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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO RURAL
LUIZ FERNANDO FRITZ FILHO
ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLAS DO
MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO/RS
Porto Alegre
2009
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LUIZ FERNANDO FRITZ FILHO
ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLAS DO
MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO/RS
Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Rural da Faculdade de Ciências
Econômicas da UFRGS, como quesito parcial para
obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Rural.
Orientador: Prof. Dr. Lovois de Andrade Miguel
Porto Alegre
2009
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Responsável: Biblioteca Gládis W. do Amaral, Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS
F919a Fritz Filho, Luiz Fernando
Análise das trajetórias das unidades de produção agrícolas do município de
Passo Fundo/RS / Luiz Fernando Fritz Filho. – Porto Alegre, 2009.
319 f. : il.
Orientador: Lovois de Andrade Miguel.
Tese (Doutorado em Desenvolvimento Rural) - Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Rural, Porto Alegre, 2009.
1. Produção agrícola : Passo Fundo (RS). 2. Agricultura : Sistemas de
produção. I. Miguel, Lovois de Andrade. II. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Faculdade de Ciências Econômicas. Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Rural. III. Título.
CDU 631.151
LUIZ FERNANDO FRITZ FILHO
ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLAS DO
MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO/RS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Rural.
Aprovada em Porto Alegre, em 24 de agosto de 2009.
___________________________________________
Profª. Drª. Angélica Massuquetti
UNISINOS/RS
___________________________________________
Prof. Dr. Egon Roque Frohlich
PGDR/Departamento de Economia/UFRGS
___________________________________________
Prof. Dr. Paulo Dabdab Waquil
PGDR/Departamento de Economia/UFRGS
___________________________________________
Prof. Dr. Osmar Tomaz de Souza
PUC/RS
Dedico este trabalho aos meus amores: Karen Fritz, minha mulher,
minha paixão e grande companheira, e à Fernandinha, nossa filha muito
desejada, que chega, para a nossa felicidade, no final de setembro de 2009.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer às seguintes pessoas e instituições:
Ao meu orientador, de mestrado e doutorado, Professor Lovois de Andrade Miguel que,
pela sua dedicação à atividade de orientação, contribuiu para a elaboração deste trabalho, com
suas sugestões e críticas.
Ao Professor Egon Roque Fröhlich, pelo acompanhamento e pelo conhecimento
transmitido ao longo do curso de mestrado e de doutorado;
Ao Professor Paulo Waquil pelos ensinamentos transmitidos ao longo do curso de
mestrado e doutorado, bem como pelas contribuições sugeridas no projeto de qualificação desta
tese;
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural
(PGDR/UFRGS), pelo incentivo ao crescimento intelectual;
Aos colegas de doutorado do PGDR da turma 2005, pelo compartilhar do conhecimento;
Ao PGDR/UFRGS, por todas as oportunidades e recursos colocados à disposição;
À minha família, que sempre me apoiou e confiou na minha capacidade.
E, por fim, à Deus, que colocou todas essas oportunidades e pessoas no meu caminho.
RESUMO
As transformações recentes da atividade agrícola no Brasil foram engendradas pelas mudanças
na estrutura econômica ocorridas nas últimas décadas, em especial durante os anos de 1960 e
1970. O processo conhecido como modernização da agricultura, ao propor um modelo pautado
em uso intensivo de insumos industriais, máquinas, equipamentos, produtos químicos, métodos e
técnicas de preparo e cultivo do solo, impactou nas formas tradicionais de agricultura e
consequentemente nas trajetórias percorridas pelos produtores em suas unidades de produção.
Neste contexto, o eixo central deste estudo é a reconstituição das trajetórias desenvolvidas nas
unidades de produção agrícolas do município de Passo Fundo no estado do Rio Grande do Sul.
Através da compreensão da história e da gica de evolução das propriedades, foram analisadas
as trajetórias desenvolvidas pelos produtores nas unidades agrícolas ao presente momento.
Neste sentido, este estudo alia a noção de trajetórias das unidades de produção agrícola com a
abordagem dos sistemas agrários e as tipologias dos sistemas de produção. Como resultado
central, foi identificada uma aparente homogeneização dos sistemas de produção implementados
em significativa parcela das unidades de produção do município. Os produtores implantaram, em
seus sistemas produtivos, cultivos produzidos, sobretudo, em consonância com as políticas de
Estado desenvolvidas para a agricultura. No entanto, que se ressaltar que, mesmo aderindo
aos cultivos hegemônicos, parte significativa das unidades de produção em estudo não se
distanciou totalmente de formas alternativas de produção, para subsistência e geração de renda,
contribuindo, desse modo, para sua permanência na atividade agrícola.
Palavras-chave: Trajetórias. Sistemas de produção. Modernização da agricultura.
ABSTRACT
The recent transformations, in the agricultural activity in Brazil, were produced by the changes
in the economic structure which occurred during the last decades, mainly during the 1960s and
1970s. The process known as modernization of agriculture, in proposing a model based on the
intense use of industrial inputs, machinery, equipment, chemical products, methods and
techniques of preparing and cultivating the soil had an impact in the traditional ways of
agriculture and as a consequence on the path covered by the products in the production units. In
this context, the aim of this study is the reconstitution of the trajectory developed by units of
agricultural products in Passo Fundo, in the state of Rio Grande do Sul. By understanding history
and the logic of the property evolution, the path developed by the products, in the agricultural
units, was analyzed until now. In this way, this study links the notion of the path of the units of
agricultural production with the approaching of agrarian system and the production system
typologies. As a general result, an apparent homogenization of the production systems, used in a
significant part of the units of production in the area, was identified. The producers used, in their
productive systems, produced cultivation, above all, in accordance with the state political system
developed towards agriculture. However, it is valid to highlight that, even being in accordance
with the hegemonic cultivation, a significant part of the studied production units was not so far
away from the alternative forms of production, as a way of subsistence and income generation,
contributing, this way, to the maintenance of the agricultural activity.
Keywords: Path. Systems of production. Modernization of agriculture.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Síntese das trajetórias dos sistemas de produção das unidades
pesquisadas na área agrícola de Passo Fundo.......................................................
113
Figura 2 - Vista aérea da unidade de produção representante do sistema
produtivo hortifrutigranjeiro.................................................................................
162
Figura 3 - Produção de morangos na unidade de produção – imagem 1 (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro)................................................................................
163
Figura 4 - Produção de morangos na unidade de produção – imagem 2 (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro). ..............................................................................
163
Figura 5 - Produção de pêssegos na unidade de produção (sistema produtivo
hortifrutigranjeiro). ..............................................................................................
164
Figura 6 - Produção de tomate em estufa na unidade de produção (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro)................................................................................
164
Figura 7 - Produção de rúcula em estufa na unidade de produção (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro)................................................................................
165
Figura 08 - Produção de alfaces em estufa na unidade de produção (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro)................................................................................
165
Figura 9 - Produção de melão em estufa na unidade de produção (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro)................................................................................
166
Figura 10 - Variedades de melancia produzidas e sistema de irrigação utilizado
no cultivo de melancia na unidade de produção (sistema produtivo
hortifrutigranjeiro).................................................................................................
166
Figura 11 Área com a presença de mata nativa da unidade de produção
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..................................................................
167
Figura 12 Galpão destinado ao abrigo de insumos e para a “compostagem”
produzida, utilizada para o processo de adubação dos principais cultivos da
propriedade (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..............................................
168
Figura 13 - Sistema de irrigação do tipo gotejo utilizado para os cultivos de
horta da unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).................
171
Figura 14 - Estufa de proteção da produção de hortifrutigranjeiros contra
intempéries climáticas na unidade de produção (sistema produtivo
hortifrutigranjeiro).................................................................................................
171
Figura 15 - Túneis baixos da unidade de produção; plantação de morangos a
céu aberto (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)................................................
172
Figura 16 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema de Produção 1 para o Sistema de Produção 2 na unidade produtiva
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..................................................................
176
Figura 17 - Paiol para armazenagem de milho para alimentação de suínos na
unidade de produção, financiado por meio da entidade bancária Banrisul
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..................................................................
178
Figura 18: Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema de Produção 2 para o Sistema de Produção 3 na unidade produtiva
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..................................................................
180
Figura 19 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema de Produção 3 para o Sistema de Produção atualmente praticado na
unidade produtiva (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)....................................
182
Figura 20 - A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do
Tipo 1 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)......................................................
184
Figura 21 - Vista aérea da unidade de produção representante do sistema
produtivo aviário...................................................................................................
186
Figura 22 - Área utilizada para plantação de soja e milho na unidade de
produção (sistema produtivo aviário)....................................................................
187
Figura 23 - Galpão utilizado para guardar equipamentos, implementos e
insumos e casa de alvenaria utilizada para residência do produtor (sistema
produtivo aviário)..................................................................................................
189
Figura 24 - Vista dos aviários, centralidade do sistema de produção atual;
veículos e implementos utilizados para a produção de soja (sistema produtivo
aviário)..................................................................................................................
189
Figura 25 Processo de colheita da produção de trigo na unidade na década de
1970 (sistema produtivo aviário)..........................................................................
193
Figura 26 - Moinho de trigo existente na unidade, durante a década de 1970,
utilizado para moagem da produção dos pequenos agricultores da região
(sistema produtivo aviário)...................................................................................
194
Figura 27 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema de Produção 1 para o Sistema de Produção 2 na unidade produtiva
(sistema produtivo aviário)...................................................................................
196
Figura 28 – Comercialização de leite realizada pelo produtor através da entrega
do produto nas residências da cidade de Passo Fundo (sistema produtivo
aviário)..................................................................................................................
198
Figura 29 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema de Produção 2 para o Sistema de Produção atual na unidade produtiva
(sistema produtivo aviário)...................................................................................
199
Figura 30 Primeiro aviário construído na unidade de produção no início da
década de 1990 (sistema produtivo aviário)..........................................................
200
Figura 31: Estrutura interna do aviário construído na unidade de produção no
início da década de 1990 (sistema produtivo aviário)...........................................
200
Figura 32 A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do
Tipo 2 (sistema produtivo aviário)........................................................................
202
Figura 33 Imagem atual da unidade de produção representante do sistema
produtivo leite.......................................................................................................
204
Figura 34 - Pastagem plantada e área destinada à plantação de milho para
silagem visando a alimentação do gado de leite da unidade (sistema produtivo
leite)......................................................................................................................
205
Figura 35 - Local da produção de silagem para alimentação animal; e pomares
existentes na unidade de produção (sistema produtivo leite)................................
205
Figura 36 Criação de efetivo de ovinos e suínos com a finalidade de
autoconsumo e eventual comercialização (sistema produtivo leite).....................
206
Figura 37 - Cavalos destinados à comercialização na unidade (sistema
produtivo leite)......................................................................................................
207
Figura 38 - Imagem da residência do produtor na unidade produtiva (sistema
produtivo leite)......................................................................................................
208
Figura 39 - Galpões utilizados para abrigo de máquinas, implementos, adubos
e ração na unidade de produção (sistema produtivo leite).................................... 208
Figura 40 - Local para abrigo de cavalos da unidade de produção (sistema
produtivo leite)......................................................................................................
209
Figura 41 - Local destinado a alimentação do gado de leite com acesso à sala
de ordenha na unidade de produção (sistema produtivo leite)..............................
209
Figura 42 - Local de ordenha do gado de leite e de armazenagem do leite nos
resfriadores na unidade de produção (sistema produtivo leite).............................
210
Figura 43 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 1 para o Sistema 2 na unidade de produção (sistema produtivo leite)....
214
Figura 44 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 2 para o Sistema 3 na unidade de produção (sistema produtivo leite)....
216
Figura 45 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 3 para o Sistema Atual da unidade de produção (sistema produtivo
leite)......................................................................................................................
218
Figura 46 - A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do
Tipo 3 (sistema produtivo leite)............................................................................
220
Figura 47 - Vista da área de cultivo da soja da unidade (subsistema produtivo
soja – criação).......................................................................................................
224
Figura 48 - Galpão para terminação de suínos na unidade de produção
(subsistema produtivo soja – criação)...................................................................
225
Figura 49 - Sistema de escoamento de dejetos utilizados como adubação para a
produção de soja na unidade de produção (subsistema produtivo soja
criação)..................................................................................................................
229
Figura 50 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 1 para o Sistema 2 (subsistema produtivo soja – criação).......................
231
Figura 51 - Maquinaria adquirida, com financiamento do Estado na década de
1970, para produção da lavoura na unidade de produção (subsistema produtivo
soja – criação).......................................................................................................
232
Figura 52 - Maquinaria e processo de colheita de trigo na unidade de produção
na década de 1970 (subsistema produtivo soja – criação)....................................
233
Figura 53 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 2 para o Sistema 3 na unidade de produção (subsistema produtivo soja
– criação)...............................................................................................................
234
Figura 54 Colheitadeira, financiada com recursos oficiais, adaptada para a
produção de grãos através do plantio direto na unidade de produção
(subsistema produtivo soja – criação)...................................................................
235
Figura 55 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 3 para o Sistema Atual na unidade de produção (subsistema produtivo
soja – criação).......................................................................................................
236
Figura 56 - Galpão para terminação de suínos na unidade de produção
(subsistema produtivo soja – criação)...................................................................
237
Figura 57 - Galpão para terminação e instalações internas da atividade de
terminação (subsistema produtivo soja – criação)................................................
237
Figura 58 A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do
Tipo 4 (Subsistema Soja-Criação)........................................................................
239
Figura 59 - Vista aérea da unidade de produção representante do sistema
produtivo Tipo 4 (subsistema produtivo soja cultivos de inverno) no ano de
2007.......................................................................................................................
241
Figura 60 - Área ocupada com plantação de soja na unidade no ano de 2008
(subsistema produtivo soja – cultivos de inverno)................................................
242
Figura 61 - Área ocupada com plantação de trigo na unidade no ano de 2007
(subsistema produtivo soja – cultivos de inverno)................................................
243
Figura 62 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 1 para o Sistema 2 da unidade de produção (Subsistema Soja
Cultivos de Inverno)..............................................................................................
249
Figura 63 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do
Sistema 2 para o Sistema 3 (atual) da unidade de produção (subsistema soja
cultivos de inverno)...............................................................................................
252
Figura 64 A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do
Tipo 4 (Subsistema Soja - Cultivos de Inverno)...................................................
254
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Variáveis e indicadores da análise da evolução e diferenciação dos
sistemas agrários da região do Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul..
96
Quadro 2 - Síntese dos diferentes tipos de unidades produtivas de Passo Fundo
na ótica dos sistemas de produção – Pré-tipologia preliminar, 2008....................
100
Quadro 3 - Variáveis e indicadores da caracterização produtiva das unidades de
produção da área rural de Passo Fundo.................................................................
103
Quadro 4 - Variáveis e indicadores da reconstituição histórica das unidades de
produção da área rural do município de Passo Fundo..........................................
103
Quadro 5 - Variáveis e indicadores da estrutura produtiva da unidade de
produção de Passo Fundo......................................................................................
107
Quadro 6 - Variáveis e indicadores da análise das trajetórias tomadas pela
unidade de produção de Passo Fundo...................................................................
114
Quadro 7 - Principais Sistemas de Produção Praticados pelos Agricultores no
Município de Passo Fundo, durante a Década de 1950 e Início dos Anos de
1960.......................................................................................................................
140
Quadro 8 - Principais Tipos de Sistemas de Produção Implementados pelos
Produtores Rurais nas Propriedades de Passo Fundo entre os anos de 1965 e
1980.......................................................................................................................
143
Quadro 9 - Síntese das Características dos Sistemas de Produção Praticados
pelos Produtores Entrevistados na Área Rural do Município de Passo Fundo no
ano de 2008...........................................................................................................
147
Quadro 10
- Itinerário técnico das culturas desenvolvidas na unidade (sistema
ortifrutigranjeiro)...............................................................................
166
Quadro 11 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..................................................................
169
Quadro 12 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na
unidade de produção entre 1977 e 1985 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..
174
Quadro 13 Itinerário técnico das culturas praticadas na UPA (sistema
produtivo aviário)..................................................................................................
186
Quadro 14 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(sistema produtivo aviário)...................................................................................
189
Quadro 15 - Modelo de manejo das vacas de leite (sistema produtivo leite)...... 205
Quadro 16 - Benfeitorias, principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(sistema produtivo leite)........................................................................................
209
Quadro 17 - Itinerário técnico da cultura soja (subsistema produtivo soja
criação)..................................................................................................................
223
Quadro 18 - Modo de condução e manejo da criação suínos (subsistema
produtivo soja – criação).......................................................................................
224
Quadro 19 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(subsistema produtivo soja – criação)...................................................................
225
Quadro 20 - Itinerário técnico das culturas da unidade (subsistema produtivo
soja – cultivos de inverno)....................................................................................
242
Quadro 21 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(subsistema produtivo soja – cultivos de inverno)................................................
243
Quadro 22 - Benfeitorias, principais equipamentos e instrumentos de trabalho
da unidade, durante o Sistema de Produção 1 (Subsistema Soja Cultivos de
Inverno).................................................................................................................
247
Quadro 23 - Maquinaria adquirida durante os anos de 1888 e 1998; Sistema de
Produção 2 (subsistema soja – cultivos de inverno).............................................
250
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Crédito agrícola e suas fontes (US$ milhões), Brasil1987/1996............. 75
Tabela 2 - Banco do Brasil; Fontes de Recursos do Crédito Rural 1985/1995
(em % do total)..........................................................................................................
77
Tabela 3 - Brasil; Evolução do Crédito Rural por Fontes de Recursos – 1996-
2002 (em R$ milhões de 2002).................................................................................
79
Tabela 4 - Perfil da Amostra Utilizada para a Construção da Tipologia dos
Sistemas de Produção dos Produtores Rurais do Município de Passo Fundo...........
146
Tabela 5 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao
Sistema de Produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1)....................................................
151
Tabela 6 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao
Sistema de Produção Avicultura (Tipo 2).................................................................
153
Tabela 7 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao
Sistema de Produção Leite (Tipo 3)..........................................................................
155
Tabela 8 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao
Subsistema de Produção Soja – Criação...................................................................
158
Tabela 9 - Síntese das Características das Unidades de produção pertencentes ao
Subsistema de Produção Soja - Cultivos de inverno.................................................
160
Tabela 10: Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 Superfície
de área (total e agrícola útil), produto bruto total e produto por cultivos na
unidade (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)........................................................
172
Tabela 11 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 Valor
agregado líquido (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)..........................................
173
Tabela 12 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 Renda
Líquida (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)........................................................
173
Tabela 13 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1
Combinação de Indicadores (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
174
Tabela 14 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1985 a 1993 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)........................
178
Tabela 15 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1994 e 2002 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)........................
181
Tabela 16 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 –
Superfície de área, Produto Bruto total e Produto por Atividade na Unidade
(sistema produtivo aviário)........................................................................................
191
Tabela 17 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 - Valor
Agregado Líquido (sistema produtivo aviário).........................................................
191
Tabela 18 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 –
Renda líquida (sistema produtivo aviário)................................................................
192
Tabela 19 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 –
Combinação de Indicadores (sistema produtivo aviário)..........................................
192
Tabela 20 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1970 a 1980 (sistema produtivo aviário).........................................
194
Tabela 21 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1980 e 1990 (sistema produtivo aviário).........................................
197
Tabela 22 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1990 a 2008 (sistema produtivo aviário)......................................... 201
Tabela 23 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 –
Superfície de área (Total e Agrícola Útil), Produto Bruto Total e Produto por
Atividade na Unidade (sistema produtivo leite)........................................................
211
Tabela 24 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 - Valor
agregado Líquido (sistema produtivo leite)..............................................................
211
Tabela 25 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 –
Renda Líquida (sistema produtivo leite)...................................................................
212
Tabela 26 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 –
Combinação de Indicadores (sistema produtivo leite)..............................................
212
Tabela 27 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1975 e 1980 (sistema produtivo leite)..............................................
213
Tabela 28 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1980 e 1990 (sistema produtivo leite)..............................................
215
Tabela 29 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1990 a 1996(sistema produtivo leite)...............................................
217
Tabela 30 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1996 a 2008 (sistema produtivo leite)..............................................
219
Tabela 31 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4
(Subsistema Soja Criação) - Superfície de área (Total e Agrícola Útil), Produto
Bruto Total e Produto por Cultivos na Unidade (subsistema produtivo soja
criação)......................................................................................................................
227
Tabela 32 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 Valor
Agregado Líquido (subsistema produtivo soja – criação).........................................
227
Tabela 33 - Indicadores Socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 –
Renda Líquida (subsistema produtivo soja – criação)..............................................
228
Tabela 34 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 –
Combinação de Indicadores (subsistema produtivo soja – criação).........................
228
Tabela 35 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1960 a 1965 (subsistema produtivo soja – criação).........................
230
Tabela 36 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1965 e 1988 (subsistema produtivo soja – criação).........................
232
Tabela 37 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1988 a 1997 (subsistema produtivo soja – criação).........................
235
Tabela 38 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1997 e 2008 (subsistema produtivo soja – criação).........................
238
Tabela 39 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4
(Subsistema Soja Cultivos de Inverno) Superfície de área (Total e Agrícola
Útil), Produto Bruto Total e Produto por Cultivos na Unidade................................
245
Tabela 40 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 -
(Subsistema Soja – Cultivos de Inverno)..................................................................
245
Tabela 41 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 –
Combinação de Indicadores (Subsistema Soja – Cultivos de Inverno)....................
246
Tabela 42 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1970 a 1988 (Subsistema Soja – Cultivos de Inverno)....................
247
Tabela 43 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1988 e 1998 (subsistema soja – cultivos de inverno)......................
250
Tabela 44 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1998 e 2008 (subsistema soja cultivos de
inverno).....................................................................................................................
253
Tabela 45 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3
(Sistema Produtivo Leite) Rendas da
Unidade.....................................................................................................................
257
Tabela 46 - Produto Bruto Total, Participação Monetária dos Produtos Principais
da Unidade e Participação Percentual em Relação ao Total da Produção do
Sistema de Produção 2 (Avícola)..............................................................................
258
Tabela 47 - Superfície utilizada para produção de hortifrutigranjeiros na unidade
e renda agrícola da unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)....
259
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................
20
1.1 Problema de Pesquisa...............................................................................................
28
1.2 Objetivos do Estudo..................................................................................................
28
2 REVISÃO TEÓRICA.................................................................................................. 30
2.1 Abordagem dos Sistemas Agrários..........................................................................
30
2.1.1 Sistemas de Produção e suas Características............................................................
32
2.1.2 Sub-sistemas Produtivos...........................................................................................
34
2.1.3 Unidade de Produção...................................................................................... .........
39
2.1.3.1 Construção de Modelos Tipológicos Aplicados às Trajetórias das Unidades de
Produção............................................................................................................................
43
2.2 Trajetórias de Evolução das Unidades de Produção..............................................
51
2.2.1 Aplicações para a análise de trajetória das Unidades de Produção Agrícola...........
52
2.3 As Transformações Recentes da Agricultura no Brasil...............................................
60
2.4 Políticas Públicas e Agricultura............................................................................... 66
2.4.1 Os Grandes Agregados Econômicos e o Impacto na Agricultura............................
65
2.4.2 Políticas Setoriais na Agricultura Brasileira............................................................
70
2.4.2.1 Política Agrícola ..................................................................................................
71
2.4.2.2 Política Agrária ...................................................................................................
84
2.4.2.3 Políticas ou Programas de Desenvolvimento Rural..............................................
87
2.4.3 Política Social da Previdência Rural no Brasil.........................................................
89
3 QUESTÕES METODOLÓGICAS E OPERACIONALIZAÇÃO DA
PESQUISA.......................................................................................................................
92
3.1 Operacionalização da Pesquisa................................................................................
95
3.1.1 Procedimentos Adotados para a Análise da Evolução da Agricultura no
Município de Passo Fundo................................................................................................
95
3.1.2 Pré-tipologia das unidades de produção da área rural do município de Passo
Fundo.................................................................................................................................
97
3.1.3 Tipologia dos Sistemas de Produção Implementados nas Unidades de Produção
de Passo Fundo..................................................................................................................
101
3.1.3.1 Modelo Tipológico................................................................................................ 102
3.1.4 Trajetória de evolução das unidades de produção do município de Passo
Fundo.................................................................................................................................
105
3.1.4.1 Definição dos estudos de caso da Pesquisa........................................................... 105
4 AS TRANSFORMAÇÕES NA REALIDADE AGRÁRIA NO PLANALTO
MÉDIO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E SUAS CONSEQUÊNCIAS
PARA AS UNIDADES DE PRODUÇÃO DO MUNICÍPIO DE PASSO
FUNDO.............................................................................................................................
117
4.1 A evolução da agricultura no município de Passo Fundo......................................
117
4.1.1 As características de relevo, clima e solos do Planalto Médio do Estado................
118
4.1.2 A história agrária e os principais elementos de formação do município de Passo
Fundo.................................................................................................................................
120
4.1.2.1 Sistema Agrário Indígena......................................................................................
120
4.1.2.2. Sistema Agrário Pecuária.....................................................................................
123
4.1.2.3. Sistema Agrário Colonial.....................................................................................
127
4.2 O processo de Modernização da agricultura no município de Passo Fundo....... 131
4.3 As transformações dos sistemas de produção das unidades de produção de
Passo Fundo a partir da modernização da agricultura brasileira..............................
139
4.4 A diferenciação dos agricultores da área rural de Passo Fundo: Tipologia de
Sistemas de Produção....................................................................................................
146
4.4.1 Tipo 1 – Sistema de Produção Hortifrutigranjeiro..................................................
149
4.4.2 Tipo 2 – Sistema de Produção Aviário.....................................................................
151
4.4.3 Tipo 3 – Sistema de Produção Leite.........................................................................
154
4.4.4 Tipo 4 – Sistema de Produção Soja e seus subsistemas...........................................
156
5 ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DE EVOLUÇÃO DAS UNIDADES DE
PRODUÇÃO AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO........................
161
5.1 A produção hortifrutigranjeira e a racionalização no uso dos recursos
produtivos escassos no sistema de produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1)................
161
5.1.1 Descrição Agrossocioeconômica do Sistema Produtivo
Hortifrutigranjeiro.............................................................................................................
162
5.1.2 Análise da Trajetória de evolução de uma unidade de produção agrícola com o
sistema de produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1).............................................................
174
5.2 A Avicultura como Alternativa Rentável aos Cultivos de Verão no Sistema de
Produção Aviário (Tipo 2)..............................................................................................
185
5.2.1 Descrição Agrossocioeconômica do Sistema Produtivo Aviário.............................
185
5.2.2 Análise da Trajetória de evolução de uma unidade de produção agrícola com o
sistema de produção Aviário (Tipo 2)...............................................................................
186
5.3 A Atividade Leiteira e o Ingresso de Renda Líquida Permanente no Sistema
de Produção Leite (Tipo 3)..............................................................................................
206
5.3.1 Descrição Agrossocioeconômica do Sistema Produtivo Leite.................................
204
5.3.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com o
Sistema de Produção Leite (Tipo 3)..................................................................................
213
5.4 A Centralidade do Cultivo da Soja em Associação com “Antigas Atividades da
Região” no Sistema de Produção Soja (Tipo 4)...........................................................
225
5.4.1 O Subsistema de Produção Soja – Criação..............................................................
222
5.4.1.1 Descrição Agrossocioeconômica do Subsistema Produtivo Soja
Criação...............................................................................................................................
222
5.4.1.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com
o Subsistema de Produção Soja - Criação (Tipo 4.1)........................................................
229
5.4.2 O Subsistema Soja – Cultivos de inverno................................................................ 239
5.4.2.1 Descrição Agrossocioeconômica do Subsistema Produtivo Soja Cultivos de
Inverno...............................................................................................................................
240
5.4.2.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com
o Sub- sistema de Produção Soja Cultivos de Inverno (Tipo
4.2).....................................................................................................................................
245
5.5 A diversidade e as estratégias das unidades de produção agrícolas do
município de Passo Fundo...............................................................................................
253
5.6 A Participação das Políticas Públicas para a Agricultura na Trajetória de
Evolução das Unidades de Produção Agrícolas de Passo Fundo.................................
258
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................
REFERÊNCIAS .............................................................................................................
262
268
APÊNDICE 1 - Questionário aplicado aos informantes–chave ligados ao setor
agrícola da área rural do município de Passo Fundo.................................................
279
APÊNDICE 2 - Caracterização produtiva das unidades de produção da área
rural de Passo Fundo.....................................................................................................
281
APÊNDICE 3 - Roteiro para análise de variáveis e indicadores da estrutura
produtiva, econômica e da trajetória das unidades de produção agrícola na área
rural do município de Passo Fundo-RS........................................................................
289
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta
por 81 entrevistas aplicadas na área rural do município de Passo Fundo................
306
APÊNDICE 5 - Sistema de produção hortifrutigranjeiro - Tipo 1.......................... 312
APÊNDICE 6 - Sistema de produção aviário - Tipo 2................................................
313
APÊNDICE 7 - Sistema de produção leite - Tipo 3.....................................................
314
APÊNDICE 8 - Sistema de produção soja (Tipo 4) e seu subsistema soja –
criação............................................................................................................................
315
APÊNDICE 9 - Sistema de produção soja (Tipo 4) e seu subsistema soja –
cultivos de inverno..........................................................................................................
317
ANEXO 1 Localização geográfica do município de Passo Fundo e da Região do
Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul........................................................
319
20
1 INTRODUÇÃO
As transformações recentes da atividade agrícola no Brasil foram engendradas pela
mudança na estrutura econômica no decorrer das últimas décadas, em especial durante 1960 e
1970. O padrão produtivo da agricultura pode ser analisado, ao longo do tempo, através da
evolução de indicadores de produção, relações de trabalho, formas de ocupação das terras e
políticas de Estado. No país, as mudanças acentuam-se principalmente a partir da formação da
base técnica da agricultura
1
.
Um corte emblemático foi a evolução do chamado complexo rural para os complexos
agroindustriais (entre 1850 a 1950). No Brasil, o complexo rural apresentava uma dinâmica
totalmente dependente do comércio exterior, em um período em que o mercado interno era
incipiente. A agricultura caracterizava-se pela dedicação a um produto agrícola ou extrativo de
alto valor comercial destinado ao mercado externo.
Especificamente no estado do Rio Grande do Sul, nas primeiras duas décadas do século
XX, a lavoura mecanizada e irrigada de arroz
2
apresentava forte expansão. A atividade orizícola
fundou-se sobre uma base de produção pecuária, servindo, inicialmente, como alternativa de
renda nos momentos de crise da bovinocultura. No momento do surgimento da orizicultura, com
exceção da pecuária de corte, as demais atividades distribuíam-se entre a satisfação do consumo
interno dos estabelecimentos agrícolas e a geração de uma renda monetária via comercialização,
de forma bastante rudimentar, através de intermediários comerciantes.
Com a instituição do Estado Novo, por Getúlio Vargas em 1937, a política econômica,
em relação ao setor agrícola, foi reestruturada. A política adotada, ao restringir importações
conforme escala de prioridade, favorecia a importação de máquinas, equipamentos e matérias-
primas básicas. No entanto, restringia a importação de bens de consumo, entre eles, alimentos e
1
Processo de modificações nas relações do homem com a natureza e também nas relações sociais de produção, bem
como seus instrumentos de trabalho. A industrialização da agricultura implicou na passagem de um sistema de
produção artesanal a um sistema manufatureiro e mesmo a grande indústria, em alguns sub-setores das atividades
agropecuárias no seu sentido restrito (GRAZIANO DA SILVA, 1996).
2
A expansão da lavoura de arroz esteve associada a adoção de uma política tarifária de penalização das importações
de arroz por parte do Governo Federal da época. Destacam-se outros fatores como a expansão do mercado
consumidor e intermediador de arroz no Rio de Janeiro, a existência de uma infraestrutura de transporte que
permitiu o deslocamento da produção para o centro do país, o aumento das vendas externas no período da Primeira
Grande Guerra (1914-1918), em função da escassez de alimentos na Europa (NUNES DA SILVA, 2002).
21
matérias-primas de origem agrícola, visando a inclusão da agricultura no processo de
substituição de importações
3
, através da ampliação da assistência técnica governamental
destinada aos agricultores.
A economia brasileira é claramente orientada no sentido da industrialização,
consolidando-se nos anos de 1950, com a internalização do setor industrial produtor de bens de
capital e insumos básicos (D1 Departamento 1). A partir daí completa-se o processo geral de
industrialização e se inicia o processo específico da industrialização da agricultura. Nesse
período, não havia mais interesse em favorecer as importações de máquinas, equipamentos e
insumos químicos, mas, contrariamente, reprimi-las com objetivo de criar demanda interna para
as indústrias no Brasil instaladas (GRAZIANO DA SILVA, 1996).
A montagem do D1 agrícola e do proletariado rural, responderam pelo fornecimento de
capital e força de trabalho, respectivamente, para a nova dinâmica de acumulação de capital no
campo. O novo centro dinâmico da economia – a indústria e a vida urbana – impõe suas
demandas ao setor agrícola e passa a condicionar suas transformações, que vão conduzindo ao
domínio dos complexos agroindustriais (CAIs).
Durante a constituição dos complexos agroindustriais (CAIs), as relações de regulação na
agricultura, modificaram-se. No período precedente aos CAIs, estas relações funcionavam de
acordo com o mercado externo e interno. O Estado assume este papel, na condição de
formulador de políticas específicas, para cada complexo agroindustrial, restabelecendo os
principais parâmetros para a rentabilidade de capitais empregados nos distintos ramos agrícolas.
Atua também como árbitro das contradições que se internalizam nos complexos, como, por
exemplo, fixação de preços, margens dos produtos intermediários, fiscalização da competição
oligopolista, estabelecimento de cotas, etc.
O Estado, através de políticas de financiamento agrícola, cumpre um papel determinante
na modernização da agricultura. A criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em
1965, foi responsável pela transformação da base técnica dos estabelecimentos agrícolas, pelo
aumento da produtividade do setor e pela consolidação dos complexos agroindustriais.
A adoção, então, de uma política voltada à modernização do setor rural mostrava-se
preferível à reforma agrária como solução do problema da baixa produtividade. Logo, a
3
Iniciou-se uma nova fase da assistência financeira à agricultura com a criação de mecanismos como a CREAI
(Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil), a Política de Garantia de preços Mínimos (PGPM) e
o Regime de Ágios e Bonificações (MASSUQUETTI, 1998).
22
modernização passaria a significar uma reformulação da base cnica do setor, traduzida na
indução e difusão do uso de insumos modernos (fertilizantes, corretivos, defensivos, sementes
melhoradas, etc.) e de maquinaria agrícola, visando ao aumento de produtividade dos fatores
terra e trabalho (COSTA LIMA E GONZALEZ, 1998).
No decorrer deste processo, o período entre 1965 e 1980 caracterizou-se pela relativa
facilidade de expansão creditícia e das condições de repasse aos produtores rurais. Porém,
mesmo neste contexto, o setor que angariou melhores benefícios foi o agroindustrial, com o qual
o governo possuía uma afinidade, especialmente, em relação a unidades de beneficiamento e
processamento, como cooperativas e agroindústrias, estimulando o setor com políticas eletivas,
tais como políticas de comercialização
4
.
No início da década de 1980, o Brasil ajusta-se à necessidade de geração de saldos para o
controle do déficit público. Este ajuste limitou o volume de crédito concedido para sanear a
dívida pública
5
. A agricultura, neste cenário, assume a função da geração de superávits no
comércio internacional, através de produtos exportáveis, beneficiando setores produtores desta
natureza.
O quadro altera-se, sensivelmente, na década de 1990. A queda significativa de recursos
aos produtores leva ao deslocamento da oferta de crédito da produção para a comercialização e
aquisição de produtos. Devido às contingências, em relação à redução de gastos públicos
(notadamente por parte do tesouro nacional, das exigibilidades e da caderneta de poupança), o
setor privado desenvolveu mecanismos alternativos de financiamento.
6
No decorrer da década de 1990, se observa o aparecimento de uma série de movimentos
sociais, criando-se a noção de “agricultura familiar”. Para Schneider (2003) a origem desta
categoria está no processo de integração dos países da região do cone sul da América Latina, a
partir do final da década de 1980, que culminou com a assinatura do tratado de Assunción, em
1991. A partir deste tratado foram estabelecidos vários acordos multilaterais, com objetivo de
ampliar a integração econômica e comercial entre o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai.
Em razão das feições aparentemente excludentes deste processo, pois a real participação das
4
Para maiores detalhamentos ver Belik (2001).
5
No início da década de 1980 foram criados mecanismos para controlar o repasse de recursos e diversificar a fonte
dos mesmos. Para o detalhamento da trajetória e mudanças de mecanismos, ver Leite (2001).
6
No setor privado destacam-se os Contratos a Termo e Futuros e as Troca de Insumos por Produtos. No setor
público podem-se listar, por exemplo, Aquisições e Empréstimos do Governo Federal AGE e EGF, Cédula do
Produtor Rural - CPR, o Programa de Escoamento da Produção PEP, e Contratos com Opção de Venda, que
configuram-se nos instrumentos de sustentação de preços e gerenciamento de risco do Estado (Barros, 2000).
23
organizações de pequenos agricultores estava virtualmente vedada, a expressão agricultura
familiar
7
surge como uma noção de convergência e unificadora dos interesses dos pequenos
proprietários rurais que se julgavam não apenas preteridos politicamente da integração, mas
afetados economicamente, uma vez que a abertura comercial ameaçava determinados setores da
agricultura brasileira em razão das diferenças de competitividade de seus produtos. Para o autor,
a agricultura familiar é legitimada, pelo Estado, como uma nova categoria, através da
implementação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), no
ano de 1996.
O PRONAF começa a ser construído após a promulgação da Constituição de 1988,
período em que ocorre um reordenamento do Estado brasileiro. Ao se primar mais pela
descentralização, introduziram-se novos mecanismos de gestão social das políticas públicas,
visando democratizar o acesso dos beneficiários aos recursos públicos. Esse movimento
conduziu a um aumento crescente dos conselhos gestores, tanto de políticas setoriais como das
políticas gerais de desenvolvimento nas esferas federal, estaduais e municipais. Foi neste cenário
que se criou, em 1996, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF), atendendo-se a uma antiga reivindicação das organizações dos trabalhadores rurais,
que colocavam a necessidade da formulação e implementação de políticas de desenvolvimento
rural específicas para o segmento numericamente mais importante, porém o mais fragilizado da
agricultura brasileira, tanto em termos de capacidade técnica como de inserção nos mercados
agropecuários (MATTEI, 2006).
Sacco dos Anjos et al. (2006) em estudo sobre o impacto do PRONAF no estado do Rio
Grande do Sul, a partir de informações obtidas junto aos próprios beneficiários do Programa,
suscitaram alguns pontos para reflexão. Apesar de avanços no aperfeiçoamento e ampliação do
universo de cobertura, o programa permanece ancorado numa ambiguidade básica tanto em
termos do público-alvo a ser beneficiado quanto aos objetivos essenciais que persegue. Na
retórica oficial, mesclam-se orientações tipicamente produtivistas com compromissos mais
amplos, como a geração de empregos, a inclusão social e o desenvolvimento territorial.
7
Como pertencentes a esta noção Schneider (2003) destaca os assentados, arrendatários, parceiros, integrados à
agroindústria, entre outros atores que não poderiam ser confortavelmente identificados como pequenos produtores
ou simplesmente trabalhadores rurais.
24
Uma consequência da evolução do modelo de agricultura construído no Brasil, traduz-se
na criação de um novo padrão agrícola e agrário, que favorece um grupo seleto de produtores
rurais e empresários agroindustriais. A partir disso, formata-se um quadro com destaque a
determinados cultivos. Até o início da década de 1970, a produção da soja no estado gaúcho foi
responsável por cerca de dois terços da produção nacional do grão. Verifica-se, no mesmo
estado, a ampliação de determinadas culturas como arroz, milho e soja, em relação à produção e
tipo de alimentos produzidos, no período entre 1950 e 1990, (MÜLLER, 1998).
A oferta de crédito rural, no período, foi acompanhada pela criação de um parque
especializado em linhas de implementos agrícolas e insumos, o que corroborou para a
substituição dos sistemas produtivos de policulturas (que em muitas situações representavam
também culturas de subsistência) para sistemas caracterizados por monoculturas
8
.
O setor agropecuário alcançou, recentemente, um expressivo crescimento de
produtividade
9
, conjuntamente a significativas modificações na dinâmica ocupacional, através da
queda do número de famílias ocupadas na atividade agrícola no Rio Grande do Sul. Entre 1981 e
1997 houve uma diminuição de 345 mil famílias
10
.
A estrutura fundiária do estado, entre as décadas de 1960 e 1990, apresentou um aumento
significativo da concentração de área, notadamente, nos estabelecimentos com tamanho superior
a 500 hectares. A partir de 1990 destaca-se a diminuição do total de estabelecimentos e área em
propriedades pertencentes a estratos de área com tamanho entre menos de 10 e 100 hectares
11
.
Uma consequência dos processos de ocupação de terras e da modernização é a
significativa variação nos indicadores sociais, de desenvolvimento e de produção na agricultura.
As diversidades regionais podem ser avaliadas sob diferentes olhares, vieses teóricos e recortes
territoriais. Seja através de investigações que se apropriam dos Sistemas Agrários ou mesmo
estudos que privilegiem o escopo das desigualdades regionais, há um aparente processo de
8
Para Müller (1998) a "febre da soja" foi responsável pelo estado ter se transformado no maior mercado nacional
para certas linhas de máquinas e insumos agrícolas, junto a uma política de crédito oficial que estimulou
desperdícios como a implantação de um parque de esmagamento do grão e produção de óleo, que se tornaria ocioso
à medida que novos estabelecimentos entravam em operação sem que a produção crescesse no mesmo ritmo.
9
Entre 1980 e 1995 houve um aumento na ordem de 78% no rendimento físico das lavouras de grãos e uma queda
de cerca de 1,7 milhão de hectares utilizados por este tipo de cultivo. Entre 1990 e 1998 o setor agropecuário, do
Estado, registrou uma taxa media de crescimento de 2,4% ao ano, e nas culturas de lavoura 12,4% de crescimento
para o ano de 1999 (Schneider e Waquil, 2004).
10
Ver em Schneider e Navarro (2000) apud Schneider e Waquil (2004).
11
Dados obtidos pelos Censos Agropecuários do IBGE (Censos Agropecuários entre 1950 e 1995/96).
25
diferenciação
12
, que posicionou, lado a lado, uma heterogeneidade de categorias sociais na
agricultura gaúcha. Em um pólo, encontram-se grupos proprietários integrados a complexos
agroindustriais. Em outro, avistam-se categorias e estabelecimentos à margem da dinâmica
produtiva atual
13
.
Guanziroli e Cardim (2000) revelam que os agricultores familiares da região Sul
destacam-se pela sua participação no VBP regional, sendo responsáveis por 35% da pecuária de
corte, 80% da pecuária de leite, 69% dos suínos, 61% das aves, 83% da banana, 43% do café,
81% da uva, 59% do algodão, 92% da cebola, 80% do feijão, 98% do fumo, 89% da mandioca,
65% do milho, 51% da soja e 49% do trigo produzido na região.
O Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul, ao longo de sua história recente,
passou por um intenso processo de diferenciação em sua agricultura. O sistema agrário da
Região baseou-se na atividade pecuária aliada a cultura da erva-mate durante a maior parte do
século XIX. Este sistema modifica-se no início do século XX, com a chegada dos colonos
europeus, associada à falta de competitividade dos estancieiros, que acabam por vender parte
significativa da terra a companhias privadas de loteamento de colônias e aos próprios colonos.
O sistema colonial estruturou-se com a policultura, entrando em crise na década de 1940,
pela dificuldade de reprodução dos agroecossistemas. Uma segunda fase deste sistema inicia em
1950, com o incremento da produção de trigo, pela aquisição de terras de estancieiros, e com a
criação de uma estrutura com cooperativas, mecanismos de preços mínimos e infraestrutura de
política e de pesquisa, gerando a expansão da área cultivada a partir de 1950. Nesta fase agrava-
se o processo do êxodo rural, com a incorporação de tecnologias poupadoras de mão-de-obra,
problema que tornar-se-ia crescente desde então.
Os processos de expropriação dos caboclos e da legitimação dos colonos avançam,
surgindo novos atores, denominados “granjeiros”
14
. Cabe destacar que substancial parte da mão-
de-obra para o cultivo do trigo foi representada por agricultores familiares alocados em
12
Ver Silva Neto e Basso, (2005) e Schneider e Waquil (2004).
13
Ver Schneider e Waquil (2004) e Kageyama (2005).
14
Granjeiros podem ser definidos como profissionais liberais, comerciantes e pequenos industriais junto a
agricultores familiares prósperos que utilizam mão-de-obra assalariada na cultura do trigo (SILVA NETO et al.,
2005).
26
minifúndios, os caboclos
15
. A produção de trigo entra em crise na década de 1960, pela
concorrência do produto norte-americano, pela queda de subsídios e problemas cambiais.
A partir de 1965 surgem novas exigências (tecnológicas, de recursos e mão-de-obra),
modos de produção e relações sociais, iniciando um novo Sistema Agrário. O Planalto Médio,
aparentemente, respondeu positivamente à lógica produtivista imposta pelos mecanismos da
Revolução Verde
16
naquele momento. O principal sistema produtivo adotado foi o binômio
trigo-soja, que contribuiu para a substituição de culturas de subsistência por culturas de verão.
No final da década de 1970 foi extraordinária a expansão da lavoura de soja, o que caracterizou
uma fase profundamente marcada pela monocultura, bem como em outras regiões onde a soja
substituiu outras culturas tradicionais. A ênfase dada à expansão da monocultura da soja, através
dos vários incentivos, levou, contraditoriamente, ao abandono de grande parte das culturas
tradicionais de subsistência (feijão, milho, arroz, etc.) obrigando o país a importar volumes
apreciáveis destes produtos para abastecimento interno (BRUM, 1983).
No estado e na região do Planalto Médio
17
a estrutura cooperativista é criada como um
elemento articulador no processo de constituição de um parque agroindustrial, de modernização
técnica de setores, regiões e produtos agrícolas (BENETTI, 1985). A partir da década de 1970 as
cooperativas deixam de atuar apenas localmente, buscando novas áreas de produção agrícola.
Além disso, construíram unidades de produção de insumos agrícolas, de matérias-primas
necessárias a sua fabricação e de esmagamento de grãos de soja. As cooperativas também
passaram a apropriar-se das instalações de outras cooperativas, incorporando as suas estruturas e
promovendo associações com terceiros com o objetivo de obter capital e tecnologia para
entrarem em outros ramos da atividade.
Essas transformações na estrutura das empresas cooperativas foi chamada por Benetti
(1985) de sistema multicooperativo. A autora destaca que a crise do sistema, na década de 1980,
ocorre com a retirada do Estado do papel de indutor da economia. A partir das cooperativas
enfrentam dificuldades para refinanciar suas dívidas, o que em conjunto com a queda dos preços
15
A hipótese que se sugere é a intensificação do processo de marginalização dos caboclos, inicialmente expulsos de
suas terras, ou de parcelas que possuíam junto a antigos estancieiros de um lado, e de outro lado colonos
desprovidos das nimas condições de área e capacidade de investimento para as novas culturas, incapacitando-os
de inserirem-se nos pressupostos tecnológicos pós -1950.
16
A região incorporou insumos, implementos agrícolas e técnicas como o plantio direto estendendo esta estrutura a
pequenas e médias propriedades (TEDESCO, 2006).
17
Na região do Planalto Médio destacam-se as cooperativas: Coopasso, Cotrel, Cotrigo, Coopemarau, Camila,
Cotrisana, Coopera, Cotrisoja, Cotrijal, entre outras (TEDESCO E SANDER, 2002).
27
agrícolas amplia o endividamento das cooperativas, inviabilizando a continuidade das atividades
de parcela significativa destas cooperativas.
Processo semelhante desenvolveu-se com a Cooperativa Tritícola de Passo Fundo
(Coopasso). Fundada em 1955 com onze cios, ampliou significativamente sua estrutura com a
construção de depósitos, armazéns, infra-estrutura de transportes, entre outras. Na década de
1970, contabilizando 2100 associados, as funções da cooperativa se ampliam em razão da
inserção da cultura da soja, com significativos investimentos na produção, estoques e
comercialização do produto. A cooperativa incorpora um contingente de produção ligado a soja,
milho e trigo, configurando-se como monopsônio na comercialização de produtos da região,
assumindo uma lógica mercantil que não se diferenciava em nada das firmas multinacionais do
setor agroindustrial da região. A retirada do Estado do papel de indutor da economia, a falta de
incentivo à diversificação e a descapitalização da cooperativa levam a sua crise e término na
década de 1980 (TEDESCO et al., 2005).
Em termos de produção, na Região do Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul, e,
especificamente em Passo Fundo, é possível perceber três fases do processo de modernização da
agricultura: a primeira, até o início da década de 70, centrada no trigo, tendo a partir dos anos 60,
a soja como lavoura secundária em crescente expansão e importância; a segunda, na década de
70, com ênfase para o período 1972-1978, liderada pela soja, passando o trigo a uma posição
secundária declinante; a terceira, a partir de 1978/1979, em que se passou a buscar uma maior
diversificação de culturas, diante da vulnerabilidade e dos riscos decorrentes de basear a
agricultura (e, por consequência, a economia da região) nos sucessos ou frustrações de apenas
duas safras – o binômio trigo-soja (BRUM, 1983).
Neste quadro, a partir dos anos de 1990, as unidades de produção agrícola no Planalto
Médio e, especialmente, em Passo Fundo, assumem diferentes configurações produtivas,
convivendo, em um mesmo território, unidades de produção agrícola destinadas unicamente à
produção de culturas de verão e inverno, unidades com atividades de integração indústria-
produtor familiar e produção de soja, propriedades com atividades de cultivo de soja e criação,
unidades com produção de produtos hortifrutigranjeiros, entre outras.
Visando compreender os fatores que induziram as transformações nas propriedades
rurais, a partir do processo de modernização da agricultura, o eixo central deste estudo é a
reconstituição das trajetórias das unidades de produção agrícola do município de Passo Fundo no
28
estado do Rio Grande do Sul. Através da compreensão da história e da lógica de evolução de
cada propriedade pesquisada, analisaram-se as trajetórias desenvolvidas pelos produtores das
unidades agrícolas até o presente momento.
Para tanto, procedeu-se a análise da evolução dos sistemas agrários, concomitantemente a
investigação dos fatores internos e externos que contribuíram para a passagem entre os distintos
sistemas de produção implementados pelos produtores rurais ao longo do tempo, permitindo a
construção da trajetória desenvolvida nas unidades agrícolas do município de Passo Fundo.
Neste sentido, este estudo alia a noção de trajetórias das unidades de produção agrícola com a
abordagem dos sistemas agrários e as tipologias dos sistemas de produção. A abordagem das
trajetórias é também adequada para a configuração de novas formas de intervenção na
agricultura, pois, ao retratar e analisar os principais eventos que afetaram as propriedades, o
estudo pode contribuir para a redução das incertezas nas futuras proposições para o meio rural.
1.1 Problema de Pesquisa
Como a evolução dos sistemas agrários e dos sistemas de produção implementados ao
longo do processo de modernização da agricultura até os dias atuais impactaram nas trajetórias
desenvolvidas nas unidades de produção agrícola do município de Passo Fundo?
1.2 Objetivos do Estudo
a) Objetivo Geral
Analisar como a evolução dos sistemas agrários e dos sistemas de produção
implementados ao longo do processo de modernização da agricultura até os dias atuais
impactaram nas trajetórias desenvolvidas nas unidades de produção agrícolas do
município.
29
b) Objetivos Específicos
- Reconstituir a história agrária e os elementos de formação da agricultura do Planalto
Médio do Rio Grande do Sul;
- Identificar e analisar os diferentes tipos de agricultores e de sistemas de produção
implementados na área rural estudada;
- Analisar, através de estudos de caso, os fatores internos e externos que impactaram na
trajetória desenvolvida nas unidades de produção agrícola;
- Contribuir para a redução das incertezas no meio rural de Passo Fundo e Região.
2 REVISÃO TEÓRICA
Este capítulo inicialmente apresenta as características da teoria dos sistemas agrários e
seus subsistemas. São delineados os principais conceitos operacionalizados, no decorrer da
pesquisa, com destaque para a construção de modelos tipológicos de sistemas de produção
aliados a modelos de análise das trajetórias de unidades produtivas.
Como ponto de apoio ao processo de modernização da agricultura brasileira, a segunda
parte deste capítulo discute os principais mecanismos de política pública de Estado associados à
agricultura.
2.1 A Abordagem dos Sistemas Agrários
O estudo utilizou como eixos centrais os trabalhos produzidos na cátedra de agricultura
comparada do Institut National Agronomique Paris-Grignom INA-PG França, Intitulado
AgroParisTech Institut des Sciences et Industries du Vivant et de L’environnement,
especialmente, os projetos desenvolvidos por Mazoyer e Roudart (1998) e Dufumier (2007).
No Brasil a teoria dos sistemas agrários é uma referência consolidada no estudo de
dinâmicas agrícolas em níveis regionais e locais. Os conceitos mormente utilizados o sistemas
30
agrários, sistemas de produção, tipologia de agricultores e de sistemas de produção. Nesse
sentido, para a operacionalização da pesquisa foi selecionado, inicialmente, o instrumental
composto pelos sistemas agrários, além de se recorrer à construção de tipologias das unidades de
produção. O conjunto das escolhas metodológicas citadas tem como finalidade maior a
compreensão das trajetórias seguidas pelos produtores nas unidades de produção do município
de Passo Fundo.
O estudo de realidades rurais, através do uso da teoria dos Sistemas Agrários aliada à
análise dos Sistemas de Produção, no Brasil vem sendo ampliada na última década. Muitos
autores se apropriaram destas ferramentas devido à crítica ao modelo baseado no crescimento
econômico pelo procedimento analítico derivado dos princípios da sica clássica enunciada por
Galileu e Descartes
1
.
O processo de modernização agrícola foi considerado o transmissor deste modelo
reducionista e desigual, gerador de desemprego, êxodo rural, marginalização e instabilidade
social e política. Desta forma surge a análise da problemática para o estudo do Rural com um
forte viés “Sistêmico”.
Mazoyer e Roudart (1998) definem a teoria dos Sistemas Agrários como:
Um instrumento intelectual que nos permite apreender a complexidade de cada forma
de agricultura e de nos darmos conta, a traços largos, das transformações históricas e da
diferenciação geográfica das agriculturas humanas. Para compreendermos o que é um
sistema agrário, devemos, primeiramente, distinguir bem, por um lado, a agricultura tal
qual ela é efetivamente praticada, tal como podemos observar, constituindo um objeto
real de conhecimentos; e por outro lado, aquilo que o observador pensa sobre este
objeto real, o que diz sobre ele, como um conjunto de conhecimentos abstratos, que
podem ser metodicamente elaborados para constituírem um verdadeiro objecto
concebido, ou objecto teórico de conhecimento e de reflexão (p.39).
O mesmo autor apresenta uma série de variáveis que, combinadas, definem um Sistema
Agrário. São elas: o meio cultivado; os instrumentos de produção (materiais e força de trabalho);
o modo de artificialização do meio; divisão social do trabalho entre agricultura, artesanato e
indústria; os excedentes agrícolas e as relações de troca com outros atores sociais; as relações de
1
Esta abordagem propõe o estudo das partes do objeto separadamente, supondo-se que a interação entre as partes
constituintes do fenômeno não existe ou são tão frágeis que podem ser desprezadas e que as relações que descrevem
o comportamento das partes são lineares. Subentende-se que as partes dos objetos podem ser inicialmente esgotadas
matematicamente e em seguida reunidas, além de presumir-se que o todo resulte da soma das partes, ou os processos
parciais possam ser sobrepostos para obter-se o processo total (BERTALANFFY, 1976, apud FERREIRA, 2001).
31
força e de propriedade que regem a repartição do produto do trabalho, dos fatores de produção e
dos bens de consumo; o conjunto de idéias e instituições que permitem de assegurar a reprodução
social (MAZOYER, 1985; MAZOYER, & ROUDART, 1998).
Basso et al. (2003) enfatizam que ao caracterizar um sistema agrário o que importa são as
tendências históricas que regem as grandes mudanças nas sociedades humanas, o tipo e o estado
do ecossistema, o grau de acumulação do capital, a estrutura e as relações de força, típicos de
cada região. Derivam dos sistemas agrários a análise dos sistemas de produção, sistemas de
cultivo e criação e a análise do itinerário técnico. São instrumentos que permitem a construção de
uma tipologia das unidades de produção, agrupando-as em um dado sistema, segundo os tipos de
agricultores e os sistemas de produção, o que possibilita a análise pormenor dos elementos que
compõem um sistema agrário.
O instrumental dos sistemas agrários focaliza o desenvolvimento como algo mais
abrangente, incorporando temas como análise da pobreza, pluriatividade, acesso a mercados
agrícolas, sustentabilidade entre outros.
2.1.1 Sistemas de Produção e suas Características
2
O estudo dos sistemas de produção permite a análise da produção (atividades de cultivo,
criação, transformação da produção, comercialização, rendas, combinação de atividades e seus
itinerários técnicos, resultados agroeconômicos), das relações com exterior e da história da
unidade de produção, direcionando a escolha dos sistemas de produção para a construção das
tipologias das unidades de produção da região.
Os sistemas de produção são normalmente investigados em nível de unidade de
produção, e são definidos como sistemas apropriados para os objetivos da família, composto por
suas necessidades, nível de renda almejado e o modo de vida desejado, confrontados a um
conjunto de limitações. Formam-se diferentes encadeamentos entre os tomadores de decisão
familiares, visando o alcance de um ou de vários objetivos que gerenciam os processos de
2
Para a construção da seção foram utilizados os textos de Dufumier (1996), Sebillotte e Capillon (1980), Perrot e
Landais (1993), Mazoyer, & Roudart, (1998).
32
produção e que podem caracterizar-se por diversos fluxos (de dinheiro, de materiais, de
informações e de trabalho) na unidade de produção. Estas inter-relações se dão tanto no seio da
unidade de produção, bem como em suas ligações com variáveis exteriores a ela.
Na escala de uma unidade de produção, o sistema de produção pode ser definido como
segue:
O sistema de produção agrícola pode ser definido como a combinação (sobre o espaço e
sobre o tempo) dos recursos disponíveis e das próprias produções: vegetais e animais.
Pode ser por isso concebido como uma combinação mais ou menos coerente de
diversos tipos de sub-sistemas produtivos...
3
(DUFUMIER, 1996 p.79)
Os sistemas de produção compõem-se por "sub-sistemas" produtivos como, por exemplo,
os Sistemas de Cultivo, os Sistemas de Criação e os Sistemas de Transformação dos Produtos
Agrícolas.
Ao examinar um Sistema de produção devem-se evidenciar as interações e as
interferências que se processam internamente. Fatores como relações de concorrência entre
espécies vegetais e animais, forma de utilização dos diversos constituintes do ecossistema,
relações de sinergia e de complementaridade sobre o uso dos recursos, adição da força de
trabalho e meios de produção, entre os diferentes subsistemas de culturas ou criação devem ser
observados.
Além da caracterização do Sistema e suas derivações é importante avaliar a
complexidade interna dos principais tipos de Sistemas de Produção, evitando simplificações
abusivas quanto à análise de seu funcionamento e sua razão de ser.
A seguir, são conceituados os principais subsistemas produtivos, associados à teoria dos
Sistemas de Produção e, em uma escala mais ampla, à complexidade dos sistemas agrários.
