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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ UFPI
ANNETH CARDOSO BASÍLIO DA SILVA
O ENSINO DE ENFERMAGEM NO
PIAUÍ: HISTÓRIA E MEMÓRIA
TERESINA PIAUÍ
2009
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1
ANNETH CARDOSO BASÍLIO DA SILVA
O ENSINO DE ENFERMAGEM NO PIA:
HISTÓRIA E MEMÓRIA
Dissertação apresentada como exigência parcial à
obtenção do título de Mestre em Educação, ao
Programa de Pós-Graduação em Educação do
Centro de Ciências da Educação da Universidade
Federal do Piauí.
Orientadora:
Profª. Drª. Maria do Amparo Borges Ferro
TERESINA PIAUÍ
2009
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2
ANNETH CARDOSO BASÍLIO DA SILVA
O ENSINO DE ENFERMAGEM NO PIAUÍ: HISTÓRIA E MEMÓRIA
Dissertação submetida à Comissão
Examinadora designada pelo Colegiado do
Curso de Pós-Graduação do Centro de
Ciências da Educação da Universidade
Federal do Piauí como requisito parcial
para obtenção do grau de Mestre em
Educação.
APROVADA EM: ______ de ____________________ de 2009
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Profª. Dra. Maria do Amparo Borges Ferro Orientadora
Universidade Federal do Piauí UFPI
__________________________________________________
Profª. Dra. Benevina Maria Vilar Teixeira Nunes
Universidade Federal do Piauí- UFPI
__________________________________________________
Profª Dra. Bárbara Maria Macedo Mendes
Universidade Federal do Piauí UFPI
3
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................................7
CAPÍTULO I A ORIGEM E ESTRUTURAÇÃO DO ENSINO DE
ENFERMAGEM: HISTÓRIA E MEMÓRIA..................................................................13
1.1. Relevância acerca da história e memória na evolução da profissão e no ensino de
Enfermagem........................................................................................................................... 13
1.2 As origens do cuidado humano, os cuidados assistenciais e a prática religiosa ............. 17
1.3 O desenvolvimento histórico da profissão e a evolução do ensino de enfermagem ....... 21
1.4 O ensino de enfermagem no Brasil................................................................................. 25
CAPÍTULOII-ENFERMEIRAS PIAUIENSES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O
ENSINO DE ENFERMAGEM: HISTÓRIA E MEMÓRIA DE EXPERIÊNCIAS
PROFISSIONAIS ................................................................................................................ 35
2.1 A escolha pela profissão ................................................................................................. 35
2.2 Profissionais piauienses: expoentes no Estado ................................................................ 48
CAPÍTULO III- HISTÓRIA E MEMÓRIA DO ENSINO DE ENFERMAGEM NO
PIAUÍ....................................................................................................................................56
3.1 Educação e saúde no Piauí .............................................................................................. 56
3.2 A memória como sustentáculo na história da evolução da profissão de enfermagem no
Piauí........................................................................................................................................59
3.3 Escolas de Enfermagem no Piauí: Marcos no ensino de nível médio.........................................71
3.3.1 Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot: semente que estruturou as raízes do
ensino de enfermagem no Piauí..........................................................................................................71
4
3.3.1.1 As irmãs vicentinas no HGV ..................................................................................... 71
3.3.1.2 Fundação e Organização da Escola Maria Antoinette Blanchot .............................. 73
3.3.1.3 Primeiras professoras Enfermeiras da Escola de Enfermagem Antoinette Blanchot 74
3.3.1.4 Estrutura organizacional da Escola........................................................................... 80
3.3.15. A transformação da Escola de auxiliar de Enfermagem para Escola Técnica de Saúde
Maria Antoinette Blanchot. ................................................................................................... 93
3.3.16. Acervo de livros e disciplinas cursadas no curso técnico de Enfermagem ............. 96
3.3.1.7 Estrutura administrativa da Escola ............................................................................ 97
3.3.2 Escola São Camilo: Um ideal de vida destinado ao Ensino de Enfermagem ............. 104
3.3.2.1 O planejamento, inauguração e trajetória inauguração da Escola São Camilo ....... 103
3.3.2.2 Nova sede e novos desafios.......................................................................................112
CAPÍTULO IV-O CURSO DE ENFERMAGEM NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PIAUÍ :A HISTÓRIA, MEMÓRIA E DOCÊNCIA ............................. 117
4. Retrospectiva Histórica da criação do curso de Enfermagem na UFPI ............................. 117
4.1 A escolha pela profissão de Enfermagem........................................................................ 119
4.2 Enfermeiras dinâmicas: Professoras plurais .................................................................... 123
4.3 A primeira turma de Enfermagem da UFPI : Uma história de coragem, força, competência
e dinamismo ........................................................................................................................... 129
4.4 A Contribuição dos Enfermeiros professores na área assistencial ................................. 132
4.5 Diretrizes curriculares Nacionais no curso de graduação em Enfermagem: Um
direcionamento interdisciplinar ............................................................................................. 136
CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................143
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 147
APÊNDICE ..........................................................................................................................158
5
RESUMO
Esta dissertação apresenta resultados de pesquisa realizada com o objetivo de reconstituição e
preservação da história e da memória do Ensino de Enfermagem no Piauí. O marco inicial
corresponde ao início formal do ensino de Enfermagem no Estado, que se deu com a
inauguração da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot, em Junho de
1958 e o terminal, com a Resolução do Conselho Nacional de Educação Nº 3 de 7 de
Novembro de 2001 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Enfermagem às quais definem os princípios , os fundamentos, as condições e
os procedimentos de formação de Enfermeiros. É um trabalho historiográfico de caráter
exploratório e está fundamentado teórico-metodologicamente na História da Enfermagem, em
obras como Geovanini (2005), Lima (2006), Oguisso (2005), Teixeira (2006), Fontinele (
2002), Waldow( 2004), Soares ( 2007), em autores como Jacques Le Goff (2003), Peter Burke
(1991 / 2004), Maurice Halbwachs (1990), Paul Thompson (1992), Michel de Certeau (2003), Bom
Meihy( 1996) e Souza( 2000), assim como na produção de diversos historiadores brasileiros e
piauienses. Somadas às fontes bibliográficas, foram utilizadas fontes documentais e iconográficas,
oficiais e não oficiais, localizadas nos arquivos públicos e particulares, além de depoimentos orais,
coletados por meio de entrevistas semi estruturadas. Pode-se extrair deste trabalho que os avanços e
retrocessos foram características básicas no processo de ensino de Enfermagem no Piauí, pois
a implantação do ensino formal ocorreu tardiamente tendo que enfrentar desafios que
impediram seu progresso e muitas vezes ocasionando o seu declínio. Tornou possível a
identificação e a contribuição de Enfermeiras Piauienses pioneiras na evolução deste processo
de ensino e aprendizagem da profissão, assim como a análise histórica da instalação,
estruturação e aperfeiçoamento do ensino médio e superior de Enfermagem no Estado.
Palavras-chave: Educação. Enfermagem. História. Memória.
6
ABSTRACT
This composition is resulted of research carried with the objective the reconstitucion and
preservation of history and memory of the teaching nursing in Piauí . The initial landmark
correspond to the beginning formal of learning nursing in the state, the happened with the
inauguration of auxiliary school nursing Maria Antoinnette Blanchot, in june ,1958 and
ending with National Council of Education number 3, november 7, 2001 that institute the
directive Curricular National of Graduation course nursing . It is a historical exploration work
with emphasize the significance of nursing memory and history approach in Geovanini
(2005), Oguisso ( 2005), Teixeira (2006), Waldow( 2004), Soares ( 2007) e based
theoretical methodological authors asJacques le Goff (2003), Roger Chartier (1990), Paul
Thampsom (1992), Michel de Certeau (2003), and other, beyond of the production of Several
Brazilian and Piauienses. Added the bibliographical sources, were used documentary and
iconographical, official and not official in the public and particularly achieves beyond verbal
depositions, collected by means of interviews not structuralized. the historic perspective and
the memory of the assistence and of the teaching nursing in Brazil, indentify and analyze the
contribution of Piauienses nurses pioneer at evolution of process teaching and learning, so
that the reason and consequence at process historical level and professional at teaching
nursing Piauiense and others objectives fixed characterize the installation, organization and
development at graduation course nursing of the Instituition of system Superior and
teaching middle .
Password: Education, Nursing, History. Memory.
7
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
O ENSINO DE ENFERMAGEM NO PIAUÍ: HISTÓRIA E MEMÓRIA
ANNETH CARDOSO BASÍLIO DA SILVA
Teresina
2009
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Capítulo I
Figura 01 Turma pioneira da Escola de Enfermagem Anna Néri................................... 31
Capítulo II
Figura 02 Turma de Enfermagem da Escola Carlos Chagas em Belo Horizonte em 1956 -42
Figura 03 Turma de Enfermagem da Escola Carlos Chagas em 1956............................... 43
Figura 04 Diploma do curso de enfermagem de enfermeira piauiense ............................. 45
Figura 05 Formatura de Enfermagem da Escola Carlos Chagas em 1958......................... 47
Figura 06 Enfermeira Carlota Lina recebendo o seu diploma de enfermagem em 1960... 50
Figura 07 Enfermeiras piauienses em Congresso Brasileiro de Enfermagem....................... 51
Figura 08 Enfermeira piauiense Ligia Almendra em frente à Escola Anna Néri ................53
Figura 09 Formatura de Enfermagem da escola Anna Néri em 1973.................................. 55
Capítulo III
Figura 10 Hospital Getúlio Vargas construído e inaugurado na década de 60.....................64
Figura 11 Declaração emitida pela Irmã Abrahide Alvarenga na década de 60...................76
Figura 12 Enfermeira Maria dos Aflitos Miranda em sua formatura em 1958....................77
Figura 13 Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinnete Blanchot na década de 60.........81
Figura 14 Sala de aula da Escola Blanchot em Teresina ......................................................84
Figura 15 Sala de aula de Enfermagem da Escola Blanchot ................................................86
Figura 16 Aluna da Escola e Enfermagem Blanchot em sua formatura................................88
Figura 17 Aluna de enfermagem da Escola Irmã Maria Antoinnete Blanchot......................89
Figura 18 Laboratório de aulas práticas de enfermagem da escola Blanchot...................... 91
Figura 19 Biblioteca da Escola Blanchot“ Maria Otávia Poti”.......................................... 93
Figura 20 Diretoria da Escola reunida com os professores de enfermagem........................ 96
Figura 21 Encontros pedagógicos da Escola Irmã Maria Antoinnete Blanchot.................. 100
Figura 22 Sede inicial da Escola de Enfermagem São Camilo inaugurada em 1992........... 104
Figura 23 Laboratório de aulas práticas de enfermagem da Escola São Camilo................. 107
Figura 24 Sala de aulas teóricas da escola............................................................................108
Figura 25 Enfermeira Francisca Leal....................................................................................109
9
Figura 26 Formatura da primeira turma de enfermagem da Escola São Camilo .................111
Figura 27 Diretora da Escola São Camilo na nova sede da Escola......................................112
Figura 28 Biblioteca atual da Escola São Camilo.................................................................113
Figura 29 Laboratório da atual sede......................................................................................114
Figura 30 Laboratório de práticas de enfermagem da Escola São Camilo.............................115
Figura 31 Turma de enfermagem com professora da Escola ................................................116
Capítulo IV
Figura 32 Enfermeira e professora da UFPI Ana Maria Santos...........................................121
Figura 33 Enfermeira e professora Judite Albuquerque........................................................127
Figura 34 Espaço destinado à organização das placas de formatura de Enfermagem...........140
Figura 35 Placa de formatura de enfermagem de 2003......................................................... 140
Figura 36 Placa de formatura dos formandos de 1995.......................................................... 141
Figura 37 Departamento de enfermagem da Universidade Federal do Piauí ........................142
Figura 38 Professora de enfermagem Maria Livramento Figueiredo ...................................144
10
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Ivonete e Armando, pela fortaleza dos laços
imensuráveis da maternidade e paternidade, pela sabedoria infinita no traçar de caminhos que
são envoltórios de proteção, dedicação, exemplo de vida e alma humana. Pela docilidade ao
acompanhar o crescimento e desenvolvimento de um ser que precisará ultrapassar os portais
da irrefutável presença das conquistas, das lágrimas e sorrisos e da persistência constante no
acreditar;
Aos meus filhos, Pablo Enrico e Jairo Daniel, sementes abençoadas por Deus,
enraizadas em minha vida que me fizeram acreditar na possibilidade da força e plenitude da
alma humana;
Aos verdadeiros amigos, entrelaçados à minha alma com sinceridade, por laços
consangüíneos ou não, com os quais participo de etapas divinas e essenciais de crescimento e
aperfeiçoamento existencial, por acreditarem e dividirem comigo a felicidade desta conquista.
A todos os que contribuíram para a existência desta história.
11
AGRADECIMENTOS
Após grande percurso realizado no sentido de busca e análise de questões que
me permitissem uma propositura de reconstituição e preservação da História e Memória da
minha profissão, parece-me que chegou o dia da realização do sonho... Importante ressaltar
antes de agradecer um pouco de História.
Lembro-me do memorial que tivemos que escrever em uma das disciplinas
inesquecíveis que fizeram parte da matriz curricular do Mestrado em Educação, quando
descrevemos algo sobre os nossos ideais e histórias de vida e o porquê da escolha
profissional. Lembro-me de um momento crucial em que percebi a existência entre a vida e a
morte. Visitava um parente no Hospital Getúlio Vargas e vi um homem de mais ou menos
quarenta anos, pálido, gemente, saindo de dentro de um carro em frente ao Pronto Socorro do
HGV. Visualizei por instantes um aglomeramento e alguns profissionais de branco que foram
ajudá-lo. Lembro-me que um deles disse: é um infarto. Precisamos reanimá-lo. Preocupada,
mas mais por curiosidade acompanhei “a equipe” sem saber que isso mudaria completamente
a minha vida... Consegui ver alguns procedimentos dessa famosa reanimação. Muitos
aparelhos, monitores, respiradores, tubos, sondas, acessos venosos, medicações e ... o senhor
sobreviveu. Isso tornou-me uma pessoa melhor. Tranqüilizou o meu processo de dúvida em
seqüência sobre o que eu queria realmente. Maravilhosa sensação a do encontro. Necessária
ao acalento da alma humana, e talvez, o sentido dos segundos e a sua importância. Adentrei
na Universidade Federal do Piauí em 1988, para o curso de Enfermagem.
A profissão de Enfermagem proporciona, face à necessária e criteriosa
observação no sistema de relações resultantes dos aspectos multidisciplinares, um vôo sobre
atividades que podem ser criadoras, diferentes, únicas, persistentes, participativas e efetivas.
A sua inserção no processo histórico entoa sons inaudíveis, algo que melodiaria
brilhantemente o seu contexto e que precisariam ser devidamente escutados, tornando
essencial uma periodização que realmente caracterize a prática de cuidados assistenciais de
Enfermagem através do tempo.
No cenário da história, como evidencia Saviani ( 1996), temos os atores e os autores
como em uma peça teatral, o autor da peça não aparece, luta silenciosamente pela sua
permanência, pois a obra é sua. Os atores, entretanto, brilham e são enaltecidos pelos
expectadores e são cultivados como ídolos e os autores ficam apenas ocultos nos bastidores.
Assim, observamos muitos autores na prática do cuidar que não foram iluminados por séculos
12
de existência e que ergueram historicamente essa ação cuidadora, os atores estão em todas as
páginas, mas também os autores fizeram a história.
Ainda posso sentir a emoção da aprovação no mestrado. Respeitáveis lágrimas. Ainda
consigo visualizar os meus passos de luta percorrendo as árduas etapas do processo de
seleção. Consegui transpor a profunda intensidade dessas etapas e considero-me, de certa
forma, vitoriosa, pois as difíceis leituras de preparação para o mestrado foram construtivas,
mas totalmente diferentes do que eu estava acostumada a estudar.
Não esqueci em nenhum momento as vozes que me eram destinadas todas as noites
em que fui embalada pelas disciplinas obrigatórias.
Perdi sono e ganhei sonhos. Adentrei em um maravilhoso e admirável novo mundo
para mim, até então, desconhecido. Aprendi que desconstruir significa re- edificar, fazer
ressonâncias, estabelecer contatos, abrir caminhos, acender as luzes verdadeiras do saber.
Analisei sobre as verdades, os seus aspectos valorativos, eventuais, destrutivos, percebi o
tempo com seus cavalos de aço, à procura de adequações. Cresci e nesse crescimento elevei
dentro de mim conceitos, valores, uma cultura refreada e aperfeiçoada por séculos de
existência. Reconstitui a alça dos meus limites e visualizei a possibilidade de questionar, de
dizer não, de tentar articular com o mundo, outras experiências.
Desejo a todos essa experiência gratificante, esse sentir-se capaz de escrever sobre
algo e de dizer algo, por que aprendeu, por que ensinou, por que realizou dentro de si mesmo
novas correlações e interpretações de novos significados.
Por essas lentes, por essa nova visão, estabeleço uma relação com um portal. Um
portal descoberto por essa introdução nesse mundo anteriormente desconhecido. As chaves
antes inexistentes precisam e necessitam de um porta chaves que encontrou lugar em minha
alma e em meu coração.
Então, os agradecimentos que deveriam ter sido colocados no início, não o foram
pela impossibilidade, de saber qual a certeza do início e qual o fim , e sim pela certeza de
continuidade que têm os mestrandos que realmente encontraram as suas portas de entrada nos
mundos de pesquisas. Os meus agradecimentos alçam vôo pois alcançam os que participaram
do meu passado, os que estão vivenciando o meu presente, e aos que , no futuro, se possível,
possam entender a paixão que nós , com verdadeiros nós , traçamos as diretrizes da história.
13
1 INTRODUÇÃO
O conhecimento histórico da Enfermagem, além de elucidar e esclarecer os
aspectos evolutivos, fornece condições para a compreensão do significado da sua cultura. A
elucidação de fatos históricos ilumina e oportuniza o entendimento de lacunas e pontos
obscuros que são evidenciados ao longo do tempo possibilitando análises e reflexões acerca
da memória e do ensino da Enfermagem piauiense. A História não acontece apenas quando
são observadas grandes experiências que trazem conseqüências para o crescimento e
aperfeiçoamento ou então, para a involução da humanidade, mas também quando perpassa as
realidades daqueles que construíram, edificaram, perderam, lutaram e que vivenciaram o
passado ou ainda permanecem entre nós, silenciando ou aduzindo importância aos fatos. Na
realidade, para que História?
Os historiadores têm uma função determinante de retornar ao passado e analisar
fatos, estabelecer correlações, identificar paradoxos pois “Não ao poeta, mas também a
historiadores incumbem recuperar lágrimas e risos, desilusões e esperanças, fracassos e
vitórias, fruto de como os sujeitos viveram e pensaram sua própria
existência”(VIEIRA;PEIXOTO;KHOURY,1989, p.12)
A história é uma ciência em contínua construção edificando os fatos históricos no
tempo e oportunizando transformações na existência humana, tendo como sustentáculo o
princípio das mudanças.
A construção de uma ciência (das) sociedades ( humanas) que seja ao mesmo tempo
coerente, graças a um esquema teórico sólido , e comum, total, capaz de não deixar
fora de sua jurisdição qualquer campo de análise útil, dinâmica,pois na medida em
que nenhuma estabilidade é eterna , nada mais útil de descobrir que o princípio das
mudanças. (WARDE, 2000, p. 147-148)
Esta dissertação é um estudo de natureza histórica que tem como propositura a
reconstituição e a preservação da história e da memória do Ensino de Enfermagem no Piauí.
O marco inicial corresponde ao início formal do ensino de Enfermagem no Estado, que se deu
14
com a inauguração da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot, em
Junho de 1958 e o terminal, com a Resolução do Conselho Nacional de Educação 3 de 7
de Novembro de 2001 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Enfermagem
1
as quais definem os princípios , os fundamentos, as condições e
os procedimentos de formação de Enfermeiros , assim como a aplicação em âmbito nacional
com a organização , desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos de
graduação em Enfermagem das Instituições do Sistema de Ensino Superior.
O cuidado aos doentes originou-se no lar, com a mãe de família, primordialmente
cuidadora, ou em domicílios com grupos formados muitas vezes por escravos, definindo a
ausência de pessoas aptas que se dispusessem a realizá-lo. A presença do gênero feminino,
desde o início, acentua a caracterização histórica da feminização
2
na prática e na assistência
do cuidar.
A busca da reconstituição e preservação da história e memória do ensino de
Enfermagem no Piauí é determinante para a descoberta e a análise de informações acerca da
evolução e do aperfeiçoamento deste ensino. Torna-se tão fundamental quão importante a
contribuição dos precursores desta história, a descrição desta para o ensino de Enfermagem,
assim como os direcionamentos e as condições de desenvoltura deste ensino, além de
fomentar reflexões para a observação criteriosa dos fatos que ocorreram no passado, pois:
Pela força da paixão vão (os historiadores) se imiscuindo nas fendas da história e,
concomitantemente, enchendo santuários e templos nos quais sobrevivem os
diversos ícones subterrâneos. Os historiadores anônimos que campeiam nas frestas
imperceptíveis das velhas janelas do tempo trafegam no seu silêncio deslocado. Com
as próprias mãos catam os acontecimentos (VASCONCELOS, 2001, p.8)
Assim, ao definirmos a problemática deste estudo buscamos identificar
informações que revelem e acrescentem dados sobre a evolução local da história e do ensino
de Enfermagem, a contribuição de Enfermeiras Piauienses pioneiras na evolução deste
1
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem definem os princípios,
fundamentos, condições e procedimentos da formação de enfermeiros para a aplicação em âmbito nacional
na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos de Graduação em
Enfermagem das Instituições do Sistema de Ensino Superior
2
As únicas referências concernentes à época em questão , quando as práticas de saúde eram instintivas nas
formas de prestação de sua assistência, estão relacionadas com a prática domiciliar de partos e atuação pouco
clara de mulheres de classe social elevada que dividiam as atividades dos templos com os sacerdotes,
enfatizando a presença do gênero feminino.
15
processo de ensino e aprendizagem da profissão, descrever e analisar a instalação,
estruturação e aperfeiçoamento do ensino médio e superior de Enfermagem no Estado, assim
como identificar os aspectos interdisciplinares mais importantes construídos e
contextualizados na evolução sócio-histórico do ensino de Enfermagem no Piauí.
Tais questões são necessárias e pertinentes haja vista a atuação da Enfermagem
moderna
3
realizar-se como um “processo ou um sistema”, no qual são utilizados métodos,
normas e procedimentos
4
específicos, organizados e fundamentados, que visam conhecer e
atender às necessidades básicas afetadas da pessoa humana, por isso, torna-se importante
avaliar as conseqüências que esta evolução profissional determinou no desenvolvimento e
aperfeiçoamento no ensino dos cursos de Enfermagem no Estado do Piauí.
Como objetivo geral deste estudo visamos a reconstituição e a preservação da
história e memória da evolução do ensino da Enfermagem Piauiense desde o seu início formal
que se deu com a inauguração da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria Antoinette
Blanchot, em Junho de 1958 à Resolução do Conselho Nacional de Educação 3 de 7 de
Novembro de 2001.
Como objetivos específicos, buscamos compreender e analisar a perspectiva
histórica e a memória da assistência e do ensino de Enfermagem no Brasil, identificar a
contribuição de Enfermeiras Piauienses na evolução deste ensino, descrever a instalação,
organização e a desenvoltura da primeira Escola de Enfermagem Maria Antoinnette Blanchot
e da Escola São Camilo que foram marcos no ensino médio para a formação de auxiliares e
técnicos de Enfermagem do Estado e analisar o desenvolvimento e aperfeiçoamento do ensino
de Enfermagem na Universidade Federal do Piauí ( UFPI), desde a sua inserção, em 1973, à
instituição da Resolução do Conselho Nacional de Educação 3 de 7 de Novembro de
2001.
3
Segundo HORTA (1979) foi com o processo de Enfermagem que a profissão atingiu a sua maioridade, pois a
autonomia profissional será adquirida no momento em que toda a classe passar a utilizar a metodologia
científica em suas ações, o que somente será alcançado pela aplicação sistemática do processo de
Enfermagem. O processo de Enfermagem é a dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando
à assistência ao ser humano.
4
A Enfermagem é uma atividade humana que acumulou conhecimentos empíricos do ponto de vista histórico e
de maneira crescente envolve teorias relacionadas entre si e referentes ao universo natural. A Enfermagem
aborda não apenas o indivíduo, mas a sua família e a comunidade.
16
Importante analisarmos a perspectiva macroscópica da evolução do ensino de
Enfermagem, que é caracterizada como uma visão generalizada deste, sem a observância
necessária dos detalhes, direcionando a ênfase à condução da perspectiva microscópica,
objetivando a importância das correlações, interpretações e novos olhares que complementam
a interdisciplinaridade que envolve a profissão. Nagle (1998) em sua obra “A trajetória da
Pesquisa em História da Educação no Brasil”, enfatiza que:
Instrumentos intelectuais recolocam em outras perspectivas o que vem sendo
denominado de análise macroscópica. Na realidade, deixa de lado a idéia de que o
“macro” é o que exclusivamente importa, até porque o micro” não deve ser a
questão para os grandes intelectuais. Apesar de nossas profissões de fé, não
conseguimos, ainda, entender que o “pequeno”(“o micro“)carrega consigo e garante
efetividade às determinações do “grande” (“macro”). Assim sendo, não razão
para desprezar nada que importa para aprofundar ou para verificar o que está
ocorrendo no processo educativo. ( NAGLE, p.115-116)
A perspectiva microscópica é atualmente utilizada como uma forma de
visualização de detalhes na evolução e aperfeiçoamento do ensino, sem deixar de caracterizar
a importância da análise macroscópica.
É um estudo enfatizado na Nova História Cultural em autores como Jacques Le Goff
( 1995 /2003), Peter Burke ((1991/ 1992 / 2004) e Michel de Certeau (2000/2002). A base
epistemológica dos estudos de memória e história oral está ancorada em Maurice Halbwachs(
1990), Paul Thompson ( 1992), Bom Meihy ( 1996/ 1998) e Souza ( 2000). A História da
Enfermagem tomou por base as obras como Geovanini (2005), Lima (2006), Oguisso (2005),
Teixeira (2006), Fontinele ( 2002), Waldow( 2004), Soares ( 2007). Utilizamos também os
escritores clássicos da História da Educação Brasileira como Azevedo (1996),
Nagle(1974/1998), Saviani( 2000/ 2005) assim como as produções historiográficas locais de
autores como Chaves (1998/ 2003), Ferro(1996 / 1999 / 2000), Ramos(2003), Nogueira
(1996),Nunes(1998/ 2004), Castelo Branco( 1996).
Ao realizarmos a pesquisa, utilizamos fontes primárias e secundárias, através da
busca e análise de registros, atas, anais, regulamentos, circulares, leis, normas, pareceres,
ofícios, memorandos, comunicações informais, cartas pessoais, artigos, dissertações, teses e
livros que abordam a história da Enfermagem.
Convém enfatizarmos que, quanto às fontes, Certeau(2000,p.83) aborda a
subjetividade dos detalhes quando cita que “Não se trata de fazer falar imensos setores
adormecidos da documentação e dar voz a um silêncio ou efetividade a um possível. Significa
transformar alguma coisa,(...) em alguma outra coisa que funcione diferentemente. Portanto,
17
as fontes hemerográficas e iconográficas
5
foram também imprescindíveis nesta incansável
busca. Iniciando o trabalho das fontes, encontramos alguns livros que disponibilizaram dados
sobre a evolução da história de Enfermagem fora do Brasil, o seu início e estruturação no
país, assim como algumas outras obras que abordaram a história de Enfermagem no Estado do
Piauí. No Arquivo Público do Estado do Piauí e no Conselho de Educação deste Estado
obtivemos acesso a alguns documentos sobre as Escolas de Enfermagem de nível médio que
iniciaram a estruturação formal do ensino da Enfermagem Piauiense.
O trabalho tem fundamentação na história oral, pois alguns fatos relativamente
contemporâneos podem ser elucidados por personagens ainda presentes em nosso convívio.
Os entrevistados colaboradores quando ensejam a construção de suas histórias de vida o
fazem com liberdade, e às vezes, não se prendem à organização cronológica.
Quando recorremos à história oral não significa a ruptura com o uso de fontes
documentais, mas a sua complementação. Para aperfeiçoamento deste trabalho utilizamos
como recurso metodológico as fontes orais obtendo informações junto a uma amostra de
colaboradores entre professores e alunos das Escolas de Enfermagem e nível médio e
Universidade Federal do Piauí(UFPI), assim como diretores de Escolas e Profissionais de
Enfermagem que contribuíram para a evolução histórico- social da Enfermagem Piauiense .
Bom Meíhy (1998) afirma que a história oral veio servir aos anônimos como abrigo
de suas vozes, dando sentido às suas experiências vividas, fazendo com que estes se sintam
sujeitos sociais, legítimos fazedores de História. A história oral,então,nasceu como uma
possibilidade de dar voz àqueles que calaram e ao historiador cabe enfatizar tais aspectos ,
ressaltando fatos que foram esquecidos e detalhes importantes, que devem permanecer para
que a humanidade tenha acesso a informações que não podem ser esquecidas ao longo do
tempo.
Souza (2000, p.87) relata que: “Apenas o historiador terá o dom de atiçar a centelha
de esperança no passado, firmemente convencido de que nem os mortos estarão a salvo do
inimigo,ou seja , do esquecimento, caso ele consiga realmente, vencer.”
Na pesquisa histórica, a investigação e a análise de documentos e de outras fontes
de dados, comportamentos ou eventos que ocorreram no passado, determinam a influência da
5
VASCONCELOS (2001, p. 9) ao analisar a essência e importância da análise das fontes enfatiza que “No
instante da fotografia, o presente é capturado na sua intensidade e, concomitantemente, faz a eternidade fluir
com a intensidade do instante. O presente passado é reencontrado na fotografia.”
18
história nas práticas atuais. Atualmente, a ênfase é dada mais na interpretação do que no
próprio relato. A pesquisa historiográfica, segundo Reis(1998, p. 38) possibilita ao historiador
“ vencer o esquecimento,preencher o silêncio, recuperar as palavras, a expressão vencida pelo
tempo”.
No decorrer da pesquisa, as fotografias foram essenciais como instrumentos da
memória, pois de certa forma capturam a imagem daquele instante que atualmente é passado
mas desencadeia em quem as visualizam memórias até então esquecidas, elucidando e
contribuindo para a reconstituição de fatos e acontecimentos importantes.
No método utilizado realizamos entrevistas semi-estruturadas e orientamos os
entrevistados sobre os aspectos relacionados aos objetivos da pesquisa e da concordância em
participar ou não da mesma, conforme os princípios da resolução 196\96 do Conselho
Nacional de Saúde, relativos à pesquisa com seres humanos.
A dissertação encontra-se dividida em quatro capítulos. Na introdução do
trabalho, apresentamos a importância da realização do estudo e a relevância de sua escolha, os
objetivos e o sustentáculo metodológico utilizado. No primeiro capítulo realizamos uma
retrospectiva histórica da profissão de Enfermagem, descrevemos a evolução das suas práticas
assistenciais, assim como a estruturação e aperfeiçoamento do ensino da profissão,
enfatizando os aspectos histórico-sociais, as origens e a trajetória do cuidado humano, a
transmissão destes cuidados e o seu vínculo com o caráter religioso relatando a trajetória da
profissão de Enfermagem no Brasil.
No segundo capítulo tratamos da identificação e análise da contribuição de
Enfermeiras Piauienses pioneiras na evolução do processo de ensino e aprendizagem, assim
como das causas e conseqüências do processo de feminização no âmbito histórico e
profissional do ensino de Enfermagem no Estado do Piauí. No terceiro capítulo relatamos e
discutimos a instalação, estruturação e aperfeiçoamento do ensino médio de Enfermagem com
a criação da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot e da Escola São
Camilo que são consideradas marcos no desenvolvimento do ensino de Enfermagem no
Estado.
No quarto capítulo apresentamos uma análise do desenvolvimento e
aperfeiçoamento do ensino de Enfermagem na UFPI, desde a sua inserção, em 1973, à
instituição da Resolução do Conselho Nacional de Educação 3, de 7 de Novembro de
2001.
19
CAPÍTULO I
1 A ORIGEM E ESTRUTURAÇÃO DO ENSINO DE ENFERMAGEM: HISTÓRIA E
MEMÓRIA
Neste capítulo apresentamos uma retrospectiva histórica da profissão de
Enfermagem, descrevemos a evolução das suas práticas assistenciais , assim como a
estruturação e aperfeiçoamento do seu ensino, enfatizando os aspectos histórico-sociais, as
origens e a trajetória do cuidado humano, a transmissão destes cuidados e o seu vínculo com o
caráter religioso, abordando também o crescimento e a evolução da profissão de Enfermagem
no Brasil.
1.1 Relevância acerca da história e memória na evolução da profissão e no ensino de
Enfermagem
O processo de evolução da assistência e do ensino de Enfermagem , assim como a
sua estruturação, caracteriza a essência e a relevância desta profissão. A desenvoltura das
práticas de saúde encontra-se articulada aos aspectos sociais dos diferentes lugares em épocas
diversas. A época pode ser determinante na forma de ensino e no desenvolvimento de
atividades, assim como no repassar de informações que são modificadas a cada interpretação,
pois a linguagem associada à existência humana modifica-se no decorrer do tempo.
Existem várias dimensões sobre as quais podemos refletir sobre a produção do
conhecimento relacionado à história e memória, para que possamos questionar e intervir,
analisar e interpretar sobre esta evolução de cuidados e a progressão destes ensinamentos... O
porquê de pesquisarmos, o que, realmente, objetivamos, e qual a finalidade de sermos
historiadores. Soares (2008, p.18) afirma que “há poucos anos é que os historiadores da
educação foram incorporando a idéia de que a história se faz a partir de qualquer traço
deixado pela sociedade e que os dados oficiais são insuficientes para compreender o passado”.
20
Para que escrevermos e reescrevermos a história? Qual o sentido ávido pela busca
dos acontecimentos, das lacunas, das lacunas e vozes oriundas de um passado ainda não
descoberto?
O movimento dos Annales exerceu significativa influência sobre a produção do
conhecimento histórico e um dos tópicos mais abordados foi a propositura da
interdisciplinaridade.
A integração e a análise de diversas disciplinas oportunizam uma aliança entre
estas e várias formas de olhar sobre a história. As práticas de saúde cresceram com a
influência de doutrinas e dogmas religiosos, pois assim como é enfatizado por Geovanini
(2005, p.5) “Do Paganismo ao budismo, passando pelo Judaísmo e pelo Islamismo, até o
cristianismo, todas marcaram a sua trajetória de maneira contundente” .
As interferências de fenômenos sociais, econômicos, políticos e religiosos, a
evolução humana, suas ações e reações recíprocas, a determinação dos acontecimentos sobre
os homens, assim como a complexidade do caráter evolutivo evidenciam quão importantes
são as buscas de detalhes, materiais indispensáveis, fragmentários, mas indubitavelmente,
instrutivos para a elucidação de fatos que demarcaram as fases de nossa evolução histórica e
cultural. Algumas considerações acerca do passado relatam também a importância dos seus
acontecimentos para a construção do futuro.
Apesar de muito vivo o espírito de meu tempo, a devoção para com o passado e a
sensibilidade ao encanto que se aspira de idades antigas, nunca sobrepujaram, nas
minhas preocupações, o interesse pelo presente, a atração pela ciência e pela técnica
e o desejo de contribuir, em amplas reformas, para a edificação do futuro.
(AZEVEDO, 1996, p. 12)
A importância do presente e a preocupação com o futuro não descaracteriza a
necessidade de visualização do passado com um olhar ávido por detalhes, refletindo
criticamente e analisando acerca das experiências históricas e estabelecendo um modo para
que as temáticas relacionadas ao tempo, à evolução, à exclusão, à dominação econômica, as
omissões e violações de direitos não sejam esquecidas e permaneçam sempre vivas na
memória. O autor acima citado aduz que para isso um historiador de espírito crítico e
também artista que tivesse o segredo de meios tons e das tintas fortes... em que se refletem
as situações históricas e reais, irredutíveis a formas sistemáticas (p.14) seria necessário.
O tempo detém uma manifestação silenciosa, mas também estimuladora no que se
relaciona à abertura de caminhos, encontros e descobertas, assim como fecha cortinas para
21
detalhes importantes que se perdem no passado. Vasconcelos (2001, p.7) caracteriza o tempo
como cíclico, mnemônico, comemorativo, instantâneo, coercitivo ou voraz e analisa que são
múltiplos os tempos que participam do Tempo e múltiplas as histórias que participam da
História. O autor aduz ainda que a memória exalta e destaca elementos-chaves que se
expressam na oralidade e que marcam pontos que se fixam em volumes de lembranças
prontas para emergir dos escaninhos mais profundos da alma.
Inúmeros questionamentos nos levam à percepção de que a essência, a busca, a
memória, a interpretação direcionam e enfatizam a história dependendo da época e este
perceber enseja a necessidade desta construção, pois são tijolos que esperam por sustentáculos
oriundos de um cimento diferenciado, pela necessidade de construir verdadeiramente, através
dos enlaces da memória, as estruturas da história.
Nunes (2003) referindo-se às práticas e representações da memória realiza uma
reflexão sobre a cultura do esquecimento e questiona acerca “do que significa abrir mão da
memória e de como elaborar uma justificativa para as nossas vidas no domínio do movediço,
do impreciso e da velocidade do mundo contemporâneo”.
As memórias são experiências vividas anteriormente, quando buscamos quem
somos e o que fizemos , são componentes que fazem parte de nosso passado. Quando a
encontramos, somos capazes de articulá-las à história de vida.
As memórias que temos do trabalho que nos dedicamos, das nossas reminiscências
da infância, da escola em que estudamos, de todas as práticas vividas, enfim, têm
uma validade relativa, histórica, que são construídas socialmente. A sociedade
determina em boa medida como devemos desempenhar as nossas funções e com
que categoria pensá-las, o que vale tanto para o indivíduo como para a coletividade.
(NUNES, p.9 - 11)
Os vínculos que os enlaces com o passado apregoam para o futuro, precisam ser
interpretados dependendo do momento histórico, quando percebemos valiosas e
imprescindíveis contribuições para a construção desta história. A Enfermagem em sua
trajetória histórica sofreu várias influências e tais transformações modificaram o seu perfil.
Do ato instintivo do cuidado à Institucionalização, esta realizada por Nightingale
6
,
na Inglaterra, no século XIX, e no Brasil, no início do século XX, a profissão de Enfermagem
6
Florence Nightingale foi fundadora da moderna educação de Enfermagem, nascida em 12 de maio de 1820,
em Florença, na Itália e falecida em 13 de agosto de 1910 com 90 anos de idade. Dotada de inteligência
22
caracterizou-se por inúmeras mudanças, principalmente, quando a assistência foi
planejada,organizada e sistematizada, originando a Enfermagem Moderna. Importante e
necessária, portanto, é a reconstrução histórica através de uma análise criteriosa de fatos que
propiciaram a fundamentação desta profissão e as origens do seu ensino.
A memória passa a ter uma função essencial nesta reconstituição. Confessando
que viveu a sua história, o poeta e escritor Neruda (1968) enfatiza quão significativas são as
memórias e os detalhes inseridos nas mesmas assim como a importância do sentimento e da
percepção ao escrevê-las e assim perpetuá-las:
Estas memórias ou lembranças são intermitentes e por momentos, me escapam por
que a vida é exatamente assim. A intermitência do sonho nos permite suportar os
dias de trabalho. Muitas de minhas lembranças se toldaram, viraram , como um
cristal irremediavelmente ferido. As memórias do memorialista não são as memórias
do poeta. Aquele, viveu talvez menos, fotografou muito mais e nos diverte com a
perfeição dos detalhes; este, nos entrega uma galeria de fantasmas sacudidos pelo
fogo e a sombra de sua época. Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha
vivido a vida dos outros. Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderam
sempre- como nos arvoredos de outono e como nos tempos das vinhas as folhas
amarelas que vão morrer e as uvas que reviveram no vinho sagrado. Minha vida é
uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta. (NERUDA, p.5)
As lembranças são componentes essenciais na construção histórica, quando a
quebra e a fragmentação das mesmas a história é entrecortada , pois o esquecimento faz com
que a transparência da mesma não seja vislumbrada.
Os aprendizes dos historiadores trabalham com o concreto e com o abstrato, com o
único e com o múltiplo, com o individual e coletivo, pois não se pode construir uma
narrativa sem cor, sem sabor, sem cheiro. É preciso lembrar que algo nos sons,
nas cores, no calor, no frio... (NASCIMENTO, 2008, p. 15)
Os questionamentos, as críticas, as interpretações, aos quais, se dedica um
historiador correlacionam-se em analogia, ao aperfeiçoamento da arte das pinturas de um
artista. As luzes, os tons, as sombras colaboram para as interpretações, os diferentes olhares
sobre a forma e as cores, em um entrelace contínuo na formação de imagens, eventos, pinturas
e telas que direcionam a detalhes minuciosos a serem traçados na arte e na escrita de história.
Apesar do árduo, mas iluminado prazer da espera, os escritos são aguardados assim como as
telas por todos aqueles que, verdadeiramente, m a acrescentar com os seus dons e tons à
história da humanidade.
incomum, tenacidade de propósitos, determinação e perseverança buscou os seus ideais e de vida
caracterizando a importância do cuidado e da assistência.
23
1.2 As origens do cuidado humano, os cuidados assistenciais e a prática religiosa
A Enfermagem, ainda empírica, antes do sustentáculo de lapidação, sobreviveu
ao mundo primitivo e medieval, submetendo-se às variáveis sociopolíticas e econômicas, às
quais, sempre esteve historicamente condicionada. A maternidade, a proteção e sobrevivência
do grupo contribuíram para a preservação da raça, constituindo a mulher como a grande
precursora do atendimento às necessidades de saúde, responsável pelo cuidado aos mais
frágeis e associando a Enfermagem ao cuidar nas sociedades primitivas e à transmissão destes
conhecimentos seculares.
Inserido nos marcos do desenvolvimento do ser humano, o ritual do cuidar e do
ensinar a cuidar envolveram-se nas estruturas sociais das diferentes civilizações e as práticas
de saúde foram difundidas e diferenciadas.
Não houve um momento exato e inicial da história humana, em que estes
cuidados começaram a existir, tais acontecimentos foram sendo apreendidos e enriquecidos
pela necessária sobrevivência dos homens e para que isso fosse possível, a busca, o
discernimento, as descobertas, as contradições tornaram-se imprescindíveis para este processo
de aprendizagem.
Quais as origens do cuidar, como esse ritual foi transmitido e como a história e
as reformas sócio-culturais influenciaram estas ações? Tais questionamentos são essenciais
para a desenvoltura histórica das dimensões do ensino e do cuidar no processo da evolução da
enfermagem. O cuidar, gerado à luz de todos estes preceitos e presente no conteúdo histórico,
deve ser seguro, entretanto, dinâmico, pois se encontra inserido nos princípios fundamentais
de Enfermagem, que é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da
coletividade, atuando na promoção, proteção, recuperação e reabilitação das pessoas,
respeitando os princípios éticos e legais.
O cuidado humano, como enfatiza Waldow( 1998, p.15), “é uma atitude ética em
que seres humanos percebem e reconhecem os direitos uns dos outros, quando pessoas se
relacionam a fim de promoverem o crescimento e o bem estar dos outros”.
A prática de saúde associou-se à prática religiosa e essa interação sacerdotal foi
desenvolvida por séculos nos templos que também foram escolas e assim, os conceitos
24
primitivos de saúde foram ensinados e proliferados através do tempo, com o desenvolvimento
de escolas específicas para o ensino da arte do cuidar. Os cuidados que foram desenvolvidos
milhares de anos não pertenciam a nenhuma atividade ou profissão específica, mas eram
transmitidos de geração em geração e tais procedimentos foram sendo aprimorados,
aperfeiçoados ,assumidos e organizados de acordo com culturas e épocas diferentes, como
observamos no relato da historiadora:
A história da transmissão dos cuidados assistenciais coincide com a própria história
do homem, com a ação de proteção para a sua sobrevivência, com a necessidade de
coesão para a sua segurança, com a descoberta de formas de preservação da espécie
humana e primordialmente, pela forma de transmissão destes conhecimentos através
do tempo (OGUISSO, 2005, p.7-9).
As práticas de saúde desenvolveram-se no interior dos claustros, onde grupos
religiosos, durante séculos foram depositários deste saber. Os concílios religiosos ordenavam
a construção de hospitais próximos a mosteiros e a igrejas direcionadas por religiosos, estes
assumindo lideranças na administração dos hospitais. A inexistência de pessoas aptas a
realizarem tais cuidados desencadeou a execução dos mesmos por grupos que se dedicavam a
servir e ajudar aos mais carentes e enfermos.
Os grupos religiosos, homens e mulheres, monges e monjas eram preparados de
acordo com o ideal de servir e atendiam as pessoas em instituições monásticas. As
funções não eram propriamente constituídas por tarefas hoje conhecidas como
enfermagem; os cuidados eram prestados por grupos de mulheres sem preparo
algum ou ainda por membros da família. Foi a evolução da medicina, da cirurgia e
da saúde pública que demandou muitos procedimentos que passaram a ser
executados por pessoas diferentes do médico, mas devidamente treinadas, com
conhecimento dos princípios científicos. ( OGUISSO, 2005, p.24)
As Santas Casas de Misericórdia e a Congregação das Irmãs de Caridade atuaram
não apenas em missões religiosas, mas também prestando cuidados aos enfermos, período
este identificado como período pré-profissional. (FONTINELE, 2002, p.34)
Algumas histórias, acontecimentos que marcaram a evolução destes cuidados,
permaneceram em algum lugar do passado. A humanidade não poderia, através das nuances
do esquecimento, esquecer algo vital? E se não forem encontradas no futuro as respostas que
muitos encontraram e não deixaram vestígios para a posteridade? A memória como
componente milenar, não seria significativa e primordial a sua inserção como processo de
25
conhecimento? A rejeição pelos métodos mnemônicos
7
não descaracterizaria de certa forma
traços marcantes da história? Durante a evolução da história da enfermagem observamos que
a religiosidade encontrava-se inserida no ato de cuidar e na dedicação aos mais carentes o que
caracterizou a transmissibilidade destes cuidados através dos tempos.
Historicamente, o ato de cuidar, considerado um ato destinado à prática feminina,
iniciou-se com a expansão do cristianismo, fato que levou nobres mulheres a
dedicarem-se aos pobres e enfermos e a transformarem os lugares suntuosos em que
habitavam em hospitais, para que pudessem acompanhar e cuidar dos doentes, assim
como transmitir os ensinamentos adquiridos. (GEOVANINI, 2005, p.15).
O cuidado humano maximiza-se e tem como envoltório a responsabilidade, o
amor, o compromisso, as inúmeras formas de expressar este cuidado, além de situar-se dentro
de uma postura ética, estética, uma forma de ser e de vivenciar isto diante do mundo e das
pessoas.
A cultura é mensurada pela capacidade de guardar informações: o físico, a história
do corpo, as cicatrizes, o caminhar, a postura, o corpo são parâmetros que vêm sendo
utilizados como experiências nestes ensinamentos. A importância dos espaços destinados para
a realização destes cuidados e do ensino dos procedimentos na prática no cuidar estão
inseridos no decorrer da existência humana.
Santanna (2007, p.69) ao descrever sobre “Uma história do corpo” relata que
existem muitas histórias do corpo e as ciências humanas possuem diferentes métodos para
analisá-las,e tais estudos que anteriormente eram abordados muito mais pela área da saúde
agora passaram a ser campo de estudos da antropologia , educação, história e sociologia,
pois estes também vêm estudando as práticas e representações corporais de civilizações do
passado e culturas do presente.
8
Importante ressaltarmos a abordagem a seguir que trata
sobre a interligação do passado com o presente, enfatizando a memória como um olhar
metodológico :
Meu presente parece ser algo absolutamente determinado, e que incide sobre o meu
passado. Colocado entre a matéria que influi sobre ele e a matéria sobre a qual ele
influi, meu corpo é um centro de ação, o lugar onde as impressões recebidas
7
Mneme na mitologia grega era a musa da memória e Clio, a musa da história. Tais musas mitológicas tinham
vários atributos dentre eles proporcionar aos homens a possibilidade do esquecimento das dores e dos
males que participam da vida humana. (VASCONCELOS, 2001, p.8)
8
SANT’ANNA.D.B. Uma história do corpo .In:SOARES,2007,p.69. Os estudos realizados sobre os
significados do corpo na contemporaneidade encontram uma fertilidade para as pesquisas devido à força que
emana de tentativas da invenção de um corpo triunfante em relação à velhice, ao sofrimento , às doenças.
26
escolhem inteligentemente seu caminho para se transformarem em movimentos
efetuados; portanto, represento o estado atual do meu devir. (BERGSON, 1990,
p.114)
As práticas humanas têm uma configuração histórico-social e não há como negá-
las. A educação é uma pratica mediada e mediadora no existir e ser humano, não se tratando
apenas de uma prática mecanizada, merecendo, portanto, estar estruturada em orientações e
pensamentos direcionados, assim como também estar vinculada a fins intencionais para que a
interdisciplinaridade exigida tenha uma íntima e forte colaboração nos diversos campos do
saber. É um novo olhar que se inicia individual tornando-se disseminado através do tempo, do
decorrer dos processos de aprendizados, que culminam também no ensino e se transformam
em práticas coletivas produtoras de conhecimentos. Entendemos, portanto, como Morin
(2004, p. 32) “A História tende a tornar-se a ciência da complexidade humana.
9
A Enfermagem, apesar dos progressos na área da medicina, não sofreu
desenvolturas significativas no Brasil na época do Império
10
, permanecendo empírica,
desorganizada e inserida nos hospitais religiosos. A marca das ordens religiosas impõe à
Enfermagem, por um longo período, seu exercício institucional exclusivo, majoritariamente
“feminino” e caritativo.
No desenvolvimento histórico das práticas de saúde a Enfermagem foi praticada
pelas mãos de religiosas e abnegadas mulheres que dedicavam as suas vidas à
assistência aos pobres e doentes, as atividades eram centradas no fazer manual e os
conhecimentos transmitidos pelas informações acerca das práticas vivenciadas. A
abnegação, o espírito de serviço, a obediência e outros atributos deram à
Enfermagem uma conotação de sacerdócio e não de prática profissional.
(GEOVANINI, 2005, p.15).
Desde os primórdios a prática do cuidar esteve presente nas casas, nas igrejas, nas
cidades, abrangendo tais cuidados o apoio, assistência às parturientes, aos recémnascidos, às
9
As ciências especificamente humanas são compartimentadas como a História, Sociologia, Economia,
Psicologia, ciências do imaginário, mitos e crenças comunicam-se em alguns pesquisadores marginais, mas a
História tende a tornar-se uma ciência multidimensional, quando integra em si mesma a dimensão econômica
e antropológica ( costumes, ritos concernentes à vida e à morte).
10
Raros nomes foram destacados nesta época como Anna Nery, Ana Justina Ferreira, que nasceu na Bahia no
dia 13 de dezembro de 1814. Não resistindo à separação dos seus filhos que foram à guerra do Paraguai
(1864-1870), colocou-se também á disposição de sua Pátria. Improvisou Hospitais e cuidou com afinco de
muitos feridos, inserindo em sua vida a história da assistência e do cuidado humano, fato este que lhe
concedeu medalhas e homenagens. A primeira Escola de Enfermagem fundada no Brasil recebeu o seu nome,
que como Florence Nightingale, lutou pelos ideais de assistência inseridos na profissão de Enfermagem.
Anna Nery faleceu no Rio de Janeiro em 20 de maio de 1880.
27
pessoas idosas, enfim, à população que necessitasse de cuidados e procedimentos específicos.
Tais saberes eram informados através de gerações e a memória constituiu-se um dos mais
importantes recursos para a essência e aperfeiçoamento destes cuidados.
1.3 O desenvolvimento histórico da profissão e evolução do ensino de Enfermagem
O aparecimento das ordens religiosas, a prática da caridade, a assistência aos
doentes que não tinham a quem recorrer em momentos de graves enfermidades contribuiu
para a evolução da Enfermagem, ainda que, inicialmente, desestruturada e leiga em nível de
praticidade, distanciada do conhecimento científico. A prática de saúde vislumbrada
anteriormente como mística e sacerdotal, após o alvorecer da ciência, ganhou novas formas e
saberes
11
, mas tais práticas permaneceram limitadas pela ausência de conhecimentos na área
de Anatomia e Fisiologia, restritos na área médica e de Enfermagem.
Tornou-se necessária uma interconexão de dimensões, onde os valores, os
aspectos cognitivos, a sensibilidade, o caráter, a cultura, a história e a educação entrelaçaram-
se e culminaram na interdisciplinaridade. Fato este abordado por Morin( 2004, p.13) quando
aduz a importância da conexão entre as disciplinas para que a sabedoria não se perca do
conhecimento, pois a hiper-especialização, ou seja, a especialização fechada em si mesma
pode vir a nos impedir a visualização do essencial, dos eixos integradores que podem trazer
benefícios significativos para o crescimento profissional e que vão além dos progressos e das
fronteiras históricas das disciplinas.
Houve uma influência importante do cristianismo inserido nesta ação do cuidar,
pois muitos cristãos dedicavam-se a cuidar de pobres e doentes em busca da salvação eterna.
Essas congregações construíram hospitais para prestarem esta assistência. E assim, as
experiências iniciais tornaram-se sustentáculos de ensino para a posteridade do cuidar. O
entrelace entre a fé, a caridade, a realização de cuidados que minimizassem o sofrimento do
próximo enalteceram os aspectos construtivos desta profissão. A História da Enfermagem está
enraizada nas práticas de observação, planejamento, adequação e ações sistematizadas que se
11
Nesta fase a saúde passou a buscar conhecimentos na natureza e na experiência e passou a direcionar-se mais
na observação dos fenômenos. A ausência de conhecimentos na área de anatomia e fisiologia era
significativa. A Enfermagem não tinha ainda uma caracterização profissional.
28
relacionam com os cuidados assistenciais e o conforto da alma, traduzindo com isto a
importante inserção da humanização na assistência de Enfermagem.
Existem descrições de cuidados de Enfermagem prestados por criminosos e por
mulheres de baixo padrão moral, recrutadas para os serviços na época, sem nenhum
interesse pelas necessidades do enfermo e sem nenhuma qualificação, e em razão da
imagem negativa que a Enfermagem trazia até então, era necessário que se
reconstruísse um novo perfil profissional, porém ele deveria obedecer aos princípios
impostos pela nova realidade social. (GEOVANINI, 2005, p. 26)
Surge, então, em meados do século XIX, a Enfermagem como uma prática social
institucionalizada e específica, dotada de disciplina rigorosa, influenciada sob a ótica da
filosofia da Escola Nightingale
12
, que norteou, inicialmente, a estruturação, o funcionamento e
a evolução do ensino da profissão de Enfermagem, fora do Brasil.
Os cuidados em Enfermagem com base na filosofia de Nightingale
13
identificavam as bases humanísticas da enfermagem tendo sido enfatizados pela atual teoria
holística que visualiza o ser humano como um todo. O ensino de Enfermagem tinha bases em
uma disciplina rigorosa, com exigências de qualidades morais. Esse ensino estabelecia o
caráter metódico, a importância da teoria inserida na prática e a seleção de candidatas através
de rígidos critérios, mesmo assim, as perspectivas de ensino, também como as práticas
assistenciais mantiveram-se atreladas ao mito da ciência como um sustentáculo do progresso e
do futuro.
A história teceu durante a evolução da prática assistencial do cuidado uma
caracterização de sacerdócio e dedicação que, associada e intercalada aos movimentos
militares e religiosos, adquiriram disciplina e contribuíram para a sistematização do ensino e a
profissionalização e aperfeiçoamento dos primeiros Enfermeiros. Existiam diferenciações nas
atividades da Enfermagem em nível privado, institucional, autônomo e ainda em caráter de
trabalho escravo como enfatizamos a seguir ao abordarmos o âmbito de tais ações
profissionais:
Os espaços aonde se realizavam as atividades de Enfermagem eram diferenciadas
em quatro categorias: no âmbito privado, aonde parte das atividades domésticas não
tinham características profissionais; no âmbito institucional o qual abrangia o
hospital e as santas casas; no âmbito autônomo, como atividade das parteiras e no
12
A filosofia de vida de Florence permeava todo o currículo de sua Escola. (Escola de Enfermagem no Hospital
Saint Thomas). Estimulava o desenvolvimento individual das alunas pois acreditava que cada pessoa tinha
talentos e habilidades que precisavam ser desabrochados.
13
Florence acreditava que a saúde deveria estar presente tanto na alma como no corpo. A Enfermagem como
uma arte que requeria treinamento organizado, prático e científico.
29
âmbito do trabalho escravo como prestação de cuidados aos doentes em vel
domiciliar para a família colonial oligárquica. (FONTINELE, 2002, p.34)
Os espaços destinados à realização das atividades e procedimentos de
Enfermagem eram diferenciados em muitos aspectos e devido à ausência de aptidão e
conhecimentos nesta assistência, alguns cuidados domiciliares eram prestados empiricamente.
Em nível hospitalar as Santas Casas eram o local mais adequado para a realização destes
procedimentos que ainda à época eram supervisionados pelas religiosas que se
responsabilizavam pela administração destas Instituições.
Entendemos como Saviani (2000), quando relata a compreensão da trama da
história ao evidenciar a importância dos “dados dos bastidores”; No cenário da história,
existem atores e autores e como em uma peça teatral, o autor da peça quase não aparece, mas
enaltece os seus ensinamentos que poucos têm a oportunidade de visualizar. Mas, ensina
silenciosamente, pois a obra é sua. O ator, entretanto, brilha e é vislumbrado pelos
expectadores, cultuado como líder. Temos a presença lacunar e silenciosa de muitos autores
que nos ensinam por séculos de existência e que ergueram historicamente esta ação
assistencial no processo de cuidar. Os atores estão em todos os espetáculos, sendo que
determinadas essências de vida mostram a exímia importância dos autores que também
fizeram parte desta história.
No final do século XIX, as medidas anti-sépticas, a nutrição adequada, a
assistência realizada antes e após os procedimentos cirúrgicos, tornaramse significativas e
essenciais para salvar vidas e a Enfermagem deu origem aos cuidados assistenciais
direcionados aos pacientes, enquanto a equipe médica limitava-se a visitas periódicas.
A Instituição hospitalar, antes negligenciada, e associada com o baixo nível de
qualidade das práticas de saúde, durante muito tempo preocupou-se apenas em separar
indivíduos doentes e perigosos da coletividade com o intuito de preservar a saúde geral da
população, considerando a internação como uma forma de isolamento e precaução na
disseminação de doenças. Com a reorganização da prática hospitalar e o surgimento da
Enfermagem moderna, aliados aos interesses políticos, caracterizou-se uma reordenação no
caráter disciplinar da assistência de Enfermagem.
14
14
Foucault (1999) relata que a disciplina hospitalar era garantida pelo controle sobre o desenvolvimento de
ações, pela distribuição espacial dos indivíduos no interior dos hospitais e pela vigilância perpétua e
30
As doenças infecciosas caracterizaram um significativo problema econômico e
social e a comprovação da existência de microorganismos, assim como a descoberta da
transmissão destas doenças desencadearam uma transformação nas condutas de higiene e
assepsia, as quais foram contestadas e não aceitas pelas religiosas. Com o nascimento da
clínica, as religiosas foram afastadas ou começaram a abandonar os hospitais, e a partir de
então, as primeiras Escolas de Enfermagem foram criadas com o objetivo de dar instrução aos
Enfermeiros e Enfermeiras e proceder à habilitação dos mesmos.
A evolução crescente dos Hospitais não melhorou suas condições de salubridade,
havia predominância de doenças infecto-contagiosas e falta de pessoas preparadas
para cuidar dos doentes e muito embora este poder disciplinar no novo hospital
tenha sido confiado ao médico, este passou a delegar o exercício das funções do
pessoal de Enfermagem ao Enfermeiro. (GEOVANINI, 2005, p24-25).
A Enfermagem trazia consigo uma imagem circundada por resquícios de má
qualificação e práticas não padronizadas, tornando-se essencial a reconstrução de um perfil
profissional com um novo olhar sobre a abrangência do ser humano e do meio ambiente,
relevâncias consideradas revolucionárias para a época mais com consonância com os
princípios humanísticos. Paixão (1979) relata que os cuidados que eram prestados por
religiosos nos Hospitais cristãos eram realizados por mulheres de baixo nível moral e social,
que não estavam aptas à realização destas atividades.
Segundo Oguisso( 2005, p. 79), Nightingale acreditava que os treinamentos eram
essenciais para o desenvolvimento das habilidades, assim como a aquisição de segurança nas
técnicas a serem realizadas e em seu livro, “Notas sobre Enfermagem”, figurava uma escrita
diferente, em estilo vivo, diferente, espirituoso , moderno , buscando transformações e
mudanças acerca das necessidades de saúde da época . Tal literatura obteve uma aceitação
significante na sociedade o que caracterizou as inúmeras traduções e reedições da obra.
Houve, também, a ênfase em suas obras do triângulo cuidar-educar-pesquisar,
com ações interligadas com critérios de complementaridade, abordando que para que
houvesse uma recuperação do doente deveria haver condições favoráveis para que essa cura
realmente acontecesse. “Existiam quatro conceitos fundamentais: o ser humano, meio
ambiente, saúde e Enfermagem. Tais conceitos foram considerados revolucionários para a
constante destes. A partir deste esquema administrativo, composto por um conjunto de técnicas criou-se
posteriormente a teoria clássica administrativa, recentemente postulada por Taylor e Fayol.
31
época, mas ainda hoje são identificados como as bases humanísticas da Enfermagem.
(GEOVANINI, 2005, p.26)
Através da reflexão acerca destas memórias podemos ter um amplo campo de
pesquisas, assim como a possibilidade de identificarmos alguns pontos históricos que possam
ter contribuído para o aperfeiçoamento das técnicas e dos ensinamentos nas práticas do
cuidar. A atividade de cuidar de feridos e doentes existiam anos, mas o planejamento, a
organização e o treinamento destas práticas acresceram à Enfermagem bases e princípios
educacionais que se tornaram imprescindíveis para a desenvoltura desses cuidados
específicos.
1.4 O ensino de Enfermagem no Brasil
A partir de 1890, com a criação oficial da primeira escola para habilitar
Enfermeiros
15
, o processo de profissionalização desencadeou a aquisição de um saber e cuidar
mais qualificados. Ainda assim, o cuidado aos doentes continuou a ser prestado, também,
pelas Irmãs de caridade, mesmo que os objetivos desta irmandade não fossem compatíveis
com a classe de intelectuais, com novos conhecimentos e assistência a serem prestados. A
saúde passou a constituir-se como uma problemática econômica e social e, o governo
brasileiro, direcionado por pressões externas, assume a assistência à saúde com a criação de
serviços públicos diversos. No contexto social a imagem da mulher passou por um processo
de transformação, ocupando um espaço melhor e diferenciado com uma maior visibilidade:
Nesse contexto inserem-se as novas profissões femininas, com destaque para a
enfermagem, que se constituiu em importante vetor de emancipação econômica e
social da mulher. No entanto, as enfermeiras, em geral, buscaram melhores posições
no campo em que atuavam, mediante estratégias de evitação do confronto com a
ordem dominante e, ao contrário, procurando alianças e oportunidades para obter
visibilidade e reconhecimento social. Para tanto, a enfermeira diplomada tinha que
lutar em várias frentes, adotando estratégias de distanciamento, de modo a
evidenciar sua distinção em relação a todos os demais profissionais de enfermagem
que, no entanto, tempos haviam tomado posição no campo (freiras, enfermeiros,
militares, práticos em geral). (BARREIRA, 2005, p.480-7)
15
A formação de pessoal de Enfermagem iniciou com a criação pelo Governo da Escola Profissional de
Enfermeiros e Enfermeiras, no Rio de Janeiro, sendo instituída pelo Decreto Federal 791 de setembro de
1890 e atualmente é denominada Escola de Enfermagem Alfredo Pinto.
32
A emergência do ensino de Enfermagem moderna no país coincide com o
momento em que a questão da saúde caracteriza um novo aspecto dimensional, passando a ser
uma das atribuições do Estado
16
. Muitos cursos foram criados na tentativa de atender às
necessidades emergenciais de cada momento histórico, os problemas evidenciados na área da
Saúde Pública
17
, levaram a diretrizes que culminaram em algumas resoluções e implantações
de serviços que tinham como objetivo uma reorganização na área da saúde.
O Departamento Nacional de Saúde Pública foi criado na década de 1920,
visando direcionar a questão do saneamento e dos déficits relacionados às doenças que se
alastravam e manifestavam-se de forma freqüente, como a tuberculose e a hanseníase, dentre
outras. A primeira escola de Enfermagem no Brasil baseada no modelo Nightingaleano
18
foi a
Escola de Enfermagem Anna Nery
19
(EAN), onde as profissionais tornavam-se habilitadas a
executar procedimentos de elevado desenvolvimento e complexidade intelectuais.
O campo de estágio principal da EAN, desde sua fundação, era o Hospital São
Francisco de Assis (HSFA). A formação de um corpo de enfermeiras diplomadas
pela EAN garantiu ao HSFA, a consolidação de um modelo de assistência de
enfermagem de alto padrão. Este modelo se manteve como referência até a década
de 40, quando começaram a surgir grandes hospitais públicos, de alta complexidade
organizacional e tecnológica, mas que sofreram a influência do serviço de
enfermagem do HSFA, tanto institucional, como profissional. A importância dessa
contribuição deve ser ressaltada principalmente no que se refere ao papel das
enfermeiras-chefes de enfermarias, cargos reconhecidos como estratégicos para a
qualidade da enfermagem do hospital. ( SILVA; BARREIRA, 2001).
O primeiro curso de enfermagem na Escola Anna Nery foi inaugurado no dia 19
de fevereiro de 1923, com quinze alunas em regime de internato. (OGUISSO, 2005, p.90). A
primeira diretora foi Miss Clara Louise Kienninger, que instituiu a Associação do Governo
16
Havia o reconhecimento por parte da sociedade Brasileira da necessidade de formação de Enfermeiros nas
primeiras décadas do século XX e não havia pessoal qualificado na área. Por ocasião de epidemia de gripe
espanhola no Rio de Janeiro, morreram quase treze mil pessoas evidenciando a ineficiência dos serviços de
saúde pública com a necessidade emergencial de reformas sanitárias.
17
A Reforma Carlos Chagas promoveu tentativas de reorganização dos serviços de saúde com a criação do
Departamento Nacional de Saúde Pública, que exerceu ação normativa e também executiva das atividades de
saúde pública no Brasil.
18
O modelo Nightingaleano evidenciava uma disciplina rigorosa, militar, com características peculiares como a
exigência de qualidades morais e éticas. A Direção da Escola era feita por uma Enfermeira e a seleção de
candidatas através dos aspectos físico e moral, assim como intelectual e aptidão profissional.
19
A Fundação Rockfeller patrocinou, no Brasil, o projeto de organização do Serviço de Enfermagem de Saúde
Pública, sob a orientação de Enfermeiras norte-americanas, surgindo, então, em 1923, a primeira Escola de
Enfermagem, a Escola de Enfermagem Anna Nery.
33
Interno das Alunas, que tinha como objetivo desenvolver a responsabilidade individual e
elevar o nível social da Instituição. A primeira turma de Enfermeiras diplomou-se em 19 de
junho de 1925. Destacaram-se nesta turma Laís Netto dos Reys, a oradora da turma; Olga
Salinas Lacôrte e Maria de Castro Pamphiro que obtiveram bolsas de estudos nos Estados
Unidos. A primeira diretora brasileira da Escola Anna Nery foi Raquel Haddock Lobo
20
.
Ressalta-se o fato de no ano de 1923 ser criada a Escola de Enfermeiras do DNSP
(atual Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ), a qual em 1931 passou a ser
denominada “escola-padrão”, através do Decreto 20.109 de 15 de julho de 1931,
o qual reconheceu-a como escola oficial padrão para efeito da criação e equiparação
de outras escolas de enfermagem. Com isso, somente poderiam exercer a profissão
as pessoas que tivessem o diploma de enfermeira adquirido na EAN ou em outra
escola a ela equiparada. (GOMES; ALMEIDA; BAPTISTA, 2005, p 361-6)
Com o decreto 20.109 de 1931
21
, todas as Escolas de Enfermagem deveriam
equiparar-se ao seu criterioso padrão, para a viabilização de expedição legal de diplomas. Na
época, o presidente Getúlio Vargas recebeu apoio religioso porque a proximidade entre a
Igreja e o Estado era significante, aumentando o número de religiosas que objetivavam a
obtenção de diploma de enfermagem. A Escola Carlos Chagas em Belo Horizonte foi a
primeira Escola a formar religiosas no Brasil.
Com o decreto 20.109/31 que reconheceu a EAN como “escola oficial padrão”, o
qual afirmava que seriam reconhecidos como enfermeiros os portadores de
diploma fornecido ou revalidado por esta Escola, a Igreja passou a procurar amparo
legal para as religiosas que trabalhavam nos hospitais, bem como se organizou para
encaminhar as religiosas objetivando a obtenção do diploma de enfermeiras, em
virtude das mesmas não possuírem tal título. Para isso, foi fundamental a
aproximação de Laís Neto dos Reys, diplomada da turma pioneira da EAN em 1925,
com a Igreja católica. Laís dirigiu e organizou a primeira escola a formar religiosas
no Brasil, a Escola de Enfermagem Carlos Chagas. Tal fato tornou-se extremamente
importante para defender o espaço da Igreja católica no campo da enfermagem, além
de possibilitar a criação de outras escolas de enfermagem sob orientação católica.
(GOMES; ALMEIDA; BAPTISTA, 2005, p 361-6)
A constituição Federal de 1934 possibilitou um grande avanço à educação
religiosa e subsídios às Escolas Católicas. O Decreto nº 22257 de dezembro de 1932, assinado
pelo presidente Getúlio Vargas, oportunizou às religiosas os mesmos direitos das enfermeiras
que recebiam os seus diplomas desde que fosse comprovada a experiência assistencial de
enfermagem por mais de seis anos, tal direito restrito apenas à área hospitalar.
20
Foi a pioneira da Enfermagem Moderna no Brasil, esteve na Europa durante a primeira Guerra mundial ,
incorporou-se à Cruz Vermelha Francesa e ao retornar ao Brasil continuou a trabalhar como Enfermeira.
21
Foi fixado por lei que o perfil exigido para a enfermeira brasileira passou a ser elaborado segundo os critérios
da Escola Anna Nery, considerada modelo.
34
Na década de 1940, observou-se a necessidade de uma força de trabalho mais
qualificada e através da Lei 775 de Agosto de 1949
22
, torna-se obrigatório o ensino de
Enfermagem nas Universidades, direcionado à época ao modelo hospitalar, segundo
contextualização social, econômica e política. As funções e atribuições da enfermeira-chefe
abrangiam a área assistencial, de ensino, as funções administrativas e de supervisão e estavam
correlacionadas e eram planejadas sistematicamente e direcionadas à equipe.
Nos campos de estágio da EAN, a enfermeira-chefe respondia tanto ao hospital
sobre o bom andamento do serviço de enfermagem quanto à diretora da EAN sobre
as condições do aprendizado das alunas nos campos de estágio. As funções e
atribuições das enfermeiras-chefes eram as seguintes: 1) função assistencial: assumir
o cuidado direto frente às dificuldades das alunas; implementar medidas corretivas
em situações de crise; erro na administração de medicamentos; primeiros socorros;
2) função de ensino:corrigir erros na execução de técnicas; intensificar a avaliação
do desempenho de alunas com dificuldades especiais ; ensinar pelo exemplo;
organizar um ambiente adequado ao ensino prático; 3) função de administração e
supervisão: favorecer relações interpessoais produtivas;promover melhorias no
funcionamento da unidade; controle de material; controle de pessoal; disciplina:
assiduidade, pontualidade, uniforme; prover a enfermaria de material
(medicamentos,instrumentos/aparelhos e material de enfermagem). (BARREIRA,
2005, p 480-7)
Importante ressaltarmos a fundação em 1926 da Associação Nacional de
Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, atual Associação Brasileira de Enfermagem (ABen),
pelas primeiras enfermeiras formadas pela Escola Anna Nery(GEOVANINI, 2005,p.35). A
Associação Brasileira de Enfermagem e as suas normatizações foram criadas, estabelecidas e
estruturadas pelas primeiras enfermeiras formadas nesta Escola, que foram pioneiras.
A fundação da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, atual
ABEN (Associação Brasileira de Enfermagem), ocorreu em 1926, pelas primeiras
enfermeiras formadas pela Escola Anna Nery, sendo juridicamente registrado em
1928. Suas comissões tiveram importante e relevante função no desenvolvimento da
Enfermagem Brasileira, nos aspectos primordialmente que concernem à legislação e
à educação. (GEOVANINI, 2005, p.35).
O culto à religião foi uma das dimensões presentes nas representações sociais e
da memória da ABEn. A ABEn Nacional reforçava, na época, a circulação destes
conhecimentos, posicionamentos e sentimentos, determinando a conduta de enfermeiros. Este
fato culminou posteriormente em algumas divergências de ideais entre as enfermeiras
diplomadas e as enfermeiras religiosas:
22
Tal projeto propiciou o controle da expansão de Escolas e exigiu que a educação em Enfermagem fosse
centralizada nos Centros universitários.
35
Cabe destacar que à época, as divergências ideológicas existentes entre as líderes da
atual ABEn e as enfermeiras-religiosas levou estas a criarem uma Associação
própria para poderem divulgar a ideologia católica
23
.Por outro lado, sua contribuição
foi decisiva no sentido de incentivar as congregações a encaminharem suas
religiosas para as escolas de nível superior visando a formação de enfermeiras. Esta
providência se tornou de extrema valia, visto que as religiosas trabalhavam na
maioria dos hospitais do País e, no entanto, a primeira religiosa-enfermeira havia se
diplomado somente no ano de 1936, ou seja, mais de dez anos após a formatura do
primeiro grupo de enfermeiras formadas pela EAN. (GOMES; ALMEIDA;
BAPTISTA, 2005, p 361-6)
A necessidade de pessoas qualificadas, aptas e treinadas profissionalmente para a
realização destas funções oportunizou e viabilizou à profissão de Enfermagem um
crescimento gradual, um crescer pautado em visões questionadoras, críticas, visando uma
abordagem assistencial vinculada a um processo de sistematização que aos poucos foi
surgindo. Vários sujeitos fizeram e fazem parte desta história, muitos a construíram, em
tentativas árduas para edificá-la com uma estrutura organizada.
Tal reformulação marca o início do afastamento das Irmãs de Caridade, assim
como a ruptura das relações entre a Igreja e o Estado, quando as irmãs foram convidadas a se
afastarem de suas funções assistenciais, passando a existir enorme lacuna quanto a quem
estaria destinado à aptidão de realizar tais aspectos funcionais.
As necessidades sociais e humanas culminaram em força propulsora para as
transformações e o crescimento no âmbito profissional da Enfermagem. O aperfeiçoamento e
a nova estruturação das práticas de saúde originaram-se de tais necessidades, propiciando
desenvolturas e avanços de conhecimentos e técnicas mais específicas, pois:
As estruturas do mundo social não são um dado objetivo, como não o são as
categorias intelectuais e psicológicas, aquelas são produzidas historicamente pelas
práticas políticas, sociais, discursivas, pois tais práticas direcionam significado ao
mundo. (CHARTIER, 1986, p.14)
Nesta fotografia (Figura 01) que data de novembro de 1923, observamos a turma
pioneira da Escola de Enfermagem Anna Nery. Importante enfatizarmos quão enriquecedor
como valoroso é a oportunidade de reconstituir o passado com a observância dos detalhes. Os
semblantes, os uniformes, a disciplina, a postura. Esta fotografia foi capa do convite de
formatura da turma que se formou em 1973, por ocasião do jubileu de ouro da Escola Anna
23
Criação da UREB ( União de Religiosas Enfermeiras do Brasil) sob liderança de Madre Domeneuc com a
finalidade de reunir as enfermeiras religiosas em grupo distinto. Obteve sucesso na formação de nível médio de
formação , instituindo um novo modelo de enfermeira/enfermagem católica.
36
Nery, em homenagem aos cinqüenta anos de qualidade no seu ensino. Nesta fonte
iconográfica é observada a presença de representantes da Cruz Vermelha Brasileira
24
que foi
organizada e instalada no Brasil em 1908.
Diante de alguns fatos descritos que ocorreram no passado, analisamos que a
procura pelo conhecimento e a necessária busca pelo saber foram observados em muitos
momentos históricos caracterizando nuances de subjetividade, enfatizando a importância de
um novo olhar que não poderia ser tão profundo e detalhista apenas com o documento escrito
mas também com a interpretação de outras fontes que propiciaram esclarecimentos e outras
observações criteriosas.
Em 1946, com o decreto 21.321, finalmente, aprovou-se o Estatuto da
Universidade do Brasil e a Escola Anna Nery foi definitivamente integrada como
estabelecimento de Ensino Superior, hoje, denominada Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
Esta representação imagética indica a organização da primeira turma na época
evidenciando a importância de aspectos histórico-sociais e a estruturação e aperfeiçoamento
do ensino de enfermagem no Brasil.
24
O primeiro presidente da Cruz Vermelha foi o médico Oswaldo Cruz e esta organização foi destaque por
ocasião da primeira guerra mundial. (1914-1918)
37
Figura 01 Turma pioneira da Escola de Enfermagem Anna Nery. Alunas e representantes da Cruz Vermelha
Brasileira em novembro de 1923. Fonte: Arquivo pessoal da Enfermeira Maria Lígia Almendra
Ao analisarmos acerca de algumas versões mnemônicas, dos aspectos culturais e
sociais vivenciados à época observamos que a profissão de Enfermagem encontra-se inserida
na história e memória da estrutura e linguagem corporal. A vida, o crescimento e o
desenvolvimento humano, as diversas culturas, normas e padrões comportamentais são
identificados de acordo com a época vivenciada tornando-se mecanismos fundamentais para
que a memória retome caminhos para questionamentos e reflexões e percorra com maior
38
sabedoria o passado e o presente. Identificamos a importância da rememoração no
depoimento da Enfermeira Nogueira que estudou na Escola Paulista
25
:
Entre as minhas memórias, lembro-me que na época, eu estudava na Escola Paulista,
e nós, alunos, tínhamos que andar com as mãos para trás, por que era um campo
aonde havia muitos jovens, alunos de Medicina, alunos de Enfermagem, e então, não
podia haver o toque, para que não existissem os namoros. Era uma maneira de
tornar as pessoas mais ceis e evitar o namoro, os relacionamentos.( NOGUEIRA,
Depoimento oral, junho de 2008)
A postura e a ética eram orientadas como essenciais na profissão de enfermagem,
sendo alguns detalhes visualizados com maior expressividade, como a linguagem corporal, a
higiene dos corpos, os gestos, a coordenação corporal, a dor, a expressão facial, o envelhecer
em contraposição ao nascer, enfim, a importância da correlação entre a história da evolução
das práticas de saúde e os métodos do ensino teórico-prático na área. As características
corporais são enfatizadas através da percepção do ensino e da profissão:
A concepção de um corpo rígido, limpo, agradável, inodoro e sem prazer ainda faz
parte do ensino e do exercício da Enfermagem, por se tratar de uma profissão
idealizada como algo sublime, cujos valores maiores seriam a trilogia dedicação,
abnegação e amor... A consciência de que é necessário desmistificar essas
interdições gera um melhor grau de entendimento sobre o corpo. Um corpo
emocionalmente sadio harmoniza o olhar, a expressão do rosto, a posição da cabeça,
a postura, o tônus dos músculos, o timbre da voz... O corpo nos configura e nos
define. (LIMA, 2006, p.12)
A cultura e os valores, assim como os aspectos sociais e a época em que vivemos
corroboram para a desenvoltura histórica dos acontecimentos. “Se existe um domínio da nova
história cultural, que hoje é muito próspero, mas que pareceria inconcebível uma geração atrás
em 1970, digamos- este é a história do corpo.
26
se dedicaram livros à história da limpeza dos corpos, da dança, dos exercícios, da
tatuagem, do gesto. A história do corpo desenvolveu-se a partir da história da
medicina mais os historiadores da arte e da literatura, assim como os antropólogos e
sociólogos
27
também se envolveram e alguns dos novos estudos podem ser descritos
como tentativas de reivindicar outros territórios para o historiador. A história do
25
Fundada em 1939 pelas Franciscanas Missionárias de Maria, foi a pioneira da renovação da Enfermagem na
capital paulista. Uma contribuição muito importante da Escola Paulista de Enfermagem foi o início dos
cursos de pós- graduação em obstetrícia.
26
PORTER,R. History of the Body Reconsidered, in Peter Burke, New Perspectives on Historical Writing, 2 ed,
1991, Cambridge,2001,p.233-260.
27
O sociólogo e historiador Gilberto Freyre estudou a aparência dos escravos, as marcas tribais às quais
pertenciam, as cicatrizes dos oitamentos, os sinais específicos do trabalho, a perda de cabelos em homens
que levavam cargas muito pesadas na cabeça.
39
gesto
28
é um exemplo óbvio, a história das mulheres, a história da discussão acerca
do corpo e o alimento como forma de comunicação, assim como a “vulnerabilidade
do corpo moderno” devido à rápida disseminação da AIDS
29
. (BURKE, 2005, p94-
97)
Havia a necessária busca pela qualificação de profissionais enfermeiros, pois as
escolas disponibilizavam inúmeras oportunidades para que as moças que tivessem o dom e
quisessem cursar a área da saúde dispusessem de toda uma estrutura física, onde tinham
acesso a uma nutrição adequada, condições de estudos, bibliotecas equipadas com todos os
livros necessários para a formação destas profissionais interessadas. Existia, inclusive, a
possibilidade de permanecerem internas.
A Escola Paulista disponibilizava determinadas facilidades para a realização do
curso e, isto foi uma tendência, na época, para atrair os jovens para conhecer os
cursos, enfim, achei que fosse uma boa oportunidade... Comecei o curso sem
grandes problemas, a Escola Paulista era muito mais adiantada com relação à USP
30
,
parecia mais liberal, as mocinhas da USP pareciam aquelas bonequinhas enceradas,
de toquinhas, meias, redinhas na cabeça.. Na Escola Paulista observava-se um
convívio acadêmico mais liberal. (NOGUEIRA, Depoimento oral. Junho de 2008)
Na Escola Paulista, na década de 1960, o curso de Enfermagem era realizado em
três anos e possuía um caráter diferenciador das outras Instituições. A aluna poderia realizar
uma especialização ainda cursando a Universidade e terminar portando uma pós-graduação.
As áreas disponibilizadas eram Obstetrícia e Saúde Pública. Havia a necessidade de
profissionais com aptidão e conhecimentos a serem aplicados criteriosamente nesta área e
inexistiam enfermeiros que tivessem experiência neste campo de trabalho.
