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Universidade de São Paulo (USP)
Escola de Comunicações e Artes (ECA)
ANDRÉIA FERREIRA DA SILVA
JORNALISMO BRASILEIRO DO OUTRO LADO
DO MUNDO
Dissertação apresentada como exigência
parcial para obtenção do título de
Mestre em Ciências da Comunicação
pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Comunicação da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo (ECA/ USP).
Área de Concentração: Estudo dos Meios e
da Produção Mediática
Orientador: Prof. Dr. José Luiz Proença
São Paulo
2008
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2
Universidade de São Paulo (USP)
Escola de Comunicações e Artes (ECA)
ANDRÉIA FERREIRA DA SILVA
JORNALISMO BRASILEIRO DO OUTRO LADO
DO MUNDO
Dissertação apresentada como exigência
parcial para obtenção do título de
Mestre em Ciências da Comunicação
pelo Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Comunicação da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade
de São Paulo (ECA/ USP).
Área de Concentração: Estudo dos Meios e
da Produção Mediática
Orientador: Prof. Dr. José Luiz Proença
São Paulo
2008
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4
Para Isabela
5
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo estudar o jornalismo brasileiro no Japão do
ponto de vista dos fatores que influenciam a produção de notícias. Foram
analisadas as transformações pelas quais a imprensa brasileira no Japão,
personificada nos jornalistas, sofre a partir da assimilação da cultura e modo de vida
da sociedade japonesa, além da influência do sistema japonês de produção de
notícias. Para isso, foram realizadas análises de conteúdo dos dois maiores jornais
impressos em português no Japão, o International Press e o Jornal Tudo Bem,
entrevistas com jornalistas brasileiros que atuaram ou atuam nesses periódicos,
jornalistas japoneses e os trabalhadores brasileiros no Japão, o público-leitor dos
periódicos acima mencionados.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicacão Social, Jornalismo, Dekassegui, Japão,
Nikkei, Imprensa.
6
ABSTRACT
This paper aims to analyze the Brazilian journalism in Japan in terms of the
factors that influence the production of news. We analysed the changes for which the
Brazilian press in Japan, embodied in journalists, suffers from the assimilation of the
culture and way of life in Japanese society, as well as the influence of the mode of
production of Japanese news. For this, tests were carried out on content from two
major newspapers printed in Portuguese in Japan, the International Press and Jornal
Tudo Bem, interviews with Brazilian journalists who worked or work in these journals,
Japanese journalists and Brazilian workers in Japan, the public - reader of the
journals analyzed them.
KEY WORDS: Media, Journalism, Dekassegui, Japan, Nikkey, Press.
7
SUMÁRIO
RESUMO..........................................................................................................5
ABSTRACT.......................................................................................................6
AGRADECIMENTOS........................................................................................9
INTRODUÇÃO................................................................................................10
CAPÍTULO 1 – Surgimento dos jornais brasileiros no Japão.........................17
1.1 Os primeiros dekasseguis ........................................................................17
1.2 Os primeiros jornais..................................................................................20
1.3 Jornais crescem com a evolução da comunidade....................................25
1.4 Jornalistas em um território novo..............................................................29
1.5 Múltiplas funções fazem parte do trabalho...............................................34
CAPÍTULO 2 – Interações jornalísticas A imprensa no Japão.....................37
2.1 Entrevistas e questionário com jornalistas brasileiros (cultura)................37
2.2 Imprensa japonesa....................................................................................38
2.3 Kisha clubs – os clubes de imprensa japoneses......................................44
2.4 Agência da Casa Imperial.........................................................................48
2.5 Etiqueta no trabalho..................................................................................51
CAPÍTULO 3 – Por dentro dos jornais............................................................57
3.1 O trabalho jornalístico...............................................................................57
3.2 Newsmaking, a produção de notícias.......................................................59
3.3 Entrevistas e questionário com jornalistas brasileiros (adaptação)..........61
3.4 Análise das capas.....................................................................................65
3.5 Análise do conteúdo dos jornais International Press e Tudo Bem............69
3.6 Pesquisa com leitores...............................................................................92
8
CAPÍTULO 4 - Conclusão...............................................................................99
5. BIBLIOGRAFIA.........................................................................................104
6. ANEXOS...................................................................................................109
6.1 Capas dos jornais ..................................................................................109
6.2 Questionário jornalistas brasileiros.........................................................115
6.3 Questionário jornalistas japoneses.........................................................123
9
AGRADECIMENTOS
O desejo de realizar este trabalho surgiu em 1999, quando fui trabalhar no
Japão como repórter do Jornal Tudo Bem e da Revista Made in Japan. Em Tóquio,
tive a oportunidade de conhecer a profa. Dra. Lili Kawamura e seus estudos sobre
os trabalhadores brasileiros no Japão. É para ela o primeiro agradecimento por me
fazer ver a importância e os anseios dos dekasseguis.
De volta ao Brasil, no curso de Especialização em Comunicação Jornalística
da Faculdade Cásper Líbero, tive o privilégio de ser aluna da profa. Dra. Nancy
Nuyen Ali Ramadan, cuja trajetória me inspirou a buscar o ensino acadêmico.
Agradeço à profa. Nancy pelo grande incentivo para que eu iniciasse os estudos, ao
ler e dar preciosas sugestões ao que viria a ser o projeto deste trabalho. Ao ser
aprovada como aluna de mestrado da Escola de Comunicações e Artes da USP,
contei com a orientação, os conselhos, a ajuda e o apoio do prof. Dr. José Luiz
Proença, um conhecedor e apreciador do Japão. Agradeço a ele as indicações
precisas de livros e autores, que me ajudaram a contextualizar esse trabalho.
Agradeço também aos profs. Drs. Dirceu Fernandes Lopes, José Coelho
Sobrinho, Manuel Carlos Chaparro, Alice Mitika Koshiyama e Maria Immacolata
Vassallo de Lopes. Suas aulas me apresentaram conceitos e autores que farão
parte da minha vida acadêmica para sempre e seus exemplos como profissionais do
Ensino Superior são inspiração para a professora na qual pretendo me tornar.
Também não posso esquecer da ajuda de Paulo Bomtempi, sempre
prestativo e gentil; das conversas esclarecedoras com três jornalistas com grande
experiência em redações do Japão, Cláudia Emi, Nelson Watanabe e Mami
Yasunaga; e da jornalista japonesa Norie Watanabe, que me ajudou a entrevistar os
jornalistas japoneses atuando como tradutora. Por fim agradeço a todos os
jornalistas que responderam ao questionário e especialmente a Júlio Moreno e
Jhony Arai por cederem seu precioso tempo para longas entrevistas.
Um agradecimento especial à minha família, minha mãe Maria Antonia, meu
marido Marcelo, minha filha Isabela, meu tio Benedito e meus sobrinhos Rafael e
Thiago, pela paciência, atenção, suporte e amor dispensados a mim durante essa
trajetória. Por fim agradeço a Deus, pois sem ele nada teria sido feito.
10
INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende estabelecer uma análise do processo jornalístico de
periódicos editados em português que circulam no Japão, destinados à comunidade
brasileira, visando revelar as transformações, as peculiaridades e mudanças no
fazer jornalístico pela imprensa que atua no arquipélago.
Quanto ao modelo metodológico, foi adotado o estudo comparativo de
jornais, a observação da rotina de trabalho, entrevistas e questionários dirigidos aos
profissionais da imprensa brasileira no Japão. No estudo, foram tomados os dois
maiores jornais brasileiros no arquipélago, o International Press, semanal com
tiragem de 50 mil exemplares, e o Tudo Bem, semanal com tiragem de 40
exemplares, de acordo com informações das próprias publicações em outubro de
2008.
A proposta foi analisar as rotinas de produção das redações desses jornais e
detectar as adaptações utilizadas para a realização do trabalho em função das
diferenças culturais e do modo de atuação da imprensa japonesa. Para isso, foram
entrevistados jornalistas brasileiros que trabalham ou já trabalharam no Japão e
jornalistas japoneses com conhecimento do funcionamento da imprensa brasileira.
Termos em japonês
Por se tratar de um trabalho que aborda a cultura e a língua japonesas,
termos comuns à comunidade nipo-brasileira, mas talvez desconhecidos da maioria
dos brasileiros, estarão presentes na dissertação. Eles estão sempre
acompanhados de notas explicativas nos rodapés das páginas.
Adotamos a grafia “dekassegui” para designar trabalhador brasileiro no
Japão, conforme já consagrado pelo uso na imprensa brasileira no Japão e até no
Brasil, além de presente em diversos livros, embora já se tenha uma grafia
aportuguesada, que consta no Dicionário Aurélio: "decasségui".
Cabe ressaltar que se procurou não fazer juízo de valor em relação ao termo
dekassegui, ainda que seu uso seja polêmico e até mesmo evitado por alguns
11
membros da comunidade nipo-brasileira por ser considerado pejorativo por alguns.
Referências
Para entender quem é e como vive o trabalhador brasileiro no Japão, o
dekassegui, foi necessário, antes de entrarmos na temática do jornalismo - cerne do
trabalho -, buscar na Sociologia conceitos sobre esse tipo de migração. Uma das
principais referências nessa área sobre o tema é o livro Para onde vão os
brasileiros
1
, da profa. dra. Lili Kawamura, socióloga que estuda o movimento
dekassegui, da qual utilizamos importantes conceituações, bem como a seguinte
definição de dekassegui:
Originariamente, a palavra dekassegui, já inserida no vocabulário da
língua portuguesa (decasségui), denominava trabalhadores temporários
sazonais que se dirigiam para as grandes cidades, vindos das regiões
"atrasadas" do sul e do norte do Japão. (KAWAMURA, 2003, p.18)
Após um breve panorama sobre o dekassegui e sua comunidade no Japão, o
trabalho concentra-se no estudo do dia-a-dia do profissional de imprensa no país e
sua produção jornalística. Para compreendermos as transformações que este
trabalho visa mostrar, tomamos como apoio conceitos do campo da comunicação.
Sendo assim, o livro Teorias das Comunicações de Massa
2
, do pesquisador italiano
Mauro Wolf, auxilia com uma visão contemporânea das rotinas de produção nas
redações e das relações entre jornalistas e fontes.
Apoiando-se na fundamentação teórica de Wolf, o projeto proposto encaixa-
se na linha de pesquisa Estudo dos Meios e da Produção Mediática, com ênfase no
Jornalismo Comparado. A análise dos periódicos estudados em questão visa
identificar procedimentos padrões dos jornais brasileiros que circulam no Japão;
revelar as peculiaridades dessa imprensa que atua no arquipélago; definir as
características desses processos jornalísticos; e identificar semelhanças e
diferenças da imprensa no Brasil.
Segundo Wolf (2003), as pesquisas sobre produção de notícias tem em
1
KAWAMURA, Lili. Para onde vão os brasileiros?, Campinas. Editora Unicamp, 2003, 2ª ed.
12
comum a técnica da observação participante. Desse modo, é possível reunir e obter
sistematicamente as informações e os dados fundamentais sobre as rotinas de
produção que atuam na indústria da mídia.
Os dados são recolhidos pelo pesquisador, presente no ambiente
que serve de objeto de estudo, seja com a observação sistemática do que
ocorre nesse espaço, seja por meio de conversações mais ou menos
informais e ocasionais, ou verdadeiras entrevistas, conduzidas com os que
desenvolvem os processos de produção. (WOLF, 2003, p.191)
Para a obtenção das informações referentes à atividade dos jornalistas
brasileiros no Japão, foram utilizadas a observação sistemática, as conversas
formais e ocasionais, as entrevistas abertas e os questionários, com perguntas
abertas e fechadas.
As perguntas do questionário foram enviadas a 20 profissionais, sendo que
18 jornalistas responderam ao questionário contendo 33 perguntas (o questionário
encontra-se nos anexos). Foram realizadas seis entrevistas pessoais ou por
telefone. Participaram da pesquisa jornalistas de diversas fases da imprensa
brasileira no Japão - integrantes das primeiras redações de ambos os periódicos,
entre 1992 e 1995; profissionais que trabalharam em fins dos anos 1990 e início dos
2000 e profissionais em atuação hoje no arquipélago.
A amostra é composta de jornalistas nascidos no Japão (isseis) ou com dupla
nacionalidade, nisseis (segunda geração), sansei (terceira geração), mestiços e
não-descendentes. Homens e mulheres com idades entre 22 e 50 anos.
Os depoimentos relatam o surgimento da imprensa dekassegui, sua evolução
ao longo de duas décadas de migração de nipo-descendentes à Terra do Sol
Nascente, as dificuldades encontradas pelos jornalistas no cumprimento de suas
pautas, o processo de captação, seleção e edição de notícias, as mudanças no
interesse do leitor à medida que aumenta sua vivência no arquipélago, a adaptação
dos jornalistas formados no Brasil à realidade da imprensa no Japão, a opção de
2
WOLF, Mauro. Teorias das Comunicações de Massa, São Paulo. Martins Fontes, 2005, 2ª ed.
13
algumas publicações em contratar não-jornalistas para a função de repórter, a
experiência e as histórias de profissionais que cobrem a comunidade dekassegui há
cerca de 15 anos e outros temas.
Para a busca de informações sobre o processo noticioso japonês foram
realizadas entrevistas com jornalistas japoneses, algumas delas com a presença de
uma tradutora. Os jornalistas responderam a um questionário composto de 33
perguntas (o questionário encontra-se nos anexos).
Pesquisa com leitores e fontes
A análise da pesquisa quantitativa com leitores de jornais brasileiros no Japão
foi efetuada a partir de uma coleta dos dados e uma resenha. A pesquisa em
questão foi realizada com o objetivo de levantar junto aos leitores opiniões
relacionadas aos jornais brasileiros que circulam no país. O período da pesquisa é
de 15 de abril de 2005 a 9 de março de 2006 e o universo compõe-se pessoas de
18 anos ou mais que lêem os periódicos brasileiros que circulam no arquipélago.
A amostra representativa do universo acima compreende 600 entrevistas,
elaboradas em cotas proporcionais em função das variáveis: sexo, idade,
localização geográfica e quantidade de brasileiros por província.
Além das entrevistas com profissionais de imprensa e público leitor, obteve-
se informações de especialistas na temática dekassegui de diversas áreas por meio
de entrevistas, palestras e simpósios relacionados aos trabalhadores brasileiros no
Japão. Em comum, os especialistas têm uma profunda ligação com a comunidade
brasileira no Japão, como objeto de estudo em suas respectivas áreas. Alguns
produziram obras que estão listadas na bibliografia.
Entre os especialistas estão Elisa Sasaki (socióloga), Décio Nakagawa
(psicólogo), Kazuhiro Ebine (diretor do Departamento de Investigações
Internacionais da Agência Nacional de Polícia do Japão), Megumi Yuki (professora
universitária, coordena um projeto sobre multiculturalismo na Universidade de
Gunma), Ricardo Sasaki (ex-cônsul do Japão em Nagoya e à época diretor do Ciate
– Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior), Masato Ninomiya
14
(presidente do Ciate, professor de Direito da USP), Kyoko Yanagida Nakagawa
(psicóloga, diretora do Ciate), entre outros.
Recorte espaço/tempo
Foram tomados dois períodos para estudo dos jornais International Press e
Tudo Bem. Primeiro, para efeito de contextualização da história dos jornais, bem
como do movimento dekassegui, foram tomadas como base algumas edições
publicadas dos anos 90. O objetivo foi mostrar como eram os jornais à época do
primeiro fluxo migratório de brasileiros ao Japão e quais eram suas principais
demandas noticiosas.
Além disso, foi possível constatar as mudanças editoriais e gráficas pelas
quais os veículos passaram desde as suas respectivas fundações, em 1991
(International Press) e 1992 (Tudo Bem). Após essa contextualização histórica,
estabeleceu-se um tempo lógico, o período no qual se fez o recorte espaço/tempo
para o estudo do objeto científico.
O período escolhido foi de janeiro de 2006 a outubro de 2008, pois, tendo em
vista que os processos jornalísticos são cada vez mais dinâmicos em todo o mundo,
entendemos que no intervalo escolhido é possível ter uma visão mais abrangente
dos periódicos estudados.
Esse período de tempo permite comparar reportagens cotidianas de temática
dekassegui, como prevenção a acidentes naturais, mudanças na obtenção do visto
de trabalho dos brasileiros no Japão, crise econômica da indústria japonesa entre
outros. Possibilita, também, a avaliação de coberturas de maior representatividade
também no Brasil, como o desastre da TAM em 2007, os carnavais de 2006, 2007 e
2008, as Olimpíadas de Pequim e outros eventos de repercussão mundial.
Hipóteses
Com este trabalho, pretende-se buscar respostas para as seguintes
questões:
"O processo de produção de notícias sofre alterações provocadas pela
15
mudança dos jornalistas brasileiros de país?";
“A sociedade e cultura japonesas influenciam no fazer jornalístico dos
periódicos brasileiros publicados no Japão?”; e
“Estando em outro país, o que muda no interesse do leitor e como isso se
reflete no trabalho do jornalista?”
Procuramos demonstrar que a comunidade brasileira residente no Japão,
embora utilize a língua portuguesa e preserve a cultura e tradições nacionais, não
está imune a um processo de aculturação do país que escolheu para morar. A
vivência dos brasileiros do outro lado do mundo traduz-se em uma realidade nova,
inusitada e por vezes assustadora para essa população, que agora tem anseios e
necessidades distintos dos que apresentava em seu país de origem.
Conseqüentemente, os brasileiros que vivem no Japão têm demandas e
interesses noticiosos diversos do leitor de jornal que mora no Brasil
independentemente de sua ascendência. A questão, também, é verificar se essa
diferença de demandas e interesses justifica as transformações no fazer jornalístico.
Capítulo 1
O primeiro capítulo traz a história dos jornais pioneiros no Japão, em uma
época em que o movimento migratório de nikkeis brasileiros para o país ganhava
seus contornos. Para que se entenda o ambiente no qual esses periódicos surgiram
foi necessária a contextualização (LOPES, 2005) do processo migratório de
brasileiros ao Japão.
Como partimos do pressuposto de que a Comunicação se constitui
historicamente como campo autônomo de estudos (aliás, o que ocorreu na
história de cada ciência), ela não pode ser investigada fora dos marcos do
contexto econômico, social, político e cultural que a envolve. (LOPES, 2005,
p.14).
3
O primeiro capítulo trata também da formação das primeiras redações
3
LOPES, Maria Immacolata Vasallo. Pesquisa em Comunicação. São Paulo. Loyola, 2005, 8ª ed.
16
brasileiras no arquipélago, dos desafios de comunicação, moradia e transporte,
assim como as dificuldades enfrentadas pelos jornalistas dessa época.
Capítulo 2
O segundo capítulo fala das influências da imprensa japonesa sobre a
imprensa brasileira no Japão, o tratamento reservado à imprensa estrangeira, como
funciona a veiculação e distribuição das notícias no Japão. A relação entre
jornalistas e fontes, a criação dos clubes de imprensa japoneses e sua interação
com os estrangeiros, as regras e burocracia para a obtenção de material impresso
ou fotográfico para as reportagens, os contatos com órgãos japoneses e a formação
dos jornalistas japoneses. Entrevistas com jornalistas brasileiros e japoneses
ajudam a compreender as diferenças culturais entre os dois países.
Capítulo 3
O terceiro capítulo aborda as transformações no processo jornalístico e no
modo de trabalho dos jornalistas, a partir da aculturação dos profissionais e da
demanda de interesses da comunidade brasileira no Japão. Para isso, utilizou -se a
análise de conteúdo dos jornais Tudo Bem e International Press, ressaltando-se a
cobertura de fatos marcantes da vida dos brasileiros no Japão, as reportagens de
temática dekassegui e o jornalismo de serviço.
Entrevistas e questionários respondidos por jornalistas brasileiros ajudam a
compreender as transformações no processo de produção jornalística. Por fim, os
resultados de um levantamento realizado com 600 leitores de jornais no Japão
mostra quem é o que pensa o público leitor. A partir daí pode-se, também, avaliar se
os jornais estão atingindo seu objetivo.
17
CAPÍTULO 1
SURGIMENTO DOS JORNAIS BRASILEIROS NO JAPÃO
1.1 Os primeiros dekasseguis
Em meados da década de 1980, enquanto o Brasil sofria com inflação alta,
desemprego e índices econômicos desfavoráveis, o Japão via suas indústrias
prosperarem e sua economia crescer cada vez mais. E a expansão foi tanta que a
mão-de-obra do país não dava mais conta de preencher os postos de trabalho,
especialmente as vagas não-especializadas. Alguns dos motivos dessa pouca oferta
de mão-de-obra eram os baixos índices de natalidade do país e o alto grau de
estudo dos japoneses, que obtinham empregos melhores e se recusavam a exercer
trabalhos não-qualificados, braçais e que exigissem esforço físico.
Alguns japoneses e filhos de japoneses com dupla cidadania, que viviam em
dificuldades no Brasil, ao saberem da grande oferta de empregos no Japão – e dos
altos salários pagos por esses trabalhos temporários –, decidiram viajar ao
arquipélago para preencher essas vagas, como explica Sasaki
4
:
As primeiras notícias sobre a ida de brasileiros descendentes de
japoneses para trabalhar temporariamente no Japão surgiram em meados
da década de 80. Em geral, eles não tiveram grandes problemas
burocráticos para entrar no território japonês, pois tinham ancestralidade
nipônica. Eram das primeiras gerações, chamadas de issei (primeira
geração ou os próprios japoneses nascidos no Japão) e/ou nissei (segunda
geração ou os filhos dos emigrantes japoneses nascidos fora do Japão), e
muitos tinham nacionalidade japonesa ou dupla nacionalidade (podendo
ingressar no Japão como japoneses). A maioria era de homens de idade
avançada, chefes de família, casados, sabiam falar japonês e tinham
pretensões de estadia temporária no Japão. (SASAKI, 2006)
Assim começou o chamado Movimento Dekassegui, como é denominada ida
dos trabalhadores brasileiros para o Japão. A palavra dekassegui é formada pelos
4
SASAKI, Elisa. Dossiê Migração: A Imigração para o Japão. São Paulo, 2006. Estudos Avançados, vol. 20,
no 57. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103 40142006000200009
Acesso em agosto de
2008.
18
kanjis deru, cujo significado é sair, e kassegu, que significa trabalhar, ganhar
dinheiro. Em uma tradução aproximada, seria algo como sair de casa para trabalhar
e ganhar dinheiro.
A palavra era empregada para designar japoneses que saíam de suas
províncias natais (geralmente no norte do país) e iam para as cidades grandes em
busca de trabalho temporário. Hoje é utilizada também para designar trabalhadores
estrangeiros no Japão, em especial empregados de fábrica, caso da maioria dos
brasileiros residentes no país. (SASAKI, 2006)
Em 1990, uma reforma da Lei de Controle da Imigração japonesa possibilitou
que os descendentes de japoneses da América do Sul pudessem imigrar para o
Japão para trabalhar e ampliou as possibilidades dos descendentes de japoneses
do Brasil. A medida permitiu que não somente japoneses e brasileiros com
passaporte japonês fossem para lá a trabalho, mas que filhos de japoneses (nisseis)
e netos de japoneses (sanseis) também recebessem o visto.
Com o novo visto, chamado "de residente de longa duração", nisseis, sanseis
e não-descendentes cônjuges de nipo-brasileiros tiveram acesso a esse mercado de
trabalho. Por isso, a partir daí ocorreu um grande aumento da população brasileira
no Japão, principalmente sanseis e não-descendentes.
Promulgada em junho de 1990, a Reforma implementou uma política
imigratória mais restritiva, que punia empresas que utilizavam mão-de-obra ilegal e
favorecia a substituição desta pelos trabalhadores descendentes de japoneses
vindos da América do Sul, especialmente brasileiros e peruanos.
A intenção do governo japonês era evitar grandes diferenças culturais, em um
país bastante homogêneo. Para isso baseou-se no critério de escolher nikkeis para
imigrarem. A palavra nikkei significa descendente de japonês. Para o governo do
país parecia claro que esse descendente nascido no exterior estaria familiarizado
com a cultura e o idioma de seus antepassados.
19
Além disso, a maioria dos imigrantes, no início da década de 90,
para o Japão era constituída de descendentes de primeira geração,
denominados nissei, cujos pais japoneses procuraram, de uma forma ou de
outra, legar aspectos da própria cultura nativa. Gradativamente vem
aumentando a participação de netos e bisnetos (sansey e yonsei), onde
visível a presença de mestiços. (KAWAMURA, 2003, p. 84, grifos da autora)
De fato, as primeiras levas de dekasseguis brasileiros tinham esse perfil: ou
eram japoneses natos ou filhos, que falavam a língua japonesa em casa e
conheciam muitos costumes. Mas, após a abertura de 1990, o contingente que
passou a imigrar para o Japão possuía uma bagagem cultural japonesa bem menor
que a imaginada.
Os descendentes de japoneses vindos do Brasil totalizam hoje uma
comunidade de 316.967 pessoas no arquipélago, segundo dados de 2007 do
Ministério da Justiça do Japão (trata-se da segunda maior colônia fora do País,
ficando atrás apenas da comunidade brasileira instalada nos Estados Unidos).
A maioria dos serviços desempenhados pelos brasileiros no Japão não exige
qualificação, preparo ou fluência em japonês. São basicamente em três segmentos:
linhas de montagem de empresas automobilísticas e empresas de autopeças,
fábricas de eletroeletrônicos e empresas de alimentos. Esses segmentos formam a
maior parte do mercado de trabalho dekassegui e as atividades exercidas são
conhecidas pelos Ks, como explica Kawamura:
O espaço de trabalho ocupado por brasileiros abrange atividades e
tarefas não-qualificadas na indústria, comércio e serviços, caracterizadas
pelos japoneses como kitsui (pesadas), kitanai (sujas) e kiken (perigosas), e
normalmente rejeitadas pelos trabalhadores japoneses. Os brasileiros
acrescentaram duas outras características, a partir de sua ótica cultural:
kibishii (exigente) e kirai (detestável), qualificando as tarefas com cinco ks,
não apenas três, como usualmente faziam os japoneses. (KAWAMURA,
2003, p. 112, grifos da autora)
Os trabalhos caracterizados pelos Ks ainda são as maiores fontes de
emprego dos brasileiros, porém, com o crescimento da comunidade brasileira,
20
houve uma diversificação e expansão especialmente no comércio e serviços da
própria comunidade, tais como lojas de produtos brasileiros, restaurantes, escolas
de ensino fundamental e médio, salões de beleza, shopping centers e outros.
No início do movimento dekassegui, a estrutura da comunidade brasileira era
precária. Os brasileiros tinham quase nenhum acesso a itens nacionais de
alimentação e vestuário. Há relatos correntes na comunidade de que muitos
dekasseguis, ao fazerem as malas para viajar ao Japão, colocavam nelas latas de
feijoada, pacotes de feijão e pó para café, a fim de não sentirem tanta falta da
comida brasileira.
Nos jornais, tvs e rádios nipônicos, a informação sobre o Brasil era rara.
Quando alguma notícia brasileira tinha repercussão no Japão, o idioma japonês era
uma barreira, uma vez que o nikkei nem sempre sabia ler e escrever japonês e,
mesmo que soubesse, a leitura de jornais exigia um elevado conhecimento de kanjis
(ideogramas).
A escassez de informação incomodava os dekasseguis brasileiros, em
grande parte homens entre 30 e 40 anos, muitos com formação superior e bom nível
cultural. Eram engenheiros, arquitetos, dentistas, economistas e outros profissionais
que encontraram no embarque para o Japão uma saída para escapar da crise pela
qual o Brasil passava à época.
Os brasileiros tinham entre suas necessidades de informação:
1. ter conhecimentos básicos sobre o país onde estavam.
2. ter notícias do Brasil, já que a expectativa era ficar de dois a quatro anos e
retornar à terra natal.
3. ter informações sobre a comunidade de brasileiros que estava se
formando.
1.2 Os primeiros jornais
Quando a primeira geração de nikkeis brasileiros enfrentava os desafios de
trabalho no arquipélago, não existiam publicações em português no país. A única
21
forma de manter-se informado sobre o Brasil era por meio de cartas dos parentes,
telefonemas ou boletins improvisados passados de mão em mão, segundo Arai-
Hirasaki
5
e Ishi
6
:
Os primeiros dekasseguis recebiam dos parentes no Brasil cópias
de recortes de jornais e revistas brasileiras enviadas pelo correio. Em uma
época em que a internet não existia, era dessa maneira precária que a
maioria se informava sobre os fatos que ocorriam na terra natal. (ARAI-
HIRASAKI, 2008, p. 220)
Uma forma de manter-se atualizado acerca das notícias do Brasil
era por meio da leitura de boletins improvisados, feitos de maneira amadora
por alguns trabalhadores de fábrica. Manualmente, cortava-se as
reportagens de revistas em páginas e colava-se. Depois copiava-se o
material, que era distribuído gratuitamente. (ISHI, 2003, p. 475-476)
Na cidade Hamamatsu, província de Shizuoka, foi criado o boletim
informativo Brasil Shimbun (Jornal Brasileiro), editado por um dekassegui brasileiro
que recolhia material de jornais e revistas enviados do Brasil. O conteúdo era
reunido em uma página de papel A4 e eram feitas cerca de 50 cópias. (WATANABE
2004)
7
Esse quadro começou a mudar com a criação do primeiro jornal impresso
para brasileiros no Japão, o International Press, fundado na cidade de Atsugi,
província de Kanagawa. O negócio teve início em 15 de setembro de 1991. Em abril
de 1992, foi criado o jornal Folha Mundial, com escritório central em Hamamatsu,
província de Shizuoka. O jornal Tudo Bem foi fundado a seguir, em Tóquio, e sua
primeira edição saiu em 13 de março de 1993. Em 8 de outubro de 1995, foi criado
o jornal Nova Visão, em Hamamatsu.
5
ARAI, Jhony; HIRASAKI, Cesar. Arigatô: A Emocionante História dos Imigrantes Japoneses no Brasil. São
Paulo, Editora JBC, 2008, 1ª ed.
6
ISHI, Ângelo. Making History, reinterpretando Experiências: A Mídia Étnica entre Brasileiros no Japão, p.
475-476 apud WATANABE, Juliana. A Study of Contemporary Brazilian Ethnic Media In Japan – The Case of
Newspapers, University of Tsukuba, Japan, 2004.
7
WATANABE, Juliana. A Study of Contemporary Brazilian Ethnic Media In Japan – The Case of Newspapers,
University of Tsukuba, Japan, 2004.
22
1.2.1 International Press
O fundador do International Press (IP), o japonês Yoshio Muranaga, imigrou
do Japão para o Estado do Pará aos 16 anos e retornou ao Japão, em 1990, já
como empresário. Ao chegar ao país, tomou conhecimento da falta de informações
dos brasileiros sobre o Brasil e viu um novo mercado: criar um veículo de
comunicação para atender à demanda brasileira por notícias. A primeira redação do
International Press foi instalada na cidade de Atsugi, em Kanagawa, em agosto de
1991. A redação inicial era composta de seis pessoas. (WATANABE 2004)
8
Em outubro de 2008 eram 13 funcionários na redação e sucursais, de acordo
com o expediente da própria publicação, excluindo-se os colaboradores.
Em seus primeiros números, o jornal era produzido a partir da edição do
material de agências de notícias, como Agestado, Sport Press, Reuters, Andina
(devido ao grande número de peruanos dekasseguis no Japão). O IP também trazia
uma coluna do jornalista econômico Joelmir Beting sobre economia, as tirinhas de
Maurício de Souza e reportagens da revista Pequenas Empresas Grandes
Negócios.
O objetivo era deixar o brasileiro a par da economia brasileira dos anos 90, e
fornecer ao leitor noções sobre como abrir um negócio próprio - motivo pelo qual
uma grande parcela de brasileiros imigrava ao Japão.
O conteúdo era basicamente de notícias brasileiras. No Brasil, Muranaga
criou o jornal Notícias do Japão, com informações sobre os dekasseguis brasileiros
para as famílias que ficaram no Brasil. Posteriormente, foi criado o jornal Nippo
Brasil, com notícias sobre a comunidade brasileira no Japão, a comunidade nipo-
brasileira e o Japão.
8
Ibid.
23
1.2.2 Jornal Tudo Bem
O fundador do Jornal Tudo Bem, Masakazu Shoji, é japonês, natural de Kobe,
e imigrou para o Brasil no pós-guerra, quando a maioria da população japonesa
vivia enormes dificuldades financeiras. Aos 17 anos, quando estudava na Kobe High
School, ouviu uma palestra sobre o Brasil. Um amigo do diretor havia se mudado
para o Brasil, abrira uma empresa e estava precisando de funcionários. Dos 600
alunos, Shoji foi o único que se interessou pela proposta. Deixou a família no Japão
e embarcou em um navio de carga rumo ao Brasil. A viagem durou 75 dias. (ARAI,
2003)
9
No Brasil, foi carregador de caixas, corretor de seguros, dono de uma
agência de turismo e dono de restaurante japonês antes de criar um jornal para os
trabalhadores brasileiros no arquipélago. Em 1990, quando o governo japonês abriu
as portas para a imigração de descendentes de japoneses, voltou ao seu país e
fundou um jornal em língua portuguesa para os dekasseguis brasileiros em 1993, o
Jornal Tudo Bem (JTB).
Em 31 de janeiro de 1993 era publicado o número zero do periódico. Sob o
nome Weekly Tudo Bem, o semanal continha 24 páginas e custava 300 ienes. Sua
reportagem de capa era um especial sobre o anúncio do casamento do príncipe-
herdeiro do trono japonês Akihito com a jovem Masako.
As matérias tinham por base as informações de agências de notícias e
jornais japoneses, com predominância de notícias sobre o Japão. As reportagens
sobre a comunidade não existiam nos primórdios do jornal, que passou a se chamar
Tudo Bem Semanal a partir da edição 1.
Para implantar o JTB, foram contratados jornalistas profissionais do Brasil.
Havia ainda uma redação brasileira composta de dois repórteres. No Japão, eram
dois jornalistas. De acordo com o expediente de outubro de 2008 da publicação,
eram cinco jornalistas no Japão e sete no Brasil.
9
ARAI, Jhony. Viajantes do Sol Nascente: Histórias dos Imigrantes Japoneses. São Paulo. Editora Garçoni
(Coleção Gente Que Fez São Paulo), p. 256.
24
Em vez de recrutar somente jornalistas de origem nipo-brasileira, o Jornal
Tudo Bem contratou, desde o início de sua trajetória, também jornalistas não-
descendentes de japoneses, que imigravam com um visto diferente do visto nikkei
(visto de residente de longa duração). O visto dos jornalistas não-nikkeis é o de
Especialista em Humanidades concedido a profissionais mediante comprovação do
exercício do jornalismo em carteira de trabalho e uma carta da empresa japonesa
contratante especificando o período no qual o profissional trabalhará no país. Esse
visto pode ser renovado no Japão.
1.2.3 Consolidação do Jornal Tudo Bem
Quando o Jornal Tudo Bem foi fundado, outros periódicos já estavam em
circulação na comunidade brasileira. Para que se consolidasse com um dos
principais, ao lado do International Press, um episódio foi de grande importância: o
terremoto de Kobe, em 17 de janeiro de 1995, que fez mais de 4,5 mil mortos. A
cobertura do terremoto de Kobe realizada pelo Jornal Tudo Bem rendeu a ele
prestígio na comunidade brasileira, um salto nas vendas, além de repercussão no
Brasil.
A equipe do jornal foi a primeira a chegar na cidade de Kobe, totalmente
destruída pelo terremoto de 7,2 na escala Richter. Masakazu Shoji foi pessoalmente
à cidade.
“Em 1995, o Nelson Toyomura, um dos diretores do jornal, me ligou
em casa: ’O senhor está com a tevê ligada?’, perguntou. ‘Não’, respondi.
‘Acabou de ocorrer um grande terremoto em Kobe. Parece que há centenas
de mortos. Ele sabia que minha mãe morava lá. Pegamos um trem em
Tóquio e fomos até Kyoto. Havia apenas um trem local para Osaka. A partir
daí, nenhum meio de transporte estava operando. Alugamos um carro.
entra a criatividade brasileira: escrevemos Imprensa bem grande na lataria e
só por isso conseguimos passar pelas barreiras policiais. A viagem que
duraria três horas e meia em um trem bala demorou 24 horas.” (ARAI, 2003,
p 264)
10
10
Ibid.
25
O trabalho jornalístico foi crucial para os brasileiros, pois as autoridades
locais não estavam divulgando os nomes dos mortos no terremoto. O Jornal Tudo
Bem passou, então, a publicar os nomes dos brasileiros que estavam vivos, a fim de
tranqüilizar os parentes.
A lista de brasileiros sobreviventes do terremoto de Kobe foi passada pelo
Jornal Tudo Bem para os jornais do Estado de São Paulo. O Estado de S. Paulo
publicou no mesmo dia, o que gerou uma grande repercussão na comunidade nipo-
brasileira por conta dos parentes dos dekasseguis no Brasil. A Folha de S. Paulo
publicou a lista com nomes um dia depois. A partir daí o Jornal Tudo Bem
consolidou-se como a segunda publicação para brasileiros no Japão.
1.3 Jornais crescem com a evolução da comunidade
Desde o início do movimento dekassegui, os principais pólos concentração
de brasileiros têm-se localizado em três províncias japonesas: Aichi, Shizuoka e
Gunma. Atualmente, juntas, elas respondem por uma população brasileira de
149.573 pessoas, de acordo com dados de 2007 do Ministério da Justiça do Japão,
distribuídas como se verá a seguir.
Importante centro da indústria automobilística, a província de Aichi abriga
80.401 brasileiros. É a província com o maior número de brasileiros. A principal
cidade é Toyohashi, onde vivem 12.855 brasileiros.
Na província de Shizuoka, a cidade de Hamamatsu é a que mais abriga
brasileiros, especialmente para o trabalho nas montadoras, como a Honda. Na
cidade vivem 19.932 brasileiros.
Em Gunma, a principal cidade de grande concentração de brasileiros é
Isesaki, com 5.148 pessoas, mas a cidade mais conhecida é Oizumi, chamada de
Brazilian Town, que promove até carnaval. Em ambas as cidades, a gama de
serviços destinados a brasileiros - restaurantes, agência de viagens, auto-escolas,
26
escolas infantis - é grande e abrangente.
Na periferia da economia japonesa, tendo em vista o mercado
consumidor de brasileiros em crescimento no Japão, surgiram ainda novos
estabelecimentos, como casas comerciais de produtos alimentícios,
confecções, produtos de perfumaria, calçados fabricados no Brasil; além
disso, expandiram-se restaurantes com comida típica, locadoras de filmes
em língua portuguesa, casas noturnas com música brasileira, cabeleireiros,
serviços de reparação e até venda de carros usados para brasileiros - tudo
isso sob controle de brasileiros ou japoneses retornados do Brasil e
protegido por avalistas japoneses que são, na realidade, os investidores
efetivos. (KAWAMURA, 2003, p.100-101)
11
À medida que a comunidade brasileira crescia, se organizava e passava a ter
cada vez mais atividades sociais, esportivas, religiosas e outras, a imprensa
brasileira no Japão, captando essas tendências, promovia mudanças editoriais e
gráficas no sentido de atrair esse potencial público leitor.
O crescimento da comunidade provocou transformações nos periódicos
impressos e a mídia dekassegui ampliou suas bases de cobertura. Com redações
mais estruturadas, os jornais brasileiros no Japão passaram a realizar reportagens
maiores e mais completas sobre as atividades da comunidade brasileira no Japão.
Hoje, o Tudo Bem e o International Press são os principais jornais
em circulação para os brasileiros no arquipélago. As mudanças editoriais
que ocorreram em suas páginas ao longo desses anos refletem as próprias
transformações no estilo de vida dos brasileiros. Se até meados da década
de 1990, os leitores estavam interessados unicamente nas notícias do
Brasil, hoje buscam mais o que ocorre no Japão e na própria comunidade,
um claro sinal de que os dekasseguis estão se tornando imigrantes. (ARAI-
HIRASAKI, 2008, p. 224, grifos nossos)
12
Ao passo que essa comunidade se estabelecia permanentemente nas
províncias de Gunma, Shizuoka e Aichi, sucursais foram criadas nas cidades de
Oizumi, Hamamatsu e Nagoya. Esta última, a capital de Aichi, abriga sucursais não
11
Ibid.
12
Ibid.
27
só pela grande quantidade de brasileiros mas por reunir a estrutura governamental,
comercial e bancária do Brasil (o Consulado do Brasil em Nagoya, diversas lojas de
produtos brasileiros, restaurantes e casas noturnas e os bancos, como Banco do
Brasil e Bradesco, entre outros).
Além da instalação de sucursais, outra medida estrutural que partiu das
redações dos periódicos foi a contratação, em sistema de free lancer, de repórteres
e fotógrafos em províncias de razoável concentração de brasileiros, como Nagano,
Tochigi e Mie.
A província de Nagano é um importante centro de fabricação de
eletroeletrônicos, que contrata um grande número de mulheres e estudantes nipo-
brasileiros para trabalhos temporários (os chamados arubaitos). A sazonalidade de
trabalho nessa província é devido às demandas do mercado de eletrônicos japonês
e internacional. A opção por mulheres é por questões práticas do trabalho -
manuseio de peças pequenas que requer delicadeza e atenção - e salariais, pois a
hora de trabalho feminina é mais barata que a masculina.
Outra província que é foco de coberturas da imprensa é Tochigi, próxima a
Gunma, com 8.585 brasileiros, por oferecer casas noturnas e infra-estrutura de lazer
para brasileiros. Mie, com 21.717 brasileiros e que abriga o circuito de Fórmula 1 na
cidade de Suzuka, e Gifu, com 20.912 brasileiros também são províncias que
recebem constante cobertura dos jornais.
13
Embora apresente características de seu país de origem, a comunidade
brasileira no Japão vem absorvendo aspectos da cultura japonesa que influenciam
todas as suas atividades, sejam comerciais, de lazer, sociais, religiosas ou
esportivas.
A formação de uma infra-estrutura que facilita a vida cotidiana de
brasileiros, com disponibilidade de mercadorias, serviços de informação,
comunicação e documentação, escolas brasileiras, restaurantes, bares,
diversão etc., veio favorecer a permanência destes migrantes no Japão,
13
Os números de brasileiros são de 2007 e foram fornecidos pelo Ministério da Justiça do Japão.
28
apesar de dificultar sua inserção cultural na sociedade japonesa. Mesmo
assim, ocorreram alterações em alguns aspectos culturais, com a inclusão
de aspectos da cultura nipônica a comportamentos, atitudes, valores que
trouxeram do Brasil, gerando novas formas culturais, que não pertencem à
cultura japonesa e tampouco à cultura brasileira, apesar da diversidade
interna de ambas, em um mundo em constante mudança. Podemos supor
assim um processo de formação de novas identidades culturais, também
diferenciadas, de grupos migrantes internacionais, em contínua mudança.
(KAWAMURA 2006, p.16, grifos da autora)
14
À medida que a comunidade crescia no Japão, e os jornais se estruturavam e
ampliavam suas coberturas, mais jornalistas foram sendo contratados para o
trabalho nas redações. Em fins dos anos 1990, profissionais experientes vindos do
Brasil continuavam a chegar, nikkeis ou não, geralmente com o visto de especialista
em humanidades, concedido a jornalistas.
A esses, somavam-se ex-dekasseguis com diploma de jornalismo que
deixavam as fábricas, fotógrafos autodidatas ou que aprenderam o ofício em cursos
no Japão e não-formados em jornalismo com bom trânsito na comunidade. Os
repórteres diplomados ex-dekasseguis e os "repórteres sem diploma" costumavam
enviar seus textos para a redação central da publicação, onde eram reescritos
conforme os padrões jornalísticos do determinado periódico.
Os profissionais das sucursais escrevem matérias sobre as
comunidades locais e as enviam à sede. Atualmente, o IP tem seis
sucursais, um repórter em cada uma, e apenas um tem experiência em
jornalismo. Para a mídia atual, ter alguém informado sobre a realidade das
comunidades brasileiras no Japão pode ser mais útil do que um repórter
formado em jornalismo com experiência no Brasil. A própria Fátima
15
,
quando começou a trabalhar no jornal japonês de São Paulo, teve que se
ajustar, aprendendo com os próprios erros que as políticas editoriais de
publicações comunitárias são diferentes das de jornais comuns. Assim,
nesses jornais a experiência no jornalismo tradicional não é enfatizada.
(SHIRAMIZU, Shiguehiko, 2004, grifos do autor)
16
14
Ibid.
15
Fátima Kamata, editora-chefe do International Press
16
SHIRAMIZU, Shiguehiko. Jornalismo Comunitário: Publicações em Português Crescem no Japão. Capítulo
final do livro Ethnic Media Studies, de Shigehiko Shiramizu, publicado originalmente na Online Journalism
29
Nos anos 1990, o procedimento de contratar como free lancers os "repórteres
sem diploma" era corrente no International Press. Os textos eram reescritos na
redação central, em Tóquio. Na mesma época, o Jornal Tudo Bem passou a
contratar jornalistas no Japão, que haviam imigrado ao país como trabalhadores de
fábrica mas que tinham diploma de jornalismo. Entre 1990 e 2000, o Jornal Tudo
Bem utilizou um "repórter sem diploma" na sucursal de Gunma a título de
experiência mas o resultado não agradou aos editores da redação central e o jornal
voltou à forma antiga de contratar somente jornalistas formados para a produção de
textos.
Uma cobertura presente nos dois periódicos e de grande repercussão entre
os jovens da comunidade é a seção de fotos de eventos e discotecas brasileiras no
Japão. Eventos sociais têm grande apelo, igualmente acontece com as colunas
sociais nos jornais do Brasil. A maioria desses fotógrafos é free lancers e faz fotos
para diversas publicações simultaneamente, não sendo exclusivos de uma
publicação.
1.4 Jornalistas em um território novo
Os jornalistas que migram ao Japão para integrar as redações dos dois
periódicos são em sua maioria nisseis e sanseis. Conhecimento dos costumes
japoneses e do idioma estão no currículo deles, bem como experiência como
jornalista no Brasil. Mas eles se deparam com algumas dificuldades de adaptação
ao país estando dentre as principais: moradia, comunicação e transporte.
1.4.1 Entrevistas e questionário com jornalistas brasileiros sobre
familiaridade com o Japão
Antes de darmos prosseguimento às condições de vida e trabalho
encontradas pelos jornalistas brasileiros, apresentados os primeiros dados
resultantes das entrevistas e questionários respondidos por 18 jornalistas brasileiros
Review (22/11/04); tradução: Elisa Antoun. Disponível em http://www.
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=306IPB001. Acesso em novembro de 2008.
30
que trabalharam ou trabalham no Japão. Eles responderam a 33 questões. O
questionário completo encontra-se nos Anexos.
Do contingente de entrevistados para o presente trabalho, a maioria é sansei
(50%), seguidos de nissei (22,22%), não-descendentes (22,22%) e issei (5,56%).
Dois entrevistados são mestiços de sansei e um de nissei, sendo contados como
sansei e nissei.
A metade dos entrevistados (50%) afirmou ter razoável familiaridade com os
costumes e idioma japoneses antes de ir trabalhar no Japão; 27,7% disseram ter
razoável familiaridade com a cultura japonesa e pouca familiaridade com
idioma;11,15% disseram ter total familiaridade com o idioma e a cultura japoneses e
11,15% afirmaram não ter nenhuma familiaridade com a cultura e o idioma
japoneses.
À primeira vista, pode-se pensar que, ao aceitar um emprego de repórter em
um jornal para brasileiros no Japão, o profissional teria o status e as condições de
vida e de trabalho de um correspondente estrangeiro de uma grande publicação
internacional. As condições, porém, são semelhantes aos dos próprios dekasseguis.
1.4.2 Moradia
Assim como os trabalhadores dekasseguis brasileiros moravam em
alojamentos das empresas que intermediavam seus serviços junto às fábricas
japonesas (as empreiteiras), os jornalistas brasileiros foram instalados em
apartamentos alugados pelas empresas jornalísticas. Os apartamentos eram
semelhantes aos alojamentos dos trabalhadores brasileiros: pequenos, contendo
apenas o básico e, em geral, divididos com um colega de trabalho.
Por básico entende-se um apartamento do tipo quitinete, com quarto,
cozinha, banheiro (com espaço apenas para o vaso sanitário) e o espaço onde se
localiza o ofurô
17
e um chuveiro. Os apartamentos tinham ar-condicionado, fogão de
17
Ofurô: espécie de banheira japonesa, muito comum nas casas. Geralmente é separada do sanittário.
31
duas bocas, máquina de lavar e um futon
18
(utilizado pelos japoneses para dormir).
Os demais itens (louça, pratos, copos, panelas, panela de arroz, TV, rádio) eram
adquiridos pelo jornalista.
No Jornal Tudo Bem, a divisão de apartamentos de jornalistas com colegas
de trabalho vigorou até meados dos anos 1990. Depois disso, as locações se
tornaram individuais. No International Press, ainda hoje jornalistas dividem casa.
O tamanho dos apartamentos é algo com que o jornalista brasileiro precisava
se acostumar, por menor quer fosse sua casa no Brasil. Normalmente, os repórteres
eram acomodados em apaatos
19
. Com o passar do tempo, passaram também a
morar em manshon
20
, wan ruumu manshon
21
, kashiya
22
, koudan juutaku, sendo que
para morar nessas últimas, os jornalistas se inscreviam por conta própria, quando já
estavam há bastante tempo no país.
Hoje, como muitos jornalistas já alugam seus próprios imóveis, há maior
liberdade de escolha tanto de bairro quanto de tamanho de apartamento. Existem
empresas, inclusive, especializadas na locação ou até mesmo venda de imóveis
para brasileiros.
1.4.3 Comunicação
A comunicação, mais precisamente a falta dela, é apontada pelos jornalistas
entrevistados como um dos problemas que dificultam a adaptação inicial em
território nipônico. Isso aconteceu mesmo com os jornalistas que falam japonês. De
acordo com o levantamento com os jornalistas, 44,44% dos entrevistados afirmou
que não falava japonês bem, mas lia hiragana
23
e katakana
24
antes de ir ao Japão;
18
Futon: espécie de acolchoado usado para dormir. Durante o dia, é recolhido e posto em armários.
19
Apaatos: prédios de apartamentos de até três andares, sem elevador, antigos e simples.
20
Manshon: prédios de apartamentos maiores, alguns com elevador.
21
Wan ruumu manshon: quitinetes mais modernas.
22
Kashiya:casas de aluguel, especialmente fora das grandes cidades.
23
Hiragana: de acordo com a Wikipédia “é um dos silabários utilizados para se representar a forma escrita da
língua japonesa. Utilizado principalmente em palavras que não possuem representação em ideogramas kanji ou
se estes ideogramas tornarão a leitura demasiadamente difícil”.
24
Katakana: de acordo com a Wikipédia, “é um dos silabários utilizados para se representar a forma escrita da
língua japonesa. É utilizado principalmente para representar palavras estrangeiras ou de natureza científica.
32
22,22% lia e escrevia razoavelmente; 5,56% falava, lia e escrevia fluentemente;
5,56% não falava nem lia muito bem e 22,22% não falava e não lia japonês.
O maior problema era a compreensão do idioma japonês moderno. Isso
porque a maioria dos imigrantes japoneses que foram morar no Brasil preservaram
o idioma da forma como falavam e escreviam à época da migração, não sendo
atualizado.
Os brasileiros que vão para o Japão deparam com uma realidade
japonesa muito diferente da imagem idealizada do país passado por seus
pais e avós imigrantes no Brasil, como se tivessem congelado a cena do
momento da partida, perdendo a noção do tempo durante a viagem, levando
consigo as lembranças do que lhe era familiar. (SASAKI, 2003)
25
Como o Japão do pós-guerra sofreu intensa influência cultural norte-
americana, muitas palavras em inglês foram incorporadas ao idioma e sua
correspondente em japonês passou a ser utilizada somente por japoneses idosos.
Por exemplo, os japoneses mais jovens jamais utilizam a palavra benjo
26
para se
referir a sanitário e sim otearai
27
ou toire
28
. No Brasil, entre a colônia japonesa, esse
falar antigo, ao estilo dos primeiros imigrantes é conhecido como koronia-go
29
.
Assim, os jornalistas brasileiros - que falavam japonês como seus pais e avós
- tinham de reaprender o japonês moderno, assimilando rapidamente a influência do
inglês no idioma para executar tarefas básicas como tomar o baaso
30
, participar de
uma pressu conference
31
ou comprar miruku
32
no suupa
33
.
1.4.4 Transporte
Também é utilizado para onomatopéias e animais ou plantas para os quais não existam representações comuns
em kanji”.
25
Ibid.
26
Benjo: banheiro em japonês. Termo utilizado no Japão antes da Segunda Guerra, que caiu em desuso no país.
Os imigrantes japoneses que vieram ao Brasil mantiveram seu uso e ensinaram a palavra aos filhos e netos.
27
Otearai: banheiro ou toalete em japonês. Palavra utilizada no Japão contemporâneo.
28
Toire: banheiro em japonês, palavra derivada do inglês toilet, usada pelas gerações de japoneses mais jovens.
