EPÍGRAFE
Não escreverei poemas, pois poemas tendem a cair no esquecimento como
sombras vazias. Nem tampouco me ligarei a versos para descrever seus olhares.
Não lembrarei de minha própria modéstia e da minha falta de palavras. Aqui só
será encontrado verdade e ciência para explicar meus atos e defeitos. Em minha
psique não consigo encontrar explicação plausível para o fascínio que seu olhar
gerou em mim em um primeiro momento, e o motivo de minha hipnose constante
por seu perfume desconheço.
Conheço mistérios profundos de interações entre moléculas, de partículas
longínquas da aurora dos tempos geradas pelo próprio universo. Mistérios
revelados sob a luz das estrelas diante de meus olhos. Aprendi a duvidar de tudo,
a questionar o dogma e a ser motivo de olhares desdenhosos sem me
envergonhar. E ainda assim, não aprendi a questionar sua repreensão e a viver
longe de ti.
Ah, o que eu daria para conhecer os segredos ainda intocados deste
universo... sacrificaria anos de minha vida, bens materiais, o tempo... mas não
perderia um minuto longe de você. Não consigo entender o porquê, e já tentei
experimentos em triplicata, repetições infinitas e testes estatísticos, e nada me deu
indícios de qual o tipo de energia que me liga a você. Contigo cada novo gesto
que observo em detalhes me extasia mais que descobertas de um prêmio Nobel.
Apenas não sei. Será magnetismo, ou outro tipo de interação forte e
desconhecida, que vaga pelas galáxias e ocasionalmente liga duas pessoas?
Como uma força intocável e paradoxal como Schrödinger descreveria.
Talvez a resposta esteja nas profundezas de gigantes adormecidos ou em
luzes aleatórias sem comprimentos de onda mensuráveis, não importa. Você
existe para meus olhos, e a eletricidade que sua imagem causa em meu cérebro é
o suficiente para que eu ignore qualquer sinal de resposta a quaisquer perguntas
fascinantes.
Um sábio postulou que a dor constante e infinita do homem é diretamente
proporcional a seu conhecimento em relação à toda filosofia e aos elementos a
que estamos todos submetidos. Um homem com tal dor pondera o suicídio em
algum lampejo de sua existência. Essa mesma dor me desperta em sonhos, me
atormenta no cotidiano, e encerra meu apetite. E ainda assim, uma despedida fria
de seus lábios é o que mais me faz desejar inconscientemente a morte. Isso não
explico, nem pondero e experimento, apenas sinto.
Em meu caminho derradeiro não há deus no horizonte, nem anjos e
espíritos em meu encalço, tudo que espero é sua presença e calor a meu lado. E
assim me sinto feliz.
Rafael Marini Ferreira – 29/05/09