Nós fazíamos três anos e depois no quarto ano, fazíamos a especialização. Era
integrado. As outras Instituições diplomavam logo e depois o aluno fazia a
especialização. Nós tínhamos as opções de fazer obstetrícia ou Saúde Pública e eu
optei por fazer Saúde Pública. O curso em si era muito bem organizado. Era
conduzido por freiras católicas, inclusive, freiras que foram expoentes, eu ainda
cursei na época em que a direção era realizada por freiras. A nossa residência era em
frente ao Hospital São Paulo. Quando eu estava no segundo ano, para a
complementação do aprendizado, eu passei a trabalhar como bolsista na Santa Casa
28
Jean- Claude Schimitt , aluno de Jacques Le Goff, dedicou um trabalho importante sobre gestos religiosos
como rezar , reconstituindo gestos religiosos e gestos feudais de homenagem. Rezar com as mãos postas ou
com os braços abertos e o ajoelhar-se diante do senhor.
29
Síndrome de Imunodeficiência adquirida.
30
Escola de Enfermagem da USP foi fundada com a colaboração da Fundação de Serviços de Saúde Pública em
1944. Sua primeira diretora foi Edith Franckel, que também prestou serviços como superintendente do
Serviço de Enfermeiras do Departamento de Saúde. A primeira turma de Enfermagem da USP diplomou-se
em 1946.
40
de Misericórdia, que também foi uma Escola magnífica (...). (NOGUEIRA.
Depoimento oral. Junho de 2008)
As experiências que as alunas tinham durante a realização do curso de
Enfermagem eram também aprimoradas por estágios ou trabalhos em hospitais, oportunidades
estas em que as acadêmicas aprendiam com a prática dos procedimentos e com o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas técnicas assistenciais. As alunas obtinham não
apenas a aprendizagem profissional, mas adquiriam também a experiência de vida, acrescendo
e consolidando os seus dons e viabilizando o direcionamento de suas profissões. Ressaltamos
que a enfermeira Nogueira finalizou o curso de enfermagem na Escola Paulista e foi a
primeira coordenadora do curso de enfermagem do Estado do Piauí, depois da inserção do
curso de Enfermagem na Universidade Federal.
41
CAPÍTULO II
2 ENFERMEIRAS PIAUIENSES QUE CONTRIBUÍRAM PARA O ENSINO DE
ENFERMAGEM: HISTÓRIA E MEMÓRIA DE EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS
No segundo capítulo tratamos da identificação e análise da contribuição de
Enfermeiras piauienses pioneiras na evolução do processo de ensino e aprendizagem,
descrevemos as experiências profissionais que muitas vivenciaram fora do Estado do Piauí
retornando posteriormente para atuarem na profissão ou no ensino de Enfermagem, assim
como abordamos o processo de feminização no âmbito histórico e profissional no Estado.
2.1 A escolha pela profissão
O ensino de Enfermagem no Brasil apesar de ter sido institucionalizado devido à
influência sanitária, apenas tem a sua consolidação após a modernização. Na cada de 1930,
a saúde ganhou novos aspectos dimensionais quando passou a ser uma das atribuições do
Estado sustentada nas evidências da necessária força de trabalho qualificado na área de saúde.
Com a industrialização, inúmeras transformações foram necessárias inclusive nas áreas
profissionais. O Estado realizou a propositura de aumentar o número de escolas, fato este que
tornou obrigatória, através da lei 775 de 6 de agosto de 1949, a existência do ensino de
Enfermagem voltado para a área hospitalar , em toda universidade ou sedes de faculdades de
Medicina.
31
Tal lei exigia que as candidatas tivessem o curso secundário, mas estas
exigências não foram atendidas, devido ao reduzido número de alunas na época que tinham o
mesmo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4024 de 1961 estabeleceu como
exigência para qualquer carreira de nível superior, o curso secundário. (NUNES, 2004, p.16)
31
Informação contida no livro “A trajetória dos Cursos de Graduação na Saúde” (1991-2004). Brasília: INEP,
2006. Ministério da Educação e da Saúde.
42
No Estado do Piauí na década de 1940, algumas moças manifestaram o desejo de
dedicar-se ao cuidar e estes desejos eram observados desde a infância, pois era um dom que
surgia e que era aperfeiçoado ao longo do tempo demonstrando o aspecto vocacional, como
visualizamos no depoimento da enfermeira Miranda:
Quando pequena eu queria ser médica e estudar em Belo Horizonte, mas quando eu
estudava no Colégio das Irmãs,
32
eu passava por aquela área que hoje é o CCS
(Centro de Ciências da Saúde), antiga LBA (Instituição de caráter assistencial ) e
visualizava algo que fez com que eu seguisse a profissão de Enfermagem. As mães
que não tinham aonde deixar os seus filhos e então, deixavam ... E eu via o zelo, a
dedicação, o cuidado que as atendentes tinham com as crianças... E eu pensei, eu não
quero mais ser médica, eu quero ser é Enfermeira... (Eu sou Enfermeira por
vocação). (MIRANDA, Depoimento oral, junho de 2008).
Muitas pessoas observavam a doação e a dedicação com os cuidados aos doentes e
mais carentes e tinham uma afinidade com aquela realização funcional, havia o despertar de
um dom que as direcionavam, ainda que inconscientemente, aos primeiros passos para o
caminho da profissão. Presentes nesta época, os cuidados assistenciais de Enfermagem eram
prestados pelas irmãs de caridade, estes eram realizados no Pavilhão de tuberculosos, onde
atualmente funciona o Hospital Infantil Lucídio Portela, como observamos em depoimento
que segue:
Quando eu cresci um pouco, fiquei encantada com o trabalho da Irmã Teresa do
Pavilhão de tuberculosos, onde hoje é o Hospital Infantil Lucídio Portela. O afinco
ao cuidar daquelas pessoas, em encontrar meios para a desenvoltura de trabalhos
inseridos no ambiente do hospital como arte, pinturas, inclusive, até dramatizações;
Lembro-me de uma ocasião em que conseguimos o auditório do Colégio da Irmãs (
As Irmãs cederam o espaço e o evento realizou-se no turno da noite) para
realizarmos um espetáculo , vendemos ingressos e angariamos um bom dinheiro
para ajudar no pavilhão e aos doentes carentes .( MIRANDA, Depoimento oral.
Junho de 2008) .
Na História do Colégio das Irmãs verificamos a inserção da Congregação das
Irmãs dos pobres de Santa Catarina de Sena que iniciaram o externato em 1906 quando a sede
ainda estava localizada à Rua Bela, hoje Teodoro Pacheco e, apenas em 1907, a sede do
colégio passa a funcionar na Avenida Frei Serafim.
O Colégio Sagrado Coração de Jesus tinha o objetivo não de instruir as mulheres
teresinenses, mas também de moldar os seus comportamentos, de criar uma mulher
religiosa, apegada aos valores cristãos e exemplo de moral e virtude para a
sociedade. O modelo a ser seguido era o das próprias freiras, que sempre estavam
próximas e eram provas incontestáveis de abnegação, de virtudes, de sacrifícios em
nome de um ideal maior.( CASTELO BRANCO, 1996,p.63)
32
Colégio Sagrado Coração de Jesus, fundado em 1906, com a perspectiva de contrapor o ensino católico com o
ensino leigo, provavelmente foi criado como um espaço para a absorção do alunado feminino oriundo das
camadas abastadas de Teresina ou do interior do Estado.( QUEIROZ, 2008,p.67)
43
Tanto as Irmãs de Caridade São Vicente de Paulo, que prestavam assistência aos
doentes nos Hospitais como aquelas que estavam envolvidas com o ensino eram imbuídas e
permaneciam unidas no intuito de colaborar com a minimização do sofrimento de pessoas
carentes e que precisavam de auxílio por ocasião de suas doenças.
No prédio que hoje funciona o HILP
33
, em baixo, ficavam as enfermarias dos
portadores de tuberculose, eram grandes, o local era bem ventilado. A Irmã de
Caridade que ficava lá, era a irTeresa. Não morava no Pavilhão. Ela dormia e
fazia as refeições na própria comunidade. Depois eu fui falar com a Irmã Teresa,
falei do meu interesse e ela me deu os endereços das Escolas de Enfermagem,
forneceu-me os locais aonde tinham as Irmãs de Caridade, naquela época as Escolas,
mesmo sendo das Universidades Federais, eram dirigidas pelas Irmãs. A Escola
Carlos Chagas, em Belo Horizonte, aonde eu estudei, Nossa Senhora das Graças, em
Pernambuco, no Recife, e São Vicente em Fortaleza, Ceará. (MIRANDA,
depoimento oral. Junho de 2008).
Almeida (2007, p.15) ao relatar que “a religião se insere na cultura de uma
sociedade ao edificar regras e valores, ditando hábitos e costumes, normatizando corpos e
esculpindo mentes (...) e modela uma teia inconsútil nas relações entre homens e mulheres,
enfatiza, que a mulher em sua realidade educacional detém um entrelaçamento de destinos
entre a educação e a religiosidade.
A Escola de Enfermagem Carlos Chagas foi inaugurada em julho de 1933. A
organização e a direção desta Escola foram realizadas pela Enfermeira Laís Netto dos Reys.
34
Foi a primeira Escola a diplomar religiosas no Brasil. A História, entretanto, obteve grande
avanço com a busca em se promover o registro e o exame social de realidades anteriores,
significativas para o crescimento profissional, assim como, com a preocupação de reflexões e
elucidações de histórias locais. A memória enaltece as experiências de vida e enfatiza o
aperfeiçoamento da formação, como constatamos a seguir:
O trabalho de rememoração que reúne as recordações à escala de uma vida
apresenta-se como uma tentativa de articular-se às experiências contadas (...) e é
feito sob o percurso de formação ao longo da vida e de sua dinâmica, evidenciando
as práticas formativas inerentes a um itinerário escolar, profissional e a outras
aprendizagens organizadas, incluindo as experiências de vida que deixaram a sua
marca formadora. (JOSSO, 2004, p.45)
O curso de Enfermagem realizado pela enfermeira piauiense Maria dos Aflitos
Miranda na Escola Carlos Chagas em Belo Horizonte teve início em 1956 e finalizou em
33
Na sede que atualmente funciona o Hospital Infantil Lucídio Portela ( Hospital Infantil) funcionou o pavilhão
de tuberculosos. Neste pavilhão as Irmãs de caridade também administravam os serviços de Enfermagem.
34
Enfermeira formada pela Escola de Enfermagem Anna Nery em julho de 1925.
44
1958, com a sua formatura. Em grade curricular disponibilizada pela referida enfermeira
observamos a duração do curso, a carga horária e as disciplinas cursadas.
35
Visualizamos tais
aspectos em depoimento que aduz a razão de seu estímulo e escolha pela profissão de
Enfermagem:
O currículo do Curso de Enfermagem tinha a duração de dois anos e quatro meses,
com divisão em cinco fases, a última reservada para a Especialização, havia a
exigência da Escola Normal como requisito para a realização do curso, assim como
a obrigatoriedade na prestação de oito horas diárias de serviço ao hospital , com
direito à residência mensal e duas meias folgas semanais. ( MIRANDA,depoimento
oral, junho de 2008)
Em 1968, através da Reforma Universitária, houve a necessidade de se rever os
currículos nimos dos cursos, ocorrendo uma modernização do Ensino Superior, isso foi
reformulado e formalizado pelo parecer 163/72 e Resolução 4/72 do Conselho Federal de
Educação
36
. Observamos tais dados em depoimento da enfermeira Nogueira:
A escolha pela profissão foi feita no final dos anos sessenta. Naquela ocasião eu
estava terminando o curso normal. O curso normal era dirigido à formação de
professores primários e os preparava com alguns conhecimentos na área de biologia,
ciências naturais, e de fato, quando eu pensei em me definir, a Escola na qual eu
estudava nos levou a Escola Paulista, foi quando eu conheci o curso de
Enfermagem e fiquei, realmente, encantada. Naquela época existiam ainda
incentivos governamentais para a manutenção de moças cursando Enfermagem,
todas as grandes Escolas de Enfermagem tinham residência. Assim era a USP, a
Escola Paulista de Enfermagem, Escola Carlos Chagas, e eu fiquei encantada com a
possibilidade de fazer o curso e aprender a cuidar. Por outro lado, hoje com um olhar
mais crítico, teria que ser aquilo, porque a minha formação inicial, era a de
professora primária e o vestibular era extremamente concorrido e se fosse para outra
área eu teria que fazer cursinho. ( NOGUEIRA,depoimento oral, junho de 2008)
A especialização estava inserida no curso de graduação em algumas
universidades e isso possibilitava que o profissional de saúde finalizasse o curso portando
uma especialização.
O empenho das Universidades tinha o objetivo de oportunizar o ensino e chamar a
atenção de alunas para a área da Enfermagem. Os profissionais Enfermeiros eram
35
No histórico são visualizadas as disciplinas de técnica de Enfermagem, higiene individual, Anatomia,
Fisiologia, Microbiologia, Parasitologia, Patologia, História da Enfermagem, Clínica médica e cirúrgica,
Farmacologia e terapêutica, Tisiologia, Clínica ortopédica, Fisioterapia e massagens, Enfermagem de
psiquiatria, Clínica urológica e ginecológica, Socorros de Urgências, Sociologia e ética. Enfermagem
oftalmológica e obstétrica, puericultura, Saúde pública, dentre outras perfazendo um total de quase cinqüenta
disciplinas.
36
Fonte extraída do livro “A trajetória dos cursos de Graduação na Saúde”(1991-2004)
45
insuficientes para a demanda, e inclusive, a busca por profissionais qualificados que
pudessem assumir de forma criteriosa a realização de procedimentos assistenciais, fez-se
necessária. Tais oportunidades foram bem aceitas, pois muitas estudantes viam este acesso
como uma forma facilitada para o crescimento pessoal e profissional.
Como o curso de Enfermagem na UFPI, seria instituído em 1973
37
, as alunas
que tinham tal tendência ao cuidar e à assistência, buscavam estes conhecimentos fora do
Estado.
Muitas Enfermeiras Piauienses trabalharam em Hospitais fora do Estado,
residindo no próprio Hospital, realizavam capacitações e treinamentos, caracterizando a
importância da assistência e repassando os ensinamentos aos auxiliares de Enfermagem que
eram em quantidade pouco significativa na década de 60. Pela impossibilidade de realizar o
curso de Enfermagem no Estado do Piauí, algumas moças decidiram por estudar fora do
Estado como referimos no depoimento da enfermeira Nery a seguir:
No período de 1966 e 1967, após conclusão do ensino médio, eu queria muito
cursar Enfermagem, mas não havia possibilidade, pois o mesmo ainda não existia no
Estado do Piauí. Em 1968, decidi ir fazer vestibular em São Luís, no Maranhão,
aonde fui aprovada para o curso de Enfermagem. Desde cedo, sempre estive
envolvida com esse maravilhoso processo do cuidar... Então, o curso foi realizado
no período de 1968 a 1971, e posteriormente, comecei a trabalhar em Caxias, no
Maranhão, prestando a Assistência de Enfermagem com dedicação, inclusive,
residindo no próprio hospital. Lembro-me que trabalhávamos tempo integral e não
tínhamos tempo para nada, sempre éramos chamadas para a realização de
procedimentos específicos e aprendíamos muito. Realizávamos inúmeros
treinamentos com as parteiras da região a fim de aperfeiçoá-las profissionalmente,
assim também como ministrávamos cursos para os auxiliares de Enfermagem que
eram poucos.Para, nós, Enfermeiros, quase não havia cursos de aperfeiçoamento,
mas participávamos ativamente dos congressos. Na época de acadêmica sempre fui
envolvida com as atividades de Enfermagem, com dinamicidade, buscando
aprimorar os meus conhecimentos, e este envolvimento, inclusive, levou-me a ser
Presidente do Diretório de Enfermagem. (NERY, depoimento oral, maio de 2008) .
O envolvimento com a Enfermagem e o seu caráter interdisciplinar contribuiu
para que estas profissionais descobrissem um mundo diversificado, com diferentes culturas,
saberes e linguagens determinadas pela busca contínua do conhecimento, direcionando-as em
viagem imensurável ao saber.
Esta busca de conhecimentos propicia trocas de experiências enriquecedoras e
inesquecíveis. O ensinar e o aprender estão interligados e têm base na ciência que une os laços
37
Diferente das Escolas de Enfermagem fundadas em outros Estados antes e durante a década de 60, o curso de
Enfermagem iniciou o seu funcionamento apenas em 1973, subordinado ao Departamento Médico.
46
culturais, intercala de hermenêutica os efeitos lingüísticos em cada cultura e permeia o
aperfeiçoamento do ser em crescimento.
A profissão de Enfermagem e a sua busca pelo conteúdo criterioso de uma
assistência qualificada e direcionada ao paciente são observadas em relatos de experiências
profissionais, evidenciando a preocupação dos profissionais na época em se manterem
atualizados e abertos às transformações que o ensino pudesse propiciar. Tais aspectos são
demonstrados em depoimento da Enfermeira Piauiense Miranda que completou cinqüenta
anos de formada e que cursou Enfermagem na Escola Carlos Chagas, iniciando em 1956 e
finalizando em 1958.
Iniciei o curso de Enfermagem pela Escola de Enfermagem Carlos Chagas, em 1956
e finalizei em 14 de dezembro de 1958, vou fazer 50 anos de formada. Uma
dedicação ao cuidar e à própria categoria. Ao chegar à Escola, fiquei muito
empolgada quando vi a dedicação dos professores, realmente muito bons, dedicados,
competentes, tinha uma parte das disciplinas como Anatomia, fisiologia que era
lecionada pelo profissional de Medicina. A Enfermagem ministrava os cuidados e
procedimentos de Enfermagem naquela clínica específica. Mas algo me chamou
atenção, uma Irmã que realizava umas escalas de serviços , nas quais ela colocava
algumas atividades que não eram atividades do Enfermeiro, então eu dizia , eu não
saí do Piauí para isto. Foi quando mudou a direção da Escola, e a Irmã que nos foi
direcionada foi uma pessoa muito determinada, com conhecimentos bastante
amplos, havia feito cursos nos Estados Unidos, enfim, muito preparada.
(MIRANDA, depoimento oral, junho de 2008)
A luta pelos direcionamentos da profissão estava presente à época, os cuidados
assistenciais da profissão eram normatizados e as alunas sabiam diferenciá-los, e apesar da
ausência de gerenciamentos adequados, os aspectos funcionais e a caracterização da profissão
de Enfermagem eram vislumbrados e enfatizados.
A Irmã que chegou, dinâmica, diferente, centrada, conhecedora dos aspectos
assistenciais fez uma reunião com todos os alunos para identificar as dificuldades
pois existiam alunos muito decepcionados e eu era uma ... Houve um período
em que eu fui fazer um estágio, aonde a chefe da Clínica era uma Auxiliar de
Enfermagem, por que era Irmã... Não existiam Enfermeiras disponíveis e elas (
Irmãs) achavam que isto era possível e que não haveria problemas(...) e eu ficava
me questionando. Na época eu tinha 16 anos. Esta outra Irmã, ao chegar, após uma
reunião com o reitor da Universidade, fez diversas colocações pertinentes a esta
problemática e exigiu que fossem colocadas Enfermeiras nas chefias das clínicas. A
Irmã suspendeu o estágio aonde não havia Enfermeiros até que fossem tomadas as
devidas providências. Ela era disciplinada e rigorosa. (MIRANDA, depoimento oral,
junho de 2008).
A Enfermagem teve grandes expoentes que a elevaram no decorrer do tempo,
incentivando-a a crescer em sua verdadeira essência e conteúdo, assim como uma
preocupação com a preparação e o aperfeiçoamento do profissional e o rigor de sua postura.
47
Interessante enfatizarmos as diferenças curriculares visualizadas no decorrer da
evolução do ensino de Enfermagem ao observarmos o currículo do Curso de Enfermagem de
1956 a 1958, da Escola de Enfermagem Carlos Chagas, onde a enfermeira piauiense Miranda
concluiu o curso de Enfermagem.
O Curso da Escola Carlos Chagas durava apenas três anos e as alunas assistiam
aulas de cnicas de Enfermagem e outras disciplinas como: Drogas e soluções, técnica de
ataduras, higiene individual, saneamento. Cursavam, também, no primeiro ano, as disciplinas
de Anatomia, Fisiologia, Química biológica, Microbiologia, Farmacologia, dentre outras.
Importante relatarmos algumas disciplinas diferentes cursadas na época como Tisiologia,
Clínica ortopédica, Enfermagem urológica, Fisioterapia e massagens, Clínica
otorrinolaringologia e Enfermagem oftalmológica.
As transformações na evolução do ensino foram significativas como o acréscimo
ao curso de outras disciplinas necessárias à graduação e através dos novos direcionamentos
advindos após a reestruturação dos cursos superiores, assim como as mudanças curriculares
oriundas das novas Diretrizes Curriculares Nacionais. Essencial enfatizarmos o depoimento a
seguir:
O estágio era realizado desde o primeiro ano, a nossa carga horária perfazia quase
cinco mil horas. Nós nhamos oito horas (8 h) de atividades diárias, em três anos,
com férias em Julho e no final do ano. Pela manhã, os estágios e à tarde, as aulas. Os
três primeiros meses eram apenas teóricos. Nós ficávamos em regime de internato, e
era um atrativo na época para conseguir um recrutamento para aumentar o número
de Enfermeiros no Brasil. O número era insuficiente. O vestir era impecável. Havia
uma touca que era uma miniatura do chapéu das irmãs. (MIRANDA, depoimento
oral, junho de 2008).
Na fotografia seguinte observamos um grupo de acadêmicas de enfermagem da
Escola Carlos Chagas com a Irmã coordenadora, acentuando a caracterização da importância
da supervisão religiosa. A postura e os trajes impecáveis demonstravam o rigor e as normas,
às quais eram submetidas as alunas na época.
48
Figura 02 Alunas da Escola Carlos Chagas em Belo Horizonte em 1956. Fonte: Acervo da Enfermeira
Miranda
A reconstrução de imagens, sentidos e significados através da memória é essencial
para a reconstrução dos saberes. A lembrança de fatos, acontecimentos, experiências
individuais nos permitem visualizar quão importante é a memória para a nossa história. As
alunas de Enfermagem da Escola reuniam-se sempre para a realização de estudos em equipe,
assim também como para lazeres. A união entre as estudantes marcou um engajamento
importante no processo de formação das alunas. Como podemos observar na fotografia
seguinte:
49
Figura 03 Alunas da Escola de Enfermagem Carlos Chagas em Belo Horizonte em 1956
Fonte: Acervo pessoal da Enfermeira Miranda
A Enfermagem teve um sustentáculo importante, ávido por uma estrutura
adequada de sistematização. Não podemos esquecer que as primeiras “damas da lâmpada”
como cita Oguisso (2005, p.65) foram visitantes em domicílio, padronizando o primeiro grupo
organizado a visitar enfermos e prestar-lhes assistência.
Dentre os símbolos que foram adotados para a representação da Enfermagem,
encontra-se a lâmpada, com a chama acesa em seu centro, representando a vigília, a
assistência, a essência e necessária importância da visibilidade nos detalhes dos
50
procedimentos. O símbolo da lâmpada
38
foi uma homenagem a Nightingale que realizava
supervisões noturnas utilizando-a , caracterizando a importância do cuidado e da assistência
criteriosa aos doentes.
A lâmpada que se tornou o símbolo da Enfermagem tem o formato daquela da
história de Aladim, mas a verdadeira lâmpada que foi utilizada por Florence tinha uma forma
diferente e sua réplica encontra-se em um Museu localizado em Londres.
Importante enfatizar que este símbolo tornou-se parte histórica da profissão, pois
nas formaturas antigas de Enfermagem eram realizadas solenidades com a dama da
lâmpada que se caracterizava pela escolha de uma das alunas da turma para entregar o
símbolo à outra turma que iria se formar ou realizar a oratória.
A importância da história faz com que percebamos a essência dos documentos
que a permeiam, assim, observamos tal conteúdo em um diploma de 1958 da Escola de
Enfermagem Carlos Chagas. A Escola de Enfermagem Carlos Chagas era anexa à Escola de
Medicina da Universidade de Minas Gerais, em Belo Horizonte.
O diploma de Enfermeiro que data de 1958 era bem diferente dos diplomas atuais,
eram enormes e tinham também o símbolo da Faculdade de Medicina. Uma viagem ao
passado nos é propiciada ao visualizarmos tal documento que denota quão significativa é a
memória e o seu conteúdo para a estruturação e direcionamento da História da Enfermagem.
Na fotografia seguinte podemos verificar o diploma de enfermagem da enfermeira
Miranda que completou em dezembro de 2008, meio século de exercício da profissão.
38
O Conselho Federal de Enfermagem em reunião ordinária em 28 de abril de 1999 decide aprovar o
regulamento anexo que decide sobre juramento a ser proferido nas solenidades de formatura , bem como a
pedra, a cor, o brasão e a marca que representará a Enfermagem. As simbologias aplicadas à Enfermagem são
diferentes para o curso superior e os cursos de nível médio. Para o nível superior a representação é a lâmpada
com a cobra e cruz com referências à ciência, o nível médio é caracterizado pela mpada e a seringa
enfatizando a técnica, cura, saúde.
51
Figura 04 Diploma do Curso de Enfermagem de Enfermeira Piauiense realizado em Belo Horizonte, Minas
Gerais em 1958. Fonte: Arquivo pessoal da Enfermeira Miranda
A solenidade de formatura em Enfermagem pela Escola Carlos Chagas, da
Enfermeira Piauiense Miranda, ocorreu na cidade de Belo Horizonte, em dezembro de 1958.
A Diretora Irmã Emília Clarízia estava presente, assim como o reitor da Universidade , o Dr.
Pedro Paulo Penido
39
. Houve durante a solenidade de formatura, algo que marcou para
sempre a vida da enfermeira, um evento inesquecível, a entrega da lâmpada como a
39
Informações disponibilizadas no diploma do curso de Enfermagem da Enfermeira Miranda
52
continuidade da assistência de Enfermagem. A lâmpada era entregue como símbolo a uma das
alunas da turma que estava iniciando.
Durante a minha formatura, com apenas 19 anos, eu sentia o peso da
responsabilidade. Eu visualizei tudo passar tão rápido, tão de repente, e estava eu,
Enfermeira, recebendo o diploma de Enfermagem das mãos de um renomado e
querido professor de Obstetrícia, que à época muito nos estimulou. Observei aquele
lindo ritual da entrega da lâmpada, o nosso símbolo, e pensei: não deixarei esta
chama apagar... (MIRANDA, depoimento oral, junho de 2008).
A responsabilidade inserida na profissão caracterizava a ética e a prudência
repassada de forma criteriosa às alunas durante o curso de Enfermagem.
A turma de Enfermeiras que se formou em 1958, pela Escola Carlos Chagas em
Belo Horizonte, denota o caráter feminino da profissão à época e o rigor da solenidade como
visualizamos em fotografia disponibilizada pela Enfermeira Miranda.
A possibilidade de olhar além do presente através desta fonte caracteriza a
importância do passado e dos detalhes essenciais que podem ser vislumbrados: Uma aluna era
escolhida para a realização do ritual da entrega da lâmpada para a turma seguinte, simbologia
esta que foi realizada durante muitos anos nas Escolas de Enfermagem em todo o país, sendo
este ritual também utilizado na primeira escola de Enfermagem de nível médio do Estado do
Piauí, Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot , criada e organizada pelas
Irmãs de caridade, dirigida inicialmente pela Irmã Abrahide Alvarenga, irmã superiora e
enfermeira formada pela Escola Anna Nery, para qualificar os atendentes de Enfermagem que
atuavam na profissão em alguns hospitais da capital, mas que precisavam de um
aperfeiçoamento de suas técnicas procedimentais.
40
Observamos nesta representação imagética a simbologia histórica inserida na
profissão de Enfermagem com o ritual da entrega da lâmpada nas solenidades antigas de
formatura.
40
As Escolas de Enfermagem em todo o país realizavam este ritual como forma simbólica nas colações de grau.
53
Figura 05 Formatura na Escola de Enfermagem Carlos Chagas em 1958
Fonte: Arquivo particular da Enfermeira Miranda
Este ritual era freqüente nas Escolas de Enfermagem da época simbolizando a
continuidade da assistência que a profissão de Enfermagem estava apta a realizar. As alunas
que finalizavam o curso entregavam a lâmpada como símbolo à turma que iniciava. Enquanto
isso, várias pessoas sentiram-se estimuladas a se inserirem nesta profissão que aos poucos se
direcionava, com afinco, a diretrizes cada vez mais qualificadas.
54
Muitas Enfermeiras Piauienses terminaram o seu curso em outro Estado, pois o
ensino superior em Enfermagem no Piauí somente seria instituído na década de 1970.
Alguns dons eram voltados para a área da Medicina, mas ao dar início ao curso de
Enfermagem, com a observância nos procedimentos assistenciais e específicos da profissão, o
contato com o paciente, o desenvolvimento das disciplinas e a relação com o cuidar, a aluna
encontrava uma aptidão maior em cursar Enfermagem, como abordamos em depoimento da
enfermeira piauiense Sousa que cursou enfermagem na Universidade Federal Fluminense no
Rio de Janeiro:
Eu iniciei o curso de Enfermagem em 1966, no Piauí ainda não havia o curso
(apenas iniciando em 1973), eu cursei Enfermagem na Universidade Federal
Fluminense, fiz empolgada por causa de uma colega minha, que estava cursando
e isto me estimulou , eu queria inicialmente cursar Medicina, mas fiz o vestibular
para Enfermagem e fiquei encantada logo de início com o curso, gostei
imensamente da estrutura do curso, dos professores...Iniciei as atividades e
procedimentos no Hospital Universitário Antonio Pedro ,pois o curso funcionava
inserido na rede hospitalar e isto me oportunizou várias experiências, as quais me
fizeram conhecer um pouco da Enfermagem e assim descobri que era o que eu
realmente queria, ser Enfermeira. Foi um período muito enriquecedor, tanto
profissionalmente como pessoal, pois os estudantes tinham muito valor, existiam
muitos movimentos estudantis, nos quais eu me inseri, fui presidente do C.A de
Enfermagem e participei das conquistas da época. (SOUSA, depoimento oral, agosto
de 2008).
2.2 Profissionais Piauienses: expoentes no Estado
Algumas Enfermeiras Piauienses foram exponenciais, não somente para o Estado,
mas deixaram o dinamismo, a realização de seus trabalhos e a sua história pelo país. Muitas
profissionais cresceram pela força de vontade, pelos conhecimentos adquiridos, pela força,
determinação e coragem, como observamos no depoimento da enfermeira Melo que lutou no
decorrer da sua vida profissional pela inserção e reconhecimento profissional:
Na minha historia de vida, por ser a primeira deficiente a cursar Enfermagem,
então, os professores achavam que eu não tinha condições de exercer a profissão e
fizeram tudo para que eu fosse reprovada em Fundamentos de Enfermagem.
Pediam para que eu transportasse as macas com os pacientes, buscasse balas de
oxigênio. Enfim, dificultavam ao máximo o meu trabalho, mas eu não desisti. Era o
que eu realmente queria. Terminei o curso com muito respeito das colegas. Então,
uma paciente com distúrbios mentais na época pediu que eu realizasse o curativo
dela pois as minhas mãos, para ela, eram as únicas mãos que não a faziam sentir
dor. Os professores reconheceram o meu dom, o meu trabalho. (MELO, depoimento
oral, maio de 2008).
55
A importância da essência profissional fortalecendo a ocorrência dos fatos quando
estes precisam acontecer. As histórias detêm uma fortaleza, estimulam as lutas, delineiam
traços de vida e direcionam, através do tempo, as experiências. Muitas profissionais
competentes, do nosso Estado, fizeram a sua história em outros lugares, iluminaram outros
espaços, aguerridas, determinadas, fortes. Outras, retornaram, vieram visualizar, de perto, a
realidade, o crescimento do Estado do Piauí.
Quando iniciou o curso de Enfermagem em Teresina, uma equipe foi em Belo
Horizonte, buscar profissionais na UFMG. A Dra Isautina Goulart de Azevedo
41
enfatizou que eles não precisariam de profissionais de Minas, pois eles tinham uma
Enfermeira Piauiense muito competente que estava trabalhando com eles. Então, eu
recebi o convite. A UFMG realizou o mesmo convite para que eu permanecesse.
Mas, são os desígnios de DEUS, houve o falecimento do meu irmão e eu tive que
retornar às pressas para Teresina. Tive que tomar uma decisão. Encontramos uma
carta de 31 de outubro de 1972 que eu nunca tinha recebido até então, que citava e
enfatizava o seguinte:
42
Querida Carlota,
...Como no início de 1973, a Escola de Enfermagem da UFPI, vai funcionar com vinte vagas,
naturalmente que precisará de professores... E você, como Piauiense que é , precisa
participar do surto de desenvolvimento por que passamos , dando a sua parcela de
contribuição e tentando lutar pela integração de nossa gente (...) nós precisamos de nos
juntarmos na luta que hoje se empreende no Estado do Piauí...
43
Antônio
44
A professora e enfermeira Melo foi uma das mais importantes professoras da
Universidade Federal do Piauí (UFPI). Em sua homenagem, o auditório do Departamento de
Enfermagem recebeu o seu nome, pela sua exímia dedicação ao curso de Enfermagem, desde
a sua instituição em 1973. Na fotografia seguinte visualizamos a enfermeira Melo recebendo
o diploma de enfermagem da diretora da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de
Minas Gerais ( UFMG) em Belo Horizonte.
41
Isautina Goulart de Azevedo. Diretora da Escola de Enfermagem da UFMG na época da formatura da
Enfermeira Piauiense Carlota Lina.
42
Depoimento de Carlota Lina de Sousa. Tal carta foi encontrada nos pertences da mãe da professora Carlota e
que ela apenas teve a oportunidade de ler posteriormente ao falecimento do irmão.
43
Trecho da carta do irmão da professora e enfermeiraCarlota Lina Cardoso Melo, datada de outubro de 1972.
44
Antônio Francisco Vieira Cardoso, irmão da enfermeira Melo. Faleceu em acidente automobilístico, deixando
três filhas, uma delas com apenas vinte dias de nascida. Por este motivo, a professora retorna de Minas
Gerais e permanece no Estado do Piauí.
56
Figura 06 Enfermeira Carlota Lina Melo recebendo o seu diploma de Enfermagem em Belo Horizonte em
Minas Gerais na década de 60. Fonte: Acervo da Enfermeira Carlota Lina
A Enfermeira Carlota Melo é, no Estado do Piauí, um grande exemplo de
dedicação e dinamismo. Participou ativamente da luta percorrida pela primeira turma de
Enfermagem da UFPI por ocasião da necessidade da organização de grade curricular para a
continuidade e estruturação do curso de Enfermagem. Engajou-se em vários projetos na área
de Saúde pública e organizou setores hospitalares tanto para estágios na área da Medicina
como na área de Enfermagem.
Mesmo antes da inserção do curso de Enfermagem na UFPI, já atuava como
professora vinculada ao departamento de Medicina. Homenageada, por várias turmas de
57
Enfermagem, pela sua coragem, luta e determinação pela profissão, tornou-se para a História
do Ensino de Enfermagem no Piauí um grande exponencial.
As Enfermeiras Miranda e Melo, formadas em Minas Gerais, dinâmicas e sempre em
busca de aperfeiçoamento e desenvoltura profissional, participando juntas de um Congresso
Brasileiro de Enfermagem, fato evidenciado em fotografia seguinte.
Figura 07 Enfermeira Maria dos Aflitos e Carlota Lina em Congresso Brasileiro de Enfermagem na Capital
Mineira em 1972. Fonte: Arquivo pessoal da Enfermeira Miranda
Algumas Enfermeiras, hoje, atuantes no Estado Piauiense, estudaram na Escola de
Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro. A Escola Anna Nery, na época, era a melhor
escolha para quem decidisse pela profissão, pelo padrão rígido que a mesma desempenhava
no ensino de enfermagem. Um dos exemplos de afinidade com a assistência ao cuidar é a
enfermeira Maria Ligia Almendra que, estimulada pela prima piauiense Dinalva Sepúlveda,
também formada por esta Escola, saiu de Teresina para realizar o vestibular no Rio de Janeiro
58
em 1969. Segundo a mesma, o que a levou ao reconhecimento deste dom foi um
acontecimento familiar que chamou a sua atenção, despertando-a para o mundo da Assistência
de Enfermagem.
A minha mãe estava gestante e estava próxima a ocasião do parto e então, era
acompanhada pelo Dr. Ursulino Martins, que foi o primeiro Diretor da Maternidade
São Vicente, e pela auxiliar de Enfermagem, Dona Amparo, que trabalhava com o
mesmo nesta Maternidade. Minha mãe havia realizado todo o pré-natal com este
obstetra mais ele saiu de férias e minha mãe entrou em trabalho de parto e eu
perguntei a ela se eu poderia assistir ao nascimento da minha irmã. Nesta época
morávamos na Rua 1º de Maio e o parto foi domiciliar. Ela aceitou e isso foi
determinante para a minha escolha Acredito que a minha decisão foi realizada entre
a emoção de ver a minha irmã nascer e o nascer de um sonho, o de aprender a
cuidar... (ALMENDRA, depoimento oral, novembro de 2008).
Observamos que as escolhas profissionais, assim como as percepções de
dons,podem ter o alicerce no desenvolvimento de experiências vivenciadas e o
aperfeiçoamento do dom pode acontecer quando a busca para que o objetivo seja
alcançado.
A Maternidade São Vicente funcionou no espaço onde hoje está localizado o
Ambulatório Lineu Araújo. Antes da inauguração da Maternidade, havia uma estrutura na
qual estava situado o Departamento Nacional da Criança, local em que se planejava instalar
um Hospital para tratamento de crianças. Dr. Ursulino Martins
45
, presidente do Instituto de
Assistência Hospitalar do Estado e diretor do Hospital Getúlio Vargas estava convencido de
que o serviço de obstetrícia deste hospital necessitava de ampliação e não havia espaço para
que isso ocorresse e conseguiu junto ao governador em exercício na época que fosse fundada
a Maternidade São Vicente no dia 2 de fevereiro de 1954, após as reformas apropriadas,
direcionando o serviço nesta ocasião. (RAMOS, 2003, p.158).
A contribuição que a Escola Normal
46
direcionou para a vida das mulheres no
Estado do Piauí foi significante porque as tornavam aptas ao campo profissional, também
colaborando para aperfeiçoamentos posteriores.
Fiz o curso da Escola Normal e após lecionar um determinado período e crescer
profissionalmente como educadora, decidi que queria fazer algo mais pelo meu
45
Ursulino Veloso de Souza Martins. Médico Obstetra. Professor da Universidade Federal do Piauí. Diretor do
Hospital Getúlio Vargas. Fundador da Maternidade São Vicente.
46
O período de apogeu da Escola Normal do Estado deu-se de 1947 a 1972, pois muito se destacou o setor
educacional piauiense, com as atuações de vários convênios com o Estado para as práticas docentes,
irradiando novas idéias pedagógicas. ( SOARES, 2004, p.93)
59
Estado. Preparei-me com um grupo de estudantes, no Rio de Janeiro, para prestar o
vestibular. A consecução do meu sonho foi a aprovação no final de 1969 para o
curso de Enfermagem. O curso teria início em 1970 e fui residir em caráter interno
na Universidade do Rio de Janeiro em frente à praia de Botafogo na residência da
Escola Anna Nery.( ALMENDRA, depoimento oral, novembro de 2008).
Na fotografia seguinte observamos a Enfermeira Almendra em frente à Escola de
Enfermagem Anna Nery no Rio de Janeiro na década de 70, onde residia em caráter de
internato para a realização do curso.
Figura 08 Enfermeira Piauiense Maria Ligia Almendra em frente à residência da Escola Anna Nery na praia de
Botafogo no Rio de Janeiro. Fonte: Arquivo pessoal da Enfermeira Almendra.
A solenidade de formatura da Enfermeira Maria Ligia ocorreu no dia 4 de agosto
de 1973 no auditório do Centro de Ciências Médicas, na cidade Universitária, Ilha do Fundão.
Na época era reitor o professor Djacir Lima Menezes, a diretora da Escola Anna
Nery, a professora Elvira de Felice Souza e a coordenadora dos cursos de graduação, a
60
professora Cecília Coelho
47
. Nesta colação de grau foram diplomadas 60 enfermeiras,
caracterizando, na década de 1970, a predominância do sexo feminino na profissão. O
juramento realizado pela dama da lâmpada, Cely de Oliveira Paiva, enfatizou a
responsabilidade profissional em um texto de autoria de Florence Nightingale, a precursora da
Enfermagem Moderna.
Na presença de Deus e desta assembléia prometo: praticar com fidelidade a minha
profissão; dedicar-me à promoção do bem estar dos doentes a mim confiados;
abster-me de tudo quanto for pernicioso e contrário ao meu dever; Não ministrar
drogas nocivas; guardar o segredo profissional durante toda a minha vida;fazer tudo
que estiver em meu poder para manter e elevar os interesses de minha profissão.
48
A profissão de Enfermagem mantém-se feminina, após análise criteriosa de dados
junto aos Conselhos Federais de Enfermagem.
49
A constatação da predominância feminina,
mesmo com inserção gradual e estável do gênero masculino, viabiliza a necessidade de buscar
e analisar informações para a construção de argumentos que expliquem esta predominância do
sexo feminino, pois ao contrário de um passado vivenciado pela imposição do silêncio,
resguardado por estruturas de poder que submetiam as mulheres a uma posição hierárquica
inferior, o momento foi consubstanciado por sujeitos ativos, caracterizando mulheres com
amplo acesso ao espaço público e com traços definidos de inúmeras e constantes conquistas.
