaram a necessidade
de adiar a maternidade para consolidar sua carreira profissional nas empresas que
trabalhavam.
Surgiram então as perguntas:
É uma tendência da mulher executiva adiar a maternidade para primeiro
afirmar-se e buscar uma realização profissional?
A busca dessa realização profissional está ligada a uma necessidade financeira?
Como essas mulheres lidam com seu poder profissional?
______________________________
NA: Como ainda existem discordâncias entre alguns especialistas em língua portuguesa sobre o
uso do hífen, optou-se nessa tese seguir o estabelecido no VOLPI (2009).
16
Essas mulheres valorizam suas relações afetivas, respeitam e são respeitadas
por seus companheiros?
Além da busca por uma realização profissional, essas mulheres também querem
se realizar como mães?
Para responder a essas perguntas buscou-se, durante o desenvolvimento
desse trabalho, entender a relação que entre essas questões e o papel da
mulher contemporânea em relação à família nuclear e a maternidade, suas
continuidades e rupturas no que se referem às relações de gênero, suas
expectativas em relação ao trabalho e a busca da realização profissional.
Como fundamentação teórica, optou-se pela Psicologia Sócio-Histórica, por
traduzir bem os fundamentos da pesquisa, que o da historicidade das
experiências humanas, bem como das ideias produzidas pelos homens como
expressão mediada dessas experiências" (GONÇALVES, 2001, p. 38). Toda
atividade realizada socialmente pelos homens pode ser entendida como
experiência humana, pois atende suas necessidades e produz sua própria
existência. As experiências e atividades concretas das produções de ideias e
representações sobre elas são as ações e relações. Portanto, a Psicologia Sócio-
Histórica situa o homem em sua historicidade partindo do trabalho e relações
sociais, onde esse homem se constitui historicamente produzindo bens materiais
(objetos) e espirituais (ideias).
A noção de sujeito produzida pela modernidade é exemplo dessa
relação. O homem que surge como advento do capitalismo é o indivíduo
livre, sujeito de sua vida. O desenvolvimento das forças produtivas
capitalistas põe em relevo o indivíduo, como possuidor de livre-arbítrio,
17
capaz de decidir que lugar ocupar na sociedade. Isso é possível já que a
nova sociedade se abre como um mercado no qual todos podem vender
e comprar em função de seus próprios talentos. A necessidade de se
produzir mercadorias impõe aos homens uma participação na sociedade
na forma de indivíduos, produtores e/ou consumidores de mercadorias
(GONÇALVES, 2001, p. 39).
Para fundamentar essa reflexão fez-se necessário fazer uma recuperação
do desenvolvimento histórico do século XX para entender como nossa sociedade
e, em especial, a mulher posicionou-se em relação a todas as transformações
incrivelmente rápidas e mesmo vertiginosas que nos trouxeram até aqui.
Toynbee (1986) foi o primeiro historiador a usar o vocábulo pós-
modernidade. Para ele, a pós-modernidade indicava uma cisão com os mais caros
valores ou perspectivas inauguradas com o humanismo da Renascença e
ampliadas pelo Iluminismo oitocentista: o predomínio da razão, a liberdade
política, os progressos científico e tecnológico, o desenvolvimento dos direitos
humanos ou igualdades sociais. O novo período instalava uma mentalidade e
relações político-econômicas pelas quais a natureza e a vida social passaram a
ser encaradas como manifestações do acaso, da irracionalidade, do relativismo ou
da indeterminação. E para isso, contribuíram uma sociedade e uma cultura de
massa paradoxalmente individualistas, sobrecarregadas de comunicações e de
apelos materialistas, que embutiam desordens funcionais permanentes. Tempo de
problemas, carregado de sintomas de destruição ou de desintegração das
esperanças que a civilização ocidental havia criado, à custa de conflitos e
superações cíclicas.
Capra (1987) chama a atenção para as alterações decorrentes do
modernismo, com o efeito de macrovariáveis como urbanização crescente, avanço
18
da ciência e da tecnologia e necessidades educacionais, tendo como pano de
fundo a economia e, mais recentemente, a globalização. Nesse sentido, as
transições ocorridas em diferentes períodos e com certa frequência levam-nos a
correr atrás de uma busca acentuada pelo novo, apoiada na compreensão das
mudanças e de suas possíveis continuidades.
Hobsbawm (1996) refere-se ao século XX como a transformação mais
sensacional, rápida e universal de toda a história humana. Os intelectuais do
Ocidente usaram a preposição "pós" para defini-la. O mundo tornou-se pós-
industrial, pós-imperial, pós-moderno, pós-estruturalista, pós-marxista, pós-tudo.
Quando Hobsbawm coloca dessa maneira a absorção da realidade social pela
mente humana, entende-se que o homem, para se adaptar ao meio, passa por um
processo de subjetivação da realidade.
Para Morin (2000), o conhecimento nunca é reflexo ou espelho da
realidade, mas sim uma tradução seguida de uma reconstrução. Nessa mesma
linha de pensamento, Bologna (2000), indaga se é realmente possível reinventar
nosso “estar no mundo”. É o ponto de partida para uma reflexão profunda, que
questiona a clássica contraposição de:
1. uma ótica determinista do homem e da sociedade como frutos e efeitos de um
processo evolutivo natural, que pode e para muitos deve ser objeto de ciência;
2. uma visão livremente arbitrada pelo próprio homem, construtor de sua cultura e
autor de seu meio, que pode ser objeto, além de ciência, de reflexão filosófica e
19
moral, em especial no âmbito da intuição ética, da sensibilidade estética e da
razão prática.
Bauman (2001) declara o quanto seria imprudente não considerar, ou
mesmo subestimar, a profunda mudança que o advento do que ele cunhou como
"modernidade líquida", produziu na condição humana. Segundo ele, a transição da
modernidade pesada e sólida para uma modernidade leve e fluida, afetou os mais
variados aspectos da sociedade. Essa sociedade precisa despertar para a
autoconsciência, a compreensão e a responsabilidade individuais para promover a
autonomia e a liberdade.
Uma possível ligação de Bauman, acima, e Bock, a seguir, é justamente essa
necessidade de, ao mesmo tempo, desenvolver responsabilidade individual em
um mundo progressivamente individualista, com algum significado de "socialmente
irresponsável" e a necessária subjetivação implícita numa representação do
mundo que valoriza seu espelhamento interno e o sua suposta objetividade
externa.
Bock (2001) escreve que nesse processo de reconstrução, o mundo
objetivo é convertido em subjetivo, produzindo-se um plano interno pela
incorporação do externo, processo em que se configura algo, de fato, novo. A
partir dessa nova realidade pessoal, o homem constrói, ao mesmo tempo, duas
coisas: a realidade social, com base em sua atuação nela, e a objetivação de seu
mundo singular, ou seja, de sua subjetividade. Portanto, o individual e o social
contêm um ao outro, sem se anularem ou diluírem.
20
González Rey (2002) define a subjetividade como a forma ontológica do
psíquico quando passa a ser definido essencialmente na cultura, por meio dos
processos de significação e de sentido subjetivo que se constituem historicamente
nos diferentes sistemas de atividade e comunicação humanas. A subjetividade
implica, de modo simultâneo, o interno e o externo, o intrapsíquico e o interativo,
pois em ambos os momentos se estão produzindo significações e sentidos dentro
de um mesmo espaço subjetivo (o campo dos valores), no qual se integram em
múltiplas formas o sujeito e a subjetividade social.
Furtado (2002) amplia a reflexão para o campo da economia e do trabalho,
usando como exemplo a constituição da subjetividade liberal a partir das
condições históricas que representam a implantação do capitalismo. A concepção
do homem liberal é um exemplo da subjetividade social.
O processo de constituição desse campo de subjetividade social está
relacionado com a necessidade econômica de força de trabalho livre.
Entretanto, a superação da noção de trabalho servil durante o modo de
produção feudal para a noção de trabalhador livre no capitalismo, além
da mudança objetiva do próprio modo de produção, precisa tamm
agregar valores como a idéia de que o homem é livre para escolher seu
trabalho. Essa construção objetiva não ocorre de um momento para o
outro, mas vai sendo elaborada lentamente ainda durante a vigência do
modo de produção feudal com a formulação de campo ideacionais; como
exemplo podemos citar a noção de livre-arbítrio (São Tomás de Aquino)
ou, mais adiante, o ideário humanista da Revolução Francesa, que
fornece a base subjetiva para a revolta popular que simboliza a
passagem do feudalismo para o capitalismo (FURTADO, 2002, pp.
91/92).
Kahhale (2002) reflete sobre a concepção de homem e realidade, segundo
a qual o ser humano constrói a si mesmo nas relações que estabelece com a
realidade na medida em que é em parte determinado por ela, em parte atua
sobre ela e a transforma.
21
Relacionar Furtado (2002), Kahhale (2002) e Lyotard (2002) a seguir,
envolve compreender a evidente crise de uma base objetiva, externa à
subjetividade, da noção de realidade. No fundo, podemos compreender a
transição entre o romantismo, a modernidade e a pós-modernidade como um
gradativo processo de perda de uma base objetiva para o real e ganho, por
valorização, da representação subjetiva e portanto mais individual desse real.
Assim, ao compreender a evolução de cultura de um "real objetivo externo",
comum a todos, para um "representacional subjetivo interno", de cada um, nós
compreendemos, de um lado, a vantagem de "nascer o indivíduo", de outro, a
desvantagem de morrer uma noção de "real" que pudesse ser comum e, portanto,
orientar a todos os indivíduos. Com isso, o que era universal tornou-se individual.
Lyotard (2002) define pós-moderno como a crise dos fundamentos e o
declínio dos grandes sistemas de legitimação econômica, sócio cultural e poítica,
de nossa representação da realidade. Ao buscar compreender as relações entre
capital, tecnologia e ciência, mostra como a ciência serve aos interesses do
mundo produtivo.
Lipovetsky (2004 b) afirma que o pós-moderno, por ter sido atropelado pela
velocidade contemporânea, nem sequer existiu. Batizou de hipermodernidade
esse estágio decerto pós-revolucionário, pós-disciplinar, pós-autoritário, mas que
tamm se insere nos corolários da lógica laica democrática e individualista, de
onde ele tira a ideia de "segunda revolução individualista", recuperando os valores
do modernismo, que, segundo essa visão, seria a "primeira revolução
individualista".
22
O pós de pós-moderno ainda dirigia o olhar para um passado que se
decretara morto; fazia pensar numa extinção sem determinar o que nos
tornávamos, como se se tratasse de preservar uma liberdade nova,
conquistada no rastro da dissolução dos enquadramentos sociais,
políticos e ideológicos. Donde seu sucesso. Essa época terminou.
Hipercapitalismo, hiperclasse, hiperpotência, hiperterrorismo,
hiperindividualismo, hipermercado, hipertexto - o que mais não é hiper? O
que mais não expõe uma modernidade elevada à potência superlativa?
Ao clima de epílogo segue-se uma sensação de fuga para adiante, de
modernização desenfreada, feita de mercantilização proliferativa, de
desregulamentação econômica, de ímpeto técnico e científico, cujos
efeitos são tão carregados de perigos quanto de promessas. Tudo foi
muito rápido: a coruja de Minerva anunciava o nascimento do pós-
moderno no momento mesmo em que se esboçava a hipermodernização
do mundo (LIPOVETSKY, 2004 b, p. 53).
Molon (2009) escreveu que os processos de significação ocorrem
entre os sujeitos e se estabelecem nas várias maneiras de comunicação entre
eles, podendo traduzir visões e interesses de pequenos grupos, como tamm de
sociedades globais. A complexidade da constituição do sujeito e da constituição
da subjetividade se mostra pela participação do outro, acontecendo em um
cenário de agitação, conflito, produção permanente, diferenças, semelhanças e
tensões. Isso se em um mundo de significação privado e um mundo público de
significação. No processo de significação, em busca do significado e do sentido, o
sujeito adquire singularidade na relação com o outro, em relação ao outro e na
relação do outro, sendo o outro uma complexidade que se apresenta e se
representa de diferentes formas. Assim, "o homem produz e apropria-se do saber
cultural, recria o real no plano simbólico, debate-se entre o convencional e o não
consensual, entre a visibilidade e a invisibilidade, entre transparência e a
ausência, e atua/participa em práticas sociais" (MOLON, 2009, p.7).
23
Faz-se necessário nesse estudo, ao dar continuidade à conceituação do
trabalho, explicar porque decidiu-se usar os termos contemporaneidade e mulher
contemporânea. A contemporaneidade contém em si a modernidade, a pós-
modernidade, a hipermodernidade, chegando até a modernidade líquida. Foram
citados nesse trabalho na Introdução autores que falaram da modernidade
(CAPRA, 1987), da pós-modernidade (TOYNBEE, 1986; HOBSBAWM, 1996;
LYOTARD, 2002), da hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004 b), da modernidade
líquida (BAUMAN, 2001).
Do ponto de vista da subjetividade social, reunindo esses autores e
sintetizando suas percepções, a contemporaneidade pode ser considerada a
desilusão originária das promessas que a modernidade o conseguiu cumprir.
Uma boa ilustração é raciocinarmos como um cidadão europeu relativamente culto
que se encontre às portas do Século XX, por exemplo em Paris, no fin-du-siécle, e
que antevendo as possibilidades da modernidade, com as promessas dos
avanços tecnológicos que poderiam, àquela altura, significar avanços sociais e
culturais muito significativos, sem dúvida acredita que qualquer possível
antagonismo entre desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento social, em
particular em seus aspectos humanísticos, não ocorreria e que humanismo e
tecnologia caminhariam juntos.
O século se iniciou de modo promissor e ao mesmo tempo perigoso. A
aurora de 1901 se anunciava de maneira reluzente, mas nuvens negras
lentamente ameaçavam ofuscar a luz (BLAINLEY, 2009, p. 10-11).
24
no final dos anos cinqüenta, e certamente no início dos sessenta, o
século XX sabia que tais esperanças não haviam sido realizadas ou, ao menos,
o haviam se realizado como poderiam ter sido sonhadas numa perspectiva
otimista do fin-du-siécle.
Duas guerras mundiais em menos de cinqüenta anos, a revolução
bolchevista que, pelo bem e pelo mal, inoculou inseguranças profundas no
ocidente capitalista e atingiu o oriente. Em seguida a guerra fria, derivada das
mesmas ideologias antagônicas, envolvendo num panorama ocidental no qual a
cultura migrava, via economia, da Europa para os USA , a guerra do Vietnã,
depois a queda do muro de Berlin em 1989. Em seguida a emergência das
teocracias do Oriente Médio apresentando a nova forma da violência coletiva
instituída pelo terrorismo internacional, claramente mostrada ao mundo no
episódio das Torres Gêmeas em setembro de 2001 (BOLOGNA, 2009).
Em seguida, muito recentemente, em setembro de 2008, a crise financeira
global, instituída pela alavancagem irresponsável de ativos financeiros sem lastro
econômico na chamada "economia real", tudo isso, num conjunto de eventos
históricos notavelmente marcados pela curiosa junção de uma pretenso controle,
via tecnologia, e uma evidente imprevisibilidade, via paixões humanas e suas
ideologias derivadas, constituíram um Século, chamado por Galbraith (1986) de
"Era da Incerteza" e por Hobsbawm (2002) de "Tempos Interessantes". Um século
que, em sua essência, acabou caracterizado pelos dois adjetivos, aparentemente
antagônicos mas, na prática, complementares: a incerteza e a previsibilidade.
25
Em suma, o que chamamos de contemporaneidade, é a própria percepção
coletiva dessas surpresas, é a própria cultura que deriva dessas incertezas
ocorridas em ambientes "supostos de certezas", como a queda do muro, a
segurança áerea da nação mais poderosa do mundo, a segurança pública de New
York ou a seriedade do sistema financeiro internacional (BOLOGNA, 2009).
Isso se reflete tamm como se concebe a possibilidade do conhecimento:
relativismo absoluto ou construção coletiva, histórica e mutável pelo próprio
processo histórico
As conseqüências na subjetividade social, com fortes implicações
sócioculturais, desse caráter surpreendente do século, foram muitas. Duas, em
especial, cabem nos propósitos do presente trabalho:
1. A primeira foi uma incrível, e igualmente inesperada, emergência de um tipo de
individualismo que, com alguma licença poética, podemos chamar de "alienado".
Ideologias marxistas à parte, embora incluídas, esse "individualismo alienado",
fortemente alimentado pelo consumismo emergente, caracterizou-se por um
descaso, chegando à desilusão, pelas grandes utopias coletivas de caráter
humanístico construtivo, das quais as últimas, em seu porte, foram os grandes
experimentos socialistas (soviético e chinês) cujo espelho, em pequeno porte, foi a
experiência cubana.
2. A segunda surpreendente transformação de costumes, estimulando fortes
revisões de mentalidades foi, justamente, o motivo do presente trabalho: a notável
26
mudança da condição sóciocultural da mulher, associada a uma profunda revisão
do "feminino", não só relativo ao gênero.
Assim, e em suma rasa, podemos dizer que na contemporaneidade
descobriu-se, ainda que não formulado em palavras o conscientes e claras, que
desenvolvimento tecnológico não implica, nem obriga nem claramente "causa",
desenvolvimento humano e sociocultural, embora, sem vida, relacionem-se um
ao outro de muitas formas. A transitoriedade e a efemeridade permeiam essa
questão.
Estabelece-se uma cultura do descartável, na qual as ligações são
temporárias, as coisas e as pessoas vão se suplantando. O medo de
perda e de incompletude permeia todos os processos. Essa sobrecarga
de mudanças e novidades expõe, constantemente, o sujeito ao stress de
ter de estar sempre se reconfigurando (ESPER, 2005, p.59).
uma questão de fundo: o aumento da produção em geral (alimentos,
bens de consumo) gerada pela tecnologia, não gerou um aumento de participação
social na apropriação desses bens. Essa contradição gerada implicou no aumento
das desigualdades sociais e das possibilidades de participação social, no sentido
de apropriação social, no sentido de apropriação dos bens da cultura. Ou seja, o
aumento da produção de alimentos, por exemplo, não eliminou a fome e a miséria
no mundo. O aumento do conhecimento e da tecnologia sobre as questões
climáticas e de saúde, não eliminou alguns acometimentos em saúde, típicos de
falta de saneamento básico e higiene, por exemplo: tuberculose e hanseníase. É a
contradição entre a produção coletiva e a ênfase no indivíduo, que é a base da
27
ideologia liberal. É isso que tem gerado esses questionamentos apontados pelos
autores.
Em sua vertente evolucionária e revolucionária, a contemporaneidade
significou a introdução, na cultura social, das mudanças de interpretação que os
novos indivíduos, agora muito mais autocentrados e sem tantas referências de
pertencimento quanto no passado (período feudal, por exemplo), passaram a fazer
das macroinstituições sociais a que, tradicionalmente, sentiam-se pertencer,
recebendo, delas referências claras: a Família, o Estado, a Igreja, a Escola e a
Empresa (BOLOGNA, 2009). Assim, as macroinstituições que sempre
agasalharam a necessidade de pertencimento dos indivíduos passaram, na
contemporaneidade, a ser objeto de crítica e de desconfiança, na medida em que
suas capacidades opressivas, e eventualmente cínicas, foram expostas.
A Família foi largamente posta em discussão tamm como opressora da
mulher, da infância e da juventude, e não só como a "célula da sociedade",
fundamentalmente intocável e acima de qualquer suspeita.
O Estado, seja em sua vertente socialista ou capitalista, com as variantes
presidencialistas, parlamentaristas ou monárquicas, igualmente teve, como tem,
sua estrutura fundamente criticada, a ponto da emergência das novas teocracias e
da questão palestina.
As Escolas passaram a desempenhar papéis adicionais completamente
novos, completando as carências da educação em família, em especial na
28
socialização e moralização das crianças e dos jovens, tarefas essas
classicamente desempenhadas pela Família em seu vínculo com as Igrejas.
E as Empresas passaram a desenhar um cenário completamente novo, na
medida em que o trabalho passou a configurar o ambiente central, ao redor do
qual a vida social e cultural passou a orbitar. O que assistimos foi uma clara
escolarização das empresas, que passaram a treinar e capacitar seus
colaboradores, compensando a anacronia das Escolas em sua adaptação ao novo
mundo e uma transferência, como apontada, das responsabilidades clássicas da
família para a escola, no que se refere à educação (BOLOGNA, 2009).
É importante situar essas mudanças da Família, Estado e Escola, que no
início do Capitalismo essas instituições foram se configurando de uma forma tal
que, agora após 500/600 anos de processo histórico, elas passam a explicitar
de forma mais acirrada as contradições internas que encerram.
Nesse grande cenário, descritivo de uma mentalidade, e que chamamos
nesse trabalho de contemporâneo, a mulher tem novos papéis, desafios e
oportunidades.
Deparamo-nos com as questões do macro, ou as mudanças históricas já
constituídas no real, e com as os processos pelos quais vão se constituindo os
sujeitos.
A esse respeito, no processo de constituição do sujeito individual
contemporâneo, ocorrerá um fenômeno único na história da cultura, relativo à
29
penetração, poderosa, intensa e progressiva, da mídia de massa no ambiente
doméstico, gerando uma ligação inusitada de consequências imprevisíveis, da
macrocultura na microcultura. Um exemplo é o radio, depois o cinema, depois a
televisão, até a internet, veículos através dos quais, como nunca antes, a
influência de uma nova mentalidade originária de culturas distantes se transfere
para a mentalidade local, gerando aquilo que se convencionou chamar de "cultura
global". Na esteira dessa espécie de invasão mediática do macro ao micro, o
microcosmos, o ambiente doméstico por exemplo, passou a ser mediado pela
nova voz, e imagens, originárias de fontes e mentalidades distantes. Com isso, a
efemeridade (desses estímulos o mutáveis), sua transitoriedade (dos valores
muitas vezes paradoxais, que passaram) e um esmulo mais consistente ao
narcisismo (na formação de uma autoimagem fundada no consumo progressivo de
ícones de beleza e poder), tornaram-se marcas desse novo mundo (BOLOGNA,
2009).
Uma das características reconhecida como mais evidente da
contemporaneidade, no contexto dos países em desenvolvimento, está na relação
entre presente e passado, com uma procura acentuada do novo e a conseqüente
rejeição do antigo. Isso leva à constatação de que no século XX assistiu-se a
constantes alterações de valores, práticas e papéis que as pessoas costumavam
desempenhar, em épocas diferentes, em relação a rotina de vida, a padrões de
comportamento, em um número considerável de sociedades (BIASOLI-ALVES,
2000; LASZLO, 2001; LIPOVETSKY, 2004 a).
30
Bauman (2001) pontua que somos seres reflexivos, olhamos de perto cada
movimento que fazemos, raramente satisfeitos com seus resultados e sempre
prontos a corrigi-los. Ao contrário: nossa sociedade uma sociedade de
indivíduos livres fez da crítica da realidade, da insatisfação com o que está e
da expressão dessa insatisfação, uma parte inevitável e obrigatória dos afazeres
da vida de cada um de seus membros.
Bologna (2007) mostra que somos, por assim dizer, muito mais
predispostos à crítica, mas tamm mais assertivos e intransigentes em nossas
críticas do que qualquer grupo humano que nos precedeu. Nossa crítica, no
entanto, parece incapaz de mudar agendas estabelecidas, nem sempre
conscientes ou baseadas em um pensamento crítico realmente permeado pela
reflexão das consequências a longo prazo, o que pode provocar grande
insatisfação. Isso geralmente acontece pela pressão da rapidez com que os
processos vão sendo assumidos, baseados na liberdade sem precedentes que
nossa sociedade oferece hoje a seus membros, gerando quase sempre uma
impotência sem precedentes pela falta de embasamento em valores
preestabelecidos para as ações.
O que mudou na revolução social não foi apenas a natureza das atividades
da mulher na sociedade, mas tamm os papéis desempenhados por elas ou as
expectativas convencionais do que devem ser esses papéis, e em particular os
papéis públicos das mulheres. Não mudou o papel feminino, mas também
como se entende o que é ser mulher, ou seja, a subjetividade do feminino.
31
É o contexto de um mundo que se reinventa, onde entraram as mulheres,
em número impressionantemente crescente, na educação superior, porta de
acesso às profissões liberais. A partir desse momento, a mulher começa a
aparecer de uma forma marcante no mercado de trabalho. Foram inegáveis os
sinais de mudanças significativas, e até mesmo revolucionárias, nas expectativas
das mulheres sobre elas mesmas e nas expectativas do mundo sobre o lugar
delas na sociedade. Nesse mundo descrito, a mulher começa a aparecer de uma
forma marcante no mercado de trabalho.
