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publicidades, por entender que estas trabalham com imagens e, também por isto,
produzem uma forma de pedagogia, educam e seduzem.
O objetivo seria então procurar compreender que modos de comportamento
tais discursos poderiam ter contribuído para sugerir e que representações
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de uma
época estes discursos, veiculados nas páginas das revistas Querida (1958-1968),
ecoaram. Como as fontes utilizadas constituem-se de 31 revistas Querida, pareceu-
me importante ir à procura de sua história. Partindo disto busquei perceber o que a
revista Querida fez circular entre suas leitoras e, assim, que imaginários
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contribuiu
para criar sobre os comportamentos esperados para as ditas ―moças direitas‖ da
época.
A análise de documentos escritos, neste caso revistas femininas, requer
leitura vigilante e minuciosa, que se atente não apenas às linhas a serem lidas, mas
também à forma de composição do texto da revista, à forma de produção e
apresentação do impresso, sua provável circulação. Isso se vincula às análises
advindas da História da Leitura e da Cultura Escrita
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A respeito do conceito de representação, o sociólogo Pierre Bourdieu (1983, p.42) afirma: ―homens
e mulheres constroem representações de si mesmos e explicam suas práticas de acordo com tais
representações. Dessa forma, numa sociedade patriarcal, as referidas práticas determinam atitudes
de dominação/submissão. A sociedade através da família e depois através de outros canais (escola,
religião, meios de comunicação), introjeta nos indivíduos as representações geradoras de atitudes e
comportamentos que se mantêm ao longo de suas vidas.‖ Sabe-se, todavia, que o conceito de
representação é polissêmico e pode remeter a uma gama de formulações teóricas, como o conceito
de representações sociais, coletivas, mentais, cognitivas, simbólicas, entre outras. Deste modo,
parece importante esclarecer que, no presente trabalho de pesquisa, o conceito de representação a
ser utilizado será o conceito advindo da História Cultural, trazido pelo historiador Roger Chartier, que
compreende a representação como produto de uma prática. Para Roger Chartier (1990, p.20), a
representação pode ser entendida como ―instrumento de um conhecimento mediador que faz ver um
objeto ausente através da substituição por uma imagem capaz de o reconstituir em memória e de o
figurar como ele é‖.
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Compreende-se o imaginário como habilidade de criação/recriação própria ao ser humano, como
capacidade humana para representação do mundo, segundo Sandra Pesavento (2003). Para
Jacques Le Goff, por sua vez, o imaginário é dimensão (1994: p. 11). Ele pertence ao campo da
representação, na medida em que traduz uma realidade exterior percebida, tradução que alimenta o
homem e o faz agir.
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Ver Gomez, Antonio Castillo. Historia de La cultura escrita: Del próximo oriente antiguo a la sociedad
informatizada. Sotiello-cenero: Ediciones Trea, 2002; e DARTON, Robert. História da leitura. In:
BURKE, Peter. (org.). A Escrita da História. Novas perspectivas. trad. Magda Lopes. – São Paulo:
Editora UNESP 1992.