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JORGE LUIZ DOS REIS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DA
SAÚDE A RESPEITO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO
2009
Mestrado em Educação Campus Centro I
Avenida Presidente Vargas 642, 22º andar Centro
20071-001 Rio de Janeiro RJ
Telefones: (21) 2206-9740 / 2206-9858
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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DA SAÚDE A
RESPEITO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO
JORGE LUIZ DOS REIS
Rio de Janeiro, 2009.
Jorge Luiz dos Reis
Representações Sociais de Profissionais da Saúde a respeito de
Condicionamento Físico
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade
Estácio de Sá como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Educação.
Área de Concentração: Educação e Cultura
Contemporânea.
Linha de Pesquisa: Representações Sociais e
Práticas Educativas.
Orientadora: Profª Drª Rita de Cássia Pereira
Lima.
Rio de Janeiro
2009
Agradecimentos
A Deus: Luz, Saúde e Energia do meu caminhar.
A minha família - meu alicerce - pelo apoio, compreensão e incentivo em todos
os momentos.
À Universidade Estácio de e seus doutores-mestres pela transmissão de
conhecimentos e o compartilhar de saberes.
À Universidade Federal de Juiz de Fora, em especial, ao Colégio Técnico
Universitário pelo incentivo e apoio.
A minha orientadora, de maneira muito especial pelo incentivo, acolhimento,
apoio, confiança e dedicação.
À banca examinadora pela atenção e receptividade a minha defesa.
Às funcionárias Ana Paula e Áurea pela atenção e cordialidade.
A todos que me ajudaram a superar “as pedras do caminho” e a todos que
acreditaram nesta conquista.
REIS, Jorge Luiz dos. Representações sociais de profissionais da saúde a respeito
de condicionamento físico. Rio de Janeiro, RJ: Universidade Estácio de Sá, 2009
Dissertação (Mestrado em Educação).
RESUMO
O objetivo do trabalho é investigar as representações sociais de profissionais da
saúde a respeito de condicionamento físico, observando aproximações e diferenças
entre médicos, fisioterapeutas e professores de educação sica. Partindo do
princípio que não consenso sobre o tema, a pesquisa pretende estudar como os
conhecimentos científicos são apropriados por diferentes grupos e, eventualmente,
modificados, tornando-se conhecimento do senso comum. Para tal, fundamentou-se
na teoria moscoviciana das representações sociais. Vinte e quatro profissionais, oito
de cada grupo (médicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física)
participaram do estudo. Foram realizadas entrevistas individuais gravadas,
posteriormente transcritas e analisadas com base na análise do conteúdo temática.
Nos três grupos foram inferidos três temas-chave articulados, com suas categorias e
subcategorias: “Condicionamento Físico Dimensão Biopsicossocial”;
“Condicionamento Físico Falta de consenso na área e mídia “Condicionamento
Físico Motivação”. Algumas especificidades foram observadas em cada um dos
grupos, indicando diferenças no núcleo figurativo das representações sociais sobre
condicionamento físico: entre os médicos percebe-se o enfoque clínico, visando
prevenção de doenças e promoção da saúde; entre os fisioterapeutas, a ênfase no
tratamento de patologias; entre os professores de Educação Física, ênfase em
atividades esportivas e melhor qualidade de vida no cotidiano. Nos três grupos, os
entrevistados reconhecem que não há definição consensual sobre o tema. Sendo
assim, pode-se concluir que os especialistas recomendam “condicionamento físico”
com base em critérios normativos próprios aos seus grupos de referência, podendo
se aproximar mais de conhecimentos do senso do comum do que de conhecimentos
científicos consensuais.
Palavras - chave: Representações Sociais, Condicionamento Físico, Médicos,
Fisioterapeutas, Professores de Educação Física.
REIS, Jorge Luiz dos. Representações Sociais de profissionais da saúde de
condicionamento físico. Rio de Janeiro, RJ: Universidade Estácio de Sá, 2009.
Dissertação (Mestrado em Educação).
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to look into the social representations of health care
professionals concerning physical conditioning, observing similarities and differences
among physicians, physiotherapists and physical education teachers. Assuming that
there is no consensus regarding this theme, this research aims at studying how
scientific knowledge is held by different groups and, eventually, modified until it
becomes common sense. To do so, it was based on the moscovici theory of social
representations. Twenty-four professionals, eight from each group (physicians,
physiotherapists and physical education teachers) participated in the study.
Recorded personal interviews were done and later transcribed and then analyzed,
based on theme content. Within the three groups, three articulated key themes were
inferred, all with their categories and sub-categories: “Physical Conditioning
Biopsychosocial Dimension”; “Physical Conditioning Lack of consensus in the area
and media ”- Physical Conditioning Motivation”. Some specific aspects were
observed in each group, indicating differences in the figurative nucleus of social
representations of physical conditioning: the clinical focus can be identified among
physicians, aiming at preventing diseases and promoting health; among
physiotherapists, there is emphasis on treatment of pathologies; among physical
education teachers, there is emphasis on sport activities and better quality of
everyday life. In the three groups interviewed, it has been recognized that there is no
consensual definition toward the theme. Therefore, it can be concluded that
specialists recommend “physical conditioning” based on their own reference groups’
normative criteria, being closer to common sense than consensual scientific
knowledge.
Key words: Social Representations, Physical Conditioning, Physicians,
Physiotherapists, Physical Education Teachers.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 11
1. O CONCEITO DE CONDICIONAMENTO FÍSICO: aspectos gerais...... 22
1.1 Características do condicionamento físico…………………………… 25
1.2 Condicionamento Físico x Sedentarismo x Estresse………………. 28
1.3 Condicionamento Físico x Exercícios Físicos x Atividades
Físicas................................................................................................. 30
2. A TEORIA DAS REPRESENTÕES SOCIAIS……………………….. 34
3. METODOLOGIA DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS…………….. 42
3.1 A coleta de dados………………………………………………………… 43
3.2 A análise dos dados……………………………………………………… 45
4. ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS……………………………… 47
4.1 Análise temática: Grupo de Médicos………………………………… 47
4.2 Análise temática: Grupo de fisioterapeutas………………………… 56
4.3 Análise temática: Grupo de professores de Educação Física….. 64
4.4 Aproximações e diferenças entre os grupos participantes de
pesquisa............................................................................................. 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………… 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………….. 81
ANEXO…………………………………………………………………………... 88
ABREVIATURAS …………………………………………………………….... 90
LISTA DE TABELAS
GRUPO DE MÉDICOS
TABELA 1 – Condicionamento Físico: Dimensão Biopsicossocial…… 48
TABELA 2 – Condicionamento Físico: Falta de Consenso na Área e
Mídia ........................................................................................................... 53
TABELA 3 - Condicionamento Físico: Motivação……………………….. 54
GRUPO DE FISIOTERAPEUTAS
TABELA 4 – Condicionamento Físico: Dimensão Biopsicossocial…… 56
TABELA 5 – Condicionamento Físico: Falta de Consenso na Área e
Mídia ............................................................................................................ 58
TABELA 6 – Condicionamento Físico: Motivação………………………… 60
GRUPO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
TABELA 7: Condicionamento Físico: Dimensão Biopsicossocial……… 64
TABELA 8 – Condicionamento Físico: Falta de Consenso na Área e
Mídia .............................................................................................................. 66
TABELA 9 – Condicionamento Físico: Motivação………………………… 68
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Núcleo Figurativo: Grupo de médicos......................................... 56
FIGURA 2 – Núcleo Figurativo: Grupo de fisioterapeutas............................... 64
FIGURA 3 – Núcleo Figurativo: Grupo de professores de Educação Física.. 70
INTRODUÇÃO
A prática da atividade física sempre foi um marco presente na
humanidade, fosse para buscar o alimento destinado à sobrevivência, fosse para
defender o homem de ataques externos como o de animais ou mesmo de outros
homens. A fim de alcançar tais objetivos, o homem servia-se do movimento, da
força, da velocidade e da resistência, exercitando-se, lutando, correndo, nadando e
saltando (OLIVEIRA, 1983).
Com base nesta noção, o homem sempre se exercitou fisicamente para
desenvolver e manter a força física e a resistência a serem empregadas durante
combates destinados a grandes conquistas.
No Brasil, no último quartel do século XIX, o Estado, juntamente com a
medicina, visava à higienização a fim de direcionar, segundo Costa (1999), as
atividades físicas, moral, intelectual, sexual e social da burguesia, tendo em vista a
sua adaptação ao sistema político e econômico da época bem como aos interesses
dos médicos. Vários tipos de epidemias dizimavam a população. Os médicos do
império conseguiram, assim, despertar nas pessoas o interesse pela saúde.
Profissionais como médicos higienistas, no século XIX, que trabalhavam a
medicina em princípios da medicina social de índole higiênica, militares, engenheiros
e professores de Educação Física somavam esforços na tentativa de organizar e
instruir a população para atingir uma vida mais saudável, com hábitos de higiene e
maior prevenção, evitando, assim, riscos à saúde. A esse respeito, pronuncia-se
Castellani Filho (1988): “Para dar conta de suas atribuições, os higienistas lançaram
mão da Educação Física, definindo-lhe um papel substancial: o de criar o corpo
saudável, robusto e harmonioso organicamente” (p.39) (grifo nosso).
A partir do culo XIX, surgem as primeiras obras sobre a importância da
Educação Física para a saúde do corpo, a cultura do espírito, o vigor e a influência
do moral sobre o físico e deste sobre aquele. Teses foram apresentadas à
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro como “Algumas Considerações sobre a
Educação Física”, do Dr. Manoel Pereira da Silva Ubatuba (1845); “Generosidades
acerca da Educação Física dos Meninos”, de Joaquim Pedro de Melo (1846);
“Influência da Educação Física do Homem”, de Antônio Francisco Gomes (1852)
tese com título idêntico a de Antônio Francisco Gomes foi publicada, no ano
seguinte, por Antônio Nunes de Gouvea Portugal (1853); “Reflexões sobre a
Educação Física e Moral da Infância”, de Dr. Ignácio Firmo Xavier (1854) e
“Opúsculo sobre a Educação Física dos Meninos”, de Dr. Casimiro José de Morais
Sarmento (1858). Estes estudos evidenciavam a necessidade da prática de
exercício, visando particularmente a puericultura (VIEIRA, 2000, p.24-25).
A Educação Física nas escolas brasileiras data do século XIX. Era importante
que a cultura escolar incentivasse o corpo belo, forte, saudável, higiênico, ativo,
ordeiro em oposição ao corpo feio, fraco, doente, sujo e preguiçoso. Para alcançar
este objetivo, a arquitetura dos prédios escolares era imponente, majestosa e
asséptica. Pretendia-se que o cultivo do corpo começasse já na arquitetura do
prédio: os espaços deveriam ser eles mesmos educativos (CEDES, 1999, p.32 apud
VIEIRA, 2000). ·.
Na reforma do ensino promovida no estado de Minas Gerais, no ano de 1906,
a prática de “Exercícios Físicos” no programa de ensino tinha caráter obrigatório.
Escreve Vieira (2000):
Afirmava-se assim a escola como o lugar por excelência para a realização
das práticas corporais que concorreriam para o desenvolvimento físico das
crianças. Somente a escola poderia lhes proporcionar tal desenvolvimento.
Considerou-se que em suas casas, e certamente nas ruas, não havia “os
meios de ocasião” para tanto.
As práticas corporais que elas realizavam
nesses lugares não podiam lhes garantir isso, e daí resulta a defesa de que
o Estado deveria regular e manter na escola um programa racional de
educação do corpo das crianças (p.32).
Atualmente, no terceiro milênio, programas de atividades físicas são
agendados e programados por Secretarias de Educação e/ou Secretarias de
Esportes de maneira que a sociedade possa participar dos mesmos: em bairros,
praças públicas, clubes, academias de ginástica e até mesmo em casa, assistindo à
televisão. Observa-se que o homem contemporâneo além de querer exibir um físico
atlético, valoriza um corpo bem cuidado. A atividade física desempenha, segundo
Lazzolli (1999), um papel fundamental na prevenção e no tratamento de doenças,
melhorando a qualidade de vida, reduzindo a mortalidade. Estando em atividade
física, o corpo libera a endorfina
1
, proporcionando bem-estar e satisfação ao
praticante.
Os exercícios físicos e as atividades esportivas evidenciam o corpo, deixam-
no forte, constituindo fator identitário. É por meio do corpo físico que se visualiza o
outro, que se o identifica. Segundo Breton (2006, p.10), o corpo é “a fronteira, o
limite que, de alguma forma, o distingue dos outros (...), o traço mais visível do ator”.
A esse respeito, Louro escreve:
Investimos muito nos corpos. De acordo com as diversas imposições
culturais, nós os construímos de modo a adequá-los aos critérios estéticos,
1
A endorfina é um neurotransmissor, assim como a noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina. É
uma substância química utilizada pelos neurônios na comunicação do sistema nervoso. É uma
substância natural produzida pelo cérebro em resposta à atividade física, visando relaxar e preservar-
nos da dor e que enorme prazer. Diferentemente de outras drogas, é produzida pelo próprio
organismo e realmente prazer, despertando uma sensação de euforia, bem estar e é sinônimo de
saúde. www.tiosam.com/?q=Endorfina -
higiênicos e morais dos grupos a que pertencemos. As imposições de
saúde, vigor, virtualidade, juventude, beleza, força são distintamente
significadas nas mais variadas culturas e são também, nas distintas
culturas, diferentemente atribuídas aos corpos de homens ou de mulheres.
Através de muitos processos, de cuidados físicos, exercícios, roupas,
aromas, adornos, inscrevemos nos corpos marcas de identidades e,
consequentemente, de diferenciação (LOURO, 1999, p. 15).
Além de exercícios físicos e de atividades esportivas, outros fatores podem
intervir na representação do corpo, já que se trata de um espaço inacabado, território
de muitas intervenções. Ele transforma e é transformado pela história (SANT’ ANNA
2001; SILVA; 2001a; SOARES, 2001). Estas autoras enfatizam a questão do corpo
em contínua transformação, em busca constante por um padrão determinado de
força, de escultura e de beleza.
Para transformar o corpo, padronizá-lo e atualizá-lo, as academias de
ginástica têm sido um espaço bastante procurado por aqueles que se propõem a
“estar em forma”, de posse de corpos fortes, delineados e/ou musculosos. Com
esses objetivos em mente, praticam-se exercícios de força em aparelhos específicos
nas salas de musculação, atividades aeróbicas em bicicletas ergométricas, esteiras
etc., ou se pratica ginástica realizada em grupo que é oferecida por essas
instituições. A opção pelo tipo de exercício preferido não depende unicamente do
indivíduo, mas das diversas representações que se constroem em torno deles, isto
é, nos efeitos imaginados de determinado exercício associados ao objetivo a que se
aspira.
Ainda, sobre o culto ao corpo, a mídia e a indústria da beleza transmitem
informações baseadas em conceitos científicos, isolados, de forma superficial. A
sociedade se apropria desses conceitos, emergindo representações.
A mídia e a indústria da beleza são aspectos estruturantes da prática do
culto ao corpo. A primeira por “mediar” a temática, mantendo-a sempre
presente na vida cotidiana, levando ao leitor as últimas novidades e
descobertas tecnológicas e científicas, ditando e incorporando tendências. A
segunda por garantir a materialidade” da tendência de comportamento que
como todo traço comportamental e/ou simbólico no mundo
contemporâneo só poderá existir se contar com um universo de produtos
e objetos consumíveis (CASTRO, 2001, p.151).