A entrada em massa de mulheres no mercado de trabalho e a sensacional
expansão da educação superior formaram o pano de fundo, ao menos nos países
ocidentais picos, para o impressionante reflorescimento dos movimentos
feministas a partir da década de 1960. Esses movimentos sociais levaram ao
questionamento, em nossa sociedade capitalista, das relações de gênero, das
oportunidades de trabalho para os diferentes sexos, da questão da sexualidade.
As mulheres, como grupo, tornaram-se uma força política importante, como nunca
acontecera. A partir daí, a própria amplitude da nova consciência da feminilidade
e seus interesses tornava inadequadas as explicações simples em torno da
mudança do papel da mulher na economia.
Casar ou permanecer solteira (ou ambas as coisas, cada qual em seu
momento), ter ou não ter filhos, abraçar uma profissão, são opções que não mais
implicam escolher entre liberdade e sujeição, pois a mulher contemporânea cogita
inventar o próprio destino de acordo com suas necessidades internas (FERREE,
1990).
32
Maluf (2005) relata como, no paralelo, a medicina moderna triunfava com
várias descobertas, e um dos campos mais promissores foi o da endocrinologia. O
estudo das glândulas endócrinas, e suas secreções, conhecidas como hormônios,
que circulam na corrente sanguínea e regulam uma grande variedade de funções
corporais, propiciou maior conhecimento e compreensão dos hormônios sexuais,
culminando no desenvolvimento da pílula anticoncepcional. Com isso, abriu-se um
novo questionamento para a construção de outras dimensões e possibilidades
para o feminino, ampliando a concepção em relação à maternidade e propiciando
a liberdade da prática sexual independente da reprodução.
A livre escolha da maternidade e, portanto, o direito de recusá-la, é uma
reivindicação central das mulheres a partir dos anos 1970 e tem sido tema de
vários trabalhos científicos. Esse embate tem sido amplamente acompanhado por
profissionais da área da ciência e pela difusão das práticas médicas de
contracepção e de aborto, culminando com a reprodução assistida, discutidos na
literatura por Citeli (1996), Rocha-Coutinho (2003), Colluci (2003) e Maluf (2007),
entre outros.
Essa mulher é o ser contemporâneo por excelência, desvincula sexo de
procriação, e se insere no mercado de trabalho. Concilia o governo de si mesma
com a preservação de papéis e valores tradicionais (mãe, educadora dos filhos,
organizadora do espaço doméstico, esposa). A mulher se definitivamente
inserida na lógica do individualismo contemporâneo. A tão falada dupla jornada de
trabalho feminino para essa mulher, que concilia trabalho doméstico com busca de
33
realização profissional, continua uma incógnita para a qualidade de vida (ROCHA-
COUTINHO, 2004; JONATHAN, 2005; JONATHAN & SILVA, 2007).
Quando os sociólogos teorizam sobre múltiplos papéis, eles
costumam apelar para o uso de um atributo básico e biológico da interação social,
que é chamado de "energia". Marks (1977) chama a atenção para o fato da
necessidade da análise crítica do termo. Propõe a teoria da expansão em
contraponto à aproximação da escassez normalmente usada em relação ao stress
provocado pela natureza do esforço implícito nos múltiplos papéis. Partindo do
princípio que a fisiologia humana não só consome como produz energia nos
períodos de atividade, ele critica a literatura empírica que embasa somente a visão
da escassez que, em relação aos múltiplos papéis, traz uma inevitável
"constrição". Uma teoria abrangente que explique a fenomenologia tanto da
escassez como da abundância, ou expansão da energia, requer uma análise
crítica do tempo e comprometimento envolvidos em cada situação. Discute-se a
possibilidade de que o tipo de comprometimento existente no sistema é
responsável pela ocorrência, ou não, do stress (MARKS, 1977; MARKS &
MACDERMID, 1996).
Cabe comentar aqui que pesquisas têm demonstrado que mulheres
executivas e empreendedoras buscam e alcançam autorrealização por meio do
trabalho, vivenciando suas experiências ligadas ao espaço profissional, familiar e
pessoal de forma positiva, sendo um indicativo de bem estar subjetivo e
flexibilidade (JONATHAN, 2005; JONATHAN & SILVA, 2007).
A insatisfação emocional das mulheres quanto a ganharem mais do
que seus maridos pode estar na base cultural do que se compreende como
34
"sexismo ambivalente", isto é, o conjunto de estereótipos sobre uma avaliação
cognitiva, afetiva e atitudinal sobre o papel apropriado dos indivíduos, de acordo
com o sexo, na sociedade. Essa ideia está apoiada no preconceito ainda existente
nas diferenças de gênero quanto aos papéis na divisão social, sexual e do
trabalho, sustentado no crença ainda vigente da natureza inferior da mulher
(FORMIGA et al, 2005).
Tais continuidades ocorrem em contraponto com os novos e ainda frágeis
valores dos papéis femininos na contemporaneidade. A imagem da mulher, antes
frágil e necessitada de proteção, atuando na intimidade e presa aos cuidados com
a prole, ganha hoje outros contornos que fazem dela um ser em construção,
querendo buscar no seu desenvolvimento o poder da realização de suas
potencialidades (BIASOLI-ALVES, 2000).
Perante esse olhar, surgiram as hipóteses:
1. A executiva contemporânea considera a maternidade como um dos fundantes
do feminino.
2. Existe a tendência da executiva contemporânea em adiar sua maternidade para
garantir a busca de uma realização profissional.
3. É importante a executiva contemporânea trabalhar e ter independência
financeira para então ter filhos.
4. É importante a executiva contemporânea ter uma relação afetiva estável e um
companheiro que tamm queira ter filhos.
35
5. A executiva contemporânea busca qualidade de vida e integração das várias
dimensões do feminino, implementando também o exercício profissional.
Por meio desse olhar, verificaremos como a mulher executiva compreende
o feminino/masculino, a maternidade, a profissão e a relação afetiva na
contemporaneidade. Tamm será vista a questão sobre sua abertura quanto ao
uso da medicina reprodutiva, caso necessário, para uma maternidade tardia.
36
Uma visão sócio-histórica da mulher contemporânea
em relação à família nuclear
______________________________________________________________
Estudar alguma coisa historicamente significa estudá-la no processo de
mudança: esse é o requisito básico do método dialético.
Vigotski (1998, p. 85)
Ao longo da história, ainda com as concessões devidas a esse esforço de
síntese, passamos a dividir os papéis femininos em três conjuntos fundamentais: a
esposa, a profissional e a mãe. É preciso respeitar, e muito, a grande
complexidade com que, em todas as épocas, todas as culturas, todas as
mentalidades, as mulheres se defrontaram em seus múltiplos papéis. Esposa,
numa cultura na qual as expectativas sobre a companheira compreensiva, a
competente gestora da casa, a parceira nos eventos sociais (expectativas
assustadoramente mínimas), é certamente um papel, em si, árduo. Mãe, numa
sociedade cuja expectativa é a educação idealizada de filhos progressivamente
complexos (senão mesmo complicados), é igualmente um conjunto de atividades
árduo. Que dirá, então, da profissional competindo em um universo original e
tradicionalmente masculino como o do trabalho, em geral, e o das lideranças
organizacionais, em particular? Assim, a questão que se coloca e deriva,
interpretativamente, com prudência, dos dados, é a seguinte: essa mulher
37
agüenta? Suporta o triplo papel, na medida em que as idealizações
contemporâneas sobre cada um deles coloca expectativas crescentes? Da mulher
exige-se que seja esposa perfeita, mãe perfeita, profissional perfeita, metas,
metas, metas, infernalmente derivadas de um mundo no qual os imperativos de
eficácia, o pragmatismo de resultados, teoriza permanentemente sobre as vidas
humanas.
Os mitos e crenças que envolveram as conseqüências das atividades
remuneradas das mulheres para sua qualidade de vida e bem estar subjetivo, e
que criaram toda uma teoria de que essas deveriam permanecer em seus papéis
tradicionais, vêm se diluindo a medida que as pesquisas realizadas a respeito da
multiplicidade de papéis, qualidade de vida e bem estar subjetivo têm encontrado
níveis positivos elevados entre mulheres que possuem um trabalho remunerado,
em contraposição às mulheres que não trabalham.
Maluf (2005) discute as transformações ocorridas na família nuclear e alerta
para os questionamentos sobre o papel tradicional de esposa/mãe. Perante essa
mulher, descortina-se um novo dilema quanto aos papéis familiares. Como poderá
dedicar-se à sua realização intelectual e profissional e, ao mesmo tempo, ser
esposa e mãe? A opção mais frequente é o retardo das funções maternas, mesmo
que a mulher encontre seu companheiro e decida criar uma união estável com ele
o que nem sempre mais se chama casamento.
Maluf & Kahhale (2007) apontam que as transformações na estrutura da
família nuclear trouxeram a realidade da dissolução do casamento, do re-
casamento, às vezes do terceiro casamento, tanto para homens como para
38
mulheres, faceando novos valores éticos e morais na estrutura da família nuclear.
Isso promove mudanças: a família clássica torna-se expandida.
A grande mudança na família clássica é a dissolução da figura
mulher/esposa/mãe. A mulher inseriu-se no mercado de trabalho, passando a ser
parceira dos homens na construção da nova sociedade. Foi galgando poder e
importância nos mercados, na sociedade em geral, levando à construção de uma
nova estrutura de família que prescinde da mulher/esposa/mãe tradicional.
Parece existir uma grande culpa para as mulheres ou casais que diferem do
padrão estabelecido, isto é, os padrões tradicionais. Na verdade nossa sociedade
não conseguiu ainda se desligar de um modelo que não funciona mais. Nos
casamentos onde existe uma divisão mais igualitária das atividades domésticas e
cuidado com os filhos, os ganhos são para todos, pois se a mãe diminui sua
sobrecarga em casa e passa a contribuir financeiramente com seu trabalho, por
outro lado o pai tamm sofre menos a pressão dos momentos de insegurança no
emprego, e passa a conviver mais com os filhos criando um relacionamento mais
estreito, o que também favorece ao bem estar emocional dos filhos.
Existe tamm a idéia que as crianças podem criar tensões constantes,
como, por exemplo, aumentar as dificuldades econômicas, ou tamm interferir
direta e indiretamente na qualidade do casamento, através da diminuição de
tempo dos parceiros para dedicarem ao seu relacionamento, criando novas
necessidades para a família. Perante esse olhar, elas nem sempre aumentam a
qualidade de vida ou o bem estar subjetivo do casal.
39
A entrada das mulheres no mercado de trabalho e sua maior participação
no sistema financeiro familiar acabaram por imprimir um novo perfil à família. Em
contraponto à estrutura familiar tradicional, com o pai como único provedor e a
mãe como única responsável pelas tarefas domésticas e o cuidado dos filhos, a
maioria das famílias brasileiras de nível socioeconômico médio vive um processo
de transição. Atualmente, em muitas famílias já se percebe uma relativa divisão de
tarefas, na qual pais e mães compartilham aspectos referentes às tarefas
educativas e à organização do dia-a-dia da família.
Educar os filhos sempre foi uma tarefa complexa para os pais, embora isso
não signifique que tais responsabilidades sejam compartilhadas de maneira
igualitária entre o casal. Nessas rupturas com o passado, porém, ao fazer frente a
um processo consolidado em muitas décadas, sobrou para a mulher, ainda, o
sentimento de culpa que aparece a cada vez que a criança fica doente, os pais
precisam de seus cuidados, o casamento vai mal, questões que povoam muito
mais o universo feminino do que o masculino. Diversas pesquisas apontam que as
mães tendem a envolver-se mais do que os pais nas tarefas do dia-a-dia da
criança e, geralmente, estão à frente do planejamento educacional de seus filhos
(STRIGHT & BALES, 2003).
Em contrapartida, observa-se um número crescente de pais que tamm
compartilham com a mulher ou até mesmo assumem as tarefas educativas e a
responsabilidade de formação dos filhos, buscando adequar-se às demandas da
realidade atual. Essas situações parecem refletir aspectos do processo histórico
que teve lugar no decorrer do século XX, acarretando transformações no exercício
40
da tarefa educativa nas famílias. Haja visto os movimentos de pais que exigem
participar da educação dos filhos e que pressionaram para a aprovação da lei que
estabeleceu a guarda compartilhada (Lei 11.698, de 13 de junho de 2008), um
ótimo exemplo da nova configuração do relacionamento homem/mulher, casados
ou separados.
Porém, essas mudanças parecem não ocorrer com a mesma frequência e
intensidade em todas as famílias. Encontramos, hoje em dia, famílias com
diferentes configurações e estruturas, o que implica diretamente a divisão de tais
tarefas. Coexistem modelos familiares nos quais segue vigente a tradicional
divisão de papéis; outros nos quais maridos e esposas dividem as tarefas
domésticas e educativas; e, ainda, famílias nas quais as mulheres o as
principais mantenedoras financeiras do lar, mesmo acumulando a maior
responsabilidade pelo trabalho doméstico e a educação dos filhos (FLECK &
WAGNER, 2003).
Berenstein (2002) pergunta sobre a relevância da família nos tempos
atuais, examinando os vínculos de casal e das relações entre pais e filhos. Ao
fazer isso, situando-os historicamente, passa a referir-se a eles como sendo
"diferentes configurações familiares", chamando a atenção para o fato de que os
problemas familiares instalam-se a partir do momento que se institui uma forma de
família como oficial. Dizer que a família não é nova ou velha, mas faz algo novo ou
não, é uma de suas brilhantes conclusões.
41
As novas situações derivam de diferentes relações familiares, como, por
exemplo, não ter filhos e desejá-los, separações, morte do cônjuge, novos
casamentos com filhos de relações anteriores, mudanças nas preferências
sexuais de orientação heterossexual para homossexual, entre outras. Temos hoje,
assim, as chamadas novas famílias: famílias mono parentais, casais
homossexuais com desejo ou não de adotar filhos, as novas formas de procriação
da reprodução assistida.
Na verdade, as diferentes situações familiares precisam ser pensadas com
base nas próprias relações familiares, no mundo social e em cada sujeito, a partir
das variações de seu mundo interno, que produzirá efeitos específicos e diferentes
nos vínculos familiares.
Essa maneira de olhar a família mostra com clareza o que a mulher quer
fazer de si em relação a seus novos vínculos afetivos, sociais, profissionais,
religiosos etc.
Ferree (1990) chamou a atenção para as perspectivas feministas que
redefiniram as famílias como arenas de luta entre gênero e gerações, onde o
apelo de identidade está enraizado e a solidariedade e a separatividade estão
sempre sendo criados e contestados. Falou tamm que as perspectivas artificiais
das dicotomias entre trabalho e casa, dinheiro e trabalho, autointeresse e
altruísmo, assim como as convencionais associações entre masculino e feminino,
deverão levar os estudos sobre as famílias para além das esferas separatistas.
São muitos os componentes que afetam a qualidade de vida e o bem estar
subjetivo, porém, com relação a multiplicidade de papéis, as abordagens têm sido
42
feitas em termos de quantidade de energia que as pessoas dispõem na realização
de suas atividades, no cumprimento das suas obrigações de papéis, e nos
conflitos decorrentes dessas atuações, geralmente a culpa. Tamm têm sido
consideradas as características sociais que são causadoras do distress
psicológico.
A escolha do momento de ser mãe também é uma questão crucial das
relações de gênero. O tempo da maternidade costuma ser decidido pela mulher. A
fase reprodutiva não pode ser considerada uma característica biomédica, ou um
paradigma científico, em que a problemática se resumiria ao seguinte: as
tecnologias reprodutivas ajudam, em certa medida, as mulheres a se libertar de
determinados limites cronológicos ou, ao contrário, contribuem para confiná-las a
um destino maternal?
Maluf (2007) fala que existem duas representações acerca do assunto: uma
delas privilegia uma dimensão psicológica; outra baseia-se no aspecto social.
Quando tratamos da temporalidade da maternidade, da distância entre a vontade
e o desejo, privilegiamos o aspecto subjetivo. Quanto ao aspecto social, podemos
dizer que a fase reprodutiva é um tempo social. Isso porque a idade para conceber
nem sempre coincide com as potencialidades fisiológicas e apresenta diferenças
consideráveis entre homens e mulheres.
Muitos estudos m sido desenvolvidos no tempo para entender, inclusive,
a fertilidade masculina. Spence & Helmeich (1978) e Spence et al. (1979)
declaram que o leque de idades da paternidade é mais diversificado do que o da
43
maternidade. Esse fato poderia ser atribuído à duração da fertilidade masculina,
mais extensa do que a feminina. Siqueira (1999) escreve que tal aspecto deve
certamente ser levado em conta, mas não basta para explicar as desigualdades
observadas, que são tamm de ordem social, fenômeno difícil de mensurar. Da
mesma maneira, Soares & Carvalho (2003) declararam que a idade em que vai se
dar a primeira maternidade depende bastante do contexto social e político.
Rocha-Coutinho (1998) declara que essa interrelação entre a idade da
primeira gestação e o desenvolvimento posterior da vida profissional é explicável
em função das expectativas correspondentes a cada faixa etária. O início da vida
adulta das mulheres concentra as pressões sociais para pôr uma criança no
mundo e simultaneamente investir em uma carreira. A chegada precoce de uma
criança e as restrições específicas que a acompanham, no caso das mulheres, em
um contexto em que o trabalho doméstico não é compartilhado de maneira
equivalente entre os dois sexos, acaba limitando o futuro profissional das
mulheres.
Para Moreira e Araújo (2004) as duas variáveis tradicionalmente levadas
em consideração para avaliar a vida pessoal e familiar das mulheres em função de
sua atividade profissional são a entrada na vida conjugal e o nascimento do
primeiro filho.
Nas duas, a maternidade aparece como a etapa mais decisiva. Para
Guilmot (1982), mais do que o fato de ser mãe, é a idade da mãe no nascimento
de primeiro filho que parece ter uma importância fundamental.
44
Segundo De Conninck e Godard (1992), a diferença encontrada no
calendário de reprodução feminino em relação ao masculino:
1. ocorre paralelamente às desigualdades profissionais;
2. é, provavelmente, um dos fatores que mais pesa na carreira das mulheres.
Diante desse impasse, a estratégia temporal aparentemente a menos
penosa em relação à tentativa de contornar o problema consiste em:
1. adiar a maternidade, apoiada pela oferta da tecnologia;
2. ter filhos e entregá-los a outros para que cuidem deles.
Outras opções pesam na evolução da carreira:
1. a diminuição do tempo de trabalho, especialmente pelo emprego de meio
período;
2. o recuo da entrada na vida profissional ativa após o período dedicado às
crianças.
No entanto, essas são as estratégias mais frequentemente empregadas.
Szapiro & Féres-Carneiro (2002) declaram que o triunfo da medicina
moderna, com suas várias descobertas no campo da endocrinologia, possibilitou à
mulher uma realização maior do feminino, pela busca do prazer sexual e do
controle do tempo da maternidade, que agora pode ser tardia.
45
O recurso da maternidade dita tardia é limitada a uma categoria
homogênea de mulheres. Elas têm, entre outras características comuns:
1. nível socioprofissional alto;
2. escolaridade superior;
3. moradia em zonas urbanas.
O adiamento da maternidade tem sido cada vez mais utilizado por
mulheres desde a década de 1980, como testemunha o aumento do número de
gestações após os 40 anos (BRAGA & AMAZONAS, 2005).
A reprodução assistida vai então, ligar-se estreitamente a essas tentativas
de flexibilizar a rigidez dos limiares sociais e biológicos, de evitar o torniquete do
calendário de procriação. As mulheres, tendo adiado eventuais gestações, serão
mais frequentemente confrontadas com as dificuldades de conceber e procurarão
as tecnologias disponíveis (PITROU, 1982; DORA, 1998; MINDES et al, 2000;
KATZ et al, 2002).
De La Rochebrochard & Thonneau (2002) relatam que a esperança de
ultrapassar certos limites biológicos especialmente a de ampliar o espectro de
idades para viver a maternidade foi confirmada pelas experiências dos últimos
vinte anos. Parece, de fato, que o tempo da maternidade pode ser estendido, e
que as novas técnicas reprodutivas ultrapassam os limites naturais. Não apenas a
fertilidade do casal pode ser aumentada por meios apropriados, diminuindo, em
parte, o efeito da idade, como o limiar natural da procriação pode ser superado
46
pelo recurso à fecundação in vitro (FIV) ou à injeção intracitoplasmática (ICSI),
com óvulos doados por mulheres mais jovens.
Visto que a manutenção da capacidade de nidação do endométrio se
mantém com a idade, a implantação, em mulheres mais velhas, de embriões
obtidos a partir da doação de óvulos é um sucesso. As taxas de êxito observadas
são maiores do que no caso de estimulação ovariana, e a implantação de
embriões em mulheres que já entraram na menopausa mostra-se possível.
Os benefícios da reprodução assistida, para uma maternidade tardia,
continuam crescendo. Algumas mulheres apropriaram-se dessa possibilidade,
mas as condições do acesso a essas técnicas segue nas mãos dos médicos,
submetidos a critérios definidos pela profissão ou pelas condições
socioeconômicas e limites de sistema público de saúde. As barreiras relativas à
idade foram flexibilizadas. Essa possibilidade tecnológica tem permitido uma
maternidade tardia, coadunada com o desenvolvimento de uma profissão.
47
Continuidades e rupturas da mulher na contemporaneidade:
uma questão de gênero?
_______________________________________________________________
A mulher que se liberta economicamente do homem nem por isso
alcança uma situação moral, social e psicológica idêntica à do homem.
Beauvoir (2008, p.50)
Hoje, quando falamos de relações de gênero, não podemos deixar de
considerar o papel da nova mulher na sociedade. Buarque de Hollanda (2005)
propõe a busca de uma estética feminista, a partir de uma visão de mundo em que
o desenho de uma nova sociedade busca a afirmação de novas políticas estéticas.
As mudanças e persistências no papel da mulher, principalmente no
contexto social brasileiro, enfatizam a nova forma como a mulher quer ser
considerada. A imagem de um ser frágil e necessitado de proteção, sob o domínio
dos sentimentos, atuando na intimidade e presa aos cuidados com a prole ganha
outros contornos, fazendo dela um ser em construção, na busca de seu
desenvolvimento e da realização de suas potencialidades. Os caminhos traçados
pela evolução marcam, contudo, continuidades ao lado de rupturas.
Lipovetsky (2000) defende que, até sua definitiva inserção no mercado de
trabalho, a mulher via-se quase inteiramente determinada pela ordem social
burguesa e machista. Hoje, passadas três décadas de feminismo combativo, a
mulher aponta para uma nova e instigante realidade, tão distante dos modelos de
48
passividade compulsória diante do universo masculino quanto da indiferenciação
sociossexual a convergência unissex que viria equalizar homens e mulheres na
sociedade moderna.
A maior escolarização e a profissionalização da mulher acarretaram um
contrato social mais amplo e constante; como conseqüência, o questionamento se
intensificou e atingiu muitas áreas. Isso significa uma crítica ao passado, uma
análise depreciativa de como as mulheres eram criadas, de sua submissão, dos
limites estreitos impostos ao seu movimento dentro dos grupos sociais e às
possibilidades de escolha profissional. Todos esses aspectos aparecem na
discussão, quer de grupos feministas, quer de outros que passam a enfatizar o
excesso de trabalho que recai sobre a mulher que, agora, mantém atividades
fora do lar, mas ainda é a responsável pelo bom andamento da casa, dos filhos e
do bem estar do marido. A necessidade da competição entre os sexos mostra-se
cada vez mais na sociedade, principalmente no discurso das mulheres que
ganharam o mercado de trabalho.
Assim, a transformação pode ser vista como acelerada e tamm lenta,
na dependência do referencial temporal que se utiliza. Nessa ótica, pode-
se afirmar que valores tradicionais como “Respeito”, “Obediência”,
“Submissão”, “Delicadeza no Trato”, “Pureza”, “Capacidade de Doação” e
“Habilidades Manuais”, que foram considerados atributos fundamentais e
definidores da “boa moça” até meados do século XX, são “passados para
trás”, o que significa “deixar de estar na linha de frente” da educação da
menina/moça, permanecendo, sem vida, de forma “encoberta”,
enquanto a mulher conquista o direito à escolarização e a exercer
atividades profissionais diversificadas (BIASOLI-ALVES, 2000, p. 237).
