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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
JOSÉ GILSON LOUZADA REGADAS FILHO
EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS E PROTÉICAS DE OVINOS SANTA
INÊS EM CRESCIMENTO
FORTALEZA-CE
2009
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i
JOSÉ GILSON LOUZADA REGADAS FILHO
EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS E PROTÉICAS DE OVINOS SANTA
INÊS EM CRESCIMENTO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso
de Pós-Graduação em Zootecnia, da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre em
Zootecnia.
Orientadora: Profª. Dra. Elzânia Sales Pereira
FORTALEZA-CE
2009
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ii
R258e Regadas Filho, José Gilson Louzada
Exigências energéticas e protéicas de ovinos Santa Inês em crescimento /
José Gilson Louzada Regadas Filho, 2009.
80 f.; il.; color.; enc.
Orientador: Profa. Dra. Elzânia Sales Pereira
Co-orientador: Prof. Dr. Arturo Bernardo Selaive Villarroel
Área de concentração: Nutrição de ruminantes
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de
Ciências Agrárias, Depto. de Zootecnia, Fortaleza, 2009.
1. Composição corporal. 2. Mantença. 3. Ganho de peso corporal. 4.
Exigências energéticas e protéicas I. Pereira, Elzânia Sales (Orient.). II.
Villarroel, Arturo Bernardo Selaive (Co-orient.) II. Universidade Federal do
Ceará – Pós-Graduação em Zootecnia IV.Título
CDD 636.08
iii
JOSÉ GILSON LOUZADA REGADAS FILHO
EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS E PROTÉICAS DE OVINOS SANTA
INÊS EM CRESCIMENTO
Dissertação submetida à Coordenação do Curso
de Pós-Graduação em Zootecnia, da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre em
Zootecnia.
Área de concentração: Nutrição de ruminantes
Aprovada em: _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________________
Profª. Dra: Elzânia Sales Pereira
Orientadora
_________________________________________________________________________
Profº. Dr: Arturo Bernardo Selaive Villarroel
Coorientador
_________________________________________________________________________
Profº. Dr. Pedro Veiga Rodrigues Paulino
Conselheiro
_________________________________________________________________________
Profº. Dr. Magno José Duarte Cândido
Conselheiro
_________________________________________________________________________
Profª. Dra. Maria Socorro de Souza Carneiro
Conselheira
iv
A meus pais Francisca Maria e José
Gilson (in memorian), por todos os
ensinamentos ao longo de minha vida.
DEDICO
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, que sempre iluminou os meus objetivos e deu-me coragem e saúde para realizá-
los.
Aos meus pais Gilson e Francisca e irmão Leonardo, por todo apoio dado durante minha
vida, apoio este que me incentivou a continuar lutando apesar das dificuldades.
À minha família (vós, tios, tias e primos), por ensinamentos e momentos de felicidade
que passei ao lado de todos.
À Universidade Federal do Ceará e em especial ao Departamento de Zootecnia, pela
formação e oportunidade de realização deste trabalho.
À Fundação cearense de apoio de desenvolvimento científico e tecnológico – FUNCAP,
pela concessão da bolsa de estudo.
À professora Elzânia Sales Pereira, por ter acreditado e confiado em meu trabalho, bem
como pela valiosa orientação e dedicação durante a realização do mesmo.
À amiga, namorada e companheira Haynna Fernandes Abud, que sempre me incentivou
com sua alegria e me deu forças em momentos difíceis.
Ao professor Ariosvaldo pela ajuda e acolhimento em minha ida a Areia-PB.
Aos professores: Marcelo Teixeira, Maria Ignez, Pedro Veiga e Rogério Lana, pela
amizade e apoio dado durante minha estada em Viçosa.
Aos que me ajudaram direta ou indiretamente no experimento de campo e análises
laboratoriais: Rildson, Boneco, Anderson (Frota), Rebeca, Bola, Marquim, Gordim, Alan e
Iana (minha salvadora), sem eles não seria possível à realização deste trabalho.
À Lucivânia, pela orientação durante o abate dos animais.
A todos os professores do Curso de Agronomia e Zootecnia da UFC, e em especial a
Selaive, Boanerges, Marcos Esmeraldo, Magno, Sônia, Socorrinha e Assis Junior que de uma
forma ou de outra me incentivaram ao longo da minha caminhada.
Aos colegas e amigos da Pós-Graduação do Departamento de Zootecnia e do
Laboratório de Nutrição Animal – LANA: Rodrigo Gregório, João Paulo, Robertin, Paulo
Marcelo (Magão), Cutrim, Luiz Neto, Igor (Pará) Jaime, Liandro, Labib, Avelar, Rômulo
(Gaúcho), Isaac, Davi, Liandro, Leonardo (Baiano), Williame (Maranhão), Milfont, Marcelo
Casemiro, Marieta, Patrícia dentre outros.
Aos colegas e amigos do Curso de Agronomia e Zootecnia, Neyara, Iara, Lídia, Cássia,
Davi Aquino, Raul, Elyairton (Piolho), Leonardo Diógenes, Jamilton, Anderson César,
Antônio José (Toin, Tábua, Mental, etc...), Felipe Freitas, Neto, Thalles, Ismael, Bruno
vi
(Down), Edão, Zé Galinha, Caio Navarro, Castro Coutinho, Alanderson, Abner, etc, que
compartilharam comigo tantas alegrias e risos.
vii
“Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho pra fome, pergunto: o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da peste, sou do Ceará.”
Patativa do Assaré
viii
EXIGÊNCIAS ENERGÉTICAS E PROTÉICAS DE OVINOS SANTA INÊS EM
CRESCIMENTO
RESUMO – Este estudo foi conduzido com o objetivo de determinar a composição corporal,
exigências energéticas e protéicas de mantença e ganho de peso, eficiências de utilização da
energia metabolizável para mantença (km) e ganho de peso (kg), bem como para a avaliação
do modelo Small Ruminant Nutrition System – SRNS, em predizer o consumo de matéria
seca (CMS) e ganho de peso corporal (GPC) de ovinos Santa Inês em crescimento.
Utilizaram-se 24 ovinos Santa Inês em crescimento, não-castrados, com idade e peso corporal
(PC) médio de 50 dias e 13,00 ± 0,56 kg. Após um período de adaptação de 10 dias, quatro
animais foram abatidos para serem utilizados como referência para as estimativas do peso do
corpo vazio (PCVZ) e da composição corporal inicial dos demais. Os animais remanescentes
foram distribuídos em um delineamento em blocos casualizados sendo os tratamentos, rações
contendo diferentes níveis de energia metabolizável (2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS),
com cinco repetições. Os animais foram alimentados à vontade até atingir o peso de abate de
28 kg. O requerimento líquido de energia para mantença (kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) foi estimado
extrapolando-se a equação de regressão do logaritmo da produção de calor, em função do
consumo de energia metabolizável (CEM) para o nível zero de ingestão de EM. A excreção
diária de N foi estimada extrapolando a equação de regressão de consumo de N (g/kg
PC
0,75
/dia) em função da retenção de N (g/kg PC
0,75
/dia), para o consumo zero, o intercepto
negativo do eixo Y foi considerado como as perdas endógenas de nitrogênio. Foram ajustadas
equações de regressão do logaritmo do conteúdo de gordura, energia e proteína em função do
logaritmo do PCVZ dos animais. As derivadas dessas equações permitiram a estimativa das
exigências energéticas e protéicas líquidas para ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ). A
km e kg foram estimadas pelas equações preconizadas pelo Agricultural and Food Research
Council – AFRC (1993) e conforme Harris (1970). Para validação do modelo SRNS, utilizou-
se os CMS e GPC observado e predito pelo modelo para cada um dos animais experimentais,
os inputs do modelo foram dados referentes a cada animal individualmente como peso
corporal (PC) e CMS observado e também dados relativos à composição bromatológica das
dietas e condições ambientais. A validação foi realizada através do ajuste de modelo de
regressão linear simples entre os valores preditos e observados. O requisito energético líquido
de mantença foi de 50,72 kcal/kg PCVZ
0,75
/dia. A excreção diária de N foi estimada em 277
mg/kg PC
0,75
/dia e a exigência de proteína líquida para mantença (PLm) em 1,73 g/kg
PC
0,75
/dia. O conteúdo de energia e gordura no PCVZ dos animais aumentou de 1,91 e 85,18
para 2,78 Mcal/kg PCVZ e 221,23 g/kg PCVZ respectivamente, quando os animais
aumentaram de 15 para 30 kg PC. O conteúdo de proteína no PCVZ dos animais diminui de
157,83 para 144,33 g/kg PCVZ quando os animais aumentaram o peso corporal de 15 para 30
kg, respectivamente. As quantidades de gordura e energia no ganho aumentaram com o
aumento do PC dos animais. A exigência de energia líquida para ganho de peso de corpo
vazio aumentou de 2,94 para 4,28 Mcal/kg GPCVZ para pesos de 15 a 30 kg,
respectivamente. A quantidade de proteína depositada no ganho diminuiu com o aumento do
PC dos animais passando de 137,47 para 125,71 g/kg GPCVZ com o aumento do peso
corporal de 15 para 30 kg, respectivamente. A km estimada foi de 0,71. Quando se utiliza a
equação do AFRC (1993), que sugere a estimação da km a partir da metabolizabilidade (qm)
da dieta, os valores apresentaram-se superiores para todas as dietas, variando de 0,68 a 0,73
para a dieta com concentração de EM de 2,08 a 2,69 Mcal/kg MS respectivamente. A
eficiência de utilização da EM para ganho (kg), apresentou-se inversamente proporcional ao
aumento da concentração da EM na dieta, variando de 0,52 a 0,28 para as dietas contendo
2,08 a 2,69 Mcal/kg MS. As exigências de energia dietéticas totais aumentaram com o
aumento do PC dentro de uma mesma faixa de ganho. A exigência de proteína metabolizável
ix
total de um animal de 20 kg de PC e ganhando 200 g/dia é de 52,64 g/dia, valor 34% inferior
ao preconizado pelo NRC (2007) de 71 g/dia. O CMS predito pelo modelo SRNS não diferiu
(P 0,05) estatisticamente do observado, entretanto o modelo superestimou em 5,18% o GPC.
O presente trabalho vem colaborar para a construção de um banco de dados, que futuramente
poderá ser condensado a diversos outros em um modelo de predição de desempenho e
planejamento alimentar, sendo útil na formulação de rações mais economicamente viáveis
para ovinos criados no Nordeste brasileiro.
x
ENERGY AND PROTEIN REQUIREMENTS FOR SANTA INÊS SHEEP IN
GROWTH
ABSTRACT - This study was conducted to evaluate the influence of four concentrations of
metabolizable energy in the diet of Santa Inês sheep in growing. Body composition, energy
and protein requirements, efficiency of utilization of metabolizable energy for maintenance
(km) and gain (kg), and evaluation of Small Ruminant Nutrition System - SRNS model in
predicting dry matter intake (DMI) and average daily gain (ADG) were studied. Twenty-four
Santa Inês sheep, non-castrated, with age of 50 days and average body weight of 13.00 ± 0.56
kg were used. After an adaptation period of 10 days, four reference animals were slaughtered
to estimate the initial empty body weight (EBW) and body composition of the others animals.
The remaining animals were distributed in a randomized block design with the treatment
consisting of diets containing different concentrations of metabolizable energy (2.08, 2.28,
2.47 and 2.69 Mcal/kg of DM), with five replicates. The animals were fed until reach the
slaughter weight of 28 kg. The net energy requirements for maintenance (kcal/kg
EBW
0.75
/day) were estimated extrapolating the regression equation of heat production (HP)
logarithm, in function of the metabolizable energy intake (MEI) to the zero level of MEI. The
N daily excretion was estimated extrapolating regression equations of N consumption (g/kg
BW
0.75
/day) in function of the N retention (g/kg BW
0.75
/day) for the zero consumption level,
the negative intercept of the Y axis was considered as the endogenous N losses. Regression
equations were adjusted between the logarithm of the fat, protein and energy contents and the
logarithm of EBW. The derivatives of these equations enabled the estimation of net energy
and protein for the gain of empty body weight (EBWG). The km and kg were estimated by
the equations recommended by the Agricultural and Food Research Council - AFRC (1993)
and by Harris (1970). Validation of SRNS model used the DMI and ADG observed and
predicted by the model for each of the experimental animals. Model inputs were given for
each animal individually as BW, DMI observed and also data of chemical composition of
diets and environmental conditions. Validation was performed by using a model of simple
linear regression between the predicted and observed values. The net energy requirement for
maintenance was 50.72 kcal/kg EBW
0.75
/day. The N daily excretion was estimated at 277
mg/kg BW
0.75
/day and the net protein requirement for maintenance (NPm) at 1.73 g/kg
BW
0.75
/day. The contents of energy and fat in EBW of animals increased from 1.91 and 85.18
to 2.78 Mcal/kg and 221.23 g/kg of EBW respectively, when the animals increased from 15 to
30 kg of BW. The content of protein in EBW decreased from 157.83 to 144.33 g/kg of EBW
when animals increased their BW from 15 to 30 kg, respectively. The fat and energy
concentrations deposited in the EBWG increased as the animals elevated their BW. The net
energy for EBWG increased from 2.94 to 4.28 Mcal/kg of EBWG for body weights of 15 and
30 kg, respectively. The protein deposited in the gain decreased from 137.47 to 125.71 g/kg of
EBWG for animals with 15 to 30 kg, respectively. The km estimated was 0.71. The estimation
of km from the metabolizability (qm) of the diet, suggested by the AFRC (1993) equations,
varied from 0.68 to 0.73 for the diet with ME concentration from 2.08 to 2.69 Mcal/kg of
DM, respectively. The efficiency of use of ME to gain (kg), showed to be inversely
proportional to the increase of ME concentration in the diet, ranging from 0.52 to 0.28 for the
diets containing 2.08 to 2.69 Mcal/kg of DM, respectively. The demands of total dietary
energy increased with the elevation of BW within the same range of gain. The total
metabolizable protein requirement of an animal of 20 kg of BW and a gain of 200 g/day is
52.64 g/day, about 34% lesser than the recommended by NRC (2007). The DMI predicted by
the SRNS model did not differ (P 0.05) from the DMI observed, but the model
overestimated the ADG at 5.18%. The present work together to build a database, which in
xi
future could be condensed to several others in a predictive model of performance and food
planning, is useful in formulating rations more economically viable to set up Santa Inês sheep.
xii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS............................................................................................................. vi
RESUMO................................................................................................................................ viii
ABSTRACT............................................................................................................................... x
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 18
I. COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS LÍQUIDAS DE ENERGIA
PARA OVINOS SANTA INÊS EM CRESCIMENTO........................................... 20
RESUMO........................................................................................................... 20
ABSTRACT...................................................................................................... 21
INTRODUÇÃO................................................................................................. 22
MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 24
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 29
CONCLUSÕES................................................................................................. 36
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS................................................................ 37
II. COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS LÍQUIDAS DE PROTEÍNA
PARA OVINOS SANTA INÊS EM CRESCIMENTO........................................... 40
RESUMO.......................................................................................................... 40
ABSTRACT...................................................................................................... 41
INTRODUÇÃO................................................................................................. 42
MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 44
RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 48
CONCLUSÕES................................................................................................. 53
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS............................................................... 54
III. EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DA ENERGIA METABOLIZÁVEL PARA
MANTENÇA E GANHO DE PESO E EXIGÊNCIAS DIETÉTICAS DE
PROTEÍNA METABOLIZÁVEL E NUTRIENTES DIGESTÍVEIS TOTAIS
PARA OVINOS SANTA INÊS EM CRESCIMENTO........................................... 57
RESUMO.......................................................................................................... 57
ABSTRACT...................................................................................................... 58
INTRODUÇÃO................................................................................................ 59
MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 62
RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 68
CONCLUSÕES................................................................................................. 76
REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS............................................................... 77
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 80
13
INTRODUÇÃO
O conhecimento da composição bromatológica dos alimentos disponíveis e das
exigências nutricionais dos animais utilizados nos sistemas de produção brasileiros, são
condições essenciais para a melhoria no desempenho produtivo do nosso rebanho. Apesar da
importância da ovinocultura de corte, o Brasil ainda não possui normas nacionais de
exigências nutricionais, o que já foi estabelecido há vários anos em países mais
economicamente desenvolvidos.
Apesar de o Nordeste ser a região com maior rebanho ovino do Brasil, a oferta da carne
ovina ainda é baixa, o que também pode estar relacionado à falta de organização de sua cadeia
produtiva. Além disso, a oferta de carne ovina é oriunda de carcaças de baixa qualidade,
sendo que diversos fatores relacionados ao animal, ao ambiente e à nutrição contribuem para
este quadro. O confinamento é uma alternativa para o aumento da disponibilidade de carne
ovina, porém, por questões econômicas, as rações em geral contêm elevadas quantidades de
volumosos, o que resulta em ganhos de peso pouco expressivos. Desse modo, verifica-se que
a baixa produtividade do rebanho ovino nordestino é, em grande parte, reflexo das carências
nutricionais às quais os animais são submetidos. Mesmo admitindo-se que a alimentação
participa com percentual elevado nos custos totais de produção, para obtenção de elevado
desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, as rações devem ser formuladas de forma a
atender adequadamente suas necessidades nutricionais, o que presume a adição de
concentrado.
Nos sistemas atuais de produção de ruminantes é necessário conhecer a composição dos
alimentos que comumente constituem suas rações, consumo de matéria seca e os
requerimentos de energia e proteína dos animais nas diferentes fases produtivas. O consumo
voluntário de matéria seca (CMS) é uma variável importante que influencia o desempenho
animal. Através dele, pode-se determinar a quantidade de nutrientes ingeridos e se obter
estimativas da quantidade de produto animal elaborado (Van Soest, 1994). O controle do
consumo envolve estímulos de fome e saciedade, que operam por intermédio de vários
mecanismos neurohumorais. Os mecanismos homeostáticos que regulam o consumo
procuram assegurar a manutenção do peso corporal e as reservas teciduais durante a vida
adulta. Definida sua importância, pode-se então justificar a existência e o contínuo surgimento
de numerosos estudos que objetivaram comprovar hipóteses a respeito dos mecanismos de
regulação do consumo voluntário (Pereira et al., 2003). Desta maneira, os alimentos
14
consumidos pelos ruminantes, em virtude de sua qualidade e quantidade ingerida, representam
importante fator no desempenho animal (Pyatt et al., 2005), além de ser o item de maior
impacto no custo final de produção. Melhorias na eficiência do uso de alimentos permitem
estratégias de formulações de rações balanceadas para maximização da produção animal.
No Brasil, as exigências nutricionais de ovinos têm sido pouco estudadas, portanto, o
balanceamento das dietas é normalmente realizado com base nas recomendações preconizadas
por comitês internacionais, como AFRC, ARC, INRA e NRC, entre outros, desenvolvidos em
países de clima temperado e que expressam as exigências de ovinos lanados. A adoção destes
dados na formulação de rações para ovinos deslanados pode não proporcionar os resultados
esperados, pela falta ou pelo desperdício de nutrientes, influenciando a produtividade e/ou o
custo de produção. Segundo o NRC (2007), são vários os fatores que influenciam as
exigências nutricionais de ovinos, entre os quais podem ser citadas as condições fisiológicas
do animal (crescimento, gestação ou lactação), o sexo, a raça, o nível nutricional ao quais os
animais estão submetidos, idade, peso corporal, alimentos disponíveis e as condições
ambientais da região em que os animais são explorados.
Os estudos de balanço energético tem sido úteis para muitos propósitos, os quais
incluem o valor energético dos alimentos e a determinação das exigências dos animais, bem
como a eficiência de utilização dos nutrientes. A quantia total de energia dos alimentos pode
ser medida de maneira relativamente simples usando bomba calorimétrica. Entretanto a
variabilidade na digestibilidade e metabolismo entre os alimentos e animais excluem o uso da
energia bruta para formulações de dietas ou comparações de alimentos (Weiss, 1993), fontes
de variação incluem animal e fatores dietéticos (Van Soest, 1994), porém diferentes maneiras
têm sido empregadas para determinações das variações na utilização da energia. A
disponibilidade de energia deve ser conhecida para formulação e comparações nutricionais e
econômicas entre os alimentos, no entanto a grande demanda de energia para ruminantes
requer a determinação com precisão da energia disponível dos alimentos (Weiss, 1993). No
entanto, as exigências dos animais são as mais difíceis de serem determinadas, pois a
eficiência de utilização de energia para os diversos processos fisiológicos como mantença,
crescimento, engorda e lactação é variável, além de existirem muitos outros fatores que
interferem, como clima, trabalho muscular realizado pelo animal, e principalmente a
concentração de energia metabolizável no alimento ou dieta.
A manutenção do corpo dos animais representa grande parte da energia alimentar
requerida no sistema de produção, o que torna a energia o ponto mais crítico na formulação de
15
ração para ovinos, tendo como principal fonte os ácidos graxos voláteis produzidos no rúmen
pela fermentação microbiana, principalmente de carboidratos (Gonzaga Neto et al., 2005).
A exigência de energia para manutenção tem sido definida como a quantidade de
energia ingerida que não resultará ganhos nem perdas de energia pelos tecidos do corpo do
animal (NRC, 1996). Os processos ou funções que determinam o requerimento energético
para mantença são regulação da temperatura corporal, processos metabólicos essenciais e
atividade física. O requerimento energético para mantença é uma situação teórica, mas é
admissível quando da separação desta do requerimento energético para produção (NRC,
1996).
A exigência nutricional energética ao nível de mantença pode ser estabelecida
basicamente através de três métodos: experimentos de alimentação em longo prazo, onde se
determina à quantidade necessária de alimento para manutenção do peso corporal, métodos
calorimétricos, são aqueles que envolvem a calorimetria direta, onde o calor liberado pelo
corpo do animal é mensurado em câmaras, ou indireta, onde a produção de calor pode ser
obtida pelo quociente respiratório. Os comitês de avaliação de alimentos e exigências
nutricionais ARC (1965, 1980), CSIRO (1990), AFRC (1993) são baseados principalmente
em métodos calorimétricos. Outro método utilizado é o abate comparativo (Lofgreen e
Garrett, 1968) ou sistema californiano, sistema que é adotado pelo NRC.
A energia conservada nos produtos resultantes das transformações energéticas, que se
processam quando os animais desempenham suas funções produtivas, consiste no que se pode
denominar de energia líquida (Vieira, 1998), desta forma, a exigência de energia líquida para
ganho é definida como a energia retida no tecido depositado no ganho de peso, estando
diretamente relacionada com a composição química do ganho depositado, sendo a
determinação correta da composição corporal dos animais no início e final do período
experimental extremamente importante (NRC, 1996).
Vários métodos têm sido propostos na literatura para estimar a composição corporal,
dentre eles: análise química de todos os tecidos (método direto), gravidade específica da
carcaça, dissecação da 9ª à 11ª costela, radioisótopos (técnicas de diluição) e ultra-som. O
método direto é o mais preciso, porém, o mais caro, além de exigir o abate dos animais, e
perda de no mínimo meia carcaça, excluindo a possibilidade de utilizá-los em outros estudos
(Valadares Filho et al., 2005).
O cálculo das exigências nutricionais dietéticas de animais em crescimento requer
informações sobre as exigências líquidas para mantença e ganho e a eficiência de como o
16
animal utiliza os nutrientes metabolizados para as diferentes funções. O conhecimento da
eficiência de uso da energia para os diferentes processos produtivos é um precedente
indispensável para determinar as exigências dietéticas de energia, já que esta é obtida a partir
da relação entre as exigências líquidas de energia e a eficiência de sua utilização. A
ineficiência de uso da energia metabolizável está em parte relacionada à condição do
organismo animal ser um sistema aberto, ou seja, é capaz de trocar calor com o ambiente, é
também vinculado às interações entre as características físicas e químicas do alimento, dos
processos digestivos e das diversas atividades metabólicas para os processos de manutenção e
produção.
De posse do conhecimento das eficiências, podem-se transformar as exigências líquidas
de energia em exigências de energia metabolizável e até mesmo em exigências de nutrientes
digestíveis totais (NDT), obtendo-se maior valor prático, uma vez que a maioria das tabelas
brasileiras de composição química de alimentos fornece o valor energético dos alimentos em
termos de NDT (Paulino et al., 2004).
Importante como a energia, à determinação das exigências protéicas se faz necessário
devido ser o nutriente de mais alto custo nas dietas de ruminantes. A proteína desempenha
papel fundamental no organismo animal e participa da formação e manutenção dos tecidos, na
contração muscular, no transporte de nutrientes e na formação de hormônios e enzimas. O
requerimento protéico é influenciado pela idade, sexo, estádio fisiológico, taxa de
crescimento, composição corporal, dentre outros fatores (ARC, 1980; Geay, 1984; AFRC,
1993; NRC, 2007). Além disso, o genótipo exerce grande influência sobre a composição
corporal e as taxas de crescimento (Garret, 1980; Ferrell e Jenkins, 1998).
A exigência protéica de ruminantes normalmente é expressa em termos de proteína
metabolizável, sendo esta constituída da proteína microbiana digestível, proteína não
degradada no rúmen digestível e da proteína endógena digestível. Parte da proteína
metabolizada pelo animal é utilizada para manutenção do corpo, sendo esta denominada de
proteína líquida de mantença (PLm), equivalente às perdas metabólicas fecais e urinárias,
além das perdas de proteína retida no pêlo e por descamação (NRC, 2007).
A exigência líquida de proteína para ganho de peso em animais em crescimento é
função do conteúdo de matéria seca livre de gordura no ganho de peso (Valadares Filho et al.,
2005), sendo maiores para animais não-castrados em relação aos inteiros e, dentro de um
mesmo sexo, maiores para animais de maturidade tardia em relação aos de maturidade
precoce (Geay, 1984).
17
De maneira geral, a maioria dos estudos indica redução nas exigências líquidas de
proteína à medida que o peso corporal aumenta. Isto se deve principalmente devido a
diminuição da taxa de deposição de proteína, em detrimento à deposição de gordura com o
aumento do peso corporal do animal (PC). Os requerimentos líquidos de proteína para ganho
de peso podem ser determinados, segundo o ARC (1980), pela quantidade total de proteína
retida no corpo do animal, em determinado ganho de peso.
Dentre os principais modelos biológicos de avaliação de alimentos e requerimentos
nutricionais de ovinos, o Cornell Net Carbohydrate and Protein System for Sheep - CNCPS-S
(Cannas et al., 2004), utiliza relações mecanicistas e empíricas para predizer o requerimento
de energia e proteína metabolizável para ovinos. A partir de 2007 o modelo foi modificado
para incluir informações mais recentes, incluindo um submodelo para nutrição de cabras
(Cannas et al., 2007). Este esforço levou ao desenvolvimento do Small Ruminant Nutrition
System (SRNS) que utiliza a estrutura do CNCPS-S. O SRNS prediz o requerimento de
energia, proteína, cálcio e fósforo a partir de informações do animal (PC, idade, produção de
lã, etc), ambientais (temperatura atual e anterior, vento, chuva) e do alimento (fracionamento
de carboidrato e proteína, taxas de degradação, passagem ruminal e fibra fisicamente efetiva,
etc). Estes modelos são desenvolvidos com raças lanadas, em ambientes e com alimentos
diferentes dos utilizados em nossos sistemas de produção, tornando-se importante avaliá-los
em nossas condições, para que a partir daí possam ser usados em nível de fazenda.
Diante do exposto, o presente trabalho foi conduzido com os seguintes objetivos:
- estabelecer a composição corporal de ovinos Santa Inês em crescimento;
- determinar os requerimentos energéticos de mantença e ganho de peso de ovinos Santa
Inês em crescimento;
- determinar os requerimentos protéicos de mantença e ganho de peso de ovinos Santa
Inês em crescimento;
- determinar as eficiências de uso da energia metabolizável para mantença e ganho de
peso;
- avaliar a aplicabilidade do modelo Small Ruminant Nutrition System - SRNS para
predição do consumo de matéria seca e ganho de peso corporal de ovinos Santa Inês em
crescimento.
18
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20
COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS LÍQUIDAS DE ENERGIA PARA
OVINOS SANTA INÊS EM CRESCIMENTO
RESUMO: Avaliou-se o efeito de diferentes níveis de energia metabolizável na dieta sobre a
composição corporal e as exigências de energia líquida de mantença de ganho de peso de 24
ovinos Santa Inês em crescimento, não-castrados, com idade e peso corporal médio de 50 dias
e 13,00 ± 0,56 kg. Após um período de adaptação de 10 dias, quatro animais foram abatidos
para serem utilizados como referência para as estimativas do peso do corpo vazio (PCVZ) e
da composição corporal inicial dos demais. Os animais remanescentes foram distribuídos em
um delineamento em blocos casualizados sendo os tratamentos rações contendo diferentes
níveis de energia metabolizável (2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS), com cinco repetições.
O peso de abate foi determinado em 28 kg. O requisito líquido de energia para mantença foi
estimado extrapolando-se a equação de regressão do logaritmo da produção de calor, em
função do consumo de energia metabolizável (CEM) para o nível zero de ingestão de energia
metabolizável (EM). Foram ajustadas equações de regressão do logaritmo do conteúdo de
gordura e energia em função do logaritmo do PCVZ dos animais. As derivadas dessas
equações permitiram a estimativa das exigências energéticas líquidas e da deposição de
gordura no ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ). O requisito energético líquido de
mantença foi de 50,72 kcal/kg PCVZ
0,75
/dia. O conteúdo de energia e gordura no PCVZ dos
animais aumentou de 1,91 e 85,18 para 2,78 Mcal/kg PCVZ e 221,23 g/kg PCVZ
respectivamente, quando os animais aumentaram de 15 para 30 kg de peso corporal. A
exigência de energia líquida para ganho de peso de corpo vazio aumentou de 2,94 para 4,28
Mcal/kg GPCVZ para pesos de 15 a 30 kg, respectivamente. A exigência de energia líquida
para mantença de ovinos Santa Inês é inferior ao preconizado pelos principais sistemas de
avaliação de alimentos e requerimentos nutricionais.
Palavras-chave: Mantença, ganho de peso, peso de corpo vazio, pequenos ruminantes.
21
BODY COMPOSITION AND NET ENERGY REQUIREMENTS FOR SANTA INÊS
SHEEP IN GROWTH
ABSTRACT: This study was conducted to evaluate the influence of four concentrations of
metabolizable energy in the diet of Santa Inês sheep in growing. Body composition and
energy requirements were studied. Twenty-four Santa Inês sheep, non-castrated, with age of
50 days and average body weight of 13.00 ± 0.56 kg were used. After an adaptation period of
10 days, four reference animals were slaughtered to estimate the initial empty body weight
(EBW) and body composition of the others animals. The remaining animals were distributed
in a randomized block design with the treatment consisting of diets containing different
concentrations of metabolizable energy (2.08, 2.28, 2.47 and 2.69 Mcal/kg of DM), with five
replicates. The animals were fed until reach the slaughter weight of 28 kg. The net energy
requirements for maintenance (kcal/kg EBW
0.75
/day) were estimated extrapolating the
regression equation of heat production (HP) logarithm, in function of the metabolizable
energy intake (MEI) to the zero level of MEI. Regression equations were adjusted between
the logarithm of the fat, and energy contents and the logarithm of EBW. The derivatives of
these equations enabled the estimation of net energy for the gain of empty body weight
(EBWG). The net energy requirement for maintenance was 50.72 kcal/kg EBW
0.75
/day. The
contents of energy and fat in EBW of animals increased from 1.91 and 85.18 to 2.78 Mcal/kg
and 221.23 g/kg of EBW respectively, when the animals increased from 15 to 30 kg of BW.
The fat and energy concentrations deposited in the EBWG increased as the animals elevated
their BW. The net energy for EBWG increased from 2.94 to 4.28 Mcal/kg of EBWG for body
weights of 15 and 30 kg, respectively. The net energy requirement for maintenance of Santa
Inês sheep is lower than that recommended by the main evaluation systems of food and
nutritional requirements.
Keywords: maintenance, weight gain, empty body weight, small ruminants.
22
INTRODUÇÃO
As células e os organismos vivos precisam realizar trabalho para permanecer vivos,
crescer e reproduzir. A habilidade para utilizar a energia química contida nos alimentos,
direcionando-a na forma de trabalho biológico, é uma propriedade fundamental de todas as
células (Lehninger, 2002). A energia utilizada pelos seres vivos para realizar tais funções é
obtida a partir da oxidação dos nutrientes absorvidos, tal oxidação gera energia livre que
poderá ser utilizada pela célula para realizar suas funções.
Os requerimentos energéticos líquidos de ovinos de corte podem ser divididos, segundo
o NRC (2007), em exigências líquidas de mantença (ELm) e ganho (ELg). Este sistema utiliza
o método fatorial para determinação da exigência energética total, ou seja, as exigências para
mantença e ganho são obtidas separadamente e depois somadas para a determinação dos
requerimentos energéticos totais.
O requerimento energético de mantença é definido como a energia necessária para o
animal manter os processos metabólicos essenciais do organismo, regulação da temperatura
corporal e pelas atividades físicas, quando não há perda nem ganho de energia no corpo.
Embora para muitas situações práticas a exigência de mantença seja considerada uma
condição teórica, é útil e conveniente considerar a ELm separada da ELg (NRC, 1996).
Segundo Ferrel & Jenkins (1985), cerca de 70 a 75% da energia metabolizável necessária para
a produção de carne é utilizada para atender as exigências de mantença. Os principais
sistemas de avaliação de alimentos e requerimentos nutricionais de ovinos AFRC (1993) e o
NRC (2007), estimam valores de exigência energética líquida de mantença em 51,9 e 56
kcal/kg PV
0,75
/dia, respectivamente.
A ELm pode ser mensurada através do uso de bombas calorimétricas onde se mede
direta ou indiretamente a produção de calor no jejum, assumindo-se esta como a ELm.
Entretanto, em condições práticas, torna-se impossível manter os animais em condições de
consumo zero. Desta forma, Lofgreen & Garret (1968) preconizaram que a ELm fosse obtida
através da equação de regressão entre o logaritmo da produção de calor diário (kcal/kg
PCVZ
0,75
) e a ingestão de energia metabolizável (kcal/kg PCVZ
0,75
), sendo a ELm o
antilogaritmo do intercepto do eixo Y. Este método leva vantagens sobre estudos
calorimétricos, já que é conduzido em situações mais similares aos do sistema de produção. É
relatado que o estudo do metabolismo no jejum pode subestimar a ELm, devido haver
diminuição do metabolismo basal do animal submetido a estas condições (NRC, 1996).
23
A exigência de energia líquida para ganho é definida como a energia retida nos tecidos
depositados no ganho de peso, estando diretamente relacionada com a composição química do
ganho de peso do corpo vazio. Desta forma, a determinação correta da composição corporal
dos animais no início e final do período experimental torna-se extremamente importante
(NRC, 1996).
De acordo com Di Marco (1994), o animal ganha peso pela acumulação de tecidos
segundo certos padrões de prioridade, primeiro crescem intensamente as vísceras, seguidas
pelo tecido ósseo, muscular e, finalmente, o tecido adiposo. Neste sentido, os componentes
químicos do corpo variam durante o crescimento de forma paralela à composição física
corporal (Véras et al., 2000). Várias metodologias podem ser utilizadas para determinação da
composição corporal, sendo estas divididas em diretas e indiretas. A moagem e análise
completa dos constituintes corporais constituem a forma mais precisa e mais utilizada em
pesquisas com ovinos no Brasil para se obter a composição química do corpo do animal.
Valadares Filho et al. (2005), relataram que informações sobre exigências nutricionais e
de composição dos alimentos representariam uma alternativa mais eficaz de aumento de
produtividade e economicidade das dietas dos animais criados no Brasil, considerando-se que
tentativas de moldar os padrões internacionais à nossa realidade é o que tem sido praticado
atualmente, na grande maioria das vezes, trazendo resultados que não condizem com a
realidade. Segundo o NRC (2007) variações nas exigências energéticas são principalmente,
devido, a diferenças entre espécies, condições fisiológicas, idade, sexo, atividade física e
temperatura ambiental. Diferenças entre estes fatores e a falta de adequação das
recomendações dos comitês internacionais às condições brasileiras, têm levado muitos
pesquisadores a juntar esforços no sentido de desenvolvimento de pesquisas para
determinação das exigências nutricionais, bem como aspectos nutricionais dos ovinos criados
nas condições brasileiras (Resende et al., 2005).