Alguns autores utilizam para descrever e analisar um sistema os chamados
funcionamentos das unidades de produção. Os funcionamentos de uma unidade de produção são
conceituados como um encadeamento de tomadores de decisões dado um conjunto de limites,
em vista de atender um ou vários objetivos, que gerenciam, os processos de produção, e que
podem caracterizar-se por diversos fluxos (monetários, de materiais, de informações e de
trabalho) no seio da unidade de produção de um lado, e exterior (fora a ela) de outro.
3
“le système de productions agricole peut être défini comme la combinaison (dans l' espace et dans le temps) des
ressourses disponobles et des productions elles-mêmes: végétales et animales. Il peut être aussi conçu comme une
combinasion plus ou moins cohérente de divers sous-systèmes productifs..." (DUFUMIER, 1996, p.79).
33
A abordagem dos funcionamentos, inicialmente, define os diferentes limites (territoriais,
de mão-de-obra, financeiros) dos sistemas. O modelo busca revelar a coerência das decisões do
produtor em relação aos fatores considerados. Propõe, um esquema de tomada de decisão,
chegando a decisões atuais representadas em um organograma. A regra principal é a coerência
das decisões dos produtores em relação a sua visão da situação e de seus objetivos. Inventariam-
se os diversos fatores considerados pelos produtores, bem como contradições e antagonismos
existentes. Até mesmo as decisões dos produtores, não adequadas para o pesquisador, munido de
informações diferentes das do produtor, são julgadas a posteriores, se necessário.
O modelo de funcionamentos, durante o processo de análise da tomada de decisão do
produtor distingue três níveis: 1) nível global explica as funções que o produtor e suas família
assumem na unidade de produção; 2) nível de escolha estratégico são fixadas orientações de
médio prazo. Neste nível, o sistema de produção é implantado; 3) nível de escolha tático os
meios de produção, a curto prazo, e suas aplicações cotidianas resultando na realização do
sistemas de produção adotados, escolhidos neste nível.
Durante o diagnóstico do sistema, em certos fluxos, é possível a partir da etapa do
processo, formular diagnósticos setoriais baseados em comparação. As entradas e saídas para
um dado subsistema, por exemplo, alimentação e produção de rebanho, e as exigências
(informações) respondidas (materiais, dinheiro, trabalho). É o caso da confrontação da
necessidade do rebanho para um dado objetivo de produção e oferta forrageira. Isto permite
afinar e detectar os eventuais pontos de bloqueio (ou avaliar a estrutura do sistema), e também a
hierarquização dos sistemas. É, então, um meio de julgar a reprodutividade do sistema, que é
considerado reprodutível quando sua realização, durante certo período de tempo, permite fazer
funcionar um novo sistema. O estudo da reprodutividade comporta ao menos três balanços: a)
balanço da fertilidade, b) balanço dos tempos de trabalho, e c) um balanço financeiro.
2.1.2 Subsistemas Produtivos
4
a) Sistema de Cultivo
4
Este ponto ancora-se no texto de Dufumier (1996) “Les projets de Développement agricole”, especilamente no
capítulo 4 da referida obra.
34
Conjunto de modalidades técnicas implantadas sobre parcelas tratadas de forma igual.
Cada Sistema de Cultivo se define pela natureza das culturas e pela ordem de sucessão.
Pode-se encontrar em uma unidade de produção um ou vários sistemas de cultivo.
b) Sistema de Criação
É o conjunto de elementos, em interação dinâmica organizada pelo homem, em vista de
valorizar os recursos intermediários e de animais domesticados, para obter produtos
variados, como leite, carne, couro, trabalho e adubo.
c) Itinerário Técnico
É a sequência lógica e ordenada de operações culturais aplicadas a uma espécie vegetal
cultivada. Esse conceito permite, em parte, a comparação de um rendimento que provém
de técnicas e que resulta do meio, e de suas interações com as técnicas.
d) Os Sistemas de Criação
Englobam o conjunto das práticas e técnicas que permitem a produção de animais ou
produtos animais, sobre condições compatíveis com o objetivo do produtor e com as
limitações da unidade de produção.
É conveniente, além do estudo da combinação das técnicas praticadas por cada grupo de
animais, a realização de esforços para a compreensão de como são gerados os fluxos e a
escolha dos animais, entre as diferentes oficinas de um mesmo sistema de criação.
e) Associação Agricultura-criação
A associação agricultura-criação existe em pequenas unidades de produção em regiões
tropicais úmidas. É mais frequente no terceiro mundo este tipo de sistema que ao associar
vários sistemas de cultivo e criação, fornecem ao mesmo tempo alimentação aos animais,
tração para produção, adubação etc...
f) Transformação e Conservação dos Produtos Agrícolas
35
Atividades geralmente artesanais, que exigem quantidade de trabalho e um saber-fazer.
Geralmente, são atividades realizadas, em países do terceiro mundo, em regiões mais
isoladas, onde há dificuldade de comercialização, conservação ou consumo de numerosos
produtos perecíveis, sem transformação preliminar, como, por exemplo, tubérculos,
sementes oleaginosas, carne, leite, frutas e legumes.
g) A Combinação das Diversas Atividades no Seio das Unidades de Produção
Normalmente, ocorrem combinações de diversas atividades agrícolas e atividades
complementares. Embora, aparentemente, a diversidade possa induzir a uma situação de
análise bastante complexa, a produção especializada, muitas vezes, apresenta maiores
problemas, como a subutilização de recursos, de área e a necessidade de contratação de
mão-de-obra sazonal. Inversamente, uma maior gama de atividades utiliza plenamente a
totalidade dos recursos que possui na unidade de produção de acordo com os sistemas
implantados.
h) As Aberturas ao Exterior
Os sistemas de produção agrícola são sistemas abertos, na medida em que os produtores
procuram, em menor ou em maior parte, consumo de bens intermediários e equipamento
fora de sua unidade de produção. Os produtores, em determinados períodos do ano,
buscam mão-de-obra assalariada e, muitas vezes, recorrem ao trabalho comunitário,
através do auxílio de vizinhos (modalidades externas as unidades de produção). Junto a
isso também executam atividades como comércio, artesanato, bordados, além de
possuírem, muitas vezes, empregos assalariados não agrícolas.
A produção final das unidades de produção é transferida ao exterior via venda em
mercados, ou através de trocas para o autoconsumo. Pode-se também recorrer a crédito, a
arrendamento e a locação de material.
i) As formas de Classificação das Unidades de Produção Agrícola
Amostragem: O número de unidades de produção pesquisadas depende da diversidade de
tipos de unidades identificadas. Devido à grande complexidade dos Sistemas de
Produção, o processo de análise detalhada em um número de unidades de produção,
36
mostra-se tarefa que emana cuidado. Uma possibilidade alternativa é o uso de estudos de
caso.
Inventário dos Recursos Disponíveis:A análise de cada sistema de produção agrícola
inicia com o inventário da força de trabalho e dos meios de produção disponíveis sobre as
unidades de produção, indicando de forma precisa, em cada tempo, suas características,
suas quantidades e suas modalidades de aquisição.
Contabiliza-se o conjunto das parcelas regularmente exploradas mencionando, para cada
um delas, sua localização, sua disposição, a superfície utilizada, a qualidade das terras, o
modo de posse (proprietário, arrendatário, parceiro,..) e as formas de exploração atuais
(plantações perenes, culturas anuais,...). Não se desconsideram as terras conjuntas
(comuns) e realizam-se esforços para caracterizar direitos a outros recursos como por
exemplo, acesso à água.
Além disso, inventaria-se a força de trabalho da unidade de produção (disponibilidade
por cada período de produção no ano) classificando-a entre familiar ou assalariada, livre
ou dependente, permanente ou temporária, especializada ou não especializada, por sexo e
por idade. É realizado o levantamento das imobilizações (material de produção,
ferramentas, maquinaria, benfeitorias, e infraestrutura diversa). Sinaliza-se como são
utilizados os equipamentos, sem esquecer suas relações com o transporte e a
transformação dos produtos agrícolas. A capacidade de uso de cada um dos equipamentos
(e o cálculo das depreciações) são realizados.
História da Unidade de Produção: A história das unidades de produção permite
compreender como foram adquiridos os principais meios de produção disponíveis, e
como funciona o encadeamento das decisões resultantes do sistema de produção atual. A
análise da trajetória da evolução, oportuniza verificar, se a unidade de produção está
numa situação "boa (de bem-estar)" de acordo com a categoria (o tipo) a qual a unidade
foi classificada.
Neste processo, investiga-se a situação da família, em relação a seu patrimônio, as
atividades que a família dispõe, os meios de produção
5
, o que pode ser comprado ou
arrendado pela família e seu acesso a empréstimos quando necessário. Levantam-se as
5
Neste ponto são incluídas na análise da história da propriedade heranças que a família e seus membros tenham
recebido ao longo do tempo (Dufumier, 1996).
37
condições de aumento do capital imobilizado, por recursos próprios e as principais
atividades que geram renda para aquisições futuras de equipamentos e benfeitorias.
A análise da história também interroga se a família possui renda de outras atividades,
além de observar as relações entre a força de trabalho aplicada na unidade de produção
em diferentes períodos, apreciando as razões porque cada sistema de produção evoluiu
progressivamente. São caracterizadas a degradação do aparelho produtivo (em caso de
descapitalização), a manutenção e o nível de substituição dos equipamentos, além da
incidência de prejuízos ao meioambiente, causados pelas unidades de produção. O
método também permite a análise da evolução das técnicas agrícolas e seu peso sobre o
futuro da unidade de produção.
Avaliação dos Resultados Agro-econômicos:Dufumier (1996) descreveu as principais
medidas de desempenho agroeconômico relevantes para a análise de unidades de
produção.
A unidade de produção é o local onde o trabalho, a terra e o capital são combinados e
transformados em bens de serviços, tendo em vista a consecução de determinados
objetivos, que lhe são atribuídos por um agricultor e seu grupo familiar, no caso de uma
unidade de produção familiar.
Superfície Agrícola Útil (SAU) - Mede a área que é efetivamente cultivada pelo produtor
em hectares.
Unidade Trabalho Homem (UTH) - Mensura a quantidade trabalhada por unidade de
mão-de-obra. Uma unidade trabalho homem é igual a 300 dias homem ou 2.400 horas
anuais de trabalho.
Produção Bruta (PB) - Representa o valor da produção em reais gerada durante o ano,
exclusivamente pela unidade de produção. Compõem o PB somente o valor dos produtos
e os serviços finais, tais como: a produção vendida, a produção consumida pela família, a
produção estocada; a produção destinada ao pagamento de serviços de terceiros; a
variação do rebanho animal; a remuneração de serviços prestados para terceiros pela
mão-de-obra familiar.
Consumo Intermediário (CI) - Representa o valor em reais dos insumos e serviços
destinados ao processo de produção, adquiridos de outros agentes econômicos (sementes,
fertilizantes, corretivos, alimentação animal, energia). Estes elementos são considerados
38
intermediários porque, através do trabalho e dos demais meios de produção, serão
transformados integralmente, durante o ciclo produtivo, em produtos mais elaborados e
de maior valor.
Valor Agregado (VA) - Constitui-se em uma medida em reais de resultado muito
importante porque permite comparar a atividade produtiva de unidades de produção que
não se encontram na mesma situação do ponto de vista da propriedade dos meios de
produção, bem como integrar na análise, as dimensões técnicas e econômicas do processo
de produção. Além disso, o valor agregado pode ser diferenciado em valor agregado
líquido (VAL) e valor agregado bruto (VAB), pelo fato de ter-se deduzido, ou não, a
depreciação. Este indicador representa a riqueza produzida nas unidades de produção.
A medida de valor agregado foi utilizada em relação ao mero total de UTH e ao
número total de SAU. O valor agregado quando utilizado em relação ao número de UTH
mostra a produtividade do trabalho alcançada pelo produtor, enquanto que quando
relacionada com a SAU, representa a produtividade da terra.
Renda Agrícola (RA) - Representa a parte do valor agregado que fica com o agricultor
para remunerar o trabalho familiar e aumentar seu patrimônio. O que não for utilizado
para a sobrevivência da família poderá ser reinvestido na unidade de produção (compras
de terras, ampliação das instalações, compra de novos equipamentos).
Ainda, para o cálculo da renda agrícola, devemos levar em conta a DVA, distribuição do
valor agregado, que é a divisão a ser feita pelo agricultor após a produção, ou seja, parte
da riqueza gerada é repartida entre os vários agentes que intervêm no processo de
produção, seja porque possuem uma parte do capital investido, ou porque assumem parte
dos riscos, seja porque trabalham diretamente. São exemplos impostos, salários,
arrendamentos e despesas financeiras. A distribuição do valor agregado é subtraída do
valor agregado o que proporciona os valores de renda agrícola encontrados.
A medida da renda agrícola pode ser analisada em relação ao mero de UTH e ao
número de SAU. A primeira relação mostra a remuneração ou renda do trabalho
alcançada pelo produtor, enquanto que a seguinte proporciona a remuneração ou renda da
terra.
Renda Total (RT) – Constitui-se pela renda agrícola mais a renda obtida em outras
atividades. As receitas provenientes de outras atividades (ROA) são fruto de atividades
39
que não estão ligadas ao processo produtivo dentro da unidade de produção.
2.1.3 Unidade de Produção
A abordagem global da unidade de produção não é recente. Na década de 1960 foi
consagrada pelo uso de ferramentas da programação linear combinando fatores de produção
visando à maximização de renda, remuneração de capital e trabalho (época que floresce a
administração rural e os planos de produção). Em seguida (1967-1978), a abordagem assimila as
decisões do agricultor na análise da unidade de produção, evidenciando-se às práticas de gestão
diferenciada pelo produtor e a importância da família (BONNEVIALE et al.,1989).
Durante a década de 1970 é formalizado o conceito sistêmico
6
. O método (sistêmico)
apresentava quatro postulados: (1) a unidade de produção é vista como um sistema, (2) são as
decisões dos agentes do sistema que fazem evoluir o sistema de um estado a outro, (3) considera-
se no sistema as ligações entre família–exploração, (4) necessidade da análise histórica da
unidade de produção para o conhecimento das possibilidades de evolução e reações futuras. O
método privilegia os dados principais do sistema, as relações entre os subsistemas, o problema
da sucessão, a história da família, as etapas de evolução da unidade de produção e as
possibilidades de evolução futura, possibilitando traçar a evolução da unidade de produção, suas
principais etapas e as condições de passagem de uma etapa a outra.
Entre as décadas de 1980 e 1990 aprimoram-se os modelos sistêmicos, através do
aprofundamento e da aplicação das análises do funcionamento das unidades de produção,
destacando-se o estudo dos subsistemas com o sistema familiar e com a análise da gestão dos
diferentes subsistemas. Aprofunda-se o estudo das práticas dos agricultores e suas relações com
o ambiente. Além disso, a análise do espaço agrícola passa a ser conduzida pelo estudo fino”
em nível local, e particularmente na localização das unidades de produção nas diferentes partes
da localidade, através do estudo das redes profissionais locais, e pelo estudo da dimensão
6
O procedimento sistêmico é produto de quatro correntes científicas, a cibernética dos anos 40 e 50, a teoria dos
sistemas (escola de Bertalanffy), a teria da informação, e as ciências da modelização e particularmente a
modelização de decisão (Bonneviale et al.,1989).
40
territorial das práticas agrícolas, além da análise das áreas de influência dos atores
(BONNEVIALE et al.,1989).
Um último ponto da abordagem trabalha o aprofundamento ao nível de comparação de
sistemas de exploração-família, ou seja, as tipologias. No período entre 1979 e 1986 os trabalhos
evoluem em dois sentidos. Por um lado os estudos dão forte ênfase para tipologias de
funcionamento, baseado em itinerários técnicos, e tipos de exploração para aprimoramento de
políticas de pesquisa. Por outro lado, as pesquisas evoluem em direção à situação familiar, a
práticas agrícolas, e a práticas sociais, com os sistemas de práticas visando uma melhor
abordagem do desenvolvimento agrícola. Estes trabalhos analisam o desenvolvimento agrícola e
rural através da abordagem dos Sistemas Agrários de forma diferente do primeiro grupo, porém,
ao mesmo tempo, de forma complementar (BONNEVIALE et al.,1989).
No Brasil os estudos sistêmicos são recentes. Santos et al. apud Ferreira (2001)
destacaram, como pioneiro em sua pesquisa, um estudo de sistemas de produção nos sertões de
Pernambuco e Bahia desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi-
Árido (CPATSA) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) com apoio da
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), no começo da década de 1980.
Na década seguinte, os autores citam duas pesquisas: a primeira trabalhou os principais
sistemas de produção da região dos Cocais (MA) e foi realizada pela EMBRAPA e pela
Fundação Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). A segunda estudou os sistemas de
produção de pequenos agricultores de Capão Bonito e Itararé, no Estado de São Paulo, em 1987
realizada pela Coordenadoria de Pesquisa Agropecuária (CPA) da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, e pelo Centro Internacional do Estado de
Investigaciones para el Desarrollo (CIID).
O principal enfoque, na primeira década de emergência dos estudos sistêmicos no país,
foi o aprofundamento das relações entre os produtores e a família, e entre a unidade de produção
e o meio ambiente. No período mais recente, a pesquisa tem-se encaminhado para o estudo sobre
sistemas agrários.
Ferreira (2001) avançou no tema ao apresentar alguns estudos que utilizaram o
diagnóstico dos sistemas agrários para apreenderem a complexidade de distintas realidades
rurais. Evidenciou o estudo de Pires et al. (1998) que identificaram os fatores que condicionaram
historicamente a produção agrícola e os fatores limitantes ao desenvolvimento rural, no
41
município de Santa Maria, na região Central do estado do Rio Grande do Sul. o estudo de
Fialho (2000) através dos sistemas agrários analisou as rendas não-agrícolas (pluriatividade) na
região metropolitana de Porto Alegre no Estado do Rio Grande do Sul. O autor também fez
menção a programas especiais como o Programa de Manejos de Recursos Naturais e de Combate
à Pobreza – RS RURAL.
O método também ganhou corpo na academia através da inserção de disciplinas ligadas a
metodologia sistêmica em cursos de graduação e também em programas de pós-graduação
7
.
A utilização da abordagem sistêmica torna-se importante pela possibilidade de
complementar as análises puramente setoriais, uma vez que a análise considera os
encadeamentos dos eventos que alicerçam a conduta de todas as produções da unidade de
produção, ou seja, o produtor adota as soluções no quadro de sua unidade de produção e no
interior de um sistema que se faça coerente.
Certamente parte das políticas implementadas pelo Estado, para a agricultura, priorizaram
determinados cultivos e categorias de produtores, muitas vezes, apresentando resultados
econômicos positivos em relação aos objetivos próprios a cada setor, porém atualmente dada a
problemática ligada à crise do Estado diferentes categorias agregam inúmeras atividades em suas
unidades de produção. Deste modo a abordagem sistêmica, ainda recente no Brasil, torna-se
adequada ao estudo das interrelações próprias a cada unidade de produção e portanto apropriada
a estudos que objetivem analisar as trajetórias tomadas nas unidades de produção ao longo do
tempo.
2.1.3.1 Construção de Modelos Tipológicos Aplicados às Trajetórias das Unidades de Produção
Esta etapa apresenta, inicialmente, uma alternativa metodológica, composta pela
construção e análise de modelos tipológicos aplicados ao meio rural. Em seguida, retratam-se as
características do modelo de análise das trajetórias de unidades de produção.
7
Ver por exemplo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR/UFRGS) e Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional (UNIJUI-RS).
42
2.1.3.1.1 Modelos Tipológicos para o Estudo das Unidades de Produção
8
a) Modelos de Análise
A abordagem dos Sistemas Agrários, muitas vezes, vale-se da construção de tipologias
para a análise de realidades rurais. O método fornece aos agentes, que decidem, uma
imagem da atividade agrícola local ou regional, tornando-se um instrumento útil para a
tomada de ações em prol do desenvolvimento rural.
Algumas características dos modelos tipológicos: As tipologias utilizam, muitas vezes,
uma série de pesquisas diretas, caracterizadas pela aplicação de questionários fechados
em uma amostra reduzida (cerca de 40 a 60 unidades de produção). Em seguida, as
unidades de produção são segmentadas, pelo número de tipos de funcionamentos, que são
descritos a partir de suas características. Constata-se que as diferenças existentes entre os
métodos tipológicos baseiam-se, essencialmente, na natureza das informações da
pesquisa e na forma de tratamento dos dados.
Certas tipologias são formadas sobre projetos relacionados à situação dos produtores.
Neste caso, a situação familiar é privilegiada, junto à coerência do produtor em relação ao
conjunto de decisões sobre o sistema de produção, e a escolha das técnicas de produção.
Outra forma de construção de tipologias é composta pelo estudo de trajetórias da
evolução das unidades de produção. Neste caso, as unidades de produção de determinada
região são agrupadas, em classes, via critérios de estrutura (superfície da área útil, idade
do chefe do estabelecimento, natureza da produção...), e, em seguida, as classes são
reunidas em subclasses, que reagrupam as unidades de produção homogêneas quanto à
escolha da produção e dos determinantes (humanos, físicos ou econômicos) que são os
tipos de funcionamentos das unidades de produção. Em seguida, os funcionamentos são
recolocados sobre algumas trajetórias, traçando a evolução das unidades de produção da
região em estudo, que é normalmente reconstituída pelas pesquisas.
8
A seção utilizou como material de apoio os textos de Perrot e Landais (1993), Perrot et al (1995), Sebillotte e
Capillon (1980), Aubert et al., (1985), Bonneviale et al. (1989), Dufumier (1990 e 1996) e Berdegué e Escobar
(1990).
43
Limites a ultrapassar:Os modelos tipológicos apresentam certos limites em relação a sua
operacionalização, o que demanda, por parte dos pesquisadores, certa cautela nas etapas
de construção dos modelos.
A pesquisa do tipo direta é exigente, conduzindo a dispositivos pesados e dispendiosos.
Logo, deve-se ter atenção quanto à definição do tamanho da amostra, pois se for pequena
demais fornecerá pouca representatividade e cobrirá uma zona muito limitada. Outro
ponto que merece cuidado é o uso de questionários fechados, pois, muitas vezes, não há o
retorno do pesquisador nas unidades de produção entrevistadas, tornando assim as
informações geradas incertas e de difícil recuperação, e fornece apenas uma análise
estática da situação encontrada. Outro inconveniente é a aplicação de questionários por
pessoas pouco experientes, gerando falta de precisão aos dados coletados.
Os métodos manuais, muitas vezes utilizados para a segmentação da população das
unidades de produção, e a construção de árvores de classificação geram, grades
tipológicas complicadas, e não fornecem necessariamente os funcionamentos reais das
unidades de produção, além de tornar os tipos estudados não-independentes.
Os métodos "automáticos" (obtidos pelo tratamento das informações por análise
multivariada), eventualmente, são utilizados às cegas, ou seja, sem o conhecimento da
sensibilidade das variáveis. Neste caso, o problema da não independência dos tipos é
maior, em relação aos métodos manuais, pois o tratamento global de todos os tipos são
definidos uns em relação aos outros. A classificação é totalmente dependente da
informação fornecida a máquina, o que se revela, muitas vezes, instável.
Outro alerta para a construção de modelos tipológicos, é o emprego de um mesmo
conjunto de atributos para diferentes unidades de produção, o que leva, por um lado, a
generalizações, e por outro, ao risco de processos automáticos de classificação totalmente
sem controle. Torna-se necessária a comparação entre unidades de produção
suficientemente semelhantes, para que seja possível classificá-las em um mesmo tipo de
análise dos funcionamentos.
44
A pesquisa-ação
9
é recomendada para a melhor utilização do método de construção de
tipologias, por congregar os detentores do conhecimento sobre as unidades de produção,
bem como os participantes essenciais à definição do conhecimento.
a) Um novo processo de análise
O modelo, apresentado a seguir, gira em torno do aperfeiçoamento das ferramentas de
auxílio à construção de tipologias de unidades de produção. Visa a estruturação de
referenciais técnico-econômicos e a valorização dos conselhos de auxílio aos produtores
rurais. Além disso, evidencia as informações em escala regional, perseguindo uma
melhor sinergia entre os diversos órgãos responsáveis pelo desenvolvimento rural. Para
cumprir estas funções, foi proposta uma metodologia, através da criação de uma chave
metodológica” experimentada, inicialmente, na França, por pesquisadores do INRA-
SAD, aplicada em diversas regiões daquele país. Segundo os pesquisadores, o método
estaria apto a ser adaptado em diferentes países.
Este método diferencia-se da abordagem clássica tipológica, pela tentativa de
manutenção da dinâmica do processo, aliada a análise por peritos em relação a região e
funcionamento das unidades de produção pesquisadas.
Neste novo processo, a escolha das variáveis torna-se o objeto das pesquisas. Na
abordagem tradicionalmente realizada, para classificação de unidades de produção, o
pesquisador escolhia um conjunto único de variáveis descritivas, para a construção do
questionário de pesquisa para, em seguida, escolher, entre estas variáveis, os indicadores
tipológicos mais apropriados em função de seu poder de distinção. No novo processo as
variáveis utilizadas são escolhidas por informantes (peritos) privilegiados, que efetuam a
principal função do trabalho tipológico: observação das unidades de produção e
reagrupamento de acordo com suas características essenciais. Estes observadores estão
bastante atentos, e muito próximos do terreno, portanto, são capacitados a privilegiar e a
escolher as variáveis pertinentes para dar conta do funcionamento dos diversos tipos de
unidades de produção, qualquer que seja a natureza dessas variáveis. A principal
9
Definida por Gil (1999) como o tipo de pesquisa que caracteriza-se pelo envolvimento dos pesquisadores e dos
pesquisados no processo de pesquisa.
45
renovação do processo é a possibilidade de escolha independente de variáveis retidas para
orientar cada um dos tipos de funcionamentos.
Recorrendo a peritos: Durante a elaboração do método os pesquisadores entrevistam
peritos
10
da região em estudo, escolhidos, entre os profissionais que trabalham
diretamente com as unidades de produção da região. Os peritos têm a função de revelar as
similaridades nas formas de produção, e os fatores de produção que correspondem a
funcionamentos homogêneos. Através de entrevistas, são definidos e classificados tipos
de funcionamentos, auxiliando aos indicadores discriminantes
11
, que os peritos
utilizaram, implicitamente, para ligar uma propriedade a um grupo. Busca-se, desta
forma, descrever os conhecimentos de anos dos peritos formando uma imagem da
diversidade das unidades de produção, imagem que tenta descrever "polos de agregação"
tão diferentes quanto possíveis. Os polos não são casos típicos, detalhados por unidades
de produção, mas os modelos virtuais que se limitam a descrever as características
principais sintetizadas em um grupo de unidades, permitindo, desta forma, sua
diferenciação. Há a presença de um mediador, "de fora", que assume o papel central de
cristalizar os conhecimentos dos peritos.
Em seguida, se estabelece um "consenso" e prepara-se um "acordo" entre os
pesquisadores e os peritos e, em caso de dúvidas, privilegia-se a experiência dos peritos.
Uma primeira seleção apoiada, sobre pontos de consenso, inicia o trabalho pelo “acordo”
que se realizaria sobre os pontos de divergência e consenso (sempre privilegiando a
opinião dos peritos). O conhecimento dos peritos necessita do trabalho e da tradução e a
formalização de seus conhecimentos em termos de critérios discriminantes e parâmetros.
Para cada tipo de funcionamento, definido pelos peritos, a importância relativa que eles
atribuem aos diferentes indicadores é traduzida por um conjunto de ponderações.
Uma tipologia por agregação : A reconstrução de uma imagem da população de
unidades de produção estudadas, é processada, em seguida, pela ligação da cada unidade
de produção a um polo de agregação particular. O conjunto das unidades de produção
associadas a um mesmo polo constitui um tipo. Os polos de agregação são definidos,
10
Engenheiros agrônomos de institutos ligados a agricultura, técnicos ligados a sindicatos de trabalhadores rurais e
associações de produtores, veterinários, técnicos de entidades ligadas a extensão rural e organizações diversas
ligadas a agricultura, técnicos de secretarias municipais e estadual da agricultura .
11
Informações em relação aos funcionamentos das propriedades que permitem a distinção entre propriedades pela
identificação de suas características principais.
46
cada um, por um conjunto específico de indicadores discriminantes (com o número de 5 a
12) e os parâmetros a ele associados.
O processo de agregação repousa sobre uma medida de distância euclidiana calculada
sobre eixos fatoriais, derivados de uma análise multivariada, depois sobre a ligação da
unidade de produção classificada ao ponto de origem o mais próximo. A medida da
distância é substituída por uma estimação da semelhança entre uma unidade de produção
e cada um dos polos de agregação e a unidade de produção é, em seguida, ligada ao polo
ao qual ela mais se assemelha.
Essa avaliação da semelhança repousa sobre um cálculo de coeficientes que se inspira em
processos utilizados pelos motores de inferência dos sistemas-peritos. Para cada unidade
de produção a classificar, calcula-se um coeficiente de semelhança global
12
com cada um
dos polos de agregação definidos com os peritos. Cada coeficiente de semelhança global
é ele mesmo derivado da combinação ponderada de coeficientes de semelhança parciais
13
12
Cálculo de um coeficiente de semelhança global a) Ponderação - Cada coeficiente de semelhança parcial é
ponderado levando em conta a importância relativa acordada pelos peritos a cada indicador, e assegura que cada um
dos coeficientes de semelhança conserve um certo peso sobre o coeficiente de semelhança global. Trata-se de evitar
que uma ligação mais estreita entre um critério particular e o coeficiente global limite a sensibilidade em
comparação dos outros indicadores. O estabelecimento dos coeficientes de ponderação é realizado com os peritos
durante a validação da tipologia. b) Combinação dos coeficientes de semelhança parciais. Os coeficientes
ponderados são sucessivamente combinados segundo as fórmulas inspiradas em um dos primeiros sistemas-peritos .
SE CRi e CRPPij são positivos: CR'i=CRi + CRPPij - (CRi x CRPPij)/100
Se CRi e CRPPij são negativos: CR'i=CRi + CRPPij - (CRi x CRPPij)/100
Se não são do mesmo sinal: CR'i= 100x(CRi +CRPPij)/(100- min (|CRi|, |CRPPij|)
onde:
CRi, coeficiente de confiança (CR) com o polo i antes de considerar o indicador discriminante j;
CR'i ....com o polo i depois de considerar o indicador discriminante j;
CRPPij, coeficiente de semelhança parcial ponderado da propriedade com o polo i e o indicador j.
O coeficiente de semelhança e o coeficiente de semelhança parcial ponderados são positivos, ou são negativos.
Enquanto dois critérios trazem conclusões contraditórias a revisão do coeficiente global é favorável ao coeficiente
parcial o mais elevado em valor absoluto e apenas levam em conta uma parte da informação contraditória. Quando
inversamente dois critérios são em parte redundantes, sua consideração leva apenas a pressuposição inferior a aquela
que levou a soma dos coeficientes parciais correspondentes. Esse efeito de amortização é igualmente pela
vantagem de limitar o coeficiente de confiança a um valor máximo (CRM) atingido quando a semelhança é perfeita
para todos os indicadores. Este valor depende do número de critérios utilizados e da ponderação escolhida. Ela fica
inferior a 100 qualquer que seja o número de critérios. Isto representa uma flexibilidade suplementar sobre a escolha
do número de indicadores discriminantes.
13
Cálculo dos coeficientes de semelhança parciais por cada indicador discriminado
A metodologia de cálculo dos coeficientes está adaptada a natureza de cada indicador
A) O indicador é uma variável quantitativa.
Os parâmetros associados a cada indicador são múltiplos. Eles permitem definir três zonas: uma zona central onde
pode-se afirmar que a propriedade agrícola observada situa-se no polo pelo critério considerado (coeficiente igual a
100), uma zona periférica, onde é cada vez mais seguro que a propriedade assemelhe ao polo (o coeficiente decai
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calculados preliminarmente e comparando sucessivamente a unidade de produção e o
polo de agregação considerado por cada um dos indicadores discriminados que o
caracteriza. O algoritmo utilizado não é nem fixado nem automático. O procedimento é
ao contrário bastante simples: todos os coeficientes utilizados são ajustados em relação
aos peritos, de modo a traduzir melhor seus conhecimentos.
Esta primeira transformação permite gerar as regras de decisão sutis, na opinião dos
peritos que não são necessariamente maquinas. Ela é quantitativa, pois permite
homogeneizar a natureza das variáveis a tratar (os indicadores qualitativos são
transformados em coeficientes quantitativos) e simplificar o tratamento posterior.
A chave tipológica: A chave tipológica reúne em um programa de informática o conjunto
dos indicadores discriminantes, os parâmetros e os procedimentos que permitem calcular
os coeficientes de semelhança entre uma unidade de produção e cada polo. Ela permite
portanto determinar qual(is) polo(s) de agregação assemelha-se a unidade de produção a
classificar e a escolher, com conhecimento de causa, o tipo ao qual ela será
eventualmente ligada. A utilização da chave tipológica se faz em quatro etapas:
1) Cálculo do coeficiente de semelhança global da unidade de produção considerada com
cada um dos diferentes polos.
2) Seleção dos polos para os quais esse coeficiente ultrapassa um certo parâmetro,
definido de forma empírica com os peritos. Quando um coeficiente ultrapassa 80%, a
unidade de produção é arbitrariamente nomeada pertencendo a um núcleo do tipo
considerado. Se, está entre 60% e 80%, ela é nomeada pertencente à periferia. O cleo
constitui um grupo de unidades de produção julgadas representativas da tipologia de
linearmente entre 100 e 0 em função do valor observado do indicador) e enfim uma zona de exclusão onde esta certo
que a propriedade não assemelha-se ao polo (o coeficiente é igual a –100).
Para uma variável contínua, o emprego de um operador impreciso substitui portanto o parâmetro único, com corte
forçosamente arbitrário (tudo ou nada) e utiliza a maior parte das tipologias por segmentação, por uma zona de
incerteza. A decisão é conforme a opinião dos peritos.
b) O indicador é uma variável qualitativa
É um indicador qualitativo encobrindo diversas modalidades, associando a cada uma dessas modalidades um
coeficiente compreendido entre -100 e +100 que reflete a probabilidade (estimada pelos peritos) de que uma
propriedade agrícola, apresentando esta característica, seja efetivamente do tipo considerado. Por exemplo, para um
tipo classificado como "LT" (pequenas propriedades leiteiras tradicionais não modernizadas) da tipologia de Haute-
Marne, por exemplo, o coeficiente associado nas modalidades "pote-mecânico" e "manejo-manual" da variável
"natureza da instalação de manejo" é de +100, aquele da modalidade "lactoduto" de zero, aquele da modalidade
"local de manejo" de -100.
48
funcionamentos identificada pelos peritos. Permite caracterizar finamente esse
funcionamento. É deste grupo que serão recrutadas as unidades de produção, da rede de
unidades de produção, que serão, em seguida, utilizadas para elaborar as referências do
tipo.
3) Proximidade das propriedades ao tipo ao qual é associado o coeficiente de semelhança
global mais elevado sob a reserva de que o valor do coeficiente seja suficiente. As
semelhanças secundárias com outros polos poderão servir para modular a utilização das
referências.
4) Regresso eventual ao nível de semelhança parcial para ver no que essa unidade de
produção assemelha em tal ou qual polo de agregação.
Um método interativo e iterativo: A validação da tipologia e da chave a ela associada, é
realizada, de forma indissociada aos peritos, ao longo do processo, que se alimenta das
contradições que surgem entre o modelo e as informações disponíveis (dados
memorizados dos questionários e conhecimento dos peritos).
Os indicadores confusos, isto é, coeficientes parciais sempre negativos, mesmo para as
unidades de produção que se assemelham ao polo considerado, segundo o conjunto de
outros indicadores, são recentrados e calibrados novamente. Quando vários critérios estão
confusos, tal situação leva os peritos a revisar a definição em andamento, e a modificar a
lista dos indicadores selecionados para ajustar novamente os parâmetros associados.
Após a validação dos polos de agregação, pela maior parte dos peritos, o somente por
suas características, a priori, mas pela utilização dos fichários teste, é possível passar ao
tratamento do resíduo. O exame de unidades de produção que não podem ser ligadas a
nenhum polo de agregação, ou que não são de conhecimento dos peritos, conduz a
criação de novos tipos, em fase de mutação, muitas vezes, significante para o estudo.
O papel da História: Os peritos ao descreverem os diferentes tipos, frequentemente,
apelam para a evolução histórica das unidades de produção. As trajetórias podem ser
interpretadas como o resultado da evolução, ligada ao desenvolvimento do ciclo de vida
do sistema família, e da unidade de produção, e da evolução do contexto comum que
pode favorecer ou bloquear sua evolução.
Igualmente importantes são os determinantes externos. Na França, na década de 1960,
houve um contexto favorável para a agricultura, especialmente para a atividade de
49
criação, com a adoção de empréstimos especiais, aliados a expansão de um modelo
técnico difundido por organismos de desenvolvimento. No início de 1970 o preço
elevado dos cereais garantiu uma boa rentabilidade em relação a culturas de venda. A
partir de 1975 a 1983 foram implantados os "planos de desenvolvimento" com um
contexto bastante favorável a investimentos. Foram instaladas quotas de produção de leite
e propagado um novo modelo técnico, pelos organismos de desenvolvimento,
caracterizado por unidades de produção, especializadas na atividade leiteira, com 50
vacas conduzidas de forma intensiva. A evolução das unidades de produção foi ritmada
pela aparição de inovações técnicas que acompanharam e geraram mudanças de
trajetórias, conferindo a certos tipos de funcionamentos uma evolução mais favorável.
A sucessão: É comum o encontro de unidades de produção em situação de retirada do
mercado, pois, muitas vezes, inexistem pessoas aptas para assumirem os processos
produtivos e as atividades. Nestas situações são mantidos somente os funcionamentos
necessários a atividades para a preparação da unidade de produção para sua venda ou
locação, como, por exemplo, respeito a quantidade de cotas de produção de leite.
O modelo apresentado possui alguns avanços na construção de tipologias. Sua facilidade
de aplicação, a permanente consulta aos peritos, aliados à possibilidade do estudo das
diversidades dos tipos, durante o processo de validação das tipologias, coloca o modelo a
frente de uma simples classificação da diversidade, permitindo, desta forma, uma análise
com maior profundidade.
A presença do "resíduo", de unidades de produção, admite o exame e a reintrodução de
unidades, que antes seriam consideradas marginais, isto graças à propriedade de
independência entre os polos, autorizando, ao modelo, seguir as transformações
permanentes dos sistemas de produção identificados.
Pelo fato do modelo ser "aberto", uma evolução contínua dos seus coeficientes de
semelhança, permitindo a avaliação e ajustes constantes para a definição dos polos, e se
necessário, para a criação de novos polos.
50
2.2 Trajetórias de Evolução das Unidades de Produção
14
Muitas vezes a análise da situação atual dos funcionamentos das unidades de produção
não traduz completamente os objetivos dos produtores. Torna-se então necessário apreender a
evolução passada da unidade, e as razões que levaram o agricultor a explicar esta evolução. A
associação de dados atuais e passados, permitem evidenciar o funcionamento da unidade de
produção, e a definição da trajetória que seguem até os dias de hoje.
O estabelecimento de uma tipologia das unidades de produção, de uma região, se faz a
partir de diferentes trajetórias reconhecidas ao longo das pesquisas, trajetórias que compararão,
aprovarão, e sobretudo situarão o conjunto das unidades de produção estudadas.
As trajetórias se desenrolam sobre um espaço, multidimensional, que caracterizam os
sistemas de produção, suas performances e seus diferentes graus de reprodutividade.
Posicionam-se as unidades de produção em ramos (espécie de organograma) em uma data dada.
Cada tipo de unidade, classificada, se assemelha aquela que foi anos antes um tipo de unidade
hoje já inexistente.
Para um conjunto de unidades de produção pesquisadas depreendem-se os critérios ou
indicadores que dão conta dos diferentes sistemas atuais a da evolução passada. Os indicadores
constituem a base de uma primeira estratificação, operada a título de hipóteses de trabalho. Esta
hipótese é, em seguida, aprovada (através da pesquisa de uma maior homogeneidade dos
funcionamentos e das evoluções no interior de cada grupo) e modificada até que esteja na
posição de escolha das características do funcionamento atual, permitindo, a reunião das
unidades de produção que constituem um tipo. Em seguida, reagrupa-se o conjunto destes tipos
sobre algumas trajetórias, caracterizada pelos mecanismos de evolução, para definir as etapas
que representam um processo evolutivo coerente, e situar cada grupo de unidades de produção
sobre uma das trajetórias limitadas, e cada unidade de produção, pesquisada, sobre um grupo.
14
Para a construção da seção foram utilizados como material de apoio os textos de Perrot e Landais (1993), Perrot et
al., (1995), Sebillotte e Capillon (1980) e Dufumier (1990) e Hostiou et al., (2006).
51
Ainda que estabelecida de forma empírica e qualitativa, traduz-se como uma ferramenta
de produção conduzida para atender a objetivos. Elas se revelam discriminantes (distinguem)
para classificar as unidades de produção em comparação aos efeitos do ambiente
socioeconômico, e compreendem as diversas ações de desenvolvimento.
Na construção das trajetórias, as características quantitativas, que servem, habitualmente,
para a descrição dos sistemas de produção, não são suficientes para decidir sobre a evolução de
uma unidade de produção. As trajetórias devem também se basear na análise da história das
propriedades.
Um cuidado na análise das trajetórias das unidades de produção, diz respeito a
mecanismos que para o passado, foram decisivos sobre a evolução da certas unidades, que
podem não o ser, no futuro. Deve-se levar em consideração a evolução do ambiente
socioeconômico, como, saturação dos mercados, evolução dos meios de vida e outros.
O estudo das trajetórias poderá vir a ser uma via privilegiada para a avaliação de cenários
futuros evitando erros menores que consistem em acreditar que as soluções, ontem eficazes,
seriam ainda automaticamente eficazes hoje.
2.2.1 Aplicações para a análise de trajetória das Unidades de Produção
a) Haute-Marne
15
O estudo na região de Haute-Marne foi realizado objetivando a atualização dos modelos
tipológicos. O trabalho foi justificado pelo fato dos modelos evoluírem, conjuntamente
com as unidades de produção, o que permite, deste modo, a passagem de uma análise
estática a uma análise dinâmica.
Com a utilização de dados provenientes da pesquisa "estruturas" da Câmara de
Agricultura da França (que realiza periodicamente o levantamento em 67 comunidades
representativas de diferentes microrregiões agrícolas da região de Haute-Marne), foi
construída uma "chave" tipológica, por especialistas. Através do uso de arquivos da
pesquisa, os autores calcularam um coeficiente de semelhança, classificando as unidades
15
Extraido do estudo intitulado "L'analyse des trajectoires des exploitations agricoles: Une méthode pour actualiser
les modèles typologiques et étudier levolution de l’agriculture locale", de autoria de Perrot et al., (1995).
52
de produção entre polos (através do conjunto das unidades ligadas aos polos os quais
mais se assemelharam) formando cada polo um tipo. Neste processo, foram identificados
nove tipos de unidades de produção com atividades leiteiras, e cerca de sete tipos de
unidades de produção
16
que não possuíam atividade leiteira.
Entre as unidades de produção leiteiras a pesquisa identificou tipos em situação de
"reconvenção de leite para carne devido a busca do alívio do trabalho" em oposição a
tipos "que aplicavam um modelo intensivo e uma lógica produtivista na produção
leiteira". Quanto às tipologias das unidades de produção que não possuíam produção de
leite, destacam-se, em um extremo, os Tipos "produção de cordeiro sob pequenas áreas
com uma fraca capitalização", e em outro, Tipos "cerealistas especializados em áreas
privilegiadas".
Durante a análise, foram considerados fatores externos aos sistemas de produção, como,
por exemplo, os planos de desenvolvimento do governo, que alavancaram produtores, ao
longo do tempo, e a imposição de quotas de produção de leite, o que levou à
diversificação de produção, além dos planos de retirada (pré-aposentadoria), que
auxiliaram na saída de pequenos produtores de leite com baixa capitalização.
Em um segundo momento, do estudo, foi criado um espaço de representação das
unidades de produção, através de análise gráfica, com o uso de análise de componentes
principais
17
(análise multivariada), que permitiu a sobreposição gráfica da situação das
16
Tipos de unidades de produção com atividades leiteiras e suas principais características: tipo D (troca da atividade
de leite por carne para aliviar o trabalho e minimizar a descapitalização), tipo LT (Pequenas propriedades
tradicionais leiteiras e não-modernizadas), tipo Lml (modernização limitada da produção leiteira na espera de uma
descapitalização ou de uma nova saída), tipo LGA (grandes propriedades leiteiras, herbáceas e autônomas), tipo LID
(intensificação e diversificação em propriedades em desenvolvimento, após a instauração de cotas leiteiras), tipo
CLD (grande diversidade de produtos para tirar proveito de um meio difícil), tipo Cli (criação leiteira intensiva
sobre uma propriedade cerealista com bom potencial), tipo LC (Investimentos importantes em produção leiteira e
em material de culturas). Tipos de unidades de produção sem atividades leiteiras e suas principais características:
tipo D, tipo CVC (criação residual em uma propriedade cerealista), tipo CVV (Uma oficina bovina importante
associada a grandes superfícies não lavráveis), tipo Cvo (Uma associação agricultura–criação, “de ovinos”, com
uma menor capitalização), tipo C (cerealistas especializados nas zonas mais favoráveis).
17
Os autores utilizaram este método (Análise de componentes principais-análise fatorial) para os dados da pesquisa
estruturas”, realizada pela Câmara de Agricultura na França, periodicamente, desde 1987, para fornecer as
representações iniciais dos produtores (os tipos classificados entre leiteiros e não-leiteiros, que são os cleos
principais da análise por critérios de semelhança, isto é, o conjunto das propriedades que se parecem, entre as
propriedades classificadas pela pesquisa). Esta referência é utilizada para vislumbrar a análise das trajetórias,
bastando para tanto a projeção de dados da pesquisa realizada, novamente em 1992, na imagem da pesquisa de 1987
(primeira pesquisa) gerando, desta forma, um deslocamento da imagem das propriedades sobre o plano fatorial,
apontando a mudança ou não de tipo. Isto permite o levantamento das trajetórias mais significativas, bem como,
suas causas, através de cada indicador discriminante considerado.
53
mesmas comunidades no ano de 1987 e, depois, no ano de 1992, obtendo-se, desta forma,
a análise das trajetórias.
Optou-se pela classificação em relação à permanência, modificação ou saída dos tipos
das atividades. Através do critério segmentado entre; a) os tipos em extinção; b) os tipos
em mudança de tipo, e c) os tipos em estabilidade; verificaram-se casos de unidades de
produção que desapareceram no período (polos que perderam sua influência), outras que
mudaram de campo (abandono ou retomada da atividade leiteira). Foram da mesma
forma observados elementos mais gerais, da evolução na região, como uma
reestruturação leiteira, intensificação forrageira e o aumento da produção de cereais de
forma progressiva, além de mudanças na oferta de produção de carne.
Em decorrência dos ajustes necessários entre os períodos, surgiu um novo tipo de
produtor, caracterizado pela produção associada entre milho e cereal. O estudo
proporcionou a observação de tipos com forte tendência ao desaparecimento junto à crise
econômica que assola a região. Destacam-se, o forte desemprego e os altos saldos
migratórios negativos (a única região da França em que a população rural diminuiu). Na
óptica dos autores, os tipos de sistemas, menos favorecidos, dependem fortemente da
evolução socioeconômica global da região.
Um elemento marcante foi a sinalização da PAC, no sentido de bloquear o aumento das
pradarias, o que favoreceria produtores menos tecnificados a diversificarem suas
atividades. Embora, os autores tenham diagnosticado a forte presença de unidades de
produção leiteiras, modernizadas na região, com sistemas intensivos associados à
produção de cereais, e técnicas de produção e inovações organizacionais cada vez mais
discriminantes. Logo, o status econômico e jurídico cada vez mais contribuiu para a
diferenciação das unidades de produção leiteiras, no estudo das trajetórias, ou seja, este
tipo, “modernizado”, está espremendo a agricultura familiar tradicional na região.
b) Boischaut Nort
18
Um estudo que avaliou as trajetórias das unidades de produção foi empreendido, na
década de 1980, em Boischaut Nort, na região de l’Indre. A necessidade de apreensão da
evolução passada, das unidades de produção, até sua situação atual, estimularam o estudo
18
Extraído do estudo intitulado "Étude des systèmes de production des exploitations agricoles. Une typologie", de
autoria de Sebillotte e Capillon (1980).
54
de suas trajetórias. Através da utilização de um organograma, os autores distribuíram, em
ramos, cada unidade de produção, em um dado período, derivada daquelas unidades de
produção que em anos anteriores situavam-se entre aquelas características.
Foram identificados três arquétipos (o primeiro data do ano de 1945) que se
diferenciaram, especialmente, em termos de área, e cujos traços de sua evolução, até
1960 (variação de área, introdução da mecanização), foram retraçados. Estas situações
constituíram as origens de quatro trajetórias principais, sobre as quais se situam os tipos
de unidades de produção registradas até 1976.
1) A trajetória I Unidades de produção caracterizadas por uma evolução pouco
marcada, com a degradação do potencial, especialmente, para o tipo IA (tratam-se de
pequenos produtores, em final da carreira, e que as unidades de produção
desapareceram). Houve a Intensificação bastante limitada para IB e IC.
2) A trajetória II - Correspondeu à procura de uma valorização máxima do potencial de
trabalho, sobre pequenas superfícies (introdução de produção especializada como videira,
mercado de flores, e oficina de criação sem-solo).
3) A trajetória III - A trajetória originou duas ramificações: 1. unidades de produção
médias e pequenas propriedades agrícolas que aumentaram sua superfície no momento da
mecanização. Em III A, o sistema tradicional de policultura-policriação, foi considerada
como rentável e manteve-se. A evolução, em seguida, seguiu duas vias; a intensificação
das culturas de venda ao lado das quais subsistem aos rebanhos conduzidos de forma
tradicional (IIIB), ou 2. uma boa intensificação forrageira que permite o desenvolvimento
de um rebanho leiteiro (IIIC). Em III D houve uma especialização leiteira acompanhada
de um crescimento das culturas de venda.
4) A trajetória IV - Áreas de superfícies grandes seja por origem ou mutação (utilização
de áreas do tipo III). A partir desta etapa, definiram-se duas linhas: IV A, com
características tradicionais, com o crescimento da superfície consagrado por culturas de
venda. A partir desta etapa se definem duas linhas de evolução: uma que conduz ao tipo
IV B produção de cereais e de colza sem criação; e outra, que conduz ao tipo IV C com
intensificação de superfícies forrageiras e mantendo a performance na criação, e ainda o
tipo IV D onde se vê mitigar os níveis salariais, devido ao rebanho e a produção de carne,
com a intensificação, portanto, essencialmente sobre culturas de venda.
55
A título de exemplo sobre a região de Boischaut Nord de Indre, o abandono da criação,
especificamente, das pradarias temporárias, parece nitidamente desfavorável a manutenção
espontânea da fertilidade. Se, portanto, o custo dos meios suplementares trabalhados, para
manter esta fertilidade varia, as soluções com abandono da pradaria temporária arriscam de ser
banida.
Um outro interesse da tipologia foi informar as ligações entre escolhas técnicas dos
produtores e funcionamentos das unidades de produção de cada tipo e, depreender as
possibilidades ou meios necessários para facilitar a adoção de técnicas julgadas favoráveis para
outros locais favoráveis.
Na pesquisa também foram identificados dois canais de comercialização na região.
- Os canais tradicionais: Canais tradicionais utilizados pelas unidades de produção do tipo
I, de acordo com a capacidade de investimento e aquisição de material custoso
(ferramentas e trator potente). A análise dos equipamentos não permite, nestes casos,
pronunciar-se sobre a técnica dos produtores. Eles precisam aprender por outros critérios.
- As cadeias modernas - Os canais "modernos" necessitam a utilização de um trator de
forte potência, permitem uma queda nos tempos de trabalho, em certas condições, uma
melhoria da qualidade do trabalho traduzido por um aumento e ou uma regularização dos
rendimentos.
Para os autores este modelo tipológico permite identificar rapidamente a qual tipo
pertence à unidade de produção considerada e informar sobre as características de seus
funcionamentos. Desta forma, o método pode auxiliar aos responsáveis por decisões de
desenvolvimento, representando um útil investimento.
Por fim vale ressaltar que a partir de década de 1960 emerge a abordagem global das
unidades de produção auxiliando ao estudo da agricultura. Esta abordagem apresenta
características como a incorporação de estratégias de produção (sob a gica e coerência
do produtor), a análise das relações família-propriedade, a consideração de variáveis
exógenas a unidade de produção, o uso da paisagem, do espaço, das relações territoriais e
de poder no meio rural.
56
A ampliação e o complemento a análises setoriais, notadamente executadas por órgãos
oficiais em um período de evolução e mudança de padrões produtivos na agricultura
(processos de modernização), apresenta-se como um ponto forte do método.
Os instrumentos de análise traduzem-se em ferramentas eficientes ao estudo do rural,
pois situam a unidade de produção em relação a seu ambiente interno e externo, além de
possibilitar a comparação entre unidades (construção de tipologias), e também a
mensuração da evolução das unidades de produção e seus sistemas de produção ao longo
do tempo.
c) Dinâmica dos Sistemas Leiteiros
Hostiou et al. (2006), no trabalho intitulado Dinâmica e evolução de sistemas familiares
de produção leiteira em Uruará, frente de colonização da Amazônia brasileira”,
realizaram um estudo sobre os estabelecimentos leiteiros da Amazônia. Os autores, a
partir do caso de explorações leiteiras no município de Uruará, na frente pioneira da
Transamazônica, identificaram cinco tipos de sistemas de produção de leite e a trajetória
destes sistemas. A combinação destas duas tipologias permitiu a caracterização das
principais dinâmicas possíveis dentro da diversidade dos sistemas leiteiros, representando
as principais evoluções entre os tipos de unidades de produção.
A construção de tipologias busca elaborar dispositivos de comparação pertinente das
unidades de produção e, consequentemente, analisar, compreender, julgar os sistemas
estudados e elaborar soluções adaptadas a cada realidade. Para evidenciar a diversidade
dos sistemas leiteiros, foram entrevistados 30 produtores leiteiros do município. Os
autores enfatizam que a tipologia modela a diversidade das unidades de produção em
uma determinada data. Porém, a tipologia pode tomar uma dimensão dinâmica através da
análise das trajetórias, ou seja, da identificação da história e da lógica de evolução das
propriedades. A análise das trajetórias seguidas pelas unidades de produção visa
caracterizar e entender as evoluções passadas que levaram aos tipos atuais de sistemas de
produção.
Os autores também destacam a importância de caracterizar as dinâmicas possíveis dentro
da diversidade dos sistemas de produção. Uma dinâmica corresponde à ligação existente
entre dois tipos de sistemas de produção, e representa as evoluções necessárias que leva à
57
mudança de sistema. A caracterização das tendências evolutivas das unidades de
produção é importante para acompanhar as transformações de estabelecimentos em
regiões onde ocorrem rápidas mutações da agricultura.
Os resultados dessa pesquisa salientam a diversidade de situações em torno do conceito
de “explorações leiteiras” nas frentes pioneiras da Amazônia brasileira. Isso ressalta a
necessidade de se reformar as ações direcionadas a esses sistemas de produção familiar,
para levar em conta as peculiaridades, tanto em nível da estrutura de produção como da
própria capacidade dos produtores de adotar as recomendações e técnicas. Isso poderia
permitir melhores condições para desenvolver a produção leiteira e melhorar a
sustentabilidade técnico-econômica dos estabelecimentos familiares envolvidos.
d) Trajetória de desenvolvimento local
Sabourin et al. (2005), no estudo intitulado “dinâmicas territoriais e trajetórias de
desenvolvimento local: reflexões a partir de experiências do Nordeste brasileiro”,
analisaram trajetórias de desenvolvimento local através de um método de análise das
transformações das sociedades rurais, elaborados no Nordeste, por uma equipe de
pesquisadores do centro de Cooperação Internacional de pesquisa Agronômica para o
desenvolvimento (CIRAD) e da EMBRAPA.
Inspirando-se no conceito de itinerário de desenvolvimento para unidade de produção ou
cadeia produtiva, a trajetória de desenvolvimento busca caracterizar as transformações
técnicas e sociais das sociedades rurais a nível local. Também visa dar conta da história
das situações territoriais graças a uma análise dos eventos que marcaram o sistema
agrário local no decorrer das últimas décadas. Portanto esta abordagem integra, ao
mesmo tempo, as dimensões espaciais e temporais. Os autores caracterizaram a trajetória
de desenvolvimento como a evolução dos recursos produtivos, e de sua reorganização, no
tempo e no espaço, por um grupo de atores sociais, num dado território, visando a
reprodução ou melhoria de suas condições de vida, determinada em parte, pela influência
de fatores e de atores externos.
O estudo das trajetórias de desenvolvimento foi concebido como instrumento de ajuda à
decisão, pela produção de informações, seletivas e operacionais. Também permite, pela
análise comparativa, elaborar modelos de evolução dos espaços locais, que pode ser
58
utilizado em outros lugares e a outras escalas. As etapas do processo são a escolha do
espaço de referência onde os acontecimentos são datados através da fala dos atores
(técnica de investigação aberta, mobilizando as representações cognitivas de atores
reconhecidos como pessoas–recursos, no sentido de que dispõem de conhecimentos),
identificação das mudanças que podem ser observadas a respeito das práticas individuais
e coletivas de produção, estudos da reorganização dos recursos produtivos operados pelos
produtores e, por fim, análise das perspectivas de evolução.
A interpretação da trajetória do espaço local frente as evoluções observáveis em outras
escalas permite caracterizar melhor os processos complexos de transformação. A
trajetória de desenvolvimento de Massaroca é reinterpretada graças a uma caracterização
da estrutura e do funcionamento dos estabelecimentos agrícolas da microrregião.
Segundo os autores, pode-se entender melhor, dessa forma, como as dinâmicas de
apropriação individual dos espaços coletivos podem ser explicados por uma
reorganização dos territórios de exploração. Da mesma forma, a maneira como a
microrregião se integra no espaço regional do Nordeste permite captar melhor a
influência de fatores e mudanças exógenos.
A transição entre dois estados de espaço local é um processo complexo, cujo desenrolar é
ligado a uma combinação de ações a acontecimentos, reagrupados sob a denominação de fatores.
Três tipos de fatores foram identificados:
Fatores indutores como a instalação de uma indústria; seus efeitos se traduzem
imediatamente por uma mudança de estatuto; representam-se, muitas vezes, uma
condição necessária, não são, geralmente, os únicos a induzir uma transição. Fatores
aceleradores, como as ajudas financeiras públicas; preparam o terreno para as
mudanças, permitem negociá-las ou acelerar seu desenvolvimento. Fatores
reguladores, como a definição de normas de gestão dos recursos comuns em
Massaroca; facilitam o controle das evoluções do grupo social e garantem a reprodução
das condições de produção e a estabilidade de um estado (SABOURIN et al., 2005,
p.28).
Esses fatores são endógenos e exógenos. Os primeiros são ligados à apropriação e à
gestão dos recursos locais, à implantação de serviços de equipamentos e de infraestruturas, ao
investimento em capital e mão-de-obra e a estruturação de redes de aprendizagem. Os segundos
dizem respeito influência do mercado, das legislações e das políticas agrícolas, da gestão do
território, de problemas epidêmicos fito ou zôo-sanitários. Os fatores exógenos são, muitas
59
vezes, a consequência de decisões tomadas a nível nacional e regional, em espaços de
concentração do poder político e econômico.
Os autores ressaltam que o estudo das trajetórias de desenvolvimento foi concebido para
melhorar ou completar os métodos de diagnóstico de dinâmicas territoriais ou de sistemas
agrários em situações e escalas onde não existem dados estatísticos, bibliográficos ou
cartográficos. Recorrer à fala dos atores confere, ao mesmo tempo, um caráter dinâmico e
participativo ao instrumento, uma vez que se trata de co-construir uma representação das
transformações regionais entre agentes externos e atores locais.
Esta abordagem propõe o estudo das partes do objeto separadamente, supondo-se que a
interação entre as partes constituintes do fenômeno não existe ou são tão frágeis que podem ser
desprezadas e que as relações que descrevem o comportamento das partes são lineares.
Subentende-se que as partes dos objetos podem ser inicialmente esgotadas matematicamente e
em seguida reunidas, além de presumir-se que o todo resulte da soma das partes, ou os processos
parciais possam ser sobrepostos para obter-se o processo total (BERTALANFFY, 1976, apud
FERREIRA, 2001).
2.3 As Transformações Recentes da Agricultura no Brasil
No Brasil, no período durante a década de 1930 a 1960, houve a integração dos mercados
nacionais. O processo de industrialização ocupou a brecha deixada pelo complexo cafeeiro,
através da substituição de importações deslocando o setor agrícola como polo dinâmico da
economia. Este setor continuou desempenhando um importante papel quer nas transferências
financeiras, quer viabilizando a importação de bens e insumos para a indústria em expansão, ou
seja, uma vez consolidada a indústria nacional, a agricultura brasileira inicia sua própria
industrialização.
A processo de modernização da agricultura (até 1965) passou por um período de
transição, dependendo de insumos e equipamentos importados, e com parte significativa da
produção sendo consumida internamente. Neste período ainda havia restrições quanto as ligações
intersetoriais para frente, isto é, quanto ao fornecimento de matérias-primas para agroindústrias.
60
Na fase denominada como “industrialização da agricultura” vislumbra-se a elevação do
consumo intermediário na agricultura e a crescente dependência da agricultura das compras
industriais para a produção de suas mercadorias. A partir de 1965 a industrialização do campo
intensifica-se com o estado desempenhando um papel importante através do estímulo a expansão
das indústrias por incentivos e assegurando-lhes o mercado através da política de financiamentos
rurais (GRAZIANO DA SILVA, 1996).
A partir de 1965 o processo de modernização atinge uma fase mais avançada em que a
indústria passa a comandar a direção às formas e o ritmo da mudança da base técnica agrícola, a
agricultura converte-se em um ramo da produção, que compra insumos e vende matérias-primas
para outros ramos industriais. O processo de produção deixa de ser artesanal e passa a se tornar
manufatura, o processo de trabalho deixa de ser individual e passa a ser coletivo. A produção
agrícola passou a constituir um elo de uma cadeia e este processo desemboca na constituição dos
complexos agroindustriais, que igualmente se efetivam a partir da implantação da indústria apara
a agricultura e da estruturação da agroindústria processadora
19
.
As ligações intercapitais não são apenas técnicas mas sobretudo financeiras. A compra de
insumos impõe a necessidade de financiamento feito por um sistema financeiro instalado
(SNCR). A integração de capitais é o processo de centralização dos capitais industriais,
bancários, agrários, que se fundem em sociedades anônimas, condomínios, cooperativas rurais e
empresas integradas verticalmente que imprimem direção a aplicação dos capitais em distintos
mercados. A partir da constituição dos CAIs, o desenvolvimento da agricultura passa a depender
da dinâmica da indústria, e não uma dinâmica geral da agricultura mas várias dinâmicas
próprias de cada um dos complexos particulares.
A consolidação do CAI apresentou como resultados
20
(gerais) o estreitamento das
relações intersetoriais e um reforço dos elos técnicos e fluxos econômicos entre as atividades
agrícolas e industriais e um crescente movimento de subordinação da agricultura a dinâmica
industrial. Outro ponto é a irreversibilidade da mudança da base técnica da agricultura tanto do
ponto de vista da reorganização dos processos de trabalho, bem como da base técnica. Este ponto
19
Com a constituição e consolidação dos CAIs , a dinâmica da agricultura só pode ser apreendida a partir da
dinâmica conjunta da indústria para agricultura/agricultura/agroindústria (Kageyama, 1990).
20
Kageyama et al., (1990) analisaram em seu texto os resultados da internalização dos setores industriais mais
importantes ao fornecimento de bens de produção e insumos para a agricultura, enfatizando as condições de
implantação destes setores no Brasil. Além disso, avaliaram a política de crédito e o novo padrão agrícola brasileiro,
a agroindústria processadora no Brasil, os Complexos e os impactos dos CAIs na inserção do Brasil no Mercado
externo.
61
permitiu a criação de um proletariado rural estreitando-se a possibilidade de reprodução das
formas independentes da pequena produção. E, por fim, do ângulo da integração de capitais o
SNCR viria a forma o elo do capital financeiro com a agricultura até a década de 1980
(KAGEYAMA et al., 1990; GRAZIANO DA SILVA, 1996).
A década de 1980 continuou com o processo de transformação da base técnica, porém de
forma bastante lenta se comparada há décadas passadas. As áreas de lavoura e a expansão da
fronteira agrícola deram-se em ritmos mais lentos em relação à década anterior, o mesmo quadro
ocorrendo com a pecuária. Graziano da Silva (1996) apontou quatro razões para o arrefecimento
do ritmo da modernização da agricultura brasileira a partir da primeira metade da década de
1980.
São elas:
A primeira é a própria recessão que se abateu sobre a economia brasileira como um
todo a partir do final dos anos 70. A segunda é a redução explícita dos incentivos
creditícios à modernização, traduzida não apenas pela eliminação das taxas de juros
reais negativas do crédito rural, mas principalmente pela redução drástica dos recursos
para os financiamentos agropecuários, especialmente para investimentos...Uma terceira
razão tem a ver com o caráter profundamente desigual e excludente [...] do processo de
modernização da agricultura brasileira [....] isto significa que o processo de
modernização da agricultura brasileira incorporou, grosso modo, aqueles “mais
aptos” (se quisermos dar um nome às modernas empresas agropecuárias capitalistas do
Centro-Sul do país), excluindo os “demais”[....] quarta razão, que é a mudança no
padrão de modernização da agricultura que está se gestando em âmbito mundial. Os
anos 80 mostraram que a agricultura dos países desenvolvidos passou a incorporar de
forma crescente as chamadas “novas tecnologias”, quais sejam, a informática, a
microeletrônica e as biotecnologias (p.121-122).
O mesmo autor denomina a década de 1980 como década perversa para a agricultura
brasileira. Na década seguinte, surgem estudos que analisaram as particularidades da produção
familiar no campo. A heterogeneidade do campo foi objeto do estudo realizados por Bergamasco
e Kageyama (1990), que classificaram os estabelecimentos rurais no Brasil buscando apresentar
a heterogeneidade da “produção familiar”
21
.
21
Através da utilização de tabelas especiais do Censo Agropecuário de 1980, especificamente as variáveis força de
trabalho utilizada pelos estabelecimentos e área total junto a utilização de tratores
21
pelos estabelecimentos as
unidades foram separadas três tipos de unidades familiares: i) Estabelecimentos familiares puros; ii)
Complementados; iii) Empresas familiares; segmentados em oito grupos: 1) Estabelecimentos puramente familiares
divididos em a) Pequenos estabelecimentos familiares puros com cerca de 1,4 milhão de estabelecimentos, b)
Estabelecimentos familiares puros com mais de 10 hectares cerca de 900 mil estabelecimentos, 2) Estabelecimentos
familiares com temporários com cerca de 1,2 milhão de estabelecimentos, 3) As empresas segmentadas entre a)
62
Outro estudo que merece destaque foi realizado pelo convênio de cooperação técnica
entre a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e o INCRA
(Instituto de Colonização e Reforma Agrária), firmado em janeiro de 1994, apresentando uma
série de sugestões destinadas a fortalecer e expandir a agricultura familiar no Brasil, além de
algumas linhas de ação orientadas para o aprofundamento e a aceleração do processo de
descentralização e de parcerias. O trabalho objetivou contribuir na elaboração de uma nova
estratégia de desenvolvimento rural para o Brasil, dividido em duas fases, a primeira visando à
caracterização do potencial de desenvolvimento da agricultura familiar no Brasil e a delimitação
do público alvo das políticas recomendadas, e a fase seguinte apresentando um elenco de
sugestões de medidas de política agrária e agrícola que, segundo seus autores, engendrarão a
opção pela agricultura familiar como linha estratégica do desenvolvimento rural. Incluem-se
nesta parte, além das políticas agrícolas e agroindustriais diferenciadas, propostas específicas no
âmbito fundiário. Foi proposta a segmentação dos estabelecimentos entre “patronal” e
“familiares”, além do estabelecimento da categoria familiar consolidada, de transição e periférica
(INCRA/FAO, 1994).
No Brasil na década de 1990 se observa uma série de movimentos sociais, junto aos
impactos de ordem econômica, e a noção de agricultura familiar oferece abrigo a um conjunto de
categorias sociais
22
, estando a agricultura familiar relacionada à legitimação pelo estado através
do PRONAF em 1996 (SCHNEIDER, 2003).
Outro tema que surge é a discussão das novas formas de atividades ou estratégias no
meio rural brasileiro. Graziano da Silva et al., (2002), em seu estudo denominado “O que
realmente de realmente novo no rural brasileiro” apresentaram as transformações nas
relações urbano-rural, em onze estados do Brasil, avaliando as famílias em relação a
pluriatividade e as rendas agrícolas e não agrícolas. Os autores destacam a partir da década de
1980 ocorre:
Empresas familiares com cerca de 240 mil estabelecimentos segmentados entre empresas familiares extensivas
(cerca de 9 mil estabelecimentos) e intensivas (cerca de 230 mil estabelecimentos) e b) Empresa capitalista com
cerca de 1.4 milhão de estabelecimentos segmentada entre empresa capitalista extensiva (cerca de 33 mil
estabelecimentos) intensivas (1.1 milhão de estabelecimentos) e menores de 2 hectares (300 mil estabelecimentos)
(p. 60-71).
22
O autor coloca os assentados, arrendatários, parceiros, integrados a agroindústria, entre outros que não poderiam
ser confortavelmente identificados como pequenos produtores ou simplesmente trabalhadores rurais (p.13).
63
Surgimento de uma agropecuária moderna, baseada em commodities e intimamente
ligada as agroindústrias; um conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas a moradia, ao
lazer à várias atividades industriais e de prestação de serviços; um conjunto de novas
atividades agropecuárias, impulsionadas por nichos especiais de mercado (p.39).
Os autores igualmente alertam para o aparecimento de “novas” atividades agropecuárias
e atividades rurais não-agrícolas a partir de demandas diferenciadas, de nichos e, muitas vezes,
pela redivisão do trabalho e agregação de valor aos produtos existentes. Também destacam a
menor ocupação da produção agrícola no tempo total de trabalho das famílias rurais. O estudo
identificou no país cerca de três milhões de famílias com alguma forma de pluriatividade no
Brasil, e para 1999 o número de famílias de empregados residentes na zona rural com pelo
menos um membro ocupado nas atividades não-agrícolas superava ao número de famílias que
se dedicavam somente a atividades agrícolas. Os mesmos autores reservaram espaço para a
apresentação de algumas dinâmicas econômicas que estão agindo no rural para o incremento da
pluriatividade. É oportuno destacar cinco dinâmicas tratadas pelo estudo, são elas:
Consumo final não-agrícola pela população urbana, como o artesanato, o turismo rural,
etc..; Serviços públicos nas zonas rurais; Demanda da população rural o agrícola de
altas rendas por áreas de lazer e/ou segunda residência (...), bem como serviços a ela
realizados(...); Demanda da população urbana de baixa renda por terrenos para
construção de suas moradias em áreas rurais(...); Demanda por terras não-agrícolas por
parte de indústrias e empresas prestadoras de serviço, que buscam o maio rural como
alternativa mais favorável de operação (p. 59 grifo meu).
As dinâmicas acima demonstram que o crescimento das ocupações rurais não-agrícolas
em muitos casos não se deve a fatores internos ao setor, e a agricultura, mas a demandas urbanas
por bens e serviços, bem como pela tentativa de incorporação de mercados e de mercadorias que
não têm origem agropecuária no sentido amplo do termo (GRAZIANO DA SILVA et al., 2002).
Um fator determinante para a transformação dos espaços rurais é a intensificação do
processo de internacionalização da economia, a chamada globalização, que impacta sobre todos
os territórios. As mudanças ocorrem em um período de abertura comercial acelerada e integração
regional, afetando mais diretamente o segmento agropecuário e agroindustrial, ocorrendo, nesta
fase, a tendência à perda de poder regulatório e da capacidade de planejamento. Agora os
dispositivos institucionais de regulação, que eram de caráter nacional, passam a ser globais
(BELIK, 2001).
No plano específico, tem-se o crescimento do peso do elo da distribuição de alimentos na
cadeia, e a entrada de novas firmas transnacionais no comércio e processamento de produtos
64
agropecuários. Nesta mesma direção, afloram, as cadeias de commodities”, configuradas por
processos de mercantilização da produção, através da exploração intensiva dos recursos
humanos e naturais (BONANNO et al., 1999).
2.4 Políticas Públicas e Agricultura
Esta seção define os principais instrumentos de intervenção do estado na agricultura.
Inicialmente definem-se os principais mecanismos Macroeconômicos e seus impactos na
economia agrícola. Além disso, são exploradas as Políticas Setoriais aplicadas à agricultura,
centrando-se a análise na Política Agrícola, Política Agrária e Políticas ou Programas de
Desenvolvimento Rural. Por fim, faz-se referência à Política Social e Universal da Previdência
Rural no Brasil.
2.4.1 Os Grandes Agregados Econômicos e o Impacto na Agricultura
a) Agregados macroeconômicos
O Estado intervém na agricultura com alguns tipos de política econômica. Entre eles a
política macroeconômica destaca-se por afetar diretamente todos os setores da economia,
especialmente o agropecuário.
A política macroeconômica trata os grandes agregados da economia em termos de
quantidades, como, por exemplo, a composição e a taxa de crescimento da renda e da
demanda agregada, a quantidade de moeda, os gastos do governo, as exportações e
importações, bem como os fluxos de entrada e saída de divisas estrangeiras e de capital
externo em geral. Em termos de preços, os agregados macroeconômicos, denominados
preços macroeconômicos básicos são: a taxa de câmbio, taxa de juros, taxa de salários e o
nível geral de preços (LEITE, 2001).
A política macroeconômica é composta basicamente pela combinação das políticas fiscal,
monetária, comercial e cambial. A política fiscal cuida das contas do governo, ou seja, por
65
um lado preocupa-se com a arrecadação de impostos, e por outro, lida com os gastos em bens
de consumo, despesas correntes de custeio e investimentos públicos. Este tipo de instrumento
de política econômica torna-se importante, pois, muitas vezes, a execução de programas
públicos é financiada pela receita tributária, que consiste na arrecadação de impostos e
contribuições
23
.
A política monetária é entendida como a atuação do Banco Central na definição das
condições de liquidez da economia que pode ser dada pela modificação da quantidade
ofertada de moeda e pelos níveis de taxas de juros. O Banco Central possui instrumentos de
controle monetário como as reservas compulsórias, empréstimos de liquidez, taxa de
redesconto e operações de mercado aberto
24
.
A política comercial diz respeito aos instrumentos de incentivos às exportações e ao estímulo
e\ou desestímulo às importações, ou seja, refere-se aos estímulos fiscais e creditícios às
exportações e ao controle de importações. Já a política cambial é a atuação do governo sobre
a taxa de câmbio. O governo, por meio do Banco Central, pode fixar a taxa de câmbio ou
permitir que ela seja flexível e determinada pelo mercado de divisas (VASCONCELLOS,
2004).
Os instrumentos da macroeconomia, em essência, influenciam o nível de composição da
demanda agregada, a taxa de crescimento da renda nacional e do Produto Interno Bruto, além
da disponibilidade e do custo do crédito doméstico, tanto para consumo como para
investimento. Influenciam, igualmente, o saldo do orçamento governamental, a entrada e
saída de recursos externos, a rentabilidade de aplicações dos recursos domésticos para a
produção de bens comerciáveis
25
e não comerciáveis, o volume de exportações e de
23
Para maior detalhamento ver Mendes (1998) e Blanchard (1999).
24
i Reservas compulsórias: são as taxas de recolhimento compulsório imposto aos bancos. Quanto maior a
exigência de reservas (maior taxa) menor será a oferta monetária. ii empréstimos de assistência à liquidez: são
empréstimos realizados pelo Banco Central para as instituições financeiras para cobrir a insuficiência de caixa
destas instituições diante da demanda de recursos pelos depositantes; taxa de redesconto: é a taxa cobrada pelo
banco central em seus empréstimos aos bancos comerciais.iii operações de mercado aberto: são a compra e a venda
de títulos públicos pelo Banco Central junto ao mercado (Gremaud, 2002).
25
Tradableso aqueles produtos ou serviços que, além de comercializados no mercado interno, podem ser
oferecidos no mercado internacional e exportados. Os tradables têm seus preços formados fundamentalmente pelas
forças que operam no mercado internacional (Sandroni 1999). Para o caso de produtos agrícolas, Leite (2001)
destaca a soja como bem comercializável, e o feijão e a energia elétrica como bens não comercializáveis
(nontradables) ou seja, mercadorias produzidas majoritariamente para consumo no mercado doméstico, e que os
preços são determinados por mecanismos domésticos.
66
importações, os saldos da balança de pagamentos, a taxa de crescimento do nível geral de
preços e o ritmo inflacionário do país.
No setor agrícola, a política macroeconômica pode inviabilizar ou neutralizar o
funcionamento de políticas voltadas à agricultura, assim como pode conter uma política
agrícola implícita
26
, independentemente da existência ou não de uma política explícita a nível
nacional.
b) Impactos de políticas econômicas na agricultura
É oportuno apresentar algumas medidas essencialmente macroeconômicas engendradas pelo
Estado que impactaram diretamente no setor agrícola brasileiro ao longo do processo de
desenvolvimento econômico do país. Para ilustrar este ponto serão apresentadas as formas de
intervenção do Estado na economia em dois momentos marcantes: no período de
implantação dos mecanismos de defesa do café e no período de ajuste da economia na
década de 1980
27
.
Após a abolição da escravatura no Brasil, formou-se um contingente populacional em busca
de emprego, que estava incorporado ao processo produtivo do café enquanto o setor crescia.
Nos momentos em que os preços do café caíam, ocorria uma queda nos lucros agrícolas e
uma consequente diminuição dos investimentos. No mercado de trabalho, nestes períodos, o
resultado era a queda do número de empregos ocupados. Na época as possibilidades de ação
do governo para a proteção da economia eram poucas, e podem ser citados dois mecanismos
principais de ação: a desvalorização cambial e a política de valorização do café
(GREMAUD, 2002).
Quanto à desvalorização do câmbio, esta medida visava manter a renda em moeda nacional
dos produtores de café, no Brasil, e, paralelamente, sustentava o nível de emprego da
economia. Porém, devem ser destacados dois problemas gerados por este tipo de política
macroeconômica. Inicialmente (1) induziu ao aumento de produção de café, gerando um
26
Neste estudo utiliza-se a classificação de Leite (2001) que segmenta as formas de intervenção do estado na
agricultura entre: 1) Política macroeconômica e 2) Política setorial subdividida entre: a) Política agrícola; b) Política
agrária;c) e 3) Outros Instrumentos de intervenção do Estado no meio rural; Políticas ou Programas Diferenciados
de Desenvolvimento Rural. 4) Política agrícola ativa quando existe uma política setorial para a agricultura, ou
seja, o estado executa ações autônomas e específicas para o setor, através de crédito, preços nimos, taxa da
câmbio, da pesquisa e da assistência técnica.
27
Nesta parte trata-se exclusivamente de alguns instrumentos próprios da macroeconomia em dois períodos
específicos. Porém não se ignora, em momento algum, a forte presença do Estado na economia e agricultura desde o
período Colonial até o período recente.
67
excesso de oferta “escondido”, e (2) o aumento de preço dos produtos importados, visto que
houve uma forte tendência inflacionária com este tipo de prática cambial. Furtado (1977)
ilustra este tipo de mecanismo em uma passagem de sua obra Formação Econômica do
Brasil”, apresentada a seguir.
A redução do valor externo de moeda significava, demais, um premio a todos os que
vendiam divisas estrangeiras, isto é, aos exportadores. Para aclarar este mecanismo,
vejamos um exemplo....o exportador de café estivesse vendendo a saca a 25 dólares e
transformando estes dólares em 200 cruzeiros, isto é, ao câmbio de 8 cruzeiros por
dólar. Desencadeada a crise, ocorreria uma redução, digamos de 40 por cento do preço
de venda da saca de café, a qual passava a ser cotada a 15 dólares. Se a economia
funcionasse num regime de estabilidade cambial tal perda de dez dólares se
traduziria.....em uma redução equivalente dos lucros do empresário. Entretanto como o
reajustamento vinha através da taxa cambial, as conseqüências eram outras. Admitamos
que, ao deflagrar a crise, o valor do dólar subisse de 8 para 12 cruzeiros. Os 15 dólares
a que nosso empresário estava vendendo agora a saca do café já não valiam 120
cruzeiros mas sim 180. Dessa forma, a perda do empresário, que em moeda estrangeira
havia sido de 40 por cento, em moeda nacional passava a ser de 10 por cento. O
processo de correção de desequilíbrio externo significava, em última instância, uma
transferência de renda daqueles que pagavam as importações para aqueles que vendiam
as exportações. Como as importações eram pagas pela coletividade em seu conjunto, os
empresários exportadores estavam na realidade logrando socializar as perdas que os
mecanismos econômicos tendiam a concentrar em seus lucros (p.165).
Quanto à política de valorização do café, as condições de mercado no período entre 1885
e 1890, foram de preços internacionais crescentes e de aumento da comercialização do produto,
aliada à valorização cambial no Brasil. A partir de 1890 a situação se inverte com a queda dos
preços externos e o aumento dos preços internos do café pagos aos cafeicultores, via
desvalorização da moeda. No final do século XIX o governo negocia sua dívida externa,
amenizando a pressão pela busca de divisas estrangeiras, e adota medidas econômicas restritivas,
visando à valorização da moeda brasileira. Dada a crescente produção de café e os baixos preços
no mercado internacional com o aumento das quantidades produzidas do produto, reúnem-se na
cidade de Taubaté os presidentes dos estados de são Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, para
elaborar medidas de intervenção no mercado de café, visando evitar o aprofundamento da crise
(GREMAUD, 1997).
No tocante aos mecanismos da política de valorização do café, a principal medida foi a
criação de estoques de café, com o pagamento de preços mínimos aos produtores. O
financiamento destes planos foi, em grande parte, via empréstimos externos, para a manutenção
68
de um equilíbrio nos preços do produto nas épocas de safra e entressafra, ou seja, foi uma
espécie de política de preços mínimos e de estoques reguladores.
Para Furtado (1977):
No convênio celebrado em Taubaté em fevereiro de 1906, definem-se as bases do que
se chamaria de política de “valorização do produto. Em essência, essa política
consistia no seguinte:
a) com o fim de restabelecer o equilíbrio entre oferta e procura de café, o governo
interviria no mercado para comprar os excedentes;
b) o financiamento dessas compras se faria com empréstimos estrangeiros;
c) o serviço desses empréstimos seria coberto com um novo imposto cobrado em ouro
sobre cada saca de café exportada;
d) a fim de solucionar o problema a mais longo prazo, os governos dos Estados
produtores deveriam desencorajar a expansão das plantações (p.179).
Esta política também apresentava efeitos perversos, como a tendência à superprodução de
café e a perda de competitividade do Brasil, em médio prazo, visto que, dada a elevada
remuneração do produto no mercado internacional, este produto tornar-se-ia atrativo para
produtores de outras nações.
Convencionou-se, na literatura econômica, que o período entre a grande depressão na
década de 1930 e a crise da dívida da década de 1980, a economia do Brasil foi dominada pelo
modelo de industrialização por substituição de importações. O Estado, neste modelo, atuou como
agente produtivo, como agente financeiro responsável pela criação, captação e centralização de
créditos de longo prazo necessários a mudanças da estrutura produtiva, além de ser considerado
um articulador de capitais privados nacionais e internacionais. Neste cenário, o Estado assume
um pacto de poder autoritário, mantendo intocada a estrutura de poder do campo, e formula
políticas públicas, tanto em nível macroeconômico bem como setoriais, privilegiando a criação
de uma economia urbano-industrial, criando mercados, mantendo os preços dos alimentos
controlados, os salários reduzidos e expandindo a infraestrutura de energia e transportes.
Argumenta-se também, que a agricultura neste modelo, na América Latina, foi penalizada,
especialmente através de políticas de valorização da taxa de câmbio, tendo, na maior parte dos
países, a política agrícola um papel compensatório (GIORDANO DELGADO, 2001).
Outro momento da economia brasileira que o estado atuou através de medidas
econômicas de estímulo a exportações agrícolas foi na década de 1980. A adoção de uma política
de redução da demanda agregada no final da década de 1970, objetivando um ajuste externo
69
(devido aos déficits na balança comercial e no balanço de pagamentos), foi efetivada, no âmbito
da política cambial, através de duas maxidesvalorizações, em 1979 e 1983, que foram seguidas
por uma política de desvalorizações cambiais periódicas, correspondentes às variações no IGP.
As políticas fiscal e monetária tornaram-se fortemente contracionistas, visando reduzir o
déficit público e o crédito doméstico pelas autoridades monetárias. Com a aceleração da
inflação, na segunda metade da década de 1970, e a crise da dívida e do balanço de pagamentos,
no início de 1980, passa a predominar no Brasil uma política monetária contracionista, que
elevou as taxas de juros internas e reduziu a disponibilidade de crédito na economia. Estas
políticas macroeconômicas tiveram um efeito imediato na agricultura, ao inviabilizar a
continuidade da política de crédito rural dominante nos anos de 1970 (COSTA LIMA E
GONZALES, 1998).
Neste cenário, a política monetária com o aumento da taxa de juros, afetou diretamente o
setor agrícola, seja pela importância do crédito para custeio e investimento, ou seja pelo fato de
tornar custoso o carregamento de estoques, devido aos juros altos normalmente impostos em
políticas monetárias restritivas. A diminuição das despesas governamentais no Brasil, na década
de 1980, afetou também as principais agências de pesquisa agropecuárias, ao sucatear, em parte,
a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e ao extinguir a EMBRATER
(Empresa Brasileira de Extensão Rural), através da estadualização das agências federais que
atuavam nos diferentes estados brasileiros (Giordano Delgado, 2001).
2.4.2 Políticas Setoriais na Agricultura Brasileira
A política setorial objetiva influenciar diretamente o comportamento econômico-social de
um setor específico da economia nacional. Na agricultura, três tipos principais de política
econômica setorial podem ser destacados: Política Agrícola, Política Agrária e a Política
Diferenciada de Desenvolvimento Rural (GIORDANO DELGADO, 2001).
70
2.4.2.1 Política Agrícola
Esta seção apresenta a evolução dos principais mecanismos de política agrícola, aplicados
no Brasil, visando, essencialmente, instrumentalizar o leitor à compreensão das políticas
implementadas, a partir de década de 1960. A seção está dividida em três partes. A primeira
contextualiza o ambiente econômico brasileiro no período precedente ao Programa Nacional de
Crédito Rural. Em seguida são expostos os principais instrumentos de que o Estado dispunha
para viabilizar os mecanismos de cessão de crédito. São também apresentados alguns resultados
gerais do programa até o início da década de 1980. A terceira parte aborda o impacto da crise
fiscal do Estado sobre a agricultura, bem como os novos mecanismos e fontes alternativas de
recursos para o setor.
a) Sistema Nacional de Credito Rural no Brasil
A agricultura passou por diferentes “fases” na história recente. Durante o final do
período Imperial e o término da República Velha (1840-1930) o setor rural estava
basicamente voltado ao mercado externo e o governo se valia de mecanismos,
notadamente cambiais, para as culturas de exportação, especialmente, o café. Nesta fase
conhecida como complexo rural”, a economia se apresentava totalmente dependente ao
comércio exterior, período que foi encerrado com a internacionalização do setor
industrial de bens de capital e insumos básicos, com a montagem do D1 (departamento 1)
- agrícola. Cabe destacar que o CREAI (Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do
Banco do Brasil -1937), a política de garantia de preços mínimos (1943) e o regime de
ágios e bonificações (1953), foram mecanismos que surgiram com a passagem de uma
economia agroexportadora para a criação e consolidação de um setor urbanoindustrial
28
.
No Brasil, a partir da década de 1950, momento em que o padrão de produção incorpora
condicionantes do mercado interno da nação, o Estado assume a função de formulador de
28
O CREAI (Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Bando do Brasil) foi criado pelo Banco do Brasil para a
emissão de bônus de empréstimos para operações de financiamentos rurais e industriais (Mendonça e Pires, 2002).
A política de garantia de preços mínimos foi instituída em 1943. O regime de ágios e bonificações de 1953,
Instrução 70 da SUMOC, introduziu o monopólio cambial ao banco do Brasil e por ele deveriam ser vendidas ou
repassadas divisas provenientes de exportações. Foi instituido um regime de leilão de câmbio em bolsas de fundos
públicos do país (Abreu, 1990).
71
políticas específicas para os diferentes complexos agroindustriais que se formavam no
país, cumprindo, desta forma, papel determinante na modernização agrícola
29
. O
principal mecanismo utilizado foi o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR)
responsável por inúmeras transformações no setor (GRAZIANO DA SILVA, 1996).
O cenário de criação do futuro programa de governo para o setor agrícola enfrentou
barreiras no que tange as políticas de governo, especialmente, no período ente 1950 e
1964. A partir da década de 1950 o governo buscava, para o país, o desenvolvimento
industrial, particularmente no governo de Juscelino Kubitschek (1956/1960), através da
criação do Plano de Metas. O plano de governo objetivava superar os pontos de
estrangulamento” da economia brasileira, que não permitiam a geração de um padrão de
desenvolvimento industrial acelerado ao país. Esta barreira seria superada através da
formulação de um planejamento composto por amplos projetos estatais de infra-estrutura
(Rego e Marques, 2000).
Como resultado, a agricultura, no plano de metas, é colocada em segundo plano,
apresentando somente um aumento de produção de alguns produtos e benfeitorias, um
desempenho considerado insatisfatório por amplos setores técnicos e políticos. A este
quadro somava-se à forte pressão em favor de uma reforma agrária durante a década de
1960 (MASSUQUETTI, 1998).
No período seguinte (1964), sob a égide militar e com a implementação do Programa de
Ação Econômica do Governo, o PAEG
30
, a agricultura ganha destaque, pois havia o
entendimento de que o atraso da agricultura poderia emperrar processo de
desenvolvimento econômico do país. Modernizar a agricultura, via utilização de insumos
modernos, e aumento da produção agrícola, eram necessários para o estímulo às
exportações de produtos primários, o que representaria geração de divisas para às
importações, necessárias ao desenvolvimento. Para Massuquetti (1998) a modernização
29
Quanto a indicadores técnicos, para Santos (1988) a maior parte do crescimento agrícola no país, deu-se
basicamente pelo aumento da área cultivada e pelo aumento da quantidade de trabalho, até o início da década de 60,
visto que, na década de 50, cerca de 70% do aumento da produção agrícola no Brasil é explicada por uma expansão
de área e os 30% restantes devem-se ao aumento da produtividade da terra. No período seguinte (década de 60), as
formas de incremento da produção agrícola começam a sofrer modificações. As bases das novas políticas
implementadas no período foram um incremento na produção e na escala, não apenas em função da área (ALVEZ &
PASTORE 1980).
30
O PAEG - Programa de Ação Econômica do Governo foi instituído em 1964 e apresentou reformas de caráter: a)
Fiscal, b) Reformas nas relações externas, c) Reforma trabalhista e D) Reforma monetário-financeira que inclui o
SNCR (GREMAUD, 2002).
72
da agricultura e os incentivos ao aumento da produção estariam inseridos dentro do
próprio processo de modernização da economia, contudo, deveriam ser criados
mecanismos que dessem condições para que o setor rural acessasse estes insumos, e estes
mecanismos seriam implantados através do SNCR.
a) Principais Instrumentos, Fontes de Recursos e Resultados do Programa
O SNCR foi criado em 1965 pela lei 4.829 (5/11/65) e regulamentado pelo decreto
58.380 (10/5/66), e era constituído pelo Banco Central do Brasil, pelo Banco do Brasil
(BB), por bancos regionais de desenvolvimento, por bancos estaduais, e privados, pela
Caixa Econômica Federal sociedades de crédito, financiamento e investimento,
cooperativas e órgãos de assistência técnica e extensão rural. Tinha como propósito
compartilhar a tarefa de financiar a agricultura entre instituições financeiras pública e
privadas (LEITE, 2001). É consenso na literatura econômica que no período inicial do
SNCR houve uma farta concessão de crédito agrícola ao setor, notadamente, por parte do
tesouro nacional.
A partir de 1960 inicia-se o financiamento para a consolidação do setor agroindustrial,
dado um conjunto de fundos e programas dirigidos ao fomento deste setor. Entre os
instrumentos tem-se o Fundo Geral para Agricultura e Indústria - FUNAGRI, que ao
reunir diversos subprogramas, expandiu a oferta de crédito ao setor entre 1966 e 1977. As
agroindústrias também foram beneficiadas com recursos provindos da Política de
Garantia de preços Mínimos (PGPM). Esta política foi estruturada pelo governo federal e
contou com dois mecanismos chave: AGF (aquisições do governo federal - direta e
indireta) e EGF (empréstimos do governo federal - com ou sem opção de venda).
Produtos como arroz, feijão, milho e soja foram beneficiados com este mecanismo do
governo, embora se deva salientar que sua maior utilização foi a partir da década de
1980, quando há forte ênfase na política agrícola voltada a política de preços.
O setor agrícola experimentou, até o final dos anos de 1980, taxas negativas de juros, por
parte do setor público. Os subsídios e incentivos chegaram a representar 7,6% do PIB e
99,3% da receita tributária para o ano de 1980 (LEITE, 2001).
73
O Programa de Crédito foi financiado pelas exigibilidades impostas aos bancos
comerciais sobre os depósitos à vista
31
e através de recursos públicos provenientes da
administração de Fundos e Programas realizado pelo Banco Central
32
. Contava-se ainda
com a captação de recursos externos e com a oferta expansionista do crédito por parte do
Banco do Brasil com a consequente cobertura via emissão monetária
6
.
A administração da política de crédito sob a vigência do Orçamento Monetário e do
Banco Central e Banco do Brasil processava-se por dois mecanismos. Segundo Giordano
Delgado (1985) Apud Leite (2001):
a) Uma expansão passiva do crédito, ancorada nas exigibilidades, fundos fiscais e
parafiscais e outros recursos adicionais; b) uma expansão ativa do crédito, que contava
com a atuação do BB para o atendimento da demanda setorial. Nesse último caso, as
decisões sobre a expansão creditícia dependiam da homologação do Conselho
Monetário nacional (CMN) e refletiam o movimento de tomadores voltados ao
programa, nem sempre orientados á a aplicação efetiva dos recursos nas atividades–fins
(p.64).
A utilização dos mecanismos do SNCR para o Brasil podem ser mensurados através de
indicadores. Por exemplo, o índice de mecanização da agricultura em relação ao número de
hectares por trator, atingiu uma relação de 410 em 1960, diminuindo para 99 em 1985. Quanto
ao consumo de fertilizantes por hectare, em 1964 eram aplicados 8,3 kg por hectare, passando
para cerca de 51 kg em 1985 (BAER, 1996).
Mesmo com um quadro de eficiência em relação ao uso de insumos, implementos
agrícolas e aumento de produtividade de inúmeras culturas, o Programa foi alvo de críticas
relacionadas ao caráter discriminante no setor rural.
Foi avaliado o quesito produtividade de alguns produtos agrícolas. A soja obteve um
aumento de produtividade por hectare, passando de 1.088 kg/ha em 1964/66 para 1.660 kg/ha em
1974/76. Este incremento não foi evidenciado na maioria dos produtos básicos da alimentação.
Aparentemente houve um favorecimento às culturas de exportação e promotoras de energia, fato
que poderia estar gerando um ônus à economia pela redução de alimentos do tipo básico
(COSTA LIMA E GONZÁLES, 1998).
31
A participação dos bancos privados apresentou-se constantemente decrescente, partindo de 34,36% em 1969 para
15,63% em 1992, logo a esfera produtiva foi financiada a essencialmente pelo governo.
32
Dada a vigência das contas em aberto do Orçamento Monetário através da categoria recursos não-especificados
inscritas no orçamento. Mais adiante, com as novas regras Orçamentárias do país e o fechamento da chamada “conta
movimento” do Banco do Brasil esta situação modifica-se substancialmente (Leite, 2001).
74
O caráter desigual do crédito rural é frequentemente enfatizado. Spolador (2001)
argumenta que, junto com o componente aumento das taxas de juros negativas para o crédito
rural, em especial, a partir de 1974, a proporção de produtores que obtêm crédito formal não
ultrapassava 20% e, neste quadro, a maior parte destes produtores era formada por grandes
propriedades agrícolas.
Além disso, o novo padrão produtivo alcançado ampliou a concentração de terras no
período. Neste processo, a política de crédito subsidiado implicou na redução dos custos dos
principais insumos e, sendo o crédito distribuído desigualmente, propiciou alteração favorável
nessa curva para os produtores que o utilizaram em maiores proporções (SOUZA E LIMA,
2001).
A década seguinte (1980) impõe um novo padrão de intervenção do Estado na agricultura
dada a crise internacional do petróleo e a crise interna na economia brasileira.
b) Deterioração do Sistema Nacional de Crédito Rural e o Novo Padrão de Financiamento no
Brasil
A década de 1980 inicia com uma conjuntura internacional desfavorável, caracterizada
pela dificuldade de financiamento externo, pelo expressivo aumento das taxas de juros e
aumento dos preços do petróleo. Este cenário leva a uma forte queda dos preços no mercado
internacional, ao aumento da concorrência e ao agravamento do protecionismo nos países
desenvolvidos.
No Brasil, a política econômica passou por medidas de controle inflacionário e por
ajustes no setor externo, deflagrando a crise fiscal do Estado brasileiro e contribuindo para a
quase falência do Sistema de Crédito Rural.
O agravamento do ambiente macroeconômico e o comprometimento dos recursos
públicos, com o pagamento do serviço da dívida externa e interna, levam o país a criação de
mecanismos de controle de repasse de recursos e a diversificação das fontes de financiamento
para agricultura (LEITE, 2001). Foram tomadas medidas internas, como o aumento das taxas de
juros, a introdução da correção monetária de empréstimos e a ampliação das exigibilidades. O
país sofreu forte pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o controle de seu déficit
público (ABREU, 1990), condição básica para a efetivação de empréstimos necessários ao ajuste
econômico, o que afetou diretamente os mecanismos do SNCR (Tabela 1).
75
Tabela 1 - Crédito agrícola e suas fontes (US$ milhões), Brasil1987/1996.
Fonte: Barros (2000).
Modificações no Orçamento nacional
33
são efetivadas, especialmente, com o processo de
unificação orçamentário, que proporcionou um ambiente mais transparente no uso dos recursos
públicos. Para Barros (2000), a partir de 1985, havia-se desenhado um arcabouço para uma
política agrícola mais voltada ao mercado. A falência do Estado, junto aos processos de
globalização da economia, geraram novas bases para o crescimento da agricultura. Estas
condições, para o autor, foram: “a) racionalização dos gastos públicos com dispêndio seletivo
voltado para a produtividade e bem-estar do homem do campo; b) liberalização comercial
interna e externamente; c) maior realismo cambial” (p. 61).
A partir da década de 1980 a política de subsídios torna-se mais seletiva, priorizando
determinadas cadeias agroindustriais como, por exemplo, a tritícola e a sucroalcooleira
(REZENDE, 2003). O investimento agropecuário tem seus valores em queda e os programas
especiais, lastreados por recursos captados no exterior, são finalizados. Contas tradicionais,
como café, trigo eúcar são igualmente encerradas. Verifica-se uma redução em recursos
aplicados em custeio agropecuário e nos preços mínimos, a partir de 1988.
Com a mudança operada entre os anos de 1980 e 1990 buscava-se a diversificação de
fundos para os programas de crédito rural/agroindustrial, junto a subordinação de políticas
33
Processo de unificação orçamentário em 1986 (extinção da conta-movimento em 1986) com a criação do OC
(1988) englobando todos os fundos e programas de fomento administrativo pelo BACEN, pelo BB, as subvenções
econômicas e os financiamentos privados, os programas de Refinanciamento de dívidas externa com aval do tesouro
nacional, os programas de financeiros dos estados, município. O crédito rural do OC passa a contar com retornos de
empréstimos anteriores e os gastos com subvenções deviam contar com destinação de reservas do OGU ou emissão
de títulos previstos na LDO (na prática a partir de 1988 o exercício orçamentário deveria se dar dentro dos limites
do OGU valendo-se do novo procedimento anual da LDO necessitando aprovação do congresso) (LEITE, 2001).
Ano Tesouro Exigibilidades Poupança Recursos Livres Outros Total
1987 11.872 10.935 7.181 ..... 1.852 31.840
1988 5.639 7.706 8.403 ..... 719 22.467
1989 4.917 2.966 10.591 1.601 443 20.518
1990 3.132 3.209 2.346 2.332 703 11.711
1991 2.924 2.707 3.906 1.248 1.309 12.095
1992 3.080 2.509 6.104 906 807 13.407
1993 3.070 1.271 4.976 1.351 845 11.514
1994 4.302 1.841 5.540 2.528 1.662 15.874
1995 1.422 949 2.640 1.176 2.102 8.252
1996 220 1.065 576 509 6.490 8.860
76
setoriais a políticas de caráter mais geral (notadamente políticas tributária e cambial
macroeconômicas).
A redução dos recursos do tesouro nacional e das exigibilidades geraram novos
mecanismos de financiamento. Em 1986 é criada a caderneta de poupança rural, modalidade que
em 1989 representou mais de 50% do crédito ao setor. Na década de 1990 ocorre o aumento dos
chamados “recursos livres” que representam 20% da participação relativa no total de créditos
junto à participação de Fundos Constitucionais a partir de 1989. Também são criadas as
chamadas outras fontes
34
por medidas especiais de governo. Concomitantemente foram
despendidos recursos dos governos estaduais, criados Depósitos Especiais Remunerados (DER),
Depósito Interfinanceiro Rural (DIR), o Fundo de Aplicação Financeiro (FAF) e o Fundo de
Commodities
35
.
É oportuno ressaltar o papel do Banco do Brasil, que, ainda hoje, é o principal agente
financeiro do setor. Durante as décadas de 1960 e 1970 a entidade esteve amparada na
elasticidade da oferta monetária, com a demanda voltada para os recursos que o Programa
(SNCR) exigia. Porém, é no período seguinte que a atuação da entidade contribuiu
significativamente para a sustentação do vel de produção e produtividade do setor
agropecuário, através do alargamento de prazos a empréstimos rurais, no período posterior ao
fechamento da conta-movimento (poder de Autoridade monetária ao Banco do Brasil), ou com o
remanejamento de recursos não-vinculados necessariamente aos recursos do Tesouro Nacional
(LEITE, 2001).
Na tabela 2 evidencia-se a Conta Própriado Banco do Brasil que no período anterior a
mudança orçamentária, representava cerca de 95% dos recursos entre 1985 e 1986. A
Poupança-Ourochegou a compor, entre 1992 e 1995, mais da metade do total de recursos do
banco. Este dado (linha relativa a Poupança Ouro na Tabela 3) vai de encontro com a afirmação
de que a poupança rural foi uma forte alternativa a queda de recursos oriundos de depósitos à
vista. Na linha Recursos do Tesouro Nacional” (Tabela 3) entre 1987 e 1992 uma
34
Entre asoutras fontes” destaca-se a captação de recursos pelo FAT (fundo de amparo ao trabalhador), e do fundo
extra-mercado (FAE). Os recursos foram direcionados especialmente para o Programa de Geração de Empreo e
Renda (PROGER) – rural e para o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF).
35
Os Fundos de Commodities foram criados pelo CMN visando a canalização de recursos para agropecuária e
agroindústria na tentativa de dar liquidez ao mercado futuro de produtos agrícolas. Barros (2000) enfatiza que o
volume comercializado na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) ainda é baixo. Produtos como, por exemplo, o
algodão e o boi gordo chegam a 6% a 8% do volume negociado, enquanto que produtos como o café ultrapassa cera
de 50% (Spolador, 2001; Giordano Delgado, 2001).
77
participação efetiva da entidade e que diminui em função do encerramento de Programas de
Investimento e Custeio, lastreados por convênios internacionais. Segundo Leite (2001), nesta
rubrica o valor direcionado à PGPM entre 1988 e 1989 chamam a atenção para o envolvimento
do governo nesse quesito e a transformação de créditos de custeio em EGF’s. A rubrica Bacen-
Fundos e aprovisionamento de divisas” (Tabela 3) revela-se importante no contexto recente,
apresentando uma performance ascendente na participação dos recursos totais.
A retomada da rubrica Conta Própria” a partir de 1989 revelou-se um importante
instrumento de processos de anistia e ou securitização das dívidas dos produtores rurais em 1987
e 1995 (LEITE, 2001).
Tabela 2 - Banco do Brasil; Fontes de Recursos do Crédito Rural – 1985/1995 (em % do total)
Fontes 1985 1986
1987 1988 1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
Recursos do Tesouro
Nacional
3,96 5,21 50,37 57,56 49,49 41,18 28,33 21,34 16,65 14,40 12,54
Crédito rural
42,91 27,07 21,92 15,27 11,82 9,95 14,40 12,54
Proálcool
1,45 0,86 0,47 0,19 0,11 0,19 - - - - -
Pndr-rural
- - -
- 3,31 - 1,76 1,08 0,59 - -
Capitalização
cooperativas
0,12 0,35 - -
Bacen Fdos Aprovis.
Divisas
0,11 0,45 0,03 0,35 0,5 0,81 4,7 7,44 12,71 17,30 19,18
Finame-rural
- - - - 0,01 0,03 1,27 5,52 8,44 - -
Bndes – rural
- - - - - - 0,12 0,31 0,24 - -
Funcafé, FCO, FAT,
outros
15,18 17,33
Conta própria
95,936
94,34 11,55 7,29 9,0 16,55 26,54 19,55 23.52 18,82 15,03
Crédito rural
95,93 94,34 11,55 6,6 - - - - - - -
FAE
- - - - - - - - - 11,64 5,7
Obrigatório/exigibilidades
- - 6,81 2,24 9,02 2,55 1,97 2,03 3,69
Livres
- - - -
1,46 7,43 9,34 8,73 6,76 3,16 2,51
Commodities
- - - -
- - - - - 1,01 0,81
Outras fontes
- - - -
- - - - - 0,09 1,31
Poupança Ouro
- - 12,6 32,49 41,01 41,45 40,07 50,73 47,10 49,49 53,25
Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Leite (2001).
Obs: Esta versão apresenta as principais contas por categoria.
78
Recentemente o governo tem-se valido de instrumentos alternativos (alguns
apresentados) para sustentabilidade dos preços agrícolas e para o gerenciamento de riscos
agrícolas, mesmo com as restrições de orçamento vigentes. Vale ressaltar que a participação do
setor privado no financiamento rural é inócua quando comparada à participação do setor público.
Outros instrumentos são desenvolvidos, como a Cédula do Produtor Rural
36
(CPR) e
operações por contratos de opções de venda, para garantia do preço do milho, na tentativa do
estado afastar-se das operações de manuseio de mercadorias, transferindo ao produtor a
iniciativa de operar no mercado.
Mesmo em um cenário de forte crise fiscal do Estado, houve a continuidade do
crescimento da agricultura no Brasil, pois enquanto o PIB industrial crescia 3,84% entre 1980-
1990, o PIB agropecuário atingia 28,2% no período (FERREIRA FILHO apud LEITE, 2001).
Entre os fatores normalmente elencados para explicar este padrão estão a maior incorporação de
tecnologia e a redução dos custos de produção, em um setor que se apresentava relativamente
capitalizado. Igualmente importante foi a contribuição da pesquisa agrícola e da política de
câmbio, além da valorização do mercado interno e do papel da Política de Garantia de Preços
Mínimos
37
.
Em 1991 o governo retoma uma política agrícola ativa, na qual merece destaque a
expansão do crédito rural e do mecanismo de preços mínimos. Entre 1992 e 1993 formação
de altos estoques, devido à conversão de custeio em EGF, por parte do governo, paralelamente a
introdução do mecanismo de equivalência–produto, visando essencialmente que os produtos
agrícolas fossem utilizados como forma de pagamento nos financiamentos, vinculando a
correção dos valores emprestados a evolução do preço dos produtos emprestados
38
. A situação
modifica-se no período, entre 1994 e 1995, quando o governo, devido à desindexação de preços
e salários na economia, se desinteressa pela estabilidade da oferta agrícola, pois, um choque
36
Gonzalez (2000) define a Cédula do produtor Rural como um título que possui um status privilegiado do ponto de
vista de sua formalização, principalmente quanto à constituição de garantias e à forma de execução. Uma vantagem
da CPR está na diminuição dos custos de transação que compreendem os custos de operacionalização e
formalização do negócio, além do registro de garantas e os custos de fiscalização das lavouras implantadas. Para ver
detalhadamente os mecanismos da CPR e demais formas alternativas de crédito agrícola, sua análise e evolução, ver
Massuquetti (1998).
37
O papel da Política de Garantia de Preços Mínimos após a década de 1980 modifica-se substancialmente. No
período entre 1976 a 1983 do total de EGFs disponibilizados grande parte foi canalizada para indústria e
cooperativas. As AGFs formam utilizadas mais intensamente para alimentação básicas notadamente entre 1975-
1990. Em 1996 o governo elimina os Empréstimos do Governo federal com opção de Venda (Araújo, et al., 2000).
38
Para maiores detalhes ver Araújo et al. (2000)
79
agrícola em um cenário de restrição cambial, faria com que a oferta agrícola não precisasse ser,
necessariamente, gerada pela produção doméstica (RESENDE, 2003).
Em 1996 surge o Programa de Securitização da Dívida dos Agricultores
39
e também é
implementado o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar
40
(PRONAF). Um amplo
debate vem sendo realizado, nas ciências sociais, sobre a noção de “Agricultura Familiar”,
porém o Estado, através deste Programa, acabou por legitimar esta categoria.
Durante 1996 e 2002 houve um aumento das exigibilidades sobre os depósitos à vista
(recursos obrigatórios) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que passaram a ser
liberados dentro do Pronaf, passando a servir de fonte ao crédito rural (Tabela 3).
Tabela 3- Brasil, Evolução do Crédito Rural por Fontes de Recursos 1996-2002 (em R$ milhões
de 2002)
Anos Tesouro Recursos
Obrigatórios
Poupança
Rural
Recursos
livres
Fundos
constitucionais
FAT Recursos do
BNDES/Finame
Recursos de
outras fontes
1996 390 1.889 1.022 903 1.667 2.461 0 1.588
1998 294 7.194 2.300 1.331 1.243 2.801 718 1.419
1999 19 6.766 3.159 824 1.247 2.728 845 894
2000 3 8.941 2.475 816 1.010 2.194 977 595
2001 328 12.006 2.102 820 1.231 2.031 1.228 600
2002 363 11.734 2.821 1.146 1.476 2.280 589 754
Fonte: Adaptado pelo autor a partir de Rezende (2003).
Neste contexto de inovações e novas fontes de crédito, afloraram as chamadas
“operações informais” ligadas à agricultura. Araújo (2000) destacou que as principais
modalidades deste tipo de operações são: (1) os empréstimos em dinheiro, obtidos de
particulares ou de firmas ligadas à atividade agropecuária, (2) as operações de escambo do tipo
insumo/produto ou serviço, entre cooperativas, firmas e produtores, e também (3) a compra e
venda antecipadas de produção, realizadas entre produtores e comerciantes ou empresas
39
A inadimplência generalizada no setor agrícola, após 1995, impedia uma nova sessão de recursos de fontes como
a Poupança Rural, e aumentou igualmente os riscos bancários em relação a novos empréstimo à produtores. Através
de negociações foram reescalonados os juros e o volume de cerca de R$ 30 bilhões segmentados entre a
securitização”, o Programa Especial de Sanemento de Ativos, o Programa de Revitalização de Cooperativas, e a
Repactuação de Dívidas no Âmbito dos Fundos Constitucionais, além de empréstimos no âmbito do Pronaf e do
antigo Procema (Rezende, 2003).
40
Para a discussão conceitual e notadamente a classificação e normatização do Programa ver Secretaria da
Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário - SAF/MDA (2006).
80
agroindustriais. Um problema destas operações, dada sua natureza, é a inexistência de registros,
o que dificulta dimensionar o volume, os prazos e os custos dos recursos transacionados.
O PRONAF foi concebido a partir de uma proposta do governo brasileiro (Ministério da
Agricultura/INCRA) feita em 1994, com o apoio da CONTAG, incorporando, em seguida, as
diretrizes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura FAO. Esta
última contribuiu através da elaboração de uma nova estratégia para a agricultura brasileira,
incluindo a construção de um conjunto de diretrizes para a agricultura familiar e a elaboração de
uma avaliação dos custos dos assentamentos de reforma agrária e de diretrizes que aumentassem
a eficiência do processo de reforma agrária (COUTO ROSA, 1998).
As diferentes correntes de pensamento dos atores engajados no debate e na construção do
PRONAF fornecem elementos para delimitar um campo de disputa e de produção de idéias em
torno das políticas orientadas para a agricultura familiar. Neste intuito, duas referências sobre o
tema agricultura familiar parecem fecundas para a reflexão: por um lado, os estudos de
tipologias realizados pela equipe FAO/INCRA e, por outro, o modelo proposto por Hughes
Lamarche (MARQUES MORUZZI, 2004).
É oportuno lembrar que os diversos trabalhos elaborados graças ao acordo FAO/INCRA
constituem balizas essenciais do programa em exame. Desde o primeiro trabalho, estabeleceu-se
uma clivagem entre a agricultura familiar e a agricultura patronal. O eixo central da diferença
funda-se na idéia de que, na agricultura familiar, o trabalho assalariado não é o predominante, o
que implica numa série de consequências em relação à tomada de decisão e organização das
unidades de produção. Destaca-se aqui a relação profunda entre a gestão e o trabalho na
agricultura familiar. Esta última é classificada em três categorias: consolidada (integrada ao
mercado, possui acesso às políticas públicas e às inovações tecnológicas); em transição
(parcialmente integrada ao mercado e aos circuitos tecnológicos, o que favorece sua eventual
viabilidade econômica); e periférica (grupo mais numeroso cuja viabilidade econômica é negada,
o que implica em dependência de atividades não agrícolas e de intervenções de reforma agrária).
A evolução do PRONAF favoreceu a realização de novos estudos quanto à presença e às
características da agricultura familiar. Nova pesquisa patrocinada pelo acordo FAO/INCRA
realçou o regime de trabalho e o modo de gestão das unidades agrícolas de produção, a fim de
definir e quantificar a agricultura familiar brasileira. A classificação estabelecida, cujas
categorias fundamentais não se alteraram, fundou-se principalmente na renda bruta monetária.
81
Em 2000, a equipe do acordo de cooperação FAO/INCRA ainda aprimorou os trabalhos,
procurando estabelecer critérios relativos às relações sociais de produção. O tamanho da área e o
valor de produção foram minimizados nesta abordagem. Tratou-se de um afastamento ainda
maior da associação entre agricultura familiar e pequena produção com renda reduzida. Neste
estudo, o número de estabelecimentos familiares brasileiros chega a 4.139.369, correspondendo
a 85,2% das unidades, 30,5% da área e 37,9% do valor bruto de produção. A inovação mais
notável deste trabalho se refere à proposta de uma nova tipologia para a agricultura familiar
brasileira: capitalizados (grupo A), em via de capitalização (grupo B), em via de descapitalização
(grupo C) e descapitalizados (grupo D). O termo periférico, desaprovado por numerosos autores,
foi abandonado (MARQUES MORUZZI, 2004).
Guanziroli (2007) em seu estudo intitulado “PRONAF dez anos depois: resultados e
perspectivas para o desenvolvimento rural” avaliou o impacto do PRONAF em termos de
crescimento da renda, representado pelo crescimento no valor da produção e crescimento na
capacitação do agricultor familiar, definido pelo crescimento no valor da produção por hectare e
por pessoa engajada na produção.
A maior parte das pesquisas encontradas sobre o tema buscava mais uma avaliação de
processo do que a aferição de impacto propriamente dita. O autor relata a dificuldade em
encontrar muitas avaliações de impacto que tenham incluído no grupo controle o contrafactual
necessário para poder comparar efeitos do programa sobre beneficiados e não beneficiados. Não
foram encontradas pesquisas que tenham adotado a metodologia de painel que permita comparar
no tempo a evolução de um grupo de agricultores beneficiados. A pesar destas limitações, o
autor selecionou um elenco de 13 pesquisas que trazem dados relacionados com o impacto do
PRONAF na renda, tanto de âmbito regional como nacional. Entre os fatores descritos nos
estudos que influenciaram negativamente o processo de geração de renda dos agricultores,
impedindo, portanto, que se viabilizasse o reembolso dos empréstimos, destacam-se os
seguintes:
1) Falta de Assistência Técnica ou baixa qualidade da AT, ...2) Dificuldades no
gerenciamento dos recursos do crédito: Em alguns casos, os recursos não são aplicados
integralmente na atividade programada. O agricultor realiza economias na adubação e
tratos culturais, por exemplo, seja porque existem muitas carências de investimentos em
outras atividades produtivas na mesma propriedade agrícola ou porque ele não tem
como sustentar a família até que o projeto comece a dar retorno, e acaba tirando parte
do sustento do crédito rural. Isto diminui a possibilidade de pagamento dos créditos
82
deixando muitos agricultores endividados, o que psicologicamente é desastroso para
eles. 3) Falta de visão sistêmica dos técnicos: Existem divergências entre a avaliação
feita pelos técnicos e a prática dos agricultores, 4) Falta de integração nos mercados,
de estrutura de comercialização e de agregação de valor: A visão clássica dos técnicos
educados na revolução verde era a de produzir muito com ganhos crescentes de
produtividade, sendo necessário para isso pedir empréstimos que viabilizassem a
compra dos pacotes tecnológicos recomendados. Muitas vezes a produção e a
produtividade aumenta, mas os preços caem. O ganho de produtividade é assim captado
pelos intermediários financeiros e comerciais. Na realidade, os agricultores devem olhar
primeiramente para os mercados, ver seus sinais e produzir aquilo que tem demanda e
perspectivas de integração agroindustrial (p 320 -321).
Para o mesmo autor, as políticas públicas, quando massificam suas metas, geralmente
afrouxam o controle de qualidade e a eficiência diminui. Isto estaria acontecendo com o Bolsa
Família, por exemplo, que afrouxou o controle sobre o condicionamento de assistência a escola
para receber a bolsa, em função das dificuldades cadastrais surgidas quando se aumentou a
escala do programa.
Guanziroli (2007) ressalta ainda que no caso do PRONAF abandonou-se a visão de
sistemas que originalmente era defendida por parte dos técnicos e assessores, e que implicava em
relacionar uma tipologia de produtores com uma tipologia de sistemas produtivos. O refinamento
dessa classificação permitiria definir melhor os produtos dentro dos sistemas que precisariam de
reforço com crédito, terra ou tecnologia. Procurava-se avaliar uma região e diagnosticar quais
seriam as necessidades de apoio diferenciadas por tipo de produtor e por tipo de sistemas, num
plano de desenvolvimento regional que contemplasse as necessidades dos agricultores familiares
em relação ao seu contexto social e produtivo. Para isso precisar-se-ia de uma assistência técnica
de bom nível que seguisse uma visão sistêmica e participativa ao invés de trabalhar, apenas,
caracterizando déficits de insumos para produtos isolados. Infelizmente o PRONAF fez apenas a
classificação dos tipos de produtores (classes de renda) e deixou sem fazer a tipologia de
sistemas produtivos que deveriam ser apoiados. Ao se tentar fazer uma avaliação do PRONAF
surge a dificuldade de compreender até que ponto algumas cadeias produtivas teriam sido
fortalecidas no Brasil e outras não, e quais seriam as necessidades de crédito para as cadeias
selecionadas como prioritárias pelo governo e a sociedade, dado que isto não foi previsto pelas
autoridades que planejaram o programa.
Infelizmente, ao invés de seguir uma metodologia sistêmica que priorizasse algumas
cadeias produtivas em algumas regiões do país, caiu-se no crédito de balcão, nas pontas, sem
avaliação das cadeias produtivas. Como os recursos sempre são escassos, nunca será possível
83
atender satisfatoriamente a todos e, ao tentar fazê-lo indiscriminadamente, atomizam-se os
recursos, provocando desperdício e ocasionando efeitos produtivos e sociais pouco definidos.
Para o autor não se trata, portanto, de implementar políticas de curto prazo em função apenas de
objetivos sociais de ordem individual, mas de resgatar e fortalecer, entre outras coisas, as cadeias
produtivas que formam a coluna vertebral de um grupo de municípios, de forma a ganhar em
competitividade e poder, assim, combater a pobreza rural de forma efetiva.
2.4.2.2 Política Agrária
Para Giordano Delgado (2001, p.24):
A política agrária tem como objetivo tradicional intervir na estrutura da propriedade e
da posse da terra prevalecente no meio rural, através de sua transformação ou
regularização nas regiões onde a terra já foi historicamente apropriada privadamente
(política de reforma agrária) e de sua influência no processo de ocupação de novas
terras consideradas – pelas agências estatais ou pelos atores privados – como de
fronteira agrícola (política de colonização). Isso significa que política agrária é
eminentemente uma política estruturalde intervenção direta em estruturas existentes,
tendo em vista sua alteração ou consolidação – e delongo prazo, pois seus efeitos serão
plenamente percebidos apenas passados algum tempo após sua implementação .
A política agrária é uma política estrutural e de longo prazo, e está alicerçada na
concepção de que a propriedade da terra e sua posse são fatores especiais que condicionam a
estrutura da produção agrícola, as condições de reprodução dos grupos sociais e as relações de
poder no campo, além de determinar a distribuição de riqueza e da renda entre os diferentes tipos
de agricultores que coexistem no meio rural. Giordano Delgado (2001) destaca que a política
agrária é considerada um instrumento indispensável para que, em países como o Brasil, ocorra
um autêntico processo de desenvolvimento rural sustentado, e não unicamente um processo de
desenvolvimento agrícola.
A importância histórica da propriedade territorial no Brasil pode ser apreciada em três
momentos recentes. No período de 1850 através da promulgação da “Lei de Terras” foi
regularizado o acesso privado à terra. Este mecanismo, na prática, não permitia aos trabalhadores
acesso a este direito. Segundo Rückert (1997), a “Lei de Terras” representou a transição do
trabalho escravo para o trabalho livre, ou seja, foi construída pela preocupação com a questão da
força de trabalho na região cafeeira. Através desta lei o Estado conferia legitimidade à
84
propriedade da terra
41
. A lei projeta a solução da adoção do trabalho livre em substituição ao
escravo, porém dada a constante criação de obstáculos à propriedade rural, o trabalhador livre,
incapaz de adquirir terras, era forçado a trabalhar nas fazendas de café.
Na década de 1950 e no início da década seguinte surge o campesinato como ator
político, carregando a bandeira da Reforma Agrária e o fim do latifúndio, especialmente, nas
regiões mais atrasadas do Brasil. Ainda nesta década, o grande movimento entre políticos,
bispos, industriais e intelectuais, no sentido de diagnosticar as causas e os obstáculos ao
desenvolvimento econômico e social no Brasil, foi acompanhado pelos trabalhadores rurais, que
ganharam notoriedade através do surgimento das ligas camponesas no Nordeste. Há que se
destacar episódios precursores como o do Engenho da Galiléia em Pernambuco, a República
Socialista dos Trombas, no Maranhão e a Revolta Camponesa do Paraná em 1957.
Concomitantemente aos movimentos, foi notório o envolvimento e a mobilização da
Igreja Católica em uma ampla cruzada de conscientização pela organização sindical dos
trabalhadores rurais, questionando a existência de ilhas de prosperidade no Brasil (Sudeste e
Sul), junto a ilhas da miséria (notadamente Nordeste), entendidas como um problema
eminentemente político (MARTINS, 1994). Configura-se, neste contexto, um movimento em
prol de reformas estruturais
42
e reivindicações da reorientação do curso do desenvolvimento
econômico, que desemboca no regime militar, a partir de 1964.
Em 1965 com a instituição do Estatuto da Terra, os militares preconizaram critérios
detalhados para a desapropriação de terras, por uso e por extensão, entre terras desapropriáveis e
não-desapropriáveis, além da criação da categoria empresa rural, engendrando uma Reforma
Agrária orientada para a modernização econômica e para a aceleração do desenvolvimento do
capitalismo na agricultura.
Com o Estatuto da Terra, foram criadas políticas de ocupação, notoriamente através do
Banco da Amazônia e da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), que
preconizavam uma política de incentivos, atraindo empresas e empresários, sobretudo, da região
Sudeste para inserção na atividade agropecuária. O modelo brasileiro reforçou a irracionalidade
41
No Brasil uma ampla discussão sobre a questão agrária foi realizada partir da década de 1960. Destacam-se as
abordagens de Inácio Rangel, Caio Prado Jr., Alberto Passos Guimarães e Celso Furtado.
42
No governo João Goulart o Plano Trienal buscava como um dos pilares do plano a redução das desigualdades
regionais dos veis de vida. Em suas reformas encontrava-se a reforma agrária, e esta medida causava verdadeiro
pavor nos setores agrários tradicionais, corroborando com a falta de apoio ao plano e no período seguinte sendo
deflagrado o golpe militar de 1964 (MENDONÇA E PIRES, 2002).
85
da propriedade fundiária, através de aliança política e econômica entre o regime militar e os
grandes proprietários de terra
43
.
No período seguinte (governo Sarney) é criado o MIRAD (Ministério da Reforma e
Desenvolvimento Agrário) no qual pretensas desapropriações não eram, normalmente,
realizadas.
Notável retrocesso na política destinada à Reforma Agrária foi instituído pela
constituição de 1988 (Art.185), através do caráter dúbio no conceito de propriedade produtiva e
propriedade improdutiva, introduzindo uma ampla ambiguidade na definição das propriedades
sujeitas a Reforma Agrária, o que anulou os avanços do Estatuto da Terra, gerando uma
sistemática onda de despejos de ocupantes de terra (MARTINS, 1994).
O contexto rural na década de 1980 e na primeira metade da década de 1990 espelhou a
queda de postos de trabalho na agricultura e o aumento de famílias vivendo em acampamentos
do Movimento Sem Terra (MST), gerando uma situação de conflitos legalizados, ou seja, houve
a transferência da violência (palco nas décadas passadas) para uma situação de violência
legitimada, via despejos judiciais (CARVALHO FILHO, 2001).
Entre 1995 e 1998 os novos assentamentos agrários de agricultores sem terra, apoiados
pelo Programa de Reforma Agrária, atingiram cerca de 400 mil famílias no Brasil. No entanto, a
demanda por novos assentamentos por parte do “Movimento dos Sem Terrae pela CONTAG
(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), ultrapassavam os limites do governo
(DELGADO, 1999).
Rezende (2003) analisou o caráter especulativo da demanda por terras no país e a reforma
agrária. Das razões clássicas para especulação, como um sistema previdenciário falho e a busca
de diversificação a ativos do mercado financeiro, o autor ressaltou o caráter ocioso da maior
parte destas terras, pois o Estatuto da Terra permite a parceiros e arrendatários informais à
reclamação por direitos sobre a parcela utilizada. Segundo o autor, o Estatuto da Terra define
que as áreas com elevada incidência de arrendamentos ou parceiros são áreas prioritárias para
mecanismos de desapropriação e tributação das terras. A proposição do autor diz respeito a
43
Ações contra-revolucionárias foram realizadas até 1972 pelos militares (até a aniquilação da guerrilha do
Araguaia), e a partir de então forças privadas passam a realizar ações de extrema violência contra camponeses e
indígenas no período da abertura da rodovia transamazônica. Dado este cenário a Igreja Católica cria, em 1975, a
Comissão Pastoral da Terra e no início de 1980 na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil lança o documento
“Igreja e Problemas da Terra”. Para amenizar a situação o governo militar cria o Grupo Executivo das Terras do
Araguaia –Tocantins (GETAT) forçando acordos entre camponeses e proprietários (Martins, 1994).
86
retirada do viés antiarrendamento, presente na legislação, possibilitando assim que o pequeno
produtor acesse a terra.
2.4.2.3 Políticas ou Programas de Desenvolvimento Rural
Outra forma de intervenção do Estado, no meio rural, são as chamadas Políticas ou
Programas Diferenciados de Desenvolvimento Rural. As Políticas de Desenvolvimento Rural
têm buscado integrar as Políticas Agrícola e Agrária e consideram a especificidade dos
segmentos empobrecidos e não integrados do campesinato, visando o desenho de políticas que
atendam suas particularidades. Delgado (2001) aponta para a dificuldade de êxito de Programas
de Desenvolvimento Rural, dado o caráter urbano da maior parte da população, em um cenário
de dinamismo da economia ligada fortemente à indústria e com uma agricultura agroindustrial
complexa, que historicamente exclui os pequenos produtores e o campesinato neste contexto.
Carvalho Filho (2001) afirma que o Desenvolvimento Rural não pode ser entendido
somente como modernização tecnológica e crescimento da produção, mas igualmente significa a
distribuição e a redução das desigualdades entre pessoas e regiões. Para o autor, o trato do
desenvolvimento rural
44
deve estar inserido na questão do Desenvolvimento Econômico e Social
do país.
A preocupação com a sustentabilidade pelo desenvolvimento rural emerge
concomitantemente a um novo padrão encontrado no rural. Nesta óptica, é importante relembrar
que, durante a década da de 1990, pesquisas revelaram a existência de um outro rural no Brasil,
um rural que foi marcado por uma variedade de atividades essencialmente não-agrícolas
45
. A
partir destes resultados surgem propostas de políticas públicas, através de Projetos, Programas,
ou, até mesmo, de grupos ligados a Organizações de ordens diversas (ONGs), que procuram
contemplar as novas variáveis do novo mundo rural.
Os programas e projetos de Desenvolvimento Rural estão segmentados em nível
internacional, nacional, estadual e municipal. A interlocução entre continentes, países, e regiões
44
Para uma análise dos principias conceitos sobre desenvolvimento rural e suas perspectivas ver Navarro (2001).
45
Ver por exemplo, Graziano da Silva, J. e Del Grossi, M. E Campanhola,C. (2002), e Schneider (2003).
87
mostram, em certo sentido, que as preocupações são “globais” e afetam da mesma forma muitas
comunidades, em diferentes partes do globo, como por exemplo, situações de pobreza rural, falta
de cuidado com comunidades tradicionais, precariedade de pequenos produtores alheios a
recursos básicos para sua subsistência e assim por diante.
São engendradas ações que têm interligado diferentes instâncias ou veis de poder.
Citam-se, por exemplo, Programas do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento) o qual executa, na área do Desenvolvimento Rural, projetos, como, por
exemplo, o Projeto de Cooperação Técnica para o Fortalecimento da Gestão dos Conselheiros de
Desenvolvimento Local Sustentável (PNUD, 2006).
Outras ações estão mais estreitamente envolvidas no aperfeiçoamento das políticas de
Desenvolvimento Rural. Por exemplo, os estudos do NEAD (Núcleo de Estudos Agrários e
Desenvolvimento Rural) que através de projetos de cooperação técnica entre o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Instituto Interamericano de Cooperação para Agricultura
(IICA) realiza ações de promoção de estudos e pesquisas para avaliar e aperfeiçoar políticas
públicas voltadas à reforma agrária, agricultura familiar e para o Desenvolvimento Rural
sustentável.
Nacionalmente destacam-se as inúmeras ações do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), que buscam a criação de oportunidades para que as populações rurais alcancem
plena cidadania. Outras ações, como por exemplo, ligadas a Programas de vulto, como é o caso
dos Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural - CMDRs (PRONAf), objetiva a discussão
de critérios de políticas de Desenvolvimento Rural que não estejam estritamente ligadas à
produção agrícola.
No que diz respeito às formas de diagnósticos da problemática do desenvolvimento rural,
emergem novas alternativas teóricas, que vão além da análise da organização produtiva,
interrogando-se as relações de dominação, entre os diferentes atores, o papel das novas
instituições, assim como novos padrões de regulação
46
.
É sabido que a temática ligada ao desenvolvimento rural certamente enfrenta dificuldades
nas políticas propostas, porém enfatiza-se que está ocorrendo, no Brasil, uma evolução destas
políticas, que além do caráter agrícola consideram outros setores que coexistem no rural do país.
46
Ver por exemplo a análise de Redes (DIAS E SILVEIRA, 2005), a teoria do ator-rede e as análises que utilizam a
teoria dos arranjos produtivos locais.
88
2.4.3 Política Social da Previdência Rural no Brasil
O Sistema de Assistência Social aos Idosos e Inválidos no setor rural inicia, no Brasil, a
partir de 1972 com o Programa de Assistência do Trabalhador (PRORURAL) e com o Fundo de
Assistência e Previdência do Trabalhador Rural (FUNRURAL). Este sistema assistia os
trabalhadores rurais, pescadores e garimpeiros, oferecendo benefícios precários de aposentadoria
por idade, aos 65 anos, limitados ao cabeça do casal e tendo como teto meio salário mínimo. A
constituição brasileira, a partir de 1988, implanta o regime de Universalização de Atendimento a
Idosos e Inválidos de todos os sexos, incluindo no sistema o setor rural informal.
Perante um quadro de desorganização econômica e social do setor rural brasileiro, ao
término do período de intervenção do Estado, é imposta ao setor uma nova conjuntura, pouco
clara, configurada pela estagnação do agronegócio na década de 1990 e o crescimento de uma
agricultura composta pela produção familiar, com forte presença de uma economia de
subsistência. É neste contexto que ampliam-se os direitos sociais preconizados pela constituição
de 1988
47
, em especial, o princípio do acesso universal a previdência social.
Para Zimmermann (2005) a universalização da previdência rural foi uma das políticas
públicas que ganhou notoriedade nos últimos anos. A previdência rural brasileira surpreendeu,
através de uma movimentação contrária à tendência internacional, e praticamente universalizou a
cobertura do setor nos anos de 1990. Criou-se o segurado especial, que incorpora à previdência
social o amplo universo de agricultores familiares, autônomos e seus auxiliares familiares. O
programa de maior abrangência foi à instituição da aposentadoria rural por idade, que
atualmente beneficia mais de 4 dos mais de 16 milhões de trabalhadores rurais.
47
Art. 195, § 8, Constituição Federal de 1988. As principais mudanças normativas ocorridas a partir da Constituição
de 1988, e que tiveram efetiva aplicação administrativa a partir de 1992, foram as seguintes: a) equiparação de
condições de acesso para homens e mulheres (o antigo regime era específico para o cabeça do casal); b) redução do
limite de idade para aposentadoria por idade (60 anos para homens e 55 para mulheres); e c) estabelecimento de um
piso de aposentadorias e pensões em um salário nimo, pois o regime anterior estabelecia teto em meio salário
mínimo para o público do Funrural e pensões limitadas a 30% do benefício principal (Delgado e Cardoso Jr., 1999).
89
Delgado e Cardoso Jr
48
(2001) chamaram a atenção para o caráter pioneiro da
redistribuição de renda a um importante segmento da população, originário do campo e
historicamente excluído das conquistas sociais do país. Os autores, ao realizarem em 1998, uma
pesquisa junto a seis mil domicílios das regiões Sul e Nordeste do Brasil, concluíram que a renda
domiciliar das famílias contempladas com o seguro-previdenciário está em média 16% acima da
renda domiciliar das famílias sem acesso aos benefícios do INSS. Segundo os autores, o seguro-
previdenciário permite manter cerca de 85% das famílias pesquisadas na região Sul e 62% das
famílias pesquisadas na região Nordeste acima da condição de pobreza, tendo como base um
salário mínimo per capita.
Quanto à avaliação dos resultados da previdência rural
49
no atendimento de idosos e
inválidos, Delgado e Cardoso Jr. (1999), através de uma metodologia aplicada a uma amostra
direta de segurados, destacaram o novo papel dos idosos na economia familiar, com o desenho
de diferentes estratégias de reprodução econômico-social nos domicílios atingidos pelo seguro
previdenciário. Os autores destacam:
a) em princípio, se imagina o benefício dos aposentados por idade (ou invalidez) como
o meio de subsistência garantido para suprir as necessidades vitais de subsistência dos
inativos e de seus dependentes diretos. Esse resultado, pode-se dizer, é alcançado na
esmagadora maioria dos domicílios pesquisados (88%), que se situam acima de uma
dada linha de pobreza, com renda domiciliar per capita maior do que meio salário
mínimo;1 b) [...] é sua função viabilizadora da produção familiar, na qual os
aposentados continuam vinculados a estabelecimentos rurais familiares na condição de
responsáveis, que é a situação da metade dos domicílios pesquisados. Essa viabilização
se dá de duas maneiras:
a) utilizando-se o benefício previdenciário como meio de produção familiar; e b)
conferindo-se ao seguro previdenciário a condição de seguro agrícola, dirigido a
público específico, agora desonerado dos altos riscos inerentes à produção e à renda
agrícola. Aqui, o seguro previdenciário funciona não apenas como seguro de
subsistência, mas também como seguro de produção familiar. Esse grupo social, que é
o mais numeroso (cerca de 50% da amostra), apresenta excedente de renda sobre o
consumo de subsistência e aplica esse excedente na reprodução do estabelecimento
familiar; e c) uma terceira via de inserção dos aposentados na economia familiar é
mediante ocupação remunerada ou não-remunerada, situação na qual encontramos
48
Texto referente ao estudo realizado em 1998 intitulado: Universalização de direitos sociais no Brasil: a
previdência rural nos anos 90”.
49
Delgado em estudo anterior intitulado “Previdência rural: relatório de avaliação socioeconômica”, realizado em
1997, detectou um aumento significativo da taxa de cobertura do sistema , medido pelo público assistido em relação
ao público potencial, a inclusão de mulheres rurais em condições mais favoráveis , compensando os limites
excludentes das regras precedentes do Funrural e a elevação significativa da renda domiciliar ao público beneficiário
incidindo tais efeitos sobre uma população em geral muito pobre, residente na zona rural ou em área microurbana
contígua (município com até 50 mil habitantes).
90
35% dos 3 mil aposentados e pensionistas escolhidos aleatoriamente na amostra de
domicílios pesquisados na região Sul. A ocupação, por outro lado, somente de maneira
marginal se no mercado de trabalho rural ou urbano, mas sim majoritariamente nas
atividades por conta própria que servem à complementação da renda da família dos
aposentados. (p. 9)
Outro resultado relevante refere-se às relações entre a política social previdenciária rural
e o estudo da pobreza.
50
A partir de 1992, após a universalização do sistema de previdência
social, este instrumento tornou-se altamente eficaz no combate à pobreza. O impacto da
previdência sobre a renda dos domicílios é altamente significativo, configurando uma espécie de
seguro de renda ao produtor, bem como assumindo o papel de seguro de subsistência ao
agricultor completamente inativo. Além disso, contribui para geração de melhorias nas
características físicas do domicílio, elevando o número de residências com acesso a
infraestruturas de água, energia elétrica, instalação sanitária e rede de telefonia, além de
aumentar o acesso à casa própria e a bens duráveis.
Por fim é importante ressaltar que esta seção (itens 2.3 e 2.4) explorou as principais
Políticas Públicas aplicadas à agricultura no país. Aparentemente até a década de 1930
prevaleceram mecanismos macroeconômicos de controle de produção pelo Estado. Em seguida,
nas décadas de 1940 e 1950, inicia-se a criação de instrumentos próprios ao setor agrícola
(criação do sistema de preços mínimos e do CREAI).
Nas décadas de 1960 e 1980, o SNCR assume a função de “modernizara agricultura no
Brasil. Esta fase, sem dúvidas, alavancou a produção, consolidou diferentes cadeias no
agronegócio, além de gerar um padrão dito “eficiente” na economia agrícola. Porém esse
sistema também gerou fortes desigualdades, favorecendo culturas de exportação e grandes
empresas agrícolas.
Nas décadas seguintes, o padrão de crédito modifica-se, assumindo um caráter mais
seletivo e com menos recursos oficiais do governo, dada a situação internacional e a crise interna
do país.
Recentemente (durante a década de 1990) descobriu-se que a agricultura apresentava uma
diversificação de atividades, muitas das quais classificadas como não-agrícolas, evidenciando
um novo rural a ser explorado. A este cenário perfila-se um contingente, cada vez maior, de
produtores familiares (com diferenças marcantes em suas estruturas de produção) que necessitam
50
Através do estudo “Experiências Exitosas de Combate a Pobreza Rural: Lições para Reorientação de Políticas”
de autoria de Delgado (1998).
91
de políticas apropriadas. Verifica-se igualmente a tentativa de organização de políticas para os
setores desfavorecidos da sociedade rural, como, por exemplo, o campesinato e os pobres rurais.
Emergem análises que consideram o rural mais “descolado” do agrícola, em sentido
amplo, o que não é privilégio do Brasil, visto que os problemas ligados ao rural têm causas
externas e internas em inúmeras nações. Concomitantemente a isto, surgem novas formas de
organização no campo, apoiadas em programas específicos à agricultura familiar, redes de
cooperação, novos modelos de associativismo e planos locais de desenvolvimento, buscando
suavizar os efeitos perversos do novo cenário da agricultura no Brasil.
Um ponto que deve ser observado, na análise de políticas públicas, é a influência de um
contexto global, caracterizado por fatores como a internacionalização econômica, a abertura
comercial e as novas formas organizacionais e de arranjos produtivos no espaço rural. Este
cuidado é necessário, pois as mudanças de caráter global ao mesmo tempo que incluem
determinadas plantas produtivas, gerando um aparente aumento de receita e tributos, também
marginalizam amplos setores sem condições de adaptação ao novo padrão no meio rural.
É oportuno reiterar a necessidade de incorporação, ao estudo de políticas públicas para a
agricultura, todos os níveis de intervenção (internacionais, nacionais, municipais e locais),
governamentais e não governamentais, pois as políticas apresentam-se em constante
transformação em relação a suas ações ao longo da história recente.
Este capítulo, através da apresentação da teoria dos sistemas agrários, das tipologias de
sistemas de produção e de modelos de estudo de trajetórias, objetivou, sobretudo, subsidiar o
estudo à construção de um modelo que englobasse os fatores externos e internos que impactaram
na trajetória das unidades de produção do município de Passo Fundo. Com a modernização da
agricultura brasileira, representada pela integração dos produtores a complexos agroindustriais,
uso intensivo de insumos, motomecanização e técnicas sofisticadas de cultivo e criação, tornou-
se necessário neste estudo, a análise dos principais instrumentos que conceberam as condições
necessárias ao desenvolvimento destes processos no campo. Nesse sentido, nesta etapa do
estudo, objetivou-se aproximar o tema “trajetória” com a evolução dos principais mecanismos
modernizantes (políticas, programas, projetos, carteiras agrícolas, entre outros) que impactaram
na agricultura, concomitantemente a compreensão da história agrária e da evolução dos sistemas
de produção implementados ao longo do tempo na unidades de produção de Passo Fundo.
92
3 QUESTÕES METODOLÓGICAS E OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA
A teoria da evolução dos sistemas agrários permite representar as incessantes
transformações da agricultura de uma região, com uma sucessão de sistemas distintos que
constituem outras tantas etapas de uma série histórica. A teoria resgata as etapas da história rural
das reges, transcrevendo os grandes momentos em que um sistema agrário se esgota e cede
terreno para que outro sistema se desenvolva segundo novas dinâmicas agrícolas (MAZOYER E
ROUDART, 1998). Sobre a dinâmica dos processos de mudança e o consequente
desenvolvimento dos distintos sistemas agrários, Mazoyer e Roudart destacam:
O desenvolvimento de um Sistema Agrário resulta da dinâmica de suas unidades de
produção. Dizemos que desenvolvimento geral quando todos os tipos de
explorações progridem, adquirindo novos meios de produção, desenvolvendo suas
atividades, aumentando suas dimensões econômicas e os seus produtos. O
desenvolvimento é desigual, quando algumas unidades progridem maior mais depressa
do que outras; é contraditório, quando algumas unidades progridem enquanto outras
estão em crise e regridem. A crise de um Sistema Agrário é geral, quando todos os
tipos de unidades de produção regridem e tendem a desaparecer (1998, p. 42).
A teoria, ao subsidiar a noção de desenvolvimento, torna-se vantajosa porque abrange,
quando necessário, temas como pluriatividade, pobreza rural, acesso a mercados,
sustentabilidade, políticas públicas para a agricultura entre outros. As transformações da
realidade agrária do município de Passo Fundo foram analisadas com ferramentas oriundas da
teoria dos sistemas agrários.
A análise dos grandes sistemas agrários pode ser realizada em conjunto com outros
conceitos que auxiliem na segmentação de determinada realidade agrária em menores níveis de
análise. Nesse sentido, o estudo procedeu a construção de um modelo tipológico de análise tendo
como locus empírico a área rural do município de Passo Fundo.
A construção de tipologias para unidades de produção evidencia as diferenças observadas
nas unidades classificadas, além de possibilitar a análise da diversidade de critérios de gestão
adotados pelos produtores em seus sistemas de produção (DUFUMIER, 1995). Os modelos
tipológicos são configurados de acordo com a evolução das atividades agrícolas, categorias
93
sociais de produtores, recursos técnicos e políticas de Estado para a agricultura. Segundo
Dufumier:
A análise de tipos de produtores deve ser efetuada em etapas sucessivas que comecem
com níveis mais amplos (país, estado e Regiões), para terminar em níveis mais
específicos e menores como, por exemplo, propriedade. Em cada uma das etapas são
enfatizadas as interações entre os fenômenos cnicos, ecológicos e econômicos. É
conferida grande importância a evolução histórica no intuito de identificar os
mecanismos de diferenciação e relações de causalidade (1995, p.75).
Dessa forma, podem-se definir com precisão os pontos similares que coloca lado a lado
determinadas unidades produtivas e, assim, melhor conhecer a segmentação produtiva de cada
região. Igualmente, observam-se as principais diferenças ou contradições existentes (técnicas,
econômicas e sociais) na área rural trabalhada. Para Dufumier:
Busca-se estratitifcar a realidade, reiteradamente observada, em conjuntos
relativamente homogêneos e contrastantes. A informação recopilada em cada um dos
níveis é permanentemente interpretada a luz dos fenômenos evidenciados em etapas
anteriores, a síntese e quantificações finais se fazem em níveis mais gerais. Este
processo desemboca em um texto coerente em que se precisam e hierarquizam as
potencialidades do desenvolvimento agrícola (1995, p.75).
Portanto, os modelos tipológicos (ou tipologias) permitem a construção de cenários nos
quais se encontram as unidades de produção. Ao agrupar as propriedades de acordo com o
sistema de produção que praticam, por exemplo, o sistema produtivo vigente aparece como uma
combinação particular de um mero limitado de tipos de explorações definidos técnica,
econômica e socialmente. A trajetória de acumulação (negativa ou positiva) é fundamental para a
definição da tipologia da realidade, para que a dinâmica possa ser explicada coerentemente. As
diferenças que levam a distintas trajetórias na região ou localidades pesquisadas são analisadas
de acordo com as interações entre as unidades produtivas e os cenários socioeconômicos como,
por exemplo, comercialização agrícola, acesso a crédito e renda. A análise dos sistemas agrários,
aliados ao quadro tipológico de determinadas unidades, amplia as variáveis necessárias à análise
94
dos processos que contribuíram para a evolução das unidades de acordo com o contexto no qual
estão inseridas.
Na análise tipológica um conceito que se mostra frequente é o de sistema de produção. O
sistema de produção apresenta-se como um método para o estudo das unidades de produção
agrícola, permitindo descrevê-las do ponto de vista agroeconômico. Caracteriza-se pela
possibilidade da análise da produção, das relações com o exterior e da história da propriedade,
apresentando-se como um instrumento metodológico apropriado para a construção de modelos
tipológicos aplicados ao meio rural (DUFUMIER, 1996).
Os sistemas de produção são normalmente investigados em nível de propriedades
agrícolas e são definidos como sistemas apropriados para os objetivos da família, composto por
suas necessidades, nível de renda almejado e modo de vida desejado, em constante confronto
com um conjunto de limitações. Formam-se diferentes encadeamentos entre os tomadores de
decisão familiares, visando o alcance de um ou de vários objetivos que gerenciam os processos
de produção e que podem se caracterizar por diversos fluxos (de dinheiro, de materiais, de
informações e de trabalho) na propriedade. Essas interrelações se dão tanto no seio da
propriedade, como em suas ligações com variáveis exteriores a ela (DUFUMIER, 1996).
A caracterização dos sistemas de produção igualmente assinala a diversidade de
atividades e de tecnologias utilizadas nos distintos sistemas nas propriedades, explicando as
diferenças observadas segundo os meios físicos e financeiros de que dispõem os produtores, o
que permite uma melhor representação das condições em que se dão esses sistemas e dessa
forma, concebendo e disseminando as soluções e os ensaios necessários e adequados à situação
de cada um dos distintos tipos de produtores (DUFUMIER, 1996).
A escolha da teoria dos sistemas agrários, como suporte aos procedimentos técnicos e
operacionais da pesquisa, deu-se, sobretudo, em razão de a abordagem privilegiar as tendências
históricas das grandes mudanças dos sistemas, as interações entre diferentes sistemas, seus
funcionamentos e os processos dinâmicos que alteram os sistemas e seus subsistemas menores.
Além disso, para a análise das trajetórias das unidades de produção agrícola da área rural de
Passo Fundo, centralidade do estudo, foram utilizados conceitos consolidados da abordagem
(sistemas agrários, sistemas de produção e tipologias) e, também, estudos correlatos, que
subsidiaram a construção de um esquema metodológico próprio, necessário ao alcance dos
objetivos desta tese. Esta proposta metodológica é apresentada nos itens seguintes.
95
3.1 Operacionalização da Pesquisa
A operacionalização das variáveis do estudo respeitou cinco etapas distintas:
procedimentos adotados para a análise da evolução da agricultura no município de Passo Fundo
(item 3.1.1); realização de uma pré-tipologia da região em estudo e dos sistemas produtivos das
propriedades agrícolas da área rural do município (item 3.1.2); construção de um modelo
tipológico das unidades de produção agrícolas do rural (item 3.1.3) e, por fim, análise da
trajetória de evolução de cinco unidades representativas dos tipos de sistemas de produção
identificados na área rural (item 3.1.4).
3.1.1 Procedimentos Adotados para a Análise da Evolução da Agricultura no Município de Passo
Fundo
Para a compreensão da evolução da agricultura do município de Passo Fundo, num
primeiro momento, analisou-se a história agrária do Planalto Médio do Estado, região à qual o
Município pertence até os dias atuais. O período de análise foi definido a partir dos elementos de
formação da região do Planalto Médio, através dos sistemas agrários indígena, pecuária e
colonial, com especial atenção para o período de início do processo de modernização da
agricultura no Brasil (a partir da década de 1950) até o tempo presente. Esta etapa contribuiu
para correlacionar os principais momentos do processo de evolução agrícola regional/local e os
distintos sistemas de produção implementados pelos produtores rurais da região.
96
a) Variáveis Propostas
O Quadro 1 apresenta as variáveis e os indicadores utilizados para a caracterização e
análise da evolução e diferenciação dos sistemas agrários no Planalto Médio do estado do
Rio Grande do Sul.
Quadro 1: Variáveis e indicadores da análise da evolução e diferenciação dos sistemas agrários da
região do Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul.
Conceito
Variável Indicador
O meio cultivado Desc
rição das atividades agroflorestais e de transformação
em cada sistema.
Os instrumentos de produção
(materiais e força de trabalho)
Caracterização dos instrumentos e equipamentos adotados.
Análise das relações entre mão-de-obra e tecnologia.
O modo de
artificialização do
meio
Analisar as formas de apropriação do meio entre os
diferentes cultivos, atividades de criação e atividades não
agrícolas.
Avaliar as formas de acesso fundiário;
Avaliar as categorias sociais ligadas à agricultura ao longo
do tempo.
Divisão social do trabalho Caracterização da mão-de-obra na região.
Os excedentes agrícolas e as
relações de troca com outros
atores sociais
Avaliar a evolução das formas de troca e os meios de
comercialização dos produtos agrícolas.
O conju
nto de idéias e
instituições que permitem
assegurar a reprodução social
Analisar o papel do Estado em relação à agricultura durante
o período das transformações dos principais sistemas.
Sistemas
Agrários
Ambiente produtivo (dados
oficiais)
Analisar, através de dados oficiais as características de
produção, área dos estabelecimentos, utilização das terras,
associação a cooperativas, efetivos da pecuária, aves,
produção de origem animal, investimentos, financiamentos
e transformação ou beneficiamento de produtos agrícolas
na região.
Fontes: Variáveis adaptadas pelo autor com base em Mazoyer (1985) e Mazoyer e Roudart (1998).
Cabe destacar que a história agrária do município de Passo Fundo está associada à história
do Planalto Médio do Estado. Esta etapa do estudo permite analisar como as transformações na
realidade agrária do Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul, ao longo do tempo,
impactaram as unidades de produção agrícola do município de Passo Fundo.
97
b) Fonte de dados
A fonte de dados, para esta etapa do trabalho, esteve embasada em fontes estatísticas e em
documentos teóricos, descritos a seguir:
- Fontes estatísticas Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Fundação de
Economia e Estatística (FEE), Cartas eletrônicas (mapas), entre outras;
- Documentos teóricos - Obras literárias relacionadas à análise da ocupação e formação da
região, obras literárias ligadas à caracterização de aspectos socioeconômicos da região e
demais documentos ligados ao tema e à região que possibilitem a ampliação dos dados da
pesquisa.
3.1.2 Pré-tipologia das unidades de produção da área rural do município de Passo Fundo
O processo de construção tipológica iniciou com uma pré-tipologia das unidades de
produção de Passo Fundo, através de uma pesquisa exploratória aplicada a agentes envolvidos
com a agricultura da região. Os procedimentos adotados, nesta etapa, estão descritos a seguir.
a) A Percepção dos Agentes ligados ao Setor Agrícola
Os atores arguidos durante o processo de construção da pré-tipologia foram denominados
informantes-chave, selecionados pelo seu significativo envolvimento técnico com a
agricultura na região do Planalto Médio e, especialmente, em Passo Fundo. Foram
entrevistados os seguintes informantes:
- Engenheiro-agrônomo da Emater, responsável pelo gerenciamento do escritório
regional e escritório de Passo Fundo desta instituição;
- Técnico agrícola da Emater, responsável pelo suporte técnico às propriedades agrícolas
na área rural do município de Passo Fundo;
- Engenheiro agrônomo representante da Cooperativa Cotrijal, que atua nas unidades de
produção do município de Passo Fundo e região;
- Técnico agrícola da Cooperativa Cotrijal, responsável pelo atendimento a propriedades
agrícolas especificamente na área rural do município de Passo Fundo;
98
- Pesquisador da Embrapa Trigo unidade de Passo Fundo, responsável por projetos -
ligados a sistemas de produção de grãos na região;
- Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passo Fundo e Região;
- Assistente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passo Fundo e Região, responsável
por realizar assistência técnica no sindicato e nas propriedades rurais de Passo Fundo;
- Representante regional do Sicredi para atender a região e o município de Passo Fundo,
responsável pela análise de modalidades de financiamento agrícola via sistema Sicredi;
- Representante do Sicredi Passo Fundo, responsável pelo atendimento a produtores de
Passo Fundo no que tange à assistência técnica acerca de projetos de financiamentos à
agricultura;
- Presidente do Sindicato Rural do município de Passo Fundo – categoria empregadores;
- Produtores rurais ligados aos sindicatos (categorias empregadores e trabalhadores
rurais);
- Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em História Regional da
Universidade de Passo Fundo;
- Representante do IBGE, unidade de Passo Fundo;
- Subprefeitos dos quatro distritos que compõem a área agrícola do município de Passo
Fundo (Bela Vista, Pulador, São Roque e Bom Recreio).
As entrevistas realizadas com estes informantes-chave foram pautadas em dois pontos
principais: (i) identificação de elementos e eventos que contribuíram para as mudanças na
estrutura produtiva e técnica ao longo das últimas décadas na região do Planalto Médio e
especialmente no município de Passo Fundo e (ii) composição da estrutura produtiva (sistemas
de produção) das propriedades rurais atualmente existentes na área agrícola de Passo Fundo. A
técnica de pesquisa aplicada foi composta por entrevistas do tipo estruturada, com auxílio de um
questionário contendo questões pertinentes aos temas destacados acima (APÊNDICE 1).
b) Resultados da Pré-Tipologia
A confirmação dos resultados encontrados pela pré-tipologia foi realizada através de
novo contato com os informantes-chave. Nesta fase da pesquisa, sete grandes sistemas de
99
produção foram identificados nas unidades de produção da área rural do município de
Passo Fundo. São eles:
Sistema de Produção 1 - Caracteriza-se por apresentar propriedades com área entre 100
a 200 há, produzindo basicamente grãos, notadamente soja e milho. Este sistema é
bastante dependente da soja e possui um aparato tecnológico avançado. A mão-de-obra é
familiar, ocorrendo apenas eventualmente contratações externas a unidade.
Sistema de Produção 2 Nestas propriedades, com área entre 20 e 50 ha e mão-de-obra
familiar, pratica-se a produção de soja associada à produção de milho, em conjunto com a
atividade leiteira. A perspectiva de evolução deste sistema foi fortemente atrelada ao
ingresso de indústria do setor leiteiro e de embutidos na região e município.
Sistema de Produção 3 Composto por pequenas propriedades rurais, com área de até 10
ha, que têm na produção de horticultura sua centralidade. A mão-de-obra é totalmente
familiar, alocada na horticultura e na produção de soja e milho em pequenas áreas ociosas
das propriedades. Para este sistema, são fundamentais as feiras de comercialização de
produtos de horta realizadas em Passo Fundo, que movimentam mais de cem produtores
de hortifruticultura, oriundos, em sua maioria, da área rural de Passo Fundo.
Sistema de Produção 4 Propriedades com cerca de 10 a 15 ha que produzem soja e
milho e também praticam a atividade leiteira, utilizando mão-de-obra familiar. Muitas
unidades também possuem aviários, no sistema de integração com a indústria.
Sistema de Produção 5 Segundo os informantes-chave, este sistema de produção
contempla os produtores rurais com as melhores condições socioeconômicas de Passo
Fundo. As áreas possuem, em média, 50 a 100 ha e a atividade principal é a rotação de
culturas de inverno e verão, notadamente a combinação soja e milho (verão) e aveia e
trigo (inverno). forte aporte tecnológico em significativa parte destas unidades de
produção. Além disso, a criação de ovinos vem sendo incorporada nas propriedades
rurais pertencentes a este sistema de produção.
Sistema de Produção 6 Caracterizado pela plantação de soja e criação de ovinos. A
mão-de-obra é familiar, havendo, eventualmente, atividades de reflorestamento em
grandes áreas. As propriedades rurais pertencentes a este sistema de produção possuem
áreas superiores a 200 ha.
100
Sistema de Produção 7 Envolve a criação de gado associado com a cultura da soja.
Mão-de-obra familiar com a incidência de alguns aviários integrados à indústria,
desenvolvendo ainda, a produção de ovos.
A seguir (Quadro 2) é apresentada uma síntese dos sete sistemas de produção
identificados pela pré-tipologia realizada com os informantes-chave.
Quadro 2 - Síntese dos diferentes tipos de unidades produtivas de Passo Fundo na ótica dos
sistemas de produção – Pré-tipologia preliminar, 2008.
Sistema Características Principais
Sistema 1 70/200 hectares; Soja+Milho; M.o F.
Sistema 2 20/50 hectares; soja+milho+ leite; M.ºF
Sistema 3 Até 10 hectares; Horta +soja; M.º F
Sistema 4 Até 10 a 15hectares; soja+milho+aves+leite;M.ºF
Sistema 5 50/100 hectares; soja+milho+aveia+trigo+ovino
Sistema 6 Até 200 hectares; Ovino+soja+ reflorestamento
Sistema 7 Ovinocultura +soja+ aviários e Produção de ovos
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Obs: M.ºF = Mão-de-obra familiar
Ressalta-se que esta fase precedeu à construção do modelo tipológico das unidades
localizadas na área rural do município de Passo Fundo. O período de realização das entrevistas
com os informantes-chave ocorreu durante os meses de maio e junho do ano de 2008.
101
3.1.3 Tipologia dos Sistemas de Produção Implementados nas Unidades de Produção de Passo
Fundo
O estudo apropriou-se de um modelo tipológico para validar o quadro produtivo das
propriedades da área rural do município de Passo Fundo. A hipótese normalmente levantada, que
embasa grande parte deste tipo de modelo, é a existência de certa diversidade de categorias de
produtores que não dispõem, necessariamente, dos mesmos meios materiais e financeiros,
podendo muitas vezes trabalhar em condições socioeconômicas desiguais (DUFUMIER, 2007).
Para o autor:
A elaboração das tipologias das propriedades agrícolas em determinadas regiões tem
como finalidade mostrar como as diversas categorias de agricultores praticam
diferentes sistemas de produção, de acordo com os recursos que dispõem e a natureza
das relações sociais no contexto em que operam (p.27).
A definição das variáveis e indicadores pertencentes ao modelo tipológico foi ajustada de
acordo com a problemática da pesquisa. Neste estudo esta escolha se ancorou nos fatores
percebidos como relevantes em relação à evolução da agricultura na região e às consequências
para os produtores e os sistemas de produção implementados nas unidades produtivas de Passo
Fundo. Nesse sentido, os informantes-chave, entrevistados na etapa pré-tipológica, contribuíram
fortemente para a explanação de uma série de fatores que pesaram na escolha das variáveis
investigadas nas unidades.
Um cuidado adicional nesta fase foi evidenciar o objetivo central deste estudo - trajetória
das unidades de produção através da incorporação de variáveis e indicadores que revelassem
informações desta natureza. A partir da arguição feita aos produtores, acerca da história e da
reconstituição dos principais momentos da evolução da unidade de produção (principais etapas
através das quais certos produtores puderam adquirir novas áreas e novos meios de produção e as
razões pelas quais isso não foi possível a todas categorias de produtores), o estudo compreendeu
como as unidades de produção tornaram-se objeto de uma acumulação muito desigual de capital
e como os sistemas de produção aí praticados se diferenciam, objetivando a distinção das
trajetórias de evolução dos produtores entrevistados em suas unidades de produção.
102
Dessa forma, minimizou-se as críticas a modelos desta natureza no tocante à falta de
critério na definição de indicadores e, sobretudo, ao caráter estático de tais modelos. A seguir são
apresentados o modelo tipológico, as variáveis, os indicadores e as técnicas de pesquisa
empregadas na pesquisa.
3.1.3.1 Modelo Tipológico
A construção tipológica foi realizada pela distinção das unidades em diferentes categorias
(Tipos), analisando as práticas dos sistemas de produção em conjunto com as etapas da evolução
das unidades pesquisadas. Para tanto, a pesquisa apoiou-se no modelo de “categorias de
produtores e tipologias de sistemas de produção agrícola” proposto por Dufumier (2007), em
associação com elementos de classificação tipológica que incorporam as chamadas “tipologias
de trajetórias” de Berdegué e Escobar (1990) e também nas análises de Sebillotte e Capillon
(1980) e Perrot e Landais (1993).
A técnica de estudo de campo foi empregada nas unidades de produção da área rural de
Passo Fundo, com a realização de entrevistas estruturadas com cada produtor responsável pela
unidade de produção. Nesta etapa utilizou-se um formulário (APÊNDICE 2), que contemplou as
variáveis e os indicadores propostos.
O processo das entrevistas aos produtores avançou com a aplicação de sucessivas
entrevistas, objetivando a busca, à exaustão, dos sistemas de produção ou tipos que representam
a área rural de Passo Fundo. Para atingir este objetivo, foi necessário a realização de 81
entrevistas. O período de realização das entrevistas com os produtores rurais, em suas unidades
de produção, na área rural de Passo Fundo, ocorreu durante os meses de setembro a novembro do
ano de 2008.
a) Variáveis e indicadores propostos para a pesquisa de campo nas unidades de produção
da área rural de Passo Fundo:
Foram selecionados dois grupos de variáveis. O primeiro grupo (Quadro 3) contemplou
variáveis e indicadores ligados a aspectos da estrutura produtiva das unidades de
produção investigadas na área rural.
103
Quadro 3 - Variáveis e indicadores da caracterização produtiva das unidades de produção
da área rural de Passo Fundo.
VARIÁVEIS INDICADORES
Área Posse da terra (em ha).
Atividades realizadas na unidade de produção Área (ha), faturamento, comercialização (externa,
consumo na unidade) por tipo de culturas, tipo de
criação e outras atividades.
Receitas de outras atividades
Valor e tipo de receita.
Financiamento Valor e tipo de financiamento.
Mão-de-obra Modalidade, idade, número de pessoas, escolaridade e
funções por tipo de mão-de-obra.
Máquinas, equipamentos e benfeitorias
Tipo, quantidade e estado das máquinas,
equipamentos e benfeitorias.
Permanência dos filhos na unidade Número de filhos que residem na unidade de
produção, escolaridade dos filhos e intenções de
permanência nas atividades vinculadas a unidade de
produção.
Objetivos do Produtor quanto à unidade de
produção
Permanência do produtor e suas intenções em relação
à unidade de produção.
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
No segundo grupo foram selecionadas variáveis e indicadores que permitissem evidenciar
a história recente das unidades produtivas, as mudanças em seus recursos de produção, a
composição familiar, a composição de mão-de-obra, a tecnologia, o uso de políticas de Estado,
entre outros (Quadro 04).
Quadro 4 - Variáveis e indicadores da reconstituição histórica das unidades de produção
da área rural do município de Passo Fundo.
VARIÁVEIS INDICADORES
História da propriedade Relato do período e razões para o início das atividades na unidade
de produção.
Reconstituição dos principais momentos da
evolução da unidade durante o período de 1970
Modificações sofridas pela unidade (área, sistema produtivo, mão-
de-obra, atividades..).
Área.
Atividades produtivas (em relação a culturas, criação e outras
atividades).
Ampliação de tecnologia (se amplia; de que forma amplia os
recursos) .
Formas de ampliação tecnológica.
Fatores que colaboraram para a mudança das atividades da unidade
(mudanças técnicas, intervenção do Estado, mão-de-obra, falta de
mercado, outra).
Uso de políticas públicas (empréstimos e financiamentos).
Modificações sofridas pela unidade (área, sistema produtivo, mão-
de-obra, atividades..).
Reconstituição dos principais momentos da
evolução da unidade durante o período de 1980
Área.
104
Atividades produtivas (em relação a culturas, criação e outras
atividades).
Ampliação de tecnologia (se amplia; de que forma amplia os
recursos).
Formas de ampliação tecnológica.
Fatores que colaboraram para a mudança das atividades da unidade
(mudanças técnicas, intervenção do Estado, mão-de-obra, falta de
mercado, outra).
Uso de políticas públicas (empréstimos e financiamentos).
Modificações sofridas pela unidade (área, sistema produtivo, mão-
de-obra, atividades..).
Área.
Atividades produtivas.
Ampliação de tecnologia (se amplia; de que forma amplia os
recursos).
Formas de ampliação tecnológica.
Fatores que colaboraram para a mudança das atividades da unidade
(mudanças técnicas, intervenção do Estado, mão-de-obra, falta de
mercado, outra).
Situação da unidade no período composto pela
década de 1990*
Uso de políticas públicas (empréstimos e financiamentos).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
*Observação: O número de passagens das diferentes reconstituições dos sistemas de produção empregados
ao longo do tempo varia de acordo com o relato de cada produtor entrevistado.
As questões que traduzem o conjunto de variáveis e indicadores apresentados podem ser
visualizadas integralmente no APÊNDICE 2.
b) Tabulação dos dados de campo:
Os dados foram organizados e tabulados em uma planilha com uso do “software” SPSS
16.00, através da transcrição dos resultados e das respostas dos produtores durante as
entrevistas
De acordo com as unidades de produção investigadas, foram identificados os seguintes
sistemas de produção na área rural de Passo Fundo: Sistema de Produção
Hortifrutigranjeiro (Tipo 1); Sistema de Produção Aviário (Tipo 2); Sistema de Produção
Leite (Tipo 3); Sistema de Produção Soja e seus subsistemas (Tipo 4): a - Subsistema de
Produção Soja Criação (Tipo 4a) e b - Subsistema de Produção Soja Cultivos de
inverno (Tipo 4b).
105
3.1.4 Trajetória de evolução das unidades de produção
Nesta pesquisa, para a análise da trajetória de evolução das unidades de produção
agrícola, os estudos de Hostiou et al. (2006) e Sabourin et al. (2005) contribuíram para a escolha
das variáveis de análise, a construção do modelo e para as técnicas de pesquisa aplicadas.
3.1.4.1 Definição dos estudos de caso da Pesquisa
O caráter descritivo e explanatório do método de estudo de caso mostrou-se apropriado
como estratégia para o estudo das trajetórias de evolução das unidades de produção agrícolas.
Segundo Yin (2005) o estudo de caso permite uma investigação que preserva as características
holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real tal como ciclos de vida individuais,
processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações
internacionais e a maturação de setores econômicos. Para o mesmo autor, a escolha desta
estratégia de pesquisa leva a questões do tipo “como” e “por que”, ou seja, de caráter mais
explanatório, pois essas questões lidam com ligações operacionais que necessitam ser traçadas
ao longo do tempo, ao invés de serem encaradas como meras repetições ou incidências.
Destacam-se nesta estratégia duas fontes importantes de evidências científicas: observação direta
dos acontecimentos que estão sendo estudados e entrevistas com pessoas neles envolvidas.
Um cuidado que deve ser ressaltado é a cautela do pesquisador em não se descolar, em
momento algum, da visão geral do estudo, das principais questões de pesquisa e hipóteses. Neste
trabalho a principal função do estudo de caso consistiu na análise das trajetórias de cada unidade
de produção pesquisada, ou seja, no aprofundamento das relações ou motivações que levaram as
unidades a modificarem suas trajetórias sob a influência do processo de modernização da
agricultura.
106
a)Tipo de Estudo de Caso e Unidade de Análise
Segundo Yin (2005), os projetos de pesquisa podem se utilizar de casos únicos ou casos
múltiplos de análise. Entre os estudos de casos simples o autor caracteriza os chamados
“estudos de casos incorporados”, nos quais o mesmo estudo de caso pode envolver mais
de uma unidade de análise. Isso ocorre quando, dentro de um único caso, se atenção a
uma subunidade ou a várias subunidades.
A escolha de estudos de caso incorporados justifica-se pelo envolvimento de mais de uma
unidade de análise inseridas no mesmo contexto socioeconômico analisado. Nesta etapa
da pesquisa, para o estudo da trajetória desenvolvida pelos produtores rurais, foram
selecionadas cinco unidades de produção agrícola, cada uma representando um sistema
de produção identificado pelo estudo (foram evidenciados - na fase precedente, de
construção da tipologia do estudo quatro grandes sistemas de produção e dois
subsistemas).
b) Evidências ou fontes de dados dos estudos de caso
As fontes de dados que compõem o método de estudo de caso englobam a documentação,
por registros em arquivos, entrevistas, observações diretas, observação participante e
artefatos físicos (YIN, 2005).
Neste estudo de caso foram levantadas quatro fontes de dados, a saber: i) entrevistas com
os responsáveis pelas unidades de produção visitadas; ii) observações diretas; iii)
documentação e iv) registros em arquivos. A estratégia do estudo de caso permite o uso
de fontes múltiplas de informações, ampliando a possibilidade de confronto entre as
várias fontes, o que contribuiu para validar o fenômeno pesquisado.
O conjunto das fontes descritas permitiu a análise dos dados por meio de três eixos
condutores: (i) caracterização socioeconômica das unidades; (ii) análise de indicadores
agroeconômicos e (iii) estudo das trajetórias das unidades de produção, expostos a seguir:
107
(i) Caracterização Socioeconômica das Unidades de Produção da Área Rural de Passo
Fundo – Estudo de Caso
O Quadro 5 sintetiza as variáveis e indicadores que subsidiaram esta etapa da pesquisa.
Quadro 5 - Variáveis e indicadores da estrutura produtiva da unidade de produção de Passo
Fundo.
VARIÁVEIS INDICADORES
Idade Perfil
Escolaridade
Superfície total (ST)
Superfície agrícola útil (SAU)
Superfície de encostas
Questões fundiárias
Superfície baixadas
Cultivo
Rendimento por hectare
Superfície cultivada
Destino da produção
Rotação de cultivos
Atividades de produção vegetal
Cultura
Insumo
Quantidade
Preço unitário
Itinerário técnico
Custos de produção por atividade
Insumos e serviços de terceiros utilizados
Inventário das criações
Efetivos médios
Valor médio
Venda e autoconsumo
Principais problemas sanitários
Alimentação animal
Modo de condução/manejo
Insumos e serviços de terceiros utilizados
Atividades de produção animal
Complementaridade entre produção animal e vegetal
Tipo de atividade Outras atividades econômicas
Época do ano
108
VARIÁVEIS INDICADORES
Categoria e número
Idade aproximada
Família do proprietário
Valos da contribuição patronal Funrural
Categoria e número
Época do ano de utilização
Mão-de-obra externa à família
Distribuição da utilização de mão-de-obra
Tipo
Idade
Valor
Finalidade
Gastos com manutenção
Equipamentos e instrumentos de trabalho
utilizados
Financiamento para compra
Sucessão familiar como ocorreu na unidade Os filhos como lidam com a unidade produtiva
Tipo
Idade
Valor
Finalidade
Gastos com manutenção
Benfeitorias
Financiamento para a compra
Financiamentos/ Empréstimos/ Dívidas Desembolso em impostos (ITR, ICMS, IR, etc.)
Cultivo
Quantidade
Preço médio
Comercialização da produção
Transporte
Investimentos na unidade Investimentos
Fonte: Dados da pesquisa, 2008
Esta fase permitiu a análise aprofundada da estrutura de produção das propriedades rurais
investigadas.
(ii). Análise de Indicadores Agroeconômicos Empreendidos nas Unidades de Produção
de Passo Fundo
Como segundo eixo condutor desta etapa do trabalho, foram coletados dados para o
cálculo de indicadores agroeconômicos das unidades pesquisadas, os quais derivam da
obra de Dufumier (2007). O conceito e forma de cálculo são apresentados a seguir.
109
I. Indicadores Gerais
a) Superfície Total - A superfície total (ST) corresponde à área (em hectares) do
estabelecimento agrícola, independentemente do grau, da forma de utilização e
da sua situação fundiária.
b) Superfície Agrícola Útil - A Superfície agrícola útil (SAU) corresponde à área
(em hectares) do estabelecimento efetivamente explorada com atividades
agrícolas, descontadas as áreas improdutivas, as áreas que não estejam sendo
exploradas do ponto de vista agrícola e as áreas arrendadas ou cedidas a
terceiros.
c) Mão-de-Obra Disponível - O indicador o-de-Obra disponível estima a
disponibilidade de mão-de-obra no estabelecimento agrícola. Medida em
Unidade de Trabalho Homem (UTH), uma UTH corresponde à unidade de
medida utilizada para mensurar a quantidade de trabalho. Uma UTH equivale a
300 dias de trabalho de 8 horas diárias.
d) Produto Bruto - O Produto Bruto (PB) corresponde ao valor final dos produtos
agrícolas e beneficiados gerados no decorrer do ano no estabelecimento agrícola.
Integram o Produto Bruto a produção vendida ou utilizada na forma de pagamento de
serviços de terceiros, a produção consumida pela família, a produção estocada, a
produção utilizada na alimentação de empregados.
e) Consumo Intermediário - O Consumo Intermediário (CI) é o valor dos insumos e
serviços adquiridos de outros agentes econômicos e destinados ao processo de produção
do estabelecimento agrícola.
110
f) Valor Agregado Bruto - Valor Agregado Bruto (VAB) corresponde à riqueza bruta
produzida no estabelecimento agrícola, ou seja, o Produto Bruto descontado do valor dos
insumos e serviços de terceiros utilizados no decorrer de um ano agrícola. (
VAB = PB – CI).
g) Valor Agregado Líquido - Valor Agregado Líquido (VAL) corresponde à riqueza
líquida produzida no estabelecimento agrícola, ou seja, o Valor Agregado Bruto
descontado do valor correspondente à Depreciação
51
(Dep) dos equipamentos e
benfeitorias. (VAL = VAB - Dep).
h) Divisão do Valor Agregado É a distribuição repartida entre os agentes que
participaram do processo produtivo da unidade. Neste trabalho integram a Divisão do
Valor agregado (DVA) os seguintes itens: Impostos, despesas financeiras, salários pagos
a diaristas, salários permanentes, arrendamentos pagos e encargos sociais.
i) Renda Agrícola - A Renda Agrícola (RA) corresponde à parte da riqueza líquida que
permanece no estabelecimento agrícola e que serve para remunerar o trabalho familiar e
realizar investimentos, ou seja, o Valor Agregado Líquido descontado dos custos com a
distribuição do valor agregado entre os agentes que participaram do processo produtivo
direta ou indiretamente.
RA = VAL – DVA
j) Rendas das Atividades não Agrícolas - As Rendas das Atividades não Agrícolas
(RAÑA) correspondem às rendas auferidas pelo chefe ou por outros membros da família
51
Depreciação - A Depreciação econômica corresponde à fração do valor dos meios de produção
existentes no estabelecimento e adquiridos de outros agentes (máquinas, equipamentos, instalações,
etc.) que não são integralmente consumidos no decorrer de um ciclo de produção. Bastante variáveis
segundo o tipo e a utilização, estes bens perdem valor seja, pela obsolescência, seja pelo desgaste em
virtude de sua utilização no decorrer do processo produtivo. O fator de produção terra não faz objeto de
depreciação, não sendo, portanto, incluído nesta rubrica. Para o cálculo da depreciação econômica,
optou-se pela utilização do método linear simplificado: Dep = ( Qi * BENi) + (Qi * EQUi) / VRi Onde:
Qi é a quantidade de benfeitorias ou equipamentos “i”; BENi é o valor atual das benfeitorias “i”; EQUi é o
valor atual dos equipamentos “i”; VRi é a vida residual da benfeitoria ou equipamento “i” em anos.