As enfermeiras que se formaram em 1973 pela Escola Anna Nery foram um
exemplo disso, pois em homenagem ao jubileu de ouro da Escola, devido a sua instalação em
fevereiro de 1923, tiveram como capa de seus convites de formatura uma foto com as
enfermeiras pioneiras da Escola que data de novembro de 1923.
50
Sobre este assunto a
enfermeira Almendra faz um relato acerca dos fatos:
Não fomos consultadas, na época, quanto a nossa opinião acerca da foto antiga em
nosso convite de formatura. Mesmo sabendo a importância do passado da nossa
Escola e de como a homenagem tinha a sua essência, mas nós estávamos naquele
momento presente, em nossa formatura, com nossos sonhos e ideais, assim como
novas conquistas e então, decidimos, todas, ao contrário do que evidencia a foto de
1923, com as vestes até os pés, inovarmos em nossas próprias vestes.
(ALMENDRA, depoimento oral, novembro de 2008).
47
Informações contidas e disponibilizadas no convite de formatura da Enfermeira Almendra
48
Texto de autoria de Nightingale contido no convite de formatura de Enfermagem da Escola Anna Nery em
1973.
49
Informação contida no livro “A trajetória dos cursos de graduação na saúde- 1991-2004”.
50
A figura 01 desta dissertação evidencia a foto das primeiras enfermeiras da Escola Anna Nery com
representantes da Cruz Vermelha, que foi a capa do convite de formatura da turma de 1973.
61
A turma de Enfermeiras que formava em 1973 não foi questionada se realmente
queriam que constasse em seu convite de formatura a fotografia da primeira turma de
Enfermagem da Escola Anna Nery.
Tomaram a decisão de demonstrar algumas diferenças. Tal fato pode ser
observado na fotografia da solenidade de colação de grau da turma de enfermagem de 1973:
Figura 09 Formatura de Enfermagem pela Escola Anna Nery no Rio de Janeiro em 1973.
Fonte: Arquivo pessoal da Enfermeira Almendra.
A imagem acima nos reporta ao passado, quando observamos através da fonte
iconográfica, as enfermeiras recém formadas em sua solenidade de graduação, cada uma das
profissionais com um destino a seguir, um caminho a ser direcionado à assistência e uma vida
dedicada ao cuidar.
62
CAPÍTULO III
3 HISTÓRIA E MEMÓRIA DO ENSINO DE ENFERMAGEM NO PIAUÍ
No terceiro capítulo abordamos o cenário da Educação e da Saúde no Estado do
Piauí na época da estruturação e aperfeiçoamento do ensino médio de Enfermagem com a
criação da Escola de Auxiliar de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot e
posteriormente da Escola São Camilo que são consideradas marcos no desenvolvimento do
ensino de Enfermagem no Estado.
3.1 Educação e Saúde no Piauí
No Estado do Piauí, durante a República, o abandono político por quase dois séculos
após a colonização, o desinteresse histórico pelo Estado, o significativo isolamento, e o
tratamento discriminatório dispensado pelo Governo Federal contribuíram para a ausência
quase total de estruturações e organizações hospitalares, assim como de recursos para
tratamentos e cuidados assistenciais na área da saúde. (FERRO, 1996, p.38)
A evolução e o desenvolvimento da sociedade piauiense resumiam-se em uma
dualidade característica da época, uma pequena minoria detinha uma concentração de renda
significativa, enquanto o restante da população sobrevivia com o mínimo, era uma população
em sua essência basicamente rural e com um controle sócio-político bastante solidificado.
As comunicações eram feitas através de ligações telegráficas e assim a população
comunicava-se com o interior do Estado. A sociedade transformava-se lentamente mais
seguia os caminhos da modernização, como evidencia a presença dos cinemas, jornais,
produções literárias e uma discreta luz teatral com alguns espetáculos que iluminavam,
esporadicamente, a vida de alguns.
63
A educação no Brasil buscava atender às novas necessidades, ao desejo crescente,
não apenas da elite mais também das classes médias que aumentassem o seu nível de
instrução. A instrução começava a se firmar como um valor positivo e de fundamental
importância na sociedade brasileira. A educação feminina na cidade de Teresina no início do
século XX continuava a ser doméstica. A vida feminina direcionava-se para o casamento e às
mulheres eram destinadas tarefas como a educação dos filhos, passando pelo cuidado com os
doentes e à fabricação de grande parte do que era consumido domesticamente (CASTELO
BRANCO, 1996, p.59)
Conforme a época e o lugar, a questão social inter-relaciona aspectos raciais,
regionais e culturais, juntamente com os econômicos e políticos confeccionando o vasto
tecido de desigualdades e antagonismos de significação estrutural.
No Brasil, com a presença dos militares no poder, período este compreendido
entre 1964 e 1985, em que o autoritarismo estava inserido em um regime centralizador em
relação aos Estados, de certa forma dotado de um caráter modernizador pois aumentou a
concentração de renda . Este modelo econômico era concentrador de renda o que gerou o
aumento das desigualdades sociais e a maioria da população foi excluída dos benefícios destas
transformações. (MEDEIROS, 1995, p.176)
O significado da Educação como um fator de desenvolvimento passa a ser
percebido pelas forças políticas do Brasil no início da década de 60, mas as mudanças no
sistema educacional foram implementadas a partir de 1968, quando as modificações na
vida social e na economia foram mais significativas e profundas. (ROMANNELI, 1995, p.
193)
A Educação Piauiense recebeu uma atenção primordial haja vista a necessária
transformação neste setor devido a decadência da instrução pública.
Ressaltamos a força e influência sempre presente da política, pois o estar apto e ser
capaz de ministrar os conteúdos disciplinares não se manifestavam tão importantes, pois a
indicação política e o prestígio eram prioritários para o exercício da profissão, enfatizando,
também, a forma impositiva e a extrema autoridade que tinha a relação professor-aluno na
época. Diversos profissionais dedicavam-se ao magistério, para sobreviverem ou como
atividade suplementar, demonstrando a desvalorização salarial.
Neste período o ensino elementar foi dominado pelo sexo feminino, enquanto o
secundário permanecia sob a responsabilidade, em sua maioria, dos professores. As
64
professoras, “preferencialmente”, deveriam ser solteiras ou viúvas, e se contraíssem
matrimônio perderiam seus empregos e seriam imediatamente substituídas. O celibato tornou-
se uma exigência, pois a dedicação feminina deveria ser exclusiva e a mulher deveria estar
completamente entregue ao ofício de ser mestre, algo que não era exigido ao sexo masculino
que poderia estar apto a realização de inúmeras atividades.
Além do magistério como atividade remunerada, o jornalismo, os trabalhos
manuais e artesanais, a enfermagem era também um trabalho muito facultado às mulheres. No
início do século XX, o saber médico exigia maiores preparos e melhor qualificação por parte
das Enfermeiras. (CASTELO BRANCO, 1996, p. 97)
O cuidar de pessoas doentes significava um grande inconveniente e desgaste à
sociedade, devido aos problemas apresentados em sua maioria pelos portadores de doenças
infecto-contagiosas que existiam na época devido a prestação de cuidados ser realizada, na
sua maioria, em domicílio, sem a assistência específica e necessária.
Havia pessoas que atuavam na área, mas que não se encontravam devidamente
preparadas e aptas para a realização de determinados procedimentos assistenciais. Para a
prática de algumas funções eram necessários conhecimentos específicos, ensejando a
necessidade de aperfeiçoamento e qualificação profissional.
Devido ao gido controle social, o que estava permitido não era a difusão das luzes
dos saberes mais a disciplina e a moralização de condutas que refreassem a curiosidade, a
aquisição e o aperfeiçoamento de conhecimentos.
Catani (2002) aborda que “raras são as obras memorialísticas que inter-relacionam o
desenvolvimento histórico, social e as relações de gênero”. A educação no Piauí foi
privilegiada pela cultura adquirida e originada por séculos de experiência e conhecimentos
enquanto a saúde, mística e instintiva, desenvolveu-se lentamente analisando conhecimentos
da natureza, na livre investigação e observação de fenômenos.
A saúde passou a constituir um problema sócio-econômico para o governo brasileiro
que assume a assistência através da criação de serviços públicos, da vigilância e do controle,
incorporando uma estruturação sanitária.
65
3.2 A memória inserida na história da evolução da enfermagem no Piauí
A análise de fatos que permearam a história da assistência de Enfermagem no
Piauí , assim como , a estruturação do seu ensino viabilizam a possibilidade de identificar
lacunas e evidenciar pontos obscuros, para que a memória desta história e destes
ensinamentos possam ser refletidos e analisados no seu processo de evolução.
A presença da história oral enfatiza a importância do registro, do arquivamento e
da análise da documentação obtida por depoimentos e testemunhos, além da inclusão de
histórias e versões, anteriormente não ditas, não reveladas, evitadas por determinada época ou
por pessoas e grupos de forma específica, dando vazão a diversidades de interpretações
próprias, não oficiais, mas que fazem parte da sociedade. As fontes orais estão sendo
utilizadas para dar um novo direcionamento à visão apenas documental, como observamos na
descrição do autor:
Depois de um novo olhar para a história oral, minorias culturais e discriminadas,m
obtido espaço para que as suas palavras sejam estruturadas e alcancem um lugar
diferente através das experiências vivenciadas , além de adquirirem maior sentido
social, caracterizando lugares para aspectos ocultos em determinadas
manifestações.(BOM MEIHY, 1998,p.31)
A percepção humana e o tempo têm o poder de humanizar que tem a história oral, tão
esquecida anteriormente através de instituições e macroestruturas. Questionamos o alcance da
história oral e quais as manifestações desta para com aqueles que não têm história, que ainda
não foram reconhecidos, registrados, analisados, “a história visualizada de baixo”
diferenciada da grande história” que teria grandiosas explicações com necessárias análises
documentais.
Somos um verdadeiro laboratório vivo de cruzamentos culturais, ainda não
considerados analiticamente com largo índice de experiências multiétnicas,
religiosas, de trabalho- e como espaço cultural (...). Não podemos esquecer da
essência de possibilidades e pontes que suscitam as trajetórias experienciais
individuais e coletivas. (BURKE, 1992, p.12)
O interesse por pesquisas históricas revela a necessária busca pelos acontecimentos e
como estes direcionaram o caráter evolutivo das práticas assistenciais e do ensino de
Enfermagem no Estado do Piauí.
66
Momento inesquecível de leitura a uma entrevista da Revista Piauiense Presença,
direcionada ao Monsenhor Chaves, culto e reverenciado historiador do Piauí, por ocasião da
comemoração dos seus 90 anos de idade, pouco tempo antes de seu falecimento, quando foi
questionado acerca da relação entre a sua e as transformações que a Igreja estava passando
e o mesmo respondeu:
Veja como são os desígnios de Deus, eu estava nesta confusão mental, sem
acreditar em nada, sem achar um rumo, quando comecei a me interessar pelas
pesquisas históricas. Não seria exagero afirmar que a história me salvou. Eu
mergulhei nas pesquisas (...) e aos poucos fui me reencontrando, dando um sentido a
minha vida. (CHAVES, 2003)
Ao interpretarmos o conceito de história analisando a sua importância, citamos
Walter Benjamin ( 1983) quando aduz que “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz.
O passado se deixa fixar (...) no momento em que é reconhecido(...) irrecuperável é cada
imagem do presente que se dirige ao presente, sem que este presente se sinta visitado por ela.”
A emoção, as lembranças, a percepção do conteúdo, a interpretação, solidificam as
histórias e tais memórias passam a construir os aspectos vivenciados, e esta análise posterior
pode implicar na redescoberta de detalhes esquecidos, não visualizados e que devem
participar do presente, através do passado rememorado. Nunes (2003) ao analisar a memória e
a história da educação em suas práticas e representações descreve o significado do aspecto
mnemônico.
Leva-nos a repensar o estatuto do espaço virtual e do tempo que é múltiplo, e os
processos de construção de uma subjetividade, do conhecimento e das instituições
(...) As memórias que temos do trabalho ao qual nos dedicamos, de nossas
reminiscências da infância, da escola em que estudamos, de todas as práticas
vividas, enfim, m uma validade relativa, histórica, que são construídas
socialmente.( NUNES, p.32)
Na história oral evidenciamos uma alternativa à história oficial sendo auxiliada pela
documentação escrita e cartorial. A análise interpretativa contribui com particularidades
importantes para a desenvoltura que o contato direto introduz no conteúdo dos depoentes e
oralistas. Ao descrever acerca da importância da nova história, Burke( 1992) cita que a
história social tornou-se independente da história econômica para se fragmentar em história
do trabalho, urbana, rural ...”. Tudo passa a ter um conteúdo histórico, com interpretações
subjetivas concernentes às contextualizações.
A infância, a morte, a loucura, os odores, a sujeira, a limpeza, os gestos, o corpo, a
feminilidade (...) tópicos que anteriormente não se havia pensado possuírem uma
67
história. A fala, o silêncio, a lágrima... O antes imutável, é agora encarado como
uma construção cultural. (BURKE, 1992, p.11)
A história encontra-se em um envoltório de reflexões, criações, surpresas,
construções, vitórias, derrotas, lutas, conquistas dos espaços, onde são observadas novas
análises e reflexões do passado, enfatizando a evolução de importantes práticas de ensino e
cuidados de Enfermagem.
Em 1854 é inaugurado em Teresina o Hospital de caridade
51
destinado ao
atendimento de militares e funcionários públicos, seguida pela inauguração da Santa Casa de
Misericórdia
52
, em 1860, hospital filantrópico, que apenas a partir de 1890 passa a atender a
toda a população.
Em 8 de dezembro de 1860 inaugura-se a Santa Casa de Misericórdia de Teresina,
sob a invocação de Nossa Senhora das Dores. Era governador da província Manuel
Antonio Duarte de Azevedo. Os atendimentos iniciais prestados pela Santa Casa
eram procedimentos de ação humanística, os atendimentos à população eram
prestados pelo Hospital de caridade, posteriormente, com aprovação da lei
orçamentária de subvenção mensal, ficou disponível a verba de socorro público e a
Santa Casa de Misericórdia estendeu os cuidados médicos para a população.
(RAMOS, 2003, p.60-62)
A filosofia do trabalho das Santas Casas de Misericórdia no final do século XIX
objetivava prioritariamente o exercício de caridade e misericórdia do que propriamente uma
ação assistencial médico-hospitalar.
No governo de Gregório Taumaturgo de Azevedo, que exerceu o cargo de 1889 a
1890, engenheiro e bacharel em direito, fundador da Cruz Vermelha Brasileira (TITO FILHO,
1975, p.40), houve a realização de inúmeras ações de saúde pública inclusive um contrato de
51
A lei provincial de 9 de 4 de julho de 1835 manda criar um hospital de caridade em Oeiras ( antiga capital
do Estado), mas apenas em 1846, estando na presidência da província o Dr, Zacarias de Gois Vasconcelos,
foi finalmente construído o Hospital, que apenas foi inaugurado m 1849. Com a transferência da capital para
Teresina, em 1852, o Hospital foi inaugurado na nova capital em 1854, não estendia o seu atendimento à
população geral e o fazia apenas aos militares e funcionários públicos, deixando a maior parte da população
sem os cuidados assistenciais necessários. Revista do Instituto histórico de Oeiras. 1993-nº13. (REGO, J.
E,1993,p.29)
52
A Santa Casa de Misericórdia prestava assistência àqueles que mais necessitavam de auxílio caritativo,
posteriormente quando o Estado assumiu a saúde, esta assistência passou a ser direcionada a toda a
população.
68
compromisso com a Santa Casa de Misericórdia
53
. Na Santa Casa existia uma enfermaria
denominada Enfermaria São João
54
, dirigida e assistida pelo Médico Agenor Barbosa de
Almeida, que seria posteriormente o primeiro diretor do HGV.
O atendimento médico era garantido graças a boa vontade e dedicação médica,
irmãs de caridade e servidores, porém muito longe de atingir as reais condições
para alcançar o desejado tratamento médico-hospitalar almejado pela população.
(RAMOS, 2003, p.28)
Neste contexto é importante salientarmos algumas transformações nas ações
sanitárias na Capital do Estado, a construção de esgotos sanitários (1894) e a instalação de luz
elétrica em Teresina (1911).
Em 14 de julho de 1937 é sancionada lei para a construção do Hospital do Estado,
posteriormente denominado de Hospital Getúlio Vargas. Neste período o governador do
Estado em exercício era o médico e professor Leônidas de Castro Melo e em seu governo
houve a promulgação da nova constituição do Estado (18.07.1935) assim como o
acontecimento do golpe de Estado de Getúlio Vargas em 1937, com a criação do Estado
Novo. Diversas obras de saúde pública foram realizadas neste período no Estado do Piauí.
No curso dos anos de 1937 e 1938, o então interventor Federal do Estado do Piauí, o
médico Leônidas de Castro Melo, concebeu e idealizou a construção de um Hospital
para substituir a Santa Casa de Misericórdia de Teresina, um hospital moderno com
feição de Instituição de Ensino e Pesquisa (...) planejou também construir Escolas,
reformar as existentes, criar e instalar postos de Saúde, proporcionar substancial
desempenho no processo educacional, fomentar e melhorar o atendimento médico
assistencial e sanitário do Estado. (RAMOS, 2003, p.27)
A inauguração do HGV aconteceu em 6 de abril de 1941 quando o governo do Piauí
assume a assistência médica da população, mas o seu real funcionamento somente teve início
em setembro deste ano, quando a assistência médica e hospitalar foi finalmente transferida
da Santa Casa de Misericórdia para o Hospital recém construído .
A situação da saúde na década de 1940 encontrava-se desorganizada em âmbito
hospitalar, a ausência de normas de higienização e assepsia e a falta de conhecimentos e
qualidade de capacitação e treinamentos contribuíram para que o Estado fosse obrigado a
53
Instituição Hospitalar carente de recursos materiais e estrutura física adequada para que pudesse oferecer segurança aos
procedimentos e ações assistenciais necessárias a um bom funcionamento hospitalar.
54
Enfermaria localizada na Santa Casa de Misericórdia do Estado.
69
providenciar soluções imediatas e emergenciais. A Santa Casa de Misericórdia foi desativada
quando o Hospital Getúlio Vargas iniciou as suas atividades, pois os recursos eram mínimos e
as condições inadequadas para um funcionamento que disponibilizasse uma assistência
organizada e criteriosa.
O quadro de funcionários pertinentes à área de saúde na época se caracterizava pela
presença de poucos médicos. A presença de Enfermagem era evidenciada pela presença das
irmãs de caridade que realizavam a supervisão e os serviços destinados à administração e por
funcionários de nível médio que realizavam a maioria dos procedimentos assistenciais de
Enfermagem.
No dia 14 de julho de 1937, sancionou-se a lei 148 para a sua construção com a
denominação de Hospital do Estado e tal lei fixava o quadro de funcionários
técnicos com 14 médicos, 01 farmacêutico e 10 enfermeiros. O Hospital Getúlio
Vargas foi inaugurado no dia 3 de maio de 1941. O seu efetivo funcionamento veio
a acontecer, realmente, em meados de outubro; Houve, então, a transferência da
assistência médico-hospitalar da Santa Casa para o Hospital Getúlio Vargas.
(RAMOS, 2003, p65)
Em todo o Brasil, na época, na maioria das instituições da saúde os cuidados
assistenciais de Enfermagem eram realizados pelas Irmãs de caridade, assim como as direções
das Instituições de ensino desta profissão. As irmãs que vieram para Teresina estruturar e
aperfeiçoar esta assistência pertenciam à Congregação das filhas do Coração Imaculado de
Maria, chamadas de Cordimarianas.
A assistência de Enfermagem prestada à época encontrava-se caracterizada pela
atuação no âmbito administrativo
55
, enfatizando a responsabilidade da limpeza e higienização
hospitalar como uma das atribuições essenciais da Enfermagem, assim como a
responsabilidade dos materiais instrumentais e das medicações. A fotografia seguinte
caracteriza a estrutura inicial do Hospital Getúlio Vargas, sem as reformas ainda, com um
belo jardim emoldurando a entrada do hospital.
55
No Estado do Piauí na década de 40 a assistência de Enfermagem era prestada pelas Irmãs da Congregação
das filhas do coração Imaculado de Maria, representada por superiora local, determinado por contrato em
vigor.
70
Figura 10 Hospital Getúlio Vargas quando foi construído e inaugurado na década de 1940.
Fonte: Acervo pessoal de fotos da Enfermeira Miranda
A arquitetura e estrutura do Hospital Getúlio Vargas, nasceu com uma configuração
destinada desde o início a ser universitária, alcançando uma maior contextualização com a
criação da Faculdade de Medicina, em 1965 e do curso de Enfermagem, em 1973.
O HGV se fez criança, apareceu no cenário Piauiense, com a sua fronte voltada
para o norte, emergindo no centro de uma floresta de fícus, esculpidos em forma de
pássaros e animais da fauna brasileira, com duas alas laterais, a Leste e Oeste,
dando-lhe uma forma de U, delimitando um jardim interno salpicados com roseiras
e outras flores naturais cultivadas na região. (RAMOS, 2003, p. 130)
Com base no Decreto Lei 374 de 24 de maio de 1941, houve a instituição das
normas para o regimento interno do Hospital Getúlio Vargas que configurava no contexto
como um hospital policlínico que atendia quadros emergenciais, urgentes e clínicos. Em nível
setorial contava com os serviços de Pronto Socorro, com ambulatórios, salas de cirurgia e
71
unidade de internação. Havia um setor de triagem e enfermarias clínicas e cirúrgicas. As
enfermarias eram destinadas às áreas de obstetrícia, pediatria, tisiologia, urologia,
dermatologia, doenças infecto-contagiosas dentre outras. Os serviços de fisioterapia e
odontologia também eram organizados e realizados neste hospital. Os serviços de rouparia,
assim como o serviço mortuário e os cuidados com a capela eram realizados pela
Congregação das filhas do coração Imaculado de Maria, representada por superiora local,
determinado por contrato em vigor.
Os serviços de Enfermagem estavam acordados no artigo 14° do Regimento interno
do Hospital:
Art14º Ao Enfermeiro do Serviço do Pronto Socorro compete:
a) Estar presente e pronto para os serviços do seu cargo, quando e onde lhe for
determinado em escala;
b) Auxiliar médicos com dedicação, cumprindo as ordens que lhe forem dadas,
tanto para o transporte como para o tratamento de doentes;
c) Empregar todo o cuidado possível em benefício do doente, qualquer que seja a
sua condição social;
d) Zelar pela conservação do instrumental e material existentes no Serviço, sendo
responsável pelos prejuízos que, por desleixo ou imprudência;
e) Zelar pelo asseio das dependências do serviço;
f) Ter sob sua guarda e responsabilidade o material e medicamentos das caixas de
socorro.
56
O HGV não possuía setores específicos para internação de moléstias infecciosas
como o tifo e a tuberculose tão presentes na época o que caracterizava um grande problema de
controle de infecção hospitalar. Não existia na estrutura deste Hospital uma ala específica
para a obstetrícia, não havia um pavilhão próprio em que funcionasse a maternidade.
Na década de 1950, o diretor e médico do Hospital Getúlio Vargas, Ursulino
Veloso de Souza Martins, estava certo de que a obstetrícia que ainda funcionava no HGV
deveria ser ampliada e não havia espaço para que esta estruturação fosse realizada, então,
pleiteou junto ao governador em exercício, Pedro de Almendra Freitas, a construção de uma
maternidade.
A idéia foi aceita e com as reformas apropriadas, a estrutura foi instalada no local
onde hoje funciona o Ambulatório Lineu Araújo. A maternidade foi inaugurada em 1954, com
o nome de Maternidade São Vicente, contribuindo para o aperfeiçoamento e crescimento na
área de obstetrícia e nos cuidados assistenciais de Enfermagem prestados à mulher e à criança.
56
Serviços de enfermagem detalhados e normatizados no regimento do Hospital Getúlio Vargas. Fonte:
RAMOS, 2003.
72
A política de Saúde que estava inserida na época do Estado Novo não evidenciava
compromissos formais com a comunidade, estava voltada mais para os centros hospitalares,
com poucas preocupações com os aspectos sociais e com as necessidades básicas da
população. No Estado novo foram criados os Departamentos de Saúde Publica, mas poucas
foram as suas intervenções no Estado do Piauí.
O primeiro diretor do HGV, o médico ginecologista Agenor Almeida
57
,
confrontou-se com inúmeros problemas relacionados a aspectos administrativos, culturais e
políticos no planejamento organizacional da estrutura Hospitalar que dirigia. Dentre eles um
problema exerceu grande influência na assistência de Enfermagem desenvolvida à época pelas
Irmãs de Caridade que foram transferidas da Santa Casa de Misericórdia para o Hospital
Getúlio Vargas. (RAMOS, 2003, p. 137).
Na área da saúde, a Companhia das Irmãs de Caridade foi uma das primeiras
associações a realizar cuidados de enfermagem em domicílio, aperfeiçoou a organização
hospitalar, individualizando leitos e implantando os principais cuidados de higienização dos
hospitais franceses. Os rituais de cuidado foram sendo construídos em uma estrutura voltada
para a prática do cuidar, originando o que seriam as técnicas de enfermagem.
Por ocasião da inauguração e início das atividades no Hospital Getúlio Vargas, as
superioras responsáveis pelo serviço, programaram normas que deveriam ser rigorosamente
cumpridas relacionadas aos procedimentos de Enfermagem, padrões estes que seriam
diferentes do que era realizado na Santa Casa de Misericórdia.
Devido a desentendimentos freqüentes e questionamentos, que muitas vezes
culminavam em discussões com as religiosas, o diretor do Hospital Getúlio Vargas contratou
uma Enfermeira de nível superior, Dagmar Rodrigues de Oliveira, natural de Juiz de Fora,
interior de Minas Gerais, formada na Escola Anna Nery no Rio de Janeiro. No regimento
interno do HGV, que dispõe sobre os serviços de Enfermagem, a criação do cargo de
enfermeira chefe. A Enfermeira- chefe recém contratada, assim que assumiu o cargo,
constatou inúmeras deficiências no serviço, inclusive na realização dos procedimentos e na
assistência de Enfermagem. (RAMOS, 2003, p. 138).
57
Primeiro diretor do Hospital Getúlio Vargas e presidente do Instituto de Assistência do Estado do Piauí,
médico, assumiu o hospital com as tarefas de colocar as clínicas e serviços do Hospital em pleno
funcionamento e implantar o Instituto de Assistência Hospitalar do Piauí com ações administrativas em todo
o Estado.
73
A observância da necessidade de treinamentos levou-a a realização de um curso
de aperfeiçoamento de alguns atendentes, este curso obedeceu ao disposto no regimento
interno que aduzia que, enquanto não houvesse uma Escola Oficial de Enfermagem
responsável por estes aperfeiçoamentos, o Hospital Getúlio Vargas realizaria esta qualificação
com o objetivo de preparar os profissionais para o exercício da profissão.
A primeira equipe de Enfermagem montada pela Enfermeira Dagmar era
composta por 6 atendentes de Enfermagem que foram remanejados da Santa Casa e
transferidos para o HGV e os 30 atendentes de Enfermagem que foram treinados no próprio
setor Hospitalar. (NOGUEIRA, 1996)
Inúmeros foram os problemas enfrentados pela enfermeira chefe e o diretor do
Hospital com as freiras transferidas da Santa Casa para o Hospital Getúlio Vargas, questões
culturais e administrativas, assim também como os procedimentos e as ações assistenciais de
Enfermagem, gerando uma situação conflitante. Alguns procedimentos de enfermagem que
eram realizados pela equipe de atendentes de enfermagem antes da chegada no hospital da
enfermeira chefe deixaram de ser realizados pois a enfermeira formada pela Escola Anna
Nery, muito rigorosa e criteriosa em seus princípios de formação profissional recente e
diferenciada, queria instituir diferentes normas, que não foram aceitas pelas Irmãs que além
de não cumpri-las, dificultavam a realização das mesmas.
Dagmar Oliveira era muito rígida, firme e inflexível em seus posicionamentos e
decisões, era convicta de que os ensinamentos que lhes foram conferidos na sua escola de
formação não poderiam ser contestados; desta forma, não aceitava acordos e opiniões que
fossem contraditórios às suas técnicas e normatizações, fora ou à margem dos rígidos
princípios que adquirira em sua formação profissional na Escola Anna Nery no Rio de
Janeiro. (RAMOS, 2003, p138)
As Irmãs de Caridade sustentadas em seus princípios religiosos não abriam mão
de suas idéias e não comungavam com o novo perfil de Enfermagem que a chefia queria
implantar e estruturar. Alguns procedimentos como injeções endovenosas, sondagens
nasogástricas e vesicais eram praticados à época pelos enfermeiros práticos
58
e a Enfermeira
58
No Estado do Piauí na década de 1940, não existiam Escolas de Enfermagem que efetuassem treinamentos aos
funcionários que trabalhavam na área de saúde. A primeira escola seria implantada nas dependências do
HGV, na década de 1950.
74
Oliveira fazia a exigência que estas ações fossem realizadas pelo médico, devido ao que tinha
aprendido na Escola de Enfermagem Anna Nery.
Estes fatores causaram verdadeiros transtornos e discussões na área médica e com
as freiras cordimarianas que não aceitavam estas normas, pois acreditavam que os atendentes
de Enfermagem estavam aptos à realização destes procedimentos pela experiência e anos de
dedicação ao serviço. Os médicos eram solidários às freiras e comungavam com as mesmas
que tais procedimentos deveriam continuar sendo realizados pelos atendentes.
As Irmãs passaram a se sentir incomodadas e reagiram fortemente junto à direção
do Hospital aduzindo que o contrato celebrado com a Congregação estava sendo
desconsiderado. Tal fato foi responsável pelo afastamento das freiras do HGV, como
visualizamos no texto a seguir:
Comentava-se, afirmava-se e confirmava-se junto à Congregação e à população que
as freiras tinham sido expulsas do HGV. A decisão do diretor de afastar ou expulsar
as freiras do Hospital foi muito dura para a opinião pública, dramática em si
mesma, radical talvez, traumática para o Governo, desprestigiando a Congregação
religiosa e pouco entendida pela população. (RAMOS, 2003, p.139)
Existia um Contrato de compromisso entre o Governo e o Palácio Episcopal para
a participação da Congregação na administração do Hospital, administração esta que seria
realizada pelas freiras, na assistência de Enfermagem, assim como no âmbito administrativo
que abrangia os serviços de rouparia, limpeza hospitalar e controle de equipamentos e
medicações. Durante a construção do Hospital foi planejada, estruturada e organizada uma
área específica para que as Irmãs permanecessem no Hospital e que serviria de moradia para
as mesmas, como podemos visualizar no depoimento da enfermeira Nogueira:
Quando houve a construção do HGV, eles queriam a presença de Enfermeiras, e eles
queriam estas, de origem Francesa, e que estavam difundindo as Escolas de
Enfermagem no Brasil. O governador foi ao Rio de Janeiro, conversou com as irmãs
e elas fizeram algumas imposições inclusive, a construção do espaço que hoje é a
dermatologia
59
, foi construído para agradar as freiras, aquela escada de
mármore...estas irmãs vieram para Teresina, na intenção de criar um curso de
Enfermagem por que as que vieram tinham a experiência de terem fundado a Escola
de Fortaleza e a de Recife. Eles não pediriam para vir as expoentes se não fosse por
uma razão importante e um motivo específico. Acredito que não tenha havido
condições para que isto ocorresse... Elas organizavam, não necessariamente davam
as aulas, ficavam à frente, ficavam mais na área da Administração. IrCatarina
Cola, por exemplo,pessoas que tinham a intenção de criar uma Escola de
Enfermagem. (NOGUEIRA, depoimento oral, junho de 2008)
59
Área destinada à dermatologia no Hospital Getúlio Vargas atualmente era ocupada pelas freiras cordimarianas.
75
Dentro do contexto também é importante abordarmos a influência que o poder
religioso tinha frente à população, muitos questionamentos foram realizados por ocasião da
expulsão das freiras do HGV e acerca do descumprimento deste contrato de compromisso,
principalmente em conseqüências referentes ao aspecto cultural, social e ao setor de saúde.
A Enfermeira Oliveira não resistiu às questões conflitantes em nível de
procedimentos, reconhecia a experiência dos profissionais considerados habilitados,
acreditava que tinham a aptidão para atuar na realização destas ações, mas não concordava
que eles fossem responsáveis por estes aspectos funcionais no hospital. Depois de inúmeros
desentendimentos, ela decidiu por não permanecer no serviço e optou por retornar ao Rio de
Janeiro, passando a chefia de Enfermagem do Hospital Getúlio Vargas a ficar acéfala por
determinado tempo.
Em seguida, a ocupação do cargo foi feita e desta vez por uma Enfermeira
genuinamente Piauiense, Maria Otávia Poty
60
, com formação superior na Escola Anna Néri.
(NOGUEIRA, 1992)
A Enfermeira Poty procurou dar seguimento às mesmas rotinas e normas seguidas
anteriormente pela Enfermeira Oliveira, entretanto, com um caráter de maior flexibilidade.
Todos gostavam muito dela, era bonita, educada, expressiva e com grande capacidade de
trabalho, sua presença era notada e sentida em todos os pontos do Hospital por meio de sua
fotografia, de dedo em riste pedindo silêncio (RAMOS, 2003, p.142).Infelizmente não
permaneceu muito tempo na Chefia de Enfermagem do Hospital Getúlio Vargas, pois morreu
jovem, deixando uma lacuna importante haja vista a importância das atividades que estava
realizando em nível assistencial no Hospital.
O Governo admitiu que o afastamento das freiras anteriores não culminou em
melhora significativa no atendimento hospitalar, sendo observados que alguns setores ficaram
desorganizados e sem um planejamento e organização adequados e sistematizados.
Era determinada no cumprimento de seus princípios religiosos, decidida,
personalidade forte, competente, uma senhora alta, corpulenta, que andava com
passos firmes e pesados, como se desejasse esmagar o pedaço do chão, autoritária,
inflexível em seus princípios e ações. (RAMOS, 2003, p. 145)
60
Primeira Enfermeira genuinamente Piauiense que atuou no Estado na assistência de Enfermagem. Formada
pela Escola Anna Nery. Foi a segunda Enfermeira chefe do HGV.
76
A Irmã Margarida em sua trajetória na assistência de Enfermagem no Hospital
Getúlio Vargas também obteve alguns desentendimentos com a área médica que culminaram
com a sua saída do Hospital e retorno para Fortaleza. Era defensora dos funcionários de
Enfermagem e quando estes tinham razão ela permanecia ao lado deles, demonstrando assim a
determinação de uma supervisão pautada na ética, discernimento, competência e justiça. Com a
saída da Irmã Margarida, as freiras organizaram-se dentro do Hospital e da comunidade e
receberam, além do o apoio da população, a solidariedade dos médicos e também dos
funcionários. Evento que marcou profundamente a vida religiosa à época era um hino belíssimo
que era cantado por elas, além das orações da Ave Maria todos os dias às 18 h na Capela do
Hospital Getúlio Vargas, como podemos observar em depoimento a seguir:
Era uma solenidade muito bonita, cheia de emoção que deixava um sentimento de
grandeza interior muito forte, além de sermos levados a refletir, tínhamos a
sensação de estar com Deus. As irmãs rezavam o terço e cantavam em francês o
hino, todos os dias, às 18h, hora da Ave Maria. (RAMOS, 2003, p. 144)
Ao analisarmos como as memórias de algumas pessoas que estiveram presentes nos
contagiam, podemos observar quão importante e essencial são os acontecimentos passados e
como podemos interpretá-los em contato com a nossa realidade presente e entendemos que “O
passado é revisitado em um arrebatamento, em um devaneio que não pode deixar de lembrar o
sonho ou a memória verdadeira. Aquela que recupera o passado sem intenção utilitária: é
preciso atribuir valor ao sonho, é preciso querer sonhar...” Na maior parte das vezes, lembrar
não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com imagens e idéias de hoje, as experiências
do passado. A memória não é sonho, é trabalho. (BOSI, 1994, p.55)
O passado não retrata apenas momentos de emoção, assim como também situações
de significação social que relatam o cunho cultural da época como o preconceito. Condições
sociais eram exigidas do sexo feminino para que as mulheres estivessem aptas ao trabalho.
Para trabalhar no HGV, a mulher tinha de ser solteira sem filhos ou casada. Se uma
mulher que trabalhasse no Hospital Getúlio Vargas ficasse grávida, sem o
comprovado casamento (papel passado), ou se casava ou era demitida. Esta postura
administrativa implantada no Hospital foi introduzida e mantida pelas tradições e
costumes sócias das congregações religiosas provenientes da Santa Casa de
Misericórdia em Teresina e em ouras regiões do Brasil.(RAMOS, 2003, p.215)
Os contratos de compromisso realizados entre o governo do Estado e as
Congregações religiosas, embora favoráveis à estrutura e administração hospitalar, tinham
significativa inflexibilidade e rigidez. As advertências, suspensões e multas, ou seja, os
77
descontos nos salários também eram realizados, assim como era perceptível um visível
preconceito racial.
Na época não era raro que os profissionais que trabalhavam com a enfermagem
não soubessem escrever com clareza, então, o preconceito era visualizado neste âmbito, por
ocasião da admissão no hospital ou durante o trabalho na área hospitalar.
Havia na década de 1960, um número considerável de atendentes de enfermagem
analfabetos, assim também como algumas Irmãs que ainda utilizavam o português arcaico do
século XVIII.
O padrão de atendentes de enfermagem do HGV e no Piauí melhorou ou teve a
oportunidade de qualificação técnica, com a criação pelas irmãs de caridade da
Escola de Auxiliares de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot. Grande obra das
religiosas, freiras, irmãs de caridade em benefício da saúde pública do Estado. (
RAMOS, 2003, p.217)
As Escolas de Enfermagem de nível médio contribuíram muito para o
aperfeiçoamento do ensino e para a evolução da profissão, pois oportunizou a muitos
atendentes da área a aquisição de conhecimentos teóricos para que estes fossem inseridos
junto à competência técnica.
3.3 ESCOLAS DE ENFERMAGEM NO PIAUÍ: MARCOS IMPORTANTES NO ENSINO DE
NÍVEL MÉDIO
As Escolas de Enfermagem de nível médio do Estado do Piauí constituíram um marco
importante no ensino da profissão de Enfermagem. A primeira Escola a caracterizar o ensino formal no
Estado foi a Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot , seguida da Escola São Camilo
que , após desativação da Escola Blanchot na década de 1980,seguiu o mesmo padrão formal com
sustentáculo em padrões éticos e morais.
3.3.1 ESCOLA DE ENFERMAGEM IRMÃ MARIA ANTOINETTE BLANCHOT: SEMENTE
QUE ESTRUTUROU AS RAÍZES DO ENSINO DE ENFERMAGEM NO PIAUÍ.
3.3.1.1 As irmãs Vicentinas no HGV
78
Na década de 1950, no Estado do Piauí, o setor da Saúde encontrava-se
centralizado e voltado para as Instituições de Previdência Social. Nos aspectos políticos e
administrativos, tudo transcorria sem tumultos e instabilidades.
A Escola de Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro, formou uma turma com
doze religiosas da Companhia das Irmãs de Caridade
61
, das quais apenas dez religiosas
colaram grau em 1942, dentre elas a irmã Abrahide Alvarenga,
62
que veio para o Piauí em
1956.
Irmã Alvarenga, um espírito ventilado, uma mulher de grande visão, muito
trabalhadora, proba, correta, instalou um regime novo no hospital, procurou
estimular todos os profissionais de enfermagem a trabalharem voltados para o
desenvolvimento da enfermagem, sendo muito dinâmica resolveu logo dinamizar a
assistência de enfermagem e aperfeiçoá-la com a introdução de cursos de
qualificação.
63
A Enfermagem científica e sistematizada foi, então, introduzida na Companhia
das Irmãs de Caridade no Brasil, que além do trabalho voltado para a assistência nos
hospitais, direcionava-se também aos ensinamentos criteriosos das técnicas procedimentais de
enfermagem, propiciando a criação de diversas escolas nesta área da saúde, de caráter
religioso, em diversos estados do país.
A permanência das irmãs no Hospital Getúlio Vargas por um determinado
período, fez com que estas observassem as lacunas e as deficiências nas técnicas utilizadas
pela equipe de enfermagem o que evidenciou a necessidade de realização de treinamentos
específicos o que culminou posteriormente na fundação da primeira Escola de Auxiliar de
61
A companhia das Irmãs de caridade surgiu no século XVII na França fundada por Padre Vicente de Paula e
Lisa de Marillac no ano de 1633. Foi uma das primeiras associações a realizar a assistência do cuidado em
domicílio. Reorganizou alguns hospitais, favoreceu condições higiênicas, individualizou leitos para
enfermos. (CASTRO, J.P, 1936) Vida de Luisa de Marillac: fundadora das irmãs de caridade. Petropólis:
Vozes.
62
Duas religiosas vieram para o Estado do Piauí, Irmã Catarina Cola em 1946, e depois Irmã Abrahide
Alvarenga em 1956. Irmã Abrahide nasceu em Minas Gerais em 1907, formou-se pela Escola Anna Nery
em 1942 e trabalhou em vários Estados Brasileiros antes de vir para o Piauí.
63
Depoimentos de dirigente institucional, enfermeiras e auxiliares de Enfermagem. Informação contida em
artigo publicado: Santos AMR, Nunes BMVT, Nogueira LT, Moura MEB, Vasconcelos, MRPV. Atuação da
irmã de caridade Abrahide Alvarenga no Piauí: uma história a ser contada. Texto & contexto Enferm
2005;14(4): 551-6
79
Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot em 1958, instalada inicialmente nas
dependências do HGV.
Esta escola foi construída em terreno doado pelo Estado e com a dedicação e
empenho da Irmã Abrahide que com alguns auxílios e verbas levantou a estrutura e
direcionou o ensino de enfermagem no Piauí. Além disso, como as Irmãs de caridade eram
exponenciais no ensino de enfermagem no Brasil, a ABEn- Pi foi criada nesta fase com o
apoio e dinamismo da Irmã Alvarenga. A criação da ABEn-Pi aconteceu em março de 1959
nas dependências do HGV, tendo como presidente a mesma.
Algumas atas da ABEn-Pi que foram escritas na época retratam informações
acerca de legislações sobre o ensino médio de enfermagem, assim como a necessidade da
criação de uma Escola de nível superior no Estado.
A diretora da Escola de Auxiliar de Enfermagem IrMaria Antoinette Blanchot
solicitou opinião sobre o currículo das escolas de auxiliares de enfermagem dizendo
achar muito resumido. A interrogada informou que as cadeiras constantes na lei 775,
de 6 de agosto de 1949 em vigor para o ensino da enfermagem, são realmente em
número reduzido,mas poderão ser interpretadas amplamente, por isso, cada escola é
livre de acrescentar outras matérias que julgar necessárias ao preparo eficiente de
suas alunas. ( Ata nº4- ABEn-Pi)
64
A maioria dos membros da Associação Brasileira de Enfermagem no Piauí era
também professores da Escola Blanchot e portanto, preocupados com o ensino e com a
legislação do mesmo. Em várias atas que datam da década de 1960 existem abordagens que
caracterizam a necessidade de uma Escola de Enfermagem de nível superior, pois as
enfermeiras diplomadas na época eram poucas e a demanda significativa de serviços,
existindo também, por parte do Governo do Estado um interesse em criar um Curso Superior
de Enfermagem. “Houve a solicitação de médicos interessados em saber o currículo de uma
Faculdade de Enfermagem pois o governo encontrava-se na época disposto em fazer
funcionar esta Faculdade brevemente. (Ata nº42- ABEn- Pi)
O governador do Piauí em exercício na época era Jacob Manoel Gayoso e
Almendra, militar e historiador, incentivador de várias reformas administrativas, construiu
modernas unidades escolares, sendo posteriormente sucedido por Chagas Rodrigues que
exerceu o cargo até 1962, e neste período observou-se a expansão da rede de ensino
64
Nunes BMVT, Santos, AMR, Moura, MEB, Silva, MEDC, Monteiro, CFS, Carvalho, ML Memória coletiva
da Associação Brasileira de Enfermagem- Seção Piauí.Rev Bras Enferm 2007 jul-ago; 60(4);464-9
80
secundário e normal, assim como a preocupação no setor saúde com a melhoria da assistência
de Enfermagem.
No final da década de 1950 e início da década de 1960, constatamos que a
enfermagem piauiense evoluiu com a organização e formação de pessoal com aptidão para o
atendimento hospitalar. Observamos que um dos fatores primordiais deste avanço estrutural e
direcionador do ensino e da assistência foi a chegada das Irmãs de Caridade no Piauí que
constataram deficiências nas práticas assistenciais aqui realizadas e dedicaram-se à luta para
que estas dificuldades fossem sanadas através da consecução de apoio para a inserção de
cursos para o aprimoramento das técnicas de enfermagem.
3.3.1.2. Fundação e Organização da Escola Maria Antoinette Blanchot
O Hospital Getúlio Vargas estruturou o funcionamento inicial da Escola de
Enfermagem Maria Antoinette Blanchot em suas dependências até a sua transferência para a
sede própria localizada na Rua Olavo Bilac, 2335, sul, em Teresina. A Escola de formação de
auxiliares de Enfermagem estava vinculada à Associação de São Vicente de Paulo em
Fortaleza, localizada na Avenida Desembargador Moreira, 2211, no Estado do Ceará.
O curso de auxiliar de enfermagem fundado, organizado e realizado pelas Irmãs
impulsionou o aprendizado e a qualificação de forma a direcionar um cuidado assistencial
muito mais criterioso. Através de uma portaria de 4 de março de 1959, o Ministro de Estado
da Educação de acordo com o disposto no artigo 10 da lei 775, de 6 de agosto de 1949, foi
concedida a autorização para o funcionamento do Curso de auxiliar de Enfermagem Irmã
Maria Antoinette Blanchot, mantida pela Associação de São Vicente de Paulo. Conforme
observamos em portaria a seguir:
O ministro de Estado da Educação e cultura, no uso de suas atribuições resolve:
Conceder a autorização para o funcionamento do curso de auxiliar de Enfermagem
da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot, mantida pela
Associação de São Vicente de Paulo e situada em Teresina, capital do Piauí- De
acordo com o disposto no art. 10º da lei n 775, de 6 de agosto de 1949 e em vista do
que consta no processo nº 122.210.57 ( PORTARIA DE 4 DE MARÇO DE 1959)
O Governador do Estado do Piauí, em exercício na época, Francisco das Chagas
Caldas Rodrigues, reconheceu através da lei nº 1972, de 10 de agosto de 1960, como sendo de
utilidade pública a Escola de auxiliar de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot. Em
81
1960, a Prefeitura Municipal de Teresina, também, tendo em exercício o prefeito Petrônio
Portela Nunes no cargo reconheceu a utilidade pública da Escola de Enfermagem Antoinette
Blanchot, através da lei nº 730 de 17 de agosto de 1960.
O presidente Jânio Quadros, em Brasília, através de Decreto Lei nº 51.157 de 7 de
agosto de 1961 concede o reconhecimento do curso de Auxiliar de Enfermagem Irmã Maria
Antoinette Blanchot.
3.3.1.3 Primeiras professoras Enfermeiras da Escola de Enfermagem Antoinette
Blanchot
Por ocasião da inauguração da Escola de Auxiliar de Enfermagem Irmã Maria
Antoinette Blanchot houve a necessidade de contratação de Enfermeiras que pudessem
ministrar as disciplinas necessárias ao prosseguimento do curso na Escola. Algumas
Enfermeiras que estavam finalizando o curso de Enfermagem fora no Estado foram
convidadas pela Irmã Abrahide Alvarenga, madre superiora supervisora, sobre a possibilidade
de retornarem ao Estado do Piauí e contribuírem para a evolução da Enfermagem local.
A Enfermeira Piauiense Maria dos Aflitos Miranda assim que finalizou o curso de
Enfermagem pela Escola Carlos Chagas em 1958, em Belo Horizonte, decidiu vir para o
Piauí, para ser professora da Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot, a
convite por carta da Irmã Abrahide Alvarenga.
A Irmã Cecília Bering, Enfermeira e professora de Obstetrícia na época, observou o
meu desempenho e achou que eu deveria ser professora, nomeada, da Escola
Blanchot. Todo o pessoal era de responsabilidade das Irmãs. Nesta época a Irmã
Abrahide observou que não havia condições de realizar um trabalho de Assistência
de Enfermagem sem qualificação, e a solução seria a criação de Escola de
Enfermagem. Houve um estudo realizado na época que evidenciou o Piauí como o
Estado que tinha mais profissionais de Enfermagem espalhados por todo o Brasil e
foi a Irmã Abrahide quem me falou a respeito, manifestando-se muito preocupada
com este aspecto situacional. Criando a Escola no Piauí, o profissional seria
orientado, formado e este ficaria aqui no Estado que era carente de profissionais.
(Ela citou-me isso em cartas) .( MIRANDA, depoimento oral, junho de 2008).
A Enfermeira Miranda após finalizar o Curso de Enfermagem em Belo Horizonte
iniciou as suas atividades como professora da escola Blanchot logo na primeira turma para
ministrar disciplinas teóricas e para acompanhar alunos na prática de Enfermagem que era
realizada no Hospital Getúlio Vargas.
82
Na conjuntura sócio- econômica e cultural, na década de 60, no cenário
Brasileiro, observamos uma grande instabilidade política devido às reivindicações e lutas de
classe , necessárias para a aquisição de direitos. No setor da saúde, no Estado do Piauí, houve
a inauguração da Casa Mater
65
, uma reforma importante no HGV e muitas transformações
evidenciadas nos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais no perfil do profissional
de saúde no Estado do Piauí.
Assim que eu cheguei, 6 de Janeiro de 1959 foi para iniciar a primeira turma da
Blanchot. A irmã Maria Moura era secretaria na época da Irmã Abrahide. Assim que
cheguei fui logo contratada pela IrAbrahide verbalmente e fiquei acompanhando
alunos na Clínica dica, quem me pagava era o Dr. Lucídio Portela, e como a
verba só saía de seis em seis meses, era quando eu recebia o meu salário. Em 1958, a
Escola tinha sido criada, implantada, mas começou a funcionar efetivamente em
Janeiro de 1959 , nas dependências do HGV. A Irmã Abrahide Alvarenga escreveu-
me dizendo que estava fundando a “Escola Antoniete Blanchot” e que precisava de
mim em Teresina; E o que me fez também retornar , foi achar que o Estado do Piauí
precisava de mim como profissional. (MIRANDA, depoimento oral, junho de 2008).
Importante abordarmos que a profissional Piauiense manifestou o desejo de
contribuir para o aperfeiçoamento da profissão de Enfermagem no Estado, pois existiam
muitas pessoas que exerciam as atividades de Enfermagem sem a fundamentação teórica e as
adequações práticas que eram normatizadas e padronizadas pela profissão.
A Enfermeira Miranda ficou sendo monitora da Clínica Médica conforme
evidenciado em declaração emitida pela Irmã Abrahide Alvarenga, em 23 de fevereiro de
1960. O papel em que foi emitida a declaração da professora e enfermeira ainda tinha o timbre
da antiga Avenida Presidente Vargas, como podemos visualizar em documento seguinte e em
seguida a fotografia da Enfermeira Piauiense Miranda, que se formou com apenas 19 anos, na
data da sua colação de grau em Belo Horizonte pela Escola de Enfermagem Carlos Chagas.
65
Atual Hospital Aliança. A Casa Mater foi fundada em 1966, Instituição Hospitalar privada, aberta a todos em
pleno exercício profissional criando alternativas no campo de trabalho do médico, do enfermeiro e dos
auxiliares de enfermagem.
83
Figura 11 Declaração emitida pela Irmã Abrahide Alvarenga dos serviços prestados à Escola Blanchot
pela Enfermeira diplomada Maria dos Aflitos Miranda que data de 1960. Fonte: Acervo da Enfermeira Miranda.
84
Figura 12 Maria dos Aflitos Miranda em sua formatura em 1958, aos 19 anos de idade, pouco tempo antes de vir
trabalhar na Escola Blanchot, em Teresina. Fonte: Acervo da Enfermeira Miranda
Na época havia a preocupação com o ensino de Enfermagem quanto aos aspectos
éticos e em nível comportamental, uma demonstração de cuidados com o ensino das práticas
profissionais, com ênfase à necessária cautela dos professores ao ensinar com critério os
procedimentos que seriam realizados pelos atendentes de Enfermagem, existentes em número
reduzido nos Hospitais. Os profissionais existentes na época eram escassos e precisavam de
aperfeiçoamento em nível assistencial. Existiam poucos Enfermeiros no Estado na década de
60, pois o curso de Enfermagem na UFPI apenas seria instalado em 1973, vinculado ao
Departamento de Medicina Comunitária.
O início do ensino formal e estruturado de Enfermagem, em nível médio, iniciou-
se com a Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoniete Blanchot, sendo considerado um
85
exemplo de ética na postura e comportamento, como podemos citar em depoimento de uma
das professoras da escola na época:
Eu fiquei na Escola Blanchot durante 5 anos , eu sou do Maranhão e era
praticamente recém formada ( 1 ano e meio ), quando adentrei na mesma.Foi uma
experiência muito boa, foi maravilhoso por que era a única Escola de formação de
Enfermagem, pois quando aqui cheguei , não havia nenhum curso superior. Havia
realmente a Escola Antoniette Blanchot que era da coordenação das irmãs de
caridade ( São Vicente de Paulo), e a preocupação da Instituição não era apenas a
parte técnica, mas também uma preocupação ética, na postura, no portar-se e no
comportamento, pois vim de uma Escola aonde se primava pela ética , e na
Blanchot, o aluno era uniformizado, havia um padrão, não era uma bata,como é
atualmente, mas nós tínhamos um uniforme padronizado do auxiliar de
Enfermagem. (MENEZES, depoimento oral, maio de 2008).
A Escola Blanchot começou a funcionar no Hospital Getúlio Vargas e algumas
alunas que começaram a estudar na Escola trabalhavam neste hospital e a instalação deste
ensino formal foi muito importante para os profissionais de Enfermagem que prestavam
assistência sem uma supervisão adequada e criteriosa, sem embasamentos teóricos que
pudessem aperfeiçoá-los e direcioná-los na profissão.
O Hospital Getúlio Vargas, além da admissão e tratamento de pacientes em
diversas áreas, também recebia as gestantes, pois o setor de obstetrícia funcionava nas
dependências deste Hospital, sendo apenas posterior a construção e inauguração da
Maternidade São Vicente, em 1954, quando este setor foi finalmente transferido para uma
estrutura mais qualificada com profissionais treinados para a realização de procedimentos
específicos da área. As infecções eram muito freqüentes e as técnicas procedimentais não
eram adequadas, como podemos observar em depoimento de funcionária do Hospital e aluna
da primeira turma da Escola Blanchot :
Eu fui aluna da primeira turma da Blanchot, em 1959-60. Eu trabalhava muito
tempo no HGV, quando ainda não existiam as irmãs, que chegaram depois. Naquele
tempo funcionava a obstetrícia no segundo andar, havia a ala das gestantes, as salas
de parto, a ala das puérperas. Observávamos muitas infecções puerperais
acontecerem devido as ausências de técnicas assépticas que temos hoje. As luvas
eram fervidas em esterilizadores elétricos. Naquela época vivíamos empiricamente.
A IrAbrahide foi a fundadora da Escola e era a Madre superiora das Irmãs .
Lembro-me muito bem da Irmã Margarida, determinada, cheia de zelo, dedicação e
responsabilidade, obstinada pela profissão. Em 1954, foi inaugurada a Maternidade
São Vicente, e a obstetrícia que funcionava no HGV, foi transferida para lá. Eu
mesma fui preparar o ambiente, pela questão da experiência que eu tinha adquirido
com o tempo no HGV. ( VILARINHO, depoimento oral, julho de 2008).
O curso de auxiliar de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot” impulsionou o
aprendizado e a qualificação de um grande número de pessoas que não estavam aptas a
86
trabalhar em hospitais e que mesmo assim o faziam sem um adequado e criterioso preparo
para a assistência.
A assistência de Enfermagem evoluiu de forma significativa na área da obstetrícia
com a transferência dos serviços obstétricos realizados nas dependências do HGV, para a
Maternidade São Vicente, inaugurada em 1954 e construída para que os cuidados assistenciais
destinados às gestantes e crianças obtivessem melhor qualidade nos procedimentos, pois
existiam inúmeros casos de infecção hospitalar , puerperal e neonatal.
A Maternidade São Vicente foi um dos locais em que as alunas da escola recém
inaugurada estagiaram e aprenderam acerca da assistência de Enfermagem nesta área
específica. Na época, as Irmãs de caridade ainda estavam atuantes na área administrativa
hospitalar. Alguns alunos da Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot já
trabalhavam nos hospitais e precisavam de uma qualificação profissional que propiciasse aos
mesmos maiores cuidados principalmente com as infecções hospitalares que eram
significativas como evidenciamos em depoimento de funcionária de enfermagem que
trabalhava no local e que acompanhou os problemas estruturais da Instituição na época:
Com a criação da Escola Blanchot , houve a necessidade de se preparar o campo de
estágio e assim a Maternidade São Vicente foi um dos espaços utilizados. Naquela
época existiam os atendentes de Enfermagem e as parteiras, não havia os
auxiliares e os técnicos de enfermagem. A Irmã responsável pelos estágios dos
auxiliares de Enfermagem foi a Irmã Francisca da Congregação de São Vicente de
Paulo. Naquela época era muito difícil. Cada parteira (não havia uma ala de p-
parto) era responsável por uma área, havia a área dos convênios, a particular e a área
dos indigentes.( VILARINHO, depoimento oral, julho de 2008.
Os aspectos negativos relacionados à ausência de controle de infecções na época
eram muitos, pois existiam as enfermarias das indigentes e através de depoimentos relatados
sobre a época, evidências foram caracterizadas e abordadas como a grande demanda de
partos, a falta de uma estruturação física adequada e espaço para todas as mulheres em
trabalho de parto.
A inexistência de uma organização adequada era marcante porque um mesmo
leito era compartilhado por duas ou três mulheres ao mesmo tempo causando com isto uma
situação de descontrole e negligência, havendo a necessidade emergencial de providências
relacionadas ao controle de leitos e prevenção de infecções hospitalares.
A Enfermeira e professora Carlota Melo encontrava-se à frente na organização da
Maternidade São Vicente, e devido as suas observações criteriosas atentou para o grande
número de infecções em recém nascidos, nesta Maternidade, ocasião em que descobriu,
87
supervisionando o berçário a existência de roedores nas dependências da Maternidade.
Constatamos a veracidade deste fato com o depoimento da enfermeira Sousa:
Chamava atenção a área da indigência, pois havia muitas parturientes e poucos
recursos, conta-se que eram três mulheres em uma mesma cama para a realização
do parto , caracterizando uma necessária intervenção. Carlota Melo foi convidada
a preparar a maternidade para os estágios da medicina , pois o MEC iria fiscalizar a
Maternidade. Ela constatou as dificuldades que a ir Francisca havia citado,
inclusive chegando ao extremo com a existência de inúmeras mortes de crianças no
berçário ,com a presença de hemorragias e ela começou a investigar tal fato e
descobriu que eram “ratos” que roíam o coto umbilical das crianças. Com esta
descoberta, através da presença da enfermagem, foi que iniciaram um tratamento de
higienização, pintaram a maternidade, realizaram o que foi necessário para uma
reestruturação.” ( SOUSA, depoimento oral, agosto de 2008).
Esta reestruturação hospitalar e a qualificação de pessoal direcionaram o processo
de Institucionalização da Enfermagem moderna no Piauí, assim como cresceu a procura pelo
ensino de Enfermagem na capital Piauiense pois os cursos realizados eram caracterizados e
conhecidos por sua disciplina rigorosa, com exigências de qualidades morais das candidatas,
persistindo o caráter da feminização.
3.3.1.4 Estrutura Organizacional da Escola Irmã Maria Antoinette Blanchot
O acesso à Escola Blanchot
66
foi o caminho para o aperfeiçoamento de muitos
atendentes de Enfermagem que se dedicavam à profissão e que precisavam de um
embasamento teórico, principalmente em questões de Controle de Infecções, realização de
procedimentos adequados, pautados em uma assistência criteriosa. Para adentrar na Escola
havia a necessidade de realização de um processo seletivo
67
para que os candidatos fossem
admitidos.
A Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot funcionou durante alguns
meses no Hospital Getúlio Vargas mas logo em seguida a Irmã Abrahide conseguiu um
terreno para que fosse construída a sede da Escola, que entre as décadas de 1960 a 1980, foi a
mais importante Instituição de Ensino de Enfermagem no Estado do Piauí.
66
A Escola de Auxiliar de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot foi a pioneira no ensino de Enfermagem
no Estado do Piauí no final da década de 50.
67
Os alunos da Escola eram em sua maioria de baixa renda , muitos alunos tinham bolsa de estudos e a Escola
contava com algumas doações, mas o processo seletivo era realizado anteriormente para avaliação das
aptidões dos mesmos.
88
A fotografia abaixo mostra a sede da Escola de Enfermagem que funcionou
durante mais de vinte anos localizada na Rua Olavo Bilac, em Teresina.
Figura 13 Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot, em sua sede própria, na década de 60.
Fonte: Conselho de Educação do Estado do Piauí
A Escola Blanchot realizava uma avaliação com todos os candidatos que se
candidatavam ao processo seletivo para averiguação da ortografia e conhecimentos sobre
aplicações matemáticas. Após a aprovação na seleção, a prática assistencial era ensinada e
aprendida no próprio Hospital Getúlio Vargas e os estágios com os alunos da Escola eram
supervisionados criteriosamente por uma Enfermeira que também era professora da
Instituição. Alguns alunos que atuavam na área de Enfermagem ao adentrarem na escola,
sentiram-se mais aptos e seguros nas realizações de procedimentos e na observação de
89
algumas patologias, e outros inclusive, aplicavam tais conhecimentos em domicílio quando
algum familiar precisava de alguma assistência, como evidenciamos em depoimento que
segue:
Este exame feito pela Escola era para que fosse realizada uma avaliação, faziam um
ditado,para a averiguação do português, prova de matemática com as quatro
operações. No final, se fosse aprovado na seleção, ficava na Escola. Os estágios
também eram realizados no próprio Hospital, assim também como as aulas teóricas,
pois antes da Escola funcionar na sede própria, na Olavo Bilac, funcionou no próprio
HGV. O estágio era rigorosamente acompanhado pela Enfermeira e professora.
Minha mãe era asmática e eu me lembro da dificuldade quando ela tinha crises para
encontrar alguém que aplicasse injeção. Depois que eu entrei para a Enfermagem,
nunca mais tivemos este problema, pois eu mesma aplicava.( VILARINHO,
depoimento oral, julho de 2008).
A Escola recebia muitas doações, alguns professores também ensinavam pelo dom,
por gostarem da profissão. Muitos professores recebiam os seus salários com atraso e às
vezes, apenas de seis em seis meses. Os alunos eram extremamente carentes e alguns não
tinham condições de arcar com o pagamento das mensalidades da escola e uma minoria tinha
acesso a bolsas escolares. Os professores Enfermeiros também ministravam aulas de sinais
vitais para alunos do curso de Medicina como observamos em depoimento de uma das
professoras da escola na época:
Todo o meu material, planos de aulas, livros, eu doei para a Escola,pois na época, eu
ensinava Enfermagem Médico Cirúrgica e ainda cheguei a dar aulas para as turmas
de Medicina como aulas de verificação de pulso, temperatura, respiração, inclusive,
a aplicação de injeções. Quando eu cheguei em 1958 , fui fazer uma visita ao HGV,
e logo que cheguei ,fui convidada a ministrar aulas como colaboradora, pois a
maioria dos alunos de Enfermagem eram alunos carentes, geralmente, eram as
pessoas que se dispunham a trabalhar em Hospitais e queriam uma qualificação, pois
não tinham condições de arcar com as mensalidades da Escola , mas eram alunos
dedicados e responsáveis. A Escola recebia algumas doações, e nós, professores,
colaborávamos. ( MOITA, depoimento oral,maio de 2008).
As reivindicações sociais constantes através de lutas foram evidenciadas em conjunto
com a instabilidade política na revolução de 1964. No Piauí, a reforma do HGV, a criação do
curso de Medicina e a inauguração da Casa Mater, foram fatores que instituíram grandes
transformações na área da saúde do Estado do Piauí. O governador Petrônio Portella Nunes
que exerceu o cargo de 1963 a 1966 contribuiu para o setor saúde com várias mudanças que
desencadearam inúmeras transformações como a expansão dos serviços de saúde e a
instalação do Instituto de Assistência e Previdência do Piauí.
Em 1964 deu-se a deposição do presidente da República João Goulart pelas forças
armadas, fato que resultou em repercussões no Estado do Piauí. Neste período, observamos
90
uma expansão dos serviços de saúde e também na rede do ensino primário e médio, a
indústria foi fomentada e desenvolvida, houve a instalação do Instituto de Assistência e
previdência do Piauí, assim como a Instalação dos Conselhos de Educação e de cultura.
(TITO FILHO, 1975, p.58-59)
A Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot começou a funcionar em
prédio próprio em 28 de junho de 1958. Nesta nova estrutura existiam dormitórios, refeitório,
salas de aulas, laboratório para as práticas de Enfermagem, cozinha, capela, enfim um espaço
destinado à admissão de alunas que queriam uma qualificação na área, algumas residiam na
Escola em caráter de internato.
Nesta época, os estágios continuavam a ser realizados no HGV, mas passaram
também a serem feitos no HDIC- Hospital de doenças infecto-contagiosas.
Quando a sede da Escola passou para o prédio próprio, eu fui convidada pela Irmã
Julieta para lecionar a disciplina de Enfermagem Médica e Cirúrgica. Havia os
refeitórios das freiras, os dormitórios, cozinha, capela, sala de aula. Nós tínhamos
um laboratório aonde havia disponível todo o material da prática, curativos, material
para aplicação de injeções, material para cateterismo vesical, sondagem
nasogástrica, bonecos, enfim, as teorias e as práticas eram realizadas inicialmente,
na Escola e os treinamentos no próprio HGV e no HDIC”. ( MOITA, depoimento
oral, maio de 2008)
A Estrutura da nova sede da Escola Blanchot propiciou aos alunos uma melhor
qualificação, pois havia uma preocupação constante no que se refere à qualidade de ensino e
de planejamento organizacional.
O laboratório era equipado com todo o material necessário para as práticas e os
procedimentos de Enfermagem. As salas de aula possuíam recursos para que estes alunos
aprendessem sobre a assistência e os cuidados na área.
Podemos verificar tal fato em fotografia seguinte que mostra a estrutura de uma das
salas de aula da escola em que uma das professoras de Enfermagem ministrava aula de sinais
vitais para os alunos na disciplina de Fundamentos de enfermagem.
91
Figura 14 Sala de aula da Escola Blanchot . Fonte: Conselho de Educação do Piauí
O conhecimento é disponibilizado de diversas formas e o professor, assim também
como o aluno, deve entender que sua aptidão para encontrá-lo deve partir de sua necessidade
em buscá-lo. Ao abordarmos a questão da memória presente na docência, citamos Oliveira (
2001, p. 18) com seu trabalho A memória na reconstrução das histórias da docência” que
aduz as narrativas dos professores são materiais significativos para a história da educação,
tendo a memória como ferramenta que constrói fatos, acontecimentos, experiências
individuais e coletivas vividas pelos professores, em tempos históricos diferenciados”.
O caminhar do professor perpassa por inúmeras fontes de saberes que lhe são
exigidos, mas muitas vezes não são identificados. O necessário e essencial é que a reflexão
92
seja um direcionador para que esta prática seja observada de forma criteriosa e contínua,
crítica e questionadora.
A profissão de Enfermagem em seu caráter evolutivo foi direcionada de forma lenta
no que se refere às diferenciações de funções, quanto ao aspecto funcional e assistencial, pois
não existia a devida valorização da profissão, mas as irmãs que realizavam o trabalho de
supervisão na Escola, sob a direção inicial da Irmã Abrahide Alvarenga, eram criteriosas e
exigentes e com o tempo, a Escola Blanchot tornou-se um padrão de qualidade no ensino de
nível médio no Estado do Piauí.
Qualquer pessoa que cuidasse de uma criança ou de um adulto, ou idoso na época
era Enfermeira e demorou muito para que houvesse esta diferenciação. No ano em
que eu cheguei aqui em Teresina, em 1958, a Escola Blanchot existia nas
dependências do HGV, em uma sala. As freiras moravam no Hospital Getúlio
Vargas e a IrAbrahide Alvarenga era a Madre Superiora . No Hospital, havia os
dormitórios e o refeitório das freiras. Lembro-me muito bem da Irmã Julieta, da irmã
dela, Carmosita, também era Enfermeira, depois quem assumiu foi a IrMaria
Moura, que trabalhava em Fortaleza, em uma maternidade, antes de vir para
Teresina, e por último, a Irmã Orminda, que em Fortaleza, trabalhava em uma
Universidade de Enfermagem.( MOITA, depoimento oral, junho de 2008)
A Irmã Abrahide Alvarenga retornou ao sul do país na década de 60, após ter
deixado valorosa e indispensável contribuição na área do ensino de enfermagem no Piauí e
assim, outras irmãs a sucederam como a Irmã Maria Moura, Carolina, Julieta, Orminda.
A direção da Escola tinha que ser realizada por uma Irmã que fosse formada em
Enfermagem, como é evidenciado em documento redigido e assinado pela Irmã Rita de
Cássia Ramos de Vasconcelos, presidente da Associação de São Vicente de Paulo em março
de 1973 em que comunica a nomeação pela diretoria da Irmã Orminda Santana de Oliveira,
graduada em Enfermagem, para exercer o cargo de diretora da Escola Blanchot, que nesta
ocasião já funcionava como Escola técnica de Saúde Maria Antoinette Blanchot.
68
O Conselho Estadual de Educação através da resolução 19 de maio de 1978
decidiu autorizar, após solicitação, a mudança do nome da Escola de Auxiliar de Enfermagem
Irmã Maria Antoinette Blanchot para Escola Técnica de Saúde Maria Antoinette Blanchot,
bem como o funcionamento do curso técnico de Enfermagem. Esta resolução foi assinada
pelo presidente do Conselho Estadual de Educação, na época, José Gayoso Freitas.
68
Informação contida em declaração emitida pela Associação de São Vicente de Paulo em 1973 contida no
processo de fundação da escola que se encontra arquivado no Conselho de Educação do Estado do Piauí.
93
As aulas teóricas eram ministradas nas salas de aula e as aulas práticas aconteciam
no laboratório e nos Hospitais. Várias disciplinas eram ministradas e entre elas a Enfermagem
em Saúde Publica como podemos constatar em fotografia abaixo que demostra uma
professora da disciplina ministrando aula teórica, enfatizando a arte de promover a saúde ,
como evidenciamos através da leitura da frase em quadro de giz.
Figura 15 Sala de aula da Escola de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot.
Fonte: Conselho de Educação do Piauí
A Clínica Cirúrgica de Urgência era um dos setores que funcionavam no HGV e
que era de responsabilidade da Escola. Os Enfermeiros desta área setorial eram os professores
enfermeiros da Escola e estes supervisionavam todos os alunos que realizavam os
procedimentos.
Um ensino rígido e criterioso encontrava-se inserido no processo pedagógico
desenvolvido e aplicado pela Escola Antoinette Blanchot. As professoras da escola eram
94
também supervisoras no ambiente hospitalar que era designado para os estágios. A professora
cumpria as normas e rotinas estabelecidas pela Escola. O aluno era responsável pelo paciente
e por todos os procedimentos que seriam realizados pela enfermagem desde a higienização
aos procedimentos específicos e cuidados assistenciais e era supervisionado pela professora
da disciplina. A Escola disponibilizava os materiais médico-hospitalares para que os alunos
pudessem realizar tais procedimentos.
No HGV, existia uma Clínica Cirúrgica de Urgência que era de responsabilidade da
Escola, quem eram os Enfermeiros de eram os próprios professores da escola. O
paciente que era operado no Pronto Socorro, subia para a clínica e nós
cuidávamos deste paciente, juntamente com os alunos. Tínhamos normas e rotinas e
o ensino era integrado. Os alunos realizavam todos os procedimentos das disciplinas
no HGV ( Hospital Getúlio Vargas). Então, quando uma professora responsabilizava
um paciente a um aluno, este aluno fazia desde a higienização deste paciente (
banho, barba, cuidados com o cabelo), procedimentos específicos da Enfermagem às
anotações..Esta clínica, este setor era da escola, era uma unidade da escola, o
material utilizado era o material que a mesma disponibilizava... o nosso aluno era
um aluno carente, ficávamos sem receber dinheiro por meses, era na base da
filantropia,e a escola , obviamente ,recebia ajuda..( MENEZES, depoimento oral,
maio de 2008).
Se considerarmos as memórias como fonte da história estamos levando em conta um
sentido específico da memória, o que exige uma reflexão sobre a sua natureza.
Nesta construção do conhecimento entendemos como Catani (2002, p.34) ao abordar
que “as concepções sobre as práticas docentes não se formam a partir do momento em que os
alunos e professores entram em contato com as teorias pedagógicas, mas se encontram
enraizadas em contextos e histórias individuais.”
A memória não é um recipiente passivo de impressões. É, pelo contrário, um
processo ativo de busca de significado que reestrutura os elementos a serem lembrados de
forma a conservá-los, reordená-los ou excluí-los. (NUNES, 2003, p. 12-13).
Observamos tal fato em depoimento emocionado de uma aluna que desde cedo
queria seguir a profissão de Enfermagem e foi informada pelas Irmãs da Santa Casa, em
Sobral, no Estado do Ceará que a Escola de Enfermagem Antoinette Blanchot , em Teresina
,recebia alunas carentes em regime de internato e que desta forma esta aluna poderia realizar
o curso de auxiliar de Enfermagem :
Desde os 16 anos eu queria trabalhar, queria estudar e eu morava no interior do
Ceará, em Sobral e me dirigi à Santa Casa para falar com as Irmãs de para pedir
um emprego. Meu pai era doente e quando ele faleceu, foi a experiência que eu
adquiri na Blanchot ,que me oportunizou cuidar dele nos seus últimos dias de vida.
Uma das irmãs da Santa Casa em Sobral orientou-me a escrever uma carta para as
Irmãs em Teresina, responsáveis pela Escola de Enfermagem Blanchot , para que eu
95
pudesse fazer o curso de Auxiliar de Enfermagem . Escrevi e não me responderam.
Escrevi outra, demonstrando a minha decidida vontade e força de crescer
profissionalmente. Então, responderam a minha carta, pedindo que eu viesse para
Teresina urgente, fazer um processo seletivo pois os cinco primeiros lugares
ganhariam bolsas. Eu cheguei aqui à noite, em Teresina, lembro-me que elas me
receberam muito bem, muito me estimularam a estudar e eu, passei em segundo
lugar. Fiquei em regime de internato. Éramos uma família, as alunas internas
dormiam em um mesmo dormitório. Não nos faltava nada. E foi assim o meu início,
a minha entrada no mundo da Enfermagem. ( URSULINO, depoimento oral , junho
de 2008).
Muitas alunas da Escola Blanchot encontram-se, atualmente, em outros Estados
ou continuaram os estudos e formaram-se em Enfermagem nas Universidades do Estado ou
fora dele.
Por ocasião das solenidades de formatura muitas pessoas foram homenageadas,
muitos professores figuraram nas placas de formatura que ficavam no interior da Escola, logo
na entrada como citam e relembram as depoentes. Tais placas eram belíssimas e
evidenciavam o valor que a Enfermagem representava para os alunos que finalizavam o curso.
As formaturas eram muito bem organizadas, as festas muito bonitas caracterizavam a
importância da formação profissional. Nas fotografias seguintes observamos a postura das
alunas na época e também caracterizam a essência da ocasião.
Figura 16 Ana Maria Ursulino , aluna da Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot no dia de sua
formatura.Fonte: Arquivo pessoal de Ana Maria Ursulino
96
Figura 17 Aluna da Escola Blanchot, Fonte: Arquivo pessoal de Ana Maria Ursulino
Através dos relatos de depoentes que participaram do processo de ensino e
aprendizagem da escola, observamos o enfermeiro sempre ocupando o seu espaço de
educador, construindo as suas práticas, como sujeito ativo, direcionador. A preocupação com
a qualificação e a ênfase no preparo de profissionais que pudessem suprir às necessidades nas
áreas de saúde e que realizassem determinados procedimentos específicos eram fatores
visualizados na época.
Uma procura árdua pela profissionalização mostra de forma criteriosa, um aluno
preocupado com as cnicas, com a realização de procedimentos, um aluno questionador,
crítico.
O laboratório de Enfermagem para a realização de aulas práticas da Escola
Blanchot era o espaço destinado à realização das técnicas de Enfermagem.
Neste espaço os procedimentos práticos eram ensinados tais como as sondagens,
as técnicas de arrumação das camas, banhos no leito, mudanças de decúbito.
Através de alguns depoimentos evidenciamos que a Escola disponibilizava todas
as oportunidades para o aprendizado específico na área de Enfermagem, todos os
procedimentos eram explicados na teoria e realizados em nível prático, como observamos no
depoimento da enfermeira e professora Menezes que trabalhou por muitos anos na Escola
Blanchot:
97
Para as aulas de anatomia nós tínhamos todo o material, tínhamos um esqueleto, os
bonecos. Nós tínhamos uma sala suficiente para a realização das técnicas de
Enfermagem, das práticas... Existia um berço, bonecos... “a dona Ivete”, que era
uma boneca na qual realizávamos a maior parte das técnicas, a sondagem
nasogástrica, banho no leito, colocação da aparadeira... Aprendíamos a fazer as
camas... na época ,fazíamos a cama fechada, aberta, cama para o paciente operado,
havia uma forma específica para esta realização de atividade, tínhamos um controle
com relação ao manuseio dos lençóis . Era ensinado o que era indicado, o que
poderia ser realizado e desenvolvido e ensinávamos também o que era contra-
indicado... o aluno que não gostava desistia logo, para ir para o hospital ele deveria
cursar no mínimo a fundamentação de Enfermagem e na época o aluno fazia todos
os procedimentos, mensurava resíduos gástricos, mensurava diurese...tanto os alunos
do técnico como os de graduação. ( MENEZES, depoimento oral, maio de 2008).
As irmãs eram muito criteriosas e organizadas com os aspectos técnicos e
administrativos da Escola. Os procedimentos de enfermagem eram ensinados dentro de
princípios rígidos. A escola tinha normas que deveriam ser rigorosamente seguidas pelos
alunos. As irmãs que direcionavam a escola procuravam realizar planejamentos
organizacionais em nível de estrutura e aspectos funcionais, pois apesar da falta de verbas os
alunos tinham acesso a um ensino disciplinado, pautado em princípios éticos.
Na fotografia a seguir ( figura 18) observamos a presença constante das Irmãs de
caridade, assim como das professoras na supervisão das técnicas de Enfermagem realizadas
pelos alunos. A presença do sexo masculino presente, acentuando a inserção gradual do
mesmo nos cursos de Enfermagem na época.
Os procedimentos identificados na fotografia são a realização de curativos, troca
de lençóis, arrumação das camas, punção venosa, administração de soroterapia.
Verificamos algo na fotografia seguinte que chama a atenção se observado
criteriosamente como a presença do zelo, da dedicação e organização na realização dos
procedimentos práticos e assistenciais de Enfermagem.
98
Figura 18 Aulas de práticas de Enfermagem realizadas nas dependências da Escola Antoinette Blanchot
Fonte: Conselho Estadual de Educação do Piauí
A preocupação do professor no acompanhamento do aluno, assim como a
responsabilidade do ensino é vislumbrada frente às técnicas procedimentais. Na época era
observada a necessidade da teoria como base e sustentáculo da praticidade, além de livros que
pudessem direcionar o aluno na teoria e o fizesse aplicá-la à prática.
99
Não apenas o conteúdo ético, a postura, a rigidez do comportamento eram ensinados,
a estrutura da teoria e prática também eram abordadas e esta inter-relação é enfatizada com a
preocupação com a literatura utilizada na biblioteca, muitos livros foram oriundos de doações
de enfermeiros , médicos e pessoas que desejaram contribuir com o crescimento e
aperfeiçoamento da profissão.
Em documento analisado no Conselho Estadual de Educação que aborda a
discriminação dos bens que constituíam o patrimônio da Escola de Enfermagem Maria
Antoinette Blanchot encontra-se um acervo de 804 livros de diversas áreas da saúde, livros
que constituíram uma inesgotável fonte do saber para todos os alunos e professores que
participaram desta evolução do ensino de Enfermagem no Piauí. Ainda assim alguns livros
eram raros e as apostilas eram mais utilizadas como aborda uma das professoras da Escola:
O curso era muito bom, o acervo de livros, a biblioteca com livros suficientes,
livros excelentes, mas as apostilas eram mais utilizadas, a maioria destes livros
foram enviados, posteriormente, ao CEPROSC- Escola o Camilo. A escola não
tinha muitos recursos, mas as doações a faziam caminhar. Quando cheguei estava na
transição entre a irmã Marta e a ir Orminda... na direção da escola.Clara
Alexandrino era a secretária, tornou-se professora da escola e hoje , é Enfermeira. A
Nair Moita , a Amparo Barbosa que foi a primeira presidente do COREN, todas
deram a sua contribuição. Permaneci na escola por cinco anos , de 1975 a 1980 e
apenas sai para adentrar no Estado. ( MENEZES, depoimento oral, maio de 2008).
O nome da biblioteca da Escola Blanchot foi uma homenagem a Maria Otávia
Poti, a primeira Enfermeira de nível superior, genuinamente Piauiense, que trabalhou no HGV
assim que o mesmo foi inaugurado.
A biblioteca auxiliou de forma significativa o ensino e a aprendizagem dos
profissionais de enfermagem do Estado do Piauí. Através do depoimento de algumas
professoras e também enfermeiras, constatamos que os alunos eram muito estimulados quanto
à procura por literaturas que os oportunizassem o conhecimento de algumas cnicas e
patologias. A escola buscava incentivar os mesmos ao conhecimento.
Os professores ministravam as aulas teóricas, mas sempre direcionavam os alunos
à pesquisa. As irmãs permaneciam algum tempo na direção e realizavam permutas, algumas
tinham que retornar à sede em Fortaleza e portanto, a escola foi direcionada por alguns
supervisores no decorrer do período de sua existência, ressaltando que a escola sempre
buscou mesmo com direções diferentes a manutenção do padrão rígido e ético, assim como no
cumprimento de suas normas. Na fotografia seguinte, observamos a presença dos alunos da
escola na biblioteca.
100
Figura 19- Biblioteca Maria Otávia Poti da Escola de Enfermagem Blanchot.
Fonte: Conselho de Educação do Piauí
3.3.1.5 A transformação da Escola de auxiliar de Enfermagem para Escola Técnica de
Saúde Maria Antoinette Blanchot.
