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1. INTRODUÇÃO
A água ocupa a maior parte da superfície de nosso planeta. Estimativas apontam que
cerca de ? do planeta são constituídos pela substância que forma os oceanos, rios, lagos, etc.
Tamanha fartura torna difícil de acreditar que a Terra corre o risco de não mais dispor de água
doce. Isso porque, nas últimas décadas, o aumento populacional vem sendo acompanhado de
um acréscimo considerável do consumo e do desperdício em todos os setores, seja industrial,
doméstico ou agrícola, aliado a uma degradação crescente tanto da quantidade quanto da
qualidade da água disponível.
A água, além de ser um insumo de desenvolvimento industrial e agrícola, é um bem
social indispensável à vida e também um direito de todos. Com o brutal crescimento
populacional, passa a ser imprescindível gerenciar, distribuir e tratar melhor a água, atribuição
que, até então, tem sido prerrogativa do Estado. Todavia, os problemas da água dizem
respeito não somente ao Estado, mas a cada um de nós, para quem, juntamente com o direito
do uso, está o dever de proteger, cuidar e garantir que as futuras gerações tenham acesso à
água de qualidade e quantidade suficiente.
Entre alternativas que envolveriam aumento da oferta, o que agravaria o problema por
acarretar custos cada vez mais crescentes com o processo de tratamento e captação,
despontam o consumo eficiente, o combate ao desperdício, uma mudança de postura das
pessoas em relação à água. Esse processo tem na educação, e em particular na educação
ambiental (EA), seu principal instrumento, como uma das possíveis ferramentas para tentar
sensibilizar e conscientizar as pessoas da necessidade de se cuidar desse recurso que se
configura natural e finito. Este e tantos outros desafios impostos à educação de maneira geral
têm estimulado muitas reflexões a respeito do seu papel e de suas reais possibilidades.
Estas preocupações vêm me acompanhando em minha trajetória como professora e
licenciada em Química. Muitos foram os momentos de reflexão a respeito de minha atividade
docente e da maneira de conduzir as aulas. A disciplina muitas vezes foi considerada pelos
alunos como uma das mais difíceis, priorizando a memorização excessiva de fórmulas e
nomes, com pouca relação com o contexto do educando. Se os professores das demais
disciplinas já se veem forçados a reformular seus métodos e repensar sua prática, pode-se
assegurar que essa preocupação é ainda mais evidente nos professores de Química.
Pensando na reformulação de métodos, currículos, avaliação e sala de aula, o estado de
Minas Gerais ofereceu a oportunidade para que pudéssemos participar do projeto “Escola
Referência”
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. O projeto se iniciou em 2004, sendo a Escola Estadual Olegário Maciel a
centralizadora, na cidade de Januária, Minas Gerais. Durante os anos de 2004 e 2005,
participei na elaboração de um currículo básico, a partir do qual cada instituição poderia rever
e reformular o seu próprio. Um currículo que não fosse imposto pelo sistema, mas que
partisse da própria escola, já que as escolas teriam autonomia para construir os seus
currículos, considerando as características de sua região e de seus alunos.
Em 2006 passei a atuar na Escola Agrotécnica Federal Antônio José Teixeira
(EAFAJT), hoje Instituto Federal Baiano – Campus Guanambi, localizado na zona rural do
município de Guanambi, estado da Bahia. Durante estes três anos na escola, vivenciei
situações que nunca tinha presenciado em Minas, como, por exemplo, os constantes protestos
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O projeto “Escola Referência” reuniu 220 escolas do estado distribuídas por mais de 100 municípios, que
abrangiam 65% da população do estado. Cada uma das escolas escolheu uma outra como associada, com a
finalidade de estender os benefícios do projeto (investimentos em material didático, curso de formação e
aperfeiçoamento para professores, reformulação de currículos, métodos de avaliação). Na época eu trabalhava
como professora de Química do ensino médio na EEOM.