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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Campus de Presidente Prudente
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Área de Concentração: Produção do Espaço Geográfico
Linha de Pesquisa: Produção do Espaço Urbano
CENTRO E CENTRALIDADE EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO
Orientador: Prof. Dr. Arthur Magon Whitacker
Kedma Madalena Gonçalves Garcez
Novembro de 2009.
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ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“Júlio de Mesquita Filho”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Campus de Presidente Prudente
Programa de Pós-Graduação em Geografia
Área de Concentração: Produção do Espaço Geográfico
Linha de Pesquisa: Produção do Espaço Urbano
CENTRO E CENTRALIDADE EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Geografia da
FCT/UNESP (Área de Concentração: Pro-
dução do Espaço Geográfico), sob a orien-
tação do Prof. Dr. Arthur Magon Whitac-
ker, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Geografia
Kedma Madalena Gonçalves Garcez
Novembro de 2009.
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Garcez, Kedma Madalena Gonçalves.
G197c
Centro e centralidade em São Luís do Maranhão / Kedma Mada-
lena Gonçalves Garcez. - Presidente Prudente : [s.n], 2009
vii, 123 f. : il.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Facul-
dade de Ciências e Tecnologia
Orientador: Arthur Magon Whitacker
Banca: Doralice Sátyro Maia, Everaldo Santos Melazzo
Inclui bibliografia
1. Espaço urbano. 2. Centralidade. 3. Geografia urbana. I. Autor.
II.
Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Tecnolo-
gia. III. Título.
CDD(18.ed.)910
iv
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coi-
sas. A ele [Jesus Cristo], pois, a glória eternamente. Amém.
Romanos 11: 36
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e vivência geográfica.
A Maria de Lourdes e Daleth, pelo inesgotável amor maternal.
A Ronaldo, Anna Kelita, Natanael e Márcia Daleth, pelo amor e compartilhar
das lutas e conquistas.
Ao meu orientador Arthur, sua competencia e mediação neste processo educati-
vo asseguraram minha possibilidade de aprendizagem e desenvolvimento pesso-
al.
Aos Professores do exame de qualificação: Maria Encarnação Beltrão Sposito e
Raul Borges Guimarães, pelas valiosas e estruturadoras contribuições.
A Igor de França Catalão, pela singular amizade, companheirismo e prontidão
em me apoiar neste mestrado.
A minha amiga e irmã Maria Tavares, pela companhia e apoio, ao Pastor Edson
Borges de Sousa e a Primeira Igreja Batista de Presidente Prudente.
Aos companheiros: Ana Cristina, Sampaio, Silvia, Paula Lindo, Edenis, Aline,
Márcio e Érica, Oséas, Rafael, Karla e Atamis pela amizade durante esta
jornada.
A UNESP/Presidente Prudente Programa de Pós-Graduação em Geografia em
seus Dirigentes, Funcionários e Colegas da turma de 2006, pelo elevado padrão
científico.
A UEMA em seus Dirigentes, Professores do Departamento e História e
Geografia, pelo compromisso com expansão de uma educação de qualidade e
geradora das transformações sociais necessárias ao nosso tempo.
A Jalmir, Erick e Eliane pelo apoio indispensável em momentos trabalhosos.
Agradeço especialmente a Eliene Batalha, Jorge Passos, Samira Rabani, Fabiana
Cordeiro, Marcos Araújo e Érica Garreto que cooperaram decisivamente para a
liberação de dados importantes para as reflexões construídas na dissertação.
vi
SUMÁRIO
ÍNDICE vi
RESUMO viii
ABSTRACT ix
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO 1- CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE NA
PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO 7
CAPÍTULO 2 – SÃO LUÍS: Cidade monocêntrica ou cidade policêntrica? 48
CAPÍTULO 3 – O NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE: formação e
transformações 880
CONSIDERAÇÕES FINAIS 105
REFERÊNCIAS 110
APÊNDICE 117
vii
ÍNDICE
ÍNDICEÍNDICE
ÍNDICE
ÍNDICE vii
RESUMO viii
ABSTRACT ix
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO 1- CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE NA
PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO 7
1.1 São Luís: um olhar sobre a produção do espaço colonial a partir das atividades de
comércio e serviços 18
1.2 Marcos histórico-geográficos para discussão do centro e centralidades em São
Luís 29
CAPÍTULO 2 – SÃO LUÍS: Cidade monocêntrica ou cidade policêntrica? 48
2.1 Alguns elementos socioespaciais de São Luís após 1950 para a discussão... 54
2.2 Área central de São Luís: a expressão territorial a partir das atividades de
comércio e serviços 62
2.3 Discutindo outras formas de expressão da centralidade 72
CAPÍTULO 3 O NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE:
formação e transformações 90
3.1 O uso do solo urbano no núcleo da área central 96
CONSIDERAÇÕES FINAIS 1057
REFERÊNCIAS 112
APÊNDICE 117
viii
RESUMO
Discutir a dinâmica da centralidade urbana em São Luís de ontem e de hoje foi a questão nortea-
dora da dissertação. De ontem, a partir da espacialização das atividades de comércio e serviços
em dois marcos histórico-geográficos, buscando a formação, sustentação ou fragmentação da
centralidade urbana no centro da cidade. E de hoje, com a tentativa de identificação de determi-
nantes históricas e econômicas que comparecem no recorte analítico do núcleo da área central ou
o core, definida por sua diferenciação no conjunto da cidade pela concentração do capital produti-
vo e que torna visível a predominância dos equipamentos urbanos públicos e privados de gestão
ou controle, a forte especialização do uso do solo para as atividades de comércio e serviços, a
convergência da fluidez de produtos, informações e dos transportes. Desse modo, o objetivo
desta dissertação é contribuir para análise da produção do espaço urbano de São Luís, articulando
a formação histórica da centralidade urbana aos processos espaciais determinantes, a partir da
distribuição das atividades de comércio e serviços, identificando no uso do solo urbano suas ten-
dências, tendo como foco o núcleo da área central. Trabalhamos com bancos de dados da Dele-
gacia da Receita Previdenciária em São Luís, da Associação Comercial do Maranhão e do Cadas-
tro Empresarial do SEBRAE, em São Luís MA. A pesquisa permitiu encaminhamentos sobre
quantos e onde estão os equipamentos urbanos relativos a essas atividades de comércio e serviços
na cidade, a seleção de variáveis importantes para a análise e o tratamento dos dados. A etapa
seguinte culminou com uma pesquisa de campo no core da Área central, que reúne as quatro ruas
que concentram as atividades comerciais e de serviços: a Rua do Sol, a Rua da Paz, a Rua Grande,
a Rua de Santana, tendo como limites a Praça Deodoro, ponto de convergência de 90% dos
transportes coletivos, e a Praça João Lisboa. O estudo apontou uma importante concentração
espacial em São Luís no centro principal, na qual a centralização das atividades de comércio e
serviços expõe uma desigual distribuição espacial dessas atividades e sustentam a multicentralida-
de em São Luís MA, ainda que processos de desconcentração e descentralização estejam o-
correndo.
Palavras-chave: Produção do espaço urbano; Centralidade urbana; Centro principal; Centros
secundários; São Luís.
ix
ABSTRACT
The main question of this dissertation was to discuss the dynamics of urban centrality in São
Luis yesterday and today. From yesterday, starting from the spatial distribution of trade activi-
ties and services in two historical and geographical landmarks, formation, support, fragmenta-
tion or even degradation of urban centrality in the city center was searched. And today, in an
attempt to identify historical and economic factors that show up in the analytical approach of
the core area which is defined by its differentiation throughout the city by the concentration of
productive capital that makes the predominance of public and private urban equipments of
either management or control, the strong specialization of land use for trade activities and
services, the convergence of products and information flow and transport visible. This way,
the objective of this study is to contribute to the analysis of the spatial configuration of São
Luis, by articulating the historical formation of the urban centrality to the spatial processes
determinants, from the distribution of trade activities and services, identifying the urban land
use trends, focusing on the core area. We have worked with the database of the Social Wel-
fare Department in São Luis, the Commercial Association of Maranhão and the SEBRAE
Business Register in São Luís MA. The research has allowed referrals on how many and
where are the urban equipments for such trade and services activities in the city, the selection
of important variables for the data analysis and treatment. The next stage led to a field re-
search in the core area of the city that gathers the four streets that concentrate the commercial
activities and services: Rua do Sol, Rua da Paz, Rua Grande, Rua de Santana, which are li-
mited by the João Lisboa Square and the Deodoro Square, a convergence point of 90% of the
public transportation. The study has found a significant spatial concentration in São Luis,
where the centralization of trade and services activities exposes an unequal spatial distribution
of these activities and supports the monocentrality in Sao Luis, even though processes of dis-
sipation and decentralization are already occurring.
Key words: Urban centrality; urban center; spatial configuration; spatial processes; second-
ary centers; Sao Luis.
1
INTRODUÇÃO
A cidade de São Luís se constitui num amplo campo de investigação científica se
considerarmos, entre outros, o processo socioespacial de formação e produção do seu espaço
urbano. Os três séculos e meio de permanência de uma organização espacial fortemente con-
centrada e as expansões do tecido urbano nas últimas quatro décadas trazem importantes con-
teúdos que carecem, também, de uma inadiável análise geográfica. Do enveredar nessa te-
mática concomitante com minha integração em um programa em nível de pós-graduação, cuja
área de concentração é a Produção do Espaço Geográfico. As inquietações provocadas no
âmbito das disciplinas: Urbanização e Produção da Cidade e Novas Tecnologias, Fluxos e
Estruturação Urbana foram basilares na possibilidade de pensar a centralidade urbana, tendo
como foco a discussão sobre o centro e novas centralidades.
Portanto, empreendi compreen-
der os processos e as formas espaciais que permitiriam interpretar as dinâmicas que respon-
dem pelas antigas e novas espacialidades geradas pela divisão social do espaço tomado pelas
atividades de comércio e serviços.
Decerto, é um estudo inicial que pretende discutir a cidade de São Luís, a capital
do Maranhão, tendo como foco uma centralidade urbana, ainda fortemente configurada em
um centro urbano historicamente constituído. A relevância desta centralidade tem sido manti-
da pela convergência dos transportes urbanos coletivos, unicamente rodoviários, intenso flu-
xo de automóveis que têm neste setor o ponto nodal, para atender as dinâmicas decorrentes do
maior volume de empregos fixados na área central, nos diversos postos de serviços, entre os
quais de comando administrativo, financeiro, dos poderes: executivo, legislativo e judiciário;
e demais trabalhadores do comércio formal e informal localizados no centro principal de co-
mércio e serviços.
Outra condição restritiva que se impôs como estudo pioneiro, foi a exiguidade do
tempo para uma análise dos demais estudos que discutem os aportes da centralidade urbana
em cidades históricas, a semelhança de São Luís e, que entendemos ser um desdobramento
importante deste estudo, a ser construído posteriormente.
Assim, identificamos no aumento populacional em sua decorrente expansão do te-
cido urbano e na distribuição das atividades terciárias preponderantes no funcionamento do
2
capital e do trabalho, duas dinâmicas que se tornaram significativas em São Luís, nas últimas
quatro décadas. Elas trazem subjacente o aprofundamento de relações assimétricas que pactu-
am uma cidade para alguns, restringindo o direito à cidade para muitos
1
, considerando o nosso
foco que é a espacialização das atividades de comércio e serviços. A concentração espacial
destas atividades expõe restrições/exclusões para os que estão distantes do centro e abre refle-
xões sobre a possibilidade da cidade ser o lócus da apropriação para os citadinos, pois em uma
das funcionalidades que lhe é inerente, conforme Small e Witherick (1992), que é o forneci-
mento de bens e serviços, os arranjos espaciais distribuem as oportunidades de consumo desi-
gualmente. Por isso, consideramos a possibilidade de tentar compreender qual a intensidade
dessa concentração e os elementos que apontam a importância da centralidade urbana de uma
cidade com quase quatro séculos. É fato, também, a escassez de literatura sobre a urbaniza-
ção de São Luís. Em vista dessa ausência, buscamos apreendê-la tomando como ponto de
partida a espacialização das atividades de comércio e serviços, dada a evidência dos processos
espaciais que as articulam. Logo, a cidade será discutida como um espaço geográfico trans-
formado pelo capital, que agrega na contemporaneidade a complexidade das interações dos
processos sociais gerados em todas as escalas.
Privilegiamos em nossa discussão, a organização da cidade a partir de uma centra-
lidade urbana que faz alusão as caracterizações importantes e exclusivas do seu centro urbano.
As espacializações de uma estruturação urbana que destaca as atividades de comércio e servi-
ços fortaleceram o nosso interesse pelo recorte analítico do núcleo da área central ou o “core”.
Este setor é definido por sua diferenciação no conjunto da cidade, a concentração do capital
produtivo torna visível a predominância dos equipamentos urbanos públicos e privados de
gestão ou controle, a forte especialização do uso do solo para as atividades de comércio e ser-
viços, a convergência dos fluxos de pessoas, das informações e dos sistemas de transportes.
Admitimos, portanto, que a divisão social do espaço que poderia ter formado novas centrali-
dades ou fortalecido as existentes com o crescimento territorial, a nosso ver, expandiu conjun-
tos urbanos cujo poder aquisitivo não conseguiu atrair os interesses do capital ou do Estado.
No caso de São Luís, a força de uma área central que foi delineada desde os pri-
meiros sistemas urbanísticos minuciosamente detalhados no período da ocupação francesa é
emblemática. Tal observação expõe a importância do papel do Estado na lógica da produção
desse espaço urbano, bem como manifesta os fluxos e a transição dos processos espaciais que
1
A cidade de São Luís tem 50% da população ocupando moradias em áreas não planejadas e distantes do cen-
tro da cidade conforme o IBGE. (Censo 2000)
3
marcam a evolução urbana. Logo, o poder do capital e do Estado para criar, manter ou reser-
var o solo urbano como mercadoria abre discussões sobre os agentes e os processos socioes-
paciais da e na cidade.
Efetivamente, o estudo tratará de um setor reconhecidamente distinguido na cida-
de. As concentrações de pessoas, atividades produtivas, fluxos de bens materiais e imateriais,
em áreas seletivamente organizadas, dão visibilidade aos processos de divisão social do espa-
ço. Sem dúvida, é para a área central que convergem os movimentos do capital, a reprodução
social, tendo como determinantes a apropriação das possibilidades oferecidas no desempenho
peculiar das funções de cada cidade e que se materializam em alguns locais convenientes ao
capital.
A distribuição das atividades de comércio e serviços em São Luís é um indicador
das desiguais oportunidades de consumo e reprodução social. Assim, tendo em vista uma pos-
sibilidade de aproximação com os processos de produção e reprodução social na cidade e vi-
sando contribuir com a análise da organização espacial de São Luís, a partir da espacialização
das atividades comerciais e de serviços, a pesquisa buscou compreender as caracterizações
que sustentam a centralidade urbana no centro principal em São Luís-MA, ainda que proces-
sos de desconcentração
2
e descentralização
3
já estejam ocorrendo.
Os procedimentos metodológicos que permitiram o estudo estão expostos a seguir,
em linhas gerais, pois ao longo do texto explicitaremos os rumos tomados.
Buscando ampliar a base teórico-metodológica para construção do conhecimento
pretendido, foram selecionados clássicos da geografia urbana, dos estudos da economia urba-
na e da cidade, dos títulos da sociologia urbana e da literatura geográfica, que foi amplamente
tomada como referência para, por exemplo, o sítio urbano, a morfologia urbana, o espaço in-
traurbano, a urbanização, os processos espaciais de formação dos centros e centros secundá-
rios, além do caso específico de São Luís.
Na etapa seguinte, partimos para o levantamento de dados no Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), na Prefeitura Municipal de São Luís e em instituições afins
2
A desconcentração será entendida pela não fixação das atividades comerciais e de serviços no centro urbano,
setor de maior centralidade e, sim em outras áreas com maior ou menor centralidade no conjunto da cidade,
conforme Gottdiener (1993, p. 19), ela permite “descrever os padrões atuais de crescimento polinucleado porque
ele apreende a dispersão regional maciça de pessoas, comércio, indústria e administração pública, juntamente
com a reestruturação contemporânea de tais regiões em domínios multicentrados esparramados por vários
quilômetros e localizados em todo lugar do país.”
3
A descentralização estará relaciona aos fatores de repulsão da área central, associados ao crescimento da cidade
e desenvolvimento dos sistemas de transportes e comunicações, conforme Corrêa (2000, p.46/47). Reolon (2007,
p. 171) discutindo LENCIONI (1999) e FIRKOWSKI (1999) sintetiza que a descentralização “diz respeito a
localização das atividades de comando do capital”.
4
sobre a distribuição das atividades de comércio e serviços. Identificamos no banco de dados
da Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís elementos que nos permitiram uma pri-
meira aproximação com a realidade. A pesquisa permitiu encaminhamentos sobre quantos e
onde estão os equipamentos urbanos relativos a essas atividades na cidade, a seleção de variá-
veis importantes para a análise e o tratamento dos dados.
Diante do volume de dados e da possibilidade de obter melhores informações so-
bre a espacialização das atividades de comércio e serviços em São Luís, tornou-se necessário
um aglutinamento dessas atividades nos bairros em setores. A dificuldade de que, em São
Luís, não uma identificação oficial dos bairros (por exemplo, onde começam e onde termi-
nam), foi contornada com o uso de mapas urbanos fornecidos pelo Instituto de Planejamento
da Cidade, órgão da prefeitura. Portanto, foi possível a elaboração de um mapa contendo vinte
e dois setores que incluem todos os bairros. Os setores foram constituídos pela contiguidade
dos bairros, sua década de criação e foram designados pelos bairros que apresentam maior
centralidade
4
em cada conjunto.
A primeira visibilidade da espacialização das atividades de comércio e serviços
em São Luís foi proveniente da pesquisa e análise dos dados fornecidos pela Delegacia da
Receita Previdenciária de São Luís, sobre as atividades econômicas em toda a cidade nos se-
tores criados. Isso contribuiu efetivamente no tratamento das informações e nos assegurou as
primeiras interpretações. Dois aspectos foram positivos; um deles estava relacionado com a
organização dos dados em atividades pela Classificação Nacional das Atividades Econômicas
(CNAE) e o outro antecipava informações sobre o nível de concentração das atividades, já
destacando a força do centro no conjunto dos demais setores urbanos em São Luís.
Uma pesquisa de campo em cada setor permitiu o georreferenciamento de pontos
nas áreas ou eixos mais dinâmicos, ou seja, com maior concentração de fixos e fluxos. Com
esses recortes empíricos procurávamos identificar a densidade da espacialização dos equipa-
mentos urbanos, comerciais e de serviços. Com efeito, era necessário observar quais proces-
sos espaciais assumiam importância na concentração ou dispersão dos mesmos, em uma tenta-
tiva de caracterizar o centro, os subcentros e as novas áreas que expressassem centralidade.
4
A centralidade foi discutida inicialmente como um processo que se destaca na estruturação urbana da cidade, a
partir da importância que uma localidade gera ao agregar pontos nodais de transportes urbanos, atrair e fixar
sedes de governos locais ou regionais, postos de empregos, atividades comerciais e serviços, conforme Small e
Witherick
(1992) e, devido à forte densidade dessas atividades, essas localidades oferecem maior capacidade de
consumo de produtos e serviços, portanto elevados índices de frequentação de natureza e intensidades diferentes,
segundo Sposito (1992).
5
Do mesmo modo, apostávamos em poder compreender a amplitude do conjunto
dos serviços e comércio e o caráter contínuo ou descontínuo na distribuição dessas ativida-
des. Julgávamos importante, também, identificar o grau de homogeneidade interna de cada
setor. Assim, buscamos entender a lógica de produção desses espaços a partir da inter-relação
dessas atividades com as populações envolvidas, isto é, aclarar qual a forma espacial e a fun-
ção dominante no local representativa de cada setor.
Empreendemos ainda duas coletas em banco de dados. Uma foi feita no censo
empresarial SEBRAE Maranhão, 2007, considerada a pesquisa mais completa sobre o co-
mércio formal e informal de São Luís. As informações dele retiradas foram importantes para
consolidar as discussões sobre o centro principal, os centros secundários e a definição pelo
estudo do núcleo da Área Central de São Luís. A outra coleta de dados foi realizada na Asso-
ciação Comercial do Maranhão para identificação do nível de especialização do centro.
A etapa seguinte culminou com uma pesquisa de campo no “core” da área central,
que reúne as quatro ruas que concentram as atividades comerciais e de serviços: a Rua do Sol,
a Rua da Paz, a Rua Grande ou Osvaldo Cruz e a Rua de Santana, tendo como limites a Praça
Deodoro, ponto de convergência de 90% dos transportes coletivos, e a Praça João Lisboa. As
principais contribuições dessas informações permitiram a identificação e delimitação das di-
nâmicas que caracterizam esse setor. Dessa forma, as materializações dos processos sociais
que promovem a distribuição das atividades de comércio e serviços permitiram um entendi-
mento sobre a área central, a constituição de novas centralidades e sobre quais as tendências
de uso do núcleo do centro urbano na atualidade.
Dessa forma, na primeira parte do trabalho, reunimos elementos para discussão
sobre a organização espacial das atividades de comércio e serviços em São Luís, como ex-
pressão da materialidade social que articula, em várias escalas, os movimentos do capital e do
Estado, em um sítio urbano insular, com elevado grau de isolamento até a década de 1960.
Tentamos, também, entender como as formas espaciais longamente perpetuadas ainda man-
têm sua funcionalidade em termos econômicos, simbólicos e de gestão, no caso específico do
centro, ao tempo em que identificamos as novas centralidades que se estabelecem na atualida-
de em outras áreas.
Na segunda parte, discutimos a temática a partir de conceitos que se fizeram elu-
cidativos para a pesquisa. Nessa etapa, foram importantes as reflexões sobre as relações soci-
ais na produção capitalista do espaço urbano, os processos intraurbanos e as formas espaciais.
6
A partir de clássicos da Geografia Urbana, tornaram-se possíveis interpretações que permiti-
ram qualificar as funções urbanas e suas implicações nas materializações significativas para a
discussão do papel e a atualidade do centro urbano em São Luís.
A terceira parte apresenta a análise dos dados empíricos referentes ao “core” da
área central, por atender ao interesse da pesquisa sobre a concentração e centralização das
atividades de comércio e serviços
5
. Nessa etapa, foram importantes as reflexões sobre a divi-
são socioespacial do trabalho e a organização material da cidade.
Na última parte, compartilhamos as considerações finais que não se constituem con-
clusivas quanto às reflexões aqui desenvolvidas, porém sugerem pensar e encaminhar uma
compreensão dialética de São Luís a partir de vários elementos. A análise dos processos es-
paciais que têm nas formas materiais determinantes da realidade objetiva e que são incorpora-
das ao cotidiano da cidade, notadamente naquelas que constituem os maiores aglomerados
urbanos, indicam pesquisas futuras que ampliarão a base da compreensão até aqui constituída.
5
No município de São Luís, do total de empregos, o setor público destaca-se como o principal empregador,
seguido do setor de comércio e serviços, conforme o Sistema RAIS/CAGED - Ministério do trabalho, 2006.
7
CAPÍTULO 1- CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE NA
PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO
São Luís é cidade e é ilha. E como toda ilha, é para-
íso imaginado. Mais do que qualquer outra cidade,
São Luís revela a cada detalhe, a cada mudança,
por mais furtiva, que é o resultado do desejo dos
homens.
José Antonio Viana Lopes
Pretendemos identificar na história da cidade elementos da produção capitalista do
centro urbano como expressão territorial, aqui compreendido como o setor mais dinâmico no
conjunto da cidade, destacando os processos que caracterizam a centralidade urbana em perí-
odos significativos para nossa análise. Buscamos distinguir, nos processos e formas socioes-
paciais, determinantes do capital e do Estado. Nesse sentido, relacionam-se os temas: cidade,
acumulação, concentração e centralização que são importantes no entendimento da constitui-
ção da área central e das novas áreas que expressam centralidades.
A humanidade está concentrada preferencialmente nas cidades.
6
Porém, não em
todas e, nas grandes cidades ou metrópoles, dentre outras, tanto as populações quanto as ativi-
dades de comércio e serviços não estão distribuídas de modo a assegurar que as relações soci-
ais, que têm sua essência na produção/reprodução social, sejam satisfatoriamente acessíveis a
todos. Comumente, essa organização espacial implica em elevação da densidade de ocupação
em poucos locais e/ou saturação da infraestrutura instalada. Nessas cidades, a complexidade
dos processos espaciais torna relevante a identificação de demandas por bens e serviços, e,
uma interpretação socioespacial do cotidiano urbano das localidades centrais
7
.
Efetivamente, “a cidade – sobretudo a grande cidade – constitui um meio natural e
um meio social adequados a maior socialização das forças produtivas e de consumo” como
pontua Santos (1994, p. 120). Entretanto, a ação do mercado e a ação do Estado podem res-
ponder pela condição de realização e consequências diversas da produção. Em vista disso,
podemos pensar a expansão geográfica da sociedade capitalista vendo que “a cidade é um
6
Segundo relatório do Fundo de População das Nações Unidas, desde 2008, uma população de 3,3 bilhões de
pessoas vivem em áreas urbanas e em 2030 esse número chegará a 5 bilhões, 60% da população mundial.
7
Expressão vinculada a teoria das localidades centrais de Walter Christaller (1933) para designar a relação entre
determinados setores urbanos e o fornecimento de bens e serviços a uma área circundante ou hinterland, com
diversidade e densidade diferenciadas, promovendo assim uma classificação entre eles .
8
grande meio de produção material e imaterial, lugar de consumo, nó de comunicação”
(SANTOS, 1994, p. 118). Duas questões implícitas nesse entendimento, dentre outras, devem
ser consideradas: como toda e qualquer outra forma de repartição no espaço, [a cidade e sua
área central] é dependente da maneira como os instrumentos de trabalho e os agentes de pro-
dução se distribuem – como a cidade se configura; e a urbanização – como ela se faz.
A divisão do trabalho é uma das categorias fundamentais da economia
política e é, também, uma das chaves para a explicação da distribui-
ção, sobre a Terra, dos homens e das atividades. A história do mundo
e de cada nação é, como já lembramos, a história da sucessão das for-
mas de produção e da distribuição social e territorial das tarefas. As
divisões sucessivas do trabalho ensejam uma determinada disposição
dos objetos geográficos, dando-lhes, a cada momento, um valor novo.
(SANTOS, 1994, p. 118)
A cidade é a concentração de um contingente populacional produtor e produto de
condições materiais e imateriais históricas e, portanto, espaço de reprodução do capital. As
atividades que nela predominam apresentam uma especialização das tarefas voltadas para
trocas, característica importante das cidades, em que inicialmente a partir dos mercados, os
excedentes da produção do campo impulsionaram uma organização socioespacial para aten-
dimento às necessidades por meio dos bens coletivos urbanos. Some-se a isso que o desenvol-
vimento do meio técnico-científico e informacional elevou o consumo, como importante mo-
vimento da e na cidade, na atualidade. Este contexto impeliu o estudo para uma revisita aos
clássicos da Geografia Urbana, pois propomos uma discussão sobre a cidade, tendo como
foco a espacialização das atividades de comércio e serviços.
De fato, as cidades se diferenciam significativamente umas das outras. Entretanto,
para Beaujeu-Garnier (1975, p. 347), em meio às características particulares das cidades, será
possível distinguir um setor de convergência-divergência, um ponto de atração e de articula-
ção de interesses, “o centro das grandes redes de circulação”, em toda cidade. A partir do ta-
manho e da influência da cidade, este setor pode reunir potencialidades ou problemas que não
ofuscarão a importância deste centro na leitura que se possa fazer da dinâmica da aglomera-
ção humana. Entretanto, para a autora, nesse setor, além do adensamento populacional que
percorre frenética, pontual e cotidianamente essa área da cidade e destina-se predominante-
mente para atender as atividades do setor terciário, concentram-se também as atividades de
controle, decisão e consumo que fazem uso dos prédios públicos, religiosos e culturais, o que
amplia a diversidade e a importância dos centros urbanos.
9
Assim é que Beaujeu-Garnier (1975) relaciona a importância das áreas centrais
com os processos estruturadores que deram origem às cidades. As inter-relações que são cons-
truídas nos contextos urbanos contribuem, entre outros, para que o centro seja percebido ou
confundido com a cidade; no caso das cidades históricas nas quais outras funções tiveram a
primazia, eles têm menor dinamicidade; nas cidades modernas, esse centro tende a se desen-
volver mais espontaneamente nos bairros de comércio e serviços; podem ser concebidos e/ou
previamente estabelecidos em um conjunto administrativo e social, ou ainda como no CBD
das cidades estadunidenses, ocupado pelas atividades do comércio varejista, de serviços e
indústrias gráficas ou similares. Portanto, a característica fundamental desta área da cidade é a
concentração das atividades terciárias e os maiores fluxos urbanos.
Johnson (1974, p. 153), enfatiza a estruturação urbana em torno dessas áreas de
concentração na cidade moderna ao destacar suas designações e caracterizações. A importân-
cia desta área mais conhecida e mais atrativa em seu espaço intraurbano é tratada pelo autor
pela designação de centro e pode receber várias denominações, a partir dos estudos clássicos
na literatura geográfica dos Estados Unidos e de textos urbanísticos da Inglaterra.
Segundo o autor, alguns estudos priorizaram a estrutura interna da cidade norte-
americana
8
, “essa estrutura interna do núcleo central pode ser identificada por intermédio dos
seguintes aspectos, o valor da terra, a intensidade comercial, a verticalização e o fluxo de pe-
destres e veículos,” segundo indica Ribeiro Filho (2004, p. 154). São desses estudos que pro-
vém a identificação do coração da cidade, conhecido como Central Bussiness Distric CBD,
melhor traduzido como distrito central de negócios, onde predominam absolutamente a maior
oferta de bens, serviços e as atividades burocráticas do setor privado. Portanto, devido à espe-
cialização, o CBD é um fenômeno do século XX.
nos textos urbanísticos da Inglaterra, ainda conforme o autor, a expressão utili-
zada é Área Central e serve para designar áreas específicas com fins urbanísticos ou estatísti-
cos, que incluem o CBD e podem agregar ou não as áreas industriais, as áreas residenciais, o
centro histórico - local de origem da cidade, entre outros. Se aplicarmos essa designação em
nossa cidade na atualidade, nós podemos identificar uma Área Central em São Luís, segmen-
tada em dois setores distintos funcionalmente, um reunindo atividades de gestão, controle,
educação e cultura no bairro do Desterro, que inclui a Praia Grande e entorno e, outro setor
com predomínio de atividades comerciais e de serviços na Rua Grande e entorno.
8
Cf. Murphy e Vance, 1954; Murphy, Vance e Epstein, 1955; Horwood e Boyce, 1959; Vance, 1970.
10
Para George (1983), as cidades tendem a não apresentar grandes diferenciações
por seguirem orientações gerais ou até normas internacionais, principalmente no caso das ci-
dades europeias e, nós acrescentamos, nas brasileiras por extensão, no desenvolvimento da
política mercantil, a exemplo de Salvador, São Luís e outras cidades nela incluídas. Entretan-
to, os centros dessas cidades apresentam diferenças, “sobretudo por seu núcleo histórico, ex-
pressão contínua de formas particulares da vida urbana do passado, que cada uma delas se liga
a uma família histórica regional”(GEORGE, 1983, p. 69). Podemos transferir essas caracteri-
zações para São Luís, pois a concentração espacial e a centralização do capital estão visivel-
mente materializadas e reconhecidas mundialmente como cidade patrimônio mundial, “exem-
plo importante de assentamento humano tradicional que é também representativo de uma
cultura e de uma época”
9
.
Essa compreensão do centro a partir das externalidades que integram a paisagem
urbana da cidade, a nosso ver, remete a um conteúdo histórico de um processo evolutivo das
cidades, cujo nível de complexidade expõe fragmentações muito instigantes. Tal contribuição
permite identificar para além das atividades econômicas, que muito fortemente se impõem nas
organizações espaciais, elos importantes da urbanização empreendida em cada lugar. Portan-
to, ao apontar sucintamente algumas cidades e suas formas espaciais mais significativas o
autor reforça que “o centro permanece como uma herança e um símbolo de uma história mui-
to particular” (GEORGE, 1983, p. 70), no caso de São Luís, distintamente concentrado em
seu núcleo original.
A diferenciação dessa área, no conjunto da cidade, ocorre pelo uso do solo com
um alto nível de especialização, bem como pelo desenvolvimento das funções comerciais, de
gestão e as demais que lhe são peculiares. São Luís configurou historicamente esse setor bem
diferenciado, com essas caracterizações, nos locais onde estavam agrupadas as atividades ter-
ciárias públicas ou privadas, parte das indústrias e os principais sistemas de transportes e co-
municação. Assim como nas demais aglomerações urbanas, a cidade de São Luís tem um
centro, uma mostra concentrada e significativa dos movimentos quantitativos e qualitativos da
sociedade capitalista, em diferentes escalas.
9
São Luís é o único conjunto urbano brasileiro reconhecido pela UNESCO por apresentar três critérios diferen-
tes da Convenção do Patrimônio Mundial, a saber: “III Testemunho excepcional de tradição cultural”; IV
Exemplo destacado de conjunto arquitetônico paisagem urbana que ilustra um momento significativo da história
da humanidade e o “V- “exemplo importante de assentamento humano tradicional que é também representativo
de uma cultura e de uma época”.
