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Quadro 4 – A Rede Ecovida de Agroecologia
A Rede Ecovida de Agroecologia se constituiu em 1998 e surge no Sul do Brasil como resultado de
processos históricos realizados por organizações populares e não governamentais na construção de uma
alternativa ao modelo de agricultura modernizada. Há mais de 20 anos se vem construindo, no Sul do Brasil,
alternativas concretas de organização, produção e comercialização de alimentos baseadas em uma nova ética,
a partir de valores e princípios de respeito ao meio ambiente, de solidariedade, de cooperação, de respeito às
diferenças, de resgate à cultura local, de valorização dos seres humanos e da vida. Essa visão de agricultura –
que carrega consigo uma nova proposta de desenvolvimento para a humanidade – está se chamando de
agroecologia. Neste contexto, a Rede Ecovida de Agroecologia, surge como resultado do processo de
evolução e consolidação destas alternativas desenvolvidas ao longo dos anos agrega os mais diversos atores e
tem como princípios: a) ter a agroecologia como base para o desenvolvimento sustentável; b) trabalhar com
agricultores familiares e suas organizações; c) ser orientada por normativa própria de funcionamento e de
produção; d) trabalhar na construção de mercado justo e solidário; e) garantir a qualidade do processo por
meio da certificação participativa.
A rede é composta por associações, cooperativas e grupos informais de agricultores familiares ecologistas,
organizações de assessoria, associações e grupos de consumidores, pequenas agroindústrias, comerciantes
ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento da agroecologia. Tem como um de seus
objetivos desenvolver uma marca/selo através de um sistema de certificação participativa que expresse
o processo e o compromisso com a qualidade da produção agroecológica. A rede tem como metas
fortalecer a agroecologia, disponibilizar informações entre os envolvidos e criar mecanismos legitimados
socialmente que garantam a qualidade dos processos desenvolvidos por seus membros. Desta forma, a Rede
Ecovida de Agroecologia é um espaço informal, sem estrutura legal, que reúne:
1 – Agricultores familiares ecologistas, organizados em grupos nas comunidades e suas organizações
(associações, cooperativas, etc.);
2 – Organizações de assessoria em agroecologia;
3 – Consumidores e suas organizações (associações de moradores, cooperativas de consumo, etc.);
4 – Pessoas e organizações comprometidas com a agroecologia;
5 – Processadores e comerciantes de alimentos agroecológicos (pequenas empresas).
O seu funcionamento é totalmente descentralizado e se fundamenta na constituição de núcleos regionais. Os
núcleos reúnem todos os membros de uma região que contenha características similares, que possam facilitar
o intercâmbio de informações, que viabilizem o processo de certificação participativa e facilitem a
comunicação e o encontro dos membros. Para fazer parte da Rede Ecovida, os interessados devem ser
indicados por pelo menos dois membros atuais da Rede e ser aprovado pelo Núcleo Regional. Os núcleos têm
liberdade para conduzir suas ações e o processo de certificação, desde que sigam os princípios e normas de
produção, processamento e certificação da Rede. Orienta-se que cada núcleo elabore seu regimento interno
de funcionamento. Cada núcleo possui um Conselho de Ética, que mais que cumprir a função de fiscal, atua
como promotor do processo de intercâmbio entre seus membros.
A Rede Ecovida desenvolve seus trabalhos em mais de 170 municípios do Sul do Brasil, contando com 21
núcleos regionais (em distintos estágios de organização), que reúnem mais de 200 grupos de famílias
agricultoras (aproximadamente 2000 famílias), cerca de 30 ONGs, 10 cooperativas de consumidores e
diversas iniciativas de processamento e comercialização. No campo da comercialização, mais de 100 feiras
ecológicas são realizadas pelas organizações que integram a Ecovida, além destas, existem experiências de
comercialização nos chamados mercados institucionais, nos municípios e estados; venda a supermercados e
alguns processos de exportação.
Fonte: Construído pelo autor a partir de Santos (2007), grifos nossos.
Além das três organizações acima mencionadas, existem outras que também têm a
agroecologia como uma diretriz a orientar suas ações. Entre elas cita-se o Movimento dos
Sem Terra (MST), O Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA
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), o Movimento das
Mulheres Camponesas (MMC) o Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), o
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), os Sindicatos da base da Fetraf. Também a
Ascooper tem como princípio a agroecologia, com a produção de leite a base de pasto,
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Organização não governamental ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil.