pergunta o que ele come naquele momento e este responde que está
quebrando a bolsa escrotal para comer. Macunaíma resolve imitá-lo, pega
um paralelepípedo e esmigalha sua bolsa escrotal. Cai morto. Ressuscita
porque Maanape é feiticeiro e troca os órgãos destituídos por dois côcos-da-
Bahia, assopra fumaça de cachimbo e reanima-o com guaraná e uma dose
de pinga.
- Quando Piaimã volta da Europa, Macunaíma não pensa em outra coisa a
não ser acabar com ele. Coloca-o balançando em um cipó e embala-o com
tanta força que este cai dentro de um buraco no qual Ceiuci prepara uma
macarronada. Com isso, Piaimã morre e Macunaíma recupera a muiraquitã,
pedra da sorte.
- Vei, a Sol, querendo se vingar de Macunaíma, envia uma “cunhã
lindíssima” (ANDRADE, 1978:142) para tentá-lo e este não resiste. Vai atrás
desta, porém ela é uma uiara e o mutila devorando lhe a perna, os brincos,
o côco-da-Bahia, as orelhas, os dedões, o nariz, o beiço e leva também a
muiraquitã. O herói procura a pedra, mas sem sucesso. Encontra todo o
resto do corpo, menos a muiraquitã.
- Macunaíma resolve deixar a terra, de tão triste que está e o Pai do Mutum
o transforma na constelação da Ursa Maior. Transformando-se em estrela,
Macunaíma prova que ele é a encarnação da esperteza, da improvisação
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Macunaíma utiliza-se de ferramentas como o embuste, a trapaça, abusa da
confiança dos outros, não gosta do trabalho, além de ser muito esperto, astuto e
matreiro. Adora uma traquinagem e travessuras. Robson Gonçalves (1982, p. 71)
aproxima Macunaíma do mundo do malandro, afirmando que
Se o ócio é uma das principais características do curumim andradino,
também o é a ganância, o embuste para conseguir dinheiro fácil.
Poderíamos, dessa forma, ajustar a concepção de Antonio Candido, que se
refere a Macunaíma como a ‘encarnação da malandragem nacional’,
contrária ao pragmatismo dos pícaros, com o personagem que simboliza o
carnaval, que abre espaço próprio entre a hierarquia e a igualdade.
Gonçalves (1982, p. 45) insiste que a “individualização da saga do malandro”
se aproxima de uma “visão do coletivo” e que é através desse que se pode
identificar uma “problemática social em relação ao ‘caráter do brasileiro’". Dessa
forma, Macunaíma pode ser visto como o malandro, o aproveitador, aquele que se
utiliza da confiança dos outros para alcançar seus objetivos, como afirma Antonio
Candido (1967, p. 141):
Mário de Andrade, em Macunaíma (a obra central e mais característica do
Movimento), compendiou alegremente lendas de índios, ditados populares,
obscenidades, estereótipos desenvolvidos na sátira popular, atitudes em
face do europeu, mostrando como cada valor aceito na tradição acadêmica
e oficial correspondia, a tradição popular, um valor recalcado que precisava
adquirir estado de literatura.
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Passagens retiradas de Macunaíma o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade.