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ARIANE SILVA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE, DOENÇA E
CORPO DE CLIENTES DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA
EM CAMPO GRANDE, MS
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
MESTRADO DE PSICOLOGIA DA SAÚDE
CAMPO GRANDE - MS
2009
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ARIANE SILVA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SAÚDE, DOENÇA E
CORPO DE CLIENTES DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA
EM CAMPO GRANDE, MS
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Psicologia da Universidade
Católica Dom Bosco, como exigência
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Psicologia, Área de
Concentração: Psicologia da Saúde, sob
orientação da Profª. Drª. Angela Elizabeth
Lapa Coêlho.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO
MESTRADO DE PSICOLOGIA DA SAÚDE
CAMPO GRANDE - MS
2009
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3
A dissertação apresentada por Ariane Silva, intitulada “REPRESENTAÇÃO SOCIAL
DE SAÚDE, DOENÇA E CORPO DE CLIENTES DE ACADEMIAS DE GINÁSTICA
EM CAMPO GRANDE, MS” como exigência parcial para obtenção do título de
Mestre em PSICOLOGIA à Banca Examinadora da Universidade Católica Dom
Bosco (UCDB) foi ............................
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profª Drª. Angela Elizabeth Lapa Coêlho UCDB (Orientadora)
_____________________________________________________
Profª Drª. Luciane Pinho de Almeida
____________________________________________________
Profª Drª. Lucy Nunes Ratier Martins
____________________________________________________
Prof. Dr. Sebastião Benício da Costa Neto
Campo Grande-MS, 06 de novembro de 2009.
4
Dedico este trabalho aos meus pais e irmão, que sempre estiveram
ao meu lado, com palavras de incentivo em todos os sorrisos e
lágrimas, neste árduo caminho de estudos e descobertas.
Aos meus avós, que sempre me abençoaram em todas as
fases de minha vida com suas orações, carinhos e beijos.
5
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Agradeço a Deus por estar presente e me dar luz e discernimento nos
momentos em que me desesperei. Graças a ele e as suas palavras de incentivo
sussurradas em meus ouvidos pude concluir esta dissertação.
À minha maravilhosa orientadora, Profª. Drª. Angela Elizabeth Lapa
Coêlho. É impossível conhecê-la e não se deslumbrar por sua paixão de ensinar.
Obrigada pelas palavras amigas, pela paciência e consideração dadas a mim em
toda a jornada.
Ao Mestre Marcelo Miranda, que abriu meus olhos para um futuro que
nunca tinha planejado e almejado para mim. Amigo e companheiro de trabalho
sempre presente. Obrigada.
À Mestre Norma Ribas, por me incentivar logo no começo de minha
jornada acadêmica. Aprendi muito e amadureci com suas palavras.
Aos professores Drª. Luciane Pinho de Almeida, Drª. Lucy Nunes Ratier
Martins e Dr. Sebastião Benício da Costa Neto pela disponibilidade em participar da
minha banca.
À Universidade Católica Dom Bosco, agradeço pelo incentivo dado para a
conclusão deste trabalho. Sem essa ajuda, com certeza o caminho teria sido muito
mais difícil.
6
"O seu corpo é a base e a metáfora da sua vida, a expressão da sua existência. É a
sua Bíblia, sua enciclopédia, sua história de vida. Tudo o que acontece com você é
armazenado e refletido no seu corpo. No casamento da carne e do espírito, o
divórcio é impossível."
Gabrielle Roth (s/d)
7
RESUMO
A construção das representações sociais de saúde e doença depende de aspectos
relacionados a vivências grupais e individuais em uma sociedade e em uma
determinada época, interferindo no modo de pensar e agir sobre os cuidados com o
corpo. Para identificar essas representações sociais, faz-se necessário analisar
quais concepções as pessoas têm sobre a saúde e a doença, que os cuidados
com o corpo estão intrinsecamente relacionados a essas concepções. O objetivo
deste trabalho foi identificar as representações sociais de saúde, doença e corpo de
clientes de academias de ginástica em Campo Grande - MS. Participaram da
pesquisa 28 clientes de três academias de ginástica, selecionadas pela localização,
infraestrutura e valores de mensalidade. Foi utilizada uma entrevista semiestruturada
para obter o perfil sociodemográfico dos participantes, bem como suas
representações sobre saúde, doença e corpo. Também foram identificados os
fatores que influenciam os participantes na escolha da academia de ginástica e de
seu professor. Um diário de campo foi utilizado para anotar as intercorrências
ocorridas durante a entrevista. Os resultados revelaram que a representação social
de saúde para os participantes é apresentada como fundamental para a realização
das atividades do dia-a-dia, como trabalhar, estudar e fazer exercício físico. A saúde
tamm está associada a ter boa moradia, ter relações sociais, boa alimentação e
estar feliz, sinalizando a mudança do modelo biomédico para o modelo
biopsicossocial, o que caracteriza uma visão ampliada de saúde. Para os
participantes, a saúde tamm é cuidar do físico e da mente, apontando uma
representação ainda dicotomizada, como se fossem duas instâncias separadas. Nos
relatos, identificamos que ainda existem pessoas que constroem a representação de
saúde como ausência de sintomas, evidenciando uma visão simplificada e que pode
trazer riscos para a saúde, pois pode levar a ignorar doenças que, no início, são
assintomáticas. Os resultados da análise dos relatos dos participantes sobre a
representação social de doença mostram-na como fator que impossibilita viver,
prejudicando a saúde e fazendo mal para o corpo e mente, mostrando novamente
uma representação fragmentada. Nos relatos dos participantes, a representação de
doença está associada ao sentimento de desânimo que se instala para realizar as
tarefas diárias, sendo também identificada como um mal que desestrutura a vida
social e familiar. Os participantes também relataram que o corpo influencia nas
relações sociais e de trabalho, sendo considerado por muitos um cartão de visitas e
a aparência da empresa. A academia de ginástica é procurada para melhorar o
condicionamento físico, a estética, para manter e promover a saúde. As principais
influências para a escolha da academia são a localização, os vínculos de amizade, a
atenção e o conhecimento técnico do professor e a infraestrutura da academia.
Quanto à escolha do professor, os participantes procuram um profissional atencioso,
que tenha conhecimento técnico, o incentive positivamente na rotina de exercícios e
que tenha boa aparência. Acreditamos que, por meio deste estudo, poderemos
auxiliar a compreensão das representações sociais de saúde e doença e sua
relação com o corpo, possibilitando o entrelaçamento de conhecimentos e reflexões
para os pesquisadores e profissionais atuantes em academias de ginástica.
Palavras-chave: Representação Social; Saúde; Doença; Corpo.
8
ABSTRACT
The construction of social representations of health and illness depends on aspects
related to group and individual experience in a society and in a determined period,
interfering in the way of thinking and in the behavior of how to take care of the body.
To identify these social representations, it is necessary to analyze which conceptions
people have about health and illness, as the care of the body is intrinsically related to
these conceptions. The aim of this paper is to identify the social representations of
health, illness and body of clients from health clubs in Campo Grande, MS. Twenty-
eight clients from three health clubs were selected by its localization, infrastructure
and monthly fee. A semi structured interview was used to obtain the social
demographic profile of the participants, as well as their representations about health,
illness and body. Also, factors that influenced the participants in the choice of the
health club and of their teachers where identified. A diary was used to note down the
occurrences during the interview. The results revealed that the social representation
of health to the participants is presented as essential to the realization of every day
activities like working, studying and exercising. Health is also associated to having a
good place to live, having good social relations, good food and being happy, thus
signaling the change of the biomedical model to the biopsicosocial model,
characterizing an amplified vision of health. To the participants, being healthy also
means taking care of the body and mind, pointing to a still dichotomized
representation, as if they were two separate instances. In the records, it was also
identified that there are still peoples that construct the health representation as
absence of symptoms, evidencing a simplified version that could bring risks to health,
as it could lead to ignoring illnesses that, in the beginning have no symptoms. The
results of the analysis of the participants’’ records about social representations of
illness show it as a factor the makes it impossible to live, harming the health and
harming the body and mind, once more showing a fragmented representation. In the
records of the participants, the representation of illness is associated to the feeling of
gloom that is installed to make daily chores, also being identified as something that
breaks down social and family life. The participants also revealed that the body has
influence over social and working relations, considered by many as a “business card”
and the company’s appearance. The health club is searched to improve the physical
conditioning, aesthetic, to maintain and promote health. The main influences for the
choice of the health club are localization, friendship bonds, teacher’s attention and
technical knowledge and the infrastructure of the health club. Referring to the choice
of the teacher, the participants look for a professional that is considerate and
thoughtful, that has technical knowledge, that positively encourages the exercise
routine and that has good appearance. It is believed that, through this study, we will
be able to help to understand the social representations of health and illness and its
relation with the body, making possible the involvement between knowledge and
reflections to researchers and professional working in health clubs.
Key-words: Social Representation; Health; Illness; Body
9
LISTA DE TABELAS
TABELA 1- Dados sociodemográficos dos participantes .......................................... 59
TABELA 2- Representações sociais de saúde para os participantes ........................ 61
TABELA 3- Representações sociais de doença para os participantes ...................... 67
TABELA 4- Concepções dos participantes sobre o seu corpo .................................. 73
TABELA 5- Representações sociais de corpo para os participantes ........................ 78
TABELA 6- Os padrões de corpos na atualidade para os participantes .................... 82
TABELA 7- A influência do corpo nas relações sociais segundo os participantes .... 85
TABELA 8- Motivos para ingressarem na academia ................................................. 90
TABELA 9- Motivos para frequentarem determinada academia ............................... 93
TABELA 10- Fatores que influenciam na escolha da academia ................................ 96
TABELA 11- Fatores que influenciam na escolha do professor ................................ 98
10
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A- Roteiro de Entrevista ....................................................................... 114
APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................. 115
11
LISTA DE ANEXOS
DECLARAÇÃO DO CEP ......................................................................................... 117
12
Sumário
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 13
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 16
1.1 REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO SAÚDE E DOENÇA ............................... 17
1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ....................... 28
1.3 REFLEXÕES SOBRE AS CONCEPÇÕES DE CORPO ..................................... 36
2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 50
2.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................................. 51
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 51
3. MÉTODO ............................................................................................................... 52
3.1 LOCAL ................................................................................................................. 53
3.2 PARTICIPANTES ................................................................................................ 54
3.3 INSTRUMENTO .................................................................................................. 54
3.4 PROCEDIMENTOS E ASPECTOS ÉTICOS ....................................................... 55
3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS RELATOS ............................................ 56
4. RESULTADO E DISCUSSÃO .............................................................................. 57
4.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS ...................................................................... 58
4.2 ANÁLISE DOS RELATOS DOS CLIENTES DAS ACADEMIAS DE
GINÁSTICA ............................................................................................................... 60
4.2.1 As Representações Sociais de saúde ........................................................ 60
4.2.2 As Representações Sociais de doença ...................................................... 66
4.2.3 Corpo e corporeidade ................................................................................ 72
4.2.4 Considerações sobre as academias de ginástica....................................... 90
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 101
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 106
APÊNDICES ........................................................................................................... 113
ANEXOS ................................................................................................................. 116
13
INTRODUÇÃO
___________________________________________________________
14
Entre os inúmeros estudos realizados na atualidade, pesquisas
relacionadas com as representações sociais que um determinado grupo ou pessoa
tem sobre um objeto m se tornado uma constante nas publicações científicas.
Quando abordamos os aspectos relacionados à representação e aos cuidados para
com o corpo, entendemos que as representações sociais de saúde e doença não
podem ser desvinculadas do entendimento de que o zelo com o corpo varia de
acordo com as construções grupais e individuais dessas representações. Para isso,
é necessária a contextualização das representações sociais de saúde, doença e
corpo de varias épocas, como elas são construídas e interpretadas, para entender
como a pessoa e a coletividade produzem essas representações nos dias atuais.
Desse modo, conhecer as representações sociais de saúde, doença e
corpo de clientes de academias de ginástica permite poder alcançar o entendimento
dessas representações e contribuir para a atuação dos profissionais da saúde que
estão nesses locais, já que muitos desses profissionais não têm o conhecimento, ou
a percepção que a construção das representações sociais de saúde, doença e corpo
não podem estar desvinculados.
O corpo é um instrumento utilizado por todos e, por meio dele, nos
comunicamos e estabelecemos vínculos. Cada pessoa possui internalizadas várias
representações que podem ser temporárias ou arraigadas por mais tempo. Algumas
dessas representações podem ser compartilhadas por várias pessoas e, quando
externalizadas, tornam-se uma representação pública e compartilhada por um grupo.
Observa-se, portanto, as mais variadas representações sociais de saúde, doea e
corpo.
O corpo, na atualidade, é objeto de interesse nas mais variadas áreas do
saber: Filosofia, Antropologia, Psicologia, Educação Física entre outras que não se
cansam de tentar entender as representações a ele relacionadas. Inúmeras
pesquisas como de Sabino (2002), Breton (2003), Novaes (2006) e Lacerda (2007)
revelaram que o corpo forma e transforma opiniões mostrando o que é normal ou
anormal, impróprio ou aceitável. O corpo, na contemporaneidade, esrelacionado e
exerce influência nas atitudes, no status de trabalho e nas relações sociais. As
dietas e cirurgias que o corrigem, os remédios que fazem milagres e a prática dos
exercícios físicos também são utilizados pelas pessoas para que a saúde e o corpo
15
estejam dentro de suas representações, isto é, dependendo da representação social
de saúde e doença que a pessoa tem, o cuidado com o corpo vai ser diferente,
desde a busca de tê-lo saudável, até tratá-lo, como Breton (2003) relata, como um
esboço a ser corrigido.
O meu interesse pelo corpo vem desde a minha graduação na faculdade
de Educação Física. As academias de ginástica são a minha área de conhecimento
e nelas exerço minha vida profissional mais de quinze anos. Nesse período, pude
observar que a tríade saúde-doença-corpo são inseparáveis. Na prática diária da
profissão, observei o poder que o corpo tem nas relações de amizade, amor e
conquista de trabalho.
O anseio para este estudo veio a se concretizar com a aprovação no
Mestrado em Psicologia, em que as disciplinas de Psicologia da Saúde e Identidade
e Representação Social me chamaram a atenção para o foco desta pesquisa.
A fundamentação teórica deste trabalho aborda o processo de construção
das concepções sobre saúde e doença, situando a transição da utilização do modelo
biomédico para o biopsicossocial na manutenção e promoção da saúde e a
prevenção da doença. Também são discutidas as contribuições da Psicologia Social
sobre os estudos das representações sociais. Finalizando, é levantada a discussão
sobre as representações sociais dadas ao corpo, como ele é visto com o passar dos
tempos, até chegar à sociedade atual.
Nesta pesquisa de dissertação de mestrado identificamos as
representações sociais de saúde, doença e corpo de clientes de academias de
ginástica em Campo Grande, MS, bem como a situação sociodemográfica dos
participantes, os critérios de escolha do professor e as influências exercidas para
frequentarem e escolherem a academia de ginástica em que estão fazendo os seus
exercícios físicos. Em seguida, apresentamos o método utilizado na pesquisa,
detalhando o local, participantes, instrumentos, procedimentos e aspectos éticos.
No próximo capítulo, estão registrados os resultados e suas análises e,
por último, são realizadas as considerações finais sobre o trabalho e exposta a
relevância da pesquisa nessa área.
16
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
___________________________________________________________
17
As representações sociais de saúde e doença variam de acordo com os
aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos dos grupos de uma sociedade, e
refletem diretamente sobre os cuidados com o corpo.
Compreender as concepções de saúde e doença se faz necessário para
perceber a evolução dessas concepções, no que diz respeito às relações sociais de
pessoas praticantes do exercício físico.
1.1- Reflexões sobre o processo saúde e doença
Na Antiguidade, as classes populares atribuíam o estar saudável ou
doente a poderes divinos. Para os greco-romanos, egípcios e hebreus, a saúde era
ligada ao bem-estar físico. Na atualidade, a saúde possui representações mais
amplas, pois a pessoa é vista como um todo que se relaciona socialmente
(PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2002).
Spink (2003, p. 43) argumenta, que tanto no Ocidente quanto no Oriente,
a relação comportamento-saúde e corpo-mente, “[...] fez parte da reflexão sobre a
doença, especialmente em períodos históricos nos quais a doença foi equacionada
com a ruptura do equilíbrio intraindivíduo ou entre o indivíduo e o cosmo.”
Scliar (2002; 2007) e Sevalho (1993) relatam que nos primórdios da
história da humanidade, os estados de doença e saúde eram construídos a partir da
realidade que as pessoas estavam vivendo. Portanto, quando estudamos os
processos de saúde e doença, devemos levar em consideração as diferentes fases
da história, ou seja, como as pessoas interagiam e estavam configuradas em um
determinado período, pois, em cada momento, novos entendimentos de saúde e
doença foram gerados.
Segundo Sevalho (1993), para os mesopotâmios, os demônios eram os
responsáveis pela manifestação da doença, sendo necessário o exorcismo para a
cura e restabelecimento da saúde.
18
a Medicina grega, conforme demonstra Scliar (2007), era uma
Medicina que valorizava práticas higiênicas e na qual a cura da doença se dava por
meio de medicamentos naturais e não apenas por rituais.
Para os antigos hebreus, a doença se instalava nas pessoas pelos seus
pecados e pela desobediência ao divino, sendo o seu Deus considerado o grande
médico que cuidava dos enfermos e curava as enfermidades. na Idade Média, o
doente era isolado e considerado morto e, nesse período de isolamento, missas
eram realizadas aque a sua cura acontecesse (SCLIAR, 2007). Sevalho (1993)
relata que, nesse período, um grande poder da Igreja e já é possível ver a
fragmentação do corpo e da mente com cunho espiritual. O autor tamm revela que
essa influência de caráter religioso e com castigos divinos estão presentes até os
dias de hoje, revestindo as representações sociais de doença construídas pelas
pessoas.
Estes aspectos resistem entre crenças ainda existentes que cultuam
a pureza como uma ligação rigorosa e permanente ao primitivo e um
isolamento dos costumes atuais, ou mesclados na cultura geral de
nosso tempo. A filis, com seu caráter venéreo, na primeira metade
do século XX, e a presente epidemia de AIDS, inicialmente entre
homossexuais masculinos e usuários de drogas endovenosas,
trouxeram à tona uma série de preconceitos morais (SEVALHO,
1993, p.352).
Tamm não se pode esquecer que, na sociedade atual, ainda se recorre
aos xamãs e aos sacerdotes para exorcismos e na busca da cura para determinadas
doenças (SEVALHO, 1993).
Scliar (2007) relata que, após a Idade dia, acontecem os avanços
científicos, dando início ao uso de laboratórios e microscópios, possibilitando tratar a
doença por meio de soros e vacinas, e não apenas pela influência do aspecto
religioso.
Era uma revolução porque, pela primeira vez, fatores etiológicos até
então desconhecidos estavam sendo identificados; doenças agora
poderiam ser prevenidas e curadas (SCLIAR, 2007, p. 34).
19
Após a Segunda Guerra, foi criada a Organização Mundial da Saúde
(OMS) e, em sua carta de princípios, do dia 7 de abril de 1948, foi publicada a
obrigação de o Estado proteger e promover a saúde. Nos anos de 1940 a saúde era
definida como “[...] o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e
não apenas a ausência de enfermidade(SCLIAR, 2002, p. 93). Esse conceito era
considerado um avanço para a época, já que a saúde era vista anteriormente
apenas como ausência de enfermidades, isto é, se a pessoa não apresentasse
nenhum sintoma ou sinal, era atribuído a ela o status de saudável. Este conceito
refletia o final da guerra, quando se aspirava o direito de saúde plena e sem
restrições. Entretanto, essa Declaração acarretou críticas sobre sua abrangência,
pois a saúde ideal seria algo impossível de se alcançar, pelo seu status “de mais
completo bem-estar físico, mental e social”. Esse conceito tamm gerou críticas de
natureza política (SCLIAR, 2007).
A amplitude do conceito da OMS acarretou críticas, [...] outras de
natureza potica, libertária: o conceito permitiria abusos por parte do
Estado, que interviria na vida dos cidadãos, sob o pretexto de
promover a saúde (SCLIAR, 2007, p. 34).
Scliar (2002) argumenta que não podemos nos contentar com o silêncio
dos órgãos, uma vez que, antes da criação desse conceito, ausência de
enfermidades era confundida com ausência de sintomas. Também vemos que é
humanamente impossível atingir essa perfeição de “pleno bem-estar físico, mental e
social”, pois quando falamos de físico, nos deparamos com termos mensuráveis
como peso ideal, pressão arterial normal entre outros. Mas, quando falamos em
bem-estar, entramos em uma ordem qualitativa de representações e sentidos
subjetivos para cada pessoa.
Para Segre e Ferraz (1997), a definição de saúde da OMS foi muito
avançada para a época. Mas, para os estudiosos da segunda metade do século XX,
essa definição é irreal e de visão unidirecional, porque perfeição é utopia, e o
sentido de perfeito bem-estar é impossível de se caracterizar.
Só poder-se-ia, assim falar de bem-estar, felicidade ou perfeão
para um sujeito que, dentro de suas crenças e valores, desse sentido
20
de tal uso semântico e, portanto, o legitimasse (SEGRE; FERRAZ,
1997, p.539).
Para Scliar (2007), outro fator de controvérsias para o conceito da OMS é
a ênfase dada à separação dos conceitos sociais, físicos e mentais, que interagem,
concebendo um sistema ininterrupto, sem estabelecer categorias. A crítica sobre a
unilateralidade do conceito fica entendida, pois não é possível analisar o que é má
ou boa qualidade de vida de forma extrínseca. Somente a própria pessoa é capaz
de avaliar tais condições.
Para Becker (2001) e Scliar (2002), outro fato histórico que merece
destaque é a Carta de Otawa, patrocinada pela própria OMS, reconhecendo que a
saúde necessita de vários fatores para ser atingida, como paz, habitação, poder
aquisitivo, educação, ecossistema estável, a conservação de recursos naturais,
estabelecimento de políticas públicas saudáveis, entre outros.
A promoção da saúde foi conceituada como "o processo de
capacitação na comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade
de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste
processo [...] (PESSINI; BARCHIFONTAINE, 2002).
