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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
MOCAMBO, CABURI E VILA AMAZÔNIA NO MUNICÍPIO
DE PARINTINS: MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO RURAL E DO
URBANO NA AMAZÔNIA
CHARLENE MARIA MUNIZ DA SILVA
MANAUS
2009
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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
CHARLENE MARIA MUNIZ DA SILVA
MOCAMBO, CABURI E VILA AMAZÔNIA NO MUNICÍPIO
DE PARINTINS: MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO RURAL E DO
URBANO NA AMAZÔNIA
Orientador: Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira
MANAUS
2009
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade
Federal do Amazonas, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Geografia
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Ficha Catalográfica
(Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)
S586m
Silva, Charlene Maria Muniz da
Mocambo, Caburi e Vila Amazônia no município de Parintins:
múltiplas dimensões do rural e do urbano na Amazônia / Charlene
Maria Muniz da Silva. - Manaus: UFAM, 2009.
176 f.; il. color.
Dissertação
(Mestrado em Geografia) –– Universidade Federal
do Amazonas, 2009.
Orientador: Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira
1. Planejamento urbano 2. Cidades e Vilas 3. Geografia humana
I. Oliveira, José Aldemir de II. Universidade Federal do Amazonas
III. Título
CDU 911.3:711(811.3)(043.3)
3
CHARLENE MARIA MUNIZ DA SILVA
MOCAMBO, CABURI E VILA AMAZÔNIA NO MUNICÍPIO DE
PARINTINS: MÚLTIPLAS DIMENSÕES DO RURAL E DO URBANO
NA AMAZÔNIA
Aprovada em 5 de novembro de 2009.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira
Universidade Federal do Amazonas
Prof. Dr. Manuel de Jesus Masulo da Cruz
Universidade Federal do Amazonas
Prof. Dr. Paulo Rogério de Freitas Silva
Universidade Federal de Roraima
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade
Federal do Amazonas, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Geografia
4
Aos meus pais Manoel e Graça, amores da minha
vida e meus exemplos de honestidade, caráter e
força de vontade.
A minha querida irmã Tatiana (
in memorian
), que
tão cedo nos deixou, mas que me ensinou amar a
vida, e aproveitar cada momento com alegria; até
hoje a lembrança de seu sorriso me faz sonhar com
um futuro melhor.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida e por ter me concedido coragem, força e determinação em
continuar caminhando sem medo dos obstáculos que se apresentam pelo caminho.
Aos meus pais, Manoel Humberto e Maria das Graças, por sempre me apoiarem incondicionalmente, em todos
os momentos da minha vida, não medindo esforços para que eu pudesse alcançar meus objetivos.
Ao meu orientador Prof. Dr. José Aldemir de Oliveira, que soube com seriedade e paciência orientar esta
dissertação, sem a qual, não poderia ter concluído.
Aos meus grandes amigos Lucimara e Daniel, pela ajuda na pesquisa de campo nas vilas e pelo apoio dado em
vários momentos em que precisei.
Aos meus colegas do mestrado Telma, Francimara, Tongaté e Marilene pela presença sempre amiga e solidária,
sobretudo nos momentos em que compartilhamos as angústias, preocupações e dificuldades na trajetória do
mestrado.
A coordenação do Programa de Pós-Graduação em Geografia, na pessoa de Graça Luzeiro, que se mostrou
excelente profissional, conduzindo com competência os trabalhos administrativos no âmbito do mestrado.
Ao amigo Prof. José Camilo Ramos de Souza pela concessão do material bibliográfico sobre Vila Amazônia e
pelas palavras de incentivo, sempre acreditando em minha capacidade acadêmica, até mesmo nos momentos em
que nem eu mesma acreditava.
Ao técnico da prefeitura municipal de Parintins Harald Dinelly, pelo apoio técnico na elaboração dos mapas que
ajudaram a ilustrar este trabalho.
Obrigada aos membros docentes e discentes do Programa de Pós- Graduação em Geografia, pelo empenho nas
aulas e pela obstinação em transformar o mestrado em Geografia da UFAM em um curso bem qualificado pela
CAPES.
Agradeço à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas, pela bolsa de apoio e incentivo à pesquisa,
sem a qual haveríamos dificuldades na jornada acadêmica.
A prefeitura Municipal de Parintins, pela liberação de minhas funções na Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, para que pudesse me dedicar integralmente aos estudos.
Aos moradores de Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, pela gentileza com o qual me receberam em suas casas,
prestando informações preciosas, sem as quais esse trabalho não poderia ser realizado.
A Universidade Federal do Amazonas pelos dois cursos gratuitos e de qualidade que fiz no âmbito desta
instituição, que a mesma permaneça por mais 100 anos formado profissionais e cidadãos conscientes de seu
papel na sociedade.
6
Enxergar uma paisagem é como enxergar um
determinado mundo, um universo em
miniatura. Mais importante, todavia, é saber lê-
la, compreendê-la, associá-la à qualidade de vida
e à saúde dos ecossistemas, sejam eles naturais
ou artificiais.
Tesesa E
mídio (2006
)
7
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo principal fazer a análise socioambiental de Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia, vilas localizadas no município de Parintins, compreendendo a
produção do espaço a partir da influência de aspectos e características urbanas da cidade de
Parintins. Para tal fizemos a identificação dos aspectos sociais, econômicos e culturais das
vilas (produção, renda, infraestrutura, religiosidade, lazer), assim como de suas dimensões
socioambientais (saneamento, destino dos resíduos, condições das moradias, saúde). As
questões que a pesquisa visou responder são: quais os aspectos que compõem a formação
socioeconômica e ambiental das vilas da zona rural do município de Parintins? O que
significa um espaço na Amazônia que apresenta forma e estrutura de cidade, mas não possui
essa denominação? E até que ponto estas vilas apresentam a (re) produção das contradições
existentes na cidade?. Este trabalho está pautado nos estudos dos lugares, mas
especificamente em Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, no município de Parintins. O método
utilizado para a coleta de dados, foi a aplicação de formulários socioeconômicos, sobre saúde
e questões ambientais, a observação participante e entrevistas com os moradores das vilas.
Essa pesquisa visa contribuir tanto no conhecimento das especificidades, no tocante a
estrutura social e ambiental inerentes as vilas do município de Parintins, pois as mesmas têm a
forma do urbano, porém não são cidades, embora possuam alguns serviços característicos das
cidades, as atividades predominantes são ligadas ao campo e, também, na reflexão sobre o
papel dos aglomerados urbanos nos dias atuais, no que concerne ao processo de urbanização
que as mesmas estendem as áreas rurais, estendendo assim as suas contradições no tocante a
(re) produção do espaço.
Palavras chave: Vilas na Amazônia; Relação rural e urbano; Parintins.
8
ABSTRACT
This study aimed to make environmental and social analysis of Amazon Village, Caburi and
Mocambo, located in the city of Parintins, including the production of space from the
influence of aspects and features of the city of Parintins. To this end we identify the social,
economic and cultural towns (production, income, infrastructure, religious, leisure), as well as
its environmental dimensions (sanitation, disposal of waste and household conditions, health).
The issues that the research aims to answer are: what are the aspects that make up the
environmental and socioeconomic background of the rural villages of the municipality of
Parintins? What does a space in the Amazon that has form and structure of the city, but do not
have that name? And the extent to which these villages have to (re) production of the
contradictions in the city? This work is based on studies of places, but specifically in the
Amazon village, Caburi and Mocambo, the city of Parintins. The method used for data
collection in this research, the application forms-economic, health and environmental issues,
participant observation and interviews with the villagers. This research aims to contribute
both knowledge of the specifics with regard to social structure and the inherent environmental
Villages in the municipality of Parintins, because they have the shape of the city, but there are
cities, although they have some hallmarks of the cities, the activities prevalent are related to
the field and also the possible reflection on the role of urban areas today, with regard to the
urbanization process that extends the same areas, thereby extending its contradictions in the
production of space.
Keywords: Villages in the Amazon; Value for rural and urban; Parintins.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Mapa de localização do município de Parintins- ...................................................... 53
Figura 2- Mapa imagem do município de Parintins ..................................................................
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Figura 3- Porto municipal alagado com a cheia do rio Amazonas............................................
Figura 4- Estrutura do porto invadida pelas águas...................................................................
Figura 5- Lixeira municipal de Parintins ...................................................................................
Figura 6- Área da lixeira pública de Parintins .........................................................................
Figura 7- Planta dos bairros de Parintins ...................................................................................
Figura 8- Área de transição urbana de Parintins........................................................................
Figura 9- Mapa de localização das comunidades rurais de Parintins ......................................
Figura 10- Macrozoneamento do município de Parintins pelo Plano Diretor Municipal..........
Figura 11 -Comércio dos japoneses em Vila Amazônia- 1930..................................................
Figura 12- Pagode japonês em Vila Amazônia- 1930...............................................................
Figura 13- Hospital construído pelos japoneses em Vila Amazônia- 1930..............................
Figura 14- Mapa da região de Vila Amazônia..........................................................................
Figura 15- Mapa da região do Mocambo..................................................................................
Figura 16- Mapa da região do Caburi.......................................................................................
Figura 17- Localização das vilas no município ........................................................................
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Figura 18- Agrovila de São João do Mocambo..........................................................................
Figura 19- Agrovila de São Sebastião do Caburi.......................................................................
Figura 20- Santa Maria de Vila Amazônia.................................................................................
Figura 21- Ruas asfaltadas e com meio-fio e sarjeta- Vila Amazônia.....................................
Figura 22- Abastecimento de energia elétrica- Vila Amazônia ................................................
Figura 23- Abastecimento de água- Vila Amazônia .................................................................
Figura 24- Sistema de telefonia- Vila Amazônia.......................................................................
Figura 25- Escola Estadual- Mocambo......................................................................................
Figura 26- Creche municipal-Mocambo..................................................................................
Figura 27- Quintal agroflorestal em Vila Amazônia.................................................................
Figura 28- Balcão suspenso nos quintais para plantação de olerícolas- Caburi.........................
Figura 29- Estabelecimentos comerciais –Vila Amazônia .......................................................
Figura 30- Estabelecimentos comerciais – Caburi....................................................................
Figura 31- Moradores assistindo televisão em frente as casas..................................................
Figura 32- Antenas parabólicas nas casas..................................................................................
Figura 33- Casas de alvenaria sendo construídas-Mocambo.....................................................
Figura 34- Lixeira improvisada pelos moradores do Mocambo...............................................
Figura 35- Posto de saúde em Vila Amazônia ..........................................................................
Figura 36- Estrutura interna dos postos de saúde.......................................................................
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Figura 37- Posto policial de Caburi............................................................................................
Figura 38- Festival Folclórico do Mocambo.............................................................................
Figura 39- Festival Folclórico do Mocambo- Quadrilhas .......................................................
Figura 40- Festival Folclórico do Mocambo- Boi-bumbá..........................................................
Figura 41- Praia “Brilho do Banzeiro” – Caburi........................................................................
Figura 42- Balneários em Vila Amazônia..................................................................................
Figura 43- Infraestrutura dos balneários – Vila Amazônia.......................................................
Figura 44- Igreja da Assembléia de Deus .................................................................................
Figura 45- Igreja Neo-Testamentária........................................................................................
Figura 46- Croqui das ruas de Vila Amazônia .........................................................................
Figura 47- Croqui das ruas de Caburi........................................................................................
Figura 48- Croqui das ruas de Mocambo..................................................................................
Figura 49- Organização espacial de Vila Amazônia feita pelos japoneses em 1930................
Figura 50- Casa de J. G. de Araújo- década de 1970.................................................................
Figura 51- Casa de colonos portugueses em Vila Amazônia....................................................
Figura 52- Igreja de São João na Agrovila do Mocambo...........................................................
Figura 53- Centro de formação “De mãos dadas”- Mocambo..................................................
Figura 54- Laboratório de ciências da escola estadual de Mocambo........................................
Figura 55- Laboratório de informática da escola Estadual de Mocambo..................................
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Figura 56- Escola Estadual de Mocambo- “Caetano Mendonça”.............................................
Figura 57- Organização espacial de Caburi em 1970................................................................
Figura 58- Configuração espacial de Caburi em 1996- Croqui das ruas...................................
Figura 59- Clube de festas em Mocambo.................................................................................
Figura 60- Cartaz de divulgação de festas- Caburi....................................................................
Figura 61- Plantação de cana-de-açúcar- Caburi .....................................................................
Figura 62- Local onde é moído a cana-de-açúcar-....................................................................
Figura 63- Casa de farinha nos quintais das casas- Mocambo .................................................
Figura 64- Equipamento de pesca expostos nas residências-Mocambo ..................................
Figura 65- Pescador vendendo peixe em sua casa ...................................................................
Figura 66- Comercialização de gasolina-Caburi .......................................................................
Figura 67- Venda de gasolina feita em garrafas tipo PETI.......................................................
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13
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- Residências com aparelho de televisão ................................................................. 99
Gráfico 2- Faixa etária dos moradores das vilas ......................................................................
100
Gráfico 3- Estado civil dos entrevistados Amazonas................................................................
Gráfico 4- Local de nascimento dos moradores das vilas .........................................................
Gráfico 5- Tempo de moradia nas vilas ...................................................................................
Gráfico 6- Abastecimento de energia............................. ...........................................................
Gráfico 7- Origem da renda familiar ........................................................................................
Gráfico 8- Renda familiar .......................................................................................................
Gráfico 9- Benefícios e auxílios recebidos pelos moradores ....................................................
Gráfico 10- Material de construção das moradias.....................................................................
Gráfico 11- Material da cobertura das moradias........................................................................
Gráfico 12- Tratamento dado a água para consumo..................................................................
Gráfico 13- Destino dos dejetos.................................................................................................
Gráfico 14- Destino dos resíduos sólidos ..................................................................................
Gráfico 15- Doenças e sintomas mais comuns ..........................................................................
Gráfico 16- Tratamento das doenças.........................................................................................
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Gráfico 17- Grau de instrução dos moradores ..........................................................................
Gráfico 18- Formas de lazer......................................................................................................
Gráfico 19- Participação em grupos sociais ..............................................................................
Gráfico 20- Religião...................................................................................................................
Gráfico 21- Valor das cestas nas vilas e na cidade...................................................................
Gráfico 22- Produtos agrícolas..................................................................................................
Gráfico 23- Comercialização dos produtos................................................................................
Gráfico 24- Utensílios de pesca..................................................................................................
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15
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Evolução populacional de Parintins ....................................................................... 54
Quadro 2- Dias e horários das embarcações que fazem o trecho Parintins-Manaus .................
58
Quadro 3- Proporção de moradores por tipo de abastecimento de água...................................
Quadro 4- Rede geral de abastecimento de água.....................................................................
Quadro 5- Comunidades criadas pela Diocese de Parintins ....................................................
Quadro 6- História da ocupação de Vila Amazônia ...............................................................
Quadro 7- Quantidade e tipo de estabelecimentos comerciais nas vilas...................................
Quadro 8- Média de preços dos produtos nas 03 vilas .............................................................
Quadro 9- Poema sobre o Mocambo ......................................................................................
Quadro 10- Hino do Caburi......................................................................................................
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154
154
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LISTA DE ABREVIATURAS
ACIPAR- Associação dos Comércios e Indústrias de Parintins
APA- Área de Proteção Ambiental
CODEAMA- Comissão de Desenvolvimento do Estado Amazonas
COPLAN- Coordenadoria de Planejamento de Parintins
CPRM- Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CONDEC- Coordenadoria de Defesa Civil de Parintins
IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDAM- Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas
INCRA- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPAAM- Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas
ICOTI- Instituto de Cooperação Técnica Municipal
MDS- Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
PIME- Pontifício Instituto Missões Exteriores
PNUD- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SEDEMA- Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente de
Parintins
17
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
..................................................................................................................... 18
CAPÍTULO 1.............................................................................................................................
RURAL E O URBANO NA AMAZÔNIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE
AS COMUNIDADES RURAIS E SUA INTER-RELAÇÃO COM AS CIDADES
23
1.1 - A Urbanização na Amazônia: espaço e tempo das primeiras cidades ................
1.2 - As comunidades na Amazônia: conceituação e perspectivas de estudo................
1.3 - A relação rural e urbano: complementaridades e contradições..............................
CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................................
CIDADES, VILAS E AGROVILAS: ESPAÇO, TEMPO E PAISAGEM
2.1 - O município de Parintins: formação histórica ....................................................
2.2- O município de Parintins - aspectos socioambientais e econômicos...................
2.3 - A formação das comunidades no município de Parintins....................................
2.3.1 Vila Amazônia: comunidade de Santa Maria................................................
2.3.2 Agrovila de São João Mocambo....................................................................
2.3.3 Agrovila de São Sebastião do Caburi ............................................................
CAPÍTULO 3 ..........................................................................................................................
DA NATUREZA AO AMBIENTE URBANO: MOCAMBO, CABURI E VILA
AMAZÔNIA, E AS CARACTERÍSTICAS SOCIOAMBIENTAIS
3.1 - Os aspectos socioambientais das vilas no município de Parintins: Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia.................................................................................................
3.2 - As transformações socioespaciais das vilas no município de Parintins:
Mocambo, Caburi e Vila Amazônia. .............................................................................
3.3 - A produção e reprodução do espaço nas vilas do município de Parintins............
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................
REFERÊNCIAS......................................................................................................................
APÊNDICES...........................................................................................................................
ANEXO....................................................................................................................................
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18
INTRODUÇÃO
A necessidade de se conhecer a Amazônia, sem de certa forma naturalizá-la, pois, para
muitos a imagem que se tem da mesma está direcionada para as suas características da
biodiversidade ao nível de seus elementos naturais e paisagísticos como fauna e flora, o
grande rio, assim como o destaque para as populações tradicionais como as nações indígenas
tem colocado desafios para a comunidade acadêmica principalmente quando se trata de
estudos sobre cidades, e mais ainda sobre as cidades médias e pequenas cidades, visto que,
quando se enfoca o estudo sob a perspectiva do urbano geralmente se toma como referência as
principais capitais como Manaus e Belém.
Nesta pesquisa foram estudadas três (03) áreas rurais do município de Parintins:
Agrovila de São João do Mocambo, Agrovila de São Sebastião do Caburi e comunidade de
Santa Maria de Vila Amazônia. De início temos que compreender bem a área de estudo, pois
a princípio pode-se ter uma impressão equivocada de sua dimensão espacial e situação
jurídica. O recorte espacial é a sede das Regiões de Mocambo e Caburi e o Assentamento
Agrário de Vila Amazônia, sendo que as duas primeiras são chamadas de Agrovila de São
João do Mocambo e São Sebastião do Caburi, respectivamente, e a última de comunidade de
Santa Maria. Logo, neste trabalho, quando nos referirmos a Mocambo, Caburi e Vila
Amazônia estamos nos referindo especificamente à Agrovila de São João do Mocambo,
Agrovila de São Sebastião do Caburi e comunidade de Santa Maria de Vila Amazônia. Desta
forma, no decorrer deste trabalho convencionamos chamá-las apenas Mocambo, Caburi e Vila
Amazônia. Contudo, deixamos claro que se trata das sedes da Região do Mocambo, Caburi e
Gleba de Vila Amazônia, e não as regiões em toda a sua extensão, pois, as Regiões de
Mocambo, Caburi e Gleba de Vila Amazônia possuem várias comunidades rurais em sua área
de abrangência, as quais não fizeram parte deste estudo.
Assim, passou-se a chamá-las apenas de Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, no
decorrer do trabalho, assim como também utilizou-se o termo “vila”, para denominar estes
lugares, mesmo que oficialmente nem todas estejam enquadradas nesta categoria, segundo os
critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, é como a população
local e o poder municipal denominam esses lugares, sendo que, segundo os parâmetros do
IBGE, apenas a Agrovila de São João do Mocambo seria oficialmente uma vila, por se tratar
de sede de distrito.
19
O município de Parintins, localizado a leste do Estado do Amazonas a 369 km de
Manaus. Por se tratar do município que possui a segunda maior concentração populacional do
Estado, ficando somente atrás da capital, e por possuir considerável urbanização, pode-se
evidenciar, por meio dos estudos de suas vilas, a dinâmica de expansão da urbanização, a
partir da cidade de Parintins, que mostrará aspectos importantes na dinâmica urbana na
Amazônia guardando, é claro, as devidas proporções.
Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, são vilas do município de Parintins, e uma
pesquisa que vise identificar as características socioeconômicas e ambientais poderá revelar
pluralidades de aspectos e peculiaridades que serão importantes na análise das características
da urbanização contida nesses lugares, assim como, a disseminação das contradições
existentes no urbano. Estas contradições que estão presentes em todos os instantes e
acontecimentos no movimento que destrói e recria hábitos, incorpora e expulsa pessoas,
transforma e conserva coisas, objetos, fatos e costumes.
Não é apenas sobre o urbano que a lógica capitalista se perfaz. Esse processo de
expansão incorpora também os espaços rurais sem, contudo, torná-los necessariamente
“urbanos”. Ele apropria-se de suas peculiaridades, ajustando-as aos seus fins, que de alguma
forma, se estendem e modificam as áreas rurais. Dentre os principais pesquisadores deste
tema pode-se citar João Rua (2005, 2006 e 2007), do qual adotou-se o termo “urbanidades no
rural”, que o autor conceitua como sendo as manifestações de territórios híbridos, nos quais
urbano e rural interagem e se fundem, mas, sem se tornar a mesma coisa, que preservam as
suas especificidades.
Procurou-se entender como se desenvolve o processo de urbanização nas vilas, por
sistemas de objetos e valores típicos das cidades, e até que ponto estas características urbanas,
presentes nessas vilas denota uma “urbanização do rural”.
Esses estudos engendram importantes análises sobre as relações entre cidade e campo,
rural e urbano, e nos remete a reflexão dessas categorias muito debatidas no campo da
Geografia, seja ela urbana ou agrária.
Essa pesquisa visa contribuir tanto no conhecimento das especificidades, no tocante a
estrutura social e ambiental, inerentes às vilas do município de Parintins, pois as mesmas têm
a forma do urbano, porém não são cidades, embora elas possuam alguns serviços
característicos das cidades, as atividades econômicas predominantes ainda são ligadas ao
campo e, também, na reflexão sobre o papel dos aglomerados urbanos nos dias atuais, no que
concerne ao processo de urbanização que os mesmos estendem as áreas rurais, estendendo,
assim, suas contradições na produção do espaço.
20
As principais questões a serem respondidas foram: quais os aspectos que compõem a
formação socioeconômica e ambiental das vilas do município de Parintins, considerando sua
formação social, econômica, cultural e ambiental, que contribuem para a produção do espaço,
ou seja, o que significa um espaço na Amazônia que apresenta forma e estrutura de cidade,
mas não possui essa denominação? E até que ponto estas vilas apresentam a (re) produção das
contradições existentes na cidade?
O objetivo principal desta pesquisa foi fazer a análise socioambiental de Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia compreendendo a produção do espaço a partir da influência de
aspectos e características urbanas da cidade de Parintins. Para tal, foi feita a identificação dos
aspectos sociais, econômicos e culturais das vilas (produção, renda, infraestrutura,
religiosidade, lazer, festas), assim como, das suas dimensões socioambientais (saneamento,
destino dos resíduos, condições das moradias, saúde) para que assim se pudesse compreender
as semelhanças e diferenças entre as vilas, suas similitudes em relação a cidade de Parintins,
no tocante aos seus aspectos sociais, paisagísticos e espaciais e as novas configurações
resultantes dos fluxos estabelecidos pelas atividades econômicas e relações sociais que
envolvem a cidade e o campo, o rural e urbano.
A pesquisa está pautada nos estudos dos lugares, mas especificamente em Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia, no município de Parintins. A metodologia utilizada para a coleta de
dados, nesta pesquisa, foi aplicação de formulários, com perguntas abertas e fechadas, de
caráter socioeconômico, sobre saúde e questões ambientais referentes às famílias e às vilas.
Como cada vila tem em média 400 domicílios tirou-se a amostra de 40 casas por vila,
correspondendo ao total de 120 domicílios. O método de escolha das residências foi o da
amostra aleatória simples, sendo que a unidade de pesquisa foi o cleo familiar, e o sujeito
escolhido para prestar as informações foi o responsável pela família sendo que na ausência
dele utilizou-se as informações do membro da família com mais idade, presente no momento
da visita. Também utilizou-se a observação participante, no qual pode-se conhecer melhor o
cotidiano dos moradores das vilas, seus principais anseios e preocupações. A pesquisa de
campo se constitui no ponto alto do trabalho visando gerar informações primárias sobre a área
de estudo.
O período da aplicação dos formulários foi de janeiro a maio de 2009, sendo que,
concomitante a aplicação de formulários, também foram realizadas algumas entrevistas
abertas com os moradores mais antigos das vilas. No que concerne a metodologia da pesquisa,
também utilizou-se a observação participante, onde pode-se conhecer o cotidiano dos
moradores das vilas, seus principais anseios e preocupações, sendo que o período total da
21
pesquisa de campo envolvendo aplicação de formulários, entrevistas e observação participante
foi de novembro de 2008 a julho de 2009.
Para a apresentação dos resultados, em alguns determinados tipos de dados foram
utilizados tratamentos estatísticos com apresentação de gráficos representativos. Quanto as
outras informações procurou-se fazer uma descrição analítica, principalmente àquelas
provindas de entrevistas e conversas informais.
O trabalho está assim dividido: O Capítulo I, O rural e o urbano na Amazônia:
algumas considerações sobre as comunidades rurais e sua inter-relação com as cidades,
que procura situar a pesquisa no contexto dos estudos sobre as comunidades rurais e as
cidades na Amazônia, onde foi feito o resgate histórico do surgimento das primeiras cidades,
assim como seu desenvolvimento ao longo do tempo, bem como contextualizar o estudo das
comunidades rurais nesta região. É, também no Capítulo I, que se elucidou as considerações
sobre o rural e urbano, campo e cidade, com o qual dialogou-se, assim como, os principais
questionamentos sobre as relações estabelecidas entre essas categorias que apresentam
complementaridades e contradições em seu bojo teórico-conceitual e na práxis.
No Capítulo II, Cidades, vilas e agrovilas: espaço, tempo e paisagem, discorreu-se
sobre a contextualização da pesquisa, ou seja, as características socioambientais e econômicas
do município de Parintins e a formação das comunidades rurais e das vilas que compõe sua
espacialidade. Nesse capítulo, abordou-se a formação histórica de Mocambo, Caburi e Vila
Amazônia, que contribuíram para caracterização da atual conjuntura que as mesmas
apresentam.
Por último, o Capítulo III, Da natureza ao ambiente urbano: Mocambo, Caburi e
Vila Amazônia, e as características socioambientais, foram apresentados os aspectos
sociais, econômicos e ambientais identificados nas vilas, expondo as suas peculiaridades no
tocante a produção do espaço e as transformações engendradas pelas influências dos aspectos
urbanos da cidade de Parintins. É neste capítulo que apresentou-se as análises sobre as
características da urbanização encontradas nesses lugares e suas implicações na (re) produção
do espaço em Mocambo, Caburi e Vila Amazônia.
Considerando as dificuldades encontradas na condução desta pesquisa, principalmente
na falta de trabalhos que pudessem auxiliar teórico e metodologicamente nos estudos de vilas
nessa região, julga-se que esta pesquisa contribui não para o conhecimento do cotidiano
dos moradores das vilas do município de Parintins, bem como, poderá auxiliar em estudos de
outras localidades na área rural, que passam por processos de urbanização que engendram
transformações substanciais nos modos de vida da população. Lugares onde a presença do
22
rural e do urbano está explicitamente evidenciada, ambos trabalhando conjuntamente, ora se
afastando ora se complementando, moldando lugares que não são totalmente urbanos, todavia,
não apresentam suas características rurais de antigamente, contudo, não significando o fim
desse rural, mais sim, forte imbricação entre o rural e urbano numa relação dialética.
23
1- RURAL E O URBANO NA AMAZÔNIA: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS COMUNIDADES RURAIS E SUA
INTER-RELAÇÃO COM AS CIDADES
1.1 A urbanização na Amazônia: espaço e tempo das primeiras cidades
Para entender melhor a constituição e formação das cidades e das comunidades rurais,
primeiramente é necessário compreender como elas se formaram no contexto geral na
Amazônia. Seu aspecto histórico é importante para saber como as mesmas foram se
construindo, se moldando até chegar ao período atual.
Procurou-se partir do geral para o particular, entender como se deu o processo de
ocupação na Amazônia e sua urbanização, para assim compreender a formação das vilas e
comunidades, que integram a mesma, e desta forma poder fazer a análise da produção do
espaço nestes lugares, pois como sustenta José Aldemir de Oliveira
Na Amazônia, mas do que em qualquer outro lugar, a memória não se encontra no
espaço que se está construindo, mas nos seus construtores, pois cada fragmento que se
produz contém uma parte de quem o faz. É o processo de construir construindo-se,
dando a dimensão do não acabado. Neste sentido a cidade é o lugar do vivido, mas de
um vivido espedaçado em que a memória não detém a ação do produzir o espaço,
havendo no processo de criação da cidade a predominância do esquecimento e do
desenraizamento (OLIVEIRA2000, p.20).
Sócrates Bonfim apresenta um panorama geral da ocupação amazônica, quando relata
que
Historicamente a Amazônia principia com a catequese religiosa e o aldeamento dos
índios, dedicados a pacífica tarefa de agricultura, pesca e extrativismo destinados à
simples manutenção de seus grupos. Nessa época, que compreende o século XVIII e
principio do século XIX, as populações dispunham-se pela margem dos rios, em
zonas de difícil acessibilidade, na dependência íntima dos fatores de transportes.
De meados do século XIX em diante, a conquista territorial da Amazônia fez-se
acompanhando a seringueira e sua distribuição geográfica. Levas humanas que, em
geral provindas do Nordeste, alcançaram a Amazônia, seguiram as linhas de
dispersão do vegetal e localizaram-se onde o encontraram. Como a seringueira se
distribuía na imensidade florestal de quase toda a Amazônia, dispersaram-se com ela
e ausentaram-se das regiões onde era escassa (BONFIM, 2008, p.29).
24
Quanto à formação territorial a Amazônia passa por diferentes fases e a sua
configuração ocorre a partir dos rios, conforme expõe Antonio Carlos Witkoski
[...] Dadas as características naturais da região, abundância de uma rica malha
hidrográfica, o processo de posse e conquista deu-se através da fundação de vilas à
margem do rio Amazonas, em pontos considerados vitais para a efetiva ocupação, o
que implicou um processo intenso de miscigenação e dizimação das populações
nativas varzeanas [...] O povoamento assume a direção leste/oeste, ou seja, da foz do
rio Amazonas ao hoje conhecido Alto Solimões- que tem no extremo oeste a cidade
de Benjamim Constant (WITKOSKI, 2007, p.100).
Neste sentido, Marilene Corrêa da Silva (2004) também discorre sobre esse processo
afirmando que
O período reformista do Estado português, que vai do século XVIII ao século XIX,
realiza, na Amazônia, um processo que consolida a ocupação, regula o povoamento,
incentiva a produção agrícola, ensaia a industrialização, investiga a potencialidade dos
recursos da área e sintetiza a experiência do domínio colonial sobre o espaço, a
organização e a vida das populações amazônicas (SILVA, 2004, p. 94).
Embora seja necessário relativizar quando há referência ao processo de ocupação,
tendo em vista que a Amazônia não era um vazio demográfico quando da chegada do
colonizador, conforme apontado por José Aldemir de Oliveira (2000) corrobora com isso os
relatos dos primeiros viajantes estrangeiros sobre a ocupação das várzeas da Amazônia
Em meados do século XVI a várzea amazônica surpreendera os primeiros viajantes
com uma população numerosíssima, internamente estratificada e assentados em
povoados extensos, produzindo excedentes que alimentavam um significativo
comércio de produtos primários e manufaturados. O termo povoado, empregado
pelos cronistas, ao se referirem às unidades demográficas indígenas, não parece
merecer conotação de aldeias, que lhe tem sido dada: uma leitura atenta das
primeiras fontes sugere um padrão de assentamento contínuo ao longo de
quilômetros de margens fluviais e provavelmente quase linear, o que é consistente
com uma economia essencialmente ligada aos recursos aquáticos e da várzea
inundável (PORRO, 1996,p.38-39).
Bertha K.Becker (2004) apresenta um quadro resumido da formação territorial da
Amazônia, no qual pode-se observar que
Entre 1616 e 1777, efetuou-se a apropriação lenta e gradativa do território,
estendendo a posse portuguesa para além da linha de Tordesilhas e tendo como base
econômica a exportação das ‘drogas do sertão’. O delineamento do que é hoje a
Amazônia se fez somente entre 1850 e 1889, sob a preocupação imperial com a
internacionalização da navegação do grande rio, e o ‘boom’ da borracha. Finalmente
completou-se a formação territorial com a definição dos limites da região entre 1899
25
e 1930, em que se destacou o papel da diplomacia nas relações internacionais e do
Exército no controle interno do Território (BECKER, 2004, p.23-24).