Nesta expectativa e ânsia por um corpo perfeito, delineado, remodelado, de
beleza atlética, padronizado pela mídia, homens e mulheres vislumbram recursos
diversos como dietas, medicamentos, cirurgias plásticas e demais tecnologias que o
mundo atual oferece como meios para alcançarem a longevidade e o corpo
idealizado.
Apesar dessa incessante tentativa de alcançar um corpo atlético e maior
longevidade preocupar indivíduos em diversas faixas etárias, pode-se observar que
outros fatores, ao invés disso, caminham na contramão desse objetivo de estar,
constantemente, em atividade física. A tecnologia disponível favorece a utilização de
controles remotos, escadas rolantes, elevadores etc., impedindo cada vez mais a
prática de exercícios mínimos, isto é, movimentos simples em tarefas e coisas
básicas como levantar para trocar o canal de TV, subir escadas, caminhar alguns
quarteirões em vez de ligar o carro. Ou seja, as comodidades da vida moderna
acomodam as pessoas, tornando-as cada vez mais sedentárias (TEIXEIRA, 1994).
Além disso, o desconhecimento em relação à prática de determinados
exercícios físicos e suas finalidades, as restrições peculiares a alguns grupos, o
excesso de trabalho que gera a falta de tempo são alguns dos fatores apontados
para não se praticar exercícios físicos. O crescimento do sedentarismo, de hábitos
alimentares pouco saudáveis e do alto nível de estresse compromete a saúde da
população mundial, acarretando-lhe vários males. Nesse sentido, os exercícios
físicos podem ser considerados de extrema importância para aqueles que querem
preservar a saúde e prevenir-se contra alguns tipos de doenças como a obesidade,
a hipertensão e algumas doenças cardiovasculares, entre outras.
Domingues (2004) acrescenta, inclusive, como riscos decorrentes da
inatividade física, o diabetes, a osteoporose, a depressão e uma maior morbi-
mortalidade.
2
Os exercícios físicos reduzem os riscos de danos para a saúde e
auxiliam no controle de peso. Exercitar-se diariamente tornou-se uma estratégia para
manter-se fisicamente bem, superar os desafios e as situações do dia-a-dia (U.S.
DEPARTMENT OF HEALT AND HUMAN SERVICES, 1996)
3
.
Segundo Mcardle, Katch e Katch (1994), para que o indivíduo modifique seu
estilo de vida sedentário e passe a se exercitar de maneira regular e sistemática,
não basta conhecer a importância da realização de atividades físicas, é preciso
demonstrar vontade para efetuar mudanças na vida diária. Para estes autores,
existem muitos obstáculos e alegações que agem impedindo a ação transformadora
do sujeito, sendo assim, a questão perpassa os valores que precisam ser
ressignificados.
Em contrapartida, o excesso de atividades físicas executadas pelos
praticantes pode ou poderá afetar diretamente o rendimento físico, cognitivo e
psicológico. Por exemplo: o desgaste físico pode interferir no processamento de
informações e levar o indivíduo a cometer equívocos relacionados a tarefas
relevantes.
Frequentemente, a mídia lança apelos publicitários e programas, nem sempre
embasados cientificamente, mostrando pessoas famosas e bem sucedidas,
detentoras de uma imagem saudável e bonita. Nestes programas, estas pessoas
2
Segundo o Conselho Nacional de Saúde, entende-se por morbi-mortalidade fatores externos tais como
acidentes e violência, bem como as causas básicas que podem estar ligadas ao nível de desigualdade social.
3
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), é um Gabinete do governo dos Estados Unidos com o
objetivo de proteger a saúde de todos os americanos e de prestar serviços essenciais à humanidade. O seu lema é
Melhorar a saúde, a segurança e o bem-estar da América”.
atuam como referência, como paradigma de vida para se buscar um
“condicionamento físico” capaz de melhorar a performance.
Este panorama mostra que o interesse atual pelo que se chama
“condicionamento físico” parece estar relacionado tanto a manter a saúde e prevenir
doenças quanto a buscar um corpo saudável compatível com exigências estéticas
da contemporaneidade. Devido ao uso frequente do termo “condicionamento físico”
por exemplo, na mídia, em academias, entre os profissionais da saúde nos
interessamos em saber como ele é definido entre especialistas da área, visto que é
frequentemente prescrito por eles.
Estudos científicos acerca do condicionamento físico aconteceram a partir da
década de 50 do século passado, com o método intervalado do fisiologista Reidell e
do treinador Gerschilier, passando a ter uma concepção científica (COSTA, 1968;
BILLAT, 2001). Fisiologistas, médicos e professores de Educação Física m se
dedicado, desde então, ao estudo do comportamento e à influência de diversas
variáveis fisiológicas durante a performance (POWERS, HOWLEY, 2000).
De acordo com Barbanti (1986), o condicionamento físico traz diversos
benefícios como: diminuição do risco de lesões, diminuição do tempo necessário
para reabilitação após uma lesão, conservação do aprendizado das tarefas motoras
que foram adquiridas e conservação da ligação efetiva entre o atleta e seu esporte
por meio da execução destas tarefas motoras de forma correta.
A busca pelo condicionamento físico (CF) tem sido a meta de atletas e de não
atletas no dia-a-dia. Durante treinos desportivos e atividades físicas, realizadas em
clubes, academias, pátios, centros esportivos, praças públicas, caminhadas em
represas ou, ainda, em outros locais selecionados, pode-se perceber a fisionomia
descontraída dos praticantes. Os benefícios oriundos das atividades físicas nestes
locais se estendem por todo o organismo, favorecendo, inclusive, o aspecto psíquico
do indivíduo.
O CF apresenta representações variadas conforme o grupo social. No
Capítulo 4, onde será feita uma análise dos dados e resultados obtidos na pesquisa
realizada, a questão do CF é avaliada, diferentemente, pelos profissionais da saúde.
As representações sociais podem influenciar os objetivos que os profissionais
pretendem alcançar com seus alunos, atletas ou pacientes. Desse modo, percebe-se
que o conceito de CF tende a ser ressignificado.
Os exemplos de definições de “condicionamento físico” (outros serão citados
no Capítulo 1) mostram conceituação diferente entre os autores possuindo, assim,
vários significados. Desse modo, o que deveria ser tratado como um conceito
científico tende a ser uma noção ditada por determinado grupo social. Se não há um
consenso na área, pois a literatura não mostra acordo entre os especialistas, quais
seriam os fundamentos que eles estabelecem para continuar recomendando algo
que não tem definição científica consensual? Diante desta questão, pareceu ao
pesquisador relevante investigar o que os profissionais da área da saúde pensam a
respeito de condicionamento físico.
Nesse sentido, a Teoria das Representações Sociais (TRS) de Moscovici
(1961) nos pareceu a mais adequada como fundamento teórico-metodológico do
trabalho. Uma de suas bases está na existência de dois universos de pensamentos
nas sociedades contemporâneas: reificados e os consensuais.
De acordo com (1995), o universo reificado corresponde ao saber
acadêmico e científico, no qual validação do conhecimento de acordo com os
rigores gicos, metodológicos e objetivos, além de sua estratificação por meio de
hierarquias e compartimentalização em diversas especialidades. No universo
consensual, impera certa lógica natural, legitimação de conhecimento pela atividade
intelectual compartilhada socialmente no cotidiano, tendo menos compromisso com
as exigências da objetividade, verossimilhança e plausividade. Volta-se assim para o
prático, o senso comum que forma as representações sociais.
Moscovici (1961, 1978) estuda a relação entre esses dois universos quando
propõe a TRS. Na obra “A representação social da psicanálise”, o autor se
interessou pelo fenômeno de socialização da psicanálise na sociedade francesa. Ou
seja, analisou como os conhecimentos científicos o apropriados pela população
em geral, adaptados aos seus valores e necessidades, e se tornam “teorias do
senso comum” ou “representações sociais”, destinadas à interpretação e à
construção de realidades sociais.
Partindo do princípio que não consenso sobre o que é “condicionamento
físico” entre os profissionais da saúde, essa pesquisa pretende estudar como os
conhecimentos científicos são apropriados por diferentes grupos e, eventualmente,
modificados, tornando-se conhecimento do senso comum, ou seja, representações
sociais. Nesse sentido, o estudo tem os seguintes objetivos:
OBJETIVO GERAL: Investigar as Representações Sociais de profissionais da saúde
(médicos, fisioterapeutas e professores universitários de Educação Física) a respeito
de condicionamento físico.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
1) Investigar quais são as aproximações e quais são as diferenças entre os
grupos participantes da pesquisa quanto à compreensão do que seja
“condicionamento físico”.
2) Investigar crenças, atitudes, valores que os diferentes grupos têm em relação
a condicionamento físico.
Para cumprir tais objetivos, o trabalho se apresenta em quatro capítulos,
sintetizados a seguir.
O Capítulo 1, “Condicionamento Físico: Revisão de Literatura”, aborda a
conceituação de Condicionamento Físico proposta por especialistas como médicos e
fisiologistas bem como as características do mesmo. Foram tratadas as relações
entre Condicionamento Físico (CF), sedentarismo e estresse e entre CF, exercícios
físicos, atividades físicas.
O Capítulo 2, “A Teoria das Representações Sociais (TRS)”, a partir dos
estudos de Serge Moscovici, pilar para a construção teórico-metodológica desta
pesquisa, evidencia como o homem compreende e apreende o seu entorno. As
explicações, conceitos e enunciados presentes no cotidiano por meio de valores,
comportamentos e crenças permitem aos indivíduos melhor interpretar e construir
representações sociais compartilhadas com o seu grupo.
O Capítulo 3, “Metodologia de coleta e análise dos dados”, descreveu os
passos da pesquisa, os instrumentos de coleta de dados e como eles foram
analisados.
Enfim, o Capítulo 4, “Análise dos Resultados”, apresenta uma análise dos
dados obtidos, as especificidades de cada grupo, suas aproximações, buscando-se
relacionar as falas com a conceituação de “condicionamento físico” veiculada por
especialistas da área.
Considera-se que pesquisar representações sociais de profissionais de
saúde a respeito do condicionamento físico permitirá apreender como se constroi o
conhecimento do senso comum sobre o assunto, oferecendo uma colaboração para
o entendimento das complexas interações entre tais profissionais e a população em
geral e ampliando a discussão acadêmica sobre o assunto.
CAPÍTULO 1
1. O CONDICIONAMENTO FÍSICO: aspectos gerais
Na atualidade, o termo “condicionamento físico” é frequentemente utilizado no
cotidiano das pessoas, principalmente, entre profissionais da saúde. Mas como os
especialistas definem esse conceito? Teóricos de Fisiologia Humana apresentam
conceitos relacionados à obtenção do condicionamento físico, orientando
profissionais e interessados em relação aos quesitos indispensáveis para
alcançarem tal objetivo.
O primeiro registro de que se tem notícia a respeito da fisiologia do exercício
data do final do século XIX, com a publicação, em 1889, do livro de Fernand
LaGrange denominado Physiology of Bodily Exercise. Vale destacar, contudo, que
as primeiras indicações importantes para o campo da fisiologia do exercício foram
realizadas apenas no final da primeira década do século XX. Essas indicações
estavam associadas aos processos de contração muscular e à produção de lactato
4
.
Na literatura atual, há consenso de que foi a partir dos estudos sobre o
método intervalado do fisiologista Reidell, realizados na década de 50 do século
passado, que o treinamento esportivo passou a ter uma concepção científica
(COSTA, 1968; BILLAT, 2001). A partir dessa ocasião, fisiologistas, médicos,
fisioterapeutas e professores de Educação Física m se dedicado ao estudo do
4
Lactato: composto orgânico, produzido naturalmente no corpo humano e também utilizado como
fonte de energia para atividades físicas em geral. O lactato é encontrado nos músculos, no sangue e
em vários órgãos. A presença do lactato é necessária para que o corpo funcione propriamente. O
lactato, tecnicamente, recebe o nome de ácido lático. http://www.lactate.com/ptlact1ahtm/
Acesso em
24 out.2008.
comportamento e à influência das diversas variáveis fisiológicas durante a
performance (POWERS; HOWLEY, 2000).
De forma abrangente, Bauer (1990, p.65), apud Weineck (2004, p.15),
conceitua condicionamento físico como “um conjunto de todos os fatores de
performance: psíquicos, físicos, técnico-táticos, cognitivos e sociais. Pode-se
considerar que essa definição, extremamente ampla, dificulta uma ação educativa
mais objetiva. Nesse sentido, Weineck (Idem), ao focar esse tipo de ação mais
objetiva, argumenta que: “as características do condicionamento físico limitam-se,
principalmente, aos fatores físicos da performance: resistência aeróbica e
anaeróbica, força, velocidade e flexibilidade”.
Stegemann (1979, p.293) conceitua condicionamento físico como a “repetição
contínua de movimentos que desenvolve reações novas, denominadas
“condicionadas”, resultando em automatização externa e, ao mesmo tempo, são
desenvolvidas reações condicionadas que auxiliam a realização do movimento”.
Gobbi, Vilar e Zago (2005) enfocam o condicionamento físico (CF) como um
processo sistematizado que, por meio de estímulos motores, regidos por princípios
científicos e realizados por certo período de tempo, proporcionam ou mantêm
adaptações morfológicas e funcionais que provocam o aumento ou a manutenção da
capacidade funcional através do desempenho motor. De acordo com este conceito,
o condicionamento físico é um processo estruturado que envolve diversas etapas
com objetivos específicos em cada uma delas, mas interdependentes, isto é, para se
obter o sucesso em uma delas, é necessário estar bem nas demais etapas. Além
disso, envolve estímulos e respostas motoras como meio fundamental para as ações
a fim de se atingir, plenamente, os objetivos específicos em cada etapa.
Outro conceito, que, em certo sentido, está relacionado com o anterior, é o da
ACMS
5
, que diz: o “condicionamento físico relacionado à saúde se refere à
capacidade orgânica de resistir às tarefas diárias e ocasionais, assim como a
desafios físicos inesperados, com mínimo de cansaço e desconforto, possuindo
reservas de energia suficientes para realizar aquilo que se deseja” (1999, p. 55).
Segundo Powers e Howley (2000), CF é a interação de diversas valências
físicas
6
que visam ao melhor funcionamento do músculo-esquelético
7
e do
metabolismo individual. Entre os componentes da aptidão física, essenciais à saúde,
estão: a função cardiorrespiratória, a composição corporal, as funções músculo-
esqueléticas e a região lombar da coluna vertebral como parte das funções
fisiológicas relacionadas à saúde.
Para estar bem condicionado, fisicamente, é necessário treinar e aprimorar a
resistência aeróbica através de exercícios aeróbicos. Segundo Leite (1984), para
melhorar o sistema cardiopulmonar, o organismo gradualmente é condicionado a
aproveitar melhor o oxigênio, resistindo, de maneira eficiente, aos esforços físicos.
De acordo com Nieman (1999), o CF enfatiza o vigor e a energia para a
realização de trabalhos físicos e exercícios. Pode ser mensurado de maneira
subjetiva pela determinação da quantidade de energia que uma pessoa possui para
a realização de coisas agradáveis na vida, dentre as quais podemos citar as
aventuras naturais. De acordo com o autor, engajando-se em atividades como
esquiar na neve ou na água, escalar montanhas, ou mesmo andar de bicicleta no
final de semana com uma mochila nas costas, as pessoas podem se sentir
5
ACMS –American College of Sports Medicine.
6
As principais valências físicas que se relacionam ao CF são: a força muscular, a potência, a
resistência cardiovascular e a flexibilidade.
7
O sistema muscular esquelético constitui a maior parte da musculatura do corpo, formando o que se
chama popularmente de carne. Essa musculatura recobre totalmente o esqueleto e está presa aos
ossos, sendo responsável pela movimentação corporal. Disponível em <http://
www.afh.bio.br/sustenta
4asp. Acesso em 04 nov.2008.
treinadas, com energia e interesse suficientes para maximizar o prazer que os
recursos naturais lhes oferece.
1.1 Características do condicionamento físico
A atividade de resistência aeróbia pode ser definida como a qualidade física
que permite um esforço por um determinado período em que há um equilíbrio entre o
consumo de oxigênio e a absorção do mesmo (GOMES TUBINO; FERREIRA;
COSTA; REIS, 1979). Normalmente, esta atividade está associada a exercícios que
usam grandes distâncias ou tempos, como, por exemplo, caminhar, correr, andar de
bicicleta, nadar etc., com intensidades baixas ou moderadas para praticantes de
atividade física e não atletas específicos. Pode-se dizer que as atividades aeróbias
terão um tempo superior a 10 minutos, com uma intensidade baixa ou moderada
(BERTUZZI, 2002).
Para Manidi e Michel (2001), exercícios de resistência, de baixa intensidade e
longa duração utilizam o sistema aeróbio. De acordo com Weineck (1999), o sistema
aeróbio é ativado em exercícios acima de um minuto. Os exercícios aeróbios são de
intensidade média e tempo prolongado, através da degradação aeróbia de
carboidratos e gorduras. A energia necessária para executá-lo é proporcionada
pelo uso do oxigênio, ou seja, o oxigênio funciona como fonte de queima dos
substratos que produzirão a energia a ser transportada para o músculo em atividade.
Esse tipo de atividade estimula, sobretudo, a função dos sistemas cardiorrespiratório
e vascular, contribuindo para o aumento da capacidade cardíaca e pulmonar do
praticante.
o exercício anaeróbico, segundo Dantas (1998), o exercício extenuante, a
100% do VO2max
8
,somente será atendido pelo sistema anaeróbio aláctico
9
,, até a
depleção
10
, das reservas de CP (fosfato de creatina). No exercício intenso, entre 85
e 100% do VO2max, a energia pode ser fornecida pelo sistema anaeróbio láctico,
ressintetizando o ATP (trifosfato de adenosina) para o esforço, e a produção de
ácido láctico poderá impedir a continuidade da atividade. Basicamente, é um
exercício de alta intensidade e de curta duração. ATP e o CP podem proporcionar
energia para os músculos por um tempo de 3 a 12 segundos, durante um exercício
forte.
Podem-se citar como exemplos de exercícios anaeróbios aqueles de
velocidade, curta duração e alta intensidade, como a corrida de 100m rasos, os
saltos e os arremessos de peso. Os exercícios realizados com muito peso e poucas
repetições nas salas de musculação também são considerados uma atividade
anaeróbica. Dessa forma, os exercícios anaeróbios são aqueles que têm efeito mais
localizado nos músculos, enquanto que os exercícios aeróbios beneficiam,
sobretudo, a saúde do sistema cardiorrespiratório.
Para Guedes e Guedes (1995), o exercício físico regular fortalece o coração e
permite que ele bombeie uma maior quantidade de sangue em cada batimento
cardíaco. Deste modo, o sangue libera mais oxigênio para o organismo, atingindo a
quantidade máxima que este consegue obter e utilizar. Essa quantidade, chamada
de captação xima de oxigênio, é geralmente utilizada como medida para
8
O VO2máx é o volume máximo de oxigênio que o corpo consegue “pegar” do ar que está dentro dos
pulmões, levar até os tecidos através do sistema cardiovascular e usar na produção de energia, numa
unidade de tempo. www.webrun.com.br/home/conteudo/.../5823?...2
9
O treinamento anaeróbico aláctico engloba o condicionamento de velocidade e força a partir de
exercícios muscular. Fornece a energia imediata necessária nas fases iniciais dos exercícios intensos
ou explosivos (GASTIN, 2001)
10
Redução de alguma substância ou processo físico, químico ou biológico. Geralmente empregado
em biologia ou medicina para indicar a redução drástica de uma substância no meio celular ou ainda
redução de uma via metabólica ou evento funcional. (Rubens Cecchin) Disponível em:
http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=deple%E7%E3o&id=807
Acesso em
18mai. 2007.
determinação do nível de condicionamento de uma pessoa. Para os autores, o CF
está ligado à “capacidade de se realizar atividades físicas” (p. 22).
Conforme Fuchs, Moreira e Ribeiro (1993), o CF se determina por meio da
intensidade do exercício em vez de sua duração. As séries de exercícios necessitam
ser intensas, chegando a ponto de a musculatura se tornar dolorida no dia seguinte.
Para que haja o fortalecimento do coração, o exercício deve ser feito a uma
intensidade que eleve a frequência cardíaca de repouso. Quanto mais intenso for o
exercício realizado, mais pido o coração baterá, fazendo com que o miocárdio se
torne mais forte.
Geralmente, a frequência cardíaca recomendada para o treinamento é
próxima de 60% da frequência cardíaca máxima individual. Ela pode mensurar a
força da musculatura esquelética e, assim, uma pessoa “bem condicionada” e forte
poderá apresentar uma frequência cardíaca máxima muito maior do que de uma
pessoa jovem e “não-condicionada”.
Segundo Fleck e Kraemer (1999), o CF, quando voltado para a saúde, possui
um objetivo diferente daquele que é voltado para a performance desportiva. A
melhor interação das diversas valências físicas pode contribuir para o bom
condicionamento físico e para a saúde.
Atualmente, diversos estudos têm demonstrado que o treinamento de várias
valências físicas
11
pode contribuir para a prevenção de lesões, para melhorar o
gesto desportivo, para o controle da composição corporal e para a recuperação bio-
psico-social do sujeito (WEINECK, 1999). Barbanti (1986) tem ponto de vista similar
em relação à diminuição no risco de lesões e a diminuição no tempo necessário para
11
Valência Física: São qualidades físicas especiais para determinados esportes. Disponível em:
>www.cdof.com.br/consult42.htm>. Acesso em 16 jun.2007.
uma reabilitação em caso de lesão, quando o indivíduo dispõe de um bom
condicionamento físico.
Tubino (1980) aponta caracterização distinta entre condição física e condição
atlética. Para se obter a condição física torna-se necessário um período completo de
preparação física, ao passo que a condição atlética é adquirida por meio de muitos
períodos de treinamento completo. Desse modo, um atleta pode apresentar uma
condição física desejável para uma competição e, paradoxalmente, não apresentar
boa condição atlética.
Um programa adequado de CF deve seguir uma frequência 3 a 5 vezes por
semana, intercalados com dias de descanso , com duração mínima de 15 minutos e
frequência cardíaca máxima de 60% a 85% ou conforme a condição física do
indivíduo. Em três meses consecutivos, essa programação conduz a resultados
satisfatórios para a obtenção de um bom CF (COOPER, 1983; LEITE, 1984;
DANTAS, 1986; FOX et al, 1991; McARDLE et al, 1994).
O condicionamento físico é mensurado, de modo particular, por intermédio da
capacidade individual na execução do desempenho físico muscular e na
manutenção do equilíbrio cardiocirculatório e respiratório mediante esforços. De
acordo com Stegemann (1979, p.256): “A aptidão física individual só pode ser
comparada, verdadeiramente, com tarefas iguais e em condições externas iguais.”
Assim, para a execução de tarefas, cada pessoa apresenta uma capacidade física
particular que pode ser avaliada em condições de igualdade, quando se deseja
quantificar e avaliar, rigorosamente, a performance individual.
1.2 Condicionamento físico x sedentarismo x estresse
O sedentarismo prejudica seriamente o equilíbrio do organismo, provocando
vários distúrbios, sobretudo em pessoas idosas. Acarreta o surgimento de doenças
crônico-degenerativas, transtorno de humor, diminui as funções fisiológicas e
cognitivas, piora do perfil lipídico, diminui a auto-estima, aumenta a ansiedade,
podendo levar ao estresse (MATSUDO et al, 2005).
Com base nos estudos de Nunomura; Teixeira; Caruso (2004), o estresse
pode ser considerado a “doença do século”, resultando do somatório de fatos
intrínsecos e extrínsecos nos indivíduos. Fatores como mudança de casa,
casamento, divórcio, mudanças bruscas de temperatura, traumatismos ósseos ,
fases de adaptação orgânica, internação hospitalar, cirurgias, hemorragias, lesões
orgânicas acompanhadas de comprometimento psíquico (ou emocional), induzem ao
estresse. Para determinada pessoa uma situação pode induzir ao estresse,
enquanto para outras a mesma situação seria encarada de modo normal, sem
qualquer alteração.
Para o controle do estresse, tem-se recomendado estratégias como:
psicoterapia, técnicas corporais de relaxamento e alívio das tensões, uso de
medicamentos homeopáticos ou alopáticos e a prática de exercícios físicos ( Idem,
p.128).
Caruso (1997), Nunomura et al (1999) compararam os sintomas de estresse
e a qualidade de vida entre praticantes regulares e ingressantes sedentários em
programas de atividade física supervisionada. O primeiro estudo, desenvolvido com
um grupo de condicionamento físico para prevenção cardiológica primária e
secundária, deixou claro que os praticantes regulares de atividades físicas
apresentaram níveis de estresse favoráveis em relação aos participantes
sedentários.
1.3 Condicionamento físico x exercícios físicos x atividades físicas
Para obter um bom CF, o indívíduo necessita praticar exercícios físicos e/ou
atividades físicas. Os exercícios físicos, segundo Monteiro e Gonçalves (1994), se
realizados, adequadamente, atuam como propriedade medicamentosa visto que
favorecem o aumento da reserva funcional e agem sobre várias condições
patológicas manifestas. Esses autores se filiam à corrente médica que defende os
exercícios físicos como forma preventiva, de controle e procedimento terapêutico,
empregado em inúmeras doenças humanas.
Do mesmo modo, de acordo com Guyton e Hall (2002), a aptidão corporal é
fator decisivo na prevenção de diversas doenças, tornando-se imprescindível
controlar o peso e manter a pressão arterial mais baixa. Esses autores argumentam
ainda que exercícios criteriosos trazem benefício adicional de vida prolongada e que
o índice de mortalidade é três vezes menor entre pessoas na faixa de 50 a 70 anos
praticantes de ginástica. Alertam ainda que “a pessoa atleticamente apta tem mais
reservas corporais com as quais pode contar quando adoece” (p.917).
De outro modo, praticar exercícios físicos inadequados ou em excesso pode
resultar sérios problemas musculares, como observa Weineck (2004):
Existem métodos de treinamento que, por exemplo, levam ao aumento do
coração, mas provocam pouca melhora capilar (capilares são os menores
vasos em que a troca metabólica com a célula muscular acontece). Outros
métodos de treinamento, por sua vez, têm forte influência sobre a
capilarização (aumento do número de capilares), mas menor efeito sobre o
tamanho do coração. (...) Diversas partes do sistema cardiocirculatório
podem ser diferentemente influenciadas pelos vários métodos e programas
de treinamento
(p.52-53).
As pessoas que praticam exercícios físicos, regularmente, seja em algum
esporte, grupo de dança ou programa de reabilitação cardíaca, fazem-nos porque
gostam ou porque necessitam de exercícios. Esses trazem entre vários benefícios
para a saúde: a redução dos níveis de estresse pontuado por ansiedade, depressão,
raiva, evitando-se o uso de drogas, além de influenciar o humor e, indiretamente, a
vida social das pessoas.
12
Outras vantagens relacionadas às atividades físicas têm sido anunciadas em
artigos científicos. Antunes et al (2006), por exemplo, declaram que o bom
condicionamento físico auxilia nos processos neurológicos, cardiorrespiratórios e nas
funções cognitivas.
Além dos benefícios, citados anteriormente, que são associados à adoção de
um estilo de vida fisicamente ativo, a prática do exercício físico desperta no sujeito a
auto-estima, tornando-o mais autoconfiante. Segundo Dantas (1998), fazer atividade
física significa olhar-se mais, perceber-se mais, expor-se mais, enfim “gostar-se”.
Nesse sentido, a pessoa passa a cuidar mais de si, incorpora o movimento físico à
vida, dá novos rumos a sua existência.
Os exercícios físicos podem ser trabalhados como procedimento terapêutico
também em doenças das vias aéreas como asma, por exemplo. Em avaliação de
um programa de treinamento físico por quatro meses para crianças asmáticas,
pesquisadores revelaram que exercícios físicos realizados em solo e água, duas
vezes por semana, com sessões de 90 minutos, proporcionaram melhor CF e
aumento de força muscular nessas crianças. (SILVA; TORRES; RAHAL; TERRA
FILHO; VIANNA, 2005).
12
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, 2004.
O Conselho Latino Americano (2000) apud Martus (2001) no exercício
físico uma atividade física planejada e estruturada com o propósito de melhorar ou
manter o CF. Segundo Oliveira e Furtado (1999), o exercício físico regular contribui
para um envelhecimento saudável.
Exercício físico e atividade física, ao contrário do que parece, não são
considerados sinônimos. Caspersen et al. (1985) definem atividade física como
“qualquer movimento corporal produzido pelos sculos esqueléticos que resultem
em gasto energético.” Consideram exercício físico subgrupo das atividades físicas,
que é planejado, estruturado e repetitivo, tendo como meta a manutenção ou a
otimização do CF. A intencionalidade e o planejamento é o que diferencia exercício
físico de atividade física. A aptidão física é definida pelos autores como “a habilidade
do corpo de adaptar-se às demandas do esforço físico que a atividade precisa para
níveis moderados ou vigorosos, sem levar a completa exaustão” (p.195).
Segundo Guedes (1996), aptidão física é um estado dinâmico de energia e
vitalidade que permite a cada um realizar tarefas do cotidiano, desfrutar ativamente
as horas de lazer e enfrentar emergências imprevistas sem fadiga excessiva.
De acordo com Guedes (1995), a atividade física traz grandes benefícios para
o praticante que reduz níveis de depressão, melhora a auto-estima, auxilia no
relaxamento do sono, melhora a disposição, atua no controle de vários fatores de
risco coronariano, fortalecendo o coração que bombeia mais sangue com menor
número de batimentos, diminuindo a frequência cardíaca e a pressão arterial,
melhorando a aptidão física e aumentando a absorção de oxigênio
Para Fiatarone et al (1990), um programa ideal de atividade física para a
melhoria da saúde e bem-estar psicológico dos adultos maduros deve somar: força,
flexibilidade, equilíbrio, coordenação e atividades aeróbias.
Conforme Mazzeo et al (1998), a atividade física influencia positivamente a
saúde mental dos adultos maduros. Pesquisas realizadas por Thirlaway e Benton
(1992) e Marowlaki e Zervas (1993) apud Mazzeo et al (1998) revelam que a prática
regular de atividade física tem efeito significativo nos estados psicológicos de humor,
tanto nos aspectos positivos quanto nos negativos, proporcionando bem-estar
psicológico e aumentando a resistência diante do estresse psicossocial.
