Durante mais de meio século de vida política autônoma, o Brasil se vinha
comportando como se tudo deslizasse tranqüilamente da guerra maneira e no melhor
elos mundos, Sobretudo o fim da guerra contra o Eixo apontara a humanidade novas
coordenadas.
Os quadras avelhantados da tradição liberal do século passado sofreram em toda
parte impactos tangíveis levantando-se de todos os quadrantes unia onda de reformas
das condições sociais dos povos, os continentes e as nações vendo crescer aquele
mesmo fenômeno que tanto vincou a história de Roma, os conflitos do patriarcado e da
plebe, que, valendo, quando nada pela quantidade, teria, necessariamente de levar de
vencida velhos privilégios, superadas distâncias, ratos de injustiça que os tempos não
mais poderiam tolerar.
Também o Brasil acabou engajado nesta batalha fatal, e diante de um quadro
incompatível com as condições da marcha da civilização, não há porque se estranhe
viva toda a Nação, de alto a baixo, dominada pela idéia das reformas inadiáveis e
justas.
O que ocorre no Brasil - reflexo, de resto, do que se verifica em todo o mundo
moderno - é aquilo mesmo que acontecia nos Estados Unidos nos tempos de Lincoln,
de respeito à abolição da escravatura e que o lógico soberbo da marcha revolucionária
resumiu neste conceito: “Vejo a emancipação aproximar-se; quem puder esperar por
ela verá: quem ficar na sua passagem, será esmagado”. Não há forças que possam
deter as reformas e seria uma desgraça as houvesse, porque e que se reclama, antes de
tudo, uma política de renovação, que invista contra uma ordem injusta, desumana,
anti-cristã, ignóbil – e assim o dever dos democratas não há de ser a posição suicida
de entravar-lhes a caminhada, mas facilitá-las, aprimorá-las, torná-las mais e mais
humanas, visando-se à formação não apenas daquele “homem novo” de que falava São
Paulo, mas de uma sociedade nova, estruturada na justiça, mas, como pregava o Santo
Padre João XXIII, baseada, na ordem, na disciplina, no, direito e na moral.
O primeiro dever dos democratas, portanto, é não deixar que esta bandeira que é
nossa, que deve constituir nosso "penacho" - passe as mãos dos aventureiros, dos
agentes da subversão, dos artífices do caos, a quem somente interessa a luta de classes.
os índios entre os grupos.. os choques entre os que tudo têm e os que nada possuem.
A bandeira do reformismo sereno, profundo, realista e cristão, deve voltar aos
democratas, aos partidos a quem cabe disciplinar a política, aos homens de boa vontade,
aos que sentem ha uma evolução a perseguir e uma revolução sangrenta a evitar. E para
levar a cabo este prograria renovador, as armas terão de ser as da lei, da
constitucionalidade, do disciplinamento jurídico, do entendimento elevado entre alas
agora em campo de luta e cuja harmonizarão se impõe num quadro vasto de justiça, de
ordem, de legalidade. Lutando, porém, por estas reformas, os democratas precisam estar
alerta, mobiliar-se, cerrar fileiras, tinir-se dispostos, inclusive a responder com a força a
todas as tentativas de subversão e de mazurca. Não bastam, para isso, apenas bonitas
palavras, discursos inflamados, explosões líricas de retórica exaltada em comícios, em
praça pública, na imprensa, nos rádios e nas televisões. Urge também – e sobretudo –
a mobilização prática, a necessidade de todos se alistarem, de todos votarem, e
votando, selecionando os melhores, pondo termo a esta avalancha de demagogia
delirante e histérica, pensando, mesmo, menos em termos de “democracia” do que de
“demofilia”, numa política séria voltada para a defesa dos reais interesses do povo, da
comunidade, da Nação.
DIARIO DE PERNAMBUCO, 25
DE
MAIO DE 1964
EDITORIAL Nº 03