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da agricultura e não questionava as próprias bases de sua produção, apesar das dificuldades e
das apreensões para se manterem no setor devido ao aumento dos preços dos fertilizantes
naquele período:
É que essa palavra agricultura sustentável é muito usada, mas em prática acho que
não existe, porque, hoje se a agricultura para ser sustentável, por exemplo, o diesel
tinha que ser pela metade do preço, o adubo menos da metade do preço, os
herbicidas pela metade do preço, porque a gente se sustentar na agricultura tu tens
que ter condições de trabalhar. Porque há 15 anos atrás, eu vendia um litro de leite e
comprava um litro de diesel, hoje eu preciso vender cinco litros de leite para
comprar um litro de diesel. Então, nessa parte de agricultura sustentável acho que
não tem (EA- 9).
Desse modo, a propagação e a inclusão do adjetivo sustentável não condiziam com a
emergência de uma “nova visão de desenvolvimento” da sua base, que engendravam outros
significados e necessidades como “sustentar a família, se manter no local onde está, não
precisar ir embora, tentar diminuir as dificuldades” (EA – 10) ou “uma agricultura que venha
trazer mais resultado para o bolso do agricultor” (EA- 5). Contudo, a generalização de
propostas e intervenções para uma agricultura sustentável, mesmo incipientes e ínfimas em
certos contextos sociais da produção agrícola, permeiam a construção de uma ação coletiva
mais ampla (ASSAD; ALMEIDA, 2004).
Além do mais, os associados não ignoravam os impactos ambientais principalmente
diante de atividades externas como o aumento do plantio de árvores exóticas das espécies do
gênero Eucalyptus no município e na região. Ao contrário, evidenciaram uma apreensão
recorrente, expressa na fala abaixo:
E o governo está achando que vai dar muito futuro esses reflorestamentos de
eucalipto, isso vai terminar com o país. Porque aqui tem exemplos de canteirinhos
de eucalipto aqui onde tem um comércio forte, eles tem uma cacimba assim no meio
das casas, sempre tinha água, plantaram, acho que não dá um quarto de hectare lá
nos fundos e terminou com a água da cacimba deles. [...] Você planta milho, mil
hectares de terra não acontece isso, porque diz que um eucalipto por dia é 30 litros
de água, mil eucaliptos são trinta mil. Esses arroiozinhos, essas sanguinhas que tem,
se encher de eucaliptos, termina tudo. Só que ali vem grana grossa, um deputado se
vende, mais um se vende, e acabam liberando. E outra coisa, onde for mato de
eucalipto, aquela terra nunca mais presta para plantar. Ainda acácia renova a terra,
mas de eucalipto. Claro que acho que o pessoal tem que plantar, nós aqui tem que
plantar alguma coisa, mas não podemos exagerar, pro gasto e alguma coisa para
vender, mas não assim tapar tudo com mato, com eucalipto. [...] Aqui um tempo que
era zona que produzia muito, em seguida passava aí cinco até dez caminhão
puxando gado, hoje não tem mais, só acácia e eucalipto. Aqui passa todos os dias na
base de seis, sete, oito picaretas puxando lenha, desce aqui e sai lá nos Grilos, lá
embaixo. E já estão derrubando, e plantando de novo. Eu tenho uns amigos no lado
do Alto da Cruz, que eles tem trator e sempre plantava assim 40,50,100 hectares
para fora. Hoje já não estão conseguindo mais terra para arrendar e essas coisas.
Então no fim da conta vai faltar comida por causa disso também, porque se um tem