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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO
DE “ESTRANGEIRO” @ “NATURALIZADO”: FLAGRANTES DO PROCESSO DE
INCLUSÃO DIGITAL DE UMA PROFESSORA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Andrea Santana de Vasconcelos
Campina Grande, Julho de 2009
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Andrea Santana de Vasconcelos
DE “ESTRANGEIRO” @ “NATURALIZADO”: FLAGRANTES DO PROCESSO DE
INCLUSÃO DIGITAL DE UMA PROFESSORA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduacao em Linguagem e Ensino
(Mestrado), no Centro de Humanidades, da
Universidade Federal de Campina Grande,
como requisito para obtenção do grau de
Mestre, na área de concentração “Ensino-
aprendizagem em Língua e Literatura”.
Orientadora: Profª. Drª. Denise Lino de Araújo
Campina Grande, Julho de 2009
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG
V331d
2009 Vasconcelos, Andrea Santana de.
De “estrangeiro” @ “naturalizado”: flagrantes do processo de inclusão
digital de uma professora da educação básica / Andrea Santana de
Vasconcelos. Campina Grande, 2009.
106 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Federal de Campina
Grande, Centro de Humanidades.
Referências.
Orientadora: Profª. Drª. Denise Lino de Araújo.
1. Letramento Digital. 2. Inclusão Digital. 3. Educação. I. Título.
CDU 81’33(043)
FOLHA DE APROVAÇÃO
__________________________________________________
Profª. Drª.Denise Lino de Araújo – UFCG
(Orientadora)
___________________________________________________________
Profª. Drª.Rossana Delmar de Lima Arcoverde – UFCG
(Membro Interno)
__________________________________________________________
Prof. Dr. Júlio César Rosa de Araújo
(Membro Externo)
Aos meus sobrinhos,
Eduardo e Arthur
Eduardo e ArthurEduardo e Arthur
Eduardo e Arthur
para quem, em nome
do amor que sinto,
desejo ser sempre
exemplo.
AGRADECIMENTOS
A
Deus
DeusDeus
Deus
, Senhor de minha e grande responsável pelo alcance da conclusão desta tarefa.
“Graças de rendemos, ó Deus; graças te rendemos, e invocamos o teu nome, e declaramos
as tuas maravilhas.” Salmos 75.1
A minha família,
minha mãe, meu pai e minha irmã
minha mãe, meu pai e minha irmãminha mãe, meu pai e minha irmã
minha mãe, meu pai e minha irmã
, por terem acreditado em mim
e nos meus projetos sempre. Obrigada por todo amor e incentivo dedicados.
Ao meu esposo,
Alexandre
AlexandreAlexandre
Alexandre
, por ter suportado minhas ausências durante um período tão
importante de nossas vidas e por, nos momentos de estresse, me estimular dizendo que “eu
sou muito inteligente”.
A minha amiga e grande parceira,
Rebeca Ribeiro
Rebeca RibeiroRebeca Ribeiro
Rebeca Ribeiro
, com quem compartilho alegrias e
angustias desde o primeiro dia do curso de Letras até então, por isso e muitíssimo mais, que
o meu apreço por essa “pessoinha” é gigante.
A minha amiga
Tábada
TábadaTábada
Tábada
Felipe
FelipeFelipe
Felipe
, por me dar casa e comida em Campina Grande durante
os 2 anos de mestrado e por estar comigo me fazendo companhia, me fortalecendo,
divertindo e me fazendo superar momentos durante essa jornada, por vezes, bem difíceis.
A minha amiga
Valéria Cardoso,
Valéria Cardoso,Valéria Cardoso,
Valéria Cardoso,
por acreditar em mim e nos meus projetos de forma
incondicional.
A minha orientadora,
Denise Lino
Denise LinoDenise Lino
Denise Lino
, primeiro pelo acolhimento. Segundo, por, em tantos
momentos que precisei, me tratar como “pessoa”, que tem projetos, família, rir, chora,
adoece..., casa... Terceiro, pelas colações sempre muito inteligentes. E, por fim, pela
disponibilidade em me atender e orientar sempre, seja na universidade, em sua casa, por e-
mail ou por MSN.
A Prof.ª
Karine Viana
Karine VianaKarine Viana
Karine Viana
, que facilitou em tudo a viabilização desta pesquisa junto ao
Mídias na Educação e se demonstrou uma grande amiga nas horas de sufoco bem como nas
de alegria também.
Aos colegas de mestrado, Clarissa Costa, Cristiane Vieira, Elizabeth Silva,
Clarissa Costa, Cristiane Vieira, Elizabeth Silva, Clarissa Costa, Cristiane Vieira, Elizabeth Silva,
Clarissa Costa, Cristiane Vieira, Elizabeth Silva,
Fabyana Muniz, Keith Glauk, Zuleide Guimarães
Fabyana Muniz, Keith Glauk, Zuleide GuimarãesFabyana Muniz, Keith Glauk, Zuleide Guimarães
Fabyana Muniz, Keith Glauk, Zuleide Guimarães
, Isaías Enrich
, Isaías Enrich, Isaías Enrich
, Isaías Enrich,
Evaldo
EvaldoEvaldo
Evaldo,
,,
,
por terem dividido comigo o peso das disciplinas e da produção desta dissertação.
A garota supermidiática
Dan
DanDan
Daniela Araújo
iela Araújoiela Araújo
iela Araújo
, pelo carinho e disponibilidade em ajudar
sempre.
Aos professores
Júlio César e Rossana Arcoverde
Júlio César e Rossana ArcoverdeJúlio César e Rossana Arcoverde
Júlio César e Rossana Arcoverde
, pela disponibilidade em ler meu
texto mesmo com as intempéries causadas pelos Correios e tudo mais, bem como pelas
contribuições desde a qualificação.
A minha equipe de trabalho,
Eduardo Guerra, Dilson Magalhães, Roselayne
Eduardo Guerra, Dilson Magalhães, Roselayne Eduardo Guerra, Dilson Magalhães, Roselayne
Eduardo Guerra, Dilson Magalhães, Roselayne
Costa, Sirleide Texeira e Glaucemberg Novacosque,
Costa, Sirleide Texeira e Glaucemberg Novacosque,Costa, Sirleide Texeira e Glaucemberg Novacosque,
Costa, Sirleide Texeira e Glaucemberg Novacosque,
que, além de me incentivar,
compreenderam minha ausência e fizeram os trabalhos evoluírem enquanto estive fora para a
finalização desta tarefa.
Uma casa tem fachada, jardim, sala de
visitas, quartos, dependência de empregada e até
mesmo cozinha e porão. Suas páginas iniciais, como
aquelas conversas cerimoniais, que antigamente
eram regadas a guaraná geladinho e biscoito
champanhe, servem solenemente para dizer ao leitor
-esse fantasma que nos chega da rua- o que se diz a
uma visita de consideração. ‘Que não repare nos
móveis, que o dono da morada é modesto e bem-
intencionado, que não houve muito tempo para
limpar direito a sala ou arrumar os quartos. Que
vá, enfim, ficando à vontade e desculpando alguma
coisa.’ Dito tudo isso, creio poder encaminhar o
leitor-visita (...). Mas como a casa é minha, tenho
limites e meus segredos.Há coisas que não posso ver e
momentos de desamparo e de insegurança
criados pela própria arquitetura (...). Mas pode estar
seguro o meu leitor-visita que fiz o que pude (...).
Fica a vontade.”
( Roberto DaMatta – A casa e a rua, 1997, p. 11 e 28)
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Níveis de certificação do ME.........................................................................09
Figura 02 –Plataforma de acesso ao curso .....................................................................10
Figura 03 –Choque tecnológico.......................................................................................14
Figura 04 –“Teste você imigrante ou nativo”...................................................................16
Figura 05 –Fórum Sistema operacional e seus aplicativos..............................................17
Figura 06 –Conversa MSN com a informante.................................................................17
Figura 07 –Fórum Sistema operacional e seus aplicativos “A” .......................................52
Figura 08 –E-mail “acesso à plataforma”.........................................................................52
Figura 09 –E-mail “Brasília”.............................................................................................54
Figura 10 –E-mail “Brasília” “A”.......................................................................................55
Figura 11 –Fórum digital “A”............................................................................................57
Figura 12 –E-mail “não entrei no site”.............................................................................57
Figura 13 – E-mail “Projeto” “A”.......................................................................................58
Figura 14 – E-mail “Ativ4” “A”...........................................................................................62
Figura 15 – E-mail “Trabalho”..........................................................................................62
Figura 16 –E-mail “Atividades”.........................................................................................65
Figura 17 – E-mail “Brasília” “B”.......................................................................................68
Figura 18 – Fórum Sistema operacional e seus aplicativos “C”.......................................86
Figura 19 – Fórum TV digital “B”....................................................................................87
Figura 20 –E-mail “Ativ4” “B”..........................................................................................87
Figura 21 – “E-mail Errado” ............................................................................................92
Figura 22 – E-mail “Projeto”.............................................................................................93
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 – Constituição dos instrumentos de análise .....................................................26
Tabela 02 – Constituição do corpus de análise – Entrevista ............................................28
Tabela 03 – Constituição do corpus de análise – E-mails.................................................29
Tabela 04 – Constituição do corpus de análise - Fóruns..................................................30
Tabela 05 – Constituição do corpus de análise para categoria 1 – linguagem no processo
de migração.......................................................................................................................32
Tabela 06 – Constituição do corpus de análise para categoria 2 – Busca pela
autonomia..........................................................................................................................35
Tabela 07 – Constituição do corpus de análise para categoria 3 – Letramento digital
mostrado............................................................................................................................38
SIGLAS E ABREVIATURAS
DITEC – DEPARTAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA TECNOLÓGICA
EaD – EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
ID – INCLUSÃO DIGITAL
IES – INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
LA – LINGUÍSTICA APLICADA
LD – LETRAMENTO DIGITAL
ME – MÍDIAS NA EDUCAÇÃO
NTE – NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL
SEED – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
TDIC – TECNOLOGIAS DIGITAIS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
TIC – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
UEPB – UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
UFCG – UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
SUMÁRIO
-CAPÍTULO 01
1.O percurso da pesquisa: da contextualização à construção dos dados.........................01
1.1 Estímulo e justificativa à pesquisa....................................................................01
1.2 Contexto social em que se insere a pesquisa..................................................07
1.2.1 O Programa ME.................................................................................07
1.3 De estrangeiro a naturalizado: caracterizando uma docente imigrante...........13
1.4 Inquietações, suposições e objetivos...............................................................18
1.5 Aspectos metodológicos .................................................................................20
1.5.1 Procedimentos e instrumentos utilizados..........................................24
1.5.2 Organização estrutural da dissertação..............................................39
-CAPÍTULO 02
2. O percurso de migração: flagrantes do processo de inclusão digital.............................41
2.1 Linguagem no processo de migração..............................................................49
2.1.1 Formas de autoreferenciação............................................................50
2.1.2 Nível de domínio da linguagem no contexto digital...........................56
2.2 Busca pela autonomia......................................................................................60
-CAPÍTULO 03
3. O percurso de naturalização: flagrantes do processo de letramento digital..................72
3.1 O fenômeno letramento: algumas considerações............................................72
3.2 Letramento digital e suas características ........................................................76
3.3 Letramento digital mostrado............................................................................85
3.3.1 Nível Básico de LD............................................................................85
3.3.2 Nìvel Intermediário de LD..................................................................92
-CAPÍTULO 04
4. Considerações Finais.....................................................................................................97
CAPÍTULO 05
5. Referências .................................................................................................................102
RESUMO
A Educação a Distância via internet tem se tornado uma modalidade
bastante presente de ensino e significativa aos dias atuais. A formação
continuada de professores por intermédio desse recurso tem se mostrado ao
Governo como uma interessante possibilidade de capacitação desse
profissional, visto que pode atingir um contingente grande de pessoas com
aparentes custos mais baixos. Neste contexto se insere o Curso Mídias na
Educação - ME (MEC/SEED/DPCEAD), que tem por objetivo formar
professores para o uso pedagógico das mídias em sala de aula. As exigências
para que o docente ingresse no curso são apenas duas: ter licenciatura e
dominar práticas letradas digitais mínimas do manuseio do computador e da
internet. Contudo, muitos dos docentes que ingressam no curso não atendem
esta última exigência. Mas, diante da possibilidade de dar continuidade à
formação inicial, uma docente, da segunda versão do curso no estado da PB,
declarou ter buscado formas de dominar as práticas letradas digitais exigidas
no curso e com isso afirmou ter se incluído digitalmente por causa da
participação no ME. Com vistas a essa situação, esta dissertação teve como
objetivo geral: analisar o processo de inclusão digital de um sujeito vinculado,
como cursista, ao programa ME. Como objetivos específicos: caracterizar e
interpretar o processo de inclusão digital descrito pelo sujeito que assim se
autorreferencia, como incluído digitalmente; descrever e interpretar o percurso
de um sujeito no ciclo básico do ME, no que diz respeito às práticas digitais
demonstradas por ele nos e-mails enviados à tutora e na realização das
atividades dos módulos. Para tanto adotamos uma metodologia de natureza
qualitativa e realizamos um estudo de caso. O corpus de análise fundamentou-
se em três instrumentos, quais sejam: entrevista semi-estruturada, e-mails e
atividades da docente na plataforma de aprendizagem. Desses três
instrumentos foram escolhidos 29 fragmentos de texto da informante que
tiveram tratamento teórico-analítico com base nos estudos de autores como
Buzato (2007) e Coscarelli (2007) no que tange a questão da inclusão digital;
Kleiman (1995 ; 2001), Soares (2002) e Hamilton & Barton (2002), no que diz
respeito ao letramento; Araújo, J. (2006 ; 2007), Ribeiro (2007) e Xavier (2005)
no que se refere ao letramento digital, entre outros, que contribuíram para a
categorização dos dados em três momentos: a) linguagem no processo de
migração; b) busca pela autonomia e c) letramento digital mostrado. Essa
categorização aponta respectivamente para: a) a linguagem é indicador
decisivo da inclusão digital de um sujeito; b) durante o processo de inclusão
digital o sujeito apresenta etapas de autonomia significativas e c) as práticas
letradas digitais demonstradas em cada etapa correspondem a níveis distintos
de letramento digital. As discussões realizadas nesse percurso teórico-
analítico permitiram considerar, dentre outras questões, que a inclusão digital
é fundamental para o sucesso do professor inscrito no ME.
ABSTRACT
Distance Education by means of Internet has become a very common and
meaningful teaching modality nowadays. For the Government, teachers
continuous training through this resource has appeared as an interesting
possibility for qualifying this professional, once it can reach a huge number of
people by apparent lower costs. Media in Education Course - ME
(MEC/SEED/DPCEAD) is included in this context, with the purpose of training
teachers for the pedagogical use of media in the classroom. There are only two
requirements for the teacher’s registering in this course: to have a teaching degree
and minimal competence for digital literacy practice in order to deal with computer
and Internet. Nevertheless, many teachers who attend the course do not fulfill the
second requirement. However, due to the opportunity of continuing education, a
teacher from the second version of the course in the state of Paraíba, assured her
search for ways of mastering the required digital literacy practice, and then
concluded she was digital included because of her participation in the course.
Based on this data, this dissertation presents its main goal: to analyze the process
of digital inclusion of a subject who was attending the ME program. The specific
goals are: to characterize and interpret the process of digital inclusion by the
subject who describes himself as a digital included teacher; to describe and
interpret the route of one subject in ME basic level, concerning the digital practices
demonstrated by him through the e-mails sent to the tutor, as well as through the
tasks accomplished during the course. Therefore, we have adopted a qualitative
approach methodology and have developed a case study. The corpus of this
analysis is grounded in three instruments: semi-structured interview, e-mails and
the teacher’s tasks in the learning platform. Out of these three instruments we
have chosen 29 excerpts from the informer’s text which had both theoretical and
analytical treatment according to some authors’ studies: Buzato (2007) and
Coscarelli (2007), concerning digital inclusion; Kleiman (1995 ; 2001), Soares
(2002) and Hamilton & Barton (2002), with regard to literacy; Araújo, J. (2006 ;
2007), Ribeiro (2007) and Xavier (2005) in relation to digital literacy, among others
who contributed to the data categorization in three moments: a) language in the
migration process; b) search for autonomy and c) digital literacy presented. This
categorization points out respectively to: a) language is a determinant indicator of
a subject digital inclusion; b) during the process of digital inclusion the subject
presents stages of meaningful autonomy and c) the digital literacy practices
demonstrated in each stage correspond to different levels of digital literacy.The
discussion provided in this theoretical and analytical route, among other aspects,
allowed us to consider that digital inclusion is essential to the success of the
teachers registered in ME course.
CAPÍTULO 01
1. O percurso da pesquisa: da contextualização à construção dos dados
1.1 – Estímulo e justificativa à pesquisa
Incluir-se digitalmente se constitui, hoje, como uma necessidade, para nós,
membros da chamada “sociedade da informação”. Esta, segundo Castells (1999)
assim se caracteriza por ser aquela que recebe os impactos informacionais,
entendidos aqui não como a metáfora do “projétil” que pode ser lançado sobre ou
em direção a algo, destacada por Lèvy (1999, p. 21), mas como sendo a
“penetrabilidade das tecnologias de informação na vida diária das pessoas e no
funcionamento e transformação da sociedade como um todo” (MIRANDA, 2000,
p. 80). Assim sendo, Miranda (2000) acrescenta ainda que na sociedade da
informação
a comunicação e a informação tendem a permear as atividades e os processos
de decisão nas diferentes esferas da sociedade[...]. A sociedade passa
progressivamente a funcionar em rede. O fenômeno que melhor caracteriza
esse novo funcionamento em rede é a convergência progressiva que ocorre
entre produtores, intermediários e usuários em torno a recursos, produtos e
serviços de informação afins. (MIRANDA, 2000, p. 81)
Essa sociedade, que funciona em rede, que tem sua base no curso que a
comunicação e a informação tomam. Conforme destacado por Miranda (Id.
Ibidem), pode também ser compreendida pelo que vy (1999, p. 92) chama de
ciberespaço, isto é, “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial
de computadores e das memórias dos computadores.” O autor explica ainda que
essa definição para ciberespaço inclui o conjunto de sistemas de comunicação
eletrônicos, na medida em que transmitem informações provenientes de fontes
digitais ou destinadas a digitalização. Como forma de demonstrar a importância
de compreender esse espaço que surge com a cultura digital, destacamos a
opinião de Vilches (2003, p.32), para quem o ciberespaço é “o novo campo da
economia, da cultura e do diálogo humano.
As definições apresentadas aqui por Miranda (2000), Lèvy (1999) e Vilches
(2003) se respaldam com facilidade em nossa vida cotidiana, na qual a
necessidade de incluir-se digitalmente parece ser cada vez mais irrefutável.
Sacar dinheiro no banco, dar notícias aos parentes e amigos, consultar preços de
mercadorias no supermercado, aquecer rapidamente a comida e até mesmo lavar
a roupa na máquina, são apenas algumas atitudes simples de nosso dia-a-dia que
são grandemente facilitadas através de comandos digitais. Outras tantas, mais
aprimoradas, que suscitam inclusão nesse âmbito poderiam ser citadas, a
exemplo do avanço crescente de cursos de profissionalização e formação
continuada através da internet, que demonstram como a nossa sociedade tem se
caracterizado pelo rápido processamento da comunicação e da informação
através de recursos digitais. Assim, inserir-se nesse meio, nesse “novo” espaço,
como dissemos, constitui, hoje, uma necessidade dos membros dessa
sociedade.
Desta forma, nosso foco nesta pesquisa é discutir sobre como se o
processo de inserção nessa cultura digital, visto que nem todos participantes
dessa realidade são nativos, ou seja, convivem com ela desde o nascimento, mas
foram se adaptando, participando cada vez mais de práticas da cultura digital,
enfim, foram migrando, a fim de usufruir dos benefícios e facilidades da mesma.
Esse processo de migração, para alguns, segundo Vilches (2003, p.13), pode ser
batizado como “nova ordem social.” Para o autor, “essa ‘nova ordem’ se expressa
numa sociedade digital que é, simultaneamente, território de desenvolvimento
econômico e centro das comunicações.”
Nesse contexto, convém uma discussão sobre migração digital. Numa
primeira acepção do termo compreende-se que migrar significa sair de um lugar
em direção a outro, ou seja, ir para um novo lugar. E migrar digitalmente, como se
traduziria? De acordo com Vilches (2003, p.17)
A migração digital diz respeito, em primeiro lugar, a sujeitos interconectados
que chegam à nova fronteira da comunicação e do real. Essa nova fronteira,
que alguns chamam de ciberespaço, é um novo espaço de pensamento e de
experiências humanas, formado pela coabitação de antigos meios e novas
formas de hiper-realidade.
Nessa perspectiva, o estímulo a este estudo surgiu quando uma docente
da turma do curso Mídias na Educação doravante ME
1
- que acompanhei como
tutora durante parte do ano de 2008, declarou-se incluída digitalmente a partir da
participação no curso. Assim, compreende-se: antes da participação no curso a
informante ocupava o lugar de estrangeira nesse ciberespaço, isto é, distanciava-
se das práticas comuns àqueles considerados nativos, que, se tratando desse
ciberespaço, podem ser chamados de nativos digitais
2
. Desta forma, é possível
inferir que antes da participação no ME a informante era estrangeira digital porque
não participava, como os nativos digitais, das práticas que conduzem, cada vez
mais, o cotidiano das pessoas nessa sociedade da informação. Como o mercado
hoje exige atualização de praticamente todo e qualquer profissional e as
oportunidades para tanto, dependendo da área de atuação, ainda o reduzidas,
a informante deve ter percebido no curso ME uma chance de se capacitar. Diante
dessa situação, a partir da declaração feita, ela indícios de que rompeu a
fronteira da exclusão, foi naturalizando-se, isto é, acostumando-se às práticas
1
ME – Mídias na Educação – programa promovido pela Secretaria de Educação a Distância SEED- /MEC,
voltado para a formação continuada à distância, via on line, de professores da rede pública de ensino, de
diversas disciplinas, bem como por profissionais que exercem funções mais burocráticas na educação, como
coordenadores e gestores de escolas.
2
É um termo proposto por Prensky (apud FAJARDO, p. 11) para descrever uma geração que nasceu e
cresceu numa sociedade permeada por tecnologias digitais, como computadores, games, celulares,
tocadores digitais de música, câmeras de vídeo, internet, dentre outras.
digitais e saiu do lugar social de iletrada digital ou mesmo de excluída, que
ocupava no início do curso, e passou a ocupar o lugar de incluída digital, isto é,
um “novo espaço de pensamento e experiências humanas”, conforme destacou
Vilches (2003, p.17).
