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Geisa: (vai falando e gesticulando bastante) - Eu nunca trabalhei com uma
criança com este tipo de dificuldade, mas eu tive uma experiência. Eu fui visitar
uma escola muito legal. A escola que eu fui visitar era assim: era uma escola que
ficava num lugar alto, ela tinha muitas escadarias e passava um rio dentro da
escola. Era num terreno muito acidentado. Na hora do recreio, por exemplo,
tinha que passar pelo riachinho para chegar lá no pátio do recreio. E nessa
escola tinha um menino, que estava numa cadeira de rodas e não tinha os
movimentos nem dos braços nem das pernas, ele foi estudar nessa escola e aí
deu origem a um movimento muito bacana. Ele não podia ir para o recreio,
naquele terreno tão acidentado. E aí toda a escola, num movimento que partiu
das crianças, eles começaram... naquela escola, todo terceiro ano faz um projeto
para a escola. E o projeto deste terceiro ano foi fazer uma ponte para o menino
poder ir para o recreio. O menino participava também do projeto...
(...) Quando teve a inauguração da ponte foi muito legal, ele foi o primeiro a
passar, passaram com ele na cadeira, correndo. Eu achei importante porque
tanto ele teve contato – o que é muito importante - com as crianças que têm um
desenvolvimento mais normal quanto as crianças exercitaram esse lado social,
esse olhar sobre a necessidade do outro. Eu acho que você (dirigindo-se à
Rosa) tem razão, que tem que ter mais profissionais atuando junto, mas tem que
estar na escola junto com as outras crianças.
Rosa:- Não, eu sei, mas não é o dia a dia (desencosta da cadeira, coloca o
cabelo para trás da orelha, parece irritada) para descer lá para baixo, não é C.?
(pede uma espécie de apoio à C.) A gente com 25 alunos, uma sala cheia de
crianças, com o Igor ali, você tem que carregar, tem que trocar, não é fácil
(enfatiza bem essas últimas palavras). Vamos colocar a mão na consciência, não
é, não é (nenhum dos outros professores se pronuncia, todos olham para Rosa).
A gente tem que ter um aparato muito grande para receber essas crianças e a
gente não tem. Não é que a escola não seja aberta. É aberta, mas a gente não
pode ser tão aberta e colocar como se isso fosse muito fácil, não é muito fácil.
Isso é muito difícil. (Reunião com o grupo de professores, 08/11/2004)
Geisa começou relatando uma experiência que, para ela, fora bastante
positiva e destacou, no final de sua fala, a importância da convivência da criança
deficiente em turmas regulares pelos ganhos que essa convivência pode trazer
para todos os envolvidos. Para Geisa, a inclusão se coloca como possibilidade.
Em contraposição, na fala de Rosa aparece o conflito que se coloca para a
escola, e especialmente para os professores, com a inclusão de crianças com
deficiências em turmas regulares. Essas crianças exigem maiores cuidados e
maior empenho do professor para atingi-las, planejamentos diferenciados e uma
mudança no ritmo de trabalho que muitas vezes é difícil para o professor aceitar.
Isso sem falar na adequação do espaço físico às limitações que essas crianças
possam apresentar. A resistência de Rosa pode advir de um certo preconceito
com relação à idéia da inclusão, mas também pode ser lida como uma
resistência a um acúmulo ou intensificação de tarefas que a presença da criança
com algum tipo de deficiência na escola exige do professor sem uma
contrapartida em termos de um comprometimento da instituição com esse
processo, ao ignorar aspectos como a adequação física das escolas (é bom
lembrar que a Escola Amarela tem uma escadaria que liga o refeitório e o pátio
às salas de atividades) e o necessário envolvimento de outros profissionais no
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