Apesar de nesse momento da evolução da sociedade, em que a livre
escolha dos parceiros determina o que parece ser uma condição mais madura e
49
segura de com quem se quer conviver, hoje sabe-se que nem sempre as relações
são duradouras. As últimas décadas ficam também marcadas pelo aumento no
número de separações, divórcios e novos casamentos, implicando uma exigência
de mudança nas definições do que é ou não valorizado no homem e na mulher.
Entretanto, se, por um lado, alterações, por outro aspectos em que
não se percebe tão claramente que a direção seguida, hoje, seja oposta à de
décadas atrás. Um exemplo típico diz respeito ao papel do homem e da mulher
dentro do ambiente familiar. Existem divergências e conflitos de posicionamento
quanto a funções, direitos e deveres, estando a mulher sempre muito direcionada
à luta de afirmar-se diante do mundo masculino/feminino (COSTA, 2001).
Nesse sentido, percebe-se que a divisão das tarefas domésticas, da criação
e da educação dos filhos parecem não acompanhar de maneira proporcional as
mudanças decorrentes da maior participação da mulher no mercado de trabalho e
do sustento econômico do lar. O descompasso dessas mudanças se evidencia em
suas mais diversas expressões, como no fato de que o trabalho doméstico
continua sendo frequentemente denominado trabalho de mulher (ROCHA-
COUTINHO, 2003).
O desemprego provocado pela chamada onda tecnológica tem levado a
mulher a assumir cada vez mais a chefia da família. O homem, como tradicional
provedor familiar, cede lugar à mulher, que se torna provedora parcial ou total das
necessidades da prole, afirmando assim sua competência no desempenho da
atividade masculina, mesmo numa conjuntura adversa e desigual. Elas
50
permanecem ganhando, em geral, menos do que o homem e sujeitam-se, muitas
vezes, a realizar tarefas em situação precária, adequando-se à flexibilização do
trabalho.
A fala das mulheres em relação a essa realidade é de queixa. Elas
precisam adotar uma atitude competitiva para poder impor-se e obter respeito. A
relação entre os sexos, aqui, torna-se problemática perante essa exclusão dos
direitos de real igualdade entre os sexos. A mulher hoje é personagem de um
processo histórico em construção.
A diferença, assim, constitui uma face da identidade, ou seja, da relação
entre o eu e os outros. É assim que as desigualdades vêm sendo percebidas.
Nesse sentido, um indivíduo pode ser criador de conhecimentos e executor de
práticas quando se relaciona com os outros. A práxis é responsável pela
construção das subjetividades que se objetivam por meio de novas práticas. Assim
sendo, cada ser humano é a história de suas relações sociais (FISCHER &
MARQUES, 2001).
Lipovetsky (2000), escreveu que as mulheres ou a "terceira
mulher" , buscam uma nova identidade. A luta feminista mudou de configuração e
as armas são outras, havendo um novo posicionamento, construído com esforço,
suor e lágrimas, pois foi montado com recortes que misturam realidades
conhecidas, intuídas e sonhadas. Mas isso tem um preço, e essa adaptação não é
fácil, trazendo alterações na qualidade de vida, na saúde física e mental.
51
Trabalho e realização profissional:
uma possibilidade para as mulheres?
_______________________________________________________________
Entretanto, existe hoje um número assaz grande de privilegiadas que
encontram em sua profissão uma autonomia econômica e social. São
elas que pomos em questão quando indagamos das possibilidades da
mulher e seu futuro.
Beauvoir (2008, p.50)
Na evolução do trabalho humano, homens e mulheres passaram
conjuntamente por diferentes modos de relacionamento de trabalho, até os mais
recentes, marcados pela modernização industrial, pela informatização dos
processos de produção, resultando tudo isso na diversificação de tarefas, com
consequências nos paradigmas produtivos (DE TONI, 2003; KON, 2005).
Porém, as condições enfrentadas pelas mulheres como participantes do
mercado de trabalho sempre foram diferenciadas e desvantajosas em relação ao
trabalho masculino. Maria Cristina Aranha Bruschini, Doutora em Sociologia pela
Universidade de São Paulo desde 1987, atualmente é Pesquisadora Senior da
Fundação Carlos Chagas. Tem sido seu trabalho divulgar dados importantes
sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho. Bruschini (2000)
escreveu sobre as teorias econômicas, que sofreram mudanças consideráveis no
tempo, introduzindo análises explícitas a respeito dessas desigualdades de
52
situações entre os gêneros. Concluiu que isso se verificou porque a divisão sexual
do trabalho para a manutenção da família, através das épocas, sempre atribuiu ao
homem a função de principal provedor financeiro das necessidades da casa.
As mudanças sociais, econômicas e políticas que repercutiram no modelo
patriarcal de família tornaram-se mais intensas e visíveis na cada de 1980,
quando se acentuaram as modificações nos paradigmas dos processos de
produção manufatureira dos países industrializados. Nesse período, salientou-se a
expansão dos serviços e dos setores de informação, observando-se a integração
de mercados globalizados (BRUSCHINI, 2000; CARDONE, 1982).
O processo de reestruturação econômica, as transformações nas
instituições sociais e políticas que foram postos em prática desde então,
trouxeram a necessidade da discussão mais detalhada sobre a questão de gênero
nas relações econômicas, como uma dimensão relevante das mudanças históricas
que merecem a atenção diferenciada das políticas públicas (BRUSCHINI, 2000).
O Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres da Fundação Carlos
Chagas (2009) contém séries históricas a partir de 1970, com estatísticas sobre o
crescimento do trabalho feminino, a relação entre a família e o trabalho feminino,
escolaridade e trabalho, o lugar ocupado pelas mulheres no mercado de trabalho
e a qualidade do trabalho feminino, apresentadas em forma de tabelas,
acompanhadas de textos explicativos e de notas metodológicas.
As estatísticas analisadas são oficiais, obtidas em levantamentos de órgãos
governamentais, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
53
que oferecem os Recenseamentos Demográficos, as Pesquisas Nacionais por
Amostra de Domicílios (PNADs) e outros , o Ministério do Trabalho caso da
Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) , a Fundação SEADE/Sistema
Estadual de Análise de Estatísticas e, finalmente, o Ministério de Educação e
Cultura (MEC), por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), com os Censos da Educação Superior e do
Censo Escolar.
O que tem caracterizado essa linha de pesquisa sobre o trabalho feminino é
a busca de informações que permitam identificar e interpretar as múltiplas
atividades realizadas pelas mulheres. Bruschini & Lombardi (2000) ressaltam que
o referencial teórico de gênero, ao qual devem ser acrescentados o envolvimento
e o compromisso com a luta feminista, tem orientado as perguntas, as
informações coletadas, a maneira de analisar e de apresentar os dados,
determinando a constante comparação de informações sobre homens e mulheres,
a fim de constatar diferenças e/ou semelhanças de gênero.
Em recente pesquisa divulgada no Seminário Internacional Gênero e
Trabalho (MAGE/FCC), realizado em São Paulo e Rio de Janeiro de 8 a 12 de
Abril de 2007, Bruschini (2007) traça um panorama da situação das mulheres no
mercado de trabalho brasileiro desde a última década do século XX até 2005,
que é marcada por progressos e atrasos. Cabe ressaltar, para essa pesquisa, a
conquista de bons empregos, o acesso a carreiras e profissões de prestígio e a
cargos de gerência, e mesmo de diretoria, por parte das mulheres escolarizadas.
54
Bruschini (2007, p.3) escreveu que nas últimas décadas do século XX, o
país passou por importantes transformações demográficas, culturais e sociais que
tiveram grande impacto sobre o aumento do trabalho feminino. No primeiro caso,
podem ser citadas: a queda da taxa de fecundidade, sobretudo nas cidades e nas
regiões mais desenvolvidas do país, até atingir 2,1 filhos por mulher em 2005; a
redução no tamanho das famílias que, em 2005, passaram a ser compostas por
apenas 3,2 pessoas, em média, enquanto em 1992 tinham 3,7; o envelhecimento
da população, com maior expectativa de vida ao nascer para as mulheres (75,5
anos) em relação aos homens (67,9 anos) e, consequentemente, a sobrepresença
feminina na população idosa; e, finalmente, a tendência demográfica mais
significativa, que vem ocorrendo desde 1980, que é o crescimento acentuado de
arranjos familiares chefiados por mulheres os quais, em 2005, chegam a 30,6% do
total das famílias brasileiras residentes em domicílios particulares.
Bruschini (2007) aponta que, além dessas transformações demográficas,
mudanças nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher
alteraram a identidade feminina, cada vez mais voltada para o trabalho
remunerado. Ao mesmo tempo, a expansão da escolaridade e o ingresso nas
universidades viabilizaram o acesso delas a novas oportunidades de trabalho.
Todos esses fatores explicam não apenas o crescimento da atividade feminina,
mas tamm as transformações no perfil da força de trabalho desse sexo. As
trabalhadoras, que, até o final dos anos setenta, em sua maioria, eram jovens,
solteiras e sem filhos, passaram a ser mais velhas, casadas e mães. Em 2005, a
mais alta taxa de atividade feminina, 74%, é encontrada entre mulheres de 30 a 39
55
anos, 69% das mulheres de 40 a 49 anos e 54% das de 50 a 59 anos também são
ativas (vide Tabela 1).
Tabela 1 Taxas de atividade segundo faixas de idade no Brasil
_________________________________________________
Faixas de idade e sexo 1995 2005
______________________________________________________
Mulheres % %
____________________________________________________________
10 a 14 anos 14,4 8,3
15 a 19 anos 44,1 43,1
20 a 24 anos 60,9 68,8
25 a 29 anos 62,7 72,6
30 a 39 anos 66,4 73,7
40 a 49 anos 63,5 69,1
50 a 59 anos 48,0 53,8
60 anos e mais 20,4 20,3
Total 48,1 52,9
___________________________________________________________
Fonte: FIBGE/PNADs - Microdados
Bruschini (2007) continua relatando que, apesar de todas essas mudanças, muita
coisa continua igual: as mulheres seguem sendo as principais responsáveis pelas
atividades domésticas e cuidados com os filhos e demais familiares, o que
representa uma sobrecarga para aquelas que também realizam atividades
econômicas.
Coloca ainda que a expansão da escolaridade, à qual as brasileiras vêm
tendo cada vez mais acesso, é um dos fatores de maior impacto sobre o ingresso
das mulheres no mercado de trabalho. A escolaridade das trabalhadoras é muito
superior à dos trabalhadores, diferencial de sexo que se verifica tamm na
população em geral. Em 2005, entre os trabalhadores, 32% delas, e 25% deles,
tinham mais de 11 anos de estudo.
Ao mesmo tempo, comenta que a escolaridade elevada tem impacto
considerável sobre o trabalho feminino, pois as taxas de atividade das mais
56
instruídas são muito mais elevadas do que as taxas gerais de atividade, em todos
os anos analisados. Em 2005, enquanto mais da metade (53%) das brasileiras em
geral eram ativas, entre aquelas com 15 anos ou mais de escolaridade, a taxa de
atividade atingia 83% (vide Tabela 2).
Tabela 2 Taxas de atividade segundo o sexo e a escolaridade no Brasil
_____________________________________________________
Anos de estudo 1995 2005
__________________________________________________________
% %
__________________________________________________________
Homens Mulheres Homens Mulheres
_____________________________________________________
Sem instrução/ - de 1 ano 73,5 40,2 68,6 37,2
1 a 3 anos 65,6 39,0 61,0 37,9
4 a 7 anos 73,9 44,0 66,0 42,1
8 a 10 anos 82,5 52,8 78,9 55,4
11 a 14 anos 88,6 69,0 89,2 73,3
15 anos ou mais 90,6 82,3 89,1 82,8
________________________________________________________________
Fonte: FIBGE/PNADs-Microdados
A escolaridade mais elevada das trabalhadoras reproduz o que ocorre na
população em geral. Nessa, pode-se constatar que o predomínio feminino ocorre a
partir do ensino médio, ou seja, de 9 a 11 anos de estudo. Em 2005, 26% das
mulheres, ante 24% dos homens estão nessa faixa (BRUSCHINI, 2007).
Bruschini (2007) continua relatando que no ensino profissional, os
percentuais femininos de conclusão são bastante elevados, sobretudo no ensino
técnico, na área de serviços, em várias de suas especialidades, com destaque
para Saúde e Artes. É nesse momento que começam a ser feitas as escolhas
profissionais, que irão se consolidar no curso superior e, posteriormente se
cristalizam no mercado de trabalho, no qual as mulheres predominam no setor de
Serviços. No ensino superior, elas ampliaram significativamente sua presença na
57
década analisada, superando os homens, a ponto de, no ano de 2005, a parcela
feminina entre os formados ter atingido 62%. Contudo, as escolhas das mulheres
continuam a recair preferencialmente sobre áreas do conhecimento
tradicionalmente femininas, como educação (81% de mulheres), saúde e bem
estar social (74%), humanidades e artes (65%), que preparam as mulheres para
ocupar as chamadas profissões femininas". Mas tamm é verdade que têm
adentrado áreas profissionais de prestígio, como a medicina, a advocacia, a
arquitetura e até mesmo a engenharia, tradicional reduto masculino, na qual
aumentou de 26% para 30% a presença das estudantes na década considerada.
A inserção das mulheres instruídas no mercado de trabalho brasileiro, pode
ser considerada uma das faces do maior progresso alcançado pelas mulheres, no
que tange à sua participação no mercado de trabalho (vide Tabela 3).
Tabela 3 Ensino Superior: graduadas do sexo feminino segundo as áreas de
conhecimento no Brasil
________________________________________________
Graduadas
_____________________________________________________
Área de conhecimento 1994 2005
_____________________________________________________
(%) (%)
________________________________________________
Brasil 61,1 62,2
Educação 92,2 81,1
Humanidades e artes 78,4 64,9
Ciências sociais, negócios
e direito 54,8 54,4
Ciências, matemática e
computação 58,5 39,1
Engenharia, produção e
construção 26,1 29,5
Agricultura e veterinária 31,7 40,7
Saúde e bem estar social 69,0 73,5
Serviços 77,4 67,1
__________________________________________________________
Fonte: MEC/INEP - Censos do ensino superior (Tabulações especiais)
58
Bruschini (2007, p.13) cita que a primeira observação que deve ser feita em
relação a essas carreiras é a consolidação da presença feminina entre esses
profissionais, ao longo da cada de noventa. Na categoria dos engenheiros, por
exemplo, a participação das mulheres, que era de 12% em 1993, atinge 14% em
2004. Entre os arquitetos, a fatia feminina é bem mais substantiva. Na mesma
data, mais da metade da categoria (54%) é composta de mulheres, dado que
consolida a tendência de feminização da profissão, uma vez que as mulheres já
ocupavam cerca de 52% dos empregos dessa área em 1993. Tamm entre os
médicos a progressão se confirmou: 41,3% da categoria é composta de mulheres
em 2004, ante 36% em 1993. Em todos os grupos da área jurídica advogados,
procuradores, juizes, promotores e consultores jurídicos não foi menos
significativo o incremento de mulheres. Esse é um mundo do trabalho segmentado
segundo os profissionais se enquadrem em dois tipos de carreira: os chamados
“profissionais do direito”, definidos como todos os funcionários vinculados ao
poder blico, aos quais é vetado o exercício da advocacia e os demais
advogados e consultores jurídicos que exercem aquela atividade estejam eles
inseridos como profissionais liberais ou assalariados de sindicatos, empresas
públicas ou privadas. Em todas essas carreiras verificou-se o mesmo
movimento de progresso, assim considerado o incremento percentual da
participação de mulheres. Em todas elas, o sexo feminino passa a representar, em
2004, mais de 40% da categoria profissional. O caso da magistratura tamm é
exemplar, pois as juízas, que ocupavam 22,5% dos postos em 1993, chegam a
mais de 34% na última data examinada (vide Tabela 4).
59
Essa fonte de dados cobre somente o mercado formal de trabalho, pois é
composta por registros administrativos fornecidos pelas empresas. Sua unidade
são vínculos de emprego ou postos de trabalho, senão empregados. Devido a
problemas cnicos ocorridos no processamento da RAIS/2005, foi preciso
estabelecer o ano de 2004 como data limite, nessa tabela e nas seguintes que
apresentam dados da RAIS (BRUSCHINI, 2007).
Tabela 4 Participação feminina em ocupações selecionadas no Brasil
_____________________________________________
Ocupações 1993 2004
_________________________________________________
Total % %
_____________________________________________
Médicos 36,3 41,3
Advogados 35,1 45,9
Procuradores e advogados públicos 40,6 43,3
Magistrados 22,5 34,4
Engenheiros 11,6 14,0
Arquitetos 51,5 54,1
Membros do Ministério Público 40,9
_______________________________________________________
Fonte: MTE - RAIS: 1993 e 2004
O ingresso das mulheres nessas ocupações teria se dado como resultado
da convergência de vários fatores. De um lado, uma intensa transformação
cultural, a partir do final dos anos 60 e, sobretudo, nos 70, na esteira dos
movimentos sociais e políticos dessa década, impulsionaram as mulheres para as
universidades, em busca de um projeto de vida profissional e não apenas
doméstico. A expansão das universidades públicas e, principalmente, privadas, na
mesma época, foi ao encontro desse anseio feminino. De outro lado, a
racionalização e as transformações pelas quais passaram essas profissões
abriram novas possibilidades para as mulheres que se formaram nessas carreiras,
60
ampliando o leque profissional feminino para além das profissões tradicionais
(BRUSCHINI, 2007).
Tanto a medicina, como a arquitetura e a advocacia vêm passando por
processos de especialização e assalariamento, em detrimento da antiga
autonomia profissional. As representações sociais, construídas tanto pela
sociedade como pelas próprias categorias, tamm estão se modificando,
particularmente no que diz respeito ao seu perfil liberal, o que repercute no nível
de prestígio e status atribuído a esses profissionais (BRUSCHINI & LOMBARDI,
1999; BRUSCHINI & LOMBARDI, 2000).
A análise de algumas características do perfil desses profissionais segundo
o sexo para o ano de 2004 demonstra, inicialmente, que elas são mais jovens do
que os homens em todas as profissões consideradas 63% das engenheiras,
47% das arquitetas, 44% das médicas, 68% das advogadas e mais da metade das
procuradoras e das juízas tem menos de 39 anos. Outra diferença em relação ao
padrão masculino, que ocorre apenas entre os engenheiros, é a maior importância
do emprego no setor público para as engenheiras (17,4% delas e apenas 10,5%
deles); nas demais profissões em análise, o serviço público mostra-se igualmente
importante na colocação de homens e mulheres. Em relação à jornada de
trabalho, os profissionais (homens e mulheres) em análise trabalham
aproximadamente o mesmo número de horas, exceto no caso dos engenheiros:
nesse caso, eles têm jornada de trabalho mais longa do que elas, mas nos demais
são elas que os superam em termos de carga horária. Finalmente, em todas as
carreiras, persiste o diferencial de rendimentos entre um e outro sexo, exceção
feita aos juízes e procuradores, cujos rendimentos são bastante semelhantes
61
entre os sexos. Para dar um exemplo, ganham mais de 20 salários mínimos
mensais: 32% dos engenheiros, mas 17% das engenheiras; 19% dos arquitetos e
15% das arquitetas; 8,4% dos médicos e 7% das médicas; 29% dos advogados e
24% das advogada. Esse mesmo padrão persiste desde a década de 1990,
conforme se demonstrou em estudos anteriores (BRUSCHINI & LOMBARDI,
1999; BRUSCHINI & LOMBARDI, 2000).
Estudo de Bruschini e Puppin (2004), realizado com dados do ano 2000,
mostrou que, nessa data, 24% dos 42.276 cargos de diretoria computados pela
RAIS eram ocupados por mulheres, dado surpreendente, face ao conhecimento
disponível, nos estudos sobre o trabalho feminino, sobre a dificuldade de acesso
das trabalhadoras a cargos de chefia. As informações obtidas para 2004 revelam
que, nessa data, cerca de 31% dos 19.167 cargos de diretores gerais de
empresas do setor formal eram ocupados por mulheres. Entretanto, ao analisar a
presença feminina em tais cargos segundo ramos de atividade, foi possível
constatar que os empregos femininos predominavam na administração pública, na
educação mais de 50% e em outras áreas sociais, como saúde e serviços
sociais, com 46% dos cargos de diretoria ocupados por mulheres. Já na prestação
de serviços, que é a população dessa pesquisa, os cargos de diretoras é de
23,3%.
A pesquisa de Bruschini e Puppin (2004) revela que as diretoras têm perfil
semelhante ao das profissionais descritas nesse trabalho. Elas são mais jovens
do que os colegas em cargo similar e estão no emprego há menos tempo do que
eles. Segundo os dados dessa pesquisa, mais de 80% das diretoras tinham
menos de 50 anos, em comparação a 64% dos diretores, e 47% delas, mas 44%
62
deles estavam no emprego menos de 3 anos. Por outro lado, como em todas
as profissões analisadas anteriormente, assim como no mercado de trabalho em
geral, tamm as diretoras de empresas do setor formal obtém rendimentos
inferiores aos dos seus colegas de mesmo nível. É necessário lembrar que a
remuneração em empregos de níveis mais elevados como os analisados nesse
tópico, costuma ser muito mais elevada do que aquela recebida por trabalhadores
de outros níveis ocupacionais, razão pela qual 50% dos diretores de empresa,
ante 30% das diretoras, ambos analisados por Bruschini e Puppin em 2000,
ganhavam mais de 15 sarios mínimos
1
ou não declaravam seus salários
(categoria “ignorado”). O diferencial de gênero nas faixas de rendimento desses
profissionais permanece em 2004, apesar do nível elevado. Nessa data,
ganhavam mais de 15 SM 41% dos diretores, mas apenas 16% das diretoras (vide
tabela 5).
Tabela 5 Empregos para diretores gerais, segundo o sexo e a remuneração
média mensal no Brasil, 2004
________________________________________________
Faixas de rendimento Homens Mulheres Total
_____________________________________________________
% % %
_____________________________________________________
Até 3 S.M.* 27,5 39,8 31,3
De 3 a 7 S.M. 15,2 26,0 18,5
De 7 a 15 S.M. 12,9 17,9 14,4
Mais de 15 S.M. 41,1 15,7 33,4
___________________________________________________________
Fonte: MTE - RAIS, 2004.
(*) salários-mínimos.
1
O salário mínino no ano 2000 era de R$ 151,00.
63
Bruschini (2007, p.31) conclui que, nos últimos dez a 15 anos (1992-2005)
as executivas brasileiras obtiveram algum progresso no mercado de trabalho,
embora tenham existido, ao mesmo tempo, inúmeras condições desfavoráveis.
Movidas pela escolaridade, seja a de nível médio, no qual as jovens superam
os jovens,
seja a de nível superior no qual as mulheres consolidaram presença bem mais
elevada do que a dos homens as trabalhadoras mais instruídas passaram a
ocupar postos em profissões de prestígio medicina, direito, magistratura,
arquitetura e mesmo na engenharia, tradicional reduto masculino assim como
cargos executivos em empresas do setor formal. Mas as condições de
desigualdade dessas mulheres perante os homens se revelam na persistência da
responsabilidade delas como mães, pelos afazeres domésticos e pelos cuidados
com as crianças e demais familiares, como se constatou através do elevado
número semanal de horas de trabalho que elas dedicam a essas atividades. O
texto mostrou a manutenção de um perfil de força de trabalho feminina que vinha
sendo forjado desde os anos oitenta do século XX: mulheres mais velhas, casadas
e mães trabalham, mesmo quando os filhos são pequenos, apesar das
dificuldades para conciliar responsabilidades domésticas, familiares e
profissionais. As taxas de atividade das mães aumentaram na década analisada,
mesmo quando os filhos são muito pequenos, mas são mais elevadas quando
eles chegam aos 7 anos e elas passam a ser ajudadas pela escola.
Os mesmos indicadores o variar conforme as grandes regiões brasileiras
e as unidades da federação. É na região Sul e na Sudeste que se verifica a maior
64
taxa de atividade feminina e o recorde nacional de participação feminina entre os
empregados, 38%.
Entre os profissionais liberais dessas regiões (Sul e Sudeste), a tendência
ao crescimento do trabalho feminino é considerável, particularmente de jovens. No
que diz respeito aos gerentes e administradores, ou seja, a denominada classe
dirigente”, a participação feminina é crescente e significativa, especialmente em
cargos de direção mais elevados (GRUPO CATHO, 2008).
Os estudos consultados de Bruschini & Lombardi (1999) e Bruschini (2000)
sobre o trabalho feminino, permitem-nos levantar hipóteses em relação à presença
das mulheres em postos de direção. A primeira delas é que as executivas estão
em empresas de grande, médio ou pequeno porte. Outra suposição, com base
nesses estudos sobre a presença feminina em ocupações de prestígio, é que as
executivas seriam mais jovens do que os colegas em cargo similar e estariam no
emprego menos tempo do que eles. Essa tendência foi constatada entre
arquitetas, médicas, advogadas e engenheiras analisadas a partir da mesma base
de dados divulgados por Bruschini & Lombardi (1999), bem como em pesquisas
não acadêmicas, como as do Grupo Catho (2008), empresa de colocação no
mercado de trabalho. Uma pesquisa desse grupo mostrou que as mulheres
aumentaram sua participação entre os executivos de nível elevado, nos últimos 11
anos, mas ainda eram maioria nos cargos mais baixos.
A pesquisa feita pelo Grupo Catho com 94.923 empresas e 360.501
executivos, com destaque para a participação das mulheres nos cargos de chefia
65
e liderança nas empresas mostrou que 40% dos cargos de chefia, e 20% dos
cargos de CEO ou similar, são ocupados pelas mulheres.
Esse último levantamento realizado no Cadastro Catho apontou para um
resultado semelhante a Bruschini (2007): uma participação histórica de mulheres
nos níveis hierárquicos mais elevados. É o percentual mais alto registrado nos
últimos 11 anos em 1997, elas representavam apenas 10,39% dos presidentes
ou CEOs (vide Tabela 6).
Tabela 6 Evolução das mulheres por nível hierárquico nos últimos 11 anos
________________________________________________________________
Cargo 1996/97 1998/99 2000/01 2002/03 2004/05 2006/07 2007/08
_____________________________________________________________________________
% % % % % % %
Presidente ou CEO 10.39 12.04 13.88 15.24 16.75 20.17 20.56
Presidente 10.82 12.92 12.55 13.05 15.11 16.13 16.04
Diretor 11.60 16.01 19.73 20.14 21.91 25.03 25.86
Gerente 15.61 17.32 20.43 23.37 25.64 30.12 32.03
Supervisor 20.85 22.95 24.75 30.81 37.11 42.84 44.68
Chefe 24.76 24.52 29.50 30.27 34.84 39.30 40.54
Encarregado 36.78 36.42 41.66 44.38 48.32 52.32 53.49
Coordenado 36.95 34.60 40.65 42.44 47.46 51.51 53.89
_____________________________________________________________________________________
Fonte: Grupo Catho 2008
Nos cargos gerenciais e de supervisão, as mulheres mantêm uma
tendência de crescimento gradativo. Porém, observa-se um crescimento maior da
participação feminina nos cargos de chefia, encarregado e coordenadoria,
principalmente em empresas de grande e médio porte (vide Quadro1).
66
Quadro 1 Porcentagem de mulheres de acordo com o tamanho da empresa
Tamanho da
empresa
Empresa acima
de 1.500
funcionários
Empresa de 201 a
700 funcionários
Empresa de 50 a
200 funcionários
Empresa abaixo
de 50
funcionários
Cargo
2007
2008
2007
2008
2007
2008
2007
2008
2007
2008
Presidente
11,06%
11,50%
11,69%
11,83%
13,86%
14,23%
17,28%
17,63%
25,12%
25,05%
Vice-Presidente
9,81%
10,45%
10,55%
9,05%
15,29%
13,77%
16,31%
17,16%
27,47%
26,73%
Diretor
16,84%
18,02%
17,72%
18,42%
19,30%
20,48%
23,13%
23,73%
30,88%
30,74%
Gerente
21,52%
23,45%
20,94%
22,98%
24,37%
26,22%
31,34%
32,26%
42,47%
43,86%
Supervisor
35,22%
37,11%
37,35%
37,39%
40,47%
41,60%
44,51%
47,59%
54,67%
54,62%
Chefe
35,00%
37,72%
33,33%
35,07%
39,35%
39,21%
41,77%
42,56%
44,98%
45,83%
Encarregado
45,47%
46,24%
42,19%
46,03%
48,06%
49,33%
53,55%
53,88%
57,86%
59,75%
Coordenador
44,13%
47,54%
49,57%
50,26%
49,37%
52,02%
55,29%
56,69%
57,97%
60,06%
Fonte: Grupo Catho 2008
A procura por cargos na área de recursos humanos pelas mulheres, que
era alta, cresceu ainda mais em 2008, chegando a aproximadamente 70%. As
áreas administrativa, relações públicas e jurídica tiveram um aumento significativo,
de 2,4 pontos percentuais em média (vide Tabela 7).
Tabela 7 Aumentos percentuais na área de atuação entre 2007 e 2008
_________________________________________________
Área de Atuação
_________________________________________________
Área 2007 (%) 2008 (%)
Administrativa 46,49 49,18
Comercial 31,50 32,96
Tecnologia 15,46 16,06
Relações Públicas 57,99 60,53
Suprimentos/Compras 24,06 25,97
Jurídica 41,91 44,15
Industrial/Engenharia 15,37 16,46
Recursos Humanos 67,72 69,78
______________________________________________________
Fonte: Grupo Catho 2008
67
A mesma pesquisa mostrou que as mulheres atingiram cargos mais
elevados a partir da segunda metade da década de 1990, com idades inferiores às
dos colegas do mesmo nível (vide Tabela 8).
Tabela 8 Idade mediana para executivos atingirem cargo de nível elevado
______________________________________________
Cargo Homens (%) Mulheres (%)
_______________________________________________________
Presidente 44,2 37,1
Diretor 41,7 36,9
Gerente 38,4 33,7
_____________________________________________________________
Fonte: Grupo Catho 2008
No entanto, ainda que essas mulheres ocupem novos e promissores
espaços de trabalho, nos quais sua inserção tem características bastante similares
às dos homens, elas permanecem submetidas a uma desigualdade de gênero
presente em todos os escalões do mercado de trabalho: ganham menos do que
seus colegas de profissão.
Mas isso não tem inibido o desejo de crescimento dessas mulheres, muito
pelo contrário. Conclui-se, pelos dados da literatura que a mulher contemporânea
busca hoje um espaço novo de atuação, não na família como também na
sociedade. É um ser em construção buscando novos papéis, e essa visão a
impulsiona cada vez mais. Apesar de se sentir discriminada em algumas
situações, ou sujeita a um olhar preconceituoso, ela cresce em busca do novo.
68
Objetivo
________________________________________________________________
Descrever como a mulher que exerce o cargo de executiva compreende a
maternidade e a busca da realização profissional na contemporaneidade,
observando as consequências na sua qualidade de vida.
69
Método
________________________________________________________________
Para abarcar a complexidade dos aspectos envolvidos nesse estudo:
relações de gênero, maternidade, busca pela realização profissional, relações
afetivas e contemporaneidade, temas esses discutidos em diferentes áreas do
conhecimento como a Psicologia, a Sociologia e a Filosofia, decidiu-se por um
caminho metodológico que abarque a riqueza que é trabalhar com a subjetividade
humana.
Segundo González Rey (2005, p.125), "o sentido subjetivo e suas distintas
formas [...] estão permanentemente presentes nas diferentes atividades e relações
do sujeito que interage nos diversos espaços e contextos da vida social";
constantemente expressas nas subjetividades social e individual.
Minayo (1994) afirma que a análise qualitativa dos dados busca ultrapassar
a incerteza presente na realidade social. O entendimento das mensagens no
material coletado, a integração das descobertas, e a confirmação ou não das
hipóteses provisórias, traz um processo dinâmico de compreensão de contextos
culturais e seus amplos significados.
Utilizou-se para esse trabalho a metodologia qualitativa e quantitativa.
Pretendeu-se, então, obter informações que articulem os aspectos qualitativos
citados acima, por meio de três instrumentos:
70
1. Questionário semi-estruturado e autoaplicável, com questões abertas e
fechadas, que permitiu descrever a compreensão das mulheres executivas a
respeito da temática investigada.;
2. Questionário de Qualidade de Vida SF-36;
3. Questionário sobre dados sociodemográficos.
A análise quantitativa foi feita a partir das respostas fechadas dos
questionários, assim como da escala aplicada (SF-36). A análise qualitativa foi
feita a partir do conteúdo das respostas às questões abertas do questionário semi-
estruturado, sendo organizadas em núcleos de significados ou unidades de
análise.
Local
Essa pesquisa foi realizada via Internet e as participantes podiam acessar
os questionários de onde quisessem. Essa possibilidade de amplitude que a
Internet traz, por abranger pessoas de e em diferentes locais, facilitou a
participação de mulheres muito comprometidas com seus trabalhos e com cargas
horárias de 8 a 14 horas, isso sem contar com o tempo dedicado à família.
Sujeitos
Participaram da pesquisa 45 mulheres executivas em idade reprodutiva,
entre 30 e 45 anos, sendo as mais novas de 30 anos e as mais velhas de 45 anos,
de diversas empresas de prestação de serviços, localizadas em São Paulo.
71
A seleção dos sujeitos foi feita pelo cargo de executiva e pela idade
reprodutiva. Entenda-se por executivas mulheres que ocupam cargos de comando
e decisão, considerados cargos executivos em empresas de grande, médio e
pequeno porte. Entenda-se por idade reprodutiva aquela que ainda possibilita à
mulher gerar e gestar, idade essa bastante ampliada em nossos dias
pela medicina reprodutiva contemporânea
2
.
A indicação dos sujeitos iniciais foi feita com a ajuda de um profissional
vinculado a várias empresas como consultor e que, por suas características e/ou
funções, tinha amplo conhecimento do contexto estudado. Por conhecer várias
pessoas que se encaixavam no perfil exigido, pode contribuir com várias
indicações. Após as primeiras indicações, os próprios sujeitos foram referendando
outras pessoas de seu conhecimento que tamm tinham interesse em participar
da pesquisa.
Essa técnica é chamada de "bola de neve". Ela é de grande utilidade no
processo de seleção dos sujeitos, consistindo em identificar uns poucos sujeitos e
pedir-lhes que indiquem outros, os quais, por sua vez, indicarão outros e assim
sucessivamente, até que se atinja um ponto de redundância no grupo (ALVES-
MAZZOTTI, 1998).
Naturalmente foi-se formando um grupo de mulheres cujos contatos davam-
se pela Internet, grupo esse que se comprometeu a responder às questões da
pesquisa. Todas mostraram interesse pelo tema e declararam querer conhecer os
resultados.
2
Segundo os critérios da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, a idade ideal da mulher
para gestar é entre 25 e 35 anos. Porém, com os novos recursos da medicina reprodutiva, têm-se
obtido muito sucesso com mulheres de gestação tardia, até 45 anos.
72
Instrumentos
O material de pesquisa utilizado conteve:
1. Questionário de Percepção Social, organizado pela pesquisadora desse
trabalho baseado em sua experiência clínica e na literatura. É composto de
cinco partes em que foram abordadas as opiniões sobre os conceitos de:
Homem-Mulher, Maternidade, Profissão, Relação afetiva,
Contemporaneidade (Anexo B);
2. Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida SF-36 (Anexo C);
3. Questionário Sociodemográfico (Anexo D);
No Questionário de Percepção Social, semiestruturado e autoaplicável,
haviam 24 questões fechadas e abertas para possibilitar um discurso em relação à
temática estudada e uma análise qualiquantitativa. O questionário coletou dados
sobre:
1. relações de gênero (conceitos homem/mulher), com 12 questões;
2. maternidade, com 5 questões;
3. profissão, com 4 questões;
4. relação afetiva, com 1 questão;
5. contemporaneidade, com 2 questões.
A elaboração do questionário baseou-se nas recomendações de Marconi e
Lakatos (1999), onde se buscou obter informações válidas com os objetivos
propostos no trabalho. Para isso, parte do questionário teve como base o
73
Questionário de Esper (2008, p.215-218). Além dessa valiosa contribuição, foram
tamm utilizados outros dados da literatura, que abordam posições e definições
do que é contemporaneidade (LIPOVETSKY, 2000; LIPOVETSKY, 2004a;
LIPOVETSKY, 2004b; LYOTARD, 2002; BOLOGNA, 2000; BOLOGNA, 2007;
BOLOGNA, 2009; HOBSBAWM, 1996; BAUMAN, 2001; TOFFLER, 1999), do que
é socialmente dito como feminino/masculino (ROCHA-COUTINHO, 2003;
SIQUEIRA, 1999; SPENCE, HELMREICH & HOLAHAN, 1979; SPENCE &
HELMREICH, 1978; WAGNER, PREDEBON & MOSMANN, 2005; KON, 2003;
BIASOLI-ALVES, 2000; BEAUVOIR, 1980), do que se pesquisa sobre o trabalho
da mulher (BRUSCHINI, 2000; BRUSCHINI & PUPPIN, 2004; BRUSCHINI &
LOMBARDI, 2000; BRUSCHINI, 2007) e do que se pesquisa sobre maternidade e
família (ROCHA-COUTINHO, 2004; ROCHA-COUTINHO, 1998; SOARES &
CARVALHO, 2003; FERREE, 1990; MOREIRA & ARAÚJO, 2004; BRAGA &
AMAZONAS, 2005; MALUF, 2007).
Na Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida SF-36 (Anexo
C), Questionário Genérico de Avaliação de Qualidade de Vida SF-36 (Short Form
Health Survey), mediu-se a visão do sujeito sobre sua saúde e quanto ela interfere
em seu trabalho, vida social e familiar. Esse questionário foi traduzido para o
português e adaptado às condições socioeconômicas e culturais da população
brasileira em trabalho de validação executado por Ciconelli et al. em 1999. A
reprodutibilidade do instrumento foi demonstrada por sua consistência interna pelo
coeficiente alpha de Cronbach, acima de 0,90 para todas as escalas. É um
questionário multidimensional, de fácil compreensão e aplicação, composto de 36
itens subdivididos em 8 áreas: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado
74
geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental.
A avaliação do questionário é feita através da aplicação de cálculos
específicos para cada uma das 8 áreas. Os resultados podem variar entre 0 (zero)
e 100 (cem), onde 0 é igual ao pior resultado e 100 é igual ao melhor resultado.
A utilização desse questionário permitiu identificar as várias dimensões da
vida da executiva e que podem interferir na qualidade de vida das mesmas.
O Questionário Sociodemográfico, estruturado e autoaplicável,
desenvolvido pela pesquisadora desse trabalho e seguindo as observações de
Marconi & Lakatos (1999), buscou condições para obter informações válidas e
pertinentes para o desenvolvimento dos objetivos propostos no trabalho. Além de
nome e endereço, constaram perguntas sobre idade, nacionalidade, naturalidade,
profissão, cargo, grau de instrução, renda mensal, estado civil, tempo de
convivência conjugal, número de filhos e idade dos filhos.
Cuidados éticos
O projeto foi encaminhado para a Comissão de Ética da PUC/SP, tendo
sido aprovado pelo Protocolo de Pesquisa No. 182/2007.
O consentimento da participante para fazer parte da pesquisa, deu a ela a
garantia da pesquisadora de que os seus dados pessoais foram mantidos em
completo anonimato e suas respostas foram trabalhadas estatisticamente de
forma ética e sigilosa.
75
Cada participante receberá prioritariamente os dados tabulados e será
convidada para um encontro de discussão dos dados, a ser marcado. O convite
será enviado ao e-mail pelo qual a pesquisa foi respondida.
O uso da internet permitiu respeito à agenda profissional das participantes.
Procedimentos
Foi usado o meio eletrônico para a apresentação dos questionários e da
escala aos sujeitos. O critério da escolha do uso da internet foi baseado no
conhecimento prévio de esse recurso estar de acordo com a necessidade de
agilidade e maximização do uso do tempo dessas mulheres, assim como da
facilidade que todas tinham na manipulação dos dados em formato eletrônico. A
maioria delas está ligada a instituições que prestam serviços na área de
informática, e a minoria, que está fora da área de informática, tem uma
capacitação tão perfeita quanto as outras, em conseqüência dos cargos de alta
competência que ocupam.
O tempo da coleta foi de dois meses, iniciando-se em julho de 2008 e
terminando em setembro de 2008. A comunicação com as participantes foi rica
pela facilidade e a agilidade entre fazer o convite, receber a confirmação de aceite,
enviar o questionário, que apresentava, logo na primeira página, o agradecimento
pela participação, uma breve explicação sobre o objetivo da pesquisa, tempo
aproximado a ser gasto, termo de consentimento e cuidados éticos.
Todas as respostas vieram devidamente cuidadas e claras, facilitando
muito as tabulações para a análise dos resultados.
76
Para se resguardar o material da pesquisa recebido pela Internet, foram
feitas cópias impressas de toda a comunicação com as participantes, desde os
emails de aceite até os formulários devidamente preenchidos e autorizados. Esse
material permanece arquivado.
Critérios da análise dos dados
Os dados coletados foram categorizados e analisados quantitativamente e
qualitativamente, seguindo as etapas:
1. Questões fechadas: foram elaboradas uma tabulação e uma estatística
descritiva.
2. Questões abertas: a partir do programa computacional SPAD -T, que fornece as
palavras-chave e respectivas frases para cada questão aberta, foram seguidos os
seguintes passos:
2a. A partir do rol de palavras mais frequentes, presentes em todos os
questionários, foram selecionadas as que tinham maior relação com o objetivo:
mulher, homem, filhos, profissional, casa, responsabilidade, trabalho, carreira,
casamento, família, profissão, masculino, feminino, independência.
2b. Com base nessas palavras, foram localizadas todas as frases em que elas
estavam presentes. A partir do conjunto de frases, levantaram-se os temas.
Fazer uma análise temática consiste em descobrir os cleos de sentido
que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma
coisa para o objetivo analítico visado. A contagem de frequência das unidades de
significação categorizaram o caráter do discurso, pois a presença de determinados
77
temas denota os valores de referência e os modelos de comportamento presentes
no discurso (MINAYO, 1994).
Para esse trabalho, partiu-se do pressuposto que as executivas
contemporâneas adiam a maternidade para garantir a busca da realização
profissional. A partir desse pressuposto, construiu-se cinco hipóteses para serem
discutidas e analisadas à luz dos resultados dos dados:
1. A executiva contemporânea considera a maternidade como um dos fundantes
do feminino.
2. Existe a tendência da executiva contemporânea em adiar sua maternidade para
garantir a busca de uma realização profissional.
3. É importante a executiva contemporânea trabalhar e ter independência
financeira para então ter filhos.
4. É importante a executiva contemporânea ter uma relação afetiva estável e um
companheiro que tamm queira ter filhos.
5. A executiva contemporânea busca qualidade de vida e integração das várias
dimensões do feminino, implementando também o exercício profissional.
Para que essas hipóteses pudessem ser estudadas, desenvolveram-se três
etapas de análise dos dados:
1. Caracterização da amostra através da organização dos dados
sociodemográficos que fundamentam a discussão;
78
2. Análise dos núcleos de significado que emergiram do contexto e das múltiplas
realidades construídas pelas participantes.
3. Análise dos dados da escala SF-36 sobre a qualidade de vida das participantes,
fundamentando e complementando a análise global e subjetiva do momento
histórico da vida delas, inseridas no objetivo e foco dessa pesquisa.
79
Resultados
______________________________________________________________________
Os resultados dessa pesquisa estão organizados de forma a dar ao leitor
uma imagem global e clara do universo das participantes, sem perder de vista as
hipóteses a serem verificadas e já descritas no objetivo.
Estaremos descrevendo como os sujeitos compreendem a
contemporaneidade, a maternidade, a realização profissional, o trabalho e as
relações afetivas. Essa descrição envolverá os dados quantitativos, apresentados
na forma de tabelas e figuras, e os dados qualitativos, apresentados em cleos
temáticos.
Serão destacados os resultados que têm maior relevância para a
compreensão do objetivo. Dessa forma, ao mesmo tempo que vamos
descrevendo os dados, já vamos analisando os seus significados.
Começaremos com a caracterização da amostra estudada segundo os
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS, onde todas as participantes são brasileiras.
Depois apresentaremos os dados referentes à qualidade de vida e, finalmente, os
dados qualitativos.
Considerando a naturalidade dessas mulheres, é importante perceber que a
maior parte é de São Paulo, e o restante é da região Sul, Sudeste e Centroeste.
Atualmente, todas essas mulheres residem e trabalham na cidade de São Paulo
(vide Figura 1).
80
66.7
20.0
4.4
4.4
2.2
2.2
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
São Paulo Rio de
Janeiro
Minas Gerais Rio Grande
do Sul
Goiás Espírito
Santo
(%)
Figura 1 Distribuição em % das participantes segundo o local de nascimento
As mulheres de 30 a 40 anos perfizeram uma amostra de 33 sujeitos,
correspondente a 73% da amostra. As mulheres de 41 a 45 anos perfizeram uma
amostra de 13 sujeitos, correspondente à porcentagem de 27% (vide Figura 2).
46.7
26.7
26.7
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
40.0
45.0
50.0
30 a 35 36 a 40 41 a 45
(% )
Figura 2 Distribuição em % das participantes segundo a idade
81
O grau de instrução de 43 participantes é o ensino superior completo,
perfazendo 95% da amostra. Isso significa que a qualificação é importante para a
função que exercem (vide Figura 3).
5.0
95.0
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
100.0
Ensino Superior Incompleto Ensino Superior Completo
(%)
Figura 3 Distribuição em % das participantes segundo o grau de instrução
Para apresentar os resultados encontrados para Profissão e Cargo, cabe
aqui explicar que o conceito de gestão, que é uma das classificações
apresentadas, baseou-se nas pessoas que desempenham um conjunto de tarefas
que garantem a eficácia da organização. O gestor pode estar tanto em níveis
estratégicos, como em níveis operacionais, o que é definido pela função que eles
desempenham. O cargo vai determinar a posição hierárquica que o gestor ocupa
dentro da organização. Então, como exemplo, ele pode ser um advogado por
formação e profissão, mas o cargo hierárquico que ele ocupa é de gestão por ser
um diretor.
82
O conceito de técnico, que é a outra classificação apresentada, nessa
pesquisa foi usado para analistas de sistema, que é aquele que tem formação
técnica e específica para a área de informática.
Profissão indica a formação específica. As profissões citadas foram:
administradora, advogada, economista, engenheira, psicóloga, analista, tradutora,
atuária, publicitária, jornalista, farmacêutica e secretária.
O grupo de profissões foi categorizado em duas classificações (vide Figura 4):
1. gestão: com 42 participantes, perfazendo 93,3% da amostra;
2. técnica: com 3 sujeitos, perfazendo 6,7% da amostra.
93.3
6.7
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
100.0
G es o T écnica
(% )
Figura 4 Distribuição em % das participantes segundo a profissão
Cargo indica a posição hierárquica mais a função (conjunto de tarefas que a
pessoa exerce na organização). É o que se registra no contrato de trabalho e às
vezes se confunde com a profissão. Os cargos citados foram os de gerente,
83
diretora, analista, superintendente, cia executiva, coordenadora, consultora,
vice-presidenta, assessora, secretária da diretoria e presidência.
O grupo de cargos foi categorizado em duas classificações (vide Figura 5):
1. gestoras: com 42 sujeitos, perfazendo 93,3% da amostra;
2. técnicas: com 3 sujeitos, perfazendo 6,7% da amostra.
93.3
6.7
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
100.0
G es toras T écnicas
(% )
Figura 5 Distribuição em % das participantes segundo o cargo
No cruzamento das profissões com os cargos, existe a tendência de 92,3%
para o que se chamou “gestoras”.
quanto tempo elas trabalham nessas funções variou entre 5 e 32 anos,
sendo que o tempo mais significativo ficou entre 10 e 20 anos, somando um valor
estatístico de 75,7% (vide Figura 6).
84
2.2
33.4
42.3
13.3
6.6
2.2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
5 anos 10 a 15 anos 16 a 20 anos 21 a 25 anos 26 a 30 anos 32 anos
(%)
Figura 6 Distribuição em % das participantes segundo tempo de trabalho
A duração da jornada de trabalho com maior frequência foi entre 10 e 14
horas diárias, perfazendo 88,9% da amostra em sua soma (vide Figura 7).
