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FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
Tese de Doutorado
MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO
PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA
“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”
CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA
Orientadora: Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira
Porto Alegre, janeiro 2009
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Milhares de livros grátis para download.
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO
PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA
“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”
Tese de Doutorado
CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA
Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira
Orientadora
Porto Alegre, janeiro de 2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO
PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA
“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”
CRISTIANE CAUDURO DE SOUZA
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Faculdade
de Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Doutor em Psicologia.
Profª. Drª. Margareth da Silva Oliveira
Orientadora
Porto Alegre, janeiro de 2009.
4
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S729m Souza, Cristiane Cauduro de
Motivação para mudança de comportamento no jogo
patológico. / Cristiane Cauduro de Souza. – Porto Alegre,
2009.
116f.
Tese (Doutorado em Psicologia) – Faculdade de
Psicologia, PUCRS.
Orientação: Profa. Dra. Margareth da Silva Oliveira.
1. Psicologia. 2. Modelo Transteórico. 3. Jogo
Patológico. 4. Motivação (Psicologia). 5. URICA.
6. Comportamento (Psicologia). I. Oliveira, Margareth
da Silva. II. Título.
CDD 157.63
Ficha elaborada pela bibliotecária Cíntia Borges Greff CRB 10/1437
5
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE E PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
Cristiane Cauduro de Souza
MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO JOGO
PATOLÓGICO: TRADUÇÃO, ADAPTAÇÃO E VALIDAÇÃO DA
“UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA)”
COMISSÃO EXAMINADORA
Profª.Dr. Margareth da Silva Oliveira
Presidente
Profa. Dr. Gisele Gus Manfro
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof. Dr.Ygor Ferrão
Instituto Metodista de Porto Alegre
Prof. Dra. Blanca Susana Guevara Werlang
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Porto Alegre, janeiro de 2009.
6
A Ana Laura que participou deste
Projeto desde o início e vem me ensinando todos os dias...
7
AGRADECIMENTOS
Durante esta caminhada, pude contar com muitas pessoas direta ou
indiretamente a quem gostaria muito de agradecer:
Ao grupo do Ambulatório de Jogo Patológico do Instituto de Psiquiatria da USP
(AMJO), representado pelas psicólogas Daniela Rossini e Cecília Galetti e coordenado
pelo Prof. Dr. Hermano Tavares, meu agradecimento especial pela parceria e
colaboração incansáveis na coleta dos dados;
Ao Grupo de Jogadores Anônimos da Cruz Vermelha de Porto Alegre que me
recebeu com disponibilidade e que tornou possível a realização desta coleta;
À bolsista de iniciação científica Jaqueline Garcia, pela dedicação dispensada e
pela total disponibilidade para me acompanhar e auxiliar em todos os momentos da
execução deste trabalho;
À amiga e colega Suzana Freire pelas considerações realizadas ao longo desta
trajetória e pela forma alegre, carinhosa e comprometida com que se coloca diante das
tarefas;
Aos colegas do Grupo de Pesquisa “Avaliação e Atendimento em Psicoterapia
Cognitiva”;
Ao Prof. Dr. Gabriel Gauer e a Profa. Dra. Lilian Stein pela colaboração técnica;
À Profa. Dra. Margareth da Silva Oliveira, meu agradecimento pela
oportunidade e confiança mais uma vez depositada no meu trabalho;
À Profª. Drª. Gisele Gus Manfro pela disponibilidade e por ter aceitado o convite
para participar desta banca;
Ao Prof. Dr. Ygor Ferrão pelas contribuições significativas realizadas na
qualificação deste projeto e por aceitar participar de mais esta etapa;
8
À Profª. Drª. Blanca Susana Werlang, minha admiração pelo exemplo de
pesquisadora e pelo comprometimento com que realiza sua prática;
À CAPES pela oportunidade de contar com a bolsa de estudos para a realização
do Doutorado;
À minha mãe, Elisabete, pelo exemplo de trabalho e amor com que realiza as
coisas e por sempre acreditar em mim, e ao meu pai, Wenceslau pelo exemplo e
sabedoria;
Ao meu marido Antônio, pelo amor, admiração e apoio, tolerando ausências
freqüentes e, principalmente, por me dar a oportunidade de aprender com nosso maior
projeto: Ana Laura.
À Isabel, parceira incansável e grande “substituta”, sem ela não seria capaz de
assumir e cuidar da minha vida profissional com tranqüilidade.
A todos meu carinho e muito obrigada!
9
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
...........................................................................................
1
2
LISTA DE QUADROS
..........................................................................................
1
3
LISTA DE FIGURAS
......................................................................................
......
1
4
LISTA DE SIGLAS
...............................................................................................
15
RESUMO
................................................................................................................
1
6
ABSTRAC
T
............................................................................................................
18
INTRODUÇÃO
......................................................................................................
20
REFERÊNCIAS
.....................................................................................................
24
SEÇÃO I: ESTUDO DE REVISÃO DE LITERATURA “Motivação para
mudança de comportamento no Jogo patológico”..............................................
26
Resumo
.....
.........................................................................................................
2
7
Introdução......................................................................................................... 28
Jogo Patológico: impulso, compulsão ou dependência? .................................. 32
Comorbidades................................................................................................... 35
Jogo Patológico e Motivação para Mudaa.................................................... 37
Discussão dos resultados...................................................................................
42
Considerações Finais.........................................................................................
44
Referências........................................................................................................
45
SEÇÃO II: ESTUDO EMPÍRICO “Tradução, equivalência Semântica e
adaptação Cultural da University Rohde Island Change Assessment - URICA
para jogadores patológicos”.................................................................................. 51
Resumo..............................................................................................................
52
10
Introdução......................................................................................................... 54
Método.............................................................................................................. 58
Instrumentos......................................................................................................
58
Procedimentos................................................................................................... 59
Resultados.........................................................................................................
60
Discussão dos Resultados................................................................................. 63
Referências........................................................................................................
65
SEÇÃO III: ESTUDO EMPÍRICO “Evidências de Validação da University
Rohde Island Change Assessment - URICA para jogadores patológicos”.........
68
Resumo..............................................................................................................
69
Introdução......................................................................................................... 71
Método.............................................................................................................. 74
Instrumentos......................................................................................................
75
Procedimentos................................................................................................... 77
Resultados......................................................................................................... 78
Discussão dos resultados...................................................................................
90
Considerações fina
is
...............
....................................
......................................
95
Referências........................................................................................................
96
CONSIDERAÇÕES FINAIS
....................
.........................................
.................
.
..
1
00
REFERÊNCIAS
.............................................................................................
.
........
10
2
ANEXOS
................................................................
............................................
.
....
10
3
ANEXO
A
-
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS
................
10
4
ANEXO B
-
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
................................
1
05
ANEXO C
-
ROTEIRO DE ENTREVISTA............................................................
106
11
ANEXO D
-
ESCALA SOGS...................................................................................
108
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
-
Distribuição da amostra, segundo dados sócio
-
demo
gráficos
(n=69).......................................................................................................................
83
Tabela 2
-
Intensidade dos sintomas de ansiedade (BAI) e depressão (BDI) na
amostra (n=44).........................................................................................................
86
Tabela 3
-
Coeficiente Alfa de Cronbach das subescalas da URICA e da
URICA. ...................................................................................................................
87
Tabela 4
- Resultados das respostas aos itens da escala URICA. ..........................
87
Tabela 5
-
Distribuição percentílica do escore de prontidão para mudança............
88
Tabela 6
- Correlação entre a régua de prontidão e a URICA. ..............................
90
Tabela 7
- Comparação entre o TA e o Grupo JA quanto à motivação para
mudança. .................................................................................................................
90
Tabela 8
- Distribuição da amostra em relação ao Regime de tratamento e o
tempo de abstinência..............................................................................................
91
Tabela 9
-
Distribuição das Médias e Desvios - padrão dos Estágios
motivacionais, prontidão em relação ao período de abstinência. ..........................
92
Tabela 10
-
Correlações da intensidade dos sintomas de ansiedade, depressão
com os estágios motivacionais. ...............................................................................
93
Tabela 11
-
Comparação das médias e desvios
-
padrão entre o gênero, os
estágios motivacionais e a prontidão para mudança. ..............................................
94
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
-
Comparação da primeira versã
o traduzida do inglês
-
português e
a versão final URICA- Jogo...............................................................................
63
14
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Distribuição da amostra quanto aos tipos de jogos praticados na
vida..........................................................................................................................
84
15
LISTA DE SIGLAS
A - Ação
AA - alcoólicos anônimos
AMJO - Ambulatório de Jogo Patológico
ANOVA - Análise de Variância
BAI - Beck Anxiety Inventory
BDI - Beck Depression Inventory
C - Contemplação
DSM-IV-TR - Manual Diagnóstico e Estatísco de Transtornos Mentais
EP - Escore de Prontidão
EUA - Estados Unidos da América
JA - Jogadores Anônimos
JP - Jogo Patológico
M - Manutenção
PC - Pré-Contemplação
PROAD - Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes
RCQ - Readiness to Change Questionnaire
SOCRATES
- Stages of Change Readiness and Treatment Eagerness Scale
SOGS - South Oaks Gambling Screen
SPSS - Programa Statistical Package for the Social Sciences
TA - Tratamento Ambulatorial
TMQ - Treatment Motivation Questionnaire
TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo
URICA - University Rohde Island Change Assessment
16
RESUMO
O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento tem sido utilizado em
vários transtornos dependentes como forma de compreender o processo de mudança.
Este modelo está fundamentado na premissa de que a mudança do comportamento
acontece ao longo de um processo, no qual as pessoas passam por diversos estágios de
motivação para mudar: Pré-contemplação, Contemplação, Preparação, Ação e
Manutenção. A University Rohde Island Change Assessment URICA é uma escala
auto-aplicável que foi construída com o objetivo de identificar os estágios motivacionais
e a prontidão para mudança em diversos comportamentos. O objetivo deste trabalho é
descrever o processo de tradução, equivalência semântica e adaptação cultural da
URICA, bem como identificar as evidências de validação desta escala entre jogadores
patológicos. O questionário foi traduzido do original em inglês para o português,
utilizando processo de tradução-retradução (inglês-português-inglês), seguido de
avaliação de um comitê de especialistas (interjuízes) e aprovação de um dos autores da
escala. Posteriormente, foram estudadas as propriedades psicométricas do instrumento
em uma amostra de 69 sujeitos com diagnóstico de Jogo Patológico, segundo critérios
diagnósticos do DSM-IV-TR. Os sujeitos foram avaliados em ambulatórios de
atendimento em Porto Alegre e São Paulo, e grupos de jogadores anônimos, entre 2006
e 2008. Para o estudo de evidências de validação da URICA foram analisados os
indicadores de consistência interna e validade convergente com a régua de prontidão
(medida analógico-visual), além de instrumentos como: SOGS (South Oaks Gambling
Screen), Inventário de Ansiedade de Beck - BAI e Inventário de Depressão de Beck -
BDI. Houve necessidade de ajustes no vocabulário e em algumas questões optou-se pela
inclusão de termos que se referem ao “hábito de jogar”, fazendo referência ao
17
comportamento estudado e as particularidades desta amostra. Foi realizada análise
descritiva interjuízes e observou-se uma concordância entre os juízes de 75%, adequada
confiabilidade da URICA (α= 0,82) e a correlação significativa com régua de prontidão
nos estágios de pré-contemplação (r= -0,305; p= 0,11) e ação (r=0,301; p=0,12). A
amostra foi subdividida em dois grupos, conforme o regime de tratamento: grupo
proveniente de ambulatórios especializados no tratamento de dependências e
participantes do grupo de Jogadores Anônimos de Porto Alegre. O grupo ambulatório
apresentou escore médio significativamente maior do que os Jogadores Anônimos (JA)
tanto no estágio de Pré-contemplação (p=0, 005) quanto no estágio de manutenção (p=
0, 044). Quanto ao tempo de abstinência, o JA está associado a um tempo de abstinência
superior a 180 dias enquanto que o grupo ambulatório esassociado a um período de
30 a 180 dias nesta amostra. Considerando-se os pareceres dos juízes especialistas,
construiu-se então a versão final da URICA- adaptação brasileira para jogo patológico
que se mostrou um instrumento de fácil aplicação e com boa equivalência semântica.
Além disto, a URICA - adaptação brasileira para jogo patológico mostrou ser útil e
confiável para avaliação da motivação para mudança, considerando os estágios
motivacionais e a prontidão para mudar entre os jogadores patológicos.
Palavras-chave: Modelo transteórico, jogo patológico, confiabilidade, URICA
18
ABSTRACT
The Transtheoretical Model of Behavior Change has been used in several
dependent disorders as approach of understanding the process of change. This model is
based on the premise that behavior change happens over a process in which people pass
through various stages of motivation to change: Pre-contemplation, Contemplation,
Preparation, Action and Maintenance. The University Rohde Island Change
Assessment-URICA is a self-reported scale that was built to identify the motivational
stages and readiness to change in various behaviors. This study aims to describe the
process of translation, semantic equivalence and cultural adaptation of the URICA and
identify the evidence of validation of this scale (reliability) between pathological
gamblers. The questionnaire was translated from the original English version to
Portuguese, using the process of translation-back translation (English-Portuguese-
English), followed by an evaluation committee of specialists and approval of one of the
authors of the scale. Later, it was studied the psychometric properties of the instrument
in a sample of 69 subjects diagnosed with Pathological Gambling, according to
diagnostic criteria of DSM-IV-TR. The subjects were evaluated in ambulatory care
locals in Porto Alegre and São Paulo, and groups of Anonymous Gamblers, between
2006 and 2008. For the study of evidence of validation of URICA were analyzed
indicators of internal consistency and convergent validity with the ruler of readiness
(visual-analogue measure), as well as the instruments: SOGS (South Oaks Gambling
Screen), BAI and BDI. There was need for vocabulary adjustments in some items, and it
was decided by the inclusion of terms that refer to the "habit of gambling," referring to
the behavior studied and the peculiarities of this sample. Descriptive analysis was
carried out and there was a correlation between the judges of 75%, adequate reliability
of URICA = 0.82) and significant correlation with the ruler of readiness in the pre-
19
contemplation stage (r = -0305, p = 0.11) and action (r = 0,301, p = 0.12). The sample
was divided into two groups, as the system of treatment: group from outpatient clinics
specialized in treatment of addictions and participants of the group of Anonymous
Gamblers in Porto Alegre. The outpatient group had significantly higher average scores
than the Anonymous Gamblers (AG) both in the pre-contemplation stage (p = 0005) and
in the maintenance stage (p = 0044). The abstinence period, the AG is associated with a
time of abstinence superior than 180 days, while the outpatient group is associated with
a period from 30 to 180 days in this sample. Considering the reports of specialists, it
was assembled the final version of the Brazilian URICA-adaptation for pathological
gambling that showed as easy application tool and with good semantic equivalence.
Moreover, the URICA - Brazilian adjustment for pathological gambling had indicated
useful and reliable for evaluating the motivation to change, considering the motivational
stages and readiness to change among pathological gamblers.
Keywords: transtheoretical model, pathological gambling
20
INTRODUÇÃO
As pessoas que lutam contra comportamentos considerados problema” (comer
compulsivo, dependência de drogas, tabagismo, Jogo patológico...), geralmente chegam
ao tratamento com motivações flutuantes e conflitantes entre continuar e interromper
estes comportamentos. Esse conflito, conhecido como ambivalência, permeia
principalmente as primeiras sessões do tratamento e parece ter um potencial especial
para manter as pessoas em um círculo vicioso que intercala o comportamento problema
e tentativas de modificá-lo, muitas vezes sem sucesso. A ambivalência é um estado
mental no qual a pessoa tem sentimentos coexistentes e conflitantes a respeito de algum
comportamento a ser modificado (Figlie, Bordin & Laranjeira, 2004). Mas, ao contrário
do que se poderia pensar, não é um mau sinal. É sinal de que a pessoa não está definida
sobre continuar ou interromper o comportamento problemático. No âmbito do
tratamento, quando o profissional compreende a normalidade desse fenômeno, evoca
menor resistência por parte do paciente e facilita o progresso no aconselhamento (Miller
& Rollnick, 2002).
Alguns tratamentos têm adotado uma perspectiva de motivação como algo
relativamente imutável, ou seja, ou o paciente está motivado para o tratamento e nessas
condições o terapeuta teria um papel definido e poderia ajudar a pessoa, ou o paciente
não está motivado e, então, o tratamento não seria possível. A abordagem da motivação
para mudança, principalmente nos comportamentos aditivos tem sido amplamente
documentada na literatura (Prochaska, DiClemente & Norcross, 1992; Oliveira,
Laranjeira, Araujo, Camilo & Schneider, 2003; Oliveira, Calheiros & Andretta, 2006).