11
O centro materializou as formas e os processos necessários para sua expansão ou
permanência, devido aos movimentos do capital produtivo mercantil, da indústria, da agroin-
dústria, dentre outros. Decerto, que o dinamismo desse setor urbano era sustentado pela forte
presença da área residencial das classes mais abastadas, pois elas atraiam os equipamentos
urbanos públicos culturais e religiosos, tais como: escolas, conventos, igrejas, teatros, praças
etc., enquanto a camada mais popular ocupava as áreas periféricas ao centro. A partir de
1930, em São Luís também foi iniciado um processo de maior especialização do centro urba-
no com a dissociação das atividades de comércio e serviços do centro histórico ou sítio origi-
nal para as Ruas Grande, Rua da Paz e Rua do Sol e Rua de Santana. Na síntese de Sposito
(1996, p. 116) “o centro da cidade é, por sua vez, o espaço de excelência e expressão dessa
concentração, porque se constitui seu ponto de integração geográfica e social”. Desse modo o
deslocamento deste segmento da Praia Grande ampliou a centralidade urbana no centro urba-
no.
A formação, consolidação e transformações dessa área central de São Luís o
concomitantes com os movimentos qualitativos que marcaram a evolução da cidade e do esta-
do. A função de cidade-capital produziu uma atuação político-administrativa também centra-
lizadora e com forte propensão hegemônica no contexto estadual. Santos (1989) propõe um
olhar diferenciado para as áreas centrais de países subdesenvolvidos ou de cidades que tive-
ram mudanças significativas em seu quadro urbano. Nesses casos, as concentrações espaciais
aparecem imbricadas com outros papéis exercidos pela cidade, havendo a possibilidade dele
ser individualizado como o centro [que] é único e monopoliza todas as funções correspon-
dentes: serviços urbanos e serviços à escala da região ou país” esclarece o autor (1989, p.
193). Esta é uma realidade muito próxima do que percebemos em São Luís.
Destacadas da e na área central as atividades de comércio e serviços serviram na
pesquisa como bons indicadores dos veis de produção e reprodução social, pois é no centro
urbano, “nesse ponto [setor] que está cristalizada a maior quantidade de trabalho socialmente
necessário despendido na produção da aglomeração e pela aglomeração” (VILLAÇA, 2001,
p. 237-254). No caso de São Luís (Figura I), a constituição e a permanência de uma centrali-
dade que faz do centro urbano um setor tão fortemente individualizado requerem interpreta-
ções, quanto mais se a expansão do seu tecido urbano nas últimas décadas. Deve-se consi-
derar, também, que até a década de 1950, a Ilha do Maranhão (Mapa 1) era ocupada pelo
12
município de São Luís e que os demais municípios que hoje a compõem foram constituídos
posteriormente, como apontaremos mais adiante no texto.
É nesse sentido que discutiremos a cidade, vista a partir da distribuição das ativi-
dades de comércio e serviços. Este recorte analítico permitiu uma compreensibilidade sobre as
materializações do seu espaço, de relações cambiantes, em diversos níveis de fluxos e de loca-
lizações. A expansão da mancha urbana em São Luís inseriu na configuração espacial os apor-
tes “de diferentes expressões de centralidade” conforme Sposito (1996, p. 120).
Figura 1 – São Luís. Localização do centro e expansão da mancha urbana. 2008.
Fonte: Fonte: Lopes, 2008.
Esse conteúdo-forma espacial comumente nomeado centro, área central, centro
da cidade, centro urbano pode ou não estar no centro geográfico - o ponto mais central de um
território; pode ou não estar no centro histórico - ponto onde a cidade iniciou; de fato, ele dis-
tingue-se no conjunto da cidade como o setor mais dinâmico. (SPOSITO, 1991, p.6) No caso
de São Luís, o seu centro ainda ocupa parte do tio urbano original. Desse modo, os proces-
13
sos espaciais que nele e dele emanam, ampliam a ação do capital por meio das economias de
aglomeração e da reprodução social que respondem pela produção ou sobrevivência dos que a
ele [centro] estão vinculados. Enfim, o centro da cidade é construído material e simbolica-
mente na cotidianidade, e ao atrair a maior frequencia dos citadinos, indica diferentes expres-
sões de centralidade. (SPOSITO, 1996, p.120)
Mapa 1 Ilha do Maranhão. Localização dos municípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do
Lumiar e Raposa, no Maranhão. 2009
Fonte: UEMA, Núcleo de Georeferenciamento, 2009.
A localização do centro urbano de São Luís, na Ilha do Maranhão (Mapa 1) e, a
situação desta no Golfão Maranhense (Figura 2), projetou-lhe inicialmente como portal, tanto
para o Oceano Atlântico, como para a parte continental do Estado. Este golfo, que é também
foz dos rios das grandes bacias hidrográficas do Maranhão, dispôs do bairro portuário da Praia
14
Grande, até a década de 1970, como nodal para os transportes marítimos e fluviais, ponto de
convergência das principais articulações externas e internas. A partir de 1921, a centralidade
desse setor ganhou o reforço da localização de uma estação ferroviária, próximo da Praia
Grande, na Avenida Beira-Mar, anteriormente conhecida como Avenida 5 de julho. A Estra-
da de Ferro São Luís Teresina, um ponto final da linha férrea entre os estados do Maranhão
e Piauí trouxe maior integração regional a cidade, ampliando a atividade portuária, elemento
importante na centralidade urbana do setor. As transformações, também, repercutiram no te-
cido urbano devido aos intensos processos migratórios facilitados pelo transporte de passagei-
ros e cargas o que deflagrou dinâmicas populacionais ainda mais intensas nesse centro urba-
no.
Em vista disso, consideramos que o centro pode sintetizar dinâmicas importantes
nas cidades, por ser articulador de diversos elementos da estrutura urbana. Os níveis e dimen-
sões que podem ser apreendidas do Centro Urbano de São Luís evidenciam movimentos com
diferenciações no volume de capital e nos fluxos de pessoas e mercadorias. Importante na
evolução urbana da cidade, desde os primeiros fixos e fluxos estruturadores, ele é parte inte-
grante e, em alguns períodos, determinante do espaço geográfico da cidade. Castells (1983,
p.310-324) ao discutir o papel simbólico, integrador e funcional do centro destaca as articula-
ções que envolvem a troca, a distribuição, a gestão, as apropriações impulsionadas pelos sis-
temas de transportes e informação, entre outros.
Esse centro urbano, a semelhança dos demais, parece estar em crise. A partir da
década de 1930, a cidade foi nitidamente impactada pela desestruturação de importantes pro-
cessos econômicos e o centro urbano teve enfraquecida a centralidade das atividades portuá-
rias e comerciais, com o deslocamento das dinâmicas provenientes dos transportes hidroviá-
rios e ferroviários convergentes para o Bairro da Praia Grande. As mudanças na circulação
dos transportes rodoviários urbanos deslocaram o ponto nodal da Praia Grande para a Praça
Deodoro, da parte baixa da cidade para a parte alta. Entretanto, a área central ainda continuou
a concentrar o maior volume de serviços, postos de trabalho e o fornecimento de bens, pois a
força da centralidade urbana desse centro tem resistido as transformações da cidade.
Ontem e hoje, o centro urbano concentra e dispersa movimentos importantes na
cidade, isso se deve a “sua capacidade de aglomerar, logo, de combinar socialmente meios de
produção e meios de reprodução de uma formação social” (LOJKINE, 1997, p. 186). As con-
tradições surgem na cristalização de formas e no grau de concentração das atividades, pois
esses processos espaciais comprometem o consumo da e na cidade, envolvem as questões
15
cotidianas da sobrevivência, as ofertas de bens e serviços inacessíveis para os que não podem
pagar o seu deslocamento, as grandes distâncias entre as áreas de moradias e as áreas de maior
movimento do capital e reprodução social materializados no tecido urbano.
Figura 2 – São Luís. Localização geográfica da cidade, 2008.
Fonte: Google Earth, 2008.
Buscamos nos aproximar desse objeto possível, tentando “mostrar o nascimento e
o desenvolvimento [de um setor da cidade] relacionando-os a um processo e a uma práxis
(uma ação prática)” conforme Lefebvre (1999, p.16). É possível identificar na cidade as for-
mas dominantes que resultam da produção capitalista do espaço, em suas dinâmicas ou inér-
cias e, que comunicam movimentos e materializações para atender as tensões entre compe-
tição e monopólio, concentração e dispersão, centralização e dispersão, fixidez e movimento,
dinamismo e inércia, entre diferentes escalas de atividade todas essas tensões advêm dos
processos moleculares de acumulação interminável do capital no espaço e no tempo” como
explicita Harvey (2005, p.87).
A produção do espaço urbano em diversas escalas, para todos os agentes sociais
que habitam nas cidades, em seus respectivos interesses, manifesta também que “as ações
16
não se localizam de forma cega. Os homens também não”, afirma Santos (2008, p. 125). Por-
tanto, buscamos entender o jogo complexo, espontâneo ou não, em que a produção espacial é
catalisadora, considerando o espaço geográfico da cidade, tendo em vista que:
O espaço pode ser definido como o resultado de uma interação per-
manente entre, de um lado, o trabalho acumulado, na forma de infra-
estruturas e máquinas que se superpõem à natureza e, de outro lado, o
trabalho presente, distribuído sobre essas formas provenientes do pas-
sado. O trabalho morto, sobre o qual se exerce o trabalho vivo, é a
configuração geográfica e os dois, juntos, constituem, exatamente, o
espaço geográfico (SANTOS, 1994, p. 115).
Assim, na configuração espacial da cidade, existe uma localização privilegiada de
equipamentos urbanos de comércio e serviços que se diferencia das demais áreas, por ser ca-
racterizada como “um nódulo principal na rede das vias urbanas (quanto a este ponto, pode
haver vários centros dentro de uma cidade) e de apresentar uma forte concentração de servi-
ços de todos os níveis, especialmente comerciais” pontua Santos (1989, p. 193). É fato que
essa centralidade urbana que tem sido largamente discutida nas últimas cinco décadas, devido
às novas centralidades que se expressam na atualidade, põe em destaque a permanência da
área central de São Luís em todos esses séculos e visibilidade a importância das questões
econômicas nesses contextos, ainda que não sejam as únicas estruturadoras das áreas centrais.
Dentre os autores que discutem a produção capitalista do Espaço, entre eles: Loj-
kine (1997); Soja (1993); Harvey (1992; 2005) e Gottdiener (1997), buscamos a compreensão
de que os movimentos do capital na cidade trouxeram caracterizações para setores no conjun-
to urbano que, no caso da Área Central, amplia a possibilidade de discuti-la. A espacialização
das atividades de comércio e serviços requer um aprofundamento dos processos espaciais da
cidade que produzem diferenciação no espaço urbano por meio da divisão social do trabalho,
daí nossa opção de buscar esse entendimento a partir das contribuições de Smith (1988).
Em revisita aos teóricos, Smith (1988, p.152) destaca que até 1960, na Geografia
Tradicional, principalmente no âmbito da Geografia Comercial ou Geografia Regional, era
fortemente aceito relacionar condições satisfatórias econômicas, políticas com a “localização
geográfica das atividades sociais de acordo com as diferenciações na natureza”. Smith histori-
za “como as vantagens naturais ditavam a divisão territorial do trabalho” e que “a concentra-
ção espacial da riqueza era vista primeiramente como resultado da diferenciação natural na
fisiografia, nos recursos, no clima etc.”. Sendo fato, também, que essa naturalização esteve
relacionada com a origem e/ou os melhores desempenhos de cidades ou países.
17
Decerto, é possível relacionar a espacialização das atividades terciárias em São
Luís à produção capitalista do espaço, conquanto as condições naturais se constituam deter-
minantes em alguns setores da cidade. Efetivamente, em importantes movimentos na história
urbana de São Luís as condições naturais podem ser explicativas para o desenvolvimento ini-
cial de alguns locais, porém “com o desenvolvimento das forças produtivas sob o capitalismo,
a lógica que preside a localização geográfica afasta-se cada vez mais de tais considerações
naturais” ratificando Smith (1988, p. 157).
É importante, também, considerar espacialmente a globalização como um proces-
so histórico de dimensões socioeconômica, cultural e política, que se materializa no espaço
geográfico. As articulações que se tornaram mais complexas a partir das revoluções científi-
cas, tecnológicas, organizacionais, impulsionam uma criativa flexibilidade que se apoia “nos
processos de trabalho, mercado de trabalho, produtos e padrões de consumo”, independentes
das condições naturais ou geográficas, conforme esclarece Harvey (2006, p. 140). Portanto, é
possível prosseguir com Smith (1988, p.159) quando ele afirma que “a diferenciação do espa-
ço geográfico, a que nós chamamos divisão territorial do trabalho deriva da divisão social do
trabalho mais geral” e a cidade assume na atualidade os impactos de todas as mudanças e
transformações empreendidas nesse processo.
Sem dúvida, essa divisão social do trabalho torna-se profundamente expressiva
em locais marcados pelas urbanizações dependentes, conforme Milton Santos (1981). E essa é
a realidade de São Luís, a nosso ver, pois os centros e as centralidades, isto é, as formas e os
fluxos expressam movimentos socioeconômicos importantes. Eles contribuem para tornar
explícitos arranjos espaciais, voltados para atender as funções urbanas constituídas desde o
domínio colonial ultramarino e trazem para o debate as configurações atuais, nas quais os
fluxos e a fluidez inter-relacionam interesses diversificados em escala e volume de capital,
dispõem-se seletivamente nas aglomerações e, o centro urbano, ainda se mantém como a mais
importante espacialização da centralidade urbana na cidade.
Efetivamente, no centro urbano está a maior densidade de formas espaciais articu-
ladas com a aglomeração humana. E ele não consegue mais atender ao consumo da e na cida-
de, devido ao crescimento populacional e do consumo. A cidade, que deve ser um direito a-
propriado cotidianamente por todos os que vivem nesse espaço, tem, na escassez de
oportunidades para os excluídos da vida urbana nas cidades, a sua deformidade. Esse é um
quadro de São Luís, que juntamente com a carência ou enfraquecimento das dinâmicas rela-
18
cionadas ao campo, ao setor secundário, que nos parece restrito, obsoleto e/ou voltado para as
demandas externas, ampliam a complexidade do processo de urbanização. Portanto, a organi-
zação da cidade tem características espaciais típicas de “países explorados, dominados e com
economia deformada” segundo Charles Bettelheim (1967 apud CASTELLS, 1983, p. 82),
subjacentes na divisão social do trabalho.
1.1 SÃO LUÍS: UM OLHAR SOBRE A PRODUÇÃO DO ESPAÇO COLONIAL A PARTIR
DAS ATIVIDADES DE COMÉRCIO E SERVIÇOS
São Luís é reconhecida por ser a cidade de colonização portuguesa que nasceu
francesa
10
no Brasil. Sua origem pode tipificar o imbróglio que as políticas mercantis da épo-
ca, no geral, promoveram nos territórios descobertos visando à acumulação capitalista. As
interfaces dos arranjos espaciais podem ser mais bem elucidadas quando Santos (2003, p.
125) nos permite, em sua análise comparativa, inferir que em nossa cidade os processos espa-
ciais que ocorreram são comuns nos “países subdesenvolvidos [em que] o espaço se caracte-
riza por ser organizado e reorganizado, dentro de uma matriz global, como função de interes-
ses distantes” e, que “nos países desenvolvidos, as disparidades de renda são menos
importantes e têm pouca influência na acessibilidade de um grande número de bens e servi-
ços”. É possível, por essa lógica, apreender como as desigualdades socioespacias foram sendo
implantadas e longamente mantidas na cidade.
A lógica do território, “fixada ao espaço” e a lógica do capital, “dinâmica espacial
aberta da acumulação interminável” exposta por Harvey (2005, p.36) permitiu um entendi-
mento sobre as bases da formação e permanência de uma configuração espacial tão concen-
trada em São Luís. Ao nascer sob estigma de cidade colonial, ela conservou características
marcantes, nas quais “as condições geográficas desiguais não advêm apenas dos padrões desi-
guais da dotação de recursos naturais e vantagens de localização”. Desde o primeiro sistema
urbanístico, concretizado pelos franceses, a ser discutido logo a seguir, é possível observar
que foram priorizados setores de trocas e/ou comércio, locais de armazenamento dos produtos
10
Santana (2003, p.55) reúne três posicionamentos de historiadores maranhenses sobre a fundação da cidade de
São Luís. Para Maria de Lourdes Launde Lacroix, o período de 1612 a 1615 seria um tempo muito curto para
que os franceses pudessem estabelecer uma verdadeira colônia, dotar o burgo de instituições civis permanentes e
os franceses nada disso fizeram. Ananias Martins justifica que os franceses devem ser considerados os primeiros
colonizadores do território, tendo em vista os 20 anos de contatos exploratórios nos quais houve a realização de
escambos com os índios e a cerimônia de posse com ritos, estatutos e organização do primeiro sistema urbanísti-
co. Mário Meireles propõe o caráter oficial da expedição de Daniel de la Touche, na qual a rainha regente Maria
de Médicis havia lhe dado concessão para colonização de terras ao sul da linha do Equador. Portanto, segundo
este historiador “São Luís é uma cidade portuguesa que nasceu francesa”.
19
nativos e de segurança, dando visibilidade para os agentes sociais e ações “desiguais em que a
própria riqueza e o próprio poder se tornam altamente concentrados em certos lugares como
decorrência das relações assimétricas de trocas”, como afirma Harvey (2005, p.35).
Ante o exposto, encontramos em alguns componentes histórico-geográficos da o-
rigem e produção do espaço da cidade, base para tentar entender a formação territorial da área
central de São Luís e das dinâmicas que expressam as centralidades. Para Viveiros (1954), a
exploração comercial foi iniciada pelos franceses por meio de um bem-sucedido escambo
franco-indígena. As articulações habilidosas por eles estabelecidas com os indígenas trouxe-
ram mudanças significativas na produção e apropriação do espaço. Os instrumentos incorpo-
rados no cotidiano das aldeias, resultante das permutas com os franceses, promoveram a ado-
ção de novas técnicas. Os processos sociais decorrentes trouxeram mudanças na divisão do
trabalho, na produção e, consequentemente, estimulou a necessidade de uma quantidade mai-
or de produtos externos, Viveiros (1954, p. 3) nos relata que:
O negócio é rendoso, de um lado, a ingenuidade do índio; do outro, a
sagacidade do europeu. Para o comércio, este traz fazendas, macha-
dos, foices, pás, pentes, espelhos, facas, navalhas, miçangas, alfinetes,
agulhas, anzóis, etc; aquele espera-o com pau-brasil, peles, aves e a-
nimais, artefatos da sua indústria, plantas e frutas, caças e peixes. Não
preço estabelecido. Trocam. Por uma foice, dizem os viajantes do
tempo, o selvagem dava tudo o que possuía; com algumas peças de
pano ordinário faziam-se carregamentos que na Europa representavam
uma fortuna.
Ainda segundo Viveiros (1954, p. 2), “não era mais o comércio que os franceses
disputavam, era também o território da colônia portuguesa” no Maranhão. O conhecimento
acumulado pelos franceses
11
das riquezas, da sociedade e dos componentes do espaço mara-
nhense, por mais de um século, colocava-os em vantagem sobre os “donos” desse território. A
concepção de uma Fraa Equinocial, no Maranhão, sob autorização da rainha regente Maria
de Médicis, é concretizada conforme o relato de Lopes (2008, p.12), a partir de uma expedi-
ção “sob o comando dos tenentes-generais Daniel de la Touche, Sieur de La Ravardière;
François de Rasily, Sieur de La Rasily e Auneles, e Nicolau de Harlay, Sieur de Sancy”, for-
11
Viveiros (1954) afirma que, no rastro dos portugueses, os franceses, desde 1504, fizeram incursões no litoral maranhense.
Esses movimentos tornam compreensível a adesão que eles receberam da população nativa, tanto em sua acolhida, quanto em
sua expulsão na batalha de Guaxenduba, na qual os indígenas lutaram com os franceses contra Portugal. Por outro lado, a
fundação da cidade foi feita com o aval da Coroa da França e essas articulações revelam que os interesses pelo território
ocorriam em escala mundial, mesmo para a época.
20
mada por três navios e quinhentos homens que asseguraram a ocupação de São Luís em 26 de
julho de 1612, quando os navios ancoraram na Ilha do Maranhão
12
.
Com a implantação de uma gradativa política de aproximação dos na-
tivos, utilizaram-se da sua mão-de-obra para levantar uma longa pali-
çada, havendo no interior da referida praça-forte várias construções a-
linhadas em torno de um grande espaço vazio, com edificações térreas
e de dois pavimentos, além de um grande armazém para a guarda de
troncos de madeiras e produtos regionais e da existência de uma ponte
elevadiça que garantia o acesso à área externa da muralha, fosso e vin-
te grandes canhões que os índios haviam ajudado a transportar e mon-
tar para a defesa (LEITE FILHO, 2001, p. 622).
Ao fundar o Forte de Saint Louis e a Vila de São Luís, uma homenagem ao Rei
Luís XIII da Coroa da França, estabeleceram o marco mais antigo e permanente do processo
de urbanização da cidade, modelagem preliminar do atual centro urbano (Figura 3).
Figura 3 – São Luís. Sítio urbano inicial, com o Forte de São Luís, Praça Pedro II e a Avenida Beira Mar.
2008.
Fonte: Lopes, 2008.
Para Lopes (2008, p.12) a posse da terra foi efetivada também a partir dos “rituais
políticos e religiosos de fundação da colônia que ocorreram em 08 de setembro 1612. A pri-
meira missa foi realizada em 12 de agosto daquele ano, celebrada por padres capuchinhos que
12
A Ilha do Maranhão tem como nome oficial Upaon-Açu, instituído por Decreto Municipal. Nela atualmente estão quatro
municípios que compõem a Região Metropolitana da Grande São Luís. São eles: São Luís, São José de Ribamar, Paço do
Lumiar e Raposa.
21
integravam a expedição”. As interações socioespaciais, então construídas, permanecem de-
marcadas, pois atualmente sua localização corresponde a Praça Pedro II, onde está localizada
a sede do governo estadual, do governo municipal, do palácio da justiça, de instituições finan-
ceiras e prédios tombados pelo patrimônio cultural (Figura 3). Conforme o relato de um dos
padres capuchinhos integrantes da expedição:
Desejando construir um forte, tanto para a segurança dos franceses
como para a segurança do país, escolheram uma bela praça muito in-
dicada para esse fim por se achar numa alta montanha e na ponta de
um rochedo inacessível e mais elevado do que todos os outros e donde
se descortina o terreno a perder de vista; assim entrincheirado, for-
mando um baluarte do lado da terra firme, é inconquistável e tanto
mais forte quando cercado por completo por dois rios muito profundos
e largos que desembocam no mar, ao do dito rochedo onde se acha
o único porto da ilha do Maranhão capaz de abrigar navios de mil a
mil e duzentas toneladas, os quais nele podem fundear com segurança
(ABEVILLE, 1985, p. 57-58).
A configuração espacial foi disposta “a cerca de mil e duzentos passos do forte,
franceses e indígenas levantaram a igreja e o Seminário dos Moços Franceses e Índios”, vi-
sando assegurar uma territorialidade pela religião e integração ao trabalho no molde ocidental.
“Algumas aldeias Tupinambás, como a Pedra Verde, Juniparã, Timbó, Janovarem e Igapó,
localizavam-se próximas ao forte erguido pelos franceses” conforme Lopes (2008, p.12). Des-
se modo, o centro de São Luís começa a ser materializado nos objetos e arranjos espaciais
necessários e/ou contingentes.
Para Lopes (2008, p.13), “em 1615, se deu a reconquista do Maranhão pelos por-
tugueses. Na batalha de Guaxenduba, as Coroas Ibéricas lutaram contra os franceses e seus
aliados indígenas pela restauração do domínio português”. A reação de Portugal impôs a ren-
dição dos franceses e a batalha de Guaxenduba que produziu marco territorial e conteúdo
simbólico importantes na memória coletiva da cidade.
Sem julgar o mérito da desterritorialização francesa ou portuguesa
13
em terras ma-
ranhenses, prevaleceu o domínio português. Os portugueses assumiram uma organização es-
pacial da cidade pretendendo reproduzir em São Luís elementos da capital portuguesa, exem-
plificado nas instruções para a criação da Praça do Comércio na Praia Grande, construída
posteriormente, que seria no estilo da famosa Praça do Comércio pombalina de Lisboa, de
1756. Assim, o território que corresponde a São Luís de hoje e que era integrante na partilha
13
Fazemos uma referência à desterritorialização, conforme Santos “no sentido de que separa o centro da ação e a sede da
ação. Seu espaço, movediço e inconstante, é formado de pontos, cuja existência funcional é dependente de agentes externos”
(2005, p. 170).
22
do Novo Mundo
14
ao domínio de Portugal, é reintegrado e a cidade recebeu uma organização
espacial instituída nos moldes das cidades de colonização portuguesa. As bases da área central
da cidade tanto física como simbolicamente foram funcionalmente estabelecidas, devido às
demandas comerciais e de manutenção do domínio português na região.
Figura 4 – São Luís. Província do Maranhão, 1631.
Fonte: João Teixeira Albernas. Mapoteca do Itamaraty (Rio de Janeiro)
Efetivamente, desde a sua origem e formação, a cidade integrou-se aos interesses
externos. A singularidade da história urbana de São Luís expõe que os mecanismos da acumu-
lação já se efetivavam por portugueses, franceses, holandeses, ingleses, entre outros, em nosso
território. Smith (1988 p.175-176) nos ajuda a compreender que, a motivação para estabelecer
bases territoriais nos espaços apropriados, realça que a “acumulação do capital leva a uma
franca expansão geográfica da sociedade capitalista, conduzida pelo capital produtivo. Isso
exige um contínuo investimento de capital na criação de um ambiente construído para a pro-
dução”, o que justificava as formas e processos que eram implantados ou não, pois a “locali-
zação desse capital é uma questão complexa”. Logo, o movimento do capital é desprovido de
14
Conforme o Tratado de Tordesilhas (1494), a exploração das terras do Novo Mundo seriam de Portugal e da Espanha. O
Maranhão coube a Portugal e, portanto, desde 1504 as primeiras expedições portuguesas vieram reconhecer a área
(VIVEIROS, 1954).
23
compromissos maiores com a sociedade local, portando sua fixação é seletiva e voltada para o
interesse individual ou coletivo de acumulação.
Nesse sentido, é possível associar, que entre outros interesses, em 1621 o Brasil
passe a ter duas capitais: a cidade de Salvador, era a Capital do restante do Brasil e, foi criado
o Estado do Maranhão e Grão-Pará, tendo São Luís e Belém, como Capital alternadamente e
ligada diretamente com Lisboa. Essa função política atraiu uma rie de melhorias no sistema
urbano, inclusive para a região que se estendia até o Piauí, Ceará e Amazônia. De fato, o Es-
tado quando aliado ao capital expõe como “a função política muitas vezes serviu de ponto de
cristalização a outras funções” (SORRE apud Duarte 1967, p. 20).
A função política sempre foi preponderante, pois as diferentes funções urbanas
operadas pela cidade direcionaram os diversos padrões locacionais que nela se estabelecem. A
urbanização iniciada com a instalação do forte de Saint Louis foi consolidada por medidas
administrativas que orientaram o crescimento da cidade, “do qual constava desenho próprio e
particular para o desenvolvimento do núcleo urbano, agora sob colonização portuguesa” (Es-
pírito Santo, 2006, p. 62). A organização espacial da cidade nos permite acompanhar movi-
mentos determinantes na constituição da centralidade urbana articulada aos interesses exter-
nos.
Para Beaujeu-Garnier (1975, p. 350), “é muito difícil avaliar o papel do centro na
vida da cidade”. conflitos de classes visíveis nos processos de acumulação, tais como: a
competição pelo uso do solo urbano mais caro, os processos de acumulação do capital, os
mecanismos das economias de aglomeração que agregam maior lucratividade aos empreen-
dimentos e outros. Da mesma forma, são também contraditórios os que se estabelecerem co-
mo deseconomias, gerados pelos congestionamentos do trânsito, pelo alto preço dos imóveis,
pela falta de estacionamento, pelo deslocamento das populações de maior poder aquisitivo
para outras áreas, pela dispersão do comércio para áreas periféricas etc.
A discussão sobre o centro urbano, conforme Beaujeu-Garnier (1975, p. 347-354)
permite identificar interfaces de movimentos socioeconômicos importantes. Nesse sentido,
buscamos entender os processos que desencadearam a formação e consolidação deste setor na
cidade, pois segundo a autora, é possível relacionar a estrutura e as condições de expansão do
centro urbano aos papéis que a cidade desempenhou, inclusive desde a sua origem.
A estruturação urbana da cidade em torno de um centro é ainda mais fortalecida,
no período de 1641 a 1644, quando São Luís é alvo de outro processo de apropriação do seu
24
território, dessa feita pelos holandeses. “Após tentativa fracassada na Bahia, realizaram a con-
quista de Pernambuco, que representava a mais rica colônia açucareira de Portugal e a área de
produção mais importante do mundo. Na rota do açúcar, em 1641, os holandeses alcançaram
o Maranhão” relata Santana (2003, p.59). Os holandeses deixaram uma nítida marca urbana
nas cidades onde se fixaram no Brasil, pois o interesse comercial parecia superar as atividades
de cultivo e fabrico do açúcar. A cidade foi dotada de melhorias tais como “a consolidação da
malha viária com a cristalização de nítidas referências urbanas, a conclusão da muralha do
forte a verdadeira cidadela, o Largo dos Carmelitas ou Largo do Carmo, no local realiza-
vam-se as transações comerciais e de lá partiam os eixos viários” conforme Leite Filho (2001,
p. 625), cristalizando formas importantes no centro urbano da cidade, inclusive na atualidade.
Os holandeses fizeram registros importantes da organização espacial decorrentes
dos processos sociais de uso do solo e formação da inicial da urbe, a saber: registros das pai-
sagens e plantas da cidade, entre outros (Figura 5).
Figura 5 – Vista de São Luís em 1641, obra do pintor Franz Post
Fonte: Lopes, 2008.
Conforme nos revelou a historiografia desse período, a recorrente seletividade dos
movimentos do capital oriundo da expansão mercantil da França, Holanda e Portugal fixou,
em São Luís, uma forte concentração dos processos sociais que culminaram com a centrali-
25
dade urbana da cidade no contexto do Maranhão. Dessa forma, é possível associar a distribui-
ção dos equipamentos urbanos públicos ou privados de comércio, de comando, de finanças,
políticas e religiosas ou culturais aos interesses vigentes em cada movimento determinante em
São Luís, para atender ao capital com intermediação do Estado ou não (Figura 6). Um bom
exemplo refere-se ao sítio urbano original, que foi configurado por um plano urbanístico efe-
tivado pelo engenheiro Frias de Mesquita, no qual ele adotou, segundo Lopes (2008, p. 14),
“na traça de São Luís, as Ordenanzas de Descumbrimiento, Nueva Población y Pacificacion
de las Indias, de 1573, incluídas nas Ordenações (ou Instruções) Filipinas...Este traçado
revelando o atual desenho urbano do centro”. (grifo nosso).
Figura 6 – São Luís. Núcleo fundacional de SãoLuís, detalhe. 1647.
Fonte: Livro de Gaspar Barleus. Estampa 52.Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro)
Ainda dentro do modelo de colonização portuguesa, na maior elevação do territó-
rio ocupado foram dispostos os equipamentos urbanos administrativos, militares e religiosos e
na parte baixa, as atividades comerciais e portuárias, configurando também uma Cidade Alta e
uma Cidade Baixa (Figura 7), a semelhança de Salvador, conforme Santos (1958), e outras
cidades brasileiras.
26
Figura 7 – São Luís. Bairro da Praia Grande, na parte baixa, predomínio das atividades co-
merciais e portuárias e na parte alta, as instituições de poder, alfândega e armazéns. 1908
Fonte: Lopes, 2008.
As dinâmicas urbanas mais intensas estavam no Porto da Praia Grande, ali havia
um entreposto da metrópole e as atividades comerciais, que a partir dele aconteciam, atraiam
a população, comerciantes e os prestadores de serviços. Em sua formação a cidade tornou-se o
espaço desejável para os diversos tipos de atividades. Efetivamente, segundo Corrêa (2000a),
esses processos sociais na grande cidade capitalista, notadamente a acumulação do capital e a
reprodução social, criam funções e formas espaciais. A distribuição espacial das atividades e
suas materializações constituem a “própria organização espacial urbana”. Portanto, é possível
compreender a cidade pelos processos sociais e formas espaciais “devido à sua utilidade na
conexão ação humana-tempo-espaço-mudança”.
Para o referido autor, um elemento mediador entre os processos sociais e as
formas espaciais. Os movimentos contínuos e permanentes da sociedade dão origem às for-
mas espaciais, portanto os processos espaciais “são as forças através das quais o movimento
de transformação da estrutura social, o processo, se efetiva espacialmente, refazendo a espaci-
alidade da sociedade”. Explicando melhor, o autor afirma que:
Este elemento viabilizador constitui-se um conjunto de forças
atuantes ao longo do tempo, postas em ação pelos diversos agen-
tes modeladores, e que permitem localizações e relocalizações
das atividades e da população na cidade. São os processos espa-
27
ciais, responsáveis imediatos pela organização espacial desigual
e mutável da cidade capitalista (CORRÊA, 2000, p. 36).
