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luz elétrica e sua aplicação nos anúncios luminosos, vão impactar fortemente artistas
modernos. Podem ser citados, por exemplo, tanto Mondrian, com sua série de pinturas sobre
Nova Iorque
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, quanto outros como o cineasta alemão Fritz Lang, que no final dos anos 1920,
em viagem à América, faz uma série de fotografias sobre essa cidade á noite. Os
expressionistas, desde seus manifestos iniciais, colocam o vidro (o cristal) como um material
impregnado de misticismo, de pureza intrínseca, em virtude de suas propriedades, de sua
transparência.
Não pode se deixar de mencionar aqui, um dos maiores emblemas da cidade moderna
e até da própria Revolução Industrial, tal como descrito em inúmeros compêndios e tratados
da historiografia de arquitetura: o Palácio de Cristal. Erigido em 1851, para a Exposição
Universal em Londres
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, combinava em sua forma dois materiais icônicos da modernidade: o
ferro e o vidro. Para além das possibilidades construtivas desses materiais, está sua forte carga
simbólica, pois nunca antes se havia conseguido ter tal monumentalidade e leveza. Fartamente
utilizada daí em diante, a combinação desses dois materiais vai erguer monumentos da
modernidade como a Torre Eiffel (a propósito, cartão postal de Paris) além de edifícios
corporativos, fábricas, lojas de departamentos, etc., em uma infinidade de aplicações do
capital. Essa utilização remete também a outra categoria da modernidade: a racionalidade.
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Benjamin, op cit., p.197.
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Como o quadro Broadway Boogie Woogie, década de 1940.
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A propósito das Exposições Universais, espaços coletivos da modernidade, tal como outros de igual qualidade
(monumentais, cosmopolitas, ruidosos, modernos enfim...), como as gares ferroviárias, as estações de metrô e
parques, Simmel fez uma série de considerações. A partir de sua experiência pessoal , ele anotou que esses
espaços seriam a ‘realização mais perfeita’ da perda de memória do moderno. Para ele “a estreita vizinhança em
que os produtos industriais os mais heterogêneos são comprimidos provoca uma paralisia da capacidade de
percepção, uma verdadeira hipnose(...)”. Como a memória não tem condições de trabalhar tal quantidade de
informações, fica somente o atordoamento, em função da velocidade de vida que é proposta,
coercitivamente, nesses espaços. Daí proceder a afirmação de Simmel, levando-se em conta também que,
obviamente, são espaços de grande concentração de pessoas (a multidão), o que por si só já é uma característica
da grande cidade. Além disso, toda “essa imensidão de objetos é produzida em uma cidade”, com a
concentração ali do que a ‘divisão do trabalho separa”. Essas exposições, de certa forma, inauguram o frenesi
urbano dos parques temáticos, onde o divertimento é a única alternativa. Divertimento do esquecimento, do
acúmulo, do anestesiar dos sentidos. Tudo nesses espaços coletivos é praticamente artificial, desde a já citada
concentração de objetos até o divertimento necessariamente provocado.
In Waizbort, L. Op cit., p.344.