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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM
NEUROLOGIA/ NEUROCIÊNCIAS
PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO MOTORA DA ESCRITA
NA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
FLAVIA QUADROS BOISSON WAISSMAN
Niterói
2009
FLAVIA QUADROS BOISSON WAISSMAN
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PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO MOTORA DA ESCRITA
NA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
Dissertação apresentada ao
Curso de Pós Graduação Stricto
Sensu em Neurologia /
Neurociências da Universidade
Federal Fluminense, como pré-
requisito para obtenção do Título
de Mestre em Neurociências
Orientadores: Prof.Dr.João Santos Pereira
Prof.Dr.Osvaldo J. M. Nascimento
Niterói
2009
II
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM
NEUROLOGIA/ NEUROCIÊNCIAS
A DISSERTAÇÃO: Programa de recuperação motora da escrita
na câimbra do escrivão,
elaborada por Flávia Quadros Boisson Waissman
e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora, foi aceita
pela Universidade Federal Fluminense e homologada, como requisito
parcial para obtenção do título de
MESTRE EM NEUROCIÊNCAS
Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2009
BANCA EXAMINADORA
___________________________________
Prof. Dr. Edmar Augusto Santos Araújo
____________________________
Profª Drª Ana Lúcia Zuma Rosso
_____________________________________
Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
III
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WAISSMAN, Flávia Quadros Boisson
Programa de recuperação motora da escrita na câimbra do escrivão
Flavia Quadros Boisson Waissman, Orientadores: Profs. Drs. João
Santos Pereira e Osvaldo J. M. Nascimento, Niterói, 2009. 113 p.
Dissertação de Mestrado em Neurociências apresentada ao
Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Neurologia
/Neurociências Universidade Federal Fluminense.
1. Câimbra do Escrivão;
2. Imobilização muscular;
3. Distúrbio da escrita;
4. Distonia focal da mão.
IV
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DEDICATÓRIA
À minha amada avó Iracema Quadros Boisson (in memoriam) por me fazer
ser alguém feliz pelo amor imenso com que ajudou na minha educação e
crescimento.
Aos meus pais que sempre abriram mão de seus benefícios para me
oferecer o que estava ao seu alcance, em especial ao meu grande pai, de
quem me encho de orgulho ao dizer e saber que é a pessoa que tem o amor
mais verdadeiro por mim.
V
v
AGRADECIMENTOS
Ao Professor João Santos Pereira, que, por aqueles acasos da vida, muitas
vezes inexplicáveis, apareceu como orientador da minha especialização e
que, no decorrer do tempo, tornou-se amigo. Digo amigo porque significa
uma das pouquíssimas pessoas que são capazes de nos acompanhar
durante a vida independentemente das circunstâncias. Obrigada por sua
brilhante orientação e dedicação profissionais. Fica aqui a minha enorme
admiração por você.
Ao Professor Osvaldo Nascimento pela grande oportunidade que me foi
dada, por meio do ingresso na Pós-graduação, quando pude participar do
desenvolvimento desta pesquisa. Obrigada pela confiança depositada.
À Dra. Ana Lúcia Zuma Rosso, Dra. Denise Hack Nicaretta e Dr. Bruno
Coutinho pelo crédito dado a este estudo e pelo encaminhamento dos
pacientes.
À psicóloga Lucia Bello, amiga no sentido original da palavra. Dessas que
são para sempre. Ainda vou repetir muitas vezes: obrigada por tudo!
À musicoterapeuta Esther Nisenbaum pelo excepcional trabalho com a
música e pela inteligência contagiante.
Ao Professor Vicente Góes pela revisão da Língua Portuguesa e por ser o
meu namorado.
À professora Vera Rossini pelas incomparáveis aulas de Língua Inglesa.
Aos meus amigos que sempre me incentivaram nas dificuldades
encontradas no percurso atribulado da vida, em especial a minha grande
amiga Renata Costa Ferreira pela paciência.
Aos pacientes atendidos no Ambulatório de Distúrbios de Movimento do
Hospital Pedro Ernesto e demais pacientes que colaboraram
voluntariamente para realização deste estudo.
Ao Professor Luis Augusto Feijó pela forma excepcional e carinhosa que
dedica aos meus. Sem seu suporte este trabalho não seria possível.
VI
v
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
RESUMO
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO, p.12
1.1 O PROBLEMA, p.12
1.2 OBJETIVOS, p.14
1.2.1 Objetivo Geral, p.14
1.2.2 Objetivos Específicos, p.14
1.3 VARIÁVEIS, p.15
1.3.1 Variável Categórica, p.15
1.3.2 Variável Quantitativa, p.15
1.4 JUSTIFICATIVA, p.15
1.5 RELEVÂNCIA DO PRESENTE TRABALHO, p.16
1.6DELIMITAÇÃO DO ESTUDO, p.16
1.7LIMITAÇÃO DO ESTUDO, p.16
1.8 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS, p.17
1.9 HIPÓTESES, p.18
1.9.1 Hipótese Substantiva, p.18
1.9.2 Hipóteses Estatísticas, p.18
2. REVISÃO DE LITERATURA, p.19
2.1 ASPECTOS GERAIS DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO, p.19
2.1.1 Conceito, p.19
2.1.2 Efeitos, p.19
2.1.3 Sintomas Típicos, p.19
2.1.4 Característica da Câimbra do Escrivão, p.19
2.1.5 Susceptibilidade a esse distúrbio, p.20
2.1.6 Histórico da Literatura sobre o distúrbio, p.20
2.2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS, p.22
2.3 ETIOPATOGENIA, p.24
2.4 ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS E INTEGRAÇÃO SENSITIVO-
MOTORA, p.26
2.4.1Controle Motor pelos Núcleos da Base, p.26
2.4.2Conexões e Operação dos Núcleos da Base, p.27
2.5 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MOVIMENTO HUMANO, p.32
2.6 RELAÇÃO ENTRE HABILIDADES MOTORAS E MOVIMENTO, p.36
2.7 CONTROLE MOTOR, p.37
VII
v
2.8 MODIFICAÇÕES PROPRIOCEPTIVAS E POSTURAIS, p.38
2.9 FISOPATOLOGIA, p.40
2.9.1 Genética, p.40
2.9.2 Integração Sensitiva, p.41
2.9.3 Mecanismo de Inibição, p.43
2.10 ASPECTOS ANATÔMICOS, p.44
2.11 ASPECTOS CLÍNICOS DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO, p.47
2.12 DIAGNÓSTICO DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO, p.50
2.12.1 Clínico, p.50
2.12.2 Tomografia por Emissão de Pósitrons, p.51
2.12.3 Eletromiografia, p.51
2.12.4 Potencial Evocado Somato-Sensitivo, p.52
2.12.5Ressonância Magnética Funcional, p.52
2.12.6 Genético, p.52
2.13 TRATAMENTO, p.53
2.13.1 Farmacológico, p.53
2.13.2 Estimulação Magnética Transcraniana, p.54
2.13.3 Estimulação Cerebral Profunda, p.55
2.13.4 Fisioterapêutico, p.55
2.13.5 Cirúrgico, p.56
2.13.6 Outras Alternativas , p.56
3. MATERIAL E MÉTODOS, p.61
3.1 População e Amostra, p.61
3.2 Critérios de Inclusão, p.62
3.3 Critérios de Exclusão, p.62
3.4 Comitê de Ética, p.62
3.5 Instrumentos de Avaliação, p.63
3.6 Procedimentos, p.63
3.7 Análise de Dados, p.66
4. RESULTADOS, p.67
5. DISCUSSÃO, p.76
6. CONCLUSÕES, p.86
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p.87
8.ANEXOS, p.95
VIII
v
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
TABELA 1 Características da amostra em relação à idade, tempo de
acometimento, atividade diária da escrita e história familiar na Câimbra do
Escrivão, p.68
TABELA 2: Relação das profissões dos participantes do estudo, p.68
TABELA 3: Característica clínicas gerais da distonia, p.69
TABELA 4: Análise descritiva do comprometimento funcional por meio das
Escalas de Burke-Fahn-Marsden e Avaliação da escrita de Jedynak pré e pós-
tratamento, p.69
TABELA 5: Avaliação dos resultados obtidos pelas Escalas de Burke-Fahn-
Marsden e de Avaliação da escrita de Jedynak pré e pós-tratamento por meio do
teste de Wilcoxon, p.71
TABELA 6: Resultados obtidos na avaliação da dor muscular por área corporal
examinada utilizando-se a Escala Analógica de Dor, p.71
TABELA 7: Comparação dos resultados obtidos utilizando-se a Escala Analógica
de Dor no pré e pós-tratamento por meio do teste de Wilcoxon, por área corporal
comprometida, p.73
TABELA 8: Freqüência dos aspectos posturais distônicos observados durante a
escrita no pré e pós-tratamento, p.74
GRÁFICO 1: Análise gráfica das medidas descritivas das Escalas de Burke-Fahn-
Marsden e da Avaliação da Escrita de Jedynak, p.70
GRÁFICO 2: Análise gráfica das medidas descritivas encontradas na avaliação
da dor muscular por área corporal, utilizando-se a Escala Analógica de Dor, p.71
GRÁFICO 3: Relação dos músculos comprometidos nos participantes no pe
pós-tratamento durante a avaliação funcional fisioterápica, p.75
IX
v
RESUMO
Waissman, Flavia Quadros Boisson. Programa de Recuperação Motora da
Escrita na Câimbra do Escrivão
A câimbra do escrivão é uma distonia focal do tipo tarefa-específica que
compromete a escrita. O tratamento medicamentoso, assim como aplicação de
toxina botulínica, tem apresentado resultados limitados. Recentemente, a
utilização de órteses para imobilização dos músculos mais comprometidos pela
distonia tem se mostrado uma alternativa com resultados mais duradouros, pois
se acredita que uma das causas seja um distúrbio da integração sensitivo-
motora. OBJETIVOS: Modificar o mecanismo da escrita alterado pela câimbra do
escrivão através de um programa de reabilitação motora, utilizando a consciência
corporal e emprego de órteses nos músculos comprometidos da mão pela
distonia METODOLOGIA: Participaram do estudo doze indivíduos com
diagnóstico distonia focal da mão, sendo sete homens e cinco mulheres com
idade média de 52,17 ± 16,07 anos e tempo de comprometimento de 10,83 ±
10,33, sendo onze destros. A amostra obedeceu aos critérios de inclusão e
exclusão e foi iniciado o estudo após aprovação do Comitê de Ética e assinatura
do Termo de Consentimento Esclarecido. Após confirmado o diagnóstico por um
especialista em distúrbios do movimento, foram realizadas a anamnese e a
avaliação motora da escrita, utilizando-se a Escala de Burke-Fahn-Marsden
(BFM), Protocolo de Jedynak e Escala Analógica de Dor, que foram reaplicadas
ao final do programa. O programa teve duração de oito semanas, dividido em
duas fases de quatro semanas: Conscientização Motora Corporal e Treinamento
Motor com Imobilização. RESULTADOS: Ocorreram diferenças estatisticamente
significativas para p < 0,05 para todas as variáveis estudadas ao se compararem
os dados obtidos nas avaliações pré e pós-programa, utilizando-se o teste de
Wilcoxon. Observou-se melhora significativa da dor em punho, antebraço e
braço e redução das posturas compensatórias ocorridas durante a escrita.
CONCLUSÃO: Este programa de reabilitação motora, através da
conscientização corporal e imobilização por órteses, mostrou-se eficaz em
relação a dor, qualidade e legibilidade da letra durante a escrita.
Palavras-chave: câimbra do escrivão; imobilização muscular; distúrbio da escrita;
distonia focal da mão.
X
v
ABSTRACT
Handwriting Program of Motor Rehabilitation in Writer’s Cramp
The writer’s cramp is a kind of task-specific focal dystonia, which damages the
writing process. The treatments with drugs as well as applying botulinum toxin
have presented limited results. The use of splints for immobilization of the more
damaged muscles by dystonia have recently shown more durable results as it is
believed that one of the causes is the motor sensory-integration.
OBJECTIVES: After identifying the damaged muscles, the patient will be made
aware about the postural alterations then he will have to practice his writing with
splints. In this manner the writing process modified by the writer’s cramp will be
recovered. METHODOLOGY: Twelve individuals with the writer’s cramp diagnosis
participated in the study, seven men and five women with the average age of
52,17 ± 16,07, and damage duration of 10,83 ± 10,33, eleven of them right-
handed. The sample obeyed the inclusion and exclusion criteria established and
were performed at HUPE/UERJ, after having been approved by the Ethics
Committee and the signature of an Awareness Agreement Term. After the
anamnesis by a specialist in movement disorders, the physiotherapeutic
evaluation used the Burke-Fahn-Marsden Scale (BFM), Jedynak Protocol and
Pain Analogic Scale. The program was divided in Body Motor Awareness phase
and Motor Training with Immobilization. RESULTS Using the Wilcoxon Test
significant statistical differences were detected p<0,05 for all variables of BFM
Scale and Jedynak Protocol. As to the pain, a significant improvement occurred in
wrist, forearm and arm. There was a reduction in compensatory posture frequency
observed during the writing process as well as of the more used muscles during
this task. CONCLUSION: This motor rehabilitation program aimed to focal hand
dystonia using postural correction and immobilization by splints, showed being
efficient as to reducing pain and improving quality and legibility of handwriting in
the writer’s cramp.
Key-words: writer’s cramp; muscle immobilization; writing disorder; focal hand
dystonia
XI
v
I - INTRODUÇÃO
1. 1 O PROBLEMA
A “Câimbra do Escrivão” (CE), definida normalmente como distonia focal
do tipo tarefa específica que causa dificuldade durante a escrita (BHIDAYASIRI et
al, 2005), caracteriza-se por contrações involuntárias dos músculos da mão, que
podem comprometer todo membro superior ao escrever, apesar do controle
motor normal ao realizar outro tipo de atividade.
Ainda que seja conhecida mais de cem anos, existem poucos estudos
epidemiológicos na literatura a respeito dessa distonia, possivelmente porque ela
e alguns subtipos específicos de distonia são relativamente raros e de baixa
morbidade, comparados a outras doenças neurológicas, o que pode contribuir
para dificultar o diagnóstico (BYL et al, 2003).
As causas exatas originadoras da “Câimbra do Escrivão” ainda não foram
identificadas, porém alguns fatores são analisados, tais como via sensitivo-
motora, co-contrações anormais musculares pelo mecanismo de inibição
recíproca, deficiências na integração sensitivo-motora e déficits perceptivos.
Quanto ao desenvolvimento dessa distonia, alguns fatores foram
identificados: o número de horas de prática da atividade, personalidade,
predisposição genética, etc.
Em relação à manifestação desse distúrbio do movimento e de outros
movimentos distônicos, urge destacar que eles se dão predominantemente no
contexto em que haja a prática de tarefas perceptivo-motoras que envolvem
emoções. Desse modo, quando traços emocionais se associam a traços motores,
ocorre uma dificuldade de controle, sugerindo haver destacada influência dessa
associação na preservação dos sintomas distônicos (LIM et al , 2001).
12
v
Essas distonias, também chamadas de “Câimbras Ocupacionais,
envolvem a perda da inibição entre músculos agonistas e antagonistas da mão,
alterando o controle motor fino em tarefa específica, podem desenvolver-se,
principalmente, em artistas, atletas, empresários ou em grupos de profissionais
que trabalhem sob forte exigência de atenção com movimentos repetitivos ou
estereotipados (BYL et al, 2003).
Entre as pesquisas sobre essas distonias, destaca-se estudo realizado na
Europa em dez centros neurológicos, abrangendo cerca de 5.8 milhões de
pacientes. Esse estudo revelou uma prevalência de 152 por milhão em um
período de 1996 a 1997, com as distonias focais tendo o maior valor: 117 por
milhão, sendo 57 por milhão para distonia cervical, 36 por milhão para
blefarospasmo e 14 por milhão para câimbra do escrivão. Destaque-se que as
mulheres são mais comprometidas do que os homens na maioria dos tipos e
idades (The Epidemiology Sudy of Dystonia in Europe -Collaborative Group,
2000).
Outras pesquisas foram realizadas, com resultados consideráveis. No
Chile, pesquisadores estimaram 4500 casos de distonia focal e não mais de 500
de distonia generalizada. Em estudo de populações em policlínicas
especializadas tem-se encontrado uma distribuição similar àquela observada em
outros países, sendo 72% de casos de distonia focal (CHANA & CANALES,
2003). Na revisão mais recente sobre epidemiologia, Defazio et al, em 2004,
apresentaram uma prevalência estimada para distonia primária de 2 a 50 por
milhão, quando é de início precoce e de 30 a 7320 por milhão quando de início
tardio.
Acerca do tratamento, até hoje tem prevalecido o uso dermacos, porém
já há outras terapias testadas nesses casos.
A terapêutica medicamentosa, de fato, tem preponderado em relação a
esses distúrbios, notadamente com o emprego de agonistas gabaérgicos,
anticolinérgicos e, mais recentemente, com o uso da toxina botulínica, visando ao
bloqueio químico na placa motora. Entretanto, esses rmacos não têm
apresentado uma resposta satisfatória na melhoria dos casos.
13
v
Assim, tratamentos alternativos foram testados, porém numa
proporção acanhada, gerando, por isso, poucas pesquisas sobre a sua eficácia.
Entre eles, destacam-se: acupuntura, fisioterapia com recursos tradicionais
(eletroterapia, hipotermoterapia, cinesioterapia), artes marciais (LIM et al, 2001).
Recentemente, foram testados dispositivos imobilizadores do membro
acometido, por meio de órteses, com a finalidade de facilitar a funcionalidade dos
músculos comprometidos, que atuam irregularmente como agonistas, de forma
não sincronizada e excessiva, com os antagonistas na realização do movimento.
Essa recente terapêutica tem demonstrado que a inibição funcional da atividade
motora exagerada durante a escrita poderá ser uma nova opção na recuperação
da habilidade motora manual.
1.2. OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Modificar o mecanismo da escrita alterado pela câimbra do escrivão por meio
de um programa de reabilitação motora, utilizando a consciência corporal e o
emprego de órteses nos músculos da mão comprometidos pela distonia.
1.2.2 Objetivos Específicos
1º) Identificar os músculos da mão comprometidos pela câimbra do escrivão
durante a escrita;
2º) Conscientizar o paciente acerca das posturas inadequadas secundárias ao
distúrbio distônico;
3º) Realizar o treinamento da escrita com utilização de órteses na musculatura
comprometida pela câimbra do escrivão;
4º) Comparar os resultados obtidos antes e após a execução do programa de
reabilitação motora da escrita.
13
14
v
.
1.3. VARIÁVEIS
1.3.1 - Variável categórica
Câimbra do escrivão.
1.3.2 - Variável quantitativa
Grau de comprometimento motor da câimbra do escrivão
1.4. JUSTIFICATIVA
Em função de esse distúrbio aparecer mais recorrentemente em adultos
de média idade e jovens em fase produtiva, algumas dificuldade são
ocasionadas, como problemas psico-sócio-econômicos - que se tornam muitas
vezes freqüentes além de situações constrangedoras e, sobretudo no campo
profissional, a diminuição da produtividade.
Essas dificuldades afetam o aspecto pessoal do distônico porquanto
motivam a ocorrência de situações constrangedoras e também o aspecto
profissional, uma vez que resultam, normalmente, na diminuição e, não raro, na
perda de produtividade.
Quanto ao tratamento na sua fase inicial, destaque-se que, em geral,
provavelmente influenciado pela dificuldade do diagnóstico, tem sido feito de
forma inadequada, favorecendo a manutenção e progressão desse distúrbio.
No que concerne à terapêutica adotada, após a devida identificação do
problema, constata-se que tanto a medicamentosa quanto a reabilitatória
convencional não têm proporcionado os resultados colimados.
15
v
Assim, estudando a literatura específica dos últimos dez anos relacionada
ao tema, notadamente o Medline, Lilacs, Embase e Scielo, evidencia-se a
dificuldade não no seu diagnóstico, mas também no seu devido tratamento, o
que torna imperiosa a identificação de outro procedimento terapêutico.
1.5. RELEVÂNCIA DO PRESENTE TRABALHO
A presente proposta tem como objetivo fundamental recuperar a habilidade
motora para a escrita daquele que se afetado por esse distúrbio. Para isso, a
presente pesquisa trabalha no sentido da conscientização do distônico de modo a
levá-lo à prática de atividades estratégicas de reabilitação dos músculos
afetados.
Logrado esse objetivo principal, este trabalho inevitavelmente contribuirá
para estimular outras pesquisas científicas relacionadas à área.
1.6. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Pacientes atendidos no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) que
apresentavam dificuldade na execução da escrita e diagnóstico clínico típico de
“câimbra do escrivão”, que não tivessem em uso de toxina botulínica menos
de seis meses, independente do grau de comprometimento motor, tempo do
distúrbio distônico focal da mão, profissão ou sexo.
1.7. LIMITAÇÃO DO ESTUDO
Entre os aspectos dificultadores do presente trabalho,destacam-se o
absenteísmo, o desinteresse em colaborar com o programa, a existência de
16
v
distúrbios álgicos no membro acometido, impedidores da realização dos
exercícios.
1.8. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Conquanto substâncias farmacológicas, tais como os agentes
anticolinérgicos, dopaminérgicos, benzodiazepínicos, o baclofen e a
carbamezapina proporcionem algum resultado em relação a câimbra do escrivão,
essa melhora limita-se a efeitos colaterais dessas drogas (TAS et al, 2001).
O tratamento mais utilizado, durante certo tempo e ainda nos dias atuais,
qual seja a aplicação da toxina botulínica tipo A não tem a eficácia desejada,
porquanto alguns pacientes que respondiam satisfatoriamente no início passaram
a desenvolver certa resistência a essa droga. (FABIANI et al, 1999; LIM et al,
2001).