Na Carta de Otawa, fica registrada a importância da interdisciplinaridade
entre os setores que atuam nas políticas públicas, oferecendo estratégias integrais
de atuação em rios campos e locais, como cidades e comunidades (BRASIL,
1986). Para Pessini e Barchifontaine (2002), esse documento aponta também a
importância do conceito de equidade. A partir do conceito de saúde da OMS e da
Carta de Otawa, várias Conferências sobre as políticas de saúde foram realizadas
para o melhoramento das condições de saúde individual e coletiva (BECKER, 2001).
No Brasil, um conceito mais amplo de saúde é reconhecido, na
Conferência Nacional de Saúde, em 1986. Este conceito inclui aspectos enfatizando
que a saúde é resultante de vários fatores como condições de alimentação, moradia,
educação, meio-ambiente, trabalho, transporte entre outros. A saúde também é
considerada como algo que não conseguimos mensurar quantitativamente, e que as
pessoas, têm direito à promoção, prevenção e recuperação da saúde. Por último,
21
esse conceito preconiza que a população brasileira deve participar ativamente, por
meio dos Conselhos de Saúde, na construção dessas novas políticas públicas
(BRASIL, 1986).
Pessini e Barchifontaine (2002) ressalvam mais três declarações
importantes para a promoção da saúde: a Conferência da Austrália de 1988, na qual
as prioridades são as políticas públicas saudáveis, a atenção voltada para a mulher,
a criação de ambientes favoráveis, entre outros aspectos; a Conferência
Internacional sobre Promoção de Saúde de 1991, relacionando como
interdependentes e inseparáveis a ecologia e a saúde; e a Quarta Conferência de
1992, em Bogotá, que traz como desafio conciliar todos os interesses econômicos
às melhores condições sociais de bem-estar.
O novo modo de ver a saúde deixa para trás o modelo biomédico, que era
apenas o olhar biológico unidirecional para a pessoa, abrindo as portas para o
modelo biopsicossocial que aponta os acontecimentos sociais, psicológicos e
biológicos como determinantes para analisar os estados de saúde e doença de uma
sociedade.
Sobre esse poder unidirecional, no qual as ciências médicas são vistas de
forma isolada, não se tem uma visão limitada dos aspectos biológicos referentes
à doença, como também não há a preocupação com os aspectos sociais interligados
a esse processo. A visão dualista de corpo e mente é predominante no modelo
biomédico (VILELA; MENDES, 2000 apud SERPA, 2007).
Para Traverso-Yépez (2001), o modelo biomédico tem seu alicerce
durante os séculos XVIII e XIX, quando qualquer alteração física é explicada por
fatores fisiológicos, bioquímicos, bacterianos e similares. Nesse mesmo período,
médicos filósofos estudam e aplicam uma Medicina mais humanizada que existe até
os nossos dias, com abordagens homeopáticas e menos agressivas. Por mais que
as duas concepções caminhassem juntas, o modelo biomédico se fortaleceu nas
condutas de atendimento ao paciente, no qual a doença era um problema gerado
pelo corpo e nenhuma outra influência era levada em consideração. A partir dessa
conduta médica, houve um grande crescimento no poder da indústria de remédios e
de aparelhos super modernos, gerando maiores gastos com a saúde.
22
Stroebe e Stroebe (1995) relatam que quando focalizamos as causas
biológicas, que é o caso do modelo biomédico, fatores importantes do social e do
psicológico são ignorados na detecção dos motivos da doença, gerando poucos
recursos para a orientação da prevenção.
Traverso-Yépez (2001) ressalta que, na década de 1970, o processo de
interdisciplinaridade começa a ser constituído. Psicólogos, sociólogos e
antropólogos se unem, propiciando a estruturação da Psicologia da Saúde. O intuito
desses profissionais era a promoção, prevenção e tratamento de doenças como
políticas públicas para a melhoria sanitária das pessoas. Quando esse modelo foi
concebido, recebeu o nome de modelo biopsicossocial, que se preocupa com os
comportamentos relacionados à saúde.
A partir da década de 1970, Adam e Herzlich (2001) relatam que os
modelos psicossociais vêm mostrar a sua importância, quando os adoecimentos são
associados às questões também emocionais e sociais das pessoas, como o
estresse, que pode desequilibrar o estado de saúde de uma pessoa. O estresse
pode estar relacionado à perda de emprego, morte na família e até mesmo ao
nascimento de um filho. O fato é que pessoas expostas a um mesmo evento podem
ou não reagir de forma diferente, por conta dos fatores mediadores (ADAM;
HERZLICH, 2001).
Para Helman (2003), o conceito de estresse sofreu modificações desde o
início de sua pesquisa. O primeiro estudioso sobre o assunto foi Hans Selye, que
tinha um enfoque mecanicista e uma visão exagerada dos fatores fisiológicos como
a causa do aparecimento do estresse. O autor destaca que, atualmente, as
experiências estressantes estão mais relacionadas a fatores psicológicos e sociais
como a personalidade da pessoa, o grau de escolaridade, o ambiente social em que
está inserido, a situação econômica e a cultura da pessoa. O estresse pode ser fator
desencadeante e causador de doenças, já que diminui a resistência das pessoas a
processos patológicos.
Para Menegon e Coêlho (2006), falar de saúde e doença é levar em
consideração aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais compartilhados
23
com vários saberes e conhecimentos transdisciplinares, articulando-os para a
produção de conhecimentos.
Segundo Adam e Herzlich (2001), são importantes as reflexões sobre o
aspecto social e biológico na determinação dos aspectos de saúde e doença em
uma sociedade.
Fonseca (1997) argumenta que esses fatores sociais e biológicos,
determinam as condições de saúde e doença e que são baseados na visão da
Epidemiologia Social, ou seja, os processos de saúde e doença são baseados em
manifestações biológicas e sociais, tanto no individual como no coletivo. De acordo
com o autor, fazer uma análise superficial do que nos torna saudáveis ou doentes,
só nos deixa suscetíveis a erros na determinação do que é doença e/ou saúde.
Adam e Herzilich (2001, p. 55) expõem que as variações entre as classes
sociais não são suficientes para determinar os estados de saúde e doença. Uma das
explicações postuladas são os processos de seleção social, [...] em que o acesso à
determinada categoria sócio-profissional depende, entre outros fatores, da saúde
[...]”. Os autores citam um artigo de Jacques Vallin (s/d) que relata que para se
conseguir destaque na sociedade os caminhos ficam mais ceis para as pessoas
que têm as melhores qualidades físicas e mentais. Por mais atual que seja essa
publicação, vemos nesta afirmação a presença dualística e dicotômica de físico e
mente.
O acesso a determinada categoria sócio-profissional depende, entre
outros fatores, da saúde. Para conquistar os melhores lugares na
sociedade, é necessário provar que possui qualidades o que fica
facilitado para os indivíduos mais saudáveis física e mentalmente.
(JACQUES VALLIN s/d apud ADAM; HERZLICH, 2001, p. 54).
Em contrapartida, Adam e Herzlich (2001) apontam a causalidade social.
Esse termo é explicado epidemiologicamente com o significado de fator de risco.
Quando pensamos em fatores de risco, nem sempre quem está em uma classe
socioprofissional mais elevada terá como fator determinante o estado de saúde.
Ritmo de trabalho e insalubridade são fatores que não podem ser descartados.
24
A causalidade social revela a subjetividade nas análises feitas, quando
nos deparamos com fatores socioprofissionais. Becker (1976 apud STROEBE;
STROEBE, 1995) complementa esse discurso quando leva em consideração a
abordagem econômica, afirmando que a maioria, ou senão todas as mortes
ocorridas no nível social dos mais favorecidos são suicídios, quando vemos que
poderiam ser adiadas se tivessem trabalhado de forma menos intensa, prestando
mais atenção ao que o corpo quer falar.
Podemos ver que a relação trabalho-saúde exerce influência das mais
variadas formas possível pode ou não ser saudável, como ter ou não saúde
independe de estar ou não em uma classe financeiramente privilegiada. É preciso
analisar o ritmo de trabalho, onde se está trabalhando, o período do dia e riscos de
acidentes e poluição para ver o nível de insalubridade (ADAM; HERZLCH, 2001).
Outro fator apontado por Adam e Herzlich (2001) e por Boltanski (2004),
que pode exercer influência na saúde das pessoas, é em que situação o tratamento
médico é procurado. Quantitativamente, não existe diferença na procura ao
atendimento médico entre as classes sociais, mas qualitativamente sim. A classe
popular procura o atendimento médico com intenção curativa, portanto, em
situões mais graves e a hospitalização é mais frequente. as camadas
privilegiadas estão em busca da prevenção ao procurar o médico. Tamm para os
autores, as pessoas de classes de renda superiores vão direto para um especialista,
pois conseguem entender o sistema de tratamento, ao contrário das pessoas de
classes de poder aquisitivo menor. No entanto, devemos considerar que nem
sempre a classe com menor renda tem possibilidades de procurar ou de ter acesso
a um especialista, no quadro de atendimento do Sistema Único de Saúde.
Os conceitos sobre saúde e doença dependem das representações que
as pessoas têm sobre o que estão sentindo: Estou com dor? Preciso tomar
remédio? Por que eu posso continuar a trabalhar se estou doente? Na sociedade, a
doença é interpretada de forma específica, mas [...] a concepção que temos de
doença manifesta nossa relação com a ordem social” (ADAM; HERZLICH, 2001, p.
76). As noções de representações sociais de saúde e doença são independentes do
saber médico e sim, são dadas pela interpretação que essa pessoa está sentindo
em conjunto ao seu meio social, ou seja, ao local em que vive.
25
Outra questão levada em consideração é a dinâmica entre o médico e o
paciente. As respostas transmitidas a todas essas indagações são chamadas por
Adam e Herzlich (2001) da competência médica pelo doente, isto é, as construções
das concepções de saúde e doença elaboradas pelo paciente, independem do
conhecimento médico acadêmico, que a linguagem utilizada pela classe médica,
muitas vezes, não atinge o entendimento e a compreensão de quem os procura. O
paciente sentido às suas experiências individuais, para compreender assim, a
sua realidade orgânica e à compartilhar na sociedade.
Boltanski (1979) afirma que a barreira linguística redobra a distância do
médico e doentes de classes populares, que esses, para o poder médico
encontram-se nos mais baixos níveis de instrução, impedindo-os de entender tais
conhecimentos, cabendo aos doentes apenas seguir o que foi recomendado.
O discurso coletivo não é, portanto uma cópia mais ou menos exata
do discurso médico, uma enumeração de sintomas e de fenômenos
orgânicos. Ao contrário, os sintomas, as disfunções organizam-se em
“doença” na medida em que eles provocam alterações na vida do
doente e em sua identidade social (ADAM; HERZLICH, 2001, p. 77).
Boltanski (1979) ressalta que esse conhecimento médico do paciente,
nada mais é que a reprodução imitativa de um diagnóstico precedente. Em sua
pesquisa, mães de classes populares foram indagadas de onde vinha o
conhecimento para o tratamento de seus filhos sem o diagnóstico de um médico, e
elas responderam que administravam aos filhos os mesmos remédios e cuidados
referentes à última visita ao médico. O autor relata que esse fato acontece porque as
classes menos favorecidas não possuem critérios que lhes permitam ver as
qualidades desses mesmos médicos.
Em contrapartida, os de classes superiores escolhem o seu médico de
acordo com sua reputação e títulos. Essa situação ocorre porque as pessoas de
classes menos favorecidas que procuram o atendimento médico não têm condições
financeiras de procurar um especialista ou atendimento particular, e este empecilho
não é encontrado nas classes superiores (BOLTANSKI, 1979).
Se o desamparo dos membros das classes populares diante da
doença não tem equivalente nas classes superiores, é o primeiro
26
lugar porque o médico, para estas últimas, não é o delegado
anônimo da instituição médica, mas um personagem familiar, do qual
se pode apreciar a competência e o valor, em que se pode apreciar a
qualidade do homem atrás do profissional (BOLTANSKI, 1979, p.
54).
Boltanski (1979) relata que diferenciação na transmissão de
informações, dependendo da relação que este médico tem com seu paciente. Se o
paciente é de classe equivalente à dele, as explicações serão mais detalhadas.
quando o discurso médico é transmitido para os de classes populares, é necessário
que o usuário faça uma decodificação dos dados. As informações dadas pelo
médico são em ordem decrescente da hierarquização social.
A recusa de fornecer ao doente um mínimo de informações sobre o
seu corpo e doenças, em função essencialmente de impedi-lo de
manter com o corpo uma relação científica e reflexiva com a doença,
essa atitude tem consequências inversas, pois leva o doente á
obrigação de construir com seus próprios meios, ou seja, “com os
recursos de bordo”, o discurso sobre a doença que o médico não
transmitiu (BOLTANSKI, 1979, p. 61).
Quanto mais difícil se torna a linguagem do médico para o entendimento
do usuário, mais distante essa relação se torna. O usuário não segue as indicações
prescritas, e o médico faz o papel de autoridade em suas determinações. Podemos
observar que precisam ser melhores elucidados os fenômenos que envolvem as
relações das situações de doença entre médico-usuário. Deve ser levado em conta
que a sociedade possui crenças diferenciadas, conhecimentos individuais e
coletivos, isto é, o entendimento da doença não é igual para todos. Para que essa
relação seja de compartilhar e não apenas de informar com o saber médico
unidirecional, é preciso um trabalho transdisciplinar, no qual os profissionais da área
de saúde possam partilhar práticas e saberes (BOLTANSKI, 1979).
Muito embora Boltanski tenha feito essas afirmações no final da década
de 1970, na atualidade, por conta dos diversos programas de atendimento à saúde,
pelo menos no Brasil, podemos inferir que esse conhecimento esteja mais
ampliado.
27
Para Menegon e Coêlho (2006), esse é um caminho necessário para que
se possa estabelecer relações com os campos do saber, que vão desde estudos
científicos, passando pelas áreas da saúde, até o conhecimento leigo que muitas
vezes é ignorado na compreensão das representações sobre saúde e doença.
Stroebe e Stroebe (1995) observam a importância da ampliação do
modelo biomédico para uma visão na qual os fatores psicológicos, biológicos e
sociais sejam determinantes para a avaliação do estado de saúde do usuário, bem
como para a prescrição e realização do tratamento.
Para Adam e Herzlich (2001), o conceito pessoal de saúde e doença nada
mais é que a interpretação social que ela tem relacionado diretamente a sua cultura
adquirida, isto é, os sinais e sintomas atribuídos às diferentes partes do corpo
variam conforme a cultura de diferentes sociedades.
Serpa (2007) realizou uma pesquisa com 27 usuários do Sistema Único
de Saúde com diabetes e hipertensão de classes menos favorecidas, como intuito
de analisar o que é saúde e doença para essa população. Os resultados revelaram
que os participantes veem a saúde como ausência de sintomas da doença. Essa
visão é preocupante, tendo em vista um investimento que é feito na área da saúde
junto a esses programas. Seria interessante que eles fossem analisados, uma vez
que, o objetivo desses programas não seria alcançado. Destacou-se ainda que a
maioria da população participante era constituída por mulheres, como se fosse
somente papel feminino o ato de cuidar da saúde (SERPA, 2007). Podemos inferir
que esta prática se deve ao fato de as mulheres frequentarem mais as Unidades
Básicas de Saúde (UBS) por conta de questões ligadas a sua própria saúde, como a
menarca e a gestação. Isso revela também que essa aproximação maior se dá
quando essas mulheres levam suas crianças à UBS, pois esse não é um papel
exercido com grande frequência pela população masculina.
-se em Sabroza (2008) que os processos e formas de conjunturas
socioespaciais anteriores continuam atuantes nas novas organizações, ou seja,
modelos antigos e presentes podem coexistir em nossa realidade. Os conceitos
sobre saúde e doença são definidos por questões centrais, por haver interação com
outros conceitos, sempre definidos e determinados por um período histórico.
28
Segundo Adam e Herzlich (2001), as políticas de saúde têm se esforçado
para que as informações com relação à manutenção e promoção da saúde sejam
difundidas por meio de informações sobre a necessidade de se incorporarem
vínculos sociais para que haja mudança desses comportamentos arraigados com o
passar dos anos. Existem crenças e valores que cercam cada grupo social. As
noções de saúde e doença são processos qualitativos, não são experiências
exclusivamente individuais, mas contam tamm, com articulações do ambiente
social com fatores biológicos, psicológicos e culturais de uma sociedade, totalmente
entrelaçados em suas práticas cotidianas.
Para Spink (2003), a Psicologia Social passou por várias fases até chegar
ao entendimento atual. Ela teve influência da teoria Psicanalista e, para explicar
os processos de saúde e doença, utilizou o universo interno da pessoa. Relacionou
o emocional e a personalidade para o entendimento das doenças e, posteriormente,
deu valor aos aspectos psicossociais. Agora, passa a destacar as representações
nos processos de saúde e doença, estudando as construções do entendimento do
coletivo, além da relação do conhecimento leigo com o acadêmico, assumindo papel
fundamental para o entendimento desse mundo atual.
Uma das teorias que está sendo utilizada para dar entendimento a esses
processos é a Teoria das representações sociais e suas particularidades, que serão
discutidas a seguir.
1.2- Considerações sobre as Representações Sociais
A Psicologia Social se preocupa em estudar como organizamos a tão
complexa estrutura social em que vivemos. Complexa porque esse mundo é
composto por inúmeros grupos únicos e diferentes entre si. A idéia central da
Psicologia Social é estruturar esse ambiente social e físico, de forma que esta
complexidade seja entendida, tentando dividi-lo em categorias de objetos,
acontecimentos, pessoas e idéias.
O embasamento teórico para os estudos das representações sociais vem
de contribuições da Linguística, Antropologia, Psicologia Cognitiva e da Psicologia
29
Social. Podemos ver que existe uma característica transdisciplinar quando
discutimos tais estudos e o ser humano em seu habitat (SEMIN, 2001). Jodelet
(2001) complementa situando que, há mais de vinte anos, os estudos sobre a
representação social vêm acontecendo de forma crescente, ocupando posição de
destaque nas Ciências Humanas e Sociais. Foi Durkheim o primeiro estudioso a
analisar as produções mentais, construídas de uma idéia coletiva.
Segundo Minayo (2002), Durkheim foi precursor em trabalhar a
representação coletiva do ponto de vista da Sociologia. Na Sociologia, o
pensamento surge sempre ligado a fatores sociais passíveis de observação e
interpretação. Durkheim tem em seus estudos uma visão unidirecional, considerando
as Representações Coletivas como sendo de uso exclusivo da Sociologia.
De acordo com Moscovici (2001), Durkheim começa seus estudos por
volta de 1895, separando as representações coletivas das individuais, para estudar
os mais variados fenômenos sociais. Durkheim (1968 apud MOSCOVICI, 2001)
descreve que o conhecimento é compartilhado por todos e é elaborado pela
comunidade em questão, já que nenhuma marca individual é detectada. Relata
ainda que as representações coletivas possuem mais estabilidade que as
individuais, pois o indivíduo visto de forma isolada é mais suscetível a
sensibilizações, afetando o seu equilíbrio interno. Ao contrário, para que as
representações coletivas sejam desestruturadas, é necessário um evento muito
poderoso para desequilibrar a sociedade.
A objetividade de Durkheim é muito criticada por estudiosos de outras
linhas de pensamento, como os estudiosos da Sociologia Compreensiva, que tem
como palavras-chaves as ideias, o espírito, as concepções e a mentalidade muitas
vezes utilizada como sinônimos, e da Abordagem Fenomenológica que segundo
Lopes e Souza (1997, p.06), “[...] busca o fenômeno através de quem vivencia uma
determinada situação.” O que é mais criticado na visão de Durkheim é que é
eliminada a diversidade da realidade social, em especial as divergências e
diferenças de classes.
Minayo (2002, p.89) argumenta que a terminologia de representação
social vem da Filosofia e tem como significado, “[...] reprodução de uma percepção
30
retida na lembrança ou do conteúdo do pensamento.” Serve de grande material de
estudo, pois deixa registrada as mais diferentes formas do pensamento social no
decorrer da história, sendo que as taxonomias de pensamento são explicadas,
justificadas e questionadas.
De acordo com Arruda (2002), a preocupação com as situações
simbólicas do cotidiano começou a florescer nos anos de 1960. Observa que não
houve aprofundamentos teóricos pertinentes nessa época, e seu estudo começou a
ter mais atenção a partir de 1980. A autora observa que o interesse pelas
representações sociais não é herança particular de apenas uma área, mas possui
raízes na Sociologia, na Antropologia e, principalmente, na Psicologia Social
desenvolvida na França por Serge Moscovici, com sua obra La Psychanalyse, son
image, son public, e aprofundada por Denise Jodelet. Esses estudos são
estruturados em teorizações, passando a ser utilizados em outros campos de
conhecimento, como na saúde, na educação, na didática, no meio ambiente, entre
outros.
Minayo (2002) relata que a ação humana deve ser investigada por ser
significativa para o entendimento do contexto e da realidade social. A abordagem
fenomenológica, que utiliza a palavra senso comum, recorre aos estudos das
representações sociais. Os fatos são elaborados a partir do dia-a-dia, tendo
signifincia o grupo social em que a pessoa vive, pois todos pensam e agem
conforme suas experiências sociais.
Um dos principais estudiosos da representação social é Moscovici. Ordaz
e Vala (2000, p.88) argumentam que a reformulação psicossociológica do conceito
de representação coletiva de Durkheim proposta por Moscovici abriu a era dos
estudos das representações sociais. Sendo assim, outros estudos, simpósios e
muitos meios de comunicação fizeram referências às representações sociais
(JODELET, 2001).
Moscovici (2001) descreve que o estudo das representações sociais ficou
em desuso por quase meio século, sendo retomado por ele e por outros psicólogos
sociais, no início dos anos de 1960, com o intuito de estudar o comportamento e a
31
relação social sem simplificações e deformidades, associando o pensamento e a
comunicação que formam o senso comum.
Sobrinho (2000) relata que Moscovici demonstrou que os processos de
comunicação social são muito dinâmicos, e que não se pode dicotomizar o
comportamento do universo interior e exterior da pessoa ou grupo social. O estímulo
e a resposta são inseparáveis.
Uma resposta não é estritamente uma reação a um estímulo. De
certa forma, a resposta já está na origem do estímulo, o que significa
que este último é determinado em grande parte pela própria resposta
(SOBRINHO, 2000, p.119).