A Praia Grande (Figura 8) expressa até o início do século XX, a forte propensão
que determinados setores têm nas cidades de reunir e oferecer bens e/ou serviços específicos,
constituindo-se o ponto nodal articulação interna e/ou externa. As localizações a partir dessa
centralidade validam o que afirma Castells (1983, p.313) de que as cidades, “são a expressão
concreta de cada conjunto histórico, no qual uma sociedade se especifica.” As relações soci-
ais vinculadas às necessidades da vida humana resultam em divisão social do trabalho e, ainda
que sejam contraditórias em si, pelo jogo de interesses que as movimenta, respondem diferen-
cialmente pela configuração espacial da cidade capitalista. Ela foi e é consolidada no desen-
volvimento do capitalismo seletivo que produz espaços circunscritos ao atendimento da ex-
pansão do capital, podendo atender ou não às necessidades dos seus habitantes.
Figura 8 – São Luís. Praia Grande atual, antiga Rampa Campos Melo, ponto nodal da cidade até 1930.
Fonte: Lopes, 2008
Castells (1983, p.272) discute nas cidades um espaço o centro, que caracteriza-
do por sua ocupação, pelas atividades de coordenação e identificação simbólica, estabelecida
pelas relações sociais e valores culturais advindos da participação espacial nos valores centra-
lizados, é para o citadino o local integrador de usos para todos . Sposito (2005) contribui para
28
a compreensão desse espaço ao destacar algumas formas que foram apresentadas por Castells
(1983), a saber: a existência de grandes unidades de produção e consumo, a ampliação dos
assalariados que se diferenciam no interior das categorias sociais e a concentração do poder
político, importantes na produção capitalista das cidades. Esta configuração pode ser transfe-
rida para São Luís, que de forma muito concentrada no bairro da Praia Grande reunia essas
formas para atender as funções políticas, portuárias, comerciais, os fluxos de pessoas e trans-
portes (Figura 9). Segundo, Espírito Santo (2006, p. 62):
As praças (as plazas mayores e plazas de armas espanholas), as ruas ortogo-
nais orientadas de acordo com os pontos cardeais e as fachadas dos edifícios
(que deveriam ser concebidas com o máximo de regularidade, simetria e be-
las visuais) marcaram o modelo implantado pelos espanhóis em suas cidades
coloniais
15
e refletiram as expectativas renascentistas de beleza, simetria e
ordenação racional dos espaços públicos. [...]São Luís apresenta em seu Cen-
tro, no sítio original de sua fundação, o modelo da Plaza maior, contendo os
principais edifícios administrativos: o Palácio dos Leões, a Arquidiocese e a
Catedral da Sé, o Palácio La Ravardiére e no século XX recebeu o Palácio
da Justiça.
Figura 9 – São Luís. Praça Pedro II, modelo de Plaza maior, no sítio urbano inicial. 2009
Fonte: Reginaldo Monteiro
15
Estas normas urbanísticas foram extensivas às cidades brasileiras devido a União Ibérica, no período de 1580 a 1640,
quando a Coroa Portuguesa esteve sob o domínio espanhol.
29
1.2 MARCOS HISTÓRICO-GEOGRÁFICOS PARA DISCUSSÃO DO CENTRO E
CENTRALIDADES EM SÃO LUÍS
A espacialização das atividades de comércio e serviços perpassa amplos conteú-
dos urbanos, portanto, faz-se necessário justificar os balizamentos selecionados para essa pro-
posição inicial sobre São Luís e que foram fundamentados em Sposito (1991,1996, 2001),
Whitacker (1997, 2006) e Alves (1999, 2001). Consideramos que “a análise do processo de
produção e estruturação das cidades tem que passar necessariamente pelo entendimento do
papel do centro”, pois devido às determinantes sociais, econômicas, políticas que estão na
gênese e crescimento da cidade, o centro urbano foi e é estruturador de suas importantes di-
nâmicas. A redefinição da centralidade urbana tem acompanhado as transformações na cida-
de, e aqui destacamos duas dinâmicas “a expansão do tecido urbano, de forma intensa, mas
descontínua” e a implantação de grandes equipamentos comerciais e de serviços concentrados
nas áreas onde estão as populações de maior poder aquisitivo. Então, buscamos nas formas e
fluxos urbanos associados às atividades de comércio e serviços, em dois grandes recortes his-
tóricos, uma aproximação do centro urbano e de expressões de centralidade em São Luís.
Efetivamente, “a cidade, é produto: por conseguinte, ela exprime as forças sociais
em ação e a estrutura de sua dinâmica interna” afirma Castells (1983, p.313), pois esses pro-
cessos criam formas e fluxos que se espacializam e redefinem os espaços urbanos. O autor
esclarece que “à medida que distintas atividades e distintos níveis sociais ligados a estas
atividades, esta divisão se espacializa e, ao espacializar-se, tem, a um tempo, elementos de
diferenciação, tanto a nível social como espacial”. (1982, p. 65) No caso de São Luís, é possí-
vel identificar em dois grandes recortes espaciotemporais, marcos “histórico-geográficos”
(HARVEY, 2005, p.36) da produção espacial da cidade, o primeiro até 1720 e o segundo até
1950. A periodização que propomos pretende organizar algumas dinâmicas urbanas, com atri-
butos capazes de demarcar determinantes culturais, econômicas e políticas nos processos so-
ciais do espaço maranhense, representado por São Luís.
Para o primeiro marco, tomamos emprestada a periodização de Burnett (2008,
p.112), na qual ele destaca o lento crescimento urbano que São Luís conhece até meados sécu-
lo XVIII, após cem anos de estruturação do poder lusitano no Maranhão. Este é um dos ele-
mentos que teríamos para entender, em parte, a permanência secular do centro urbano. A con-
figuração espacial, até então, empreendida pelos franceses, holandeses e portugueses foi
30
mantida, a cidade desempenhava as funções ligadas a sua forma original de entreposto comer-
cial. Neste contexto que se destacar a contribuição socioespacial de religiosos no período
de 1615 a 1654, após a expulsão dos franceses. Eles integravam as expedições de conquista e
apropriação dos territórios na expansão dos impérios capitalistas, fixavam prédios que se
constituíam marcos territoriais por sua carga simbólica religiosa e/ou cultural, por meio de
conventos, igrejas e colégios (Figura 10). A territorialização desses missionários, dispostos
estrategicamente pela cidade, exercia uma forte influência nos locais inclusive delimitando as
áreas urbanas.
Estas ordens religiosas ocuparam lugares distintos na cidade. Os jesuí-
tas ficaram próximos ao forte de São Luís. No lado oposto, próximo à
praia do Desterro, os mercedários ergueram seu convento. A igreja e o
convento carmelita ficaram no centro, no largo do Carmo, onde está a
Praça João Lisboa. Os franciscanos fixaram-se à esquerda do Carmo,
seguindo o platô, que avança para o interior da Ilha. (LOPES, 2008, p.
16).
Fonte: Prefeitura de São Luís, 2008
Figura 10 – São Luís. Rua da Palma e Igreja do Desterro ao fundo. Largo do Carmo e Praça João Lisboa.
Um segundo marco, na consolidação do centro urbano compreende um extraordi-
nário crescimento econômico e populacional (Quadro 1) de São Luís periodizado de 1750 a
1950, ordenado pelo capital mercantil, financeiro e industrial. As vantagens da função política
e administrativa de Capital do Estado do Maranhão e Grão-Pará alternadamente com Belém
dotaram a cidade com condições para a reprodução, a circulação, a distribuição do capital
proveniente da comercialização de arroz, algodão e couro. E no período de 1870 a 1960 a
cidade viveu o apogeu e declínio do parque industrial com as indústrias têxteis. Essas dinâmi-
31
cas urbanas de natureza populacional e econômica foram consolidadas no centro urbano da
cidade.
O centro de São Luís recebeu mudanças qualitativas e quantitativas. A centralida-
de desse setor da cidade foi amplamente reforçada com os grandes eventos de estruturação da
economia e da cidade. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, que foi criada por Por-
tugal para executar a transferência de riquezas regionais, efetivou o consumo desses produtos
na Europa pós-revolução industrial. A dinâmica das relações de produção na cidade colocou
em evidência conteúdos, movimentos e processos sociais orientados principalmente pelos
interesses do capital, que resultaram, conforme Burnett (2008, p.114), na “instalação de
grandes companhias exportadoras e importadoras, comandadas por ingleses e franceses que
vão iniciar a fase de crescimento urbano da cidade e seu relacionamento cosmopolita com a
Europa”.
Quadro 1 – Crescimento demográfico de São Luís
Tempo histórico População
Fins do século XVII 801 hab.
Fins do século XVIII 13.145 hab.
1820 20.000 hab.
1835 25.000 hab.
1868 30.000 hab.
1872 31.000 hab.
1890 26.315 hab.
1900 29.475 hab.
1920 52.929 hab.
1940 85.583 hab.
1950 119.785 hab.
Fontes: SERFAUH, 1970/Séries Censitárias, IBGE
A cidade concentrou no espaço e no tempo os elementos da produção por meio de
empresas, de mercados, de informações e de decisões. Nessa etapa, observa-se a articulação
dos trabalhos vivo e morto
16
, a divisão social do trabalho que separa as condições de realiza-
16
Santos (1994, p. 115) esclarece que “A economia política não pode prescindir do dado espacial. O espaço
pode ser definido como o resultado de uma interação permanente entre, de um lado, o trabalho acumulado, na
forma de infra-estruturas e máquinas que se superpõem à natureza e, de outro lado, o trabalho presente, distribu-
ído sobre essas formas provenientes do passado. O trabalho morto, sobre o qual se exerce o trabalho vivo, é a
configuração geográfica e os dois, juntos, constituem, exatamente, o espaço geográfico”.
32
ção entre as classes e a dissociação dos agentes de produção, conforme Lefebvre (1999,
p.143) “o dinheiro da mercadoria; o produtor (trabalhador) dos meios de produção, decompo-
sição da troca em atos separados: a produção e a venda”. Os conjuntos arquitetônicos que hoje
integram o acervo tombado como patrimônio cultural, a exemplo da Rua Portugal (Figura 11),
na Praia Grande, exemplificam esses movimentos conforme o relato de Espírito Santo (2006,
p.162):
Para garantir o fornecimento de matéria prima para a iniciante indús-
tria manufatureira da metrópole, Pombal criou uma série de compa-
nhias de comércio em diferentes regiões de suas colônias em parti-
cular, a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão,
que, em 1755, introduziu, no Maranhão, o cultivo do algodão em larga
escala, fazendo uso da mão-de-obra negra.[...] Também são desse pe-
ríodo os primeiros lotes de azulejaria portuguesa empregados nos no-
vos edifícios, construídos a partir do desenvolvimento econômico, por
comerciantes portugueses ligados às atividades da Companhia Geral
de Comércio.
Figura 11 – São Luís. Rua Portugal. Área de Tombamento federal-UNESCO
Fonte: Lopes, 2008
Outro evento significativo neste marco histórico-geográfico foi a abertura dos por-
tos do Brasil, em 1808, às nações amigas. Essa abertura portuária expôs o papel do Estado em
fixar regulações importantes, pois o fim do monopólio portuário com Portugal, entre outras,
deflagrou um dinamismo na economia com repercussões socioeconômicas muito importantes
para a cidade, materializadas em sua área central. Essa estruturação econômica culminou
com dinâmicas urbanas, nas quais “as atividades agrárias desenvolvidas no Maranhão e as
33
atividades portuário-mercantis efetivadas na Praia Grande (Figura 12) integravam a cidade a
um arquipélago de praças de comércio mediterrâneos e mundiais,” segundo Santana (2003, p.
70).
Figura 12 – São Luís. Praia Grande atual, no Centro Histórico. 2009
Fonte: Espírito Santo (2006)
A partir do século XIX, conforme Lopes (2008, p.20), mudanças no cenário inter-
nacional promoveram uma crise na agroindústia local, concomitante com a reinserção da pro-
dução norte-americana, o que gerou uma insustentável concorrência para o algodão mara-
nhense. A atividade comercial passou a ser estimulada pelos institutos de créditos, como “o
Banco Comercial do Maranhão (1847), o Banco Comercial (1869) e o Banco Hipotecário” e,
outras instituições financeiras que foram implantadas na Rua do Giz (Figura 13), no centro.
Esta rua ficou conhecida como a rua dos bancos e, a partir de 1930 ela foi completamente
requalificada com o uso de moradias multifamiliares, como discutiremos a seguir. Assunção
(2000, p. 35) nos diz que:
Em 1812 operavam mais de 12 estabelecimentos comerciais ingleses em São Luís
(Viveiros, 1954, I: 122). A maioria se estabelecia com créditos do mercado de capitais
londrino. Em pouco tempo, lograram dominar o de importação e exportação. Em
1812, 56% das exportações maranhenses iam diretamente para a Inglaterra e 45%
das importações provinham deste país. Em números absolutos, o valor das importa-
ções inglesas não chegou, no período 1812 1821, a alcançar o das exportações ma-
ranhenses (Schneider, 1975). O Maranhão constituía assim uma província atípica no
Império brasileiro, e mesmo na América latina: aqui os negociantes ingleses compra-
vam mais do que vendiam.
34
Fonte:Prefeitura de São Luís, 2008
Figura 13 – São Luís. Rua do Giz, no sítio urbano original
Fonte: Lopes, 2008
Tal observação vem destacar a participação do capital financeiro dos ingleses na
produção do espaço maranhense. Eles efetivaram intensos processos sociais capitalistas, cujas
ações estavam relacionadas aos setores agrário, industrial e financeiro, cujas ações ficaram
cristalizadas no centro de São Luís. Este segmento influenciou, também, a expansão do tecido
urbano com a construção de casarões ao longo do principal eixo viário da cidade, o Caminho
Grande. Iniciou-se, desse modo na cidade a formação de bairros residenciais em áreas perifé-
ricas ao centro, para onde se deslocaram as famílias de maior poder aquisitivo, este processo
contribuiu para o posterior esvaziamento da função residencial da área central.
É fato que a materialização dessas atividades comerciais e serviços estavam con-
centrados na Praia Grande, local onde estavam espacializadas as principais atividades econô-
micas, representativas da pujança do capital na época. Observa-se nesse processo o agrupa-
mento de empresas dependentes, a distinção entre o trabalho produtivo (de coisas e
mercadorias) e o trabalho improdutivo, mas socialmente necessário (o do sábio, do professor,
do médico etc.). Sem dúvida, a “cidade e a aglomeração urbana concentram serviços” afirma
Lefebvre (1999, p.149-150). Esses serviços são definidos como expressão que designa valor
de uso; fornecer um “serviço” enquanto atividade ou um serviço pode ser comprado a título
de “serviço”. Todo serviço que é capaz de produzir “conhecimento, obras, alegria, prazer, e
não somente coisas, objetos, bens materiais trocáveis” explicita Lefebvre (1999, p.151).
Conforme Lopes (2008, p.21) :
35
em 1854, foi criada a Companhia Confiança Maranhense com a fina-
lidade de construir um edifício com várias lojas comerciais para serem
alugadas, no lugar chamado antes ocupado pela Casa das Tulhas, que
era um aglomerado de barracas que não apresentavam na época condi-
ções de salubridade. É em torno deste empreendimento que por volta
de 1861 a Praia Grande passa a ser uma área de comerciantes abasta-
dos. Multiplicavam-se as atividades comerciais: armazéns, lojas de fa-
zendas, tipografias, quitandas, barracas, boticas, lojas de ferragens, li-
vros, botequins, bilhares, açougues, restaurantes, padarias, alfaiates,
chapeleiros, sapateiros, ourives, relojoeiros, marceneiros, funileiros,
armeiros, caldeiros, charuteiros e picheleiros. Entre 1850 e 1880, ins-
talaram-se as lojas de moda, farmácias, agências de leilões, fábricas de
chocolate, de licores, de fogos e foguetes.
O poder público teve papel preponderante na valorização dos espaços urbanos na
área, tais como: a dotação de uma melhor infraestrutura portuária, inclusive para armazena-
mento e comercialização, ampliação das funções política, portuária e comercial no espaço,
locação e melhorias do aparelhamento urbano, pavimentação de ruas, regulamentações, como
o Código de Posturas Municipais de 1838 que definia modalidades de usos do espaço citadi-
no, entre outros. “Na área da Praia Grande, a intensificação das atividades portuárias favore-
cia a concentração comercial, expandida através de aterros e novas construções, com destaque
para o Porto, as grandes casas comerciais lojas de venda a varejo ou outros ramos comerci-
ais” conforme relato de Santana (2003, p. 81).
Figura 14 – São Luís. Centro urbano, no sítio original de formação da cidade. 2009.
Fonte: Lopes, 2008
36
Esses processos espaciais de São Luís, bem como de outras cidades, podem ser
ponderados conforme Smith (1988, p. 178/182), em que “se a acumulação de capital leva
diretamente à concentração de capital em unidades existentes, ela leva indiretamente, mas não
menos inexoravelmente, a um processo mais poderoso – à centralização do capital.” A forma-
ção de setores extremamente dinâmicos no espaço urbano da cidade manifesta que a centra-
lização espacial do capital é principalmente uma questão de capital produtivo centralizado”.
Desse modo, “juntamente com os objetivos e instrumentos de trabalho o processo de acumu-
lação acarreta uma centralização espacial sem precedentes dos sujeitos de trabalho”. Esse é
um processo que ocorre geralmente sob o comando de capitais individuais e com grandes van-
tagens, pois o “custo da reprodução da força de trabalho é reduzido porque certo número de
necessidades pode ser consumido em comum”. Portanto, a formação territorial do centro ur-
bano deve ser considerada no desenvolvimento do processo de acumulação do capital, que
tende a concentração em determinados locais, visando beneficiar-se das economias de aglo-
meração, gerando o fortalecimento dos setores mais produtivos, que passam a se diferenciar
no conjunto urbano, definindo uma centralização espacial do capital (Figura 15).
Em São Luís, as dinâmicas econômicas provocadas pela industrialização alinha-
ram-se às funções comerciais e portuárias, ampliando a concentração na área central (Figura
14). “As construções fabris, na verdade, passaram a disputar localizações com os estabeleci-
mentos comerciais, e com a moradia, processo esse polarizado pelo centro da cidade” como
esclarece Santana (2003, p. 122-124). “Em 1900 as unidades fabris instaladas na cidade de
São Luís empregavam aproximadamente, 19,3% da população.” A intensificação das ativida-
des voltadas para atender essas funções ativou um processo de valorização do solo nas áreas
centrais, como ocorreram com os demais núcleos urbanos onde estavam ocorrendo os proces-
sos de centralização do capital industrial, as populações de maior poder aquisitivo ocuparam
as áreas centrais e as populações carentes as áreas periféricas do centro.
As atividades portuárias, comerciais, industriais, políticas, administrativas e cultu-
rais cristalizaram-se no centro de São Luís, resultando em uma forma urbana que se indivi-
dualizou tanto no contexto da cidade quanto do estado. Logo, a cidade começou a atrair im-
portantes movimentos populacionais, devido a acessibilidade que os transportes ferroviários e
rodoviários implantados a partir da década de 1920, propiciaram ao integrar a cidade com a
parte continental do estado. O núcleo do centro de São Luís era o bairro da Praia Grande, sítio
urbano original da cidade e o ponto nodal dos fluxos hidroviários, ferroviários e rodoviários e,
maior concentração das atividades que deram formas às funções portuárias, comerciais e polí-
37
tico-administrativas da cidade, durante o longo período entre os séculos XVI até o início do
século XX. Neste restrito espaço fortemente concentrado, foi cristalizada a rica diversidade de
um patrimônio cultural, material e imaterial, cujos conteúdos histórico-geográficos testemu-
nham uma formação urbana que teve, entre outros, como determinante o capitalismo.
Figura 15 – São Luís. Foto aérea do Centro Urbano.
Fonte: Prefeitura de São Luís, 2008.
Aos processos de concentração e centralização do capital podemos associar “a
concentração territorial da população moderna [que] nunca é o resultado apenas do aumento
natural da população”. O seu processo oposto que é a dispersão de pessoas, de mercadorias,
das formas espaciais torna-se evidente pelo aumento da fluidez, mudança na localização das
indústrias e outras atividades produtivas visando possibilidades de maior ganho pelo capital,
segundo Mckenzie, (1926). O centro urbano tem subjacente, em sua lógica de configuração
territorial, os processos espaciais de acumulação, concentração e centralização do capital,
como fator de atração de populações.
Para o autor a concentração populacional em determinada área ou região já esteve
relacionada à “importância dos agentes geográficos” e às “condições de abastecimento ali-
38
mentar.” A partir do industrialismo
17
moderno, foram criadas “novas regiões de concentra-
ção” tendo como determinantes o “comércio”, a “indústria” e “as formas modernas de trans-
porte e comunicação”. Portanto, ele [o autor] distingue a concentração da centralização, ao
afirmar que “a centralização é um efeito de tendência dos seres humanos de se reunirem em
determinados lugares para satisfação de determinados interesses, tais como o trabalho, as di-
versões, os negócios, a educação”. Dois fatos devem então ser destacados, que a centralização
é “uma forma temporária de concentração” e que ela “proporciona uma base territorial para a
determinação de grupos e para o controle social. Toda a unidade coletiva vila, cidade, e me-
trópole é uma função do processo de centralização”. Esta é uma caracterização importante
da cidade capitalista, ou seja, a aglomeração em espaços limitados, sob o comando do capital
ou promovendo vantagens, ou expondo a escassez de oportunidades que ele dispõe em outros
locais.
Smith (1988) e Mckenzie (1926) nos permitem discutir a produção espacial da ci-
dade em abordagens que julgamos complementares entre si. No sentido de que a acumulação,
a concentração e a centralização do capital funcionam nas cidades por meio de dinâmicas tão
fortemente estruturadas o capital busca capital, que conseguem estabelecer forças centrípe-
tas que atuam no sentido de permanência ou atração de atividades terciárias para área cen-
tral,
18
provocando o deslocamento de populações de consumidores/trabalhadores. Este ambi-
ente favorável ao capital, extensivo ou não a sociedade, fixa seletivamente determinados
interesses, destinados a atender grupos específicos, pois ele visa uma produção/reprodução
social que o amplie. Conforme Smith (1988, p.179,199):
A diferenciação interna do espaço urbano determina as condições con-
cretas sobre as quais se constrói a expansão urbana. Num nível básico,
o espaço urbano está dividido entre espaços de produção e espaços de
reprodução, que levam à concentração local de atividades e usos de
solo específicos – indústria, transporte, residências, recreação, varejis-
ta, comercial, financeiro e assim por diante. O processo de centraliza-
ção é o meio mais efetivo para realizar essa concentração de trabalha-
dores e com o contínuo desenvolvimento de forças produtivas, a
centralização do capital ganha continuamente cada vez mais impor-
tância.
Os processos de acumulação, concentração e centralização do capital estão crista-
lizados no centro urbano de São Luís, singularizando uma produção capitalista em uma cidade
17
O termo industrialismo difere de industrialização, conforme Sposito (2001, p.96/97), por ser mais amplo e
incluir a industrialização que compreende as dinâmicas socioculturais, mudanças nos cotidiano, nas forma e
ritmo de consumo, organizações do trabalho, espaços e tempo.
18
Conforme Ribeiro Filho (2004, p.161), “na década de 1930, Charles Colby um dos primeiros geógrafos a a-
bordar processos de descentralização, identificou dois grupos de forças, centrífugas e centrípetas, que modelam o
espaço urbano”.
39
insular. Essa localização em uma ilha traz a nosso ver, uma diferenciação nos processos de
centralização, que segundo Mckenzie (1926) correspondem a concentração que se expressa
por uma frequentação temporária em alguns locais, constituindo uma base territorial para a
determinação de grupos e para o controle social. No caso de São Luís, devido a intensidade e
o volume do capital das atividades e serviços, esses processos tendem a uma maior temporali-
dade, com movimentos marcados predominantemente pela permanência (algumas seculares)
de estruturas desfavoráveis, por serem originárias de interesses externos, e, de dinâmicas capi-
talistas temporárias, que devido a atuação imprecisa do Estado provocam mudanças com sus-
tentabilidade questionável tanto para a sociedade como para o capital.
Assunção (2000, p. 34) contribui ao destacar que:
A política mercantilista do Marques de Pombal e à ação da Companhia Geral do Grão
Pará e Maranhão (1756 78) [...] criou as condições para o desenvolvimento de uma
economia regional baseada na plantation escravista, produzindo para o mercado eu-
ropeu [...]. Podemos assumir, no entanto, que em poucas outras regiões brasileiras e-
xistia dependência tão grande dos fazendeiros em relação à burguesia comercial. A
industrialização na Europa, com sua demanda por algodão aumentando de maneira
exponencial, de exportação maranhense e ajudou a consolidar o crescimento do setor
de exportação. O algodão passou a representar 75% das exportações brasileiras com
24,4%, logo garantiu, a partir de 1780, um mercado em expansão constante para o
principal produto depois do açúcar, com 34,7%. O Maranhão era então a segunda re-
gião exportadora do produto depois de Pernambuco e São Luís chegou a ser o
quarto porto exportador do Brasil.
É dessa forma que a organização espacial vai incorporar “a instalação das pri-
meiras industriais têxteis no país e, se desenvolvem em São Luís os curtumes, a indústria do
anil (ou índigo, produto para dar o tom azul aos tecidos, retirados de leguminosas) e o soque
do arroz.” conforme Lopes (2008, p.12). Essas atividades reforçaram a centralidade desse
setor urbano, pois uma parte significativa das unidades fabris foi instalada próxima do centro
e o poder público atendendo as solicitações dos capitalistas construiu o primeiro conjunto o
operário
19
(Figura 16), localizado próximo a Rua Grande, atual núcleo da área central, onde
estava a Companhia Fabril Maranhense – Fábrica de Santa Isabel (Figura 17).
19
Conforme Santana (2003, p.124) a concentração urbana dos trabalhadores fabris determinou o surgimento ou
ampliação dos bairros Vila Passos, Floresta, Monte Castelo, Apicum devido a Companhia Fabril Maranhense e
os bairros Camboa, Baixinha e Codozinho em torno da Companhia de Fiação e Tecidos do Maranhão
40
Figura 16 – São Luís. Fábrica Santa Isabel. Rua Cândido Ribeiro.
Fonte: Cunha, 1908
Figura 17 – São Luís. Fábrica Santa Isabel. Conjunto operário fabril, Rua Senador João
Pedro. Área de Tombamento estadual
Fonte: Lopes, 2008
Tentando exemplificar os processos de concentração e de centralização do capital
em nossa cidade, podemos destacar a alocação de equipamentos, fornecimento de eletricida-
de, sistemas de transporte e comunicação que foram implantadas pelo governo estadual con-
comitante com a industrialização da cidade. As estruturas criadas para acompanhar os grandes
movimentos de capitais trouxeram um crescimento populacional e riquezas para São Luís, de
modo que em 1819, os naturalistas bávaros Johann Baptíste Von Spix e Karl Fredrich Phi-
41
lipp Von Martius constataram ser São Luís merecedora do quarto lugar entre as cidades brasi-
leiras, atrás apenas do Rio de Janeiro, Salvador e Recife” conforme Lopes (2008, p.19). Esse
aparelhamento urbano no contexto da demanda industrial existente qualificou a força do capi-
tal para criar o espaço território, fluxos e fixos, que atenderam as exigências econômicas,
pois a produção capitalista cria as condições gerais para o seu desenvolvimento.
Em 1881, a Companhia de Ferro Carril inaugurava serviços de
bonde de tração animal, primeiro no Nordeste, ampliado no ano
seguinte para o Caminho Grande, chegando até o Anil (território
onde se implantou a Fábrica do Anil). Em 1890, a cidade passa-
va a contar com um sistema de telefonia, com 200 aparelhos ins-
talados entre alguns comerciantes. Em 1924, aconteceram inves-
timentos nos sistemas de água e esgoto. Com o surgimento da
eletricidade, os trilhos e os bondes mudaram a paisagem das
principais ruas de São Luís. SANTANA (2003, p. 134)
É fato que, a produção capitalista do espaço equipou diferencialmente a cidade.
Os equipamentos urbanos coletivos estavam concentrados e com eles a possibilidade de
apropriação/produção na área central, que era formada pelos bairros da Praia Grande-
Desterro, Largo do Carmo, ruas Grande, Afogados, Paz e Sol, atingindo, no máximo, as pro-
ximidades da hoje praça Marechal Deodoro e Largo dos Remédios, sendo o seu núcleo ou
core o Largo do Comércio e a Praça João Lisboa. Efetivamente, no caso de São Luís “o cres-
cimento industrial fabril, atribuindo um papel importante à cidade de São Luís, deu ao seu
território morfologia e funções novas” como afirma Santana (2003, p.121).
Os bairros que hoje integram o centro foram constituídos a partir da centralidade
efetivada por esses movimentos do capital. Como referimos anteriormente a proximidade de
unidades fabris do centro urbano ampliou essa centralidade, que foi ainda mais reforçada de-
vido a convergência dos fluxos dos transportes e mercadorias pelo Porto da Praia Grande.
Coube aos excluídos a ocupação das áreas de mangues que circundavam o centro, em um típi-
co processo de periferização denominado palafitas, o que gerou um adensamento de pequenas
moradias populares que tinham, em média, 35 e abrigavam geralmente famílias com mais
de 5 integrantes, configurando importantes áreas de ocupação não-planejada (Figura 18).
Além disso, são importantes também as relações sociais explícitas por Marx no
valor de uso que “corresponde à necessidade, à expectativa, à desejabilidade” e no valor de
troca que expõe as relações “dessa coisa com as outras coisas, com todos os objetos e com
todas as coisas, no mundo da mercadoria”, conforme salienta Lefebvre (1999, p. 135). Desse
42
modo, “a cidade, assim analisada, é um conjunto de apropriações e usos que a valoram dife-
rentemente”. (WHITACKER, 2006, p. 134).
Figura 18 São Luís. Ocupação em áreas de mangues por moradias, do tipo palafita, no bairro da Liber-
dade, próximo a área central.
Fonte: Lopes, 2008
A produção espacial decorrente da concentração e centralização do capital
industrial promoveu uma intensa urbanização em São Luís, a partir da industrialização
20
.
Conforme Ribeiro Júnior (2001, p.70-71), a localização da indústrias têxteis contribuiram
para a expansão do tecido urbano e dois fatores foram altamente significativos: a função
portuária desenvolvida na Praia Grande, que integrava forçosamente os comerciantes e
produtores rurais e industriais do interior à capital e, a Estrada de Ferro São Luís-Terezina
(EFSLT) que tornou-se ponto de convergência do processo econômico regional, aliada aos
demais sistemas de transportes também centrais, podem explicar porque não ocorreram os
“nítidos processos de dissociação entre a zona fabril e zona residencial”. O fortalecimento da
concentração espacial das atividades comerciais e residenciais passou a contar, segundo
Santana (2003, p.122), com “disputas entre diferentes valores de uso pelo capital industrial e
20
Segundo Viveiros (1954, p.558-559), foi a produção de algodão um dos fatores importantes na modernização
da economia Maranhão no final do século XIX. As indústrias têxteis foram as que mais se destacaram, das 13
fábricas, oito foram implantadas em São Luís e cinco no interior do estado, sendo quatro em Caxias e uma em
Codó. Porém, o conjunto industrial era constituído por outras 27 unidades fabris, das quais quinze também esta-
vam localizadas em São Luís.
43
comercial, como também por distintos grupos sociais na instalação de suas habitações”.
Porém, Burnett (2008, p.117) destaca que para São Luís “este perfil político e econômico foi,
entretanto, insuficiente para produzir grandes expansões no tecido urbano da cidade”, pois a
indústria não teve poder para agregar a força de trabalho, condição que julgamos determinante
para prosseguirmos no entendimento sobre a concentração espacial das atividades econômicas
centrais.
A urbanização produziu, também, arranjos espaciais que resultaram na expansão
do tecido urbano para acompanhar algumas unidades fabris distanciadas do centro urbano
21
,
surgindo os processos iniciais de descentralização. Um bom exemplo desse processo foi a
Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil (1893 1950), que atraiu uma população
significativa, predominantemente feminina que para atender a demanda fabril fixou-se à vila
operária, no bairro do Anil, distante dez quilômetros do centro e localizado às margens do rio
Anil, que era usado para o transporte de materia-prima e da produção. Na década de 1930 a
fábrica estava no auge e a área recebeu equipamentos públicos de saúde, educação, segurança,
mercados, igrejas, cinema e sistema de transporte, que guadadas as devidas proporções e o
declínio econômico e estrutural posterior, correspondeu na época ao primeiro subcentro da
cidade.
Dada a relevância econômica e social do bairro [do Anil], em 1893 a
Companhia Ferro-Carril do Maranhão construiu dez quilômetros de
trilhos até o Anil, por onde circularia o bonde animálico (puxado por
cavalos). Reforçando o processo iniciado desde o século XIX, os
subúrbios se desenvolveram a partir da linha do bonde para o Anil, o
principal eixo da malha ferroviária da cidade. Com a implantação dos
bondes elétricos, nos anos 20, as terras às margens da linha do Anil
foram muito valorizadas
(LOPES, 2008, p.264).