Segundo Matsuda e Matsuda (2000), a atividade física é importante no
controle do peso e gordura corporal, contribuindo na prevenção e controle de
doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, AVC, artrite, apneia do sono e
prejuízo da mobilidade.
A maioria dos autores citados considera que a prática regular de exercícios
físicos e a participação em atividades físicas tornam o indivíduo mais ativo, mais
bem humorado, mais saudável, funcionando como prevenção além de integrá-lo a
vários grupos sociais com os quais compartilha conhecimento e saberes. Percebe-se
que, embora sem consenso, o conceito de “condicionamento físico” expressa uma
abordagem biopsicossocial incluindo prevenção e promoção da saúde, prevenção
de lesões, performance desportiva, lazer e atividades cotidianas. Esses aspectos, se
compartilhados por grupos específicos, podem constituir representações sociais
sobre o tema.
CAPÍTULO 2
A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Esta pesquisa te como referencial teórico-metodológico a Teoria das
Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici (1961), que auxilia na
compreensão do que o homem apreende em seu entorno, como interpreta,
administra e constroi sua representação compartilhada com o seu grupo. Ela
contribui também para o entendimento das inter-relações grupais.
A representação social é um dos tópicos que suscita polêmica tanto no campo
da Sociologia como no campo da Psicologia Social e demais disciplinas voltadas à
observação das relações sociais e suas implicações sobre os sujeitos. Sua
conceituação aparece pela primeira vez na obra de Moscovici, já citada, que expõe:
A representação social é uma modalidade particular do conhecimento, cuja
função é a elaboração dos comportamentos e da comunicação entre
indivíduos. É um corpus organizado de conhecimentos e uma das atividades
psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a realidade física e
social, se integram em um grupo ou em uma relação cotidiana de
intercâmbios, liberam os poderes de sua imaginação. (...)
Toda representação social está composta de figuras e expressões
socializadas. É uma organização de imagens e de linguagem porque recorta
e simboliza atos e situações que são ou se convertem em comuns. (...)
Um conjunto de proposições, de reações e de avaliações diferentes sob
óticas particulares, emitidos em uma ou outra parte, durante uma
investigação ou conversação pelo coletivo, do qual cada um, queira ou o,
faz parte (MOSCOVICI, 2003, p.48).
Moscovici (1978), autor da TRS, afirma que as representações sociais
constituem um conjunto de conceitos, de enunciados e explicações originados na
vida diária, no curso das comunicações individuais. Seria, assim, um sistema de
valores, de noções e de práticas relativas a objetos, aspectos ou dimensões do meio
social, os quais permitem não apenas a estabilização do marco de vida dos
indivíduos e dos grupos, mas também “constituem instrumentos de orientação da
percepção de situações e da elaboração de respostas” (p.145).
Levando-se em conta as idéias de Moscovici, a representação social
concerne a um conhecimento de sentido comum, mais ou menos flexível, que ocupa
posição intermediária entre o conceito que se obtém do sentido real e da imagem
que a pessoa ou o grupo reelabora para si. É considerada, ainda, como um
processo ao se avaliar a forma como essa representação social é construída
socialmente ou um produto quando se investiga e se interpreta a realidade a
respeito de fatos, situações, acontecimentos relativos à saúde, à aprendizagem, ao
meio-ambiente, enfim a construção da realidade de grupos e indivíduos em um
contexto social determinado. (JODELET, 2001).
As representações sociais são construídas em sociedade e afetam o dia-a-
dia, possibilitando a compreensão de fatos e situações que ocorrem a nossa volta.
Porque se constroem nas relações com o outro, são sociais e seus significados são
atribuídos conforme o grupo de pertença. São difundidas tanto pelos indivíduos
quanto nas relações sociais, baseando-se nos valores e nos comportamentos
desses indivíduos. Abarcam a percepção que o indivíduo, o grupo ou a sociedade
têm a respeito de um assunto, tema, grupo de pessoas, eventos e constituem uma
unidade funcional estruturada, integrada por formações subjetivas, tais como:
opiniões, atitudes, crenças, imagens, valores, informações e conhecimentos
(MOSCOVICI, 1978).
Moscovici (Idem) se refere às Representações Sociais como “teorias do
senso comum”, próprias para a interpretação e para a construção das realidades
sociais. Desse modo, elas determinariam os campos de comunicação possíveis,
valores ou idéias apresentadas nas visões compartilhadas pelos grupos de pertença
e regulariam, em consequência, as condutas desejáveis ou admitidas.
Assim, as representações sociais são sistemas de valores, idéias e práticas
que possuem uma função dupla, estabelecendo uma ordem que age capacitando os
indivíduos a se orientarem e dominarem o seu mundo social, facilitando a
comunicação entre os membros de uma comunidade por providenciar aos mesmos
um código para a nomeação e classificação de diversos aspectos do seu mundo e
de suas histórias, tanto individuais quanto grupais (FLECK.; MOSCOVICI, 1983).
Segundo (1995), essas representações cumprem duas funções: a de
ordenar acontecimentos e a de comunicar-se com eles e sobre eles. As pessoas
recuperam a função de ordenar com a capacidade de orientarem-se dentro de seu
universo e dominá-lo, enquanto a função de comunicar é aplicada entre os membros
de um grupo, na medida em que se apoderam de um código de intercâmbio,
denominação e classificação das ambiguidades dos aspectos do mundo e da
história individual e grupal.
Moscovici (1978) aponta dois processos fundamentais para a formação e
para o funcionamento das representações sociais, evidenciando a interdependência
entre a atividade psicológica e as condições sociais. Esses processos constituem
duas faces indissociáveis como uma “folha de papel: a face figurativa (a da
objetivação) e a face simbólica (a da ancoragem)”. (p.18)
Na “objetivação”, materializa-se o abstrato, tornando-o concreto, as idéias
são percebidas de modo real. O conceito transforma-se em imagem. De acordo
com Moscovici (1984, p.38), “objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma ideia
ou ser imprecisos, reproduzir um conceito em uma imagem.” A objetivação consiste
na passagem de ideias e de imagens abstratas transformando-as em imagens
concretas, ao passo que “a ancoragem é uma rede de significações em torno do
objeto, relacionando-o a valores e práticas sociais.” (ALVES-MAZZOTTI, 1994,
p.63). Ela agrega o que se encontra na mente com alguma coisa associada ao
mundo material, transformando em concreto algo abstrato, o que torna o objeto
compreensível por meio da imagem, fruto dessa associação. Segundo Andrade e
Souza (2008):
A ancoragem se dedica a estabelecer uma correspondência entre idéias
estranhas, categorias e idéias habituais, remetendo as primeiras a um
contexto familiar.
A objetivação estabiliza a representação social dando-lhe status de
realidade. A naturalização da imagem dá-lhe existência real e concreta. A
imagem é aceita como realidade convencional, passando a ser adotada
coletivamente. Esse processo é percebido nos clichês, jargões e em
algumas metáforas (p. 41).
Na “ancoragem”, ocorre a inclusão do objeto numa hierarquia de valores,
consolidando uma rede de significações em torno dele. Para Jodelet (1984), a
ancoragem consiste na integração cognitiva do objeto representado sejam idéias,
acontecimentos, pessoas, relações etc. a um sistema de pensamento social
preexistente e nas transformações implicadas”. Segundo Moscovici (1984, p.30),
ancorar é classificar e denominar; coisas que não são classificadas nem
denominadas são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras.
Para Moscovici (1961), os sujeitos e os grupos constroem as representações,
não se apropriando de modo passivo dos fenômenos, que elaboram suas
interpretações, que são influenciadas pelo contexto em que vivem; podendo, dessa
forma, compartilhar com os outros e constituir assim representações sociais. A
representação social é um conhecimento, um saber prático que une sujeito e objeto.
Nela ocorre a constituição do sujeito e a interpretação do objeto. Dessa maneira, o
sujeito que representa constitui a realidade social e, concomitantemente, é
constituído por ela.
Segundo Moscovici, quatro elementos são constitutivos das representações
sociais: a informação, que se relaciona com o que o indivíduo sabe; a imagem,
relativa ao que o indivíduo vê; as opiniões, relativas às suas crenças; as atitudes,
relativas àquilo que sente. Esses elementos servem de guias para a análise da
informação (SÁ, 1995).
Para Jodelet, uma das mais significativas seguidoras de Moscovici, as
representações sociais se apresentam como uma forma de conhecimento social, um
saber do sentido comum, constituindo-se em “modalidades de pensamento prático
orientado para a comunicação, a compreensão e o domínio do entorno laboral,
social, material e ideal” (JODELET, 2001, p.21). Com efeito, as representações
sociais são, ao mesmo tempo, produtos e processo de uma atividade de apropriação
de uma realidade externa e de elaboração psicológica e social dessa realidade.
Prossegue Jodelet (2001):
São conhecimentos espontâneos, ingênuos, intuitivos, que geralmente se
denomina “senso comum”, distinto, dentre outros, do conhecimento
científico.
Por sua importância, pelos conhecimentos que acrescenta aos processos
cognitivos e às interpretações, as representações sociais têm sido
consideradas como um objeto de estudo tão legítimo quanto o
conhecimento científico (p.22).
Esta classe de conhecimentos é construída pelos sujeitos a partir de suas
experiências e, também, como se trata de um conhecimento socialmente elaborado
e compartilhado sugere, por exemplo, a partir de informações, modelos de
pensamento que são recebidos e transmitidos através da tradição e da
comunicação social. Pode-se observar, de acordo com a argumentação de Jodelet,
que uma representação social não é uma reprodução passiva de um exterior em um
interior, mas sim que nela participa também o imaginário individual ou social como
representação mental de alguma coisa.
Alves-Mazzotti (1994) pronuncia-se a respeito da transmissão de
conhecimentos e da importância das interações sociais, que consolidam as teorias
do senso comum e a noção de pertencimento, uma vez que as representações
sociais elucidam o processo de criação , orientando o comportamento dos indivíduos
e formando novas representações. Segundo a autora:
Estas interações sociais vão criando “universos consensuais” no âmbito dos
quais as novas representações vão sendo produzidas e comunicadas,
passando a fazer parte desse universo, não mais como simples opiniões,
mas como verdadeiras “teorias” do senso comum, construções
esquemáticas que visam dar conta da complexidade do objeto, facilitar a
comunicação e orientar condutas. Essas “teorias” ajudam a forjar a
identidade grupal e o sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo (p.
60).
Para Oliveira (1998),
as representações sociais se estruturam em torno de
três componentes fundamentais: a atitude quanto ao objeto, a informação sobre o
objeto e o campo de representação no qual se organizam, hierarquicamente, uma
série de conteúdos. Em relação a esses três componentes, fundamentais para a
estruturação das representações sociais, esclarece o autor:
A atitude é o elemento afetivo da representação, manifestando-se como a
disposição mais ou menos favorável que tem uma pessoa quanto ao objeto
da representação; expressa, portanto, uma orientação avaliativa relativa ao
objeto e imprime caráter dinâmico, orientando o comportamento quanto ao
objeto representado, dotando-o de reações emocionais de diversas
intensidades e direções.
A informação é a dimensão que refere os conhecimentos em torno do objeto
de representação; sua quantidade e qualidade variam em função de vários
fatores, dentre eles a correspondência grupal e a inserção social, pois o
acesso às informações está sempre mediatizado por ambas variáveis.
Também possui forte capacidade de influência a proximidade ou a distância
dos grupos sociais a respeito do objeto de representação e das práticas
sociais em torno deste (p. 85-86).
o campo de representação sugere a idéia de “modelo” e se refere à ordem
dos conteúdos representacionais, que se organizam em uma estrutura funcional
determinada. Estrutura-se em torno do núcleo ou esquema figurativo, que constitui a
parte mais estável e lida das representações sociais. Ele é composto por
cognições que dotam de significado o restante dos elementos. No núcleo figurativo,
encontram-se os conteúdos de diferentes significados para os sujeitos, que
expressam de forma realística o objeto representado. (OLIVEIRA, 1998)
Faz-se necessário observar um importante preceito teórico da TRS, que
afirma que toda representação é sempre de alguma coisa (objeto) e de alguém
(sujeito, população, grupo social etc). Como deve haver uma relação dialética entre
ambos, (1995, p.43) assinala alguns aspectos metodológicos essenciais para o
estudo das representações:
1) enunciar exatamente o objeto da representação;
2)determinar os sujeitos em cujas manifestações discursivas e
comportamentos se estudará a representação;
3) determinar as dimensões do contexto sócio-cultural onde se desenvolvem.
Assim, se os objetos, as ideias, as teorias, a imaginação cultural, as
condições sociais e fatos significativos são capazes de originar um processo
representacional; de uma maneira geral, é possível afirmar que as representações
sociais se constroem em função das comunicações que circulam no meio social,
assim como as relações e posições que concernem ao indivíduo assumir e ocupar
dentro desse meio. É nelas que se encontram as expressões das crenças, valores,
atitudes, normas e tradições com as quais os indivíduos enfrentam as situações
cotidianas, imprimindo sua marca como seres humanos à história que se constroi a
partir de tais representações.
A TRS é fundamental para se saber como crenças, valores, atitudes,
informações contribuem para a construção das representações sociais de
profissionais da saúde a respeito do condicionamento físico, uma vez que os
comportamentos e a comunicação entre os indivíduos ocorrem diariamente. Por
meio de construções mentais elaboradas no dia-a-dia, por meio da transmissão de
conhecimentos, estruturam-se valores e ideias que orientam o modo de ser, de
pensar e de agir dos indivíduos diante dos fatos. Portanto,é com base nesta
abordagem que, a seguir, será descrita a metodologia adotada para realização do
estudo, assim como os resultados obtidos com os três grupos participante: médicos,
fisioterapeutas e professores de Educação Física.
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, considerando-se que “as
pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que
seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se a
conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado(Apud ALVES-MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER, 2004, p.131).
A pesquisa qualitativa permite ao pesquisador não só desvelar os significados
do comportamento humano através de suas crenças, valores e sentimentos como
também buscar compreender tal comportamento e experiências vividas e
compartilhadas. Turatto (2003) cita Bogdan e Biklen (1994) que assim definem o
objetivo da pesquisa qualitativa:
(...) melhor compreender o comportamento e a experiência humanos (...)
entender o processo pelo qual as pessoas constroem significados e
descrevem o que são aqueles significados. Usam observação empírica
porque é com os eventos concretos do comportamento humano que os
investigadores podem pensar mais clara e profundamente sobre a condição
humana (p.38).
Minayo (1996) trata a pesquisa qualitativa, ratificando a abordagem teórica
dos autores anteriormente citados, fazendo a seguinte colocação:
Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não
pode ser quantificada. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo nas relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (p. 21-22).
Para Bardin (2008), a pesquisa qualitativa pauta-se na presença de certos
elementos na mensagem. A presença frequente ou não frequente permite inferir
sobre determinado tema, ao passo que a ausência de determinados elementos
permite levantar significados tão ou mais relevantes sobre aqueles. Em relação à
caracterização desse tipo de pesquisa, pronuncia-se a autora:
(...) o que caracteriza a análise qualitativa é o facto de a “inferência
sempre que é realizada – ser fundada na presença do índice (tema, palavra,
personagem, etc.!), e não sobre a frequência da sua aparição, em cada
comunicação individual” (p.140, 142).
Gamboa (1995), afirma que as novas alternativas de pesquisa precisam
superar a tensão entre o quantitativo/qualitativo, privilegiando as reflexões
conceituais que situam a epistemologia como “estudo crítico dos princípios, das
hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinadas a determinar sua
origem lógica, seu valor e seu alcance na qual “admitem-se diversas formas de
fazer pesquisa” (p. 68 – 80).