11.1
57.7
31.2
0
10
20
30
40
50
60
8 a 9 horas 10 a 11 horas 12 a 14 horas
(%)
Figura 7 Distribuição em % das participantes segundo período de trabalho
85
No cruzamento da jornada de trabalho com o tempo de trabalho, existe a
tendência de trabalharem por 10 a 11 horas tanto das participantes que trabalham
nessa função mais 10 a 15 anos (33,4%), quanto das que trabalham de 16 a
20 anos (42,3%). O dado a ser ressaltado aqui é que a pessoa estar mais
tempo no mercado de trabalho não a libera para uma jornada mais leve.
A renda mensal foi classificada por salários mínimos, havendo
predominância de porcentagem das rendas mais altas, onde 43 sujeitos perfazem
95,5% da amostra.
Entenda-se por renda mais alta 21 salários mínimos, sendo que o salário
mínimo vigente no ano de 2008, época da pesquisa, era de R$ 415,00
3
(vide
Figura 8).
4.5
95.5
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
100.0
11 a 15 salários Mais de 21 salários
(%)
Figura 8 Distribuição em % das participantes segundo a renda mensal
3
A soma de 21 salários em 2008 era de R$ 8.715,00.
86
um alto nível de participação do salário dessas mulheres no orçamento
familiar mensal, sendo que 68,8% dos sujeitos contribuem com 50% a 75% do
salário para o sustento da família (vide Figura 9).
2.2
11.2
44.4
24.4
17.8
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
.0% .25% .50% .75% .100%
(%)
Figura 9 Distribuição em % das participantes segundo a participação do salário
no orçamento familiar mensal
Considerando o estado civil das mulheres dessa pesquisa, 75,5% são
casadas. Apenas 11,1% são solteiras e 13,4% são separadas (vide Figura 10).
75.5
11.1
13.4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Casado Solteiro Separada
(%)
Figura 10 Distribuição em % das participantes segundo o estado civil
87
As maiores porcentagens estão nas relações mais duradouras, com 71,1%.
O tempo da relação afetiva atual mais significativo foi aquele superior a 10
anos (44,4%), seguido por 6 a 9 anos (26,7%); (vide Figura 11).
13.3
15.6
26.7
44.4
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
0 a 1 ano 2 a 5anos 6 a 9 anos Mais de 10 anos
(%)
Figura 11 Distribuição em % das participantes segundo o tempo de relação
Quanto à relação afetiva atual, 66,7% das participantes estavam na
primeira relação, 13,3% das participantes na segunda relação, 2,2% das
participantes na terceira relação e 17,8% das participantes na quarta ou mais (vide
Figura 12).
66.7
13.3
2.2
17.8
0
10
20
30
40
50
60
70
4ª ou +
(%)
Figura 12 Distribuição em % das participantes segundo a relação atual
88
Quanto ao número de filhos, 40% das participantes não têm filhos, e 60%
têm filhos. Das 60% que têm filhos, 35,6% têm 1 filho, 22,2% têm 2 filhos e 2,2%
têm 3 filhos (vide Figura 13).
40.0
35.6
22.2
2.2
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
35.0
40.0
Nenhum .1 .2 .3
(%)
Figura 13 Distribuição em % das participantes segundo o número de filhos
Para analisar a idade dos filhos, foram considerados os primeiros e os
segundos filhos nas categorias elaboradas por idade (vide Figura 14):
1. bebês: de 1 a 2 anos;
2. pré-escola: de 3 a 6 anos;
3. idade escolar: de 7 a 12 anos;
4. adolescente: de 13 a 17 anos.
29.6
18.2
22.2
27.3
33.3
54.5
14.8
0.0
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
Bebês Pré-escola Idade escolar Adolescentes
(%)
1º filho 2º filho
Figura 14 Distribuição em % das participantes segundo a idade dos filhos
89
Existe uma maior porcentagem de filhos entre 3 a 12 anos, Nos primeiros
filhos, temos somado nessas idades 55,5%; nos segundos filhos, temos somado,
no mesmo critério, 81,8%.
O único terceiro filho dessa pesquisa o será discutido, por ser um padrão
brasileiro atual ter dois filhos; foi o que confirmou essa pesquisa, coincidindo com
o último censo do IBGE em 2006, segundo o qual as pessoas de maior poder
financeiro têm de um a dois filhos.
Sobre a qualidade de vida
A Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida SF 36, descreve
as dimensões da qualidade de vida do sujeito e quanto ela interfere no trabalho,
na vida social e familiar. Os resultados do SF-36 podem variar de 0 (zero) a 100
(cem), indicando melhor qualidade à medida que se aproximam de 100 (cem). As
áreas avaliadas por essa escala são: capacidade funcional, aspectos físicos, dor,
estado geral da saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspecto emocional e saúde
mental.
De acordo com as respostas, constatou-se que as mulheres dessa
pesquisa m uma visão de média (59,3% ou vitalidade) para alta (93,3% ou
capacidade funcional) de sua qualidade de vida, sendo que as duas áreas com
níveis mais baixos são vitalidade (59,3%), que está na média, e saúde mental
(70,5%). O restante das áreas está no quartil superior (vide Figura 15).
90
Isso pode significar que o desempenho profissional como executiva provoca
um comprometimento na área da saúde mental, trazendo um stress
4
psicológico, o
que acarreta um comprometimento na qualidade de vida. Chama também a
atenção o nível da vitalidade que, apesar de estar na média, é baixo.
93.3
87.2
82.9
78.4
78.1
73.3
70.5
59.3
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
100.0
Capacidade
Funcional
Aspectos
Físicos
Estado
Geral de
Saúde
Dor Aspectos
Sociais
Aspectos
Emocionais
Saúde
Mental
Vitalidade
Figura 15 Representação da média dos resultados do SF-36 - Qualidade de Vida
No Quadro 2 pode-se visualizar o cruzamento das respostas do
Questionário de Percepção Social sobre "o papel social da mulher na sociedade
atual", com os resultados do questionário de Qualidade de Vida SF-36. uma
correlação significativa na sub escala da saúde mental, e chama tamm a
atenção o nível da vitalidade que, apesar de estar na média, é baixo (vide
Quadro 2).
4
Decidiu-se, nesse trabalho, pelo uso do termo stress e seus derivados, mantendo sua forma internacional.
91
Quadro 2 O papel da mulher visto com a Escala de Qualidade de Vida
Os resultados do Quadro 2 são provenientes do Teste de Médias para
Amostras Independentes. Para a pergunta sobre "O papel social da mulher na
sociedade atual", tivemos dois grupos de respostas, sendo que um escolheu a
Papel da Mulher
Média
Desvio
Padrão
Erro
Padrão
t
p
Capacidade
Funcional
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
94,8
7,3
1,6
0,976
0,335
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
92,1
10,2
2,1
Aspectos Físicos
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
92,5
16,4
3,7
1,465
0,151
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
82,3
29
5,9
Dor
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
77,3
24,7
5,5
-0,159
0,874
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
78,4
20,2
4,1
Estado Geral de
Saúde
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
83
18,8
4,2
-0,081
0,935
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
83,3
12,1
2,5
Vitalidade
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
59,5
23,2
5,2
0,227
0,822
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
58,1
17
3,5
Aspectos Sociais
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
77,5
26,2
5,8
-0,09
0,929
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
78,1
18,2
3,7
Aspectos
Emocionais
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
71,7
42,3
9,5
-0,261
0,795
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
75
42
8,6
Saúde Mental*
Ampliou papel de cuidadora da
casa/filhos
62,6
22,6
5,1
-2,44
0,021
É tão responsável pelos filhos/suporte
financeiro quanto o homem
76,7
13,6
2,8
92
opção "ampliou o papel de cuidadora da casa e dos filhos", e o outro escolheu a
opção tão responsável pelos filhos e pelo suporte financeiro quanto o homem".
Comparando a resposta dos dois grupos, temos como resultado:
1. vitalidade: o grupo "ampliou o papel de cuidadora da casa e dos filhos" (59,5%)
tem quase a mesma vitalidade que o grupo tão responsável pelos filhos e pelo
suporte financeiro quanto o homem" (58,1%), apesar de ambas serem baixas;
2. saúde mental: o grupo "ampliou o papel de cuidadora da casa e dos filhos"
(62,6%) está com a saúde mental muito mais baixa do que a do grupo tão
responsável pelos filhos e pelo suporte financeiro quanto o homem" (76,7%). A
média entre os dois grupos deu, então, uma relação significativa (P).
Parece haver uma sobrecarga no grupo "ampliou o papel de cuidadora da
casa e dos filhos", interferindo bastante na sua qualidade de vida e gerando stress
por combinar casa e trabalho.
Cruzamos o resultado da pergunta "O desenvolvimento profissional das
mulheres possibilitou relações mais igualitárias nas instâncias profissionais?" com
o Questionário de Qualidade de Vida SF-36 (vide Quadro 3).
Aqui tamm tivemos resultados provenientes do Teste de Médias para
Amostras Independentes. Para a pergunta "O desenvolvimento profissional das
mulheres possibilitou relações mais igualitárias nas instâncias profissionais?",
tamm tivemos dois grupos de respostas, um escolhendo "sim", outro
escolhendo "não".
Comparando a resposta dos dois grupos, temos como resultado:
93
1. vitalidade: o grupo que escolheu "sim" (59,3%) tem o mesmo resultado que o
grupo que escolheu "não" (59,3%) para vitalidade, ambos baixos e perto da média;
2. aspectos físicos: o grupo que escolheu "sim" (84,9%) tem um resultado bem
inferior ao grupo que escolheu "não" (100,0%).
Isso gerou uma média entre os dois grupos com uma relação significativa
(P) (ver Quadro 3).
Quadro 3 O desenvolvimento profissional da mulher visto com a Escala de
Qualidade de Vida
Desenvolvimento profissional
das mulheres trouxe relações
igualitárias no profissional
Média
Desvio
Padrão
Erro
Padrão
t
p
Capacidade Funcional
Sim
93
9
1,5
-0,534
0,596
Não
95
9,1
3,5
Aspectos Físicos*
Sim
84,9
25,7
4,2
-3,63
0,001
Não
100
0
0
Dor
Sim
78,7
21,1
3,4
0,233
0,817
Não
76,6
28,6
10,8
Estado Geral de Saúde
Sim
83,5
14,1
2,3
0,625
0,535
Não
79,6
21,6
8,2
Vitalidade
Sim
59,3
18,7
3
0,007
0,995
Não
59,3
27,6
10,4
Aspectos Sociais
Sim
76,3
22,1
3,6
-1,263
0,213
Não
87,5
17,7
6,7
Aspectos Emocionais
Sim
72,8
41,6
6,8
-0,197
0,844
Não
76,2
41,8
15,8
Saúde Mental
Sim
72,9
14,9
2,4
1,245
0,256
Não
57,1
33
12,5
94
Apareceu um comprometimento significativo nos aspectos físicos, o que
parece ser um stress físico no grupo que diz "sim" por estar com a visão errada do
mundo. Ela busca e deseja uma relação igualitária que ela acredita que tem, mas
ainda não tem então ela compromete seu físico, fica mais cansada,
sobrecarregada, tem um stress físico. Em comparação, o grupo que diz "não" tem
o score (100%) mais alto nos aspectos físicos, o que pode indicar que uma
expectativa menor em relação a resultados de realização dá menos stress e
melhor qualidade de vida. a saúde mental das que disseram "não", está muito
mais baixa do que a das que disseram "sim". Permanece aqui a questão da
vitalidade, que apesar de estar na média, é baixa.
Síntese dos dados sociodemográficos
As mulheres dessa pesquisa, apesar de o serem todas naturais de São
Paulo, hoje residem e trabalham na cidade de São Paulo, sendo que 73% tem
entre 30 e 40 anos, e 27% tem entre 41 e 45 anos. Da amostra, 95% m ensino
superior completo. As profissões foram classificadas em gestão (93,3%) e técnica
(6,7%), com os cargos de gestoras (93,3%) e técnicas (6,7%), nos quais 95,5%
ganham mais do que 21 salários mínimos; 75,7% trabalham entre 10 e 20 anos,
88,9% tem uma jornada de trabalho entre 10 e 14 horas diárias. Da amostra,
95,5% recebem mais de 21 salários mínimos, sendo que 68,8% dos sujeitos
contribuem com 50% ou 75% do salário para o sustento da família. Da amostra,
75,5% são casadas, sendo 71,1% de relações afetivas entre 6 e mais de 10 anos,
95
com 66,7% na primeira relação. Quanto ao número de filhos, 60% m filhos,
sendo 35,6% com 1 filho, 22,2% com 2 filhos e 2,2% com 3 filhos; 33,3% dos
primeiros filhos, e 54,5% dos segundos filhos, estão em idade escolar.
Concepção de feminino/masculino, maternidade, profissão,
relação afetiva e contemporaneidade
Nessa seção serão apresentados os resultados mais relevantes do
Questionário de Percepção Social.
Para a apresentação dos dados, optou-se por construir e destacar, através
do reconhecimento e da organização dos textos livres das participantes, os
núcleos de significação entre eles. Entenda-se por núcleos de significação os
temas mais abordados pelas participantes como significantes em suas vidas.
Esses núcleos serão precedidos pelos dados encontrados nas questões de
escolha de alternativas, que foram tabulados e descritos estatisticamente, e que
tem a ver com o tema abordado especificamente em cada núcleo.
No decorrer da apresentação dos dados destacados, juntamente com os
núcleos de significado relativos a cada tema, serão transcritas as falas originais
das participantes como forma de ilustração.
Cinco núcleos foram encontrados na análise dos dados, cada um de acordo
com o discurso das mulheres em resposta às questões abertas. Segue a ordem
escolhida para a análise:
96
1. Em resposta à questão "Alguma mudança ou fato significativo contribuiu
para que você tivesse essa visão de mulher?" e à questão "Você identifica
alguma função exclusivamente feminina?", foi encontrado o primeiro bloco de
núcleos de significado:
a. mulheres posicionando-se em novos papéis: inserção qualificada no
mercado de trabalho;
b. nova visão da independência financeira da mulher;
c. nova visão de conjugalidade entre homem e mulher: compartilhamento de
tarefas.
2. Em resposta à questão "Alguma mudança ou fato significativo contribuiu
para que você tivesse essa visão de homem?" e à questão "Você identifica
alguma função exclusivamente masculina?", foi encontrado o segundo bloco de
núcleos de significado:
a. nova visão do homem: de provedor a parceiro;
b. mulheres posicionando-se em novos papéis: assumindo o papel de
provedora;
c. nova visão de conjugalidade entre homem e mulher: compartilhamento de
tarefas.
3. Em resposta à questão "O desenvolvimento profissional das mulheres
possibilitou relações mais igualitárias nas instâncias profissionais?", foi
encontrado o terceiro bloco de núcleos de significado:
a. igualdade;
97
b. desigualdade;
c. igualdade com desigualdade: situações contraditórias.
4. Em resposta à questão "O desenvolvimento profissional das mulheres
possibilitou relações mais igualitárias nas instâncias pessoais?", foi
encontrado o quarto bloco de núcleos de significado:
a. igualdade, autonomia e independência financeira;
b. desigualdade: visão social de mulher como ser inferior ao homem.
5. Em resposta à questão "Supondo que vo tentasse ter um filho e não
conseguisse naturalmente, você se submeteria à reprodução assistida?", foi
encontrado o quinto bloco de núcleos de significado:
a. desejo de filho é alavanca para decisão por reprodução assistida.
Seguem os dados destacados com os cleos de significação relativos,
organizados segundo os focos dessa pesquisa: concepção de mulher, concepção
de homem, mulher executiva e maternidade, mulher e relações profissionais,
mulher executiva e relações afetivas e concepção de contemporaneidade.
.
Concepção de mulher
As mulheres dessa pesquisa acreditam que houve mudança significativa no
conceito de mulher (77,8%), com transformações no exercício profissional
(75,6%).
98
Os cleos de significação e sentido das frases que descrevem essa visão
de mulher, resultantes da questão aberta "Alguma mudança ou fato
significativo contribuiu para que você tivesse essa visão de mulher?", e à
questão "Você identifica alguma função exclusivamente feminina?", são os
que se seguem
5
. Os textos discutem a igualdade na escolha profissional com
uma inserção qualificada no mercado de trabalho, possibilitando uma nova visão
da independência financeira e uma nova visão de conjugalidade entre o homem e
a mulher, inclusive no compartilhamento de tarefas:
a. Mulheres posicionando-se em novos papéis: inserção qualificada no
mercado de trabalho:
"A qualificação da mulher somada à forma com que a mulher consegue
dividir seu tempo, viabilizou sua entrada no mercado de trabalho. O próprio
preconceito contra a mulher faz com que ela tenha que se qualificar mais para ser
aceita por seus pares masculinos. Isso ocorre também no empenho exigido à
mulher. Com isso, a mulher foi vagarosamente abrindo espaços na sociedade,
temos aí exemplos magníficos, e com isso foi alterando suas expectativas frente
ao sexo oposto. Para essa mulher capacitada, o homem tem que ser parceiro;
caso contrário, não há sustentação para o casamento" (S 4, 43 anos).
"O exemplo de minha mãe sempre trabalhar contribuiu para ver, cada vez
mais, essa transformação no exercício profissional. O fato de eu mesma ter
5
As frases dos sujeitos foram mantidas na sua forma original.
99
trabalhado muito em eventos sociais fez com que essa visão sobre essa
transformação se consolidasse" (S 37, 40 anos).
"Profissional e financeiramente, as mulheres se equipararam. Em termos de
família, tanto o papel materno quanto o paterno se diferenciam das gerações
anteriores, pois o homem é muito mais presente afetivamente e nas atividades
rotineiras. Socialmente, as mulheres também se destacam em alguns segmentos,
mesmo naqueles em que a predominância é masculina" (S 41, 36 anos).
"Porque retirando as barreiras culturais da definição de papéis, tudo pode
ser feito por todos" (S 16, 42 anos).
"Todas as atividades profissionais que as mulheres exercem podem ser
realizadas por homens" (S 15, 31 anos).
b. Nova visão da independência financeira da mulher:
"Meu divórcio me abriu uma perspectiva totalmente diferente de esposa e
filha (antes do casamento). Mostrando que dentro de toda mulher existe outra
totalmente diferente, e que fica adormecida devido a nossa sociedade e padrões.
Quando ela desperta por algum fato ocorrido, como uma separação por exemplo,
uma força e energia incrível reacende" (S 43, 45 anos).
"Minha mãe nunca trabalhou e, com condições financeiras favoráveis, fui
criada para ser dona de casa também. Mas, por vontade própria, comecei a
trabalhar e consigo conciliar a vida profissional e familiar muito bem. Acho que
antigamente as mulheres eram criadas para serem mães, donas de casa, e,
agora, crescem vendo as es trabalharem. Outra cabeça, buscando a
independência financeira" (S 12, 41 anos).
100
"O fato de minha mãe sempre ter contribuído financeiramente em casa
também" (S 32, 30 anos).
"Baseada na relação de parceria que estabelecemos, meu marido e eu, na
gestão da família, do nosso filho, da casa e das finanças, entendo que tudo pode e
deve ser compartilhado" (S 34, 36 anos).
"Hoje, em casais modernos, percebo divisão total de tarefas com
interdependência mútua até pelo papel financeiro que a mulher passou a ter" (S
35, 39 anos).
c. Nova visão de conjugalidade entre homem e mulher: compartilhamento de
tarefas:
"Ter tido oportunidade de me desenvolver profissionalmente fez com que eu
tivesse que compartilhar com meu marido, de igual para igual, todas os
compromissos de nossa vida em comum" ( S 5, 35 anos).
"Não necessariamente uma mudança, mas sim o tipo de educação recebida
dos pais e do colégio" (S 41, 36 anos).
"Porque hoje homem e mulher trabalham fora e, além de compartilhar as
responsabilidades financeiras, precisam compartilhar os cuidados com a casa e
com os filhos" (S 18, 35anos).
"Porque, na minha visão, o homem e a mulher têm condições e obrigações
equiparadas. Na minha família, meus pais já nos criaram dessa maneira. As
responsabilidades são compartilhadas, todas elas" (S 23, 40 anos).
101
"A responsabilidade é compartilhada, o que faz com que as funções
possam ser desempenhadas tanto por homens como por mulheres" (S 27, 32
anos).
Concepção de homem
As mulheres dessa pesquisa acreditam que a sociedade valoriza, nos
homens, um bom salário (95,6%), e a expressão de autoridade e liderança
(66,7%). Porém, elas concordam que houve mudanças no conceito de homem
(75,6%), sendo que afirmam que o desenvolvimento profissional da mulher trouxe
relações mais igualitárias para o campo pessoal (86,7%), e consideram perceber
transformações, no homem, em relação ao cuidado com a casa e com os filhos
(71,1%), valorizando-o como um pai presente (66,7%).
Os cleos de significação e sentido das frases que descrevem essa visão
de homem, e que são resultantes da questão aberta "Alguma mudança ou fato
significativo contribuiu para que você tivesse essa visão de homem?", e da
questão aberta "Você identifica alguma função exclusivamente masculina?",
são os que se seguem. Eles traduzem um movimento de busca de novos
caminhos para a relação com o homem, onde ele deixa de ser visto como
provedor e mentor, e passa a ser visto como parceiro. Trazem tamm a
consciência das mulheres de terem se tornado, em muitos casos, as provedoras
do casal, o que possibilitou uma espécie de troca de papéis, onde o homem é
mais solicitado para os cuidados domésticos e dos filhos:
102
a. Nova visão do homem: de provedor a parceiro:
"Só acho que os homens estão reagindo a uma posição dada à mulher na
sociedade, posição essa de liberdade, responsabilidade e independência. Nem o
homem nem a mulher sabem ainda como posicionar-se nessa nova realidade" (S
30, 34 anos).
"Porque infelizmente a mulher não depende mais do homem para
realizações pessoais e profissionais. Infelizmente porque o conceito de família tem
se perdido, o que é extremamente essencial para a formação do caráter da
próxima geração" (S 25, 31 anos).
"Maturidade. Na medida em que fui construindo meu caminho profissional,
que me ajudou a construir minha identidade e minha independência, minha visão
masculina foi se alterando porque o papel de homem na minha vida também
mudou: de mentor para parceiro profissional, de mantenedor familiar para parceiro
familiar, de decisor para consultor" (S 4, 43 anos).
"Fui criada com uma educação muito machista, em relação ao papel da
mulher e do homem, tanto na vida profissional quanto nas obrigações familiares.
Entretanto, apesar dessa criação, minha opinião e visão em relação às
tarefas/obrigações do homem e da mulher mudou muito desde que me casei (2
anos) e tive que encarar todos os desafios da vida moderna ao lado do meu
marido. Definitivamente, apesar de toda influência da minha criação, minha visão
e meus anseios não são os mesmos aos que fui apresentada por meus pais.
Acredito na divisão igualitária das obrigações e responsabilidades do homem e da
mulhe." (S 21, 30 anos).
103
"Porque tanto na relação com a sociedade, como afetiva, ou nos
papéis de pais e profissionais, não é a relação de gênero que influencia" (S 33, 33
anos).
"Porque na minha visão, o homem e a mulher têm condições e obrigações
equiparadas. Na minha família meus pais já nos criaram dessa maneira. As
responsabilidades são compartilhadas, todas elas" (S 23, 40 anos).
b. Mulheres posicionando-se em novos papéis: assumindo o papel de
provedora:
"Antes o homem era quem provia a casa normalmente com um salário
maior para manter a casa e a família. Com as mudanças no mercado de trabalho,
nem sempre hoje o homem pode continuar a ter o papel de trazer maior renda
para a casa" (S 7, 43 anos).
"Fui casada com um executivo com o qual tive um filho, porém, na
separação, fiquei com o ônus e o bônus no cuidado do menor, visto que por
trabalhar e ter um alto salário não tive pensão para mim e tive uma muito reduzida
para o menor. Atualmente estou no segundo relacionamento, no qual meu
parceiro tem um salário muito inferior ao meu" (S 9, 33 anos).
"Meu marido ficou desempregado e não acertou mais um rumo profissional.
Dessa forma, hoje vivemos uma situação quase invertida da definição social
clássica de mulher responsável por casa e filhos e marido pelo sustento" (S 16, 42
anos).
104
"Porque hoje homem e mulher trabalham fora, e além de compartilhar
responsabilidades financeiras, precisam compartilhar os cuidados com a casa e
com os filhos" (S 18, 35 anos).
"Hoje, em casais modernos, percebo divisão total de tarefas com
interdependência mútua até pelo papel financeiro que a mulher passou a ter" (S
35, 39 anos).