A Direção da Escola pelas irmãs contribuiu para a exímia organização e
direcionamento da mesma que teve a sua desenvoltura pautada em princípios rígidos. As
professoras também comungavam destes princípios haja vista a profissão ter sustentáculo na
ética:
101
A irOrminda já vinha da direção de uma escola de Enfermagem de Fortaleza no
Ceará , ela é Piauiense, mas a casa-mãe da congregação religiosa localizava-se em
Fortaleza. Depois a escola incorporou-se a uma Universidade e a irmã foi enviada
para Teresina. Era muito sisuda, mas competente, determinada, cobrava muito, mas
acompanhava de perto o aluno, ministrava o que ele precisava saber, mas também
cobrava muito, o que era importante pois o aluno crescia com isso.( MOITA,
depoimento oral, maio de 2008).
A irmã Abrahide Alvarenga, vinte anos depois da inauguração da Escola
Blanchot, retornou ao Piauí para a solenidade da inauguração da Escola Técnica de Saúde
Maria Antoinette Blanchot em 1978.
Após a saída desta freira, outras direcionaram a Escola, como foi o caso das Irmãs
Maria Moura, Julieta, Orminda, que cuidaram com afinco e dedicação da área administrativa,
sendo algumas irmãs também enfermeiras.
Em 29 de março de 1977, a Irmã Orminda Santana de Oliveira, Diretora da Escola
escreveu solicitação ao Presidente do Conselho de Estadual de Educação, para que este
apreciasse a aprovação das reformas dos estatutos, do ante-projeto do regimento e da proposta
para a transformação da Escola de auxiliar de Enfermagem para a Escola Técnica de Saúde
Maria Antoinette Blanchot. O presidente do CEE, José Gayoso Freitas, autorizou o
funcionamento do curso técnico através da resolução nº CEE 19/78 em 12 de maio de 1978.
A doutora em Enfermagem, Lidya Tolstenko Nogueira, por ocasião da realização
de sua tese para o doutorado entrevistou a Irmã Abrahide Alvarenga, a fundadora da Escola
de Auxiliar de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot em 1958.
Por ocasião da realização da minha tese de doutorado, entrevistei a IrAbrahide
Alvarenga. Conversamos sobre a sua história. A IrAbrahide foi maravilhosa, eu
liguei, marcando para encontrá-la às 10 h e quando eu cheguei para visitá-la estava,
sentadinha, me esperando. (...) Ela convidou-me para almoçar e eu fiquei com ela
até as 20 h. Conversamos muito. Falamos sobre a sua trajetória profissional e o seu
trabalho na área do ensino de enfermagem, dentre muitas outras coisas.
(NOGUEIRA, depoimento oral, junho de 2008)
Houve a necessidade de profissionalização porque o aperfeiçoamento
profissional tornou-se imprescindível e essencial. Existia um programa de preparação de mão
de obra que era denominado de Programa Interno de preparação de o de obra (PIPMO),
pois os alunos finalizavam o segundo grau e almejavam uma profissão, um curso
profissionalizante, e este foi um dos motivos pelos quais a Escola precisou buscar junto ao
Conselho de Educação este aprimoramento.
Tínhamos na época, o PIPMO ( Programa Interno de Preparação de Mão de Obra) ,
a escola também era um centro de treinamentos, treinamento para os técnicos
102
dentários, para os atendentes de enfermagem ( duração de 6 meses). E naquele
tempo era comum o paciente que ficava muito tempo internado no hospital ,quando
saia, terminava se profissionalizando, tornava-se funcionário, a profissão mais
próxima era a Enfermagem. (Atendente de Enfermagem) . Com a mudança no
ensino, os alunos que cursavam o segundo grau, hoje ensino médio, tinham que se
profissionalizar e devido a esta necessidade a escola passou a se chamar Escola
Técnica de Saúde Antoniete Blanchot. Muitas pessoas passaram pela nossa Escola,
alunos que hoje são Enfermeiros, Médicos, alunos que saíram do Piauí, mas fizeram
o curso conosco, enfim, passaram pela Blanchot. ( MENEZES, depoimento oral,
maio de 2008).
Na Escola Blanchot os dirigentes e professores reuniam-se para tratarem de
assuntos relacionados ao aperfeiçoamento do ensino. As reuniões versavam geralmente acerca
dos problemas pedagógicos referentes às disciplinas ministradas para o curso de enfermagem,
estágios práticos nos Hospitais e práticas laboratoriais.
Na ocasião do reconhecimento do curso Técnico de Saúde, além da Diretora da Escola,
Irmã Orminda Santana, e da Vice Diretora Clara Maria Ribeiro Alexandrino, a coordenação
era realizada por Francisca Maria Bezerra, com um quadro de nove professores e uma
orientadora educacional.
69
Na sua estruturação física, a escola contava com salas de aulas,
laboratório de técnicas e salas de reunião, biblioteca, quadra de ginástica, cozinha dietética e
cantina.
A Escola continuou mantendo o mesmo endereço à Rua Olavo Bilac, ainda vinculada
à Associação de São Vicente de Paulo. Dentre os seus objetivos a Escola Técnica de Saúde
Maria Antoinette Blanchot (ETSMAB)) estaria qualificada a proporcionar ao educando a
formação especial para a qualificação de auxiliar e técnico de Enfermagem.
A fotografia seguinte mostra a diretora da escola Irmã Orminda Santana em
reunião com professoras da Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot.
69
Informações contidas na proposta para a transformação da Escola de auxiliar de enfermagem IrMaria
Antoinette Blanchot em Escola Técnica de Saúde.
103
Figura 20 Irmã Orminda Santana de Oliveira , diretora da Escola de Enfermagem Blanchot em reunião
com a equipe de professores.Fonte: Conselho Estadual de Educação
3.3.1.6 Acervo de livros e disciplinas do curso técnico de Enfermagem da Escola
Antoinette Blanchot
O Curso Técnico em Enfermagem da Escola Blanchot era dividido em dois períodos:
período instrumental e profissional e o curso tinha a duração de 3 ( três) anos . As disciplinas
de Anatomia e Fisiologia humana, Microbiologia, Parasitologia, Higiene e profilaxia, Estudos
regionais e Nutrição e dietética eram lecionadas no período instrumental. No período
profissional, o aluno cursava Introdução à Enfermagem, ética profissional, administração,
104
doenças transmissíveis, enfermagem medica e cirúrgica, materno infantil e Saúde Pública. O
curso perfazia um total de 1680 horas incluindo o estágio supervisionado. (Documento do
Conselho de Educação do Estado do Piauí).
70
Na relação dos livros inserida na discriminação dos bens que constituíam o
patrimônio da Escola havia um acervo de 809 livros, abordando e especificando temáticas
referentes à cultura geral, Enfermagem básica, psiquiátrica , obstétrica,pediátrica, médico
cirúrgica, atlas de anatomia, temas relacionados à Psicologia, Filosofia , Sociologia e
Educação, Administração, Urgências, dentre outros.
Em 1977, na justificativa do regimento da proposta de transformação da Escola de
Auxiliar de Enfermagem Irmã Maria Antoinette Blanchot em Escola Técnica de Saúde Maria
Antoinette Blanchot, a Irmã Oliveira cita que:
Com o advento da lei 5692, de 11 de agosto de 1971, que define a estrutura
organizacional básica do Sistema de Ensino no Brasil, constata-se a preocupação da
Equipe Governamental em intensificar os esforços no sentido de selecionar e
preparar , com rapidez e eficiência, pessoal técnico para o desempenho das
atividades requeridas pelo desenvolvimento do país. (OLIVEIRA, 1977)
Na justificativa que acompanha o regimento a Irmã Oliveira fez menção à
comunidade partindo do princípio das condições sociais, culturais e econômicas; a posição
geográfica e demográfica do Estado do Piauí; a implantação do ensino profissionalizante nas
cidades de Floriano, Parnaíba e Picos, assim como os objetivos da Escola que consistiam em
formar profissionais capazes de: promover mão de obra qualitativa e quantitativamente
preparada para atender a demanda crescente nas tarefas da área de saúde, precisamente,
enfermagem e participar da equipe de saúde , assim como prosseguir no seu desenvolvimento
integral como pessoa humana.
70
Informação retirada do Estatuto da Escola Técnica de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot que data de
1977 e que foi autorizada por resolução de número 19-1983 do CEE e que teve como relatora Solimar
Barbosa de Castro.
105
3.3.1.7 Estrutura Administrativa da Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette
Blanchot
As condições sócio-culturais e econômicas são significativas para a manutenção e
desenvolvimento de uma Instituição educacional. As instituições escolares no Estado do Piauí
na época estavam crescendo paralelamente aos demais setores infra-estruturais, com
implantação de ensino profissionalizante em algumas cidades do Estado. O nível superior era
operacionalizado pela UFPI, com diversos cursos implantados e estabelecidos, em plena
desenvoltura.
A estrutura organizacional era dividida em nível administrativo e pedagógico.
Administrativamente, a Escola era mantida pela Associação São Vicente de Paulo.
Pedagogicamente era autônoma, preenchendo as disciplinas específicas de acordo com a
legislação do ensino em vigor. O Diretor da Escola, que era nomeado pela Entidade
mantenedora, a Associação São Vicente de Paulo, era preferencialmente licenciado em
Enfermagem.
71
A Escola Técnica realizava duas seleções por ano e admitia 40 a 50 alunos por
turma. No andar térreo, conforme informações do regimento da Escola, funcionavam a
Diretoria, secretaria, almoxarifado, biblioteca, sala dos professores e salas de aula, sala de
reuniões, capela, cozinha, refeitório e área de circulação. No andar superior, o laboratório de
técnicas, salas de aulas, três quartos e área de circulação. No prédio anexo funcionava a União
Nacional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (UNATE), a área de ginástica, lavanderia
e cantina.
A estrutura que antes funcionava como sede da Escola de Enfermagem Irmã Maria
Antoinette Blanchot, hoje, é a Faculdade de Ciências Médicas ( FACIME) onde funcionam
vários cursos da área de saúde, uma estrutura que , embora modificada, transformada ao longo
do tempo, configura a ocorrência de uma história de outra época , em que inúmeros
estudantes passaram, deixando ou levando a essência do aprender.
Os aspectos teóricos e práticos parecem ter sido criteriosamente inter-relacionados na
Blanchot. Apesar de inúmeras transformações e significativas mudanças que ocorreram da
71
Dados contidos no projeto de transformação da Escola de Enfermagem IrMaria Antoinette Blanchot para
Escola Técnica de Saúde Maria Antoinette Blanchot
106
época para a atualidade, as memórias perfazem um caminho de lembranças dos
acontecimentos acerca do período e de sua relevância para a história do ensino de
Enfermagem e de sua desenvoltura, assim como a lembrança das solenidades e símbolos de
formaturas como placas e homenagens como é citado em depoimento :
Muitas mudanças, transformações, quase tudo foi modificado internamente, pouca
coisa permaneceu como era anteriormente(...)Lembro-me que as placas de formatura
ficavam na entrada, eram feitas de madeira com as fotos embutidas. Havia uma
placa em que a homenagem era feita ao Dr. Arimatéia Santos, da Ginecologia. Era a
Turma Dr. Arimatéia Santos, havia também uma placa em que a homenageada era a
Amparo Barbosa. A congregação deve ter guardado este material que é histórico.
(MENEZES, depoimento oral, maio de 2008).
Não indícios ou depoimentos que versaram sobre o destino destas placas de
formaturas que tiveram tão importante conteúdo histórico. A memória coletiva envolve as
memórias individuais, mas não se confunde com elas. A memória individual não se encontra
fechada porque o homem ao evocar o passado tem necessidade de fazer apelo às lembranças
dos outros. Entendemos como Halbwachs (1990, p.71) A lembrança é (...) uma reconstrução
do passado com dados emprestados do presente, preparada para reconstruções feitas em
épocas anteriores e de onde a imagem de outrora se manifestou alterada .
Além dos ensinamentos teóricos e práticos existiam os encontros com a
celebração de missas, realização de eventos e brincadeiras, comemorações e aniversários,
teatros que tinham como intuito a aproximação entre os alunos, os professores e as dirigentes
da Escola Blanchot como é evidenciado por uma das professoras da Escola:
Nós tínhamos os nossos encontros, promovidos por nós mesmos. Era tipo um retiro
naquela área da FACIME que hoje é um estacionamento. Existiam umas árvores,
mangueiras, sapotis, ali nós tínhamos um encontro com nossos alunos e não era
obrigatório, mas tinha uma grande aceitação. Havia a celebração da santa missa e
depois fazíamos brincadeiras, falávamos acerca de nossas práticas, conversávamos,
trocávamos idéias, era muito gostoso... (emoção) e isto com certa freqüência.
Algumas alunas eram verdadeiras artistas, faziam dramatizações, enquetes, poesias...
Havia um envolvimento, uma doação, não era apenas o aluno da anatomia e o
professor. ( MENEZES, depoimento oral, maio de 2008).
Os encontros promovidos pela Escola Blanchot tinham o objetivo de aproximar os
alunos, humanizar o ensino, propiciando através de dramatizações, retratações de poesias,
teatros e brincadeiras a oportunidade de ensino e aprendizado.
Este mesmo espaço
72
, a área utilizada para os encontros, era realizada a atividade
física. Era obrigatória esta atividade e as alunas eram supervisionadas por uma professora. A
72
Local do atual estacionamento da FACIME ( Faculdade de Ciências Médicas da UESPI)
107
fotografia abaixo evidencia um momento de descontração em um dos encontros com a
presença das irmãs, professoras e alunas da Escola de Enfermagem Irmã Maria Antoinette
Blanchot.
Após a realização da cerimônia religiosa
73
, os alunos eram reunidos nesta área da
Escola e os professores e as irmãs aproveitavam estes encontros para a abordagem de temas
interessantes e construtivos, discutiam as práticas, pediam a opinião dos alunos, dialogavam
acerca das ações assistenciais e sobre as dúvidas inseridas no conteúdo teórico.
Figura 21 Encontro realizado na Escola de Enfermagem Antoinette Blanchot ( Professores e alunos)
Fonte: Conselho Estadual de Educação do Piauí
73
As alunas eram chamadas a participarem ativamente das cerimônias religiosas.
108
A memória coletiva torna-se, então, envoltório de memórias individuais, que não
são totalmente fechadas, recebem iluminação, nuances de cores diferenciadas, interpretações
diferentes. Muitos ao participarem desta rememoração têm inúmeras lembranças para contar,
complementar, preencher as lacunas da história, pois nem tudo foi escrito e verificado.
Cada memória é um traço pessoal, como cada história de vida, como determinados
pensamentos e atitudes. São como folhas, têm origem e vínculos em determinada árvore, mas
por mais que tenham as mesmas raízes, possuem traços diferentes. Assim caminham as
histórias, com conteúdos diferentes, mas dispostas a relatarem ao mundo toda a sua
essencialidade.
A Escola de auxiliares e técnicos de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot foi
desativada no início da década de 80, segundo alguns relatos de pessoas que vivenciaram tal
contextualização na época, devido a ausências de doações, verbas, ajuda do governo Estadual
para a manutenção da Escola e para o pagamento dos salários dos professores.
Neste contexto também era observada a saída das Irmãs de caridade das Instituições
de Saúde, assim como Universidades aonde o Ensino de Enfermagem era estruturado.
Permaneci na Escola até o seu término, quando esta foi desativada. A sua
desativação ocorreu por uma série de fatores, um deles foi que o Estado ajudava com
convênios para o pagamento dos professores, depois as verbas deixaram de ser
dadas, e com isso as dificuldades foram surgindo, pois nem todos os alunos tinham
condições de arcar com as mensalidades . Nós, Enfermeiros, visitávamos a casa do
aluno, e verificávamos a situação, geralmente o aluno era estudioso, dedicado,
brilhante, então, ele continuava a estudar, mesmo sem pagar as mensalidades. O
PIPMO ajudou bastante a Escola, contribuiu muito, colaborava com o material para
as práticas. Depois o SENAC também passou a colaborar com a doação de
materiais. Existiam quadros de formaturas, muito bonitos. (MENEZES, depoimento
oral, maio de 2008)
Algumas circunstâncias foram responsáveis para que houvesse a desativação da
Escola, não apenas a falta de verbas e doações, mas também a determinação da disciplina e da
liderança estabelecidas pelas Irmãs que estavam saindo das Instituições, havendo um
esvaziamento, uma lacuna nesta área pois eram poucas as irmãs que detinham a habilidade e
estavam aptas a estas lideranças ao planejamento e organização institucional como é
evidenciado em depoimento a seguir.
Na época da desativação da Blanchot, além da falta de verbas, houve outro motivo
importante que deve ser visualizado, ou seja, a ausência de freiras que realizassem
este trabalho administrativo. Não existiam mais Irmãs que liderassem e este
problema também ocorreu em outros locais. Houve o ciclo das Irmãs em todo o
Brasil. No Ceará, a Escola passou para a UFC. No Recife, também. Houve um
esvaziamento das vocações religiosas. Existia, sim, o apoio Estatal. O Hospital São
Marcos pagava bolsas para os alunos. Mas faltou o aspecto da liderança, eram
pouquíssimas as freiras que tinham o preparo, a habilidade, ou seja, que fossem
109
Enfermeiras. Uma série de circunstâncias aconteceu para que houvesse esta
desativação da Escola Blanchot. ( NOGUEIRA, depoimento oral, junho de 2008).
É impossível pensar a mudança a partir de um lugar sem raízes e sem história e é
no limite da memória e da história que são tecidos os fios que fazem a construção individual e
coletiva. Importante questionarmos qual o lugar da memória e da história pois a determinação
da história é realizada por um invólucro que precisa ser quebrado, aberto, para que elas (as
histórias) sejam verdadeiras e fortes o suficiente para serem descobertas, analisadas e
interpretadas.
Na década de 1970, no governo de Alberto Silva, observamos um aumento na
indústria e o comércio , assim como houve a ampliação da rede de ensino público e a
implantação da Universidade Federal do Piauí, que foi instituída pela lei federal de 5.528 de
12 de novembro de 1969.
No Estado do Piauí, na época, verificamos mudanças importantes no que concerne
a uma maior organização da população na busca por seus direitos, pelas condições de
trabalho, principalmente, na área da Educação e da Saúde. A enfermeira Nogueira esteve no
Estado na década de 1970 para participar do Projeto Rondon e foi nesta ocasião em que
conheceu a Escola de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot como é relatado em
depoimento seguinte:
Eu tive a oportunidade de participar do Projeto Rondon aqui no Piauí na
década de 1970, e na época os alunos terminaram ficando no Luxor Hotel,
que estava fechado, distribuíram uns colchões, não havia água , não havia
como tomar banho,mas fomos recebidos pelo Dr. Lineu Araújo, que foi
quem me apresentou a Escola de Enfermagem Antoniette Blanchot e
convidou-me a retornar quando eu finalizasse o curso. (NOGUEIRA,
depoimento oral, junho de 2008) .
Em nível de ensino médio na capital do Piauí além da Blanchot, outra Escola
também obteve grandes avanços na estruturação e evolução do ensino de Enfermagem em
Teresina. Por ocasião da desativação da Escola de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot, a
Escola São Camilo ocupou o espaço destinado ao ensino de Enfermagem.
Inaugurada alguns anos depois da Blanchot, a Escola São Camilo foi um avanço
no desenvolvimento e crescimento na assistência de Enfermagem e no aperfeiçoamento do
seu ensino, que permanece até a atualidade com o mesmo componente ético e dinâmico que
tinha como sustentáculo a Escola instituída pelas Irmãs Vicentinas no final da década de
1950.
110
A Escola São Camilo é caracterizada como um marco no ensino de nível médio
na área de Enfermagem no Estado do Piauí pela competência, dinamismo, responsabilidade e
dedicação a este ensino.
A Blanchot foi um sustentáculo para o nascimento da Escola São Camilo , pois a
diretora da Escola Antoinette Blanchot, Irmã Carolina,que foi professora, em
Fortaleza, também foi diretora aqui na São Camilo e depois a irmã Marta, que
também trabalhou na direção da Blanchot, seguida pela irOrminda. Inclusive,
irmã Orminda
74
me ligou diversas vezes quando ela estava morando em outra
cidade me pedindo referências de alunos, para que eu enviasse pessoas para
trabalharem com ela, e hoje,parece-me que ela se encontra em Fortaleza. (FRANÇA,
depoimento oral, agosto de 2008).
Mesmo após a desativação da Escola Blanchot, com a inauguração da Escola São
Camilo, a Irmã Abrahide continuou mantendo contato com a Enfermeira e professora, atual
diretora da escola São Camilo, buscando profissionais de qualidade que atendessem às
necessidades da demanda na profissão.
Sem dúvida, ela participou da minha decisão de colocar uma escola, incentivou-me,
contribuindo com esta idéia, tanto que quando houve o fechamento da Escola
Antoinette Blanchot, quando a escola foi desativada, eu adquiri algumas coisas as
quais ela me passou como um relógio antigo de parede, um armário de um padre
que era o capelão do HGV, mesas e alguns livros, também, que eu tive acesso
através de doações da irmã Orminda. Eu me inspirei muito na Blanchot. ( FRANÇA,
depoimento oral. Agosto de 2008).
Segundo o depoimento da diretora da Escola São Camilo, a enfermeira e professora
Ozirina Gracildes França, a Irmã Abrahide Alvarenga foi uma das incentivadoras para que a
mesma colocasse uma Escola de Enfermagem nos moldes da Blanchot. Com o fechamento da
Escola de Enfermagem Antoinette Blanchot muitos livros e algumas relíquias foram doados
para a nova Escola que iria iniciar.
3.3.2 ESCOLA SÃO CAMILO: UM IDEAL DE VIDA DESTINADO AO ENSINO DE
ENFERMAGEM
3.3.2.1 O planejamento, inauguração e trajetória da Escola São Camilo
74
Irmã Orminda Santana de Oliveira que esteve na direção da escola Blanchot antes da desativação da mesma na
década de 80.
111
O planejamento e a inauguração da Escola São Camilo percorreu um caminho árduo
para que os objetivos fossem realizados. A estrutura organizacional e o direcionado trabalho
inseridos na mesma culminaram na realização de um sonho que começou através de um ideal
de vida e ensino, e que terminou por constituir-se a razão de ser de uma dinâmica equipe de
Enfermeiros que acreditaram que a estrutura do ensino pode transformar.
O dom para dar seguimento à profissão, possivelmente, tem origem e raízes fortes
na essência e no crescimento e desenvolvimento familiar. Este espaço, por vezes, oportuniza
ao ser humano um encontro com o que deseja ser no futuro e tais aptidões que levam por
vezes, à área da educação e à saúde em muitas ocasiões podem caminhar juntas.
O enfermeiro detém na estruturação da sua profissão a função de planejar,
orientar, direcionar, intervir, supervisionar e então, a educação circunda a profissão de
enfermagem, tornando-a seu subconjunto.
O ensino da Enfermagem no Estado do Piauí, após o fechamento da Escola Irmã
Maria Antoinette Blanchot , na década de 1980, em nível de ensino médio, começou
novamente a dar frutos com a inauguração e estruturação da Escola São Camilo que seguiu
os mesmos objetivos de rigidez e ensino criterioso, sendo fundada e dirigida por enfermeira e
professora que havia atuado profissionalmente na Escola Blanchot.
A Escola começou a funcionar no início da década de 90 com o objetivo de
continuar o trabalho das Irmãs que direcionaram a Escola Blanchot, na tentativa de ocupar a
lacuna deixada pelo fechamento repentino desta. A demanda por profissionais experientes e
aptos a atuação na área de Enfermagem era crescente e o Estado precisava destes profissionais
qualificados. A fotografia abaixo evidencia a estrutura da sede inicial da Escola São Camilo.
112
Figura 22 Centro de Educação Profissional São Camilo. Sede inicial da Escola fundada em 1992. Fonte: Acervo
de fotos da Diretora da Escola
A Escola foi fundada e inaugurada em 1992 iniciando o seu trabalho em uma
estrutura pequena, organizada em espaços com salas de aula, biblioteca, secretaria e
laboratório. Mesmo com as dificuldades encontradas, houve a persistência de um sonho em
seguir adiante com os objetivos de uma melhor qualidade no ensino de Enfermagem.
A Escola de Enfermagem São Camilo foi fundada em 1992 e teve a sua primeira
sede localizada à avenida São Raimundo, inicialmente era um espaço pequeno,
simples e nos fundos havia um local de trabalho com gesso e o local não era muito
indicado, era apenas uma sala, uma pequena secretaria, tivemos , inclusive,
dificuldades quando o pessoal da Secretaria veio para a realização da avaliação...O
dia da inauguração, para mim, foi um momento de graça, pois apesar dos momentos
iniciais que foram difíceis, conseguimos dar andamento aos nossos projetos e fomos,
aos poucos, aperfeiçoando a nossa história ...ministrando cursos de Enfermagem
para auxiliares e técnicos de Enfermagem e vem desempenhando um papel
fundamental na evolução do ensino de Enfermagem no Piauí. (FRANÇA,
depoimento oral, agosto de 2008).
Com a inauguração da Escola São Camilo surge a oportunidade de aperfeiçoamento
profissional para o nível médio na área de Enfermagem. Alguns depoimentos são essenciais
para a compreensão da evolução deste ensino no Estado do Piauí.
Para Saviani (2005, p.3) “a educação é o ato de produzir, direta e intencionalmente,
em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo
conjunto dos homens.” No depoimento seguinte observamos uma história de vida destinada
à assistência e ao ensino de Enfermagem:
113
Sinto-me muito feliz por falar da Escola São Camilo, da sua história, pois quando
eu terminei o curso de Enfermagem eu tinha esta vontade de colocar um curso, eu
pensava nesta possibilidade, pois o enfermeiro, na verdade, tem muito de
educador. A minha mãe tinha o maior desejo que eu fosse professora, e eu desejei
ser enfermeira, também educadora. A minha família era uma família de muitos
professores e eu também queria -lo, eu tinha este desejo..., então, por que não
atuar na área de enfermagem como professora?( FRANÇA, depoimento oral, agosto
de 2008).
Tal questionamento baseia-se na existência de detalhes da história, da vivência de
pessoas que decidem analisar as experiências de vida e alguns desejos silenciados. Tais
momentos precisam existir para o futuro, chegar às vidas de muitos, realizar nos descendentes
a surpresa da permanência de sonhos, apesar da possibilidade de encontros que o tempo não
permite por gerações pois todo processo reflexivo está situado historicamente nos aspectos
circunstanciais interligados ao social, político e econômico.
As reflexões dos profissionais inseridos no contexto social, político e cultural
desenvolvem uma maior compreensão de suas atividades e da necessidade do que precisa ser
aperfeiçoado. A Enfermeira e professora França, atual diretora da Escola São Camilo,
trabalhava na Previdência Social, antigo Serviço de Assistência Médica Domiciliar de
Urgência ( SAMDU), que foi instituído em 1944, pelo governo brasileiro, quando constatou
que havia um número considerável de atendentes de Enfermagem que estavam inaptos à
assistência de Enfermagem e que havia a necessidade com urgência de cursos que
aperfeiçoassem a categoria.
Quando adentrei na previdência social, antigo SAMDU que foi o meu primeiro
emprego, eu encontrei os atendentes de Enfermagem realizando todas aquelas
atividades específicas de Enfermagem, precisando de um aperfeiçoamento e então,
nesta época eu visualizava esta necessidade de realização de treinamentos para
dinamizar os aspectos teóricos e científicos, eles eram bastante resistentes, mas aos
poucos nós começamos a mudar os perfis, tentando com paciência mostrar o certo ,
apesar das inúmeras resistências... Posteriormente eu preparei todos os atendentes
pertencentes a este grupo para as provas que seriam realizadas no DESU
(Modalidade oferecida pela secretaria de educação para a mudaa de vel), todos
os que foram submetidos às provas foram aprovados na ocasião. (FRANÇA,
depoimento oral,agosto de 2008)
Em Agosto de 1960 foi promulgada a lei orgânica da Previdência Social,
contribuindo para a uniformização e prestação de serviços profissionais, promovendo
mudanças importantes na saúde do Estado do Piauí com a criação do INPS Instituto
Nacional de Previdência Social em 1966. Nesta época, houve também a estruturação de
114
alguns Hospitais particulares em Teresina, como a Casa Mater, hoje, Hospital Aliança e do
Hospital Santa Maria.
A Escola São Camilo começou como um ideal de transformação e visão diferenciada
de ensino, estabelecendo assim, um vínculo com o saber e com a produção de conhecimentos
na área assistencial que foram estruturados através dos anos. No início, com um pequeno
laboratório, como é demonstrado em fotografia seguinte, com poucos itens para a estruturação
adequada, mas com um marcante desempenho de formação e de continuidade no processo de
ensino e aprendizagem.
Figura 23 Centro de Educação profissional São Camilo. Laboratório para as práticas iniciais de Enfermagem
Fonte: Acervo de fotos da Diretora da Escola
Tal busca marca o caminho de uma história de luta através do tempo que se
entrelaça com a experiência e o saber. Quando o dom do ensino permanece na alma e busca o
seu crescimento tudo parece conspirar para que ele aconteça.
A professora França por ocasião de sua convivência com as Irmãs de caridade no
Estado do Ceará, em caráter interno, teve acesso à vida de São Camilo em suas leituras e que
promoveu grandes transformações na vida da mesma, decidindo em um momento de sua vida
por uma homenagem:
Por que escola São Camilo? Durante o internato em Fortaleza com as Irmãs de
Caridade , eu tive a oportunidade de ter contatos com leituras na hora das refeições,
o que mais me chamou atenção foi a vida de São Camilo. Então, decidi que se um
115
dia eu colocasse uma Escola de Enfermagem, se chamaria São Camilo. (FRANÇA,
depoimento oral, agosto de 2008)
As mulheres,quando começaram a atuar ativamente em âmbito profissional,
cultivaram em sua essência a prática do cuidar, tais como a maternidade, o lar, a feminilidade,
importante enfatizarmos a presença marcante da Enfermagem e de seu processo de
feminização em busca da qualificação do seu ensino no estado do Piauí.
Paul Thompson afirma que “é possível que as mulheres sejam mais frequentemente
as transmissoras dos modelos familiares de adaptabilidade” pois relatam memórias da vida
passada e presente cercadas por momentos e essências importantes vinculadas às
experiências vivenciadas. As salas de aula da Escola no prédio em que a Escola iniciou as
suas atividades eram organizadas e os alunos tinham as aulas teóricas neste espaço e as aulas
práticas iniciais no laboratório de Enfermagem, aonde os alunos aprendiam inicialmente as
técnicas e os procedimentos de enfermagem antes do estágio na área hospitalar. A fotografia a
seguir evidencia a estrutura das salas de aula da Escola São Camilo.
Figura 24 Sala de aula teórica do Centro de Educação profissional São Camilo. Fonte: Acervo de fotos da
Diretora da Escola
As histórias de vida mostram a relevância do sexo feminino na luta pelo ensino, pela
transmissão do conhecimento, enfatizando a mulher como transmissora, delineadora,
116
transformadoras, presentes nas práticas educativas, sensíveis às matizes do apreender. Uma
homenagem belíssima realizada à Enfermeira e professora Francisca Leal que acreditou no
ensino e participou ativamente de seu desenvolvimento na Escola São Camilo:
Fizemos uma homenagem também à Enfermeira Francisca Leal , com placas e
dando o seu nome a nossa biblioteca, pela sua ajuda, apoio e presença marcante e
assídua neste sonho de construção da escola... Ela sempre esteve presente,
orientando, como voluntária durante nove anos, desenvolvendo o seu trabalho, tinha
hora marcada para chegar, para sair, enfim, uma doação de amor e de vida àquilo no
qual ela acreditava.Era a única pessoa que eu parava para ouvir, tinha um dom e eu,
respeitava muito os seus direcionamentos e os seus ensinamentos... ( FRANÇA,
depoimento oral, agosto de 2008)
A Biblioteca atual da Escola São Camilo tem o nome da enfermeira e professora
Francisca Leal em homenagem devido a prestação incondicional dos serviços desta à escola.
Podemos encontrar a fotografia abaixo na sala de estudos da biblioteca da Escola São Camilo,
para que esta professora seja sempre lembrada pela sua exímia contribuição ao ensino de
enfermagem do Estado.
Figura 25 Enfermeira e professora Francisca Leal. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Anneth Basílio
117
Os docentes que participaram do crescimento e desenvolvimento da Escola deixaram
a sua contribuição para o seu aperfeiçoamento e estruturação e após a sua inauguração muitos
fatos aconteceram que transformaram esta Instituição.
A escola foi inaugurada em 1992, e durante a sua desenvoltura e aperfeiçoamento
encontrei pessoas que, no decorrer, se envolveram muito com a escola, houve a
participação marcante de docentes que muito ensinaram e aprenderam conosco, e o
que é mais importante e essencial são os momentos de alegria que temos com as
aprovações dos discentes em concursos , o reconhecimento da própria sociedade, da
própria comunidade. ( FRANÇA, depoimento oral, agosto de 2008).
Em virtude da exacerbação das desigualdades, observamos inúmeros
questionamentos que permeiam o panorama educacional quanto à implementação da política
inclusiva, e uma das caracterizações que fortalecem a delimitação do conceito de inclusão é
que todas as pessoas têm direito à plena participação social.
A inclusão não é um fenômeno essencialmente escolar, mas tem significância no
contexto sócio-político atual. A convivência com alunos “diferentes”, diferentes gêneros,
idades e níveis de instrução; origens sociais e grupos culturais; modos de aprendizado e
diferentes maneiras comportamentais conspiram contra os objetivos da “Escola”, mas “o
elogio da inclusão” como enfatiza Laplane, apresenta a vantagem de caracterizar
argumentações para que se defendam as políticas inclusivas. A presença de desafios foi
marcante na contextualização de alguns exemplos na Escola São Camilo onde a política da
inclusão desde cedo foi evidenciada.
As dificuldades começaram a aparecer nos campos de estágios mais com o processo
de adaptação, segurança e discernimento foram tomadas as devidas providências e a opção
escolhida foi pela decisão de que a Escola São Camilo seria favorável à permanência destes
alunos na Escola , como versa o depoimento a seguir:
E os desafios, também, pois quando nem se ouvia falar em inclusão, tivemos a
presença de alunos com deficiência na escola que queriam aprender, queriam
estudar, passaram pelo processo seletivo ( um aluno com problema neurológico que
não conseguia controlar os movimentos dos membros superiores, que hoje trabalha
em vários hospitais de Teresina ) e nós tínhamos que tomar uma decisão, fazer uma
escolha e optamos pelo ensino , pela permanência dos que queriam aprender
...Quando chegou na disciplina de fundamentos, pairou aquela dúvida da
consecução dos objetivos do aluno, mas eu sempre dizia que ele iria conseguir, e
como quando se quer com a alma, tudo se torna possível... Ele iniciou suas
atividades na central de material e esterilização, conseguindo o mesmo a superação
das suas limitações. ( FRANÇA, depoimento oral, agosto de 2008).
As situações diferentes estão presentes nesta vivência crítica de ensino e
aprendizagem e não como evitá-las e muito menos escondê-las, pois elas emergem a cada
118
dia, são abordadas em cada questionamento de alunos, em posicionamentos e argumentações
contrárias ao método reprodutivo e arcaico, enfim, é preciso ter coragem para abordar e
conviver com o novo, sendo clara a postura ou a necessidade de um novo olhar. O finalizar de
um sonho enobrece o cursar de caminhos que o buscaram.
A Escola conseguiu esta nobre realização com a consecução da formatura de sua
primeira turma de Auxiliar de Enfermagem como mostra a foto da época.
Figura 26 Formatura da primeira turma de Auxiliar de Enfermagem da Escola São Camilo. Fonte: Acervo de
fotos da Diretora da Escola.
As ações que buscaram e realizaram a consecução desta inclusão escolar devem ter
buscado estratégias de re-significação destas pessoas com “deficiências”, enfatizando “ o
outro”, o ser no fazer pedagógico. Na realidade, disponibilizar oportunidades iguais, não
119
necessariamente significa dispensar o mesmo tratamento. Cada ser humano é essencialmente
singular pelas suas diferenças...
Hoje, quando visualizo alunos da Escola evoluindo no processo ensino
aprendizagem sinto-me emocionada, pela consecução do objetivo alcançado. Alunos
que conseguiram galgar o ensino e tiveram a força da continuidade e isto nós
mostramos na nossa escola, essa evolução, o acreditar que vale a pena investir no
conhecimento... ( FRANÇA, depoimento oral, agosto de 2008).
Ao analisarmos quais as prioridades do ensino, compreendemos a educação como
produto das condições sócio-históricas que viabiliza o cerne político que a sustenta, haja vista
a democratização do ensino. Paulo Freire (2006) aduz que “não educação fora das
sociedades humanas e que não há homem no vazio”, portanto, o professor crítico e reflexivo
direciona a sua praticidade com vínculo teórico em um sustentáculo humanístico.
Não outro caminho senão o da prática de uma pedagogia humanizadora, em a
liderança revolucionária em lugar de se sobrepor aos oprimidos e continuar
mantendo-os como quase coisas, com eles estabelecem uma relação dialógica
permanente. Não podem comparecer à luta como quase coisas para depois serem
homens .( FREIRE, 2006, p.63)
Não importa apenas a estruturação física, mas as origens dos diferentes saberes, que
não são imóveis, mas plurais e estruturados em vários olhares, potencializando surpreendentes
formas de aprendizado. Por que não aprendermos com a diferença, quando a história não nos
deixa esquecer a essência dialética da existência?
3.3.2.2 Nova sede e novos desafios
A professora e atual diretora do Centro de Educação Profissionalizante o Camilo,
Enfermeira França encontra-se em nova sede da escola com uma melhor estrutura
organizacional e com um laboratório de qualidade propiciando um ensino direcionado à
assistência de Enfermagem. A escola também conta com uma biblioteca com um acervo de
livros pertencentes às diversas áreas e especialidades de Enfermagem. A Diretora da Escola
São Camilo em fotografia abaixo, uma das responsáveis pela inserção e continuidade do
ensino e qualificação assistencial na área de Enfermagem.
120
Figura 27 Enfermeira e professora Ozirina Gracildes , Diretora do CEPROSC Centro de educação. Fonte : Arquivo pessoal
da pesquisadora Anneth Basílio.
A atual sede da Escola profissionalizante encontra-se no edifício Anatália
Sampaio, uma área destinada ao ensino de enfermagem de nível médio, com amplas salas,
laboratório, sala de estudos, sala de reuniões, secretaria e diretoria.
Além dos cursos de Auxiliar e Técnico de Enfermagem, a Escola também ministra
os cursos de Instrumentação cirúrgica, Técnico em patologia, assim como preparatórios para
concursos. A Escola também tem um espaço destinado à biblioteca com um acervo de livros
pertencentes às diversas áreas e especialidades de Enfermagem como evidenciamos em
fotografia seguinte:
121
Figura 28 Biblioteca da atual da Escola São Camilo.Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Anneth Basílio
No laboratório da Escola São Camilo estão presentes diversos materiais e
instrumentos para as práticas de diversas disciplinas na área, desde a disciplina de Anatomia
e Fisiologia à disciplina de fundamentação de Enfermagem. As técnicas que mais são
visualizadas e realizadas no laboratório são as sondagens nasogástricas e vesicais
75
,vias de
administração medicamentosas e acessos, administração de soros e medicamentos, curativos.
Para tais procedimentos, os materiais médico-hospitalares são essenciais, assim
como os bonecos específicos para este treinamento. A fotografia que observamos a seguir
demonstra a presença destes materiais para a realização das aulas práticas em nível
laboratorial na Escola.
75
Sondagens realizadas para alimentação ou esvaziamento gástrico, e controle e eliminação de diurese
122
Figura 29 Laboratório da atual da Escola São Camilo.Fonte: Arquivo da pesquisadora Anneth Basílio
As salas de laboratório para a realização das técnicas procedimentais possuem a
estrutura adequada para o ensino de enfermagem e todos os materiais necessários para que as
mesmas sejam realizadas com o critério e rigidez que exigem esta assistência.
Os alunos visualizam na aula prática as técnicas anatômicas, histológicas,
fisiológicas e as correlacionam com as práticas assistências de Enfermagem em nível de
procedimentos. A teoria encontra-se intercalada com as aulas práticas complementando a
importância literária.
Os professores das disciplinas teóricas também são responsáveis pela inserção da
prática de enfermagem que é realizada tanto em nível de laboratórios localizados na própria
sede da escola como evidenciamos em fotografia seguinte, como também em diversos
hospitais da rede estadual e municipal.
123
Figura 30 Laboratório de prática da Escola São Camilo. Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora Anneth Basílio
Os alunos finalizam o curso de enfermagem com aptidão e qualificação para
trabalharem no âmbito hospitalar, e além da matriz curricular que é obrigatória, os alunos
realizam cursos complementares que os tornam mais experientes para atuarem em áreas mais
especializadas como em Unidades de Terapia Intensiva, Centros de cirurgia, Pronto-
atendimentos, Obstetrícia e Neonatologia, dentre outros centros especializados.
As turmas são engajadas com o objetivo de aprendizado e todos os semestres a
Escola forma turmas aptas a serem direcionadas ao campo de trabalho, como visualizamos
em fotografia de turma de Enfermagem da Escola São Camilo com a Professora Supervisora.
A Escola São Camilo fez recentemente 17 anos, atuantes na qualificação profissional de
enfermagem, perfazendo quase duas décadas de dedicação ao ensino e aperfeiçoamento da
profissão.
Diversos profissionais que atuam na assistência de enfermagem no Estado tiveram
a sua história acadêmica na Escola São Camilo onde apreenderam os seus conhecimentos
teóricos e práticos. A Escola enfrentou inúmeros desafios para atingir os objetivos propostos e
para direcionar criteriosamente os discentes na área de saúde enfatizando aética, a postura e a
aquisição dos conhecimentos necessários. Na fonte iconográfica a seguir observamos uma das
turmas de enfermagem da escola com a sua professora supervisora.
124
Foto 31 Turma do curso técnico de Enfermagem da Escola São Camilo. Professora e alunas. Fonte: Acervo
pessoal da Enfermeira Anneth Basílio
O aluno de enfermagem atualmente não está limitado apenas ao conteúdo
acadêmico, mais também aos aspectos oriundos desta aprendizagem contextualizada, assim
como o desenvolvimento de uma formação que tenha uma abrangência delineada na reflexão,
traçando caminhos para que o aluno seja questionador e ávido por novas experiências que os
impulsionem à vida profissional. As Escolas de nível médio no Estado direcionaram de forma
significativa o crescimento e aperfeiçoamento do ensino e a evolução da profissão.
125
CAPÍTULO IV
4 O CURSO DE ENFERMAGEM NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ :
HISTÓRIA, MEMÓRIA E DOCÊNCIA
Neste capítulo abordamos a retrospectiva histórica da criação do curso superior de
Enfermagem no Estado do Piauí em 1973, as lutas engajadas pela primeira turma de
Enfermagem, a escolha pela profissão, as experiências das profissionais enquanto acadêmicas
de Enfermagem e como docentes, e a descrição da evolução histórica na assistência e no
ensino de Enfermagem desde a criação do curso de Enfermagem na Universidade Federal do
Piauí (UFPI) à implantação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
graduação em Enfermagem em 2001.
4.1 Retrospectiva histórica da criação do curso de Enfermagem na Universidade Federal
do Piauí (UFPI)
Na década 1970, no Governo de João Clímaco D’Almeida, evidenciamos
construções de alguns hospitais e expansão no setor da saúde. Em 1972 existiam em Teresina,
Capital do Estado, apenas 26 Enfermeiras, sendo que algumas destas retornaram ao Piauí após
a realização da graduação fora do Estado ( NOGUEIRA, 1996, p. 160) , pois a criação do curso
de Enfermagem na Universidade Federal do Piauí(UFPI) seria possível em 1973, no
Governo de Alberto Tavares e Silva.
A implantação da UFPI tornou-se possível com a lei Federal 5.528 de 11 de
novembro de 1968. No contexto da Reforma Universitária constatamos o aumento no número
de vagas e a transformação do Ensino Superior decorrente da modernização tornando-se
necessária a realização de uma revisão curricular nos cursos de graduação. O ensino de
Enfermagem estava direcionado para a formação de um maior número de profissionais e
também para uma reestruturação curricular mais voltada para o modelo biologicista,
126
individualista e hospitalocêntrico. (TEIXEIRA; VALE; FERNANDES; SORDI, 2006, 142-
145).
A memória deixou de ser um palco de experiências, e não apenas serviu como um
modelo padronizado, mas capaz de transmitir sabedoria ao presente e possibilitar reflexões
para um direcionamento futuro. Proteger e defender a reprodução do conhecimento torna os
profissionais acríticos e fora do processo evolutivo. Entendemos como Mesquita( 2001, p.129)
ao abordar em seu trabalho O banquete mnemônico” que a memória permite revisitar
situações , para compreender como elas acontecem:as teias de poder , as intrigas , as tramas,os
conflitos, as condições sociais,econômicas , políticas e culturais.”
O curso de graduação em Enfermagem da UFPI foi criado em 1973, subordinado ao
Departamento de Medicina Comunitária, ocorrendo o primeiro vestibular em Janeiro de 1973
com a oferta de 20 vagas. (NUNES, 2004, p. 60)
O Curso de Enfermagem ficou vinculado ao Departamento de Medicina porque não
implicaria em custos para a Universidade, fator este que, desencadeou uma série de
problemáticas no funcionamento e evolução do curso e principalmente, no que se refere à
formação da primeira turma que ficou um período sem ter disciplinas específicas do curso de
Enfermagem para serem cursadas, assim como professores habilitados que pudessem lecionar
as disciplinas.
A primeira turma de Enfermagem era constituída somente por mulheres acentuando
a presença da feminização na profissão. As disciplinas que eram cursadas no básico eram
disciplinas comuns aos cursos de Medicina e Odontologia (NUNES, 2004, p. 60).
Alguns estudos históricos acerca da história e memória do ensino de Enfermagem no
Estado foram pesquisadas, como a tese de doutorado abordando a trajetória da Enfermagem
Moderna no Piauí, assim como os primórdios do ensino
76
. Obras que são de grande interesse
para a história da Enfermagem, assim como para a história da Educação,pois analisam as
circunstâncias em que houve a criação do curso de graduação em Enfermagem na UFPI. Esta
dimensão histórica quando analisada por outros Enfermeiros e também professores enfatiza a
76
A tese de doutorado “ A trajetória da Enfermagem Moderna no Piauí: 1937-1977” da Doutora Lidya Tolstenko
Nogueira e “Os Primórdios do Ensino da Enfermagem Moderna no Piauí :Lutas e conquistas na Universidade
no período de 1973 a 1977” , obra de autoria da Professora Doutora Benevina Nunes.
127
importância que a pesquisa histórica representa na evolução da assistência e do ensino da
profissão.
Na realidade, eu gosto muito de história e também tenho um lado poético, gosto
muito de escrever e tenho acompanhado o trabalho da Lidya Tolstenko, a
dissertação de mestrado e a tese de doutorado que foram, indubitavelmente, um
marco na história da Enfermagem. Eu achei muito interessante ,também, o
desenvolvimento dos trabalhos na área da história da Enfermagem realizada pela
Benevina Vilar, que abordaram os primórdios do ensino da Enfermagem. A Aldi
Lima, também, fez a dissertação do mestrado na área da história e desenvolveu
uma retrospectiva sobre a criação e organização da Maternidade São Vicente. Eu
acompanhei de perto a produção do trabalho dela e é realmente encantadora a
desenvoltura histórica; A origem da Enfermagem Piauiense iniciou com as parteiras
na Maternidade São Vicente e depois com a área do ensino regulamentar,
formalmente , com a Escola de Enfermagem Ir Maria Antoinette Blanchot,
inclusive eu tive a oportunidade de lecionar também nesta escola. ( FIGUEIREDO,
depoimento oral, setembro de 2008).
A memória é um componente essencial para a pesquisa histórica e para que possamos
escrever a história precisamos rememorar o passado e por vezes, o transformamos, pois em
determinados fatos acontecidos podem faltar detalhes que não foram ditos, que foram
esquecidos e precisam ser relembrados, doando vida, através da memória a estes momentos.
Portanto, não é justo, como enfatiza Benjamin (1983): “desativar a memória, esquecê-la e
transformar o passado em uma trilha de ruínas”, pois assim o passado se tornaria um local
não visitado e seria presidido pelo esquecimento.
O caminho visitado pela memória é estruturado por componentes emotivos,
lembranças, pois ao rememorarmos algo nos transportamos ao lugar do passado onde
vivenciamos a história, pois não apenas os fatos históricos são guardados na memória mas
tudo o que sentimos e experimentamos em nossa existência.
4.2 A escolha pela profissão de Enfermagem
A Enfermagem, hoje, atua como um processo ou uma sistematização de normas
com a utilização de métodos e procedimentos específicos, organizados e fundamentados que
visam conhecer e atender às necessidades básicas afetadas do ser humano.
Ao analisarmos acerca da escolha de nossa profissão rememoramos fatos que
aconteceram na infância, sonhos que precisamos concretizar, vivências e experiências que
gostaríamos de aprimorar, enfim, a ação e a reflexão tornam-se ciclos para a verificação do
processo do aprender. Vislumbramos técnicas cada vez mais diferenciadas observadas em
ambientes de estudos e primordialmente, na qualidade dos mesmos. Como ensinarmos? Como
128
aprendermos? Como optarmos por uma profissão? Estaremos aprendendo com isso?
Observamos a importância da análise de nossas atuações para que possamos desenvolver
atitudes pertinentes e capazes de responder às nossas dúvidas.
As transformações ocorridas na Educação, a importância da linguagem e do outro
no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem foram significativas. O Educador e o
Enfermeiro estando em processo de formação contínua, crítica e reflexiva, podem e devem
realizar uma análise acerca das suas práticas e atividades educacionais assim também como
assistenciais, direcionando suas funções para a pesquisa e transformando o conhecimento
reprodutivo em produção.
Inseridas nos novos paradigmas da educação e da ciência na sociedade atual,
observamos a utilização de metáforas, e constatamos quão importante é a interpretação, a
postura crítica e reflexiva dos profissionais da Enfermagem como evidenciamos na citação
que retrata a transformação, o aperfeiçoamento, o conteúdo interno resultante da mudança:
Para que a lagarta se converta em borboleta, deve encerrar-se em uma crisálida. O
que ocorre no interior da lagarta é muito interessante: seu sistema imunológico
começa a destruir tudo o que corresponde à lagarta, a única coisa que se mantém é o
sistema nervoso. Assim é que a lagarta se destrói como tal para poder construir-se
como borboleta. E quando esta consegue romper a crisálida, a vemos aparecer, quase
imóvel, com as asas grudadas, incapaz de desgrudá-las. E quando passamos a nos
inquietar por ela, a perguntar se poderá abrir as asas, de repente a borboleta alça vôo.
( MORIN, 1996,p.284)
A modificação não é uma tarefa fácil, querer a transformação aduz a aptidão a
mudança com maior fortaleza e equilíbrio. Alçar vôo requer comprometimento, planejamento,
direcionamento, reflexões, questionamentos. Para mudar, é preciso que o tempo seja
professor. Nossas histórias de vida podem dar um direcionamento a nossa aptidão
profissional e a nossa realidade intercalada com as experiências de vida podem constituir um
despertar para a escolha e opção, como podemos observar em depoimento a seguir.
Todos nós, antes de chegarmos à Enfermagem temos uma história de vida... por isso
temos aulas mais contextualizadas e discutidas de forma reflexiva para que desta
forma possamos ter um caminho a seguir e soluções para as problemáticas que
versam sobre o conhecimento. O aluno é despertado precocemente para a sua
realidade e a realidade da profissão. Então, é um aluno crítico, reflexivo acerca de
sua própria realidade. Anteriormente o aluno cursava as disciplinas sem a
observância em seguida da prática,após as novas diretrizes curriculares o aluno é
inserido muito cedo nas comunidades para que o mesmo possa averiguar a real
situação, o respeito à população, acesso as suas necessidades prioritárias, enfim,
acesso aos conhecimentos necessários para de certa forma viabilizar e direcionar a
sua assistência. ( ALBUQUERQUE, depoimento oral, maio de 2008).
129
Ao rememorarmos o passado, para sabermos o que nos levou à escolha da
profissão observamos que o processo reflexivo encontra-se inserido nas histórias de
experiências de vida após a análise da escolha profissional.
A afinidade é um componente presente, como a possibilidade de cuidar, da
proximidade com o paciente, enfatizando que a profissão de Enfermagem ainda está inserida
na contextualização do caráter caritativo e religioso como constatamos em depoimento da
enfermeira e professora Santos :
A escolha pela Enfermagem como profissão ,foi mais por afinidade mesmo, não
tão consciente naquela época, pela idade, mas foi pela afinidade com o cuidar.
Durante o curso, nós cursávamos as disciplinas com os acadêmicos da Medicina,
Odontologia (...)estudávamos todos juntos. E alguns colegas diziam que nós
deveríamos fazer era o curso de Medicina, pois s estudávamos da mesma forma,
mas eu não tinha este interesse. Não é que a Medicina não cuide mas ela muito mais
cura... o seu maior foco é no curar e a Enfermagem é no cuidado, eu, por exemplo,
sempre quis mesmo cuidar. Inclusive, a Enfermagem ainda encontra-se muito ligada
a questão da caridade, com base na religiosidade, nas raízes do catolicismo, os
valores são muito fortes... a necessidade de separarmos a questão econômica,
pois é um direito nosso , é a nossa profissão, que ainda tem muito de doação.
(SANTOS, depoimento oral, julho de 2008).
A aptidão para a profissão de Enfermagem tem sustentáculo na afinidade, no
dom, no foco e ênfase ao cuidar. A área da Medicina, assim como a Enfermagem, têm
competência e habilidade para atuar na atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação e
liderança, administração, gerenciamento e educação permanente, de acordo com as
normatizações das Diretrizes Curriculares Nacionais.
Observamos através dos depoimentos da professora Santos que a disciplina que
relata a história da Enfermagem atualmente é contextualizada com fatos que aconteceram no
passado, entretanto, que são interpretados, analisados sustentados em uma visão mais crítica
corroborando para uma reflexão criteriosa por parte dos discentes, fazendo com que os
mesmo esteja aptos à produção do conhecimento.
A pesquisa educacional e a pesquisa histórica estão inter-relacionadas, e não
podemos nos esquecer que, a historicidade da origem do fenômeno educativo, tem origem
com o próprio homem. A enfermeira e professora Santos ministra, atualmente, a disciplina
de história da enfermagem na Associação de Ensino Superior e Tecnológico do Piauí-
NOVAFAPI.
130
Figura 32 - Enfermeira e professora de Enfermagem Ana Maria Santos.Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora
Anneth Basílio
Tão importante quanto as experiências para o crescimento do processo ensino-
aprendizagem, são as perspectivas históricas no sentido de contribuir com a evolução do
ensino. O historiador tem interesse pela vida humana e ao valorizar o passado, faz uma
inversão em seu conceito, pois o passado não é o que “não é mais”, pelo contrário, é o que
de mais sólido na estrutura do tempo, uma passagem ao ser (...), o objetivo do historiador
seria mediar um diálogo entre os vivos e os vivos ainda. (SAVIANI, 1996, p.45).
A importância da percepção de alunos e professores relacionada à história da
profissão, suas origens, a caracterização de sua evolução e o aperfeiçoamento da assistência e
do ensino de Enfermagem enfatizam a chave para um novo olhar e novas formas de aquisição
cognitiva. Existem as ocorrências contínuas de um conhecimento reprodutor, sem
questionamentos e interpretações, sem a presença de interdisciplinaridade que são
contextualizados na atualidade. Há a necessidade de conhecermos o passado para que este nos
propicie o conhecimento do presente. Em depoimento abaixo segue a opinião da professora
Santos, que ministra a disciplina de História da Enfermagem:
131
No conhecimento na área do Ensino da História de Enfermagem , quando eu cursei a
disciplina durante o curso de Enfermagem, até pelo contexto, foi uma coisa muito
restrita... Nós nos restringíamos aos períodos históricos, antigos, era cristã, período
negro, nós não tínhamos esta prática social , participativa, que é o que eu procuro
realizar hoje,realizar a ligação entre a historicidade e o que aconteceu no nosso país,
com o nosso Estado, com o que aconteceu historicamente com a profissão, para que
o aluno compreenda que tudo , em sua maioria, tem uma explicação, nós
precisamos conhecer o passado, para conhecermos o presente e o futuro, como nos
planejarmos , para realizarmos um planejamento, pois o estudo da história é muito
importante para que você perceba qual a melhor forma para a nossa organização
como categoria. ( SANTOS, depoimento oral, julho de 2008).
A evolução histórica do ensino de enfermagem nos reporta à importância do
caráter interdisciplinar tão enfatizado atualmente e que interliga e contextualiza a
historicidade com a nossa realidade. A disciplina de história de enfermagem tem ênfase na
dinamicidade e no contexto da análise e da reflexão. A interpretação da história é fator
significativo para o conhecimento, estruturação e contextualização da nossa profissão desde a
sua origem.
No processo de escolha da profissão e no entendimento da sua evolução
observamos quão relevante e essencial é a compreensão das etapas de sua organização e
estruturação.
4.3 Enfermeiras dinâmicas: Professoras plurais
Na década de 1970, em Teresina, observamos os primeiros movimentos da sociedade
civil organizada para o engajamento das lutas por direitos sociais trabalhistas, condições de
trabalho, principalmente nas Instituições públicas a serviço da educação e da saúde, um
envolvimento significativo dos profissionais de saúde com a profissão e com as lutas inseridas
e necessárias para o crescimento profissional.
Muitos profissionais foram cursar Enfermagem fora do Estado, pois o curso na
Universidade Federal do Piauí apenas teria início em 1973. A Profª Lidya Tolstenko Nogueira
foi a primeira coordenadora do Curso de Enfermagem. Tal coordenação era subordinada ao
Departamento de Medicina Comunitária que funcionava no HDIC, hoje Hospital de Doenças
Infecto Contagiosas. Com a inserção do curso de Enfermagem na UFPI, houve a necessidade
de professores para ministrar as disciplinas do curso e de aperfeiçoamento profissional:
A primeira turma de Enfermagem iniciou em 1973, e formou-se em 1977. Eu fui
convocada para o Departamento de Enfermagem em 1976, existiam pouquíssimas
docentes à época. Fui fazer o mestrado em 1977, no Rio de Janeiro, na Escola de
Enfermagem Anna Néri, junto com a professora Lidya Tolstenko Nogueira ,
132
também da Universidade Federal do Piauí, após a realização de uma Especialização
em Metodologia do Ensino de Assistência de Enfermagem. Cursei o mestrado em
dois anos e meses ( Na época o mestrado era realizado em quatro anos), mas como
eu tinha que retornar em tempo hábil, consegui realizá-lo e fazer a defesa em
apenas dois anos. A Pro Lidya foi a primeira coordenadora do Curso de
Enfermagem da UFPI. ( NERY, depoimento oral, maio de 2008).
A professora Lídya Tolstenko Nogueira, ao iniciar as suas atividades como
coordenadora, o fez com o curso em andamento e passando por uma série de problemas
ligados a sua continuidade, devido ao seu início não ter o sustentáculo de planejamento e
organização adequados. As alunas tinham cursado todo o básico, mas nenhuma disciplina
direcionada ao Curso de Enfermagem. As aulas para as alunas de Enfermagem foram
iniciadas em março de 1973, estas cursaram no ciclo básico, as disciplinas nucleares comuns
como Matemática, Português, Inglês, Introdução à Metodologia Científica e outras nucleares
diversificadas, disciplinas direcionadas à área da saúde com Biologia, Química Geral e Física
Básica. Do segundo ciclo, as disciplinas cursadas eram as pré-profissionais destinadas à
formação profissional como Anatomia, Histologia, Bioquímica, Fisiologia, Farmacologia,
dentre outras que eram comuns aos alunos da área da Saúde. ( NOGUEIRA, 1996, p.191-
192).
Devido à impossibilidade da primeira turma de Enfermagem adentrar para o período
profissionalizante pela ausência das disciplinas e professores aptos a lecioná-las, uma das
alunas fez a denúncia ao MEC e deu publicidade ao fato como é esclarecido em depoimento
a seguir:
Assim que eu cheguei, eu adentrei na Universidade Federal do Piauí (O curso de
Enfermagem da UFPI tinha sido criado em 1973 e os alunos estavam no terceiro
ano de Enfermagem e ainda não tinham cursado nenhuma disciplina específica do
curso) Em 1975, os próprios alunos foram aconselhados por uma professora , para
dar publicidade a este fato. Então, após ser exposto na mídia, com esta denúncia, o
reitor ficou em uma situação embaraçosa, e ainda mais pela época , era ditadura e
se fazia apologia e o fato era uma crítica. ( NOGUEIRA, depoimento oral, junho
de 2008).
As alunas da primeira turma do Curso de Enfermagem se sentiram prejudicadas e
insatisfeitas com a situação em que se encontravam sem saber ao certo quando tal
problemática iria ter resolução. O Curso nesta época encontrava-se acéfalo, sem coordenação
e não havia quem orientasse as alunas e as direcionassem em nível de informações e
supervisão. Em 1973, a enfermeira e professora Melo, estava supervisionando os alunos de
Medicina, no estágio rural em Valença e encontrava-se , também, organizando o Hospital de
Doenças Infecto-Contagiosas- HDIC, para que fosse campo para prática da Universidade
133
Federal do Piauí . Em 1974, a professora Carlota Lina era do quadro da UFPI, não era
professora do Departamento de Enfermagem, mas do Departamento de Medicina Comunitária
e foi que quem direcionou e orientou a turma de Enfermagem como podemos constatar a
seguir:
A primeira professora admitida para a UFPI foi a Profª Carlota Lina Melo que muito
incentivou a luta pelo crescimento e aperfeiçoamento do curso de Enfermagem ,
inclusive fortalecendo e acompanhando os movimentos para o desenvolvimento da
profissão , inclusive com repercussões midiáticas na época. Todos os professores
que tinham mestrado foram chamados a participar do quadro da UFPI. Inicialmente,
nós éramos professoras de todas as disciplinas do curso e era muito difícil pois não
havia as especialidades que existem hoje, nós tínhamos que ensinar várias
disciplinas e o acervo dos livros que dispúnhamos era reduzido e assim, dificultava o
nosso trabalho. Eram apostilas, não existiam livros específicos para a área de
Enfermagem, eram mais livros direcionados à área médica. A única revista
disponível era a REBEn Revista Brasileira de Enfermagem, que existia à época;
A primeira turma , por ser excelente, foi direcionada à docência... ( NERY,
depoimento oral, maio de 2008)
Na ocasião não existia um projeto políticopedagógico como hoje. Todos os
professores eram responsáveis pelas disciplinas, não havia a especialidade que observamos
na atualidade. O acervo de livros era bastante reduzido e as dificuldades eram inúmeras, pois
os livros específicos para a assistência de Enfermagem eram quase inexistentes. As primeiras
Enfermeiras que se formaram foram direcionadas à docência, e além da competência técnica,
existia o entusiasmo, como observamos em depoimento:
As disciplinas que eu lecionei foram: O Exercício de Enfermagem, Fundamentos de
Enfermagem, Enfermagem Médica e cirúrgica. Na disciplina de Obstetrícia, a Inez
Néri logo entrou. Para lecionar a disciplina de Administração, nós não tínhamos,
inicialmente, professor, assumiu uma pessoa do Ceará, que, infelizmente não deu
certo. E quando eu cheguei do Mestrado, eu comecei a ministrá-la, Administração
em Saúde Pública e também voltada a área hospitalar. Lembro-me que logo em
seguida fizemos a tentativa da Sistematização da Assistência da Enfermagem, sem
êxito. Tivemos tanto trabalho com relação às prescrições de Enfermagem.
(NOGUEIRA, depoimento oral, julho de 2008).
A ênfase do saber e no saber- fazer ainda é predominante no curso de graduação em
Enfermagem e existem componentes essenciais que precisam ser aperfeiçoados, como a
importância de uma educação continuada aos profissionais, tornando-os mais reflexivos,
participativos, aptos a discernirem com sabedoria acerca dos saberes e práticas, além de
decidirem com clareza quanto à aplicabilidade técnica. Para ações simultâneas e concernentes
a estas transformações educacionais, torna-se indispensável que não se aja apenas baseado na
logística técnica, mas buscando a coerente e indispensável formação pedagógica.
134
Ao rememorarmos o passado constatamos que as lembranças tornam o fato
acontecido mais forte, como se no decorrer de instantes presentes, o passado estivesse à porta
pedindo para ser atendido e ouvido, talvez interpretado. Ao lembrarmos as dificuldades
vivenciadas por estas profissionais focamos as experiências como um farol que nos
oportunizou chegar aos objetivos sonhados.
Apesar da época difícil, escassa literatura, dificuldade em ministrar as disciplinas,
em repassar o conteúdo teórico, a consecução do objetivo foi alcançada e o professor
ultrapassou as barreiras , persistindo no processo de ensino e aprendizagem, fato este
enfatizado a seguir:
Naquela ocasião nós não tínhamos a disponibilidade de muitos livros, eram
apostilas, reproduzidas por mimeógrafo, termofax, quando falávamos em
fotocopiar... era em um papel cor de rosa.A biblioteca original era minha e eu
repassava todas os livros necessários para que fossem copiados para a realização das
apostilas. Eu me orgulho... No início , começamos juntas, Aparecida,, Maria Jo(
Professora de Saúde Pública), e eu, depois entrou a Inez, Filomena Lélis. Os
professores estudavam muito, liam muito, trabalhavam bastante ,mas não tinham a
prática hospitalar .( NOGUEIRA, depoimento oral, julho de 2008)
As dificuldades iniciais incentivaram as professoras a buscarem aperfeiçoamento
profissional. A indisponibilidade literária fizeram com que buscassem o ensino e a pesquisa
culminando em direcionamento estimulante ao objetivo almejado que era a qualidade do
ensino da profissão.A disciplina de História da Enfermagem Piauiense começou a ser
pesquisada na década de 70, pois algumas enfermeiras piauienses desejaram conhecer mais
profundamente esta temática e buscaram subsídios para as suas pesquisas.
Durante o tempo em que eu permaneci na UFPI, tive a oportunidade de lecionar
várias disciplinas pois não havia um projeto político pedagógico e havia à época
uma matriz curricular que disponibilizava uma disciplina de História da
Enfermagem onde nós utilizamos os livros da Paixão, um livro muito completo, de
pesquisadoras também recentes como Wanda Horta e Lygia Paim que abrangia de
forma significativa o processo do cuidar na Enfermagem. A história da
Enfermagem era lecionada , mas na época nós não tínhamos literaturas Piauienses
que abordassem a Enfermagem e a sua desenvoltura no Piauí. Posteriormente
algumas colegas começaram a se interessar e a se aprofundarem no assunto e assim,
elaboraram as suas dissertações e teses construindo assim um maior acervo e
caracterizando esse algo mais” para trabalharmos com os alunos ...”
(ALBUQUERQUE, depoimento oral, maio de 2008).
Este algo mais culminou ao direcionamento e estímulo para o ensino, a pesquisa e a
extensão. A complexidade da prática pedagógica posiciona cada vez mais o professor à
desenvoltura de habilidades como a avaliação, reflexão, criatividade, capacidade de lidar com
situações urgentes, pois observamos a discussão cada vez mais constante sobre as diferenças
entre a reprodução do conhecimento e a produção do mesmo.
135
Na contextualização educacional observa-se um direcionamento mais sistêmico e
reflexivo abordando uma ênfase dialética entre os aspectos teóricos e práticos. Na dinâmica
profissional, muitas vezes a assistência de enfermagem e a visualização de algumas lacunas e
necessidades, propiciam ao enfermeiro que também é educador, um encontro com a docência
como podemos observar em depoimento a seguir:
A docência na minha vida foi por acaso, houve a necessidade de implantar um
centro rural universitário de treinamento e ação comunitária em Bom Jesus do
Gurguéia , era um estágio curricular obrigatório para o pessoal da área de saúde que
realizar-se ia na zona rural., foi uma experiência muito enriquecedora, bonita, foi
formada uma equipe com um médico, enfermeiro, dentista e assistente social. A
área de Bom Jesus ( 1978) era desprovida de assistência e quando chegamos
assumimos logo o Hospital e a coordenação de saúde . Os estagiários de Medicina e
Enfermagem passavam alguns dias conosco e realizávamos prioritariamente a
atenção básica.(...) Fizemos parte desta história. (SOUSA, depoimento oral, agosto
de 2008).
O número de professores era reduzido e a demanda de alunos era grande. A inserção
do campo de prática motivou e aperfeiçoou a prática profissional, as disciplinas teóricas
adquiriram uma luminosidade cognitiva quando inter-relacionadas à prática.
A necessidade da realização das práticas assistenciais para que o aluno de
enfermagem adquirisse experiência culminou na realização de alguns convênios hospitalares
como evidenciado em depoimento de professora:
Na UFPI, havia uma quantidade pequena de professores e nós tínhamos que nos
desdobrar para realizarmos as nossas atividades, tínhamos que ministrar muitas aulas
, de diversas disciplinas, a parceria com os campos foi essencial pois aprimorávamos
na prática o que lecionávamos nos aspectos teóricos, abrindo assim novos horizontes
e buscando esta integração, inquestionável. (ALBUQUERQUE, depoimento
oral,maio de 2008).
As dificuldades encontradas pelas alunas pioneiras foram evidentes, além da
ausência de uma coordenação que as direcionassem, muitos aspectos devem ser enfatizados
como a deficiência da própria estrutura e espaço físico da UFPI, hoje, planejado, organizado e
estruturado. Em fotografia a seguir, a enfermeira e professora da UFPI, Judite Albuquerque,
atualmente coordenadora do curso de Enfermagem da FACID.
136
Figura 33 Professora e Enfermeira da UFPI Judite Albuquerque
Fonte: Arquivo pessoal da Enfermeira Anneth Basílio
Por ocasião da inserção do curso de Enfermagem na Universidade Federal do
Piauí, na época, o espaço era reduzido, as dificuldades eram enormes em recursos áudio-
visuais para apresentação de aulas, grupos de discussão, trabalhos e seminários, fatores que se
encontram minimizados, pois o departamento de Enfermagem da UFPI dispõe atualmente de
vários equipamentos disponíveis para docentes e discentes. Uma das professoras descreve
como as dificuldades iniciais eram significativas e como o aperfeiçoamento e direcionamento
do curso de Enfermagem contribuiu para as transformações da profissão.
Considerando como começamos, eu, que me considero uma parte viva da história,
pois estive lá, na luta para que conseguíssemos, considero que melhoramos muito,
conseguimos inúmeras conquistas. Hoje, estamos com dois blocos, um bloco de
salas de aulas e outro bloco, com laboratório e área administrativa, temos uma área
de vídeo, auditório, área de apoio (...) quando lembro da dificuldade que era para a
consecução de um retroprojetor para dar aulas.Hoje , temos disponível data show,
multimídia... Enfim, todas as condições. ( AVELINO , depoimento oral, maio de
2008).
Algumas enfermeiras e professoras realizaram a sua dissertação de Mestrado na
área da Educação, contribuindo de forma essencial para o aperfeiçoamento do ensino de
Enfermagem e direcionando a Sistematização da Assistência de Enfermagem, através da
137
metodologia do ensino. O Mestrado em Educação propiciou a alguns dos profissionais
enfermeiros uma visão diferenciada:
O Mestrado na área de Educação fez-me alçar vôos, pois eu queria outra área do
conhecimento que fosse diferente, eu queria ampliar a minha visão de mundo e a
área da Educação foi responsável para que eu desbravasse esta busca pelos diversos
saberes... eu sinto que deixei muito nos meus colegas de mestrado e eu, fiquei com
o muito que eles me deixaram... O mestrado propiciou-me uma estrutura de
conhecimentos que me direcionou inclusive à temática relacionada ao Ensino de
Enfermagem com a Sistematização da Assistência de Enfermagem, aonde eu realizei
inclusive uma sugestão para a unificação de uma disciplina da Metodologia do
Ensino e a proposta foi aceita e hoje, sou eu quem ministro a disciplina.
(AVELINO, depoimento oral, maio de 2008).
Diversas mudanças ocorreram na década de 1990 com as diretrizes curriculares. A
partir de 1994, o Curso de Enfermagem da UFPI ampliou os estágios curriculares para dois
semestres letivos de duração possibilitando uma melhor qualidade na assistência de
Enfermagem e maior inserção do profissional no campo da prática assistencial. Houve a
eliminação também do ciclo básico de todos os cursos de graduação da UFPI. Em decorrência
da nova lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 houve a constatação de nova
proposta curricular com a mudança da duração do curso para quatro anos e meio e carga
horária de 3780 horas aulas.
Como docente eu adentrei na UFPI no dia 4 de janeiro de 1990, eu ainda estava na
assistência quando entrei na docência. Marcante, foi a minha qualificação tanto com
o mestrado como o doutorado nesta missão que é a docência, que é uma área em que
eu muito me identifico. E eu queria mesmo me integrar à pesquisa, ao ensino e à
extensão. Estou exclusivamente na área do ensino. E tenho o grande sonho de
realizar o pós-doutorado... As novas diretrizes, elas não são... elas estão,
permanecem, ou seja, trata-se de um processo , são implantadas oficialmente, mas
implementadas na medida em que a adequação curricular, nós estamos no quarto
currículo. Observamos que as diretrizes elas estão influenciando, estão ocorrendo (
...) percebo, principalmente, a importância da interdisciplinaridade, o aluno produz
o seu próprio conhecimento. O professor é um canal de condução, um direcionador,
pois como diz Paulo Freire: “É caminhando que se aprende a caminhar.
(FIGUEIREDO, depoimento oral, julho de 2008).
4.4 A primeira turma de Enfermagem da UFPI: Um exemplo de coragem, força,
competência e dinamismo
O Curso de Enfermagem da UFPI teve o seu primeiro vestibular em janeiro de 1973
e a autorização para o seu funcionamento ocorreu em 1974, por meio do ato da reitoria
198/74. Em 1978, o Curso foi reconhecido pelo Ministério de Educação, através do parecer
n°2137/1978 do Conselho Federal de Educação.
138
Tudo precisou começar, e então, alguns tiveram dificuldades para que através da luta,
os objetivos fossem alcançados. A primeira turma construiu os degraus, delineou caminhos a
serem seguidos, abriu portas que estavam trancadas, conseguiram chaves para o futuro,
lutaram por isso. A Enfermagem foi inserida junto aos cursos de Medicina e Odontologia para
que fosse possível a tríade para a existência do Centro de Saúde.
No início, observamos que os dirigentes ao instalarem o curso não pensaram nas
dificuldades que o mesmo enfrentaria quando houvesse a necessidade de serem cursadas as
disciplinas do profissional, mas a força que a primeira turma demonstrou com a luta para que
o curso fosse reconhecido foi a razão da vitória desta consecução.
Tivemos uma vantagem muito grande, a força da primeira turma... Para que nós
tivéssemos um centro, eram necessários no nimo três cursos, então, nós nhamos
apenas a Medicina e a Odontologia. A Enfermagem entrou para satisfazer esta
exigência. E na primeira turma os alunos brilhavam, os professores eram poucos e
não correspondiam às expectativas dos alunos, mas foi um desafio e tivemos erros e
acertos, mas o saldo foi positivo. ( NOGUEIRA, depoimento oral, junho de 2008).
A união e a força da primeira turma foi algo notável e significativo para a evolução
do ensino de Enfermagem no Estado do Piauí. Vencendo uma época em que a ditadura
vigorava, as acadêmicas de Enfermagem lutaram com afinco pelo direito de terminarem o
Curso de Graduação. E mesmo com todas as limitações, após a denúncia feita ao MEC, a
estruturação do curso foi realizada e a união da turma foi fator preponderante para esta
estruturação.
Na época, éramos vigiadas, pois era ditadura, não podíamos nada, mas lutamos por
nossos objetivos e conseguimos, aqui estamos. Eu, por exemplo, realizei disciplinas
da área médica, pois terminávamos aquelas disponibilizadas para o curso de
Enfermagem e não havia mais o que cursar, então, fiz uma denúncia ao MEC e logo
em seguida houve uma auditoria na UFPI. A minha turma foi muito unida, fomos
todas muito corajosas, eu, inicialmente, assinei o documento de denúncia e depois
marquei uma reunião com a turma (éramos quinze) então pedi que todas assinassem,
pois eu sabia que poderiam advir sérias conseqüências, mas todas nós
permanecemos fortes, acreditamos em nosso sonho e conseguimos... ( AVELINO ,
depoimento oral, maio de 2008).
Os dirigentes da Universidade Federal do Piauí- UFPI, nesta época fizeram várias
promessas às alunas do curso de Enfermagem, mas as alunas continuaram insatisfeitas com a
falta de ações realmente concretas que viabilizassem o início do curso profissional. (NUNES,
2004, p.86). Como podemos observar em relato de professora atual da UFPI e que participou
das lutas realizadas pela primeira turma de enfermagem :
Recebíamos propostas para cursar Medicina, mas o que eu queria mesmo era ser
Enfermeira, eu queria a Enfermagem, era o meu sonho. Depois da auditoria, tudo se
realizou rapidamente, fizeram “a grade curricular”, providenciaram professores.
Existiram muitos questionamentos, uma exacerbação de estudos, inúmeras dúvidas e
139
poucas respostas... Mas conseguimos terminar o curso... (AVELINO, depoimento
oral , maio de 2008).
As alunas de Enfermagem tiveram experiências árduas e grandes dificuldades no
início do Curso de Enfermagem, as vagas eram poucas para as disciplinas que eram conjuntas,
assim como a carência de professores aptos e especializados para ministrarem aulas em
disciplinas específicas.
A escolha pela Enfermagem vem da infância, desde pequena eu queria ser
Enfermeira, e quando soube que iria haver o primeiro vestibular para Enfermagem(
1973), foi mais do que suficiente para a minha decisão de inscrever-me no processo
seletivo. Então, fiz o vestibular, fui aprovada e começou a difícil caminhada, um
caminho árduo, pois no início do curso nós ficamos acéfalos, não havia quem nos
orientasse , nos direcionasse, não havia uma coordenação, não sabíamos a quem
solicitar um direcionamento... Tivemos que nos tornar guerreiras para lutarmos por
nosso objetivo que era o término do curso. Naquela época eram oferecidas apenas
duas turmas para os alunos da área de Medicina, Odontologia e Enfermagem e nós
tínhamos que passar a noite na fila, para conseguir uma vaga, além de pagar uma
taxa para cada disciplina. ( AVELINO, depoimento oral, maio de 2008).
A partir da década de 1990, houve um grande crescimento na qualificação do corpo
docente, foram criados cursos de especialização nas diversas áreas de Enfermagem. Em 1997,
constatamos notório crescimento na produção de conhecimento através da construção de
trabalhos de conclusão de cursos (TCC) e monográficos. O Mestrado em Enfermagem da
UFPI foi aprovado pela CAPES e teve início em março de 2007, com 16 mestrandas,
conforme vislumbramos em depoimento de professora da UFPI:
Em 2006, obtivemos a aprovação do MEC e assim, abriu-se a seleção para a
primeira turma do Mestrado em Enfermagem, da Universidade Federal do Piauí.
Após as novas diretrizes houve a observância de um crescimento significativo no
ensino. O departamento nunca esteve estático em relação à busca de conhecimentos
e sempre se mostrou dinâmico à procura de aperfeiçoamento de suas atividades e
direcionando melhor os discentes às especialidades. ( NERY, depoimento oral, maio
de 2008).
O tempo foi um fator diferencial na evolução do ensino de Enfermagem no
Estado, assim como a qualificação e aperfeiçoamento de profissionais que vivenciaram as
deficiências e os problemas apresentados no início do curso e que foram, ao longo do tempo e
das possibilidades, sendo sanados como é apresentado por uma das depoentes que teve a
oportunidade de presenciá-los.
Nós vivenciamos muito das problemáticas do início, como as vagas, a questão das
matrículas, a carência e o preparo dos professores, no início, isto nós vivenciamos.
Mas foi algo superado, pois o curso conseguiu se manter, conseguiu se consolidar,
se superar... e hoje, poucas Escolas no país m um Mestrado em Enfermagem
como o nosso, muito bom, excelente. Sinto-me muito feliz com a escolha que fiz. (
SANTOS, depoimento oral, julho de 2008).
140
Permitir voz àqueles que vivenciaram, estiveram presentes, sentiram os fatos,
fizeram a diferença, contribuíram profissionalmente torna-se imprescindível para o
crescimento histórico.
Quando nós estávamos no início do curso , a primeira turma estava querendo entrar
para a parte profissional e não estavam conseguindo, fizeram as disciplinas do
básico e não estavam conseguindo cursar as disciplinas específicas do curso de
Enfermagem. Não existiam disciplinas... o curso nasceu com dificuldades,
ocorreram alguns fatos, o curso foi planejado , mas sem pensar nas disciplinas do
profissionalizante e então, elas ficaram sem disciplinas para cursar, e era a época da
ditadura. Mas, elas conseguiram, publicaram uma matéria no jornal “O DIA”,
conseguiram que estas informações chegassem até Brasília, que o MEC viesse
realizar uma auditoria, eu me lembro que nós estávamos começando na
Universidade e então, tudo foi muito rápido, a estruturação do departamento, foi
criada a coordenação, na época, a grade curricular também foi criada rapidamente...
foi muito marcante para nós que estávamos iniciando, foi muito forte.( SANTOS,
depoimento oral, julho de 2008).
Vasconcelos (2001, p.36), cita que “a história efetiva escapa aos códigos e lugares
sagrados. Não se deve deixar de incluir o acaso na história...” As lutas são importantes,
permeiam os ideais de vida, estão presentes no presente e serão lembrados no futuro como a
força inicial e fortalecedora. A luta pelos ideais de vida e a sua consecução fizeram destas
profissionais partícipes na construção de um momento histórico.
Pois nós somos tocados por um sopro de ar que foi respirado antes. Neste caso,
como a cada geração, foi-nos concedida uma frágil força messiânica para a qual o passado
dirige um apelo. Este apelo não pode ser rejeitado impunemente.” Tal interpretação sobre a
história, brilhante, questionadora e ávida por descobertas, de Walter Benjamim, denota com
clareza a importância da experiência e sua relação entre o trabalho da memória e a
reconstrução da história.
4.5 A Contribuição dos Enfermeiros professores na área assistencial
Na década de 1960, no Estado do Piauí, o setor da saúde foi marcado por inúmeras
transformações, constatamos um crescimento importante com a reforma do HGV, o que
culminou em mudanças não somente evidenciadas em nível social , mas de forma
significativa nos aspectos político, econômico e também em nível cultural. Outro evento
importante nesta década foi a inauguração da Casa Mater, em 1966, Instituição privada, que
criou outras alternativas no campo de trabalho do médico, enfermeiro e auxiliares, fato este
relatado pela enfermeira e professora:
Quando decidi vir para Teresina, a convite de um irmão que residia na Capital,
imediatamente já comecei a trabalhar na Casa de Saúde e Maternidade de Teresina,
141
hoje, Hospital Aliança, realizando o meu trabalho como Enfermeira chefe nos postos
I, II e III. Na verdade, tanto realizava os serviços assistenciais como a Gerência de
Enfermagem. ( NERY, depoimento oral, maio de 2008).