À guisa de um retrospecto histórico conciso, José Aldemir de Oliveira (2000) também
relata sobre o processo de ocupação na Amazônia pelos portugueses, dando uma rica reflexão
sobre a constituição dos primeiros povoamentos às margens do rio Solimões e Amazonas,
levando mais, especificamente, pelo caminho do entendimento da formação histórica da
urbanização do Amazonas.
Logo, a narrativa sobre essa época histórica que se irá apresentar está baseada nas
passagens do livro Cidades na Selva de José Aldemir de Oliveira (2000), que sustenta ser a
base da ocupação portuguesa fincada nos “fortes militares e das missões religiosas que mais
tarde se transformaram em povoações e posteriormente algumas foram elevadas à condição de
vilas” (p. 192).
A análise do autor sobre a história das cidades na Amazônia está voltada para a área da
antiga Capitania do Rio Negro, que corresponde ao atual Estado do Amazonas, onde ele
ressalta que a criação das cidades nesta parte da Amazônia não foi diferente do restante da
região, ou seja, a mesma refletiu o intento de Portugal de ampliar seus domínios, criando
novos mercados para os países europeus.
As primeiras tentativas de ocupação portuguesa no Amazonas são da segunda metade
do século XVII, quando foi criada uma missão envolvendo os índios Tarumãs, possivelmente
localizada na foz do rio Tarumã, sendo coordenada por missionários jesuítas (OLIVEIRA,
2000).
Em 1669, a primeira guarnição militar portuguesa foi criada, sendo denominada de
Forte São José do Rio Negro, situada acerca de 18 milhas da foz do rio Negro. Esses
povoamentos criados pelos portugueses, principalmente os do vale do rio Negro, foram à base
da ocupação portuguesa e juntamente com a criação de uma missão no rio Branco pelos
missionários carmelitas e mais o povoado Cabori, representaram nas únicas formas de
povoamento português no Amazonas ao final do século XVII (OLIVEIRA, 2000).
O autor continua discorrendo sobre o desenvolvimento das políticas portuguesas de
ocupação na Amazônia, onde destaca o governo do Marquês de Pombal (1750-77), como
período de profundas mudanças no contexto histórico para a Amazônia, principalmente
através da política do Diretório que modificou substancialmente a conjuntura social, política e
cultural da época, sendo possível inferir que
26
No período de cinco anos que vai de 1755 a 1760, quarenta e seis missões foram
elevadas a categoria de vilas em toda a Amazônia, das quais 9 estavam localizadas na
Capitania de São José do Rio Negro que contava nesta época com 11 núcleos de
povoamento além das vilas. Ao término do período pombalino, a Capitania de São
José do Rio Negro contava com 23 povoações e uma população indígena da ordem de
1.476 habitantes (OLIVEIRA, 2000, p.193).
Como o interesse principal dos portugueses na Amazônia era a exploração de suas
riquezas, o autor sustenta que
As vilas criadas no século XVIII estavam localizadas em pontos estratégicos às
margens do rio Amazonas ou na foz de seus principais afluentes e tinha como funções:
defesa, cobrança e controle de tributos, entreposto comercial de produtos extrativos e
agrícolas, base para preiamento de índios e sede do poder temporal, representação do
Estado e do poder das missões religiosas.
As vilas também representavam para os colonizadores espaços privilegiados de
expansão de um processo civilizatório com a imposição da língua geral,
obrigatoriedade da freqüência à escola e o incentivo ao casamento entre soldados e
índias (OLIVEIRA, 2000, p.194-195).
Oliveira continua traçando o retrato geral desse período na Amazônia, sendo que do
século XVII ao século XVIII houve o predomínio da exploração das drogas do sertão e a
agricultura, introduzido a partir de 1750, limitado às proximidades das margens do rio e
concentrado principalmente na parte leste da região. Em meados do século XVIII a
territorialidade amazônica produzida a partir dos interesses portugueses estava consolidada.
No século XIX ocorrem significativas mudanças, conforme pode-se inferir da citação a
seguir:
[...] em meados do século XIX, vários acontecimentos contribuíram para a
modificação da paisagem da região e determinaram, em linhas gerais, o arcabouço
do que viria a ser a malha urbana do Amazonas. Dentre os acontecimentos estão: a
elevação do Amazonas a categoria de província em 1850, a introdução da navegação
a vapor em 1853, a exploração extensiva (e intensiva) dos seringais e o movimento
revolucionário dos cabanos. Quando foi instalada a Província do Amazonas em 1852
havia uma cidade, Barra do Rio Negro, capital da nova província, 28 freguesias e 31
povoados (OLIVEIRA, 2000, p.197).
O autor ressalta, que dos acontecimentos acima citados, a exploração do látex e a
interiorização da navegação a vapor foram os que tiveram maior relevância na configuração
da malha urbana, especialmente na Amazônia Ocidental.
O autor continua sua explanação sobre o processo de urbanização da Amazônia,
citando, principalmente, o período da borracha, que sem dúvida foi um período importante
para a constituição do que hoje podemos chamar de sociedade amazônica. Com a exploração
27
do látex se intensificou a ocupação por população não indígena da parte mais a oeste da
Amazônia. Nos vales dos rios Madeira, Purus e Juruá, foram criados e/ou recriados povoados
visando servir de apoio a exploração do látex e que, posteriormente, se transformaram em
vilas e mais tarde cidades, tais como: Manicoré e Humaitá no Madeira, Purus; Lábrea, Boca
do Acre e Camutama no Purus; Carauari e Eirunepé no Juruá; Codajás no Solimões.
Após a crise da borracha, no Estado do Amazonas, algumas vilas foram elevadas à
condição de cidades, assim como foram criados e suprimidos municípios. Porém, esses atos
eram constantemente revogados pelos poderes estatais, sendo que não houve grandes
mudanças na divisão administrativa do estado do Amazonas de 1892 a 1940.
A partir da década de 60, na Amazônia consolida-se a forte influência do Estado,
impondo diretamente políticas de incentivos ao “desenvolvimento” da região. Nestes termos,
a Amazônia passou a ter intervenção do capital de empresas estrangeiras e nacionais, por
meio de uma série de incentivos para a implantação de projetos agropecuários, minerais,
madeireiros e industriais. Concomitantemente, o Estado construía a infraestrutura básica
necessária para a implementação de estradas, portos, ferrovias e rede de comunicação
(BECKER, 1997). Doravante, a Amazônia entra em nova fase de remodelagem de sua malha
urbana, antes voltada somente para o rio, agora tem nas estradas outra forma de constituição
de núcleos de povoamento que deram origem a várias cidades à beira das estradas. Todavia,
esse processo ocorreu de modo diferenciado no Estado do Amazonas, não ocorrendo com a
mesma intensidade que na Amazônia Oriental. Deve-se considerar que, mesmo com a
abertura de estradas, no Estado do Amazonas, a base de circulação continua sendo pelo rio,
permanecendo a estrutura de cidades criadas na época da borracha, tendo como base a “rede
urbana dentrítica”, termo adotado por Roberto Lobato Corrêa (1989), tendo Manaus e Belém
como principais centros urbanos de uma rede de cidades que se articula a partir da calha do
Rio Amazonas-Solimões, se estendendo do litoral Atlântico e penetrando para o oeste da
região. Oliveira acrescenta:
As cidades, espaços produzidos socialmente, são produtos de uma cultura datada num
determinado tempo e lugar. Na Amazônia, sejam localizadas na beira dos rios ou das
estradas, as cidades retratam um determinado período de busca de riquezas. Ao
mesmo tempo, as cidades refletem as condições específicas do lugar e dos conflitos
que não podem ser considerados exclusivamente econômicos, pois tem dimensões
culturais, políticas e ideológicas e retratam o vivido de quem as constrói. As cidades
amazônicas, embora pequenas e com pouca ou nenhuma importância para as outras
regiões do país, têm organização e estrutura que extrapolam sua dimensão específica,
configurando formas e estilos que estão além da circunscrição espacial. Nelas se
encontram dimensões regionais, nacionais e até internacionais, influenciando de forma
direta ou indireta o cotidiano. É preciso, no entanto, conceber as cidades por meio de
características específicas, tentando não as ver como pedaços de uma cultura mais
28
geral, nem como a mesma dimensão e complexidade dos núcleos urbanos mais
dinâmicos. Em outras palavras, as cidades amazônicas são produzidas a partir do
específico, tendo dimensões gerais (OLIVEIRA, 2000, p.206).
Logo, o processo de criação do espaço neste lugar do Brasil é diferenciado e requer um
olhar abrangente em seu processo de construção para, então, entender suas peculiaridades
inerentes em seu modo de vida e de apropriação do espaço.
Muito complexa foi a formação das cidades na Amazônia, ainda mais quando se toma
como ponto de partida sua constituição histórica, como acima exposto. Segundo Pereira
A urbanização na Amazônia, em grande parte, guarda profunda relação com a
intervenção estatal, principalmente a partir da década de 1960. O controle da terra, a
política de migração induzida e financiada pelo Estado e o incentivo a grandes
empreendimentos asseguraram o desenvolvimento da fronteira urbana (2006, p.24).
Ainda segundo o mesmo autor
As políticas de desenvolvimento para a Amazônia, ao longo de sua história, tiveram
como referência superar o vazio demográfico, integrar a região ao território nacional e
valorizar economicamente suas riquezas naturais. Fornecer matéria-prima e
concentrar farta e barata mão-de-obra foi o papel a ela designado na divisão
internacional do trabalho e, conseqüentemente, no processo de acumulação do capital.
A criação de infraestrutura- como a abertura e construção de estradas, rodovias,
aeroportos, hidrelétricas e sistema de comunicação- e as políticas de colonização,
incentivadas e/ou realizadas pelo Estado, foram as condições viabilizadoras desse
padrão de desenvolvimento (2006, p.26).
Logo, estudar as cidades na Amazônia, assim como suas comunidades rurais, distritos
e vilas implica entender a complexa formação histórica, que está intimamente imbricada com
suas características socioculturais.
Assim sendo, o espaço geográfico dos municípios na Amazônia, em especial os
localizados às margens dos rios, como é o caso do município de Parintins, é um mosaico
constituído por diversas territorialidades. Além das sedes municipais (as cidades), das vilas e
agrovilas, dos planos de assentamento (os PAs), das comunidades ribeirinhas dispersas ao
longo das margens dos rios, existem as áreas da União ainda constituídas por florestas, as
quais estão sob forte pressão dos processos de grilagem orientados para a exploração
madeireira, e posterior ampliação de área de pastagem para a pecuária, o que engendra os
processos que motivaram a criação de áreas para proteção ambiental sob a forma de Unidades
de Conservação e Reservas Indígenas, buscando contemplar a proposição de diversos graus de
29
proteção ambiental, a partir de solicitações de movimentos sociais e da definição do
zoneamento econômico-ecológico pelos governos estaduais. Porém, esses processos ocorrem
de modo diferenciado e ao mesmo tempo contraditório e conflituoso em cada lugar na
Amazônia (CARDOSO & LIMA, 2006).
Segundo esses autores
À primeira vista, arriscamos dizer que o urbano na Amazônia manifesta-se como um
continuum, que se irradia das cidades maiores em direção às menores agrovilas e
vilas. A clara hierarquização das cidades (capital, cidade, vila) e a distinção entre
modos de vida rural e urbana existentes no passado foram perdidas após as
transformações ocorridas nas condições de acessibilidade e na dinâmica econômica,
e a redefinição do conceito de cidades pela Constituição de 1988 (quando passam a
ser cidades todas as sedes do município). As vantagens políticas decorrentes da
criação de novos municípios disseminaram cidades em que um território
anteriormente dominado pela cultura rural, carente de infraestrutura e de referências
de comportamento urbano (2006, p.90, negrito meu).
Assim, nos estudos das espacialidades urbanas no Estado do Amazonas, deve-se
também considerar a hierarquização feita pelo IBGE, onde segundo o censo demográfico de
2000, os municípios constituem-se em unidades autônomas de menor hierarquia da
organização político-administrativa do País. A cidade é a localidade de mesmo nome do
município a que pertence (sede municipal) e onde está sediada a respectiva prefeitura. O
Distrito constitui em unidade administrativa dos municípios, onde a vila é a localidade de
mesmo nome do distrito a que pertence (sede distrital) e onde está sediada a autoridade
distrital, excluídos os distritos das sedes distritais.
Desta forma, percebe-se toda a problemática que gira em torno da produção do espaço
na Amazônia, em especial as cidades, assim como a dúvida em relação ao papel funcional das
cidades médias nos dias atuais. Pode-se discutir essa questão posteriormente, pois esse é um
importante aspecto a ser considerado nesta pesquisa.
Ainda sobre as cidades na Amazônia, em relação à forma, se deve levar em
consideração que para se compreender as cidades amazônicas
[...] Nas últimas décadas do século XX, a vida nas cidades e na Amazônia mudou de
modo significativo. Mesmo nas pequenas cidades, em pouco mais de uma geração, as
informações tornara-se mais ágeis, pois os lugares, foram atingidos por técnicas que
possibilitaram maior circulação de idéias e o acesso à modernização (OLIVEIRA,
2007, p.175).
Logo, estudar as cidades na Amazônia, assim como suas especificidades de
organização administrativa e/ou territorial, como é caso dos distritos, vilas e as comunidades
30
rurais, é considerar toda a sua formação histórica, ou seja, os antigos e os novos processos que
engendraram a sociedade multicultural que caracteriza a Amazônia. É entender que as
espacialidades urbanas na Amazônia, principalmente às que estão localizadas às margens dos
rios sofreram imposições das condições do passado, não significando, porém, que as mesmas
sejam homogêneas, sendo que elas ainda guardam resíduos de relações pretéritas como sinais
de resistência.
Na verdade, essas espacialidades revelam as diferentes estratégias dos diversos
agentes produtores do espaço urbano que buscam a partir das condições concretas
defender seus interesses, o que leva a compreender a paisagem como resultado das
determinações das políticas do Estado, das relações sociais de produção, e mais que
isso, como depositária de vida, sentimentos e emoções traduzidas no cotidiano das
pessoas. Tais relações concretizam-se em espacialidades real ou imaginária, quer as
cidades estejam na beira do rio ou na beira da estrada, na várzea, ou na terra firme
(OLIVEIRA, 2007, p. 176).
O caráter contraditório da construção do espaço das cidades, no qual estão presentes e
são articuladas as relações pretéritas caracterizadas pela inércia e, ao mesmo tempo, a
dinamicidade contemporânea que as ligam ao mundo, principalmente a partir de sua
biodiversidade e sociodiversidade possibilitam a inserção das inovações nesses lugares, como
sinal de modernização na paisagem, principalmente relacionadas à comunicação, mas também
aos equipamentos (OLIVEIRA, 2007).
1.2 As comunidades na Amazônia: conceituação e perspectivas de estudo
No município de Parintins, assim como em boa parte da Amazônia utiliza-se o termo
“comunidade”, para se referir as concentrações populacionais da área rural. Do ponto de vista
socioespacial questionamentos sobre a utilização da categoria comunidade. Todavia,
utilizou-se esta denominação seguindo a mesma perspectiva de Deborah de Magalhães Lima e
Edna Ferreira Alencar, que chamam atenção para a utilização desse termo, no qual afirmam
Com relação à organização social dos assentamentos, a partir dos anos 70, o trabalho
do MEB e da Prelazia, de formar lideranças comunitárias e orientar os moradores na
sua nova condição de independência e responsabilidade pelo seu próprio destino,
passa a ter grande repercussão. As vilas e os sítios são, a partir dessa década,
chamados de comunidades, termo que denota não o assentamento, mas carrega
principalmente o sentido de responsabilidade comunal pelas decisões políticas que
afetam a vida de seus moradores. Essa reorganização social dos assentamentos se
31
consolidou na década de 80. A partir dessa data, a estrutura de lideranças criadas
pelo MEB passa a ser reconhecida como autêntica (não vinculada estritamente a
Igreja Católica) e é adotada tanto por instituições governamentais (como prefeituras
e EMATER) quanto por outras não governamentais (como congregações
protestantes) (2000, p. 149).
Dessa forma, o termo “comunidade” é o mais utilizado na região, para se referir aos
povoados da área rural, tanto os localizados em regiões de várzea quanto os de terra firme.
Esse termo é usado nos povoados onde os moradores são organizados politicamente, com
cargo de representação (LIMA, 2000, apud ALENCAR, 2005).
A formação das comunidades foi estimulada pela Igreja Católica nas décadas de 1960
e 1970. Glaucia Silva (2005), também faz referência ao contexto histórico em que a
denominação comunidade passou a ser utilizada para se referir às localidades das áreas rurais
na Amazônia.
Houve uma época em que as populações passaram a se representar como
comunidades. As populações existiram anteriormente, ao final da década de 1960,
início da de 1970, referidas aos seringais decadentes, às fazendas, aos sítios. Elas
haviam sido identificadas como comunidades por pesquisadores que chegaram na
década de 1940 e 1950 [Wagley (1977) e Galvão (1976)], mas foi apenas com o
movimento de Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base que os
ribeirinhos passaram a denominar seu local de moradia como comunidade e a
identificar-se como comunitários (SILVA, 2005, p.283).
Mariana Pantoja (2005), em sua pesquisa sobre a várzea do Médio Amazonas, no qual
estudou as comunidades rurais localizadas nos municípios de Parintins, Maués, Silves e
Itacoatiara, também faz uma assertiva quanto à criação das comunidades na Amazônia.
Na várzea do médio Amazonas, hoje, os assentamentos humanos ou localidades do
interior são conhecidos como comunidades. Na região, as comunidades surgiram
enquanto tais a partir da década de 1960 numa iniciativa pastoral da Igreja Católica.
Na prelazia de Itacoatiara e de Parintins, no esforço de criação de comunidades,
padres e irmãs viajavam para as localidades do interior para se reunir com os
moradores e realizar cultos dominicais. Em muitas destas localidades, já existiam
práticas coletivas como o festejo de santos, ‘brincadeiras de boi’, jogos de futebol e
novenas. Algumas localidades, a partir dos estímulos missionários, chegaram a formar
congregações [...] A idéia de formação de uma ‘comunidade’ e da necessidade dos
‘comunitáriostomarem como a iniciativa de resolverem eles mesmos, através da sua
‘organização’, problemas como a falta de escolas e postos de saúde, foi sendo
assumida por lideranças locais, muitas vezes líderes de grupos extensos de parentes
(2005, p.168).
Em relação aos nomes dados a estas comunidades a mesma autora enfatiza que, as
comunidades quando formadas foram, por assim dizer, rebatizadas com o nome de um santo
32
ou santa padroeiros, associado à referência geográfica relacionada ao rio, paraná ou lago onde
estavam localizadas. Às vezes o lugar tinha o nome de um santo ou santa, outras vezes não
(PANTOJA, 2005).
O termo comunidade é utilizado por todos na região e reconhecido pelo poder público
local, como as prefeituras dos municípios. Esse termo abrange características que são comuns
nesses agrupamentos: a) poucos moradores que no geral são aparentados; b) relativo
isolamento entre as comunidades (muitas vezes dentro da mesma localidade existe uma longa
distância entre os domicílios); e c) a presença da Igreja Católica na fundação e na organização
dessas comunidades.
Com relação às áreas estudadas, Mocambo, Caburi e Vila Amazônia inicialmente se
constituíram como comunidades rurais, que mais tarde passaram a ser chamadas de vilas pela
população e pelo poder municipal, a partir do momento que as mesmas passaram a ser
dotadas de infraestrutura. A partir de então essas áreas passaram a possuir, algumas
características que não se enquadram mais na definição de comunidade acima mencionada,
revelando assim uma diferenciação na composição social e espacial em relação às outras
comunidades rurais de Parintins, como será visto mais adiante.
No geral, no município de Parintins, o termo comunidade é utilizado por grande parte
da população para denominar as áreas localizadas na zona rural. Geralmente essas vêm
compostas da expressão “Comunidades Rurais”, ou “Comunidades do Interior”, sendo que
estes termos são adotados pelos diversos órgãos municipais, estaduais e federais para se
referirem a esses lugares.
Analisar e refletir sobre as comunidades rurais amazônicas implica não somente
percorrer esse vasto território, mas também perceber um espaço cheio de contradições, pois
apresenta complexa rede sociocultural e ambiental. Como afirma Marilene Corrêa da Silva e
José Fernandes Barros “Quando saímos do meio urbano e entramos em contato com o meio
rural, logo percebemos as fronteiras sociais que separam um lugar do outro” (2000, p. 90).
Um dos trabalhos pioneiros no estudo das comunidades amazônicas, foi do
antropólogo Charles Wagley que em 1948 fez um estudo minucioso e detalhado dos modos de
vida de uma determinada comunidade amazônica, localizada no Estado do Pará (Gurupá). Em
seu livro Uma Comunidade Amazônica: estudo do homem nos trópicos (1988), ele
descreveu de forma pormenorizada as características sociais, econômicas e culturais da
comunidade de Itá (nome fictício dado a comunidade no livro).
Com sua equipe estudaram: alimentação, despesas, rendimentos, família, objetos
pessoais, sociedade, religião, festas, etc. O livro de Charles Wagley é referência ao modo de
33
vida das populações amazônicas das cidades da região nas décadas de 40 e 50. Neste período
a Amazônia ainda era vista como fronteira a ser conquistada, lugar onde existia um atraso em
relação às outras regiões do país e, principalmente, em relação as outras partes do mundo. Na
ocasião, foram descritos e analisados os fatores sociais, econômicos e culturais desta
localidade. Uma forma de diagnosticar como a população amazônica vive se relaciona com o
próximo e com o ambiente. Muitas das observações feitas pelo autor e sua equipe vêm
seguidas de correlações com acontecimentos e fatos que ocorriam em outros locais do globo.
Uma questão que também é focada no livro está relacionada às políticas públicas
adotadas na região, Wagley (1988) ressalta que qualquer projeto governamental neste sentido,
deveria levar em conta os aspectos sociais e culturais destas populações e que o governo
precisava tomar certas atitudes para melhorar a qualidade de vida da mesma, principalmente
relacionado a saúde. Porém o mesmo acreditava que parte dessa precariedade na saúde, estava
fundamentada na falta de informações da população a respeito de certas doenças, como nas
palavras do autor
Uma campanha de saúde pública deve, portanto, incluir um programa de educação
sanitária que tenda a modificar as crenças tradicionais enraizadas a respeito das causas
e tratamento de doenças e que demonstre a necessidade de manter recursos de saúde
pública e os benefícios que dele resultam (WAGLEY, 1988, p.252).
Por intermédio desta obra, pode-se vislumbrar a dimensão humana das comunidades
na Amazônia, suas relações sociais e seus costumes. Percebe-se por meio desta leitura, certa
preocupação do pesquisador com a questão das problemáticas ambientais destas comunidades,
do ponto de vista da saúde pública, que, na análise dele, necessitava de mais investimento do
Estado no sentido de melhorar a vida da população amazônica, bem como certa preocupação
com as disparidades existentes entre as classes sociais da época, como pode-se perceber neste
trecho do livro,
A melhoria da situação de um grupo em uma sociedade significa transformações em
todos os grupos. À medida que melhorar a situação do caboclo da Amazônia será
afetada a situação da classe mais alta (os comerciantes, os burocratas, etc) da pequena
cidade, bem como a dos aristocratas de toda a região (WAGLEY, 1988, p.287).
Porém, devemos deixar bem evidente, que a denominação de “comunidade” de
Wagley é diferente das que hoje predominam nos estudos que envolvem as populações
ribeirinhas da várzea amazônica, pois naquele caso, a área de estudo do mesmo correspondeu
34
ao município como um todo, que ele assim denominou de “comunidade”, diferente da
concepção de comunidade hoje adotado.
Estudo mais recente e da mesma forma completo e interessante, foi aquele realizado
por Antonio Carlos Witkoski (2007), que fez investigação sobre os camponeses amazônicos
que habitam a várzea do rio Solimões/Amazonas, nas microrregiões do Médio Solimões
(Município de Coari), Baixo Solimões (Municípios de Manaquiri e Iranduba), Alto Amazonas
(Município de Careiro da Várzea) e Médio Amazonas (Município de Parintins), sua pesquisa
foi voltada para a percepção das práticas de adaptabilidade do camponês amazônico ao
ecossistema de várzea. A tese fundamental adotada no livro é a de que os “povos tradicionais”
possuem vasta experiência na utilização e conservação da biodiversidade e da ecologia dos
ambientes terras, florestas e águas onde trabalham e vivem (WITKOSKI, 2007).
O trabalho de Antonio Carlos Witkoski é importante, pois, mostra como os
camponeses ribeirinhos vivem, se apropriam, modificam e trabalham no ambiente de várzea,
sendo que o município de Parintins possui grande parte de seu território neste ambiente, como
assinalado pelo autor. Logo, o conhecimento das peculiaridades que envolvem a vida das
populações que vivem nesse ecossistema vão dar a dimensão de como se pode fazer a reflexão
sobre o modo de vida ribeirinho em comunidades rurais em contraposição ao modo de vida
urbano, evidenciando assim, a gama de similaridades e diferenciações que fornecem subsídios
para avaliar como a cidade estende suas contradições sobre a vida rural e, dessa forma,
modifica ou reforça certos hábitos e costumes da ruralidade nas vilas do município de
Parintins.
Podemos asseverar que o delicado equilíbrio da vida camponesa guarda relação com
os aspectos de sua polivalência, racionalidade econômica e as formas de
adaptabilidade, desenvolvidas para viver na e com a várzea [...] o camponês
amazônico e sua família são compelidos a desenvolver atividades nas terras, florestas
e águas de trabalho-o que implica conhecer e respeitar a dinâmica dos ciclos das águas
do rio Solimões/ Amazonas e áreas contíguas. Ser agricultor, criador de animais e
extrator de produtos vegetais e animais (pesca e caça) faz do camponês e dos
membros de sua família uma espécie de sujeito coletivo, criando e recriando sua
existência (WITKOSKI, 2007, p. 438).
Assim, após entendimento sobre o contexto geral da pesquisa, o qual envolve vários
fatores como a cidade, o urbano, o rural e as comunidades rurais, se discorre, a seguir sobre
alguns conceitos que também fazem parte do arcabouço teórico e metodológico no qual este
trabalho se embasa, principalmente no que tange ao conhecimento das especificidades que
envolvem esses lugares (cidade e campo).
35
1.3 A relação rural e urbano: complementaridades e contradições
As relações entre Cidade e Campo/Urbano e Rural, têm sido alvo de contínuas
discussões, tanto no campo das teorias, quanto da práxis concernente a aplicabilidade desses
conceitos nas análises espaciais.
Entende-se que é importante nos estudos que envolvam cidade e campo, rural e urbano
primeiramente definir seu marco lógico de conceituação, ou seja, a definição do que é urbano
ou rural, porém, não de forma fechada e determinista. Nestes termos, concorda-se com as
posições de Marcos Aurélio Saquet (2006), no qual afirma que
Um aspecto importante, nesta discussão, é a não definição do rural somente pela
agricultura e do urbano somente pela indústria. Ambos relacionam-se
reciprocamente e contém uma miríade de aspectos específicos inerentes a forma de
vida distintas. complexidade e heterogeneidade nos espaços rural e urbano. Elas
são territoriais, com temporalidades. O que varia, são os arranjos, as intensidades,
formas e conteúdos, as velocidades. Um só pode ser compreendido em suas relações
com o outro, vem a ser pelo outro, numa relação complementar, dialeticamente
definida (2006, p. 160).
O autor argumenta que para refletir sobre a temática do urbano e do rural, e mesmo
sobre outras questões envolve conceber pelo menos três questões fundamentais: i) os
elementos teóricos conceituais que orientam a pesquisa científica; ii) o real, ou seja, o mundo
vivido substantivado por contradições, movimento, superações, coexistências, e, iii) a
articulação teórico-conceitual-real (SAQUET, 2006).
Logo, em todas as pesquisas se deve guiar por certos parâmetros, porém não se deve
tê-los como fim em si mesmo
No movimento de nosso pensamento, orientamo-nos por elementos pré-existentes;
observamos, vivemos, empiricizamos e compreendemos o real (re) pensando nossos
fundamentos teóricos e metodológicos que devam corresponder, claramente, ao
mundo vivido (SAQUET, 2006, p.157).
Assim, discorda-se com a definição rígida dos conceitos de urbano e rural adotada por
muitos pesquisadores, mas entende-se que os mesmos são importantes para a estruturação das
pesquisas, pois as categorias norteiam os estudos e ajudam a dar um caráter mais objetivo aos
estudos científicos.
36
Discorrendo sobre as apreensões de rural e urbano de
Marcos Aurélio
Saquet, o mesmo
argumenta que
As cidades concentram, como afirmara Lefebvre (1999), não a população, mas
instrumentos de produção, capital (constante e variável), prazeres (simbolicamente
instituídos), o Estado como mediação e seus mediadores, religiões e etc., que são
distribuídos socialmente (SAQUET, 2006, p.158).
Argumentando sobre as áreas rurais o autor concebe que
O rural é marcado, em suas características mais gerais, pela propriedade fundiária
intimamente ligada a forças e relações produtivas específicas (como instrumentos
rudimentares e o trabalho familiar), indústrias ainda na fase artesanal, divisão do
trabalho incipiente, dispersão populacional, relação muito próximas de indivíduos
com sua natureza exterior (com significados muitas vezes simbólicos, bucólicos,
românticos), relações de vizinhança e ajuda mútua (cooperação), identitárias (nas
linhas e vilas/sedes distritais) (SAQUET, 2006, p.159).
Essas características variam de lugar para lugar, sendo que em algumas áreas rurais
podemos encontrar forças produtivas que expressam inovações técnicas e tecnológicas,
mecânicas e informacionais, trabalho assalariado e indústrias ditas modernas, entre outros
elementos que, usualmente, nos reportam às cidades, relembrando a idéia do autor
Alguns desses aspectos também ocorrem nas cidades, de diferentes formas,
intensidades e com diferentes conteúdos, como na relação do homem com a água, com
o solo urbano, com o próprio ambiente construído que contém a natureza nata, em
associações de moradores de bairros...! Homens, historicamente determinados, têm
relações sociais, que são econômicas, políticas e culturais, cotidianas e fazem do rural
um espaço também urbano e, deste, um espaço também rural (SAQUET, 2006, p.159).
Nestes termos, concorda-se com o autor quando o mesmo afirma que não se deve
definir o rural somente pela agricultura e o urbano somente pela indústria, pois ambos
relacionam-se reciprocamente e contém uma miríade de aspectos específicos inerentes à
forma de vida distinta. Assim, há complexidade e heterogeneidade nos espaços rural e urbano.
Ângela Maria Endlich (2006) destaca rios critérios que vêm sendo usualmente
utilizados para a caracterização do rural e do urbano: limites oficiais ou delimitação
administrativa (o rural e o urbano como adjetivos territoriais); a definição de um patamar
demográfico (o rural como dispersão e o urbano como aglomeração); densidade demográfica
(urbano e rural expresso em números de habitantes por quilômetro quadrado) e ocupação
econômica da população (urbano e rural definido pela natureza das atividades econômicas).
37
Os critérios acima mencionados são os mais utilizados pelos pesquisadores para a
definição de rural e urbano, assim como a delimitação de cidade e do campo. Acredita-se, que
estes critérios devem ser utilizados com muito cuidado, pois na conjuntura econômica e
política em que vivemos, as mesmas se confundem nos diversos espaços, não dando
caracterização clara e precisa de sua presença em determinado lugar, manifestando-se em
graus variáveis conforme as especificidades de cada lugar.
Neste aspecto concorda-se com esta autora quando afirma que
Os investimentos urbanos, o modo de vida urbano que extrapola as cidades,
demonstra que, historicamente, o urbano atinge o rural. predomínio da
mentalidade econômica e domínio monetário, imposições dos interesses urbanos
(ENDLICH, 2006, p. 20).
Essa autora afirma que de alguma forma o urbano está presente no rural, seja por meio
das relações sociais moldadas pelo sistema econômico vigente, ou pela presença de objetos
que caracterizam o urbano. E são justamente essas características que nos propusemos a
pesquisar nas vilas do município de Parintins.
Sobre uma visão macro da distinção entre rural e urbano, Milton Santos (2008)
comenta que
Mas que a separação tradicional entre um Brasil urbano e um Brasil rural, há, hoje, no
país, uma verdadeira distinção entre um Brasil urbano (incluindo áreas agrícolas) e um
Brasil agrícola (incluindo áreas urbanas). No primeiro, os nexos essenciais devem-se,
sobretudo, a atividades de relação complexas e, no segundo, a atividades mais
diretamente produtivas (2008, p. 6).