Segundo Palmonari e Zani (2001, p.265), as representações sociais se
formam “[...] por meios dos processos de objetivação e de ancoragem, como
descreveu Moscovici desde seu primeiro trabalho.” Para Ordaz e Vala (2000), o
processo de objetivação as formas pelas quais um conceito é pensado e
objetivado, isto é, um fenômeno visto de forma natural. a ancoragem é quando
algo é transformado de não familiar em familiar, por meio da familiarização com as
representações sociais que, quando internalizadas, se tornam funcionais. Isso
acontece por causa do poder da relação da comunicação com o social,
transformando o que é desconhecido e novo, em algo familiar.
Arruda (2002, p.129) diz que a “[...] ciência o acontece em uma bolha
isolada da sociedade”. É necessário considerar que os agentes estão introduzidos
em ambientes sociais, e que esses agentes têm uma visão diferenciada dos objetos,
tendo diferentes sistemas de identificação com seus atores. Sobrinho (2000)
tamm compreende que os fenômenos sociais não são formados em um vazio
social eo constituem um produto de classificação de objetos.
Segundo (1995 apud LIMA, 2005), as representações sociais podem
ser formadas em todos os ambientes em que temos contato com os nossos
semelhantes.
[...] as representações também se formam em lugares onde as
pessoas se encontram informalmente e se comunicam, como no
almoço, jantar, fila de banco, ônibus, supermercado, trabalho, escola
32
e salas de espera. São pensamentos de um ambiente, onde se
desenvolve a vida cotidiana [...] (SÁ, 1995 apud LIMA, 2005, p.17).
De acordo com Jodelet (2001), para estudar as representações sociais
são utilizados vários métodos de pesquisa, que vão desde os estudos aplicados em
laboratórios até pesquisas de campo, por meio de entrevistas, questionários,
observações e associações de palavras. As representações sociais são construídas
a partir dos assuntos da sociedade dos mais diversificados, podendo ser citados,
entre outros, a cultura, a religião, a política, o trabalho, o corpo, a sexualidade, as
pessoas, as etnias e o esporte.
Spink (1993) enfatiza que as representações são fenômenos sociais,
portanto são entendidas por meio das funções simbólicas, ideológicas e dos meios
de comunicação, ou seja, são socialmente organizadas e compartilhadas,
possibilitando a constituição de um fato em comum.
Para Semin (2001), as representações sociais fornecem uma perspectiva
de análise a partir de uma pessoa ou um grupo que observa algo, interpretando
acontecimentos ou situações. Basta, para quem analisa, fazer uma simples pergunta
para gerar uma representação social, oferecendo assim interpretações do mundo
social e físico.
Segundo Abric (2000), toda representação de um objeto e tamm de
uma pessoa é estudada de uma forma global e unitária e tem como função
reestruturar a realidade para integrar as características objetivas do objeto às
experiências anteriores da pessoa e sistematizar atitudes e normas.
[...] as representações sociais constituem uma forma de metabolizar
a novidade transformando-a em substância para alimentar nossa
leitura de mundo e assim incorporar o que é novo (ARRUDA, 2000,
p. 72).
Jodelet (2001) descreve que, para vivermos em sociedade, precisamos
compreender o mundo em que estamos inseridos, para que possamos saber nos
comportar perante as situações que ocorrem em nosso dia-a-dia. Por não vivermos
de forma isolada, compartilhamos idéias e modos de pensar iguais ou diferentes dos
33
nossos. Sendo assim, quando tomadas certas decisões, podemos nos posicionar
em determinados grupos que fazem parte do mesmo modo de análise crítica de uma
situão, isto é, grupos que orientam e organizam nossos comportamentos. Para
formar a representação social de uma ideia, a pessoa pega referências do que é
vinculado ao seu redor. A mídia escrita e falada nos subsídio para esquematizar
e interpretar essas representações, não se esquecendo de que elas são formadas
da maneira mais natural possível.
Sperber (2001) afirma que, na prática, podemos construir uma
representação por meio de outra representação semelhante já existente. Uma
Representação não consegue ser descrita pela pessoa e sim traduzida, resumida,
interpretada e desenvolvida por outra pessoa.
Jodelet (2001, p. 22) relata que a sociedade científica caracteriza
representação social como “[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada
e compartilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma
realidade comum a um conjunto social”. Essa construção da representação social se
por meio da internalização de uma realidade exterior, que pode ser uma pessoa,
um objeto ou uma situação sendo exposta para a sociedade depois de passar por
uma elaboração mental e psicológica. O estudo das representações é feita por meio
de um processo complexo de conceitos sociológicos e psicológicos, e é apenas o
começo de um sistema teórico de análise das relações sociais. Ela articula
elementos afetivos, mentais e sociais com os elementos cognitivos, lingüísticos e de
comunicação. A autora observa que a representação social é a representação de
algo ou alguém, construída de forma mental, que pode ser uma expressão individual
ou coletiva dessa determinada representação.
Segundo Abric (2000), são quatro as funções das representações sociais
na dinâmica das relações: a primeira é a função de compreender e explicar a
realidade, ou seja, permite que a pessoa adquira conhecimentos para conseguir
compreender a si mesmo em integração com seu funcionamento cognitivo e os
valores que ele leva em consideração. A compreensão destes conhecimentos é
fundamental para a comunicação social. A segunda função é a de definir a
identidade e possibilitar a proteção da especificidade dos grupos. Esta característica
faz-se necessária para que os grupos consigam se identificar e se distinguir de
34
outros grupos, em um papel de coletividade sobre cada um dos participantes do
grupo social. A terceira função é guiar os comportamentos e as práticas sociais
definindo o que é certo e errado, tolerável e insuportável em um determinado
momento social; e a quarta função é justificar as tomadas de posição e
comportamentos perante seu grupo visando relações amigáveis. Esta representação
tem como objetivo justificar a diferenciação social dos grupos e tamm estereotipar
as pessoas de um mesmo grupo, facilitando a discriminação ou a conservação do
envolvimento social entre eles.
Cardoso e Arruda (2004) relatam que existem três propriedades principais
que caracterizam as representações sociais: são socialmente elaboradas e
compartilhadas, possuem função prática de organizar e estruturar o meio em que
vivemos e diferenciam um grupo do outro, dando-lhes características particulares.
Segundo Arruda (2002, p. 129), as “[...] teorias das representações
sociais trabalham com o pensamento de uma sociedade, em sua dinâmica e em sua
diversidade [...]”, isto é, a subjetividade impera na construção da representação da
pessoa, do grupo em que participa e dos grupos que a cerca.
Duveen (2002) observa que as representações sociais são sempre
construtivas, dando à pessoa a garantia de se encontrar e se situar neste mundo,
pois, quando estas representações são internalizadas, expressam a relação da
pessoa com o mundo a que está habituado, garantindo sua segurança e que
encontre uma posição neste mundo.
Moscovici (2001), em um dos seus trabalhos discorre que o indivíduo, ao
elaborar os seus próprios pensamentos e sentimentos sobre um determinado
assunto, sofre muita influência das representações dominantes de uma sociedade.
Pode-se observar que cada sociedade tem uma maneira de pensar, ou seja, cada
tipo de mentalidade é distinta conforme suas instituições e práticas sociais.
De acordo com Sperber (2001), as representações se relacionam com
várias situações: a própria representação, o que ela contém, quem a utiliza, citado
pelo autor como usuário, e o produtor da representação. O autor relata que a
representação mental que temos de um assunto ou objeto pode existir no interior do
usuário e essa representação mental, pode existir no meio ambiente quando é
35
externada. Como exemplo, pode-se citar um texto que, ao ser lido pelo receptor, se
transforma em representação pública. Uma representação mental só tem um usuário
e a pública pode ter de um a vários usuários.
Observa-se que cada membro de uma sociedade seja ela qual for, possui
milhares de representações mentais, sendo umas transitórias e passageiras, e
outras fixadas por muito mais tempo. Essas que ficam arraigadas constituem o saber
da pessoa, sendo algumas destas representações mentais externalizadas,
formando as representações públicas, que levam outro usuário a construir uma nova
representação mental semelhante à inicial. Pequena parte dessas representações
públicas é repetida por muitas vezes, podendo ser comunicadas para todo o grupo,
criando assim uma versão mental em cada uma das pessoas pertencentes a este
grupo. Este conjunto de representações mentais e públicas, que são compartilhadas
pelo mesmo grupo, é chamado de representações culturais e são estudadas
principalmente pelos antropólogos, por meio de um estudo interpretativo e
metodológico das falas de um grupo social, para que haja uma maior tolerância com
a diversidade cultural (SPERBER, 2001).
Harré (2001), em seus estudos, descreve que o conceito de
representação social deve ir além da função de explicar na teoria o comportamento
dos grupos de uma sociedade. As representações sociais estão na língua falada e
escrita, nas estruturas formais e na organização dos signos linguísticos com os
quais a pessoa não se expressa, mas se comunica, cria novos conhecimentos e
entende o conhecimento de outras pessoas da sua civilização e tamm de outras.
O autor observa que, quando aprendemos o vocabulário das emoções, não estamos
aprendendo a classificar somente as sensações corporais, mas também o que é
moralmente certo e errado dentro do senso comum.
De acordo com Jovchelovitch (2002), por meio das representações
sociais podemos reafirmar a produção de significados. Ser diferente é possível
quando entendemos as fronteiras dos outros, podendo tais fronteiras serem
desafiadas e transcendidas como efeito da vida em sociedade. Isto se traduz pelo
fato de que as pessoas vivem em contato umas com as outras, não existindo a vida
“[...] sem a presença de outros seres humanos”. (JOVCHELOVITCH, p. 83).
36
Como foi apresentado, as representações sociais dependem das relações
que as pessoas têm com um objeto, nas vivências grupais. É fato que antes de ser
elaborada qualquer consideração sobre um determinado assunto, é fundamental que
seja realizada uma análise dos significados que são expressos pela sociedade. E é
o que acontece quando estamos falando da representação social do corpo. Para
podermos entender como as pessoas conferem a representação deste corpo na
contemporaneidade, faz-se necessária uma investigação relativa a essa realidade
com o passar dos tempos, o que será feito a seguir.
1.3- Representações sobre as Concepções de Corpo
Observa-se que a construção dos significados sobre as representações
sociais, de uma forma geral, depende dos aspectos das relações e vivências grupais
de uma sociedade em uma determinada época. Antes de ser elaborada qualquer
consideração sobre um assunto, deve ser feita uma pesquisa para analisar o
entendimento das pessoas sobre este assunto em um determinado período. Não
poderia ser diferente quando nos referimos às construções das representações
sociais relacionadas ao corpo.
Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno, é um
sem-limite de possibilidades sempre reinventadas e a serem
descobertas. Não são as semelhanças biológicas que o definem,
mas, os significados culturais e sociais que a ele se atribuem
(LADISLAU; PIRES, 2007, p.2).
Cavalcanti (2005) afirma que podemos identificar com muita clareza os
significados e representações sobre o corpo quando fazemos uma retrospectiva de
cada tempo vivido, podendo estruturar a sociedade de cada época.
Lacerda (2007) observa que, em época pré-histórica, o corpo tinha seus
significados e atribuições. O autor relata que a destreza e a agilidade do corpo são
alcançadas pelo homem da pré-história por meio das atividades do dia-a-dia.
O corpo próprio do pastor nômade pré-histórico, cujo dia-a-dia se
traduzia na luta pela sobrevivência, era um corpo em movimento:
marchar, trepar, correr, saltar, lançar, levantar, transportar, fazia
parte do seu repertório motor; a excelência da performance
37
manifestava-se por meio do sucesso na defesa contra os perigos a
que se expunha diariamente (LACERDA, 2007, p. 394).
na Antiguidade Clássica, um corpo robusto era obtido por meio do
exercício, enquanto a leitura e a música são utilizadas para enriquecer o espírito.
Pode-se observar que as raízes da dicotomização do corpo se encontram desde
esse período (LACERDA, 2007).
Na Idade Média, o corpo se fragmenta em duas unidades: o espírito,
habitado pela a alma, sinônimo de salvação e fonte de pureza, e o corpo físico, no
qual tudo de negativo e maldoso era depositado, como as doenças e a tentação
(LACERDA, 2007).
Suassuna et al. (2005, p.33) retratam o corpo nos tempos da Idade Média
como uma dualidade, ou seja, corpo e espírito. Para essa época, “[...] o espírito era
indestrutível, transcendente e sublime”, por outro lado, a matéria tinha significado
antagônico de “[...] fadada à degradação e à decomposição, por ser portadora de
dignidade menor.” De acordo com Pereira (2008), na Idade Média, tudo era escuro e
sombrio. No Renascimento, que sucede esse período, a beleza era atribuída aos
castelos construídos de mármores e de formas claras, isto é, tudo para ser visto,
refletindo essa realidade também nos corpos. Para Marques (2007) e Vasconcelos,
Sudo e Sudo (2004), no período Renascentista, ao contrário da Idade Média, a
beleza estava na harmonia das formas, em sua delicadeza e na idealização de
silhuetas perfeitas. Ser uma mulher feminina tinha o seu valor nessa época, e era
um atributo necessário para ser reconhecida social e moralmente. Nesse período,
ser feio era sinônimo de inferioridade social.
Influenciado pelo renascimento italiano uma preferência pela
perfeição física e espiritual. Neste período o ideal de beleza física
feminina é de um corpo mais roliço, de ancas largas e seios grandes,
opondo-se ao ideal feminino da época medieval caracterizado por um
corpo estreito, de ancas e de seios pequenos (VASCONCELOS;
SUDO; SUDO, 2004, p.06).
Na Idade Moderna, -se ainda um corpo dicotomizado, mas agora por
outras razões. A estrutura capitalista faz com que a pessoa esqueça seu espírito,
38
pois um aperfeiçoamento técnico para a produção de trabalho, fazendo-a
esquecer que também é participante e autora da história. Sendo assim, a pessoa era
apenas considerada como produtora de trabalho, sendo esquecida sua produção
mental. Breton (2003) afirma que os anatomistas que vieram antes de Descartes,
que dissociavam implicitamente a pessoa de seu corpo, e a filosofia mecanicista,
que é o estudo dos fenômenos tratados de forma mecanizada, dão início ao
dualismo do corpo que é visto na Modernidade. O autor deixa claro o uso paradoxal
das palavras corpo e máquina no século XVII e nos dias atuais, evidenciando que a
representação dessas palavras pode ter significações muito diferentes.
[...] a assimilação mecânica do corpo humano que põe de lado a
densidade do homem traduz na modernidade a única dignidade que
é possível conferir ao corpo. Não se compara a máquina ao corpo,
compara-se o corpo a máquina (BRETON, 2003, p.19).
Na Modernidade, o corpo é descrito como “[...] uma célula autônoma ou
por várias células funcionando de modo integrado.” (SUASSUNA et al. 2005, p.30).
Nessa citação, podemos ver que o corpo tem como maior importância a sua
funcionalidade e é desprovido de qualquer espiritualidade. Segundo Breton (2003), a
visão do corpo como apenas produtor de trabalho tem ligação direta com a visão da
filosofia mecanicista de Descartes, do culo XVII, segundo a qual esse corpo faz
parte da engrenagem do mundo e a inteligência é desprendida do corpo físico, ou
seja, a pessoa não sente. Para os estudiosos desse período, o corpo tem significado
de máquina maravilhosa”, atribuindo-se a esse corpo a visão mecanicista da época
Moderna. Entretanto, esse corpo envelhece e está sujeito a danos irreparáveis, não
sendo tão confiável quanto a máquina. Pelo menos a metáfora dá a esse corpo certa
dignidade, transformando-o em algo mortal. Novaes (2006) afirma que uma vez que
esse corpo tem seu esgotamento precoce para a produção capitalista, ele é liberado
de ser corpo-ferramenta e se torna corpo-consumidor.
Dissociado de si e dos outros, da natureza, da coletividade e de um
sistema que o engedra, o corpo torna-se uma esfera independente e
voltada para si. Nasce uma nova rede de significações que o
envolve, na qual um saber anatômico e um modelo mecanicista se
fazem presentes, projetando um novo olhar sobre o corpo humano
(NOVAES, 2006, p.52).
39
Novaes (2006) relata que, com essa visão individualista, as pessoas
criam hábitos privados, atendendo às necessidades naturais, cabendo somente a
elas a responsabilidade de suas ações e de seus comportamentos. Ser diferente
dessas características é demonstrar na coletividade a sua origem, fugindo do hábito
privado, que é passível de rejeição social, sendo considerado um “corpo grotesco”.
Com o advento do individualismo, verifica-se que o corpo e seus
hábitos tornam-se circunscritos à intimidade a ao âmbito da vida
privada corrente; esta por último, por sua vez, passa a ser locus
privilegiado para atender às necessidades naturais do homem. Em
sua nova acepção, esse corpo adquire um sentido estreito e
específico [...] dando origem a um corpo liso, fechado e sem
asperezas. Qualquer traço involuntário ou que demonstre a sua
origem na coletividade é imediatamente depreciado e rejeitado
socialmente (NOVAES, 2006, p. 54).
Marques (2007), referindo-se à pintura da época Moderna, observa que o
corpo encontra-se em mutação, e diz que as feições de feio e belo começam a
existir e a caminhar juntas.
Nahoum (1987 apud NOVAES, 2006) descreve que a difusão desse olhar
para o corpo deve-se a dois acontecimentos históricos. O primeiro se inicia graças à
utilização dos espelhos, cujo uso foi ampliado e utilizado nas habitações e a que
chamou de “à cnica da feiúra pelos espelhos”. Até o começo do século XVII, o
espelho somente era empregado e restrito para a elite Somente no século XX ele
começou a ser colocado em casas populares e era considerado um instrumento
banal, sendo colocado entre utensílios e mobiliários domésticos. O segundo fator
apontado é o aprimoramento de nossos sentidos: a visão recebe uma atenção
especial no que diz respeito à representação corporal e torna-se um fator primordial
para a concepção moderna das formas e percepção dadas ao corpo.
Outro fato desse período, apontado por Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004)
é a mudança da percepção de gordura nos corpos das pessoas. Antes, o corpo
roliço era visto como sinônimo de prosperidade, pois mostrava que se usava
manteiga, nata e açúcares, privilégios dos prósperos. Mais tarde, a beleza passa ser
vista na simplicidade e em corpos mais esguios, ditando o padrão de beleza para o
início do século XIX.
40
Novaes (2006) relata que, com o aprimoramento da utilização da visão, o
pudor emerge como um sentimento moderno, mudando o olhar sobre o corpo, sobre
seus comportamentos e os modos de viver socialmente. Com o desenvolver
tecnológico, as imagens dos corpos são difundidas para o olhar dos habitantes de
uma sociedade.
Segundo Romero (2008), a pessoa reúne um mero de valores e
virtudes morais e intelectuais que, para ele, o necessários e considerados
essenciais para as relações. Observa-se que não se pode ter a visão apenas
mecanicista da ordem biológica dos fatos, mas sim a reunião de traços culturais e do
tempo vivido de cada pessoa e de cada sociedade para podermos traçar o perfil dos
valores da época estudada com relação ao seu modo de pensar e agir.
Podemos ver no estudo das classes sociais e do corpo, de Boltanski
(1979), realizada entre os anos de 1967 e 1968, que o significado e o grau de
importância do corpo é diferente em relação aos cuidados estéticos, conforme o
grau de ascensão social, ou seja, o corpo do trabalhador e do operário é esculpido
pelo seu trabalho e utilizado para produzir força para a sobrevivência. para os
corpos das classes de poder aquisitivo maior, uma atenção especial é dispensada
aos sinais dados pelo corpo, já que a redução do trabalho braçal e o aumento do
intelectual. Boltanski (1979 apud SABINO 2002, p.181) afirma que “[...] a
musculatura rígida e evidente surge como sinal de distinção social e poder, sendo
que ter o corpo trabalhado por máquinas e drogas é diferente de ter um corpo de
trabalhador.”
A valorização da “magreza” cresce quando se passa das classes
populares às classes superiores ao mesmo tempo em que cresce a
atenção dada à aparência física e que decresce correlativamente a
valorização da foa física, de maneira que dois indivíduos de mesma
corpulência serão considerados como magros nas classes populares
e gordos nas classes superiores […]. (BOLTANSKI, 1979, p. 158).
Para Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004), no começo do século XX, era
constatada a valorização do corpo em ambas as camadas sociais, mas cada uma
com seu objetivo, isto é, para os trabalhadores era apreciada a força para realizar
41
trabalho e, para as classes mais favorecidas o corpo era valorizado com sentido
estético.
No começo do século XX o estatuto do corpo continuava a depender
do meio social. Os trabalhadores valorizavam a força física, o vigor e
a resistência, em contraposição, a burguesia mantinha uma atitude
mais estética, portanto a aparência física tinha uma representação
importante para este segmento social, porém não se mostrava o
corpo (VASCONCELOS; SUDO; SUDO, 2004, p. 07).
Lacerda (2007) relata que, na atualidade, podemos ver mudanças sociais,
econômicas, científicas e tecnológicas, sendo a valorização do corpo uma realidade
em expressão. Muitas áreas de conhecimento que vão da Filosofia ao Esporte se
interessam em estudar como esse corpo é usado para as pessoas se expressarem e
se comunicarem no ambiente social. Droguett (2002) afirma que as mudanças
ocorrem por uma tríade que não pode ser separada: os aspectos sociais, culturais e
corporais. Marques (2007) argumenta que, desde o início do século XX, pela
influência da mídia, da moda e da ciência, existe a preocupação de se atingir
corpos perfeitos e jovens.
Vilhena, Medeiros e Novaes (2005) afirmam que se ver feio ou atribuir ao
outro a feiura, revelam as concepções atuais que damos ao corpo. Novaes e Vilhena
(2003) relatam que essas concepções modificam as relações interpessoais,
produzindo vínculos e repercutindo em nosso comportamento em lidar com o
estereótipo de ser feio.
Para Marques (2007), existem três grupos distintos de mulheres com
relação à representação social de corpo na contemporaneidade: um grupo que faz
tudo para atingir o padrão televisivo de corpo, baseando-se em atrizes e modelos;
outro que faz de seus corpos telas para expressões artísticas, como enfeitar os seus
corpos com piercings, tatuagens e modificações corporais, traduzindo, às vezes,
para alguns, corpos expressivamente feios; e um grupo raro de mulheres que não se
sentem influenciadas pela mídia, denominadas neutras, que possuem aspectos
naturais representados em seus corpos.