A exclusão digital é caracterizada, segundo Oliveira (2006, p. 14) “pelas
desigualdades geradas pelo não acesso às informações que as TIC
3
proporcionam e o uso inteligente destas nos ambientes de trabalho.” O autor
complementa que a exclusão digital do professor na atual conjuntura social
representa uma fragilidade na sua formação e é um complicador para a
construção de uma sociedade mais equitativa e cidadã. E, sendo assim, mediante
tantas dificuldades ainda enfrentadas para a inclusão digital (que passaremos a
chamar ID) de docentes, ter, num universo de 45 cursistas
4
acompanhados por
nós no curso ME, alguém que, espontaneamente, se declara “incluído digital”
passou a ser nosso interesse científico.
Como o principal objetivo do ME é integrar as mídias de forma pedagógica
em sala de aula e não, de forma direta, por incluir digitalmente seus cursistas,
pois subentende-se que, para participação no mesmo os sujeitos se
apresentem com um vel mínimo de ID, este estudo pode apresentar uma
validade significativa porque destaca uma situação concreta na qual um sujeito
transgride às regras e, com isso, consegue transformar sua realidade pessoal e
profissional, conforme buscou-se comprovar nas considerações analíticas desta
dissertação.
3
Tecnologias de Informação e Comunicação, que preferimos tratar neste trabalho inserindo o aspecto digital,
assim, adotamos TDIC, Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação por acreditarmos ser mais
abrangente e próprio ao nosso trabalho do que apenas TIC.
4
Total de professores-cursistas da turma que eu tutoriava durante a minha participação no ME.
A necessidade de a informante pronunciar-se pode estar diretamente
relacionada à sua percepção de ter ultrapassado a “fronteira da comunicação e do
real”, mencionada por Vilches (2003), e, assim, reconhecer-se como membro
desta sociedade da informação. Uma vez membro dessa sociedade e não
participando efetivamente dela, porque não conseguia responder às demandas de
comunicação e informação exigidas, a informante, possivelmente, se percebia
como uma estrangeira no contexto da formação continuada via EaD on line, pois
não usufruía, como outros, das potencialidades dessa realidade. Ao passo que
ela começa a desfrutar, de alguma forma, das potencialidades e vantagens que
outras pessoas desfrutavam, sente-se naturalizada na comunidade,
interconectada e, portanto, capaz de declarar-se incluída.
Segundo o dicionário Houaiss versão digital 2.0.1, inclusão significa: estado
daquilo ou de quem está incluso, inserido, metido, compreendido dentro de algo,
ou envolvido, implicado em; introdução de uma coisa em outra, de alguém em um
grupo; relação entre duas classes tal que os elementos constitutivos de uma se
encontram entre aqueles da outra, tal como diz Vilches (2003, p. 17), ao definir
ciberespaço como sendo o espaço onde “coabitam” antigos meios e novas formas
de “hiper-realidade”.
Desta feita, o que é então a ID, como ocorre esse processo? Segundo
Buzato (2007, p. 37) a “expressão inclusão digital está ligada a discursos diversos
e muitas vezes divergentes.” Os veículos de comunicação social são, segundo o
autor, responsáveis por um sentido mais geral sobre o tema da ID, qual seja: ID
equivaleria acesso aos artefatos técnicos e aos bens simbólicos relacionados às
TIC.
Buzato (2007, p. 37) afirma que “a idéia de que acesso equivale a inclusão
é bastante problemática”. O autor esclarece que, no caso das TDIC, acesso não
é um conceito binário, do tipo “ter ou não ter”. Ele diz: “a exclusão, no caso da
Internet, não se manifesta apenas pela falta de acesso (como seria o caso da
eletricidade e do saneamento básico), mas nas consequências sociais,
econômicas e culturais da distribuição desigual do acesso.”
As conseqüências destacadas por Buzato (2007), aliadas à declaração da
informante, parecem demonstrar que a ID constitui-se muito mais como um
fenômeno social do que apenas técnico. Assim, consideramos a situação de
inclusão aqui estudada como sendo própria da Linguística Aplicada
5
, pois, no
dizer de Moita Lopes (2006, p. 96) “parece essencial que LA se aproxime de
áreas que focalizam o social, o político e a história.” Com isso, fortalece-se o fato
de estarmos em um programa
De pós graduação em Linguagem e Ensino e estudarmos sobre um processo de
inclusão, que, antes de mais nada, é um processo social, e, portanto, que envolve
linguagem.
Nesse nível de discussão sobre linguagem, é também de grande relevância
entender que práticas letradas e que tipos de letramentos vêm sendo requeridos
ou mesmo desenvolvidos no contexto da EaD on line. Estudos sobre letramento,
a exemplo de KLEIMAN 2001, SOARES,1998, BARTON & HAMILTON 1998,
ARAÚJO, 2007, ARAÚJO, J. & DIEB, 2009, RIBEIRO 2008, XAVIER 2005, têm
apontado para vários tipos de letramentos, tais como: midiático, escolar, digital,
profissional, que consideram as práticas letradas utilizadas em contextos
específicos de uso da linguagem.
5
Doravante LA
Como o foco neste trabalho é a ID, o letramento que mais interessa às
discussões aqui é o digital
6
. Todavia, acreditamos que, pela essência da prática
docente
7
, o professor, precisa lançar mão de vários tipos de letramento; em outras
palavras, precisa ser multiletrado
8
, o que inclui também ser letrado digitalmente,
pois, a nosso ver, é o multiletramento
9
que pode constituir um sujeito proficiente
nas esferas da comunicação e da informação. Essa característica, por refletir a
capacidade que uma pessoa tem de transitar em diferentes fontes de linguagem,
é o que pode ter favorecido a informante no processo de migração de estrangeira
digital à naturalizada e posteriormente à incluída. Saber como ocorreu esse
processo de ID da docente, suas características e peculiaridades, pode
contribuir para outros projetos, além do ME, e políticas que visem à formação
continuada do professor em ambiente digital, pois, mesmo sendo o computador
um equipamento com infinitas potencialidades, ele não ensina, “é necessária a
presença do professor, ele é quem orienta, observa, analisa, propõe e define a
eficácia de sua utilização em sala de aula”(Oliveira, 2006 p. 18).
Logo, preparar o docente para o uso efetivo das TDIC em sua vida
profissional bem como pessoal constitui-se uma necessidade urgente na
atualidade. Cabe então às políticas blicas e programas existentes nesse
6
Passaremos a tratar a partir de então como LD.
7
A prática docente interessa diretamente nesta dissertação pelo objeto de pesquisa ter surgido com minha
participação como tutora no curso de formação continuada de professores - ME. Diante de tal situação e
como fazemos um estudo de caso com um sujeito que é professor, a prática docente torna-se,
inevitavelmente, questão a ser discutida em algumas ocasiões durante o texto.
8
Dionísio (2006, p.131) afirma: “Na atualidade, uma pessoa letrada deve ser uma pessoa capaz de atribuir
sentidos a mensagens oriundas de múltiplas fontes de linguagem, bem como ser capaz de produzir
mensagens, incorporando múltiplas fontes de linguagem.”
9
Para Moita Lopes (2006, p. 92) compreende-se também por letramentos multissemióticos.
sentido, o aprimoramento constante de suas propostas de ID. Esperamos que
este estudo possa apresentar algumas luzes a esse respeito.
1.2 – O contexto social em que se insere a pesquisa
1.2.1 – O Programa ME
O ME é um programa de educação a distância que faz parte de um
projeto maior, o Proinfo. Criado em 9 de abril de 1997 pelo Ministério da
Educação MEC -, este programa é desenvolvido pela SEED
10
, por meio do
DITEC
11
, em parceria com as Secretarias Estaduais e algumas Municipais de
Educação. Tem como objetivo fundamental promover a capacitação de
professores para o uso pedagógico das diversas mídias eletrônicas nas escolas
públicas de todo o Brasil. Para isso, o Proinfo atua em três frentes, quais sejam:
a) Implantação de ambientes tecnológicos equipados com computadores e
recursos digitais nas escolas públicas de educação básica;
b) Capacitação dos professores, gestores e outros agentes educacionais para a
utilização pedagógica das tecnologias nas escolas e inclusão digital;
c) Oferta de conteúdos educacionais multimídia e digitais, soluções e sistemas de
informação disponibilizados pela SEED-MEC.
A atuação do MEC/DITEC/SEED nessas três frentes de trabalho conta com
ações distintas. Por exemplo, para a primeira frente mencionada, ressalta-se a
10
Secretaria de Educação a Distância
11
Departamento de Infra-Estrutura Tecnológica da Secretaria de Educação a Distância do MEC. Há
informações que em 2008 esse projeto saiu da SEED e ficou sob responsabilidade da Capes na DED,
Diretoria de Educação a Distância. Fonte: http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-
noticias/2902-programa-midias-na-educacao-tera-nova-estrutura-curricular
implantação dos NTE’s
12
que o locais dotados de infra-estrutura de
informática e comunicação que reúnem educadores e especialistas em tecnologia
de hardware e software. Atualmente existem cerca de 370 núcleos distribuídos
por todos os Estados da Federação.
no tocante à segunda frente de atuação, destacam-se programas como
o ME que, com estrutura modular, visa proporcionar formação continuada para o
uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação – TV
e vídeo, informática, rádio e impressos de forma integrada ao processo de
ensino e aprendizagem. Tendo como alvo os profissionais de educação, o ME
pretende formar um aprendiz crítico e criativo, capaz de produzir e estimular a
produção de textos verbais e não verbais nas diversas mídias.
Quanto à última frente de atuação do Proinfo, salientam-se iniciativas como
o Portal do Professor
13
, ambiente no qual o docente pode se cadastrar e ter
acesso a inúmeras informações e recursos diversos, tais como sugestões de aula
e conteúdos, que podem auxiliar na sua prática profissional.
Feitos tais esclarecimentos, focaremos nossa atenção, a partir de agora,
para um dos programas que traduzem a segunda frente de atuação do Proinfo, o
ME. Este programa visa permitir ao professor realizar diferentes percursos de
aprendizagem com certificação. Por essa razão, estão previstos no ME três níveis
de certificação que constituem os ciclos de estudo: Ciclo Básico, com 120 horas
de duração e tem certificação de curso de Extensão; Ciclo Intermediário, com 180
12
Núcleos de Tecnologia Educacional
13
http://portaldoprofessor.mec.gov.br
horas e certificação equivalente a curso de Aperfeiçoamento; por fim, chega-se ao
Ciclo Avançado que prevê 360 horas e certificação equivalente à curso de
Especialização ou Pós-Graduação Lato Sensu.
Figura 01: Níveis de certificação do ME
Fonte: http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/index.htm
Sua operacionalização é feita pela SEED/MEC em parceria com
Secretarias de Educação e Instituições Públicas de Educação Superior estas,
responsáveis pela produção, oferta e certificação dos módulos, assim como pela
seleção e capacitação de tutores. A proposta educacional do ME revela-se pelo
foco na pedagogia da co-autoria, na integração de tecnologias, na
democratização e flexibilização do acesso à formação e no trabalho colaborativo
do aprendiz. Em razão de tudo isso, o ME pretende ser uma referência para
cursos on-line.
Este programa tem a maior parte de seu funcionamento a distância a partir
do uso da plataforma E-proinfo, exclusivamente desenvolvida para promover
cursos de formação a distância on line, cujos tutores e cursistas recebem um
treinamento para aprender a navegar em suas ferramentas antes de iniciar o
curso.
Figura 02: Plataforma de acesso ao curso
Fonte: http://www.eproinfo.mec.gov.br/
Na Paraíba
14
, esse programa é viabilizado pela Universidade Federal de
Campina Grande UFCG –,300 cursistas-professores de todo o Estado, foram
matriculados na segunda versão do curso, que aconteceu de dez. 2007 a jun.
2008, período de nossa participação na tutoria, oportunidade na qual construímos
do objeto de pesquisa. A terceira versão do curso no Estado foi encaminhada no
mesmo ano, com a perspectiva de atender um número três vezes maior do que a
segunda, o que nos indica que propostas de formação continuada a distância,
como esta, merecem, de fato, serem estudadas com rigor metodológico e olhar
científico.
Ao estudar o funcionamento de iniciativas educacionais como a do ME,
consideramos significativo o impacto que elas m provocado na formação dos
que a têm recebido, a exemplo da informante destacada nesta pesquisa. Desta
14
Não fizemos referências a outros estados da federação tendo em vista que este foi que nos possibilitou a
realização deste trabalho.
feita, este estudo justifica-se porque pode, em algum momento, servir de
sugestão aos organizadores de iniciativas como a do ME, visando um possível
aprimoramento.
A SEED do MEC, por meio de programas como esses, tem como principais
finalidades garantir a educadores e educandos das escolas públicas brasileiras a
democratização de acesso e domínio das linguagens de informação e
comunicação, difundir o uso das TDIC no ensino público e também incentivar a
utilização sistemática da modalidade de EaD on line no Brasil. Todavia,
ressaltamos que tais finalidades para com as TDIC somente podem ser
alcançadas se estiverem diretamente associadas a um plano de inclusão, caso
contrário, dificilmente serão alcançadas.
Tendo, pois, tais intuitos, o ME apresenta os seguintes objetivos (Brasil,
2006)
15
:
Objetivo geral:
Contribuir para a formação de profissionais em educação, em especial,
professores da Educação Básica, tornando-os capazes de produzir e
estimular a produção dos alunos nas diferentes mídias, de forma articulada
à proposta pedagógica e a uma concepção interacionista de
aprendizagem.
Objetivos específicos:
Identificar aspectos teóricos e práticos referentes aos meios de
comunicação no contexto das diferentes mídias e no uso integrado das
linguagens de comunicação: sonora, visual, impressa, audiovisual e
15
Disponível em: http://www.portal.mec.gov.br
informática, destacando as mais adequadas aos processos de ensino e
aprendizagem;
Explorar o potencial dos Programas da SEED/MEC (TV Escola, Proinfo,
Rádio Escola) e os desenvolvidos por IES ou Secretarias Estaduais e
Municipais de Educação, no Projeto Político Pedagógico da escola, sua
gestão no cotidiano escolar e sua disponibilidade à comunidade;
Elaborar propostas concretas para utilização dos acervos tecnológicos
disponibilizados à escola no desenvolvimento de atividades curriculares
nas diferentes áreas do conhecimento;
Desenvolver estratégias de autoria e de formação do leitor crítico nas
diferentes mídias;
Elaborar projeto de uso integrado das mídias disponíveis.
Por estar ainda em sua fase de implementação e com adaptações, ajustes
e correções, enxergamos nesse programa um excelente laboratório de
experiências onde podem ser observadas as ações, decisões e gestos de
aprendizagem dos sujeitos-cursistas em constante processo de aquisição de
conhecimento útil à sua prática docente. Para ser cursista deste programa, o
docente que dele deseja participar precisa dominar o manuseio básico do
computador:
saber ligar, reiniciar e desligar corretamente a máquina,
escrever em um processador de texto, imprimir o texto que escreveu
ou outro que desejar;
manipular com desenvoltura as formas simples de navegação na
internet, tais como: abrir um navegador, fazer pesquisa utilizando um
serviço de busca, abrir uma conta de e-mail em servidor de internet,
receber e enviar mensagens, além de conseguir anexar
documentos.
Tendo demonstrado o perfil de cursista exigido pelo ME, discorreremos no
próximo item sobre a professora em estudo nesta dissertação, que, no nosso
entender, representa o perfil de grande parte dos cursistas do ME ao
ingressarem no programa.
1.3 De estrangeiro a naturalizado: caracterizando a docente
imigrante.
Nossa informante tem 42 anos de idade e 12 de docência. Fez
magistério durante o Ensino Médio e como formação superior fez Licenciatura
Plena em Matemática, pela Universidade Estadual da Paraíba UEPB, com
conclusão no ano de 1998. Atua como docente nas redes municipal e estadual
de ensino da cidade de Campina Grande, na Paraíba. Na rede municipal ela
trabalha com o ensino fundamental I, nos turnos da manhã e da tarde, e na
rede estadual com o fundamental II, no turno da noite, tendo assim uma carga
horária de 60h semanais em cada instituição. É cursista regular da segunda
versão do ME no estado, veiculado pela UFCG e cumpre atualmente o ciclo
intermediário do curso. Quando ingressou no curso afirmou não ter nenhuma
habilidade com o computador e precisar do auxílio do filho de 8 anos época)
para poder manusear a máquina e prosseguir com o curso. Com alguns meses
que participava do ME declarou-se incluída digitalmente e atribuiu esse fato ao
ingresso e participação no curso.
Diante do histórico apresentado para a caracterização da informante,
apresentamos a seguinte figura:
Figura 03: Choque tecnológico
Choque tecnológico
Não é difícil perceber o sotaque analógico dos mais velhos. Abaixo, as principais atitudes dos “nativos” e dos “imigrantes” digitais
IMIGRANTES NATIVOS
Quem nasceu antes do
computador
provavelmente ainda
tem uma agenda em
papel com contatos
telefônicos. Isso não
significa que os números
não estejam na memória
de seus celulares e
computadores. A agenda
física é uma segurança
Memória
Os nativos acham
desperdício decorar
números de telefone.
Eles gravam em que
posição está o
contato. Por exemplo,
mãe: “1 ”, O medo
não é perder o que é
digital , mas estar
com números
desatualizados
Os imigrantes raramente
experimentam um novo
software antes de ler o
manual. Quando o
fazem, convivem com a
sensação de que o
sistema está prestes a
travar e que vão perder
seus arquivos
Inovação
Manual? Que
manual? Como
conhecem a lógica da
programação dos
softwares, não têm
receio de navegar e
descobrir as funções
de um novo programa
na prática
Consultam primeiro os
livros e atlas para depois
fazer a busca na internet.
Têm mais dificuldade
em navegar pelos
hiperlinks. Confiam
mais nas fontes
impressas, como jornais
e livros, que no conteúdo
da rede
Busca
A rede sempre é a
primeira fonte.
Acreditam que os
sites têm mais
informações que os
livros e enciclopédias
impressas. Para os
nativos, tudo pode ser
localizado pela
internet, até mesmo o
conteúdo dos livros
impressos
Quando querem
encontrar os amigos,
telefonam e marcam.
Raramente vão para um
encontro que foi
marcado por e-mail ou
MSN sem antes checar.
Grande parte dos
imigrantes se relaciona
na rede apenas com
pessoas conhecidas
Sociabilidade
Se falam por
comunicadores
instantâneos e sites de
relacionamento. Não
necessitam da
presença física para
se comunicar. Muitos
nativos têm a primeira
experiência de
namoro na rede
Cansam com
freqüência ao ler textos
longos na tela. Têm o
hábito de imprimir desde
notícias até e-mails para
lê-los em papel
Leitura
Lêem tudo, do
noticiário a livros, em
arquivos digitais. Não
se incomodam com a
tela pequena nem
com as letras miúdas.
Nem sempre seguem
a ordem do texto
original ao ler: podem
começar pelo final,
por exemplo.
Fonte: Revista Época, n.º 486 – 10/09/2007. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78998-
6014-486,00-OS+FILHOS+DA+ERA+DIGITAL.html
A categorização destacada na figura 3 foi proposta por Marc Prensky
16
e
busca mostrar as diferenças entre os “nativos digitais” da sociedade da
informação, isto é, aqueles que nasceram da década de 80 em diante, e os
“imigrantes digitais”, que são aqueles que nasceram antes desse período e que,
portanto, assistiram ao nascimento da internet e estão se adaptando a ela e a sua
presença cada vez mais intensa na vida contemporânea, como é o caso da
informante deste estudo.
Nesse sentido, destacamos agora a figura 04, que é um “teste” proposto
pela revista Época, como finalização da reportagem “Filhos da era digital”. Esse
“teste” foi respondido voluntariamente pela informante, a nosso pedido, nos
dias finais de produção desta dissertação. Fizemos esta solicitação tendo por
finalidade que esse “teste” pudesse ser também um instrumento que nos
auxiliasse na construção da caracterização da informante Assim, com base na
categorização proposta na figura 03 e no percurso da informante descrito no início
deste tópico, podemos reconhecê-la como sendo uma “imigrante digital”. Mas,
esse reconhecimento também vem por parte da própria informante, é o que
procuramos demonstrar através da figura 04.
16
Educador americano, autor do artigo “Digital natives, digital immigrants” (2001). Também escreveu os livros
"Digital Game-Based Learning" ( 2001), "Don't Bother Me Mom - I'm Learning" (2006) e tem ensaios sobre
aprendizagem e ensino.
Figura 04: “Teste você é imigrante ou nativo”
TESTE Você é imigrante ou nativo?
Para cada um dos itens abaixo, marque um número de 1 a 5
1 = Discordo inteiramente
2 = Discordo em parte
3 = Não concordo nem discordo
4 = Concordo em parte
5 = Concordo inteiramente
Sempre tenho receio de perder arquivos quando uso o computador.
1 2 3 4 5
Quando tenho de fazer uma pesquisa no trabalho ou na escola, recorro primeiro a livros impressos.
1 2 3 4 5
Anoto e-mails e números de telefone em agenda de papel.
1 2 3 4 5
Quando meus amigos marcam pela internet um encontro, sempre ligo depois para confirmar.
1 2 3 4 5
Tenho dificuldade para ler textos longos na tela. Sempre prefiro imprimir o texto para ler no papel.
1 2 3 4 5
Quando tenho de instalar programas no computador, recorro ao manual ou peço ajuda a um técnico.
1 2 3 4 5
Quando meus músicos favoritos lançam um álbum, compro o CD na loja.
1 2 3 4 5
Se um assunto me interessa muito, prefiro me informar sobre ele em jornais e revistas impressos.
1 2 3 4 5
Nunca usei vários recursos digitais simultaneamente, como conversar na internet enquanto ouço um iPod.
1 2 3 4 5
Conheço pessoalmente a maioria das pessoas que integram minha lista de contatos em sites como Orkut e MSN.
1 2 3 4 5
Não jogo games on-line nem fiz amigos virtuais nesse tipo de passatempo.
1 2 3 4 5
RESULTA
DO:
se o total de pontos for inferior a 33, você é um “nativo digital”. Se for igual ou superior a 33, você é um “imigrante digital”.
Fonte: Revista Época, n.º 486 – 10/09/2007. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78998-
6014-486,00-OS+FILHOS+DA+ERA+DIGITAL.html
Conforme orientação dada no “teste”, as respostas da informante seguiram
a seguinte sequência: 5, 4, 2, 1, 4, 5, 4, 3, 5, 1, 4. O resultado da soma dessas
respostas foi 38, que, segundo orientações da figura 4, classifica o informante do
teste como imigrante digital.