O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento criado por James
Prochaska (1979) tem representado uma importante contribuição na compreensão dos
21
processos que envolvem a mudança nos comportamentos aditivos. Este modelo está
fundamentado na idéia central de que a mudança acontece ao longo de um processo no
qual as pessoas passam por estágios diferenciados de motivação.
Progressos têm sido feitos para mensurar que a motivação para a mudança é
preditiva para o tratamento dos transtornos aditivos, demonstrando que o pré-tratamento
motivacional pode influenciar consideravelmente as variáveis de permanência e
engajamento no tratamento (Stephens, Babor, Kadden & Miller, 2002). Além disso, o
estágio motivacional do paciente está, possivelmente, relacionado aos resultados do
tratamento propriamente dito e aos índices de abstinência também.
Neste sentido, este trabalho pretende trazer contribuições relevantes, pois alguns
autores descrevem o Jogo patológico como uma dependência comportamental muito
semelhante à dependência química (Holden, 2001). Sendo assim, o aprofundamento de
estudos nesta área pode trazer importantes contribuições do ponto de vista da
informação, prevenção e do ponto de vista terapêutico.
A prevalência do JP vem aumentando no mundo e potencializando-se em
decorrência do desenvolvimento tecnológico (Galletti, Alvarenga, Andrade & Tavares,
2008). Sempre houve quem se excedesse em apostas, no entanto, o aumento de
problemas associados ao jogo é recente e acompanha a maior oferta de jogos de azar.
Pesquisas mostram o aumento simultâneo do índice de JP e de problemas associados na
população de países que legalizaram loterias e outros jogos de azar, e autores que
afirmam ser o JP questão de saúde pública (Volberg, 1994; Pastrnak & Fleming, 1999).
Estudos realizados nos EUA e no Canadá mostraram alto índice de problemas
associados ao jogo. Em adultos, verificou-se que 5,5% da população apresentavam
problemas relacionados ao jogo; entre adolescentes e estudantes universitários, 13,3% e
13,9%, respectivamente (Shaffer, Hall & Vander Bilt, 1999). ainda estudos que
22
destacam o subgrupo de idosos com alto índice de participação em jogos de azar e
problemas associados (Pietrzak, Moasco, Blanco, Grant
& Petry, 2007). Estudos no Brasil são escassos, mas sabe-se da necessidade de
pesquisas que revelem o impacto desta patologia na nossa sociedade e alternativas de
prevenção e tratamento. O artigo 50 da Lei de Contravenções Penais (decreto-lei
3.688/41) qualifica como crime a exploração de jogos de azar no País. Apesar da
proibição legal de algumas modalidades de jogo, esta ainda é uma prática comum que
atinge uma parte da população que desconhece suas conseqüências potencialmente
perigosas.
Um dos instrumentos mais utilizados na identificação dos estágios motivacionais
e na avaliação da prontidão para mudança de comportamento descrito na literatura é a
University Rohde Island Change Assessment URICA criada por McConnaughy,
Prochaska e Velicer, em 1983. A URICA esbaseada nos estágios de mudança (Pré-
contemplação, Contemplação, Ação e Manutenção) e pode ser utilizada para qualquer
comportamento problema.
O Grupo de Pesquisa “Avaliação e Atendimento em Psicoterapia Cognitiva” do
Programa de Pós-Graduação da PUCRS vem trabalhando há alguns anos com a URICA.
Em janeiro de 2005 foi elaborado um grande projeto de Adaptação e Validação desta
escala para diversos comportamentos aditivos, com o objetivo de delinear as
especificidades de cada amostra, entre elas: usuários de substâncias ilícitas, tabagistas,
comedores compulsivos e jogadores patológicos.
O objetivo deste estudo é descrever o processo de tradução, equivalência
semântica e adaptação cultural da URICA, bem como identificar as evidências de
validação desta escala entre jogadores patológicos.
23
Para este fim, na seção I deste trabalho foi elaborada uma revisão teórica sobre a
patologia que envolve o bito de jogar e as possibilidades de intervenção, intitulada
“Motivação para Mudança de Comportamento no Jogo Patológico". Nesta seção foram
identificadas produções científicas catalogadas nos bancos de dados computadorizados
PsycINFO, Medline, Lilacs e Web of Science com os descritores pathological gambling,
gamblers, treatment, stages of change, motivational interviewing e readiness to change,
entre 1990 e 2008 com a finalidade de caracterizar esta temática. Considerando que a
motivação para mudança é um importante aspecto a ser considerado na elaboração de
estratégias e intervenções nesta patologia, realizou-se também uma revisão sobre o tema
da motivação relacionando com o jogo patológico.
Na seção II descreve-se o processo de “Tradução, Equivalência semântica e
Adaptação cultural da University Rohde Island Change Assessment - URICA para
Jogadores Patológicos”. O questionário foi traduzido do original em inglês para o
português, utilizando processo de tradução-retradução (inglês-português-inglês),
seguido da avaliação das versões original e back-translation por um comitê de
especialistas que avaliaram o instrumento. A versão final foi apresentada a um dos
autores da escala que aprovou sua aplicação. O objetivo deste trabalho foi verificar
dificuldades de compreensão, expressões confusas e/ou ambíguas e ajustar o
vocabulário e as expressões ao idioma e realidade sócio-cultural brasileira.
Por fim, na seção III, apresenta-se outro estudo empírico, que tem o título
“Evidências de Validação da University Rohde Island Change Assessment - URICA
para Jogadores Patológicos” e que teve o objetivo de estudar as propriedades
psicométricas desta escala para o comportamento de Jogo Patológico e viabilizar seu
uso no Brasil.
24
REFERÊNCIAS
Figlie, N., Bordin, S. & Laranjeira, R.(2004). Aconselhamento em Dependência
Química. São Paulo: Roca.
Galletti, C., Alvarenga, P., Andrade A., & Tavares, H. (2008). Jogos de azar e
uso de substâncias em idosos: Uma revisão da literatura. Revista de Psiquiatria Clínica,
35 (1) 35-37.
Holden, C. (2001). Behavioral” addictions: do they exist? Science, 294 (5544),
980-982.
McConnaughy, E. A., Prochaska, J. O., & Velicer W. E. (1983). Stages of
change in psychotherapy: Measurement and sample profiles. Psychotherapy. Theory,
Research and Practice, 20, 368-375.
Miller, W. R., Rollnick, S. (2001). Entrevista Motivacional: preparando pessoas
para a mudança. Porto Alegre: Artes Médicas.
Oliveira, M. S., Laranjeira, R., Araújo, R., Camilo, R. & Schneider, D. (2003)
Estudos dos Estágios Motivacionais em sujeitos adultos dependentes do Álcool.
Psicologia: Reflexão e Crítica
, 16 (2), 265-270.
Oliveira, M. S., Calheiros, P. R. V. & Andretta, I. (2006). Motivação para
Mudança nos Comportamentos Aditivos In: Werlang, B. & Oliveira, M. S. Temas em
Psicologia Clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Pasternak, A. & Fleming, M. (1999) Prevalence of gambling disorders in a
primary care setting. Archives of family medicine
, 8 (6), 515-520.
Prochaska, J. O., DiClemente, C. C., & Norcross, J. C. (1992). In search of how
people change: Applications to addictive behaviour. American Psychologist, 47, 102-
114.
Prochaska, J. O. (1979). Systems of psychotherapy: A transtheorical analisys.
Homewood, Illinois: Dorsey Press.
Pietrzak, R. H., Moasco, B. J., Blanco, C., Grant, B. F., & Petry, N. M. (2007).
Gambling level and psychiatric and medical disorders in older adults: results from the
National Epidemiologic Survey on Alcohol and related conditions. American Journal of
Geriatric Psychiatry, 15(4): 301-313.
Shaffer, H., Hall, M. & Vander Bilt, J. (1999). Estimating the prevalence of
disordered gambling behavior in the United States and Canada: a Research synthesis.
American Journal of public health
, 89 (9), 1369-1376.
25
Stephens R, Babor T, Kadden R, & Miller M. (2002) The marijuana treatment
project: rationale, design and participant characteristics. Addiction
, 97 (S1), 109-124.
Volberg, R. (1994) The prevalence and demographics of pathological gamblers:
implications for public health. American Journal of public health, 84 (2) 237-241.
26
SEÇÃO I: ESTUDO DE REVISÃO DE LITERATURA
MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA NO COMPORTAMENTO DE JOGO
PATOLÓGICO
27
Resumo
Motivação para Mudança no Comportamento de Jogo Patológico
O Jogo Patológico é um transtorno com impacto significativo na sociedade,
acarretando prejuízos sociais, financeiros e emocionais aos indivíduos.
Este trabalho se propõe a realizar uma revisão sobre a patologia que envolve o hábito de
jogar e as possibilidades terapêuticas envolvidas. O Jogo Patológico, por se tratar de
uma dependência prescindindo de substância psicoativa, oferece um modelo propício
para investigação científica que envolve o conhecimento da dinâmica psicopatológica,
biológica e estratégias para intervenções e tratamento. Considerando que a motivação
para mudança é um importante aspecto a ser considerado na elaboração de estratégias e
intervenções nesta patologia, realizou-se também uma revisão sobre o tema da
motivação relacionando com o jogo patológico. Foram identificadas produções
científicas catalogadas nos bancos de dados computadorizados PsycINFO, Medline,
Lilacs e Web of Science com os descritores pathological gambling, gamblers, treatment,
stages of change, motivational interviewing e readiness to change, entre 1990 e 2008
com a finalidade de caracterizar esta temática. Artigos relevantes publicados
anteriormente ao período escolhido de revisão foram selecionados. Concluiu-se que a
literatura atual dispõe de poucos estudos sobre o Jogo patológico e a motivação para
mudança e que esta ampliação pode aprimorar estratégias de tratamento e prevenção
Palavras-Chave: Jogo Patológico, Motivação para mudança
28
Introdução
Jogar é uma atividade fundamental no desenvolvimento humano, e a
aprendizagem infantil é baseada em brincadeiras e jogos. Competir, ganhar, perder,
relacionar-se com os outros, assim como desenvolver-se cognitiva e emocionalmente
são algumas das habilidades facilitadas pelo jogo (Cotta, 1993).
Jogar pode ser considerado, também, uma atividade voluntária, que possibilita
uma evasão da vida “real” para uma esfera temporária de atividade de orientação
própria, podendo ser entendido como um intervalo na vida cotidiana. A tensão é um
importante ingrediente, e é muitas vezes levada a extremos nos jogos de azar e nas
competições esportivas (Huizinga, 1999). Os jogos de azar têm, por definição estreita,
relação com o imprevisível, e pode ser definido como uma aposta de qualquer natureza
ou um item de valor sobre um jogo ou evento de resultado incerto, cujo resultado é
determinado em vários graus pelo acaso (Abreu , Tavares & Cordás, 2007).
Os jogos de azar e os problemas decorrentes desta prática parecem estar presentes
na história e na cultura. Em 1886, a literatura ganhou um relato muito importante, com
elementos autobiográficos, de um indivíduo com compulsão pelo jogo. O clássico livro
intitula-se O Jogador” e foi escrito por Dostoievski (1987) com o objetivo de saldar
suas dívidas pessoais contraídas com o jogo.
O Jogo Patológico (JP) como alteração do comportamento humano passou a ser
reconhecido oficialmente como transtorno psiquiátrico pouco mais de 20 anos a
partir da edição do Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais- DSM
(APA, 1980). O JP, segundo os critérios diagnósticos do DSM-IV-TR (APA, 2002), é
caracterizado pelo seguinte quadro:
29
A – Comportamento de jogo mal-adaptativo, persistente e recorrente, indicado por
cinco (ou mais) dos seguintes quesitos:
1 preocupação com jogo (preocupação com experiências passadas, especulação
do resultado ou planejamento de novas apostas, pensamento de como conseguir
dinheiro para jogar);
2 necessidade de aumentar o tamanho das apostas para alcançar a excitação
desejada;
3 – esforço repetido e sem sucesso de controlar, diminuir ou parar de jogar;
4 – inquietude ou irritabilidade quando diminui ou pára de jogar;
5 jogo como forma de escapar de problemas ou para aliviar estado disfórico
(sentimentos de desamparo e culpa, ansiedade, depressão);
6 depois da perda de dinheiro no jogo, retorna freqüentemente no dia seguinte
para recuperar o dinheiro perdido;
7 mentir para familiares, terapeuta ou outros, a fim de esconder a extensão do
envolvimento com jogo;
8 – cometer atos ilegais
, como falsificação, fraude, roubo ou desfalque para
financiar o jogo;
9 ameaçar ou perder relacionamentos significativos, oportunidades de trabalho,
educação ou carreira por causa do jogo;
10 – contar com outros para prover dinheiro, no intuito de aliviar a situação
financeira desesperadora por causa do jogo.
B O comportamento de Jogo Patológico não é melhor explicado por um
Episódio Maníaco.
30
O JP é também considerado um transtorno de hábitos e impulsos pela
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
(CID 10). Sob o código F63.0, o JP consiste de freqüentes e repetidos episódios de jogo,
que dominam a vida do indivíduo em detrimento de valores e compromissos sociais,
ocupacionais, materiais e familiares.
Custer (1984) descreveu padrões uniformes e progressivos no JP, começando com
pequenas apostas, normalmente na adolescência, e mais freqüente entre os homens. O
intervalo de tempo previsto entre começar a jogar e perder o controle sobre o jogo varia
de 1 a 20 anos, sendo mais comum em um período dio de 5 anos. O autor descreve
três fases distintas do comportamento de jogar, que são:
1- Fase da vitória: as vitórias tornam-se cada vez mais excitantes, e o indivíduo
passa a jogar com maior freqüência, acreditando que é um excelente apostador. Um
indivíduo que joga apenas socialmente geralmente pára de jogar
.
2- Fase da perda: a atitude de otimismo não-realista passa a ser característica do
jogador patológico. Depois de ganhar uma grande quantidade de dinheiro, o valor da
aposta aumenta consideravelmente, na esperança de ganhos ainda maiores. Jogar passa
a ocupar um tempo considerável na vida do jogador, e a perda passa a ser difícil de ser
tolerada. O dinheiro que ganhou no jogo é utilizado para jogar mais, e, em seguida, o
indivíduo emprega o salário, as economias e o dinheiro investido, e, por vezes, necessita
recorrer a familiares ou conhecidos para aliviar uma situação preocupante (perda de
emprego, divórcio). Jogar para recuperar os prejuízos é um marco do comportamento
patológico (Lesieur, 1979).
3- Fase do desespero: a principal característica é o aumento do tempo e do
dinheiro gastos com o jogo, bem como pelo afastamento familiar. Surge um estado de
pânico, uma vez que o jogador percebe o tamanho de sua dívida, o seu desejo de pagá-la
31
prontamente, o isolamento de familiares e amigos, a reputação negativa que passou a ter
na sua comunidade e, finalmente, um desejo nostálgico de recuperar os primeiros dias
de vitória. A percepção desses fatores pressiona o jogador, e o comportamento de jogar
aumenta ainda mais, na esperança de ganhar uma quantia que possa resolver todos esses
problemas. Alguns passam, então, a utilizar recursos ilegais para obter dinheiro. Nessa
fase, é comum a exaustão física e psicológica, sendo freqüente a depressão, os
pensamentos suicidas e o alcoolismo. Cabe ressaltar a importância da diferenciação
entre o jogador patológico e o jogador social. O jogador social é aquele que pára de
jogar em qualquer momento, independentemente de estar ganhando ou perdendo. Sua
auto-estima não está ligada a ganhar ou perder no jogo, pois estes indivíduos possuem
outros aspectos da vida mais relevantes e recompensadores. Em contrapartida, o jogador
patológico possui no jogo uma fonte de tensão, principalmente ao perder, e essa tensão
aumenta o impulso de jogar (Custer, 1984).
Apesar de existirem muitos casos de pessoas com esse transtorno, há poucos
trabalhos publicados e pouco conhecimento sobre o impacto do JP entre os brasileiros.
Em 2002, Oliveira realizou um estudo pioneiro sobre JP em uma amostra
brasileira. Esta pesquisa constituiu-se um estudo de campo, onde foram entrevistados
171 freqüentadores de casas de aposta (bingo, Jockey Club e videopôquer), dos quais 75
foram diagnosticados como jogadores patológicos. O perfil desta amostra revelou, em
sua maioria, homens (87,7%), com ensino dio ou nível superior (82,3%),
empregados em regime integral (71,6%), sendo a metade deles casados (50,7%), com
idade média de 40 anos de idade e renda mensal dia de R$4.000,00. Percebe-se que
esse perfil descreve adultos, pertencentes à classe média e inseridos no mercado de
trabalho.