29
Koronia-go: do português “colônia” e do inglês “go” (ir). Significa o japonês falado pela colônia, ou seja,
pelos antigos imigrantes.
30
Baaso: ônibus, palavra derivada do inglês bus (ônibus).
31
Pressu conference: entrevista coletiva, termo derivado do inglês press conference.
32
Miruku: leite, palavra derivada do inglês milk (leite)
33
Se o jornalista for designado para trabalhar como correspondente, é
importante que saiba dirigir e tire a carta de motorista japonesa. Isso é item
fundamental para o deslocamento nas províncias e cidades de grande concentração
de brasileiros, pois a malha ferroviária e metroviária dessas regiões é bem menor
que a de grandes metrópoles, como a capital Tóquio ou Osaka.
Ler os kanjis
34
básicos para poder dirigir nas ruas do país, aprender a guiar
na mão inglesa (como na Inglaterra, o volante fica à direita no veículo), saber dirigir
na neve, com correntes nos pneus, conhecer os procedimentos se estiver em um
carro em caso de tufões e terremotos também faz parte da rotina de trabalho do
correspondente/motorista.
E o correspondente/motorista costuma dirigir bastante. De acordo com a
importância da reportagem, o jornalista deixa a sucursal e viaja para as províncias
próximas. Normalmente, o correspondente em Aichi cobre também as vizinhas Mie
e Osaka. Já o correspondente em Shizuoka viaja com certa freqüência para
Nagano. O correspondente em Gunma faz também reportagens em Tochigi e Gifu.
Quem fica na sede em Tóquio pode cobrir Kanagawa, Ibaraki e Saitama.
Vale lembrar que o tamanho das províncias do Japão é menor que a maioria
dos Estados brasileiros e as distâncias entre elas são bem menores em
comparação com o Brasil. As boas condições das estradas ajudam nas viagens de
automóvel e as excelentes linhas de trem - muitas delas dispondo dos trens bala
fazem com que o jornalista cruze províncias mais rapidamente do que se estivesse
em um vôo doméstico.
Quem trabalha no escritório central das publicações, em Tóquio,
normalmente cumpre suas tarefas de trabalho utilizando as linhas de trem, metrô e
os ônibus da cidade. O cuidado principal é ter sempre em mãos o mapa de onde se
quer chegar, uma vez que a localização de endereços não é clara na cidade.
Também é importante dispor dos mapas completos das linhas de trem e metrô,
33
Suupa: supermercado. Abreviação da palavra inglesa supermaket.
34
Kanji: são os ideogramas japoneses. De acordo com a Wikipédia, “são caracteres de origem chinesa, da época
da Dinastia Han, que se utilizam para escrever japonês junto com os silabários katakana e hiragana”.
34
conhecer as confluências e saídas das estações para não se perder.
Como qualquer estrangeiro, a primeira adaptação do jornalista brasileiro no
Japão é com o funcionamento dos serviços básicos do país. Para isso, ele
geralmente conta com a ajuda dos colegas mais experientes da redação para fazer
as primeiras compras no supermercado, andar pela primeira vez de trem ou metrô,
ir à prefeitura para se registrar como estrangeiro e obter o Gaikokujin Toroku
Shomeisho
35
- o equivalente a um RG de estrangeiro.
Receber os primeiros salários é um desafio para os não fluentes em japonês.
Tanto que jornalistas mais experientes ou tradutores acompanham os novatos na
abertura das contas e no uso do caixa eletrônico (poucos deles possuem menu em
inglês). Na dúvida entre um comando e outro - e conseqüentemente perder dinheiro
- a maioria dos novatos não gosta de ir sozinha ao banco nos primeiros meses.
"Nos primórdios da imprensa dekassegui no Japão, a dificuldade de
adaptação dos jornalistas brasileiros era um dos maiores problemas. Como
os dekasseguis, seu público leitor, eles estavam trabalhando em um país
completamente diferente do seu, enfrentando as barreiras da língua, da
alimentação, dos costumes, do clima e, além disso, dos desastres naturais,
que são extremamente comuns no Japão." (Júlio Moreno foi diretor de
redação do Jornal Tudo Bem)
36
1.5 Múltiplas funções fazem parte do trabalho
Ao chegar ao Japão para trabalhar o jornalista se deparava com as múltiplas
funções que era preciso desempenhar. Além de apurar, entrevistar, pesquisar e
escrever, o profissional deveria saber fotografar bem, e, no caso dos
correspondentes, saber dirigir e ter carta de motorista japonesa.
"O fato de ser uma repórter com múltiplas funções fez com que eu
35
Gaikokujin Toroku Shomeisho: também conhecido como Gaijin Toroku, é a carteira de Registro de
Estrangeiro que o todos os imigrantes legais devem possuir, Ele é obtido na prefeitura da cidade
onde se mora, mediante o preenchimento de documentos e apresentação do passaporte.
36
Júlio Moreno trabalhou no Japão entre 1997 e 1999, como diretor de redação do Jornal Tudo Bem.
35
desenvolvesse outras habilidades, como ir além de noções de fotografia.
Também, por atuar como correspondente não fiquei restrita a uma editoria:
cobri reportagens de cultura a esportes, incluindo casos de polícia e
acidentes." (Mami Yasunaga foi correspondente em Aichi)
37
Além das múltiplas atividades para executar o trabalho jornalístico, os
jornalistas brasileiros no Japão, especialmente nos meados dos anos 90, tiveram de
se acostumar com uma demanda peculiar dos leitores: os telefonemas para a
redação inspirados pela carência e pela falta de falar português.
No início do movimento dekassegui, os jornais – e os jornalistas –
funcionavam como uma espécie de interlocutor do leitor – alguém com quem ele
podia conversar em português. Não era raro, nas segundas-feiras, em pleno
fechamento dos jornais que estariam nas lojas na terça-feira, as redações
receberem telefonemas de leitores querendo saber o resultado do jogo de seu time
do coração, cuja partida ocorrera no domingo. Vale lembrar que não havia internet
nem TV brasileira no país nessa época. Como não existia departamento de
atendimento ao leitor, os próprios jornalistas falavam o resultado ao telefone e a
maioria dos leitores esticava a conversa. Aqueles telefonemas muitas vezes eram
as únicas palavras que eles trocavam em português em uma semana ou mais por
trabalharem em regiões de pouca presença de brasileiros.
A relação entre correspondentes das províncias e leitores era ainda mais
estreita, pois o correspondente estava sempre nos lugares-chave dos
acontecimentos. Ele virava um misto de celebridade e posto de serviços para as
questões mais diversas: ouvia reclamações trabalhistas, tirava dúvidas sobre visto,
recebia convite para festas, posava para fotos com desconhecidos, opinava se era
melhor fazer tratamento dentário no Japão ou no Brasil, entre outros.
“Estar distante do país, da família, de sua cultura, de sua culinária
etc., deixa a pessoa bastante carente. De vez em quando, eu encontrava
com um leitor de jornal que conversava comigo como se me conhecesse há
muito tempo, numa intimidade constrangedora. Teve até um fato muito
37
Mami Yasunaga integrou a primeira redação do Jornal Tudo Bem em São Paulo, em 1992, e posteriormente
foi correspondente do Jornal Tudo Bem na província de Aichi. Também trabalhou como dekassegui no Japão.
36
bizarro em Nagoya, que depois do susto passou a ser engraçado. Entramos
num restaurante brasileiro no porto de Nagoya e um dos clientes que estava
no balcão literalmente deu um salto quando ouviu o meu nome. ‘Mami
Yasunaga, é verdade que é você? Eu não acredito que estou falando com
Mami Yasunaga...Só faltou ele pedir autógrafo. Fiquei muito envergonhada,
no entanto, compreendi, pois isso reflete a solidão do trabalhador no Japão.
O jornalista torna-se mais um “posto” para o dekassegui procurar ajuda ou
simplesmente desabafar. Isso, no entanto, é inerente ao correspondente,
pois, para realizar um trabalho eficiente, é necessário facilitar o acesso. Mas
grande parte dos leitores usava esse canal para tentar solucionar problemas
pontuais e pessoais.” (Mami Yasunaga)
38
“O papel do jornalista no Japão, diferentemente do Brasil, não se resume
em apenas noticiar. O jornalista acaba exercendo também a função de RP,
amigo e "voluntário." (Karina Morizono foi correspondente do Jornal Tudo
Bem em Gunma)
Se por um lado a proximidade ajudava na obtenção de dados e personagens
para o trabalho, por outro deixava os jornalistas mais vulneráveis a pressões e
cobranças. O jornalista tinha de tomar cuidado quando fazia matérias envolvendo
denúncias, crimes ou iam contra alguém que se achasse prejudicado.
Ao fazer uma reportagem sobre a vida de estudantes colegiais japonesas –
que faziam programas para comprar bolsas e sapatos de grife - a redação do Jornal
Tudo Bem foi apedrejada e recebeu telefonemas ameaçadores. Em outra ocasião,
para obter depoimentos e fotografias de brasileiros criminosos no Japão, a
reportagem do jornal foi seguida de carro por um integrante da yakuza, a máfia
japonesa, para a qual alguns dos brasileiros entrevistados trabalhava. O mafioso
acompanhou de longe as entrevistas e sessão de fotos, feitas com o recurso do
contra luz para não identificar os rostos. A recomendação de que em hipótese
alguma os entrevistados fossem identificados foi seguia pela reportagem, cujos
hábitos e a rotina os entrevistados deixaram claro que conheciam. Por se tratar de
uma comunidade com poucos jornais e um reduzido número de jornalistas em
atividade à época, os profissionais de imprensa eram facilmente identificados nas
aglomerações de brasileiros, não necessitando de credenciais.
38
Ibid.
37
CAPÍTULO 2
INTERAÇÕES JORNALÍSTICAS – A IMPRENSA NO JAPÃO
Passado o estranhamento inicial provocado pela necessidade de ser adaptar à
moradia, ao transporte e à comunicação, os jornalistas brasileiros no Japão começam a
descobrir como é executado o trabalho jornalístico no arquipélago.
Antes, porém, de passar à análise da imprensa japonesa e suas características
peculiares, é necessário apresentar outros resultados da entrevista realizada com
jornalistas brasileiros apresentado as respostas sobre a cultura japonesa e o domínio
do idioma. Mais adiante, quando será explicado o sistema de kisha clubs (clubes de
imprensa) e o relacionamento da imprensa com a Agência da Casa Imperial, serão
apresentados os resultados da pesquisa com as respostas sobre esses temas.
2.1 Entrevistas e questionário com jornalistas brasileiros sobre a
cultura japonesa e domínio do idioma
Sobre a familiaridade com os costumes japoneses antes de ir ao Japão, 50%
dos entrevistados afirmaram ter razoável familiaridade com o idioma e a cultura
japoneses; 27,7% disseram ter razoável familiaridade com a cultura japonesa e
pouca familiaridade com idioma; 11,15% afirmaram ter total familiaridade com o
idioma e a cultura japoneses e 11,15% disseram não ter qualquer familiaridade com
a cultura e o idioma.
Indagados a respeito do nível de fluência em japonês à época da ida ao
Japão, 44,44% afirmaram não falar bem mas ler hiragana e katakana; 22,22%
disseram ler e escrever razoavelmente e 5,56% afirmaram falar, ler e escrever
fluentemente. Outros 5,56% disseram não falar nem ler muito bem; e 22,22%
afirmaram não falar nem ler nada. Sobre o nível de japonês que têm atualmente,
22,22% dos entrevistados disseram falar bem e ler hiragana e katakana; 16,66%
afirmaram não falar bem, mas ler hiragana e katakana; 16,66% disseram ler e
escrever razoavelmente; 16,66% afirmaram não falar nem ler muito bem; 16,66%
disseram falar apenas palavras básicas e não ler ideogramas; 5,56% disseram ler e
38
escrever bem e 5,56% afirmaram falar, ler e escrever fluentemente.
A respeito da adaptação ao Japão, 66,66% dos jornalistas entrevistados
afirmaram estar muito bem adaptados ao país; 27,78% disseram estar
razoavelmente adaptados ao país e 5,56% disseram estar em fase de adaptação ao
país.
Quanto à importância do idioma japonês para a execução do trabalho
jornalístico, 72,22% disseram ser útil para a realização da apuração, entrevistas e
reportagens; 16,66% afirmaram ser desnecessário para a realização da apuração
entrevistas e reportagens e 11,12% afirmaram ser imprescindível para a realização
da apuração, entrevistas e reportagens. Nas respostas acima, pode-se associar a
discrepância entre as respostas de que o idioma japonês é "desnecessário" e
"imprescindível" ao fato de os jornalistas que são correspondentes nas províncias
de grande concentração de brasileiros terem pouco contato com fontes japonesas
em seu trabalho, sendo, no caso deles, de fato "desnecessário". Em contrapartida, o
contato com japoneses é bastante freqüente nos escritórios centrais em Tóquio,
sendo necessário para efetuar o trabalho na capital japonesa maior fluência no
idioma ou a ajuda de tradutores, o que justifica a porcentagem de "imprescindível" e
também nos remete à próxima resposta da entrevista, sobre a ajuda de intérpretes.
Sobre contar com a ajuda de intérpretes no dia-a-dia, 44,44% dos
entrevistados afirmaram contar com intérpretes em 10% da apuração, reportagens e
entrevistas; 16,66% disseram contar com intérpretes em 30% da apuração,
reportagens e entrevistas; 16,66% disseram contar com intérpretes em 100% da
apuração, reportagens e entrevistas; 11,12% afirmaram contar com intérpretes em
50% da apuração, reportagens e entrevistas; 5,56% afirmaram contar com
intérpretes em 70% da apuração, reportagens e entrevistas; e 5,56% disseram não
contar com intérpretes por serem fluentes em japonês.
2.2 Imprensa japonesa
No Japão não há a obrigatoriedade de diploma de jornalismo para o exercício
da profissão. Existem poucos cursos de comunicação no país, cuja ênfase não é o
39
jornalismo e sim relações públicas e publicidade. Os meios de comunicação
recrutam seus futuros empregados das faculdades de sociologia, ciências políticas,
economia, história e outras, fornecendo treinamento interno aos novatos.
Assim, o jornalista japonês é formando em seu próprio local de trabalho, por
meio de treinamento e também observando como trabalham os colegas mais
experientes. A concorrência para obter uma vaga nos grandes meios de
comunicação japoneses é grande, como ocorre em todas as empresas japonesas
de grande porte.
"Como na maioria das empresas japonesas, as empresas
jornalísticas pegam recém-formados, que fazem a carreira em uma só
empresa por toda a vida. Existe a relação de sempai e kouhai
39
, parte da
cultura japonesa. Normalmente há um curso interno de duas semanas, onde
o novato aprende fazendo, são os shimiyu chain
40
- os alunos novos. Em
2006, o Asahi Shimbun criou um curso de jornalismo para seus profissionais
novatos. Isso porque foram publicadas reportagens contendo erros graves,
que resultaram na perda de credibilidade dos leitores. Para que isso não
voltasse a acontecer, foi criado um curso. No caso do Asahi, por ser um
jornal grande e famoso (e um dos que pagam melhor) também contratam
jornalistas veteranos de outras publicações, como Mainichi e Sankei
Shimbun, mas na maior parte dos jornais japoneses isso dificilmente
acontece" (Hiroshi Ishida, jornalista japonês)
41
Mesmo no Japão contemporâneo ainda prevalece uma cultura do emprego
vitalício e os jovens que pleiteiam emprego nos jornais sabem que dificilmente
mudarão de empresa durante a vida toda. No Brasil, a passagem por vários meios
de comunicação certamente é vista como sinal de experiência e prestígio de um
repórter. No Japão, tal atitude tem uma conotação negativa, uma espécie de
infidelidade à empresa que o empregou e treinou inicialmente.
39
Sempai e kouhai: seria o que no Ocidente é chamado de veteranos e calouros, sendo que sempai é o colega
que vem antes e kouhai o que vem depois. No Japão, esse relacionamento é profundo e respeitoso, com o
sempai orientando o kouhai e este devendo obrigações ao sempai.
40
Shimiyu chain: alunos novos
41
Hiroshi Ishida é jornalista japonês, por três anos foi correspondente do Asahi Shimbun na América Latina.
Formou-se em Ciências Políticas na Universidade Nacional de Tsukuba em 1994 com a tese: Histórias e
possibilidades do PT (Partido dos Trabalhadores) no Brasil e outros movimentos de esquerda na América
Latina. Retornou para o escritório central do Asahi, em Tóquio, em novembro de 2008.
40
Embora a cobertura realizada pelos jornais brasileiros no Japão seja
primordialmente de assuntos da comunidade não é raro que os jornalistas
brasileiros cubram assuntos nacionais. Assim, as publicações precisam percorrer a
mesma trajetória dos jornais japoneses e dos correspondentes estrangeiros na
busca por informações de fontes oficiais, empresariais e extra-oficiais.
Para dar conta da cobertura de assuntos do Japão, ambas as redações dos
periódicos objeto do estudo, International Press e Jornal Tudo Bem, são assinantes
de agências de notícias japonesas e internacionais, além de brasileiras. De acordo
com informações do expediente das publicações em outubro de 2008, o
International Press utiliza as seguintes agências e jornais: Agência Estado, Agência
Brasil, Reuters, Bloomberg News, Efe, Mainichi Shinbum e Jornal Nippo-Brasil. Para
fotos: Agência Estado, Reuters, Bloomberg, Kyodo e Jornal Nippo-Brasil. O Jornal
Tudo Bem utiliza os serviços editorais da Agência Estado, Kyodo, Kyodo Photo,
Graffo, Agência Brasil e Reuters. Também utiliza fotos da revista Made in Japan.
As agências de notícias, os periódicos japoneses e os noticiários da TV e
rádio são a base das reportagens da editoria de Japão. Há, também, apuração
própria, com o envio de jornalistas a entrevistas individuais e coletivas de órgãos e
entidades japoneses, apuração pessoal junto a fontes e por telefone. O contato
inicial com as fontes japonesas é sempre feito em japonês, em sua linguagem
polida
42
. Para isso, na maioria das vezes é necessária a ajuda de um intérprete.
O primeiro contato com a fonte de informação japonesa é essencial para que
o jornalista e até o jornal tenham sucesso em contatos futuros, sendo realizado
cuidadosamente e respeitando-se os procedimentos próprios de cada organização.
Para obter informações de órgãos oficiais japoneses, é necessário inicialmente fazer
uma apresentação do veículo. As fontes japonesas, por desconhecerem as
publicações brasileiras - e estrangeiras em geral - costumam pedir exemplares dos
42
No japonês existem três tipos de linguagem polida (keigo): o sonkeigo, que demonstra respeito, eleva o
interlocutor acima de si; o kenjoogo, que demonstra humildade, a pessoa se rebaixa perante o interlocutor; e o
teineigo, a maneira polida.
41
periódicos antes de conceder informações, fotos e entrevistas.
Essa apresentação normalmente é feita por meio da visita de um
representante do periódico (pode ser o próprio jornalista), que leva exemplares do
jornal e dá explicações sobre ele. Após o contato, o representante toma
conhecimento do protocolo do órgão público em questão e adequa o pedido de
entrevista ou reportagem a esse. A partir daí, passa a ser atendido pelo relações
públicas da organização. Curiosamente, em um país que é sinônimo de tecnologia,
grande parte dos pedidos para órgãos públicos japoneses tem de ser encaminhada
por fax - e não por email.
Sobre o tratamento dispensado à mídia brasileira pelos órgãos
governamentais japoneses (Ministério da Justiça, Departamento de Imigração,
Agência Nacional de Polícia, Ministério da Educação, prefeituras), os jornalistas
brasileiros entrevistados manifestaram as seguintes opiniões:
55,55% disseram que o atendimento à imprensa brasileira é regular, nem
sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de entrevista ou fornecem
as informações necessárias às reportagens; 33,33% afirmam que é bom, na maioria
das vezes atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de entrevista e
fornecem as informações necessárias às reportagens; 5,56% disseram que é
excelente, sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de entrevista e
fornecem as informações necessárias às reportagens; e 5,56% não opinaram.
"O que mais me chamou a atenção foi a burocracia. No Japão os
pedidos de entrevista têm de ser todos por fax, com papel timbrado da
empresa. Eu nunca imaginei que um país tão avançado tecnologicamente
ainda usasse fax. Por sermos um veículo estrangeiro, sempre tínhamos de
enviar a revista e o jornal, explicar tudo nos mínimos detalhes. Essa parte
do trabalho foi a que achei mais difícil de lidar." (Marianne Nishihata foi
editora do Jornal Tudo Bem em Tóquio)
“O excesso de burocracia para agendar entrevistas, pedir fotos e
42
fazer contatos é fora do comum para quem está acostumado aos
procedimentos do Brasil. Sem contar que os pedidos têm de ser enviados
por fax e não por email”, Cesar Hirasaki é correspondente do Jornal Tudo
Bem em Tóquio)
"Eu tinha a impressão de que saber o idioma japonês ajudava a
quebrar algumas barreiras junto a alguns órgãos públicos. Isso aconteceu
uma vez quando um policial leu o boletim de ocorrência ao telefone, e
outros jornalistas disseram que nunca tinham conseguido isso. Outra vez foi
quando uma pessoa que trabalhava no órgão de defesa do consumidor da
cidade de Hamamatsu me procurou porque estava preocupada com os
brasileiros que não sabiam dos seus direitos." (Chiaki Karen Tada foi
correspondente do Jornal Tudo Bem em Tóquio e Hamamatsu)
Um procedimento comum às fontes japonesas que serão entrevistadas é
pedir com antecedência a lista de perguntas que serão feitas, não somente o tema
da entrevista, que é mais comum no Ocidente. O objetivo é planejar previamente as
respostas, especialmente se elas envolvem números. Uma vez enviada a lista de
perguntas, o jornalista deve se contentar com aquelas respostas. Se, na hora da
conversa, quiser fazer novas perguntas, é preciso se certificar de que não vai deixar
o entrevistado embaraçado ou sentindo que a relação de confiança foi quebrada.
No Japão há procedimentos de jornalistas e entrevistados que são usuais ao
país porém não comuns jornalistas brasileiros. Os entrevistados elegeram os
procedimentos que mais chamaram sua atenção na seguinte ordem:
A grande preocupação com a privacidade por parte dos jornais japoneses, a
não-divulgação de nomes de suspeitos (33,33%);
O fato de alguns entrevistados cobrarem pela entrevista (22,22%)
A pontualidade ao início dos trabalhos (11,11%);
A burocracia para efetuar o trabalho jornalístico (11,11%)
As respostas evasivas dos entrevistados, o não ir direto ao ponto (11,11%)
A etiqueta que o jornalista deve ter (5,56%)
A falta de respeito com a mídia dekassegui (5,56%)
"O exercício diário do jornalismo brasileiro no Japão é uma luta, com
doses de paciência, quando são necessárias informações das instituições
43
governamentais, especialmente da polícia. As diferenças culturais e
costumes entre Brasil e Japão são imensas. Inicialmente, muitas práticas
comuns à imprensa japonesa chamaram a minha atenção: o fato de alguns
entrevistados cobrarem pela entrevista; a maioria dos jornalistas japoneses
não fazer perguntas em entrevistas coletivas; entrevistador e entrevistado
trocarem presentes; a grande preocupação com a privacidade por parte dos
jornais japoneses; e como os japoneses respondem as perguntas,
ensaiando bastante para chegar ao ponto central. Entender isso se mostrou
como o maior desafio na prática do jornalismo." (Eduardo Xavier foi
correspondente do Jornal Tudo Bem em Gunma)
“A grande preocupação com a privacidade por parte dos jornais
japoneses, a não-divulgação de nomes de suspeitos e o respeito à
privacidade em outras situações por parte da imprensa japonesa chamaram
minha atenção. Muitas vezes, eles se preocupavam com a pessoa em vez
de garantir o furo de reportagem. No caso de morte, os jornalistas
japoneses não chegam perto dos familiares e ficam entrevistando as
pessoas em busca de detalhes. Isso não significa que ele não vai fazer a
matéria, mas pode esperar pelo momento adequado. Vi muito isso com as
equipes de TVs que acabaram por produzir documentários interessantes.”
(Mami Yasunaga)
“Acredito que aqui no Japão, a imprensa étnica segue os conceitos
de toda imprensa japonesa, que tem a grande preocupação de preservar a
individualidade da pessoa, seja réu ou vítima, por exemplo. Outro dia,
aconteceu o ataque de um maluco em Akihabara, que matou seis pessoas.
A TV procurou os pais, falou com eles, mostrou-os pedindo desculpas, mas
em nenhum momento expôs suas fisionomias ou deixou passar algo que
identificasse de onde eram. Isso, em nada prejudicou o trabalho jornalístico,
de apuração, e ao mesmo tempo mostrou o drama e a vergonha da família.”
(Nelson Watanabe)
O protocolo e a burocracia fazem parte dos contatos da imprensa brasileira
no Japão de forma geral, pois as autoridades nipônicas estão acostumadas ao
centenário sistema de clubes de imprensa (kisha clubs). E os clubes de imprensa
ainda são um mundo fechado aos jornalistas brasileiros no Japão. Nas entrevistas,
a maioria dos jornalistas nem sequer sabia da existência deles ou não teve
oportunidade de conhecer um para tentar ingressar nele. Indagados se já
integraram ou integram algum clube de imprensa japonês (kisha club), 100% dos
44
entrevistados respondeu que não. Nas respostas abertas, a alegações sobre o
motivo de não participar foram:
33,33% não sabiam, nunca ouviram falar de nenhum
22,22% faziam ou faz em parte apenas do Centro de Imprensa Estrangeira
(Foreign Press Center)
11,15,% sentiam ou sentem pouca necessidade
11,15% falta de tempo, não tiveram oportunidade
5,56% falta de interesse
5,56% não quiseram se associar porque os clubes de correspondentes
estrangeiros têm um aspecto social, de jantares e entretenimento, e os da imprensa
japonesa são extremamente fechados
5,56% decisão da empresa
5,56% não se inscreveram porque acreditavam ser preciso ter o contato com
alguma empresa jornalística do Brasil
O centro de imprensa mais conhecido, especialmente dos jornalistas com
mais tempo de Japão e citado nas respostas, é o Foreign Press Center, que não é
um kisha club, funcionando mais como um apoio governamental aos jornalistas
estrangeiros, pois tem atendimento em inglês.
Localizado em Tóquio, o Foreign Press Center conta com biblioteca e sala de
imprensa com computadores e acesso à internet para os associados. Antes da
popularização dos laptops e da facilidade de acesso à web wireless, o Press Center
costumava ser o local onde os jornalistas estrangeiros de passagem pelo país
escreviam suas matérias. Hoje concentra mais seus serviços na organização de
entrevistas coletivas (em inglês ou em japonês com tradução simultânea) e
atendimento a pedidos específicos de reportagens.
2.3 Kisha clubs - os clubes de imprensa japoneses
Na imprensa japonesa vigora um sistema de clubes de imprensa (kisha club),
organizações sem equivalentes no Brasil, cujo funcionamento distribui notícias
sobre os mais variados assuntos: automóveis, bancos, prefeituras, sumô, cerveja,
45
polícia, entre outros.
Os clubes de imprensa japoneses tiveram início em 1890, quando um grupo
de jornalistas buscava notícias sobre as decisões do Parlamento japonês (chamado
à época de Dieta Imperial) e foram admitidos no parlamento, onde podiam
acompanhar as sessões. O grupo passou a ser conhecido como Domei Kisha Club.
A partir daí os meios de comunicação japoneses integrantes da Associação dos
Jornais do Japão (Nihon Shinbun Kyokai - NSK) criaram outros clubes de imprensa
para atuar em instituições diversas.
Os kisha clubs são organizações voluntárias de captação de notícias e
atividades jornalísticas da qual participam jornalistas dos principais órgãos de
imprensa japoneses.
Os clubes de imprensa atuam junto a instituições públicas, como governos de
províncias, cidades e polícia. Fechados e compostos por poucos integrantes, os
clubes elegem dentre os membros um representante. Ele fica responsável por fazer
a ponte entre o grupo e o órgão do governo regularmente. Muitas vezes, o órgão
coberto pelo kisha club cede uma sala, mesa e cadeira para o jornalista, que o
freqüenta periodicamente.
A utilização de espaço e mobília de um órgão público pela imprensa foi
reconhecida por decisões judiciais e pelo Ministério das Finanças do Japão como
uma atitude que não se insere na categoria de utilização de bens públicos para
outros fins que não os públicos. No entanto, todos os custos incorridos na utilização
do espaço do jornalista devem ser devidamente pagos pelos meios de comunicação
social associados.
Ao receber notícias, o responsável pelo clube as repassa ao grupo por meio
de relatórios. Ele não pode "furar" os demais órgãos de imprensa integrantes.
Espera-se que o integrante do kisha club compartilhe seus relatórios com os
demais. Os membros do clube são igualmente convidados a assumir a
responsabilidade pela elaboração dos relatórios, um de cada vez, por eleição.
46
No entender dos jornalistas japoneses integrantes dos clubes, a criação dos
kisha clubs facilita no exercício de pressionar órgãos e entidades na divulgação de
informações. E é um aliado na luta pela liberdade de imprensa e de expressão. O
caráter de clube é uma demonstração da coletividade da sociedade nipônica, onde
desde a infância o grupo prevalece sobre o indivíduo, e a concepção de furo está
mais próxima de uma atitude egoísta do que de competência pessoal de um
repórter.
Os membros dos clubes de imprensa se vêem com a responsabilidade de
verificar o exercício do poder público da organização a que estão ligados, e com a
função de divulgar informações verdadeiras e corretas. E acreditam que podem
fazer isso na segurança do pertencimento a um grupo. Também entendem que,
como clube, há um mais fácil acesso às informações das instituições públicas e de
outras fontes. Como resultado, a comunicação rápida e precisa se torna possível,
permitindo que as notícias sejam mais aprofundadas.
Em casos de ameaça à vida e aos direitos humanos, como seqüestros, é
função dos kisha clubs coordenar a captação e emissão de notícias por meio dos
relatórios e conferências de modo que os trabalhos policiais não sejam
prejudicados. No caso de seqüestro, há o embargo de informações.
Os kisha clubes são integrados por jornalistas designados pelos veículos
membros da Associação dos Jornais do Japão (Nihon Shinbun Kyokai - NSK) ou
organizações de mídia de nível semelhante aos da NSK no mundo. Pertencem à
associação os grandes jornais, emissoras de TV e rádios japoneses. Grandes
órgãos de imprensa internacionais também podem integrar os kisha clubs, desde
que atendam as exigências de filiação do grupo.
O elemento mais importante da adesão é a respeitar o Cânone de Jornalismo
da NSK: a liberdade de expressão e a grande responsabilidade de acompanhar a
rigorosa e justa elaboração de relatórios, além do respeito pelos direitos humanos.
Estas são as bases da grande imprensa japonesa. Os kisha clubs deve ser
composto por jornalistas que cumpram rigorosamente essas regras.
47
Além da divulgação de relatórios, que servem de base para reportagens, uma
das funções dos kisha clubs é organizar conferências de imprensa. Os jornalistas
japoneses associados entendem que, com a organização de conferências da
imprensa para o público, podem oferecer uma opção de divulgação de notícias mais
imparcial do que a das conferências de imprensa organizadas pelo próprio órgão,
que podem correr o risco de serem conduzidas de maneira unilateral pela entidade
organizadora. Nesse sentido, é muito importante para os kisha clubs ter a iniciativa
própria de organizar conferências de imprensa.
Com a popularização da internet, os kisha clubs viram seu controle de
informação ameaçado. Inicialmente fechados e restritos, eles tiveram de rever seu
papel em função do aumento dos veículos de comunicação fora dos clubes,
especialmente a internet. Em 2006, promoveram uma “abertura”, recebendo novos
pedidos de adesão e permitindo que outros órgãos de imprensa tivessem acesso às
informações de alguns clubes. Ainda assim, cada clube de imprensa deve julgar se
os novos membros ou participantes são adequados para ter acesso às informações
divulgadas.
Se por um lado os kisha clubs ajudaram na divulgação de informações que
antes não eram obtidas ou eram obtidas com grandes dificuldades, dada a
inclinação dos órgãos públicos japoneses de não revelar dados, por outro, os kisha
clubs se transformaram em feudos e a relação entre jornalista e fontes ficou tão
estreita que muitos deles funcionam mais como uma assessoria de imprensa da
entidade do que um organismo que deveria fiscalizá-la. Atualmente, questiona-se a
imparcialidade desses clubes, que vêm sendo duramente criticados pela própria
mídia japonesa (obviamente por meios de comunicação que não integram kisha
clubs) por seu caráter restrito, fechado e elitista.
A criação de portais e sites dos órgãos públicos facilitou o acesso às
informações tanto por parte da imprensa que não integra os kisha clubs quanto dos
cidadãos. Com isso, os próprios clubes estão questionando sua existência e
finalidade e prevendo uma redução ou até erradicação de repórteres instalados
dentro das instituições públicas.
48
Para que um jornalista estrangeiro seja membro de um kisha club é preciso
que tenha um certificado de imprensa estrangeira emitido pelo Ministério dos
Negócios Estrangeiros e que seja membro de uma organização estrangeira de
comunicação social que desempenhe atividade semelhante às da NSK. Após
apresentar os documentos pedidos, o jornalista aguarda a decisão do respectivo
kisha club. Vale ressaltar que é necessário que o jornalista seja fluente no japonês
falado e escrito, pois fará parte do revezamento na elaboração dos relatórios para o
grupo.
2.4 Agência da Casa Imperial
A Agência da Casa Imperial (Kunaichoo) é responsável por administrar a vida
pública e também privada da Família Imperial do Japão, controlando a agenda de
cada membro da família, visitas ao exterior, comparecimento a eventos e aparições
em datas comemorativas. Ela fornece à imprensa imagens e informações sobre o
imperador Akihito, a imperatriz Michiko, o príncipe-herdeiro Naruhito, sua esposa, a
princesa Masako, a fiha deles, Aiko, e demais membros da Família Imperial.
Tudo relacionado à Família Imperial - de notícias sobre a sucessão ao Trono
do Crisântemo à doença da princesa Masako -, passa pelo crivo da Agência. O
kisha club que cobre o Kunaichoo é um dos mais restritos do Japão, mas a
imprensa internacional tem acesso à Agência por meio dos relações públicas.
O protocolo do Kunaichoo é extenso e deve ser seguido à risca sob pena de
a publicação nunca mais ser atendida, o que costuma gerar protestos da imprensa
estrangeira e críticas sobre o conservadorismo e exigências excessivas da Agência.
No caso de reportagens sobre a família imperial japonesa, a Agência permite
à grande imprensa internacional (agências de notícias como Reuters, France Press,
Associated Press e United Press) a cobertura de eventos oficiais dos membros da
família imperial, viagens da família imperial pelo Japão e raros momentos em família
ou nos jardins do Palácio Imperial. Aparições do aniversário do imperador Akihito,
todo dia 23 de dezembro na bancada do Palácio, com a presença dos súditos,
também são alvo de coberturas formais e previsíveis autorizadas pela Agência.
49
As maiores dificuldades surgem quando uma publicação pretende fazer uma
reportagem diferenciada, com informações e fotos exclusivas. Para se elaborar um
especial sobre a Família Imperial japonesa, a equipe do Jornal Tudo Bem e da
revista Made in Japan levou meses da negociação de fotos do arquivo da Agência à
publicação. O primeiro contato precisou ser feito pelo presidente da
JBCommunication, que edita as duas publicações. Masakazu Shoji foi à Agência
com o jornal e a revista em mãos e uma proposta do que seria a reportagem.
A negociação levou cerca de seis meses. Após concordar com a linha da
reportagem - que contava em detalhes a vida do imperador Akihito, da imperatriz
Michiko, do príncipe-herdeiro Naruhito e da princesa Masako, e explicava a
linhagem do Trono do Crisântemo -, a Agência da Casa Imperial pediu para conferir
as páginas diagramadas antes da publicação. O objetivo era verificar se a
diagramação respeitava os cortes das fotos, não podendo haver sobreposições,
nem recortes que tirassem os fotografados do contexto. Pediu, também, a
reportagem completa em português e também traduzida para o japonês, a fim de
checar se o que seria publicado estava de acordo com o combinado. Satisfeitas as
exigências, por fim, a reportagem especial foi publicada, como fotos e informações
inéditas até então na imprensa brasileira.
O alto nível de exigência e cerceamento da Agência faz com que ela seja
considerada pelos jornalistas brasileiros como o órgão público mais difícil de se
obter informações no Japão. Sobre as solicitações feitas à Casa Imperial, 33,33%
dos jornalistas brasileiros entrevistados disseram que o atendimento à imprensa
brasileira no Japão é regular, pois nem sempre atendem os pedidos da imprensa, as
solicitações de entrevista ou fornecem as informações necessárias às reportagens;
16,66% disseram ser ruim, pois não atendem os pedidos da imprensa, as
solicitações de entrevista nem fornecem as informações necessárias às
reportagens; 11,12% afirmam que é bom, na maioria das vezes atendem os pedidos
da imprensa, as solicitações de entrevista e fornecem as informações necessárias
às reportagens; 5,56% acha que é excelente, sempre atendem os pedidos da
imprensa, as solicitações de entrevista e fornecem as informações necessárias às
reportagens; e 33,33% dos entrevistados não opinaram, pois nunca cobriram ou
50
encaminharam pedidos à Agência da Casa Imperial.
As histórias envolvendo apurações de jornalistas brasileiros e a Casa Imperial
são muitas e variadas. Abaixo, alguns depoimentos de jornalistas que mantiveram
contato com a Agência:
“Na Agência da Casa Imperial há censura de fotos e de perguntas,
exigência de checagem prévia do conteúdo da matéria e as fotos de
divulgação são cobradas. Ela não confirma a programação da Família
Imperial para a imprensa brasileira no Japão nem mesmo quando a agenda
está relacionada à comunidade brasileira ou ao Centenário da Imigração
Japonesa. O pior é que limitam os locais onde a imprensa brasileira pode
estar, enquanto a mídia japonesa pode transitar com mais liberdade”,
(Cláudia Emi é editora do Jornal Tudo Bem em Tóquio)
43
“Tive acesso à Casa Imperial por causa da cobertura da visita do
então presidente Fernando Henrique Cardoso ao Japão. Eles foram muito
atenciosos e me trataram muito bem. Dedicaram-se a passar todos os
pontos do protocolo (como não olhar diretamente ao imperador; jamais
dirigir-lhe à palavra; em hipótese alguma dar às costas etc.) Mas, lembro
que para conseguir as credenciais foi um sufoco, uma vez que o veículo
nem era brasileiro e nem japonês... Lembro que houve interferência do
Itamaraty, que no final liberou as credencias para os veículos em língua
portuguesa no Japão. Um fato engraçado: o taxista que me levou até o local
ficou super feliz. Disse que falaria para a família inteira que havia entrado na
Casa Imperial. Nem se importou de passar pela fiscalização. Eu é que
deveria ter cobrado...” (Mami Yasunaga)
44
“A Agência da Casa Imperial atende os pedidos desde que
respeitadas todas as burocracias e os largos prazos preestabelecidos,
geralmente para coletivas e anúncios oficiais. Toda a imprensa japonesa é
acostumada com estas regras e a ter somente informações oficiais. Para os
ocidentais, que sempre tentam informações exclusivas, entrevistas
exclusivas, tudo isso é insoso e insuficiente. Por isso, acho comum que
muitos jornalistas brasileiros e de outros países considerem o atendimento
43
Cláudia Emi é também editora da revista Made in Japan. Antes, trabalhou como dekassegui no Japão e na
redação do International Press em Tóquio.
44
Ibid.
51
ruim.” (Erin Mizuta foi repórter do International Press em Tóquio)
45
"A Agência da Casa Imperial é mais exigente que todos os órgãos
governamentais de Brasília juntos." (Hiroshi Ishida)
46
2.5 Etiqueta no trabalho
Além da burocracia, que no Japão existe para ser seguida, cumprir a etiqueta
japonesa é um ponto importante para a realização do trabalho do jornalista. Ao
chegar a uma redação, uma das primeiras coisas que o repórter recebe são os seus
cartões-de-visita (meishi). A troca de cartões é extremamente importante no primeiro
encontro, nos encontros de negócios e em entrevistas. Até pessoas comuns
costumam trocar cartões-de-visita e existe uma etiqueta para como se comportar ao
receber um cartão.
Quando receber o cartão de outra pessoa, convém não guardá-lo em
seguida. Deve-se lê-lo todo com atenção e deixá-lo sobre a mesa, à vista. Na
cultura japonesa, isso demonstra consideração com o seu interlocutor. Na hora de
guardá-lo, o porta-cartão e não o bolso é o lugar certo. Quem dá o cartão primeiro é
quem está em posição inferior (o subordinado, o entrevistador). Quem o recebe, o
faz com as duas mãos.
A linguagem não-verbal quer dizer muita coisa no Japão, por isso a
importância do cumprimento japonês como parte da etiqueta junto às fontes
japonesas. A maneira correta de cumprimentar uma pessoa pode abrir ou fechar
portas em uma apuração. O cumprimento tradicional japonês é o ojigi,
47
que
consiste em curvar-se e abaixar a cabeça em sinal de reverência. Quanto mais
formal a ocasião, mais a pessoa se curva ao cumprimentar.
Outro procedimento comum nas redações são as apresentações para as
fontes. Os jornalistas mais experientes dão suporte aos novatos, apresentando
pessoalmente as fontes com as quais costuma falar freqüentemente. No caso do
45
Erin Mizuta trabalhou no International Press em 2007. Antes disso, foi repórter do Jornal Tudo Bem e da
revista Made in Japan em São Paulo.
46
Ibid.
52
correspondentes, os veteranos acompanham os novatos nos primeiros contatos. É o
tsukiai
48
, algo como fazer companhia.
“O relacionamento entre jornalistas veteranos e novatos no Jornal
Tudo é de ajuda. O jornalista que está de saída dá as dicas ao recém-
chegado. Primeiro ele ensina, mostra como é morar no Japão, onde fazer
compras, ir ao supermercado. O novato aprende isso com os companheiros
de trabalho. Depois o veterano dá dicas sobre o exercício da profissão,
apresenta as fontes pessoalmente, o que chamamos de tsukiai.” (Jhony Arai
é diretor de redação do Jornal Tudo Bem)
49
2.5.1 Vestido para entrevistar
Outra recomendação, feita logo de início pelos jornalistas veteranos aos mais
novos, é sobre o tipo de roupa adequado para encontrar-se com as fontes
japonesas ou comparecer a coletivas. É recomendável o uso de terno e gravata
para os homens e terno e saia para as mulheres. Sempre de cor escura: preto ou
azul marinho. E camisa branca, porque o branco passa a impressão de higiene para
os japoneses. Não se deve colocar nada dentro dos bolsos do paletó; a gravata
deve ser discreta, os sapatos, pretos ou marrons, de couro, cabelos curtos, barba
feita e evite usar perfume.
Para as mulheres, a saia deve ser na altura dos joelhos, a camisa branca ou
de cor clara, fechada no pescoço de modo que não mostre um decote profundo.
Usar meia calça sempre. Nas unhas, uma leve base e evitar perfume. A maquiagem
está liberada, aliás, é raríssimo encontrar uma japonesa sem maquiagem nas ruas.
Base, pó compacto ou uma base muito comum no Japão chamada Fondation, com
protetor solar. Batom, rímel e blush devem ser leves. Se for usar colares e brincos é
conveniente que sejam pequenos.
A roupa adequada é item importante no Japão, afinal ela diferencia grupos
sociais e estilos de vida. Os funcionários de escritórios japoneses, por exemplo,
47
Ojigi: cumprimento em forma de reverência.
48
Tsukiai: fazer companhia no sentido de apresentar contatos ou conhecidos, relação entre pessoas.
49
Jhony Arai trabalhou por quatro anos na redação do Jornal Tudo Bem em Tóquio. É autor dos livros Viajantes
do Sol Nascente e Arigatô: A Emocionante História dos Imigrantes Japoneses no Brasil.
53
adotam sempre o mesmo tipo de roupa: terno preto ou azul marinho, sapato preto
ou marrom em couro, camisa branca, colarinho impecável acompanhado de gravata
idem, maleta ou bolsa de couro a tiracolo. Os jornalistas japoneses também adotam
essa "roupa de escritório" nas redações.
Evidentemente, as fontes recebem e respondem as perguntas de pessoas
que não estejam vestidas de acordo com a etiqueta japonesa, mas a diferença de
tratamento existe.
“O jornalista precisa se vestir formalmente para ir aos órgãos
públicos japoneses, chegar até um pouco antes da hora marcada e sempre
marcar hora para fazer entrevista nesses locais. Depois, quando há
oportunidade de almoço ou jantar, os funcionários desses órgãos
conversam mais abertamente.” (Neide Hayama foi correspondente do Jornal
Tudo Bem em Gunma)
“Na cidade de Toyota (província de Aichi), fui até a polícia local para
apurar um caso. Nem me deram atenção. Até hoje não sei se foi por causa
da grande concentração de brasileiros na região ou porque a cabeleireira
havia errado no tom do meu cabelo e eu estava loira. Ou seja, estava com
um visual perfeito para ‘furyo’ (rebelde). Sem contar que estava com trajes
informais, pois era um sábado.” (Mami Yasunaga)
2.5.2 A linguagem polida
Caso o repórter não seja fluente em japonês - e principalmente desconheça
as várias maneiras de se dirigir a uma pessoa: a forma polida, a forma coloquial e a
forma honorífica (que usa expressões de respeito, utilizada para superiores e
autoridades), é aconselhável ir para entrevistas com fontes japonesas
acompanhado de um tradutor.
Durante a fala de uma pessoa, é comum os japoneses dizerem frases como
"hai", "soo desu ka", "naruhodo" que significam "sim", "sei sei" e "entendo"
respectivamente. Trata-se do aizuchi
50
, demonstração de que a pessoa está
50
Aizuchi: fazer uso de interjeições e de pequenos comentários enquanto ouve a fala de outra pessoa, para
sinalizar que está acompanhando a conversa.
54
prestando atenção na conversa e não, como se poderia pensar, que o interlocutor
está impaciente com a explanação.
“O trabalho no Japão me ensinou como conduzir uma entrevista de
maneira mais gradativa, sem ser tão direta, principalmente se o entrevistado
for japonês. Seguir certos ‘rituais’ para conseguir uma boa fonte japonesa.
Mesmo alguns entrevistados brasileiros, que estão há muito tempo no
Japão, acabaram adquirindo costumes japoneses. Falar, por exemplo,
onegaishimasu
51
, faz grande diferença para pedir algo na entrevista.” (Neide
Hayama)
Por conta da rigorosa etiqueta japonesa e da formalidade dos encontros,
mesmo os de imprensa, o tempo precioso do repórter é reduzido para o trabalho
efetivo de fazer a reportagem. Também é preciso uma maior preparação antes da
coletiva, por exemplo, pensando-se o que vai vestir, como vai pentear ou maquiar,
como vai cumprimentar e atenção para não perder o mapa, além de sair com
antecedência da redação para não cometer a gafe imperdoável de chegar atrasado
a um compromisso.
2.5.3 Uma cultura diferente
Além de assimilar as questões peculiares da etiqueta japonesa, o
conhecimento dos costumes faz com que o jornalista desenvolva melhor o seu
trabalho. Isso porque a sociedade japonesa possui alguns valores bastante
diferentes dos valores ocidentais, que norteiam o modo brasileiro de se fazer
jornalismo.
“Demonstrar respeito pelos costumes locais e procurar conhecê-los
a fundo são tão importantes quanto ter boa apuração e bom texto. Em um
ambiente diferente, estes são dois fatores que garantem a qualidade e a
fidelidade do trabalho jornalístico.” (Sérgio Yamazaki foi repórter do Jornal
Tudo Bem em Tóquio)
Nas entrevistas com japoneses, a maioria dos jornalistas brasileiros desse
55
levantamento se queixou da falta de objetividade e até "enrolação" para dar
respostas. Essa indignação é comum no jornalismo ocidental, que valoriza a
objetividade nas perguntas e nas respostas. Quanto mais claro e direto, melhor.
Acontece que, no Japão, a imprecisão no falar faz parte da gentileza com que todos
devem ser tratados. Em suma, a falta de objetividade é sinal de gentileza e
educação. O próprio idioma japonês não é objetivo. Algumas palavras possuem
mais de um significado e o japonês nunca é claro a ponto de dizer: “não vou
responder a essa pergunta”. Ele vai se esquivar com frases evasivas.
Uma das expressões mais usados pelos japoneses, que mostra a indefinição,
é chotto
52
. Trata-se de uma resposta negativa sem ser clara, que pode significar
uma recusa. A modéstia japonesa também faz parte da cultura. Ao receber um
elogio, é comum o japonês responder ie, ie
53
. Mas é também uma resposta a
agradecimentos.
Além disso, no Brasil costuma-se entrevistar a pessoa de maior cargo, o
presidente de uma empresa, por exemplo, supondo que ele dirá as frases mais
bombásticas e relevantes, enfim, o que vai ser notícia. No Japão, quanto maior o
cargo de uma pessoa, menos ela dá declarações impactantes e dados técnicos
sobre a empresa, falando apenas as linhas gerais de um projeto ou evento que vai
se tornar notícia. Para saber detalhes, os jornalistas têm de consultar os
assessores, os técnicos e os relações públicas.
“Os jornais japoneses não inovam, não ousam nem buscam sair da
fórmula que seguem há tempos. Mesmo assim, alguns deles figuram entre
os maiores do mundo. Aqui o jornalista não tem a posição de formador de
opinião ou de condutor social. No Japão, o jornalista deve seguir a etiqueta
local, não transpõe barreiras que um cidadão comum não pode passar. É
uma visão diferente de jornalismo.“ (Luiz Fukushiro é repórter do jornal
japonês San-in Chuo Shinpo)
54
51
Onegaishimasu: por favor.
52
Chotto: significa é, um pouco.
53
Ie, ie: Não, não.
54
O jornalista brasileiro Luiz Fukushiro é bolsista no Japão. Seu estágio é no jornal San-in Chuo Shinpo, um
jornal regional de Shimane, província vizinha de Hiroshima. Antes de ir trabalhar no Japão, foi repórter do
Jornal Tudo Bem em São Paulo.
56
A hierarquia está presente em toda a sociedade japonesa. Pessoas mais
velhas são chamadas pelo sobrenome, acrescentando-se san
55
ao final, chefes são
chamados pelos cargos (sachou
56
, buchoo
57
). Embora as empresas japonesas
estejam se tornando mais competitivas e adotando valores ocidentais - como
aumento de salário por produtividade - o tempo de serviço é um fator de peso na
hierarquia de trabalho do país. Os mais velhos são valorizados e respeitados,
mesmo que tenham menos estudo que os mais jovens. Os salários aumentam
conforme os anos de trabalho. A empresa é a segunda casa e pega mal mudar de
empresa em empresa.
"Em geral, os japoneses denominam a empresa onde trabalham de
uchi no kaisha, ou seja, a minha empresa, com a mesma carga de "minha
casa". Daí se entende a devoção dos japoneses à firma em que trabalham.
É errado pensar que esse tipo de relacionamento tenha morrido no atual
momento da economia do país. Ela ainda é a principal mola que impulsiona
o capitalismo do Japão." (Nelson Watanabe, coordenador editorial do
International Press)
58
55
San: sufixo de tratamento da linguaguem falada É utilizado também para pessoas jovens, amigos e colegas.
56
Sachou: presidente
57
Buchoo: gerente geral
58
Nelson Watanabe trabalhou no Jornal Tudo Bem em Tóquio e em São Paulo antes de retornar ao Japão como
coordenador editorial do International Press.
57
CAPÍTULO 3
POR DENTRO DOS JORNAIS
3.1 O trabalho jornalístico
As análises de forma e conteúdo dos jornais International Press e Tudo Bem
têm o objetivo de identificar os procedimentos utilizados pelos jornalistas para a
execução de seu trabalho. Para efetuar as análises, serão tomados os conceitos do
estudioso italiano Mauro Wolf (2003)
59
, que explica a evolução das teorias sobre a
comunicação. Antes, porém, cabe uma reflexão sobre o que é jornalismo, na
definição de Marques de Melo
60
, inspirado em Otto Groth:
[...] um processo social que se articula a partir da relação (periódica
e oportuna) entre organizações formais (editoras/emissoras) e coletividades
(público/ receptor) através de canais de difusão (jornal, revista, rádio, TV,
cinema, etc) que asseguram a transmissão de informações (atuais) em
função de interesses e expectativas (universos culturais e ideológicos). O fio
de ligação entre emissor e receptor é o conjunto de fatos que vão
acontecendo. O ponto de tensão entre ambos está na diferença entre o que
a coletividade gostaria de conhecer e o que a instituição jornalística quer
fazer saber. A garantia da relação social está em íntima dependência do
equilíbrio que se estabelece entre os interesses da instituição e as
expectativas da coletividade (MARQUES DE MELO, 1998, p.10).
O fazer jornalístico é um conjunto de etapas do processo noticioso, que envolve
a captação, a edição e a distribuição das notícias. Nos jargões do jornalismo, esse
processo tem início com a pauta, que define os temas que se transformarão em
reportagens do periódico a ser publicado.
Durante a reunião para definir os assuntos do dia, a chamada reunião de pauta,
as potenciais notícias que integrarão uma determinada edição do jornal são escolhidas,
e define-se como se dará a sua cobertura, ou seja, como o jornalista vai transformar
essa potencial notícia em matéria. O passo seguinte, após ser decidida a pauta, é
59
Ibid.
58
iniciar a apuração, ou reportagem, um conjunto de providências necessárias à
elaboração de uma matéria.
Os jornalistas chamam de apuração ou reportagem todas as ações destinadas à
obtenção de material para a elaboração de uma matéria: levantamento, pesquisa,
coleta e checagem de dados e informações, entrevistas individuais ou coletivas,
recebimento de releases e press kits (kits contendo textos, fotos, credenciais e outros
itens destinados à imprensa distribuídos em eventos ou enviados para as redações).
Na apuração também se inclui a consulta a fontes, que são pessoas que o jornalista
entra em contato para obter um parecer, declarações ou informações, que aparecerão
identificadas ou não na reportagem.
Uma primeira definição de fonte identifica com esse termo todas "as
pessoas que o jornalista observa ou entrevista [...] e as que fornecem
apenas as informações de base ou as ocasiões para uma notícia [...] A
característica mais saliente das fontes é que elas fornecem informações
enquanto membros ou representantes de grupos (organizados ou não) de
interesse ou de outros setores da sociedade. (GANS, 1979
61
, p. 80 apud
WOLF, 2005, p.234)
62
Ao término da apuração, a matéria é produzida. No caso dos periódicos,
impressos, é a hora de se escrever o que foi apurado. A edição é a etapa na qual as
reportagens são reunidas, avaliadas em graus de relevância, tais como maior ou menor
impacto sobre o leitor. Estabelece-se a hierarquia das notícias e sua disposição nas
páginas de um periódico, com base em critérios próprios de cada redação.
Selecionar fatos, estabelecer uma hierarquia entre eles e conectá-los são as
principais ações que envolvem o ato jornalístico da edição. Mais que aumentar ou
cortar textos e dar títulos às reportagens, a edição é uma tarefa intelectual que está na
essência de qualquer tarefa jornalística, e não uma técnica ou um conjunto de passos
60
MARQUES DE MELO, José. Teoria da comunicação: paradigmas latinoamericanos. Petrópolis. Vozes,
1998.
61
GANS, H. Deciding What’s News. A Study of CBS Evening News, NBC Nightly News, Newsweek and Time.
Nova York, Pantheon Books, 1979.
62
WOLF, Mauro. Teoria das Comunicações de Massa. São Paulo, Martins Fontes, 2005.
59
práticos (COELHO)
63
A edição é uma linha condutora e o editor normalmente está a par da
orientação/linha editorial do jornal (a posição do jornal em relação a certas políticas,
assuntos ou pessoas) a fim de fazê-la transparecer nas reportagens. Na edição
também é definido o espaço e a diagramação de cada reportagem, ou seja, a
disposição gráfica que ela ocupará na página do jornal. Após a edição, e efetuadas as
correções ortográficas pertinentes, as páginas são enviadas à gráfica para impressão.
A explanação acima visa a familiarização com os jargões da produção
jornalística. Os termos serão utilizados ao longo do trabalho uma vez que são de uso
corrente de todos os jornalistas brasileiros entrevistados. Na prática, porém, cada
atividade possui um alto grau de complexidade, e o jornalista é obrigado a fazer
escolhas todo o tempo, como parte da própria produção de notícias.
3.2 Newsmaking, a produção de notícias
De acordo com Wolf, a produção de notícias (que o autor chama de
newsmaking) resulta da articulação da cultura profissional dos jornalistas e da
organização do trabalho e processos de produção. Esses fatores definem um
conjunto de critérios relativos ao grau de relevância entre os acontecimentos, que
estabelecem a sua noticiabilidade.
Pode-se dizer também que a noticiabilidade corresponde ao
conjunto de critérios, operações e instrumentos com os quais os aparatos
de informação enfrentam a tarefa de escolher cotidianamente, de um
número imprevisível e indefinido de acontecimentos, uma quantidade finita e
tendencialmente estável de notícias. (WOLF, 2003, p. 196)
O grau de noticiabilidade dos acontecimentos é um dos fatores que definem a
hierarquia das notícias nas páginas dos periódicos, ou mesmo se a notícia será
publicada ou descartada. Essa avaliação do que é "mais ou menos notícia", é feita
pelos jornalistas e está sujeita a variáveis culturais.
63
COELHO SOBRINHO, José. Texto A arena jornalística, apresentado na Disciplina A Edição em Jornalismo
60
Tendo definido a noticiabilidade como o conjunto de elementos por meio dos
quais o aparato informativo controla e administra a quantidade e o tipo de
acontecimentos que servirão de base para a seleção de notícias, Wolf explica que
os valores/notícia (news values) são um componente da noticiabilidade:
"Os valores/notícia são usados de duas maneiras. São critérios para
selecionar, do material disponível para a redação, os elementos dignos de
ser incluídos no produto final. Em segundo lugar, eles funcionam como
linhas-guia para a apresentação do material, sugerindo o que deve ser
enfatizado, o que deve ser omitido, onde dar prioridade na preparação das
notícias a serem apresentadas ao público. Os valores notícia são, portanto,
regras práticas que compreendem um corpus de conhecimentos
profissionais que, implícita e muitas vezes explicitamente, explicam e guiam
os procedimentos de trabalho redacional. Não é verdade [...] que estão além
da compreensão dos jornalistas, que, por sua vez, não seriam capazes de
articulá-los. Na realidade, os valores/notícia estão continuamente presentes
nas interações cotidianas dos jornalistas em sua cooperação profissional.
Mas ainda mais, eles constituem referências claras e disponíveis a
conhecimentos compartilhados a respeito da natureza e dos objetivos das
notícias, referências que podem ser utilizadas para facilitar a elaboração
complexa e rápida dos noticiários. Os valores/notícia são a qualidade dos
eventos ou da sua construção jornalística, cuja ausência ou presença
relativa os indica para a inclusão num produto informativo. Quanto mais um
acontecimento exibe essas qualidades, maiores são suas chances de ser
incluído (Golding-Elliott
64
, 1979, p.114 apud Wolf
65
p. 202,203, grifos do
autor)
Atribuir valores às notícias é uma forma de rotinizar a produção. E os valores-
notícia estão presentes ao longo de todos os processos de produção jornalística, da
seleção dos acontecimentos à elaboração da informação jornalística e à edição.
Quatro critérios designam os valores-notícia considerados pelos meios de
comunicação: os caracteres substantivos das notícias; o seu conteúdo; a
disponibilidade do material e os critérios relativos ao produto informativo; o público,
Impresso, 2005.
64
GOLDING, P.; ELLIOT, P. Making the News, Londres, Longman, 1979.
65
Ibid.
61
a concorrência (WOLF 2003, grifos do autor).
No presente trabalho, serão analisados os dois binários: a cultura profissional
dos jornalistas e a organização do trabalho e dos processos de produção. As
conexões e as relações entre os dois aspectos constituem o ponto central das
pesquisas de comunicação. O objetivo é identificar as transformações pelas quais
esses binários passam, transformações essas que caracterizam as mudanças no
jornalismo brasileiro exercido no Japão.
De que forma um maior aculturamento influencia na escolha dos
acontecimentos considerados suficientemente interessantes, significativos e
relevantes para serem transformados em notícia? Esta pergunta será um ponto
importante da pesquisa para avaliar ao grau de assimilação da cultura nipônica pela
qual passam os jornalistas brasileiros no Japão.
Para compreender melhor a influência da cultura e modo de vida nipônico na
rotina dos jornalistas, terá prosseguimento a apresentação das respostas das
entrevistas e questionários, sob o foco trabalho jornalístico.
3.3 Entrevistas e questionário com jornalistas brasileiros sobre o
trabalho jornalístico e adaptação ao país
Os jornais brasileiros do Japão, na opinião dos jornalistas entrevistados,
sofrem influência da mídia japonesa em todas as etapas do processo noticioso.
Para 33,33% dos entrevistados, os jornais, revistas, TVs e sites japoneses
influenciam razoavelmente a mídia brasileira no Japão com relação à pauta, modo
de apuração, edição e publicação de notícias; 55,55% afirmam que os jornais,
revistas, TVs e sites japoneses influenciam um pouco a mídia brasileira no Japão
com relação à pauta, modo de apuração, edição e publicação de notícias; 5,56%
disseram que os jornais, revistas, TVs e sites japoneses influenciam muito a mídia
brasileira no Japão com relação à pauta, modo de apuração, edição e publicação de
notícias; e outros 5,56% afirmaram que os jornais, revistas, TVs e sites japoneses
não influenciam a mídia brasileira no Japão com relação à pauta, modo de
apuração, edição e publicação de notícias.
62
Ao comparar o trabalho jornalístico realizado no Japão com o realizado no
Brasil, 88,88% dos jornalistas entrevistados afirmaram que há diferenças no modo
de apuração, edição e veiculação de notícias, e 11,12% disseram não haver
qualquer diferença no modo de apuração, edição e veiculação de notícias dos dois
países. Esses 88,88% são a somatória de 33,33% que disseram haver grandes
diferenças; 33,33% que afirmaram haver pequenas diferenças; 16,66% que
afirmaram haver razoáveis diferenças e 5,56% que disseram haver diferenças em
apenas um ou dois processos jornalísticos.
Quanto à apuração enquanto processo de produção de notícias, a maioria
dos entrevistados (88,88%) declarou haver diferença em relação ao trabalho de
apuração realizado no Brasil. Destes 88,88%, 61,10% disseram que a apuração
junto às fontes japonesas é bastante diferente da apuração no Brasil; 22,22%
afirmaram que há pequenas diferenças da apuração no Brasil; 5,56% disseram que
a apuração junto às fontes japonesas é totalmente diferente da apuração no Brasil.
Do total, 11,12% afirmaram não haver diferença da apuração do Brasil.
No tocante às entrevistas coletivas promovidas por fontes japonesas, a
maioria dos entrevistados, 55,55%, acham que elas são diferentes das coletivas
brasileiras tanto na condução da coletiva quanto no comportamento dos repórteres;
27,77% acreditam que as entrevistas coletivas japonesas são em parte iguais às
coletivas do Brasil. No caso, a condução da coletiva é semelhante à do Brasil, mas
o comportamento dos jornalistas é diferente. Para 5,56%, as coletivas japonesas
são exatamente iguais às coletivas do Brasil; e 11,12% não opinaram.
“O relacionamento entre jornalista e entrevistado é bem diferente.
Há sempre um respeito mútuo, uma cordialidade (mesmo que seja
aparente) em qualquer situação que seja. O entrevistado é sempre senhor,
da mesma forma que o profissional de jornalismo será tratado. Assim,
dificilmente haverá um "confronto" entre entrevistador e entrevistado, como
acontece no Brasil. Nunca se verá, por exemplo, um presidente batendo na
mesa com o punho fechado, como a principal marca de uma entrevista.
Porém, ‘essa baixa temperatura’, vamos dizer assim, não implica na
qualidade final. Um bom trabalho nem sempre significa bater de frente,
63
como às vezes imaginamos. Há sempre um outro caminho, que pode levar
a um resultado ainda melhor.” (Nelson Watanabe)
“No Japão é importante respeitar os limites com o entrevistado,
afinal distância entre repórter e entrevistado é muito grande.“ (Marianne
Nishihata)
“No Japão, o jornalista brasileiro precisa aprender um outro modo
de dialogar com as fontes. No Brasil, entrevistados e assessores querem
que a notícia saia. Aqui é diferente, pois você tem de brigar pela noticia já
que a chamada midia dekassegui não é prioridade no pais e há mais
burocracia em geral.” (Paula Moura Carvalho é repórter do International
Press)
A maior diferença é fora da redação, em campo. Ao sair da redação com a
pauta, o repórter compreende que terá de se adaptar por estar em outro país, com
um modo de vida bem diferente do brasileiro. No caso do jornalista que vai trabalhar
no Japão, ele sofre influência do modo de trabalho japonês. De acordo com os
jornalistas brasileiros entrevistados; 66,66% afirmam que os jornalistas brasileiros
absorvem poucas características de trabalho jornalístico japonês; 27,78% disseram
que os jornalistas brasileiros absorvem muitas características de trabalho jornalístico
japonês; e 5,56% afirmam que os jornalistas brasileiros não absorvem
características de trabalho jornalístico japonês.
Para a maioria dos jornalistas brasileiros que trabalham ou trabalharam no
Japão, a adaptação ao país ajuda na realização do trabalho. Dos entrevistados, 66,
66% afirmaram que a adaptação à cultura japonesa ajuda muito no exercício da
atividade; 22,22% disseram que a adaptação à cultura japonesa é imprescindível
para exercer a atividade; e 11,12% afirmaram que a adaptação à cultura japonesa
ajuda um pouco no exercício da atividade.
Sobre a adaptação ao trabalho, a maioria dos jornalistas entrevistados,
77,76%, afirmaram que se adaptaram gradativamente e que o funcionamento do
trabalho jornalístico é semelhante ao do Brasil, com algumas diferenças. 11,12%
levaram meses para se adaptar. Para eles, o funcionamento do trabalho é
razoavelmente diferente do Brasil, pois há grandes diferenças. Outros 11,12%
64
afirmaram ter-se adaptado imediatamente. Para eles, o funcionamento do trabalho
jornalístico é igual ao do Brasil.
Para a realização de um bom trabalho jornalístico no Japão, os jornalistas
entrevistados listaram as atribuições que um profissional de imprensa deve ter. Eles
consideraram como itens mais importantes:
1º ter experiência como jornalista no Brasil (38,89%)
2º ser formado em jornalismo (33,33%)
3º conhecer a cultura e costumes japoneses (16,66%)
4º falar japonês (5,56%)
5º falar e escrever inglês (5,56%)
Sobre a distribuição de notícias nos jornais brasileiros destinados à
comunidade no Japão, 50% dos entrevistados acreditam que os jornais brasileiros
equilibram o noticiário com metade de notícias sobre o Brasil e metade sobre o
Japão; 38,88% acham que os jornais veiculam mais notícias sobre o Japão e
brasileiros no Japão e menos sobre o Brasil; 5,56% acham que os jornais veiculam
mais notícias sobre o Brasil e menos notícias sobre o Japão e brasileiros no Japão;
e 5,56% não opinaram.
Indagados sobre o interesse do leitor, 66,66% responderam que acham que o
leitor tem maior interesse em notícias de sua comunidade e do Japão; 22,22%
acreditam que o leitor tem igual interesse em notícias do Brasil, de sua comunidade
e do Japão; 5,56% acham que o leitor tem maior interesse nas notícias do Brasil; e
5,56% não opinaram.
No referente à adaptação dos brasileiros ao Japão nos aspectos cultural,
profissional, educacional e integração à sociedade, os entrevistados acham que os
jornais desempenham um papel que consideram:
Importante 50%
Fundamental 22,22%
Relativo 11,12%
Pouco influente 16,66%
65
3.4 Análise das capas
As capas dos periódicos analisados refletem, por um lado, as opções dos
editores-chefes, de acordo com a linha editorial da publicação, e por outro, as soluções
gráficas adotadas pelos chefes de arte, em comum acordo com o editor, e também
atendendo às especificidades da disposição dos jornais em seus pontos de venda.
No que diz respeito à diagramação do Jornal Tudo Bem e International Press, as
diferenças em relação aos jornais brasileiros começam com o tamanho Standard das
publicações. No Japão, os jornais Standard possuem 54,5 cm x 41 cm. No Brasil, o
tamanho padrão do Standard é 55 cm x 29,7 cm, praticamente uma coluna menor que
os jornais impressos no Japão. Os cadernos internos são tablóides e medem 41 cm x
27,2 cm, formato parecido com o berliner
66
(47 cm x 31,5 cm). É preciso destacar,
também, a excelente qualidade das gráficas japonesas e do papel. A impressão é
sempre impecável e o jornal, embora grande e difícil de ser manuseado, jamais suja as
mãos do leitor.
De forma geral, os jornais International Press e Tudo Bem apresentam projetos
gráficos distintos. Contudo, a disposição gráfica das capas é semelhante. Ambos os
jornais optam na maioria das vezes por títulos em letras maiúsculas e bastante
explicativos, um recurso que permite ao leitor identificar rapidamente do que se trata a
reportagem e escolher se vai comprar ou não o jornal.
As principais chamadas estão sempre na parte superior, evitando-se
especialmente que textos e fotos fiquem na dobra da metade do jornal. A
preocupação é transmitir imediatamente a mensagem ao potencial leitor porque os
jornais são vendidos em lojas e caminhões de produtos brasileiros, disputando a
atenção do consumidor com itens alimentícios, de higiene e limpeza, roupas, livros e
CDs, entre outros.
Nas lojas de produtos brasileiros, os jornais são colocados dobrados e
empilhados em prateleiras, um ao lado do outro. Como só é possível ler de imediato
66
Berliner ou Berlinense: formato de jornal um pouco maior que o tablóide, largamente utilizado na Europa.
66
a parte superior do jornal, que fica dobrado nas prateleiras, tanto International Press
quanto o Jornal Tudo Bem concentram suas manchetes mais importantes na parte
superior das capas, como se observa na figura 1.
Figura 1
“A disposição dos jornais e revistas nas lojas influencia diretamente
na escolha do leitor. Enquanto as free paper
67
estão em primeiro plano, em
destaque, os jornais estão mais longe, sempre perto do caixa, pois é preciso
pagar por eles.” (Jhony Arai)
Como a prestação de serviços é enfatizada nos periódicos, nas capas dos
jornais estão presentes a cada edição as cotações do dólar, iene e real, obtidas
junto ao Banco do Brasil. São as moedas que fazem parte das transações
financeiras efetuadas por todos os brasileiros residentes no Japão.
Quanto ao número de páginas e disposição de cadernos, o International Press
67
Free papers: revistas em português de interesse geral ou temáticas distribuídas gratuitamente.
67
tem atualmente (outubro de 2008) três cadernos editoriais. A primeiro caderno, A,
possui 12 páginas contendo: A1, capa; A2 página de editorial e opiniões e, da A3 a A12,
editoria de Comunidade. O caderno de Esportes (B) é um tablóide de 16 páginas; e o
Caderno C, de oito páginas, contém as editorias de Japão, Brasil e Internacional, além
de reportagens de cultura, variedades e turismo. Há também o Caderno de Empregos e
Classificados, tablóide, com oito páginas. Somados todos os cadernos o jornal tem 44
páginas.
O Jornal Tudo Bem possui três cadernos editoriais, sendo o primeiro caderno A,
com A1, capa; A2, Últimas notícias, A3 a A8 editorias de Brasil, Japão e Mundo,
totalizando 12 páginas. O Caderno de Comunidade é um tablóide de 12 páginas; e o
Caderno de Esportes, C, possui oito páginas. O Jornal Tudo Bem não possui Caderno
de Empregos e Classificados, sendo estes distribuídos ao longo do periódico. Somados
todos os cadernos, o jornal tem 32 páginas.
No referente ao conteúdo, levando-se em conta a análise de 67 capas do
International Press e 33 Jornal Tudo Bem, totalizando 100 edições, entre os anos de
2006 e 2008, verifica-se em ambos os jornais um direcionamento para produzir
manchetes cujo enfoque é o mercado de trabalho, em um total de 33 manchetes. Em
segundo lugar estão as manchetes de serviço (prevenção a terremotos, como tirar o
visto permanente, como participar do seguro de saúde etc), somando 25 manchetes.
Os crimes cometidos por integrantes da comunidade brasileira no Japão totalizam 24
manchetes e as manchetes positivas sobre a comunidade, notícias do Brasil e do
Japão somam 18. Essas últimas são menos freqüentes e só merecem destaque em
casos de intensa repercussão nacional, como a reeleição do presidente Lula, por
exemplo, ou se de alguma forma a notícia afeta a vida dos brasileiros no Japão, caso
da situação de caos dos aeroportos no fim de 2007.
“No início do movimento dekassegui, o Jornal Tudo Bem era
praticamente um guia de sobrevivência, que ensinava o básico aos seus
leitores: desde como jogar lixo certo nos dias certos. A linha do jornal era de
ajudar os brasileiros em seu dia-a-dia e trazer o Brasil para os brasileiros. E
o que interessava aos brasileiros? O resultado dos jogos de futebol, a
rodada do domingo, como estava a situação econômica do país, pois boa
parte deles tinha deixado o país por conta do desemprego e de negócios
68
que faliram. Com o advento da internet, essas necessidades foram supridas
por esse meio. Não era mais preciso esperar uma semana para saber um
resultado de jogo de futebol, bastava um clique no mouse. Assim, o Tudo
Bem mudou sua linha editorial e passou a centrar foco nos serviços. A fase
mais recente do jornal dá destaque às notícias de brasileiros no Japão, uma
comunidade que vem mudando de característica. Cada vez mais os
brasileiros estão se fixando no país. Estão mais distantes do Brasil, com
maior interesse nas notícias locais. Como eles ainda não se integraram
definitivamente, têm interesse nas questões do Japão. E como a maioria
não é fluente em japonês, acaba lendo as notícias em português." (Júlio
Moreno)
3.4.1 Dekasseguês, a ngua da comunidade
No tocante ao conteúdo, é preciso ressaltar que tanto nas manchetes quanto
nas reportagens internas, observa-se o uso intenso de palavras japonesas
aportuguesadas. Na comunidade, esse fenômeno é chamado de dekasseguês, ou
língua dos dekasseguis. As palavras mais comuns são as ligadas ao ambiente de
trabalho, como zangyo
68
, yakin
69
, bentô
70
. Essas palavras se originam das palavras
japonesas ditas em português, como keitai
71
e hirukin
72
, das combinações entre
japonês e português e de palavras de origem inglesa pronunciadas ao estilo dos
japoneses, como kombini
73
e setto
74
.
O mais curioso é que as palavras são incorporadas às frases com estrutura
em português, resultando em uma linguagem compreensível somente para quem
está familiarizado com o japonês. Exemplos: “Hoje estou muito tsukaretado
75
”; “Isso
aqui está bara-bara
76
”; “Hoje o bentô está futsu
77
”; “Ele gambateia direto
78
”.
68
Zangyo: hora extra.
69
Yakin: trabalho noturno.
70
Bentô: marmita.
71
Keitai: telefone celular.
72
Hirukin: trabalho diurno.
73
Kombini: do inglês convenience store, loja de conveniência.
74
Setto: do inglês set, combinação, conjunto.
75
Tsukaretado: palavra inexistente no idioma japonês, inventada pelos brasileiros a partir do japonês
tsukareteiru, mais “do” da palavra cansado, em português..
76
Bara bara: confusão em japonês.
77
Futsu: simples, modesto em japonês.
78
Gambatear: palavra inventada pelos brasileiros a partir do japonês gambatte, que quer dizer se esforçar.
69
O dekasseguês é utilizado dentro das fábricas por facilitar a comunicação
entre os funcionários. Técnicas, procedimentos, máquinas e a própria divisão dos
turnos de trabalho são faladas nesse misto de português e japonês, que demonstra
a incorporação de aspectos da cultura japonesa.
3.5 Análise de conteúdo dos jornais International Press e Tudo Bem
As análises das reportagens publicadas no International Press e no Jornal
Tudo Bem entre os anos de 2006, 2007 e 2008 não têm caráter comparativo entre
si, mas em relação ao fazer jornalístico do Brasil, levando-se em conta os critérios
de relevância, os valores/notícia de maior peso, o enfoque dado às matérias, o
tratamento dispensado às fontes, a edição e a diagramação, visando entender como
a reportagem foi feita e com que objetivo foi feita daquela maneira.
A proposta é ressaltar as semelhanças com a produção de uma mesma
reportagem do tema no Brasil, e saber o que acontece editorialmente quando ela é
produzida no Japão e destinada a um leitor brasileiro, que possui demandas
diversas do leitor que vive no Brasil. A análise visa também identificar diferenças,
aculturações, mudanças de linguagem, enfim, fatores que caracterizam
transformações dos padrões dos jornalistas brasileiros que produziram, editaram e
publicaram as reportagens.
De um total de 312 edições das duas publicações, que engloba o período de
três anos do recorte espaço/tempo, de janeiro de 2006 a outubro de 2008, foram
selecionadas 58 reportagens presentes em 18 edições. A escolha das reportagens se
deu levando-se em conta os seguintes critérios:
1. Eventos de repercussão mundial, que possibilitam uma visão geral das
escolhas de edição e diagramação. Nesse quesito, a cobertura escolhida foi das
Olimpíadas de Pequim 2008 do Jornal Tudo Bem;
2. Eventos de repercussão no Brasil, que permitem comparações com as
mesmas coberturas realizadas pela imprensa em território nacional. Dentre essas
reportagens estão: desastre da TAM em 2007; eleições para presidente da República
em 2006; e os carnavais de 2006, 2007 e 2008.
70
3. Eventos de grande repercussão da comunidade brasileira no Japão, que
possibilitam o estudo de reportagens cotidianas de temática dekassegui. Exemplos:
terremoto em Niigata; mudanças na obtenção do visto de trabalho, crise econômica
japonesa e caso de agressão à modelo Nathália Hirano Mendes.
3.5.1 Evento de repercussão mundial
Olimpíadas de Pequim – Agosto de 2008
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edições 803, 804, 805 e 806
O Jornal Tudo Bem inicia sua cobertura das Olimpíadas de Pequim, na
edição 803, de 2 a 8 de agosto de 2008. O especial “Pequim 2008” vem no Caderno
C, o Caderno de Esportes de oito páginas do jornal. A primeira página, C1, e a
última, C2, são coloridas. Sob o título “O show do esporte vai começar”, a matéria
da C1 traz um panorama da participação brasileira, de página inteira, com 12 fotos.
Na página C2 está o perfil dos favoritos ao maior número de medalhas,
Estados Unidos e China, e o Japão, com seus potenciais candidatos a medalhas,
como o bicampeão olímpico no nado peito, Kosuke Kitajima.
O Japão não figura entre os 10 países que mais ganharam medalhas
olímpicas em todos os tempos. Então, qual o motivo de o país ser destaque ao lado
de Estados Unidos e China?
“A influência da mídia japonesa na pauta dos jornais brasileiros faz
com que os repórteres, e especialmente, os editores, voltem sua atenção ao
noticiário japonês impresso e sobretudo televisivo. Como muitos brasileiros
possuem TV em casa e assistem canais japoneses, mesmo sem
entenderem totalmente o que está sendo dito, eles, de certa forma,
procuram ver as pessoas que viram no noticiário nas páginas de seu jornal
brasileiro. Assim, o jornal funciona como um complemento da notícia que
ele viu na TV mas pode não ter entendido do que se tratava” (Cláudia Emi)
A capa da edição 804, de 9 a 15 de agosto, dá destaque para o especial das
Olimpíadas 2008 com três chamadas de capa para suas reportagens: C1 “As musas
do Jogos” (sobre as atletas mais bonitas); C2 “Talento criado por dekasseguis”
71
(sobre um brasileiro que irá disputar os 400m com barreiras) e C3, “Estréia sem
graça no futebol”, sobre a estréia da Seleção Brasileira de futebol.
A reportagem sobre o atleta criado por dekasseguis recebe o título de “Um
salto para Pequim” na página C2. O autor é o correspondente em Tóquio Cesar
Hirasaki, que conta em uma página inteira a história de Mahau Suguimati, nascido
no Brasil, que foi viver no Japão ainda criança e está lá há 16 anos. O brasileiro
certamente não era um dos favoritos à prova dos 400m com barreiras, mas sua
história peculiar faria com que se tornasse reportagem não somente nos jornais
brasileiros no Japão como também no Brasil. A questão aqui não é a relevância da
notícia, mas o espaço dado a ela. Página inteira e cinco fotos mostram como é, para
o Jornal Tudo Bem, um valor notícia altamente relevante o atleta possuir um vínculo
tanto com o Brasil quanto com o Japão.
Na ed. 805, de 16 a 22 de agosto, o mundo já está em ritmo de Jogos
Olímpicos, com disputas ocorrendo na maioria dos esportes. Novamente o caderno
Olimpíadas 2008 está na capa do Jornal Tudo Bem, com duas chamadas: “Judô
brasileiro fatura 3 medalhas”, C3, e “Cesar Cielo entre os nadadores mais rápidos”,
C3.
Na página C2, o destaque é Michael Phelps, consagrado maior atleta da
história dos Jogos. As duas matérias secundárias falam do Japão: “Kitajima é
bicampeão”, sobre a medalha de ouro obtida pelo nadador japonês, e “Japoneses
são atrações no tatame”, sobre as medalhas obtidas pelas equipes masculina e
feminina de judô do Japão.
A página C3 traz em destaque o judô brasileiro, com as medalhas de bronze
de Ketleyn Quadros, Leandro Guilheiro e Tiago Camilo. Em reportagem secundária,
a conquista da medalha de bronze de César Cielo nos 100m livre.
A ed. 806, de 23 a 29 de agosto, dá bastante destaque ao esporte, que divide
espaço com a manchete da capa “Férias no Brasil: passagem aérea fica mais cara”.
Ao lado, em letras menores, aparece a primeira chamada de esportes: “Brasileira
72
ganha ouro pelo Japão”, sobre a brasileira Mika Someya, que disputou as
Olimpíadas de Pequim pela seleção japonesa de softbol e ganhou medalha de ouro.
Abaixo, vem a chamada que certamente seria manchete se o Jornal Tudo
Bem fosse feito no Brasil: “César Cielo, o novo herói nacional”, sobre o nadador
brasileiro que conquistou a medalha de ouro olímpica nos 50m livres. Por fim, a
chamada “Seleção feminina luta, mas perde para os EUA”, sobre a derrota brasileira
da seleção feminina de futebol.
Na abertura do Caderno de Esportes (C1), página colorida, está a vitória de
César Cielo, até então a única medalha de ouro brasileira. Reportagem de meia
página, com duas fotos grandes. Abaixo, seguem as reportagens: “Mulheres têm a
1ª medalha”, sobre a medalha de bronze das brasileiras Fernanda Oliveira e Isabel
Sawn no iatismo; “Suguimati finaliza com destaque”, sobre a performance do
brasileiro que vive no Japão Mahau Suguimati, que ficou em sétimo na semifinal dos
400m com barreiras; e “Haja fôlego, Okimoto”, sobre a participação da nadadora
nikkei Poliana Okimoto na Maratona Aquática. A brasileira, mas não nikkei, Ana
Cunha também disputou a Maratona Aquática e ficou em quinto lugar. No texto, ela
mereceu duas linhas, contra sete linhas, uma foto, um título e um olho sobre
Okimoto.
Os Jogos Olímpicos de Pequim também tiveram destaque na página C6,
geralmente destinada a jogos locais e esportes praticados pela comunidade
brasileira no Japão. A matéria principal da C6, “Pai de Danielli Yuri lamenta
arbitragem dos Jogos”, é uma reportagem de meia página do correspondente em
Shizuoka Alexandre Ezaki. Danielli integrou a equipe brasileira feminina de judô,
mas mora na província japonesa de Shizuoka, e a família toda viajou para a China
para vê-la competir. Na entrevista, o pai da atleta, Edson Barbosa, conta detalhes
da luta e da viagem. Barbosa é judoca e tem uma academia em Hamamatsu, cidade
com maior concentração de brasileiros de Shizuoka.
Para o jornal, esta aí a importância para dar destaque à matéria sobre a
derrota na primeira luta de Danielli: além de ser brasileira e viver no Japão, ela é
uma verdadeira integrante da comunidade, um apelo de brasilidade e de trajetória
73
dekassegui maior que o de Suguimati, que está totalmente inserido na sociedade
japonesa e mal fala o português.
Para encerrar, em página colorida (C8), a reportagem de meia página e duas
fotos sobre softbol “Brasileira é ouro junto à seleção do Japão” fala da conquista da
medalha de ouro pela brasileira com dupla cidadania Mika Someya. Nascida em
Atibaia, Mika, de 25 anos, vive há oito no Japão. Abaixo, na mesma C8, o iatismo
medalha de prata de Robert Scheidt e Bruno Prada em “Dupla do iatismo é prata” e
“Mais uma derrota para os EUA”, sobre a final olímpica do futebol feminino, na qual
o Brasil ficou com a medalha de prata.
O especial do Caderno de Esportes da ed. 806 do Jornal Tudo Bem reúne
diversas características relevantes sob o ponto de vista de reportagem e edição. Ele
reúne oito atletas brasileiros distintos – Danielli Yuri, César Cielo, Mahau Suguimati,
Mika Someya, Poliana Okimoto, Ana Cunha, a dupla Robert Scheidt e Bruno Prada
e a seleção feminina de futebol – cujas reportagens refletem ângulos, enfoques e
valores/notícia diversos. São todos atletas, são todos brasileiros, porém cada um é
apresentado midiaticamente de uma forma para o público leitor do jornal.
As atletas com maior ligação com o Japão – Danielli Yuri e Mika Someya,
tiveram maior espaço de texto e fotos, e as reportagens sobre elas foram as
principais de cada página, sendo que a de Mika Someya foi colorida. César Cielo foi
destaque por sua conquista, inédita até então para o Brasil. Suguimati teve mais
espaço por ser nikkei do que o interesse que sua classificação poderia lhe dar. E,
também por ser nikkei, Poliana Okimoto teve mais espaço no jornal do que Ana
Cunha, ainda que esta tivesse obtido melhor classificação na prova que ambas
disputaram. Entende-se daí que existe um valor notícia até então desconhecido no
Brasil: ser nikkei, um diferencial importante na hierarquia das notícias. Scheidt e
Prada, e o time feminino de futebol, ambos medalha de prata, tiveram o mesmo
espaço, logo abaixo da brasileira do softbol.
3.5.2 Eventos de repercussão no Brasil
Desastre da TAM – Julho de 2007
Cobertura International Press
74
Edição 827
O maior desastre da história da aviação brasileira, o acidente com o vôo 3054
da TAM ocorrido em julho em São Paulo foi capa da edição 827 (de 28 de julho de
2007) do International Press. A manchete “Ex-dekasseguis morrem no vôo da TAM”
indica a linha editorial seguida pelas matérias internas: o foco nas vítimas que
pudessem gerar alguma identificação com a comunidade brasileira no Japão, o
valor notícia ser dekassegui. No caso, essas vítimas eram uma família de ex-
dekasseguis e mais oito nikkeis que morreram no desastre. No total, foram 199
mortos.
A matéria principal da página A5, editoria de Brasil, é: “Tragédia e caos aéreo
no Brasil”, produzida internamente na redação, com a agência de notícias Reuters e
Agência Estado. A cobertura se aprofunda no Caderno de Comunidade, cuja
matéria principal é “Família morre em acidente da TAM”, uma reportagem de Flávio
Nishimori, da redação do International Press em São Paulo.
Nishimori traz uma apuração exclusiva sobre a família de ex-dekasseguis que
morreu no acidente da TAM, com fotos do orkut da família e depoimentos de
familiares. Para complementar o enfoque das vítimas que podem gerar maior
identificação com os leitores, a página contém um box com informações sobre todos
os nikkeis que morreram no acidente, ex-dekasseguis ou não.
Na edição 829, de 11 de agosto de 2007, o International Press traz outra
manchete sobre o acidente da TAM: “IML trocou corpo de ex-dekassegui vítima no
maior acidente aéreo do Brasil”. Na parte de baixo da capa, outra chamada sobre o
assunto: “Prédio da TAM foi implodido”.
A reportagem sobre a troca de corpos no IML é de Flávio Nishimori, da
redação de São Paulo, e ocupa a primeira página do Caderno de Comunidade, C,
com o título: “IML trocou corpo de ex-dekassegui morto no acidente da TAM”. A
reportagem contém entrevista com familiares do ex-dekassegui Márcio Andrade, da
cidade de Birigüi, interior de São Paulo. Na página A5, editoria Brasil, a matéria
75
“Prédio da TAM Express é implodido”, produzida com agência de notícias Reuters e
Agestado ocupa meia página.
Com essas coberturas, nota-se que o International Press, a partir de uma
pauta de interesse nacional e de repercussão mundial, focou as reportagens no que
entende que seu público leitor tenha alguma identificação: a condição de nikkei de
alguns passageiros, e mais ainda, o fato de uma família que foi dekassegui estar
entre as vítimas.
Desastre da TAM – Julho de 2007
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edição 749
Na capa do Jornal Tudo Bem, edição 749, de 21 a 27 de julho de 2007, está
uma das manchetes: “Uma tragédia anunciada”, ao lado de uma grande foto do
desastre da TAM, o maior acidente aéreo do Brasil. Maior reportagem da edição, a
cobertura do acidente da TAM é tema de duas páginas inteiras, A4 e A5, editoria de
Brasil, e uma pequena matéria na A2, em Últimas (notícias).
Produzidas pela redação de São Paulo, a partir da edição de material das
agências de notícias, as matérias exibem muitas fotos e dados sobre o acidente,
abordam as investigações e são complementadas por um infográfico da Agência
Estado sobre “Como foi a colisão”. Na lateral da página, acima, a matéria “Vítimas
da tragédia”, sobre os nikkeis que estavam no vôo. Mas não há informações sobre a
família de ex-dekasseguis.
Um box dá a “Cronologia de acidentes na pista de Congonhas”. A reportagem
do acidente da TAM também está na A2, como notícia “Problema pode estar, de
novo, no reverso”, produzida pela redação do jornal em São Paulo.
Apesar de não trazer informações sobre a família de dekasseguis morta no
acidente, e de as reportagens como um todo terem um foco mais geral, semelhante
ao enfoque dado pelos jornais do Brasil ao acidente, nota-se a preocupação em
ressaltar a notícia da morte dos nikkeis no alto da página A5.
76
O recurso de utilizar um repórter para dar prosseguimento à pauta dentro do
enfoque específico dos jornais brasileiros no Japão (caso do repórter Flávio
Nishimori na apuração do desastre da TAM do International Press) é utilizado
freqüentemente pelo International Press e Jornal Tudo Bem, levando os
profissionais das redações de São Paulo a participarem de eventos e coletivas onde
participa a imprensa em geral, porém com pautas cujas abordagens são de
interesse exclusivo da comunidade brasileira no Japão.
Reeleição de Lula – Novembro 2006
Cobertura International Press
Edição 789
Na edição 789, de 4 de novembro de 2006, o International Press traz a
manchete principal: “Venda ilegal de remédios brasileiros”, sobre dois brasileiros
suspeitos de venderem medicamentos trazidos do Brasil ao Japão sem autorização
do Ministério de Saúde japonês. A manchete, de assunto de interesse da
comunidade, tem maior destaque na capa. Ao seu lado, aparece a foto de Lula sob
a bandeira do Brasil. A manchete é: “Lula é reeleito”, sobre a reeleição do
presidente brasileiro.
A página A4, editoria de Brasil, foi totalmente destinada ao tema eleições no
Brasil. A matéria principal, “Mais votos em Tokyo”, explicava que o número de
eleitores que compareceram ao Consulado do Brasil na capital japonesa para votar
no segundo turno foi maior que no primeiro turno, 157 brasileiros, contra 146 no
primeiro turno. No Consulado de Nagoya, apenas 78 pessoas votaram, sendo que
na região cerca de 110 mil pessoas estavam aptas para votar.
A reportagem de Júlio Caruso, repórter em Tóquio, com colaboração de
Danilo Nuha, correspondente em Aichi, Mie e Shiga, sobre como foi a votação nos
dois consulados tomou quase meia página, restando ¼ para matéria da Agência
Estado e da Reuters sobre a eleição de Lula em si. Um gráfico com os nomes dos
governadores eleitos e duas matérias menores, uma sobre a investigação da PF
sobre o dossiê Vedoin (“PF tem 30 dias para concluir investigações”) e uma análise
77
sobre a configuração política na América Latina pós-eleição de Lula (“Liderança da
América do Sul é desafio”) completam a cobertura das eleições.
Nesta edição, outra reportagem chama a atenção, pelo destaque dado a ela
no Editorial. Trata-se da matéria “Muro criado por Bush vai separar EUA do México”,
que aparece na capa do International Press. Na página interna A3, editoria
Internacional, a reportagem “Bush autoriza muro”, produzida a partir da edição de
material da agência de notícias EFE, fala da decisão do governo americano de
autorizar a construção de um muro na fronteira com o México com o intuito de coibir
a imigração ilegal. A matéria reflete o descontentamento do presidente mexicano,
Vicente Fox, que tentou sem sucesso regularizar a situação de 5 milhões de
mexicanos que vivem nos EUA.
A questão da imigração, da vivência em outro país e do convivio com as
diferenças parece ter chamado a atenção do International Press porque em seu
editorial “Todos temem seus vizinhos”, é dado espaço à reflexão sobre a
globalização “países que fecham suas fronteiras com medo da invasão dos
‘bárbaros’”, em referência aos estrangeiros do Terceiro Mundo. A notícia sobre o
Muro de Bush é a deixa para o editorial criticar a política de restrição à entrada de
estrangeiros do Japão, inspirando-se em outros muros famosos, como o de Berlim e
a muralha da China. A reeleição do presidente brasileiro é deixada de lado no
editorial, dando lugar ao um tema mais diretamente ligado à vida dos brasileiros no
Japão.
Ataques do PCC em São Paulo – Maio 2006
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edição 688
Na edição 688, de 20 a 26 de maio de 2006, a manchete é “Lei de trânsito
fica mais rigorosa”, sobre o sistema de multas japonês, que ficou mais rígido e
ganhou novos fiscais. Abaixo da manchete, com foto em destaque está: “São Paulo
passa semana nas mãos do terror”, sobre os ataques do crime organizado a ônibus
e delegacias entre os dias 12 e 18 de maio. Outra reportagem de destaque é
“Aeroportos: Dekasseguis terão que deixar digitais”.
78
A cobertura dos ataques do crime organizado em São Paulo é baseada em
agências de notícias ocupa a página A5 inteira, editoria de Brasil, e metade da
página A2, Últimas (notícias). Com retrospecto do dia-a-dia dos ataques, fotos e box
com reportagem sobre ataques no Paraná, Mato Grosso do Sul e interior paulista.
O direcionamento para a elaboração de um box com os Estados com o maior
número de brasileiros dekasseguis indica a preocupação em direcionar a pauta ao
leitor brasileiro no Japão, ainda que ele não seja afetado diretamente por essa
notícia.
Já a matéria “Aeroportos: Dekasseguis terão que deixar digitais” é de grande
interesse da comunidade brasileira no Japão porque tem impacto direto em sua
vida. A matéria sobre a decisão do governo japonês de autorizar a coleta de
impressões digitais e fotografias de estrangeiros maiores de 16 anos que entram no
Japão explica que a medida tem a finalidade de impedir a entrada de terroristas no
país. No entanto, vai afetar os dekasseguis com visto de longa permanência que
passam pelos aeroportos. Reportagem produzida com informações da agência de
notícias Kyodo, passou por edição focando a questão dos dekasseguis para ter
mais apelo junto aos brasileiros.
Carnavais – 2006, 2007 e 2008
Cobertura International Press e Jornal Tudo Bem
Edições 753 (International Press); 728 (Tudo Bem); 778 (Tudo Bem)
Carnaval 2006
Em sua edição 753, de 25 de fevereiro de 2006, o International Press tem
como manchete: “Dekasseguis buscam renda extra”, sobre atividades informais que
os brasileiros costumam fazer para complementar a renda. Ao lado da manchete, em
foto grande, está a segunda manchete mais importante da edição: “Carnaval é mais
que folia”, sobre os japoneses que adoram a festa brasileira e desfilam em escolas
79
de samba. A japonesa Yuka Sugiura foi escolhida símbolo do carnaval de Salvador
2006.
O carnaval brasileiro aparece como a segunda matéria mais relevante da
edição. O enfoque da reportagem, no entanto, difere das coberturas de carnaval
realizadas no Brasil. Enquanto os jornais do Brasil focam nos preparativos para os
grandes desfiles, com suas musas fulgurantes e televisivas representando cada qual
a sua escola, nessa matéria que antecede o carnaval, o International Press volta sua
atenção para os japoneses que gostam do carnaval e, especialmente, Yuka Sugiura,
japonesa eleita símbolo do carnaval de Salvador.
Passista renomada no Japão, onde já desfilou em escolas de samba, Yuka
sempre foi notícia nos jornais brasileiros do Japão. Primeiro pelo fato de ser uma
japonesa com samba no pé, depois por se casar com um capoeirista baiano e agora
por ser eleita símbolo do carnaval de Salvador.
A reportagem sobre o carnaval é a capa do Caderno Mais (como era chamado
à época o tablóide de 16 páginas com assuntos de variedades, cinema, celebridades,
música, novelas etc). A chamada é: “Chegou o Kaanibaru! Conheça os japoneses
que adoram o carnaval brasileiro e ficam ansiosos para fevereiro chegar”. Kaanibaru
é a forma como os japoneses pronunciam a palavra carnaval, também bastante
conhecida na comunidade brasileira no Japão. Trata-se de uma mais termo do
chamado dekasseguês.
A reportagem de Raquel Marçal, com Lucila Kose, Thassia Ophata e Kelsen
Sato, traz entrevistas com japoneses que vão passar ou já passaram carnaval no
Brasil e uma entrevista especial com Yuka, japonesa que vive na Bahia com o
marido, feita por Kelsen Sato, à época repórter do Nippo-Brasil em São Paulo.
Do factual do carnaval brasileiro, a reportagem dá a programação da TV (da
Globo Internacional) para quem quiser acompanhar o desfile.
Mesmo com assuntos tipicamente brasileiros, as referências ao Japão, aos
japoneses e brasileiros no Japão estão presentes, o que reflete uma orientação
editorial que envolve a pauta, apuração e edição. A partir de um tema do Brasil, a
80
pauta foi orientada no sentido de ressaltar as referências nipônicas, a ligação dos
japoneses com a festa brasileira e a personagem, já de conhecimento da
comunidade brasileira no Japão.
Como valor/notícia ressalta-se a proximidade, identificação com o leitor, e
também o intuito de trazer uma aproximação entre brasileiros e japoneses sob a
bandeira de que ambos gostam do carnaval brasileiro.
O tema carnaval, também, é um chamariz de brasilidade, que o leitor evoca
em sua auto-afirmação no Japão. Porque, embora ele esteja no arquipélago, não
está inserido na sociedade japonesa como cidadão. É apenas um trabalhador em um
país com falta de mão-de-obra.
Carnaval 2007
O Jornal Tudo Bem de 24 de fevereiro a 2 de março, edição 728, tem como
manchete: “Seu salário: mudanças no Shakai Hoken afetam dekasseguis”, sobre a
tendência de aumento do número de inscritos no maior seguro japonês, o que faz
com que brasileiros escolham entre ganhar menos, desistir do seguro ou mudar de
emprego.
A ed.728 do periódico anuncia, com foto na capa, as vencedoras dos
carnavais do Rio de Janeiro e de São Paulo. A chamada, “Carnaval: Mocidade e
Beija Flor festejam vitória”, não era um dos principais destaques da edição e se
localiza na parte de baixo da página, com foto recortada, ressaltando os atributos
físicos da passista Nani Moreira, a rainha da bateria da Mocidade Alegre.
Na reportagem interna, à página A3, editoria de Brasil, o carnaval ocupa meia
página. O título é “Mocidade Alegre e Beija-Flor comemoram o título”. O texto é das
agências de notícias relatando o factual dos desfiles no Rio de Janeiro e em São
Paulo, acompanhado de duas fotos da Beija-Flor e três da Mocidade Alegre.
A matéria não difere em basicamente nada das reportagens publicadas em
diversos jornais do Brasil, a ser pelo fato de ter sido dado mais destaque, no texto e
81
em fotos, para a escola de samba Mocidade Alegre, o que só se justifica pelo fato de
haver mais nikkeis paulistas do que cariocas no Japão. Ou da redação ser composta
apenas por jornalistas de São Paulo à época.
Carnaval 2008
Na edição 778 do Jornal Tudo Bem, de 9 a 15 de fevereiro de 2008, a
manchete é “Como ganhar restituição do imposto de renda japonês”, sobre o início
da entrega da declaração do imposto de renda japonês. A matéria informa quais
gastos podem ser restituídos e como solicitar a devolução.
Em 2008, a manchete: “Carnaval 2008 Centenário da Imigração na Avenida”
está na parte de cima da primeira página em local de destaque, com fotos de duas
musas nikkeis da folia: a mestiça Sabrina Sato, e a japonesa Yuka-chan, que desfilou
pela Unidos da Vila Maria. O maior destaque dado ao carnaval de 2008 na capa se
deve ao fato de ser o ano do Centenário da Imigração Japonesa ao Brasil, como se
lê na matéria da página A3.
Na reportagem de meia página da A3, editoria de Brasil, o material vindo de
agências de notícias foi todo editado sob o enfoque imigração japonesa. A
reportagem: “Imigração japonesa brilha na avenida do samba” fala da Unidos da Vila
Maria, que desfilou em São Paulo e ficou em terceiro lugar, e a Porto da Pedra, que
homenageou símbolos da cultura nipônica na Sapucaí, ficou em penúltimo lugar e foi
rebaixada para o Grupo de Acesso.
A matéria contém três fotos da Unidos da Vila Maria e duas da Porto da Pedra.
Só se sabe do resultado dos desfiles lendo um pequeno box, abaixo das fotos, que
indica as campeãs dos dois Estados, quem desceu para o Grupo de Acesso e quem
subiu para a Grupo Especial.
O carnaval ocupa também a página Gente (B3), do caderno B (tablóide de 16
páginas com matéria da comunidade brasileira no Japão e variedades), sob o
enfoque celebridades que desfilaram: Juliana Paes, Grazi Massafera, Luiza Brunet,
Sabrina Sato e Viviane Araújo. E ainda uma nota sobre Claudia Leitte no carnaval de
Salvador.
82
A cobertura enfatizou os desfiles com inspiração no Centenário da Imigração
japonesa ao Brasil, e deu destaque a uma escola que ficou em terceiro lugar em São
Paulo e uma escola que foi rebaixada, no Rio de Janeiro.
A presença nikkei nos desfiles carnavalescos sempre existiu, mas em número
reduzido em relação ao contingente que desembarcou na Sapucaí e no Sambódromo
por conta dos enredos temáticos da imigração este ano. Entende-se que a orientação
editorial tenha sido no sentido de buscar a proximidade como leitor pelo fato de, pela
primeira vez os nikkeis estarem sendo os protagonistas desta festa brasileira.
Para o jornal, esse é o enfoque desejado pelo público leitor, que tem parentes
no Brasil e não raro conhece alguém que desfilou, ex-dekassegui, ou um dekassegui
que está em férias no Brasil. Assim, em um ano em que a comunidade nipo-brasileira
festejou praticamente todos os meses, não poderia ser diferente no carnaval, na ótica
dos editores do Jornal Tudo Bem.
3.5.3 Eventos de repercussão da comunidade brasileira no Japão
Terremoto em Niigata – Julho 2007
Cobertura International Press
Edição: 827
No International Press de 28 de julho de 2007, edição 827, a manchete é “Ex-
dekasseguis morrem no vôo da TAM”, sobre uma família de ex-dekasseguis e mais
oito nikkeis que morreram no desastre. Com menos destaque na capa aparece a
chamada: “Terremoto: Fábricas dão folga aos brasileiros”, sobre o terremoto de 6,8
graus na escala Richter ocorrido na província de Niigata. O terremoto matou 10
pessoas, feriu 1.283 de acordo com o governo de Niigata.
Em página colorida, A8, editoria de Japão, uma matéria pequena, acima da
matéria principal indica o maior foco de interesse dos brasileiros com o terremoto:
“Indústria automobilística suspende produção”, sobre as decisões de Toyota,
Nissan, Suzuki e Mitsubishi de suspenderem por alguns dias a produção uma vez
83
que as indústrias de um fornecedor de autopeças, a Riken, foram afetadas pelo
terremoto.
A matéria principal da A8 é: “Após o terremoto...”, que ressalta a
preocupação com um vazamento radioativo decorrente dos tremores na usina de
Kashiwazaki-Kariwa, maior instalação nuclear do mundo por capacidade de
produção. A cidade de Kashiwazaki foi a mais afetada pelo tremor. A matéria é da
redação em Tóquio com agência EFE.
Em outra reportagem, o tema terremoto foca diretamente o trabalhador
brasileiro no Japão. Na primeira página de Comunidade, C1, a matéria “Terremoto:
fábricas dão folga aos brasileiros”, de Kelsen Sato e Thassia Ophata, com redação
de Tóquio, explica as conseqüências da paralisação das montadoras de automóveis
e traz entrevistas com brasileiros de diversas províncias que receberam folgas não
remuneradas.
Na página C3, uma matéria de mais de uma página, “Cuidados essenciais
em caso de terremoto”, de Kelsen Sato, correspondente em Gifu, explica as
recomendações e prevenções, indica centros de treinamento contra terremotos e
traz um box com o kit de emergência. Típica matéria de serviço dada
periodicamente, mas enfatizada quando ocorrem terremotos de maior intensidade
ou são divulgadas pelo governo japonês as previsões do Centro de Prevenções
contra Desastres.
Terremoto em Niigata – Julho 2007
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edição 749
A edição 749, de 21 a 27 de julho de 2007, do Jornal Tudo Bem tem como
manchete: “Brasileiros atingidos: Após tremor, produção de carros pára no Japão”,
sobre as conseqüências do terremoto de Niigata, a situação dos brasileiros da
província e o trabalho nas montadoras automobilísticas. Ao lado, com foto
destacada “Uma tragédia anunciada”, sobre o desastre da TAM, o maior acidente
aéreo do Brasil.
84
A cobertura do terremoto de Niigata se desdobra em três reportagens. Na
página A2, Últimas (notícias), os correspondentes de Aichi, Gunma e Hamamatsu
enviam seus relatórios sobre o impacto do terremoto no trabalho dos brasileiros. A
redação final é da editora Cláudia Emi que, em Tóquio ainda conta com apurações
de tradutores e repórteres que buscam em agências de notícias e jornais japoneses
(Nihon Keizai Shimbun e The Japan Times) mais dados que possam interessar aos
trabalhadores brasileiros. Entrevistas com representantes de empreiteiras falam das
perspectivas de trabalho. Um quadro exibe as montadoras afetadas e as cidades
onde haverá paralisação do trabalho.
Na página A7 a reportagem de destaque é “Terremoto mata 10 e desabriga
12 mil” sobre o tremor de 6,8 na escala Richter em Niigata. A reportagem conta com
agências de notícias, Yomiuri Shimbun, Reuters, o gráfico “Tremores em Niigata”,
da Agência Graffo, e o quadro “A destruição em números”. Abaixo, uma matéria
menor sobre a radiação, “Radiação vaza de usina nuclear”.
No caderno de Comunidade, página B3, reportagem dos correspondentes
retrata o drama dos brasileiros de Niigata contando o medo e desespero por conta
do tremor, que também foi sentido pelos moradores da província vizinha, Nagano.
Agressão a modelo – Agosto 2007
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edição 751
O Jornal Tudo Bem de 4 a 10 de agosto de 2007, edição 751, tem como
manchete “Nathália, vencedora do Top Model Japan, é raptada e torturada”, sobre a
modelo que venceu o concurso Top Model Japan, que foi vítima de uma falsa
proposta de trabalho. Ela foi espancada e fotos dela desacordada foram enviadas
pelo celular aos seus pais e amigos. Também na capa está a chamada: “Premiado:
Imigração dá visto especial para brasileiro ilegal”.
A manchete da edição está na página B3 do caderno de Comunidade:
“Modelo é raptada e espancada em Gifu”. Nas semanas anteriores, o famoso
85
concurso Top Model Japan foi realizado e contou com ampla divulgação na mídia
impressa e Internet. Dezesseis dias depois do evento, a modelo Nathália Hirano
Mendes volta às páginas dos jornais por ter sido vítima de uma falsa promessa de
trabalho. O espancamento e a divulgação das imagens dela enviadas pelos
torturadores por meio do próprio celular da modelo causaram choque na
comunidade, especialmente na província de Gifu. Para fazer a reportagem, o Jornal
Tudo Bem destacou o jornalista Gilberto Yoshinaga, correspondente em Aichi, que
entrevistou a modelo, seu pai e a organizadora do concurso. Além de contar
detalhadamente o caso, um box foi publicado com entrevista da organizadora dando
alertas para as moças checarem as propostas de trabalho e não caírem nas mãos
de criminosos.
No Caderno de Comunidade, página B2, a matéria principal é “Brasileiro
ilegal consegue visto especial”, com apuração da redação em Tóquio e jornais
japoneses, como o Nishi Nihon Shimbun. Conta em detalhes a história de um
brasileiro de 44 anos que foi preso por estar ilegal mas que recebeu um
favorecimento do governo japonês porque não poderia ser deportado ao Brasil. Ele
não tinha mais família no Brasil e chegou ao Japão em 1971, trazido pelos avós.
Nem sabia mais falar português.
Os jornais japoneses mantiveram seu nome em sigilo e não publicaram fotos,
medida também adotada pelo jornal brasileiro. A riqueza de detalhes da reportagem
nos faz crer que o jornal tinha acesso às informações e, sabendo onde o brasileiro
estava localizado, poderia tentar fotos ou entrevista. Mas essas iniciativas não
ocorreram. No caso, a polícia japonesa e a imprensa trataram o brasileiro como se
fosse um cidadão japonês que estivesse sob suspeita, não revelando nomes nem
permitindo a publicação de fotos.
Agressão a modelo – Agosto 2007
Cobertura International Press
Edição 829
86
Na edição 829, de 11 de agosto de 2007, o International Press traz a
manchete: “Polícia investiga agressões a modelo”, sobre o seqüestro e
espancamento da modelo Nathália Hirano Mendes em Gifu.
Para a cobertura do caso, a correspondente de Gifu e Shiga, Kelsen Sato,
deslocou-se para Kakamigahara a fim de acompanhar as investigações. A matéria
conta com entrevista da modelo e seu pai. O porta-voz da delegacia de
Kakamigahara afirmou à reportagem que não era possível dar qualquer informação
para não atrapalhar o andamento das investigações. O celular da modelo, do qual
foram enviadas as fotos, ficou apreendido na delegacia. Um casal de brasileiros que
socorreu Nathália deu entrevista porém não foi fotografado nem identificado por
temer represálias. A matéria não traz as fotos tiradas do celular.
Pode-se identificar um procedimento comum à polícia japonesa que é permitir
o acesso da imprensa apenas aos dados que não comprometam as investigações.
Nomes e fotos de suspeitos não são fornecidos.
Dekasseguis falsos – Março 2007
Cobertura International Press
Edição 810
A edição 810, de 31 de março de 2007, do International Press tem como
manchete “Quadrilha envia falsos dekasseguis ao Japão, sobre uma quadrilha que
falsificava documentos para pessoas não-nikkeis que queriam trabalhar no Japão.
Em destaque estão a foto de uma casa desabada e a chamada: “6,9 graus! O
assunto é o terremoto de 6,9 graus na região de Hokuriko, a segunda matéria em
importância na edição.
Principal matéria da página C3, do Caderno de Comunidade, a reportagem
“Presa quadrilha de falsificadores” foi apurada no Brasil, com agências de notícias.
O tema mereceu atenção no editorial “Dekassegui bicão”, que critica a ousadia dos
criminosos e o despreparo das autoridades nipônicas. “A mesma vontade que têm
de vencer nos Estados Unidos, esses falsos nikkeis possuem de fazer dinheiro no
Japão” diz o editorial, que pede uma revisão da política migratória do Japão.
87
A segunda reportagem de destaque na capa é “6,9 graus”, sobre o terremoto
de 6,9 graus na região de Hokuriko, onde se localiza a província de Ishikawa. A
reportagem continha informações de agências noticiosas e jornais locais, uma
grande foto e um mapa localizando o epicentro do tremor. Foram entrevistados
brasileiros residentes em Komatsu, a cidade da província de Ishikawa com maior
concentração de brasileiros (988, à época da reportagem), em Kanazawa, a capital
da província, e em Echizen, cidade da província vizinha, Fukui. A matéria com os
depoimentos dos brasileiros, embora pequena, ganhou destaque ao ser colocada na
parte superior da página, acima da matéria principal sobre o terremoto.
Caso típico em que a edição decide a localização da matéria em função de
sua importância. Não havia fotos e certamente as entrevistas foram feitas por
telefone ou email, mas a relevância de se ter depoimentos de brasileiros próximos
ao epicentro de um terremoto de grande magnitude valorizou a página e mereceu
chamada na capa.
Dekasseguis falsos – Março 2007
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edição 732
O Jornal Tudo Bem de 24 a 30 de março de 2007, edição 732, tem como
manchete: “Preso bando que ‘fabricava’ dekasseguis”, sobre uma quadrilha que
falsificava documentos de brasileiros para que pudessem ir ao Japão ilegalmente.
Há ainda uma manchete de menor destaque, “No Brasil: Ex-dekassegui
acusado de roubo comete suicídio”.
Apurada pela redação de São Paulo, com agências de notícias, a matéria
“Quadrilha criava ‘falsos nikkeis’” ocupa meia página da A2, Últimas (notícias) e
conta detalhadamente como o bando adulterava certidões de nascimento e
casamentos para que os falsos nikkeis pudessem entrar no Japão. Traz foto da
quadrilha e um box sobre como agiam.
88
Na página A3, editoria de Brasil, a matéria “nikkei acusado de roubo se
suicida” é o destaque da A3, tem quase meia página, com uma foto. Nascido em
uma tradicional família japonesa, o ex-dekassegui Willians Yuzu Nishikara decidiu
cometer suicídio por não suportar a vergonha pela prisão preventiva que foi
decretada a ele por roubo de veículos. Histórias de ex-dekasseguis são atraentes
aos que estão no Japão. Essa, no caso, trata de suicídio, uma forma bem japonesa
de se lidar com o fracasso, o que traz um apelo ainda maior ao leitor.
Renda extra – Fevereiro 2006
Cobertura International Press
Edição 753
Na edição 753 do International Press, de 25 de fevereiro de 2006, a
manchete principal é: “Dekasseguis buscam renda extra”, sobre as atividades
informais que os brasileiros costumam fazer para complementar a renda.
Também são destaques da edição: “Pena de morte: Brasileiro condenado na
Indonésia pede nova clemência”; “Horário de verão: diferença entre Japão e Brasil
volta a ser de 12 horas”; “Declaração de porte de valores deverá ser feita pela
Internet” e “Receita Federal suspende mais de 7,4 milhões de CPFs”.
Há uma preocupação editorial em sempre colocar na capa do jornal uma
manchete relativa a emprego, renda, dinheiro ou situação econômica do Japão. O
público leitor veio ao país a trabalho e, para buscar salários cada vez mais altos, ou
horas extras, consulta os jornais.
A matéria “Pena de morte: Brasileiro condenado na Indonésia pede nova
clemência” não é a principal da página A4, editoria de Brasil. A matéria foi feita a
partir de informações de São Paulo, e se transformou em chamada de capa devido
à proximidade da Indonésia com o Japão. A Indonésia é um destino turístico famoso
entre os japoneses e, com o movimento dekassegui, também popular entre os
brasileiros no Japão. Em especial a ilha de Bali. Há até guias que falam português
para levar os brasileiros aos passeios.
89
As reportagens “Receita Federal suspende mais de 7,4 milhões de CPFs”;
“Declaração de porte de valores deverá ser feita pela Internet” e “Horário de verão:
diferença entre Japão e Brasil volta a ser de 12 horas” são matérias pequenas,
porém de grande interesse do leitor que viaja ou mantém contato com o Brasil
freqüentemente.
As três matérias estão na página A5, na parte inferior da página e sem muito
destaque. Os CPFs cancelados são de quem não entregou declaração de IR. No
Japão, à época, os brasileiros tinham de fazer a Declaração de Isento. Caso não
fizessem teriam o CPF cancelado. A matéria sobre a declaração de porte de valores
pela Internet influencia diretamente a vida de quem vai voltar ao Brasil levando
dinheiro. E o anúncio do fim do horário de verão no Brasil é importante para os
brasileiros no Japão que fazem telefonemas ao país.
Ressalta-se que, embora sejam três reportagens sobre fatos acontecidos no
Brasil, foram escolhidas como chamadas de capa da edição por afetarem
diretamente a vida do brasileiro no Japão. No Brasil talvez tivessem menos
destaque.
Remessa ilegal – Janeiro de 2006
Cobertura Jornal Tudo Bem
Edição 671
No Jornal Tudo Bem de 21 a 27 de janeiro de 2006, edição 671, a manchete
é: “Brasileiros são presos por remessa ilegal”, sobre brasileiros que trabalham em
uma agência de viagens de Shizuoka, que foram presos por fazer remessa ilegal de
dinheiro ao Brasil. O valor da remessa pode chegar a 1 bilhão de ienes.
Outros destaques da edição: “Sua casa é segura? Faça o teste”, sobre como
saber se a sua casa vai desabar em caso de terremoto; “Justiça: assassino de
família de dekasseguis é condenado a 165 anos” e “Imigração: Novas concessões
de visto permanente ficam mais lentas e difíceis”.
90
A manchete da capa é a principal matéria da página B3, Caderno de
Comunidade, feita pela sucursal de Shizuoka. O repórter Claudio Endo obteve os
dados junto à polícia de Toyama, com fontes próximas ao casal dono da agência de
viagens e por consulta a reportagens do Yomiuri Shimbun. A matéria foi publicada
em meia página, com foto de arquivo do casal, que está preso, juntamente com
mais dois funcionários.
Normalmente os jornais japoneses dão quase nenhum destaque aos
acontecimentos envolvendo a comunidade brasileira no Japão. Nas poucas vezes
que isso ocorre, em geral são reportagens como a do Yomiuri Shimbun, sobre
crimes cometidos contra japoneses. No caso, crime cometido pelos donos da
agência de viagens é conhecido no Japão como chika ginko
79
.
"A maior parte da cobertura dos jornais japoneses é sobre assuntos
nacionais. Em segundo lugar, vêm notícias dos Estado Unidos e depois
Comunidade Européia. Não há destaque para as notícias de estrangeiros ou
brasileiros no Japão. Os jornais japoneses só voltam sua atenção para os
estrangeiros que vivem no pais quando ocorre um crime envolvendo
estrangeiros, ou fato que tenha chocado a sociedade japonesa." (Norie
Watanabe, jornalista japonesa)
80
Outro destaque da edição é a reportagem “Sua casa é segura? Faça o teste”.
A partir de matéria publicada no Nihon Keizai Shimbun, a reportagem alerta para o
perigo de casas mal construídas, sem as condições básicas de segurança. Um teste
contendo 10 questões e um box sobre os cuidados antes de comprar um imóvel
completam a página.
Periodicamente, os jornais brasileiros no Japão costumam publicar esse tipo
de reportagem com a tônica da prestação de serviços. Ás vezes usa-se um gancho,
como no caso da matéria publicada no jornal japonês. Outras vezes, aproveita-se a
data do Dia Nacional de Prevenção de Acidentes e Desastres para veicular
reportagens com esse enfoque.
79
Chika ginko: banco cladestino.
91
A reportagem “Justiça: assassino de família de dekasseguis é condenado a
165 anos”, sobre um crime ocorrido em setembro de 2005, teve grande repercussão
na comunidade brasileira no Japão pois se tratava do assassinato de uma família de
dekasseguis recém-chegados ao Brasil, O assassino sabia que a família ia chegar
do Japão com dólares, torturou e matou cinco pessoas de uma mesma família.
A apuração foi da redação em São Paulo, que é orientada a acompanhar as
notícias de casos semelhantes que estejam tramitando na Justiça ou estejam em
fase de investigação policial. Essas notícias também costumam ser cobertas por
agências como a Agência Estado, fazendo parte do noticiário de inúmeros jornais do
Brasil.
A diferença em relação à apuração das redações dos jornais brasileiros no
Japão e dos jornais do Brasil, é que a imprensa dekassegui irá procurar um maior
aprofundamento e riqueza de detalhes, alertando também os leitores para os
perigos de retornar ao Brasil com grande quantidade de dinheiro em malas e bolsas.
A reportagem “Imigração: Novas concessões de visto permanente ficam mais
lentas e difíceis”, é um exemplo típico de matéria de serviços bastante presente nas
páginas dos jornais brasileiros no Japão. A apuração foi totalmente feita no Japão
pelo correspondente do Tudo Bem em Shizuoka, Claudio Endo, fluente em japonês
e há mais de 15 anos no país. Com bom trânsito nos órgãos japoneses, Endo teve
facilidade em obter as informações sobre imigração, indo além da leitura dos jornais
japoneses. A matéria explica como requerer o visto permanente e seus benefícios.
"Cada vez mais, assuntos relacionados ao dia-a-dia, à permanência
no país são importantes. Assuntos do Brasil que podem afetá-los
diretamente também são relevantes, por exemplo, previdência, greve dos
Correios, economia, planos econômicos. Dentre os assuntos relacionados
ao Japão, visto e imigração sempre merecem destaque." (Jhony Arai é
diretor de redação do Jornal Tudo Bem)
81
80
Norie Watanabe atualmente é repórter do Jornal do Nikkey em São Paulo. No Japão, trabalhou no Asahi
Shimbun em Tóquio.
81
Jhony Arai trabalhou por quatro anos na redação do Jornal Tudo Bem em Tóquio. É autor dos livros Viajantes
do Sol Nascente e Arigatô: A Emocionante História dos Imigrantes Japoneses no Brasil.
92
3.6 Pesquisa com leitores
A fim de compreender melhor as demandas do público leitor, foi realizada
uma pesquisa qualitativa com leitores de jornais brasileiros. O objetivo foi obter
opiniões relacionadas aos dois principais jornais em português de circulação no
arquipélago: International Press e Jornal Tudo Bem.
O período da pesquisa é de 15 de abril de 2005 a 9 de março de 2006,
abrangendo um universo de leitores com 18 anos ou mais de idade, que lêem os
jornais brasileiros publicados no Japão.
A amostra representativa do universo compreende 600 pessoas
entrevistadas e foi elaborada em cotas proporcionais em função das variáveis: sexo,
idade, localização geográfica e quantidade de brasileiros por província.
O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro máxima
estimada é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados
encontrados no total da amostra. As entrevistas foram realizadas com a utilização
de um questionário estruturado, em locais de grande fluxo de brasileiros.
Além da divisão por idade e sexo, foram levados em conta o grau de
instrução (de Ensino Fundamental incompleto a Superior completo), a divisão
geográfica por províncias, a renda mensal familiar (de menos de 180 mil ienes até
mais de 700 mil ienes), a condição de atividade (economicamente ativo ou não-
economicamente ativo), a ocupação (trabalhador de fábrica, do setor de serviços,
comércio, empreiteira, conta própria, empresário e outros).
Das 47 províncias japonesas, a pesquisa levantou dados em 18, a saber:
Região de Kanto: Chiba, Gunma, Ibaraki, Kanagawa, Saitama, Tochigi e
Tokyo.
Região de Chubu: Aichi, Fukui, Gifu, Ishikawa, Nagano, Shizuoka, Toyama e
Yamanashi.
93
Região de Kinki: Mie, Osaka e Shiga.
O número de entrevistas por província encontra-se na tabela 1.
Tabela 1
Disposição das entrevistas por província:
Província entrevistas %
600 100
Aichi 122 20,3
Chiba 23 3,8
Fukui 14 2,3
Gifu 35 5,8
Gunma 58 9,7
Ibaraki 27 4,5
Ishikawa 9 1,5
Kanagawa 35 5,8
Mie 39 6,5
Nagano 29 4,8
Osaka 11 1,8
Saitama 31 5,2
Shiga 23 3,8
Shizuoka 85 14,2
Tochigi 22 3,7
Tokyo 15 2,5
Toyama 11 1,8
Yamanashi 11 1,8
Do contingente de entrevistados, todos são brasileiros, têm 18 anos ou mais
e são leitores dos jornais brasileiros no Japão. Os homens representam 56,7% e as
mulheres 43,3%. Os maiores públicos situam entre as faixas etárias de: até 29 anos
(40,8%); de 30 a 49 anos (46,7%) e acima de 50 anos (12,5%).
Quanto ao grau de instrução, os entrevistados com Ensino Médio incompleto
somam 38,8%, Ensino Médio completo e Superior incompleto somam 43,3%, e
Superior completo somam 17,2%.
A renda mensal familiar predominante é de 250.001 ienes até 400.000 ienes.
totalizando 41,6%; renda até 250.000 totaliza 24,3% e renda acima de 400.001
ienes totaliza 27,4%. Dos entrevistados, 95% afirmaram trabalhar, 3,8% afirmaram
não ser economicamente ativos e 1,2% não responderam.
94
Sobre o tipo de trabalho, 64,7% trabalham em fábrica; 24,6% trabalham no
setor de serviços, empreiteira ou comércio; 7,5% trabalham por conta própria e
1,8% em outras atividades.
3.6.1 Dados sociais e familiares
Dos 600 entrevistados, 56% estavam morando pela primeira vez no Japão, e
43,5% já haviam morado anteriormente no país. Destes alguns estavam pela
segunda vez (56,3%), pela terceira vez (23,4%), pela quarta vez (6,5%) e pela
quinta vez (3,4%). Uma pessoa declarou estar no país pela 9ª vez.
No Japão, 64,6% moram com a família, 24% moram sozinhos (a), 6,3%
moram com amigos, e 3,6% deram outras respostas. Dos entrevistado, 52,5% são
casados, 37,8% são solteiros, 6,8% separados/divorciados e 1,0% viúvos. Da
amostra total, 53,3% têm filhos. Destes, 59,4% disseram que os filhos moram
somente no Japão, 14,7% disseram que moram no Japão e no Brasil e 25%
disseram que moram somente no Brasil. A maioria tem apenas um filho (41,6%),
35,9% têm dois filhos, 17,2% têm três filhos, 3,1% têm quatro filhos, 0,3% têm cinco
filhos e 1,6% têm seis filhos.
Sobre os meios de comunicação pelos quais os brasileiros se informam,
levando-se em conta que os itens não são excludentes. Dados sobre os meios de
comunicação encontram-se na tabela 2.
Tabela 2
Meios de comunicação
TV 81,3%
Jornais 77,8%
Internet 53,8%
Revistas 41,5%
Amigos/parentes 36,8%
Trabalho 29,5%
Rádio 11,3%
Fitas de vídeo 0,7%
Cartas 0,2%
Livros 0,2%
95
Na pesquisa, os entrevistados foram indagados sobre o motivo pelo qual
lêem os jornais brasileiros e deram as seguintes respostas, na tabela 3.
Tabela 3
Por que lê jornais
Ficar bem informado 34,8%
Notícias do Brasil 25,0%
Classificados 18,7%
Notícias da comunidade 17,3%
Notícias do Japão 12,7%
Indagados a respeito de conhecerem e lerem os jornais brasileiros no Japão,
os entrevistados deram as seguintes respostas não-excludentes, na tabela 4:
Tabela 4
Jornais brasileiros no Japão
Mais conhecidos Mais lidos
International Press 97,2% International Press 92,0%
Tudo Bem 89,2% Tudo Bem 81,5%
Nova Visão 8,5% Nova Visão 3,7%
Folha E 3,0% Folha E 2,3%
Sobre a preferência do leitor pelos jornais e a rejeição a algumas
publicações, os brasileiros entrevistados responderam conforme a tabela 5:
Tabela 5
Preferidos do leitor Rejeitados pelo leitor
International Press 35,0% Nova Visão 2,0%
Tudo Bem 15,0% International Press 1,0%
Nova Visão 0,3% Jornal do Brasil 0,5%
Jornal do Brasil 0,2% Tudo Bem 0,5%
Folha Universal 0,2% Folha E 0,2%
Folha E 0,2% Folha Mundial 0,2%
Não sabe 7,5% Não sabe 2,7%
Não tem jornal favorito 39,8% Gosta de todos 90,9%
Não respondeu 1,8% Não respondeu 2,0%
96
Sobre o acesso a Internet, 63,1% dos pesquisados têm computador. Destes,
26,2% acessam sites de jornal pela Internet. Os jornais mais acessados pelos
brasileiros são: Folha de S. Paulo (44,6%), O Estado de S. Paulo (22,9%),
International Press (19,1%), Globo (16,6%) e Tudo Bem (10,2%).
Indagados sobre onde adquirem jornais, os brasileiros entrevistados
responderam de acordo com a tabela 6:
Tabela 6
Onde adquirem jornais
Lojas brasileiras 85,7%
Caminhões 6,7%
Lojas de conveniência 3,2%
Recebe no trabalho 1,7%
Assinatura 1,3%
Ganha o exemplar 1,0%
Adquire no revendedor 0,2%
Adquire em quiosque 0,2%
Sobre o dia da semana em que freqüentemente compram jornais, os
brasileiros entrevistados responderam conforme a tabela 7:
Tabela 7
Dia de compra do jornal
Não tem dia específico 17,1%
Domingo 17,1%
Sábado 21,8%
Sexta 3,8%
Quinta 4,5%
Quarta 19,9%
Terça 13,4%
Segunda 2,3%
*Em províncias com maior infra-estutura comercial para brasileiros (como
Aichi, Shizuoka e Gunma), as vendas por caminhão é pequena.
* Dos entrevistados, 57,2% compram os jornais sempre na mesma loja,
40,2% compram em lojas diferentes.
97
Perguntados sobre o motivo que os levam a comprar jornais, os entrevistados
responderam conforme a tabela 8:
Tabela 8
Por que compram jornais
Capa 34,5%
Notícias 32,0%
Classificados 11,7%
Se atualizar 11,3%
Notícia específica 10,2%
Hábito de compra 3,7%
Esportes 3,5%
Sobre a leitura em japonês, 20,2% lêem japonês e 79,8% não lêem japonês.
Dos que lêem japonês (121 pessoas), 65,3% não lê nenhum jornal em japonês,
sendo que 34,7% lêem jornais japoneses (42 pessoas), ou 7,0% do total dos
entrevistados.
Não-leitores: dos 600 abordados, 68 disseram não ler jornais brasileiros, o
que corresponde a 11,3% dos brasileiros acima de 18 anos. Dos ex-leitores, 46,7%
afirmaram que deixaram de ler por falta de tempo, 16,7% passaram a ler notícias
pela Internet e 6,7% liam no serviço mas saíram da empresa.
Indagados sobre os meios pelos quais se informam e sobre os meios nos
quais confiam, os entrevistados responderam conforme a tabela 9:
Tabela 9
Informação e confiança
Informação e confiança Se informa Confia
TV 81,3% 52,7%
Jornal 77,8% 27,7%
Internet 53,8% 15,8%
Revista 41,5% 2,3%
Confia em todos 6,3%
98
3.6.2 Conteúdo dos jornais
Para 81,7% da amostra total, as notícias da comunidade são tidas como
muito importantes para o leitor. E 15,8% consideram importante em parte. Apenas
1,2% consideram nada importante; 0,2% não sabem; e 0,2% não responderam.
As notícias de todas as províncias são consideradas por 70,5% dos
entrevistados como muito importante e para 24,8% como importante em parte. Para
2,8% é considerado nada importante, 0,3% não sabem e 1,5% não responderam.
Quanto aos atributos gráficos, chama a atenção o fato de os jornais serem
coloridos e possuírem uma boa qualidade de papel e impressão. Para 56,8% dos
entrevistados o fato de os jornais serem coloridos é muito importante e 33,5%
consideram importante em parte. Para 7,8% não é nada importante o jornal ser
colorido; 0,7% não sabem; e 1,2% não responderam.
Para 53,5% dos entrevistados ter uma seção de classificados forte é muito
importante, e 31,5% consideram isso importante em parte. Em contrapartida, 12,2%
consideram nada importante; 1,5% não sabem; e 1,3% não responderam.
O resultado do futebol brasileiros é considerado muito importante para 34,5%
dos entrevistados e importante em parte para 26%. Dos entrevistados, 37%
consideram nada importante; 1,3% não sabem; e 1,2% não responderam.
99
4. CONCLUSÃO
Com este trabalho, espera-se contribuir para a compreensão de fatores que
interferem na captação, edição e distribuição do noticiário brasileiro no arquipélago,
levando-se em conta as características culturais e locais que ainda persistem
mesmo com o advento da globalização no Japão contemporâneo.
A atividade jornalística brasileira em um contexto cultural diferente do seu
próprio é influenciada por uma cultura e modo de vida bastante diverso do brasileiro,
de forte impacto sobre a rotina do jornalista e, conseqüentemente, sobre a sua
produção de notícias. Mais que isso, influencia em sua visão de mundo.
Após conhecer como é processo de trabalho jornalístico no Japão, e as
influências do modo de vida japonês nas atividades dos jornalistas brasileiros, é
possível concluir que os dois binários propostos por Wolf
82
, a cultura profissional dos
jornalistas e a organização do trabalho e dos processos de produção, sofrem
transformações quando o fazer jornalístico se dá no arquipélago.
A adoção de alguns padrões e procedimentos comuns ou à sociedade
japonesa ou ao jornalismo do país resultaram um jornalismo diferente do praticado
no Brasil. Um jornalismo adaptado, com nuances próprias e elementos extraídos do
cotidiano dos profissionais japoneses, caso das solicitações de entrevistas e
comportamento adotado nas mesmas, ou do próprio modo de vida japonês, como o
uso de mapas em lugar de endereços para chegar às reportagens.
O jornalista que chega ao Japão traz em sua bagagem a experiência da
rotinização da imprensa brasileira e, inicialmente, começa a estabelecer parâmetros
para seu trabalho baseado em seus conhecimentos prévios. À medida que
vislumbra a concorrência, e o que a maioria dos jornais brasileiros está publicando,
passa a refletir sobre o processo de trabalho. Quanto mais conhece a cultura
japonesa e se adapta ao modo de vida do país, seus filtros para selecionar e apurar
o que é notícia passam por algumas transformações.
82
Ibid.
100
O aculturamento sofrido pelos jornalistas nesse processo de adaptação ao
Japão acaba por exercer influência sobre o profissional em todas as etapas do
processo jornalístico. As mudanças não são bruscas e muitas vezes não ficam
evidentes, mas permeiam a escolha da pauta, o direcionamento da edição e,
principalmente, tornam a apuração um processo com mais etapas, mais rigor e mais
planejamento do que seria feito se estivesse no Brasil.
No Japão, o jornalista precisa descobrir novos parâmetros, que não estão tão
claros. A visão não é a de jornalista brasileiro, nem de correspondente internacional,
mas uma nova maneira de enxergar o processo noticioso. Nas editorias de Brasil,
por exemplo, o foco não é o leitor do Brasil, mas o brasileiro que está no Japão.
Sendo assim, mesmo recebendo material de agências brasileiras, é preciso que a
edição seja elaborada levando-se em conta aspectos do padrão japonês de
jornalismo, tais como respeitar as decisões policiais quando não são revelados
nomes de suspeitos de crimes.
.
Na editoria de Internacional, normalmente as agências de notícias brasileiras
enfocam assuntos de interesse da grande imprensa nacional. Mais uma vez o
jornalista que está no Japão tem de ter em mente sua nova localização geográfica e
as implicações dela. O que é mais importante, Argentina ou Coréia do Sul? Peru ou
Tailândia? No caso de jornais brasileiros, se as notícias tivessem o mesmo peso em
diversos critérios de noticiabilidade, o item proximidade seria um fator de destaque e
a matéria sobre a Argentina predominaria sobre a da Coréia do Sul, assim como a
do Peru teria preferência sobre a da Tailândia. Contudo, na editoria de Internacional
dos jornais brasileiros no Japão, a notícia sobre a Argentina dá lugar à da Tailândia,
destino turístico de centenas de dekasseguis nos feriados japoneses. Assim, o
jornalista brasileiro muda seu enfoque na busca, coleta e seleção do noticiário em
face de um diferente público leitor, não residente no Brasil, e com interesses
diversos, conforme os resultados da pesquisa com leitores.
No caso dos jornais brasileiros no Japão, o jornalista precisa reorganizar uma
nova atribuição de valor, levando em conta os países próximos ao arquipélago
nipônico. Mais que isso, importa também - e talvez principalmente em jornais
101
destinados a trabalhadores - os países com quem o Japão mantém intensas
relações econômicas e comerciais, pois isso se reflete indiretamente na
empregabilidade do leitor no arquipélago.
No início do movimento dekassegui não havia estrutura política e social
capaz de produzir notícias suficientes para alimentar os periódicos. Os jornais,
igualmente, também não dispunham de uma infra-estrutura que garantisse
condições de pesquisa, apuração e envio de matérias para a elaboração de um
jornal mais focado na comunidade. Por esse motivo, havia uma predominância de
matérias sobre o Brasil nos periódicos. Os valores/notícia estavam relacionados
diretamente à organização concreta do trabalho
Já foi dito, nos parágrafos precedentes, que os valores/notícia agem
concretamente para tornar possível a rotinização de trabalho. Sendo assim,
esses valores devem ser contextualizados nos procedimentos de produção,
pois é neles que adquirem seu significado, desenvolvem a sua função e se
cobrem da camada de "bom senso" que os torna aparentemente elementos
previsíveis. (WOLF, 2005, p.228)
Assim como no Brasil, os jornalistas brasileiros no Japão utilizam as fontes no
processo de newsmaking. Apenas por se tratar de uma comunidade de formação
razoavelmente recente, não possui uma estrutura de fontes tão consolidada quanto
a brasileira em diversos segmentos. Como no caso brasileiro, no Japão elas
também "refletem, de um lado, a estrutura social e de poder existente e, de outro,
organiza-se na base das exigências colocadas pelos procedimentos de produção"
(WOLF, 2005, p. 235).
A imprensa brasileira no Japão se equilibra entre dois fazeres jornalísticos
distintos – o brasileiro e o japonês –, diante de uma comunidade de brasileiros
radicados no arquipélago que apresenta um contínuo crescimento.
Em dezembro de 1991, eram 119.333 brasileiros no Japão de acordo com
dados do Departamento de Controle de Imigração do Japão. Hoje mais de duas
décadas depois do início do movimento dekassegui, uma população de 316.967
brasileiros reside atualmente no Japão, conforme levantamento de 2007 do
102
Departamento de Controle de Imigração do Japão.
Grande parte desse contingente não se integrou completamente ao modo de
vida japonês e ainda enfrenta a barreira do idioma, necessitando de informações e
notícias em português, sejam elas do Brasil, do Japão ou de sua comunidade local.
Assim como a colônia japonesa no Brasil levou gerações para que se
integrasse de fato na sociedade brasileira, entende-se que a adaptação dos
brasileiros no Japão seja um processo igualmente demorado. Sendo assim, a
necessidade de informações em português ainda é grande e deve perdurar por mais
algumas décadas, justificando a existência de publicações jornalísticas em
português no país.
Futuro
Os dekasseguis brasileiros de hoje desfrutam inúmeras e variadas opções de
acesso às notícias do Japão, do Brasil e do mundo. A própria comunidade, que no
início do movimento dekassegui era mais homogênea, hoje é composta de
brasileiros e brasileiras de todas as faixas etárias, com gostos e interesses diversos.
Nesse sentido, também se diversificam os locais para se fazer compras, os points
de lazer e os tipos de diversão desses brasileiros.
No campo editorial, as transformações pelas quais a comunidade vem
passando se traduzem em multiplicação de títulos e segmentação das publicações
visando atender a públicos menores. A variedade de periódicos à disposição dos
leitores - distribuídos nas lojas de produtos brasileiros - reflete a tendência mundial
de jornalismo de publicações especializadas.
É oportuno ressaltar uma importante mudança na linha editorial dos
impressos, que vem acontecendo gradualmente com o passar dos anos. Cada vez
menos o público leitor é visto como alguém que está de passagem no Japão, que
vai trabalhar de dois a quatro anos no país e retornar ao Brasil. O número de
reportagens sobre a volta à terra natal, embora sempre presente, tem diminuído, em
detrimento de reportagens sobre como viver no Japão, como se aposentar no país
103
ou como comprar um imóvel no arquipélago.
Em um passado recente, a linha editorial implícita na maioria dos veículos
impressos conduzia suas reportagens a partir do pressuposto que a maioria dos
dekasseguis brasileiros estavam apenas temporariamente no país. Hoje, a linha
editorial sinaliza que a migração brasileira não é mais temporária, mas permanente,
e o foco principal das reportagens passou a ser a vida no Japão. A integração à
sociedade japonesa, visto permanente, aposentadoria, compra de casa própria,
escolas e faculdades japonesas são temas recorrentes das reportagens que
interessam a grande parte do público leitor.
Assim como a comunidade brasileira no Japão e a sua mídia vem sofrendo
transformações, o perfil e as perspectivas dos jornalistas brasileiros no Japão
também têm mudado. O mercado de trabalho, que antes se resumia a três ou
quatro publicações, multiplicou-se e expandiu-se para além dos limites dos
impressos, chegando ao rádio, à TV e à internet.
E o que era uma experiência nova e temporária fora do Brasil, com ares de
aventura, se constitui hoje em um mercado de trabalho permanente, que recruta
profissionais de publicações no Brasil, de veículos no Japão, e também das
fábricas, uma vez que os ex-dekasseguis com diploma de jornalista compõem uma
parcela significativa das redações da mídia brasileira no Japão. Curiosamente,
esses jornalistas imigrantes, que deixaram o Brasil em busca de melhores
condições de vida, estão alcançando lá, do outro lado do mundo, a sua realização
profissional.
104
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www.yomiuri.co.jp/dy
www.kunaicho.go.jp
www.uol.com.br
www.estado.com.br
www.ciate.org.br
www.sp.br.emb-japan.go.jp
109
6. ANEXOS
CAPA DO JORNAL TUDO BEM EDIÇÃO 778
110
CAPA DO JORNAL TUDO BEM EDIÇÃO 806
111
CAPA DO JORNAL TUDO BEM EDIÇÃO 728
112
CAPA DO INTERNATIONAL PRESS EDIÇÃO 753
113
CAPA DO INTERNATIONAL PRESS EDIÇÃO 789
114
CAPA DO INTERNATIONAL PRESS EDIÇÃO 829
115
6.2 Questionário respondido pelos jornalistas brasileiros
1. Nome
2. Cidade onde nasceu
3. Formação acadêmica (graduação/qual faculdade)
4. Tempo de trabalho no Brasil
5. Tempo de trabalho no Japão
6. Veículos nos quais trabalhou no Brasil
7. Veículos nos quais trabalhou no Japão
8. Ocupação atual
9. Sou:
( ) Issei ou tenho dupla cidadania
( ) Nissei
( ) Sansei
( ) Yonsei
( ) Mestiço*
( ) Não tenho descendência japonesa
* Em caso de mestiço, favor assinalar também o grau de descendência
japonesa.
10. Sobre a familiaridade com os costumes japoneses, antes de ir trabalhar
no Japão, eu:
( ) Tinha total familiaridade com o idioma e a cultura japoneses
( ) Tinha razoável familiaridade com o idioma e a cultura japoneses
( ) Tinha razoável familiaridade com a cultura japonesa e pouca
familiaridade com idioma
( ) Tinha razoável familiaridade com o idioma e pouca com a cultura
( ) Não tinha familiaridade com a cultura e o idioma japoneses
116
11. Sobre meu nível de japonês, antes de ir para o Japão:
( ) Falava, lia e escrevia fluentemente
( ) Lia e escrevia fluentemente
( ) Lia e escrevia bem
( ) Lia e escrevia razoavelmente
( ) Falava bem e lia hiragana e katakana
( ) Falava bem, mas não lia ideogramas
( ) Não falava bem, mas lia hiragana e katakana
( ) Não falava nem lia muito bem
( ) Não falava nem lia muito bem, mas escrevia razoavelmente
( ) Falava apenas palavras básicas e não lia ideogramas
( ) Não falava e não lia japonês
12. Sobre meu nível de japonês atualmente:
( ) Falo, leio e escrevo fluentemente
( ) Leio e escrevo fluentemente
( ) Leio e escrevo bem
( ) Leio e escrevo razoavelmente
( ) Falo bem e leio hiragana e katakana
( ) Falo bem, mas não leio ideogramas
( ) Não falo bem, mas leio hiragana e katakana
( ) Não falo nem leio muito bem
( ) Não falo nem leio muito bem, mas escrevo razoavelmente
( ) Falo apenas palavras básicas e não leio ideogramas
( ) Não falo e não leio japonês
13. Em meu trabalho, saber o idioma japonês é:
( ) imprescindível para a realização da apuração, entrevistas e reportagens
( ) útil para a para a realização da apuração, entrevistas e reportagens
( ) desnecessário para a realização da apuração entrevistas e reportagens
14. Conto com a ajuda de intérpretes do idioma japonês em:
( ) 100% da apuração, reportagens e entrevistas
( ) 70% da apuração, reportagens e entrevistas
117
( ) 50% da apuração, reportagens e entrevistas
( ) 30% da apuração, reportagens e entrevistas
( ) 10% da apuração, reportagens e entrevistas
( ) não necessito da ajuda de interpretes nas reportagens porque sou fluente
em japonês
( ) não necessito da ajuda de intérpretes nas reportagens pois a apuração,
reportagens e entrevistas são totalmente feitas em português
15. Comparando-se o trabalho jornalístico realizado no Brasil e no Japão,
posso afirmar que
( ) Não há qualquer diferença no modo de apuração, edição e veiculação
de notícias.
( ) Há pequenas diferenças no modo de apuração, edição e veiculação de
notícias.
( ) Há razoáveis diferenças no modo de apuração, edição e veiculação de
notícias.
( ) Há grandes diferenças no modo de apuração, edição e veiculação de
notícias.
( ) Há diferenças em apenas um ou dois processos jornalísticos. Citar quais
16. Sobre a realização do trabalho jornalístico no Japão, posso afirmar que:
( ) A adaptação à cultura japonesa é imprescindível para exercer a
atividade
( ) A adaptação à cultura japonesa ajuda muito no exercício da atividade
( ) A adaptação à cultura japonesa ajuda um pouco.
( ) A adaptação à cultura japonesa não é relevante para o exercício da
atividade.
17. Já integrou ou integra algum clube de imprensa japonês (kisha club) ou
clube dos correspondentes estrangeiros?
( ) Sim, porquê? Qual?
( ) Não, porquê?
118
18. Se integrou, o que acha do funcionamento deles no sentido de auxiliar o
jornalista na realização de uma reportagem:
( ) Ótimo
( ) Bom
( ) Razoável
( ) Ruim
19. Sobre os órgãos governamentais japoneses (por exemplo: Ministério da
Justiça, Departamento de Imigração, Agência Nacional de Polícia, Ministério da
Educação, prefeituras), como acha que a mídia brasileira é tratada:
( ) Excelente, sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de
entrevista e fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Bom, na maioria das vezes atendem os pedidos da imprensa, as
solicitações de entrevista e fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Regular, nem sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações
de entrevista ou fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Ruim, não atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de
entrevista nem fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Sua opinião
20. Sobre a cobertura da Casa Imperial, como acha que a mídia brasileira é
tratada:
( ) Excelente, sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de
entrevista e fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Bom, na maioria das vezes atendem os pedidos da imprensa, as
solicitações de entrevista e fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Regular, nem sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações
de entrevista ou fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Ruim, não atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de
entrevista nem fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Sua opinião
119
21. Com base na rotina de trabalho no Brasil, o que estranhou ou chamou a
atenção quando começou a trabalhar no Japão:
( ) O fato de alguns entrevistados cobrarem pela entrevista
( ) O fato de a maioria dos jornalistas japoneses não fazer perguntas em
entrevistas coletivas
( ) O fato de, algumas vezes, entrevistador e entrevistado trocarem
presentes
( ) A pontualidade ao início dos trabalhos
( ) A grande preocupação com a privacidade por parte dos jornais
japoneses, a não-divulgação de nomes de suspeitos.
( ) Outra resposta (citar)
22. Acha que a mídia japonesa (jornais, revistas, TVs, sites) influencia a
mídia dekassegui com relação à pauta, modo de apuração, edição e publicação de
notícias:
( ) Não
( ) Um pouco
( ) Razoavelmente
( ) Muito
23. Sobre os jornalistas brasileiros absorverem um estilo japonês de trabalho
jornalístico?
( ) Nunca acontece
( ) Adquirem poucas características de trabalho
( ) Adquirem muitas características de trabalho
( ) Adotam um estilo quase totalmente japonês
24.Você acha que a visão dos japoneses sobre os dekasseguis brasileiros é
( ) Totalmente positiva
( ) Bastante positiva
( ) Em sua maior parte positiva
( ) Em sua maior parte negativa
( ) Bastante negativa
( ) Totalmente negativa
120
( ) Os japoneses não voltam sua atenção aos dekasseguis
( ) Depende da cidade e da concentração de brasileiros
25. Como vê a distribuição de notícias nos jornais brasileiros destinados à
comunidade brasileira no Japão?
( ) Mais notícias sobre o Brasil e menos notícias sobre o Japão e brasileiros
no Japão
( ) Metade das notícias sobre o Brasil e metade sobre o Japão e brasileiros
no Japão
( ) Mais notícias sobre o Japão e brasileiros no Japão e menos sobre o
Brasil.
26. Sobre o interesse do leitor:
( ) É maior em relação às notícias do Brasil
( ) É igual em relação às notícias do Brasil, sua comunidade e o Japão.
( ) É maior em relação às notícias de sua comunidade e do Japão.
27. Sobre a adaptação dos brasileiros ao Japão nos aspectos cultural,
profissional, educacional e integração à sociedade, os jornais desempenham um
papel que considero:
( ) Fundamental
( ) Importante
( ) Relativo
( ) Pouco influente
( ) Sem influência
28. Sobre sua adaptação ao Japão:
( ) estou muito bem adaptado ao país
( ) estou razoavelmente adaptado ao país
( ) estou em fase de adaptação ao país
( ) não me adaptei ao país
29. Sobre sua adaptação ao trabalho:
( ) adaptei-me imediatamente. O funcionamento do trabalho jornalístico é
121
igual ao do Brasil
( ) adaptei-me gradativamente. O funcionamento do trabalho jornalístico é
semelhante ao do Brasil, com algumas diferenças
( ) levei meses para me adaptar. O funcionamento do trabalho é
razoavelmente diferente do Brasil, pois há grandes diferenças
( ) estou em fase de adaptação. O funcionamento do trabalho jornalístico
lembra o do Brasil mas, na prática, é bem diferente.
( ) não estou me adaptando porque o funcionamento do trabalho jornalístico
em nada se assemelha ao do Brasil
30. Sobre as entrevistas coletivas promovidas por fontes japonesas:
( ) são exatamente iguais às coletivas do Brasil
( ) são em parte iguais às coletivas do Brasil. A condução da coletiva é
semelhante ao Brasil, mas o comportamento dos jornalistas é diferente.
( ) são semelhantes às coletivas do Brasil. O comportamento dos jornalistas
é igual, mas a condução da coletiva é diferente.
( ) são diferentes das coletivas brasileiras tanto na condução da coletiva
quanto no comportamento dos repórteres.
31. Sobre a apuração junto às fontes japonesas:
( ) não há diferença da apuração no Brasil
( ) há pequenas diferenças da apuração no Brasil
( ) é bastante diferente da apuração no Brasil
( ) é totalmente diferente da apuração no Brasil
32. Para a realização de um bom trabalho jornalístico no Japão, estabeleça
em ordem numérica as atribuições que um jornalista deve ter (1 para o que
considera mais importante; 13 para o que considera menos importante:
( ) ser nikkei
( ) falar japonês
( ) ler japonês
( ) escrever japonês
( ) ser formado em jornalismo
122
( ) ter pós-graduação
( ) falar e escrever inglês
( ) falar e escrever outro (s) idioma (s)
( ) ter sido dekassegui
( ) ter experiência como jornalista no Brasil
( ) ter experiência como jornalista no Japão
( ) conhecer a cultura e costumes japoneses
( ) estar adaptado ao Japão
33. O que o trabalho em jornais do Japão acrescentou à sua experiência
como jornalista profissional?
123
6.3 Questionário respondido pelos jornalistas japoneses
1. Nome
2. Província onde nasceu
3. Formação acadêmica (graduação/qual faculdade)
4. Tempo de trabalho no Brasil
5.Tempo de trabalho no Japão como jornalista
6. Veículos nos quais trabalhou no Brasil
7. Veículos nos quais trabalhou no Japão
8. Ocupação atual
9. Qual a maior dificuldade de trabalho na América Latina?
10. Qual a maior dificuldade de trabalho Japão?
11. Tem tsuyako para ajudá-lo no trabalho?
12. Estuda português?
13. Conhece os jornais brasileiros do Japão?
14. Quanto tempo um correspondente fica em média na América Latina?
15. O correspondente escolhe voltar ao Japão ou ficar na América Latina
após o período delimitado?
16. Em uma superficial avaliação dos jornais japoneses, como classifica as
coberturas deles? Mais nacional? Equilibrada entre nacional e internacional? Pouca
coisa sobre brasileiros e estrangeiros em geral?
17. Sobre a familiaridade com os costumes brasileiros antes de ir trabalhar no
Brasil, o sr.:
( ) Tinha total familiaridade com o idioma e a cultura brasileiros
( ) Tinha razoável familiaridade com o idioma e a cultura brasileiros
( ) Tinha razoável familiaridade com a cultura brasileira mas pouca
familiaridade com idioma.
( ) Não tinha familiaridade com a cultura e o idioma brasileiros.
18. Comparando-se o trabalho jornalístico que realizei no Japão e agora
realizo no Brasil, pode afirmar que:
( ) Não há qualquer diferença no modo de apuração, edição e veiculação
de notícias.
124
( ) Há pequenas diferenças no modo de apuração, edição e veiculação de
notícias.
( ) Há razoáveis diferenças no modo de apuração, edição e veiculação de
notícias.
( ) Há grandes diferenças no modo de apuração, edição e veiculação de
notícias.
19. Sobre a realização do trabalho jornalístico no Brasil posso afirmar que:
( ) A adaptação à cultura brasileira é imprescindível para exercer o
jornalismo no Brasil
( ) A adaptação à cultura brasileira ajuda muito no exercício do jornalismo
no Brasil
( ) A adaptação à cultura brasileira ajuda um pouco no exercício do
jornalismo no Brasil.
( ) A adaptação à cultura brasileira não é relevante no exercício do
jornalismo no Brasil.
20. No jornalismo japonês, existe a relação de senpai e kohai?
21. Já integrou ou integra algum clube de imprensa japonês (kisha club) ou
clube dos correspondentes estrangeiros?
( ) Sim. Qual?
( ) Não
22. Se integrou, o que acha do funcionamento deles no sentido de auxiliar o
jornalista na realização de uma reportagem:
( ) Ótimo
( ) Bom
( ) Razoável
( ) Ruim
23. Porque os kisha club são tão difíceis de entrar para os
estrangeiros?
125
24. Sobre os órgãos governamentais brasileiros (por exemplo: Ministério da
Justiça, Departamento de Imigração, Agência Nacional de Polícia, Ministério da
Educação, prefeituras), como acha que eles tratam a mídia japonesa:
( ) Excelente, sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de
entrevista e fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Bom, na maioria das vezes atendem os pedidos da imprensa, as
solicitações de entrevista e fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Regular, nem sempre atendem os pedidos da imprensa, as solicitações
de entrevista ou fornecem as informações necessárias às reportagens.
( ) Ruim, não atendem os pedidos da imprensa, as solicitações de
entrevista nem fornecem as informações necessárias às reportagens.
25. Com base na rotina de trabalho no Japão, o que estranhou ou chamou a
atenção quando começou a trabalhar no Brasil?
( ) O fato de alguns entrevistados não cobrarem pela entrevista
( ) O fato de a maioria dos jornalistas brasileiros fazerem perguntas em
entrevistas coletivas
( ) Entrevistador e entrevistado nunca trocam presentes
( ) A falta de pontualidade ao início dos trabalhos
( ) A pouca preocupação com a privacidade por parte dos jornais
japoneses, a não divulgação de nomes de suspeitos.
( ) Sua opinião
26. Sobre os jornalistas japoneses absorverem um estilo brasileiro de
trabalho jornalístico?
( ) Nunca acontece
( ) Adquirirem poucas características de trabalho
( ) Adquirem muitas características de trabalho
( ) Adotam um estilo quase totalmente brasileiro
27. Você acha que a visão dos japoneses sobre os dekasseguis brasileiros é
( ) Totalmente positiva
( ) Bastante positiva
( ) Em sua maior parte positiva
126
( ) Em sua maior parte negativa
( ) Bastante negativa
( ) Totalmente negativa
( ) Depende da região e da concentração de brasileiros
31. Sobre sua adaptação ao Brasil:
( ) adaptei-me rapidamente ao país
( ) adaptei-me gradativamente ao país
( ) levei meses para me adaptar ao país
( ) estou razoavelmente adaptado ao país
( ) estou em fase de adaptação ao país
( ) não me adaptei ao país
32. Sobre sua adaptação ao trabalho:
( ) adaptei-me imediatamente. O funcionamento do trabalho jornalístico é
igual ao do Japão
( ) adaptei-me gradativamente. O funcionamento do trabalho jornalístico é
semelhante ao do Japão, há algumas diferenças
( ) levei meses para me adaptar. O funcionamento do trabalho é
razoavelmente diferente ao do Japão, há grandes diferenças
( ) estou em fase de adaptação. O funcionamento do trabalho jornalístico
lembra o do Japão mas na prática é bem diferente.
33. Sobre as entrevistas coletivas promovidas por fontes brasileiras:
( ) são exatamente iguais às coletivas do Japão
( ) são em parte iguais às coletivas do Japão. A condução da coletiva é
semelhante, mas o comportamento dos jornalistas é diferente.
( ) são semelhantes às coletivas do Japão. O comportamento dos
jornalistas é igual mas a condução da coletiva é diferente.
( ) são diferentes das coletivas japoneses tanto na condução da coletiva
quanto no comportamento dos repórteres.
34. Sobre a apuração junto às fontes brasileiras comparando com o Japão:
( ) não há diferença da apuração
127
( ) há pequenas diferenças da apuração
( ) é bastante diferente da apuração
( ) é totalmente diferente da apuração
35. O que o trabalho em jornais no Brasil acrescentou à sua experiência
como jornalista profissional?
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