O processo de migração da informante, que é reconhecido por ela própria
ao, sobretudo, declarar-se incluída digitalmente e disponibilizar-se a responder
esse “teste”, pode também ser verificado nas figuras que seguem:
Figura 05: Fórum Sistema operacional e seus aplicativos – “A”
Figura 06
17
: Conversa MSN com a informante
A figura 05 – fórum sistema operacional e seus aplicativos - demonstra que
os conhecimentos e práticas da informante a respeito das TDIC são reduzidos e
17
Esta figura não faz parte de nosso corpus de análise, foi utilizada aqui como instrumento complementar
para a compreensão do processo de migração da informante. A figura representa um trecho de uma conversa
informal da pesquisadora com a informante em 19/06/09.
não apresentam um maior envolvimento dela com essas tecnologias. Mesmo
assim, a informante indícios de inclusão, pois faz, ainda que de forma
tímida, uso dessas tecnologias. Transcorridos 15 meses da ocorrência do fato
descrito na figura 05, a informante se apresenta utilizando naturalmente a internet
para conversar através de um programa de mensagens instantâneas, como pode
ser verificado na figura 06 conversa MSN com a informante. Esta, também traz
em sua constituição outros indícios de migração para a cultura digital, tal como foi
abordado pelas figuras 03 e 04. São exemplos desses indícios na figura 6: a
linguagem, por vezes abreviada, como “vc” e noutras vezes com representações
da oralidade, como na repetição da consoante “K” para significar uma risada; o
anúncio de fazer parte de um site de relacionamentos.
As situações apresentadas nas figuras 05 e 06 indicam um processo de
migração sem maiores dificuldades, porém, ressaltamos que a condição de
“imigrante digital” ainda é o que caracteriza a informante tendo em vista que todas
essas práticas digitais vêm sendo acrescidas à sua realidade mas não a
acompanhavam muito tempo de sua vida, sobretudo não podemos afirmar que
mudanças significativas ocorreram em sua vida pessoal e profissional.
1.4 – Inquietações, suposição e objetivos
O perfil orientado para o ingresso no curso ME faz subentender que os
candidatos à participação devem apresentar mínimas características de ID, tendo,
de tal modo, um perfil ideal para fazer o curso. Entretanto, conforme pudemos
perceber durante o período da atividade da tutoria, um número bastante reduzido
de cursistas que ingressam no ME é que atende a esse perfil. Dentre os muitos
que não se encaixavam nesse perfil, encontrava-se nossa informante, que, no
início do curso, segundo ela própria, sequer atendia a primeira necessidade do
perfil, isto é, saber ligar e desligar corretamente o computador. Mesmo assim, a
informante transcende às exigências do perfil e, contrariamente ao que ocorreu na
maioria dos casos semelhantes que acompanhamos, não desiste e consegue
progredir no curso, de modo, inclusive, a declarar-se em público incluída
digitalmente a partir do ingresso e participação no ME.
Diante disto e considerando a aparente pertinência dos programas de EaD
on line para finalidade de formação continuada de docentes e em contrapartida as
dificuldades de inclusão de muitos desses profissionais nesse contexto duas
questões nos parecem exigir uma investigação científica, a fim de respondê-las.
São elas:
1- Que aspectos são indicadores do processo de inclusão digital a partir da
participação no Programa ME?
2- Que práticas letradas são mobilizadas pelo professor que se
autorreferencia incluído digitalmente ao participar do curso de formação
continuada a distância promovido pelo Programa ME?
Tais perguntas foram
formuladas tendo por base a seguinte suposição: as
autoreferenciações do sujeito analisado presentes nas respostas às atividades dos
módulos, e-mails e entrevista, bem como nossa observação enquanto tutora do ME,
apontam para uma possível aquisição de práticas letradas digitais e uma consequente
inclusão digital deste sujeito.
Assim, elaboramos os seguintes objetivos para esta pesquisa:
Objetivo Geral:
Analisar o processo de inclusão digital de um sujeito vinculado, como
cursista, ao programa ME.
Objetivos Específicos :
Caracterizar e interpretar o processo de inclusão digital descrito pelo sujeito
que assim se autorreferencia, como incluído digitalmente;
Descrever e interpretar o percurso de um sujeito no ciclo básico do ME, no
que diz respeito às práticas digitais demonstradas por ele nos e-mails
enviados à tutora e na realização das atividades dos módulos;
A partir das inquietações levantadas, da suposição mencionada e dos
objetivos apresentados, destacamos dois eixos teóricos norteadores para nossa
investigação e análise: o conceito de inclusão digital e o de letramento e digital.
Utilizaremos os estudos realizados por Kleiman (2001), Signorini ( 2006, 2007),
Rojo (2000), Bezerra (2005; 2007), Marcuschi (2004), Xavier (2005), Ramal
(2002), Silva (2006), Araújo (2007) e Araújo & Dieb (2009) entre outros. Conceitos
e definições diversas desenvolvidos por esses pesquisadores contribuíram
conosco no trabalho de buscar estabelecer a articulação entre a linguagem, a
tecnologia e a educação, bem como nos auxiliaram a entender o papel da
inclusão digital na formação do profissional de educação a partir de sua inserção
no mundo digital viabilizada pelo curso supracitado na modalidade a distância.
1.5 – Aspectos metodológicos
Diante das considerações realizadas, esta pesquisa caracteriza-se como
sendo um estudo de caso
18
e, desta feita, segundo orientações de André
(1995) e Moreira & Caleffe (2006), como sendo de natureza qualitativa
19
.
18
De acordo com Ventura (2007, p. 384) na literatura diferentes posicionamentos sobre a origem do
estudo de caso. Dentre estes, a autora destaca alguns, a exemplo dos que dizem que o estudo de caso tem
origem na pesquisa médica e na pesquisa psicológica, com a análise de modo detalhado de um caso
individual que explica a dinâmica e a patologia de uma doença dada; Outro posicionamento mencionado pela
a autora é o de que como modalidade de pesquisa, o estudo de caso origina-se nos estudos antropológicos
de Malinowski e na Escola de Chicago, e posteriormente, teve seu uso ampliado para o estudo de eventos,
processos, organizações, grupos, comunidades, etc.
A opção por uma pesquisa qualitativa se impôs como um desdobramento
natural do raciocínio desenvolvido. Esse tipo de pesquisa apresenta os aspectos
da realidade social como sendo um dos fatores determinantes para sua
realização.
Segundo Neves (1996, p.1), os “estudos de pesquisa qualitativa diferem
entre si quanto ao método, à forma e aos objetivos”. Nesse sentido Godoy (apud
Neves, 1996 p. 1) enumera um conjunto de características essenciais capazes de
identificar uma pesquisa desse tipo, a saber:
1- o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
instrumento fundamental;
2- o caráter descritivo;
3- o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do
investigador;
4-enfoque indutivo.
Para Araújo J. (2006, p.133), que também menciona critérios semelhantes
para caracterizar pesquisa qualitativa, estes pontos “são importantes porque
mostram que o controle, neste tipo de atividade científica, não se restringe aos
índices numéricos subjacentes às variáveis, mas se espraia à interpretação dos
fatos.”
De forma semelhante, Nascimento (2001, p. 144) também caracteriza a
pesquisa qualitativa. Com esse pensamento, a autora destaca que esse tipo de
pesquisa também pode ser conhecido por outras denominações, como: "estudo
de campo", " estudo qualitativo", "interacionismo simbólico", "perspectiva interna",
19
Segundo Araújo J. (2006, p.130) diz respeito a uma concepção de ciência mais alargada, que a partir da
segunda metade do século XIX passou a ser chamada de pesquisa qualitativa.
"perspectiva interpretativa", "pesquisa participante", "pesquisa descritiva".
Mediante essas nomenclaturas, inferimos que a pesquisa qualitativa se propõe a
descobrir e observar fenômenos, procurando descrevê-los, classificá-los e
interpretá-los. Por essa razão, entendemos que o estudo de caso proposto nesta
dissertação constituiu-se como uma significativa oportunidade de pesquisa dentro
dos parâmetros da abordagem qualitativa de se fazer ciência.
No que tange às especificidades desse método de pesquisa, Stake (apud
Ventura 2007, p. 384) chama atenção para o fato de que “nem tudo pode ser
considerado um caso, pois um caso é uma unidade específica, um sistema
delimitado, cujas partes são integradas.”
Em consonância a isso, André (1995, p. 30) comenta sobre estudo de caso
de base etnográfica. A autora orienta que, para que o estudo seja estudo de caso
etnográfico, deve preencher os requisitos da etnografia e, adicionalmente “que
seja um sistema bem delimitado, isto é, uma unidade com limites bem definidos,
tal como uma pessoa, um programa, uma instituição ou um grupo social.” Tal
delimitação, segundo Ventura (Id. Ibidem, p. 386) justifica-se pela “preocupação
de não analisar apenas o caso em si, como algo à parte, mas o que ele
representa dentro do todo e a partir daí.”
Desta feita, nossa atividade enquanto pesquisadora busca compreender
uma determinada unidade, o curso ME, atentando para o contexto em que esta
unidade está inserida, qual seja, a formação de professores, e para as suas
interrelações com um todo, que é a educação, de modo geral. Compreendendo
tal unidade, buscamos examinar os processos pelos quais passou um
participante, em especial, passou durante a parte introdutória do curso. Esses
processos dizem respeito fundamentalmente à imersão desse sujeito no curso,
à referenciação/ relato de suas práticas letradas quanto à utilização da
tecnologia digital e, sobretudo, à sua mudança profissional e pessoal mediante
participação na unidade de análise referida. Tal orientação consiste, pois, no
que André (Id. Ibidem, p. 37) destaca a respeito da postura do pesquisador nas
pesquisas de abordagem etnográfica. Para a autora,
o observador não pretende comprovar teorias nem fazer ‘grandes’
generalizações. O que busca, sim, é descrever a situação, compreendê-la,
revelar seus múltiplos significados, deixando que o leitor decida se as
interpretações podem ou não ser generalizáveis, com base em sua
sustentação teórica e sua plausibilidade.
No que diz respeito à pesquisa de caráter etnográfico, Araújo, J. (Id.
Ibidem, p. 135) afirma que se constitui como “um método promissor de estudo
para as ciências humanas de modo geral. Para o autor, estudos com essa
abordagem contribuem para que o fenômeno estudado não se “divorcie” do seu
contexto, visto que este é um grande provedor da construção de sentido que se
dará aos dados.” Desta feita, Araújo, J. (op. cit), afirma que pesquisas com essa
característica têm se tornado úteis na construção da compreensão das práticas
sócias e assim têm migrado para a educação e áreas afins, tais como a
Lingüística.
É pois com este raciocínio que dizemos que esta dissertação se enquadra,
sobretudo, como sendo um estudo em Linguística Aplicada, tendo em vista que,
nessa área de atuação, o pesquisador, apoiado primeiramente nos dados, que
representam uma situação de ordem prática, busca subsídios em diversos
campos do saber, com a finalidade de construir um conhecimento capaz de
compreender a vida contemporânea. Nessa perspectiva, Moita Lopes (2006,
p.101) comenta que:
Em uma LA que quer falar à vida contemporânea é essencial, não a
teorização elegantemente abstrata que ignora a prática, mas uma teorização
em que teoria e prática sejam conjuntamente consideradas em uma
formulação do conhecimento na qual a teorização pode ser muito mais um
trabalho de bricolage, tendo em vista a multiplicidade dos contextos sociais e
daqueles os vivem. [itálico do autor]
Com base na afirmação de Moita Lopes (op. cit), os capítulos seguintes
desta dissertação buscam considerar de forma conjunta teoria e prática, visto
que ao passo que vamos tratando das concepções teóricas também vamos
apresentando nossos dados, de modo que a teorização feita não se pretende
abstrata, como enfatiza o autor.
1.5.1- Procedimentos e instrumentos utilizados
Como forma de manter uma maior interação com os cursistas do ME a
coordenação da 2.ª oferta do curso, promoveu, em 28/04/08, uma palestra
intitulada “Inclusão digital e formação de professores”. Na ocasião, após
discorrer sobre aspectos da inclusão digital, o palestrante abriu espaço para a
participação da platéia querendo saber quem se sentia incluído digitalmente
diante das considerações que ele havia feito, a informante declarou-se incluída
digitalmente e deu um depoimento de como ocorreu esse processo em sua
vida. Nenhuma outra pessoa manifestou-se de modo semelhante naquela
oportunidade e, sendo assim, inferimos que a situação representava uma
singularidade passível de análise. Como a informante era cursista da turma
que tutoriávamos, apresentava assiduidade no cumprimento das atividades e
foi a única da turma que fez uma declaração pública com esse nível de
importância, consideramos que o acompanhamento mais sistemático do
percurso dela no ME poderia nos demonstrar resultados científicos relevantes.
Passamos então a observar mais criteriosamente o comportamento da
informante nas mais importantes ferramentas de interação de um curso via
EaD on line, quais sejam, atividades na plataforma e os e-mails trocados com o
tutor. Essas observações, aos poucos, foram demonstrando a necessidade de
um contato mais próximo com os cursistas da turma sobre a temática da lD.
Assim, aproveitando a ocasião do último encontro presencial do ciclo
básico, que aconteceu em 12/06/08, elaboramos uma entrevista semi-
estruturada, com 6 perguntas sobre ID. Como ainda não havíamos definido
entre um estudo de caso coletivo ou um instrumental, segundo a conceituação
de Stake (apud ALVES-MAZZOTT, 2006, p. 641-642), convidamos todos os
nossos cursistas presentes na ocasião, que eram 11, a responderem a
entrevista. Nenhum deles se opôs. Contudo, a informante era o único sujeito
que apresentava uma continuidade no seu discurso sobre inclusão. Tal
continuidade pode ser verificada através do acompanhamento sistemático dos
e-mails enviados para a tutora e das atividades respondidas pela informante no
ambiente de aprendizagem. A entrevista, assim, funcionou como elemento
confirmador da importância de realizar um estudo de caso instrumental, no qual
o interesse deve-se, de acordo com Stake (Id. Ibidem),
à crença de que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma
vez que pode servir para fornecer insights sobre um assunto ou para
contestar uma generalização amplamente aceita, apresentando um caso que
nela não se encaixa ( p. 641-642)
Alves-Mazzotti (2006, p. 642) explica tal posicionamento de Stake dizendo
que, para o autor “o importante é otimizar a compreensão do caso ao invés de
privilegiar a generalização para além do caso.” Por isso, o nosso
comprometimento nesta pesquisa, é caracterizar e interpretar o processo de
inclusão digital de um professor participante do ME e, assim, perceber como ele
se insere e participa dessa sociedade com tantos avanços tecnológicos.
Entendemos que a inclusão digital de um sujeito na contemporaneidade
representa muito mais do que a inserção dele em uma realidade de teclas e
telas. Estar incluído digitalmente hoje, é, sobretudo, estar incluído socialmente,
isso representa aqui o que Stake (op. cit) chamou de “compreensão de algo
mais amplo”. Essa compreensão partiu exatamente da contestação de uma
generalização, tal como coloca Stake. A informante do estudo de caso aqui
proposto não atendia o perfil estabelecido pelo ME para participação no curso,
mesmo assim insere-se na realidade do curso de tal forma que é capaz de
declarar-se incluída digitalmente por causa de seu ingresso e participação no
ME.
Diante deste fato, buscamos analisar o percurso dessa informante
durante o Ciclo sico do curso ME: como ela ingressou, que evoluções fez,
qual nível de dificuldade, aceitabilidade, interação, alcançou no decorrer do
período estabelecido para início/conclusão do ciclo, de modo que pudesse
declarar-se incluída digitalmente. Para tanto, os instrumentos utilizados foram:
atividades realizadas por ela durante o cumprimento do Ciclo básico, os e-mails
enviados à tutora e a entrevista semi-estruturada concedida na conclusão do
ciclo. A tabela 01 Constituição dos instrumentos de análise traz maiores
esclarecimentos sobre os instrumentos.
Tabela 1: Constituição dos instrumentos de análise
Instrumento
Quantidade
Ocorrênci
a
Descrição
Entrevista 1 12/06/08 Com base no depoimento feito pela
informante, realizamos com ela uma
entrevista de áudio semi-estruturada, com 6
perguntas específicas sobre o que ela
entendia por inclusão digital e como havia
sido esse processo na sua vida. Na ocasião a
informante ainda o sabia que fazia parte
desta pesquisa.
Atividades 26 27/11/07 a
04/07/08
As atividades constituem uma das formas de
interação entre tutor e cursista em curso de
EaD. Esse total corresponde às atividades
solicitadas pela equipe de tutoria durante o
período do Ciclo Básico do ME, 2.ª versão e
foi distribuído em diferentes ambientes de
postagens, da seguinte forma:17 fóruns; 7
bibliotecas e 2 diários de bordo.
E-mails 18 05/12/07 a
03/07/08
É uma das mais importantes formas de
interação entre tutor e cursista. Durante o
período de acompanhamento da informante
esse foi o total de e-mails enviados por ela,
no que diz respeito estritamente aos
assuntos do curso ME.
Conversa
MSN
1 19/06/09 A conversa foi proposta com objetivo de
esclarecer algumas lacunas que tinham sido
deixadas a respeito da caracterização do
sujeito. Diante da pronta aceitação da
informante, comunicamos do estudo de caso
que realizamos a partir de seu depoimento e
pudemos reforçar que houve, de fato, uma
naturalização aos ambientes digitais de
comunicação.
“Teste você é
imigrante ou
nativo?”
1 30/06/09 O “teste” foi proposto à informante como uma
forma de contribuir na caracterização do
sujeito. Também funcionou como uma forma
de, decorrido todo o período da pesquisa,
saber como a própria informante se
caracterizaria, desta forma, este instrumento
teve um caráter apenas complementar às
analises realizadas.
No tocante à declaração/ depoimento realizado pela informante na ocasião
da palestra “inclusão digital e formação docente”, destacamos que não esta
declaração representou instrumento de análise propriamente dito, mas uma
incitação à pesquisa e ao estudo de caso, isto é, o depoimento da informante não
fez parte da construção do corpus de análise desta dissertação, bem como a
conversa no MSN e o “teste você é imigrante ou nativo”. Estes, tiveram mesmo
como a função principal preencher algumas lacunas sobre a caracterização da
informante, o que não limita as potencialidades analíticas desses instrumentos,
mas, diante das circunstâncias, eles também não constituíram o corpus de
análise.
Assim, os três instrumentos mencionados na tabela 01, que compuseram
um corpus de análise de 29 fragmentos de texto da informante e nos permitiu
fazer uma apreciação de como ocorreu o processo de inclusão por ela descrito,
foram os e-mails, as atividades e a entrevista. Esses 29 fragmentos de texto
foram divididos nas tabelas 02, 03 e 04, que indicam a natureza do fragmento, o
período de ocorrência e o assunto do fragmento. Portanto, seguem as tabelas:
Tabela 02: Constituição do corpus de análise - Entrevista
Natureza do
fragmento
Ocorrência
Assunto
Fragmento
Entrevista 12/06/08 Processo de
Inclusão digital da
informante
(EX3) “...eu não sabia nem ligar o computador...
(EX4) “...eu não sabia os sites, não sabia pesquisar nada
na internet...”
(EX6) “...antes eu era leiga totalmente no assunto...”
(EX8) “... eu tô me sentindo incluída digitalmente ”
(EX12) “...coloquei a internet discada... teria que ter uma
coisa mais avançada. Tive que colocar VELOX pra poder
levar o curso a frente.”
(EX13) “eu não sabia nem ligar o computador...”
(EX14) : “...de primeiro eu não sabia os sites, não sabia
pesquisar nada na internet. Chamava meu filho de 8 anos.
Eu achava incrível, né? Eu com 41 e tinha que chamar
meu filho pra me ensinar a ler...”
(EX18) “...Hoje em dia to mais... né, sei fazer todas
as tarefas, já sei fazer as coisa todinha no computador...”
(EX19) “...depois que eu to fazendo o curso, eu vejo que o
respaldo você trabalhando com as mídias, certo, mesmo
que seja só essas duas, é..., a TV e vídeo e o rádio, né, eu
vi que os meus alunos tiveram um avanço maior.”
(EX20) Entrevista “...A partir do momento que comecei a
fazer ‘a mídia(se referindo ao ME) eu tive que comprar o
computador pra minha casa, coloquei a internet discada, vi
que não estava dando resultado, que pra eu fazer esse
curso eu teria que ter uma coisa mais avançada. Tive que
colocar VELOX pra poder levar o curso a frente... porque
antes eu só ia pra lan house e era muito problemático
fazer todas as atividades em lan house.”
(EX21) “... agora não tenho mais problema em acessar...
entro e saio naturalmente...”
(EX24) “... eu acho que o computador, a internet é que faz
você ficar mais incluída digitalmente... o acesso à
internet...”
(EX29) “... agora não tenho mais problema em acessar.”
Tabela 03: Constituição do corpus de análise - E-mails
Natureza do
fragmento
Ocorrência
A
ssunto
Fragmento
E-mails 05/12/07 “Acesso á
plataforma”
(EX2) “... tentei mais uma vez mas não obtive
sucesso...
27/10/08 “Brasília”
(Ex5) “... queria falar ou testemunhar o quanto eu era
fraca digitalmente antes de ser uma aluna eproinfo ...
27/10/08 “Brasília”
(EX7) “... hoje tenho uma noção muito boa de
informática realizando minhas atividades sem
nenhum problema...”
10/12/07 “Não entrei no
site”
(EX10) “...recebi minha senha e login acessei o
sate...”
02/06/08 “Projeto”
(EX11) “segue em anexo (o texto foi postado como
anexo e salvo na extensão docx. Nome do
documento em anexo: “projetofinal.docx”)
15/12/07 “Ativ4”
(EX15) “...acho que meu filho apagou o seu e-mail e
agora não sei o que é que tenho que fazer mande-me
novamente e eu farei tudo como vc determinar...
12/12/07 “Trabalho”
(EX16) “...conto com sua ajuda diga-me passo a
passo o quer que devo fazer...”
14/12/07 “Atividades”
(EX17) “...fiz o possível ontem a noite e tentei fazer
todas não sei se ficou certo, prometo a vc que na
volta serei mais atenta, mnde-me dizer o seu conceito
para que eu possa melhorar na volta.
27/10/08 “Brasília”
(EX22) ...Olhe tenho muita vontade de participar,
pois queria falar ou testemunhar o quanto eu era
fraca digitalmente antes de ser uma aluna eproinfo e
hoje tenho uma noção muito boa de informática
realizando minhas atividades sem nenhum
problema...
15/12/08 “Atv4”
(EX26) “...acho que meu filho apagou o seu e-mail e
agora não sei o que é que tenho que fazer...
06/12/08 “E-mail errado”
(EX27) “... so que descobri o motivo de não ter
chegado a minha senha, vc colocou o meu email
errado pois colocaste xxxxx@hotmail.com.br e não
tem o br so e ate .com...
02/06/08 “Projeto”
(EX28) “segue em anexo (o texto foi postado como
anexo e salvo na extensão docx. Nome do
documento em anexo: “projetofinal.docx”)
Tabela 04: Constituição do corpus de análise - Fóruns
Natureza do
fragmento
Ocorrência
Assunto
Fragmento
Fóruns 14/03/08 “Sistemas
operacionais e
seus aplicativos”
(EX1) “... não uso muito as tecnologias
avançadas que muitos de vocês fazem uso...”
06/04/08 “TV digital”
(EX9) “...concordo com vc...”
14/03/08 “Sistemas
operacionais e
seus aplicativos”
(EX23) “... o Word tem um suporte legal para a
realização do meu trabalho que é digitar textos e
provas quando preciso de tabelas uso o Excel o
Power point conheço porém não faço uso.
