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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
MESTRADO EM LINGÜÍSTICA
DE 64 À REDEMOCRATIZAÇÃO: UMA REPRESENTAÇÃO DO GOVERNO
MILITAR POR MEIO DO SISTEMA DE TRANSITIVIDADE EM EDITORIAIS
PERNAMBUCANOS
Flávia Ferreira da Silva Rocha
RECIFE
2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM LETRAS
MESTRADO EM LINGÜÍSTICA
DE 64 À REDEMOCRATIZAÇÃO: UMA REPRESENTAÇÃO DO
GOVERNO MILITAR POR MEIO DO SISTEMA DE TRANSITIVIDADE EM
EDITORIAIS PERNAMBUCANOS
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Letras da
Universidade Federal de
Pernambuco como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em
Lingüística.
AUTORA: Flávia Ferreira da Silva Rocha
ORIENTADOR:Prof. Dr. Marlos de Barros Pessoa
RECIFE
2007
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Rocha, Flávia Ferreira da Silva
De 6
4 à redemocratização: uma representação do
governo militar por meio do sistema de transitividade
em editoriais pernambucanos / Flávia Ferreira da
Silva Rocha. – Recife: O Autor, 2007.
129 folhas : il., tab., gráf., quadros.
Dissertação (mestrado)
Universidade Federal
de Pernambuco. CAC. Letras, 2007.
Inclui bibliografia e anexos.
1. Lingüística. 2. Editoriais. 3. Gramática sistêmica
-
funcional. 4. Sistema de transitividade. 5. Processos
verbais. 6. Representação. I. Título.
801 CDU (2.ed.) UFPE
410 CDD (21.ed.) CAC2008-
38
Resumo
Nesta pesquisa temos como objetivo identificar como o jornal Diario de Pernambuco
representou, nos editoriais da época, o Governo Militar de 64 e o período de
Redemocratização. Para tanto usamos os fundamentos teóricos da Gramática Sistêmico-
Funcional de Halliday. Fundamentamo-nos em Halliday Halliday (1978, 1985, 1994);
Halliday & Hasan (1989); Halliday & Matthiessen(2004); Eggins (1994,1997), Bloor e
Bloor (1995). O corpus ampliado deste estudo é composto por 138 editoriais, dos quais
selecionamos 08 para compor o corpus restrito. Os editoriais selecionados recobrem os
seguintes períodos: 02 veiculados em 64; o primeiro, publicado no início do mês de
março, portanto, anterior ao Golpe, e o segundo, publicado em abril, imediatamente
posterior a esse fato, 02 de 1968, quando do decreto do AI-5, Ato Institucional que
implanta a censura e legitima o governo militar e a ditadura no Brasil, mais 02 de 1974,
período de manifestações nacionais, marcado por greves e movimentos em prol da
redemocratização; finalmente os dois últimos editoriais, veiculados em 1979, período
marcado pelo início da Anistia e, conseqüentemente, da abertura gradual, possibilitando
a volta de alguns exilados ao Brasil. Conforme observamos, esses editoriais são
representativos de momentos considerados como os de maior tensão do governo militar.
Adotamos a metodologia da Lingüística de corpus. Com intuito de identificar os
processos utilizados pelos editoriais para representar as experiências do mundo externo
e interno, segundo perspectiva dos teóricos supracitados, usamos a ferramenta
computacional wordSmith Tools (Scott, 1994),a qual nos possibilitou também a lista de
freqüência. Dentre os resultados da análise, podemos observar que a) o processo
material é o de maior ocorrência nos editoriais analisados; b) o processo existencial é o
menos presente. Tal resultado nos possibilita afirmar que a grande ocorrência do
processo material propicia ao leitor um conhecimento do mundo físico, deixando em
segundo plano o mundo interior dos participantes.
Palavras-chave: Processos Verbais, Editorial, Representação, Gramática Sistêmica-
funcional, Sistema de Transitividade.
ABSTRACT
The purpose of this research was to identify how the newspaper Diario de
Pernambucorepresented, in its editorials, the Military Government of 64 and the period
of Redemocratization. To that end, we utilized the Halliday’s theoretical fundaments of
Systemic-Functional Grammar. We used the theory of Halliday (1978, 1985, 1994);
Halliday & Hasan (1989); Halliday & Matthiessen (2004); Eggins (1994,1997), Bloor e
Bloor (1995).The broaden corpus of the study is made up of 138 editorials, from which
8 were selected to encompass the restrict corpus. The selected editorials cover the
following periods: 02 run in 64; the first one published in early March, this one before
the coup, and the second published in April, right after the event; 02 of 1968, during the
AI-5 decree, an institucional act that implements censorship and legitimaze the Military
Government and dictatorship in Brazil; 02 more in 1974, a period of national
manifestation fraught with strikes and movements for redemocratization. Finally the last
two editorials run in 1979, a period marked by the beginning of the Amnisty, and,
consequently, of the gradual opening, making possible the return of some exiled to
Brazil. As we observed, these editorials were representative of movements regarded as
of high tension in the Military Governament. We adapted the methodology of corpus
linguistic. In order to identify the process utilized in editorial, to represent the
experiences within and without the world according to the perspective of the theoricians
afore mentioned, we used the computing Tool WordSmith (Scott, 1994) which provided
us with a frequency list. From the analysis results we could observe that a) the material
process is of higher occurrence in the editorials analyzed ; b) the existencial process is
the least present. Such a result makes possible to state that the great occurrence of the
material process gives the reader a knowledge of the physical world, leaving on a
secound plan the participants’ inner world.
Key Words: Editorial; Verbal Process, Representation, Systemic-Functional, Grammar,
Transitivity System.
Este trabalho é dedicado,
especialmente, aos meus pais,
Severino e Valdeci, início de
tudo; a Lêucio, companheiro de
todos os momentos; a Lorena e
Vítor, razão maior de minha
existência, e a todos aqueles que,
de qualquer modo, tiveram coragem
de ousar contra essa “página
infeliz da nossa história”, tendo
alguns deles, saido da vida e
entrando no “silêncio” das nossas
memórias.
AGRADECIMENTOS
Agradecer é sempre muito difícil, principalmente, pela preocupação de não
ocultar, desse momento, qualquer pessoa que fez parte, direta ou indiretamente, desta
história.
Na verdade, não gostaria que estas ginas figurassem como um protocolo a ser
seguido, mas como um reconhecimento àqueles que estiveram sempre do meu lado,
mesmo quando havia necessidade da “solitude” e, acima de tudo, acreditaram na
realização deste trabalho, acreditaram em mim.
Sendo assim, gostaria de agradecer:
Aos meus pais, origem de tudo, pelo amor, e total dedicação. Pelo que fizeram e
fazem até hoje. responsáveis diretos pelo que sou!
A Marlos de Barros Pessoa, meu orientador, pelo respeito a minha trajetória.
A Rosário Barbosa, por toda a dedicação e apoio, pelo empenho e seriedade.
Você foi um anjo enviado por Deus, muito obrigada, de coração!
A Professora Virgínia Leal, por ter sempre considerações relevantes a fazer, pela
delicadeza da recepção, por ser uma prova cabal de que o fazer acadêmico é prazeroso e
não é, necessariamente, desumanizante!
A Professora Cristina Teixeira, que delicadamente aceitou compor a banca
examinadora e pela, também, receptividade, tornando o momento que antecede à defesa
mais sereno.
A Medianeira pela atenção, pelo apoio, pelas palavras de encorajamento.
A Hevane, pelo companheirismo e atenção nos momentos mais difíceis.
A Rosângela Pimenta, grande guerreira, grande amiga-irmã, pelo apoio e
incentivo, pela sempre presença, pelas palavras e gestos de incentivo, pelas
demonstrações de que todos nós somos ícaros também.
A Gilberlande, pelo apoio e encorajamento nessa caminhada, principalmente
pelas contribuições iniciais na vida acadêmica.
A Eugênio pelo incentivo e sensíveis considerações ao longo deste trajeto.
A André, Tony e especialmente a Jordão, pelo apoio nos momentos de dúvidas
nas traduções.
A João Barros, pelo apoio incondicional, por ter se mostrado um irmão nos
momentos mais cruciais desse trajeto.
A Clebson, que por intermédio de João tornou-se um anjo cibernético quando o
computador resolvia não mais atender aos meus comandos.
Aos meus irmãos Mano, Nanda, Binho, Francês, pela força e presença e,
especialmente, a Bibi, sempre presente em todos os momentos, compartilhando todas as
situações, principalmente por acolher meus filhos com amor quase materno quando era
impossível conciliar a maternidade com as exigências acadêmicas. Esse momento
também é seu!;
As minhas tias, quase mães, Josefa, in memorian, Amara e Beatriz também
responsáveis diretas pelos meus princípios, pela minha caminhada.
A Rute, pela grande força, sempre do meu lado com grandes demonstrações de
amor, carinho e força espiritual.
A Audrey, Garcia e Márcio pela torcida e respeito às minhas necessárias
ausências.
A Edvânia por ter, em diversos momentos, multiplicado meu tempo, pelos
galhos quebrados.
Aos meus companheiros do CEE, muito especialmente aos amigos de longa
caminhada: Póvoas, Douglas, Jorge e Aderval, muito torcendo por este momento, pelo
apoio nas horas de maior sufoco, possibilitando-me mais tempo de dedicação a este
trabalho.
Aos colegas de Curso Ana, Carla, Daniel, Edilza, Edmilson, Fabiana, Fernanda,
Helga, Iran, Paloma, Ricardo, Solange, Walmir e especialmente a Juliana, que de modo
doce e preciso, mesmo sem saber, contribuiu para a realização desse trabalho.
Aos meus professores do Mestrado, por ter apresentado contribuições valiosas
não apenas a este trabalho, mas a minha formação enquanto lingüista.
A Ângela Paiva Dionísio, pela seriedade na condução do Programa, pela paixão
contagiante pela pesquisa e pela Lingüística.
A Diva, Eraldo (não mais no Programa) e Josaías, pela paciência, atenção e
dedicação a nós, estudantes do PPG Letras.
A Lorena e Vítor, minhas duas maiores paixões, que com a inocência natural
conseguiram sempre ter muita paciência e deixar quase tudo para “depois que a mamãe
terminar o trabalho” sem esses sorrisos..., eu não sei! A mamãe ama demais vocês!
A Lêucio que esteve desde sempre me apoiando e torcendo, por todas as
abdicações, pelo apoio incondicional, por tudo que suportou!
LISTA DE QUADROS
Quadro I: Três variáveis do discurso, 35
QuadroII: Funções e papéis da fala, baseado em Halliday (1994), 36
Quadro III: Tipos de Processos Relacionais (adaptado de Halliday, 1994: 119), 49
Quadro IV: Resumo dos tipos de Processo - Traduzido de Halliday (1994:143), 50
Quadro V: Editoriais analisados no corpus restrito, 62
LISTA DE TABELAS
Tabela I: Distribuição dos processos nos editoriais, 111
Tabela II: Distribuição dos processos por ocorrência nos editoriais,111
Tabela III: Distribuição dos processos em percentual por ocorrência nos editoriais, 112
Tabela IV: Distribuição dos processos nos editoriais, 113
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Sistema de Transitividade baseada em Halliday
& Mattiensen (2004), 40
Figura 2: Sistema de Transitividade (Eggins,1994:228), 41
Figura 3: Circunstâncias (Eggins,1994:237), 41
Figura 4: Tipos de processo em Inglês. (Halliday, 1994), 43
Sumário
0. INTRODUÇÃO
............................................................................................15
1. Capítulo I: Contextualizando a pesquisa: um pouco da história
......20
1.1A crise política do Brasil nos anos 60.............................................................20
1.2O comício do dia 13........................................................................................21
1.3A tomada de poder..........................................................................................22
1.4O governo através de decretos........................................................................23
1.5O AI-5.............................................................................................................24
1.6Um novo Governo: mais pressão....................................................................25
1.7A luta armada..................................................................................................26
1.8O serviço nacional de informação..................................................................26
1.9O milagre econômico......................................................................................27
1.10As eleições de 1974......................................................................................28
1.11O Governo Militar em números....................................................................30
2.Capítulo II Lingüística Sistêmico-Funcional
..............................................31
2.1 A Gramática Sistêmico-Funcional.................................................................31
2.2 Contexto de Situação....................................................................................33
2.3 Contexto Social..............................................................................................34
2.4 As metafunções..............................................................................................34
2.4.1 A metafunção interpessoal..........................................................................34
2.4.2 A metafunção textual..................................................................................35
2.4.3A A metafunção ideacional.........................................................................36
3.Capítulo III: Sistema de Transitividade: os processos em ação
...........37
3.1 Sistema de Transitividade..............................................................................37
3.2 Processos........................................................................................................40
3.2.1 Processos materiais: o do fazer...................................................................42
3.2.2 Processos mentais: o do sentir....................................................................43
3.2.3 Processos Relacionais: o do ser..................................................................45
3.2.4 Processos Comportamentais: o do comportar-se........................................47
3.2.5 Processos verbais: o do dizer......................................................................47
3.2.6 Processos existenciais: o do existir.............................................................47
4.Capítulo IV: Gênero Textual: particularidades e desafios
....................49
4.1 Correntes de estudo dos gêneros....................................................................49
4.2 Gêneros na GSF.............................................................................................50
4.3 Gênero editorial.............................................................................................51
4.3.1 Classificação do Gênero Editorial.............................................................53
4.3.2Tipos de Editoriais......................................................................................54
5. Capítulo V: Os caminhos percorridos pela pesquisa
..............................56
5.1 Procedimentos Metodológicos......................................................................56
5.2 Corpus...........................................................................................................57
5.3 Procedimentos Teórico-Metodológicos.........................................................59
5.4 Procedimentos de análise...............................................................................60
5.5 Ferramenta computacional............................................................................60
6.Capítulo VI: Significado experiencial dos editoriais
...............................62
6.1 Editorial Cruzada feminina........................................................................62
6.1.1Processos: significado experiencial.............................................................63
6.2 Editorial O dever dos democratas...............................................................68
6.2.1Processos: significado experiencial.............................................................68
6.3Editorial Deserção..........................................................................................72
6.3.1.Processos: significado experiencial............................................................73
6.4 Editorial Eleições indiretas........................................................................83
6.4.1 Processos: significado experiencial............................................................84
6.5 Editorial Pressões e abusos........................................................................88
6.5.1 Processos: significado experiencial............................................................89
6.6Editorial O apelo da hora...............................................................................92
6.6.1.1Processos: significado experiencial..........................................................93
6.7Editorial O jogo democrático.........................................................................96
6.7.1Processos: significado experiencial.............................................................97
6.8Editorial Aprovada a Anistia..........................................................................99
6.8.1 Processos: significado experiencial..........................................................100
Considerações Finais
.............................................................................................104
Bibliografia
...............................................................................................................109
Anexos
.........................................................................................................................112
Quem conhece a sua ignorância revela a mais
profunda sapiência. Quem ignora a sua
ignorância vive na mais profunda ilusão.
Lao-Tsé
Introdução
O período de governo militar no Brasil, com o apoio de segmentos da classe
média urbana e de amplos setores do empresariado brasileiro, além de interesses
internacionais, foi marcado por anos de autoritarismo e desrespeito à condição humana
e suprimiu, através da repressão, as liberdades democráticas. Apesar do silêncio imposto
nos mais diversos meios, como o estudantil, sindical, artístico e intelectual alguns
jornais, poucos é bem verdade, buscaram formas de protestar contra o autoritarismo
vigente na época. Na maioria dos casos, havia apoio ao regime em voga, como se pode
comprovar na voz de Skidmore:
A Revolução de 64 foi entusiasticamente festejada pela maior
parte da mídia brasileira. Jornais importantes como o Jornal do
Brasil, Correio da Manhã, o Globo, Folha de S. Paulo e O
Estado de S. Paulo pugnavam abertamente pela deposição do
governo Goulart. Não ficava atrás em sua oposição a cadeia de
revistas, jornais e estações de rádio e TV dos “Diários
Associados”. O único jornal importante que combateu o golpe
foi o Última Hora, cujo diretor e fundador, Samuel Wainer, teve
que fugir (
1988, p.63).
Como se observa, o apoio ao Regime Militar é aberto e público, proporcionando
aos jornais grande participação nos caminhos trilhados no Brasil de então. Em todo o
País, movimentos diversos foram organizados em apoio à tomada de poder pelos
militares. Esses apoios se traduziram em notas, reportagens, editoriais e passeatas, como
a realizada pela Marcha da Família com Deus pela liberdade, no dia 19 de março de
1964, em oposição ao comício do dia 13, no Rio de Janeiro
Sabemos que a imprensa, especialmente na sociedade moderna, assume decisivo
papel enquanto formadora de opinião. Sabemos também o quanto essas opiniões estão
relacionadas com a situação histórica e social. Na esteira desse raciocínio Sodré (1999,
p. X) afirma estar a história da imprensa ligada à História do capitalismo, reproduzindo,
poderíamos dizer, os interesses e propósitos do sistema, ao afirmar que:
A imprensa... nasceu com o Capitalismo e acompanhou o seu
desenvolvimento. Ela espelha, atualmente, a ampla crise que caracteriza
a atual etapa do avanço do Capitalismo. Etapa bem definida, aliás, pelo
extraordinário surto e influência dos referidos meios de massa.
É nesse sentido que nossa pesquisa, considerando a influência e o poder que
exerce a imprensa na formação de opinião e posicionamento na sociedade, propõe- se a
identificar qual a representação do Regime Militar brasileiro e da Redemocratização
1
construída pelo jornal Diario de Pernambuco. Para isso descreveremos os processos – a
partir do sistema de Transitividade proposto pela Lingüística Sistêmico-Funcional
(Halliday, 1985, 1984) utilizados pelos editoriais em circulação na época, produzidos
e publicados pelo jornal Diario de Pernambuco.
Com base na Lingüística Sistêmico-funcional proposta por Halliday (1985, 1994,
2004) e seus seguidores Martin (1997), Thompson (1996), Eggins (1994, 2002),
pretendemos fazer uma descrição detalhada dos processos, buscando
1. identificar e descrever os processos de oito editoriais, publicados no Diario de
Pernambuco nas décadas de 60 e de 70;
2. comparar o uso dos processos encontrados em cada década e sua influência na
construção dos sentidos veiculados pelos editoriais;
3. explicitar e descrever os processos predominantes, responsáveis pela
construção do significado experiencial, em cada editorial analisado.
A escolha da Lingüística Sistêmico-Funcional como teoria lingüística para este
estudo foi determinada, principalmente, por esta conceber a linguagem sob a
perspectiva sócio-semiótica (HALLIDAY E HASAN, p. 1989), priorizando o ponto de
vista social a linguagem como um sistema de significados relacionado à estrutura
social; e, o ponto de vista Semiótico a linguagem como sistemas de significados e,
também, como “um sistema de codificação convencionalizado, organizado como um
conjunto de escolhas” (cf. EGGINS, 1994, p.3)
Para a Gramática Sistêmico-Funcional, doravante GSF, a língua é um produto do
contexto sócio-cultural, focando o estudo da linguagem em uso como uma prática
social. Além disso, essa teoria oferece recursos operacionais para a sistematização da
análise dos textos, cujos resultados podem ser verificados por outros pesquisadores,
pois, como afirma Eggins (1994, p.23) “o que distingue a lingüística sistêmica é que ela
1
Para efeito deste estudo, o que chamamos de Redemocratização se limita apenas
ao período de aprovação da Anistia, ou seja, agosto de 1979. Mesmo sabendo que tal
período se estenderá até 1985 quando da eleição de Tancredo Neves e José Sarney.
procura desenvolver uma teoria sobre a linguagem como processo social e uma
metodologia analítica que permita a descrição detalhada e sistemática dos padrões da
linguagem”.
Essa teoria analisa e explica a prática social do discurso o texto. Para Eggins
(2002), corroborando Halliday (1994), o texto é o produto de uma atividade discursiva,
tornando-se o objeto empírico de análise do discurso. Assim, percebemos que é a
construção sobre a qual o analista busca, em sua superfície, as marcas que apontam para
a investigação científica que, no caso deste estudo, são os processos verbais, do sistema
de transitividade, identificados nos editoriais veiculados pelo jornal Diario de
Pernambuco nas décadas de 60 e 70.
É importante salientar que os processos, foco de nossa investigação, constituem,
conforme Halliday (1994), uma unidade semântica e não uma unidade gramatical.
Nessa perspectiva os significados acontecem por meio do texto e, sem uma teoria de
texto, não existe caminho de tornar explícita uma interpretação.
Com relação à escolha da transitividade como unidade de análise, Souza afirma
que:
uma análise pautada no sistema de transitividade de um texto nos
permitirá elucidar como os sentidos foram construídos, porque podemos
descrever o que está sendo dito sobre um determinado assunto e como
as mudanças na construção do significado estão sendo realizadas
(2006, p.37) .
Nesta pesquisa, levaremos em conta os aspectos funcionais, sociais e culturais
do discurso jornalístico, uma vez que temos a pretensão de refletir a respeito da
linguagem, ou seja, como é usada em contextos sociais específicos para alcançar os
propósitos daqueles a quem ela se destina. Em suma, de acordo com a característica do
contexto, podemos predizer as escolhas lingüísticas que caracterizam um texto, seu
padrão léxico-gramatical, ou seja, sua realização. Acreditamos, portanto, que os
conjuntos de textos estudados possuam uma organização lexical própria que reflita o
seu conteúdo informativo.
A escolha do gênero editorial se deu em razão deste ser a expressão do ponto de
vista assumido pelo jornal, como mostramos no capítulo 1 deste estudo, e não o ponto
de vista de um profissional de jornalismo, especificamente. O editorial é o ponto de
vista de uma instituição, possibilitando identificar qual a linha ideológica por ela
assumida e, assim, evidenciar quais os possíveis efeitos sociais decorrentes dessa
posição.
Com efeito, muitos estudiosos da área social pesquisam sobre o Golpe Militar de
64, no entanto, do ponto de vista lingüístico, poucas pesquisas foram realizadas, o que
justifica a relevância deste trabalho. Além disso, ainda há a possibilidade de se observar
como as práticas lingüístico-discursivas estão imbricadas com as estruturas
sociopolíticas mais abrangentes de poder e dominação (cf. KRESS apud PEDRO, 1997,
p. 22), não esquecendo também que trazer para a discussão uma temática como esta é
uma forma de resgatar a memória e possibilitar mais esclarecimentos sobre os
mecanismos lingüísticos utilizados pela mídia para manipulação e conservação do
poder
1
.
As reflexões feitas em torno do nosso objeto de estudo fizeram-nos chegar às
seguintes perguntas norteadoras da pesquisa:
Como o jornal Diario de Pernambuco representa em seu discurso o
Golpe Militar de 64 e o Processo de Redemocratização e, em face disso,
qual o posicionamento político ideológico que assume? Reproduz ou
subverte o discurso do governo?
Será que os processos verbais revelam as ações, os sentimentos e as relações
dos participantes do discurso? De que forma os significados experienciais
são construídos no discurso?
Trabalhamos assim, a partir dessa problematização com as seguintes hipóteses:
Os processos possibilitam a construção de sentido e representam o governo
de 64 e o Período de Redemocratização de acordo com os interesses do
jornal; ao mesmo tempo em que cumpre a função social do jornalismo, ao
noticiar sobre o assunto, participa em boa medida do sistema dominante do
País, com sua estrutura política, econômica e social.
O discurso da imprensa fortalece o papel de tutela desempenhado pelos
militares.
1
Apesar de apresentar relevância inquestionável, não constitui intenção deste
trabalho analisar as relações de manipulação e conservação do poder à luz da ACD.
O discurso do Jornal Diario de Pernambuco, através da metafunção
ideacional dos processos, fornece representação, capaz de guiar o leitor
para determinadas conclusões.
Do ponto de vista organizacional, esta dissertação foi estruturada da seguinte
forma: Introdução, fundamentação teórica, metodologia, análise e discussão dos dados,
considerações finais, bibliografia e anexos.
Na introdução, explicitamos, em linhas gerais, o objetivo da pesquisa, as
perguntas de investigação, a justificativa, o corpus, a metodologia e a base teórica; já na
fundamentação teórica, tecemos comentários a respeito da Lingüística Sistêmico-
funcional LSF, do Sistema de Transitividade e do Editorial como gênero Jornalístico
de cunho social que serviram de referencial para esta pesquisa.
Na metodologia foram reconstruídos os passos utilizados na realização deste
estudo, explicitamos o universo da pesquisa, o corpus e a ferramenta computacional
WordSmith Tools.
Na análise, contextualizamos cada editorial e, em seguida identificamos, em
cada parágrafo, que compuseram os textos analisados, os processos utilizados pelo
jornal Diario de Pernambuco durante o Governo Militar e o período de
Redemocratização.
Por fim, apresentamos os resultados desta pesquisa assim como suas
contribuições para os estudos lingüísticos e sua aplicação do ponto de vista didático.
Capítulo I: Contextualizando a pesquisa: um pouco da
história
A ditadura militar morreu lentamente a partir do desmascaramento do
“milagre econômico. Começou a agonizar no governo Figueiredo. Já era
cadáver no período Sarney. Foi enterrada precariamente nas eleições diretas
de 1989.
Hoje, há democracia.Isso basta?
Chiavenato (2004)
Neste capítulo, faremos uma explanação geral sobre o contexto histórico do período que
compreende o Governo Militar de 64 no Brasil. Entendemos que, para estudar e
compreender melhor os significados impressos pelos processos veiculados nos editoriais
desta pesquisa, torna-se necessário ter em mente a situação histórica brasileira vivida
nos anos de Regime Militar e da Redemocratização, ou seja, de 1964 a 1979.
Apresentaremos as razões que favoreceram a tomada de poder pelos militares em 64, os
Atos Institucionais instituídos pelos presidentes em exercício, o milagre econômico e
sua crise, a abertura lenta e gradual e a aprovação da Anistia, sinalizando para o
surgimento de um novo momento na história nacional brasileira.
1. 1 A crise política do Brasil nos anos 60
A década de 60 mostrou-se para o mundo como uma década de grandes
mudanças e movimentações nos campos político, social e econômico. Este período
apresentou-se para o mundo inserido no contexto da Guerra Fria, quando dois blocos
econômicos e políticos, E.U.A e URSS, representantes, respectivamente, do bloco
capitalista e do bloco socialista, influenciaram diretamente e impuseram a sua
hegemonia nas decisões das áreas periféricas. O início dessa década testemunhou uma
forte e contínua penetração do capital estrangeiro no país que favoreceu os interesses
estrangeiros. Esse fator se faz relevante pelo fato de que antes de 64, isto é, antes do
golpe militar, é a elite de tecnocratas
2
que constitui a reação burguesa contra a crescente
influência das forças populares.
A tomada de poder pelos militares em março de 1964 é conseqüência de uma
crise institucional política e econômica criadora de um clima de insegurança em
diversos setores da sociedade. A crise econômica somada à renúncia do então presidente
Jânio Quadros desencadearam uma série de crises políticas no cenário nacional até o
golpe militar de 64.
2
A elite tecnocrata é formada por administradores, gerentes e técnicos. Segundo
Dreyfuss (1981:73) A rede tecnoburocrática de influência dentro do aparelho estatal
era formada pelas camadas mais altas da administração pública e pelos técnicos
pertencentes a agências e empresas estatais, os quais tinham ligações operacionais e
interesses dentro do bloco de poder multinacional e associado
De acordo com Skidmore (1994, p.250), a renúncia do presidente foi
rapidamente executada pelos políticos do PSD, que controlavam o Congresso. Ainda
segundo este autor “a crise que se desenrolou, a seguir, baseou-se no seguinte dilema:
João Goulart, o presumível herdeiro da política tradicional de Vargas, poderia ou não
ocupar o Palácio Alvorada, em Brasília?”
Os militares conservadores e os políticos udenistas não quiseram aceitar o vice-
presidente João Goulart que era do PTB e herdeiro do populismo da fase final de
Getúlio Vargas. Como o Rio Grande do Sul, através do governador Brizola e do III
Exército, ficou com Goulart no apoio à legalidade deste assumir a presidência, por um
momento temeu-se a possibilidade de uma guerra civil. Tal ameaça foi contornada,
segundo Lopez (1991, p.112) “através de uma dessas medidas conciliatórias tão
freqüentes em nossa história – a adoção do parlamentarismo.”
Essa saída conciliatória e de emergência significou um momento de certa
instabilidade entre o ano 1961 a 1963. Nessas condições, o plebiscito de 06 de janeiro
de 1963 redunda numa votação expressiva contra o parlamentarismo e que se poderia
interpretar como de apoio ao presidente, uma vez que se tratava de restituir-lhe os
poderes limitados em 1961 (cf. Beiguelman,1981)
O governo de Goulart enfrentaria uma série de dificuldades para governar o
Brasil diante das pressões que vão desde a esquerda, que não se entendia com o
governo, exigindo uma posição mais enérgica, a postura da direita, que buscou a
radicalização, apelando para o perigo e a ameaça comunista.
1. 2 O comício do dia 13
Essa conjuntura bastante complexa e de pressão leva o governo a, no dia 13 de
março de 1964, realizar um comício, conhecido como o Comício do dia 13, na Central
do Brasil, no Rio de Janeiro. O discurso proferido por Goulart foi ouvido por mais de
cento e cinqüenta mil pessoas, pois fora transmitido pelo rádio para todo o País. Ao
contrário do que havia prometido ao partido, o discurso proferido por Brizola, então
governador do Rio Grande do Sul e de posicionamento cada vez mais radical, foi de
declarações explosivas. Segundo Chiavenato (2004,p.30) Brizola declarou que
após a nacionalização da refinarias e a criação da Superintendência da
Reforma Agrária (Supra), neste país será desencadeada a violência.
Devemos, pois, organizarmo-nos para defender nossos direitos. Não
aceitaremos nenhum golpe, venha de onde vier. O problema é de mais
liberdade para o povo.
Ainda de acordo com Chiavenato (2004, p.30), o discurso de Goulart, logo após
o de Brizola, foi induzido por este a ser mais enérgico em seu pronunciamento. O
Presidente anunciou oficialmente as reformas de base, encampações de refinarias e
desapropriações de terras. O radicalismo político contrapôs o Populismo e o grande
capital.
A partir dos opositores passaram a argumentar, junto aos indecisos, que uma
sangrenta “revolução comunista” estava se travando no Brasil. Somaram-se a este fato
uma série de outras situações como a rebelião de sargentos e cabos da Aeronáutica,
Exército e Marinha e manifestações violentas, desde 1962, contra a carestia foram
acontecendo. Esses fatos não se davam de modo isolado, mas paralelamente à disputa
de poder existente entre o governo e as correntes políticas opositoras e conservadoras e
de direita, com boas ou más intenções de ambos os lados. O direcionamento assumido
pelos acontecimentos indicava claramente que o golpe seria desencadeado. De acordo
com Paim (1987, p.47)
A Revolução de 1964 se fez, segundo a parcela mais representativa de
sua liderança, para impedir que o presidente da República em exercício,
João Goulart, fechasse o Congresso, postergasse as eleições e
proclamasse o que então se denominava de república sindicalista,
espécie de socialismo caboclo que misturava fraseologia esquerdista e
corrupção. A derrubada de Goulart facultaria a retomada do processo de
exorcizar o fantasma de Getúlio Vargas da política brasileira, mediante
a consolidação da democracia.
1. 3 A tomada de poder
O Regime Militar nasceu de um Golpe de Estado desfechado no dia 31 de março
de 1964 contra o presidente João Goulart. Apoiaram o Golpe os partidos conservadores
(PSD e UDN), o empresariado, os proprietários rurais e segmentos da classe média
urbana, unidos, acima de tudo, para combater o perigo e ameaça do comunismo e à
corrupção, vistos, por esses grupos, como pertencentes ao mesmo nível de ameaça.
Com o Golpe, o presidente da Câmara dos Deputados assumiu interinamente a
Presidência, mas no dia 9 de abril o alto comando militar apresentou ao Congresso o
Ato Institucional nº 1 (AI-1), que definia as novas regras para o Estado brasileiro. O AI-
1 suspendeu as eleições diretas para a Presidência da República, ampliou os poderes do
presidente militar e cancelou por seis meses as garantias constitucionais. Todavia, no
dia 11 de abril foi eleito indiretamente, isto é, pelo Congresso, o novo presidente da
República: o general Humberto de Alencar Castelo Branco. É nesse quadro que
aconteceu um dos momentos mais obscuros da nossa História, o ciclo de governos
militares que somente se encerraria em 1985, 21 anos depois.
Durante o transcorrer da “revolução”, encontramos duas correntes entre os
militares: os moderados, que apresentam uma posição clara, ou seja, a entrega do
governo aos civis quando entendessem que o risco de uma revolução comunista
estivesse afastado, e os de “linha dura”, que defendiam a permanência dos militares no
poder.
Ao contrário das outras intervenções militares em nossa história, desta vez não
se entregou o governo para os civis depois de passado o momento crítico. Pelo
contrário, os militares, de acordo com Lopez (1991, p.116) resolveram passar da
posição de árbitros para a posição de atuantes diretos, enfrentando todos os desgastes
decorrentes da nova situação, mas também usufruindo diretamente e completamente dos
privilégios ligados ao poder.
1. 4 O governo através de decretos
A partir de agora o exercício do governo militar é feito através de decretos, os
Atos Institucionais. Os três primeiros foram decretados no governo Castelo Brancos,
entre 1964 e 1967, e ampliaram consideravelmente o sistema centralizador e repressivo
instalado em 1964 possibilitando contornos definidos aos objetivos dos deres do
movimento militar que tomara o poder. O Ato Institucional nº 1 (AI-1) marca o começo
da Ditadura, instituindo, jurídica e institucionalmente, o movimento civil-militar de 09
de abril de 1964 e estabelecendo as regras a serem seguidas. O Ato Institucional nº2
(AI-2) estabeleceu eleições indiretas para Presidência da República, a supressão dos
partidos políticos existentes e a implantação do bi-partidarismo. O Ato institucional nº3
(AI-3) fixou eleições indiretas para governador estadual, pois o governo Castelo Branco
tinha sofrido uma surpresa desagradável com o resultado recente das eleições diretas em
Minas e na Guanabara. E finalmente, o Ato Institucional 4 (AI-4) transformou o
Congresso Nacional em Assembléia Constituinte com vistas à aprovação da nova
Constituição, a qual, efetivamente passou a vigorar a partir de 1967, atenuando o
federalismo em favor do centralismo popular nos mecanismos decisórios. Com essa
Constituição, pode-se dizer que se encerrou juridicamente o que tinha se encerrado
historicamente, isto é, a era do populismo.
De acordo com Skidmore (1994, p.137), o segundo governo militar, o do
Marechal Costa e Silva, que assumiu a presidência no dia 15 de março de 1967, pôs fim
a um conturbado período presidencial
3
dando início agora ao primeiro mandato
presidencial completo desde a tomada de poder.
As promessas de abertura democrática do presidente Costa e Silva foram
cobradas já em 1968. Protestando contra a política educacional e contra o próprio
governo, os estudantes realizam manifestações em diversas capitais. No centro da
cidade do RJ a passeata de protesto chagou a reunir 100.000 pessoas. A política
econômica de contenção de salários aumentava o descontentamento da população.
Os protestos contra regime e contra os níveis salariais também surgiram em
greves operárias, como as de Osasco (São Paulo) e Contagem (Minas), e nos discursos
de parlamentares no Congresso, como o proferido pelo deputado Marcio Moreira Alves,
usado como propósito militar à institucionalização do AI-5. De acordo com Alencar
(1996, p.398) era a crise, mais uma vez. Também mais uma vez, os setores que
preconizavam um “endurecimento” iriam prevalecer.