O setor industrial que durante o período de 1860 a 1950, tinha impulsionado im-
portantes arranjos espaciais, não se consolidou, segundo Ribeiro Júnior (2001, p.74-81) “o
interstício 1930-1970 daria um duro golpe na São Luís Comercial e Industrial. “O tão
propalado fenômeno da integração nacional”
22
, que já estava sendo concentrado no sudeste do
21
Ribeiro Júnior (2001, p.70-71) relaciona as unidades fabris que contribuíram para o alargamento do tecido
urbano devido a localização distante do núcleo da área central: a Fábrica de Fiação e Tecidos Camboa, situada às
margens do rio Anil a cerca de quatro quilômetros do perímetro urbano; a Companhia Fabril do Maranhense
chamada posteriormente “Santa Isabel”, localizada no canto da Fabril; a Companhia de Fiação e Tecelagem São
Luís e Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, ambas localizadas no final da rua de São Pantaleão, próximo
do bairro da Madre Deus, nas proximidades do rio Bacanga.
22
Conforme Burnett (2008, p.120), a estabilização, no século XX, do modelo de concentração do desenvolvi-
mento nacional na região sudeste do País e a situação geográfica periférica da cidade com relação aos centros de
poder político e financeiro do Brasil, como em inúmeras outras cidades do Norte e Nordeste, trouxe uma estag-
44
Brasil, as motivações desse deslocamento e a distância de São Luís desses polos, trouxe gran-
des impactos socioespaciais, que fogem ao cerne de nossa discussão.
O referido autor pontua vários entendimentos sobre, a nosso ver, no âmbito da e-
conomia política da urbanização e da economia política da cidade
23
, pertinentes e, ainda atu-
ais que devem ser consideradas, a saber: a primeira, a centralidade urbana de São Luís favore-
ceu a aglomeração e na cidade estava “o centro administrativo, a força política organizada,
estruturada em repartições públicas e privadas, igrejas, escolas, aparato policial e judiciário...
tendo como figura representativa o coronelato”; e, a outra a cidade tinha e tem um mercado
interno insuficiente, comprovador de uma relação setorial imperfeita, o primário, o secundário
e o terciário desajustados, onde a população era vista como força de trabalho e muito pouco
como força de consumo, tratou de fechar o ciclo das velhas fábricas”.
O autor contribui ainda, ao reportar a infraestrutura econômica da época, confor-
me relatório do Banco do Nordeste do Brasil (1968, p. 17-18), no qual a cidade apresenta “u-
ma inexpressiva atividade agrícola (1.070 hectares de área explorada) e pecuária (com desta-
que para a suinocultura); 140 unidades produtivas industriais; 13 agências bancárias, o que
conferia à capital deter 53% de toda a movimentação bancária do Maranhão”. A atividade
comercial assume as dinâmicas econômicas, porém, “voltava-se para dentro, com fluxos de
renda interlocais bastante tênues, não tendo a robustez e o destaque da época Colonial e nem
da Imperial e dos primeiros anos da República” (RIBEIRO JÚNIOR, 2001, p.70-71)
Cada um desses processos sociais trouxe mudanças significativas para o centro
urbano de São Luís. Podemos compreender a concentração social e espacial da cidade nesse
recorte temporal, a partir de Santos quando ele discute que esses arranjos têm como determi-
nantes as “funções urbanas e sua redistribuição, em um dado momento, como resultado da
divisão social do trabalho e da divisão territorial do trabalho e, de outro lado, do reconheci-
mento das condições preexistentes, que incluem o espaço construído”. Logo, a espacialização
de fixos e fluxos pode valorizar ou desvalorizar cada parcela do território urbano. Na cidade
as combinações e os arranjos do capital se mostram seletivos, discriminatórios e contam com
o “poder exercido ou consentido pelo Estado” como afirmou Santos (1994, p. 126). Podemos
associar vários componentes históricos ao que seria a crise do centro urbano de São Luís. San-
tana (2003, p.144-145) contribui ao listar alguns eventos significativos para essa compreen-
são, abordando que:
nação iniciada para os maranhenses em fins dos anos 20, com o declínio da produção industrial têxtil do Estado,
e que se consolidou com o modelo industrial do governo de Getúlio Vargas.
23
Cf. SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade.
45
a década de 1950 pode ser marcada pelo(a): (1) declínio do setor
secundário (que o novo parque da indústria de óleos não conse-
gue restabelecer); (2) perda de peso das plantas industriais (fá-
bricas de tecidos); (3) aumento da migração nordestina; (4) ocu-
pação das terras devolutas; (5) alteração do sistema de
transporte, dando-se primazia ao rodoviário; (6) articulação das
lutas sociais no campo e na cidade; (7) configuração de progra-
mas de ação social junto à populações rurais e urbanas articula-
dos pela Igreja Católica do Maranhão; (8) diversificação da ati-
vidade comercial em rios centros de comercialização e perda
da importância de São Luís e do monopólio comercial exercido
pela Praia Grande.
Logo, torna-se evidente que a força da centralidade reflete os arranjos que a eco-
nomia e a cidade concretizaram historicamente. Como vimos na cidade de São Luís, os con-
tornos geopolíticos do capitalismo mercantil atropelaram sua origem e seu crescimento espon-
tâneo. Sua urbanização foi fortemente influenciada por interesses externos, desde as potências
ultramarinas do século XVI até as atuais demandas do capitalismo monopolista. Assim Li-
monad (2007, p.161), contribui ao expor que:
A urbanização não é um processo autóctone, auto-reprodutível e nem se dá
em um espaço virgem, absoluto (Lefebvre, 1974), mas em espaços preexis-
tentes, pré-produzidos e pré-organizados a partir das práticas de diversos a-
gentes sociais e econômicos que variam historicamente, e constitui um pro-
cesso de produção do espaço social (Lefebvre, 1968); é integrante e
resultante da constante (re) estruturação do espaço de reprodução das rela-
ções sociais de produção, da força de trabalho e da vida cotidiana, por meio
das relações que os homens travam entre si e a natureza.
Então, essa cidade capitalista caracterizada por Lojkine (1997,p.146) pela “cres-
cente concentração dos meios de consumo coletivo que vão criar pouco a pouco um modo de
vida” assim como “o modo de aglomeração específica do conjunto dos meios de reprodução
(do capital e da força de trabalho) tornar-se-á uma determinante no desenvolvimento econô-
mico”. Como visto, a concentração urbana é importante para a socialização dos meios de pro-
dução, para a reprodução da força de trabalho pelos meios de consumo coletivo.
Os conteúdos das formas espaciais que estão materializadas em nossa cidade nos
permitiram apreender uma formação histórica da centralidade urbana. O centro urbano de São
Luís enquanto expressão territorial atraiu os processos sociais que portadores de um capita-
lismo velado ou explicitamente dominador promoveram a partir da acumulação, da concen-
tração e da centralização uma configuração espacial que fortaleceu algumas atividades e seus
prestadores de serviços, individualizou um setor no conjunto da cidade, no qual os fixos e
fluxos ampliavam as economias de aglomeração e outros mecanismos de mais-valia.
46
O esforço até aqui empreendido buscou entender na origem e consolidação do
centro “como expressão maior da cidade” segundo Alves (1999, p.17) os movimentos e moti-
vações subjacentes na espacialização das atividades de comércio e serviços em São Luís. A
intensidade da concentração espacial das atividades de comércio e serviços apontam para
uma produção capitalista que priorizou a reprodução social somente quando imbricada com
a reprodução do capital. Portanto, uma síntese que podemos encaminhar nas discussões sobre
São Luís, é que seu centro e as novas centralidades estão impregnadas do triunfo da racionali-
dade do valor da troca, sobre o valor de uso, e com isso a cidade, lugar do encontro, do uso,
perde esses atributos que sempre lhe marcaram” (ALVES, 1999, p.11).
No próximo capítulo, propomos uma discussão sobre o centro principal e os cen-
tros secundários. O centro urbano em São Luís é simbólico e morfologicamente distinguido
no conjunto urbano da cidade. No centro principal estão a maior concentração espacial das
atividades de comércio e serviços, os principais eixos nodais, a mais intensa circulação de
pessoas e carros. Tanto na história urbana, como nos fenômenos de dispersão da cidade nos
quais podem surgir bairros centrais, entre outros, é possível que seja necessária (mas também
possível) a criação de centros secundários para a distribuição de mercadorias ou serviços que
atendam às demandas da população econômicas ou não.
47
Neste capítulo discutimos a possibilidade de identificar nas formas e fluxos urba-
nos de São Luís, na atualidade, as (re) definições dos espaços produzidos e territorializados no
uso do solo para as atividades de comércio e serviços em toda a cidade. Buscamos apreender
nos processos de (des)concentração e de (des)centralização, as formas espaciais e centralida-
des que se destacam na configuração espacial da cidade, quais as determinantes que podem
apontar a permanência ou não de um centro único, polarizador, outras formas e novas expres-
sões de centralidades.
A produção capitalista do espaço urbano, como tem sido discutida até aqui, está
materializada em um dos mais significativos processos espaciais na cidade o centro urbano
ou área central. Sua importância é ainda maior para nosso estudo, pois conforme Castells
(1983, p.272) o centro pode ser “o ponto de partida” para compreender a espacialização da
cidade. Para o autor “além das características de sua ocupação, uma coordenação das ativida-
des urbanas, uma identificação simbólica e ordenada destas atividades a criação das condi-
ções necessárias à comunicação entre os atores” individualizam esse setor conjunto da cida-
de.
A força desse setor no conjunto da cidade trouxe à evidência as contradições do
capitalismo, de um Estado à disposição do capital, de processos sociais que parecem fortale-
cer e manter espacialmente concentradas as atividades de produção, consumo e a maior circu-
lação de veículos e pessoas. Podemos, portanto, transferir para São Luís a realidade urbana
citada, exceto no que se refere aos terminais de transportes inter-regionais, na qual,
De fato, a Área Central constitui-se no foco principal não apenas da
cidade, mas também de sua hinterlândia. Nela concentram-se a princi-
pais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada, e
os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos (CORRÊA,
2000, p. 38).
Ribeiro Filho (2004) pontua que a Área Central “tornou-se o lugar mais privilegi-
ado do espaço urbano” devido à “concentração das principais atividades econômicas e dos
fluxos urbanos em uma mesma área”. Ele destaca nos estudos de Horwood e Boyce (1954) e
Corrêa (2000) que o processo de centralização, ao estabelecer a Área Central, configurou-a de
modo segmentado, com dois setores distintos e complementares: de um lado, o núcleo central
(core, Central Business District ou CBD) e, de outro, a zona periférica do centro (frame, zone
in transition, zona de obsolescência).
CAPÍTULO 2 – SÃO LUÍS: Cidade monocêntrica ou cidade policên-
trica?
48
A seletividade desse processo espacial deve ser distinguida de modo a evitar equí-
vocos e assegurar o entendimento sobre as espacialidades que se constituem. O quadro a se-
guir identifica a atualidade de algumas caracterizações desses setores, conforme Horwood e
Boyce (1959, p. 319-327), Murphy e Vance (1954, p. 418-446), Corrêa (2000, p. 40-43) e
Ribeiro Filho (2004, p. 155-167):
Quadro 2 – Caracterizações da Área Central
NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL ZONA PERIFÉRICA AO NÚCLEO
Uso intensivo do solo área mais dinâ-
mica devido à maior concentração das
atividades, sobretudo do terciário;
Área com predominância do comércio
varejista e de serviços, reconhecida como
o coração da cidade norte-americana e
solo urbano mais caro na cidade;
Apresenta uma estrutura interna do nú-
cleo central diferenciada pelo valor da
terra, pela intensidade comercial, vertica-
lização, pelo fluxo de pedestres e veícu-
los ponto-pico (peak land-value inter-
section);
Ampla escala vertical com variações rela-
tivas às atividades centrais, aos fluxos de
pessoas, comunicações e veículos;
Limitada escala horizontal;
Limitado crescimento horizontal;
Concentração diurna, durante as horas de
trabalho, da população de pedestres;
Foco nos transportes intraurbanos con-
vergência do tráfego urbano;
Área de decisões. Ponto focal da gestão
do território pelo Estado.
Uso semi-intensivo do solo comércio ata-
cadista, armazenagem e indústrias leves,
terrenos abandonados ou vazios;
Ampla escala horizontal as atividades es-
tão localizadas em prédios baixos;
Limitado crescimento horizontal;
Área residencial de baixo status social
amplo setor residencial caracterizados por
residências populares;
Foco dos transportes inter-regionais loca-
lização dos terminais ferroviários e rodoviá-
rios, presença de depósitos, garagens e ho-
téis baratos;
Área receptora de políticas públicas do tipo
requalificação, revitalização, gentrificação
ou outras, pelo Estado ou capital privado.
Considerando o olhar dos referidos autores, identificamos a área central de São
Luís segmentada, porém com a diferenciação entre as atividades político-administrativo-
culturais no Centro Histórico e as atividades de comércio e serviços na Rua Grande e adjacên-
cias. A segmentação desse setor é constituída por um núcleo da área central ( que será apre-
sentado mais adiante) e a zona periférica ao cleo, que não é alvo desse estudo. O processo
histórico de formação desses dois segmentos traz elementos que explicam o declínio do nú-
cleo da área central anterior (Praia Grande), atualmente alvo de políticas públicas de revitali-
zação e requalificação de alguns trechos e encolhimento das atividades de comércio e serviços
que, devido ao fechamento dos empreendimentos e/ou descentralização, estão sendo substitu-
49
ídas por estacionamentos, expandindo o processo de abandono do centro histórico para o setor
de comércio e serviços.
A permanência de uma área central tão concentrada e que apresenta uma caracte-
rização homogeneizada pelos processos espaciais profundamente influenciados pelos arranjos
econômicos, foi e continua sendo, também, reforçada pelas condições físicas de uma cidade
insular. Localizada na ilha do Maranhão, São Luís moldou seus arranjos (Santos, 1994) e a-
justou-os por três séculos e meio, principalmente dentro dos limites dos rios Anil e Bacanga.
Portanto, deve ser considerado que:
A ilha do Maranhão apresenta feições morfológicas variadas. Ao norte, tem-
se “amplas praias de areia quartzosa marinha com granulação fina a muito-
fina, secundada pela costa emersa caracterizada pela ocorrência de barreiras
(falésias) com erosão marinha, pluvial e eólica ativas, intercaladas por cor-
dões arenosos, dunas móveis e paleodunas nos locais onde as barreiras en-
contram-se recuadas e cobertas por estas formações superficiais arenosas”.
FEITOSA (1998) Ao nordeste, as barreiras existentes sofreram processos e-
rosivos com conseqüente recuamento; configurou-se algumas paleofalésias
recobertas por areias, constituindo ambientes de sedimentação marinha e eó-
lica com presença de dunas, paleodunas e restingas. Em direção ao centro da
ilha, tem-se um compartimento caracterizado com formas de relevo colinoso,
delimitado pelo tabuleiro e formas litorâneas. Este compartimento apresenta
extensão, declividade e formas variadas, com declives suaves e abruptos e
vertentes côncavas, convexas e planas. O tabuleiro é formado por superfícies
tabulares e subtabulares, onde ocorrem formas residuais modeladas pela dre-
nagem, e com altitudes máximas em torno de 70 metros, com vários graus de
dissecação. Ao sul e oeste da ilha, ocorrem áreas rebaixadas com formações
de manguezais e depósitos de vasas que bordeiam a baía de São José, não
tendo ocorrência de praias, dunas móveis e falésias. As águas da baía de São
Marcos e São José têm uma influência significativa no modelado da ilha, em
virtude da penetração da mina d’água nos igarapés e da amplitude média
das marés na área, que varia em torno de 6 metros. SILVA (2001)
Decerto, o crescimento territorial da cidade e a expansão da mancha urbana é con-
comitante com a implantação de rodovias federais e estaduais, bem como com a implementa-
ção de sistemas viários importantes (Figura 19), entre os quais: as pontes sobre o rio Anil ,
que deflagraram a expansão do tecido urbano para o Norte da Ilha e ocupação da área litorâ-
nea; a barragem do Bacanga, que ligou a área central à área onde está localizado o Porto do
Itaqui, onde foi fixada com a função portuária da cidade, e a consolidação do Caminho Gran-
de, corredor Centro-Anil. Burnett (2008, p.209) enfatiza que:
Como linhas no tempo, as pontes de São Luís separam modelos de ci-
dade que apresentam diferentes modos de ocupação territorial, de
construções de espaços públicos, de implantação das edificações, de
localização de usos e funções, em um contraste que parece simples-
mente opor o antigo ao moderno.
50
Ponte sobre o rio Anil Barragem no rio Bacanga Ponte sobre o rio Anil
Figura 19 – São Luís. Sistemas viários e vetores da expansão urbana pós 1960.
Fonte: Lopes, 2008
Efetivamente as condições físicas do sítio urbano de São Luís, respondem em par-
te pela concentração espacial e centralização do capital, no contexto da produção capitalista
da cidade. Igualmente significativo para uma aproximação da cidade é a contribuição de Du-
arte (1967, p.15/19) sobre a área central do Rio de Janeiro, na qual ele relaciona o que seriam
“as funções centrais, daquelas não centrais, características da periferia do centro e dos bair-
ros”. Trabalhamos a caracterização do centro urbano ou área central primeiramente como
funcional, pois é nela que se instalam os grandes negociantes, os industriais, os homens de
negócios, os banqueiros, os altos funcionários que comandam e traçam as diretrizes da vida
econômica, financeira e político-administrativa da metrópole e de sua região”. A partir dessas
funções identificamos um conjunto de “serviços” que são atraídos com o “comercial, o recrea-
tivo, o cultural” e que passam a atrair outras “atividades como a de alimentação, a de aloja-
mento, a das profissões liberais, entre outras”.
Ao enfatizar a ampliação da centralidade proveniente da “complexidade de fun-
ções e uma multiplicidade de serviços”, Duarte (1967, p. 19) afirma que o centro ou área cen-
tral monopoliza funções da cidade e metropolitanas. Do mesmo modo Santos (1958, p.68) ao
discutir a cidade de Salvador, destaca que “assim como a história econômica regional favore-
51
ceu Salvador com este acúmulo de funções, a história urbana conduziu à concentração de qua-
se todas estas funções nos distritos centrais”. Podemos também apreender a dinâmica urbana
de São Luís a partir das funções que a cidade desempenhou, a saber: político-adminstrativa,
financeira, cultural, comercial-portuária.
As funções político-adminstrativas assumem maior importância desde a origem
da cidade como base territorial para manutenção da soberania colonial ou patrimonial, o que
lhe assegurou a centralização das atividades voltadas para o ordenamento territorial de uso e
ocupação do espaço, entre outros. Portanto, na parte mais antiga da cidade e não menos im-
portante e dinâmica na atualidade, estão concentradas as sedes dos poderes executivo, legisla-
tivo e judiciário e suas respectivas repartições públicas. Conquanto, ocorra uma descentra-
lização, pois recentemente algumas instituições estão sendo localizadas nos setores onde estão
as classes com maior poder aquisitivo e solos urbanos em poder dos órgãos públicos.
As funções culturais associadas “aos estabelecimentos de ensino ou galerias de
arte, serviços de alimentação etc.”, como exemplifica Duarte (1967, p. 19), estão concentra-
damente cristalizadas no setor denominado Centro Histórico, que é profundamente integrado
a vida da cidade por agregar os equipamentos urbanos públicos de gestão e controle social,
financeiros, religiosos, educacionais, teatros, galerias, de edição impressão e reprodução, bem
como as maiores praças e logradouros públicos. O dinamismo dessa área conta, também, com
os programas de requalificação do Centro Histórico para uso de instituições municipais, esta-
duais e federais.
Essas políticas públicas voltadas “para a preservação do acervo arquitetônico re-
montam a década de 1940, no momento em que, o então governo estadual programava refor-
mas urbanísticas”, conforme Espírito Santo (2006, p. 167), sob o grande impacto socioeco-
nômico que o declínio da agroindústria gerou nas redefinições da centralidade urbana. As
atividades de comércio e serviços foram deslocadas para uma área de expansão do núcleo de
comércio inicial, a Rua Grande e entorno. A partir de então, podemos identificar o Centro
Urbano de São Luís, que inclui a área designada como Centro Histórico ou Zona de Preserva-
ção Histórica, o Núcleo da Área Central ou Centro e a Área de Expansão do Centro (Mapa
4).
A parte do centro urbano atual que integra o Centro Histórico de São Luís localiza-
se no sítio urbano onde a cidade se originou e corresponde as áreas de expansão urbana até
1850. Ela reúne um acervo que comunica etapas importantes de uma história urbana, pois as
formas urbanas diferenciadas são um testemunho histórico-geográfico de processos sociais
52
que desvelam uma desigualdade espacial na acumulação capitalista. Estas áreas integram um
conjunto tombado e formado por 5.607 imóveis protegidos por legislações federal, estadual e
municipal. Neles estão incluídos os 1.369 imóveis que são Patrimônio Mundial, tombados
pela UNESCO. As dinâmicas nesse setor concordam com o que diz Whitacker (2006, p.132),
pois “a cidade é a cristalização da urbanização e essa, enquanto processo, não é definida, in
fine, mas articula-se à produção ampla e restrita”. Portanto, ao concentrar na atualidade as
funções político-adminstrativa, financeira, cultural, esse setor urbano destaca as contínuas
dinâmicas, que em qualquer época, se houver, concentração populacional, de mercadorias
materiais ou imateriais, podem responder por transformações significativas, complementares
ou novas na cidade.
As funções comerciais estiveram ligadas às funções portuárias. Burnett (2008,
p.173) relata que:
Ao se transformar na cidade mercantil, alternando com Belém a sede,
do governo da Província do Maranhão e Grão-Pará, será através da
Companhia do Comércio, criada no último quartel do século XVIII, e
graças à produção agrícola que comercializa com a Europa dos pri-
mórdios da Revolução Industrial, que São Luís consolida e sofistica o
bairro portuário da Praia Grande, ambiência urbana tomada como re-
ferência para toda a cidade, que respirava ares cosmopolitas.
O dinamismo das atividades produtivas, nesse cenário, trouxe significativas mu-
danças estruturais como a urbanização da Praia Grande, o núcleo do centro urbano da época
que vai se perpetuar até por volta de 1930. A crise deflagrada com a decadência da economia
algodoeira impactou “a Praia Grande com a perda da importância portuária-comercial,[o se-
tor] assistiu seu vigor comercial declinar e com ele seu valor imobiliário, conforme Santana
(2003, p. 139-147).
A perda dessas funções a partir nas primeiras décadas do século XX provocou in-
tensos processos de desvalorização da área central, migração da população de maior poder
aquisitivo para outros locais e ocupação da área por populações de baixa renda. Nas últimas
décadas, como parte do Programa de Revitalização do Centro Histórico, esse setor passou a
receber repartições da administração federal, estadual e municipal em edifícios da área, con-
tribuindo também para continuar afastando cada vez mais a população residente.
53
2.1 ALGUNS ELEMENTOS SOCIOESPACIAIS DE SÃO LUÍS APÓS 1950 PARA A
DISCUSSÃO...
São Luís é uma cidade com quase quatro séculos e que somente nas últimas cinco
décadas apresenta uma dinâmica urbana intensa. Destacam-se, dentre outros, a ampliação do
seu tecido urbano para atender a grande concentração populacional e as implicações socioes-
paciais complexas de uma cidade que abriga o núcleo metropolitano da Região Metropolitana
da Grande São Luís
24
. A reestruturação na cidade que tentamos apreender é definida nos pro-
cessos que relacionam “fluxo e transição, posturas ofensivas e defensivas, e uma mescla com-
plexa e irresoluta de continuidade e mudança. Como tal, a reestruturação se enquadra entre a
reforma parcial e a transformação revolucionária, entre a situação de perfeita normalidade e
algo completamente diferente” como afirma Soja (1993, p.194).
No Estado do Maranhão, a cidade apresenta os maiores indicadores populacionais
e indicadores econômicos, muito distanciados dos demais municípios, colocando em evidên-
cia uma centralidade local e regional a ser interpretada. A diferenciação da cidade pelo maior
produto interno bruto no conjunto dos municípios maranhenses (tabela 1) o e no conjunto dos
municípios da Região Metropolitana da Grande São Luís (tabela 2) incitaram a compreensão
da configuração espacial a partir da distribuição das atividades terciárias na cidade. Isto é,
uma forte concentração espacial foi evidenciada quando se notou que, os cinco municípios
com maior PIB respondem por 53,81% da economia maranhense, dentre os 217 municípios
do estado. São Luís apontou os indicadores mais contrastáveis entre os demais, inclusive entre
os municípios da Região Metropolitana da Grande São Luís, que estão situados na Ilha do
Maranhão.
A produção capitalista do espaço por seu caráter seletivo comanda processos soci-
ais que favorecem alguns locais, antecipando etapas ou transferindo vantagens locacionais e,
por vezes, provocando a inviabilização de outras. Conforme Lefebvre (1999, p. 111) “a cidade
atrai para si tudo o que nasce da natureza e do trabalho, noutros lugares: frutos e objetos, pro-
dutos e produtores, obras e criações, atividades e situações”, porém não as distribui de igual e
modo. Todavia, a espacialialização das atividades de comércio e serviços confirma a impor-
tância que alguns movimentos econômicos, culturais, políticos assumem no conjunto da cida-
de.
24
Ampliada por Lei Complementar Nº 069 de 23 de dezembro de 2003, abrangendo a área territorial dos Muni-
cípios de São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar, Raposa e Alcântara.
54
Mapa 2 – São Luís. Municípios da Região Metropolitana da Grande São Luís que estão na Ilha do Mara-
nhão: São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Ano 2006.
Buscamos compreender a cidade tomando a espacialização das atividades de co-
mércio e serviços, dada a evidência dos processos espaciais que as articulam e que compõe a
historicidade do seu espaço, como já foi visto. Logo, a cidade é discutida como um espaço
geográfico transformado pelo capital, que agrega na contemporaneidade a complexidade das
interações dos processos sociais gerados em todas as escalas, concentrando espacialmente
pessoas, mercadorias, fluxos, entre outros.
Tabela 1 – Produto Interno Bruto 2005- Comparativo entre Maranhão, São Luís e os cinco maiores mu-
nicípios do Estado
Localidade PIB
Milhões
R$
%
do
PIB
População PIB per
capita
R$
VA
Agro
Milhões
R$
VA
Indústria
Milhões
R$
VA
Serviços
Milhões
R$
MARANHÃO
25.325,86
100%
6.103.327 4.149,52 4.065,45 3.929,25 14.866,39
São Luís 9.340,94 36,88 978.824 9.543,03 15,85 2.156,51 5.693,23
Imperatriz 1.745,26 6,89 232.256 7.514,40 25,86 221,12 1.283,75
Balsas 1.336,45 5,28 71.763 18.623,09 172,76 138,74 865,67
Açailândia 677,59 2,68 103.609 6.539,85 122,09 243,01 261,41
Caxias 526,18 2,08 143,682 3.662,14 24,65 78,30 331,65
Fonte: IBGE / IMESC, Diretoria de Estudos e Pesquisas, Departamento de Contas Regionais e Finanças Públicas
55
Tabela 2 – Produto Interno Bruto 2005 – Comparativo entre Maranhão, São Luís e os municípios da Ilha
do Marahnão
Localidade PIB
Milhões
R$
%
do
PIB
População PIB per
Capita
R$
VA
Agro
Milhões
R$
VA
Indústria
Milhões
R$
VA
Serviços
Milhões
R$
MARANHÃO 25.325,86 100% 6.103.327 4.149,52 4.065,45 3.929,25 14.866,39
São Luís 9.340,94 36,88 978.824 9.543,03 15,85 2.156,51 5.693,23
São José de.
Ribamar
10º 276,24 1,09 130.448 2.117,66 16,21 39,34 196,35
Paço do Lumiar 20º 151,09 0,60 97.689 1.546,63 20,17 25,61 99,54
Raposa 67º 55,79 0,22 20.698 2.695,27 22,83 6,45 24,65
Fonte: IBGE / IMESC, Diretoria de Estudos e Pesquisas, Departamento de Contas Regionais e Finanças Públicas
Igualmente importante nessa compreensão da dinâmica urbana, é que as ativida-
des de comércio e serviços sempre estiveram relacionadas aos processos espaciais determi-
nantes em São Luís e respondem atualmente pelo dinamismo deste setor, pois juntamente com
o funcionalismo público, ele corresponde ao maior volume de capital e empregabilidade atu-
almente na cidade (Tabela3).
A concentração espacial de pessoas e atividades pode permitir a interpretação de
importantes movimentos do capital e de ajustamentos na estrutura da cidade. Logo, as redefi-
nições de centralidade informam muito da produção capitalista do espaço, bem como dos pro-
cessos espaciais que modelam ou são modelados pelas atividades de comércio e serviços.
Ante o exposto, tornou-se necessário identificar a distribuição das atividades de
comércio e serviços em São Luís.
A primeira aproximação foi estabelecida por meio de dois bancos de dados, o da
Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís MA, de 2007 e da Associação Comercial do Mara-
nhão, de 2008, e, posteriormente, usamos o do Censo Empresarial SEBRAE Maranhão, de
2008, para uma análise da permanência de informações obtidas, isto é, se os percentuais
encontrados nas primeiras coletas não havia sofrido grandes alterações. Os dados foram coin-
cidentes aos anteriormente obtidos. Estas coletas de dados mostraram-se eficientes para a i-
dentificação da espacialização das atividades de comércio e serviços tendo em vista a abran-
gência de toda a cidade (Quadro de Percentuais), sua distribuição por bairros e as atividades
econômicas estarem organizadas conforme a Classificação Nacional das Atividades Econômi-
cas (CNAE), tabela desenvolvida sob a coordenação do IBGE, de forma compatível com a
International Standard Industrial Classification ISIC, terceira revisão aprovada pela Co-
missão de Estatística das Nações Unidas em 1989 e recomendada como instrumento de har-
monização das informações econômicas em âmbito internacional. Selecionamos entre as ati-
56
vidades econômicas desenvolvidas em toda cidade, somente as relacionadas ao comércio e os
serviços, conforme o quadro a seguir (Quadro 3).
Tabela 3 – Unidades Locais, pessoal ocupado total em 31.12 e salários e outras remunerações, seção da
classificação de atividades para São Luís – 2006.
UNIDADE DA
FEDERAÇÃO
Nº DE UNIDADES
LOCAIS
PESSOAL
OCUPADO
SALÁRIO E OUTRAS
REMUNERAÇÕES (1.000 R$)
TOTAL São Luís/MA
TOTAL São
Luís/MA
TOTAL São Luís/MA
São Luís
- Agricultura, pecuária,
silvicultura e exploração
florestal
22.699
89
30,51
11,53
236.547
252
47,83
2,66
3.099.396
2.114
67,37
3,10
- Pesca 20 28,17 29 18,35 53 12,68
- Indústrias extrativas 29 25,22 159 25,00 1.669 32,25
- Indústrias de
transformação
1.335 31,98 10.974 31,36 155.379 44,59
- Produção e distribuição
de eletricidade, gás e água
13
6,63
779
37,94
36.021
57,84
- Construção 1.096 52,79 16.647 77,88 119.185 73,73
- Comércio, reparação de
veículos automotores,
objetos pessoais e
domésticos
11.989
29,38
46.684
40,49
239.264
46,72
- Alojamento e alimentação
1.017 51,44 6.887 65,67 29.021 68,84
- Transporte, armazenagem
e comunicações
726
37,31
13.470
68,56
197.890
81,12
- Intermediação financeira,
seguros, previdência
complementar e serviços
relacionados.
400
22,42
4.253
63,40
107.777
62,03
- Atividades imobiliárias,
aluguéis e serviços
prestados às empresas
2.444
57,42
23.452
75,96
168.290
81,69
- Administração pública,
defesa e seguridade social
85
15,80
79.927
43,01
1.676.486
72,56
- Educação 543 30,08 9.024 66,43 141.543 83,33
- Saúde e serviços sociais
825 51,79 9.782 68,40 101.738 81,37
- Outros serviços coletivos
sociais e pessoais
2.088
16,98
14.228
48,81
122.967
71,97
- Organismos
internacionais e outras
instituições extraterritoriais
-
-
-
-
-
-
Fonte: IBGE/CEMPRE
57
Quadro 3 – Atividades econômicas selecionadas para análise
ATIVIDADES ECONÔMICAS DESCRIÇÃO CNAE
Serviços Atividades realizadas em domicílios por empregados contratados;
Comércio Atividades de compra e venda de mercadorias por atacado e varejo;
Administração Pública Atividades essencialmente não-mercantis, compreendendo a administração geral (o
executivo, o legislativo, a administração tributária, etc., nas três esferas de governo);
Atividades administrativas e
serviços complementares
Atividades de apoio administrativo relacionadas com contratação e colocação de pesso-
as, serviços de teleatendimento, de cobrança, organização de viagens, locação de máqui-
nas e equipamentos, limpeza de prédios, paisagismos, serviços terceirizados;
Correio Atividades de correio, de malote e entrega;
Informação e comunicação Atividades relacionadas com edição, impressão, atividades cinematográficas, produção
de vídeos, programas de televisão, som e áudio, rádio e televisão, serviços de tecnologia
da informação, atividades de prestação de serviços de informação;
Eletricidade e gás e outras utili-
dades, água, esgoto, atividades de
gestão de resíduos e descontami-
nação
Atividades referentes a produção, transmissão e distribuição de energia elétrica, forne-
cimento de gás, de vapor e de água quente através de uma rede permanente de linhas,
tubulações e dutos. Atividades de captação tratamento, gerenciamento da infraestrutura e
de fornecimento ao consumidor de água. Atividades de coleta, disposição e tratamento
dos resíduos sólidos;
Educação Atividades de ensino público e privado, em qualquer nível e para qualquer finalidade, na
forma presencial ou à distância;
Saúde e serviço social Atividades de atenção à saúde humana, que cobrem todas as formas de serviços relacio-
nados à saúde, e de serviços sociais;
Serviços financeiros Atividades que envolvem a criação, liquidação e troca de propriedade de ativos financei-
ros, de seguros, capitalização, resseguros, previdência complementar, planos de saúde e
as atividades de serviços de apoio às transações financeiras;
Transporte, armazenagem Atividades relacionadas com transporte de passageiros ou mercadorias, armazenamento,
carga e descarga, gestão e operação de terminais rodoviários, ferroviários, portuários,
aeroportuários;
Outras atividades de serviços Serviços pessoais, serviços de organizações associativas patronais, empresariais, profis-
sionais, sindicais, de defesa de direitos sociais, religiosas, políticas, etc.; atividades de
manutenção e reparação de equipamentos de informática, de comunicação e de objetos
pessoais e domésticos. Os serviços pessoais incluem: lavanderias, cabeleireiros e outras
atividades de tratamento de beleza, clínicas de estética, atividades funerárias e serviços
religiosos.
Fonte: CNAE/IBGE
A decisão por este segmento de atividades se deu pela concentração das mesmas
no centro urbano, entendimento teórico que buscamos durante todo o estudo, e, ser esta a
melhor possibilidade de aproximação com a cidade, tendo em vista a importância histórica
das atividades de comércio e serviços na evolução urbana, como vimos no primeiro capítulo.
A localização seletiva do capital e os processos espaciais definem e redefinem os usos do solo
e correspondentes áreas funcionais, tais como o centro, áreas residenciais, áreas industriais,
etc. Pela abrangência da temática, optamos por discutir a localização dessas atividades no
espaço intraurbano
25
, pois como afirma Villaça (2001, p. 20) ele:
é estruturado fundamentalmente pelas condições de deslocamento do ser
humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como no
deslocamento casa/trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, esco-
25
Uso o termo espaço intraurbano somente para enfatizar o recorte territorial do estudo interno da cidade, pois anteriormente
a cidade ocupava toda a Ilha do Maranhão, daí a influência em sua hinterlândia e regionalmente.
58
la, etc. Exatamente daí vem, por exemplo, o enorme poder estruturador in-
tra-urbano das áreas comerciais e de serviços, a começar pelo próprio cen-
tro urbano.
Diante do volume de dados e a necessidade de se obter as informações para en-
tender a espacialização das atividades de comércio e serviços em São Luís, tornou-se necessá-
rio um aglutinamento das atividades dos bairros em setores. Os bancos de dados trabalhados
eram minuciosos e detalhavam as atividades em toda São Luís, os dados estavam distribuídos
por bairros distribuídos por toda cidade, por categoria CNAE e quantidade. Fazendo uso de
uma base digital com os bairros e arruamentos da cidade, que nos foi cedida pelo Instituto de
Planejamento da Cidade da Prefeitura de São Luís, elaboramos uma setorização dos bairros
considerando dois delineamentos importantes para o estudo: a contiguidade e período de
formação. Portanto, enfatizamos que a setorização foi criada para a discussão das atividades
de comércio e serviços e a atribuição do nome de um dos bairros a cada setor, contribuiu para
facilitar as interpretações possíveis sobre a distribuição dessas atividades na cidade. A locali-
zação do bairro foi mantida, somente o nome do bairro de maior centralidade foi usado para
abranger o conjunto de bairros servidos por atividades e comércios comuns, diferenciando-o
dos demais setores. Esta setorização possibilitou a elaboração de um mapa que procura dar
visibilidade para a localização das áreas urbanas melhor servidas por atividades de comércio e
serviços em São Luís.
Procedemos a uma pesquisa de campo para identificação dos pontos de maior di-
namismo comercial e/ou de serviços em cada conjunto de bairros e georeferenciamento dos
mesmos. Como afirmamos anteriormente, os vinte e dois setores foram designados pelo nome
do bairro melhor equipado e/ou mais antigo dentre o conjunto dos bairros incluídos. Cabe
fazer uma ressalva quanto ao setor do Olho d’Água, pois este passou por um intenso processo
de ocupação não planejada e, as formas atuais o apareceram desmembradas nos dados for-
necidos pelo Instituto de Planejamento da Cidade.
A análise da coleta de dados apontou uma concentração espacial, na qual a centra-
lização das atividades de comércio e serviços expõe uma desigual distribuição espacial dessas
atividades. Decerto, a expansão da mancha urbana induziu grandes mudanças nas formas e
fluxos na cidade. Em São Luís, não restam dúvidas que os movimentos de formação ou de
esvaziamento de centralidades integram dinâmicas urbanas oriundas de interesses do capital.
A efetividade da contribuição do Estado para configurar ou redefinir os setores urbanos, é
vista tanto nos planejamentos, legislação, regulamentações, obras e equipamentos urbanos,
59
quanto nas mudanças e suas implicações no declínio e perda de papéis de uma área para ou-
tros locais.
Quadro 4 – Setorizações e pontos de grande dinâmica comercial e/ou serviços
SETORES
SETORES SETORES
SETORES
PONTO DE MAIOR DENSI
PONTO DE MAIOR DENSIPONTO DE MAIOR DENSI
PONTO DE MAIOR DENSIDADE COMERCIAL E/OU
DADE COMERCIAL E/OU DADE COMERCIAL E/OU
DADE COMERCIAL E/OU SERVIÇOS
SERVIÇOSSERVIÇOS
SERVIÇOS
FORMAÇÃO
FORMAÇÃOFORMAÇÃO
FORMAÇÃO
1. ANJO DA GUARDA
1. ANJO DA GUARDA1. ANJO DA GUARDA
1. ANJO DA GUARDA
Praça do Anjo da Guarda- S
S S
S 05°
°°
°74
27.
..
. 5” W
” W ” W
” W
97°
°°
°16
72.8
.8”.8”
.8”
1970
19701970
1970
2. VILA EMBRATEL
2. VILA EMBRATEL2. VILA EMBRATEL
2. VILA EMBRATEL
Av. Sarney Filho/Praça Sete Palmeiras
Av. Sarney Filho/Praça Sete PalmeirasAv. Sarney Filho/Praça Sete Palmeiras
Av. Sarney Filho/Praça Sete Palmeiras-
--
-
S
S S
S 05°76’82.
°76’82.°76’82.
°76’82. 2”W
”W ”W
”W 97°
°°
°16
00.5
.5”.5”
.5”
1980
19801980
1980
3. CENTRO
3. CENTRO3. CENTRO
3. CENTRO
Praça João Lisboa
Praça João LisboaPraça João Lisboa
Praça João Lisboa-
--
-
S
S S
S 05°77’48.
°77’48.°77’48.
°77’48. 7” W
” W ” W
” W 97°
°°
°20
46.9”
.9”.9”
.9”
ATÉ 1958
ATÉ 1958ATÉ 1958
ATÉ 1958
4. MONTE CASTELO
4. MONTE CASTELO4. MONTE CASTELO
4. MONTE CASTELO
Av. Camboa
Av. Camboa Av. Camboa
Av. Camboa
S
S S
S 05°90’00.
°90’00.°90’00.
°90’00. 7
W
W W
W 97°
°°
°20
66.4”
.4”.4”
.4”
1960
19601960
1960
5. JOÃO PAULO
5. JOÃO PAULO5. JOÃO PAULO
5. JOÃO PAULO
Av. João Pessoa
Av. João Pessoa Av. João Pessoa
Av. João Pessoa
S
S S
S 05°81’00.
°81’00.°81’00.
°81’00. 2
W
W W
W 97°
°°
°18
73.3
3”3”
3”
196
196196
1960
00
0
6. COROADINHO
6. COROADINHO6. COROADINHO
6. COROADINHO
Av.
Av.Av.
Av.
Amália Saldanha/Rua São Sebastião
Amália Saldanha/Rua São Sebastião Amália Saldanha/Rua São Sebastião
Amália Saldanha/Rua São Sebastião -
--
-
S
S S
S 05°81’86.
°81’86.°81’86.
°81’86. 2
W
W W
W 97°
°°
°16
93.6”
6”6”
6”
1990
19901990
1990
7. VILA PALMEIRA
7. VILA PALMEIRA7. VILA PALMEIRA
7. VILA PALMEIRA
Av. Gênis Soares
Av. Gênis Soares Av. Gênis Soares
Av. Gênis Soares -
--
-
S
S S
S 05°82’81.
°82’81.°82’81.
°82’81. 7” W
” W ” W
” W 97°
°°
°18
79.6”
6”6”
6”
2001
20012001
2001
8. OUTEIRO DA CRUZ
8. OUTEIRO DA CRUZ8. OUTEIRO DA CRUZ
8. OUTEIRO DA CRUZ
Praça do Outeiro da Cruz
Praça do Outeiro da CruzPraça do Outeiro da Cruz
Praça do Outeiro da Cruz-
--
-S
S S
S 05°82’88.
°82’88.°82’88.
°82’88. 0
W
W W
W 97°
°°
°18
14.4”
4”4”
4”
2001
20012001
2001
9. ANIL
9. ANIL9. ANIL
9. ANIL
Av. Casemiro de Abreu
Av. Casemiro de AbreuAv. Casemiro de Abreu
Av. Casemiro de Abreu-
--
-
S 02°32’57.3” W 44°14’26.2”
S 02°32’57.3” W 44°14’26.2”S 02°32’57.3” W 44°14’26.2”
S 02°32’57.3” W 44°14’26.2”
1965
19651965
1965
10. SÃO CRISTÓVÃO
10. SÃO CRISTÓVÃO10. SÃO CRISTÓVÃO
10. SÃO CRISTÓVÃO
Av. Guajajaras
Av. Guajajaras Av. Guajajaras
Av. Guajajaras -
--
-
S 05°85’09.4” W 97°15’71.1”
S 05°85’09.4” W 97°15’71.1”S 05°85’09.4” W 97°15’71.1”
S 05°85’09.4” W 97°15’71.1”
1970
19701970
1970
11. CIDADE OLÍMPICA
11. CIDADE OLÍMPICA11. CIDADE OLÍMPICA
11. CIDADE OLÍMPICA
Av. Jailson Viana
Av. Jailson Viana Av. Jailson Viana
Av. Jailson Viana -
--
-
S 05°90’58.8” W 97°13’76.4”
S 05°90’58.8” W 97°13’76.4”S 05°90’58.8” W 97°13’76.4”
S 05°90’58.8” W 97°13’76.4”
2001
20012001
2001
12. CIDADE
12. CIDADE 12. CIDADE
12. CIDADE
OPERÁRIA
OPERÁRIAOPERÁRIA
OPERÁRIA
Av. Principal
Av. Principal Av. Principal
Av. Principal -
--
-
S 05°89’91.6”
S 05°89’91.6”S 05°89’91.6”
S 05°89’91.6”
W 97°
W 97°W 97°
W 97°15’47.2”
15’47.2”15’47.2”
15’47.2”
1980
19801980
1980
13. COHAB
13. COHAB13. COHAB
13. COHAB
Av.Jerônimo de Albuquerque
Av.Jerônimo de AlbuquerqueAv.Jerônimo de Albuquerque
Av.Jerônimo de Albuquerque
-
--
-S 02°32’29.1”
S 02°32’29.1” S 02°32’29.1”
S 02°32’29.1” -
--
-
W 44°13’05.0”
W 44°13’05.0”W 44°13’05.0”
W 44°13’05.0”
1976
19761976
1976
14. COHATRAC
14. COHATRAC14. COHATRAC
14. COHATRAC
Av. Leste
Av. LesteAv. Leste
Av. Leste-
--
-Oeste
OesteOeste
Oeste-
--
-
S 02°32’29.9”
S 02°32’29.9”S 02°32’29.9”
S 02°32’29.9”
W 44°12’23.4”
W 44°12’23.4”W 44°12’23.4”
W 44°12’23.4”
1978
19781978
1978
15. TURU
15. TURU15. TURU
15. TURU
Av. Rei de França
Av. Rei de França Av. Rei de França
Av. Rei de França -
--
-
S 05°86’14.1” W 97°21’71.1”
S 05°86’14.1” W 97°21’71.1”S 05°86’14.1” W 97°21’71.1”
S 05°86’14.1” W 97°21’71.1”
1979
19791979
1979
16. COHAMA
16. COHAMA16. COHAMA
16. COHAMA
Av.
Av. Av.
Av. Daniel de la Touche
Daniel de la Touche Daniel de la Touche
Daniel de la Touche -
--
-
S 05°84’17.6” W 97°22’60.4”
S 05°84’17.6” W 97°22’60.4”S 05°84’17.6” W 97°22’60.4”
S 05°84’17.6” W 97°22’60.4”
1975
19751975
1975
17. BEQUIMÃO
17. BEQUIMÃO17. BEQUIMÃO
17. BEQUIMÃO
Av. Martins Pena
Av. Martins Pena Av. Martins Pena
Av. Martins Pena -
--
-
S 05°83’19.5”
S 05°83’19.5”S 05°83’19.5”
S 05°83’19.5”
W 97°20’40.3”
W 97°20’40.3”W 97°20’40.3”
W 97°20’40.3”
1979
19791979
1979
18. VINHAIS
18. VINHAIS18. VINHAIS
18. VINHAIS
Av.Jerônimo de Albuquerque
Av.Jerônimo de AlbuquerqueAv.Jerônimo de Albuquerque
Av.Jerônimo de Albuquerque
-
--
-
S 05°83’19.5”
S 05°83’19.5”S 05°83’19.5”
S 05°83’19.5”
W 97°20’40.3”
W 97°20’40.3”W 97°20’40.3”
W 97°20’40.3”
1979
19791979
1979
19. PONTA D’AREIA
19. PONTA D’AREIA19. PONTA D’AREIA
19. PONTA D’AREIA
Av. dos Holandeses - S 05°76’89.2”
S 05°76’89.2”S 05°76’89.2”
S 05°76’89.2” W 97°23’99.0”
W 97°23’99.0”W 97°23’99.0”
W 97°23’99.0”
1970
19701970
1970
20. RENASCENÇA
20. RENASCENÇA20. RENASCENÇA
20. RENASCENÇA
Av. Castelo branco
Av. Castelo branco Av. Castelo branco
Av. Castelo branco -
--
-
S 05°77’46.1” W 97°23’48.3”
S 05°77’46.1” W 97°23’48.3”S 05°77’46.1” W 97°23’48.3”
S 05°77’46.1” W 97°23’48.3”
1980
19801980
1980
21. CALHAU
21. CALHAU21. CALHAU
21. CALHAU
Av. dos Holandeses - S 05°82’10.3”
S 05°82’10.3”S 05°82’10.3”
S 05°82’10.3” W 97°24’58.5”
W 97°24’58.5”W 97°24’58.5”
W 97°24’58.5”
1980
19801980
1980
22. OLHO D’ÁGUA
22. OLHO D’ÁGUA22. OLHO D’ÁGUA
22. OLHO D’ÁGUA
Av. dos Holandeses - S 05°8
S 05°8S 05°8
S 05°85’67.7”
’67.7”’67.7”
’67.7” W 97°24’59.1”
W 97°24’59.1”W 97°24’59.1”
W 97°24’59.1”
1960
19601960
1960
Fonte: Uma leitura da cidade, 2006 e SEMTURB – Prefeitura Municipal de São Luís: 2001. Organizado pela Autora.
60
61
2.2 ÁREA CENTRAL DE SÃO LUÍS: A EXPRESSÃO TERRITORIAL A PARTIR DAS
ATIVIDADES DE COMÉRCIO E SERVIÇOS
A Área Central de São Luís resulta do processo espacial de centralização do capi-
tal. Em nenhum outro setor do município e/ou nos demais municípios da Região Metropolita-
na têm-se maior intensidade das atividades de comércio e serviços. Essa concentração espaci-
al contou desde o início do século XX com duas condições determinantes, uma relacionada
com a atividade industrial e a outra relacionada com o sistema de transportes e comunicação.
A fixação do capital, ao longo dos sistemas urbanísticos implantados, sob a égide do Estado,
desvenda como a produção, o consumo, à circulação das mercadorias convergem para as áreas
de maior acessibilidade e de concentração populacional.
Para Corrêa (2000), a centralização tornou-se “interesse de estudiosos do fenôme-
no urbano, a partir do começo do século XX”. Esses processos acontecem na esteira da Revo-
lução Industrial e dos eventos subsequentes, como expressão dos arranjos que a cidade preci-
sou fazer para se ajustar às intensas transformações em seu tecido urbano.
Para Johnson (1974) as principais características do centro da cidade são a acessi-
bilidade, a verticalidade e a ausência de população residencial. Essas expressões territoriais
expostas de forma descritiva abriram discussões importantes sobre as contradições do urbano,
manifestadas em estruturas que podem ou não favorecer a qualidade de vida, além de permitir
a visibilidade dos agentes e das possíveis gicas de produção do espaço, entre outros. Con-
quanto as dinâmicas atuais imprimam novas morfologias urbanas e redefinição da centralida-
de urbana no interior das cidades, conforme Sposito (1996, p.114), essas caracterizações co-
municam conteúdos urbanos importantes para São Luís.
Assim que, para esse autor, existe um “setor da cidade ao qual se pode chegar com
maior facilidade desde o restante da área edificada. É também a parte mais acessível em geral
para os que vivem dentro da esfera de influência da cidade, especialmente se fazem uso de
transportes públicos” (JOHNSON, 1974, p. 155). Dessa forma, a acessibilidade é fator domi-
nante na caracterização do centro da cidade. É fato que algumas grandes cidades e/ou metró-
poles modernizaram seus sistemas viários e de transportes assegurando acessibilidade em toda
a cidade. Seria, portanto a maior acessibilidade para determinado setor o que permitiria a i-
dentificação do centro urbano
.
A discussão sobre acessibilidade em Johnson (1974, p. 156) relaciona a forte in-
fluência da localização no centro urbano às redes de comunicação e de transportes, com a
62
concentração das atividades de comércio e serviços. As estruturas urbanas em que predomi-
nam áreas e eixos comerciais e de serviços importantes e construções verticalizadas para uso
comercial são organizadas hierárquica e seletivamente. O capital tem suas estratégias para
assegurar a fluidez de todos os atributos desse solo urbano, validando a sinergia das atividades
que, nessa área, advém das chamadas economias de aglomeração.
Em São Luís, o único setor que tem acessibilidade garantida é o centro urbano,
embora o custo da viagem e o tempo gasto sejam fatores restritivos. Esta dinamicidade é dada
a partir de um sistema integrado de transportes públicos. Conforme dados oficiais da Secreta-
ria Municipal de Trânsito e Transportes, toda área urbana e rural do município tem acessibili-
dade para o centro da cidade: Praça Deodoro e adjacências, que é assegurada por meio de
72% da frota operante, o que equivale a 662 ônibus do Sistema Integrado de Transportes que
fazem percursos diretos e parada na área central. Os demais têm acesso ao centro da cidade
através dos terminais de integração, que dão cobertura para todos os municípios da Ilha. A
centralização seletiva é reafirmada no movimento intenso apontado na curva de oferta de via-
gens que é maior nos horários que coincidem com o horário comercial da área central, onde
estão concentrados os postos de trabalho e a oferta de bens e serviços.
Gráfico 1 – São Luís. Movimento diário de passageiros no terminal rodoviário da Praia Grande, 2008
Tal observação é enfatizada, também,
tralização é uma função
do transporte e da comunicação”. A identificação dos agentes, dos
interesses que expressam a gica que comanda os arranjos na cidade e suas combinações
refletirão os movimentos e as tendências do conteúdo social e suas respectivas formas espac
ais. Em vi
sta desses processos, alguns centros tendem a afastar
populações com maior poder aquisitivo. Os centros locais de negócios são mais móveis, refl
tindo com bastante exatidão as tendências locais de segregação e fluidez. Portan
outros centros põem em evidência a importância da concentração e de fluidez como determ
nantes na sua distribuição.
O
utra característica do centro urbano descrita por Johnson é a verticalização, cuja
materialidade expressa a maior valorização d
central é uma mercadoria disputada devido à “mais elevada densidade de utilização do solo,
que se reflete na concentração de edifícios com muitos andares e cujos preços alcançam val
res máximos”. Em geral
, o
de edifícios. Entretanto, é oportuna a ressalva do autor sobre ser esta característica inicialme
te predominante nas cidades norte
bano mundial
(JOHNSON, 1974, p. 160).
Gráfico 2 – São Luís.
Uso do solo do núcleo da área central. 2009.
Fonte: Pesquisa de campo
Este é um grande diferencial no centro urbano de São Luís. O conjunto urbano da
área central de São Luís coincide como a Zona
-
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
69,04
63
Tal observação é enfatizada, também,
por Mckenzie (1926) ao afirmar que “a ce
do transporte e da comunicação”. A identificação dos agentes, dos
interesses que expressam a gica que comanda os arranjos na cidade e suas combinações
refletirão os movimentos e as tendências do conteúdo social e suas respectivas formas espac
sta desses processos, alguns centros tendem a afastar
-
se para áreas residenciais das
populações com maior poder aquisitivo. Os centros locais de negócios são mais móveis, refl
tindo com bastante exatidão as tendências locais de segregação e fluidez. Portan
outros centros põem em evidência a importância da concentração e de fluidez como determ
utra característica do centro urbano descrita por Johnson é a verticalização, cuja
materialidade expressa a maior valorização d
o solo urbano nas áreas centrais. A localização
central é uma mercadoria disputada devido à “mais elevada densidade de utilização do solo,
que se reflete na concentração de edifícios com muitos andares e cujos preços alcançam val
, o
centro das grandes cidades pode ser identificado pela concentração
de edifícios. Entretanto, é oportuna a ressalva do autor sobre ser esta característica inicialme
te predominante nas cidades norte
-americanas, estendendo-
se posteriormente no cenário u
(JOHNSON, 1974, p. 160).
Uso do solo do núcleo da área central. 2009.
Fonte: Pesquisa de campo
Este é um grande diferencial no centro urbano de São Luís. O conjunto urbano da
área central de São Luís coincide como a Zona
de Preservação Histórica, incluída na Lista do
69,04
25,13
4,40
1,43
18,02
40,29
26,99
10,60
2,94
1,08
por Mckenzie (1926) ao afirmar que “a ce
n-
do transporte e da comunicação”. A identificação dos agentes, dos
interesses que expressam a gica que comanda os arranjos na cidade e suas combinações
refletirão os movimentos e as tendências do conteúdo social e suas respectivas formas espac
i-
se para áreas residenciais das
populações com maior poder aquisitivo. Os centros locais de negócios são mais móveis, refl
e-
tindo com bastante exatidão as tendências locais de segregação e fluidez. Portan
to, esses e
outros centros põem em evidência a importância da concentração e de fluidez como determ
i-
utra característica do centro urbano descrita por Johnson é a verticalização, cuja
o solo urbano nas áreas centrais. A localização
central é uma mercadoria disputada devido à “mais elevada densidade de utilização do solo,
que se reflete na concentração de edifícios com muitos andares e cujos preços alcançam val
o-
centro das grandes cidades pode ser identificado pela concentração
de edifícios. Entretanto, é oportuna a ressalva do autor sobre ser esta característica inicialme
n-
se posteriormente no cenário u
r-
Este é um grande diferencial no centro urbano de São Luís. O conjunto urbano da
de Preservação Histórica, incluída na Lista do
0,08
64
Patrimônio Mundial da UNESCO, sendo uma área de tombamento federal, estadual e munici-
pal, portanto essa caracterização não é observada em sua a área central. Portanto, as atividades
de comércio e serviços estão dispostas numa escala horizontal em cerca de 70% em prédios
térreos (Gráfico 2).
A pesquisa de campo constatou outra característica dos centros urbanos para John-
son (1974), que é a progressiva diminuição da população residencial neste setor da cidade e a
expansão das atividades comerciais. No caso de São Luís, nas ruas que correspondem ao nú-
cleo do centro urbano a população residencial é de 18,02%. Esta realidade, comum em outros
centros urbanos, segundo Johnson (1974) ao fazer alusão a outros autores para os quais a re-
dução da população residencial provocaria a “morte da área central”, ou o centro seria um
“coração morto”. Ele justifica sua discordância ao apontar que o distanciamento da população
do centro se somente à noite, pois durante o dia há intensa concentração de pessoas, carros
etc., o que mantém a centralidade desta área, assegurando a sua maior atratividade no conjun-
to do espaço urbano. O que também é verdadeiro para São Luís, pois nos horários de funcio-
namento das atividades comerciais é intensa a frequentação nesse setor da cidade.
Para o referido autor, mesmo sendo áreas que concentrem edifícios residenciais,
ou núcleos históricos que exerçam atratividade nas cidades, essa área tem perdido população
residencial. A concentração das atividades picas das áreas centrais em setor que poderia ser
percorrido a em pouco tempo deixou de ser vantagem para aqueles que tiveram que morar
em outros locais. Portanto, a expansão dessa área, o aumento das aglomerações de pedestres
em movimentos pendulares e a melhoria do transporte público têm estimulado mudanças no
padrão de uso desse solo urbano.
Efetivamente a distribuição das atividades de comércio e serviços nesse setor da
cidade expõe a importância dos processos espaciais de concentração e centralização. A sobre-
posição de funções político-administrativas, financeiras, comerciais tendo como resultante o
maior número de empregos e o maior volume de capital, a ausência de outra área que se apro-
xime em nível de centralidade no conjunto urbano ou em outro município da Região Metropo-
litana, ampliam as economias de aglomeração localizadas e provocam arranjos que fazem
desse o setor mais dinâmico da urbe. Decerto, é uma centralidade diurna que, estruturada pelo
sistema de transportes urbanos, consolida a força dessa área central.
Então, essa especialização tende a ser mais forte nas áreas centrais que têm preço
do solo mais elevado, nas quais os investimentos devem retornar com o máximo de vantagens
e lucros. Logo, são as áreas com maior densidade de veículos, pessoas e atrações. Desse mo-
65
do, Johnson (1974) reafirma o poder concentrador do centro urbano de uma cidade moderna
ao agrupar as atividades do CBD. Tal observação ajusta-se ao entendimento que pode ser da-
do à especialização da área central em São Luís. As atividades típicas do CBD, ou seja, do
núcleo da área central, encontram-se fortemente concentradas na Rua Grande, Rua da Paz,
Rua do Sol e Rua de Santana e nas ruas transversais, a ser discutido mais adiante.
Todavia, esta é uma questão importante em nossa discussão, pois reúne elementos
sobre a permanência do centro único e polarizador ou debate a forte retenção de papéis cen-
trais que mantém uma alta frequentação no centro principal. A pesquisa mostrou que o pe-
queno número de subcentros e a capacidade de oferta de bens e serviços que eles oferecem,
reforçam a centralidade urbana neste setor, como discutiremos a seguir. Mas, foram as obras
viárias que a cidade recebeu a partir da década de 1960, as grandes indutoras da expansão do
tecido urbano, da configuração de novas formas urbanas e redefinições de centralidades, a
exemplo da ocupação das áreas litorâneas pelas populações de maior poder aquisitivo e as
demais para as áreas rurais, distantes do centro e com infraestrutura precária.
Esse deslocamento populacional provocou uma mudança do padrão locacional,
pois as residências da área central passaram por adaptações para abrigar pequenas lojas,
principalmente nas ruas mais bem servidas por transporte público, isto é próximo a Praça
Deodoro, excetuando as grande lojas de departamentos é o comércio varejista que se destaca
de imediato no centro da cidade.
O estudo de Johnson descreve os vários tipos de comércio e serviços concentrados
espacialmente no centro da cidade. A notabilidade desses processos espaciais pode ser confe-
rida na dinâmica e na força dos movimentos empreendidos e diferenciados pelo volume do
capital nesta área da cidade. Esses disputam e se localizam em pontos nodais ou nas vias mais
privilegiadas, ampliando as possibilidades da acumulação capitalista por meio da maior circu-
lação de pessoas, atividades e fluxos crescentes.
Por sua vez, outros conflitos emergem na produção e consumo desse espaço pelos
que se deslocam nesse setor, seja como portadores da força de trabalho ou não, na ação dos
profissionais liberais, nos sindicatos e nas representações sociais, entre outros. Portanto, a
propositura do autor trata da identificação das relações que aí se (re)definem, expondo a espa-
cialidade que se forma na estruturação urbana. Whitacker (1997, p. 111-112) comenta-a:
Também três tipos básicos de comércio se dariam no centro: estabelecimen-
tos de grande volume de vendas (magazines e cadeias de lojas), estabeleci-
mentos de menor volume de vendas, porém com grande volume de dinheiro
66
por vendas unitárias, voltadas para uma população diferenciada de alto poder
aquisitivo, como joalherias e galerias de arte, e estabelecimentos de comércio
especializados (como uma livraria técnica). O primeiro tipo de comércio des-
crito tenderia a localizar-se nas ruas principais, devido ao maior fluxo de pes-
soas; o segundo tipo também procuraria por um localização mais central, por
necessitar “captar mais atenção do públicoe ser identificada com uma área
de certo status, o terceiro tipo, tenderia a se localizar nas ruas secundárias.
[...] localizar-se-iam na área central também um grande número de escritórios
(públicos, privados, sedes de empresa, profissionais liberais) que se benefici-
ariam mutuamente de sua proximidade e se aproveitariam do fator acessibili-
dade por mais um aspecto: a facilidade de acesso para seus empregados. [...]
Concomitantemente a estas atividades, estariam localizadas na área central
restaurantes, barbearias, bares etc., com o intuito de atenderem aqueles que
trabalham e passam pelo centro urbano. Tais atividades tenderiam a se locali-
zar também nas ruas secundárias do centro.
Os conteúdos socioespaciais desse setor podem agregar/negar possibilidades loca-
cionais que são determinantes para a qualidade de vida na cidade. Em São Luís, a permanên-
cia dessa concentração das atividades de comércio e serviços, dos postos e das oportunidades
de trabalho nesse setor, redimensiona o viver e o sobreviver na cidade. Outro componente
urbano importante na discussão da cidade e, portanto a ser destacado em São Luís, conforme
Sposito (1983) é o fator acessibilidade/proximidade ao centro. A expansão do tecido urbano
que ocorreu a partir de 1950, deu visibilidade às desiguais possibilidades de consumo da cida-
de, uma vez que a concentração, a precariedade ou inexistência de sistemas viários e de trans-
portes, encarecem, limitam ou impossibilitam o consumo na cidade.
O papel de comando das centralidades econômicas e culturais ainda está vincula-
do ao centro urbano de São Luís, embora o ritmo das atividades produtivas seja muito lento,
devido o volume de capital e intensidade da concentração das atividades terciárias. Esta con-
centração ressalta, no contexto de São Luís, a questão que considera a expansão do tecido
urbano e a possibilidade de apropriação espacial de uma cidade tão centralizada e que por
certo restringe o direito à cidade para todos os citadinos, notadamente para aqueles que estão
distantes do centro. Embora não sendo alvo deste estudo, é significativo ratificar nessa discus-
são o fato desta centralidade urbana ser extensiva a todos os municípios da Ilha do Maranhão,
no fornecimento de bens e serviços, excetuando os serviços públicos de modo geral, pois os
serviços de saúde mais especializados e o ensino superior estão centralizados em São Luís.
A evidência de uma área central (Gráfico 3) tão expressiva no conjunto urbano a-
briu possibilidades consistentes para a discussão sobre as tendências dessa área central e das
novas centralidades que estão sendo definidas. Podemos pensar a abrangência da centralidade
urbana dessa área central, “isto é, todo espaço está carregado de significação, mas além disso,
como uma hierarquia social implícita nesta valorização simbólica, existe também uma hie-
rarquia na organização social”, conforme Castells (1983, p.64). Portanto,
mática se expressa tanto pela influência local quanto regional de São Luís
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís
Gráfico 3 –
São Luís. Espacialização das ati
Tal fato decorre de que até a década de 1950, na Ilha do Maranhão havia a estrut
ra municipal de São Luís. De fato, a implantação dos sistemas viários e de transportes públ
cos foram, também, grandes indutores da expansão do tecido urbano e e
dos outros municípios atualmente localizados na ilha. A Lei Nº. 758, de 24 de setembro de
1952, instituiu o município de Ribamar, que posteriormente recebeu a denominação de São
José de Ribamar, formado na época por três distritos, um
com sede no povoado da Mata e o terceiro no povoado Vila do Paço. A Lei Nº. 1890, de 7 de
dezembro de 1959, criou o município de Paço do Lumiar, desmembrado do município de R
bamar. A Lei Nº. 6132, de 10 de novembro de 1994,
brado do município de Paço do Lumiar .
de São José de Ribamar, da Raposa e de Paço do Lumiar, que integram a Região Metropolit
na, são servidas por subcentros de bairros
tro do Maiobão (Figura 20
)
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
67
rarquia na organização social”, conforme Castells (1983, p.64). Portanto,
mática se expressa tanto pela influência local quanto regional de São Luís
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís
-
MA, organizado pela autora. Ano 2009
São Luís. Espacialização das ati
vidades de comércio
e serviços
Tal fato decorre de que até a década de 1950, na Ilha do Maranhão havia a estrut
ra municipal de São Luís. De fato, a implantação dos sistemas viários e de transportes públ
cos foram, também, grandes indutores da expansão do tecido urbano e e
dos outros municípios atualmente localizados na ilha. A Lei Nº. 758, de 24 de setembro de
1952, instituiu o município de Ribamar, que posteriormente recebeu a denominação de São
José de Ribamar, formado na época por três distritos, um
com sede em Ribamar, o segundo
com sede no povoado da Mata e o terceiro no povoado Vila do Paço. A Lei Nº. 1890, de 7 de
dezembro de 1959, criou o município de Paço do Lumiar, desmembrado do município de R
bamar. A Lei Nº. 6132, de 10 de novembro de 1994,
criou o município de Raposa, desme
brado do município de Paço do Lumiar .