06/04/08 “TV digital”
(EX25) Fórum “...foi o meu filho que por duas
vezes apertou em enviar antes que eu salva-se o
texto.” (abaixo aparecem duas postagens em
branco no fórum)
Na tabela 04, apresentamos fragmentos provenientes de apenas um tipo de
ambiente de postagem
20
. Como é possível perceber na tabela 01, das 26 atividades
selecionadas para o cumprimento do Ciclo Básico do curso, 17 solicitava dos
cursistas a participação em fóruns, esse foi um dos motivos para optarmos somente
pelos fóruns para somar-se a entrevista e aos e-mails e, assim, constituir o corpus
de análise. Outro motivo da escolha dos runs em detrimento aos outros ambientes
de postagem foi o fato de, na plataforma E-proinfo, os fóruns representarem o
momento de maior interação entre curistas-cursistas e cursistas-tutor, e muitas
vezes a comunicação chega a ocorrer de forma síncrona nesse ambiente. Desta
forma, o fórum constitui o ambiente de postagem de maior envolvimento dos
cursistas, por isso também, se deu nossa opção por esse ambiente para, junto dos
dois outros instrumentos, compor nosso corpus de análise.
A análise realizada nesta dissertação fundamenta-se em um princípio sico:
a linguagem. Entendemos que é através da linguagem que damos legitimidade aos
20
Segundo a homepage do E-proinfo, no link conheça o e E-porinfo, esses ambientes – fórum, diário de bordo e
biblioteca são denominados como ferramentas. Nós, contudo assumimos nesta dissertação a mesma posição
de Ribeiro (2009, p.11) ao tratar o fórum como ambiente de postagem. A autora comenta que optou por essa
denominação porque se entende que estes ambientes correspondem a espaços com dadas especificidades de
postagem das atividades de escrita e de interação.”
acontecimentos e que, sendo assim, estes passam a existir para nós mediante o
uso da mesma. Em um processo de inclusão, a linguagem utilizada representa
claramente o nível de inserção do sujeito no contexto. Desta feita, é pela linguagem
também que é possível flagrar as etapas vivenciadas pelos sujeitos na busca pela
inclusão. Por sua vez, essas etapas, sendo diferentes uma da outra, demonstram
estágios de utilização da linguagem concernente a cada uma delas, ou seja, em
cada etapa vivenciada demonstra-se um estágio de letramento diferente.
Com esse raciocínio elaboramos para esta dissertação três categorias de
análise, quais sejam: 1- Linguagem no processo de “migração”; 2- Busca pela
autonomia e 3- Letramento digital mostrado. Essas três categorias surgiram da
necessidade de tentar capturar como ocorre o processo de inserção de um sujeito
nessa cultura digital em que a atual sociedade está imersa. Assim, as categorias
apresentadas servem para analisar os dados em diferentes momentos do processo
de inclusão digital da informante. A organização aqui disposta para elas tem
finalidade didática e não a de ordenar o processo de inclusão da informante em
etapas estanques. Desta forma, apresentamos o escopo de cada categoria.
Na categoria 1 Linguagem no processo de “migração” buscamos
analisar a linguagem usada pela informante sob dois aspectos: a) formas de
autorreferenciação, a partir da quais conferimos como a informante faz referência
a si própria no tocante ao seu processo de inclusão digital e b) nível de domínio
da linguagem digital, a partir do qual verificamos como o sujeito emprega o léxico
próprio desse contexto durante o processo de “migração” para uma cultura digital.
Assim, a tabela 05 demonstra a estruturação desta categoria.
Tabela 05 : Constituição do corpus para Categoria 1 – Linguagem no processo de migração
Natureza do fragmento
Ocorrência
As
sunto
Fragmento
Localização do fragmento na categoria
Formas de
autoreferenciação
Nível de domínio da linguagem digital
Entrevista 12/06/08 Processo de
Inclusão
digital da
informante
(EX3) “...eu não sabia
nem ligar o
computador...”
X
--
(EX4) “...eu não sabia
os sites, não sabia
pesquisar nada na
internet...”
X
--
(EX6) “...antes eu era
leiga totalmente no
assunto...”
X
--
(EX8) “... eu me
sentindo incluída
digitalmente ”
X
--
(EX12) “...coloquei a
internet discada... teria
que ter uma coisa mais
avançada. Tive que
colocar VELOX pra
poder levar o curso a
frente.”
--
X
E-mails 05/12/07 “Acesso á
plataforma”
(EX2) “... tentei mais
uma vez mas não
obtive sucesso...”
X
--
27/10/08 “Brasília”
(Ex5) “... queria falar ou
testemunhar o quanto
eu era fraca
digitalmente antes de
ser uma aluna eproinfo
...”
X
--
27/10/08 “Brasília”
(EX7) “... hoje tenho
X
--
uma noção muito boa
de informática
realizando minhas
atividades sem nenhum
problema...”
10/12/07 “Não entrei
no site”
(EX10) “...recebi minha
senha e login acessei o
sate...”
--
X
02/06/08 “Projeto”
(EX11) “segue em
anexo” (o texto foi
postado como anexo e
salvo na extensão
docx. Nome do
documento em anexo:
“projetofinal.docx”)
--
X
Fóruns 14/03/08 “Sistemas
operacionais
e seus
aplicativos”
(EX1) “... o uso
muito as tecnologias
avançadas que muitos
de vocês fazem uso...”
X
--
06/04/08 “TV digital”
(EX9) “...concordo com
vc...”
--
X
Na categoria 2 Busca pela autonomia - ponderamos as manifestações
claras de evolução da informante enquanto cursista, docente e pessoa que faz
parte dessa sociedade permeada pela tecnologia digital. Para tanto, os dados
foram separados em três momentos distintos da informante nessa categoria,
quais sejam: (demonstração de) dependência, de superação e de inclusão. A
tabela 06 indica a ordenação dos dados conforme essa descrição.
Tabela 06 : Constituição do corpus para Categoria 2 – Busca pela autonomia
Natureza do
fragmento
Ocorrência
Assunto
Fragmento
Localização do fragmento na categoria
Demo
nstração de
dependência
Demonstração
de superação
Demonstração de
inclusão
Entrevista 12/06/08 Processo de
Inclusão
digital da
informante
(EX13) “eu não sabia nem ligar o computador...”
X
---
---
(EX14) : “...de primeiro eu não sabia os sites, não sabia
pesquisar nada na internet. Chamava meu filho de 8
anos. Eu achava incrível, né? Eu com 41 e tinha que
chamar meu filho pra me ensinar a ler...”
X
---
---
(EX19) “...Hoje em dia já to mais... né, já sei fazer
todas as tarefas, já sei fazer as coisa todinha no
computador...”
---
X
---
(EX20) “...depois que eu to fazendo o curso, eu vejo
que o respaldo você trabalhando com as mídias, certo,
mesmo que seja só essas duas, é..., a TV e vídeo e o
rádio, né, eu vi que os meus alunos tiveram um avanço
maior.”
----
X
---
(EX21) Entrevista “...A partir do momento que comecei
a fazer ‘a mídia’ (se referindo ao ME) eu tive que
comprar o computador pra minha casa, coloquei a
internet discada, vi que não estava dando resultado,
que pra eu fazer esse curso eu teria que ter uma coisa
mais avançada. Tive que colocar VELOX pra poder
levar o curso a frente... porque antes eu só ia pra lan
house e era muito problemático fazer todas as
atividades em lan house.”
---
---
X
EX22) “... agora não tenho mais problema em acessar...
entro e saio naturalmente...”
---
---
X
E-mails 15/12/07 “Ativ4”
(EX15) “...acho que meu filho apagou o seu e-mail e
agora não sei o que é que tenho que fazer mande-me
novamente e eu farei tudo como vc determinar...”
X
---
---
12/12/07 “Trabalho”
(EX16) “...conto com sua ajuda diga-me passo a passo
o quer que devo fazer...”
X
---
---
14/12/07 “Atividades”
(EX17) “...fiz o possível ontem a noite e tentei fazer
todas não sei se ficou certo, prometo a vc que na volta
serei mais atenta, mnde-me dizer o seu conceito para
que eu possa melhorar na volta.
---
X
---
18/12/07 “Ativ4”
(EX18) “... quanto a parte gramatical vou estudar mais
um pouco, uma vez que sou formada em Matemática
logo não tenho afinidade com o português...”
---
X
---
27/10/08 “Brasília”
(EX23) “...Olhe tenho muita vontade de participar, pois
queria falar ou testemunhar o quanto eu era fraca
digitalmente antes de ser uma aluna eproinfo e hoje
tenho uma noção muito boa de informática realizando
minhas atividades sem nenhum problema...”
---
---
X
Na categoria 3 Letramento digital mostrado analisamos o estágio de
letramento digital mostrado pela informante. As ações que a informante
demonstrou realizar através dos instrumentos de análise nos fundamentaram para
dividir os dados referentes a esta categoria em dois grupos: letramento digital
básico e de letramento digital intermediário. Os dados não demonstraram
ocorrências do letramento digital avançado, conforme conceituamos nesta
dissertação. A tabela 07 apresenta a organização dos dados para esta categoria.
Tabela 07 : Constituição do corpus para Categoria 3 – Letramento digital mostrado
Natureza do
fragmento
Ocorrência
Assunto
Fragmento
Localização do fragmento na categoria
Nível básico de
Letramento
Digital
Nível
Intermediário de
Letramento Digital
Entrevista 12/06/08 Processo de
Inclusão
digital da
informante
(EX25) “... eu acho que o computador, a internet é que
faz você ficar mais incluída digitalmente... o acesso à
internet...”
X
---
(EX30) “... agora não tenho mais problema em acessar.”
---
X
E-mails 15/12/08 “Atv4”
(EX27) “...acho que meu filho apagou o seu e-mail e
agora não sei o que é que tenho que fazer...”
X
---
06/12/08 “E-mail
errado”
(EX28) “... so que descobri o motivo de não ter chegado
a minha senha, vc colocou o meu email errado pois
colocaste [email protected] e não tem o br so e
ate .com...”
---
X
02/06/08 “Projeto
(EX29) “segue em anexo” (o texto foi postado como
anexo e salvo na extensão docx. Nome do documento
em anexo: “projetofinal.docx”)
---
X
Fóruns 14/03/08 “Sistemas
operacionais e
seus
aplicativos”
(EX24) “... o Word tem um suporte legal para a
realização do meu trabalho que é digitar textos e provas
quando preciso de tabelas uso o Excel o Power point
conheço porém não faço uso.”
X
---
06/04/08 “TV digital
(EX26) Fórum “...foi o meu filho que por duas vezes
apertou em enviar antes que eu salva-se o texto.”
(abaixo aparecem duas postagens em branco no fórum)
X
---
Tal organização de análise nos ajudou a entender os diferentes
momentos em que nossa informante lida com as ferramentas tecnológicas,
tendo assim possibilidade de inserir-se no mundo digital e, por consequência,
ampliar sua formação profissional e pessoal
Esses diferentes momentos por quais passa a informante no trato com as
ferramentas tecnológicas foram dispostos nas categorias descritas
considerando que a transição de “estrangeiro” não conhecedor das normas e
linguagem do ambiente – a “naturalizado” – conhecedor das normas e linguagem
do ambiente não ocorre abruptamente, mas sim de forma processual, como a
maioria dos processos migratórios.
1.5.2 - Organização estrutural da dissertação
Com base nas considerações realizadas, esta dissertação está
organizada em 4 capítulos que visam responder às perguntas formuladas e
atender aos objetivos propostos.
No capítulo I O percurso da pesquisa: da contextualização à
construção dos dados – constam os aspectos de introdução da pesquisa.
Neste capítulo tratamos do incentivo à pesquisa, da justificativa, das perguntas
e objetivos e dos procedimentos metodológicos.
No capítulo II - O percurso de migração: flagrantes do processo de
inclusão digital discorremos sobre a transição de nossa informante da
situação de “estrangeira” à “naturalizada” digital. Para tanto, neste capítulo,
lançamos mão de teorias que abordam o tema da inclusão digital sob a
perspectiva da relação que os sujeitos pretensos a essa inclusão têm com as
TDIC. Autores como Araújo (2007), Lèvy (1999), Pereira (2007), Coscarelli
(2007), Buzato (2007), dentre outros, foram importantes para a construção do
referencial teórico deste capítulo. Nesse contexto, apresentamos as categorias
de análise linguagem no processo de migração e busca pela autonomia.
No Capítulo III - percurso de naturalização: flagrantes do processo de
letramento digital - destacamos mais enfaticamente o percurso de
naturalização de nossa informante à cultura digital. Para tanto, recorremos às
teorias do letramento e do letramento digital através de autores como Kleiman
(1995; 2001), Soares (2002), Gee (2000), Hamilton & Barton (2002), Mey
(1998), Coscarelli (2007), Ribeiro (2007), Xavier (2005) e outros. Mediante
essas teorias, apresentamos a categoria de análise letramento digital
mostrado, que indica o processo de naturalização de nossa informante à
cultura digital através de dois momentos, quais sejam: nível sico e
intermediário de letramento digital.
Por fim o capítulo IV Considerações finais no qual mencionamos as
implicações e contribuições desta dissertação e apontamos algumas sugestões.
CAPÍTULO 02
2. O percurso de migração: flagrantes do processo de inclusão digital
Neste capítulo fazemos algumas considerações a respeito do conceito de
ID e da ID docente. A partir desse embasamento realizamos a primeira parte de
análise desta dissertação destacando alguns “flagrantes” do processo de ID de
uma docente da educação básica.
Ao falarmos em ID, devemos deixar claro que não estamos falando
somente de popularização ou mesmo democratização da informática, pois esses
fenômenos não abrangem totalmente a problemática da inclusão. É bem verdade
que o acesso aos recursos básicos para que um determinado sujeito chegue à
inclusão está cada dia mais facilitado, mas, só isso, não garante a ID.
Desta forma, assumimos nesta dissertação um posicionamento semelhante
ao de Warschauer (apud Buzato, 2007, p. 56), que diz que a ID situa-se na
“interseção entre as TIC (vistas como infra-estrutura tecnológica) e a inclusão
social (vista como objetivo ao qual tal base deveria estar subordinada)”. Buzato
(Id. Ibidem, p 56) esclarece a concepção de Warschauer dizendo que para o
pesquisador a ID é concebida como um “ciclo virtuosono qual os mais diversos
recursos sociais devem contribuir para o uso efetivo das TDIC, as quais, nesta
perspectiva, fortaleceriam os recursos cio-culturais da comunidade,
promovendo, assim, inclusão social. Desta feita, a inclusão social é percebida
para além da forma binária, que se limita à posse ou não do capital, como enfatiza
Buzato (op. cit).
Com esse pensamento, destacamos também que na concepção de Araújo
(2007, p. 110) ter acesso às TDIC não é suficiente, para tal inclusão. A autora
menciona a participação efetiva do sujeito como fator indispensável à inclusão
digital e quando trata de participação frisa que esta não diz respeito somente ao
acesso físico às TDIC, mas, dentre outras coisas, a uma política favorável ao
desenvolvimento do potencial discursivo dos sujeitos. Desta forma, segundo o
que defende Araújo (Id. Ibidem), no tocante à inclusão digital, para que assim se
considerem, incluídos, os sujeitos devem avançar, quanto às TDIC, da mera
utilização funcional para o patamar de interatividade.
Na mesma perspectiva, Lèvy (1999, p. 238) declara que:
... o problema do ‘acesso para todos’ não pode ser reduzido às dimensões
tecnológicas e financeiras geralmente apresentadas. Não basta estar na frente
de uma tela, munido de todas as interfaces amigáveis que se possa pensar,
para superar uma situação de inferioridade. É preciso antes de mais nada estar
em condições de participar ativamente dos processos de inteligência coletiva
que representam o principal interesse do ciberespaço.
Com o pensamento semelhante ao de Lèvy (Id. Ibidem), Pereira (2007, p.
17) afirma que a ID é:
um processo que uma pessoa ou grupo de pessoas passa a participar dos
métodos de processamento, transferência e armazenamento de informações
que são do uso e dos costumes de outro grupo, passando a ter os mesmos
deveres dos participantes daquele grupo onde está se incluindo.
As considerações destacadas por Lèvy e Pereira, somam-se as
Warschauer (apud Buzato, 2007, p. 56) de modo que entendamos que a ID,
atualmente, está inter-relacionada com questões de inclusão social, sendo desta
forma impossível de se dissociar uma da outra. Com esse raciocínio, percebemos
a ID como um fator de cidadania e, desta forma, promover a ID nessa sociedade
da informação representa pensar numa sociedade mais igualitária. Sobre isto,
Silva et. al (2005, p. 30) aponta como fundamental que “a inclusão digital deve ser
vista sob o ponto de vista ético, sendo considerada como uma ação que
promoverá a conquista da ‘cidadania digital’ e contribuirá para uma sociedade
mais igualitária, com a expectativa da inclusão social.”
Percebendo a ID como um fator bastante amplo, Buzato (2007, p. 174-
175) diz é possível destacar pelo menos três concepções estratégicas para a ID
que se fazem presentes simultaneamente no Brasil hoje. São elas, segundo o
autor:
Concepção 1 - uma noção de inclusão (digital) como ajustamento e/ou
conformação às estruturas sócio-econômica e às desigualdades vigentes e
vindouras, e continua a depositar no sujeito individual e/ou nos grupos
(digitalmente) iletrados, o estigma da disfuncionalidade. Esta parece ser a
concepção mais freqüentemente adotada por instituições oficiais tais como o
sistema escolar e os programas de requalificação profissional promovidos pelos
governos dos países ditos emergentes, tais como o Brasil.
Concepção 2 - radicalmente oposta à primeira, visa fomentar a apropriação crítica
das TIC como forma de auto-afirmação cultural e de conscientização e
mobilização político-ideológica para a transformação da sociedade. Tal visão
coaduna-se com a perspectiva da educação crítica (não necessariamente
conduzida pela escola) e acarreta uma noção de inclusão digital como um
processo de conscientização e emancipação político-ideológica do sujeito através
da tecnologia. Não por acaso, tal concepção tem sido posta em prática
majoritariamente pelos assim chamados “movimentos sociais” e organizações
não-governamentais dedicadas à educação popular, ao menos no caso do Brasil.
Concepção 3 - a inclusão digital não é nem um estado de adequação às novas
estruturas de poder, nem o resultado da aplicação da racionalidade crítica a
formas organizadas e disciplinadas de conscientização e resistência, mas um
processo criativo, conflituoso e, até certo ponto, auto-gerido de apropriação e
“enunciação” das TIC, o qual não se reduz aos limites e às maneiras de ser
projetadas pelo local-tradicional, nem se rende passivamente à hegemonia do
global-moderno. Podemos incluir, no amplo leque dessas manifestações, desde
as formas de expressão artística mediadas por tecnologias digitais criadas por
jovens que habitam as favelas do Rio, São Paulo, Recife ou Salvador, até a
apropriação do flash mob
21
ou do telemarketing por facções criminosas instaladas
nos presídios do País. [ itálicos do autor ].
Buzato (op. cit. p. 43), ao postular essas três concepções para ID no Brasil,
comenta que elas operam ao mesmo tempo no país e isso não chega a ser
contraditório. O autor explica que isso é devido a heterogeneidade de nosso país,
portanto, elas não se anulam e nem competem entre si, tanto é assim que, para o
autor, não é pouco provável que um é sujeito experimente, de forma simultânea,
essas três formas de se incluir digitalmente.
Diante dessas concepções postas por Buzato (op. cit, p. 44) para identificar o
processo de ID no Brasil, torna-se ainda mais importante compreender que a ID envolve
vários outros fatores que não somente a aquisição do equipamento.
Nesse contexto dizemos também que (se) incluir digitalmente requer dos
indivíduos uma mudança de práticas, sobretudo no que diz respeito ao manuseio de
informações. Corroborando com nosso pensamento, Pereira (op. cit. p. 44) destaca que
“precisamos dominar a tecnologia para que, além de buscarmos a informação, sejamos
capazes de extrair conhecimento.”
21
Forma de mobilização rápida de pessoas através de meios de comunicação, como a internet, por exemplo.
Um outro ponto que se mostra relevante mencionar ao tratarmos da ID é
exatamente a questão da informação. Acerca disso, lembramos o que diz Silva
(op. cit. p. 44), quando frisa que:
entende-se, como ponto de partida do conceito de inclusão digital, o acesso à
informação que es nos meios digitais e, como ponto de chegada, a
assimilação da informação e sua reelaboração em novo conhecimento, tendo
como conseqüência desejável a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Os destaques de Silva (Id. Ibidem) no que diz respeito a fatores que devem
ser considerados para a formulação de um conceito de ID, demonstram que a
informação é um fator de grande relevância para as discussões sobre a temática.
Como se acessa, assimila e reelabora a informação que temos disponível, que
hoje, por causa dos meios virtuais e digitais é bastante vultosa, é o que pode
ajudar a conferir ao sujeito essa condição de incluído digitalmente. Todavia,
compreendemos que para fazer esse ciclo da informação destacado por Silva (Id.
Ibidem) é necessário que se haja uma educação para a informação.
Ao dizermos que a ID está intrinsecamente ligada a questões de acesso,
assimilação e reelaboração da informação e sugerirmos que para dominar essas
questões, convém educar-se para a informação, acreditamos que, deste modo,
para incluir-se digitalmente também se faz necessário a mudança de práticas.
Dizemos que esta mudança é algo que se estende ao indivíduo, como elemento
singular, à comunidade e ao contexto que ele está inserido.
Tendo em vista esse raciocínio, destacamos o que diz Tavares (2009,
p.143) a respeito de três elementos centrais nas novas tecnologias que, segundo
a autora, vão influenciar, diretamente, na formação de novos leitores. São eles: a
necessidade de novas formas de avaliação e análise crítica da informação,
incluindo questões como autoria, credibilidade e utilidade; a velocidade na
solução dos problemas e comunicação da solução encontrada; e a natureza
dêitica das novas tecnologias, que sofrem mudanças rapidamente, tanto pelas
novas descobertas tecnológicas, como pela criação de novas formas de uso das
já existentes.
Diante dos destaques feitos por Tavares (op. cit.) a respeito desses
elementos das novas tecnologias que, certamente, influenciarão na formação de
novos leitores, acreditamos que a temática da ID não deve estar dissociada da
educação. Com efeito, ao falarmos de ID tendo como foco de interesse a
educação e mais especificamente a linguagem, esperamos daqueles sujeitos
incluídos nesse processo, ou que assim se consideram, exatamente uma
mudança de práticas sociais e linguísticas, sobretudo no que diz respeito às
questões de ordem profissional, ampliando desta forma, as possibilidades de
inserir-se/incluir-se em outros grupos de sujeitos que fazem parte também de
comunidades virtuais.