Breton (2003) observa que o corpo atual é tratado de forma multifacetada
e tamm como peças isoladas que podem ser trocadas por outras. Essa ação pode
42
ser encontrada nos atos das pessoas de forma automatizada e influenciada por
questões terapêuticas, sem gerar nenhuma objeção, chegando a ter um caráter de
conveniência pessoal. O corpo se torna um esboço a ser melhorado, ou seja,
influenciado pela chamada tecnociência, na qual o corpo é tratado o no contexto
da Biologia, mas sim da Engenharia. Portanto, fica proibido ao corpo amadurecer,
envelhecer e morrer. O ciclo de vida que é visto por muitos de forma natural, para
outros é tratada como um fardo que a ciência pode corrigir e remodelar, na
tentativa de transformá-lo em uma máquina inigualável. É o medo da morte.
O discurso do corpo fala das relações internas à sociedade: é a
busca da felicidade plena. Palco privilegiado dos paradoxos e dos
conflitos, o corpo que almeja sua singularidade é o mesmo que tenta
negar a diferença e a alteridade. A eterna busca da imortalidade
transforma-o em um corpo de encenações de obra de arte. Os
discursos da saúde, da medicina, do erotismo, tamponam o real que
o apavora: o mal-estar e a finitude (NOVAES; VILHENA, 2003, p.
10).
Goldenberg e Ramos (2002, p. 20), buscando o entendimento desse
corpo no contexto atual, descrevem-no como em mutação e instável, já que a
religião, a família, a política e o trabalho se encontram enfraquecidos, “[...] sendo
possível imaginar que muitos indivíduos ou grupos estejam se apropriando do corpo
como meio de expressão.”
De acordo com Breton (2003), na atualidade o uso paradoxal das
palavras corpo e máquina. Pelo medo de sermos seres finitos, tratamos os nossos
corpos como máquinas, que estas não morrem, são fixas e nada sentem. Na
máquina, a dor e o prazer não existem, ficando também proibido ao corpo ter tais
sentimentos. Sendo assim, o ser humano começa a arquitetar o seu corpo almejado
na tentativa de torná-lo perfeito: cirurgias estéticas, body building, psicotrópicos
entre outras transformações, são utilizados nesta obra da engenharia. “Mudando o
corpo, pretende-se mudar a vida” (BRETON, 2003, p.22).
Filho (2006) relata que esse corpo atual é resultado de transformações ao
longo dos tempos: a Revolução Sexual, a chegada da Psicanálise, os
questionamentos cristãos, as conturbadas mudanças socioculturais como as
grandes guerras e a autonomia da mulher, além dos avanços da Medicina, como a
43
troca de órgãos, ampliando o horizonte da vida com o perigo iminente da seleção
genética.
Novaes (2006) observa que a prática corporal denominada body building
teve seu início nos anos de 1980, alastrando-se pelo mundo da tecnologia como se
os músculos fossem trabalhados, não só pelas máquinas de musculação, mas
tamm pela máquina visual. A cirurgia estética é utilizada por pessoas que não
etão doentes, mas querem transformar a sua relação com o mundo por meio de uma
mudança simbólica, transformando os seus corpos. Na atualidade, a representação
do corpo deixa de ser pecaminosa, como era na Idade Média, para ser super
valorizada, acrescentando “[...] uma espécie de suplemento para a alma” (BRETON,
2003, p. 54).
Edmonds (2002) cita uma pesquisa feita em mulheres de São Paulo,
entre os anos de 1985 e 1995. Os resultados revelaram que dobrou o número de
empregos e dos serviços para embelezamento, independentemente da classe
social. Aponta-se que essas mulheres gastam em torno de 44% de seus salários
com a beleza, independente da classe social em que se encontram.
Fazendo tamm referência à busca da beleza, em uma publicação mais
atual, uma das revistas Veja do ano de 2001 fala que o Brasil superou os Estados
Unidos em realização de cirurgias plásticas.
Fernandes (2005) argumenta que, nos dias atuais, para alcançar o padrão
de beleza estipulado, valem inúmeras intervenções, às vezes nada saudáveis, como
dietas, cosméticos, cirurgias plásticas, ginásticas e medicamentos. Todo esse
arsenal é reafirmado pela mídia com a exposição de corpos saudáveis associados
aos avanços tecnológicos.
De acordo com Junior, Ladislau e Niquini (2007), o corpo é colocado
como personagem principal em todas as formas de vinculação da imagem. O corpo
é uma imagem de domínio público e não privado para aceitação social, autoestima e
no jogo de sedução.
Para Edmonds (2002, p.213), não se pode esquecer que a cirurgia
estética ainda é uma área da Medicina, mesmo não tratando ou prevenindo
44
doenças, “[...] a não ser a doença psicossocial. Na cirurgia plástica, é o paciente e
não o médico, que deve diagnosticar a doença.”
De acordo com Breton (2003), a cirurgia estética é utilizada por pessoas
que não se encontram doentes, mas querem transformar a sua relação com o
mundo por meio de uma mudança simbólica, transformando os seus corpos.
Edmonds (2002) cita em seu trabalho a fala de um renomado cirurgião
plástico brasileiro, definindo que o objetivo da cirurgia plástica é a harmonização do
corpo com o espírito, fazendo com que se estabeleça um equilíbrio que permita à
pessoa se reencontrar e se reestruturar no universo que a cerca.
Muito embora haja uma expectativa por parte da sociedade, a
preocupação de incorporar a perfeição e sacrifícios de ter um corpo com regiões
anatômicas perfeitas não são predicados apenas das mulheres. Gatti (2002)
argumenta que o papel masculino está sendo redefinido. As mulheres querem
homens mais sensíveis e tamm mais fortes fisicamente.
Para Sabino (2000), os homens estão buscando o corpo perfeito, porque
consideram que, por meio dele, o sucesso, o status e o dinheiro são alcançados.
Tamm observa que se torna possível achar parceiras no mesmo patamar estético
e ascensão social.
Edmonds (2002), em sua pesquisa sobre cirurgias plásticas, descobriu
que 30% das intervenções cosméticas atualmente são realizadas por homens.
Entretanto, Sabino (2002) aponta que essa realidade é encontrada no universo
masculino mais tempo do que se imagina. Desde pequenos, os meninos têm, em
seus arsenais de brinquedos, bonecos hipertrofiados e de baixa porcentagem de
gordura. Padrões que são passados para nós como sinais positivos, que na
realidade seriam impossíveis de se alcançar sem a utilização de anabolizantes e
outros tipos de hormônios.
Vilhena, Medeiros e Novaes (2005) discutem que ainda existe uma
cobrança muito maior sobre as mulheres do que sobre os homens. Quando eles são
indagados sobre a estética de seus corpos, a falta de tempo despendida para o
trabalho é desculpa para não haver tantas cobranças sobre sua imagem.
45
Contrariamente ao que acontece com o grupo dos homens, no
universo feminino a rigidez é de tal ordem que não justificativa
possível para o não atendimento dos imperativos da beleza.
Enquanto que no universo masculino o desvio com relação ao
padrão de beleza está vinculado á falta de tempo, em função do
ritmo atribulado da vida profissional [...] (VILHENA; MEDEIROS;
NOVAES, 2005, p.124-125).
Russo e Toledo (2006) relatam que, atualmente, o corpo assume para
alguns significados que vão além de corpo-objeto. Ele torna-se sinônimo de
conquistas afetivas, posições e relações sociais de destaques. Engendram nesse
corpo uma relação de amor e ódio, sucesso e fracasso e tamm beleza e feiura,
como se esse corpo pudesse descrever e mostrar o que as pessoas são em seu
interior. Os autores chamam a atenção ao dizerem que em sociedades de consumo,
as imagens de corpos estão envolvidas de cores, aromas e sabores, que fazem
dessas imagens um objeto de desejo.
Para Coelho (2007), a mídia vem envolta por discursos totalmente
atrativos, principalmente para os consumidores de classe média e alta: é agradável
de ler e é positivo em se tratar de saúde e corpo. A mídia faz de tudo para atrair um
consumidor sedento por remédios mirabolantes, terapias, academias milagrosas,
massagens e tratamentos curativos entre outros, para a saúde e corpo perfeito
estipulado pelos meios de comunicação.
Boltanski (1979) afirma que as revistas femininas lidas por classes
socioeconômicas mais elevadas fazem a alusão a produtos de emagrecer, o melhor
bronzeado e os cremes depilatórios, tornando-se obrigatório adquirir tais produtos
para não ter vergonha de estar fora de tais padrões.
Àquelas que têm o complexo de “pele branca”, que temem por “não
passar no exame-verdade da praia” ou que não querem mostrar
“pernas mal depiladas”, é lembrado que “todos os olhares, todas as
invejas também, concentram-se numa linha esbelta”, ou que “o verão
não é para as gordinhas”, e propõe-se-lhes os múltiplos produtos que
tornam “a pele firme, a barriga chata, o estômago firme, o busto
pequeno e bonito, os quadris de adolescentes”. (BOLTANSKI, 1979,
p. 167).
46
Sabino (2002) relata que os meios de comunicação são importantes para
levar à sociedade o padrão de corpo estipulado nos dias atuais. Mulheres famosas e
modelos de beleza são exaltadas por quem as vê, por meio das mídias faladas e
escritas. Entretanto, ao mesmo tempo, e por esses mesmos expectadores, são
condenadas por estarem perdendo as atribuições femininas pela prática exagerada
da musculação, dietas para perda de peso associadas a suplementos alimentares e
anabolizantes. Mesmo assim, atualmente, para ter sucesso é necessário copiar o
padrão das estrelas de revistas e comerciais: mulheres magras, musculosas em
constante exercício físico e dietas, produzindo um conjunto de representações
sociais sobre a estética.
Os autores Novaes (2008) e Goldenberg e Ramos (2002) ressaltam que
na década de 1980, é notada a valorização do corpo na chamada indústria do
músculo.” Com isso, o mercado estético começa a despontar e o corpo começa a ter
que ter características bem limitadas, isto é, o culto ao modelo estético começa a
aprisionar as pessoas: ser único passa a ser unificado. Para Vasconcelos, Sudo e
Sudo (2004), ter quilos a mais representa ser diferente de outras pessoas, e ter
representações negativas, carregando uma marca que o difere de tantos corpos
iguais.
Sabino (2002) aponta que as academias de musculação se
transformaram em verdadeiras usinas, fabricando corpos para o mercado que se
identificam com as representações sociais construídas nos dias de hoje em que os
fortes, saudáveis e bonitos são dominantes e os fracos, doentios e feios o os
dominados.
Chaves e Ferreira (2007) realizaram uma pesquisa de doutorado, na qual
a preocupação era saber as representações ao uso de anabolizantes por
graduandos de Educação Física. Foi revelado que as representações destes corpos
são pautadas por um [...] estereótipo reforçado pelas exigências do mercado,
responsável inclusive por critérios de empregabilidade” (CHAVES; FERREIRA, 2007,
p.03). Ser forte ou grande é sinônimo de ser bem classificado em sua posição social.
Muitas vezes tamm esses adjetivos estão ligados ao uso de esteróides fazendo
uma analogia do corpo humano com máquinas. Tanto é verdade que um dos
entrevistados relata “[...] por que ser um Clark Kent se posso ser um super-homem?
47
Na prática discursiva dos entrevistados é encontrada a legitimação do uso de
anabolizantes no mundo atual para uma mutação corporal vista por eles como
natural para alcançar o almejado corpo perfeito e as representações de sucesso,
virilidade, distinção e sedução (CHAVES; FERREIRA, 2007, p.03).
Vilaça et al. (2007, p. 04) realizaram uma pesquisa em quatro academias
do Rio de Janeiro, entrevistando 15 professores formados e atuantes mais de
três anos. Os resultados revelaram a massificação dos corpos. Quando os
participantes foram indagados, disseram que as mulheres têm que ser magras e os
homens fortes. Um professor participante relatou que quando, o aluno “[...] fala que
quer malhar para a saúde, é um disfarce para chegar à estética.”
Goldenberg e Ramos (2002) citam a declaração de uma jornalista
chamada Ruth Dweck, dizendo que, nos dias atuais, a estrutura do trabalho
encontra-se em mudança pelo aumento das mulheres que estão no mercado, o que
aumenta a discriminação e a concorrência, estimulando a vaidade e o medo de
envelhecer. Sabino (2002) observa que as mulheres da classe média estão
masculinizando seus corpos para terem melhores chances de vencerem na vida,
achando que para conseguir este status é necessário serem fortes como sinônimo
de independentes e duronas.
Em uma pesquisa realizada por Morgan, Vecchiatti e Negrão (2002),
sobre os fatores dos transtornos alimentares, um grupo de mulheres universitárias
foi exposta a fotos de modelos de corpos magros, imagens de mulheres de peso
normal e sobrepeso e figuras de imagens neutras. Os resultados revelaram que as
imagens de mulheres magras eram consideradas como as mais atraentes. A
exposição ao modelo magro gerava nelas respostas de representações de
sentimentos afetivos negativos como culpa, depressão e infelicidade. Os
pesquisadores comentam que “[...] na cultura ocidental, ser magra significa ser
competente, ter sucesso, autocontrole e atraente sexualmente.” (MORGAN;
VEACCHIATTI; NEGRÃO 2002, p. 20). Como ser magra para algumas mulheres
torna-se inviável pela ordem biológica e genética, a insatisfação corporal tem se
tornado mais frequente.
48
Toledo e Russo (2006) discutem as implicações desses corpos magros.
Se a imagem que impera em uma sociedade é igual à de um corpo magro,
emagrecer seria regra e o a exceção, estabelecendo relação com outros corpos
semelhantes por essa proximidade visual, de crenças, ideias e imagens. Se isso não
ocorrer, com certeza, o distanciamento emocional irá acontecer, pois a imagem
social não será de aproximação, mas sim de afastamento. Vasconcelos, Sudo e
Sudo (2004) reforçam que esse ideal de magreza, no Ocidente, é sinônimo de
felicidade, equilíbrio, poder, beleza, mobilidade social entre outros.
A idéia de que ao se alcançar a magreza e estar em boa forma física
a pessoa obterá sucesso na profissão, nos relacionamentos sociais e
amorosos surge nas matérias publicadas pela mídia, reiterado pelos
discursos legitimadores de especialistas das mais diversas áreas
(VASCONCELOS;SUDO; SUDO, 2004, p.11).
Breton (2003) relata que o corpo está sendo influenciado pela
independência e individualidade destacadas nas sociedades ocidentais. O corpo é o
local para experimentações narcisistas e sociais, por meio das cirurgias, dietas,
cosméticos, entre outros. Tudo para seduzir os olhares das outras pessoas. O autor
afirma tamm que as pessoas dos dias de hoje em os seus corpos como sua
melhor companhia, ao contrário da discriminação feita a ele em outras épocas.
Vasconcelos, Sudo e Sudo (2004) ressalvam que essa visão de individualidade é
baseada na cultura narcisista, no qual a pessoa passa a ser o centro das atenções,
cada vez mais voltado para o seu interior e para o seu sucesso individual.
Sabino (2002, p.114) observa que existe um esforço muito grande das
pessoas em transformarem os seus corpos em vitrines, “[...] ostentando juventude
eterna, saúde, força e beleza”.
Breton (2003) afirma que, ao mesmo tempo em que as pessoas estão
procurando seu isolamento e sua individualidade, as academias onde alguns de
seus objetivos são alcançados, oferecem o aconchego momentâneo de compartilhar
horas agradáveis em contato com outros.
Por isso, vemos tantas histórias, tantos ideais ou ilusões dentro desse
universo da academia. São vidas, classes sociais e hábitos totalmente distintos
unindo-se em um objetivo: o culto do corpo. Sustentando isso, Hansen e Vaz (2004),
49
em sua pesquisa na qual analisavam duas academias de diferentes portes relatam
que, por mais diferentes que possam parecer as realidades das populações que
participaram, nos dois locais constatou-se que o corpo é o vetor das relações que
estruturam seus frequentadores.
Segundo Vilaça et al. (2007), nos deparamos com uma condição
paradoxal da utilização desse corpo, nos dias atuais. Por um lado, estamos em uma
época caracterizada por certa liberdade que nos daria direito de sermos quem
quiséssemos e, por outro, a prisão de um modelo de corpo ideal e belo. De acordo
com Bandeira e Zanolla (2007), o belo seria um ser dotado de originalidade e
liberdade, sem se aprisionar a padrões estéticos mercadológicos, sendo críticos e
resgatando a possibilidade de sermos únicos e o unificados perante a indústria
cultural e de consumo.
Podemos ver que, por meio dessa revisão, muitas vezes a razão é traída
pelo desejo da imagem perfeita nessa sociedade de corpos perfeitos. Chaves e
Ferreira (2007) observam que, por sermos seres desejantes, nos atiramos no mundo
dos espelhos, em busca de algo que a razão não entende.
O culto ao corpo, como pode ser visto em vários estudos, é considerado
um fenômeno importante da atualidade. A sociedade em geral é bombardeada em
todas as direções por informações do que se deve fazer para ter o corpo dito ideal:
magro, definido, malhado, entre tantas outras definições, e estabelece um padrão de
comportamento para poder atingir esse modelo a ser seguido. Vemos que este
corpo, muitas vezes representa sucesso nas relações sociais, no trabalho e nas
relações amorosas. Pode-se ir do fracasso ao estrelato, dependendo das análises
das representações, a ele imputadas.
50
2 OBJETIVOS
______________________________________________________
51
2.1 OBJETIVO GERAL
O presente estudo buscou identificar as representações sociais de
saúde, doença e corpo dos clientes de academias de ginástica em Campo Grande,
MS.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar a situação sociodemográfica dos participantes;
Verificar o que influencia nos participantes na escolha da academia;
Identificar os motivos que levou os participantes a frequentarem a
academia;
Identificar o que influencia na escolha do professor pelos participantes;
Identificar a imagem que o participante tem de seu corpo.
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3 MÉTODO
______________________________________________________
53
O método utilizado para este estudo, por estar de acordo com a teoria das
representações sociais, foi o qualitativo. Segundo Moreira (2002), esse método
estuda o comportamento respeitando e conceituando as características
intersubjetivas do ser humano. Esta pesquisa não utiliza regras matemáticas em
suas apreciões, dando preferência aos relatos orais e escritos, isto é, a pesquisa é
vista como interpretativa e interativa, cujo método é o mais utilizado pelas ciências
humanas.
Para Guerra (2006), a pesquisa qualitativa utiliza várias técnicas para a
interpretação dos relatos dos participantes, tendo como objetivo descrever,
interpretar e traduzir os processos da sociedade que se produzem com naturalidade,
dando mais importância ao fenômeno do que à frequência em que ele ocorre.
Esse processo de análise valor à voz do comportamento humano, e é
construída de forma ativa, por meio do contato das pessoas umas com as outras
(MOREIRA 2002).
3.1 Local
Foram selecionadas três academias de ginástica em Campo Grande, de
acordo com a localização, a infraestrutura e os valores de mensalidade.
Academia 1: localizada na região urbana do Bandeira, com infraestrutura
pequena, porém arejada. um salão dividido ao meio: de um lado, é a sala de
musculação e trabalho cardiovascular e, de outro, a sala de ginástica sem
isolamento de parede ou divisória. Possui sala de avaliação, vestiário feminino e
masculino. No período de coleta de dados, o valor da mensalidade era de R$ 30,00.
Academia 2: situada em área próxima ao Shopping Campo Grande, na
região urbana do Prosa, conta com duas salas de ginástica, uma sala de trabalho
cardiovascular, uma sala de musculação, uma piscina coberta e aquecida, uma sala
de avaliação, um escritório e vestiário feminino e masculino. No período de coleta de
dados, o valor da mensalidade era de R$76,00.
54
Academia 3: localiza-se em região urbana do centro da cidade de Campo
Grande. Conta com três salas de ginástica, uma sala de musculação, uma sala de
trabalho cardiovascular, sala de avaliação, escritório, lanchonete, espaço cyber,
espaço infantil, vestiário feminino e masculino, sala de fisioterapia e massagem, sala
de nutrição e sollarium. No período de coleta de dados, a mensalidade era de R$
114,00.
3.2 Participantes
Participaram desta pesquisa 28 clientes: dez da Academia 1, oito da
Academia 2 e dez da Academia 3, divididos igualmente entre homens e mulheres. A
escolha dos participantes não foi aleatória, mas sim intencional e por conveniência.
3.3 Instrumento
Para Santos e Candeloro (2006), a entrevista é um instrumento de coleta
de dados muito utilizado pelas pesquisas sociais, durante a qual o pesquisador
interage diretamente com o participante da pesquisa, que fornecerá suas respostas
com teor qualitativo, para serem analisadas posteriormente. Para Moreira (2002), a
entrevista aponta vários aspectos que são beneficiados na pesquisa qualitativa: o
entrevistador tem a possibilidade de explicações quando o o entendimento do
participante; os relatos possuem mais riqueza quando aplicados pessoalmente; e as
perguntas mais complexas podem ser estimuladas a serem respondidas, ao
contrário dos questionários enviados pelo correio. Dessa forma, a possibilidade de
perdas de entrevistas, reduz-se significantemente.
Para a coleta de dados, foi utilizada uma entrevista semiestruturada
elaborada pela autora, com perguntas sobre os motivos de frequentarem a
academia e a escolha do professor, as representações sociais de saúde, doença e
corpo, bem como dados sociodemográficos (APÊNDICE A). Tamm foi utilizado um
caderno de campo como método complementar, para anotações de dados
pertinentes à pesquisa, sobre o que aconteceu antes, durante e depois da
entrevista. Para Martins (2001), o pesquisador deve ficar atento às respostas dos
55
participantes em todos os aspectos como gestos, expressões, hesitações e sinais
não-verbais. Para isso, o caderno de campo consegue atender a essas expectativas
de coleta de dados.
3.4 Procedimentos e Aspectos Éticos
Inicialmente, as academias de ginástica foram visitadas com o objetivo de
solicitar aos seus proprietários a autorização para a realização da pesquisa. Quando
os proprietários concordaram em autorizar a realização da pesquisa, a folha de rosto
foi assinada e houve o encaminhamento do projeto para o Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Católica Dom Bosco, para que todos os passos
estivessem de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
sendo aprovada sem restrições (ANEXO 1).
Após a aprovação, a pesquisadora passou a visitar as instituições nos
horários das aulas e a convidar os clientes das mesmas, buscando agendar um
horário para a realização das entrevistas.
Os convites foram feitos de duas formas: quando o cliente chegava à
academia ou enquanto ele fazia os seus exercícios. Caso aceitasse o convite, o
participante e a pesquisadora se dirigiam ao espaço destinado às entrevistas, que
eram realizadas sem nenhuma interrupção. Apenas duas entrevistas foram
agendadas para o dia seguinte do convite.