1. 5 O AI-5
Ainda em dezembro, o Congresso entrou em atrito com as Forças armadas por
causa do discurso do deputado Márcio Moreira Alves, contra o qual foi movido um
processo pelo Exército, que o acusou de ferir a honra da corporação. O congresso
rejeitou o pedido de licença para processar o deputado. A conseqüência da confrontação
não tardou: o presidente Costa e Silva, assinou o Ato Institucional 5 (AI-5),
documento máximo do arbítrio e que autorizava o presidente a suspender direitos
políticos, cassar mandatos e fechar qualquer instituição legislativa por tempo
indeterminado. Segundo Chiavenato (2004, p.112) este Ato já estava pronto desde julho
de 1968, esperava apenas o melhor momento para seu decreto.
3
Este período teria início com a eleição de Jânio Quadros em 1960, seguida de sua renúncia em 1961, continuou com
o tumultuado acesso ao poder de João Goulart em 1961., O sistema parlamentar imposto pelos militares de 1961 a
1963, a deposição de Goulart em 1964 e, finalmente, o governo Castelo Branco que os militares prorrogaram por um
ano além do mandato original de 1961-66. Costa e Silva estava. Skidmore (1994)
Segundo Mota (2000, p.197) O AI-5 não tinha prazo para vigência ─ por isso foi
considerado como o ato de consolidação do governo militar e dava ao presidente da
república poderes para: a) fechar o Congresso Nacional, as assembléias estaduais e as
câmaras municipais; b) cassar mandatos de parlamentares; d) demitir, remover,
aposentar ou pôr em disponibilidade funcionários federais, estaduais e municipais; e)
demitir ou remover juízes; f) suspender as garantias do Poder Judiciário; g) decretar
estado de sítio sem qualquer impedimento; h) confiscar bens como punição por
corrupção; i) suspensão do habeas-corpus em crimes contra a segurança nacional; j)
julgamento de crimes políticos por tribunais militares; k) legislar por decreto e expedir
outros atos institucionais ou complementares; l) proibir a análise, pelo Poder Judiciário,
de recursos impetrados por pessoas acusadas com fundamento no Ato Institucional nº 5.
O novo Ato instituído mantinha fechado o Congresso Nacional, de dezembro de
1968 até o segundo semestre de 1969. Lopez (1991, p.118).
1. 6 Um novo governo: mais pressão
A Junta Militar, que se pôs no lugar do presidente Costa e Silva no final de
agosto de 1969, por motivo de doença do então presidente, depois de obstruir a posse de
vice-presidente Pedro Aleixo, publicou mais atos institucionais e leis, além da Emenda
Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. (cf. VIEIRA: 2000, p.197).
A partir de 1968, em resposta à pressão do movimento estudantil e ao início da luta
armada, o regime militar enrijece ainda mais, provocando o período de maior repressão
política da história do Brasil. Isso se deu sob a presidência do general Garrastazu
Médici, ou seja, de 1969 a 1974. Nesse período vários movimentos surgiram com a
intenção de protestar contra todos os ocorridos até então.
1. 7 A luta armada
O movimento de luta armada surgiu no Brasil com intuito de combater o regime
autoritário da época. Participaram de tal movimento, um contingente entre 5 mil e 6 mil
homens, considerado pequeno em relação à população, estimada em 100 milhões de
habitantes. Nomes como os de Marighela, morto em uma cilada em São Paulo em 1969,
e o do ex-capitão Lamarca, morto no sertão da Bahia em 1971, figuram como principais
líderes desse movimento (cf.CHIAVENATO, 2004, p. 169).
Isolados do Povo, sem acesso aos meios de comunicação, os vários grupos
Guerrilheiros a ALN, destaque da guerrilha urbana com Marighela como um dos
fundadores, a VPR, liderada pelo ex-capitão Carlos Lamarca, foram dizimados pelo
Exército e pelas forças policiais. Os Guerrilheiros eram apresentados pelos jornais como
“Bandidos”, “terroristas” e agentes do “Comunismo internacional”. Muitos deles foram
“Torturados até a morte ou, simplesmente, “Desaparecidos”. Ainda de acordo com
Chiavenato (1988, p.245)
O governo Médici utilizou uma verdadeira operação de guerra em
Araguaia, Com bastantes recursos, o Exército levou mais dois anos para
completar sua missão. Em 1975 todos os guerrilheiros estavam mortos
ou na prisão, apesar de seus preparativos e de sua valentia, não puderam
resistir às equipes de contra-insurreição do Exército, tal como o uso da
tortura pela polícia e o Exército havia anteriormente extirpado as
guerrilhas urbanas.
Para manter o controle da situação, é criado um órgão que pudesse controlar, de
modo eficaz, toda e qualquer possibilidade de subversão. Surge o SNI.
1. 8 O Serviço Nacional de Informação
O Serviço Nacional de Informações (SNI), centro de processamento de informes
políticos, idealizado pelo general Golbery do Couto e Silva e regulamentado por
Decreto-Lei de junho de 1964, articulava-se com o Poder Executivo e com o Conselho
de Segurança Nacional (cf. VIEIRA:1991, p.198). Assim, o Regime contava com o seu
principal órgão de informação que tinha como objetivo desmontar qualquer estrutura
que ameaçasse a nação brasileira.
O governo buscava além do controle da informação outras medidas que o fizesse
manter o controle da situação. Uma delas é a preocupação em levar a ilusão do controle
econômico. Para esse fim, utilizou-se de todos os meios possíveis para consolidar o
chamado “milagre econômico”
1. 9 O milagre econômico
A propaganda política na época de Garrastazu Médici realçava a idéia de grande
potência, de “Brasil Grande”, aproveitando o crescimento industrial de 1968 a 1973, a
era do “milagre econômico”. Desse modo, quando a propaganda política da
administração de Médici reiterava cansativamente o festejado “milagre econômico”, a
dívida externa era multiplicada em mais de três vezes. De acordo com Vieira (2000,
p.200) até mesmo o presidente da república rejeitava às vezes o chamado “milagre
econômico”, a ponto de num momento explicá-lo: o “milagre brasileiro tem um nome e
esse nome é trabalho”.
Na era do Regime Militar uma frase ficou conhecida de todos os brasileiros: “é
preciso fazer crescer o bolo e depois dividi-lo”, assim, comentava o então ministro
Delfim Neto. O bolo de fato cresceu, mas favorecendo a concentração de renda através
dos empresários que se beneficiaram do então regime.
Na era do “milagre econômico”, as condições de vida agravaram-se para os
trabalhadores. Os salários abaixaram e os reajustes salariais não eram proporcionais aos
duvidosos índices de produtividade real (cf. VIEIRA: 2000, p. 200).
No final de 1973, esse “modelo”, de acordo com Alencar (1996, p.402)
começaria a dar sinais de cansaço. O “milagre econômico” foi abalado pela diminuição
dos lucros em alguns setores, pela retração dos investimentos e por uma inflação que
repercutia diretamente no custo de vida”.
A crise do petróleo, ocorrida no início da década de 1970, revelou a fragilidade
do desenvolvimento brasileiro. A ascensão de Ernesto Geisel à presidência foi o ponto
culminante de uma campanha cuidadosamente orquestrada. De acordo com Skidmore
(1988, p.316) os castelistas havendo perdido o controle do Planalto em 1967 foram
mantidos a distância durante os governos de Costa e Silva e Médici. Não lhes foi fácil,
por isso, abrir caminho novamente para a reconquista do poder.
O general Ernesto Geisel, assumiu o poder em 1974, quando o Brasil
encontrava-se em sérias dificuldades econômicas e sociais. A ascensão de Geisel à
presidência foi o ponto culminante de uma campanha cuidadosamente orquestrada. Mas
trabalharam, conforme “SKidmore” (1988) com competência. Indicando o novo
general-presidente, conseguiram sólido consenso militar em torno do seu nome. Foi a
sucessão presidencial mais tranqüila desde 1964. Ainda de acordo com Skidmore
(1988) essa aparente tranqüilidade com a posse do general Geisel foi saldada com
expectativa pela elite. Esta se centrava na esperança de que Geisel controlasse o aparato
de repressão, especialmente os torturadores.
Outro momento oportuno e de grande relevância ocorreu em fins de fevereiro,
quando Geisel, como presidente-eleito, alimentou essas expectativas conferenciando
com o Cardeal Arns de São Paulo, conhecido crítico do governo por suas freqüentes
violações dos direitos humanos.
De acordo com Skidmore (1988), o otimismo aumentou quando, em meados de
março, Geisel prometeu “sinceros” esforços para o gradual, mas seguro,
aperfeiçoamento democrático, embora também tenha apropriadamente advertido que a
“segurança” era indispensável para assegurar o desenvolvimento.
1. 10 As eleições de 1974
Nas eleições parlamentares de 1974, o MDB funcionou como o canal de todas as
tendências sociais não beneficiadas nos anos anteriores e de setores desiludidos com o
fim do “milagre”. Ao contrário de 1970, quando milhões de votos foram anulados, este
partido recebeu uma votação maciça especialmente nos grandes centros urbanos. A
propaganda política na televisão e o fim da censura prévia com relação à imprensa
desempenharam um papel importante para as modificações operacionalizadas a partir de
então.
A mudança política do eleitorado brasileiro, em parte, buscava avançar mais no
caminho da democracia. Foi exatamente neste momento que o general Geisel procurou
outorgar duas emendas constitucionais conhecidas como “Pacote de Abril” de 1977.
As alterações provocadas por tais emendas constitucionais estabeleceram
escolhas indiretas para governos estaduais e 1/3 do Senado aparecerem os “senadores
biônicos”, preenchendo um terço de suas vagas por eleição indireta e alterou de 2/3
para maioria simples a exigência para a aprovação de emendas constitucionais no
Congresso Nacional (cf. Lopez:199, p.120). O “Pacote de Abril” de 1977 ainda
ampliou o mandato do Presidente da República de cinco para seis anos.
À medida que foi se aproximando do fim, o governo Geisel viu se articularem,
com cada vez mais coragem, as forças oposicionistas da sociedade civil. Forças que
pregavam a volta do Estado de Direito (fim do Ato Institucional nº 5 e leis correlatas), a
anistia política e a justiça social. Tais forças, entre as quais MDB, a Igreja Católica, os
sindicatos das áreas industriais mais adiantadas, a Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) etc. vieram a se constituir num elemento de pressão crescente e continuada,
exigindo em última análise, tempos melhores para toda a coletividade brasileira
(cf.LOPEZ: 1991, p.120).
Em janeiro o governo adotou uma medida conciliatória; suspendeu a censura
prévia em O Estado de S. Paulo, pouco antes das comemorações do centenário deste
jornal. Esta concessão pôs fim, pelo menos temporariamente, a uma áspera luta entre os
donos do jornal e o governo militar. Nenhuma das outras publicações sujeitas à censura
prévia Veja, O Estado de São Paulo, Pasquim, Opinião e Tribuna da Imprensa foi
retirada da lista. O governo fez um gesto limitado, típico do estilo de Geisel. Enquanto
isso, todas as demais publicações continuavam sujeitas a apreensão pela Polícia Federal
por ordem dos censores. Esta ameaça forçou os jornais a continuarem a prática da
autocensura que, de acordo com Skidmore (1988), o Estado de S. Paulo sempre se
recusara a fazer, mas com a qual agora concordava.
Fazendo uso das palavras de Skidmore
os censores mantiveram o poder de ordenar aos editores que não
publicassem certas matérias específicas. Neste ponto, a Folha de S.
Paulo, geralmente pró-governo, emergiu como poderosa voz da
oposição. Sob a chefia de Cláudio Abramo e Alberto Dines, o jornal
abriu suas páginas editoriais e de colaboração a conhecidos críticos do
governo militar. A partir daí, a Folha tornou-se a tribuna mais
importante para o debate nacional sobre a necessidade de reformas
políticas, econômicas e sociais de base. (1988, p.340)
Com o início do governo Figueiredo, em 1979, a tendência esboçada na fase
anterior se acelerou. O Presidente se viu constrangido a um comportamento declarado
com a causa liberal-democrática. A censura amainou, veio a anistia política, abriram-se
as prisões.
Entretanto, as pressões direitistas recrudesceram: houve atentados terroristas, um
Estatuto de Estrangeiros foi posto em vigor e o governo não teve como aceitar a volta
integral das prerrogativas do congresso, sob pena de não suportar os golpes dos
conservadores (cf. LOPEZ:1991, p.120 )
Ainda nesse governo percebeu-se o radicalismo de direita e de esquerda
vivendo-se momentos tensos ou até mesmo crítico, sendo necessária certa tolerância. A
situação se agravara pela perda de credibilidade no governo, acarretada pela inflação,
forte denúncia de corrupção, além de muitas mordomias.
1. 11 O governo militar em números
Ao mesmo tempo em que cometia atos de tortura, a ditadura se mostrava ao
povo como defensora dos direitos humanos, como guardiã da civilização cristã” contra
o “comunismo ateu”. Não sendo poucas as atrocidades cometidas, de acordo com
Chiavenato a ditadura
forjava depoimentos e quebrava de tal modo a resistência psicológica de
alguns presos que eles se apresentaram na televisão, durante o governo
Médici, como “terroristas arrependidos”, dizendo que eram bem
tratados e que a esquerda cometia atrocidades (2004, p.187)
Ainda de acordo com Chiavanato (2004), um balanço precário feito após o fim
oficial da Ditadura Militar Brasileira apresentam os seguintes resultados em relação às
vítimas desse período: 50 mil pessoas foram presas, 20 mil sofreram tortura, 320
militantes da esquerda foram mortos, outros 144 continuam “desaparecidos”.
Chiavenato (2004) ainda afirma que “no fim do governo de Geisel, existiam cerca de 10
mil exilados. As cassações atingiram 4.682 cidadãos. Foram expulsos das faculdades
243 estudantes”.
A partir da visão geral da época, veremos no próximo capítulo a fundamentação
teórica da Gramática Sistêmica Funcional (GSF) que sustenta este estudo.
Capítulo II: Lingüística Sistêmico-funcional
Neste capítulo apresentaremos as bases teóricas que norteiam esta pesquisa.
Enfocaremos a Gramática Sistêmico-Funcional a qual concebe a língua numa
perspectiva sociossemiótica. Centraremos nossas atenções na noção de contexto e
apresentaremos as três metafunções: a ideacional, a interpessoal e a textual,
responsáveis, de acordo com Halliday(1994) e seguidores, pela construção dos sentidos
no texto.
2.1 A gramática Sistêmico-Funcional
A Gramática Sistêmico-Funcional, idealizada por M.A.K. Halliday, tem seus
princípios teóricos definidos por Halliday (1978, 1985, 1994); Halliday & Hasan(1989);
Eggins (1994, 1997), Bloor e Bloor (1995), Halliday & Matthiessen(2004), entre outros.
Diferentemente das gramáticas tradicionais que concebem a ngua como um conjunto
de normas e têm uma perspectiva prescritiva, a Gramática Sistêmico-Funcional a
língua sob a ótica sociossemiótica (Halliday e Hasan, 1989:4), seria um produto
motivado pelo contexto sócio-cultural com foco no estudo da linguagem em uso. O
caráter semiótico da língua é atribuído uma vez que esta é concebida como “um sistema
de código convencionalizado, organizado como um conjunto de escolhas” (Eggins,1994
p.3) e caráter social, porque está voltado à preocupação com a relação entre ngua e
estrutura social.
Dessa forma, a língua constituirá produto motivado pelo contexto sócio-cultural
com foco no estudo da linguagem em uso. Nessa esteira de raciocínio, Halliday afirma
que
Cada texto – ou seja, tudo que é dito ou escrito – desenrola-se em algum
contexto de uso, mais ainda, são os usos da linguagem que nas últimas
dezenas de milhares de gerações têm dado forma ao sistema. A
linguagem desenvolveu-se para satisfazer as necessidades humanas; e a
forma que ela é organizada é funcional com respeito a estas
necessidades ela não é arbitrária. Uma gramática funcional é
essencialmente uma gramática ‘natural’ no sentido de que tudo nela
pode ser explicado, por último, pela referência de como a linguagem é
usada (1994, p. xiii)
5
Assim, tal abordagem concebe a língua como um produto motivado pelo
contexto sócio-cultural e a concepção de que o falante realiza uma escolha entre outras
possibilidades prováveis faz com que a língua tenha um caráter probabilístico. A
linguagem é, nessa perspectiva, tomada como uma atividade social e tem seu foco
voltado para o estudo da linguagem em uso.
O porquê de usar a linguagem e como fazer uso dela (HALLIDAY & HASAN,
1989; Eggins:1994) constitui o propósito da GSF. Para essa teoria, a linguagem
apresenta-se como uma prática social e é motivada por uma finalidade, um propósito
centrado em seu próprio uso. Em outros termos, para Halliday (1994) a linguagem
consiste de um conjunto de sistemas oferecendo ao falante opções de escolhas para
expressar significados, onde todos os níveis do discurso lexical, sintático e modal
5
Tradução do autor
operam e que nós usamos a linguagem de acordo com nossas experiências e para
interagir com as outras pessoas. Os sentidos da gramática têm interface com os
acontecimentos e condições do mundo e com os processos engajados socialmente. E
nossas experiências podem converter os processos sociais naquilo que chamamos de
fraseados (cf.HALLIDAY & MATTHIESSEN 2004).
Corroborando com essa idéia, Thompsom (1994) afirma que as escolhas
ocorrem não apenas em nível consciente, mas também em nível não consciente, no
entanto jamais aleatória de acordo com Halliday (1994).
Inevitavelmente tal concepção põe esta pesquisa em um âmbito também
probabilístico, uma vez ser possível criarmos, através da comparação entre escolhas
feitas pelo falante e motivadas pelo contexto, significados contextuais, de acordo com
Eggins (1994, p.3). A linguagem, dessa forma, seria a junção de uma rie de fatores:
contexto, conteúdo semântico, conteúdo lexicogramatical, expressão fonológica e
expressão fonética imbricados para construir sentidos.
Para Baptista (1998, p.19), esses contextos funcionam como ferramentas
fundamentais para o entendimento de um texto, uma vez que o texto e o contexto são
interdependentes (Thompson, 1996, p.9). Essa relação existente entre o texto e o
contexto constitui uma das principais preocupações apresentadas pela teoria da GSF
(Halliday & Hasan, 1989, p.47), pois é nela, como sabemos, que os significados são
produzidos e a partir disso, (Halliday e Hasan,1989, p.47) afirma que “o relacionamento
entre o texto e o contexto é dialético, o texto cria o contexto na mesma medida em que o
contexto cria o texto”. Percebe-se, dessa forma, o quanto o texto e o contexto são
intimamente ligados. Ainda segundo (Halliday e Hasan 1989, p.89) “a cada ponto
depois do início, o que veio antes fornece o ambiente para o que vem a seguir”, ou seja,
as situações são produzidas mediante outras situações provocadoras, de modo
interdependente.
Os contextos, responsáveis pelas escolhas efetuadas pelo falante/escritor,
podem,consoante a situação, ser classificados de duas formas: contexto de situação, o de
uso, e o contexto geral.
2.2 Contexto de situação
O contexto de situação diz respeito ao ambiente no qual os significados são
construídos, em outros termos, descrevem o contexto imediato da situação da qual o
texto foi produzido. Halliday (1989, p.12) estabelece três variáveis específicas do
discurso ─ o que ele chama de variáveis de registroo campo, as relações e o modo.
O Campo (Field) diz respeito ao que está acontecendo; à natureza da
ação social. No caso de nossa pesquisa teríamos como campo o Governo
de 64 e o Processo de Redemocratização.
As Relações (tenor) dizem respeito a quem participa do evento, ou
melhor, aos status e papéis e os tipos de relacionamentos existentes entre
eles.
O Modo (mode) diz respeito à forma como a língua atua no processo
de comunicação.
Esses três elementos de acordo com Eggins (1994, p.78), citado por
Halliday(1985), realizam-se em três metafunções - a metafunção experiencial, a
interpessoal e a textual –a serem discutidas mais adiante, ainda neste capítulo tais
elementos ou dimensões de variação, de acordo com Thompson (1994, p.36), nos
permite observar quem está falando, o que está sendo falado, e de que modo o que está
sendo dito é falado como pode ser observado no quadro resumitivo que segue:
Campo (field) O que é falado
Relações (tenor) Quem está falando
Modo (mode) Como o que é dito é falado
Quadro I: Três variáveis do discurso
2.3 Contexto social
Halliday, em Halliday e Hasan (1989:38), ao referir-se ao contexto social, afirma
que pessoas e suas manifestações lingüísticas de gênero, podem ser deduzidas, isto é,
para tal autor ao fazermos deduções textuais interpretando a ngua, fazemos de modo a
ter sentido dentro de nossa cultura. Essa dedução é o que podemos chamar de gênero
textual “é um tipo de atividade com propósito seqüenciado em estágio a qual a língua
está sendo usada para atingir” (Eggins: 1994)
Para Thompson (1996, p.22), gênero refere-se a “o que os interactantes estão
fazendo através da linguagem, e como eles organizam o evento da linguagem a fim de
alcançar esse propósito” a visão de gênero da GSF, bem como a caracterização do
gênero editorial será abordada mais adiante.
2.4 As metafunções
Consonante com Halliday (1994), os sentidos são produzidos a partir de três
metafunções aqui listadas: a interpessoal, a função textual e a função ideacional como
será conferido a partir de agora.
2.4.1 A metafunção interpessoal
Halliday (1994) afirma ser a metafunção interpessoal a responsável por
estabelecer a interação entre os atores, além de estabelecer os papéis da fala. Para a
Sistêmica Funcional, os interlocutores assumem como papel básico os atos de oferecer e
pedir informação. Nessa linha de raciocínio, o ato de “oferecer” torna o outro
“convidado” a “receber” e “pedir”, conseqüentemente, coloca o outro na posição de
“obrigado a dar”. Ainda de acordo com Halliday (1994), o ato de fala é uma troca, em
que oferecer implica, necessariamente, receber, e ordenar, por sua vez, implica dar algo
em troca. Para este autor, toda e qualquer interação acontece dentro do movimento de
oferta ou pedido de informação e oferta ou pedido de bens e serviços.
Tais movimentos determinarão as quatro funções da fala definidas por
Halliday(1994)
Oferecimento e ordem para bens e serviços
Declaração e interrogação para informação
Pressupõe-se, como respostas, aceitar ou recusar a oferta, cumprir ou descumprir
a ordem, concordar ou discordar da declaração e responder ou não a pergunta.
Essa visão de papéis e funções da fala pode ser melhor observada no quadro que
segue:
FUNÇÃO DA FALA PAPEL DA FALA
RESPOSTA
PRESSUPOSTA
Oferecimento Oferecer bens e serviços Aceitar ou recusar
Pedido Pedir bens e serviços Cumprir ou rejeitar o
pedido
Declaração Oferecer informações
Concordar ou discordar
da declaração
Interrogação Pedir informações
Responder ou ignorar a
interrogação
Quadro II: Funções e papéis da fala, baseado em Halliday (1994)
2.4.2 A metafunção textual
A metafunção textual refere-se à organização das informações no texto e sua
adaptação ao veículo que irá transmiti-lo. Assim, de acordo com Halliday (1994) essa
metafunção seria a grande responsável pela organização da mensagem veiculada numa
oração, e conseqüentemente no texto, considerada como sendo o autêntico produto da
interação social como visto pela GSF.
Halliday (1994) organiza a oração em duas partes combinadas ente si para
formar a mensagem: o tema que corresponde aos primeiros elementos, os já conhecidos,
ou seja, os já enunciados e o rema, não enunciado, o restante da oração.
O tema corresponde aos primeiros elementos enunciados na oração e funciona
como demonstrativo da idéia tratada na mensagem, assim quando há alteração nos
elementos que ocupam a posição temática, conseqüentemente, haverá alteração no
significado da mensagem.
A escolha do tema numa oração não se de modo aleatório, mas centrado nas
escolhas feitas e, dessa maneira, reflete os propósitos e intenções do falante/escritor.
Nessa perspectiva, o rema constitui a novidade, o restante da oração e sua formulação e
sentido está diretamente relacionada à identificação do tema. Em outros termos, a ordem
direta ou indireta da oração é determinante para a produção de sentido veiculado por
ela, uma vez que tal escolha proporciona aos interlocutores indicação, direcionamento
das idéias expostas.
Halliday (1994) enfatiza que esses componentes e funções estão interligados e
que para compreendê-los precisamos vê-los conjuntamente, olharmos o todo sob
diferentes perspectivas, fazendo com que cada uma delas contribua para a interpretação
total. Essa postura nos conduz para uma visão paradigmática e para o princípio de
organização da língua, segundo a qual, conforme Halliday,
uma linguagem é interpretada como um sistema de
significados, acompanhados de formas através das quais os
significados podem ser concluídos. A questão é mais ou
menos: “como esses significados são expressos?”. Isto
coloca as formas de uma linguagem em uma perspectiva
diferente: como meios para um fim ao invés de um fim
nelas mesmas. (1994:xiv)
2.4.3 A metafunção ideacional
A metafunção ideacional, de acordo com Halliday (1994), é responsável por
codificar nossa experiência de mundo e cria uma espécie de representação da realidade.
Assim, esta metafunção é subdividida em_ experiencial e lógica.
A metafunção experiencial é responsável pelos recursos de que a língua
disponibiliza para nomear entidades do mundo, dessa forma, é possível analisar as
opções feitas pelo autor/produtor para representar a si e às entidades a que se refere em
sua produção.
a lógica caracteriza-se pela representação de escolhas lexicogramaticais
diretamente envolvidas na construção do sentido. E a realização feita dessas
representações se por meio do sistema de transitividade, sobre o qual falaremos a
seguir.
É oportuno ressaltar que apesar de reconhecer que essas três metafunções
operem juntas, na construção do sentido do texto, como frisa Halliday & Mattiessen
(2004), deter-nos-emos nossas atenções voltadas, para efeito deste estudo, para a
metafunção ideacional. E por meio da análise do sistema de transitividade, objetivamos
identificar e analisar a representação do Golpe de 64 no Brasil e o processo de
Redemocratização a partir das escolhas feitas dos processos utilizados em editoriais
publicados no jornal Diario de Pernambuco.
No próximo capítulo discutiremos o aspecto lingüístico que fundamentará nossa
análise, o Sistema de Transitividade e os processos verbais.
Capítulo III: Sistema de Transitividade: os processos em
ação
Neste capítulo apresentaremos o Sistema de Transitividade a partir da metafunção
Ideacional. Enfocaremos os processos materiais, mentais, relacionais, comportamentais,
verbais e existenciais como também cada um de seus participantes e, em seguida,
fazemos considerações sobre as circunstâncias relacionadas a esses processos..
3.1 Sistema de Transitividade
Transitividade é a categoria léxicogramatical relacionada ao componente
ideacional da Gramática. Ela “constrói a experiência de mundo” (HALLIDAY,1994
p.106) referente à representação das idéias, das experiências humanas. Tal visão é
ratificada por Eggins (1994, p.228) quando afirma ser o sistema de transitividade a
representação do mundo, das experiências num conjunto gerenciável de tipos de
processos.
Para Halliday esse sistema constitui:
Nossa mais forte impressão da experiência é que ela consiste do que
está se passando - acontecendo, fazendo, sentindo, querendo dizer, e
ser e tornar-se. Todos esses acontecimentos o demonstrados na
gramática da oração. Desta forma bem como sendo um modo de
ação, o dar, o exigir bens e serviços e informações, a oração
também é um modo de reflexão, de impor ordem na avaliação
infinita e fluxo dos acontecimentos. O sistema gramatical através do
qual isto é conseguido é transitório. O sistema de transitividade
constrói um mundo de experiência dentro de um ato gerenciável de
tipos de processos.
(1994, p. 106)
Três elementos constituem o sistema de transitividade: o processo; os
participantes do processo e as circunstâncias associadas ao processo:
O processo é representado por um grupo verbal e diz respeito à
própria ação, ou ao estado;
Os participantes são representados, geralmente, por grupos nominais
e são aqueles que realizam as ações ou são por elas afetadas.
Finalmente, as circunstâncias, que são representadas por grupos
adverbiais e têm como função trazer maiores informações às ações
representadas pelos processos.
O sistema de transitividade pode ser melhor observado na figura abaixo:
Processos
Grupo
Verbal
Figura 1: Sistema de Transitividade baseada em Halliday
& Mattiensen (2004)
Os processos estão divididos em seis tipos (Eggins,1994, p.228) e dizem respeito
à escolha verbal que está sendo feita na sentença, conforme as figura que seguem,
adaptadas de Eggins (1994, p.228-237), e envolvem, como visto acima,
participantes e circunstâncias.
Material
pr: material; Ator; (+Meta) (+Extensão) (+Beneficiário)
mental
pr: mental; + Experienciador; +Fenômeno
verbal
pr: verbal; Dizente (+Rceptor) (+Verbiagem)
comportamental
pr: comportamental;+Comportante; (+Comportamento) (Fenômeno)
existencial
Oração
pr:existencial: Existente
identificativo
PR: identificativo; + Característica; +
Valor
relacional
atributivo
pr:atributivo; Portador: + Atributo
Circunstância
Circustância
Sem circunstância
Figura 2: Sistema de Transitividade (Eggins,1994, p.228)
As circunstâncias, por sua vez, podem ser de diferentes tipos, conforme esquema a
seguir:
duração (temporal
Extent distância (espacial)
Causa
Tempo (temporal)
Location
lugar (espacial)
circunstância
Matter
means
Manner quality
comparison
Role
rason
Accompaniment purpose
behalf
Figura 3: Circunstâncias (Eggins,1994,p.237)
3.2 Processos
Como visto na figura 2, os processos existentes são de seis tipos: material,
mental, relacional, comportamental, verbal e existencial. Segundo Halliday (1994,
p.107) os três primeiros processos, isto é, o material, o mental e o relacional são
considerados principais, enquanto os outros, ou seja, o comportamental, o verbal e o
existencial são vistos como intermediários, por funcionarem como interface entre
um processo primeiro e outro.
Assim teríamos
o processo comportamental, que representa nossas manifestações exteriores
dos funcionamentos internos, a atuação dos processos de consciência e dos
estados fisiológicos – como sendo uma fusão entre as características do
processo material e mental,
o processo verbal que representa relações simbólicas construídas na
consciência humana e repetida na forma da linguagem, como dizer e
significar” – como fusão entre as características do mental e do relacional
o processo existencial que tem a ver com a existência, através do qual
fenômenos de todos os tipos são reconhecidos como ser, existir ou acontecer
(Halliday,1994, p.107) como fusão entre as características do relacional e
do material.
Apesar dessa relação, Halliday chama a atenção para o fato de que
...não há prioridade entre um tipo de processo sobre outro. Mas eles
(processos) são ordenados e o que é importante é que em nossa
visual metáfora concreta eles formam um rculo e não uma linha...
nosso modelo de experiência quando interpretado através do
sistema gramatical da transitividade é uma das regiões dentro de um
espaço contínuo; porém a continuidade não está entre os dois pólos,
ele está na forma de um laço...
(1994, p.107)
No propósito de evidenciar tal construção, Halliday (1994, p.107) faz uso de
uma metáfora, faz comparação com o disco de cores onde mostra as cores vermelha,
azul e amarela, como cores primárias e o roxo, o verde e o laranja ao longo das bordas;
não como um espectro físico com o vermelho numa ponta e o violeta na outra. É
possível perceber que a intenção de mostrar a linearidade dessa relação intermediária
existente entre os processos, como já vimos antes. O diagrama a seguir, evidencia tal
idéia:
Figura 4: Tipos de processo em Inglês. (Halliday, 1994
4
)
É importante observarmos ainda que não existe prioridade alguma de um tipo de
processo sobre outro. Aliás, esses processos são organizados de modo ordenado; e o que
é importante é o fato de que, nessa metáfora visual concreta, os processos, no caso as
cores, formam um círculo e não uma linha, onde hierarquia de posição e prioridade,
como já dito.
3.2.1 PROCESSOS MATERIAIS – o do fazer
4
Apud SOUZA, M.M. (2006)
Os processos materiais, um dos três principais, são aqueles responsáveis pelo
fazer. Denotam ações como trazer, transferir, buscar, circular e apresentam
necessariamente uma entidade que faz algo.
Nesse processo, considerado por Halliday (1994) como o primeiro dos três
processos principais, contamos com dois participantes principais: o Ator e a Meta.
Ator corresponde ao sujeito lógico da oração - aquele que realiza a ação,
propriamente dita. No processo material sua presença é obrigatória. De acordo
com Thompson(1996, p.78) “todo processo tem um ator, mesmo que este não
seja mencionado na proposição.
Meta é o participante a quem o processo é dirigido. Eggins (1994, p.31)
observa que Meta corresponde, na Gramática Tradicional, ao papel desepenhado
pelo objeto direto
Outros dois Participantes:
Além do ator e da meta, ainda dois outros participantes: a Extensão que
não é exclusivo do processo material, podendo ocorrer com outros tipos de processos
e o Beneficiário.
Extensão não é afetado, como a Meta, pela ação verbal, mas
complementa a ão especificando-a. De acordo com Eggins (1994,
p.233) a Extensão apresenta duas funções nos processos materiais: 1) a
de reafirmação, ou continuação do processo ou 2) a de definição de seu
escopo. Eggins (1994) chama a atenção para a dificuldade em fazer
distinção entre Extensão e Meta, apesar disso ser imprescindível. Na
terminologia clássica estes elementos são vistos como transitivo e
intransitivo, dos quais deriva-se o termo transitividade.
Beneficiário como o próprio nome sugere, é o participante que se
beneficia das ações realizadas pelo autor, ou seja, aquele para quem
alguma coisa é feita. “Não são necessariamente eventos, fenômenos
físicos e concretos, podem ser fazeres e acontecimentos abstratos”
Halliday (1994:111)
3.2. 2. PROCESSOS MENTAIS – o do sentir
Os processos mentais são definidos como os processos condizentes com o sentir. De
acordo com Thompson (1996, p.82) estes são relativos à representação do nosso mundo
interior. Como lidam com a apreciação humana do mundo, é possível, através de sua
análise, detectar as crenças e valores representados nos textos.
Halliday (1994) divide esses processos em três subtipos:
mentais de cognição - os relacionados à decisão de compreensão
como pensar, saber, compreender, perceber, decidir, imaginar,
entender, etc.
os de percepção relacionados à observação de sentido como
sentir, ver, perceber, ouvir,etc.
processos de afeição, relacionados aos sentimentos, a idéia de
gostar, amar, agradar, odiar, etc.
Existem apenas dois participantes para esse tipo de processo:
Experienciador – aquele em cuja mente o processo de sentir se realiza, e o
Fenômeno – elemento compreendido, sentido ou percebido pelo experienciador.
Thompsom (1998, p. 82) chama a atenção para as diferenças existentes, em
língua inglesa, entre os processos materiais que retratam o mundo exterior, aquele
percebido por nós socialmente e os processos mentais que retratam as ações do
mundo interior, aquele relacionado a nossa percepção, ao mundo particular, e afirma
que tais diferenças têm justificativa gramatical.
Alguns critérios de diferenciação entre os Processos materiais e Mentais são
apontados por Halliday (1994, p.114). Desse modo teríamos:
1) o critério da utilização dos tempos verbais
Para tal critério é feita a utilização dos tempos marcados e não marcados, que
segundo Eggins (1994:296), significam “não-usual, atípico” e “usual, típico”,
respectivamente. No caso dos Processos Materiais, o presente contínuo é o tempo não
marcado, ao passo que, para os Processos Mentais, é o presente simples o tempo não-
marcado.
2) O número de participantes
Para Halliday (1994, p.115) o participante pode ser representado por um número
maior de entidades, podendo ser não uma pessoa, um objeto concreto ou abstrato,
como nos Processos Materiais. Pode ser representado por um fato, que para Thompson
(1998, p.82) constitui uma oração tratada como uma coisa
3) A natureza dos participantes
O Experienciador, participante desse processo, pode ser de natureza humana,
exceção feita a personificações em que se atribui ao ser personificado caráter de
consciência. Isso dá ao Experienciador a capacidade de criação de um mundo interior.