A partir desse pensamento, queremos demonstrar que, ao tratarmos de ID,
sobretudo nos meandros dos estudos da educação e da linguagem,
estabelecemos, necessariamente, uma ponte da temática com questões
relacionadas à ética e à cidadania. Ponderamos a necessidade de se instituir
essa ponte tendo em vista que, se a ID apresenta-se como necessidade inerente
a este século, então isso significa que o “cidadão do culo XXI” deve considerar,
dentre outras coisas, esse novo fator de cidadania, a ser vivenciada nos espaços
virtuais de convivência ainda que a distância mediada por computadores em rede.
Chamamos atenção para o que diz Pereira, (2007, p. 17), de forma categórica,
quanto à questão da inclusão/exclusão digital de escolas/professores/alunos no Brasil.
“De maneira geral, principalmente no que se refere ao ensino público de base, podemos
dizer que instituições, educadores, professores e alunos são digitalmente excluídos.”
Consideramos que, parte dessa exclusão relatada por Pereira (Id. Ibidem) deve-se
até mesmo à resistência de determinados grupos (no nosso caso, falamos dos
educadores e instituições de ensino) a se envolverem com as novas tecnologias. Com
isso, esclarecemos que não assumimos a postura de que o computador e a internet
podem substituir o professor, nem que toda essa tecnologia hoje disponível resolverá os
complexos problemas que povoam o sistema de educação. Estamos conscientes de que,
no processo de ensino/aprendizagem, os sujeitos não são facilmente substituídos, quem
dirá por máquinas, que nada são sem alguém para manuseá-las.
Alinhamos nosso posicionamento ao de Coscarelli (2007, p. 25) quando afirma
enfaticamente que “a informática não vai substituir ninguém. Ela não vai tomar o lugar do
professor e nem fazer mágica na educação. [...] o computador é uma máquina muito
bacana, mas não faz nada sozinho”.
Estamos, então, diante de uma nova cultura de ensino/aprendizagem; precisamos
agora de sujeitos hábeis para encará-la. Os professores precisam aprender a lidar com
os recursos disponibilizados pelo computador e disponíveis na internet, de modo a
planejar estratégias pedagógicas para usá-los em suas salas de aula de modo atraente e
eficaz. Sobre isso, Coscarelli (Id Ibidem, p. 32) diz que a vida “real” pode chegar à sala de
aula com maior facilidade, através da internet.
A autora comenta ainda que:
Não favorecendo esse acesso à informática e não a transformando em aliada
para a educação sobretudo das camadas populares, a escola estará
contribuído para mais uma forma de exclusão de seus alunos, lembrando que
isso vai excluí-los de muitas outras instâncias da sociedade contemporânea e
que exige dos seus cidadãos um grau de letramento cada vez maior.
Defendemos que alunos, bem como professores, precisam aprender a buscar
informações, selecioná-las e ter autonomia sobre elas, aplicando-as no que, onde ou com
quem julgar úteis. Em outras palavras, queremos dizer que esses sujeitos devem
aprender, de fato, a aprender, ou seja, devem letrar-se e, assim, poderem gerir seu
próprio conhecimento. Com raciocínio semelhante, Silva (2005) trata da ideia de aprender
a aprender (ou mesmo de selecionar, avaliar, recuperar informações) como sendo um
conceito de alfabetização em informação. A autora diz que uma pessoa alfabetizada em
informação “seria aquela capaz de identificar a necessidade de informação, organizá-la e
aplicá-la na prática, integrando-a a um corpo de conhecimentos existentes e usando-a na
solução de problemas” (p. 33). Entendendo essas habilidades como sendo próprias de
uma pessoa letrada e não somente alfabetizada em informação, acrescentamos à
definição de Silva (op. cit.) a capacidade de buscar, pesquisar as diversas informações
que lhes são necessárias e que hoje estão facilmente disponíveis. Assim, este conceito é
tanto válido para o aprendiz, isto é, o aluno, quanto para quem tem a responsabilidade de
fazer o conhecimento circular democraticamente, o professor.
Diante dessas considerações, pensamos que para haver inclusão digital é
necessária a capacitação do sujeito no acesso à informação na internet. Como fazemos
um estudo de caso de uma docente em um programa oficial de formação de professor,
acentuamos tal necessidade como sendo por parte do aluno e também do professor.
O
montante de informação na Internet leva o sujeito a propor questões sobre as habilidades
fundamentais para aprender a se informar e aprender a informar o outro, compartilhando
o que aprendeu.
Sobre o uso do computador na escola, Coscarelli (Id Ibidem, p.39) reafirma a
implementação de uma nova realidade.
[...] o computador pode ser um forte aliado da escola, uma vez que os recursos
da informática são muito sedutores, além de imprescindíveis para a formação
de um cidadão letrado. No entanto, para que ele realmente venha a apresentar
uma mudança na vida escolar, é preciso que a educação seja compreendida
como um processo de construção de um saber percebido como útil e aplicável
pelos alunos e não como uma realidade a parte, desinteressante e inacessível.
Portanto, a escola, como espaço de interação do conhecimento sistematizado que
é, deve patrocinar aos alunos muito mais que o domínio das letras e dos conteúdos.
Conduzir os sujeitos para a busca de alternativas que solucionem questões relevantes,
propiciando-os uma visão crítica e participativa, encaminhando-os, assim, para a
produção do conhecimento.
Reconhecer e integrar as TDIC se apresenta hoje como passos importantes nessa
função que escola tem de conduzir os sujeitos por este caminho de busca de alternativas.
As TDIC trazem consigo inovações metodológicas que, indiscutivelmente, despertam
maior interesse dos alunos em aprender, no entanto, o que percebemos é que a escola
ainda resiste à incorporação de instrumentos e ferramentas que não sejam impressos.
Esse fato mostra o quanto a escola ainda opera com o paradigma do letramento
alfabético. Tal tendência, contudo, deve urgentemente ser superada com a incorporação
adequada das TDIC na prática pedagógica do professor e consequentemente com a
apropriação do letramento digital por este e por seus alunos, o que pode, sem dúvida, ser
uma grande forma catalisadora de ID e consequentemente de inclusão social.
A partir dessas considerações, trataremos a seguir dos “flagrantes” no processo
de inclusão digital, para tanto, dividiremos a exposição em dois momentos, quais sejam:
linguagem no processo de migração e busca pela autonomia.
2.1 – Linguagem no processo de migração
Nesta categoria, como já dissemos, buscamos analisar a linguagem
usada pela informante sob dois aspectos: a) formas de autorreferenciação, a
partir das quais conferimos como a informante faz referência a si própria no
tocante ao seu processo de ID e b) nível de domínio da linguagem no contexto
digital, a partir do qual verificamos como o sujeito emprega o léxico próprio
desse contexto (se adequado ou inadequado) durante o processo de
“migração” para uma cultura digital.
2.1.1 – Formas de autorreferenciação sobre inclusão digital
Trataremos agora das formas de autoreferenciação de nossa informante.
Entendemos esse processo como sendo a forma pela qual, através da linguagem,
um sujeito pode ir construindo sentidos para seu discurso e sobre si mesmo na
relação com a realidade. Em outras palavras, tomamos o processo de
referenciação como uma atividade discursiva, tal como postulam Mondada e
Dubois, Koch e Marcuschi (apud Marquesi 2007).
Segundo Mondada e Dubois (apud Marquesi 2007, p. 50) o tratamento da
referenciação pode se situar sob duas linhas argumentativas.
A primeira trata da categorização, por meio da qual os sistemas cognitivos dão
uma estabilidade ao mundo; e a segunda trata de uma perspectiva lingüística
interacionista e discursiva, por meio da qual os processos de referenciação são
analisados em termos de construção de objetos de discurso e de negociação
de modelos públicos do mundo.
Diante dessas considerações, entendemos que é através do discurso, da
linguagem, que os sujeitos são capazes de se reconhecerem socialmente numa
ou noutra posição. No caso em análise nesta dissertação, essas posições são a
de incluído digitalmente ou não. São estas posições, pois, que estamos
considerando como sendo a base para o processo enunciativo da informante.
Nesse sentido, destacamos as palavras de Palumo (2007, p. 80) quando afirma
que “é pelo complexo sistema, que envolve língua, pensamento e mundo, que os
sujeitos, condicionados pela sua própria percepção, dão sentidos aos seus referentes,
durante a formulação de seus enunciados.” Desta feita, compreendemos que, se o
sujeito, através dessa tríade de elementos mencionada por Palumo (Id Ibidem), formular
um referente, sobre o que quer que seja, e ele, conseguia perceber que não apresenta
as mesmas condições que esse referente, então esse sujeito se reconhecerá socialmente
na posição oposta a deste referente.
Conforme a perspectiva da linguística sociocognitiva a relação entre linguagem,
pensamento e mundo se estabelece no discurso, no processo enunciativo. Segundo
Koch e Marcuschi (1998) os referentes não são dados a priori, não são elementos com
estabilidade própria, mas são construídos pelos interlocutores durante o processamento
do discurso na interação.
Deste modo, acrescentamos que os
códigos linguísticos não são totalmente
capazes de, sozinhos, dar conta das possibilidades de sentido veiculados por uma
palavra ou enunciado qualquer que seja. É assim porque a linguagem não é um sistema
de “etiquetas” coladas aos objetos, ou seja, seus significados e sentidos, por vezes, vão
além do que o código, por si só, pode traduzir.
Nesse sentido, Koch e Marcuschi (1998) comentam:
a referenciação, tal como a tratam Mondada e Dubois (1995), é um processo
realizado negociadamente no discurso e que resulta na construção de
referentes, de tal modo que a expressão referência passa a ter um uso
completamente diverso do que se atribui na literatura semântica em geral.
Referir não é mais atividade de "etiquetar" um mundo existente e indicialmente
designado, mas sim uma atividade discursiva de tal modo que os referentes
passam a ser objetos-de-discurso e não realidades independentes. Não quer
isso dizer que tudo se transforma numa panacéia subjetivista, mas que a
discretização do mundo pela linguagem é um fenômeno discursivo. Em outros
termos, pode-se dizer que a realidade empírica, mais do que uma experiência
estritamente sensorial especularmente refletida pela linguagem, é uma
construção da relação do indivíduo com a realidade.
Feitos estes esclarecimentos sobre a questão da referenciação, conduziremos
nossa análise para este tópico em dois momentos: autoreferenciações negativas e
autoreferenciações positivas. Vejamos agora alguns exemplos do primeiro grupo
:
Figura 07: Fórum Sistema operacional e seus aplicativos – “B”
Ex1: ( Figura 07) “... não uso muito as tecnologias avançadas que muitos de
vocês fazem uso...”
Figura 08: E-mail “acesso à plataforma”
Ex2: ( Figura 08 ) “... tentei mais uma vez mas não obtive sucesso...”
Ex3: (Entrevista) “...eu não sabia nem ligar o computador...”
Ex4: (Entrevista) ”...eu não sabia os sites, o sabia pesquisar nada na
internet...”
Neste primeiro grupo de exemplos, observamos que a autoreferenciação
se dá, predominantemente, pelo uso do advérbio de negação. O referente que é
construído mediante esse uso, que neste caso estamos compreendendo como
sendo o próprio sujeito do discurso, transmite uma idéia de insegurança e,
sobretudo, de exclusão da situação em pauta, isto é, a de uma habilidade mínima
para participação no curso ME.
No primeiro caso, notamos que o referente construído de forma negativa
assume um lugar de fala situado no presente, como se pode verificar através do
verbo “uso”. Esse, somado ao advérbio de negação que antecede o verbo,
demonstra o quanto a dificuldade com o uso das TDIC era, naquele momento,
uma realidade para o sujeito, a quem estamos chamando de referente.
No Ex2, temos uma situação semelhante ao Ex1 no que se refere à
construção de uma imagem de dificuldades do sujeito perante o curso. Todavia,
podemos dizer também que, neste contexto, o uso do referente negativo
demonstra ainda uma intenção, qual seja a de que o interlocutor (no caso o tutor
da turma) pudesse interceder no processo e resolver àquela situação
problemática apresentada no e-mail. Isso confirma que o ato de referenciar
envolve dois processos: intenção e interação. Logo, a referenciação precisa ser
compreendida como um processo de negociação sentidos em que estão
envolvidos mundo, linguagem/discurso e sujeitos.
Essa negociação pode ser percebida nos exemplos 3 e 4. Neles, a
informante também se utiliza do advérbio de negação para revelar sua dificuldade
com as TDIC. Entretanto, compreendemos que o referente negativo construído
nos exemplos 1 e 2 tem significação menor nos exemplos 3 e 4, porque ele
antecede o verbo saber conjugado no pretérito imperfeito do indicativo (“sabia”).
Isso demonstra que a dificuldade com as TDIC, expressa tão claramente pelo
referente “não” nos exemplos 1 e 2, faz parte de um passado, inacabado, como
pressupõe o pretérito imperfeito.
Desta feita, os exemplos 3 e 4 apontam para um sujeito em processo de
mudança, o que antes aparecia como um discurso acabado “... não uso
muito...”, “... não obtive sucesso...” passa a se configurar apenas como uma
etapa, um momento transitório que já foi superado.
A partir desse processo de referenciação que a informante realiza, seu
interlocutor, mediante o que é dito, compreende que, antes, isto é, no passado,
ela “não sabia”, agora, ou seja, no presente, ela sabe. Isso pode indicar que o
referente, isto é, a imagem mental de um dos interactantes, construído pelo
sujeito em questão tem por base sua própria percepção de tempo.
Essa percepção de tempo demonstrou-se para nós como uma forma de
autoreferenciação positiva, que indica uma maturidade do sujeito, adquirida
com o passar do tempo, em relação ao objeto em estudo e, sobretudo, em
relação a si próprio. Vejamos os exemplos:
Figura 09: E-mail “Brasília”
Ex5: (Figura 09) “... queria falar ou testemunhar o quanto eu era fraca
digitalmente antes de ser uma aluna eproinfo ...”
Ex6: (Entrevista) “...antes eu era leiga totalmente no assunto...”
Figura 10: E-mail “Brasília” – “A”
Ex7: (Figura 10) “... hoje tenho uma noção muito boa de informática realizando
minhas atividades sem nenhum problema...”
Ex8: (Entrevista) “... eu tô me sentindo incluída digitalmente
Nesse bloco de exemplos, percebemos que os elementos anafóricos e
catafóricos são representados também por advérbios, que explicitam a noção de
tempo passado e presente. Esses elementos são, respectivamente: “antes” (Ex 5
e 6), que se constitui como um referente anafórico, tanto do ponto de vista
lingüístico, que retoma expressões que estão para “trás” no texto, como do
ponto de vista contextual, que faz referência a uma situação não mais
existente; “hoje” (Ex 7), que se estabelece como um referente catafórico
linguisticamente falando, visto que chama atenção para termos que ainda não
foram mencionados, isto é, estão para a frente do texto, bem como um referente
catafórico também no aspecto contextual.
Semelhantemente ao comentário destinado ao EX 7, mencionamos ainda o
EX 8, cujo elemento catafórico não aparece explicitamente no texto, está elíptico,
mas pode ser identificado através da expressão “tô”, que representa o verbo estar
conjugado no presente do indicativo, levando, assim, o interlocutor desta fala, a
inferir que, antes dessa forma verbal, o referente “hoje” caberia adequadamente.
Com essas considerações acerca das “formas de autorreferenciação’”,
passamos a tratar agora do segundo aspecto desta categoria, o nível de domínio
da linguagem no contexto digital.
2.1.2 – Nível de domínio da linguagem do contexto digital
Com as mudanças tecnológicas que emergem constantemente no mundo,
particularmente quando falamos em equipamentos informáticos e nas TDIC, é
conveniente que ponderemos a utilização da linguagem em meio a tudo isso, visto
que é a linguagem fator preponderante para a inclusão/exclusão dos sujeitos nos
mais variados contextos sociais. Diante desse enfoque, Buzato (2007, p. 79) faz
a seguinte observação sobre a linguagem digital:
O potencial inclusivo/exclusivo da linguagem digital não está naquilo que a
afasta ou aproxima do impresso ou do natural, do verbal ou do visual, mas nas
maneiras como faz integrarem-se ou agenciarem-se mutuamente esses
códigos, modalidades, tecnologias e usos de linguagem.
Assim, para Galli (2005, p. 120), o vocabulário terminológico da
informática, enquanto área técnica permite aos locutores que participam deste
ambiente falar e entender o mundo e as coisas de forma interativa. A autora
pontua também que, essa linguagem da Internet configura-se como técnica,
isto é restrita a um número reduzido de sujeitos, somente até certo ponto, pois o
vocabulário é colocado em uso ao migrar para a linguagem cotidiana, o que
resulta em tradução e mobilização democrática, segundo Galli. A autora afirma
que
A linguagem da Internet tem seus pressupostos que, naturalmente, estão
caminhando para um modelo de comunicação. A Internet se transformou
num veículo de comunicação com uma linguagem acessível à maior parte dos
hiperleitores. Desse modo, há uma exploração dos termos dessa área, os quais
são transferidos para o contexto social e divulgados como uma linguagem
global. (2005, p. 120)
Feitas essas considerações a respeito da linguagem digital é importante
também comentarmos que cada campo de atuação social requer, de seus
interactantes, uma atuação eficiente quanto às especificidades de suas
linguagens, pois, é assim, que as pessoas podem permanecer neles e fazê-los
crescer, serem reconhecidos, etc. Esses diferentes campos de atuação social,
que são diferenciados por, entre outros aspectos, por uma linguagem específica,
são chamados de “domínio discursivo” como trata Marcuschi (2007), ou ainda
de “esferas de comunicação” na concepção bakhtiniana de linguagem (Bakhtin,
1992, 279).
Com base nestas exposições, apresentamos os exemplos que compõem a
análise neste momento:
Figura 11: Fórum TV digital – “A”
Ex9 : (Figura 11) “...concordo com vc...”
Figura 12: E-mail “Não entrei no site”
Ex10: (Figura 12) “...recebi minha senha e login acessei o sate...”
Figura 13: E-mail “Projeto” – “A”
Ex11: ( Figura 13) “segue em anexo
Ex12: ( Entrevista) “...coloquei a internet discada... teria que ter uma coisa mais
avançada. Tive que colocar VELOX pra poder levar o curso a frente.”
No EX 9 temos a ocorrência de uma das formas mais representativas da
linguagem da Internet, a abreviação da palavra ‘você’, que, no meio digital, é
representada por “vc”. Sabemos, que, antes mesmo do surgimento da Internet, a
palavra, na sua etimologia, passou por diversos processos de alteração em
sua morfologia: vossa mercê > vossemecê > vosmecê > você > “vc” , esta, que,
por sua vez, pode está a ponto de mais uma supressão em sua estrutura e de
“vc”, passar a “c”, apenas.
Nesse exemplo acontece o mesmo que ocorre nas expressões “beleza” e
“fim de semana”, que, sofrem “cortes” das vogais e de sílabas inteiras,
transformando-se em “blz” e “fds”, respectivamente, com vistas a uma interação
on line mais rápida e eficaz, que, por usa vez, aponta para uma familiarização
com o meio digital. Nesse sentido, Ribeiro (2007, p. 148) comenta que “pessoas
letradas têm maior sensação de familiaridade com suportes novos e variados”.
Acrescentamos a opinião de da autora que pessoas letradas demonstram essa
sensação de familiarização também com a linguagem nesses suportes aos quais
se refere Ribeiro (Id Ibidem), que ao que nos parece, é o que ocorre com a
informante neste momento.
Essa mutação da palavra pode ser explicada, dentro da gramática
descritiva da língua portuguesa, como sendo um processo de formação de
palavras. Nesse contexto, podemos denominar esse processo como sendo uma
acrografia
22
, isto é, uma grafia em abreviatura, ou mesmo, uma acrossemia, que
é uma redução de palavras. Processos esses que não costumam aparecer nos
manuais de ensino da ngua, mas que podem nos dar uma explicação sobre a
transformação da palavra “você” em “vc”, por exemplo. Além, claro, dessa
explicação justificar-se pelo processo de inclusão digital pelo qual passa nossa
informante, visto que, a escrita teclada, com características da fala, se constitui
como uma das características que marcam o caminho da inclusão digital
percorrido pelo sujeito em estudo.
Essa forma de representação da escrita, expressa no EX 9, ou, como
chama Possenti
23
, essa “grafia utilizada por certos usuários de computadores”
tem sido chamada de “internetês” e caracteriza-se, segundo Buzato (2006)
24
por
“emular a velocidade, agilidade e a informalidade da fala, de ser um tipo de
‘escrita’ menos monitorada.” Logo, compreende-se que o “internetês” é uma
22
Conceitos disponíveis em: http://www.webartigos.com/articles/10408/1/variantes-linguisticas-no-contexto-
da-internet/pagina1.html. Válido para acrossemia também.
23
Possenti, Sírio. Você entende internetês? In: Revista Discutindo Língua Portuguesa. Ano 1, n.º 2
24
Buzato,Marcelo.Vc sab flr assim?2006. Disponível em:
http://www.crmariocovas.sp.gov.br/noticia.php?it=8576
representação concreta de hibridismo lingüístico, pois une, em uma única forma,
escrita e oralidade.Com essas características, o “internetês” constitui-se uma
marca importante no processo de letramento digital – LD - e, portanto, de ID.
Com base nisso, dizemos que nossa informante dá indícios de domínio
da linguagem técnico-digital. A confirmação a respeito pode ser tida nos EXs 10,
11 e 12, quando, por meio de uma linguagem técnica, isto é, própria de um
domínio discursivo, ela estabelece uma comunicação com seu interlocutor sem
problemas de compreensão a respeito do que está sendo dito. As expressões
login”, “em anexo”, “internet discada” e “Velox”, além da expressão docx” para
indicar a extensão de um documento, revelam um sujeito que está migrando
para uma cultura digital.
Mediante exposição desses exemplos nesta categoria buscamos mostrar
que para um sujeito inserir-se no contexto digital de modo a dele participar
ativamente, tal como muitos adolescentes que têm crescido com farto acesso às
tecnologias ( e por isso essa linguagem lhes é quase natural) , são necessários
vários fatores, dentre eles tempo, contato com o meio e suas especificidades de
uso da leitura e escrita, além de abertura às adaptações à linguagem, por
exemplo.
2.2 – Busca pela autonomia
Esta categoria justifica-se pelo que afirma Lèvy (1999, p.238) ao comentar
que
...na perspectiva da cibercultura assim como nas abordagens mais clássicas,
as políticas voluntaristas de luta contra as desigualdades e a exclusão devem
visar o ganho em autonomia das pessoas ou grupos envolvidos. [ itálico do
autor ]
Lèvy (Id. Ibidem) acrescenta ainda que o “ganho de autonomia” surge
quando essas políticas voluntaristas de luta contra as desigualdades evitam o
surgimento de novas dependências provocadas pelo consumo de informações ou
de serviços de comunicação concebidos e produzidos em uma ótica puramente
comercial, que, segundo o autor, tem como efeito desqualificar os saberes e as
competências tradicionais dos grupos e das regiões desfavorecidas.