"Baseada na relação de parceria que estabelecemos, meu marido e eu, na
gestão da família, do nosso filho, da casa e das finanças, entendo que tudo pode e
deve ser compartilhado" (S 34, 36 anos).
c. Nova visão de conjugalidade entre homem e mulher: compartilhamento de
tarefas:
"Conheço casais onde a mulher é o suporte financeiro e o marido cuida dos
filhos, bem como, outros em que o marido também se responsabiliza pelos filhos
quando a mulher precisa trabalhar até mais tarde ou no fim de semana" (S 10, 44
anos).
"Essa minha opinião é baseada nas famílias (amigos e colegas de trabalho)
com as quais tenho contato. Hoje os homens participam efetivamente da
educação e dos cuidados com os filhos enquanto as mulheres conquistam o seu
espaço no mercado de trabalho" (S 15, 31 anos).
"Casei dois anos e estou convivendo com um homem em casa,
comparando a relação que tenho com ele e a relação que tinham meus pais. O
homem hoje se preocupa com a casa, filhos, família, e não se importa de dividir
tarefas com a mulher" (S 26, 30 anos).
105
"Meu crescimento profissional fez com que desejasse e valorizasse um
homem mais participativo nos cuidados com os filhos e a casa, e menos focado
somente no lado profissional" (S 42, 37 anos).
"Dentro do meu convívio familiar, não funções exclusivamente
masculinas, incluindo educação de filhos, supermercado e demais tarefas
domésticas" (S 17, 38 anos).
Mulher executiva e maternidade
As mulheres dessa pesquisa valorizam o fato de ser mães (62,2%). Da
amostra, 73% estão em idade reprodutiva, sendo que 60% são mães, outras
40% ainda desejam ser; 88,9% declaram que a maternidade é importante para
elas e 88,9% afirmam que tentariam a reprodução assistida; entre elas, 71,1%
dizem sentir natural e espontaneamente o desejo de filhos. 86,7% declaram que o
momento ideal para a maternidade é aquele em que se pode contar com um
companheiro que tamm queira ter um filho, e 75,6% asseguram que a
maternidade implica tamm condições financeiras.
Essas mulheres declaram que o que cabe à mãe é cuidar, educar e garantir
condições de manutenção para o filho (88,9%), valorizando cuidar bem dos filhos
(64,4%). Das que são mães, 77,8% declara que filhos são uma realização, e
68,9% declara que filhos são uma alegria.
A aceitação da reprodução assistida, caso necessária, flexibiliza muito a
idade reprodutiva dessas mulheres. O núcleo de significação e sentido das frases
que descrevem a visão da reprodução assistida, resultantes da questão aberta
106
"Supondo que você tentasse ter um filho e não conseguisse naturalmente,
você se submeteria à reprodução assistida?", é o que se segue. Constam dele
frases de mulheres que tem filhos, como tamm das que ainda não tem e
querem ter. Permanece um discurso tradicional em relação à maternidade, exceto
na fala sobre adoção, que traz uma dimensão do feminino e da maternidade que a
maioria das mulheres não conseguem colocar, pois privilegia a relação e não a
vivência gravídica:
a. Desejo de filho é alavanca para decisão por reprodução assistida.
"Sim, para ter a realização de um filho biológico" (S 2, 43 anos).
"Sim, porque o meu maior desejo é ter um filho, acho que toda mulher
deveria ter essa experiência, mesmo que necessite de uma ajuda médica" (S 32,
30 anos).
"Sim, porque se a medicina me permite, eu não abriria mão dessa
realização. Caso não fosse possível ainda assim, adotaria" (S 26, 30 anos).
"Sim, iria até o fim para realizar minha decisão. Também cogitaria, com
muita alegria, a hipótese de adoção" (S 24, 32 anos).
"Sim, porque a medicina nos deu isso de presente. Devemos utilizar esse
avanço da medicina para satisfazer uma vontade" (S 39, 34 anos).
"Sim, porque não vejo motivo para não utilizar tecnologia para engravidar"
(S 41, 36 anos).
"Sim, porque ter um filho é fundamental para qualquer ser humano" (S 38,
40 anos).
"Sim, eu me submeti à reprodução assistida pois meu marido tem baixa
quantidade de espermatozóides para uma fertilização natural" (S 5, 35 anos).
107
"Sim, tenho um filho, mas caso não conseguisse tentaria qualquer coisa
para ter um porque não nasci para ser profissional, nasci para ser mãe, para
crescer como pessoa, e vejo que com os filhos é possível espelhar-se para
aprender e crescer" (S 9, 33 anos).
"Sim, porque eu sempre quis ter filhos e tentaria todas as maneiras
possíveis para realizar esse sonho" (S 18, 35 anos).
"Sim, porque meu desejo por ter um filho é maior do que a escolha do
método que me proporcionará tê-lo" (S 20, 34 anos).
Mulher e relações profissionais
As mulheres dessa pesquisa valorizam a profissão (80%), afirmaram que o
desenvolvimento profissional trouxe relações igualitárias no campo profissional
(84,4%). Nos planos e perspectivas profissionais, querem realizar-se (44,4%) e
querem estabilidade financeira (42,2%). A escolha profissional das mulheres
dessa pesquisa foi por oportunidade (55,6%) e elas valorizam a autonomia e a
independência (68,9%).
Os cleos de significação e sentido das frases que descrevem essa visão
de mulher, e que são resultantes da questão aberta "O desenvolvimento
profissional das mulheres possibilitou relações mais igualitárias nas
instâncias profissionais?" são os que se seguem. Nas respostas, 25 mulheres
tiveram um discurso voltado para a igualdade, 6 mulheres tiveram um discurso
voltado para a desigualdade, e 14 mulheres tiveram um discurso onde a igualdade
e a desigualdade se mesclaram. Alguns discursos mostram uma inserção
108
qualificada no mercado, outros trazem uma queixa de desrespeito e um momento
social e histórico ainda com muita competição entre homens e mulheres, outros
denotam uma possibilidade de um processo em construção:
a. Igualdade:
"Gradualmente, as mulheres ocupam todas as posições antes exercidas
pelos homens, seja dirigindo uma missão a Marte, ou assumindo a liderança em
grandes empresas" (S 33, 34 anos).
"Oportunidade de carreiras antes exclusivas de homens" (S 35, 39 anos).
"A mulher se preparou muito mais para vencer o preconceito e por isso
começou a ser respeitada por sua competência" (S 38, 40 anos).
"A independência financeira possibilitou a igualdade e liberdade das
mulheres nas suas instâncias profissionais" (S 40, 38 anos).
"Acesso a posições com salários mais altos" (S 7, 43 anos).
"Ter acesso a posições anteriormente exercidas exclusivamente por
homens" (S 5, 35 anos).
"As mulheres conquistaram cargos de maior importância e são mais
respeitadas" (S 13, 40 anos).
"Hoje, na empresa que trabalho, não vejo distinção entre mulheres e
homens. Talvez tenha acontecido em alguns casos, mas no meu caso por
exemplo, fui promovida a gerente de pessoas, em uma posição importante,
quando estava grávida de seis meses" (S 23, 40 anos).
"Cada vez mais vemos mulheres ocupando todas as funções dentro das
organizações. Não observei em nenhuma empresa onde trabalhei discriminação,
109
por exemplo, à participação de mulheres em reuniões, suas opiniões etc...Existem
dados de pesquisas mostrando que as mulheres ocupando mesmos cargos que
homens ganham menos que eles... Confesso que não observei isso nas grandes
empresas por onde andei pelo fato de serem multinacionais de grande porte.
Acredito que essa relação seja verdadeira em outros mercados/corporações" (S 3,
33 anos).
b. Desigualdade:
"As mulheres ainda ganham menos que os homens e sofrem discriminação.
As mulheres normalmente ficam em condições de maior exposição, ou seja, suas
falhas ou reações são sempre amplificadas. Ainda, a sociedade enxerga na
mulher a responsabilidade sobre a casa e os filhos, obrigando-a a lidar com a
dupla jornada de trabalho quando não existem condições de contratar recursos
que a suportem com as tarefas domésticas" (S 36, 34 anos).
"Nem sempre. Ainda somos vistas como mulheres segundo a visão da
sociedade analisada em perguntas anteriores ganhando menos, trabalhando
proporcionalmente mais" (S 37, 40 anos).
"Mas a mulher ainda tem que dar mais duro para ser reconhecida pelo
homem, no ambiente de trabalho. Ela tem que se qualificar e trabalhar mais" (S 4,
43 anos).
"Sim, porem acredito que ainda estamos muito longe do ideal. As mulheres
continuaram com as tarefas domésticas e de responsabilidade com os filhos e
ainda tem carga profissional" (S 9, 33 anos).
110
"O foco na profissão e a ascensão profissional são muito diferentes na
mulher. A mulher acaba tendo que optar entre maternidade e profissão num dado
momento de sua carreira. Isso o significa que ela não possa retomá-la, mas é
diferente do homem. A paternidade o implica em escolhas quanto à profissão, a
maternidade sim" (S 20, 34 anos) .
"As mulheres ainda não tem o mesmo reconhecimento do trabalho em
relação ao homem, sempre temos que provar que somos competentes,
diferentemente dos homens, costumo dizer que 'homens tem que matar um leão
por dia' e mulheres 'muitos leões' " (S 1, 36 anos).
"Com o passar dos anos, a mulher vem ganhando espaço, como
possibilidades iguais de ocupar um cargo e de receber investimentos das
empresas. No entanto, ainda estamos distantes de viver igualdade" (S 31, 30
anos).
c. Igualdade com desigualdade: situações contraditórias em construção:
"Apesar de ainda vivermos em um mundo machista, as mulheres hoje
assumem postos que não participavam anteriormente. Hoje é possível deparar-se
com homens que assumem as atividades que antes eram destinadas às mulheres,
além de a mulher ter que pagar pensão alimentícia para homens separados, por
exemplo" (S 30, 34 anos).
"A relação homemXmulher, no campo profissional, ainda não é 100%
igualitária, mas tem melhorado muito ao longo dos anos. Muitas mulheres tem
assumido cargos de liderança atualmente" (S 32, 30 anos).
111
"Esse desenvolvimento possibilitou relações mais igualitárias
principalmente em empresas de grande porte, mas a mulher ainda está longe de
ter condições iguais as dos homens" (S 17, 38 anos).
"Sim, hoje temos mais oportunidades, fruto de um imenso esforço que
fazemos. Mas há ainda um imenso caminho a ser percorrido" (S 24, 32 anos).
"Sim, mas ainda não completamente. Digo isso porque para que a mulher
possa ter uma relação igualitária dentro do ambiente de trabalho, ela tem que
estimular características masculinas e controlar (algumas vezes a inibir) suas
características naturalmente femininas. O homem não. Mais recentemente
estamos vendo algumas tendências cobrando algumas características mais
femininas dos homens, mas isso ainda não é realidade na maioria das empresas.
Dessa forma, o esforço do homem para integrar todas as suas facetas é menor do
que o esforço da mulher.
Também ainda vejo dificuldades na gravidez e maternidade. O homem não
sofre impacto na sua carreira quando se torna pai, a mulher sim quando se torna
mãe.
Em linhas gerais, ainda vejo o custo da conquista da suposta relação
igualitária nas instâncias profissionais como mais altos para a mulher do que para
o homem. Eu consideraria as relações totalmente igualitárias se cada um pudesse
aportar o que tem e fosse valorizado e respeitado por isso... Gostaria de ver mais
mulheres/mulheres no ambiente de trabalho, e menos mulheres/homens." (S 3, 33
anos).
112
Mulher executiva e relações afetivas
Das mulheres dessa pesquisa, 91,1% da amostra têm marido/companheiro,
e 82,2% declaram que esses maridos/companheiros valorizam e compartilham
sucessos e dificuldades. Elas valorizam o homem carinhoso e afetivo (71,1%).
Os cleos de significação e sentido das frases que descrevem a visão de
mulher, resultantes da questão aberta "O desenvolvimento profissional das
mulheres possibilitou relações mais igualitárias nas instâncias pessoais?"
são os que se seguem. Nas respostas, 40 mulheres tiveram um discurso voltado
para a igualdade, autonomia e independência financeira, levando ao
compartilhamento e não à submissão; 5 mulheres tiveram um discurso voltado
para a desigualdade, pontuando uma visão de mulher como ser inferior ao
homem:
a. Igualdade, autonomia e independência financeira:
"A opção de não ficar presa em um relacionamento por dependência
financeira, e o respeito maior por parte dos homens e de boa parte da sociedade"
(S 13, 40 anos).
"A independência financeira não tem preço. Vi muitas mulheres se
sujeitarem à vontade de seus maridos por pura dependência financeira e modelo
social" (S 16, 42 anos).
"Com certeza, a mulher sai da condição de 'sustentada' para a 'condição
igualitária'. Isso faz com que um relacionamento não seja uma lvula de escape,
ou um 'porto seguro', e sim uma opção. Acredito que isso também colabore para
113
um número maior de casamentos e separações, pois a mulher não precisa se
submeter porque tem seu auto sustent." (S 20, 34 anos).
"Sou independente financeiramente e faço minhas próprias escolhas. Por
ser ativa profissional e intelectualmente tenho condições de avaliar melhor minhas
relações e interagir de maneira mais qualificada com as pessoas ao meu redor" (S
24, 32 anos).
"A independência financeira deu a mulher o direito de opinar, se posicionar,
alterando sua posição anterior de submissão" (S 33, 34 anos).
"Possibilidade e autonomia para dividir tarefas, como educação dos filhos,
tarefas do lar, terminar relacionamentos improdutivos e dependentes" (S 38, 40
anos).
"Eu me desenvolvi mais como pessoa e profissional, aumentei minha
segurança e confiança" (S 37, 40 anos).
b. Desigualdade: visão social de mulher como ser inferior ao homem:
"Porque as mulheres ainda o vistas como seres inferiores" (S 43, 45
anos).
"Para muitos homens (maridos, namorados e até familiares), a mulher
independente financeiramente ainda assusta muito" (S 44, 45 anos).
"Não. Acho que a mulher ainda tem uma carga muito grande nas relações
pessoais, com marido, filhos e família que não foi equilibrada pelo avanço no lado
profissional" (S 22, 35 anos).
"Não uma compreensão da indisponibilidade do homem para as funções
e atividades familiares" (S 31, 30 anos).
114
"A dedicação com os filhos e a coordenação do funcionamento da casa.
Por mais que um marido possa ser super cooperador, a responsabilidade acaba
sendo feminina" (S 20, 34 anos).
Concepção de contemporaneidade
Sobre a contemporaneidade, as mulheres destacaram que o mundo atual,
em constante transformação, as afeta em geral (86,7%), sendo que 53,3%
declararam que isso as afeta especificamente no trabalho, e 51,1%,
especificamente na família.
Tamm a descartabilidade as incomoda no geral (75,6%), além do
consumismo e sensação de vazio (44,4%), da cultura do descartável (46,7%), do
imediatismo (46,7%), e da dificuldade de preservar valores (48,9%).
Infelizmente, não foram feitas frases para essas questões, somente um
gradiente de escolhas. Por esse motivo, não foi possível fazer um núcleo de
significados para as perguntas "O mundo atual está em constantes
transformações que nos coloca frente a adaptações necessárias às
mudanças. Isso afeta você?" e "Mediante as novidades frequentes, fruto das
transformações, muitas coisas vão ficando descartáveis. Isso incomoda
você?".
No gradiente de escolhas, foi perguntado para a 1ª. pergunta onde a
adaptação às mudanças afeta mais, podendo a participante escolher livremente
entre: parentalidade, trabalho, tecnologia, família, conjugalidade, dificuldade de
preservar valores, relações afetivas, relações sociais, aparência e outra .
115
Foi perguntado para a 2ª. pergunta onde a descartabilidade afeta mais,
podendo a participante escolher livremente entre: sucesso profissional, medo do
futuro, desvalorização por envelhecer, perda do vigor, descontrole do tempo,
medo da dependência, dificuldade de se adaptar, dificuldade de acompanhar o
ritmo das mudanças, consumismo e sensação de vazio, cultura do descartável,
valorização das coisas passageiras, imediatismo, superficialidade do
conhecimento, dificuldade de preservar valores e outra.
As participantes destacaram em suas respostas para a 1ª. pergunta
somente a família e o trabalho, e destacaram em suas respostas para a 2ª.
pergunta consumismo e sensação de vazio, cultura do descartável, imediatismo e
dificuldade de preservar valores.
Síntese dos núcleos de significado
Concepção de mulher: As mulheres dessa pesquisa acreditam que houve
mudança significativa no conceito de mulher, com transformações no exercício
profissional. Discutem a igualdade na escolha profissional com uma inserção
qualificada no mercado de trabalho, que possibilita uma independência financeira
feminina e uma nova visão de conjugalidade como compartilhamento de tarefas.
Concepção de homem: As mulheres dessa pesquisa acreditam que a sociedade
valoriza, nos homens, um bom salário e a expressão de autoridade e liderança.
Porém, elas concordam que houve mudanças no conceito de homem, sendo que
afirmam que o desenvolvimento profissional da mulher trouxe relações mais
116
igualitárias para o campo pessoal, e consideram perceber transformações, no
homem, em relação ao cuidado com a casa e com os filhos, valorizando-o como
um pai presente. Os núcleos de significado da fala dessas mulheres em relação
ao homem traduzem um movimento de busca de novos caminhos para a relação
conjugal, onde ele deixa de ser visto como provedor e mentor, e passa a ser visto
como parceiro. Trazem também a consciência das mulheres de terem se tornado,
em muitos casos, as provedoras do casal, o que possibilitou uma espécie de troca
de papéis, onde o homem é mais solicitado para os cuidados domésticos e dos
filhos.
Mulher executiva e maternidade:
As mulheres dessa pesquisa valorizam o fato de ser mãe. A maior parte da
amostra está em idade reprodutiva, sendo que algumas são mães, outras ainda
desejam ser, declarando que a maternidade é importante para elas e afirmando
que tentariam a reprodução assistida caso fosse necessário. Dizem sentir natural
e espontaneamente o desejo de filhos e declaram que o momento ideal para a
maternidade é aquele em que se pode contar com um companheiro que também
queira ter um filho, assim como reconhecem que a maternidade implica também
condições financeiras. Essas mulheres declaram que o que cabe à mãe é cuidar,
educar e garantir condições de manutenção para o filho, valorizando cuidar bem
dos filhos. As que são mães declaram que filhos o uma realização e uma
alegria. Há uma contradição presente entre o discurso e a prática, pois são
mulheres que valorizam cuidar dos filhos, mas têm um média de jornada de
117
trabalho diária de 10 a 14 horas, o que possivelmente implica em deixar os filhos
aos cuidados de terceiros. Assim, valorizar ser mãe parece querer responder ao
modelo hegemônico de mulher como mãe. Por outro lado, também pode
significar que cuidar e educar, seja concretizado em ter condições financeiras,
uma vez que a maioria contribui de 50% a 75% no orçamento familiar. Cuidar e
educar pode significar oferecer boa casa, boas escolas, lazer, não implicando
relações de trocas afetivas sistemáticas e diárias. A aceitação da reprodução
assistida, caso necessária, flexibiliza muito a idade reprodutiva dessas mulheres.
Nas frases do núcleo de significação permanece um discurso tradicional em
relação à maternidade, exceto na fala sobre adoção, que traz uma dimensão do
feminino e da maternidade que a maioria das mulheres não consegue colocar,
pois não é costume privilegiar a relação de parentaliade e sim a vivência gravídica.
Mulher e relações profissionais : As mulheres dessa pesquisa valorizam a
profissão e afirmam que o desenvolvimento profissional trouxe relações
igualitárias no campo profissional. Nos planos e perspectivas profissionais,
querem realizar-se e querem estabilidade financeira. A escolha profissional das
mulheres dessa pesquisa foi por oportunidade e elas valorizam a autonomia e a
independência. Nos núcleos de significação e sentido das frases que descrevem
essa visão de mulher houveram alguns discursos voltados para a igualdade
mostram uma inserção qualificada no mercado, outros voltados para a
desigualdade trazem uma queixa de desrespeito e um momento ainda com muita
competição no mercado de trabalho entre homens e mulheres, outros discursos
onde a igualdade e a desigualdade se mesclaram denotam uma possibilidade de
118
um processo em construção. Esses aspectos relativos à busca de uma relação
igualitária no campo profissional aparecem relacionados com os resultados no
questionário de qualidade de vida, onde a vitalidade está num nível médio e há um
comprometimento na dimensão dos aspectos físicos.
Mulher executiva e relações afetivas: A maior parte das mulheres dessa
pesquisa tem marido/companheiro, e declaram que esses maridos/companheiros
valorizam e compartilham sucessos e dificuldades, valorizando o homem
carinhoso e afetivo. Os núcleos de significação e sentido das frases trouxeram, em
sua grande maioria, um discurso voltado para a igualdade, autonomia e
independência financeira, levando ao compartilhamento e não à submissão;
houveram tamm alguns poucos discursos voltado para a desigualdade,
pontuando uma visão de mulher como ser inferior ao homem. Aqui também
podemos relacionar com os resultados de qualidade de vida se olharmos que a
questão do papel social da mulher na sociedade atual trouxe um
comprometimento na dimensão da saúde mental, assim como uma vitalidade no
nível médio.
Concepção de contemporaneidade: Sobre a contemporaneidade, as mulheres
destacaram que o mundo atual, em constante transformação, as afeta em geral,
sendo que metade declara que isso as afeta especificamente no trabalho, e a
outra metade especificamente na família. Aqui tamm podemos relacionar com
os resultados de qualidade de vida, tanto com os que falam da busca de uma
relação igualitária no campo profissional e que aparecem relacionados com uma
119
vitalidade que está num nível médio e com um comprometimento na dimensão dos
aspectos físicos, como com os que falam da ampliação do papel da mulher como
cuidadora da casa e dos filhos, e que trazem um comprometimento na dimensão
da saúde mental, assim como uma vitalidade no nível médio. Tamm a
descartabilidade as incomoda no geral, além do consumismo e sensação de vazio,
da cultura do descartável, do imediatismo e da dificuldade de preservar valores.
Infelizmente, o foram feitas frases para essas questões, somente um gradiente
de escolhas. Por esse motivo, não foi possível fazer um núcleo de significados
para as perguntas sobre contemporaneidade, mas foi possível depreender das
respostas livres dos outros núcleos alguns significados descritos e explorados na
Discussão.
120
Discussão
______________________________________________________________________
O foco desse trabalho é discutir a configuração dos papéis do feminino no
trabalho e na maternidade por meio de dois recortes:
1. Os valores da sociedade que se expressam nos valores familiares;
2. A coexistência de diferentes processos de valores na sociedade, alguns mais
tradicionais, outros mais inovadores.
Considerando esse olhar, propomos uma discussão dos resultados dessa
pesquisa a partir das hipóteses que nortearam esse trabalho:
1. A executiva contemporânea considera a maternidade como um dos fundantes
do feminino.
2. Existe a tendência da executiva contemporânea em adiar sua maternidade para
garantir a busca de uma realização profissional.
3. É importante a executiva contemporânea trabalhar e ter independência
financeira para então ter filhos.
4. É importante a executiva contemporânea ter uma relação afetiva estável e um
companheiro que tamm queira ter filhos.
121
5. A executiva contemporânea busca qualidade de vida e integração das várias
dimensões do feminino, implementando também o exercício profissional.
Olhando os dados à luz de cada hipótese, podemos dizer que:
1. A executiva contemporânea considera a maternidade como um dos fundantes
do feminino.
Discutindo o significado dos filhos, ficou claro que essas mulheres são
muito comprometidas com a maternidade e o romperam com o modelo
tradicional feminino nessa dimensão, declarando que valorizam o fato de ser mãe.
A pergunta enunciada na Introdução desse trabalho "Além da busca por uma
realização profissional, essas mulheres também querem se realizar como mães?"
tamm foi respondida aqui. Porém, essa amostra avança e está mais integrada
do que as mulheres de outras pesquisas, que relatam que a maternidade foi
definida pela maioria das participantes como "a essência da condição de ser
mulher" (ROCHA-COUTINHO, 2004, p.8). Apesar de dizerem sentir natural e
espontaneamente o desejo de filhos, que é uma concepção ideológica por estar
tão imposta na sociedade, elas estão construindo uma opção de que filho não é
para ter em qualquer condição.