32
Os dados disponíveis sobre a prevalência do JP sugerem uma incidência em torno
de 1% a 3% na população adulta nos Estados Unidos (APA, 2002). Em cidades com alta
concentração de casas de jogo, como Las Vegas (EUA), por exemplo, esse número
aumenta para 8,7% da população adulta (Ballone, 2003). Não pesquisas
epidemiológicas publicadas sobre a prevalência de JP na população brasileira, no
entanto, alguns indicativos são preocupantes como será visto a seguir. (Oliveira,
Silveira & Silva, 2008).
Danos de ordem financeira, legal, médica e psicológica estão claramente
relacionados ao JP e documentados na literatura. Jogadores patológicos com freqüência
cometem atos ilegais para sustentar a atividade; apresentam índices mais elevados de
divórcio (Nichols, Stitt & Giacopassi, 2004); sofrem de distúrbios cardiovasculares,
alergias, problemas respiratórios, perturbações do sono, problemas de coluna,
obesidade, cansaço crônico, enxaquecas, dores gástricas e outros sintomas físicos
(Oliveira, Silveira & Silva et al, 2008).
Jogo Patológico: impulso, compulsão ou dependência?
JP vem sendo considerado uma dependência comportamental semelhante à
dependência química (Holden, 2001). Com o avanço das neurociências, hoje se sabe
que o sistema mesolímbico de recompensa tem papel central no desenvolvimento e na
manutenção da dependência de substâncias (Reuter, Raedler, Rose, Hand, Glascher &
Buschel, 2005). A hipótese mais aceita, do ponto de vista neuroquímico, é a de que os
farmacodependentes apresentam uma deficiência no sistema de recompensa e que a
procuram compensar com o uso da droga (Blum, Braverman, Holden, Lubar, Monastra
& Miller, 2000). Especula-se que o JP também esteja relacionado à deficiência do
sistema dopaminérgico mesolímbico de recompensa.
33
Em um estudo realizado em 2005, Reuter et al., verificaram menor ativação do
estriado ventral direito em jogadores patológicos do que em controles normais, achado
característico de dependentes de substâncias, além de apresentarem menor ativação do
córtex pré-frontal ventro medial e ventro lateral (VMPFC), relacionado com o controle
de impulsos deficiente. Estudos de neuroimagem mostram que regiões cerebrais são
ativadas quando jogadores patológicos vêem imagens de caça-níqueis, sugerindo que a
via tegmental ventral (VTA) - accumbens também tem papel importante nas
dependências comportamentais (Nestler & Malenka, 2004).
Jogar é uma atividade que causa prazer, tal qual o uso de uma droga. A aposta
envolvendo dinheiro, risco e excitação produzem, muitas vezes, bem estar e euforia,
além de sensação de poder e de sucesso (DeCaria, Hollander, Grossman & Wong,
1996). A magnitude do impacto do Jogo Patológico no indivíduo, segundo estudo
realizado por Tavares, Zilberman, Hodgins & El-Guebaly (2005) pode acarretar fissura
(craving) no jogador patológico na ausência do jogo, podendo ser tão ou mais severa do
que nos dependentes de álcool.
Em artigo de revisão da literatura sobre o JP, Tavares, Gentil, Oliveira e Tavares
(1999) discutiram a definição e a compreensão de termos e conceitos envolvidos na
dinâmica do transtorno de Jogo Patológico, entre eles compulsividade e impulsividade,
na tentativa de contribuir com sua caracterização fenomenológica e clínica. Segundo os
autores, o caráter egossintônico do comportamento de jogar, a sua estreita relação com o
prazer (Moran, 1983, apud Tavares et al., 1999) e a sua associação com outras
patologias de perfil impulsivo justifica sua classificação entre os transtornos de controle
dos impulsos. Contudo, o Jogo Patológico apresenta comorbidade com outras patologias
de caráter não impulsivo, principalmente com transtornos de humor e com transtornos
de ansiedade, e o ato de jogar, como forma de evitar estados emocionais desfavoráveis,
34
associado à sintomatologia ansiosa, sugeriria, para alguns autores, uma natureza
compulsiva (Skodol e Oldham, 1996, apud Tavares et al., 1999). Cloninger (1996)
propõe que a “esquiva ao dano” seja um dos componentes do conceito de
compulsividade e que, combinada à impulsividade, sintetize a dinâmica básica das
dependências: o desejo da experimentação associado à avidez precipitam o
comportamento; no entanto, o medo do estado emocional desagradável, quando de sua
interrupção, é responsável por sua manutenção.
Na tese de doutorado defendida por Tavares (2000), o autor analisa o JP e suas
relações com o espectro impulsivo-compulsivo. Neste estudo, foram selecionados 40
jogadores patológicos, 40 portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e 40
controles normais, com o objetivo de comparar o JP com TOC quanto às características
de curso clínico, comorbidades e, principalmente, em relação a traços de personalidade
com enfoque específico em impulsividade e compulsividade. Uma das conclusões mais
importantes deste trabalho é que, embora combine traços impulsivos (pouca reflexão
seguida de rápida reação) e compulsivos, a personalidade do jogador patológico é
distinta do portador de TOC no que se refere à necessidade de busca de novidades, o
que é mais presente em jogadores do que nos controles e nos portadores de TOC.
Quanto ao curso, os sintomas de TOC iniciam antes que os problemas com jogo. O
curso clínico do JP e a elevada comorbidade com alcoolismo e tabagismo, segundo o
autor, demonstram mais semelhanças com dependências químicas do que com TOC.
Para o autor, a definição que mais se aplica ao JP é uma dependência comportamental,
cujo traço mais saliente é a impulsividade e a sensação de êxtase, semelhante à
experimentada pelas drogas, e que, neste caso, vem da aposta, da emoção de obter bons
resultados e de ganhar.
35
Comorbidades
A freqüente comorbidade de sintomas, de transtornos psiquiátricos e de
personalidade contribuem para tornar complexo o quadro clínico do JP, sendo mais
comum o Transtorno de Humor, o Transtorno de Ansiedade, a Dependência do Álcool e
outras drogas (Crockford & El-Guebaly, 1998; Petry, Stinson & Grant, 2005). Homens
jogadores patológicos apresentam alta comorbidade, ao longo da vida, com transtornos
afetivos, variando de 21% a 60% (Black e Moyer, 1998; Becoña, Lorenzo e Fuentes,
1996), e com dependência de substâncias, variando de 25% a 65% (Black & Moyer,
1998; Crockford & El-Guebaly, 1998).
Inúmeras pesquisas apontam a associação entre o JP e a dependência de drogas.
Carvalho, Collakis, Oliveira e Silveira (2005) realizaram uma pesquisa em São Paulo,
com amostra de 74 pacientes de três serviços especializados em tratamento para
Dependência Química. Foi encontrada alta freqüência de JP nessa amostra de
dependentes químicos que procuraram tratamento (18,9% da amostra caracteriza-se
como jogador patológico e 10,8% como “jogador problema”), corroborando com dados
da literatura internacional sobre a comorbidade entre estes transtornos.
Em artigo de revisão da literatura sobre a relação entre os Transtornos do Humor e
JP, Kim, Grant, Eckert, Faris e Hartman (2006) enfocaram o tratamento quando estas
patologias estão associadas. Os autores discutiram a possibilidade de a depressão
influenciar na motivação para o jogo, ou de apresentar-se como aspecto secundário
(conseqüências do hábito de jogar, perdas financeiras, estresse). Os autores concluíram
que, na maior parte dos estudos, não é possível afirmar que a depressão é primária ou
secundária aos problemas relacionados ao jogo. Entretanto, salientaram que
comportamentos como jogo, sexo e compras compulsivas aparecem como tentativa de
“automedicação” dos sintomas depressivos (Goldman, 1991).
36
Muitos estudos sugerem que essas comorbidades também ocorram em mulheres,
apesar de a maior parte dos estudos sobre JP ter como base a população masculina.
Entretanto, estima-se que um terço dos indivíduos que recebam este diagnóstico sejam
mulheres, que apresentam maior propensão à depressão (Tavares et al., 1999).
Martins, Lobo, Tavares e Gentil (2002), em um artigo de revisão da literatura
sobre o JP entre mulheres, sugerem que um aprofundamento das relações entre o JP e a
questão do gênero seja promissor. Segundo os autores, os poucos estudos encontrados
nesta área indicam que os jogos de azar impactam de maneira diferente nos gêneros,
afetando significativamente as mulheres, que podem vir a desenvolver o quadro de JP
duas vezes mais rápido do que os homens. Entre os estudos sobre mulheres jogadoras,
os autores destacaram o de Strachan e Custer, de 1993, com 52 mulheres jogadoras nos
Jogadores Anônimos (JA) de Las Vegas, em 1989, e identificaram o perfil típico da
jogadora como caucasiana (83%), de 30 a 49 anos (76%), casada (67%), com filhos
(75%), com ensino médio (74%) e que jogava videopôquer (90%). Entre as
complicações associadas ao jogo estavam tentativas de suicídio (23%), alcoolismo
(10%) e dependência de drogas ilícitas (23%).
Volberg e Steadman (1988) verificaram que 7% dos indivíduos em programas de
tratamento para JP em Nova Iorque (EUA) eram mulheres. Entretanto, estudos de JP na
população geral do Canadá e dos EUA mostram uma razão homem-mulher de 2:1 a 3:1
(Ladoucer, 1991; Coman, Burrows & Evans, 1997).
Quanto aos aspectos genéticos, Eisen, Lin e Lyons (1998) investigaram a
ocorrência familiar de Jogadores Patológicos e identificaram que está altamente
associado com alcoolismo.
37
Jogo Patológico e Motivação para Mudança
Várias modalidades terapêuticas têm sido sugeridas no tratamento de jogadores
patológicos, mas estudos sobre a sua efetividade parecem estar apenas no início. A
literatura científica sobre a eficácia dos tratamentos para o JP é escassa (Lopez-Viets &
Miller, 1997). Até o momento não é possível afirmar que um único tratamento para
intervir sobre esta patologia.
Petry e Armentano (1999) revisaram formas de tratamento para JP, e não foi
encontrado um modelo padrão. As intervenções pesquisadas pelos autores foram:
Jogadores Anônimos, terapia de casal e família, grupo de apoio para familiares, terapia
cognitivo-comportamental, entrevista motivacional, farmacoterapia e manuais de auto-
ajuda.
Um estudo de revisão recente sobre psicoterapia psicodinâmica para JP realizado
por Rosenthal (2008) não revelou nenhum estudo controlado randomizado sobre a
eficácia ou a efetividade desse tratamento, mas apontou estudos com desfechos
positivos descritos como ecléticos multimodais e programas psicodinâmicos que
obtiveram maior êxito.
Wulfert, Blanchard, Freidenberg e Martell (2006) realizaram um estudo
exploratório piloto com nove jogadores patológicos que receberam tratamento
combinado, envolvendo a Entrevista Motivacional e a Terapia Cognitivo
Comportamental, comparando-os com o grupo controle de pacientes no mesmo centro
de atendimento, com o objetivo de discutir os benefícios desta intervenção. Constataram
que seis pacientes mantiveram total abstinência durante um ano, dois tiveram
significativa melhora e apenas um recaiu.
Em 2005, Jiménez et al., destacaram, em uma consistente revisão da literatura,
oito ensaios clínicos controlados para tratamento do JP. Todos os estudos seguem uma
38
orientação cognitivo-comportamental, demonstrando nos resultados que esta
modalidade terapêutica é superior à condição de não-tratamento. Neste mesmo estudo,
realizado na Espanha, os pesquisadores analisaram a efetividade da modalidade grupal
de tratamento entre JP e evidenciaram que a maior taxa de abandonos e recaídas se
produzia durante as cinco primeiras semanas, concluindo que a baixa motivação parecia
interferir na aderência ao tratamento. Segundo estes autores, é possível identificar uma
série de fatores preditores de fracasso terapêutico, entre eles elevados níveis de
ansiedade e depressão, maior gravidade do transtorno e baixa motivação para mudança.
Independente da modalidade terapêutica, o que se percebe é que muitos autores
concordam que uma das variáveis mais relevantes implicadas na adesão ao tratamento é
a motivação para a mudança (DiClemente, Story & Murray, 2000).
Segundo Miller e Rollnick (2001), motivação pode ser definida como a
probabilidade que uma pessoa inicie, continuidade e permaneça em um processo de
mudança. A motivação não deve ser vista como algo estável ou inerente à personalidade
ou ao caráter da pessoa, mas sim como algo fluido que pode oscilar entre diversas
situações ou momentos. Neste sentido, em relação aos comportamentos dependentes,
motivar o paciente para tratamento deve ser um dos principais objetivos do processo
terapêutico, sendo a motivação um estado interno que pode ser influenciado
externamente. Assim, a motivação, vista como mutável e intercalada, facilita o processo
e manutenção da mudança, bem como favorece os resultados positivos do tratamento
(Miller & Tonigan, 1996; Prochascka & DiClemente, 1992).
Uma das contribuições mais relevantes nesta área tem sido representada pelo
Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento, desenvolvido por James
Prochaska
, em 1979, a partir da análise comparativa de mais de 29 teorias e modelos
dos principais enfoques psicoterápicos, tendo como foco o processo de mudança
39
(Fuentes-Pila, Calatayud, Lopes & Castaneda, 2005). No transcorrer do estudo, os
resultados sempre se mostravam os mesmos: todas as teorias tinham suas limitações e
nenhuma delas explicava detalhadamente o processo de motivação para mudança nas
pessoas. Diante dessa análise, o modelo que nascia foi denominado “transteórico”, e
teve como principal pressuposto o fato de que automudanças bem-sucedidas dependem
da aplicação de estratégias certas (processos), no momento certo (estágios) (Prochaska,
DiClemente & Norcross, 1992). Para a construção do Modelo Transteórico, foram
identificadas e incorporadas as explicações que cada teoria dava ao processo de
mudança em uma pessoa. Como conseqüência, o Modelo Transteórico torna-se
diferente de outros modelos teóricos, na medida em que foi direcionado especificamente
para a compreensão do processo de mudança de comportamentos-problema e para a
busca de hábitos saudáveis (Oliveira, Calheiros & Andretta, 2006).
Entre as implicações mais significativas deste modelo está a descoberta da
necessidade de acessar o estágio de prontidão para mudança do paciente e,
posteriormente, de adequar as intervenções terapêuticas a ele (Prochaska et al., 1992).
Avaliar a motivação para a mudança, independentemente do tratamento utilizado,
parece ser um aspecto fundamental para utilização de intervenções terapêuticas
adequadas.
Os estágios motivacionais são descritos de forma bem definida e, inicialmente,
foram descritos quatro estágios: a Pré-contemplação, a Contemplação, a Ação e a
Manutenção. Posteriormente, verificou-se que, entre o estágio de Contemplação e o de
Ação, as pessoas passavam por uma fase de planejamento das possíveis ações. Esse
estágio foi denominado Determinação ou Preparação, e passou a ser incluído como o
terceiro estágio (Prochaska et al., 1992).
40
No estágio de Pré-contemplação não se observa nenhuma intenção de mudar o seu
comportamento problema, e, geralmente, a existência de um verdadeiro problema é
completamente negada. Os pré-contempladores dificilmente procuram ajuda para iniciar
seu processo de mudança e, quando o fazem, geralmente é por outros motivos, como
encaminhamento judicial ou pedido dos familiares e dos companheiros. Mesmo quando
iniciam tratamentos, evidenciam uma ativa resistência à mudança, fugindo de tudo que
se relacione ao seu problema. Na maioria dos casos, observa-se que algumas tentativas
de mudanças foram ensaiadas no passado, porém, sem sucesso (Prochaska et al.,
1992).
A consideração da possibilidade de mudança ocorre no estágio de Contemplação.
A pessoa admite ter um problema e considera as possibilidades de mudança, mostrando
preocupação e uma clara avaliação entre as vantagens e as desvantagens de mudar. Essa
avaliação pode se cronificar na forma de uma profunda ambivalência e, com muita
frequência, substituem a ação pelo pensamento. Dessa forma, são mantidas nesse
estágio por longos períodos de tempo. A transição desse estágio para o estágio de
preparação é marcada por um foco maior na solução do que no problema, bem como em
um pensamento mais direcionado para o futuro, não mais para o passado (Prochaska et
al., 1992).
O estágio de Preparação ou Determinação é marcado pelo planejamento. Há uma
maior conscientização do problema, e o indivíduo constrói um plano cuidadoso de ações
orientadas para a mudança (Oliveira, 2000). Um aspecto importante para o sucesso
desta etapa é a necessidade de que a intenção de mudar se torne pública. Nesta etapa,
não há, necessariamente, uma ação ocorrendo concomitantemente, visto que as pessoas
no estágio de preparação não precisam ter sua ambivalência completamente resolvida
(Prochaska, DiClemente & Norcross, 1994).
41
A marca do Estágio de ão é a modificação do comportamento-alvo através de
esforços para mudança. A Ação é um período que exige muita dedicação e energia
pessoal, sendo que as mudanças realizadas neste estágio o mais visíveis do que as
anteriores. Nesse contexto, a maioria das pessoas iguala, equivocadamente, o estágio de
ação ao sucesso da mudança (Prochaska et al., 1994).
O estágio de Manutenção é o grande desafio no processo de mudança, sendo a
estabilização do comportamento em foco a sua marca. É necessário um esforço
constante do indivíduo para consolidar os ganhos conquistados nos outros estágios,
principalmente no de ação, além de prevenir continuamente lapsos e recaídas
(Prochaska & Velicer, 1997).
Para Miller e Rollnick (2001) existiria ainda um sexto estágio, a Recaída, no qual
a tarefa do indivíduo é voltar a circular pelos demais estágios. A recaída é normal e
prevista quando se busca uma mudança de comportamento por longo prazo.
O processo de mudaa é um conceito essencial no Modelo Transteórico e
possibilita o entendimento de como a mudança do comportamento ocorre. O processo
de mudança não pode ser considerado meramente linear, pois seus estágios são
compreendidos como parte de um espiral”, em que a pessoa pode se movimentar de
um estágio para o outro, sem uma ordem estabelecida (Prochaska, DiClemente &
Norcross,1992).
Utilizando o construto do Modelo Transteórico, foram criadas escalas para a
mensuração dos estágios motivacionais, como
a University of Rhode Island Change
Assessment (URICA) (McConnaughy, Prochaska & Velicer, 1983) e a The Stages of
Change Readness and Treatment Eagerness Scale (SOCRATES) (Miller & Tonigan,
1996), além da utilização de algoritmos, escalas analógico-visuais, entre outras. A teoria
motivacional vem sendo regularmente estudada, permitindo a avaliação pragmática de
42
seus parâmetros por meio de escalas com validade e confiabilidades que variam de boa
a excelente, mas que necessitam ser adequadas aos diversos comportamentos- problema.
O tratamento farmacológico vem sendo investigado, porém a maior parte dos
estudos são relatos de caso ou estudos abertos não-controlados. Carbamazepina,
Carbonato de Lítio e Clomipramina foram utilizados com relativo sucesso (DeCaria,
Hollander & Grossman, 1996). Foram propostos, também, inibidores seletivos de
recaptação da serotonina, como a fluoxetina (Coman, Burrows & Evans, 1997), em
função da compulsão manifestada em jogadores. O fato é que há descrição de resultados
positivos com o uso de estabilizadores de humor e antidepressivos, pois a melhora dos
pacientes está muito associada à melhora de sintomas de depressão e ansiedade, que são
comorbidades à patologia (Oliveira & Sáad, 2006). Estudos atuais sugerem o uso de
Olanzapina e Carbamazepina em pacientes jogadores patológicos (Black, Shaw &
Allen, 2008).
Discussão dos Resultados
O Jogo Patológico é uma patologia grave do ponto de vista psiquiátrico e social, e
pouco investigada do ponto de vista científico. Apesar de apresentar semelhanças com a
dependência química, prescindindo de uma substância psicoativa, necessita ser vista
com suas particularidades para que se possa intervir de forma adequada e eficaz.
Este problema tem preocupado a comunidade científica e sugerido a construção
de estratégias terapêuticas, tais como grupos Jogadores anônimos, psicoterapias,
medicamentos, tratamentos ambulatoriais, internações e atendimento à família. Nos
escassos locais para atendimento específico do JP persistem algumas questões: “Quais
as deficiências desses tratamentos?”, “Qual estratégia é necessária para aumentar a
aderência ao tratamento e a eficácia de uma intervenção terapêutica?”, “O que faz com
43
que algumas pessoas consigam modificar sózinhas comportamentos-problema,
enquanto outras fazem uma peregrinação em diferentes tratamentos?”.
Diante destes questionamentos, a motivação do paciente vem tomando papel de
destaque e parece ter uma importante contribuição também no tratamento do JP.
A exploração comercial do jogo, apesar da proibição legal de algumas
modalidades, impõe a necessidade de informação da população e qualificação dos
profissionais da área da saúde na realização de um diagnóstico precoce da patologia. Por
se tratar de um transtorno com elevados índices de comorbidade, principalmente com a
dependência química e os Transtornos de Humor, uma coleta cautelosa e minuciosa da
história pessoal e do curso da doença pode desvelar ou facilitar um importante aspecto a
ser considerado para o tratamento.
Com o objetivo de compreender a mudança do comportamento, o Modelo
Transteórico de Motivação para Mudaa traz transformões decisivas à cncia.
Apontar a mudança como um processo e não como um evento isolado contribui de
forma extremamente relevante para o planejamento de abordagens terauticas.
Compreender o quanto um paciente está motivado traz imensos avanços para a área
da saúde, na medida em que orienta a equipe de profissionais para o uso de
interveões mais adequadas.
Estudar a respeito do Modelo Transteórico frente ao comportamento de Jogo
Patológico revelou a necessidade de mais pesquisas envolvendo esse tema, utilizando
amostras variadas. As publicações costumam ser mais centradas nas pesquisas
envolvendo o uso de álcool e tabaco. Pesquisas relacionando o Modelo Transteórico ao
Jogo Patológico ainda são restritas, o que demonstra a importância de estudos que
considerem as particularidades de cada comportamento dependente.
44
Considerações Finais
Concluímos que existe a necessidade de bons instrumentos validados e adaptados,
que identifiquem o estágio motivacional dos pacientes que iniciam qualquer modalidade
de intervenção terapêutica, principalmente nos comportamentos dependentes. Identificar
em que estágio de mudança a pessoa se encontra significa uma ampliação nas
possibilidades de predizer o resultado do tratamento, mas, acima de tudo, de elaborar
estratégias terapêuticas que facilitem o processo de modificação do comportamento
relacionado, neste caso, ao hábito de jogar.
45
Referências
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Controle dos Impulsos. Porto Alegre: Artmed.
American Psychiatric Association (APA) (1980). DSM-III. Manual Diagnóstico
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51
SEÇÃO II: ESTUDO EMPÍRICO
TRADUÇÃO, EQUIVALÊNCIA SEMÂNTICA E ADAPTAÇÃO CULTURAL
DA UNIVERSITY ROHDE ISLAND CHANGE ASSESSMENT (URICA) -
ADAPTAÇÃO BRASILEIRA PARA O JOGO PATOLÓGICO
52
Tradução, Equivalência Semântica e Adaptação Cultural da University Rohde
Island Change Assessment (URICA) – Adaptação Brasileira para o Jogo Patológico
Resumo
Objetivo: A University of Rhode Island Change Assessment Scale (URICA) é um
instrumento de 24 itens, auto-aplicável, e utilizado para avaliar os estágios
motivacionais e a prontidão para mudaa em comportamentos dependentes. O objetivo
deste estudo é descrever o processo de tradução e adaptação desta escala em uma
amostra de jogadores patológicos. Métodos: O questionário foi traduzido do original
em inglês para o português, utilizando processo de tradução-retradução (inglês-
português-inglês).
Após, o questionário foi aplicado em 10 sujeitos, do sexo masculino
e feminino, com idades entre 20 e 70 anos e diferentes graus de escolaridade, com o
objetivo de verificar as dificuldades de compreensão, expressões confusas e/ou
ambíguas. Posteriormente, seguiu-se com a avaliação das versões original e back-
translation por um comitê de especialistas composto por três juízes que avaliaram o
instrumento. A versão final foi apresentada a um dos autores da escala que aprovou sua
aplicação. Resultados: Houve necessidade de ajustes no vocabulário em algumas
questões e optou-se pela inclusão de termos que se referem ao “hábito de jogar”,
fazendo referência ao comportamento estudado e as particularidades desta amostra.
Realizou-se a análise descritiva interjuízes e observou-se uma concordância entre os
juízes de 75%, o que correspondeu a 18 itens da escala
, no que se refere às traduções do
instrumento. Para os 6 itens restantes, utilizou-se o critério de desempate pelo terceiro
juiz.
53
Conclusões: Considerando-se o processo de tradução - retradução, os pareceres dos
especialistas e a aprovação de um dos autores da escala, construiu-se então a versão
final da URICA - adaptação brasileira para jogo patológico que mostrou-se um
instrumento de fácil aplicação e com boa equivalência semântica.
Palavras-chave: Tradução, adaptação, escalas de motivação, jogo patológico
54
Introdução
O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento, desenvolvido por
James Prochaska nos anos 1970 (Prochaska, 1979), representa uma importante
contribuição no entendimento do processo de motivação que envolve a mudança de
comportamento. Este modelo es baseado na premissa de que a mudança
comportamental é um processo, e que as pessoas tem diversos níveis de motivação, de
prontidão para mudar (Oliveira, Calheiros & Andretta, 2006).
Em 1982, Prochaska e DiClemente realizaram uma pesquisa com tabagistas e
delinearam quatro estágios que estruturam o processo de mudança: Contemplação,
Determinação, Ação e Manutenção. Posteriormente, em 1983, os mesmos autores
identificaram a Pré-contemplação como um estágio que precede a Contemplação.
Diante disso, esses níveis são sequenciados em cinco estágios: Pré-contemplação,
Contemplação, Determinação, Ação e Manutenção (Prochaska, DiClemente &
Norcross, 1994).
O modelo teórico dos estágios motivacionais tem início com a pré-
contemplação, estágio no qual a pessoa não considera a necessidade de ajuda, assim
como não demonstra consciência suficiente de que tem problemas, embora outras
pessoas do seu convívio possam estar cientes disso. Quando a pessoa passa a considerar
seu comportamento como um problema com possibilidade de mudanças, ela entra no
estágio de contemplação (DiClemente,1991). Seguindo para o estágio de Preparação, há
a combinação de uma conduta orientada na mesma direção da intenção de mudar. Nesse
estágio, geralmente as pessoas são descritas como prontas para entrar no estágio de ação
(Oliveira, 2000), e, quando essas tentativas são colocadas em prática, este indivíduo se
encontra no estágio de ação. Finalmente, a estabilização do comportamento em foco
55
ocorre no estágio de Manutenção, no qual a pessoa modifica seu estilo de vida, evitando
a recaída, atingindo abstinência e consolidando as mudanças.
Prochaska, DiClemente e Norcross (1992) afirmam que avaliar a motivação para
mudança, independentemente do tratamento utilizado, parece ser um aspecto importante
para a utilização de intervenções adequadas aos pacientes. O resultado de uma correta
avaliação implica melhores estratégias para a promoção da motivação para mudança de
comportamento. A utlilização de escalas para monitoração da motivação é freqüente, e
destacam-se duas na literatura: a University Rhode Island Change AssessmentURICA
(McConnaughy, Prochaska & Velicer,1983) e a Stages of Change Readiness and
Treatment Eargness Scale - SOCRATES (Miller & Tonigan, 1996), utilizada
especificamente para o comportamento de beber.
A University Rhode Island Change Assessment (URICA), desenvolvida por
McConnaughy, Prochaska e Velicer (1983), é um instrumento que se destina a avaliar
os estágios motivacionais e a prontidão para a mudança. É uma medida de auto-relato,
do tipo escalar, inicialmente criada para estudar os problemas relacionados ao
tratamento do tabagismo e, atualmente, empregada de forma genérica para todos os
problemas associados a comportamentos de dependência. A URICA possui, atualmente,
três versões: uma composta por 32 itens, outra por 28 itens e uma versão reduzida de 24
itens, que são divididos em quatro subescalas: Pré-contemplação, Contemplação, Ação
e Manutenção. A URICA, na sua vero original, não é especificada para o tipo de
comportamento-problema, mas se refere, genericamente, ao problema do sujeito.
Em estudos mais recentes, Diclemente, Schlundt e Gemmell (2004) discutiram e
apresentaram outro conceito, mais genérico e dinâmico que o conceito de estágios,
chamado de prontidão para mudança. O significado de Prontidão para Mudança pode
56
ser conceitualizado como a combinação da importância que o sujeito ao seu
problema combinado com a sua capacidade de mudar.
A validação da URICA para a população americana iniciou com a criação de
165 itens, que foram encaminhados a três juízes com bom conhecimento na área. Desses
itens, 145 apresentaram boa consistência, mas apenas 125 foram realocados no
instrumento. A redução do instrumento evoluiu e dividiu-se em três etapas: na primeira
etapa, foram considerados 75 itens, com 15 itens por estágio; na segunda etapa, 50 itens,
com 10 itens para cada estágio; e, na terceira e última etapa, foi construída uma versão
com 32 itens, tendo 8 itens para cada estágio. É importante ressaltar que a partir da
análise fatorial, o estágio de Determinação o se manteve como um estágio separado,
não se constituindo, portanto, como um domínio do instrumento. As análises estatísticas
utilizadas foram correlação inter-itens, correlação entre cada item, escore total de itens,
coeficiente de alfa de Cronbach, coeficiente de correlação linear de Pearson e análise de
clusters (McConnaughy, DiClemente, Prochaska & Velicer, 1989). O coeficiente alfa
de Chronbach, na validação americana, variou de 0.88 a 0.89. A amostragem estudada
era composta de pacientes ambulatoriais, provenientes de serviços comunitários,
psicoterapia particular, centros de aconselhamento e tratamento militar ou universitário.
Stephens Cellucci e Gregory (2004) avaliaram adolescentes usuários de tabaco,
por meio da URICA, para medir o quanto estes adolescentes estavam preparados para a
cessação do comportamento de fumar. Após a aplicação, verificaram que os
adolescentes que pontuaram mais no estágio de ação e/ou manutenção foram aqueles
que realizaram as mudanças mais concretas a respeito do hábito de fumar,
comprovando, assim, a capacidade da URICA em discriminar a motivação dos
indivíduos para a modificação do comportamento.
57
No Brasil, já existe uma versão adaptada e validada da URICA de 32 itens para
uma amostra de pessoas com problemas relativos ao álcool (Figlie, Dunn & Laranjeira,
2004) e ao uso de drogas ilícitas (Szupszynski & Oliveira, 2006). Esta versão está em
processo de validação para outros tipos de comportamentos, sendo liderado pelo Grupo
de Pesquisa Avaliação e Atendimento em Psicoterapia Cognitiva da PUCRS. Sua
utilidade clínica e a valorização que lhe foi conferida, principalmente pelos profissionais
da área da dependência química, têm justificado sua aplicação.
O interesse na validação da URICA para jogadores patológicos se justifica por
que ela é vista como uma patologia grave, considerando os enormes prejuízos sociais,
financeiros e emocionais causados pelo jogo na vida dos indivíduos (Oliveira, Silveira
& Silva, 2008).
A divulgação de pesquisas sobre validação e propriedades psicométricas de
escalas traduzidas e adaptadas ao nosso idioma e ao nosso país ainda é restrita. Não
basta traduzir um instrumento, é necessário realizar um rígido procedimento de
avaliação dessa tradução, verificando a adaptação transcultural e as suas propriedades
psicométricas (Ciconelli, 2003).
As crenças, atitudes, costumes, comportamentos e hábitos sociais são
característicos de cada sociedade e ditam os comportamentos que refletem a cultura de
um povo. Dessa forma, a tradução de uma escala deve primar pela linguagem simples e
clara, mantendo-se equivalente no que tange aos seus conceitos culturais (Ciconelli,
Ferraz, Santos, Meinão & Quaresma, 1999).
Metodologicamente, a tradução de um instrumento deve ser feita por, pelo
menos, dois tradutores independentes e cientes do objetivo da tradução. Um comide
especialistas conhecedores da finalidade do instrumento e dos conceitos a serem
analisados deve produzir a versão final do instrumento, baseado nas traduções e nas
58
backtranslation, comparando os resultados entre si (Duarte, Myiazaki, Cicconelli &
Sesso, 2003).
O objetivo deste trabalho é apresentar o processo de tradução e adaptação da
University Rhode Island Change Assessment (URICA) para jogadores patológicos a
partir do processo de tradução retradução
, e de acordo com parecer dos juízes
especialistas. A viabilidade deste instrumento no Brasil, considerando-se as
particularidades de cada comportamento dependente, poderá auxiliar na elaboração de
estratégias de intervenção mais adequadas e eficazes no campo dos comportamentos
dependentes, e principalmente no avanço de estudos sobre o tratamento do Jogo
Patológico.
Método
Trata-se de um estudo de instrumental (Carretero-Dios & Perez, 2005).
Instrumentos
Entrevista estruturada, contendo dados sócio-demográficos e critérios
diagnósticos para avaliar o Jogo Patológico, de acordo com DSM-IV-TR (APA, 2002).
University Rhode Island Change Assessment- URICA ((McConnaughy,
Prochaska e Velicer, 1983) que mede os estágios motivacionais e a prontidão para
mudança. É uma escala likert, com 24 itens na sua versão reduzida, onde são atribuídos
pontos de 1 (discordo totalmente) à 5 (concordo totalmente), distribuídos em 4
subescalas: Pré-contemplação (itens 1,5,7,16,19 e 22), Contemplação (itens 3,6,9,13, 14
e 17), Ação (2,4,8,11, 18,e 23) e Manutenção (10,12,15,20,21 e 24).
