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conduzidos em carroças, seminus, em uma promiscuidade irreverente, e assim atirados
em valas.” Em Fortaleza, 1878, os jornais publicavam diariamente as listas e o nome
dos enterramentos. Somente em dezembro de 1878, foram sepultadas, no Cemitério da
Lagoa Funda, privativo dos variolosos, um total de 14.362 cadáveres, uma média diária
de 500 pessoas sucumbiam ao flagelo (Martins; Maia; Homma, 2008a).
As ações sobre as doenças transmissíveis em nosso meio datam desse tempo do
Brasil Colonial, quando os serviços de saúde, organizados precariamente, preocupavam-
se com as doenças pestilenciais, principalmente a varíola e a febre amarela.
A prática
médica era baseada em conhecimentos tradicionais e não “científicos”. A estratégia de
controle utilizada na época baseava-se no afastamento ou no confinamento dos doentes
nas Santas Casas de Misericórdia,
cuja função era mais assistencialista que curativa
(CBVE, 2005).
No final do século XVIII, o poder político da burguesia emergente consolidou-se
com a restauração, como, na Inglaterra, ou pela revolução, como na França e nos
Estados Unidos. Nessa fase sucederam-se diferentes tipos de intervenção estatal sobre a
questão da saúde na população (CVBE, 2005).
A história da vacina confunde-se com a história de Edward Jenner (1749-1823),
médico rural inglês, que nasceu em Berkeley (Gloucestershire), e foi discípulo de John
Hunter, fundador da cirurgia experimental, que elevou a cirurgia de simples técnica à
ciência. Jenner que tinha nascido e clinicava na zona rural da Inglaterra, conhecia desde
menino a crença popular de que a varíola das vacas protegia contra a varíola humana.
As mulheres que tinham cicatrizes nas mãos, provenientes da extração de leite de vacas
com os úberes infectados pela cowpox, não as tinham no rosto, sendo renomadas por
sua beleza (Martins; Maia; Homma, 2008a).
A observação desse fato incitou-o a desenvolver uma série de testes em pessoas
sadias, com a finalidade de reproduzir esse fenômeno (Fernandes, 1999). Com grande
atenção e paciência, durante 25 anos, desde 1775, Jenner observou as relações entre
cowpox, varíola e variolização (Martins; Maia; Homma, 2008a).
A partir da pústula desenvolvida na vaca, Jenner obteve um produto que passou a
denominar varíola vacinae (varíola da vaca) que, ao ser inoculado no homem, fazia
surgir, no local das inoculações, erupções semelhantes à varíola. Dessas erupções era
retirada a linfa ou pus variólico, utilizado para novas inoculações. Formava-se assim
uma cadeia de imunização entre homens, funcionando o cowpox da vaca como um
primeiro agente imunizador, e o homem como produtor e difusor da vacina. O nome,