Diante disto, o presente estudo foi conduzido com objetivo de determinar a composição
corporal e as exigências energéticas líquidas para mantença e ganho de peso em ovinos Santa
Inês em crescimento, alimentados com rações com diferentes níveis de energia metabolizável.
24
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Ovinocaprinocultura do Departamento de
Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, Ceará. Foram utilizados 24
cordeiros da raça Santa Inês, não-castrados, com peso corporal (PC) médio e erro padrão da
média inicial de 13,00 ± 0,56 kg e, aproximadamente, 50 dias de idade. Inicialmente, os
animais foram identificados com brincos, pesados, vermifugados e distribuídos em baias
individuais providas de cochos para fornecimento das rações e água à vontade.
Após um período de adaptação de 10 dias, quatro animais foram selecionados
aleatoriamente e abatidos para servir como referência para as estimativas do peso do corpo
vazio (PCVZ) e da composição corporal inicial dos 20 animais remanescentes. Estes foram
distribuídos em um delineamento em blocos casualizados com quatro tratamentos e cinco
repetições, sendo os tratamentos, dietas contendo diferentes níveis de energia metabolizável
(2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS) obtidos a partir de diferentes relações
volumoso:concentrado (75:25; 62,5:37,5; 50:50; 37,5:62,5).
As rações experimentais foram formuladas conforme o NRC (1985) e foram compostas
de feno de Tifton-85 (Cynodon sp.) moído, farelo de soja, fubá de milho, cloreto de sódio,
uréia, calcário, fosfato bicálcico e premix mineral. A composição bromatológica dos
ingredientes e das rações experimentais podem ser visualizadas na Tabela 1 e 2,
respectivamente. As rações foram fornecidas uma vez ao dia, as 7 h da manhã, e ajustadas
diariamente para aproximadamente 20% de sobras. Antes da oferta matinal, foram coletadas
as sobras de cada unidade experimental, que depois de pesadas, registradas e amostradas,
foram armazenadas sob congelamento (-10
ºC) juntamente com amostras do feno e dos
concentrados, formando-se posteriormente uma amostra composta semanal por animal, que ao
final do período experimental formou uma amostra composta total por animal/tratamento. Em
seguida as amostras foram descongeladas, homogeneizadas e moídas em moinho com peneira
de malha de 1 mm, sendo então analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria
mineral (MM), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) seguindo os
protocolos padrões da AOAC (1990); fibra em detergente neutro (FDN) e ácido (FDA),
proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) e ácido (PIDA) conforme Van Soest et al.
(1991).
O teor de carboidratos totais (CT) foi calculado utilizando a fórmula: CT (%) = 100 –
(%PB + %EE + %cinzas), segundo Sniffen et al. (1992). Os carboidratos não fibrosos (CNF)
25
foram calculados, de acordo com Weiss (1999), onde: CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB +
%EE + %cinzas). Para os concentrados, devido à presença de uréia em sua constituição, o teor
de CNF foi calculado conforme proposto por Hall (2000), sendo CNF = 100 – [(%PB - %PB
derivado da uréia + % da uréia) + %FDNcp + %EE + %cinzas].
Tabela 1 – Composição bromatológica dos ingredientes em % MS
Nutrientes Feno Milho Soja Conc. 1 Conc. 2 Conc. 3 Conc. 4
Matéria seca 92,73 91,44 92,54 90,30 90,18 90,94 90,30
Matéria mineral 6,03 1,74 6,84 3,53 3,76 3,56 3,71
Proteína bruta 9,94 9,39 44,05 21,14 21,72 22,00 22,27
Extrato etéreo 0,84 5,36 4,13 3,60 4,30 5,00 4,26
Fibra em detergente neutro 75,03 14,78 15,78 15,91 15,15 16,01 14,87
Fibra em detergente ácido 36,32 4,78 9,24 5,63 5,67 2,70 5,83
FDNcp 67,91 12,76 13,74 14,16 13,72 14,61 13,45
Carboidratos totais 83,19 83,51 44,98 71,73 70,23 69,43 69,75
Carboidratos não-fibrosos 15,28 70,75 31,24 59,16 58,64 57,03 58,56
Tabela 2 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais
Concentração de EM (Mcal/kg MS)
Composição percentual (%MN) 2,08 2,28 2,47 2,69
Feno de Tifton 75,00 62,50 50,00 37,50
Concentrado 25,00 37,50 50,00 62,50
Fubá de milho
¹
77,90 77,60 77,40 77,39
Farelo de soja
¹
20,00 20,00 20,20 20,00
Uréia
¹
0,88 1,18 1,22 1,25
Calcário¹ 0,00 0,26 0,31 0,62
Fosfato bicálcico¹ 0,26 0,26 0,26 0,26
Cloreto de sódio
¹
0,88 0,62 0,44 0,35
Premix mineral
¹,²
0,06 0,04 0,13 0,13
Composição bromatológica (%MS)
Matéria seca 92,12 91,77 91,83 91,21
Matéria mineral 5,40 5,18 4,80 4,58
Proteína bruta 12,74 14,36 15,97 17,65
Extrato etéreo 1,53 2,13 2,92 2,98
Fibra em detergente neutro 60,25 52,57 45,52 37,43
Fibra em detergente ácido 28,64 24,82 19,51 17,26
FDNcp 54,47 47,59 41,26 33,87
Carboidratos totais 80,33 78,33 76,31 74,79
Carboidratos não-fibrosos 26,25 31,54 36,16 42,33
Nutrientes digestíveis totais 57,41 63,11 68,38 74,51
¹
- Composição centesimal em relação à porção concentrada da dieta.
²
- Composição: Ca 7,5%; P 3%; Fe 16.500 ppm, Mn 9.750 ppm, Zn 35.000 ppm, I 1.000 ppm, Se 225 ppm, Co 1.000 ppm.
26
Os animais foram pesados semanalmente para acompanhamento do ganho de peso
corporal (GPC) e quando a média de PC do tratamento atingiu 28 kg os animais foram
abatidos. Nessa ocasião, também foi abatido um animal do grupo com menor concentração
energética na ração (animais alocados no tratamento com 2,08 Mcal/kg MS de EM). Dessa
forma, procedeu-se para cada tratamento, até que todos os animais fossem abatidos.
Antes do abate, os animais foram pesados, submetidos a jejum de alimentos sólidos e
água por 18 horas e novamente pesados para obtenção do peso corporal no jejum (PCj). Após
o abate e coleta de sangue, realizou-se esfola e evisceração do animal. O trato gastrintestinal
foi pesado cheio, esvaziado, lavado e após o escorrimento da água, foi novamente pesado para
que juntamente com o peso dos órgãos e demais partes do corpo (carcaça, cabeça, couro,
sangue, pés e cauda) ser determinado o peso de corpo vazio (PCVZ).
Todos os órgãos (sistema reprodutor, traquéia + pulmão + língua + esôfago, fígado,
coração, rins, baço, bexiga, omaso, abomaso, rúmen + retículo, diafragma, intestino grosso e
delgado, gordura omental, perirenal, mesentérica e do coração) mais a cabeça foram pesados e
congelados. O sangue coletado no momento do abate foi pesado e colocado para secar em
estufa de ventilação forçada a 55ºC durante 72 h, sendo em seguida moído para posterior
análise de matéria seca, nitrogênio e extrato etéreo. As patas foram amostradas (dianteira e
traseira direita), e o couro foi cortado em tiras e amostrado para futura análise.
Posteriormente, a carcaça de cada animal foi resfriada por 24 horas a 5ºC e, então, cortada em
serra de fita a fim de utilizar a meia carcaça direita para determinação da composição
química.
Em seguida, a meia carcaça, órgãos e a amostra de couro foram moídos em moedor de
carne industrial e homogeneizados. A massa moída da carcaça e dos órgãos foi misturada
proporcionalmente, ou seja, a massa moída de órgãos foi dividida por dois e homogeneizada
com a massa moída da meia carcaça direita e patas. As referidas amostras, juntamente com as
amostras de couro foram desidratadas em estufa de ventilação forçada a 55ºC, por um período
de 72 horas e então armazenadas. Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa a 105ºC
por 24 horas para obtenção do teor de matéria seca gordurosa (MSG). Em seguida
processadas com auxílio de um multiprocessador e então desengorduradas para obtenção da
matéria seca desengordurada (MSD), sendo então analisadas para nitrogênio total (NT).
A determinação do teor de água, gordura e proteína do corpo vazio (CVZ) foi realizada
em função da proporcionalidade e do teor de água, gordura e proteína dos componentes
analisados separadamente (couro, sangue e órgãos + carcaça), totalizando 100% do PCVZ.
27
Os conteúdos corporais de gordura (CCG), proteína (CCP), energia (CCE) foram
determinados em função de suas concentrações percentuais no corpo vazio dos animais. A
estimativa do CCE foi obtida conforme a equação: CCE (Mcal) = 5,6405 (CCP, kg) + 9,3929
(CCG, kg) preconizada pelo ARC (1980).
A composição corporal de gordura e de energia foi estimada utilizando-se equações de
regressão, para o logaritmo da quantidade destes constituintes presentes no corpo vazio, em
função do peso do corpo vazio. Foi adotada a equação alométrica logaritmizada, preconizada
pelo ARC (1980):
eXLogbaYLog
+
+
=
em que: Log y = logaritmo na base 10 do conteúdo total de gordura (g) ou energia (Mcal) no
corpo vazio; a = intercepto; b = coeficiente de regressão do conteúdo do constituinte em
função do peso de corpo vazio; log x = logaritmo do peso de corpo vazio (kg), e = erro
aleatório associado a cada observação.
A exigência de energia líquida para ganho e a deposição de gordura no GPCVZ foram
estimadas derivando-se a equação do conteúdo corporal de energia e gordura, em função do
logaritmo do PCVZ, obtendo-se uma equação do tipo:
)1(
10
××=
ba
XbY
em que Y = exigência líquida de energia (kcal) ou conteúdo de gordura (g) no ganho; a =
intercepto da equação de predição do conteúdo corporal de energia ou gordura; b =
coeficiente de regressão da equação do conteúdo corporal de energia ou gordura e X = PCVZ
(kg).
Para determinação do valor de nutrientes digestíveis totais (NDT) das dietas
experimentais, foi realizado um ensaio de digestibilidade em gaiolas metabólicas. Foram
utilizando-se 16 ovinos Santa Inês, não-castrados, com cerca de 28 kg de PC, distribuídos em
um delineamento em blocos casualizados, com quatro tratamentos (dietas experimentais) e
quatro repetições. O experimento teve duração de 17 dias sendo 10 dias de adaptação às dietas
e gaiolas e 7 dias de coletas de amostras de alimentos fornecidos, sobras e coleta total de
fezes. As amostras dos alimentos, rações concentradas, fezes e sobras foram congeladas e
posteriormente processadas e analisadas conforme citado anteriormente. O NDT foi calculado
de acordo com Weiss (1999): NDT = PBd + CNFd + FDNcpd + EEd x 2,25; sendo PBd,
CNFd, FDNcpd e EEd correspondente a: proteína bruta digestível, carboidratos não fibrosos
28
digestíveis, fibra em detergente neutro corrigido pra cinza e proteína digestível e extrato
etéreo digestível, respectivamente.
Para estimação do consumo de NDT, utilizou-se o consumo de matéria seca dos animais
do experimento de desempenho, multiplicado pelo percentual de NDT das dietas obtido no
experimento de digestibilidade. Para estimação do consumo de energia digestível, considerou-
se que 1 kg NDT contém 4,409 Mcal de ED e para estimação do consumo de energia
metabolizável (CEM), considerou-se o valor de 82% da energia digestível (NRC, 1996).
Com base na diferença entre a ingestão de EM e a retenção de energia diária no corpo
dos animais, foi estimada a produção de calor (PC), sendo a retenção de energia diária obtida
como a diferença entre a energia total final contida no corpo vazio dos animais menos a
energia inicial total, estimada a partir da composição inicial dos animais referência, dividida
pela quantidade de dias que os animais passaram no experimento.
As exigências de energia líquida para mantença (ELm), ou seja, a produção de calor
no jejum foi estimada pela regressão do logaritmo da produção de calor, em função do
consumo de energia metabolizável (CEM), expresso em kcal/kg PCVZ
0,75
/dia, extrapolando-
se a equação para o nível zero de consumo de EM, segundo metodologia descrita por
Lofgreen & Garret (1968).
Para a conversão das exigências energéticas líquidas de PCVZ em exigências
energéticas líquidas de PC, foram realizados ajustes de equações de regressão linear entre o
GPCVZ e o GPC e também entre PCVZ e PC de todos os animais experimentais.
As variáveis foram submetidas a análises de variância e regressão, utilizando-se o SAS
(SAS Inst. Inc., Cary, NC) por meio da rotina PROC GLM, foram testados os efeitos lineares
e quadráticos para todas as variáveis, adotou-se o nível de 0,05 de probabilidade para o erro
do Tipo I.
29
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O CMS aumentou linearmente com o aumento da concentração de energia
metabolizável da dieta (Tabela 3), a equação ajustada foi: CMS (g/kg PCVZ
0,75
/dia) = - 69,80 +
70,32 * EM; (r² = 0,91; P 0,037; EPE = 20,44). Este efeito deve-se a maior taxa de passagem
e digestão do alimento no trato do animal, já que as rações com maior nível energético
apresentam menor inclusão de volumoso, logo maiores concentrações de carboidratos não
fibrosos, estes em grande parte, são solúveis e de rápida fermentação, permanecendo assim
menor tempo no ambiente ruminal e ocasionando maior consumo de matéria seca diário.
Tabela 3 – Valores de médios de peso corporal inicial (PCi), peso corporal final (PCf), peso
corporal no jejum (PCj), peso do corpo vazio (PCVZ), ganho de peso médio diário
(GMD), ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ), consumo de matéria seca
(CMS), consumo de energia metabolizável (CEM), produção de calor (PC) e
energia retida (ER) de ovinos Santa Inês alimentados com diferentes níveis de
energia metabolizável na dieta
O consumo de energia metabolizável apresentou comportamento semelhante: CEM
(kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) = - 412,60 + 257,87 * EM; (r² = 0,96; P 0,003; EPE = 49,63); este aumento
deve-se em parte ao aumento do CMS. Devido a maior disponibilidade energética ocasionada
pelo maior CEM, houve também aumento linear na energia retida diária: ER (kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) =
- 45,39 + 43,15 * EM; (r² = 0,74; P 0,008; EPE = 10,78 ) e ganho de peso de corpo vazio
diário: GPCVZ
(g/dia) = - 194,48 + 125,26 * EM; (r² = 0,97; P 0,001; EPE = 18,37).
Observou-se que a produção de calor apresentou comportamento similar: PC
(kcal/kg PCVZ
0,75
/dia)
= - 367,22 + 214,72 * EM; (r² = 0,98; P 0,008; EPE = 46,94 ). A produção de calor é
estimada como sendo igual ao CEM – ER. Apesar das dietas contendo uma maior
Níveis de energia metabolizável na dieta (Mcal/kg MS)
Itens Ref. 2,08 2,28 2,47 2,69
Dias ao abate - - 91 118 144
PCi (kg) 12,35 12,90 13,00 12,84 13,14
PCf
(kg) 12,35 23,40 30,30 29,14 27,86
PCj
(kg) 11,20 22,45 28,55 28,44 26,60
PCVZ
(kg) 7,92 16,89 22,97 23,03 22,32
GMD
(g/dia) - 86,60 120,14 142,19 161,76
GPCVZ
(g/dia) - 62,39 93,31 118,95 139,17
CMS
(g/kg PCVZ
0,75
/dia) - 81,73 87,37 98,11 124,10
CEM
(kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) - 137,05 168,58 207,53 252,37
PC
(kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) - 85,58 121,79 150,52 179,26
ER
(kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) - 51,47 46,79 57,01 73,11
30
concentração de EM terem suscitado uma maior retenção diária de energia, o maior consumo
de nutrientes propiciado por tais dietas ocasionou um maior incremento calórico oriundo da
maior disponibilidade de substrato potencialmente digestível no trato.
A composição corporal média em termos percentuais se encontra na Tabela 4. Não se
observou aumento na concentração de gordura e energia corporal em função da concentração
de EM da dieta (P> 0,05). A menor relação acetato:propionato ocasionada pelo aumento de
concentrado na dieta, ocasiona maior disponibilidade de energia metabolizável para os
animais devido à redução nas perdas de energia na forma de gases de fermentação
(principalmente metano) e menor produção de calor dissipado oriundo da fermentação dos
substratos fibrosos. As quantidades totais produzidas de acetato e propionato aumentam com
o aumento do CMS, isto gera maior energia disponível para o animal, o que foi constatado
com o aumento do GPD, GPCVZ e ER diária, entretanto, essa maior disponibilidade
energética não influenciou a composição corporal final, denotando que a composição corporal
é mais influenciada pela idade do que pela concentração de energia metabolizável na dieta.