111
residentes no estabelecimento agrícola que tenham como origem atividades realizadas
fora do estabelecimento, independentemente de sua frequência ou intensidade.
k) Rendas de Aposentadorias - As Rendas de Aposentadorias (RAPOS) correspondem às
rendas decorrentes de benefícios de aposentadoria e pensões auferidos pelo chefe ou por
outros membros da família residentes no estabelecimento agrícola no decorrer do ano
agrícola.
l) Rendas Externas - As Rendas Externas (REx) correspondem às rendas não-agrícolas
decorrentes de receitas não agrícolas (arrendamentos recebidos, receitas de aluguel,
rendimentos financeiros, doações, heranças, etc.) auferidas pelo chefe ou por outros
membros da família residentes no estabelecimento agrícola no decorrer do ano agrícola.
m) Renda Total - Renda Total (RT) corresponde à soma da totalidade de rendas agrícolas
e não agrícolas auferidas pelo chefe e pelos demais membros da família residentes na
UPA, ou seja, o somatório da Renda Agrícola (RA) com as rendas oriundas de atividades
não agrícolas (RAÑA), com as rendas de aposentadoria (RAPOS), com as rendas de
outras transferências sociais (ROTS) e com as rendas externas (REx).
112
II. Indicadores Combinados
a) SAU/UTH - Corresponde à Superfície Agrícola útil (SAU) que uma unidade de
trabalho homem é capaz de se ocupar. Busca avaliar a eficiência da utilização da mão-de-
obra no estabelecimento agrícola.
b) VAB/UTH - Corresponde à contribuição de cada unidade de trabalho homem em
termos de Valor Agregado. Busca avaliar a capacidade de geração de riqueza da mão-de-
obra empregada no estabelecimento agrícola e proporciona indicador que permite avaliar
a Produtividade do Trabalho no estabelecimento agrícola. Ao se considerar a depreciação
neste cálculo encontra-se o indicador VAL/UTH.
c) VAB/SAU - Corresponde à contribuição de cada unidade de área em termos de Valor
Agregado. Busca avaliar a capacidade de geração de riqueza da área do estabelecimento
agrícola e proporciona indicador que permite avaliar a Produtividade da Terra no
estabelecimento agrícola. Por sua vez, o VAL/SAL desconta o valor da depreciação neste
item.
d) RA/UTH - Corresponde à contribuição de cada unidade de trabalho homem em termos
de Renda Agrícola. Busca avaliar a capacidade de geração de renda agrícola da mão-de-
obra empregada no estabelecimento agrícola e proporciona indicador que permite avaliar
o Rendimento do Trabalho no estabelecimento agrícola.
e) RA/SAU - Corresponde à contribuição de cada unidade de área em termos de Renda
Agrícola. Busca avaliar a capacidade de geração de renda agrícola da área do
estabelecimento agrícola e proporciona indicador que permite avaliar o Rendimento da
Terra no estabelecimento agrícola.
113
Esses indicadores foram organizados e calculados com a utilização de uma planilha do
software Excel, adaptada para a operacionalização dos dados agroeconômicos acima
conceituados.
(iii). Análise das trajetórias das unidades de produção da área rural do município de Passo
Fundo – Estudo de Caso
Como terceiro eixo desenvolvido nesta etapa da pesquisa, foi efetuada a análise das
trajetórias tomadas pelos produtores em suas unidades de produção agrícola. As variáveis
relevantes neste processo foram os elementos responsáveis pela passagem entre sucessivos
sistemas de produção das unidades pesquisadas. Ou seja, foram identificadas as dinâmicas
inerentes a cada unidade investigada, de acordo com o modelo apresentado pela Figura 1.
Sistema 2
Sistema 3 SISTEMA “n”
Fatores endógenos à trajetória dos sistemas produtivos
Fatores externos à trajetória dos sistemas produtivos
Sistema 1
Figura 1 - Síntese das trajetórias dos sistemas de produção das unidades pesquisadas na área
agrícola de Passo Fundo.
Fonte: Dados de pesquisa, 2008
.
114
Para a construção da análise da trajetória foi necessária a coleta de dados e indicadores
(Quadro 6) que identificassem aspectos históricos, econômicos, produtivos e sociais ao longo
dos sucessivos sistemas de produção que fizeram parte da trajetória desenvolvida nas unidades
analisadas. O Quadro 6 apresenta a síntese desses indicadores.
Quadro 6 - Variáveis e indicadores da análise das trajetórias tomadas pela unidade de produção de
Passo Fundo.
Variáveis Indicadores (comentados)
1. Aspectos históricos:
a) História do produtor desde o início das atividades na UPA;
b) Quando iniciou as atividades na unidade;
c) Por que começou a explorar a unidade.
2. Aspectos técnicos
a) Área e composição da unidade (própria, arrendada, parceria..)
3a. Culturas vegetais
a) Situação do sistema no período (se possuía ou não cada cultura);
b) Área dedicada a cada cultura;
c) Produtividade de cada cultura;
d) Observações adicionais (em relação à comercialização da produção).
3b. Detalhamento do grau de importância de cada cultura (o que levou o
produtor a produzir aquele momento; fatores internos e demandas
externas..).
4a. Criação
a) Tipo;
b) Efetivo;
c) Comercialização;
d) Observações adicionais.
4b. Detalhamento do grau de importância das criações (o que levou o
produtor a atividade naquele momento; fatores internos e demandas
externas..).
5. Demais atividades
a) Pratica de outros tipos de atividades na unidade de produção se
praticava detalhar à atividade, as causas para a prática da atividade e sua
importância para o sistema de produção da unidade;
b) Rendas provenientes de outras fontes que auxiliavam na
unidade produtiva - rendas externas, aposentadoria
detalhando a importância destas fontes para o sistema da unidade.
6. Mão-de-obra
a) Detalhar a utilização.
Análise da Trajetória - Sistema
inicial (1) - história recente da
unidade produtiva
7. Máquinas, equipamentos e benfeitorias
a) Especificação;
b) Quantidade;
c) Estado/idade;
d) Aquisição via financiamento ou outra modalidade;
e)Detalhar a natureza dos recursos de aquisição de equipamentos,
máquinas e benfeitorias;
f) Uso de técnicas agrícolas; acesso a extensão ou pesquisa rural;
importância destes fatores para o sistema.
(Continua...)
115
(continuação...)
Variáveis Indicadores (comentados)
Análise da Trajetória - Sistema
inicial (1) - história recente da
unidade produtiva
8. Determinantes externos à unidade
a) Principais razões e os incentivos - sociais, econômicos - para que a
prática destas atividades na unidade;
b) Obteve acesso a crédito agrícola neste período - detalhamento da
modalidade, finalidade e efetiva utilização do crédito por parte do
produtor;
c) Q
ue importância teve o crédito para a implantação e manutenção deste
sistema de produção;
d) Que outros mecanismos locais e/ou regionais contribuíram para a
construção/manutenção de seu sistema produtivo no período - detalhar.
Variáveis Indicadores (comentados)
Mudança nos sistemas
produtivos da unidade
9. Até que momentos as atividades permaneceram as mesmas
a) Até que momento (década e/ou anos) suas atividades
foram organizadas desta forma (sistema de produção)?
b) O que levou a mudança na forma de organização e utilização da a unidade
produtiva (detalhamento dos pontos positivos e
negativos em relação a aspectos técnicos, sociais internos e nos
externos a unidade produtiva).
Variáveis Indicadores (comentados)
Evolução para um novo sistema
de produção na unidade
Sistema de Produção (2)
Repetem-se as variáveis históricas, técnicas.... até a análise do
novo processo de mudança de sistema de produção na unidade -
neste caso Sistema de produção 3 - sucessivamente até o
período presente em que está inserida a unidade pesquisada.
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
A segmentação do Quadro 6, em três momentos, visou demonstrar os elementos
determinantes às dinâmicas pelas quais as unidades de produção passaram, refletindo as
trajetórias desenvolvidas. As questões que traduzem o conjunto de variáveis e indicadores
apresentados para a análise dos três eixos condutores deste estudo (1. caracterização
socioeconômica das unidades; 2. análise de indicadores agroeconômicos e 3. estudo das
trajetórias das unidades de produção), podem ser visualizadas integralmente no APÊNDICE 03.
Após a identificação dos sistemas de produção representativos das unidades de produção
investigadas (sistema de produção hortifrutigranjeiro, sistema de produção aviário, sistema de
produção leite, sistema de produção soja e seus subsistemas - subsistema de produção soja
criação e subsistema de produção soja cultivos de inverno), foram definidos cinco estudos de
caso. A escolha de cada um dos estudos de caso foi realizada de acordo com o critério de
representatividade de cada sistema de produção identificado. O período de levantamento das
116
evidências (fontes de dados) dos estudos de caso desta pesquisa, com os produtores rurais nas
unidades de produção de Passo Fundo, ocorreu durante os meses de dezembro de 2008 a
fevereiro de 2009.
117
4 AS TRANSFORMAÇÕES NA REALIDADE AGRÁRIA NO PLANALTO MÉDIO DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA AS
UNIDADES DE PRODUÇÃO DO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO
Este capítulo analisa como as transformações na realidade agrária do Planalto Médio do
estado do Rio Grande do Sul, ao longo do tempo, impactaram as unidades de produção agrícola
do município de Passo Fundo. A análise dos principais elementos da história agrária da Região
foi realizada em duas etapas distintas. Na primeira parte, além da caracterização do relevo, clima
e solos da Região, são abordados os elementos de formação, através dos sistemas agrários
indígena, pecuária e colonial. Na segunda etapa são evidenciadas as características do processo
de modernização da agricultura, a partir das principais mudanças ocorridas nas unidades de
produção. Por fim, através da coleta de dados primários de pesquisa, são identificados e
analisados os principais sistemas de produção desenvolvidos pelos agricultores do Município nos
dias atuais.
4.1 A evolução da agricultura no município de Passo Fundo
A história agrária do município de Passo Fundo está associada à história do Planalto
Médio do Estado, região à qual o Município pertence até os dias atuais. Visando compreender a
evolução da agricultura no município, nesta seção, caracterizou-se o relevo, os solos e o clima do
Planalto Médio, bem como foram reconstruídos os principais Sistemas Agrários desta Região até
a década de 1950.
118
4.1.1 As características de relevo, clima e solos do Planalto Médio do Estado
A região do Planalto Médio, segundo Dal’Moro e Rückert (2004), também conhecida
como Planalto Rio–Grandense, porção extremo–sul do Planalto Meridional inscreve-se no
semicírculo que descrevem os rios Pelotas-Uruguai cujo diâmetro é traçado pela Serra Geral
(p. 28). Delimitado ao norte e a oeste pelo rio Uruguai, seu limite Meridional está ao longo dos
vales dos rios Ibicuí e Jacuí (ANEXO 1).
Dentre as formações vegetais, o Planalto compõe-se, basicamente, de matas e campos.
Predomina, quase que absoluto, na parte oeste do Planalto, o campo. Já na região das Missões, as
duas formações vegetais se entrelaçam formando uma vegetação mista de campo e mata.
Bernardes (1997) explica que, entre as condições naturais, foi a vegetação que teve maior
influência sobre o povoamento. No entanto, esses sistemas apresentam diversidades e
particularidades internas de organização da produção, cujas origens e características explicam-se
fundamentalmente por razões históricas e socioeconômicas que são, por sua vez, moldadas pelas
condições de clima e de relevo que estabelecem potencialidades e limites ao fazer humano.
O clima da região do Planalto caracteriza-se por apresentar verão seco e inverno frio e
chuvoso, com temperatura média entre 15 e 21 graus e chuvas entre 1500 e 1800 mm.
Característica marcante é a presença de invernos acentuados, com valores mínimos que baixam,
com frequência, a menos de zero entre os meses de junho e setembro, e até mesmo na primavera
e no outono, embora mais espaçadamente. É muito regular, portanto, a formação de geadas, que
ocorrem normalmente entre abril e novembro, embora tenham sido observadas,
excepcionalmente, em dezembro e janeiro (BERNARDES, 1997).
Quanto ao relevo do Planalto Médio, embora no seu conjunto, a superfície superior se
apresente ondulada, com as suaves coxilhas se desdobrando em um verdadeiro mar, o Planalto é
retalhado em vários pontos pelos numerosos rios que dele defluem. Ao norte, o nível de base
comum é o Uruguai que, em Marcelino Ramos está a menos de 360 metros de altitude. A
leste, o Planalto termina por um verdadeiro paredão inóspito de quase mil metros. Mas ao sul,
sua cornija, extremamente recortada e inúmeras vezes interrompida pelos rios que demandam o
Guaíba, é apenas a grande aresta da encosta que se desloca em patamares e se inflete nos grandes
vales. A grande encosta sul dispõe-se paralelamente ao importante alinhamento fluvial,
119
constituído pelo baixo rio Jacuí e pelo Ibicuí, que representa o eixo da chamada Depressão
Central. O Baixo Jacuí desempenha um importante papel como nível de base, a partir do qual os
numerosos rios que o demandam, pela margem esquerda, retalharam profundamente a borda do
Planalto. Fluindo para o oceano, não existem rios importantes e a Encosta mostra-se mais
contínua e abrupta em seu trecho oriental, junto à costa. É de Osório para Oeste, ponto em que a
borda do Planalto se dispõe francamente neste rumo, que os rios passam a ser cada vez mais
volumosos, tornando-se responsáveis por profundos entalhamentos na alta superfície e em seu
rebordo (BERNARDES, 1997).
Quanto aos tipos de solo e sua aptidão, no Planalto Médio, predominam os tipos
Latossolos, Nitossolos e Argissolos. As classes Latossolos Vermelhos Distroférricos
Nitossólicos e Típicos, Latossolos Vermelhos Aluminoférricos micos, originados de basalto e
os Latossolos Vermelhos Aluminoférricos Húmicos e Típicos, originados de arenito, são
encontrados na região do Planalto. Em função das propriedades físicas (profundos, bem
drenados, muito porosos, friáveis, bem estruturados) e condições de relevo suave ondulado, os
Latossolos possuem boa aptidão agrícola, desde que corrigidas a fertilidade química. Os
Nitossolos Vermelhos ocorrem em relevo suave ondulado a ondulado, na região do Planalto,
geralmente associados com Latossolos. Em função de suas propriedades físicas (profundos, bem
drenados, muito porosos, friáveis, bem estruturados) e condições de relevo, os Nitossolos
geralmente possuem boa aptidão agrícola, desde que corrigida a fertilidade química, sendo
utilizados em culturas de inverno e verão, intercalados ou consorciados com plantas
recuperadoras de solos. Já os Argilossolos Vermelho–Amarelo Alumínico Típicos ocorrem,
sobretudo, na borda do Planalto Médio (STRECK, 2008).
Suetegaray e Guasseli (2004) através da sobreposição da compartimentação do relevo
com o uso do solo e cobertura vegetal compartimentaram e individualizaram o estado do Rio
Grande do Sul em cinco grandes unidades de paisagem. Na primeira unidade de paisagem, no
Planalto Basáltico, foram identificadas três subunidades: florestal, campos sujos e agrícola. A
subunidade florestal caracteriza-se por possuir coberturas identificadas como florestas de mata
atlântica, florestas subtropicais e florestas de araucária em altitudes mais elevadas da região. A
subunidade campos sujos, com áreas do topo do Planalto basáltico e com altitudes em torno de
1000 metros e relevo em forma de colinas, apresenta coberturas predominantemente de campo.
A subunidade agrícola corresponde à área do Planalto relativa à sua porção central e oeste, com
120
domínio das áreas com presença de colinas. Estas áreas, na origem, estiveram em parte cobertas
pelas florestas, em particular as estendidas a partir do vale do rio Uruguai, com o predomínio da
soja e milho.
Para Dal’Moro e Rückert (2004), no Planalto Médio, e também em Passo Fundo, essa
dupla composição de formações naturais (floresta e campo) oferece um quadro bastante rico no
tocante às diferenciações regionais nesta região, principalmente quanto às ocupações e aos usos
diferentes da terra.
4.1.2 A história agrária e os principais elementos de formação do município de Passo Fundo.
Para compreender a história agrária do município, até a década de 1950, foram
identificados os elementos de formação do Planalto Médio do Estado do Rio Grande do Sul. Tal
procedimento permitiu identificar e delimitar três sistemas agrários: Sistema Agrário Indígena,
Sistema Agrário Pecuária e Sistema Agrário Colonial.
4.1.2.1 Sistema Agrário Indígena
Em tempo anterior à chegada dos europeus, o território do atual Rio Grande do Sul era
ocupado por várias nações indígenas. Nas regiões de mato dominavam os índios Guaranis e os
Caingangues, enquanto nas regiões de campo natural, viviam os índios Minuanos e os Charruas
(SILVA NETO E BASSO, 2005).
O território rio-grandense do Sul foi desbravado pelos padres jesuítas espanhóis e pelos
padres jesuítas portugueses, concomitantemente a ação dos bandeirantes paulistas (XAVIER,
1990). A linha composta pelos padres jesuítas espanhóis penetrou o território do Rio Grande do
Sul pelo leste do rio Uruguai e fundaram, de 1626 a 1636, dezoito reduções jesuíticas. Este
movimento tinha como objetivo catequizar os índios, conquistando-os pelo convencimento
cultural e religioso, e inserindo-os, de forma ativa e funcional, na dinâmica expansionista do
121
colonialismo mercantil (SILVA NETO E BASSO, 2005). Os bandeirantes paulistas atuavam no
território buscando o apresamento dos indígenas para servirem como força de trabalho nas
plantações de cana-de-açúcar, do Nordeste e do centro da colônia portuguesa (RÜCKERT,
1997).
Predominavam, no Planalto, os índios Guaranis, representados pelo grupo conhecido
como Tapes. A província do grupo Tapes localizava-se à margem esquerda do rio Uruguai, nas
bacias do Ibicuí e Jacuí, no Planalto Central do atual território do Rio Grande do Sul, totalizando
dezoito reduções jesuíticas (KNACK E BATISTELLA, 2007). Os Tapes, como outros indígenas
do Planalto Médio, conheciam a utilidade de frutos silvestres como o pinhão e a jaboticaba, de
folhas como a erva-mate, que usavam para fazer o chimarrão morno ou frio. Cultivavam o milho,
o feijão, a mandioca e o fumo, e tinham na caça e na pesca, uma significativa fonte alimentar
(D’ÁVILA, 1996).
Entre as reduções de Tapes, uma se localizava no futuro território de Passo Fundo.
Tratava-se da redução de Santa Tereza, fundada em 1632. Em 1635 os bandeirantes paulistas
passaram a cobiçar as reduções dos Tapes. Uma bandeira, formada em São Paulo, chefiada por
Raposo Tavares, deu início ao processo de destruição, pilhagem e genocídio dos 30 mil
indígenas catequizados na Região. No final de 1637, André Fernandes liderou a bandeira que
ocupou a redução de Santa Tereza. A bandeira de André Fernandes expulsou os jesuítas,
aprisionou parte dos indígenas e os enviou como cativos para São Paulo. Contudo André
Fernandes não destruiu a redução, como era habitual, transformando-a em um arraial
bandeirante. Nos arredores do arraial, foram mantidas as lavouras e a criação de gado. Em 1640
após violentos combates entre missioneiros e bandeirantes, a vitória missioneira pôs fim as
incursões paulistas (KNACK E BATISTELLA, 2007).
A importância atribuída à redução de Santa Tereza deriva da divisão do atual território do
Rio Grande do Sul, pelos jesuítas, em três províncias, segundo os grupos étnico-linguísticos
indígenas: Tapes, Uruguai e Ibia. Na região onde posteriormente veio constituir-se o município
de Passo Fundo, dava-se o encontro das três províncias jesuíticas. A convergência de fronteiras,
aliada à passagem obrigatória de caminhos que comunicavam entre si vários estabelecimentos
jesuíticos, explica a grande importância estratégica que, tanto jesuítas quanto bandeirantes,
atribuíam à redução de Santa Tereza, a despeito de sua curta duração (D’AVILA, 1996).
122
Apesar da vitória missioneira, muitos guaranis missioneiros dos Tapes, fugindo dos
ataques dos bandeirantes paulistas, transferiram-se para a outra margem do rio Uruguai, o que
determinou uma importante desorganização das reduções jesuíticas e o despovoamento dos
atuais territórios do Sul (KNACK E BATISTELLA, 2007).
Uma consequência dos processos de disputa pelo território do Planalto, foi a
catequização, aculturação e, consequente destruição cultural e social dos nativos (DIEHL, 1998).
De uma vida tribal a uma comunidade cristã mais ampla, da vida seminômade à vida sedentária,
os jesuítas reorientaram o trabalho indígena, garantindo uma sólida organização temporal através
da introdução do gado e de uma agricultura de subsistência (BATISTELLA E KNACK, 2007).
Os jesuítas espanhóis somente retornam à margem esquerda do Rio Uruguai em 1682,
quando criaram os sete povos das missões, uma organização religiosa, econômica e sociocultural
de significativo sucesso (SILVA NETO E BASSO, 2005). Os jesuítas partilharam entre si a
administração das riquezas da população indígena que alcançaram no Planalto Médio. As futuras
terras passo-fundenses couberam nesta partilha a dois dos sete povos das missões. Os campos
entre os rios Jacuí, Várzea e Passo Fundo, integraram a estância do Povo de São Luiz, ao qual
ficou subordinada a guarda guaranítica. Já os ervais foram atribuídos ao Povo de São João, cujos
dirigentes mandaram instalar um carijo
1
, junto ao passo do rio da Várzea. O carijo jesuíta pode
ser considerado o primeiro estabelecimento industrial em território passo-fundense. Mais para
leste, nos domínios da Coroa lusa, na mesma época estacionou uma guarda portuguesa
(D’ÁVILA, 2007).
No final do século XVII, a região do futuro município de Passo Fundo passa a ser
habitada, sobretudo, por caboclos. Utilizados como mão-de-obra pelos bandeirantes paulistas,
alguns não regressaram a São Paulo, permanecendo na região e mestiçando-se com os indígenas
locais. Presentes nas matas e nos ervais, os caboclos dedicavam-se a atividade extrativista
ervateira e ao abate de gado para retirada do couro e obtenção do sebo.
A partir do século XVIII o tropeirismo toma vulto no Estado do Rio Grande do Sul.
Entretanto, era praticado desde o século XVII, em virtude da formação de rebanhos,
notadamente os que movimentavam as Vacarias do Mar, nas pradarias do Sul, e a dos Pinhais,
nos Campos de Cima da Serra. O ciclo tropeiro se desenvolveu, sobretudo, a partir do transporte
1
Construção rústica destinada à secagem de erva-mate (Rückert, 1997).
123
e comercialização de mulas. Mais tarde com o esgotamento das Vacarias do Mar e dos Pinhais,
formaram-se os primeiros criatórios na região do Planalto Médio e apenas então o termo estância
tornou-se sinônimo de fazenda pastoril (KNACK E BATISTELLA, 2007).
No início do século XIX, após o término das missões jesuíticas, os indígenas passam a
gerar transtornos aos luso-brasileiros que percorriam a Região, provocando várias mortes, o que
faz o governo provincial tomar decisões de repressão e expropriação aos indígenas. O
povoamento das terras das missões passa a processar-se rapidamente com o estabelecimento de
militares e de tropeiros de gado provenientes de São Paulo, Curitiba, Lages e Laguna,
constituindo fazendas de criação com a utilização de mão-de-obra escrava a partir da segunda
década do século XIX (RÜCKERT, 1997). Nas terras interioranas de Cruz Alta (que emerge
como município em 1834), no lugar que passa a ser conhecido como Passo Fundo, emerge uma
nova classe senhorial, escravocrata e pecuarista, a partir de meados da segunda década do século
XIX, tema desenvolvido na seção seguinte deste trabalho.
4.1.2.2. Sistema Agrário Pecuária
A ocupação das terras no Rio Grande do Sul, ao longo do século XVIII, se configura,
através da concessão de sesmarias. No período desenvolvem-se as chamadas charqueadas, que
dominam a atividade econômica de grande parte do Rio Grande do Sul até início do século XX
(MÜLLER, 2000). O desenvolvimento desta atividade refletiu-se na criação do gado gaúcho,
provocando o cercamento parcial dos campos e algumas melhorias na qualidade genética dos
rebanhos. As estâncias configuravam unidades estáveis de produção extensiva de gado no Estado
(SILVA NETO E BASSO, 2005).
No Planalto a formação das estâncias é intensificada após a destruição da sociedade de
economia missioneira, com a incorporação gradativa de terras de campo do Planalto Central,
sobretudo, nas áreas de Cruz Alta e Passo Fundo (SILVA NETO E BASSO, 2005). Este
processo tem seu ponto alto, em 1801, quando um desertor do regimento de Dragões (unidade
militar do exército português), José Borges do Canto, com uma pequena tropa de luso-brasileiros
e nativos, invadiu as missões incorporando territórios hispano-americanos à Coroa portuguesa.
No momento seguinte à invasão, as terras da região missioneira foram doadas a oficiais de tropas
124
regulares e a milicianos estacionados na capitania, iniciando o processo de povoamento da raça
branca
2
, no século XIX, na Região do Planalto Médio (BATISTELLA E KNACK, 2007).
No entanto, os campos do centro do Planalto Rio-grandense (chamados campos
serranos”) foram, primeiramente, ocupados pelos bandeiras ou paulistas, conhecidos, localmente,
como birivas. Apesar da migração paulista, os campos passo-fundenses permaneceram devolutos
durante todo primeiro quartel do século XIX. O processo de apossamento, a partir do final da
década de 1820, e mais nitidamente no decorrer das décadas de 1830 a 1850 é, inicialmente
lento, por tratar-se de uma área, formada por campos e florestas, desabitada e totalmente
desconhecida. Outra razão que contribuiu, adicionalmente, para o atraso do povoamento de
Passo Fundo foi a presença de indígenas, que manifestavam forte resistência à fixação do
elemento branco na região (FERREIRA E SIQUEIRA,1998).
Os birivas da região do Planalto Médio compunham, em sua maioria, uma aristocracia de
fazendeiros milicianos. Como senhores da terra, sua importância era medida pela extensão de
suas propriedades, pelo número de seus escravos ou pelo posto que os situava na hierarquia
militar (DAL’MORO E RÜCKERT, 2004). Esta categoria social envolveu-se, sobretudo, com o
negócio de erva-mate e com as “fazendas de criar”. Desenvolviam um sistema que consistia no
esquema erva-mula-capital (busca e fabricação de ervais; transporte da erva; troca da erva por
mulas na fronteira e condução dos animais até as feiras para comercialização). Deste modo,
formaram-se no Planalto Médio fazendas destinadas a estacionar e invernar mulas, cavalos e
bois. Nas proximidades dessas fazendas, dos primitivos pousos de tropeiros ou junto aos carijós
surgiam povoações, algumas das quais são, hoje, importantes cidades do Planalto Médio do Rio
Grande do Sul (D´AVILA, 2007).
No período de estabelecimento das primeiras “fazendas de criar”, no final de 1820,
também habitavam o Planalto Médio, os caboclos, representados por pequenos lavradores e
coletores de erva, dispersos pelas zonas florestais. Sua origem marginal e o fato de não
comparecerem à igreja fez com que os caboclos, e outros de igual condição, não tenham sido
recenseados pelos párocos como posseiros (os caboclos não eram considerados luso-brasileiros
por não terem acesso a cargos públicos). Pela Lei de terras, que entrou em vigor em 1850, a terra
passa a pertencer a quem reclamasse a sua posse e a legalizasse, através da aquisição do título. A
2
Conjunto de indivíduos cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, a conformação do crânio e do rosto, o
tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se transmitem por hereditariedade, embora variem de indivíduo a indivíduo
(Oliveira, 1990 a ).
125
partir deste momento, os caboclos, por falta de informação ou pela influência que os grandes
proprietários exerciam sobre os órgãos oficiais, que legalizavam a posse, não conseguiram
adquirir o título das terras que ocupavam, passando a ser intrusos ou invasores das propriedades
dos latifundiários (KUJAWA, 2001). Como resultado, os caboclos e seus descendentes não
tiveram mais tarde como comprovar documentalmente a posse primitiva das terras (D’ÁVILA,
2007).
A dicotomia campo-floresta ou pecuária e pequena agricultura torna-se habitual no
Planalto Médio. A mata subtropical entremeia-se com os campos, de tal forma, que o contato
entre estancieiros e pequenos lavradores é direto, ao mesmo tempo que revela as contradições
existentes entre os dois grupos sociais (ZARTH, 1997). Logo, o tipo de organização econômica,
social e política dominante na fase inicial desse povoamento, não oficial, pode ser qualificada
como latifundiária-pastoril, patriarcal-militar e escravocrata (D’ÁVILA, 2007).
Neste período inicia-se o processo de fragmentação de Passo Fundo, através de sua
emancipação política. No ano de 1834, em virtude da emancipação de Cruz Alta, o povoado de
Passo Fundo é elevado a categoria de distrito deste município (4
0
distrito de Cruz Alta). Em
novembro de 1847, Passo Fundo ganha a condição de freguesia, passando a ser denominada
“Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Passo Fundo”. E, em 1857 é criado, pela
Assembléia Legislativa, o município de Passo Fundo. Além do território atual, abrangia também
os municípios de Soledade, Nonoai e Guaporé, posteriormente desmembrados, ocupando, assim,
uma área de cerca de 80.000 quilômetros quadrados, extremada ao norte pelo rio Uruguai,
dividindo com as províncias de Santa Catarina e Paraná a leste, ao sul, pela Serra Geral, e a
oeste, pelos rios da Várzea e Jacuí (OLIVEIRA, 1990 a).
O município, em 1858, apresentava uma das maiores áreas em superfície de terras na
província do Rio Grande de São Pedro. Do ponto de vista demográfico, contava com
aproximadamente 1.638 habitações e 8.208 habitantes. Desses, aproximadamente 20,9% eram
escravos, 1,5% libertos, e 78,8% homens livres (SILVA JORGE et al., 2007). A vegetação de
Passo Fundo caracterizava-se por apresentar cerca de 60% de sua área coberta com campos e
40% da área coberta com florestas. Os campos caracterizam-se por bordados de capões e
restingas de mato, as quais, às vezes se avolumavam formando extensos e cerrados bosques,
onde uma flora variada se apresentava. A parte florestal do município era coberta com matas,
havendo grandes serras, predominando a araucária brasiliense ou pinheiro, formando extensos
126
pinhais. Outra árvore abundante no município era a llex paraguaiensis ou pau-de-erva, de cujas
folhas se fabricavam o mate. A riqueza hidrográfica do município era composta por rios da Bacia
do Uruguai (Rio do Peixe, Rio Passo Fundo, Rio da Várzea) e da Bacia do Jacui (Rio Jacui)
(OLIVEIRA, 1990 b).
Na segunda metade do século XIX a economia do novo município tinha como base
econômica a fabricação de erva-mate. A pecuária, embora praticada pelos latifúndios
escravocratas da região, não oferecia escala, pois a indústria pastoril serrana dependia do sal,
recurso importado com alto custo (BATISTELLA E KNACK 2007). Entretanto, a partir do final
da década de 1860, a economia passo-fundense já demonstrava sinais de crise. Entre as causas da
dificuldade econômica destacam-se a evasão de homens válidos, em função do recrutamento
para a guerra do Paraguai, a desvalorização da erva serrana, provocada pela falsificação do
produto em busca de maiores lucros, aliado a devastação dos ervais, pela exploração
desenfreada, o que contribuiu para o baixo desempenho dos negócios com gado (D’ÁVILA
1996).
Em suma, após a organização dos cleos iniciais pelos paulistas, o crescimento
populacional da Região apresentou pequeno ritmo. Somente a partir da década de 1870, as
autoridades locais empreendem medidas para que a colonização fomentasse a agricultura
comercial regional que, até 1890, era de base local ou de subsistência. Aos poucos, com a
construção da linha férrea (no final do século XIX) e, como consequência, a vinda de imigrantes
alemães, judeus e, sobretudo, italianos, a prática agrícola foi impulsionada (TEDESCO E
SANDER, 2002).
Neste cenário, são os italianos os primeiros imigrantes a penetrar na região, sinalizando à
passagem a um novo sistema agrário na região do Planalto Médio, e especialmente, em Passo
Fundo, que se configurava como o centro social, político e econômico da Região. Este novo
sistema agrário é analisado a seguir.
127
4.1.2.3. Sistema Agrário Colonial
Procurando acelerar a expansão da pequena propriedade de trabalho livre, o governo
imperial criou uma série de colônias no sul do país, destinadas a serem povoadas por italianos
(BERNARDES, 1997). No estado do Rio Grande do Sul, este movimento inicia-se em função de
chegada, no ano de 1824, de 38 colonos alemães a Porto Alegre (MÜLLER, 2000). O processo
de colonização no Rio Grande pode ser segmentado em três fases: a primeira, se desenvolveu até
1850 na periferia de São Leopoldo; a segunda, a chamada marcha para o oeste, caracterizava-se
pelo fato de a expansão de São Leopoldo ter tornado, em pouco tempo, necessária a fundação de
novas colônias; a terceira, a partir de 1890, denomina-se o salto para o planalto (RÜCKERT,
1997).
A emergência da pequena propriedade, na região do Planalto Médio, no Norte do Rio
Grande do Sul, coincide com a terceira e última fase das migrações internas de filhos de
camponeses colonos do século XIX. Preocupado com a posição fronteiriça do Alto Uruguai, o
governo imperial tomou a iniciativa de fundar uma colônia militar (uma espécie de colonização
agrícola desenvolvida por homens fardados). A expectativa oficial era de que este núcleo
colonizador pudesse expandir o povoamento da área, e desse modo, atingir o objetivo militar, de
povoar, de forma densa, a região fronteiriça com a Argentina. Trinta anos após sua fundação,
que ocorreu em 1897, a situação ainda era precária (ZARTH, 1997).
Neste período os discursos políticos dos representantes do capital fundiário regional
enfatizavam a necessidade da produção de alimentos e de melhoria das vias de comunicação
(TEDESCO E SANDER, 2002). O debate político, na região, concentrava-se em torno da
agricultura e na formação de colônias
3
, com destaque, aos esforços das oligarquias regionais em
discutir a questão do cultivo do trigo
4
. Adicionalmente, a construção da via férrea era
considerada fator decisivo para a viabilidade da expansão agrícola, e fundamental para atrair
3
A pequena propriedade emerge do Norte do Rio Grande do Sul na fase de crise do trabalho escravo do Brasil
Império. As oligarquias locais de Cruz Alta e de Passo Fundo, nos anos de 1870, já reivindicavam ao governo
provincial a colonização das terras florestais ao Norte da província, como forma de fomento à agricultura comercial
(Rückert, 1997).
4
Os governos imperiais e republicanos que se sucederam, todos eles procuraram estimular a produção de trigo, mas
sem alcançar maiores sucessos. Há que se frisar, porém, que os colonos italianos, principalmente na área de
colonização em torno de Caxias do Sul e no Planalto Médio, retomaram a produção de trigo, abandonada que fora
pelos açorianos em 1832, passando a produzi-lo a partir de1870 em pequenas proporções (Dal’ Moro e Rückert,
2004).
128
imigrantes. A ausência de uma rede de transportes eficiente inviabilizaria a produção agrícola de
gêneros consumidos no mercado interno pela absoluta desvantagem em relação às colônias
próximas aos rios navegáveis (BERNARDES, 1997).
Com a chegada da linha férrea, no final do século XIX, ao município de Passo Fundo,
houve o incremento de núcleos de colonização ao longo do caminho de ferro. Em Passo Fundo
foram os italianos os primeiros colonos a penetrar na região, aglutinando-se também
descendentes de alemães em alguns projetos de colonização em terras de mata. Em 1897, foram
iniciados projetos de colonização particulares
5
no então 4
o
Distrito de Passo Fundo, instalando a
colônia do Alto Jacuí, com sede em Não-Me-Toque, com colonos italianos e alemães. Em 1898,
ano de abertura do tráfego ferroviário, a empresa Castro, Silva e Cia. organizou a colônia
Saldanha Marinho, igualmente com colonos italianos e alemães. Em 1899, foi organizada, à
margem direita do rio Jacuizinho, pelo coronel Ernesto Carneiro da Fontoura, a colônia Dona
Ernestina. Igualmente com a abertura do tráfego ferroviário, tiveram início as colônias de Marau,
Sertão, Nicolau Vergueiro e Outras (DAL’ MORO E RÜCKERT, 2004).
Os lotes coloniais eram previamente demarcados, inclusive os lotes urbanos que
formariam as futuras cidades. De modo geral, a demarcação dos lotes era feita através de linhas
retas, formando um traçado uniforme e simétrico, com terrenos retangulares de 25 hectares ou
“uma colônia”, como se convencionou chamar popularmente. (ZARTH, 1997).
Com a entrada do imigrante estrangeiro, a economia, comandada pelos pecuaristas nos
campos passou por alterações, compondo-se um novo quadro social e econômico. Mulas, erva-
mate e pedras constituíram o comércio de exportação de Passo Fundo, que se desenvolveu pelo
tempo adiante, robustecendo-se com novos produtos, tais como a madeira de construção
6
,
aguardente, açúcar, farinha, fumo e grãos. Dentre os grãos, despontavam produtos típicos da
5
Período da colonização privada: Lei Estadual de Terras de 1899; início das colonizações privadas (1897/1910) e
públicas (1910). Término da colonização privada (1911/1927) e continuidade da pública (1911/1917) em Rückert
(1997).
6
A região colonial do Rio Grande do Sul estava ocupada por matas de pinhais e outras madeiras de lei, muito
apreciadas pelos ítalos recém-chegados, que utilizavam o madeirame para construir suas moradias, móveis,
instrumentos agrícolas, entre outros. Os pinhões, fruto das araucárias, serviriam como alimentos muito bem-vindos
numa época em que as lavouras ainda não estavam produzindo e havia dificuldades em conseguir alimentos. O
desmatamento feito pelos imigrantes era imprescindível para a produção agrícola, iniciando, assim, o trabalho com a
madeira no nordeste do Rio Grande do Sul. Posteriormente, descendentes desses imigrantes ultrapassariam o rio das
Antas e ocupariam as regiões do Planalto Médio e Alto Uruguai sempre aproveitando esse precioso recurso natural
(Wentz, 2004).
129
colônia, como o feijão e milho. O trigo também passaria a ser cultivado nas terras de mata das
pequenas propriedades dos colonos italianos (DAL’ MORO E RÜCKERT, 2004).
Os colonos adotaram, em princípio, as mesmas técnicas de produção dos desprestigiados
agricultores nacionais precedentes (caboclos). A agricultura dos colonos-imigrantes
caracterizava-se pela queimada e pela rotação de terras, aproveitando a fertilidade natural do solo
virgem. O uso de adubos era inexistente e a iminência de esgotamento do solo era previsível. Se
a fertilidade natural do solo dispensava o uso de adubos, a expansão quantitativa da produção,
para atender as possibilidades de mercado, exigia mais trabalho. Nesse sentido, os agricultores
recorriam a inovações tecnológicas para melhorar o desempenho do trabalho. As inovações
tecnológicas ocorriam tão logo o apodrecimento dos troncos e das raízes de árvore derrubadas
permitisse a utilização de implementos agrícolas (ZARTH, 1997).
O processo de imigração amplia-se, no início do século XX, em 1908, sob orientação do
governo do estado do Rio Grande do Sul, com a fundação da colônia Erexim, composta por
descendentes alemães, italianos e poloneses. Em 1909, nas proximidades do Alto Jacuí, surgiu a
colônia Selbach; em 1910, com alemães, na confluência do rio Colorado, a colônia Barra
Colorada, dentre tantos outros núcleos que passaram a compor o espaço do Planalto Rio-
Grandense (DAL’ MORO E RÜCKERT, 2004).
No início do século XX, a indústria ervateira de Passo Fundo, em termos econômicos,
adquiriu um significativo incremento, com a implantação do sistema de barbaquá
7
,
representando uma sensível melhora no preparo da erva mate. Além disso, inauguração da
indústria da madeira, no município, em 1902, quando se intensificou a exploração dos pinheirais
(Ferreira e Siqueira, 1998). Na segunda década, do século XX, amplia-se a produção de suínos,
associada à produção de milho, com significativa participação no município de Passo Fundo e no
Planalto Médio (ZARTH, 1997).
Brum (1983) destacou que no Planalto, nas diversas localidades, desenvolvia-se também
o comércio (casas de negócio), com lojas e armazéns de secos e molhados e armarinho. As casas
de negócio do interior, quando necessário, forneciam aos colonos os artigos que necessitavam,
operando-se, assim, como uma forma de financiamento, cujo débito seria pago na época da
colheita da produção agrícola ou com a venda de animais, particularmente suínos. Assim, o
7
Uma instalação mais sofisticada, que elimina o contato das folhas de mate com a fumaça e que substituiu o carijo
(Zarth, 1997).
130
comerciante – vendendo, comprando e financiando exercia uma sólida liderança em relação ao
colono. Neste sentido, no período, Passo Fundo se caracterizava como importante centro
comercial regional, para onde convergiam as pessoas a fim de negociar produtos de primeira
necessidade (D’AVILA, 1996).
A importância das relações entre comerciantes e colonos para o município de Passo
Fundo e Região foram trabalhadas por Tedesco e Sander (2002) em sua obra “Madeireiros,
Comerciantes e Granjeiros”:
Mesmo não dispondo de dados, sabe-se, por meio de depoimentos e por trajetórias de
vida e de empreendedores urbanos atuais, principalmente do ramo comercial, que o
meio rural de Passo Fundo foi um espaço de grande dinamismo de comércio. Sua
agricultura, a presença de ferrovias, já antes mesmo do forte da ocupação e colonização
produtiva, sua posição logística do centro-norte do estado ligando outras regiões e
outros estados, a migração de empreendedores de outras regiões (Caxias do Sul,
Veranópolis, Novo Hamburgo...), o solo fértil e de topografia fácil para o manuseio do
solo produtivo, um contingente de consumidores localizados regionalmente, etc.[..] Os
comerciantes não mantinham somente laços com o comércio local e regional, mas
também com os grandes ramos comerciais da capital, e os progressos nos transportes
aconteceram graças a essa ligação (p.65-70).
Os mesmos autores escreveram sobre a forte relação entre a agricultura e o
desenvolvimento urbano:
As culturas do milho, do trigo e a economia da madeira na região também foram
dinamizadas pela rede de comerciantes que atuavam com esses produtos. O milho
fornecia os insumos e a matéria-prima para os frigoríficos e matadouros da região.
Passo Fundo, a partir da década de1930, já contava com uma ampla estrutura
frigorífica para suínos, uma das maiores do estado, e com um grande número de
pequenos moinhos no meio rural e alguns maiores no meio urbano. Os comerciantes
rurais tinham na produção de suínos, de milho e ao porco que o colono adquiria
(farinha de carne, sal, corretivos, medicamentos, etc.) um grande espaço de atuação e
de dinamismo mercantil. [...] Apesar do grande peso da agricultura regional, não se
podem deixar de lado os processos infra-estruturais regionais, os mercados próximos e
o trabalho assalariado nos pequenos núcleos urbanos. As oficinas mecânicas, as
ferrarias, as carpintarias, os moinhos, as pequenas destilarias, as pequenas indústrias
têxteis, as serrarias, as celarias, etc. são expressões regionais do formato econômico
industrial interno no lugar/local de vida dos colonos do espaço em questão (Tedesco e
Sander, 2002, p.74-75).
131
A ligação entre comerciantes, colonos e indústria promoveu a complementaridade nos
processos produtivos, com a formação de categorias empresariais ligadas às agroindústrias,
cooperativas, frigoríficos, e ao monopólio de comércio de determinados produtos regionais
(TEDESCO E SANDER, 2002).
4.2 O processo de Modernização da agricultura no município de Passo Fundo
A partir da metade do século XX, o trigo passa ser mais cultivado no estado do Rio
Grande do Sul. O incremento nesta produção foi possível através da ação conjunta entre fortes
investimentos na agricultura (financiamentos e créditos agrícolas), na pesquisa agropecuária e
nas formas associativas de produção. Este novo modelo, que se denominou modernização da
agricultura brasileira, predominou também na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul,
tendo como pólo regional destas transformações o município de Passo Fundo.
Os resultados favoráveis, porém oscilantes, no volume de produção do trigo nacional
passaram a depender de incentivos governamentais, como crédito, subsídios, garantia de preços
mínimos, criação de infra-estrutura de comercialização e melhorias tecnológicas. Durante o
Estado Novo (entre 1937 e 1945), o governo federal criou o Serviço de Expansão do Trigo
(SET) órgão responsável por centralizar e coordenar a política do setor tritícola, distribuir
gratuitamente sementes e fiscalizar o comércio e a industrialização do Cereal (DAL’ MORO E
RÜCKERT, 2004).
Entre alguns indicadores, resultantes da política nacional de apoio ao trigo, Dal’ Moro e
Rückert (2004) destacam:
No país, no período de 1946-1955, cresceram tanto a produção como a importação de
trigo: a produção do cereal atingiu 170% a mais da média anual do período 1941-1945;
a área cultivada cresceu 143% em relação à fase anterior, com melhoria no índice de
produtividade sica; a área cultivada com trigo no Rio Grande do Sul, de 301 mil ha
em 1946, passou para 1 196 000 ha em 1955, ou seja, houve um acréscimo de 397% (p.
42).
132
Na região do Planalto Médio a nova política nacional do trigo foi, da mesma forma,
baseada, a exemplo do Brasil e do estado do Rio Grande do Sul, por um tripé composto pela
pesquisa agropecuária, sistema cooperativo e sistema financeiro.
A pesquisa agropecuária, na região, foi engendrada com a inauguração, em Passo Fundo
no ano de 1938, pelo governo do Estado, de uma estação experimental, que compunha parte de
uma rede de pesquisa do Instituto de Pesquisa e Experimento Agropecuário do Sul do Brasil
(IPEAS). Concomitantemente, foi instalado um entreposto de sementes para assistência técnica
aos produtores agrícolas do Planalto. A estação experimental e o entreposto prestavam serviço a
toda região do Planalto Médio (sua abrangência estendia-se a 14 municípios no período),
considerada, na época, a maior das zonas fisiográficas do estado do Rio Grande do Sul.
Um elemento articulador de todo o processo de modernização do campo, nos anos de
1950 no sul do Brasil e, em particular, na região colonial e centro-norte do planalto do Rio
Grande do Sul, foi o sistema de cooperativismo regional (TEDESCO et al., 2005). No Planalto
Médio a maior parte das cooperativas foi fundada, ainda na década de 1950, participando
ativamente do processo comercial, industrial e financeiro da cultura do trigo. Uma das
consequências do entrecruzamento de forças de produtores de trigo e do Estado foi a criação da
FECOTRIGO
8
.
Em complemento aos investimentos na pesquisa agropecuária e à organização
associativa, a cessão de financiamentos e crédito foi fundamental ao processo de modernização
da agricultura. No Planalto Médio, os mecanismos de oferta de crédito
9
foram operacionalizados
com a mediação da instituição Banco do Brasil, com a fundação de uma agência no município de
Passo Fundo no ano de 1939. Esta agência atendia a produtores de todos os municípios do
Planalto Médio, zona das Missões e o sul de Santa Catarina (RÜCKERT, 2003).
8
Em 1958, é fundada uma rede de cooperativas tritícolas do Rio Grande do Sul (FECOTRIGO). Atualmente as
cooperativas tritícola-sojeiras do Planalto que compunham a FECOTRIGO são: Coprel, Cotrigo, Coopasso,
Coopemarau, Cotrisana, Cooperval, Copenvista, Coorondinha, Copalma, Coopera, Cotrizabal, Cotrizal, Cotriel,
Coagrisol e Cotribá (Falkembach, 1985).
9
Na análise da cessão de crédito ao Planalto Rückert (2003) segmenta a política do Estado em duas fases: a primeira
fase (1965/1976) caracteriza-se por cessão de crédito público altamente subsidiado gerando concentração de riqueza
para os capitalistas da agricultura, pois, para o autor, inicialmente, não havia acesso ao crédito por parte dos
pequenos produtores da região. Na segunda fase (1976/1980) o autor evidencia um maior aporte de recursos
públicos para custeio (ampliação de insumos modernos na agricultura) em detrimento a investimentos (venda de
máquinas, implementos, benfeitorias diminuem) que são canalizados em maior volume para os pequenos e médios
produtores.
133
Um dos resultados da sinergia, entre os três elementos (pesquisa, cooperativismo e
crédito subsidiado), foi a transformação do espaço agrário da Região do Planalto Médio. Em
relação à produção, por um lado, houve a substituição de área de campo para a plantação de
trigo, por parte da categoria dos fazendeiros criadores tradicionais do Planalto Médio. E, por
outro lado, os pequenos produtores diminuíram a produção de alimentos para cessão de área e
recursos ao incremento de trigo (DAL’MORO E RÜCKERT, 2004). Foram evidenciados
reflexos sociais no campo, principalmente, pela expulsão de pequenos camponeses (com a sobra
de mão-de-obra agrícola e uso de maquinaria e tecnologia) que, em grande parte, migraram para
os Estados de Santa Carina e do Paraná (TEDESCO E SANDER, 2002).
Outrossim, em complemento as transformações da estrutura produtiva regional, desponta
uma nova categoria” de empresários rurais que ganha espaço no Estado do Rio Grande do Sul
e, sobretudo, no Planalto Médio no final da década de 1950: os granjeiros.
Radaelli da Silva (2004, p.39) caracteriza este tipo de produtor:
O Planalto Rio-Grandense, como sabemos, é uma tradicional região de criação
extensiva, que, desde a década de 1950, vem passando por profundas transformações.
Aí, criadores gaúchos tradicionais, apesar de aptos para explorar as diferentes
variedades de pasto naturais do campo, entraram em decadência. Atualmente, o que se
tem é uma desigual conquista dos campos [...]. Nesses campos, as grandes fazendas
mecanizadas granjas - foram instaladas em sua maior parte por descendentes de
colonos policultores. Também os criadores passaram a adotar a agricultura de campo,
lançando-se na associação entre agricultura e pecuária.
Rückert (2003), em sua análise sobre a agricultura na região do Planalto Médio Rio-
grandense, reforça o caráter comercial dos granjeiros:
No cenário social nacional e regional, passa-se a ter, agora, além dos industriais da
farinha e dos colonos tradicionais, dos novos empresários da agricultura “granjeiros”
-, aqueles ligados a produção de inputs para agricultura mecanizada. Em Passo Fundo,
por exemplo, a Empresa de Implementos Agrícolas Menegaz S/A, que desde 1937
fabricava carrocerias para ônibus, instalações para serrarias, máquinas para curtume,
moinhos para trigo e milho, moinhos para cana e descascadores de arroz, em 1952
passou a fabricação de implementos agrícolas (p.52).
Neste contexto a estruturação cooperativista foi o elemento articulador, promovendo a
interligação de todo esse processo, pós-final dos anos 50, no sul do Brasil. Em Passo Fundo
destaca-se a criação da Cooperativa Tritícola de Passo Fundo (Coopasso), com investimentos na
construção de depósitos, armazéns, infra-estrutura de transporte, luz elétrica e equipamentos.
134
Além disso, a Coopasso, em conjunto com as cooperativas da região, tinha, como eixos
principais de ação, o incremento à comercialização de soja e milho, regulação do preço mínimo
do trigo, expansão da área cultivada de trigo, ampliação da exportação de trigo e a captação de
mercado para soja e trigo.
As funções da cooperativa se alargam em razão da inserção da cultura da soja, com
investimentos na produção
10
, nos estoques e na comercialização do produto. A Cooperativa
torna-se uma importante intermediária entre produtores e o mercado, ao adotar uma lógica
mercantil que não se diferenciava em nada das grandes firmas multinacionais do setor
agroindustrial da região.
A partir da década de 1960, com a expansão do capital monopolista multinacional, os
triticultores capitalistas sofrem sérios recuos, entretanto, consolidam-se politicamente, como
classe dominante na região do Planalto Médio. Os governos de transição, pré-1964, adotam
tendências internacionalistas na política econômica, incentivando o plantio de soja como produto
de destaque à agricultura de exportação (RÜCKERT, 2003).
Neste momento, a orientação da economia caminha no sentido da industrialização, que se
consolida, nas décadas de 1950 e 1960, através da internalização do setor industrial, o chamado
D1. Segundo Kageyama et al. (1990) ocorre a internalização da produção de bens de consumo
em conjunto com a produção dos próprios meios de produção.
Acima de tudo, na região do Planalto Médio e em Passo Fundo, o ponto de passagem de
uma economia rural para uma economia agroindustrial inicia com a prática de produção do
binômio cultivo de trigo em rotação com o cultivo de soja. Através da interação técnica, entre as
indústrias que produzem para agricultura, entre a agricultura e as agroindústrias processadoras,
constituiu-se o complexo agroindustrial de Passo Fundo, a partir de 1965. Ou seja, passa a existir
um conjunto de atividades econômicas, agrícolas, industriais e financeiras com elevado grau de
integração entre si (TEDESCO et al., 2005).
O município, vivenciando o intenso processo de industrialização, necessitou de uma
reestruturação de seu espaço urbano em virtude do êxodo rural. Na década de 1970, o fenômeno
10
Foram construídas pela cooperativa Coopasso indústrias de farelo de óleo e de soja, fábricas de ração, e fábrica de
calcário (além de empréstimos com o BRDE para montagem de uma indústria de óleo de soja). Na década de 1970,
a Coopasso já contabilizava 2100 associados negociando volumes de insumos repassados diretamente a seus
cooperados e um preço baixo através de importações via Banco do Brasil. (com a constituição das centrais
FECOTRIGO e Central-Sul a cooperativa passa a exportar diretamente para o exterior sem a interferência das
grandes empresas multinacionais).
135
de concentração fundiária, aliado à modernização do processo técnico, transformaram as
relações de produção, com a substituição de parte da mão-de-obra pela tecnologia, conduzindo à
redução da população rural. Ou seja, neste período tem continuidade o processo de êxodo rural,
que iniciou em 1950, com a ampliação dos processos tecnológicos para o cultivo do trigo.
O dinamismo do espaço econômico-rural de Passo Fundo tem os granjeiros como atores,
em destaque, na intensificação da dinâmica da economia regional. Os granjeiros, as cooperativas,
as agroindústrias e os comerciantes urbanos são alguns dos sujeitos dessa dinâmica. A partir de
1965, esta dinâmica amplia-se ainda mais, com o incremento da lavoura empresarial da soja,
estimulada por uma gama de incentivos fiscais e políticas de financiamentos públicos. Na década
de 1970, a produção de soja é expandida, assumindo a primazia do processo de modernização da
agricultura da Região. O desenvolvimento dessa cultura apoiou-se no crescimento da indústria
nacional de óleos e na expansão da demanda externa, estabelecendo novas condições para a
intensificação do processo de capitalização do setor rural (BEUX, 2003).
Tedesco et al. (2005) em sua análise a cerca dos avanços do processo transformador da
economia rural em economia agroindustrial em Passo Fundo afirmam:
A modernização visou ao fortalecimento e expansão de setores como bancos,
indústrias de máquinas e insumos modernos e, ainda, as agroindústrias de
processamento e transformação da produção agropecuária. A adoção das atividades
agrárias ao modo industrial de produzir e ao estilo empresarial de gerir a unidade
econômica agrária resultou do consumo crescente de insumos industriais e de serviços
técnicos ou, em outras palavras, da mais intensa integração da agricultura na matriz
intersetorial da economia nacional pelo lado da oferta da indústria de bens de capital
(p.116-117).
As transformações operadas no sistema produtivo com a implantação e avanço da
modernização da agricultura mecanificação e tecnificação da lavoura - no Planalto Médio
provocaram profundas mudanças. De um lado, verificou-se aumento substancial nos volumes de
produção agrícola e mesmo da produtividade, especialmente no caso da soja. De outro lado, a
região fez parte de um profundo processo de concentração em duas culturas, ou seja, o binômio
trigo-soja, com o abandono quase completo de várias culturas de subsistência, destinadas
prioritariamente ao consumo da família com excedentes de comercialização (BRUM, 1983). O
mesmo fenômeno que acontece na região do Planalto Médio ocorreu, em proporções
semelhantes, no município de Passo Fundo.
136
Na década de 1980, com a crise financeira brasileira instalada, as políticas voltadas para o
setor rural são reorientadas. A partir deste momento, houve uma escassez de recursos para o
financiamento do setor e um destaque maior para a participação da política de preços mínimos
(MASSUQUETTI, 1998). No período, as taxas de juros para os financiamentos, no Sistema
Nacional de Crédito Rural, são elevadas. O volume total de crédito agropecuário foi reduzido a
um terço do concedido no final dos anos 70, sendo o crédito para investimento o mais atingido
pelos cortes. Praticamente todos os subsídios implícitos foram retirados, passando os produtores
a pagar uma taxa real de juros de pelo menos 3% a.a. acima da correção monetária, aumentando
também a parcela de recursos próprios exigidos como contrapartida dos financiamentos para os
produtores (GRAZIANO DA SILVA, 1996).
No Planalto Médio, a retirada dos subsídios, juntamente com a elevação da inflação,
aumenta os custos da lavoura. O acúmulo sistemático de prejuízos por frustrações de safras,
arrocho financeiro e baixos preços agrícolas levou uma parcela de pequenos produtores a
colocarem seus lotes a venda, para saldarem suas dívidas. Outros agricultores passaram a utilizar
os recursos do próprio custeio agcola para pagarem suas dívidas bancárias. Também buscaram
créditos complementares de custeio, rolando sistematicamente as dívidas anteriores, além de
venderem a força animal da propriedade, empregando-se em outras propriedades, para poderem
permanecer na terra (RÜCKERT, 2003).
Com a finalidade de viabilizar a pequena produção e reduzir a pressão social crescente, a
chamada diversificação agrícola e a integração lavoura e pecuária despontam como projetos de
produção alternativos de culturas. A linha mestra desses projetos visava a redução dos custos de
produção dos pequenos produtores familiares, através da adoção de tecnologias que restringisse
o uso de insumos de origem externa à propriedade (RÜCKERT, 2003).
Um elemento fundamental para a análise das formas tomadas pela agricultura familiar foi
apresentado por Buainain (2006). O universo diferenciado de agricultores familiares está
composto de grupos com interesses particulares, estratégias próprias de sobrevivência e de
produção, que reagem de maneira diferenciada a desafios, oportunidades e restrições
semelhantes. O reconhecimento dessa diferenciação é um ponto chave para a reflexão sobre
desenvolvimento da agricultura familiar em geral e sobre as potencialidades da introdução da
agricultura alternativa como estratégia de desenvolvimento.
Para o autor:
137
A agricultura familiar brasileira é extremamente diversificada. Inclui tanto famílias que
vivem e exploram minifúndios em condições de extrema pobreza como produtores
inseridos no moderno agronegócio que logram gerar renda superior, várias vezes, a que
define a linha da pobreza (p.15).
Buainain et al., (2003) em seu texto “Agricultura Familiar e o Novo Mundo Rural”
relatam que na década de 1990, a redução relativa do emprego rural estritamente agrícola em
contraposição ao aumento do emprego rural não-agrícola é apresentada como estratégia para,
simultaneamente, reter a população atual pobre em seus locais de moradia e elevar seu nível de
renda.
A incorporação da noção de agricultura familiar mostrou-se capaz de oferecer guarida a
um conjunto de categorias sociais, como assentados, arrendatários, parceiros, integrados a
agroindústria, entre outros que não mais podiam ser confortavelmente identificados com as
noções de pequenos produtores ou simplesmente trabalhadores rurais. No cenário social e
político brasileiro, a afirmação da agricultura familiar, está relacionada à legitimação que o
Estado lhe emprestou ao criar o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF)
11
.
Nesse sentido, uma mudança gradual ocorre nos sistemas produtivos desenvolvidos nas
unidades de produção do Planalto Médio, com a realização de novas atividades, em
complemento ao cultivo da soja e do trigo. Um arranjo produtivo adotado entre produtores,
sobretudo familiares, e indústria, a partir da década de 1990, é o sistema de contratualização
(sistema de integração). Esse sistema, inserido e influente no âmbito do agronegócio e no
modelo produtivista, agrega diferentes níveis, etapas e sucessões de atividades integradas. A
criação de suínos, por exemplo, acompanha a história agrícola dos colonos da região. A demanda
local pela banha, pelo toucinho e pela carne, bem como a terminação do suíno como
complemento importante à alimentação e o fato de ser uma atividade intensiva em termos de
quantidade de terra, tornaram esta produção uma das principais fontes de intercâmbio e
circulação de mercadorias (TEDESCO, 1999).
11
Este programa, que em larga medida foi formulado como resposta às pressões do movimento sindical rural
realizadas desde o início da década de 1990, nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio institucional
às categorias de pequenos produtores rurais que vinham sendo alijados das políticas públicas ao longo da década de
1980 e encontravam sérias dificuldades em se manter na atividade (Schneider, 2003).
138
A criação de suínos, de vacas leiteiras, de galinhas sempre foi acompanhada pela
policultura, expressa no cultivo de milho, da uva, do fumo, de frutas, de feijão e do trigo. O
mesmo autor, ao analisar as formas de contratualização e a racionalidade familiar, apresenta a
analogia existente entre os processos derivados dos matadouros, frigoríficos e formas semi-
artesanais de produção e os processos de âmbito industrial, técnico e mercadológico:
Os colonos não foram tomados de surpresa pela inserção das agroindústrias tanto de
suínos quanto de fumo e uva; talvez um pouco diferente tenha sido em relação à
avicultura industrial. Porém, como as práticas, métodos, processos e exigências não se
diferenciam muito do suíno, houve uma incorporação não tão problemática do
processo como um todo (p. 121).
Neste conjunto de novas atividades implementadas nas unidades de produção, ocorre,
recentemente em Passo Fundo e na Região, a ampliação da produção hortifrutigranjeira com a
finalidade de comercialização da produção. Esta tendência amplia-se com a inserção dos
produtores nas chamadas feiras centrais, ainda na década de 1990
12
. Ademais, sua participação
vem ganhando espaço com a produção e comercialização de produtos que não apresentam
insumos químicos e fertilizantes em seus processos produtivos - produtos agroecológicos
(TEDESCO, 2006).
A agricultura orgânica também representa um meio de resistência e permanência da
agricultura familiar, dentro de um programa maior de desenvolvimento rural sustentável e
solidário. Faz-se necessário aos agricultores orgânicos uma remuneração satisfatória, do seu
trabalho, havendo, portanto, a necessidade de mais consumidores deste tipo de produto em
circuitos curtos e longos composto por consumidores urbanos e redes de supermercados
(SCHMIDT, 2001). Embora os produtores apresentem-se parcialmente organizados
13
constata-se
a necessidade de ampliação das redes de comercialização da produção de orgânicos.
Por fim, cabe ressaltar que os diferentes estágios da modernização da agricultura
brasileira tiveram repercussão na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul e Passo Fundo
12
Embora uma das principais feiras de hortifrutigranjeiros em Passo Fundo, a Feira do Produtor, tenha sido lançada
em dezembro de 1980 (AGROJORNAL, dez.1980. Arquivo Histórico Regional).
13
Como expoente da venda de produtos hortifrutigranjeiros orgânicos cita-se a feira de produtos ecológicos da
região de Passo Fundo (fundada em 1998) composta por grupos de trabalho representantes de diversas associações e
entidades de apoio e assessoria como Cetap, Pastorais, Cáritas, Diocesana, Coonalter com iniciativas na forma de
cooperação (associações e cooperativas) e a participação de inúmeros produtores de distintos municípios como
Passo Fundo, Santo Antônio do Palma, Água Santa, Três Arroios, Getúlio Vargas, Tapejara, Marau, São Domingos
do Sul, Ibiraiaras, Pontão e Casca (Tedesco, 2006).
139
de maneira semelhante. Por ser um polo regional, Passo Fundo catalizou e disseminou os
principais processos cnicos e econômicos agrícolas, estando à frente destes processos que
afetaram a agricultura local e regional. Na próxima seção são detalhados os principais sistemas
produtivos, desenvolvidos nas unidades de produção, a partir da modernização da agricultura
brasileira.
4.3 As transformações dos sistemas de produção das unidades de produção de Passo Fundo
a partir da modernização da agricultura brasileira
Frequentemente os produtores das unidades de produção agrícola podem praticar
Sistemas de Produção muito similares e pertencer a uma mesma categoria social; mas podem
também ser muito diferentes uns dos outros, e/ou muito complementares. Os elementos que
definem a diferenciação dos agricultores, em relação à prática de diferentes Sistemas de
Produção, são os recursos de que eles dispõem, a natureza das relações sociais, e o contexto em
que operam (MAZOYER, 1998).
Nesta seção e na seguinte (4.4) são reconstituídos os principais Sistemas de Produção
implementados nas unidades de produção agrícola de Passo Fundo, a partir do processo de
modernização da agricultura até os dias atuais. Esta reconstituição ancora-se, acima de tudo, na
evolução da história agrária do Município e na percepção dos agentes ligados à agricultura sobre
as principais transformações ocorridas nos Sistemas de Produção implementados pelos
agricultores locais ao longo deste período
14
.
No ínício do período de modernização da agricultura, entre os anos de 1950 e o início dos
anos 60, foram identificados, entre as unidades de produção de Passo Fundo, dois tipos de
Sistemas de Produção (Quadro 7). O primeiro (Sistema de Produção 1), caracterizava-se pela
prática de atividades de produção e criação diversificadas. A mão-de-obra agregada nas unidades
restringia-se, exclusivamente, a força de trabalho da família. Neste Sistema de Produção, a
abundância de mão-de-obra familiar contribuía para a geração de renda agrícola, em um
conjunto variado e amplo de atividades. De modo ilustrativo, representa este sistema de
14
Para a reconstituição dos sistemas de produção praticados pelos produtores rurais de Passo Fundo recorreu-se a
fontes secundárias (literatura, arquivo histórico regional entre outras fontes) e a fontes primárias de informações
(entrevistas dirigidas). Para maiores detalhes das técnicas de pesquisa, ver Capítulo 3 desta Tese.
140
produção uma unidade de produção agrícola com mão-de-obra familiar e cultivo de mandioca,
milho, feijão, trigo e produção de leite, além da produção de telhas em pequenas olarias próprias.
Um outro exemplo de unidade de produção agrícola que representa este sistema de produção está
baseada produção de grãos (trigo e milho), criação de suínos e o beneficiamento do trigo,
inclusive de vizinhos, em moinhos coloniais
15
instalados nas propriedades (Dados de Pesquisa,
2008).
Um segundo Sistema de Produção (Sistema de Produção 2) identificado nas unidades
produtivas deste período, compunha-se por propriedades com médias e grandes áreas (de posse
de produtores proprietários e/ou arrendatários
16
), destinadas exclusivamente à produção de trigo
associado a criação de bovinos. Estes produtores tinham facilidade de acesso a recursos públicos
para a agricultura, visando, sobretudo, a ampliação da área produzida com trigo. Brum (1983)
destaca que foram pessoas ligadas à cidade (comerciantes, profissionais liberais e pequenos
industriais), com algum tipo de vinculação com a agricultura, os primeiros a implantarem a
motomecanização. Tendo uma visão mais ampla dos negócios e habituados a lidar com os
bancos, estes produtores perceberam as condições favoráveis que então se apresentavam.
Cabe salientar que os agricultores que implementaram o primeiro sistema de produção,
de início, não se sentiram atraídos pela triticultura nos moldes em que era praticada pelos
produtores do segundo Sistema de Produção. Além do forte descrédito em relação ao êxito da
cultura do trigo, não possuíam capital próprio suficiente e também não estavam habituados com
as diligências bancárias, tendo aversão a contrair empréstimos junto aos bancos, uma vez que tal
medida implicava na hipoteca da terra, que era considerada um bem fundamental da família.
15
O termo colono (que será recorrente nesta parte texto), da colônia, é utilizado de acordo com a definição adotada
por Tedesco (1999): Colono significa viver numa colônia, de preferência possuir um pedaço de terra suficiente
para a sobrevivência, comumente o mínimo equivalente a uma colônia (25ha)...somos colonos porque trabalhamos
na colônia..” (p.107-108).
16
Os produtores do Sistema de Produção 2 arrendavam áreas adicionais de produtores pecuaristas, que, no período,
começam a arrendar, parte de suas terras, para produção de trigo.
141
Quadro 7 - Principais Sistemas de Produção Praticados pelos Agricultores no Município de Passo
Fundo, durante a Década de 1950 e Início dos Anos de 1960.
Indicador Sistema
Mão-de-obra
(tipo)
Atividades da Unidade e
nível tecnológico
Uso de recursos
externos a unidade
Elementos de passagem
para um novo Sistema
de Produção
Sistema de
Produção1
Familiar;
Descendentes
dos agricultores
das colônias.
Policultura (milho, uva,
feijão, batata e outros);
Trigo para consumo interno
e eventuais trocas (áreas
cultivadas em expansão no
período);
Tecnologia compartilhada;
Criação de suínos;
Criação de bovinos para
consumo interno;
Criação de galinhas;
Artesanato (moinhos
coloniais e olarias).
Dificuldades em
contrair empréstimos.
Descapitalizão e
dificuldades financeiras;
Dificuldade em se manter
na atividade/venda da terra,
migração para áreas
urbanas;
Passagem à produção de
trigo (troca de área de
produção de alimentos);
Ampliação do cultivo de
trigo, via incentivos
governamentais.
Sistema de
Produção2
Familiar e
prmanente
contratada
(maiores áreas);
Temporária
contratada em
períodos de
plantio e colheita;
Comerciantes,
profissionais
liberais com
capital e acesso a
bancos,
cooperativas e
comércio.
Lavouras motomecanizadas de
trigo associadas com milho e
soja (pequenas áreas);
Investimento em maquinaria;
Lavouras de trigo (e soja)
associado com criação em
áreas grandes;
Investimentos em maquinaria;
Arrendamento;
Compra de áreas adicionais
para o trigo e posteriormente
para a soja;
Investimento em
maquinaria;
Associação em
cooperativas;
Cooperativas e crédito
oficial para
investimento e custeio
de lavouras de trigo e
soja (menor escala).
Arrendamento de áreas para
ampliação da área cultivada;
Concentração de áreas,
sobretudo, lavouras.
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Somente em meados de 1960 o agricultor tradicional (colono), do Sistema de Produção 1,
começou a ingressar no processo de modernização da agricultura. Com as terras geralmente
esgotadas, descapitalizados, com produção agrícola em declínio, submetidos a preços
desfavoráveis de venda de seus produtos e sem apoio oficial, estes produtores estavam sem
perspectivas, pois os incentivos e as garantias oficiais eram válidas somente para a produção de
trigo. Abandonar a policultura e ingressar na produção de trigo, com reforço da soja em
expansão, apresentava-se, na época, a única alternativa viável. Assim, os pequenos e médios
agricultores ingressaram na produção agrícola modernizada.
A partir de 1965, o complexo agroindustrial do Planalto Médio, que se iniciou com a
política de apoio ao trigo e com a integração entre as atividades econômicas agrícolas,
industriais, comerciais e financeiras, consolida-se (BRUM, 1983). Um momento importante,
para a efetivação deste Complexo, foi a ampliação da produção de soja, em virtude da
142
possibilidade do sistema de cultivo com rotação anual trigo-soja. Além disso, as frequentes
frustrações na safra de trigo induziram os produtores a buscarem compensação através da
ampliação da área cultivada com soja. Outra vantagem, além do uso da mesma área de terra, foi
a possibilidade de utilização das mesmas máquinas e equipamentos agrícolas, permitindo uma
utilização mais intensa do capital e conseqüentemente uma redução dos custos fixos (BRUM,
1983). Outros incentivos ao novo cultivo, além da política brasileira de estímulo à produção,
estavam associados a crescente internacionalização da economia da soja, somando-se o fato da
soja brasileira ser colhida na entressafra dos maiores produtores mundiais.
Com estes elementos, internos e externos às propriedades, as unidades produtoras de soja
passam a coexistir com a indústria de processamento do produto, desenvolvida sob a tutela
governamental. As facilidades de comercialização e os preços pagos aos produtores, para a
cultura da soja torna, este cultivo, uma atividade significativamente rentável
17
.
Como principal resultado deste processo, significativa parcela dos agricultores
incorporam, rapidamente, as exigências do novo modelo agrícola vigente. Em consequência, as
unidades agrícolas passam por transformações em seus Sistemas de Produção, resultando em três
principais Sistemas de Produção hegemônicos entre os agricultores no período seguinte,
compreendido entre os anos de 1965 e 1980. As principais características deste sistema de
produção são apresentadas no Quadro 8 (Dados de Pesquisa, 2008).
O primeiro Sistema de Produção estava representado em unidades com área aproximada
de 25 hectares, equivalente a uma colônia. Este sistema de produção compreendia, normalmente,
um conjunto diverso de atividades de cultivos e criação, em pequena e média escala. Citam-se,
como exemplos, a criação de suínos (para comercialização na região) realizada em conjunto com
a venda de leite à indústria e o cultivo de produtos de horta e pomar, para consumo da família
(Quadro 8 – Sistema de Produção 1).
O segundo Sistema de Produção era composto pela produção comercial de grãos,
concomitantemente com atividades de criação
18
(Quadro 8 Sistema de Produção 2). Embora, a
soja ocupasse papel central na maior parte dos Sistemas de Produção, neste período coexistiam,
muitas vezes, outras atividades agrícolas de cunho comercial. Além da produção de soja,
17
As cooperativas assumiram um papel significativo, seja incentivando a produção, seja abrindo as suas portas a
todo o produtor de “trigo e soja”, independentemente do tamanho de suas lavouras (Dal’ Moro e Rückert, 2004).
18
Este tipo de alternativa de produção para a agricultura foi definido, para o Planalto Médio, como uma alternativa
de diversificação da agricultura frente a consolidação do modelo de monopólio da soja (Brum, 1983 e Rückert,
2003).
143
vendiam leite à indústria, enquanto outros criavam suínos para venda direta a frigoríficos e
açougues da região, havendo também produtores que realizavam a engorda de gado de corte para
posterior venda a cooperativas e mercados regionais. Este Sistema de Produção dispunha de um
aporte tecnológico caracterizado por maquinarias e benfeitorias ligadas, prioritariamente, as
necessidades operacionais das lavouras de soja e trigo. Outro elemento essencial, neste sistema
de produção, era a possibilidade de acesso pelos agricultores, da maior parte das unidades, à
política de crédito para investimentos em maquinaria, implementos e custeio da produção
(Dados de Pesquisa, 2008).
O terceiro Sistema de Produção deste período era implementado em unidades com áreas
superiores a 25 hectares (Quadro 8 – Sistema de Produção 3). Na maior parte das terras,
cultivava-se soja e trigo em rotação. Estes produtores foram ampliando, ao longo do tempo, o
aporte tecnológico, adotando e incorporando insumos modernos e novas técnicas de produção.
Comum também entre os agricultores deste Sistema de Produção era a prática de arrendamento
de áreas adicionais, visando aumentar a escala de produção das culturas da soja e do trigo. Havia
forte ligação dos agricultores que implementaram este Sistema de Produção, com o complexo
agroindustrial regional, dentro do qual, Passo Fundo consolidava-se como cus central das
relações produtivas vigentes no período, conforme já evidenciado na seção anterior.
144
Quadro 8 - Principais Tipos de Sistemas de Produção Implementados pelos Produtores Rurais
nas Propriedades de Passo Fundo entre os anos de 1965 e 1980.
Observações: Motomecanização Baixa: junta de bois, trator (em parceria com produtores/associações da
comunidade), arado; Mecanização Média: um trator, arado, grade, um galpão (ou outra benfeitoria para guarda de
animais e insumos); Mecanização elevada: dois tratores (ou mais), duas colheitadeiras (ou mais), arados, grades, um
galpão (ou mais).
Nos Sistemas de Produção implementados pelos produtores deste período, a cultura da
soja ainda representava a atividade principal, na maior parte das unidades produtivas. A partir do
final da década de 1980 e início dos anos de 1990, constata-se o início, na Região do Planalto
Médio e, sobretudo, em Passo Fundo, do processo de integração entre as indústrias de aves e
SISTEMA DE PRODUÇÃO 1
Área Mão-de-Obra Capital Produção Vegetal Produção Animal
Pequenas áreas
(até 25ha)
Mão-de-Obra
exclusivamente
Familiar
Motomecanização
Baixa ou média
Soja;
Milho
Alimentação animal
Vacas de leite
Autoconsumo e venda
eventual à indústria
Trigo;
Consumo interno
Suínos
Autoconsumo e venda
eventual para indústria
Mandioca.
Consumo interno
Gado
Autoconsumo
Aves
Autoconsumo
Gado
Autoconsumo e eventual
venda vizinhos/cidade
SISTEMA DE PRODUÇÃO 2
Área Mão-de-Obra Capital Produção Vegetal Produção Animal
Áreas médias
(até cerca de 200
ha)
Familiar
(
eventual contratação
temporária)
Motomecanização
Média ou Alta
Soja
Milho
Vacas de Leite
Autoconsumo e venda
externa
Área própria e
eventualmente
arrendada
Familiar
(com 2
núcleos familiares
produzindo em
conjunto)
Trigo
Forragens
Alfafa;
Suínos
Autoconsumo e venda à
Indústria
Campo nativo
Gado
Autoconsumo e venda para
frigoríficos
Ovinocultura
Autoconsumo e venda à
vizinhos
SISTEMA DE PRODUÇÃO 3
Área Mão-de-Obra Capital Produção Vegetal Produção Animal
Áreas grandes Familiar
Motomecanização
Elevada
Soja;
Suinocultura
Venda para indústria
(acima de 500 ha)
Contratada
Permanente;
Eventualmente
contratada.
Trigo;
Milho.
Áreas próprias
somadas a áreas
arrendadas
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
145
suínos e os produtores rurais (integração agroindustrial). No Município a integração
agroindustrial se configura, prioritariamente, com a indústria avícola. O processo de integração
se desenvolve facilitado pelas características culturais, de produção e comercial, inerentes aos
agricultores, ampliando rapidamente o número de unidades de produção que implementam a
avicultura. Os procedimentos operacionais do sistema de integração efetivam-se através da
parceria entre o produtor e a indústria, onde a indústria disponibiliza ração, material para
construção dos aviários, financiamentos e assessoria técnica em troca do recebimento contínuo
de lotes de aves prontas para o abate (Dados de Pesquisa, 2008).
Ainda na década de 1990, outras atividades ampliam-se, no Município, ganhando mais
importância para os produtores rurais. Entre elas destaca-se a atividade leiteira, que mesmo
estando presente nas unidades há muito tempo, passa a representar uma importante fonte de
renda adicional. A característica da liquidez monetária da atividade minimiza, nos momentos de
crise agrícola, o impacto financeiro negativo na economia das unidades de produção. Neste
sentido, outra atividade que retoma espaço é a produção de culturas de horta e pomar, para
comercialização externa. A opção de muitos produtores, por estes cultivos, justifica-se como
sendo uma estratégia de maximização de recursos, por vezes escassos (como, por exemplo, área
agriculturável). Ademais, parte dos produtores tem investido na produção de orgânicos,
agregando valor de venda aos produtos (Dados de Pesquisa, 2008).
Todos estes processos, que entraram em vigor, a partir dos anos de 1990, estão
atualmente em funcionamento nos Sistemas de Produção da maior parte das unidades produtivas
da área rural. A próxima seção analisará, a partir de dados primários, os principais Sistemas de
Produção desenvolvidos pelos agricultores em Passo Fundo.
146
4.4 A diferenciação dos agricultores da área rural de Passo Fundo: Tipologia de Sistemas
de Produção
A partir da coleta de dados primários, com a realização de 81 entrevistas na área rural do
município, com produtores responsáveis pelas unidades de produção, foram identificadas
características que revelam o perfil da amostra estudada.
Tabela 4 - Perfil da Amostra Utilizada para a Construção da Tipologia dos Sistemas de Produção
dos Produtores Rurais do Município de Passo Fundo.
PERFIL DA AMOSTRA
Especificação do Item Unidade de Análise
Local da Coleta de Dados Área Rural do Município de
Passo Fundo
Distritos Bela Vista, Pulador, São
Roque e Bom Recreio.
Entrevistas realizadas Em Unidades
Produtores/Unidades Produtivas 81
Área das Unidades Em Hectares (ha)
Área Média das Propriedades 64,56
Intervalos de Área das Unidades 0,5 à 330
Mão-de-Obra Percentual em relação ao
total da amostra
Base Familiar(componentes da família são a base do trabalho da
unidade)
93,82
Participação por Tipos de Atividades Vegetais Percentual em relação ao
total da amostra
Soja 87,65
Milho 79,01
Trigo 28,39
Participação por Tipos de Atividades de Criação Percentual em relação ao
total da amostra
Atividade Leiteira 74,07
Bovinos 82,71
Suínos 67,90
Infra-estrutura das unidades de produção Percentual em relação ao
total da amostra
Galpão 87,65
Trator 85,18
Semeadora 63
Pulverizador 80,24
Arado 70,37
Tração animal 6,18
Rendas externas às atividades agrícolas das Propriedades Percentual em relação ao
total da amostra
Aposentadoria Rural 46,91
Rendas Adicionais 20,98
Utilização de Recursos do Estado para Agricultura Percentual em relação ao
total da amostra
Financiamentos 51,85
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
147
Um panorama dos resultados encontrados, a partir dos dados amostrais coletados na área
rural do Município, composto pelos distritos de Bela Vista, Pulador, São Roque e Bom Recreio,
revela que a área média das propriedades investigadas é de 64 ha, com atividades de cultivo de
soja, milho e trigo e de criação de bovinos e suínos, com mão-de-obra essencialmente familiar.
Cerca de 50% dos produtores rurais investigados possuem financiamentos com recursos do
Estado para agricultura. Em relação às rendas externas, cerca de 46% das unidades entrevistadas
tem, pelo menos, um membro da família que recebe aposentadoria.
Estas entrevistas, realizadas diretamente junto aos agricultores, subsidiaram a elaboração
da Tipologia dos Sistemas de Produção implantados pelos produtores rurais do Município.
Através do agrupamento de indicadores agro-socioeconômicos, da história dos produtores e da
evolução das unidades pesquisadas, foram identificados quatro Sistemas de Produção distintos:
Sistema de Produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1)
Sistema de Produção Aviário (Tipo 2)
Sistema de Produção Leite (Tipo 3)
Sistema de Produção Soja e seus subsistemas (Tipo 4)
a - Subsistema de Produção Soja – Criação (Tipo 4a)
b - Subsistema de Produção Soja – Cultivos de inverno (Tipo 4b)
A seguir, o Quadro 9 apresenta uma síntese das principais características destes Sistemas
de Produção evidenciados e praticados pelos produtores entrevistados na área rural do Município
no ano de 2008.
148
Quadro 9 - Síntese das Características dos Sistemas de Produção Praticados pelos Produtores
Entrevistados na Área Rural do Município de Passo Fundo no ano de 2008.
SISTEMA DE
PRODUÇÃO Tipo 1 Tipo 2
Tipo 3 Tipo 4
(Soja e seus subsistemas)
Hortifrutigranjeiro Aviário Leite a) Soja - b) Soja -Cultivos
Variáveis
Criação de Inverno
Início das
atividades na
unidade
Durante as décadas de 1970 a
1990
Durante as décadas de 1950
a 1970
Década de 1940
Início da
atividade na
década de1960 e
1970
Início da atividade
na década de1960 e
1970
SAU (superfície
agrícola útil)
Áreas pouco extensas para
monoculturas de verão e
inverno
Áreas pequenas e médias
apropriadas a cultivos de
lavoura.
Áreas Médias
Áreas médias e
grandes,por
vezes, com
parcelas
arrendadas
Áreas médias e
grandes
UTH (mão-de-
obra)
Atividades realizadas pelos
membros da Família
Familiar, contratada e
eventualmente temporária.
Normalmente
composta
somente por
membros da
Família
Familiar,
permanente e
temporária
Familiar e
temporária
Nível de
Equipamentos
Apropriado às atividades
centrais do sistema produtivo
Apropriado às atividades
centrais do sistema de
produção
Apropriado,
porém ainda o
totalmente
mecanizado.
Apropriado a
necessidade
tecnológica da
unidade.
Apropriado às
lavouras de trigo e
soja
Principais
Cultivos
Comerciais
Produtos da horta e pomar
(centralidade deste tipo de
sistema de produção)
Soja comercial com venda
para cooperativas e
empresas da região.
Eventualmente
comercialização
de soja e em
pequena escala
Soja comercial
para venda via
cooperativa local
e/ou para
indústria.
Soja, trigo e aveia
comercial
(centralidade do
sistema de
produção)
Criação
Comercial
Aviário integrado com
indústria (centralidade deste
sistema de produção)
Leite para
Indústria e venda
para particulares
(centralidade do
sistema de
produção)
Suínos em
sistema de
integração com
indústria e/ou
engorda de gado
para abate em
frigoríficos a
centralidade do
sistema de
produção em
conjunto com a
soja)
Outras
atividades
agrícolas
não-comerciais
Criação gado, suínos e vacas
(em pequeno efetivo) para
consumo interno.
Leite, produtos da horta e
pomar para consumo interno
na unidade de produção.
Produtos da
horta e pomar
para consumo
interno
Gado, ovinos,
suínos para
consumo próprio na
unidade.
Outras
atividades
comerciais
Eventualmente venda de
leite e suínos para vizinhos e
mercados locais
Comercialização
de queijo, suínos
e ovinos com
vizinhos e em
mercados locais.
Gado, ovinos,
suínos para eventual
comércio com
vizinhos.
Utilização de
financiamentos
públicos
(finalidade)
Eventualmente para
melhoramentos nos sistemas
de irrigação e proteção aos
cultivos da horta
Cerca de 60% das unidades
recorrem a financiamentos
notadamente para lavoura
Cerca de 30%
dos produtores
financiam
pequenas áreas
de lavoura de
milho e
pastagem para
alimentação
animal
A totalidade dos
produtores
entrevistados
recorrem
historicamente a
crédito para
lavoura.
A totalidade dos
produtores recorrem
historicamente a
crédito para lavoura
de soja, trigo e
aveia.
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
149
O estudo, através da pesquisa de campo, identificou 4 sistemas de produção na área
agrícola do município. No sistema de produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1) prevalecem as
unidades com pequenas áreas agriculturáveis, voltadas exclusivamente para produção
especializada de hortifrutigranjeiros. o sistema de produção Aviário (Tipo 2) caracteriza-se
pela integração avícola, a partir de 1990, em conjunto com os cultivos de verão, ampliando suas
alternativas de produção em relação a cultura da soja. O sistema de produção Leite (Tipo 3) é
composto por unidades que realizaram investimentos na ampliação e especialização da atividade
leiteira. E, por fim, identificou-se o sistema de produção Soja (Tipo 4), segmentado em (a)
Subsistema soja-criação e (b) Subsistema cultivos de inverno, ambos pautados sobretudo na
cultura da soja. Nos próximas quatro subseções (4.4.1, 4.4.2, 4.4.3 e 4.4.4), são analisados os
quatro Sistemas de Produção identificados na área rural do município.
4.4.1 Tipo 1 – Sistema de Produção Hortifrutigranjeiro
A reconstituição da história recente das unidades de produção, durante a pesquisa de
campo, evidenciou que os produtores inseriram-se neste Sistema de Produção (Tabela 5) entre as
décadas de 1970 e 1990. No período anterior, a maior parte dos produtores praticava o cultivo de
soja e trigo, como atividades principais. No entanto, fatores como a reduzida área agriculturável,
dificuldade de acesso a equipamentos apropriados às lavouras, as dificuldades de aquisição de
novas áreas de terra e de acesso a financiamentos oficiais impediram a manutenção deste sistema
produtivo. Como consequência, significativa parte destes agricultores amplia, paulatinamente, a
produção de produtos da horta para venda em pequenos mercados. Concomitantemente alocam,
parte de sua mão-de-obra, em trabalhos temporários em estabelecimentos agrícolas na região,
como fonte complementar de renda. Cabe destacar que, no início da década de 1990, desponta
um movimento de intenso estímulo ao mercado de produtos hortifrutigranjeiros, a partir da
criação de feiras do produtor na área central do Município, em associação com campanhas que
destacavam os benefícios do consumo de vegetais, hortaliças e frutas.
As propriedades rurais com Sistemas de Produção que apresentam nos produtos
hortifrutigranjeiros sua centralidade representam nos dias atuais aproximadamente 5% das
unidades da área rural, segundo dados dos informantes-chave desta pesquisa. Estes produtores
150
(classificados como pertencendo ao Sistema de Produção Hortifrutigranjeiro - Tipo 1)
caracterizam-se por disporem de áreas de terra (Superfície Total) pouco extensas. Parte
significativa da superfície total destas propriedades apresenta matas nativas, áreas de preservação
e também a prevalência de reflorestamento, tornando a superfície agrícola útil restrita. Neste
sistema de produção, as áreas disponíveis para cultivos ocupam quase a totalidade da superfície
agrícola útil (SAU). Como principais atividades destacam-se os produtos de horta como alface,
rúcula, beterraba, milho verde entre outros, bem como produtos ligados a fruticultura (em
especial morango, melão, pêssego e melancia).
A comercialização da produção é efetuada em feiras especializadas (em
hortifrutigranjeiros) localizadas na área central do município. Além do comércio nestes pontos
de venda, muitos produtores também comercializam parte da produção em mercados de
alimentação (fruteiras e mercados de porte médio).
Os cultivos de mandioca, milho e a criação de aves, suínos e vacas de leite (com um
pequeno efetivo), bem como a produção de mel são destinados ao consumo da família. No
entanto, eventuais excedentes destas produções são comercializados nas feiras já citadas.
a mão-de-obra alocada nas atividades dos estabelecimentos rurais pesquisados é
composta basicamente pelo produtor e por seus familiares. A tecnologia utilizada baseia-se,
sobretudo, nos equipamentos e implementos de uso na horta e nos procedimentos de irrigação
dos cultivos.
Cerca de 37,5% das unidades pesquisadas recorrem a financiamentos para a realização de
investimentos do tipo estufas, sistemas de irrigação, sistemas de proteção de canteiros. Os
recursos são oriundos do PRONAF, de cooperativas ou empresas agropecuárias da região.
151
Tabela 5 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao Sistema de
Produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1).
Item Característica
Área Hectares
a) Área Média 10 hectares
b) Superfície Agrícola Útil Cerca de 30% da área total da unidade são agriculturáveis
(70% da SAU são compostas por reflorestamento, matas e
área preservadas).
Propriedades do Sistema Em Unidades
a) Unidades de Produção 8 Unidades de Produção
Produção Principal das Unidades Produto (cultivos e derivados)
a) Horta Alface, cula, beterraba, milho verde, brócolis, repolho,
couve-flor.
b) Pomar Morango, melão, melancia, Pêssego.
c) Autoconsumo Feijão, queijo, milho (com eventual venda de excedentes)
Criação Tipo de criação (finalidade)
a) Tipo de efetivo Bovinos, suínos, aves, e ovinos (autoconsumo)
Canais de Comercialização Locais e características
a) Tipos de Mercados Feiras especializadas em produtos hortifrutigranjeiros,
fruteiras e mercados médios
Mão-de-Obra Quantidade (modalidade)
a) Familiar Somente membros da família;
b) Outra forma Eventual contratação temporária em períodos de colheitas
Rendas Externas à Unidade de
Produção
Percentual em relação ao total da amostra
a) Aposentadoria Rural Cerca de 25% (2 unidades) possuem este benefício
Recursos Financeiros Percentual em relação ao total da amostra
a) Oriundos de Programas do Estado
para Agricultura
12,5 % (1 unidade) possui financiamento na modalidade
PRONAF investimento na unidade.
b) Outras fontes 25% (2 unidades) acessa financiamentos no mercado com
empresas agropecuárias (uma unidade) e com cooperativas
(uma unidade)
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Uma estratégia adotada pelos produtores que implementam este Sistema é a realização de
cultivos sem o uso de agrotóxicos. A produção orgânica permite a agregação de valor na venda
deste tipo de produto.
4.4.2 Tipo 2 – Sistema de Produção Aviário
Os produtores que compõem o Sistema de Produção Aviário (Tipo 2), apresentado na
Tabela 6, implementaram, em suas trajetórias recentes, sistemas de produção semelhantes. A
história destes produtores está associada aos seguintes fatores: inserção dos produtores na cultura
do trigo a partir de 1950; ampliação da cultura da soja a partir da década de 1970; perda de
importância de atividades comerciais de criação em conjunto com a consolidação da
152
monocultura da soja entre as décadas de 1975 e 1990. No entanto, em tempos recentes, o fator
que caracteriza estes produtores e seus sistemas de produção é a integração com as indústrias
avícolas. Segundo a interpretação dos informantes-chave, entrevistados durante esta etapa da
pesquisa, o município apresenta entre 5% e 10% de unidades de produção que implementam
atualmente este sistema.
As unidades de produção que integram este Sistema de Produção, compõem-se por
produtores proprietários e suas famílias. Cerca de 90% da superfície total das unidades são terras
agriculturáveis. A maior parte da superfície agrícola útil é alocada para o cultivo da soja e do
milho e, eventualmente, trigo e aveia. A soja é comercializada com cooperativas e empresas
especializadas em recebimento de grãos na região. Já o milho, normalmente, destina-se ao
consumo na unidade, especialmente para alimentação do efetivo de criação. Nas unidades são
mantidas a produção de horta e pomares (em pequenas áreas) para consumo familiar. Também
realizam a criação de bovinos, suínos e ovinos para autoconsumo e, eventualmente, estes
excedentes de produção são vendidos a vizinhos.
A avicultura integrada, centralidade deste sistema de produção, foi rapidamente
desenvolvida por configurar-se numa alternativa à monocultura da soja. A baixa exigência de
mão-de-obra e as facilidades de manejo dos aviários, associados ao ingresso monetário contínuo
(oriundo da receita de cada lote comercializado à indústria) levaram à consolidação desta
atividade neste Sistema.
Os aviários são manejados em lotes. A empresa integradora fornece insumos e a
assistência técnica necessária para que o produtor, após um período médio de 40 dias, encaminhe
os lotes com frango para empresa, de acordo com as especificações técnicas acordadas.
A mão-de-obra nestas unidades é de base familiar, com a contratação momentânea de
diaristas nos períodos de colheita da soja. Para as atividades relacionadas exclusivamente ao
aviário, os produtores contratam um funcionário, em tempo integral. Esta prática da contratação
é recente e está associada às novas exigências sanitárias das indústrias, que demandam cuidados
extremos em relação a higiene e as normas de segurança. Esta exigência vem pressionando os
produtores com menor disponibilidade de mão-de-obra familiar a recorrerem à contratação
externa.
O nível tecnológico responde principalmente às necessidades de modernização dos
aviários. Investimentos para a ampliação e manutenção desta atividade (como a construção de
153
novos aviários ou a substituição de aviários mais antigos, ou mesmo alterações na tecnologia
interna e formas de criação, que envolvem novos cuidados sanitários, entre outros), são
recorrentes. Portanto, é possível afirmar que esta atividade está em expansão no Município, pois
muitas unidades realizaram investimentos, através de reformas, construção e ou/ ampliação
dos aviários, sempre em conjunto com as diretrizes e exigências sanitárias impostas pelas
indústrias parceiras.
Tabela 6 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao Sistema de
Produção Avicultura (Tipo 2).
Item Característica
Área Hectares
a)Área média 50,25 hectares
b) Superfície Agrícola Ùtil 90% da Superfície Total das propriedades do sistema de
produção
Propriedades do Sistema Número de Unidades
a) Número de unidades 10
Produção Principal das Unidades Produto (cultivos e derivados)
a) Soja Ocupa a totalidade da superfície agriculturável
b) Milho Ocupam pequenas parcelas de áreas das unidades
c) Autoconsumo Leite, hortaliças e carne derivada do efetivo da unidade
Criação Tipo de criação (finalidade)
a) Aves Aviários integrados com indústria
Canais de Comercialização Locais e características
a) Tipos de Mercados Soja comercializada em empresas da região e cooperativas
Mão-de-Obra Quantidade (modalidade)
a) Familiar Membros da família
b) Outra forma Um funcionário permanente (aviário) e demais funcionários
em períodos de colheita de grãos
Rendas Externas à Unidade de
Produção
Percentual em relação ao total da amostra
a) Aposentadoria Rural Cerca de 40% dos produtores possuem o benefício
Recursos Financeiros Percentual em relação ao total da amostra
a) Oriundos de Programas do Estado
para Agricultura
60% dos produtores possuem financiamento para lavoura de
soja e milho, na modalidade custeio e eventualmente
investimento.
b) Outras fontes de Financiamento Indústria avícola financia parte dos investimentos da atividade
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Para investimentos e ampliação estrutural das unidades, os produtores deste Sistema
recorrem, historicamente, a recursos oficiais. Porém, atualmente, destaca-se a utilização de
linhas oficiais de crédito para o custeio das lavouras (PRONAF). Os financiamentos para a
avicultura, normalmente são do tipo parciais. Ou seja, as indústrias parceiras (integração)
auxiliam parte dos projetos enquanto o restante do financiamento é buscado, pelo produtor,
154
através de linhas de crédito específicas do Estado para estes empreendimentos (por exemplo,
banco BRDE).
Por fim, ressalta-se que, neste sistema de produção, cerca de 40% dos entrevistados
possuem aposentadoria rural, benefício percebido pelos produtores como um importante ingresso
de renda.
4.4.3 Tipo 3 – Sistema de Produção Leite
Os produtores que implantam o sistema de Produção Leite (Tipo 3) em sua trajetória
passaram por dificuldades financeiras em período recente (Tabela 7). Fatores relacionados à
partilha das terras (pequenas áreas de terra) ao insucesso na produção de soja e de trigo, durante
as décadas de 1970 e 1980, contribuíram para essa redução expressiva da renda da maior parte
das propriedades que desenvolvem este Sistema. Outro fator impactante foi a dificuldade em
honrar empréstimos agrícolas em um quadro inflacionário, sobretudo, a partir de 1980. Neste
contexto, nos anos de 1990, a atividade leiteira passa a receber uma maior atenção por parte
destes agricultores, em decorrência da crescente demanda por parte da indústria de leite. A partir
de então, a atividade leiteira assume um papel central neste tipo de sistema produtivo.
Atualmente, no município, aproximadamente 20% das propriedades rurais implementam este
sistema de produção (Dados da Pesquisa, 2008).
Nessas unidades produtivas, as áreas agriculturáveis estão entre 5 e 65 hectares, com a
prevalência de propriedades com pequenas áreas, em média 27 hectares. Residem nas unidades
de produção o produtor e seus descendentes (filhos e netos) que dependem, para a manutenção
da família, exclusivamente da renda oriunda das atividades agrícolas.
Uma parcela significativa destes produtores ainda mantém áreas com o cultivo de soja
(60 a 80% da SAU) e do milho (20 a 25% da SAU). A produção de soja é comercializada com
empresas privadas cerealistas da Região. Neste sistema, os produtores consideram a receita do
cultivo da soja como uma fonte adicional de receita. A produção de milho é utilizada para
consumo na unidade e para a produção de silagem. Comum também entre os produtores é a
manutenção de um baixo efetivo de bovinos, suínos e ovinos, com produção destinada ao
155
autoconsumo, havendo, eventualmente, a comercialização de excedentes na própria região. Além
disso, a maior parte dos produtores mantém produção de alguns produtos da horta e pomar com a
finalidade de autoconsumo.
A atividade central neste Sistema de Produção é a produção de leite escoada em distintos
canais de comercialização. Na venda direta à indústria, o leite é recolhido nas unidades de
produção por caminhões tanque. na comercialização direta, o produtor vende o leite,
acondicionado em vasilhames, em estabelecimentos comerciais e residências, na área central de
Passo Fundo. Ainda ocorre a comercialização de leite nas feiras de hortifrutigranjeiros,
realizadas no centro de Passo Fundo.
Tabela 7 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao Sistema de
Produção Leite (Tipo 3).
Item Característica
Área Hectares
a)Área média 27 hectares
b) Superfície Agrícola Útil Cerca de 65% da área é agriculturável nestas unidades
Propriedades do Sistema Número de Unidades
a) Número de unidades 11
Produção Principal das Unidades Produto (cultivos e derivados)
a) Soja Cerca de 60% a 80% da área agriculturável da unidade
b) Milho Cerca de 20% da área agriculturável da unidade
c) Autoconsumo Produtos da horta e pomar
Criação Tipo de criação (finalidade)
a) Aves Suínos, bovinos e ovinos para autoconsumo
Canais de Comercialização Locais e características
a) Tipos de Mercados Venda de leite à indústria, feiras e nas casas e pequenos
mercados
Mão-de-Obra Quantidade (modalidade)
a) Familiar Membros da família
Recursos Financeiros Modalidade do recurso (finalidade)
a) Oriundos de Programas do Estado
para Agricultura
45% dos produtores possuem financiamento para lavouras de
soja e milho
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Entre as características positivas da produção leiteira, destacam-se a venda diária e
consequente ingresso de renda, a possibilidade de dispor de distintos tipos de comercialização e
também a produção dos derivados do leite para comércio, tem incentivado os produtores a
investirem na atividade. A maior parte dos produtores tem aplicado recursos na compra de
ordenhadeiras mecânicas e resfriadores de leite. No quesito alimentação animal, uma parcela
significativa destes produtores tem recorrido a melhoria do cultivo de milho, aveia, de produção
156
forrageira e de pasto. Destacam-se também investimentos em inseminação artificial e na seleção
do gado leiteiro na busca de uma maior produtividade e um menor custo de produção.
A busca por financiamentos do Estado, por parte destes produtores, para a atividade
leiteira, ainda é incipiente. Os investimentos recentes são realizados diretamente junto as
empresas agropecuárias da Região. Porém é interessante citar que, parte dos produtores, recorre
a linha PRONAF para financiarem suas pequenas parcelas plantadas com soja, milho ou aveia,
que indiretamente proporcionam uma agregação de valor a atividade central do sistema.
A atividade leiteira na área rural que é realizada por estes agricultores tende a seguir o
caminho da especialização. Entre as unidades pesquisadas, foi identificado que parte da área,
alocada ao cultivo da soja, vem sendo substituída pelo cultivo de milho, visando a ampliação da
produção de silagem, destinada a alimentação animal. Também o arrendamento de pequenas
áreas, a terceiros, é prática recorrente entre estes produtores, com a finalidade de gerar recursos
monetários adicionais para investimentos no incremento da atividade leiteira.
4.4.4 Tipo 4 – Sistema de Produção Soja e seus subsistemas
O quarto Sistema de Produção implementado por produtores da área rural de Passo
Fundo, possui como atividade central o cultivo da soja. Segundo dados dos informantes-chave da
pesquisa, este Sistema de Produção apresenta-se em funcionamento em 70% das propriedades
rurais do município. Em decorrência das particularidades identificadas, optou-se pela divisão
deste Sistema de Produção (e das propriedades que o compõem) em dois Subsistemas: (a)
Subsistema de Produção Soja-Criação e (b) Subsistema Soja-Cultivos de Inverno, analisados a
seguir.
a) Subsistema de Produção Soja – Criação
Os produtores que implementam o Subsistema de Produção Soja–Criação (Tabela 8), ao
longo de sua trajetória recente, dedicaram-se, principalmente, ao cultivo da soja associado com
atividades de criação. Um elemento inerente a estas unidades é a realização da atividade de
criação, sobretudo, criação de bovinos, na década de 1940. Ou seja, a criação de bovinos
esteve presente desde os primórdios da implantação destes agricultores na área rural do
157
município. Estes elementos explicam, mesmo que parcialmente, as razões da manutenção de
atividades de criação nestas propriedades.
A área média das propriedades que implantam este Sistema, atualmente é de 86 hectares,
utilizados, sobretudo, com o cultivo de soja e atividades de criação de bovinos, suínos e,
eventualmente ovinos, com finalidade comercial.
A mão-de-obra é composta pelos membros que residem na unidade, havendo,
esporadicamente, a contratação de diaristas em períodos com maior demanda de trabalho
agrícola. A totalidade destes produtores são proprietários das áreas de produção. No entanto,
cerca de 36% da amostra de produtores arrendam áreas adicionais, visando a ampliação da área
cultivada com soja e também a área cultivada com pastagem, para alimentação dos rebanhos.
Cabe ressaltar que, em média, 65% da área total das unidades é utilizada para o cultivo da soja.
A comercialização da soja é realizada através de empresas cerealistas e cooperativas da
Região. A criação, que se apresenta como a segunda atividade em importância está segmentada
da seguinte forma: em torno de 96% das unidades criam bovinos, 68% criam suínos e 24% das
unidades criam ovinos. Em aproximadamente 64% das unidades ocorre a criação de suínos
conjuntamente com a criação de bovinos. A comercialização da produção animal é realizada com
cooperativas, abatedouros e frigoríficos da Região. Atualmente algumas indústrias e
cooperativas da Região Sul estão implementando contratos com alguns produtores, para criação
de suínos no sistema de confinamento para venda e posterior abate.
Um fato determinante para a consolidação destas unidades de produção que utilizam o
Subsistema de Produção Soja - Criação foram os financiamentos, sobretudo, durante as décadas
de 1970 e 1980, para aquisição de maquinarias e benfeitorias. A maior parte das propriedades
possui galpões, tratores, arado, pulverizador, colheitadeira e demais implementos para a lavoura
de soja e para a técnica do plantio direto. Destacam-se, igualmente, o constante
acompanhamento e incorporação de novas técnicas agrícolas, de novos insumos e implementos
no cultivo da cultura da soja.
158
Tabela 8 - Síntese das Características das Unidades de Produção pertencentes ao Subsistema de
Produção Soja – Criação.
Item Característica
Área Hectares
a)Área média 86,14 hectares
b) Superfície Agrícola Ùtil Em torno de 95% da superfície total das unidades
Propriedades do Sistema Número de Unidades
a) Número de unidades 23 unidades
Produção Principal das Unidades Produto (cultivos e derivados)
a) Soja Em torno de 65% da superfície total
b) Milho Necessário a alimentação animal
c) Autoconsumo Sobretudo Animal (ovinos, suínos e bovinos)
Criação Tipo de criação (finalidade)
a) Bovino Em conjunto com suínos
b) Suíno Em conjunto com bovinos
Canais de Comercialização Locais e características
a) Tipos de Mercados Cooperativas, empresas da região e frigoríficos.
Mão-de-Obra Quantidade (modalidade)
a) Familiar Membros da família
b) Temporária Contratação eventual em momentos de plantio e colheita da
soja
Rendas Externas à Unidade de
Produção
Percentual em relação a amostra
a) Aposentadoria rural 60,86%
Recursos Financeiros Modalidade do recurso (finalidade)
a) Oriundos de Programas do Estado
para Agricultura
47,82% dos produtores utilizam financiamentos para custeio e
investimentos na unidade de produção
b) Outras fontes de Financiamento Investimento de empresas no processo de integração produtor
indústria
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Atualmente, cerca de 47% dos produtores entrevistados recorrem ao financiamento, com
destaque para o custeio e o investimento agrícola. Em aproximadamente 60% das unidades
pesquisadas foi encontrada pelo menos uma pessoa na situação de beneficiário da aposentadoria
rural.
b) O Subsistema de Produção Soja – Cultivos de Inverno
A maior parte dos produtores que utilizam o Subsistema de Produção Soja-Cultivos de
Inverno tem, em sua história recente, algum tipo de envolvimento com atividades paralelas à
agricultura como, por exemplo, a exploração de madeira, olarias, moinhos artesanais, moinhos
de trigo, ou frigoríficos. Ou seja, estes produtores mantêm uma atividade comercial, associada a
uma diversidade de atividades agrícolas, desde os tempos passados.
159
Além do cultivo da soja, destacam-se os cultivos de inverno, notadamente, do trigo e de
aveia. A rotação de cultivos de inverno e de verão, permite a estes produtores otimizar a mão-de-
obra, os equipamentos de lavoura e a área agriculturável disponível em suas unidades de
produção (Tabela 9).
As unidades que implementam este Sistema de Produção apresentam áreas médias em
torno de 76 hectares e 55% dos produtores arrendam terras adicionais, visando a produção de
grãos. A mão-de-obra utilizada é composta pelo produtor e seus familiares. No entanto, algumas
unidades de produção ainda são compostas por, pelo menos, um empregado permanente, e, nos
momentos de colheita dos cultivos, realizam contratações temporárias.
A produção de soja ocupa cerca de 70% a 80% da área total agriculturável da maioria das
unidades de produção entrevistadas. Como canais de comercialização estes produtores recorrem
a empresas cerealistas locais, cooperativas (locais e regionais) e empresas multinacionais de
captação de grãos. A maior parte destes produtores mostrou-se cautelosa quanto ao melhor
momento de venda e quanto aos preços recebidos pela produção. Realizam avaliações em
relação a preços pagos, nos diferentes canais comerciais, recorrendo a mecanismos de proteção
como assessorias de cooperativas e também a mecanismos de estoque de parte da produção em
cooperativas e empresas locais, barganhando, deste modo, melhores preços e condições de venda
da produção.
Parte significativa dos agricultores entrevistados cultiva milho para consumo próprio,
notadamente para alimentação animal, salientando que, somente em 30% das propriedades,
ocorre a comercialização desta produção. Entre as culturas de inverno, parcela importante destes
produtores cultiva o trigo (51%), a aveia (82%) ou ambos (44%). A produção de trigo é
comercializada para moinhos e cooperativas locais. a produção de aveia, em muitas
propriedades, é utilizada para alimentação animal e, eventualmente, seu excedente é
comercializado. Cerca de 70% das unidades entrevistadas apresentam áreas com pastagem
cultivadas e/ou campo nativo. A maior parte possue bovinos, suínos e ovinos, para consumo
interno e venda em pequena escala. Da mesma forma, os produtores possuem vacas de leite para
consumo da família, além da venda de leite e queijo eventualmente para vizinhos. A produção da
horta e dos pomares tem como destino o autoconsumo familiar.
160
Tabela 9 - Síntese das Características das Unidades de produção pertencentes ao Subsistema de
Produção Soja - Cultivos de inverno
Item Característica
Área Hectares
a)Área média 76,53 hectares
b) Superfície Agrícola Ùtil 90% da Superfície Total
Propriedades do Sistema Número de Unidades
a) Número de unidades 29
Produção Principal das Unidades Produto (cultivos e derivados)
a) Soja 70 a 80% da área agriculturável
b) Milho Até 20% da área agriculturável
c) Autoconsumo Horta, pomar e consumo animal de bovino, suíno e ovino
Criação Tipo de criação (finalidade)
a) Bovinos Autoconsumo e venda em pequena escala na região
b) Suínos Autoconsumo e venda em pequena escala na região
c) Ovinos Autoconsumo e venda em pequena escala na região
Canais de Comercialização Locais e características
a) Tipos de Mercados Moinhos e cooperativas locais, indústrias locais
Mão-de-Obra Quantidade (modalidade)
a) Familiar Membros da família
b) Outras formas Permanente e temporária
Renda externa a unidade Percentual em relação a amostra
a) Aposentadoria Rural 48%
Recursos Financeiros Modalidade do recurso (finalidade)
a) Oriundos de Programas do Estado
para Agricultura
58% acessam crédito para custeio e investimentos nas culturas
de lavouras
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Cerca de 48% dos produtores entrevistados contam com o benefício da aposentadoria
rural. Em relação aos financiamentos agrícolas, 58% deles recorrem a alguma modalidade junto
a agentes do Estado, em grande parte destinados aos cultivos de lavoura. Os equipamentos
disponíveis são compostos por máquinas e implementos relacionados aos cultivos de lavoura,
havendo uma constante renovação destes bens.
161
5 ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS DE EVOLUÇÃO DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO
AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO
A análise da história da agricultura, em conjunto com as transformações da realidade
agrária, apontou para a existência de tipos diferentes de agricultores neste município ao longo do
tempo. Entretanto, para a identificação da evolução dos produtores e de suas unidades de
produção, nesta etapa do estudo são analisados os fatores que contribuíram para a diferenciação
na área rural de Passo Fundo a partir do processo de modernização da agricultura.
Evidenciando também a participação de políticas públicas para a agricultura nas unidades
de produção pesquisadas, são analisadas as dinâmicas inerentes aos processos internos e externos
das unidades, ou seja, as diferentes trajetórias realizadas pelos produtores em suas unidades de
produção. Para tanto, foram reconstituídos os principais elementos de ligação entre os distintos
sistemas de produção adotados pelas unidades de produção pesquisadas no rural deste município.
Nas próximas seções deste capítulo são analisadas as trajetórias de produção agrícola de
cinco unidades de produção, representativas dos sistemas produtivos atuais do município
evidenciados no capítulo anterior, por meio da pesquisa de campo.
5.1 A Produção Hortifrutigranjeira e a Racionalização no Uso dos Recursos Produtivos
Escassos no Sistema de Produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1)
O sistema hortifrutigranjeiro está implantado em unidades produtivas que têm sua
centralidade na produção de horta e frutas, com poucos hectares de área agriculturável, onde
prevalece a mão-de-obra familiar. Este sistema se ampliou a partir da década de 1990, com o
início de movimentos em favor da comercialização de produtos da horta em feiras na área central
do município, gerando acesso dos produtores à comercialização em mercados centrais
(TEDESCO, 2006).
No próximo item é caracterizada uma unidade de produção que tem na produção
hortifrutigranjeira sua centralidade, representando as propriedades que possuem este tipo de
sistema de produção, com especial atenção às trajetórias empreendidas pela unidade de produção
ao longo do tempo.
162
5.1.1 Descrição Agrossocioeconômica do Sistema Produtivo Hortifrutigranjeiro
A unidade de produção em estudo localiza-se a 15 km da área central do município,
pertencendo ao distrito de São Roque (Figura 1). Contando com 12.5 ha de superfície total (ST),
a superfície agrícola útil (SAU) da unidade chega a 7.5 ha, distribuídos entre a produção de
hortifrutigranjeiros (1.5 ha), de eucalipto, mata nativa e reflorestamento (6.0 ha). Além disso,
cerca de 5 ha da superfície total são arrendados pelo produtor (Figura 02).
A unidade de produção compõe-se por uma diversidade de atividades, característica
marcante do tipo hortifrutigranjeiro. Dessa forma, supre a carência de grandes áreas
agriculturáveis.
Figura 2 - Vista aérea da unidade de produção representante do sistema produtivo hortifrutigranjeiro. Fonte: Dados
de pesquisa, 2008.
Produção Vegetal : Entre a produção vegetal destaca-se a produção de morangos do tipo
orgânico, com finalidade comercial (Figuras 3 e 4). São produzidos 9.600 kg de morangos, a
partir de 8.000 pés, com rendimento de 1,2 kg de morango por pé, num ano agrícola. Os
morangos são embalados em bandejas, que pesam cerca de 300g, para posterior venda nas feiras
de produtores realizadas no centro de Passo Fundo. Este cultivo representa 47% da receita
relativa à produção bruta total da unidade.
163
Figura 3 - Produção de morangos na unidade de produção – imagem 1 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
O produtor modernizou parte das técnicas e implementos ligados à produção deste
cultivo. Com investimentos na aquisição de sistema de irrigação do tipo gotejamento
1
,
complementar ao sistema de irrigação a céu aberto (tipo aspersão) existente na unidade, as
perdas de produção foram minimizadas em 50%.
Figura 4 - Produção de morangos na unidade de produção – imagem 2 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Ocupando a segunda posição em ordem de importância econômica na unidade está a
produção de pêssego (Figura 5). As árvores deste cultivo ocupam uma área de cerca de 3200m
2
,
com uma produção de 22.800 kg, a partir de 380 pés, representando uma produtividade de 60 kg
1
A técnica de irrigação do tipo gotejo evita a queima dos hortifrutigranjeiros. Na irrigação tradicional (por
aspersão) a planta inteira é irrigada, ocasionando a queima de parte de suas folhas e gerando cerca de 30 a 40% de
perda no processo de produção.
164
por pé. São plantadas quatro variedades do produto, comercializadas na feira do produtor e em
fruteiras localizadas na área central de Passo Fundo. A renda do pêssego agrega, em média, 22%
da receita do produto bruto total da unidade (Figura 05).
Figura 5 - Produção de pêssegos na unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Nesta unidade também a produção de tomate em estufa, em uma área de 500m, com
uma produção de 13.500 kg a partir de 1.500 pés, com produtividade de 9kg por (Figura 06).
O produto é do tipo orgânico, o que confere ao produtor um valor de venda elevado na Feira do
Produtor em Passo Fundo.
Figura 6 - Produção de tomate em estufa na unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Entre os produtos da horta, a rúcula e a alface destacam-se pela produção orgânica
iniciada em 2002, após a construção de uma estufa. A cultura da rúcula é produzida em canteiros
com 250m de comprimento e produção de 12 molhos por metro (Figura 07).
165
Figura 7 - Produção de rúcula em estufa na unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
a alface (Figura 08) ocupa área similar à da rúcula, com uma produtividade de quatro
molhos por metro, comercializados na Feira do Produtor.
Figura 08 - Produção de alfaces em estufa na unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Entre as culturas mais recentes desenvolvidas pelo produtor na unidade destacam-se o
melão e a melancia. As atividades de produção do melão tiveram início na propriedade em 2003,
com o sistema de irrigação por gotejo, com uma produtividade de dez melões por pé, numa área
de 200 m (totalizando 400 pés), comercializados na Feira do Produtor (Figura 9).
166
Figura 9 - Produção de melão em estufa na unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
a produção de melancia ocupa uma área de 0.5 ha com produção de 2000 frutas, de
diferentes variedades (Figura 10). Parte da produção é comercializada na Feira do Produtor no
centro de Passo Fundo, e o restante, em fruteiras na periferia e no centro do município.
Figura 10 - Variedades de melancia produzidas e sistema de irrigação utilizado no cultivo de melancia na unidade de
produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Além dos cultivos de produtos da horta e fruticultura, a unidade destina uma área de 6 ha
para reflorestamento, eucalipto e com mata nativa (Figura 11). Desta área o produtor retira a
quantidade de madeira necessária ao consumo da unidade de produção.
167
Figura 11 – Área com a presença de mata nativa da unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
A análise do itinerário técnico da unidade (Quadro 10) expõe uma sucessão lógica,
ordenada e contínua de colheita dos distintos cultivos praticados pelo produtor na unidade de
produção ao longo de um ano agrícola.
Quadro 10 - Itinerário técnico das culturas desenvolvidas na unidade (sistema produtivo
hortifrutigranjeiro).
Cultivo JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Morango
Colheita
Até
15 de
janeiro
Plantio Colheita Colheita Colheita Colheita Colheita
Pêssego
Cultivo Colheita
Tomate
Plantio Plantio Colheita
Colheita
Plantio Colheita
plantio
Melão
1° Colheita
Plantio
Colheita
Plantio
Melancia
Plantio
colheita
Colheita
Colheita
Colheita
Colheita
Plantio
Plantio
Plantio
Plantio
Rúcula
Plantio
Colheita
Plantio
Colheita
Plantio
Colheita
Alface
Plantio
Colheita
Plantio
Colheita
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Durante a entrevista, o produtor ressaltou que os ingressos monetários constantes ao
longo do ano oriundos da colheita de diferentes cultivos são uma importante estratégia para sua
continuidade na atividade agrícola, assim como para a ampliação e realização de novos
investimentos em sua unidade.