Ao contrário do que ocorre com os Processos Materiais, em que não atribuição de
consciência às entidades, mesmo que personificadas, estas apenas apresentam a
capacidade de realizações do mundo físico.
No processo material todo participante é uma coisa, ou seja, é um fenômeno de
nossa experiência interior ou imaginação alguma entidade (pessoa, criatura, objeto,
instituição ou abstração), ou alguns processos (ação, evento, qualidade, ou relação)
qualquer uma dessas coisas pode ser objeto da consciência em um processo
mental.Halliday (1994, p.115)
4) A reversibilidade
No critério da reversibilidade, o fenômeno pode ou não ocupar a função de
sujeito e esse fato não interfere no papel dos Participantes.
3.2. 3 PROCESSOS RELACIONAIS - o do ser
O terceiro principal Processo é considerado por Halliday como sendo o do ser.
Este Processo relaciona duas entidades no discurso, identificando-as ou classificando-
as. Segundo Halliday (1994, p.119) as línguas, de modo geral, acomodam formas
sistemáticas de realização dos processos relacionais. Para este autor, três são as
principais:
Intensivo = quando uma qualidade é atribuída a uma entidade. Neste caso
tem-se a estrutura X é (ou está) A
Circunstancial = quando uma circunstância de tempo ou lugar é atribuída a
uma entidade, representada por X é (ou está) em A (preposição em pode ser
substituída por outra)
Possessivo= indica uma relação de posse, é representado pela seguinte
estrutura X tem (ou possui) A
Cada uma das orações com Processos Relacionais pode ser classificada de dois
modos:
Atributivas: existem nessas orações a atribuição de uma qualidade
realizada pelo participante (Atributo) ao primeiro participante, o Portador
pode ser representado da seguinte forma: A é atributo de X. Esse
processo não é reversível, porque apenas um participante nominal
independente: o Portador
Identificativas: nessas orações a identificação ou definição de uma
entidade através de outra (Thompson, 1996, p.87). Essas orações
possuem dois tipos de participantes:
o identificado - que é o alvo da definição e
o identificador – que é o elemento definidor
Como no processo relacional identificativo, uma relação de igualdade,
diferentemente dos intensivos atributivos, eles são reversíveis e, de acordo com
Thompson (1998), é possível definir a direção desse Processo de identificação. Dessa
forma, em toda classificação há um elemento geral Valor e um específico –
Característica.
Os processos relacionais circunstanciais operam de forma muito próximo dos
intensivos. Um dos participantes desse Processo é substituído por um elemento
circunstancial. No circunstancial atributivo, o elemento circunstancial ocorre na posição
de atributo. No caso dos circunstanciais atributivos são reversíveis.
Os Processos relacionais possessivos apresentam uma relação de propriedade.
Eles apresentam dois participantes: o Possuidor e o Possuído. Os dois podem ser
classificados de dois tipos: intensivos ou identificativos. Os Possessivos intensivos não
são reversíveis, os identificativos sim. No entanto, ao utilizarmos a forma inversa,
aparece na oração a forma verbal ser, como observado no exemplo abaixo:
José tem a fita
Part.
Possuidor proc. Possessivo part. Possuidor
Transpondo a oração para a ordem inversa teremos a estruturação com o verbo
ser, como se tem abaixo:
A fita é de José
Em suma, têm-se seis Processos Relacionais, conforme se observa no quadro a seguir:
TIPO/MODO ATRIBUTIVO (2) IDENTIFICATIVO
(1) Intensivo Você é muito importante [nós] somos a melhor
A melhor somos nós
(2) Circunstancial A feira acontece à terças-
feiras
Amanhã é dia 10
O dia 10 é amanhã
(3)Possessivo Aqui você tem descontos e
vantagens
José tem a fita
A fita é de José
Quadro III: Tipos de Processos Relacionais (adaptado de Halliday, 1994, p. 119)
3.2. 4 PROCESSOS COMPORTAMENTAIS – o do comportar-se
Estes são os processos do comportar-se, englobam comportamentos físicos e
psicológicos realizados de forma simultânea, estão entre os Mentais e os Relacionais
(Halliday, 1994:139) e são responsáveis pela construção de comportamentos humanos.
Por estarem situados entre esses dois processos, apresentam traços comportamentais
como olhar, assistir, etc. mais próximos das ações Mentais e outros como dançar,
respirar, deitar – mais próximos das ações Materiais.
O processo Comportamental tem obrigatoriamente um participante que realiza a
ação figura animada ou personificada o Comportante, como principal. E outro,
Behaviour, como um participante opcional.
3.2. 5 PROCESSOS VERBAIS – o do dizer
São os de dizer, podem ser também definidos como o Processo de comunicar. Eles
estão na fronteira entre os Mentais e os Relacionais. Para Halliday, os verbais não
precisam possuir um participante humano, por isso Halliday e Matthiessen (2004)
afirmam que tais processos podem também ser definidos como os de simbolizar.
Os processos verbais apresentam quatro participantes:
O Dizente – que realiza a ação, aquele que diz, que comunica;
O Receptor – aquele para quem a mensagem, a ação é direcionada
O alvo – a entidade atingida pelo processo.
A verbiagem – o participante que codifica o que é dito ou comunicado, ou seja, é a
mensagem propriamente dita.
3.2. 6 PROCESSOS EXISTENCIAIS – o do existir
O último dos Processos está situado entre os relacionais e os materiais, é
realizado tipicamente pelos Processos haver, existir, e ter, mas em alguns contextos
outros Processos como surgir, emergir, ocorrer podem ser considerados existenciais. Há
apenas um participante, o Existente
De modo resumido, temos o seguinte quadro traduzido de Halliday.
PROCESSOS
CATEGORIA DE
SIGNIFICADO
PARTICIPANTES
MATERIAL
Ação
acontecimento
Fazer
Fazer
Acontecer
Atuante
objetivo
COMPORTAMENTAL
Comportar-se Pessoa que se comporta
indivíduo /ator
MENTAL
Percepção
Afeição
Cognição
Sentindo
Vendo
Sentindo
Pensando
Aquele que sente o
fenômeno
VERBAL
Dizendo Aquele que diz o alvo
RELACIONAL
Atribuição
identificação
Sendo
Atribuindo
Identificando
Portador, atributo,
identificado, identificador,
toque e valor
EXISTENCIAL
Existindo existente
Quadro IV: Resumo dos tipos de Processo - Traduzido de Halliday (1994:143)
As dificuldades de se identificar os tipos de Processos parecem constituir uma
situação comum aos pesquisadores, como pode ser comprovado na passagem abaixo
Chierchia, (2003), (apud SOUZA: 2006):
...a distinção entre eventos, processos e estados não é uma distinção de natureza
física. O mesmo fenômeno, por exemplo, o girar da terra ao redor do sol, pode
ser visto como um processo (o girar), como um evento télico (o completar uma
revolução) ou como um estado (estar em órbita). Tratas-se de uma distinção
inerente à gramática e, mais especificamente, às determinações que a gramática
estabelece sobre o modo como nos referimos aos fenômenos do mundo exterior.
Podemos pôr em foco este ou aquele aspecto da realidade, construir esta ou
aquela classe. Mas as escolhas que podemos fazer a esse respeito não parecem
variar arbitrariamente. Ao contrário, parecem ser bastante limitadas e
repetitivas.(2003,
p.538
Como bem frisado por Souza (2006), embora limitadas, essas escolhas revelam
significações que podem estar encapsuladas na própria construção sintática.
No capítulo seguinte apresentaremos uma visão geral dos gêneros textuais e
caracterizaremos o gênero editorial, nosso objeto de pesquisa.
Capítulo IV: Gênero textual: particularidades e
desafios
Neste capítulo traremos uma visão geral dos gêneros textuais, assim como a visão de
gênero como produtor de fatos sociais. Em seguida, traçaremos uma visão geral dos
estudos dos gêneros numa perspectiva sistêmico-funcional a partir dos pressupostos
teóricos de Halliday e Hassan (1989). No último momento deste capítulo
caracterizaremos lingüístico-discursivamente o gênero editorial, nosso objeto de
pesquisa, à luz das teorias de Melo(1985).
4.1 Correntes de estudos dos gêneros
O estudo dos gêneros textuais constitui hoje, nas pesquisas lingüísticas, um
imprescindível mecanismo para entendimento, cada vez mais significativo, sobre como
funcionam os textos em função da sociedade em que circula, pois como afirma
Bazerman (2004, p.310) a produção de neros textuais é também uma produção de
“fatos sociais”. Tal estudo, nas palavras de Marcuschi (2004), representa uma fértil área
interdisciplinar com atenção especial para a linguagem em uso e para as atividades
culturais e sociais. Mas é importantíssimo atentar para o fato de que, ainda segundo
Marcuschi (2004)
5
, é possível se ter condições reais de análise e entendimento
Desde que o concebamos os gêneros como modelos estanques
nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e
cognitivas de ação social corporificadas de modo particular na
linguagem, temos de ver os gêneros como entidades dinâmicas.
6
Bazerman (2006) apresenta o gênero como constructo além da estrutura formal,
para este teórico o gênero constitui um meio de agência e como tal não é possível, em
nenhuma situação, ser considerado fora da ação ou situação em que é formado. Ainda
para Bazerman
Gêneros não são apenas formas. Os gêneros são formas de vida, modos
de ser. São frames para ação social. São ambientes para a
aprendizagem. São os lugares onde o sentido é construído. Os gêneros
moldam os pensamentos que formamos e as comunicações através das
quais interagimos. Gêneros são os lugares familiares para onde nos
dirigimos para criar ações comunicativas inteligíveis uns com os outros
e são os modelos que utilizamos para explorar o não-familiar.
(2006, p.
23)
Partindo desse princípio é que se pode entender o estudo e análise dos gêneros,
hoje, não mais como uma tentativa de classificação, mas como uma forma dinâmica,
estabelecida pelas mudanças sociais, sendo imprescindível se observar e compreender
5
Programa e ementa do curso Gêneros Textuais. [mimeo]
6
Grifos do autor
sua relação com a história, a cultura e a sociedade. É apenas considerando esse contexto
que se pode visualizar como se o surgimento de novos gêneros e, o conseqüente e
inevitável, desaparecimento de outros
É oportuno ressaltar, ainda apoiando-nos em Bazerman (2006) que não apenas
os gêneros mudam, mas que “mudam também a forma como os leitores aplicam suas
expectativas de gênero; cada texto transforma a paisagem das expectativas genéricas”
4.2 Gênero na GSF
A análise dos gêneros proposta pelos estudos realizados pela Gramática
Sistêmico-funcional observa como a cultura e as experiências são refletidas nos textos e
a análise, por sua vez, é direcionada para textos usados em instituições específicas como
a religiosa, a educacional, a jornalística, etc. É nesse contexto que situamos o gênero
editorial
Para Kress (1985), que define gêneros a partir da orientação sugerida por
Bakhtin, os gêneros apresentam formas e significados específicos oriundos das funções,
dos propósitos, e dos significados das situações sociais. Assim sendo, os mais diversos
gêneros constituem um índice preciso das situações sociais mais significativas para uma
comunidade numa época determinada. Ainda para este autor, os gêneros são efetivados
através da linguagem e esse processo de efetivação dos gêneros na linguagem é
mediado pela realização do registro (cf. EGGINS,1995). O registro está relacionado à
situação imediata de realização do texto e é organizado pelas metafunções ideacional,
interpessoal e textual.
É partindo da concepção de que os gêneros textuais são formas socialmente
sancionadas de organizar e controlar as atividades sociais” que analisaremos os
editoriais objetos de investigação desse estudo.
4.3
Gênero Editorial
O editorial é um gênero da esfera discursiva do jornalismo, trata-se, de acordo
com Melo(1985, p.79), de “um gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da
empresa jornalística sobre os fatos sociais de maior repercussão no momento”. Para esse
autor,
nas sociedades capitalistas, o editorial reflete não exatamente a
opinião dos seus proprietários nominais, mas o consenso das
opiniões que emanam dos diferentes núcleos que participam da
propriedade da organização. Além dos acionistas majoritários,
financiadores que subsidiam a operação das empresas, existem
anunciantes que carreiam recursos regulares para os cofres da
organização através da compra de espaço, além de traços do
aparelho burocrático do Estado que exerce grande influência sobre
o processo jornalístico pelos controles que exerce no âmbito fiscal,
previdenciário, financeiro.
(1985, p.79)
Para Beltrão, o editorial
[...] tem sempre de tomar partido, pois sua finalidade é aconselhar e
dirigir as opiniões dos leitores. Não se pode reservar: tem de
decidir-se. O jornal está, por essência, comprometido a dizer em
voz alta o que pensa. Eis porque se deve culpá-lo pelo seu silêncio...
Está-lhe vedado dar o silêncio por resposta ao interrogatório da
atualidade, ou dar uma resposta ambígua. A ambigüidade é excusa
de mau pagador. Ou medo à verdade. O ceticismo da acomodação.
O jogo bonito de não comprometer-se, de expor os prós e os contra,
embora sem desatar o da dúvida, pode resultar engenhoso, mas
adoece de estéril... Os editoriais insignificantes e fora de compasso
são uma escamoteação à boa dos leitores que os lêem com ânimo
de encontrar em suas linhas o caminho
(1980, p.60)
.
É importante ressaltar que o editorial é um gênero com características peculiares,
pois escrito por um editor, responsável por produzir um texto adequado aos valores
defendidos pelo jornal, sem assiná-lo pelo fato deste gênero se tratar de uma opinião
emitida pelo jornal e não deste profissional que o produz. A partir dessa produção surge
a discussão em torno de a quem se dirige o editorial. Para Melo (1985, p.80), no caso da
sociedade brasileira, que não possui uma opinião pública autônoma, os editoriais,
“embora se dirijam formalmente à opinião pública, na verdade encerram uma relação de
diálogo com o Estado”. Embora essa posição não seja comprovada em nosso corpus.
A leitura de editoriais em jornais diários, por exemplo, inspira-nos a
compreensão de que as instituições jornalísticas procuram dizer aos dirigentes do
aparelho burocrático do Estado como gostariam de orientar os assuntos públicos. E não
se trata de uma atitude voltada para perceber as reivindicações da coletividade e
expressá-las a quem de direito. Significa muito mais um trabalho de ‘coação’ ao Estado
para a defesa de interesses dos segmentos empresariais e financeiros que representam.
(Melo, p.1985)
Para as instituições jornalísticas, o gênero editorial tem uma grande importância
por causa do papel que cumpr, o de dialogar com o Estado apesar desta característica
não tenha sido constatada em nosso estudo. Melo (1985, p.133) ressalta a importância
apresentada pelo editorial comparando-o a um meio de diálogo com os “donos do
poder” e não a um guia para o público.
No Brasil, ainda segundo Melo (1985), os gêneros jornalísticos são agrupados
em duas categorias: informativa e opinativa. Na categoria informativa estariam as notas,
notícias, reportagens e entrevistas, já na opinativa estariam os editoriais, os comentários,
os artigos, as resenhas, as colunas, as crônicas, as caricaturas e as cartas.
É importante ressaltar que a opinião é uma característica evidenciada não apenas
nos textos da categoria opinativa, mas também na primeira categoria, na informativa,
pelo fato de não haver uma realidade objetiva a ser descrita.
Em relação à suposta neutralidade existente nos textos, Koch (1999, p. 19) faz a
seguinte afirmativa
“... a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção
mais ampla do termo. A neutralidade é apenas um mito: o discurso
que se pretende “neutro”, ingênuo, contém também uma ideologia
─ a da sua própria objetividade”.
Nesse mesmo direcionamento, Melo (1985, p.73) argumenta que os meios de
comunicação, responsáveis pelas mensagens que penetram na sociedade, constituem
“veículos que se movem na direção que lhes é dada pelas forças sociais que os
controlam e que refletem também as contradições inerentes às estruturas societárias em
que existem”, ou seja, não existe, como querem mostrar os meios de comunicação, uma
língua transparente, capaz de traduzir de modo objetivo e também transparente a
realidade que nos cerca, afinal uma das características inerentes da língua é a opacidade.
Existe, sim, na categoria opinativa, onde o gênero editorial está inserido, uma
manifestação das expressões ideológicas e uma manifestação argumentativa mais
acurada. Quanto a isso Rebelo (1999, p.39) afirma que “os propósitos do jornalismo são
complexos”, pelo fato das explicações e interpretações das narrativas e descrições feitas
pelos jornalistas serem construídas de modo a provocar direcionamento na visão dos
leitores.
4.3.1 Classificação do Gênero Editorial
Melo (1985, p.82) em sua classificação do texto opinativo segue a proposta
sugerida por Beltrão. Dentre as características enumeradas, Melo aponta a
impessoalidade, a topicalidade, a condensabilidade e a plasticidade como as
características específicas do editorial.
A impessoalidade deste gênero seria conferida por alguns traços específicos
como a não assinatura da matéria, que, diferente de outros textos, o editorial
veiculado no jornal é um texto que não apresenta assinatura de nenhum jornalista ou
editor.
Outro traço observável nesse gênero é a escrita na terceira pessoa do singular ou
na primeira pessoa do plural. Melo (1985) afirma ser essa uma característica inerente ao
gênero, uma vez que este deixou a esfera individual ou familiar e passou a uma esfera
mais complexa.
A topicalidade, de acordo com os estudos de Melo (1985, p.82), seria uma nova
postura adotada pelo jornalismo brasileiro. A contemplação de temática única em
detrimento da prática corrente no passado, anterior ao período estudado nesta pesquisa,
ou seja, anterior à década de 60, que trazia a abordagem de vários temas em um mesmo
texto.
De acordo com Souza (2006) a prioridade de temática única, nos editoriais,
possibilitou precisão aos propósitos dos textos publicados e, a partir de então, como
conseqüência, surgiria a prática da produção de mais de um editorial, como pode ser
largamente observada em alguns jornais da atualidade, como a Folha de São Paulo, ou
mesmo o próprio Diario de Pernambuco na década de 70, por exemplo
7
.
Quanto à terceira característica, a da condensabilidade, a exemplo da
topicalidade, surgiu como efeito da necessidade dos tempos modernos em expressar-se
em menor espaço de tempo possível (Melo 1985). Assim, a rotina dos grandes centros
exigia editoriais claros e breves para serem lidos, modificando, dessa forma, a estrutura
genérica desse texto.
a plasticidade, a quarta característica do editorial, segundo Melo (1985)
“decorre da própria natureza dos fenômenos jornalísticos”. Assim, os fatos jornalísticos,
evidentemente, por razão de não serem estáticos, uma vez que acompanha o que
acontece a cada instante na sociedade, exige do jornalista, do veículo de comunicação,
postura de acompanhamento para o direcionamento característico dos gêneros dessa
esfera discursiva. Na voz de Melo (1995) E, se lhe cabe valorar os fatos que estão
acontecendo, pois é indispensável acompanhar o ritmo dos próprios fatos e apreendê-los
nos seus desdobramentos, nas suas variações”.
7
Nos jornais Diario de Pernambuco de 1974, era possível identificar mais de um
editorial publicado no mesmo jornal. Não fazemos menção ou análise desse aspecto
por não constituir foco de nossa pesquisa
4.3.2
Tipos de Editoriais
Citando Beltrão(1980), Melo (1985, p.84) adota ainda outras classificações para
diferentes espécies de editoriais, de acordo com a variável de morfologia, de
topicalidade, de conteúdo, de estilo e de natureza. Quanto à morfologia, ter-se-ia a
divisão em artigo de fundo (editorial principal), suelto (análise curta sobre um fato da
atualidade) e a nota (registro curto de um acontecimento, de um ocorrido, antecipando
suas conseqüências ao leitor)
8
.
No que diz respeito à topicalidade, os editoriais seriam preventivos aqueles
que focalizam aspectos novos possíveis de realizarem alterações, mudanças de ação
aqueles que apresentam o impacto de uma ocorrência e os de conseqüência
caracterizado por visualizar repercussões e efeitos.
Quanto ao conteúdo, os editoriais são classificados em informativo os que
seriam destinados a prestar esclarecimentos sobre determinado fato o normativo o
exortador, ou seja, aquele que busca o convencimento do leitor a partir da exposição das
idéias ─ e o ilustrativo ─ trata-se do editorial que se volta a fins educativos.
No que tange ao estilo, o editorial podeser classificado como intelectual os
destinados a racionalizar sobre determinado fato ou temática e o emocional aquele
que se destina a sensibilização do leitor, aquele que tem como propósito comunicativo
convencer, por meio do aspecto emotivo seu leitor.
Finalmente, quanto à natureza, o editorial pode ser promocional aquele
coerente com a linha da empresa circunstancial aquele voltado a situações
imediatas, estes são os de caráter oportunista, decorrente da situação do momento ─ e o
polêmico ─ aquele considerado provocador, que contesta sobre determinada situação ou
posição.
Neste capítulo traçamos as características do gênero editorial, no próximo
traçaremos os passos metodológicos por nós adotados para a construção desse estudo.
8
Apesar de constituir um aspecto importante, não faremos em nossa análise a
caracterização dos editoriais que compõem o corpus, uma vez que tal aspecto não
constitui um dos nossos objetivos.
Capítulo V: Os caminhos percorridos pela Pesquisa
Este capítulo tem como objetivo apresentar os caminhos percorridos por nós, quando da
realização deste estudo. Apresentaremos, inicialmente, as razões que nos motivaram a
escolha do nosso objeto de pesquisa, o procedimento metodológico de análise adotado,
o corpus utilizado e sua descrição.
5.1 Procedimentos Metodológicos
Para efetivação de um trabalho de pesquisa, as escolhas, os recortes, a definição
dos procedimentos a serem utilizados, assim como as estratégias para execução da
pesquisa são indispensáveis.
A motivação para a escolha do tema deste estudo surgiu quando, em pesquisa
para realização de uma atividade acadêmica na Seção de microfilmagem da Fundação
Joaquim Nabuco onde foram colhidos os editoriais que compõem nosso corpus
deparamo-nos com uma reportagem, publicada pelo jornal Diario de Pernambuco em
dezembro de 1968. A manchete noticiava: Negro pobre de Casa Amarela encontra
anel de ouro”.
O mesmo jornal, semanas depois, publicou, ainda no mesmo mês, outra matéria
relacionada ao fato, mas desta vez com o seguinte título: Advogado recompensa
homem que encontra anel de ouro”.
As escolhas lexicais feitas nessas duas manchetes nos fizeram refletir sobre as
diversas possibilidades de sentido veiculadas nesses dois textos. Observem que na
primeira manchete o jornal representa o homem que encontra o anel como “negro pobre
de Casa Amarela”, na segunda, “o negro pobre” ganha novo status e passa a caráter
de homem
Tais construções nos fizeram refletir sobre a concepção ideológica que
direcionava esse veículo de comunicação. Dessa forma, A escolha do gênero editorial
como corpus dessa pesquisa se deu pelo fato de este ser representativo do ponto de vista
assumido pelo jornal. O editorial é um gênero de opinião, não assinado por nenhum
jornalista ou correspondente, mas pelo próprio jornal, indicando qual a perspectiva
ideológica assumida pelo veículo.
A escolha do período de análise se deu pelo fato das duas notícias terem sido
veiculadas em dezembro de 1968, período de grandes dificuldades vividas no Brasil,
por razão do Regime Militar.Nessa ocasião ainda houve a institucionalização do AI-5,
marcado por silenciação, pela proibição do dizer, mas também por busca de outras
formas de dizer.
A escolha do jornal Diario de Pernambuco como fonte de pesquisa
se deu por
quatro principais razões: a primeira, por ser o jornal mais antigo em circulação não
em Pernambuco, mas na América Latina; este jornal foi fundado em 1825. A segunda
por apresentar preocupação com a passagem histórica, a terceira, por ser um jornal de
referência e credibilidade e, finalmente, a quarta por ser um veículo formador de
opinião.
Além disso, o fato de ser o Diario de Pernambuco um veículo de
comunicação deste Estado, grande representação no cenário político da época. De
acordo com Skidmore
A repressão foi especialmente severa no Nordeste. Nem era de
surpreender, pois ali atuavam muitos deres considerados
perigosos, como o governador de Pernambuco Miguel Arraes, o
superintendente da SUDENE Celso Furtado, o especialista em
alfabetização Paulo Freire, o advogado Francisco Julião, das
ligas camponesas, e o velho ativista do Partido Comunista,
Gregório Bezerra. Aliás, o estado de Pernambuco serviria de
abrigo para um dos maiores centros de atividade do Partido
Comunista no Brasil, embora modesto em números
absolutos.(1988,p.57)
Como se observa, os grandes líderes políticos da época no Estado exerceram
poder representativo no cenário político nacional em prol da democracia. Mas o que
apontava o maior jornal em circulação no Estado?
5.2 Corpus
O corpus desta pesquisa é composto por 08 textos da esfera jornalística, mais
precisamente, de 08 editoriais. Todos eles veiculados no jornal Diário de Pernambuco,
entre 1964 e 1979 e sob a mesma temática O Regime Militar de 64 no Brasil,e o
período de Redemocratização, conforme apresentamos no quadro a seguir:
Editorial
Data de publicação (Diario de Pernambuco)
Nº 01 “Cruzada Feminina”
08/03/1964
Nº 02 “Dever dos Democratas”
25/05/1964
Nº 03 “Deserção”
14/12/1968
Nº 04 “Pressão e abusos”
25/12/1968
Nº 05 “Prisão e Abusos”
17/05/1978
Nº 06 “O Apelo da hora”
27/06/1978
Nº 07 “O Jogo Dramático”
05/08/1979
Nº 08 “Aprovada a anistia”
31/08/1979
Quadro V: Editoriais analisados no corpus restrito
A escolha dos momentos específicos da análise foi dada em função, segundo os
estudiosos do assunto como Skidmore (1988), Chiavenato (2004), Lopez (1991) de
serem estes os momentos de grandes tensões da época. Dessa forma, têm-se os
seguintes “marcos” e justificativas:
Março e maio de 1964 por ser o primeiro o momento que antecede e
marca o início do governo militar e o segundo um momento posterior,
quando alguma modificações já foram realizadas.
Dezembro de 1968 – por ser esse um período de muitas pressões e
grandes silêncios no meio estudantil, sindical, artístico e intelectual
estabelecido pelo decreto do AI-5. Este é um dos pontos de maior tensão
do governo militar. Há uma espécie de acordo com a burguesia: ela
abriria mão dos controles políticos tradicionais e de instrumento como a
liberdade de imprensa, o pluripartidarismo, o habeas corpus. O Estado,
por seu lado, mantinha a ordem a qualquer custo, assumindo os
interesses dos empresários como se fossem os de toda a Nação.
Maio e junho de 1978 por ter sido este ano marcado por grandes e
significativas manifestações. O Movimento Operário em processo de
reorganização voltaram a se manifestar através das lutas por aumentos
salariais e liberdade de organização.
Agosto de 1979 por ter sido decretada, em agosto, a Anistia depois de
uma ampla campanha pública. Presos e exilados começavam a ser
“beneficiados” e alguns puderam voltar ao Brasil.
5.3
Procedimentos teórico-metodológicos
No que se refere à orientação teórica e metodológica, somos sabedores de que
esta funciona como um guia para a pesquisa. Portanto, para nos orientar do ponto de
vista teórico, elegemos a Gramática Sistêmico-Funcional de M.A.K Halliday e
contamos com a perspectiva de Halliday (1978, 1985, 1994); Halliday & Hasan (1989);
Halliday & Matthiessen(2004); Eggins (1994,1997), Bloor e Bloor (1995).
A contribuição desses autores foi importante para entendermos, no caso deste
estudo, de que modo a representação do governo militar de 64 e do período de
Redemocratização foi feita pelo jornal Diario de Pernambuco. Tal identificação foi
possível por meio da análise dos processos do sistema de transitividade, da metafunção
ideacional, através da análise dos processos.
Utilizamos a Lingüística de Corpus, doravante LC, como abordagem
metodológica. Tal escolha se deu, principalmente, pelas ferramentas de análise que
possibilita o trabalho com grandes quantidades de textos de forma rápida e eficiente. De
modo geral, de acordo com Sardinha (2000, p.325), pode-se dizer que a Lingüística de
Corpus trabalha com a coleta e análise de conjunto de dados, chamado corpus servindo
a uma grande diversidade de universos teóricos, como a análise do discurso, a
semântica, a análise. As principais características da LC são:
o caráter empírico a partir da busca de explicação do fenômeno
lingüístico a partir de generalizações baseados em exemplos reais
o uso de corpus, que são dados coletados em situações reais de
comunicação e armazenados em formato legível por máquina
possibilitando sua exploração com uso de ferramentas computacionais.
O uso de computadores, nesse caso, o computador tem um pape muito
importante na análise e levantamento de dados, possibilitando
principalmente, maio velocidade de análise, maior possibilidade de
replicabilidade e maior confiabilidade estatística.
5.4
Procedimentos de análise
Todos os editoriais que compõem o corpus da pesquisa foram digitalizados em
formato de texto simples e enumerados de 01 a 08 de acordo com a ordem cronológica
de suas publicações.
Inicialmente foi realizada uma identificação dos processos — mentais, materiais,
comportamentais, relacionais e existenciais em todos os editoriais do corpus,
obedecendo à seqüência dos parágrafos. Tal levantamento foi feito com o objetivo de
saber quais os processos que aparecem com maior freqüência nos editoriais analisados
no período de tempo pesquisado e, por sua vez, que influência estabelecia na construção
de sentido. Para isso, fez-se uso da ferramenta LISTA DE FREQÜÊNCIA –um
aplicativo do programa computacional WordSmith Tool.
Todos os dados obtidos foram organizados em tabelas e gráficos para análise
posterior, conforme observado nos anexos. É importante salientar que todos os
processos, depois de pronta a lista de freqüência, foram conferidos manualmente, com
intuito de confirmar a identificação feita.
Em seguida observamos, a partir dos resultados obtidos na análise, qual o
processo mais freqüência em cada editorial e em seguida qual o processo de maior
freqüência em todos os editoriais.
Esse procedimento nos possibilitou observar qual a representação feita pelos
editoriais em análise em cada momento (nos anos de 1964, 1968, 1978 e 1979) , qual a
representação feita, assim como observar se houve ou não mudança de representação
nos diferentes momentos supracitados.
5.5
Ferramenta Computacional
Para análise inicial do corpus foi utilizado como instrumento o conjunto de
ferramentas computacionais WordSmith Tools (SCOTT, 1996). Tal instrumento foi
elaborado com intuito de analisar grandes quantidades de texto e tem sido utilizado por
pesquisadores da linguagem por meio do computador.
De acordo com Sardinha (2004), várias razões justificariam a preferência por este
programa. Dentre elas, pode-se elencar, por exemplo, a facilidade de aquisição e de uso
que o programa oferece, já que é um programa escrito para o ambiente windows, podendo
ser manuseado por um usuário sem grandes conhecimentos computacionais.
Outro fator que contribui para o grande uso do programa é a versatilidade que o
programa permite. Ainda, segundo este autor:
O software consiste, na verdade, de uma suíte de diferentes
programas, que se destinam a várias aplicações, que
compreendem o pré-processamento, a organização de dados e a
análise propriamente dita do corpora ou de textos isolados.
(2004, p.221)
A lista de freqüência gerada pelo WordList traz estatística em que se pode ver o
número de palavras corridas (tokens) e das formas diferentes (types) que aparecem no texto,
além de dados estatísticos como as freqüências absoluta e relativa de cada ocorrência.
Capítulo VI: Significado experiencial do editorial
Neste capítulo, temos como objetivo apresentar e discutir os resultados obtidos
na análise dos oito editoriais que compõem o corpus desta pesquisa. Em primeiro lugar,
caracterizamos os editoriais em relação ao contexto histórico e social. Em seguida
identificamos e descrevemos os tipos de processos a partir do sistema de transitividade
proposto por Halliday (1994) para que a partir daí seja possível perceber a influência
dessas escolhas na representação do Regime Militar e do período de Redemocratização.
6.1 Editorial “CRUZADA FEMININA”
O editorial intitulado “Cruzada Feminina” foi publicado no dia consagrado à
mulher, 08 de março dia Internacional da Mulher cinco dias antes do Comício do
Rio de Janeiro decisivo para a tomada de poder pelos militares e a 23 dias da
deflagração do Golpe Militar.
O nome Cruzada Feminina é uma variação de nomes dados ao movimento
Campanha da Mulher pela Democracia (Comde)
9
. Tal movimento foi constituído no
País com o objetivo de mostrar para a opinião pública que todos os movimentos em prol
da deposição do governo João Goulart eram oriundos das mais diversas camadas sociais
e não de apenas um grupo. Dessa forma, se tem a Liga da Mulher pela Democracia em
Belo Horizonte, a Ação Democrática Gaúcha, no Rio Grande do Sul, o Movimento
Cívico Cearense no Ceará, a União vica Feminina em São Paulo e a Cruzada
Feminina em Pernambuco.
Como visto, no capítulo inicial deste estudo, a deflagração do Golpe Militar
de 64 aconteceu no dia 31 de março de 1964. Para Chiavenato, o Golpe
vinha se gestando havia anos, poderosos grupos econômicos não
aceitavam mudanças que implicassem a perda dos seus privilégios. As
reformas poderiam alterar o eixo econômico, abalando a aliança das
burguesias industrial e financeira com o capital estrangeiro. Então, os
mais poderosos grupos econômicos do Brasil financiaram o Golpe.
(2004, p.73)
Este autor lembra também que depois da conspiração, o Golpe aconteceu quase
naturalmente, apoiado pela igreja e festejado pela classe média, temerosa de perder os
seus ‘privilégios’. Para o autor, a imprensa criou um clima favorável ao Golpe, exigindo
a deposição do presidente Goulart. O governo estava na defensiva e foi incapaz de
resistir aos golpistas. Os dispositivos militares que deveriam defender o regime
constitucional foram um completo fracasso (cf. CHIAVENATO ,2004, p.73), conforme
já visto.
O editorial em análise apresenta, em linhas gerais, as necessidades das mulheres
pernambucanas se engajarem no movimento pela deposição do presidente João Goulart
e, conseqüentemente, pela tomada de poder pelos militares.
6.1.1 Processos : significado experiencial
9
Comde – movimento preparado e financiado pelo IPES(Instituto de Pesquisas e
Estudos Sociais). Tem sua preparação em 1961 e tinha como função mobilizar a maior
quantidade possível de mulheres que seguiam a ideologia do grupo mais conservador
da Igreja Católica.(cf.Skidmore, 1998, p. 40)
Há, no primeiro parágrafo o apelo emocional às mulheres pernambucanas em
função da necessidade de se aderir ao movimento que se inicia em Minas Gerais. Para
isso, se mostra como exemplo as mineiras que mesmo sem tradição alguma em
movimentos, vão às ruas, como verdadeiras leoas ao verem seus lares em perigo e
ameaçados.
Mesmo não constituindo o foco deste estudo, alguns recursos utilizados no
editorial em análise são relevantes para a construção da idéia veiculada. O parágrafo é
iniciado pelo verbo, enfatizando a ação, e não pelo sujeito. Tal escolha é significativa,
uma vez que põe a ação vinda de Minas em primeiro plano, chamando a atenção para o
caráter de urgência que a adesão necessita tomar.
Outro recurso relevante é a utilização da forma verbal do verbo mostrar, na linha
cinco, no gerúndio dando a conotação continuidade.Identificamos no início deste
editorial a ocorrência de seis processos, todos eles materiais, responsáveis por toda a
ação da construção, representados pelas formas partiu, pode contribuir, deram,
mostrando, conflagrar e terá que abater, como mostramos a seguir:
Partiu de Minas o brado de alerta que pode constituir um acontecimento
fundamental na batalha em defesa da democracia no País: numa atitude inédita -
tanto mais surpreendente quanto em aparente conflito com a mentalidade
mesma da gente montanhesa, as mulheres mineiras deram ao País o exemplo
fecundo da mobilização democrática, mostrando que, antes de conflagrar a
Nação, a onda agitacionista terá que abater a heróica resistência das novas
“amazonas” das Montanhas, leoas bravias quando em perigo seu lar, o futuro
das suas famílias, os destinos mesmos da nacionalidade.