Tabela 4 - Composição corporal média e erro padrão da média em termos percentuais de
água, gordura, proteína, matéria mineral e energia no PCVZ de ovinos Santa Inês
alimentados com diferentes níveis de energia metabolizável na dieta
Desta forma, realizou-se uma análise de regressão da composição percentual em função
do PCVZ (Tabela 5), observou-se efeito quadrático do percentual de água, gordura e energia
com o aumento do PCVZ. O percentual de proteína apresentou efeito linear decrescente,
apresentando uma diminuição de 0,11944 pontos percentuais para o aumento de cada kg de
PCVZ. A diminuição na concentração de água no PCVZ se deve, principalmente, ao aumento
da concentração de gordura e da diminuição da concentração de proteína no corpo com o
aumento do PCVZ. Na Tabela 5 está expressa também uma equação de predição da
concentração de energia (Mcal/kg PCVZ) em função PCVZ. Através destas equações pode-se
predizer a composição corporal de um ovino Santa Inês em termos percentuais. Tomando-se
um animal com 20 kg PCVZ estima-se a composição de: 62,30% de água, 19,39% gordura,
Níveis de energia metabolizável na dieta (Mcal/kg MS)
Composição corporal Ref. 2,08 2,28 2,47 2,69
Água (%) 72,27 ± 1,50 64,06 ± 2,01 60,58 ± 0,48 62,28 ± 1,28 61,44 ± 0,97
Gordura (%) 7,05 ± 4,05 16,65 ± 2,07 18,76 ± 0,86 18,68 ± 1,52 20,67 ± 0,86
Proteína
(%) 17,48 ± 0,53 14,15 ± 0,66 16,14 ± 0,61 14,91 ± 0,94 13,40 ± 1,17
Mat. mineral
(%) 5,71 ± 0,26 5,78 ± 0,50 5,44 ± 0,50 5,27 ± 0,56 5,03 ± 0,14
Energia
(Mcal/kg PCVZ) 1,65 ± 0,38 2,36 ± 0,20 2,67 ± 0,05 2,60 ± 0,12 2,70 ± 0,05
31
15,05% de proteína e 2,63 Mcal/kg PCVZ. A Figura 1 expressa o comportamento destes
nutrientes em função do PCVZ.
Tabela 5 – Equações de regressão para estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ) em função
do peso corporal (PC), ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ) em função do
ganho de peso corporal (GPC), logaritmo dos conteúdos corporais de proteína,
gordura e energia em função do log PCVZ e composição de % água, % gordura, %
proteína e energia (Mcal/kg PCVZ) em função do PCVZ de ovinos Santa Inês em
crescimento
Variável Equações de regressão EPE¹
P
PCVZ PCVZ = 0,8036 * PC 0,97 1,13 0,001
GPCVZ GPCVZ = 0,8077 * GPC 0,87 1,10 0,001
Proteína
(g) Log proteína = 2,3387 + 0,8702 * Log PCVZ 0,89 0,06 0,001
Gordura
(g) Log gordura = 0,4416 + 2,3770 * Log PCVZ 0,91 0,14 0,001
Energia
(Mcal) Log energia = -0,3020 + 1,5400 * Log PCVZ 0,97 0,05 0,001
Água
(%) % Água = 83,54 – 1,65 * PCVZ + 0,02941 * PCVZ² 0,90 1,55 0,001
Gordura
(%) % Gordura = -11,93 + 2,79 * PCVZ – 0,06118 * PCVZ² 0,81 2,73 0,001
Proteína
(%) % Proteína = 17,44 – 0,11944 * PCVZ 0,13 1,98 0,090
Energia
(Mcal/kg PCVZ) Energia = 0,1159 + 0,21798 * PCVZ – 0,00460 * PCVZ² 0,79 0,24 0,001
¹ - erro padrão de estimativa
PCVZ (kg)
5 1015202530
Componente no PCVZ
0
20
40
60
80
100
% Água
% Gordura
% Proteína
Energia (Mcal/kg PCVZ)
Figura 1 – Composição em termos de % água, % gordura, % proteína e Mcal/kg PCVZ de
energia em função do PCVZ de ovinos Santa Inês em crescimento
32
A equação ajustada para predizer o PCVZ a partir do PC encontra-se na Tabela 5. O
modelo ajustado foi: PCVZ = 0,8036 * PC (r² = 0,97; P 0,001; EPE = 1,13). Desta forma um
animal com PC de 25 kg apresentará um PCVZ de 20,09 kg, valor 5,6% superior ao obtido
por Santos (2006) trabalhado com ovinos Santa Inês a pasto e muito próximo ao obtido por
Oliveira (2003) de 19,99 kg. Para conversão das exigências de GPCVZ em GPC foi obtido o
seguinte modelo: GPCVZ = 0,8077 * GPC (r² = 0,87; P 0,001; EPE = 1,10). Ou seja, toda a
exigência de ganho de PCVZ deve ser dividida por 0,8077 para conversão em GPC.
As equações logarítmicas ajustadas da quantidade de energia e gordura presente no
corpo vazio em função do PCVZ estão apresentadas na Tabela 5. Observa-se na Tabela 6 que
houve um aumento considerável no conteúdo de energia e gordura no PCVZ dos animais
quando houve aumento de peso corporal de 15 para 30 kg, passando de 1,91 e 85,18 para 2,78
Mcal/kg PCVZ e 221,23 g/kg PCVZ, respectivamente, representando um aumento de 45,5% e
159%, Gonzaga Neto et al. (2005), trabalhando com ovinos Morada Nova e Oliveira et al.
(2004), com ovinos Santa Inês, observaram comportamento semelhante, mas com menores
aumentos percentuais, Santos (2006), trabalhando com ovinos Santa Inês, obteve valores de
2,23 Mcal/kg PCVZ para energia e 103,20 g/kg PCVZ para gordura em animais com 30 kg,
valores bem inferior ao obtido neste trabalho. Tal diferença deve-se talvez ao fato deste autor
ter trabalhado com ovinos em pastejo no semi-árido. Este comportamento é esperado já que
com o aumento do peso corporal há uma maior taxa de deposição de gordura em detrimento à
taxa de deposição de proteína, da mesma forma para a energia já que estão diretamente
relacionados.
Tabela 6 – Estimativa do conteúdo de gordura (g/kg PCVZ) e energia (Mcal/kg PCVZ) em
diferentes intervalos de peso corporal em ovinos Santa Inês em crescimento
PC (kg) PCVZ (kg) Gordura (g/kg PCVZ) Energia (Mcal/kg PCVZ)
15,00 12,06 85,18 1,91
20,00 16,07 126,58 2,24
25,00 20,09 172,11 2,52
30,00 24,11 221,23 2,78
Após derivar-se a equação logarítmica da quantidade de energia e gordura em função
do PCVZ, obteve-se a exigência líquida de energia e a quantidade de gordura depositada no
ganho de peso de corpo vazio. A equação e as exigências líquidas de energia para ganho de
peso para diferentes intervalos de peso corporal encontram-se na Tabela 7. O valor de
33
exigência de energia líquida para GPC elevou-se com o aumento de peso corporal, devido ao
aumento também da quantidade de gordura depositada por kg de ganho. Os valores
encontrados variaram de 2,94 a 4,28 Mcal/kg GPCVZ para pesos de 15 a 30 kg
respectivamente. Desta forma, um animal de 20 kg de PC e ganhando 150 g/dia PCVZ
apresenta uma exigência líquida de energia de 0,516 Mcal/dia, valor superior ao obtido por
Oliveira et al. (2004) de 0,489 Mcal/dia e por Gonzaga Neto et al. (2005) com ovinos Morada
Nova de 0,456 Mcal/dia para um mesmo ganho. Empregando a equação de ajuste para
conversão de ganho em peso corporal obtém-se o valor de 0,639 Mcal/dia. Utilizando-se a
equação do ARC (1980) para pesos de 15 e 25 kg, obtém-se a exigência energética de 2,41 e
3,48 Mcal/kg GPCVZ, os valores obtidos neste trabalho foram 21,9 e 14,4% superiores
respectivamente. Silva (1999) obteve valores de 2,96 e 3,48 Mcal/kg GPCVZ utilizando
ovinos Santa Inês, sendo tais valores próximos aos encontrados neste trabalho.
Animais precoces tendem a depositar maiores concentrações de gordura no ganho de
peso quando comparados com animais tardios, o que pode ocasionar a diminuição da
eficiência alimentar devido à maior exigência líquida de energia para ganho de peso. Desta
forma devendo apresentar peso de abate inferior. Os animais do presente estudo apresentaram
uma rápida deposição de gordura em detrimento à deposição protéica, e mesmo que a
eficiência parcial energética de deposição de gordura estimada por Geay (1984) de 0,75;
apresente-se superior que para deposição protéica de 0,20; esta deposição em taxas mais
elevadas poderia tornar-se onerosa do ponto de vista econômico/nutricional, já que uma maior
quantidade de alimento/energia seria requerida para uma mesma taxa de ganho quando
comparada com animais tardios.
Tabela 7 – Equações de regressão para predição dos conteúdos de gordura (g/kg GPCVZ) e
das exigências líquidas de energia (Mcal/kg GPCVZ) em função do peso de corpo
vazio (PCVZ), estimativa da concentração de gordura no ganho e da exigência
líquida de energia para GPCVZ em diferentes intervalos de peso corporal (PC) em
ovinos Santa Inês em crescimento
Gordura (g/kg GPCVZ) Energia (Mcal/kg GPCVZ)
PC (kg) PCVZ (kg) Y = 6,5710 * PCVZ
1,3770
Y = 0,7683 * PCVZ
0,5400
15,00 12,06 202,47 2,95
20,00 16,07 300,88 3,44
25,00 20,09 409,11 3,88
30,00 24,11 525,86 4,28
34
A exigência líquida de mantença foi obtida como sendo o antilogaritmo da equação de
regressão linear entre o CEM (kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) e o logaritmo da produção de calor
(kcal/kg PCVZ
0,75
/dia). A equação obtida foi Log PC (kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) = 1,7051 + 0,0021 *
CEM; (r² = 0,80; P 0,001; EPE = 0,08) e o valor de exigência líquida de energia obtido foi de
50,72 kcal/kg PCVZ
0,75
/dia, valor este próximo ao obtido por Gonzaga Neto et al. (2005) com
ovinos Morada Nova de 52,49 kcal/kg PCVZ
0,75
/dia, e por Silva (1999) de 50,00 kcal/kg
PCVZ
0,75
/dia. A ELm obtida neste trabalho apresenta-se bem abaixo do recomendado pelos
principais sistemas exigências nutricionais de ovinos (AFRC (1993), CSIRO (1990), INRA
(1978) e NRC (1985)). Segundo Silanikove (2000), caprinos criados em regiões semi-áridas
podem desenvolver mecanismos para diminuir o metabolismo basal, diminuindo assim sua
ELm, o mesmo pode ocorrer com ovinos selecionados dentro de regiões semi-áridas, como os
utilizados neste trabalho. Desta forma, mais trabalhos devem ser conduzidos visando
determinar com maior exatidão a ELm de animais selecionados nestas regiões.
Garret (1980), relatou que a síntese protéica é energeticamente cara, sendo alta as taxas
de turnover protéico nos tecidos, sendo variável entre os tecidos, e consideravelmente elevada
em animais de crescimento rápido, permitindo inferir que a degradação e resíntese de proteína
podem ser a razão para ligeiros aumentos no requerimento de mantença de animais de
maturação tardia. Como comentado anteriormente, a alta deposição de gordura nos animais
utilizados neste experimento pode ter ocasionado menor exigência líquida de mantença.
Figura 2 – Relação entre o logaritmo da produção de calor (PC) (Kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) e o consumo
de energia metabolizável (CEM) (Kcal/kg PCVZ
0,75
/dia) em ovinos Santa Inês em
crescimento
y = 0,0021x + 1,7051
R
2
= 0,8062
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
3,000
0,000 100,000 200,000 300,000 400,000 500,000
CEM (Kcal/kg PCVZ
0,75
/dia)
LOG PC (Kcal/kg PCVZ
0,75
/dia)
35
A exigência líquida de mantença é influenciada também pelas condições fisiológicas,
idade, sexo, atividade física e temperatura (NRC, 2007), sendo ainda influenciada pela
composição corporal, já que a atividade metabólica é mais intensa no tecido muscular que no
adiposo (Garret, 1980). Estima-se que 50% da exigência energética de mantença seja
consumida na reciclagem protéica e no transporte de íons através das membranas (Baldwin et
al., 1980). Outro fator que afeta a exigência de mantença é o tamanho dos órgãos internos. Os
tecidos viscerais, apesar de apresentarem menor proporção no corpo do animal, consomem
cerca da metade do requisito energético dos ruminantes, sendo seu tecido protéico mais ativo
metabolicamente que o tecido protéico presente no resto do corpo do animal (Owens et al.,
1995; Reynolds et al., 1992). Sabe-se que restrições alimentares em fases jovens alteram
diretamente o tamanho dos órgãos internos, influenciando também a exigência de mantença.
Trabalhos com restrição alimentar têm sido realizados para estimar a exigência de mantença
de ovinos. Tais dados devem ser empregados com precaução quando se pretende utilizá-los
em sistemas de produção, já que podem levar o produtor a utilizar dietas com menores
concentrações energéticas, afetando diretamente o resultado final do sistema de produção.
36
CONCLUSÕES
A concentração de gordura e energia no corpo vazio, deposição de gordura no ganho e
exigência energética líquida para ganho de peso e elevam-se com o aumento do peso corporal
em ovinos Santa Inês em crescimento. A exigência de energia líquida para mantença de
ovinos Santa Inês é inferior ao preconizado pelos principais sistemas de avaliação de
alimentos e requerimentos nutricionais.
37
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VÉRAS, A.S.C.; VALADARES FILHO, S.C.V.; SILVA, J.F.C. et al. Composição corporal e
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WEISS, W.P. Energy prediction equations for ruminant feeds. In: CORNELL
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40
COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS LÍQUIDAS PROTÉICAS DE OVINOS
SANTA INÊS EM CRESCIMENTO
RESUMO: Avaliou-se o efeito de diferentes níveis de energia metabolizável na dieta sobre a
composição corporal e as exigências de proteína líquida de 24 ovinos Santa Inês em
crescimento, não-castrados, com idade e peso corporal (PC) médio de 50 dias e 13,00 ± 0,56
kg. Após um período de adaptação de 10 dias, quatro animais foram abatidos para serem
utilizados como referência para as estimativas do peso do corpo vazio (PCVZ) e da
composição corporal inicial dos demais. Os animais remanescentes foram distribuídos em um
delineamento em blocos casualizados sendo os tratamentos rações contendo diferentes níveis
de energia metabolizável (2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS), com cinco repetições. O peso
de abate foi determinado em 28 kg. A excreção diária de N foi estimada extrapolando-se a
equação de regressão de consumo de N (g/kg PC
0,75
/dia) em função da retenção de N (g/kg
PC
0,75
/dia), para o consumo zero, o intercepto negativo do eixo Y é considerado como as
perdas endógenas. Foi ajustada uma equação de regressão do logaritmo do conteúdo de
proteína em função do logaritmo do PCVZ dos animais. A derivada dessa equação permitiu a
estimativa da exigência protéica líquida para ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ). A
excreção diária de N foi estimada em 277 mg/kg PC
0,75
/dia. O conteúdo de proteína no PCVZ
dos animais diminui de 157,83 para 144,33 g/kg PCVZ quando os animais aumentaram o
peso corporal de 15 para 30 kg, respectivamente. A quantidade de proteína depositada no
ganho diminuiu com o aumento do peso corporal dos animais, passando de 137,47 para
125,71 g/kg GPCVZ com o aumento do peso corporal de 15 para 30 kg, respectivamente. A
excreção fecal de nitrogênio e exigência líquida de proteína para mantença de ovinos Santa
Inês em crescimento é inferior ao pelos principais sistemas de avaliação de alimentos e
requerimentos nutricionais.
Palavras-chaves: Proteína metabolizável, mantença, ganho de peso, pequenos ruminantes.
41
BODY COMPOSITION AND NET PROTEIN REQUIREMENTS FOR SANTA INÊS
SHEEP IN GROWTH
ABSTRACT: This study was conducted to evaluate the influence of four concentrations of
metabolizable energy in the diet of Santa Inês sheep in growing. Body composition and
protein requirements were studied. Twenty-four Santa Inês sheep, non-castrated, with age of
50 days and average body weight of 13.00 ± 0.56 kg were used. After an adaptation period of
10 days, four reference animals were slaughtered to estimate the initial empty body weight
(EBW) and body composition of the others animals. The remaining animals were distributed
in a randomized block design with the treatment consisting of diets containing different
concentrations of metabolizable energy (2.08, 2.28, 2.47 and 2.69 Mcal/kg of DM), with five
replicates. The animals were fed until reach the slaughter weight of 28 kg. The N daily
excretion was estimated extrapolating regression equations of N consumption (g/kg
BW
0.75
/day) in function of the N retention (g/kg BW
0.75
/day) for the zero consumption level,
the negative intercept of the Y axis was considered as the endogenous N losses. Regression
equation was adjusted between the logarithm of the protein content and the logarithm of
EBW. The derivative of this equation enabled the estimation of net protein for the gain of
empty body weight (EBWG). The N daily excretion was estimated at 277 mg/kg BW
0.75
/day
and the net protein requirement for maintenance (NPm) at 1.73 g/kg BW
0.75
/day. The content
of protein in EBW decreased from 157.83 to 144.33 g/kg of EBW when animals increased
their BW from 15 to 30 kg, respectively. The protein deposited in the gain decreased from
137.47 to 125.71 g/kg of EBWG for animals with 15 to 30 kg, respectively. Fecal excretion of
nitrogen and protein requirement for maintenance of Santa Inês sheep growth is lower than
the main systems of feed evaluation and nutrient requirements.
Keywords: Metabolizable protein, maintenance, weight gain, small ruminants.
42
INTRODUÇÃO
A proteína é um nutriente essencial para os seres vivos, estando envolvida em funções
vitais do organismo tais como: crescimento e reparo dos tecidos, catálise enzimática,
transporte e armazenamento, movimento coordenado, sustentação mecânica, proteção
imunitária, geração e proteção de impulsos nervosos, controle do metabolismo, do
crescimento e da diferenciação celular (Valadares Filho et al., 2006). É também o nutriente
mais oneroso em dietas para ruminantes, e na época seca pode ser o mais limitante, devido à
diminuição de sua disponibilidade e de seu teor em forragens tropicais que são à base da
alimentação de ovinos criados no Nordeste brasileiro.
A exigência de proteína dos ruminantes durante muito tempo foi expressa em termos
de proteína bruta (PB) e proteína digestível (PD). A partir do ARC (1965), em face dos
problemas existentes com estes métodos passou-se a adotar o conceito de proteína disponível
(Silva Sobrinho et al., 1996). Mais recentemente o Subcommitte on Nitrogen Usage in
Ruminants (1985), adotou o conceito de proteína absorvida, sendo os dois vocábulos
sinônimos de proteína metabolizável, que é definida como a proteína verdadeiramente
absorvida no intestino, derivada da proteína microbiana digestível, proteína não degradada no
rúmen digestível e proteína endógena digestível, adotada hoje pelos principais sistemas de
requerimento nutricionais. Tais sistemas também utilizam o método fatorial para
determinação dos requerimentos totais de proteína, ou seja, a exigência protéica de mantença
é calculada separadamente da exigência de ganho de peso e então somada.
O requerimento de proteína líquida de mantença (PLm) é igual às perdas metabólicas
fecais, urinárias, por descamação e retidas no pêlo (NRC, 2007). A quantificação dessas
perdas é relativamente difícil, principalmente em relação às perdas metabólicas fecais, uma
vez que é necessário separar as perdas microbianas nas fezes das verdadeiras perdas
metabólicas fecais, o que exige um procedimento mais trabalhoso (Paulino et al., 2004).
O que tem sido realizado no Brasil para estimar as perdas endógenas é a plotagem de
equações de regressão de consumo de N (g/kg PC
0,75
/dia) em função da retenção de N (g/kg
PC
0,75
/dia). Quando se extrapola o consumo de N para zero, o intercepto negativo do eixo Y é
considerado como as perdas endógenas. Normalmente, animais jovens apresentam uma maior
exigência líquida de proteína para mantença (g/kg PC
0,75
/dia), devido à maior taxa de
reposição e deposição de tecido muscular.
43
Segundo Silva et al. (2007) outro fator que pode ocasionar diferença na exigência
protéica líquida de mantença é a quantidade de proteína retida na lã. Em ovinos lanados, a
proteína retida na lã é determinada separadamente e somada com requerimento para ganho de
peso, já que o crescimento da lã é proporcional ao ganho de peso corporal, enquanto que em
ovinos deslanados, apesar da baixa produção de pêlos, a proteína retida nestes faz parte dos
requerimentos de mantença.
A exigência de proteína líquida para ganho de peso (PLg) é dependente do conteúdo de
matéria seca livre de gordura no ganho. Varia, portanto, em virtude da raça, classe sexual e
taxa de ganho de peso (Paulino et al., 2004). Conforme Lana (1991), o requerimento de
proteína líquida difere também em função do sexo para animais de mesma idade e raça.
Machos inteiros apresentam maiores exigências em relação aos castrados e estes em relação
às fêmeas. Esta maior exigência líquida dos machos inteiros é devido estes depositarem mais
tecido magro no ganho de peso.
Para determinação da exigência líquida de proteína para ganho, utiliza-se a técnica do
abate comparativo (Lofgreen & Garret, 1968). Sendo necessário, portanto, a determinação da
composição corporal no inicio e final do período experimental.
Segundo Silva et al. (2003), a literatura mundial sobre exigências de ovinos deslanados
é muito escassa, e no Brasil há poucos trabalhos de investigação sobre este tema em
andamento. Por este motivo, dietas de ovinos deslanados são freqüentemente baseadas em
dados disponíveis na literatura internacional para ovinos lanados, caprinos e até bovinos,
embora existam grandes diferenças entre estes animais.
Diante disto, o presente estudo foi conduzido com o objetivo de determinar a
composição corporal e as exigências protéicas líquidas para mantença e ganho de peso em
ovinos Santa Inês em crescimento.
44
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Ovinocaprinocultura do Departamento de
Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, Ceará. Foram utilizados 24
cordeiros da raça Santa Inês, não-castrados, com peso corporal (PC) médio e erro padrão da
média inicial de 13,00 ± 0,56 kg e, aproximadamente, 50 dias de idade. Inicialmente, os
animais foram identificados com brincos, pesados, vermifugados e distribuídos em baias
individuais providas de cochos para fornecimento das rações e água à vontade.
Após um período de adaptação de 10 dias, quatro animais foram selecionados
aleatoriamente e abatidos para servir como referência para as estimativas do peso do corpo
vazio (PCVZ) e da composição corporal inicial dos 20 animais remanescentes. Estes foram
distribuídos em um delineamento em blocos casualizados com quatro tratamentos e cinco
repetições, sendo os tratamentos, dietas contendo diferentes níveis de energia metabolizável
(2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS) obtidos a partir de diferentes relações
volumoso:concentrado (75:25; 62,5:37,5; 50:50; 37,5:62,5).
As rações experimentais foram formuladas conforme o NRC (1985) e foram compostas
de feno de Tifton-85 (Cynodon sp.) moído, farelo de soja, fubá de milho, cloreto de sódio,
uréia, calcário, fosfato bicálcico e premix mineral. A composição bromatológica dos
ingredientes e das rações experimentais podem ser visualizadas na Tabela 1 e 2,
respectivamente. As rações foram fornecidas uma vez ao dia, as 7 h da manhã, e ajustadas
diariamente para aproximadamente 20% de sobras. Antes da oferta matinal, foram coletadas
as sobras de cada unidade experimental, que depois de pesadas, registradas e amostradas,
foram armazenadas sob congelamento (-10
ºC) juntamente com amostras do feno e dos
concentrados, formando-se posteriormente uma amostra composta semanal por animal, que ao
final do período experimental formou uma amostra composta total por animal/tratamento. Em
seguida as amostras foram descongeladas, homogeneizadas e moídas em moinho com peneira
de malha de 1 mm, sendo então analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria
mineral (MM), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) seguindo os
protocolos padrões da AOAC (1990); fibra em detergente neutro (FDN) e ácido (FDA),
proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) e ácido (PIDA) conforme Van Soest et al.
(1991).
O teor de carboidratos totais (CT) foi calculado utilizando a fórmula: CT (%) = 100 –
(%PB + %EE + %cinzas), segundo Sniffen et al. (1992). Os carboidratos não fibrosos (CNF)
45
foram calculados, de acordo com Weiss (1999), onde: CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB +
%EE + %cinzas). Para os concentrados, devido à presença de uréia em sua constituição, o teor
de CNF foi calculado conforme proposto por Hall (2000), sendo CNF = 100 – [(%PB - %PB
derivado da uréia + % da uréia) + %FDNcp + %EE + %cinzas].
Tabela 1 – Composição bromatológica dos ingredientes em % MS
Nutrientes Feno Milho Soja Conc. 1 Conc. 2 Conc. 3 Conc. 4
Matéria seca 92,73 91,44 92,54 90,30 90,18 90,94 90,30
Matéria mineral 6,03 1,74 6,84 3,53 3,76 3,56 3,71
Proteína bruta 9,94 9,39 44,05 21,14 21,72 22,00 22,27
Extrato etéreo 0,84 5,36 4,13 3,60 4,30 5,00 4,26
Fibra em detergente neutro 75,03 14,78 15,78 15,91 15,15 16,01 14,87
Fibra em detergente ácido 36,32 4,78 9,24 5,63 5,67 2,70 5,83
FDNcp 67,91 12,76 13,74 14,16 13,72 14,61 13,45
Carboidratos totais 83,19 83,51 44,98 71,73 70,23 69,43 69,75
Carboidratos não-fibrosos 15,28 70,75 31,24 59,16 58,64 57,03 58,56
Tabela 2 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais
Concentração de EM (Mcal/kg MS)
Composição percentual (%MN) 2,08 2,28 2,47 2,69
Feno de Tifton 75,00 62,50 50,00 37,50
Concentrado 25,00 37,50 50,00 62,50
Fubá de milho¹ 77,90 77,60 77,40 77,39
Farelo de soja
¹
20,00 20,00 20,20 20,00
Uréia
¹
0,88 1,18 1,22 1,25
Calcário¹ 0,00 0,26 0,31 0,62
Fosfato bicálcico¹ 0,26 0,26 0,26 0,26
Cloreto de sódio¹ 0,88 0,62 0,44 0,35
Premix mineral
¹,²
0,06 0,04 0,13 0,13
Composição bromatológica (%MS)
Matéria seca 92,12 91,77 91,83 91,21
Matéria mineral 5,40 5,18 4,80 4,58
Proteína bruta 12,74 14,36 15,97 17,65
Extrato etéreo 1,53 2,13 2,92 2,98
Fibra em detergente neutro 60,25 52,57 45,52 37,43
Fibra em detergente ácido 28,64 24,82 19,51 17,26
FDNcp 54,47 47,59 41,26 33,87
Carboidratos totais 80,33 78,33 76,31 74,79
Carboidratos não-fibrosos 26,25 31,54 36,16 42,33
Nutrientes digestíveis totais 57,41 63,11 68,38 74,51
¹ - Composição centesimal em relação à porção concentrada da dieta.
² - Composição: Ca 7,5%; P 3%; Fe 16.500 ppm, Mn 9.750 ppm, Zn 35.000 ppm, I 1.000 ppm, Se 225 ppm, Co 1.000 ppm.
46
Os animais foram pesados semanalmente para acompanhamento do ganho de peso
corporal (GPC) e quando a média de PC do tratamento atingiu 28 kg os animais foram
abatidos. Nessa ocasião, também foi abatido um animal do grupo com menor concentração
energética na ração (animais alocados no tratamento com 2,08 Mcal/kg MS de EM). Dessa
forma, procedeu-se para cada tratamento, até que todos os animais fossem abatidos.
Antes do abate, os animais foram pesados, submetidos a jejum de alimentos sólidos e
água por 18 horas e novamente pesados para obtenção do peso corporal no jejum (PCj). Após
o abate e coleta de sangue, realizou-se esfola e evisceração do animal. O trato gastrintestinal
foi pesado cheio, esvaziado, lavado e após o escorrimento da água, foi novamente pesado para
que juntamente com o peso dos órgãos e demais partes do corpo (carcaça, cabeça, couro,
sangue, pés e cauda) ser determinado o peso de corpo vazio (PCVZ).
Todos os órgãos (sistema reprodutor, traquéia + pulmão + língua + esôfago, fígado,
coração, rins, baço, bexiga, omaso, abomaso, rúmen + retículo, diafragma, intestino grosso e
delgado, gordura omental, perirenal, mesentérica e do coração) mais a cabeça foram pesados e
congelados. O sangue coletado no momento do abate foi pesado e colocado para secar em
estufa de ventilação forçada a 55ºC durante 72 h, sendo em seguida moído para posterior
análise de matéria seca, nitrogênio e extrato etéreo. As patas foram amostradas (dianteira e
traseira direita), e o couro foi cortado em tiras e amostrado para futura análise.
Posteriormente, a carcaça de cada animal foi resfriada por 24 horas a 5ºC e, então, cortada em
serra de fita a fim de utilizar a meia carcaça direita para determinação da composição
química.
Em seguida, a meia carcaça, órgãos e a amostra de couro foram moídos em moedor de
carne industrial e homogeneizados. A massa moída da carcaça e dos órgãos foi misturada
proporcionalmente, ou seja, a massa moída de órgãos foi dividida por dois e homogeneizada
com a massa moída da meia carcaça direita e patas. As referidas amostras, juntamente com as
amostras de couro foram desidratadas em estufa de ventilação forçada a 55ºC, por um período
de 72 horas e então armazenadas. Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa a 105ºC
por 24 horas para obtenção do teor de matéria seca gordurosa (MSG). Em seguida
processadas com auxílio de um multiprocessador e então desengorduradas para obtenção da
matéria seca desengordurada (MSD), sendo então analisadas para nitrogênio total (NT).
A determinação do teor de água, gordura e proteína do corpo vazio (CVZ) foi realizado
em função da proporcionalidade e do teor de água, gordura e proteína dos componentes
analisados separadamente (couro, sangue e órgãos + carcaça), totalizando 100% do PCVZ.
47
A composição corporal de proteína foi estimada utilizando-se equação de regressão,
para o logaritmo da quantidade deste constituinte presente no corpo vazio, em função do peso
do corpo vazio, foi adotada a equação alométrica logaritmizada, preconizada pelo ARC
(1980):
eXLogbaYLog
+
+
=
em que: Log y = logaritmo na base 10 do conteúdo total de proteína (g) no corpo vazio; a =
intercepto; b = coeficiente de regressão do conteúdo do constituinte em função do peso de
corpo vazio; log x = logaritmo do peso de corpo vazio (kg), e = erro aleatório associado a
cada observação.
A exigência de proteína líquida para ganho de peso de corpo vazio foi estimada
derivando-se a equação do conteúdo corporal deste constituinte, em função do logaritmo do
PCVZ, obtendo-se uma equação do tipo:
)1(
10
××=
ba
XbY
em que Y = exigência líquida de proteína (g) para ganho de PCVZ; a = intercepto da equação
de predição do conteúdo corporal de proteína; b = coeficiente de regressão da equação do
conteúdo corporal de proteína e X = PCVZ (kg).
A quantificação da retenção de nitrogênio diário (g N/kg PC
0,75
/dia) foi obtido pela
diferença entre o conteúdo de nitrogênio final no corpo dos animais menos o conteúdo inicial
(animais referência) dividido pela quantidade de dias até o abate. Após a quantificação da
ingestão diária (g N/kg PC
0,75
/dia) foi obtida uma regressão linear do N retido em função do N
ingerido, assumindo-se o intercepto do eixo X multiplicado por 6,25 como a exigência
protéica para mantença e o intercepto negativo do eixo Y como as perdas endógenas e
metabólicas.
Para a conversão das exigências protéicas líquidas de PCVZ em exigências protéicas
líquidas de PC foram realizados ajustes de equações de regressão linear entre o GPCVZ e o
GPC e também entre PCVZ e PC de todos os animais experimentais. Para regressão linear
entre PCVZ e PC além dos animais experimentais foram utilizados também os animais
referência.
As variáveis foram submetidas a análises de variância e regressão, utilizando-se o SAS
(SAS Inst. Inc., Cary, NC) por meio da rotina PROC GLM, foram testados os efeitos lineares
e quadráticos para todas as variáveis, adotou-se o nível de 0,05 de probabilidade para o erro
do Tipo I.
48
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O CMS aumentou linearmente com o aumento da concentração de energia
metabolizável da dieta (Tabela 3), a equação ajustada foi: CMS (g/kg PCVZ
0,75
/dia) = - 69,80 +
70,32 * EM; (r² = 0,91; P 0,037; EPE = 20,44). Este efeito deve-se a maior taxa de passagem
e digestão do alimento no trato do animal, já que as rações com maior nível energético
apresentam menor inclusão de volumoso, logo maiores concentrações de carboidratos não
fibrosos, estes em grande parte, são solúveis e de rápida fermentação, permanecendo assim
menor tempo no ambiente ruminal e ocasionando maior consumo de matéria seca diário.
Tabela 3 - Valores médios e desvios padrões de peso corporal inicial (PCi), peso corporal
final (PCf), peso corporal no jejum (PCj), peso do corpo vazio (PCVZ), ganho de
peso médio diário (GMD), ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ), consumo de
matéria seca (CMS), consumo de nitrogênio (CND) e retenção de nitrogênio
diário (RND) de ovinos Santa Inês alimentados com diferentes níveis de energia
metabolizável na dieta
O consumo de nitrogênio diário apresentou comportamento semelhante: CND
(g/kg
PC
0,75
/dia) = -2,83 + 2,07 * EM; (r² = 0,80; P 0,001; EPE = 0,30); este aumento deve-se em
parte ao aumento do CMS. Observa-se que houve efeito linear na retenção de N diário: RND
(g/kg PC
0,75
/dia) = -1,32 + 0,70 * EM; (r² = 0,96; P 0,001; EPE = 0,04) e ganho de peso de corpo
vazio diário: GPCVZ (g/dia) = - 194,48 + 125,26 * EM; (r² = 0,97; P 0,001; EPE = 18,37). A
deposição de proteína no corpo do animal é função da disponibilidade de energia e
aminoácidos metabolizáveis, a proteína microbiana sintetizada no rúmen fornece 50% ou
mais dos aminoácidos disponíveis para a absorção, sendo considerada uma fonte de
aminoácidos de alta qualidade (Schwab, 1996). Caso haja deficiência de energia, os
aminoácidos poderão ser deaminados e seus esqueletos de carbono utilizados como fonte de
Níveis de energia metabolizável na dieta (Mcal/kg MS)
Ref. 2,08 2,28 2,47 2,69
Dias ao abate - - 91 118 144
PCi (kg) 12,35 12,90 13,00 12,84 13,14
PCf
(kg) 12,35 23,40 30,30 29,14 27,86
PCj
(kg) 11,20 22,45 28,55 28,44 26,60
PCVZ
(kg) 7,92 16,89 22,97 23,03 22,32
GMD
(g/dia) - 86,60 120,14 142,19 161,76
GPCVZ
(g/dia) - 62,39 93,31 118,95 139,17
CMS
(g/kg PCVZ
0,75
/dia) - 81,73 87,37 98,112 124,10
CND
(g/kg PC
0,75
/dia) - 1,42 1,94 2,28 2,71
RND
(g/kg PC
0,75
/dia) - 0,11 0,29 0,42 0,53
49
energia, diminuindo a eficiência de retenção protéica, caso contrário, se houver excesso de
energia e indisponibilidade de aminoácidos, podem ocorrer perdas energéticas por ciclos
fúteis.
A equação ajustada para predizer o PCVZ a partir do PC encontra-se na Tabela 4. O
modelo ajustado foi: PCVZ = 0,8036 * PC; (r² = 0,97; P 0,001; EP = 1,13). Desta forma um
animal com PC de 25 kg apresentará um PCVZ de 20,09 kg, valor 5,6% superior ao obtido
por Santos (2006) trabalhado com ovinos Santa Inês a pasto e muito próximo ao obtido por
Oliveira (2003) de 19,99 kg. Para conversão das exigências de GPCVZ em GPC foi obtido o
seguinte modelo: GPCVZ = 0,8077 * GPC; (r² = 0,87; P 0,001; EP = 1,10) ou seja, toda a
exigência de ganho de PCVZ deve ser dividida por 0,8077 para conversão em GPC.
Tabela 4 – Equações de regressão para estimativa do peso de corpo vazio (PCVZ) em função
do peso corporal (PC), ganho de peso de corpo vazio (GPCVZ) em função do
ganho de peso corporal (GPC) e logaritmo do conteúdo corporal de proteína em
função do log PCVZ de ovinos Santa Inês em crescimento
Variável Equações de regressão EPE¹
P
PCVZ PCVZ = 0,8036 * PC 0,97 1,13 0,001
GPCVZ GPCVZ = 0,8077 * GPC 0,87 1,10 0,001
Proteína
(g) Log proteína = 2,3387 + 0,8702 * Log PCVZ 0,89 0,06 0,001
¹ - erro padrão de estimativa
A equação logarítmica ajustada da quantidade de proteína presente no corpo vazio em
função do PCVZ está apresentada na Tabela 4. Observa-se na Tabela 5 que houve diminuição
da concentração de proteína no corpo vazio dos animais com o aumento de PCVZ, passando
de 157,83 para 144,33 g/kg PCVZ quando os animais aumentaram o peso corporal de 15 para
30 kg. Isto se deve, principalmente, pelo aumento da taxa de deposição de gordura em
detrimento a taxa de deposição de proteína com o aumento de peso corporal do animal,
comportamento este observado por Oliveira et al. (2004) utilizando ovinos Santa Inês puros e
com cruzas com Texel e Ile de France, por Gonzaga Neto et al. (2005) utilizando ovinos
Morada Nova e por Galvani et al. (2009) utilizando ovinos Texel, também estão de acordo
com os estudos do ARC (1980). Quando se confronta os valores obtidos por tais autores com
o valor obtido no presente estudo para animais com 20 kg de PCVZ (147,85 g/kg PCVZ),
estes se encontram 32, 20 e 7% superiores, respectivamente. Quando comparado com o valor
citado pelo ARC (1980), o resultado obtido neste estudo encontra-se 11% inferior.
50
Tabela 5 – Estimativa do conteúdo de proteína (g/kg PCVZ) em diferentes intervalos de peso
corporal em ovinos Santa Inês em crescimento
PC (kg) PCVZ (kg) Proteína (g/kg PCVZ)
15,00 12,06 157,83
20,00 16,07 152,08
25,00 20,09 147,76
30,00 24,11 144,33
Após derivar-se a equação logarítmica do conteúdo de proteína no CVZ em função
PCVZ, obtêm-se a equação de predição da exigência líquida de proteína em g/kg GPCVZ. A
equação derivada e a exigência líquida de proteína em g/kg GPCVZ estão expressas na Tabela
6. Houve diminuição da exigência líquida de proteína com o aumento do peso corporal,
passando de 137,47 para 125,71 g/kg GPCVZ com o aumento do peso corporal de 15 para 30
kg. Este comportamento é descrito pelo ARC (1980) e por diversos autores (Gonzaga Neto et
al. 2005; Oliveira et al. 2004; Silva et al. 2007), entretanto Carvalho et al. (2000), trabalhando
com cruzas Texel x Ideal obtiveram comportamento inverso, ou seja, aumento da exigência
líquida de proteína com aumento do PCVZ. Galvani et al. (2009), observou diminuição pouco
pronunciada da exigência líquida de proteína com o aumento do PCVZ. A exigência líquida
de proteína para ganho de 200 g/dia PCVZ de um ovino Santa Inês com 20 kg PC obtida neste
trabalho foi de 26,49 g/dia, valor 26% inferior ao obtido por Oliveira (2003) e 32% inferior ao
preconizado por Gonzaga Neto et al (2005), porém, cerca de 12% superior ao obtido por Silva
et al. (2007), trabalhando com ovinos Santa Inês.
Tabela 6 – Equação de regressão para predição da exigência líquida de proteína (g/kg
GPCVZ) em função do peso de corpo vazio (PCVZ) e estimativa da exigência
líquida de proteína para GPCVZ em diferentes intervalos de peso corporal (PC)
em ovinos Santa Inês em crescimento
Proteína (g/kg GPCVZ)
PC (kg) PCVZ (kg) Y = 189,8100 * PCVZ
-0,1298
15,00 12,06 137,47
20,00 16,07 132,46
25,00 20,09 128,70
30,00 24,11 125,71
O valor de exigência líquida de proteína para ganho de peso corporal utilizando a
equação do AFRC (1993) para machos inteiros de 20 kg PC e com um ganho de 200 g/dia é
de 28,04 g/dia, apresenta-se cerca de 6% superior ao encontrado neste trabalho. Animais
tardios apresentam deposição de proteína mais elevada no ganho de peso que animais
51
precoces. Os animais utilizados neste trabalho apresentaram alta deposição de gordura, o que
pode acarretar a diminuição da exigência líquida de proteína para ganho de peso.
A exigência líquida de proteína para mantença foi estimada como sendo o intercepto
negativo multiplicado por 6,25 entre o consumo de nitrogênio (g/kg PC
0,75
/dia) em função da
retenção de nitrogênio no corpo do animal (g/kg PC
0,75
/dia), sendo esta uma estimativa das
perdas endógenas de proteína nas fezes, urina e retidas no pêlo. A equação ajustada bem como
o gráfico obtido estão expressos na Figura 2.
Figura 2 – Relação entre a retenção de N (g/kg PC
0,75
/dia) e o consumo de N (g/kg PC
0,75
/dia) em ovinos
Santa Inês em crescimento
A equação obtida foi: RND (g/kg PC
0,75
/dia) = -0,277 + 0,2951 * CND (g/kg PC
0,75
/dia); (r² = 0,88;
P 0,001; EP = 0,06) a partir desta equação estimou-se a exigência dietética de mantença
como sendo de 0,94 g N/kg PC
0,75
/dia ou 5,86 g PB/kg PC
0,75
/dia. A excreção diária de N foi
estimada em 277 mg/kg PC
0,75
/dia e a exigência de proteína líquida para mantença em 1,73
g/kg PC
0,75
/dia. A eficiência de uso do nitrogênio dietético foi de 0,29; sendo idêntico ao
observado por Gonzaga Neto et al. (2005) e por Silva et al. (2003). A exigência de proteína
líquida de mantença encontra-se cerca de 19 e 16% inferior ao obtido por estes autores,
respectivamente, e cerca de 13% superior ao obtido por Galvani et al. (2009).
O AFRC (1993) estimou as perdas endógenas em 350 mg/kg PC
0,75
/dia, valor cerca de
26% superior ao obtido neste estudo. Contudo conforme salientou Galvani et al. (2009), esta
discrepância pode ser em parte devido a diferenças nas metodologias utilizadas. O AFRC
(1993) estima a exigência de proteína líquida para mantença através de dietas isentas e por
y = 0,2951x - 0,277
R
2
= 0,8833
0,000
0,100
0,200
0,300
0,400
0,500
0,600
0,500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 3,500
Consumo de N (g/kg PV
0,75
/dia)
Retenção de N (g/kg PV
0,75
/dia)
52
infusão intragástrica, o que pode superestimar a excreção de N, diferentemente do NRC
(2007) e do CNCPS-S (Cannas, 2004) que utilizam equações empíricas para estimar o N
excretado nas fezes, urina e retido no pêlo, e a partir da soma destes valores estimam a
exigência líquida de proteína para mantença.
Há na literatura grande variação de valores de exigência de proteína para mantença, o
que pode ser conseqüência de diferenças na eficiência de reaproveitamento de aminoácidos
pelos tecidos e na relação entre síntese/degradação de proteínas, esta variação também pode
estar relacionada com a composição corporal, já que ovinos com maior percentual de gordura
intramuscular apresentam menor metabolismo protéico por unidade de peso corporal,
ocasionando menores exigências nutricionais líquidas de proteína por unidade de peso
metabólico. Como relatado anteriormente, os animais utilizados neste experimento
apresentaram rápida deposição de gordura, possivelmente ocasionando menor turnover
protéico no corpo.
Estes fatores podem ocasionar maior ou menor perda de N na urina, principalmente na
forma de uréia, creatinina, bilirubina, alantoína, ácido hipúrico, ácido úrico e 3-metil-histidina
(NRC, 2007). A idade e o nível nutricional são citados por Attaix et al. (2005) como os
maiores responsáveis por estes efeitos, podendo-se somar a estes, o tipo de alimentação, já
que dietas ricas em fibras podem aumentar a descamação da mucosa do trato digestório,
aumentando a participação de N endógeno nas fezes.
Outro fator de importância é a diferença na metodologia de estimação para ovinos
lanados e deslanados, já que em ovinos lanados a proteína retida na lã é somada com a
exigência de proteína para ganho. Em ovinos deslanados, apesar de não haver produção de lã
e sim de pêlo, a proteína retida faz parte da exigência de mantença, o que pode ocasionar
maior exigência de proteína para mantença em ovinos deslanados, Silva et al. (2003) observou
maior exigência de mantença para ovinos Santa Inês quando comparado com ovinos Ideal x
Ile de Fance.
Mais estudos devem ser realizados para que através de um banco de dado mais amplo se
estime com maior precisão as exigências protéicas de ovinos, principalmente de raças
deslanadas, já que com o declínio do agronegócio da lã, tais raças vêm aumentando sua
participação e importância na produção de carne em todo o Brasil.
53
CONCLUSÕES
A concentração de proteína no corpo vazio, deposição protéica no ganho e a exigência
protéica líquida para ganho de peso diminuem com o aumento do peso de corporal em ovinos
Santa Inês em crescimento.
A excreção fecal de nitrogênio e exigência líquida de proteína para mantença de
ovinos Santa Inês em crescimento é inferior ao pelos principais sistemas de avaliação de
alimentos e requerimentos nutricionais.
54
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57
EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DA ENERGIA METABOLIZÁVEL PARA
MANTENÇA E GANHO DE PESO E EXIGÊNCIAS DIETÉTICAS DE PROTEÍNA
METABOLIZÁVEL E NUTRIENTES DIGESTÍVEIS TOTAIS PARA OVINOS
SANTA INÊS EM CRESCIMENTO
RESUMO: Este trabalho foi conduzido com o objetivo de estimar as eficiências de utilização
da energia metabolizável para mantença (km) e ganho de peso (kg), exigências de energia
metabolizável (EM), nutrientes digestíveis totais (NDT) e proteína metabolizável (PM) de
ovinos Santa Inês em crescimento, avaliou-se também o modelo Small Ruminant Nutrition
System (SRNS) em predizer o consumo de matéria seca (CMS) e ganho de peso corporal
(GPC) dos mesmos. Foram utilizados 20 ovinos Santa Inês em crescimento, não-castrados,
com idade e peso corporal (PC) médio de 50 dias e 13,00 ± 0,56 kg, respectivamente. Após
um período de adaptação de 10 dias, quatro animais foram abatidos para serem utilizados
como referência para as estimativas do peso do corpo vazio (PCVZ) e da composição corporal
inicial dos demais. Os animais remanescentes foram distribuídos em um delineamento em
blocos casualizados sendo os tratamentos rações contendo diferentes níveis de energia
metabolizável (2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS), com cinco repetições. O peso de abate
foi determinado em 28 kg. O consumo de matéria seca (CMS) necessário para manter o
equilíbrio de energia foi calculado dividindo-se o consumo de energia metabolizável
necessário para mantença (71,73 kcal/kg PCVZ
0,75
), pela concentração de EM (kcal/kg de
MS) da dieta, em cada tratamento. A concentração de energia líquida da dieta para mantença
(ELmd), foi obtida dividindo-se a produção de calor em jejum, (50,72 kcal/kg PCVZ
0,75
), pelo
CMS para manter o equilíbrio de energia, expresso em g de MS/kg PCVZ
0,75
. A concentração
de energia líquida da dieta para ganho (ELdg) foi calculada dividindo-se a energia retida por
dia, em kcal/kg PCVZ
0,75
, pelo CMS acima das necessidades de mantença, expresso em g
MS/kg PCVZ
0,75
. As km e kf foram calculadas como a relação entre a energia líquida da dieta
para mantença ou ganho e a concentração de EM das dietas, também foram calculados
utilizando as equações preconizadas pelo Agricultural and Food Research Council – AFRC
(1993). A validação do modelo SRNS foi realizada através do ajuste de modelo de regressão
linear simples entre os valores preditos (variável independente) e observados (variável
dependente), as variáveis analisadas foram CMS e GPC. A km estimada foi de 0,71. Quando
se utiliza a equação do AFRC (1993), que sugere a estimação da km a partir da
metabolizabilidade (qm) da dieta, os valores apresentaram-se superiores para todas as dietas,
variando de 0,68 a 0,73 para a dieta com concentração de EM de 2,08 a 2,69 Mcal/kg MS
respectivamente. A eficiência de utilização da EM para ganho, apresentou-se inversamente
proporcional ao aumento da concentração da EM na dieta, variando de 0,52 a 0,28 para as
dietas contendo 2,08 a 2,69 Mcal/kg MS. As exigências de energia dietéticas totais
aumentaram com o aumento do PC dentro de uma mesma faixa de ganho. A exigência de
proteína metabolizável total de um animal de 20 kg de PC e ganhando 200 g/dia é de 52,64
g/dia, valor cerca de 34% inferior ao preconizado pelo NRC (2007) de 71 g/dia. O CMS
predito pelo modelo SRNS não diferiu (P0,05) estatisticamente do observado, entretanto o
modelo superestimou em 5,18% o GPC. O presente trabalho vem colaborar para a construção
de um banco de dados, que futuramente poderá ser condensado a diversos outros em um
modelo de predição de desempenho e planejamento alimentar, sendo útil na formulação de
rações mais economicamente viáveis para ovinos criados no Nordeste brasileiro.
Palavra-chave: eficiência de utilização, energia metabolizável, proteína metabolizável,
validação, ovinos Santa Inês.
58
EFFICIENCY OF METABOLIZABLE ENERGY UTILIZATION FOR
MAINTENANCE, WEIGHT GAIN, REQUIREMENTS DIETARY OF THE
METABOLIZABLE PROTEIN AND TOTAL DIGESTIBLE NUTRIENTS FOR
SANTA INÊS SHEEP IN GROWTH
ABSTRACT: This study was conducted to evaluate the influence of four concentrations of
metabolizable energy in the diet of Santa Inês sheep in growing. The efficiencies of utilization
of metabolizable energy for maintenance (km) and gain (kg), the requirements of
metabolizable energy (ME), total digestible nutrients (TDN) and metabolizable protein (MP)
of Santa Inês sheep in growth and evaluation of Small Ruminant Nutrition System - SRNS
model in predicting dry matter intake (DMI) and average daily gain (ADG) were studied.
Twenty-four Santa Inês sheep, non-castrated, with age of 50 days and average body weight of
13.00 ± 0.56 kg were used. After an adaptation period of 10 days, four reference animals were
slaughtered to estimate the initial empty body weight (EBW) and body composition of the
others animals. The remaining animals were distributed in a randomized block design with the
treatment consisting of diets containing different concentrations of metabolizable energy
(2.08, 2.28, 2.47 and 2.69 Mcal/kg of DM), with five replicates. The animals were fed until
reach the slaughter weight of 28 kg. The dry matter (DM) intake enough to maintain the
energy balance was calculated dividing the metabolizable energy (ME) consumption enough
for maintenance (71.73 kcal/kg of EBW
0.75
), by the ME concentration (kcal/kg of DM) of the
diet, in each treatment. The net energy concentration of each ration for maintenance was
obtained by dividing the heat production in fasting, (50.72 kcal/ kg of EBW
0.75
), by the DM
consumption to maintain the energy balance, expressed in g DM/kg of EBW
0.75
. The net
energy concentration of each ration for gain was calculated by dividing the energy retained
per day, in kcal/kg of EBW
0.75
, by the DM consumption above the maintenance needs,
expressed in g DM/kg of EBW
0.75
. The ME efficiencies of utilization for maintenance (km)
and for weight gain (kf) were calculated from the relationship among the net energy
concentration, for maintenance or gain, respectively, in function of the ME of the diet and
were also calculated using the equations recommended by the Agricultural and Food Research
Council - AFRC (1993). Validation of SRNS model used the DMI and ADG observed and
predicted by the model for each of the experimental animals. Model inputs were given for
each animal individually as BW, DMI observed and also data of chemical composition of
diets and environmental conditions. Validation was performed by using a model of simple
linear regression between the predicted and observed values. The km estimated was 0.71. The
estimation of km from the metabolizability (qm) of the diet, suggested by the AFRC (1993)
equations, varied from 0.68 to 0.73 for the diet with ME concentration from 2.08 to 2.69
Mcal/kg of DM, respectively. The efficiency of use of ME to gain (kg), showed to be
inversely proportional to the increase of ME concentration in the diet, ranging from 0.52 to
0.28 for the diets containing 2.08 to 2.69 Mcal/kg of DM, respectively. The demands of total
dietary energy increased with the elevation of BW within the same range of gain. The total
metabolizable protein requirement of an animal of 20 kg of BW and a gain of 200 g/day is
52.64 g/day, about 34% lesser than the recommended by NRC (2007). The DMI predicted by
the SRNS model did not differ (P 0.05) from the DMI observed, but the model
overestimated the ADG at 5.18%. The present work together to build a database, which in
future could be condensed to several others in a predictive model of performance and food
planning, is useful in formulating rations more economically viable to set up Santa Inês sheep.
Keywords: efficiency of use, metabolizable energy, metabolizable protein, validation and
Santa Inês sheep.
59
INTRODUÇÃO
O conhecimento de como o animal utiliza a energia metabolizável (EM) para suas
diferentes funções metabólicas é de extrema importância, pois esta eficiência varia de acordo
com o tipo de exigência (mantença, ganho, gestação, etc), e também com a concentração de
EM na dieta, também varia com relação à metodologia de determinação e entre os sistemas de
avaliação de alimentos e requerimentos nutricionais. A partir do conhecimento das exigências
líquidas e levando-se em consideração os fatores de eficiência de utilização da energia
metabolizável (EUEM) do alimento para mantença (km) e ganho (kg), são obtidas as
exigências dietéticas.
As EUEM da dieta não estão muito bem estabelecidas para ruminantes (Silva et al.,
2002). Isto é claramente observado quando se comparam as metodologias de estimativas de
eficiências de utilização da EM entre os principais sistemas utilizados hoje no mundo. O
AFRC (1993) e o INRA (1978) estimam as eficiências a partir de equações que fazem uso da
metabolizabilidade (qm) das dietas como variável independente, sendo esta qm a relação entre
a energia metabolizável e a energia bruta das dietas. O NRC (2007) e o CNCPS-S (2004) têm
utilizado as equações cúbicas preconizadas por Garret (1980). O que tem sido feito no Brasil
para estimar as EUEM em trabalhos com ovinos é a utilização das equações do AFRC (1993),
mas alguns autores já têm estimado as eficiências a partir dos dados do próprio experimento,
utilizando para isso o processo interativo para estimar a km ou o coeficiente de inclinação da
reta entre o consumo de energia metabolizável e a energia retida para kg.