A escolha pela pesquisa qualitativa baseia-se no fato de que ela possibilita ao
pesquisador mais condições e mais elementos como suporte para analisar as
peculiaridades dos profissionais da saúde em relação ao condicionamento físico.
3.1 A coleta de dados
Para melhor fundamentar a pesquisa qualitativa, a coleta de dados baseou-se
em entrevista individual e semi-estruturada, visando investigar os modos de sentir,
de pensar e de agir de profissionais da saúde sobre o condicionamento físico, bem
como identificar crenças, atitudes e valores que os diferentes grupos têm em relação
ao CF.
Segundo Ludke e André (1986), a técnica da entrevista “desenrola a partir de
um esquema básico, porém não aplicado rigorosamente, permitindo que o
entrevistador faça as necesárias adaptações.” (p.34). A entrevista permite uma
grande interação entre o pesquisador e o entrevistado, possibilitando ao
entrevistado, possibilitando ao entrevistado discorrer sobre o tema, evidenciando
suas experiências, crenças, sentimentos, opiniões, sugestões e seus valores. Para
Ludke e André (1986), “(...) a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é
que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada,
praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos.”
(.34)
Foram selecionados 24 (vinte e quatro) entrevistados da área de saúde,
divididos em três grupos, entre os quais: oito médicos com especialidades diversas
(Cardiologia, Ortopedia e Traumatologia, Clínica geral, Endocrinologia, Cirurgia
Vascular, Cirurgia de tórax, Pneumologia e Psiquiatria); oito fisioterapeutas, alguns
atuando em clínicas de reabilitação, outros atuando em clubes e, ainda, alguns
exercendo atividade paralela em cursos de graduação de Educação Física ou de
Fisioterapia; oito professores de Educação Física, alguns ministrando aulas em
escolas públicas, particulares, universidades federais e/ou faculdades particulares;
outros, somando atividades em clubes esportivos. Todos trabalham na cidade de
Juiz de Fora-MG. Os profissionais dos grupos selecionados contam com mais de
quinze anos de profissão. Dos professores de Educação Física, há dois participantes
com graduação também em Fisioterapia, exercendo as atividades de professor e,
paralelamente, a de fisioterapeuta, ambos somando experiência profissional de mais
de 30 anos.
Em relação ao número de participantes de cada grupo, é conveniente aqui
explicar esta escolha. A idéia inicial foi obter os dados por meio de grupos focais,
para que os participantes de cada especialidade pudessem debater. O número de
oito seria uma adequação à técnica do grupo focal. Porém, devido à carga elevada
de trabalho dos convidados e dificuldade em conciliar horários, tornou-se impossível
formar grupos de discussão. Foi então mantida a proposta de oito participantes por
categoria profissional, porém com os dados obtidos por meio de entrevista
individual.
As entrevistas (Anexo 1) foram realizadas no semestre de 2009, gravadas
e posteriormente transcritas. Às vezes, algum entrevistado mostrava-se pouco à
vontade ao se lembrar de que a entrevista estava sendo gravada (embora isto
tivesse sido informado e acordado com o entrevistado); entretanto, isso não os
impediu de responderem atentamente às perguntas. Importante ressaltar que os
participantes se entusiasmaram ao responder as questões propostas, considerando
a pesquisa uma contribuição multidisciplinar para a área da saúde
3.2 A análise dos dados.
As entrevistas foram analisadas com base na análise de conteúdo temática
(BARDIN, 2008), por possibilitar melhor compreensão das características presentes
nas peculiaridades de diferentes discursos e de várias formas de comunicação, nem
sempre notadas explicitamente na mensagem. Este procedimento permite
ultrapassar as fronteiras do aparente bem como inferir sobre conhecimentos de
natureza biopsicossocial.
A princípio, o material obtido foi lido várias vezes para realizar o que Bardin
(2008) denomina “leitura flutuante”, a qual permite ao pesquisador apreender
elementos fundamentais dos discursos para, em seguida, articulá-los em uma
sequência capaz de dar significado global ao conteúdo das entrevistas.
Desse modo, tornou-se possível captar as opiniões, os julgamentos e as
crenças expressas por meio da observação atenta do discurso, podendo-se inferir
conclusões sobre os depoimentos e as mensagens emitidas pelos sujeitos. Para
(BARDIN, 2008): “A intenção da análise de conteúdo é a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de
recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)” (p.40).
Dentre as modalidades de análise de conteúdo, adotou-se aqui a análise
temática. Para a mesma autora, esta análise significa descobrir núcleos de sentidos
da comunicação. O tema seria “unidade de significação que se liberta naturalmente
de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria que serve de guia à
leitura.” (Idem, p. 131), indicando valores de referência e modelos de comportamento
presentes ou frequentes, podendo ser significativo para o objetivo proposto na
análise do material. Esta opção metodológica seilustrada a seguir, na análise dos
dados.
CAPÍTULO 4
ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS
Neste capítulo, pretende-se descrever a análise e comentar os resultados
com base na inferência de temas-chave, categorias e subcategorias propiciados pela
análise temática. Para facilitar o entendimento, foram construídas tabelas com este
conteúdo (temas-chave, categorias, subcategorias) consideradas elucidativas para
investigar representações sociais de profissionais da saúde a respeito de
condicionamento físico. Em seguida, para cada grupo, será proposto um modelo de
núcleo figurativo da representação social sobre o tema.
Para os três grupos - médicos, fisioterapeutas e professores de Educação
Física foram propostos os mesmos temas, apreendidos e inferidos através de
“núcleos de sentido”, captados através da leitura das entrevistas. Os três temas
estão articulados entre si: “Condicionamento Físico: Dimensão biopsicossocial”;
“Condicionamento sico: Falta de Consenso na Área”; “Condicionamento Físico:
Motivação”. A seguir, serão expostos e comentados os resultados de cada grupo,
buscando-se observar aproximações e diferenças por meio do núcleo figurativo da
representação investigada.
4.1 Análise temática: Grupo de Médicos.
A Tabela1 sintetiza as categorias inferidas no tema “Condicionamento
Físico: Dimensão Biopsicossocial”.
TABELA 1 TEMA 1: Condicionamento Físico: Dimensão Biopsicossocial
(N=ocorrências) Grupo de Médicos.
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Atividade Física
Físico
“...menor risco cardiovascular.”
“prevenção de doenças físicas e mentais”
“... harmonia orgânica... tudo para que
uma pessoa viva melhor, saudável e com
mais longevidade.”
7
“...é a prática de exercícios para melhorar
o organismo como um todo.”
3
Psicológico “...controle da ansiedade e melhora do
humor.”
“...cuidar do corpo o melhor possível evita
problemas de saúde
3
Social “...estar bem com nosso corpo...
aproveitar o máximo possível, de acordo
com a faixa etária: jogar futebol, andar de
bicicleta, fazer trilha etc.”
3
“...exercer as atividades do dia-a-dia e ter
a doença controlada.”
1
Fonte: Entrevistas.
Neste grupo, apesar de as dimensões social e psíquica não serem
negligenciadas, percebe-se que o condicionamento físico adquire um sentido mais
ligado à dimensão clínica, prevenindo doenças; devendo, em decorrência disso, ser
realizado com certo cuidado:
(...) Fazer Exercícios Físicos de forma irregular cria um descontrole, um
descompasso entre o sangue que o pulmão recebe do coração e o sangue
que o coração recebe dos outros órgãos (...) desregrar faz com que os
órgãos sofram” (Participante 1).
“(...) se a gente tivesse uma população com atividades físicas regulares e
Condicionamento físico adequado, teríamos uma população saudável, o
precisando de tratamento, exercendo apenas a prevenção” (Participante 6).
Do mesmo modo, Weineck (2004), mencionado no Capítulo1, recomenda que
a atividade física deva ser programada segundo os objetivos propostos. Ela deve ter
por finalidade a melhoria do CF. Se feita regularmente e de forma bem orientada,
evita problemas ao organismo e age como fator preventivo.
Outro participante médico discursa sobre o paciente que procura tratamento
para a saúde. Embora se refira a aspectos psíquicos, enfatiza a dimensão biológica,
ressaltando a importância de um trabalho multidisciplinar:
“(...) no ambulatório, a gente baixa resposta a muitos tipos de tratamento
devido à obesidade, à baixa qualidade de vida dos pacientes por falta de
Condicionamento Físico mesmo até por questões depressivas que a gente
sabe que o exercício físico melhora. “( ...)poderá aumentar a interação entre
os profissionais. (...), pois a qualidade de vida esta relacionada não só ao
tratamento médico como a várias coisas... como fazer um trabalho
multidisciplinar” (Participante 8).
Também Dantas (1998) ressalta que a prática da atividade física melhora a
auto-estima. A pessoa tem motivação para se cuidar melhor, incorpora o movimento
da atividade física à vida e dá novo impulso à existência.
No que diz respeito à aparência corporal, Breton (2006) reconhece que
reside o lócus da identidade, do pertencimento sociocultural do ator. Assim, o autor
escreve:
Lugar privilegiado do bem-estar e do parecer bem através da forma e da
manutenção da juventude (frequência nas academias, ginástica, body
building, cosméticos, dietética, etc.), o corpo é objeto de constante
preocupação. Trata-se de satisfazer a mínima característica social fundada
na sedução, quer dizer, no olhar dos outros (p. 78).
Em relação aos benefícios e aos cuidados para a obtenção do
Condicionamento Físico, o médico valoriza a preparação física como quesito
indispensável para se viver bem e manter o corpo saudável; pois, segundo o
participante, não como substituí-lo em caso de problemas, daí a necessidade de
prevenção e cautela. O entrevistado, entretanto, ressalva sobre os cuidados
essenciais, o limite a ser respeitado para a obtenção de CF e alerta:
“O indivíduo com uma boa atividade física vai ficar menos ansioso,
melhorar quadros de humor, vai poder utilizar melhor o corpo com que ele
vai conviver a vida inteira, que é o único que a gente não pode trocar. O
resto tudo a gente troca e o que não estiver funcionando bem repara, o
nosso corpo não tem jeito; então tem que cuidar o melhor possível dele para
evitar problemas. (...) o Condicionamento Físico deve ter limites, respeitar a
faixa etária (...) o Condicionamento Físico exagerado vai trazer mais
malefícios que benefícios (Participante 4).
Nas entrevistas dos participantes médicos, a maioria defende a ideia de que a
busca pelo CF deve englobar um trabalho cuidadoso e multidisciplinar.
Esses profissionais apropriam-se dos conceitos científicos de CF, citados no
Capítulo 1, privilegiando os aspectos: físico, no sentido de que a pessoa consiga ter
uma vida mais saudável; psicológico, enfatizam que a atividade física controla a
ansiedade, melhorando o humor e a saúde em geral. Quanto ao aspecto social,
esses profissionais incluem atividades de lazer relacionadas ao CF. Nieman (1999)
alega que o CF pode ser mensurado de maneira subjetiva. Pessoas engajadas em
atividades naturais como correr, escalar montanhas, esquiar etc., podem se sentir
treinadas fisicamente.
Esses participantes relataram em seus depoimentos que, para eles, o objetivo
maior é que o paciente esteja bem fisicamente. Dependendo da patologia clínica,
quando o paciente consegue realizar o menor esforço como “subir um lance de
escada ou caminhar dentro de casa sem sentir dor”, pode ser considerado uma
conquista, um CF satisfatório. Nesse caso, o que importa é amenizar a dor e o
sofrimento do paciente. O CF não está voltado para competições ou para a obtenção
de um físico musculoso. Ele tem função paliativa. Pode-se observar uma distorção
quando se compara o que apregoam os fisiologistas a respeito do treinamento
regular, capaz de desenvolver resistência, força e flexibilidade para resistir às tarefas
e desafios inesperados que venham a ocorrer no dia-a-dia com a apropriação do
conceito de CF interpretado pelos profissionais médicos. Para eles, o CF deve
priorizar a prevenção clínica.
Como foi citado, anteriormente, a TRS tem na face indissociável da
objetivação e da ancoragem a integração da novidade que atua como alicerce da
representação social.
Para Alves-Mazzotti (1994), a objetivação apresenta fases como a construção
seletiva e a descontextualização de elementos teóricos em que as informações
circulantes sobre o objeto, em função de critérios culturais, sofrem triagem. Ocorre a
apropriação de informações como fatos inerentes ao próprio universo e, com efeito,
o domínio das mesmas.
A formação do núcleo figurativo é a fase em que se estrutura a
esquematização do conceito teórico imaginado e coerente, individualmente, e em
suas relações.
A terceira fase da objetivação é a naturalização onde se concretiza o núcleo
figurativo, coordenando cada um de seus elementos, tornando-os “seres da
natureza”.
A estabilidade do núcleo figurativo orienta percepções e julgamentos sobre a
realidade, preparando caminho para a ancoragem. Na pesquisa, pode-se notar a
dimensão clínica como construção seletiva relativa ao CF, produzindo uma visão
distorcida significante desse objeto.
A ancoragem compreende o enraizamento social da representação e de seu
objeto. Refere-se aos processos de classificação e rotulação (MOSCOVICI, 1984) os
quais implicam o estabelecimento de uma rede de significações ao redor do objeto,
relacionando-o a valores e práticas sociais, partilhadas pelo grupo. A ancoragem
imprime sentido ao objeto, tornando-o familiar. Para os entrevistados médicos, o
enraizamento da ancoragem está na prevenção da saúde.
Com referência à ideia de longevidade, lembrada por esses participantes,
pacientes que adoecem e têm o hábito de praticar atividade física desenvolvem
maior resistência para vencer os obstáculos da doença, quando estão em faixa
etária superior a 50 anos, o que pode ser observado na literatura científica,
particularmente, na teoria de Guyton e Hall (2002), abordada no Capítulo 1.
A tabela 2, com o tema “Condicionamento Físico: falta de Consenso na Área”,
demonstra que os entrevistados preferem delegar o conceito de CF para professores
de Educação Física e fisioterapeutas por considerarem-no um conhecimento mais
técnico. Também ratificam a diversidade de conceituação do termo CF entre os
profissionais da saúde, embora ressaltem que, no sentido global, a ideia de C F é
muito semelhante entre os profissionais.
Acerca da mídia, alguns desses participantes destacam a importância de seu
trabalho quando divulgam informações importantes para a saúde, exibindo
programas educativos. Outros participantes mostram-se céticos, procurando
explicações científicas em fontes especializadas. ainda um grupo que considera
a mídia despreparada para abordar certos assuntos e afirmam que deveria haver
uma assessoria para divulgar informações de interesse público.
TABELA 2 TEMA 2: - Condicionamento sico - Falta de consenso na área
e mídia (N=ocorrências) - Grupo de Médicos.
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Falta de consenso Discussões entre
Especialistas
“Talvez o pessoal mais ligado à área de
EF e de Fisioterapia tenha uma idéia
específica de CF... um conhecimento
mais técnico da parte de CF do que os
médicos.”
1
Controvérsias /
Diversidade
“cada um daria uma explicação um pouco
diferente (...) ao buscar definições
surgem as diferenças”.
2
Confusão ...é muito difícil que se tenha um
consenso ...há um pouco de confusão.”
1
Identidade “...no sentido global é muito semelhante
(...) não, não existe diferença, na
essência não existe diferença.”