59
Procedimentos
O processo de tradução e adaptação da URICA para Jogo patológico
compreendeu as fases descritas a seguir:
Tradução do instrumento: a University of Rhode Island Change Assessment
Scale (URICA) foi traduzida da Língua Inglesa para a Língua Portuguesa. O trabalho
foi realizado por uma profissional, graduada em Letras, habilitada em Língua Inglesa e
conhecedora do objetivo da tradução.
Aplicação do instrumento traduzido: a URICA foi aplicada em 10 sujeitos,
jogadores compulsivos, dos sexos masculino e feminino, entre 20 e 70 anos de idade,
com no mínimo 5 anos de estudo, a fim de verificar dúvidas ou expressões idiomáticas
confusas. Os sujeitos não tiveram dificuldade em compreender o que estava sendo
proposto e responderam o questionário entre 15 e 20 minutos.
Back-translation: a partir da primeira tradução, o instrumento foi vertido para o
idioma de origem. O trabalho foi realizado por um profissional habilitado em Língua
Inglesa, com fluência e domínio do idioma, desconhecedor do objetivo da tradução.
Comitê de juízes especialistas: todo o processo de tradução e back-translation
foi encaminhado para um comitê composto por dois psicólogos e um psiquiatra
experientes e conhecedores do tema da pesquisa, da finalidade do instrumento e dos
conceitos a serem analisados. O trabalho dos dois primeiros juízes consistiu em detectar
possíveis divergências nas traduções, cabendo-lhes comparar os resultados entre si, e
verificando se os itens da escala referiam-se ou não ao tema que se propunha a medir. O
parecer do terceiro juiz serviu de desempate para os itens que não obtiveram
concordância entre o juiz 1 e o juiz 2. A partir dos pareceres, produziu-se a versão final
do instrumento que foi submetida, também, a um dos autores da escala, o Prof. Carlo
DiClemente, que revisou e aprovou o instrumento para a aplicação.
60
Estudo piloto: a versão final em português foi aplicada em 25 sujeitos com as
características da amostra pesquisada. O objetivo desta aplicação foi verificar, do ponto
de vista dos participantes, se o instrumento também estava adequado tanto gramatical
quanto funcionalmente. Foram excluídos do estudo os sujeitos sem a escolaridade
mínima estabelecida ou sem as condições de compreender o que estava sendo proposto
no preenchimento dos instrumentos de pesquisa.
O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
PUCRS e todos os entrevistados preencheram o consentimento livre e esclarecido
elaborado para esta pesquisa.
Resultados
Os resultados das avaliações de tradução e back-translation, juntamente com os
pareceres dos juízes especialistas, indicaram alguns problemas em alguns itens da
URICA que precisavam de ajustes, no sentido de melhor adequar as frases traduzidas à
Língua Portuguesa coloquial.
O quadro1 mostra a primeira tradução do inglês- português comparando-a com a
versão final da URICA- adaptação brasileira para Jogo patológico.
A primeira modificação realizada diz respeito à inclusão da expressão “hábito de
jogar” logo no cabeçalho da escala. A URICA vem sendo utilizada de forma genérica
para todos os comportamentos de dependência e por isso utilizava a palavra
“problema”, o que pareceu ser uma questão confusa, principalmente para aqueles
sujeitos que apresentam mais de um comportamento dependente, por exemplo: jogar e
beber. Por sugestão dos juízes, optou-se pela inclusão de expressões que se referem ao
hábito de jogar nas questões 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11,12, 13, 14, 16, 18, 19, 20, 21, 22,
23 e 24.
61
Na questão 7, retirou-se a palavra “defeitos”, mantendo o foco na questão
relacionada ao jogo. Entendendo-se que não se trata de algum problema inerente ao
caráter do sujeito, o foco no comportamento relacionado ao hábito de jogar foi mantido.
Na questão 13, a expressão “eu gostaria de saber melhor” foi substituída pela
expressão “eu gostaria de ter mais idéias” para uma melhor compreensão do item, assim
como na questão 14 substituiu-se “Talvez algo ou alguém seja capaz de me ajudar” por
“eu espero poder encontrar mais razões para mudar meu comportamento”, por sugestão
do autor da escala.
Na questão 19, a expressão Todo este papo de psicologia” foi substituída por
“toda esta conversa”, porque a URICA nem sempre foi aplicada em locais de
tratamento.
A análise estatística descritiva dos itens mostrou uma concordância entre os
juízes 1 e 2 de 75%, significando que 18 itens não causaram nenhuma dúvida sobre o
que se propuseram a medir. Para os 6 itens restantes, utilizou-se o critério de avaliação
por um terceiro juiz (J 3), que determinou qual item se aplicava melhor a situação. Os
itens que não apresentaram concordância de 100% entre os juízes 1 e 2 foram: 3 (C), 6
(C), 7 ( PC), 8 (A), 15 (M) e 16 (PC). Nestes 6 itens, o terceiro juiz optou pela versão
final como sendo a mais apropriada.
Cabe ressaltar, que as discordâncias entre os juízes 1 e 2 diziam respeito
exclusivamente às traduções, visto que houve 100% de concordância entre os juízes
sobre o construto que cada item se propunha a medir.
62
Quadro 1 - Comparação da primeira versão traduzida do inglês-português e a versão
final URICA – Jogo
1ª Tradução, a partir do original: Versão final
University of Rhode Island Change
Assessment - URICA
Data: ___/___/___
Cada declaração abaixo descreve como uma
pessoa que está iniciando uma terapia ou tentando
resolver problemas pessoais pode estar se
sentindo em relação a isto. Por favor, a cada
afirmação marque a alternativa em que você
concorda ou discorda. Em cada questão faça a sua
escolha baseado em como você está se sentindo
agora e não no que você sentiu no passado ou
gostaria de estar sentindo. Em todas as
afirmativas que se referem ao seu “problema”,
responda o que está relacionado a
_____________________.
Existem cinco respostas possíveis para cada item
do questionário:
1= Discordo plenamente
2= Discordo
3= Indeciso
4= Concordo
5= Concordo plenamente.
Circule o numero que melhor descreve a sua
opinião em cada item.
University of Rhode Island Change Assessment-
URICA- adaptação brasileira para Jogo
patológico
Data: ___/___/___
Cada declaração abaixo descreve como uma pessoa
que está iniciando uma terapia ou tentando resolver
problemas pessoais pode estar se sentindo em relação
a isto. Por favor, a cada afirmação marque a
alternativa em que você concorda ou discorda. Em
cada questão faça a sua escolha baseado em como
você está se sentindo agora e não no que você sentiu
no passado ou gostaria de estar sentindo. Em todas as
declarações que se referem ao seu “problema”,
responda o que está relacionado ao seu hábito de
jogar.
Existem cinco respostas possíveis para cada item do
questionário:
1= Discordo totalmente
2= Discordo
3= Indeciso
4= Concordo
5= Concordo totalmente
Circule o numero que melhor descreve a sua opinião
em cada item.
1.
o acho que eu seja o problema principal,
portanto não vejo razão para mudar.
Eu não estou com problemas com relação ao meu
hábito de jogar, não vejo razão para mudar.
2.
Finalmente eu estou tentando resolver o meu
problema.
Finalmente eu estou tentando resolver o meu
problema com o jogo.
3.
Eu tenho pensado em mudar algo na minha
vida.
Eu estive pensando que eu devia mudar algo com
relação ao meu hábito de jogar.
4.
momentos que o meu problema fica difícil
de suportar, mas eu estou tentando lidar com isto.
As vezes é difícil ficar longe do jogo, mas estou
tentando.
5.
Por que mudar se eu não tenho nenhum
problema? É pura perda de tempo no meu
entender.
Por que mudar se eu não tenho nenhum problema
com o jogo? Na minha opinião é perda de tempo.
6. Eu espero ser capaz de me entender melhor.
Eu espero poder entender melhor meu problema com
relação ao jogo.
7. Eu sei que tenho defeitos, mas nada que
necessite realmente ser mudado.
Eu talvez tenha problemas com relação ao meu
hábito de jogar, mas não nada em que eu
realmente precise mudar
8. Eu realmente estou tentando mudar.
Eu realmente estou tentando mudar meu
comportamento com relação ao jogo.
9.
Eu sei que tenho um problema e que preciso
tratá-lo.
Eu sei que tenho um problema com meu hábito de
jogar e que preciso tratá-lo.
10. Eu não estou bem como eu esperava, e eu
quero poder reunir forças para evitar uma recaída.
Eu não estou conseguindo me sentir tão bem como
eu esperava, e eu quero poder ter forças para evitar
uma recaída.
63
11.
Mesmo não conseguindo fazer grandes
mudanças, eu pelo menos estou tentando lidar
com o meu problema.
Mesmo não conseguindo fazer grandes mudanças, eu
pelo menos estou tentando lidar com o meu problema
com o jogo.
12.
Eu pensei que quando eu conseguisse resolver
o meu problema, eu ficaria livre dele, mas tem
vezes que me sinto lutando contra ele novamente.
Eu pensei que quando eu conseguisse resolver o meu
problema com o jogo, eu ficaria livre dele, mas tem
vezes que me sinto lutando contra ele novamente.
13.
Eu gostaria de saber melhor como resolver o
meu problema.
Eu gostaria ter mais idéias de como solucionar o meu
problema com o jogo.
14.
Talvez algo ou alguém seja capaz de me
ajudar.
Eu espero poder encontrar mais razões para mudar
meu comportamento com relação ao jogo.
15.
Eu sinto que no momento estou precisando de
uma ajuda para que eu não tenha nenhuma
recaída.
Neste momento, estou precisando de uma ajuda extra
para me auxiliar a manter as mudanças que consegui.
16.
Eu talvez até seja parte do problema, mas não
é assim que vejo a situação.
Talvez eu tenha problemas com o jogo, mas não
creio nisso.
17.
Espero que alguém me aconselhe direito. Espero que alguém me aconselhe corretamente.
18.
Ao ins de somente falar sobre o problema,
eu estou tentando resolvê-lo.
Ao invés de somente falar sobre o problema com o
jogo, eu estou tentando resolvê-lo.
19.
Todo este papo de psicologia é muito chato.
Por que as pessoas simplesmente não esquecem
que têm problemas?
Toda esta conversa é muito chata. Por que as
simplesmente não esquecemos os problemas com o
jogo?
20.
Eu tenho me esforçado bastante para evitar
uma recaída.
Eu tenho me esforçado bastante para evitar uma
recaída do meu hábito de jogar.
21.
É frustrante, eu achava que havia resolvido o
meu problema, mas, infelizmente, sinto que estou
tendo uma recaída.
Estou frustrado porque pensava que tinha resolvido
meu problema com o jogo, mas não resolvi. Sinto
que estou tendo uma recaída.
22.
Se todo mundo tem problemas, porque perder
tempo pensando neles?
Tenho alguns problemas com relação ao jogo, mas
porque perder tempo pensando neles?
23.
Eu realmente estou trabalhando para resolver
o meu problema.
Estou trabalhando ativamente no meu problema com
relação ao jogo.
24.
Depois de tudo que eu tentei para ficar bem,
ás vezes me sinto inseguro e com medo de ter
uma recaída.
Depois de tudo que eu já fiz para tentar mudar meu
problema com o jogo, me sinto inseguro e com medo
de ter uma recaída.
Discussão dos Resultados
Qualquer processo de tradução está sujeito a inúmeras distorções que podem
invalidar um instrumento. Vários autores (Meyer, Carvalhal & Pechansky, 2003; Fleck,
Leal, Louzada et al., 1999) recomendaram enfaticamente que, quando uma escala é
utilizada em uma linguagem distinta da original, deve passar por um processo de
tradução, de adaptação cultural e de validação precisos.
Em relação ao processo de tradução e adaptação da URICA, a escala manteve,
de forma geral, as condições avaliadas em outros estudos, capturando os diferentes
níveis motivacionais na população estudada. Na versão final da URICA, optou-se por
64
conservar as iniciais do nome original da escala em inglês e acrescentou-se “adaptação
brasileira para jogo patológico”, com o intuito de facilitar possíveis buscas em bases de
dados.
No que diz respeito à validade semântica, a URICA - adaptação brasileira para
Jogo Patológico demonstrou boa equivalência semântica e conceitual, conforme os
resultados dos juízes especialistas, sendo que todo o processo fundamentou-se nos
estudos de Ciconelli (2003) e Pasquali (1998). O processo de adaptação semântica será
seguido de validação psicométrica em estudo posterior e direcionado para a população
clínica, tendo como foco o tratamento para o Jogo Patológico.
A URICA é um dos poucos instrumentos que medem estágios motivacionais
validados no Brasil, e sua utilidade clínica e em pesquisa é inquestionável. Elaborar
estratégias terapêuticas que favoreçam a adesão aos tratamentos para jogadores
patológicos, utilizando instrumentos adaptados e validados a realidade e a cultura
brasileira, pode representar um grande avanço na área das dependências e na abordagem
destes transtornos.
65
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68
SEÇÃO III: ESTUDO EMPÍRICO
EVIDÊNCIAS DE VALIDAÇÃO DA UNIVERSITY ROHDE ISLAND
CHANGE ASSESSMENT (URICA) PARA JOGADORES PATOLÓGICOS
69
Resumo
Evidências de Validação da University Rohde Island Change Assessment
(URICA) para Jogadores Patológicos
Objetivo: A University of Rhode Island Change Assessment Scale (URICA) é
um instrumento de 24 itens, auto-aplicável, utilizado para avaliar os estágios
motivacionais e a prontidão para mudança em diversos comportamentos. O objetivo
deste trabalho foi estudar as propriedades psicométricas desta escala para o
comportamento de Jogo Patológico e viabilizar seu uso no Brasil. Métodos: O
questionário foi traduzido do original em inglês para o português, utilizando processo de
tradução-retradução (inglês-português-inglês), seguido de avaliação de um comitê de
especialistas (interjuízes) e aprovação de um dos autores da escala. Foram estudadas as
propriedades psicométricas do instrumento em uma amostra de 69 sujeitos com
diagnóstico de Jogo Patológico, segundo critérios diagnósticos do DSM-IV-TR. Os
sujeitos foram avaliados em ambulatórios de atendimento em Porto Alegre e São Paulo,
e grupos de jogadores anônimos, entre 2006 e 2008. Para o estudo de evidências de
validação da URICA foram analisados os indicadores de consistência interna e validade
convergente com a régua de prontidão (medida analógico-visual), além de instrumentos
como: SOGS (South Oaks Gambling Screen), Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e
Inventário de Depressão de Beck (BDI). Resultados: A análise dos resultados permitiu
identificar uma adequada confiabilidade da URICA total, versão 24 itens (α= 0,82) e
correlação significativa entre a régua de prontidão e os estágios de pré-contemplação
(r= -0,305; p= 0,11) e ação (r=0,301; p=0,12).
70
Conclusões: A versão em português da URICA mostrou ser útil e confiável para
avaliação da motivação para mudança, considerando os estágios motivacionais e a
prontidão para mudar entre os jogadores patológicos.
Palavras-Chave: URICA, confiabilidade, motivação para mudança, jogo
patológico
71
Introdução
A adesão ao tratamento é o foco principal em qualquer abordagem terapêutica
para jogadores patológicos. Sabe-se que uma das variáveis mais importantes implicadas
na adesão é a motivação para mudança (Hodgins, 2005; Toneatto & Millar, 2004).
Jiménez et al., (2005) examinando a efetividade das modalidades terapêuticas grupais
entre jogadores patológicos, evidenciou que a maior taxa de abandonos e recaídas se
produzia nas primeiras cinco semanas de tratamento. Para estes autores, o maior esforço
considerando a adesão, deveria acontecer no primeiro mês e meio de tratamento e teria
que levar em conta aspectos fundamentais como ser pouco intrusivo no estilo de vida
dos pacientes e orientar o trabalho nos fatores de motivação para mudança deste
comportamento.
Prochaska, DiClemente e Norcross (1992) afirmam que avaliar a motivação para
mudança, independentemente do tratamento utilizado, parece ser um aspecto importante
para a utilização de intervenções adequadas aos pacientes. O resultado de uma correta
avaliação implica melhores estratégias para a promoção da motivação para mudança de
comportamento.
O Modelo Transteórico de Mudança de Comportamento (Prochaska, 1979) fez
uma contribuição importante no entendimento do processo de motivação que envolve
mudança de comportamentos-problema Este modelo tem como principal pressuposto
que as mudanças bem sucedidas dependem da aplicação de estratégias certas
(processos) na hora certa (estágios) (Prochaska, DiClemente & Norcross, 1992).
