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p.3-20). Nesse quadrinho, a mãe de Cebolinha tenta realizar um trabalho manual
que lhe forneça algum retorno financeiro; a confecção de cachecol. Cebolinha, após
chantagem emocional de sua mãe (apesar de considerar o acessório um tloço
pinicante), sai às ruas para divulgar a nova peça. Quando os filhos resistem em
atender a algum pedido feito pelas mães, elas fazem chantagem emocional ou
ameaçam cortar a mesada. Cebolinha, bastante contrariado, pois sente vergonha de
encontrar os amigos usando o cachecol (em pleno verão), começa a inventar outras
utilidades para o acessório. Cebolinha e seus amigos, graças às suas imaginações,
transformam os cachecóis em instrumentos de brincadeiras (corda, balanço,
máscaras, etc), após as crianças atribuírem uma nova função para a peça do
vestuário, as encomendas não param de chegar, tornando o “cachecol” um enorme
sucesso junto à criançada. Nesse contexto, o brinquedo/cachecol não é determinado
por uma função precisa: trata-se, antes de tudo, de um objeto que a criança
manipula livremente, sem estar condicionado à sua função real. Devido à sua
capacidade lúdica, as crianças conseguem subverter a função originária do
cachecol. Abordaremos questões sobre o lúdico, jogos, brinquedos e brincadeiras no
quarto capítulo desta tese.
As mães não têm com quem dividir as tarefas da casa, nem os cuidados com
os filhos, mesmo quando eles estão doentes (Revista Cascão, n.35, p.19), pois,
como não existe a figura da empregada doméstica nos quadrinhos de Maurício de
Sousa, são elas que assumem esses trabalhos sozinhas; não contando com a
contribuição do esposo e de nenhum parente. É a mãe que desempenha todas as
tarefas domésticas, apesar de, em algumas histórias, as mães solicitarem a
contribuição dos filhos em algumas tarefas, como comprar algum alimento na
mercearia (Almanaque do Cebolinha, n.41, p.4 e Revista Cascão, n.374, p.27),
ajudar na limpeza da casa (Revista Mônica, n.148, p.32), arrumar o quarto deles
(Almanaque da Magali, n.15, p.17), limpar a caixinha de areia do gato Mingau
(Revista Magali, n.357, p.3) e empurrar o carrinho da mãe na feira livre (Revista
Cascão, n.453, p. 4). Porém, quando os filhos tentam ajudar as mães no trabalho
com a casa, eles a atrapalham muito mais. Na história intitulada Quer uma ajuda na
faxina? (Revista Cascão, n.462, p.27-35), a criança, ao chegar em casa (após um
provável jogo de bola, já que estava com esse brinquedo debaixo do braço), percebe
o cansaço da mãe que estava fazendo a faxina e coloca-se à disposição para ajudá-
la. A genitora aceita prontamente a ajuda do filho e passa a entregar-lhe os