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apesar de dificultar sua inserção cultural na sociedade japonesa. Mesmo
assim, ocorreram alterações em alguns aspectos culturais, com a inclusão
de aspectos da cultura nipônica a comportamentos, atitudes, valores que
trouxeram do Brasil, gerando novas formas culturais, que não pertencem à
cultura japonesa e tampouco à cultura brasileira, apesar da diversidade
interna de ambas, em um mundo em constante mudança. Podemos supor
assim um processo de formação de novas identidades culturais, também
diferenciadas, de grupos migrantes internacionais, em contínua mudança.
(KAWAMURA 2006, p.16, grifos da autora)
14
À medida que a comunidade crescia no Japão, e os jornais se estruturavam e
ampliavam suas coberturas, mais jornalistas foram sendo contratados para o
trabalho nas redações. Em fins dos anos 1990, profissionais experientes vindos do
Brasil continuavam a chegar, nikkeis ou não, geralmente com o visto de especialista
em humanidades, concedido a jornalistas.
A esses, somavam-se ex-dekasseguis com diploma de jornalismo que
deixavam as fábricas, fotógrafos autodidatas ou que aprenderam o ofício em cursos
no Japão e não-formados em jornalismo com bom trânsito na comunidade. Os
repórteres diplomados ex-dekasseguis e os "repórteres sem diploma" costumavam
enviar seus textos para a redação central da publicação, onde eram reescritos
conforme os padrões jornalísticos do determinado periódico.
Os profissionais das sucursais escrevem matérias sobre as
comunidades locais e as enviam à sede. Atualmente, o IP tem seis
sucursais, um repórter em cada uma, e apenas um tem experiência em
jornalismo. Para a mídia atual, ter alguém informado sobre a realidade das
comunidades brasileiras no Japão pode ser mais útil do que um repórter
formado em jornalismo com experiência no Brasil. A própria Fátima
15
,
quando começou a trabalhar no jornal japonês de São Paulo, teve que se
ajustar, aprendendo com os próprios erros que as políticas editoriais de
publicações comunitárias são diferentes das de jornais comuns. Assim,
nesses jornais a experiência no jornalismo tradicional não é enfatizada.
(SHIRAMIZU, Shiguehiko, 2004, grifos do autor)
16
14
Ibid.
15
Fátima Kamata, editora-chefe do International Press
16
SHIRAMIZU, Shiguehiko. Jornalismo Comunitário: Publicações em Português Crescem no Japão. Capítulo
final do livro Ethnic Media Studies, de Shigehiko Shiramizu, publicado originalmente na Online Journalism