4
O quê diz a mídia Importância Educativa
“... divulgação de informações adequadas
(...) estimulam de forma positiva sobre a
saúde, principalmente, em relação às
doenças cardiovasculares”.
“...programas de prevenção de doenças
como: obesidade, diabetes, hipertensão.”
3
Motivadora “...estimula as pessoas a se exercitarem
(...) divulga o que é importante para o
bem-estar geral do paciente.”
2
Despreparada “(...) não mostra de forma consciente,
regrada e motivacional a importância de
se fazer atividade física orientada e
acompanhada por profissionais.”
3
Responsabilidade “...a mídia tem a responsabilidade na
informação (...) ter assessoria
3
Crítica a mídia Ceticismo “Sou extremamente cético com relação à
mídia (...) sempre procuro explicação
científica ou em revistas especializadas
para saber a veracidade das
informações.”
1
Fonte: Entrevistas.
Quanto ao tema “Condicionamento Físico: Motivação” (Tabela 3),
participantes médicos elencam entre as motivações para se buscar o
Condicionamento Físico: a estética, sobretudo quando o indivíduo se sente fora dos
padrões de beleza, deseja perder ou manter o peso. Outro fator, observado por
esse grupo, para a busca do CF está na conservação da saúde. Como terceiro fator
estão os problemas de saúde, sobremaneira, os do trato cardiovascular. Um dos
entrevistados depõe e comenta o assunto:
“(...) mexo muito com o idoso. Meu objetivo é melhorar a performance
cardíaca dele e como mexo com pacientes que tem doenças arteriais, o
Condicionamento Físico dele, ou seja, o exercício físico que ele vai praticar
visa muito em criar rede colateral de circulação (...) não quero que ele corra
40KM, 20 KM, eu quero que ele ande 1 KM sem sentir dor no pé. (...) às
vezes condicionar um paciente para que ele consiga andar dentro de casa
sem sentir dor” (Participante 3).
Assim as motivações podem diferir, mas os profissionais entrevistados
direcionam para a saúde a representação social do CF. As academias de ginástica
são apontadas como ponto de referência onde as pessoas buscam CF, pois a
prática de exercícios físicos visa à melhoria da saúde. Atualmente, este espaço
facilita a frequência dos praticantes para a atividade física devido à flexibilidade de
horário.
TABELA 3TEMA 3 – Condicionamento Físico – Motivação (N= ocorrências)
Grupo de Médicos.
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Motivações Estética “...fazer atividade física quando se sente
fora dos padrões de beleza(...) motivação
estética e manutenção de peso.”
4
Saúde “...deveria ser o principal motivador de
cada indivíduo.”
3
Doença “...preocupação com doenças
cardiovasculares(...)falta de ar,
obesidade, diabetes descontrolada.”
“... muitas vezes a doença que a pessoa
tem precisa de exercício físico.”
3
Academias de
ginástica
“ ...auxilia positivamente na pratica de
exercícios físicos regulares (...)
principalmente aqueles que têm tempo,
estimulam a busca por uma qualidade de
saúde melhor.”
3
Flexibilidade de
horário
“...oferecem horários mais flexíveis e
instalações apropriadas para melhorar a
performance física.”
2
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Motivações Referência “... ponto de referência das pessoas que
querem buscar um CF na atual
sociedade.”
1
Prevenção “...tem academias voltadas para a
prevenção de doenças, mas apenas 30%
buscam o CF.”
2
Obsessão corpórea pode causar um transtorno dismórfico
corporal no indivíduo.”
3
Fonte: Entrevistas.
Um dos participantes do grupo alerta quanto ao risco do Condicionamento
Físico, quando se torna uma obsessão corpórea, podendo levar a um transtorno
dismórfico.
No conjunto da análise dos três temas, os médicos entrevistados
evidenciaram em seus discursos, com referência ao que consideram
Condicionamento Físico, acepções como “preventivo contra doenças físicas e
mentais”, “melhor funcionamento do organismo”; “disciplina regular de exercícios
físicos”, “bom humor”, “harmonia orgânica”, “longevidade”, “equilíbrio
biopsicossocial”.
Ao observar tais acepções, percebe-se que a imagem sobre condicionamento
físico deixou de ser abstrata, materializou-se, tornando-se expressão real,
verdadeira, concreta, direta, compreensível. O conceito transformou-se, pois,
segundo as idéias colhidas, em um núcleo figurativo que, de acordo com Moscovici
(2003), constitui uma base estável em torno da qual é possível construir uma
representação social. A Figura 1 ilustra um modelo que expressa indícios do núcleo
figurativo da representação social deste grupo em relação a condicionamento físico.
Figura 1: Núcleo Figurativo – Grupo de Médicos.
NÚCLEO FIGURATIVO
CONDICIONAMENTO
FÍSICO
DIMENSÃO CLÍNICA
-
LONGEVIDADE
-
DISCIPLINA E
REGULARIDADE NOS
EXERCÍCIOS.
-
MANUTENÇÃO DO
PESO CORPORAL.
-
HARMONIA ORGÂNICA
- MELHORA DO HUMOR
-
PREVENTIVO CONTRA
DOENÇAS.
-MELHOR
FUNCIONAMENTO DO
ORGANISMO.
-EQUILÍBRIO
BIOPSICOSSOCIAL.
Fonte: Entrevistas.
Estas imagens: disciplina, bom humor, harmonia orgânica e equilíbrio
biopsicossocial se estruturam em torno do núcleo figurativo que dota de significação
o objeto “condicionamento físico”.
4.2. Análise Temática: Grupo de fisioterapeutas.
A tabela 4 ilustra a análise de conteúdo temática “Condicionamento Físico:
Dimensão Biopsicossocial”, extraída das entrevistas dos fisioterapeutas.
TABELA 4 - TEMA 4: CONDICIONAMENTO FÍSICO: Dimensão Biopsicossocial
(N=ocorrências) Grupo de Fisioterapeutas
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Atividade física
“(...) condição que o corpo apresenta
em resposta a uma exigência física.”
6
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Atividade física
Físico
“(...)o trabalho postural traz a
flexibilidade.”
“(...) diminuição da dor; redução da
fadiga muscular; diminuição do
colesterol; previne hipertensão e
doenças em geral...traz bem-estar,
maior disposição para as atividades da
vida diária.”
2
6
Produtividade “produtividade durante longo período
da vida, inclusive com qualidade de
vida.!
1
Equilíbrio orgânico e
funcional
“...capacidade de desenvolver uma
função mantendo o sistema
cardiorrespiratório sem alteração muito
elevada.
3
Benefícios Psicológico “...as pessoas querem saúde não só
como ausência de doenças, mas como
a melhor maneira de vivenciar todos
os momentos com plenitude.
“...pessoas mais velhas buscam mais
qualidade de vida.”
8
6
5
Social “...melhora a qualidade de vida como
um todo, menos estresse, maior
4
rendimento pessoal
Fonte: Entrevistas.
Os fisioterapeutas entrevistados veem o Condicionamento Físico como um
trabalho gradual tanto para atletas quanto para não atletas. Percebe-se que, para
este grupo, o CF se faz gradativamente, por meio de exercícios regulares,
objetivando resultado em longo prazo no que se refere à produtividade e ao
movimento.
“(...) que o indivíduo possa produzir durante um longo período da vida com
produtividade, inclusive com qualidade de vida” (Participante 15).
“(...) o movimento é (...) a célula, o início o ponto de partida para qualquer
CF” (Participante 15).
Entre as vantagens físicas e psicológicas, propiciadas por CF, expressa o
fisioterapeuta:
“(...) estando bem condicionado o sistema cardiorrespiratório, associado ao
sistema muscular atuam sincronizados (...) estão em harmonia”
(Participante 9).
“(...) mais disposição para as atividades da vida diária (Participante 9).
“(...) O trabalho postural traz grande flexibilidade (...) melhora a qualidade de
vida como um todo (Participante16).
Em relação ao tema “Falta de Consenso na Área e Mídia” (Tabela 5), os
entrevistados percebem controvérsias sobre a conceituação de Condicionamento
Físico, embora concordem que, se houver, a diferença é pequena.
Os participantes da pesquisa, acerca da mídia, afirmam que:
“(...) presta um serviço muito aquém (...) ocorre o risco de recortar, de
fragmentar o assunto (...) visa à venda de produtos no intervalo de
entretenimento” (Participante 17).
“(...) nem sempre a pessoa que vê a imagem de um corredor pode fazer o
mesmo. O Condicionamento Físico precisa ser trabalhado” (Participante 11).
TABELA 5 TEMA 5: Condicionamento Físico Falta de consenso na área e
mídia (N=ocorrências) Grupo de Fisioterapeutas.
CATEG
O
RIA
SUBCA
TEG
O
RI
A
EXEMPLOS
N
Falta de consenso Controvérsias /
diversidade
“...cada profissional vê CF sob seu viés.”
“... um olhar específico de cada
profissão.”
6
Interação “...ainda falta conciliar os profissionais
da saúde.” 3
Semelhança “CF seria a mesma coisa para todos os
profissionais da saúde”
Mínima “..Se houver é pequena e, muitas vezes,
por desconhecimento e falta de
utilização de conceitos.”
5
Positivo “Acho que há (...) o profissional que
melhor responde a essa pergunta hoje é
o profissional de EF.”
3
O que diz a mídia
Objetividade “...as informações estão sendo muito
claras.” 3
Crítica à mídia Restrição “Ela é importante, mas também
preocupante pelo modo como os leigos
realmente veem e se posicionam
4
CATEGORIA
SUBCAT
EGORIA
EXEMPLOS
N
Crítica à mídia Desserviço “...ela recorta uma informação acerca de
qualquer assunto relacionado à
saúde.(...) falta informação para mostrar
como realmente funciona e o que é
buscar CF.”
4
Fonte
“...é necessário conhecer a origem
das
informações veiculadas pela mídia.” “(...)
corre o risco de fragmentar o assunto.”
3
Omissão
“...é ausente em mostrar ao público o
que é realmente o CF, a sua
importância, os benefícios que ele traz
às pessoas.”
2
Ética “ pode contribuir quando não fragmenta
a notícia, se for ética na maneira de dar
uma notícia científica
1
Lucro “...visa à venda de produtos no intervalo
de entretenimento.
2
Fonte: Entrevistas.
Conforme foi colocado na Introdução da pesquisa, segundo Castro (2001), a
mídia encontra-se presente no dia-a-dia dos sujeitos, transmitindo novidades,
informações, revelando tendências e comportamentos.
Os participantes fisioterapeutas consideram preocupante o modo como as
informações são veiculadas para o público, visto que recortes em matérias podem
prejudicar ou confundir os indivíduos. Fazem restrições ao papel prestado pela
mídia, alegando que ela presta “um desserviço” à população.
Pensa-se que a mídia em muito poderia ajudar na conscientização para a
necessidade de se praticar atividades físicas sistemáticas. A opinião de especialistas
na área de saúde daria maior credibilidade às informações.
Em relação ao tema “Motivação”, a Tabela 6 relacionou os fatores
motivacionais para a busca do CF. Entre eles, os entrevistados citaram: a estética, a
saúde, as atividades sociais e as academias de ginástica para a busca de um CF.
“(
...) se a pessoa tem um bom Condicionamento Físico, teoricamente, vai
ter uma boa performance física” (Participante 9).
“(...) combate o estresse, previne doenças” (Participante 9).
O primeiro fator motivacional ( ...) é a incapacidade, quando a gente não
tem a capacidade de fazer determinada atividade que nos interessa a gente
acaba buscando por ela (...) Além da incapacidade acho que inclui também
os fatores sociais, o Condicionamento Físico é importante e nos possibilita
realizar várias atividades sociais que lançam mão do Condicionamento
Físico como prática esportiva coletiva que é extremamente importante para
muitas pessoas” (Participante 10)
Sobre as academias de ginástica, apreendida como uma das subcategorias
motivacionais, grande parte dos entrevistados acredita que elas estão mais voltadas
para a parte estética, pois procuram atender aos anseios dos praticantes no culto ao
corpo e na perfeição da forma, quando priorizam a beleza e relegam à saúde um
lugar secundário.
“(...) a pessoa usa mais a parte estética (...) porque a maioria das pessoas
que buscam isso quer ter corpo bonito, né, (...) as pessoas mais, no caso, a
idade (...) as pessoas mais velhas um pouco, buscam mais qualidade
de vida” (Participante 16).
Outros fisioterapeutas não veem as academias como influenciadoras para se
buscar CF. Um fisioterapeuta entrevistado opina:
‘”Olha, eu não acredito que academia influencia ninguém a fazer atividade
física. Quem entra pra academia, entra preocupado a ganhar alguma
coisa, ou é viciado em academia, ou gosta de fazer uma atividade
física, que nem todo mundo que é atleta gosta de academia. Então são
tipos diferenciados, tem gente que é um desportista, que gosta de fazer
uma atividade física, mas não gosta de praticar exercício em academia”
(Participante 14).
TABELA 6 –TEMA 6 – Condicionamento Físico – Motivação (N=ocorrências)
Grupo de fisioterapeutas.
CATEGORIA
SUBCATEGORI
A
EXEMPLOS
N
Motivações
Saúde
“...
as pessoas que
rem saúde não só como ausência de
doenças, mas como a melhor maneira de vivenciar todos
os momentos da vida com plenitude.”
6
Prevenção “...previne doenças; combate o estresse; melhora
a qualidade de vida.”
3
Estética “...pessoa bem condicionada, esteticamente, é
uma pessoa apresentável”
5
Obesidade “...ter um padrão de vida melhor” 1
Qualidade de vida “...pessoas mais velhas buscam mais qualidade
de vida.”
2
Academias de ginástica
“...não buscam dar CF às pessoas, buscam dar o
corpo que as pessoas almejam(...) relegam a um
segundo plano o CF voltado para a saúde” (...)
modelo estético, modelo social, modelo de
Adônis, modelo utópico de saúde.”
5
Sobrevivência das
academias de ginástica
“... vendem um produto que sofre transformação,
um rótulo constante(...) precisam sempre de algo
novo para viver, para florescer e, muitas vezes,
deixam de lado a essência e a orientação.”
1
Vício/gosto “As academias de ginástica não influenciam
ninguém (...)ou a pessoa já é viciada ou já gosta
1
de fazer uma atividade física.”
Propaganda “...nem sempre corresponde ao que se encontra
dentro das academias de ginástica(...) algumas
não têm profissionais para orientar o indivíduo.”
2
Fonte: Entrevistas.
Entre os participantes fisioterapeutas, observou-se que houve maior
incidência motivacional nas subcategorias “saúde”, “estética” e “academias de
ginástica”, respectivamente. A saúde é vista o como ausência de doença, mas
também como motivação para se buscar uma melhor maneira de vivenciar
plenamente a existência. Na opinião dos entrevistados, a “estética” viria a seguir
como fator motivacional capaz de propiciar boa aparência e aspecto físico saudável.
O grupo cita as academias de ginástica entre os fatores motivacionais para a
busca de um corpo moldado. Entretanto, tecem algumas críticas quanto às
propagandas, nem sempre reais em relação às mesmas. O grupo acredita que as
academias não exercem influência nas pessoas e que os frequentadores ou gostam
do espaço físico ou são viciadas em atividades físicas.