Em pesquisa de campo, constatou
de São José de Ribamar, da Raposa e de Paço do Lumiar, que integram a Região Metropolit
na, são servidas por subcentros de bairros
do município de São Luís,
exceção feita ao subce
)
.
Serviços
rarquia na organização social”, conforme Castells (1983, p.64). Portanto,
a relevância da te-
mática se expressa tanto pela influência local quanto regional de São Luís
.
MA, organizado pela autora. Ano 2009
e serviços
Tal fato decorre de que até a década de 1950, na Ilha do Maranhão havia a estrut
u-
ra municipal de São Luís. De fato, a implantação dos sistemas viários e de transportes públ
i-
cos foram, também, grandes indutores da expansão do tecido urbano e e
stimularam a criação
dos outros municípios atualmente localizados na ilha. A Lei Nº. 758, de 24 de setembro de
1952, instituiu o município de Ribamar, que posteriormente recebeu a denominação de São
com sede em Ribamar, o segundo
com sede no povoado da Mata e o terceiro no povoado Vila do Paço. A Lei Nº. 1890, de 7 de
dezembro de 1959, criou o município de Paço do Lumiar, desmembrado do município de R
i-
criou o município de Raposa, desme
m-
Em pesquisa de campo, constatou
-se que as cidades
de São José de Ribamar, da Raposa e de Paço do Lumiar, que integram a Região Metropolit
a-
exceção feita ao subce
n-
Serviços
Serviços
Comércio
Admin.
Pública
Agen.
Turismo
Correio e
Telec.
Ediçãoe
Impres.
Eletr. Agua e
Gás
Ensino
Saúde e
Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
68
Figura 20 – São José de Ribamar. Paço do Lumiar. Raposa e o Subcentro do Maiobão, pertencente a Paço
do Lumiar. 2009
Fonte: Prefeitura de São Luís e pesquisa de campo
Essa inter-relação das formas com as funções evidenciadas, entre outros, pela par-
ticipação das atividades de comércio e serviços na estruturação urbana, dão visibilidade às
contradições dos processos socioespaciais em São Luís. Quanto maior for essa concentração,
tanto maior será a diferenciação espacial, vista na acumulação do capital, na desigual possibi-
lidade que as pessoas têm de fazerem uso do espaço urbano, no qual estão implícitas questões
fundamentais da vida humana, tais como: o trabalho, o desenvolvimento pessoal, as trocas, a
saúde, o lazer etc. O estudo de Johnson, a nosso ver, antecipou as discussões atuais sobre o
69
centro, centros secundários e novas centralidades. O centro (e os subcentros, centros secundá-
rios ou novos centros) aqui entendido em sua expressão de “perenidade” e a centralidade per-
cebida nos fluxos e na fluidez dos processos intraurbanos, conforme Whitacker (1997).
Além disso, a importância dessa concentração de comércio e serviços no centro de
está associada ao consumo da cidade. Em São Luís e nos demais municípios da Ilha, no ima-
ginário coletivo, “ir à cidade”, como referiu Duarte (1967) e Whitacker (1997) , entre outros,
é deslocar-se para a área de maior dinamismo das atividades terciárias no conjunto urbano,
setor que denominamos de núcleo da área central, parte de nossa discussão no próximo capí-
tulo. O centro ou a área central e o seu núcleo, ainda hoje em São Luís, materializam e podem
sintetizar o que pode ser oferecido para o atendimento às necessidades da população.
Tal fato decorre do “sistema de ações” que, para Santos (2008, p. 82), resulta “de
necessidades, naturais ou criadas. Essas necessidades: materiais, imateriais, econômicas, soci-
ais, culturais, morais, afetivas, é que conduzem os homens a agir e levam a funções” que
transformam cidades ou parte delas em foco de atração para os proprietários dos meios de
produção ou o Estado. A localização das condições qualitativas e quantitativas privilegia al-
gumas cidades e/ou setores, ampliando a integração interna e as articulações externas. Corrêa
(2000), dentre outros autores, ressalta a importância dos terminais de transportes coletivos na
concretização desses atributos e possibilidades de agregar maior valor ao solo urbano, tais
como a acessibilidade, economias de aglomeração etc. Portanto, observa-se que a localização
na Área Central traz vantagens “capazes de transformar custos locacionais elevados e ampla
acessibilidade em lucros maximizados”.
Em São Luís, o setor que designamos área central (Gráfico 4) tem sua delimitação
proveniente da Lei 3.253, de 29 de dezembro de 1992
26
e inclui os bairros: Apicum, Camboa,
Centro, Coreia, Desterro, Diamante, Fabril, Goiabal, Madre Deus, Vila Passos e Lira, entre-
tanto as dinâmicas urbanas na atualidade fluem nos bairros do Desterro e Centro.
As cinco últimas décadas trouxeram mudanças espaciais e sociais na distribuição
dos comércios e serviços nas cidades. A pesquisa apontou que essa distribuição ainda perma-
nece concentrada em São Luís, pois a cidade ainda não recebeu alterações significativas devi-
do à implantação de grandes equipamentos de comércio e serviços, tais como grandes shop-
ping centers ou cadeia de hipermercados de abrangência nacional, entre outros. A localização
desses equipamentos em São Luís está nos conjuntos urbanos que concentram as populações
com maior poder aquisitivo.
26
Dispõe sobre o zoneamento, parcelamento, uso e ocupação do solo urbano e dá outras providências.
70
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
Gráfico 4 – São Luís. Distribuição das atividades de comércio e serviços no Centro.
O centro urbano, ou área central, não perdeu a sua importância, porém a diversi-
ficação das possibilidades de atendimento das necessidades das populações em ambientes
construídos, tornaram o consumo uma estratégia de acumulação do capital e de redefinição
de centralidades. Portanto, buscando entender os processos espaciais subjacentes nessa espa-
cialização, discutimos centralidade, conforme Whitacker (1997, p.161), que explica:
a centralidade urbana proveio, em primeiro lugar, da expressão em nível de
espaço do que os estudiosos chamavam algum tempo de divisão social do
espaço ... os centros urbanos são (então) a organização espacial da configura-
ção, do intercâmbio e da coordenação, na sua relação com o processo da divi-
são social do trabalho.
A discussão sobre uma economia política da urbanização e uma economia política
da cidade, conforme Santos (1994), trouxe entendimentos sobre a importância do centro e
demais formas apontadas na espacialização das atividades de comércio e serviços em São
Luís. Na área central da cidade estão cristalizadas as divisões sociais e territoriais do trabalho,
revelando uma produção e a reprodução social para atender interesses externos. Os demais
setores foram sendo ajustados pela própria a cidade, configurando a participação espacial dos
agentes sociais, movimentos e estruturações. A crise deflagrada com a decadência da econo-
mia algodoeira em São Luís é um bom exemplo do processo indissociável de urbanização e a
cidade. O declínio desse setor provocou grande impacto socioeconômico no contexto urbano e
0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
71
pode ser relacionada com redefinições de outras centralidades, formação e/ou consolidação de
subcentros, desdobramento da área central, e outros.
2.3 DISCUTINDO OUTRAS FORMAS DE EXPRESSÃO DA CENTRALIDADE
O distanciamento entre a Área Central e o restante da cidade é determinante para
“a competição pelo mercado consumidor, por exemplo, levando as firmas comerciais a des-
centralizarem seus pontos de venda através da criação de filiais nos bairros” conforme Corrêa
(2000). Esse processo de descentralização do comércio varejista começou na década de 1920,
em várias cidades norte-americanas. Desse modo, a configuração espacial da cidade torna-se
mais complexa, pois “a competição entre firmas comerciais pressupunha anteriormente uma
localização central; agora, adicionalmente, várias localizações descentralizadas”.
A visibilidade da distribuição das atividades de comércio e serviços por setores (Mapa
3) abriu nossa discussão sobre a desconcentração e a descentralização. Efetivamente, as con-
tradições criadas apontam movimentos que circunscrevem o apropriar-se da cidade aos que
têm acesso aos bens, às informações e aos serviços disponíveis em determinados setores da
cidade, enquanto os demais citadinos amargam a escassez das oportunidades que nela estão
concentradas.
Ribeiro Filho (2004) explicita a desconcentração a partir dos estudos de Charles
Colby (1930, 1958). Ele pontua a identificação “das forças centrífugas que estão relacionadas
aos agentes de repulsão das atividades de comércio e serviços para fora da Área Central”;
nesses casos, a concentração de pessoas, veículos e a saturação da infraestrutura agregam
mais dificuldades que vantagens, novas dinâmicas e formas espaciais decorrentes, o que no-
estimula a desconcentração.
Dessa forma, as mudanças que ocorrem na Área Central e que impõem migrações
funcionais notadamente em seu núcleo, segundo Colby (apud Ribeiro Filho, 2004, p. 161),
podem estar relacionadas aos agentes de repulsão tais como: alto valor monetário do solo ur-
bano devido aos aumentos, impostos e aluguéis, trânsito congestionado por pedestres e veícu-
los, alto custo dos sistemas de transportes e comunicação, impossibilidade de expansão das
atividades, ausência e perda de amenidades, grandes exigências legais e tributárias que limi-
tam as ações dos usuários.
72
Igualmente foram identificados, pelo referido autor, agentes de atração das áreas
não-centrais existentes ou a serem criados, a saber: grandes parcelas de terras desocupadas de
baixo custo e menores impostos, infraestrutura implantada, facilidades de transportes, quali-
dades atrativas do sítio, como demografia e drenagem, legislação flexível ou inexistente para
o uso ou controle do solo, a presença de amenidades físicas ou sociais (RIBEIRO FILHO,
2004).
Considerando que nossa pesquisa não tinha a abrangência para identificar os agen-
tes de atração e repulsão, empreendemos a possibilidade de uma leitura de São Luís, a partir
de indicadores presentes em todos os setores estudados, a saber: o comércio, e os serviços de
educação e saúde. Selecionamos a função comercial devido sua permanência e produtividade
na história urbana da cidade. Os dois serviços essenciais, um voltado para a saúde humana e
social esteve majoritariamente concentrado no centro até a década de 1980, e o outro, das ati-
vidades educativas, eram descentralizadas somente no ensino fundamental e, nos demais ní-
veis somente a partir da década de 1990.
A descentralização manifestou que a distribuição de serviços essenciais para a po-
pulação de baixa renda traduz ainda a tímida participação do Estado na organização espacial
de uma cidade para todos. Entretanto, a atuação do capital individual ou coletivo na educação
e saúde atraiu outras economias de aglomeração, configurando tendências de novas formas
espaciais, tais como: desdobramento da área central no Renascença, a consolidação dos sub-
centros da COHAB, João Paulo e o novo subcentro do São Cristóvão. Os setores que apresen-
tam maior centralidade são os que concentram as populações de maior poder aquisitivo, vali-
dando a acumulação interminável do capital.
Considerando a lógica de produção do espaço urbano a partir das reflexões feitas
por Corrêa (2000), torna-se evidente que “no capitalismo monopolista centralização do
capital e descentralização espacial”. Esses dois processos guardam em suas dinâmicas carac-
terísticas espaciotemporais importantes quando associadas ao capitalismo em suas diversas
fases. O poder do capital para criar e fixar as estruturas do seu interesse, aproximar as ativida-
des das matérias-primas, estabelecer locais centrais é tão presente quanto no “aparecimento de
núcleos secundários de atividades comerciais que geram economias de transporte e tempo,
induzindo a um maior consumo, o que é do interesse do capital produtivo e comercial”. Por-
tanto esses movimentos viabilizam a acumulação capitalista em geral.
Gráfico 5 –
São Luís. Distribuição do comércio e serviços de educação, saúde e serviços sociais.
Fonte: SEBRAE, Cadastro empresarial em São Luís
Corrêa (2000,
p.
Efetivamente, segundo Ribeiro Filho (2004), a descentralização do comércio var
jista provoca uma discussão necessária dos padrões de localização na compreensão da conf
guração espacial
urbana. A ela estão associadas as “transformações da estrutura comercial das
grandes cidades” e, entre outros, ele destaca os estudos de: Proudfoot (1930), Kelley (1970),
Vance (1970) e Berry (1968). No caso de São Luís, a pesquisa mostrou a importância d
descentralização para a geração dos núcleos secundários. O padrão de localização des
tralidades apontou uma diferenciação socioespacial extremamente desigual na oferta de c
mércio e de serviços, em maioria os públicos, excetuando
COHAB e o São Cristóvão, nos demais na estrutura comercial predominam os mercados p
blicos de bairro e pequenos comércios de bairro, a exemplo da rua Amália Saldanha e Aven
da Principal da Cidade Operária, que podem ser consideradas de b
as populações de baix
a renda.
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
ANIL
ANJO DA GUARDA
BEQUIMÃO
CALHAU
CENTRO
COMÉRCIO
73
São Luís. Distribuição do comércio e serviços de educação, saúde e serviços sociais.
Fonte: SEBRAE, Cadastro empresarial em São Luís
-
MA, organizado pela autora. Ano 2008
p.
48) alerta que:
A descentralização do capital comercial, por outro lado, tende a
levar ao desaparecimento das firmas dos bairros, pequenas fi
mas sem economias de escala, incapazes de concorrerem com as
grandes, estruturadas em cadeias de lojas comandadas da Área
Cen
tral: isto é particularmente marcante para certos gêneros
comerciais.
Efetivamente, segundo Ribeiro Filho (2004), a descentralização do comércio var
jista provoca uma discussão necessária dos padrões de localização na compreensão da conf
urbana. A ela estão associadas as “transformações da estrutura comercial das
grandes cidades” e, entre outros, ele destaca os estudos de: Proudfoot (1930), Kelley (1970),
Vance (1970) e Berry (1968). No caso de São Luís, a pesquisa mostrou a importância d
descentralização para a geração dos núcleos secundários. O padrão de localização des
tralidades apontou uma diferenciação socioespacial extremamente desigual na oferta de c
mércio e de serviços, em maioria os públicos, excetuando
-
se o Renascenç
COHAB e o São Cristóvão, nos demais na estrutura comercial predominam os mercados p
blicos de bairro e pequenos comércios de bairro, a exemplo da rua Amália Saldanha e Aven
da Principal da Cidade Operária, que podem ser consideradas de b
em equipadas para atender
a renda.
CENTRO
CIDADE OLIMPICA
CIDADE OPERÁRIA
COHAB
COHAMA
COHATRAC
COROADINHO
JOÃO PAULO
MONTE CASTELO
OLHO D'AGUA
PONTA D'AREIA
RENASCENÇA
SANTA CRUZ
SÃO CRISTOVÃO
TURU
EDUCAÇÃO
SAÚDE HUMANA E SERV. SOCIAIS
São Luís. Distribuição do comércio e serviços de educação, saúde e serviços sociais.
MA, organizado pela autora. Ano 2008
A descentralização do capital comercial, por outro lado, tende a
levar ao desaparecimento das firmas dos bairros, pequenas fi
r-
mas sem economias de escala, incapazes de concorrerem com as
grandes, estruturadas em cadeias de lojas comandadas da Área
tral: isto é particularmente marcante para certos gêneros
Efetivamente, segundo Ribeiro Filho (2004), a descentralização do comércio var
e-
jista provoca uma discussão necessária dos padrões de localização na compreensão da conf
i-
urbana. A ela estão associadas as “transformações da estrutura comercial das
grandes cidades” e, entre outros, ele destaca os estudos de: Proudfoot (1930), Kelley (1970),
Vance (1970) e Berry (1968). No caso de São Luís, a pesquisa mostrou a importância d
essa
descentralização para a geração dos núcleos secundários. O padrão de localização des
sas cen-
tralidades apontou uma diferenciação socioespacial extremamente desigual na oferta de c
o-
se o Renascenç
a, o João Paulo, a
COHAB e o São Cristóvão, nos demais na estrutura comercial predominam os mercados p
ú-
blicos de bairro e pequenos comércios de bairro, a exemplo da rua Amália Saldanha e Aven
i-
em equipadas para atender
TURU
VILA EMBRATEL
VILA PALMEIRA
VINHAIS
SAÚDE HUMANA E SERV. SOCIAIS
74
Av. Colares Moreira - Renascença Av. João Pessoa –João Paulo
Figura 21 – São Luís. Diferenciação socioespacial entre setores Renascença e João Paulo
Av. Amália Saldanha- Coroadinho Av. Principal da Cidade Operária
Figura 22 São Luís. Diferenciação socioespacial nos setores Coroadinho e São Cristovão
Assim, podemos pensar a formação dos centros secundários no contexto dos mo-
vimentos qualitativos e quantitativos do capital, “campo para novos investimentos e reprodu-
ção”, segundo entende Corrêa (2000, p. 49). A natureza seletiva da descentralização que é
dada em diversas especificidades, a saber: de atividade, de tempo, de divisão territorial do
trabalho, de tamanho da cidade e de território, compõe uma estrutura de grande complexidade
75
urbana. Entretanto, conforme o autor, ela foi viabilizada “pelo desenvolvimento de meios de
transporte mais flexíveis, como ônibus, caminhão e automóvel, não mais presos aos trilhos e
resultou também do interesse dos proprietários fundiários e promotores imobiliários”
(CORRÊA, 2000, p. 46-47).
Buscamos um entendimento sobre a espacialização das atividades de comércio e
serviços nos demais setores de São Luís para as quais as contribuições de Corrêa (2000a e
2000b), Mckenzie (1926) e Santos (1994) mostraram-se elucidativas. A importância desse
estudo é a possibilidade de capturar as mudanças socioespaciais que agregam articulações
entre o passado e presente, os agentes sociais que as efetivam e dão visibilidade à lógica espa-
cial motivadora, considerando que os processos e formas espaciais não são excludentes
entre si” e as dinâmicas urbanas nas cidades ou em setores menores como bairros podem o-
correr de forma concomitante, complementar ou não a outros processos.
O espraiamento do tecido urbano de São Luís estimulou processos espaciais que
se tornaram mais visíveis com a distribuição das atividades terciárias, conforme a pesquisa.
Essa centralização é fortemente expressa em São Luís pelo comércio varejista de alimentos, vestuário e
calçados, medicamentos, cosméticos que principalmente por meio dos pequenos empreendimentos for-
mais ou não, (Gráfico 6) devido à atratividade que essas atividades exercem, elas respondem pelo grande
dinamismo dos setores urbanos estudados.
Praça do Anjo da Guarda Avenida da Divinéia
Figura 23 São Luís. Diferenciação socioespacial nos setores Anjo da Guarda e Turu
Elas estão dispostas predominantemente nas vias pr
toras principais e/ou vias coletoras secundárias (
próximas, garantindo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade e empregabilidade nos serv
ços blicos d
e educação, saúde e segurança, conforme a pesquisa de campo.
complementar que “a cidade desempenha, pois fundamental papel econômico no desenvolv
mento do capitalismo, ma
s, inversamente, a urbanização é moldada, modelada, de acordo com
a
s necessidades da acumulação capitalista” (LOJKINE, 1997, p. 185).
Gráfico 4 –
São Luís. Distribuição das atividades formais e informais.
Fonte: SEBRAE, Cadastro empresarial em São Luís
A pesquisa apon
centralização comercial e a produção de uma importante acumulação capitalista em toda cid
de, para qual se pode aplicar a afirmação de Corrêa (2000, p. 48) trata
drenagem d
e salários da população”. É a função de centralidade das atividades de informação,
comunicação e atividades financeiras representadas por instituições bancárias ou alternativos
bancários que juntamente com empreendimentos do tipo lan house com acesso à int
dominantemente para jog
os em rede.
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
14,00
16,00
18,00
20,00
ANIL
ANJO DA GUARDA
BEQUIMÃO
76
Elas estão dispostas predominantemente nas vias pr
irias e/ou secundárias, nas vias col
toras principais e/ou vias coletoras secundárias (
Quadro 4). E
ssas atividades suprem as populações mais
próximas, garantindo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade e empregabilidade nos serv
e educação, saúde e segurança, conforme a pesquisa de campo.
complementar que “a cidade desempenha, pois fundamental papel econômico no desenvolv
s, inversamente, a urbanização é moldada, modelada, de acordo com
s necessidades da acumulação capitalista” (LOJKINE, 1997, p. 185).
São Luís. Distribuição das atividades formais e informais.
Fonte: SEBRAE, Cadastro empresarial em São Luís
-
MA, organizado pela autora. Ano 2009
A pesquisa apon
tou a força dos fluxos imateriais (Quadro
5)
centralização comercial e a produção de uma importante acumulação capitalista em toda cid
de, para qual se pode aplicar a afirmação de Corrêa (2000, p. 48) trata
e salários da população”. É a função de centralidade das atividades de informação,
comunicação e atividades financeiras representadas por instituições bancárias ou alternativos
bancários que juntamente com empreendimentos do tipo lan house com acesso à int
os em rede.
BEQUIMÃO
CALHAU
CENTRO
CIDADE OLIMPICA
CIDADE OPERÁRIA
COHAB
COHAMA
COHATRAC
COROADINHO
JOÃO PAULO
MONTE CASTELO
OLHO D'AGUA
PONTA D'AREIA
RENASCENÇA
SANTA CRUZ
SÃO CRISTOVÃO
TURU
FORMAIS %
INFORMAIS%
irias e/ou secundárias, nas vias col
e-
ssas atividades suprem as populações mais
próximas, garantindo o abastecimento de gêneros de primeira necessidade e empregabilidade nos serv
i-
e educação, saúde e segurança, conforme a pesquisa de campo.
Tal observação vem
complementar que “a cidade desempenha, pois fundamental papel econômico no desenvolv
i-
s, inversamente, a urbanização é moldada, modelada, de acordo com
São Luís. Distribuição das atividades formais e informais.
MA, organizado pela autora. Ano 2009
.
5)
nos processos de des-
centralização comercial e a produção de uma importante acumulação capitalista em toda cid
a-
de, para qual se pode aplicar a afirmação de Corrêa (2000, p. 48) trata
-se “de uma rede de
e salários da população”. É a função de centralidade das atividades de informação,
comunicação e atividades financeiras representadas por instituições bancárias ou alternativos
bancários que juntamente com empreendimentos do tipo lan house com acesso à int
ernet pre-
VILA EMBRATEL
VILA PALMEIRA
VINHAIS
Fonte: SEBRAE, Cadastro empresarial em São Luís
Gráfico 5 –
São Luís. Distribuição dos serviços de informação, comunicação e financeiros.
Para Corrêa (2000), a descentral
ranjos da cidade e da economia estabelecem. Sua identificação, conforme Berry (1971 e 1982)
dá-
se a partir das funções de hierarquização de setores, em cujas áreas podem localizar
subcentro regional, ou
subcentro de bairros ou de bairro, ou lojas de esquina, ou rua comercial
de bairros ou de bairro; ou da função de especialização, que tipifica áreas tais como distrito
médico, distrito de diversões ou tipifica as ruas comerciais de bairros, rua comercial
Igualmente importante em hierarquização é o processo espacial associado aos
ters
, pois a centralidade que pode ser criada ou expandida efetiva uma descentralização mais
voltada para as classes com maior poder aquisitivo
porte e comunicação, a densidade e o nível de renda da população, entre outros, implicam em
maior ou menor funcionalidade das formas espaciais que se constituem.
Da discussão de Corrêa (2000) sobre essa temática, priorizamos os
espaciais circunscritos ao objeto de estudo da pesquisa e as formas espaciais decorrentes que
são a centralização e a área central e a descentralização (e recentralização) e os núcleos s
cundários. Tomamos entre os vinte e dois setores, os
e serviços e que já exercem uma centralidade no conjunto de setores mais próximos, buscando
entender qual a autonomia e o nível de aproximação que esses conjuntos teriam em relação ao
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
ANIL
ANJO DA GUARDA
BEQUIMÃO
CALHAU
CENTRO
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
77
Fonte: SEBRAE, Cadastro empresarial em São Luís
-
MA, organizado pela autora. Ano 2008
São Luís. Distribuição dos serviços de informação, comunicação e financeiros.
Para Corrêa (2000), a descentral
ização expõe as contradições e tensões que os a
ranjos da cidade e da economia estabelecem. Sua identificação, conforme Berry (1971 e 1982)
se a partir das funções de hierarquização de setores, em cujas áreas podem localizar
subcentro de bairros ou de bairro, ou lojas de esquina, ou rua comercial
de bairros ou de bairro; ou da função de especialização, que tipifica áreas tais como distrito
médico, distrito de diversões ou tipifica as ruas comerciais de bairros, rua comercial
Igualmente importante em hierarquização é o processo espacial associado aos
, pois a centralidade que pode ser criada ou expandida efetiva uma descentralização mais
voltada para as classes com maior poder aquisitivo
em princípio.
Portanto, o sistema de tran
porte e comunicação, a densidade e o nível de renda da população, entre outros, implicam em
maior ou menor funcionalidade das formas espaciais que se constituem.
Da discussão de Corrêa (2000) sobre essa temática, priorizamos os
espaciais circunscritos ao objeto de estudo da pesquisa e as formas espaciais decorrentes que
são a centralização e a área central e a descentralização (e recentralização) e os núcleos s
cundários. Tomamos entre os vinte e dois setores, os
cinco setores com melhor oferta de bens
e serviços e que já exercem uma centralidade no conjunto de setores mais próximos, buscando
entender qual a autonomia e o nível de aproximação que esses conjuntos teriam em relação ao
CENTRO
CIDADE OLIMPICA
CIDADE OPERÁRIA
COHAB
COHAMA
COHATRAC
COROADINHO
JOÃO PAULO
MONTE CASTELO
OLHO D'AGUA
PONTA D'AREIA
RENASCENÇA
SANTA CRUZ
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
ATIVIDADES FINANCEIRAS
MA, organizado pela autora. Ano 2008
São Luís. Distribuição dos serviços de informação, comunicação e financeiros.
ização expõe as contradições e tensões que os a
r-
ranjos da cidade e da economia estabelecem. Sua identificação, conforme Berry (1971 e 1982)
se a partir das funções de hierarquização de setores, em cujas áreas podem localizar
-se um
subcentro de bairros ou de bairro, ou lojas de esquina, ou rua comercial
de bairros ou de bairro; ou da função de especialização, que tipifica áreas tais como distrito
médico, distrito de diversões ou tipifica as ruas comerciais de bairros, rua comercial
de bairro.
Igualmente importante em hierarquização é o processo espacial associado aos
shopping cen-
, pois a centralidade que pode ser criada ou expandida efetiva uma descentralização mais
Portanto, o sistema de tran
s-
porte e comunicação, a densidade e o nível de renda da população, entre outros, implicam em
Da discussão de Corrêa (2000) sobre essa temática, priorizamos os
dois processos
espaciais circunscritos ao objeto de estudo da pesquisa e as formas espaciais decorrentes que
são a centralização e a área central e a descentralização (e recentralização) e os núcleos s
e-
cinco setores com melhor oferta de bens
e serviços e que já exercem uma centralidade no conjunto de setores mais próximos, buscando
entender qual a autonomia e o nível de aproximação que esses conjuntos teriam em relação ao
SÃO CRISTOVÃO
TURU
VILA EMBRATEL
VILA PALMEIRA
VINHAIS
ATIVIDADES FINANCEIRAS
centro, para identificação de ou
Paulo, o Renascença, a COHAB e o São Cristóvão.
O conjunto urbano centralizado pelo Anjo da Guarda (Gráfico
são do tecido urbano após a cada de 1970, ele recebeu a função p
opera o complexo do porto do Itaqui, do porto da Vale e do porto da ALUMAR e, nele ta
bém estão localizados os terminais de transportes ferroviário e hidroviário, as atividades de
comércio e serviços estão distribuídas nas vias colet
ro.
Abrange os bairros do
Anjo da Guarda, Fumacê,
Alto da Esperança,
Jambeiro, Sá Via
Gráfico 6 –
São Luís. Distribuição das at
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís
O conjunto urbano de João Paulo
da cidade, sendo o bairro do Joã
da cidade e que devido à proximidade com o centro da cidade apresenta uma perda em sua
centralidade. Abrange os bairros:
gre, Retiro Natal, Mont
e Castelo, em Deus, Liberdade
Jordoa, Redenção, Sítio Leal,Túnel do
tião, Parque dos Nobres, Pindorama, Parque Timbira
ra, Vila Conceiç
ão, Vila dos Frades, Alemanha
Serviços
Comércio
Admin. Pública
Ativ.Adm.e Sev.Comp.
Correio e Telec.
Ediçãoe Impres.
Eletr. Agua e Gás
Educação
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
Outras Ativ.
78
centro, para identificação de ou
tras centralidades. Foram escolhidos o Anjo da Guarda, o João
Paulo, o Renascença, a COHAB e o São Cristóvão.
O conjunto urbano centralizado pelo Anjo da Guarda (Gráfico
são do tecido urbano após a cada de 1970, ele recebeu a função p
ortuária da cidade que
opera o complexo do porto do Itaqui, do porto da Vale e do porto da ALUMAR e, nele ta
bém estão localizados os terminais de transportes ferroviário e hidroviário, as atividades de
comércio e serviços estão distribuídas nas vias colet
oras primárias em ruas comerciais de bai
Anjo da Guarda, Fumacê,
Ganchari
a, São Raimundo, Vila São Luís,
Jambeiro, Sá Via
na, Vila Bacanga,Vila Embratel e
Vila Isabel
São Luís. Distribuição das at
ividades de comércio e serviços no Anjo da Guarda.
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís
-
MA, organizado pela autora. Ano 2007
O conjunto urbano de João Paulo
(Quadro 7)
corresponde a uma ocupação antiga
da cidade, sendo o bairro do Joã
o Paulo um subcentro, onde prevalece o comércio atacadista
da cidade e que devido à proximidade com o centro da cidade apresenta uma perda em sua
centralidade. Abrange os bairros:
Areinha, Parque Amazonas, Fátima, Apeadouro, Bom Mil
e Castelo, em Deus, Liberdade
, Coroado,
Filipinho, João Paulo,
Jordoa, Redenção, Sítio Leal,Túnel do
Sacavém, Rio Anil,
Bom Jesus, Conjunto Dom Seba
tião, Parque dos Nobres, Pindorama, Parque Timbira
, Coroadinho,
Vila dos Nobres, Primav
ão, Vila dos Frades, Alemanha
,
Caratatiua, Ivar Saldanha,
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0
Serviços
Comércio
Admin. Pública
Ativ.Adm.e Sev.Comp.
Correio e Telec.
Ediçãoe Impres.
Eletr. Agua e Gás
Educação
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
Outras Ativ.
tras centralidades. Foram escolhidos o Anjo da Guarda, o João
O conjunto urbano centralizado pelo Anjo da Guarda (Gráfico
6) integra a expan-
ortuária da cidade que
opera o complexo do porto do Itaqui, do porto da Vale e do porto da ALUMAR e, nele ta
m-
bém estão localizados os terminais de transportes ferroviário e hidroviário, as atividades de
oras primárias em ruas comerciais de bai
r-
a, São Raimundo, Vila São Luís,
Vila Isabel
.
ividades de comércio e serviços no Anjo da Guarda.
MA, organizado pela autora. Ano 2007
corresponde a uma ocupação antiga
o Paulo um subcentro, onde prevalece o comércio atacadista
da cidade e que devido à proximidade com o centro da cidade apresenta uma perda em sua
Areinha, Parque Amazonas, Fátima, Apeadouro, Bom Mil
a-
Filipinho, João Paulo,
Bom Jesus, Conjunto Dom Seba
s-
Vila dos Nobres, Primav
e-
Caratatiua, Ivar Saldanha,
Santa Cruz,Vila
7,0 8,0 9,0 10,0
79
Palmeira, Radional, COHEB, Outeiro da Cruz, Sacavém, Túnel do Sacavém, Salinas do Sa-
cavém, Barreto e COHEB.
Gráfico 7 – São Luís. Distribuição das atividades de comércio e serviços no João Paulo.
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
O conjunto urbano do Renascença (Quadro 8) compreende as áreas de ocupação
mais recente articulada pelas vias primárias da Avenida dos Holandeses, Avenida Jerônimo de
Albuquerque, Avenida Colares Moreira, Avenida Daniel de la Touche, Avenida Euclides Fi-
gueiredo e Avenida Castelo Branco; nele estão localizados os conjuntos residenciais de clas-
ses média e alta e os solo urbanos mais valorizados. Abrange os bairros: Cantinho do Céu,
Conj. Manoel Beckman, COHAMA, COHASERMA I, COHASERMA II, Bequimão, Ange-
lim, Rio Anil, Ipase, Japão, Maranhão Novo, Jardim das Oliveiras, Parque Atenas,
COHAJAP, Recanto Fialho, Vila 07 de setembro,Vila Cruzado, Vila Fialho, COHAFUMA,
Conj. dos Ipês,Conj.Hab.Vinhais, Belo Horizonte, Res. Vinhais I e II, Recanto Vinhais, Boa
Morada, Parque Angela, Parque Olinda, Vila Independente, Vila Roseana, Vinhais II, Vinhais
III, Vinhais IV,Ponta do Farol, Conjunto São Marcos, Ponta d’Areia, São Marcos, São Fran-
cisco, Renascença, Jaracaty, Ilhinha e Calhau.