Na presente pesquisa, algumas já são mães e outras ainda desejam ser,
sendo que essas ainda não passaram da idade considerada fértil pela sociedade
médica
6
. Os dados nos trouxeram que "a grande maioria dessas mulheres
valoriza o fato de ser mãe e está em idade reprodutiva (73%), sendo que 60%
são mães, outras 40% ainda desejam ser".
6
Vide Nota da Autora na p. 71.
122
A maioria diz que a maternidade é importante para elas, declarando que
tentariam até a reprodução assistida para poder ser mãe. Aqui também chama a
atenção o quanto essa concepção ideológica imposta pela sociedade não faz
sentido no discurso dessas mulheres. Isso porque elas também declaram que, ao
aceitarem a reprodução assistida como ajuda para engravidar, elas não se
percebem defeituosas como a maioria das mulheres imersas nessa construção
ideológica. Isso é uma afirmação baseada na realidade pois algumas que m
filhos passaram pelo processo de reprodução assistida.
Declaram que o momento ideal para ter filho é ter um companheiro que
tamm queira ter filho, sendo tamm necessário ter condição financeira. A
consciência de que para ter filho é importante ter condições financeiras e um
companheiro que também queira filhos, fica mais como um desejo para as que
ainda não tem pois, na realidade, não sabemos em que condições todas as que
são mães tiveram seus filhos. Talvez seja um discurso dissociado da prática,
talvez desenvolvido por mulheres poderosas, com cargos que exigem posturas
politicamente corretas, e que consideram que o ideal é esse, talvez nem sempre
possível na prática do processo da vida.
O fato delas não exercerem o poder de ter filho à revelia do desejo do
companheiro, mostra o quanto elas caminharam naquilo que podemos chamar das
possibilidades humanas. Elas administram a especificidade do feminino na busca
de relações igualitárias com seus companheiros. Esse é um processo de
construção e de aquisição, que é homogêneo nessa amostra. Segundo Ferree
(1990), ter ou o ter filhos são opções que o mais implicam escolher entre
123
liberdade e sujeição, pois a mulher contemporânea cogita inventar o próprio
destino de acordo com suas necessidades internas.
Cabe argumentar nessa direção, pois as mulheres dessa pesquisa tamm
acreditam e declaram que o que cabe à mãe é cuidar, educar e garantir condições
de manutenção para o filho, valorizando cuidar bem dos filhos. Aqui, o fato de
declararem que precisam do pai fica descaracterizado quando declaram que
educar e cuidar do filho é responsabilidade da mulher. De novo, temos um
discurso idealizado e dissociado da prática, mas um bom começo para dar a
consciência de que talvez seja o momento de realmente trazer essas idéias para a
prática do compartilhamento. Tudo isso subentende um processo de construção.
As que são mães mostram-se muito comprometidas com seus filhos,
declarando que filho é uma realização e uma alegria. Aqui uma contradição
entre o ideal da maternidade (cuidar dos filhos) e o desenvolvimento ou
desempenho da atividade profissional, ou seja, não sobra tempo para fazer o que
falam, pois trabalham em média de 10 a 14 horas. Nesse sentido, m uma fala
ideológica, ou melhor, falam o socialmente correto, não o possível e executável.
Educar os filhos sempre foi uma tarefa complexa para os pais, embora isso
não signifique que tais responsabilidades sejam compartilhadas de maneira
igualitária entre o casal. Nessas rupturas com o passado, porém, ao fazer frente a
um processo consolidado em muitas décadas, sobrou para a mulher, ainda, o
sentimento de culpa que aparece a cada vez que a criança fica doente, os pais
precisam de seus cuidados, o casamento vai mal, questões que povoam muito
mais o universo feminino do que o masculino. Diversas pesquisas apontam que as
mães tendem a envolver-se mais do que os pais nas tarefas do dia-a-dia da
124
criança e, geralmente, estão à frente do planejamento educacional de seus filhos
(STRIGHT & BALES, 2003).
Dos filhos dessas mulheres, boa parte está em idade escolar, o que
demanda muito mais atenção e cuidado no acompanhamento da vida cotidiana.
Sendo assim, a suposta escolha aberta às mulheres do imperativo da
independência financeira e da realização profissional, camufla o antigo discurso da
importância da permanência da mulher no espaço doméstico para os cuidados
com os filhos. Isso traz a questão da dupla jornada de trabalho feminino, impondo-
se restrições e exigindo de si um alto nível de excelência, o que resulta em
desgaste (ROCHA-COUTINHO, 2004).
Lipovetsky (2000), tamm escreveu que as mulheres ou a
"terceira mulher" , buscam uma nova identidade e que a luta feminista mudou de
configuração e as armas são outras, havendo um novo posicionamento,
construído com esforço. Mas isso tem um preço, e essa adaptação não é fácil,
trazendo alterações na qualidade de vida, na saúde física e mental.
Ou não. Algumas pesquisas têm demonstrado que mulheres executivas e
empreendedoras buscam e alcançam auto-realização por meio do trabalho,
vivenciando suas experiências ligadas ao espaço profissional, familiar e pessoal
de forma positiva, sendo um indicativo de bem estar subjetivo e flexibilidade
(JONATHAN, 2005; JONATHAN & SILVA, 2007). Cabe aqui dizer que, se
relacionarmos os resultados de qualidade de vida sobre a questão do papel social
da mulher na sociedade atual (que, como falado, trouxe um comprometimento
na dimensão da saúde mental assim como uma vitalidade no nível médio, pela
ampliação do papel da mulher como cuidadora da casa e dos filhos), parece não
125
caber o comentário de Jonathan (2005) e Jonathan & Silva (2007). Porém, as
mulheres dessa pesquisa desenvolveram uma capacidade de inovar, elas
administram a qualidade de vida criando possibilidades. Isso não anula os
resultados, mas mostram um bem estar subjetivo e flexibilidade.
Esses resultados já desmontam a segunda hipótese:
2. Existe a tendência da executiva contemporânea em adiar sua maternidade para
garantir a busca de uma realização profissional.
A partir do momento que elas declararam "que o momento ideal para ter
filho é ter um companheiro que também queira ter filho, sendo também necessário
ter condição financeira", ficou claro que não é a busca de uma realização
profissional que as move em direção a adiar ou não a maternidade. Também foi
respondida a pergunta enunciada na Introdução desse trabalho "É uma tendência
da mulher executiva adiar a maternidade para primeiro afirmar-se e buscar uma
realização profissional?". Até poderíamos dizer que se percebem dissociações
entre os pensamentos e as ações delas porque, pela fala, elas não comprovam
adiar a maternidade para buscar uma realização profissional, mas elas integram
planejamento para ter filhos, o que também pode ser visto como um tipo de
adiamento. Reafirmam que a mulher deve constituir família com alguém que possa
assumir a paternidade. Porém, o que poderia ser visto como um tipo de adiamento
é, na realidade, uma maior integração. Elas mostram que não lidam com o filho
como um ser objetal, mas sim com alguém que precisa ser integrado para ter suas
potencialidades e capacidades desenvolvidas. E para isso, são necessárias
126
condições objetivas, entre elas a financeira, a afetiva, o acolhimento. Esse é o
processo da constituição do sujeito.
Dessa maneira, os fenômenos psicológicos estão nas relações sociais que
acontecem entre os sujeitos, e esses sujeitos estão localizados "numa
corporeidade que é biológica, semiótica, afetiva e histórico-social, portanto, ética"
(MOLON, 2004, p.7). Sujeito esse que pode ser visto nas mulheres desse
trabalho, que tratam de suas maternidades como a relação ética eu/outro, tanto
com seus companheiros, como com os filhos, existentes ou por vir.
Essas visões de momento ideal para engravidar demonstram que a terceira
hipótese compete na discussão:
3. É importante a mulher trabalhar e ter independência financeira para então ter
filhos.
Os nossos dados indicam que a executiva contemporânea não adia a
maternidade para garantir a realização profissional, mas tem noção de que
trabalhar e buscar a realização profissional traz a condição financeira para ter
filhos, podemos dizer que nessa hipótese encontramos uma confirmação. Rocha-
Coutinho (2004) tamm relata sobre a visão de conjugar realização profissional e
estabilidade financeira para a mulher querer pensar em maternidade.
. Após a análise dos resultados das mulheres que constituíram esse
trabalho, podemos dizer que todas querem ser profissionais de sucesso,
mostrando-se totalmente comprometidas com suas posições de poder e muito
bem-sucedidas nelas. As variáveis sociodemográficas como estado civil, renda e
idade, chamaram a atenção para verificar as influências na qualidade de vida e no
127
bem estar subjetivo das participantes. Associações entre satisfação com o
casamento, promovidas pela segurança emocional e contato com a juventude,
tamm foram encontradas nesse estudo. Elas valorizam sua profissão com seus
cargos de gestoras executivas, ganhando mais de 21 salários mínimos,
equivalente na época da pesquisa a mais de R$ 8.715,00. A maioria trabalha entre
10 a 14 horas e têm ensino superior completo, o que significa e comprova que
para a função de executiva é necessário ter qualificação, dados esses
comprovados na literatura (BRUSCHINI, 2007). Elas todas residem e trabalham na
capital de São Paulo, região Sul, comprovada pelos dados de Bruschini (2007)
como sendo onde se verifica a maior taxa de atividade feminina e recorde nacional
de participação feminina entre os empregados (vide tabela 4, p.59). Estudos feitos
pelo Grupo Catho (2008) também apresentaram os mesmos resultados (vide
tabela 6, p.65, tabela 7, p.66 e quadro 1, p.66). Elas atingiram cargos elevados
ainda jovens, com idades inferiores às dos colegas do mesmo nível (BRUSCHINI,
2007, tabela 1, p.55; GRUPO CATHO, tabela 8, p.67).
A maioria delas afirmou que o desenvolvimento profissional trouxe relações
igualitárias no campo profissional, com perspectivas de realização nos planos e
perspectivas profissionais, além de desejada estabilidade financeira. Segundo
Rocha-Coutinho (2004), a estabilidade e independência financeira atua como um
mediador entre conciliar profissão e família, pois traz a possibilidade de se ter em
casa uma empregada e/ou uma babá para auxiliar nas tarefas domésticas.
Seguimos, então, para a quarta hipótese:
128
4. É importante a executiva contemporânea ter uma relação afetiva estável
e um companheiro que tamm queira ter filhos.
Essas mulheres são comprometidas com seus companheiros, algumas com
suas relações afetivas longas e estáveis, outras com relações mais recentes e/ou
não tão estáveis, mas todas declaram que esses maridos/companheiros valorizam
e compartilham sucessos e dificuldades. Elas valorizam o homem carinhoso e
afetivo. A pergunta enunciada na Introdução desse trabalho "Essas mulheres
valorizam suas relações afetivas, respeitam e são respeitadas por seus
companheiros?" foi respondida aqui.
Maluf & Kahhale (2007) apontam, tanto para homens como para mulheres,
que as transformações na estrutura da família nuclear trouxeram a realidade da
dissolução do casamento, do re-casamento, às vezes do terceiro casamento,
faceando novos valores éticos e morais na estrutura da família nuclear e
promovendo mudanças na família clássica, que torna-se expandida.
É importante salientar que a carreira o impede a relação afetiva, ao
contrário, os companheiros incentivam as carreiras e o sucesso profissional das
mulheres. As falas dessas mulheres em direção às suas relações afetivas levam a
crer que o desempenho profissional e a independência financeira dão à mulher a
possibilidade de escolha de uma parceria mais consciente e madura, pois elas
afirmam que o desenvolvimento profissional trouxe relações mais igualitárias para
o campo pessoal. Rocha-Coutinho (2004) aponta para o fato de que, para uma
mulher conseguir dar conta de sua vida profissional e familiar, sem grandes
interferências entre elas, ela precisa se casar com um homem "especial", que seja
129
companheiro e compreensivo. Caso isso não aconteça, a tendência das mulheres
é manter e reforçar a "dupla jornada" de trabalho feminino. Ou como foi o caso de
algumas participantes, de se tornarem as únicas provedoras da casa, assumindo
as funções femininas e masculinas ao mesmo tempo.
As mulheres dessa pesquisa, apesar de acreditar que a sociedade valoriza
nos homens, um bom salário e a expressão de autoridade e liderança, enxergam
mudanças nesse conceito de homem e convivem com elas. Os companheiros das
mulheres dessa pesquisa dividem despesas e responsabilidades financeiras.
Tamm ajudam no compartilhamento de tarefas domésticas e educativas,
tamm como cuidadores da casa e dos filhos. Essas mulheres percebem e
admiram as transformações de seus companheiros no cuidado com a casa e com
os filhos, valorizando-os como um pai presente. É como se elas
redimensionassem o modelo da paternidade, mas ainda expressando um desejo
da autoridade e liderança do pai.
Berenstein (2002) escreve sobre a relevância da família nos tempos atuais,
examina os vínculos de casal e das relações entre pais e filhos e situa-os
historicamente. Refe-se a eles como sendo "diferentes configurações familiares" e
chama a atenção para o fato de que os problemas familiares instalam-se a partir
do momento que se institui uma forma de família como oficial. Dizer que a família
não é nova ou velha, mas faz algo novo ou não, é uma de suas brilhantes
conclusões.
130
Fleck & Wagner (2003) declaram que coexistem modelos familiares nos
quais segue vigente a tradicional divisão de papéis; outros nos quais maridos e
esposas dividem as tarefas domésticas e educativas; e, ainda, famílias nas quais
as mulheres são as principais mantenedoras financeiras do lar, mesmo
acumulando a maior responsabilidade pelo trabalho doméstico e a educação dos
filhos.
No discurso de algumas mulheres, porém, percebeu-se que, ao
desempenhar seu papel junto aos companheiros, trazendo grande contribuição
financeira para a família (em alguns casos, maiores do que a de seus
companheiros), parece haver uma insatisfação do ponto de vista afetivo para elas.
uma contradição na forma de se constituir pois, ao mesmo tempo que
valorizam seus ganhos e carreira profissional, lamentam a perda do homem
provedor e companheiro. uma vivência de ambivalência emocional. A linha de
pensamento que assume que os homens são, tradicionalmente, os trabalhadores
produtivos pagos que provêm seus dependentes, está na base dessa insatisfação,
que traz a necessidade de uma mudança (FERREE, 1990).
Isso vem ao encontro da idéia secular de "príncipe encantado", com a nova
roupagem do "homem ideal", ou "especial", como já descrito. Aspectos como
companheirismo, cumplicidade e respeito, são indispensáveis para uma boa
relação homem/mulher. Mas, ainda no que se refere à participação no orçamento
familiar, a possível troca de papéis com o homem, onde a visão de provedor é
ainda muito arraigada no imaginário social, ganhar mais dinheiro ainda é frustrante
para esse olhar romântico oitocentista subjacente em cada mulher (ROCHA-
COUTINHO, 2004; ESPER, 2008).
131
Outra forma de entender a insatisfação emocional das mulheres quanto a
ganharem mais do que seus maridos pode estar na base cultural do que se
compreende como "sexismo ambivalente". Essa idéia está apoiada no preconceito
ainda existente nas diferenças de nero quanto aos papéis na divisão social,
sexual e do trabalho, sustentado na crença ainda vigente da natureza inferior da
mulher (FORMIGA et ai, 2005).
Sobre esse aspecto podemos supor que mulheres que apresentam a
satisfação com o casamento como principal fonte de segurança, podem tanto dar
maior importância ao casamento, por questões culturais, como podem não ter
encontrado um trabalho que seja desafiador e estimulante que lhes proporcione as
recompensas com poder de decisão. Lembramos aqui que a escolha do trabalho
foi, na grande maioria, por oportunidade. Sabe-se que, na nossa sociedade, por
motivos culturais, as mulheres são pouco encorajadas para desempenhar algumas
atividades que sugerem desafios desde muito jovens. Assim, recebem mensagens
de que não são tão competentes quanto os homens, principalmente no que tange
aos salários, que quase sempre são menores (BIASOLI-ALVES, 2000). Isso pode
influenciar nas suas escolhas, pois tamm lhes é negado o poder de saber atuar
em alguns tipos de atividades.
Os sujeitos contemporâneos confrontam-se com inúmeras identidades
possíveis e mutáveis, com as quais eles o variando em sua identificação. Esse
sujeito experimenta, então, sair da ilusão de uma identidade estável e unificada,
para uma identidade fragmentada e composta, que podem resultar em múltiplas e
até contraditórias identidades (ROCHA-COUTINHO, 2004; FERREE, 1990).
132
Isso aparece nas respostas sobre a contemporaneidade, onde as mulheres
dessa pesquisa destacaram que o mundo atual, em constante transformação, as
afeta em geral, metade delas declarando que isso as afeta especificamente no
trabalho e na família, a outra metade não. Tamm a descartabilidade as
incomoda no geral, além do consumismo e sensação de vazio, da cultura do
descartável, do imediatismo e da dificuldade de preservar valores. Aqui também o
grupo se encontra dividido, com metade declarando que sim, a outra metade que
não.
Pelas respostas das que disseram sim, parece que elas estão com uma
identidade fragmentada e composta, que resulta em múltiplas e até contraditórias
identidades. É como se elas percebessem o problema da contemporaneidade,
através de uma visão crítica e reflexiva sobre o mundo contemporâneo, mas não
tivessem um tempo de assimilação suficiente. as que disseram não, sinônimo
de ausência de incômodo, parece ser pelo fato de serem executivas, com um bom
cargo e um bom desempenho, o que as leva a trabalhar com as transformações e
descartabilidade, integrando-as no trabalho.
Bauman (2001) pontua que somos seres reflexivos, olhamos de perto cada
movimento que fazemos, raramente satisfeitos com seus resultados e sempre
prontos a corrigi-los. Nossa sociedade de indivíduos livres fez da crítica da
realidade, da insatisfação com o que está e da expressão dessa insatisfação,
uma parte inevitável e obrigatória dos afazeres da vida de cada um de seus
membros.
Bologna (2009) chama a atenção para o microcosmos do ambiente
doméstico que passou a ser mediado pela nova voz, e imagens, originárias de
133
fontes e mentalidades distantes. Com isso, a efemeridade (desses estímulos tão
mutáveis), sua transitoriedade (dos valores muitas vezes paradoxais, que
passaram) e um estímulo mais consistente ao narcisismo (na formação de uma
autoimagem fundada no consumo progressivo de ícones de beleza e poder),
tornaram-se marcas de um novo mundo.
No contexto dos países em desenvolvimento, uma das características
reconhecida como mais evidente da contemporaneidade está na relação entre
presente e passado, com uma procura acentuada do novo e a conseqüente
rejeição do antigo. Isso leva a constantes alterações de valores, práticas e papéis
que as pessoas costumavam desempenhar, em relação a rotina de vida, a
padrões de comportamento (BIASOLI-ALVES, 2000; LASZLO, 2001;
LIPOVETSKY, 2004 a).
Indo para a quinta e última hipótese:
5. A executiva contemporânea busca qualidade de vida e integração das várias
dimensões do feminino, implementando também o exercício profissional.
Algo chama nos cruzamentos do Questionário de Qualidade de Vida SF-36
com os resultados das respostas sobre o papel social da mulher na sociedade
atual. Houve uma correlação significativa na saúde mental, o que demonstra que o
papel social da mulher, hoje, provoca um comprometimento nesse campo (o da
saúde mental), com um rebaixamento da vitalidade, embora as outras áreas não
se mostrem afetadas. Isso pode significar um stress psicológico, o que acarreta
um comprometimento na qualidade de vida (VASCONCELLOS, 2002; MALUF,
2005).
134
Parece haver uma sobrecarga no grupo que considera que a mulher
"ampliou o papel de cuidadora da casa e dos filhos", interferindo bastante na sua
qualidade de vida e gerando stress psicológico por combinar casa e trabalho.
No cruzamento do resultado da questão sobre o desenvolvimento
profissional das mulheres possibilitar relações mais igualitárias nas instâncias
profissionais, com o Questionário de Qualidade de Vida SF-36, apareceu um
comprometimento significativo em relação aos aspectos físicos, o que parece ser
um stress físico por alto comprometimento com o trabalho em busca do
desenvolvimento profissional, e que trouxe relações igualitárias nas instâncias
profissionais. tamm um rebaixamento da vitalidade, embora outras áreas
não se mostrem afetadas (MALUF, 2005; MALUF & VASCONCELLOS, 2004;
MALUF & VASCONCELLOS, 2007).
Esse comprometimento significativo nos aspectos físicos, pode ser um
stress físico pelo grupo estar com a visão distorcida do mundo. Elas buscam e
desejam uma relação igualitária que elas acreditam que tem, mas, de acordo com
as próprias falas, ainda o tem. Então elas comprometem seu físico, ficam mais
cansadas, sobrecarregadas, tem um stress físico.
Como interpretar essas alterações?
Com certeza, para dar conta de seus novos papéis, essas mulheres têm
seu nível de stress aumentado. Com a entrada das mulheres no mercado de
trabalho, as condições que elas enfrentam são mais adversas, o que acarreta
maior prejuízo para seu bem estar subjetivo. Os depoimentos nos permitem
afirmar que um grupo apresenta eustress (stress positivo) e outro grupo apresenta
distress (stress negativo), mas ambos sofrem as pressões inerentes às mudanças
135
e ao aumento de funções nas vidas do cotidiano. Quando mediadores como
suporte e enfrentamento não estão presentes ou não se apresentam adequados,
há uma ansiedade aumentada (POSSATTI & DIAS, 2002).
É plausível dizer que a maneira como se lida com os fatores estressantes é
uma importante variável na experiência humana (MALUF, 2007). Entendemos que
existem nesses dados de qualidade de vida uma questão do controle percebido
(LAZARUS & FOLKMAN, 1984). O fator que mais contribuiu para explicar o índice
de qualidade de vida e bem estar subjetivo foi o poder de decisão, ou seja, um
fator que propicia o que se pode denominar de controle percebido. É o trabalho
pago que propicia o tipo de recompensas comentadas anteriormente, e é capaz
de proporcionar o aumento do controle percebido, que desenvolve uma maior
capacidade de lidar com situações novas e complexas, além de aumentar o seu
acesso para fontes financeiras e sociais. É o controle percebido que promove uma
autoestima elevada, como também o senso de domínio do ambiente necessário,
que lhe permite ver-se como um ser capaz de atuar sobre sua vida criando novas
condições, modificando-as e controlando-as, podendo transformar situações
adversas em oportunidades ou, pelo menos, superá-las. Foram respondidas aqui
duas das perguntas enunciadas na Introdução desse trabalho: "A busca dessa
realização profissional está ligada a uma necessidade financeira?" e "Como essas
mulheres lidam com seu poder profissional? "
Sob o olhar da teoria expansionista, os indivíduos, ao desempenhar vários
papéis, não acumulam apenas obrigações, mas também privilégios. Isso porque,
se as recompensas forem maiores que as preocupações, esses sujeitos terão
136
invariavelmente ganhos para seu ego, favorecendo o bem estar subjetivo. Daí a
importância de considerar o comprometimento existente no desempenho desses
papéis, sua qualidade e valor social em obrigações e privilégios (POSSATTI &
DIAS, 2002; MARKS, 1977; MARKS & MACDERMID, 1996). Cabe repetir aqui que
as mulheres dessa pesquisa desenvolveram uma capacidade de inovar, elas
administram a qualidade de vida criando possibilidades. Isso não anula os
resultados, mas mostra um bem estar subjetivo e flexibilidade.
A confirmação de que mesmo desempenhando múltiplos papéis, a
qualidade de vida e o bem estar subjetivo são possíveis, desde que as
recompensas sejam maiores do que as preocupações, demonstra que a exigência
dessas mulheres em relação à sua independência e autonomia é reforçadora para
a continuidade de seus esforços de crescimento.
Podemos concluir que as questões que as mulheres consideraram como
mais recompensadoras no papel do trabalho foram poder de decisão, autonomia
de decisão, ajuste do trabalho a necessidades e interesses. Talvez essa tenha
sido essa a questão que explica o alto índice de respostas em direção a uma
realização profissional, assim como pessoal.
137
Conclusão
______________________________________________________________________
De acordo com a discussão das hipóteses, podemos concluir que:
1. As respostas sobre a maternidade e o papel de mãe foram as mais elevadas.
Uma das possíveis explicações para esse índice elevado de respostas poderia
estar na tendência em responder de acordo com o que é desejado socialmente, e
o que se espera de uma boa mãe na nossa sociedade, é que ela perceba a
maternidade como algo nobre e recompensador. A coerência das respostas livres
mostrou que essas mulheres fazem parte de um grupo que realmente deseja a
maternidade como uma realização pessoal e familiar. Ou seja, elas o criticam o
estereótipo social, mas o reafirmam.