(1° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco, 08 de março
de 1964)
No parágrafo seguinte, o editorial faz considerações sobre a postura assumida
pelas mulheres pernambucanas a partir do que foi visto em Minas. As pernambucanas, a
exemplo das mineiras, iniciarão uma campanha em defesa do que o editorial chama de
assegurar a democracia.
Diferente do parágrafo anterior que apresentava apenas processos materiais,
responsável pelas ações, este utiliza também o processo material, com uma
identificação, representada pela forma parece começar a empolgar. Ainda neste
parágrafo, temos a utilização de um processo mental, representado pela forma
adivinham. Mesmo estando no âmbito do dizer, esse processo assume valores
cognitivos, mais próximos das ações desenvolvidas pelas mulheres. Vejamos:
O exemplo mineiro parece começar a empolgar as pernambucanas, que
também se movimentam, se mobilizam, adivinham o perigo resultante de uma
posição de comodismo, de indiferença, de alheamento aos problemas políticos e
sociais.
(2° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco,08 de março
de 1964)
Para ganhar a adesão dos leitores, especialmente, das mulheres, faz-se nesse
parágrafo um sutil apelo às mulheres pernambucanas a participarem da movimentação
recente no país. Faz-se ainda uma retrospectiva da postura assumida pelas
pernambucanas em movimentos ao longo da história, também como forma de
sensibilização.
Nessa passagem, o processo relacional, o processo do ser com função
classificatória, se faz presente com duas ocorrências, caracterizando a postura assumida
por Pernambuco, conforme explicitamos a seguir. Esse processo é representado, no
parágrafo, pelas formas seria e permanecesse. Além do relacional, contamos ainda com
dois processos, um existencial, representado pela forma tem e um material, representado
por mergulham.
Nem seria possível que Pernambuco permanecesse de ouvidos moucos a este
alerta em defesa da democracia, da mais intensa participação da mulher na vida
pública, pois o feminismo sério, nobre, esclarecido tem, na gente duartina,
raízes que mergulham na mais profunda argila de nossa formação regional.
(
3° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco, 08 de março de 1964)
Dando continuidade, a escolha do termo feminismo no parágrafo acima
não se fez de modo isolado, mas determinado não apenas pelo adjetivo sério (Linha 12),
como também e, principalmente, pelo termo nobre (Linha 12), que confere ao núcleo a
idéia contrária à utilizada pelo governo em exercício, e esclarecido, ao que parece,
neutralizando a possível postura apenas de acompanhar um processo sem
questionamento algum, e, sim, consciente de tudo que está acontecendo e do que está
por vir também.
no parágrafo seguinte, faz-se presente a ocorrência de quatro processos
materiais, representados pelas formas venceu, triunfou, manda e participaram; além de
um comportamental representado pela forma costuma atribuir.
Na verdade, a experiência donatarial, fracassada, quase de inteiro, no resto da
Colônia, venceu e triunfou, opulenta, na hora admirável de Duarte Coelho
Pereira, nosso primeiro donatário. E na análise da civilização duartina na Nova
Lusitânea, se tudo se costuma atribuir ao gênio administrativo do Capitão da
Miraguaia, a justiça manda se reserve boa parcela em favor da “capitôa”
olindense, D. Beatriz de Albuquerque, esposa do donatário, uma das poucas e
das primeiras mulheres que no Brasil participaram do comando da República.
(4° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco, 08 de março
de 1964)
Mais uma vez se tem um parágrafo Parágrafo a seguir com incidência
maior do processo material. Desta vez, faz-se alusão diretamente à D. Beatriz de
Albuquerque, esposa do Donatário da Capitania Pernambucana, a qual ficou
responsável por esta Capitania durante a ausência de seu donatário.
A imagem de D. Beatriz é invocada como argumento para fortalecer a postura
das mulheres. Este parágrafo confere a idéia de que é possível ser dona de casa, cuidar
do lar, dos filhos e não se negar ao apoio necessário ao país, na tentativa de fazer com
que as pernambucanas, no caso, se sensibilizem com tal demonstração.
No que diz respeito aos processos, tem-se um verbal, representado pela forma
dizem-no, como processos que conferem, segundo o texto, a partir do que é dito sobre a
donatária, papel imprescindível nas ações desenvolvidas e, necessariamente, ao
desenvolvimento de Pernambuco. E um processo mental representado pela forma
conheceram, fazendo-nos enxergar nessa mulher a que todas gostariam de ser.
Era D. Beatriz, - dizem-no os documentos dos cronistas que a conheceram um
modelo de mãe de família, de dona de casa, de cristã, formada na melhor escola
da verdadeira piedade, da fé, da vida da fé.
(5° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco, 08 de março de 1964)
O parágrafo que segue continua fazendo considerações sobre D. Beatriz. O
editorial apresenta como ela é vista pelos jesuítas, de acordo com as palavras do texto
“governadora e quase mãe do povo de Olinda”. O editorial ainda apresenta quais as
atribuições de donatária.
Quanto aos processos, temos a ocorrência de oito processos materiais,
representados pelas formas, resume, rezar, ir, assistir, fazer, fazendo circular, adoçasse
e amenizam um relacional, representado pela forma foi no início do parágrafo e um
verbal, representado pela forma chamando-lhe, e o processo mental pela forma viram ,
como mostramos a seguir:
Foi assim que a viram os jesuítas Nóbrega o Padre Pires, o Padre
Anchieta,que lhe resume o perfil chamando-lhe de governadora e quase mãe
do povo de Olinda: “gubernatriz et quase mater illius populi”. Suas atividades
principais, rezar, ir às Igrejas, assistir a enfermos, fazer caridade, fazendo
circular, em meio à aspereza rija do donatário, o “leite da ternura humana”
que adoçasse e amenizasse as agruras da existência no mundo americano,
lugar de provocação, um exílio, quase um castigo inaturável.
(6° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diário de Pernambuco 08 de março
de 1964)
O parágrafo seguinte é composto por apenas uma oração e mais uma vez faz
considerações em torno de D. Beatriz como mãe de família. Os processos utilizados
nesse parágrafo são apenas dois, um relacional, representado pela forma seria e um
material, representado pela forma manter.
Mas, ao lado disto que seria a rotina de seu papel de mãe de família, de dona de
casa, de manter famílias romanas, também uma atuação marcante na direção da
Capitania.
(7° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diário de Pernambuco 08 de março de 1964)
O tópico desenvolvido no parágrafo seguinte é o contexto de comando de D.
Beatriz da Capitania. O parágrafo assinala, de modo aproximado, quando os fatos
ocorreram e quem estava envolvido em cada um deles. Mais uma vez, ao término do
parágrafo, faz-se referência a D. Beatriz como dona de casa, dedicada ao lar, e
administradora.
Como processos desse trecho, podemos identificar a ocorrência de oito
materiais, representados pelas formas deve ter assumido (linha 30), viajou, veio
assumir, retornou, voltou, restam e evidenciam; dois relacionais, representados pelas
formas ficou e esteve e um comportamental, assumido pela forma dosando, de acordo
com o editorial, indicando a postura de D. Beatriz.
Deve ter assumido o governo quando o esposo viajou para o Reino, entre 1540
e 1541; historicamente positivado, ficou à frente da Nova Lusitânia a partir de
1553 até 1560, quando o segundo donatário, seu filho, Duarte Coelho II, veio
assumir a donatária, e depois de 1572 quando retornou ao Reino, donde não
mais voltou. E, a seguir, lanços esparsos dos raros documentos que nos restam
do tempo evidenciam que em épocas diversas esteve no governo, dosando com
maestria os deveres do lar, com aqueles, mais severos, da administração e do
comando político.
(8° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diário de Pernambuco 08 de março de 1964)
O encaminhamento para o fecho deste editorial é feito, explicitamente,
direcionado às leitoras, às mulheres. Acreditamos que com intuito de usar de maior
argumentatividade o texto faz uso da imagem, cria a identidade de D. Beatriz como
mulher, mãe, avó que assume totalmente seu papel, considerando os padrões da época,
mais uma vez, como exemplo a ser seguido, no entanto que não foge às atribuições de
defesa da Capitania. Este exemplo funciona como uma prova cabal de que é possível
ser dona de casa e não se eximir das necessidades impostas pelas questões históricas.
A idéia expressa é construída a partir da utilização de seis processos materiais,
representados pelas formas pode servir, perder, mostrou, pode, deve dar e vive; três
processos relacionais, representados pela forma estão, no início da primeira oração e
duas formas prototípicas é, na penúltima e última linha; um processo comportamental,
representado pela forma fugir.
está, para as mulheres pernambucanas, o exemplo sugestivo desta grande avó
– D. Beatriz de Albuquerque, a mulher seiscentista que lhe pode servir de
modelo, na medida em que, sem perder nada de sua feminilidade, de sua
integração com a vida de família, recatada, discreta, suave e pura, mostrou
como também a mulher, talvez sobretudo a mulher brasileira - pode e deve dar
sua quota de esforço e de sacrifício pelo bem comum, principalmente em horas
angustiadas como as que vive o país, e em que, por isso mesmo, a ninguém é
licito cruzar os braços, fugir da luta que é de sobrevivência.
(9° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco, 08 de março
de 1964)
No último parágrafo, o de conclusão, apresenta-se a postura assumida pelas
mulheres pernambucanas, comparadas ao que fez D. Beatriz. O parágrafo faz um sutil
apelo à participação e afirma ser uma tradição de muito a postura de defesa dos
interesses sociais e políticos no momento que é necessário se fazer presente.
Os processos que dão sustentação a essa idéia são cinco materiais, representados pelas
formas tomando, encontre, poderia buscar, retoma e vêm; e um processo
comportamental, representado pela forma mobilizem-se:
Mobilizem-se assim as mulheres pernambucanas, tomando como paradigma e
crivo o exemplo fecundo da donatária. Que a lição de Minas encontre
ressonância em Pernambuco, especialmente no Recife, onde também a mulher
pernambucana poderia buscar o seu môdelo em D.Olegarinha, espôsa de José
Mariano de mostrar, desta forma, que apenas se retoma uma tradição que vem
de muito longe.
(10° Parágrafo/ Editorial Cruzada Feminina – Diario de Pernambuco, 08 de março de 1964)
6.2 Editorial “O DEVER DOS DEMOCRATAS
O editorial intitulado dever dos democratas foi publicado no dia 25 de maio de
1964, a pouco menos de 60 dias da tomada de poder pelos militares, como se observa
no capítulo 1 desta pesquisa. Nesse momento se vivem no país os primeiros momentos
do regime militar. A implantação de alguns Atos Institucionais se consolidou com
intuito de possibilitar ao governo controle do regime ora imposto.
Desta feita, o editorial em foco apresenta o quadro geral em que se o país e
estabelece quais as atribuições a serem adotadas pelo governo
6.2.1 Processos : significado experiencial
No primeiro parágrafo, apresentam-se os primeiros resultados positivos da
cruzada, ocorrida em Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande, Guanabara, Pernambuco,
Ceará, iniciada pelo deputado João Calmon. O editorial afirma estar o país pondo fim à
onda de subversão que “ameaça toda a vida da nação”.
Quanto aos processos que constituem as idéias expressas nesse parágrafo, temos
a ocorrência de quatro processos materiais, representados pelas formas começa a dar,
vender, pondo, vinda e ameaça indicando necessariamente as ações estabelecidas; um
processo mental assumido pela forma ver-se e um comportamental representado pela
forma vai saindo, revelando a postura assumida
Começam a dar os primeiros resultados a brava e patriótica cruzada de
mobilização democrática em boa hora iniciada pelo deputado João Calmon. Em
Minas, em São Paulo, no Rio Grande, na Guanabara, em Pernambuco, no Ceará,
em Goiás, constitui motivo de alento ver-se como a consciência democrática
vai saindo do retardo, acordando para a realidade, dispondo-se a vender caro
a liberdade, pondo barreiras à onda de subversão que, vinda do alto, ameaça
toda a vida da Nação.
(1° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diario de Pernambuco, 25 de maio de
1964)
No parágrafo seguinte, o editorial faz considerações sobre o comportamento do
Brasil durante seu período de vida política autônoma. nessa passagem a visão de
tranqüilidade, de acordo com o editorial, ingenuamente assumida por este país.
No que tange a ocorrência dos processos, tem- se apenas a existência de dois
tipos de processo; um comportamental, representado pela forma vinha se comportando,
logo no início do parágrafo, sinalizando para a postura do Brasil; e dois processos
materiais representados pelas formas deslizasse e apontara.
Durante mais de meio século de vida política autônoma, o Brasil vinha se
comportando como se tudo deslizasse tranqüilamente da melhor maneira e no
melhor dos mundos, Sobretudo o fim da guerra contra o Eixo apontara para a
humanidade novas coordenadas
.
(2° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diário de Pernambuco 25 de maio de
1964)
No parágrafo a seguir, o editorial mantém-se na perspectiva anterior de
comparar uma realidade já vivida anteriormente pelo Brasil com o intuito de estabelecer
relações com o momento em questão. Mais uma vez, a relação dos privilégios é
considerada como intoleráveis no dado momento.
Nele, a ocorrência dos processos se de modo mais distribuído que no
parágrafo anterior. Têm-se quatro processos materiais, representados pelas formas
levantando-se, viciou, valendo e teria de levar; dois processos mentais, representados
pelas formas sofreram e poderiam tolerar e ainda um comportamental, representado
pela forma vendo crescer.
Os quadros avelhantados da tradição liberal do século passado sofreram em
toda parte impactos tangíveis levantando-se de todos os quadrantes unia onda
de reformas das condições sociais dos povos, os continentes e as nações vendo
crescer aquele mesmo fenômeno que tanto vincou a história de Roma, os
conflitos do patriarcado e da plebe, que, valendo, quando nada pela quantidade,
teria, necessariamente de levar de vencida velhos privilégios, superadas
distâncias, rastos de injustiça que os tempos não mais poderiam tolerar.
(3° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diário de Pernambuco 25 de
maio de 1964)
No parágrafo que segue, o editorial afirma que o Brasil vive o desejo de
mudança como sendo de toda a nação e que está engajado em uma batalha considerada
fatal.
Os processos que ocorrem nessa passagem são quatro e de diferentes relações.
Tem-se um material representado pela forma acabou engajado, apresentando a postura
assumida pelo Brasil; um existencial, representado pelo prototípico há; um mental,
representado pela forma estranhe, sinalizando para um comportamento imaginável em
relação ao texto em discussão e também um processo material representado pela forma
viva, indicando a ação desenvolvida pelo país em foco, no caso, o Brasil.
Também o Brasil acabou engajado nesta batalha fatal, e diante de um quadro
incompatível com as condições da marcha da civilização, não porque se
estranhe viva toda a Nação, de alto a baixo, dominada pela idéia das reformas
inadiáveis e justas.
(4° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diario de Pernambuco, 25 de maio de
1964)
O parágrafo em discussão agora, um dos maiores do corpus restrito, faz apelo e
explica o que ocorre no Brasil comparando-o a outros países do mundo, inclusive aos
Estados Unidos e considera ser a reforma política inevitável e, por fim, necessária. A
partir daí, as questões políticas discutidas e apresentadas pelo editorial são deixadas de
lado em função de um apelo religioso com intuito argumentativo, que chama a atenção
para a necessária humanização da mudança, como pode ser observado no exemplo dado
nas últimas linhas.
O número de processos utilizados nesse editorial é, como era de se esperar,
grande. Há ocorrência de dois processos existenciais, os dois representados pelo
desdobramento
10
da mesma forma verbal ─ há e houvesse ─; tem-se mais dez processos
materiais, representados pelas formas ocorre, acontecia, resumiu, aproximar-se, ficar,
possam deter, invista, entravar-lhes, facilitá-la e aprimorá-la; dois mentais,
representados pelas formas vejo e visando; quatro relacionais, representados pelas
formas é, será, seria e de ser; um comportamental, representado pela forma puder
esperar e três verbais, representados pelas formas reclama, falava e pregava.
O que ocorre no Brasil - reflexo, de resto, do que se verifica em todo o mundo
moderno - é aquilo mesmo que acontecia nos Estados Unidos nos tempos de
Lincoln, com respeito à abolição da escravatura e que o lógico soberbo da
marcha revolucionária resumiu neste conceito: Vejo a emancipação
aproximar-se; quem puder esperar por ela verá: quem ficar na sua
passagem, será esmagado”. Não forças que possam deter as reformas e
seria uma desgraça se as houvesse, porque o que se reclama, antes de tudo, é
por uma política de renovação, que invista contra uma ordem injusta,
desumana, anti-cristã, ignóbil – e assim o dever dos democratas não de ser
a posição suicida de entravar-lhes a caminhada, mas facilitá-las, aprimorá-
las, torná-las mais e mais humanas, visando-se à formação não apenas
daquele “homem novo” de que falava São Paulo, mas de uma sociedade nova,
estruturada na justiça, mas, como pregava o Santo Padre João XXIII, baseada,
na ordem, na disciplina, no direito e na moral.
(5° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diario de Pernambuco 25 de maio de
1964)
Encaminhando-se para a conclusão, o editorial faz no penúltimo parágrafo uma
afirmativa sobre a qual o dever dos democratas, o de preservar a bandeira de luta e não
deixá-la cair em mãos de aventureiros, de acordo com as palavras do texto.
Nesse parágrafo, tem-se a ocorrência de dois processos relacionais,
representados pelas formas é, nos dois casos; cinco ocorrências do processo material,
representado pelas formas deixar, deve construir, passe, têm e possuem; e uma
ocorrência do processo mental, representado pela forma interessa.
O primeiro dever dos democratas, portanto, é não deixar que esta bandeira que é
nossa, que deve constituir nosso "penacho" - passe às mãos dos aventureiros,
dos agentes da subversão, dos artífices do caos, a quem somente interessa a luta
10
o que consideramos de desdobramento, nesse caso, é apenas a utilização de
formas diferentes do mesmo verbo haver / houvesse; e mais adiante pelas formas
é, será e seriado prototípico relacional ser
de classes, os índios entre os grupos.. os choques entre os que tudo têm e os que
nada possuem.
(6° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diario de Pernambuco 25 de maio de
1964)
No parágrafo final deste editorial, a conclusão é feita de modo claro chamando a
responsabilidade do “povo” para o processo de mudança, de transformação que pode ser
viabilizado mediante, de acordo com o editorial, a utilização de toda a força possível no
sentido de impedir qualquer tentativa de subversão. O editorial também, em suas
últimas linhas, lista uma série de ações que devem ser feitas para que os objetivos
traçados sejam assegurados.
No que diz respeito aos processos utilizados, tem-se a ocorrência de dezesseis
processos materiais, representando as ões a partir das formas deve voltar, cabe
disciplinar, perseguir, evitar, levar a cabo, impõe, lutando, mobilizar-se, cerrar,
bastam, urge, alistarem, votarem, votando, pondo e selecionando; dois processos
mentais, representados pelas formas sentem e pensando; um existencial, representado
pela forma prototípica há; três relacionais, representados pelas formas terão de ser,
precisam esta e tinir-se; um comportamental, representado pela forma mobilizar-se e
um verbal, representado pela forma responder.
A bandeira do reformismo sereno, profundo, realista e cristão, deve voltar aos
democratas, aos partidos a quem cabe disciplinar a política, aos homens de boa
vontade, aos que sentem uma evolução a perseguir e uma revolução
sangrenta a evitar. E para levar a cabo este prograria renovador, as armas terão
de ser as da lei, da constitucionalidade, do disciplinamento jurídico, do
entendimento elevado entre alas agora em campo de luta e cuja harmonizarão se
impõe num quadro vasto de justiça, de ordem, de legalidade. Lutando, porém,
por estas reformas, os democratas precisam estar alerta, mobiliar-se, cerrar
fileiras, tinir-se dispostos, inclusive a responder com a força a todas as
tentativas de subversão e de mazorca. Não bastam, para isso, apenas bonitas
palavras, discursos inflamados, explosões líricas de retórica exaltada em
comícios, em praça pública, na imprensa, nos rádios e nas televisões. Urge
também e sobretudo a mobilização prática, a necessidade de todos se
alistarem, de todos votarem, e votando, selecionando os melhores, pondo
termo a esta avalancha de demagogia delirante e histérica, pensando, mesmo,
menos em termos de “democracia” do que de demofilia”, numa política séria
voltada para a defesa dos reais interesses do povo, da comunidade, da Nação.
(7° Parágrafo/ Editorial O Dever dos Democratas– Diario de Pernambuco, 25 de
maio de 1964)
6. 3.
Editorial “DESERÇÃO”
Dezembro de 1968 foi um dos momentos mais representativos do governo
militar. Foi nesse período que o AI-5, o ato mais duro do regime, foi instituído. Em
1966, um novo Ato Institucional foi decretado, o AI-3, responsável por mais limitações
ao povo brasileiro. Este ato restringiu ainda mais o direito ao voto popular e ampliou o
controle político do governo de então. Nesse meio tempo, a “linha dura” do governo
consegue fazer o novo presidente da república. Costa e Silva vence o confronto entre a
linha moderada e a linha dura e assume em março de 1967. Para que essa vitória
ocorresse, mais seis deputados foram cassados e o Congresso, que fora fechado no
governo de Castelo Branco, foi agredido (cf. Chiavenato: 2004).
O governo de Costa e Silva endureceu ainda mais o regime e o decreto da nova
Constituição e a promulgação da Lei de Segurança Nacional que torna todos os
cidadãos suspeitos, além da Lei de Imprensa, que restringe a liberdade de informação,
tornando as denúncias, fundamentadas ou não, feitas contra o presidente ilegais. No
entanto, conforme (Chiavenato: 2004), “a violência repressiva desses atos não anulou a
capacidade de resistência popular. Pelo contrário, despertou a luta clandestina, as
greves, as manifestações de fábrica e as estudantis. Por isso, o governo militar editou o
Ato Institucional nº5”.
Grandes movimentos como as greves dos metalúrgicos de Contagem (MG) e
Osasco (SP), as manifestações estudantis, além da grande militância dos trabalhadores
começam a ocorrer no país e o AI-5 surgiu com o intuito de inibir qualquer
possibilidade de movimento como esses. Ainda de acordo com Chiavenato, o AI-5
Estava pronto desde julho de 1968, aguardando um pretexto para ser
assinado. O pretexto foi o discurso do deputado Márcio Moreira Alves,
na Câmara, criticando os militares e propondo o boicote dos civis às
comemorações do Dia da Independência. O governo pressionou o
Congresso para punir o deputado. As guarnições sentiram-se
“insultadas”. Algumas unidades ameaçaram “sair às ruas”. Mas o
Congresso recusou-se a punir o deputado, que na verdade fizera um
pronunciamento normal. O presidente Costa e Silva, assumindo a
“indignação” da “tropa ofendida”, assinou o AI-5, em 13 de dezembro
de 1968.
(2004, p.112)
Como se pode ver o AI-5 foi, sem dúvida, a legitimação do Golpe Militar e a
Ditadura se mostrava agora eterna, uma vez que o então Ato, ao contrário dos demais,
não apresentava “prazo de validade”. O AI-5 fechou o Congresso indeterminadamente,
cassou mais 69 deputados e o governador Carlos Lacerda que já começava a conspirar
contra o regime.Ainda de acordo com Chiavenato,
O AI-5 dava tantos poderes ao presidente, aumentando a repressão e a
censura à imprensa, que qualquer oposição real tornou-se impossível. A
partir daí, houve um caminho: a luta clandestina. Os políticos
limitaram-se a “confabular”, esperando a abertura do regime. (2004,
p.112)
6.3.1 Processos : significado experiencial
Dezembro de 1968 constituiu de fato um novo momento na história política e
social do Brasil. Deserção é o terceiro editorial de nosso corpus restrito, veiculado pelo
jornal Diário de Pernambuco em 14 de dezembro de 1968, ou seja, no dia posterior a
assinatura do AI-5.
Do ponto de vista do sentido o termo deserção
11
significa, segundo o dicionário
Michaelis, desertar, mudar de partido, abandono sem justificativa. E o editorial caminha
nessa direção, conduz o leitor a ver na decisão do Congresso de não processar o
deputado Márcio Moreira Alves como sendo um abandono ao presidente Costa e silva.
No primeiro parágrafo temos a apresentação da temática discutida no editorial.
Em uma única oração o editorial apresenta a recusa, por maioria dos votos, da licença
para processar o Deputado Márcio Moreira Alves.
Neste trecho, os dois únicos processos existentes são materiais, representados
pelas formas recusou, conceder e processar.
A Câmara dos Deputados recusou, por considerável maioria de votos, conceder
licença para processar o deputado Márcio Moreira Alves.
(1° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– DiaIrio de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O parágrafo seguinte se apresenta de modo curioso, uma vez que é constituído, a
exemplo do primeiro,de apenas um período. Parece ser necessário chama atenção para o
que ocorreu. A estrutura única de período parece falar por si só. Não necessidade de
outros termos ou explicação para justificar a ação do Congresso. A idéia é taxativa
como pode ser observado a seguir.
No que diz respeito à ocorrência dos processos mesma estrutura única do material
é observada. Percebe-se nessa passagem o destaque dado à ação, no caso ao processo
material, votou contra.
11
Sf(lat desertione) 1 ato de desertar. 2.mudança de partido. 3. Dir Desistência tácica
ou presumida de de um recurso. 4.Mil Delito, que consiste no abandono, ou ausência,
deliberada e voluntária do militar, sem legítima licença, ou causa que justifique, do
corpo a que pertence, ou do estabelecimento onde é obrigado a permanecer, ou
apresentar-se.
Votou contra o parecer favorável da Comissão de Justiça.
(2° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968
)
No parágrafo seguinte, a preocupação, de certo modo, por parte do editorial
de justificar de modo reivindicatório as defecções existentes na ARENA, o que teria
provocado tal postura do Congresso.
Temos nessa passagem, ao contrário das anteriores, não apenas o processo
material, representado pela forma teria acontecido, mas também o processo existencial
tivesse havido
Tal não teria acontecido, se não tivesse havido grande número de defecções no
partido majoritário.
(3° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
Nessa passagem, chama-se atenção para o que fez o Partido de situação A
ARENA faltou com a sua solidariedade política ao presidente da República. É possível
se ver, a partir da estrutura da oração, a posição do editorialista sobre o fato. No
primeiro plano, está a ARENA, mas a escolha poderia ter sido pelo presidente O
presidente não contou com a solidariedade política da ARENA. O editorial “acusa” a
ARENA de ter abandonado o governo num momento decisivo.
A construção da oração protagorizando tal partido, lança mão do processo
comportamental como de maior incidência. Têm-se dois processos comportamentais,
representados pelas formas empenhava e tendo em vistas.
A ARENA faltou com a sua solidariedade política ao presidente da República,
num caso em que ele se empenhava, não por motivos caprichosos, e sim tendo
em vistas possíveis conseqüências para o regime vigente.
(4° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968)
O parágrafo seguinte apresenta construção significativa, principalmente porque
difere das demais construções das passagens analisadas até então, assim como difere do
conjunto global da análise.
No geral, o editorialista apresenta o governo de modo comprometido com as
causas da nação, e destaca o fato de não haver capricho na postura presidencial. Mais
uma vez, o editorialista ecoa sua voz ao proferir um comentário acerca do ocorrido. Ele
considera a questão como mera situação política.
Essa categorização é feita com a utilização de dois processos relacionais,
representados pelas formas tratava-se e pode deixar de ser: Mais três processos
compõem esse comentário, um material, representado pela forma prototípica fazem e,
finalmente, o terceiro processo, este mental, representado pela forma desconhecer
Tratava-se de uma questão meramente política, a ser resolvida pelo critério
político que não pode deixar de ser acolhidos por homens que fazem política e
não desconhecem as suas motivações, às vezes colocadas acima das vontades
dos dirigentes.
(5° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O editorial, nessa passagem, destaca a responsabilidade que tem agora a
ARENA, debilitada, por ter adotado uma postura contrária a sua “função partidária”.
Assim, pode-se destacar a escolha de quatro processos, distribuídos da seguinte
forma: um relacional é empregado para mensurar a responsabilidade da ARENA, mais
três processos, tendo perdido, teve e representa, todos materiais, são utilizados na
passagem. As formas tendo perdido, teve e representa constituem nesse trecho ações
negativas relacionadas ao partido em questão.
Grande é, pois, a responsabilidade assumida pela ARENA que tendo perdido a
sua unidade e coesão, teve igualmente debilitado o papel que representa de
apoio e suporte do Governo da República.
(6° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968
)
No parágrafo seguinte, o jornal é mais contundente e assume uma postura clara,
classificando-a como sendo de bom senso, sobre a discussão em pauta. O editorial
porta-se contrário à imunidade parlamentar que, para o jornal, constituiu um privilégio.
Nessa passagem, pode-se inferir que o texto é diretivo ao Deputado Márcio Moreira
Alves que proferiu seu discurso, criticando os militares e propondo um boicote dos civis
às comemorações do Dia da Independência, como já visto antes.
Segundo Chiavenato (2004), de acordo com o que fora afirmado, o governo
teria usado o discurso do deputado Márcio Moreira Alves como pretexto para a
implantação do Ato Institucional 5, ainda de acordo com este autor “... o Congresso
recusou-se a punir o deputado, que na verdade fizera um pronunciamento normal”.
No que diz respeito aos processos, podemos identificar a posição do jornal
através do uso do processo material, presente em quatro das seis ocorrências, expresso
através das formas verbais fizemos, pode constituir, possam recorrer e defender. Em
seguida temos o processo relacional é classificando a ação como sendo de bom senso,
conforme se pode ver na passagem abaixo
No caso destes debates, fizemos bem claro o nosso ponto de vista que é do bom
senso: a imunidade parlamentar não pode constituir um privilégio assegurado
ao representante para, da tribuna do Parlamento, agredir a honra de pessoas ou
de corporações, sem que as suas vítimas possam recorrer à justiça para se
defender.
(7° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968
)
Na passagem seguinte, o editorial faz uso de tom apelativo e lança mão da
argumentação em tom emocional centrada na igualdade social. Faz-se menção à
postura, ao comportamento, no caso específico, dos deputados de, legislar,
implicitamente inferível, em causa própria.
Assim o processo presente no parágrafo é o comportamental, representado pela
forma compadece como observada na passagem abaixo
Semelhante inviolabilidade para o criminoso não se compadece com a igualdade
dos cidadãos, fundamental nas instituições democráticas.
(8° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O parágrafo que segue dá continuidade à idéia desenvolvida no anterior, o ato de
“legislar em causa própria, o uso do poder em benefício próprio” segundo o texto .
Neste parágrafo temos quatro processos, um relacional classificando a postura
em foco, representado pela forma é ser, como uma situação legal, por respaldo do voto
em contraposição a uma situação mostrada como não legal, como delito assegurado, ao
que parece, pela imunidade parlamentar. Ainda nesse trecho, tem-se um processo
mental, representado pelo infinitivo pretender, nele é possível identificar as ações
cognitivas subjacentes ao processo.
O processo seguinte, ainda do mesmo parágrafo é o material, responsável pelas
ações, representado pela forma levavam. O último processo identificado, ainda no
parágrafo em questão é o de menor aparição em nossos dados de estudo, trata-se do
processo responsável pelo dizer, ou seja, o processo verbal representado pela forma
responder.
Uma coisa é ser inviolável por votos e opiniões emitidos, e outra bem diversa
pretender a mesma proteção legal para delitos que levam os demais cidadãos
aos tribunais para responder
(9° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O parágrafo seguinte faz considerações sobre a imunidade parlamentar,
classificando–a como absurda.
Quatro processos são utilizados, dos quais dois são materiais, representados
pelas formas chegou e estender, um é comportamental, representado pela forma insultar
e um relacional representado pela forma prototípica é.
A absurda interpretação do conceito da imunidade no Parlamento brasileiro, já
chegou ao cúmulo de se estender sobre homicidas, colhidos em flagrantes, o
manto salvador da mesma recusa que agora é liberalizada ao deputado
oposicionista acusado de insultar as Forças Armadas
.
(10° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
A responsabilidade da punição do Deputado Márcio Moreira Alves é dada à
Câmera. Para ressaltar esse fato a oração é construída na ordem direta
12
pondo em
evidência a maioria dos deputados, responsabilizando-os pela postura assumida.
Nessas condições, o editorial utilizou-se de dois processos materiais representados pelas
formas preferiu ficar e tem, além de um relacional, representado pela forma é.
A maioria da Câmara preferiu ficar com o deputado em nome da salva-guarda
de uma prerrogativa que em nenhum outro Parlamento do mundo tem o elastério
que lhe é reconhecido no Brasil.
(11° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
Em seguida o editorialista chama a atenção do leitor para o fato de que a
prerrogativa apontada existe apenas no Brasil e em nenhum outro lugar do mundo. Em
uma posição de expectador, o editorial afirma que a única coisa a ser feita seria esperar,
numa posição que responsabiliza, no caso, a ARENA pelo que o jornal chama de falta
de bom sensopelo que aconteceu, ou melhor dizendo, pela postura não assumida em
relação à deposição do deputado Márcio Moreira Alves. Tal postura pode ser
evidenciada na passagem a baixo.
Quanto aos processos utilizados, tem-se dois comportamentais, o primeiro
abrindo o parágrafo, representado pela forma resta-nos na postura de responsabilizar a
ARENA “pelo que não fez” e o segundo, representado pela forma abandone ainda
relacionada ao que se espera do partido de situação, como pode ser evidenciado nas
12
Esse tipo de construção, que é relevante ao processo de escolha, não será
aprofundada aqui por não constituir o foco de nossa pesquisa
passagens anteriores. Além dos comportamentais se identifica também a escolha pelos
materiais representados pelas formas deixou de prevalecer e contribuir, ambas. Como
último processo desse trecho, tem-se o verbal marcado pela forma são chamados, no
sentido de convocar.
Resta-nos agora esperar que a sensatez que deixou de prevalecer na ARENA
não abandone quantos, nesta EMERGÊNCIA, são chamados a contribuir com
a sua serenidade para a preservação do regime
(13° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O editorial permanece na defesa da presidência, pondo-se como compreensível
com o momento vivido pelo governo e ressalta as dificuldades como propulsoras de
transformações relevantes para um novo momento.
O processo mental inicia a oração, com a forma compreendemos, como também
o período na intenção de frisar a necessidade, como dito, de entendermos a
presidência, mas, principalmente, por medidas que esta necessita adotar no sentido de
manter o controle a ser adotado por ela.
O processo material aparece duas vezes no parágrafo, a primeira representado
pela forma atravesse e a segunda pela forma dão. Ainda há a ocorrência de um processo
verbal representada pela forma afirmam e de um relacional, representado pelo
prototípico são.
Compreendemos que a presidência da República atravesse, nesta hora,
momentos muito difíceis. Mas os momentos difíceis são que afirmam a
personalidade dos verdadeiros homens do Estado e dão as dimensões de sua
força de comando.
(14° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
A exemplo do parágrafo anterior, este traz à tona a crise vivida no governo atual
e chama atenção para a necessidade de se encontrar formas apaziguadoras capazes de
evitar que grupos ditos intransigentes pelo editorial consiga se sobrepor as forças
razoáveis e moderadas, de acordo com as palavras do texto, de Costa e Silva.
Tem-se o processo comportamental, iniciando o parágrafo, representado pela
forma deseje disfarçar, indicando uma postura em relação à crise vivida. O processo
seguinte a este é o relacional, que no parágrafo, conta com dois usos, o primeiro, logo
na primeira linha, representado pela forma parece e o segundo no último momento do
parágrafo, representado pela forma tem sido considera o marechal Costa e Silva como
um paradigma admirável. Ainda se registra nesse parágrafo a ocorrência de um processo
verbal representado pela forma negar, presente na primeira linha.O processo material,
com quatro usos nesse trecho, é representado pelas formas exige, busque, evitarem,
devem e predominem.