Assim, tem sido constatado que o tratamento baseado em substâncias
químicas tem efeito eminentemente paliativo, não atingindo o objetivo colimado
(efeito curativo) (LIM et al, 2001).
Nesse sentido, na última década, outras formas de terapia têm sido
testadas, destacando-se, entre elas, a terapia física (LIM et al, 2001), que
consiste basicamente na utilização de órteses para imobilização de músculos
específicos, e diminuição da progressão da distonia focal da mão em
conseqüência da melhora da programação motora (REQUENA et al, 1998;
PRIORI et al, 2001; TAS et al, 2001; BYL et al, 2003; BOGEY et al, 2004;
BHIDAYASIRI et al, 2005).
Estudos demonstraram que essa terapia proporciona, de fato, aos
pacientes melhores posturas e movimentos, porém o problema reside na duração
desse benefício (HALLET, 2006). Somente em um estudo (ZEUNER et al, 2002),
os pacientes foram avaliados um ano após o término do tratamento e foi
constatado que a melhora na discriminação sensitiva e no desempenho motor foi
perdida depois da interrupção da terapia. Se a distonia está presente muito
17
v
tempo, maior será o tempo necessário para uma melhora permanente (HALLET,
2006).
Esta perspectiva terapêutica conservadora poderá trazer novas condições
de tratamento neste distúrbio pouco freqüente mas de difícil resolução. Não
cura para a distonia e é importante que os pacientes sejam informados sobre as
limitações dos tratamentos rotineiros
1.9. HIPÓTESES
1.9.1 - Substantiva
Um programa de recuperação motora que se baseie na conscientização
corporal, na imobilização por órteses dos músculos da mão comprometidos pela
distonia e no treinamento do ato de escrever certamente contribuirá para a
recuperação motora, melhorando sobremaneira a qualidade da escrita.
1.9.2 - Estatísticas
a) HIPÓTESE NULA (H0)
A imobilização da musculatura distônica da mão por meio de órteses e o
treinamento das habilidades manuais não têm influência sobre os resultados
obtidos para melhora da escrita na Câimbra do Escrivão, para um nível de
significância estatística de p< 0,05.
b) HIPÓTESE NÃO-NULA (H1)
A imobilização da musculatura distônica da mão por meio de órteses e o
treinamento das habilidades manuais têm influência sobre os resultados obtidos
na melhora da Câimbra do Escrivão, para um nível de significância estatística de
p<0,05.
18
v
II - REVISÃO DE LITERATURA
2. ASPECTOS GERAIS DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
2.1 - CONCEITO
-se o nome de “Câimbra do escrivão (CE)(ou Distonia Focal da Mão)
ao distúrbio motor que envolve posições atípicas da mão e dos dedos e
movimentos não coordenados desses segmentos.
2.2 - EFEITOS
Esse distúrbio ocasiona comprometimento da qualidade de vida dos
indivíduos em fase profissional. Assim, ele pode ser tão incapacitante que os
pacientes têm de limitar ou desistir de suas ocupações profissionais.
Frequentemente, a conseqüência é a ocorrência de distúrbios psíquicos ou
socioeconômicos (CANDIA et al, 2003; BAUR et al, 2009).
2.3 - SINTOMAS TÍPICOS
O padrão individual do distúrbio na escrita e sua intensidade variam muito
entre os pacientes, entretanto os sintomas típicos mais recorrentes são a
sensação de exaustão e de dor dos pacientes em razão da pressão inadequada
na caneta e desta sobre a mesa, além de a escrita ser mais lenta e menos
fluente, comparando-se à dos indivíduos não afetados por tal distonia (BAUER et
al, 2006,2009).
2.4 - CARACTERÍSTICAS DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
A imbra do escrivão é caracterizada por movimentos durante a escrita.
O padrão individual do distúrbio da escrita e sua intensidade variam muito entre
os pacientes. A escrita é exaustiva, quase sempre dolorosa. O processo de
escrever é freqüentemente lento e menos fluente do que o daqueles que
escrevem sem dificuldade (SCHENK et al, 2004; BAUR et al, 2006; SONG et al,
19
v
2008). Freqüentemente observa-se que a mão assume uma posição de semi-
flexão dos dedos com possível hiperextensão dos dedos e hiperflexão ou
extensão do punho e supinação ou pronação do antebraço. Associa-se por vezes
a contorção do punho ou do cotovelo e ocasionalmente do ombro. Envolve perda
de inibição entre músculos agonistas e antagonistas alterando o controle motor
em uma tarefa específica.
2.5 - SUSCEPTIBILIDADE A ESSE DISTÚRBIO
Pode ocorrer nas mais distintas profissões como artistas, atletas,
empresários, telegrafistas, digitadores, médicos, músicos (pianista, violinista e
flautista), ou seja, em profissionais que trabalham sob forte exigência de atenção
e realizam movimentos repetitivos ou estereotipados (BYL et al, 2003; SONG et
al, 2008). Quando esforços continuados são feitos para escrever, a mão pode
comprimir e destruir a folha de papel, principalmente usando caneta de tinta.
Podem ocorrer tremor e dor associada à síndrome do túnel do carpo (GORDON,
2005).
2.6 - HISTÓRICO DA LITERATURA SOBRE O DISTÚRBIO
Distonia Focal da Mão não era considerada uma doença neurológica. O
primeiro relato dessa distonia se deu por Bell (1830) e Bruck (1831), que a
consideraram uma doença orgânica, classificando-a entre as chamadas
“neuroses profissionais”, expressão atribuída a distúrbios com uma manifestação
física sem causa identificada. Em tese de doutorado, em 1908, Schwalbe
associou esse distúrbio a fatores psicogênicos e a fatores histéricos. Seus
estudos basearam-se nas observações de três irmãos que padeciam do que
denominou “Síndrome da câimbra crônica com sintomas histéricos”.
Ainda que a sua origem ainda não tenha sido identificada, há alguns
indícios que apontam no sentido de que seja um distúrbio do sistema motor, o
que possivelmente apresenta intensa ligação com a distonia.
Em 1901, Destarac fez alusão a um quadro clínico de distonia de torção
idiopática, entretanto o termo distonia foi introduzido no vocabulário médico
20
v
em 1911 por Oppenheim, ao descrevê-lo como “uma possível causa orgânica
como alteração motora consistente com alternância aleatória de espasmos e
hipertonia, surgindo, geralmente, ao realizar um movimento voluntário cuja
progressão conduz, eventualmente, a deformidades posturais”. (ARTIEDA et al,
2001; MARSDEN & SHEEHY, 1990; LIN et al, 2006).
O termo câimbra do escrivão, por analogia às câimbras musculares, tem
sido usado para descrever a dor na mão após a escrita prolongada e refere-se à
especificidade da tarefa, aspecto este desafiador, pois significa que somente a
escrita é anormal. Por vezes, quando esse distúrbio piora e essa especificidade é
perdida, ocorre comprometimento em outras tarefas ou mesmo
espontaneamente. Comumente encontrado em pessoas que utilizam a maior
parte de seu tempo escrevendo, são de grande importância para este fenômeno
os longos períodos de ação repetitiva e estereotipada. Outro aspecto a ser
abordado, assim como em outras doenças, é que na câimbra do escrivão possa
haver tanto um fator individual, genético ou ambiental, ou seja, surgir em
indivíduos geneticamente predispostos. Estudos vêm sendo desenvolvidos na
tentativa de identificar esses genes anormais, tendo sido encontrada baixa
penetrância (MARSDEN & SHEEHY, 1990; ROZE et al, 2009).
Requena et al em 1998 descreveram o caso de um paciente com câimbra
do escrivão que apresentou aos 22 anos um tipo de distonia que denominaram
“espasmo do açougueiro”, a qual o impossibilitava de exercer suas atividades
profissionais, visto ser funcionário de um açougue. Curiosamente, Evers e
Vollmer-Haase em 2003 apresentaram o caso de um cirurgião buco-maxilar de
56 anos sem nenhuma queixa, porém com dificuldade ao realizar os
procedimentos cirúrgicos; apresentava sintomas dolorosos e limitantes ao
escrever seu nome e endereço que só desapareciam ao parar de escrever.
Embora semelhantes estes estudos evidenciaram respostas clínicas distintas.
Neste último, não ocorria distonia focal durante atividade profissional como
cirurgião, apesar de utilizar sua o direita para os procedimentos a maior parte
do dia, sendo a escrita somente uma parte de sua atuação na vida profissional.
Esta diferença entre o ato de escrever e o de realizar cirurgia pode se dever ao
fato de que este não se caracteriza por movimentos complexos e estereotipados
21
v
como o primeiro. Este fenômeno sugere que movimentos da mão persistentes e
específicos realizados diariamente não são necessariamente afetados pela
distonia focal da mão. Entretanto, a maioria das câimbras ocupacionais afeta
movimentos ocupacionais específicos da mão de um modo típico e característico
(EVERS & VOLLMER-HAASE, 2003). Na distonia focal da mão ocorre co-
contração dos músculos antagonistas e os movimentos individualizados dos
dedos são imprecisos e dificultados (ZEUNER et al, 2005).
Recentemente, um estudo de caso confirmou que nem sempre a distonia
focal está relacionada a uma atividade repetitiva ou estereotipada. Uma mulher
de 30 anos, dona-de-casa, apresentou distonia ao usar uma colher para se
alimentar. No entanto, ela apresentou distonia durante a escrita 12 anos antes
deste episódio, o que levou os autores a pensarem que o mecanismo
fisiopatológico tenha sido o comprometimento primário (SONG et al, 2008).
Os pacientes com câimbra do escrivão apresentam desequilíbrio na
regulação da seqüência temporal das fases do movimento preciso de garra das
mãos, ocasionado pela redução dos sinais sensitivos alterando a modulação da
força de preensão e provocando um movimento exagerado. Isso pode explicar
porque esses indivíduos se apresentam com déficits na cinestesia, grafestesia e
estereognosia (FRASSON et al, 2001).
2.7 - DADOS EPIDEMIOLÓGICOS
Embora a prevalência seja relativamente baixa, variando de 3 a 7/100000,
a imbra do escrivão pode ser desalentadora se for considerado o prejuízo no
trabalho, a dor persistente, impedimento à realização de atividades, a baixa da
autoestima e o comprometimento sócioeconômico. Conquanto haja um grande
número de profissionais com problemas neuromusculares, nem todos
apresentam distonia. A incidência e prevalência das distonias variam segundo o
conhecimento do distúrbio, método de estudo, a atividade profissional e a origem
étnica da população estudada. Desde que Oppenheim descreveu a distonia
22
v
mais de um século, existem poucos estudos epidemiológicos sobre o assunto
(Lin et al, 2006). Um grande estudo realizado na Europa em 10 centros
neurológicos abrangendo cerca de 5.8 milhões de pacientes revelou uma
prevalência para distonia primária de 152 por milhão em um período de 1996 a
1997, com as distonias focais tendo o maior valor: 117 por milhão (57 por milhão
para distonia cervical, 36 por milhão para blefarospasmo ,14 por milhão para
câimbra do escrivão), sendo as mulheres mais comprometidas do que os homens
na maioria dos tipos e idades. Os valores tiveram intervalo de confiança de 95%.
( The Epidemiology Study of Dystonia in Europe - Collaborative Group, 2000). Os
autores desse referido trabalho observaram que essas estimativas são quase
certamente subestimadas devido aos casos não diagnosticados e aos casos em
que tanto uma dificuldade no diagnóstico quanto o não encaminhamento do
paciente a um especialista para tratamento.
Lin et al em 2006 observaram que peculiaridades inexplicáveis nos
estudos epidemiológicos das distonias, em particular nas distonias focais da mão,
pois muitos estudos apontam para uma predileção feminina para as distonias
focais,enquanto que, para as distonias focais da mão, os homens são mais
comprometidos. No Chile, pesquisadores estimaram 4500 casos de distonia focal
e não mais de 500 de distonia generalizada. Em estudo de populações em
policlínicas especializadas tem-se encontrado uma distribuição similar àquela
observada em outros países, sendo 72% de casos de distonia focal (CHANÁ &
CANALES, 2003). Estudo de Maniak et al em 2003 na Alemanha verificou que a
prevalência das formas mais comuns de distonia focal primária tais como a
cervical, o blefarospasmo ou câimbra do escrivão tem sido estimada em
30/100.000 na população geral. Na revisão mais recente sobre epidemiologia,
Defazio et al em 2004 apresentaram uma incidência estimada para distonia
primária de 2 a 50 por milhão quando esta é de início precoce e de 30 a 7320 por
milhão quando é de início tardio. Os autores supõem que essa grande
variabilidade vem da diferença do direcionamento dos estudos que podem
influenciar a validade ou diferenças nas características da população que
influenciam a comparação. Fatores importantes relacionados a diferenças na
condução do estudo incluem a origem dos casos, os procedimentos para busca
23
v
destes, método de avaliação e critério diagnóstico. Uma prevalência mais
acurada estima que pode haver 111 por milhão para distonia de início precoce
em Judeus Ashkenazi em Nova Iorque, 600 por milhão para a distonia de início
tardio no norte da Inglaterra e 3000 por milhão para a mesma na população
italiana acima de 50 anos.
poucos estudos que abordam a epidemiologia da distonia. A
explicação mais plausível é tratar-se de distúrbio raro, de baixa morbidade e
geralmente não fatal. Além disso, a falta de um critério clínico validado e a
ausência de um teste diagnóstico ou marcador faz da hipótese ou erro
diagnóstico as maiores dificuldades às investigações epidemiológicas (DEFAZIO
et al, 2004).
2.8 - ETIOPATOGENIA
Cerca de 5% dos pacientes com câimbra do escrivão apresentavam
condição similar em outros membros da família, em duas gerações, sugerindo
herança autossômica dominante com penetrância reduzida. No Reino Unido
cerca de 85% dos casos de distonia primária, generalizada ou focal, parece
herdada de uma forma autossômica dominante, com o(s) gene(s) exibindo uma
penetrância de cerca de 40%. Encontrou-se nessas famílias um número de
genes cuja expressão clínica adquiriu a forma de câimbra do escrivão, enquanto
outros apresentaram o distúrbio como manifestação inicial, desenvolvendo
posteriormente uma típica distonia segmentar ou generalizada (MARSDEN &
SHEEHY, 1990).
As causas exatas ainda são indeterminadas, porém, possíveis fatores
causais têm sido identificados recorrentemente em todos os aspectos: via
sensitivo-motora, co-contrações anormais musculares pelo mecanismo de
inibição recíproca, deficiências na integração sensitivo-motora e déficits
perceptivos. Alguns fatores de risco o identificados para o desenvolvimento da
distonia focal do tipo tarefa-específica e incluem o número de horas de prática da
atividade, personalidade e predisposição genética.
24
v
É importante salientar que os movimentos distônicos ocorrem
predominantemente no contexto de tarefas perceptivo-motoras que envolvem
emoções. Quando traços emocionais e motores se associam, normalmente
algum aspecto distônico passa a ocorrer, sugerindo que tal associação
desempenha um importante papel na preservação dos sintomas distônicos (LIM
et al, 2001).
Também o fator genético tem de ser considerado como possível causador
da CE. Bhidayasiri et al (2005) realizaram estudo genético com três irmãos
belgas com câimbra do escrivão de início tardio, compatível com ligação ao
cromossoma 18p. A CE tem sido encontrada em várias famílias com distonia de
torção idiopática, incluindo o gene DYT7, para distonia focal pura/simples e
DYT1, DYT6 e DYT13 para distonias mistas/complexas. Segundo Hallet (2005), a
câimbra do escrivão se desenvolve em pessoas predispostas geneticamente.
As câimbras ocupacionais têm gerado discussão em relação à sua
etiopatogenia, sendo considerados tanto fatores psicológicos (neuroses
profissionais ou ocupacionais) como orgânicos (alterações osteomusculares,
articulares, de nervos periféricos e do SNC). Como o programa motor específico
encontra-se alterado, deve-se estar atento ao perfil evolutivo: a distonia focal
ocupacional pode comprometer o membro superior oposto, transformando-se em
multifocal e, posteriormente, ao surgir o espasmo, ocorre comprometimento dos
músculos de toda extremidade superior e do pescoço, ocasionando a chamada
distonia segmentar (REQUENA et al, 1998).
Existe relato de trauma local precipitando alguns tipos de distonia, tais
como o torcicolo espasmódico e o blefarospasmo. Embora apenas 5 a 10%
relatem acidente ou lesão na mão ou braço imediatamente anterior ao início dos
sintomas, a maioria dos casos começa insidiosamente, tornando-se o indivíduo
consciente do distúrbio apenas quando ocorre interferência em sua habilidade
para escrever (GORDON, 2005). Leijnse e Hallet em 2007 hipotetizaram que um
fator neuromuscular poderia ocasionar o aparecimento da distonia focal da mão.
Relataram que, num guitarrista, o indicador da mão direita não estendia
apropriadamente enquanto manipulava as cordas da guitarra. Após investigação
detalhada sobre o trauma, o mesmo lembrou-se de que dois anos antes do início
25
v
dos sintomas, enquanto limpava um piso de madeira, uma lasca/farpa grande
desse material entrou na região tenar da mão direita, perfurando-a e saindo
próxima à tabaqueira anatômica, na região dorsal, acometendo o músculo flexor
curto do polegar, que ficou parcialmente incapacitado. Para muitos neurologistas
a câimbra do escrivão pode ser um indício da manifestação de alguma doença
neurológica mais expressiva (MARSDEN & SHEEHY, 1990).
McKenzie et al (2003) evidenciaram o comprometimento do aprendizado
sensitivo-motor nas distonias focais, pois estímulos rápidos, repetitivos e
próximos em dedos adjacentes podem degradar a representação
somatossensitiva cortical da mão. Se essa degradação é suficiente para alterar o
estímulo sensitivo-motor, o controle motor será prejudicado, o que pode constituir
uma causa da distonia focal em indivíduos que realizam tarefas repetitivas.
Deve-se ter atenção para a produção intencional de falsos sintomas
físicos ou psicológicos, pois pacientes que fabricam doença com o objetivo de
ganhar incentivos externos como compensação monetária, asilo, ou fugir de
obrigação militar ou ainda de processo criminal. Distúrbio fictício também envolve
o propositado e às vezes elaborado autorrelato de queixas somáticas com o
objetivo de incorporar um “estado doente”. Pessoas com esse distúrbio
apresentam ganho secundário evidente, mas conscientemente procuram
assistência e atenção da equipe médica. Torna-se difícil estabelecer
precisamente a prevalência da somatização devido ao amplo espectro de
definições existente, além da limitada habilidade em recordar fatos de um
passado distante pelo paciente (HALLET, 2005).
2.9 - ASPECTOS NEUROFISIOLÓGICOS E INTEGRAÇÃO SENSITIVO-
MOTORA
2.9.1 Controle Motor pelos Núcleos da Base
Situados profundamente no telencéfalo, em associação a outros núcleos
localizados no diencéfalo e no mesencéfalo, os chamados núcleos da base
diferem do cerebelo pelo modo com que regulam a atividade motora. Ao contrário
do cerebelo, não recebem aferências da medula espinhal, mas diretas do córtex
26
v
cerebral. A principal atividade das estruturas componentes dos núcleos da base é
sobre as áreas motoras do córtex através do tálamo. Além de seu papel no
controle motor, eles contribuem para as funções emocionais e cognitivas, sendo
que suas lesões produzem movimentos e posturas anormais (ARTIEDA et al,
2001)
2.9.2 Conexões e Operação dos Núcleos da Base
Os circuitos são complexos, não havendo conhecimento exato de seu
funcionamento. Os neurônios do estriado produzem descargas antes de serem
iniciados os movimentos. Isso sugere que etais neurônios ajudam a selecionar o
tipo de movimento a ser realizado (BERNE, 2004).
Com exceção dos córtices visual e auditivo primários, a maioria das
regiões do córtex cerebral projeta-se topograficamente sobre o estriado. Um
componente importante da aferência cortical para o estriado se origina no rtex
motor, nos neurônios da camada VI, que utilizam o glutamato, um
neurotransmissor excitatório. O estriado exerce influência através do globo pálido
sobre os neurônios nos núcleos ventral-anterior (VA) e ventral-lateral (VL) do
tálamo por meio das duas vias palidais: tanto a direta quanto a indireta (ARTIEDA
et al, 2001).
A função da via palidal direta é regular a atividade motora, por meio da
qual o estriado envia estímulos para o segmento interno do globo pálido e para a
parte reticulada da substância negra. Esta é uma projeção inibitória, sendo o
principal neurotransmissor o GABA (ácido amino-gama butírico). Do segmento
interno do globo pálido parte outra via gabaérgica que envia estímulos aos
núcleos VA e VL do tálamo. Os núcleos talâmicos, por sua vez, fazem conexões
excitatórias com o córtex pré-frontal, pré-motor e motor suplementar. Portanto, a
ativação do estriado pelo córtex ocasiona desinibição dos neurônios dos núcleos
VA e VL. Deste modo, a desinibição excita esses neurônios talâmicos e,
consequentemente, os neurônios-alvo nas áreas motoras do córtex cerebral.
Como o córtex motor provoca movimentos por ativação dos motoneurônios alfa e
gama na medula espinhal e no tronco encefálico, os cleos da base podem
27
v
regular movimentos por aumento da atividade dos neurônios no córtex motor
(BERNE, 2004)
A função da via palidal indireta é reduzir a atividade dos neurônios nas
áreas motoras do córtex cerebral, envolvendo conexões inibitórias do estriado
para o segmento externo do globo pálido, o qual, por sua vez, envia uma
projeção inibitória para o núcleo subtalâmico. Este retorna sua conexão para o
segmento interno do globo lido por meio de uma projeção excitatória utilizando
o glutamato. Portanto, a inibição estriatal do segmento externo do globo pálido
resulta na desinibição dos neurônios do núcleo subtalâmico. Estes neurônios são
ativados e excitam os neurônios do segmento interno palidal por liberação de
glutamato e, consequentemente, ativam as projeções inibitórias palidais que
atuam sobre os núcleos talâmicos VA e VL. Com isso ocorre redução da
atividade dos neurônios talâmicos assim como dos corticais.