168
Atividades de Criação: Dentre as atividades de criação da unidade, o produtor possui apenas
uma vaca de leite, para consumo próprio, e seis cabeças de gado, que se alimentam em uma área
de pasto de 5 ha arrendada pelo produtor, com finalidade de consumo familiar e para auxílio no
processo de adubação. Na propriedade desenvolve-se a técnica de adubação denominada
compostagem, que consiste na mistura de palha de milho, ramos de mandioca, folhas de árvore,
palha, adubo animal bovino, calcário e posterior cobertura destes elementos por uma lona preta
por um período médio de três meses, para fermentação natural, transformando-se numa espécie
de adubo orgânico, utilizado nas culturas da propriedade (Figura 12).
Figura 12 – Galpão destinado ao abrigo de insumos e para a “compostagem” produzida, utilizada para o processo de
adubação dos principais cultivos da propriedade (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
A área para abrigo da compostagem é um galpão, local que em tempos passados era
utilizado como aviário. Uma característica marcante da unidade de produção é o aproveitamento
de toda a área produtiva da propriedade, ou seja, mesmo possuindo somente 1.5 ha
agriculturáveis para hortifrutigranjeiros, centralidade deste sistema de produção, o produtor aloca
eficientemente os recursos de que dispõe, agregando valor aos produtos elaborados na unidade.
Mão-de-Obra: A mão-de-obra utilizada na propriedade é composta pelo produtor (47 anos de
idade), sua esposa (45 anos de idade) e seu filho (16 anos de idade), somando 3 UTH de mão-de-
obra disponível. Eventualmente, recorre-se à contratação externa de um diarista, durante dez
dias, para a colheita do pêssego.
169
A composição da família na unidade produtiva modificou-se recentemente em razão da
ida de duas filhas do produtor para a área central do município. Destaca-se que o processo de
saída das filhas da área rural foi planejado. Com a renda obtida na unidade proveniente da
produção agrícola, o produtor adquiriu um imóvel na cidade e realizou o pagamento dos estudos
das filhas e promovendo-lhes meios de sustento.
A sucessão na unidade produtiva está relacionada ao forte envolvimento e interesse de
seu filho pelas atividades da propriedade. O produtor relata que planeja investir na educação de
seu filho viabilizando economicamente seus estudos no curso técnico agropecuário, para a
ampliação de conhecimentos agropecuários e posterior implementação das técnicas na unidade
de produção da família.
Benfeitorias, Equipamentos e Instrumentos de Trabalho da Unidade Produtiva: As
principais benfeitorias da unidade de produção referem-se a uma estufa, para produção de hortas
e frutas; um galpão (aviário desativado), com a finalidade de proteção para equipamentos e
produção de adubo natural (compostagem); duas casas (uma com ano de construção 2008 e outra
construída em 1970) e seis açudes, com cerca de 4.000 peixes.
Quanto aos equipamentos, a unidade de produção é composta por um trator (ano 1963)
para preparo dos canteiros; uma caminhonete F1000 (ano 1995), utilizada para deslocamento da
produção ao comércio, além de instrumentos complementares aos cultivos hortifrutigranjeiros da
unidade, tais como escarificador, encanteirador e túneis baixos para irrigação da produção
(Quadro 11).
170
Quadro 11- Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Tipo – Benfeitoria Ano de fabricação
Estufa 2002
Galpão (aviário desativado) 1994
Casa 2008
casa 1976
Tipo - Maquinaria Ano de fabricação
Trator Massey Fergusson 50 1963
Caminhonete F1000 1995
Sistema irrigação gotejo 2002
Tipo - Implementos Ano de fabricação
Encanteirador 2007
Escarificador 1983
12 Túneis Baixos (proteção dos cultivos) 1999
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O nível de tecnologia é apropriado para o sistema atual, privilegiando, sobretudo, as
necessidades técnicas do produtor em relação aos produtos de horta.
Investimentos Recentes na Unidade: Recentemente, no ano de 2002, o produtor realizou um
investimento num novo sistema de irrigação na unidade de produção. Entre os implementos e
benfeitorias, os mecanismos ligados à irrigação via gotejo
2
ocupam lugar de destaque,
permitindo a inclusão neste sistema da maior parte dos cultivos da horta, sobretudo dos cultivos
orgânicos (Figura 13).
2
O
sistema (gotejo) na unidade de produção não utiliza energia elétrica. Através de uma roda mecânica, localizada
num ponto elevado da propriedade em relação à área de cultivo, bombeia água até uma caixa d’água posicionada de
forma que o caimento do terreno favoreça a irrigação direta dos canteiros.
171
Figura 13 - Sistema de irrigação do tipo gotejo utilizado para os cultivos de horta da unidade de produção (sistema
produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Outro investimento realizado pelo produtor foi a construção de uma estufa (Figura 14) no
ano de 2002, em complemento ao sistema de gotejo, permitindo a inserção de novos cultivos,
como morango, rúcula e alface, com produtividade elevada e baixas perdas no processo
produtivo (a estufa protege os cultivos das intempéries climáticas).
Figura 14 - Estufa de proteção da produção de hortifrutigranjeiros contra intempéries climáticas na unidade de
produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Em complemento ao sistema de gotejo e à estufa, o produtor investiu na ampliação dos
túneis baixos (espécie de proteção metálica à plantações fora da estufa), que auxiliam na
proteção dos cultivos plantados em áreas abertas na unidade de produção (Figura 15).
172
Figura 15 - Túneis baixos da unidade de produção; plantação de morangos a céu aberto (sistema produtivo
hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Análise Econômica das Atividades da Unidade Produtiva: O produto bruto da unidade está
alicerçado na receita proveniente da comercialização dos cultivos do morango, pêssego, tomate,
melão e melancia, de acordo com a Tabela 10.
Tabela 10 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 Superfície de
área (total e agrícola útil), produto bruto total e produto por cultivos na unidade
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Indicador (Superfície total e
superfície agrícola útil e Produto
Bruto por cultivo)
Em Reais (R$)
e Hectares (ha) Participação %
Superfície total 12,5 hectares -
Superfície agrícola útil 7,5 hectares -
Superfície com hortifrutigranjeiros 1,5 hectares -
Pb total R$ 141.270,80 100,00
Participação morango R$ 67.056,50 47,39
Participação pêssego R$ 31.920,00 22,56
Participação tomate R$ 23.154,30 16,36
Participação melão R$ 6.080,00 4,29
Participação melancia R$ 6.300,00 4,45
Participação rúcula R$ 1.500,00 1,06
Participação alface R$ 3.600,00 2,54
Produto bruto autoconsumo R$ 1.660,00 1,17
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O valor agregado bruto é R$ 106.841,50, correspondendo ao valor do produto bruto,
descontados os valores dos insumos e serviços de terceiros utilizados no decorrer do ano
agrícola. O resultado do valor agregado líquido é R$ 100.987,34 (obtido pela subtração da
depreciação das benfeitorias e equipamentos do valor agregado bruto).
173
Tabela 11 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 – Renda líquida
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Indicador Valores (em Reais)
Pb total (R$) R$ 141.270,80
CI total (R$) R$ 34.429,30
DEP R$ 5.854,16
VAB R$106.841,5
VAL R$100.987,34
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A renda agrícola da unidade atinge R$ 90.371,87, não havendo a entrada de outras fontes,
como, por exemplo, aposentadoria rural ou rendas externas de outra natureza (Tabela 12).
Tabela 12 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 – Renda Líquida
(sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Indicador Valores (em Reais)
VAL R$ 100.987,34
DVA R$ 10.615,47
RA R$ 90.371,87
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Na combinação de indicadores, verifica-se que a contribuição de cada unidade de
trabalho-homem para a geração de riqueza à unidade familiar é de R$33.662,44 (VAL/UTHf),
enquanto a superfície agrícola útil de uma unidade de trabalho-homem corresponde a 2,50 ha
(Tabela 13).
A renda agrícola por unidade de trabalho-homem é de R$ 30.123,95 (RA/UTH). Quando
este indicador é calculado somente se considerando a área composta pela produção
hortifrutigranjeira (1,5 hectares), evidencia-se a alta remuneração do trabalho familiar, bem
como o significativo resultado monetário (R$ 60.386,74), indicando a possibilidade de realização
de novos investimentos na unidade de produção.
174
Tabela 13 - Indicadores socioeconômicos do sistema de produção 1 – Combinação de
Indicadores (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Indicador Valores
VAB/SAU R$ 14.245,53
VAL/SAU R$ 13.464,97
RA/SAU R$ 12.049,58
RA/SAU hortifrutigranjeiro
3
R$ 60.247,91
VAB/UTHf R$ 35.613,83
VAL/UTHf R$ 33.662,44
RA/UTHf R$ 30.123,95
SAU/UTH 2.5 (UTH)
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Os resultados encontrados na análise econômica dos indicadores surpreendem
positivamente. A estratégia do produtor, de diversificação da produção de hortifrutigranjeiros,
em associação com os investimentos na produção orgânica, agregou significativo valor à
produção, ampliando as entradas de renda na unidade.
5.1.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com o Sistema
de Produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1)
Esta seção analisa a trajetória da unidade de produção agrícola em estudo. Para tanto, os
próximos itens abordam a evolução histórica e socioeconômica dos principais sistemas de
produção colocados em prática pelo produtor desde o início de suas atividades na propriedade,
no ano de 1977.
Sistema de Produção 1 (1977/1985) Lavoura, Leite, Criação e Subsistência: O produtor
iniciou suas atividades na unidade em 1977, quando ali residia com sua esposa, sua mãe e três
irmãos, em uma área de propriedade da família, com 23 ha e produção agrícola voltada para
culturas de subsistência e produção de grãos com finalidade comercial.
3
Neste indicador foram somente considerados os resultados da superfície cultivada com hortifrutigranjeiros, que
corresponde a 1,5 ha.
175
No período final da década de 1970 e início dos anos de 1980, o sistema de produção foi
marcado por uma gama de atividades desenvolvidas para o autoconsumo familiar e para
comercialização externa dos excedentes (Quadro 12). Entre as culturas com finalidade
unicamente comercial havia a produção de soja em 7 ha e a produção de milho, também em 7 ha,
ocupando quase toda a área agriculturável da unidade de produção naquele período (a unidade
ainda contava com 7 ha de matas).
A plantação de soja e de milho era realizada com o uso de equipamentos de vizinhos e/ou
com de máquinas da associação local, fundada especificamente para compra de maquinaria,
através de incentivo governamental, para atividades associativas no município
4
.
Entre as atividades de criação destacava-se na propriedade a suinocultura, como um
efetivo de 50 suínos, que eram engordados e enviados a frigoríficos da região para abate
(notadamente para o frigorífico Planaltina). O produtor também mantinha na unidade cerca de
oito vacas de leite, para comercialização do produto com a empresa CCGL. Além disso, possuía
cerca de dez bovinos e aves, ambos para consumo estritamente familiar.
Entre os cultivos da produção vegetal havia a produção de arroz, feijão, mandioca e
hortaliças, para autoconsumo e eventual comercialização de excedentes. Parte da área
agriculturável excedente era alocada com a plantação de pastagens perenes durante o inverno,
para alimentação animal.
Quadro 12 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade de
produção entre 1977 e 1985 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 7 (hectares) Indústria
Milho 7 (hectares) Alimento suínos
Suínos 50 (cabeças) Frigorífico
Bovinos 10 (cabeças) Consumo na unidade
Leite 96 (litros) Indústria
Olaria 1.000(tijolos) Indústria
Arroz N/d Consumo na unidade
Feijão N/d Consumo na unidade
Mandioca N/d Consumo na unidade/alimentação animal
Hortaliças N/d Consumo na unidade/alimentação animal (sobras)
Galinhas 120 (unidades) Consumo na unidade
Fonte: Pesquisa de Campo, 2008.
4
A associação adquire distribuidores de adubo de suíno, colheitadeira de milho em espiga, plantadeira de milho e
pulverizador, além de tratores de médio porte.
176
Com excesso de barro e mão-de-obra disponível na unidade de produção, o produtor
empreende uma olaria artesanal para a fabricação de tijolos. A renda oriunda da olaria foi
importante para a manutenção da família na unidade, visto que o produtor enfrentava problemas
com a baixa rentabilidade da área plantada com o cultivo da soja.
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 1 (Lavoura, Leite, Criação e
Subsistência) e o Sistema de Produção 2 (Suinocultura, Leite, Mel e Reflorestamento): O
Sistema de Produção 1 iniciou seu processo de transformação a partir de meados da década de
1980, com o abandono por parte do produtor da cultura comercial da soja. A síntese dos fatores
que contribuíram para a transição da unidade do Sistema de Produção 1 para o Sistema de
Produção 2 é apresentada na Figura 16.
Elementos de Transição Internos da Unidade que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Abandono da Cultura da Soja (custos elevados e falta de maquinaria);
Início do Cultivo de mudas de Pinus e Eucalipto;
Início do cultivo do mel.
Excesso de Mão-de-obra na Unidade.
Elementos de Transição Externos a Unidade que
Contribuíram a Passagem a um Novo Sistema de Produção
Incentivo do IBAMA e Emater para plantação de eucaliptos e mel;
Aumento dos preços dos insumos para plantação de soja e milho;
Existência de oferta de linhas de crédito para suinocultura;
Sistema de Produção 2 – 1985/1993
(Suinocultura, Leite, Mel e Reflorestamento )
Suinocultura comercial;
- Ampliação da capacidade de armazenagem
de milho para suinocultura(empréstimo com
Recursos públicos)
Mel e reflorestamento;
Leite para indústria;
Culturas para subsistência.
Sistema de Produção 1 – 1977/1985
(Lavoura, Leite, Criação e Subsistência)
Soja;
Milho;
Suínos;
Olaria;
Leite para indústria;
Culturas para subsistência;
Baixo nível tecnológico;
Excesso de mão-de-obra na unidade.
Figura 16 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema de Produção 1 para o Sistema de
Produção 2 na unidade produtiva (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Um dos fatores importantes a passagem a um novo sistema de produção foi a
transferência de parte da área utilizada para a produção de soja para a plantação de mudas de
pinus e eucalipto. A escolha do produtor estava embasada na ampla área de mata nativa da
unidade de produção (em relação a sua superfície total) e na mão-de-obra ainda abundante nela
177
(no período o produtor ainda contava com três irmãos residindo na propriedade).
Adicionalmente, o produtor contou, neste período, com o apoio técnico das instituições
EMATER/RS ASCAR (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e IBAMA
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais).
Além disso, na entrevista, o produtor observa que o Estado do Rio Grande do Sul, por
intermédio dos seus agentes financeiros, lançara incentivos, via financiamentos, para as
atividades de criação, especialmente a bovinocultura e a suinocultura. A possibilidade de uso de
políticas públicas para a ampliação da capacidade de criação de suínos na unidade induziu o
produtor a ampliar a atividade, que se fazia presente no sistema de produção em atividade no
período de 1977 a 1985. No entanto, é possível afirmar que a possibilidade de uso de políticas
públicas foi o elemento determinante para a ampliação desta atividade no sistema de produção
do período seguinte – Sistema de Produção 2.
Sistema de Produção 2 (1985/1993) Suinocultura, Leite, Mel e Reflorestamento: O
segundo sistema de produção tem como centralidade a suinocultura, leite, mel e reflorestamento.
Para a ampliação da atividade da suinocultura, o produtor financiou a aquisição de um paiol
(galpão), visando estocar milho para alimentação animal (Figura 17). Este financiamento foi
realizado por meio da entidade bancária Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul),
tendo auxílio da EMATER para o desenvolvimento do projeto de viabilidade econômica. O
produtor relata que neste período existiam significativos incentivos de governo para a construção
de galpões para silagem, dada a necessidade de garantia de alimentação para o efetivo animal da
região, sobretudo no período de inverno.
Outra importante atividade desenvolvida pelo produtor no período foi a venda de leite
para a indústria (Elege), ampliando substancialmente a renda da unidade em conjunto com as
demais atividades praticadas pelo produtor neste sistema de produção (Tabela 14).
178
Figura 17 - Paiol para armazenagem de milho para alimentação de suínos na unidade de produção, financiado por
meio do Banrisul (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
No mesmo período, o produtor ingressou na atividade de reflorestamento e produção de
mel, cultivos que contribuem para ampliação da renda na unidade de produção. A venda de mel e
madeira em anos de baixos preços dos suínos representava cerca de 90% da receita agrícola total
da unidade.
Tabela 14 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1985 a 1993 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Atividade Quantidade Finalidade
Milho 7 (hectares) Alimento suínos
Suínos 120 (cabeças) Frigorífico
Leite 96 (litros/dia)
Indústria
Arroz N/d Consumo na unidade
Feijão N/d Consumo na unidade
Mandioca N/d Consumo na unidade/alimentação animal
Hortaliças N/d Consumo na unidade/alimentação animal (sobras)
Galinhas 120 Consumo na unidade
Produção de mel 900(kg/mês) Venda na cidade
Pinus e eucalipto 6 (hectares) Venda/Consumo na unidade
Olaria N/d Venda na cidade
Mel N/d Venda na cidade
Fonte: Dados de campo, 2008
179
Um fator determinante para o ingresso nas novas atividades, destacadas acima, foi a
existência de mão-de-obra abundante e residente na unidade, permitindo a diversificação e
ampliação das alternativas de renda no momento.
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 2 (Suinocultura, Leite, Mel e
Reflorestamento) para o Sistema de Produção 3 (Aviário e Horta): O elemento que marca a
transição para o Sistema de Produção 3 é o ingresso do produtor na produção hortifrutigranjeira.
Fatores como o fechamento da olaria, o abandono da atividade da suinocultura, do mel e a queda
nas quantidades vendidas de leite foram determinantes para as modificações implementadas pelo
produtor na unidade. Outra influência relevante na transição do Sistema de Produção 2 para o
Sistema de Produção 3 está relacionada à diminuição da mão-de-obra disponível e residente na
unidade por ocasião da saída de dois irmãos, que se mudaram para o estado do Paraná.
O abandono da olaria deveu-se à preocupação do produtor com o esgotamento do solo,
em conjunto com a falta de mão-de-obra, o que inviabilizou a atividade. Por sua vez a
suinocultura vinha se mostrando pouco rentável e, segundo relatos do produtor, a renda da venda
do milho no período mostrava-se mais atrativa na geração de renda quando comparada à venda
de suínos. O encerramento da atividade de produção de mel foi atribuído, em parte, ao
desmatamento praticado na região durante esse período, que, segundo o produtor, provocou a
queda no número de abelhas, interferindo na produção total do produto. Em relação à venda do
leite, os preços recebidos, segundo o produtor, não compensavam o investimento (e o trabalho
associado à atividade), o que levou à venda de parte significativa das vacas de leite da unidade.
A Figura 18 sintetiza os principais determinantes da transição do Sistema de Produção 2 para o
Sistema de Produção 3 na unidade produtiva.
180
Elementos de Transição, Internos à Unidade que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Perda de mão-de-obra na unidade;
- Fechamento da olaria (mão-de-obra e desgaste do solo da unidade);
- Abandono da suinocultura (troca de parte do efetivo por um sistema
de irrigação por aspersão);
Início do cultivo de verduras a céu aberto
- Cebola, aipim, repolho, alface, feijão vagem e pepino;
Leite é mantido somente para o consumo familiar;
Queda da produção de mel e reflorestamento.
Elementos de Transição externos a unidade que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção;
Preços baixos da carne suína em conjunto com o aumento do
custo do milho para Ração;
Queda nos preços pagos ao produto pelo litro do leite;
Inexistência de uma política de preços para o leite e suínos.
Sistema de Produção 3 – 1994/2002
(Aviário e Horta)
Ampliação da participação do produtor na
produção de hortifrutigranjeiros em escala
comercial (comercialização dos produtos em
feiras e fruteiras da área central do município
de Passo Fundo);
Implantação de um aviário 60X120 metros em
Sistema de parceria com a empresa Frangosul;
Criação animal e leite para consumo na unidade.
Sistema de Produção 2 – 1985/1993
(Suinocultura, Leite, Mel e Reflorestamento )
Suinocultura comercial;
- Ampliação da capacidade de armazenagem
de milho para suinocultura(empréstimo com
Recursos públicos)
Mel e reflorestamento;
Leite para indústria;
Culturas para subsistência.
Figura 18: Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema de Produção 2 para o Sistema de
Produção 3 na unidade produtiva (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
No entanto, o elemento mais importante na passagem para o sistema seguinte foi o
investimento na produção hortigranjeira, principalmente com a plantação de feijão vagem,
cebola, aipim, pepino, repolho e alface em áreas a céu aberto. Com o abandono da suinocultura,
houve a troca de parte do efetivo de suínos por um sistema de irrigação por aspersão.
Sistema de Produção 3 (1994/2002) Aviário e Horta: Neste período o produtor estruturou o
sistema de produção da unidade em razão da ampliação da produção de hortifrutigranjeiros. Fato
importante para essas alterações relaciona-se com o ingresso do produtor no mercado de venda
dos produtos hortifrutigranjeiros em feiras e também em fruteiras da área central de Passo
Fundo. Quanto às técnicas necessárias para a produção da nova atividade, o produtor contava
com o apoio do irmão, estudante de engenharia agrícola e que no período residia na unidade,
para auxiliar na consolidação desta atividade. Segundo seus relatos, as diretrizes do irmão foram
sempre no sentido de ampliar e investir na produção de culturas para alimentação, em detrimento
de culturas ligadas à lavoura e criação.
181
Seguindo as recomendações do irmão, o produtor empreendeu em 1994, um aviário (com
60x120m, em sistema de parceria com a empresa Frangosul, por meio de um investimento
financiado pela empresa, com prazo de pagamento de oito anos), visando à ampliação da renda
da unidade. A lógica produtiva ligada ao sistema de produção implantado estava pautada na
possibilidade de associação do uso dos dejetos das aves para adubação da produção da horta da
unidade. Outro fator estudado para a escolha deste empreendimento foi a escassez de mão-de-
obra na propriedade, preocupação latente no período, visto que o único irmão do produtor ainda
residente na unidade logo deixaria a propriedade.
No entanto, neste sistema de produção (Tabela 15) a renda proveniente do aviário
mostrava-se muito volátil, em razão do rendimento por lotes, ou seja, o produtor não podia
depender economicamente dessas entradas de capital, diferentemente do que acontecia com os
cultivos da produção vegetal da unidade, que geravam ingressos de renda constantes. Esses
fatores incentivaram o produtor a investir na ampliação da produção hortifrutigranjeira a partir
de 1999, com as culturas do morango, do tomate (a céu aberto) e do pêssego.
Tabela 15 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1994 e 2002 (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Atividade Quantidade Finalidade
Aviário 8000 frangos Venda integrada com indústria
Alface N/d Venda na feira do produtor em Passo Fundo
Pepino N/d Venda na feira do produtor/fruteiras em Passo Fundo
Repolho
N/d Venda na feira do produtor/fruteiras em Passo Fundo
Vagem
N/d Venda na feira do produtor/fruteiras em Passo Fundo
Pêssego
N/d Venda na feira do produtor/fruteiras em Passo Fundo
Tomate N/d
Venda na feira do produtor/fruteiras em Passo Fundo
Pinus e eucalipto 6 ha Consumo eventual na unidade
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O produtor também mantinha na unidade cerca de seis bovinos e uma vaca de leite, para
autoconsumo. Além disso, neste período, segundo a percepção do produtor, houve um aumento
significativo dos desmatamentos na região, visando à ampliação da cultura da soja.
182
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 3 (Aviário e Horta) e o Sistema de
Produção 4 (Atual): No ano de 2002, em virtude da baixa rentabilidade e de problemas
fitossanitários, o produtor desativou o aviário. Entretanto, o elemento central que sugere a
passagem para um novo sistema de produção são os investimentos em tecnologia na propriedade
para produção de hortifrutigranjeiros, com a construção de uma estufa e a implantação de um
novo sistema de irrigação, do tipo gotejamento (Figura 19).
Elementos de Transição, Internos a Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Fechamento do aviário;
Investimentos em irrigação e na construção de uma estufa
Para produção de hortifrutigranjeiros.
Elementos de Transição, Externos a Unidade, que contribuíram à
a Passagem a um Novo Sistema de Produção;
Ampliação do mercado de hortifrutigranjeiros nas feiras de Passo
Fundo;
Modificação nas preferências dos consumidores por produtos do
tipo orgânico.
Sistema de Produção atual – 2002/2008
(Hortifrutigranjeiros Orgânicos)
Plantio do morango, pêssego, tomate,
melão, melancia, rúcula e alface.
Sistema de Produção 3 – 1994/2001
(Aviário e Horta)
Ampliação da participação do produtor na
produção de hortifrutigranjeiros em escala
comercial (comercializando os produtos em
feiras e fruteiras da área central do município
de Passo Fundo);
Implantar um aviário com 60X120 metros
em sistema de parceria com a empresa Frangosul;
Criação e leite para consumo na unidade.
Figura 19 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema de Produção 3 para o Sistema de
Produção atualmente praticado na unidade produtiva (sistema produtivo hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Também contribuiu para a passagem ao sistema de produção seguinte a crescente
demanda de mercado por novas variedades de hortaliças e frutas, acima de tudo, a procura pelos
chamados “produtos orgânicos”.
Sistema de Produção 4 (2002/2008) Hortifrutigranjeiros Orgânicos: A característica
principal do sistema de produção atual é a consolidação da produção e comercialização de
produtos hortifrutigranjeiros da unidade. A variedade de cultivos produzidos na unidade e,
sobretudo, o ingresso do produtor na produção de produtos do tipo orgânicos ampliaram
183
substancialmente a renda gerada por este sistema de produção na unidade. A estratégia de
investimentos em benfeitorias, equipamentos e nas técnicas de produção agregou maior valor
unitário aos produtos comercializados.
A diversidade de atividades em consonância com os recursos de produção disponíveis é o
ponto forte do sistema atual, ou seja, o produtor intensificou seu sistema de produção de acordo
com a disponibilidade de recursos. Além disso, a percepção do produtor em relação ao aumento
da demanda por hortifrutigranjeiros, em termos de volume e, sobretudo, em termos de qualidade
de produtos vendidos, foi um elemento importante para ampliação de variedades e tipos de
culturas na unidade, como, por exemplo, a inserção de culturas como o morango, tomate, melão,
melancia, rúcula e alface. também que se ressaltar a crescente participação da unidade na
produção de produtos orgânicos, fruto da demanda dos consumidores por produtos mais
saudáveis, os quais se dispõem a pagar valores mais elevados por produtos com estas
características e qualidade diferenciada.
Atualmente, visando acompanhar os mercados e as novas técnicas de produção agrícola,
o produtor possui assistência técnica da Emater e das universidades regionais, as quais fornecem
suporte técnico para o desenvolvimento das culturas na unidade.
A Dinâmica dos Sistemas de Produção Principais Trajetórias do Tipo 1
(Hortifrutigranjeiro) : A trajetória da unidade produtiva do Tipo 1 Hortifrutigranjeiro
caracteriza-se pela passagem por vários sistemas produtivos ao longo do tempo. Embora o fator
de produção mão-de-obra familiar na propriedade investigada tenha se reduzido ao longo da
trajetória desenvolvida, é possível ressaltar a importância deste recurso para a obtenção de renda
em uma diversidade de atividades. Como exemplos citam-se os sistemas de produção compostos
por engorda e venda de suínos, venda de leite para indústria e produção artesanal de tijolos para
região (olaria), entre outras, viabilizando, desse modo, a permanência das famílias no campo.
No entanto, segundo relatos do próprio produtor, muitos agricultores de pequeno porte e
recursos escassos acabaram por migrar para cidade no período, ou seja, mesmo recorrendo a
formas de produção compartilhada (associações de vizinhos, troca de maquinaria e serviços), não
alcançaram êxito em relação a culturas de lavoura em suas unidades de produção (Figura 20).
184
Sistema 2
(Suinocultura, leite,
mel e reflorestamento)
1985/1993
Sistema 3
(Aviário e Horta)
1994/2002
SISTEMA 4
(Hortifrutigranjeiros orgânicos)
2002/2008
Fatores Internos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória
dos Sistemas de Produção ao Longo do Tempo.
Autoconsumo animal e vegetal presente em todos os sistemas de
produção;
Redução da mão-de-obra familiar ao longo do tempo;
Diversidade de atividades em todos os sistemas de produção;;
Alocação de recursos e escolha de atividades de acordo com pequena
área agriculturável disponível.
Fatores Externos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória dos Sistemas
de Produção ao Longo do Tempo
Incentivos da extensão rural para diversificação de atividades na unidade;
Incentivos do Estado para determinadas atividades (suínos/reflorestamento);
Participação de empresas na comercialização e nos investimentos da produção
(aviário e suinocultura).
Sistema 1
(lavoura,leite e criação)
1977/1985
Figura 20 - A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do Tipo 1 (sistema produtivo
hortifrutigranjeiro).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Como fatores externos que influenciaram na trajetória desenvolvida na unidade há a
eventual intervenção de instituições do Estado nas novas práticas e culturas, o ingresso e
interesse de indústrias em sistemas integrados na região e o desenvolvimento de novas
oportunidades de mercado, sobretudo, no sistema atual.
Os resultados da análise das trajetórias seguidas pelo produtor em sua unidade vão de
encontro a análise de Buainain (2006). O autor, em estudo intitulado “Agricultura Familiar,
Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável: questões para debate”, relata que a literatura e a
experiência de outros países, corroboradas pelos estudos realizados pelo Projeto FAO/Incra,
sustentam que tanto as características do produtor como de sua família podem ter um papel de
destaque na trajetória da unidade de produção. Produtores com longa experiência e tradição na
agricultura têm um desempenho superior aos produtores que sofreram o processo de
desruralização e retornaram ao campo pela reforma agrária. Além disso, produtores sem ou com
pouca experiência em gerenciamento da atividade agrícola caso de produtores que vivem
principalmente como assalariados rurais e de certas categorias de parceiros no Nordeste
brasileiro apresentam menores probabilidades de sucesso do que aqueles com experiência
maior de gestão familiar da atividade agrícola (BUAINAIN, 2006).
185
Na unidade investigada o produtor e seus familiares demonstraram longa experiência na
atividade rural, mantendo a agricultura como fonte de recursos da família ao longo do tempo.
Outros fatores observados por Buainain (2006) são a experiência, a capacidade de obter e
processar informações, bem como a habilidade no uso de técnicas agrícolas e de métodos de
gerenciamento mais sofisticados, contribuindo para o sucesso do empreendimento. Um
importante indicador desta capacidade é o nível de escolarização e de formação profissional.
Neste sentido, o produtor relatou recorrer, ao longo do tempo, a mecanismos de assistência
técnica e também a novos procedimentos agrícolas. Aliando experiência na atividade agrícola às
novas práticas produtivas, o produtor investiu em tecnologias que lhe permitiram agregar valor à
produção, de acordo com seus recursos produtivos disponíveis na unidade.
5.2 A Avicultura como Alternativa Rentável aos Cultivos de Verão no Sistema de Produção
Aviário (Tipo 2)
A avicultura, no município de Passo Fundo, desenvolveu-se significativamente a partir da
década de 1990, por possibilitar a diversificação da produção familiar, o lucro econômico, a
redução do custo da lavoura com o uso da cama de aviário, emprego de mão-de-obra excedente
e, notadamente, pela expectativa de ingresso de renda constante, para a unidade a cada lote
comercializado. No entanto, os processos ligados a esta modalidade de integração entre produtor
e indústria modernizou-se, demandando dos produtores novas tecnologias e equipamentos
sofisticados, além dos cuidados fitossanitários, que aumentaram substancialmente a produção,
bem como as exigências às propriedades integradas. A seguir caracteriza-se a trajetória de uma
unidade de produção representante deste sistema (Tipo 2).
186
5.2.1 Descrição Agrossocioeconômica do Sistema Produtivo Aviário
A unidade de produção investigada localiza-se a cerca de 20 km da área central de Passo
Fundo, no distrito de São Roque, área rural do município (Figura 21). Com 100 ha de superfície
total, a unidade de produção segmenta-se em 85 ha de superfície agrícola útil (SAU) e 15 ha de
áreas de proteção, riachos e matas. A área total é de propriedade do produtor, que reside no local
com sua esposa, filho, nora e neta.
Figura 21 - Vista aérea da unidade de produção representante do sistema produtivo aviário.
Fonte: Dados de pesquisa, 2008
Produção Vegetal: A soja é a principal produto vegetal, ocupando uma área de 55 ha. A
comercialização da soja é realizada com empresas cerealistas da região. Uma estratégia adotada
pelo produtor é o depósito de parte da produção em armazéns, objetivando a escolha do melhor
período para venda do grão. Em outra nota, o produtor revela seu temor em relação à falta de
condições de recuperação em momentos de crise ou em situações de safras frustradas. Sua
preocupação deriva, segundo ele próprio, da constante queda da rentabilidade em razão do
aumento dos custos de produção que incidem na cultura da soja.
Além da soja, o produtor planta 18 ha de milho, cultivados com finalidade comercial
(Figura 22).
187
Figura 22 - Área utilizada para plantação de soja e milho na unidade de produção (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de campo, 2008.
No itinerário técnico das culturas de verão, a colheita da soja demanda maior volume de
trabalho, que ocorre normalmente no mês de março (Quadro 13).
Quadro 13 – Itinerário técnico das culturas praticadas na UPA (sistema produtivo aviário)
Cultivo
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Soja
colheita
Preparo
Plantio Plantio Plantio
Milho
colheita
Preparo
Plantio
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
O produtor mantém pomares na unidade de produção, destinados ao consumo da família.
No entanto, não cultiva produtos da horta (compra de um sobrinho produtor deste tipo de
cultivos), dado o alto custo de oportunidade da mão-de-obra da propriedade.
Atividades de Criação: A única atividade de criação são os aviários, integrados à indústria,
centralidade da unidade produtiva. O produtor iniciou o sistema de integração no começo da
década de 1990, como uma alternativa econômica em complemento à lavoura e ao leite
(atividade praticada naquele período). Um fator determinante para a implantação do aviário foi o
retorno do filho do produtor à unidade produtiva, representando a ampliação de mão-de-obra
alocada na unidade.
Atualmente, na propriedade rural existem dois aviários, com área de 120 x 130m, e
capacidade para produção de 20.000 frangos por lote (os dois lotes totalizam 40.000 frangos),
em associação com a empresa Frangosul, que proporciona o aporte técnico à atividade.
188
Mão-de-Obra: A mão-de-obra total da unidade soma 3 UTHs. Está composta pelo produtor,
com idade de 62 anos, e seu filho, de 32 anos, além de um funcionário contratado, que reside na
unidade e trabalha em tempo integral, exclusivamente, nos aviários da unidade de produção
5
. A
média de horas diárias trabalhadas nas atividades agrícolas da unidade chega a 8 h, no entanto
existem períodos de maior envolvimento, sobretudo na época de colheita de grãos.
Quanto à sucessão familiar, o produtor mostra-se tranquilo, pois seu único filho, apesar
de ter vivido na cidade durante parte da adolescência e juventude para estudar, retornou, por
conta própria, à unidade. O produtor ainda planeja viabilizar os estudos da neta na área central
do município de Passo Fundo, para tanto, adquiriu um terreno no qual construirá uma casa, onde
planeja residir com sua esposa e neta. A estratégia adotada visa, sobretudo, à manutenção da
mão-de-obra alocada na unidade, visto que, enquanto sua esposa cuidar da educação da neta na
cidade, o produtor se deslocará diariamente para trabalhar na unidade produtiva, retornando ao
término do dia para a área central de Passo Fundo.
Benfeitorias, Equipamentos e Instrumentos de Trabalho da Unidade Produtiva: A
propriedade apresenta como benfeitorias principais um galpão construído em 1985, utilizado
para guardar equipamentos, implementos e insumos; uma casa de alvenaria, construída no ano de
1988; uma casa destinada ao funcionário; dois aviários (o primeiro construído em 1994 e o
segundo, em 2007), além de um antigo aviário e um chiqueirão, com sala de abate, desativados e
atualmente utilizados como galpões auxiliares (Figuras 23 e 24).
5
Também residem na unidade a esposa do produtor, sua nora e sua neta. O produtor relata que, após a esposa sofrer
um grave problema de saúde, concomitantemente ao nascimento da neta (ano de 2003), houve uma queda
expressiva da mão-de-obra familiar nas atividades da unidade.
189
Figura 23 - Galpão utilizado para guardar equipamentos, implementos e insumos e casa de alvenaria utilizada para
residência do produtor (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Os equipamentos utilizados pelo produtor ao longo do processo de produção das lavouras
de soja e milho são compostos por dois tratores (anos 1994 e 1974), uma automotriz (ano 1980),
uma semeadeira (ano 2000) e um pulverizador (ano 2001). O transporte de parte da produção é
efetuado com o auxílio de um caminhão Mercedes-benz (ano 1976) e de uma caminhonete S 10,
ano 2003 (Quadro 14).
Figura 24 - Vista dos aviários, centralidade do sistema de produção atual; veículos e implementos utilizados para a
produção de soja (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
O nível tecnológico da propriedade apresenta-se condizente com as necessidades do
produtor em relação à produção das culturas de verão. Ressalta-se que o produtor investiu na
substituição e/ou na ampliação das máquinas e dos implementos ao longo do tempo,
acompanhando as novas técnicas e mudanças no tamanho das áreas cultivadas na propriedade.
190
Quadro 14 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(sistema produtivo aviário)
Tipo - Benfeitoria Ano de Fabricação
Aviário - 120x130 metros 1999
Aviário - 130x120 metros 2007
Casa (residência família) 1988
Galpão 1985
Galpão auxiliar (aviário desativado) 1992
Casa (funcionário) 2007
Chiqueiro (desativado) 1970
Tipo - Maquinaria Ano de Fabricação
Trator Valmet 985 1994
Trator Valmet 65 1979
Caminhão Mercedes 1976
Camionete S10 2003
Automotriz Seifa Modelo Ideal 1175 1980
Semeadeira Metasa 7 Linhas 2000
Tipo - Implementos Ano de Fabricação
Pulverizador Jacto 2001
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Investimentos Recentes na Unidade de Produção: No ano de 2007 o produtor investiu
na construção de um novo aviário com a finalidade de modernização e ampliação dos recursos
produtivos da unidade. O capital para investimento foi oriundo da empresa Perdigão e do Banco
Sicredi, com montante financiado em torno de R$ 63.000,00.
Análise Econômica das Atividades da Unidade Produtiva: O produto bruto total na
unidade está alicerçado na renda proveniente da comercialização das culturas de verão (soja e
milho) e de frangos provenientes dos aviários (Tabela 16). Percebe-se a importância da atividade
avícola no incremento de renda, representando 37% da receita total das atividades (enquanto as
culturas de verão apresentam cerca de 60% de custos de produção em relação à receita total
destas culturas na unidade).
191
Tabela 16 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 – Superfície
de área, Produto Bruto total e Produto por Atividade na Unidade (sistema produtivo
aviário)
Indicador (Superfície total e
superfície agrícola útil e Produto
Bruto por cultivo)
Em Reais (R$)
e Hectares (ha) Participação %
Superfície Total 100 ha -
Superfície Agrícola Útil 85 ha -
Pb total (R$) R$ 193.840,00 100,00
Participação da Soja R$ 88.000,00 45,39
Participação do Milho R$ 33.840,00 17,45
Participação dos Aviários R$ 72.000,00 37,14
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O valor agregado bruto da unidade de produção é de R$ 97.241,25 (correspondendo ao
valor do produto bruto, descontados os valores dos insumos e serviços de terceiros utilizados no
decorrer do ano agrícola). o valor agregado líquido atinge R$74.701,25 (valor agregado bruto,
descontado o valor da depreciação das benfeitorias e equipamentos), de acordo com a Tabela 17.
Tabela 17 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 - Valor
Agregado Líquido (sistema produtivo aviário)
Indicador Sistema de Produção Aviário
Pb total(R$) 193.840,00
CI total(R$) 96.598,75
DEP 22.540,00
VAB 97.241,25
VAL 74.701,25
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A renda agrícola da unidade é R$ 57.801,25, resultado que mostra a viabilidade da
ampliação de investimentos por parte do produtor na unidade de produção. Considerando a
aposentadoria rural recebida pelo produtor e por sua esposa, que representa 17,23% da renda
auferida na unidade, a renda total da unidade chega a R$ 67.761,25 (Tabela 18).
192
Tabela 18 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 – Renda
líquida (sistema produtivo aviário)
Indicador Sistema de Produção Aviário
VAL 74.701,25
DVA 16.900,00
RA 57.801,25
Renda de aposentadoria rural 9.960,00
RT 67.761,25
Fonte: Pesquisa de Campo, 2008.
Na combinação de alguns indicadores (Tabela 19), verifica-se que a contribuição de cada
unidade de trabalho-homem para a geração de riqueza à unidade familiar é de R$ 24.900,41
(VAL/UTH) e que a participação da superfície agrícola útil por uma unidade de trabalho-homem
é de 29.33 ha. Por sua vez, a renda agrícola por unidade de trabalho-homem apresenta um valor
de R$19.267,08.
Tabela 19 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 2 –
Combinação de Indicadores (sistema produtivo aviário)
Indicador Sistema de Produção Aviário
VAB/SAL 1.105,01
VAL/SAL 848,87
RA/SAL 656,83
RT/SAL 770,01
VAB/UTH 32.413,75
VAL/UTH 24.900,41
RA/UTH 19.267,08
SAU/UTH 29.33 (hectares)
VAB/UTHf 48.620,62
VAL/UTHf 37.350,62
RA/UTHf 28.900,62
Fonte: Pesquisa de Campo, 2008.
A análise dos indicadores econômicos da unidade legitima a escolha do produtor quanto
à instalação dos aviários na unidade de produção. A estratégia adotada, de complemento de
renda às culturas de verão, justifica-se em razão da queda da rentabilidade e do constante
aumento de custos, relatados pelo produtor, ligados às culturas de verão (soja e milho).
Igualmente, auxiliam o produtor em momentos de dificuldades, como, por exemplo, quando de
193
quebra de safras, de fatores climáticos, oscilações de câmbio e dificuldade para a
comercialização da produção.
Em adição à avicultura, também amplia substancialmente a renda do produtor o benefício
da aposentadoria rural, que, como destacado, possui significativa participação na renda total
gerada pela unidade de produção.
5.2.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com o Sistema
de Produção Aviário (Tipo 2)
A seção analisa a trajetória de uma unidade de produção, representante das unidades do
sistema de produção aviário pela caracterização dos fatores (internos e externos à propriedade)
que contribuíram para evolução dos sistemas de produção ao longo do tempo.
Sistema de Produção 1 ( 1970-1980) – Sistema Trigo e Soja: O produtor iniciou suas
atividades na unidade de produção em 1970, com uma área de 18 ha (12 ha oriundos de herança
familiar e 6 ha comprados). As principais culturas praticadas pelo produtor eram a soja e o trigo,
numa área de 15 ha; adicionalmente, cultivava 1 ha de milho para consumo interno na unidade
(Figura 25).
De acordo com os relatos do produtor, a cultura que apresentava rentabilidade ímpar no
período era o trigo. A renda obtida com a venda da produção de soja era utilizada para a compra
de insumos para o plantio do trigo da safra seguinte.
Figura 25 – Processo de colheita da produção de trigo na unidade na década de 1970 (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
194
Quanto às atividades de criação, a unidade contava com suínos (para consumo interno),
vacas de leite (em torno de quatro) para retirada de leite (consumo interno) e produção caseira de
queijos, comercializados na cidade de Passo Fundo. O produtor também criava galinhas, para
consumo interno e para comercialização na região e na área central. Além disso, havia a
produção de uma diversidade de culturas para alimentação (mandioca, arroz, feijão e produtos da
horta) (Tabela 20).
Tabela 20 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1970 a 1980 (sistema produtivo aviário)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 15 (hectares) Comercialização na Cesa e Coopasso
Milho 1 (hectare) Consumo na unidade (alimentação animal)
Trigo 15 (hectares) Comercialização na Cesa e Coopasso
Moinho de trigo N/d Prestação de serviços para produtores da região
Mandioca N/d (consumo familiar) Consumo na unidade
Arroz N/d (consumo familiar) Consumo na unidade
Feijão N/d (consumo familiar) Consumo na unidade
Galinhas 200
Consumo familiar e Venda na cidade e região
(entorno de Passo Fundo)
Ovos de galinha N/d
Consumo familiar e Venda na cidade e região
(entorno de Passo Fundo)
Suínos 4 Consumo da família
Vacas de leite 4 Consumo na unidade e venda de queijo na cidade
Fonte: Dados de campo, 2008
Como fonte de renda adicional, o produtor mantinha em atividade um pequeno moinho
de trigo, para atender a pequenos produtores da região e parte dos vizinhos, que lhe entregavam
o trigo para moagem e posterior venda (Figura 26).
195
Figura 26 - Moinho de trigo existente na unidade, durante a década de 1970, utilizado para moagem da produção dos
pequenos agricultores da região (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Nesse período, o produtor desenvolveu uma sociedade com dois irmãos, em relação à
maquinaria e aos implementos, para o preparo da lavoura. A mão-de-obra era basicamente
compota pelo produtor e sua esposa, que realizavam todas as atividades da unidade. No entanto,
a prática de trocas de serviços para as lavouras do produtor e de seus irmãos era constante,
possibilitando a ampliação da renda da família com essas atividades adicionais.
A alta rentabilidade do trigo e da soja no período possibilitou a aquisição de um
caminhão F100 (somente com o lucro líquido da lavoura em uma safra) e a ampliação de área de
terra, em 1975, com a compra de mais 25 ha. A compra do caminhão possibilitou ao produtor
realizar serviços de frete, com transporte de calcário e adubo para as lavouras da região (no
período, poucos produtores da região possuíam caminhões, ou mesmo outros veículos de
trabalho). Além disso, eventualmente realizava serviços de marcenaria a vizinhos próximos a sua
unidade de produção.
O produtor recorreu a políticas agrícolas, especialmente nas modalidades de custeio e
investimentos (provenientes da instituição Banco do Brasil), durante a década de 1970. Em 1979
comprou outros 25 ha de terra, financiando cerca de 70% do valor com recursos do Estado.
196
Elementos de Transição do Sistema de Produção 1 (Sistema Trigo e Soja) para o Sistema
de Produção 2 (Sistema Soja e Criação): Com o enfraquecimento do apoio do Estado à
política de cultivo de trigo, os pequenos agricultores deste cultivo que recorriam ao moinho
abandonaram a atividade, vendendo suas áreas a produtores capitalizados da região. Em
consequência, o produtor da unidade investigada encerrou as atividades do moinho colonial
(Figura 27).
Sistema de Produção 1 – 1970/1980
(Sistema Trigo e Soja)
Soja, Trigo;
Produção para autoconsumo;
Baixa tecnologia;
Escassez de mão-de-obra;
Uso de fontes adicionais de renda
(moinho e frete);
Uso de financiamento público
Sistema de Produção 2 – 1980/1990
(Sistema Soja e Criação)
Produção de soja;
Ampliação da atividade leiteria;
Ingresso na suinocultura comercial;
Investimento em benfeitorias na unidade;
Investimento na ampliação da lavoura de soja;
Elementos de Transição, Internos a Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção.
Substituição de atividade de autoconsumo por atividades comerciais;
Ampliação da área cultivada com lavoura de soja
Início da atividade de venda de leite
Elementos de Transição, Externos a Unidade, que Contribuíram á
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Financiamento com recursos do estado para lavoura e tecnologia;
Incentivo do Estado à cultura da soja;
Crise no associativismo regional.
Figura 27 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema de Produção 1 para o Sistema de
Produção 2 na unidade produtiva (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
Nesse período, a sociedade existente entre o produtor e seus irmãos rompeu-se (o
produtor ficou com a maior parte dos implementos e tratores da sociedade), fato que ampliou a
participação do produtor e de sua esposa nas atividades da unidade (com o fim da parceria e das
trocas de serviço, o casal se envolveu, sobretudo, com a lavoura de soja da unidade). Essa
mudança levou à queda da produção de cultivos para a alimentação da família e também o
abandono parcial das atividades geradoras de renda adicional.
Sistema de Produção 2 (1980-1990) Sistema Soja e Criação: O novo sistema de produção é
desenvolvido pelo produtor em uma área com 68 ha. A plantação de soja foi ampliada para 45 ha
e o trigo, substituído pelo cultivo da cevada (estimulado pela demanda de maltarias que se
197
instalavam na região, que cediam os insumos necessários aos produtores e, posteriormente,
compravam a produção das unidades).
Entre as atividades de criação o produtor ampliou, consideravelmente, a suinocultura. O
efetivo de suínos era comercializado com frigoríficos do município, que, no período,
remuneravam satisfatoriamente esta atividade. Concomitantemente, o produtor adquiriu um
maior número de vacas de leite e passou a comercializar o produto com a empresa CCGL, bem
como diretamente nas residências próximas à área central (Tabela 21).
Tabela 21 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1980 e 1990 (sistema produtivo aviário)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 45 (hectares) Comercialização
Cevada 20 (hectares) Venda para empresa Brahma em Passo Fundo
Pastagem cultivada 1 (hectare) Alimentação animal
Suínos 50(cabeças) Engorda e venda em Passo Fundo
Vacas de leite 10 (cabeças com lactação) Venda para vizinho e para empresa CCGL
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O produtor investiu na compra de um trator (no ano de 1983) e na construção de um
galpão (no ano de 1985). Em 1988 investiu na construção de sua atual residência, além de
realizar melhoramentos na unidade de produção, como, por exemplo, a perfuração de um poço
artesiano e a implantação da rede de luz na propriedade. Tanto a compra do trator como a
colocação da energia elétrica foram financiados com recursos oficiais, pela entidade Banco do
Brasil e pela empresa cooperativa de eletrificação rural (Coprel).
Neste sistema a bovinocultura de leite e a produção de soja passaram a representar as
atividades centrais da unidade. Ressalta-se que em momentos de dificuldades, com perdas de
grãos, a atividade que mantinha o sustento da família era a venda do leite. Com uma clientela fiel
(entregas nas residências das famílias) e de parte da produção para a indústria, houve ingresso
monetário constante na unidade (Figura 28).
198
Figura 28 – Comercialização de leite realizada pelo produtor através da entrega do produto nas residências da cidade
de Passo Fundo (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Na década de 1980, segundo o produtor, os preços pagos pela produção da lavoura
estabilizaram-se e escasseou a oferta de novas áreas de terra na região, dificultando a compra de
novas áreas. Por isso, os investimentos do período ficaram concentrados na própria unidade, com
a construção de benfeitorias e ampliação de equipamentos da lavoura.
Outra dificuldade enfrentada no período relaciona-se com a quebra da Coopasso
(Cooperativa de Produtores Agrícola de Passo Fundo), gerando perdas financeiras a muitos
produtores, bem como a falta de confiança nos sistemas associativos.
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 2 (Sistema Soja e Criação) para um
novo Sistema de Produção (Sistema de Produção Atual - Sistema Aviário e Soja): A
transição para um novo sistema de produção ocorreu no processo de análise para instalação de
um aviário na unidade de produção (Figura 29). Concomitantemente, houve a ampliação da área
para lavoura de soja (o produtor ampliou sua área de lavoura com a compra 8 ha de vizinhos,
aumentando-a para 70 ha no período) e o abandono gradual da suinocultura (a atividade da
suinocultura passou a apresentar baixa rentabilidade, em razão do constante aumento dos custos
de produção para alimentação dos animais).
199
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram á
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Implantação de aviário;
Ampliação da área da unidade através da compra de hectares;
Ampliação da mão-de-obra na unidade (filho do produtor);
Abandono da suinocultura comercial.
Elementos de Transição, Externos a Unidade, que Contribuíram á
Passagem a um Novo Sistema de Produção;
Entrada de indústrias em sistemas de integração de aves com
produtores na região;
Maior oferta de áreas de terra a venda na região.
Sistema de Produção – 1990/2008
(Sistema Aviário e Soja)
Soja;
Aviário (2 com 20.000 frangos cada);
Milho para comercialização;
Diminuição de mão-de-obra na
unidade.
Sistema de Produção – 1980/1990
(Sistema Soja e Criação)
Plantação de soja;
Ampliação da atividade leiteria ;
Ingresso na suinocultura comercial;
Investimento em benfeitorias na
unidade;
Investimento na ampliação da
lavoura de soja.
Figura 29 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema de Produção 2 para o Sistema de
Produção atual na unidade produtiva (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
O produtor iniciou o processo de implantação de aviário integrado a indústrias, que
expandiram sua participação na região no início da década de 1990. O principal estímulo à
atividade foi o retorno de seu filho à unidade, ampliando a mão-de-obra familiar existente na
unidade de produção.
Sistema de Produção 3 (1990/2008) Sistema Aviário e Soja: O sistema produtivo atual teve
seu começo com a construção de um aviário em conjunto com a empresa Frangosul, no início da
década de 1990 (Figura 30). A decisão pelo investimento foi influenciada, inicialmente, pela
busca de alternativas para a diversificação das atividades na unidade (que desenvolvia no
período somente a monocultura da soja). Um fator igualmente importante foi a execução de um
empreendimento que envolvesse o seu filho, que retornara à propriedade. O produtor relata que
acompanhou no período a saída de muitos jovens do campo, motivada, sobretudo, pela falta de
opções de atividades agrícolas rentáveis nas unidades de produção das famílias da região.
200
Figura 30 Primeiro aviário construído na unidade de produção no início da década de 1990 (sistema produtivo
aviário).
Fonte: Dados de campo, 2008.
O primeiro aviário, em parceria com a empresa Frangosul, não demandava equipamentos
sofisticados, tampouco cuidados adicionais, necessitando somente de galpão, cercas simples e
bebedouros. Havia pouco envolvimento de mão-de-obra e a rentabilidade era satisfatória,
mensurada pela remuneração da produção de aves entregues à indústria (Figura 31).
Figura 31: Estrutura interna do aviário construído na unidade de produção no início da década de 1990 (sistema
produtivo aviário).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
O produtor passou a considerar a atividade avícola como a centralidade do sistema de
produção da unidade (Tabela 22), em associação com a cultura da soja (produzida numa área de
55 ha) e do milho (produzido numa área de 18 ha). Uma atividade ainda relevante, neste sistema,
era a produção de leite para comercialização, que persistiu até o ano de 2003. O produtor
somente abandonou a atividade leiteira por falta de mão-de-obra familiar, em razão do
desligamento de sua esposa e nora das atividades realizadas na propriedade rural.
201
Nesse período procederam-se também a mudanças nas técnicas de produção, com o
plantio direto e sementes transgênicas, que, segundo o produtor, facilitaram os processos
produtivos, reduzindo custos e uso de mão-de-obra.
Tabela 22 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1990 a 2008 (sistema produtivo aviário)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 55 (hectares) Comercialização com cerealista da região
Milho 18 (hectares) Comercialização com cerealista da região
Aviário 2 aviários (40.000 frangos)
Venda de lotes para empresa Frangosul
Fonte: Dados de Campo, 2008
O sistema integrado avícola consolidou-se com o produtor construindo o segundo aviário
em 2000, o terceiro, em 2007 (em substituição ao primeiro aviário). Os principais investimentos
do produtor neste sistema de produção da unidade foram a aquisição de 15 ha de terra em 1994
(comprados de parentes que abandonaram o campo em razão da partilha das terras, fruto de
herança familiar) e, em 2002, a compra de outros 15 ha de terceiros, totalizando os atuais 100 ha
de área da unidade. O segundo aviário, integrado com a empresa Frangosul, foi construído com a
participação de recursos do Estado, via Banco Sicredi e Programa Pronaf. A mesma modalidade
de crédito também foi utilizada para a construção do terceiro aviário, no ano de 2007. Foram
também adquiridos neste sistema um trator em 1994, financiado com recursos do Estado; um
caminhão, comprado em 1995; um pulverizador do tipo jacto, em 2001; uma semeadora, em
2002, e uma automotriz seifa, em 2003.
A Dinâmica dos Sistemas de Produção – Principais Trajetórias do Tipo 2 (Aviário):
Durante a trajetória desenvolvida na unidade de produção investigada foi identificada a
passagem por três principais sistemas de produção. No Sistema de Produção 1, o produtor
cultivava trigo e soja em conjunto com culturas de alimentação, tendo acesso a aporte público
para investimento e financiamento das lavouras.
A transição para um novo sistema ocorreu com a ampliação de área de terras, comprada
de pequenos produtores (que abandonaram suas atividades agrícolas após a queda da importância
da produção de trigo). O novo sistema, Sistema de Produção 2, era composto pela cultura da
soja, criação de suínos e produção de leite. O produtor relata que durante este sistema
202
(notadamente após o início da década de 1980) havia escassez de terras para comercialização na
região, o que o fez investir na ampliação das benfeitorias no interior da unidade. Também
ressalta a importância da atividade de venda de leite no período (Figura 32).
SISTEMA 1
1970/1980
(Trigo e Soja)
SISTEMA 2
1980/1990
(Soja e Criação)
SISTEMA 3
1990/2008
(Aviário e Soja)
Fatores Internos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória dos Sistemas
de Produção ao Longo do Tempo
Substituição de cultivos
Ingresso na integração com agroindústrias
Estratégia de diversificação de atividades
Fatores Externos à Unidade de Produção par Análise da Trajetória dos Sistemas
de Produção ao Longo do Tempo.
Políticas públicas
Aumento dos Preços dos insumos agrícolas
Preços dos produtos agrícolas
Figura 32 – A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do Tipo 2 (sistema produtivo aviário).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Como elementos de transição a um novo sistema de produção destacam-se a entrada de
indústrias na região, sobretudo de indústrias avícolas, e a queda da atividade leiteira (pela
escassez e custo da mão-de-obra na unidade) e da suinocultura (em razão dos baixos preços
pagos aos produtores).
No sistema atual o produtor somente investe na ampliação dos aviários e na manutenção
da lavoura de soja. Foram construídos dois novos aviários, expandindo a atividade avícola na
unidade. É importante ressaltar que, em Passo Fundo, a integração indústria-produtor encontra
uma analogia entre os processos derivados dos matadouros, frigoríficos e formas semi-artesanais
de produção e entre os processos de âmbito industrial, técnico e mercadológico. Ou seja, os
produtores não são tomados de surpresa pela inserção deste tipo de relações agroindústrias
(TEDESCO, 1999).
203
Como elemento determinante na trajetória da unidade pode-se destacar a busca pela
diversidade de atividades (em escala comercial), derivada, em parte, do viés comercial deste tipo
de produtor. Guanzirolli et al. (2001) no estudo Intitulado “Agricultura familiar e reforma
agrária no século XXI” analisaram os sistemas de produção praticados por produtores familiares
no Brasil (nas regiões sul, centro-oeste, norte, nordeste e sudeste). Os autores identificaram um
sistema de produção composto pela combinação entre milho/feijão, aves e suínos. Para os
autores este tipo de sistema de produção vem apresentando bons resultados e boa
sustentabilidade econômica. Juntas, a avicultura e a suinocultura geram fluxos regulares de
renda, reduzindo os problemas de caixa típicos dos agricultores em geral, inclusive dos
familiares que dependem exclusivamente de atividades com forte sazonalidade. No sistema
analisado pelos autores, a venda de feijão e de eventuais excedentes de milho reforça o caixa dos
agricultores e cobre os gastos de manutenções anuais. Da forma análoga, estes elementos (fluxos
regulares de ingresso monetário e diversidade de atividades agrícolas realizadas na unidade)
foram determinantes na trajetória desenvolvida na propriedade rural investigada.