Alguns Enfermeiros e também, professores fizeram tentativas, na época de
implantação inicial da Sistematização da Assistência de Enfermagem no Hospital Getúlio
Vargas - HGV, cuja implantação efetiva ocorreu em 1995, como é enfatizada pela professora
e mestre em Enfermagem que foi uma das primeiras enfermeiras a realizar esta tentativa de
implantação desta assistência.
Tive a oportunidade de ter a experiência como Enfermeira, durante um ano, na
Unidade de Saúde do Matadouro, Unidade de Saúde do Satélite, aonde observei o
seu funcionamento e desenvoltura; No Hospital Getúlio Vargas através do projeto da
Unidade piloto de sistematização da assistência de Enfermagem ( SAE), que foi o
primeiro projeto a ser implantado no Estado do Piauí, nos anos de 1985 a 1987, e
esta experiência repetiu-se dez anos depois no HGV em 1995. ( ALBUQUERQUE,
depoimento oral, maio de 2008).
O Hospital Getúlio Vargas , nas décadas de 1960 e 1970, sofreu inúmeras reformas.
A contextualização social, política e econômica destes fatos foram as transformações
ocorridas em nosso país e em nosso Estado com o golpe militar em março de 1964 que
culminaram em reformas na área de saúde pública.
Nesta época, observamos no HGV uma grande reforma em detrimento a várias
circunstâncias e déficits relacionados a atendimentos e assistência médico-hospitalar. O HGV
tornou-se pequeno para a demanda da população que aumentou a procura pelo atendimento,
pois determinados fatores desencadearam nesta busca por atendimentos especializados.
O hospital tinha uma estrutura adequada com um espaço suficiente, a presença de
médicos qualificados, a difusão através dos meios de comunicação de que estes serviços
assistenciais estavam sendo prestados e que direcionou ao crescimento da demanda de
pacientes em busca do atendimento médico-hospitalar.
Havia um número significativo de pacientes muito graves que necessitavam de
procedimentos e assistência de enfermagem especializada. Através de depoimentos
constatamos que esta demanda era imensa e os profissionais poucos. O planejamento
assistencial do enfermeiro foi surgindo lentamente. A passagem de plantão, a obrigatoriedade
da presença de enfermeiros nas áreas mais críticas, a visibilidade da importância e da
necessidade da presença do profissional Enfermeiro na área hospitalar. Assim, o respeito
profissional e a sua respectiva valorização foram gradualmente sendo percebidos.
O Diretor do HGV solicitou que fôssemos,eu e uma colega,trabalhar no Hospital
Getúlio Vargas, haja vista a ausência de uma assistência continuada de enfermagem
142
nesta Instituição, pedindo que nós permanecêssemos de 15 às 21h. Terminávamos
ficando até às 23h, pois grande era a demanda de pacientes graves que precisavam
de uma assistência especializada e criteriosa. Com a organização, surgiram os
plantões, que não eram remunerados, mas havia a passagem de plantão, as
observações eram repassadas, e nosso trabalho, de certa forma, ficou mais planejado
e organizado. Permaneci no HGV de 1972 a 1974, sendo convidada neste ínterim
pelo Dr. Ursulino Martins para trabalhar na Maternidade São Vicente, hoje, Centro
de Saúde Lineu Araújo. A minha experiência com partos e os cuidados assistenciais
às parturientes, fizeram-no perceber quão importantes eram os cuidados de
Enfermagem na área da Obstetrícia. ( NERY, depoimento oral, maio de 2008).
A Maternidade São Vicente foi construída e inaugurada em 1964, pois até então, a
obstetrícia tinha sustentáculo e inserção nas dependências do HGV, e com o aumento da
demanda em diversas áreas médicas atuantes neste hospital houve a necessidade de outro
espaço físico que disponibilizasse uma melhor estruturação para os serviços de obstetrícia e
minimizassem os riscos de infecções maternas e neonatais que estavam freqüentes. Foi
quando o Dr. Ursulino Martins fundou a Maternidade São Vicente, hoje, Ambulatório Lineu
Araújo.
Gostaria de enfatizar que anteriormente existia uma maior integração de equipe, que
era realmente multidisciplinar, e quando eu visualizo que em alguns lugares,
atualmente, a Enfermagem ainda nem participa das “corridas de leito”... Eu comecei
a trabalhar em 1970 no HGV, e eu lembro do respeito que os membros da equipe (
atendentes de enfermagem) tinham pelo Enfermeiro , eles levantavam ao chegarmos
...Os Médicos respeitavam muito o profissional Enfermeiro. A presença do
Enfermeiro era indispensável, havia apenas cinco enfermeiras na época, mas nós
éramos muito respeitadas, a Amparo Barbosa, Maria do Carmo Pereira, Filomena
Lelis.. Ocupávamos o nosso espaço, trocávamos informações, havia crescimento e
aperfeiçoamento. Atualmente, nós estamos distantes do paciente, existem algumas
lacunas, e é essencial a pesquisa, mas temos também que primarmos pela parte
assistencial, chegar mais perto do paciente... (SOUSA, depoimento oral, agosto de
2008).
Na década de 1970, com a industrialização e o incremento do comércio, o incentivo
à cultura e à educação,ampliação da rede de ensino público, além da implantação da
Universidade Federal do Piauí também observamos avanços no setor da saúde com a
construção do ambulatório integrado do HGV,assim como a inauguração da Maternidade
Dona Evangelina Rosa , no governo de Alberto Tavares Silva.
Logo em seguida, houve a mudança para a Maternidade Dona Evangelina Rosa,
onde acompanhei também todo o planejamento organizacional, inclusive
participando como ministrante de cursos de aperfeiçoamento de auxiliares e técnicos
de Enfermagem pela ausência de pessoal qualificado para determinados
procedimentos assistenciais necessários. ( NERY, depoimento oral, maio de 2008).
Atualmente, observamos a necessidade de um caráter mais dialógico, contextual e
comunitário onde a dinamicidade seja observada em nível social e cultural da instituição. A
prática pedagógica evolui então para uma prática mais reflexiva, questionadora, com
143
tendências a transformações pertinentes à criação e a percepção do professor que o faz
pesquisar a sua própria ação.
A prática pedagógica reprodutora, positivista, enclausurou a docência, separando
teoria e prática e direcionando o professor à reprodução do conhecimento, priorizando a
memorização e a passividade (PERRENOUD, 1993, p 48-50). Na profissão de enfermagem
visualizamos uma prática pedagógica diferenciada pois o enfermeiro tem buscado este eixo
integrador da inserção teórico e prática, assim como a busca de experiências não apenas
assistencial como também como educador.
O momento mais importante, como discente, foi acompanhar este crescimento da
Enfermagem, que foi crescendo gradualmente, observamos um crescer intelectual,
de instrumentos, de mecanismos, de laboratórios, é uma evolução, realmente,
marcante. E, enquanto, profissional, eu tenho dois momentos que eu gostaria de
enfatizar, pois os dois tiveram muita importância, que é o momento em que eu atuei
na assistência e o outro, na docência. Na assistência, foi quando eu pude dar a
minha contribuição, quando eu gerenciei uma unidade de saúde que foi modelo ,
que passou a ter uma representação na cidade de Teresina, que inclusive me levou a
ingressar na vida pública, como política, e que tem marcado a minha trajetória
profissional e pessoal. ( FIGUEIREDO, depoimento oral, junho de 2008).
A profissão de Enfermagem tem galgado muitos espaços, assim como conquistado
respeito devido à qualificação dos enfermeiros que se mostram aptos à evolução da
Assistência e ao aperfeiçoamento do ensino da profissão.
Muitas discussões foram visualizadas por ocasião da inserção do profissional
enfermeiro na área da obstetrícia, quando o enfermeiro com a devida especialização torna-se
habilitado na realização de partos sem distorcias, ou seja, sem maiores complicações..
As Especializações eram buscadas em outros Estados, haja vista a inexistência de
qualificações no Estado do Piauí, na época. Morin(2004, p.11) aborda que a missão do
didatismo é encorajar o autodidatismo, despertando, provocando, favorecendo a autonomia do
espírito”. Visualizamos que, as enfermeiras e professoras não tinham autonomia para a
realização dos partos pois era determinado que a função era essencialmente médica. Mas,
alguns médicos apoiaram a necessidade da assistência e presença da enfermagem nestes
espaços como podemos observar em depoimento abaixo:
Tivemos muitos embates, na época, com relação à realização de partos. E na época,
houve uma regra que nenhuma enfermeira na Maternidade poderia fazer partos.
Então, se as enfermeiras não podiam, as professoras não poderiam e os alunos
também. Questionamos muito, na ocasião, e demonstramos que tínhamos a razão
pelos argumentos que foram expostos, pois para a nossa realidade, os Enfermeiros
tinham a necessidade sim de realizar partos,pois no interior quem realizavam os
partos eram as parteiras , e as Enfermeiras precisavam saber atuar... Dr. Natan
Portela fortaleceu a decisão acerca da necessidade deste procedimento e a
144
Enfermagem continuou realizando partos. (NOGUEIRA, depoimento oral, junho de
2008).
O HGV, a Maternidade Evangelina Rosa, o Hospital Areolino de Abreu foram
campos de estágio em que o aluno de Enfermagem pôde desempenhar a assistência de
Enfermagem na prática com a aplicação dos conteúdos teóricos .
Nós tínhamos três salas no HGV, na Maternidade, no Hospital Areolino de Abreu,
em todos os Hospitais, nós tínhamos espaços para os professores discutirem com os
alunos. Eu reproduzi o que tinha aprendido na minha Escola. Eu exigia um
uniforme, eu não admitia que os alunos viessem com a mesma roupa de casa e
vestissem a roupa hospitalar por cima, eles tinham que trocar de roupa e vestir o que
eles chamavam de “jibão”. ( Risos). Não fumavam na minha presença, mas existia
muito carinho, muita consideração pelos alunos. ( NOGUEIRA, depoimento oral,
junho de 2008).
Podemos observar as folhas das árvores, aparentemente similares, mas não iguais,
com uma arte diferente. Portanto, as histórias não são iguais e fazem as diferenças no mundo,
as diferenças entre as pessoas. Comportamentos individuais e grupais, realmente, são fontes
de aprendizado e passam a ser situações de reflexão e avaliação contextual.
O ensinar pode ser em um mesmo movimento, construído, desconstruído, linear,
circular na sua forma de transmitir conhecimentos e formar espíritos, explicar, fazer
sobreviver os elementos simples do conhecimento, tornar simples o que sempre foi
complexo para a humanidade( PERRENOUD,1997, p.45).
Cada um faz diferente porque é diferente, pensa diferente, faz-se e constrói-se de
forma diferente. Cabe ao professor estabelecer a sua própria forma de produção de
conhecimento.
4.6 Diretrizes Curriculares Nacionais no Curso de Graduação em Enfermagem: Um
direcionamento interdisciplinar
O ensino, a pesquisa e a extensão tornaram-se uma tríade incerta e questionável,
atualmente. Os métodos que são direcionadores e facilitadores para a investigação, a
observação, a experimentação de alternativas tornam os professores mais preparados para esta
nova prática educacional.
Sabemos da importância da compreensão acerca do conteúdo disciplinar, mas os
aspectos questionadores passam a ser um componente transformador e evolutivo em nível de
crescimento e aperfeiçoamento profissional.
145
O estudo da experiência na formação, sobretudo, reflexiva deste profissional, que
tem por objetivo torná-lo melhor preparado, visualizando maior autonomia e valorização é
fundamental na análise das intervenções pedagógicas. (JOSSO, 2004,p.102-104).
Com o processo de Redemocratização do país, precisamos citar dois marcos , a VIII
Conferência Nacional de Saúde em 1986 e a Promulgação da Constituição de 1988 que se
caracterizaram por processos de lutas e consecuções de direitos sociais.
A ABEn em 1994, vale ressaltar , criou os SENADEns ( Seminários Nacionais de
Diretrizes para a Educação em Enfermagem) que contribuíram significativamente para as
Diretrizes Curriculares Nacionais. (TEIXEIRA, 2006, p.144)
A Enfermagem cresceu muito de 1990 para os dias de hoje, a UFPI, os professores
são muitos preocupados, engajados, imbuídos em capacitar os alunos. A área física
cresceu bastante, foi realmente aprimorada, estruturou-se melhor... E qual é a
profissão que prepara atualmente para ser educador e gestor? A Enfermagem é um
curso completo, nós estamos conseguindo muitos dos nossos objetivos mas ainda
falta muito... Falta reconhecimento, valorização, autonomia, falta um maior espaço
dentro da Universidade Federal do Piauí. ( NOGUEIRA, depoimento oral, junho de
2008).
Em 1996 foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( Lei
9394 de 20 de dezembro de 1996), flexibilizando os currículos, para a extensão de cursos e a
abertura de vagas na Educação Superior. Houve acréscimo em carga horária curricular, e hoje
com o currículo III, há a obrigatoriedade do trabalho de conclusão de curso.
Houve um acréscimo na carga horária das disciplinas e atualmente, temos um
currículo com mais de quatro mil horas aulas, voltado inclusive para a área
preventiva, com maior praticidade, maior atenção à pesquisa, aumento na quantidade
de monitorias remuneradas, o número de projetos cresceram até o currículo II, não
havia a obrigatoriedade atual de realização do TCC (Trabalho de conclusão de
curso). Hoje, existe esta obrigatoriedade, pois a partir do currículo III começou a ser
cobrado. Observamos a dificuldade que os discentes tiveram na realização deste
trabalho, pois cursavam disciplinas pertinentes à Metodologia Científica no início do
curso e chegavam ao final ainda inexperientes para a realização desta monografia,
caracterizando um déficit nesta área de pesquisa. Atualmente temos um introdutório
aonde abordamos o trabalho de pesquisa, além de estágios e bolsas que contemplam
de forma mais atenta este aspecto do aprendizado. A minha experiência como chefe
de departamento tem sido enriquecedora , muito o que realizar, tudo o que estou
realizando faz parte da minha contribuição ao departamento... ( NERY, depoimento
oral, maio de 2008).
O conhecimento pedagógico do professor aborda uma temática que requer uma
definição e análise que se estenda além do debate funcionalista e administrativo da profissão
docente. Constatamos, então, que não são questionadas as propostas epistemológicas da forma
de transmissão do conhecimento, mas o esquecimento à ênfase e a importância do
146
conhecimento cultural, prático, contextual com os seus aspectos científicos, éticos, morais e
políticos do educar, pois as adaptações que o professor realiza permeiam as suas ações.
Esta oportunidade de lecionar diversas disciplinas nos levava a discussões
enriquecedoras acerca de mudanças, reuniões científicas, didáticas, o que nos levava
a aprofundar os conhecimentos. Havia a exposição de conhecimentos por uma
professora, e a outra docente enfatizava e complementava. Em 1997, houve a
oportunidades de mudanças da grade curricular, de construção de um novo currículo,
a UFPI teve que se inserir no contexto nacional e de ter um projeto pedagógico que
viabilizasse esta questão. Não somente uma grade curricular, mas um perfil,
ementários, e isto foi trabalhado através de oficinas com os professores da UFPI,
professores de outros centros que trouxeram a sua experiência de fora, com o
trabalho de profissionais de áreas específicas que contribuíram para o
desenvolvimento e aperfeiçoamento deste trabalho que obteve um crescimento
enriquecedor. Este aspecto fez com que a Enfermagem se organizasse para atender
às necessidades do novo contexto exigido. ( ALBUQUERQUE, depoimento oral,
junho de 2008).
A produção do conhecimento encontra-se interligada pela visão crítica,
questionadora e investigativa e a autonomia consiste em um sustentáculo para esta construção.
A estrutura organizacional que enfatiza a reflexão, o estímulo, a curiosidade, a interação e a
busca do saber, estabelece um novo olhar acerca da apreensão do conhecimento.
As novas Diretrizes Curriculares inter-relacionou as disciplinas, direcionou o
aluno que estava voltado para área da administração a buscar a prática, envolvido com a
comunidade e com a contextualização da teoria. Tais diretrizes proporcionaram ao aluno um
direcionamento às áreas preventivas e curativas.
Muitas mudanças ocorreram com as transformações do ensino e com as novas
diretrizes curriculares, o ensino, que era voltado antes mais para a área
administrativa, hoje, é observada uma maior delimitação entre a área intra-
hospitalar e a saúde comunitária. O profissional torna-se apto a desenvoltura tanto
na área hospitalar, curativa, como na área preventiva. Eu posso falar destes
aspectos, pois eu fui a responsável, realizei o projeto político pedagógico do curso
de Enfermagem. ( ALBUQUERQUE, depoimento oral, junho de 2008).
Houve a realização do Projeto político pedagógico que foi de significativa
importância para a sustentação da formação profissional e encontrava-se fundamentado nos
princípios da equidade, da integralidade, da gestão demográfica, da formação do educando ,
respeitando a liberdade e valorizando os atores sociais deste processo.
Na verdade, eu fiz esta integração, favoreci um eixo integrador... O aluno no
primeiro período já tem contato com a história da Enfermagem, no segundo período
visualiza a atenção primária, insere-se no contexto da realidade. Tentei realizar um
eixo permeável às outras disciplinas, enfatizando a interdisciplinaridade. O aluno
fica motivado no início do curso pois temos um introdutório que realizamos que é
muito importante na inserção deste aluno na UFPI. Este curso de introdução é
ministrado por mim e são abordadas significativas informações acerca do Projeto
Político Pedagógico... Falamos o que é projeto, o político e o pedagógico. Falamos
147
dos pressupostos, dos objetivos do curso, da missão do Curso de Enfermagem,
depois, realizamos uma análise da matriz curricular, explicando o eixo integrador,
abordando os direitos e os deveres do aluno. Realizamos uma visita à UFPI (
biblioteca, setor de esportes, restaurante universitário, reitoria). Posteriormente, os
alunos m que fazer um relatório contextualizando este projeto pedagógico. (
AVELINO, depoimento oral, maio de 2008).
Os professores têm o anseio de transformações e inovações e se comprometem com a
contextualização atual e cultural, estando mais aptos a debates, às reflexões, análises das
realidades sociais, aprendizagens alternativas, simulações e dramatizações. Trabalhar em uma
educação do futuro significa promoção de um currículo realmente formativo com a
caracterização de experiências interdisciplinares, pois os aspectos metodológicos devem
fomentar os processos reflexivos sobre a educação e a realidade social por diferentes
experiências.
Anteriormente o perfil dos egressos contemplava apenas o aspecto assistencial e a
área curativa e hoje o enfoque transformou-se e a ênfase é para a prevenção de
doenças e não penas aos aspectos curativos. Os currículos foram alterados em nível
de diretrizes, pois sabemos que a Unidade de Terapia Intensiva, apesar de necessária
é muito onerosa e muitos casos de hospitalização podem ser prevenidos, podem ser
solucionados. Houve uma mudança na Política Nacional de Saúde com a criação do
SUS, essa possibilidade de integralidade, de controle social, interdisciplinaridade, de
humanização, de prevenção, alertou os cursos sobre a necessidade de uma
adequação. As pessoas, atualmente, buscam, não apenas o cuidado à saúde mas
viver melhor e viver com maior qualidade de vida, além de serem informadas acerca
destas importâncias que são consideradas essenciais para que esta assistência seja
visualizada... a Enfermagem deixou de estar apenas nos Hospitais e teve que
acompanhar a ampliação da demanda do mercado e um novo processo de
crescimento dentro do contexto político-social e começou a desenvolver-se nas
comunidades. ( ALBUQUERQUE, depoimento oral, junho de 2008).
Muitas conquistas foram evidenciadas na estrutura da UFPI. O planejamento e a
organização do Departamento de Enfermagem foram essenciais em nível de transformações e
conquistas.
A estrutura antes pouco estruturada e ineficiente, após a reforma evidencia uma
galeria de exposições de trabalhos, área para o museu de história e memória da Enfermagem,
duas salas de vídeo, ampliação de auditório, sala de apoio, sala para eventos, setor de
coordenação, área para a organização das placas de formaturas, área de informática, amplo
espaço para salas de aula, salas de aula para o Mestrado e Doutorado.
A inauguração foi realizada no dia 31 de março de 2008, com a presença da
Administração Superior, Diretores de centros e pró-reitores.
Observamos mudanças importantes com melhorias essenciais na reforma realizada
no Departamento de Enfermagem, a estrutura do departamento antes ineficiente para
comportar a demanda e as necessidades do curso, obteve um aperfeiçoamento
estrutural. Tal reestruturação contou com a ampliação do auditório, sala de apoio,
148
apoio para eventos, duas salas de vídeo, galeria de exposições, museu da história e
memória da enfermagem, local específico para as placas, setor de coordenação e
salas de professores ampliados, laboratório de informática com maiores conexões
para a internet, áreas de circulação entre a coordenação e o departamento,
interligadas e climatizadas, sala de reunião, salas para o mestrado e doutorado.
(NERY, depoimento oral, maio de 2008).
O Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, após as reformas
e planejamento organizacional possibilita, atualmente, uma estrutura de exímia qualidade,
proporcionando aos discentes mudanças significantes, transformações estas que vão desde os
aspectos estruturais às reformas em âmbito administrativo, na área de aquisição de
conhecimento, buscando, inclusive, as implementações no processo de ensino e aprendizagem
como a melhoria dos recursos áudio-visuais.
Área de extrema importância para a história e memória da Enfermagem piauiense
como podemos evidenciar a seguir, um espaço destinado apenas à exposição das placas de
formatura por ano que, anteriormente, não eram organizadas como deveriam, enfatizando e
demonstrando a essência e importância histórica deste memorial para o departamento, como
podemos constatar em fotografia recente:
Figura 34 Espaço destinado para a organização das placas de formatura após a reforma do
Departamento de Enfermagem. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Anneth Basílio
149
Figura 35 Placa de formatura dos formandos em 2003. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora Anneth
Basílio.
Figura 36 - Placa de formatura da turma de dezembro de 1995. Fonte: Arquivo pessoal da
pesquisadora Anneth Basílio.
150
A solenidade de formatura de dezembro de 1995 constou com a diplomação de 27
enfermeiros, a turma “Nossos pais: caminho à liberdade, discernimento e conhecimento” teve
como oradora Francimaura de Morais Gomes, juramentista Kátia Regina de Sousa Batista e
descerramento da placa realizado pela enfermeira recém- formada Anneth Cardoso Basílio
da Silva. Observamos alguns mestres homenageados como as professoras Benevina Maria
Vilar Nunes, Carlota Lina Cardoso Melo, Filomena Nogueira, Maria do Rosário de Fátima
Sampaio, Francinete Paula Avelino, dentre outras professoras que direcionaram e
aperfeiçoaram estes profissionais no caminho do conhecimento.
Na placa de formatura de 1995 constatamos uma mensagem de Gustave Flaubert,
enfatizando a essência e propósito da luta por sonhos e objetivos de vida: Os momentos mais
esplêndidos da vida não são os chamados dias de êxito, mas sim aqueles dias que saindo do
desânimo e do desespero, sentimos erguer de dentro de nós um desafio à vida e a promessa de
grandes realizações.”
Inúmeras mudanças foram realizadas no Departamento de Enfermagem da UFPI,
transformações estruturais e em nível de aprimoramento e capacitância de docentes,
direcionando uma melhor aptidão à formação do enfermeiro generalista e humanista, assim
como crítico e reflexivo.
Figura 37 Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Piauí após as reformas. Fonte:
Arquivo pessoal da pesquisadora Anneth Basílio
151
O enfermeiro, inserido na sua dinâmica profissional e educativa, precisa procurar
transformações e criar novas formas de ensinar e aprender, assim como a estabelecer vínculos
com o processo evolutivo do saber -conhecer. A reflexão e a pesquisa acerca das suas próprias
ões podem desencadear novas formas de estabelecer a aprendizagem.
A socialização e a vivência profissional tornam-se essenciais para a prática da
docência, pois a formação permanente vislumbra os questionamentos, assim como a
legitimação do conhecimento profissional posto em praticidade.
O conhecimento profissional não é estático e flui para a dinamicidade. Ao
analisarmos a desenvoltura do Curso de Enfermagem e as transformações oriundas das novas
diretrizes curriculares, observamos que o sistema educativo nos leva a questionarmos como
superar determinadas imagens de práticas de ensino que se tornaram ultrapassadas para o
exercício do ensino. Devemos, prioritariamente, possibilitarmos a reflexão, a flexibilidade e a
criatividade nas situações educativas, evitando uma visão funcionalista, mecânica, rotineira,
técnica e burocrática, como constatamos na visão a seguir:
O aluno é transformado, o aluno que não dava importância a história da
Enfermagem, agora pensa de forma diferente quanto ao conteúdo, quanto ao acesso
ao conhecimento histórico, quanto ao aprendizado da história... Todos os trabalhos
que nós construímos, foram todos com a participação dos alunos. É dinâmico, é
participativo... Isto nós conseguimos, graças as novas diretrizes, a interação, o
diferente é diferente quando é significativo para o aluno. ( SANTOS, depoimento
oral, julho de 2008).
Aprender e ensinar interagem com os conhecimentos derivados de uma socialização
comum, com novas informações, em um processo de formação questionador aonde se aprende
mediante reflexão individual e coletiva acerca do contexto de instabilidade que promove a
prática educativa e do caráter de incerteza e improvisação destas práticas, tornando o
professor mais reflexivo acerca dos problemas enfrentados.
A análise da produção do conhecimento não se faz de forma estática e repetitiva, mas
com dinamicidade e com certa complexidade, solicitando uma investigação por parte do
professor. Indubitavelmente a prática pedagógica não mais pode ser visualizada como apenas
uma atividade, mas um processo que envolve questionamentos e aspectos reflexivos.
Por muito tempo os saberes oriundos da prática pedagógica não foram reconhecidos
e tratados de forma valorativa nas pesquisas acadêmicas. O que era valorizado, na verdade,
era a estrutura didática e pedagógica, por isso esta separação dos aspectos teóricos e a
praticidade, e os professores tornaram-se meros transmissores de um saber repetitivo, estático,
sem a dinamicidade significativa e exigida no processo de aprendizagem de conhecimentos.
152
Hoje com o PSF (Programa de Saúde da Família), que atua de forma estratégica,
observa-se esta nova tendência. Atualmente, o profissional Enfermeiro é um
educador, educa por excelência na prevenção das doenças aperfeiçoando a profissão
na área preventiva e tornando-a apta às suas razões de existência. “A Enfermagem
tem que trabalhar a saúde das pessoas” . Hoje, nós temos a saúde da criança, saúde
da mulher, do adulto e do idoso modificando o que anteriormente era enfermagem
pediátrica , materno-infantil, médico-cirúrgica. Atualmente o enfoque é a
prevenção... com o trabalho de professor reflexivo, o enfermeiro educador busca o
caráter reflexivo do conhecimento e isto é contemplado nas novas diretrizes... O
enfermeiro com uma visão generalista, ampla, vislumbramos a formação de um
enfermeiro crítico, apto a questionamentos e transformações. Reflexivo, pois as
próprias aulas não são mais aqueles conhecimentos reprodutivos, aonde o aluno era
passivo, hoje , o aluno produz, produz o seu próprio conhecimento ativamente...o
professor é facilitador neste processo de busca que é o conhecimento...
(ALBUQUERQUE, depoimento oral, junho de 2008).
A prática da produção do conhecimento aborda a essência e importância da
autonomia, investigação e da crítica para a construção do mesmo, pois isso inclui o enfoque
democrático, social, solidário, igualitário, cultural e ambiental.
Um dos focos principais é você visualizar os conteúdos das disciplinas perpassarem
uma grande quantidade de informações que se visualizam também em outras
disciplinas caracterizando um forte elo. A saúde ambiental, que é a disciplina, que
atualmente , estou ministrando , leva a questionamentos com o discente, o que você (
aluno) faz em defesa do meio ambiente, o que se faz no dia a dia significa muito ,
além de uma prova objetiva ou de uma caracterização de notas. O fazer é mais
importante, a cidadania... o aluno crítico, questionador, reflexivo, o aluno ativo, e
isto faz com que não nos preocupemos apenas com a nota avaliativa, mas com o que
eu faço, o que eu produzo, o que eu quero, o que eu penso , o que eu posso fazer, a
minha parte... A experiência que eu tive como secretária de meio-ambiente, eu
posso dizer que se ambientalista é uma profissão, eu posso dizer que me qualifiquei
como ambientalista, foi uma escola, quatro anos de experiência, e impressionante
como essa área está interligada à Enfermagem, como eu encontrei a enfermagem na
secretaria. O prefeito na época foi bastante criticado por indicar uma enfermeira
para a secretaria de meio ambiente, e acho que nós conseguimos desenvolver um
trabalho de grande visibilidade. ( FIGUEIREDO, depoimento oral, junho de 2008).
Perrenoud (1997, p.32) enfatiza a importância e essencialidade dos saberes
adquiridos que não se encontram enquadrados em doutrinas e teorias, que se caracterizam
pelos saberes da experiência.
O saber docente é plural e é envoltório de muitos aspectos oriundos de
experiências vivenciadas, sonhos articulados sobre sustentáculos teóricos e que podem ser
alcançados com o uso de criatividade, autonomia, práticas reflexivas e anseios por
transformações que resultem no aperfeiçoamento do ensino e de suas práticas, para que seja
possível a troca de experiências, a interdisciplinaridade e a construção deste processo de
ensino e aprendizado, como evidenciamos em depoimento seguinte:
Tanto a Enfermagem teve significado e repercussão no meio-ambiente, pois eu levei
muito da minha visão , como a Enfermagem na experiência da área ambiental,houve
153
uma troca de conhecimentos...Hoje, eu realizo um seminário temático, aonde estão
inseridos quatro grupos, um que desenvolve a questão da poluição do ar
atmosférico, o outro visualizar a poluição do solo, do aterro, a estação de
tratamento de água e esgotos. Seminários enriquecedores em que o aluno sai com a
visão geral dos problemas ambientais de Teresina, é uma riqueza de informações,
através de uma pesquisa, realizada por eles mesmos, caracterizando a construção do
saber. ( FIGUEIREDO, depoimento oral, junho de 2008).
Figura 38 Professora e doutora em Enfermagem Maria do Livramento Figueiredo. Fonte: Arquivo pessoal da
pesquisadora Anneth Basílio
O professor atualmente não necessita apenas de conhecimento teórico, precisa
contextualizar este conhecimento com os aspectos sociais e culturais. As novas diretrizes
traçaram este plano interdisciplinar, o entrelace entre a prevenção e a cura, como sustentáculo
pedagógico. O profissional de enfermagem apto para atuar não apenas no atendimento e
assistência individual, mas também em âmbito familiar, coletivo engajando a comunidade em
suas atuações assistenciais.
Eu vejo as novas diretrizes como algo fantástico, um maior planejamento no
ensino, pode-se visualizar com critério qual a necessidade da sua população, as
necessidades da comunidade, o que se almeja, o perfil da população, a questão
154
epidemiológica, construção conforme as necessidades visualizadas, o ideal da
população. Outra coisa grande que eu vislumbro é que, antes o professor era um
excelente técnico, isto sem questionar a parte pedagógica, existia, sem dúvida,
aquele conhecimento da técnica, mas não havia um interesse pela questão
pedagógica. Atualmente com estas novas diretrizes, há a possibilidade de formarmos
além de um bom técnico, também um cidadão. Um currículo integrado é uma
maravilha. Esta integração favorece e norteia muitos pontos positivos, pois para esta
formação crítica, integrada, participativa, tem que haver a questão pedagógica. Com
estas diretrizes, houve uma maior cobrança neste aspecto.( SANTOS,
depoimento oral, julho de 2008).
Esta integração entre os eixos disciplinares permite um melhor planejamento e uma
organização sistematizada das ações de Enfermagem, mas não podemos esquecer que cada
ação deve ser cuidadosamente traçada e individualizada. O Enfermeiro e também educador
deve estar sempre pronto a um novo olhar para que possa perceber e interpretar o
direcionamento de suas ações.
155
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação é o resultado de um trabalho de pesquisa com sustentáculo
teórico-metodológico em obras que abordam a história da Enfermagem e a evolução da sua
prática de ensino, assim como outras obras que enfatizam a importância da Memória e
História Oral , evidenciando os escritores clássicos da História da Educação Brasileira, os
estudos de gênero e as produções historiográficas locais.
A reconstituição e a preservação da história e memória do ensino de Enfermagem
no Piauí tornam-se fundamentais para a descoberta e a análise de informações acerca da
evolução e do desenvolvimento deste ensino.
Este trabalho evidencia quão importantes foram as contribuições dos precursores
desta história, a descrição dessas para o ensino de Enfermagem,os direcionamentos e as
condições da desenvoltura deste ensino, além de fomentar reflexões para a observação
criteriosa dos fatos que ocorreram no passado e contribuíram para a análise desta evolução
histórica da profissão e do ensino de Enfermagem.
O cuidado aos doentes originou-se no lar, com a e de família,
primordialmente cuidadora ou por escravos, definindo a ausência de pessoas aptas que se
dispusessem a realizá-lo. A presença do gênero feminino, desde o início, acentua a
caracterização histórica da feminização na prática e na assistência do cuidar.
A retrospectiva histórica da profissão de Enfermagem foi necessária no decorrer do
trabalho pois a evolução das suas práticas assistenciais, assim como a estruturação e
aperfeiçoamento do seu ensino, enfatizaram os aspectos histórico- sociais, as origens e a
trajetória do cuidado humano, a transmissão destes cuidados e o seu vínculo com o caráter
religioso relatando a trajetória da profissão de Enfermagem no Brasil.
A análise histórica da desenvoltura e evolução do ensino de Enfermagem no Estado
do Piauí tornaram possível a identificação e a contribuição de Enfermeiras Piauienses
pioneiras na evolução do processo de ensino e aprendizagem da profissão, assim como a
história da instalação, estruturação e aperfeiçoamento do ensino médio de Enfermagem no
Estado, com a criação da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria Antoinette Blanchot e
156
posteriormente da Escola São Camilo que são consideradas marcos no desenvolvimento do
ensino de Enfermagem no Piauí.
A análise da evolução do ensino de Enfermagem na Universidade Federal do Piauí,
a sua implantação com a inserção do curso de Enfermagem na década de 1970, as lutas e
conquistas da primeira turma de Enfermagem com a consecução de uma coordenação
dinâmica e funcional, o desenvolvimento e aperfeiçoamento do ensino de Enfermagem com
as modificações das cargas horárias e outros aperfeiçoamentos oriundos das Novas Diretrizes
Curriculares Nacionais foram temáticas abordadas na pesquisa com o intuito de reconstituição
e preservação da história e memória da evolução da profissão e do ensino da Enfermagem
Piauiense.
O marco inicial da dissertação corresponde ao início formal do ensino de
Enfermagem no Estado, que se deu com a inauguração da Escola de Auxiliar de Enfermagem
Maria Antoinette Blanchot, em Junho de 1958 e o terminal, com a Resolução do Conselho
Nacional de Educação 3 de 7 de Novembro de 2001 que institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem as quais definem os
princípios , os fundamentos, as condições e os procedimentos de formação de Enfermeiros ,
assim como a aplicação em âmbito nacional com a organização , desenvolvimento e
avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em Enfermagem das Instituições
do Sistema de Ensino Superior.
As análises realizadas no decorrer deste estudo tornam evidentes as seguintes
observações:
Os avanços e retrocessos foram características básicas no processo de ensino de
Enfermagem no Piauí. A implantação do ensino formal ocorreu tardiamente tendo que
enfrentar desafios que impediram seu progresso e muitas vezes ocasionando o seu
declínio.
A carência de recursos financeiros era uma argumentação comumente usada pelos
governantes para justificar a falta de prioridade para com a educação. As escolas
dependiam de verbas para o seu funcionamento. A saída das religiosas das supervisões
hospitalares, assim como do âmbito educacional, a ausência de professores
qualificados e aptos para ministrarem as disciplinas nos cursos de Enfermagem foram
fatos históricos importantes para dificultar a instalação, o desenvolvimento e o
aperfeiçoamento deste ensino.
157
A análise histórica da desenvoltura e evolução do ensino de Enfermagem no Estado do
Piauí tornou possível a identificação e a contribuição de Enfermeiras Piauienses
pioneiras na evolução do processo de ensino e aprendizagem da profissão, enfatizando
a importância das suas lutas pelos seus ideais pessoais e profissionais e das conquistas
para a consecução de um espaço de maior significância para a profissão no Estado.
A análise histórica da instalação, estruturação e aperfeiçoamento do ensino médio de
Enfermagem no Estado, com a criação da Escola de Auxiliar de Enfermagem Maria
Antoinette Blanchot e posteriormente da Escola São Camilo que são consideradas
marcos no desenvolvimento do ensino de Enfermagem no Piauí propiciou , através a
contribuição da história oral que complementa a fonte de pesquisa documental,
inúmeros esclarecimentos acerca da importância da história e da memória da profissão
e do ensino de Enfermagem..
O estudante de Enfermagem e o Enfermeiro são predominantemente do sexo
feminino, mesmo com inserção gradual do sexo masculino.
A ampliação das ofertas de cursos não se vinculou aos avanços estruturais e recursos
humanos necessários.
A criação do Departamento de Enfermagem e a análise da evolução do ensino de
Enfermagem na UFPI- Universidade Federal do Piauí, a sua implantação com a
inserção do curso de Enfermagem na década de 70, as lutas e conquistas da primeira
turma de Enfermagem com a consecução de uma coordenação dinâmica e funcional, o
desenvolvimento e aperfeiçoamento do ensino de Enfermagem com as modificações
das cargas horárias, as implementações e as evoluções decorrentes da nova
estruturação educacional, culminando com as Diretrizes curriculares para o curso de
Enfermagem foram marcos significativos para o crescimento do ensino da
Enfermagem Piauiense.
A desenvoltura deste trabalho oportunizou-me grande crescimento e
aperfeiçoamento pessoal e profissional haja vista a pesquisa histórica ter sido realizada no
Estado do Piauí com a contribuição de profissionais enfermeiros que participaram dos
eventos, enriquecendo os fatos com importantes conteúdos mnemômicos e construindo novas
formas de visualização de detalhes antes vivenciados na história da profissão e do ensino, mas
que estavam esquecidos. O empenho despendido na construção deste trabalho foi de grande
significância pois propiciou o esclarecimento de questionamentos relacionados às causas e
158
conseqüências do início tardio da implementação deste ensino e de como se processou a
evolução deste no Estado.
O mundo diversificado, com diferentes culturas e linguagens, determinado
também pela influência da linguagem não- verbal, transporta-nos para uma viagem
imensurável de conhecimentos que é a área da educação. Tal área identifica-se e une-se aos
laços culturais, intercala de hermenêutica os efeitos lingüísticos em cada cultura e permeia o
aperfeiçoamento do ser em crescimento. A educação é o corolário de uma sociedade, seu
perfil mais transformador, seu palco mais brilhante, sua estrutura mais forte. Este espetáculo
surpreendente de diferentes junções enlaça a necessária busca pela arte do ensinar e apreender
os ensinamentos.
O educador planta sementes para uma nova geração com sua contínua aspiração
em aprimorar àqueles que buscam lapidar a alma, a mente, o ser. Uma união exímia com o
crescer, vivenciando-o e enfatizando a sua essência vital em nossas vidas. A profissão de
Enfermagem proporciona, face à necessária e criteriosa observação no sistema de relações
resultantes dos aspectos multidisciplinares, um eixo integrador entre as atividades que podem
ser criadoras, diferentes, únicas, participativas e efetivas.
Ao final deste estudo evidenciamos a necessidade e importância do
desenvolvimento desta pesquisa. O presente trabalho, resultado final deste processo, apresenta
subsídios para melhor compreensão da história e memória da evolução do ensino de
Enfermagem no Estado do Piauí.
159
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B ENTREVISTAS:
ALBUQUERQUE, Judite. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Maio/2008
168
AVELINO, Francinete Paula Dantas. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora
Anneth Cardoso Basílio da Silva. Maio/ 2008
FIGUEIREDO, Livramento. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Junho /2008
FRANÇA, Ozirina Gracildes do Espírito Santo. .Depoimento oral. Entrevista concedida à
pesquisadora Anneth Cardoso Basílio da Silva. Julho /2008
MELO, Carlota Lina Cardoso. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Maio/ 2008
MENEZES, Deuzamar. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Maio/ 2008.
MIRANDA, Maria dos Aflitos. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora
Anneth Cardoso Basílio da Silva. Junho/2008
MOITA, Nair. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth Cardoso
Basílio da Silva.Maio/ 2008
NÉRY, Inez Sampaio. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Maio /2008
NOGUEIRA, Lídya Tolstenko . Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora
Anneth Cardoso Basílio da Silva. Junho/ 2008
NUNES, Benevina Maria Vilar Teixeira. Depoimento oral. Entrevista concedida à
pesquisadora Anneth Cardoso Basílio da Silva Maio/ 2008
RAMOS, Francisco Ferreira. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Agosto/2008
SANTOS, Ana Maria Ribeiro dos Santos. Depoimento oral. Entrevista concedida à
pesquisadora Anneth Cardoso Basílio da Silva. Junho/ 2008
169
SOUZA, Aldi Lima de. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Agosto/ 2008
.
VILARINHO, Francisca. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Julho/2008
URSULINO, Ana Maria. Depoimento oral. Entrevista concedida à pesquisadora Anneth
Cardoso Basílio da Silva. Julho de 2008
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