O modelo transteórico foca a mudança intencional, ou seja, a tomada de decisão
que o indivíduo realiza. A mudança comportamental acontece ao longo de um processo,
no qual as pessoas passam por diversos níveis de motivação para mudança. Estes níveis
72
estariam representados por estágios de motivação para a mudança, que representam a
dimensão temporal do modelo transteórico, e permitem que entendamos quando
mudanças particulares, intenções e reais comportamentos podem acontecer
(Szupszynski & Oliveira, 2008). Os estágios são descritos pela literatura de forma bem
definida e identificável. São eles: pré-contemplação, contemplação, determinação, ação
e manutenção.
Outro conceito fundamental relacionado ao estudo da motivação é o de prontidão.
Segundo DiClemente, Schlundt e Gemmell (2004), existem dois aspectos distintos
relacionados à prontidão: prontidão para mudança e prontidão para tratamento. A
prontidão para mudança foi conceituada como a integração entre a conscientização da
pessoa sobre seu problema, somada a uma confiança em suas habilidades para mudar. Já
a prontidão para tratamento focaliza a motivação para procurar ajuda, para iniciar,
manter e terminar um tratamento. Assim, um jogador patológico pode procurar
tratamento e iniciá-lo (alta prontidão para tratamento), sem estar realmente pronto para
permanecer em abstinência do jogo (baixa prontidão para mudar o comportamento
problema).
Castro e Passos (2005), em um trabalho de revisão da literatura, identificaram
quatro escalas com parâmetros psicométricos variando de bom a excelente, e em
condições de serem utilizadas para avaliação da motivação para tratamento e predição
de adesão ao mesmo: University Rhode Island Change Assessment URICA
(McConnaughy, Prochaska e Velicer, 1983), Stages of Change Readiness and
Treatment Eargness Scale - SOCRATES (Miller & Tonigan, 1996), utilizada
especificamente para o comportamento de beber, Readiness to Change Questionnaire-
RCQ e Treatment Motivation Questionnaire - TMQ. Somente as duas primeiras
possuem versões validadas para o português.
73
A University Rhode Island Change Assessment (URICA), desenvolvida por
McConnaughy, Prochaska e Velicer (1983), é uma escala de auto-relato que tem o
objetivo de avaliar os estágios motivacionais e a prontidão para a mudança nos
comportamentos de dependência. Foi criada inicialmente para estudar os problemas
relacionados ao tratamento do tabagismo e, atualmente, empregada de forma genérica
para todos os problemas associados a comportamentos de dependência. A URICA
possui, atualmente, três versões: uma composta por 32 itens, outra por 28 itens e uma
versão reduzida de 24 itens, que são divididos em quatro subescalas: Pré-contemplação,
Contemplação, ão e Manutenção. As propriedades psicométricas desta escala, na
validação americana, em uma população de pacientes ambulatoriais, apresentou
coeficiente alfa de Cronbach variando de 0,88 a 0,89 (McConnaughy, Prochaska &
Velicer ,1983).
No Brasil, existe uma versão adaptada da URICA de 32 itens para alcoolistas
(Figlie, Dunn & Laranjeira, 2004) e sua aplicabilidade e uso para diferentes
comportamentos pode ser verificada em inúmeros estudos nacionais e internacionais.
Petry (2005), em um estudo americano, avaliou as propriedades psicométricas da
URICA em uma amostra de 234 jogadores patológicos em início de tratamento. A
consistência interna das subescalas foi considerada boa, variando de 0,74 a 0,88.
Realizaram análise de clusters, identificando quatro perfis de resposta variando de
ambivalentes a modificadores ativos, e concluíram que a URICA é um instrumento
importante na identificação dos estágios motivacionais e na predição de resultados.
A validade preditiva dos estágios motivacionais em dependentes de heroína foi
investigada em outro estudo americano (Henderson, Saules & Galen, 2004) que utilizou
a URICA para predizer a adesão ao tratamento, a partir de amostras urinarias negativas
de heroína e ou cocaína durante um programa de 29 semanas. O estudo demonstrou que
74
os pacientes que pontuaram mais no estágio de manutenção, apresentaram amostras de
urina livres de cocaína ou heroína e maior adesão ao tratamento.
Callaghan et al., (2005) utilizaram a URICA para avaliar o estagio motivacional
de pacientes em um programa para adolescentes usuários de drogas. O estudo
comprovou a validade do Modelo Transteórico considerando que os adolescentes que
tinham pontuação elevada na pré-contemplação representavam substancialmente o
numero de desistências do programa.
Em decorrência da utilidade da URICA tanto na área de pesquisa como na área
clínica, o objetivo deste trabalho é estudar as propriedades psicométricas da University of
Rhode Island Change Assessment (URICA) no comportamento de jogo patogico e
viabilizar seu uso no Brasil, bem como conhecer o perfil do jogador patológico e a
prontidão para mudança deste comportamento nesta amostra.
Método
Delineamento
Foi realizado um estudo transversal, metodologia quantitativa.
Participantes
Para a validação da URICA foi selecionada uma amostra de 69 sujeitos que
estavam ingressando em tratamento ambulatorial (entrevista de triagem) ou participando
de grupos de Jogadores Anônimos. A coleta dos dados foi realizada de janeiro de 2006
a julho de 2008. Foram convidadas de forma consecutiva todas as pessoas que
preenchiam os critérios de inclusão (ser jogador patológico, ter entre 20 e 70 anos, sexo
masculino ou feminino e no mínimo, cinco anos de estudo). Os critérios de exclusão
foram: transtorno psiquiátrico grave, psicose, risco de suicídio, déficits cognitivos
severos ou intoxicação por substâncias psicoativas.
75
Instrumentos
Entrevista Estruturada: A coleta de dados sóciodemográficos realizou-se
mediante entrevista estruturada construída para o estudo, incluindo-se: idade, sexo,
situação laboral, nível de escolaridade, renda familiar, classe socioeconômica, uso de
álcool e/ou drogas, familiar com problemas relacionados a drogas e/ou álcool e familiar
com problemas relacionados ao jogo. Algumas destas questões foram incluídas após o
estudo piloto que foi realizado com 25 sujeitos e concluído em junho de 2007.
Entrevista clínica semi-estruturada conforme DSM-IV-TR (APA, 2002) para
avaliar critérios diagnósticos para Jogo Patológico;
University of Rhode Island Change Assessment Scale - URICA
(McConnaughy, Prochaska e Velicer, 1983): é uma escala de auto-preenchimento que
contém 32 itens na versão original e 24 itens na sua versão reduzida, desenvolvida para
medir a prontidão para mudança e o estágio motivacional no qual o sujeito se encontra.
Constituí-se de quatro subescalas que abrangem os seguintes estágios de mudança
comportamental: Pré-contemplação (6 itens), Contemplação (6 itens), ão (6 itens) e
Manutenção (6 itens). A distribuição dos itens para cada subescala é a seguinte: Pré-
Contemplação consta dos itens 1,5,7,16,19 e 22 ; a Contemplação compreende os itens
3,6,9,13, 14 e 17; a Ação: 2,4,8,11, 18,e 23 e a Manutenção que é composta pelos itens
10,12,15,20,21 e 24. A pontuação é obtida pela soma de pontos de cada subescala (1-
discordo totalmente, 2-discordo, 3- indeciso, 4- concordo, 5- concordo totalmente) e o
escore de prontidão para mudança avaliado através da equação: Média de pontos da
Contemplação (C) + Média de pontos da Ação (A) + Média de pontos da Manutenção
(M) dia de pontos da Pré-contemplação (PC) = Escore de Prontidão (EP).
DiClemente et al., (2004) utilizaram esta medida derivada dos escores das subescalas
para formar um escore que convencionaram chamar Prontidão para Mudança, sendo
76
um conceito mais genérico do que o de estágios. É um instrumento simples de
administrar, rápido e fácil de responder, o que parece ser uma das causas para sua ampla
utilização em ambiente clínico e de pesquisa. Sua aplicabilidade mostra-se útil no
sentido de fornecer informações sobre a motivação para modificar comportamentos e,
com isso, guiar as abordagens e estratégias de tratamento adequadas. A versão em
português da URICA foi construída mediante o procedimento de tradução-retradução
por especialistas bilíngües português-inglês de forma independente. A versão final foi
apresentada a um comitê de juízes especialistas que avaliaram as versões. Ajustes na
linguagem foram necessários como conseqüência das sugestões dos juízes. Todo o
processo de validação semântica está descrito na seção II.
SOGS (South Oaks Gambling Screen): Os dados relativos ao padrão de jogo
e evolução clínica foram obtidos através do questionário SOGS (South Oaks Gambling
Screen). Esta escala foi validada e adaptada para a população brasileira por Oliveira,
Silva e Silveira (2002), com o objetivo de discriminar jogadores patológicos de
jogadores não-patológicos, como também diferenciar grupos clínicos de não-cnicos e
identificar graus distintos de gravidade do bito de jogar (jogador patológico, jogador
social e não tem problemas com o hábito de jogar). A escala original tem 20 itens, e 5 é o
ponto de corte para avaliar se a pessoa é um provável jogador patológico.
Régua de Prontidão (Velásquez, Maurer, Crouch & DiClemente, 2001): é
uma técnica analógico-visual, simples e eficaz, para averiguar em qual estágio de
mudança o sujeito se encontra. O avaliador pergunta ao sujeito qual dos pontos da régua
melhor reflete o quão pronto ele está, no presente momento, para mudar seu
comportamento problema. Ele indicará, de 0 a 10, considerando que 0 indica que o
sujeito não está pronto de modo algum para mudar e 10 que ele está ativamente
trabalhando na mudança de seu comportamento.
77
nventário de Ansiedade de Beck - BAI e Inventário de
Depressão de Beck - BDI (Cunha, 2001): Após o término do estudo piloto realizado
com 25 sujeitos em 2007, observou-se a importância de avaliar sintomas de ansiedade e
depressão, visto que estas variáveis poderiam interferir na motivação dos sujeitos. A
partir disto, para avaliar sintomas de ansiedade e depressão, foram utilizados o
Inventário de Beck - Beck Anxiety Inventory (BAI) para medir a intensidade dos
sintomas de ansiedade e para os sintomas de depressão o Beck Depression Inventory
(BDI). Ambos são compostos por 21 itens, nos quais o indivíduo deve pontuar
conforme a intensidade dos sintomas que o afetam, numa escala de quatro pontos. O
escore total é obtido pelo somatório dos escores de cada item.
Procedimentos
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS (ANEXO
A). Todos os participantes realizaram os procedimentos éticos de pesquisa, assinando o
termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO B) e realizaram o preenchimento
dos instrumentos orientados pelo pesquisador ou auxiliar de pesquisa previamente
treinado. Também foi realizado um estudo piloto para a viabilização deste projeto. A
coleta de dados foi realizada em locais de atendimento ambulatorial (entrevista de
triagem) e no Grupo de Jogadores Anônimos da Cruz Vermelha de Porto Alegre.
Análise dos Dados
Os dados foram tabulados e as análises estatísticas foram realizadas pelo
Programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 11.5. A análise
exploratória dos dados foi realizada através de medidas descritivas para os dados
sociodemográficos: médias, desvio-padrão, freqüências. Na validação da URICA, para
78
avaliar a consistência interna foi utilizado o coeficiente alfa de Cronbach e o coeficiente
de correlação Linear de Pearson. Foi utilizado para análise de comparações de grupo o
Test T de Student e o Qui-Quadrado. Para amostras independentes e para a comparação
das médias da escala URICA foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA). O nível de
significância utilizado foi de 5%.
Resultados
Os participantes deste estudo tinham entre 23 e 68 anos de idade, média de 44,54
anos (DP= 10,15), 52,2% do sexo masculino e 47,8% do sexo feminino e 85,5% possuía
mais de nove anos de estudo. Segundo os critérios de classificação econômica Brasileira
(IBGE, 2004), 50,7% da amostra encontrou-se predominantemente na classe média- C e
23,2% na classe média baixo - classe D.
A renda mensal familiar variou de R$ 320,00 até R$ 14.000,00 com média de
R$2.699,28 (DP= 2371,65). Com relação ao estado civil, 53,6% é casado e 31,9% é
solteiro. Quanto às atividades que exercem 76,8% dos sujeitos estão trabalhando
atualmente.
Todos os participantes possuem diagnóstico de Jogo Patológico, segundo os
critérios do DSM-IV-TR, são provenientes das cidades de Porto Alegre e São Paulo e
foram coletados em locais de atendimento ambulatorial (60,9%) e grupos de Jogadores
Anônimos (39,1%). A descrição detalhada das variáveis sócio-demográficas da amostra
encontra-se na tabela 1.
79
Tabela 1 - Distribuição da amostra, segundo dados sócio-demográficos (n=69).
Dado sócio-demográficos % n média (min - máx) DP
idade
44,54
10,15
(23 -68)
sexo
masc 52,2 36
fem 47,8 33
Escolaridade
5 a 8 anos 14,5 10
9 a 11 anos 42,0 29
acima de 12 anos 43,5 30
Situação trabalho
trabalha 76,8 53
não trabalha 23,2 16
Nível sócio-econômico
Classe A 2,9 2
Classe B 20,3 14
Classe C 50,7 35
Classe D 23,2 16
Classe E 2,90 2
Estado Civil
Solteiro 31,9 22
Casado 53,6 37
Separado 13,0 9
Viúvo 1,5 1
Regime tratamento
Ambulatório 60,9 42
JA 39,1 27
Renda mensal
R$ 2.699,28
R$
2.371,65
(R$ 320,00 - R$ 14.000)
80
Resultados da SOGS – Características do padrão de jogo e histórico clínico
Da amostra estudada, 34,8% relataram que fazem uso de álcool e/ou tabaco.
Ainda, com relação ao uso de drogas e álcool, 34,8% revelaram ter tido pai ou mãe com
problemas com relação ao uso de álcool ou drogas ao longo da vida. Do total da
amostra, é importante salientar que 29,2% disseram que estão fazendo uso de medicação
psiquiátrica atualmente, tendo recebido diagnóstico de depressão ou ansiedade por
profissionais médicos.
Com relação ao hábito de jogar, a média de idade de início do jogo com apostas
em loterias (sena, jogo do bicho, loto...) é 22,31 anos (DP=9,43); já a média de idade de
início do jogo de bingo é de 31,11 (DP=11,03) e do videopôquer é de 32,89 anos
(DP=12,38). Da amostra estudada, os tipos de jogos de preferência relatados pelos
sujeitos são: 82,6% videopôquer ou outras quinas de jogos, 79,7% jogavam bingo e
88,4% apostavam em loterias (sena, jogo do bicho, loto) e 56,5% jogou cartas a
dinheiro. A figura 1 apresenta a distribuição da amostra com relação aos tipos de jogos
praticados na vida.
81
88,40
82,60
79,60
58,00
56,50
31,90
29,00
17,40
14,50
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
Valores em percentual
Loteria Videopoker
ou máq.
Eletrônicas
Bingo Esportes
(bolão)
Cartas Cassino Jogos
habilidade
(sinuca,
golf, etc.)
Dados Cavalos
Tipos de jogos
Figura 1 – Distribuição da amostra quanto aos tipos de jogos praticados na vida
Quanto à abstinência, 57,1% tinham interrompido as apostas em jogos menos de 30
dias, 22,9% não estavam jogando no período de 30 a 180 dias e somente 18,6% não
jogavam há mais de 6 meses.
Quando perguntados sobre a maior quantia de dinheiro utilizada no jogo em um
único dia, 56,5% da amostra disseram ter gasto entre R$ 250,00 e R$ 2.500,00, e 30,4%
disseram ter gasto mais de R$ 2.500,00 em um dia de jogo. Com relação aos pais
terem tido problemas com jogo, 20,3% dos sujeitos disseram que o pai joga (ou jogava)
demais, 10,1% dos sujeitos disseram que tanto mãe quanto o pai tinham o bito de
jogar.
Do total da amostra 97,1% reconhece ter problemas com o hábito de jogar.
Segundo os resultados da SOGS, os 98,6% dos sujeitos entrevistados foram
classificados como prováveis jogadores patológicos. A média de pontos na escala
82
SOGS foi de 13,36 pontos e DP=3,32, sendo que os escores variaram entre 4 e 19
pontos.
O perfil da amostra quanto à intensidade dos sintomas de ansiedade e depressão
está descrito na tabela 2, considerando que os instrumentos utilizados (BAI e BDI)
foram incluídos após o estudo piloto. Neste caso, o número de sujeitos da amostra
totalizou n=44. Observou-se que, quanto à intensidade dos sintomas de ansiedade
61,4% dos sujeitos encontra-se com grau mínimo e leve. Quanto à intensidade dos
sintomas depressivos 50% da amostra possuem sintomas que vão de moderado à grave.