2. A consciência de que para ter filho é importante ter condições financeiras e um
companheiro que também queira filhos, fica mais como um desejo para as que
ainda não tem pois, na prática não sabemos em que condições todas as que
são mães tiveram seus filhos. Talvez seja um discurso dissociado da prática,
talvez desenvolvido por mulheres poderosas, com cargos que exigem posturas
politicamente corretas, e que consideram que o ideal é esse, talvez nem sempre
possível na prática do processo da vida. Tamm o fato de declararem que
precisam do pai fica descaracterizado quando declaram que educar e cuidar do
138
filho é responsabilidade da mulher. De novo, temos um discurso idealizado e
dissociado da prática, mas um bom começo para dar a consciência de que talvez
seja o momento de realmente trazer essas idéias para a prática do
compartilhamento. Tudo isso subentende um processo de construção.
3. A busca pela realização profissional trouxe relações mais igualitárias nas
instâncias profissionais, mas isso tamm trouxe um processo de desgaste. Foi
possível observar, na descrição das características dessas mulheres, que a
grande maioria possui um bom nível de instrução, como também a concentração
de renda se encontra numa faixa que as favorece para que possam ter trabalhos
mais estimulantes e de maior autonomia em suas atividades, propiciando uma
infra-estrutura mais adequada para que possam permanecer no mercado de
trabalho. O número de horas trabalhadas, que impossibilita o convívio familiar
desejado com os filhos pela dificuldade de conciliar todos os papéis, é o elemento
controverso dessa aparente harmonia.
4. A busca pela realização profissional também trouxe relações mais igualitárias
nas instâncias pessoais, mas uma contradição na forma que se constituem
essas relações. Isso porque, ao mesmo tempo que essas mulheres valorizam
seus ganhos e carreiras profissionais, e se sentem celebradas pelos seus
companheiros no apoio recebido nessa direção, elas lamentam a perda do homem
provedor e mentor. As variáveis sociodemográficas como estado civil, renda e
idade, chamaram a atenção para verificar as influências na qualidade de vida e no
bem estar subjetivo das participantes. Associações entre satisfação com o
139
casamento, promovidas pela segurança emocional e contato com a juventude,
tamm foram encontradas nesse estudo. Algumas se declararam provedoras e
não passaram uma idéia de satisfação, outras estão construindo uma relação
afetiva estável e equilibrada, outras estão com relações desiguais. Novamente
essas mulheres mostram um processo de busca e construção, ainda com uma
visão clássica do feminino, migrando para a inovadora.
5. A busca pela realização profissional trouxe resultados interessantes quando
comparada com a qualidade de vida. Ao mesmo tempo que as mulheres
apareceram com alguns índices rebaixados, como saúde mental em relação ao
aumento do trabalho fora e dentro de casa, e saúde física em relação ao esforço
constante de busca da realização profissional e reconhecimento, elas tamm
tiveram todos os outros índices altos, exceto pela vitalidade que se manteve na
média. Isso significa que elas têm mais ganhos do que perdas, e estão sabendo
administrar bem sua flexibilidade para a incorporação de vários papéis e duplas
jornadas. A multiplicidade de papéis desempenhado pelas mulheres não é
necessariamente sinônimo de distress, demonstrando assim que a teoria da
acumulação de papéis, teoria da expansão, se apresenta adequada como suporte
para a explicação das conseqüências benéficas que envolvem a atuação em
múltiplos papéis. As mulheres que o capazes de se sustentar, ter um trabalho
que crie novos caminhos, e não a rotina do trabalho doméstico, são as que
conseguem superar o sentimento de impotência que aparece presente quando a
mesma se encontra diante de estressores. Essas mulheres não estão mais
dependentes do poder econômico de seus maridos, e em momentos de
140
dificuldades econômicas, de desemprego do companheiro, doenças ou crises no
casamento, elas podem contar com o que o seu trabalho lhes proporciona como
tamm com a rede de amigos criada pela sua participação no mercado de
trabalho. O fator que mais contribuiu para explicar o índice de qualidade de vida e
bem estar subjetivo foi o poder de decisão, ou seja, um fator que propicia o que se
pode denominar de controle percebido. É o trabalho pago que propicia o tipo de
recompensas comentadas anteriormente, e é capaz de proporcionar o aumento
do controle percebido, que desenvolve uma maior capacidade de lidar com
situações novas e complexas, além de aumentar o acesso para fontes financeiras
e sociais.
Concluímos que o presente estudo confirmou os dados da literatura com
referência à importância do trabalho pago para a qualidade de vida da mulher que
visa uma realização pessoal e profissional. O fato de que mais mulheres casadas
estão trabalhando por remuneração, como também as mais jovens não estão se
afastando do mercado de trabalho formal com a mudança do estado civil, embora
todas busquem na escolha do companheiro aquele que também deseja um filho,
confirma isso. A análise do discurso das executivas evidencia que elas inovam
incessantemente, criando alternativas para os conflitos que as desafiam e
produzindo transformações tanto no âmbito do trabalho, como no âmbito familiar e
pessoal.
141
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Vol. 21, No.2, p. 181-186, Mai-Ago 2005.
155
Anexos
________________________________________________________________________
Anexo A Carta Comitê de Ética PUC/SP
Anexo B Consentimento livre e esclarecido
Anexo C Questionário Percepção Social
Anexo D Questionário Qualidade de Vida
Anexo E Questionário Sociodemográfico
156
Anexo A
__________________________________________________________________
Carta Comitê de Ética PUC/SP
157
158
Anexo B
__________________________________________________________________
Consentimento livre e esclarecido
159
Prezada Participante,
Agradeço sua participação. Ela é muito importante para a pesquisa: “Mulher,
Trabalho e Maternidade”.
O trabalho pesquisa as mudanças contemporâneas do papel da mulher na
sociedade, onde a tradicional esposa/mãe dá lugar à mulher que prioriza o
trabalho e a carreira.
O objetivo é verificar o que você pensa a respeito.
Você gastará cerca de 20 minutos para todas as questões.
Para contato, coloco-me à disposição:
Vera Maluf
Pesquisadora
_________________________________________
Essa pesquisa está sendo desenvolvida através do Programa de Pós Graduação em
Psicologia Clínica da PUC de São Paulo no Núcleo de Psicossomática e Psicologia
Hospitalar, por Vera Maria Daher Maluf, candidata ao título de Doutora em
Psicologia Clínica.
160
Cuidados éticos:
- Consentimento da participante para fazer parte da pesquisa, com garantia
da pesquisadora que os seus dados pessoais serão mantidos em completo
anonimato e suas respostas serão trabalhadas estatisticamente de forma
ética e sigilosa.
- Como participante, você receberá prioritariamente os dados tabulados e
será convidada exclusiva para um encontro de discussão dos dados, a ser
marcado. O convite será enviado ao e-mail pelo qual você respondeu.
161
Anexo C
__________________________________________________________________
Questionário de Percepção Social
162
QUESTIONÁRIO 1 - QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO SOCIAL
Esse questionário é composto de cinco partes onde estaremos falando sobre
conceitos de :
1. Homem-Mulher
2. Maternidade
3. Profissão
4. Relação afetiva
5. Contemporaneidade
Você encontrará:
- questões abertas em que você colocará a sua opinião;
- questões em que deverá escolher somente uma alternativa (com um X);
- questões mistas, ou seja, uma parte em que você deverá escolher uma
alternativa (com um X), e tamm solicitará uma explicação sobre a sua escolha;
- questões onde a resposta terá um gradiente para escolha.
Por favor, responda de forma objetiva, não deixando de lado nenhuma
questão. A falta de resposta a uma só questão anulará o questionário inteiro.
Parte 1 - Homem-Mulher
1. Assinale a alternativa que mais identifica para você, o papel social do homem na
sociedade atual (assinale somente uma):
( ) é o provedor financeiro da família.
( ) além de prover financeiramente a família compartilha das tarefas
domésticas e de cuidados com os filhos.
( ) é tão responsável pelos filhos, tarefas domésticas e suporte financeiro da
família quanto as mulheres.
( ) o papel principal é o de chefe da casa, a autoridade responsável pela família.
( ) outra: _____________________________________________________
2. Assinale a alternativa que mais identifica para você, o papel social da
mulher, na sociedade atual (assinale somente uma):
( ) o papel principal é o esposa/mãe, educadora dos filhos e responsável pelos
cuidados com a casa.
( ) ampliou o seu papel de cuidadora da casa e dos filhos, entrando no mercado
de trabalho e dividindo responsabilidades financeiras do lar.
( ) é tão responsável pelos filhos e suporte financeiro da família quanto o homem.
( ) está mais voltada para o profissional, com o objetivo de ser independente
financeiramente.
( ) outra:_______________________________________________________
163
3. O seu conceito de homem mudou nos últimos tempos?
( ) SIM ( ) NÃO
Se você respondeu SIM
Quais transformações você percebe? (você pode assinalar mais do que uma alternativa):
( ) na vida política
( ) nas relações afetivas e sexuais
( ) no exercício profissional
( ) no cuidado com a casa e com os filhos
( ) na vida social
( ) nas relações com a família estendida (pais,irmãos etc)
( ) outras:______________________________________________________
4. O seu conceito de mulher mudou nos últimos tempos?
( ) SIM ( ) NÃO
Se você respondeu SIM
Quais transformações você percebe? (você pode assinalar mais do que uma alternativa):
( ) na vida política
( ) nas relações afetivas e sexuais
( ) no exercício profissional
( ) no cuidado com a casa e com os filhos
( ) na vida social
( ) nas relações com a família estendida (pais,irmãos etc)
( ) outras:______________________________________________________
5. Alguma mudança ou fato significativo em sua vida contribuiu para que
você tivesse essa visão de homem?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, relacione a mudança/fato acontecido:
_______________________________________________________________
______________________________________________________________
6. Alguma mudança ou fato significativo em sua vida contribuiu para que
você tivesse essa visão de mulher?
( ) SIM ( ) NÃO
164
Se SIM, relacione a mudança/fato acontecido:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
7. Você identifica alguma função exclusivamente masculina?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, qual(is)?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Se NÃO, por quê?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
8. Você identifica alguma função exclusivamente feminina?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, qual(is)?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
Se NÃO, por quê?
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
9. O que você acha que a sociedade valoriza nas mulheres? (enumere de 1 a 12 pelo
valor de importância, sendo 1 de maior valor e 12 de menor valor):
( ) ser mãe
( ) ser bela
( ) estar informada
( ) ter uma profissão
( ) ter uma boa remuneração
( ) disponibilidade para o sexo
165
( ) cuidar bem dos filhos
( ) cuidar bem da casa
( ) ter autonomia e independência
( ) ter disponibilidade para os outros
( ) saber receber e acolher socialmente
( ) outra _______________________________________________________
10. O que você valoriza nas mulheres? (enumere de 1 a 12 pelo valor de importância,
sendo 1 de maior valor e 12 de menor valor):
( ) ser mãe
( ) ser bela
( ) estar informada
( ) ter uma profissão
( ) ter uma boa remuneração
( ) disponibilidade para o sexo
( ) cuidar bem dos filhos
( ) cuidar bem da casa
( ) ter autonomia e independência
( ) ter disponibilidade para os outros
( ) saber receber e acolher socialmente
( ) outra _______________________________________________________
11. O que você acha que a sociedade valoriza nos homens? (enumere de 1 a 13 pelo
valor de importância, sendo 1 de maior valor e 13 de menor valor):
( ) ter um bom salário
( ) ser bem vestido
( ) ter aparência atlética
( ) ser sexualmente ativo
( ) ser carinhoso e afetuoso
( ) ser educado
( ) ser culto e intelectualmente ativo
( ) ser protetor e acolhedor
( ) expressar autoridade e liderança
( ) estar bem informado
( ) ser um pai presente
( ) repartir tarefas dométicas
( ) outra __________________________________________________________
12. O que você valoriza nos homens? (enumere de 1 a 13 pelo valor de importância,
sendo 1 de maior valor e 13 de menor valor):
( ) ter um bom salário
( ) ser bem vestido
( ) ter aparência atlética
( ) ser sexualmente ativo
( ) ser carinhoso e afetuoso
166
( ) ser educado
( ) ser culto e intelectualmente ativo
( ) ser protetor e acolhedor
( ) expressar autoridade e liderança
( ) estar bem informado
( ) ser um pai presente
( ) repartir tarefas domésticas
( ) outra __________________________________________________________
Parte 2 - Maternidade
1.Você acha que a maternidade é importante para você?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, por quê? (assinale somente uma)
( ) Porque sinto natural e espontaneamente o desejo de filhos.
( ) Porque sinto que é uma função que esperam de mim.
( ) Porque sinto que é uma realização para meu companheiro.
( ) Porque a procriação é essencial para a vida.
( ) outra ________________________________________________________
2. O que é que cabe à mãe? (assinale somente uma)
( ) cuidar do filho
( ) cuidar e educar o filho
( ) cuidar, educar e garantir condições de manutenção para o filho
( ) outra _________________________________________________________
3. O que é um filho? (enumere de 1 a 6, sendo 1 mais importante e 6 o menos importante)
( ) uma realização
( ) uma preocupação
( ) aprendizado
( ) trabalho
( ) alegria
( ) outra _________________________________________________________
4. Qual é o momento ideal para se ter um filho? (enumere de 1 a 6, sendo 1 mais
importante e 6 o menos importante)
( ) estar apaixonada
( ) ter condição financeira
167
( ) ter um companheiro que também queira ter filho
( ) estar realizada profissionalmente
( ) por respeito ao limite biológico imposto pela idade
( ) outra __________________________________________________________
5. Supondo que você tentasse ter um filho e não conseguisse naturalmente, você se
submeteria à reprodução assistida?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, por quê?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Se NÃO, por quê?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Parte 3 - Profissão
1. Quais são seus planos e perspectivas profissionais? (assinale até um máximo de 3,
hierarquizando de 1 a 3, do mais importante 1 ao menos importante 3)
( ) subir na carreira
( ) ter casa própria
( ) realizar-se
( ) ter poder
( ) ter reconhecimento
( ) ter estabilidade financeira
( ) outra ______________________________________________________
2. Por que você teve essa escolha profissional? (assinale até um máximo de 3,
hierarquizando de 1 a 3, do mais importante 1 ao menos importante 3)
( ) por oportunidade
( ) para realizar-se
( ) por vocação
( ) por ambição
( ) por necessidade
( ) por prestígio
( ) outra _______________________________________________________
168
3. O desenvolvimento profissional das mulheres possibilitou relações mais igualitárias nas
instâncias profissionais?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, quais
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Se NÃO, por quê?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4. O desenvolvimento profissional das mulheres possibilitou relações mais igualitárias nas
suas relações pessoais?
( ) SIM ( ) NÃO
Se SIM, quais?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Se NÃO, por quê?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Parte 4 - Relação afetiva
1. Você tem um marido/companheiro?
SIM ( ) NÃO ( )
Se NÃO, por quê?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
169
Se SIM, como seu marido/companheiro avalia sua carreira profissional? (assinale
somente uma)
( ) valoriza e compartilha sucessos e dificuldades
( ) valoriza e elogia em todas as situações
( ) valoriza fora de casa mas critica em casa
( ) critica de forma direta em todas situações
( ) critica de forma sutil
( ) critica competindo
( ) outra _________________________________________________________
Parte 5 - Contemporaneidade
1. O mundo atual está em constantes transformações que nos coloca frente a adaptações
necessárias às mudanças. Isso afeta você?
SIM ( ) NÃO ( )
Se SIM, onde afeta mais? (pode assinalar mais do que uma)
( ) na parentalidade
( ) no trabalho
( ) na tecnologia
( ) na família
( ) na conjugalidade
( ) na dificuldade de preservar valores
( ) nas relações afetivas
( ) nas relações sociais
( ) na aparência
( ) outra _________________________________________________________
2. Mediante as novidades frequentes, fruto das transformações, muitas coisas vão ficando
descartáveis. Isso incomoda você?
SIM ( ) NÃO ( )
Se SIM, onde incomoda? (pode assinalar mais do que uma)
( ) no sucesso profissional
( ) no medo do futuro
( ) na desvalorização por envelhecer
( ) na perda do vigor
( ) no descontrole do tempo
( ) no medo da dependência
( ) na dificuldade de se adaptar
( ) na dificuldade de acompanhar o ritmo das mudanças
( ) no consumismo e sensação de vazio
( ) na própria cultura do descartável
170
( ) na valorização das coisas passageiras
( ) no imediatismo
( ) na superficialidade do conhecimento
( ) na dificuldade de preservar valores
( ) outra __________________________________________________________
171
Anexo D
__________________________________________________________________
Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida SF-36
172
QUESTIONÁRIO 2
Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida SF-36
Instruções: esse teste questiona você sobre sua saúde. Essas informações nos
manterão informados de como vose sente e quão bem você é capaz de fazer
suas atividades de vida diária. Responda cada questão colocando um X na
resposta escolhida.
1. Em geral você diria que a sua saúde é:
(assinale uma)
2. Comparada a uma ano atrás, como você classificaria sua saúde em geral,
agora?
(assinale uma)
Muito melhor
Um pouco melhor
Quase a mesma
Um pouco pior
Muito pior
1
2
3
4
5
3.Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer
atualmente durante um dia comum. Devido a sua saúde, você teria
dificuldade para fazer essas atividades? Nesse caso, quanto?
Excelente
Muito boa
Boa
Ruim
Muito ruim
1
2
3
4
5
173
(assinale uma em cada linha)
Atividades
Sim
Dificulta
muito
Sim
Dificulta
um
pouco
Não
Não
dificulta
de modo
algum
a) Atividades
vigorosas, que
exigem
muito esforço,
tais como correr,
levantar objetos
pesados,
participar em
esportes árduos
1
2
3
b) Atividades
moderadas, tais
como mover uma
mesa, passar
aspirador de pós,
jogar bola, varrer
a casa
1
2
3
c) Levantar ou
carregar
mantimentos
1
2
3
d) Subir vários
lances de escada
1
2
3
e) Subir um lance
de escada
1
2
3
f) Curvar-se,
ajoelhar-se ou
dobrar-se
1
2
3
g) Andar mais de
1 quilômetro
1
2
3
h) Andar vários
quarteirões
1
2
3
i) Andar 1
quarteirão
1
2
3
j) Tomar banho
ou vestir-se
1
2
3
174
4. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com o
seu trabalho ou com alguma atividade diária regular, como conseqüência de sua
saúde física?
(assinale uma em cada linha)
Sim
Não
a) você diminuiu a quantidade de tempo que
se dedicava ao seu trabalho ou a outras
atividades
1
2
b) Realizou menos tarefas do que você
gostaria?
1
2
c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou
em outras atividades?
1
2
d) Teve dificuldades de fazer seu trabalho ou
outras atividades (p. Ex. Necessitou de um
esforço extra?)
1
2
5. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com
seu trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum
problema emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?
(assinale uma em cada linha)
Sim
Não
a) Você diminuiu a quantidade de tempo que
dedicava ao seu trabalho ou a outras
atividades?
1
2
b) Realizou menos tarefas do que gostaria?
1
2
c) Não trabalhou ou não fez qualquer das
atividades com tanto cuidado como
geralmente faz?
1
2
175
6. Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas
emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família,
vizinhos, amigos em grupo?
(assinale uma)
De
form
a
nenh
uma
Ligeira
mente
Moderada
mente
Bast
ante
Extrema
mente
1
2
3
4
5
7. Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas?
(assinale uma)
Nenhu
ma
Mui
to
lev
e
Le
ve
Modera
da
Gra
ve
Mui
to
gra
ve
1
2
3
4
5
6
8. Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal
(incluindo tanto o trabalho fora de casa e dentro de casa) ?
(assinale uma)
De
manei
ra
algum
a
Um
pou
co
Moderadame
nte
Bastan
te
Extremame
nte
1
2
3
4
5
176
9. Essas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você
durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor, dê uma resposta que
mais se aproxime da maneira como você se sente. Em relação às últimas 4 semanas.
(assinale uma em cada linha)
Todo
tempo
A
maior
parte
do
tempo
Uma
boa
parte
do
tempo
Alguma
parte
do
tempo
Uma
pequena
parte do
tempo
Nunca
a)Quanto
tempo você
tem se
sentido cheio
de vigor,
cheio de
vontade,
cheio de
força?
1
2
3
4
5
6
b) Quanto
tempo você
tem se
sentido uma
pessoa muito
nervosa?
1
2
3
4
5
6
c) Quanto
tempo você
tem se
sentido tão
deprimido que
nada pode
animá-lo?
1
2
3
4
5
6
d)Quanto
tempo você
tem se
sentido calmo
e tranqüilo?
1
2
3
4
5
6
e) Quanto
tempo você
tem se
sentido com
muita
energia?
1
2
3
4
5
6
f) Quanto
tempo você
tem se
sentido
desanimado e
abatido?
1
2
3
4
5
6
g) Quanto
tempo você
tem se
sentido
esgotado?
1
2
3
4
5
6
h)Quanto
tempo você
tem se
sentido uma
pessoa feliz?
1
2
3
4
5
6
i) Quanto
tempo você
tem se
sentido
cansado?
1
2
3
4
5
6
177
10. Durante as últimas 4 semanas, quanto do seu tempo a sua saúde física ou
problemas emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar
amigos, parentes, etc)? (assinale uma)
Todo o
tempo
A maior parte do
tempo
Alguma parte do
tempo
Uma pequena parte do
tempo
Nenhuma parte do
tempo
1
2
3
4
5
11. O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?
(assinale 1 número em cada linha)
Definitivamente
verdadeiro
A maioria das vezes
verdadeiro
Não
sei
A maioria da
vezes falso
Definitivamente
falso
a) Eu costumo adoecer um pouco mais
facilmente que as outras pessoas
1
2
3
4
5
b) Eu sou tão saudável quanto qualquer
pessoa
1
2
3
4
5
c) Eu acho que a minha saúde vai piorar
1
2
3
4
5
d) Minha saúde é excelente
1
2
3
4
5
178
Anexo E
________________________________________________________
Questionário Sociodemográfico
179
QUESTIONÁRIO 3 - DADOS SÓCIODEMOGRÁFICOS
Concordo em participar da pesquisa, por livre e espontânea vontade, tendo
garantias que o meu nome permanecerá anônimo e as minhas respostas
serão tratadas de forma ética e sigilosa, conforme especificado na
apresentação da pesquisa.
NOME: ________________________________________________________________
IDADE: _________
NACIONALIDADE: ______________________ NATURALIDADE: ________________
PROFISSÃO: __________________________
CARGO: ______________________________ OCUPAÇÃO: ____________________
HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA: __________________________________________
PERÍODO: _____________________________ HORAS: _______________________
GRAU DE INSTRUÇÃO:
Ensino Fundamental completo ( ) incompleto ( )
Ensino Médio completo ( ) incompleto ( )
Ensino Superior completo ( ) incompleto ( )
RENDA FAMILIAR MENSAL:
Entre 1 e 5 salários-mínimos ( )
Entre 6 e 10 salários-mínimos ( )
Entre 11 e 15 salários-mínimos ( )
Entre 16 e 20 salários-mínimos ( )
Mais de 21 salários-mínimos ( )
PARTICIPAÇÃO DO SARIO NO ORÇAMENTO FAMILIAR MENSAL:
0% ( ) 25% ( ) 50% ( ) 75% ( ) 100% ( )
ESTADO CIVIL:
solteira ( ) casada ( ) separada ( ) viúva ( ) outro ( )
TEMPO DA RELAÇÃO ATUAL:
0 a1 ano ( ) 2 a 5 anos ( ) 6 a 9 anos ( ) mais de 10 anos ( )
SUA RELAÇÃO ATUAL É:
1a. relação ( ) 2a. relação ( ) 3a. relação ( ) Outra ( ) especifique __________
FILHOS
um ( ) dois ( ) três ( ) mais ( )
IDADES DO(S) FILHO(S) ____________________________________________
180
Instruções para envio por Internet:
As o preenchimento salvar as suas respostas em “Meus
Documentos e enviar para vmaluf@uol.com.br como arquivo
em anexo. Caso prefira responder pessoalmente é me
contatar que irei ao local por você determinado para lhe
encontrar.
Mais uma vez agradeço sua participação.
Vera Maluf
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( http://www.livrosgratis.com.br )
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