Este autor tem uma visão própria de como esses estudos deveriam ser tratados no
âmbito da geografia, fazendo distinção entre Regiões Agrícolas e Regiões Urbanas
(SANTOS, 2008), sobre este assunto o autor discorre
Graças a evolução contemporânea da economia e da sociedade, e como resultado do
recente movimento de urbanização e de expansão capitalista no campo, podemos
admitir, de modo geral, que território brasileiro se encontra, hoje, grosseiramente
repartido em dois grandes subtipos, que agora vamos denominar de espaços agrícolas
e espaços urbanos. Utilizando, com um novo sentido, a expressão região, diremos que
o espaço total brasileiro é atualmente preenchido por regiões agrícolas e regiões
urbanas. Simplesmente, não mais se trataria de ‘regiões rurais’ e de ‘cidades’ Hoje, as
regiões agrícolas (e não rurais) contem cidades; as regiões urbanas contém atividades
rurais. Na presente situação socioeconômica, as cidades preexistentes, nas áreas de
povoamento mais ou menos antigo, devem adaptar-se às demandas do mundo rural, e
das atividades agrícolas, no que se refere tanto ao consumo das famílias quanto ao
consumo produtivo, isto é, consumo exigido pelas atividades agrícolas ou
38
agroindustriais. Quanto às cidades, aquelas cujas as dimensões são maiores, utilizam
parte dos terrenos vazios, dentro da aglomeração ou em suas proximidades, com
atividades agrícolas freqüentemente modernas e grandemente destinadas ao consumo
de respectiva população. [...] Teríamos, desse modo, no primeiro caso, áreas agrícolas
contendo cidades adaptadas às suas demandas e, no segundo caso, áreas rurais
adaptadas a demandas urbanas (2008, p.73-74).
Haveria dessa forma, um Brasil Agrícola e um Brasil Urbano, em contraposição ao
Brasil das cidades e Brasil do rural, essa distinção se daria mais pelos tipos de relações
realizadas sobre os respectivos subespaços, e não mais somente pela divisão estatística e
administrativa frequentemente utilizada.
Diante das discussões sobre a conceituação de cidade e campo, assim como a definição
do que é urbano ou rural, não se pode deixar de fora as reflexões sobre a urbanidade e
urbanização, que importantes autores como Henri Lefebvre engendram no pensamento
moderno. Pode-se citar algumas obras desse autor, que trata da temática, como O Direito à
cidade (1969) e a Revolução Urbana (1983), assim como outras obras escritas pelo mesmo
autor, que levantam as questões cruciais quando se quer trabalhar a urbanização e seus
reflexos na vida cotidiana, assim como, sua influência no que se chama de “meio rural”. Essa
foi uma das correntes teóricas que contribuíram com os estudos realizados, porém não foi a
única e nem a principal.
A perspectiva levantada por este autor é de que os elementos típicos da vida urbana
penetram no campo e se fundem com suas particularidades. Dessa forma, o capitalismo
avança se apossando da propriedade da terra, fazendo com que a produção agrícola se torne
“negócios dos capitalistas urbanos” e passam a ser comandados por estes. Logo, o modo de
viver urbano, penetra no campo, comportando sistemas de objetos e sistemas de valores,
instaurando assim a produção e reprodução das contradições socioespaciais picas das
cidades.
Henri Lefebvre aponta os elementos mais conhecidos do sistema urbano de objetos e
de valores, que, aos poucos, ou de forma mais acelerada se instalam no campo.
Os mais conhecidos dentre os elementos do sistema urbano de objetos são a água, a
eletricidade, o gás (butano nos campos) que não deixam de se fazer acompanhar
pelo carro, pela televisão, pelos utensílios de plástico, pelo mobiliário ‘modernoo
que comporta novas experiências no que diz respeito a ‘serviços’. Entre os
elementos dos sistemas de valores, indicamos os lazeres ao modo urbano (danças,
canções), os costumes, a rápida ação das modas que vem da cidade. E também as
preocupações com a segurança, as exigências de uma previsão referente ao futuro,
em suma uma racionalidade divulgada pela cidade. Geralmente a juventude, grupo
etário, contribui ativamente para essa rápida assimilação das coisas e representações
oriundas da cidade (1969, p.17).
39
Uma das questões importantes em nossa pesquisa é entender como se essa
apropriação dos hábitos e costumes inerentes às cidades, nos ambientes rurais, assim como o
papel que exercem os sistemas de objetos e valores na construção da cotidianidade dos
moradores das vilas localizadas no interior da Amazônia. O grande desafio da pesquisa é
discutir as diferenças e as similitudes do urbano e do rural em franca transformação numa
região como a Amazônia.
Assim pode-se entender que a urbanização pode tornar menos nítida a distinção entre
cidade e campo, porém, como esse processo ocorre de maneira contraditória a relação
urbanidade e ruralidade ao invés de desaparecer, vai se intensificando, criando lugares que
emanam características peculiares, mostrando em sua composição social, econômica e
cultural fragmentos de urbanidade e ruralidade estabelecendo ora diálogo complexo e intenso
entre cidade e campo, ambos se relacionando de maneira complementar, ora se afastando
completamente sendo possível separá-los e identificar características específicas existentes em
cada um deles.
Assim, esta pesquisa também intenta, por meio da análise socioeconômica e ambiental
dessas localidades, entender o grau de assimilação dos valores ditos urbanos, enquanto
processo, entre os meandros dos interesses econômicos e nos valores culturais que comandam
a vida social, entendendo, dessa forma, as diferentes nuances da urbanidade em diferentes
lugares, assim como, compreender o seu caráter contraditório, é muito importante para
analisarmos como está constituído este urbano na Amazônia, mas especificamente nas cidades
médias como no caso de Parintins.
Maria Lúcia Falconi da Hora Bernadelli (2006) formula seu ponto de vista na
compreensão do modo vida rural e o urbano, onde afirma que
A vida rural é associada, geralmente, com uma expressiva valorização da
comunidade, valores da vida da família e também ao papel importante da religião. A
vida urbana tem como características agrupar mais as pessoas a partir de sua
profissão, muito mais do que somente a partir da família ou da orientação religiosa.
[...] Outra consideração a ser lembrada é a de que, quando pensamos em ‘modo de
vida rural’, pensamos haver maior articulação entre o espaço do trabalho e o espaço
de vida como, por exemplo, no caso de uma pequena propriedade. Do mesmo modo,
no campo, o uso do tempo guarda maior relação com a natureza do que em relação
ao ‘modo de vida urbano’ em que a separação entre espaço de vida e de trabalho é,
geralmente, maior, com o tempo e o espaço assumindo maior ‘compartimentação’
em comparação ao que ocorre nos espaços rurais. Da mesma forma, não podemos
esquecer que outro importante elemento refere-se à classe social, que tem profunda
implicação no estabelecimento do ‘modo de vida’, na medida em que a renda irá
permitir o acesso (ou não) a uma série de bens e tecnologia também constantemente
transformados e incorporados ao ‘urbano’ (2006, p.46).
40
Logo, se procurou apreender o urbano e rural, a cidade e o campo, a partir dos
processos passados e em curso que (re) produzem e (re) definem o espaço, pensando-os a
partir de múltiplas dimensões (sociais, políticas, ideológicas, econômicas, históricas e
culturais).
Ariovaldo Umbelino de Oliveira (2004) escreve sobre a necessidade do entendimento
das mudanças que ocorrem no campo nos dias atuais, principalmente no que diz respeito às
relações sociais
Na realidade, as relações sociais se realizam, concretamente, enquanto relações
espaciais e, nesse sentido, a análise do espaço revela um processo de
produção/reprodução da sociedade em sua totalidade. Não podemos ignorar que o
trabalho é criador de formas esse processo está na origem da produção da cidade e
do campo (OLIVEIRA, 2004, p.57).
Esse autor propõe profunda reflexão sobre a temática rural, onde coloca que a cidade é
hoje palco e lugar dessas lutas rurais/urbanas e/ou urbanas/rurais, e que a compreensão dos
processos que atuam na construção/expansão de grande parte das cidades passa pela
igualmente necessária compreensão dos processos que atuam no campo (OLIVEIRA, 2004).
Ele ainda enfatiza que as pesquisas sobre percepção e modos de vida das populações do
campo estão se tornando prática usual na Geografia Agrária, e concomitantemente, muito
importantes na compreensão do processo de apropriação capitalista nas áreas rurais.
Acredita-se que no fundo, as divisões entre rural e urbano não passam de abstrações,
uma vez que o território é sempre vivido sem fronteiras, com movimentos das populações ora
em lugares mais concentrados, ora em espaços dispersos. Ambas as conformações cumprem
funções definidas e contextualizadas fazendo parte de uma realidade única e com estes
aspectos inter-relacionados (GUERRA, 2006).
Sobre a compreensão do espaço pode-se citar as concepções de Milton Santos,
contidas na obra A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção (2008), no
qual discute, minuciosamente, o conceito de espaço, lugar, técnica, correlacionando-os com o
tempo que se vive, a conjuntura político, social e cultural que a nova era da globalização
impõe. Nestes tempos de mudanças radicais de conceitos, comportamentos e atitudes, muitas
vezes deixa-se de delinear nossa tênue relação com estas categorias de análises tão
importantes para a geografia, assim como para outras ciências sociais que trabalham com a
perspectiva tempo-espaço. Santos define que
41
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório,
de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como
o quadro único na qual a história se [...] Sistemas de objetos e sistemas de ações
interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as
ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza
sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se
transforma (2008, p.63).
Como o intuito da pesquisa é também entender a forma como se a produção do
espaço nas vilas estudadas, temos que considerar todos os fatores que contribuem para a
constituição desse espaço, compreendendo o espaço geográfico como algo que participa
igualmente da condição do social e do físico, um misto, um híbrido (SANTOS, 2008).
Ao analisar a categoria lugar, Santos trabalha com a essência deste termo, colocando-o
no patamar das inter-relações com a sociedade globalizada, mas, ao mesmo tempo localizada,
para ele é no lugar que o homem estabelece as relações com o mundo, com seu próximo, e
consigo mesmo, esse intercâmbio transforma os lugares criando e recriando suas formas,
estruturas e relações.
Neste jogo de dinâmicas o lugar pode tomar várias formas e sentidos, modificando o
ser humano que consequentemente modifica o lugar, sendo este um processo contínuo e
mutável, que resulta numa gama de pluralidades que coexistem em determinado lugar
No lugar - um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas, firmas e
instituições- cooperação e conflito são a base da vida em comum. Porque cada qual
exerce uma ação própria, a vida social se individualiza; e porque a contigüidade é
criadora de comunhão, a política se territorializa, com o confronto entre organização e
espontaneidade. O lugar é o quadro de uma referência pragmática ao mundo, do qual
lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro
insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas
mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade (SANTOS, 2008, p.
322).
O lugar contém as transformações, das (des) construções do espaço, é a força dialética
que leva o homem a se tornar capaz de criar e recriar sua própria cultura, modos de vida e
relações sociais que engendram nova forma de pensar e conceber o lugar conforme as
necessidades. O lugar não é estático, mesmo aqueles que estão geograficamente distantes dos
centros urbanos estão, de certa forma, conectados com o globo sofrendo a influência dele.
Para Milton Santos é no lugar que a vida acontece, é nele que o homem estabelece suas
relações, cria identidades, corrobora conceitos e se socializa com seus semelhantes.
No nosso entendimento o espaço, levando em consideração a concepção de Milton
Santos, é isso: vida, morte, mudança, comunicação, cultura, intercâmbio, construção e
42
desconstrução tanto de conceitos como de práticas, é o lócus onde atuam todas as formas da
sociedade, todos em seus determinados lugares que ora são locais ora são globais.
Outro conceito importante nesta pesquisa é sobre a produção do espaço urbano, no
qual Ana Fani Alessandri Carlos (2007) apresenta importante contribuição de como devemos
apreendê-lo
Entender o espaço urbano do ponto de vista da reprodução da sociedade significa
pensar o homem enquanto ser individual e social no seu cotidiano, no seu modo de
viver, agir e pensar. Significa entender o processo de produção do humano num
contexto mais amplo: o da produção da história, de como os homens produziram e
produzem as condições materiais de sua existência (2007, p.79).
Essa autora expõe com bastante propriedade as formas e conteúdos existentes no
cotidiano das cidades, sua apropriação e consumo, ou seja, as contradições existentes, que de
algum modo estão presentes nas diversas esferas sociais que constituem os espaços urbanos.
Como neste estudo, buscou-se entender a produção do espaço em Mocambo, Caburi e
Vila Amazônia, sob a perspectiva do urbano e da cidade, ou seja, procurando fazer uma
reflexão de como a urbanização se faz presente em espaços rurais, mudando formas e
estruturas pré-existentes, para isso deve-se compreender que
Pensar a cidade significa pensar o sentido da vida na cidade (de como ela se realiza),
significa pensar a plena dimensão do homem, o que revela a cidade enquanto
liberdade. Se é no cotidiano que se realiza a norma, ganha a forma e segregação, é
que estão as possibilidades de apropriação do espaço (CARLOS, 2001, p.430).
Ao se analisar as características socioambientais encontradas nas vilas do município de
Parintins, fazendo a interpretação dos mesmos e identificando suas semelhanças e diferenças
em relação a produção do espaço evidenciada na cidade, pode-se compreender, embasados
nos conceitos acima apresentados sobre cidades e comunidades rurais, rural e urbano,
compreendemos que ambos (cidade/urbano e campo/rural) possuem suas características
próprias e ao mesmo tempo se inter-relacionam. Dessa forma, é importante entender até que
ponto a cidade e os modos de vida urbanos se estendem às pequenas vilas que estão ligadas as
mesmas. Conhecendo as características sociais e ambientais dessas vilas pode-se compreender
como as mesmas constroem seu cotidiano e assim descobrir se elas apresentam as
contradições existentes na cidade de Parintins, e até que ponto as mesmas sofrem influências
da cidade e como está ocorrendo a modificação do modo de vida dos moradores dessas vilas.
Sobre o cotidiano vivido nas cidades Ana Fani Alessandri Carlos afirma que
43
A produção do cotidiano no mundo moderno vincula-se à ampla difusão do consumo
que criou o reino da mercadoria conseqüentemente possibilitando a penetração das
relações capitalistas na esfera doméstica associada à necessidade de reprodução do
capital através da reprodução das relações sociais que produz um modo de vida, um
modo de consumo, um tipo de consumidor, valores e necessidades. Isso significa que
a difusão do mundo da mercadoria como condição da reprodução passa pela
desagregação do modo de vida tradicional e da construção de um novo, em que as
relações passam a ser mediatizadas pela mercadoria e pelo mercado (2007, p. 52).
Nas análises e reflexões sobre as novas configurações da relação rural urbano
utilizaremos as idéias contidas nas obras de João Rua (2007, 2006 e 2005), as quais trabalham
a concepção de “Urbanidades no Rural”, afirmando que, “[...] seriam todas as manifestações
do urbano em áreas rurais sem que se trate esses espaços formalmente como urbanos” (RUA,
2005, p.57), ou seja, estas seriam as manifestações de territórios bridos, nos quais urbano e
rural interagem e se fundem, mas sem se tornar a mesma coisa, que preservam as suas
especificidades (RUA, 2006). Numa conceituação mais abrangente sobre as urbanidades no
rural o autor afirma que
Urbanidades no rural seriam todas as manifestações materiais e imateriais com caráter
inovador (nem sempre de origem urbana ou metropolitana, embora influenciadas por
essa origem) em áreas rurais, sem que, por isso, fossem identificados tais espaços
como urbanos. As urbanidades são constituídas por uma enorme gama de
manifestações, que incluem, em seus aspectos naturais, a melhoria da infraestrutura e
dos meios de comunicação, novas formas de lazer, a segunda residência, o turismo, as
indústrias, o acesso a bens de consumo coletivos, especulação imobiliária e o preço da
terra, novas relações de trabalho, direitos trabalhistas, aposentadoria rural e etc. (RUA,
2007, p. 272).
As discussões deste autor são importantes em nossas análises, pois o mesmo se
preocupa com o estudo das influências do urbano no rural, porém não de uma forma fechada e
tradicional, como outros autores trabalham, mas procurando o diálogo com as diversas
correntes teóricas que estudam o urbano e o rural. Ele possui uma visão mais integradora das
territorialidades em que o urbano e o rural se mesclam, definindo particularidades e
singularidades que marcam cada localidade, ou seja, para ele o território tem um caráter
“híbrido”, onde, segundo o mesmo
Um rural que interage com o urbano, sem deixar de ser rural, transformado, não
extinto. A hibridez permanente evidencia a ‘criação local’, isto é, a capacidade dos
atores locais de, influenciados pelo externo, de escala mais ampla, desenvolverem
leituras particulares dessa influência e produzirem territorialidades particulares (RUA,
2005, p.58).
44
O autor procura demonstrar que uma espacialidade que se integra a um “urbano”
que se difundi por todo território; que um rural com leituras particulares (criações locais)
desse movimento mais amplo, que interage com aquele “urbano”, e que essas interações
transformam os espaços rurais em territórios híbridos (resultado dessas interações) nos quais
se dão rias formas de apropriação e dominação; que as marcas dessa hibridez são as
“urbanidades no rural”, integradoras das múltiplas escalas que a ação política exige (RUA,
2005).
João Rua baseia o conceito de “urbanidade no rural” na concepção de urbano
demonstrada por Henri Lefebvre, pois trabalha com a idéia de sociedade urbana como devir,
como possível e virtual entendendo o processo de “urbanização da sociedade”, como aquela
em que o urbano ultrapassa a cidade e se instala na escala do território (RUA, 2005, p. 50).
Outros autores também discutem as recentes transformações ocorridas no campo
brasileiro dentre eles podemos citar Maria de Nazareth Baudel Wanderley (2000 e 2001) e
Sérgio Schneider (2001 e 2003) que enfocam as recentes mudanças em áreas rurais,
influenciadas pelo processo de urbanização e a complexa relação campo-cidade e suas atuais
configurações.
Maria de Nazareth Baudel Wanderley (2000 e 2001) chama a atenção em seus
trabalhos para a emergência de se estudar a ruralidade, o desenvolvimento rural e o
desenvolvimento local no Brasil moderno e que essas temáticas têm sido alvo de muitos
debates na comunidade acadêmica e também envolve militantes de movimentos, organizações
sociais e responsáveis pela política pública voltadas para a agricultura e o meio rural. Para
esta autora, internamente, o meio rural sofrerá profundo processo de diversificação social e
suas relações com o meio urbano perderão definitivamente o caráter de antagonismo, em
benefício das relações de complementaridade (WANDERLEY, 2000).
Resumindo, podemos compreender as vilas a partir de uma categoria importante da
geografia, a paisagem. No caso específico, se imbricam a paisagem natural, as três (03) vilas
estão nas margens de lagos ou rios, as paisagens rurais, as três estão inseridas no meio rural,
embora Vila Amazônia seja, oficialmente, área de expansão urbana. Mas as vilas são,
sobretudo, paisagem urbana, pois apresentam formas urbanas (ruas, edificações,
aglomerações).
A geografia sempre apresentou a paisagem como natural e cultural, diferenciando as
duas, sendo que a primeira, refere-se à combinação de elementos formados pela própria
natureza interagindo entre si, tais como topografia, vegetação, solo, rios e lagos, enquanto que
45
a paisagem cultural-humanizada - inclui todas as modificações feitas pelo homem no
ambiente natural, visando à apropriação para o seu uso (EMÍDIO, 2006).
Segundo Teresa Emídio (2006) a paisagem cultural comporta as áreas rurais e urbanas,
porém não significando que tais áreas estejam separadas, pois a dicotomia entre campo e
cidade, que se expressa na oposição rural x urbano deixam de existir no momento em que
práticas antes restritas ao meio urbano são observadas também no meio rural, consolidando-se
um continuum territorial, em que se encontram reunidos todos esses lugares, vizinhos uns dos
outros (EMÍDIO, 2006).
Nos capítulos seguintes será abordado mais especificamente o foco desta pesquisa,
caracterizando o município de Parintins, seu processo histórico de ocupação e suas principais
características socioeconômicas e espaciais, partindo primeiro do geral, que é a cidade de
Parintins e depois para o específico que são as vilas do município, foco principal da pesquisa.
46
2 - CIDADES, VILAS E AGROVILAS: ESPAÇO, TEMPO E PAISAGEM
Antes de falar sobre as áreas da pesquisa, que são as vilas e agrovilas do município de
Parintins, é primeiramente necessário conhecer a constituição do município de Parintins desde
seus primórdios. Compreender a formação histórica do município é importante para entender
o universo do estudo, posto que as áreas pesquisadas constituem-se de pequena fração do
espaço geográfico do município, um recorte geográfico que faz parte de um todo inter-
relacionado, que possui suas características próprias, mas que não deixa de ser reflexo do
conjunto de acontecimentos e representações que é o município de Parintins. Nos parágrafos
abaixo, será apresentado, como surgiu e se consolidou esse importante município do Baixo-
Amazonas, conhecido mundialmente pelo Festival Folclórico, mas que além disso, tem uma
interessante história, que merece ser aqui relembrada. Faz-se-á, também uma descrição sobre
suas características socioambientais, econômicas e culturais, para que se possa fazer a análise
comparativa com Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, tomando como referência as sedes
dessas regiões.
2.1 O município de Parintins: formação histórica
Tomando como referência as obras: Clarões de Fé do Médio Amazonas, Missão Vila
Nova-Parintins, Memórias de Parintins e Memórias do Município de Parintins, de Dom
Arcângelo Cerqua (2009), Tadeu de Souza (2003), Tonzinho Saunier (2003) e Antônio C. R.
Bittencourt (2001), respectivamente, será relatado de forma sucinta os principais
acontecimentos que deram origem ao município de Parintins. Destaca-se que estes autores
fizeram pesquisa documental, assim como, coleta de relatos orais para escreverem suas obras,
e que as mesmas são as principais fontes de pesquisa sobre a gênese do município de Parintins
e seus principais acontecimentos históricos.
A partir de agora será discorrido um capítulo importante na história de formação e
criação das localidades na Amazônia, não só de Parintins, mas de grande parte do que
atualmente são as cidades na Amazônia, que são as Missões Jesuítas, que foram responsáveis
pelos aldeamentos e agrupamentos dos povos indígenas nessa época.
47
A Companhia de Jesus foi fundada por Santo Inácio de Loyola, sendo que em 1540, o
Papa Paulo III aprovou as constituições da nova ordem, com a bula Regimini Militantis
Ecclesiae. No Brasil os primeiros jesuítas chegaram em 1549, em Salvador/BA, comandados
pelo Pe. Manoel da Nóbrega.
A presença dos jesuítas na Amazônia brasileira remonta ao Século XVII, quando em
1639, o Pe. Luís de Figueira, vindo do Maranhão, chega a Belém e início ao trabalho
missionário, percorrendo os rios Tocantins, Pacajá e o baixo Xingu, tornando-se o primeiro
missionário da Companhia de Jesus (de origem portuguesa) a trabalhar na região. Antes dele
já haviam estado de passagem jesuítas provenientes da Missão jesuítica no Peru (então
colônia espanhola), entre eles o Pe. Samuel Fritz, que viajou de Quito a Belém (em 1689/90),
ajudando a fundar as cidades de São Paulo de Olivença/AM, Coari/AM e Tefé/AM, e
registrando em seu diário de viagem rico relato sobre a ocupação da Amazônia pelos
espanhóis e portugueses, além de descrever os hábitos das populações indígenas e realizar
estudos sobre as diferentes línguas ali faladas. Outros missionários chegaram enviados pelo
Pe. Antônio Vieira, como o Pe. João Felipe Bettendorf, que fundou a cidade de Santarém/PA
(em 1661). Também ao redor de missões dos jesuítas nasceu a cidade de Parintins/AM, a ilha
Tupinambarana.
Como resultado da visita de Francisco Gonçalves, que viria a ser o superior da
Companhia de Jesus para a ilha, onde hoje é a cidade de Parintins vieram para trabalhar com
os índios da nação tupinambarana os jesuítas Manuel Pires e Manuel Souza, onde se basearam
numa aldeia que estava localizada na embocadura do Remanso. Nesta aldeia foi erguida uma
capela em honra a Santa Cruz. Porém, devido ao acontecimento do assassinato do cabo de
tropa Antonio Arnau Vilela por índios dessa região, ocorreu um verdadeiro massacre, por
vingança, dos indígenas dessa aldeia, desativando a mesma (SOUZA, 2003, p. 04).
Por causa desse acontecimento os padres Manuel Pires e Manuel Souza, mudaram para
a ilha onde hoje é Parintins, onde iniciaram as bases do que mais tarde seria o município de
Parintins. Segundo Souza
Construíram uma capela em honra ao padroeiro São Miguel. Fundaram uma
escolinha. E utilizando os recursos disponíveis iniciaram a catequese.
Para povoar a comunidade promoveram o aldeamento, que não era outra coisa se não
reunir os índios dispersos e trazê-los para morar na Missão. A medida proporcionava
também segurança para perigos naturais (SOUZA, 2003, p. 05).
Na nova missão os padres conseguiram trazer para morar indígenas pertencentes às
seguintes nações: Pataruâna, Areretu, Andirá, Mojoára e Sapopé (SOUZA, 2003, p.05).
48
Com a ascensão política do Marques de Pombal junto ao trono português (1750-1777)
houve profundas mudanças na política de Portugal para a Amazônia. Por essa época, também
os interesses de uma classe dominante formada no Brasil passaram a competir com as dos
missionários e a resultante foi que em 1759 os jesuítas foram definitivamente expulsos
(OLIVEIRA, 1983, p.191), pois diziam eles que os jesuítas estavam ensinando os índios a
serem rebeldes e facilitarem a reconquista da Amazônia por parte da Espanha.
mencionamos acima que os jesuítas foram importantes para a formação de aglomerações
populacionais indígenas, que mais tarde foram elevadas a vilas que formaram, posteriormente,
os municípios que conhecemos.
Sendo que, com a expulsão dos jesuítas de nossa região, os aldeamentos formados por
eles tiveram seu fim; no aldeamento realizado pelos padres jesuítas no que hoje é Parintins
aconteceu a mesma coisa, ela ainda resistiu por algum tempo, mas os poucos moradores que
ficaram, perderam ânimo para o trabalho na agricultura e sem produção a aldeia desapareceu
em alguns meses.
O lugar passou por vários fatos históricos registrados. Em 1776 o Capitão de Milícias
José Pedro Cordovil desembarcou na ilha com seus escravos e agregados para se dedicar à
pesca do pirarucu e à agricultura, ele era um bandeirante caboclo que sonhava em encontrar
ouro e diamante na floresta. A rainha D. Maria I deu-lhe a ilha de presente. Ali instalado,
fundou uma fazenda de cacau, dedicando-se à cultura desse produto em grande escala. Ao sair
dali, algum tempo depois, ofertou a ilha à rainha. Tupinabarana foi aceita e elevada à Missão
Religiosa, em 1803, pelo Capitão Mor do Pará, Conde dos Arcos, que incumbiu sua direção
ao Frei José das Chagas, recebendo a denominação de Vila Nova da Rainha. A eficiente
atuação do Frei José provocou um surto de progresso e desenvolvimento na Vila, mediante a
organização da comarca do Alto Amazonas, em 25.07.1832, passa a Freguesia de “Nossa
Senhora do Carmo de Tupinabarana”.
Em 24.10.1848, pela Lei Provincial do Pará 146 elevou a freguesia à categoria de
Vila Bela da Imperatriz, e constituiu o município até então ligado a Maués. Em 14.03.1853,
dá-se a instalação do município de Parintins. Em 10.12.1981, pela Emenda Constitucional
12, o território de Parintins é acrescido do distrito de Mocambo, e hoje o município é dividido
em dois distritos: Parintins e Mocambo.
O crescimento de Parintins se deu sob a influência da Igreja Católica, desde sua
constituição com a chegada dos Jesuítas Manoel Pires e Manuel Cardoso em 1660, até as
importantes obras realizadas pela Prelazia de Parintins a partir de 1955, foram fundadas
escolas, hospital, sistemas de rádio entre outras benfeitorias.
49
A partir de agora serão abordados os acontecimentos históricos mais recentes do
município, que ajudaram a constituir a atual conjuntura de Parintins, principalmente em seus
aspectos econômicos e evolução do espaço urbano.
Ieda Hortêncio Batista (2000), em sua dissertação de mestrado sobre urbanização e
ambiente em Parintins, faz interessante relato histórico de como era a cidade, fazendo um
recorte temporal do ano 1900 a 2000. Porém, sua análise se fundamenta no processo de
urbanização e suas implicações socioambientais, mas como o objetivo é proporcionar uma
visão geral sobre a evolução da cidade até o presente momento, também utilizou-se outras
obras além da mencionada, como a de Antonio C. R. Bittencourt (2001), José Camilo
Ramos de Souza (1998), Wallace Pinheiro (1995), Tadeu de Souza (2003) e Massilon Cursino
(1993), entre outros.
Na descrição de Bittencourt (2001), em 1920 Parintins tinha a seguinte estrutura
Tem 10 ruas, uma bella avenida, 9 travessas e cinco praças. As ruas são dispostas de
Leste e Oeste e as travessas de Sul a Norte. A avenida que tem o nome de Amazonas,
é traçada de Leste e Oeste; a sua extensão vae do lago da Franceza e termina no logar
denominado São José; tem a largura de 20 metros e a extensão de 1.705
(BITTENCOURT, 2001, p. 16).
Este autor também faz relato dos aspectos sociais e econômicos da cidade neste
período. Em 1920, pela contagem do censo, Parintins contava com o número de 14.607
habitantes, que moravam em 3.084 casas. Sua economia era baseada em grandes plantações
de cacau, cultivo do tabaco e preparação do fumo, pequenos cafezais e na plantação do
guaraná, além da plantação da mandioca para a preparação da farinha. Assim sua base era
essencialmente agrícola, e se avaliou que nessa época existia cerca de 488.000 pés de cacau
(BITTENCOURT, 2001, p.176).
Este mesmo autor afirma que em 1920
No município se trabalha também na indústria extractiva de produtos naturaes, o que
constitue importante commercio. Fabrica-se a borracha nos seringais naturaes, como
nos de plantação. Colhe-se a castanha. A flora produz diversas drogas: Copahyba,
caferana, manacá, muirapuama, que constituem artigos de exportação. Na quadra do
verão também trabalha-se na salga do pirarucu, nos lagos do município. Com a
desvalorização da borracha, os prejuízos do Município, comparados com os de outros,
foram muito menores, porque a população emprega-se em outros serviços. Não houve
êxodo, essa depreciação animou a novas plantações (BITTENCOURT, 2001, p. 184).
Pelo censo econômico de 1920, o município de Parintins contava com 876
estabelecimentos rurais de plantação e criação e vários estabelecimentos comerciais na sede
50
da cidade. Já existiam vários prédios públicos pertencentes ao município e ao Estado, dentre
eles: 01 Mesa de Rendas (construída de madeira e barro, coberta com telhas), 01 Cadeia
Pública (um edifício de pedras e tijolos), 01 Coletoria Estadual (construída de madeira,
coberta com telhas de barro), 01 Edifício onde funciona o mercado municipal (de pedra e
tijolo), 01 Matadouro (barracão coberto com telhas de zinco) (BITTENCOURT, 2001, p.195).
Nas primeiras décadas do século XX observava-se certa preocupação com o
crescimento da cidade com a elaboração de alguns mecanismos de gestão que visavam dar
certo tipo de organização a cidade, como regulamentações e demarcações de ruas e travessas,
cobrança de impostos sobre terras entre outras (BATISTA, 2000).
Até 1940 a estrutura urbana de Parintins não era muito diferente das demais cidades
amazônicas daquela época; 10 anos antes nem existia energia elétrica, sendo que a cidade era
iluminada por faróis a base de “banhas” de animais. A maioria das ruas era de terra e as que
apresentavam melhores condições eram praticamente três (03), as quais eram chamadas pela
população local de: rua da frente, rua do meio e rua de trás. Essas denominações lembram as
feitas na obra de Charles Wagley, pelos moradores de Itá, em que os moradores das cidades
amazônicas geralmente não se referiam às ruas pelo nome e sim pela posição em que elas se
encontravam na cidade “[...] Os nomes indicados nos mapas são raramente usados, quando
são. As ruas são conhecidas como ‘rua primeira’, ‘rua segunda e ‘rua terceira’(começando do
rio)” (WAGLEY, 1988, p. 46). Predominava nas construções das moradias as casas de
madeira com cobertura de palha, onde quase todos possuíam quintais extensos e bem
arborizados.