As entrevistas foram realizadas individualmente e gravadas na íntegra, no
computador, utilizando um microfone e o programa Nero Wave Editor, para serem
transcritas e analisadas posteriormente.
Antes do início da entrevista, o participante foi informado sobre os
procedimentos éticos da pesquisa, como sigilo e anonimato assegurado e a
possibilidade do participante poder interromper a entrevista ou abster-se de
responder a alguma pergunta. Para assegurar essas condições sobre a entrevista e
a utilização dos dados pela pesquisadora, foi assinado o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (APÊNDICE B).
56
3.5 Procedimentos de Análise dos Relatos
Para dar início à análise dos relatos, primeiramente foi realizada a
transcrição das entrevistas na íntegra. Houve dois tipos de agrupamentos das
respostas obtidas: primeiramente por academias e, depois, todos os relatos foram
agrupados por perguntas. Posteriormente, foi realizada uma leitura minuciosa para
destacar os temas que fossem surgindo nas respostas dos participantes. Os relatos
foram analisados, levando em consideração a teoria das representações sociais
(JODELET, 2001).
57
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
______________________________________________________
58
Serão abordados neste capítulo, os resultados da pesquisa bem como
sua discussão. Primeiramente, serão descritos os dados sociodemográficos com
suas análises e, posteriormente, o resultado da análise e discussão dos relatos da
entrevista.
4.1. Dados Sociodemográficos
Esta pesquisa contou com a participação de 28 clientes de três
academias: dez da Academia 1, oito da Academia 2 e dez da Academia 3,
distribuídos igualmente entre homens e mulheres, na cidade de Campo Grande,
Mato Grosso do Sul.
De acordo com os dados apresentados a seguir, na Tabela 1, a faixa
etária dos participantes está entre 18-57 anos, com a média de 35,07 anos, sendo
que 35,71 % encontram-se entre 18-29 anos, 32,14 % entre 30-39 anos, 25% entre
40-49 anos e 7,14% entre 50-59 anos.
Com relão ao estado civil, a maioria dos participantes é solteira
(46,48%), sendo oito homens e cinco mulheres, 39,28% são casados, sendo sete
mulheres e quatro homens. Quanto às separações, dois participantes masculinos e
duas femininas, encontram-se nessa situação (14,28%).
Quando é analisado o grau de escolaridade, pode-se observar que a
maioria, com treze participações (46,42%), concluiu os seus estudos superiores,
sendo quatro (14,28%) pós-graduados. Três (10,71%) concluíram o ensino médio e
dois participantes (7,14%) fizeram o ensino médio técnico. Quanto aos cursos
incompletos um participante (3,57%) está cursando o ensino médio e cinco (17,85%)
o ensino superior. Apenas um participante (3,57%) concluiu o ensino fundamental.
59
TABELA 1 - Dados sociodemográficos dos participantes (N=28)
Características
Sexo
Feminino
(n=14)
Masculino
(n=14)
Total (N=28)
Idade
18 29
30 39
40 49
50 59
Estado Civil
Solteiro (a)
Casado (a)
Separado (a)
Escolaridade
Fundamental
Médio Técnico
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Pós-graduação
Renda Mensal
Sem rendimento
Até 01 salário
Mais de 01 a 02 salários
Mais de 02 a 03 salários
Mais de 03 a 05 salários
Mais de 05 a 10 salários
Mais de 10 a 20 salários
Mais de 20 salários
3
6
4
1
5
7
2
1
1
---
2
1
8
1
1
1
---
2
2
3
5
---
7
3
3
1
8
4
2
---
1
1
1
4
4
3
1
---
1
2
2
2
2
4
10 (35, 71%)
9 (32,14%)
7 (25%)
2 (7,14%)
13 (46,48%)
11 (39,28%)
4 (14,28%)
1 (3,57%)
2 (7,14%)
1 (3,57%)
3 (10,71%)
5 (17,85%)
12 (42,85%)
4 (14,28%)
2 (7,14%)
1 (5,57%)
1 (5,57%)
4 (14,28%)
4 (14,28%)
5 (15,85%)
7 (25%)
4 (14,28%)
Tamm se perguntou aos participantes sua renda mensal. No período da
coleta de dados, o salário mínimo vigente no país era de R$ 415,00. Quanto à
análise da renda mensal, observou-se que a maioria dos participantes (25%) ganha
mais de dez até 20 salários mínimos, seguido por cinco participantes (17,85%) com
renda superior a cinco até dez salários mínimos. Três faixas salariais contam com
60
quatro participações (14,28%) cada: mais de dois a três salários mínimos, mais de
três a cinco salários mínimos e renda superior a 20 salários mínimos. Um
participante (3,57%) recebe um salário mínimo e outro possui renda mensal com
mais de um a dois salários. Dois participantes (7,14%) não possuem renda mensal:
um participante, do sexo feminino, casada, é sustentada pelo seu marido, e outro
participante, do sexo masculino, que acabou de se formar, possui estabelecimento,
mas não tem clientes para gerar renda, dependendo de seus pais para o seu
sustento.
4.2 Análise dos relatos dos clientes das academias de ginástica
Nesta pesquisa, foram analisados os relatos de 28 clientes de academias
de ginástica de Campo Grande, MS. Muitas vezes, o número de relatos não coincide
com os meros de participantes. Isso mostra que, ao refletir sobre uma pergunta,
muitos participantes traziam em suas falas conteúdos que se encaixavam em
diferentes temáticas para as análises. Os relatos recebem como título a pergunta
feita para os clientes das academias. Os relatos foram agrupados em temáticas que
as representassem de forma concisa, seguidas da frequência de participações e
suas porcentagens.
4.2.1 As Representações Sociais de saúde
Buscou-se identificar as representações sociais de saúde para os clientes
das academias de ginástica participantes desta pesquisa. A partir dessa
identificação, pôde ser visto como essas pessoas constroem essa representação
relacionada à saúde. A Tabela 2 mostra um panorama geral dos relatos a respeito
do conceito ou noção de saúde.
61
TABELA 2 Representações sociais de saúde para os participantes
TETICAS
N
%
TODO:
É tudo
É quase tudo
Estar vivo
17
27%
BEM-ESTAR:
Estar feliz
Ficar bem
Sentir-se bem
Estar de bem com a vida
Bem-estar
Qualidade de vida
Ter ânimo
16
25%
CAPACIDADE DE AGIR:
Estar trabalhando
Estar malhando
Estar estudando
É poder acordar
14
22%
RESULTANTE DA ALIMENTAÇÃO:
Boa alimentação
7
11%
SAÚDE FRAGMENTADA:
Cuidar do corpo e mente
6
9%
ESTÉTICA:
Estar esteticamente bem
3
4%
CONCEBIDA POR SUA ANTÍTESE:
Não tomar remédio
Não ficar doente
1
2%
TOTAL
63
100%
As representações sociais revelam a construção da realidade para os
diversos grupos que vivem na sociedade (JODELET, 2001). Quando observamos os
relatos dos participantes, identificamos uma construção das representações sociais
de saúde de forma mais generalista:
Saúde é fundamental. É tudo... É muito importante (masc. 34a anos).
Saúde para mim (silêncio), quase tudo. Desde moleque eu pratico...
Gosto e faço por prazer também. Não por somente necessidade
entendeu? Sinto-me bem com isso (masc. 34b anos).
Ah saúde é (silêncio), a coisa mais importante na vida da gente.
Você tendo saúde você está disposta para qualquer outra coisa, a
saúde é importantíssimo, é essencial... (fem. 42 anos)
62
Os participantes revelaram em seus relatos que entendem a
representação social de saúde “como tudo” ou quase tudo” e, como fundamental
para a sua existência. Essa realidade também foi encontrada nas pesquisas de Lima
(2003) e Serpa (2007).
Os participantes entendem que a saúde é tudo em suas vidas, mas outros
aspectos tamm o lembrados para consegui-la como cuidar da alimentação,
fazer exercício físico e o equilíbrio da mente e do físico.
Saúde é tudo né. Saúde é cuidar do corpo, da mente, do espírito. É
cuidar do lugar que você mora, da suas amizades, da sua família. Eu
acho que isso é saúde. Quando você tem uma boa saúde. quando
você esta inserido no meio realmente do valor dessa saúde, você
quer que as pessoas a sua volta estejam também e você procura
mostrar isso para as pessoas. Quando você tem saúde você está
feliz você está de bem com Deus com certeza (fem. 57 anos).
Ah, saúde é tudo. A gente ter uma boa saúde é bom... Boa
alimentação. Uma pessoa doente fica meio desanimada. Tem ânimo
para nada. É muito importante saúde. Para poder trabalhar bem...
Poder... É eu acabo pensando bastante na academia. Geralmente eu
falo assim: Eu quero engravidar, ter outro filho. Ai eu penso... Puxa
vida, mas daí afica nove meses... Eu não vou poder treinar mais!
(fem. 35 anos).
É você se alimentar bem, você ter uma atividade sica, você ter
relacionamento bom dentro da tua família, no teu ambiente de
trabalho... (fem. 42 anos).
Quanto a essas referências de representações sobre a saúde, vemos que
não se importância apenas aos aspectos físicos de não estar doente ou não
sentir dor. A saúde é vista como ter boa moradia, ter relações sociais e familiares,
boa alimentação e também cuidar do físico. Isso sinaliza a mudança de visão do
modelo biomédico para o modelo biopsicossocial, caracterizando uma visão
ampliada de saúde dos participantes.
As pessoas que compartilham da idéia de ter boa alimentação” e “saúde
alimentar” para o status de saudável, como os participantes desta pesquisa, são
influenciados por fatores biopsicossociais e não apenas pelos fisiológicos. O estilo
alimentar está sendo foco de estudo e preocupações na contemporaneidade, e está
relacionado diretamente a saúde e doença das pessoas. Observa-se que, nos dias
63
de hoje, a seleção dos alimentos que ingerimos é influenciado por fatores
psicológicos, biológicos e sociais (VIANA, 2002). Quando decidimos ingerir este ou
aquele alimento, aspectos qualitativos são evidenciados nessa seleção, como
manter o peso da melhor forma possível e a percepção que se tem do próprio corpo.
São importantes as reflexões sobre o aspecto social e biológico na
determinação dos aspectos de saúde e doença em uma sociedade. Podemos
observar que existe uma mudança no modelo aceito pela sociedade. Saúde não é
apenas o silêncio dos órgãos, mas sim, um conjunto de condições psicológicas,
biológicas e sociais para atingir o status de saudável (ADAM; HERZLICH, 2001).
Nos relatos dos participantes, tamm foi observada a relação da
representação social de saúde a capacidade de fazer, ou ter ânimo para realizar
algo como “estar trabalhando, malhando ou estudando”:
A saúde para mim (silêncio)... É trabalho, é vida, é vida social, é
estética de um modo geral (masc. 43 anos).
É estar disposta para trabalhar legal, viver, ficar feliz, isso pra mim é
importante (fem. 43 anos).
(Silêncio) Eu ter condições de estar levando minha vida... Eu ter
condições de estar trabalhando, estar estudando. (fem. 30 anos).
Saúde é (silêncio), a coisa mais importante na vida da gente. Você
tendo saúde você está disposta para qualquer outra coisa, a saúde é
importantíssimo, é essencial (fem. 42 anos).
Uma pessoa doente fica meio desanimada. Tem ânimo para nada. É
muito importante saúde (fem. 35 anos)
Pode-se observar que esses participantes revelaram que saúde é realizar
as tarefas que têm como importantes, e está relacionado com a impossibilidade que
a doença gera na vida das pessoas de executar as atividades diárias que ninguém
pode fazer por elas. Na pesquisa realizada por Serpa (2007), alguns participantes
fizeram a referência que saúde é “ter ânimo e disposição” para realizar as atividades
do dia-a-dia.
64
Como os participantes desta pesquisa não estão acometidos de doenças
que impossibilitam o trabalho, seus relatos são sempre colocados no presente como
“saúde é trabalho”, “é vida”, “saúde é estar disposto para trabalhar legal” e ”saúde é
estar trabalhando.” Na pesquisa de Lima (2005), na qual são entrevistadas pessoas
portadoras de diabetes, a incapacidade de trabalhar está relacionada às
representações sociais de doença, ou seja, saúde para estes participantes é “poder
trabalhar.” Viu-se uma realidade diferente ao ver os relatos dos clientes de
academias de ginástica, quando vemos que saúde é “estar trabalhando.”
Os clientes das academias de ginástica também vêem a representação
social de saúde por meio de aspectos subjetivos dos sentimentos, como estar feliz”,
“estar vivo”, “de bem com a vida” e qualidade de vida e bem-estar, como mostram
as falas:
Saúde é tudo é bem-estar é você estar de bem com a vida estar vivo
(masc. 25 anos).
Saúde é você estar bem consigo. Estar com seu ego elevado
(silêncio), alimentação, se dormi bem, estar bem humorado é isso,
estar de bem com a vida (masc. 29 anos).
.
Saúde. Bom, saúde é se sentir bem, ser feliz... Eu acho que é
fundamental (masc. 50 anos).
As representações sociais de saúde são independentes do saber médico
e são dadas pela interpretação do que a pessoa está sentindo. Essa interpretação é
relacionada com os aspectos sociais vinculados ao seu redor (ADAN; HERZLICH,
2001). Para estes participantes, saúde não está associada somente a aspectos
físicos, mas tamm a fatores qualitativos, como felicidade e sentir-se bem, que não
são mensuráveis e são representações construídas a partir de aspectos culturais,
psicológicos, biológicos e sociais, os quais a pessoa compartilha no momento.
Revelou-se, em alguns relatos, que estar com saúde é cuidar do físico, da
mente e do espírito, como nas falas a seguir:
Saúde é tudo né. Saúde é cuidar do corpo, da mente, do espírito...
Quando você tem saúde você esta feliz você está de bem com Deus
com certeza (fem. 57 anos).
65
(silêncio) saúde pra mim é a saúde do corpo, da alma.
Principalmente você tem que ter saúde na alma, no pensamento
você tem saúde no resto. Porque não adianta você ter um corpo
bonito e sarado, se você é ruim de coração, se você é ruim pro
irmão, se você é ruim pra mãe, se você é ruim pro filho, se você é
egoísta. Sabe então, primeiramente você tem que ter saúde na alma.
Você tem que ser linda de alma, sua alma tem que ser transparente
(fem. 48 anos).
Saúde é ter mente sã, corpo são e alma sã. Quando votem essas
três coisas é saúde (fem. 30 anos).
Saúde é bem-estar físico, social, espiritual... Tudo (masc. 25 anos).
Para alguns participantes, a saúde é vista de forma fragmentada, como se
fosse possível esta separação do ser humano. A espiritualidade tamm esteve
presente em algumas falas. Scliar (2007) argumenta que a saúde, em muitos
períodos da história, foi influenciada pelo poder da religião: para adquirir o status de
saúde, o espírito deveria ser puro e livre de qualquer pecado. Essa visão de saúde
revelada pelos participantes pode não ter influência desse passado, isto é, uma nova
representação de construção coletiva está sendo constituída. Contudo, por mais que
haja esta divisão, os participantes consideram que a saúde é atingida pela união dos
fatores físicos, mentais, sociais e espirituais, sem que haja a valorização de um
sobre o outro.
Alguns participantes revelaram em suas falas que a representação social
de saúde está vinculada a “estar magro” ou “esteticamente bem”:
Então a saúde para mim é trabalho, é vida, é vida social, é amizade e
estética de um modo geral (masc. 43 anos).
Saúde é respirar bem, é dormir bem, é comer bem, é olhar para mim
e falar: eu estou legal, como eu estou legal, estou saudável, meu
corpo está bacana (fem. 25 anos).
Esta participante associa estar magra à manutenção e promoção de sua
saúde:
Saúde é (silêncio), é estar bem e magra em função da minha coluna.
Eu tenho problema de coluna então eu tenho que ser magra sempre
e (pensando), eu, eu estando dessa forma eu mantenho a minha
saúde (fem. 37 anos).
66
Estas falas revelam que os participantes também constroem a representação
social de saúde relacionando-a com o corpo e a estética, ou seja, representações
construídas a partir de elementos que podiam ser aferidos como peso e
porcentagem de gordura estão ligados a representações qualitativas do cuidado com
a saúde.
Observou-se tamm que, nos relatos, apareceu que saúde “é não ficar
doente” e “não tomar remédio”. A fala apresenta uma pessoa que está satisfeita por
nunca ter precisado tomar remédios e relaciona a saúde a não apresentar sintomas
ou doenças físicas:
Saúde é eu me sentir bem, estar bem comigo mesmo. Realmente eu
nunca tomei, precisei tomar remédio na minha vida. Então eu acho
que minha saúde é excelente (fem. 55 anos).
Esta representação de saúde como a questão de ausência de sintomas e
doenças físicas pode ser considerada uma forma simplificada e perigosa, pois tendo
em vista que a representação social é uma construção coletiva, o relato dessa
pessoa revela que ainda circula a idéia de que saúde é não apresentar sintomas e
doenças, quando sabemos que existem doenças com características assintomáticas
em suas fases iniciais como doenças renais, diabetes e hipertensão.
-se que alguns participantes ainda apresentaram a noção de saúde
como algo oposto a doença e não como um processo, fazendo referência ao modelo
biomédico de saúde. Entretanto, é interessante observar que essa representação
começa a ser mudada, passando a contemplar aspectos de cuidados com a saúde.
4.2.2 As Representações Sociais de doença
Tamm se perguntou aos clientes das academias de ginástica o que era
doença. De acordo com o relato dos participantes, na maioria das vezes, eles
revelaram mais de uma temática, como mostra a Tabela 3.
67
TABELA 3- Representações sociais de doença para os participantes
TETICAS
N
%
FATOR LIMITANTE:
Não poder viver
Não poder curtir a vida
Não querer ou não conseguir fazer nada
Estar limitado
Não conseguir trabalhar
Não conseguir fazer exercício físico
13
27%
ADVERSIDADES:
Coisas más
Te prejudicam
Faz viver menos
Prejudica a saúde
Faz mal para o corpo
Coisas ruins
Negativo
É péssimo
É triste
É horrível
13
27%
DESEQUILÍBRIO:
Corpo e espírito enfraquecido
Mente pobre
Desequilíbrio
Falta de bem-estar físico, mental e social
8
17%
PRODUTO DA AÇÃO HUMANA:
Nós é que provocamos
Falta de amor próprio
Não cuidar da alimentação
8
17%
FENÔMENO PSÍQUICO:
Depressão
4
8%
RELIGIÃO:
Falta de fé
2
4%
TOTAL
48
100%
Para parcela considerável dos participantes, a representação social de
doença estava relacionada a algo incapacitante e limitante, que impossibilita ou
dificulta a realização de tarefas diárias, conforme os relatos:
o pode fazer as coisas, movimentar, não poder (silêncio), ter
liberdade eu acho complicado (fem. 43 anos).
Você fica impossibilitado de trabalhar (fem. 30 anos).
Doença é você não estar bem, é você precisar de outros recursos, é
você não ter vontade de fazer nada também em função dessa
doença sei lá (fem. 40 anos).
68
É você estar limitado, não poder fazer nada, não poder curtir a vida,
não poder fazer uma atividade física, não pode viver (masc. 34a
anos).
Atraso de tudo porque você não tem ânimo, você não consegue fazer
nada, não rende (fem. 45 anos).
Observa-se que, para os participantes desta pesquisa, a representação
de doença foi construída a partir da impossibilidade ou dificuldade de fazer as
atividades do dia-a-dia que acham importante para o sustento e para aproveitarem a
vida da melhor forma possível. Na pesquisa realizada por Serpa (2007), tamm foi
encontrado com frequência, nos relatos das pessoas com diabetes e hipertensão,
que a representação de doença estava associada à falta de ânimo e impossibilidade
de fazerem as suas atividades.
Para muitos participantes, a representação de doença está associada a
sentimentos negativos, que a doença prejudica a saúde e faz mal para o corpo como
demonstram as falas a seguir:
Doenças são as coisas más. São o que prejudicam a nossa saúde
que fazem mal para o nosso corpo (masc. 25 anos).
Doença é a hora que você perde essa vontade de fazer as coisas
que você se propõe... Acorda e não consegue (silêncio) cumprir
aquilo que você deveria (fem. 40 anos).
A doença é algo para mim que quando me pega, me pega mesmo
sabe. A doença eu vejo como uma coisa ruim, que não é positiva.
Ficar doente é uma coisa que me deixa muito mal e ver outras
pessoas doentes também. É algo assim que não é legal. Eu tenho
medo de doenças. Eu tenho de pegar uma doença incurável (fem. 28
anos).
Então a doença é quando o negativo pesa mais que o positivo... Para
mim é isso (masc. 37 anos).
Doença é um mal terrível, que traz para pessoa e para os
familiares tudo de negativo (masc. 43 anos).
... A mente que não quer mudar. A pessoa que não quer mudar uma
alimentação para viver melhor, não quer fazer um exercício para ficar
melhor... (fem. 57 anos).
69
O conteúdo dos relatos revela a doença como um mal que atinge o
equilíbrio da vida familiar e social, impossibilita ou limita as condições de trabalho e
os aspectos funcionais, isto é, desestrutura a vida da pessoa e dos que a cercam.
Nota-se que os participantes relacionam as representações de doença também a
hábitos que não são saudáveis, como não se alimentar direito e não fazer exercícios
físicos. A representação de doença é construída a partir de algo negativo.
Alguns participantes revelaram que a doença se instala se houver o
desequilíbrio da mente/físico e do corpo/alma:
Primeiro lugar doença é uma mente pobre. A mente que não quer
mudar a pessoa que não quer mudar uma alimentação para viver
melhor. Não quer fazer um exercício para ficar melhor, ela não quer
fazer novos grupos de amigo... Então isso para mim começa uma
doença séria porque daí quando ela fica doente do corpo, o espírito
está enfraquecido. Fica mais difícil de cuidar de tudo (fem. 37
anos).
Doença é uma coisa muito ampla. É a falta do bem-estar físico,
mental e social... Você pode até levar para o patológico (masc. 40
anos).
Doença é não cuidar do físico e do psicológico (fem. 25 anos).