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
80
Gráfico 8 – São Luís. Distribuição das atividades de comércio e serviços no Renascença.
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
O conjunto urbano da COHAB (Quadro 9) compreende um subcentro muito dinâ-
mico devido à proximidade de conjuntos habitacionais populares, que devido o sistema de
transportes tem garantido uma excelente acessibilidade ao centro; integra também uma área
de ocupação antiga da faixa litorânea da cidade e um intenso processo de ocupação não plane-
jada. Abrange os bairros: Angelim, Anil, Aurora, Cruzeiro do Anil, Cutim Anil, Santo Anto-
nio, Pirapora, Vila Isabel Cafeteira, Parque Guanabara, Centauros, Parque Aurora, João de
Deus, Planalto Anil, Parque Universitário, Sítio São José,
Olho d’Água, COHAB Anil I, II,
III, IV, Forquilha, Jardim de Fátima, Planalto Anil I, II, III, Parque Sabiá, São Bernardo, Vila
Brasil, COHATRAC I, II, III, IV e V, Jardim das Margaridas, Primavera, IPEM Turu, Itapira-
có, Jardim Atlântico, Jardim Eldorado, Chácara Brasil, Turu, Parque Vitória, Santa Rosa e
Vila União.
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
81
Gráfico 9 – São Luís. Distribuição das atividades de comércio e serviços no COHAB.
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
O conjunto urbano do São Cristóvão (Quadro 10) agrupa os dois maiores conjun-
tos habitacionais populares e outras ocupações não planejadas, considerando a concentração
populacional é onde estão as maiores disparidades na distribuição das atividades de comércio
e serviços. Abrange os bairros: Ipem São Cristóvão, Juçara, Penalva, São Carlos, Ilha Bela,
COHAPAM, São Cristóvão, Jardim São Cristóvão, Jardim São Cristóvão II, São Raimundo,
Airton Sena, Valean, Alameda dos Sonhos, Cruzeiro de Santa Bárbara, Conjunto Habitar,
Santa Clara, Santa Bárbara, Vila Vitória, Jardim América, Vila Janaína, Cidade Olímpica,
Cidade Operária, Recanto dos Pássaros, Recanto dos Signos, Santa Efigênia, Vila América,
Jardim América Central, Vila Jeniparana, Conj. Residencial Jeniparana, Maiobinha e Santa
Terezinha.
-1,0 1,0 3,0 5,0 7,0 9,0 11,0 13,0 15,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
82
Gráfico 10 – São Luís. Distribuição das atividades de comércio e serviços no São Cristóvão.
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
A distribuição das atividades de comércio e serviços pode ser interpretada nos
conjuntos urbanos, a partir do índice de concentração
27
construído para o estudo. A identifica-
ção das centralidades existentes reafirmou a permanência, a falta e/ou controle das dinâmi-
cas urbanas capazes de alavancar os processos urbanos que estão na base de uma cidade me-
nos desigual para a maioria, os habitantes de menor poder aquisitivo. A disparidade entre os
percentuais de distribuição das atividades terciárias permitiu a identificação dos setores cen-
trais. Os bairros foram agrupados pela abrangência deste bairro com maior polarização, cuja
centralidade já estabelecida, portanto, os baixos índices nesses conjuntos urbanos nos permiti-
ram inferir a complementaridade entre eles (Tabela 4). As constatações expuseram a força da
centralidade do centro; os conjuntos urbanos do João Paulo e COHAB, que poderiam ser sub-
centros completos pelo tempo de formação e demandas das populações do seu entorno, perde-
ram centralidade. Os setores do Renascença e São Cristóvão serão analisados a seguir.
27
Foi feito uma regra de três tendo como totalidade os valores do centro urbano. O percentual para cada ativida-
de foi multiplicado por 10 e dividido por 100. Na discussão considerou-se que quanto maior o índice, maior será
a concentração das atividades de comércio e serviços.
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
83
Tabela 4 – São Luís. Outras centralidades urbanas: concentração das atividades de comércio e serviços segundo o
índice de concentração.
ATIVI
-
DADES
CENTRO
ANJO DA
GUARDA
E VILA
EMBRA-
TEL
MONTE
CASTELO,
JOÃO PAULO
,
COROADI-
NHO, VILA
PALMEIRA e
OUTEIRO DA
CRUZ
BEQUIMÃO,
VINHAIS,
PORTA D'A-
REIA,
RENASCENÇA,
CALHAU e
COHAMA
ANIL,
COHA-
TRAC,
OLHO
D’ÁGUA,
TURU e
COHAB
SÃO CRIS
-
TOVÃO,
CIDADE
OPERÁRIA
e CIDADE
OLÍMPICA
Serviços
3
,83
0,24
1,22
2,44
1,07
1,25
Comércio
3,53
0,29
1,62
2,10
1,58
0,85
Admin. Públ
i-
ca
6,67
0,09
0,61
1,93
0,35
0,35
Agen. Turi
s-
mo
4,48
0,55
0,91
2,28
0,91
0,87
Correio e T
e-
leg
4,42
0,23
1,86
1,17
0,93
1,40
Edições e
Impres
5,63
0,13
1,27
2,03
0,51
0,44
Eletr. Água e
Gás
1,21
0,30
3,03
4,85
-
0,61
Ensino
3,73
0,29
1,01
1,91
1,81
1,24
Saúde e Serv.
Social
5,52
0,05
0,67
2,54
1,04
0,18
Serv. Financ.
6,47
0,09
0,60
1,60
1,10
0,30
Transportes
1,97
0,48
1,54
1,23
1,44
3,35
Outras Ativ
i-
dades
3,52
0,15
1,40
3,02
1,30
0,60
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
Tanto na centralização como na descentralização a proximidade das atividades a-
fins economias externas de aglomeração demonstram, segundo Corrêa (2000), o processo
espacial da coesão ou magnetismo funcional. Estas atividades relacionam algumas caracterís-
ticas, a saber, agrupamento de: “lojas varejistas de mesma linha de produtos” favorecendo a
escolha “entre vários tipos, marcas e preços” resultando em “ruas especializadas em móveis,
autopeças, lustres e confecções no atacado” etc.; atividades distintas operando no mesmo lo-
cal, a exemplo do “comércio varejista do núcleo central, dos subcentros regionais espontâneos
e dos shopping centers; atividades “complementares entre si, como se exemplifica com as
associações funcionais entre fabricação, atacado de confecções” etc.; atividades que “juntas
criam economias de escala”; atividades que dependem do fluxo de pessoas “que exigem con-
tatos pessoais face a face”.
84
Whitacker (1997) avança na discussão ao destacar que:
A análise das formas de concentração econômica e especialização
funcional no centro tradicional colocam para o debate duas dinâmicas
importantes: a expansão do centro tradicional e a “crise” dessa forma
de centralidade. Uma crise que não supõe a busca de um estado de e-
quilíbrio, mas que deve ser compreendida como parte integrante do
movimento contínuo de redefinição de papéis dentro da cidade e que
já traz dentro de si sua superação.
De fato, o ritmo e a complexidade do dinamismo urbano provocam cada vez mais
o entendimento do caráter indissociável “dos níveis econômico, ideológico e político-
institucional” (WHITACKER, 1997) que redefinem a centralidade dos espaços tendo em vista
os papéis que a cidade desempenha ou não. Sem dúvida, a singularidade de cada processo
manifesta o conteúdo-forma dos arranjos de cada cidade às determinantes que comandam ou
influenciam os processos espaciais.
os subcentros devem ser analisados como “núcleos centrais”, pois trazem “a i-
deia de centralidade e de coesão espacial presentes no centro como no subcentro” com as ca-
racterísticas de localização distantes do centro voltadas para atender à população mais próxi-
ma, com o oferecimento de comércios e serviços em escala menor.
Buscando apreender comparativamente as possibilidades e/ou restrições proveni-
entes da distribuição das atividades de comércio e serviços, tendo em vista a cidade em sua
“organização social, ou seja, o conjunto de objetos criados pelo homem e dispostos sobre a
superfície da Terra, é assim um meio de vida no presente (produção), mas também uma con-
dição para o futuro (reprodução)” conforme Corrêa (2000a., p.55), analisamos o centro e os
dois outros setores com maior quantidade e diversidade das atividades terciárias, a saber: Re-
nascença e o São Cristóvão.
O setor do Renascença, abrange os bairros do São Francisco, Renascença, Jara-
caty e Ilhinha, corresponde às expansões recentes do tecido urbano da cidade, a partir da cons-
trução das pontes sobre o rio Anil: José Sarney e Bandeira Tribuzzi, na década de 1970. A
valorização do solo urbano em função das obras viárias atraiu e concentrou a população de
maior poder aquisitivo e promoveu a ocupação da área litorânea. O setor tem assumido a ca-
racterística de desdobramento da área central tendo em vista a funcionalidade assumida nas
áreas: financeira, comercial, de saúde e educacional, além de concentrar três dos quatro shop-
ping centers da cidade.
O setor do São Cristóvão é uma área de ocupação antiga que somente nas últimas décadas
com a localização das atividades tercrias tem interagido com a dinâmica das atividades tercrias, sua
85
área mais dinâmica é a Avenida Guajajaras, eixo principal de entrada da cidade e via primária
na hierarquia do sistema viário básico. Abrange os bairros do Ipem São Cristóvão, Juçara, Pe-
nalva, São Carlos, Ilha Bela, COHAPAM, São Cristóvão, Jardim São Cristóvão, Jardim São
Cristóvão II, São Raimundo, Airton Sena, Valean, Alameda dos Sonhos.
O exemplo que analisou comparativamente, a partir de um índice de concentração
os setores do Centro, do Renascença e do São Cristóvão (Tabela 5), permitiu identificar que: a
concentração prevalece muito acentuada no Centro; a centralização do capital explica o pre-
domínio do trabalho assalariado em domicílios; o comércio que aparece nos três setores é o
varejista, que se diferencia no Renascença devido à concentração dos shopping centers; a ad-
ministração pública descentralizou as atividades educacionais, de saúde e de segurança; nas
atividades de eletricidade, água e gás, o diferencial do Renascença refere-se a localização das
empresas de arrecadação e, no indicador de saúde, o deslocamento das clínicas e outros servi-
ços de saúde aponta tendência para uma especialização do Renascença. Portanto, são os
movimentos do capital individual ou coletivo que tem promovido o dinamismo desses setores
e, pela história urbana de perdas de centralidade, questiona-se por quanto tempo?
Tabela 5 – São Luís. Concentração das atividades de comércio e serviços nos setores mais dinâmicos se-
gundo o índice de concentração.
ATIVIDADES
CENTRO
RENASCENÇA
SÃO
CRISTOVÃO
Serviços
3,83 0,92 0,38
Comércio
3,53 0,90 0,35
Admin. Pública
6,67 0,61 0,67
Agen. Turismo
4,48 1,55 0,45
Correio e Teleg
4,42 0,70 0,44
Ediçõ
es e Impres
5,63 1,65 0,56
Eletr. Água e Gás
1,21 4,55 0,12
Ensino
3,73 0,23 0,37
Saúde e Serv. Social
5,52 2,00 0,55
Serv. Financ.
6,47 1,19 0,65
Transportes
1,97 0,50 0,20
Outras Atividades
3,52 1,64 0,35
Fonte: Delegacia da Receita Previdenciária em São Luís - MA, organizado pela autora. Ano 2007
Buscamos identificar os processos referentes a centralização, a descentralização e
a recentralização. A complexidade desses processos espaciais se estabelece na contínua e de-
masiada expansão do tecido urbano e saturação do núcleo do centro urbano. Para Mckenzie
86
(1926), eles são considerados “apenas fases do processo de centralização”. São movimentos
opostos à centralização e que se tornam importantes na redefinição do espaço devido à “ten-
dência que têm as áreas de centralização de diminuir de tamanho”, em decorrência da descen-
tralização. Some-se a isso a multiplicação dos centros, o que se constitui num tipo de recentra-
lização e dá origem às “novas unidades de centralização que aparecem constantemente” na
cidade, em geral sob o comando do capital.
Duas questões são pertinentes em relação aos processos de (des)centralização em
São Luís. A meu ver, em primeiro lugar não podemos afirmar a saturação do núcleo do centro
urbano de São Luís se considerar a densidade de sua ocupação e, em segundo lugar, exceção
feita ao setor do Renascença e São Cristóvão, padrão locacional das empresas de comércio e
serviços que estão nos núcleos secundários revelam que a origem dessas atividades não são o
grande capital, pois predominam as lojas de bairro para atendimento das necessidades básicas
da população de menor poder aquisitivo.
Considerando o recorte empírico da distribuição das atividades de comércio e ser-
viços, obtivemos uma aproximação da morfologia urbana de São Luís que nos permite con-
cluir provisoriamente a partir de Mckenzie (1926), que está havendo uma descentralização
das atividades de educação, saúde e serviços sociais que eram efetivadas principalmente pelo
serviço público e operacionalizados no centro urbano e que foram disseminadas em todos os
setores da cidade, sob a coordenação de instituições do poder público localizadas no centro
urbano .
Ainda buscando entender os processos espaciais conforme o autor, destacamos a
importante tendência assumida pelo setor do Renascença como um desdobramento da área
central. Definida por Whitacker (1997, p.175) como redefinições de centralidade que podem
provocar a expansão do centro tradicional com usos do solo diferenciados ou não, e, descen-
tralização de atividades centrais, o desdobramento das atividades centrais distingue essa rede-
finição de centralidade quando ocorre em “áreas contínuas ou não ao centro, geralmente em
eixos de circulação, que passam a receber atividades ditas centrais, em substituição de ativi-
dades não centrais de forma especializada”. Incluído entre as aglomerações urbanas formadas
a partir da década de setenta, o poder aquisitivo da população que vive tem atraído grandes
empreendimentos comerciais, de serviços financeiros, educacionais e de saúde, entre outros.
Outro fator que também aponta a tendência a descentralização da área central
neste setor é o reforço da centralidade com a verticalização, que tornou-se determinante de-
vido a alta valorização do solo urbano predominante em São Luís.
87
Figura 25 – São Luís. Renascença, tendência de desdobramento da Área Central de São Luís. 2009
Fonte: Jalmir Sales
É importante que concentração e a centralização sejam vistas em todo o compro-
metimento socioespacial que tem sido produzido pela omissão e/ou comissão do capitalismo
monopolista do Estado
28
. A distribuição das atividades comerciais e de serviços em São Luís
apontou uma discrepância entre o centro e os demais setores da cidade. As condições de pro-
dução e reprodução social que estão refletidas na materialização desses processos permitem
inferir uma cidade com uma configuração espacial muito complexa e perpetuadora da apro-
priação desigual da cidade. Se considerarmos que as atividades terciárias correspondem ao
maior volume de capital e pela absorção da população economicamente ativa, podemos apre-
ender a problemática urbana que é a concentração e a centralização sintetizam em São Luís.
No próximo capítulo discutiremos a força da centralidade das atividades comerci-
ais no núcleo da área central de São Luís e apresentaremos a distribuição destas atividades
buscando enfatizar o papel de centralidade que elas expressam.
28
Conforme Bottomore (1983, p.55) “é a fase mais recente do capitalismo, caracterizada pela ascensão do Esta-
do como força econômica significativa, diretamente envolvida na acumulação de capital.
88
CAPÍTULO 3 – O NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL DA CIDADE: forma-
ção e transformações
A amplitude e os desdobramentos dos conteúdos urbanos relacionados com a es-
pacialização das atividades comerciais e de serviços permitiu-nos antever a necessidade de
outras pesquisas específicas para as questões que foram sendo levantadas, porém de imediato
nos direcionou para o setor onde a expressão da centralidade urbana, ainda, está fortemente
configurada histórica, simbólica e economicamente: o núcleo da área central de São Luís.
Este setor no conjunto urbano é discutido nos estudos americanos de Murphy e
Vance (1954), Murphy, Vance e Epstein (1955), Horwood e Bouce (1959), a partir dos quais
Ribeiro Filho (2004, p. 156) caracteriza-o como “a área em que se encontra a maior concen-
tração das atividades de comércio varejista e de serviços, cujo reflexo pode ser percebido pelo
alto valor da terra em relação às demais áreas da cidade. [...] foco principal do fluxo de pedes-
tres e veículos e sendo denominado de núcleo da Área Central (core) ou Central Business
District (CBD)”. Em São Luís essa área corresponde atualmente a: Rua Grande, Rua de San-
tana, Rua da Paz e Rua do Sol, tendo como limites as Praças João Lisboa e Praça Deodoro.
Entretanto até 1930, ele podia ser claramente identificado na Praça João Lisboa, que integrava
a Praia Grande – o Centro, desde a fundação até aquela década.
A Praça João Lisboa é o nome atual do Largo do Carmo, que é integrante da histo-
riografia da cidade desde os primeiros sistemas urbanísticos, conforme registro dos franceses
que pretendiam fundar a França Equinocial em 1612; “escolheram uma bela praça muito indi-
cada para esse fim por se achar numa alta montanha e na ponta de um rochedo inacessível e
mais elevado do que todos os outros e donde se descortina o terreno a perder de vista
(ABEVILLE, 1985, p. 57-58). O Largo do Carmo, em frente da Igreja de Nossa Senhora do
Carmo, é tradicional e histórico, nele funcionou a primeira feira da São Luís colonial, inicial-
mente como mercado de rua e posteriormente como importante centro de compras, ele res-
pondia pelo comércio varejista e era uma das mais importantes localizações da cidade, segun-
do Lima (2007, p. 73-78).
89
Figura 26– São Luís. Largo do Carmo em 1908 e em 1950.
Fonte: Lopes, 2008
Figura 27 – São Luís. Antigo Largo do Carmo, hoje Praça João Lisboa. 2009
Fonte: Prefeitura de São Luís
Para Mckenzie (1926), esse é o “ponto focal da centralização”, pois este processo
reúne compradores e vendedores o local do mercado e também contribui para a formação
da comunidade. No caso de São Luís, essa centralização esteve na base das dinâmicas que
individualizaram esse setor, conquanto a cidade de São Luís já existisse antes de sua intensifi-
cação. O autor afirma também que os diferentes níveis de centralidade que essas atividades
expressam dão visibilidade para as formas espaciais da cidade e os fluxos que se estabelecem.
Portanto, entendendo a Praça João Lisboa, segundo o autor, inferimos que a centralização
90
assumiu maior importância devido à forte atração que “o centro de comércio varejista” estabe-
leceu tanto no local quanto maior foi sua abrangência na hinterlândia.
Em vista dessa função, buscamos compreender quais dinâmicas urbanas explicam
as transformações na centralidade urbana que a Praia Grande expressou e quais as caracterís-
ticas marcantes no atual núcleo da área central. A discussão de Alves (2005, p.137-142), so-
bre a constituição e as transformações das centralidades em São Paulo, trouxe algumas eluci-
dações importantes. Consideramos algumas aproximações de São Luís com São Paulo, tendo
em vista ambas serem cidades coloniais, seculares e com diferenciações significativas. Alves
(1999, p. 38) nos remete ao quadro físico da área central da cidade de São Paulo, que também
“permaneceu enclausurada por sobre a colina histórica, entre os vales do Anhangabaú e do
Tamanduateí” até a terceira década do século XX, enquanto São Luís também esteve enclau-
surada entre os rios Anil e Bacanga e começou seu processo de expansão territorial após a
década de 1960.
Para a Alves (1999), a longa permanência da centralidade única, expressa territo-
rialmente no centro urbano, assegura a forma espacial necessária para a consolidação dos mo-
dos de produção vigentes e o fortalecimento das economias de aglomeração. Nesse sentido, a
permanência das formas é essencial no desenvolvimento da centralidade, visando à consolida-
ção do papel de comando econômico, administrativo, cultural. São Paulo e São Luís tiveram
uma permanência secular de suas áreas centrais, sendo que para São Paulo havia uma política
nacional para desenvolvimento de sua centralidade e para São Luís havia os interesses cambi-
antes da acumulação capitalista ou do capitalismo monopolista.
A constituição espacial da centralidade culminará com a sua explosão a partir do
momento em que a rigidez/permanência das formas provoque a fragmentação espacial da cen-
tralidade em função da valorização dos solos centrais, deseconomias originadas por congesti-
onamentos, falta de estacionamentos, ausência de áreas para expansão das economias já insta-
ladas, entre outros, como afirma Alves (2005, p.139). Assim que, quanto maior for “ritmo da
reprodução do modo de produção capitalista [que a centralidade única] desenvolveu ou adqui-
riu”, mais cedo as formas se estabelecem como entraves, pois surgem novas necessidades,
“fazendo com que a centralidade ali existente” pressione a criação de novas centralidades em
outros locais. A meu ver, é aqui que os processos de formação das centralidades se separam,
pois enquanto para São Paulo houve “irradiação de centralidades”, isto é, essa centralidade
passou por um processo de desenvolvimento que culminou com sua reprodução em outros
locais, em São Luís, somente o papel de comando da centralidade administrativa, devido a sua
91
estruturação legal, que assegurou a criação de novas centralidades. Logo, em São Luís, as
demais centralidades que tinham como determinantes os movimentos temporais do capital,
isto é, os processos eram passíveis da descontinuidade, o desenvolvimento da centralidade
não chegou ao momento “em que a força da centralidade exigiu sua própria expansão”. As
novas centralidades parecem estar associadas primeiramente à expansão da mancha urbana e
não à fragmentação espacial da centralidade urbana. Não que uma prescinda da outra, porém
reflete como as políticas públicas estão descoladas das necessidades locais, o que seria uma
possível explicação para o nível precário da maioria dos centros secundários e mesmo do nú-
cleo da área central em São Luís.
Interessante notar que, “na constituição espacial da centralidade”, a fragmentação
espacial pode implicar uma “degeneração da centralidade única”, quando elementos que esti-
veram em sua formação passam “a contribuir para o surgimento de novas centralidades: al-
gumas espacialmente contínuas ou próximas do centro tradicional e outras que não tinham
essa contigüidade territorial”, permitindo-nos acompanhar “esse processo de reprodução es-
pacial da sociedade capitalista”. Efetivamente, devemos buscar o entendimento dos elementos
que estão na base da formação ou fragmentação espacial das centralidades, tais como: quais
necessidades e usos conflitam com a rigidez das formas, a elevada valoração do solo urbano
devido à própria centralidade local, a ação do mercado imobiliário ao atribuir vantagens ou
desvantagens as formas existentes, “o desenvolvimento das técnicas, principalmente de co-
municações, contribuindo para formação de novas centralidades” (ALVES, 2005, p. 139).
Enquanto em São Paulo “tem várias centralidades (Berrini, Nova Faria Lima, Pau-
lista, Centro Empresarial, Centro histórico e tradicional) que possuem os elementos que pos-
sibilitam e servem de atrativos para novos investimentos”, em São Luís, novas centralidades
podem ser identificadas no Renascença II, onde está a maior concentração de bancos públicos
e privados, a maior concentração de escolas particulares da educação básica e do ensino supe-
rior, clínicas e serviços médicos e os shopping centers, três dos quatro existentes na cidade,
grandes empreendimentos de comércio e serviços para atender as classes de maior poder aqui-
sitivo e no São Cristóvão. A diferenciação no padrão dos estabelecimentos de comércio de
serviços deste local, juntamente com o Renascença II, indica que centralidade está relacionada
ao fornecimento de comércio e serviços para uma das áreas mais populosas da cidade, os bair-
ros de Cidade Operária e Cidade Olímpica.
A centralidade urbana que se efetivou no centro urbano da Praia Grande por meio
dos papéis de comando econômico, administrativo e cultural, foi despojada de suas articula-
92
ções, pois “sem as atividades mercantis que lhe haviam dado vida, [o centro] acabaria por se
transformar simplesmente em um novo acervo arquitetônico de grande valor histórico”, se-
gundo Viveiros (1954, p. 219). Porém, a forma espacial que abrigava esse acervo arquitetôni-
co, o centro, mesmo com a perda da centralidade econômica, sustentou dinâmicas que orienta-
ram as redefinições do espaço urbano, pois “o centro histórico, ainda que tendo a degradação
de parte de suas formas espaciais, não perde sua atribuição de central, mas de centralidade
única, conforme Alves (2005, p.140). No caso de São Luís, tendo em vista que a cidade não
estava vivendo uma explosão de centralidade urbana e, sim, um período de falência de suas
estruturas produtivas, em meio a um período de crescimento populacional e expansão do seu
tecido urbano, a nosso ver, a centralidade única permaneceu e ainda permanece no centro ur-
bano (Figura 28), mesmo que os processos de desconcentração e descentralização sejam notó-
rios no Renascença, nos eixos primários da cidade. Em São Luís, os papéis de comando eco-
nômico, administrativos e culturais ainda são centrais.
Figura 28 – São Luís. Movimento de pessoas na Rua Grande. 2008.
O estudo propõe que o centro urbano ou área central de São Luís é constituído
pelo centro histórico, pelo núcleo da área central e área de expansão do centro, caracteri-
zando uma multicentralidade, segundo Sposito (1996, p. 12), pois “a centralidade assim rede-
finida, reflete ainda a ideia de concentração, que tenhamos um centro urbano [que é o caso de
São Luís], quer tenhamos uma expressão territorial múltipla” (grifo nosso). (Mapa 4).
93
Mapa 4 – São Luís. Área Central. 2009.
O centro histórico teve sua centralidade administrativa preservada e ampliada de-
vido ao
tombamento
29
feito pelo IPHAN, pelo Governo Estadual e pelo Governo Municipal, e
o retorno das instituições estaduais e municipais para a localidade, promovendo a requalifica-
ção do uso dos prédios. Entre as principais instituições estão as sedes do governo estadual e
municipal, do poder judiciário, do poder legislativo municipal, da marinha do Brasil, das se-
cretarias estaduais da justiça, da cultura, da receita federal, estadual e municipal, de terras e
urbanismo, do instituto de previdência, dos departamentos das universidades federal e estadu-
al, do IBGE, SENAC, CAEMA, CEMAR, dentre outros. Essa centralidade administrativa
contribuiu para o fortalecimento da centralidade econômica e, consequente, do papel de co-
mando, tendo em vista a importante parcela da força produtiva do setor terciário, que é repre-
sentado pelo funcionalismo público e pelos serviços de alimentação, alojamento e lazer. As
políticas públicas relacionadas com o centro histórico estimularam movimentos de restaura-
29
O tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público, nos veis federal, estadual ou munici-
pal. Os tombamentos federais são da responsabilidade do Iphan e começam pelo pedido de abertura do processo,
por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição pública. Tem como objetivo preservar bens de valor histórico,
cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo a destruição e/ou des-
caracterização de tais bens.
94
ção e de requalificação, que asseguraram o retorno da centralidade cultural para o setor ao
dotá-lo de teatros, agendas de eventos culturais voltados para garantir e estimular a frequenta-
ção diurna e noturna na área.
A cidade, dentro do contexto estadual, apresenta indicadores de grande dinamis-
mo econômico. “A taxa de expansão média anual no período compreendido entre os anos
2000 e 2008 deverá atingir 5,3%, comparada à média de 1,5% obtida na década de 1990. Os
setores líderes da expansão são Comércio, Agricultura, Indústria Extrativa Mineral e Aloja-
mento/Alimentação”, conforme o IMESC (2008).
O núcleo da área central e área de expansão do centro, tomado também como
recorte empírico, é constituído pelas ruas: Rua Grande, Rua do Sol, Rua da Paz e Rua de San-
tana. Conforme Lima (2007, p. 182-184), a Rua Grande, juntamente com a Rua da Paz e a
Rua do Sol, era uma das “vias mais importantes dos tempos coloniais” (Figura 29) e já figura-
va nas plantas mais antigas da cidade. Começava no Largo do Carmo (hoje Praça João Lisbo-
a) e expandia-se no Caminho Grande ( hoje Avenida Getúlio Vargas e outras vias), que ligava
a cidade com a área rural, atualmente finda na Avenida Getúlio Vargas (na pesquisa, porém, a
área de estudo teve como limite a Rua do Passeio). A Rua do Sol foi “um dos três caminhos
grandes por onde a cidade se alongou”, iniciava-se na Praça João Lisboa e terminava na Rua
Celso Magalhães. A Rua da Paz iniciava também na Praça João Lisboa e terminava na Praça
Deodoro e a Rua de Santana iniciava-se na Avenida Magalhães de Almeida e terminava na
Praça Deodoro.
95
96
3.1 O USO DO SOLO URBANO NO NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL
Buscamos conhecer o uso do solo predominante nas ruas, tentando identificar pela
intensidade de ocupação as tendências da centralidade neste segmento da área central de São
Luís.
O uso do solo urbano nessa área já foi residencial e destinado às famílias de maior
poder aquisitivo. É importante destacar que, no auge do ciclo econômico agroexportador, fi-
nanceiro e fabril, no qual a centralidade urbana estava fixada no centro urbano da Praia Gran-
de, esse uso residencial estabeleceu as bases para um desdobramento da área central que, con-
forme Sposito (1991, p.10-11), caracteriza-se “pela localização de atividades tipicamente
centrais, mas de forma especializada”. A Rua Grande passou a receber os grandes empreen-
dimentos comerciais mais sofisticados tais como as lojas de joias, de tecidos finos, as confei-
tarias, cinemas passando a constituir o que seria “um eixo de desdobramento da centralidade
socioeconômica”.
Porém, a cidade coexistiu com a “degeneração da centralidade única”, em 1930,
no declínio da Praia Grande. Além do impacto socioeconômico proveniente da falência do
setor fabril, o centro urbano foi profundamente alterado. Atualmente temos “diferentes escalas
de centralidade”
30
e a centralidade econômica que articula o comércio varejista e parte dos
serviços foi deslocada para a Rua Grande. Conforme Alves (2005, p.139), entendemos que
não é adequado usar a expressão desdobramento dessa centralidade, porque as mudanças na
economia e as transformações introduzidas pelo poder público foram estruturais; por exem-
plo, podemos citar: o sistema de transportes urbanos passou a ser somente rodoviário, os traje-
tos que tinham como ponto final a Praça João Lisboa, por ser o ponto mais próximo da Praia
Grande, foram fixados na Praça Deodoro e a Praça João Lisboa deixou de ser o ponto nodal
dos bondes, ônibus e automóveis, local de maior intensidade dos fluxos de pedestres. Portan-
to, a Praia Grande perdeu a função comercial e em consequência o papel de comando da cen-
tralidade proveniente das atividades comerciais e as estas atividade foram deslocadas para a
Rua Grande e seu entorno. Lopes (2008, p.129) nos relata que:
o porto da Praia Grande, que foi a porta de entrada durante o período coloni-
al e imperial, passa a ser a retaguarda da cidade com o acesso principal sen-
do feito através dos meios ferroviário e rodoviário, implantados em locais
afastados do centro histórico, retirando daí a exclusividade do movimento
comercial da capital maranhense.
30
SPOSITO (1996, P.121)
97
A área de expansão do núcleo da área central em São Luís deve ser analisado a
partir das contribuições de Mckenzie (1926) ao destacar que “o grau de centralização em um
determinado centro serve, portanto, para medir a sua respectiva força de atração nas condições
culturais e econômicas existentes”. A produção capitalista do espaço agregará a esse setor da
cidade “condições de trânsito e de concentração” que garantirá a maior fluidez, a “especiali-
zação territorial da satisfação de interesses” e tornará visível uma centralidade sazonal con-
forme o horário de funcionamento dos comércios e serviços por ele oferecido “o fluxo e
refluxo das ondas de centralização seletiva”.
Efetivamente, a elevada frequentação nas Ruas Grande, Paz, Sol e Santana está re-
lacionada à centralização do capital oriundo do fornecimento de bens e serviços. Com mais de
71,02% do solo urbano destinado para as atividades de comércio e serviços (Quadro 5), este
núcleo apresenta uma multicentralidade
31
que tem como determinantes a capacidade de con-
sumo do e no espaço de mercadorias nele concentrados.
O núcleo da área central em São Luís foi constituído em um momento de crise na
economia local e as estruturas disponíveis para o ajustamento da cidade a esse momento im-
puseram as requalificações das residências em estabelecimentos comerciais. As restrições
prediais, das vias públicas, do tráfego de pessoas e veículos, o abandono das casas antigas e a
adaptação de prédios abandonados em estacionamentos podem ser relacionados a essas condi-
ções de implantação e/ou ausência do poder público, com sérias implicações para o desenvol-
vimento da centralidade. “A cidade centraliza, porque concentra atividades econômicas e lú-
dicas, porque é ponto de concentração de pessoas, porque é o espaço do exercício do poder” e
determinados setores no conjunto da cidade configuram diferentes “formas de acesso e ‘apro-
priação’ dos espaços destinados ao comércio e aos serviços”, como propõe Sposito (1996,
p.116/122). Portanto, devido à complexidade de sua implantação ele agrega problemas que
poderiam estar relacionados à fragmentação espacial da centralidade, conforme indica Alves
(2005, p.139). O poder público local parece desconsiderar e/ou ignorar a força da centralidade
das atividades comerciais e de serviços nas dinâmicas urbanas.