Em Parintins o período de 1940 a 1970 é marcado pelo crescimento e
desenvolvimento urbano impulsionado pelo cultivo da juta em escala comercial. Esta fibra,
que foi trazida pelos japoneses e adaptadas nas várzeas amazônicas, tornou-se o principal
produto de exportação de Parintins, sendo que várias fábricas de beneficiamento e tecelagem
da fibra da juta se instalaram na cidade.
Para se ter idéia da relevância do cultivo da juta no município de Parintins, Massilon
Cursino (1993) expõe algumas estatísticas econômicas que comprovam a importância da
mesma para a economia de Parintins naquela época. Segundo os dados do CODEAMA, em
1964 a juta e os produtos derivados dela produzidos no município de Parintins foram
responsáveis por 22.5% de toda a produção de juta do Estado do Amazonas, sendo que nos
portos de Parintins movimentava-se cerca de 1/3 (um terço) e 1/4 (um quarto) da produção
estadual. Estimava-se que em meados de 1960, cerca de 1.000 pequenos estabelecimentos
51
produtores estavam engajados na cultura da juta em Parintins, o que equivalia a 5.000 pessoas
diretamente ligadas a produção da fibra na região (CURSINO, 1993).
Assim, a juta tornou-se o principal fator da economia de Parintins, pois o seu cultivo e
beneficiamento ocupavam grande parte da mão-de-obra dos habitantes tanto da área rural
como da urbana, sendo que até a década de 70 a população rural era maior que a urbana.
A partir da década de 80, com o declínio da exploração da monocultura da juta e da
malva, Parintins começa a experimentar uma inversão populacional, ou seja, a população
urbana ultrapassou a rural, pois muitos agricultores de juta migraram para a cidade em busca
de melhores condições de vida, pois, com o declínio do cultivo da juta as famílias ribeirinhas
começaram a passar por dificuldades. Fazendo análise da crise do setor primário em Parintins
Wallace Pinheiro (1995), expõe que estão entre elas: as grandes enchentes; as instabilidades
dos preços e a inconsistência da demanda por produtos agroextrativos; o crédito insuficiente,
burocrático e as dificuldades de comercialização de produtos “[...] Como consequência dessa
crise verificou-se o êxodo rural e pressão sobre a infra-estrutura da cidade” (PINHEIRO,
1995, p. 215).
Nas décadas de 80 e 90 o Festival Folclórico começa a atrair mais visitantes para a
cidade, se tornando um importante fator econômico da região por meio do turismo, mesmo
este ainda não sendo bem planejado pelo poder público, para que possa, efetivamente, se
transformar numa alternativa econômica eficaz para o município.
2.2
O município de Parintins: aspectos socioambientais e econômicos
O município de Parintins está localizado a leste do Estado do Amazonas na zona
fisiográfica 9ª sub-região-Baixo Amazonas, conforme observado na Figura 1, com 50 m
acima do nível do mar, com temperatura média de 35º e umidade relativa do ar chegando a
85%. Possui uma área territorial de 5.952 km² (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
IBGE, 2009), distribuídos nos ecossistemas de rzea (48%); terra-firme (17%) e rios, lagos,
igaras e paras (35%), (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do
Amazonas- IDAM, 2009).
O Município de Parintins encontra-se geologicamente localizado sobre rochas (arenitos,
argilitos, siltitos, arcósios e conglomerados) da Formação Barreiras (idade Quaternário
recente), que são encobertas por extenso e delgado pacote de material argilo-arenoso, por sua
52
vez, repousa sobre níveis lateríticos maturos e imaturos. Faz parte da unidade geológica mais
jovem da área e apresenta depósitos recentes de sedimentos arenosos e argilosos
inconsolidados, de idade Terciária e Quaternária (RADAMBRASIL, 1978). De modo geral, o
município apresenta relevo que varia de altos a baixos platôs, dissecados e aplainados, com
presença de áreas inundáveis e constantemente alagadas e outras submetidas ao regime fluvial
do rio Amazonas. Destacando a ilha de Tupinambarana quanto a sua drenagem, pode-se
observar uma desorganização, com muitos lagos alinhados e afluentes de direções ortogonais
(RADAMBRASIL, 1978).
53
0 95 190 380 570 760
Escala Gráfica
Km
Figura 1 - Mapa de Localização do município de Parintins em relação ao Estado do Amazonas
FONTE: Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais- CPRM, 2004.
Organização: Francimara Torres de Freitas.
Legenda
Manaus
Parintins
Limites Municipais
54
O município é composto de 02 Distritos: Mocambo e Parintins (Lei Estadual 1707 de
23/10/1985). A sede municipal, situada à margem direita do rio Amazonas, na ilha de
Tupinambarana, dista 369 km em linha reta de Manaus e 420 km por via fluvial. O município
limita-se ao norte com Nhamun e Urucará; a leste com o estado do Pa; ao sul com Barreirinha e
a oeste com Urucurituba (Figura 2).
O Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam
densidade demográfica de 15,15 habitantes por km
2,
e uma taxa de crescimento anual de
5,90%, sendo estes indicadores considerados altos em relação aos demais municípios do
Estado do Amazonas, com exceção de Manaus. A população total está estimada em 107.250
habitantes, ficando atrás apenas da capital do Estado.
Como se pode observar na tabela acima, no período 1991-2000, a população de
Parintins teve uma taxa média de crescimento anual de 5,06%, passando de 58.783 em 1991
para 90.150 em 2000. A taxa de urbanização diminuiu, passando de 70,75% em 1991 para
64,48% em 2000. Em 2000, a população do município representava 3,21% da população do
Estado, sendo o maior município, depois de Manaus, em número de habitantes.
No período 1991-2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de
Parintins cresceu 5,78%, passando de 0,658 em 1991 para 0,696 em 2000, e, segundo a
classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o município
está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8).
Em relação aos outros municípios do Brasil, Parintins apresenta uma situação intermediária:
ocupa a 3053ª posição (SEPLAN, 2006).
População
Ano
1991
Ano
2000
Ano
2007
Urbana 41.591 58.125 66.236
Rural 17.192 32.025 35.808
Total
58.783
90.150 102.044
Densidade 9,98 15,15 17,14
Quadro 1 – Evolução Populacional de Parintins
FONTE: IBGE, 2009.
55
Figura 2 -Mapa Imagem do Município de Parintins
FONTE: IPAAM, 2005.
56
No tocante a infraestrutura de transporte, comunicação, abastecimento de energia e
água tratada, podemos inferir que o município não dispõe de malha viária intermunicipal e
interestadual, apenas uma estrada de aproximadamente 60 Km com vários ramais,
desprovidos de pavimentação, com péssimas condições de tráfego e que liga a sede do Projeto
de Assentamento Agrário de Vila Amazônia às demais comunidades pertencentes a mesma.
Na sede municipal não existe transporte coletivo urbano, em virtude das curtas
distâncias, apesar de existirem ônibus que fazem transportes de alunos que moram em áreas
distantes das escolas do centro da cidade. No entanto, existem outras formas alternativas de
deslocamento como táxis, com uma frota de 136 táxis e 482 moto-táxis (Setor de Terras do
Município de Parintins), cerca de 90% de suas ruas e avenidas são asfaltadas. Atualmente o
meio de transporte mais utilizado pelos moradores da área urbana de Parintins são as
motocicletas, sendo este município o detentor das maiores frotas do Estado do Amazonas,
com 7.005 motocicletas, quanto aos automóveis a cidade possui uma frota de 866 veículos
(IBGE, 2009).
O aeroporto Júlio Belém, o único da cidade, recebe vôos diários (diurnos e noturnos),
sua pista de 1.800m com iluminação noturna, suporta aeronaves de grande porte e possui
infraestrutura que atende as demandas locais e até nacionais, como na época do festival
folclórico. Atualmente os vôos diários são operados por apenas 01 (uma) companhia aérea a
TRIP LINHAS AÉREAS, que se configura como um monopólio das viagens aéreas em
Parintins, sendo que assim, a mesma pode cobrar o preço que achar conveniente pelas
passagens aéreas, chegando a preços exorbitantes em determinados períodos como no Festival
Folclórico e nas festas de fim de ano.
O principal porto de desembarque é o Porto Municipal, que foi inaugurado no ano de
2003, porém, mesmo sendo relativamente recente já apresenta problemas em sua
infraestrutura, visto que, no corrente ano, ficou parcialmente alagado por causa da subida das
águas do rio Amazonas, causando muitos transtornos aos usuários (Figura 3 e 4).
57
O transporte intra-municipal e regional é feito predominantemente por barcos de
recreio com destino às comunidades da zona rural, a outros municípios e para o Estado do
Pará. Além de barcos para o transporte de cargas e passageiros, também trafegam barcos
pesqueiros e de turismo ao longo do rio Amazonas e afluentes. Segundo a Capitania dos
Figura 4 – Estrutura do porto que foi invadida pelas águas
FONTE: Arquivo pessoal de Reandro Azedo (junho de 2009).
Figura 3 – Porto Municipal alagado com a cheia do rio Amazonas
FONTE: Arquivo pessoal de Reandro Azedo (junho de 2009).
58
Portos em Parintins, o município conta com 2.206 embarcações de médio e grande porte e 297
de pequeno porte.
O tráfego de navios e barcos é regular e se ao longo do rio Amazonas, com destino
entre os portos de Parintins, Manaus e Belém. A Capitania dos Portos (Agência de Parintins),
é responsável pela orientação, licenciamento e fiscalização das embarcações que trafegam
nessas águas e segundo a mesma somente no trecho Parintins-Manaus trafegam 11 barcos de
linha, que saem quase todos os dias do próprio porto de Parintins, para cidade de Manaus,
fazendo escala na cidade de Itacoatiara (Quadro 2).
A comunicação local é efetuada principalmente por radiodifusão, que abrange quase a
totalidade do município por meio de quatro emissoras de rádio: a Rádio Clube que opera em
amplitude modulada (AM), a Rádio Alvorada, que opera em AM e OM (ondas médias) e FM
(frequência modulada), Rádio Tiradentes, que opera em FM e a Rádio Novo Tempo que opera
também em FM. A popularidade deste meio de comunicação o configura como instrumento
fundamental para a utilidade pública: todos os comunicados do poder público municipal,
Nome da Embarcação Dias da semana Horário
Navio Motor Parintins Segunda -Feira 11:00
Lancha Pérola Terça-Feira 06:00
Príncipe do Amazonas Terça-Feira 11:00
Golfinho do Mar Quarta-Feira 07:00
14 de Outubro VII Quarta-Feira 11:00
São Bartolomeu I Quinta-Feira 08:00
14 de Outubro VI Quinta-Feira 11:00
Aliança III Quinta-Feira 11:00
Comandante Paiva Sexta-Feira 07:00
Coronel Tavares Sexta-Feira 11:00
Lancha Pérola Sábado 06:00
Novo Aliança Sábado 11:00
Luiz Afonso Sábado 10:00
Quadro 2 Quadro dos dias e horários das embarcações que fazem o trecho Parintins-
Manaus
FONTE: Agência de viagens fluviais Prestes, agosto de 2009.
59
especialmente os direcionados às comunidades rurais, são realizados por meio de programas
de rádio de grande audiência.
Na área de televisão existem as repetidoras: TV Alvorada (Rede Vida), TV Amazonas
(Rede Globo), TV A Crítica (Record) e TV RBN (SBT), que além de retransmitirem em
cadeia nacional realizam programas jornalísticos locais, assim como, também circulam os
jornais locais semanais: Jornal Novo Horizonte, Jornal da Ilha, Jornal A Região, Em Tempo
Parintins e Jornal Médio Amazonas, além de diariamente chegarem jornais de Manaus.
O município dispõe de serviços de telefonia fixa/convencional (Telemar/Oi) e móvel
(Amazônia Celular, Vivo, Tim, Oi e Claro). A telefonia fixa conta com 7.400 linhas
telefônicas privadas e 418 terminais públicos na área urbana e na área rural nas agrovilas do
Mocambo, Caburi e comunidade do Bom Socorro do Zé Açu e Vila Amazônia existem
centrais telefônicas com 70 terminais privados e 26 públicos (Prefeitura Municipal, 2009).
acesso à internet, com vários provedores e mais recentemente foi instalado um
serviço de banda larga da Intel, no qual as pessoas podem acessar gratuitamente por rede
wireless
1
. Esse serviço está disponível na hoje conhecida “Praça Digital”, que antes era
chamada de Praça do “Cristo Redentor”. A idéia da Prefeitura é ampliar esse serviço em toda
a área urbana de Parintins, sendo que Parintins seria uma das primeiras cidades do interior do
Amazonas a ter internet gratuita à disposição da população.
A empresa AMAZONAS ENERGIA é a fornecedora de energia elétrica ao município
por meio de uma Usina Termoelétrica, com sete grupos geradores e um adicional alugado,
com capacidade total instalada de 20.676 Kw, funcionando alternadamente 24 horas. Parintins
demanda cerca de 9.675 kw para seu abastecimento, em contrapartida ocorre sucessivos inter-
rompimentos no fornecimento de energia ocasionados pelos equipamentos obsoletos e
desgastados, assim como a precariedade na manutenção dos mesmos, o que vem causando
desconforto e prejuízos aos consumidores. Existem 12.414 ligações, distribuídas entre
consumidores residenciais, comerciais, industriais, órgãos públicos e a zona rural. Na área
urbana 11.050 residências são assistidas, na zona rural somente 55% das comunidades
rurais possuem energia elétrica e, ainda assim, não é suficiente para suprir a demanda das
famílias. Esta provém de motores a diesel, ou "motor de luz" como são chamados localmente
e funcionam mais para ocasiões especiais como festas e reuniões na comunidade. Apenas as
Agrovilas de Mocambo, Caburi, Vila Amazônia e a comunidade do Açú recebem energia
da AMAZONAS ENERGIA, as demais comunidades rurais possuem grupos geradores
1
Wi-Fi- Internet sem fio
60
doados pelo poder público, que são mantidos pelos próprios residentes (AMAZONAS
ENERGIA, 2009).
O abastecimento de água na sede, nas Agrovilas de Mocambo, Caburi e Vila
Amazônia é feito pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), hoje mantido somente
pela Prefeitura. A captão é efetuada em mananciais subterrâneos por meio de 22 pos artesianos
com média de 80 metros de profundidade e na área rural eso instalados 09 poços nas agrovilas de
Mocambo, Caburi e Vila Amania. O tratamento dado à água é a clorão por contato e a
distribuição, segundo o SAAE, atinge 95% dos domicílios na sede municipal ou cerca de 62% de
todos os moradores de Parintins, segundo o Censo Demográfico do IBGE (Quadro 3).
Quadro 3. Proporção de Moradores por tipo de abastecimento de Água
Fonte: IBGE/Censo Demográfico 2000.
A exteno da rede de abastecimento é de 11.487 m, com um total de 14.386 ligações, assim
distribdas no Quadro 4
Quadro 4 . Rede geral de abastecimento de água
FONTE: Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Parintins- SAAE.
A rede de esgoto existente de 1.720 m é insuficiente e/ou inadequada. A forma mais
comum é o uso de fossas sépticas que, muitas vezes, não dispõe de condições adequadas de
localização, instalação e assepsia. Essas futuramente podem poluir os lençóis freáticos,
causando sérios problemas à população.
Abastecimento Água % 1991 % 2000
Rede geral 67,0 62,4
Poço ou nascente (na propriedade) 9,7 6,8
Outra forma 23,3 30,7
Ligações Número
Residenciais 13.905
Comerciais 298
Públicas 181
Industriais 2
61
O serviço de limpeza pública é feito pela empresa, contratada pela Prefeitura,
PARISLIMPA, no qual diariamente com garis se utilizam de caçambas do tipo “basculante” e
caminhões próprios para o transporte desse material para a lixeira pública, que fica situada no
perímetro urbano da cidade, conforme observado nas Figuras 5 e 6. Todos os tipos de lixo,
inclusive o hospitalar são levados para essa lixeira, onde, segunda a empresa de limpeza
pública, é coberto por uma camada de aterro. Os danos ambientais como contaminação do
solo, lençóis freáticos, mau cheiro, proliferação de insetos, roedores e a presença de urubus
próximos ao aeroporto, muito tempo são reclamados por moradores vizinhos e alunos da
Universidade do Estado do Amazonas. Atualmente está sendo executado pela Prefeitura o
projeto de construção do aterro sanitário municipal, porém está ainda em fase inicial, sendo
que a população continua sofrendo com a problemática do lixo na cidade, pois o mesmo não é
tratado da forma mais adequada.
Figura 5- Lixeira Municipal de Parintins
FONTE: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2008.
62
Na maioria das comunidades rurais o lixo é enterrado ou queimado, predominando a
queima, como constatado pela pesquisa em Vila Amazônia, Caburi e Mocambo.
O município conta com a presença de vários órgãos federais, estaduais e municipais.
Porém, está intrinsecamente relacionada a presença de outras instituições em geral, tais como:
04 sindicatos, 60 associações rurais, 20 associações de bairros, 02 associações filantrópicas,
10 associações de classe e 05 cooperativas- Associação das Cooperativas e Indústrias de
Parintins (ACIPAR, 2009). Pelo seu grau de inserção no meio social, oferecem importante
espaço de articulação e mobilização entre os diferentes sujeitos sociais.
Os instrumentos de planejamento do território utilizados pelo poder público local são:
a Lei Ornica Municipal, Lei de Orçamento Anual, o PPA municipal, Lei do Plano Diretor.
Dentre os instrumentos de gestão são destacados o Código de Postura, Código de Obras, Lei
do Perímetro e Código Ambiental.
O Plano Diretor municipal, elaborado em 2006, prevê mudanças para a área urbana de
Parintins, criando e renomeando vários bairros, modificando seu perímetro urbano e
estabelecendo novas regras para uso e ocupação do solo, por essa nova lei a área urbana de
Parintins possui agora 20 bairros (Figura 7), e ampliou seu perímetro urbano, inclusive
incluindo área da Gleba de Vila Amazônia como área para a possível expansão urbana,
conforme observado na Figura 8.
Figura 6- Área da lixeira Pública de Parintins
FONTE: Defesa Civil
de Parintins,
2009.
63
Figura 7- Planta dos bairros de Parintins
FONTE: Coord. Planejamento, 2008.
1:4.000
64
Figura 8 - Área de Transição Urbana de Parintins
FONTE: Coord. Planejamento, 2008.
65
Essas modificações são significativas, pois trazem sérias implicações de ordem
espacial e territorial. Principalmente ao que corresponde a área de expansão municipal, que
coloca a Gleba de Vila Amazônia como área de transição urbana, visto que, a mesma é
separada da cidade por um braço de rio (Paraná do Ramos), sendo que também deve ser
levado em consideração que a mesma é área de assentamento agrário do INCRA. Sem
mencionar que a outra área de expansão definida por essa lei fica próxima as APA’s (Áreas de
Proteção Ambiental) do Macurany, Parananema e Aninga, o que pode causar sérias
implicações ambientais sobre os recursos naturais desses lugares.
As legislações ambientais aplicáveis das atividades potencialmente poluidoras e/ou
degradadoras do meio ambiente em nível local são: Código Ambiental e Lei de Pesca, porém
esses instrumentos foram criados recentemente e ainda falta por parte da administração
pública a real efetivação dos mesmos.
A economia do município de Parintins é complexa, desenvolvendo atividades nos
setores primário, secundário e terciário. Dentre as principais, destacam-se as culturais
(Festival Folclórico), a indústria madeireira, a agricultura (fruticultura e a produção familiar),
a pecuária (corte, mista e bubalinocultura), o setor pesqueiro e, mais recentemente, a
agroindústria.
As práticas agcolas mais intensas o o cultivo de plantas alimentares, importantes tanto
para a economia da rego como para garantir o suprimento de alimentos sicos para a populão
local. Plantadas em solos de restinga (milho, arroz, feijão) ou nas terras-firmes (mandioca, abora,
feijão e arroz), apresentam produtividade satisfatória diante dos custos empregados.
A fruticultura tamm começa a ser desenvolvida de maneira organizada, apresentando
algum resultado. Pom, a prodão ainda é insuficiente para atender a demanda local e dos
municípios circunvizinhos e até outros estados, uma vez queo existem plantios em escala
comercial. A produção existente é oriunda de pomares dosticos também denominados tios e
quintais, localizados tanto na zona rural como na zona urbana. A exceção vem do cultivo de
bananeiras em roças tanto na terra firme (principalmente) como na várzea alta.
As culturas industriaiso alcançam posão de destaque. O guaranazeiro (Paulinia cupana
H:G:K. var sorbilis), no período 1978 a 1985 elevou a área plantada de 100 para 800 hectares mas
estancou. Hoje, calcula-se que o cultivo esteja em 260 hectares, sendo mantido por cerca de 170
produtores. A juticultura já teve papel relevante na economia municipal, como observado
anteriormente, mas atualmente, cerca de 164 produtores da rego de rzea conseguem obter uma
produção anual de aproximadamente 400 toneladas, sendo a produção comprada pela Companhia
Têxtil de Castanhal - CTC em Parintins e pela Agroamazon, do governo do Estado.
66
A olericultura segue dentro mesmo aspecto, sendo que a sua maior prodão ocorre na
rego de rzea. Os produtos o vendidos na Feira do Produtor em Parintins ou para
atravessadores na ppria cidade (IDAM, 2009).
Quanto à pecria, Parintins possui um dos maiores rebanhos bovinos e bubalinos do
Estado, tendo 380.000 cabeças de gado, sendo 278.000 de bovinos e 40.000 de bubalinos, segundo
estimativas do IDAM. Parintins fornece apenas para o consumo interno, 4.500 toneladas de carne e
mais de 800.000 litros de leitein natura. É ainda exportador de animais vivos para outros
municípios do Estado, inclusive para a capital e países vizinhos.
Outras criações de animais de pequeno porte, de modo geral, caracterizam-se como
atividades secundárias, utilizando as mesmas áreas de pastagens dos bovinos e m como função
principal a produção de carne para alimentação nas próprias fazendas e comunidades rurais,
principalmente por ocasião das cheias dos lagos, quando o pescado fica mais escasso e os rebanhos
bovinos e bubalinos são levados para terras firmes centrais.
Na prestação de serviços destacam-se o setor informal como: cabeleireiros, protéicos,
borracharias, oficinas de autos e equipamentos eletrônicos, am de médicos dentistas, contabilistas,
fotógrafos, hois, bares, restaurante, etc. No setor secundário destacam-se as indústrias, que
conta com fábricas de gelo, usinas de beneficiamento de pau-rosa, serrarias, marcenarias,
olaria, padarias, e estaleiros.
A cidade possui cinco agências banrias, todas elas ligadason line” via salite com outras
agências do país: Banco do Estado do Amazonas S.A.; Banco do Brasil S.A.; Banco da Amania
S.A.; Bradesco S.A. e Caixa Econômica Federal.
Estas duas últimas características da economia urbana de Parintins reporta-se aos conceitos
formulados por Milton Santos (2004), paraCircuito Superior e Circuito Inferior”, no qual o
Circuito Superior” é constitdo pelos bancos, corcio e indústria de exportação, instria urbana
moderna, servos modernos, atacadistas e transportadores. Sendo que o “Circuito Inferior” é
constitdo essencialmente por formas de fabricão o - capital intensivo”, pelos servos o-
modernos fornecidos a varejo” e pelo corcio não-moderno e de pequena dimeno (SANTOS,
2004, p.40). Sendo que na cidade de Parintins predomina a economia urbana do “Circuito Inferior,
principalmente na área de prestação de servos, sendo que do Circuito Superior”, o que fica mais
evidente o os servos prestados pela rede banria.
De acordo com a prefeitura de Parintins, nos meses de maio a junho, cerca de cinco
mil empregos temporários são gerados e no período de 15 de junho a 15 de julho e economia
do município triplica. Essa movimentação gira em torno de investimentos diversos, turismo,
67
prestação de serviços e recuperação e manutenção da cidade para o Festival Folclórico, que se
realiza no último final de semana de junho.
A política econômica do município também tem forte influência da transferência de
recursos estaduais e federais, bem como nos subsídios oferecidos pela iniciativa privada.
2.3 A formação das comunidades, vilas e agrovilas no município de Parintins
Como discorrido no capítulo anterior, (página 30) quando falamos da criação de
comunidades na Amazônia, vimos que a Igreja Católica teve grande importância na fundação
das mesmas sob esta denominação. Com os Movimentos Eclesiais de Base, muitas
aglomerações e sítios da zona rural dos municípios, foram organizados em um local, ou
seja, a população, que antes ficava dispersa em determinadas localidades, como em volta de
lagos, áreas de várzea e lugares isolados do interior ou mesmo de colônias agrícolas, foram
incentivadas a se concentrarem em determinado lugar. Isto facilita o acesso aos serviços que
embora precários são oferecidos nestes aglomerados.
No município de Parintins não foi diferente, com a criação da Prelazia de Parintins em
1955, a mesma foi fundando capelas em locais determinados. Como expõe Cerqua sobre a
fundação destas comunidades.
Um grande número dessas comunidades, particularmente nos primeiros anos, nasceu
como Congregações Marianas de homens, com capelas para cultos e reuniões
formativas, não demoraram a surgir escola, campo de jogo, cantina comunitária, e etc.
Tudo em terreno doado ou vendido à Prelazia (2009, p.154).
Abaixo pode-se observar no Quadro 5, as comunidades criadas pela igreja do
município de Parintins , com sua data de fundação e material de construção, algumas delas,
porém, não existem mais ou mudaram de nome.
68
Quadro 5- Comunidades criadas pela Diocese de Parintins
FONTE: Retirado do livro Clarões de Fé do Médio Amazonas de Dom Arcângelo Cerqua, 2009.
69
Para as comunidades criadas pela Prelazia de Parintins, foi elaborado um estatuto,
segundo o qual a comunidade em questão é orientada pela paróquia e é dirigida por diretoria
composta de presidente, vice, secretário e tesoureiro, que se reúnem semanalmente e é eleita
por dois anos (CERQUA, 2009). Porém essas regras não podem ser aplicadas a todas as
comunidades em Parintins, pois nos últimos anos vem crescendo o número de comunidades
de base evangélica, coordenadas por igreja cristã não católica, sendo que as mesmas têm suas
próprias normas. Além disso, muitas comunidades vêm sofrendo alterações em suas
características socioculturais sendo que muitas não seguem as regras da igreja católica como
antigamente e possuem outras formas de estabelecer o controle e a organização da
comunidade. No caso específico de Parintins muitas comunidades nasceram como
Congregação Mariana, rapidamente esse movimento foi se espalhando pela zona rural do
município de Parintins, mobilizando as famílias que moravam nestes lugares.
José Camilo Ramos de Souza relata o entendimento da formação das comunidades
interioranas do município de Parintins.
A Comunidade rural, aqui tratada, não é o lugar comum onde os interesses são
voltados para o bem comum. No caso estas m sua formação com a chegada dos
padres do PIME, que vão oficializar, ou seja, denominar as pequenas povoações de
comunidade, onde tudo está centralizado no santo padroeiro do lugar. Antes, este
santo, pertencia a um rezador; este saía de casa em casa, de canoa, recebendo
donativos para o dia da festa do santo. Com a chegada dos padres essa prática é
encerrada porque estes constroem a capela (templo religioso), fixando o santo no lugar
e assim as pessoas no quadro da comunidade (SOUZA, 2006, p.56-55).
Hoje o município de Parintins possui 115 (cento e quinze) comunidades rurais,
distribuídas ao longo do rio Amazonas, em áreas de várzea e terra-firme, localizadas próximas
e distantes da área urbana (Figura 9); muitas delas surgiram pelo processo acima mencionado,
porém nem todas têm a mesma origem na sua formação, sendo que apresentam
heterogeneidade em seu processo de criação. Mas podemos observar que a presença da Igreja
Católica ainda é muito forte no seu processo de fundação, que resulta o nome da maioria delas
está relacionado ao nome de algum santo.
É neste contexto, que foram criadas as comunidades de São Sebastião (Agrovila de
Caburi), São João (Agrovila de Mocambo) e Santa Maria (Vila Amazônia), para se ter um
bom entendimento sobre a estruturação dessas localidades, é necessário esclarecer bem sua
real situação jurídica de denominação.
70
Fig.9-Mapa de localização das Comunidades Rurais de Parintins
FONTE: Coordenadoria de Planejamento, 2008.
71
No mapa acima podemos observar a localização das comunidades rurais do município
de Parintins, dispostas em toda a sua área territorial, dentre elas estão Mocambo, Caburi e
Vila Amazônia.
Esclarecemos que quando nos referirmos a Mocambo, Caburi e Vila Amazônia nesse
trabalho, estaremos falando especificamente de suas sedes, as Agrovilas de São João,
Agrovila de São Sebastião e a sede de Vila Amazônia Santa Maria, respectivamente, pois
estes constituem-se do recorte geográfico dessa pesquisa, por possuírem algumas
características em comum no que tange aos aspectos e morfologia da cidade, dos quais
trataremos posteriormente.
Contudo, deixa-se bem claro que estas na verdade se caracterizam por regiões do
município de Parintins, todos apresentam várias comunidades rurais em sua área de
abrangência (Figura 10). Sendo que Caburi e Mocambo são denominadas, geograficamente,
pela Prefeitura como Regiões e Vila Amazônia como área de Assentamento Agrário do
INCRA denominada de Gleba de Vila Amazônia, conforme especificado em seu Plano
Diretor Municipal. Essa conceituação de Mocambo e Caburi como Regiões Rurais é recente,
feita pelo Plano Diretor Municipal em 2006 sendo que muitas pessoas, inclusive os próprios
moradores ainda não tem conhecimento deste fato.
Também é necessário esclarecer que adotamos nesta pesquisa a divisão do território do
município feito pelo Plano Diretor Municipal de Parintins em 2006, sendo que pela lei
estadual oficialmente apenas a Agrovila de São João do Mocambo pode ser enquadrada na
categoria de Vila, segundo o IBGE, as outras, a Agrovila de São Sebastião do Caburi e Santa
Maria de Vila Amazônia são comunidades ou aglomerados rurais, mas que informalmente são
denominadas de Vilas pela população local e pelas autoridades municipais e instituições
locais. Logo, convencionamos chama todas as três localidades de vilas ao longo deste
trabalho, levando em consideração o termo adotado regionalmente, porém, segundo o IBGE
só a Agrovila de São João do Mocambo tem oficialmente o status de vila, pois trata-se da sede
do distrito do Mocambo (
Lei Estadual nº 1707 de 23/10/1985)
.
Mas, quando for elucidado o histórico de formação das mesmas, saberemos que a
princípio a Agrovila de São Sebastião do Caburi e Agrovila de São João do Mocambo se
constituíram como comunidades rurais que depois foram transformadas em Agrovilas
2
2
Sendo que estas foram instituídas como tal, a partir dos anos 70, na época do governo militar, na época estava
sendo arquitetado e implantado o plano de geopolítica militar para a Amazônia, da qual faziam parte vários
projetos de ocupação rural, onde não haveria uma cidade como organizadora/comandante da área rural e, sim,
seria feita uma seqüência de projetos que evoluiriam de agrovilas para agrópolis e desta para rurópolis, que seria
uma espécie de município sem cidade polarizadora. Na conceituação do INCRA as Agrovilas seriam “um
72
passando a receber certa infraestrutura, quanto que Santa Maria de Vila Amazônia, por ser
uma área localizada no Assentamento Agrário de Vila Amazônia do INCRA, possui a maioria
dos assentados morando em seu sítio.
pequeno centro urbano destinado à moradia dos que se dedicam as atividades agrícolas ou pastoris e tem por
finalidade a integração social dos habitantes do meio rural oferecendo-lhes condições de vida em moldes
civilizados. É um verdadeiro bairro rural” (OLIVEIRA, 2000, p. 123).
73
Fig.10- Macrozoneamento do Município de Parintins feito pelo Plano Diretor em 2006
FONTE: Coord. Municipal de Planejamento, 2008.
74
No mapa acima pode-se observar as regiões criadas no plano diretor municipal, esta
nova configuração dada pelo Macrozoneamento do município de Parintins é recente e foi
elaborado para o Plano Diretor do Município, aprovado em 2006 (Lei municipal 09/2006),
o mesmo também cria vários pólos agrícolas. Essa lei do Plano Diretor merece uma ressalva
neste trabalho, pois, prevê algumas mudanças substancias na área urbana e rural do município
e em especial as áreas deste estudo: Mocambo, Caburi e Vila Amazônia. No entanto,
lembramos que a discussão sobre o Plano Diretor e seu papel na reconfiguração do município,
não é o alvo deste trabalho, porém há necessidade de destacar algumas considerações feitas no
mesmo sobre as áreas em questão.
O Plano Diretor em sua seção III que trata do Plano de Organização do Território
Municipal estabelece as normas gerais de uso e ocupação do solo, o mesmo fixa critérios para
o controle do crescimento dos núcleos urbanos e das áreas ocupadas no território municipal, e
define estratégias de uso e ocupação nas áreas destinadas às atividades agropecuárias assim
como restringe a ocupação nas áreas de interesse ambiental.
Esse plano define as áreas rurais e urbanas do município, assim como, estabelece que a
municipalidade deva implementar na área rural as regiões e pólos rurais de apoio ao
desenvolvimento sustentável de Parintins, ainda prevê a ampliação dos serviços públicos e
sociais de Parintins à área rural, promovendo a infraestrutura necessária de suporte à
comercialização de produtos e ao abastecimento das comunidades dispersas no território
municipal.
O parágrafo 2, do artigo 69 dessa lei estabelece que, deverão ser criados e
implementados as seguintes regiões rurais no município de Parintins:
I - Região do Mocambo;
II - Região do Caburi;
III - Região de Várzea do Rio Amazonas;
IV - Região da Gleba Vila Amazônia;
V - Região do Uaicurapá;
VI - Região do Mamurú;
VII - Região do Entorno;
VIII - Região do Tracajá
E essa mesma lei ainda institui as diretrizes para essas regiões a serem criadas, dentre
as várias destaca-se:
75
XI - criar nas regiões rurais Distritos Municipais, atendendo os critérios estabelecidos
pela Lei Municipal no 01/2004, com prioridade para as comunidades de São João do
Mocambo, São Sebastião do Caburi, Bom Socorro do Zé Açu, Santo Antônio do
Tracajá, São João do Jacu, São Tomé do Uaicurapá e Terra Preta do Mamurú.
(Lei do Plano Diretor, 2006)
Como observado, o Plano Diretor prevê significativas mudanças tanto para a área
urbana quanto para a rural do município, porém essas mudanças ainda não foram
implementadas, pois falta, por parte da gestão municipal, ações no sentido de estabelecer
projetos e disponibilizar recursos para garantir que os pressupostos estabelecidos no parágrafo
acima descrito sejam efetivados.
Até então, as Agrovilas de São João do Mocambo, São Sebastião do Caburi e a
comunidade de Santa Maria de Vila Amazônia, seguem suas dinâmicas de produção e
reprodução do seu espaço, como localidades que possuem em seu bojo especificidades de
formação e criação diferenciadas das outras áreas rurais do município de Parintins,
concentrando alguns serviços da cidade e apresentando uma realidade específica que molda os
lugares na Amazônia. Nos itens subsequêntes será descrito de modo pormenorizado como
essas localidades foram se formando até chegarem ao seu estado atual, e assim pode-se
compreender porque elas apresentam as características estruturais, socioambientais e
econômicas diferentes de outras áreas rurais do município, e como essa diferenciação reflete
na produção do espaço e na cotidianidade dos habitantes dessas vilas.
2.3.1 Vila Amazônia: comunidade de Santa Maria
poucos registros sobre Vila Amazônia antes de 1930, quando da chegada dos
emigrantes japoneses nesta área a mesma se chamava Vila Batista. Em 1930 este local foi
escolhido por Tukasa Uetsuka
3
para área de assentamento da colônia japonesa em Parintins e
a fundação do Instituto Amazônia. Adélia Engrácia de Oliveira (1983) comenta sobre o
trabalho de Uetsuka
3
Tusaka Uetsuka era, na época, deputado federal em Tóquio e foi o responsável pela implantação da colônia
japonesa em Vila Amazônia
76
Num local próximo a Parintins, em Vila Batista (Vila Amazônia), ele instalou, com
os pesquisadores que trouxera, o Instituto Amazônia, de pesquisa e estudo, que
promove o conhecimento da hidrologia do rio Amazonas e experiências diversas de
cultura tropical. Enquanto os membros e técnicos da expedição que trouxeram ali
ficavam, Uetsuka voltou ao Japão e, em um colégio sob sua direção, dedicou-se a
treinar jovens que deveriam vir para a Amazônia, o que acabou ocorrendo em 1931,
quando chegaram a Vila Amazônia 47 estudantes que tinham sido preparados em seu
colégio. E, em 1932, outros 60 jovens dirigiram-se para lá (OLIVEIRA, 1983,
p.262).
Por conta disso a floresta “virgem” começou a ceder espaço para instalações de
vários tipos industriais: serrarias, usinas de beneficiamento de pau-rosa, olaria, fábrica de
mosaico, beneficiamento de arroz em larga escala, fábrica de farinha totalmente mecanizada
e um engenho para a fabricação de aguardente e mel de cana.
Com ajuda da comunidade local, Rijiro Masunaga que acompanhava Uetsuka,
iniciou a construção da sede produtiva providenciando também as seguintes edificações:
Estação Experimental, Posto Meteorológico, Hospital, Escola.
O Instituto Amazônia, foi inaugurado com a presença de autoridades do município de
Parintins e de outros municípios do Amazonas. No referido instituto, foram estabelecidos
quatro setores: agricultura, meteorologia, saúde e pesquisa. Uetsuka assumiu a direção geral
e designou para cada área um responsável.
Tadeu de Souza (1982) relata como foi a chegada dos imigrantes japoneses em Vila
Amazônia
Ao chegarem à Vila Amazônia como não terão se sentido os imigrantes. Barranco,
água e floresta. Mas, eles não se deixaram abater. Iniciaram um trabalho agrícola que
se tivesse prosseguido Vila Amazônia seria a maior potência agrícola do norte
brasileiro. Os imigrantes trabalhavam e produziam assustadoramente (SOUZA, 1982,
p.63).
Com a 2.ª Guerra Mundial o Japão perde para os ingleses e todo o incentivo
recebido pelo Ministério da Colonização Japonesa é retirado, contribuindo para que o projeto
de colonização no Brasil parasse, que Uetsuka deveria abandonar tudo e retornar ao seu
país de origem. Após esse período de mudança, a concessão das terras de Vila Amazônia
passa para J. G. de Araújo. Ainda existem na atualidade as marcas dessa gestão: um casarão
com arquitetura portuguesa, porto e outras dependências que deveriam servir como
armazéns. Após a administração de J.G de Araújo, Vila Amazônia passou por várias fases
até ser alvo desapropriação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) em 1988, para se tornar área de assentamento agrário.
77
Ainda sobre a colonização japonesa em Vila Amazônia, José Camilo Ramos de
Souza (1994) sustenta que
A ocupação/colonização de Vila Amazônia pelos japoneses, está na reorganização de
um espaço geográfico, ou seja, no trabalho de uma nova territorialidade dentro de
nossas fronteiras, possivelmente era uma estratégia consciente de ação e controle
sobre a área geográfica específica, que fez despertar nos nacionalistas o medo da
criação de um núcleo expansionista do Japão (1994, p. 12).
Abaixo mostra-se um quadro resumido da ocupação em Vila Amazônia até o
período atual
Os japoneses construíram casas, comércios, hospital, estação meteorológica e um
pagode no estilo japonês (Figura 11, 12 e 13); foram os primeiros a impor as mudanças
significativas no lugar, modificando sua paisagem.
1929-1945- Ocupação Japonesa
1945-1950- Controle do Banco do Brasil
1950-1965- Administração de J. G. Araújo
1965- 1970- Administração Papelamazom ( Grupo de Chineses)
1970-1980- Grupo Carneiro de Belém
1980 até o presente- Processo de Desapropriação e área de Litígio.
Quadro 6- Histórico de ocupação de Vila Amazônia
FONTE: Relato o
ral de Camilo Ramos de Souza.
78
Figura 11-Comércio dos japoneses em Vila Amazônia- 1930
FONTE- Acervo pessoal de José Camilo Ramos de Souza.
Figura 12- Pagode Japonês construído em Vila Amazônia (Haiko Kaikam)- 1930
FONTE: Acervo pessoal de José Camilo Ramos de Souza.
79
A comunidade de Santa Maria de Vila Amazônia é a sede/núcleo populacional da
Gleba Vila Amazônia. Foi a área escolhida para servir de base para a infraestrutura da
colônia japonesa, das quais quase nada restou, apenas algumas ruínas e onde existe hoje uma
certa infraestrutura urbana onde está a maior concentração populacional. No mapa abaixo
podemos observar a localização de Santa Maria, na Gleba de Vila Amazônia.
Figura 13-Hospital construido pelos japoneses em Vila Amazônia- 1930
FONTE- Acervo pessoal de José Camilo Ramos de Souza.
80
Figura 14- Mapa da Região de Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Organização: Charlene Muniz
81
2.3.2 Agrovila de São João do Mocambo
Para entender a história do Mocambo foi necessário recorrer às memórias dos
moradores antigos do lugar, assim como, as bibliografias sobre a localidade. Neste estudo será
utilizado o livro de rio Monteiro (2003) Uma cidade em plena selva: História do
Mocambo, obra feita a partir depoimentos e relatos de moradores antigos da região.
Mocambo significa ajuntamento de choças na floresta em que se refugiavam os
escravos, quilombos (MONTEIRO, 2003). Dizem os mais antigos que em 1835, época que
rebentou no estado do Pará a Revolução dos Cabanos, já existiam habitações nessa região que
ficou conhecida por Mocambo, porque os moradores costumavam se esconder nas matas,
junto com os índios em suas malocas, fugindo dos revolucionários Cabanos, pois estes nessa
época andavam por essa região de igarité e segundo depoimentos dos antigos moradores
usavam de violência e brutalidade.
A Agrovila de São João do Mocambo é sede do Distrito do Mocambo e alvo desta
pesquisa, pois é onde se concentra a infraestrutura urbana e de serviços da região, conforme
observado na Figura 15, esta agrovila surgiu como “Congregação Mariana” (movimento
religioso da Diocese de Parintins), em 17 de abril de 1964. Nessas localidades onde existiam
esses movimentos tinha a capela para culto e reunião formativa. No entanto, ao redor de cada
capela, não demoraram a surgir escola, campo de jogo, cantina comunitária, etc. (CERQUA,
2009). Com o passar dos anos a comunidade foi aumentando sua população, sendo que as
pessoas que antes moravam dispersas ao redor do lago do Mocambo foram se agrupando
ainda mais nesse local. E a partir do ano de 1979 começou a receber infraestrutura como a
abertura de ruas, loteamentos, construção de colégios, água encanada e energia elétrica, ou
seja, começou-se a estruturação da Agrovila do Mocambo.
82
Figura 15- Mapa da Região do Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Organização: Charlene Muniz
83
2.3.3 Agrovila de São Sebastião do Caburi
Relata os moradores mais antigos que a descoberta do lago do Caburi deu-se em 1905
por uma portuguesa chamada de Dona Caranã. Ela e seu marido Diogo buscavam terras
férteis para a agricultura e com muito trabalho braçal, com o uso de terçados conseguiram
encontrar o lago do Caburi, no fim do igarapé, local totalmente desabitado, cheio de beleza e
riquezas naturais. No período compreendido de 1905 a 1925, a região do Caburi não era muito
habitada, mas depois que dona Caranã abriu o caminho com punho de ferro, muitos chegaram
para desfrutar da abundância que o lago tinha.
Porém, no ano de 1926 sobreveio um grande surto de malária no local, onde muitas
pessoas morreram, visto que na época a doença não tinha cura. Sendo assim, essa epidemia
dizimou parte da população do local fazendo com que as famílias abandonassem o lugar,
deixando para trás casas e dezenas de sepulturas e beira do lago. Aproximadamente 30
famílias que tinha na época, restaram apenas 19 em todo o lago. Com o passar dos anos, a
população da região foi aumentando de novo, todavia, uma nova onda da epidemia se abateu
neste lugar, e foi aí que a senhora chamada Rosa Carapaní fez uma promessa com São
Sebastião para que acabasse com aquela peste e parasse a mortandade de gente na localidade.
Ela mandaria confeccionar uma imagem do santo e rezaria a “ladainha” para o mesmo todos
os anos. Suas preces foram atendidas e a doença foi parando na localidade e em 1939, Dona
Rosa Carapaní mandou confeccionar a imagem de São Sebastião, em Faro (Estado do Pará) e
a partir de 1940 o santo começou a ser festejado, com dança, ladainha e almoço para o povo.
Em 1960, o santo passa a ser festejado de modo diferente, com celebração de novenas,
reza de terço, festejo de arraial e outras atividades, pois o santo passa a ser padroeiro da
Congregação Mariana, movimento religioso que se estabeleceu no lugar. Esse movimento foi
instituído primeiro na cidade de Parintins espalhando-se por quase todas as direções do
município principalmente pelo interior. Desta forma, muitos lugarejos que festejavam algum
santo como “promeceiro” acabavam tornando-se sedes de Congregações Marianas criadas
pela diocese de Parintins, e foi assim que surgiu a comunidade de São Sebastião do Caburi
(RODRIGUES, 1993), que mais tarde veio a torna-se Agrovila de São Sebastião do Caburi
(Figura 16), com infraestrutura que será discorrida no capítulo seguinte.
84
Figura16- Mapa da Região do Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Organização: Charlene Muniz.
85
3 - DA NATUREZA AO AMBIENTE URBANO: MOCAMBO, CABURI E
VILA AMAZÔNIA E AS CARACTERÍSTICAS SOCIOAMBIENTAIS
Nos capítulos anteriores abordou-se como se deu a evolução da produção dos lugares
na Amazônia, partindo de um lugar específico como a cidade de Parintins e mais
detalhadamente de Mocambo, Caburi e Vila Amazônia. Discorreu-se como esses lugares
foram se modificando ao longo dos anos, de comunidades rurais tradicionais foram tomando a
forma de vilas, que agora apresentam peculiaridades e especificidades próprias, se
diferenciando das outras comunidades rurais do município de Parintins, não pela presença
de elementos do urbano na composição de sua paisagem, mas pela própria assimilação de
hábitos e costumes inerentes a cidade, os modos de vida também foram modificados, a forma
de trabalho, antes totalmente ligada ao campo, hoje apresenta pluralidades, ou seja, as
“pluriatividades” concernentes a forma de trabalho, se aproximando as idéias de
pesquisadores como João Rua (2007, 2006 e 2005), Maria de Nazareth Baudel Wanderley
(2000 e 2001) e Sérgio Schneider (2001) que estudam as recentes mudanças em áreas rurais,
influenciadas pelo processo de urbanização e a complexa relação campo-cidade e suas
configurações.
Porém, algumas formas de resistência a esse processo ficam bem evidenciadas,
podemos perceber que a população ainda mantém seus vínculos com a vida rural, seja nas
relações sociais, seja na relação com o ambiente natural. Essa resistência não significa
rejeição, mas a manutenção de certos hábitos e costumes.
Neste capítulo serão analisados os aspectos econômicos e socioambientais de
Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, localizadas na área rural do município de Parintins
(Figura 17). A partir disso buscou-se compreender as semelhanças e diferenças entre as vilas,
fazendo comparativo com a cidade de Parintins, no tocante aos seus aspectos sociais,
paisagísticos e espaciais e as novas configurações resultantes dos fluxos estabelecidos pelas
atividades econômicas e relações sociais que envolvem a cidade e o campo, o rural e urbano e
dessa forma entender como essa imbricação entre rural e urbano, ajuda na compreensão da
produção do espaço nas pequenas vilas da Amazônia e como essa relação atua na construção
do cotidiano das pessoas que moram nestes lugares, que possuem elementos do urbano e do
rural numa relação dialética, fragmentada e articulada em rede, mas que pode apresentar
conflitos.
86
Figura 17 - Localização das Vilas no município de Parintins
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008.
Organização: Charlene Muniz.
87
3.1 Os aspectos socioambientais das vilas no município de Parintins: Mocambo, Caburi e
Vila Amazônia
A partir da cidade de Parintins, o modo de se chegar até essas vilas é pelo rio, apenas
por via fluvial se pode ir até esses lugares, a mais próxima da cidade é Vila Amazônia
(aproximadamente 05 km), as outras ficam mais distantes, cerca de 60 km, a montante.
Existem vários meios de transporte fluvial disponíveis, dependendo das possibilidades e
preferência de cada um; se pode ir de barco de linha, voadeira, canoa, e no caso de Vila
Amazônia existe uma balsa que faz o percurso diariamente. Os moradores das vilas,
preferencialmente, vêm e vão de barco de linha para a cidade de Parintins; as horas
desprendidas da cidade às vilas é de 5, 4 horas e 30 minutos para Mocambo, Caburi e Vila
Amazônia, respectivamente.
No barco, indo para as vilas, a sensação que se tem é de que se está indo para alguma
cidade vizinha. As pessoas “armam” suas redes e aguardam a viagem começar; algumas estão
levando seus mantimentos que compram na cidade (açúcar, arroz, café, óleo de soja, manteiga
e etc). Para a distração das pessoas que estão no barco aguardando a partida para as vilas, os
donos das embarcações colocam músicas com o volume bem alto, pois a maioria dos barcos
tem o aparelho de som instalado em seu interior. Como nos barcos que vão para Manaus, há a
presença de vendedores ambulantes que oferecem seus produtos aos passageiros (vendem
merenda, biscoitos, roupas, relógios e bijuterias). A maioria dos barcos de linha que vão para
Mocambo e Caburi possuem o convés superior e o inferior; o primeiro é ocupado por
passageiros e seus pertences, enquanto o segundo é reservado para levar as mercadorias que
abastecem as vilas como: gêneros alimentícios, material de construção, equipamentos,
insumos agrícolas etc.
O percurso até as vilas é fascinante e mesmo tendo feito esta viagem várias vezes não
podemos deixar de nos impressionar com a vastidão das belezas naturais, com as quais nos
deparamos durante o caminho: o rio, as matas ciliares, a plasticidade da composição da
paisagem nesta região impressiona até quem aqui vive desde criança. A orla de Parintins é
quase toda tomada por barcos de todos os tamanhos. No trajeto podemos observar as
comunidades ribeirinhas próximas da cidade, na margem esquerda do rio Amazonas,
comunidades como: Catiespera, Brasília, Boto, que são as mais próximas da área urbana de
Parintins. Podemos vislumbrar belas paisagens das áreas de várzea do rio Amazonas,
dependendo do olhar que é dado pelo observador.
88
No barco predomina a descontração, parentes, amigos e conhecidos aproveitam para
colocar a conversa em dia, principalmente os mais idosos, com suas histórias. Alguns
preferem o silêncio, apresentando semblante de quem está mergulhado em pensamentos
distantes. A verdade é que todos estão preocupados e concentrados em mais um dia no seu
cotidiano, seja o trabalho ou apenas no passar do tempo.
Na viagem até as vilas o que se percebe é que as pessoas se conhecem bem, o que dá a
entender que mesmo essas tendo uma população que aumenta a cada dia, os moradores ainda
mantêm relações próximas de compadrio e vizinhança.
No caso de Mocambo e Caburi as mesmas estão localizadas às margens de lagos do
mesmo nome, nos quais o acesso se por meio de igarapés. Ao adentrar os lagos não
podemos ter comprovação mais bela da perfeição da natureza, uma beleza cênica única que
encanta os olhos e aguça o olfato, pois no momento em que entramos nestes lagos podemos
sentir o aroma das flores e do mato que os cercam, reforçando a concepção de que os lugares
tem seu próprio cheiro despertando sensações.
Aos poucos as vilas vão se mostrando, parecem cidadezinhas escondidas na vastidão
das matas da floresta Amazônica, não se parecem mais com uma comunidade rural ribeirinha
tradicional, a paisagem está modificada e assim se apresenta aos nossos olhos. Porém,
sabemos que também não são cidades. Em Vila Amazônia a chegada também tem seus
encantos, o que se destaca com a proximidade da vila são os resquícios do passado,
construções que feitas em tempos pretéritos agora estão abandonadas ou em ruínas, mas que
ainda marcam a paisagem e chamam a atenção dos que ali chegam pela primeira vez (Figura
18, 19 e 20).
Figura 18 -Agrovila de São João do Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
89
Todas as 03 (três) vilas estão localizadas em área de terra firme, sendo que a sede de
Vila Amazônia possui uma faixa de área de várzea alta na frente da mesma. Quanto à
geomorfologia as três são resultados de Acumulação de Planície Fluvial. Caburi e Mocambo
são da formação geológica Alter do Chão e Vila Amazônia tem a sua formação Geológica de
Aluviões Fluviais. As três vilas têm como solo predominante o latossolo amarelo e o domínio
fitoecológico compreende a floresta ombrófila densa das terras baixas e formação pioneira
arbustiva aluvional, para Caburi, Mocambo e Vila Amazônia, respectivamente (Instituto de
Proteção Ambiental do Amazonas-IPAAM, 2003).
Figura 19-Agrovila de São Sebastião do Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 20- Santa Maria de Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
90
As 3 (três) vilas possuem extensão média de 2.867 metros cada, a maior e mais
populosa de todas é Vila Amazônia. A paisagem observada ao chegar às vilas aproxima-se da
descrita por Charles Wagley (1988) para a comunidade de Itá
Vista do rio, a cidade é uma pausa repousante na monótona sucessão de matas que
cobrem as margens do Amazonas. Destaca-se, nítida e colorida, do fundo verde-
escuro da vegetação [...] Parece um recanto sedutor (WAGLEY, 1988, p.45).
A sensação é que estamos chegando a uma cidade, no barco, ao se aproximar do porto,
as pessoas se preparam, trocam de roupa, arrumam as crianças e organizam suas bagagens. No
porto das vilas, as pessoas que aguardam a chegada dos barcos também parecem ansiosas,
com o olhar fixo nas embarcações que chegam. No momento do desembarque é necessária
muita destreza e cautela para se equilibrar sobre a prancha que é colocada entre a embarcação
e o porto improvisado. Contudo, “apesar das dificuldades, no convés dos barcos que cortam
os rios da Amazônia a vida se desenrola, correndo parada como a água do rio que tem
paciência e vai passando sem-fim” (OLIVEIRA, 2000, p. 38).
Ao adentrar nas vilas, a impressão que se tem é que não há muito a se observar, poucas
ruas, alguns comércios logo na entrada, um aparente ar de monotonia nos faz pensar que estes
lugares não têm muito a ser estudado, porém, isto é apenas impressão, a aparência que
esconde a essência dos lugares à primeira vista.
Um dos primeiros objetos que podemos observar, logo na entrada, é a Igreja Católica
posicionada no centro das vilas, como em grande parte das comunidades rurais em Parintins.
A chamamos de objeto, pois, conforme conceitua Santos (2008), os objetos seriam o produto
de uma elaboração social, o resultado do trabalho do homem. Diferente das coisas, que ele
define como sendo o produto de uma elaboração natural, um dom da natureza (SANTOS,
2008).
A população está em torno 3.115, 2.112 e 1.948 habitantes para Vila Amazônia,
Caburi e Mocambo, respectivamente. As vilas possuem em comum certa infraestrutura da
cidade; as ruas são asfaltadas e algumas possuem nomes e até avenidas (Figura 21), elas
possuem sistema público de abastecimento de água encanada e energia elétrica, com média de
360 ligações de energia e 320 ligações de água em cada vila (Figura 22 e 23), fornecidas pelas
mesmas empresas que prestam esses serviços à cidade de Parintins. Em Caburi existe um
posto dos correios, que dentre os serviços que presta podemos citar: pagamento de contas e o
banco postal com pagamentos de salários, aposentadorias e pensões, depósitos e saques.
91
Figura 22- Abastecimento de Energia Elétrica- Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 21 - Ruas Asfaltadas e com meio-fio e sarjeta- Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
92
Está presente o sistema público de telefonia com orelhões e telefone residencial
(Figura 24), apesar desse serviço ser prestado com muita precariedade. Em Vila Amazônia os
moradores tem disponível o sistema de telefonia móvel (celular), visto sua proximidade com a
sede municipal a área capta o sinal das antenas das empresas de telefonia móvel existentes na
cidade. As vilas também são dotadas de sistema de educação, com escolas que vão do nível
fundamental ao médio, e creches para atender as crianças e em Mocambo também há o ensino
tecnológico, realizado pelo sistema de educação à distância (Figura 24, 25 e 26).
Figura 24 - Sistema de Telefonia –Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 23- Abastecimento de Água - Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
93
Como observado nas Figuras 27 e 28, os quintais são bem arborizados, principalmente
com árvores frutíferas, e apresentam variedade de espécies arbóreas, assim como, a típica
criação de pequenos animais domésticos como galinhas e porcos, o que nos estudos de
Terezinha de Jesus Pinto Fraxe et al. (2006) são chamados de “quintais agroflorestais”, sendo
este, bem pico das áreas rurais. Seguindo a mesma perspectiva de Fraxe et al. (2006), o
Figura 25- Escola Estadual - Agrovila de Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 26- Creche Municipal - Agrovila de Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
94
quintal nas vilas é concebido como a área próxima as residências onde está presente
diversidade de árvores frutíferas, hortaliças, plantas medicinais e ornamentais cultivadas em
pequena quantidade e com a criação de animais domésticos (FRAXE et al., 2006), e sua
limpeza e manutenção quase sempre é de responsabilidade das mulheres e crianças, mas
também se pode observar que nas frentes das casas sempre é deixado uma área “limpa”, ou
seja livre de mato ou folhas. O quintal também serve como área de lazer da família, onde as
crianças podem brincar sem ter que ir para a rua, e onde os adultos podem se sentar e
aproveitar o fim da tarde para conversarem, protegidos sob a copa das árvores. Assim, o
quintal também é concebido, conforme estudos de Martins (2003) como um espaço social,
onde ocorrem as inter-relações humanas sendo produto e meio de produção dessas, “[...] um
espaço cultural pois no contato relacional cotidiano de lazer, produção e convivência familiar,
a diversidade cultural é construída e (re) construída” (MARTINS; NODA; NASCIMENTO
NODA, 2003, p. 234).
Figura 27- Quintal Agroflorestal em Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
95
Os comércios estão presentes em quase todos os lugares, geralmente são de
moradores, que transformam um cômodo de sua casa em comércio (Figura 29 e 30), conforme
relatos está aumentado o número de comerciantes “de fora” nessas vilas, e que fazem dessa
atividade sua principal forma de renda. Ao todo identificamos 46, 35 e 34 estabelecimentos
comercias em Vila Amazônia, Caburi e Mocambo respectivamente, dentre esses estão:
mercearias, açougues, padarias, lojas de roupas e farmácias, no Quadro 7 abaixo pode-se
verificar os tipos de comércios encontrados em cada vila.
Figura 28- Balcão suspenso nos quintais para cultivo de olerícolas-Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
96
Estabelecimentos Comerciais Vila Amazônia Caburi Mocambo
Mercearias 29 11 17
Lanches 02 01 04
Bar e Restaurante 09 06 02
Lojas de confecção 00 04 03
Açougue 01 01 01
Padaria 01 03 01
Farmácia 00 01 02
Serviços de Computação, Jogos e
Xerox
01 02 02
Movelaria 01 03 01
Salão de corte de cabelo 01 01 00
Posto de Gasolina e/ou casas que
vendem gasolina
01 02 01
Total 46 35 34
Quadro 7: Quantidade e Tipo de Estabelecimentos Comerciais nas Vilas
FONTE: Pesquisa d
e Campo, 2009.
Figura 29- Estabelecimentos Comerciais nas Vilas-Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
97
Nas figuras acima pode ser observado alguns tipos de comércios existentes nas vilas e
suas respectivas estruturas
O rádio e a televisão também estão presentes no cotidiano dos moradores, sendo as
vilas dotadas de “voz comunitária”, que transmite diariamente as notícias locais para a
população. No caso da televisão, os moradores só têm acesso por meio de antenas parabólicas
conectadas aos aparelhos de televisão, as quais são compradas na cidade de Parintins. Mas em
Vila Amazônia ela não é necessária, pois os aparelhos captam os sinais das antenas de
transmissão da cidade. Essa é uma forma de manter esses lugares conectados ao mundo,
tornado-se este um dos principais meios de propagação das modas e pensamentos da cidade.
Cabe nesta análise, um destaque importante para a televisão, pois foi observado que a
mesma tem papel importante no cotidiano dos moradores das vilas, e mesmo aqueles que não
possuem o aparelho de televisão em casa, dão um jeito de assistir aos programas televisivos,
seja na casa de parentes, amigos ou vizinhos.
Figura 30- Estabelecimentos Comerciais nas vilas-Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
98
Como observado na Figura 31 acima, é comum ver pessoas na frente das casas
assistindo a televisão, principalmente à noite, e aqueles que não possuem esse objeto colocam
suas cadeiras na frente das casas daqueles que possuem e assim assistem aos jornais,
programas, novelas e filmes.
A importância deste meio de entretenimento em pequenas cidades da Amazônia,
havia sido observada por José Aldemir de Oliveira (2000), onde ele analisa com bastante
propriedade o papel da televisão na vida das pessoas de um determinado lugar. E como nas
palavras do autor “Aqui não se algo na televisão, vê-se televisão buscando fragmentos do
mundo e tendo a sensação de que o mundo está ali presente diante dos olhos. O televisor é o
altar eletrônico” (OLIVEIRA, 2000, p.68).
Como explicado acima, em Caburi e Mocambo é possível assistir a televisão se
houver a antena parabólica. Por esta razão, nem todos possuem esse aparelho e antena em
casa, pois podemos dizer que a antena parabólica é um bem com valor nem sempre acessível a
todos os moradores (custa em média, em 2009, R$ 379,00), porém observamos um percentual
relativamente alto de casas que possuem esse equipamento, geralmente são os aposentados,
funcionários públicos e algumas famílias que fazem esforço para adquiri-las, comprando-as à
prestação na cidade. Ainda seguindo o pensamento de Oliveira (2000), podemos observar que
[...] a existência da antena parabólica é mais que um desejo porque se configura como
um sinal do mundial presente no lugar, impondo e redefinindo relações entre as
pessoas e determinando formas e padrões de comportamento que são característicos
das grandes cidades (OLIVEIRA, 2000, p. 69).
Figura 31- Moradores assistindo televisão em frente as casas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
99
Assim, mesmo nas residências mais simples foi encontrada a antena parabólica (Figura
32), o que nos permite inferir que, pelo menos “virtualmente”, os moradores daquela casa
estão inseridos na relação global-local, a televisão torna-se um objeto importante na casa
[...] que aos poucos vai assumindo lugar importante na vida das pessoas e passa a
ocupar o lugar de ‘honra’ na sala de visitas, tornando-se o centro de todas as atenções
e cuidados. Diante dela, olhares se fixam, lábios selam-se e a imagem preenche
ausências – seu poder mágico é contagiante e sua presença vai redefinir as reuniões de
família, bem como o uso do tempo do não-trabalho. A TV marca, pela sua presença, o
controle social em cada casa (CARLOS, 2007, p. 49).
Figura 32- Antenas Parabólicas nas casas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
Gráfico 1- Residências com aparelho de televisão em cada vila
FONTE: Pesquisa de campo, 2009.
100
Como observado no Gráfico 1 acima, das 40 residências visitadas em cada vila,
observou-se o percentual de 70%,72% e 90% para Mocambo, Caburi e Vila Amazônia,
respectivamente, de casas que possuem o aparelho de televisão; sendo que em Vila Amazônia,
por não haver a necessidade da antena parabólica para se ter acesso ao sinal de transmissão da
televisão, a taxa de residências com o aparelho é a mais elevada de todas, enquanto Mocambo
é a menos elevada. Esse índice de mais elevado e menos elevado está relacionado à facilidade
de acesso.
A faixa etária da maioria dos entrevistados está entre 30 a 54 anos, sendo a maioria
casados e nascidos na própria vila e/ou em comunidades rurais próximas as vilas (Gráficos 2,
3 e 4).
Gráfico 2-Faixa Etária dos moradores das Vilas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Gráfico 3- Estado Civil dos moradores das Vilas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
101
Importante destacar que, como foi escolhido na metodologia, que o prestador das
informações sobre as questões abordadas nos formulários seriam os chefes de família ou o
membro mais velho presente no momento, por isso podemos observar nos gráficos acima a
predominância de pessoas na faixa etária de 30 a 54 anos, e casados.
Como observado no gráfico acima a maioria dos entrevistados nasceu na própria vila
e/ou são provenientes de outras áreas rurais do município e foram migrando para a vila
conforme esta recebia melhoramentos em sua infraestrutura. Porém, um número
significativo de pessoas que moravam na sede municipal e depois foram morar na vila,
principalmente por motivo de trabalho, no caso dos funcionários públicos.