Tabela 2 - Intensidade dos sintomas de ansiedade (BAI) e depressão (BDI) na amostra
(n=44)
Categorias Freqüência (n) Percentual (%)
BAI BDI BAI BDI
Mínimo 11 9 25,0 20,5
Leve 16 13 36,4 29,5
Moderado 2 13 4,5 29,5
Grave 15 9 34,1 20,5
Total 44 44 100,0 100,0
A confiabilidade estimada, baseada no coeficiente alfa de Cronbach, para a
URICA Adaptação Brasileira para Jogo patológico, na escala de 24 itens, foi de α=
0,82. Avaliou-se também a consistência interna para os 24 itens, distribuídos nas quatro
sub-escalas, apresentadas na tabela 3.
83
Tabela 3 - Coeficiente Alfa de Cronbach das subescalas da URICA e da URICA
TOTAL (n=69)
Estágios da URICA Alfa de Cronbach nº. de itens
Pré-contemplação
0,62 6
Contemplação
0,71 6
Ação
0,85 6
Manutenção
0,83 6
Urica Total 0,82 24
Na tabela 4, observam-se os indicadores das qualidades dos itens, como
porcentagem de respostas em branco (esperada 0%), média (se espera que não inclua o
valor mínimo - ximo possível), correlação item-total corrigida pela eliminação do
item em questão (esperada > 0,10), e alfa de Cronbach (consistência interna) se é
eliminado o item. A maioria dos itens cumpriu os critérios de qualidade esperados e não
houve valores perdidos, o que indica que todas as perguntas puderam ser respondidas.
Tabela 4 - Resultados das respostas aos itens da escala URICA
Itens da URICA dia Desvio Padrão
Correlação item-total
corrigida*
Alfa de Cronbach com a
eliminação do Item **
URICA1 1,80 1,19 0,19 0,82
URICA2 4,32 0,86 0,28 0,81
URICA3 4,36 0,78 0,28 0,81
URICA4 4,38 0,97 0,66 0,80
URICA5 3,23 1,63 0,38 0,81
URICA6 4,38 0,78 0,45 0,81
URICA7 1,71 1,01 -0,18 0,83
URICA8 4,13 1,16 0,32 0,81
URICA9 4,54 0,93 0,47 0,81
URICA10 4,06 1,29 0,72 0,79
84
URICA11 4,06 1,21 0,63 0,80
URICA12 3,97 1,28 0,46 0,80
URICA13 4,29 1,03 0,64 0,80
URICA14 4,41 0,92 0,38 0,81
URICA15 4,39 0,91 0,58 0,80
URICA16 2,16 1,43 -0,31 0,84
URICA17 3,51 1,42 0,31 0,81
URICA18 4,19 0,95 0,50 0,80
URICA19 3,46 1,56 0,45 0,80
URICA20 4,32 0,86 0,59 0,80
URICA21 3,38 1,47 0,35 0,81
URICA22 1,88 1,13 -0,01 0,82
URICA23 4,14 0,97 0,43 0,81
URICA24 3,94 1,32 0,56 0,80
*esperada> 0,10
** esperável ao eliminar o item: o alfa total (α=0,82) não aumenta.
Prontidão para Mudança
Analisando o escore de prontidão para mudança, sugere-se como ponto de corte
entre 9,08 e 11,33 pontos, indicando um baixo escore de prontidão abaixo de 9,08
(abaixo de 25%) e acima de 11,33 (acima de 75%) um alto escore de prontidão para
mudança. Na tabela 5, observa-se a distribuição do escore de Prontidão para mudança.
85
Tabela 5 - Distribuição percentílica do escore de prontidão para mudança
Percentil
Escore de prontidão
para mudança
5 6,75
10 7,50
15 8,08
20 8,82
25 9,08
30 9,50
35 9,67
40 10,16
45 10,25
50 10,50
55 10,74
60 10,83
65 11,00
70 11,32
75 11,33
80 11,51
85 11,83
90 12,16
95 12,83
Validade convergente - Régua de Prontidão e URICA
Realizou-se a análise de correlação (Pearson) entre a régua de prontidão e a
URICA e foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre a Régua de
Prontidão e as subescalas Pré-contemplação (r= -0, 305; p= 0, 011), e Ação (r=0, 301;
p=0, 012) da URICA. A correlação da régua de prontidão com o estágio de Pré-
contemplação é uma correlação inversa, indicando que quanto maior a pontuação na
régua, menores os escores da URICA no estágio de Pré-Contemplação. A correlação
86
entre a régua e o estágio de ação é direta e indica que quando uma medida aumenta, a
outra medida aumenta também.
Tabela 6 - Correlação entre a régua de prontidão e a URICA.
Estágios da URICA Régua p
Pré-contemplação -0,305 0,011
Contemplação 0,093 0,446
Ação 0,301 0,012
Manutenção -0,156 0,200
Prontidão 0,079 0,521
* Correlação de Pearson - nível de significância 5%
Estágios Motivacionais, Prontidão para Mudança e tipo de tratamento
A amostra foi subdividida em dois grupos, conforme o regime de tratamento
grupo ambulatorial (TA) e grupo de Jogadores Anônimos (JA). Utilizando-se o teste t,
verificaram-se diferenças significativas entre os grupos com relação motivação para
mudança no estágio de Pré-contemplação (p= 0, 005) e no estágio de ação (p=0, 044).
Na tabela 7, pode-se observar que no TA o escore dio foi significativamente maior
do que no grupo JA tanto no estágio de pré-contemplação quanto no estágio de Ação.
Tabela 7 Comparação entre o TA e o Grupo JA quanto à motivação para
mudança
TA JA
Estágios da URICA média DP média DP p
Pré-contemplação
15,5 3,63 12,29 5,62 0,005
Contemplação
21,80 3,41 22,22 2,48 0,590
Ação
25,09 4,83 22,44 5,82 0,044
Manutenção
24,92 4,95 25,74 3,87 0,474
Prontidão 10,11 2,17 10,42 1,82 0,541
*Teste T de Student – nível de significância 5%
87
Prontidão para mudança e diagnóstico de Jogo Patológico
A classificação dos sujeitos, segundo os critérios diagnósticos do DSM-IV-TR
(APA, 2002) e os resultados da SOGS indicou que o total da amostra (n=69) foi
classificado como sendo de jogadores patológicos.
Regime de Tratamento e tempo de Abstinência
Na tabela 8, pode-se observar que, segundo o teste qui-quadrado o grupo
ambulatório está associado ao período de tempo de abstinência de 30 a 180 dias,
enquanto o JA está significativamente associado a um tempo de abstinência superior a
180 dias (p= 0,04), indicando que, nesta amostra, o grupo de JA se manteve por um
período maior de tempo em abstinência.
Tabela 8 Distribuição da amostra em relação ao Regime de tratamento e o
tempo de abstinência
Tempo de abstinência Local n %
até 30 dias
TA
JA
26
14
61,9
51,9
Total
40 58
30 a 180 dias
TA
JA
13
3
31
11,1
Total
16 23,2
mais de 180 dias
TA
JA
3
10
7,1
37
Total
13 18,8
*Teste Qui-Quadrado (p= 0,04), nível de significância 5%
88
Estágios de Motivação, prontidão para mudança e Tempo de abstinência,
Foi realizada uma análise de variância (ANOVA) e observou-se que não existe
diferença significativa entre o tempo de abstinência e os estágios motivacionais. Os
resultados estão descritos na tabela 9.
Tabela 9 - Distribuição das Médias e Desvios - padrão dos Estágios motivacionais,
prontidão em relação ao período de abstinência.
Estágios da URICA / tempo de abstinência n média DP p
Pré-Contemplação
0,571
até 30 dias 40 14,35 5,33
30 a 180 dias 16 14,93 2,93
mais de 180 dias 13 13,07 4,73
Total 69 14,24 4,75
Contemplação
0,355
até 30 dias 40 22,40 3,06
30 a 180 dias 16 21,12 3,50
mais de 180 dias 13 21,69 2,46
Total 69 21,97 3,07
Ação
até 30 dias 40 25,57 4,66
0,758 30 a 180 dias 16 25,00 4,61
mais de 180 dias 13 24,53 4,35
total 69 25,24 4,55
Manutenção
até 30 dias 40 24,57 4,88
0,338 30 a 180 dias 16 24,37 5,54
mais de 180 dias 13 22,07 6,47
total 69 24,05 5,36
Prontidão
até 30 dias 40 10,44 2,01
0,611 30 a 180 dias 16 9,96 2,26
mais de 180 dias 13 9,92 1,88
total 69 10,23 2,03
* Análise de variância (ANOVA) - nível de significância 5%
89
Estágios de motivação, Prontidão para Mudança e Sintomas de Ansiedade e
Depressão
Não houve correlação significativa entre a URICA, o BAI e o BDI, conforme
mostra a tabela 10, demonstrando que não há correlação entre os estágios motivacionais
(e a prontidão para mudança) e a gravidade dos sintomas de ansiedade e depressão.
Tabela 10 – Correlações da intensidade dos sintomas de anisedade, depressão
com os estágios motivacionais
Estágios da URICA/ BAI/ BDI r p
Pré-contemplação
BAI
BDI
-0,117
-0,166
0,448
0,283
Contemplação
BAI
BDI
0,073
0,117
0,638
0,450
Ação
BAI
BDI
0,099
-0,003
0,523
0,985
Manutenção
BAI
BDI
0,243
0,203
0,112
0,186
Prontidão
BAI
BDI
0,115
0,165
0,458
0,283
* Correlação de Pearson - nível de significância 5%
90
Estágios de Motivação, Prontidão para mudança e Gênero
Segundo o teste T, observa-se na tabela 11, que não existe diferença significativa
entre o grupo de homens e o grupo de mulheres com relação aos estágios de motivação
para mudança e a prontidão nesta amostra.
Tabela 11 Comparação das médias e desvios-padrão entre o gênero, os estágios
motivacionais e a prontidão para mudança.
Estágios da URICA/ Gênero n média DP p
Pré-contemplação
masculino
feminino
36
33
13,44
15,12
4,88
4,50
0,331
Contemplação
masculino
feminino
36
33
21,94
22,00
3,16
3,02
0,054
Ação
masculino
feminino
36
33
25,97
24,45
4,71
4,29
0,726
Manutenção
masculino
feminino
36
33
24,05
24,06
5,32
5,48
0,793
Prontidão
masculino
feminino
36
33
10,48
9,96
2,05
2,01
0,815
* Teste T de Student - nível de significância 5%
Discussão dos resultados
A University Rohde Island Change Assessment URICA demonstrou, na
adaptação brasileira para jogadores patológicos, após o processo de validação
semântica, ser um instrumento adequado, de fácil e rápida aplicação e com bom nível de
confiabilidade. Os valores de alfa de cronbach tanto da escala total quanto das
91
subescalas variaram de 0,62 a 0,85, o que é considerado por Rowland, Arkkelin e
Crisler (1991) uma consistência interna satisfatória, capaz de predizer que os itens
avaliam de forma consistente o mesmo construto. Os resultados encontrados nos
estudos de construção da escala e no estudo americano conduzido por Petry (2005) com
amostra de jogadores patológicos (0,74 a 0,88), comprovam a confiabilidade da URICA
em diferentes culturas.
Alguns autores já demonstraram a necessidade da elaboração de estudos
comparativos entre a URICA e instrumentos convergentes (Sutton, 2001). Callaghan e
colaboradores (2005) demonstraram dados significativos de validade da URICA quando
comparada aos resultados de algoritmos relacionados à intenção de mudar. A validade
convergente da pontuação total das subescalas da URICA- adaptão brasileira para
Jogo patológico com a régua de prontidão demonstrou correlações estatisticamente
significativas, embora consideradas de nível fraco, com os estágios de pré-
contemplação (correlação inversa) e ação. Devemos considerar que essas duas
subescalas (estágios motivacionais) demonstram a não intenção de mudar o
comportamento-problema (Pré-contemplação) e, a mudança do comportamento
problema (ação), respectivamente. Portanto, quanto menor a pontuação na régua mais
pré-contemplativo o sujeito está com relação à motivação para mudança do
comportamento, assim como, acredita-se que quanto maior a pontuação na régua, mais
motivado para modificar o comportamento problema o sujeito está. Diante dessas
características, a presença da correlação dessas subescalas e dos resultados da régua de
prontidão fica mais clara.
A amostra foi subdividida em dois grupos, conforme o regime de tratamento:
pacientes com atendimento ambulatorial (TA) e pessoas que freqüentavam grupos de
Jogadores Anônimos (JA). O TA apresentou escore médio maior do que o grupo JA
92
tanto no estágio de Pré-contemplação quanto no estágio de ação. Podemos inferir que os
pacientes que buscaram atendimento ambulatorial, considerando que foram avaliados na
entrevista de triagem, podem estar procurando atendimento mais pelas conseqüências
negativas da gravidade do jogo, que perturbam a família, interferem no trabalho, na vida
financeira e nas relações sociais do que, de fato, pela motivação intrínseca para
modificar seu comportamento com vistas à abstinência do comportamento de apostar
em jogos de azar. Por outro lado, devemos lembrar que esta é uma escala de auto-relato,
com medidas subjetivas e isto pode ser uma limitação do instrumento. O fato deste
grupo também pontuar mais no estágio de ação, pode nos fazer refletir que a simples
procura pelo atendimento, que é fundamental, não quer dizer que a pessoa esteja
motivada para modificar seu comportamento com relação ao jogo, que ela está
preparada para ficar em abstinência.
Ainda, comparando os grupos TA e JA com relação ao tempo de abstinência,
observou-se que o grupo de JA esassociado a um tempo maior de abstinência do que
o TA. Cabe ressaltar, que o JA trabalha com os doze passos de recuperação, filosofia
reconhecida mundialmente e utilizada, também, pelos alcoólicos anônimos (AA). A
abordagem de JA parece tem íntima relação com os processos que envolvem a
motivação, reforçando a idéia de que o trabalho terapêutico que tem como foco a
motivação do paciente pode ser muito útil. Alguns autores acreditam que a participação
em organizações do tipo “Jogadores Anônimos” é benéfica e a mais efetiva opção de
tratamento, por combater a negação e as projeções, demandando honestidade e
responsabilidade (Custer, 1984). Um estudo de seguimento realizado entre jogadores
patológicos previamente tratados antes do encaminhamento ao JA concluiu que o índice
de adesão ao JA e a abstinência são significativamente maiores entre os pacientes
93
submetidos previamente a outras intervenções ou propostas de reabilitação (Taber et al.,
1987).
Diclemente, Schlundt e Gemmell (2004) afirmaram que a avaliação do nível de
prontidão para mudança, como uma medida mais dinâmica e abrangente do que a idéia
de estágios motivacionais pode ser muito útil. Eles avaliaram a prontidão motivacional
de pacientes ambulatoriais em início de tratamento para o alcoolismo e produziram três
grupos: um grupo de baixa prontidão, com uma pontuação média de 8,7, um grupo de
média prontidão, com média 10,5 e um grupo com alta prontidão, com média de 12,4.
Estes grupos estão em paralelo com os perfis da pré-contemplação, contemplação e
preparação descritos anteriormente. As médias da nossa amostra nos escores de
prontidão se assemelharam ao que foi descrito pelos autores supracitados e também
pode auxiliar na predição de resultados terapêuticos, como medida auxiliar.
O perfil do jogador apresentado neste estudo é semelhante a estudos anteriores
(Oliveira, 1997), onde chama a atenção a escolaridade e o nível sócio-econômico
elevado, se comparado a amostras de usuários de drogas. Nesta amostra, o grau de
escolaridade elevado, a renda mensal e o estado civil (a maioria constituiu família)
podem sugerir que o processo de instalação da dependência do hábito de jogar ocorre de
forma silenciosa e em ritmo diferente das demais dependências.
Outro dado importante é a idade de início do hábito de jogar que apresentou
médias de idade distintas para cada tipo de jogo (m= 22,31 anos DP=9,43 para loterias;
31,11anos para bingo DP=11,03 e do videopôquer é de 32,89 anos DP=12,38), o que
poderia ser explicado também pelo critério de acessibilidade (lotéricas, quinas
eletrônicas estão em lugares públicos de fácil acesso), indicando que o início desta
prática na amostra pesquisada se dá no começo da idade adulta e que pode se tornar um
problema na vida do indivíduo, em período de tempo razoavelmente curto. Cabe
94
ressaltar que nossa amostra não incluiu uma faixa etária mais jovem (adolescentes) por
entender que esta apresenta particularidades com relação ao hábito de jogar envolvendo
principalmente a internet e jogos eletrônicos. Reconhecemos a necessidade de
investigação nesta área pelas evidências de que a dependência do jogo entre os jovens é
um dado alarmante.
Com relação às comorbidades, vários estudos discutem a associação entre o Jogo
Patológico e outras patologias (Black & Moyer, 1998; Carvalho, Collakis, Oliveira &
Silveira, 2005; Crockford & El-Guebaly, 1998), entre elas, o Transtorno de Humor, o
Transtorno de Ansiedade, a Dependência do Álcool e outras drogas. Esta hipótese
parece relevante, já que o jogo poderia representar uma forma de evitar os afetos
desagradáveis. Alguns autores chamam a atenção para a existência de dois tipos
específicos de jogadores (Rossini & Tavares, 2008) O primeiro aparece
predominantemente em homens, e a motivação parece estar ligada aos ganhos
financeiros, as dívidas e a adrenalina envolvida. O segundo é mais comum em
mulheres, que jogam devagar para preencher o vazio, aliviar a angústia e a ansiedade e a
depressão. Neste estudo percebeu-se a necessidade de incluir instrumentos e medidas de
avaliação dos sintomas de depressão e ansiedade como forma de compreender melhor o
perfil do jogador patológico e de que forma estes sintomas poderiam interferir na
motivação para mudança. Não foram verificadas correlações entre a URICA e a
intensidade dos sintomas de ansiedade e depressão, embora a amostra tenha ficado
bastante reduzida para esta avaliação.
De qualquer forma, a intensidade dos sintomas de depressão aparece
descritivamente de forma significativa na amostra (50% tem grau moderado a grave), o
que não se verifica com relação aos sintomas de ansiedade. Podemos inferir que o
número significativo de mulheres na nossa amostra, diferente do que demonstra o
95
estudo de Oliveira (1997) onde mais de 80% da amostra era do sexo masculino, pode ter
corroborado com este dado, considerando que as mulheres parecem jogar para evitar
afetos desagradáveis (depressão, vazio, solidão). O jogo em mulheres tem sido descrito
na literatura como tendo um curso progressivo mais rápido do que nos homens
(Martins, Lobo, Tavares & Gentil, 2002).
Em relação ao processo de validação da URICA, a escala manteve, de forma
geral as condições avaliadas em outros estudos, capturando os diferentes níveis
motivacionais da população estudada. Na construção do nome da versão final da
URICA optou-se por conservar as iniciais do nome da escala em inglês, acrescentando-
se “adaptação brasileira para Jogo Patológico”, com o objetivo de facilitar possíveis
buscas em bases de dados.
Considerações Finais
A URICA vem demonstrando alguns anos sua aplicabilidade clínica, mas a
validação deste instrumento levando em consideração cada comportamento problema
(Jogo Patológico, comer compulsivo, drogas ilícitas...) pode significar um grande
avanço na maneira de trabalhar com a motivação para mudança, favorecendo a
elaboração de estratégias específicas para cada estágio, melhorando a adesão ao
tratamento, e auxiliando na capacidade de predizer resultados.
A importância de pesquisar estratégias que favoreçam a compreensão e adesão
aos tratamentos para jogadores patológicos é fundamental. Esta parece ser uma
patologia inicialmente silenciosa, dificultando que os indivíduos busquem tratamento,
pois o ciclo da doença favorece um grande equívoco, em que o jogador pensa que a
solução dos seus problemas virá do jogo, e não de um tratamento, e está na próxima
rodada, só depende da sorte...
96
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Szupszynski, K.P.D.R., & Oliveira, M. S. (2008). Adaptação brasileira da
University Rohde Island Change Assessment (URICA) para usuários de substâncias
ilícitas. PsicoUsf, 13 (1), 31-39.
Taber, J. I., McCormick, R. A., & Russo, A. M. (1987). Follow-up of
pathological gamblers after treatment. American Journal of Psychiatry, 144, 757-761
Toneatto, T., & Millar, G. (2004). The assessment in treatment of problem
gambling: a critical review of the literature. Psychology of Addictive Behaviors
, 17,
284-292.
99
Velásquez, M., Maurer, G., Crouch, C., & DiClemente, C. (2001) Group
treatment for substance abuse: a stages-of-change therapy manual. New York: The
Guilford Press.
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho propôs a tradução, a adaptação e estudos de evidência de validação
da University Rohde Island Change Assessment - URICA -adaptação brasileira para
jogo patológico. Os dados deste estudo indicam que a versão em português brasileiro
tem características psicométricas que permitem o uso desse instrumento em nossa
cultura.
No entanto, consideramos algumas limitações no trabalho que devem ser
discutidas.
A primeira delas foi a dificuldade de acessar a amostra desejada. O cálculo
amostral sugeria um número muito maior de sujeitos para a realização dos nossos
objetivos. No entanto, em 2007, ano que iniciou a nossa coleta, também foi o ano de
modificações políticas e legais com relação aos jogos de azar no Brasil. A nossa coleta
previa uma população não-clínica que freqüentava bingos e casas de jogos a fim de
diversificar a amostra e não ter o viés da busca do tratamento diretamente relacionado
com a motivação. No entanto, o fechamento destes locais tornou essa tarefa difícil e
nossa amostra restrita à população clínica. Sugere-se a ampliação de estudos que
incluam esta população com o objetivo de comparar os aspectos motivacionais em cada
amostra.
Ainda com relação à amostra, as pesquisas demonstram que a exploração
comercial profissionalizada dos jogos de azar contribui com a maior prevalência do
Jogo Patológico. Nos dois únicos ambulatórios especializados para o atendimento de
Transtornos do Controle dos Impulsos no país (AMJO da Universidade de São Paulo e
PROAD da Universidade Federal de São Paulo), houve um aumento significativo de
procura por atendimento no período em que o jogo era uma atividade permitida
101
(Ballone, 2003). No entanto, quando a atividade comercial de exploração destes jogos
foi interrompida, a procura por atendimento diminuiu consideravelmente e a dificuldade
em encontrar nossa amostra também. O jogador patológico, apesar das graves
conseqüências que o jogo pode causar na sua vida, como perdas financeiras, problemas
legais no trabalho (roubo), problemas familiares e outros, apresenta uma patologia
“silenciosa”. O aspecto lúdico, recreacional que envolve o hábito de jogar serve, muitas
vezes como justificativa para a manutenção deste comportamento, apesar das
conseqüências negativas. A maioria dos jogadores patológicos parece o ter
consciência do problema e não procura ajuda. Daí ser fundamental elaborar estratégias e
programas informativos para auxiliar na prevenção desta patologia, inclusive
qualificando profissionais da área da saúde. Os profissionais conhecem pouco sobre o
transtorno, e sabe-se que o diagnóstico de JP é muito freqüente, por exemplo, entre
dependentes químicos, sugerindo que o rastreamento e tratamento destas comorbidades
podem representar maior sucesso na abordagem terapêutica.
Uma ampliação deste estudo poderia ser também representada pela inclusão de
instrumentos de avaliação da personalidade no sentido de identificar traços de
personalidade que poderiam interferir na motivação dos pacientes.
Espera-se que a adaptação brasileira da URICA possa ser um instrumento útil
não para os pesquisadores como para os profissionais que trabalham com transtornos
dependentes, auxiliando-os na avaliação da motivação do paciente com o objetivo de
elaborar estratégias terapêuticas adequadas e tornar um pouco menos complicada e
difícil a manuteão da abstinência.
102
REFERÊNCIAS
Ballone, G. J. (2003). Jogo Compulsivo ou Patológico.
Psiqweb. Disponível em:
<http://gballone.sites.uol.com.br/temas/jogo.html> Acesso em: 12 abr. 2006.
103
ANEXOS
104
ANEXO-A Carta do Comitê de Ética
105
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
106
ANEXO C - ROTEIRO DE ENTREVISTA
Data da Entrevista: ___/___/_____ Entrevistador:_____________Entrevista nº:_____________
Local:________________________________________________________________________
Iniciais: ______________________________________________________________________
Data de Nascimento: ___/___/_____ Idade:______ Telefone para contato: _________________
Estado
Civil:_______________Escolaridade:______________________________________________
Renda familiar:________________________________________________________________
Critério de Classificação Econômica Brasil
(Sistema de Pontos)
Posse de itens
Não tem Tem
Televisão em cores
0
1
2
3
4 ou +
Rádio 0 1 2 3 4 ou +
Banheiro
0
1
2
3
4 ou +
Automóvel 0 1 2 3 4 ou +
Empregada mensalista 0 1 2 3 4 ou +
Aspirador de pó
0
1
2
3
4 ou +
Máquina de lavar 0 1 2 3 4 ou +
Videocassete e/ou
DVD
0
1
2
3
4 ou +
Geladeira 0 1 2 3 4 ou +
Freezer (aparelho independente ou parte da
geladeira duplex)
0 1 2 3 4 ou +
Grau de Instrução do chefe de família
Analfabeto / Primário incompleto 0
Primário completo / Ginasial incompleto/ Ensino Fundamental
Inc.
1
Ginasial completo / Colegial incompleto/ Ensino Fundamental
Completo /Ensino Médio Incompleto
2
Colegial completo /Ensino Médio Completo / Superior
incompleto
3
Superior completo 5
Cortes do critério Brasil
Você vive com:
1- ( )Pais 4- ( )Amigos
2- ( )Companheiro (a) 5- ( )Sozinho
3- ( )Filhos 6- ( )Outro:_____________________________
Trabalha atualmente? 1- ( )Sim 2- ( )Não Atividade:_______________________________
Você estuda? 1- ( )Sim 2- ( )Não Qual a série?__________________________________
Você tomou medicamentos nos últimos 5 dias? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não. Quais
medicamentos?________________________________________________________________
CLASSE
PONTOS
TOTAL BRASIL (%)
A1 30-34 1
A2 25-29 5
B1 21-24 9
B2 17-20 14
C
11
-
16
36
D 6-10 31
E
0
-
5
4
107
Relato de doenças clínicas: _______________________________________________________
Você está realizando tratamento psicológico? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não
Há quanto tempo? ______________________________________________________________
Você participa do JA (Jogadores Anônimos)? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não
Há quanto tempo?______________________________________________________________
Você já usou álcool? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não
Quanto?_________________ Há quanto tempo?____________
Você já usou tabaco? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não
Quanto?_________________ Há quanto tempo?____________
Você ainda usa alguma substância psicoativa? 1- ( ) Sim 2- ( ) Não
Na sua opinião, alguém da sua família tem problemas associados ao uso de drogas ou bebidas
alcoólicas?
1- ( ) Sim 2- ( )Não
Quem? ________________ Quanto?____________________
Na sua opinião, alguém da sua família já teve problemas associados ao uso de drogas ou bebidas
alcoólicas? 1- ( ) Sim 2- ( )Não
Quem? ________________ Quanto?____________________
1- Você acha que tem problemas com relação ao seu hábito de jogar?( ) Sim ( ) Não
2- Se pensa que tem, você deseja mudar este hábito nos próximos 6 meses? ( ) Sim ( ) Não
3- E nos próximos 30 dias já pensou em mudar seu comportamento com relação ao jogo?
( )Sim ( )Não
4- Se vo pensa não ter mais problemas com relação ao jogo, há quanto tempo vem se
mantendo sem jogar? ( ) – de 6 meses ( ) + de 6 meses
Marque um ponto na linha que melhor expressa a sua resposta para a pergunta:
O quanto você se considera pronto neste momento para mudar o seu comportamento
com relação____________________________________
1 2 3 4 5 6 7 8 9
De modo algum
pronto para
mudar
Pensando em
mudar
Preparando-me
para mudar
Trabalhando ativamente na
mudança ou mantendo a
mudança
10
108
ANEXO D - ESCALA SOGS
ESCALA SOGS (Lesieur & Blume, 1987) - tradução e adaptação (Oliveira, 1997)
1a. Indique com um X todas as formas de jogo você já praticou ao menos uma vez na sua vida
e sua idade quando jogou pela primeira vez.
TIPO DE JOGO Sim Não Idade 1a vez
a. jogou cartas a dinheiro
b. apostou em cavalos, galos ou outros animais (com ou sem um
agente de apostas - bookie)
c. apostou em esportes (participou de bolão)
d. jogou jogos de dados a dinheiro (qualquer tipo de jogo)
e. foi a cassino (legal ou não)
f. jogou em números ou na loteria (jogo do bicho, loto, sena...)
g. jogou bingo
h. especulou na bolsa ou no mercado de commodities
i.
jogou VIDEOPOKER ou outras máquinas de jogo
j. jogou boliche, golf, sinuca ou outro jogo de habilidade a
dinheiro
1b. Indique quais formas de jogo você praticou ao menos uma vez nos últimos 12 meses.
TIPO DE JOGO Sim Não
a. jogou cartas a dinheiro
b. apostou em cavalos, galos ou outros animais (com ou sem um
agente de apostas - bookie)
c. apostou em esportes (participou de bolão)
d. jogou jogos de dados a dinheiro (qualquer tipo de jogo)
e. foi a cassino (legal ou não)
f. jogou em números ou na loteria (jogo do bicho, loto, sena...)
g. jogou bingo
h. especulou na bolsa ou no mercado de commodities
i. jogou VIDEOPOKER ou outras máquinas de jogo
j. jogou boliche,golf, sinuca ou outro jogo de habilidade a
dinheiro
109
1c. Indique a frequência das formas de jogo você praticou nos últimos 30 dias.
TIPO DE JOGO Não
joguei
Menos que
uma vez
por
semana
1 ou mais
vezes por
semana
Diaria-
mente
a. jogou cartas a dinheiro
b. apostou em cavalos, galos ou outros
animais (com ou sem um agente de
apostas - bookie)
c. apostou em esportes (participou de
bolão)
d. jogou jogos de dados a dinheiro
(qualquer tipo de jogo)
e.
foi a cassino (legal ou não)
f. jogou em números ou na loteria (jogo do
bicho, loto, sena...)
g. jogou bingo
h. especulou na bolsa ou no mercado de
commodities
i. jogou VIDEOPOKER ou outras
máquinas de jogo
j. jogou boliche,golf, sinuca ou outro jogo
de habilidade a dinheiro
2. Qual foi a maior quantia de dinheiro que você já usou para jogar em um dia?
1.( ) Nunca joguei a dinheiro
2.( ) US$ 1 ou menos
3.( ) entre US$ 1 e US$ 10
4.( ) entre US$ 11 e US$ 100
5.( ) entre US$ 101 e US$ 1.000
6.( ) entre US$ 1.001 e US$ 10.000
7.( ) mais de US$10.000
3. Seus pais tem ou já tiveram problemas com jogo?
1.( ) tanto meu pai quanto minha mãe jogam (ou jogavam) demais
2.( ) meu pai joga (ou jogava) demais
3.( ) minha mãe joga (ou jogava) demais
4.( ) nenhum dos dois jogam (ou jogavam) demais
110
Nas questões seguintes você deverá dar duas respostas, uma referente à sua vida e outra
referente ao último ano (últimos doze meses).
4. Quando você joga, qo frequentemente você volta outro dia para recuperar o dinheiro que
você perdeu ?
Nunca Algumas vezes que
perco ( menos da
metade das vezes)
A maior parte das
vezes que eu perco
Toda vez que eu
perco
Na vida
Últimos 12 meses
5. Alguma vez você já alegou estar ganhando dinheiro jogando, mas na verdade você estava
perdendo?
Nunca Sim, menos da metade das
vezes que eu perdi
Sim, a maior parte
do tempo
Na vida
Últimos 12 meses
6. Você sente que já teve alguma vez problema com jogo?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
7. Você alguma vez jogou mais do que planejou?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
8. Pessoas já criticaram o fato de você jogar?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
9. Você já se sentiu culpado pela maneira como joga ou pelo o que acontece com você quando
joga?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
10. Você já sentiu que gostaria de parar de jogar mas pensou que não conseguiria fazê-lo?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
111
11. Você alguma vez já escondeu papéis de apostas, tickets de loteria, dinheiro de jogo ou outro
sinal de jogo de sua/seu companheira(o), filhos ou outras pessoas importantes na sua vida?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
12. Você discutiu com pessoas com quem você mora por causa da maneira como você lida
com dinheiro?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
13. (se você respondeu sim para a questão 12):
Alguma vez a discussão sobre dinheiro estava centrada no seu hábito de jogar?
Sim
Não
Na vida
Últimos 12 meses
14. Alguma vez você pediu dinheiro emprestado e não pagou por causo do jogo?
Sim Não
Na vida
Últimos 12 meses
15. Você alguma vez já perdeu tempo de trabalho ( ou escola) por causa do jogo?
Sim
Não
Na vida
Últimos 12 meses
16. Se você pediu dinheiro emprestado para jogar ou para pagar dívidas, de quem ou de onde
você tomou emprestado? (marque sim ou não para cada ítem)
Na Vida Últimos 12
meses
Sim Não Sim Não
a. de dinheiro reservado para as despesas da casa
b. de sua esposa/marido/companheiro(a)
c. de outros parentes
d. de bancos, companhias de empréstimo ou crédito
e. de cartões de crédito
f. de agiotas
g. você vendeu ações, obrigações ou outros papéis
h. você vendeu propriedades pessoais ou familiares
i. você passou cheques descobertos ou sem fundos
j. você tem ou teve crédito com agente de apostas
k. você teve crédito em cassino
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