RESUMO
Nos vários recursos naturais presentes na Mata Atlântica estão as espécies
medicinais, inclusive algumas ameaçadas de extinção. Dentre estas, destaca-se a
Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes, pertencente à família Rubiaceae. Conhecida
popularmente como poaia, contém em suas raízes cerca de 2 a 2,7% de alcalóides
totais, sendo os mais importantes a emetina, a cefalina e a psicotrina, que conferem
a planta suas propriedades terapêuticas. A emetina atua principalmente como
expectorante e amebicida, enquanto que a cefalina é responsável pela atividade
emética. O objetivo deste estudo foi a comparação dos aspectos morfoanatômicos,
farmacoquímicos, validação farmacognóstica/farmacopéica, entre a poaia originária
do Bioma Amazônia, e aquelas cultivadas in vitro e submetidas a diferentes
tratamentos de interceptação da radiação solar, visando, desta forma, dar suporte a
estudos com fins de preservação, cultivo, uso medicinal e ampliar o conhecimento
biotecnológico desta espécie. A planta nativa foi coletada em fragmento de mata
nativa, no município de Belém, Estado do Pará, na fase vegetativa de
desenvolvimento. As plantas cultivadas in vitro e submetidas a diferentes
tratamentos foram preparadas na Universidade de Federal de Lavras. No aspecto
geral verificou-se que as plantas cultivadas, originadas por processo biotecnológico
e submetidas a diferentes tratamentos, apresentaram morfologia semelhante à
planta nativa, observada através da descrição morfológica. No entanto, constatou-se
um maior número de raízes secundárias. Através da análise estatística realizada, a
única diferença observada foi entre os comprimentos de caule, mas apenas entre a
espécie nativa e as submetidas aos tratamentos, mas não nas tratadas entre si. As
características anatômicas observadas para a raiz, rizomas e grãos de amido da
planta nativa confirmam as várias literaturas consultadas. A histolocalização dos
alcalóides nas raízes da amostra nativa foi realizada através do teste com o reativo
de Dragendorff, na região que circunda o cilindro vascular, sendo positiva. Todas as
características anatômicas observadas para a planta nativa também puderam ser
observadas nas plantas cultivadas tratadas, não sendo constatada nenhuma
diferença marcante. A cromatografia em camada delgada realizada confirma a
presença dos alcalóides emetina e cefalina, Rf = 0,24 e 0,13 respectivamente. Os
teores de alcalóides não fenólicos apresentaram diferença estatisticamente
significativa para a amostra nativa em relação à amostra cultivada tratada. Nas
plantas originadas de processos in vitro foram maiores. Os teores de alcalóides
fenólicos não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre a amostra
nativa e a cultivada tratada. Os teores de alcalóides totais apresentaram diferença
estatisticamente significativa entre a amostra nativa em relação aos tratamentos de
interceptação da radiação solar. Claramente observa-se que as plantas obtidas por
processo biotecnológico apresentaram maiores teores de alcalóides, que a espécie
nativa. A planta nativa apresentou teor menor que o especificado pela Farmacopéia
em alcalóides totais (1,71%). As plantas cultivadas e tratadas atenderam a estas
condições. Os perfis cromatográficos obtidos por cromatografia líquida de alta
eficiência confirmaram a presença de emetina nas amostras avaliadas.
Palavras-chave: Psychotria ipecacuanha, descrição morfológica, cultivo vegetal in
vitro, doseamento de alcalóides