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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO CCHE/FAED
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE
LAURA PERETTO SALERNO
QUERIDA ENSINA: PRECEITOS DE COMPORTAMENTOS
FEMININOS EM PÁGINAS DA REVISTA QUERIDA (1958-1968)
FLORIANÓPOLIS SC
2009
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LAURA PERETTO SALERNO
QUERIDA ENSINA: PRECEITOS DE COMPORTAMENTOS
FEMININOS EM PÁGINAS DA REVISTA QUERIDA (1958-1968)
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade do Estado de
Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Educação.
Orientadora: Prof. Drª Maria Teresa Santos
Cunha
Linha de Pesquisa: História e Historiografia
da Educação
FLORIANÓPOLIS SC
2009
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LAURA PERETTO SALERNO
QUERIDA ENSINA: PRECEITOS DE COMPORTAMENTOS
FEMININOS EM PÁGINAS DA REVISTA QUERIDA (1958-1968)
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Educação.
BANCA EXAMINADORA
Orientadora: _________________________________
Prof. Drª Maria Teresa Santos Cunha
PPGE UDESC
MEMBROS
_________________________________ __________________________
Prof. Drª Raquel de Barros Pinto Miguel Prof. Dr. Tito Sena
UFSC UDESC
________________________________
Prof. Drª Gladys Mary Ghizoni Teive
PPGE UDESC
Florianópolis/SC, 04 de dezembro de 2009
AGRADECIMENTOS
À professora Maria Teresa, querida orientadora, o meu reconhecimento ao
seu esforço e paciência em minorar os percalços do caminho. Aos professores
Raquel de Barros Pinto Miguel, Gladys Mary Ghizoni Teive e Tito Sena, pela leitura
cuidadosa e sugestões fundamentais apresentadas durante o Exame de
Qualificação. À Vânia, diretora do NEI Tapera, pelo apoio. Aos professores e demais
funcionários do NEI Tapera, meus colegas e amigos, por compreenderem as minhas
ausências. À querida colega Raquel, pela receptividade e acolhimento às minhas
dúvidas e ansiedades, pela parceria em todos os outros momentos. À Gabriela e
Anderson, da secretaria acadêmica, pelos simpáticos e ágeis atendimentos aos
meus pedidos. Aos professores e funcionários do programa de pós-graduação da
UDESC, sempre muito gentis. À UDESC e à Prefeitura Municipal de Florianópolis,
por proporcionarem as condições para dedicar-me ao Mestrado. Aos meus pais,
peças-chave na minha formação escolar. Às tias Clara e Carmen, pelas tantas
revistas que hoje compõem o meu acervo. Ao meu marido e companheiro, por tudo.
À Deus, sem o qual nada seria possível... A todos aqueles que, de alguma forma,
contribuíram para a realização deste trabalho.
Muito obrigada!
De que valeria a obstinação do saber se ele
assegurasse apenas a aquisição dos
conhecimentos e não, de certa maneira, e
tanto quanto possível, o descaminho
daquele que conhece? Existem momentos
na vida onde a questão do saber se se pode
pensar diferentemente do que se pensa e
perceber diferentemente do que se vê é
indispensável para continuar a olhar ou a
refletir.
Michel Foucault (1998, p.13)
Toda leitura difere de outra menos pelo texto
que pela maneira que é lida e [...] um
sistema de signos verbais e icônicos é uma
reserva de formas que esperam do leitor o
seu sentido.
Michel de Certeau (1994, p.264)
RESUMO
SALERNO, Laura Peretto. Querida ensina: Preceitos de comportamentos
femininos em páginas da Revista Querida (1958-1968). 120f. Dissertação
(Mestrado em Educação Linha de pesquisa: História e Historiografia da Educação)
Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em
Educação, Florianópolis, 2009.
Este trabalho tem como objetivo procurar reconhecer e analisar modos de
comportamento que circulavam nos discursos presentes em espaços significativos
do periódico, tais como contos, coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas, seções
de cartas, e propagandas das Revistas Querida (1958-1968). Busca-se
compreender, ainda, que representações de uma época estes discursos, veiculados
nas páginas das revistas selecionadas, ecoaram. As fontes da pesquisa são
compostas por 31 volumes da Revista Querida com exemplares que representam os
anos compreendidos entre 1958 e 1968. A presente pesquisa busca apresentar um
pouco do contexto em que o periódico analisado estava inserido, procurando
evidenciar um possível ―lugar‖ da mulher leitora de Querida, bem como a importância
das revistas femininas para esta mulher neste dado lugar e momento histórico. A
partir disto privilegia-se fazer uma breve caracterização acerca da revista:
surgimento, produção, editora, circulação, enfatizando o poder educativo deste tipo
de impresso. Deste modo faz-se necessário buscar perceber o que a revista Querida
fez circular entre suas leitoras e, assim, que imaginários e comportamentos
contribuiu para criar. Para a consecução deste trabalho foi realizado um diálogo
teórico com os pressupostos dos Estudos Culturais em Educação e da História
Cultural, em interface com os discursos de gênero em mídia impressa.
PALAVRAS-CHAVE: Educação feminina. História da educação. Revistas.
Discursos de gênero. Civilidades.
ABSTRACT
SALERNO, Laura Peretto. Querida teaches: Precepts of female behaviors
in pages of the Querida Magazine (1958-1968). 120f. Dissertação (Mestrado em
Educação Linha de pesquisa: História e Historiografia da Educação)
Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em
Educação, Florianópolis, 2009.
This paper aims to try to recognize and analyse which ways of behaviour were
presented by the speeches in significant spaces of the journal, such as stories, Right
and Wrong in Little Things column, letter pages and advertisements of Querida
magazines (1958-1968). It is looked to understand, still, which representations of a
time these speeches, conveyed in the pages of the selected magazines, echoed. The
fountains of this research are composed by 31 volumes of the Querida magazine
with examples that represent the years between 1958 and 1968. The present
research looks to present a little of the context in which the analysed magazine was
inserted, trying to show a possible "place" for the Querida's reader, as well as the
importance of the women magazines for this woman at this given place and historical
moment. From this, the research privileges to show aspects of the magazine
trajectory: its appearance, production, circulation, emphasizing the educative power
of this type of press. It is also necessary to look for what the Querida magazine made
circulate between his readers, and, that way, what imaginary and behaviors it
contributed to create. To achieve this research there was a dialogue with the
theoretical assumptions of Cultural Studies in Education and Cultural History,
interfaced with gender discourses in printed media.
KEY-WORDS: Women education. History of education. Printed media. Gender
discourses. Civilities.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01 - Querida nº106, p.19, 1958.......................................................................30
Figura 02 - Querida nº354, p.09, 1968.......................................................................30
Figura 03 - Querida nº133, p.50, 1959......................................................................31
Figura 04 - Querida nº354, p.4, 1968........................................................................32
Figura 05 - Querida nº168, p.76 e77, 1961................................................................39
Figura 06 - Querida nº 172, p.86 e 87, 1961..............................................................39
Figura 07 - Querida nº 133, p.50, 1959......................................................................44
Figura 08 - Querida nº 176, p.53, 1961......................................................................44
Figura 09 - Querida nº 122, p.109, 1959....................................................................47
Figura 10 - Querida nº 177, p.31, 1961......................................................................48
Figura 11 - Querida nº 354, p.69, 1968 .....................................................................51
Figura 12 - Querida nº 274, p.38, 1965......................................................................51
Figura 13 - Querida nº 270, p.14, 1965......................................................................51
Figura 14 - Querida 246, p.30, 1964.....................................................................63
Figura 15 - Querida 122, p.34, 1959.....................................................................76
Figura 16 - Querida 172, p.32, 1961.....................................................................77
Figura 17 - Querida 172, p.32, 1961.....................................................................77
Figura 18 - Capa Revista Querida nº 122, 1959.....................................................83
Figura 19 - Capa Revista Querida nº 172, 1961 ....................................................83
Figura 20 Capa Revista Querida nº 160, 1961...................................................84
Figura 21 - Capa Revista Querida 342, 1968 ....................................................85
Figura 22 - Capa Revista Querida 351, 1968 ....................................................85
Figura 23 - Querida 133, p.09, 1959..................................................................88
Figura 24 - Querida 133, p.13, 1959..................................................................88
Figura 25 - Querida 348, p.31, 1968..................................................................89
Figura 26 - Querida 348, p.32, 1968..................................................................89
Figura 27 - Querida nº 122, p. 45, 1959..................................................................96
Figura 28 - Querida nº 122, p. 45, 1959..................................................................99
Figura 29 - Querida nº 168, p. 93, 1961................................................................101
Figura 30 - Querida nº 133, p. 89, 1959................................................................102
Figura 31 - Querida nº 348, p. 09, 1968................................................................106
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Exemplares das Revistas Querida............................................................15
Tabela 2 Categorias de Análise .............................................................................17
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................12
2 A REVISTA QUERIDA NAS DÉCADAS DE 50 E 60................................27
2.1 REVISTA QUERIDA: SURGIMENTO, PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO.......27
2.2 DÉCADAS DE 50 E 60 NAS PÁGINAS DE QUERIDA.............................35
3 NAS PÁGINAS DE QUERIDA: PRINCÍPIOS DE CIVILIDADE PARA SUAS
LEITORAS ................................................................................................55
3.1 CERTO E ERRADO NAS PEQUENAS COISAS.......................................62
4 DE MOÇA DIREITA À RAINHA DO LAR: PERFIS DESEJADOS.............75
4.1 MOÇA DIREITA/MOÇA LEVIANA.............................................................75
4.2 A RAINHA DO LAR ..................................................................................90
5 PARA ALÉM DAS PÁGINAS DE QUERIDA............................................108
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................111
ANEXOS........................................................................................................118
12
1 INTRODUÇÃO
Ao debruçar-se sobre a vida e a morte dos
homens no passado, o historiador debruça-
se sobre sua própria. (DEL PRIORE 2002, p.
18)
Mídia impressa, educação feminina, gênero. A iniciativa de desenvolver uma
investigação sobre tais temas é fruto de inúmeros questionamentos feitos em
relação à presença da mídia, em especial a mídia impressa feminina, na construção
das relações de gênero que envolveram e envolvem minha trajetória pessoal,
escolar e profissional.
Por muitas vezes estranhei as relações de gênero que se mostravam
presentes em meu círculo familiar e de amizades. Quando ingressei na Universidade
e, por intermédio de alguns estudos realizados, percebi o quanto a mídia poderia
auxiliar a estabelecer ou perpetuar determinados padrões, passou a preocupar-me o
fato de amigos e familiares próximos trabalharem com publicidade e jornalismo. Eu
ansiava compreender de que forma e até que ponto as concepções de gênero que
eles possuíam poderiam ser repassadas a outras pessoas através de seu trabalho.
No decorrer de meus estudos e de minha atuação como professora, vários
foram os momentos em que as relações entre os gêneros se mostraram importantes,
mas foi especialmente durante a disciplina de Currículo e Programas que tive no
Curso de Pedagogia e, posteriormente, na disciplina de Currículo e Cultura do Curso
de Especialização em Currículo e Cultura, que despertei para o tema.
Neste curso tive contato com uma concepção de currículo diferente da que
possuía e que me fez encarar a educação de uma forma mais ampla, percebendo o
currículo como construção social, como uma seleção de cultura que atende a
interesses específicos, como toda e qualquer relação social que ocorra dentro e fora
da escola, em uma variedade de locais sociais, incluindo o espaço escolar, mas não
se restringindo a ele. Percebi, assim, que currículo é mais do que uma simples
coletânea de disciplinas escolares; ele está presente em nossas atitudes, nas
organizações de espaço e tempo e se apresenta não apenas no ambiente escolar,
13
mas em todo o contexto educacional, como em teatros, escolas, igrejas, músicas,
livros, revistas, mídias em geral. Além disso, foi-me importante perceber que o
currículo pode perpetuar discursos de gênero, assunto que sempre chamou minha
atenção.
Apesar de esse estudo ter me proporcionado novos entendimentos a respeito
das questões de educação, gênero e mídia, senti necessidade de aprofundar o
tema, a fim de clarear pontos ainda incompreendidos por mim. Desse modo, ao
ingressar no curso de Mestrado em Educação, tive a oportunidade de folhear
manuais de civilidade e revistas brasileiras de décadas passadas, integrantes do
acervo de periódicos do LABPAC / UDESC
1
, o que acabou por influenciar a minha
decisão de realizar uma pesquisa a partir de mídia impressa. Com isso veio logo à
minha lembrança um conjunto especial de revistas femininas veiculadas nas
décadas de 50 e 60, no Brasil. Revistas que foram lidas, colecionadas e que
permaneciam ainda guardadas por queridas familiares e algumas de suas amigas.
Conjunto de revistas que já, em outro momento, havia atraído muito a minha
atenção: as revistas Querida.
A revista Querida surgiu no ano de 1954, editada pela Rio Gráfica Editora e
circulou pelas bancas das principais cidades brasileiras. Revista de entretenimento
com edição quinzenal, Querida tinha como público alvo mulheres adultas, letradas,
de classe média das principais cidades do Brasil. O próprio título, Querida‖, já
poderia ser entendido como um protocolo de leitura, que designava seu público
leitor. Querida pretendia ser amiga, companheira, confidente; leitura voltada
especialmente às mulheres. Mas quem eram as mulheres que liam estas revistas?
Que discursos de gênero estavam presentes em suas colunas, capas,
propagandas? Até que ponto estes discursos veiculados nas páginas das revistas
Querida ecoaram representações de uma época?
É bem verdade que provavelmente eu não estaria fazendo tais
questionamentos se não tivesse recebido parte das revistas Querida, que serviram
de fontes à pesquisa realizada, de familiares muito próximas que foram outrora
1
LABPAC / UDESC - Laboratório de Patrimônio Cultural institucionalizado no primeiro semestre de
2008, pelo Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina. O LABPAC é
coordenado pela professora Doutora Janice Gonçalves e vice-coordenado pela professora Doutora
Maria Teresa Santos Cunha, e está aberto à participação de docentes e discentes de outros cursos
de graduação e pós-graduação da UDESC, bem como de profissionais e interessados em geral nas
questões relacionadas à preservação do patrimônio cultural.
14
leitoras deste periódico. Todavia é importante ressaltar que, possivelmente, estas
revistas chegaram a mim porque demonstrei interesse, um interesse que de algum
modo tem suas razões em minha história. Talvez seja esta uma forma de procurar
no passado fatos que me auxiliem a compreender melhor certas questões do
presente. Neste sentido Raquel Glezer (2007, p. 24) coloca:
É o presente que direciona o conhecimento histórico, pois é
sempre do momento vivido que surgem as questões para o
conhecimento de determinado aspecto do passado. É nas angústias e
necessidades da sociedade que o historiador encontra o elemento inicial
de seu trabalho as suas hipóteses orientadoras. A História é
construção de conhecimento sobre uma questão perturbadora do
presente, que analisa o passado para explicar, compreender ou
interpretar o fenômeno em questão.
De acordo com Peter Burke (1992, p. 31), para compreender o presente é
importante buscar conhecer as normas e práticas do passado e as transições que
foram ocorrendo em diferentes períodos. Nesse intento dois aspectos devem ser
considerados: as mudanças e as continuidades. Às vezes, práticas e atitudes
parecem assumir apenas uma outra roupagem, mostrando, numa análise mais
aprofundada, que a maneira de pensar certas questões ainda se encontra presa aos
padrões de outras épocas. Deste modo, a história contada pelas páginas de Querida
(1958-1968) será, de certa forma, revista e recontada a partir dos problemas do
presente e das perguntas que farei aos documentos.
As fontes de que disponho para pesquisa são compostas por 31 volumes da
Revista Querida com exemplares que representam todos os anos compreendidos
entre 1958 e 1968, como é possível visualizar na tabela a seguir.
15
Tabela 1 - Exemplares das Revistas Querida
Acervo pessoal de Laura Peretto Salerno - 2008
Revistas de entretenimento são objetos ordinários
2
, e como tais facilmente
descartáveis. É difícil encontrar quem valorize estes materiais a ponto de guardá-los
por tantos anos. Os números que possuo fazem parte de meu acervo pessoal
coletado a partir de doações de familiares, antigas leitoras de Querida, além de
inúmeras buscas em sebos
3
.
Com as fontes de pesquisa em mãos surgiu o propósito de investigar nestes
exemplares da Revista Querida (1958-1968) quais eram os discursos para o
feminino que se descortinavam a partir de suas reportagens, contos, capas, colunas,
propagandas. Foram escolhidas para estudo a seção de cartas, por representar
muito da subjetividade das leitoras; a coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas,
por ter uma inclinação clara à prescrição de normas de civilidade, aqui entendidas
no sentido dado por Norbert Elias (1994) como um "abrandamento das pulsões"; os
contos, por sua importância na formação do imaginário feminino; além das capas e
2
Objetos ordinários são aqui compreendidos como objetos da ordem do comum, sem qualquer
intenção de concedê-los um sentido pejorativo. No Brasil o termo está consagrado numa vasta
produção. Destaca-se a produção de um grupo que tem se dedicado ao tema composto por Ana
Chrystina Venâncio Mignot (2000, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2008), Maria Helena Câmara
Bastos (2000, 2002, 2005, 2006), Maria Teresa Santos Cunha (2000, 2002, 2003, 2005, 2006, 2007,
2008) e Maria Stephanou (2005, 2008), conforme consta nas referências bibliográficas desta
pesquisa.
3
Além das revistas cedidas por parentes próximas, algumas das revistas do acervo foram
encontradas em sebos de Porto Alegre (Sebo Leal), Curitiba (Sebo Ousados) e São Paulo (Total
Usados).
Ano
Jan
Fev
Abril
Maio
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
1958
Nº106
Nº109
1959
Nº122
Nº133
1960
Nº158
1961
Nº160
Nº168
Nº172
Nº176
Nº177
1962
Nº202
Nº204
1963
Nº216
1964
Nº245
Nº246
Nº251
1965
Nº268
Nº270
Nº274
1966
Nº303
Nº305
1967
Nº308
Nº316
1968
Nº335
Nº342
Nº348
Nº350
Nº351
Nº352
Nº354
16
publicidades, por entender que estas trabalham com imagens e, também por isto,
produzem uma forma de pedagogia, educam e seduzem.
O objetivo seria então procurar compreender que modos de comportamento
tais discursos poderiam ter contribuído para sugerir e que representações
4
de uma
época estes discursos, veiculados nas páginas das revistas Querida (1958-1968),
ecoaram. Como as fontes utilizadas constituem-se de 31 revistas Querida, pareceu-
me importante ir à procura de sua história. Partindo disto busquei perceber o que a
revista Querida fez circular entre suas leitoras e, assim, que imaginários
5
contribuiu
para criar sobre os comportamentos esperados para as ditas ―moças direitas‖ da
época.
A análise de documentos escritos, neste caso revistas femininas, requer
leitura vigilante e minuciosa, que se atente não apenas às linhas a serem lidas, mas
também à forma de composição do texto da revista, à forma de produção e
apresentação do impresso, sua provável circulação. Isso se vincula às análises
advindas da História da Leitura e da Cultura Escrita
6
.
4
A respeito do conceito de representação, o sociólogo Pierre Bourdieu (1983, p.42) afirma: ―homens
e mulheres constroem representações de si mesmos e explicam suas práticas de acordo com tais
representações. Dessa forma, numa sociedade patriarcal, as referidas práticas determinam atitudes
de dominação/submissão. A sociedade através da família e depois através de outros canais (escola,
religião, meios de comunicação), introjeta nos indivíduos as representações geradoras de atitudes e
comportamentos que se mantêm ao longo de suas vidas.‖ Sabe-se, todavia, que o conceito de
representação é polissêmico e pode remeter a uma gama de formulações teóricas, como o conceito
de representações sociais, coletivas, mentais, cognitivas, simbólicas, entre outras. Deste modo,
parece importante esclarecer que, no presente trabalho de pesquisa, o conceito de representação a
ser utilizado será o conceito advindo da História Cultural, trazido pelo historiador Roger Chartier, que
compreende a representação como produto de uma prática. Para Roger Chartier (1990, p.20), a
representação pode ser entendida como ―instrumento de um conhecimento mediador que faz ver um
objeto ausente através da substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o
figurar como ele é‖.
5
Compreende-se o imaginário como habilidade de criação/recriação própria ao ser humano, como
capacidade humana para representação do mundo, segundo Sandra Pesavento (2003). Para
Jacques Le Goff, por sua vez, o imaginário é dimensão (1994: p. 11). Ele pertence ao campo da
representação, na medida em que traduz uma realidade exterior percebida, tradução que alimenta o
homem e o faz agir.
6
Ver Gomez, Antonio Castillo. Historia de La cultura escrita: Del próximo oriente antiguo a la sociedad
informatizada. Sotiello-cenero: Ediciones Trea, 2002; e DARTON, Robert. História da leitura. In:
BURKE, Peter. (org.). A Escrita da História. Novas perspectivas. trad. Magda Lopes. São Paulo:
Editora UNESP 1992.
17
A fim de organizar conceitos e possíveis discursos de gênero que surgiam
diante de meus olhos durante a leitura de tais periódicos, fez-se necessário criar
categorias que auxiliaram no momento da análise dos dados. Estas categorias são:
moça direita/moça leviana, beleza feminina, sexualidade contida, infidelidade,
marido feliz família feliz, rainha do lar, a mulher divorciada, contos ousados, regras
de civilidade, moda feminina, vida profissional, industrialização e bens de consumo,
lazer. A tabela subsequente apresenta estas categorias, juntamente com as edições
em que podem ser encontradas e o número, total, de vezes que aparecem:
Tabela 2 Categorias de análise
Categorias
Número de vezes
que aparecem
Edições em que aparecem
Moça direita/Moça
leviana
86
Todas
Beleza feminina
92
Todas
Sexualidade contida
23
122, 133, 158, 160, 172, 176, 177, 204, 216, 245, 246,
251, 268, 270, 274, 285, 303, 305, 308, 316,
Infidelidade
19
168, 176, 202, 204, 216, 245, 246, 251, 268, 270, 274,
285, 303, 305, 308, 316, 352.
Marido feliz família
feliz
77
Todas
Rainha do lar
91
Todas
A mulher divorciada
11
158, 177, 202, 216, 245, 251, 268, 285, 308, 335, 352.
Contos ousados
29
106, 109, 133, 158, 160, 168, 172, 176, 202, 204, 216,
245, 246, 251, 268, 274, 285, 303, 305, 308, 316, 335,
342, 348, 350, 351, 354.
Regras de civilidade
85
Todas
Moda feminina
36
Todas
Vida profissional
14
168, 172, 246, 270, 274, 285, 303, 316, 335, 342, 348,
352, 354
Industrialização e
bens de consumo
61
Todas
Lazer
17
109, 122, 133, 158, 177, 202, 204, 216, 245, 285, 303,
305, 308, 316, 335, 350, 351.
Fonte - Acervo pessoal da autora
18
É importante considerar que, assim como tais categorias emergiram das
fontes, foi também a partir da leitura atenta das revistas que identifiquei algumas
categorias que pareciam repetir-se com maior freqüência que as demais, são elas:
moça direita/moça leviana, marido feliz - família feliz, rainha do lar, beleza feminina,
regras de civilidade, como é possível notar na tabela 2. Nestas categorias inspirei-
me para criar os capítulos desta dissertação, que serão posteriormente
apresentados.
A partir disto retornei às fontes, mas neste momento com um novo olhar. As
categorias acima referidas me ajudaram a destacar nas revistas Querida, por mim
lidas, as seções que mais as representavam, ou seja, aquelas seções em que as
categorias selecionadas pareciam se mostrar mais presentes. Estas seções seriam:
a seção de cartas, os contos, a coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas, e
algumas das propagandas veiculadas nestas revistas. Como o seria possível que
eu esgotasse as fontes, nem mesmo tais seções nesta pesquisa, optei por pinçar
frases, parágrafos, expressões e imagens que, a meu ver, bem representassem
ditas categorias, e passei a trabalhar com elas a fim de tecer os capítulos do
presente trabalho.
Esta pesquisa está inserida no âmbito da História da Educação e, uma vez
que possui como objeto a educação feminina através de uma determinada mídia
impressa, parece viável buscar compreender as contribuições que os Estudos
Culturais brindam ao referido trabalho. Os Estudos Culturais são uma área
multifacetada de estudos que concebe a cultura como campo de luta e arena
política. Nascem da movimentação intelectual que surge no panorama político do
pós-guerra, na Inglaterra, em meados do século XX, provocando uma grande
reviravolta na teoria cultural. Este campo de estudo surge em meio às
movimentações de certos grupos sociais que procuram se apropriar de saberes que
emergem de suas leituras do mundo; que buscam uma educação em que as
pessoas comuns pudessem ter seus saberes valorizados e seus interesses
contemplados (COSTA, 2003). Segundo Silva (2002, p. 133):
No campo dos Estudos Culturais a cultura deveria ser entendida
como o modo de vida global de uma sociedade, como a experiência
vivida de qualquer agrupamento humano. Nessa visão, não há nenhuma
diferença entre, de um lado, as ‗grandes obras‘ da literatura e, de outro,
19
as variadas formas pelas quais qualquer grupo humano resolve suas
necessidades de sobrevivência. Inicialmente restrita às manifestações
culturais ‗autênticas‘ de grupos sociais subordinados, essa definição
inclusiva de cultura iria posteriormente ser ampliada para abranger
também aquilo que na literatura anglo-saxônica é conhecido como
‗cultura popular‘, isto é, as manifestações da cultura de massa: livros
populares, rádio, televisão, a mídia em geral.
De tal maneira, os Estudos Culturais analisam instâncias culturais tais como
museus, filmes, livros, revistas, televisão, publicidades etc, sob a ótica de que ditas
instituições expressam significados social e culturalmente construídos, buscam
influenciar as pessoas e estão envolvidas em complexas relações de poder. Como
afirma Thaís Nívia de Lima e Fonseca (2003, p. 68):
A valorização do cotidiano não significa negligência em relação
aos conflitos sociais e culturais, na verdade presentes nele. A questão é
que nem sempre os conflitos se mostram com clara evidência [...] eles
podem estar nas pequenas estratégias cotidianas, nas diversas
apropriações de valores, saberes, poderes.
A toda forma de educação que tem ficado a cargo de práticas culturais ou
instituições que não a escola, no domínio dos estudos culturais, -se o nome de
pedagogias culturais. Tal noção destaca justamente a centralidade da mídia nos
processos educacionais tecidos para além do espaço escolar. Em outras palavras, a
partir da perspectiva dos Estudos Culturais, o currículo o consiste apenas no
conteúdo aprendido na escola, engloba também o conhecimento transmitido por
outras instâncias, como as midiáticas, por exemplo. Neste sentido, livros, revistas,
televisão etc., possuem um currículo que ensina uma infinidade de práticas,
comportamentos, sonhos e desejos. O currículo, compreendido como um artefato
cultural, é um sistema de significação implicado na produção de identidades e
subjetividades, ou seja, uma prática de produção e veiculação de significados, um
espaço de representações.
Através da perspectiva dos Estudos Culturais, a cultura passa a ser vista
como uma pedagogia, e a pedagogia passa a ser vista como uma forma cultural.
Neste sentido, pode-se inferir que outras instâncias culturais e processos extra-
escolares, são também pedagógicos. Assim sendo, essas instâncias culturais
20
produzem conhecimento, produzem uma pedagogia cultural que contribui para
construir certo tipo de subjetividade e identidade social. É neste contexto que
autores como Marisa Costa, Guacira Lopes Louro e Tomáz Tadeu da Silva tem
importantes contribuições para com este estudo.
É necessário, também, assumir a relevância da História Cultural para esta
pesquisa. De acordo com Fonseca (2003, p. 72), ―a contribuição que a História
Cultural, como campo dotado de aportes teórico-metodológicos, pode dar ao avanço
da História da Educação está no descortinamento de dimensões ainda pouco
exploradas, fora da escola e da escolarização [...]"
O referencial da História Cultural contribui para o entendimento do aspecto da
―cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens
para explicar o mundo‖ (PESAVENTO, 2003, p. 15). Desta forma a referida pesquisa
apóia-se nos conceitos de Roger Chartier, que traz grandes contribuições para este
trabalho, dentre elas esclarece:
A História Cultural é importante para identificar o modo como em
diferentes lugares e momentos uma realidade social é construída,
pensada, dada a ler. Portanto, ao voltar-se para a vida social, esse
campo pode tomar por objeto as formas e os motivos das suas
representações e pensá-las como análise do trabalho de representação
das classificações e das exclusões que constituem as configurações
sociais e conceituais de um tempo ou de um espaço. (CHARTIER, 1990,
p. 18).
Ao enfatizar a expressão ―dada a ler‖, Roger Chartier coloca em destaque a
questão da interpretação. É preciso compreender que história é reinterpretação,
reescritura. Não há como recuperar o passado exatamente como ele se deu.
Ainda na esfera da História Cultural encontra-se a História do Livro e da
Leitura. Segundo Roger Chartier (1999, p. 12) três pólos definem o espaço desta
História: a análise dos ―textos decifrados nas suas estruturas, nos seus objetivos, em
suas pretensões‖; a história do impresso; e o estudos das práticas de leitura ―que se
apossam de maneira diversa desses objetos ou de suas formas, produzindo usos e
significações diferenciados‖. No entanto este trabalho pretende se ater apenas aos
dois primeiros vértices deste triângulo, quais sejam a análise dos textos em seus
objetivos e a história do impresso.
21
A fim de colher contribuições que instrumentalizem teoricamente esta
pesquisa sobre revistas femininas, parece relevante perpassar a história do livro e
da leitura, sem qualquer pretensão de realizar uma digressão sobre a historiografia
da mesma. Neste sentido Robert Darnton, Roger Chartier e Jean Marie Goulemot
auxiliam a compreender a leitura como prática cultural e social. Para pensar a leitura
de revistas femininas como um suporte a normas de civilidade às leitoras, Norbert
Elias traz importantes contribuições.
Carla Bassanezi, Constantina Xavier Filha, Denice Catani, Joana Maria
Pedro, Leoní Serpa, Maria Teresa Santos Cunha, Maria Helena Câmara Bastos,
Raquel de Barros Pinto Miguel, Tito Sena destacam-se por suas pesquisas sobre
imprensa, mídia impressa feminina e educacional. Outros autores e autoras, não
menos importantes, também dão suporte teórico a esta investigação.
Com a intencionalidade de reforçar a importância do papel das revistas
femininas para as mulheres que as liam nas décadas de 1950 e 1960, buscarei rever
alguns pontos da incursão feminina ao mundo da leitura e sua trajetória até a
popularização da mídia impressa feminina, sem a intenção de aprofundar a pesquisa
neste aspecto, mas procurando apontar a função educativa de tais periódicos; um
percurso que permitirá compreender a emergência de práticas de leitura feminina.
Lígia Maria Moreira Dumont, em um artigo intitulado ―Leitura feminina:
motivação, contexto e conhecimento‖ (2007), pontua que a leitura feminina começa
a tomar espaço com o Iluminismo. Segundo esta autora:
A era do Iluminismo, na tentativa de reformar a sociedade,
estimulou os progressos na direção da alfabetização no mundo
ocidental, criando um número novo de leitores nos quais as mulheres
foram incluídas; elas que até então estavam relegadas, em sua maioria,
ao plano de ouvintes das leituras dos homens e do clero. No entanto,
obtiveram permissão de apreciar apenas os textos passados pelo crivo
destes mesmos senhores. (DUMONT, 2007, p. 29).
Ainda de acordo com a referida pesquisadora, ―aos poucos se toma
consciência do poder do conhecimento e da discussão pública de determinados
assuntos como sendo uma ―arma‖ em favor de interesses particulares.(DUMONT,
2007, p. 30). A esfera pública literária adquire, então, um caráter político e passa a
22
discutir que tipo de assunto seria de interesse blico manter em pauta. Por outro
lado, a literatura contribui para endossar e difundir o discurso sobre atributos
considerados naturalmente femininos, que excluíam, inclusive, a criação literária, um
dom tido como essencialmente masculino. A Igreja Católica dos séculos XVII e XVIII,
por exemplo, incentivava as mulheres a ler, mas condenava-as a não escrever,
acreditando assim impedi-las de se expressarem livremente (GOMEZ, 2002). Afinal,
o papel que lhes cabia na sociedade era de mantenedoras da moral e dos bons
costumes e não de criadoras e difusoras de novas idéias.
É somente a partir de 1827 que as meninas são aceitas oficialmente nas
escolas brasileiras. O estudo era de acesso para poucas; lugar de mulher era em
casa cuidando do lar, idéia que persiste até início da segunda metade do século XX.
A expansão do mercado editorial, no final do século XIX e início do século
XX, resultou na fundação e circulação crescente de jornais, revistas literárias,
folhetins, edições populares etc. e conquistou novas camadas de leitores,
principalmente entre o público feminino (GOMEZ, 2002). Os jornais e revistas deste
período, de olho no novo mercado consumidor, dividiam-se por temas
correspondentes ao sexo de seus leitores.
Assim, começa a se ampliar o acesso feminino à leitura, sendo que a maior
diferença entre a leitura masculina e a feminina ficava a cargo do conteúdo. A elas,
em geral, eram dedicados os romances, as reportagens e artigos sobre moda,
culinária, decoração, leituras que objetivavam o divertimento e os cuidados com o
lar; aos homens, também de modo geral, destinavam-se as notícias sobre eventos
públicos, leituras que objetivavam a informação e o estudo.
A valorização das mulheres leitoras como um segmento para o qual deveriam
ser produzidos discursos específicos aparece a partir de meados do século XX. Uma
nova função social, pretendida para a mulher nesse determinado período, favoreceu
a valorização da instrução feminina e, consequentemente, o aumento do segmento
de leitoras. O discurso positivista
7
agregou às funções de e, dona-de-casa e
7
De acordo com Clarisse Ismério (2007, p. 02) O Positivismo, linha teórica da sociologia criada pelo
francês Auguste Comte (1798-1857) que atribuía fatores humanos às explicações dos mais diversos
assuntos, fundamentava-se em um discurso conservador, uma vez que buscava nos vultos e heróis
do passado os exemplos para a organização da sociedade. O caráter conservador é observado no
discurso referente à mulher. Considerando a mulher responsável pela manutenção da moral e pela
realização do culto privado, Auguste Comte propôs modelos de conduta feminina baseados na
23
esposa a função de educadora dos filhos da pátria. O magistério converteu-se em
extensão da tarefa doméstica e maternal. Instruíam-se as mulheres para que elas
próprias pudessem educar ―melhor‖ a sociedade dos homens e ter um trabalho
qualificado aos seus próprios olhos. Poderiam, assim, ser reconhecidas como
colaboradoras para o progresso da humanidade.
Essa mulher, que se encontrava a trabalhar em cargos que fossem uma
extensão de seu papel no lar, tais como os de professora e enfermeira, tinha como
práticas de leitura a leitura solitária de romances e livros de civilidade; a leitura
coletiva de folhetins encartados em jornais e revistas durante serões de família;
assim como a leitura de conselhos sobre moda, higiene, culinária, saúde das
crianças, contos, piadas publicadas em revistas femininas. (ALMEIDA, 2006, p. 14).
À mulher moderna eram consentidas diversas leituras. Isso, entretanto, não
significava que não houvesse preocupação com o que poderia chegar às mãos e
aos olhos, principalmente de moças solteiras (ALMEIDA, 2006). Contudo, apesar de
ainda haver esse tipo de cuidado com o conteúdo da leitura destinada às mulheres,
não era possível ter um total controle do que era lido por elas. De acordo com
Chartier (1990), a leitura silenciosa possibilitou a fuga aos padrões determinados de
leitura feminina e auxiliou na constituição de uma intimidade individual e intelectual,
pois a relação pessoal com o texto, trazida pela leitura solitária, dificultava os
controles do grupo.
As mulheres, dentro de suas casas, tinham tempo para se dedicarem aos
suspiros e soluços das histórias de amor, às fofocas, aos conselhos, às dicas de
moda e culinária das revistas femininas, mas os afazeres do lar vinham em primeiro
lugar. Talvez um dos motivos do sucesso das revistas quinzenais voltadas ao
público feminino tenha sido devido a estes periódicos possibilitarem à mulher
planejar melhor sua leitura, que era feita nos intervalos entre os trabalhos
domésticos. Deste modo as revistas femininas se popularizaram rapidamente e, nas
décadas de 50 e 60
8
, época em que a televisão era ainda incipiente no Brasil,
viveram um momento de sucesso e altas vendagens (BUITONI, 1981). Carla
mentalidade patriarcal, formada ao longo da História da Humanidade. A mulher deveria ser a rainha
do lar e o anjo tutelar de sua família.
8
Recorte temporal desta pesquisa.
24
Bassanezi entende as revistas femininas como uma das melhores portas de entrada
das normas sociais vigentes em um dado período:
As revistas femininas veiculam o que é considerado próprio do
―mundo feminino‖ pelos seus contemporâneos. Seu conteúdo é marcado
pela história. Nunca surgem como idéias revolucionárias, não abrem
caminhos, mas também não podem ficar muito distantes das
transformações de seu tempo, pois correm o risco de perder o seu
público leitor. Ao mesmo tempo, as revistas são capazes de formar
gostos, opiniões, padrões de consumo. Acabam servindo muitas vezes
como guias de ação, conselheiras persuasivas e companheiras de lazer.
(BASSANEZI, 1996, p. 15).
Uma forte particularidade da imprensa feminina é seu cunho sentimental. As
revistas femininas da metade do século XX passam a ser companheiras de suas
leitoras, dialogando com elas sobre problemas cotidianos (BUITONI, 1981). De tal
maneira, estes periódicos podem colaborar para a manutenção de determinados
padrões, veiculando papéis tradicionais de mulher, de comportamento, de
sexualidade. As evidências apontadas em vários estudos indicam que as revistas
femininas participam da edificação da compreensão sobre o que significa ser
mulher, indicando formas de pensar sobre elas mesmas e seus estilos de vida.
É importante pensar no papel das revistas, de um modo geral, mas atendo-se
aqui mais especificamente às revistas femininas, como veiculadoras de pedagogias
culturais, uma vez que aconselham as mulheres a como agir com seus maridos,
filhos, como cuidar da casa, qual a melhor forma de vestir-se, produzindo, assim,
subjetividades, identidades e saberes. Conforme afirma Santos (2004, p. 37), o
conceito de pedagogia cultural supõe que a educação ocorra ―numa variedade de
áreas sociais, incluindo, mas não se limitando à escolar, compreendendo bibliotecas,
TV, cinemas, jornais, revistas, brinquedos, propagandas, livros etc.‖. Estes contextos
educacionais diversos fazem circular concepções de gênero, raça, etnia,
sexualidade, infância, classe social, indicando possíveis maneiras de se comportar,
de ser e sentir. Desta forma as revistas femininas são também veiculadoras de
pedagogias, uma vez que contribuem para instrução de suas leitoras, levando a elas
formas de comportamento e conceitos considerados válidos para uma determinada
parcela da sociedade em um determinado momento histórico e contribuindo, assim,
25
para a formação de imaginários. A esse respeito Tomáz Tadeu da Silva (2002, p.
139) coloca que:
Se é o conceito de ―cultura‖ que permite equiparar a educação a
outras instâncias culturais, é o conceito de ‗pedagogia‘ que permite que
se realize a operação inversa. Tal como a educação, as outras
instâncias culturais também são pedagógicas, também ensinam alguma
coisa. Tanto a educação quanto a cultura em geral estão envolvidas em
processos de transformação da identidade e da subjetividade. Agora a
equiparação está completa: através dessa perspectiva, ao mesmo
tempo em que a cultura geral é vista como uma pedagogia, a pedagogia
é vista como uma forma cultural.
Compreendendo as revistas femininas como pedagogias culturais pode-se
afirmar que, mesmo sem terem o objetivo explícito de ensinar, elas o fazem.
Diferentemente do conhecimento escolar, as revistas femininas apresentam seus
conteúdos de uma maneira sedutora, atraente, irresistível. Os conteúdos que são
transmitidos através de suas páginas levam consigo uma série de formas de
conhecimento e saberes que contribuem para formar imaginários e influenciar
comportamentos e que não podem deixar de ser entendidos como elementos
pedagógicos. Em vista disso, sua importância é merecedora de pesquisas, tais como
o fizeram Carla Bassanezzi (1996), Luciana Fornazari (2001), Raquel de Barros
Pinto Miguel (2005, 2009), Lílian Henrique de Azevedo (2009), entre tantas outras
que me encorajaram a ingressar neste estudo sobre a Revista Querida.
A presente pesquisa apresenta-se dividida em três capítulos, a fim de melhor
organizar a análise dos dados. O primeiro capítulo, intitulado A Revista Querida nas
décadas de 50 e 60, intenciona apresentar a revista objeto desta pesquisa,
demonstrando um pouco do contexto em que estava inserida. Sendo assim, para
que se possa melhor compreender o cenário no qual surgira a revista Querida, será
feita uma breve explanação sobre aspectos políticos e sociais do Brasil nas décadas
de 50 e 60, procurando evidenciar um possível ―lugar‖ da mulher de classe média,
urbana nesta sociedade, bem como um dos possíveis papéis das revistas femininas
para esta mulher neste dado lugar e momento histórico. A partir disto torna-se
importante fazer uma breve caracterização acerca da revista: surgimento, produção,
26
editora, circulação, enfatizando, nessas condições, o poder educativo deste tipo de
impresso.
O segundo capítulo, Nas ginas de Querida: princípios de civilidade para
suas leitoras, pretende demonstrar de que modo a revista Querida (1958-1968)
irradiou normas e preceitos de civilidade para suas leitoras, por ter sido uma mídia
impressa bastante difundida e por ter dado suporte material a textos e imagens que
indicavam modos de comportamento, formas de vestir-se e portar-se. Outra
intencionalidade deste capítulo é a de estudar a coluna Certo e Errado nas
Pequenas Coisas, que prescrevia normas de civilidade às leitoras da revista.
Entendida, neste trabalho, como modo de dever ser, a civilidade visa transformar
em esquemas incorporados, reguladores, automáticos e não expressos das
condutas, as disciplinas e censuras que ela enumera e unifica numa mesma
categoria.‖ (CHARTIER, 2004, p. 48).
De moça direita à rainha do lar, capítulo terceiro, anseia trazer trechos da
revista Querida (1958-1968) que tragam à tona a intencionalidade do periódico ao
explicitar as suas leitoras quais atitudes seriam as ideais para uma moça direita,
quais a tornariam uma moça leviana, e qual a forma de comportamento seria digna
de uma rainha do lar. Os discursos presentes em páginas de Querida (1958-1968) a
respeito da feminilidade e da sexualidade feminina são caracterizados pelos papéis
que delimitam os lugares a serem ocupados pelos gêneros. A partir disso, busca-se
entender como deveria agir a mulher depois de casada. Como enfrentar as
ausências, os ciúmes e as traições do marido? Como organizar as tarefas diárias de
uma boa mãe e dona de casa e ainda manter-se bela para seu marido? São estas
algumas das questões que os trechos recortados da revista Querida (1958-1968)
neste capítulo procuram responder.
27
2 A REVISTA QUERIDA NAS DÉCADAS DE 50 E 60
Enquanto eu tiver perguntas e não houver
resposta continuarei a escrever. Como
começar pelo início, se as coisas
acontecem antes de acontecer?
(LISPECTOR, 1977, p. 11)
As décadas de 1950 e 1960 representaram um período de efervescência
cultural e transformações sociais, em especial no cenário urbano brasileiro. Os anos
de 1950 iniciam trazendo ares de modernidade, crescimento e desenvolvimento
urbano, inovações tecnológicas. Tudo isso se depara com ideários conservadores
de que a mulher deveria dedicar-se ao marido, aos filhos e aos trabalhos
domésticos, enquanto ao homem caberia a tarefa de sustentar este lar. Em meados
da década de 1960 novas idéias começam a surgir. Ao passo que a ditadura
instaura-se no Brasil, principia uma luta por igualdade de direitos e os movimentos
sociais ganham força no país. A concepção de que o lugar da mulher é cuidando da
casa não é mais tão forte e começam a surgir espaços para a mulher no mercado
de trabalho e nas universidades.
É neste contexto que eram produzidas as revistas Querida. Em meio a tantas
mudanças, o que diziam as páginas dessas revistas? O que expressavam suas
imagens? Como a revista se comportou frente a tais transformações?
2.1 Revista Querida: surgimento, produção, circulação
No ano de 1958 Querida estava em seu ano V de publicação e era tida como
um dos maiores periódicos femininos da época, como afirma Carla Bassanezi (1996,
p. 34). A revista surgiu em junho de 1954, editada pela proeminente Rio Gráfica
28
Editora. Fundada na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1952, a Rio Gráfica Editora
fazia parte das organizações Globo, pertencentes ao jornalista Roberto Marinho, e
possuía um dos maiores parques gráficos da América Latina. Passou a chamar-se
Editora Globo ao adquirir, em 1986, a gaúcha Editora Globo.
Com dois exemplares a cada mês, Querida possuía 24 números anuais até o
ano de 1966, quando passou a contar com 26 números anuais. Por entender que ―a
tiragem é um significativo indicador da repercussão da revista‖, conforme indica
Maria Helena Câmara Bastos (2002, p. 54), frisa-se o fato de que dados do IBOPE
apontavam que Querida era a revista quinzenal favorita na segunda metade dos
anos 50 (BASSANEZI, 1996). Apesar disso, os exemplares não apresentavam, em
seu editorial, os números de tiragem de cada edição.
Querida tinha seu público bem definido; além de trazer escritas as palavras
―para adultos‖ em muitas de suas capas, o próprio título designava e determinava
quem a leria: a revista era claramente dirigida às mulheres. De certo modo Querida
reverberava os preceitos passados nas escolas brasileiras no início do culo XX,
uma vez que trazia em seus textos e imagens ―o discurso sobre a importância da
educação na modernização do país‖ (LOURO, 1997, p. 443), que segundo Guacira
Lopes Louro estavam presentes nos debates do final do século XIX. Isso apesar
de que nas décadas de 1950 e 1960 grande parte da população brasileira
continuava analfabeta. O discurso presente nas ginas de Querida (1958-1968)
reforçava os princípios difundidos pelas escolas do período como a prática de
leitura, os benefícios alcançados com as atividades físicas, os cursos de corte e
costura, bordados e culinária. Tudo isto marcado por uma ambiguidade: ao mesmo
tempo em que era promovida a necessidade da mulher modernizar-se, estudar, ler,
era também enfatizada a idéia da moça casadoira, ligada a casa e à maternidade
(LOURO, 1997).
No período analisado, o formato das revistas era de 21 cm x 27,50 cm
(Largura x Altura) e o número médio de 98 páginas por revista manteve-se
constante. As páginas das revistas Querida mostravam-se bem divididas entre
páginas coloridas e em preto e branco. As imagens e publicidades veiculadas nas
revistas também apresentavam-se desta forma; algumas em preto e branco e outras
em cores, sem uma regra aparente para tal. Estas referidas imagens e publicidades
são uma constante nas páginas de Querida, embora a revista Cláudia
(contemporânea de Querida) tivesse a marca da publicidade bem mais acentuada e
29
diversificada (BASSANEZI, 1996). As capas das revistas eram impressas em papel
Couchet, 150 gramas, sempre em cores bastante vivas e atraentes aos olhos.
A revista Querida era contemporânea de outras revistas especificamente
femininas como Jornal das Moças, Capricho, Grande Hotel; ainda que as duas
últimas, diferentemente de Querida, fossem mais voltadas a explorar as fotonovelas,
bastante populares na década de 50. A partir do ano de 1961 entra no mercado de
revistas femininas a revista Cláudia, que conforme cita Bassanezi (1996, p. 37) ―é
considerada por muitos um marco na história da imprensa por ter introduzido o estilo
‗magazine moderno‘ feminino.‖ Ainda de acordo com esta autora:
Uma avaliação de grau de modernidade aparente que levasse
em conta a ousadia de conteúdo e qualidade de produção gráfica
colocaria a revista Querida numa posição intermediária entre Jornal das
Moças (revista de classe média com suas esposas ―perfeitas‖, seus
―maridos insubstituíveis‖ e suas ―moças de família‖) e Cláudia (revista
que inova com artigos que giram em torno do ―viver melhor‖, da ―posição
da mulher no mundo‖, da relação com os homens, da juventude; artigos
que entram em contradição com outros artigos e contos de Cláudia).
(BASSANEZI, 1996, p. 35 36)
Em conformidade com o afirmado por AZEVEDO (2009), boa parte do que foi
publicado nas revistas Querida, em termos de reportagens e artigos, era importado
dos Estados Unidos e precisava passar por traduções ou adaptações ao público
brasileiro. Integravam quinzenalmente a revista Querida seções como: contos,
reportagens, atualidades, moda, beleza, decoração, culinária, seções diversas.
Apesar de tais seções acompanharem a revista em todos os números constantes no
acervo desta pesquisa, elas sofreram algumas modificações no decorrer destes dez
anos, como é possível perceber nas figuras a seguir:
30
Figura 01 - Querida 106, p. 19, 1958. Figura 02 - Querida 354, p. 09, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora. Fonte: Acervo pessoal da autora.
A figura 1 apresenta o índice de uma revista do ano de 1958. Este modelo de
índice, bem como as seções nele presentes, segue assim até o ano de 1962,
quando o índice da revista passa a figurar como o representado pela figura 2. A
alteração no estilo de configuração do índice é visível. Há uma modificação na
própria apresentação visual do sumário, que vai desde a mudança no tipo de letra
utilizado, até a retirada do Q, de Querida, do entorno do sumário. Com a mudança,
a seção antes chamada Contos e Novelas
9
passa a chamar-se Leituras. Apesar da
alteração da nomenclatura da seção, seu conteúdo não sofrera muitas modificações;
ambas as seções veiculavam contos românticos. A seção de Moda e Beleza não
sofre alterações e a de Reportagens Especiais passa a denominar-se apenas
Reportagens; sendo que ambas continuam a veicular o mesmo tipo de conteúdo. A
9
Contos e Novelas era uma das seções da revista Querida. Por contos compreende-se uma estória,
narração escrita, que iniciava e terminava na mesma revista. Por novelas entende-se os contos que
tinham continuidade em números posteriores da revista.
31
maior mudança acontece com as seções de Decoração e Culinária e Seções
Diversas. Como esta última trazia assuntos referentes ao cotidiano da de dona-de-
casa, bem como novidades sobre cinema, teatro, horóscopo e música, ela foi
dividida e seus artigos direcionados ao dia-a-dia da rainha do lar passaram a
integrar a seção intitulada Para a Dona de Casa, juntamente com a seção de
Decoração e Culinária. As novidades do mundo das artes passaram a figurar na
seção de Atualidades.
Até o ano de 1961 não havia um espaço específico, indicado no sumário da
revista, para as cartas. Em algumas edições não se encontrava cartas de leitoras e
naquelas em que as cartas estavam presentes era possível encontrá-las apenas no
entremeio de algumas reportagens, como ilustra a figura 3, que apresenta conselhos
e sugestões de mães sobre como cuidar da beleza de seus bebês, parte integrante
da reportagem Tratamento da pele das crianças (Querida nº 133, p. 49-52, 1959):
Figura 03 - Querida 133, p. 50, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora.
32
A partir do ano de 1962 as cartas ganharam um espaço específico na seção
Para a Dona de Casa. No entanto, de um modo geral, a revista as reservava apenas
meia página, como mostra a figura seguinte:
Figura 04 - Querida 354, p.04, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora.
Pode-se afirmar, então, que independente da configuração das revistas temas
como decoração, culinária, moda, beleza, horóscopo, cartas, cinema, livros, balé e
teatro nacional e internacional, estavam constantemente presentes em suas
páginas. O que mais uma vez traz indícios de seu público leitor. Mulheres que além
de dispensarem um tempo para casa e beleza, frequentavam ou apenas
interessavam-se pelo que se passava, no Brasil e no mundo, em termos de teatro,
cinema, dança. A partir disto pode-se inferir que, apesar de não exclusivamente,
grande parte do público leitor de Querida era composto por mulheres letradas de
classe média das principais capitais brasileiras. Segundo Azevedo (2009, p. 72):
33
A força simbólica que reside em diversas cidades, divididas em
classes economicamente dominantes, em bairros nobres, de um lado, e
proletárias por residirem nas periferias, de outro, deu a tônica da matéria
e do projeto da revista como um todo. Não eram as ―copeiras‖, ou as
―suburbanas‖ ou proletárias o público-alvo da revista. Não era nelas que
Querida se inspirava. Mas poderiam participar como arremedo do meio,
caso adquirissem os produtos nela veiculados, aprofundando a sua
dependência proletária e simbólica, em um período no qual a compra de
crédito passou a ser mais difundida e largamente aplicada.
Há indicativos, também, de que muitas das mulheres que liam a revista
Querida eram jovens e o faziam às escondidas. A pesquisadora Lílian Henrique de
Azevedo, que analisou revistas Querida das décadas de 1960 e 1970, alerta que: ―o
aviso de que se tratava de uma revista destinada a adultos pareceu, no entanto,
estratégia em detrimento do conteúdo [...]. A partir de 1970 várias questões ainda
tidas como tabu no início da década de sessenta passam a ser tratadas à luz do dia
pela revista.‖ Neste sentido Carla Bassanezi (1996, p. 35) também afirma:
O fato de existirem muitas críticas à Querida na época e de
muitas jovens lerem esta revista sem a aprovação dos pais, às
escondidas, é um indício dos preconceitos e da rigidez moral, pelo
menos aparente, de muitas famílias. Mas também é uma amostra da
indisciplina e dos limites do controle sobre as jovens. Estas, se não são
o público alvo da auto-intitulada revista para adultos, pelo menos
recebem uma significativa atenção em vários artigos de Querida.
Não obstante, ainda em conformidade com Bassanezi (1996), o ponto forte de
Querida estava na seção de Contos e Novelas que, apesar de considerados
ousados para a época pelo fato de abordarem temas como divórcio, traições
femininas, paixões proibidas; traziam sempre uma lição de moral a favor dos ―bons
costumes‖ e frisavam que a prioridade feminina deveria ser o casamento e a
maternidade.
Apesar de alguns dos contos de Querida abordarem temas mais
ousados que os de Jornal das Moças (mas equivalentes aos de vários
contos de Cláudia) como o divórcio, relações ilícitas, filhos ilegítimos ou
34
paixões proibidas: estes contos e as ―histórias verídicas‖, reforçam mais
do que ameaçam a moral estabelecida. Um exame mais detalhado
mostra que todos os contos de Querida trazem uma lição de moral
(basicamente a mesma moral das outras revistas). (BASSANEZI, 1996,
p. 32)
É importante lembrar a maneira sutil com que estas mensagens chegavam às
leitoras através dos contos, uma vez que os mesmos sugeriam uma leitura de
entretenimento, assim como as demais seções da revista. Miguel (2009, p.144)
lembra que não é sem motivo que contos românticos com lições de moral faziam
sucesso nas revistas femininas, pois ―toda essa ligação entre mulheres e romances
está associada também à idéia de que o mundo dos afetos, dos sentimentos, das
emoções seja inerente ao universo feminino.‖ Os contos ou novelas de Querida
eram redigidos por escritores brasileiros ou estrangeiros; grande parte das histórias
aconteciam nos Estados Unidos, tendo seus personagens nomes americanos.
Outra importante característica da seção de Contos e Novelas de Querida
(1958-1968) é a de que muitos dos contos apareciam divididos pelas ginas das
revistas. As palavras continua na página ... eram bastante comuns até o ano de
1965, quando a revista sofreu uma modificação e seus contos passaram a aparecer
em página consecutivas, do início ao final da estória. A esse respeito Lílian Henrique
de Azevedo coloca (2009, p. 43):
É possível que a interrupção funcionasse como um balizador da
leitura a partir de uma média de tempo que as leitoras poderiam se
dedicar à matéria em questão. Tal como hoje se nos programas de
televisão entremeados de propagandas. Ao anunciar que a matéria
continuaria em página posterior, a leitora folhearia toda a revista até
chegar onde interessava. Esta especificidade das revistas, do período
analisado, as tornam excelentes fontes históricas, pois tinham a
possibilidade de serem guardadas, manipuladas, rasgadas, recortadas,
colecionadas e relidas. E, por isso, diferentes dos demais produtos
culturais com conteúdo informacional e de entretenimento veiculados
nos meios de comunicação, como televisão, rádio e cinema.
35
A revista Querida foi editada até o ano de 1971. Relançada pela Editora
Globo em 1989, teve as adolescentes como seu público alvo e circulou até o ano de
1998
10
.
2.2 Décadas de 50 e 60 nas páginas de Querida
Em um período ainda considerado ―dourado
11
para parcelas de classe média
que compunham a sociedade brasileira, em que a televisão era incipiente, as
revistas femininas ocupavam um importante papel na vida de suas leitoras. Eram ao
mesmo tempo conselheiras e confidentes; companheiras de lazer.
s, tu, você: o texto da imprensa feminina sempre vai procurar
dirigir à leitora, como se estivesse conversando com ela, servindo-se de
uma intimidade de amiga. Esse jeito coloquial, que elimina a distância,
que faz as idéias parecerem simples, cotidianas, frutos do bom senso,
ajuda a passar conceitos, cristalizar opiniões, tudo de um modo tão
natural que praticamente não há defesa. (BUITONI, 1981, p.125).
Diferenças sociais entre homens e mulheres coexistem com os avanços
tecnológicos e sociais e aparecem sutilmente desde a escolha de brinquedos
diferenciados para meninas e meninos até as funções ocupadas em casa e no
trabalho por mulheres e homens. Nas páginas amareladas pelo tempo das
revistas Querida (1958-1968) é possível perceber diferenças sociais prescritas para
uma época. As representações de feminino e masculino, entendidas como resultado
de uma prática, aparecem estampadas em suas capas, colunas, reportagens,
10
Acredito ser interessante uma pesquisa sobre as permanências e mudanças entre as revistas
Querida analisadas neste trabalho e as edições publicadas a partir de 1989.
11
De acordo com Sonia Maria de Castro Nogueira Lopes (2002, p. 67) cerca de duas décadas,
difundiu-se amplamente, sobretudo no Rio de Janeiro, o mito dos anos dourados, relacionado ao
início da década de 50 até parte da década de 60, fase em que a cidade, ainda capital da República,
afirmava sua identidade como pólo da cultura nacional. Na interpretação da historiadora Angela de
Castro Gomes (1991), esses foram os tempos de JK, identificados com o espírito otimista, democrata
e empreendedor do ―presidente bossa-nova‖, como passou a ser chamado.‖
36
contos, publicidades. Era a verdade de uma época, modos de comportamento
prescritos para uma parcela sociedade brasileira, impressos nas páginas de uma
revista. Ao observar mais atentamente as fontes de que dispunha, percebi que
possuía uma década de revistas (1958-1968). E não uma década qualquer.
Conforme Miguel (2009, p. 19):
Do ano de 1958, repleto de otimismo e patriotismo, para 1968,
marcado por lutas estudantis, protestos, desejos de mudança. Dos
―anos dourados‖ para os anos rebeldes, transformações significativas
aconteceram. Foram duas décadas que viveram em ebulição, berços de
questões que, ainda hoje, são alvos de debates, de lutas e de desejos.
O ano de 1958 foi representado pela mídia
12
, de um modo geral, como um
ano de grande afirmação cultural, política, social e econômica, em que tudo
aparentava dar certo num Brasil que tivera grandes conquistas nos esportes, vira
nascer a Bossa Nova e o Cinema Novo, e a economia parecia ir de vento em popa.
1968 deixou cicatrizes. Foi um ano marcado por momentos de tensão, lutas e
repressão como a sexta-feira sangrenta, a marcha dos cem mil, o XXX Congresso
da UNE em Ibiúna, a reunião que decidiu pela implantação do novo Ato Institucional,
o AI5. De acordo com Zuenir Ventura (1988, p. 42) ―as mulheres, os negros, os
homossexuais eram chamados de ‗minorias‘ não por serem poucos, ao contrário,
mas pela desimportância social que tinham. Foi 68 que ensinou a valorizá-los.
Depois desse ano eles não foram mais os mesmos.‖
As revistas selecionadas apontam para comportamentos esperado por suas
leitoras, comportamentos estes que, conectados na cor de seu tempo, estiveram a
sofrer modificações ao longo destes onze anos, mas que não deixaram de demarcar
o lugar da mulher em oposição ao do homem. O que se intenta conhecer é que lugar
era este dado ao feminino pelas ginas da revista Querida (1958-1968), neste
período de inflexão nacional.
A segunda metade dos anos 50 é marcada por uma saliente euforia. O apoio
das massas ao projeto desenvolvimentista de estado é notável. A longa era Vargas,
12
A rede Globo de televisão lançou a minissérie Anos Dourados, em 1985, retratando este período e
o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos lançou o livro Feliz 1958 - O Ano que não Devia Terminar.
37
de ditadura e desmandos, havia acabado há pouco. O sorridente e pragmático
Juscelino Kubitschek fora eleito presidente da República e com sua política
desenvolvimentista juntamente a seu pretensioso Plano de Metas, cujo bordão era
"cinquenta anos em cinco", pretendia modernizar o Brasil, dotando-o de indústrias de
base e de bens de consumo duráveis. Com isso abriu o país ao capital externo,
importando indústrias e tecnologia. Tinha também como finalidade a geração de
empregos, contribuindo, assim, para melhorar o nível de vida da população. Essa
ideologia desenvolvimentista, que conciliava os interesses de empresários, políticos,
militares e assalariados, ocultava com sucesso a subordinação do capital nacional
ao estrangeiro.
O Brasil passou por intenso desenvolvimento industrial dos anos de 1955 a
1960 e o êxito do Programa de Metas foi inegável na implantação do setor de bens
de consumo e de produção (FAUSTO, 1999). Brasília foi construída no governo de
Juscelino Kubitschek e, em 21 de abril de 1960, tornou-se capital federal. Mas é
também neste período que começaram a crescer a inflação e a dívida externa, em
conseqüência da política desenvolvimentista.
Este período, ainda hoje, desperta opiniões diversas no que tange às análises
sócio-políticas. Para alguns é tido como momento positivo e otimista, para outros,
um período negativo marcado pelo populismo. De qualquer forma as memórias dos
―anos dourados‖ e do avanço da modernidade do final dos anos 50 e início dos anos
60 são até hoje evocadas. Miguel (2009, p. 16) afirma que:
A era juscelinista (1956-1960) impulsionava o clima
desenvolvimentista no país. Com seu Plano de Metas, que tinha como
lema 50 anos em 5, Juscelino Kubitschek almejava trazer para o país
os setores industriais mais avançados [...] em 1958 foram lançados o
primeiro barbeador elétrico e o primeiro rádio a pilhas brasileiros.
O Brasil vive uma fase de acelerado desenvolvimento econômico, com veloz
ampliação dos processos de industrialização e consequente urbanização. Esta
última gera uma série de mudanças no cotidiano e na infra-estrutura das cidades; as
diferenças regionais aumentam e os grandes centros passam a atrair inúmeros
migrantes. Com isso os padrões de consumo modificam-se. O salário mínimo, ainda
que dentro de suas limitações, possibilita aos trabalhadores maior acesso aos
38
produtos industrializados. Os bens de consumo e a tecnologia moderna ficam
acessíveis a um número cada vez maior de pessoas e o incentivo ao consumismo é
bastante grande.
Neste quadro de transformações o mercado de trabalho não fica para trás.
Aumenta a diversidade de cargos e ocupações e o número de trabalhadores dos
serviços urbanos cresce consideravelmente; tudo isso faz com que haja uma
expansão das classes médias no país, em especial nos grandes centros urbanos.
Para a mulher este processo traz alterações de extrema importância, pois com ele
surgem novas possibilidades de participação feminina no mercado de trabalho, bem
como a educação escolar destas passa a ser mais valorizada. O acesso à
universidade torna-se mais possível para as mulheres, em especial àquelas de
classe média, sobretudo no que se referia aos cursos de licenciatura e enfermagem,
pois o ingresso feminino a cursos como engenharia e direito era ainda restrito e mal
visto. Havia um lugar social previsto para a mulher que ainda era muito fortemente
ligado ao espaço privado e doméstico. Nesse sentido Anne Higonnet (1991, p. 420)
esclarece:
Os estereótipos perpetuaram-se a si próprios. As mulheres
artistas trabalharam frequentemente em domínio que lhes eram
familiares, e pouco encorajamento tinham para explorar outros assuntos
ou atitudes. As mulheres arquitetas, por exemplo, eram orientadas
durante os seus estudos para a construção de casa privadas e era muito
mais provável que recebessem encomendas para este tipo de obras,
enquanto as fotojornalistas eram geralmente encarregadas de histórias
de ‗interesse humano‘ que se limitavam ao retrato, a casa, à família, às
emoções.
As mulheres, quando decididas a trabalhar, eram incentivadas a escolherem
profissões como as de professora, enfermeira ou secretária, por serem estas mais
voltadas ao lado maternal, de prestar cuidados e assistência, características
consideradas femininas. Nas propagandas de Modess, bastante freqüentes nas
revistas Querida, eram exatamente estas as profissões femininas retratadas:
39
Figura 05 - Querida 168, p. 76 e77, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora.
Nesta figura uma enfermeira escreve a uma amiga, contando sobre uma
colega de trabalho que descobrira Modess. O absorvente é apresentado como um
produto inovador, que promete segurança, higiene e liberdade de movimentos.
que se atentar para o fato de que tais publicidades ocupavam meia folha e duas
páginas de revista, sendo muito difícil passarem despercebidas. Ainda na figura 5, a
imagem que aparece é a de uma enfermeira atendendo, sorridente, outras mulheres
com suas filhas.
Figura 06 - Querida nº 172, p. 86 e 87, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora.
40
A escrita feminina por meio de cartas é novamente evocada na figura 6. Uma
amiga escreve à outra contando de sua rotina de trabalho e de como uma colega
maravilhou-se com o uso de Modess. Ambas as ‗cartas‘ presentes nas publicidades
retratam a ‗descoberta‘ do absorvente como sendo o acontecimento mais importante
em um período de trabalho destas profissionais. A apresentação do produto como
inovador, capaz de transmitir segurança e liberdade à mulher, permanece. Mas
desta vez o ambiente de trabalho representado é um escritório e a imagem mostrada
às leitoras é mais ousada que a primeira. Mulheres e homens aparecem juntos,
segurando bebidas em uma festa depois do expediente.
É importante frisar que tais transformações não impediriam que o trabalho
feminino continuasse cercado de preconceitos e visto como inferior ao do homem, o
―chefe da família‖ (BASSANEZI, 1996). As publicações de Querida não podiam
ignorar as modificações que estavam a acontecer no mercado de trabalho, no
entanto nem todas as formas de trabalho feminino eram apoiadas. Na edição de
número 251, Querida traz, na reportagem ―Seu tipo de mulher‖, uma afirmação de
um jovem rapaz a respeito do trabalho feminino, em que este fala de suas colegas
de trabalho que saem de casa antes do marido acordar e retornam apenas no final
da tarde, sem terem tempo para preparar o almoço do marido ou dar atenção
adequada aos filhos. Ele afirma que ―a mulher que trabalha é concebível somente
com limitação de compromissos.‖ (Querida, 251, p. 73). E continua: ―Eu
trabalhando (e trabalharei muito mais) terei o prazer de saber que meus filhos vivem
em casa com a mãe [...]. O trabalho de uma mulher deve ser subordinado às
exigências da vida familiar.‖ (Querida, nº 251, p. 74).
No ano de 1964 a revista Querida 246 trouxe um artigo intitulado: Ganhar
dinheiro é divertido... Se soubermos escolher o meio ideal‖. Este artigo inicia
afirmando que ―a mulher moderna não mais admite uma total dependência ao
marido ou à família, no campo financeiro. Todas nós gostamos de ter nosso próprio
dinheiro para ajudar no orçamento da casa ou simplesmente para nossos eternos
‗alfinetes‘.‖ (Querida, nº 246, p. 92, 1964). Na sequência são descritas algumas
atividades remuneradas consideradas ―especiais para a mulher moderna, que são
dinâmicas sem perderem em feminilidade e beleza. (Querida, 246, p. 92, 1964).
Tais atividades são: fazer arranjos de flores ou plantas, confeitar bolos e arrumar
mesas para aniversários de crianças, ser correspondente de jornais ou revistas,
cultivar abelhas, vender legumes e flores, tomar conta de um jardim de infância, ser
41
vendedora de boutique de artigos femininos elegantes, ser demonstradora de modas
ou produtos de beleza, ser decoradora. Para encerrar o artigo, as seguintes
palavras:
Estas são apenas algumas possibilidades que se apresentam à
mulher inteligente e dinâmica que, mais feminina do que nunca, luta ao
lado do homem, sem no entanto tentar ultrapassá-lo, cumprindo com
serenidade e segurança sua missão de mulher; companheira nas horas
boas e más, ajudando, cada uma a seu modo, a construir o mundo dos
dois e dos filhos [...]. (Querida, nº 246, p. 92, 1964).
É interessante perceber a sutileza que era utilizada ao definir o lugar feminino
no espaço de trabalho. A mulher poderia trabalhar desde que em profissões que a
permitissem manter-se bela e que não interferissem em suas atividades de esposa,
mãe e dona de casa. Azevedo (2009) chama atenção para o fato de que o trabalho
feminino fora do lar e as tarefas domésticas não se anularam, como costuma ocorrer
em relação aos homens:
Neste caso também que se considerar a invenção de
tradições que se confundem com heranças culturais historicamente
construídas e que se tornaram tradicionais. Como exemplo das
primeiras, está o fenômeno do acúmulo de funções para as mulheres
que passaram a trabalhar além dos limites domésticos, como
proletárias, ou que estudavam, ou, ainda, que passaram a desempenhar
as três funções. Se o contexto se modificou, essa relação prática
também, em tese, deveria ter se modificado. O problema que se buscou
demonstrar aqui, -se em relação ao segundo ponto que é uma
tradição na maioria das civilizações: o trabalho doméstico, o cuidado
com os filhos e a dedicação ao esposo, como tarefas femininas.
(AZEVEDO, 2009, p. 35).
Tudo isso aliado à idéia de que o trabalho desta mulher jamais deveria
―ultrapassar‖ o do homem em termos financeiros e de prestígio social. No conto A
macieira, o preconceito com relação ao trabalho feminino é claramente retratado:
42
Mas era quase hora do almoço quando regressou, pois não fora
fácil arranjar emprego após quase três anos sem trabalhar. [...] Além
disso, parecia que as pessoas ficavam desconfiadas de sua situação de
casada. Nunca se sabe o que pode acontecer com uma mulher casada.
Vem trabalhar porque quer ganhar dinheiro extra, ou porque brigou com
o marido, e daí a pouco fazem as pazes, ou então o marido ganha um
aumento, ou então ela fica esperando bebê e adeus empregada.
(Querida168, p. 72, 1961).
Os contos de Querida não costumavam apresentar mulheres que
trabalhavam fora do lar, mas quando o faziam enfatizavam o fato de o trabalho
feminino ser uma maneira de contribuir com as despesas em momentos de
necessidade: ―A crise de empregos abrandava e, passado algum tempo, ele
conseguiu um lugar numa loja de ferragens. Eu continuei a trabalhar durante um
ano, findo o qual pude deixar o serviço, pois Dell estava ganhando
satisfatoriamente.‖ (Querida 168, p. 78, 1961). Afinal, de acordo com Lagrave
(1991, p. 507), neste período o que ocorre é que:
Exortam-se os homens ao trabalho para suprirem as
necessidades da família enquanto as mulheres são culpabilizadas por
desleixarem essa mesma família a troco de um salário complementar.
Os homens ‗fazem uma carreira‘, as mulheres ‗abandonam o lar‘ [...]. É
esse o leitmotiv do século XX: uma educação e um trabalho para as
mulheres, sim, mas sob vigilância e sob condições, com a reserva de
que nenhuma conseqüência daí resulte para a família, com a reserva de
elas se manterem naquilo que é aceitável para as mulheres em cada
época, com a reserva de que não criem problemas à escassez e à
excelência dos títulos e dos postos ocupados pelos homens [...]. O
século XX escreveu portanto a história da entrada maciça das mulheres
na educação e no salariato, mas eivada de uma desigualdade das
possibilidades escolares e da não miscibilidade das profissões.
Apesar de todas as transformações sociais que vinham acontecendo na
década de 60, muitos estereótipos e preconceitos ainda prevaleciam. As idéias de
quem deveria realmente trabalhar fora era o homem, de que mulher muito instruída
não arranja marido, de que ―a beleza é a promessa da felicidade‖ (Querida 335,
p. 21, 1968) de que ―as mulheres são bichos de cabelos compridos e idéias curtas‖
43
(Querida nº 168, p. 21, 1961), ainda se mostravam muito presentes nas páginas de
Querida. Carla Bassanezi (1996, p. 49) explica que:
Com as novas condições de vida nas cidades, diminuem muitas
das diferenças e distâncias entre homens e mulheres. Surgem novas
formas de lazer, novos pontos de encontro. Modificam-se regras e
práticas sociais que vão do namoro à intimidade do relacionamento
familiar [...]. Por outro lado, prevalecem muitos aspectos tradicionais das
relações de gênero como as divisões de papéis, a valorização da
virgindade feminina, a ‗dupla moral sexual‘ etc. embora alguns com
novas ‗justificativas‘ e máscaras de modernidade [...]. Nas classes
médias a família é tipicamente nuclear com um número reduzido de
filhos. Os padrões tradicionais de casamento estão com toda sua força
até 1965. A autoridade máxima da família é conferida ao pai, o chefe da
casa, e garantida pela legislação que incentiva o moralismo tradicional,
a ‗procriação‘, o trabalho masculino e a dedicação da mulher ao lar.
Com as transformações que foram se consolidando ao longo da década de
1950, alteraram-se o consumo e o comportamento de parte da população que
habitava os grandes centros urbanos. Novos hábitos foram alavancados pela
produção em massa de bens de consumo, especialmente os destinados ao uso
doméstico e pessoal. O progresso vem colado a novos estilos de vida e, o que
aumenta a sensação de modernidade. A paisagem urbana também se moderniza
com a construção de edifícios e casas de formas mais livres, mais funcionais e
menos adornadas, acompanhadas por uma decoração de interiores mais despojada,
segundo os princípios da arquitetura e do mobiliário moderno.
Através das propagandas veiculadas pela imprensa escrita é possível
perceber a mudança nos hábitos de uma sociedade em processo de modernização:
produtos fabricados com materiais plásticos e/ou fibras sintéticas tornavam-se mais
práticos e mais acessíveis. Nas figuras 7 e 8, a seguir, estão representadas duas
publicidades que exaltavam eletrodomésticos e tecidos de fibra sintética: inovações
que prometiam mais conforto, praticidade e melhorias na qualidade de vida de seus
consumidores.
44
Figura 07 - Querida nº 133, p.50, 1959. Figura 08 - Querida nº 176, p.53, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
Na figura 7 aparecem duas mulheres: uma encerando o chão e outra
aspirando o da casa, enquanto, no banheiro, o homem apara a barba com um
barbeador elétrico. ―Tudo mais cil, rápido e prático, com os aparelhos elétricos
Arno‖, como afirma o referido anúncio publicitário. a figura 8 apresenta uma
novidade no mundo da moda: uma fibra de polyester que promete um plissê
permanente, resistente ―a todas as provas‖.
Consolidava-se a chamada sociedade urbano-industrial, sustentada por uma
política desenvolvimentista que se aprofundaria ao longo da década, e com ela um
novo estilo de vida, difundido pelas revistas, pelo cinema, sobretudo norte-
americano, e pela televisão, introduzida no país em 1950.
A solidificação da chamada sociedade de massa no Brasil trouxe consigo a
expansão dos meios de comunicação, tanto no que se refere ao lazer quanto à
informação, muito embora seu raio de ação ainda fosse local. O rádio cresceu no
início dos anos 50, época em que houve um aumento da publicidade. As populares
radionovelas, por exemplo, tinham como complemento propagandas de produtos de
45
limpeza e toalete. Na televisão, a publicidade não se limitava a vender produtos, e
as próprias empresas eram produtoras dos programas que patrocinavam. Houve um
aumento da tiragem dos jornais e revistas e popularizaram-se as fotonovelas,
lançadas no início da década de 1950. Monica Kornis (2006) aponta para o fato de
que o cinema e o teatro também participaram desse processo, tanto do lado das
produções de caráter popular quanto das produções mais sofisticadas, aliás, de
acordo com Sena (2007, p. 109) ―o cinema se tornou no decorrer dos anos 50 e 60,
uma das grandes paixões e fonte de entretenimento, principalmente as produções
americanas, francesas e italianas.‖
No contexto de modernização promovido pela industrialização e consequente
urbanização, meios de comunicação de massa como rádio, cinema, imprensa
também caminham para um forte desenvolvimento. Na década de 50 o rock n´roll‖
chega ao Brasil, trazendo com ele novos ―heróis‖ da juventude, como Elvis Presley e
James Dean. Em 1958 nasce oficialmente a bossa nova, que expressa o gosto da
juventude brasileira, urbana e de classe média da época. O cinema nacional surge
com romances comportados, mas não consegue competir com a hegemonia do
cinema norte-americano, que exerce grande influência cultural sobre o público jovem
brasileiro. Os valores norte-americanos são ―importados‖ pelos jovens brasileiros e
trazem consigo um ideal de vida moderna, o qual pressupõe o cultivo da beleza e do
bem-estar conjugal. O american way of life
13
, suposto estilo de vida praticado pelos
habitantes dos Estados Unidos da América, torna-se modelo ideal de muitos grupos
de jovens de classe média no país. Segundo Bassanezi (1996, p. 621):
O imaginário brasileiro da década de 50 recebeu grande
influência dos valores norte-americanos. Os filmes norte-americanos
seduziam os brasileiros e atraíam especialmente os jovens, com o
American Way of Life e a crença no futuro e na modernidade. E não
13
American way of life. Apesar de este conceito ter nascido antes do século XX, é partir deste século
que a junção de uma União fortalecida no pós-guerra, de sindicatos que através da ação coletiva
conseguiram um maior poder aquisitivo para o trabalhador e de corporações fortes proporcionou uma
produção em massa que consequentemente exigia um consumo também de massa. Este foi
estimulado pelo grande leque de novos bens duráveis, eletrodomésticos, automóveis, residências de
subúrbio e o consumo do lazer. Com isso os Estados Unidos experimentaram um período de
aparente prosperidade e bem-estar social. Esse modelo de classe média branca, confortável, bem
remunerada e inserida no mercado de consumo exportado para todo o mundo através da grande
influência do país é conhecido como American way of life. (KORNIS, 2006).
46
poucas garotas aprenderam a beijar, manifestar afeto e comportar-se
mais informalmente vendo filmes americanos.
Durante os anos de 1950 o rádio era tido como o principal veículo de
comunicação de massa. Ele estava presente na maioria dos lares e trazia as últimas
notícias, participava na constituição da opinião pública, vendia produtos, lançava
modas e cultivava a fama de atores e atrizes. Neste período a imprensa brasileira
sofre um amplo avanço, especialmente no que se refere à revistas ilustradas e
femininas. De acordo com Carla Bassanezi (1996), na década de 50 a TV não chega
a competir com o rádio ou com revistas em termos de público consumidor, situação
esta que permanece até meados da década de 60. A imprensa continua
prevalecendo como fonte de informação e entretenimento.
Dos anos 50, até aproximadamente metade da década de 60, ―a vinculação
consumo/imprensa feminina estabelecia-se com uma intensidade progressiva,
devido ao crescimento das indústrias relacionadas à mulher e a casa.‖ (BUITONI,
1986, p. 49). Para conquistar as donas-de-casa, especialmente as de classe média,
surgem as batedeiras, enceradeiras, liquidificadores, aspiradores de pó, entre outros
utensílios que prometiam facilitar o trabalho doméstico. O ideal de modernidade
vendido através dos enlatados, eletrodomésticos, produtos descartáveis anunciava
novos padrões de consumo que passaram a fazer parte da realidade doméstica
urbana, como é possível evidenciar nas duas propagandas retiradas das revistas
Querida (1958-1968), a seguir.
47
Figura 09 - Querida nº 122, p. 109, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Os novos eletrodomésticos e os alimentos enlatados prometiam facilitar a vida
da dona-de-casa, como é possível perceber através da publicidade apresentada
pela figura 9. Uma mulher bem vestida, usando sapatos de salto e colar, aparece
sorridente junto ao aspirador de pó, que lhe prometia mais elogios aos seus
trabalhos domésticos e mais tempo livre. Na mesma publicidade, nas letras menores
constam os seguintes dizeres: ―Como que por encanto a sua vida se transforma! As
horas lhe sobram e no entanto a limpeza sai muito mais bem feita porque Arno
faz todo o trabalho com Você! [...] Com aspirador de pó Arno, dia de limpeza é dia
de descanso!‖. Estas palavras evocam romantismo, a idéia da Cinderela que tem
sua vida transformada, com mais tempo para cuidar de si; mas o deixam de
lembrar à leitora que uma limpeza bem feita, realizada pela mulher, continua sendo
importante.
48
Figura 10 - Querida nº 177, p. 31, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora
No diálogo presente na figura 10 a idéia do tão almejado tempo livre
reaparece. Duas mulheres muito bem vestidas estão sentadas à mesa do que
aparenta ser a casa de uma delas, por ter um gato doméstico deitado aos pés desta
mesma mesa. Enquanto bebem chá ou café, conversam: ―Querida! Como você
consegue participar tão ativamente da vida social sendo uma dona-de-casa?‖ A
outra moça responde: ―Atualizei-me, meu bem! Com aparelhos G-E reduzi ao
mínimo minhas preocupações caseiras.‖ Supostamente, nesta situação, os
aparelhos domésticos reduziram seus encargos de dona-de-casa e lhes deram mais
tempo para participar de atividades sociais.
De um modo geral os alimentos enlatados também auxiliaram na
transformação do trabalho doméstico. Com eles as donas-de-casa poderiam ter
mantimentos na dispensa por mais tempo, sem precisar ir diariamente ao mercado.
Além disso, a praticidade de alguns enlatados semi-prontos cobravam menos tempo
49
de trabalho da cozinheira. Esta exploração do tempo livre pelas publicidades não era
sem razão. Miguel (2009, p. 237) lembra que:
De acordo com Figueiredo, tempo livre estaria associado ao
lazer e este, por sua vez, ao consumo, sendo esta relação construída
entre os anos 50 e 60. Destarte, ―o consumo aparecia assim como o
meio pelo qual o homem [sic] se liberta do trabalho e, ao mesmo tempo,
significa sua recompensa.‖ (FIGUEIREDO, apud MIGUEL, 2009, p. 237).
Ou seja, o estabelecimento da cultura de massas nas sociedades modernas,
promoveu valores ligados ao tempo livre e ao lazer, além de uma juvenilização da
sociedade. Articulado a isso está o ideal de auto-realização, supondo o desfrutar de
um eterno presente em que amor, aventura, beleza, vigor, felicidade e não se
envelhece. A juvenilização se liberta da idade, convertendo-se em um imaginário
moderno de força, saúde, beleza e aventura em busca de amor e paixão,
completando um imaginário de felicidade e plenitude que extrapola a faixa etária,
transformando-se num modelo buscado pelos adultos. (PEREIRA, 2005, p. 10).
Um padrão médio de vida que prometia felicidade, aventura, beleza e
juventude foi se solidificando, colocando liberdade e consumo como lados da
mesma moeda. Surgia uma idéia de modernidade aliada ao ideal de progresso e
euforia pela democratização do país e que era expressa em uma nova música, um
novo teatro e um novo cinema: uma sociedade ―bossa nova‖
14
. Já se podia perceber
nas grandes cidades brasileiras, neste período, expressivas camadas médias
formadas por funcionários públicos, profissionais liberais e comerciantes, além de
executivos que surgiam com o desenvolvimento industrial dos anos de governo de
Juscelino Kubitschek (1956-1960). Nas páginas das revistas Querida analisadas
percebe-se a participação da publicidade impulsionando e dinamizando o consumo,
assim como uma maior visualidade e valorização da tecnologia e da vida urbana.
14
Segundo Simone Luci Pereira (2005), ―sociedade bossa nova‖ era uma expressão muito corrente à
época, designando tudo o que fosse moderno, renovador, atual, fruto do progresso e sinônimo da
modernidade que a década de 1950 trouxe à tona.
50
Era nesse cenário social que se ancorava a promoção da juventude que, por
sua vez, ingressava cada vez mais no mundo do consumo fortalecido por um novo
ciclo de desenvolvimento industrial, com maior diversificação da produção. Segundo
Pereira (2005, p. 12):
Aliado a uma maior valorização social do tempo livre, passa a
haver um aumento da oferta de empregos para os jovens recém-saídos
da escola, o que, provocando um aumento da renda familiar, permitia
aos jovens um emprego de seu dinheiro no consumo de bens para uso
próprio, como a motocicleta ou automóvel, o violão, os discos, as
roupas, etc. Isso, paulatinamente, foi gerando uma certa autonomia dos
jovens em relação à família e provocando a distância entre as gerações,
elementos que culminariam nos anos 1960.
A valorização da juventude que desponta neste momento não pode ser
desvinculada de outros fatores como, por exemplo, o fato desta mostrar-se um
importante segmento de mercado a ser explorado na cultura de massas. Uma
cultura da juventude e de manter-se jovem passa a ser enaltecida e, com ela, surge
um aumento da fase entre a infância e a vida adulta e são criados produtos de
consumo destinados aos jovens como roupas, música, cinema. As seções e
publicidades de Querida marcam a importância da juventude neste período, como se
faz notar nas três imagens selecionadas:
51
Figura 11 - Querida nº 354, p. 69, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura 12 - Querida nº 274, p. 38, 1965. Figura 13 - Querida nº 270, p. 14, 1965.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
52
A figura 11 retrata uma publicidade de uma revista feminina direcionada ao
público jovem. Na chamada os seguintes dizeres, alusivos à juventude e sua
conexão com a modernidade: ―Você garota, que é moderna e avançada, que está
sempre na crista da ‗onda‘, que usa mini-saia e gosta de iê--iê, não pode deixar de
ler Garotas.‖ A figura 12 apresenta uma página da seção de atualidades da revista
Querida, inteiramente dedicada a indicar livros para a infância e juventude, enquanto
a figura 13 inicia um artigo sobre lingerie. O título do artigo Lingerie 65 - Charme,
juventude, elegância‖ evoca a mocidade. Ainda na mesma página os seguintes
dizeres: ―os criadores da lingerie 65 pensaram em todas as mulheres: nas muito
jovens, nas muito esbeltas... e nas outras.‖ As jovens e esbeltas certamente estão
no foco principal do artigo. No final da página consta a descrição da lingerie que a
modelo está vestindo: ―tergal branco, raiado de preto e vermelho, faz pijama
confortável, enfeitando as noites no contraste das cores, no estilo juvenil.‖ Parece
que a juventude rendeu, então, um estilo e este estilo está aqui representado não
apenas nas lingeries, mas também pela figura de uma moça sentada com as pernas
entre os braços e com os cabelos presos aos ombros, remetendo o leitor à idéia de
infância, mocidade, juventude. Simone Luci Pereira (2005, p. 11) argumenta:
Desta forma, a promoção da juventude ou de valores juvenis nos
anos 50 fazem parte de um processo de formação não das camadas
médias, mas de um padrão médio de consumo e de estilo de vida, em
que a aquisição de bens não demarca apenas um fator econômico mas
também, como sugere Pierre Bourdieu (1983), a estruturação de uma
diferenciação social, distinção ou estilo de vida, demarcando um gosto
próprio ao capital cultural formado pelo habitus dos sujeitos, mapeando
a posição de cada indivíduo na sociedade. Isso teve como contrapartida
uma setorização também da produção de bens de consumo,
especificando roupas, eletrodomésticos, cosméticos e também músicas
para estes novos setores sociais que entravam para o mercado de
trabalho no pós-guerra, e que também poderiam consumir, como as
mulheres e os jovens. [...] uma sociedade que estava em franca
transformação, em que aspectos novos do mundo moderno do
consumo, da modernização, industrialização e do crescimento da vida
urbana deveriam ser assimilados, ainda que devessem estar em
conformidade e justapostos aos aspectos mais tradicionais da sociedade
e dos costumes, para assim, adequar-se às novidades mais condizentes
com a modernidade e com o desenvolvimentismo que o país e a época
pediam.
53
Ao passo que o tempo livre, o lazer, a juventude e o consumo começavam a
serem aclamados, fatos marcantes ocorriam no país. No ano de 1958 se deu pela
primeira vez o concurso Miss Brasil, no Maracanãzinho, localizado na cidade do Rio
de Janeiro, com transmissão pela TV Tupi. Adalgisa Colombo, do antigo Distrito
Federal, foi eleita Miss Brasil 1958. Vinte e três candidatas disputaram o título. Foi a
primeira vez que o Brasil enviou uma candidata para disputar o Miss Mundo. O
período que vai da metade dos anos 50 até a metade dos anos 60 foi caracterizado
pelo que se poderia chamar de efervescência cultural. Fundavam-se movimentos
teatrais e cinematográficos e a Bossa Nova surgia para o mundo, inovando, criando
e mudando a música popular brasileira. A Guerra Fria corria solta no mesmo ano em
que o país parou para comemorar. O mundo se rendeu ao nosso futebol. O Brasil
conquistou a Copa Jules Rimet. O historiador Boris Fausto (1999, p. 429) lembra
que na memória dos brasileiros, os cinco anos do governo Juscelino são
rememorados como um período de otimismo, associado a grandes realizações cujo
maior exemplo é a construção de Brasília.
Esse período de transformações, de nacionalismo, desenvolvimentismo,
reformas e mobilizações sociais chega ao fim com o golpe militar, em abril de 1964.
De acordo com Joana Maria Pedro (2003, p. 241) a década de 1960 foi,
especialmente na sua segunda metade, uma época de grande efervescência cultural
e social. A pílula anticoncepcional, que chegou ao Brasil no início dos anos 1960,
deu início a profundas mudanças na vida das mulheres, tanto com relação à vida
profissional, quanto no que diz respeito à sexualidade e às relações entre homens e
mulheres. Consoante a isso, Sena (2007, p. 161) expõe que ―a invenção e a
comercialização da pílula contraceptiva passou a ser associada a uma proposta
libertária, dissociando sexo de reprodução, prazer de reprodução. Movimentos
pacifistas, feministas, a favor da igualdade racial ajudavam a compor a ―cara‖ de um
novo tempo. Mas é com a institucionalização do AI-5, em 1968, que tem início um
período de conflitos mais intensos, marcados pela repressão à liberdade de
expressão, período este não contemplado pelo recorte histórico temporal
determinado pelas fontes.
Em um momento de crescimento urbano e forte industrialização no país,
ampliavam-se as possibilidades de acesso à educação, informação, trabalho,
consumo, lazer para homens e mulheres; transformavam-se as práticas sociais. Em
meio a tantas mudanças, cabe questionar qual era a postura feminina esperada pela
54
sociedade de classe média? Ou melhor dito, por este segmento da sociedade que
produzia e lia tais revistas. De que forma e até que ponto as revistas femininas,
através de seus conteúdos, contribuíam para criar imaginários sobre
comportamentos femininos? Isto é o que se vai perseguir nos capítulos vindouros.
55
3 NAS PÁGINAS DE QUERIDA: PRINCÍPIOS DE CIVILIDADE PARA SUAS
LEITORAS
Não leve crianças a visitas. Somente o
faça no caso de parentesco ou de grande
intimidade; mas mesmo assim não se
esqueça daquela importante
―conversinha‖ de preparação antes de sair
de casa. (Querida, 251, p. 96, 1964)
Desde o século XVI registros de divulgações de etiquetas
15
, o que aponta
para o fato de que desde aquela época alguns comportamentos considerados
inconvenientes faziam parte do imaginário das elites. A etiqueta era vista como
uma espécie de limite entre o civilizado/refinado e o grosseiro.
Entre os séculos XVI e XVIII as sociedades de corte cresceram na Europa e
com elas surgiram normas, refinamentos de conduta que geravam distinções
sociais. Ao tomar como exemplo o reinado de Luis XIV, na França, Pereira (2003)
observa que o grupo de cortesãos que acompanhava o rei diferenciava-se pelo
vestuário, pelas expressões e pelo modo de falar; marcas exteriores que denotavam
distinção e prestígio. No entanto, o que se pretendia como símbolo de altivez passou
a despertar desejos de ascensão em segmentos mais baixos, como bem coloca
Norbert Elias (1996, p. 201):
Tal busca fez com que os que estavam acima se esmerassem
em mais refinamentos, sendo nesse movimento de difusão para baixo,
da desvalorização dos sinais de distinção que foi acontecendo um
avanço do patamar do embaraço e da vergonha sob a forma de
―refinamento‖ ou como ―civilização‖.
15
Erasmo de Roterdam publicou, em 1537, De civilitate morum puerilium, a primeira tentativa de
sistematização das boas e más maneiras para crianças. Quase três décadas depois surge Galateo,
manual de civilidade escrito por Giovani della Casa, em 1558.
56
A partir daí essa noção de civilidade, de refinamento, transformou-se em uma
prática cultural que se tornou um produto a ser consumido. Aos pouco, as regras de
civilidade passaram a ter um foco coletivo, como indica o historiador Jacques Revel
(1991, p. 185):
As regras de civilidade visavam criar entre os homens as
condições de um relacionamento agradável, lícito e, cada vez mais,
conforme as reforçadas exigências da religião. Impunham a seus
leitores comportamentos que satisfaziam as normas de uma
sociabilidade cada vez mais imperativa situando todo ato individual sob
o olhar de todos.
É interessante notar que o que vai compondo a etiqueta desde sua origem é a
preocupação com marcas exteriores que distinguem ou separam camadas sociais.
Segundo Daniela Scridelli Pereira (2003, p. 11) ―aquilo que se capta no movimento
dos corpos das elites, primordialmente em situações coletivas, é o que se almeja.‖
Ainda no que se refere à propagação dessas regras de civilidade, Jacques Revel
(1991) ressalta que houve uma intenção pedagógica em relação aos
comportamentos, enfatizando o fato de que as regras se diferenciavam conforme o
grupo ao qual eram ensinadas.
Em muitas das páginas de Querida (1958-1968) foram produzidos discursos
que aproximaram educação feminina a aprendizados de civilidade, sendo que
civilidade é compreendida nesta pesquisa como uma experiência historicamente
construída e capaz de produzir princípios acerca de uma regularização dos instintos.
que atentar-se para o fato de que neste caso, como afirma Maria Stephanou
(2006), não se trata apenas de instrução, de aquisição de modos de fazer, mas
especialmente a prescrição da educação como modo de bem viver das mulheres.
Como ressalta Maria Ângela D‘incao, as mulheres da elite deveriam ―bem
representar‖ o pai ou marido:
Essas mulheres tiveram que aprender a comportar-se em
público, a conviver de maneira educada. Nos domínios públicos, como
57
as salas de jantar e os salões, lugar de máscaras sociais, impunham-se
regra para ―bem receber‖ e ―bem representar‖ diante das visitas.
(D‘INCAO, 1997, p. 228).
Mas não às mulheres eram ensinadas as ―boas maneiras‖, aos homens
cabia aprender as regras de comportamento que estavam associadas ao mundo
público. Ainda que em âmbitos diferentes, era importante que mulheres e homens
dominassem as regras de civilidade. Na apresentação feita por feita por Renato
Janine Ribeiro (1996) para a edição brasileira de O processo civilizador, de Norbert
Elias, Ribeiro afirma que Elias considera que o grau de responsabilidade dos
homens amplia enormemente à medida que ele se civiliza, aumentando,
consequentemente, o controle dos seus impulsos. Os anseios humanos tornam-se
civilizados, significando que as emoções passam a ser contidas e os impulsos
controlados.
A contenção de pulsões, a civilização, segundo Norbert Elias (1996), através
de práticas de leitura pode ser constatada na recomendação de leituras de livros
religiosos, catecismos e manuais de civilidade, por exemplo. Segundo Cunha (2006),
principalmente a partir da segunda metade do século XX, impressos que não
especificamente manuais de civilidade passaram a ser difundidos e funcionavam
como suportes materiais de textos e imagens, atuando como veículos propagadores
de normas e preceitos. A pesquisadora salienta que naquele momento histórico as
normas de civilidade estão reverberadas em diversos impressos, dentre os quais
podem ser citados os livros escolares, revistas de variedades, livros de romances,
cinema, teatros, músicas.
Visa-se, então, neste capítulo, à discussão de como a leitura de suportes
textuais, que aparentemente não teriam objetivo formador, contribui para a
civilização da mulher. Um desses suportes seria a revista feminina: leitura de fruição,
portanto aparentemente despretensiosa, que tem como um de seus principais
objetivos entreter suas leitoras. Na compreensão de Maria Teresa Santos Cunha
(2006, p. 18):
Através da análise de textos escolares (livros didáticos) e não-
escolares (revistas de variedades) que circularam como práticas de
leitura entre meninas e mulheres, entre as décadas de 1950 a 1960,
pôde-se perceber um processo de codificação de regras e padrões
58
desejados informado por diferentes saberes e discursos que não
levavam em sua caracterização o título específico de ‗manuais de
civilidade‘. Ao realizar uma pesquisa específica sobre manuais de
civilidade, foi possível constatar que para além deles, revistas de
variedades e textos escolares largamente difundidos funcionavam
como suportes materiais de textos e imagens que atuavam como
veículos de propagação de normas e preceitos que caracterizariam
regras de civilidade [...]. Dispositivos textuais carregados de normas e
valores que ‗ditaram‘ padrões de civilidade do período e que, pela
leitura, fora ou dentro da escola, educaram.
Se, conforme afirma Jean Marie Goulemot (2001, p. 107) [...] seja popular, ou
erudita, ou letrada, a leitura é sempre produção de sentido‖, há que frisar que, em
um período em que a televisão era ainda embrionária, as revistas femininas, por
suas altas vendagens, parecem ter sido influentes e apropriadas por seu público
leitor. Deste modo pode-se afirmar que as referidas revistas estiveram a ensinar, a
educar estas leitoras, uma vez que a idéia de pedagogia cultural permite considerar
a mídia impressa como educativa. Educativa porque ensina determinadas formas de
ser, de se ver, de pensar e agir; porque tais artefatos culturais, ao colocarem em
circulação determinadas representações constituem-se como materiais a partir dos
quais as pessoas vão construindo suas identidades de classe, de gênero, de
sexualidade, de etnia. São nada menos que pedagogias capazes de operar pela
sedução e de educar modos de comportamento. Na concepção de Giroux e Mclaren
(1995, p. 144):
Existe pedagogia em qualquer lugar onde o conhecimento é
produzido, em qualquer lugar em que existe a possibilidade de traduzir a
experiência e construir verdades, mesmo que essas verdades pareçam
irremediavelmente redundantes, superficiais e próximas ao lugar
comum.
Sob esta ótica, como bem coloca Tomáz Tadeu da Silva (2002, p. 139), ―todo
conhecimento, na medida em que se constitui num sistema de significação, é
cultural‖. Neste sentido pode-se inferir que, assim como os textos veiculados nas
páginas das revistas Querida, as imagens também produzem uma pedagogia, uma
forma de ensinar as coisas do mundo; produzem conceitos e pré-conceitos sobre
59
diversos aspectos sociais, produzem formas de pensar e agir, de estar no mundo e
de relacionar-se com ele. A esse respeito Maria Teresa Santos Cunha (1999, p. 51)
afirma:
As imagens que estampam as capas dos livros podem ser
decifradas como um conjunto de signos, como um suporte para
representações ideológicas; a linguagem dos títulos aguça a imaginação
e faz pensar no seu conteúdo, e a linguagem das disposições
tipográficas pode dar uma organização mais ou menos clara à leitura.
Isso nunca escapa aos leitores.
E a autora vai além, procurando mostrar que estas imagens e textos educam
e seduzem:
Uma educação que seduz. Uma sedução que educa. Eterno
contraste: opaco e luminoso; luz e treva na luta para analisá-lo. O que
educa estaria no equilíbrio tênue entre o real, portanto racionalizável, e o
imaginário. O que seduz não seria o evidente, nem o absurdo. Seria o
verossímil. (CUNHA, 1999, p. 75).
A partir desse ponto, o discurso criado pela mídia, de um modo geral, assume
formas de regulação social que exercem uma função pedagógica. A indústria
cultural, através dos meios de comunicação, participa na constituição do imaginário,
cria e introjeta personagens, atitudes, ideais.
Ruth Sabat (1999, p. 28) parte da idéia de que um círculo cultural sendo
trabalhado pela mídia que ensina modos de ser homem e de ser mulher. Segundo a
autora:
A publicidade utiliza mulheres e homens de determinada classe
social, raça/etnia, nacionalidade, desde que de acordo com padrões
estabelecidos pelas sociedades ocidentais modernas. Essas
representações, porque construídas socialmente, estão carregadas de
significados e, por isso, constituem identidades, reproduzem
significados, produzem outros tantos.
60
A mídia impressa feminina é uma das instâncias sociais que produz cultura,
veicula e constrói significados, identidades e representações. Através dela sujeitos
podem ser constituídos a partir de um modelo predominante, correspondente ao
sistema político, social e cultural do qual fazem parte.
No que concerne ao discurso sobre princípios de civilidade presente em
Querida (1958-1968), pode-se dizer que à medida que páginas da revista são
folheadas descortinam-se possíveis modos de comportamento aceitáveis para uma
determinada parcela da sociedade brasileira daquela época. Ao mesmo tempo em
que o cinema norte-americano apresentava cenas ousadas de mulheres solteiras
beijando rapazes e comportando-se mais informalmente, casar, ao que tudo indica,
continuava sendo a meta maior da mulher nesse período. E como muitos homens de
classe ainda procuravam as mulheres virgens para casar, a preocupação com a
―pureza‖ das moças continuava bastante grande. De acordo com este imaginário
mulher que vestisse saia curta, sentasse com as pernas abertas ou fosse desquitada
era considerada leviana. Em carta para a Revista Querida uma leitora registra a sua
angústia:
É imoral o beijo na bôca? Meu namorado colocou a mão no meu
ombro e eu na sua cintura; minha avó viu e me chamou a atenção. Será
que eu estou errada? Eu gostaria de obedecê-los... sou filha única e
eles gostam muito de mim...quero ser uma môça direita... tenho 19 anos
e meu namorado tem 20; ele e eu temos muito juízo. (Querida348, p.
21, 1968)
Os textos presentes nas revistas Querida disseminaram novos hábitos de
conduta e de vida na educação de meninas e mulheres, pautados pelos valores do
progresso e da civilização. Busca-se, assim, situar tais leituras em meio a um
conjunto de práticas discursivas voltadas à preparação de moças na sua condição
de cidadãs, lembrando, como afirma Maria Stephanou (2006, p.363), que o discurso
sobre a civilidade, que parece tão natural ―constitui tão somente uma experiência
histórica. Ao invés de natural, representa um intenso esforço de codificação e
controle dos comportamentos, esforço para conter as sensações e movimentos do
corpo e da alma.‖ Neste sentido as revistas femininas, em especial nas décadas de
1950 e 1960, desempenhavam um papel de destaque neste intento de promover
61
uma educação da conduta feminina. Nas palavras de Luciana Fornazari (2001, p.
65):
[...] no século XX, as revistas, tanto femininas quanto de
variedades, traziam normas que promoviam um devir desejado,
idealizado, destinado principalmente às mulheres. Segundo Carla
Bassanezi, as imagens das revistas femininas ‗mais do que refletir um
aparente consenso social sobre a moral e os bons costumes,
promoviam os valores de classe, raça e gênero dominantes de sua
época‘.
Com a leitura das revistas Querida modelos de conduta considerados corretos
foram se delineando: uma moça direita deveria ser recatada, educada, vestir-se com
elegância e discrição e, principalmente, saber como cuidar bem do lar, do marido e
dos filhos. Um jovem para ser considerado ―bom partidoteria que ser trabalhador e
demonstrar condições de sustentar confortavelmente sua família. Mas as formas de
comportamento, consideradas legítimas para uma determinada parcela da
sociedade brasileira da época, foram sofrendo transformações no decorrer dos anos
que perfazem o período recortado pelas fontes. O ano de 1964 abre a época da
ditadura vivida no Brasil. Em consequência de um sistema político opressor, jovens
participantes de movimentos estudantis questionavam padrões de comportamento e
normas estabelecidas. A pílula anticoncepcional proporcionou às mulheres a
oportunidade de pensar a sua sexualidade, as mesmas mulheres que comavam a
ter espaço nas universidades e no mercado de trabalho. Iniciava-se, ainda, a era de
uma cultura influenciada pela indústria cultural.
Contudo, a partir das leituras das revistas Querida (1958-1968) realizadas,
compreende-se que no Brasil dos anos 60 conviviam as idéias da modernidade e de
mudança com a do ideal do ―casamento feliz‖. Segundo esta revista, num momento
de modificações sociais e políticas, ―a virgindade, o adultério e a questão da mãe
solteira são apontados como os mais sérios preconceitos contra a mulher‖ (Querida
335, p.12, 1968). A virgindade é considerada um tabu, mas os rapazes ainda
preferem as virgens para casar-se; pede-se compreensão para a e solteira, mas
poucos aceitam com serenidade essa situação em sua própria família; defende-se a
62
liberdade de ação para a mulher, mas nem sempre ela é compreendida quando se
torna emancipada.‖ (Querida nº 335, p. 14, 1968). Em uma página de Querida lia-se:
Tolhida pelos preconceitos, a mulher - hoje mais do que nunca - luta
desesperadamente para realizar-se, pois, agora, ela também tem contra
si as inconveniências dos próprios anseios da vida moderna. Ela procura
seu equilíbrio entre a moda e o pudor, entre o amor e a liberdade, entre
as circunstâncias e a sua própria condição feminina. (Querida 335, p.
14, 1968).
Mesmo se tratando de um período de transformações culturais, sociais e
políticas, ainda se fazia possível perceber através das páginas da revista Querida,
que diversas questões e tabus continuavam a chocar a sociedade. A discussão
aberta sobre temas como o aborto, a sexualidade dos jovens, a infidelidade feminina
ou a gravidez de moças solteiras, continuava sendo uma excepcionalidade. A esse
respeito, em uma revista do ano de 1968 constava a seguinte observação: ―É
curiosa a observação de que o progresso do mundo não elimina os preconceitos.
Pelo contrário, o refinamento social tende a estabelecer discriminações.‖ (Querida
335, p. 14, 1968).
Não obstante, apesar de ser possível encontrar preceitos de civilidade nas
mais variadas seções de Querida, a revista possuía uma coluna, intitulada Certo e
Errado nas Pequenas Coisas”, que era responsável, especificamente, por prescrever
modos de portar-se em determinadas situações; as ditas boas maneiras. É nessa
coluna que se centrará o item a seguir.
3.1 CERTO E ERRADO NAS PEQUENAS COISAS
No ano de 1962 começou a ser publicada em Querida uma coluna intitulada
Certo e Errado nas Pequenas Coisas, escrita por Maria Thereza Senise que, a partir
de 1965 passa a assinar como Maria Thereza Weiss. A coluna tratava sobre qual a
postura adequada a se tomar em diferentes situações tidas como do cotidiano das
leitoras de Querida. Eram enfocados assuntos como namoro e noivado, visitas,
solicitações de favores, postura de esposa, mulher desquitada, festas, moda, modo
63
de portar-se à mesa, entre outros. Não havia referência à coluna no índice das
revistas e os espaços reservados a ela eram sempre de meia página, ao lado de
publicidades de produtos variados, como é possível notar na figura 14, a seguir. A
partir de tais constatações sobre o lugar desta coluna nas revistas, pode-se inferir
que talvez ela não passasse de preceitos avulsos, quiçá para ocupar um espaço
vago na página, mas que ainda assim anunciavam prescrições de comportamentos.
Figura 14 - Querida 246, p. 30, 1964.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Através da coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas instaura-se um
processo de codificação que assume enunciações específicas, no que concerne às
relações entre educação da mulher e civilidade, e produz uma determinada visão do
que é polido, agradável, adequado, civilizado, enfim, educado. Segundo Maria
Stephanou (2006, p. 364) informavam para formar disposições, condutas,
sensibilidades, direções de vida, para o que privilegiavam enunciados normativos
64
que dizem o que é ou o que deve ser a mulher bem educada, moderna, engajada
em tornar seu lar, e por extensão, toda a sociedade, melhor.
Pode-se inferir que muitas das dicas de etiqueta eram respostas a cartas de
leitoras
16
, pois alguns tópicos da coluna eram direcionados a uma determinada
pessoa, como que em resposta à mesma:
Clara Maria - Se estiver em um jantar de cerimônia e o guardanapo cair,
não o apanhe de maneira alguma; deixe que o garçom ou a criada o
faça. Está claro, meu bem, que este pequeno incidente não pode ser
considerado como ―gaffe‖. Isto acontece a toda hora e a muita gente [...].
(Querida nº245, p.75, 1964).
Helena G Guanabara As flores são sempre indicadas e bem
recebidas em quase todas as oportunidades. Pessoalmente, não gosto
de enviá-las a doentes, porém é um costume correto e até muito
simpático. Quero apenas esclarecer que, neste particular, são
indicadas as flores de aroma suave, jamais devendo ser enviadas a
pessoas doentes: angélicas, lírios, jasmins, magnólias, etc. ―Minha
opinião‖? Para homenagear uma parturiente, nada mais belo do que
rosas ou botões entreabertos. (Querida 245, p. 75, 1964).
Os assuntos abordados pela colunista eram bastante variados, no entanto foi
possível observar, dentre as revistas analisadas, duas edições em que a coluna
dedicou-se essencialmente a um único assunto. Na edição de 202 da revista
Querida, a coluna trata dos bons modos ao volante:
As chauffeuses mais idosas, isto é, de mais de trinta anos, devem
preferir carros de cores mais escuras e discretas.
Como para as mulheres qualquer ocasião é motivo de elegância,
de novidade, no que diz respeito às suas roupas, enquanto o sexo
masculino dirige com roupas comuns, habituais, o sexo feminino logo
16
Com relação às cartas de leitoras retratadas nas revistas Querida, vale tomar de empréstimo as
ressalvas feitas por Lílian Henrique de Azevedo (2009, p.155): ―Tomando-se as referências sobre as
cartas enviadas às redações [...] como verdadeiras, é preciso deixar claro que se está admitindo que
existiram materialmente e em quantidade.‖ Quanto às respostas a estas cartas ―igualmente válidas
são as ressalvas em relação a todas, ou a quase totalidade das cartas respondidas publicamente,
terem sido editadas para exemplificarem somente o que foi necessário esclarecer, aos demais
leitores, pelos editores‖.
65
encontrou uma série de regrinhas a cumprir, quanto ao vestuário ao
volante:
Saias justas serão ótimas para a mulher ao volante
quando não forem muito curtas, senão você dará um
espetáculo para os olhos do cavalheiro que porventura se
sentar ao seu lado.
Procure usar saias esportivas, largas, ou calças compridas
de príncipe-de-gales, para facilitar os movimentos. As
saias de tergal, embora plissadas e pregueadas, são
incapazes de amarrotar.
Uma mulher vestida com cores que combinem com a
pintura de seu carro fica emoldurada elegantemente, de
modo a ressaltar sua tez, o colorido dos cabelos e até a
cor dos olhos.
A maquilagem para dirigir deve ser simples, destituída de
artifícios.
Quando você está ao volante de um conversível, nunca
dispense o lenço nos cabelos.
Quando você está sentada dentro do carro e alguém de mais
idade entra, você tem a obrigação de saltar para cumprimentar essa
pessoa e ajudá-la a sentar-se.
E por fim a ultima regra de etiqueta essa bem feminina: você
sabe entrar e sair de um carro com elegância? Para entrar: coloque a
bolsa no banco de trás. Sente-se de lado, no assento, fazendo entrar as
duas pernas, ao mesmo tempo. Para sair: jogue as duas pernas,
também ao mesmo tempo, para fora do carro, vire o corpo de lado e
num último impulso, erga o tronco para o exterior e levante. (Querida
202, p. 24, 1962).
É interessante perceber que nesta edição a colunista procura evidenciar as
diferenças existentes no que se referiam às preocupações dos motoristas do sexo
feminino e masculino. Enquanto para o homem dirigir parece ser apenas mais uma
atividade, sem requerer trajes ou preocupações especiais que vão além da atenção
ao trânsito necessária a um bom condutor; para a mulher estar ao volante demanda
ser evidenciada. Portanto a preocupação com os trajes, com a maquiagem e com a
postura parecem ser mais proeminentes do que o próprio fato de ser uma boa
motorista. Logicamente que não bastava estar bem vestida e maquiada, tudo
deveria ser pensado para que a imagem a ser transmitida fosse de elegância com
simplicidade, jamais devendo chamar a atenção para si por meio de roupas justas,
66
saias curtas, cabelos esvoaçantes ou maquiagens fortes. que atentar-se ainda,
para o fato de que, apesar de estar a despontar, neste período, uma maior
valorização da juventude, uma mulher de trinta anos de idade era considerada
madura ou, como afirma o artigo, ―mais idosa‖.
Na edição de número 204 de Querida, era o noivado o tema destacado pela
colunista Maria Thereza:
Muito embora hoje em dia o pedido de noivado tenha se tornado
uma mera formalidade, manda o bom tom que certas regras sejam
observadas. Ao pai do noivo cabe a incumbência de visitar a família da
noiva e de fazer o pedido; à falta deste a mãe poderá substituí-lo. No
impedimento dos pais o noivo recorrerá a um parente próximo ou a um
amigo íntimo com prestígio em ambas as famílias. Só em circunstâncias
muito especiais o rapaz o fará.
Tão logo seja feito o pedido de noivado, dois jantares de cerimônia
serão oferecidos por ambas as famílias, devendo o primeiro ser em casa
da noiva. Depois desses jantares os encontros entre as duas famílias
serão mais íntimos, porém, evitando-se sempre o excesso de gentilezas
para não se cansarem. Serão reuniões normais como é o costume entre
pessoas de trato.
Está fora de uso a participação de noivado. A mesma é hoje
substituída pelo convite de casamento. Quanto à duração do noivado só
os noivos poderão determinar; isto depois de estudar as possibilidades
de ambas as partes.
O anel de noivado é tradicionalmente o primeiro presente que o
noivo oferece e deve ser entregue à noiva logo após aceito o pedido, ou
em sua primeira visita. O valor desta jóia depende das possibilidades do
noivo. Um brilhante ou uma pérola são mais indicados. Compete ainda
ao noivo providenciar as alianças.
O enxoval é sempre levado pela noiva, entretanto, quando a
situação desta é muito modesta e estando sua família sem
possibilidades para prepará-la,o noivo poderá auxiliá-la oferecendo as
roupas de casa. As roupas de uso pessoal jamais serão oferecidas pelo
noivo; convém que a noiva, mesmo com sacrifício se encarregue delas.
Para o casamento civil os convites são feitos verbalmente, uma
vez que ao mesmo só assistem as testemunhas, os parentes próximos e
os amigos muito íntimos. O casamento civil precede sempre a cerimônia
religiosa. Após a cerimônia civil costuma-se servir champanha aos
convidados.
67
Os convites para o casamento religioso são impressos em termos
clássicos e são enviados, de preferência, com um mês de antecedência.
Em caso de haver recepção um pequeno cartão será enviado
juntamente com o convite às pessoas que se deseja receber em casa.
(Querida 204, p. 54, 1962).
O noivado surge na coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas como o
momento de tornar públicas as intenções de casamento dos noivos. Ele é descrito
como sendo a coisa certa a se fazer; não há qualquer indicativo de outra opção para
tornar o namoro mais sério perante a família, como o casal morar junto sem casar-
se, por exemplo. O noivado era via direta para o casamento, que não aconteceria,
apenas, se houvesse algum motivo muito forte para tal, como indicava a coluna na
edição de número 303 de Querida: Os pais intervêm no rompimento de noivado
de uma filha, quando o motivo é deprimente. (Querida 303, p. 35, 1966). A
presença e o consentimento das famílias dos noivos são reiteradamente afirmados,
demonstrando a importância dos parentes neste processo.
Desde o noivado, o homem, que ao casar-se é tido como o responsável pelo
sustento do lar, carrega consigo o fardo de prover as alianças, o presente de
noivado e, caso a família da noiva não disponha de uma boa situação financeira,
cabe a ele também auxiliar com as roupas de casa que compõem o enxoval. Com o
noivado acertado, o cuidado com as intimidades deveria ser redobrado para que a
reputação da moça permanecesse imaculada. Na edição de número 270 de Querida
a coluna trazia os seguintes dizeres: Não fica bem que o noivo proceda em casa da
noiva (ou vice-versa) com exagerada intimidade, o que sempre motivos a
comentários desagradáveis. É aconselhável que mantenha sempre atitude amável,
porém, circunspecta.‖ (Querida 270, p. 68, 1965).
De acordo com a coluna uma moça educada deveria saber que a
circunspecção e o recato eram características imprescindíveis ao bom tom. Aliás,
nas palavras de Maria Thereza (Querida 245, p. 75, 1964), a discrição era
―qualidade das mais apreciadas. Pessoa educada e de boa formação moral jamais
faz perguntas sobre a vida íntima de ninguém, mesmo tratando-se dos mais
próximos parentes.‖ Cuidar com as palavras proferidas fazia parte do intento em ser
uma moça educada: ―também na linguagem deve haver cuidado, evitando termos
sofisticados que dão sempre a impressão de frivolidade. Seja natural e simples, seja
68
você mesma, quer esteja em companhia modesta ou em ambiente requintado.
(Querida 305, p. 67-A, 1966).
Extremamente deselegante era ―gesticular exageradamente, falar em voz alta,
apontar pessoas ou chamá-las aos gritos. Imperdoáveis ainda as gargalhadas e os
espirros estridentes.‖ (Querida 246, p. 30, 1964). Cumprimentos efusivos em
público também deveriam ser evitados ―não porque é aconselhável nestas
ocasiões uma atitude discreta, como também porque não se sabe se a pessoa
cumprimentada tem o mesmo prazer e entusiasmo com o encontro. (Querida
216, p. 33, 1963). O mesmo se aplicava às despedidas emocionadas: ―as
despedidas, quanto mais breves mais expressivas são. As efusões exageradas
estão fora de lugar em público.‖ (Querida 303, p. 35, 1966). De um modo geral, ao
que parece, para ser bem vista a pessoa deveria ser discreta ―as pessoas que se
esforçam para chamar a atenção e parecer excêntricas nunca atraem simpatia. As
que são simples, amáveis e gentis, inspiram logo uma simpatia e o as mais
queridas.‖ (Querida 303, p. 35, 1966).
A necessidade da discrição não se restringia às atitudes. As moças que
prezavam por um bom conceito de si deveriam tomar alguns cuidados ao vestir-se e
maquiar-se. A maquilagem deve ser usada com muita parcimônia e discrição.
desta forma embeleza e faz sobressair aos dons naturais. (Querida nº274, p.85,
1965). A simplicidade era sinônimo de elegância ao vestir-se; de acordo com a
colunista ―a naturalidade chega a ser uma virtude, tanto agrada. Vista-se com
simplicidade e sempre de acordo com a ocasião. (Querida 305, p. 67-A, 1966).
Usar muitos adornos e ostentar jóias também não era de bom tom:
Tornamos a repetir: as jóias são usadas de acordo com o
vestido, o lugar a que se vai e também de acordo com a idade. As
jovens devem usá-las com muita sobriedade; não estava bem aquela
menina moça com um enorme solitário e valiosíssimos pingentes em
brilhantes. Quando se viaja, se realiza um passeio ou uma compra pela
manhã, não é correto e demonstra falta de conhecimentos ostentar jóias
que não sejam as indicadas para estas ocasiões. Nunca se esqueça que
em tais circunstâncias a simplicidade se impõe e sempre a melhor
das impressões. (Querida 216, p. 33, 1963).
69
Conforme enunciava Maria Thereza ―solteira, viúva ou separada do marido, a
mulher que se preza deve abster-se de comparecer sozinha a lugares blicos em
horas inadequadas. (Querida 216, p. 33, 1963). O recato mostrava-se também
muito importante às mulheres desquitadas:
Julia T C Rio lembre-se, querida, que, em rigor, o que não
convém a uma mulher casada, também não é conveniente a uma
desquitada. Evite, sempre que possível, principalmente em público, as
expansões ou provas de intimidade. Sendo prudente e recatada estará a
salvo de comentários desfavoráveis e ainda de interpretações errôneas
por parte de terceiros. (Querida 251, p. 96, 1964).
Para as desquitadas ou viúvas em segundas núpcias todo o cuidado e
discrição eram importantes. A união poderia ser celebrada com festa, ―mas esta
deve ser simples e de proporções reduzidas. (Querida 303, p. 35, 1966). Para a
cerimônia no cartório: ―não fica bem comparecer ao cartório com um vestido escuro
ou demasiadamente vistoso. Aconselha-se um traje sóbrio, um costume, por
exemplo, veste bem e é o mais apropriado. (Querida 303, p. 35, 1966). Em
resposta a uma carta de leitora a colunista enfatiza novamente estes cuidados:
Jandira C S. Paulo O aconselhável no seu caso, para esse segundo
casamento, é uma cerimônia religiosa simplíssima, após a qual você
poderá oferecer, em sua própria casa, aos pais e filhos de ambos,
irmãos e padrinhos, uma taça de champanha e bolo. É claro que,
mesmo sendo viúva, não nada de inconveniente e que a impeça de
recepcionar os amigos. Apenas procure fazê-lo de maneira discreta e
elegante.
Mas notável mesmo eram as alusões aos bons modos à mesa. Segundo a
antropóloga Daniela Scridelli Pereira (2003, p. 15) ―a etiqueta à mesa é um dos
temas que causa mais apreensões, por ser percebida como uma prática na qual se
colocará à prova toda a educação recebida.‖ Deste modo, o bom comportamento à
mesa e a melhor maneira de receber convidados em um jantar eram bastante
referenciados na coluna, que funcionava também como um espaço de consultas
70
para quem precisasse organizar uma recepção, como é possível perceber nos
excertos a seguir:
Vilma Soares Bauru O uso de uma bebida do começo ao
fim de uma refeição tem como finalidade facilitar, ou melhor, simplificar o
serviço. É claro que, se possível, cada iguaria deve ser acompanhada
do vinho correspondente. Entretanto, é correto e até por muito
considerado uma forma de requinte, que seja servido, em um jantar
formal, apenas champanha extra-seco ou um bom vinho rose bem
gelado. (Querida 251, p. 96, 1964).
Seu jantar de cerimônia ficará melhor organizado se, para um
grupo de dez ou doze pessoas, for feito serviço duplo, isto é: duas
entradas, dois pratos de peixes, dois de assados e duas sobremesas.
Um garçom de cada lado da mesa servirá os pratos. (Querida 274, p.
85, 1965).
Para o jantar formal, é necessário que a mesa comporte lugares
para que todos os convidados possam ficar sentados. Convida-se, no
máximo, dez a doze pessoas. A número maior de convivas, oferece-se o
tipo americano, pois quanto mais forem os convidados, menos formal
será o jantar. (Querida 274, p. 85, 1965).
Os jantares de cerimônia geralmente são oferecidos em ocasiões
muito especiais: quando se deseja distinguir um amigo, homenagear
pessoas graduadas, fazer uma apresentação importante e, ainda, no
caso de serem convidadas pessoas idosas que não gostariam de comer
em pé. (Querida 274, p. 85, 1965).
Quando preparar uma festa, procure calcular o número de
pessoas que possa devidamente atender. Não pense convidar a mais,
imaginando que algumas deixarão de comparecer. Não se esqueça de
que haverá convidados que, por conta própria, trarão parentes e amigos.
(Querida 303, p. 35, 1966).
Se as pessoas soubessem que o receber bem e com verdadeira
elegância é fazê-lo com simplicidade, não o fariam com modos
extravagantes e em ambiente sofisticado, como se estivessem num
palco; dando impressão de que gostam de chamar a atenção dos
demais e de ser alvo de comentários. (Querida 303, p. 35, 1966).
De acordo Maria Thereza Weiss, não se podia imaginar nada que ferisse
―tanto os preceitos da etiqueta como ver pessoas mal comportadas à mesa. Quem
não sabe estar em sociedade não deve jamais aceitar determinados convites.
(Querida 251, p. 96, 1964). ―Falar com boca cheia e mastigar de boca aberta
71
eram consideradas ―atitudes de deselegância, descortesia e quase de ‗pecados
mortais‘ contra a boa educação.‖ (Querida 245, p. 75, 1964). Era também muito
importante que, quando convidada para um jantar, coquetel ou qualquer espécie de
recepção a pessoa respondesse prontamente se poderia comparecer, pois quem
convida necessita saber a tempo quantas pessoas estarão presentes, a fim de
poder tomar todas as providências. (Querida 270, p. 68, 1965). Essencial
também comparecer sempre vestida com propriedade e com aparência bem
cuidada (Querida 245, p. 75, 1964) e saber como se utilizar dos talheres, afinal
―facas existem apenas para cortar. As pessoas que ao comer levam a faca à boca
ou arrumam com a mesma ‗aos montinhos‘ a comida sobre o garfo, demonstram
pouca educação e total falta de traquejo.‖ (Querida 251, p. 96, 1964). O modo de
sentar-se à mesa também não passava despercebido:
À mesa não se deve recostar os ombros na cadeira. O correto é
sentar-se ereta, apenas tocando o encosto com a base da espinha
dorsal. Pessoas educadas jamais farão suas cadeiras penderem para
trás. É admissível que os comensais, entre um serviço e outro,
recostem-se em uma posição mais cômoda, porém, devem evitar
sempre dar a impressão de ociosidade. (Querida 216, p. 33, 1963).
Na edição de número 305 a colunista faz um desabafo com relação à falta de
educação dos convidados em recepções de casamento realizadas em casa:
Cada vez que se vai a uma casa onde se realiza um casamento
nota-se o pouco tato das pessoas que enviam os presentes no próprio
dia da cerimônia. Esse procedimento ocasiona sérios transtornos, pois é
justamente nesse dia que estão todas as pessoas da família e
empregados sobrecarregados de trabalho com as providências de última
hora. É, pois, conveniente e mais cômodo enviar, cada um, a sua
lembrança com antecedência de alguns dias. Outro aspecto deprimente
dessas celebrações é a gula da maioria dos convidados. Comem tão
desordenadamente que correm o risco de adoecer. Mais penoso ainda é
o estado em que fica uma casa depois de uma destas reuniões. Cinzas
de cigarro por toda a parte, pondo em grave risco os tapetes e as
cadeiras estofadas. Restos de comida embaixo das mesas e atrás das
portas. Peças de cristal ou de porcelana, algumas insubstituíveis, que
quebram por displicência; habituados que estão a descuidar as próprias
coisas, descuidam-se, também, do que não lhes pertence. Com muita
72
razão, pessoas experimentadas evitam reuniões na sua própria casa,
preferindo utilizar, para receber seus convidados, um local que se aluga
expressamente para esse fim, o que representa uma defesa à
propriedade. (Querida 305, p. 67-A, 1966).
Era necessário, ainda, estar atento aos presentes recebidos, pois aqueles
que os recebem ficam na obrigação de agradecer dentro de um breve prazo. Não
fica bem esperar ocasião análoga para retribuir.(Querida 246, p. 30, 1964). Ao
receber um presente o pacote deveria ser aberto logo em seguida, à vista de quem
a presenteou. Agradeça novamente e não deixe de dizer algumas palavras
elogiosas quanto ao bom-gosto da lembrança escolhida. Não se esqueça que
conservando o pacote fechado estará dando demonstração de falta de interesse.‖
(Querida 246, p. 30, 1964). Mais alusões à etiqueta de presentear e ser
presenteada foram encontradas em outras edições da coluna, o que poderia sugerir
um certo poder aquisitivo por parte das leitoras:
Não de presente, nunca, um objeto que tenha recebido de
outrem; causa péssima impressão ver em outras mãos uma lembrança
que se ofereceu, pensando ser do agrado da pessoa. Além de livros de
bons autores, pode-se também oferecer discos com trechos de boa
música, em qualquer oportunidade que se queira obsequiar alguém.
(Querida 303, p. 35, 1966).
Sempre que comprar um presente verifique com atenção se foi
retirado o preço e ao oferecê-lo jamais faça a menor alusão ao seu
custo. É imperdoável e até mesmo ridícula a atitude de certas pessoas
que muito ―esquecidas‖ dão sempre seus presentinhos acompanhados
de etiqueta de preço. (Querida 245, p. 75, 1964).
Nem sempre é correto fazer presentes com freqüência, pois
tornando-se uma espécie de hábito, coloca em situação de
constrangimento as pessoas obsequiadas, que se vêem obrigadas a
retribuir para não passarem por descorteses ou aproveitadoras.
(Querida 216, p. 33, 1963).
Com relação a presentes, o natural e sensato, para que sejam
recebidos sem constrangimento e com agrado, aconselha-se que sejam
enviados somente em ocasiões especiais: casamento, aniversários,
bodas, formaturas, etc. (Querida 216, p. 33, 1963).
73
Outras regrinhas de etiqueta também estavam presentes na coluna,
lembrando que ―quando sentados, homens ou mulheres de boa educação mantém
os joelhos juntos. Não é de bom tom conservá-los afastados. É admissível cruzar as
pernas desde que se o faça de forma discreta, mantendo-se o suspenso, não
muito distante do chão.(Querida 251, p. 96, 1964). Ainda estando em um recinto
fechado e havendo necessidade de cuspir, o recomendável é fazer uso de um
lenço. (Querida 246, p. 30, 1964). Às mamães com bebês em período de
amamentação deveriam tomar alguns cuidados para não se exporem: se você viaja
num transporte coletivo é melhor que alimente o seu bebê através de uma
mamadeira. (Querida 251, p. 96, 1964). Quanto aos favores a colunista advertia:
evite pedir um favor a quem se prestou outro, recentemente, a não ser em caso de
extrema urgência e absoluta necessidade, caso contrário, é aconselhável deixar
transcorrer algum tempo a fim de não dar a impressão de se estar cobrando uma
dívida.(Querida 246, p. 30, 1964). Também eram preceituados os modos de uma
moça educada portar-se quando na companhia de um cavalheiro:
Andando na rua, a mulher acompanhada por um homem fica,
invariavelmente, do lado interno da calçada. Quando deixa cair um
objeto deve dar a oportunidade para que o cavalheiro o apanhe. Pode,
sem constrangimento, deixar que o seu companheiro a auxilie
carregando seus embrulhos. (Querida 246, p. 30, 1964).
Mesmo tratando-se de tempos distantes entre si; os dias atuais e aqueles em
que circulava a coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas, é possível associar os
trechos da coluna acima descritos à afirmação de Norbert Elias, em O processo
civilizador, ao referir-se ao tratado De civilitate morum puerilium
17
, de Erasmo:
Com o mesmo infinito cuidado e naturalidade com que essas
coisas são ditas a mera menção das quais choca o homem civilizado
de um estágio posterior, mas de diferente formação afetiva (...) Quanto
mais estudamos o pequeno tratado, mais claro se torna o quadro de
uma sociedade com modos de comportamento em alguns aspectos
17
De civilitate morum puerilium: tratado de boas maneiras para crianças, escrito em 1537, por
Erasmo, e estudado por Norbert Elias (1994) em seu livro O processo civilizador.
74
semelhantes aos nossos e também, de muitas maneiras, distantes.
(ELIAS, 1994, p. 70).
Ao tomar contato com as regras de bom tom propostas na coluna de Maria
Thereza Weiss pode-se perceber uma aproximação e um distanciamento dos modos
de comportamento atualmente aceitos, pois ao mesmo tempo em que permanece a
necessidade de saber vestir-se e portar-se às mais diversas situações a fim de
conquistar um status socialmente reconhecido, as regras de convívio social
modificaram-se, fazendo com que aquelas outrora válidas soem, agora, estranhas.
Quanto à coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas parece imperativo
considerar que, apesar desta apresentar um discurso voltado a condutas de
civilidade para suas leitoras, não é possível afirmar que todas, ou qualquer parte das
mulheres que a liam, se comportassem de acordo com tais normas de etiqueta. O
que precisa ser ressaltado com relação a tal coluna é que esta ecoava um modo de
comportamento que poderia ser associado às mulheres letradas de classe média
urbana da época, prováveis leitoras de Querida. É igualmente importante observar
que preceitos de civilidade eram também difundidos através dos contos,
publicidades, reportagens e capas das revistas pesquisadas. No capítulo seguinte
serão estudadas normas de conduta veiculadas pelas páginas de Querida (1958-
1968) como adequadas para as moças que almejavam um casamento ―dos sonhos‖.
75
4 DE MOÇA DIREITA À RAINHA DO LAR: PERFIS DESEJADOS
Para que foi dizer uma coisa dessas? Para
que foi perder a oportunidade de agarrar
tão bom marido? (Querida 109, p. 49,
1958).
4.1 MOÇA DIREITA/MOÇA LEVIANA
No final da década de 50 e início dos anos 60, as possibilidades de acesso ao
lazer, à informação e ao consumo chegavam com certa facilidade às populações
urbanas de classe média. Assim como os bens de consumo, os meios de
comunicação sofreram importantes transformações e o cinema popularizou-se. Os
filmes norte-americanos, que traziam os beijos apaixonados como sinônimo de final
feliz, eram os que mais faziam sucesso entre o público brasileiro e pode-se presumir
que muitos jovens aprenderam a beijar assistindo tais filmes, como lembra Carla
Bassanezi (1996).
Mesmo com tantas mudanças a educação da mulher continuava voltada para
torná-la uma respeitada moça de família. O cinema norte-americano foi criticado por
alguns conservadores, que o consideravam uma influência por mostrar moças
ousadas, beijos escandalosos, intimidades consideradas desnecessárias com
rapazes, namoros dentro de automóveis. Contudo é importante atentar-se para o fato
de que, se por um lado o cinema norte-americano trazia consigo cenas avaliadas
como impetuosas, por outro lado veiculava também uma noção bem definida do
papel feminino e masculino. De acordo com Higonnet (1991, p. 416):
76
Imensamente popular o cinema norte-americano representou um
importantíssimo papel na definição dos sexos da cultura de massas [...].
Os ‗finais felizes‘ de Hollywood entregam as mulheres ao lugar a que
pertencem numa ordem patriarcal: ao herói, a uma morte nobre de auto-
sacrifício ou, se se desviam das normas femininas, a um castigo
adequado.
Independentemente do que diziam os filmes, o ideal de toda moça‖
continuava sendo ―casar e ser feliz por muitos e muitos anos, como nos contos de
fadas que a menina tanto leu.‖ (Querida 335, p. 08, 1968). Nenhuma mulher
queria ―ficar para titia‖ (expressão utilizada para designar as solteironas) e os
anúncios de publicidade se aproveitavam disso:
Figura 15 - Querida nº 122, p. 34, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Nesta propaganda do creme dental Colgate há um diálogo entre uma tia e sua
sobrinha em que a menina inicia exclamando: ―Só um milagre de Santo Antônio!Ao
77
que a tia responde: ―Eh!... Até você!... Quem lhe disse isso?‖ A menina lhe conta: ―Foi
minha mãe!... Ela disse que você devia consultar o dentista sobre o mau hálito, titia.‖
Com isso a moça vai ao dentista, que lhe recomenda o uso de Colgate, que, além de
deixar os dentes alvos e brilhantes, garante um hálito perfumado. No último quadro
aparece a mesma moça em companhia de um rapaz, ambos sorridentes e de mãos
dadas. Junto à imagem aparece um balão com o que seria o pensamento da moça:
―Colgate não é boato faz casamento de fato!‖ Mas as publicidades constantes nas
edições de Querida pesquisadas não faziam alusão ao casamento apenas, elas se
valiam também do ideal romântico que girava em torno do mundo feminino. A idéia
da paixão, da beleza, do encanto e do grande amor era bastante evocada nas
propagandas, como é possível visualizar nos anúncios destacados:
Figura 16 - Querida nº 172, p. 32, 1961. Figura 17 - Querida 172, p. 35, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
A figura 16 apresenta a propaganda de um perfume. Os dizeres ―Para você a
lembrança inesquecível dos mais encantadores romances‖ e ―Damosel, o perfume
que fala ao coração‖ são enfatizados pela imagem de um casal sorridente. O rapaz
78
está com o olhar voltado para a moça, que parece ter recebido um buquê de flores
de seu pretendente. A cena apaixonada muito se assemelha à mostrada no anúncio
de Cashmere Bouquet, embora a última retrate um casal mais finamente vestido,
evocando um certo glamour à cena. O casal aparece rodeado por flores e o olhar
apaixonado do homem para a mulher persiste. Encanto, romance e poesia são
evocados na publicidade: ―Mais encanto para você com Cashmere Bouquet‖, no
canto direito da página, acima da imagem dos produtos pode-se ler ―Amor! Sonho!
Poesia! Romance! Tudo isso lhe inspira o sublime perfume de Cashmere Bouquet.‖
Acreditava-se que para alcançar a felicidade era necessário casar-se com um
―bom partido‖. Um bom casamento dependeria, sobretudo, da moça e de sua família.
A candidata ao casamento deveria ser reconhecida e respeitada socialmente como
uma moça direita, de família. Ao contrário destas, as moças consideradas levianas
eram aquelas que permitiam intimidades físicas com os rapazes antes do casamento.
As moças levianas poderiam até ser cortejadas por vários rapazes, mas dificilmente
conquistariam um bom casamento. Em torno do momento de transformação social
vivido nos anos 1960 permaneciam os ideais de comportamento das décadas
passadas e o imaginário romântico continuava fortemente presente. A esse respeito
Mary Del Priore argumenta:
Vida dostica, passividade? Sim. Pois essa revolão tinha sua face
oculta: o discurso normativo, a pressão do grupo, a culpa, a diferença
entre mulheres certas as que ―não davam e erradas as que
davam. A distinção entre namorada e amada, por exemplo, fica
claramente expressa na canção musicada por Carlos Lyra, em que
Vinicius de Morais dirige-se de maneira delicada à primeira: ―Se você
quer ser minha namorada... somente minha... exatamente esta
coisinha, essa coisa toda minha‖. Mas o que enternece é o ―jeitinho de
falar devagarinho... me fazer muito carinho, chorar bem de mansinho‖,
tudo envolvido em sensibilidade, retraimento, timidez. a ―amada‖, que
se entrega ―pra valer‖, fazendo com os braços o ninho, ―no silêncio de
depois‖, é outra figura feminina fadada às dificuldades reais, como ―o
caminho triste‖! Além da música e do cinema, também a televisão que
invadira 4,61% dos domicílios brasileiros em 1960 continuava martelando
o ideal do amor romântico. Alô Doçura, série de episódios sobre um
―casal feliz‖, protagonizado por John Herbert e Eva Wilma foi o maior
sucesso da extinta TV Tupi, ficando no ar por 11 anos. Comava
também a instria de fabricação de novelas. Em 1963, por exemplo,
estréia a primeira novela diária exibida na televisão brasileira, estrelada
79
por Tarsio Meira e Glória Menezes, encarnando o modelo paradigtico
do herói e da heroína apaixonados. (DEL PRIORE, 2005, p. 321).
Permaneciam, assim, as diferenciações entre o namoro sério, para casar, e o
namoro apenas para diversão. Apesar de os casais de enamorados terem uma certa
abertura para beijarem-se e acariciarem-se, ainda sobreviviam conceitos e valores
que faziam da sexualidade feminina, em especial para a mulher solteira, algo errado,
digno de culpa. Em um dos contos de Querida, a esposa que engravidara antes do
casamento e que tivera a sorte de desposar o pai da criança, lembra
melancolicamente dos dias de glória de seu marido e toma unicamente para si a
responsabilidade e culpa pela gravidez:
Só de me lembrar como ele era antes fez correr arrepios em
minha espinha. Voltei a -lo, correndo feliz, em sua motocicleta, mas
logo o vi como se tornara, um balconista soturno, calado e eternamente
preocupado, indo a para o trabalho, tudo por causa de um gesto
irresponsável que eu cometera em junho do ano passado. (Querida
316, p. 19, 1967).
De acordo com a revista Querida ( 335, p. 08, 1968) um pouco de timidez
na mulher é necessário, principalmente em suas relações com o homem, e tem um
nome mais simpático e muito útil para a segurança da mulher: recato.‖ Os homens
sabiam como separar a ―mulher para casar‖ da ―mulher para divertir-se‖. A ―mulher
para casar‖ deveria ser sexualmente recatada, pois se seu pretendente percebesse
muita facilidade por parte dela ele logo a dispensaria. Para Mary Del Priore (2005, p.
301) a longa espera, as dificuldades, a recusa em nome da pureza eram os
ingredientes que atraíam o sexo masculino‖. Em entrevista para Hanne Lore,
repórter da revista Querida (nº 106, p. 89, 1958), o ator Cyll Farney fala sobre a sua
mulher ideal‖:
- A mulher que eu amar será, acima de tudo, educada. Deverá
apreciar a arte em geral e o lar, em particular.o deve mesmo ser
80
demasiadamente bela, para não chamar a atenção dos outros. E que seja
muito carinhosa. Quem é que o precisa de carinho?
-O que vo pede o é muito e, certamente, o lhe será difícil
encontrar amulher ideal.
- -Isso é o que você pensa, as garotas de hoje só querem viver de
rock n‘roll e boites‖. Eu o vejo contdo nisso e, assim, vou
ficando em casa [...].
Desta forma o rapaz deveria buscar a moça em casa e depois levá-la de volta;
poderia entrar na casa da moça se houvesse mais alguém presente. A conta dos
passeios do casal era de responsabilidade do homem. As ditas ―moças de família‖
não deveriam beber, participar de conversas ou piadas picantes nem tampouco
aceitar abraços e beijos envolventes do namorado, não importando os desejos ou a
vontade de agir espontaneamente. Se agissem de forma contrária poderiam ser
consideradas levianas e corriam o risco de ficarem sozinhas. Em reportagem
intitulada ―Seu tipo de mulher‖, da edição de número 251, um entrevistado fala
sobre a importância da pureza feminina: ―Não é justificável uma mulher que tenha
aceitado experiências antes do tempo [...]. A mulher de princípios firmes não cede,
e resistindo, honra a si mesma e à sua educação moral.‖ (Querida, 251, p. 72,
1964).
Em um dos contos presentes nas revistas Querida, o rapaz, interessado em
uma moça dita independente, tira suas vidas a respeito do local em que esta se
hospedava quando viajava sozinha. Ele se sente tranquilizado por saber que esta
se hospedava em local exclusivo para moças, com regulamento severo, o que lhes
garantiria um bom comportamento, no sentido de não levar acompanhantes ao
hotel:
-Você tem apartamento?
-Fico sempre no hotel Bonn, em Nova Iorque
Tim aprovou silenciosamente. O Bonn era um hotel exclusivamente para
senhoras, de ótima reputação e regulamento severo. (Querida 168, p.
62, 1961).
O namoro sério não deveria durar muito ou levantaria suspeitas sobre as
intenções do pretendente, além de colocar a moça numa situação delicada, passível
81
de comentários maldosos. Por outro lado um namoro que durasse muito pouco
também não era bem visto, pois poderia precipitar importantes e definitivas
decisões. Após o namoro vinha o noivado, período em que, com o compromisso
matrimonial firmado, o casal poderia tentar avançar nas intimidades. À jovem noiva,
que precisava manter-se virgem para entrar de branco na igreja, cabia conter as
tentativas do rapaz, afinal era proibido ter relações sexuais antes do casamento,
fosse por ter plena confiança no noivo ou mesmo por temer que este fosse buscar
satisfação nos braços de outra.
Assim como eram poucos os homens que aceitassem que suas namoradas
ou noivas tivessem trocado beijos e carícias com outros rapazes, eram ainda mais
raros os homens que se casavam com as ―defloradas‖ por outro. O Código Civil
previa a anulação do casamento no caso do noivo ter sido enganado. A moça que
tivesse se dado a certas liberdades com outro rapaz corria o risco de ficar sozinha.
Na coluna Seu problema sentimental, Maria Helena aconselha uma jovem leitora
de Querida (Querida 122, p. 69, 1959):
Depois do erro cometido é difícil voltar atrás e é o que
infelizmente aconteceu com você. Creio que já é tempo de procurar
ser mais sensata e cuidadosa. É claro que deve dizer a verdade a seu
noivo. Como pretende ser feliz enganando-o sobre assunto o
importante? Saiba ao menos enfrentar a responsabilidade de seus
atos e nunca se arrependa de agir com lealdade para com o rapaz,
mesmo que as conseqüências de sua fraqueza lhe possam parecer a
princípio pouco agradáveis. É possível que ele rompa o noivado, mas
será que não prefere isto a maiores aborrecimentos futuros [...]. Vindo
a conhecer a verdade depois de casados ele perderia a confiança em
você e a desprezaria [...].
Nas mesmas páginas de revistas, liam-se as críticas às liberdades do cinema,
do rock n roll, dos bailes de Carnaval. Em resposta à carta de uma mãe preocupada‖,
as seguintes palavras: Não é conveniente que uma jovem de 14 ou 15 anos
compareça com demasiada frequência a bailes e festas. O apropriado para essa
idade é comparecer apenas a reuniões de colegas de estudo e aniversários de
parentes e amigos, sem jamais se exceder. (Querida nº 216, p. 31, 1963).
A partir de 1964 o Brasil inicia seu peodo de ditadura. Jovens participantes de
movimentos estudantis começavam a posicionarem-se contrários ao sistema político
82
vigorante, questionando regras e modos de comportamento estabelecidos. Ao mesmo
tempo, e adversamente a isso, encontrava-se uma cultura alienada, voltada para o
individualismo e o romantismo, embalada pelo ritmo da jovem-guarda e influenciada
pela indústria cultural; esta última que veio a tornar-se, talvez, a mais duradoura e
eficaz forma de dominão. Segundo Miguel (2009, p. 18):
Sob a carapuça do entretenimento, da diversão, ou da informação
idônea, séria e objetiva; valores morais, estéticos e políticos eram
difundidos, participando, assim da constrão de bitos e
comportamentos desejados e necessários para a manutenção da ‗ordem‘,
imposta pelo sistema vigente.
Deste modo, apesar de todas as transformações sociais que se iniciavam
neste período e das liberdades mostradas pelo cinema norte-americano, no Brasil
ainda havia um grande esforço para que as coisas fossem mantidas dentro dos
preceitos morais de até então. Com relação à juventude, a preocupação maior era
com jovens que bebiam cuba-libre, mentiam para os pais e cabulavam aulas, o que
mostrava que não possam base moral para construir um lar. Os conflitos entre as
mudaas almejadas pelos jovens e o antigo modelo repressivo eram muito fortes.
Mary Del Priore (2005, p. 320) coloca:
Entre as cadas de 1960 e 1970 eclode o fruto o lentamente
amadurecido: a chamada revolução sexual. Nessa história, novo
ato se abre com o desembarque da pílula anticoncepcional no Brasil.
Livres da sífilis e ainda longe da AIDS, os jovens podiam experimentar de
tudo. Um desejo sem limite de experimentar a vida hippie, os cabelos
compridos se estabeleciam entre nós. Tudo isso, somado ainda a
transformações econômicas e políticas, ajudou a empurrar algumas
barreiras.