Por mais que se deseje disfarçar a validade, parece impossível negar que a
crise é agora muito mais vasta e profunda e, por isso mesmo, exige não apenas
das lideranças políticas como dos chefes militares, postos direta e pessoalmente
em causa, que busque encontrar rmulas apaziguadoras, capazes de evitarem
que as correntes radicais e intransigentes levem vantagem e predominem sobre
as forças razoáveis e moderadas de que o marechal Costa e Silva tem sido no
curso do se governo, um paradigma admirável.
(15° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O parágrafo seguinte sai do âmbito do comportar-se e vai para o do dizer. O
editorial, nessa passagem, faz considerações explícitas de suas considerações à respeito
dos deputados arenistas. O editorial afirma não ter havido contribuição alguma dos
deputados em questão para, segundo o texto, a frágil democracia vivida no país.
A idéia é apresentada pelo processo verbal, representada pela locução pode ser
dita como uma “postura de advertência” àqueles que “traíram” a ARENA.O editorial
chama a atenção para aqueles que votaram contra a ARENA e os responsabiliza por não
contribuir para o fortalecimento do regime vigente, chamado de democrático, com foi
visto no parágrafo anterior a este. Logo em seguida, temos a ocorrência do processo
comportamental com uma única aparição, dada pela forma traíram, forma que explica
toda razão de ser do parágrafo, afinal o foco da discussão apresentada nesse trecho é o
da traição e de qualquer forma, os efeitos de não contribuição desta para o regime
vigente. Mais um tipo de processos é usado nesse parágrafo, o material que conta com
cinco escolhas representadas pelas formas colocando-se, desafiar, contribuíram,
consolidar e possuímos.
Uma coisa pode ser dita desde logo: os deputados arenistas que traíram o
partido, colocando-se ao lado dos adversários para desafiar a autoridade do
presidente da República, não contribuíram, de nenhum modo, para consolidar
o frágil regime democrático que possuímos.
(16° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
Curiosamente o parágrafo seguinte é formado por uma estrutura composta
apenas por circunstanciais e nenhum processo. Tal construção parece fazer um
contraponto entre a postura assumida pelo Congresso, especialmente pelos arenistas, e o
que de fato o editorial considera ser a realidade das ações.
Bem longe disso.
(17° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968)
A inversão da ordem dos termos no parágrafo seguinte sugere questionamento
do que está sendo apresentado, ou melhor, do que está sendo dito pelos arenistas.
O trecho começa com um processo verbal representado pela forma disseram, no
caso, disseram eles, insinuando aos leitores que o que foi declarado não é condizente
com a realidade. Mais um processo verbal é identificado nessa passagem, dessa vez,
representado pela forma foi ditado. O processo material constitui uma escolha de menor
incidência nesse caso, apenas um processo é utilizado, este representado pela forma
assegurar.
Disseram eles que o seu procedimento foi ditado pelo dever de assegurar a
dignidade e decoro do Congresso.
(18° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968)
O questionamento prossegue e, desta vez, o editorial questiona se a dignidade e o
decoro do Congresso não teria sido gravemente ofendido com a absolvição do deputado
Márcio Moreira Alves e o acusa de ter agredido as Forças Armadas.
O editorial utiliza-se do processo relacional, no primeiro momento assegurado
pela forma foram. A discussão prossegue e o editorial rotula o deputado em questão
como “desaforado” deixando transparecer toda sua parcialidade no que diz respeito ao
caso. Os dois processos também usados no parágrafo são um material representado pela
forma levantou e o último comportamental representado pela forma agredir.
Mas, por acaso, essa mesma dignidade e esse próprio decoro não foram
gravemente ofendidos, quando sem protesto de ninguém, um deputado desaforado
se levantou para agredir as Forças Armadas.
(19° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
O questionamento permanece e o editorial faz uma comparação entre a defesa do
decoro do deputado feita pelo Congresso e o uso proposital deste direito para ofender as
forças militares.
nesse parágrafo, o uso de quase todos os processos evidenciados pela
metafunção ideacional. Tem-se o processo material em duas situações, na primeira
representado pela forma entregar iniciando a oração e na segunda, também na primeira
oração, representado pela forma fere. Os demais processos são o relacional com apenas
uma utilização. Mesmo assim é representativo uma vez que é a partir dele que o
deputado é identificado como faltoso pelo editorial. O processo existencial, de pouca
incidência neste estudo é utilizado, na forma prototípica , na segunda linha, seguido
de um processo verbal que se apresenta pela forma dizer, na segunda linha, e injuriar,
na quarta linha. Esta última forma assume um valor pejorativo em relação às Forças
Armadas, pondo-a na categoria de vítima da situação. Um valor igualmente pejorativo é
observado no processo comportamental, na terceira linha, representado pela forma
acoita que historicamente, do ponto de vista popular, tem sua idéia relacionada à
ilegalidade.
Se entregar a Justiça um deputado que se tornou faltoso fere o decoro do
Parlamento, que não se há de dizer desse mesmo decoro quando um membro do
Poder Legislativo se acoita na prerrogativa de sua unanimidade para injuriar as
forças militares, guardas da soberania, da honra e da liberdade da Nação?
(20° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968)
A situação atual do partido de situação, a ARENA, é apresentada ao leitor e
caracterizada para este como sendo incoerente e infiel à sua missão.
A idéia desenvolvida por esse parágrafo faz utilização do relacional prototípico é
e uma série de atributos negativos são dados ao partido por meio desse processo.
A ARENA é hoje um partido semi-dissolvido, incoerente e infiel à sua missão.
(
21° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968)
O editorial vai se encaminhando para a conclusão mostrando o que acontecerá à
ARENA. As idéias negativas relacionadas ao partido de situação permanecem e o
editorial desta vez diz que a ARENA falhou e terá que, de alguma forma, pagar por tal
erro.
O processo comportamental, representado pela forma falhou, inicia o parágrafo.
O processo seguinte, o material, apresenta as conseqüências negativas do ato,
assumindo para isso uma forma da esfera religiosa purgar.
Falhou e terá, necessariamente, que purgar de algum modo, o pecado da deserção.
(22° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de
1968)
Finalmente, o último parágrafo deste editorial fala, como bem mostrado por
Melo(1985) no capítulo II desta pesquisa, diretamente ao Estado em nome da opinião
pública. Nessa passagem é dado o tom de descontentamento da sociedade em relação ao
que se está discutindo.
O processo aqui é o material regozija. Outros processos são também usados
como o comportamental aguarda indicando, segundo o editorial, qual seria a posição da
opinião pública; o mental com a forma venha a sofrer indicando um desejo de não
prejuízo sofrido pelo regime. Um processo verbal dado pela forma dizer que nessa
situação chama a autoridade das palavras de Talleyrand para respaldo às idéias pregadas
pelo editorial. Como último processo, tem-se o relacional são classificando o erro
político como piores que crimes, como observado abaixo.
A opinião pública não se regozija com esse procedimento imaturo, e aguarda
justamente apreensiva que o regime não venha a sofrer em sua integridade e
sobrevivência os efeitos de erros que, em política, como dizia Talleyrand, são piores
do que crimes.
(23° Parágrafo/ Editorial “Deserção”– Diário de Pernambuco 14 de dezembro de 1968)
6.4
Editorial “ELEIÇÕES INDIRETAS”
Com a promulgação do Ato Institucional nº5, no dia 13 de dezembro de 1968,
como sabemos, as limitações impostas foram ainda maiores. Tivemos aposentadoria
de juízes, cassação de mandatos políticos, fim da garantia de habeas-corpus e
conseqüentemente o aumento da repressão militar e policial.
De acordo com Skidmore,
O fato de não ter garantido em 1968 os votos necessários para
suspender as imunidades parlamentares de Márcio Moreira Alves
deixara neles (nos militares) uma frustração que ainda não havia
absorvido. Tanto assim que muitos militares da linha dura achavam que
a utilidade da ARENA não tinha mais sentido. (1988, p.224)
Essa descrença no partido de situação faz com que os rumores em torno das
eleições indiretas comecem a se manifestar no país. O jornal Diario de Pernambucona
forma de editorial se manifesta sobre o assunto e sai em defesa do voto indireto, ou
melhor, das eleições indiretas como forma de garantir a ordem, a atuação do governo.
As eleições indiretas para governo aconteceram no início de outubro de 1970. Ainda
segundo Skidmore
O comando pessoal do presidente (Médici) foi decisivo na escolha do
candidato e portanto o ganhador em todos os estados, exceto uns poucos
como a Guanabara (Grande Rio), onde a ARENA não controlava a
assembléia legislativa. Mas até o vencedor pelo MDB na Guanabara
Chagas Freitas, não representava qualquer ameaça esquerdista (ou
mesmo centrista)
(1988,p.225)
6.4.1 Processos : significado experiencial
Sem especificar autoria das ações, o editorial de número quatro de nossa análise
apresenta a possibilidade das eleições indiretas ocorrerem no Brasil. Esta eleição seria,
segundo o editorial, a consolidação da tarefa revolucionária iniciada em 31 de março.
Quanto aos processos utilizados nessa passagem, temos a ocorrência de cinco,
todos eles materiais, representados pelas formas voltam a circular, consolidar, iniciada,
implantará e ocorre.
Voltam a circular rumores em torno da possibilidade de o Governo federal, no
programa de consolidar a tarefa revolucionária iniciada em 31 de março de 1964,
implantará, ao menos provisoriamente, o processo das eleições indiretas também
para o governo do Estado, a semelhança do que ocorre de relação a Presidência
da república, inovação da carta de 24 de janeiro de 67.
(1° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968
)
Tem-se nesse parágrafo uma situação vivida antes no Brasil no tocante ao modo
de votação. Ao que parece, tal situação é apresentada com o propósito de mostrar que a
eleição indireta não seria uma novidade implantada pelos militares no poder, mas que
existira antes, como é possível observar no Segundo Reinado, de acordo com o
editorial.
O processo verbal com a forma chamada tem uma aparição no parágrafo, na
primeira oração. Em seguida temos o processo material com quatro usos representados
pelas formas foi escolhido, cabia eleger, sendo abolida e passou a prevalecer. O último
processo desse parágrafo é um comportamental acolhida.
A eleição chamada de “dois graus” foi escolhendo o povo uma espécie de colégio
eleitoral a que cabia eleger os representantes às Assembléias, dominou no Segundo
Reinado, sendo abolida em 1881, no atormentado Gabinete Sinimbu, quando
passou a prevalecer a fórmula depois acolhida pela República.
(2° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
Na esteira do que foi apresentado no parágrafo anterior, o seguinte apresenta
outras situações em que se tiveram eleições indiretas. Apresenta no primeiro momento
o Congresso e as Assembléias como responsáveis pelo voto e mostra em seguida
quando esse procedimento funcionou.
Apesar do parágrafo em análise ser extenso o número de processos existentes
nessa passagem são apenas dois: os materiais, com três ocorrências representados pelas
formas vinha, elegeu e indicaram e os relacionais passava e foram.
Ainda assim, a eleição indireta de competência do Congresso ou das
Assembléias Legislativas estaduais, vez por outra vinha à tona, mas sempre em
circunstâncias excepcionais, quando, por exemplo, o Estado passava da situação
de “Estado de fato” para o “Estado de direito”. Pelo processo indireto, assim,
foram as escolas dos primeiros dirigentes republicanos depois da Constituição de
1891, e após a Revolução de 30, quando o eleitorado de primeiro grau elegeu as
constituintes nacional e estaduais e estas, por sua vez, indicaram os
administradores do Executivo.
(3° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
A defesa do processo indireto continua. O editorial o põe como um processo
democrático quando afirma que este nada tem de antidemocrático. Para respaldar essa
idéia, afirma que a seleção continua sendo do povo, e que este apenas o substabelece a
um colégio de sua escolha.
As ocorrências dos processos são, como em todo o estudo, de maior incidência
dos materiais, com seis usos: insista-se, substabelece, votar, age, seria de ressaltar,
recebem e foi dada. Os processos relacionais, com cinco ocorrências: é, cabe, seria,
tornar e tornando-se. Ainda se tem uma ocorrência do processo existencial com a forma
existe e uma forma do processo mental esqueceram
Em si mesmo, insista-se sempre, o processo indireto nada tem de anti-
democrático, pois o que funciona é o velho instituto da delegação: o poder
seletivo cabe, sempre, ao povo, que, entretanto, o substabelece a um colégio de
sua livre escolha e o qual, desta sorte, ao votar, age em nome do mandante maior
a comunidade. Apenas seria de ressaltar que, para tornar esta delegação
legítima e moralizadora, existe um pressuposto, que os antigos nunca
esqueceram: a ordem natural das cousas em que os delegados recebem a
faculdade seletiva previamente, tornando-se, desta forma, autêntico depositários
da representação que lhe foi dada nas urnas.
(4° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
Desta vez o editorial faz uma consideração do que teria sido o ponto negativo,
ou melhor dizendo, em termos do editorial, o erro na eleição indireta que seria o voto
sob responsabilidade do Congresso antigo e não do novo.
As ocorrências dos processos existentes são de apenas dois e com as mesmas
incidências: três relacionais representados pelas formas pareceu, foi e torna; e três do
processo material, representados pelas formas ter-se outorgado, reconduzido e exprime.
Sempre nos pareceu que o erro básico da linha seguida na Constituição de 1967
foi este: ter-se outorgado a faculdade de eleger os mandatários nacionais não ao
Congresso novo, resultante da “vontade livre” do eleitorado, mas ao Congresso
em fim do mandato, e que, muita vez, não reconduzido, torna patente não mais
exprime a manifestação da vontade popular.
(5° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
Na perspectiva do erro apontado no parágrafo anterior, o editorial expressa o
receio de a escolha dos governadores ser destinada ao Congresso enquanto
representação do povo ─ e não ao próprio governo.
Para concretização dessas idéias, faz-se uso do processo relacional é com uma
ocorrência, do comportamental temer e de três materiais estendendo, inicia e retirando.
É de temer assim, que estendendo o processo da eleição indireta também aos
governadores, o legislador revolucionário incida no mesmo equívoco,
retirando, assim da designação dos dirigentes o seu melhor respaldo à vontade
da comunidade.
(6° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
O parágrafo seguinte usa os Estados Unidos como exemplo e demonstra como é
possível a utilização de manobra para se conseguir resultado satisfatório na eleição.
Quanto às ocorrências, uma do processo relacional é, classificando o exemplo
americano como sugestivo, duas ocorrências do processo mental queria ver, sabia
e seis do processo material representados pelas formas votam, dava, fazendo, concorria,
pendesse e derrotando.
O exemplo dos Estados Unidos é, neste ponto, sugestivo. Quem nas eleições de
novembro último queria ver Nixon na Casa Branca sabia, de antemão, como
votar: dava o sufrágio ao corpo de representantes do Partido Republicano, pois,
assim fazendo, concorreria para que a vitória pendesse para o líder do grupo,
derrotando, assim os democráticos.
(7° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
Mais uma analogia em função do voto indireto como representação democrática
do voto é dadas nesse parágrafo. Dessa vez se faz uma suposição de como seria a
escolha do sucessor do então presidente Costa e Silva.
Os processos selecionados para a construção dessa idéia é um mental
suponha-se ─ e todos os outros seis indicassem, podia votar, acabaria fazendo,
votando, formando e daria ─ materiais.
Suponha-se que, para sucessor de Costa e silva, as influências da cúpula dirigente
indicassem o ministro Andreazza, o ministro Albuquerque, o ministro Magalhães,
o Sr. Bilac Pinto e o Sr. Abreu Sodré. O povo o podia votar diretamente num
destes nomes, mas acabaria fazendo-o de ricochete, votando na chapa de
deputados e senadores que, formando o colégio eleitoral, daria a palavra final.
(8° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
O exemplo de manobra usado em relação à escolha do presidente americano é
retomado para mostrar como seria o resultado das eleições no Rio Grande do Norte, no
Ceará, na Paraíba, na Bahia.
As ocorrências utilizadas no parágrafo é de um processo existencial aconteceria,
três materiais fixava, teria que fazer, votar um existencial havia e um
comportamental negar.
O mesmo aconteceria de relação aos Estados Unidos. Se no Rio Grande do
Norte, no Ceará, na Paraíba, na Bahia, o eleitor fixava suas preferências no sr.
Aluísio Alves, no sr. Virgílio Távora, no sr. Sátiro ou no sr. Pedro Gondim, no sr.
Lomanto, no sr. Antônio Magalhães, nada mais teria que fazer senão votar nos
deputados previamente comprometidos com estes candidatos e sob este ângulo
não havia por que negar a esta escolha o toque, tangível, de democrática.
(9° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
O fecho do editorial faz uma consideração do que foi apresentado ao longo do
texto, considerando não razoável o direito de escolha a um Colégio em fim de mandato
e, segundo palavras do texto, “o próprio povo... cassou a representação”.
Os processos presentes nesse parágrafo de conclusão são dois relacionais
prototípico é; e dez processos materiais, indicando as ações praticadas, representados
pelas formas repita-se, atribuir ,escolher, pode não ser reduzido, contrariando,
,tem, proclama, agir e cassou.
O que não é razoável, repita-se, é atribuir o direito de escolher em nome do
povo a um colégio em fim de mandato, que pode não ser reduzido, um eleitorado
fantasma, portanto, que, contrariando todos os princípios, dá o que não tem,
proclama agir em nome do povo, quando o próprio povo, no pleito direto, prévio,
lhe cassou expressamente a representação.
(10° Parágrafo/ Editorial “Eleições Indiretas”– Diario de Pernambuco25 de dezembro de 1968)
6.5 Editorial “PRESSÃO E ABUSOS”
Não contentes com os caminhos do governo Geisel, os militares de linha dura
começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o
jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi em São Paulo.
Conforme Skidmore,
Em outubro de 1975 Herzog soube por amigos que as forças de
segurança do segundo exército estavam à sua procura. Num esforço
sincero para cooperar, compareceu pessoalmente ao quartel daquela
unidade. Ele não tinha a mínima idéia de que o serviço de inteligência
daquele órgão militar o considerava um conspirador comunista.
(1988,
p.345)
Esse fato início a uma comoção nacional e a uma crise entre os militares,
conseqüentemente ao regime. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece
morto em situação semelhante.
Nos primeiros seis meses de 1978, o movimento de oposição cresce no país. Conforme
Alencar,
Através de atos públicos, de manifestos e da imprensa, as forças
oposicionistas ─ desde os liberais de primeira e os de última hora até os
setores de esquerda, que estiveram durante tantos anos inteiramente
excluídos da participação política legal ─ intensificaram a luta por
liberdades democráticas, anistia e convocação de uma assembléia
constituinte, livremente eleita, como uma das condições para a
eliminação do autoritarismo.
(1996, p.403)
O autor prossegue afirmando que:
As forças populares também em processo de reorganização,
voltaram a se manifestar através de greves e lutas por aumentos
salariais e liberdade de organização. Em maio e junho, mais de
100 mil operários de várias fábricas da região do ABC repetiram-
se e ganharam força.
(1996, p.403)
Esse quadro não ficou distante de Pernambuco. Aqui os trabalhadores dos
canaviais cruzaram os braços por melhores salários. Nesse contexto os atos de violência
começam agora a acontecer de modo espalhado pelo país e a violenta repressão policial
é desencadeada.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho
para a volta da democracia no Brasil.
6.5.1 Processos : significado experiencial
O primeiro parágrafo deste editorial faz uma retomada da violência vivida,
segundo o texto, não em Pernambuco como em toda região Nordeste, atribuída aos
chamados, como o texto apresenta, “coronéis de touceiras”. O texto atribui tal situação
“aos resíduos da autoridade pública que a Revolução ainda não logrou exterminar”
Quanto aos processos, podemos identificar o relacional circunstancial foi, com
uma ocorrência no início da primeira oração, quatro processos materiais, representados
pelas formas passou a reinar, era atribuída, reinem, lagrou exterminar; e um processo
mental, representado pela forma reconheça-se
Não foi apenas no interior pernambucano que passou a reinar essa espécie de
tensão, ou medo de violência, que nos tempos dados como ultrapassados era
atribuída aos chamados “coronéis de touceira”. Reconheça-se que em todos os
estados do Nordeste reinam apreensões, temores, agora atribuíveis não mais aos
remotos dominadores sertanejos, mas a determinados resíduos da autoridade
pública que a Revolução ainda não logrou exterminar.
(1° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
A manutenção do tópico do parágrafo anterior é observado, quando se tem agora
um novo momento, ou seja, a aproximação das eleições, que pode ser vista como
renovação a partir do que é apresentado na linha dois.
Os processos utilizados para construção do sentido nesse parágrafo são o
relacional fazem, apresentando a idéia da proximidade das eleições, com apenas uma
ocorrência e cinco ocorrências do processo material, representado pelas formas parecem
ressurgir, armam, recrudescem e entregou.
Com a aproximação das eleições – logo que se fazem próximos os períodos para
a renovação dos mandatos legislativos em todos os seus escalões parecem
ressurgir as velhas trincas. E se armam os espíritos. E recrudescem a
agressividade e o arbítrio muitas vezes presididos à sombra pelos figurões de
proa a quem se entregou em má hora os bastões da autoridade.
(2° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
A idéia de violência discutida no início do texto prossegue e agora se faz um
comentário, apelando àqueles que se dizem bem informados a respeito da
conservação do modo violento e criminoso de se fazer política no Nordeste,
especialmente em Alagoas e Pernambuco.
Os processos utilizados são nove materiais lê, acompanha, ocorridos, pode
deixar, precaver, mudou, fazer, sucedendo e levam um mental convenhamos,
chamando a cumplicidade do leitor, e um relacional, representado pela forma são na
última linha, classificando Alagoas e Pernambuco como recentes vedetes da violência
no processo eleitoral.
Nestes três últimos meses quem e acompanha os fatos ocorridos em nossa
região convenhamos que não pode deixar de precaver-se com a idéia de que
pouco se mudou em matéria de estilo de fazer política, mui principalmente no
interior. Então se sucedendo os crimes de morte, as perseguições, as futricas
fatais que nas pequenas cidades geralmente levam quase sempre ao
desassossego, às vinganças e ao luto. Alagoas e Pernambuco são recentemente
as vedetes para espetáculos de tal molde.
(3° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
O editorial reconhece que o coronelismo não conta com o mesmo poder do
passado, pelo fato de tal prática ter acabado, segundo afirmação explícita na linha
os coronéis se despatentearam no entanto, o editorial sugere ser estranho o fato de a
violência ─ um mal que ainda perdura na região─ ainda existir sem esperança de fim. A
responsabilidade e autoria de atos violentos seriam, de acordo com o texto, dos órgãos
de pressão policial do Estado.
No tocante aos processos utilizados no parágrafo, temos dez materiais
continuemos, tenhamos de aceitar, acabou, promoviam, faziam, despatentearam,
acabaram, zelar, estimula, alastra como os de maior incidência, dois relacionais
representados pelas formas continuemos e teria, os dois como circunstanciais, e
finalmente, um mental, representado pela forma sofrer.
De uma certa maneira até que pode ser julgado estranho que de tais
enfermidades sociais continuemos todos a sofrer sem esperanças, muito embora
tenhamos de aceitar que acabou em seu maior potencial a influência tão
nefasta que os “coronéis” promoviam em amplas áreas onde faziam política
sempre para o poder constituído. Sim, porque os “coronéis” se despatentearam.
Eles acabaram. Pelo menos com os seus reflexos de rolo compressor tão
incidente em distintos eleitorados ou currais de eleitores setores da política
interiorana e da polícia destinada a zelar pela tranqüilidade e paz e de todos
cidadãos. Estaria acontecendo, consoante informações não seguramente
comprovadas, que a violência que se estimula e alastra em muitos municípios
pernambucanos teria suas origens dentro do próprio seio dos órgãos de pressão
policial do Estado.
(4° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
Em todo texto a modalização se faz presente, em especial como forma de
insinuações, sem afirmações concretas. É o que pode ser observado no parágrafo cinco,
transcrito abaixo, do editorial em questão. O editorial afirma não haver certeza sobre a
informação transcrita, mas o se diz ter obrigação de se de posicionar e faz um
comentário quanto a isso ─ salvo por absoluta força maior.
No que concerne aos processos utilizados, ocorrência de dois materiais
subscrevemos e colocamos, posicionando-se sobre o que está sendo dito, um
comportamental salvo um verbal denunciou-se comentando de modo,
aparentemente, despropositado, as prisões ocorridas, e um relacional é classificando a
posição assumida pelo jornal.
Sob determinados aspectos não subscrevemos como exatas tais informações, mas
é princípio não nos colocarmos ante elas, simplesmente mudos e contemplativos
salvo por absoluta força maior. Denunciou-se, a propósito, esta semana, prisão
de vários tipos e razões diversas.
(5° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
Faz-se consideração a respeito dos incidentes ocorridos e logo em seguida
insinua-se a existência de manobras políticas com o intuito de garantir resultados na
eleição que se aproxima.
Identifica-se nessa passagem a ocorrência de apenas processos materiais, são
cinco no total — vai admitir, possam esconder-se, ressalta e estão a redobrarem.
Não se vai admitir diretamente que por trás deste ou daquele incidente de ordem
policial possam esconder-se motivos desarrazoados ou injustos, mas em tudo
ressalta uma positiva implicação: por que precisamente num ano eleitoral estão
a redobrarem pressões e repressões assim tão repetidas e inegavelmente
marcadas com o sinete do abuso ou selo da arbitrariedade?
(6° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
Este parágrafo considera a necessidade de se agir com cautela para não provocar
a ira das autoridades e não toldar a possibilidade de se ter de volta o que o editorial
chama de “verdadeiro aprimoramento democrático” implantado pelos “caminhos
inspiradores de 64”.
Tem-se nessa passagem a ocorrência de dez processos, sendo um relacional ser,
iniciando o modalizador epistêmico
13
no início do período, chamando a atenção para a
necessidade de se tomar cuidado para a situação vivida no momento; seis materiais
13
Não aprofundaremos essa discussão por não ser o foco desta pesquisa.
ir, toldar, está levando, estão encaminhando, aproxima e inaugurar dois
comportamentais estariam tentando e comprometendo e um mental pretendemos
sinalizando para um novo momento no país.
É preciso ir seguramente bem mais devagar por esta área. E tudo por razão muito
simples: não toldar por inteiro o panorama que nos está levando à reintegração
do País pelos caminhos inspiradores de 64. Do jeito como se estão
encaminhando certas coisas, neste terreno do processo eleitoral que se
aproxima, algumas autoridades policiais ou de outra natureza estariam tendendo
para a provocação de intenções eleitoreiras e comprometendo decerto os ideais
que pretendemos todos, desde muito, inaugurar no País: o do verdadeiro
aprimoramento democrático.
(7° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
Na conclusão desse editorial se enumera uma série de práticas comuns em outros
tempos e se adverte para o fato dessas práticas não serem mais possíveis. O editorial
considera uma regressão a prática assumida agora das instituições policiais
Apesar de ser curto, o último parágrafo deste editorial conta com apenas dois
períodos. No entanto, é grande o número de ocorrências dos processos. São cinco
materiais, como o de maior incidência prendendo, perseguindo, cometendo,
forçando e avançamos imprimindo à oração movimento em gradação, nos quatro
primeiros listados, mesmo que não estabelecendo uma ordem de intensidade, confe
plasticidade às ações. Além desses ainda temos um processo comportamental
estamos regredindocom forte apelo emotivo aos leitores e um mental ─ pensa no
final do parágrafo alertando mais uma vez para a situação descrita ao longo do editorial.
Prendendo, perseguindo, cometendo violência, forçando situações, desta
maneira não avançamos. Estamos regredindo e de modo muito mais
comprometedor do que se pensa: sem a usança do coronelismo, mas com o
respaldo da própria instituição policial.
(8° Parágrafo/ Editorial “Pressão e Abusos”– Diario de Pernambuco17 de maio de 1978)
6. 6 Editorial “O APELO DA HORA”
Os meios de comunicação, especialmente a televisão e o rádio, do ponto de vista
do impacto público, constituiam um campo de batalha para os censores (cf.
SKIDMORE: 1988, p. 268). De acordo com esse autor,
Todas as medidas dos censores da Polícia federal eram destinadas
supostamente a impedir a circulação de palavras perigosas, cartuns e
músicas dos inimigos do estado de segurança nacional. Controlando a
mídia, os generais pensavam que podiam controlar o comportamento.
(1988, p. 268)
O momento vivido no Brasil é agora incontestavelmente diferente do momento
anterior. Muitos fatos, inevitavelmente ocorreram e as mudanças eram agora também
inevitáveis. Em comemoração a 150 anos de ensino de direito no Brasil, em agosto de
1970, um professor da Faculdade de Direito de São Paulo divulgou uma “Carta aos
Brasileiros” pedindo redemocratização imediata e o retorno da lei. De acordo com
Skidmore , em seguida a essa carta,
Uma multidão de 3.000 manifestantes marchou através das ruas centrais
da cidade de São Paulo, sem interferência da polícia. Em maio de 1978
a convenção terminou com uma “Declaração dos Advogados
Brasileiros” pedindo a volta do estado de direito e também a elaboração
de uma nova Constituição, a concessão de anistia e a completa revisão
da legislação trabalhista em vigor.
(1988, p.391)
Enquanto isso a comunidade empresarial adere ao movimento. “agora, contudo,
com a censura atenuada e a atmosfera menos carregada, como indicava a atitude da
Igreja, da OAB e da imprensa, muitos homens de empresa passaram também a emitir
suas opiniões” (cf. Skidmore 1988, p.392).
Como apresentado na introdução da análise do editorial 5, acima, Geisel,
em 1978, acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da
democracia no Brasil. Tais medidas contemplam também a imprensa, que a partir de
então vive o início, mesmo que tímido, de um novo momento.
6.6.1 Processos : significado experiencial
No primeiro parágrafo deste editorial tem-se a apresentação da temática a ser
tratada em seu desenrolar. O texto fala, ou melhor, classifica as declarações feitas pela
imprensa, sem ainda especificar no parágrafo que declarações são essas.
Tem-se apenas a ocorrência de um processo o material começa a divulgar,
determinando o foco da discussão.
A imprensa em geral começa a divulgar uma série de declarações, inovadoras,
insípidas, algumas, potencialmente, perigosas outras.
(
1° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
A liberdade de expressão é tópico explícito deste parágrafo que a põe como estando
acima de qualquer questionamento para os jornalistas e como vital aos políticos. No
entanto, segundo o mesmo parágrafo, estes se comportam como num palco e durante
muito tempo estiveram calados por conta do quadro vigente no país, questão
compreendida pelo editorial.
No que diz respeito aos processos apresentados, temos a ocorrência de cinco
relacionais ─ é, é, estão, andaram e faz ─ classificando e circunstanciando a temática
discutida, três materiais ─ encontra, usá-la, medindo ─,dois verbais ─ comunicar-se e
reclama ─ todos relacionados aos políticos e dois mentais ─ prefere e quisessem ─ também
relacionados aos políticos.
Claro é que a liberdade de expressão para nós se encontra acima de qualquer
questionamento. E quem melhor destinado a usá-la do que os políticos? Comunicar-se
para eles é vital. Estão no palco, em plena cena, e a platéia lhes reclama o recitativo
do texto que prefere, disposta a vaiar ou aplaudir. Particularmente, entre nós, durante
tanto tempo andaram eles calados ou medindo palavras a fita métrica que até se faz
perfeitamente compreensível certa incontinência verbal agora, como se quisessem
reconquistar o tempo perdido. Até aí nada demais.
(2° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
O foco agora não é mais os políticos e sim o povo. Segundo o editorial o povo
demonstra-se ávido por informação e por participação o que provocaria nos políticos uma
pequena maratona de exibicionismo, usando as palavras do texto.
Tem-
se a ocorrência
De outro lado, o povo mergulha com avidez na rumorosa água da informação. Tutelado
anos a fio, insulado pelas tramas da censura desperta com súbito e irresistível apetite para
a participação e isso acicata os órgãos de comunicação e provoca no universo político uma
pequena maratona de exibicionismo.
(3° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
No seguimento abaixo, o editorial mostra-se preocupado com o que se faz com a
liberdade de expressão, mostra-a como instrumento para ações questionáveis,
envenenando-se de ódio e radicalismo.
Os processos que compõem esse parágrafo são cinco materiais, representados
pelas formas começamos, envenenar, atiradas, esclarecer e matar; dois mentais;
representados pelas formas preocupar e sentimos, relacionados a postura do editorial.
Começamos a nos preocupar quando sentimos a liberdade de expressão se envenenar
no ódio e no radicalismo, as palavras sujas de curare, atiradas como dardos, não
para esclarecer e sim para matar.
(4° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
O parágrafo que segue anuncia a volta dos exilados e tece considerações sobre a
anistia, diz ser essa uma realidade, um fato contra o qual não argumento. O editorial
afirma que esse poderia ser o marco mais importante dessa caminhada do processo de
redemocratização.
Nesse parágrafo se tem como processos quatro materiais, representados pelas
formas retornam, valem, reencontram-se, abrir, sete relacionais, representados pelas
formas é, pode haver sido, pode ser, é, são, fosse e podem ser classificando a situação
em foco.
Retornam os exilados. Isto é um fato e contra ele não valem argumentos. Pode haver
sido suficiente, para alguns, pode ser tachada de mesquinha, por outros, a anistia
aprovada pelo Congresso. A realidade, entretanto, é que os brasileiros muitos deles,
já não são judeus errantes e reencontram-se com a terra mãe. O acontecimento
poderia se transformar no marco mais importante da caminhada redemocratizadora e
abrir espaço onde fosse possível — sem perda de identidade para ninguém — a
definição de valores que não podem ser sacrificados.
(5° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
No parágrafo abaixo se faz considerações sobre o que, de certa forma, se espera
da volta dos exilados.
Tem-se apenas três processos, sendo dois relacionais, representados pelas formas
é e parece, classificando a situação, e um processo material assumido pela forma
insultar.
Porque isso é o trágico. Esse açodamento para insultar essa miopia perigosa de
grupos incrustados em ambas as parcialidades, em Regiões, como a nossa,
carregadas de sofrimento e carência, não nos parece inteligência nem patriotismo.
(6° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
No parágrafo seguinte se faz consideração sobre o poder democrático existente no
país. O editorial afirma sermos frágeis e afirma também ser nosso insuficientemente
forte para destruir por definitivo ou, fazendo uso das palavras do texto, exorcizar os
fantasmas existentes. Pois estes estão escondidos, encarnados em bonecos.
nesse trecho a utilização de seis processos, sendo três relacionais
representados pelas formas é, andam e somos classificando o “clarão democrático”,
um processo material exorcizar que indica uma postura de tentativa de fim, de
extermínio; e ainda dois processos verbais falando e chama-se.
O clarão democrático, ainda não é poderoso suficientemente para exorcizar todos os
fantasmas. Por ai andam eles encarnados em meias palavras, escondidos em
reticências, feitos ventríloquos, falando pela boca de tristes bonecos. Somos uma
liberdade indefesa, fragilidade chama-se a guarda de nossos direitos?
(7° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
O fecho deste editorial faz um questionamento sobre a quem interessa a situação
atual e afirma que o Estado de Pernambuco já teria sofrido muito com tudo que
aconteceu e que tal situação deveria bastar.
Tem-se como processo apenas quatro ocorrências, sendo dois mentais
relacionados às sensações , representados pelas formas aproveita e sofreu ; e dois
materiais merece e deveriam bastar.
A quem aproveita o carnaval de ódios? Pernambuco que tanto sofreu merece mais
ponderação e equilíbrio. Já deveriam bastar, para todos, as provocações.