Grande parte da composição das famílias é unifamiliar 87%, e estas estão morando
bastante tempo nessas vilas (Gráfico 05), até por que muitas famílias que moravam nas
comunidades adjacentes, foram migrando para a vila a proporção que esta foi recebendo
infraestrutura. Segundo alguns moradores o fato de a mesma possuir luz elétrica permanente e
água encanada nas casas, já é um fator que melhora a qualidade vida das pessoas (Gráfico 6 ),
sem falar dos serviços de educação e saúde existentes.
Gráfico 4- Local de nascimento dos moradores das Vilas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
102
A renda familiar está baseada na agricultura e na pesca, mas podemos observar
crescente pluralidade nas atividades econômicas dos moradores (Gráfico 7), com a presença
significativa de outras atividades que não são picas da área rural, como as atividades de
comércio, funcionalismo público e prestação de serviços. Apesar dos moradores afirmarem
que a renda principal vem da pesca e da agricultura, muitos procuram outras formas de
complementá-la, buscando alternativas de atividades econômicas que não se caracterizam
mais como do campo. Esta ação é mais forte naqueles moradores que se desligaram da terra
Tempo de Moradia nas Vilas
1
4
5
13
16
20
49
0
10
20
30
40
50
60
1 ano 2 a 4 5 a7 8 a 10 10 a 15 15 a 20 Mais de
20
frequência de moradores
Gráfico 5-Tempo de moradia nas vilas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Gráfico 6- Abastecimento de Energia Elétrica nas Vilas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
103
rural, ou seja, que não possuem mais terra para trabalho. Ao contrário, aqueles que ainda têm
terra continuam executando atividades no campo, embora também executem atividades que
poderiam ser caracterizadas como urbanas. Observou-se famílias que executam várias
atividades do meio rural (agricultura, extrativismo, pesca e criação) combinadas com outras
tantas do meio urbano (emprego público, pequeno comércio e prestação de serviços). Em
ambos os casos complementação do sustento da família com renda social (aposentadorias,
pensão e bolsa família). Há, portanto, o que se denomina de “combinação de atividades”.
A renda mensal dessas famílias está entre 1 e 4 salários mínimos, porém
predominância de famílias que vivem com 1 salário; essa renda muitas vezes é
complementada pelo programa Bolsa Família e outros benefícios que algumas famílias
recebem do Governo Federal como a aposentadoria e a pensão (Gráfico 8 e 9).
Gráfico 7- Origem da Renda Familiar
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
104
Importante destacar que a renda em comunidades do interior, na Amazônia pode ser
analisada de diversas formas, principalmente quando se agrega aos valores da renda às
diferentes estratégias econômicas adotadas pelas populações tanto de várzea, como de terra
firme. Fábio Castro (2006) ao pesquisar a economia familiar das populações de rzea do
médio-baixo Amazonas, inferiu que as mesmas combinam quatro principais atividades: pesca,
agricultura, criação de gado e trabalho assalariado/aposentadoria, segundo ele, cada atividade
possui padrão distinto ao longo do ano, envolve diferentes membros da unidade familiar e
preenche diferentes funções na economia familiar.
A pesca representa a atividade comercial principal, enquanto a agricultura tem uma
importância maior para a subsistência. A criação de gado proporciona um sistema de
capitalização, e o trabalho assalariado e aposentadoria são fontes de renda direta
utilizadas para gastos imediatos, emergenciais, e de pequeno investimento tais como:
criação de gado, construção de casas, e compra de barcos (CASTRO, 2006, p. 176).
Nas vilas, observa-se um padrão econômico diferente das comunidades de várzea,
estudas por Castro, com um peso maior da agricultura na economia local, porém é necessário
compreender que quando inferimos sobre a renda de cada núcleo familiar, o chefe de família,
que foi o principal informante, teve como parâmetro as atividades desenvolvidas por ele,
como provedor principal do núcleo familiar, mesmo que, os outros membros da família
possam estar desenvolvendo outras atividades que ajudam na renda; por isso, agricultura e a
pesca despontam como principais fontes de renda.
Gráfico 8- Renda familiar dos entrevistados
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
69
30
6
3
5
0
10
20
30
40
50
60
70
Renda Familiar
Até 01 salário mínimo
Até 02 salários minimos
Até 03 salários mínimos
Até 04 salários mínimos
Não tem nenhuma
105
Contudo, é necessário relativizar a importância destas duas atividades no total geral da
renda da família, por que conforme relatos dos próprios moradores muitos estão abandonando
as atividades primárias e se dedicando a outras formas de ganhar dinheiro. No caso da
agricultura familiar houve uma baixa na produção destinada à comercialização nessas vilas,
principalmente ocasionados por problemas de transporte, assistência técnica e preços baixos.
Na pesca os problemas são parecidos, principalmente porque nessas vilas não um sistema
de condicionamento eficaz do pescado, como frigoríficos, o que dificulta o armazenamento do
peixe e sua posterior transferência para o mercado da cidade. Esses problemas levam, muitas
vezes, os agricultores e pescadores a venderem seus produtos nas próprias vilas atendendo a
demanda interna, dificultando a obtenção de preços mais elevados e, consequentemente, a
obtenção de maiores lucros, fazendo com que a renda mensal dessas famílias fique próximo
de 1 salário mínimo. Mas isso não significa que essas famílias tenham um padrão de vida
ruim ou venham a passar necessidades, pois muitas vezes a renda familiar é complementada
com outros rendimentos provindos da economia informal e/ou transferências de renda
governamental.
Como observado no gráfico acima o sistema de transferência de renda pelo Governo
Federal é um importante fator que ajuda na economia das vilas, pois 72% das famílias
recebem algum tipo de benefício, enfatizamos o Programa Bolsa Família, onde quase a
metade das famílias entrevistadas recebem.
Gráfico 9-Benefícios e Auxílios recebidos pelos moradores
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
106
O Programa Bolsa Família (PBF), criado em 2003 é o principal programa de
transferência de renda com condicionantes do Governo Federal, e que segundo dados do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) até julho de 2008 estava
beneficiando 11,1 milhões de famílias em todo Brasil, e no município de Parintins, segundo
dados da Caixa Econômica Federal até julho de 2009, beneficiou 8.181 famílias, sendo que os
valores dos benefícios variam de R$ 20,00 a R$ 182,00 de acordo com a renda mensal per
capita e o número de filhos com até 15 anos de idade, em cada família. Sua estrutura está
fundamentada em torno de três dimensões: promoção do alívio imediato da pobreza, reforço
ao exercício dos direitos sociais básicos nas áreas de saúde e educação e articulação com
programas complementares, voltados ao desenvolvimento das famílias. Dentre esses
programas complementares estão os de geração de trabalho e renda, combate ao trabalho
escravo, alfabetização de jovens e adultos e acesso a energia elétrica (MARTINS, 2008).
O que se constatou nessas vilas é que essa ajuda recebida do Governo Federal é
utilizada para complementar a renda da família em suas necessidades básicas, e em alguns
estudos como de Daniel Oliveira Martins (2008) e Rosani Evangelista da Cunha (2007)
demonstram que as famílias utilizam os recursos, preferencialmente, para a compra de
alimentos em estabelecimentos próximos as suas residências, o que contribui para a satisfação
das necessidades básicas de alimentação e para o desenvolvimento da economia local.
Outra contribuição importante do programa observada nas vilas está no fato de que nas
famílias que fizeram parte do universo dessa pesquisa e que recebem o Bolsa Família, todas
as crianças em idade escolar estão frequentando a escola, todavia a frequência escolar em
conjunto com outras variáveis é requisito condicionante para o recebimento do auxílio. Vale
ressaltar que segundo a pesquisa de campo, em média 170 famílias recebem o Bolsa Família
em cada vila, gerando um aporte financeiro mensal de R$ 108.000,00.
No que tange aos aspectos da condição das moradias das vilas, observou-se que a
maioria das casas é feitas de madeira, com cobertura de amianto e possuem de 3 a 4 cômodos
(Gráfico 10 e 11). Porém, um aspecto interessante de ser observado é o crescente número de
moradias construídas em alvenaria, o que significa que o aspecto das residências feitas quase
todas de madeira ou palha que predominava antes nas vilas está sendo alterada. Por outro
lado, observou-se o grande número de casas cobertas com telhas de amianto (Gráfico 11), o
que demonstra dois aspectos: 1) a transferência dos poucos recursos das vilas para fora, pela
compra de material que poderia ser produzido no próprio local, no caso específico da telha de
barro; 2) a inadequação do uso de material de construção, pelos problemas causados a saúde
pelo amianto, como desconforto térmico que ocorre numa região de alta insolação.
107
A maioria das casas nas vilas é construída pelo sistema de auto-construção, onde os
próprios moradores são responsáveis pelas modificações e melhorias em suas residências. As
facilidades que as lojas de material de construção tem proporcionado para a compra dos
materiais como parcelamentos e créditos a aposentados, pensionistas e funcionários públicos,
assim como, pelas transferências de renda governamental, tem incentivado muitos moradores
e substituírem suas casas de madeira por alvenaria, como observado na Figura 33 abaixo.
Gráfico 10-Material de Construção das moradias
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Gráfico 11-Cobertura das casas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
108
É comum vermos casas de alvenaria em processo de construção nas vilas,
principalmente porque as mesmas vêm aumentando sua área de expansão, e áreas próximas as
vilas que antes não eram ocupadas, agora estão sendo alvo de ocupações recentes. Uma
característica importante a ser observada em Mocambo e Caburi é que há uma diferenciação
de preços nos terrenos, de acordo com sua localização. Averiguamos que em Mocambo um
lote localizado em áreas próximas ao porto da vila e dos comércios locais, com as dimensões
de 16 x 36 m está custando cerca de R$ 8.000,00 e se houver uma casa construída de
alvenaria no terreno, o valor pode chegar a R$ 12.000,00. Já o terreno com as mesmas
dimensões, mas localizado na área que os moradores chamam de “bairro”
4
está custando entre
R$ 1.000,00 e R$ 1.500,00. No Caburi também há essa diferenciação de preços, um lote de 20
x 40 m está custando entre R$ 3.000,00 a R$ 4.000,00 na orla e nas áreas próxima aos
comércios, quanto que nas áreas mais distantes os preços variam de R$ 500,00 a R$ 1.000,00.
Nos aspectos ao tratamento de água e esgoto, 23% das famílias entrevistadas afirmam
que colocam cloro na água utilizada para o consumo, porém, a grande maioria afirma não dar
nenhum tratamento à água antes de consumi-la, pois, eles alegam que a mesma é tratada
pelo sistema de abastecimento público das vilas (Gráfico 12).
4
Esse local se constitui de uma área que antes era a comunidade de Nossa Senhora de Lourdes, mas que foi
agregada a Agrovila do Mocambo, essa área ainda está em processo de ocupação e ainda tem algumas carências
de energia elétrica e água encanada, porém, assim como as outras ruas do Mocambo, todas as ruas estão
asfaltadas.
Figura 33: Casa de alvenaria sendo construída -Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
109
A fossa negra é a mais utilizada para dar destino aos dejetos das casas 63%, porém
vem aumentando o número de residências com a fossa séptica, sendo que a Prefeitura
Municipal está desenvolvendo um programa de melhoria sanitária nas residências das famílias
da zona rural do município, com a construção de banheiros e sanitários (Gráfico 13).
Gráfico 12-Tratamento dado à água para consumo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Gráfico 13 -Destino dos dejetos das residências
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
110
Foi constatado que 69% das famílias queimam o lixo doméstico, isso ocorre,
principalmente, por que não há coleta de lixo público. Esse aspecto é preocupante, pois com o
crescente consumo de produtos industrializados, cujas embalagens, em sua grande maioria,
são compostas de plásticos e que vêm aumentando substancialmente a quantidade de resíduos
sólidos não-orgânicos, causando problemas quanto ao destino adequado para os mesmos,
fazendo com que muitas vezes estes sejam jogados em locais a céu aberto, ocasionando
diversos tipos de problemas à comunidade (Gráfico 14).
Gráfico 14-Destino dos Resíduos Sólidos
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Figura 34- Lixeira improvisada pelos moradores do Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
111
Acima podemos observar na Figura 34 a lixeira improvisada pelos moradores do
Mocambo; ela fica localizada em um barranco próximo ao rio, o que aumenta os riscos
ambientais nas áreas residenciais adjacentes.
Quanto aos aspectos da saúde pública, as principais doenças citadas pelos moradores
são gripes, viroses e diarréias. Os moradores afirmaram que tratam das doenças nas próprias
vilas, entretanto, ainda existe um percentual que usa ervas medicinais para tratar algumas
doenças (Gráfico 15).
Como observado no Gráfico 16 abaixo, os moradores recorrem frequentemente ao
Posto de Saúde da Vila, no caso de tratamento de doenças. As principais doenças dos
moradores estão relacionadas a viroses, gripes e diarréias; muitas dessas doenças são em
decorrência do consumo da água que, em determinadas épocas do ano, como na vazante do
rio, estão mais suscetíveis a contaminações. Hilton P. Silva ao estudar a sócio-ecologia da
saúde e da doença em sociedades ribeirinhas amazônicas conclui que
Má nutrição, aumento na pressão arterial, na adiposidade, nos níveis de estresse
(medidos pela excreção de catecolaminas), no alcoolismo e nas doenças cardíacas
estão entre os efeitos deletérios da transição de um estilo de vida mais tradicional para
um mais modernizado (SILVA, 2006, p.341).
As vilas são dotadas de posto de saúde com infraestrutura para atender pequenas
emergências e quando uma emergência grave o paciente é encaminhado ao hospital da
Gráfico 15-Doenças e Sintomas mais comuns
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
112
cidade de Parintins, em lanchas do sistema de saúde municipal (“ambulancha” como são
chamados os transportes fluviais de emergências médicas nas vilas). Dentre os serviços
prestados nos postos estão: consultas médicas, vacinação, preventivos, curativos de acidentes
de trabalho (cortes, quedas e machucados) e em todas as vilas existe o Agente Comunitário de
Saúde que visita, frequentemente, as famílias. Entretanto, os programas de saúde
desenvolvidos são quase os mesmos dos postos de saúde da cidade, como: Pré-Natal, Hiperdia
(programa de hipertensos e diabéticos), Programa nacional de suplementação de ferro;
planejamento familiar (distribuição de preservativos, e pílulas anticoncepcionais), exame
preventivo da mulher e Programa DST/AIDS.
O mesmo médico que atende em Caburi também atende no Mocambo ficando este 3
(três) dias na semana em cada uma delas, em semanas alternadas. Os postos de saúde nas vilas
têm uma boa infraestrutura (Figura 35 e 36), não obstante os moradores preferirem se
consultar nos mesmos em vez de se deslocarem para a cidade. Porém, muitos reclamam que a
Prefeitura deveria construir um hospital nas vilas, com melhores condições para atender os
moradores; inclusive em Mocambo existe um prédio inacabado do que seria um hospital. A
construção foi iniciada, mas não foi concluída, todavia não se sabe o que aconteceu com os
recursos financeiros destinados a obra de construção e compra de equipamentos para o
hospital.
Gráfico 16-Local de Tratamento das doenças
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
113
Dentre os melhoramentos que os moradores reivindicam para o serviço de saúde está a
contratação de mais funcionários como enfermeiras e técnicos; um médico que fique
permanentemente nas vilas, mais medicações injetáveis (pois este tem efeito imediato em
dores, no caso de emergências) e melhoramentos na infraestrutura, com mais equipamentos.
Acreditamos que deveria haver mais investimento em recursos humanos na área de saúde,
Figura 35: Posto de Saúde em Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 36: Estrutura interna do Posto de Saúde de Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
114
pois, como as vilas estão crescendo em população, os funcionários dos postos de saúde não
ficariam sobrecarregados, possibilitando que todos fossem atendidos satisfatoriamente.
Na educação constatou-se que a maioria dos moradores possui o ensino fundamental
incompleto, como pode ser observado no Gráfico 17 abaixo, mesmo eles afirmando que as
escolas apresentam bom serviço à vila. Também foi encontrado baixo índice de
analfabetismo, sendo que todas as crianças em idade escolar estão frequentando a escola.
Ressaltamos que o fato da escolaridade ser relativamente baixa, é porque os entrevistados
foram, na maioria, adultos e chefes de família, e que não tiveram chance de dar
prosseguimentos aos seus estudos pelo fato de ainda não existir, na época, escolas de nível
secundário nas vilas, e também pela necessidade dos mesmos trabalharem ou na roça ou na
pesca para sustentar suas famílias; ou seja, antes não havia a facilidade que hoje há para os
jovens estudarem nessas vilas, pois todas, agora, possuem escolas do ensino básico ao médio
e até o tecnológico, ministrado pelo sistema de ensino a distância.
Um dado preocupante é o aumento de casos de violência relatados pelos moradores.
Segundo eles, antes era mais tranqüilo, sendo que os principais problemas estão relacionados
as brigas, roubos e até assassinatos. Muitas dessas ocorrências acontecem devido ao consumo
de bebida alcoólica, principalmente, nos fins de semana. Essas ocorrências têm diminuído
gradualmente, pois o efetivo policial foi reforçado nas vilas, as quais possuem posto policial
Gráfico 17-Grau de instrução dos moradores entrevistados
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
115
(Figura 37), com efetivos residentes no próprio local, sendo que cada vila tem 02 (dois)
policiais trabalhando.
A principal forma de lazer está relacionada com a prática esportiva de futebol, na qual
os grupos de moradores organizam seus times e disputam entre si (Gráfico 18). Esse lazer
reúne muitas pessoas em volta do campo de futebol das vilas, ou para torcer para seu time, ou
para esperar sua vez para jogar. Assim, percebemos que o jogo de bola, torna-se uma prática
em que os homens e mulheres buscam para o seu lazer. Todas as vilas possuem um campo de
futebol, que nos fins de semana se tornam a centralidade das vilas, onde as pessoas se reúnem.
Em Mocambo e Caburi, as escolas estaduais possuem ginásios poliesportivos, em que os
alunos praticam vários esportes, e entre os mais importantes está o futebol. Porém, a
concentração fica mesmo em torno dos campos de futebol oficiais nas vilas, onde ocorrem os
torneios nos fins de semana, ou as famosas “peladas” nos fins da tarde, durante a semana.
Figura 37- Posto Policial de Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
116
É comum a realização de torneios de futebol entre as comunidades rurais; geralmente
quando um torneio aparecem vários times para disputarem. Nas vilas esses torneios são
envoltos em clima de festa e reboliço; as torcidas organizadas à beira do campo incentivam
seu time e vibram com cada lance. É um momento de socialização importante, onde todos se
reúnem e brincam; algumas vezes a brincadeira é levada a sério, com jogadas mais perigosas
no momento da partida de futebol, porém, no final tudo acaba na mais absoluta tranquilidade.
Glaucio Campo Gomes de Matos (2008), ao fazer uma análise minuciosa sobre a prática do
futebol, como lazer em determinadas comunidades rurais no Amazonas, faz a seguinte
assertiva
Na área de pesquisa, uma das atividades capazes de reunir, sem obrigação, maior
número de pessoas é o jogo de bola. É onde as pessoas podem experimentar e
compartilhar em público, divertidas excitações com aprovação social. Nesse sentido,
compreende-se o papel da sociabilidade que figura nesse divertido jogo de bola [...] O
jogo de bola tem-se mostrado um atrativo para os moradores de Bicó, Cuiamucu e, os
quais freqüentam por vontade individual. Essa participação em ‘massa’ reforça a
sociabilidade, que segundo Elias e Dunning (1992) é característica do lazer (MATOS,
2008, p. 243-245).
O futebol é uma forma de lazer importante nas comunidades rurais amazônicas, assim
como observado por Manuel de Jesus Masulo da Cruz (2007) sobre os torneios de futebol na
várzea amazônica
Gráfico 18-Formas de Lazer
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
117
Esses torneios costumam ser bastante disputados contando com agitadas torcidas, o
time consagrado campeão recebe uma premiação que, em geral, é uma cabeça de
gado, ‘um boi’, como eles denominam ou grades ‘caixasde cerveja. Além disso, a
equipe vencedora recebe um troféu como símbolo do esforço e organização do time de
futebol.
Vale ressaltar que o time de futebol na várzea amazônica, representa para os
camponeses ribeirinhos uma referencia importante, pois muitos foram fundados antes
do surgimento das comunidades, portanto, são times considerados por todos como
tradicionais. Na realidade, uma grande simpatia por eles, semelhante a grandes
times urbanos, por isso, todo esse entusiasmo, quando os times de futebol vão
representar as comunidades nos torneios e/ou campeonatos. Aliás, muitos torcedores
foram ex-jogadores, mantendo, por sua vez, a lealdade ao time (CRUZ, 2007, p. 46-
47).
Nas vilas também há os times tradicionais formados desde 1972; na Agrovila do
Caburi, por exemplo, os principais times de futebol são: “Estrela do Mar” e a “Associação
Juvenil Esporte Clube”. Dessa forma, de se entender que o futebol é o espaço no qual as
emoções, as excitações agradáveis e controladas são socialmente compartilhadas
semanalmente (MATOS, 2008, p. 245).
Outra forma de lazer mais apreciada nas vilas são as festas; destaque para as festas
de santos, todas possuem padroeiros, que são festejados em determinadas épocas do ano com
novenas e arraial. Além das festas dos santos, as vilas possuem outras festas anuais, que são
organizadas pelos próprios moradores, estas com um fundo mais econômico.
Na Agrovila de Mocambo pode-se citar o “Festival Folclórico do Mocambo”. Festa
que tem algumas semelhanças com o festival realizado na cidade de Parintins, que consiste na
apresentação de 2 (dois) boizinhos (Espalha e Touro Branco) e apresentação dos pássaros
“Jaçanã” e “Pavão”, além da apresentação das quadrilhas. Essa manifestação cultural é
realizada no “Mocambódromo”. Quadra esportiva construída pelo poder público municipal,
que recebeu este nome para fazer alusão ao “Bumbódromo”, localizado na cidade de Parintins
(Figura 38, 39 e 40). Essa festa é organizada pelos próprios moradores, com o apoio da
Prefeitura de Parintins, e acontece no mês de julho; sendo assim uma iniciativa de
organização do lazer nesse lugar.
118
Figura 38- Festival Folclórico da Agrovila do Mocambo
FONTE: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Parintins, 2009.
Figura 39- Festival Folclórico da Agrovila do Mocambo- Quadrilhas
FONTE: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Parintins, 2009.
119
Outra festa no Mocambo é o Festival do Beiju”, no mês de setembro, organizada
pelos professores e alunos da escola municipal da vila, onde é realizada uma competição entre
os alunos para escolher quem tem mais criatividade na produção do beiju. Assim, alunos com
seus pais se organizam para produzir o beiju da forma mais criativa possível. Essas duas
festas atraem muitas pessoas da cidade para a vila. Outra festa é de cunho religioso, é a festa
de São João Batista, padroeiro da vila, é realizado no mês de junho e mobiliza os moradores
na realização das novenas e do arraial.
No Caburi existem duas festas principais, a festa de São Sebastião, padroeiro da vila e
o Festival de Verão, comemorado em janeiro e setembro, respectivamente, e atraem muitas
pessoas de fora para a vila. O Festival de Verão é realizado na praia Brilho do Banzeiro”,
localizada na frente da vila (Figura 41). No período do Festival de Verão fluxo intenso de
visitantes, assim ocorre certa movimentação financeira, pois os moradores aproveitam para
vender comidas e bebidas para os visitantes.
Figura 40- Festival Folclórico da Agrovila do Mocambo-Boi-Bumbá
FONTE: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Parintins, 2009.
120
Em Vila Amazônia também a celebração ao padroeiro da vila, a Festa de São
Francisco Xavier é realizada no mês de dezembro, mas o que se destaca como atrativo para o
lazer são os vários balneários existentes, esses balneários atraem diversas pessoas nos fins de
semana que vão a procura de descanso e tranquilidade do dia-a-dia estressante da cidade.
Esses balneários ficam localizados próximos da sede da vila, em terrenos que ficam na estrada
que liga a sede às demais comunidades. Eles possuem alguma infraestrutura com flutuantes,
bar e restaurante e áreas para a prática de esportes (Figura 42 e 43).
Figura 41- Praia “Brilho do Banzeiro- Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 42: Balneários em Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene
Muniz
).
Figura 43: Infraestrutura dos Balneários em Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene
Muniz).
121
Os moradores das vilas não costumam se reunir muito em grupos sociais, mas o grupo
social que mais tem frequentadores é o conselho paroquial das vilas, onde a presença da igreja
católica é muito forte, pois 79% das famílias são católicas; porém observamos a presença de
templos evangélicos nas vilas (Gráficos 19 e 20).
De um modo geral as comunidades rurais ribeirinhas possuem essa característica,
como bem observado por Charles Wagley (1988) e mais recentemente por Mark Harris
(2006), este último ao fazer um ensaio sobre a religiosidade popular na Amazônia, expõe a
Gráfico 19-Participação em grupos sociais
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Gráfico 20- Religião dos entrevistados
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
122
importância do processo histórico da Igreja em nossa região que começa desde a colonização
“O catolicismo não era apenas a religião do conquistador, mas a Igreja (mais do que as ordens
missionárias) estava de mãos dadas com a Coroa e o Estado” (HARRIS, 2006, p. 93).
Como descrito no capítulo anterior, essas vilas tiveram forte influência da Igreja
Católica em sua formação. Em primeiro plano pela constituição das comunidades, onde a
população que antes vivia dispersa pelas margens do rio Amazonas e dos lagos, foram
incentivadas a se agruparem em um mesmo local, não obstante as mesmas serem chamadas de
Agrovila de São João do Mocambo, Agrovila de São Sebastião do Caburi e Vila de Santa
Maria de Vila Amazônia, logo a presença da Igreja Católica ainda é muito forte na vida dos
moradores.
Contudo, nos últimos anos tem crescido o número de adeptos ao protestantismo, sendo
que vários templos evangélicos nas vilas onde realizam seus cultos e orações, dentre estes
podemos citar as Igrejas: Assembléia de Deus, Universal, Batista, Adventista, Neo-
Testamentária (Figura 44 e 45).
Figura 44- Igreja da Assembléia de Deus-Vila Amazônia
FONTE: Trabalho de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
123
Por meio da identificação das características econômicas e socioambientais de
Mocambo, Caburi e Vila Amazônia procurou-se demonstrar que essas vilas possuem uma
espacialidade diferente das outras áreas rurais do município de Parintins, posto que essas 3
(três) vilas contém formas e estruturas típicas de áreas urbanas na composição de sua
paisagem; porém, a sua dinâmica social ainda apresenta a forte presença dos hábitos e
costumes rurais; ambas características se relacionam e se imbricam, formando uma dinâmica
de produção do espaço diferenciada de outros lugares na zona rural de Parintins.
Rural e Urbano presentes no mesmo lugar, muitas vezes o rural se sobressaindo ao
urbano e vice-versa, mas acreditamos que a presença dos elementos urbanos está mudando de
forma paulatina o processo de produção do espaço desses lugares; as relações sociais não são
as mesmas de antigamente, assim como os costumes e hábitos da população. Porém, assim
como a urbanização está mudando o comportamento das pessoas, presenciamos algumas
formas de resistências a esse processo, a manutenção de certos hábitos do rural que mesmo de
certa forma modificada permanece em seus moradores, a forma de falar, a relação com o
ambiente natural, as matas, o rio e as relações de parentesco e solidariedade, isso ainda
podemos encontrar nesses lugares.
Nestes termos, acredita-se que nas vilas estudadas, um processo de transformação
dos lugares onde a presença do rural e do urbano está explicitamente evidenciada, ambos
trabalhando conjuntamente, ora se afastando ora se complementando, moldando um local que
Figura 45- Igreja Evangélica Neo-Testamentária-Mocambo
FONTE: Trabalho de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
124
não é totalmente urbano, mas, que não apresenta suas características rurais de antigamente,
porém não significando o fim desse rural, mais sim uma forte imbricação entre o rural e
urbano numa relação dialética.
3.2 As transformações socioespaciais das vilas no município de Parintins: Agrovila do
Mocambo, Agrovila do Caburi e Vila Amazônia
Pelos dados obtidos foi constatado que ocorreram mudanças socioespaciais nas vilas,
seja pelo novo formato espacial, pois antes elas eram comunidades rurais tradicionais de
Parintins, onde geralmente há poucas residências, distribuídas de forma dispersa no quadro da
comunidade, no qual poucos elementos estruturais, tais como uma Igreja, seja ela católica
ou evangélica, a sede social ou barracão comunitário, a pequena escola, agora, são lugares que
tem a infraestrutura de cidade, no qual as casas seguem o padrão de distribuição das ruas, ou
seja, por quadros e lotes (Figura 46, 47 e 48). Mas também pelas mudanças socioculturais,
sendo estas os principais fatores que engendram as mudanças feitas na paisagem, pois é o
trabalho humano que interfere e faz refletir a sua realidade nos espaços, sendo este reflexo da
vida cotidiana guiado pelos aspectos sociais e culturais de cada sociedade.
O modo de vida ainda é do mundo rural, que se expressa na prática de atividades do
setor primário (agricultura, pecuária e pesca), mesmo possuindo elementos que caracterizam a
vida urbana, pois as pessoas que moram nesses lugares utilizam telefones celulares, vestem-se
de acordo com os padrões urbanos, assistem aos programas de televisão que expressam o
modo de viver urbano, tem suas festas dançantes e religiosas. E as suas reivindicações
também são caracteristicamente urbanas: calçamento de ruas, rede de esgotos, iluminação
pública, postos de saúde e hospital, segurança, escolas, lixeira pública e muitas outras
reivindicações.
Manuel C. de Andrade (1995), enfatiza que os contraste existentes entre campo e
cidade vêm desaparecendo, pois com as facilidades de transportes e comunicação, o campo
penetra cada vez mais na cidade e a cidade cada vez mais no campo (ANDRADE, 1995).
A assertiva de Andrade nos faz perceber que a antiga polarização feita entre o rural e o
urbano, o campo e a cidade, não se manifesta de forma totalizante nesses lugares. A
concepção de rural como o atrasado e o urbano como moderno, pelo menos no contexto da
pesquisa realizada, não cabe mais nas análises. O estudo do rural coloca novos
125
questionamentos, pois cada espaço apresenta-se de forma diferenciada, tanto no que se refere
ao que é produzido, ao conteúdo das relações sociais e culturais, às dinâmicas econômicas
internas e externas, assim como, a relação que esse imprime junto à cidade (KOZENIESKI;
MEDEIROS, 2009).
Nesta perspectiva, observamos que Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, agora
apresentam certa racionalidade do urbano, seja na sua morfologia estrutural ou social, porém
ainda está permeada por suas características rurais, principalmente nas relações interpessoais
entre seus moradores, marcada por laços de solidariedade e compadrio.
Concorda-se com Beatriz Ribeiro Soares et al. quando esta autora afirma que
Hoje não é mais possível estudar o rural separado do urbano. Sabemos que o modo de
vida urbano modifica valores, atitudes e padrões de comportamento em áreas rurais,
promovendo transformações no espaço mas para isto não é necessário promover uma
destruição deste rural (2005, p. 14).
Assim, no caso das vilas estudadas as mudanças foram ocorrendo paulatinamente e
segundo relatos dos moradores mais antigos, as melhorias no que diz respeito a infraestrutura
foi conseguida por meio de muita luta dos comunitários junto ao poder público municipal, os
quais reivindicaram seus direitos a melhor infraestrutura, que pudesse garantir o mínimo de
conforto a tranquilidade a seus moradores.
Nos croquis abaixo, pode-se observar o perfil de distribuição das ruas de Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia, dividido por quadros onde todas as ruas já estão asfaltadas e
possuem canteiros, assim como estão pontualizados os principais pontos de referência das
vilas, como escola, posto de saúde, igreja e etc. Destacamos que no momento da pesquisa
essas áreas estavam sofrendo um processo de expansão.
126
Figura 46 - Croqui das ruas de Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo,2009.
Organizado por Charlene Muniz.
127
Figura 47 - Croqui das ruas de Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Organizado por Charlene Muniz
.
128
Figura 48- Croqui das ruas de Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Organizado por Charlene Muniz
.
129
Como uma das principais questões neste trabalho é refletir sobre a relação entre rural e
urbano, procurou-se saber dos moradores como eles observavam as transformações pelas
quais passaram e ainda passam essas vilas, como eles apreendem o lugar onde moram. Por
meio de entrevistas semi-estruturadas e conversas informais, procurou-se entender como se
deu esse processo de transformação socioespacial nas vilas de Parintins, e notou-se que elas
apresentam semelhanças e também diferenças. São processos diferentes que tem, portanto,
histórias diferentes, por isso não pode-se tratá-las aqui de forma homogênea e unívoca, então
será discorrido sobre cada uma em particular, para assim, ter melhor entendimento sobre as
mesmas.