As vias palidais direta e indireta possuem ações opostas: o aumento na
atividade de qualquer uma delas poderá ocasionar desequilíbrio no controle
motor. Tal desequilíbrio típico nas doenças dos núcleos da base pode alterar a
atividade da eferência motora do córtex (BERNE 2004).
Os pacientes distônicos podem ter percepção diminuída das descargas
aferentes Ia e, assim, passam a ocorrer informações inadequadas ou menos
intensas por essa via durante o movimento (GRÜNEWALD et al, 1997).
Chakarov et al, em 2006, investigaram os parâmetros da escrita de
indivíduos com câimbra do escrivão na ausência do controle visual. A realização
da tarefa experimental consistiu em escrever uma frase 50 vezes numa mesa
digitalizadora sensível à pressão e conectada a um computador. O grupo com
câimbra do escrivão desenvolveu típica postura distônica do membro superior,
aumentando a tensão muscular, sendo significativamente mais lento e com média
mais baixa da pressão vertical da caneta no papel, não conseguindo chegar à
letra terminal da frase no tempo estabelecido. Esses resultados mostraram que,
na ausência de feedback visual, os indivíduos com câimbra do escrivão o
tiveram seus níveis de automação alterados. Observou-se que tais parâmetros da
escrita eram similares aos dos indivíduos normais, exceto pela baixa pressão da
28
v
caneta, o que provavelmente se deveu à estratégia alterada nessas condições
experimentais.
Os neurônios sensitivos que conduzem impulsos a partir dos receptores
tendíneos e musculares interconectam-se com os núcleos dos neurônios motores
na medula, retransmitindo as informações pelo estímulo motor para o músculo.
No entanto, esse circuito não está restrito apenas a esse músculo, mas também
àqueles próximos e distantes. Por essa razão, o estiramento ou contração de um
músculo, além de afetar seus próprios neurônios motores mais intensamente,
compromete os neurônios motores de músculos que realizam uma ação
antagônica. O efeito sobre os músculos que irão realizar uma ação oposta será o
de inibir sua atividade, enquanto sobre aqueles que irão ajudar no movimento
será o de facilitar sua ação. Esse circuito segmentar, com nível medular,
responsável pela resposta imediata, é denominado circuito em “alça curta”.
Simultaneamente, tais sinais sensitivos são enviados aos centros superiores para
análise específica e elaborada da informação. Essas projeções ascendentes
partem de receptores periféricos encontrados tanto nos tendões, nas
articulações, nos músculos e na pele, assim como os receptores visuais,
auditivos e vestibulares, permitem a integração de informações entre o corpo e o
ambiente. Assim, com a recepção destas informações sensitivas, os sinais
motores suprassegmentares são enviados aos níveis segmentares para ajustar a
postura. Este circuito denomina-se “alça longa” (SMITH, 1997).
O sistema sensitivo-motor compreende os processos combinados
aferentes e eferentes necessários para produzir um movimento coordenado.
Centros no tronco cerebral são responsáveis pela integração de informação
sensitiva que vem dos receptores periféricos e são responsáveis pelo controle
automático da postura e da orientação espacial do corpo. Alguns desses
receptores sensitivos mais importantes para orientar a cabeça em relação ao
campo gravitacional são os órgãos receptores do equilíbrio e os receptores a
estiramento e articulares do pescoço que controlam a cabeça em relação ao
tronco. A informação sob a forma de padrões de impulsos nervosos oriunda
dessas fontes possibilita aos centros motores uma resposta reguladora contínua
para a manutenção de uma postura adequada (SMITH, 1997). Segundo Machado
29
v
(2005), a somatotopia é a correspondência entre determinadas áreas corticais e
certas partes corporais.
As áreas sensitivas primárias incluem a área somestésica, visual, auditiva,
vestibular, olfatória e gustativa. A área somestésica primária recebe radiações
talâmicas e trazem impulsos relacionados à temperatura, dor, tato e
propriocepção consciente da metade oposta do corpo. A extensão da
representação cortical de uma parte do corpo depende de sua importância
funcional no segmento corporal e não de seu tamanho (MACHADO, 2005).
O córtex sensitivo-motor primário contralateral é ativado com o
movimento voluntário; a área motora suplementar é ativada durante a execução
dos movimentos e está ligada à idealização destes; o córtex p-motor é ativado
por tarefas motoras que envolvem a geração de sequências da memória,
aprendizado motor e seleção de movimento. evidências de que tanto a área
motora suplementar quanto o córtex pré-motor possuem importante função na
geração de movimentos sequenciais no tempo exato (CATALAN et al, 1998).
Estudos sobre câimbra do escrivão que usaram tomografia por emissão de
pósitrons encontraram atividades aumentadas nos córtices sensitivos primários e
pré-motor esquerdos, tálamo esquerdo e cerebelo direito, ao correlacioná-los
com a duração da escrita. Durante a tarefa de escrever, os pacientes
desenvolveram distonia de leve a moderada avaliada pelo nível de dificuldade,
uma medida subjetiva de sua intensidade, que foi 4± 2.7 em uma escala de 0 a
10 (ODERGREN et al, 1998).
Por meio da imagem por ressonância magnética, pesquisadores
verificaram diminuição de volume no rtex sensitivo-motor esquerdo e na área
motora suplementar, o que implica em anormalidades tanto dos mecanismos
inibitórios quanto dos excitatórios nos córtices motores (OGA et al, 2002). Os
núcleos da base participam da transformação dos planos de movimento,
originados no córtex motor suplementar, em programas de movimento. Eles são
importantes na iniciação e execução de movimentos lentos, talvez por estarem
localizados próximo ao tálamo, centro de transmissão sensitiva importante
(SMITH, 1997). Dessa forma, por serem importantes na discriminação espacial
acurada relacionada aos estímulos sensitivos, podem estar envolvidos na origem
30
v
da distonia. Por essa hipótese, uma sobrecarga de estímulos repetitivos pode
alterar a organização das representações sensitivas corticais gerando uma
resposta motora exacerbada, traduzida por movimentos distônicos. A correção
dessas anormalidades sensitivas pode ter um efeito terapêutico valioso (BARA-
JIMENEZ, 2000).
Tamburin et al em 2002 realizaram estudo com objetivo de detectar as
anormalidades das interações sensitivo-motoras e suas repercussões
topográficas sobre os músculos da mão em pacientes distônicos. Esses autores
investigaram os efeitos da estimulação no segundo e quinto dedos da mão, pela
amplitude dos potenciais evocados motores, em resposta à estimulação
transcraniana elétrica e magnética. Encontraram efeitos da estimulação dos
dedos completamente distintos em dois distúrbios do movimento: na distonia
houve perda da somatotopia, com preservação do efeito inibitório e, na doença
de Parkinson, houve efeito excitatório, com preservação da somatotopia. Assim,
a hipótese de que a degradação somatotópica do córtex primário sensitivo na
distonia poderia refletir interações sensitivo-motoras e ocasionar ativação de
músculos não apropriados reflete achados eletromiográficos anormais
encontrados na contração dos músculos antagonistas. Estes podem indicar que
os mecanismos fisiologicamente limitantes dos sinais aferentes da excitabilidade
motora podem estar comprometidos na distonia, decorrente da organização
topográfica inadequada ao estímulo-resposta das interações sensitivo-motoras.
Muitos estudos eletrofisiológicos e de neuroimagem têm sido realizados
com o objetivo de elucidar a natureza do distúrbio, podendo estar envolvidos o
sistema motor e sensitivo, embora continue incerta a origem de tal distúrbio.
evidências recentes de que, embora considerado um distúrbio do movimento,
deve haver um processo sensitivo defeituoso com uma causa subjacente
(LERNER et al, 2004).
A distonia tanto pode ser um distúrbio da preparação do movimento,
como da integração sensitivo-motora. No primeiro caso, resulta de um distúrbio
funcional dos núcleos da base, particularmente no controle estriatal do globo
pálido, alterando o comando talâmico no planejamento motor e áreas motoras
corticais, além de alteração na regulação dos mecanismos neuronais inibitórios
31
v
no cérebro e na medula espinhal. No segundo caso, resulta da íntima conexão
das regiões comprometidas com as áreas somatossensitivas, visuais e auditivas,
indicando uma possível alteração no controle do estímulo proprioceptivo. Assim,
anormalidades nos estímulos aferentes periféricos ou no seu processamento
central podem interferir na programação motora e então gerar os movimentos
distônicos (BOGEY et al, 2004). Opinião semelhante têm Evers e Vollmer-Haase
(2003) de que a imbra do escrivão não é um distúrbio comum da inervação
dos músculos do antebraço, mas um distúrbio de conceitos complexos de
movimento mais provavelmente resultantes de uma disfunção dos núcleos da
base ou de outras estruturas centrais.
2.10 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MOVIMENTO HUMANO
Cabe aqui o conceito de movimento, ponto de partida para
compreendermos o processo de recuperação almejado quando se trata de
alguma alteração nele. O movimento consiste no deslocamento de um ou mais
segmentos corporais, gerados por forças musculares e não musculares. Segundo
Teixeira (2006), dois aspectos devem ser destacados: o primeiro relacionado à
análise comportamental, incluindo movimentos de pequena magnitude como o
tremor muscular e a oscilação do corpo na postura ereta e movimentos de grande
magnitude ou globais. O segundo relaciona-se à análise voluntária do
movimento, incluindo aqui a geração do mesmo por forças controladas pelo
indivíduo.
O movimento não pode ser realizado com eficácia a não ser que uma
postura apropriada para a ação seja assumida pela harmonia entre os esqueletos
apendicular e axial, resultando no movimento como um produto final
(TEIXEIRA,2006).
32
v
2.11 - RELAÇÃO ENTRE HABILIDADES MOTORAS E MOVIMENTO
A habilidade motora decorre da intenção original para produção de uma
sequência organizada e voluntária de movimentos, sem necessidade de um
padrão ou sequência pré-estabelecida ou determinada. Entretanto, pode existir
um padrão de movimento que varia de indivíduo para indivíduo e que comporta
variações nos movimentos específicos que o compõe. Assim, pode-se dizer que
habilidade motora equivale à ação motora ou ato motor. Isso não significa que
não se deva manter um padrão de movimento, desde que seu objetivo principal
seja identificar a ação desejada, caracterizando a forma de movimento, apesar da
variabilidade de execução que este padrão comporta (TEIXEIRA, 2006).
De fato, Stinear e Byblow em 2004 demonstraram que a distonia focal da
mão está associada a uma habilidade prejudicada em inibir respostas pré-
planejadas. Portanto, os pacientes apresentam processos inadequados de
parada motora quando comparados a grupos-controle. Uma interpretação desses
resultados é que o tempo médio gasto para que os processos inibitórios
encerrem sua atividade é significativamente maior para pacientes com distonia
focal da mão do que no grupo-controle. Essa demora pode resultar em que o
tempo seja insuficiente para os processos inibitórios atuarem completamente nos
processos excitatórios previamente à sua ativação no circuito espinhal do
neurônio motor. Isso pode contribuir para a baixa probabilidade de inibição da
resposta pré-planejada e para a alta probabilidade de respostas incompletas
observadas nas distonias focais da mão. Outra interpretação é que o tempo gasto
para os processos inibitórios chegarem à “linha final” é o mesmo para os dois
grupos de indivíduos, porém a inibição é significativamente menos eficiente em
indivíduos com a distonia.
Quando o indivíduo cria um padrão próprio de movimento para atingir um
determinado objetivo, tem-se uma nova habilidade motora. Esse conceito justifica
a compensação feita por indivíduos portadores de câimbra do escrivão ao serem
avaliados clinicamente. Segundo Marsden e Sheehy (1990), muitos pacientes
desenvolvem artifícios na tentativa de superar a dificuldade para a escrita no
33
v
papel, tais como mudar o modo de segurar a caneta, às vezes segurando
verticalmente entre o indicador e dedo médio ou com a mão fechada. A mão
oposta pode ser usada para estabilizar a mão comprometida e podem ser
tentadas canetas de calibre diferente. Fica claro que músculos diferentes são
recrutados para executar uma habilidade motora, neste caso o ato de escrever.
Além do aspecto volitivo e do padrão de movimento próprio, as habilidades
motoras podem ser aprendidas porque possuem duas origens, a filogenética e a
ontogenética. Aquela se relaciona à funcionalidade autônoma e inconsciente
entre estímulos ambientais e respostas motoras presentes desde o
desenvolvimento embrionário, que independem de prática para sua
manifestação e esta, ao contrário, tem relação com as habilidades motoras
adquiridas pelo indivíduo pelas experiências práticas em sua interação com o
ambiente. As habilidades motoras tanto podem ser fundamentais (ou básicas), ou
seja, podem surgir espontaneamente, quanto podem ser especializadas, ou seja,
podem ser dependentes de instrução por alguém que conheça sua forma de
execução, embora ambas necessitem de prática para aquisição inicial e posterior
refinamento de desempenho. Surge então o conceito de tarefa motora, indicando
uma tarefa mais específica. Um aspecto curioso nas distonias focais,
principalmente na câimbra do escrivão simples é o fato de o distúrbio ocorrer
apenas durante a escrita, caracterizando um distúrbio de tarefa específica
(TEIXEIRA, 2006).
Existem quatro critérios bastante utilizados a fim de classificar as
habilidades motoras e agrupá-las em função de uma característica em comum:
1. Identificabilidade dos pontos de início e fim dos movimentos: As
habilidades motoras podem ser subdivididas em cíclicas, discretas ou
seriadas. No primeiro grupo, as habilidades são caracterizadas por uma
seqüência de movimentos repetidos ciclicamente pelo executante e que, por
isso, possuem tempo de duração relativamente longo (de segundos a
horas), como por exemplo, andar, correr, pedalar e nadar; as habilidades
discretas se caracterizam pelo fato de que seus pontos de início e fim na
execução dos movimentos estão bem definidos (arremessar, chutar, saltar e
rebater);nas seriadas a combinação de duas ou mais habilidades
34
v
motoras, sejam elas cíclicas ou discretas, como por exemplo, saltar e
arremessar, correr e driblar.
2. Grupos musculares empregados: As habilidades motoras podem
ser distinguidas em finas e globais (grosseiras). Nas primeiras existe o potencial
de produção de movimentos precisos, com uso de pequenos músculos, exigindo
maior controle individual de cada um. Nas habilidades grosseiras, a produção é
realizada por músculos maiores, com baixo nível de precisão. No entanto, a
distinção entre as habilidades motoras não pode ser julgada através da análise
fragmentada da ação motora e sim por uma análise ampla da mesma. Segundo
Teixeira (2006), entre os dois tipos de habilidade uma característica mista que
deve ser avaliada em função da predominância muscular. Assim, os movimentos
manuais em um jogo de basquete poderiam ser considerados globais, enquanto
pintar um quadro poderiam ser considerados finos, apesar do suporte postural
em ambos ser promovido por grupos musculares da cintura escapular. Acerca
desse critério, cabe uma observação interessante em relação ao que ocorre com
os indivíduos portadores de CE. Um dado marcante utilizado, inclusive para fins
diagnósticos, é a solicitação aos pacientes para que eles escrevam com giz em
um quadro negro e com uma caneta em um papel sobre a mesa. Na primeira
situação, não se observa nenhuma alteração, ao contrário da segunda, em que o
comprometimento motor torna-se evidente. Gowers, em 1893, (APUD MARSDEN
& SHEEHY, 1990) observou que um paciente com câimbra do escrivão
conseguia pintar sem nenhuma dificuldade. Marsden e Sheehy, em 1990,
observaram o oposto: um artista que não podia pintar, mas conseguia escrever.
Esses relatos reforçam o critério de distinção das habilidades motoras em uma
ação específica. Tas et al (2001) argumentaram a eficácia reduzida da terapia
farmacológica e iniciaram a fisioterapia em pacientes com CE que se queixavam
principalmente de incapacidade devido à perda funcional. Após enfatizar que a
opção de um acessório para escrever seria viável, uma órtese de mão foi
confeccionada individualmente e utilizada por pequeno período de tempo,
conseguindo melhorar a habilidade de escrever sem desconforto. Os autores
evidenciaram que o uso de órteses previne o aparecimento da distonia pelo
35
v
mecanismo de substituição da ação dos músculos distais que apresentam co-
contração pelos músculos proximais (do ombro) não afetados.
3. Uso de feedback (retroalimentação) : Feedback é a informação
produzida pela resposta recebida durante ou após a execução do movimento,
sendo usada para monitorar resposta para ações corretivas (O’Sullivan,
Schmitz,2004). É uma informação que indica ao indivíduo a presença de erros
em seu próprio desempenho (Teixeira, 2006). A classificação de habilidades
motoras em função desse critério se baseia no fato de que o processamento de
feedback leva tempo. A precisão máxima está diretamente relacionada ao tempo
disponível para execução da ação, pois haverá tempo suficiente para detecção
de erros e tomada de decisão sobre a correção mais apropriada, organização dos
movimentos corretivos e, por fim, a tradução de todo esse processo em
movimento. Feedforward (alimentação antecipada) é o envio de sinais antes da
execução do movimento a fim de colocar o sistema sensitivo-motor em prontidão,
permitindo ajustes antecipados na atividade postural (Teixeira, 2006). Esse
mecanismo pode ser observado durante a tarefa para relaxar o músculo extensor
radial do carpo sem a contração simultânea de músculos antagonistas,
principalmente o flexor ulnar do carpo (OGA et al, 2002).
4. Estabilidade ambiental: Esse critério o se baseia na ação motora,
mas na mudança de eventos críticos no ambiente em que a ão é executada.
Por exemplo, numa tarefa de agarrar uma bola em movimento, os movimentos de
alcançar e fazer a preensão devem ser efetuados em função da direção e da
velocidade de aproximação do agarrador, para que os movimentos sejam
ajustados no espaço e no tempo.
A prática e o feedback são aspectos importantes no aprendizado motor e
no desenvolvimento das habilidades motoras. As informações sensitivas sobre o
movimento são usadas para direcionar e modelar o desenvolvimento de um
programa motor (TEIXEIRA, 2006). De acordo com o mesmo autor, o programa
motor é uma representação abstrata que, quando iniciada, resulta na produção
de uma seqüência de movimentos coordenados. Plano motor é a idéia ou um
plano para realização de um movimento proposital, constituído por um conjunto
de programas motores.
36
v
A tarefa de coordenação num ato motor requer que segmentos corporais
sejam controlados de forma integrada, com o objetivo de produzir um
determinado padrão de movimento. As estruturas de coordenação motora são
unidades funcionalmente específicas de músculos e articulações compelidas pelo
sistema nervoso central a atuar cooperativamente para produzir uma ação. As
contrações involuntárias podem aparecer em repouso ou durante a realização de
uma ação específica, como na CE, assim como em ambas as situações. Durante
um ato motor pode existir um recrutamento excessivo de músculos proximais ou
posturais, inclusive músculos distantes. Isso é o que se denomina “fenômeno de
overflow, que perturba o movimento desejado (IBÃNEZ et al, 1999).
A câimbra do escrivão pode ser causada, em parte, por uma disfunção
nos circuitos sensitivos, ocasionando uma integração sensitivo-motora
defeituosa, e, consequentmente, uma co-contração dos sculos e o fenômeno
de overflow (LERNER et al, 2004). Estudo de Catalan et al em 1998 teve como
desiderato determinar as regiões cerebrais ativadas por movimentos simples
repetitivos e sequenciais dos dedos por meio do estudo de fluxo sanguíneo
cerebral, utilizando tomografia por emissão de pósitrons. A sequência curta foi
constituída somente de movimentos repetitivos de flexão do indicador direito
contra o polegar direito. Essa sequência foi considerada como “movimento
simples”. As sequências longas foram constituídas de variações do toque do
polegar com os outros dedos. Conforme aumentava o comprimento da
sequência, houve aumento da ativação no rtex pré-motor ipsilateral, rtex
bilateral posterior e parietal superior a ainda o vermis cerebelar.
2.12 - CONTROLE MOTOR
Processamento de informação pode ser definido como o conjunto de
atividades neurais distribuídas por diferentes funções destinadas à manipulação
de informação do meio ambiente e da memória. Pode-se dividir em três níveis o
processamento de informação necessário para o controle motor. O primeiro é o
nível pré-atencional, restrito às funções sensorial e perceptiva mais elementar.
Os receptores sensoriais são continuamente estimulados por sinais originados no
37
v
ambiente externo e do próprio organismo do indivíduo, sendo uma função
automática e não volitiva. O segundo é o nível atencional, em que essas
informações do ambiente são analisadas pelos centros superiores de controle da
ação com base em informações previamente armazenadas na memória. Aqui a
atenção exerce papel fundamental, pois facom que o indivíduo selecione as
fontes sensoriais para a ação ser executada. É nesse nível que se determina o
início, as características espaciais, o ritmo de execução, de interrupção ou de
modificações das ações motoras em curso.
Os movimentos podem ser realizados lentamente, sendo a atenção
requerida para que tal sequência esteja correta, o que se torna um contra-
argumento do automatismo motor. Apesar de poucos erros no desempenho
motor, o aumento deles, acompanhado do aumento no comprimento da
sequência de movimentos, sustenta que a complexidade da tarefa aumenta
proporcionalmente ao tamanho da sequência (CATALAN et al, 1998). Deve-se
lembrar que, no uso de feedback, a precisão máxima de uma ação está
diretamente relacionada ao tempo disponível para sua execução. Embora
dependa da atenção, o terceiro nível não tem acesso consciente direto. Qualquer
que seja o controle de um ato motor consiste na regulação simultânea dos
músculos que desempenham funções distintas em uma tarefa. É o que acontece,
por exemplo, na escrita, uma tarefa a princípio simples, que requer do restante do
sistema a manutenção de uma postura estável para que os movimentos manuais
sejam feitos precisamente.
De forma geral, pode-se dizer que a capacidade de atenção estabelece os
limites da quantidade de informação que pode ser manipulada conscientemente
no sistema nervoso central.
2.13 - MODIFICAÇÕES PROPRIOCEPTIVAS E POSTURAIS
A propriocepção, do latim próprio, de si mesmo, e ceptive, receber, se
torna mais complexa, pois se refere ao uso dos estímulos sensitivos oriundos dos
receptores sensitivos para discriminar a posição articular e o movimento articular,
incluindo direção, amplitude e velocidade, além da tensão tendínea. Os
38
v
receptores vestibulares podem ser incluídos no sistema proprioceptivo, pois
fornecem conhecimento consciente da orientação e movimento da cabeça. Os
sinais proprioceptivos transmitidos pelas fibras aferentes Ia são integrados em
centros sensitivo-motores para regular a contração dos músculos posturais
(SMITH, 1997). Acredita-se que os indivíduos com distonia focal tenham
desequilíbrio da integração sensitivo-motora por alteração na atividade da via
aferente Ia (BARA-JIMENEZ, 2000).
Xia e Bush (2007) observaram que os padrões alterados de modulação
reflexa na câimbra do escrivão podem refletir deficiências da integração dos
estímulos aferentes proprioceptivos e inibição reduzida nas áreas cortical e
espinhal durante a escrita, ou seja, esses padrões podem ser atribuíveis a
deficiências de vários aspectos e em diferentes níveis do sistema sensitivo-motor.
A expressão sentido de posição refere-se ao conhecimento da posição
estática do corpo no espaço, sendo que o termo cinestesia, do grego kinen,
mover e aisthesis, percepção, referem-se ao conhecimento do movimento
dinâmico articular. Os sinais cinestésicos são gerados nos receptores sensitivos
e transmitidos pelas fibras aferentes IIa até a medula, cerebelo e núcleos
sensitivos em resposta aos movimentos do corpo e à tensão nos tendões
(SMITH, 1997).
Postura é um termo geral que significa uma posição ou atitude de um
corpo; a disposição relativa das partes do corpo para uma atividade específica ou
uma maneira característica de sustentá-lo. Também pode ser definida como a
variação angular que os segmentos corporais guardam entre si a fim de manter o
menor gasto energético possível, além de expressar uma atitude psíquica. Logo,
postura e movimento estão inter-relacionados, pois um movimento pode começar
em uma postura e terminar em outra. Assim, pode-se dizer que controle motor
refere-se à regulação da postura e movimento (SMITH, 1997). As relações
posturais alteradas podem ser controladas cognitiva e voluntariamente e exigem
concentração. A mudança de posturas anormais se torna difícil, visto que exige
criteriosa avaliação e tratamento, podendo incluir como objetivo o aumento da
amplitude de movimento, a estabilidade, a força muscular e a resistência, assim
como conscientização do corpo e orientações. O corpo pode assumir várias
39
v
posturas que são confortáveis por longos períodos, todas com a mesma
finalidade. Quando ocorre desconforto pela compressão articular, tensão
ligamentar, contração muscular contínua ou oclusão circulatória, uma nova
postura é procurada para que não ocorra nenhum dano tecidual. As estruturas
responsáveis pelo controle da postura e movimento são os centros motores
localizados em diversas regiões do cérebro, que podem funcionar
apropriadamente se estímulos contínuos a respeito do estado do ambiente forem
ofertados (SMITH, 1997).
2.14 - FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia exata da distonia focal permanece desconhecida.
Hipóteses correntes sugerem que o distúrbio se desenvolve por predisposição
genética combinada com fatores ambientais como o uso repetitivo das mãos. O
consenso geral é que há mecanismos inibitórios anormais, plasticidade anormal e
desarranjo do processamento sensitivo-motor (LIN et al, 2006).
As distonias localizadas ou de extensão limitada podem ser expressão
menor de predisposição genética. Por outro lado, o caráter extremamente eletivo
de certas distonias leva a questionar os distúrbios de inervação, que podem
resultar na aquisição de atividades motoras muito complexas: distúrbio entre a
postura e ação com comprometimento eventual dos dois hemisférios,
prejudicando os dispositivos estabilizadores do movimento: os núcleos cinzentos
centrais e o cerebelo (CAMBIER, 1999).
2.14.1 - Genética
Conquanto muitos casos de distonia sejam esporádicos, a história familiar
positiva está presente em 5 a 20% dos casos. A imbra do escrivão tem sido
encontrada em algumas famílias com distonia de torsão primária, incluindo o
gene DYT7 para distonia focal simples e os genes DYT1, DYT6 e DYT13, para
distonia mista (BHIDAYSIRI et al, 2005). O distúrbio DYT1 é causado pela
deleção em três pares no gene TORIA. A anormalidade genética é comumente
encontrada em judeus Askenasi, tendo sido observada em outras populações
40
v
(BOGEY et al, 2004; FAHN et al, 2005). Os achados genéticos da doença de
Segawa ou distonia com flutuação diurna sensível a levodopa se devem a uma
alteração na guanosina-trifosfato-ciclohidrolase que intervem como co-fator na
síntese de dopamina (ARTIEDA et al, 2001).
2.14.2 - Integração Sensitiva
Em 1999, Candia et al, (APUD ARTIEDA et al, 2001) estabeleceram que a
distonia ocupacional em membro superior se induzia mediante alterações no
córtex cerebral sensitivo, devido à estimulação sensitiva repetitiva. Oposto a isto,
a imobilização de um membro em indivíduos não distônicos causava redução na
representação cortical do membro imobilizado. Desse modo, a imobilização dos
dedos poderia diminuir a distonia focal nesses e também melhorar
consideravelmente o rendimento motor. Recentemente, novo estudo, feito com o
objetivo de determinar se a imobilização do antebraço e da mão por quatro a
cinco semanas poderia ser efetiva no tratamento de pacientes com distonia focal,
evidenciou resultados similares (CHANÁ-CUEVAS et al, 2003). A disfunção do
circuito córtico-estriado-tálamo-cortical tem grande importância na fisiopatologia
das distonias, sendo que nas formas generalizadas deve haver um envolvimento
cortical bilateralmente (FRASSON et al, 2001).
Alguns autores demonstraram que há, nas distonias da mão, um defeito na
integração sensitivo-motora, processo pelo qual a informação sensitiva é usada
para o controle e execução de um movimento voluntário, d os pacientes
apresentarem uma alteração na grafestesia, na discriminação espaço-temporal e
no processamento temporal dos estímulos tátil e til-visual (Berardelli, A, 2006;
Sanger et al, 2001; Fiorio et al, 2006).
Murase et al, em 2000, utilizaram a atenuação dos potenciais evocados
somato-sensitivos antes e durante movimentos da mão em pacientes com
câimbra do escrivão. Este trabalho indicou que em tal distúrbio, a sensibilidade
dos pontos sensitivos aferentes da mão está identificada erradamente pelo
41
v
comando central para o movimento. Talvez por isso, o gesto antagonista, por
fornecer estímulo adicional não presente durante o movimento livre, seja uma
manobra corretiva do desequilíbrio. A distonia pode resultar não somente de
anormalidades do comando central, como também de um processamento central
perturbado do estímulo sensitivo. Os autores verificaram que a atenuação antes
do movimento está alterada e que durante o mesmo ela está normal. Pode ser
que, mudando o estímulo sensitivo, tal como ocorre com o gesto antagonista,
ocorra melhora na seleção dos comandos para o movimento. O experimento
levou à conclusão de que a distonia não é somente um fenômeno puramente
motor, mas também um distúrbio da integração sensitivo-motora. O efeito do
estímulo muscular aferente antes e durante o movimento deve ser considerado
tendo como objetivo elucidar as possíveis anormalidades dos mecanismos
subjacentes ao relaxamento muscular voluntário durante preparação e execução
motora em pacientes com câimbra do escrivão.
Utilizando ressonância magnética funcional, o estudo consistiu na
realização de duas tarefas motoras: de relaxamento e contração. Na primeira, os
pacientes deveriam segurar a articulação do punho direito num plano horizontal,
mantendo a contração moderada dos músculos extensores na fase pré-
movimento e posteriormente relaxar voluntariamente esses músculos durante
cada ensaio. Durante a contração, deveriam estender o punho, partindo da
posição inicial da tarefa anterior. A neuroimagem mostrou diminuição da
ativação no córtex sensitivo motor esquerdo e na área motora suplementar em
ambas as tarefas, indicando a hipótese de que o desequilíbrio dos mecanismos
excitatórios e inibitórios para controle do movimento pode ser uma causa da
distonia (OGA et al, 2002). O estímulo sensitivo anormal pode desencadear a
distonia e/ou a resposta cerebral motora a esse estímulo é que pode estar
anormal na distonia focal (MOLLOY et al, 2003).
Quartarone et al em 2006 questionaram se patologias do sistema nervoso
podem levar a uma plasticidade anormal e escolheram a distonia focal da mão.
Os mecanismos de plasticidade neural estão sutilmente anormais nesses
pacientes, o que leva a associações inapropriadas entre estímulo sensitivo e
resposta motora e ao surgimento característico de um distúrbio do movimento.
42
v
No entanto, isso não significa que a desorganização cortical causa a distonia ou,
ao contrário, se os movimentos anormais pela distonia levam àquela
desorganização.
2.14.3 - Mecanismo de Inibição
A característica mais marcante observada na distonia focal é a perda de
inibição (HALLET, 2005; RICHARDSON et al, 2009).
O mecanismo responsável pela inibição recíproca entre músculos
agonistas e antagonistas depende da atividade de fusos musculares aferentes do
músculo agonista que disparam tão logo ele se contraia devido à co-ativação alfa
e gama. Essa descarga fusal do músculo agonista ativa interneurônios inibitórios
relacionados às vias aferentes Ia na medula espinhal, reduzindo a atividade dos
antagonistas por meio das eferências no corno anterior da medula. A
excitabilidade de ais neurônios inibitórios é controlada pelas vias rtico-
espinhais descendentes. A inibição recíproca pode ser testada pela avaliação do
reflexo de Hoffman, podendo ser evidenciado por um pequeno estímulo elétrico
no nervo mediano no cotovelo, utilizando-se eletrodos de superfície sobre os
músculos flexores relaxados do antebraço (MARSDEN & SHEEHY, 1990).
Frasson et al (2001) especularam que um envolvimento preferencial na
estimulação dos fusos musculares e menor atividade dos estímulos cutâneos. Os
autores sugerem que a inibição anormal em pacientes distônicos não está
somente restrita ao córtex cerebral, mas que ocorre também na medula espinhal
e que aquela e esta não estão inter-relacionadas. Essa hipótese ocorreu por meio
da análise dos potenciais evocados somato-sensitivos nos quais a supressão de
seus componentes estava mais lenta pela estimulação sensitiva simultânea, ou
seja, menos potenciais evocados inibidos nesses indivíduos. Na câimbra do
escrivão ocorre desequilíbrio na regulação da sequência temporal das fases do
movimento preciso de garra das mãos, causada por redução na entrada dos
sinais sensitivos que alteram a modulação da força de preensão, provocando um
43
v
movimento exagerado. Isso pode explicar os déficits na cinestesia, na grafestesia
e na estereognosia (FRASSON et al, 2001).
Rosenkranz et al (2005) examinaram padrões da organização sensitivo-
motora no córtex cerebral e encontraram falta de modulação sensitiva da
excitabilidade motora em pacientes com câimbra do escrivão, sugerindo que o
estímulo sensitivo da mão desempenha diferentes funções, provocando
mudanças patológicas. Esses autores, em 2007, investigaram se períodos
atencionais e não atencionais durante 15 minutos de treinamento
comportamental proprioceptivo poderiam promover a reorganização das
conexões sensitivo-motoras em sicos profissionais saudáveis, em pacientes
com distonia do músico e naqueles com câimbra do escrivão para verificar se
esses pacientes possuem a capacidade de adaptar suas conexões sensitivas, um
importante pré-requisito para a aplicação dessas intervenções na reabilitação da
distonia focal da mão.
Os resultados mostraram que aqueles com CE estavam mais prejudicados
em sua habilidade para discriminar as frequências vibratórias do que os
pacientes com distonia do músico, embora ambos tivessem dificuldades
semelhantes na diferenciação da vibração para discriminar o estímulo cutâneo
(ROSENKRANZ et al, 2007). Isso levou à constatação de que a fisiopatologia
difere nos grupos estudados, sendo que o desempenho dos pacientes com
câimbra do escrivão foi inferior ao daqueles que não apresentavam essa distonia.
2.15 - ASPECTOS ANATÔMICOS
Leijnse (2007) ressalta a intrigante questão pela qual ainda não está
esclarecido por que alguns indivíduos desenvolvem queixas e outros não. A
mobilidade articular e o tamanho da mão têm sido considerados como fatores
predisponentes. O autor cita quatro exemplos de como as conexões
intertendíneas podem aumentar a carga muscular:
1. Sobrecarga muscular como resultado da tensão (estiramento) das
conexões intertendíneas Movimentos que provocam estiramento, sendo
duas forças reconhecidas: a força requerida para executar o movimento
44
v
com tendões não conectados e, a força necessária para tensionar as
conexões. As forças de estiramento são provenientes dos músculos
antagonistas e servem para equilibrar a ação dos agonistas. Assim, os
músculos da mão com diferentes conexões intertendíneas podem ser
diferentemente tensionados em tarefas similares sem serem observáveis.
Como fator causal da distonia focal, isso satisfaz dois fatores clínicos: o da
focalidade, relacionado à ação dos antagonistas e o da individualidade,
relacionado à anatomia da cada indivíduo.
2. Sobrecarga muscular na frouxidão ligamentar Implica no uso muscular
ineficiente. aumento considerável de energia desprendida pelos
músculos intrínsecos (interósseos e lumbricais), resultando na limitação de
amplitude dos músculos extrínsecos da mão.
3. co ativação É a transferência de uma fração constante da força de
ativação de um músculo a outro. O excesso de carga está com os
antagonistas do músculo motor coativado e o agonista precisa então
contrabalançar a coativação.
4. Sobrecarga muscular devido a movimentos compensatórios Limitações
na atividade da mão podem exigir ações articulares compensatórias do
punho, cotovelo e ombro, que aumentam a carga de músculos, geralmente
associados à postura.
Currá et al (2004) compararam a cinemática de movimentos de oposição
individuais e não individuais dos dedos repetidamente. Durante as tarefas,
indivíduos normais e indivíduos com distonia focal da mão conseguiram flexões
dos dedos mais rápidas do que extensões, no entanto os indivíduos
comprometidos eram mais lentos e demoravam mais tempo do que o grupo
controle (indivíduos normais).Durante movimentos individuais, os indivíduos
comprometidos eram proporcionalmente mais lentos durante a extensão e
pararam antes de completá-la. Estes achados indicam que a distonia prejudica
mais os movimentos individuais dos dedos do que os não individuais, sugerindo
que um nível anormal de ativação cortical esteja presente, sendo um alto nível de
atividade requisitada para conduzir esses movimentos individualizados.
45
v
Observou-se, nesse caso, que a cinemática anormal era mais significativa
durante o movimento de extensão, demonstrando que a ativação dos músculos
extensores requer maior atividade cerebral do que os músculos flexores. Assim,
conclui-se que o mecanismo de co-contração deve afetar mais a extensão do que
a flexão devido ao hipofuncionamento do córtex motor primário durante o
movimento na distonia.
Delmaire et al, em 2005, utilizaram imagem por ressonância magnética
funcional a fim de examinar a organização putaminal e explorar a seletividade da
representação somatotópica neuronal no estriado de 14 pacientes com distonia
no braço direito do tipo tarefa-específica. Os pacientes realizaram flexão e
extensão dos dedos das mãos e dos pés direito e esquerdo, além de contração
dos lábios. Com base na literatura, os autores verificaram que ocorre redução da
seletividade e separação funcional dentro do córtex sensitivo primário e nos
núcleos da base e então indagaram se a desorganização neuronal observada na
distonia focal primária é consequência dos movimentos distônicos anormais ou
se é, vastamente, uma alteração na diferenciação primária dos neurônios. Os
resultados então mostraram que, comparados aos indivíduos saudáveis, os
indivíduos com distonia têm alteração da organização do putâmem esquerdo,
contralateral à mão comprometida. A intensidade do distúrbio foi correlacionada à
subativação e diminuição da distância entre as representações da o direita e
lábio. A conclusão foi a de que, na distonia, pode haver uma alteração na
diferenciação dos mapas sensitivo-motor normalmente separados no putâmen, o
que pode contribuir para a perda da seletividade funcional da atividade muscular
observada nesses indivíduos distônicos.
Murase et al, em 2005, verificaram que a melhora clínica por meio da
inibição funcional usando estimulação magnética transcraniana repetitiva indica
que a hipersensibilidade do córtex pré-motor está direta ou indiretamente
envolvida na fisiopatologia da câimbra do escrivão ou distonia da mão. É possível
que o córtex pré-motor seja responsável pela excitabilidade anormal do córtex
motor na distonia e que esse sublimiar de estimulação possa ativar os neurônios
inibitórios ou até mesmo reforçar as conexões sinápticas inibitórias no córtex
motor.
46
v
2.16 - ASPECTOS CLÍNICOS DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
Embora o movimento distônico se desenvolva lentamente, pode
exacerbar-se sob a forma de espasmos repetitivos quase clônicos e não ocorrer
durante o sono. No estado de vigília, pode surgir de modo repentino por ocasião
de movimentos voluntários (distonia de ação) ou de manutenção de atitude
(distonia de atitude). A distonia de ação depende de uma atividade muito
específica como escrever, tocar um instrumento musical e por vezes mastigar ou
falar (PRIORI et al, 2001)
As contrações musculares podem ser dolorosas com perda do controle da
caneta, associando-se à contorção do punho ou do cotovelo e, ocasionalmente,
do ombro (PRIORI et al, 2001).
Ao se observar esse distúrbio, nota-se que a mão assume uma posição
de semiflexão, com possível hiperextensão dos dedos e hiperflexão ou extensão
do punho e supinação ou pronação do antebraço. À medida que esforços
continuados são necessários para escrever, a mão pode comprimir a caneta e
destruir a folha de papel, principalmente com a utilização de caneta tinteiro. Pode
ocorrer tremor associado à fadiga muscular e dor. Complicações articulares ou
mesmo dano ao nervo mediano, como síndrome do túnel do carpo, podem
ocorrer devido a espasmos distônicos repetitivos nos músculos flexores do punho
(GORDON, 2005). Apesar dessas alterações, os indivíduos com esse tipo de
distonia focal apresentam o exame neurológico normal quando realizam
atividades funcionais, devendo-se estar atento ao modo como se iniciam os
movimentos anormais em uma tarefa específica, o que é primordial para o
diagnóstico correto (BYL et al, 2003).
O estresse diário de atividades repetitivas, rotineiras e necessárias para
um bom desempenho técnico pode ser prejudicial ao organismo, podendo esse
efeito cumulativo de atividades sobre o tecido muscular exceder, eventualmente,
o limiar de tolerância anátomo-fisiológica das estruturas e produzir
incapacidades. Embora a Câimbra do Escrivão e a do Músico estejam sempre
47
v
associadas a movimentos de repetição e excesso de uso, não existe evidência
determinada para a relação causal (PRIORI et al, 2001).
De início geralmente insidioso, a câimbra do escrivão manifesta-se como
sensação de rigidez ou desconforto no membro superior ao desempenhar
atividades específicas. Após algum tempo, normalmente meses ou anos, as
posturas anormais tornam-se aparentes. Alguns pacientes apresentam
progressão da distonia presente em atividade até aquela que persiste ao
repouso. As distonias focais da mão permanecem focais e limitadas ao braço
inicialmente acometido e, ao se propagarem, normalmente acometem os
músculos mais proximais ou o braço oposto (KARP, 2004).
O espasmo muscular surge imediatamente após o início da escrita ou
alguns instantes após escrever algumas palavras. A caneta presa com força
excessiva começa a deslizar entre o polegar e dedo indicador. A mão pronada, o
desvio ulnar do punho e a elevação do cotovelo e por vezes do polegar, com o
indicador flexionado podem surgir no momento de segurar a caneta. Menos
comumente, esses mesmos dedos, separadamente ou associados, estendem-se
para manter a caneta elevada, a qual pode cair do mecanismo de pinça. Podem
ocorrer distúrbios no controle motor como repentinos puxões da mão e do braço
provocando golpes não propositais (HALLET, 2005). A par dessa postura
contorcida, e do excesso de contração muscular, a distonia focal da mão se
caracteriza também pela lentidão e pela perda de movimento normal (KARP,
2004). Os músculos flexores são mais comumente afetados do que os
extensores, mas ambos podem ser envolvidos em alguma combinação.
O padrão da distonia é único para cada indivíduo (KARP, 2004). Metade
dos indivíduos apresenta algum tipo de tremor, que é mais frequente no lado
distônico (SANGER et al, 2002). Queixa de fadiga durante a tentativa de escrever
é comum, aumentando a intensidade à medida que o indivíduo tenta continuar
sua atividade. Após algumas letras ou palavras, necessidade de parar de
escrever para descansar antes de recomeçar. Esse processo trabalhoso destrói a
fluência da escrita, que é gradativamente diminuída. Curiosamente, tal distúrbio
não afeta a habilidade para taquigrafia, sendo encontrados indivíduos que
apresentam dificuldade para a escrita por extenso e que, curiosamente, não
48
v
demonstram qualquer tipo de dificuldade na taquigrafia (MARSDEN & SHEEHY,
1990).