(8° Parágrafo/ Editorial “O apelo da hora”– Diario de Pernambuco27 de junho de 1978)
6. 7 Editorial “O JOGO DEMOCRÁTICO”
O ano de 1979 apresenta-se com postura diferente dos demais vistos até então.
Essa postura não se simplesmente por vontade do governo, mas por circunstância de
todo o desenrolar até então. A palavra-chave de então, segundo Skidmor (1988) é
“‘negociação’, o equivalente lógico a abertura para aqueles que desejavam uma nação
genuinamente pluralista”.
Várias greves aconteceram no país em prol de mudanças. Destas, vários
precedentes foram estabelecidos. Dentre eles continuaram a surgir novos líderes
sindicais, contrários àqueles apoiados pelo governo; outro precedente foi a disposição
de alguns empregadores de negociar diretamente com os trabalhadores. Um terceiro
precedente foi a “solidariedade demonstrada aos trabalhadores por outros elementos do
público, como a igreja e seus grupos de leigos, juntamente com os profissionais de
classe média” (cf. SKDMORE: 1988, p.417).
O governo, também por questões econômicas perdia,de certo modo, mais força.
As mudanças se faziam necessárias. Não era mais possível ignorá-las.
O editorial veiculado pelo jornal Diario de Pernambucoem o5 de agosto de 1979
se mostra de forma curiosa, ao contrário dos que analisamos até então, um
posicionamento diferente neste, como observaremos em seu desenrolar. É feito
inicialmente uma demonstração do governo americano para em seguida se fazer uma
comparação com o Brasil.
6.7.1 Processos : significado experiencial
Tem-se no parágrafo de abertura a posição em que se encontra o presidente
americano, ou seja, a busca da reconquista do apoio popular, a partir de uma
necessidade, de acordo com o editorial, de refazer sua imagem.
a utilização de dez processos nessa passagem. Encontramos a ocorrência de
dois mentais, representados pelas formas observam e sentiu cinco materiais
representados pelas formas começa, adotar, fez, revelavam e refazer e um processo
relacional representado pela forma vem sendo
Observam comentaristas políticos que o presidente Carter começa a adotar uma
nova estratégia na sua luta por reconquistar apoio popular. Como se fez notório,
o seu Governo vem sendo submetido a uma implacável crítica e pesquisas de
opinião revelavam o seu crescente desgaste perante a opinião pública. Acossado
pela resistência parlamentar à sua política energética, ou, ameaça de desaprovação
do acordo Salt II, ainda, o impacto negativo, sob alguns aspectos de sua reforma
ministerial, o presidente sentiu a necessidade urgente de refazer a própria
imagem ameaçada com sua segunda candidatura por sobras perigosas como a do
senador
(1° Parágrafo/ Editorial “O jogo democrático”– Diario de Pernambuco05 de agosto de 1979)
O parágrafo seguinte continua tendo o presidente dos Estados Unidos como foco
do texto. Nesse momento demonstra-se a mudança de hábito do então governante com
intuito de apresentar, no caso ao Brasil, como esta se mostra relevante e frutífera para
conseguir obter o objetivo traçado.
No que tange aos processos utilizados, há a ocorrência de um relacional
representado pela forma consistiria, indicando mudança de estado, ou melhor, de estilo,
cinco processos materiais assumidos pelas formas mudar, está procurando, obter,
conseguindo superar e pode gerar, indicando a concretização dos atos e um processo
comportamental representado pela forma pressionar, indicando, nesse caso a postura
assumida em relação ao Congresso.
Basicamente, em que consistiria a mudança de estilo do homem da Geórgia?
Inspirado, talvez, nas famosas palestras radiofônicas de Roosevelt, conhecidas
como
—Conversas ao pé da lareira", Carter está procurando, de maneira direta,
através da televisão, obter a compreensão e aplauso do povo para o seu programa
e, através deles, pressionar o Congresso, conseguindo superar sua oposição.
Num pais, altamente, politizado, como os Estados Unidos, esse jogo de habilidade
pode gerar resultados compensadores.
(2° Parágrafo/ Editorial “O jogo democrático”– Diario de Pernambuco05 de agosto de 1979)
No parágrafo que segue o editorial apresenta o modelo de postura adotado pelo
presidente americano e cogita a possibilidade deste ser um modelo a ser utilizado aqui.
É mostrado o regime americano como modelo de democracia a ser seguido, formas de
mudanças e transformações que precisam ser vistas e adotadas para que sejamos
autênticos.
Os processos utilizados nessa passagem são seis materiais representados pelas
formas preste, romper, criar, empertigar, recorrer e alçou, dois processos mentais
suscitar e captar e ainda um processo relacional é, caracterizando a postura americana.
O fato,
talvez se preste a uma reflexão doméstica. Primeiro, sobre a extraordinária
plasticidade e riqueza do regime democrático, sempre capaz de suscitar soluções
novas, romper impasses, criar atitudes transformadoras na mecânica de captar
os anseios nacionais. Isso, sim, é o importante. Não se empertigar o regime no
monolitismo da auto-suficiência, mas, humildemente, recorrer sempre, de uma
forma ou de outra, as suas matrizes populares, em busca de autenticidade.
Segundo, como corolário irrecusável, a flagrante fraqueza dos sistemas de força,
olímpica no seu poder e sabedoria, isolados, entretanto da seiva comunitária,
bloqueada e desprezada pela minoria que se alçou aos níveis da divinização.
(3° Parágrafo/ Editorial “O jogo democrático”– Diario de Pernambuco05 de agosto de 1979)
No penúltimo parágrafo deste editorial, considera-se a posição atual do Brasil no
que tange ao regime de governo. Após se ter mostrado como se deveria agir,
comparativamente aos Estados Unidos, o trecho apresenta a situação real brasileira, na
ótica do editorial.
Há, nesse trecho, a utilização de sete processos materiais representados pelas
formas emerge, subimos, reabre, vem fazendo, tenham demonstrado, oferece e podem
aspira; três relacionais estamos, seria e seja categorizando o momento vivido no
Brasil. Além desses dois processos, ainda observamos a utilização de um processo
verbal afirmar e um processo existencial .
O Brasil emerge de grave crise institucional. Já não estamos no fundo do posso,
entretanto, seria temerário afirmar que já subimos as montanhas. O Congresso
Nacional reabre entretanto uma pauta de crimes cruciais. O Poder Executivo vem
fazendo, pouco a pouco, o aprendizado de linguagem popular. Possivelmente,
esses, ainda, tímidos balbucios democráticos tenham demonstrado a enorme
diferença que entre a democracia e as outras formas de governo. Não que ela
seja uma panacéia, mas, porque oferece aos homens do poder a única segurança
que podem aspirar, a da solidariedade e apoio das bases populares.
(4° Parágrafo/ Editorial “O jogo democrático”– Diario de Pernambuco05 de agosto de 1979)
No fecho deste editorial se percebe de modo claro o apelo à democratização, ao
poder advindo do povo, segundo o editorial, o exemplo dado pelo presidente daquele
país.
Quanto aos processos, temos a ocorrência de um comportamental, representado
pela forma imitamos, no início do parágrafo, com a idéia de postura a ser adotada pelo
Brasil. Um processo mental representado pela forma deixemos de observar focando-se
para o tema em questão e, finalmente, um processo material representado pela forma
indo buscar denotando ação a ser seguida pelo Brasil em sua trajetória.
que imitamos tanto os Estados Unidos, não deixemos de observar, agora, o
seu presidente indo buscar no povo a legitimidade e a força do seu pensamento.
(5° Parágrafo/ Editorial “O jogo democrático”– Diario de Pernambuco05 de agosto de 1979)
6.8 Editorial “APROVADA A ANISTIA”
Mesmo tendo os problemas econômicos tendo caráter de urgência,uma das
primeiras atitudes do presidente Figueredo, ao assumir o governo foi de âmbito político.
Era “vital que o Brasil abandonasse o regime autoritário e reintegrasse na sociedade e na
política os milhares de exilados políticos que tinham fugido do país ou sido perseguido
no exterior desde 1964” (Skidmore;1988). Tratava-se da anistia.
A aprovação da anistia foi aprovada pelo Congresso em agosto de 1979. De
acordo com Skidmore(1988:423) “Foram beneficiados com a medida todos os presos ou
exilados por crimes políticos desde 02 de setembro de 1961 (a data da última anistia
houve 47 na história do Brasil). Ficaram excluídos os culpados por “atos de terrorismo”
...
O movimento pró-anistia não estava satisfeito, pois “queria que fossem
chamados à responsabilidade os que deram sumiço a 197 brasileiros que se acreditava
terem sido assassinados pelas forças de segurança desde 1964” Skidmore (1988:425).
Ainda segundo este autor, “os líderes de oposição sabiam que podiam passar a um
regime aberto com a cooperação dos militares. Poderia haver futuras tentativas de
reabrir a questão, especialmente por parte daqueles mais próximos das vítimas da
tortura”
6.8.1 Processos : significado experiencial
O editorial de numero 8, o último de nosso corpus restrito, divulga o fim da
anistia, como é apresentado pelo título. O editorial ao parlamento a aprovação do
projeto de anistia. De acordo com essa posição, o Brasil estaria “disposto a perdoar”
aqueles que foram condenados por protestar contra o regime de 64.
Como processos presentes nesse parágrafo, temos quatro materiais representados
pelas formas exigia, foi atingido, levantassem e empunharem. Temos dois relacionais
assumidos pelas formas é e foram e dois processos mentais representados pelas formas
esquecer e perdoar.
Aquilo que evidentemente o momento nacional exigia, foi, através do Parlamento
Nacional, atingido anteontem com a aprovação do projeto de anistia. É verdade
que se levantaram óbices e correntes, destacadamente aquelas correntes mais
liberalmente voltadas para uma lei aberta e ampla ao ponto de esquecer e
perdoar, inclusive os que foram condenados por empunharem armas para
protestar contra a ordem revolucionária institucional em 1964.
(1° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
No parágrafo que segue faz-se comentário sobre as exclusões cometidas para em
seguida considerar positiva a ação política, segundo palavras do texto, ansiada e
requerida desde muito tempo.
Nessa passagem temos a ocorrência de cinco processos materiais, representados
pelas formas pesem, beneficiaram, resta, alcançou e cobriu e um processo relacional
assumido pela forma prototípica é.
De um modo geral, entretanto, pesem ou não as exclusões discutidas, e que não
beneficiaram quase cem pessoas, o que resta de positivo é que se alcançou ou
cobriu uma etapa da nossa evolução política contemporânea das mais ansiadas e
requeridas desde longo tempo.
(2° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
As considerações em torno do posicionamento assumido em torno da aprovação
da anistia é o tópico deste parágrafo. O editorial agora faz considerações a respeito do
que se consideraria oportuno ao momento atual e considera compreensíveis os vários
posicionamentos adotados, por isso considera também inútil a expectativa de
unanimidade no que tange aos benefícios trazidos pela anistia.
Nessa passagem utiliza-se um processo relacional, caracterizado pela forma está
categorizando o apoio ao projeto de anistia, três processos materiais, caracterizados
pelas formas resulte, buscar e marcar indicando as ações envolvidas com a temática
em foco e um processo comportamental assumido pela forma esperariam indicando o
comportamento esperado por aqueles que tidos como mais radicais.
Está certo que resulte disso, opiniões contrárias, votos extremamente radicais,
muitas vezes da parte de indivíduos de quem se esperariam bem mais ampla
capacidade de interpretação ou exegese para os acontecimentos políticos e sociais
do nosso tempo, todavia, inevitável buscar-se inutilmente unanimidade para
temas da benevolência que marca todo e qualquer projeto anistiante, afinal
decorrente de confronta nem sempre desenvolvidas com isenção de paixão.
(3° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
O parágrafo seguinte faz uma ressalva quanto à origem da anistia. O editorial
afirma ser ela fruto de questões mais fortes e predominantes e não meramente, de
acordo com palavras do texto, de questões solidárias ou simplesmente políticas. Ainda
segundo o editorial a anistia se justificaria pela necessidade da conservação da ordem e
não pela clemência.
Os processos que compõem esse parágrafo são sete materiais representados pelas
formas nascer,está escrito, originam, ordenam, justifica, causou e pode ser ditada
indicando as ações relacionadas à anistia. Existem também três verbais assumidos pelas
formas vale salientar, foi dito e aconselhando todos relacionados, em geral, a
posicionamentos sobre a anistia. E finalmente, como último processo presente no
parágrafo, temos três relacionais assumidos pelas formas tem, e duas formas do
prototípico é, na 4ª linha categorizando a anistia e a que esta deve ser aplicada.
Apesar, porém, de tudo isso, vale salientar que a anistia, antes de nascer de
movimentos solidários ou de motivações mera e simplesmente políticas, tem
razões mais fortes e predominantes. Foi dito e está escrito nos juristas sérios, nos
quais não se originam nem se ordenam as grandes sociedades, como os grandes
procedimentos, que "não é a natureza do crime que justifica a anistia; é, sim, a
repercussão, o reflexo que ele causou na sociedade, aconselhando o
apaziguamento geral pelo alivio. A anistia não pode ser ditadapela clemência,
mas pela própria necessidade de conservação da ordem".
(4° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
No parágrafo que segue apresenta-se uma concepção diferente da anistia, esta se
apresenta não como um gesto humano, e sim como uma prerrogativa para o reencontro
do regime democrático.
Temos nesse parágrafo, a ocorrência de um processo mental, representado pela
forma está cabendo saber sinalizando para a necessidade de alguns esclarecimentos
sobre a temática em foco, um processo verbal assumido pela forma explica, dois
processos materiais, representados pelas formas determinou e restaurar, um existencial,
assumido pelo prototípico e por fim um comportamental persiste.
De miado que a muitos brasileiros es cabendo saber que para do que se
explica como gesto humano, e persiste fundamentalmente algo, da parte do
Governo atual, que na verdade se determinou no sentido de restaurar
prerrogativamente inalienáveis para ia reencontro cem o regime democrático.
(5° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
O parágrafo continua usando a necessidade de redemocratização como
justificativa às razões para a anistia. O editorial enfatiza ainda o empenho do governo
em reordenar democraticamente o país.
nessa passagem a ocorrência de dois processos mentais representados pelas
formas deve-se ter em vista e deduza-se, cinco processos materiais representados pelas
formas situa, conciliar, empenha e reordená-lo. Ainda temos dois processos relacionais
representados pelas formas ficam e seria.
Deve-se ter em vista que entre tais prerrogativas se situa a pacificação pela
ordem - que esta é que gera o verdadeiro esquecimento e a insubstituível
confiança. Deduza-se, portanto, que acima mesmo do "beau gente" anistiador,
ficam pressupostos imperativos sem os quais seria impossível conciliar o País
para a obra em que se empenha o Governo de reordená-lo democraticamente.
(6° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
Direcionando-se para a conclusão, o editorial admite não ter ocorrido ainda
medidas que contemplem as necessidades existentes no país.
Temos como processos a ocorrência de um processo mental, representado pela
forma reconhece-se, dois materiais representados pelas formas contemplou e pode
influir, um existencial representado pela forma e um relacional assumido pela forma
está.
Reconhece-se que embaixo de todos os propósitos aludidos, não se completou,
todavia o concerto absoluto de medidas realmente encarecidas por urna grande
parte do País: ainda presos políticos incontemplados, que pode influir como
fermento no processo político que está em derramagem.
(7° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
O fecho do editorial considera ser pouco o que propõe a anistia, no entanto
considera também ser o início do processo que beneficiará a todos, no sentido de um
perdão geral como se pode observar na terceira linha. Na conclusão do editorial temos
dois processos relacionais, representados pelas formas é e permanecem, três processos
materiais representados pelas formas faz, decorrerão e alega.
Mas é quase certo, através do propalado por autorizado da Presidência da
República, que de pedacinho em pedacinho a ave faz seu ninho, indiscutível que
ou medidas decorrerão, agora mais facilmente, no sentido de um perdão geral, de
urna liberdade de vez total, para os quantos que permanecem ainda encarcerados
em virtude de crimes alega sob critério especial.
(8° Parágrafo/ Editorial “Aprovada a Anistia”– Diario de Pernambuco31 de agosto de 1979)
Neste capítulo fizemos a análise dos editoriais que compõem o nosso corpus.
Identificamos os processos presentes cada parágrafo, com o objetivo de identificar quais
os processos de maior incidência.
No capítulo seguinte faremos as considerações em torno dos resultados
alcançados por este estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo objetivou identificar e descrever, a partir do sistema de
transitividade de Halliday(1985, 1994), os tipos de processos mais freqüentes em oito
editoriais publicados pelo jornal Diario de Pernambuco durante o Regime Militar,
iniciado em 1964, e o período de Redemocratização.
Nosso intuito foi o de identificar, a partir dos processos mais recorrentes qual a
representação feita por este jornal desse regime político.
À guisa de conclusão, pretendemos aqui analisar algumas evidências, situar
algumas limitações desta pesquisa, assim como apontar sugestões para estudos futuros.
O Regime Militar vivido pelo Brasil,durante quase trinta anos, nas décadas de
60, 70 e início dos anos 80, trouxe graves conseqüências à história desse País. Passados
pouco mais de 40 anos, ainda é possível ver marcas concretas desse período, ainda não
histórico pela exigência temporal, mas um fato marcante e cruel na “memória desbotada
das nossas novas gerações”. Um conhecimento maior desse nosso passado obscuro e
sombrio poderia proporcionar alguns esclarecimentos de situações da realidade atual
brasileira.
Os jornais, revistas, ou melhor, a imprensa de modo geral, que contribuiu e
apoiou a tomada de poder pelos militares, assim como os atos cometidos por eles,
assume na atualidade o discurso de combate, de preservação às idéias democráticas. Foi
pensando nos mecanismos lingüísticos que os jornais utilizam para representar suas
ações, seu mundo e ainda nas relações de poder que este veículo impresso assume
enquanto formador de opinião, em oposição à postura que dizem ter como defensores
dos interesses sociais que consideramos adequado examinar como o mais antigo jornal
em circulação na América Latina representou o Regime Militar e o período de
Democratização.
O contexto histórico e social dos editoriais, que compõem o corpus desta
pesquisa, independentemente, da riqueza de possibilidades de análise que pode nos dar,
neste trabalho, apenas focamos a importância da visão de língua, sob a perspectiva
sociossemiótica (Halliday e Hasan, 1989), que percebe a importância do ambiente
situacional e cultural na elaboração das experiências vivenciadas pelo sujeito social.
Desse modo, analisamos o material escrito numa perspectiva discursiva e por
último tentamos estabelecer uma relação entre o aporte teórico da Gramática Sistêmico-
Funcional e a intencionalidade do autor.
O corpus desta pesquisa foi composto por oito editoriais, formado por 5.752
palavras, como aponta a lista de freqüência (em anexo), dentre as quais 478 são
processos.
De acordo com as evidências de nossa pesquisa, os processos mais freqüentes,
revelados pela análise, são os materiais, seguidos dos relacionais, em seguida temos os
mentais, os comportamentais, os verbais e os existenciais, como explicitamos no gráfico
a seguir:
Distribuição dos processos no Editorial
0
50
100
150
200
250
300
350
Processos
Quantidade
rie1
rie1
287 84 25 41 29 12
Material Relacional Verbal Mental Comportamental Existencial
Tabela 1: Distribuição dos processos existentes nos editoriais
A tabela abaixo nos possibilita observar a quantidade de processos presentes em
cada editorial. Dessa forma temos:
Processos Ed.
1
Ed.
2
Ed.
3
Ed.
4
Ed.
5
Ed.
6
Ed.
7
Ed.
8
Tota
l
MATERIAL
42 42 37 45 40 23 24 34 287
RELACIONAL
09 09 14 14 07 17 03 11 84
MENTAL
02 09 04 04 05 06 05 06 41
COMPORTAMENTA
L
04 05 10 02 04 0 02 02 29
VERBAL
02 04 09 01 0 04 01 04 25
EXISTENCIAL
01 03 02 03 0 0 01 02 12
TOTAL
60 72 76 69 56 50 56 59 478
Tabela II: Distribuição dos processos por ocorrência nos editoriais
Transpondo os dados obtidos na identificação dos processos existentes em cada
editorial para o percentual de freqüência de cada um deles, temos, em dados
aproximados, a partir do critério de arredondamento, o seguinte resultado:
PROCESSOS ED.1 ED.2 ED.3 ED.4 ED.5 ED.6 ED.7 ED.8
MATERIAL
70% 58 % 49% 65% 71% 46% 43% 58%
RELACIONAL
15% 12 % 18% 20% 12% 34% 5% 18%
MENTAL
3% 12% 5% 6% 8% 12% 9% 10%
COMPORTAMENTAL
7% 7% 13% 3% 7% 0% 3% 3%
VERBAL
3% 5% 11% 1% 0% 8% 1% 6%
EXISTENCIAL
2% 4% 3% 4% 0% 0% 2% 3%
Tabela III: Distribuição dos processos em percentual por ocorrência nos editoriais
Tratando do sistema de transitividade, os resultados encontrados nos permitem
afirmar que os processos materiais com 59 % de ocorrências propiciam ao leitor um
conhecimento do mundo físico, destacando o ator que realiza a ação e a meta
estabelecida por esta, deixando em segundo plano o mundo interior dos participantes,
relacionados à decisão e à compreensão; a classificação e caracterização dos fatos; e aos
comportamentos físicos e psicológicos.
Os resultados encontrados nos permitem afirmar que os contatos sociais entre
pessoas e suas manifestações lingüísticas – no caso a escolha dos processos são
organizados com a finalidade de atingir um propósito inserido no contexto de cultura.
No Editorial (01) Cruzada Feminina, por exemplo, os principais participantes do
discurso (atores e metas) como o brado retumbante, um acontecimento fundamental na
batalha em defesa da democracia, as mulheres mineiras, país, onda agitacionista,
heróico resistência das novas ‘amazonas’ das Montanhas – explicitados no 1º parágrafo
se responsabilizaram pela informação das principais ações. Todos esses participantes
estão relacionados ao processo material.
O segundo processo mais presente no corpus é o relacional com 18 % das
ocorrências, seguido do mental ( 9%), comportamental (6%), verbal (5%) e, por fim, do
existencial (3%),como mostra o gráfico a seguir:
59%
18%
5%
9%
6%
3%
Material
Relacional
Verbal
Mental
Comportamental
Existencial
Tabela IV: Distribuição dos processos nos editoriais
Isso nos leva a refletir a respeito dos processos relacionais, possuindo uma
função classificatória e caracterizadora dos participantes do discurso, como
exemplificamos a seguir:
Retornam os exilados. Isto é um fato e contra ele não valem argumentos. Pode
haver sido suficiente, para alguns, pode ser tachada de mesquinha, por outros, a
anistia aprovada pelo Congresso. A realidade, entretanto, é que os brasileiros
muitos deles, já não são judeus errantes e reencontram-se com a terra mãe. O
acontecimento poderia se transformar no marco mais importante da caminhada
redemocratizadora e abrir espaço onde fosse possível — sem perda de identidade
para ninguém — a definição de valores que não podem ser sacrificados.
(4° Parágrafo/ Editorial Nª 06 O Apelo da HoraDiário de Pernambuco)
Com a conclusão de algumas análises, nossos resultados apontaram que a
Lingüística Sistêmico-Funcional se distingue de outras abordagens lingüísticas por
procurar desenvolver uma teoria sobre a língua como um processo social e uma
metodologia que permita uma descrição detalhada e sistemática dos padrões
lingüísticos.
Mesmo sendo composto por apenas oito textos pertencentes a um único gênero, o
corpus possibilitou várias conclusões importantes sobre o sistema de transitividade em
Língua Portuguesa, delineados a seguir:
embora a quantidade de processos levantada, devido ao tamanho do corpus,
possa parecer pequena , fornece dados representativos;
mesmo que os editoriais, revelando conflitos históricos, tenham sido escritos em
anos e décadas diferentes, parecem possuir a mesma intenção: dar atenção às
ações dos participantes do discurso, através dos processos materiais;
destaca ação dos participantes com intuito de gerar mobilizações na
comunidade;
Se tudo isso é verdade, podemos dizer que o jornal Diario de Pernambuco, de certa
forma, apoiou a Ditadura Militar, construindo textos que direcionavam a opinião
pública, orientando a interpretação para a adesão do ponto de vista defendido pelo jornal
O jornal mantém a mesma postura de apoio, do início ao fim de nossa análise, ou
seja, o apoio é mantido nas décadas de 60 e de 70, período de nossa análise
Enfim, com esta pesquisa esperamos contribuir para os estudos da linguagem, no
que se refere ao estudo do gênero editorial e o significado dos processos seja no patamar
transitivo ou intransitivo. Pretendemos, portanto, chamar atenção para a necessidade de
se pensar em verbos como processos dentro de uma perspectiva semântico-funcional ao
estudar gêneros na sala de aula.
Esperamos ainda, contribuir para futuras pesquisas no que se refere à (i) análise
dos participantes e circunstância de forma sistemática, assim como (ii) o aspecto
valorativo estabelecido por nossas escolhas.
Bibliografia
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Anexos
EDITORIAL Nº 01
CRUZADA FEMININA
Partiu de Minas o brado de alerta que pode constituir um acontecimento
fundamental na batalha em defesa da democracia no país: numa atitude inédita - tanto
mais surpreendente quanto em aparente conflito com a mentalidade mesma da gente
montanhesa, as mulheres mineiras deram, ao país, o exemplo fecundo da mobilização
democrática, mostrando que, antes de conflagrar a Nação, a onda agitacionista terá
que abater a heróica resistência das novas amazonas” das Montanhas, leoas bravias
quando em perigo seu lar, o futuro das suas famílias, os destinos mesmos da
nacionalidade.
O exemplo mineiro parece começa a empolgar as pernambucanas, que também
se movimentam, se mobilizam, adivinham o perigo resultante de unia posição de
comodismo, de indiferença, de alheamento aos problemas políticos e sociais.
Nem seria possível que Pernambuco permanecesse de ouvidos moucos a este
alerta em defesa da democracia, da mais intensa participação da mulher na vida pública,
pois o feminismo serio, nobre, esclarecido tem, na gente duartina, raízes que mergulham
na mais profunda argila de nossa formação regional.
Na verdade, a experiência donatarial, fracassada, quase de inteiro, no resto da
Colônia, venceu e triunfou, opulenta, na hora admirável de Duarte Coelho Pereira,
nosso primeiro donatário. E na análise da civilização duartina na Nova Lusitânea, se
tudo se costuma atribuir ao gênio administrativo do Capitão da Miraguaia, a justiça
manda se reserve boa parcela em favor da “capitôa” olindense, D. Beatriz de
Albuquerque, esposa do donatário, uma das poucas e das primeiras mulheres que no
Brasil participaram do comando da República.
Era D. Beatriz, - dizem-no os documentos dos cronistas que a conheceram um
modelo de mãe de família, de dona de casa, de cristã, formada na melhor escola da
verdadeira piedade, da fé, da vida da fé.
Foi assim que a viram os jesuítas Nóbrega o Padre Pires, o Padre
Anchieta, que lhe resume o perfil chamando-lhe de “governadora e quase mãe do
povo de Olinda: “gubernatriz et quase mater illius populi”. Suas atividades principais,
rezar, ir às Igrejas, assistir a enfermos, fazer caridade, fazendo circular, em meio à
aspereza rija do donatário, o “leite da ternura humana” que adoçasse e amenizasse as
agruras da existência no mundo americano, lugar de provocação, um exílio, quase um
castigo inaturável.
Mas, ao lado disto que seria a rotina de seu papel de mãe de família, de dana de
casa, de manter famílias romana, também uma atuação marcante na direção da
Capitania.
Deve ter assumido o governo quando o esposo viajou para o Reino, entre 1540 e
1541; historicamente positivado, ficou ã frente da Nova Lusitânia a partir de 1553 até
1560, quando o segundo donatário, seu filho, Duarte Coelho II, veio assumir a
donatária, e depois de 1572, quando retornou ao Reino, donde não mais voltou. E, a
seguir, lanços esparsos dos raros documentos que tios restam do tempo evidenciam que
em épocas diversas esteve no governo, dosando com maestrias deveres do lar, com
aqueles, mais severos, da administração e do comando político.
está, para as mulheres pernambucanas, o exemplo sugestivo desta grande avo
- D. Beatriz de Albuquerque, a mulher seiscentista que lhe pode servir de modelo, na
medida em que, sem perder nada se sua feminilidade, de sua integração com a vida de
família, recatada, discreta, suave e pura, mostrou como também a mulher, e talvez
sobretudo a mulher brasileira - pode e deve dar sua quota de esforço e de sacrifício pelo
bem comum, principalmente em horas angustiadas como as que vive o pais, e em que,
por isso mesmo, a ninguém e licito cruzar os braços, fugir cia luta que e de
sobrevivência,
Mobilizem-se assim as mulheres pernambucanas, tomando como paradigma e
crivo o exemplo fecundo da donatária que a lição de Minas encontre ressonância em
Pernambuco, especialmente no Recife, onde também a mulher pernambucana poderia
buscar o seu modelo em D. Olegarinha, esposa de José Mariano de mostrar, desta
forma, que apenas se retoma uma tradição que vem de muito longe
.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 08 DE MARÇO DE 1964
EDITORIAL Nº 02
O DEVER DOS DEMOCRATAS
Começam a dar os primeiros resultados a brava e patriótica cruzada de
mobilização democrática em boa hora iniciada pelo deputado João Calmon. Em
Minas, em São Paulo, no Rio Grande, na Guanabara, em Pernambuco, no Ceará,
em Goiás, constitui motivo de alento ver-se como a consciência democrática vai
saindo do retargo, acordado para a realidade, dispondo-se a vender caro a liberdade,
pondo barreiras à onda de subversão que, vinda do alto, ameaça toda a vida da Nação.
Durante mais de meio século de vida política autônoma, o Brasil se vinha
comportando como se tudo deslizasse tranqüilamente da guerra maneira e no melhor
elos mundos, Sobretudo o fim da guerra contra o Eixo apontara a humanidade novas
coordenadas.
Os quadras avelhantados da tradição liberal do século passado sofreram em toda
parte impactos tangíveis levantando-se de todos os quadrantes unia onda de reformas
das condições sociais dos povos, os continentes e as nações vendo crescer aquele
mesmo fenômeno que tanto vincou a história de Roma, os conflitos do patriarcado e da
plebe, que, valendo, quando nada pela quantidade, teria, necessariamente de levar de
vencida velhos privilégios, superadas distâncias, ratos de injustiça que os tempos não
mais poderiam tolerar.
Também o Brasil acabou engajado nesta batalha fatal, e diante de um quadro
incompatível com as condições da marcha da civilização, não porque se estranhe
viva toda a Nação, de alto a baixo, dominada pela idéia das reformas inadiáveis e
justas.
O que ocorre no Brasil - reflexo, de resto, do que se verifica em todo o mundo
moderno - é aquilo mesmo que acontecia nos Estados Unidos nos tempos de Lincoln,
de respeito à abolição da escravatura e que o lógico soberbo da marcha revolucionária
resumiu neste conceito: “Vejo a emancipação aproximar-se; quem puder esperar por
ela verá: quem ficar na sua passagem, será esmagado”. Não forças que possam
deter as reformas e seria uma desgraça as houvesse, porque e que se reclama, antes de
tudo, uma política de renovação, que invista contra uma ordem injusta, desumana,
anti-cristã, ignóbil e assim o dever dos democratas não de ser a posição suicida
de entravar-lhes a caminhada, mas facilitá-las, aprimorá-las, torná-las mais e mais
humanas, visando-se à formação não apenas daquele “homem novo” de que falava São
Paulo, mas de uma sociedade nova, estruturada na justiça, mas, como pregava o Santo
Padre João XXIII, baseada, na ordem, na disciplina, no, direito e na moral.
O primeiro dever dos democratas, portanto, é não deixar que esta bandeira que é
nossa, que deve constituir nosso "penacho" - passe as mãos dos aventureiros, dos
agentes da subversão, dos artífices do caos, a quem somente interessa a luta de classes.
os índios entre os grupos.. os choques entre os que tudo têm e os que nada possuem.
A bandeira do reformismo sereno, profundo, realista e cristão, deve voltar aos
democratas, aos partidos a quem cabe disciplinar a política, aos homens de boa vontade,
aos que sentem ha uma evolução a perseguir e uma revolução sangrenta a evitar. E para
levar a cabo este prograria renovador, as armas terão de ser as da lei, da
constitucionalidade, do disciplinamento jurídico, do entendimento elevado entre alas
agora em campo de luta e cuja harmonizarão se impõe num quadro vasto de justiça, de
ordem, de legalidade. Lutando, porém, por estas reformas, os democratas precisam estar
alerta, mobiliar-se, cerrar fileiras, tinir-se dispostos, inclusive a responder com a força a
todas as tentativas de subversão e de mazurca. Não bastam, para isso, apenas bonitas
palavras, discursos inflamados, explosões líricas de retórica exaltada em comícios, em
praça pública, na imprensa, nos rádios e nas televisões. Urge também – e sobretudo –
a mobilização prática, a necessidade de todos se alistarem, de todos votarem, e
votando, selecionando os melhores, pondo termo a esta avalancha de demagogia
delirante e histérica, pensando, mesmo, menos em termos de “democracia” do que de
“demofilia”, numa política séria voltada para a defesa dos reais interesses do povo, da
comunidade, da Nação.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 25
DE
MAIO DE 1964
EDITORIAL Nº 03
DESERÇÃO
A Câmara do Deputados recusou, por considerável maioria de votos, conceder
licença para processar o deputado Márcio Moreira Alves.
Votou contra o parecer favorável da Comissão de Justiça.
Tal não teria acontecido, se não tivesse havido grande número de detecções no
partido majoritário.
A ARENA faltou com a sua solidariedade política ao presidente da República,
num caso em que ele se empenhava, não por motivos caprichosos, e sim tendo em
vistas possíveis conseqüências para o regime vigente.
Tratava-se de uma questão meramente política, a ser resolvida pelo critério
político que não pode deixar de ser acolhidos por homens que fazem política e não
desconhecem as suas motivações, às vezes colocadas acima das vontades dos
dirigentes.
Grande é, pois, a responsabilidade assumida pela ARENA que tendo perdido a
sua unidade e coesão, teve igualmente debilitado o papel que representa de apoio e
suporte do Governo da República.
No caso destes debates, fizemos bem claro o nosso ponto de vista que é do bom
senso: a imunidade parlamentar não pode constituir um privilégio assegurado ao
representante para, da tribuna do Parlamento, agredir a honra de pessoas ou de
corporações, sem que as suas vítimas possam recorrer a justiça para se defender.
Semelhante inviolabilidade para o criminoso não se compadece com a igualdade
dos cidadãos, fundamental nas instituições democráticas.
Uma coisa é ser inviolável por votos e opiniões emitidos, e outra bem diversa
pretender a mesma proteção legal para delitos que levam os demais cidadãos aos
tribunais para responder.
A absurda interpretação do conceito da imunidade no Parlamento brasileiro,
chegou ao cúmulo de se estender sobre homicidas, colhidos em flagrantes, o manto
salvador da mesma recusa que agora e liberalizada ao deputado oposicionista
acusado de insultar as Forças Armadas.
A maioria da Câmara preferiu ficar com o deputado em nome da salva-guarda de
uma prerrogativa que em nenhum outro Parlamento do mundo tem o elastério que lhe
é reconhecido no Brasil.
Resta-nos agora esperar que a sensatez que deixou de prevalecer na ARENA não
abandone quantos, nesta EMERGÊNCIA, são chamados a contribuir com a sua
serenidade para a preservação do regime.
Compreendemos que a presidência da República atravesse, nesta hora,
momentos muitos difíceis. Mas os momentos difíceis são que afirmam a
personalidade dos verdadeiros homens do Estado e dão as dimensões de sua força de
comando.