Como discorrido no Capítulo 2 (página 75), Vila Amazônia tem uma história rica e
complexa, a sua área foi ocupada por diversos agentes, que transformaram
significativamente seu espaço, principalmente com a chegada dos imigrantes japoneses em
1930, para fazer dela sua colônia e explorando seu potencial agrícola, principalmente o
cultivo da juta.
Eles não plantavam como também criavam gado na região, suas roças ficavam na
colônia agrícola, afastadas da sede onde ficavam suas casas. Plantavam castanha, guaraná,
melancia, arroz, pimenta-do-reino e a juta. Os imigrantes japoneses foram responsáveis pela
primeira reorganização do espaço em Vila Amazônia e nela deixaram as suas marcas. O
projeto deles era organizar Vila Amazônia para receber 10.000 famílias japonesas, e conforme
podemos observar na Figura 49, eles tinham toda uma estrutura montada para a vila. Hoje,
quase não se encontra nada que lembre essa época, tudo se acabou ou o que ficou foram
apenas algumas ruínas, porém os moradores mais antigos, que conviveram com os japoneses,
ainda têm muitas lembranças dessa época, que para alguns foi um período de prosperidade na
vila, “[...] nesse período, a Vila Amazônia apresentava um núcleo urbanizado, com indústria
de beneficiamento de arroz e juta, hospital, realmente assemelhando-se a uma pequena
cidade” (TEIXEIRA, 1997, p. 27).
130
Figura 49-Organização Espacial de Vila Amazônia feito pelos japoneses
FONTE: Extraído do Boletim da Companhia Industrial Amazonense –década de 1930 (Cedido pelo Prof.
José Camilo Ramos de Souza, em 2009).
131
Depois dos japoneses houve outra fase importante na reestruturação do espaço em Vila
Amazônia. Foi a administração de J.G. de Araújo (1945), que também deixou marcas na vila,
algumas casas foram construídas em estilo português, e até hoje existe a casa do próprio J.G
de Araújo (Figura 50 e 51), que conforme relatos dos próprios moradores era uma casa que
parecia ser de “outro mundo”, possuía piscina, sala de cinema, banheiros internos, jardim e
outras características totalmente diferente das casas do campo daquela época, uma casa nos
moldes da cidade.
Segundo a Coordenadoria de Comunicação da Prefeitura de Parintins, estão
programados vários projetos para serem implantados em Vila Amazônia, nos próximos 3
(três) anos. Dentre estes estão: construção de uma escola de informática, uma biblioteca
digital, um tele-centro digital e a construção de um porto com estrutura arquitetônica japonesa
para atender aos produtores rurais e os turistas da região que desejam conhecer o lugar.
Figura 50-Casa de J.G de Araújo em estilo portugues- década de 1970
FONTE- Acervo pessoal de José Camilo Ramos de Souza.
132
A Agrovila de São João do Mocambo não teve tantos agentes externos no processo de
transformação do seu espaço. Como comentado no capítulo anterior, ela é uma extensão da
formação de comunidades rurais típicas do município. Foi criada como comunidade rural,
porém aos poucos foram sendo agregados os elementos urbanos. A Agrovila de São João do
Mocambo é a sede do Distrito do Mocambo, e a única que, oficialmente tem o status de vila,
segundo os parâmetros do IBGE. Porém, as outras: Agrovila de São Sebastião do Caburi e
comunidade de Santa Maria de Vila Amazônia também são chamadas de vilas pela população
e pela municipalidade, sendo que no Plano Diretor do Município de 2006, a citação clara
de que as comunidades de São João do Mocambo e São Sebastião do Caburi e Santa Maria de
Vila Amazônia são áreas prioritárias para a criação de vilas, porém até agora não foi baixado
nenhuma lei ou decreto de regulamentação desses lugares como vilas.
Como comentado anteriormente, a Agrovila do Mocambo nasceu como Congregação
Mariana e passou a concentrar a população que morava em torno do lago do Mocambo. Como
na maioria das comunidades rurais, no começo existiam em seu quadro apenas uma capela
feita em madeira coberta com palha, uns dois barracões, onde funcionava a escola e outro que
funcionava a cozinha da comunidade e algumas casas feitas de madeira e taipas
(MONTEIRO, 2003). Confirmaram-se essas informações em conversas e entrevistas com os
moradores antigos, o senhor A. S., 67 anos nos deu o seguinte relato
Figura 51- Casa de colonos portugueses em Vila Amazônia
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (foto de Charlene Muniz).
133
O começo dela não era comunidade, era chamada de Congregação Mariana...aí o pai
dela (se referindo a sua esposa dona Raimunda, filha do antigo proprietário das
terras) nesse tempo era católico e depois voltou a ser crente, de outra igreja. Antes de
ele ser da outra Igreja ele fez uma oferta de 100 metros quadrados nessa ponta
(apontando em direção ao centro da vila) para a Congregação vir pra cá, como veio.
Com os anos os padres quiseram mais uns metros, aí se estranharam, brigaram um
pouco, e foram na justiça e ele (dono do terreno, seu Agostinho Almeida) acabou
perdendo para os padres, aí ela se tornou a comunidade de São João Batista. Então a
diocese doou os terrenos para o povo, loteou para fazerem as casas. Os primeiros
moradores eram daqui mesmo do lago do Mocambo (Pesquisa de Campo, 2009).
A primeira construção de alvenaria na comunidade foi uma casa de farinha, construída
pela prelazia de Parintins, que tinha como objetivo armazenar os produtos agrícolas dos
comunitários como: amendoim, mamona, arroz, milho e farinha, daí o nome “casa de farinha”
(MONTEIRO, 2003). Até 1975, Mocambo seguia o ritmo das tradicionais comunidades rurais
do município. A partir 1975, a Prefeitura começou a atuar de forma mais presente na
comunidade, mandando elaborar a planta da agrovila pelo ICOTI (Instituto de Cooperação
Técnica Municipal), toda planejada com quadras, lotes, ruas, avenidas, praças, quadras para
indústrias e comércios, quadra para órgãos públicos. Foi a partir deste momento que as
transformações espaciais significativas foram ocorrendo em Mocambo, chegou à energia
elétrica e a água encanada nas casas, e com essas melhorias mais pessoas foram construindo
casas e fixando moradia na vila.
Destaca-se a construção da nova igreja de São João (Padroeiro da Agrovila) em
alvenaria em 1979 (Figura 52), em 1980 a prefeitura construiu a primeira escola em alvenaria
da vila, ela foi construída com duas salas, diretoria, secretaria e uma cantina. E juntamente
com o colégio, foi construído o alojamento dos professores, todo em madeira com três
quartos.
134
Em 1997, a vila ganha um centro de formação denominado de “Centro de Mãos
Dadas” (Figura 53), o objetivo desse centro é melhorar as condições educativas, afetivas e
formativas dos menores, apoiando e integrando a formação familiar, escolar, espiritual
favorecendo a socialização e integração entre os menores, nesse centro os jovens da vila
podem brincar, refletir e trabalhar juntas, lá é oferecido cursos de artesanato, costura, pinturas
entre outras atividades.
Figura 52- Igreja de São João na Agrovila de Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 53- Centro de Formação “De mãos Dadas”-Agrovila de Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
135
Uma construção que merece destaque é a nova escola Estadual em Mocambo, é uma
escola moderna e bem equipada, pois nem na sede da municipalidade encontra-se uma escola
com esse porte e infraestrutura. Ela tem capacidade de 1.200 alunos e possui 12 salas de
aulas, sala de informática, laboratório de ciências, biblioteca e ginásio poliesportivo, área de
refeitório e sala dos professores, possui climatização e tem antena de internet que possibilita
o acesso dos alunos a rede mundial de computadores (Figura 54, 55 e 56). Como no
momento da pesquisa ela ainda não tinha sido inaugurada oficialmente pelo poder público,
possuía apenas 212 alunos, porém quando ela estiver funcionando plenamente poderá
atender toda região do Mocambo oferecendo o ensino fundamental e médio para os
moradores da Agrovila e demais comunidades adjacentes. A maioria dos professores que
leciona na escola possui nível superior.
Segundo o diretor da escola, o senhor José Pereira das Chagas, essa escola foi uma
conquista de muita luta dos moradores do Mocambo, com sua persistência e força de
vontade, e esta vem a beneficiar muito a população. O terreno onde foi construída a escola
foi doação de um antigo morador, que não tendo a oportunidade de estudar queria
possibilitar aos seus filhos e netos o acesso a educação na própria vila, o mesmo sabia da
importância da educação. Seu Caetano Mendonça não era alfabetizado mais gostaria que
seus filhos e netos estudassem. Por essa doação do terreno o mesmo foi homenageado dando
nome a escola.
Figura 54- Laboratório de Ciências da Escola Estadual
do Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene
Muniz).
Figura 55- Laboratório de Informática da Escola Estadual
do Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene
Muniz).
136
A Agrovila de Caburi não apresenta muitas diferenças com a de Mocambo, no que
concerne a sua criação, também surgiu como comunidade rural, conforme histórico no
capítulo. E a incorporação dos elementos urbanos foi se dando aos poucos e ao longo dos
anos, como podemos observar na Figura 57, em 1974 ela tinha uma forma diferente da qual
apresenta atualmente (Figura 58).
Figura 57- Organização Espacial da Sede de Caburi em 1974
FONTE: Rodrigues, 1993.
Figura 56- Escola Estadual do Mocambo “Caetano Mendonça”
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
137
Desde a criação da Congregação Mariana, que deu origem a comunidade de São
Sebastião do Caburi a até e sua transformação em Agrovila muitos fatos aconteceram; as
transformações foram ocorrendo aos poucos e graças a incansável luta dos moradores pela
melhoria na condição de vida.
Até 1978, São Sebastião do Caburi era apenas uma comunidade rural; os
comunitários viviam em suas propriedades às margens do Lago do Caburi e vinham até a
sede, nos dias de domingo e feriados. No ano de 1979, a Prefeitura lançou a proposta aos
moradores de transformar aquela comunidade em agrovila, o que foi aceito pelos mesmos. E
então começaram os trabalhos de demarcação e loteamento da área, que até então pertencia a
uma família, sendo que os herdeiros aceitaram vendê-los as outras pessoas que moravam
nas imediações do lago do Caburi, como explica Rodrigues
De comum acordo entre todos, ficou acertado o preço de CR$ 200,00 (duzentos
cruzeiros) o lote de terra de 20m de frente por 40m de fundo. Em pouco tempo,
quase todos os comunitários compraram seus lotes de Terra [...] O dinheiro
arrecadado, foi gasto uma parte pago aos herdeiros, outra parte foi gasto nas despesas
da demarcação. A outra parte foi gasto na construção do Centro Social-prédio
existente na Agrovila (p.17, 1993).
A partir de então começaram a ser instalado os equipamentos urbanos na vila. As ruas
começaram a ser abertas em 1982 e no início eram apenas 10 ruas, em 1981 foi inaugurada
Figura 58-Configuração Espacial de Caburi em 1996-Croqui das ruas
FONTE: Rodrigues, 1996.
138
na vila a Escola de Grau “São Sebastião” do Caburi, e em 1984 foi instalada a atual usina
de luz, sendo feito o posteamento de madeira de lei e o sistema elétrico da vila e também, no
mesmo ano, foi inaugurado o sistema de distribuição da água encanada, com a perfuração de
um poço destinado ao abastecimento de água a toda vila; esse sistema sofreu melhorias em
1987 com sua ampliação. E em 1987 foi instalado o sistema de telefonia pública. Logo,
segundo Rodrigues “[...] A Vila caminha a cada dia, com pessoas que chegam, saem, moram,
vendem casas, estudam, trabalham, se divertem, pescam, vendem, compram, lecionam e
praticam as mais variadas atividades (p.17, 1993).
Com essas palavras, Adelson Rodrigues (1993) define bem a dinâmica espacial em
Caburi, sendo que também podemos nos reportar as outras vilas estudadas. A cada dia elas
continuam crescendo, agregando eu seu quadro cada vez mais pessoas e assim aumentado
seu grau de complexidade.
3.3 A produção e reprodução do espaço nas vilas do município de Parintins
As vilas estudadas apresentam características diferenciadas de outras áreas rurais do
município de Parintins. Foram justamente sobre estas características que procurou-se fazer
uma reflexão, ou seja, como é a relação rural e urbano nestes lugares? Como se constrói o
cotidiano em áreas rurais cujo processo de urbanização está em franca expansão? Como a
produção do espaço se caracteriza nessas áreas? Não é objetivo, neste trabalho, responder de
forma completa todas essas questões, porém tentou-se compreender melhor essa realidade que
se apresenta nesses lugares, ou seja, rural e urbano no mesmo local, que cria e recria hábitos
tanto os já existentes como os advindos da cidade. Procurou-se entender as permanências e as
mudanças nessas vilas, partindo da própria concepção dos moradores.
Compreende-se o espaço como na concepção de Milton Santos (2008), no qual “O
espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro
único na qual a história se dá” (2008, p.63).
Por intermédio das entrevistas pode-se perceber que os moradores têm compreensão
das mudanças ocorridas nas vilas ao longo dos anos, e que os mesmos a vêem de outra
forma, não mais como comunidades rurais tradicionais, ou seja, a percebem como uma
pequena cidade, como podemos constatar nas palavras de A.S, 67 anos, morador antigo do
139
Mocambo Na minha idéia, na minha mente eu considero como uma cidadezinha, porque
tem bairro né... (se referindo ao bairro Nossa senhora de Lourdes na Agrovila do Mocambo),
aí nós consideramos como uma cidadezinha” (Pesquisa de Campo, 2009).
E nas palavras de M.N, 50 anos “Eu creio que está mais pra cidade, falta apenas se
desenvolver mais, mas aqui está mais pra cidade”.
Então, na visão dos moradores, estes lugares apresentam determinadas
características de cidade, inclusive, percebemos na fala de alguns que eles se referem à
mesma como cidade. Em conversa com os moradores percebeu-se que, usualmente, eles
utilizam os termos “cidade” e “bairro” quando se referem às vilas, frases como: “Aqui na
cidade”, “Vou lá no bairro”, “Eu moro na orla da cidade”, são frequentemente usadas pelos
moradores.
Porém, aspectos da vida rural ainda são muito fortes, como é o caso das relações
próximas entre os vizinhos, nas vilas as pessoas se conhecem pelo nome ou apelido, os
vizinhos ainda tem uma relação mais próxima, aspecto que na cidade é mais difícil de ocorrer.
O espírito de solidariedade entre os moradores ainda é forte, há ajuda mútua entre eles. Como
se pode observar na fala de alguns moradores
Eu gosto, uma das únicas coisas que eu gosto é de conversar com meus vizinhos aqui,
mas assim como tem vizinhos bons, tem aqueles que não são tanto, mas agora
melhorou muito, pois por intermédio da bebida dava de o vizinho estranhar a gente
né...mas agora melhorou bastante. Tem dias que dá bem gente aqui, os vizinhos
chegam e agente conversa, quando não eu vou passear na casa deles, eles acolhem
bem agente (A.S,67 anos, pesquisa de campo, 2009).
Eu o tenho queixa dos meus vizinhos, amesmo porque eu vou na casa deles
quando a gente precisa, mas eu sempre converso com eles, tenho contato com eles, a
gente se dá bem, esse negócio de estar brigando não existe (M.N,50 anos, pesquisa de
campo, 2009).
Acredita-se que, essa corrente de solidariedade que ainda existe entre esses moradores,
acontece porque essas áreas ainda estão em processo de crescimento populacional, logo, os
moradores ainda se conhecem pelo nome e compartilham certas crenças em comum,
principalmente os mais idosos. São justamente esses laços de solidariedade que reforçam os
traços de ruralidade, que pode ser entendido “como um modo de vida, como uma
sociabilidade que é pertinente ao mundo rural, com relações internas específicas e diversas do
modo de viver urbano” (MEDEIROS, 2006, p. 04).
140
Quanto às principais mudanças ocorridas nas vilas, os moradores apontam as moradias
como principal aspecto, assim como, o crescimento da vila em relação ao número de
habitantes.
O que mais mudou aqui foram as moradias, as casas se tornaram mais da área
urbana mesmo do que da área rural, porque da área rural sabe, é de palha e de
madeira, agora não, está tendo mais de alvenaria. Então estou achando que está
mudando, e agora com essas ruas que estão sendo asfaltadas então realmente aqui
está mudando (M.N, 50 anos, pesquisa de campo, 2009).
Olha de mudança, o que eu acho de vantagem é que ela tá crescendo sabe, as
atividades estão sendo mais avançadas, e isso é bom (A.S, 67 anos, pesquisa de
campo, 2009).
Outro morador antigo relata como era o Mocambo antes
Antes era tudo na lamparina, não sei quantos anos foi assim, depois lutamos e
conseguimos um motorzinho que puxa luz pra perto, depois parava, a água nós
pegávamos no rio, aí depois que chegou nas casas.
A cada mandato que aparece, tudo quer ganhar uma parte né, agora do Eduardo
Braga (atual governador do Estado do Amazonas) tem essa escola do Bairro
né... Tá mandando colocar de novo o asfalto aqui na rua (A.S, 67, pesquisa de campo,
2009).
Quando perguntados sobre as melhorias que ainda faltam nas vilas os mesmos
afirmam
Olha, o que a gente espera pra melhorar é chegar um banco, um correio, porque
tendo um banco, pra nós que somos aposentados, melhora, pois evita de estarmos
indo pra (cidade) e pra cá, não gastamos mais aquele dinheiro, tendo aqui nós
tiramos o dinheiro aqui (A.S, 67 anos, pesquisa de campo, 2009).
Olha existe muita coisa, aqui falta um local para as pessoas que chegam de fora se
hospedarem, um hotel. Um supermercado mais viável do que esses que tem por aqui,
falta um posto de saúde que a gente seja melhor atendido aqui, pois quando acontece
algo de grave tem que ir para Parintins, tem que ter um serviço de saúde muito
melhor (M.N, 50 anos, pesquisa de campo, 2009).
Porém, os moradores das vilas sabem que as mudanças implicam numa série de
consequências, que podem tanto ser positivas quanto negativas. Quando perguntada sobre o
que achava das recentes mudanças ocorridas na vila uma moradora respondeu “Com a
modernidade vem as consequências” (N.R, 20 anos), sendo que nessa resposta está
141
evidenciado que sempre há um preço a pagar pelas inovações advindas de uma racionalização
comandada pela urbanização.
Como percebido nas falas de alguns moradores, os mesmos aprovam as mudanças na
infraestrutura das vilas, e até clamam por mais melhorias; o fato das ruas serem asfaltadas,
terem energia elétrica e água encanada nas casas, vem a ser um fator de melhoria para os
mesmos, assim como os mesmos tem esperanças que a vila melhore cada vez mais “Se Deus
quiser a vila vai melhorar cada vez mais, pois apesar de estarmos com essa idade nós temos
filhos e netos que moram aqui” (A.S,67 anos, pesquisa de campo, 2009).
Sobre o que mais gostam da vila os moradores apontam a infraestrutura existente
Aqui eu tenho uma casa pra cuidar, lá onde a gente morava a gente tinha que
carregar água, e aqui facilitou porque tem água na torneira, a gente usava
lamparina, aqui tem a luz elétrica, aí agente se acostumou e pronto, o que eu gosto
daqui é a facilidade outras coisas eu não gosto não, até porque no sábado e domingo
as vezes dá muito bêbado na rua, eu gosto da tranqüilidade (M.N, 50 anos, pesquisa
de campo, 2009).
Porém, essas melhorias acarretam alguns malefícios, pois conforme relato dos próprios
moradores o índice de violência vem aumentando nesses lugares, roubos, brigas e até
assassinatos, esses incidentes ocorrem devido ao consumo de bebida alcoólica e até mesmo
drogas, pois a venda e consumo desses entorpecentes também é uma realidade nas vilas.
Um dos aspectos a serem observados também é a mudança na forma de encarar a
propriedade privada, pois em outras comunidades rurais de Parintins as casas não possuem
cercas ou muros em volta da casa, diferente dessas vilas, em que vem crescendo o número de
casas cercadas e muradas, uma moradora explica que É porque às vezes a gente gosta de
criar galinha, e até mesmo o cão que a gente cria, e se é pra na rua a gente coloca no
quintal, é mais questão de preservar a criação” (M.N,50 anos, pesquisa de campo, 2009).
Essa precaução, muitas vezes, evita de ter conflitos entre vizinhos e muitas pessoas
preferem resguardar as suas criações domésticas, cercando ou murando os quintais das casas.
Também se observou mudanças nos hábitos alimentares dos moradores das vilas.
Antes a alimentação era baseada em produtos típicos da vida rural, o peixe, a caça, a criação
de animais domésticos como galinhas, patos, porcos. Porém, com o passar dos anos houve a
incorporação de outros hábitos alimentares como o consumo de frango congelado e alimentos
industrializados.
142
Pesquisando os comércios das vilas, foi constatado que é vendido em média 112 Kg de
frango congelado e 83 unidades de refrigerante de 2 (dois) litros, por semana em cada vila, e
segundo os próprios comerciantes locais os moradores procuram muito esses produtos.
Em conversa com alguns comerciantes nas vilas obteve-se algumas informações sobre
a dinâmica dos comércios locais. Os produtos alimentícios comercializados nas mercearias
vêm direto das distribuidoras de Manaus e de Parintins; o sistema de venda é à vista, mas
também vendem fiado, somente para os funcionários públicos e aposentados, pois estes têm
garantia para o pagamento no final do mês. Os comerciantes consideram a venda boa, pois as
pessoas procuram bastante os comércios, sendo possível auferir o lucro (cerca de 1 salário
mínimo mensal). Segundo eles a melhor época para a venda é o final do mês, pois mais
dinheiro circulando nas vilas. Os produtos mais procurados para a alimentação diária pelos
moradores, segundo os comerciantes entrevistados são: frango congelado, sardinha em lata e a
calabresa.
Observou-se na vinda para as vilas, que muitas pessoas ainda preferem comprar seus
mantimentos na cidade, isso acontece porque eles acreditam que na cidade, os produtos são
mais baratos do que na vila, principalmente os aposentados quando vão receber seus
benefícios na cidade, aproveitam para fazer seu rancho, sendo que muitos mercados na cidade
de Parintins abrem crédito aos aposentados. Em pesquisa de campo constatou-se que a média
de uma cesta de alimentos composta de 9 produtos, dentre os mais consumidos pelos
moradores, está custando nas vilas em média R$ 17, 25, como mostrado no Quadro 14 abaixo
sendo que a diferença com a cidade é pouca.
143
Abaixo pode-se visualizar no Gráfico 21, a comparação dos valores da cesta de cada
vila em relação à cidade de Parintins.
Produto Unid. Qt. Valor R$
01 Açúcar kg 01 1,45
02 Café Pct.100g 01 1,00
03 Bolacha Pct. 01 2,25
04 Macarrão Pct. 01 1,55
05 Arroz Kg 01 2,25
06 Leite em pó Pct.100g 01 1,15
07 Óleo de soja 900ml 01 2,55
08 Frango Congelado Kg 01 3,75
09 Farinha de mandioca Litro 01 1,30
Total 17,25
Quadro 8: Média de preços dos produtos nas 3 Vilas
FONTE: Pesquisa de campo, 2009.
Gráfico 21: Valor da Cesta nas vilas e na cidade
FONTE: Pesquisa de campo, 2009.
144
Outro conceito importante nesta pesquisa e que também tem a sua base em Milton
Santos (2008) é o conceito de lugar, que vem a ser o palco das transformações, das (des)
construções do espaço; é a força dialética que leva o homem a se tornar capaz de criar e
recriar sua própria cultura, modos de vida e relações sociais que engendram nova forma de
pensar e conceber o lugar conforme as necessidades. O lugar não é estático, mesmo aqueles
que estão geograficamente distantes dos centros urbanos estão de certa forma, conectados
com o globo sofrendo influência dele. Para Milton Santos é no lugar que a vida acontece, é
nele que o homem estabelece suas relações, cria identidades, corrobora conceitos e se
socializa com seus semelhantes.
Dessa forma, observou-se que o cotidiano nesses lugares começa e termina cedo,
começa cedo porque os moradores levantam cedo para realizarem suas atividades e ao
terminar preferem se recolher cedo em suas casas, pois à noite não algo que possa chamar
a atenção para o entretenimento nas ruas. Assim, os moradores preferem ficar em suas casas e
aqueles que possuem o aparelho de televisão e antena parabólica assistem aos programas,
filmes e as novelas. Para quem vem de fora a noite se torna longa e sem muito movimento.
Durante a semana as ruas são tranquilas, poucas pessoas circulando, um ar aparente de
tranquilidade. A maioria da população está ocupada em suas atividades diárias. Nos fins de
semana é mais movimentado, as pessoas vão para frente de suas casas ou para alguns
barzinhos existentes nas ruas principais, onde podemos escutar músicas animadas geralmente
em volume alto.
Nessas vilas também clubes de festas, onde as pessoas vão para dançar,
principalmente os jovens e adolescentes e de vez em quando vem bandas de Parintins e até de
Manaus tocar nesses clubes (Figura 59 e 60).
145
A agricultura e a pesca ainda são as atividades econômicas que fazem parte do
cotidiano dos moradores, sendo que os roçados dos agricultores ficam afastados das vilas, no
“Centro” ou “Colônia” como os moradores costumam denominar o lugar onde está localizado
o lote de produção. A prática da pesca é realizada nos lagos próximos as vilas. Porém,
devemos deixar claro que são poucas famílias que vivem exclusivamente da pesca e da
Figura 59- Clube de Festas em Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2008 (Foto de Charlene Muniz).
Figura 60- Cartaz de divulgação de festas -Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
146
agricultura, pois eles afirmam que o dinheiro apurado com a venda dos produtos da roça como
a farinha e o pescado são insuficientes para manter a família, assim sendo, eles procuram
outras atividades para complementar a renda, como já abordado antes.
Acompanhando alguns moradores em suas práticas da roça e da pesca, observou-se
que estes são feitos ainda do modo tradicional, de subsistência, onde o resultado do trabalho
parte é para o consumo da família e parte é vendido. Nos estudos de Sandra do Nascimento
Noda et al. sobre a agricultura familiar na várzea Amazônica foi constatado que
A geração de renda monetária, por meio da comercialização de produtos agrícolas,
pode ocorrer de duas formas: pela venda do excedente da produção não consumida
pela unidade de consumo (por exemplo: farinha de mandioca, frutos na época de safra,
animais de pequeno porte) e pela venda da fração da produção destinada à
comercialização, como algumas frutas (banana, manga, goiaba), grãos (milho, feijão,
arroz) e fibras (malva e juta) e produtos do extrativismo (frutos e palmito de açaí)
(NODA et al., 2006, p.189).
No caso das vilas, fica mais evidenciada a primeira forma de capitalização da
produção, com a venda do excedente. No caso específico do Caburi, existiam muitas famílias
que tiravam seu sustento da plantação da cana-de-açúcar, existindo até um engenho adquirido
em 1950, no qual os agricultores moíam a cana. Numa estatística realizada em 1995, pelo
responsável pelo engenho Sr. Amarildo Rodrigues, foi possível chegar aos seguintes números
Foram moídos 226 toneladas de cana.
Produzido 30 latas de caldo de cana por dia
Chegou-se a produção de 180 latas de caldo por semana. E 9.000 latas por ano.
Perfazendo um total de 162.000 litros de caldo de cana.
Essa produção de caldo transformado em melado, mel- produziu 05 latas por dia. E 30
latas por semana e, 1.440 latas de mel por ano. Num total de 25.920 litros de mel por
ano.
Além do mel, ainda foram produzidos com caldo de cana, 50 rapaduras por dia, 300
por semana e 14.400 rapaduras de 50 gramas por ano (RODRIGUES, 1996, p. 89).
Hoje em dia esse moinho não existe mais, os agricultores moíam a cana em uma
máquina, que no momento da pesquisa estava quebrada, e a produção de antes não existe
mais, porém ainda há algumas pessoas que insistem em plantar a cana, mesmo não tendo
como beneficiá-la. Foi informado que existe uma cooperativa de plantadores de cana de
açúcar e que a mesma está elaborando projetos para recuperar a produção agrícola na vila,
inclusive com a construção de uma fábrica de açúcar mascavo. Contudo, esse projeto está
apenas nos planos e na esperança dos agricultores, que continuam lutando, não se sabe até
quando os mesmos ainda vão resistir (Figura 61 e 62).
147
No que concerne as principais culturas e subprodutos das mesmas foi evidenciado que
as principais são a plantação de mandioca e macaxeira, seguida de frutos (Gráfico 22).
Essas plantações ainda seguem o processo tradicional da agricultura familiar, que “[...]
corresponde a uma unidade agrícola de exploração onde a propriedade e o trabalho são
familiares” (MARTINS; NODA ;NASCIMENTO NODA; 2006, p. 163), com a preparação
Gráfico 22- Principais Produtos Agrícolas
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
Figura 61- Plantação de Cana-de-Açúcar-Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene
Muniz
)
Figura 62- Local onde é moído a cana-de açúcar e onde
se pretende construir uma fábrica de açúcar mascavo -
Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene
Muniz
)
148
do terreno pela limpeza e depois a queimada, e a plantação é feita pelo processo da ajuda
mútua, o mutirão ou puxirum , como afirma a agricultora
A gente faz o roçado, depois queima ele, depois de queimado a gente faz mutirão pra
plantar, o mutirão é feito por rios convidados, a gente convida homem, mulher,
criança... tudo. A gente faz mutirão o dia inteiro. Depois de plantado fica lá, e depois
de uns quatro, cinco meses a gente vai capinar. Ás vezes com um ano a gente
pode tirar que já tem batata, aí a gente tira da roça, coloca na água, e depois de mole
a gente vai tirar a mandioca dura, descasca, rala no motor, e depois de ela estar
ralada, descasca a mole rala e mistura com a dura e aí espreme no chamado tipiti, aí
sai o tucupi, ainda tira a goma da mandioca dura. Depois de espremer, peneira e
depois de peneirado é que vai escaldar e aí leva ao forno a massa que leva umas duas
horas e meia pra ficar bem torrada (M.N,50 anos, pesquisa de campo, 2009).
Como observado no depoimento acima, a plantação é feita ainda no processo
tradicional, como observado por VAZ (1996).
As roças, que também seguem a tradição indígena da queimada, plantação e tempo de
pousio, são preparadas pelo sistema de ‘puxirum’ ou ‘ajuri(mutirão), quando o dono
do serviço(geralmente derrubada da mata e plantação) convida os outros amigos para
trabalhar na sua roça. Depois ele irá trabalhar nos ‘puxiruns’ das outras famílias para
‘pagar’ a ajuda recebida. Assim, através da troca de dias de serviço os moradores
passam por quase todas as roças. Nas comunidades maiores esse costume tende a ser
alterado. Surge o trabalho assalariado, algumas famílias preferem trabalhar isoladas e
outras continuam com o ‘puxirum’ (VAZ, 2006, p.53).
O roçado, geralmente, fica afastado da vila e a maioria dos agricultores também
mantém uma casa na área de plantio, pois é lá que fazem a farinha, o beiju, tucupi e demais
produtos derivados da mandioca, porém muitos preferem ir trabalhar no roçado durante o dia
e voltar à tardinha para a sua residência na vila.
A minha roça fica numa cabeceira, vai pelo barco, vai pela estrada. “Centro” pra
nós é a colônia onde fica a nossa roça. Quando a gente vai para fazer a farinha a
gente tem que ficar todo o período de uma semana, se entra segunda-feira sai sábado.
fez, por exemplo, um saco se farinha aí pára, vai fazer outras coisas, vai capinar a
roça, ou fazer algum plantio (M.N, 50 anos, pesquisa de campo, 2009).
É comum as famílias de agricultores terem em suas casas nas vilas uma “casa de
farinha” no quintal, local onde existe o motor para triturar a mandioca e o forno para fazer a
farinha, fazendo assim, da sua casa da vila, uma extensão de seu roçado da colônia (Figura
63).
149
Como observado no Gráfico 23 abaixo, os produtos do roçado são vendidos na própria
vila, poucos são os agricultores que levam seus produtos para a cidade de Parintins para a
comercialização, os agricultores alegam que é alto o custo de transporte para a cidade e o
preço que querem pagar pelo produto é muito baixo o que não é compensador para os
mesmos, que acabam muitas vezes vendendo para comerciantes na própria vila.
Figura 63- Casa de Farinha no quintal das casas-Mocambo
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
Gráfico 23-Local de Comercialização de Produtos
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
150
A pesca também é feita de forma tradicional, em grupos compostos de familiares e
amigos e também individualmente. Os utensílios utilizados nessa prática são comprados na
cidade e são dos mais variados tipos (Gráfico 24).
O pescador A.S faz uma descrição de sua atividade.