31
Maria Encarnação Beltrão SPOSITO. “Reestruturação da cidade, p.121.
98
Quadro 5 – São Luís. Tipologia das edificações e uso do solo urbano no núcleo da área central, ruas Grande, Paz, Sol e
Santana. 2009
NÚCLEO DA ÁREA CENTRAL DE SÃO LUÍS-MA
Quadras Terr
Pav
Pav
Pav
Res. Comer. Serv.
Fech.
Aban.
Est.
Aber
Est.
Cob.
Total
QUADRAS 1
39,71 7,35 4,41 2,94 - 38,24 7,35 - - - -
100%
QUADRAS 2
44,23 9,62
9,62 21,15 13,46
- 1,92 - 100%
QUADRAS 3
55,41 8,11 1,35 1,35
9,46 17,57 5,41
2,70
100%
QUADRAS 4
37,93 8,62 5,17 3,45 32,75
12,07
100%
QUADRAS 5
50,00 - - - 33,33
16,67 - - - - - 100%
QUADRAS 6
46,24 9,68
15,05
15,05 13,98
100%
QUADRAS 7
44,59 8,11
35,14
4,05
6,76
1,35
100%
QUADRAS 8
40,00 16,47
2,35
23,53
10,59 1,18 4,71
1,18
100%
QUADRAS 9
43,04 12,66
11,39
15,19 3,8 11,39
2,53
100%
QUADRAS 10
33,85 18,46
38,46
1,54 3,08 4,62
100%
QUADRAS 11
37,33 16 1,33
1,33 30,67 8 4 1,33
100%
QUADRAS 12
38,04 13,04
11,96
20,65 10,87 4,35
1,09
100%
QUADRAS 13
42,65 13,24
2,94 16,18 20,59 2,94 1,47
100%
QUADRAS 14
39,74 21,79
3,85 3,85 5,13 17,95 7,69
100%
QUADRAS 15
43,48 15,94
2,90
2,9 5,8 23,19 1,45 4,35
100%
QUADRAS 16
36,51 12,7 3,17
31,75 14,29 1,59
100%
QUADRAS 17
41,79 14,93
1,49
37,31 4,48
100%
QUADRAS 18
39,13 17,39
2,17
2,17 8,7 28,26
2,17
100%
QUADRAS 19
34,48 26,44
1,15
1,15 24,14 11,49
1,15
100%
QUADRAS 20
36,00 14,67
6,67
2,67 28 9,33 2,67
100%
QUADRAS 21
38,1 19,05
7,14
4,76 8,33 14,29 5,95 2,38
100%
QUADRAS 22
35,00 18,00
9,00
1,00 26,00 5,00 5,00 1,00
100%
QUADRAS 23
38,53 16,51
1,83 - 1,83 38,53 0,92 1,83 - - - 100%
QUADRAS 24
42,62 16,39
1,64 - 4,92 4,92 16,39 6,56 6,56 - - 100%
QUADRAS 25
41,86 20,93
- - - 13,95 13,95 9,30
100%
QUADRAS 26
35,71 21,43
9,52 - - 4,76 21,43 - - 7,14 - 100%
QUADRAS 27
30,77 25,64
12,82
2,56 2,56 17,95 7,69 - - - - 100%
QUADRAS 28
31,25 26,56
3,13 - 1,56 28,13 6,25 3,13 - - - 100%
QUADRAS 29
41,67 16,67
- - - - 22,22 2,78 13,89 2,78 - 100%
QUADRAS 30
47,06 5,88 - - 10,29
5,88 14,71 7,35 4,41 2,94 1,47 100%
QUADRAS 31
46,15 7,69 - - 17,31
3,85 15,38 1,92 3,85 3,85 - 100%
QUADRAS 32
44,83 8,62 - - 15,52
- 12,07 12,07
6,90 - - 100%
QUADRAS 33
47,83 7,25 1,45 - 10,14
10,14 21,74 1,45 - - - 100%
QUADRAS 34
46,03 11,11
1,59 1,59 11,11
4,76 12,70 11,11
100%
QUADRAS 35
19,48 - -
10,39
5,19 12,99 9,09 1,30
100%
QUADRAS 36
50,91 3,64 - - 5,45 1,82 30,91 5,45 - 1,82 - 100%
QUADRAS 37
40,54 21,62
5,41 - 5,41 5,41 18,92 2,70 - - - 100%
QUADRAS 38
27,62 14,29
- - 2,86 2,86 43,81 8,57 - - - 100%
QUADRAS 39
23,81 17,46
7,14
11,11
6,35 1,59 7,14 23,81
1,59 - - 100%
QUADRAS 40
50,00 14,29
4,76 2,38 2,38 21,43 4,76
100%
QUADRAS 41
36,92 10,77
1,54 - 6,15 27,69 9,23 3,08 1,54 3,08 - 100%
QUADRAS 42
47,22 5,56 - - 2,78 33,33 5,56 5,56 - - - 100%
QUADRAS 43
40,91 9,09 - - - 36,36 13,64 - - - - 100%
QUADRAS 44
41,18 5,88 2,94 - - 35,29 8,82 5,88 - - - 100%
QUADRAS 45
33,90 13,56
3,39 - 1,69 30,51 13,56 3,39 - - - 100%
QUADRAS 46
21,43 21,43
7,14 - - 28,57 7,14 7,14 7,14 - - 100%
Fonte: Pesquisa de campo, 2009.
Gráfico 11 – São Luís.
Uso do solo urbano no núcleo da área central
Fonte: Pesquisa de campo.
O papel de comando da centralidade econômica das atividades comerciais na c
dade está espacialmente constituído no núcleo da área central e em sua expansão. Segundo o
IMESC (2008), “a
trajetória do Comércio explica
vação das transferências federais e a melhoria no mercado de trabalho
núcleo ou core
da Rua dos Craveiros até a Praça Deodoro foi orientada pelo poder público ao
constituir na Praça Deodoro o ponto nodal dos transportes públicos, f
outros. De fato, como afirma Mckenzie (1926), toda comunidade possui um ponto central, o
do sistema de circulação, foco do interesse do Estado e do capital para manter a vitalidade
do sistema.
Esta vitalidade de que trata o aut
lojas e serviços distribuídos em dois grupos. O primeiro grupo abrange as quadras próximas à
Praça Deodoro (Figura 30) em que predominam as lojas adaptadas em pequenas residências.
Em muitos casos, um casa abr
onde funcionam 2 lojas de roupas, 1 de roupas e calcados e 1 salão de beleza, de proprietários
diferentes. Numa outra situação, pode ser vista a quadra 1, que está entre a Rua Grande e a
Rua d
a Paz, que tem 23 pontos comerciais e 6 pontos de serviços diversos, em um processo de
multiplicação de oferta de bens e serviços populares. O segundo grupo corresponde à forte
concentração de bens e serviços em prédios mais amplos, as lojas de departament
-
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
99
Uso do solo urbano no núcleo da área central
. 2009
O papel de comando da centralidade econômica das atividades comerciais na c
dade está espacialmente constituído no núcleo da área central e em sua expansão. Segundo o
trajetória do Comércio explica
-
se pela vigorosa expansão do crédito,
vação das transferências federais e a melhoria no mercado de trabalho
da Rua dos Craveiros até a Praça Deodoro foi orientada pelo poder público ao
constituir na Praça Deodoro o ponto nodal dos transportes públicos, f
luxos de pedestres, entre
outros. De fato, como afirma Mckenzie (1926), toda comunidade possui um ponto central, o
do sistema de circulação, foco do interesse do Estado e do capital para manter a vitalidade
Esta vitalidade de que trata o aut
or pode ser observada na maior concentração de
lojas e serviços distribuídos em dois grupos. O primeiro grupo abrange as quadras próximas à
Praça Deodoro (Figura 30) em que predominam as lojas adaptadas em pequenas residências.
Em muitos casos, um casa abr
iga uma diversidade de lojas e serviços, a exemplo de uma casa
onde funcionam 2 lojas de roupas, 1 de roupas e calcados e 1 salão de beleza, de proprietários
diferentes. Numa outra situação, pode ser vista a quadra 1, que está entre a Rua Grande e a
a Paz, que tem 23 pontos comerciais e 6 pontos de serviços diversos, em um processo de
multiplicação de oferta de bens e serviços populares. O segundo grupo corresponde à forte
concentração de bens e serviços em prédios mais amplos, as lojas de departament
15,91
41,09
29,93
8,79
3,09
1,11
0,08
O papel de comando da centralidade econômica das atividades comerciais na c
i-
dade está espacialmente constituído no núcleo da área central e em sua expansão. Segundo o
se pela vigorosa expansão do crédito,
a ele-
vação das transferências federais e a melhoria no mercado de trabalho
”. Esta expansão do
da Rua dos Craveiros até a Praça Deodoro foi orientada pelo poder público ao
luxos de pedestres, entre
outros. De fato, como afirma Mckenzie (1926), toda comunidade possui um ponto central, o
do sistema de circulação, foco do interesse do Estado e do capital para manter a vitalidade
or pode ser observada na maior concentração de
lojas e serviços distribuídos em dois grupos. O primeiro grupo abrange as quadras próximas à
Praça Deodoro (Figura 30) em que predominam as lojas adaptadas em pequenas residências.
iga uma diversidade de lojas e serviços, a exemplo de uma casa
onde funcionam 2 lojas de roupas, 1 de roupas e calcados e 1 salão de beleza, de proprietários
diferentes. Numa outra situação, pode ser vista a quadra 1, que está entre a Rua Grande e a
a Paz, que tem 23 pontos comerciais e 6 pontos de serviços diversos, em um processo de
multiplicação de oferta de bens e serviços populares. O segundo grupo corresponde à forte
concentração de bens e serviços em prédios mais amplos, as lojas de departament
o, que inte-
0,08
100
gram as redes nacionais e estão localizadas na outra extremidade do núcleo da área central
próximo da Praça João Lisboa.
Figura 30 – São Luís. Rua Grande, requalificação das residências em lojas. 2009
Fonte: Reginaldo Monteiro
As atividades comerciais (Mapa 5) estão distribuídas diferenciadamente no núcleo
da área central e em sua área de expansão. Na Rua Grande, estão as quadras com maior con-
centração das atividades comerciais, dos mais populares aos que são distribuídos por lojas
filiais de grandes nacionais; as lojas mais especializadas em todos os seguimentos não são
mais encontradas neste seguimento. O único shopping center tem fechado muitas de suas lo-
jas, já sinalizando a perda de sua centralidade. A Rua de Santana tem assumido a centralidade
por meio do comércio varejista de produtos diversos e populares, miudezas não encontradas
na Rua Grande.
101
Mapa 5 – São Luís. Distribuição de atividades comerciais no núcleo da área central
A distribuição dos serviços (Mapa 6) no núcleo da área está relacionada aos con-
sultórios médicos, de dentistas, escritórios de advocacia, de contabilidade. O preço do solo
urbano nesse seguimento pressionou a localização destes serviços nas bordas do núcleo nas
ruas da Paz e maior concentração na Rua do Sol.
A produção e reprodução do espaço a partir das atividades comerciais e de servi-
ços dão visibilidade às centralidades que são criadas ou redefinidas, pois não em São Luís
outro local com maior frequentação. Analisando o conteúdo e a diversidade das atividades
comerciais nas ruas do núcleo da área central de São Luís, observamos, como referimos
anteriormente, que os produtos e o padrão das lojas destinam-se as camadas populares.
102
Mapa 6 – São Luís. Distribuição dos serviços no núcleo da área central
Entre os segmentos de maior destaque, está o de vestuário que conta com a forte
participação de lojas que integram redes nacionais e o setor de móveis que está se concentran-
do na Rua da Paz, indicando uma especialização nesta área. A diversidade de produtos apon-
tou características importantes de uma multicentralidade. A distribuição das atividades co-
merciais (Gráfico) expôs a divisão social e territorial do espaço, pois as atividades estão
distribuídas de modo diferenciado e complementar. Portanto o volume do capital e o aspecto
de complementaridade no fornecimento de bens e serviços nas ruas desse setor, tornou evi-
dente que uma expansão de centralidade, com diversidade de produtos e serviços, que nos
permite considerar que está havendo uma expansão da centralidade da Rua Grande para a
Rua de Santana.
Tabela 6 –
São Luís. Principais atividades comerciais
PRINCIPAIS ATIVIDADES COMERCIAIS
Atividades Comerciais
Alimentação
Vestuário
Calçados e bolsas em geral
Cosméticos
Óticas
Medicamentos
Móveis e Eletrodomésticos
Livrarias
Joias e relógios
Diversos
Total
.
Gráfico 12 –
São Luís. Distribuição de atividades comerciais no núcleo da área central.
-
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
2,11
51,41
7,69
20,88
10,64
29,79
19,51
9,76
103
São Luís. Principais atividades comerciais
no núcleo da área central . 2009
PRINCIPAIS ATIVIDADES COMERCIAIS
Atividades Comerciais
R. Grande R. Santana
R. da Paz
2,11
7,69
10,64
51,41
20,88
29,79
Calçados e bolsas em geral
17,61
9,89 2,13
3,52
2,20 4,26
6,34
2,20 6,38
4,23
3,30 4,26
Móveis e Eletrodomésticos
4,93
12,09
25,53
1,41
3,30 4,26
2,11
5,49 4,26
6,34
32,97 8,51
100,00
100,00
100,00
São Luís. Distribuição de atividades comerciais no núcleo da área central.
17,61
3,52
6,34
4,23
4,93
1,41
9,89
2,20
2,20
3,30
12,09
3,30
2,13
4,26
6,38
4,26
25,53
4,26
-
2,44
17,07
12,20
4,88
R. Grande
R. Santana
R. da Paz
no núcleo da área central . 2009
R. da Paz
R. do Sol
10,64
19,51
29,79
9,76
-
2,44
17,07
12,20
25,53
4,88
7,32
4,88
21,95
100,00
100,00
São Luís. Distribuição de atividades comerciais no núcleo da área central.
2,11
6,34
5,49
32,97
4,26
4,26
8,51
7,32
4,88
21,95
R. do Sol
104
O núcleo da área central de São Luís é um recorte significativo das dinâmicas ur-
banas na cidade. A concentração e centralização do capital, tem mantido a centralidade eco-
nômica e uma grande densidade populacional, que muito lhe favorece em termos da acumula-
ção do capital, porém, o retorno socioespacial não ocorre na mesma proporção. Essa
centralidade tem em si, o atrativo da possibilidade da apropriação pois ela reúne os bens, os
fluxos materiais e imaterial.
105
Considerações finais
Dentre as possibilidades de pensar a produção o espaço urbano de São Luís, ado-
tamos o enfoque que buscou, a partir do tecido urbano, as formas e fluxos espaciais apreendi-
dos na distribuição das atividades de comércio e serviços, como uma perspectiva de poder
discutir a dinâmica da centralidade. Essas atividades, comumente, podem estar concentradas
ou não em setores no conjunto urbano, ou dispersas tornando o consumo mais acessível à
mancha urbana. Esses movimentos devem comunicar os arranjos, as possibilidades ou restri-
ções/escassez na apropriação da cidade, dentre outras. Tanto as formas – cristalizações desses
processos espaciais quanto os fluxos que atraem a frequentação para alguns segmentos,
permitem interpretações geográficas que podem contribuir significativamente para o entendi-
mento das dinâmicas da cidade, pois os que produzem e consomem a cidade podem/devem
discernir e interpretar “a trama da cidade”. “Se os cidadãos devem perceber a cidade como
legível, devem ser capazes de fazer a leitura de pelo menos um padrão, porém, de preferência,
de diversos padrões sobrepostos e facilmente reconhecíveis”, tal como propõe Rykwert (2006,
p.55).
Um bom exemplo dessa leitura é a indicação, ainda feita comumente em São Luís,
quando os citadinos dizem que vão à “cidade”, porém, estão se deslocando especificamente
para o centro urbano o local em que são oferecidas concentradamente as atividades comer-
ciais, os serviços diversos e onde estão os principais acessos ao mundo do trabalho, à saúde, à
educação, à segurança etc. no conjunto da cidade. As leituras equivocadas, inconsistentes e/ou
incompletas que fazemos da cidade assinalam implicações socioespaciais que comprometem a
vida de muitos. Sposito (1991, p. 5-6) ao enfatizar a cidade como “o lugar da produção e do
consumo, e [que] os espaços serão consumidos tanto para a produção de bens e serviços, co-
mo para a reprodução da força de trabalho, e para a circulação, permitindo que a troca se rea-
lize”, coloca-a efetivamente como “o lugar da apropriação” (WHITACKER, 2006, p. 131).
Ambos contribuem para a compreensão de que a dimensão espacial da cidade pode ser assi-
milada no cotidiano dos citadinos.
De fato, a produção capitalista do espaço atenua ou mascara os seus mecanismos
que atendem às leis de mercado tanto na “produção da cidade (crescimento territorial horizon-
tal e vertical) quanto no seu consumo (localização dos diferentes usos de solo)”, afirma Sposi-
to (1991, p. 5/7). Nesse sentido, os processos espaciais na cidade precisam ser considerados
106
abrangendo os múltiplos interesses e arranjos em todas as escalas apreensíveis, pois “quanto
mais se acentua a divisão social do trabalho, mais o capital se concentra”. O centro – um lugar
de concentração no interior da cidade é “onde a circulação e as trocas das mercadorias e do
dinheiro vão se realizar rapidamente, um lugar de estímulo ao próprio consumo de bens e ser-
viços”. Portanto, ainda que o capital tenha escolhido a cidade como o seu locus preferencial
de realização, a cidade precisa, também, assegurar a realização humana nesse espaço de dis-
puta de poder, pois, como afirma Smith (1998, p. 224), o capital, ao invés de utilizar o mundo
subdesenvolvido como uma fonte de mercados, usou-o como fonte de mão-de-obra barata,
impedindo assim sua plena integração ao mercado mundial.
Isso nos levaria a crer que a formação de novas centralidades devem ser discuti-
das, conforme Santos (2003, p. 125-126), na possibilidade de se apreender a lógica que está
subjacente na centralidade urbana, para além das formas e dos processos e suas implicações
socioespaciais. O autor destaca que a diferenciação da configuração espacial nos países sub-
desenvolvidos – o que podemos também observar para São Luís – tem “enormes disparidades
de renda, que caracterizam consequências espaciais”. Assim, “a localização determina, por
sua vez, a capacidade individual de produzir e de consumir”. Produzir e consumir são dinâmi-
cas sociais exacerbadas no cotidiano da cidade.
O centro urbano de São Luís foi constituído e consolidado alternando períodos de
lento crescimento e/ou declínio com períodos de pujança econômica. E as demandas socioes-
paciais da cidade, que foram geradas em cada um desses períodos, são indiferentes para os
movimentos do capitalismo monopolista. Assim, a centralidade nos permite acompanhar as
dinâmicas urbanas mais produtivas e as disparidades de renda nos indicam as localizações do
capital e as possibilidades ou não de consumo da cidade.
A centralidade urbana que se efetivou no centro urbano da Praia Grande, desde
1612 até 1930, por meio dos papéis de comando econômico, administrativo e cultural, foi
despojada de suas articulações, pois “sem as atividades mercantis que lhe haviam dado vida,
[o centro] acabaria por se transformar simplesmente em um novo acervo arquitetônico de
grande valor histórico”, segundo explica Viveiros (1954, p. 219). Porém, a forma espacial
que abrigava esse acervo arquitetônico, o centro, mesmo com a perda da centralidade econô-
mica, sustentou dinâmicas que orientaram as redefinições do espaço urbano, que “o centro
histórico, mesmo tendo a degradação de parte de suas formas espaciais, não perde sua atribui-
ção de central, mas de centralidade única, conforme indica Alves (2005, p.140). No caso de
São Luís, em virtude de a cidade não estar vivendo na época, como discutimos no primeiro
107
capítulo, uma explosão de centralidade urbana e, sim, um período de falência de suas estrutu-
ras produtivas, em meio a um período de crescimento populacional e expansão do seu tecido
urbano, a nosso ver a centralidade única permaneceu e ainda permanece no centro urbano,
ainda que os processos de desconcentração e descentralização sejam notórios no Renascença,
nos eixos primários da cidade. Em São Luís, os papéis de comando econômico, administrati-
vos e culturais ainda são centrais.
O ordenamento teórico de um estudo inicial, a partir da espacialização das ativi-
dades de comércio e serviços, trouxe-nos algumas convicções provisórias que se constituem
em questões a serem elucidadas, aprofundadas sobre as dinâmicas das centralidades em São
Luís. A pesquisa permitiu-nos identificar uma área central em São Luís, em diferentes centra-
lidades, logo uma multicentralidade. Essa centalidade multicêntrica também pode se expressar
em escalas distintas e complementares. “Essas escalas articulam-se, em função de diferentes
níveis de especialização funcional”, conforme salienta Sposito (1996, 121), que foram histori-
camente construídas em um contexto de urbanização dependente, o que explica a temporali-
dade de alguns processos e o modo abrupto tanto da instalação quanto da degeneração e/ou
extinção de algumas centralidades. A nosso ver, isso esvazia as terminologias de centro novo
ou centro antigo pois, no caso de São Luís, o que seria o centro antigo está integrado dinami-
camente à área central, tem o papel de comando administrativo e ainda divide o comando e-
conômico com o núcleo da área central. A força dessa centralidade urbana é mantida pela
concentração na área central do papel de comando administrativo, econômico e cultural da
cidade.
A área central ou centro urbano ocupa o sítio urbano original e uma área de ex-
pansão do centro para onde foram deslocadas as atividades de comércio e serviços, após 1930,
e as novas centralidades que se estabelecem fortalecem seu papel e sua funcionalidade.
De fato, essa centralização restringe o setor mais dinâmico da cidade somente aos
que dele podem se apropriar no cotidiano. Essa segmentação é mais contundente quando essa
centralidade responde pela condição de sobrevivência de uma parcela significativa da socie-
dade. Este setor apreende a divisão social do trabalho e o consumo do espaço para muitos.
Não basta estar na cidade, é necessário estar no centro. Logo, uma concentração espacial man-
tida secularmente agrega conjunturas materiais e simbólicas que tendem a legitimar a restri-
ção aos bens e serviços que deveriam estar acessíveis a todos os citadinos.
Ao iniciarmos a pesquisa buscávamos uma aproximação inicial da cidade a partir
da distribuição das atividades de comércio e serviços. A concentração destas atividades na
108
área central e as possibilidades ou não de consumo, de reprodução social aguçaram a busca de
compreensão sobre a apropriação da cidade. O consumo da cidade parecia estar destinado aos
que tinham acesso ao centro urbano, então, quais as possibilidades de consumo na e da cidade
era uma ideia central. Os objetivos da pesquisa permitiram o contato, as inquietações e refle-
xões sobre a formação histórica da produção capitalista do espaço ludovicense, identificando:
nas formas e fluxos, as centralidades que estavam sendo articuladas aos diferentes papéis que
a cidade tem desempenhado; na distribuição das atividades de comércio e serviços, os proces-
sos espaciais capazes de permitir interpretações sobre o uso do solo urbano e suas tendências.
Construímos convicções que nos permitem discutir a produção do espaço urbano
de São Luís no contexto de uma urbanização dependente que, ontem e hoje, parece relacionar-
se com interesses externos prioritariamente, conforme já discutimos, e suas marcas caracterís-
ticas são a concentração e a centralização. Portanto, a centralidade urbana que já foi única, por
todas as transformações da cidade, afirma-se na multicentralidade, tanto em diversidade quan-
to nas diversas escalas que ela abrange. Os papéis de comando dessas centralidades estão vin-
culados ao centro principal, que é segmentado em dois setores: o centro histórico, que tem o
comando da centralidade administrativa e econômica; e o núcleo da área central, que responde
pela centralidade econômica e sua expansão. Os centros secundários estão dispersos atenden-
do às demandas do crescimento populacional e articulando predominantemente a centralidade
administrativa dos serviços públicos de saúde, educação, exceção feita aos bairros do Renas-
cença e São Cristóvão.
O estudo permitiu encaminhar questões para pesquisas posteriores, a saber: (1)
como inferir que mesmo em momentos de grande desenvolvimento de atividades econômicas
não centrais não foram consolidadas, como o parque industrial fabril, cujas centralidades po-
deriam ter alavancado a expansão do tecido urbano e consolidado novas formas, o subcentro
do Anil, o primeiro da cidade constituído na década de 1930, que não foi consolidado mas,
pelo contrário, seu declínio aponta para o papel do Estado e outros agentes modeladores do
espaço, a natureza temporária das centralidades em São Luís, que ocorreu após a construção
da segunda ponte sobre o Rio Anil, que ligava a área central ao bairro do São Francisco; (2) o
ritmo acelerado do modo de produção atraiu centralidades econômicas e culturais, cuja efer-
vescência parecia configurar uma área de desdobramento da centralidade única do centro e
que não foi concretizado, pois em menos de vinte anos as centralidades foram deslocadas para
o bairro contíguo, o Renascença II, que tem constituído formas espaciais que parecem poder
conter o desenvolvimento da centralidade, com fortes tendências para ser o desdobramento da
109
área central de São Luís; (3) se a cidade não perdeu a função portuária e comercial, como in-
terpretar o isolamento desta espacialização que centraliza os grandes enclaves portuários, a 11
quilômetros do centro da cidade o Porto do Itaqui, oTerminal da ALUMAR, consórcio que
reúne Alcoa e BHPBilinton e o Terminal da Ponta da Madeira (TMPM).
Por fim, esperamos ter contribuindo para a discussão sobre a dinâmica da centra-
lidade urbana em São Luís. Tendo por certo que a complexidade desses processos manifesta,
a partir da espacialização dessas centralidades, movimentos importantes da produção capita-
lista do espaço urbano da cidade, o que nos desafia a prosseguir na busca pela compreensão
dessas questões urbanas.
110
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115
APÊNDICE
Distribuição de atividades comerciais e de serviços nos setores na cidade de São Luís
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
VILA PALMEIRA
SÃO CRISTOVÃO
116
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. Imobiliárias
Ativ. de informática
Comercio atac.
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Comércio varejista
Adm. Púb/ def. e seg. social
Agen. Viagem, Turismo e trnsp.
Correio e Telec.
Edição/Impres.e reprod.
Eletr. Agua e Gás
Ensino
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.seg. e prev privada
Transportes
Venda, rep. e manut. de auto
Aloj. e Alimentação
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
RENASCENÇA
TURU
VILA EMBRATEL VINHAIS
117
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
JOÃO PAULO
MONTE CASTELO
OLHO D’AGUA
COROADINHO
0,0 5,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 2,0 4,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
CIDADE OPERÁRIA
118
10,0 15,0
0,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
6,0 8,0 10,0 -1,0
1,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
PONTA
CIDADE OPERÁRIA
2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
1,0
3,0 5,0 7,0 9,0 11,0 13,0 15,0
CIDADE OLÍMPICA
COHAB
0,0 2,0 4,0 6,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
0,0 2,0
4,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
COROADINHO
119
8,0 10,0 12,0 14,0 0,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
4,0
6,0 8,0 10,0
0,0 2,0 4,0
Serviços
Comércio
Admin. Pública
Ativ.Adm.e Sev.Comp.
Correio e Telec.
Ediçãoe Impres.
Eletr. Agua e Gás
Educação
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
Outras Ativ.
COHAMA
COROADINHO
2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
6,0 8,0 10,0 12,0 14,0
COHATRAC
ANIL
0,0 2,0 4,0
Serviços
Comércio
Admin. Pública
Ativ.Adm.e Sev.Comp.
Correio e Telec.
Ediçãoe Impres.
Eletr. Agua e Gás
Educação
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
Outras Ativ.
0,0 2,0 4,0 6,0
8,0
Serviços
Comércio
Admin. Pública
Ativ.Adm.e Sev.Comp.
Correio e Telec.
Ediçãoe Impres.
Eletr. Agua e Gás
Educação
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
Outras Ativ.
ANJO DA GUARDA
120
6,0 8,0 10,0
0,00 2,00
4,00
Serviços
Comércio
Admin. Pública
Ativ.Adm.e Sev.Comp.
Correio e Telec.
Ediçãoe Impres.
Eletr. Agua e Gás
Educação
Saúde e Serv. Social
Serv. Financ.
Transportes
Outras Ativ.
8,0
10,0 12,0 14,0
0,0
Aluguel de veic. Turismo e transp.
Ativ. de informática
Ativ. Recreativas/cult. e desp.
Adm. Púb/ def. e seg. social
Correio e Telec.
Eletr. Agua e Gás
Saúde e Serv. Social
Transportes
Aloj. e Alimentação
ANJO DA GUARDA
CALHAU
4,00
6,00 8,00 10,00 12,00 14,00
20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
BEQUIMÃO
CENTRO
121
Modelo de realização do trabalho de campo nas quadras
UNESP/PESQUISA DE CAMPO/ÁREA CENTRAL DE SÃO LUÍS
QUADRA/RUA LOTE
NOME DO EMPREEDIMENTO E NÚMERO DO PRÉDIO
Larg. M Pav. Com. Ser. Res. Est. Fec. Aband. Obs.
1 1- Rua da Paz 1 Balcão de negócios: Empréstimo pessoal - nº 12 8m T x
2 1- Rua da Paz 2 FINNIVEST - 12 T X
3 1- Rua da Paz 3 Repartição Pública- 32 T x
4 1- Rua da Paz 4 Depósito Insinuante - 42 T X
5 1- Rua da Paz 5 The Best Bijuterias - 52 T X
6 1- Rua da Paz 6 Insinuante Móveis - 62 T X
7 1- Rua da Paz 7 Colonial Music - 72 T X
7 1- Rua Santaninha 7 Colonial Music - 72 T X
8 1- Rua Santaninha 8 Florize Jóias - 529 T X
9 1- Rua Santaninha 8 Metal Ouro - 529 T X
10 1- Rua Santaninha 8 Reynaldo Ourives - 529 T X
11 1- Rua Santaninha 9 Shopping dos Cosméticos- 535 T X
12 1- Rua Santaninha 9 Hotel Deodoro- 535 T X
13 1- Rua GRANDE 9 shopping dos Cosméticos e Hotel Deodoro 1º,2º,3º x
14 1- Rua Grande 10 100% Moda- 725 T X
15 1- Rua Grande 11 Extra Calçados e Esporte- 733 T X
16 1- Rua Grande 12 Secretaria de Educação T x
17 1- Rua Grande 13 Dicas Modas-783 T X
18 1- Rua Grande 13 Salão Moderno 783 T X
19 1- Rua Grande 13 Kantão Modas 783 T X
20 1- Rua Grande 13 Dicas Confeões e calcados 783 T X
21 1-Rua do Passeio 14 Modelus 56 A T X
22 1-Rua do Passeio 14 Calce e leve - calçados 56 T X
23 1-Rua do Passeio 15 Rei das Bolsas 501 T X
24 1-Rua do Passeio 15 Shock Licra 501 T X
25 1-Rua do Passeio 16 Lojas Passeio 42 T X
26 1-Rua do Passeio 17 Confecções Akaso 12 T X
27 1-Rua do Passeio 17 Estação Mulher 12 T X
28 1-Rua do Passeio 17 Bella casa 12 T X
29 1-Rua do Passeio 17 Palácio das Bolsas 12 T X
30 1-Rua do Passeio 17 Kantão Modas T X
1 2- Rua Grande 1 PRO-REITORIA UFMA 782 T X
2 2- Rua Grande 2 SAPATARIA MIRIM 768 T X
3 2- Rua Grande 3 CENTER MODA 754 B T X
4 2- Rua Grande 3 FOTO SOMBRA 754 A T X
5 2- Rua Grande 4 BONITA 740 T X
6 2- Rua Grande 4 RADICAL 740 T X
7 2- Rua Grande 5 VISÓTICA 732 T/ 1º X
8 2- Rua Grande 5 GLAMOUR BOLSAS 732 T/ 1º X
9 2- Rua Grande 5 SERVIÇOS DIVERSOS 732 1º X
10 2- Rua Grande 6 PLANETA 7 724 T X
11 2- Rua Grande 6 PLANETA 7 724 1º X
12 2- Rua Santanhinha 7 ÓTICAS DINIZ 605 T X
13 2- Rua Santanhinha 7 DINO'S OURIVES 605 T X
14 2- Rua Santanhinha 8 RESIDÊNCIA 607 T X
15 2- Rua Santanhinha 9 RESIDÊNCIA 613 T X
16 2- Rua Santanhinha 10 CLÍNICA DENTÁRIA 619 T X
17 2- Rua Santanhinha 11 ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA T X
18 2- Rua Santanhinha 12 COLÉGIO PORTINARI T X
19 2- Rua Santanhinha 12 COLÉGIO PORTINARI T X
20 2- Rua de Santana 13 RESIDÊNCIA 771 T X
21 2- Rua de Santana 14 RESIDÊNCIA 771 T X
22 2- Rua de Santana 14 RESIDÊNCIA 136 T X
23 2- Rua de Santana 15 FOTO 124 T X
24 2- Rua do Passeio 15 CENTRO GRÁFICA 124 (FUNDOS) T
25 2- Rua do Passeio 15 PRÉDIO 782 1º X
26 2- Rua do Passeio 15 PRO-REITORIA UFMA 782 T X
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