Normalmente há um aumento na eficiência de utilização de energia quando se aumenta
a concentração de EM na dieta, devido principalmente à redução na produção de metano,
diminuição de ruminação e incremento calórico (Van Soest, 1994). Este efeito foi
demonstrado por Lana et al. (1998), que avaliando o efeito de níveis de concentrado em dietas
para bovinos, observaram diminuição na metanogênese e na desaminação de aminoácidos, o
que ocasionaria maior disponibilidade de energia para o animal e aumentaria a eficiência de
uso da mesma.
A eficiência de uso da proteína metabolizável para mantença (Kpm) difere bastante
entre os sistemas. O AFRC (1993), assumiu esta eficiência como sendo de 100%, enquanto o
NRC (2007) baseado em trabalho de Cannas (2004) assumiu eficiências de 0,67 para perdas
urinárias e fecais e 0,60 para perdas por descamação e pêlo. O ARC (1980) e o CSIRO (2007)
assumiram valores de 0,75 e 0,70; respectivamente. Esta eficiência também pode variar
60
dependendo do perfil de aminoácidos absorvidos, condição fisiológica e estado nutricional do
animal (Oldham, 1987), além de poderem diferir com a raça (Luo et al., 2004).
Já a eficiência de uso da proteína metabolizável para ganho de peso (Kpg) normalmente
é obtida como sendo o coeficiente de inclinação da reta entre o consumo de proteína
metabolizável (g/kg PC
0,75
/dia) e a retenção de proteína (g/kg PC
0,75
/dia). Dentre os sistemas
apenas o AFRC (1993) difere consideravelmente estimando o valor de kpg de 0,59; já o
CSIRO (2007) e o NRC (2007) utilizam o valor de 0,70.
Portanto, o conhecimento da eficiência de utilização da energia metabolizável (k) da
dieta é necessária para a determinação das exigências de EM e de nutrientes digestíveis totais
(Veloso et al., 2002), da mesma forma, a partir das eficiências de uso da proteína
metabolizável para as diferentes funções obtém-se exigência de proteína metabolizável
dietética.
O sucesso da atividade agropecuária depende, em grande parte, da correta aplicação das
tecnologias disponíveis e da gerência dos meios de produção. Neste sentido, o uso de modelos
matemáticos capazes de predizer a resposta animal frente a diferentes condições tem sido cada
vez mais comum (Galvani, 2008). Diversos são os modelos que predizem a resposta animal a
partir de inputs do alimento, clima e animal, dentre estes se destacam o modelo Cornell Net
Carbohydrate and Protein System - Sheep (CNCPS-S) (Cannas et al, 2004) e Small Ruminant
Nutrition System (SRNS) (Cannas et al. 2007), sendo este ultimo, uma modificação do
CNCPS-S que incluir informações mais recentes, incluindo um submodelo para nutrição de
cabras.
Tais modelos utilizam ferramentas mecanicistas para estimação das exigências
nutricionais de ovinos, bem como o valor biológico de alimentos utilizados para tais.
Entretanto, são desenvolvidos com ovinos de raças, aptidões e clima diferentes dos
encontrados nos sistemas de produção brasileiros, desta forma, torna-se necessária à avaliação
destes modelos em nossas condições. A avaliação destes modelos quanto à sua acurácia e
precisão são, no entanto, de grande importância para sua adoção e aplicação. A melhor
maneira de conferir a aplicabilidade de determinado modelo consiste na comparação dos
valores preditos com os observados no sistema real, ou seja, in vivo.
A ênfase atual dada à análise estatística aliada ao crescente avanço da informática tem
levado ao pensamento que os dados são entidades sacras e qualquer expurgo ou ajuste nos
mesmos introduz subjetividade e vício no valor nutricional dos alimentos. Portanto, o uso
indiscriminado de estimativas obtidas sobre diferentes circunstâncias pode dificultar a
61
predição do desempenho animal sob condições práticas de alimentação (Van Soest, 1994).
Para evitar os ajustes de natureza subjetiva, os estudos que visam à determinação do
desempenho animal devem ser baseados em condições dietéticas próximas às que se deseja
inferir, permitindo assim o uso de determinado conjunto de dados nos estudos de simulação
para avaliação e formulação de dietas para animais.
Portanto este estudo foi conduzido com o objetivo de determinar as exigências dietéticas
de energia e proteína, estimar a eficiência de utilização da energia metabolizável para
mantença de ganho e avaliação das estimativas de CMS e GPC estimadas a partir da
simulação das equações descritas no modelo SRNS para predizer a resposta de ovinos Santa
Inês em crescimento.
62
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Setor de Ovinocaprinocultura do Departamento de
Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, Ceará. Foram utilizados 24
cordeiros da raça Santa Inês, não-castrados, com peso corporal (PC) médio e erro padrão da
média inicial de 13,00 ± 0,56 kg e, aproximadamente, 50 dias de idade. Inicialmente, os
animais foram identificados com brincos, pesados, vermifugados e distribuídos em baias
individuais providas de cochos para fornecimento das rações e água à vontade.
Após um período de adaptação de 10 dias, quatro animais foram selecionados
aleatoriamente e abatidos para servir como referência para as estimativas do peso do corpo
vazio (PCVZ) e da composição corporal inicial dos 20 animais remanescentes. Estes foram
distribuídos em um delineamento em blocos casualizados com quatro tratamentos e cinco
repetições, sendo os tratamentos, dietas contendo diferentes níveis de energia metabolizável
(2,08; 2,28; 2,47 e 2,69 Mcal/kg MS) obtidos a partir de diferentes relações
volumoso:concentrado (75:25; 62,5:37,5; 50:50; 37,5:62,5).
As rações experimentais foram formuladas conforme o NRC (1985) e foram compostas
de feno de Tifton-85 (Cynodon sp.) moído, farelo de soja, fubá de milho, cloreto de sódio,
uréia, calcário, fosfato bicálcico e premix mineral. A composição bromatológica dos
ingredientes e das rações experimentais podem ser visualizadas na Tabela 1 e 2,
respectivamente.
Tabela 1 – Composição bromatológica dos ingredientes em % MS
Nutrientes Feno Milho Soja Conc. 1 Conc. 2 Conc. 3 Conc. 4
Matéria seca 92,73 91,44 92,54 90,30 90,18 90,94 90,30
Matéria mineral 6,03 1,74 6,84 3,53 3,76 3,56 3,71
Proteína bruta 9,94 9,39 44,05 21,14 21,72 22,00 22,27
Extrato etéreo 0,84 5,36 4,13 3,60 4,30 5,00 4,26
Fibra em detergente neutro 75,03 14,78 15,78 15,91 15,15 16,01 14,87
Fibra em detergente ácido 36,32 4,78 9,24 5,63 5,67 2,70 5,83
FDNcp 67,91 12,76 13,74 14,16 13,72 14,61 13,45
Carboidratos totais 83,19 83,51 44,98 71,73 70,23 69,43 69,75
Carboidratos não-fibrosos 15,28 70,75 31,24 59,16 58,64 57,03 58,56
As rações foram fornecidas uma vez ao dia, as 7 h da manhã, e ajustadas diariamente
para aproximadamente 20% de sobras. Antes da oferta matinal, foram coletadas as sobras de
63
cada unidade experimental, que depois de pesadas, registradas e amostradas, foram
armazenadas sob congelamento (-10ºC) juntamente com amostras do feno e dos
concentrados, formando-se posteriormente uma amostra composta semanal por animal, que ao
final do período experimental formou uma amostra composta total por animal/tratamento. Em
seguida as amostras foram descongeladas, homogeneizadas e moídas em moinho com peneira
de malha de 1 mm, sendo então analisadas quanto aos teores de matéria seca (MS), matéria
mineral (MM), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE) e energia
bruta (EB) seguindo os protocolos padrões da AOAC (1990); fibra em detergente neutro
(FDN) e ácido (FDA), proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) e ácido (PIDA)
conforme Van Soest et al. (1991).
Tabela 2 – Composição percentual e bromatológica das rações experimentais
Concentração de EM (Mcal/kg MS)
Composição percentual (%MN) 2,08 2,28 2,47 2,69
Feno de Tifton 75,00 62,50 50,00 37,50
Concentrado 25,00 37,50 50,00 62,50
Fubá de milho
¹
77,90 77,60 77,40 77,39
Farelo de soja
¹
20,00 20,00 20,20 20,00
Uréia
¹
0,88 1,18 1,22 1,25
Calcário¹ 0,00 0,26 0,31 0,62
Fosfato bicálcico
¹
0,26 0,26 0,26 0,26
Cloreto de sódio
¹
0,88 0,62 0,44 0,35
Premix mineral
¹,²
0,06 0,04 0,13 0,13
Composição bromatológica (%MS)
Matéria seca 92,12 91,77 91,83 91,21
Matéria mineral 5,40 5,18 4,80 4,58
Proteína bruta 12,74 14,36 15,97 17,65
Extrato etéreo 1,53 2,13 2,92 2,98
Fibra em detergente neutro 60,25 52,57 45,52 37,43
Fibra em detergente ácido 28,64 24,82 19,51 17,26
FDNcp 54,47 47,59 41,26 33,87
Carboidratos totais 80,33 78,33 76,31 74,79
Carboidratos não-fibrosos 26,25 31,54 36,16 42,33
Nutrientes digestíveis totais 57,41 63,11 68,38 74,51
¹ - Composição centesimal em relação à porção concentrada da dieta.
² - Composição: Ca 7,5%; P 3%; Fe 16.500 ppm, Mn 9.750 ppm, Zn 35.000 ppm, I 1.000 ppm, Se 225 ppm, Co 1.000 ppm.
O teor de carboidratos totais (CT) foi calculado utilizando a fórmula: CT (%) = 100 –
(%PB + %EE + %cinzas), segundo Sniffen et al. (1992). Os carboidratos não fibrosos (CNF)
64
foram calculados, de acordo com Weiss (1999), onde: CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB +
%EE + %cinzas). Para os concentrados, devido à presença de uréia em sua constituição, o teor
de CNF foi calculado conforme proposto por Hall (2000), sendo CNF = 100 – [(%PB - %PB
derivado da uréia + % da uréia) + %FDNcp + %EE + %cinzas].
Os animais foram pesados semanalmente para acompanhamento do ganho de peso
corporal (GPC) e quando a média de PC do tratamento atingiu 28 kg os animais foram
abatidos. Nessa ocasião, também foi abatido um animal do grupo com menor concentração
energética na ração (animais alocados no tratamento com 2,08 Mcal/kg MS de EM). Dessa
forma, procedeu-se para cada tratamento, até que todos os animais fossem abatidos.
Antes do abate, os animais foram pesados, submetidos a jejum de alimentos sólidos e
água por 18 horas e novamente pesados para obtenção do peso corporal no jejum (PCj). Após
o abate e coleta de sangue, realizou-se esfola e evisceração do animal. O trato gastrintestinal
foi pesado cheio, esvaziado, lavado e após o escorrimento da água, foi novamente pesado para
que juntamente com o peso dos órgãos e demais partes do corpo (carcaça, cabeça, couro,
sangue, pés e cauda) ser determinado o peso de corpo vazio (PCVZ).
Todos os órgãos (sistema reprodutor, traquéia + pulmão + língua + esôfago, fígado,
coração, rins, baço, bexiga, omaso, abomaso, rúmen + retículo, diafragma, intestino grosso e
delgado, gordura omental, perirenal, mesentérica e do coração) mais a cabeça foram pesados e
congelados. O sangue coletado no momento do abate foi pesado e colocado para secar em
estufa de ventilação forçada a 55ºC durante 72 h, sendo em seguida moído para posterior
análise de matéria seca, nitrogênio e extrato etéreo. As patas foram amostradas (dianteira e
traseira direita), e o couro foi cortado em tiras e amostrado para futura análise.
Posteriormente, a carcaça de cada animal foi resfriada por 24 horas a 5ºC e, então, cortada em
serra de fita a fim de utilizar a meia carcaça direita para determinação da composição
química.
Em seguida, a meia carcaça, órgãos e a amostra de couro foram moídos em moedor de
carne industrial e homogeneizados. A massa moída da carcaça e dos órgãos foi misturada
proporcionalmente, ou seja, a massa moída de órgãos foi dividida por dois e homogeneizada
com a massa moída da meia carcaça direita e patas. As referidas amostras, juntamente com as
amostras de couro foram desidratadas em estufa de ventilação forçada a 55ºC, por um período
de 72 horas e então armazenadas. Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa a 105ºC
por 24 horas para obtenção do teor de matéria seca gordurosa (MSG). Em seguida
65
processadas com auxílio de um multiprocessador e então desengorduradas para obtenção da
matéria seca desengordurada (MSD), sendo então analisadas para nitrogênio total (NT).
Para determinação do valor de nutrientes digestíveis totais (NDT) e metabolizabilidade
(qm) das dietas experimentais, foi realizado um ensaio de digestibilidade em gaiolas
metabólicas. Foram utilizando-se 16 ovinos Santa Inês, não-castrados, com cerca de 28 kg de
PC, distribuídos em um delineamento em blocos casualizados, com quatro tratamentos (dietas
experimentais) e quatro repetições. O experimento teve duração de 17 dias sendo 10 dias de
adaptação às dietas e gaiolas e 7 dias de coletas de amostras de alimentos fornecidos, sobras e
coleta total de fezes. As amostras dos alimentos, rações concentradas, fezes e sobras foram
congeladas e posteriormente processadas e analisadas conforme citado anteriormente.
O NDT foi calculado de acordo com Weiss (1999): NDT = PBd + CNFd + FDNcpd +
EEd x 2,25; sendo PBd, CNFd, FDNcpd e EEd correspondente a: proteína bruta digestível,
carboidratos não fibrosos digestíveis, fibra em detergente neutro corrigido pra cinza e proteína
digestível e extrato etéreo digestível, respectivamente. A qm foi calculada de acordo com o
AFRC (1993): qm = EM/EB, para cada ração experimental.
Para estimação do consumo de NDT, utilizou-se o consumo de matéria seca dos animais
do experimento de desempenho, multiplicado pelo percentual de NDT das dietas obtido no
experimento de digestibilidade. Para estimação do consumo de energia digestível, considerou-
se que 1 kg NDT contém 4,409 Mcal de ED e para estimação do consumo de energia
metabolizável (CEM), considerou-se o valor de 82% da energia digestível (NRC, 1996).
Foram utilizadas as exigências energéticas e protéicas líquidas para mantença e ganho
do capítulo 1 e 2 respectivamente.
As eficiências de utilização da energia metabolizável para mantença e ganho de peso
foram estimadas a partir das equações preconizadas pelo AFRC (1993):
mm
qk 35,0503,0
+
=
mg
qk 78,0006,0
+
=
EBEMq
m
=
A km, também foi estimada a partir do método interativo, a fim de se comparar com o
valor estimado pelas equações do AFRC (1993).
As concentrações de energia líquida da dieta foram calculadas segundo Harris (1970). O
consumo de MS para manter o equilíbrio de energia foi calculado dividindo-se a exigência de
energia metabolizável para mantença (EMm) pela concentração de EM da dieta, sendo a
66
EMm a relação entre energia líquida de mantença (ELm) dividida pelo km encontrado pelo
método interativo. A concentração de energia líquida de cada dieta para mantença (ELmd) foi
obtida dividindo-se a produção de calor em jejum, 50,72 kcal/kg PCVZ
0,75
/dia, pelo consumo
de MS, para manter o equilíbrio de energia, expresso em g de MS/kg PCVZ
0,75
/dia; enquanto
o consumo de MS acima das necessidades de mantença foi obtido subtraindo-se do consumo
total de MS (g de MS/kg PCVZ
0,75
) o consumo de MS suficiente para o equilíbrio de energia
(g de MS/kg PCVZ
0,75
) para cada dieta. A concentração de energia líquida para ganho de cada
dieta (ELgd) foi calculada dividindo-se a energia retida por dia (kcal/kg PCVZ
0,75
), pelo
consumo de MS acima das necessidades de mantença, expresso em g MS/kg PCVZ
0,75
.
Foi adotado as eficiência de uso da proteína metabolizável para mantença (kpm) e ganho
(kpg) recomendadas pelo AFRC (1993) igual a 1 e 0,59, respectivamente.
Para a conversão das exigências energéticas líquidas de PCVZ em exigências
energéticas líquidas de PC foram realizados ajustes de equações de regressão linear entre o
GPCVZ e o GPC e também entre PCVZ e PC de todos os animais experimentais, para a
equação de regressão linear entre PCVZ e PC além dos animais experimentais foram
utilizados também os animais referência.
Foi gerada uma equação múltipla de CMS em função do ganho de peso corporal (GPC)
e do peso corporal metabólico (PC
0,75
), adotamos dados semanais médios de consumo de
matéria seca, peso corporal metabólico e ganho de peso corporal, desta forma obtivemos
várias medições por animal durante o período experimental com diferentes pesos metabólicos
e ganhos de peso.
Para validação do modelo SRNS utilizou-se os CMS e GPC predito pelo modelo para
cada um dos animais experimentais, os inputs do modelo foram dados referentes a cada
animal individualmente como PC e CMS observado e também dados relativos à composição
bromatológica das dietas e condições ambientais. A validação foi realizada através do ajuste
de modelo de regressão linear simples entre os valores preditos (variável independente) e
observados (variável dependente), os parâmetros da equação foram testados sobre as
seguintes hipóteses:
0:
0:
0
00
=
β
β
a
H
H
1:
1:
1
10
=
β
β
a
H
H
Quando da não rejeição de ambas as hipóteses de nulidade os valores preditos e
observados são semelhantes, caso contrário à tendência do modelo em subestimar ou
67
superestimar o CMS ou GPC foi obtido por meio da divisão da diferença das médias da
variável Y e X, pela média da variável X, conforme Tedeschi et al. (2000).
As variáveis foram submetidas a análises de variância e regressão, utilizando-se o SAS
(SAS Inst. Inc., Cary, NC) por meio da rotina PROC GLM, foram testados os efeitos lineares
e quadráticos para todas as variáveis, adotou-se o nível de 0,05 de probabilidade para o erro
do Tipo I.