Por mais que se deseje disfarçar a validade, parece impossível negar que a crise
é agora muito mais vasta e profunda e, por isso mesmo, exige não apenas das
lideranças políticas como dos chefes militares, postos direta e pessoalmente em
causa, que busque encontrar fórmulas apaziguadoras, capazes de evitarem que as
correntes radicais e intransigentes levem vantagem e predominem sobre as forças
razoáveis e moderadas de que o marechal Costa e Silva tem sido no curso do se
governo, um paradigma admirável.
Uma coisa pode ser dita desde logo: os deputados arenistas que traíram o
partido, colocando-se ao lado dos adversários para desafiar a autoridade do
presidente da República, não contribuíram, de nenhum modo, para consolidar o
frágil regime democrático que possuímos.
Bem longe disso.
Disseram eles que o seu procedimento foi ditado pelo dever foi ditado pelo dever
de assegurar a dignidade e decoro do |Congresso.
Mas, por acaso, essa mesma dignidade e esse próprio decoro não foram
gravemente ofendidos, quando sem protesto de ninguém, um deputado desaforado se
levantou para agredir as Forças Armadas.
Se entregar a Justiça um deputado que se tornou faltoso fere o decoro do
Parlamento, que não se de dizer desse mesmo decoro quando um membro do
Poder Legislativo se acoita na prerrogativa de sua unanimidade para injuriar as
forças militares, guardas da soberania, da honra e da liberdade da Nação?
A ARENA é hoje um partido semi-dissolvido, incoerente e infiel à sua missão.
Falhou e terá, necessariamente, que purgar de algum modo, o pecado da deserção.
A opinião pública não se regozija com esse procedimento imaturo, e aguarda
justamente apreensiva que o regime não venha a sofrer em sua integridade e
sobrevivência os efeitos de erros que, em política, como dizia Talleyrand, são piores
do que crimes.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 14 DE DEZEMBRO DE 1968
EDITORIAL Nº 04
ELEIÇÕES INDIRETAS
Voltam a circular rumores em torno da possibilidade de o Governo federal, no
programa de consolidar a tarefa revolucionária iniciada em 31 de março de 1964,
implantará, ao menos provisoriamente, o processo das eleições indiretas também para o
governo do Estado, a semelhança do que ocorre de relação a Presidência da república,
inovação da carta de 24 de janeiro de 67.
A eleição chamada de “dois graus” foi encolhendo o povo uma espécie de
colégio eleitoral a que cabia eleger os representantes às Assembléias, domingo no
Segundo Reinado, sendo abolida em 1881, no atormentado Gabinete Sinimbu, quando
passou a prevalecer a fórmula depois acolhida pela República.
Ainda assim, a eleição indireta de competência do Congresso ou das
assembléias Legislativas estaduais, vez por outra vinha a tona, mas sempre em
circunstâncias excepcionais, quando, por exemplo, o Estado passava da situação de
“Estado de fato” para o “Estado de direito”. Pelo processo indireto, assim, foram as
escolas dos primeiros dirigentes republicanos depois da Constituição de 1891, e após a
Revolução de 30, quando o eleitorado de primeiro grau elegeu as constituintes
nacional e estaduais — e estas, por sua vez, indicaram os administradores do Executivo.
Em si mesmo, insista-se sempre, o processo indireto nada tem de anti-
democrático, pois o que funciona é o velho instituto da delegação: o poder seletivo cabe,
sempre, ao povo, que, entretanto, o substabelece a um colégio de sua livre escolha e o
qual, desta sorte, ao votar, age em nome do mandante maior a comunidade. Apenas
seria de ressaltar que, para tornar esta delegação legítima e moralizadora, existe um
pressuposto, que os antigos nunca esqueceram: a ordem natural das cousas em que os
delegados recebem a faculdade seletiva previamente, tornando-se, desta forma,
autêntico depositários da representação que lhe foi dada nas urnas.
Sempre nos pareceu que o erro básico da linha seguida na Constituição de
1967foi este: ter-se outorgado a faculdade de eleger os mandatários nacionais não ao
Congresso novo, resultante da “vontade livre” do eleitorado, mas ao Congresso em fim
do mandato, e que, muita vez, não reconduzido, torna patente não mais exprime a
manifestação da vontade popular.
É de temer assim, que estendendo o processo da eleição indireta também aos
governadores, o legislador revolucionário incida no mesmo equívoco, retirando, assim
da designação dos dirigentes o seu melhor respaldo à vontade da comunidade.
O exemplo dos Estados Unidos é, neste ponto, sugestivo. Quem nas eleições de
novembro último queria ver Nixon na Casa Branca sabia, de antemão como votam dava
o sufrágio ao corpo de representantes do Partido Republicano, pois, assim fazendo,
concorreria para que a vitória pendesse para o líder do grupo, derrotando, assim os
democráticos.
Suponha-se que, para sucessor de Costa e silva, as influências da cúpula
dirigente indicassem o ministro Andreazza, o ministro Albuquerque, o ministro
Magalhães, o Sr. Bilac Pinto e o Sr. Abreu Sodré. O povo não podia votar diretamente
num destes nomes, mas acabaria fazendo-o de ricochete, votando na chapa de deputados
e senadores que, formando o colégio eleitoral, daria a palavra final.
O mesmo aconteceria de relação aos Estados Unidos. Se no Rio Grande do
Norte, no Ceará, na Paraíba, na Bahia, o eleitor fixava suas preferências no sr. Aluísio
Alves, no Sr. Virgílio Távora, no Sr. Sátiro ou no Sr. Pedro Gondim, no Sr. Lomanto,
no Sr. Antônio Magalhães, nada mais teria que fazer senão votar nos deputados
previamente comprometidos com estes candidatos e sob este ângulo não havia por que
negar a esta escolha o toque, tangível, de democrática.
O que não é razoável, repita-se, é atribuir o direito de escolher em nome do povo
a um colégio em fim de mandato, que pode não ser reduzido, um eleitorado fantasma,
portanto, que, contrariando todos os princípios, o que não tem, proclama agir em
nome do povo, quando o próprio povo, no pleito direto, prévio, lhe cassou
expressamente a representação.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 25 DE DEZEMBRO DE 1968
EDITORIAL Nº 05
PRESSÃO E ABUSOS
Não foi apenas no interior pernambucano que passou a reinar essa espécie de
tensão, ou medo de violência, que nos tempos dados como ultrapassados era atribuída
aos chamados “coronéis de touceira”. Reconheça-se que em todos os estados do
Nordeste reinam apreensões, temores, agora atribuíveis não mais aos remotos
dominadores sertanejos, mas a determinados resíduos da autoridade pública que a
Revolução ainda não logrou exterminar.
Mo a aproximação das eleições logo que se fazem próximos os períodos para
a renovação dos mandatos legislativos em todos os seus escalões parecem ressurgir
as velhas trincas. É se armam os espíritos. E recrudescem a agressividade e o arbítrio
muitas vezes presididos à sombra pelos figurões de proa a quem se entregou em
hora os bastões da autoridade.
Nestes três últimos meses quem e acompanha os fatos ocorridos em nossa
região convenhamos que não pode deixar de precaver-se com a idéia de que pouco se
mudou em matéria de estilo de fazer política, mui principalmente no interior. Então
se sucedendo os crimes de morte, as perseguições, as futricas fatais que nas pequenas
cidades geralmente levam quase sempre ao desassossego, às vinganças e ao luto.
Alagoas e Pernambuco são recentemente as vedetes para espetáculos de tal molde.
De uma certa maneira até que pode ser julgado estranho que de tais
enfermidades sociais continuemos todos a sofrer sem esperanças, muito embora
tenhamos de aceitar que acabou em seu maior potencial a influência tão nefasta que
os “coronéis” promoviam em amplas áreas onde faziam política sempre para o poder
constituído. Sim, porque os “coronéis” se despatentearam. Eles acabaram. Pelo menos
com os seus reflexos de rolo compressor tão incidente em distintos eleitorados ou
currais de eleitores setores da política interiorana é da polícia destinada a zelar pela
tranqüilidade e paz e de todos cidadãos. Estaria acontecendo, consoante informações
não seguramente comprovadas, que a violência que se estimula e alastra em muitos
municípios pernambucanos teria suas origens dentro do próprio seio dos órgãos de
pressão policial do Estado.
Sob determinados aspectos não subscrevemos como exatas tais informações,
mas é princípio não nos colocarmos ante elas, simplesmente mudos e contemplativos
salvo por absoluta força maior. Denunciou-se, a propósito, esta semana, prisão de
vários tipos e razões diversas.
Não se vai admitir diretamente que por trás deste ou daquele incidente de ordem
policial possam esconder-se motivos desarrazoados ou injustos, mas em tudo
ressalta uma positiva implicação: por que precisamente num ano eleitoral estão a
redobrarem pressões e repressões assim tão repetidas e inegavelmente marcadas com
o sinete do abuso ou selo da arbitrariedade?
É preciso ir seguramente bem mais devagar por esta área. E tudo por razão
muito simples: não toldar por inteiro o panorama que nos está levando à reintegração do
País pelos caminhos inspiradores de 64. Do jeito como se estão encaminhando certas
coisas, neste terreno do processo eleitoral que se aproxima, algumas autoridades
policiais ou de outra natureza estariam tendendo para a provocação de intenções
eleitoreiras e comprometendo decerto os ideais que pretendemos todos, desde muito,
inaugurar no País: o do verdadeiro aprimoramento democrático.
Prendendo, perseguindo, cometendo violência, forçando situações, desta
maneira não avançamos. Estamos regredindo e de modo muito mais comprometedor
do que se pensa.
Agora, de que se queixam tanto.
Prendendo, perseguindo, cometendo violência, forçando situações, desta
maneira já não avançamos. Estamos regredindo e de modo muito mais comprometedor
do que se pensa: sem a usança do coronelismo, mas com o respaldo da própria
instituição policial.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 17 DE MAIO DE 1978
EDITORIAL Nº 06
O APELO DA HORA
A imprensa em geral começa a divulgar uma série de declarações, inovadoras,
insípidas, algumas, potencialmente, perigosas outras.
Claro é que a liberdade de expressão para nós se encontra acima de qualquer
questionamento. E quem melhor destinado a usa-la do que os políticos? Comunicar-se
para eles é vital. Estão no palco, em plena cena, e a platéia lhes reclama o recitativo do
texto que prefere, disposta a vaiar ou aplaudir. Particularmente, entre nós, durante tanto
tempo andaram eles calados ou medindo palavras a fita métrica que até se faz
perfeitamente compreensível certa incontinência verbal agora, como se quisessem
reconquistar o tempo perdido. Até aí nada demais.
De outro lado, o povo mergulha com avidez na rumorosa água da informação.
Tutelado anos a fio, insulado pelas tramas da censura desperta com súbito e irresistível
apetite para a participação e isso acicata os órgãos de comunicação e provoca no universo
político uma pequena maratona de exibicionismo.
Começamos a nos preocupar quando sentimos a liberdade de expressão se
envenenar no ódio e no radicalismo, as palavras sujas de curare, atiradas como dardos,
não para esclarecer e sim para matar.
Retornam os exilados. Isto é um fato e contra ele não valem argumentos. Pode
haver sido suficiente, para alguns, pode ser tachada de mesquinha, por outros, a anistia
aprovada pelo Congresso. A realidade, entretanto, é que os brasileiros muitos deles, já não
são judeus errantes e reencontram-se com a terra mãe. O acontecimento poderia se
transformar no marco mais importante da caminhada redemocratizadora e abrir espaço
onde fosse possível — sem perda de identidade para ninguém — a definição de valores
que não podem ser sacrificados.
Porque isso é o trágico. Esse açodamento para insultar essa miopia perigosa de
grupos incrustados em ambas parcialidades, em Regiões, com a nossa, carregadas de
sofrimento e carência, não nos parece inteligência nem patriotismo.
O clarão democrático, ainda não é poderoso suficientemente para exorcizar todos
os fantasmas. Por ai andam eles encarnados em meias palavras em meias palavras,
escondidos em reticências, feitos ventríloquos, falando pela boca de tristes bonecos. Somos
uma liberdade indefesa, fragilidade chama-se a guarda de nossos direitos?
A quem aproveita o carnaval de ódios? Pernambuco que tanto sofreu merece mais
ponderação e equilíbrio. Já deveriam bastar, para todos, as provocações.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 27 DE JUNHO DE 1978
EDITORIAL Nº 07
O JOGO DEMOCRÁTICO
Observam comentaristas políticos que o presidente Carter começa a adotar uma
nova estratégia na sua luta por reconquistar apoio popular. Como se fez notório, o seu
Governo vem sendo submetido a uma implacável critica e pesquisas de opinião
revelavam o seu crescente desgaste perante a opinião pública. Acossado pela resistência
parlamentar à sua política energética, ou, ameaça de desaprovação do acordo Salt II,
ainda, o impacto negativo, sob alguns aspectos. de sua reforma ministerial, o presidente
sentiu a necessidade urgente de refazer a própria imagem, ameaçada sua segunda
candidatura por sombras perigosas como a do senador Edward Kennedy.
Basicamente, em que consistiria a mudança de estilo do homem da Geórgia?
Inspirado, talvez, nas famosas palestras radiofônicas de Roosevelt, conhecidas como
Conversas ao pé da lareira", Carter está procurando, de maneira direta. através da
televisão, obter a compreensão e aplauso do povo para o seu programa e, através deles,
pressionar o Congresso, conseguindo superar sua oposição. Num pais, altamente,
politizado, como os Estados Unidos, esse jogo de habilidade pode gerar resultados
compensadores.
O fato, talvez. se preste a uma reflexão doméstica. Primeiro, sobre a
extraordinária plasticidade e riqueza do regime democrático, sempre capar de suscitar
soluções novas, romper impasses, criar atitudes transformadoras na mecânica de captar
os anseios nacionais. Isso, sim, o importante. Não se empertigar o regime no
monolitismo da auto-suficiência, mas, humildemente, recorrer sempre. de uma forma ou
de outra. as suas matrizes populares, em busca de autenticidade. Segundo, como
corolário irrecusável, a flagrante fraqueza dos sistemas de força, olimpiens no seu poder
e sabedoria, isolados, entretanto da seiva comunitária, bloqueada e desprezada peta
minoria que se alçou aos níveis da divinização.
O Brasil emerge de grave crise institucional. Já não estamos no fundo do €asso,
entretanto, seria temerário afirmar que subimos as montanhas. O Congresso Nacional
reabre entretanto uma pauta de crimes cruciais. O Poder Executivo vem fazendo, pouco
a pouco, o aprendizado de linguagem popular. Possivelmente, esses, ainda, tímidos
balbucios democráticos tenham já demonstrado a enorme diferença que há entre a
democracia e as outras formas de governo. Não que ela seja uma panacéia, mas, porque
oferece ou homens do poder a única segurança que podem aspirar, a da solidariedade e
apoio das bases populares.
que imitamos tanto os Estados Unidos, não deixemos de observar, agora, o
seu presidente indo buscar no povo a legitimidade e a força do seu pensamento.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 02 DE AGOSTO DE 1979
EDITORIAL Nº 08
APROVADA A ANISTIA
Aquilo que evidentemente o momento nacional exigia, foi, através do
Parlamento Nacional, atingido anteontem com a aprovação do projeto de anistia. É
verdade que se levantaram óbices e correntes, destacadamente aquelas correntes
mais liberalmente voltadas para uma lei aberta e ampla ao ponto de esquecer e perdoar,
inclusive os que foram condenados por empunharem armas para protestar contra a
ordem revolucionária institucional em 1964.
De um modo geral, entretanto, pesem ou não as exclusões discutidas, e que não
beneficiaram quase cem pessoas, o que resta de positivo é que se alcançou ou cobriu
uma etapa da nossa evolução politica contemporânea das mais ansiadas e requeridas
desde longo tempo.
Está certo que resulte disso, opiniões contrárias, votos extremamente radicais,
muitas vezes da parte de indivíduos de quem se esperariam bem mais ampla capacidade
de interpretaçâo ou exegese para os acontecimentos políticos e sociais do nosso tempo,
todavia, inevitável buscar-se inutilmente unanimidade para temas da enmolvéncia que
marca todo e qualquer projeto anistiante, afinal decorrente de confronta nem sempre
desenvolvidas com isenção de paixão.
Apesar, porém, de tudo isso, vale salientar que a anistia, antes de nascer de
movimentos solidários ou de motivações mera e simplesmente políticas, tem razões
mais fortes e predominantes. Fstai dito e está escrito nos juristas sernn us quais não se
erigem nem se ordenam as grandes sociedades, como o grandes procedimentos, que
"não ê a natureza do crime que justifica a anistia; é, sim, a repercussão, o reflexo
que ele causou na sociedade, aconselhando o apaziguamento geral pelo alivio. A anistia
não pode ser ditada pela clemência, mas pela própria necessidade de conservação da
tardem".
De miado que a muitos brasileiros está cabendo saber que para do que se
explica como gesto humano, e persiste fundamentalmente algo, da parte do Governo
atual, que na verdade se determinou no sentido de restaurar prerrogativamente
inalienáveis para ia reencontro cem o regime democrático.
Deve-se ter em vista que entre tais prerrogativas se situa a pacificação pela
ordem - que esta é que gera o verdadeiro esquecimento e a insubstituível confiança.
Deduza-se, portanto, que acima mesmo do "beau gente" anistiador, ficam pressupostos
imperativos sem os quais seria impossível conciliar o País para a obra em que se
empenha o Governo de reordená-lo democraticamente.
Reconhece-se que embaixo de todos os propósitos aludidos, não se completou,
todavia o concerto absoluto de medidas realmente encarecidas por urna grande parte do
País: ainda presos políticos incontemplados, que pode influir como fermento no
processo político que está em demarragem.
Mas é quase certo, através do propalado per autorizado da Presidência da
República, que de pedacinho em pedacinho a ave faz seu ninho, indiscutível que ou
medidas decorrerão, agora mais facilmente, no sentido de um perdão geral, de urna
liberdade de vez total, para os quantos que permanecem ainda encarcerado em virtude
de crimes alega sob critério especial.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 31 DE AGOSTO DE 1979
LISTA DE FREQÜENCIA
N Word Freq. % Texts %
1
DE 281
4,89
1
100
2
A 211
3,67
1
100
3
QUE 195
3,39
1
100
4
E 153
2,66
1
100
5
O 149
2,59
1
100
6
SE 111
1,93
1
100
7
DA 106
1,84
1
100
8
DO 93
1,62
1
100
9
EM 82
1,43
1
100
10
NÃO 72
1,25
1
100
11
OS 66
1,15
1
100
12
PARA 66
1,15
1
100
13
NO 57
0,99
1
100
14
AS 43
0,75
1
100
15
É 41
0,71
1
100
16
UMA 38
0,66
1
100
17
NA 35
0,61
1
100
18
COMO 32
0,56
1
100
19
POR 32
0,56
1
100
20
MAIS 30
0,52
1
100
21
COM 29
0,5
1
100
22
OU 28
0,49
1
100
23
SUA 23
0,4
1
100
24
AO 21
0,37
1
100
25
DOS 21
0,37
1
100
26
MAS 21
0,37
1
100
27
SEU 21
0,37
1
100
28
UM 21
0,37
1
100
29
# 20
0,35
1
100
30
PODE 19
0,33
1
100
31
DAS 17
0,3
1
100
32
NOS 16
0,28
1
100
33
PELA 16
0,28
1
100
34
TODOS 15
0,26
1
100
35
GOVERNO 14
0,24
1
100
36
14
0,24
1
100
37
POVO 14
0,24
1
100
38
SER 14
0,24
1
100
39
AOS 13
0,23
1
100
40
POLÍTICA 13
0,23
1
100
41
QUANDO 13
0,23
1
100
42
QUEM 13
0,23
1
100
43
À 12
0,21
1
100
44
AGORA 12
0,21
1
100
45
AINDA 12
0,21
1
100
46
ESTÁ 12
0,21
1
100
47
SEMPRE 12
0,21
1
100
48
ENTRETANTO 11
0,19
1
100
49
ISSO 11
0,19
1
100
50
MESMO 11
0,19
1
100
51
PELO 11
0,19
1
100
52
ANISTIA 10
0,17
1
100
53
ASSIM 10
0,17
1
100
54
CONGRESSO 10
0,17
1
100
55
ENTRE 10
0,17
1
100
56
10
0,17
1
100
57
LIBERDADE 10
0,17
1
100
58
REGIME 10
0,17
1
100
59
DEMOCRÁTICO 9
0,16
1
100
60
ORDEM 9
0,16
1
100
61
PALAVRAS 9
0,16
1
100
62
PODER 9
0,16
1
100
63
POLÍTICOS 9
0,16
1
100
64
QUASE 9
0,16
1
100
65
REPÚBLICA 9
0,16
1
100
66
SEM 9
0,16
1
100
67
TEMPO 9
0,16
1
100
68
ATRAVÉS 8
0,14
1
100
69
ELES 8
0,14
1
100
70
ESTA 8
0,14
1
100
71
ESTADOS 8
0,14
1
100
72
FOI 8
0,14
1
100
73
GERAL 8
0,14
1
100
74
PAÍS 8
0,14
1
100
75
PERNAMBUCO 8
0,14
1
100
76
PRESIDENTE 8
0,14
1
100
77
SÃO 8
0,14
1
100
78
SERIA 8
0,14
1
100
79
SIM 8
0,14
1
100
80
SR 8
0,14
1
100
81
SUAS 8
0,14
1
100
82
TAMBÉM 8
0,14
1
100
83
TANTO 8
0,14
1
100
84
TUDO 8
0,14
1
100
85
BEM 7
0,12
1
100
86
BRASIL 7
0,12
1
100
87
CONTRA 7
0,12
1
100
88
FORÇA 7
0,12
1
100
89
GRANDE 7
0,12
1
100
90
MUITO 7
0,12
1
100
91
NACIONAL 7
0,12
1
100
92
NADA 7
0,12
1
100
93
NAS 7
0,12
1
100
94
NEM 7
0,12
1
100
95
NOSSA 7
0,12
1
100
96
PARTE 7
0,12
1
100
97
PORQUE 7
0,12
1
100
98
PROCESSO 7
0,12
1
100
99
TEM 7
0,12
1
100
100
UNIDOS 7
0,12
1
100
101
APENAS 6
0,1
1
100
102
ATÉ 6
0,1
1
100
103
CRIMES 6
0,1
1
100
104
DEPUTADO 6
0,1
1
100
105
DEVE 6
0,1
1
100
106
ESSE 6
0,1
1
100
107
ESTADO 6
0,1
1
100
108
EXEMPLO 6
0,1
1
100
109
JUSTIÇA 6
0,1
1
100
110
LHE 6
0,1
1
100
111
NUM 6
0,1
1
100
112
PARLAMENTO 6
0,1
1
100
113
POLÍTICO 6
0,1
1
100
114
PÚBLICA 6
0,1
1
100
115
SOB 6
0,1
1
100
116
ACIMA 5
0,09
1
100
117
APOIO 5
0,09
1
100
118
BUSCAR 5
0,09
1
100
119
COMEÇA 5
0,09
1
100
120
CORRENTES 5
0,09
1
100
121
DEMOCRACIA 5
0,09
1
100
122
DESTA 5
0,09
1
100
123
ELE 5
0,09
1
100
124
FATO 5
0,09
1
100
125
FAZENDO 5
0,09
1
100
126
FORÇAS 5
0,09
1
100
127
HOMENS 5
0,09
1
100
128
LUTA 5
0,09
1
100
129
MÃE 5
0,09
1
100
130
MANEIRA 5
0,09
1
100
131
MELHOR 5
0,09
1
100
132
MODO 5
0,09
1
100
133
MUITOS 5
0,09
1
100
134
MULHER 5
0,09
1
100
135
NAÇÃO 5
0,09
1
100
136
NECESSIDADE 5
0,09
1
100
137
NOSSO 5
0,09
1
100
138
NOVA 5
0,09
1
100
139
OPINIÃO 5
0,09
1
100
140
OUTRA 5
0,09
1
100
141
POPULAR 5
0,09
1
100
142
POUCO 5
0,09
1
100
143
PRIMEIRO 5
0,09
1
100
144
PRÓPRIA 5
0,09
1
100
145
SOCIAIS 5
0,09
1
100
146
TALVEZ 5
0,09
1
100
147
VEM 5
0,09
1
100
148
VERDADE 5
0,09
1
100
149
VEZ 5
0,09
1
100
150
VIDA 5
0,09
1
100
151
ALGUNS 4
0,07
1
100
152
AMPLA 4
0,07
1
100
153
ANTES 4
0,07
1
100
154
ARENA 4
0,07
1
100
155
ÀS 4
0,07
1
100
156
BRASILEIROS 4
0,07
1
100
157
CARTER 4
0,07
1
100
158
CEM 4
0,07
1
100
159
CERTO 4
0,07
1
100
160
COLÉGIO 4
0,07
1
100
161
D 4
0,07
1
100
162
DECORO 4
0,07
1
100
163
DELES 4
0,07
1
100
164
DEMOCRATAS 4
0,07
1
100
165
DEMOCRÁTICA 4
0,07
1
100
166
DEPUTADOS 4
0,07
1
100
167
DESDE 4
0,07
1
100
168
DEVER 4
0,07
1
100
169
DONATÁRIO 4
0,07
1
100
170
ELEITORAL 4
0,07
1
100
171
ESSA 4
0,07
1
100
172
ESTÃO 4
0,07
1
100
173
ESTE 4
0,07
1
100
174
EXPRESSÃO 4
0,07
1
100
175
FAZ 4
0,07
1
100
176
FORAM 4
0,07
1
100
177
FORMA 4
0,07
1
100
178
GENTE 4
0,07
1
100
179
GRANDES 4
0,07
1
100
180
HORA 4
0,07
1
100
181
IMPORTANTE 4
0,07
1
100
182
INSTITUCIONAL 4
0,07
1
100
183
LADO 4
0,07
1
100
184
MEDIDAS 4
0,07
1
100
185
MEIAS 4
0,07
1
100
186
MESMA 4
0,07
1
100
187
MULHERES 4
0,07
1
100
188
NINGUÉM 4
0,07
1
100
189
NOME 4
0,07
1
100
190
NÓS 4
0,07
1
100
191
NOVAS 4
0,07
1
100
192
ONDE 4
0,07
1
100
193
OUTRAS 4
0,07
1
100
194
PARECE 4
0,07
1
100
195
PARTIDO 4
0,07
1
100
196
PEDACINHO 4
0,07
1
100
197
PERIGOSAS 4
0,07
1
100
198
PODEM 4
0,07
1
100
199
POIS 4
0,07
1
100
200
PONTO 4
0,07
1
100
201
POPULARES 4
0,07
1
100
202
PORTANTO 4
0,07
1
100
203
PRESIDÊNCIA 4
0,07
1
100
204
PROJETO 4
0,07
1
100
205
QUAIS 4
0,07
1
100
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QUALQUER 4
0,07
1
100
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RECONQUISTAR 4
0,07
1
100
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REFORMAS 4
0,07
1
100
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REVOLUCIONÁRIA 4
0,07
1
100
210
SEGUNDO 4
0,07
1
100
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SENTIDO 4
0,07
1
100
212
SOBRE 4
0,07
1
100
213
TAIS 4
0,07
1
100
214
TER 4
0,07
1
100
215
TERIA 4
0,07
1
100
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TODAVIA 4
0,07
1
100
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URNA 4
0,07
1
100
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VEZES 4
0,07
1
100
219
VONTADE 4
0,07
1
100
220
VOTOS 4
0,07
1
100
221
ACONTECIMENTO 3
0,05
1
100
222
3
0,05
1
100
223
ALBUQUERQUE 3
0,05
1
100
224
ALERTA 3
0,05
