133
do NP, por outro reconhece que seu discurso constitui
“uma forma hábil de traduzir a visão do mundo de certas
classes sociais, marginalizadas na sociedade”.
Os resultados dessa pesquisa são originais e
resgatam a imagem da linguagem popular, da gíria, dos
recursos expressivos, utilizados pelo jornal popular para
aproximar-se melhor de seus leitores, falando a
linguagem destes. E mais: há condições que extrapolam
os limites da análise lingüística, para atingir problemas
sociais. Assim, por exemplo, para Ana Rosa, o jornal
popular “se torna, em certos ambientes de trabalho, um
instrumento comunicativo, passando de um para outro
leitor, certamente atraídos pelo seu discurso, reflexo de
uma ideologia que se identifica com o pensamento das
classes mais oprimidas”.
Da mesma forma, o periódico tem, para a autora,
um valor histórico-social que transcende o momento da
publicação, porque “se se quiser traçar a história das
classes marginais urbanas, entendidas não apenas
como aquelas ligadas à delinqüência, mas incluindo
também aquelas atingidas pela pobreza e pela
desigualdade social, haverá sempre de se percorrer as
páginas do jornalismo popular, na impureza de sua
linguagem, que procura, apesar dos seus excessos (ou,
ainda mesmo, por causa deles), representar o
pensamento popular sobre os atos e estados de
violência”.
Ensaio extremamente original, O discurso da
violência constitui leitura recomendável, não só para
estudantes de Lingüística, de Jornalismo, de Sociologia
ou de História, mas também, pela sua linguagem
simples (nem por isso menos científica), para o público
em geral, em função da atualidade de seu tema, no
contexto social brasileiro.
Cremos que, a partir dessa publicação, não será
mais possível tratar de temas como o da oralidade na
escrita jornalística ou das ligações entre fala e escrita,
ou ainda, da expressividade da linguagem popular, sem
aludirmos a este estudo pioneiro. Veja-se, por exemplo,
no capítulo 4, o tratamento exaustivo que dá ao
fenômeno da gíria urbana como marca expressiva da
oralidade, no jornalismo popular.
Da leitura desta obra de Ana Rosa Ferreira Dias
fica-se o sentimento agradável de renovação na
pesquisa lingüística, pois comprova que há
possibilidades, ainda pouco exploradas, no Brasil, para
a linha da Análise do Discurso, baseada em material
colhido na imprensa.
Avaliação da obra /
Alusão / Citação
Avaliação da obra/Convite
à leitura / Indicação de
potenciais leitores
Convite à leitura/Avaliação
da obra
Avaliação final/
Estabelecimento do campo
de estudo