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muito curta. Uma das primeiras razões é por que, na comunidade lá do
interior de Santa Teresa, onde eu me criei, eu nasci no Dez, mas depois me
criei na Santa Teresa…-, eu acho que era a única família em que os pais
falavam com os filhos em português, mas entre eles falavam italiano. Eu
acabei aprendendo falá(r) italiano, ouvindo o pai e a mãe falando e a
mistura que eles faziam do esforço deles pra falá(r) em português
conosco, por força do contexto histórico, enfim, de todos os
condicionantes políticos e companhia. Eles se esforçavam em falá(r) em
português conosco, mas sempre misturado, mas entre eles falavam em
italiano e todos os meus amigos, colegas de escola, falavam italiano com a
família, com os pais, era italiano puro na família, o dialeto italiano nosso. Lá
no meio rural, ainda hoje se fala o dialeto vêneto (GII mono Ponto 1).
Embora o esforço dos pais em transmitir a língua portuguesa, certamente sofrendo as
interferências próprias de duas línguas em contato, a força da língua materna, de origem,
proporcionou ao informante D um nível de apreensão, de forma espontânea, que tornou
possível a sua manifestação oral, mesmo afirmando que “Eu entendo tudo o que falam né, eu
falo, mas eu tive uma prática muito curta”. É o meio ambiente favorável à aprendizagem da
língua, mesmo em uma provável situação de code-switching (entendido como alternância, ou
seja, a troca de canal, em poucos instantes, de uma para outra língua) alternando com code-
mixing (entendido como interferência, ou seja, quando a L2 incorpora traços da L1 no léxico,
na sintaxe ou na fonética), o que é dito pelo próprio entrevistado: (“[...] o esforço deles pra
falá(r) em português conosco; eles se esforçavam pra falá(r) em português conosco, mas
sempre misturado [...] ).”
O mesmo entrevistado, mais adiante, retoma o assunto, agora em talian:
Inf. D – Mi gò imparà parlar el dialeto talian quà del nostra region,
ascoltando me pare e me mare parlando, perché con noantri i parlea mia
talian. Parlea in português, ma tuto meso misturà con italian. Ma la maior
parte del italian che hò imparà è stato con i amighi de scola, de comunidade,
de pescaria, de laorare anca in colônia né, se laorea bonora, sete, otto anni,
il primo presente che se guadagnea l’èra una sapeta de manego curto. E
alora, vivendo, con i amighi se… parlava, perché lori parlavan con la só
faméia, solo italian. La mea faméia l’èra, non ricordo de otra, de nantra, na
comunidade che… ne la faméia il pupà e la màma parlasse portuguese con i
fiói. La nostra, provável che fosse…( la fusse) une dele uniche o la única
.
(GII mono Ponto 1).
Trad. Eu aprendi a falar o dialeto talian aqui da nossa região, escutando meu
pai e minha mãe falando, porque conosco eles não falavam em talian.
Falavam em português, mas tudo meio misturado com italiano. Mas a maior
parte do italiano que eu aprendi foi com os meus amigos de escola, de [...] de
trabalhar também na colônia né, se trabalhava cedo, com 7, 8 anos; o
primeiro presente que se gahnava era uma enxada de cabo curto. E então.
Vivendo, com os amigos, se falava, porque eles falavam com as suas famílias
só em italiano. A minha família era, não me lembro de outra, na comunidade
que....na família, o pai e a mãe falassem português com os filhos. A nossa,
provável que fosse uma das únicas ou a única. (GII mono Ponto 1).