27
do látex se intensificou a ocupação por população não indígena da parte mais a oeste da
Amazônia. Nos vales dos rios Madeira, Purus e Juruá, foram criados e/ou recriados povoados
visando servir de apoio a exploração do látex e que, posteriormente, se transformaram em
vilas e mais tarde cidades, tais como: Manicoré e Humaitá no Madeira, Purus; Lábrea, Boca
do Acre e Camutama no Purus; Carauari e Eirunepé no Juruá; Codajás no Solimões.
Após a crise da borracha, no Estado do Amazonas, algumas vilas foram elevadas à
condição de cidades, assim como foram criados e suprimidos municípios. Porém, esses atos
eram constantemente revogados pelos poderes estatais, sendo que não houve grandes
mudanças na divisão administrativa do estado do Amazonas de 1892 a 1940.
A partir da década de 60, na Amazônia consolida-se a forte influência do Estado,
impondo diretamente políticas de incentivos ao “desenvolvimento” da região. Nestes termos,
a Amazônia passou a ter intervenção do capital de empresas estrangeiras e nacionais, por
meio de uma série de incentivos para a implantação de projetos agropecuários, minerais,
madeireiros e industriais. Concomitantemente, o Estado construía a infraestrutura básica
necessária para a implementação de estradas, portos, ferrovias e rede de comunicação
(BECKER, 1997). Doravante, a Amazônia entra em nova fase de remodelagem de sua malha
urbana, antes voltada somente para o rio, agora tem nas estradas outra forma de constituição
de núcleos de povoamento que deram origem a várias cidades à beira das estradas. Todavia,
esse processo ocorreu de modo diferenciado no Estado do Amazonas, não ocorrendo com a
mesma intensidade que na Amazônia Oriental. Deve-se considerar que, mesmo com a
abertura de estradas, no Estado do Amazonas, a base de circulação continua sendo pelo rio,
permanecendo a estrutura de cidades criadas na época da borracha, tendo como base a “rede
urbana dentrítica”, termo adotado por Roberto Lobato Corrêa (1989), tendo Manaus e Belém
como principais centros urbanos de uma rede de cidades que se articula a partir da calha do
Rio Amazonas-Solimões, se estendendo do litoral Atlântico e penetrando para o oeste da
região. Oliveira acrescenta:
As cidades, espaços produzidos socialmente, são produtos de uma cultura datada num
determinado tempo e lugar. Na Amazônia, sejam localizadas na beira dos rios ou das
estradas, as cidades retratam um determinado período de busca de riquezas. Ao
mesmo tempo, as cidades refletem as condições específicas do lugar e dos conflitos
que não podem ser considerados exclusivamente econômicos, pois tem dimensões
culturais, políticas e ideológicas e retratam o vivido de quem as constrói. As cidades
amazônicas, embora pequenas e com pouca ou nenhuma importância para as outras
regiões do país, têm organização e estrutura que extrapolam sua dimensão específica,
configurando formas e estilos que estão além da circunscrição espacial. Nelas se
encontram dimensões regionais, nacionais e até internacionais, influenciando de forma
direta ou indireta o cotidiano. É preciso, no entanto, conceber as cidades por meio de
características específicas, tentando não as ver como pedaços de uma cultura mais