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a Ratoeira é somente um dos aspectos dessas variações culturais entre as comunidades que
tiveram forte influência da colonização açoriana. Estas variações culturais refletem um
contraste regional entre populações com uma origem cultural comum. Segundo Farias (2000):
As variações culturais microrregionais são o resultado de inúmeros fatores, entre os quais: o
meio ambiente e os recursos naturais disponíveis. Tipos de bens e serviços produzidos; facilidade de
vender, trocar e também comprar outros produtos necessários à sobrevivência da comunidade. Troca
de experiências com outras culturas. Mentalidade do povo frente aos inúmeros desafios do dia-a-dia
(op. cit.: 99).
Farias (op. cit.) divide o litoral catarinense em oito microrregiões
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Durante o trabalho de campo visitei os municípios de Bombinhas, Porto Belo,
Governador Celso Ramos e Florianópolis (bairros Sambaqui, Ribeirão da Ilha e Barra da
Lagoa)
, as quais possuem
características culturais e históricas peculiares, e onde a colonização açoriana se desenvolveu
de maneira diferenciada, no entanto mantendo muitos aspectos em comum. Os açorianos se
espalharam por Santa Catarina de maneira que alguns lugares se estabeleceram como núcleos
secundários e terciários desta colonização (op. cit.). Isso diferencia historicamente o
povoamento e seria um fator de diversidade na construção de identidades regionais e
fronteiras culturais.
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De acordo Farias (2000) essas oito microrregiões e seus respectivos municípios de abrangência são: 1. Ilha de
Santa Catarina e continente frontal (Florianópolis, São José, Biguaçu, Palhoça, Paulo Lopes e Antônio Carlos);
2. Caminhos do Planalto (São Pedro de Alcântara, Angelina, Santo Amaro, Águas Mornas, Rancho Queimado,
Alfredo Wagner e Urubici); 3. Sistema lagunar de Mirim/Santo Antônio dos Anjos/Imaruí/bacia do Tubarão
(Garopaba, Imbituba, Imaruí, Capivari de Baixo, Tubarão, Gravatal, Armazém, São Martinho e Laguna); 4. Foz
Itajaí/Camboriú (Camboriú, Balneário Camboriú, Itajaí, Ilhota, Navegantes e Luiz Alvez); 5. Baía da
Babitonga/vale do rio Itapocorói-Parati/baía de Itapocorói (Penha, Piçarras, Barra Velha, São João de Itaperiú,
Barra do Sul, Araquari, Itapoá e São Francisco do Sul); 6. Vale Tijucas/Costa Esmeralda (Tijucas, Canelinha,
São João Batista, Porto Belo, Bombinhas, Itapema e Governador Celso Ramos); 7. Bacia Jaguaruna/Urussanga
(Jaguaruna, Sangão, 13 de Maio, Morro da Fumaça e Içara) e 8. Bacia do Araranguá/Mampituba e sistema
lagunar de Sombrio (Araranguá, Sombrio, Criciúma, Maracajá, Arroio do Silva, Ermo, Jacinto Machado,
Balneário Gaivota, São João do Sul, Santa Rosa do Sul e Passo de Torres).
. Originalmente a idéia era visitar mais municípios do litoral catarinense. Cheguei a
estabelecer contato com pessoas ligadas à cultura dos municípios de Laguna, Sombrio e
Palhoça, porém os encontros não se concretizaram por motivos variados. Com isso, o trabalho
de campo acabou não tendo a dimensão que se pretendia inicialmente. Isso certamente daria
um panorama mais rico sobre essas nuanças culturais de região para região, principalmente na
maneira de cantar e brincar a Ratoeira, elemento condutor da pesquisa nas visitas e
entrevistas. Veremos como certas variantes regionais se manifestam na música da Ratoeira no
quarto capítulo e nas considerações finais, verificando possíveis relações com o processo
histórico da ocupação humana no litoral. A seguir apresento uma breve narrativa histórica do
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Os bairros do Ribeirão da Ilha e da Barra da Lagoa foram visitados em meu primeiro trabalho de campo
(Silva, 2005). Os dados ali coletados também serão utilizados na reflexão proposta por este trabalho.