Sendo assim, consideramos que o programa ME, como sendo uma
iniciativa do Governo Federal, e, portanto, uma política pública de formação
docente, atende às expectativas de “ganho de autonomia”, conforme mencionado
por Lèvy (op. cit), ainda que de forma limitada, dos sujeitos que dele participam,
possibilitando assim, mesmo que indiretamente, a diminuição da desigualdade e
exclusão do contexto digital.
Focaremos, com esta categoria análise, nossa atenção para o percurso da
nossa informante no ME, se houve algum “ganho de autonomia”, ou seja, se ela
de fato migrou de “estrangeira” a “naturalizadadigital. Para tanto, subdividimos
esta categoria em três momentos distintos: demonstração de dependência, pelo
qual buscaremos destacar que o processo de letramento e inclusão digital de um
“imigrante” carece da colaboração de terceiros; demonstração de superação, cujo
objetivo é mostrar como é possível que a dificuldade no processo de “migração”
possa se transformar numa atuação mais consciente do sujeito migrante; e
demonstração de inclusão, no qual as mudanças de práticas ou mesmo de rotinas
adquiridas em virtude da inserção concreta noutro contexto social aparecem com
muita clareza.
Quanto ao primeiro tópico desta categoria demonstração de dependência
– elencamos os seguintes exemplos:
Ex13: (Entrevista)eu não sabia
nem ligar o computador...”
Ex14: (Entrevista) “...de primeiro eu não sabia os sites, o sabia pesquisar
nada na internet. Chamava meu filho de 8 anos. Eu achava incrível, né? Eu
com 41 e tinha que chamar meu filho pra me ensinar a ler...
Figura 14: E-mail “Ativ4” – “A”
Ex15: (Figura 14) “...acho que meu filho apagou o seu e-mail e agora não sei
o que é que tenho que fazer mande-me novamente e eu farei tudo como vc
determinar...”
Figura 15: E-mail : “Trabalho”
Ex16 (Figura 15) “...conto com sua ajuda diga-me passo a passo o quer que
devo fazer...”
Nos exemplos acima, notamos que a informante demonstra,num
determinado momento, de modo explícito, não ter habilidades com o computador
e com a Internet, exímios representantes da cultura digital. Tais afirmações
revelam sua condição de dependência de terceiros por causa da necessidade
primeira de prosseguir no curso bem como a de incluir-se nesse meio.
Nos EX 13 e 14, temos uma sucessão de afirmativas “eu não sabia nem
ligar o computador, não sabia os sites, o sabia pesquisar nada na internet...”
Elas sugerem que, sozinha, a própria informante reconhece que teria ainda mais
dificuldades em prosseguir no curso e, consequentemente, de participar de forma
ativa desse contexto social mediado pela tecnologia digital proporcionada pelo
ME.
Nesses exemplos, percebemos ainda que a informante não poderia ser
considerada, ou mesmo se considerar, incluída digitalmente, visto que, segundo
Araújo (2007, p. 110), para que assim se avaliem, os sujeitos devem avançar,
quanto ao domínio das TDIC, da mera utilização funcional - que a informante
demonstra não estar apta (“nem ligar o computador” ) para o patamar de ação
interativa sem auxílio.
Como maneira de confirmar o que a autora fala sobre a ID, citamos as
crianças nativas digitais. A maioria delas, tendo acesso, de algum modo, às TDIC,
consegue expressar bem o que é transitar da mera utilização funcional dessas
tecnologias ao patamar de interatividade sem o auxílio de terceiros. o os
chamados “nativos” digitais, que fazem amigos pela rede, conhecem o mundo
pelos buscadores, desenvolvem habilidades por meio de videogames, criam
páginas pessoais em fotologs, blogs e sites de relacionamento. Os “nativos” da
Era Digital, além de navegar na Internet, são capazes de operar outros aparelhos
eletrônicos com muita facilidade, como celulares, Ipods, controles remotos de
DVD e TV, às vezes, vários ao mesmo tempo. Elas migram de um software para
outro(s) sem grandes dificuldades, justamente por terem contato com todo esse
arsenal tecnológico desde muito cedo.
Com toda essa desenvoltura e naturalidade dos nativos digitais para com
as TDIC a dependência da informante do seu filho de apenas 8 anos de idade se
apresenta como um fato até mesmo esperado, ainda assim, ela demonstra-se
surpresa com isso, tal como afirma, no EX 14: eu achava incrível, né? Eu com 41
e tinha que chamar meu filho pra me ensinar a ler...”.
O que pudemos perceber com esta afirmação do EX 14 é que a
dependência da informante de seu filho vai além de uma dependência funcional,
isto é, que cessaria com ações do tipo ligar o computador, acessar a Internet,
dentre outras com um baixo grau de dificuldade para um “nativo” digital. A
dependência, neste caso, não é somente para resolução de problemas técnicos
ou elementares. Ela diz respeito também a questões de ordem social, pois a
informante declara ter que chamar o filho para lhe ensinar a ler. Esta leitura, claro,
não diz respeito ao processo de alfabetização, pelo qual se aprende a ler,
decodificando as letras e escrevendo as palavras silabicamente, mas a um
processo de inclusão digital, no qual a informante precisava saber “ler”, decifrar,
compreender as informações daquele contexto para prosseguir com seus
objetivos acadêmicos.
Compreendendo o que lia, a informante também precisava do domínio
técnico, o que pudemos identificar que não acontecia em função dos
comentários que fizemos a respeito do EX 13. Isso pode ser verificado ainda no
que tange aos aspectos relativos exclusivamente ao acesso à Internet, como é o
caso do EX 15. Neste, vemos que a informante depende que seu filho faça o
trabalho operacional quanto às ferramentas digitais. Observemos o que ela diz:
“...meu filho apagou o seu e-mail...”. Essa afirmação nos leva a inferir que quem
abria e consultava o correio eletrônico da informante era o seu filho, se assim não
fosse, o e-mail ao qual ela se refere não poderia ter sido apagado.
Dito isto, chamamos atenção para o EX 16, no qual a informante admite
que precisa de orientações “passo a passo” para a execução satisfatória do
procedimento. Isso pôde ser verificado pela expressão conto com sua ajuda”, no
referido exemplo. A informante nos indícios de que, com o auxílio de terceiros
e orientações minuciosas, é possível cumprir aquilo que lhe foi solicitado e,
porque não dizer, ir se inserindo, aos poucos, em um novo contexto, uma nova
cultura, de práticas ainda difíceis, mas que podem se tornar simples depois de
superar a fase de dependência.
Parece haver aqui, na verdade, a transposição de uma prática de outro
letramento, qual seja a de seguir instruções a partir de um roteiro. Nesse caso, a
prática letrada de seguir o roteiro sem testemunhar o momento da execução é
uma prática letrada típica de sujeitos acostumados em ambientes escolares, nos
quais, em muitos casos de atividades com textos, os sujeitos não são orientados
a voltar ao texto para responder as questões, mas apenas seguir dadas
instruções.
O processo de inclusão leva a superação das dificuldades. É nessa
perspectiva que discorreremos agora sobre alguns exemplos, no segundo
momento desta categoria: demonstração de superação. Vejamos os exemplos:
Figura 16: E-mail “Atividades”
Ex17: (Figura 16) “...fiz o possível ontem a noite e tentei fazer todas não sei se
ficou certo, prometo a vc que na volta serei mais atenta, mnde-me dizer o seu
conceito para que eu possa melhorar na volta.
Ex18: (Entrevista) “...Hoje em dia to mais... né, sei fazer todas as tarefas,
já sei fazer as coisa todinha no computador...”
Ex19: (Entrevista) “...depois que eu to fazendo o curso, eu vejo que o respaldo
você trabalhando com as mídias, certo, mesmo que seja essas duas, é..., a
TV e vídeo e o rádio, né, eu vi que os meus alunos tiveram um avanço maior.”
Como é possível notar neste bloco de exemplos, a postura da informante já
não é mais a de alguém dependente, mas de a de quem, mesmo com
dificuldades, mostra-se disposta a buscar melhorar e consegue lidar com as
TDIC sozinha, sem recorrer tanto a terceiros.
Esse é, notadamente, um quadro de superação, que, a nosso ver, foi
possível mediante o contato constante da informante com as TDIC, contato este
que ocasionou a aquisição da habilidade mediana com essas tecnologias, de
modo que ela pôde demonstrar que as dificuldades enfrentadas se transformaram
em ações conscientes dentro do contexto digital vivenciado.
Desta feita, apresentamos então o EX 17, no qual a informante afirma:”...
tentei fazer todas não sei se ficou certo...”. Nesse trecho, é importante destacar
que, mesmo tendo dúvidas a respeito do que havia feito, ela não deixou de
participar e nem de cumprir com as atividades solicitadas. As dificuldades
enfrentadas não foram capazes de impedir as ações e, ainda, trouxeram a
consciência de que era preciso melhorar mnde-me dizer o seu conceito para
que eu possa melhorar na volta.” fato que nos indica que a superação não
ocorre sem que haja dificuldades a serem enfrentadas.
As dificuldades para quem precisa aprender tardiamente a lidar com essa
cultura digital são naturais, pois novidades surgem numa velocidade muito grande
nessa área e, mesmo aqueles que têm muita prática e habilidade sujeitam-se a
auxílio de outras pessoas, por vezes, nesse contexto, mais jovem. O que muda
aqui é o tempo e os recursos necessários para superar as dificuldades. Isso é o
que vai diferenciar um “nativo” ou mesmo um “naturalizado” de um “imigrante”
digital. Aqueles certamente superarão suas dificuldades em um menor tempo e
com recursos objetivos, práticos, eficazes, visto que, provavelmente, desde muito
cedo foram apresentados a essa cultura digital, portanto transitam por ela com
uma certa destreza. os “imigrantes” podem requerer mais tempo e recursos
para a superação dos problemas desse contexto, pois este faz parte pouco
tempo da rotina deles. Porém, como a condição de “imigrante” é transitória,
haverá o tempo em que suas dificuldades também serão superadas em menos
tempo e com recursos adequados.
Com base nessas considerações, passamos ao EX 18, “...Hoje em dia já to
mais... né, sei fazer todas as tarefas, sei fazer as coisa todinha no
computador...” Ele nos mostra que a condição de “imigrante” na cultura digital
demanda um tempo pequeno a depender da capacidade de superação do sujeito
envolvido.
Vemos nesse exemplo que nossa informante parece assumir, a partir da
declaração destacada, a condição de “naturalizada” digital. Isto é, embora não
tenha nascido na “Era Digital”, o que não garante que o sujeito seja,
necessariamente, “nativo digital”, a informante parece ter conseguido se adaptar
de modo a conviver pacificamente com os maiores representantes dessa era, tais
como o computador e a Internet. A própria informante declara isso: “... sei fazer
as coisa todinha no computador...”
A superação da fase “imigrante” para a fase de “naturalizada” digital pode
ser destacada neste caso sob duas óticas. A primeira delas considera que essa
superação ocorreu no âmbito pessoal/individual; já a segunda perspectiva, aponta
para uma superação no âmbito social/profissional, como informa o EX 19 -
“...depois que eu to fazendo o curso, eu vejo que o respaldo você trabalhando
com as mídias, certo, mesmo que seja essas duas, é..., a TV e vídeo e o
rádio, né, eu vi que os meus alunos tiveram um avanço maior.”
Neste exemplo, verificamos que a superação se deu pelo fato da
informante passar a acreditar que o trabalho com as TDIC poderia lhe oferecer
melhores condições de exercício profissional com êxito vejo que o respaldo
você trabalhando com as mídias...” Dessa forma, ela poderia também contribuir
para o progresso de outras pessoas, condição inerente à docência, conforme
podemos constatar no trecho
“...eu vi que os meus alunos tiveram um avanço maior.”
Tais constatações nos conduzem para o que estamos chamando nesta
dissertação de inclusão digital, um processo que não diz respeito unicamente à
aquisição de equipamentos que representam essa cultura que hoje se instaura,
mas que prevê também a convivência e aquisição de habilidades com esses
equipamentos. É sobre isso que trataremos no último tópico desta categoria:
demonstração de inclusão. Para tanto, seguem-se os exemplos que nos
possibilitarão falar sobre a inclusão efetiva de nossa informante na “Era Digital”.
Ex20: (Entrevista) “...A partir do momento que comecei a fazer ‘a mídia’ (se
referindo ao ME) eu tive que comprar o computador pra minha casa, coloquei
a internet discada, vi que não estava dando resultado, que pra eu fazer esse
curso eu teria que ter uma coisa mais avançada. Tive que colocar VELOX pra
poder levar o curso a frente... porque antes eu ia pra lan house e era muito
problemático fazer todas as atividades em lan house.”
Ex21: (Entrevista) “... agora não tenho mais problema em acessar... entro e
saio naturalmente...”
Figura 17: E-mail “Brasília” – “B”
Ex23: (Figura 17) “...Olhe tenho muita vontade de participar, pois queria falar ou
testemunhar o quanto eu era fraca digitalmente antes de ser uma aluna eproinfo e
hoje tenho uma noção muito boa de informática realizando minhas
atividades sem nenhum problema...”
O bloco de exemplos acima deixa-nos entrever que a informante mudou
suas práticas com relação às TDIC, o que, segundo as perspectivas aqui
apontadas, caracteriza com propriedade a condição de inclusão digital.
No EX 20, essa mudança é percebida através da primeira atitude que uma
pessoa precisa tomar ao desejar incluir-se digitalmente que é acesso ao
equipamento. Ela afirma tê-lo adquirido quando diz: A partir do momento que
comecei a fazer ‘a mídia’ (se referindo ao ME) eu tive que comprar o
computador pra minha casa...”. Tal asserção nos permite entendermos que o
curso do ME foi o motivo para que ela buscasse sua inclusão digital.
Com isso, acreditamos que iniciativas institucionais, como o ME, despertam
nos participantes a necessidade de reflexão sobre seus conhecimentos e
habilidades em face à nova realidade tecnológica, profissional e social. A
necessidade de fazer o curso do ME estimulou-a a buscar a inclusão digital.
Neste caso, o processo de inclusão digital aqui se assemelha ao que Buzato (
2007, p. 175) destacou como sendo a segunda concepção de inclusão atualmente
no país, a de que a apropriação crítica das TDIC é uma forma de autoafirmação
cultural e de conscientização, além de mobilização polítco-ideológica. Assim, essa
concepção, apresenta a noção de inclusão digital como um processo de
conscientização e emancipação político-ideológica do sujeito através da
tecnologia.
O mesmo podemos constatar com a seguinte declaração da informante:
coloquei a internet discada, vi que não estava dando resultado, que pra eu
fazer esse curso eu teria que ter uma coisa mais avançada. Tive que colocar
VELOX pra poder levar o curso a frente...Notamos que ela tem o domínio
não da linguagem técnico-digital, mas também das peculiaridades de cada tipo
tecnologia, a ponto de conseguir escolher entre uma e outra. Enfim, este trecho
nos mostra que o sujeito em questão já conhece as informações “...vi que não
estava dando resultado...” e é capaz de ter autonomia sobre elas - .”.. Tive que
colocar VELOX pra poder levar o curso a frente...”.
Como defendemos no início deste trabalho, a inclusão digital não se
configura somente pela aquisição do equipamento, mas pela convivência e
habilidade com ele. Para tratar do tema, devemos levar em consideração o
acesso dos indivíduos à Internet. Por isso, nos amparamos no EX 21, no qual a
informante confirma: “... agora não tenho mais problema em acessar... entro e
saio naturalmente...”. O advérbio de tempo ‘agora’ indica que houve uma
mudança de prática, como suscita o letramento / inclusão digital. O fato de esse
acesso ser uma coisa natural demonstra que essa prática foi incorporada ao dia a
dia da informante, que se mostra um fator relevante no que toca à inclusão digital,
pois, para tanto, convém que os candidatos a tal processo utilizem as TDIC em
vários âmbitos de atuação, do profissional ao particular. No caso de nossa
informante, isso serve para confirmar que a inclusão digital realmente ocorreu na
prática. O fato da informante dizer que acessa à Internet ‘naturalmente’ prova que
novas práticas letradas foram adquiridas e incorporadas por ela em sua rotina, o
que caracteriza a inclusão do um sujeito num determinado contexto.
Por fim, no EX 22, destacamos que, a informante mostra uma capacidade
autoavaliativa de sua conduta no processo de migração de “estrangeira” “...eu
era fraca digitalmente antes de ser uma aluna eproinfo...” a “naturalizada” digital
- “...hoje tenho uma noção muito boa de informática realizando minhas atividades
sem nenhum problema...”.
Nessa perspectiva dizemos que o processo de migração parece ter sido
uma evolução em linha reta, mas devemos supor que este processo teve muitas
idas e vindas, processos de estabilizar e desestabilização de conhecimento, de
incorporação e revisão de práticas letradas. Desta forma, pensamos serem os
exemplos registrados nesta oportunidade apenas indícios de algo muito maior,
profundo e complexo.
CAPÍTULO 03
3. O percurso de naturalização: flagrantes do processo de letramento digital
3.1 – O fenômeno letramento: algumas considerações
Na língua, assim como em outras instâncias sociais, quando acontece um
novo fenômeno, precisamos de uma nova expressão para designá-lo. Desse
modo, segundo afirma Kleiman (1995, p. 16), a expansão dos usos sociais da
escrita, desde o culo XVI, vem requerendo outra expressão que seja capaz de
dar uma maior amplitude aos significados da escrita no contexto social, que não
apenas o de “saber ler e escrever”.
A própria Kleiman nos apresenta um conceito um pouco mais abrangente do
que aquele , apresentado por Soares (2002, p.17) ao dizer que letramento trata
do “estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e a escrever”.
Então, Kleiman (2001, p.19), define letramento como “um conjunto de práticas
sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia,
em contextos específicos, para objetivos específicos”.
Corroborando com a definição de Kleiman (2001) para o termo, destacamos
que o letramento difere da alfabetização principalmente no tocante ao aspecto
social, tendo em vista que, para aquele, as práticas de escrita e leitura são
analisadas segundo suas possibilidades de uso efetivo, enquanto que para esta,
tais práticas não têm, necessariamente, relação direta com o uso. O sujeito
alfabetizado seria aquele que teria aprendido a ler e a escrever minimamente e o
sujeito letrado seria aquele que adquiriu o estado ou a condição de quem se
apropriou da leitura e da escrita e faz uso dessa condição socialmente.
Para Gee (2000), nos novos estudos do letramento, leitura e escrita fazem
sentido se realizados em contextos de práticas sociais e culturais dos quais elas
fazem parte. Semelhantemente, Barton (1998, apud Xavier 2005) afirma que o
letramento é uma prática cultural, sócio e historicamente estabelecida antes
mesmo de ser um conjunto de habilidades intelectuais. Assim sendo, verificamos
a relevância de se estudar linguagem nessa perspectiva, pois tratamo-la como
tendo por base o dia-a-dia dos sujeitos que a usam, atendendo assim ao
pressuposto de um novo modelo de estudos da linguagem.
O modelo de Hamilton & Barton (2002) atenta para o fato de as pessoas
poderem enxergar a escrita a partir de suas habilidades intelectuais, mas
também considerar o que podem fazer com ela, como, com quem e onde utilizá-
la. Tal preocupação passou a ser sentida pelos autores ao observarem crianças
sendo alfabetizadas apenas decodificando símbolos, sem entender como podiam
fazer uso dessas práticas em seus cotidianos.
Dito isto, podemos agora destacar seis proposições levantadas por
Hamilton & Barton (Id Ibidem), ao tratarem de letramento. Segundo os autores:
1- Letramento é um conjunto de práticas sociais e, sendo assim, o
texto, nessa perspectiva, não tem um sentido fechado ou acabado;
2- diferentes letramentos associados a diferentes domínios
discursivos: domínios diferentes possibilitam diferentes letramentos;
3- As práticas de letramento são moldadas por instituições sociais e
relações de poder e alguns letramentos são mais dominantes, visíveis e influentes
que outros;
4- Práticas de letramento são propositais e embutidas em objetos
sociais e práticas culturais mais amplas;
5- Letramento é histórico e culturalmente situado;
6- Práticas de letramento mudam e novas são adquiridas através de
processos de aprendizado informal e do fazer sentido.
A partir das considerações apresentadas por Gee (2000), Barton (1998,
apud Xavier 2005) e dessas seis proposições levantadas por Hamilton & Barton
(2002) para definir letramento, embasamos nossa concepção sobre práticas
letradas nas palavras de Mey (1998) que dizem que:
letramento é mais do que a habilidade de ler e escrever. Sem dúvida, em um
sentido, o letramento pode ser considerado como uma forma de tecnologia em
que a leitura e a escrita são os efeitos primários desta determinada técnica [...].
(itálico do autor)
E, tal como aponta o autor (op. cit), a tecnologia denominada de letramento
suscita dos sujeitos letrados determinados comportamentos, tais como: a
atribuição de significados às informações derivadas de diversas fontes de escrita -
palavras, gráficos, imagens, dentre outras, localização, seleção e avaliação crítica
da informação.
Nesse sentido, saber “apenas” ler escrever, na sociedade em que vivemos
não se apresenta mais como um fator determinante. Estes seriam “efeitos
primários” como destaca Mey (1998). Convém aos sujeitos pertencentes a esta
sociedade permeada pela escrita se apropriarem desses comportamentos para
que, assim, possam dominar as regras que regem a prática social da
comunicação e utilizá-las na leitura do mundo, na escrita da palavra empregada
na produção e representação de conhecimentos.
Em se tratando, pois, de uma pesquisa focalizada no uso das novas
tecnologias e tendo feito estas considerações sobre letramento, trataremos agora
de um tipo específico de letramento, o digital. Para nós, letramento o digital inclui
letramentos outros, tais como o midiático, o visual, o escolar, etc. Por ser assim,
consideramo-lo como uma espécie de multiletramento, no qual os sujeitos
usuários precisam reunir práticas advindas de outros letramentos para dar novos
significados às práticas de leitura e escrita em um ambiente específico e
hipermidiático proporcionado pelo computador. Nele a convergência de várias
mídias, passa a ser um desafio a mais para o sujeito que o acessa.
Com a mecânica trazida a partir de uma tela pela Web, o papel passa a
conviver com o texto digital. Logo, este novo suporte de interação se constitui
também como um novo espaço de escrita e, desta maneira, altera as formas de
ler e escrever, desencadeando mais um patamar no processo de apropriação do
letramento.
Letramento segundo Coscarelli (2007, p. 9): “é o nome que damos, então, à
ampliação de leque de possibilidades de contato com a escrita também em
ambiente digital (tanto para ler quanto para escrever)”. Em consonância com
Coscarelli (op. cit), Buzato (2007, p. 159) comenta que
do ponto de vista do espaço da escrita, os estudos têm buscado caracterizar os
LD em função da utilização de diversos tipos de telas eletrônicas sobre as
quais o texto e/ou imagens aparecem organizado(s) na forma de janelas que se
aninham ou se sobrepõem espacialmente, ou se sucedem temporalmente.