Um dos entrevistados, ex-proprietário de academias de ginástica, afirma que
se manter no mercado é dispendioso, porque se torna necessário substituir,
constantemente, os equipamentos das mesmas por outros de tecnologia mais
avançada. A preocupação com o funcionamento dos equipamentos, muitas vezes,
compromete a atenção que deveria ser dada ao frequentador. Nesse caso, corre-se
o risco de o praticante o ter a devida orientação, podendo comprometer o físico
em virtude de alguma atividade praticada de maneira incorreta ou excessiva.
Nota-se uma contradição relativa à aquisição de CF em academias de
ginástica. De acordo com os entrevistados, elas deveriam incentivar os indivíduos
para a busca do Condicionamento Físico; entretanto, o foco maior está voltado para
a estética, procurando atender às expectativas do frequentador.
“(...) eu acho que a academia veio cumprir uma lacuna que é ah! O
despreparo da população em relação à busca de atividade física orientada,
bem informada e o fato de a população não ter hábitos de vida saudável do
ponto de vista da atividade física, do Condicionamento Físico, a academia
veio suprir essa lacuna, como um grande produto e eu entendo que hoje as
academias colocam o padrão de saúde, o objetivo de saúde mais ligado a
uma estética corporal, ou uma estética social, da moda, algo até efêmero”
(Participante 13).
Os participantes fisioterapeutas ao se apropriarem dos conceitos científicos
de CF, mencionados no Capítulo 1, privilegiaram no aspecto físico a necessidade de
um trabalho postural, a partir do qual o indivíduo adquire flexibilidade, previne
doenças e adquire melhor condição para executar atividades diárias e,
consequentemente, maior produtividade. No aspecto psicológico, relataram que as
pessoas com CF procuram viver plenamente os momentos da vida. E, no aspecto
social, percebem uma melhor qualidade de vida dos praticantes de atividades
físicas.
Os conceitos de CF apregoados por fisiologistas (Capítulo 1) são apropriados
de forma particular e específica. Alguns elementos das informações sobre o objeto
CF são retidos em detrimento de outros menos significativos. Os elementos retidos
se transformam, encaixando-se nas estruturas do pensamento constituídas no
sujeito, adaptando-se a elas na primeira fase da objetivação (OLIVEIRA, 1998).
A segunda fase para a objetivação encontra-se na esquematização
estruturante, onde selecionada e adaptada a informação, acontece a organização
interna para conformar uma imagem do objeto representado de forma coerente e de
fácil expressão, dando lugar à formação do núcleo figurativo (Idem).
A naturalização é o processo onde o núcleo figurativo adquire status
ontológico que o situa como um componente a mais da realidade objetiva, como
resultado da construção social da representação mental. O núcleo passa a constituir
a expressão direta da realidade que lhe corresponde perfeitamente e da qual parece
um reflexo fiel (Idem).
De acordo com Berger (2000), o processo de ancoragem familiariza a
novidade, o desconhecido. Adiciona-os aos conhecimentos pré-existentes do sujeito
ou do grupo, modificando esquemas e acomodando-os, enraizando-os nas
representações sociais, orientando condutas e sendo compartilhado no grupo social
de pertença.
Os fisioterapeutas entrevistados evidenciaram, em seus discursos, como
referência ao CF acepções como: trabalho regular, preventivo contra lesões;
melhoria das funções cardiorrespiratória; melhor qualidade de vida. Tais sentidos
expressam a indissociação entre objetivação e ancoragem cujo núcleo figurativo
constitui a base da representação social que se volta para o tratamento de
patologias. Figura 2 ilustra indícios do núcleo figurativo das representações sociais
deste grupo sobre o tema.
Figura 2: Núcleo Figurativo – Grupo de Fisioterapeutas
NÚCLEO FIGURATIVO
CONDICIONAMENTO
FÍSICO
TRATAMENTO DE
PATOLOGIAS
-
TRABALHO
MULTIDISCIPLINAR.
- CONDIÇÃO DE VIDA
FAVORÁVEL.
- MELHORIA DO
PADRÃO DE VIDA.
- MOVIMENTO.
- PRODUTIVIDADE.
-
TRABALHO GRADUAL.
- PREVENÇÃO DE
LESÕES.
-
MELHORA DA FUNÇÃO
CARDIORRESPIRATÓ-
RIA.
Fonte: Entrevistas.
4.3 Análise temática: Grupo de professores de Educação Física
Na Tabela 7, os professores de Educação Física se referem à dimensão
biopsicossocial do Condicionamento Físico para ilustrar a análise de conteúdo
temática, extraída de entrevistas.
TABELA 7 - TEMA 7: Condicionamento Físico: Dimensão biopsicossocial - N=
(ocorrências) - Grupo de professores de Educação Física
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Atividade física
Físico
“Elevar nossas capacidades funcionais
permitindo regular cada vez mais tarefas
motoras, esportivas diárias.
8
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Atividade física Físico “...mais voltada para a ideia de trabalhar
no sentido de condicionar a dimensão
biológica do corpo.”
1
“O organismo estar adaptado a suportar
e desempenhar melhor as atividades
diárias de maneira equilibrada.
6
“Benefícios cardiovasculares,
respiratórios e prevenção de doenças.”
3
Psicológico
“Desempenha um papel importante em
relação à saúde e à qualidade de vida.”
3
“Influencia as dimensões psicológicas e
sociais do corpo.”
2
“Melhoria do bem-estar físico, social e
psicológico”
5
“Melhoria da auto-estima e imagem.”
3
Social “... pertença a determinado grupo insere
a pessoa no grupo de AF
1
Fonte: Entrevistas.
Em relação à atividade física, nas subcategorias e respectivos exemplos,
pode-se observar maior incidência nos depoimentos dos entrevistados sobre a
elevação da capacidade funcional possibilitando cada vez mais a regularização de
tarefas motoras e esportivas diárias de forma equilibrada.
No aspecto psicológico, mais de 50% dos professores entrevistados
consideram que a atividade física melhora o bem-estar físico, social e psicológico.
No aspecto social, um participante afirma que o pertencimento a determinado grupo
social insere o sujeito no grupo de atividade física.
Quanto ao tema “Falta de consenso na área” (Tabela 8), a maioria acredita
não haver consenso entre os profissionais da saúde sobre o conceito de
Condicionamento Físico, conforme ilustram a tabela e o fragmento abaixo:
Não, não existe um consenso (...) a expressão mais utilizada é phisical
active, ou atividade física, uma grande concepção de Condicionamento
Físico ... pode fazer um esporte (...) exercícios acíclicos (...) essa palavra,
esse Keyword não é muito utilizada dentro das pesquisas envolvendo
exercício físico, atividade física e esporte” (Participante 18).
Para outros participantes, professores de Educação Física entrevistados, a
divergência ocorre em função dos objetivos propostos nas diversas áreas da saúde.
“(...) acho que para o profissional de educação física que vá trabalhar com o
esporte de alto rendimento é um conceito, estar adaptado para aquele
esforço. Acho que para o médico seria estar saudável, estar apto a fazer
atividades diárias. Acho que Condicionamento Físico estaria ligado a parte
atlética, na parte de saúde, acho que um outro entendimento”
(Participante 23).
A respeito da mídia, alguns entrevistados julgam que ela tem na venda de
produtos e na lucratividade um objetivo maior do que realmente o de informar.
“Eu associo a mídia diretamente a venda de produtos. Eu acredito que
quando você quer de fato ter a consciência que você precisa fazer uma
atividade física pra melhorar a sua vida no cotidiano e pra prolongar sua
vida, acho desnecessário a mídia utilizar isso como um fator motivador,
então eu vejo muito mais isso como venda de produto, como marketing e
não como tentativa de conscientizar uma pessoa” (Participante 22).
Entretanto, a maioria se posiciona de maneira favorável sobre a atuação da
mídia face ao Condicionamento Físico. Um participante alerta sobre o que, às vezes,
a mídia exibe acerca do CF. O ideal seria que ela fosse mais cuidadosa com
matérias sobre atividades físicas, pois se houver distorção informativa e a atividade
física for excessiva, tornando-se obsessão por parte do praticante, o que deveria
funcionar como preparação física, desempenho motor, passa a ter efeito oposto; em
vez de desenvolver força, flexibilidade, equilíbrio orgânico passa a sobrecarregar o
organismo, causando problemas à saúde. Um dos professores entrevistados
observa:
“(...) veicular as informações com reservas necessárias e com o alerta para
que não haja distorções (...) a diferença entre o remédio e o veneno é a
dosagem (...) esse princípio poderia ser aplicado ao exercício físico”
(Participante 20).
TABELA 8 - TEMA 8: Condicionamento Físico Falta de consenso na área e
mídia (N= ocorrências) - Grupo de professores de Educação Física.
A Tabela 8 ilustra a opinião, julgamentos e valores detectados na leitura de
entrevistas desse grupo de profissionais, contribuindo para formar as representações
sociais.
CATEGORIA
SUBCATEGORIA
EXEMPLOS
N
Falta de
consenso
Divergência “Há uma linha comum, mas em algum
momento eles divergem quanto ao CF.
2
Equívocos
interpretativos
“sim(...) comumente vimos erros na
interpretação da palavra CF.
3
Diversidade “Para cada profissão alguns fatores são
bem específicos.”
1
Diferença “Não leva em consideração a dimensão
psicossocial do corpo.”
1
Terminologia Não existe consenso. A expressão mais
utilizada e AF ou exercício físico ou
3
esporte.Tudo isso englobando CF.”
O que diz a
mídia
Conhecimento “...disseminar informações à sociedade.” 1
Parceria “...pode ser boa parceira para
profissionais da saúde em geral.”
2
Preponderância “Desempenha papel imprescindível para
que as pessoas possam aderir à AF.”
3
Especialidade “... mídia mais especializada traz
programas sobre CF.”
1
Fonte: Entrevistas.
Em relação ao tema “Motivação” (Tabela 9), entre os fatores motivacionais
citados para a busca de CF, os entrevistados enumeram: a longevidade, a
prevenção, a estética, saúde e as academias de ginástica.
“(.
..) estar com as taxas metabólicas em equilíbrio” (Participante 23).
“(...) muitas pessoas se propõem, por si só, a obter um nível que
consideram adequados de Condicionamento Físico” (Participante 17).
“Sentir bem estar com os outros com os amigos, sentir bem, estar com os
outros, com os amigos, sentir o prazer de realizar atividades que agradam
(Participante 23).
“Buscam melhorar a auto-estima” (Participante 21).
“(...) pertença a determinado grupo insere a pessoa em determinado grupo
de Atividade Física” (Participante 21).
“(...) realização de atividades com o propósito de prolongar a vida”
(Participante 22).
A respeito da influência das academias de ginástica, como elemento
motivador para o CF dos sujeitos, os entrevistados citaram a estética como fator
primeiro para se frequentar as academias.
“(...) é blico e notório que as academias procuram sempre aquela coisa
do corpo perfeito (...) associado a uma beleza estética, então todo mundo,
principalmente no verão quer procurar uma academia voltado para um
resultado imediato (...) em um período curto, sendo que essa rotina, essa
cultura não é discutida dentro da própria academia” (Participante 18).
Ainda, com relação à estética, um professor de Educação Física faz a
seguinte observação:
“(...) se a pessoa entra na academia com um determinado ideal (...) e o
rapaz todo marombado, ele passa a tê-lo como ideal, então não seria a
academia e sim o profissional, aquele profissional que passa a ser levado
em consideração pelo indivíduo com um corpo ideal para ele” (Participante
17).
A idéia do “marombado” parece ser mais forte neste grupo do que nos outros,
não sendo privilegiada a prevenção de doenças e promoção da saúde. A pessoa
“condicionada”, nesse sentido, poderia então incentivar os que se sentem bem
fisicamente e/ou causar constrangimento para o indivíduo que se encontra fora dos
padrões estéticos, valorizados neste meio.
TABELA 9 – TEMA 9 - Condicionamento Físico: Motivação (N =ocorrências)
Grupo de professores de Educação Física
CATEGORIA
SUBCATEGO
RI
A
EXEMPLOS
N
Longevidade “... realização de atividades com o
propósito de prolongar a vida.”
1
Prevenção / saúde “... falta de saúde ou presença de
alguma doença.”
2
Motivações Estética “...preocupação muito grande na
população.”
3
“ênfase principal (...) desde os
primórdios da humanidade, o homem
busca a estética, a beleza.”
4
Academias de
ginástica -
Aderência
“Muitas academias conseguem criar
relação profunda com os
frequentadores
3
Aderência “Muitas academias conseguem criar
relação profunda com os
frequentadores.”
3
Referência “O profissional de EF é visto como
modelo de corpo ideal.”
2
Saúde “(...) o CF passou a ser visto como
elemento de promoção e indicativo de
boa saúde”.
2
Imediatismo “...pessoas inconscientes procuram ter
um resultado de beleza imediato(...)
1
Essa cultura não é discutida dentro das
4
academias.
Fonte: Entrevistas.
Nos depoimentos, as academias de ginástica estão enumeradas entre os
fatores motivacionais para a busca do CF. Cerca de 50% dos entrevistados criticam
a cobiça imediatista pelo CF, sobretudo no verão, quando os corpos ficam mais
expostos. Em maior incidência, 90% dos professores de Educação Física,
participantes dessa pesquisa, elegeram a estética como motivação do sujeito para a
busca do corpo perfeito.
Os professores de Educação Física entrevistados pontuaram, em seus
discursos, como referência ao CF significados como: adaptação orgânica às
solicitações motoras, preparação para a rotina de trabalho, sustentação corporal,
enfrentamento de desafios e remédio, com ênfase para a performance desportiva e
a estética. A Figura 3 ilustra indícios do núcleo figurativo das representações sociais
deste grupo sobre o tema.
Figura 3 – Núcleo Figurativo: Grupo de professores de Educação Física.
Fonte: Entrevistas.
NÚCLEO FIGURATIVO
CONDICIONAMENTO
FÍSICO
PERFORMANCE
DESPORTIVA E
ESTÉTICA
- ENFRENTAMENTO DE
DESAFIOS.
- QUALIDADE DE VIDA
COM SAÚDE E BEM-
ESTAR.
- SUSTENTAÇÃO DO
CORPO.
- REMÉDIO
-
ORGANISMO
ADAPTADO ÀS
EXIGÊNCIAS MOTORAS.
-
PREPARAÇÃO PARA A
ROTINA DE TRABALHO.
Para Andrade; Souza (2008), a objetivação e a ancoragem são processos
inerentes às representações sociais. A objetivação associa algo que se encontra no
plano mental com alguma coisa presente no mundo físico. Pela objetivação ocorrem
as transformações pelas quais passam as informações sobre determinado objeto.
Essas informações são concretizadas, materializando-se em imagens. Através da
ancoragem estabelece-se uma ligação entre ideias e conceitos não familiares a um
contexto familiar. Para Mazzotti (2008, p.129) “Um conceito científico, tornado
representação social, tem seu valor de verdade para o grupo social, atende às suas
necessidades, institui o real para ele”.
Assim, o conceito científico de CF torna-se representação social para o grupo
de professores de Educação Física. Pela apreensão de leitura cuidadosa das
entrevistas buscou-se a objetivação e a ancoragem do objeto CF, tendo por núcleo
figurativo da representação social a performance desportiva e estética.
É importante ressaltar que, na esquematização estruturante, “remédio” atua
como metáfora
13
de ausência de doença, prevenção, bem-estar quando a AF é
orientada e não excede aos limites subjetivos. Caso contrário, ela passaria a ter
significação oposta: seria o veneno que, ao invés do remédio que estrutura o
organismo para desafios, atendendo às exigências motoras, levaria os praticantes a
contrair problemas de saúde, causados pela superdosagem de exercícios. Esse
elemento, remédio, atua pela transferência de significados como representação
social de CF, por tornar-se sistema de valor compartilhado pelo grupo.
4.4 Aproximações e diferenças entre os grupos participantes de pesquisa.
13
Transferência de significados de algo conhecido para o que ainda o se conhece. Ela condensa
uma analogia. (MAZZOTTI; OLIVEIRA, 2002, p.25)
Um dos aspectos que chamaram atenção na análise foi o fato de os três
grupos expressarem uma representação do condicionamento físico que consideram
“ideal”, compatível com o que é mais valorizado pelas categorias profissionais.
Esses resultados confirmam que o que deveria ser um conceito científico consensual
na área da saúde acaba sendo uma norma ditada por determinado grupo social.
Embora nos três grupos seja possível identificar uma visão biopsicossocial do
“condicionamento físico”; pôde-se chegar aos seguintes núcleos figurativos: entre os
médicos, prevalece a dimensão fisiológica / clínica e a prevenção de doenças; entre
os fisioterapeutas, foi mais valorizado o tratamento e a prevenção de patologias e
lesões e entre os professores de Educação Física, a busca de performance
esportiva e de estética. Definições científicas de condicionamento físico, descritas no
Capítulo 2, foram pouco mencionadas nas falas dos participantes, pois como foi
mencionado anteriormente, os grupos se apropriam dos conceitos científicos e
transformam a ideia mental apreendida dos mesmos, materializando-os, para que “o
processo representacional reconstrua a realidade e reproduza certos aspectos da
mesma. Essa reconstrução se a partir de um viés que omite detalhes e
acrescenta outros conforme os interesses do grupo que a constitui”
(ANDRADE;SOUZA, 2008, p. 39).
O que se confirma nas entrevistas dos grupos pesquisados é que, para a
maioria, não existe consenso entre as áreas sobre o conceito de condicionamento
físico. Um profissional fisioterapeuta justifica a falta de consenso, relacionando-a a
atuação de cada grupo de profissionais:
“Não, um consenso não. São áreas diferentes, a definição é diferente (...) o
profissional de Educação Física trabalha com pessoas sadias; o
fisioterapeuta entra com Condicionamento Físico, trabalhando com pessoas
com patologias e o médico só trabalha com patologias” (Participante 16).
Professores de Educação Física creem que não existe consenso, entretanto
argumentam que “há uma linha comum, mas em algum momento eles divergem
quanto ao Condicionamento Físico”. Alguns profissionais médicos afirmam que: ao
buscar definições surgem as diferenças; outros mencionam que uma identidade
global sobre o Condicionamento Físico entre os diversos grupos da saúde: “no
sentido global é muito semelhante (...) na essência não existe diferença”. Porém,
não especificam o que seria esta “linha comum” ou “sentido global”.
Entre os entrevistados, a mídia aparece como importante instrumento de
veiculação de informações sobre condicionamento físico, sendo vista ora de modo
favorável, ora de modo desfavorável. Entre os professores de Educação Física, por
exemplo, embora ela seja valorizada por divulgar programas que mostram os
benefícios do CF; para esses profissionais, a mídia deveria transmitir conhecimentos
por meio de especialistas da área.
Pouquíssimos fisioterapeutas ressaltam o trabalho da mídia de modo
favorável. A maioria opina que ela presta um desserviço quando “recorta uma
informação” ou quando (...) é ausente em mostrar ao público o que é realmente o
Condicionamento Físico, a sua importância, os benefícios que ele traz às pessoas.
Alertam para sua influência sobre os indivíduos, enquanto formadora de opinião,
segundo um dos fisioterapeutas entrevistados: “(...) o que a mídia coloca como ideia
a população abraça.”
Os médicos participantes também se posicionam fazendo grande restrição à
mídia, atribuindo-lhe caracterizações como: “(...) é um pouco despreparada (...) não
mostra de forma consciente, regrada e motivacional a importância de se fazer
atividade física orientada e acompanhada por profissionais”. Mencionam também o
caráter distorcido das informações: “(...) informações deturpadas dentro de temas
importantes (...) dentro da área médica, tudo que chega pela mídia, vem com
distorção”. Um participante da pesquisa declara: “(...) sou extremamente cético com
relação à mídia, sempre procuro explicações científicas (...) para saber a veracidade
das informações”. Outro médico sugere que o trabalho dela em relação ao
Condicionamento Físico “(...) deveria começar desde a infância para a criança
aprender a gostar de esporte, ter um CF melhor, um equilíbrio melhor da saúde”.
Entre os grupos entrevistados, os professores de Educação Física foram os
que mais destacaram a motivação pela estética, com discursos do tipo: “(...) com a
melhora do Condicionamento Físico ocorre a melhoria da saúde e dos padrões
estéticos.” Os fisioterapeutas veem na saúde e na prevenção os fatores mais
importantes para o C F, seguidos da estética e da obesidade. Os médicos também
fazem alusão à estética; destacando, porém, os aspectos ligados à saúde.
Ainda como fator motivacional, as academias de ginástica foram incluídas
como uma das categorias apontadas pelos grupos pesquisados. O pesquisador não
entrevistou professores de academias de ginástica, pois optou entrevistar
professores universitários, por esses trabalharem mais diretamente com conceitos
teóricos. Este grupo elenca a estética como influência maior para a busca de CF:
“(...) muitas (academias de ginástica) conseguem criar relação profunda com os
frequentadores”; ou O profissional de Educação Física é visto como modelo”. Os
fisioterapeutas concordam que estética é o ponto de partida para muitos praticantes
de academias e opinam que elas “(...) não buscam dar Condicionamento Físico para
as pessoas, buscam dar o corpo que as pessoas almejam (...) relegam a um
segundo plano o Condicionamento Físico voltado para a saúde”. O mesmo grupo de
profissionais tece críticas sobre a sobrevivência de academias de ginástica “(...) para
florescer, muitas vezes deixam de lado a essência e a orientação”.
Os espaços sociais dos profissionais são um pouco distintos, isto é, cada
grupo de participantes ocupa um determinado espaço, a saber: os médicos e os
fisioterapeutas atuam em hospitais e/ou clínicas, enquanto os professores de
Educação Física atuam em escolas, clubes ou academias de ginástica. Em
determinadas situações, o médico se torna imprescindível para avaliar se o indivíduo
está apto ou se tem algum problema de saúde que o impede de, por exemplo, entrar
na piscina ou de praticar algum tipo de atividade física. Em se tratando de
recuperação de atletas em clubes, o professor de Educação Física atua de forma
intensa; entretanto, o fisioterapeuta e o médico também se fazem presentes. Dessa
maneira, esses profissionais poderão, em determinadas circunstâncias, ocupar um
espaço comum.
Nesse sentido, a TRS atua de forma análoga às teorias científicas, sendo
teorias de sentido comum, as quais permitem descrever, classificar e explicar os
fenômenos das realidades cotidianas. Apesar de o condicionamento físico estar
inserido no universo profissional das três áreas, as representações sociais sobre o
tema mostraram-se diferentes. Assim, o que médicos, fisioterapeutas e professores
de Educação Física consideram CF “ideal”, parece não se basear em um
conhecimento científico consensual na área da saúde para prescrever este tipo de
atividade. Discursos que abordam, de forma genérica, a prevenção de doenças ou a
busca de performance esportiva e estética, parecem se aproximar mais de um
conhecimento do senso comum que circula socialmente, reforçado e/ou influenciado
pela mídia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo estudar as representações sociais de
profissionais da saúde médicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física
a respeito de condicionamento físico, identificando as aproximações e as
diferenças entre os grupos participantes bem como investigando suas crenças,
atitudes e valores sobre o tema.
Para realização da pesquisa foi escolhido o referencial teórico-metodológico
de Moscovici (1978) sobre representações sociais. Seria relevante aqui destacar um
aspecto sobre a opção por esta teoria, relacionado à adoção da abordagem
processual das RS identificação dos processos de objetivação e ancoragem. A
análise apresentada explicita um núcleo figurativo da representação social a respeito
de condicionamento para cada grupo.
Com base nas entrevistas individuais, pôde-se constatar a importância que as
representações sociais têm na vida das pessoas e dos grupos sociais. Este trabalho
tentou mostrar, com base na análise de conteúdo temática, aspectos marcantes nos
discursos dos profissionais da saúde.
A maioria dos entrevistados veem o CF como uma prática sistematizada de
atividades físicas. Percebem-se em suas falas muitos pontos-de-vista em comum e
algumas discordâncias sobre a conceituação de Condicionamento Físico. Grande
parte dos entrevistados reconhece o papel da mídia e das academias de ginástica
em disseminar a ideia dos benefícios do CF, apesar de nem sempre estarem
embasadas em informações respaldadas por especialistas.
Após a feitura dessa pesquisa, o pesquisador o objeto CF como algo
subjetivo, particular, individual, visto que o mínimo esforço físico conseguido por uma
pessoa, com determinada limitação física, pode ser considerado satisfatório. Pode-
se refletir o CF como inerente aos propósitos e particularidades do indivíduo ou do
grupo. Desse modo, o pesquisador reavalia seus conceitos anteriores sobre CF e
percebe ser imprescindível constante reflexão sobre os conceitos científicos e que
estudar as representações sociais permite descobrir características de uma
sociedade em certo momento de sua história.
As representações sociais, apreendidas através da leitura das entrevistas dos
participantes da pesquisa, como uma modalidade de pensamento prático, sintetizam
a subjetividade social, porque se orientam para a comunicação, para a compreensão
e para o domínio do entorno social. Pela razão de transformarem os fatos e os
sentimentos acerca desses fatos em algo que pode ser explicado, essas
representações podem se transformar também em discursos ideológicos.
Outros pontos foram observados durante a análise das entrevistas. Pode-se
inferir que falta uma interação dos profissionais de saúde para um trabalho
multidisciplinar, a fim de buscar uma definição científica consensual para CF que
fundamentasse as prescrições para o mesmo: seja dirigido a uma pessoa saudável
tentando ganhar resistência, vigor e energia para a realização de tarefas diárias e
ocasionais, envolvendo trabalhos físicos e exercícios além de bem-estar (GUEDES e
GUEDES, 1995; NIEMAN 1999 e ACMS, 1999), seja para um paciente com
problemas de saúde mais graves.
Os resultados mostram que os entrevistados defendem a busca de um
condicionamento físico que consideram “ideal”, porém na maioria das vezes mais
próximo de valores do senso comum do que embasado em conhecimentos
científicos (quando existem não são consensuais, conforme mencionado ao longo
do trabalho), particularmente, os professores de Educação Física.
As representações sociais são criadas em relação a alguém ou a algo. Neste
caso, procurou-se levantar as opiniões, crenças e julgamentos que os grupos de
profissionais da saúde têm a respeito do condicionamento físico, compreendendo
que tais representações são criadas pelos sujeitos e compartilhadas por outros
sujeitos. Observou-se que a maioria dos entrevistados construiu uma representação
de condicionamento físico ideal, classificando-o, por exemplo, como “gerador de
saúde”, “qualidade de vida”, “equilíbrio orgânico”, “bem estar físico e psicológico” ou
ainda como “remédio”. Essa última representação social para CF foi, anteriormente,
explicada. Ela constitui uma metáfora cujo significado estaria ligado à prevenção,
uma “vitamina” para deixar o sujeito condicionado e saudável.
É fundamental dentre as conclusões a que se pode chegar enfatizar a
importância da cultura e da dependência das relações sociais quanto a
determinados grupos sociais.
As representações sociais, portanto, são um conjunto de proposições, de
reações, de avaliações sobre pontos de vista particulares, emitidos pelo coletivo que,
de uma forma ou de outra, nas comunicações e nos discursos, eleva-se acima do
particular.
Assim, observa-se que, da mesma forma que cada indivíduo é parte do
coletivo, deve-se considerar que aquilo que se convenciona denominar de “opinião
pública”, na verdade, envolve esse conjunto sistematizado que se organiza de forma
muito diferente, de acordo com as culturas, as classes e os grupos no interior de
cada cultura. Trata-se, assim, de universos de opiniões bem organizados e
compartilhados por categorias ou grupos de indivíduos, configurando,
provavelmente, sistemas ideológicos.
Outra conclusão possível é que as representações produzem os significados
de que os indivíduos necessitam para compreender, atuar e orientar-se em seu meio
social. Dentro dessa premissa, também se considera que todo homem existe e se
relaciona a partir da linguagem, sendo que ela permite a organização do mundo e,
conceitualmente, considera-se que é a partir da comunicação que se torna possível
estabelecer diferenciações entre objetos, reconhecer tendências e situar-se na
sociedade.
Outras acepções podem derivar das considerações dos autores
apresentados, dentre as quais se evidencia a conclusão de que as representações
sociais são produtos socioculturais, porque procedem da sociedade e porque seu
estudo é capaz de fornecer informações a respeito das características próprias dos
grupos que as assumem e, da mesma forma, as diferenciações necessárias entre
diversos grupos sociais.
Outrossim, não se pode esquecer que as representações sociais são
processos de construção da realidade e, ao mesmo tempo, produtos que intervêm
na vida social como estruturas pré-definidas, que permitem interpretar a realidade e
pensamentos que, refletindo essa realidade, intervêm também na sua elaboração.
Igualmente, as representações sociais constituem uma formação subjetiva,
multifacetária e polimorfa, em que fenômenos culturais, ideológicos e sociais se
manifestam. Simultaneamente, elementos afetivos, cognitivos, simbólicos e
valorativos participam de sua configuração.
Dessa forma, da multiplicidade de noções elaboradas sobre o tema, resulta
impossível estabelecer-se uma síntese definitiva. Apesar de sua diversidade,
observa-se que não são excludentes nem contraditórias as abordagens de vários
autores sobre as representações sociais, visto que todas tendem a complementar-
se.
Espera-se que essa pesquisa possa, de alguma forma, despertar o interesse
dos envolvidos nos campos da educação e da saúde assim como suscitar novos
estudos relacionados ao tema.
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ANEXO
ENTREVISTA
1 – Qual o seu nome? Sua formação profissional?
2 – Para você (senhor)(a), o que vem a ser condicionamento físico?
3 – Para você, ou seja, em sua opinião, o que seria o condicionamento físico para os
diversos profissionais da saúde?
4 – Há entre esses profissionais da saúde alguma divergência quanto à definição de
CF?
5 – Para você (o) (a) senhor (a), existe consenso entre os profissionais da área
quanto à definição de CF?
6 – Quais os benefícios que o CF traz ao indivíduo? E os cuidados necessários para
obtê-lo?
7 – Quais são os principais fatores motivacionais que levam as pessoas a procurar
os profissionais da saúde para a obtenção de CF?
8 – Como você (o) (a) senhor(a) se posiciona quando a mídia veicula informações
sobre CF?
9 – Em que medida os meios de comunicação de massa influenciam os sujeitos a
buscar o CF?
10 – Para você, o(a) senhor(a) como as academias de ginástica influenciam as
pessoas a buscarem CF?
11 – Você o (a) senhor(a) gostaria de acrescentar alguma coisa ao que nós
conversamos?
ABREVIATURAS
- CF – Condicionamento físico.
- TRS - Teoria das representações sociais.
- ACMS – American College of Sports Medicine.
- VO2 max- Volume máximo de oxigênio.
- CP – Fosfato de creatina.
- ATP – Trifosfato de adenosina.
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