1
100
225
ALGUMAS 3
0,05
1
100
226
AMEAÇA 3
0,05
1
100
227
AQUILO 3
0,05
1
100
228
ARMAS 3
0,05
1
100
229
ASPECTOS 3
0,05
1
100
230
AUTORIDADE 3
0,05
1
100
231
BEATRIZ 3
0,05
1
100
232
BOA 3
0,05
1
100
233
CAMINHADA 3
0,05
1
100
234
CASA 3
0,05
1
100
235
CERTA 3
0,05
1
100
236
CIDADÃOS 3
0,05
1
100
237
CLARO 3
0,05
1
100
238
COMANDO 3
0,05
1
100
239
COMUNIDADE 3
0,05
1
100
240
CONSTITUIR 3
0,05
1
100
241
CORONÉIS 3
0,05
1
100
242
CRISE 3
0,05
1
100
243
CRITÉRIO 3
0,05
1
100
244
DEFESA 3
0,05
1
100
245
DEIXAR 3
0,05
1
100
246
DEMAIS 3
0,05
1
100
247
DEMOCRÁTICOS 3
0,05
1
100
248
DEPOIS 3
0,05
1
100
249
DIREITO 3
0,05
1
100
250
DIRETA 3
0,05
1
100
251
DIRIGENTES 3
0,05
1
100
252
DISSO 3
0,05
1
100
253
DURANTE 3
0,05
1
100
254
ELA 3
0,05
1
100
255
ELEIÇÃO 3
0,05
1
100
256
ELEIÇÕES 3
0,05
1
100
257
ELEITORADO 3
0,05
1
100
258
ESTAMOS 3
0,05
1
100
259
ESTILO 3
0,05
1
100
260
EVOLUÇÃO 3
0,05
1
100
261
EXECUTIVO 3
0,05
1
100
262
FAMÍLIA 3
0,05
1
100
263
FAZER 3
0,05
1
100
264
FIM 3
0,05
1
100
265
GRUPOS 3
0,05
1
100
266
GUARDA 3
0,05
1
100
267
HOMEM 3
0,05
1
100
268
II 3
0,05
1
100
269
IMPOSSÍVEL 3
0,05
1
100
270
IMPRENSA 3
0,05
1
100
271
INCLUSIVE 3
0,05
1
100
272
INSULTAR 3
0,05
1
100
273
LAS 3
0,05
1
100
274
LEI 3
0,05
1
100
275
LHES 3
0,05
1
100
276
MAIOR 3
0,05
1
100
277
MENOS 3
0,05
1
100
278
MINAS 3
0,05
1
100
279
MINISTRO 3
0,05
1
100
280
MOBILIZAÇÃO 3
0,05
1
100
281
MODELO 3
0,05
1
100
282
MONTANHAS 3
0,05
1
100
283
MOTIVAÇÕES 3
0,05
1
100
284
MUITAS 3
0,05
1
100
285
MUNDO 3
0,05
1
100
286
NACIONAIS 3
0,05
1
100
287
NATUREZA 3
0,05
1
100
288
NESTA 3
0,05
1
100
289
NESTE 3
0,05
1
100
290
ONDA 3
0,05
1
100
291
OPINIÕES 3
0,05
1
100
292
ÓRGÃOS 3
0,05
1
100
293
OUTRO 3
0,05
1
100
294
PADRE 3
0,05
1
100
295
PAIS 3
0,05
1
100
296
PARLAMENTAR 3
0,05
1
100
297
PARTICIPAÇÃO 3
0,05
1
100
298
PERDIDO 3
0,05
1
100
299
PERNAMBUCANAS 3
0,05
1
100
300
PESSOAS 3
0,05
1
100
301
PODERIA 3
0,05
1
100
302
POLICIAL 3
0,05
1
100
303
POLÍTICAS 3
0,05
1
100
304
PORÉM 3
0,05
1
100
305
POSSAM 3
0,05
1
100
306
POSSÍVEL 3
0,05
1
100
307
PROGRAMA 3
0,05
1
100
308
PRÓPRIO 3
0,05
1
100
309
QUANTOS 3
0,05
1
100
310
RADICAIS 3
0,05
1
100
311
RAZÕES 3
0,05
1
100
312
REALIDADE 3
0,05
1
100
313
RECLAMA 3
0,05
1
100
314
RECORRER 3
0,05
1
100
315
REFLEXO 3
0,05
1
100
316
RESISTÊNCIA 3
0,05
1
100
317
RESTA 3
0,05
1
100
318
RESULTADOS 3
0,05
1
100
319
REVOLUÇÃO 3
0,05
1
100
320
SENDO 3
0,05
1
100
321
SIDO 3
0,05
1
100
322
SIMPLESMENTE 3
0,05
1
100
323
SOBRETUDO 3
0,05
1
100
324
SOCIEDADE 3
0,05
1
100
325
SOLIDARIEDADE 3
0,05
1
100
326
SUBVERSÃO 3
0,05
1
100
327
TÃO 3
0,05
1
100
328
TEMPOS 3
0,05
1
100
329
TODA 3
0,05
1
100
330
TODO 3
0,05
1
100
331
UNANIMIDADE 3
0,05
1
100
332
VERDADEIRO 3
0,05
1
100
333
VIOLÊNCIA 3
0,05
1
100
334
VISTA 3
0,05
1
100
335
VOTAR 3
0,05
1
100
336
ABERTA 2
0,03
1
100
337
ABRIR 2
0,03
1
100
338
ABSOLUTO 2
0,03
1
100
339
ACABOU 2
0,03
1
100
340
ACICATA 2
0,03
1
100
341
AÇODAMENTO 2
0,03
1
100
342
ACONSELHANDO 2
0,03
1
100
343
ACONTECIMENTOS 2
0,03
1
100
344
ACORDO 2
0,03
1
100
345
ACOSSADO 2
0,03
1
100
346
ADMIRÁVEL 2
0,03
1
100
347
ADOTAR 2
0,03
1
100
348
AFINAL 2
0,03
1
100
349
AFIRMAR 2
0,03
1
100
350
AGREDIR 2
0,03
1
100
351
ÁGUA 2
0,03
1
100
352
AI 2
0,03
1
100
353
ALCANÇOU 2
0,03
1
100
354
ALÇOU 2
0,03
1
100
355
ALEGA 2
0,03
1
100
356
ALGO 2
0,03
1
100
357
ALIVIO 2
0,03
1
100
358
ALTAMENTE 2
0,03
1
100
359
ALTO 2
0,03
1
100
360
ALUDIDOS 2
0,03
1
100
361
ALVES 2
0,03
1
100
362
AMBAS 2
0,03
1
100
363
AMEAÇADA 2
0,03
1
100
364
ANDAM 2
0,03
1
100
365
ANDARAM 2
0,03
1
100
366
ANISTIADOR 2
0,03
1
100
367
ANISTIANTE 2
0,03
1
100
368
ANOS 2
0,03
1
100
369
ANSEIOS 2
0,03
1
100
370
ANSIADAS 2
0,03
1
100
371
ANTEONTEM 2
0,03
1
100
372
ANTI 2
0,03
1
100
373
APAZIGUAMENTO 2
0,03
1
100
374
APESAR 2
0,03
1
100
375
APETITE 2
0,03
1
100
376
APLAUDIR 2
0,03
1
100
377
APLAUSO 2
0,03
1
100
378
APRENDIZADO 2
0,03
1
100
379
APROVAÇÃO 2
0,03
1
100
380
APROVADA 2
0,03
1
100
381
APROVEITA 2
0,03
1
100
382
AQUELAS 2
0,03
1
100
383
ARGUMENTOS 2
0,03
1
100
384
ARMADAS 2
0,03
1
100
385
ASPIRAR 2
0,03
1
100
386
ASSEMBLÉIAS 2
0,03
1
100
387
ASSO 2
0,03
1
100
388
ATINGIDO 2
0,03
1
100
389
ATIRADAS 2
0,03
1
100
390
ATITUDES 2
0,03
1
100
391
ATRIBUIR 2
0,03
1
100
392
ATUAL 2
0,03
1
100
393
AUTENTICIDADE 2
0,03
1
100
394
AUTO 2
0,03
1
100
395
AUTORIZADO 2
0,03
1
100
396
AVE 2
0,03
1
100
397
AVIDEZ 2
0,03
1
100
398
BALBUCIOS 2
0,03
1
100
399
BANDEIRA 2
0,03
1
100
400
BASES 2
0,03
1
100
401
BASICAMENTE 2
0,03
1
100
402
BASTAR 2
0,03
1
100
403
BATALHA 2
0,03
1
100
404
BEAU 2
0,03
1
100
405
BENEFICIARAM 2
0,03
1
100
406
BLOQUEADA 2
0,03
1
100
407
BOCA 2
0,03
1
100
408
BONECOS 2
0,03
1
100
409
BUSCA 2
0,03
1
100
410
CABE 2
0,03
1
100
411
CABENDO 2
0,03
1
100
412
CALADOS 2
0,03
1
100
413
CÂMARA 2
0,03
1
100
414
CANDIDATURA 2
0,03
1
100
415
CAPACIDADE 2
0,03
1
100
416
CAPAR 2
0,03
1
100
417
CAPTAR 2
0,03
1
100
418
CARÊNCIA 2
0,03
1
100
419
CARNAVAL 2
0,03
1
100
420
CARREGADAS 2
0,03
1
100
421
CASO 2
0,03
1
100
422
CAUSOU 2
0,03
1
100
423
CEARÁ 2
0,03
1
100
424
CENA 2
0,03
1
100
425
CENSURA 2
0,03
1
100
426
CHAMA 2
0,03
1
100
427
CHAMADOS 2
0,03
1
100
428
CIRCULAR 2
0,03
1
100
429
CIVILIZAÇÃO 2
0,03
1
100
430
CLARÃO 2
0,03
1
100
431
CLEMÊNCIA 2
0,03
1
100
432
COBRIU 2
0,03
1
100
433
COELHO 2
0,03
1
100
434
COISA 2
0,03
1
100
435
COMEÇAMOS 2
0,03
1
100
436
COMENTARISTAS 2
0,03
1
100
437
COMPENSADORES 2
0,03
1
100
438
COMPLETOU 2
0,03
1
100
439
COMPREENSÃO 2
0,03
1
100
440
COMPREENSÍVEL 2
0,03
1
100
441
COMUNICAÇÃO 2
0,03
1
100
442
COMUNICAR 2
0,03
1
100
443
COMUNITÁRIA 2
0,03
1
100
444
CONCEITO 2
0,03
1
100
445
CONCERTO 2
0,03
1
100
446
CONCILIAR 2
0,03
1
100
447
CONDENADOS 2
0,03
1
100
448
CONDIÇÕES 2
0,03
1
100
449
CONFIANÇA 2
0,03
1
100
450
CONFRONTA 2
0,03
1
100
451
CONHECIDAS 2
0,03
1
100
452
CONSEGUINDO 2
0,03
1
100
453
CONSERVAÇÃO 2
0,03
1
100
454
CONSISTIRIA 2
0,03
1
100
455
CONSOLIDAR 2
0,03
1
100
456
CONSTITUIÇÃO 2
0,03
1
100
457
CONTEMPORÂNEA 2
0,03
1
100
458
CONTRÁRIAS 2
0,03
1
100
459
CONVERSAS 2
0,03
1
100
460
COROLÁRIO 2
0,03
1
100
461
COSTA 2
0,03
1
100
462
CRESCENTE 2
0,03
1
100
463
CRIAR 2
0,03
1
100
464
CRIME 2
0,03
1
100
465
CRISTÃ 2
0,03
1
100
466
CRITICA 2
0,03
1
100
467
CRUCIAIS 2
0,03
1
100
468
CURARE 2
0,03
1
100
469
DAQUELE 2
0,03
1
100
470
DAR 2
0,03
1
100
471
DARDOS 2
0,03
1
100
472
DECLARAÇÕES 2
0,03
1
100
473
DECORRENTE 2
0,03
1
100
474
DECORRERÃO 2
0,03
1
100
475
DEDUZA 2
0,03
1
100
476
DEFINIÇÃO 2
0,03
1
100
477
DEIXEMOS 2
0,03
1
100
478
DELEGAÇÃO 2
0,03
1
100
479
DEMARRAGEM 2
0,03
1
100
480
DEMOCRATICAMENTE 2
0,03
1
100
481
DEMONSTRADO 2
0,03
1
100
482
DESAPROVAÇÃO 2
0,03
1
100
483
DESENVOLVIDAS 2
0,03
1
100
484
DESGASTE 2
0,03
1
100
485
DESPERTA 2
0,03
1
100
486
DESPREZADA 2
0,03
1
100
487
DESTACADAMENTE 2
0,03
1
100
488
DESTES 2
0,03
1
100
489
DESTINADO 2
0,03
1
100
490
DETERMINADOS 2
0,03
1
100
491
DETERMINOU 2
0,03
1
100
492
DEVERIAM 2
0,03
1
100
493
DIARIO 2
0,03
1
100
494
DIFERENÇA 2
0,03
1
100
495
DIFÍCEIS 2
0,03
1
100
496
DIGNIDADE 2
0,03
1
100
497
DIREITOS 2
0,03
1
100
498
DIRETAMENTE 2
0,03
1
100
499
DISCUTIDAS 2
0,03
1
100
500
DISPOSTA 2
0,03
1
100
501
DITADA 2
0,03
1
100
502
DITADO 2
0,03
1
100
503
DITO 2
0,03
1
100
504
DIVERSAS 2
0,03
1
100
505
DIVINIZAÇÃO 2
0,03
1
100
506
DIVULGAR 2
0,03
1
100
507
DOCUMENTOS 2
0,03
1
100
508
DOMÉSTICA 2
0,03
1
100
509
DONATÁRIA 2
0,03
1
100
510
DUARTE 2
0,03
1
100
511
DUARTINA 2
0,03
1
100
512
Ê 2
0,03
1
100
513
EDWARD 2
0,03
1
100
514
ELEGER 2
0,03
1
100
515
EMBAIXO 2
0,03
1
100
516
EMERGE 2
0,03
1
100
517
EMPENHA 2
0,03
1
100
518
EMPERTIGAR 2
0,03
1
100
519
EMPUNHAREM 2
0,03
1
100
520
ENCARCERADO 2
0,03
1
100
521
ENCARECIDAS 2
0,03
1
100
522
ENCARNADOS 2
0,03
1
100
523
ENCONTRA 2
0,03
1
100
524
ENERGÉTICA 2
0,03
1
100
525
ENMOLVÉNCIA 2
0,03
1
100
526
ENORME 2
0,03
1
100
527
ENVENENAR 2
0,03
1
100
528
EQUILÍBRIO 2
0,03
1
100
529
ERA 2
0,03
1
100
530
ERIGEM 2
0,03
1
100
531
ERRANTES 2
0,03
1
100
532
ESCLARECER 2
0,03
1
100
533
ESCOLHA 2
0,03
1
100
534
ESCONDIDOS 2
0,03
1
100
535
ESCRITO 2
0,03
1
100
536
ESPAÇO 2
0,03
1
100
537
ESPECIAL 2
0,03
1
100
538
ESPÉCIE 2
0,03
1
100
539
ESPERAR 2
0,03
1
100
540
ESPERARIAM 2
0,03
1
100
541
ESPOSA 2
0,03
1
100
542
ESQUECER 2
0,03
1
100
543
ESQUECIMENTO 2
0,03
1
100
544
ESSES 2
0,03
1
100
545
ESTADUAIS 2
0,03
1
100
546
ESTAS 2
0,03
1
100
547
ESTRATÉGIA 2
0,03
1
100
548
ETAPA 2
0,03
1
100
549
EVIDENTEMENTE 2
0,03
1
100
550
EXCLUSÕES 2
0,03
1
100
551
EXEGESE 2
0,03
1
100
552
EXIBICIONISMO 2
0,03
1
100
553
EXIGIA 2
0,03
1
100
554
EXILADOS 2
0,03
1
100
555
EXORCIZAR 2
0,03
1
100
556
EXPLICA 2
0,03
1
100
557
EXTRAORDINÁRIA 2
0,03
1
100
558
EXTREMAMENTE 2
0,03
1
100
559
FACILMENTE 2
0,03
1
100
560
FACULDADE 2
0,03
1
100
561
FALANDO 2
0,03
1
100
562
FAMÍLIAS 2
0,03
1
100
563
FAMOSAS 2
0,03
1
100
564
FANTASMAS 2
0,03
1
100
565
FAZEM 2
0,03
1
100
566
2
0,03
1
100
567
FECUNDO 2
0,03
1
100
568
FEITOS 2
0,03
1
100
569
FERMENTO 2
0,03
1
100
570
FEZ 2
0,03
1
100
571
FICAM 2
0,03
1
100
572
FICAR 2
0,03
1
100
573
FIO 2
0,03
1
100
574
FITA 2
0,03
1
100
575
FLAGRANTE 2
0,03
1
100
576
FORMAÇÃO 2
0,03
1
100
577
FORMAS 2
0,03
1
100
578
FORTES 2
0,03
1
100
579
FOSSE 2
0,03
1
100
580
FRAGILIDADE 2
0,03
1
100
581
FRAQUEZA 2
0,03
1
100
582
FSTAI 2
0,03
1
100
583
FUNDAMENTAL 2
0,03
1
100
584
FUNDAMENTALMENTE 2
0,03
1
100
585
FUNDO 2
0,03
1
100
586
GEÓRGIA 2
0,03
1
100
587
GERA 2
0,03
1
100
588
GERAR 2
0,03
1
100
589
GESTO 2
0,03
1
100
590
GRAVE 2
0,03
1
100
591
GUERRA 2
0,03
1
100
592
HABILIDADE 2
0,03
1
100
593
HAVER 2
0,03
1
100
594
HONRA 2
0,03
1
100
595
HUMANO 2
0,03
1
100
596
HUMILDEMENTE 2
0,03
1
100
597
IA 2
0,03
1
100
598
IDÉIA 2
0,03
1
100
599
IDENTIDADE 2
0,03
1
100
600
IMAGEM 2
0,03
1
100
601
IMITAMOS 2
0,03
1
100
602
IMPACTO 2
0,03
1
100
603
IMPASSES 2
0,03
1
100
604
IMPERATIVOS 2
0,03
1
100
605
IMPLACÁVEL 2
0,03
1
100
606
IMUNIDADE 2
0,03
1
100
607
INALIENÁVEIS 2
0,03
1
100
608
INCIDENTE 2
0,03
1
100
609
INCONTEMPLADOS 2
0,03
1
100
610
INCONTINÊNCIA 2
0,03
1
100
611
INCRUSTADOS 2
0,03
1
100
612
INDEFESA 2
0,03
1
100
613
INDIRETA 2
0,03
1
100
614
INDIRETO 2
0,03
1
100
615
INDISCUTÍVEL 2
0,03
1
100
616
INDIVÍDUOS 2
0,03
1
100
617
INDO 2
0,03
1
100
618
INEVITÁVEL 2
0,03
1
100
619
INFLUIR 2
0,03
1
100
620
INFORMAÇÃO 2
0,03
1
100
621
INFORMAÇÕES 2
0,03
1
100
622
INICIADA 2
0,03
1
100
623
INOVADORAS 2
0,03
1
100
624
INSÍPIDAS 2
0,03
1
100
625
INSPIRADO 2
0,03
1
100
626
INSUBSTITUÍVEL 2
0,03
1
100
627
INSULADO 2
0,03
1
100
628
INTEIRO 2
0,03
1
100
629
INTELIGÊNCIA 2
0,03
1
100
630
INTERIOR 2
0,03
1
100
631
INTERPRETAÇÂO 2
0,03
1
100
632
INUTILMENTE 2
0,03
1
100
633
IR 2
0,03
1
100
634
IRRECUSÁVEL 2
0,03
1
100
635
IRRESISTÍVEL 2
0,03
1
100
636
ISENÇÃO 2
0,03
1
100
637
ISOLADOS 2
0,03
1
100
638
ISTO 2
0,03
1
100
639
JOÃO 2
0,03
1
100
640
JOGO 2
0,03
1
100
641
JUDEUS 2
0,03
1
100
642
JURISTAS 2
0,03
1
100
643
JUSTIFICA 2
0,03
1
100
644
KENNEDY 2
0,03
1
100
645
LA 2
0,03
1
100
646
2
0,03
1
100
647
LAR 2
0,03
1
100
648
LAREIRA 2
0,03
1
100
649
LEGITIMIDADE 2
0,03
1
100
650
LEVAM 2
0,03
1
100
651
LEVANTARAM 2
0,03
1
100
652
LEVAR 2
0,03
1
100
653
LIBERALMENTE 2
0,03
1
100
654
LINGUAGEM 2
0,03
1
100
655
LIVRE 2
0,03
1
100
656
LO 2
0,03
1
100
657
LOGO 2
0,03
1
100
658
LONGE 2
0,03
1
100
659
LONGO 2
0,03
1
100
660
MAGALHÃES 2
0,03
1
100
661
MAIORIA 2
0,03
1
100
662
MANDATO 2
0,03
1
100
663
MARATONA 2
0,03
1
100
664
MARCA 2
0,03
1
100
665
MARCHA 2
0,03
1
100
666
MARCO 2
0,03
1
100
667
MATAR 2
0,03
1
100
668
MATRIZES 2
0,03
1
100
669
MECÂNICA 2
0,03
1
100
670
MEDINDO 2
0,03
1
100
671
MEIO 2
0,03
1
100
672
MERA 2
0,03
1
100
673
MERECE 2
0,03
1
100
674
MERGULHA 2
0,03
1
100
675
MESQUINHA 2
0,03
1
100
676
MÉTRICA 2
0,03
1
100
677
MIADO 2
0,03
1
100
678
MILITARES 2
0,03
1
100
679
MINISTERIAL 2
0,03
1
100
680
MINORIA 2
0,03
1
100
681
MIOPIA 2
0,03
1
100
682
MOMENTO 2
0,03
1
100
683
MOMENTOS 2
0,03
1
100
684
MONOLITISMO 2
0,03
1
100
685
MOTIVOS 2
0,03
1
100
686
MOVIMENTOS 2
0,03
1
100
687
MUDANÇA 2
0,03
1
100
688
NASCER 2
0,03
1
100
689
NECESSARIAMENTE 2
0,03
1
100
690
NEGAR 2
0,03
1
100
691
NEGATIVO 2
0,03
1
100
692
NENHUM 2
0,03
1
100
693
NINHO 2
0,03
1
100
694
NÍVEIS 2
0,03
1
100
695
NOSSOS 2
0,03
1
100
696
NOTÓRIO 2
0,03
1
100
697
NOVO 2
0,03
1
100
698
NUMA 2
0,03
1
100
699
ÓBICES 2
0,03
1
100
700
OBRA 2
0,03
1
100
701
OBSERVAM 2
0,03
1
100
702
OBSERVAR 2
0,03
1
100
703
OBTER 2
0,03
1
100
704
OCORRE 2
0,03
1
100
705
ÓDIO 2
0,03
1
100
706
ÓDIOS 2
0,03
1
100
707
OFERECE 2
0,03
1
100
708
OPOSIÇÃO 2
0,03
1
100
709
ORDENAM 2
0,03
1
100
710
OUTROS 2
0,03
1
100
711
PACIFICAÇÃO 2
0,03
1
100
712
PAIXÃO 2
0,03
1
100
713
PALCO 2
0,03
1
100
714
PALESTRAS 2
0,03
1
100
715
PANACÉIA 2
0,03
1
100
716
PAPEL 2
0,03
1
100
717
PARADIGMA 2
0,03
1
100
718
PARCIALIDADES 2
0,03
1
100
719
PARTICULARMENTE 2
0,03
1
100
720
PASSOU 2
0,03
1
100
721
PATRIOTISMO 2
0,03
1
100
722
PAULO 2
0,03
1
100
723
PAUTA 2
0,03
1
100
724
2
0,03
1
100
725
PELAS 2
0,03
1
100
726
PELOS 2
0,03
1
100
727
PENSAMENTO 2
0,03
1
100
728
PEQUENA 2
0,03
1
100
729
PER 2
0,03
1
100
730
PERANTE 2
0,03
1
100
731
PERDA 2
0,03
1
100
732
PERDÃO 2
0,03
1
100
733
PERDOAR 2
0,03
1
100
734
PERFEITAMENTE 2
0,03
1
100
735
PERIGO 2
0,03
1
100
736
PERIGOSA 2
0,03
1
100
737
PERMANECEM 2
0,03
1
100
738
PERSISTE 2
0,03
1
100
739
PESEM 2
0,03
1
100
740
PESQUISAS 2
0,03
1
100
741
PLASTICIDADE 2
0,03
1
100
742
PLATÉIA 2
0,03
1
100
743
PLENA 2
0,03
1
100
744
PODEROSO 2
0,03
1
100
745
POLITICA 2
0,03
1
100
746
POLITIZADO 2
0,03
1
100
747
PONDERAÇÃO 2
0,03
1
100
748
PONDO 2
0,03
1
100
749
POSIÇÃO 2
0,03
1
100
750
POSITIVO 2
0,03
1
100
751
POSSIVELMENTE 2
0,03
1
100
752
POTENCIALMENTE 2
0,03
1
100
753
PREDOMINANTES 2
0,03
1
100
754
PREFERE 2
0,03
1
100
755
PREOCUPAR 2
0,03
1
100
756
PRERROGATIVA 2
0,03
1
100
757
PRERROGATIVAMENTE 2
0,03
1
100
758
PRERROGATIVAS 2
0,03
1
100
759
PRESOS 2
0,03
1
100
760
PRESSIONAR 2
0,03
1
100
761
PRESSUPOSTOS 2
0,03
1
100
762
PRESTE 2
0,03
1
100
763
PREVALECER 2
0,03
1
100
764
PREVIAMENTE 2
0,03
1
100
765
PRIMEIROS 2
0,03
1
100
766
PRINCIPALMENTE 2
0,03
1
100
767
PROCEDIMENTO 2
0,03
1
100
768
PROCEDIMENTOS 2
0,03
1
100
769
PROCURANDO 2
0,03
1
100
770
PROFUNDA 2
0,03
1
100
771
PROPALADO 2
0,03
1
100
772
PROPÓSITOS 2
0,03
1
100
773
PROTESTAR 2
0,03
1
100
774
PROVOCA 2
0,03
1
100
775
PROVOCAÇÃO 2
0,03
1
100
776
PROVOCAÇÕES 2
0,03
1
100
777
QUADRO 2
0,03
1
100
778
QUESTIONAMENTO 2
0,03
1
100
779
QUISESSEM 2
0,03
1
100
780
RADICALISMO 2
0,03
1
100
781
RADIOFÔNICAS 2
0,03
1
100
782
REABRE 2
0,03
1
100
783
REALMENTE 2
0,03
1
100
784
RECITATIVO 2
0,03
1
100
785
RECONHECE 2
0,03
1
100
786
REDEMOCRATIZADORA 2
0,03
1
100
787
REENCONTRAM 2
0,03
1
100
788
REENCONTRO 2
0,03
1
100
789
REFAZER 2
0,03
1
100
790
REFLEXÃO 2
0,03
1
100
791
REFORMA 2
0,03
1
100
792
REGIÕES 2
0,03
1
100
793
REINO 2
0,03
1
100
794
RELAÇÃO 2
0,03
1
100
795
RENOVAÇÃO 2
0,03
1
100
796
REORDENÁ 2
0,03
1
100
797
REPERCUSSÃO 2
0,03
1
100
798
REPRESENTAÇÃO 2
0,03
1
100
799
REPRESENTANTES 2
0,03
1
100
800
REQUERIDAS 2
0,03
1
100
801
RESPALDO 2
0,03
1
100
802
RESPONDER 2
0,03
1
100
803
RESTAURAR 2
0,03
1
100
804
RESTO 2
0,03
1
100
805
RESULTANTE 2
0,03
1
100
806
RESULTE 2
0,03
1
100
807
RETICÊNCIAS 2
0,03
1
100
808
RETORNAM 2
0,03
1
100
809
REVELAVAM 2
0,03
1
100
810
RIO 2
0,03
1
100
811
RIQUEZA 2
0,03
1
100
812
ROMPER 2
0,03
1
100
813
ROOSEVELT 2
0,03
1
100
814
RUMOROSA 2
0,03
1
100
815
SABEDORIA 2
0,03
1
100
816
SABER 2
0,03
1
100
817
SACRIFICADOS 2
0,03
1
100
818
SALIENTAR 2
0,03
1
100
819
SALT 2
0,03
1
100
820
SÉCULO 2
0,03
1
100
821
SEGUNDA 2
0,03
1
100
822
SEGURAMENTE 2
0,03
1
100
823
SEGURANÇA 2
0,03
1
100
824
SEIVA 2
0,03
1
100
825
SEJA 2
0,03
1
100
826
SENADOR 2
0,03
1
100
827
SENTIMOS 2
0,03
1
100
828
SENTIU 2
0,03
1
100
829
SÉRIE 2
0,03
1
100
830
SERNN 2
0,03
1
100
831
SEUS 2
0,03
1
100
832
SILVA 2
0,03
1
100
833
SISTEMAS 2
0,03
1
100
834
SITUA 2
0,03
1
100
835
2
0,03
1
100
836
SOBREVIVÊNCIA 2
0,03
1
100
837
SOCIEDADES 2
0,03
1
100
838
SOFRER 2
0,03
1
100
839
SOFREU 2
0,03
1
100
840
SOFRIMENTO 2
0,03
1
100
841
SOLIDÁRIOS 2
0,03
1
100
842
SOLUÇÕES 2
0,03
1
100
843
SOMBRAS 2
0,03
1
100
844
SOMOS 2
0,03
1
100
845
SUBIMOS 2
0,03
1
100
846
SÚBITO 2
0,03
1
100
847
SUBMETIDO 2
0,03
1
100
848
SUFICIÊNCIA 2
0,03
1
100
849
SUFICIENTE 2
0,03
1
100
850
SUFICIENTEMENTE 2
0,03
1
100
851
SUGESTIVO 2
0,03
1
100
852
SUJAS 2
0,03
1
100
853
SUPERAR 2
0,03
1
100
854
SUSCITAR 2
0,03
1
100
855
TACHADA 2
0,03
1
100
856
TAL 2
0,03
1
100
857
TARDEM 2
0,03
1
100
858
TELEVISÃO 2
0,03
1
100
859
TEMAS 2
0,03
1
100
860
TEMERÁRIO 2
0,03
1
100
861
TENDO 2
0,03
1
100
862
TENHAM 2
0,03
1
100
863
TERÁ 2
0,03
1
100
864
TERRA 2
0,03
1
100
865
TEXTO 2
0,03
1
100
866
TÍMIDOS 2
0,03
1
100
867
TOTAL 2
0,03
1
100
868
TRADIÇÃO 2
0,03
1
100
869
TRÁGICO 2
0,03
1
100
870
TRAMAS 2
0,03
1
100
871
TRANSFORMADORAS 2
0,03
1
100
872
TRANSFORMAR 2
0,03
1
100
873
TRISTES 2
0,03
1
100
874
TUTELADO 2
0,03
1
100
875
UNIA 2
0,03
1
100
876
ÚNICA 2
0,03
1
100
877
UNIVERSO 2
0,03
1
100
878
URGENTE 2
0,03
1
100
879
US 2
0,03
1
100
880
USA 2
0,03
1
100
881
VAI 2
0,03
1
100
882
VAIAR 2
0,03
1
100
883
VALE 2
0,03
1
100
884
VALEM 2
0,03
1
100
885
VALORES 2
0,03
1
100
886
VENTRÍLOQUOS 2
0,03
1
100
887
VER 2
0,03
1
100
888
VERBAL 2
0,03
1
100
889
VINHA 2
0,03
1
100
890
VIRTUDE 2
0,03
1
100
891
VITAL 2
0,03
1
100
892
VOLTADAS 2
0,03
1
100
893
VOTANDO 2
0,03
1
100
894
ABANDONE 1
0,02
1
100
895
ABATER 1
0,02
1
100
896
ABOLIÇÃO 1
0,02
1
100
897
ABOLIDA 1
0,02
1
100
898
ABREU 1
0,02
1
100
899
ABSOLUTA 1
0,02
1
100
900
ABSURDA 1
0,02
1
100
901
ABUSO 1
0,02
1
100
902
ACABARAM 1
0,02
1
100
903
ACABARIA 1
0,02
1
100
904
ACASO 1
0,02
1
100
905
ACEITAR 1
0,02
1
100
906
ACOITA 1
0,02
1
100
907
ACOLHIDA 1
0,02
1
100
908
ACOLHIDOS 1
0,02
1
100
909
ACOMPANHA 1
0,02
1
100
910
ACONTECENDO 1
0,02
1
100
911
ACONTECERIA 1
0,02
1
100
912
ACONTECIA 1
0,02
1
100
913
ACONTECIDO 1
0,02
1
100
914
ACORDADO 1
0,02
1
100
915
ACUSADO 1
0,02
1
100
916
ADIVINHAM 1
0,02
1
100
917
ADMINISTRAÇÃO 1
0,02
1
100
918
ADMINISTRADORES 1
0,02
1
100
919
ADMINISTRATIVO 1
0,02
1
100
920
ADMITIR 1
0,02
1
100
921
ADOÇASSE 1
0,02
1
100
922
ADVERSÁRIOS 1
0,02
1
100
923
AFIRMAM 1
0,02
1
100
924
AGE 1
0,02
1
100
925
AGENTES 1
0,02
1
100
926
AGIR 1
0,02
1
100
927
AGITACIONISTA 1
0,02
1
100
928
AGOSTO 1
0,02
1
100
929
AGRESSIVIDADE 1
0,02
1
100
930
AGRURAS 1
0,02
1
100
931
AGUARDA 1
0,02
1
100
932
ALAGOAS 1
0,02
1
100
933
ALAS 1
0,02
1
100
934
ALASTRA 1
0,02
1
100
935
ALENTO 1
0,02
1
100
936
ALGUM 1
0,02
1
100
937
ALHEAMENTO 1
0,02
1
100
938
ALISTAREM 1
0,02
1
100
939
ALUÍSIO 1
0,02
1
100
940
AMAZONAS 1
0,02
1
100
941
AMENIZASSE 1
0,02
1
100
942
AMERICANO 1
0,02
1
100
943
AMPLAS 1
0,02
1
100
944
ANÁLISE 1
0,02
1
100
945
ANCHIETA 1
0,02
1
100
946
ANDREAZZA 1
0,02
1
100
947
ÂNGULO 1
0,02
1
100
948
ANGUSTIADAS 1
0,02
1
100
949
ANO 1
0,02
1
100
950
ANTE 1
0,02
1
100
951
ANTEMÃO 1
0,02
1
100
952
ANTIGOS 1
0,02
1
100
953
ANTÔNIO 1
0,02
1
100
954
APARENTE 1
0,02
1
100
955
APAZIGUADORAS 1
0,02
1
100
956
APONTARA 1
0,02
1
100
957
APÓS 1
0,02
1
100
958
APREENSIVA 1
0,02
1
100
959
APREENSÕES 1
0,02
1
100
960
APRIMORÁ 1
0,02
1
100
961
APRIMORAMENTO 1
0,02
1
100
962
APROXIMA 1
0,02
1
100
963
APROXIMAÇÃO 1
0,02
1
100
964
APROXIMAR 1
0,02
1
100
965
AQUELE 1
0,02
1
100
966
AQUELES 1
0,02
1
100
967
ARBITRARIEDADE 1
0,02
1
100
968
ARBÍTRIO 1
0,02
1
100
969
ÁREA 1
0,02
1
100
970
ÁREAS 1
0,02
1
100
971
ARENISTAS 1
0,02
1
100
972
ARGILA 1
0,02
1
100
973
ARMAM 1
0,02
1
100
974
ARTIPICES 1
0,02
1
100
975
ASPEREZA 1
0,02
1
100
976
ASSEGURADO 1
0,02
1
100
977
ASSEGURAR 1
0,02
1
100
978
ASSISTIR 1
0,02
1
100
979
ASSUMIDA 1
0,02
1
100
980
ASSUMIDO 1
0,02
1
100
981
ASSUMIR 1
0,02
1
100
982
ATITUDE 1
0,02
1
100
983
ATIVIDADES 1
0,02
1
100
984
ATORMENTADO 1
0,02
1
100
985
ATRAVESSE 1
0,02
1
100
986
ATRIBUÍDA 1
0,02
1
100
987
ATRIBUÍVEIS 1
0,02
1
100
988
ATUAÇÃO 1
0,02
1
100
989
AUTÊNTICO 1
0,02
1
100
990
AUTÔNOMA 1
0,02
1
100
991
AUTORIDADES 1
0,02
1
100
992
AVALANCHA 1
0,02
1
100
993
AVANÇAMOS 1
0,02
1
100
994
AVELHANTADOS 1
0,02
1
100
995
AVENTUREIROS 1
0,02
1
100
996
AVO 1
0,02
1
100
997
BAHIA 1
0,02
1
100
998
BAIXO 1
0,02
1
100
999
BARREIRAS 1
0,02
1
100
1.000
BASEADA 1
0,02
1
100
1.001
BÁSICO 1
0,02
1
100
1.002
BASTAM 1
0,02
1
100
1.003
BASTÕES 1
0,02
1
100
1.004
BILAC 1
0,02
1
100
1.005
BOM 1
0,02
1
100
1.006
BONITAS 1
0,02
1
100
1.007
BRAÇOS 1
0,02
1
100
1.008
BRADO 1
0,02
1
100
1.009
BRANCA 1
0,02
1
100
1.010
BRASILEIRA 1
0,02
1
100
1.011
BRASILEIRO 1
0,02
1
100
1.012
BRAVA 1
0,02
1
100
1.013
BRAVIAS 1
0,02
1
100
1.014
BUSQUE 1
0,02
1
100
1.015
CABIA 1
0,02
1
100
1.016
CABO 1
0,02
1
100
1.017
CALMON 1
0,02
1
100
1.018
CAMINHOS 1
0,02
1
100
1.019
CAMPO 1
0,02
1
100
1.020
CANDIDATOS 1
0,02
1
100
1.021
CAOS 1
0,02
1
100
1.022
CAPAZES 1
0,02
1
100
1.023
CAPITANIA 1
0,02
1
100
1.024
CAPITÃO 1
0,02
1
100
1.025
CAPITÔA 1
0,02
1
100
1.026
CAPRICHOSOS 1
0,02
1
100
1.027
CARIDADE 1
0,02
1
100
1.028
CARO 1
0,02
1
100
1.029
CARTA 1
0,02
1
100
1.030
CASSOU 1
0,02
1
100
1.031
CASTIGO 1
0,02
1
100
1.032
CAUSA 1
0,02
1
100
1.033
CERRAR 1
0,02
1
100
1.034
CERTAS 1
0,02
1
100
1.035
CHAMADA 1
0,02
1
100
1.036
CHAMANDO 1
0,02
1
100
1.037
CHAPA 1
0,02
1
100
1.038
CHEFES 1
0,02
1
100
1.039
CHEGOU 1
0,02
1
100
1.040
CHOQUES 1
0,02
1
100
1.041
CIDADES 1
0,02
1
100
1.042
CIRCUNSTÂNCIAS 1
0,02
1
100
1.043
CLASSES 1
0,02
1
100
1.044
COESÃO 1
0,02
1
100
1.045
COISAS 1
0,02
1
100
1.046
COLHIDOS 1
0,02
1
100
1.047
COLOCADAS 1
0,02
1
100
1.048
COLOCANDO 1
0,02
1
100
1.049
COLOCARMOS 1
0,02
1
100
1.050
COLÔNIA 1
0,02
1
100
1.051
COMEÇAM 1
0,02
1
100
1.052
COMETENDO 1
0,02
1
100
1.053
COMÍCIOS 1
0,02
1
100
1.054
COMISSÃO 1
0,02
1
100
1.055
COMODISMO 1
0,02
1
100
1.056
COMPADECE 1
0,02
1
100
1.057
COMPETÊNCIA 1
0,02
1
100
1.058
COMPORTANDO 1
0,02
1
100
1.059
COMPREENDEMOS 1
0,02
1
100
1.060
COMPRESSOR 1
0,02
1
100
1.061
COMPROMETEDOR 1
0,02
1
100
1.062
COMPROMETENDO 1
0,02
1
100
1.063
COMPROMETIDOS 1
0,02
1
100
1.064
COMPROVADAS 1
0,02
1
100
1.065
COMUM 1
0,02
1
100
1.066
CONCEDER 1
0,02
1
100
1.067
CONCORRERIA 1
0,02
1
100
1.068
CONFLAGRAR 1
0,02
1
100
1.069
CONFLITO 1
0,02
1
100
1.070
CONFLITOS 1
0,02
1
100
1.071
CONHECERAM 1
0,02
1
100
1.072
CONSCIÊNCIA 1
0,02
1
100
1.073
CONSEQÜÊNCIAS 1
0,02
1
100
1.074
CONSIDERÁVEL 1
0,02
1
100
1.075
CONSOANTE 1
0,02
1
100
1.076
CONSTITUCIONALIDADE
1
0,02
1
100
1.077
CONSTITUI 1
0,02
1
100
1.078
CONSTITUÍDO 1
0,02
1
100
1.079
CONSTITUINTES 1
0,02
1
100
1.080
CONTEMPLATIVOS 1
0,02
1
100
1.081
CONTINENTES 1
0,02
1
100
1.082
CONTINUEMOS 1
0,02
1
100
1.083
CONTRARIANDO 1
0,02
1
100
1.084
CONTRIBUIR 1
0,02
1
100
1.085
CONTRIBUÍRAM 1
0,02
1
100
1.086
CONVENHAMOS 1
0,02
1
100
1.087
COORDENADAS 1
0,02
1
100
1.088
CORONELISMO 1
0,02
1
100
1.089
CORPO 1
0,02
1
100
1.090
CORPORAÇÕES 1
0,02
1
100
1.091
COSTUMA 1
0,02
1
100
1.092
COUSAS 1
0,02
1
100
1.093
CRESCER 1
0,02
1
100
1.094
CRIMINOSO 1
0,02
1
100
1.095
CRISTÃO 1
0,02
1
100
1.096
CRIVO 1
0,02
1
100
1.097
CRONISTAS 1
0,02
1
100
1.098
CRUZADA 1
0,02
1
100
1.099
CRUZAR 1
0,02
1
100
1.100
CUJA 1
0,02
1
100
1.101
CÚMULO 1
0,02
1
100
1.102
CÚPULA 1
0,02
1
100
1.103
CURRAIS 1
0,02
1
100
1.104
CURSO 1
0,02
1
100
1.105
1
0,02
1
100
1.106
DADA 1
0,02
1
100
1.107
DADOS 1
0,02
1
100
1.108
DANA 1
0,02
1
100
1.109
DÃO 1
0,02
1
100
1.110
DARIA 1
0,02
1
100
1.111
DAVA 1
0,02
1
100
1.112
DEBATES 1
0,02
1
100
1.113
DEBILITADO 1
0,02
1
100
1.114
DECERTO 1
0,02
1
100
1.115
DEFECÇÕES 1
0,02
1
100
1.116
DEFENDER 1
0,02
1
100
1.117
DEIXOU 1
0,02
1
100
1.118
DELEGADOS 1
0,02
1
100
1.119
DELIRANTE 1
0,02
1
100
1.120
DELITOS 1
0,02
1
100
1.121
DEMAGOGIA 1
0,02
1
100
1.122
DEMOCRÁTICAS 1
0,02
1
100
1.123
DEMOFILIA 1
0,02
1
100
1.124
DENTRO 1
0,02
1
100
1.125
DENUNCIOU 1
0,02
1
100
1.126
DEPOSITÁRIOS 1
0,02
1
100
1.127
DERAM 1
0,02
1
100
1.128
DERROTANDO 1
0,02
1
100
1.129
DESAFIAR 1
0,02
1
100
1.130
DESAFORADO 1
0,02
1
100
1.131
DESARRAZOADOS 1
0,02
1
100
1.132
DESASSOSSEGO 1
0,02
1
100
1.133
DESCONHECEM 1
0,02
1
100
1.134
DESEJE 1
0,02
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1.135
DESERÇÃO 1
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