68
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os parâmetros estimados da equação de regressão múltipla do CMS em função do peso
corporal metabólico (PC
0,75
) e do ganho de peso corporal (GPC), estão expressos na Tabela 1.
A equação ajustada foi: CMS = -311,338 + 0,98259 * GMD – 0,00168598 * GMD² + 107,976
* PC
0,75
. Observou-se que o GPC apresentou efeito quadrático significativo (P< 0,05),
demonstrando que existe um CMS máximo influenciado pelo GMD. Para animais com 25 kg
PC o CMS máximo estimado pela equação é de 1039,03 g/dia ou 4,15% PC, ocorre quando o
GMD apresenta-se em torno de 291,40 g/dia. Valadares Filho et al. (2006) utilizando um
banco de dados de bovinos observou comportamento idêntico ao obtido neste trabalho,
entretanto Cabral et al. (2008) utilizando um banco de dados de CMS de ovinos observou
apenas efeito linear do GPC.
O CMS estimado para um animal de 20 kg de PC e GPC de 150 g/dia é de 819,29 g/dia,
valor idêntico ao obtido por Cabral et al. (2008) de 810 g/dia e cerca de 6% superior ao valor
de 773,42 g/dia obtido através da equação do CNCPS-S (Cannas et al., 2004), no entanto,
quando se confronta o valor estimado de CMS para peso corporal de 30 kg e GPC de 250
g/dia o valor obtido por Cabral et al. (2008) de 1.070 g/dia encontra-se cerca de 12% inferior
ao valor obtido neste trabalho de 1.213 g/dia enquanto o valor obtido pela equação do
CNCPS-S de 1.162 g/dia encontra-se apenas 4% inferior.
Tabela 1 – Parâmetros da equação, erro padrão (EP), probabilidade (P) e intervalo de
confiança (IC
95%
) dos parâmetros, coeficiente de determinação ajustado (r²
ajust.), coeficiente de variação (CV) e probabilidade (P
) do modelo geral da
equação múltipla do consumo de matéria seca (CMS) em função do ganho médio
diário (GMD) e do peso corporal metabólico (PC
0,75
)
Variáveis Parâmetros da equação EP P IC
95%
(±) r² ajust. CV P
Intercepto -311,338 36,887672 0,0001 72,754670 0,83 12,35 0,000
GMD 0,98259 0,264786 0,0001 0,522245
GMD² -0,00168598 0,000729 0,0100 0,001438
PC
0,75
107,976 4,070790 0,0001 8,028942
O CMS é o fator de maior impacto na resposta animal, variação no consumo representa
a maior parte da diferença no ganho de peso ou na produção de leite em ruminantes (Poppi,
2008), desta forma, diversas abordagens e metodologias são utilizadas para predizer o
69
consumo animal, sendo que modelos empíricos são os mais amplamente utilizados por serem
de maior facilidade de uso e por ainda melhor representarem o comportamento animal.
Considerando a equação, Log PC = 1,7051 + 0,0021 * CEM; obteve-se a produção de
calor em jejum de 50,72 Kcal/kg PCVZ
0,75
/dia, utilizando o método interativo obteve-se o
valor do ponto onde a produção de calor foi igual ao consumo de energia metabolizável de
71,73 Kcal/kg PCVZ
0,75
/dia, a partir deste valor é possível estimar as concentrações de
energia da dieta bem como as eficiências de uso da EM.
Utilizando metodologia proposta por Harris (1970) obteve-se o valor de km de 0,71.
Este mesmo valor é obtido quando se utiliza a relação entre ELm/EMm, sendo a EMm obtido
pelo método interativo, ou seja 50,72/71,73 = 0,71; este valor é superior ao preconizado pelo
CNCPS-S (Cannas et al., 2004) de 0,64; quando se utiliza a equação do AFRC (1993), que
sugere a estimação da km a partir da metabolizabilidade (qm) da dieta. Observam-se valores
superiores para todas as dietas, variando de 0,68 a 0,73 para as dietas com concentrações de
EM de 2,08 a 2,69 Mcal/kg MS respectivamente, sendo a eficiência média das dietas 0,70
valor semelhante ao obtido neste trabalho.
Tabela 2 – Energia bruta (EB), nutrientes digestíveis totais (NDT), consumo de matéria seca
para mantença e ganho, concentrações de energia líquida de mantença (ELmd) e
ganho (ELgd) da dieta, metabolizabilidade (qm) e eficiências de uso da energia
metabolizável para mantença (km) e ganho (kg)
Variáveis 2,08 2,28 2,47 2,69
EB (Mcal/kg MS) 4,07 4,11 4,20 4,15
NDT (%) 57,41 63,11 68,38 74,51
CMS mantença (g/kg PCVZ
0,75
) 34,49 31,46 29,04 26,67
CMS ganho (g/kg PCVZ
0,75
) 47,24 55,91 69,07 97,43
ELm
(Mcal/kg MS) 1,47 1,61 1,75 1,90
ELg
(Mcal/kg MS) 1,09 0,84 0,83 0,75
qm¹ 0,51 0,56 0,59 0,65
km² 0,71 0,71 0,71 0,71
kg² 0,52 0,37 0,33 0,28
km³ 0,68 0,70 0,71 0,73
kg³ 0,40 0,44 0,46 0,51
¹ - Metabolizabilidade da dieta.
² - Calculado conforme Harris (1970).
³ - Calculado conforme AFRC (1993).
A eficiência de utilização da EM para ganho (kg), obtida a partir dos dados deste
trabalho apresentou-se inversamente proporcional ao aumento da concentração de EM na
dieta, variando de 0,52 a 0,28 para as dietas contendo 2,08 a 2,69 Mcal/kg MS
70
respectivamente, comportamento também obtido por Alves (2006) trabalhando com caprinos
Moxotó. Segundo Garret, (1980) a kg é diretamente relacionado à composição do ganho.
Apesar de a gordura reter uma maior quantidade de energia, sua eficiência para deposição é
maior que a eficiência para deposição protéica, isto se deve ao fato de o processo de síntese e
degradação (turnover) da proteína corporal reduzir a eficiência energética de seu acúmulo.
Utilizando a equação do AFRC (1993), observa-se aumento da kg com aumento da
concentração de EM da dieta, isto é esperado devido à linearidade da equação de predição da
kg a partir da qm.
Na Tabela 3 estão compiladas as exigências energéticas para mantença e ganho de peso
de ovinos Santa Inês apresentando diferentes pesos vivos e com diferentes ganhos de peso
diário visando facilitar o uso na formulação de rações. Foi utilizando o valor de km de 0,71 e
o valor médio de kg de 0,38; desta forma obteve-se a exigência de energia metabolizável para
mantença e ganho, somando-se estes valores obtém-se a exigência de energia metabolizável
total (EMt), para conversão em exigência de energia digestível utilizou-se o fator de 0,82 e
para conversão em exigência de NDT o fator de 4,409 Mcal ED/kg NDT (NRC, 1996).
Observou-se que as exigências de energia dietéticas totais aumentaram com o aumento
do PC dentro de uma mesma faixa de ganho, entretanto quando se compara à concentração
energética das rações estas diminuem com o aumento do PC e dentro de uma mesma faixa de
ganho, isto se deve ao aumento do CMS. A exigência de energia dietética de um ovino de 20
kg de PC ganhando 200 g/dia foi de 2,50 Mcal/dia de ED, convertendo para NDT obtém-se o
valor de 547 g/dia, este valor é cerca de 16% inferior ao preconizado pelo NRC (2007), o
CMS deste animal é estimado em 838,31 g/dia, desta forma pode-se calcular o percentual de
NDT na dieta de 67,71%. Vale salientar que a kg de 0,38 utilizada foi o valor médio das
dietas, este valor pode ser alterado de acordo com a concentração de energia metabolizável da
dieta.
Na Tabela 4 estão compiladas as exigências protéicas de mantença e ganho de peso de
ovinos Santa Inês com diferentes pesos vivos e ganhos de peso diário.
Para conversão das exigências líquidas de proteína para mantença e ganho em exigência
de proteína metabolizável foi utilizado as eficiências preconizadas pelo AFRC (1993) de 1 e
0,59; respectivamente, desta forma a exigência de proteína líquida de mantença é igual a
exigência de proteína metabolizável de mantença.
71
A exigência de proteína metabolizável total de um animal de 20 kg de PC e ganhando
200 g/dia é de 52,64 g/dia, valor cerca de 34% inferior ao preconizado pelo NRC (2007) de 71
g/dia.
72
Tabela 3 – Estimativa do consumo de matéria seca (CMS) e dos requerimentos nutricionais de energia líquida para mantença (ELm) e ganho
(ELg), energia metabolizável para mantença (EMm) e ganho (EMg) e nutrientes digestíveis totais (NDT) de ovinos Santa Inês em
crescimento
¹ - PCVZ = 0,8036 * PC
² - GPCVZ = 0,8077 * GPC
³ - ELm = 50,72 Kcal/ kg PCVZ
0,75
/dia
4
- km = 0,71
5
- kg = 0,38
PC
(kg)
PCVZ¹
(kg)
GPC
(g/dia)
GPCVZ²
(g/dia)
CMS
(g/dia)
CMS
(% PC)
ELm³
(kcal/dia)
ELg
(kcal/dia)
ELt
(kcal/dia)
EMm
4
(kcal/dia)
EMg
5
(kcal/dia)
EMt
(kcal/dia)
NDT
(kg/dia)
NDT
(% MS)
15 12,06
100 81
593,05
3,95
328,12 238,01 566,13 464,13 632,53 1096,66 0,303 51,15
150 121
621,11
4,14
328,12 357,02 685,13 464,13 948,80 1412,93 0,391 62,92
200 162
640,73
4,27
328,12 476,02 804,14 464,13 1265,06 1729,19 0,478 74,65
250 202
651,93
4,35
328,12 595,03 923,15 464,13 1581,33 2045,46 0,566 86,78
20 16,07
100 81
791,24
3,96
407,13 278,05 685,18 575,89 738,93 1314,82 0,364 45,96
150 121
819,29
4,10
407,13 417,07 824,20 575,89 1108,39 1684,29 0,466 56,86
200 162
838,91
4,19
407,13 556,10 963,23 575,89 1477,86 2053,75 0,568 67,71
250 202
850,11
4,25
407,13 695,12 1102,25 575,89 1847,32 2423,22 0,670 78,84
25 20,09
100 81
977,27
3,91
481,30 313,69 794,98 680,81 833,64 1514,45 0,419 42,86
150 121
1005,32
4,02
481,30 470,53 951,83 680,81 1250,45 1931,26 0,534 53,14
200 162
1024,95
4,10
481,30 627,37 1108,67 680,81 1667,27 2348,08 0,649 63,37
250 202
1036,14
4,14
481,30 784,21 1265,51 680,81 2084,09 2764,90 0,765 73,81
30 24,11
100 81
1154,16
3,85
551,82 346,17 897,99 780,57 919,96 1700,53 0,470 40,75
150 121
1182,22
3,94
551,82 519,25 1071,07 780,57 1379,94 2160,51 0,598 50,55
200 162
1201,84
4,01
551,82 692,33 1244,16 780,57 1839,92 2620,49 0,725 60,31
250 202
1213,04
4,04
551,82 865,42 1417,24 780,57 2299,90 3080,47 0,852 70,24
73
Tabela 4 - Estimativa do consumo de matéria seca (CMS) e dos requerimentos nutricionais de proteína líquida para mantença (PLm) e ganho
(PLg), proteína metabolizável para mantença (PMm) e ganho (PMg) e proteína metabolizável total (PMt) em ovinos Santa Inês em
crescimento
¹ - PCVZ = 0,8036 * PC
² - GPCVZ = 0,8077 * GPC
³ - PLm = 1,73 g PB/kg PC
0,75
/dia
4
- kpm = 1,00
5
- kpg = 0,59
PC
(kg)
PCVZ¹
(kg)
GPC
(g/dia)
GPCVZ²
(g/dia)
CMS¹
(g/dia)
CMS
(% PC)
PLm³
(g/dia)
PLg
(g/dia)
PLt
(g/dia)
PMm
4
(g/dia)
PMg
5
(g/dia)
PMt
(g/dia)
15 12,06
100 81 593,05 3,95 13,20 11,10 24,30 13,20 18,82 32,02
150 121 621,11 4,14 13,20 16,65 29,85 13,20 28,23 41,42
200 162 640,73 4,27 13,20 22,21 35,40 13,20 37,64 50,83
250 202 651,93 4,35 13,20 27,76 40,95 13,20 47,05 60,24
20 16,07
100 81 791,24 3,96 16,37 10,70 27,07 16,37 18,13 34,51
150 121 819,29 4,10 16,37 16,05 32,42 16,37 27,20 43,57
200 162 838,91 4,19 16,37 21,40 37,77 16,37 36,27 52,64
250 202 850,11 4,25 16,37 26,75 43,12 16,37 45,33 61,71
25 20,09
100 81 977,27 3,91 19,36 10,39 29,75 19,36 17,62 36,98
150 121 1005,32 4,02 19,36 15,59 34,95 19,36 26,43 45,79
200 162 1024,95 4,10 19,36 20,79 40,15 19,36 35,24 54,59
250 202 1036,14 4,14 19,36 25,99 45,34 19,36 44,05 63,40
30 24,11
100 81 1154,16 3,85 22,19 10,15 32,35 22,19 17,21 39,40
150 121 1182,22 3,94 22,19 15,23 37,42 22,19 25,81 48,01
200 162 1201,84 4,01 22,19 20,31 42,50 22,19 34,42 56,61
250 202 1213,04 4,04 22,19 25,38 47,58 22,19 43,02 65,22
74
Na Figura 2 está expresso o gráfico do CMS observado em função do CMS predito pelo
modelo SRNS. Os parâmetros estimados e erro padrões foram β
0
de -215,29 ± 119,49 e β
1
de
1,21 ± 0,12; verificou-se que o intercepto e o coeficiente de inclinação não diferiram de 0 e 1,
respectivamente (P 0,05), apontando a não rejeição de ambas hipóteses de nulidade,
denotando que os valores observados e preditos são semelhantes, entretanto os parâmetros β
0
de 59,37 ± 10,79 e β
1
de 0,47 ± 0,07 do modelo de regressão linear ajustado entre o GPC
predito e observado (Figura 3) diferiram estatisticamente de 0 e 1, respectivamente, levando a
não aceitação de ambas hipóteses de nulidade, para a variável em questão, a simulação do
sistema SRNS resultou em erro de predição que superestimou o GPC em 5,18%.
Galvani (2008), salientou que este comportamento pode ser em parte devido a
diferenças nas exigências dos animais.
Figura 1 – Relação entre o consumo de matéria seca (CMS) observado e predito pelo modelo
SRNS em ovinos Santa Inês em crescimento
Poucos são os trabalhos que avaliam modelos como o SRNS em raças ovinas criadas em
condições brasileiras, diferentemente da espécie bovina, onde há um maior acervo de
publicações avaliando tais modelos. Na espécie ovina há uma necessidade de que a partir de
bancos de dados mais amplos se possam avaliar com maior acurácia e precisão tais modelos
desenvolvidos em condições diferentes das utilizadas no Brasil.
y = 1,2159x - 215,29
R
2
= 0,8553
y = x
200,0
400,0
600,0
800,0
1000,0
1200,0
1400,0
200,000 400,000 600,000 800,000 1000,000 1200,000
CMS predito (g/dia)
CMS observado (g/dia)
75
Figura 3 – Relação entre o ganho médio diário de peso corporal (GMD) observado e predito
pelo modelo SRNS em ovinos Santa Inês em crescimento
y = 0,4778x + 59,377
R
2
= 0,7387
y = x
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0
GMD predito (g/dia)
GMD observado (g/dia)
76
CONCLUSÕES
A eficiência de uso da energia metabolizável para mantença em ovinos Santa Inês em
crescimento é de 0,71. A eficiência de uso da energia metabolizável para ganho varia de 0,52
a 0,28 para as dietas contendo 2,08 a 2,69 Mcal/kg MS respectivamente.
As exigências nutricionais dietéticas elevam-se com o aumento do peso corporal e
aumento do ganho de peso corporal dos animais.
A simulação do sistema SRNS, com base nas estimativas obtidas a partir de métodos
físicos (métodos biológicos) e matemáticos apresenta sensibilidade na predição do consumo
de matéria seca, no entanto o modelo superestima o GPC em 5,18%.
77
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Proceedings... Ithaca: Cornell University.
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudos para se determinar à composição bromatológica e o valor energético e protéico
dos alimentos utilizados usualmente em sistemas de produção de ovinos, e dos requerimentos
nutricionais dos mesmos, deve ser alvo primordial dos pesquisadores em nutrição de
pequenos ruminantes, normalmente as formulações de rações para ovinos deslanados
utilizados no Nordeste brasileiro são baseados em recomendações de comitês internacionais,
que não condizem com nossa realidade. Com o avanço de tais estudos, e com a futura criação
de comitês técnicos que tem por objetivo resumir o conhecimento gerado na área de nutrição,
e condensar os dados disponíveis na literatura pode-se reduzir o empirismo na formulação
destas dietas.
A busca pela diminuição dos custos de produção, melhoria da qualidade das carcaças
ofertadas, organização da cadeia produtiva e maior aceitação da carne ovina pela população,
parecem ser os maiores entraves da ovinocultura no Nordeste. Os estudos de avaliação de
alimentos e exigências nutricionais podem ter grande impacto principalmente nos dois
primeiros fatores, já que a um determinado desempenho bioeconômico está associado um
requerimento nutricional, sendo este também correlacionado a qualidade de carcaça final.
Como demonstrado neste trabalho há diferença entre os requerimentos preconizados
pelos principais comitês de avaliação de alimentos e exigências nutricionais e dos animais
utilizados em nossos sistemas de produção. Isto se deve principalmente a diferenças nos
alimentos e genótipos utilizados.
O presente trabalho vem colaborar para a construção de um banco de dados, que
futuramente poderá ser condensado a diversos outros em um modelo de predição de
desempenho e planejamento alimentar, sendo útil na formulação de rações mais
economicamente viáveis para ovinos criados no Nordeste brasileiro.
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