Doença é quando um desses três fatores está desequilibrado. Então
às vezes você pode estar num corpo maravilhoso, estar amando,
mas psicologicamente você está abalado por algum fator. Então vo
não consegue ter saúde porque o seu psicológico influencia. Você
pode ter uma tendinite, você pode ter uma gastrite... Então tem que
ter harmonia. E hoje em dia com ostresse e essa busca pelas
conquistas que a gente tem está dificílimo ter o equilíbrio destas três
coisas (fem. 30 anos).
Os relatos revelam que a pessoa se de forma fragmentada, como se
fosse possível separar o bem-estar do corpo e da mente e vice-versa. Entretanto,
não a valorização de um sobre o outro. Mesmo havendo a fragmentação, os
participantes revelam na representação social da doença que, para evitar a doença,
é necessário que o corpo esteja equilibrado.
Em dois relatos, a falta de espiritualidade foi vinculada à construção da
representação de doença:
70
As pessoas de hoje em dia esqueceram um pouco de Deus. quer
pensar no material, no físico também e fica vazia a mente e não é
legal (fem. 39 anos).
Doença é a falta de fé. É uma doença a falta de amor próprio falta de
amor ao próximo. Isso é uma doença porque vo vive na
escuridão... (fem. 48 anos).
É interessante notar, nesses relatos a influência da religião perpassando
essa constrão da representação social de doença. Esses relatos não são isolados.
houve a valorização da alma, que era sinônimo de pureza e salvação e estava
vinculada à saúde, sobre o corpo/físico, sobre o qual era depositada a degradação e
a negatividade e era associado às doenças (LACERDA, 2007; SCLIAR, 2007;
SUASSUNA et al, 2005).
Alguns participantes colocam sobre eles mesmos, a culpa de ficar
doente, ou seja, é o produto da ação humana:
Doença!Você fica impossibilitado de trabalhar. Eu falei na minha
questão de depressão que eu tive. Eu tive problemas físicos também
então eu me acomodei e tomou conta de mim e do meu corpo
também (fem. 30 anos).
Acho que é a pessoa porque muitas vezes a doença vem porque nós
causamos. Você não está cuidando direito de você
conseqüentemente você está doente, e tem pessoas que deixa uma
coisa de lado para fazer outra... Tem sempre que estar cuidando de
você mental e fisicamente, não deixando uma coisa estragar a outra
para estar sempre caminhando juntas (masc. 18 anos).
Doença é tudo que a gente faz para não ficar bem (masc. 37 anos).
Nesses relatos, é importante observar como a responsabilização pela
saúde ou pela doença é trazida para uma responsabilidade individual. Dessa forma,
a pessoa exime do contexto em que vive a responsabilidade por estar doente.
Alguns participantes destacam, em seus relatos, a relação da
representação da doença com a presença de depressão:
Ai, doença?... Doença é triste né... Está tendo muita depressão
também... (fem. 39 anos).
71
A doença para mim é depressão, você não ser uma pessoa realizada
profissionalmente... Tudo isso atrai doença (masc. 29 anos).
Doença é a hora que você perde essa vontade de fazer as coisas
que se propõe. E não interessa se você está com depressão, se está
com pé quebrado se está com doença. É a hora que se acorda e não
consegue cumprir aquilo que você deveria (fem. 30b anos).
É interessante perceber como estes participantes constroem esta
representação de depressão. O conhecimento é compartilhado e produzido de forma
coletiva e não exclusivamente pelo meio médico acadêmico, isto é, os participantes
construíram esta visão da depressão a partir da divulgação de estados psicológicos.
Como a pesquisa foi feita em academias de ginástica, problemas físicos e
ortopédicos como os de coluna e de joelho foram encontrados como representações
de doenças, por impossibilitarem ou limitarem as pessoas de fazer suas tarefas
diárias, mas a referência à depressão como representação de doença, ou sendo
fator desencadeante, foi tamm mencionada.
A representação social de doença também é construída por um
participante como uma barreira a ser superada:
Doença é um estado que você... É uma barreira a mais que você tem
que superar. Por mais que seja a doença, você tem que correr atrás.
É isso aí... Mais uma barreira que você tem que superar (masc. 25
anos).
Nesta fala, pensar positivamente e olhar para frente representam forças
de vontade para sair dessa situação. Entretanto, novamente vemos uma visão
individualista. O participante responsabiliza a própria pessoa por o deixar a
doença se instalar, ignorando os valores da visão ampliada de saúde como ter
moradia, alimentação adequada e transporte que, muitas vezes, não são
responsabilidades individuais, mas tamm uma articulação entre e o poder público
e os Conselhos de Saúde.
O conceito pessoal de saúde e doença nada mais é que a interpretação
social que ela tem relacionado diretamente a sua cultura adquirida, isto é, os sinais e
sintomas atribuídos às diferentes partes do corpo variam conforme a cultura de
72
diferentes sociedades (ADAM; HERZLICH, 2001). Para construir as representações
discutidas sobre saúde e doença dos clientes das academias de ginástica, o
participante levou em consideração o seu universo ao participar da entrevista,
mostrando a relação de sua realidade, em articulação com o grupo em que vive.
4.2.3 Corpo e Corporeidade
A construção das representações sociais depende dos aspectos das
relações e vivências grupais em sociedade, em uma determinada época. Na
atualidade, as representações sociais de saúde e doença refletem diretamente sobre
o cuidado com que as pessoas têm pelo corpo, e tem sido fundamental para
compreender quais são as suas funções e o papel dessas construções nas relações
sociais.
Para as considerações sobre o corpo e a corporeidade, foram realizadas
seis perguntas para os 28 participantes da pesquisa.
A primeira pergunta buscou identificar como os participantes viam o seu
corpo. Pode-se observar nos relatos que, na maioria das vezes, as falas vinham
pautadas por silêncios, risadas e indagações, antes de serem verbalizadas. Martins
(2001) observa em seu trabalho que o pesquisador deve ficar sempre atento a esses
sinais não verbais, para que a riqueza da pesquisa qualitativa seja preservada.
As considerações feitas sobre corpo pelos participantes são as
representações que eles têm no grupo social em que estão inseridos. Vale observar
que, em dois meses de coleta de dados, não foram identificados participantes com
problemas de obesidade ou sobrepeso, ou algum problema de saúde que pudesse
ser detectado visualmente para gerar tantas inquietudes e frustrações, como aponta
a Tabela 4.
73
TABELA 4 Concepções dos participantes sobre o seu corpo
TETICAS
N
%
UM IDEAL:
Precisa melhorar
Quero melhorar
Já vi melhor
16
37%
REAL COM ASPECTOS NEGATIVOS:
Meio gordo
Flácido
Abdômen ruim
15
35%
REAL COM ASPECTOS POSITIVOS:
Está bom
Estou contente
Para minha idade está bom
Magro
Normal
Saudável
7
16%
QUINA:
Se transformando
4
9%
RESPOSTA DA AÇÃO HUMANA:
Como resposta do que vivo
1
3%
TOTAL
43
100%
Os participantes revelaram em seus relatos as insatisfações nas
representações sobre o corpo:
Acho que precisa melhorar um pouquinho (rindo). Estou meio gordo
ainda entendeu. As gordurinhas abdominais. Sou preguiçoso para
fazer abdominal, corrida. Essas coisas de exercício aebico não
(masc. 34a anos).
Tem que melhorar um pouco (rindo). Ficar mais firminho, mais
tonificado (fem. 25 anos).
Essa foi boa! Não sei. A gente sempre procura melhorar. A gente
nunca está satisfeito. É como algo que pode melhorar (masc. 28
anos)
A sociedade está buscando, por meio dos seus corpos, a felicidade plena,
ou seja, a imagem corporal torna-se um veículo para que as relações sociais, as
amorosas e as de trabalho, sejam estabelecidas da melhor forma possível e, que
uma elevada autoestima seja alcançada. Estamos entrando em situações
paradoxais, pois ao mesmo tempo em que somos únicos em nossas características,
74
estamos tentando negar essas diferenças em uma unicidade de corpos todos iguais.
Práticas de embelezamento e manipulação fazem do corpo um terreno de
significados simbólicos (VILHENA; MEDEIROS, 2002). Vê-se, pelos relatos, que a
busca por algo a mais acontece, mesmo quando não se tem certeza do que precisa
melhorar. Na sociedade atual, empresta-se ao corpo a realidade de consumo
desenfreado: sempre queremos o que não temos e fazemos de tudo para adquirir o
que desejamos.
Como se pode observar no relato a seguir, a participante reconhece o que
está fazendo de errado para não conquistar tal corpo almejado:
Estou satisfeita entre aspas... 40 anos. Eu sei que ainda posso... Eu
não melhoro porque eu não tenho hábitos saudáveis. Eu vejo o meu
corpo exatamente como resposta da vida que eu tenho... Pode
melhorar... Se eu melhorar algumas coisas (fem. 40 anos).
Na fala se uma pessoa consciente de suas atitudes com relação à
saúde de seu corpo. As consequências em não cuidar da saúde estão diretamente
relacionadas ao corpo, que responde de forma positiva ou negativa a esses
cuidados.
Tamm foi observado na construção dos relatos que a representação
social de corpo é vista de forma fragmentada e o descontentamento é frequente.
a dificuldade para a pessoa ser feliz com o seu corpo como um todo, isto é, não
existe um olhar ampliado, mas sim, a visão milimétrica é sempre exaltada. Para
Breton (2003), a visão milimétrica do corpo refere-se ao fato de que na atualidade,
as pessoas valorizam o corpo não de forma global, mas sim, o divide em unidades
menores, na tentativa de obter uma visão minuciosa para os detalhes a serem
corrigidos, atingindo assim, o tão almejado corpo perfeito.
A engenharia dos corpos como diz Breton (2003), pode ser observada
nas falas abaixo:
[...] eu quero ganhar um pouco de massa muscular, eu quero perder
um pouco de barriga, eu quero definir. Eu vejo meu corpo assim...
Mais ou menos. Nem aquela coisa toda e (silêncio) mais ou menos
(fem. 35 anos).
75
Eu o vejo cheio de defeito. Muita bunda, muito culote, muita barriga,
muito peito... Assim tudo muito (fem. 28 anos).
Olha acho, eu acho bom. que meu abdômen está um fracasso.
Mas o resto do meu corpo acho que está bom (masc. 18 anos).
Analisando historicamente o corpo, viemos de culturas que nunca o
identificaram de forma completa e sem dicotomias. Na Idade Média, a alma
prevalecia sobre o corpo e o inverso acontecia no Renascimento (MARQUES,
2007). na Modernidade, havia também a valorização do corpo, mas com outras
representações e gerando outros acontecimentos. O corpo era tratado como
máquina, fazendo a associação que a pessoa não sente, tendo um significado para
a época de “máquina maravilhosa”, no qual o corpo físico é apenas produtor de
trabalho desprovido de qualquer espiritualidade (BRETON, 2003; NOVAES, 2006).
Alguns participantes revelaram em seus relatos que vêem seus corpos
em evoluções e transformações:
Em evolução (risadas)... Porque eu pretendo ir mais... Sempre mais
(masc. 25 anos).
Tem que melhorar um pouco (rindo) (fem. 25 anos).
Estou contente com ele e quero ficar mais contente ainda (rindo (fem.
37 anos).
Como eu vejo o meu corpo? Precisando melhorar (risos) (masc. 37
anos).
Os corpos estão se transformando graças às academias, consideradas
atualmente como usinas, fabricando corpos para o mercado de consumo e que se
identificam com as representações sociais de corpo dos dias de hoje (NOVAES,
2008; SABINO, 2002). Nas falas, vemos participantes mostrando anseios por
mudanças, apontando que o corpo está em transformação e em evolução,
entretanto a forma de falar sobre as representações sociais de corpo estão envoltas
em características subjetivas, pois elas revelam o desejo, mas não a mudança,
especificamente. No estudo de Lima et al. (2008), a insatisfação corporal também foi
apontada por 91 homens praticantes de musculação. Um conjunto de nove
silhuetas, dispostas em ordem de mais alta porcentagem de gordura para corpos
76
mais definidos, foi mostrado aos participantes, para que assinalassem a sua imagem
atual e a que queriam atingir. A maioria quer subir em média dois pontos na escala
de imagem corporal. Damasceno et al. (2005) tamm notaram essa proximidade de
dados em 186 pessoas praticantes de caminhada, sendo 87 mulheres e 98 homens.
Apenas 24% das mulheres e 18% dos homens encontram-se satisfeitos com seus
corpos.
Goldenberg e Ramos (2002), buscando o entendimento do corpo no
contexto atual, descrevem-no como em mutação e instável, já que a religião, a
família, a política e o trabalho se encontram enfraquecidos, ou seja, as pessoas da
sociedade dos dias de hoje estão construindo as representações de seus corpos
como meio de expressão. Por muitas vezes, a aparência física é colocada em maior
destaque do que as conquistas financeiras, afetivas e profissionais (DAMASCENO
et al. , 2005).
Fato interessante foi o relato de outro participante do sexo masculino
quando ele refere-se ao espelho:
Pelo espelho (risadas)... Não sei como dizer... Eu vejo se
transformando a cada dia né, e essa transformação às vezes se a
gente não tomar cuidado, acaba se transformando em uma
transformação prejudicial (masc. 50 anos).
O espelho não é um instrumento narcísico de uso feminino para
análises corporais, ou seja, a preocupação em atingir corpos esteticamente
melhores, não é apenas atributo feminino.
Apesar da maioria dos participantes estarem insatisfeitos com os seus
corpos, pudemos encontrar uma minoria que vê seus corpos como normais:
(silêncio). Normal... Só normal (masc. 25 anos).
Pela minha idade eu acho que eu estou bem. Eu gosto do meu corpo
(risadas) (fem. 39 anos).
Bem (silêncio)... Bom, pra mim está bom (masc. 34a anos).
A manter mais por saúde mesmo, bem (masc. 29 anos).
77
Entretanto, os homens encontram-se mais satisfeitos com seus corpos do
que as mulheres, que dos seis relatos encontrados sobre a temática, quatro eram
homens e duas eram mulheres.
Conforme aponta Marques (2007) em sua pesquisa, existem três grupos
distintos de mulheres com relação à representação social de corpo na
contemporaneidade: um grupo que faz tudo para atingir o padrão televisivo de corpo;
outro que faz de seus corpos telas para expressões artísticas; e um grupo raro de
mulheres que não se sente influenciado pela mídia, denominadas neutras, que
possuem aspectos naturais representados em seus corpos. O autor cita as mulheres
em seu trabalho, mas viu-se, nos relatos desta pesquisa, que os homens tamm se
encontram nesse grupo raro de pessoas com representações neutras de seus
corpos, ou seja, vêem os seus corpos como normais, sem necessidade de
transformações e sem vê-los como peças isoladas.
A segunda pergunta feita aos participantes sobre o corpo foi o que é o
seu corpo para você.” Os dados apresentados na Tabela 5 revelam que o grupo dos
participantes que sentem o seu corpo representando tudo em suas vidas é o maior,
seguido por aqueles que o sentem como um instrumento para alcançar seus
objetivos, sejam eles quais forem.
78
TABELA 5 - Representações sociais de corpo para os participantes
TETICAS
N
%
TODO:
Minha vida
Tudo
Quase tudo
12
29%
INSTRUMENTO:
Instrumento de trabalho
Instrumento de sustento
Instrumento para estudar
Instrumento para cuidar da casa
8
20%
APARÊNCIA:
Fonte de beleza
Auto estima
Felicidade
Realização Pessoal
7
17%
SUBJETIVIDADE:
Saúde
Bem-estar
6
15%
COLOCAÇÃO SOCIAL:
Cartão de visitas
Presença na sociedade
5
12%
RELIGIOSIDADE:
Morada do espírito
Templo de Deus
3
7%
TOTAL
41
100%
Os participantes revelaram em seus relatos, entre outras questões sobre
o corpo, uma representação geral de que o corpo significa tudo, quase tudo e
tamm a própria vida:
Para mim é (silêncio), é 90%. Se estou bem com meu corpo, o
restante eu consigo fazer com mais disposição (masc. 25 anos).
O meu corpo é importantíssimo porque é expressão do que eu faço...
Então o corpo vai refletindo na pessoa que eu sou... Então para mim
é primordial (fem. 30 anos).
Tudo. Dele eu dependo para fazer tudo (masc. 50 anos).
Tudo. Tudo. É minha saúde, meu instrumento de trabalho. Tudo
(fem. 43 anos).
Os participantes colocam sobre os seus corpos a responsabilidade de
propiciar felicidade plena em todos os sentidos e de ser responsável pelas
79
experiências de vida e ainda revelam que dependem dele para realizar tarefas
importantes do dia-a-dia.
Podemos notar que alguns participantes além de representarem os seus
corpos como “tudo”, fizeram a relação dele como produtor de trabalho seja para o
sustento, estudo ou para cuidar da casa:
É importante, Estou quase satisfeito (rindo)... Para mim é importante
para a atividade que desempenho. E até porque a gente dispõe, a
gente demanda às vezes fazer muito esforço físico entendeu, e ajuda
também nesse sentido (masc. 34 anos).
É o que eu preciso para estar trabalhando, estudando, é cuidar da
minha casa. Então eu preciso de saúde (fem. 30 anos).
É tudo. É meu sustento. Meu aparelho (fem. 25 anos).
Tudo, tudo é minha saúde, meu instrumento de trabalho, tudo (fem.
43 anos).
Em um estudo realizado por Serpa (2007), pessoas com hipertensão
arterial e diabetes tamm fizeram a relação corpo, trabalho e saúde. Entretanto, a
realidade dos participantes acometidos de alguma doença, é diferente quando
comparados com os participantes dessa pesquisa, que se encontram realizando as
suas atividades do dia-a-dia. Os participantes da pesquisa de Serpa (2007) não
estão trabalhando, pois a saúde encontra-se fragilizada. Pelos relatos dos
participantes, essa forma de usar o corpo para a execução das atividades gera uma
percepção de que este corpo é visto como uma máquina que precisa produzir.
É conferido ao corpo o status de máquina para produção de trabalho.
Entretanto, na atualidade, é dada à academia a responsabilidade de gerar energia
para essa máquina produzir o trabalho, pois um corpo esculpido, como é citado por
vários autores (VILHENA, MEDEIROS, NOVAES, 2005; RUSSO, TOLEDO, 2006;
SABINO, 2002), dá subsídios para as pessoas conquistarem melhores trabalhos e
um bom posicionamento social. Sabino (2002) aponta que as academias de
musculação se transformam em usinas, fabricando corpos para o mercado que se
identificam com as representações sociais apresentadas nos dias de hoje em que os
fortes, saudáveis e bonitos são dominantes, e os fracos, doentios e feios são
dominados.
80
Pode-se observar que, além de gerador de trabalho, tamm é dado ao
corpo a representação de saúde, relacionando essa parceria entre exercitá-lo e
ganhar saúde e bem-estar:
O meu corpo é sinônimo de saúde. Se você está com corpo mal, está
gordo é porque você está se alimentando mal e não está bem, não
está saudável (masc. 29 anos).
Saúde, meu bem-estar (masc. 25 anos).
Tudo, tudo. É minha saúde, meu instrumento de trabalho, tudo (fem.
43 anos).
Percebemos que a concepção de saúde e doença está articulada com a
idéia da representação social do que é esse corpo para os participantes. São
revelados, nos relatos, que as noções de saúde e corpo são processos qualitativos,
nos quais articulações do ambiente social com fatores biológicos, psicológicos e
culturais de uma sociedade acontecem para que a representação social seja
construída.
Foram identificadas pelos relatos, pessoas que tinham a necessidade de
ter um corpo esculpido para a sociedade, ou melhor, a representação social de seus
corpos foram traçadas para serem vistas como um cartão de visita para as
conquistas:
Para qualquer lugar que se vai se você for feio, você vai ser notado e
se for bonito também vai ser notado. Então, é bom você estar como
bonito e não como feio (masc. 18 anos).
[...] o corpo da gente é a presença também um pouco da gente. Se a
gente começa a engordar e ficar gordona, tudo que se coloca não
fica bom. Até para sua autoestima, para você sair, mais paquerada
(rindo)... Essas coisas (fem. 35 anos).
É a minha parte exterior assim, é tipo meu cartão de visita, rosto,
corpo conjunto todo seria o cartão de visita, é uma parte importante
(fem. 42 anos).
É tudo. É o que me leva para todos os lugares. É o que sustenta
tudo. O corpo é o cartão de visita (fem. 45 anos).
81
De acordo com os relatos, ter um corpo belo é sinônimo de ter uma
elevada autoestima, atingir os seus objetivos, sentir-se bem e ser bem visto
socialmente. Atitudes com relação à feiúra vêem a modificar as relações
interpessoais e a relação de se lidar com o corpo, produzindo vínculos sociais,
repercutindo em nosso comportamento em lidar com o feio. Por muitas vezes, a
gordura é considerada como paradigma de feiúra, possuindo um vetor de exclusão.
Na contemporaneidade por muitas vezes, é dado ao corpo a representação de
sucesso nas relações sociais, no trabalho e nas relações amorosas, tanto para
homens quanto para mulheres (NOVAES; VILHENA, 2003).
Foi possível identificar certa religiosidade e valorização da alma sobre a
representação de corpo em alguns relatos:
Eu acho que o corpo é essencial. A gente tem que cuidar... Que nem
aquela velha... Clássica frase... Que é a morada do espírito. Eu acho
que tudo. A expressão corporal influencia em tudo na vida eu acho
(masc. 37 anos).
Você faz cada pergunta difícil também! É como e o meu corpo para
mim? É a razão para meu viver... É a essência. A alma habita o
corpo... Então o corpo é tudo para mim (masc. 37 anos).
Meu corpo é um, é um templo, é um templo de Deus, e eu tenho que
cuidar legal. Deus não merece estar em um lugar bagunçado, zuado
merece estar em um lugar legal. Cuida da mente, cuida do corpo
(masc. 25 anos).
Por mais que a contemporaneidade esteja sedo influenciada pela
valorização do corpo para atingir os objetivos individuais, existem pessoas que ainda
se articulam com o passado, ou estão sendo influenciados pela valorização de
certas crenças encontradas na atualidade, segundo as quais a dicotomia entre a
mente e o corpo e a valorização da alma sobre o físico são encontradas. A alma é
local de pureza e o espírito é indestrutível, portanto o corpo tem que estar à altura
para alojar tais representações.
Podemos ver que a representação de corpo é o reflexo da maneira como
a pessoa o sente. Portanto, esse corpo passa a existir e ter uma representação
dentro da sociedade, atribuindo significados dentro de um universo cheio de
82
mbolos, tornando-se um fato gerador de cultura (VASCONCELOS; SUDO; SUDO,
2004).