Desta ―revoluçãocitada pela autora, percebe-se alguns traços nas revistas
Querida da metade da década de 1960. o o conteúdo escrito, mas também
as imagens retratavam algumas marcas dos acontecimentos que lhes eram
contemponeos. Como o acervo desta pesquisa compreende um período de onze
anos é possível perceber, com um olhar mais atento às capas das 31 revistas que
83
compõem tal acervo, que com o passar dos anos elas vão se modificando. As
transformações sociais se faziam refletir nas fotografias e chamadas das capas
destas revistas, como se pode observar em quatro
18
capas selecionadas a seguir:
Figura 18 - Revista Querida 122, 1959. Figura 19 - Revista Querida 172, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
As primeiras capas de Querida, como bem ilustram as figuras 18 e 19,
trazem imagens de mulheres com os cabelos, que geralmente eram cacheados,
muito bem penteados, maquiagens produzidas com cores fortes, bios pintados
com tons de vermelho e rosa vibrantes e traços bem marcados. É importante frisar
que das 31 revistas analisadas, apenas uma apresentou a imagem de um homem
em sua capa e, também por isto, foi escolhida como capa desta dissertão: a
edição de mero 160, de janeiro de 1961. Nela está um casal sorridente,
18
Por não ser possível analisar, neste momento, todas as capas das revistas que compõem o acervo
para a presente pesquisa, estas serão colocadas em anexo (ANEXO 2) para que o leitor possa
apreciar mais aprofundadamente as mudanças a serem referidas.
84
comendo uma melancia, fruta da estação. A mulher, com os lábios vermelhos, os
cabelos presos e um enorme sorriso aparece em primeiro plano:
Figura 20 - Revista Querida 160, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Havia uma tenncia clara de enfocar a imagem da mulher, não apenas
nas capas, mas nas reportagens e publicidades. A esse respeito a edição de
mero 176 da revista Querida trazia a seguinte afirmão:
A tendência da TV americana é de reduzir ao mínimo possível o
número de homens em seus programas. Especialmente nos anúncios.
Mesmo na propaganda de artigos masculinos as moças conseguem
convencer mais que os rapazes. Também na publicidade de artigos
neutros as mulheres são mais eficientes, porque as senhoras confiam
mais nelas. A muitos homens causa até mesmo irritação ver outros
homens tentando convencê-los de que este ou aquele produto é melhor
do que os demais. (Querida 176, p. 18, 1961).
85
Sendo assim, a partir da alise realizada, pode-se perceber que as
mulheres que ilustravam as capas de Querida, nas edições que o do ano de
1958 até o ano de 1963, pareciam tiradas de uma pintura. Suas roupas, muito
elegantes, transmitiam uma sensação de luxo e glamour. As letras do título da
revista eram de um tipo de letra cursiva, as capas possuíam as palavras ―para
adultos‖ e suas chamadas evocavam principalmente artigos de moda e contos
presentes nestes exemplares.
Entre os anos de 1964 e 1965 começam a surgir transformões nas capas
de Querida. As mulheres que as ilustram aparecem com cabelos longos, lisos e
soltos, as maquiagens tornam-se mais leves, utilizando-se de tons mais naturais
na boca e enfatizando os olhos. Já o se percebe tanto as roupas das mulheres
que aparecem nas capas, pois a ênfase maior é dada aos seus rostos. As letras
do título da revista são agora de um tipo de letra de forma, assinalando a
modificação do periódico, que passa a apresentar chamadas com apelo à pílula
anticoncepcional e sexualidade feminina e não traz as palavras ―para adultos
em suas capas, dados que podem ser observados nas figuras 21 e 22.
Figura 21 - Revista Querida 342, 1968. Figura 22 - Revista Querida 351, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
86
Ao analisar capas da revista Capricho das décadas de 1950 e 1960, Miguel
apontou para detalhes muito semelhantes aos encontrados nas capas das revistas
Querida deste mesmo período:
...é possível perceber que com o passar dos anos elas o se
tornando mais naturais" [...]. Até o ano de 1960, as capas são
ilustradas por mulheres com os cabelos milimetricamente penteados,
aparentando resistência às mais fortes ventanias graças ao laquê. As
maquiagens o um tanto artificiais [...]. O rosto, como um todo,
parece mais uma pintura do que o rosto de uma mulher de carne e
osso [...]. A partir de 1961 nas capas predominam mulheres com os
cabelos ―naturalmente‖ soltos ou, mesmo quando penteados, são
cabelos que transmitem movimento e leveza. Os rostos das mulheres
vão deixando de parecer pinturas, principalmente a partir das edições
da década de 1960 [...]. Ou seja, algumas permanências e algumas
mudanças: mantem-se mulheres jovens, belas e brancas, mas, por
outro lado, abandona-se, em parte (haja vista a forte maquiagem nos
olhos), a artificialidade do rosto de pintura para aproximar-se de uma
imagem de mulher mais real. (MIGUEL, 2009, p. 87-88).
Ainda de acordo com Miguel (2009, p. 88), todas essas transformações nas
fotografias que ilustram as capas estão em consonância com as mudanças em
pauta, especialmente em meados dos anos 60: revolução sexual, movimentos
feministas, maior escolaridade das mulheres, movimentos pacifistas [...].
Consoante a isso, as seções de cartas de Querida registram a necessidade de
transformação da revista, em virtude das transformações sociais vividas por suas
leitoras: Por que tantos contos em Querida? Na verdade, além das seções
costumeiras de culinária, decoração, beleza, etc, a revista pouco ou nada oferece de
informação. Afinal a mulher moderna deseja conhecer outras coisas.
19
(Querida
316, p. 04, 1968).
No entanto é relevante lembrar que apesar das modificões trazidas nas
capas e temas dos assuntos discutidos em Querida, a revista ainda trazia um
discurso voltado aos valores morais conservadores presentes no início dos anos
19
Vale aqui novamente a ressalva já feita anteriormente a respeito das cartas de leitoras retratadas
nas revistas Querida, lembrando que se está admitindo que existiram materialmente. De qualquer
modo, tendo sido esta carta enviada por leitora, criada ou editada pelos editores de Querida, sua
publicação indica uma intencionalidade em preparar sua leitora para possíveis modificações na
revista.
87
50. Na seção de cartas de um exemplar de Querida do ano de 1968, constava a
seguinte resposta a uma leitora que questionava o casamento:
Vo fala em independência, o que à primeira vista é muito
bonito. Procure conversar com as môças que você conhece e que
sabe independentes‘. Ficará surpreendida com seus recalques e
frustrações. A mulher em geral fala em independência sem saber o
que realmente deseja. O que ela quer é sentir-se realizada e
realização sem família não existe. (Querida, nº 335, p. 08, 1968).
Nas grandes cidades os jovens começavam a encontrar-se em torno de
festas, festivais de música, escolas e universidades, cinemas e clubes noturnos.
Mesmo que a sexualidade continuasse a ser vista como um pecado para a Igreja
Católica
20
, as carícias e o beijo mais profundo, antes considerado um atentado ao
pudor, começavam a ficar mais comuns.
Na moda, as saias, inicialmente compridas, tornam-se cada vez mais curtas. As
páginas de moda das revistas Querida pesquisadas também retrataram dita mudança.
Nas revistas que vão do ano de 1958 até o ano de 1965, as páginas de moda trazem
sugestões de vestidos com saias que cobrem os joelhos das moças. Isso vale tanto
para uma reunião mais elegante quanto para um momento mais informal, como se
pode notar nas figuras 23 e 24. A elegância é bastante evocada no que concerne à
moda feminina e as imagens retratadas são, muitas vezes, de mulheres em
companhia de outras.
20
Autores como Uta Ranke-Heinemann (1996), Ivan Aparecido Manoel (2004) e Marcus Levy (1996),
trabalham com a questão da religião, de catolicismo e pecado e da moral religiosa. No entanto esta
pesquisa não possui como um de seus objetivos aprofundar-se neste tema e deixa apenas as
referências destes pesquisadores.
88
Figura 23 - Querida 133, p. 09, 1959. Figura 24 - Querida nº 133, p. 13 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
No ano de 1964 surge a minissaia que, lançada pela estilista Mary Quant,
aparece como ―peça do vestuário feminino que combinaria com o espírito de
sensualidade da juventude dos anos 60.‖ (SENA, 2007, p. 161). E em conformidade a
isto, pode-se perceber que a partir das edições de 1965, as seções de moda de
Querida apresentam as saias mais curtas e é possível ver os joelhos das moças,
tanto nos momentos mais formais quanto nos mais casuais (figuras 23 e 24). A
elegância cede espaço ao conforto, a um certo apelo ao natural, e as imagens
passam a apresentar mulheres sozinhas, em desfiles de moda ou outro cenário
qualquer. Enquanto nas figuras 23 e 24 as modelos vestem sapatos de salto alto,
mesmo em um cenário de praia, na figura 25 elas aparecem descalças e na imagem
26 os sapatos nem sequer podem ser visualizados.
89
Figura 25 - Querida 348, p. 31, 1968. Figura 26 - Querida nº 348, p. 32, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora Fonte: Acervo pessoal da autora
Mesmo com as transformações sociais promovidas na década de 60 a
sexualidade, em especial a feminina, continuava reprimida. O pudor ainda fazia com
que o sexo antes do casamento fosse algo fora da lei‘. Amar ainda não era se
abandonar totalmente. É essencial lembrar que os adultos dos anos 60 foram
educados por pais extremamente conservadores, sob severos preceitos de pudor. A
esse respeito muitos dos contos trazem histórias de moças que tiveram relações
sexuais antes do casamento e, por isso, acabaram sozinhas e sofreram com a
maledicência do povo, além de terem que justificar-se com Deus, como retratam os
seguintes trechos:
Por intermédio de perguntas hábeis revelei ao padre tudo o que
ocorrera naquela noite de pecados com Tim em simples palavras:
- Sim, foi a primeira vez. Não, não pretendíamos que aquilo
acontecesse. Sim, o rapaz é católico. Não, não podemos casar. Sim,
somos menores de idade.
90
- Compreende então que deve evitar qualquer repetição de seu
pecado? Assim, não quero que você volte a se encontrar com este
rapaz [...]. (Querida, nº 274, p. 11, 1965).
Uma noite de loucura pode arruinar uma vida. Quantas vezes ouvira
mamãe dizer-me esta frase? Mas não lhe dera ouvidos. Agora estou
grávida, sem um marido e enfrentando a maledicência da cidade.
(Querida, nº 216, p. 83, 1963).
Apesar de o sexo fora do casamento não ter sido assunto de destaque nas
revistas pesquisadas, era através dos contos que eram transmitidas lições de moral
contrárias à sexualidade feminina antes do matrimônio. A moça das estórias que se
excedesse sexualmente, com um homem que não fosse seu esposo, estava fadada
a ficar solteira, grávida ou ‗mal falada‘. Mesmo com o advento da pílula
anticoncepcional e com todos os câmbios que se davam na sociedade brasileira no
final da década de 1960, as revistas Querida analisadas discutiam apenas a
sexualidade das mulheres casadas, deixando claro, com a eloquência do silêncio,
que fora deste caso a sexualidade feminina não era aceita.
4.2 A RAINHA DO LAR
Mesmo no final dos anos 50 ainda se acreditava que ser e e dona de casa
era o destino natural das mulheres. Pensava-se que a felicidade feminina, nesse momento
histórico, seria alcançada com a realizão de um bom casamento, com a maternidade e
com o cuidado da casa, dos filhos e do esposo. Aos homens cabia a participação no
mercado de trabalho, a força, o sustento da falia. De acordo com Michelle Perrot (1988,
p. 177) era um discurso que tratava de duas espécies com qualidades e aptidões
particulares. Aos homens, o cérebro (muito mais importante do que o falo), a inteligência,
a razão lúcida, a capacidade de decisão. Às mulheres, o coração, a sensibilidade, os
sentimentos.
A presea da falia na escolha do njuge era marcante e a anuência desta
para com a união do casal era tida como fundamental para que o casamento desse certo.
O ―bom partido‖ era aquele capaz de dar conforto a sua família. A responsabilidade
91
masculina com relação ao sustento do lar aparece em muitos dos contos de
Querida:
Que tipo de homem era eu que não conseguia dinheiro
suficiente para casar e dar a minha esposa uma casa decente? (Querida
nº 122, p. 67, 1959).
Embolsei as duas notas de duzentos que ela me deu, e saí dali o
mais rápido que pude. Que espécie de homem era eu ‗Tão alto, tão
forte‘ que não conseguia dinheiro suficiente para casar com minha
namorada e levá-la para longe de um cubículo de 1 metro por dois,
numa casa que cheirava a repolho azedo? (Querida 177, p. 76,
1961).
Acreditava que um homem que não consegue sustentar com
conforto sua família e se deixa intimidar não é digno de continuar a
existir. (Querida nº 172, p. 80, 1961).
Inteligência também contava pontos na hora de escolher um marido; de
acordo com Odete Valeri, uma das colunistas de Querida, uma mulher inteligente mais
frequentemente que o homem - escolhe um homem de inteligência equivalente (o homem,
por motivos masculinos,o aprecia a mulher muito inteligente)‖. (Querida 109, p. 14,
1958).
O romantismo e a sensibilidade eram tidos como características femininas.
Assim, era compreenvel que a mulher se interessasse por romances e vivesse
para o amor‖, mas há que se ressaltar que este amor deveria estar sempre
cercado pela rao. Paies femininas que excedessem os padrões da tradicional
felicidade advinda do casamento legal o eram permitidas, assim como também
se julgava errado enamorar-se por rapazes aventureiros, considerados
irresponsáveis. os homens poderiam fugir às regras sem comprometer o bem
estar moral.
O casamento era visto como a instituão que prometia a tão almejada
felicidade. Ele representava, como coloca D‘incao (1997, p. 228), uma ―etapa
superior das relações amorosas‖ e qualquer relação entre homens e mulheres que
o se firmasse dentro do matrimônio era considerada ilegítima e indecente. O
amor conjugal, por sua vez, era sereno e saudável. Qualquer amea de uma
paixão que pudesse abalar este amor deveria ser banida. O casamento tinha
92
também como finalidade a produção de uma prole legítima e era o único recôndito
―seguro‖ em um ambiente urbano com tantos perigos e incertezas.
Mesmo depois de casados o homem e a mulher continuavam a vivenciar uma
relão spar. Para a esposa modelo a satisfão e o bem-estar do marido eram a
medida necessária para a felicidade conjugal. Para tanto se fazia imprescindível
que a mulher fosse prendada, ou seja, que cozinhasse bem, soubesse costurar,
cuidasse muito bem dos filhos, e mantivesse a casa sempre limpa e organizada.
Muitos dos contos de Querida retratavam essa dedicação da esposa ao lar e ao
marido:
Mantive a promessa. Nas semanas que se seguiram, arrumei
muito a casa e preparei boas refeições, de modo que ele não tivesse
mais o menor motivo de queixa. (Querida nº 168, p. 89, 1961).
O quê? Ainda nem começou a fazer o jantar? espantou-se Billy.
(Querida354, p. 91, 1968).
Eu entregava-me com delícia ao trabalho de arrumar e enfeitar a
casa e preparar os pratos prediletos de Wade. (Querida 172, p. 33,
1961).
Com relação a isto, corroboro com Miguel, ao ressaltar que estes trechos que
se referiam ao comportamento da boa dona de casa, tal qual as publicidades que
também o faziam, mais do que apontar para um público alvo, sinalizam que a revista
atribuía às mulheres a responsabilidade pela casa, pelos cuidados com a família,
com o marido e com os filhos. Isso não quer, necessariamente, dizer que a revista
fosse voltada apenas às donas de casa ou às moças casadoiras; as leitoras desta
revista o eram obrigatoriamente mulheres dentro deste perfil. O que a revista
fazia era ecoar aquilo que estava associado, culturalmente, ao papel esperado das e
pelas mulheres da época, independente de elas serem donas-de-casa ou não.
(MIGUEL, 2009, p. 21). No entanto, como bem sustenta Lílian Henrique de Azevedo
(2009), esse comprometimento feminino com a casa e a família não deveria parecer
empreitada estranha às mulheres, uma vez que estas foram educadas, desde
meninas para tais tarefas:
93
é culturalmente internalizado pelas mulheres na nossa
sociedade, desde a tenra infância, o cuidado com os bebês e crianças
pequenas por meios das bonecas; das tarefas domésticas por meio dos
brinquedos (geladeira, vassoura, tábua de passar roupa, fogão e outros
aparelhos domésticos que simulam o teatro do cotidiano); do cuidado
de si e das preocupações com a beleza e o consumo, também por
bonecas como Susi, criada e fabricada no Brasil na década de 1960 e
sua concorrente Martinha, da Trol, além da internacional Barbie.
(AZEVEDO, 2009, p. 36).
Através das páginas de Querida eram divulgados discursos que levavam a
entender que a boa esposa sabia que deveria assentir com as decisões do marido,
nunca devendo criticá-lo, especialmente por questões de dinheiro:
Ele era agora meu marido, eu usava a aliança por ele colocada
no meu dedo. Tinha os seus direitos e eu tinha de obedecer-lhe, como
dissera-me mais de uma vez minha pobre avó [...]. Eu sabia ser de fato
assim. Os montanheses não suportam crianças choronas ou esposas
rebeldes. Até mesmo vovó dizia que, uma vez com a aliança no dedo,
tinha-se que obedecer sempre ao homem. Coloquei o menino na cama
e fui preparar o jantar. (Querida nº 168, p. 53, 1961).
Mas que importava ele beber um pouco, dissera-me mamãe. Os
homens bebiam mesmo, o que restava às mulheres era acostumar-se
com isso. (Querida nº 177, p. 65, 1961).
Era importante que a mulher casada soubesse vestir-se de forma elegante,
porém sem muitos exageros que pudessem vir a provocar ciúmes no marido. O
lugar dado à mulher era o de ―completar o homem. A esse respeito Del Priore
(2005, p. 312) afirma:
Insatisfações femininas? Eram desqualificadas [...]. Brigas entre o
casal? A rao era sempre do homem. Mas se razões houvesse, melhor
para as mulheres resignarem-se em nome da tal felicidade conjugal. A
melhor maneira de fazer valer sua vontade era a esposa usar o que a
historiadora chamou de ―jeitinho‖: assim o marido cedia, sem saber. E,
mais importante, sem zangar-se. Nada de enfrentamentos, conversa
entre iguais ou franqueza excessiva [...]. Problemas no casamento?
Nada de psicanalistas ou de tranquilizantes. Resolviam-se por meio
dos conselhos de revistas femininas.
94
Sendo o casamento tão importante para a mulher da época, cultivá-lo fazia-se
essencial. Muitas propagandas, colunas, anúncios e reportagens presentes nas
revistas Querida (1958-1968) demonstram que o cuidado com a beleza era tido
como a forma de atrair a atenção do marido e de não correr o risco de perdê-lo. Era
um dos segredos para a tão aclamada ―felicidade conjugal‖ que não no setor
matrimonial como no profissional, as excelentes qualidades de espírito e
comportamento, de formação e de integridade moral, e a mesmo as aptidões,
foram desprezadas e deixadas de lado na corrida pela beleza.(Querida 122, p.
94, 1959). A revista enfatizava, através de seus artigos e contos, a importância de
estar bonita para o marido:
Há algum tempo você era a garota dos sonhos dele [...]. E
agora? Será que isto ainda acontece? Sejamos honestas. Como você
estava esta manhã, quando ele saiu para o trabalho? [...] Nesta hora,
nada mais do que o rosto bem lavado e uma leve camada de pó. Afinal
de contas, ele está saindo para o trabalho. Naturalmente na volta você
deverá caprichar mais, se quiser que a volta ao lar seja um momento
importante no dia de seu marido [...]. Limpa, perfumada e arrumada,
você fará com que seu marido leve para o trabalho, todas as manhãs, a
imagem fresca e jovial da ‗garôta dos seus sonhos‘. (Querida 303, p.
66-B, 1966).
Não trabalhe demais sussurrou Earl. Ponha-se bem bonita
para mim. (Querida122, p. 64, 1959).
A mulher casada tinha a obrigação de concentrar sua energia em satisfazer o
marido. As relações amorosas de um casal passavam por inúmeros cuidados com a
aparência. As mulheres que queriam investir em um ―casamento feliz‖ precisavam
primar por sua beleza e manterem-se sempre bem vestidas para seus esposos,
pois um ―casamento dos sonhos‖ era construído à custa de empenhos para manter o
marido feliz. Conforme a revista Querida (nº 122, p. 93, 1959) o homem tem
procurado através dos tempos a bondade e a beleza na mulher. Para si e para seus
filhos. Em uma reportagem intitulada ―O glamour e a mulher casada‖, constavam
os seguintes aconselhamentos:
95
Qual a virtude em apresentar-se desleixada? A comprovação de
que o dia lhe foi penoso, trabalhoso? Para seu marido significa apenas a
positivação da sua metamorfose. Você já não é aquela jovem que ele
conheceu, glamurosa e bela. É mais fácil facílimo manter os cabelos
curtos, bem penteados em ondas, recorrendo a um bom permanente, do
que exibir os monstruosos rolos todas as noites. Talvez seu marido não
se queixe porque já se acostumou a eles como se habituou às peças do
mobiliário. À velha suéter aposentada como ao mingau de aveia pela
manhã. À toalha enrolada em turbante emoldurando o rosto oleoso de
cremes. não nota como você parece, mas sabe distinguir
perfeitamente como parecem as outras que encontra na rua [...]. O que
aconteceu? Tarefas domésticas, obrigações, filhos, a rotina diária. É
uma boa desculpa, mas é justo viver apoiada em justificativas?
Encarregue-se da casa e filhos, de forma a reservar meia hora antes da
chegada dele a sua ―toilette‖, criando um ambiente propício ao romance.
Romance e amor valem mais do que sexo, creia, e conseguem envolver
o homem. (Querida, nº 274, p. 34, 1965).
Claramente as tarefas diárias de cuidados com a casa e filhos não
dispensavam a necessidade feminina de cuidar da aparência. E vale notar, como
aparece no primeiro trecho citado, que a mulher descuidada corria o risco de ver seu
marido mais interessado em outras. Tudo por sua culpa, porque o soube manter-
se bela para ele, porque não reservou, em meio aos afazeres domésticos, tempo
para tratar de sua beleza. A expectativa com relação ao homem não era a mesma,
ao menos não foi encontrada nenhuma alusão à importância da beleza masculina. A
publicidade também explorava a importância da beleza para a rainha do lar, como é
possível notar na imagem subsequente:
96
Figura 27 - Querida nº 122, p. 45, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Este anúncio traz a imagem de um casal, ao fundo, e de uma mulher em
primeiro plano. Todos os personagens estão muito bem vestidos e, a julgar pelo
binóculo na mão da moça e pelo desenho do que poderia ser um balcão de camarote,
pode-se afirmar que estão a assistir a um evento em um teatro. O homem, que
aparece acompanhado, está a olhar para a moça, que parece estar desacompanhada.
No alto da página esescrito: ―Você é linda... mas por que ‗êle‘ olha para a outra?‖ No
canto inferior direito da página constam os seguintes dizeres: Fa irradiar do seu
rosto aquele mesmo encanto que ‗Êle‘ tanto admira nas outras mulheres. Use o novo
compacto Rêve D‘or – o moderno ‗milagre‘ de Paris criado por L. T. Privér.
Claramente a propaganda expõe que o motivo do homem estar a olhar para
outra mulher é que a sua companheira o lhe parece suficientemente bonita. Isto
lhe confere escusas suficientes para admirar e desejar, até, outras mulheres. A ênfase
dada à palavra ―ele‖ no texto publicitário parece querer fazer com que a leitora se
remeta não apenas ao homem retratado no desenho, mas àquele homem que faz
parte de sua vida, seu marido ou noivo.
97
Ao passo em que as boas esposas desdobravam-se em cuidados para
manterem-se belas e deixar seus maridos felizes e satisfeitos, eles não se privavam
dos ―casos ou affaires com os quais se encontravam às escondidas. Se
descoberto o romance extraconjugal do esposo, o jeito seria tentar reconquis-lo
com muito carinho, procurando estar sempre bonita para ele e, principalmente,
controlando os ciúmes, pois os maridos não deveriam ser importunados com
interrogatórios ou crises de ciúmes. Era mister que eles tivessem a liberdade para
sair com os amigos e suas pequenas conquistas amorosas deveriam ser relevadas
por aquelas que quisessem manter um bom convívio conjugal. Em um conto de
Querida a esposa compreensiva conversa com o marido após a morte de sua
amante:
Ela nunca desejou o meu lugar, Cesar. Não era uma questão
de concorrência. Ela o amou à sua maneira de criança dependente,
mimada, doente talvez. Mas eu sou sua mulher. Quero que saiba que
fiz todo o possível para salvá-la, mas não há esperança. Não permiti
que vo soubesse antes para não causar-lhe preocupação. Agora é o
fim. (Querida nº 316, p. 34, 1967).
Outros contos de Querida traziam também a questão da esposa traída pelo
marido:
Às três horas ouvira sua camioneta e saíra da cama para vê-lo
subir as escadas com passo incerto. Se tivesse voltado para a cama e
fingido estar dormindo... mas não. Enfrentara-o e vira batom no rosto e
no colarinho do marido. (Querida nº 168, p. 70, 1961).
