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consomem mais apenas medicamentos, mas também transmissões, artigos
de imprensa para o grande público, páginas da Internet, obras de
divulgação, guias e enciclopédias médicas. Eis a saúde erigida como valor
primeiro e aparecendo como uma preocupação presente quase em
qualquer idade: curar as doenças não é suficiente, agora se trata de intervir
a montante para desviar-lhe o curso, prever e prevenir o futuro, mudar os
comportamentos em relação às condutas de risco, dar provas de “boa
observância”.
Lipovetski (2007, p 54) afirma que a inflação crescente das demandas dos
cuidados preventivos junto ao avanço das despesas de saúde, são fenômenos que
mostram a que ponto um estilo de pensamento baseado apenas na distinção torna-
se pouco operante, incapaz que é de explicar um consumo crescente centrado
apenas no indivíduo, em sua saúde e sua conservação
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. Nada de lutas simbólicas e
de vantagens de distinção: apenas a vigilância higienista de si, os medos
hipocondríacos, o combate médico contra a doença e os fatores de risco. A forma
antiga das rivalidades por status é deslocada por uma angústia crescente
relacionada ao corpo e à saúde.
Diante disso, se pode lançar uma pergunta: Será que essa angústia
crescente relacionada ao corpo e à saúde, pode ser um dos motivos, pelo qual a
sociedade procurou (mais que em outras épocas) serviços e cuidados estéticos,
dentre eles, a Medicina Estética?
Para Lipovetski (2007, p 54-55), uma saúde transformada em religião
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demanda informar-se sempre mais, consultar os profissionais, vigiar a qualidade dos
produtos, limitar os riscos, corrigir os hábitos de vida, retardar os efeitos da idade,
passar por exames, fazer revisões gerais. Os comportamentos contemporâneos
mostram que, no presente, o corpo é considerado como uma matéria a ser corrigida
ou transformada soberanamente, como um objeto entregue à livre disposição do
sujeito.
As cirurgias estéticas, as procriações in vitro e o consumo de psicotrópicos,
com vista à “gestão” dos problemas existenciais, ilustram, sem nenhuma
ambigüidade, essa relação individualista com o corpo. Daí em diante, os
sujeitos querem escolher seu humor, sua forma física, sua saúde, seu lazer,
para assim, controlar sua experiência cotidiana, tornando-se senhores de
seus problemas individuais e, até, de seu envelhecimento, ao tentarem
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Lipovetski (2007), quando afirma que o fenômeno da distinção torna-se inoperante, está se
referindo ao fato que o consumo cria nova função identitária, nivelando as classes e os grupos
sociais.
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E, como em todas as religiões, existem os excessos e fanatismos, que também podem ser
observados em pessoas obcecadas por beleza.