A terceira pergunta referente ao corpo foi relativa aos padrões corporais
dos dias atuais. Nos relatos, foi possível identificar os padrões de corpo que os
participantes têm, conforme apresentado na Tabela 6.
TABELA 6- Os padrões de corpos na atualidade para os participantes
A maioria dos participantes não teve dúvidas em dar a sua opinião sobre
a representação de corpo nos dias atuais:
Ah é... Nem tão magro como hoje es se pleiteando um... Acho
magro demais. Nem tão gordo, mas mediano... eu acho um exagero
essa tendência de magreza excessiva não gosto (fem. 42 anos).
Para sociedade é a mulher magra. Um corpo sem barriga, com
bumbum, com, seios. E para o homem eu vejo assim... Que o
homem anda ficando assim muito... É está entrando nessa mesma
situação também. Vaidoso. Isso que eu queria dizer. Então ele
também eu vejo assim... O homem procurando... Eu vejo pelo meu
marido, pelo meu marido anda muito vaidoso, mais preocupado do
TEMÁTICAS
N=14
Mulheres
falando de
Mulheres
N=14
Mulheres
falando de
Homens
N=14
Homens
falando de
Mulheres
N=14
Homens
falando de
Homens
Nem muito forte
Sem exageros
Definido(a)
8 (57%)
4 (29%)
8 (58%)
5 (36%)
Magro (a)
6 (43%)
1 (7%)
__
__
Sem gordura
3 (21%)
__
__
__
Saudável
Normal
2 (14%)
2 (14%)
2 (14%)
2 (14%)
Firme
1 (7%)
__
__
__
Com curvas
1 (7%)
__
5 (36%)
__
Sem barriga
Sem gordura na barriga
__
2 (14%)
1 (7%)
2 (14%)
Nem muito gordo, nem muito magro
__
2 (14%)
__
__
Nem muito forte/gordo (a), nem
muito magro (a)
__
__
6 (43%)
4 (29%)
Sem braço e perna fina
__
__
1 (7%)
2 (14%)
Vaidoso e elegante
__
__
2 (14%)
83
que eu com barriga, com peso, então... Eles m olhado isso. Mulher
também procura homem assim (fem. 30 anos).
A mulher eu acho que ela tem que se cuidar. Ela não pode ter
barriga. Ter umas pernas bonitas assim, e não ser também tão forte.
O homem acho que ele tem que se cuidar então a mesma coisa
então não ter barriga... Que todo mundo, ninguém quer ter barriga,
braço fino... Fica parecendo um calango (rindo) (masc. 25 anos).
Os relatos enfatizaram a influência que a sociedade sofre nos dias atuais
com relação ao tema. O corpo é parte do contexto social e cultural e as relações das
pessoas acontecem tanto da forma individual como coletiva, ou seja, falar de corpo
tornou-se domínio de todos os níveis sociais e intelectuais (BRETON, 2003).
A representação de corpo associada aos músculos definidos fez parte dos
relatos tanto dos homens quanto das mulheres. Os participantes almejam-na e
tamm querem encontrá-la na pessoa do sexo oposto:
Para o homem acho é que bem torneado, bem malhado... (masc. 25
anos).
O homem tem que ter um corpo bem definido na minha opinião (fem.
35 anos).
A mulher não precisa ser magérrima tem que ficar firme e
(pensando), alguma definição acho que é isso (fem. 37 anos).
Para a mulher gosto de uma perna torneada, assim... Bacana,
barriguinha, mas nada de exagero (masc. 25 anos).
Esses dados tamm confirmam o trabalho de Lima et al. (2008), no qual
os homens praticantes de musculação, almejam uma maior definição de seus corpos
e, segundo Sabino (2002), as mulheres masculinizam os seus corpos para terem
melhores chances de vencerem na vida, achando que conseguindo este corpo
definido conseguirão um status de serem fortes, duronas e independentes.
Em alguns relatos, ser magra é a representação ideal de corpo para as
mulheres e para a sociedade:
Para sociedade é a mulher magra (fem. 30 anos).
84
Acho que estar magra. Não precisa ser magérrima, mas magra (fem.
37 anos).
Padrão é infelizmente é inatingível pra mim (risadas). É o que e vejo
aqui na academia. Aquela mulher que já nasce magra e depois
desenvolve a musculatura. É a pessoa que geneticamente já não tem
gordura (fem. 40 anos).
Em uma pesquisa realizada por Morgan et al. (2002), com universitárias
expostas a fotos dos mais variados tipos físicos até imagens neutras, essas
mulheres acham os corpos magros mais atraentes. Identificou-se, nos relatos das
participantes desta pesquisa, a mesma idéia de corpo magro como padrão ideal de
beleza feminino, o que não é compartilhado pelos homens. Os homens preferem o
corpo mais feminino e com curvas:
Acho que a mulher seria o corpo violão, bem cheio de curvas
mesmo, e bem durinho e no lugar (masc. 25 anos).
Para mulher aquela tipo cintura fina, bumbum grande e peito grande
(rindo) (masc. 18 anos).
Mulher tem que ter sua sinuosidade, além do controle de peso
(masc. 28 anos).
Pelos relatos, vemos que alguns homens ainda preferem as mulheres
com seus contornos femininos, ao invés da disputa de terem corpos iguais, como
apontam as mulheres em seus relatos de que querem corpos definidos e malhados.
Para a minoria dos participantes, o corpo não tem um padrão de estético
sendo a representação de saúde vinculada a ele:
Um corpo sauvel, você olha e vê que ele é saudável então o corpo
saudável não importa se é alto, baixo, gordo porque às vezes a
pessoa aparentemente gorda ela tem a estrutura óssea mais forte,
desde genética, essa coisa toda então. Se você olha o corpo que é
saudável, que tem saúde você olha ele é já o corpo bonito, já
harmonioso (fem. 57 anos).
Não... Olha só. O padrão de corpo é pessoal assim, é (pensando), no
meu caso eu acho que é mais, a pessoa tem que buscar mais a
saúde eu acho que você tem um corpo legal, é fundamental também,
mas acho que a saúde é muito melhor é muito mais importante
(masc. 43 anos).
85
Trabalhar e ver o corpo como normal e saudável, como vemos nas falas
acima, foi relatado por uma minoria dos participantes. Na contemporaneidade, tratar
o corpo como peça isolada tornou-se um fato. A insatisfação está presente e as
mudanças são necessárias para nos enquadrar nessa nova realidade. Sendo assim,
o ser humano começa a arquitetar o seu corpo almejado na tentativa de torná-lo
perfeito (BRETON, 2003).
Foi perguntado para os clientes das academias de ginástica, se este
padrão de corpo citado por eles poderia estar influenciando as relações sociais. A
Tabela 7 apresenta as temáticas identificadas nos relatos.
TABELA 7 A influência do corpo nas relações sociais segundo os participantes
TETICAS
N
%
PLENITUDE:
Se você está bonito as relações
melhoram Você está mais feliz
Influencia em todas as relações
19
49%
EMPREGABILIDADE:
O corpo é visto como aparência da
empresa Ajuda tê-lo bonito
É o cartão de visitas
12
31%
RELAÇÃO SOCIAL:
Influencia no amor e nas amizades
4
10%
COMO ALGO NOCISO À SAÚDE:
Influencia perigosamente na saúde
4
10%
TOTAL
39
100%
A maioria dos participantes revelou em seus relatos que o padrão de
corpo citado por eles pode influenciar nas relações:
Acaba influenciando. Se você não está bem com o seu corpo você
não vai se relacionar com outra pessoa. Vai ficar tímida. Então acaba
influenciando sim (fem. 25 anos).
Pode influenciar... Tipo se você tem um corpo bonito, acho que você
sente sua auto estima melhorar. Você se sente mais a vontade nos
lugares. Às vezes até de frequentar uma piscina, uma praia, alguma
coisa assim é melhor (masc. 25 anos).
Você está bem fisicamente e no seu profissional, isso influi. Você fica
uma pessoa é... Esteticamente falando mais bonita, uma pessoa
mais pra cima. No seu trabalho também. Você se comunica melhor
86
tem um melhor bom humor, então eu acredito que traga bons
resultados (fem. 37 anos).
Esse padrão, que eu te falei? Influência assim... O meu conceito de
que eu vejo uma mulher acho feminina, e tudo atrai. Eu acho bonita e
tudo, charmosa, elegante (masc. 29 anos).
Russo e Toledo (2006) relatam que, atualmente, o corpo assume, para
alguns, significados que vão além de corpo-objeto. Ele torna-se sinônimo de
conquistas afetivas, posições e relações sociais de destaques. Duveen (2002)
observa que as representações sociais são sempre construtivas, dando à pessoa a
garantia de se encontrar e se situar nesse mundo, pois quando essas
representações são internalizadas, expressam a relão da pessoa com o mundo a
que está habituado, garantindo sua segurança e uma posição neste mundo.
Droguett (2002) observa que a tríade corpo, social e cultura estão entrelaçadas nas
representações atuais de corpo.
Nos relatos, ficou evidenciado que os homens revelam que o corpo
exerce muita influência nas relações de trabalho:
Ele influencia na medida porque a sociedade estabelece um padrão
de beleza, então às vezes à pessoa te olha: aquela ali está bonita
porque tem o corpo parecido com o de fulano... Até se você vai
procura um emprego, se você às vezes está muito fora de padrão
muito gordo, magra nem tanto mais se tiver muito gorda pessoal já te
olha com olhos diferentes (masc. 42 anos).
Pode ajudar as pessoas, por exemplo, se uma pessoa que tem o
corpo bonito, se chega na academia, por exemplo, uma pessoa
com o corpo bonito, tal se começa a olhar e fala: puxa vida,eu vou
malhar, malhar e vou ficar desse jeito ai, vai ficar com o corpo mais
ou menos parecido com essa pessoa... Quando você chega na
academia, por exemplo, o professor vem te atender. vamos supor
que seja um professor fortão assim... Gorda, ai você e fala: ichi! essa
mulher dá aula aqui? (masc. 25 anos).
No trabalho também né aparência o corpo é aparência também
(masc. 25 anos).
Ah, influencia bastante. Até porque, hoje a estética é o cartão postal,
você chega, a primeira impressão é a estética. Então você vê uma
pessoa esteticamente bem você tem a imagem bem sucedida,
uma boa profissional e tudo (masc. 29 anos).
87
Observou-se que, além da influência do corpo de uma forma geral, os
relatos são sobre a preocupação do homem em manter um corpo atrativo para as
suas conquistas. Sabino (2000) comenta que os homens almejam aumentar o
volume muscular e diminuir a gordura de seus corpos, buscando o corpo perfeito
para obter o sucesso, o status e o dinheiro. Por meio do corpo, o homem fala que se
torna possível achar parceiras no mesmo patamar estético e de ascensão social.
Metade dos participantes fez referência sobre a conquista de trabalho
sendo influenciada pelo corpo, muito embora em outras oportunidades, na
entrevista, essa informação seja contraditória, quando eles afirmam isso.
Precisamos estar atentos, para que a resposta do participante não seja aquela que
seria socialmente aceita, porque às vezes, o participante se sente na
obrigatoriedade de dar algo que preencha a expectativa de quem está perguntando.
Alguns participantes afirmaram que o corpo influencia em tudo, inclusive
no relacionamento social e amoroso:
Tudo! De um modo geral ainda, nós realmente olhamos a estética?
Vou dar um exemplo: uma roupa, por exemplo, se você está mal
arrumado a pessoa olha, ou mal enfim barbeado, enfim de um
modo geral, você está roubado. Porque você vai ser olhado de uma
forma diferente. o uma forma que seja uma forma mais
interessante para aquela pessoa que está enxergando, mas sim o
contrário né, uma forma negativa (masc. 43 anos).
Para mim o padrão de corpo representa tudo. Desde na paquera
principalmente (risadas), na vida profissional... Se a pessoa tem uma
carreira que dependa mais dos outros. E de falar em público... Você
tem que manter a imagem. (masc. 37).
Olha... Faz diferença. Quando você se cuida, as pessoas te olham
diferente. A pessoa que não se cuida, desde o estado físico, se
vestir... Tudo é uma coisa . Se você se apresenta bem é diferente
do que uma pessoa largada, que não está nem para a vida (masc.
25 anos).
Acho no amor já é diferente. Porque é amor. Mas começa assim... Se
você tiver um corpo bonito tem aquela aproximação (masc. 18 anos).
Nota-se, pelos relatos, a importância da imagem para a conquista de um
bom posicionamento social. Com essa nova visão, a imagem tem uma importância
88
fundamental, na medida em que todos os olhares estão voltados para a perfeição
deste corpo que se apresenta.
Alguns participantes estão preocupados com a influência da mídia,
relacionada a obter um corpo imposto pelos meios de comunicação:
A gente direto na televisão. As meninas muitos magras. A
sociedade cobra... Isso é perigoso (fem. 39 anos).
No meu caso eu tenho a sorte de ser magra então eu posso até ficar
como a Adriana Galisteu (risadas), mas para pessoas que não tem
esse biótipo... As pessoas estão ficando meio psicopatas com o
corpo e acabam em vez de fazer bem acabam fazendo mal, porque a
pessoa restringe muito as coisas que ela gosta para chegar neste
padrão (fem. 30 anos).
Ah... Eu acho que muito distúrbio alimentar, tem gente que deixa
de comer. Até acho que pode causar depressão de repente,
influencia toda até a parte psicológica, influencia em muita coisa
(fem. 42 anos).
Pessoalmente não muita coisa, mais para gurizada para essas
meninas muito jovens que seguem. Faz qualquer coisa pra seguir um
padrão eu acho (pensando), complicado (fem. 43 anos).
Vemos nas falas dos participantes que o padrão televisivo pode
influenciar perigosamente na saúde. Esses dados tamm estão de acordo com os
encontrados nos relatos da pesquisa de Fernandes (2005) que constatou que, para
alcaar o padrão de beleza estipulado, valem inúmeras intervenções, às vezes
nada saudáveis. Por meio da transformação de seus corpos, querem transformar a
sua relação com o mundo, por meio de uma mudança simbólica, transformando-o
para conseguir se sentir bem dentro do contexto atual, isto é, da busca de um corpo
admirável (BRETON, 2003). Observou-se nos relatos desses participantes, que são
mulheres na faixa etária de 30 a 43 anos, uma preocupação com a geração mais
nova. Essa inquietação está atrelada ao fato de que essa geração mais nova, estaria
procurando meios não saudáveis, para alcançar este corpo perfeito, ao exemplo da
bulimia e da anorexia.
Foi perguntado aos participantes se eles tinham realizado alguma
intervenção cirúrgica. Em caso afirmativo, perguntava-se qual foi a intervenção e,
em caso negativo, tamm se perguntava se teria vontade de fazer.
89
Observou-se que por mais que essas academias esculpam e transformem
os corpos das pessoas, descrita por muitos teóricos (SABINO, 2000; BRETON,
2003; GOLDENBERG, RAMOS, 2002), no que diz respeito às intervenções
cirúrgicas para alcançar o tão almejado corpo perfeito, foi encontrado que muitos
não realizariam nenhuma cirurgia.
Como Goldenberg e Ramos (2002) observam, o corpo está tentando
buscar um entendimento, que a religião, a família, a política e o trabalho também
se encontram enfraquecidos. Entretanto, na realidade desta pesquisa, a cirurgia não
faz parte desse contexto.
Dos 28 participantes da pesquisa, 17 (60,71%) fizeram alguma
intervenção, sendo seis (35,29%) voltadas para a estética: mamoplastia, silicone,
abdominoplastia, lipoaspiração, uma plástica que a participante não quis dizer qual
foi e correção visual. Houve seis mulheres (35,29%) que fizeram cesáreas e, dentre
elas, uma gostaria de fazer cirurgia na barriga. Outra entrevistada gostaria de fazer
cirurgia na barriga, nos glúteos e nos seios. As outras intervenções foram três
(17.64%) cirurgias ortopédicas, um participante (5.88%) tirou a vesícula e outro fez
uma varicocele. Um participante não sabia se queria ou não realizar uma
intervenção cirúrgica e três responderam que não fariam de forma alguma. Apenas
uma das participantes relatou ter se submetido a cirurgia plástica:
Já fiz uma mamoplastia aos trinta. Ai eu não coloquei prótese foi uma
coisa pra (silêncio), rever algumas coisa... Três filhos...
Amamentei e tudo. Tem vontade de fazer outra? Tenho. Todas que
eu puder (rindo) (fem. 40 anos).
Dois participantes do sexo masculino mostraram a busca para estarem de
bem com o espelho. Um deles realizou uma cirurgia no abdômen e outro não quis
falar o que fez, dizendo “ser coisa simples”, mas não escondeu querer fazer uma
cirurgia no rosto.
Dos 11 participantes que não fizeram nenhuma intervenção cirúrgica,
nove (39,28%) tamm não tem vontade de fazê-la. Apenas dois (18,18%)
gostariam de realizá-la, sendo uma colocar silicone e outra fazer uma intervenção no
rosto.
90
O culto ao corpo é uma realidade na sociedade: o corpo é esculpido para
produzir trabalho; a imagem corpórea tem que ser melhorada para atrair o sexo
oposto nas relações amorosas; e tem que ser um cartão de visitas para conquistas
de melhores empregos. Viu-se que a subjetividade impera quando nos deparamos
com um tema tão ligado às ações qualitativas dos seres humanos.
4.2.4 Considerações sobre as academias de ginástica
Buscou-se identificar os motivos que levam os participantes desta
pesquisa a frequentarem uma academia, tendo em vista que, a partir desta
interpretação, pode ser inferido como estas pessoas constroem suas representações
relacionadas aos cuidados do corpo e da saúde.
O primeiro questionamento feito aos participantes foi o que o levou a
frequentar uma academia. Identificou-se que não foi apenas um motivo que os levou
a realizar os exercícios físicos. Como em outras análises, houve um mero maior
de participações nas temáticas do que o número total de participantes, como mostra
a Tabela 8.
TABELA 8 Motivos para ingressar na academia
TETICAS
N
%
FÍSICO E ESTÉTICA:
Melhorar o físico
Condicionamento físico
Corpo malhado
Estética
17
40%
SUBJETIVIDADE:
Saúde
15
36%
MANUTENÇÃO DA SAÚDE E
PREVENÇÃO DA DOENÇA:
Cirurgia ortopédica
Problemas de saúde
Ordem médica
6
14%
COMO BEM-ESTAR:
Qualidade de vida
Bem-estar
4
10%
TOTAL
42
100%
91
Identificou-se que a maior preocupação dos participantes, ao procurar
uma academia, é melhorar o condicionamento físico e a estética:
Melhorar minha resistência física, estética mesmo e porque eu jogo
tênis e futebol às vezes. Então sempre é bom. Mas, além disso,
condicionamento físico e estético mesmo (masc. 25 anos).
Melhorar o condicionamento físico... Sou magra, mas estou
precisando acabar com a barriga (fem. 30a anos).
É melhorar meu condicionamento físico e meu corpo (masc. 18
anos).
Para estes participantes, o fator corpo é o único motivo para estarem em
uma academia. Quando o participante do primeiro relato diz “melhorar o
condicionamento físico”, ele utiliza a academia para aprimorar a “máquina humana”,
isto é, quer aperfeiçoar o seu corpo para realizar suas tarefas diárias que acha
importante, no caso melhorar seu rendimento no esporte.
Tamm nota-se que o condicionamento físico vem entrelaçado com a
estética. Sabino (2002) observa que as academias de musculação na atualidade,
são consideradas verdadeiras usinas que fabricam corpos para o mercado. Em
outros relatos, a melhoria da saúde e o aperfeiçoamento do físico, possuem graus
de importância equivalentes. Notou-se em alguns relatos, que o termo
condicionamento físico tornou-se ambíguo, por haver a associação desta palavra
com a estética e também com a saúde, como nos exemplos a seguir:
É (silêncio) pela saúde, e também pela estética (masc. 43 anos).
É (silêncio), preocupação com a saúde em primeiro lugar depois
estética (fem. 43 anos).
Pela saúde e pela força muscular e também pela estética (fem. 45
anos).
Condicionamento físico, querer emagrecer e saúde (masc. 28 anos).
Esculpindo o corpo na academia, consegue-se atingir os dois objetivos
simultaneamente. A maioria dos participantes reconhece que saúde está em
92
comunhão com o físico esteticamente trabalhado, portanto uma visão mais íntegra
do corpo é compreendida por estes participantes. A academia é utilizada para a
estética, mas também como local de prevenção e manutenção da saúde. A estética
está ligada aos aspectos que podem ser aferidos, como peso e massa muscular.
a saúde revela representações de características subjetivas e individuais, tendo
significados diferentes para cada participante, dependendo do contexto social em
que estão inseridos.
Alguns dos participantes estão na academia pela saúde, mas não por
vontade própria, mas sim por recomendação médica, por problemas de saúde ou
recuperação ortopédica:
Foi porque eu fiz uma cirurgia primeiro e precisava fazer fisioterapia
no joelho.(masc. 25a anos).
Eu tenho problema de diabetes e resolvi para melhorar a saúde.
Você tem que ter uma caminhada, um exercício diário (masc. 25b
anos)
Foi por conta de problema da coluna. Foi ordem médica (masc. 45
anos).
O excesso de peso. E assim... Fora o excesso de peso uma falta de
bem-estar sabe... E quando eu comecei a ver, eu entrei numa
academia (fem. 28 anos).
Os participantes que estão frequentando uma academia por problemas de
saúde, o fazem por saberem e acreditarem que o exercício físico traz benefícios
para a sua melhora, de uma forma geral, independente da patologia encontrada.
Nesses casos, a procura de uma academia tem como papel principal a recuperação
da saúde, mas também, com a continuidade dos programas de exercícios, acontece
a manutenção e a promoção da saúde, evitando que a doença se instale.
Identificaram-se tamm participantes que têm uma representação
voltada para aspectos subjetivos, como motivos para frequentarem uma academia:
Qualidade de vida uma melhoria do bem-estar mesmo e um melhor
físico, corpo mais malhado (masc. 34a anos).
Bem-estar, a saúde mesmo, além do corpo: corpo e físico (fem. 25
anos).
93
Primeiro lugar é claro é o físico. Ai depois é saúde, qualidade de vida
(fem. 39 anos).
Na verdade a primeira vez que procurei uma academia foi para
desenvolver mesmo a musculatura... Eu ainda era meio adolescente.
Hoje em dia não. Eu procuro mais pela saúde, qualidade de vida
(masc. 37 anos).
Mais dois fatores foram abordados em relação a frequentar uma
academia: a qualidade de vida e o bem-estar. Scliar (2002) relata que quando
pensamos em saúde e bem-estar, estamos entrando em uma ordem qualitativa de
sentidos e são subjetivos para cada pessoa.
Tamm se perguntou aos participantes qual o motivo de estarem nas
academias em que estão fazendo os seus exercícios físicos. Pôde-se observar nos
relatos que onze motivos emergiram, grupados em sete temáticas, como mostra a
TABELA 9.
TABELA 9 Motivos para frequentarem determinada academia
TETICAS
N
%
ACESSO:
Localização
14
30%
INFRAESTRUTURA:
Estrutura
Bons aparelhos
Pelo horário
Aula oferecida
14
30%
AMIZADE E BEM-ESTAR:
Pelos frequentadores
Sente-se bem
Ama o local
11
23%
ATENDIMENTO:
Bons professores
Conhece o proprietário
8
17%
TOTAL
47
100%
Dos 28 participantes, 14 apresentaram a localização como fator
determinante para a escolha da academia. A justificativa dada por eles foi a
proximidade de suas residências com a academia:
94
Porque é a mais perto. Eu moro aqui em baixo então eu posso vir a
ou de bicicleta. E eu gosto de andar de bicicleta. Exercita (fem.
48 anos).
Essa academia é mais próxima da minha casa. Bem pertinho daqui
(masc. 34 anos).
Pela localidade próxima da minha casa (fem. 30 anos).
Está perto da minha casa, não dependo de carro e gostei do pessoal
daqui... (fem. 57 anos).
A localização é um dos fatores citados como determinantes para a
escolha de uma academia. Citado por autores como Venlioles (2005) e Neto (1994),
em cursos de marketing e gestão de academias, uma localização estratégica, com
fácil acesso e bom estacionamento viabilizam uma maior frequência de usuários às
academias de ginástica.
Alguns participantes da pesquisa escolheram a academia pela sua
infraestrutura. Bons aparelhos, horário de oferecimento de aulas e estrutura física
são fundamentais para a escolha de uma academia:
Mais próximo de casa, estrutura dela também me agrada (masc. 34b
anos).
Eu sempre passo aqui em frente, todos os dias. Eu moro aqui perto e
eu gostei também da cara nova que academia ficou. Chamou
atenção, porque eu não conhecia ninguém que malhava aqui (fem.
42 anos).
Porque é a melhor de Campo Grande, os melhores equipamentos...
Apesar de não ser a melhor do Brasil, mas comparando com as
outras de Campo Grande, na minha opinião é a melhor (masc. 28
anos).
Vemos nesses relatos que, para esses participantes, não há a
preocupação de vínculos de amizade. Sabino (2002) aponta que as academias são
verdadeiras fabricas de corpos e Goldenberg e Ramos (2002) a definem como
indústria dos músculos. Portanto, é plausível que pessoas que não têm a amizade
como fator de escolha façam seus exercícios físicos em locais definidos por elas
como a melhor academia para alcançar seus objetivos.
95
Tamm se destacou nos relatos a escolha da academia pelos
participantes fazendo referência aos nculos de amizade que são feitos nesse local,
e tamm sentir-se bem e amar a academia escolhida:
Eu sou muito de trocar de academia. Sempre troquei. Fiquei um ano,
no máximo ficava três anos, mas aqui eu me adaptei bem. Eu gosto
daqui, espaço físico, as pessoas são legais, tipo uma família mesmo.
As pessoas são mais da minha faixa etária também (fem. 39 anos).
... É a academia dos meus primos e é uma academia que eu me
sinto bem (fem. 37 anos).
Essa por uma questão de localização ai assim... Apesar de amar né.
Deu muito certo. Se não tivesse dado certo teria mudado porque
existem outras na região (fem. 40 anos).
Por indicação de (silêncio), amigas (fem. 43 anos).
Pelos amigos que malham aqui... (fem. 45 anos).
Para uma parcela de frequentadores de academias de ginástica, o vínculo
de amizade facilita e melhora a permanência no local para fazer os exercícios
físicos. Na atualidade, em que os compromissos, a jornada diária de trabalho e
estudos, as obrigações com a casa e com os filhos são infindáveis, o ambiente da
academia de ginástica torna-se propício para estreitar los e momentos de lazer.
Breton (2003) observa que, nos dias atuais, a academia de ginástica pode oferecer
um aconchego momentâneo de compartilhamento de horas agradáveis em contato
com os outros.
Alguns participantes escolheram a academia pela equipe de professores
para atender aos seus objetivos. Bons professores, referências e conhecer o
trabalho do proprietário são fatores para elegerem a academia a ser frequentada:
Bom eu tive ótimas referências daqui, até da **** que é minha
personal e proprietária, vim para conhecer. Achei o espaço incrível e
vim para cá. Não tive dúvida (fem. 25 anos).
Os professores daqui mesmo que troquem, sempre são pessoas
muito agradáveis e simpáticas. Gente alegre e de bem com a vida.
Isso é muito importante (fem. 57 anos).
Meus amigos tinham falado, eu malhava em outra academia e a
diferença daqui é o atendimento mesmo, que estrutura é o básico de
qualquer academia, mas o negócio do instrutor estar sempre
96
apoiando, sempre em cima, para mim foi bem surpresa mesmo
(masc. 25 anos).
Como se identificou, existem muitos fatores a serem considerados para a
escolha de uma academia pelos participantes da pesquisa. Ao planejar a estrutura
física e humana de uma academia de ginástica, todos os fatores devem ser levados
em consideração se o proprietário quiser ter sucesso em seu estabelecimento.
Estudar a região para ver como são as pessoas que residem no seu entorno é um
passo importante para a ascensão do negócio.
A diversidade de academias, hoje, nos subsídios para escolhê-las de
acordo com nossos objetivos. Por isso, perguntou-se aos participantes o que
influencia na escolha da academia. Houve uma pequena variação nos relatos dos
participantes, em comparação com a pergunta anterior, como se observa na
TABELA 10.
TABELA 10 Fatores que influenciam na escolha da academia
TETICAS
N
%
ATENDIMENTO:
Profissional preparado e
atencioso
Atendimento
17
33%
INFRAESTRUTURA:
Estrutura
Horário de aulas
15
29%
AMIZADE E BEM-ESTAR:
Ficar a vontade
Ambiente agradável
Amigos
11
22%
ACESSO:
Localização
8
16%
TOTAL
51
100%
Na escolha da academia, o único fator de influência que merece
destaque, em relação à pergunta anterior, é a variação nos relatos quanto ao
aspecto humano:
Com certeza o profissional é fundamental (fem. 57 anos).
97
Se a academia tem um profissional adequado, com estudo se
preparou (fem. 30a anos).
Me oferecer o que procuro e qualidade dos professores (masc. 29
anos).
A qualidade de atendimento... (fem. 37 anos).
Para mim uma das coisas foi amizade, e depois o profissionalismo
que eles tinham. Isso então eles eram dos dois lados, uniu as duas
coisas ser capaz e ser amigo (masc. 45 anos).
A academia é um ambiente de sociabilização e se faz necessário um
profissional completo, que atenda desde o acompanhamento cnico do aluno até o
emocional. O vínculo social entre frequentadores e professores também é
valorizado. O conhecimento técnico deve coexistir com um bom atendimento.
As outras temáticas identificadas nos relatos que influenciam na escolha
da academia são semelhantes às encontradas na pergunta anterior, ou seja, a
estrutura, localização, amigos e ambiente agradável são tamm importantes para a
escolha da academia.
Tamm se perguntou para os clientes da academias de ginástica, como
é que eles escolhem o professor para o acompanhamento de suas rotinas de
exercícios físicos, como aponta a TABELA 11.
98
TABELA 11 Fatores que influenciam na escolha do professor
TETICAS
N
%
DEDICAÇÃO PROFISSIONAL:
Atenção
Observação
Paciência
14
37%
EXPERIÊNCIA E TÉCNICA:
Entendimento
Conhecimento
Experiência
Capacidade
Profissionalismo
Seriedade
13
34%
IR ALÉM DA TÉCNICA:
Incentivo
Astral
9
24%
IMAGEM CORPORAL:
Aparência
2
5%
TOTAL
38
100%
Foram identificados nos relatos quatro grupos de respostas sobre as
razões dessa influência: o cliente em busca de atenção, o cliente em busca dos
aspectos cnicos, o cliente em busca de estímulos positivos de seu professor e o
cliente em busca da estética do professor.
Observou-se que a formação e a preparação do profissional de Educação
Física devem estar pautadas o apenas em elaborar aulas de ginástica e
programas de musculação. O cliente da academia também procura um profissional
atencioso e que o estimule, por meio de incentivos positivos, a continuar com suas
rotinas diárias de exercícios:
Atenção que ele tem. A observação que ele para o aluno, a
simpatia dele, o interesse dele pelo aluno não importa quantos
alunos tenha, mas ele está sempre disposto a dispensar uma
atenção para a gente. Isso é fundamental (fem. 57 anos).
Que ele seja um bom profissional e principalmente o modo de ser
tratada influencia muito (fem. 55 anos)
Atenciosidade, conhecimento... Tempo também. Tudo (masc. 28
anos)
O professor tem que incentivar o aluno, tem que cobrar também. A
gente reclama, mas não adianta a pessoa tem que cobrar.
funciona se você é cobrada e infelizmente é assim. O professor... Ele
dá muita atenção ao aluno (fem. 39 anos)
99
A academia de ginástica tem como objetivo principal, para muitos autores
como Sabino (2002), Breton (2003) e Novaes (2008), a transformação de corpos. É
uma realidade encontrada nas três academias pesquisadas. Entretanto, o fator
humano é considerado muito importante para os participantes. As relões sociais
são evidenciadas como importantes na estrutura de vivências desses locais.
Tamm se identificou que a experiência, a capacidade, o
profissionalismo, a seriedade, o entendimento e o conhecimento foram palavras
citadas pelos participantes e foram pré-requisitos na escolha do profissional, isto é, o
conhecimento técnico foi valorizado por uma parcela de participantes:
O nível de conhecimento dele (masc. 29 anos)
Se for um professor, que ele seja bem profissional que ele estimule o
aluno. A gente gosta disso quando o professor estimule você, sinta
firmeza, que ele tenha conhecimento naquela área em que ele atua
(fem. 42).
Profissionalismo, atendimento ao aluno, preocupação se o aluno está
fazendo correto ou não, seriedade. Um professor que fica
olhando para o umbigo já não me serve (fem. 37 anos).
Mais o nível de conhecimento dele (masc. 29 anos).
Se ele foi preparado, se ele tem alguma experiência (fem. 30a anos).
Cada vez mais o mercado de trabalho mostra que, para ser um
profissional de sucesso, o professor de Educação Física tem que se preocupar o
apenas com um ou outro aspecto dentro da academia. Os relatos identificam um
cliente que espera um profissional humano, mas também com conhecimento
técnico.
A estética do corpo do profissional da Educação Física foi um fator que
influenciou dois participantes:
Aparência dele também conta porque se ele não se cuida ele não vai
saber cuidar de outra pessoa (fem. 25a anos).
Eu tive ótimas referências da ****, e ai quando eu cheguei para
conversar com ela eu vi um corpão falei putz, é ela (fem. 25 anos).
100
Nesse caso, podemos concordar com Chaves e Ferreira (2007), que
afirmam que o corpo influencia na empregabilidade. O conhecimento técnico dos
profissionais de Educação Física foi deixado de lado e a estética prevaleceu. Esse
fato torna-se preocupante, quando analisamos esses relatos relacionando com o
estudo de Chaves e Ferreira (2007). Se esta exigência de um corpo
esteticamente dentro de um padrão para se ter um emprego, o profissional de
Educação Física usará dos mais variados artifícios para conquistá-lo, como o uso de
anabolizantes, já que nem sempre a genética favorece a todos para a construção de
um corpo malhado. Com isso, um círculo vicioso será constituído: de um lado o
profissional de Educação Física usando anabolizantes para ter um corpo ideal de
emprego, e de outro o cliente decepcionado em o conseguir atingir a mesma
imagem corporal de seu professor.
A academia de ginástica é um universo que reúne pessoas das mais
variadas realidades, nos quais os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos
são entrelaçados às representações sociais de saúde, doença e corpo.
101
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
102
Essa pesquisa identificou as representações sociais de saúde, doença e
corpo para os clientes de academias de gistica de Campo Grande MS, com o
intuito de ampliar o entendimento acerca da relação que esta população tem de seus
corpos com hábitos saudáveis para a manutenção e promoção da saúde, bem como
a prevenção de doenças. Tamm foram contemplados, neste trabalho, os motivos
que levaram os participantes a frequentar uma academia de ginástica e o que
influenciou na escolha dela e de seu professor. Estes dados são considerados
importantes, pois possibilitam o entrelamento de conhecimentos e reflexões para
os pesquisadores da saúde, do corpo e profissionais atuantes em academias de
ginástica.
Frequentar uma academia de ginástica significa ocupar o tempo livre, no
qual a pessoa não está realizando as obrigações diárias como trabalhar, estudar,
cuidar da casa e dos filhos, para realizar uma rotina de exercícios e alcançar os
objetivos relacionados à saúde e ao corpo.
Observou-se que as representações sociais de saúde, doença e corpo
dos participantes, o construções influenciadas pelo meio social em que vive. Para
a maioria, não existe apenas uma representação construída sobre os temas da
pesquisa, mas sim, um corpo influenciado pelos meios de comunicação, pelas
relações sociais e de trabalho e pela importância dada à promoção e à manutenção
da saúde.
As considerações feitas à saúde e ao corpo, para a maioria dos
frequentadores das academias de ginástica são representações de tudo ou quase
tudo” em suas vidas. Pode-se observar, pelos relatos, que existiu uma relação na
representação do que é saúde e a representação do que é corpo para os
participantes. Para eles, ter saúde é poder trabalhar, estudar e fazer exercícios
físicos, e a representação de corpo para estes participantes também é vista como
instrumento de trabalho, de sustento, de estudo e de poder cuidar da casa. Portanto,
a academia de ginástica para estes clientes é utilizada para dar ao corpo subsídios
para que possam realizar suas tarefas diárias. O corpo é tratado como máquina e
seu valor está no ato de fazer e produzir o trabalho.
103
Os relatos tamm revelaram que as representações sociais de saúde,
doença e corpo estão ligados aos aspectos de sentimento das pessoas. Não podem
ser aferidos e tamm não têm o mesmo significado para todos os participantes,
mas o grau de importância é considerado representação de grande valor para os
dias atuais. A saúde e o corpo trazem a felicidade e a pessoa se sente bem no seu
dia a dia. A doença gera representações de tristeza, coisas más e ruins para os
participantes.
Quanto à doença, as representações são uma negativa das
possibilidades de saúde. Enquanto saúde é ter hábitos saudáveis ligados à
alimentação e fazer exercícios físicos, para os participantes, a doença se instala
quando não existe esse cuidado. A representação de doença tamm é vista como
fator limitante, impossibilitando a viver, prejudicando a saúde e fazendo mal para o
corpo. Outra representação encontrada nos relatos é a doença relacionada aos
sentimentos. Com a doença, o desânimo se instala para realizar as tarefas de
obrigação diária, como trabalhar e estudar, assim como prejudica o lazer, ou seja,
viajar e fazer exercícios físicos. Todo esse contexto, como é apontado pelos
participantes, influencia de forma negativa a vida social, familiar e as condições de
trabalho das pessoas.
Por meio dos relatos dos participantes, podemos identificar que o cuidado
com a saúde está diretamente ligado ao cuidado com o corpo. A academia de
ginástica é utilizada para esculpir corpos e tamm para manter e promover a
saúde. Também não se pode esquecer que ter saúde é ter moradia e acesso a
alimentação balanceada. Isso é identificado quando os participantes se referem à
representação de saúde, não somente a aspectos estéticos ou físicos de não sentir
dor ou não estar doente, mas sim, uma visão ampliada de saúde, fazendo referência
ao modelo biopsicossocial de atendimento.
Entretanto, para alguns participantes, as representações sociais de saúde
e de corpo são construídas de formas dicotomizadas. O corpo/físico é separado da
mente/alma. De acordo com os participantes, a saúde é adquirida pelo equilíbrio
dessas partes. Porém, não a valorização de uma sobre a outra, por mais que
haja essa separação.
104
A representação de doença também vem de forma fragmentada de
acordo com os participantes. A doença se instala por falta do equilíbrio do corpo e
da mente e, para alguns participantes, a falta de , ou seja, a valorização da alma
sobre o físico é responsável pelo estado doentio da pessoa. Por mais que
pesquisadores atuais tratem a pessoa como um universo único e sem dicotomias,
viemos de um passado com valorizações de um sobre o outro. São representações
arraigadas e que podem exercer influências até os dias de hoje.
Outro aspecto contemplado por esta pesquisa é a importância do corpo
nas relações sociais. Refletir sobre as representações sociais que os participantes
têm de corpo é identificar o seu papel na sociedade. A minoria dos participantes
encontra-se satisfeito com os seus corpos. Ao fazer a pergunta “como você o seu
corpo”, encontrou-se nos relatos as representações de insatisfações e tentativas de
transformações. O corpo não é visto em sua totalidade, mas sim fragmentado. Viu-
se que são apontados os descontentamentos com o corpo, mas não são apontadas
quais e onde deveriam ser feitas tais transformações. Pode ser que o corpo esteja
sendo um veículo para impor uma tentativa de mudanças e insatisfações sociais e
culturais, mostrando assim, um período de transição de idéias e costumes, conforme
apontam tantos autores.
Para os participantes, o corpo, na atualidade, influencia as relações de
amizade, de amor e de trabalho, caracterizando uma realidade de que a imagem
prevalece, como primeira impressão, sobre o que a pessoa tem a oferecer de
conhecimento
Outros dois fatores analisados foram as considerações sobre a academia
de ginástica e a escolha do professor. Esse aspecto torna-se importante a partir do
momento em que a preocupação dos proprietários e profissionais da Educação
Física em oferecer o melhor para os seus clientes. Pelos relatos, os clientes de
academias de ginástica procuram os profissionais por fatores relacionados à
recomendação médica, à manutenção e promoção da saúde, para o
condicionamento físico e estético.
Os participantes também apontam que as influências para a escolha da
academia de ginástica o a localização, os vínculos de amizade, bons profissionais
105
e a infraestrutura. Quando indagados, os participantes querem que seu professor
seja atencioso, tenha conhecimento técnico, o incentive positivamente na rotina de
exercícios e que tenha uma boa aparência. Observa-se que os clientes das
academias de ginástica desta pesquisa são pessoas exigentes e sabem o que
precisam para alcançar os seus objetivos. Nessa análise, alguns aspectos não
podem ser esquecidos: as regras de marketing são muito claras ao dizerem que a
concorrência está cada vez mais acirrada; os meios de comunicação mostram a
todas as pessoas o que está sendo oferecido no mercado do fitness; e o tempo das
pessoas está cada vez mais escasso. Os relatos obtidos vêm de encontro à
realidade do mercado. A academia tem que ter um bom acesso para o seu cliente;
ambiente agradável e amigável, já que ele está usando o seu precioso tempo
disponível; e profissionais completos para o culto ao corpo para que possam atingir
seus objetivos individuais, isto é, a manutenção e a promoção da saúde, o
condicionamento físico e estético.
Por meio deste trabalho, pode-se ver que as representações sociais de
saúde, doença e corpo vêm passando por transformações e que conceitos antigos
estão entrelaçados com os atuais, formando novas representações.
Sugere-se realizar estudos que identifiquem as novas concepções de
homens e mulheres nesta realidade do culto ao corpo. Seria também pertinente
observar a representação social que os profissionais de Educação Física atuantes
em academias de ginástica têm sobre a saúde e a doença, se essas representações
exercem influência nas representações de seus alunos e de que forma suas
representações norteiam suas atuações profissionais.
106
REFERÊNCIAS
__________________________________________________________
107
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113
APÊNDICES
__________________________________________________________
114
APÊNDICE A
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1-Dados sociodemográficos
Idade: _________ Sexo: __________ Estado civil: ______________________
Escolaridade: ________________________________________________________
Renda Mensal:_______________________________________________________
Profissão:___________________________________________________________
Trabalha? ( )sim ( )não Cargo que ocupa:____________________________
2 - O que levou você a procurar uma academia?
3 - Por que você resolveu frequentar esta academia?
4 - O que influencia para você na escolha da academia?
5 - O que influencia para você na escolha do professor?
6 - Como você vê o seu corpo?
7 - O que é o seu corpo para você?
8 - Para você, qual é o padrão de corpo nos dias atuais para mulheres e homens?
9 - Para você, o que esse padrão pode influenciar?
10 - Como o corpo influencia nas relações sociais?
11 - Você já fez alguma intervenção cirúrgica? ( )sim. O que foi para você fazer
essa cirurgia?
( )não. Você tem vontade de fazer
alguma intervenção cirúrgica?
12 - O que é saúde para você?
13 - O que é doença para você?
115
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado (a) para colaborar na realização da pesquisa
“Representações Sociais saúde, doença e corpo de clientes de academias em
Campo Grande, MS”. Caso concorde em participar, responderá a uma entrevista
que será gravada. O objetivo da pesquisa é analisar os sentidos que as pessoas
atribuem ao corpo, à saúde e doença e de que forma interferem na busca pelo
cuidado com o corpo.
Os resultados serão divulgados em minha dissertação de Mestrado em
Psicologia e em possíveis futuros trabalhos em revistas científicas e congressos.
Esteja seguro de que seu anonimato será mantido. Em nenhum momento da
entrevista será perguntado o seu nome. Sua participação é voluntária. A qualquer
momento você poderá desistir de colaborar com o trabalho, sem nenhuma
penalidade, bem como deixar de responder qualquer pergunta.
Abaixo colocarei meu nome e telefone para que, havendo alguma dúvida,
sinta-se à vontade para entrar em contato comigo, ou com o Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB.
Pesquisadora Ariane Silva, aluna do Mestrado em Psicologia, CPPGE,
UCDB, telefone 9985-3654.
Agradecemos a sua colaboração.
NOME: ____________________________________________________
ASSINATURA: ______________________________________________
116
ANEXOS
__________________________________________________________
117
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