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Com a restauração da democracia representativa ocorreu no fortalecimento do poder
estatal, modificando a relação Estado-sociedade, enquanto ocorria o enfraquecimento da
sociedade civil e de suas representações políticas. Conforme a interpretação de Lyra:
... a nova sociedade civil é na verdade, uma expressão empobrecida da
anterior. Com muito menor capacidade de mobilização e atuação
fragmentada. E, diferentemente da anterior, inserida no ordenamento jurídico
e, consequentemente, sujeita às suas regras. Deve ser entendida apenas como
ela é: a representação institucionalizada da sociedade atual, uma miniatura
desta. Portanto não é mais o conjunto dos cidadãos que é chamado a
participar, como dantes, mas uma representação destes, composta por
"organizações civis" de representatividade, por definição, muito limitada, se
comparada à conferida pelo sufrágio universal. (LYRA, 2007: 607).
Lyra tece criticas a crença de vários autores e militantes de que a participação da
sociedade seria capaz de contribuir, decisivamente, para que as administrações viessem a
adotar políticas orientadas para a "justiça social". Considera uma postura comovente, mas
ilusória, "pois que o que se conhece da prática dos conselhos não é de natureza a alimentar
devaneios" (2007: 624). Finaliza sua análise com a seguinte manifestação:
Entendemos que a melhor forma de resgatar as potencialidades de um
instrumento participativo é compreender a sua natureza jurídica e política, e,
consequentemente, o seu alcance e os seus limites, evitando toda postura
voluntarista. A incompreensão destas questões canaliza as energias dos
representantes mais politizados da sociedade, no âmbito dos conselhos
gestores, seja para um confronto onde só há perdedores, seja para o
arrefecimento ou mesmo abandono de seus ideais de mudança, substituídos
pela acomodação, face a uma realidade que não confirma seu otimismo
ingênuo. Na outra ponta, a existência de uma representação inadequada da
sociedade alimenta posturas oportunistas de alguns de seus representantes,
que visam obter vantagens para si ou para sua corporação, aceitando, para
tanto, serem cooptados pelas administrações. (LYRA, 2007: 625)
Neste debate deve ser considerado o contexto latino americano, no qual Mirza (2006)
realizou pesquisa sobre a autonomia e consolidação organizacional dos movimentos sociais
em sete países (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Venezuela e Equador). A
institucionalização partidária - no caso do Brasil considerada incipiente - constitui um dos
principais fatores para alavancar ou inibir os mesmos. Para o autor a compreensão dos
ativistas sociais sobre como esse fenômeno os influenciou relaciona-se com as possibilidades
de renovação desses movimentos.
Mirza (2006) considera que para o Estado dominar, busca impedir, dificultar e cooptar
a participação social, ao mesmo tempo que as políticas neoliberais vem impedindo a ação
coletiva pelos impactos sobre as identidades, provocando a desesperança e a mercantilização
das relações sociais. Entre as teses formuladas considera essenciais a autonomia dos