Essa ampliação do leque de possibilidades de contato com a escrita a qual
Coscarelli (Id. Ibidem) se refere faz com que assumamos o letramento digital
como sendo um multiletramento, isto é, um espaço de interseção entre vários
letramentos. Desta feita, consideramos que o estudo sobre essa temática pode
trazer resultados positivos para o contexto da linguagem e da educação,
sobretudo nos ambientes de nossas salas de aula, pois, de acordo com as
palavras de Goulart (2007, p. 43) “na sala de aula, convivem muitos signos com
múltiplos sentidos!”
Assumimos nesta pesquisa a posição de adotar o letramento como sendo um
fenômeno plural e, admitimos que os letramentos se entrecruzam de modo que
podemos observar influências de um sobre o outro. No entanto, as características
e os contextos específicos de utilização, sobretudo da escrita, fazem-nos
denominá-los como sendo de um ou de outro tipo, escolar, midiático, digital, etc.
3.2 - Letramento digital e suas características
Com a chegada dos computadores e posteriormente com o crescente
acesso à Internet, aumentaram as possibilidades de comunicação e, deste modo,
novas formas de ler e escrever foram adicionadas à conjuntura social. Sendo
assim, surge a necessidade de abordar o fenômeno do letramento de forma
múltipla, como aqui enfatizamos, não considerando apenas o letramento
alfabético ou tipográfico, mas sim, considerando a existência de vários tipos de
letramentos, tal como destaca Barton (apud XAVIER 2005) ao afirmar que:
Letramento não é o mesmo em todos os contextos: ao contrário, diferentes
Letramentos. A noção de diferentes letramentos tem vários sentidos: por
exemplo, práticas que envolvem variadas mídias e sistemas simbólicos, tais
como um filme ou computador, podem ser considerados diferentes letramentos,
como letramento fílmico e letramento computacional (computer literacy)
Assim, falamos do letramento digital, que, a nosso ver, aponta para muitos
tipos de práticas necessárias para acessar, pesquisar, interpretar, criticar e
participar das novas formas de linguagem emergentes no contexto cultural e
social.
Segundo Almeida (2005 apud Araújo 2007, p. 110), “ler telas, apertar teclas
do computador, equivale à inclusão digital, semelhantemente como ocorre na
alfabetização no sentido de identificação das letras quando equivale à
alfabetização funcional.” Concordamos quando a autora afirma que
procedimentos como ler telas, apertar teclas etc. são processos que se
assemelham ao da alfabetização. Contudo, temos uma posição mais abrangente
no tocante à inclusão digital. Não acreditamos que esse processo se resume à
questões cnicas, tal como retrata a autora supracitada, pensamos a inclusão
digital como algo que é perpassado por questões de ordem social, por isso
merece maior aprofundamento.
Desta maneira, dizemos que o letramento digital significa o domínio de
técnicas e habilidades para acessar, interagir, processar e desenvolver variadas
competências de leitura e de escrita no computador como máquina de leitura e de
edição de texto, e através deste como máquina de acesso à comunicação e à
informação, sendo, desta forma, o letramento digital um caminho à inclusão
digital.
Segundo Ribeiro (2007, p. 125), o letramento digital é a “maneira como os
leitores/usuários se apropriam dos novos suportes e dos recursos de
apresentação para a escrita/leitura. A autora, por sua vez, apresenta uma
definição bastante semelhante a de Soares (2002, p. 151), pontua ser o
letramento digital “um certo estado ou condição que adquirem os que se
apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e escrita na
tela, diferente do estado ou condição do letramento - dos que exercem práticas
de leitura e escrita no papel”.
Xavier (2005), em seu texto “Letramento digital e ensino”, destaca que o
crescente aumento na utilização das novas ferramentas tecnológicas tem exigido
das pessoas a aprendizagem de novos comportamentos e raciocínios específicos.
O autor chama atenção para o fato de que:
O Letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das
formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe
assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e
não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura
e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos
digitais é a tela, também digital.
Corroborando com o pensamento de Xavier (2005), Almeida (2005 apud
Araújo 2007 p. 111) denomina o letramento digital como fluência tecnológica e,
sobre isso, a autora esclarece:
A fluência tecnológica se aproxima do conceito de letramento como prática
social, e não como simplesmente aprendizagem de um código ou tecnologia;
implica a atribuição de significados à informações provenientes de textos
construídos com palavras, gráficos, sons e imagens dispostos em um mesmo
plano, bem como localizar, selecionar e avaliar criticamente a informação,
dominando as regras que regem a prática social da comunicação e
empregando-as na leitura do mundo, na escrita da palavra usada na produção
e representação de conhecimentos.
Frade (2005, p.60) apresenta uma definição que difere um pouco das outras
perspectivas aqui destacadas para letramento digital. A autora diz que esse tipo de
letramento envolve “tanto a apropriação de uma tecnologia, quanto o exercício efetivo
das práticas de escrita que circulam no meio digital”. Com isso, reiteramos que, para ser
letrado digitalmente, é necessário o conhecimento da escrita e de outros recursos, como
a multissemiose ou mesmo a multimodalidade que diz respeito à sobreposição de
imagens, som, escrita, com finalidade interacional. Nessa perspectiva, Dionísio (2006, p.
131) comenta que:
na atualidade, uma pessoa letrada deve ser capaz de atribuir sentidos a
mensagens oriundas de múltiplas fontes de linguagem, bem como ser capaz de
produzir mensagens, incorporando múltiplas fontes de linguagem.
Sobre essa questão, destacamos a opinião de Kress e Van Leuwen que quando
defendem que a multimodalidade não está presente apenas nos múltiplos modos de
transmitir mensagens e conhecimentos, mas sim na linguagem. Eles afirmam que
Linguagem, por exemplo, é um modo semiótico porque pode se materializar em
fala ou escrita, e a escrita é um modo semiótico também, porque pode se
materializar (como uma mensagem) gravada em uma pedra, como caligrafia
em um certificado, como uma impressão em um papel, e todos esses meios
adicionam uma camada a mais de significado.
25
A partir dos autores mencionados, podemos dizer que a relação entre letramento
e escrita assume características mais particulares quando falamos em letramento digital.
25
Tradução livre
A não padronização da escrita, a inserção de cores, movimentos, sons, imagens e até
emoticons no que se entende como escrita, toma proporções bastante significativas ao
buscarmos compreender ou mesmo definir o letramento digital. Para nós, toda essa
(des)organização define mais claramente esse tipo específico de letramento e nos faz
compreender que, desse modo, ele oportuniza, mais abertamente, o conhecimento e o
contato social, tal como diz Braga (2007, p. 187).
“Embora demande o domínio de um conjunto de habilidades mais complexas
do que as exigidas pela escrita tradicional, o letramento digital abre espaços de
acesso ao conhecimento e ao contato social; acessos não possibilitados pelas
práticas letradas anteriores.”
Sobre considerarmos o letramento digital em seus aspectos plurais e de defini-lo
como sendo, de certa forma, a habilidade de lidar com diversas formas de apresentação
da escrita na tela do computador, apoiamo-nos nas palavras de Dionísio (2006, p.132)
quando diz que:
Na sociedade contemporânea, à prática de letramento da escrita, do signo
verbal, deve ser incorporada à prática de letramento da imagem, do signo visual.
Necessitamos então, falar em letramentos, no plural mesmo, pois, a
multimodalidade é um traço constitutivo do discurso oral e escrito. Faz-se
necessário ressaltar, também a diversidade de arranjos não-padrões que a
escrita vem apresentando na mídia em função do desenvolvimento tecnológico.
Em conseqüência, os nossos habituais modos de ler um texto estão sendo re-
elaborados constantemente. Não se salienta aqui a supremacia da imagem ou
da palavra na organização do texto, mas sim a harmonia (ou não) visual
estabelecida entre ambos.
Diante dessas observações, consideramos que o letramento digital parece ser,
por excelência, o lugar de práticas letradas híbridas e, sendo assim, a escrita acaba
sendo ressignificada nessa relação direta com a tecnologia. Por essa razão,
corroboramos com posicionamento de Lino de Araújo (2004, p. 8), pois a autora afirma
que:
o letramento não é apenas o impacto da escrita, mas é o impacto da
supervalorização de informações e da conseqüente necessidade de fazê-las
circular. Nesse sentido, não está relacionado apenas às práticas de escrita,
mas às outras práticas que também registram informações e as fazem circular.
Adotando a escrita dentro no letramento digital numa perspectiva mais
ampliada, defendemos com Silva (2005, p. 33), que este tipo de letramento
transcende a escrita. Ela postula que:
não se trata apenas de ensinar a pessoa a codificar e decodificar a escrita, ou
mesmo usar teclados, interfaces gráficas e programas de computador, mas de
inserir-se em práticas sociais nas quais a escrita, mediada por computadores e
outros dispositivos eletrônicos, tem um papel significativo. Logo, letramento
digital seria a habilidade para construir sentido, capacidade para localizar, filtrar
e avaliar criticamente informação eletrônica, estando essa em palavras,
elementos pictóricos, sonoros ou qualquer outro.
Sabemos que na internet existem informações de características as mais
diversas. Tamanho, teor, função, público-alvo, o apenas algumas dessas
características que podem ser, facilmente, observadas nesse “mar de
informação” que é a rede mundial de computadores. Navegar nessas águas
requer do marinheiro, de fato, como destacou Silva (Id Ibidem), habilidade. Esta,
contudo, não se limita apenas a ligar e desligar o computador ou produzir textos
em processadores específicos para tal, como diz a autora. Saber encontrar a
informação na rede, de modo que esta tenha um sentido efetivo para o indivíduo,
torna o sujeito apto neste contexto, ou seja, um sujeito minimamente letrado
digitalmente.
Nesta linha de pensamento, apresentamos o que dizem Leu et al. (apud
Tavares, 2009 p. 142) ao definir os novos letramentos, baseados nas novas
tecnologias de comunicação e informação. Os autores afirmam que esses
letramentos possuem natureza múltipla, esta, por sua vez, é formada por pelo
menos três níveis, que têm os seguintes objetivos:
a) caracterizar a construção do significado pela integração de ícones, símbolos
animados, som, vídeos, tabelas interativas, ambientes da realidade virtual, entre
outros, de forma que a compreensão se dá pela integração das diferentes mídias
gerando um sentido diferente do que cada uma possui separadamente;
b) se referir às múltiplas formas de comunicação e acesso à informação que o
indivíduo, usuário das novas tecnologias, precisa saber para atingir seus
propósitos. Entre elas estão: usar sites de busca, avaliar a credibilidade e
importância da informação, acessar mensagens instantâneas, comunicar-se
através de e-mails, participar de videoconferências, salas de bate-papo, listas de
discussão, entre outras.
c) relacionar à possibilidade de acesso e troca de informações em diferentes
contextos culturais e sociais. A internet cria oportunidades para pesquisas nos
locais mais distantes, além da troca de comunicação entre pessoas do mundo
inteiro sem sair de casa, da escola ou do trabalho. Essa possibilidade gera a
necessidade de interpretar e responder a questionamentos de múltiplos
contextos sociais e culturais antes praticamente inacessíveis.
As ponderações realizadas por Leu et al. (apud Tavares, 2009 p. 142) para
definir os novos letramentos baseados nas novas tecnologias de comunicação e
informação corroboraram com o posicionamento que assumimos aqui para
caracterizarmos o letramento digital, em três níveis distintos, quais sejam:
básico, intermediário e avançado. Tal caracterização foi importante neste estudo
porque permitiu registrar diferentes graus de domínio de habilidades e de usos
de leitura e escrita da informante no meio digital. Desta forma, apresentar níveis
para o letramento digital se constituiu como um recurso significativo neste estudo
pois permitiu nomear as distintas fases pelas quais passou a informante durante
o seu processo de letramento digital. Assim sendo, para cada nível proposto,
destacamos algumas ações requeridas. Vejamos a classificação elaborada para
definir tais níveis:
a) vel Básico de Letramento Digital (LD): ligar o computador e usar o
processador de texto são ações compatíveis com este nível;
b) vel Intermediário de Letramento Digital (LD): acessar à internet para
ler e responder e-mails, fazer pesquisas simples por meio de serviço de
busca, usar programa de mensagens instantâneas, opinar em fóruns e
blogs, construir o próprio blog e site de relacionamento, fazer compras em
lojas virtuais indicam ações relativas a este nível;
c) Nível Avançado de LD: baixar conteúdos (programas, músicas, filmes,
figuras) da internet, construir sites com domínio próprio, produzir conteúdo
para alimentar sites da internet (Wikipédia, por exemplo), usar programas
de edição (texto, áudio e vídeo), construir personagens em mundos virtuais
(Second life, The Sims, hiperficção), participar de partidas de jogos
eletrônicos on-line caracterizam ações deste nível.
Destacamos, a partir de agora, as três características que, para nós,
podem ajudar a compreender melhor o que de fato vem a ser o letramento digital.
Todavia, ressaltamos que as características e marcas do letramento digital ainda
não estão totalmente consolidadas, por isso, ainda são muito sutis, tênues a
diferença entre os níveis.
A primeira e talvez a mais importante das características que gostaríamos de
destacar é a escrita pública. Consideramos que no letramento digital a escrita se torna
verdadeiramente acessível ao público, diferentemente de outros letramentos. Para esse
tipo de letramento, a escrita percorre um circuito aberto em que um autor expõe sua
escrita a um ou a vários
l
eitores.
Ponderamos, desse modo, dois sentidos para a escrita que se estabelece como
pública no letramento digital. No primeiro deles, dizemos que ela é pública porque é
destinada a vários leitores, que estejam conectados à internet, acessam um blog, fórum
eletrônico ou sites em geral. A segunda razão pela qual consideramos ser a escrita
pública é porque publicação, no espaço virtual de modo geral, não sofre censura, ou seja,
não é restrita somente a iniciados; qualquer pessoa, sabendo escrever bem ou não,
pode utilizar o computador/internet para publicar algo.
Salientamos o fato de que essa ausência de censura propicia condições para que
o usuário da escrita sinta-se mais livre, mais autônomo, logo, mais autor de seus próprios
textos. Essa constitui, pois, a segunda característica sugerida por nós para identificarmos
um sujeito como letrado digital. Sendo assim, entendemos autoria/autonomia como as
possibilidades de elaboração do próprio texto, que se revela nas escolhas lexicais e
sintáticas para veicular um conteúdo semântico de acordo com a intenção comunicativa
do sujeito a um interlocutor idealizado. Posteriormente a essa produção intersubjetiva,
seguir-se-á a divulgação de uma dada visão de mundo, teoria, arte, crença sem ter que
experimentar, necessariamente, o crivo seletivo de grupos hegemônicos que controlam
as divulgações das informações em larga escala na sociedade, tais como os editores da
mídia em geral e os da indústria editorial.
26
Araújo (2007, p.115) parece contribuir com nossa posição ao realçar a questão da
autoria/autonomia como uma característica do letramento digital. A autora diz que,
26
Lembremo-nos dos cordelistas e violeiros que, por vezes, têm um conhecimento muito limitado das normas
da língua padrão e, hoje, têm suas obras circulando na internet. E este é apenas um exemplo dentre vários
que é possível citar.
quando avançamos nos estudos do letramento digital, repensamos a textualidade e a
narrativa que envolve a posição de um autor-leitor. Ela assim se expressa a esse
respeito:
Com o hipertexto, reconfigura-se a própria noção de autoria, uma vez que a
leitura torna-se simultaneamente uma escritura. Construído a partir de infinitas
possibilidades, o hipertexto reconstitui a relação entre autor e leitor, este, ao
navegar pelo hipertexto, incorpora as habilidades de escritor e torna-se um co-
autor a medida que, com total autonomia, intervém nos caminhos e vias que o
texto oferece. Essa autonomia, produto da não-linearidade, possibilita ao
leitor/escritor avançar na produção do conhecimento sob passos largos que
conquistam a liberdade de explorar diversos espaços que abominam o
monologismo do texto linear. [Grifos nossos]
Uma última característica que gostaríamos de acentuar sobre o letrado digital é
saber utilizar as diversas mídias em convergência. O ambiente digital é, sem dúvida, um
lugar em que as mídias tendem a convergir. Por exemplo, no que se refere às mídias
(TV, Rádio, Impressos), temos todas num lugar de acesso. Quanto às representações
da escrita, textos em formato tradicional, tabelas, gráficos, todos juntos em um
espaço. E ainda, no que tange à escrita, temos esta conduzindo aspectos próprios da
oralidade e estabelecendo uma comunicação síncrona, em tempo real, através das
conversas pelos chats, por exemplo. Quando o sujeito consegue se expressar
convergindo para seu discurso as diversas possibilidades midiáticas (texto verbal,
imagem e som), podemos dizer que adquiriu de fato o letramento digital em seu nível
mais elevado.
Com base nas posições aqui assumidas e nas características que sublinhamos
para o letramento digital, sabemos que esta temática acaba nos levando à reflexão sobre
a questão da inclusão digital. Estar incluído digitalmente para nós acontece quando o
sujeito se apropria do letramento digital e domina as características aqui apresentadas
(escrita pública, autoria/autonomia e convergência). Sem dúvida, este novo tipo de
letramento promove mudanças na mentalidade e nas práticas cotidianas dos sujeitos que
vivem na sociedade contemporânea.
Mediante tais explanações, discorreremos a seguir sobre os “flagrantes” da
naturalização no letramento digital.
3.3 – Letramento digital mostrado
3.3.1 – Nível básico de LD
27
A maturidade e habilidade que os sujeitos vão adquirindo perante o uso da
escrita em suas diversas atribuições sociais, segundo as teorias do letramento
evidenciadas neste trabalho, é o que vai indicar o estágio de letramento desses
sujeitos.
Por essa razão é que apresentaremos, também nesta categoria, nossos
exemplos divididos em subtópicos que demonstram os estágios de letramento
digital revelado pela informante em estudo, são eles: sico, que requer ações do
tipo ligar o computador e usar um processador de texto, dentre outras com o
mesmo grau de dificuldade; intermediário, que demanda acessar à Internet para
ler e responder e-mails, fazer pesquisas simples por meio de serviços de busca,
usar programas de mensagens instantâneas, opinar em fóruns e blogs, fazer
compras em lojas virtuais, etc. e avançado, que suscita baixar conteúdos
(programas, músicas, filmes, figuras) da internet, construir sites com domínio
próprio, usar programas de edição (áudio, vídeo, texto), etc.
Com esse raciocínio, citamos Soares (1998), ao tratar da ressignificação da
palavra letramento no Brasil, quando comenta que um sujeito letrado, hoje, não é
simplesmente quem tem a habilidade de codificar e decodificar o nome, mas
27
Letramento Digital
quem tem a capacidade de usar a leitura e a escrita para uma prática social. Esta,
no caso do estudo em questão, se configura como sendo o envolvimento e
desenvoltura de uma cursista do ME nos diversos ambientes (fóruns, biblioteca,
diário de bordo, e-mail) em que precisam fazer uso da escrita para garantirem sua
efetiva participação no curso.
Observemos, então, os exemplos e seus comentários a seguir:
Figura 18: Fórum Sistema operacional e seus aplicativos – “C”
Ex23: (Figura 18)“... o Word tem um suporte legal para a realização do meu
trabalho que é digitar textos e provas quando preciso de tabelas uso o Excel o
Power point conheço porém não faço uso.”
Ex24: (Entrevista) “... eu acho que o computador, a internet é que faz você ficar
mais incluída digitalmente... o acesso à internet...”
Figura 19: Fórum TV digital – “B”
Ex25: “...foi o meu filho que por duas vezes apertou em enviar antes que eu
salva-se o texto.”
Figura 20: E-mail “Ativ 4” – “B”
Ex26: (Figura 20) “...acho que meu filho apagou o seu e-mail e agora não sei o
que é que tenho que fazer...”
Nesses exemplos, podemos perceber algumas particularidades inerentes
ao nível básico do letramento digital. No EX 23, a informante se declara
conhecedora dos programas que compõem o Office do Windows, programas
estes que, para um indivíduo considerado letrado digitalmente, são básicos, visto
que esses programas podem possibilitar, ainda que de forma indireta, a imersão
do sujeito em estágios mais avançados do respectivo letramento.
Notamos que no depoimento do EX 23, a informante mostra-se satisfeita
com as ferramentas de um processador de texto para o cumprimento de suas
atividades, o Word tem um suporte legal para a realização do meu trabalho
que é digitar textos e provas...” A afirmação da informante aponta para questões
do tipo: necessidade de se adequar ao meio e a iniciativa. Ora, todos s
sabemos que a cultura digital tem, influenciado diretamente nossas rotinas. Mas,
também sabemos que, apesar dessa influência, as escolas, de modo geral,
parecem não estar aptas a trabalhar e nem a favorecer o trabalho dos que se
encontram nessa perspectiva digital. Um professor que não tem incentivo algum
para o uso do computador em seu ambiente de trabalho, pois ainda se usam
instrumentos como o mimeógrafo, por exemplo e tem conhecimento dos
programas básicos do Office e usa um processador de textos para digitar provas
demonstra uma iniciativa relevante rumo ao seu letramento e inclusão digitais.
Ao afirmar “...quando preciso de tabelas uso o Excel o Power point
conheço porém não faço uso.” inferimos que a informante faz um uso seletivo e
profissionalmente motivado dos programas de computador. Isso é bastante
relevante, pois a informante indica que sabe ser o universo a que ela está exposta
computador e internet muito mais amplo do que o que ela usa. Esta nos
parece ser uma característica do letramento digital: saber onde está a fim de usar
quando necessitar. O mais importante parece ser não necessariamente usar, mas
saber ordenar.
De modo a confirmar a importância do uso consciente, ou seja, do uso com
um sentido social desses programas no cotidiano de um professor, nos apoiamos
em Coscarelli (2007, p. 31) quando diz:
... estamos preparados para lidar com esse instrumental que se disponibiliza
como advento da informática? Sabemos digitar? Sabemos formatar textos?
Sabemos lidar com planilhas? Sabemos criar apresentações? Sabemos
navegar? Como então vamos ajudar nossos alunos a dominar essas
ferramentas e entrar nesse mundo novo, se não o conhecemos?
Os professores precisam encarar esse desafio de se preparar para essa
nova realidade, aprendendo a lidar com os recursos básicos e planejando
formas de usá-los em suas salas de aula.
Sobre esse aspecto, podemos citar também o EX 24, no qual verificamos
que a informante demonstra uma percepção do que seja o processo de
letramento/inclusão digital. Falar sobre esse processo é falar do convívio e da
habilidade no manejo com o computador e com a Internet. Não é possível
discorrermos sobre letramento digital e não destacar esses dois fatores em
paralelo.
Desse modo, por ter esse conhecimento, e, claro, outros mencionados
aqui a respeito do computador e da internet, nossa informante, neste momento,
parece demonstrar ter alcançado um estágio básico de letramento digital,
conforme o que propusemos aqui para caracterizar tal momento inicial de
letramento digital.
Compreendemos, a partir de tal depoimento, que as TDIC já fazem sentido
para a informante, tanto que ela alega que, para ser “incluído digitalmente” é
preciso ter “acesso à internet”. Com essa informação, notamos o desejo de
ainformante incluir-se, de fazer parte desse contexto e, sendo assim, esse sujeito
vai buscar uma forma para que essas TDIC façam sentido nas práticas sociais
das quais ela participa.
Percebemos que, pelos exemplos destacados, o conhecimento ou mesmo
a “intimidade” que a informante tem o computador/Internet ainda se mostram
bastante elementares. Nos EX 25 e 26, ela afirma ser seu filho quem faz o
trabalho operacional do curso em que ela está matriculada, sobretudo, no que diz
respeito à Internet. Com essa afirmação é possível constatar que os sujeitos
“imigrantes digitais” não se letram e incluem-se digitalmente sozinhos, mas são
conduzidos por “um outro”, que neste caso, tende a ser um “nativo digital”.
A esse respeito, Buzato (2007, p. 166) comenta que o letramento digital, ou
como prefere o autor, os letramentos digitais, promove(m) a interpenetração de
contextos, conecta(m) sujeitos remotos espacial e temporalmente. Assim, para o
autor
os letramentos digitais funcionariam como formas discursivas de construção do
tempo-espaço, ou cronotropos, para usar um termo bakhtiniano, que ampliam
as zonas de contato entre nós e o outro. Letramentos digitais, seriam, portanto,
sempre potencialmente letramentos interculturais. [ itálicos do autor ]
Mediante esta colocação de Buzato (Id Ibidem) para conceituar o(s)
letramento(s) digital(is), inferimos que, para a informante, conforme destacado
nos EX 25 e 26, o filho dela exerce o papel social desse “outro”, é ele quem
promove a interseção entre os contextos sociais (o dela e o dele) e, é/ são o(s)
letramento(s) digital(is) que conecta(m) esses sujeitos que encontram-se
relativamente distantes do ponto de vista cultural.
Ainda no tocante ao EX 26, é possível mencionar mais uma particularidade
do nível básico de letramento digital apresentada pela informante, qual seja,
salvar um documento. Observamos que o conhecimento da informante, nesse
sentido, não se restringe a uma questão técnica, mas abrange a segurança
também, pois ela já tem a consciência de que, apesar de toda evolução, a Internet
(no caso a plataforma de ensino) ainda é um ambiente instável e que, portanto,
documentos podem ser “perdidos” com certa facilidade, caso não haja uma
medida preventiva por parte da cursista.
Pensando nisso, ela afirma: “...foi o meu filho que por duas vezes apertou
em enviar antes que eu salva-se o texto.”. Tal assertiva nos confirma que, fora a
habilidade de digitar textos, a informante também conhece um recurso sico e
muito útil dos processadores de texto, o Ctrl C + Ctrl V, ou seja, copiar e colar,
que foi um dos grandes favorecimentos para os que migraram da datilografia para
a digitação, visto que naquela, se houvesse algum erro ou necessidade de
deslocar parte de um texto certamente perdia-se toda a página produzida,
enquanto que nessa, se o procedimento de salvar tenha sido feito
adequadamente não nenhum tipo de perda neste sentido, é possível deslocar
fragmentos de texto com muita facilidade através do recurso Ctrl C + Ctrl V.
Esse tipo de conhecimento localiza, com facilidade, o sujeito no nível
básico do letramento digital, pois ainda é um conhecimento elementar no tocante
a esse assunto. De modo a confirmar nossas impressões acerca do nível de
conhecimento da informante, destacamos ainda o EX 27, no qual ela declara:
“...acho que meu filho apagou o seu e-mail e agora não sei o que é que tenho
que fazer...” .
Nesse exemplo, vemos que as habilidades quanto ao acesso à Internet
que asseguram o nível intermediário de letramento digital - são do filho da
informante, que tinha apenas 8 anos de idade na época da construção dos dados
desta pesquisa, conforme ela própria afirma. O pedido de ajuda a crianças e
adolescentes para solucionar problemas de informática é natural no processo de
migração para uma cultura digital. O interessante é que a iniciação nesse
contexto se dá ao contrário: em lugar do mais velho para o mais novo, na “Era
Digital”, ela, normalmente, acontece do mais novo para o mais velho. Segue-se a
lógica de que quem ensina é quem tem mais experiência, mais tempo de uso,
mais habilidade e não necessariamente quem é o mais velho cronologicamente.
Assim, dizemos que nossa informante se constitui como uma “imigrante”
para a “Era Digital”, visto que ela está se adaptando a essa tecnologia, ou seja,
ela está adentrando a essa “nova” cultura enquanto seu filho, de apenas 8 anos,
nasceu, como a maioria das crianças dessa geração, imerso nessa cultura e,
portanto, é considerado um “nativo” digital, por isso, lida com facilidade com os
recursos da rede tal qual podemos perceber. É quem acessa o e-mail da mãe e,
sem ele por perto, ela ainda fica um tanto “perdida” e sem saber o que fazer para
participar do curso a distância. O curioso no que diz respeito a esse apoio que o
filho a mãe é que, segundo indicam os dados, o computador enquanto objeto
doméstico foi comprado para a casa quando a mãe estava matriculada no ME.
Provavelmente esta criança, letrada digitalmente, deveria ter acesso ao
equipamento em algum outro espaço, como a escola, por exemplo. Isto equivale a
dizer que assim como outras esferas, a imersão na cultura digital é uma questão
de convívio.
3.3.2 – Nível Intermediário de LD
Por entendermos que o letramento digital se dá de forma processual,
destacaremos agora alguns exemplos que podem comprovar a passagem da
informante de um nível a outro de letramento. Trataremos, então, do nível
intermediário de letramento digital, conforme as práticas requeridas para tal
nível, segundo o que definimos aqui. Observemos os exemplos:
Figura 21: “E-mail errado”
Ex28: (Figura 21) “... so que descobri o motivo de não ter chegado a minha senha,
vc colocou o meu email errado pois colocaste [email protected] e não tem o
br so e ate .com...”
Figura 22: E-mail “Projeto” – “B”
Ex28: (Figura 22) “segue em anexo”
Ex29: (Entrevista) “... agora não tenho mais problema em acessar.”
Os exemplos acima demonstram que a informante assume uma postura
diferenciada dos momentos iniciais do curso. Notamos uma maior segurança e
desenvoltura quanto ao acesso à Internet, às ferramentas e linguagem desse
contexto, o que nos possibilita considerar que ela detém um nível intermediário
de letramento digital.
No EX 27, temos, de forma bastante clara, que a informante começa a
entender a lógica do processo digital. Ela compreende que, qualquer elemento a
mais ou a menos ou ainda fora do lugar em um endereço eletrônico inviabiliza a
comunicação por meio desta ferramenta. Para que a comunicação possa fluir,
todos os elementos devem estar corretamente digitados, caso contrário, a
mensagem pode ser direcionada a outro destinatário ou simplesmente não ser
enviada. Isto ocorre porque o e-mail é uma espécie de “RG” na internet, identifica
individualmente o portador. Se houver qualquer tipo de alteração nos caracteres
desse “RG” digital, ele não mais identifica aquele endereço e
consequentemente seu proprietário.
No caso do EX 27, a informante percebe a inadequação “...descobri o
motivo de não ter chegado a minha senha, vc colocou o meu email errado...” - e
ainda indica a correção do problema “...não tem o br so e ate .com...”. Esse
comportamento nos apresenta subsídios para situá-la na condição de letrada
digitalmente no estágio de letramento agora discutido, visto que, segundo Frade
(2005, p.60), esse tipo de letramento envolve “tanto a apropriação de uma
tecnologia, quanto o exercício efetivo das práticas de escrita que circulam no meio
digital”. Nesse sentido, podemos dizer que a informante tanto se apropriou da
tecnologia que se sentiu muito a vontade para corrigir a tutora em um de seus
procedimentos, fato que, normalmente, nas relações “professor X aluno”, ainda
ocorre com pouca freqüência, até mesmo por uma questão cultural.
Nesta mesma linha está o EX 28, no qual a informante se utiliza de uma
expressão frequente no meio digital, sobretudo para a comunicação feita via e-
mail, qual seja, “segue em anexo”. Nesse caso, o nível intermediário de
letramento pode ser confirmado não pelo uso de tais expressões próprias do
acesso à Internet, visto que isso foi observado na categoria 1 nível de domínio
da linguagem técnico-digital –, mas especialmente pela habilidade da informante
em realizar o procedimento de “anexar” um documento ao e-mail e salvá-lo na
extensão “docx” (extensão apropriada para abrir o documento em formato de
texto). Tais habilidades asseguram a imersão da informante neste nível de
letramento digital.
Afora as habilidades com a linguagem e na realização de certos
procedimentos, destacamos um dos fatores mais relevantes para o nível
intermediário de letramento digital, conforme compreendemos neste trabalho: o
acesso à internet. Assim, citamos o EX 29, no qual a informante afirma: “... agora
não tenho mais problema em acessar.” Tal declaração, a nosso ver, garante a
efetiva participação da informante no contexto digital, pois o acesso à Internet
constitui-se como uma prática social legítima da chamada Sociedade da
Informação. Ademais, se esse acesso for feito naturalmente, tal qual expõe a
informante, servirá como um forte indício de sua aquisição do nível intermediário
de letramento digital.
Também quanto à declaração feita pela informante no EX 29, chamamos
atenção para o advérbio de tempo utilizado, agora’. Ele nos indícios claros,
segundo o contexto, de que o processo de “migração” de um nível a outro de
letramento digital e mesmo de um tipo de cultura a outra (digital) está ocorrendo
na vida da informante de forma gradual. Assim, aos poucos a docente nessa
mudança vai adquirindo práticas tal como acessar à Internet naturalmente -
próprias de determinados ambientes e necessidades exigidas pelo cotidiano.
Ainda no tocante ao estágio intermediário de letramento digital,
destacamos que durante o período de acompanhamento da informante nesta
pesquisa, foram solicitadas, pela equipe de tutoria do curso ME, atividades em
diversos ambientes. Observamos o desempenho significativo nos ‘fóruns’, visto
que, de todas as atividades solicitadas para este ambiente, a informante não
participou de uma. Esse fato indica uma característica que ressaltamos neste
trabalho para a evidência de aquisição do letramento digital, que é a escrita
pública.
A postagem das atividades da informante nos fóruns certifica sua efetiva
participação numa dada comunidade, garantindo essa escrita pública, ou seja,
destinada a vários leitores. Além disso, possibilita acontecer o que sugerimos
neste trabalho como outra característica do letramento digital, qual seja, a
autoria/autonomia do sujeito, criador de seus textos de forma autônoma, ou seja,
com possibilidades de elaboração de raciocínio próprio, com escolhas lexicais e
sintáticas para veicular um conteúdo semântico de acordo com a sua própria
intenção comunicativa.
CAPÍTULO 04
4.Considerações Finais
Esta dissertação buscou analisar dados relacionados aos do processo de
inclusão digital de uma docente da educação básica participante do curso ME,
bem como interpretar as práticas letradas digitais dessa docente no referido
curso. O percurso teórico-analítico deste trabalho nos permitiu formular algumas
considerações, sobre as quais discorreremos a seguir.
A inclusão de um sujeito em qualquer contexto que seja vai depender das
práticas letradas que ele conseguir absorver e do uso efetivo dessas práticas em
sua vida pessoal e profissional. No tocante à inclusão digital não é diferente. A
aquisição e utilização de práticas letradas digitais simples, como por exemplo,
usar um processador de textos, imprimir e conseguir manusear com certa
habilidade ferramentas da internet como e e-mail e sites de busca, podem
indicar um momento significativo na inclusão digital de alguém, tal como
demonstram nossos dados neste trabalho.
Todavia, entendemos que tais práticas letradas, ainda que simples, para
serem introduzidas no cotidiano de alguém que faz parte da geração que
acompanhou o surgimento dos computadores e da internet precisam apresentar
uma finalidade de uso e, em alguns casos, serem conduzidas por outra pessoa,
como aconteceu no estudo de caso aqui realizado. A informante tinha o objetivo
de participar de um curso de formação continuada via EaD on line, mas para tanto
precisava dominar práticas letradas digitais mínimas exigidas neste contexto.
Como essas práticas o constituíam, até então, realidade para ela porque ela a
mesma faz parte de uma geração considerada “imigrante digital”, foi preciso que
outra pessoa, no caso seu filho de 8 anos, a conduzisse nesse processo de
imersão e inclusão em práticas letradas digitais.
As atividades desobrigadas e despretensiosas das crianças da atualidade
no computador e com a internet o fatores que indicam o quão a inclusão digital
para essa geração é uma realidade que se apresenta sem maiores esforços para
muitas dessas crianças, chamadas como “nativos digitais”. Fato este que pode
não ser verificado com muita facilidade para os “imigrantes digitais”, como é o
caso da informante desta pesquisa. Para estes, a inclusão digital é algo que deve
ser buscado, criado, fomentado, para que assim, esses sujeitos possam participar
ativamente dessa sociedade digital e usufruam dos benefícios de um cidadão, tais
como participar de cursos de formação continuada via internet, como é o caso do
ME.
O curso ME comprova essa necessidade que têm os “imigrantes digitais
de buscar a própria inclusão digital. Como o público do curso é constituído por
professores da educação básica e, na realidade profissional nordestina, em sua
maioria constituída por pessoas que não fazem parte da geração “nativos
digitais”, muitos dos docentes que são inscritos no curso pelas Secretarias de
Educação municipal e estadual não atendem ao perfil de letramento digital
mínimo exigido pelo curso para a participação no mesmo. Porém, se o objetivo
desses docentes for de fato dar continuidade à formação por intermédio de um
curso como o ME, eles precisam ir em busca dessa inclusão digital, visto que, se
assim não for, a participação no curso se torna praticamente insustentável, pois
não é objetivo direto do ME propor métodos e formas de inclusão digital aos seus
cursistas no decorrer do cursos, estes necessitam ingressar no mesmo com
noções básicas do manuseio do computador, o que indica um certo grau de
inclusão nesse contexto.
Manusear com destreza essas ferramentas, poder adquiri-las, ter domínio
de linguagem e habilidades próprias do meio digital, capacidade de se comunicar
e se informar pela internet de maneira autônoma constituem elementos relevantes
a serem considerados no processo de inclusão digital de um sujeito. A
apropriação desses quesitos por um “imigrante digital” pode conferir-lhe o
reconhecimento da cidadania nessa sociedade da informação, conforme nossos
dados apontam como sendo o que ocorreu no processo de inclusão digital da
informante deste estudo. Desta feita, acreditamos responder ao primeiro
questionamento proposto nesta dissertação, qual seja: que aspectos (lingüísticos,
textuais, pedagógicos) são indicadores do processo de inclusão digital a partir da
participação no Programa ME?
Compreendemos que a inclusão digital é um processo, e, como tal, ocorre
de modo paulatino e não abruptamente. Conforme as habilidades com o meio
digital vão sendo desenvolvidas e aprimoradas, maior grau de letramento e de,
consequente, inclusão digital, pode ser verificado.
Diante desse raciocínio é que consideramos que o letramento digital, assim
como outros letramentos, é construído por etapas, fases ou níveis como
chamamos nesta dissertação. O nível de letramento digital pode ser verificado
mediante a complexidade ou facilidade exigida para responder a cada situação
dentro desse contexto, bem como através da consciência que se tem para efetuar
as ações requeridas ou propostas.
Dizemos então que as práticas letradas em ambiente digital é que podem
indicar o nível de letramento digital do sujeito, ou seja, a forma como esse sujeito
responde às propostas de escrita e leitura no ambiente digital é que vai sugerir a
que nível de letramento digital ele está vinculado num dado momento.
Salientamos, porém, que cada tipo de ambiente digital tem suas peculiaridades e,
portanto, especificações quanto ao nível de letramento requerido dos que dele
participam. No caso no curso ME, notamos que um nível intermediário de
letramento digital, isto é, aquele nível em que o sujeito consegue acessar a
internet para ler e responder e-mails, fazer pesquisas simples por meio de
serviços de busca, opinar em fóruns e blogs, dentre outras ações, atende as
particularidades deste ambiente.
Assim, o uso do e-mail como ferramenta de comunicação e informação
para fins pessoais e profissionais bem como a habilidade de realizar postagens
das atividades nos ambientes do e-proinfo (fóruns, diários de bordo e bibliotecas),
que requerem domínio de uma forma escrita característica, são elementos que
demonstram uma prática letrada digital própria de sujeito incluído digitalmente.
Tais observações puderam ser verificadas mediante análise dos dados
destacados nesta dissertação. Nessa perspectiva, esperamos ter respondido ao
segundo questionamento proposto nesta pesquisa: que práticas letradas são
mobilizadas pelo professor que se autorreferencia incluído digitalmente ao
participar do curso de formação continuada a distância promovido pelo Programa
ME?
Feitas essas considerações, parece-nos claro que a inclusão digital hoje se
configura como um dos fatores necessários à inclusão social. Pensar em não
excluir socialmente alguém ou um grupo deve também ter como objetivo pensar
em incluir digitalmente. Com esse pensamento, percebemos que a escola ainda
se apresenta como um dos espaços sociais mais propícios à inclusão, tal como é
divulgado muito tempo por diversos órgãos, entidades e até mesmo pela
própria mídia. Contudo, convém pensar agora na escola como espaço de inclusão
não somente no que diz respeito a etnias, costumes, condição sócio-financeira,
entre outros fatores, mas também no que diz respeito a essa “era digital” na qual
estamos inseridos. E, se é assim, nos parece ser urgente a necessidade de
capacitar nossos professores para o uso pedagógico das TDIC em sala de aula.
No entanto, entendemos que, antes mesmo desses professores introduzirem
essas tecnologias em sala de aula, é importante que eles percebam o significado
delas e de suas potencialidades em sua vida tanto profissional quanto pessoal,
que é o que aqui chamamos de inclusão digital.
Seguindo este raciocínio entendemos que se a ordem do curso ME fosse
invertida, isto é, primeiro promovendo-se a inclusão digital dos professores
cursistas conforme se exige no perfil para participação do curso, e, para um
segundo momento, preparar-se esses docentes para o uso pedagógico das
TDIC, teríamos, provavelmente, para resultados como: a) menor número de
evasão; b) maior estímulo para participação de formação continuada na
modalidade EaD on line e consequente diminuição dos custos do Governo na
capacitação desses profissionais; c) possibilidade de maior aplicabilidade nas
escolas dos conhecimentos adquiridos pelos docentes no ME; d) maior número
de profissionais sentindo-se membro efetivo desta sociedade e em condições
suficientes para declarar-se incluído digitalmente e socialmente. Talvez essa seja
uma inversão muito adequada à realidade nordestina, conforme mencionamos
antes, pois a região ainda tem índices baixos de inclusão digital que podem ser
inferidos pelo fato de professores da rede, como a informante deste trabalho, se
incluírem enquanto fazem cursos de aperfeiçoamento. Nesse sentido, parece que
o aperfeiçoamento, em certa medida, se transforma em introdução, ou todas as
possibilidades do aperfeiçoamento não podem ser devidamente aproveitadas.
Por esse pensamento é que compreendemos que as investigações acerca
de formas práticas de inclusão digital devem ser contínuas e freqüentes. Neste
sentido, acreditamos que esta dissertação apenas mostrou algumas luzes, longe
de generalizações, sobre a temática da inclusão digital de docentes, por isso, as
considerações aqui realizadas funcionam também como provocações para futuras
pesquisas e discussões.
5. REFERÊNCIAS
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Pesquisa, v. 36, n. 129, set./dez. 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/cp/v36n129/a0736129.pdf. Acesso em: 04/07/09.
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia na prática escolar. Campinas,
SP: Papirus, 1995. (Série prática pedagógica) pp. 27-48
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ANEXO
Entrevista semi-estruturada
1. O que faz um sujeito incluído digitalmente?
R. O sujeito deve estar interligado com as mídias existentes, principalmente...
num sei se eu to errada, mas eu acho que o computador, a internet é que faz
você fica mais incluída digitalmente... o acesso à internet. O acesso à internet é
que faz o sujeito ficar mais incluído digitalmente.
2. Você se considera um sujeito incluído digitalmente?
R. Sim. Estou engatinhando ainda né. Comecei a a a ser um pouquinho incluída
digitalmente depois que eu comecei esse curso porque anteriormente eu tinha
falado que antes de fazer esse curso, eu o sabia nem ligar o computador,
certo? Você foi prova da minha dificuldade “Hoje em dia to mais... né, sei
fazer todas as tarefas, sei fazer as coisa todinha no computador, então eu
me sentindo incluída digitalmente.
3. Você acha que o ME favoreceu essa inclusão?
Sim, com certeza. Porque antes eu era leiga totalmente no assunto, inclusive nem
usava as Mídias existente na minha escola,que é uma uma escola de periferia,
que não tem muitas coisas pra ser usada, mas tem o rádio, tem a televisão, tem o
vídeo e eu não usava isso na minha sala de aula e hoje em dia, depois que eu to
fazendo o curso, eu vejo que o respaldo você trabalhando com as mídias, certo,
mesmo que seja essas duas, é..., a TV e vídeo e o rádio, né, eu vi que os
meus alunos tiveram um avanço maior. Então ‘a mídia’ (se referindo ao ME) foi
fundamental pra mim, tanto no meu trabalho, como pessoa, para ter um melhor
resultado.
4. Existe algum aspecto ou fato em especial que fez você se incluir
digitalmente a partir do ME?
Sim. A partir do momento que comecei a fazer ‘a mídia’ (se referindo ao ME) eu
tive que comprar o computador pra minha casa, coloquei a internet discada, vi
que não estava dando resultado, que pra eu fazer esse curso eu teria que ter uma
coisa mais avançada. Tive que colocar VELOX pra poder levar o curso a frente.
[...] sim... incluído, exatamente, porque antes eu ia pra lan house e era muito
problemático fazer todas as atividades em lan house
5. quanto tempo você comprou o computador e colocou a internet em
casa?
Que eu comprei o computador? Foi depois que o mídia começou né, eu num me
lembro bem, acho que foi em dezembro que a gente começou num foi? O
primeiro encontro num foi em dezembro.[...] então, eu comprei no finalzinho de
dezembro e a internet eu fui colocar lá pra, pra fevereiro. [...] não, coloquei
discada, agora, mês retrasado, eu coloquei a velox, pra ficar melhor porque a
discada me atrapalhava muito, eu fazia um trabalho, perdia porque caia a
conexão, sem contar que a conexão da plataforma cai também né, mais... mas
contribui ainda mais por causa da internet.
6. Como você se relaciona com o computador e a internet depois que você
tem em casa?
Melhorou bastante. Porque agora não tenho mais problema em acessar. De
primeiro eu não sabia os sites, não sabia pesquisar nada na internet. Chamava
meu filho de 8 anos. Eu achava incrível, né? Eu com 41 e tinha que chamar meu
filho pra me ensinar a ler. Hoje em dia eu não tenho mais esse problema. Entro
e saio naturalmente.[...] sozinha. [...] Com certeza. Devo tudo isso ao mídia.
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