Você está sendo muito severa, minha filha. milhares de
homens que bebem demais de vez em quando e têm pequenos casos
que nada significam. (Querida nº 168, p. 72, 1961).
O coração gritava que ele me traíra, mas a consciência me
acusava: eu era a culpada. E lembrei-me das noites em que o deixava
só, dos beijos negados, dos carinhos que eu desprezara, absorvida,
imantada, em devoção exclusiva primeiro ao meu filho, depois à filha
adotiva... (Querida nº 176, p. 93, 1961).
98
É importante ressaltar que em todos os excertos era a esposa a culpabilizada
pela traição: ―Se tivesse voltado para a cama e fingido estar dormindo‖, ―você está
sendo muito severa‖, ―eu era a culpada‖. Fosse por ter enfrentado o marido quando
‗devesse‘ fingir estar tudo bem, fosse por ser demasiado severa por acusar o esposo
pela traição ou fosse por ter se doado mais ao filho que ao marido, o erro estava
sempre na mulher. Nestes contos o homem tinha sempre a seu lado uma boa
desculpa para ter procurado uma amante.
Em relação à sexualidade e o casamento, a mulher burguesa era
considerada a base moral da sociedade e, portanto, na visão de D‘incao (1997, p.
230) ―a mulher de elite, a esposa e mãe da família burguesa deveria adotar regras
castas no encontro sexual com o marido, vigiar a castidade das filhas, constituir uma
descendência saudável e cuidar do comportamento da prole‖. A relação conjugal
estava baseada mais no respeito do que no prazer. A mulher que fosse infiel era
veementemente criticada e não deveria esperar compreensão alguma por parte do
cônjuge, de sua família ou amigas. A esposa adúltera demonstrava que não tinha
condições plenas de cuidar de seus filhos.
Mas eram as separações, ou os desquites, que realmente assustavam as
mulheres casadas, pois neste aspecto o que estava em jogo o era apenas o lado
afetivo, mas tamm as necessidades econômicas. É importante lembrar que neste
período muitas das mulheres de classe média dependiam do marido para sustentá-las. A
edição de número 285, apresenta uma reportagem intituladaLei de amparado aos
fracassados no Amor. O subtítulo da mesma, que já indica o rumo a ser tomado na
discussão, é Enfraquecer a família é suicídio social‖. Nesta reportagem, que trata sobre a
possibilidade de legalizão do divórcio no Brasil, advogado Murilo Navarro Pereira, faz as
seguintes considerações:
Ainda que acusem o povo brasileiro de subdesenvolvido, ninguém
encontrará argumentos convincentes para acusá-lo de divorcista. No Brasil, a
mentalidade conjunta por si mesma não aceita, sem restrições, um
esfacelamento da uno matrimonial [...]. A dia de sario entre os jovens
não vai além de 250 mil cruzeiros mensais. O que seria destes jovens um dia
divorciados, tendo duas famílias para sustentar? - Uma calamidade social.
(Querida 285, p. 23, 1965).
99
O desquite era a única possibilidade de separação legal dos casais na década de
1950, mas ele não dissolvia os vínculos conjugais nem admitia novos casamentos.
Além disso, desquitados de ambos os sexos eram vistos como companhia, mas
as mulheres sofriam mais com a situação, pois eram evitadas pelas demais
mulheres casadas e qualquer ato seu, que fosse considerado desvio de conduta
pelo juiz, poderia fa-las perderem a guarda dos filhos. A revista Querida (nº
335, p.14, 1968) advertia: ―A mulher divorciada ou desquitada, por causa dos
preconceitos, tem que enfrentar rias consequências. Ao lado das complicões
morais, alinham-se contra ela todos os problemas de cater financeiro e
material.
A partir de uma leitura, dentre as possíveis, de três publicidades veiculadas
em revistas Querida, é possível perceber de que forma as identidades de gênero
são apresentadas e o que é mostrado como natural. É importante lembrar que a
indústria publicitária lança mão de muitos recursos para vender. O fato de estar
inscrito em uma propaganda não significa um comportamento a ser afirmado, é
também uma estratégia de mercado.
Figura 28 - Querida nº 122, p. 45, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora
100
A imagem apresentada neste anúncio publicitário é a de uma mulher com um
amplo sorriso estampado em seu rosto. No alto da página estão as figuras de um
homem e um bebê, que poderiam ser seu marido e filho, respectivamente. No final
da página estão imagens de discos da Odeon. No centro do anúncio constam os
seguintes dizeres: ―Alegria! Bom humor! Prazer de viver! Humor musical Odeon pra
você! O ambiente da sua casa é um reflexo do seu estado de espírito. Só você,
como mãe, é capaz de proporcionar a seus filhos uma atmosfera sadia, onde eles
possam crescer alegres e felizes. você, como esposa, é capaz de fazer do seu
lar, o ambiente acolhedor que seu marido espera encontrar quando volta de noite.
Mas, para isso, é preciso que você viva sempre alegre e bem disposta. É preciso
que você mantenha o seu espírito leve e bem humorado, ouvindo boa música
durante o dia: a boa música dos discos Odeon, especialmente planejados para
estimular o seu prazer de viver.‖
Nesta propaganda está bem clara a responsabilidade da mulher, como
esposa e mãe, pelo ambiente do lar. A publicidade enfatiza a importância de sentir-
se alegre e bem disposta, não por motivos de saúde ou satisfação própria, mas para
que essa alegria fosse refletida em sua casa, na acolhida do marido, quando este
retornasse do trabalho, no trato e no zelo com os filhos. A esse respeito Miguel
(2009, p. 221) afirma:
Uma vez que zelar pelo outro, cuidar da casa, dos filhos e do
marido são ingredientes essenciais para que seja assegurada a
felicidade conjugal; cuidar do outro pode ser visto, então, como um
cuidado de si. Ou seja, a partir do momento em que cuido do outro, eu
estou cuidando de mim, que garanto minha ―felicidade‖ como esposa
e como mãe [...]. Num cenário como o dos anos 50 e 60, onde a esfera
da sedução e a esfera do doméstico cercam e perseguem as mulheres
(ainda mesmo na segunda metade dos anos 60, com tantas conquistas
por ela alcançadas), não é difícil entender que esta confusão ocorra.
Ambos permanecem imiscuídos, entrelaçados, e a publicidade, parece
fazer questão de acentuar esta imbricação entre si/sedução e
outro/doméstico.
Este cuidado com o outro, que parecia ser um compromisso assumido por
uma boa dona de casa, esposa e mãe, surgia como uma espécie de pré-requisito
101
para o sucesso da vida conjugal. (MIGUEL, 2009, p. 219). O zelo pela família torna
a aparecer em outros anúncios publicitários, como o selecionado a seguir:
Figura 29 - Querida nº 168, p. 93, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora
A figura 29 apresenta um modelo nuclear de família, mãe, pai e filhos, em que
a mãe é a responsável pelo bem estar de todos. Como anunciado nesta
propaganda, o lar deveria ser a maior alegria desta mulher e, portanto, inspira
muitos cuidados, dentre eles a preocupação com a saúde e o bem-estar de todos.
Ao marido cabe preocupar-se em sustentar financeiramente este lar, dando a sua
esposa e filhos o maior conforto possível em termos materiais. Um bom marido é
aquele que além de dar conta das despesas rotineiras de uma família, ainda
consegue presentear a sua esposa. Na figura 30, a seguir, este aspecto é bem
visível.
102
Figura 30 - Querida nº 133, p. 89, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora
A mulher, que aparece sorridente, está feliz por ter sido presenteada com
uma máquina de costura, anunciada na publicidade como algo tão apreciado quanto
uma jóia. Não é de se admirar, uma vez que saber costurar bem era um valioso
atributo de moça de família prendada e caprichosa. Além disso o sonho de ter um
eletrodoméstico estava sendo constantemente ―vendido‖ nas propagandas
veiculadas nas páginas das revistas femininas da década de 60 (XAVIER FILHA,
2005). De acordo com Vizentini (2003, p. 205) o governo JK havia retomado o
projeto de industrialização, que agora apoiado no setor de bens de consumo
durável para as classes de média e elevada renda.‖ O homem aparece também
sorridente, pois pode comprar o presente de sua amada em suaves prestações. Aqui
é importante lembrar novamente, que a responsabilidade de pagar pelas coisas da
casa era do homem, que tinha o papel de provedor, dando a sua família todo o
conforto.
103
Apesar de tais valores morais e concepções de gênero a respeito dos modos
de comportamento de moças direitas e boas esposas, as revistas Querida
pesquisadas começam a registrar, a partir do ano de 1966, artigos relacionados à
sexualidade feminina, a como conciliar trabalho à lida de dona de casa e mãe; junto
aos contos surgem imagens mais ousadas de beijos calorosos. Tudo isso está afim
com o que vem a afirmar Lílian Henrique de Azevedo:
Desde fins do século XIX, sobretudo após a proclamação da
república, as mulheres foram convocadas para educarem as crianças
que seriam os futuros homens públicos e as ―rainhas do lar‖ da nação.
Este pensamento passou a ser colocado publicamente em xeque e de
forma incisiva a partir dos anos sessenta, por ter demonstrado estar
corroído e maculado por uma ordem de poder impossível de ser
sustentada sem maiores conflitos. As críticas em relação ao casamento,
a luta pelo direito ao divórcio e a decisão de ter ou não filhos por
escolha, bem como o direito ao prazer e ao aborto no Brasil, foram
questões tratadas socialmente como revolucionárias em um período de
afirmação da mulher na cena pública. (AZEVEDO, 2009, p. 36-37).
As transformações da época apareciam nas páginas de Querida, embora os
antigos preceitos morais não houvessem ainda desaparecido. Nas revistas Querida
os temas amor e casamento apareciam de forma a mostrar os conflitos que a
sociedade vivia nesse sentido. Em conformidade a isso, Miguel (2009) afirma que
apesar de algumas permanências a imagem da mulher começa a se modificar. Em
resposta à carta de uma leitora, mãe solteira, Querida demonstra um pouco das
modificações que a sociedade brasileira vinha sofrendo, ao afirmar que esta mulher,
com um passado ‗manchado‘ por sua conduta sexual, poderia ainda conseguir
casar-se: ―É duro viver sem um companheiro e sem um pai para sua filha. Desde
que tenha juízo e não se exponha a situações perigosas, poderá casar, pois,
felizmente, os homens estão aprendendo a ver a mulher através do que ela possa
representar para ele, e não pelo seu passado.‖ (Querida, nº 352, p. 13, 1968).
As modificações sociais pareciam refletir os acontecimentos da época, como
a abertura da sexualidade feminina através da pílula anticoncepcional, aumento da
escolaridade e maior participação das mulheres no mercado de trabalho. São
104
exemplos destas mudanças os seguintes excertos, retirados dos exemplares
analisados:
Já passou a época de se dizer que mulher atualmente tem direitos e
deveres iguais aos do homem. não é mais hora de constatar que,
afinal de contas, mulher também ―é gente‖. Tudo isto, se bem que ainda
seja discutido com ardor, está ultrapassado. O tempo agora é de
verificar o que faz a mulher para merecer tais direitos. (Querida, 335,
p. 69, 1968).
Limitação da natalidade é tema que continua em debate, quer na
palavra da cúpula (Igreja, Medicina, Estado), quer no diálogo de
comadres ou no noticiário leigo da imprensa. Embora tenha sido assunto
perigoso até bem pouco tempo, uma espécie de tabu hipócrita (mesmo
as piedosas senhoras que ainda se escandalizam à simples menção da
palavra ―diafragma‖, sempre utilizaram seus secretos truquezinhos
anticoncepcionais...), hoje é conversa das mais populares. É argumento
de filme e livro: ―Prudência e a pílula‖. É a base para inúmeras piadas:
―Como se chama a mulher que não toma pílula: mamãe...‖ É definição:
Mulher A.P. e Mulher D. P. antes e depois da pílula. (Querida, 342,
p. 36, 1968).
Muito se tem falado na limitação da família, pois a necessidade de
reduzir-se a extensão da prole, no mundo inteiro, vem assumindo um
caráter de urgência. Afora os métodos convencionais de limitação, até
então usados, as pílulas anticoncepcionais, de criação recente, estão
despertando viva celeuma em todos os recantos do mundo, provocando
debates acalorados e manifestação de setores religiosos e
governamentais. Se V. pretende limitar sua família, pense bem em todos
os ângulos da questão e principalmente consulte seu médico. As pílulas
são realmente eficazes, mas não devem ser tomadas sem a devida
orientação. (Querida, nº 350, p. 11, 1968).
A frigidez masculina sempre existiu. Ela, entretanto, é
essencialmente uma doença moderna. Nunca, como hoje, o homem
sofreu tanto a ameaça da impossibilidade sexual. O que ainda não
existe é um debate franco em torno do problema. A mulher receia
abordá-lo e o homem se recusa a aceitá-lo, sem prevenção. A questão,
porém, está nas mãos do bom senso, pois não se trata de um problema
sem solução. O assunto também pertence à mulher e ela, mais uma
vez, está diante de um desafio. (Querida, nº 351, p. 35, 1968).
Percebe-se, através dos trechos recortados das revistas, todos do ano de
1968, que estava a ocorrer uma maior abertura em torno dos debates sobre
105
sexualidade, controle de natalidade, direitos e deveres das mulheres. A revista
Querida, que como afirma Carla Bassanezi (1996), poderia ser considerada ousada
para a época, apóia e trata de modo natural o uso de métodos contraceptivos, bem
como a utilização da pílula anticoncepcional como forma de limitar o número de
filhos ou, até mesmo de evitar a gravidez. Assuntos relativos à sexualidade como a
frigidez masculina também são abordados abertamente. Em um determinado
momento da reportagem que discute este tema, a sexualidade refreada das
mulheres é posta em xeque, atitude extremamente arrojada tomada pela edição da
revista:
meios que ordinariamente a mulher teme utilizar, com medo de
ser mal compreendida pelo marido, que pode compará-la a uma mulher
vulgar. No entanto, entre a hipótese referida e a esperança de salvar
uma união matrimonial, não escolha possível. A mulher, assim, deve
ter sempre em mente que, antes de tudo, o homem aprendeu a ter
relações sexuais, pois isto era necessário à perpetuação de sua
espécie, à confecção de sua imagem natural. Dessa forma, ela deve
partir em busca dos caminhos que possam erotizar seu marido,
concebendo-o simplesmente como o macho que deve ir em busca de
sua fêmea. O homem é um animal e a coisa mais instintiva e animalesca
é o sexo. Dirão alguns: mas isso é sexo sem amor! Nós perguntamos:
existirá sexo sem amor? Procurar o sexo é procurar o amor. (Querida,
351, p. 37, 1968).
Pode-se entender este excerto como ousado para a época porque, apesar
de, como coloca Miguel (2009), os anos 60 terem marcado o início do fim de
amores que tinham de parar no último estágio e de as mulheres começarem a
desobedecer às normas sociais e familiares, o sexo antes do casamento, de um
modo geral, continuava a ser fortemente recriminado. Não existia uma preocupação
relacionada à vivência do sexo, à felicidade sexual, mas sim com a preparação para
a vida matrimonial e com a procriação. Também neste trecho a mulher, esposa,
teria ‗permissão‘ para ousar na cama a fim de ‗salvar‘ seu marido da frigidez.
Nos exemplares do final da década de 1960, estava presente uma maior
ousadia nos contos e nas imagens adjacentes a eles. Apesar do fato de que as
lições de moral a favor dos ―bons costumes‖, da moça direita, de família
continuavam a fazer parte das estórias, podia-se ler em seus parágrafos cenas
106
―quentes‖ de beijos e carícias entre os casais. As ilustrações dos contos também
traziam cenas de beijos e abraços ardentes, como se pode perceber na figura 31,
que apresenta um homem deitado sobre uma mulher. A mulher aparece de olhos
fechados e a boca semi-aberta, como que em uma demonstração de prazer. O
homem está a beijar seu pescoço e, aparentemente, a tirar-lhe a blusa, que é
possível vislumbrar seus ombros nus. que atentar-se para o fato de que esta
imagem é retratada por uma revista do ano de 1968.
Figura 31 - Querida nº 348, p. 09, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Diante do exposto, é possível afirmar, como bem lembra Carla Bassanezi,
que as desigualdades entre homens e mulheres, a sexualidade, a maternidade, os
relacionamentos familiares, as relações de trabalho, os jogos de poder, etc. são
―concebidos e representados de maneiras diferentes configurando relações de
gênero distintas em vários espaços e momentos históricos.‖ (BASSANEZZI, 1996,
p.11).
107
A mulher conquistava novos lugares nessa sociedade e, assim, não cabia
mais limitá-la ao antigo papel de esperar em casa pelo marido. Porém, o que se
almejava, afinal, desta nova mulher? Infelizmente, apenas com os exemplares
utilizados nesta pesquisa, que vão até o ano de 1968, não é possível chegar a uma
idéia que de alguma forma se aproxime de uma possível resposta a esta pergunta.
Seria plausível, talvez, buscar esta resposta através uma pesquisa que abrangesse
também as edições posteriores de Querida, que vão do ano de 1989 a 1998.
108
5 PARA ALÉM DAS PÁGINAS DE QUERIDA
Eu guardava no fundo do coração o meu
secreto amor, agarrava-me à esperança de
que Mário voltaria para dizer que me
amava e que faria de mim sua esposa
(Querida 109, p. 38, 1958).
Ao longo desta pesquisa e por meio dos textos e imagens presentes nas
revistas Querida analisadas, foram encontrados discursos que de certa forma
indicavam condutas femininas consideradas ideais para a época. Condutas, plural,
porque eram prescritos preceitos de comportamento para as mulheres solteiras,
diferentes daqueles para as mulheres casadas; preceitos estes que foram sofrendo
modificações ao longo do período estudado, ainda que sutis em alguns aspectos.
A imprensa feminina desempenhou, e continua a desempenhar, importante
papel na educação de mulheres letradas. As revistas direcionadas ao público
feminino, grandes amigas e conselheiras de suas leitoras, em especial para as
donas de casa da metade do culo XX, poderiam ser vistas como a mídia que,
aparentemente, menos interferia negativamente no andamento dos trabalhos
domésticos. Sua leitura era associada a momentos de relaxamento e descanso,
podendo ser facilmente retomada por não exigir tanta concentração quanto a leitura
de um livro.
Deste modo, através de suas páginas, seus artigos, contos, publicidades,
colunas etc., a revista Querida, entendida aqui como objeto veiculador de
pedagogias culturais, participou da educação de um grupo de mulheres, suas
leitoras. Prescreveu modelos de conduta para as mulheres que almejavam casar-se
com um ―bom partido‖ e alcançar a ―felicidade conjugal‖. Tudo isso em um período
de industrialização no país, de inovações tecnológicas, de alteração nos padrões de
109
consumo da sociedade brasileira. Período que presenciou uma valorização da
juventude, da cultura de massa e da inserção da mulher no mercado de trabalho.
A coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas, assinada por Maria Thereza
Weiss, fez circular preceitos de civilidade para a mulher da época através de
pequenas regras de como portar-se à mesa, receber convidados, vestir-se, noivar,
namorar, presentear ou receber presentes etc. Com isso a coluna não apenas
ensinou normas de civilidade para suas leitoras, como também contribuiu para forjar
um imaginário acerca da mulher moderna.
Não somente por meio da coluna Certo e Errado nas Pequenas Coisas, mas
através de seus contos, artigos, seções imagens e anúncios publicitários, a revista
reverberou modelos de comportamento para moças solteiras, ensinando-as a serem
recatadas, sexualmente contidas, vestirem-se com discrição, aprenderem a
cozinhar, costurar, lavar e passar; tudo isso voltado para arranjarem bons maridos e
tornarem-se boas donas de casa que, de acordo com o conteúdo veiculado nas
revistas Querida, era o ideal de toda moça de família.
As rainhas do lar tiveram muito o que aprender com Querida. A revista ecoou
modos de ser uma boa esposa e conquistar a felicidade conjugal. Para isso a mulher
deveria dedicar-se ao lar e ao marido. O cuidado com o outro, sendo este o esposo
e os filhos, marcava o caminho para a satisfação pessoal, uma vez que esta
satisfação estava vinculada à tão aclamada prosperidade matrimonial.
Cuidar da beleza também fazia parte das atribuições da rainha do lar, o que
não impediria que seu marido tivesse casos extraconjugais. Se fosse este o caso,
calar-se, ou melhor, procurar meios de melhor agradá-lo era tido como a forma
correta de se proceder. Cenas de ciúmes apenas a levariam a desestruturar ainda
mais o casamento e, como a mulher divorciada não era bem vista perante a
sociedade, o divórcio ou a separação deveriam ser evitados a todo custo.
Nestes onze anos de revistas (1958-1968), contudo, alguns conceitos foram
se modificando e, apesar de haverem ainda algumas permanências com relação aos
comportamentos femininos indicados pelos exemplares estudados, os direitos das
mulheres passam a ser debatidos e se percebe o que poderia delinear novos
preceitos de condutas femininas através das páginas de Querida no final dos anos
sessenta. Uma mulher que não precisava mais negar sua sexualidade e que tinha
agora a chance de decidir se realmente desejava ser mãe, que poderia limitar o
número de filhos através do uso de métodos anticoncepcionais. Uma mulher mais
110
escolarizada, que estava a buscar seu espaço no mercado de trabalho, mas que
ainda precisava dividir estas atribuições às de dona de casa, esposa e mãe, que
continuava sendo vista como a responsável pelas atribuições domésticas, que ainda
precisava preocupar-se em estar bonita para atrair seu marido.
O conjunto de revistas Querida, tomado por fonte da presente pesquisa,
estampava essas mulheres, além de indicar modos de comportamento para aquelas
que as liam. Estes discursos para o feminino vão além das páginas de Querida
porque estas revistas, entendidas aqui como veiculadoras de pedagogias culturais,
ensinaram modos de ser, de portar-se, reverberaram padrões de conduta, de certo e
errado para as mulheres da época. É bastante provável que tais discursos mais
idealizem que propriamente transmitam a realidade, mas o público leitor, se não os
reflete, ao menos se guia por eles e tem, ou busca, nesses veículos midiáticos, que
são as revistas femininas, informações ou padrões de conduta.
Não posso deixar de citar, ainda, o quão aventuroso foi trabalhar com objetos
ordinários, como o são as revistas de entretenimento. Foi difícil estranhar o que me
era comum pois, traiçoeiramente, em alguns momentos, este comum chegava a
parecer certo ou, ao menos, normal. Olhar para estas revistas como objetos que
educaram mulheres leitoras de uma época e buscar em suas ginas preceitos de
comportamentos indicados para estas mulheres foi tarefa árdua, porém gratificante e
que contribuiu para que pudesse compreender um pouco mais da minha própria
história.
111
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2003.
SILVA, Merli Leal. Publicidade e Ideologia: um estudo dos anúncios de produtos de
beleza em NOVA. Dissertação de Mestrado. Porto alegre: PUC, 1997.
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Mestrado. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC, 2007.
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Porto alegre: UFRGS, 2003.
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imagem em revistas brasileiras. Dissertação de Mestrado. Tuiuti: Universidade Tuiuti
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TANIO, Maria Cristina. Mulheres de TPM: construindo modelos de identificação.
Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC, 2003.
TOPKE, Denise Rugani. Miss Anos Dourados: as representações da mulher nos
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TORRES, Andrezza Kamille Régis. Transformações em concepções a respeito de
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TRUBILIANO, Carlos Alexandre Barros. Imagens femininas nos jornais mato-
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WATANABE, Miguel Mishuo. Para ele / para ela: concepções de feminino e de
masculino no discurso publicitário dirigido. Dissertação de Mestrado. Pelotas: UCP,
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VISCARDI, Adriana Woichinevski. Caprichos femininos: Investigação de anúncios
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ZAIDE, Irene Cohen. Discursos divergentes, propostas coincidentes. Um estudo
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ZUCCO, Luciana Patrícia. Mulher maravilha sexualidade feminina em discursos nas
revistas "Claudia" e "Mulher dia-a-dia". Tese de Doutoramento. RJ: Fundação
Oswaldo Cruz, 2007.
ANEXO B CAPAS DAS REVISTAS QUERIDA QUE COMPÕEM O ACERVO
PESSOAL DA AUTORA E QUE NÃO CONSTAM NO DECORRER DA
DISSERTAÇÃO
Figura - Querida nº 106, 1958.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 109, 1958.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 133, 1959.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 168, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 176, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 177, 1961.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 202, 1962.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 204, 1962.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 216, 1963.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 245, 1964.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 246, 1964.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 251, 1964.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 268, 1965.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 270, 1965.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 274, 1965.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 285, 1966.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 303, 1966.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 305, 1966.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 308, 1967.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 316, 1967.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 335, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 343, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 350, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 352, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
Figura - Querida nº 354, 1968.
Fonte: Acervo pessoal da autora
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