Geralmente ocorre desenvolvimento de compensações motoras na
tentativa de resolver esses problemas, como mudar a forma de segurar a caneta,
às vezes na vertical entre o dedo indicador, terceiro e quarto dedos ou até
mesmo com a mão fechada. A mão oposta pode ser usada para fixar o membro
em ação. A utilização de canetas com diferentes calibres e, por vezes mais
grossas, parece promover maior estabilidade e segurança. Alguns são incapazes
de escrever com caneta, porém o capazes de escrever com giz no quadro
negro. Isso ocorre porque diferentes músculos da mão e ombro são empregados
para execução final do movimento (MARSDEN & SHEEHY, 1990). A realização
da escrita com o membro não-dominante é utilizada por um terço desses
indivíduos, levando cerca de seis meses para adquirir uma escrita legível e
razoavelmente rápida (RHOAD & STERN, 1993). Estudo identificou sincinesias
em indivíduos que escrevem com o membro não-dominante. Tal estudo
constatou que esse membro, embora permanecesse em repouso, passou a
apresentar movimentos involuntários não percebidos pelo próprio paciente.
Dessa forma, tais movimentos espelhados estão relacionados a anormalidades
funcionais que parecem envolver o córtex motor primário e suplementar em
pacientes com câimbra do escrivão, sendo consequência da inibição cortical
anormal, ocasionando seletividade diminuída dos padrões musculares para
tarefas manuais que exijam alto controle motor (movimentos finos)(JEDYNAK et
al, 2001).
Bara-Jimenez et al (2000) concluíram que os indivíduos distônicos
possuem habilidade diminuída para discriminar estímulos intensamente
relacionados à localização espacial e com grandes erros de localização.
Conquanto não seja habitualmente relatada como queixa principal, quando
presente, a dor é dominante, aparecendo imediatamente após o início da escrita
e sendo percebida como difusa por toda a mão, braço e ombro assim como
localizada em punho e antebraço. Verificou-se que a dor era independente da
habilidade para a escrita, mas pacientes com escrita legível e boa relataram dor
intensa e vice-versa, a intensidade da dor apresentou relação significativa com os
49
v
resultados da avaliação de desvantagem ou incapacidade. A maioria classificava
essa condição como grande desvantagem. Embora os pacientes fossem capazes
de continuar sua vida e ocupação, a distonia interferiu no trabalho em cerca de
10% (JEDYNAK et al, 2001).
A despeito dessas dificuldades, pelo menos metade dos pacientes
continua a usar a mão dominante para objetivos limitados. (MARSDEN &
SHEEHY, 1990).
A escrita de pacientes com câimbra do escrivão difere numa variedade de
aspectos daquela de escreventes normais, porque frequentemente apresenta
variações no manuscrito, modo de segurar a caneta, postura e movimentos ao
escrever. Os pacientes com tal distúrbio sofrem com os espasmos musculares e
o desempenho da escrita é alterado em relação à velocidade, fluência do
movimento e legibilidade do manuscrito resultante. Para muitos indivíduos
comprometidos, este distúrbio representa um obstáculo na vida diária (BAUR,
2006).
2.17 - DIAGNÓSTICO DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
2.17.1 - Clínico
A padronização dos critérios para o diagnóstico clínico de cada tipo de
distonia entre os neurologistas de distintas instituições deve ser o passo
preliminar para se obter um consenso satisfatório no diagnóstico da distonia focal
primária, em diferentes partes corporais. O entendimento do diagnóstico clínico é
de extrema importância nesse distúrbio relativamente raro, principalmente
quando se realizam estudos interinstitucionais nos quais se necessita de um
diagnóstico padrão. A confiabilidade do diagnóstico é expressiva nos casos em
que os pacientes são avaliados por especialistas em distúrbios do movimento
(LOGROSCINO et al, 2003).
50
v
2.17.2 - Tomografia por Emissão de Pósitrons
A dificuldade para os estudos de imagem na câimbra do escrivão torna
difícil avaliar a área primariamente comprometida. A ativação da área sensitiva
primária foi o achado mais consistente no estudo de Lerner et al (2004) indicando
o córtex sensitivo e o processamento da informação sensitiva como a provável
alteração primária, sendo que as mudanças na função de outras estruturas
decorrentes da ativação alterada dessas áreas podem ser secundárias.
Siebner et al, em 2003, utilizaram tomografia por emissão de pósitrons
para examinar o padrão e o período de alterações produzidas por 1 Hz de
estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS) sobre o córtex p-motor
dorsal em indivíduos sadios e em pacientes com distonia focal primária. O fluxo
sanguíneo cerebral regional foi medido como um marcador da atividade sináptica
ao repouso e durante a realização de movimento dos dedos selecionados livre e
aleatoriamente. Em ambos os grupos, a rTMS causou diminuição difundida
bilateralmente na atividade neuronal nos córtex pré-motor, pré-frontal, motor
primário e no putâmen esquerdo. Inversamente, o fluxo sanguíneo no cerebelo
aumentou. Os efeitos foram equivalentes ao estado de repouso e ao movimento,
indicando que o padrão de ativação relacionado ao movimento não foi alterado,
porém os efeitos foram maiores nos pacientes com distonia. Essa responsividade
aumentada revela uma peculiaridade fisiológica que caracteriza a distonia focal.
2.17.3 - Eletromiografia
Xia e Bush, em 2007, utilizaram a eletromiografia para verificar os padrões
de modulação reflexa que estavam alterados na câimbra do escrivão. Isso pode
refletir as deficiências de integração dos impulsos aferentes proprioceptivos, além
dos níveis de inibição cortical e espinhal reduzidos.
51
v
2.17.4 - Potencial Evocado Somato-Sensitivo
Os potencias evocados somato-sensitivos constituem outro método para
estudar o papel das aferências sensitivas na distonia (O’SULLIVAN, 2004).Eles
oferecem a oportunidade de avaliar a atividade neural do corno posterior da
medula espinhal, assim como a coluna dorsal-lemnisco medial da via lemniscal. A
atividade neuronal inibitória e excitatória da medula e do cérebro a nível cortical
do sistema somato-sensitivo pode ser avaliada pela cnica dos potenciais
evocados por meio de estímulo periférico simultâneo (FRASSON et al, 2001).
2.17.5 - RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL
Analisando-se por meio da ressonância magnética, a atividade do córtex
motor primário por estimulação tátil simultânea dos dedos indicador e médio à
resposta da estimulação individual de cada dedo, com finalidade de estudar o
processamento anormal dos estímulos sensitivos simultâneos em adultos com
câimbra do escrivão, evidenciou-se interação não proporcional entre a resposta
sensitiva cortical e a estimulação individual dos dedos, o que pode contribuir para
as anormalidades motoras (SANGER et al, 2002).
2.17.6 - Genético
Somente o gene DYT-1 foi identificado em relação às distonias primárias.
O teste diagnóstico em conjunto com o aconselhamento genético é recomendado
para pessoas com distonia primária com idade inferior a 30 anos. No entanto, não
é recomendado para indivíduos assintomáticos, mesmo que possuam parentes
com o distúrbio. A presença de teste positivo para o gene o é suficiente para o
diagnóstico, a menos que fatores clínicos demonstrem a distonia (ALBANESE et
al, 2006).
52
v
2.18 - TRATAMENTO
O tratamento da distonia focal parece desafiador, sendo que recentemente
programas terapêuticos inovadores vêm enfatizando os princípios da
neuroplasticidade com uma proposta promissora. Comportamentos sensitivos e
motores repetidos, direcionados de forma objetiva e que sejam agradáveis,
podem levar a mudanças na função e na estrutura neural, ainda que essa
adaptação o seja infinita. Se os comportamentos se tornarem estereotipados e
muito próximos, o cérebro pode não ser capaz de distingui-los precisamente.
Estudo realizado em primatas submetidos a movimentos diários, com alta
repetição, estereotipados e simultâneos mostrou perda da habilidade de realizar
tarefas específicas (BOGEY et al, 2004).
2.18.1 - Farmacológico
A utilização de fármacos, embora não seja um tratamento específico,
repercute na sintomatologia, ocasionando pouca resposta terapêutica.
Ultimamente tem-se procurado, por meio do bloqueio químico da ação da
acetilcolina na placa mioneural pela toxina botulínica, melhorar essa resposta
terapêutica. Os resultados têm sido pouco expressivos em decorrência da
necessidade periódica de reaplicação da droga, dos efeitos colaterais ou mesmo
devido à formação de anticorpos.
As opções farmacológicas possíveis são as medicações orais, como os
anticolinérgicos e agonistas gaba, além dos injetáveis, como a toxina botulínica
ou a infusão intratecal com baclofen (BALASH & GILADI, 2004).
O tratamento da CE é basicamente sintomático e não existem informações
satisfatórias baseadas em evidências sobre a eficácia de diferentes métodos de
opções terapêuticas farmacológicas como nas distonias de uma maneira geral.
Esse tipo de distonia focal é a mais resistente ao tratamento farmacológico. Os
agentes anticolinérgicos, conquanto apresentem efeitos adversos, o
empregados no tratamento de tal distúrbio e utilizados em baixas doses. Outros
medicamentos, como os agonistas GABA, baclofen, clonazepam,
53
v
anticonvulsivantes, benzodiazepínicos ou até mesmo os neurolépticos atípicos
também podem fazer parte do arsenal terapêutico (BOGEY et al, 2004).
As drogas anticolinérgicas, que são administradas oralmente, bloqueiam a
ação da acetilcolina nos receptores muscarínicos centrais e são normalmente
usadas em distonias focais, segmentares e generalizadas podendo alcançar
efeitos clínicos mais satisfatórios se o tratamento começar em até cinco anos
após o início dos sintomas (BALASH & GILADI, 2004).
A introdução da toxina botulínica inicialmente trouxe grandes expectativas
para o tratamento da distonia focal. A duração do efeito do tratamento é de três a
quatro meses (BOGEY et al, 2004).
Apesar dos resultados obtidos, convém ressaltar que a toxina botulínica
pode causar apreensão por promover fraqueza muscular, prejudicando a
atividade profissional (EVERS & VOLLMER-HAASE, 2003).
No Brasil, o uso da toxina botulínica recebe respaldo no artigo 1º da
Portaria Nº 1.014, de 20 de dezembro de 2002, Secretaria de Assistência a
Saúde, Ministério da Saúde.
2.18.2 Estimulação Magnética Transcraniana
A estimulação magnética cortical repetitiva (rTMS) a frequências baixas
tende a normalizar as alterações da inibição intracortical e os sintomas em
pacientes com câimbra do escrivão (ARTIEDA et al, 2001)
A utilização da rTMS sobre o córtex pré-motor diminuiu a pressão da
caneta nos pacientes com câimbra do escrivão. Concluiu-se que o efeito inibitório
no córtex-motor induzido pela estimulação transcraniana sobre o córtex pré-motor
modula a excitabilidade naquele, provendo uma estratégia terapêutica para
pacientes com câimbra do escrivão (MURASE et al 2005; RICHARDSON et al,
2009).
54
v
2.18.3 - Estimulação Cerebral Profunda
Goto et al, 2008, documentaram que a estimulação cerebral palidal
profunda produziu melhora completa e mantida da distonia focal da mão, sendo
uma potente opção cirúrgica para todos os tipos de distonia focal tarefa-
específica. Fukaya et al (2007) utilizaram a estimulação cerebral talâmica em
pacientes com câimbra do escrivão, observando melhora dos sintomas distônicos
(FUKAYA et al, 2007).
2.18.4 - Fisioterapêutico
Modalidades fisioterápicas, como as técnicas de relaxamento, o
alongamento e os exercícios de condicionamento, além de recursos
eletroterápicos podem atuar conjuntamente com a terapia medicamentosa (TAS
et al, 2001).
Pohl et al em 2002 verificaram que o resfriamento dos músculos da mão e
do antebraço em razão de sua imersão em água fria a 15º C por 5 minutos
diminuía o tempo da escrita e melhorava a habilidade dela. Esse efeito foi
específico que o aquecimento piorou a habilidade da escrita em pacientes e o
resfriamento a deteriorou no grupo controle. Entretanto, não se pôde comprovar
se houve realmente a diminuição da temperatura muscular e a redução da
atividade dos fusos musculares. Explicações alternativas para tal efeito benéfico
foram consideradas como, por exemplo, a de que o feedback sensitivo alterado
dos receptores cutâneos ser suficiente para melhorar a escrita nos casos de
câimbra do escrivão. A esse respeito, os artifícios sensitivos, (sensory tricks), tais
como o uso de luvas na câimbra do músico ou o gesto antagonista no torcicolo
espasmódico, são conhecidos por melhorar os sintomas distônicos.
Tinazzi et al, em 2005, realizaram um estudo randomizado, placebo-
controlado, com cinco pacientes em cada grupo, sendo que no experimental a
intervenção se deu pela eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS) nos
músculos flexores do antebraço. Os resultados indicaram melhora dos sintomas
distônicos por cerca de três semanas. Os autores observaram previamente que
55
v
30 minutos de TENS à alta freqüência nos músculos flexores do antebraço
provocaram diminuição da excitabilidade acima dos músculos estimulados e
aumento dela nos músculos antagonistas com duração aproximada de 40
minutos. Tem sido sugerido que a eletroestimulação nervosa transcutânea pode
remodular as relações inibitórias e excitatórias entre músculos agonistas e
antagonistas pela da ativação de fibras aferentes de grande diâmetro,
melhorando, assim, a co-contração de músculos agonistas e antagonistas.
2.18.5 - Cirúrgico
Nos casos em que os sintomas são refratários aos tratamentos
conservadores, a talamotomia estreotáxica do núcleo ventral oral pode ser uma
opção segura para a câimbra do escrivão (TAIRA et al, 2003).
2.18.6 Outras Alternativas
O primeiro passo na terapêutica não-medicamentosa para recuperação
funcional dos indivíduos com câimbra do escrivão seria alterar a maneira de
segurar a caneta: os pacientes deveriam ser orientados a segurar a caneta de
forma individualizada. Caneta com diâmetro adequado para cada indivíduo
deveria ser testada. Outra cnica seria o uso de um artifício para escrever, no
qual a caneta pudesse deslizar num plano ou ficar apoiada em um triplo suporte e
controlada pelos músculos do antebraço e ombro (RHOAD & STERN, 1993). Tas
et al (2001), avaliando a eficácia reduzida da terapia farmacológica, iniciaram o
tratamento fisioterápico em pacientes que se queixavam inicialmente de
incapacidade devido à perda funcional. Depois de esses pacientes serem
informados acerca da opção do acessório para escrever, uma órtese de mão foi
confeccionada de forma individualizada e, apesar da utilização por pouco tempo,
eles conseguiram escrever sem desconforto. O uso da órtese parece prevenir o
aparecimento da câimbra pelo mecanismo de substituir a ação dos músculos
distais que apresentam cocontração pelos músculos proximais (do ombro) não
afetados. O uso de órteses ao repouso pode ser útil como auxílio quando
56
v
tensão significativa nos sculos da mão e antebraço. Seu uso deve suportar o
arco metacarpal e ocasionalmente o punho. Em particular, a órtese metacarpal é
usada frequentemente para suportar o lado ulnar do arco, deixando punho e
dedos livres. Outras órteses pequenas podem ser feitas para casos específicos,
como para corrigir a hiperflexão das articulações interfalangeanas distais
(CHAMAGNE, 2003).
Candia et al (2002) hipotetizaram que uma intervenção comportamental
focalizada no movimento ajudaria a reduzir ou eliminar o distúrbio cortical e a
incoordenação involuntária do movimento, visto que aparentemente os
mecanismos comportamentais são a base destas condições. Esse tratamento,
denominado “Reajustamento sensitivo-motor” (Sensory Motor Retuning),
indiscutivelmente uma terapia inovadora para distonia focal da mão em músicos,
consiste em uma órtese imobilizar um ou mais dedos enquanto os outros
permaneciam livres. O dedo imobilizado realizava exercícios repetitivos em
coordenação com um ou mais dos outros dedos por 60 a 180 minutos diários,
durante oito dias consecutivos, sob supervisão de um terapeuta. Os indivíduos
foram instruídos a continuar a prática durante uma hora diária por um ano.
Subjetivamente o tratamento produziu melhora significativa a longo-prazo na
coordenação digital e esses resultados foram claramente superiores aos efeitos
obtidos por terapias prévias com drogas anticolinérgicas ou aplicações locais de
toxina botulínica tipo A.
Esses mesmos autores, em 2003, investigaram se o tratamento
desenvolvido no ano anterior poderia induzir a alterações na organização do
córtex somato-sensitivo graças ao mapeamento da organização cerebral pela
magnetoencefalografia, verificando que a organização anormal do hemisfério
contralateral à mão distônica foi significativamente alterada em direção à
representação normal. No hemisfério ipsilateral, considerado como controle, não
se observaram evidências para as alterações mediadas pelo treinamento.
Chamagne (2003), cujo programa visava à prevenção, desenvolveu estudo
baseado na reabilitação de músicos comprometidos por distonias focais.
Destacou pontos essenciais como estratégia para o programa de reabilitação,
analisando as questões psicológicas, a morfologia e as compensações habituais
57
v
da prática profissional. Considerou ainda o exame neurológico e funcional como
parte importante para a obtenção dos resultados desejáveis e a credibilidade do
tratamento que depende de bom esclarecimento dos problemas funcionais, assim
como a cumplicidade e a confiança entre o terapeuta e o paciente. Sabendo-se
que aspectos anatômicos são importantes para a avaliação do comportamento
físico, deve-se estar atento às alterações anatômicas ou morfológicas
desfavoráveis para exercer a atividade profissional a que se propõe. Fatores
anatômicos, como a frouxidão ligamentar das articulações dos dedos, podem
representar algumas causas de fracasso. Esses indivíduos necessitam de reforço
muscular adicional para estabilizar a articulação. Caso possuam alguma
instabilidade articular, serão obrigados a modificar o ângulo articular para
compensar o desvio, mesmo que de forma inconsciente, possibilitando o
aparecimento de espasmo, dor, estresse e sobrecarga articular. A reabilitação
engloba o indivíduo como um todo: mental e fisicamente, não se podendo
separar os aspectos físicos dos psicológicos que devem ser assistidos juntos.
Baseando-se no conceito moderno de que a reabilitação objetiva
restabelecer a postura fisiológica que suporte aos gestos naturais, Chamagne
(2003) dividiu o seu programa em quatro partes: inicialmente os pacientes eram
orientados a identificar e demonstrar a postura em frente a um espelho, o que
permitiu reconhecimento do problema e sua correção. Na primeira parte, a
psicologia foi importante na relação com o trabalho físico pelo diálogo para a
obtenção do resultado esperado, isto é, uma aprendizagem de elementos
proprioceptivos que consiste em se tornar consciente do esquema corporal,
essencial para a manutenção de uma postura de pé, equilibrada pelo menor
gasto energético. A segunda parte consistia na reeducação da própria postura e
esquemas gestuais. A terceira baseava-se em exercícios musculares
desenvolvendo os agonistas e os antagonistas e o alongamento de outros
músculos, visando ao combate às deformidades ocasionadas pela distonia. Na
última parte havia retorno às suas atividades profissionais.
O aprendizado da leitura em Braille como um treinamento sensitivo
ocasionou melhora da acuidade espacial e da distonia em pacientes com câimbra
do escrivão, conforme demonstrara Zeuner et al, 2003. Esses mesmos autores,
58
v
em 2004, estabeleceram um programa de treinamento motor para câimbra do
escrivão com a finalidade de melhorar a distonia em razão da redução do
sinergismo anormal (“fenômeno de overflow”) dos dedos não envolvidos na tarefa
e reverter as alterações organizacionais no córtex motor. Os pacientes eram
instruídos durante quatro semanas de treinamento da seguinte forma: o punho e
os dedos eram imobilizados, de acordo com o padrão distônico, com uma órtese
plástica (de flexão ou extensão). O treino consistia em realizar movimentos
circulares nos sentidos horário e anti-horário, fazer a letra L e M em um pedaço
de papel, com um dedo de cada vez, enquanto os outros dedos permaneciam
imobilizados. A órtese de punho permitia 20º de extensão e o cotovelo e o
antebraço permaneciam apoiados em um livro ou almofada para a liberação do
movimento do dedo treinado. Os indivíduos também eram instruídos a encontrar
a posição mais confortável, a fim de prevenir a cocontração o máximo possível,
assim como mudar a posição ou interromper imediatamente quando
percebessem a postura distônica. Durante a primeira semana, eles conseguiram
realizar vinte e cinco minutos por dia, cinco minutos cada dedo; nas três semanas
seguintes, 50 minutos por dia, 10 minutos em cada dedo. Todos os participantes
foram orientados para a realização dos exercícios em casa evidenciando a
prática constante.
Schenk et al, em 2004, usaram uma mesa digitalizadora para mensurar os
movimentos da escrita de pacientes com CE antes e após um treinamento
comportamental. As variáveis dependentes ou parâmetros cinemáticos foram:
número de letras produzidas em 10 segundos, pico médio de velocidade e
número médio de inversões na velocidade de produção de um único segmento
linear de cada letra. As indicações precisas da melhora da fluência da escrita
foram os valores significantemente baixos do último parâmetro encontrados após
o treinamento. O percentual de melhora para cada parâmetro foi,
respectivamente, 30%,44% e 72%, o que indica que a maioria dos pacientes foi
capaz de melhorar a fluência da escrita; entretanto, somente um terço conseguiu
produzir mais letras por tempo estimado após o treinamento do que
anteriormente Em análise posterior verificou-se que esses efeitos são estáveis e
continuam presentes por meses ou até anos após o término do treinamento. Os
59
v
autores acreditaram que esses ganhos foram conseqüentes à prática extensiva,
em domicílio, das tarefas do treinamento da escrita. Entretanto, consideraram
frustrante o fato do treinamento não trazer o nível de desempenho normal da
escrita anterior ao distúrbio, alegando que o tempo de treinamento foi curto, pois
sabidamente o aprendizado e o reaprendizado de habilidades motoras requerem
práticas extensas. Assim, é mais que provável que um treinamento e períodos de
prática mais longa possam ocasionar melhores resultados.
Estudo de Baur et al, em 2006, com participação de Schenk et al, cujo
objetivo foi elucidar os efeitos imediatos da modificação da forma de segurar a
caneta nas características da escrita em pacientes com câimbra do escrivão.
Observou-se que era necessário maior tempo para completar uma sentença
padrão utilizada como protocolo de avaliação e menor fluência do movimento
nesses pacientes com câimbra do escrivão em relação ao grupo-controle.
Verificou-se que a pressão para escrever estava substancialmente aumentada
nos pacientes e quando a modificação da postura da escrita foi posta em prática,
esta, para ambos os grupos, foi reduzida, enquanto a legibilidade do manuscrito
permaneceu inalterada.
A alteração na forma de escrever não parece ocasionar grandes
diferenças nas características espaciais ou cinemáticas do manuscrito. Assim,
concluíram que a intervenção tem efeito imediato, não requer prática, não
compromete as características individuais e nem a legibilidade da escrita, sendo
que a redução da pressão ocasiona diminuição da dor, sintoma comum nesses
pacientes, embora não ocorra melhora significativa na velocidade da escrita e
fluência do movimento.
Zeuner et al, em 2008, reuniram em um só estudo a imobilização, o
treinamento da escrita e o uso de massa terapêutica com o objetivo de exercitar
os movimentos dos dedos da mão para facilitar a escrita. Os autores observaram
que houve resultados satisfatórios nas três condutas e que a melhora da distonia
não precisa estar necessariamente ligada ao treinamento da principal atividade
comprometida.
60
v
III - MATERIAL E MÉTODOS
Para descrição do método de coleta de evidências foi realizada busca
computadorizada (on-line) nos bancos de dados MEDLINE e EMBASE (1966 a
2009) foi conduzida usando combinações de palavras de texto e termos [MeSH]
“focal hand dystonia”, “writer’s cramp”, “focal dystonia”,” rehabilitation” , “physical
therapy”. Foram selecionados os artigos em inglês e espanhol, com restrição dos
demais idiomas.
Este capítulo tem por finalidade apresentar a amostra populacional
estudada com os critérios de inclusão e exclusão, os instrumentos de avaliação,
os procedimentos e os instrumentos de avaliação funcional fisioterápica para que
se possa iniciar o programa de recuperação motora pré-estabelecido.
3. 1 - POPULAÇÃO E AMOSTRA
De um grupo de vinte indivíduos com diagnóstico de câimbra do escrivão,
foram selecionados, por conveniência, treze voluntários para esta pesquisa.
Destes, um abandonou o programa ainda na primeira fase, por problemas
particulares, permanecendo doze participantes, que terminaram o tratamento,
sendo sete homens e cinco mulheres, com idade entre 24 e 76 anos, todos
apresentando comprometimento da escrita entre 2 e 38 anos. Dos participantes,
onze eram destros. Todos os pacientes haviam sido anteriormente submetidos
a alguma forma de tratamento (medicação oral, toxina botulínica ou fisioterapia)
com pouca resposta terapêutica. A amostra foi atendida no HUPE/UERJ e
obedeceu aos critérios de inclusão e exclusão. Os doze pacientes seguiram toda
a sequência do estudo, inclusive após o término do tratamento.
61
v
3.2 - CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Diagnóstico de câimbra do escrivão realizado por neurologista
especialista em distúrbios do movimento;
Disponibilidade em participar do programa de recuperação motora
da escrita;
Assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
3.3 - CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Distonia secundária;
Distonia multifocal e/ou generalizada;
Tratamento com toxina botulínica nos seis meses anteriores ao
início do programa;
Comprometimento osteomioarticular no membro superior
comprometido pela distonia;
Distúrbio psíquico que pudesse influenciar no desenvolvimento do
programa.
3.4 - COMITÊ DE ÉTICA
A realização de um programa de reabilitação motora específico é
adequada para a câimbra do escrivão, visto ser uma terapia sem contra-
indicações ou fatores de risco, englobando no tratamento o indivíduo como um
todo e atuando sobre as alterações motoras encontradas, influenciando o
desempenho físico e psíquico.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Pedro
Ernesto (UERJ) sob o parecer 1710 CEP de 22 de março de 2007 (anexo I) e
iniciado após concordância do participante com assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido (ANEXO II).
62
v
3.5 - INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
Anamnese (ANEXO III)
Avaliação Funcional da Câimbra do Escrivão (ANEXO IV)
Protocolo de JEDYNAK e cols. (ANEXO V)
Escala Analógica de Dor (ANEXO VI)
Escala de BURKE-FAHN-MARDSEN ( ANEXO VII)
Filmadora marca CCD-TRV 108 NTSC (Sony)
3.6 - PROCEDIMENTOS
Os pacientes encaminhados para o estudo foram avaliados por um
neurologista especialista em distúrbios do movimento sendo inclusos no
programa desde que tivessem o diagnóstico clínico de câimbra do escrivão e não
apresentassem outras alterações neurológicas associadas. Após a leitura e
assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, seguiu-se a análise
detalhada da escrita e do desenho por meio de protocolos padronizados para a
avaliação do comprometimento funcional decorrente da câimbra do escrivão.
Foram documentadas as alterações observadas na escrita através de filmagem
individual utilizando-se uma filmadora CCD-TRV 108 - Sony, mantendo-se
preservada a fisionomia do paciente. Esse procedimento tornou-se importante
para registrar este distúrbio referente ao movimento manual durante a escrita e
suas características, servindo como registro para análise comparativa dos
resultados obtidos antes e após a realização do programa (ANEXO VIII).
Após os procedimentos preliminares de seleção, iniciou-se o programa
que foi dividido em duas fases: conscientização motora corporal (CMC) e
treinamento motor com imobilização (TMI), com duração de quatro semanas cada
uma, sendo realizado duas vezes por semana, durante 60 minutos, totalizando
oito semanas.
63
v
Como parte do tratamento na residência, o paciente realizava o mesmo
tipo de atividade diariamente por 30 minutos. Antecedendo ao programa de
reabilitação, em fase pré-tratamento, foram aplicadas as escalas de avaliação
mencionadas no item III.5 para analisar e pontuar comprometimentos
encontrados em cada participante. As pontuações encontradas foram registradas
para posterior comparação com os resultados finais. Após esta etapa iniciou-se o
programa propriamente dito, através da CMC. Essa fase baseou-se em princípios
da reabilitação para distonia focal de Chamagne (2003) e Byl et al, 2003,
segundo a qual uma avaliação criteriosa é parte importante na obtenção de
resultados almejados e credibilidade para o tratamento, que depende de bom
esclarecimento das alterações funcionais, assim como cumplicidade e confiança
entre terapeuta e paciente.
A reabilitação baseia-se na reeducação física do esquema corporal nesse
tipo de distonia e é essencial, desde o início, que o paciente entenda e seja
capaz de reconhecer a origem do problema e que o terapeuta seja capaz de
identificar as compensações biomecânicas que camuflam a real disfunção motora
através de avaliações específicas do ato de escrever.
Com a identificação das alterações, iniciaram-se exercícios específicos
nas estruturas comprometidas. Procurou-se na cintura escapular melhorar a
estabilidade e conseguir maior amplitude de movimento da articulação gleno-
umeral, pois, sem suporte e posicionamento apropriado nesse segmento, o
controle dos movimentos finos da mão torna-se ineficiente. Foram realizados
exercícios para as articulações de cotovelo, punho e dedos da mão dentro de
suas amplitudes de movimento normais, para que o paciente reconhecesse as
alterações posturais e buscasse a postura corporal, principalmente da mão,
adotada antes do aparecimento da câimbra do escrivão. A mobilidade de punho e
dedos por meio de exercícios teve o objetivo de normalizar o deslizamento do
antebraço durante a escrita, mecanismo que nesses pacientes está dificultado,
causando lentidão da escrita e pressão do punho no papel. Exercícios como
desenhar círculos no papel mantendo o antebraço elevado (sem o apoio do
cotovelo) com a caneta entre dedos polegar e indicador para sustentação e
fortalecimento de ombro e o mesmo movimento com cotovelo apoiado somente
64
v
com movimento em punho foram feitos com objetivo de diferenciar o movimento
de punho e de ombro. A importância desse treinamento foi tornar o paciente apto
a reconhecer por que a escrita no papel é diferente da escrita no quadro-negro.
Quando tiveram a escrita avaliada neste meio, os mesmos observaram que era
normal e o questionamento foi evidente.
Durante os exercícios, o paciente era orientado a tornar-se consciente da
pressão nos dedos, da presença de tensão muscular e da relação de cada
segmento corporal com outro e sua relação com o espaço. Essa reeducação da
própria postura e esquemas gestuais com base nos estudos de Chamagne et al
2003; Byl et al, 2003, referente ao conceito moderno de que a reabilitação,
objetiva restabelecer a postura fisiológica que suporte aos gestos naturais,
sendo o último passo o retorno às atividades normais.
Esses exercícios foram realizados após 20 minutos iniciais de
relaxamento e alongamento em um colchonete ao som de músicas instrumentais
relaxantes em ambiente silencioso e refrigerado. Após os exercícios, jogos
lúdicos foram usados para treinamento da atenção e coordenação motora, tais
como dominó, damas, xadrez, jogo-da-velha, resta-um, caça-palavras, palavras-
cruzadas, argolas de mesa, retirar e colocar palitos de fósforo na caixa e passar
cadarço de tênis em placas perfuradas de madeira.
Na segunda fase do estudo, o paciente retorna às atividades da escrita
com supervisão, ou seja, inicia-se a TMI, com a utilização de órteses específicas
(anel em oito, North Coast
R
) numeradas de acordo com o diâmetro do dedo da
mão que apresentasse a distonia. Estes procedimentos foram realizados pela
terapeuta/ pesquisadora em ambiente tranqüilo, refrigerado e com músicas
instrumentais relaxantes. Essa fase foi baseada em princípios para imobilização
de dedos da o e punho no lado distônico por meio da escolha da órtese e
determinação do tempo de treinamento (Priori et al, 2001; Zeuner et al, 2004), na
qual um ou mais dedos foram imobilizados dependendo do padrão distônico
encontrado (órteses para impedir a flexão ou extensão dos dedos) por quatro
semanas, sendo realizados exercícios individualmente com movimentos
circulares nos sentido horário e anti-horário sobre uma superfície plana (mesa). A
esse treinamento associaram-se exercícios padronizados para a escrita com o
65
v
uso das órteses durante as atividades de treinamento como cobrir desenhos,
palavras, letras e números pontilhados, copiar parágrafos de textos e copiar
manchetes de jornal em folhas brancas com a largura das linhas já definidas.
Antes da execução deste treinamento da escrita, os pacientes puderam
livremente optar entre canetas mais finas tipo “Bic”
R
e outras mais grossas, com
ou sem borracha, ou ainda lápis, para que fosse mantida uma forma confortável e
mais funcional possível. Para alguns exercícios foram utilizados lápis de cor ou
canetas tipo hidrocor (Faber-Castell). Todos os pacientes foram recomendados a
executar, diariamente, as mesmas atividades durante trinta minutos em suas
residências, como parte do programa de habilidades manuais e exercícios da
escrita.
Terminado esse período de TMI, cada participante foi submetido aos
mesmos protocolos de avaliação aplicados inicialmente para avaliação da
atividade motora e realizada nova filmagem com fins comparativos, conforme
observado no ANEXO VIII. Seguiu-se ao tratamento o acompanhamento, a cada
dois meses, com as avaliações e informações escritas de cada um, quanto à
evolução funcional diária da escrita.
3.7 - ANÁLISE DE DADOS
Esse estudo obedeceu a condições básicas de tratamento estatístico para
manutenção da cientificidade da pesquisa. Para descrição dos dados coletados
foram utilizadas medidas de localização e dispersão. A primeira serve para
caracterizar a amostra com apresentação dos desvios médios (média e
mediana). As medidas de dispersão estimam as variabilidades existentes
utilizando-se o coeficiente de variação e o desvio padrão.
Os resultados encontrados na Escala de Incapacidade para Distonia em
Membro Superior de cada participante foram correlacionados àqueles
encontrados no número de palavras escritas / minuto, velocidade da escrita,
número de paradas durante a escrita, tempo de parada, duração do tempo de
parada, sobreposição da letra, dor na mão ou antebraço durante a escrita e
depois foram analisados.
66
v
As imagens videográficas realizadas durante o estudo foram analisadas
em seus aspectos grafotécnicos realizando-se a avaliação morfofuncional da
escrita, da velocidade de realização da atividade com a marcação do tempo, da
pressão exercida sobre o papel durante a escrita e da postura corporal ao realizar
o ato de escrever. As imagens de vídeo em seus aspectos funcionais corporais
quanto à atividade motora para realização da escrita foram observadas e
descritas ao início e ao fim da pesquisa de forma qualitativa comparando-se os
dados destas observações entre si.
Após a crítica interna e externa dos dados os mesmos foram
categorizados e tabulados de acordo com as variáveis clínicas do estudo,
valendo-se de tabelas descritivas e diagramas em caixa (box-plot) para a sua
apresentação.
Tendo em vista que as variáveis de estudo são, em sua totalidade,
classificadas como nominais ou ordinais, não admitindo escala de razão ou
continuidade dos valores no vel de medida assumido, optou-se por verificar a
existência de diferenças entre as variáveis que compuseram as escalas de
avaliação funcional para escrita, por meio de testes não paramétricos.
A comparação dos parâmetros objetivos e subjetivos entre os momentos
pré e pós-tratamento foi realizada por meio do Teste de Wilcoxon. O nível de
significância estatística escolhido foi de p< 0,05.
IV - RESULTADOS
Descrição da amostra
A amostra do estudo foi constituída por 12 sujeitos voluntários, com idade
média de 52,17 ± 16,07 anos (sete homens e cinco mulheres), sendo 11 destros
e 1 sinistro.
Na tabela 1 abaixo, são apresentadas a média da idade, do tempo de
comprometimento, da atividade diária da escrita e a história familiar dos
participantes.
67
v
TABELA 1: Características da amostra em relação à idade, tempo de
acometimento, atividade diária de escrita e história familiar na câimbra do
escrivão (n=12)
Média da idade
de diagnóstico (anos)
Tempo médio de
acometimento (anos)
Tempo médio diário
de escrita ( minutos)
História familiar
41,83 ± 13,44
10,83 ±10,33 *
181,67 ± 92,43
16,67%
* Esta grande dispersão no tempo médio de acometimento deve-se ao fato
de um participante apresentar 38 anos de comprometimento, um tanto distante
dos demais (mínimo =2 anos; máximo = 38 anos).
Na tabela 2 são apresentadas as profissões dos participantes, seguindo-se
na tabela 3 as características clínicas gerais da distonia da amostra estudada.
TABELA 2 : Relação das profissões dos participantes do estudo
PROFISSÃO
Vendedor
1
Advogado
1
Contador
2
Assistente administrativo
1
Programador de computador
2
Professor primário
1
Engenheiro
2
Sapateiro
1
Aeroviário
1
TOTAL
12
68
v
TABELA 3: Características Clínicas Gerais da Distonia
Tipos de
Distonia
Sincinesias
Gesto
antagonista
Escrita com a
Mão não
Dominante
FREQUENCIA
S P D
SIM NÃO
SIM NÃO
SIM NÃO
ABSOLUTA
7 5 0
3 9
6 6
6 6
RELATIVA
58% 42% 0%
25% 75%
50% 50%
50% 50%
S =Simples;
P= Progressiva;
D= Distônica.
Na tabela 4 e no gráfico 1 encontram-se os resultados obtidos pela análise das
características da escrita p e pós-tratamento, utilizando-se as por meio das
Escalas de Burke Fahn-Marsden( BFM) e Avaliação da escrita de Jedynak.
TABELA 4: Análise descritiva do comprometimento funcional por meio das
Escalas de BFM e Avaliação da escrita de Jedynak pré e pós-tratamento
(n=12)
Momentos
N
Média
S
Min
Max
Percentis
P25
Md
P75
FPFS
pré
12
4,00
2,00
1
6
2,00
4,00
6,00
pós
12
2,08
1,83
0
6
1,00
1,50
3,75
IE
pré
12
2,67
0,49
2
3
2,00
3,00
3,00
pós
12
1,67
0,49
1
2
1,00
2,00
2,00
LE
pré
12
3,50
0,80
2
4
3,00
4,00
4,00
pós
12
2,33
0,89
1
3
1,25
3,00
3,00
QD
pré
12
2,00
0,95
0
3
1,25
2,00
3,00
pós
12
1,17
0,84
0
3
1,00
1,00
1,75
FPFS: Fator de provocação X Fator de severidade.
IE: Incapacidade da escrita
LE: Legibilidade da escrita
QD: Qualidade do desenho
Fonte: A autora.
69
v
GRÁFICO 1: Análise gráfica das medidas descritivas das Escalas de BFM e
da Avaliação da Escrita de Jedynak (n=12)
FPFS: Fator de provocação X Fator de severidade.
IE: Incapacidade da escrita
LE: Legibilidade da escrita
QD: Qualidade do desenho
Fonte: A autora.
Ao se avaliar estatisticamente os aspectos funcionais por meio do teste de
Wilcoxon encontraram-se diferenças significativas entre os momentos pré e pós-
tratamento para todas as variáveis da Escala de BFM: Fator de Provocação X
Fator de Severidade (FPFS s < FPFS pré; Z
1;0,05
= -2,714; p=0,007) e
Incapacidade da Escrita (IS pós < IS pré; Z
1;0,05
= -3,207; p=0,001); bem como
para a Escala de Avaliação da Escrita de Jedynak: Legibilidade da Escrita (LE
pós < LE pré; Z
1;0,05
= -3,276; p=0,001) e Qualidade do Desenho (QD pós < QD
pré; Z
1;0,05
= -2,486; p=0,013) conforme descrito na tabela 5 a seguir.
70
v
TABELA 5: Avaliação dos resultados obtidos pelas Escalas de BFM e de
Avaliação da Escrita de Jedynak pré e s-tratamento por meio do teste de
Wilcoxon (n=12)
Variáveis
Z
a
p
FPFS pós FPFS pré
-2,714
0,007*
IE pós IE pré
-3,207
0,001*
LE pós LE pré
-3,276
0,001*
QD pós QD pré
-2,486
0,013*
a
Valor da estatística Z para 1 grau de liberdade e α < 0,05 estabelecido a priori.
* Estatisticamente diferentes ao nível p < 0,05
FPFS: Fator de provocação X Fator de severidade.
IE: Incapacidade da escrita
LE: Legibilidade da escrita
QD: Qualidade do desenho
Fonte: a autora.
A avaliação da dor muscular apresentada à escrita através da escala analógica
de dor pré e pós-tratamento encontra-se descrita na tabela 6 e gráfico 2
TABELA 6: Resultados obtidos na avaliação da dor por área corporal
examinada utilizando-se a Escala Analógica de Dor
Momentos
N
Média
S
Min
Max
Percentis
P25
Md
P75
Dedo da Mão
P
12
3,17
3,13
0
8
0,00
2,50
6,50
pós
12
1,50
2,84
0
9
0,00
0,00
2,50
Região Tenar
P
12
3,92
4,56
0
10
0,00
1,00
8,75
pós
12
1,92
3,40
0
9
0,00
0,00
4,00
Hipotenar
P
12
0,67
1,50
0
5
0,00
0,00
0,75
pós
12
0,17
0,58
0
2
0,00
0,00
0,00
Punho
P
12
3,25
3,42
0
8
0,00
2,50
6,75
pós
12
0,92
1,93
0
5
0,00
0,00
0,75
Antebraço
P
12
4,58
4,17
0
10
0,00
4,50
9,00
pós
12
1,83
2,44
0
6
0,00
0,00
4,75
Braço
P
12
2,75
3,25
0
9
0,00
1,50
4,75
pós
12
1,33
2,84
0
9
0,00
0,00
1,50
Ombro
P
12
1,75
3,36
0
9
0,00
0,00
3,00
pós
12
0,58
1,51
0
5
0,00
0,00
0,00
71
v
GRÁFICO 2: Análise gráfica das medidas descritivas encontradas na
avaliação da dor por área corporal, utilizando-se a Escala Analógica de Dor
Com relação a Escala Analógica de Dor, o teste de Wilcoxon denotou
haver diferenças significativas entre os momentos pré e s-tratamento para as
variáveis Punho (Punho pós < Punho pré; Z
1;0,05
= -2,371; p=0,018), Antebraço
(Antebraço s < Antebraço pré; Z
1;0,05
= -2,527; p=0,012) e Braço (Braço pós <
Braço pré; Z
1;0,05
= -2,032; p=0,042) e Dedos da Mão Dedos da Mão pós < Dedos
da Mão pré; Z
1;0,05
= -2,413; p=0,016). Não foram encontradas diferenças
significativas entre as variáveis: Região Tenar (Região Tênar pós = Região nar
pré; Z
1;0,05
= -1,693; p=0,090), Hipotenar (Hipotenar pós = Hipotênar pré; Z
1;0,05
=
-1,604; p=0,109), e Ombro (Ombro pós < Ombro pré; Z
1;0,05
= -1,473; p=0,141) de
acordo com a tabela 7.
72
v
TABELA 7: Comparação dos resultados obtidos utilizando-se a Escala
Analógica de Dor no pré e pós-tratamento, por meio do teste de Wilcoxon,
por área corporal comprometida.
Na tabela 8 demonstra-se a freqüência dos tipos de posturas distônicas
observadas durante a escrita no pe pós-tratamento. Vale destacar a presença
de mais de uma postura para cada participante.
Variáveis
Z
a
p
Dedo da Mão pós Dedo da Mão pré
-2,413
0,016*
Região Tenar pós Região Tenar pré
-1,693
0,090
Hipotenar pós Hipotênar pré
-1,604
0,109
Punho pós Punho pré
-2,371
0,018*
Antebraço pós Antebraço pré
-2,527
0,012*
Braço pós Braço pré
-2,032
0,042*
Ombro pós Ombro pré
-1,473
0,141
a
Valor da estatística Z para 1 grau de liberdade e α < 0,05 estabelecido a priori.
* Estatisticamente diferentes ao nível p < 0,05
Fonte: a autora.
73
v
TABELA 8: Frequência dos aspectos posturais distônicos observados
durante a escrita no pré e pós-tratamento
POSTURAS DISTÔNICAS OBSERVADAS DURANTE A ESCRITA
pré
pós
superposição em flexão do dedo II sobre o dedo I
1
0
extensão da MCF do dedo II
1
0
extensão dos dedos II, III I e IV
1
0
extensão de punho com antebraço em posição neutra
1
0
extensão do dedo II
2
0
flexão da falange distal do polegar com forte pressão no papel
6
1
pinça da caneta entre os dedos II e III
1
0
pinça da caneta entre os dedos I e III
1
1
desvio ulnar do punho com antebraço em pronação
3
0
desvio radial do punho e extensão com antebraço em pronação
1
1
desvio radial e flexão de punho com antebraço em posição neutra
1
1
tremor distônico em punho
2
2
pronação de antebraço
1
2
elevação de punho
3
1
mão em garra
1
1
elevação do cotovelo
1
1
elevação de ombro ipsilateral à escrita
1
0
anteropulsão e flexão de pescoço
1
0
inclinação lateral do pescoço contralateral à escrita
2
0
O gráfico 3 mostra os principais músculos comprometidos, considerando-se o
número de participantes, durante a avaliação funcional fisioterápica no pré e pós
tratamento.
74
v
GRÁFICO 3 : Relação dos músculos comprometidos por participante no pré
e pós-tratamento durante a avaliação funcional fisioterápica.
Legendas:
PQ
PR
FRC
ERC
EUC
EI
FLP
AP
EP
FPD
Pronador Quadrado
Pronador Redondo
Flexor Radial do Carpo
Extensores Radiais do Carpo
Extensor Ulnar do Carpo
Extensor do Indicador
Flexor Longo do Polegar
Adutor do Polegar
Extensores do Polegar
Flexor Profundo dos Dedos
Pré-tratamento
Pós-tratamento
Fonte: a autora.
75
v
V - DISCUSSÃO
Embora conhecida alguns anos, ainda existe dificuldade para o
diagnóstico e o tratamento da câimbra do escrivão. A necessidade de um
especialista conhecedor dos aspectos clínicos deste distúrbio que atinge a
população em fase produtiva, ocasionando sérios problemas não
socioeconômicos, mas também psíquicos, levou os autores a uma pesquisa
bibliográfica do assunto.
Utilizando-se os indexadores dos bancos de dados descritos
anteriormente, por um período de 13 anos, foram encontrados resultados
surpreendentes em relação ao tratamento. Já a dificuldade no diagnóstico é
evidente, o que possivelmente reduz a incidência da imbra do escrivão na
população, alterando os dados epidemiológicos. Ao nos atentarmos para os
aspectos das distonias focais da mão de maneira geral, observando outros
profissionais que executam movimentos contínuos e diários com a o, como os
músicos, encontramos alta freqüência de estudos em relação à etiopatogenia
(MARSDEN & SHEEHY, 1990; BHIDAYASIRI et al 2005; REQUENA et al,1998;
LEJINSE & HALLET,2007; MCKENZIE et al, 2003; HALLET, 2005) , fisiopatologia
(LIN et al, 2006; FIORIO et al, 2006; QUARTARONE et al, 2006; BERARDELLI,
2007: ROSENKRANZ et al, 2007; RICHARDSON et al, 2009) e diagnóstico
através de imagem funcional (SANGER et al, 2002; SIEBNER et al,
2003;LERNER et al, 2004) ou exames eletrofisiológicos (FRASSON et al, 2001;
XIA & BUSH,2007).
Diante dessas evidências, este estudo foi realizado com o principal
objetivo de, por meio de um programa de reabilitação motora, baseado na
consciência corporal e na imobilização por órteses dos músculos da mão
comprometidos pela câimbra do escrivão, reabilitar a função motora da mão pelo
reaprendizado da escrita, utilizando-se exercícios motores diários, sem
interferência medicamentosa que alterasse a neurotransmissão.
A média de idade da amostra ao início do tratamento foi de 41 ± 13,44
anos; o tempo médio de acometimento foi de 10,83 ± 10,33 anos e o tempo
76
v
médio diário de escrita (minutos) foi de 181,67± 92,43.A historia familiar estava
presente em 16,67% dos participantes.
Em relação à classificação da distonia focal (MARSDEN E &
SHEEHY,1990) encontrou-se neste estudo 58% dos participantes com imbra
do escrivão simples e 42% com a progressiva, mostrando predominância da
primeira, como no estudo de Tinazzi et al (2006) em que 70% apresentaram o
tipo simples e 30% distônico. Neste estudo, porém, não se observou o tipo
distônico.
O pequeno número da amostra pode ser explicado pela baixa prevalência
ou talvez pela dificuldade no diagnóstico, o que faz com que este distúrbio inicie
tratamento inadequado, favorecendo sua manutenção e progressão. Do total de
vinte pacientes avaliados, do Ambulatório de Distúrbios do Movimento do HUPE
ou encaminhados por neurologistas de outras instituições, sete não foram
incluídos no programa por não se enquadrarem dentro dos critérios de inclusão
ou terem diagnóstico inconcluso. A maior dificuldade foi obter informações
relevantes ao início e desenvolvimento do distúrbio, o que contribui para dificultar
a precisão diagnóstica. Estes fatos condizem com o argumento de outros autores
que afirmam que o não encaminhamento do paciente a um especialista para
tratamento aumenta o diagnóstico subestimado (DEFAZIO et al, 2004).
Com fundamentação na literatura (CHAMAGNE, 2003; CANDIA et al,
2002; ZEUNER et al, 2003,2008; ROSENKRANZ et al, 2007; PRIORI et al, 2001)
e a evidente dificuldade encontrada para realização de tratamentos específicos,
elaborou-se o tratamento em duas fases integradas com intuito de humanizar o
relacionamento e para que ocorressem maior sensibilização, cooperação,
conscientização e adesão dos participantes. Os resultados foram excelentes,
que dos participantes selecionados, apenas um teve de abandonar o estudo por
problemas de saúde que o impediram de continuar o acompanhamento contínuo
semanal.
A primeira fase de conscientização corporal foi imprescindível para que
bons resultados fossem obtidos na segunda fase, ou seja, treinamento motor da
escrita. Os resultados obtidos mostraram melhora da distonia focal da mão
durante a escrita, evidenciada pela análise estatística pelo teste de Wicoxon.
77
v
Assim como observado na tabela 1 e gráfico 1, encontraram-se diferenças
significativas entre os momentos pré e pós-tratamento para as variáveis da
Escala de BFM: Fator de Provocação X Fator de Severidade e Incapacidade da
Escrita; bem como para a Escala de Avaliação da Escrita de Jedynak:
Legibilidade da Escrita e Qualidade do Desenho comprovando a melhora da
qualidade e legibilidade da letra. Esta boa resposta terapêutica vai de encontro a
estudos distintos anteriores que obtiveram respostas satisfatórias em seus
resultados (JEDYNAK et al, 2001; CURRA et al, 2004; FIORIO et al, 2006;
LOURENÇO et al, 2007)
Objetivamente optou-se pela Escala de BFM, (BURKE et al,1985;
ZEUNER et al, 2004; BAUR et al, 2009; CURRA et al, 2004; TINAZZI et al, 2006)
por ser um método de avaliação muito utilizado e de fácil acompanhamento. O
Protocolo de Jedynak (JEDYNAK et al, 2001) e a subjetiva Escala Analógica de
dor completaram o processo de avaliação por fornecerem resultados importantes
inerentes à avaliação programada. Devido a escassez de recursos, a análise
cinemática computadorizada da escrita por meio de mesa digitalizadora para
avaliar a pressão e velocidade da escrita, assim como contagem do número de
letras em 10 segundos (SCHENK et al, 2004) e medidas do tamanho e a forma/
tipo das letras. Outros autores, (ROZE et al, 2009; JEDYNAK et al, 2001;
ZEUNER et al, 2004,2008) realizaram avaliações por meio de descrições
relativas à escrita como o tamanho (pequeno, normal ou grande) e estilo (normal,
tremida, aos trancos) através da auto-avaliação dos participantes com uso de
escalas de avaliação. Neste estudo, os pacientes foram solicitados durante o
treinamento, a escrever o maior número de palavras possíveis em 2 minutos,
que , em média, é o tempo máximo conseguido embora haja dor e fadiga
muscular. Sabe-se que após algumas palavras é comum a interrupção da escrita,
com dor e fadiga (MERELLO et al, 2006). Observou-se que após as 8 semanas
do programa a qualidade da letra havia melhorado embora o número de palavras
escritas tenha diminuído.
O resultado do programa foi avaliado por meio da descrição subjetiva dos
pacientes quanto ao percentual de melhora alcançado. Numa escala de auto-
avaliação de 0 a 100%, obtiveram-se bons resultados quanto à melhora dos
78
v
participantes. Considerando-se o mínimo de melhora em 20%, obteve-se em oito
indivíduos um percentual de 60%. Este mesmo processo foi utilizado por outros
autores em suas avaliações (BYL et al, 2003; ZEUNER et al, 2003,2004).
Schenk et al (2004) observaram que após o treinamento da escrita a
fluência da mesma aumentou embora somente um terço dos pacientes
conseguisse escrever maior número de letras em 10 segundos.
Neste estudo o aumento da velocidade da escrita não foi considerado
como um dos objetivos e até o presente momento não se encontrou nenhum
estudo com a mesma intenção. Todos os pacientes deste estudo relataram que
haviam conseguido boa qualidade da letra durante o treinamento desde que
escrevessem lentamente. Durante a atividade diária, sob situação de estresse
que exigisse escrita rápida, relatavam resposta oposta ao que era conseguido
durante o atendimento fisioterapêutico. Estudo de Bauer et al (2009) demonstrou
que os pacientes não conseguiram escrever rápido, ao contrário, para que a
qualidade da escrita melhorasse, os mesmos escreviam mais devagar que o
habitual. Isto pode ser parcialmente explicado pelo desequilíbrio no controle
voluntário da resposta motora (PRODOEHL et al, 2006).
Com relação à avaliação da dor, o mesmo teste estatístico detectou
diferenças significativas entre os momentos pré e pós-tratamento nas seguintes
áreas corporais examinadas: punho, antebraço e braço. Não foram encontradas
diferenças em dedos da mão, região tenar, hipotênar e ombro. Esse fato merece
especial atenção porque os pacientes com câimbra do escrivão exercem muita
força ao segurar a caneta nos dedos polegar e indicador, ajudando com o punho
e antebraço. Isto ocorre porque grande dificuldade em transportar o antebraço
no papel durante a escrita (que segue o trajeto esquerda direita) provocando
contração muscular excessiva e involuntária no punho e antebraço com
conseqüente dor. Observou-se que a região tenar, relacionada ao polegar, é
muito dolorida logo no início da escrita, em torno de um minuto após. Os
resultados positivos na melhora da dor nas áreas corporais descritas devem-se
ao trabalho de conscientização corporal feito previamente embora a dor na região
tenar permanecesse, mesmo que em menor intensidade. A dor no ombro não foi
relatada de forma considerável antes nem depois, explicando a ausência de
79
v
variação assim como a hipotênar que não foi referida com dor. De acordo com
Bauer et al (2004), a ausência de deslocamento da mão e antebraço
sobrecarrega o punho, levando à lentidão e não clareza da escrita.
Os mesmos autores propuseram uma mudança na forma de segurar a
caneta para facilitar o deslocamento do antebraço para diminuir a pressão sobre
o papel. No entanto, verificaram que em alguns pacientes a pressão permaneceu
a mesma. Por isso, optou-se neste estudo pela manutenção da posição
convencional e por meio da conscientização do corpo propor essa alteração dos
movimentos realizados na primeira fase do programa.
Embora, como observado no gráfico 3, os músculos mais comprometidos
durante avaliação inicial tenham sido, por ordem de freqüência decrescente:
pronador redondo, pronador quadrado, extensores radiais do carpo e flexor
longo do polegar, extensor ulnar do carpo, adutor do polegar, flexor radial do
carpo e extensor do indicador, flexor profundo dos dedos e extensores do
polegar, na avaliação final, ocorreu redução na atividade anormal desses
músculos, exceto o flexor radial do carpo. O extensor do indicador e os
extensores do polegar, praticamente retornaram à função normal, com
desaparecimento da distonia. Associadas a este fato, variações na dor e pressão
exercida durante a escrita puderam ser observadas. Curra et al (2004)
observaram que os paciente com câimbra do escrivão são mais lentos durante os
movimentos de extensão dos dedos quando solicitados os movimentos de flexão
e extensão desses segmentos, mostrando que os músculos extensores são mais
comprometidos. Provavelmente cocontração de extensores e flexores de
punho (MERELLO et al, 2006). Byl et al, 2003, concluíram que os pacientes com
distonia focal da mão possuem menor força nos músculos lumbricais do que nos
flexores profundos, comparados a sujeitos-controle. Tinazzi et al (2006)
estipularam para estudo os músculos primeiro interósseo dorsal e flexor radial do
carpo, como sendo supostamente os mais comprometidos pela distonia.
Em 50% dos participantes o gesto antagonista foi observado. A escrita
com a mão dominante foi observada em 50% dos pacientes e movimentos
involuntários da mão contralateral à escrita estavam presentes em 25%. No
estudo de Jedynak et al, em 2001, 44.6% em 65 pacientes apresentaram esses
80
v
movimentos. No entanto, estudos ainda devem determinar se eles ocorrem como
resultado de perda de inibição cortical intra e/ou inter-hemisférica ou se são
simplesmente uma conseqüência de uma contração sustentada que esses
indivíduos precisam exercer enquanto escrevem usando a o distônica
(MERELLO et al, 2006). Metade dos participantes utilizava a mão não dominante
para escrever mostrando que a necessidade em escrever e a dificuldade em
atendimento especializado induzia a uma adaptação.
O tratamento tradicional da distonia focal é desafiador e programas
terapêuticos inovadores vêm enfatizando os princípios.
A imobilização da musculatura comprometida no membro superior de
portadores de distonia focal evidenciou melhora importante no desempenho
motor (PRIORI et al, 2001; CHANÁ-CUEVAS et al, 2003), como observado neste
estudo. Embora tenha sido encontrada uma velocidade lenta na escrita, estudos
em músicos evidenciaram que a imobilização levou a um aumento da velocidade
do movimento (CANDIA et al, 2002).
O tratamento das distonias focais pode ser a iniciação do retreinamento
sensitivo com intuito de restaurar a organização e a representação cortical dos
dedos (MCKENZIE et al, 2003) e juntamente com o retreinamento motor tem se
mostrado eficaz na melhora da câimbra do escrivão, talvez por englobar
mecanismos fisiopatológicos supostamente causadores do distúrbio distônico
(ZEUNER et al, 2008).
Embora vários estudos demonstrem que o desencadeamento da distonia
focal da mão se pela continuidade de uma tarefa específica, no caso o ato de
escrever ( BYL et al, 2003; MARSDEN & SHEEHY,1990; LIM et al, 2001;
ARTIEDA et al, 2001; PRIORI et al, 2001), outras pesquisas contestam o fato,
não relacionando o surgimento da distonia a uma atividade repetitiva ou
estereotipada (EVERS & VOLMER-HAASE,2003; SONG et al, 2008).
No presente estudo, observou-se que o aparecimento da distonia não
estava necessariamente relacionado à repetição persistente e intensa da escrita,
visto que alguns participantes escreviam pouco tempo por dia, outros não
trabalhavam mais com a atividade de escrita e outros nem sequer a utilizavam,
81
v
como no caso de um profissional sapateiro, que apresentou a CE embora pouco
escrevesse.
Em estudo recente, embora ocorresse 12 anos distonia para escrita, a
paciente apresentou distonia ao utilizar uma colher para comer, o mesmo não
ocorrendo em outras atividades. Sugeriu-se a ocorrência de “espairamento” da
distonia focal (SONG et al, 2008), o que talvez seja possível. Isso leva ao
questionamento e busca por resposta do que é considerado repetitivo ou
esteriotipado: se é a repetição da tarefa todos os dias, ainda que por tempo
mínimo, ou a sua prática por muitas horas ao longo do dia, assim como o que
pode ser considerado curto, médio e longo tempo. Neste estudo não foi possível
relacionar o aparecimento da câimbra do escrivão com o tipo de profissão devido
não ao pequeno número de pacientes avaliados como também à diversidade
das categorias profissionais encontradas.
Roze et al (2009) observaram que o aparecimento da câimbra do escrivão
estava associado ao aumento do tempo de escrita no ano anterior. Embora
encontrassem déficit visual nos pacientes estudados, especialmente miopia e
astigmatismo, não justificaram tal investigação. Vale ressaltar que no presente
estudo, durante a avaliação funcional da escrita e durante todo o programa de
tratamento foi perguntado aos participantes se havia dificuldade visual e aqueles
com distúrbio da refração se as consultas ao oftalmologista estavam atualizadas,
pois a dificuldade para escrever poderia, para alguns, ser uma descompensação
visual.
No presente estudo, embora o principal objetivo tenha sido fazer o
indivíduo melhorar a tarefa comprometida por meio de sua repetição, foram
incluídas na primeira fase do programa (CMC) atividades manuais por meio de
jogos lúdicos (pega-varetas, dominó, damas, xadrez, jogo-da-velha, resta-
um,desenhos com pilot) para melhorar a atenção e coordenação motora. Como a
princípio, talvez devido ao grande tempo de acometimento, o paciente se
apresentava muito sensibilizado com sua incapacidade e muito ansioso, optou-se
por um período em que ele pudesse, por meio de atividades lúdicas,
conscientizar-se das posturas inadequadas da mão e que, aos poucos, o
movimento de pinça entre polegar e indicador, nessas atividades, fosse
82
v
reconquistado. Isso facilitou o início da segunda fase do tratamento para um
modo preciso de segurar a caneta.
Byl et al em 2003 elaboraram um plano de reabilitação com base em um
ambiente propício ao aprendizado sobre a causa da distonia focal da mão e para
o potencial de recuperação baseado na capacidade de adaptação do sistema
nervoso central Os pacientes foram orientados a interromper atividades da vida
diária que provocassem movimentos anormais dos dedos ou estresse emocional
e assim implementar um programa saudável que levasse ao bem-estar.
Semelhante em parte aos estudos de Schenk et al (2004), que observaram
que o treinamento direcionado melhora a cinemática dos movimentos da escrita,
que se sugere que a CE pode envolver mecanismos de compensação mal
adaptados, como por exemplo, tipo de caneta, o modo de segurar a caneta, o
posicionamento do corpo e o tipo de suporte para a escrita, por meio da proposta
de segurar a caneta entre os dedos indicador e médio, optou-se neste estudo,
pela manutenção do movimento fisiológico normal de pinça entre polegar e
indicador. Somente em última necessidade, qualquer outra adaptação foi
consentida. Alguns participantes reduziram a pressão no papel enquanto para
outros não ocorreu modificação assim como a velocidade e a fluência da escrita
não foram alteradas pela nova forma de segurar a caneta. Diante disto, neste
estudo, optou-se por manter o movimento convencional, que a melhora não é
determinada por fatores biomecânicos, mas controlada ativamente pelo sistema
motor, refletindo mudança s no comportamento motor (BAUR et al, 2006).
No presente estudo não foi possível avaliar de forma objetiva a pressão
sobre o papel, sendo a análise efetuada por meio da visualização direta da
escrita e análise subjetiva dos pacientes. Observou-se que a pressão diminuiu
claramente, sem a mudança na forma de segurar a caneta.
Embora seja enfatizado o treinamento motor específico, este não precisa
ser necessariamente direcionado para a escrita, podendo-se realizar atividades
que exercitem os movimentos fisiológicos da mão. Zeuner et al (2008)
acrescentaram ao existente em relação ao treinamento da escrita e à
imobilização por órteses, o uso de massa terapêutica para treinar os movimentos
dos dedos. Isso vai ao encontro do realizado na primeira fase desse estudo, no
83
v
qual se utilizam jogos e atividades para exercitar os movimentos do membro
superior acometido pela distonia focal. Ainda em relação às distonias focais da
mão e a importância de exercitar os movimentos fisiológicos durante a fase de
conscientização motora, não necessariamente em cima da prática profissional,
Waissman et al, em 2009, observaram em um estudo de caso, resultados
satisfatórios (WAISSMAN et al, 2009)
O fato em comum em alguns estudos é a interferência do tamanho da
caneta na escrita (KOLLER et al, 1989; RHOAD & STERN, 1993). Quase todos
os participantes deste estudo confirmaram que o aspecto anatômico das canetas,
como o calibre, interfere no desempenho da escrita assim como o tipo de
material, a diferença entre o uso de caneta e lápis ou a presença de borracha ao
redor da caneta para aumentar o atrito. Essas duas últimas observações não
foram referidas em nenhum trabalho até o presente momento. Para esses
pacientes, tanto a caneta quanto o lápis possuem pontos positivos e negativos: a
caneta, embora deslize mais do que o lápis, facilita a escrita e o lápis, embora
promova maior atrito com o papel dando a sensação de maior firmeza, torna a
letra mais grossa e, pela grande pressão exercida, quebra mais facilmente a
ponta. No entanto, utilizaram-se durante exercícios ambos os instrumentos, de
acordo com a necessidade de observação da pressão exercida pelos pacientes.
Outra observação importante é que a maioria optou por colocar algumas
folhas, no mínimo duas, embaixo da folha principal, pois segundo os
participantes, isto proporcionava maior confiança. Isso vem de encontro às
observações de Schenk et al (2004), de que possivelmente a distonia focal possa
ser um mecanismo de compensação mal adaptado.
Fato importante é a relação direta da dor com a pressão sobre o papel: a
dor era mais intensa quanto maior fosse a pressão, e a diminuição desta
ocasionava melhora significativa da primeira.
Em relação à escolha das palavras e frases escolhidas para os exercícios
não consenso de quais sejam as mais indicadas que cada autor escolhe a
que seja mais conveniente: pela forma da letra, pela extensão da frase ou pela
variedade das letras que compõem o alfabeto (POHL et al, 2002, JEDYNAK et al,
84
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2001; BAUR et al, 2006; MERELLO et al, 2006; ZEUNER et al, 2003; DAS et al,
2007).
Metade dos pacientes apresentou flexão da falange distal do polegar com
forte pressão na caneta e, após o treinamento, foi encontrada apenas em uma
pessoa. A postura associada de desvio ulnar do punho com o antebraço em
pronação e a de elevação do punho desapareceu após o término do programa. O
tremor distônico foi o que permaneceu. Pohl et al, 2002, também encontraram o
tremor de punho em dois pacientes, de 10 avaliados. Merello et al (2006)
observaram a posição pronada de punho com desvio ulnar e elevação de
cotovelo.
Isto mostra que as posturas não podem ser padronizadas, o que dificulta
ainda mais uma avaliação objetiva, porque a fadiga muscular e a dor são
completamente dependentes da informação dos pacientes. Além disso, a postura
é individual, caracterizando um modo de ser único. Com o aparecimento do
distúrbio, essa característica torna-se mais evidente porque ressalta não a
dificuldade mas todo um histórico emocional, social e de aprendizado que é
peculiar a cada indivíduo.
O programa de reabilitação executado por oito semanas claramente
evidenciou melhoras na distonia focal. No entanto, alguns estudos mostram que,
quando ocorre a interrupção da prática e da assistência terapêutica e, com ela,
as orientações e acompanhamento do paciente, há regressão do ganho adquirido
durante a terapia. Não se sabe ao certo se este é realmente o tempo mais
adequado para o tratamento, sendo em média o mais estipulado (ZEUNER et al,
2002; 2003; 2004; 2008).
85
v
VI CONCLUSÃO
A utilização das duas fases (conscientização motora corporal e
treinamento motor com imobilização) no presente trabalho favoreceu
sobremaneira os resultados obtidos.
A conscientização motora corporal contribui para a recuperação do
paciente devido a alguns aspectos marcantes, entre os quais destacam-se a
continuidade, a persistência e o treinamento diário.
O treinamento motor com imobilização, por sua vez, também foi muito
importante, porquanto, incluindo atividades domiciliares, ele motiva o paciente por
lhe dar mais compromisso no processo de recuperação.
Destarte, não dúvidas quanto aos resultados satisfatórios na
recuperação motora da escrita daqueles que participaram deste programa de
reabilitação.
Ainda assim, recomendam-se estudos prospectivos que possam
acompanhar os pacientes em treinamento. A qualidade de vida pode e deve ser
avaliada também por uma equipe multidisciplinar que poderá atuar de maneira
importante na recuperação dos indivíduos afetados por tal distonia.
86
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VII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TENS for the treatment of writer’s cramp dystonia: A randomized, placebo-
controlled study. Neurology, 2005; 64: 1946-48.
81. Xia, R; Bush, B.M. Modulation of reflex responses in hand muscles during
rhythmical finger tasks in a subject with writer’s cramp. Exp Brain Res,
2007; 177:573-578.
82. The Epidemiology Study of Dystonia in Europe (ESDSE) Collaborative
Group. A prevalence study of primary dystonia in eight European countries.
J Neurol, 2000, 247:787:92.
83. Waissman,F; Pereira,J.S; Nascimento,O.J.M. Therapeutic Immobilisation
for small guitar player’d dystonia: a case report. BMJ Case Reports
[doi:10.1136/bcr.07.2008.0432].
93
v
84. Xia,R; Bush, B.M.H. Modulation of reflex responses in hand muscles during
rhythmical finger tasks in a subject with writer’s cramp. Exp Brain Res,
2007;177: 573-78.
85. Zeuner, K.E; Shill, H.A; Sohn, Y.H; Molloy, F.M; Thornton, B.C; Dambrosia,
J.M et al. Motor Training as Treatment in Focal Hand Dystonia. Movement
Disorders 2004; 20(3): 335-41.
86. Zeuner, KE; Hallet, M. Sensory Training as Treatment for Focal Hand
Dystonia: A 1-Year Follow-Up. Movement Disorders 2003; 18(9): 1044-
1017.
87. Zeuner,KE; Peller, M; Knutzen,A; Hallet,M; Deuschl, G; Siebner,HR. Motor
Re-Training Does Not Need to Be Task Specific to Improve Writer’s Cramp.
Movement Disorders, 2008; 23(16):2319:2327.
94
v
VIII - ANEXOS
95
v
ANEXO I
96
v
ANEXO II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título do projeto: “Imobilização muscular na recuperação motora da escrita
na câimbra do escrivão”
PESQUISADORA: FLAVIA QUADROS BOISSON WAISSMAN
ORIENTADOR: Prof. Dr. JOÃO SANTOS PEREIRA
Prof. Dr. OSVALDO J. M. NASCIMENTO
Eu,________________________________________________________,
após ter sido esclarecido(a) verbalmente e entender os detalhes da pesquisa
“Programa de recuperação motora da escrita na câimbra do escrivão”, estou
ciente de seus objetivos e desejo participar espontaneamente da mesma, não
tendo sofrido qualquer tipo de coação.
Fui informado de que os participantes da pesquisa devem preencher os
critérios de diagnóstico estabelecido para ingressar no projeto - diagnóstico
clínico de câimbra do escrivão, definida como distonia focal de tarefa específica
que causa dificuldade na escrita (Bhidayasiri et al,2005). Caracteriza-se por
contrações involuntárias no membro superior ao escrever, podendo apresentar
controle motor normal ao realizar outro tipo de atividade (Tas et al, 2001)
O estudo será realizado no Setor de Distúrbios do Movimento do Hospital
Universitário Pedro Ernesto / UERJ. Inicialmente terá uma duração de dois (02)
meses, podendo ser prorrogado de acordo com os resultados encontrados e com
a colaboração dos participantes. Todas as condutas adotadas neste estudo
seguirão as normas de Bioética, segundo a Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde. Caso seja necessária a extensão do projeto de pesquisa, as
formalidades indispensáveis à sua prorrogação serão seguidas.
Este trabalho tecomo objetivo primordial melhorar a escrita através da
redução do sinergismo anormal com intuito de reverter as alterações
reorganizacionais do córtex motor, restaurando o controle motor fino e
estabelecendo estratégias adaptativas saudáveis.
As avaliações serão realizadas através da anamnese e exame físico
completo, além de escalas e questionários.
97
v
Caberá aos pesquisadores responsáveis o acompanhamento neurológico
e fisioterapêutico durante todo o estudo, assim como contato com as famílias e
aconselhamento na etapa final para qualquer esclarecimento sobre este assunto
durante e após a duração da pesquisa.
A minha participação ou da pessoa sob minha responsabilidade neste
estudo é voluntária, sem qualquer ônus ou benefício financeiro, podendo me
recusar a participar ou me afastar dele a qualquer momento, sem qualquer
prejuízo no atendimento e acompanhamento no Serviço de Neurologia.
Declaro de que fui informado (a) que os riscos do tratamento são mínimos,
já que não existem procedimentos invasivos.
O sigilo e a confidencialidade das informações obtidas pelo estudo serão
preservados, assim como não serão reveladas a identidade dos participantes ou
de seus responsáveis. Os resultados serão entregues a cada participante, e os
registros estarão disponíveis para o uso da pesquisa, podendo ser utilizados
para fins científicos e publicados em congressos e/ou revistas.
Declaro que li, entendi e concordei com o que me foi explicado,
autorizando a divulgação dos resultados, assim como as imagens em foto e
vídeo, para fins científicos.
Rio de Janeiro, de de
__________________________________________RG
Assinatura do participante/ responsável
_________________________________________ RG
Assinatura do pesquisador responsável
98
v
ANEXO III
ANAMNESE
Nome____________________________________________________________
Prontuário_________________________________________________________
Nascimento____________________ Idade _____________Sexo: M ( ) F ( )
Cor: Branco ( ) Pardo ( ) Preto ( ) Outra ( )
Profissão________________________________ Estado Civil: ______________
Nacionalidade ___________________ Naturalidade _______________________
Endereço _________________________________________________________
Telefone______________________ Celular: _____________________________
Médico Assistente /PROCEDÊNCIA:
_________________________________________________________________
Q P: ____________________________________________________________
HDA: ____________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
HPP: TRAUMA nas regiões acometidas pela Distonia: SIM ( ) NÃO ( )
OUTRA ( ) QUAL?
H. FAMILIAR: TREMOR ( ) DISTONIA( ) DOENÇA DE PARKINSON ( )
OUTRAS ( ) ___________________________________________________
99
v
Queixas Físico-Clínicas:
INCAPACIDADE PARA ESCRITA: SIM ( ) NÃO ( )
DOR A ESCRITA: NÃO( ) SIM( ).ONDE? _______________________
Dor em outras tarefas manuais tipo cortar alimento? NÃO ( ) SIM ( )
Tipo?________________________________________
Atividades de vida diária? NÃO ( ) SIM ( ) Quais?_______________________
FADIGA DURANTE A ESCRITA: NÃO ( ) SIM( )
Após quanto tempo? ________________________
TREMOR A ESCRITA : SIM( ) NÃO( )
MEDO DE ESCREVER (associado à perda do emprego): sim ( ) não( )
TREMOR: NÃO ( ) SIM ( ) . TIPO: ___________________________
PARESTESIAS: NÃO ( ) SIM ( ) NO BRAÇO( ) NA MÂO ( ) NOS DEDOS
DA MÃO ( )
SÍNDROME DO TÚNEL DO CARPO SIM ( ) NÃO ( )
TENDINITE: SIM ( ) NÃO ( )
CARACTERÍSTICAS DA SINTOMATOLOGIA
DATA DE INÍCIO DOS SINTOMAS:
IDADE EM QUE OS SINTOMAS INICIARAM:
CORRELAÇÃO ENTRE TEMPO DE PROFISSÃO E INÍCIO DOS SINTOMAS:
PERÍODO DIÁRIO DA DURAÇÃO DOS SINTOMAS (contínuo; remissões):
HORAS DE ESCRITA / DIA DURANTE O TRABALHO:
LADO DOMINANTE: ESQ( ) DIR( )
ESCRITA COM A MÃO NÃO DOMINANTE: sim( ) não( )
SINCINESIAS NO LADO DOMINANTE: sim( ) não( )
(observadas mediante solicitação para escrever com o lado não dominante)
ESCRITA NO QUADRO NEGRO É PREJUDICADA? sim( ) não( )
100
v
ESPASMOS DISTÔNICOS ESPONTANEOS NO MS AFETADO?sim( ) não( )
Quando o membro superior é estendido? Durante a marcha? Quando o outro
membro é utilizado?
CONSEGUE FAZER OUTRAS ATIVIDADES MANUAIS?
sim( ) não( ) QUAIS?
CALIGRAFIA ALTERADA? sim ( ) não ( )
ESCRITA LONGA ALTERADA? Sim ( ) não ( )
TOCA O MEMBRO AFETADO PARA DIMINUIR O SINTOMA?
NÃO( ) SIM( ) COMO?
JÁ TENTOU CANETAS DE CALIBRES DIFERENTES?
NÃO( ) SIM( ) Quais?_____________________________
TRATAMENTO
INICIAL __________________________dose_____________________
__________________________dose_____________________
ATUAL __________________________dose_____________________
__________________________dose_____________________
HÁ QUANTO TEMPO TOMA OS MEDICAMENTOS ACIMA?__________
HISTÓRIA SOCIAL: TABAGISMO: SIM ( ) NÃO( ) QUANTOS _______
ETILISMO: SIM ( ) NÃO( ) DOSE DIÁRIA:______________
MEDICAMENTOS UTILIZADOS:_______________________________
CONTATO COM SUBSTÂNCIAS TÓXICAS: NÃO ( ) SIM ( )QUAIS?______
_____________________________________________________________
TERAPIA CONCOMITANTE:
sim( ) não( ) QUAL: _________________________________________
101
v
ANEXO IV
AVALIAÇÃO FUNCIONAL DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
CLASSIFICAÇÃO ( Marsden e Sheehy )
SIMPLES( ) PROGRESSIVA( ) DISTÔNICA( )
OBSERVAÇÃO
MÚSCULOS COMPROMETIDOS PELA DISTONIA
Pronador quadrado ( )
Pronador redondo ( )
Supinador ( )
Flexor radial do carpo ( )
Palmar longo ( )
Flexor ulnar do carpo ( )
Braquio-radial ( )
Extensores radiais do carpo ( )
Abdutores curto do polegar ( )
Abdutor longo do polegar ( )
Extensor longo do polegar ( )
Extensor do indicador ( )
Extensor comum dos dedos ( )
Extensor do dedo mínimo ( )
Extensor ulnar do carpo ( )
Flexor profundo dos dedos ( )
Flexor superficial dos dedos ( )
Flexor longo do polegar ( )
Lumbricais ( )
Interósseos dorsais ( )
Deltóide ( )
Elevador da escápula ( )
Supra-espinhoso ( )
102
v
POSTURAS DISTÔNICAS DA MÃO E ANTEBRAÇO À ESCRITA
(Fazer uma marcação da postura encontrada durante o ato de escrever)
Extensão do indicador: sim ( ) não ( )
Desvio ulnar do punho: sim ( )
Extensão de punho em posição neutra: sim ( ) não ( )
Pressão excessiva ao segurar a caneta: sim ( ) não ( )
Tendência a perder a caneta: sim ( ) não ( )
Abdução do polegar: sim ( ) não ( )
Extensão do polegar: sim ( ) não ( )
Flexão do punho: sim ( ) não ( )
Flexão dos dedos: sim ( ) não ( )
Polegar ( ) indicador ( ) médio ( ) anular ( ) mínimo ( )
Superposição de dedos: sim ( ) não ( ) quais?
Extensão do punho: sim ( ) não ( )
Pronação do antebraço: sim ( ) não ( )
Supinação do antebraço: sim ( ) não ( )
POSTURAS COMPENSATÓRIAS E SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS
Pronação excessiva do antebraço com rotação interna de ombro:
sim ( ) não ( )
Pronação do antebraço: sim ( ) não ( )
Rotação interna de ombro: sim ( ) não ( )
Inclinação lateral de pescoço: sim ( ) não ( )
Elevação do cotovelo: sim ( ) não ( )
Supinação do antebraço: sim ( ) não ( )
Contração do peitoral maior: sim ( ) não ( )
Contração do deltóide: sim ( ) não ( )
Anterior ( ) Médio ( )
Contração do bíceps braquial: sim ( ) não ( )
103
v
Elevação do ombro: sim ( ) não ( )
Dor em epicôndilo lateral: sim ( ) não ( )
Dor em epicôndilo medial: sim ( ) não ( )
Pronador redondo? Sim ( )não ( )
Dor em região tenar: sim( ) não ( ) Flexor curto do polegar? ( )
oponente do polegar? ( ) abdutor curto do polegar? ( )
Sudorese em região palmar: sim ( ) não ( )
Perda da caneta: sim ( ) não ( )
INSPEÇÃO: ( observação à escrita )
POSIÇÃO ANATÔMICA DAS MÃOS
_________________________________________________________________
MÃOS PROTEGIDAS OU LIVRES/ RELAÇÃO COM O BALANCEIO DE MMSS
_________________________________________________________________
FORÇA EXCESSIVA PARA SEGURAR A CANETA:sim( ) não( )
A CANETA SOFRE DESLIZAMENTO? sim( ) não( )
OUTRO __________________________________________________________
MANOBRAS COMPENSATÓRIAS: NÃO ( ) SIM ( ).TIPO ________________
_________________________________________________________________
CONTRATURA FIXA DOS MÚSCULOS DA MÃO (deformidades) SIM( ) NÃO( )
104
v
PALPAÇÃO
MÃO
EMINÊNCIA TENAR: atrofia ( ) hipertrofia ( ) sem alteração ( ) dor ( )
flexor curto ( ) abdutor curto ( ) adutor ( ) oponente do polegar ( )
EMINÊNCIA HIPOTENAR: atrofia ( ) hipertrofia ( ) hipoestesia ( ) dor ( )
abdutor ( ) flexor curto ( ) oponente do mínimo ( )
ANTEBRAÇO
BRAÇO
OMBRO
105
v
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA CÂIMBRA DO ESCRIVÃO
Tipo
Câimbra do Escrivão simples: comprometimento somente da escrita ( )
Câimbra do Escrivão complexa: dificuldade em outras tarefas assim como na
escrita ( )
Dedos envolvidos
Câimbra do Escrivão localizada: até 3 dedos envolvidos ( )
Câimbra do Escrivão generalizada: acima de 3 dedos envolvidos ( )
Músculos Afetados
Grupo flexor ( )
Grupo extensor ( )
Posturas articulares anormais
Interfalangeanas (distais e proximais) ( )
Metacarpofalangeanas ( )
Punho ( )
Cotovelo ( )
Ombro ( )
Distonias em espelho
Presente ( )
Ausentes ( )
Outras distonias associadas
Presente somente durante a escrita ( )
Observadas independentemente da escrita ( )
106
v
ANEXO V
PROTOCOLO DE JEDYNAK
ANÁLISE GRAFOTÉCNICA COM MORFOMETRIA, NÚMERO DE PALAVRAS
ESCRITAS (velocidade da escrita), NÚMERO DE PARADAS
DURANTE 2 MINUTOS ESCREVER AS SEGUINTES PALAVRAS CASA, OVO,
UM (letra cursiva) Protocolo de Jedynak et al, 2001.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
COLHER, XÍCARA, PARQUE ( letra cursiva)
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
DURANTE 2 MINUTOS ESCREVER A SEGUINTE FRASE: “Maria foi ao clube
no domingo passado”
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
107
v
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
ESCREVER POR 2 MINUTOS EM SEQÜÊNCIA AS LETRAS L, O, B e N (letra
cursiva)
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Escrever em a letra E seguidamente contando o número de interrupções
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
INTERROMPE A ESCRITA SIM ( ) NÃO ( )
APÓS QUANTO TEMPO DO INÍCIO DA ESCRITA?...................
NÚMERO DE INTERRUPÇÕES....................
DURAÇÃO DA PARADA ...................
108
v
AVALIAÇÃO DA LEGIBILIDADE DA ESCRITA (Protocolo de
Jedynak et al,2001)
Escala : 0 = normal;
1 = irregularidades ocasionais;
2 = irregularidades freqüentes;
3 =letras irregulares freqüentemente e algumas palavras com
dificuldade para leitura;
4 = severamente anormal, muitas palavras ilegíveis.
DESENHAR O ESPIRAL DE ARQUIMEDES (QUALIDADE DO DESENHO )
Escala: 0 = regular;
1 = irregularidades ocasionais;
2 = irregularidades freqüentes;
3 = irregularidades totais com cruzamentos;
4 = severamente anormal, forma irreconhecível.
109
v
ANEXO VI
AVALIAÇÃO DE DOR DURANTE A ESCRITA
( escala analógica de dor)
DEDOS DA MÃO
REGIÃO TENAR
REGIÃO HIPOTENAR
PUNHO
ANTEBRAÇO
BRAÇO
OMBRO
Sem dor Pior dor
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
110
v
ANEXO VII
ESCALA DE BURKE-FAHN-MARSDEN
Escala de Movimento da Distonia para a região do braço
Fator de provocação ( 0-4) X Fator de severidade ( 0-4) X peso (1) = 0-16
Fatores de Provocação:
0 : ausência de distonia ao repouso ou ação;
1: distonia presente em ação específica;
2: distonia em diversas ações;
3: distonia de ação em parte distante do corpo não necessariamente no braço;
4: distonia presente ao repouso.
Fatores de Severidade:
0: ausência de distonia;
1: distonia leve, clinicamente insignificante;
2: distonia média, não incapacitante;
3: distonia moderada, manutenção da preensão e de alguma função manual;
4: distonia severa, preensão inútil.
Escala de Incapacidade da Distonia para a escrita ( tremor ou distonia)
0: normal;
1: dificuldades leves, legível;
2: maioria ilegível;
3: ilegível;
4:incapaz de segurar e manter a caneta.
111
v
ANEXO VIII
FOTOS
FOTO 01
FOTO 02
Foto 1: Paciente 08 durante a avaliação inicial apresentando extensão do polegar
direito ( esquerda) e durante a fase final do programa de recuperação da escrita
apresentando melhor controle do dedo (direita)
Foto 2: Paciente 01 mostrando o
local de dor intensa presente
durante a escrita, inicialmente.
112
v
FOTO 03
FOTO 04
FOTO 05
Foto 3: Postura inicial dos dedos da mão da paciente 01 (esquerda) e
durante treinamento da escrita. O uso das órteses favoreceu um melhor
posicionamento dos dedos (direita)
Foto 4: Paciente 02 durante o
treinamento da escrita com
órteses.
Foto 5: Paciente 09 durante a
avaliação inicial demonstrando a
postura dos dedos indicador e
médio, em extensão e
sobreposição, ao segurar um
instrumento de trabalho como
sapateiro. A mesma postura
ocorria durante a escrita.
113
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