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enunciação construída de modo a envolver enunciador e enunciatário num fazer
conjunto, engendrado por um fazer-sentir. Conforme nos diz Landowski:
Tradicionalmente, a semiótica narrativa reconhece não mais do que duas
formas de interação: por um lado a “operação”, ou ação programada sobre
as coisas, com base, conforme será visto mais adiante, sobre certos
princípios de regularidade, e de outro a “manipulação” estratégica, que põe
os sujeitos numa relação baseada no princípio geral da intencionalidade.
[…] Mas aqui nos engajaremos sobretudo em mostrar que se quisermos dar
conta de modo menos exaustivo das práticas efetivas de construção do
sentido na interação, faz-se necessário introduzir ao menos um terceiro
regime ao lado dessas duas primeiras configurações, fundamentado na
sensibilidade dos interactantes, este será chamado de “ajustamento”. Resta
ainda observar se a unidade constituída pela articulação destes três regimes
entre si é suficiente, ou se a lógica do modelo ainda pede alguma
complementação. (2005, p. 15)
55
O autor parte dos modelos mais tradicionais da semiótica discursiva para
então propor um terceiro termo chamado “ajustamento” e, posteriormente, tratará
também de um quarto termo, a fim de seguir o modelo de oposições entre contrários
e contraditórios do quadrado semiótico. No “ajustamento”, na medida em que não
são regidas pela lógica do fazer-fazer mas sim, buscam apreender como se dão as
relações de interação, as relações entre os sujeitos não ocorrem mediadas por uma
“intencionalidade”. As relações de interação têm por fundamentação a sensibilidade
dos actantes envolvidos na enunciação. Como nos interessa compreender o
discurso da capa de Gula enquanto uma apreensão sensível, nos deteremos um
pouco mais sobre o regime do ajustamento. Sobre a dinâmica do regime de
ajustamento, Landowski considera que:
[…] Nas interações que são agora do « ajustamento », o ator com o qual
interagimos tem certas características, também pelo fato de que seu
comportamento obedece a uma dinâmica própria. Mas tal dinâmica, pelo
menos no atual estado dos conhecimentos disponíveis, não é redutível,
como nos casos precedentes, às leis pré-estabelecidas e objetiváveis. É, ao
contrário, na interação mesma, em função do que cada participante
encontra, e mais precisamente, como veremos, sente da maneira de agir de
55 Tradução livre do original: Traditionnellemente, la sémiotique narrative ne reconnaît que deux
formes de l'interaction: d'un côté l'« opération », ou action programmée sur les choses, fondée,
comme on le verra, sur certains principes de régularité, de l'autre la « manipulation » stratégique,
qui met em relation des sujets sur la base d'un principe général d'intentionnalité. […] Mais nous
nous attacherons surtout à montrer ensuit que si on veut rendre compte tant soit peu
exhaustivement des pratiques effectives de construction du sens dans l'interaction, il est
nécessaire d'introduire à côté de ces deux premières configurations au moins un troisième régime,
fondé quant à lui sur la sensibilité des interactants: celui de l' « ajustement ». Restera alors à voir si
l'ensemble constitué par l'articulation de ces trois régimes entre eux se suffit, ou si la logique du