Saiu de manhã, vou por aí e chego de tarde, tem dias que coloco malhadeira, mas não
gosto de colocar quando vou só. Quando vou sozinho gosto mais de flechar, de
arpoar, essa é minha pescaria. Quando vou com meus filhos, nós colocamos a
malhadeira, e tiramos dois a três dias, botamos a malhadeira de tarde e pela manha
vamos tirar o peixe, vendemos o peixe aqui na vila, e em Parintins, mais é mais
aqui, vendemos à vista, e o comprador vem aqui mesmo, como não tem mercado aqui,
vendemos dentro de casa mesmo. Tem semanas quando bem a gente ganha R$
200,00 a R$ 300,00 por semana até quinhentos a gente ganha por semana. Quando
não a gente deixa pro mantimento da casa, ninguém pesca pra vender não
(A.S,67 anos, pesquisa de campo, 2009).
Assim como na família de agricultores, a família de pescadores também tem o hábito
de fazer de sua casa uma extensão de seu trabalho, assim é comum ver os materiais de
trabalho (malhadeira, redes e tarrafas) expostos nas varandas e quintais das casas. Como
pode-se observar na figura abaixo (Figura 64).
Gráfico 24 -Utensílios de Pesca
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009.
151
A maioria das famílias de pescadores vende o resultado de seu trabalho em frente das
suas próprias casas, principalmente em Mocambo e Vila Amazônia, pois ambos não tem um
local específico para a comercialização como mercado ou feira (Figura 65), somente em
Caburi existe o mercado municipal, que quase sempre permanece fechado.
Figura 65- Pescador vendendo o peixe em sua casa-Mocambo
FONTE: Pesquisa de campo, 2009 (Foto de Nilciana Dinelly).
Figura 64- Equipamentos de pesca expostos nas residências.
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
152
Cabe nesta reflexão sobre as atividades econômicas que compõe os aspectos da
produção e reprodução do espaço nas vilas fazer uma análise, sobre a importância da
economia informal na composição da renda dos moradores. Dentre estas destacou-se duas,
que de alguma forma são significativas e refletem uma mudança na concepção de áreas rurais
apenas como áreas agrícolas.
Ao caminhar pelas ruas dessas vilas, observou-se que muitas casas fazem a venda de
gelo em sacolas plásticas, pois as casas, na sua maioria, possuem energia elétrica, mas nem
todas tem a geladeira ou freezer, então muitas famílias procuram ganhar algum dinheiro dessa
forma, com a venda do gelo para o consumo doméstico. Assim, inferimos em uma dessas
casas, que é vendido em média 500 pedras de gelo por mês, ao preço de R$ 0,15, que rende
para a família o equivalente a R$ 75,00 por mês. A princípio pode não representar muito, mas,
segundo os moradores, para cobrir despesas fixas como a conta de luz e água (que fica em
média R$ 50,00 e R$ 15,00 para luz e água respectivamente), ou seja, uma despesa a menos
para essas famílias no final do mês.
Outra forma de comercialização, esta mais evidenciada em Caburi, é a venda de
combustível nas casas, pois na mesma não um posto de gasolina, como existentes em
Mocambo e Vila Amazônia. Esse se faz necessário, porque vem aumentando o número de
motos e carros nessas vilas, logo alguns moradores aproveitam para ganhar dinheiro vendendo
gasolina aos donos de embarcações motorizadas, motocicletas e carros (Figura 66 e 67).
Figura 66: Comercialização de Gasolina nas residências -Caburi
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
153
Essas vilas também possuem interessantes manifestações de literatura, pois se pode
encontrar até livros publicados sobre esses lugares, como os que foram aqui referenciados.
Nestas obras podemos observar como os moradores apreendem o lugar onde vivem, como a
sua relação com a natureza do lugar se mantém forte e como se identificam com ele,
corroborando com a mesma apreensão de Milton Santos para o lugar, como sendo o locus das
transformações, das (des) construções do espaço, a força dialética que leva o homem a se
tornar ser capaz de criar e recriar sua própria cultura, modos de vida e relações sociais que
engendram nova forma de pensar e conceber o lugar conforme as necessidades. Entende-se o
espaço, levando em consideração a concepção de Milton Santos, é isso: vida, morte, mudança,
comunicação, cultura, intercâmbio, construção e desconstrução tanto de conceitos como de
práticas, e onde atuam todas as formas da sociedade, todos em seus determinados lugares que
ora são locais ora são globais.
Logo, nas obras que contam a história, a cultura e o dia a dia dessas vilas, os
moradores expressam todo seu sentimento em relação a estes lugares, como observado no
trecho dos poemas escritos pelos moradores:
Figura 67: A venda da gasolina é feita em garrafas tipo PETI
FONTE: Pesquisa de Campo, 2009 (Foto de Charlene Muniz).
154
HINO DO CABURI
1. Que este sol a brilhar, soberano
Sobre as matas que vêem com amor
Neste lago a pureza, o encanto
De nobreza Constancia e valor.
Fulge, um amplo clarão brilhar
Sobre a terra dos nossos heróis
Nossos passos, portanto, é subir
Serás sempre feliz, Caburi.
2. Possuímos um bem conquistado.
Temos n’alma os encantos do céu.
Vendo as flores do amor sobre a terra,
Envergando o progresso dos céus.
Fulge...
3. A escola é o escudeiro do bem
A marchar pelo bem da nação.
A levar este nosso lugar
Pela trilha da educação.
Fulge...
Dos heróis que aqui trabalharam
Como um sol, como um novo clarão.
Dedicaram suas vidas aqui.
Para o bem do lugar Caburi.
Fulge...
Erguemos então destas zonas.
Que será como voz do Amazonas
Nosso canto fiel varonil
Ecoando para todo o Brasil
Adelson S. Rodrigues
[ Extraído de RODRIGUES, 1996]
Quadro 10: Hino do Caburi
FONTE: RODRIGUES, 1996.
Mocambo terra querida,
De ti não esquecerei jamais.
Terra de lindas garotas,
E de belezas naturais.
Através dessa mensagem,
Expresso tudo que sinto.
Lago de águas translúcidas,
De praias esbranquiçadas,
Foi onde eu conheci o mais
Tranqüilo recinto
Foi em ti Mocambo
Querido,que fiz tantas,
Amizades
E hoje somente
A lembrança me faz
De ti sentir saudades
(Clóvis)
[Poema extraído de MONTEIRO,2003]
Quadro 9: Poema sobre o Mocambo
FONTE: MONTEIRO, 2003.
155
Nesta breve descrição sobre os aspectos socioeconômicos e ambientais de Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia pode-se entender que esses lugares possuem suas características
próprias, mas que ao mesmo tempo, apresentam certas similitudes. As suas particularidades e
singularidades em relação às outras áreas rurais do município saltam aos olhos e pode-se
compreender que rural e urbano, campo e cidade possuem suas características próprias e ao
mesmo tempo se inter-relacionam e essa imbricação entre rural e urbano, ajuda na
compreensão da produção do espaço nas pequenas vilas da Amazônia e no entendimento de
como se dá a construção do cotidiano das pessoas que moram nestes lugares que possuem
elementos do urbano e do rural presentes em sua paisagem.
Procurou-se compreender o processo de urbanização nessas vilas com uma visão que
ultrapasse a dimensão física do processo (expansão da área construída) incorporando as
dimensões ideológica e cultural. Valores, atitudes e padrões de comportamento são
modificados, principalmente a partir da cidade, e espalham-se pelo território num movimento
simultaneamente, extensivo e intensivo como uma nova fronteira para o capitalismo onde se
combinam desigualmente, em cada localidade, o rural e o urbano (RUA, 2002).
Pelo cotidiano vivido nessas vilas percebe-se que as mesmas ainda estão inseridas na
vida rural, não no que diz respeito a sua localização, mas nas próprias relações sociais
estabelecidas entre os moradores, mesmo a divisão do trabalho se apresentando cada vez mais
complexa, ou seja, não ligadas diretamente ao campo. Mas, contraditório a esse processo,
pode-se constatar que há dinamismo nestes lugares, e que, cada vez mais, os aspectos urbanos
tomam conta da paisagem e penetram na vida dos moradores e, assim, marcam e influenciam
na produção e reprodução do espaço.
156
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não é tarefa cil fazer considerações finais em uma pesquisa que teve como objetivo
refletir sobre os diversos aspectos que compõem a sociodiversidade amazônica. O principal
desafio foi a falta de referências que norteassem estudos sobre vilas na Amazônia, mesmo
tendo várias pesquisas que versem sobre o trabalho, a vida e o cotidiano das comunidades
rurais amazônicas, estas, só em parte, puderam ajudar nas reflexões desta pesquisa, até porque
as dinâmicas encontradas em vilas, como as de Parintins são diferentes das encontradas nas
comunidades ribeirinhas amazônicas, pois são lugares que apresentam diferenciações em sua
espacialidade, representações sociais e economia. Nesta pesquisa, procurou-se não analisar o
urbano e o rural sob a perspectiva da oposição e distinção, pois apesar de haver diferenças,
elas não são suficientes para se analisar o que se tem chamado de “a questão cidade campo”,
pois requer compreensão das relações de complementaridades que se estabelecem entre esses
dois espaços.
As três vilas possuem um processo de produção do espaço que apresentam suas
particularidades, mas também possuem similitudes. Caburi e Mocambo foram se formando a
partir do momento em que Igreja Católica passou a intervir e a incentivar o agrupamento da
população, antes dispersa na margem dos lagos para um local mais concentrado, a partir daí
foi se tecendo uma conjuntura que propiciou, a partir dos anos 70, por decisões políticas da
administração municipal, dotar essas localidades de infraestrutura sica de água, luz,
telefone, pavimentação, entre outros. Mas foi principalmente por meio de intensas
reivindicações dos moradores, por mais melhorias nas áreas de saúde e educação, que as
mudanças mais significativas foram acontecendo.
Em Vila Amazônia, o processo de produção do espaço foi mais complexo e teve como
eixo propulsor a escolha daquele lugar para servir de sede para imigrantes japoneses na
década de 1930. Logo as transformações foram acontecendo, os japoneses promoveram
mudanças espaciais que transformaram o lugar num pequeno núcleo urbano, que tinha
hospital, estação meteorológica, pequenas indústrias de beneficiamento de matéria-prima,
entre outros. A estrutura existente em Vila Amazônia nessa época, não existia nem na cidade
de Parintins, porém, com a saída dos japoneses da área em 1945, caiu por terra os planos de
transformar a vila em uma pequena cidade. A infraestrutura que ali ficou se deteriorou, e hoje
quase nada encontra-se que relembre essa época, a não ser, algumas ruínas, que atualmente
157
estão virando monumentos em homenagem aos que ali fizeram história. Houve outros
processos de ocupação em Vila Amazônia, até a mesma se tornar área de assentamento do
INCRA em 1988, porém não tanto significativos como a ocupação nipônica em 1930.
Essa pesquisa visou contribuir para o conhecimento das especificidades, no tocante a
estrutura social, econômica e ambiental inerentes as vilas do município de Parintins, pois as
mesmas têm a forma do urbano, porém não são cidades, embora elas possuam alguns serviços
característicos das cidades. As atividades predominantes ainda estão ligadas ao campo,
contudo, observa-se que estão ocorrendo mudanças substanciais no modos de vida desses
lugares, com cada vez mais pessoas exercendo atividades que não mais se caracterizam como
de áreas rurais. Mocambo, Caburi e Vila Amazônia, são vilas que ainda mantém suas
atividades econômicas ligadas a agricultura, pesca e a pecuária, mas existe o crescimento
gradativo das atividades que não possuem ligação direta com o campo, como os serviços,
comércio e funcionalismo público. Também observou-se a importância das transferências de
renda governamental como as aposentadorias e o recebimento do bolsa família para a
complementarização da renda familiar. Essas transformações engendram um novo tipo de
relação com o lugar, relação mais imediatizada pela lógica do urbano.
Constatou-se que existe uma imbricação entre rural e urbano, manifestas na presença
em áreas rurais, de representações do urbano. Porém, as “urbanidades” no rural, não denotam
o fim desse rural, e sim nos leva a perspectiva, de que as pessoas vivem múltiplas
territorialidades, que ora são urbanas e ora são rurais. Parece se configurar manifestações de
territórios híbridos, nos quais urbano e rural interagem.
Também procurou-se refletir sobre o papel dos aglomerados urbanos nos dias atuais,
no que concerne ao processo de urbanização que as mesmas estendem as áreas rurais,
estendendo assim as suas contradições na produção do espaço. Não é apenas sobre o urbano
que a gica capitalista se perfaz, esse processo de expansão incorpora também os espaços
rurais sem, contudo, torná-los necessariamente “urbanos”. Ele apropria-se de suas
peculiaridades, ajustando-as aos seus fins, que de alguma forma, se estendem e modificam as
áreas rurais.
Nestes termos cidade e campo, urbano e rural vem sendo percebidos e estudados como
polaridades onde a cidade é colocada como dominante nessa polarização, acentuando cada
vez mais uma dicotomia que, só ultimamente, vem se alterando pelas novas lógicas da
acumulação capitalista.
Estudou-se vilas que apresentam uma média de 2.391 pessoas vivendo em seu sítio,
lugares que mesmo localizados em áreas rurais do município de Parintins, apresentam
158
similitudes com as áreas urbanas, como o adensamento populacional, festas, tipos de
construções e serviços. As mudanças de certos hábitos e costumes, que antes eram
predominantes como a alimentação a base de peixes e caças, está mudando. As festas também
estão, cada vez mais, racionalizadas para a geração de renda por meio do turismo.
Foi evidenciado nesta pesquisa que, na Amazônia, as pequenas vilas se reproduzem a
partir das suas especificidades, mas contém as contradições da produção do espaço das sedes
das municipalidades. A cidade de Parintins, por meio do processo de expansão da urbanização
exerce influência econômica, social e cultural nessas vilas, com implicações socioambientais
que repercutem na (re) produção do espaço. Dessa forma, pode-se encontrar nessas vilas
algumas contradições do urbano da cidade de Parintins, dentre eles podemos citar: problemas
com a destinação inadequada dos resíduos sólidos; mudanças no padrão de festas, com sua
racionalização cada vez mais direcionada para a geração de renda por meio do turismo;
diferenciação dos preços dos terrenos, de acordo com a sua localização e aumento do índice
de violência o que resultou na necessidade de reforçar a segurança nessas vilas.
Mocambo, Caburi e Vila Amazônia modificaram-se ao longo dos anos, de
comunidades rurais tradicionais foram transformando-se em aglomerados com arruamento,
calçamento, equipamento e serviços urbanos o que faz com que os moradores as denominem
de vilas, que agora apresentam peculiaridades e especificidades próprias, se diferenciando das
outras comunidades rurais do município de Parintins, não pela presença de elementos do
urbano na composição de sua paisagem, mas pela própria assimilação de hábitos e costumes
inerentes a cidade, os modos de vida também foram modificados, a forma de trabalho, antes
totalmente ligada ao campo. Porém, algumas formas de resistência a esse processo ficam bem
evidenciadas; pode-se perceber que a população ainda mantém seus vínculos com a vida rural,
seja nas relações sociais, seja na relação com o ambiente natural.
Rural e Urbano presentes no mesmo lugar, muitas vezes o rural se sobressaindo ao
urbano e vice-versa, mas acredita-se que a presença dos elementos urbanos está mudando de
forma paulatina o processo de produção do espaço desses lugares, as relações sociais não são
as mesmas de antigamente, assim como os costumes e hábitos da população, porém assim
como a urbanização está mudando o comportamento das pessoas, presenciamos algumas
formas de resistências a esse processo, a manutenção de certos hábitos do rural que mesmo
modificados permanece em seus moradores, a forma de falar, a relação com o ambiente
natural, as matas, o rio e as relações de parentesco e solidariedade, isso ainda pode-se
encontrar nesses lugares.
159
Acredita-se que nas vilas estudadas pode-se observar um processo de transformação
dos lugares onde a presença do rural e do urbano está explicitamente evidenciada, ambos
articulando-se e fragmentando-se, ora se afastando ora se complementando, moldando um
local que não é totalmente urbano, mas, que não apresenta suas características rurais de
antigamente, porém não significando o fim desse rural, mais sim, forte imbricação entre o
rural e urbano numa relação dialética.
Nesta breve descrição sobre os aspectos socioeconômicos e ambientais de Mocambo,
Caburi e Vila Amazônia, pode-se afirmar que esses lugares possuem suas características
próprias, mas que, ao mesmo tempo, apresentam certas similitudes. As suas particularidades e
singularidades em relação às outras áreas rurais do município de Parintins saltam aos olhos e
pode-se compreender que rural e urbano, campo e cidade possuem suas características
próprias e ao mesmo tempo se inter-relacionam e essa imbricação entre rural e urbano, ajuda
na compreensão da produção do espaço nas pequenas vilas da Amazônia e no entendimento
de como se a construção do cotidiano das pessoas que moram nestes lugares que possuem
elementos do urbano e do rural.
Também é necessário ressaltar neste estudo, que as áreas pesquisadas estão crescendo
cada vez mais em população; estão chegando mais pessoas para morar, por isso é necessário
que a municipalidade faça um planejamento que envolva a contínua melhoria da infraestrutura
dessas vilas, sendo que as principais reivindicações das populações que vivem nesses lugares
recaem sobre o melhoramento nas áreas de saúde, educação, segurança e geração de emprego
e renda, pois a demanda sobre esses serviços cresce substancialmente. Sem falar da questão
ambiental, pois a problemática dos resíduos sólidos vem impactando diretamente essas vilas,
por que está aumentando a produção de resíduos sólidos não orgânicos, e não havendo coleta
de lixo pública e nem local apropriado para depositá-lo, as pessoas queimam e/ou jogam o
lixo nos terrenos baldios e nos barrancos próximos ao rio, colocando em perigo a saúde e
segurança deles próprios.
Ao viver e conviver nessas vilas por um determinado tempo leva-se muitas impressões
das mesmas, principalmente das pessoas que ali me receberam de braços abertos, das
conversas no fim da tarde, debaixo das mangueiras, de onde me deliciava com as histórias
contadas pelos moradores antigos. No percurso da pesquisa encontrei muitas pessoas
dispostas a ajudar com sorriso no rosto e simpatia, querem e gostam de ajudar, fornecendo
informações ou nos acolhendo em suas casas, dando apoio e dialogando conosco. Ao sair dali,
fica a dúvida sobre o futuro destes lugares, pois é difícil traçar um futuro para essas áreas,
quando observa-se a crescente vontade desses moradores de que as vilas venham a se tornar
160
cidades, pois para eles significaria uma melhor condição de vida, mas ao mesmo tempo sabe-
se que a realidade ali encontrada ainda sucinta muitos questionamentos: até que ponto estas
vilas estão preparadas para receber os impactos positivos e negativos do processo de
urbanização? Quais seriam as principais modificações espaciais decorrentes de uma
transformação substancial na sua condição de área rural para área urbana? Quais seriam as
permanências e transformações no espaço? Essas são questões que precisam de uma reflexão
mais aprofundada.
161
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populações caboclas da Amazônia. In: ADAMS, Cristina; MURRIETA, Rui; NEVES, Walter
(orgs.). Sociedades Caboclas Amazônicas: modernidade e invisibilidade. São Paulo:
Annablume, 2006. 323-350.
SOUZA, José Camilo Ramos de. Parintins: A ilha Urbanizada. Manaus, Universidade
Federal do Amazonas, 1998 39 f.. Monografia (Bacharelado em Geografia) Universidade
Federal do Amazonas, Manaus, 1998.
_____. O currículo da escola de várzea e o ensino de geografia no município de
Parintins. 2006, 146 f. Dissertação (Mestrado em Educação- Programa de Pós graduação em
Educação). Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2006.
_____. Vila Amazônia: Considerações preliminares sobre a reorganização de um espaço
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científica-CNPQ). Universidade Federal do Amazonas, Parintins, 1994.
SOARES, Beatriz Ribeiro; MONTES, Silma Rabelo; PESSÔA, Vera Lúcia Salazar. Rural e /
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USP/EGAL, 2005. CD- ROM.
SOUZA, Tadeu de. Missão Vila Nova: Parintins (dos Jesuítas aos missionários do Pime).
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SOUZA, Tadeu de. Crônicas de Vila Nova. Manaus: Imprensa Oficial do Estado do
Amazonas, 1982.
TEIXEIRA, Lázaro. Várzea: Parâmetros para uma proposta de exploração sustentada, no
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Especialização em Educação Ambiental). Universidade Federal do Amazonas, Parintins,
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VAZ, Florêncio Almeida. Ribeirinhos da Amazônia: Identidade e Magia na Floresta.
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_____. A emergência de uma nova ruralidade nas sociedades modernas avançadas: o “rural”
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Janeiro. Ano 2000, revista semestral. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Disponível e
em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/brasil/cpda/estudos/primeira.htm. Acesso
em: 02/09/2009. 87-145.
WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica: estudo do homem nos trópicos. 3. ed.
São Paulo: Edusp, 1988.
WITKOSKI, Antônio Carlos. Terras, florestas e águas de trabalho: os camponeses
amazônicos e as formas de uso de seus recursos naturais. Manaus: Edua, 2007.
167
APÊNDICES
168
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Departamento de Geografia
Mestrado em Geografia
FORMULÁRIO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL
1. IDENTIFICAÇÃO
1.1- Idade:__________ Sexo: M F
Estado Civil: casado solteiro viúvo amigado separado
Posição familiar:_______________________ idade: _______
1.2 Local de Nascimento: Na própria vila -Sede do Município - Zona Rural do
Município - Outro Município Qual:_________________________- Outro Estado
Qual:__________________________
1.3 Tempo de Moradia: 01 ano - 02 a 04 - 05 a 07 - 08 a 10 10 a 15 – 15 a
20 – Mais de 20
2. COMPOSICÃO DA FAMÍLIA
2.1- unifamiliar- Quantas pessoas:____ multifamiliar- Quantas famílias ______
Quantas pessoas:_____________
3. INFORMAÇÕES GERAIS
3.1 Tipos de transporte utilizados pelos moradores na Vila:
Moto  - Carro  - Bicicleta - Outros
Quais:_______________________________________
3.1.2 Tipo de transportes utilizados pelos moradores para ir a outras localidades:
Barco  - Canoa - Outros
Quais:____________________________________________________
3.2 OCUPAÇÃO/RENDA
3.2 De onde provém a renda familiar:
Agricultura - Pesca - Pecuária - Artesanato - Extrativismo- Funcionário
Público - Outros Qual :____________________________________________________
3.2.1 No caso de atividade agrícola, quais os principais produtos:
Mandioca - Macaxeira - Frutos Hortaliças - Farinha - Plantas medicinais -
Juta e/ou Malva - Outros Qual:__________________________________________
3.2.2 No caso da Pecuária Quais as principais atividades: Bovinocultura - Avicultura -
Bubalinocultura - Suinocultura - Pisicultura - Outros
3.2.3 No caso da pesca, quais os tipos de utensílios utilizados
Malhadeira - Anzol  - Caniço- OutrosQuais:_____________________
APÊNDICE A: Formulário aplicado nas vilas
169
3.3 Comercialização dos Produtos
3.3.1 Locais de Comercialização : Na própria vila - Cidade de Parintins - Manaus
Outros municípios
3.3.2 -Forma de Comercialização: Atravessador - Comerciante - Direto ao consumidor
4- RENDA FAMILIAR:
Não tem renda nenhuma
Até 1 salário mínimo
Até 2 salários mínimos
Até 3 salários mínimos
Até 4 salários mínimos
5 salários mínimos ou mais
Carteira assinada: sim. quantos:_____ não, quantos___________
5 RENDA SOCIAL: BENEFÍCIOS E AUXÍLIOS RECEBIDOS PELOS MORADORES
Bolsa Família
- Auxílio Doença INSS - Aposentadoria - Outros
6. HABITAÇÃO
Quanto tempo mora no local: ______ anos _____ meses.
Tipo de construção: Alvenaria madeira palha taipa mista
especificar: ______________________________________________________________
6.3- Tipo de cobertura: amianto alumínio barro palha cavaco
Outros:___________________________________________________________________
6.4 – Tipo de residência: Quarto casa estância
outro:__________________________
6.5- É proprietário: sim comprou pronta construiu. como:_________________
não cedida alugada - valor aluguel: ______________
6.6- Nº de cômodos:_________ Nº de banheiros: ________ dentro da casa: fora de casa
6.7. O terreno foi: comprado ocupado
doado cedido. Por quem: ___________________________
Tamanho do terreno: ______ x _______.
6.8. A área do terreno onde foi construída a casa é: plano encosta alagada
6.9. A área do terreno: foi desmatada já estava desmatada
170
7. INFRA- ESTRUTURA URBANA
Água:
7.1 - Água: encanada poço artesiano cacimba igarapé chuva
Outro:_______________ 7.2- A água é tratada: não - sim Qual: Clorada - Fervida
- Filtrada - Coada - Outros: ______________________________________________
Esgoto: Destino dos Dejetos
7.3 : rede de esgoto- fossa séptica - fossa negra Outro :____________________
Lixo:
7.4. - Lixo: queima - enterra no quintal - joga a céu aberto
A forma como se desfaz do lixo é prejudicial: sim não
Energia:
7.5-Energia elétrica: sim rede gato motor outro:________________
não iluminação a: querosene vela outro: ___________
Iluminação rua: existe não existe
Pavimentação:
7.6- Pavimentação: sim asfalto calçamento Outro:___________________
não barro piçarra
8. ACESSO AOS SERVIÇOS URBANOS:
Saúde:
8.1 -Quando adoece vai ao : Hospital na cidade posto de saúde da vila  - rezador -
usa ervas medicinais - outros : _______________________________________
8.2 Quais as principais
doenças:___________________________________________________________________
8.3 Considera os serviços de saúde: ótimo -bom - regular -péssimo - nunca
utilizou -não sabe informar
8.4 É visitado constantemente pelo Agente Comunitário de Saúde: Sim - Não
9. EDUCAÇÃO
9.1 Quantas pessoas na família estudam: ______________________________________
9.2 Grau de Instrução: Não alfabetizado- Ens. Fundamental Incompleto - Ens.
Fundamental Completo - Ens. Médio Incompleto - Ensino Médio Completo -
Universitário
9.3 . Tem crianças em idade escolar fora da escola: sim quantas: ____ não
9.4 Quantas crianças na Escola: ________________________________________________
9.5 . Considera a escola: ótima boa regular péssima não sabe informar
10 . MEIOS DE COMUNICAÇÃO:
Rádio - Televisão - Telefone - Outros Qual:_________________________ - Não
tem
171
11. SEGURANÇA
11.1 Há violência na área onde mora: sim O mais freqüente:
__________________não
11.2 Quais os principais problemas de segurança na vila:
___________________________________________________________________________
11.3 Os problemas de violência aumentaram nos últimos anos: sim não
12. FORMAS DE LAZER: Futebol - Festas - Visita de Amigos - Leituras - Outros
Jogos Quais :_________________________________________________________
13. PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS SOCIAIS
Associação de Produtores - Conselho Paroquial - Conselho Comunitário - Grupo de
Jovens - Clube de Mães - Grupo de Esportes - Cooperativas - Outros
Quais:________________________________- Não Participa
13.1. Freqüência que participa dos encontros em grupos na comunidade
Sempre - Às vezes - Nunca
14. RELIGIÃO : Católica - Evangélica - Outra
Qual:___________________________________
NOME DA VILA____________________ COMUNIDADE:_____________________FORM.Nº.

ENTREVISTADOR:_______________________________________________DATA: _____________
172
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Departamento de Geografia
Mestrado em Geografia
PESQUISA: ESTUDO SOCIOAMBIENTAL DE VILA AMAZÔNIA, CABURI E
MOCAMBO
Roteiro de Entrevistas
Moradores Antigos (Mocambo, Caburi e Vila Amazônia)- 06
Como você classifica o lugar onde mora? É área urbana ou rural? Comunidade,Vila ou
cidade?
Porque do nome Mocambo/Caburi/Vila Amazonia? Quem deu esse nome?
O senhor sabe quando ela foi formada? E por quem? Quantas pessoas moravam no
início?
Como o senhor(a) analisa a Vila/ Agrovila antigamente? Como ela era Antigamente?
É bom morar na vila? Gosta de morar aqui? Porque?
Como se dá o relacionamento entre os moradores?
Você conhece seus vizinhos? Você conversa com seu vizinho, como conversam, ou
onde?
O senhor (a) poderia nos informar quando foi que chegou a energia elétrica e água
encanada para a Vila?
Você saberia me informa quando foi que começaram a asfaltar a vila? Ou quando veio
a energia elétrica e a água encanada?
Quais as principais mudanças que ela sofreu nos últimos anos?
O senhor gosta mais dela antes ou agora?
O que acha que deve ser melhorado?
Aqui as mulheres ainda usam os serviços de parteiras para ter seus filhos? Ou vão
direto ao hospital da cidade?
Policial ou responsável pelo posto policial: (Vila Amazônia e Mocambo ou Caburi) -02
Durante a entrevista observar a estrutura do posto e pedir permissão para fotografar as
dependências.
Desde quando o posto está funcionando na Vila/ Agrovila?
Na sua opinião, quais os principais problemas de segurança na Vila/ Agrovila?
Média de ocorrências por mês ou ano?
Quando alguém é detido, qual é o procedimento adotado?
Quais as ocorrências mais comuns?
A população local, colabora com a segurança?
Como é a relação com os moradores?
APÊNDICE B: Roteiro de Entrevistas
173
Funcionário e/ou responsável pelo posto de saúde-01
Durante a entrevista observar a estrutura do posto e pedir permissão para fotografar as
dependências
Quantidade de funcionários que estão trabalhando no posto? Quantos médicos?
Enfermeiros? Auxiliar de enfermagem?
Dias e horários de funcionamento?
Quantas pessoas são atendidas, por dia, mês?
Quais as principais doenças?
Quais são os serviços de atendimento que são prestados?
Quais as Principais carências e dificuldades?
Comerciante: (Caburi e Vila Amazônia)-01
De onde vem os produtos que o senhor comercializa?
O senhor vende a prazo? Ou só a vista?
Vende para moradores de outras comunidades rurais?
Quando é a melhor época de venda no mês?
Liderança (Presidente) (Mocambo, Caburi e Vila Amazônia-03
Qual a sua visão sobre os serviços da Vila? E quais as maiores necessidades da
mesma?
Porque do Nome da vila?
Qual é a sua opinião sobre a renda da Vila?
Como as pessoas adquirem as antenas parabólicas? quanto custa, de quem compra,
onde compra?
Qual é a sua opinião sobre as famílias?
Pedir para descrever as manifestações culturais da vila (quais são, período, dias, como
se organizam e etc.)
Quem organiza a festa de São Sebastião? Quem participa? Quem a fundou? Quais as
principais atividades que envolvem a festa?
Qual é a sua opinião sobre Segurança? Como é a relação com os policiais da vila?
Quais os principais problemas da vila?Soluções?
Como o senhor ver a questão do melhoramento das ruas da vila?
Quais os dias e horários dos barcos que fazem o translado até a cidade? (pegar nomes
dos barcos, tirar fotos desses barcos), perguntar a média do preço das passagens de
barco
Pedir pra falar um pouco sobre a estrada que liga As Agrovilas( quantos km tem,
condições de tráfego, quando foi aberta, a freqüência que é utilizada pelos moradores,
os benefícios que trarão a comunidade se for asfaltada e etc).
Quantas escolas existem na vila e quais as séries atendidas?
Pescador - (Caburi e Vila Amazônia)-01
Pedir para descrever sua atividade, desde quando sai de casa até o seu retorno.
Onde vende? na vila? na sede municipal?Vende à vista? Fiado?
Quanto apura na venda? Acha justo o preço pago pelo consumidor?
174
Qual a melhor época de venda na semana ou no mês?
Tudo que pesca é para a venda? Tira parte para seu consumo? Quanto?
O senhor mesmo fabrica seus instrumentos de pesca ou já compra pronto? Se compra,
é na cidade ou na própria vila?
Agricultor-(Caburi e Vila Amazônia)-01
Pedir para descrever sua atividade, desde quando sai de casa até o seu retorno.
Onde vende? na vila? na sede municipal?Vende à vista? Fiado?
Quanto apura na venda?
Qual a melhor época de venda na semana ou no mês?
Tudo que produzido é para a venda? Tira parte para seu consumo? Quanto?
Qual o significado da palavra “centro” para o senhor, a que se refere?
Quem cuida do quintal da casa?
Porque cerca a casa? Porque mandou murar ou cercar?
Perguntar se ainda existe a prática do puxirum ou mutirão? (ajuda mútua entre os
agricultores do campo)
175
ANEXO
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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