A facilidade de acesso aos mecanismos de financiamentos, através das políticas de
Estado para agricultura, também deve ser evidenciada, por representar um importante elemento
na dinâmica de evolução dos sistemas de produção implementados ao longo da trajetória
desenvolvida na propriedade rural em estudo. A utilização constante de recursos públicos deriva,
em parte, do viés comercial deste tipo de produtor, caracterizando seu forte envolvimento no
conjunto de atividades econômicas, agrícolas, industriais e financeiras do Município.
5.3 A Atividade Leiteira e o Ingresso de Renda Líquida Permanente no Sistema de
Produção Leite (Tipo 3)
A atividade leiteira está presente em parte significativa das unidades de produção do
município. Uma característica desta produção é a sua polivalência, ou seja, pode ser consumido
na unidade familiar, comercializado com indústrias do setor ou em mercados, ou, ainda, agregar
valor ao produto, pela produção e venda de seus derivados. Outra característica é o ingresso
contínuo de renda ao longo do ano, atributo especialmente importante em momentos de crise de
204
outras atividades desenvolvidas no interior das unidades. A seguir, analisa-se uma propriedade
rural representante do sistema de produção leite.
5.3.1 Descrição Agrossocioeconômica do Sistema Produtivo Leite
A unidade produtiva localiza-se na área rural de Passo Fundo, no Distrito de Bela Vista,
distante 30 km da área central do município. Residem na unidade de produção o produtor,
proprietário da unidade de produção, sua esposa, filha, genro e neta (Figura 33).
Dentre os 22 ha de superfície total, a propriedade compõe-se por 2 ha de mata nativa, 10
ha arrendados pelo produtor para terceiros e 10 ha utilizados para plantação de cultivos, visando
ao consumo familiar e à alimentação animal.
Figura 33 – Imagem atual da unidade de produção representante do sistema produtivo leite.
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Produção Vegetal: Na área da propriedade destinada à produção vegetal o produtor cultiva 4 ha
de milho, especialmente para silagem, e 5 ha com pastagens do tipo sorgo, azevém, milheto e
capim sudão, para consumo animal. Cerca de 1 ha é ocupado por pomares e plantação de
mandioca e verduras, para consumo da família. Parte desta área ainda é contemplada por
chiqueiro, estábulo e demais benfeitorias que compõem a unidade (Figura 34).
205
Figura 34 - Pastagem plantada e área destinada à plantação de milho para silagem visando a alimentação do gado de
leite da unidade (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
O produtor implantou há quatro anos na unidade uma técnica forrageira para alimentação
do gado leiteiro, denominada “silagem”, minimizando as dificuldades de alimentação,
principalmente no período de inverno (Figura 35).
Figura 35 - Local da produção de silagem para alimentação animal; e pomares existentes na unidade de produção
(sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Atividades de Criação: A atividade central da propriedade é a leiteira. A comercialização do
leite é realizada diretamente com a indústria (empresa Perdigão), que recolhe o leite diariamente
na propriedade. O efetivo de animais é composto por vinte cabeças de gado de leite (das raças
Holandesa e Jersey) e por um touro reprodutor. O modo de condução ou manejo da criação das
vacas leiteira é apresentado no Quadro 15.
206
Quadro 15 - Modelo de manejo das vacas de leite (sistema produtivo leite)
Criação
JAN FEV MAR ABR MAIO
JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Vacas
Leite
Parto parto parto Parto parto parto
Fonte: Dados de Pesquisa, 2008.
A estratégia adotada para manter a produtividade dos animais consiste na manutenção de
16 vacas para ordenha diária. O produtor relata os cuidados relacionados com a intercalação do
efetivo leiteiro para manutenção da produtividade. Outro cuidado é a separação das crias anuais
para, desse modo, resguardar as vacas por um período posterior ao parto.
Em conjunto com a atividade leiteira, na propriedade são mantidos cerca de 8 suínos, 10
ovinos, 130 galinhas, além da produção de ovos, para consumo familiar e eventual
comercialização com vizinhos (Figura 36). Como atividade adicional, o produtor realiza a
compra e venda de cavalos das raças Quarto de Milha e Crioulo (Figura 37).
Figura 36 – Criação de efetivo de ovinos e suínos com a finalidade de autoconsumo e eventual comercialização
(sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Destaca-se, nesta unidade, a diversidade de cultivos vegetais e animais para autoconsumo
familiar, contribuindo fortemente para a segurança alimentar do produtor e de sua família.
207
Figura 37 - Cavalos destinados à comercialização na unidade (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Mão-de-obra da Unidade: A mão-de-obra da unidade é formada pelo produtor (52 anos), sua
esposa (64 anos), sua filha (27 anos) e seu genro (34 anos), somando 4 UTH. Eventualmente
ocorre a contratação de um diarista (por um período de quatro dias ao ano), visando auxiliar na
compactação e embalagem da silagem.
Quanto ao processo de sucessão familiar na unidade de produção, o produtor percebe que
a filha e o genro, provavelmente, continuarão a desenvolver as atividades agrícolas da
propriedade.
Benfeitorias, Equipamentos e Instrumentos de Trabalho da Unidade Produtiva: A unidade
apresenta duas casas de alvenaria, uma construída em 1954 e outra em 2006. A casa mais recente
foi edificada pela filha e pelo genro do produtor, com o apoio do Programa de Cooperativa
Habitacional de Agricultura Familiar (Coohaf
6
), que financiou, a fundo perdido, R$ 8.000,00
para esta construção (Figura 38).
6
A Coohaf foi fundada em 27 de março de 2002, visando ofertar produtos e serviços para atender à demanda da
habitação rural dos agricultores familiares. A cooperativa atua em conjunto com a Fetag/RS e com os sindicatos dos
trabalhadores rurais do estado do Rio Grande do Sul (http://www.coohaf.org.br/).
208
Figura 38 - Imagem da residência do produtor na unidade produtiva (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
A estrutura da unidade também conta com três galpões, construídos em 1958, para abrigo
de máquinas, implementos, adubos e ração. O produtor observa que, mesmo estando ciente da
necessidade de reformas nos galpões, atualmente, os investimentos por ele realizados visam
contemplar, sobretudo, a atividade leiteira, postergando, dessa forma, a reforma dessas
benfeitorias para um momento futuro (Figura 39).
Figura 39 - Galpões utilizados para abrigo de máquinas, implementos, adubos e ração na unidade de produção
(sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Também está contemplado na propriedade um estábulo, utilizado para guardar cavalos
(Figura 40).
209
Figura 40 - Local para abrigo de cavalos da unidade de produção (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
O produtor possui uma estrutura especialmente organizada para a produção de leite e
manejo dos animais, composta por um curral, com acesso à sala de ordenha (área parcialmente
coberta), e por uma área externa, cercada, local onde ele subdivide as vacas, de acordo com
aquelas que serão ordenhadas no dia (Figura 41).
Figura 41 - Local destinado a alimentação do gado de leite com acesso à sala de ordenha na unidade de produção
(sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
O produtor utiliza uma ordenhadeira mecânica e dois resfriadores de leite. O processo
inicia-se com a ordenha mecânica, enviando o leite imediatamente para os resfriadores, onde
permanece armazenado até o momento da comercialização (Figura 42).
210
Figura 42 - Local de ordenha do gado de leite e de armazenagem do leite nos resfriadores na unidade de produção
(sistema produtivo leite).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
O produtor também possui na unidade de produção equipamentos para a lavoura de milho
e preparo da área para pastagem. Conforme seu relato, parte desses implementos está sucateada,
por conta de sua saída deste tipo de produção. A seguir, no Quadro 16, estão sintetizadas as
benfeitorias descritas.
Quadro 16 - Benfeitorias, principais equipamentos e instrumentos de trabalho (sistema
produtivo leite)
Tipo - Benfeitoria Ano de fabricação
Casa 1954 (reformada em 2005)
Casa 2006
3 Galpões 1958
Chiqueiro 1958
Tipo - Maquinaria Ano de fabricação
Resfriador de leite a granel 2008
Resfriador de leite tipo tarro 1992
Trator Valmet 1982
Plantadeira 1986
Ordenhadeira 2002
Tipo - Implementos Ano de fabricação
Arado 1986
Fonte: Pesquisa de Campo, 2008.
A maior parte dos investimentos realizados recentemente pelo produtor na unidade de
produção destinou-se à atividade leiteira. Destacam-se investimentos em técnicas de
inseminação artificial, a partir de 2004, para a ampliação do efetivo de vacas das raças
Holandesa e Jersey, além da aquisição da ordenhadeira mecânica e do resfriador a granel.
211
Análise Econômica das Atividades da Unidade Produtiva: O produto bruto na unidade está
alicerçado na atividade leiteira, com participação de receita de 65,67% na produção bruta total
das atividades da unidade. Também é destacada a alta participação da produção animal e vegetal,
para autoconsumo (32.13% em relação ao total da receita da produção bruta da unidade), fator
determinante para a permanência da família na unidade de produção (Tabela 23).
Tabela 23 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 – Superfície de
área (Total e Agrícola Útil), Produto Bruto Total e Produto por Atividade na Unidade
(sistema produtivo leite)
Indicador (Superfície total e superfície
agrícola útil e Produto Bruto por cultivo)
Em Reais (R$)
e Hectares (ha) Participação %
Superfície Total 22 -
Superfície Agrícola Útil 10 -
Pb total (R$) R$ 45.681,00 100
Leite R$ 30.000,00 65,67
Venda de Cavalos R$ 1.000,00 2,18
Autoconsumo vegetal R$ 1.792,00 3,92
Autoconsumo animal R$ 12.889,00 28,21
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O valor agregado bruto da unidade é R$ 23.913,74, e o valor agregado líquido apresenta
o resultado de R$ 17.256,74 (Tabela 24).
Tabela 24 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 - Valor agregado
Líquido (sistema produtivo leite)
Indicador
Sistema de Produção Leite
Pb total (R$)
R$45.681,00
CI total (R$)
R$21.764,25
DEP
R$6.660,00
VAB
R$23.916,74
VAL
R$17.256,74
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A renda agrícola da unidade atinge R$ 12.856,74 e a renda total, R$ 21.836,74. Na
composição da renda total participam os recursos provenientes da aposentadoria rural (da esposa
do produtor) e do arrendamento (renda externa oriunda do arrendamento de 10 ha para terceiros),
que, em conjunto, equivalem a 41,12 % da renda total gerada pelo conjunto de atividades da
unidade de produção (Tabela 25).
212
Tabela 25 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 – Renda
Líquida (sistema produtivo leite)
Indicador Sistema de Produção Leite
VAL R$ 17.256,74
DVA R$ 4.400,00
RA R$ 12.856,74
Renda de aposentadoria R$ 4.980,00
Rendas Externas (arrendamento) R$ 4.000,00
RT R$ 21.836,74
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Na combinação de indicadores (Tabela 26) verifica-se que a contribuição de cada unidade
de trabalho-homem para a geração de riqueza à unidade familiar é de R$ 4.314,18 (VAL/UTH).
Já a superfície agrícola útil, ocupada por uma unidade de trabalho-homem, corresponde a 2,5 ha.
A renda agrícola por unidade de trabalho homem apresenta o valor de R$ 3.214,18.
Tabela 26 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 – Combinação
de Indicadores (sistema produtivo leite)
Indicador Sistema de Produção Leite
VAB/SAU R$ 2.391,67
VAB/UTH R$ 5.979,18
VAL/UTH R$ 4.314,18
VAL/SAU R$ 1.725,64
RA/SAU R$ 1.285.67
RT/SAU R$ 2.183,67
RA/UTHf R$ 3.214,18
RT/UTHf R$ 5.459,18
SAU/UTHf 2.5 hectares
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A análise dos indicadores revela a importância da escolha do produtor ao priorizar a
manutenção e intensificação da atividade leiteira ao longo do tempo, dentre as atividades
agrícolas desenvolvidas na propriedade. Destaca-se também que a produção destinada para o
consumo familiar na unidade (32,13% em relação ao valor bruto total da produção) e a renda de
aposentadoria rural (10,91% em relação do produto bruto da unidade) são fatores decisivos para
a manutenção da unidade familiar no campo.
213
5.3.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com o Sistema
de Produção Leite (Tipo 3)
A seção caracteriza os principais sistemas de produção desenvolvidos na propriedade,
enfatizando sua trajetória ao longo do tempo.
Sistema de Produção 1 (1975/1980) Sistema Culturas para Alimentação: O produtor
iniciou suas atividades na unidade de produção na década de 1970, quando trabalhava com sua
esposa em uma área de 9 ha, emprestada de seu sogro, em meio a mata e encostas de difícil uso
para agricultura. Neste espaço cultivava feijão, arroz e milho, em conjunto com atividades de
criação, compostas de um pequeno mero de galinhas e suínos, para consumo próprio. As
formas de produção eram manuais, utilizando como implementos uma carroça, junta de bois e
uma égua. O casal residia na casa do sogro do produtor e utilizava, também para sua
alimentação, a produção de horta e pomar da propriedade (Tabela 27).
Tabela 27 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1975 e 1980 (sistema produtivo leite)
Atividade Quantidade Finalidade
Milho N/d
Alimentação da família do produtor e
alimentação dos animais
Arroz N/d Alimentação da família do produtor
Feijão N/d Alimentação da família do produtor
Mandioca N/d Alimentação da família do produtor/animais
Suínos 6 Alimentação da família do produtor
Galinhas 10 Alimentação da família do produtor
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A falta de mecanização e de áreas apropriadas à agricultura dificultou ao produtor a
inserção em novas atividades agrícolas. No final da década de 1970, segundo relato do produtor,
houve uma mudança na estrutura produtiva da região, privilegiando a cultura do trigo e da soja,
em detrimento de culturas para alimentação.
Ainda neste sistema de produção, o produtor e seu sogro elaboraram um projeto, visando
iniciar o cultivo do trigo em uma área de 70 ha, de propriedade do segundo. Recorreram, para
214
isso, a crédito oficial, via Banco do Brasil, para compra da maquinaria (trator e implementos)
necessária à lavoura. Contudo, o projeto foi indeferido, com a justificativa de falta de
enquadramento da unidade nas normas para aquisição de financiamento desta natureza,
frustrando as expectativas do produtor quanto ao apoio do Estado à agricultura familiar.
Elementos de Transição do Sistema de Produção 1 (Sistema Culturas para Alimentação)
para o Sistema de Produção 2 ( Sistema Trigo e Soja ): A passagem a um novo sistema de
produção iniciou-se quando o sogro do produtor cedeu 22 ha para o cultivo de lavouras. Um
ponto importante a ser destacado na evolução desta unidade de produção neste sistema refere-se
à falta de acesso a mecanismos de apoio do Estado ao pequeno produtor, o que dificultou a
evolução do produtor em sua unidade produtiva. Portanto, a trajetória da unidade nesta etapa foi
emblemática, pois revela a falta de auxílio público a uma pequena unidade de produção pouco
capitalizada (Figura 43).
Sistema de Produção 1 – 1975/1980
(Sistema Culturas de Alimentação)
Produção para Autoconsumo;
Áreas caracterizadas por
Baixa produtividade;
Falta de mecanização.
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Empréstimo de área por familiar;
Sistema de troca de serviço por utilização de maquinaria de terceiros.
Elementos de Transição externos a unidade que contribuíram
à passagem
a um novo sistema
Financiamento de insumos com empresa privada;
Falta de Acesso a crédito público.
Sistema de Produção 2 – 1980/1990
(Sistema Trigo e Soja)
Início da Produção de
soja trigo;
Produção animal e vegetal
autoconsumo familiar.
Figura 43 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 1 para o Sistema 2 na unidade de
produção (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
215
Entretanto, o produtor lançou-se à produção de trigo comercial, com o auxílio do sogro,
enquadrando-se em um sistema agrário mais amplo, desenvolvido na região e em Passo Fundo.
Através da retirada de sementes e insumos, via empréstimo, de empresas privadas e aluguel de
máquinas e implementos, o produtor iniciou a plantação da cultura do trigo.
Sistema de Produção 2 1980/1990 Sistema Trigo e Soja: O segundo sistema de produção
apresentava a cultura do trigo como centralidade, em uma área de 22 ha e uso de quinas e
implementos alugados. O produtor relata que no primeiro ano do novo cultivo a renda da
comercialização dos grãos foi suficiente para o pagamento do aluguel das máquinas utilizadas e
para compra de insumos, visando à plantação da outra cultura (de verão) que se consolidava na
região: a soja.
As safras iniciais do novo cultivo (a soja era plantada em áreas com cerca 22 ha)
resultaram em perdas de 50% na produção da unidade. No entanto, concomitantemente, o
produtor iniciou a plantação de cevada em 15 ha (em substituição a parte da área plantada com
trigo). Seu ingresso na cultura da cevada foi incentivado pelas maltarias instaladas na região, que
permitiam aos produtores a retirada de sementes para posterior pagamento, além de garantirem a
compra da produção, configurando-se num sistema pautado em culturas de lavouras de inverno e
verão (Tabela 28).
Tabela 28 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1980 e 1990 (sistema produtivo leite)
Atividade Quantidade Finalidade
Trigo 22(hectares) Comercial
Soja 22(hectares) Comercial
Cevada 15 (hectares) Comercial
Galinhas 30 Autoconsumo
Suínos 6 Autoconsumo
Égua 1 Autoconsumo
Vaca de leite 1 Autoconsumo
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
No ano de 1985 o produtor investiu na compra de um trator, de uma semeadeira e demais
implementos, financiados com recursos oficiais por intermédio do banco Bradesco. A decisão
pela compra de máquinas e implementos criou as condições para tecnificação da lavoura, que
216
passou a ser a centralidade do sistema. O produtor também recorreu a crédito na modalidade
custeio para as lavouras de soja e trigo.
Um fator limitante neste sistema de produção era a mão-de-obra, visto que o produtor
somente contava com o auxílio de sua esposa nas atividades da unidade (a filha do produtor,
neste período, estava realizando seus estudos, o que a impossibilitava de realizar as tarefas da
unidade). Ainda neste sistema de produção, ele iniciou a atividade leiteira na propriedade.
Presenteado por sua mãe com uma vaca de leite, o produtor começou a desenvolver a venda de
queijo a vizinhos da região. Entre as atividades de criação o produtor permaneceu com galinhas e
suínos para consumo interno.
Elementos de Transição do Sistema de Produção 2 (Sistema Trigo e Soja) para o Sistema
de Produção 3 (Sistema Soja e Leite): O novo sistema teve início na década de 1990, com o
abandono da plantação de trigo e da cevada, em razão da alta incidência de problemas
fitossanitários em ambos os cultivos. Concomitantemente, o produtor ampliou a área cultivada
com soja em 8 ha (Figura 44).
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Abandono do trigo e cevada;
Ampliação da área cultivada com soja;
Início do investimento na atividade leiteira.
Venda de queijo em mercado na área central do município.
Elementos de Transição, externos à Unidade que Contribuíram
à passagem a um Novo Sistema de Produção;
Falta de assistência técnica a Unidade;
Maior inserção do leite na região.
Sistema de Produção – 1990/1996
(Sistema soja e Leite)
Soja como cultivo central da unidade;
Leite comercializado com indústria;
Comercialização de queijo com atacado;
Ampliação de investimento nas vacas
de leite;
Manutenção de produção animal para
Autoconsumo (suínos, galinhas).
Sistema de Produção – 1980/1990
(Sistema Trigo e Soja)
Início dos cultivos do
trigo e da soja;
Acesso a crédito para maquinaria;
Continuidade de produção
animal e vegetal para autoconsumo
familiar.
Figura 44 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 2 para o Sistema 3 na unidade de
produção (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
217
Um evento importante para a passagem a um novo sistema de produção na unidade
relacionou-se à ampliação na região do número de indústrias que compravam leite diretamente
das propriedades, estimulando o produtor a ampliar seus investimentos na atividade leiteira.
Sistema de Produção 3 (1990/1996) Sistema Soja e Leite: O terceiro sistema produtivo
iniciou-se com o empréstimo de três vacas de leite pelo sogro, que, somadas à vaca existente na
unidade, passaram a gerar renda adicional à lavoura de soja, cultivada agora em 30 ha.
Paralelamente, iniciou-se o cultivo de aveia, em área com 10 ha destinada, sobretudo, a
alimentação animal. A comercialização do leite era realizada diretamente com a empresa Elegê,
que recolhia o leite no interior da unidade. Com o excedente do leite (não comportado no
refrigerador - no período, o único local de armazenamento), o produtor passou a fabricar queijo,
produção comercializada em um mercado atacadista do município de Passo Fundo (Tabela 29).
Tabela 29 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1990 a 1996(sistema produtivo leite)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 30 (hectares) Comercial
Aveia 10 (hectares) Alimentação animal
Suínos 6 Autoconsumo
Vaca de leite 8 Autoconsumo e comercialização com indústria
Queijo N/d Venda para atacadista de Passo Fundo
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
O produtor relata que, neste sistema produtivo, somente a renda proveniente da venda do
queijo pagava as despesas principais da unidade. Mesmo o produtor sabendo que somente 20%
da renda total da unidade era procedente do leite e do queijo (em média, 80% da renda agrícola
derivava da soja), a liquidez da atividade era certa, ou seja, parafraseando o produtor: quem
investe no leite não fica mal”.
Embora ainda bastante dependente da renda da soja, neste sistema de produção a
ampliação de investimentos na unidade ocorreu, sobretudo, em razão da ampliação da atividade
leiteira. Em 1989 realizou-se a aquisição de quatro vacas do tipo Holandesa, ampliando o efetivo
da unidade.
218
Elementos de Transição do Sistema de Produção 3 (Sistema Soja e Leite) para o Sistema de
Produção Atual (Sistema Leite): A passagem para um novo sistema teve início com a
ampliação da importância da atividade leiteira na propriedade, em conjunto com a diminuição
gradual da área cultivada com soja, substituída por culturas de alimentação animal. No ano de
1994, o efetivo total de vacas de leite (oito animais) foi vendido e, em seguida, substituído pela
aquisição de dez vacas das raças Jersey e Holandesas com alta produtividade.
Concomitantemente, foi adquirido para unidade de produção o primeiro resfriador, do tipo tarro,
em virtude da necessidade de resfriamento da produção leiteira naquele período (Figura 45).
Elementos de Transição, Internos à Unidade que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Ampliação de Investimentos na atividade leiteira;
Abandono da Cultura da soja em troca de cultivos ligado a
alimentação animal.
Elementos de Transição externos a unidade que contribuíram
à Passagem a um Novo Sistema de Produção
Integração com indústria Perdigão para venda de leite;
Acesso a programas de moradia no campo
Sistema de Produção – 1996/2008
(Sistema Leite)
Técnicas de inseminação artificial;
Ampliação das Vacas de leite;
Ampliação da mão-de-obra (sucessão).
Sistema de Produção – 1990/1996
(Sistema Soja e Leite)
Soja como cultivo central do sistema;
Leite comercializado com indústria;
Comercialização de queijo com atacado;
Ampliação de investimento nas vacas de
leite;
Manutenção de produção animal para
autoconsumo (suínos, galinhas).
Figura 45 - Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 3 para o Sistema Atual da unidade
de produção (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Igualmente contribuiu para a transição ao sistema atual a percepção, por parte do
produtor, da redução de recursos provenientes do Estado para financiamento das lavouras de
soja, principal atividade da região no período.
219
Sistema de Produção 4 (1996/2008) Sistema Leite: A atividade leiteira na unidade perpassa
pela maior parte dos sistemas de produção desenvolvidos na unidade, acompanhando
significativa parte de sua trajetória. Todavia, destaca-se que este sistema de produção, o sistema
4, foi o momento de consolidação desta atividade na propriedade. Neste período o produtor
abandonou a produção de soja, arrendando para terceiros cerca de 10 ha e cultivando na área
restante (10 ha) pastagens para alimentação das vacas de leite. A unidade também mantinha
suínos, ovinos, terneiros e galinhas para consumo interno e/ou eventual venda a vizinhos, o que
reforçava a minimização das despesas, em dinheiro, para a alimentação familiar (Tabela 30).
Tabela 30 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1996 a 2008 (sistema produtivo leite)
Atividade Quantidade Finalidade
Pastagem 5 (hectares) Alimentação animal
Milho 4 (hectares) Produção de silagem
Ovinos 10 Consumo interno/eventual comércio local
galinhas 130 Autoconsumo
Cavalos 6 Renda adicional
Touro reprodutor 1 Reprodutor
Vacas 20 Venda à indústria
Fonte: Dados de campo, 2008
A partir de 2004 teve início o processo de implementação de silagem. Além disso, com o
retorno da filha e do genro do produtor à unidade, a mão-de-obra foi ampliada em duas UTHs no
período. Como renda adicional, o produtor compra e vende cavalos, além do benefício da
aposentadoria rural, recebido por sua esposa.
A evolução dentro deste sistema de produção foi gerada pela melhora da produtividade
na atividade leiteira, com a compra de dez vacas das raças Jersey e Holandesa um sistema de
ordenha automático, um resfriador do tipo granel, além de investimentos em inseminação
artificial em parte dos animais, desenvolvendo-se o aprimoramento na atividade leiteira em
detrimento de outras atividades, que ao longo do tempo foram consideradas inadequadas aos
recursos produtivos da unidade de produção.
220
A Dinâmica dos Sistemas de Produção – Principais Trajerias do Tipo 3 ( Leite): A
trajetória desenvolvida na propriedade rural investigada, através dos sistemas de produção
implementados, foi segmentada em quatro principais momentos. O primeiro sistema de produção
era unicamente composto pela produção de culturas de subsistência. No período, havia
dificuldades de acesso a financiamentos do Estado para o desenvolvimento da produção de
culturas de lavoura por parte do pequeno produtor. O segundo sistema de produção marca o
ingresso do produtor nos cultivos de trigo e soja, sem, contudo, abandonar as culturas de
autoconsumo desenvolvidas na unidade. O produtor, durante o sistema, financiou com recursos
públicos a produção de soja e trigo (Figura 46).
Sistema 2
1980/1990
(Sistema Trigo
e Soja)
Sistema 3
1990/1996
(Sistema Soja
e Leite)
SISTEMA 4
1996/2008
(Sistema Leite)
Fatores Internos à Unidade de Produção para análise da Trajetória
dos Sistemas de Produção ao Longo do Tempo
Diversidade de produção na unidade;
Produção para consumo da família;
Estratégia de troca de serviços por maquinaria;
Financiamento de insumos e tecnologia com empresas privadas;
Investimento em técnicas e tecnologia para atividade leiteira.
Fatores Externos à Unidade de Produção para análise da Trajetória dos
Sistemas de Produção implementos ao Longo do Tempo
Acesso a crédito bancário para compra de maquinaria;
Indústrias Compradoras de Leite na região;
Utilização de crédito de custeio para lavoura;
Sistema 1
1975/1980
(Culturas para
Alimentação)
Figura 46 - A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do Tipo 3 (sistema produtivo leite).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
O quadro produtivo do terceiro sistema de produção tem início com o ingresso do
produtor na atividade de comercialização de leite para indústria e de queijo (até este momento,
estas atividades comerciais eram consideradas de pouca expressão na propriedade),
conjuntamente com a manutenção da área ocupada com a plantação de soja. Entre os elementos
determinantes para a transição a um novo sistema destacam-se o abandono da cultura da soja,
pela falta de escala de produção, paralelamente aos novos investimentos na atividade leiteira.
221
Neste prisma, inicia-se o sistema atual, que possui sua centralidade na venda de leite para
indústria.
Dois pontos devem ser ressaltados ao longo da trajetória desenvolvida nesta propriedade
rural: primeiro, a manutenção da diversificação de atividades de produção animal e produção
vegetal, para autoconsumo, como estratégia de manutenção da família no campo, contribuindo
para sua segurança alimentar; segundo, no sistema de produção atual consolidou-se, na unidade,
a produção leiteira, via investimentos na alimentação animal, na melhora de raças, inseminação
artificial e compra de ordenhadeira e resfriadores.
O resultado da investigação da unidade de produção em estudo está converge com os
resultados da pesquisa desenvolvida por Grisa e Schneider (2008), que caracterizam o
autoconsumo como uma estratégia recorrente entre os agricultores familiares e que se reveste de
fundamental importância para a reprodução social destas unidades. Gazolla (2004) em seu
trabalho intitulado Agricultura familiar, segurança alimentar e políticas públicas: uma análise
a partir da produção para autoconsumo no território do Alto Uruguai/RS” apontou a relevância
do autoconsumo como instrumento para reduzir a vulnerabilidade e insegurança alimentar das
famílias, o que contribui para minimizar a pobreza no meio rural.
Quanto ao segundo destaque, a importância da atividade leiteira em relação ao conjunto
de atividades produtivas desenvolvidas na propriedade rural, é salutar citar o estudo “Novo
retrato da agricultura familiar” de Guanziroli e Cardim (2000). Os autores caracterizaram os
agricultores familiares sobretudo a partir de suas relações sociais de produção, verificando que a
maioria dos agricultores familiares possui uma produção diversificada ou especializada, sendo
que apenas 11,5% de seus estabelecimentos apresentam uma produção muito especializada, em
que um único produto atinge 100% do valor bruto de sua produção. O sistema mais frequente é o
diversificado, com 44,1% dos estabelecimentos tendo um único produto atingindo de 35% a 65%
do VBP
7
.
O sistema de produção atual da unidade investigada apresenta um VBP da produção de
leite igual a 65% em relação a produção total. Este resultado permite caracterizar estes
agricultores familiares, pertencentes ao sistema de produção investigado neste estudo de caso, a
partir de suas relações sociais de produção, como de produção diversificada.
7
Escala utilizada pelos autores para classificação: Grau de Especialização do Estabelecimento,seja PERCPROD =
% Valor da produção do produto principal / VBP, Super especializado Þ PERCPROD = 100%, Especializado Þ 65%
£ PERCPROD < 100%, Diversificado Þ 35% £ PERCPROD < 65% , Muito diversificado Þ PERCPROD < 35%.
222
5.4 A Centralidade do Cultivo da Soja em Associação com “Antigas Atividades da Região
no Sistema de Produção Soja (Tipo 4)
A partir de década de 1970, os produtores agrícolas do estado do Rio Grande do Sul
ampliaram significativamente as áreas plantadas com a cultura da soja. Neste cenário, o
município de Passo Fundo, assim como o Planalto Médio, tornou-se representante legítimo da
ampliação da área produzida de soja, em detrimento de outras culturas, nas últimas décadas.
Entretanto, observa-se na região em tempos mais recentes, e especialmente no município em
estudo, que uma significativa parcela de produtores moldou seus sistemas de produção pela
associação da cultura da soja com outras atividades agrícolas.
Nas seções seguintes são analisados dois sistemas de produção (denominados
subsistemas de produção do Sistema de Produção Soja), praticados em duas propriedades rurais,
que, além da cultura da soja, desenvolvem atividades de criação (item 5.4.1) e culturas de
inverno (item 5.4.2).
5.4.1 O Subsistema de Produção Soja – Criação
A combinação entre a cultura da soja e atividades de criação, com finalidade comercial, é
recorrente na área rural do município, diferenciando-se de sistemas de produção que possuem
atividades de criação somente para consumo da unidade familiar ou para eventuais trocas e
comércio com vizinhos. Nos itens seguintes apresenta-se a análise de uma unidade representante
do chamado “subsistema soja-criação”.
5.4.1.1 Descrição Agrossocioeconômica do Subsistema Produtivo Soja – Criação
A propriedade que representa o subsistema soja-criação está localizada no Distrito de
Pulador, a cerca de 40 km de distância da área sede do município. Conta com 288 ha de
223
superfície total, dos quais 142 são de propriedade da família do produtor, 64 ha são arrendados
de familiares e 82 ha são arrendados de terceiros. Em relação à mão-de-obra, o produtor trabalha
em parceria com seus dois irmãos e um sobrinho na unidade.
Produção Vegetal: A principal atividade agrícola da unidade é a lavoura de soja, ocupando
uma área de 240 ha. Com uma produtividade média de 40 sacas por hectare, a produção é
comercializada com a cooperativa de produtores de Pulador
8
. A unidade é composta também por
48 ha ocupados com matas (Figura 47).
Figura 47 - Vista da área de cultivo da soja da unidade (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
O itinerário técnico da produção de soja inicia-se em outubro, estendendo-se até março
ou abril, período da colheita (Quadro 17)
Quadro 17 - Itinerário técnico da cultura soja (subsistema produtivo soja – criação)
Cultivo JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Soja
Trato
(secante)
Trato
(pragas)
Colheita
Trato
(secante)
Plantio Plantio
Fonte: Dados de campo, 2008.
8
A cooperativa do distrito foi fundada no ano de 1993 por produtores da região, para recolhimento e armazenagem
de grãos para posterior venda, preferencialmente em momentos de alto preço. Atualmente é composta por vinte
produtores associados, que buscam capacitação e informações de mercado, visando à minimização das perdas no
processo de produção e na venda de grãos.
224
Atividades de Criação: O produtor realiza a terminação de suínos, por meio do sistema de
confinamento, para venda direta à indústria. O produtor desenvolve a atividade de terminação de
suínos, em seu contexto econômico, como estratégia de diversificação das atividades e geração
de renda para sua unidade. Uma vantagem adicional desta atividade, em função do sistema de
confinamento, é a possibilidade de manutenção da área plantada com a cultura da soja,
atualmente a centralidade deste sistema de produção.
O sistema de terminação inicia com o recebimento, pelo produtor, da Cooperativa Cotrijal, de
lotes de suínos com 60 dias e pesando entre 22 e 25 kg. Após 100-105 dias, o produtor envia os lotes
de suínos (agora com 160 dias e pesando entre 120 e 130 kg) para o frigorífigo em Sarandi, para
abate. Na sequência, são enviados para a indústria Aurora em Santa Catarina, para exportação
(Figura 48).
Figura 48 - Galpão para terminação de suínos na unidade de produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Segundo a percepção do produtor, muitos produtores familiares da região têm adotado o
princípio que se denominou “precaução”, ou seja, estão investindo na implantação e na
especialização em outra(s) atividade(s), diferentes das culturas, sobretudo de verão, como, por
exemplo, a terminação de suínos. No Quadro 14 é apresentado, de forma sintetizada, o modo de
condução e manejo da criação de suínos.
225
Quadro 18 - Modo de condução e manejo da criação de suínos (subsistema produtivo soja
criação)
criação
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Suínos
Recebimen
to do lote
(10 de
janeiro)
Saída
do
Lote
Entrada
novo
lote
Recebimento
do lote
(10 de janeiro)
Saída
do
Lote
Limpeza
das
instalações
Fonte: Dados de campo, 2008
.
Como vantagens adicionais à integração, o produtor destacou fatores como o baixo uso
de mão-de-obra, aliado à certeza da comercialização dos lotes contratados.
Mão-de-obra Familiar: A mão-de-obra é composta pelo proprietário, seus dois irmãos e um
sobrinho, todos envolvidos integralmente nas atividades da unidade, totalizando 4 UTHs. O
sistema de produção conjunto, entre familiares próximos, é uma estratégia comum entre os
agricultores familiares, otimizando a mão-de-obra disponível.
Quanto à sucessão na unidade, o produtor não vislumbra a possibilidade de envolvimento
de seus descendentes com as atividades da propriedade. Atualmente, a esposa e sua filha residem
na área da cidade de Passo Fundo, não demonstrando interesse pelo envolvimento com a
agricultura.
Benfeitorias, Equipamentos e Instrumentos de Trabalho da Unidade Produtiva: A
unidade é composta por uma casa, dois galpões para terminação de suínos, e um galpão para
guarda de maquinaria e implementos agrícolas. A maquinaria existente na propriedade para
cultivo da soja é composta por dois tratores, duas colheitadeiras, uma plantadeira e um caminhão
(Quadro 19).
226
Quadro 19 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(subsistema produtivo soja – criação)
Tipo – Benfeitoria Ano fabricação
Casa 1974
Galpão para terminação 1 1997
Galpão para Terminação 2 1999
Galpão para implmentos agrícolas 1987
Tipo - Máquinaria/Implementos Ano fabricação
Trator FORD 6600 1980
Trator MF 290 1983
Colheitedeira New Holland 1976
Colheitadeira New Holland T55 1994
Caminhão Mercedes Bens 1113 1971
Plantadeira Semeato PS8 1994
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Investimentos na Unidade de Produção: Em 1997 foi realizada a reforma de um galpão para
terminação (antigo “chiqueiro” de pequeno porte), na propriedade, visando à acomodação de 200
suínos, de acordo com o contrato realizado com a cooperativa Cotrijal. Em 1999, foi construído
um segundo galpão, para terminação, com financiamento do banco BNDES, via cooperativa de
crédito Sicredi, no valor total de R$ 48.000,00.
Análise Econômica das Atividades da Unidade Produtiva: O produto bruto da unidade está
alicerçado na cultura de verão soja e na atividade da suinocultura (Tabela 31).
Tabela 31 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 (Subsistema
Soja –Criação) - Superfície de área (Total e Agrícola Útil), Produto Bruto Total e
Produto por Cultivos na Unidade (subsistema produtivo soja – criação)
Indicador (Superfície total e
superfície agrícola útil e Produto
Bruto por cultivo)
Em Reais (R$)
e Hectares (ha) Participação %
Superfície total 288 -
Superfície Agrícola Útil 240 -
Pb total(R$) R$ 421.252,00 100
Participação da soja R$ 384.000,00 91,15
Participação da suinocultura R$ 31.552,00 7,49
Produto Bruto Autoconsumo R$ 5.700,00 1,35
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
227
O valor agregado bruto na unidade é de R$ 163.232,00, que corresponde ao valor do
produto bruto, descontados os valores dos insumos e serviços de terceiros utilizados no decorrer
do ano agrícola. Já o valor agregado líquido (VAL) atinge R$ 141.265,33 (Tabela 32).
Tabela 32 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 – Valor
Agregado Líquido (subsistema produtivo soja – criação)
Indicador Sub-sistema de Produção soja-criação
Pb total(R$) R$ 421.252,00
CItotal(R$) R$ 258.020,00
DEP R$ 21.966,66
VAB R$163.232,00
VAL R$141.265,33
Fonte: Pesquisa de campo 2008.
A renda agrícola da unidade apresenta um valor de R$ 68.665,33, não havendo a entrada
de rendas não agrícolas, de aposentadoria rural ou mesmo rendas externas à propriedade. No
cálculo do indicador consumo intermediário (CI), separadamente, para a cultura da soja e para a
suinocultura integrada (principais atividades da unidade), este indicador, para a soja, chega a
65,13% em relação ao produto bruto desta atividade. Na suinocultura o resultado é 13,95%, o
que ratifica a lógica do produtor na escolha deste tipo de criação na unidade (Tabela 33).
Tabela 33 - Indicadores Socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 – Renda
Líquida (subsistema produtivo soja – criação)
Indicador Sub-sistema de Produção soja-criação
VAL R$141.265,33
DVA R$ 72.600,00
RA R$ 68.665,33
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Na combinação de indicadores verifica-se que a contribuição de cada unidade de
trabalho-homem para a geração de riqueza à unidade familiar é R$ 35.316,33 (VAL/UTH), e a
superfície agrícola útil, de uma unidade de trabalho-homem, correspondendo a 60 ha de área.
a renda agrícola por unidade de trabalho-homem é R$ 17.166,33 (Tabela 34).
228
Tabela 34 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 –
Combinação de Indicadores (subsistema produtivo soja – criação)
Indicador Subsistema de Produção Soja Criação
VAB/SAU R$ 680,33
VAL/SAU R$ 588,60
RA/SAU R$ 286,10
VAB/UTH R$ 40.808,00
VAL/UTH R$ 35.316,33
RA/UTH R$ 17.166,33
SAU/UTH 60 (hectares)
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Um resultado significativo para a unidade refere-se à economia no consumo
intermediário, pela menor utilização de adubos químicos na lavoura, em razão da sua
complementação com os dejetos da atividade de criação de suínos, permitindo ao produtor
auferir uma renda líquida maior (Figura 49).
Figura 49 - Sistema de escoamento de dejetos utilizados como adubação para a produção de soja na unidade de
produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
229
5.4.1.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com o
Subsistema de Produção Soja - Criação (Tipo 4.1)
A seção seguinte analisa a trajetória dos sistemas de produção desenvolvidos na unidade
em análise.
Sistema de Produção 1(1960/1965) Sistema Criação: O produtor iniciou as atividades na
unidade na década de 1960, com a atividade de criação de gado de corte e criação de ovinos,
visando à comercialização dos produtos. O gado era vendido a frigoríficos da região, e a era
comercializada em Passo Fundo. Além disso, para consumo da família, em uma área de 4 ha,
eram cultivados o arroz, o feijão e a mandioca, além da atividade de criação, com 20 a 30 suínos.
A área ocupada pela unidade contava com 220 ha utilizados para a acomodação de um
efetivo animal com 300 cabeças de gado e 200 cabeças de ovinos. Até 1965, a mecanização era
baixa na unidade e a família do produtor dependia exclusivamente da renda da venda de gado e
(Tabela 35). A mão-de-obra era relativamente abundante, composta pelo produtor, seus pais e
onze irmãos (nem todos os irmãos participavam das atividades de produção, por serem muito
jovens no período).
Tabela 35 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1960 a 1965 (subsistema produtivo soja – criação)
Atividade Quantidade Finalidade
Mandioca N/d Consumo da família
Arroz N/d Consumo da família
Feijão N/d Consumo da família
Bovinos 300 Comercialização com frigoríficos da região
Suínos 40 Consumo da família
Vacas de leite 8 Consumo da família
Ovinos 200 Comercialização da lã
Fonte: Dados de Campo, 2008.
Segundo relatos do produtor, este período representou o final da criação de gado em
sistema extensivo, até então modelo prevalente na unidade. Fatores como falta de alimentação
para o gado e a pressão externa para ingresso nas culturas de lavoura contribuíram para a queda
gradual da criação na propriedade.
230
Ainda, na unidade houve a tentativa de manutenção da atividade de criação, como
centralidade, porém ocorreram significativas perdas do efetivo de gado, notadamente no inverno,
em razão da falta de cuidado com a alimentação animal. Além disso, a facilidade de acesso a
crédito induziu os proprietários a investirem na compra de trator, plantadeira, arado e demais
implementos, por meio de crédito oficial do Banco do Brasil, conduzindo, consequentemente, à
produção das culturas do trigo e soja na unidade.
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 1 (Sistema Criação) e o Sistema de
Produção 2 (Sistema Lavoura e Criação ): As mudanças para um novo sistema ocorreram com
a aquisição da maquinaria, possibilitando a inserção da unidade na produção de lavouras de soja,
trigo e milho, associada à ampliação da mão-de-obra, com a entrada dos irmãos mais novos na
atividade (Figura 50).
Sistema 1 – 1960/1965
(Sistema Criação)
Gado comercial;
Venda de lã;
Produção para autoconsumo;
Mão-de-obra familiar.
Sistema 2 – 1965/1988
(Sistema Lavoura e Criação)
Plantação de soja;
Plantação de trigo;
Bovinocultura;
Mão-de-obra familiar.
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram a
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Investimentos em implementos para lavoura de soja e trigo;
Mão-de-obra familiar crescente na unidade.
Elementos de Transição, Externos à Unidade, que Contribuíram a
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Crédito para aquisição de maquinaria.
Figura 50 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 1 para o Sistema 2 (subsistema
produtivo soja – criação).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
A passagem a um novo sistema, que tinha na lavoura de soja e trigo sua centralidade,
enfrentou a resistência do pai do produtor, que trazia consigo a prática de criação extensiva de
gado, ovinos e suínos como principal atividade ligada à agricultura.
231
Sistema de Produção 2 (1965/1988) - Sistema Lavoura e Criação: O sistema de produção
caracteriza-se pela perda de importância da atividade de criação perante as lavouras de trigo e
soja. No final da década de 1960, o produtor plantava cerca de 50 ha, com soja no verão e trigo
no inverno, incluindo a pastagem plantada (via mecanização) para alimentação animal. O gado
era confinado no verão em áreas marginais da unidade.
No ano de 1973 a família adquiriu 74 ha (área comprada de vizinhos) para ampliação da
área de lavoura. Assim, o produtor passou a produzir 260 ha de soja, 50 ha de milho e 150 ha de
trigo. Mantinha-se a criação de gado (200 cabeças), ovinos (cerca de 50 cabeças) e suínos (40
cabeças). Observa-se a continuidade do processo de substituição do efetivo de animais por área
de lavoura, levando, num curto espaço de tempo, ao término da criação de ovinos na unidade.
Situação semelhante ocorreu com o gado, dado que a renda agrícola da unidade era proveniente
em cerca de 60% da soja, 30% do trigo e somente 10 % da criação (Tabela 36).
Tabela 36 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1965 e 1988 (subsistema produtivo soja – criação)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 260 (ha) Comercial
Trigo 150 (ha) Comercial
Milho 50 (ha) Comercial
Pastagem cultivada 50 (ha) Alimentação animal
Bovinos 250 cabeças Comercial
Ovinos 80 Comercial
Suínos 40 Consumo na unidade
Gado de leite 8 Consumo na unidade
Fonte: Dados de campo, 2008.
O produtor afirmou que a rentabilidade da lavoura permaneceu alta até o final da década
de 1980. Frequentemente eram utilizados recursos do Estado para a realização de investimentos
na agricultura, como compra de áreas de terra e modernização do quadro produtivo da lavoura
(Figura 51 e 52).
232
Figura 51 - Maquinaria adquirida, com financiamento do Estado na década de 1970, para produção da lavoura na
unidade de produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
Com a realização da partilha, das terras do pai do produtor (ainda em vida), a área de
produção reduziu-se para 142 ha de propriedade da família, agora contando somente com o
produtor, seu pai e dois irmãos residindo na unidade de produção.
Figura 52 - Maquinaria e processo de colheita de trigo na unidade de produção na década de 1970 (subsistema
produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
A unidade foi modernizada no período com a construção de um galpão para guardar as
máquinas e os implementos. No mesmo período foram comprados dois tratores e uma
colheitadeira, integralmente financiados pela entidade Banco do Brasil. Além disso, o produtor
recorria a crédito na mesma entidade para custeio das lavouras de soja, trigo e milho.
233
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 2 (Sistema Lavoura e Criação) e o
Sistema de Produção 3 (Sistema Lavoura): O processo de transformação da unidade em um
novo sistema teve início com a queda da criação de gado e o término da plantação de trigo
(Figura 53).
Sistema 3 – 1988/1997
(Sistema Lavoura)
Produção de soja;
Produção de milho;
Início da técnica do plantio direto.
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção.
Queda da atividade de criação de gado;
Cessão da plantação de trigo
Construção de galpão na unidade para preservar a maquinaria da
lavoura.
Elementos de Transição, Externos à Unidade que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção.
Modernização das maquinarias via crédito oficial;
Sistema 2– 1965/1988
(Sistema Lavoura e Criação)
Plantação de soja;
Plantação de trigo;
Bovinocultura;
Mão-de-obra familiar.
Figura 53 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 2 para o Sistema 3 na unidade de
produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados de campo, 2008.
Segundo relatos do produtor, uma das causas do abandono da bovinocultura comercial
relacionava-se com a área destinada para alimentação animal, pois com o início da técnica do
plantio direto
9
os animais causavam problemas, em virtude do alto consumo de palha, associado
ao pisoteio da terra, gerando um problema na compactação do solo.
9
O plantio direto compreende um conjunto de técnicas integradas que visam melhorar as condições ambientais
(água-solo-clima) para explorar da melhor forma possível o potencial genético de produção das culturas.
Respeitando os três requisitos mínimos - não revolvimento do solo, rotação de culturas e uso de culturas de
cobertura para formação de palhada, associada ao manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas - o
plantio direto não deve ser visto como uma receita universal, mas como um sistema que exige adaptações locais.
234
Sistema de Produção 3 (1988/1997) –Sistema Culturas de Verão: O novo sistema consolidou-
se com a inclusão da técnica do plantio direto e o abandono total da atividade de criação de
bovinos na unidade (Tabela 37).
Tabela 37 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1988 a 1997 (subsistema produtivo soja – criação)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 200 (hectares) Comercial
Milho 40 (hectares) Comercial
Pastagem cultivada Aveia Cobertura de palha
Ovinos 50 Consumo na unidade/Eventual comercialização
Suínos 40 Consumo na Unidade/eventual comercialização
Gado de leite 8 Consumo na unidade
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A mão-de-obra, neste sistema, era composta pelo produtor e seus dois irmãos, que
utilizavam a área própria (142 ha) e arrendavam mais 64 ha de familiares. O produtor relata que,
com o início da técnica do plantio direto, houve a otimização de recursos produtivos,
economizando mão-de-obra, o que possibilitou a realização das atividades da unidade sem a
contratação de mão-de-obra externa.
Como principal investimento neste sistema de produção houve a aquisição de uma
colheitadeira (Figura 54), adaptada para a técnica do plantio direto, financiada com recursos
oficiais. Também, no período eram mantidos os financiamentos correntes, para custeio da
lavoura.
Figura 54 Colheitadeira, financiada com recursos oficiais, adaptada para a produção de grãos através do plantio
direto na unidade de produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
235
Elementos de Transição entre o Sistema de Produção 3 (Sistema Culturas de Verão) e o
Sistema de Produção 4 (Atual): A percepção do produtor quanto aos riscos relacionados à
monocultura da soja, principalmente pela incidência de problemas climáticos no cultivo, levou à
promoção de investimentos em uma nova atividade para a unidade (Figura 55).
Sistema 4 – 1997/2008
(Sistema Soja e Suinocultura Integrada)
Produção de soja ampliada;
Início da suinocultura em parceria
com cooperativa;
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Busca de atividade alternativa à monocultura da soja.
Elementos de Transição, Externos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção;
Pareceria na região entre cooperativa, empresas e produtores para
integração da suinocultura;
Crédito para custeio da lavoura de soja e milho.
Crédito Modernização das maquinarias (colheitadeira).
Sistema 3 – 1988/1997
(Sistema Lavoura)
Produção de soja;
Produção de milho;
Início da técnica do plantio direto.
Figura 55 – Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 3 para o Sistema Atual na unidade
de produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Assim, o produtor iniciou a atividade de criação de suínos (com o sistema de terminação),
estimulado, sobretudo, pela experiência na manutenção de um pequeno efetivo na unidade ao
longo do tempo e pela baixa demanda de mão-de-obra e custos produtivos. O ingresso desta
atividade no sistema de produção da unidade configurou-se como principal característica para a
passagem ao sistema seguinte (atual).
236
Sistema de Produção 4 (1997/2008) - Sistema Soja e Suinocultura Integrada: Em 1997 o
sistema de produção da unidade (atual) passou a abarcar também a atividade de suinocultura, por
meio da parceria com a Cooperativa Cotrijal. Com a reforma de um antigo chiqueiro (que se
transformou em um galpão para terminação de suínos), ampliou-se para 200 suínos a capacidade
de manutenção dos animais para engorda e posterior comercialização com a cooperativa (Figura
56). Um fator determinante para a escolha desta atividade para a composição do sistema de
produção relacionou-se à garantia de mercado, por meio de contrato, que previa a compra dos
lotes engordados na unidade.
Figura 56 - Galpão para terminação de suínos na unidade de produção (subsistema produtivo soja – criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
A atividade cresceu com a construção de uma segundo galpão para terminação de suínos,
com capacidade para um lote de 280 animais, no ano de 2004, ampliando, consequente, a renda
do produtor (Figura 57).
Figura 57 - Galpão para terminação e instalações internas da atividade de terminação
(subsistema produtivo soja – criação)
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
237
Quanto às demais atividades de criação da unidade, permaneceram os suínos e vacas de
leite para consumo interno. A produção de soja continuou a se configurar como atividade central,
em uma área de 240 ha, porém o produtor destacou certo desconforto com os custos crescentes
da lavoura, sobretudo, os relativos a insumos e ao arrendamento (Tabela 38).
Tabela 38 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1997 e 2008 (subsistema produtivo soja – criação)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 240(hectares) Comercial
Suínos 580 (2 lotes) Comercial
Ovinos 40 Consumo na unidade /eventual comercialização
Vacas de Leite 8 Consumo na unidade
Fonte: Dados de campo, 2008.
Uma inquietação relatada pelo produtor refere-se à sucessão na gerência da unidade, visto
que seus descendentes não pretendem se envolver com as atividades da propriedade rural. Desse
modo, o produtor poderá abandonar a atividade rural, tendência observada por ele na região,
sobretudo nos processos que envolvem a divisão de terras entre familiares, fato vivenciado
inclusive em sua própria trajetória.
A Dinâmica dos Sistemas de Produção Principais Trajetórias do Tipo 4 ( Sub-sistema
Soja-Criação): A trajetória desenvolvida pelo produtor na unidade representante do subsistema
soja-criação foi segmentada em quatro sistemas de produção. As atividades agrícolas na
propriedade rural investigada iniciam com a prática da criação extensiva de gado em campo
aberto, concomitantemente à produção de alimentos. A propriedade apresenta uma história de
tradição na criação de gado, o que torna a transição para o sistema seguinte (Sistema 2)
emblemática, pois é pautada no uso de crédito para compra de maquinaria, visando à sua
inserção em culturas de lavouras, especialmente a soja e o trigo, movimentando-se na direção
oposta à atividade de criação. No novo sistema (Sistema 2), além da soja e do trigo, produzidos
em 260 ha e, posteriormente, em 150 ha, a atividade de bovinocultura ainda é mantida, mas com
menor importância. A passagem para o sistema seguinte é estimulada pela continuidade da queda
da bovinocultura e pelo abandono da produção de trigo, além de investimentos adicionais nas
culturas da soja e milho (Figura 58).
238
Os elementos importantes à trajetória desenvolvida na unidade de produção investigada
refletem num conjunto de fatores pertencentes ao processo de modernização da agricultura.
Conforme evidenciado nesta pesquisa, em 1950 o governo federal promoveu a abertura de
créditos especiais, em favor do serviço de extensão do trigo, para aquisição de máquinas, silos,
moinhos e semente. Em 1960, a lavoura empresarial da soja expande-se, originando o binômio
soja/trigo, estimulada por uma gama de estímulos fiscais, políticas de financiamentos blicos e
formas associativas de produção. Com o auxílio desses incentivos, a unidade de produção
investigada é inserida na produção das culturas da soja e do trigo.
A década de 1970 baseou-se, então, fundamentalmente, na produção de soja, tornando o
cultivo de trigo uma lavoura secundária. A partir desse período a cultura da soja marca a sua fase
de expansão no processo de modernização da agricultura, assumindo papel principal, enquanto
atividade agrícola do município de Passo Fundo (Tedesco et al, 2005). Nesse período, na
propriedade rural investigada, a área destinada à produção de grãos é ampliada, sendo realizados
também investimentos na unidade de produção, através da construção de benfeitorias e aquisição
de máquinas e implementos agrícolas para a produção de soja, trigo e milho. Ressalta-se que,
mesmo ampliando quantitavamente a produção vegetal, o produtor manteve, ao longo do tempo,
atividades de criação.
Sistema Lavoura-
Criação
1965/1988
Sistema
Culturas de Verão
1988/1997
SISTEMA
Soja e Suinocultura
Integrada
1997/2008
Fatores Internos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória dos
Sistemas de Produção ao Longo do Tempo
Investimento na aquisição de máquinas e implementos;
Substituição da atividade de criação por culturas de verão e inverno;
Investimentos constantes na unidade;
Estratégia de ampliação das atividades na unidade.
Fatores Externos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória dos
Sistemas de Produção ao Longo do Tempo
Crédito para compra de maquinaria e implementos;
Contratos e parcerias entre empresas, cooperativas e produtores.
Sistema Criação
1960/1965
Figura 58 – A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do Tipo 4 (Subsistema Soja-Criação).
Fonte: Dados da pesquisa, 2008.
239
O sistema de produção seguinte (Sistema 3) é constituído, basicamente, por culturas de
verão, concomitantemente à adoção das técnicas de plantio direto, renovação da maquinaria e
construção de um galpão para comportar as máquinas da unidade. A transição para o sistema
atual é gerada pela parceria, na região, entre cooperativas de integração de suínos com o
produtor, que investe na ampliação dos chiqueiros como uma forma de diversificar as atividades
da propriedade rural.
O processo de integração da suinocultura possibilitou, além de ingressos de renda, a
utilização dos dejetos para adubação da lavoura de soja, gerando uma economia significativa ao
cultivo. Evidencia-se na trajetória percorrida pelo produtor em sua unidade o acesso contínuo a
fontes de financiamento promovido pelo Estado, para a evolução das técnicas produtivas,
renovando a maquinaria e os implementos necessários. A presença de formas associativas
(cooperativismo), possibilitando a integração entre unidade de produção e indústria, contribuiu
para a diversificação de atividades agrícolas na unidade.
5.4.2 O Subsistema Soja – Cultivos de Inverno
O município de Passo Fundo apresenta um significativo número de propriedades com sua
centralidade no cultivo da soja, mas que também produzem culturas de inverno. Esta prática teve
início na década de 1950, período em que a cultura de inverno trigo ocupava lugar de destaque
nas unidades de produção. No momento seguinte, a partir da década de 1970, as culturas de
verão, como a soja e o milho, ganharam especial atenção. Estimulados por fortes subsídios do
Estado à agricultura, muitos agricultores ampliaram a participação da soja e do milho em suas
propriedades. Nesse quadro, uma cominação recorrente de atividades é o sistema de produção
composto pela rotação entre os cultivos de inverno e verão. A seguir, é apresentada uma unidade
de produção do município que desenvolve atualmente este tipo de sistema de produção, bem
como se analisa a trajetória desta propriedade ao longo do tempo.
240
5.4.2.1 Descrição Agrossocioeconômica do Subsistema Produtivo Soja – Cultivos de Inverno
A unidade localiza-se na área rural de Passo Fundo, no Distrito de Pulador, distante 40
km da área central do município (Figura 59).
Figura 59 - Vista aérea da unidade de produção representante do sistema produtivo Tipo 4 (subsistema produtivo
soja – cultivos de inverno) no ano de 2007.
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Atualmente está com 200 ha de superfície total (140 ha são arrendados de terceiros e 60
ha são próprios da família). Desse total, 150 ha são destinados à produção de cultivos de verão;
12 ha, para a alimentação animal; 16 ha estão compostos por eucaliptos e 22 ha, por mata nativa,
somando 178 ha de superfície agrícola útil.
Produção Vegetal: A soja é a principal cultura, apresentando uma produtividade de 34 sacas
por hectare produzido (Figura 60). A produção é comercializada por meio da cooperativa de
produtores do Distrito de Pulador, que negocia a produção com a Cooperativa Cotrijal e as
empresas cerealistas da região (notadamente as empresas Oleoplan e Olfar). O sistema de
parceria com a cooperativa, criado no início da década de 1990, vem beneficiando os produtores
nos processos de produção e venda de grãos. O produtor destaca que, em razão do poder de
barganha exercido pela cooperativa, há o repasse de valores acima dos preços que seriam pagos
diretamente aos produtores da região por outros canais de comercialização.
241
Figura 60 - Área ocupada com plantação de soja na unidade no ano de 2008 (subsistema produtivo soja cultivos
de inverno).
Fonte: Pesquisa de campo 2008.
Entre as culturas de inverno, a unidade planta trigo em 40 ha de área, cultivados
anualmente, atingindo uma produtividade média de 42 sacas por hectare (Figura 61). O produtor
ressaltou que, ocasionalmente, troca o tipo de cultivo de inverno, de acordo com os preços
recebidos em determinado momento, ou seja, realiza a substituição da área plantada com trigo
por cevada ou aveia.
Figura 61 - Área ocupada com plantação de trigo na unidade no ano de 2007 (subsistema produtivo soja cultivos
de inverno).
Fonte: Pesquisa de campo 2008.
O itinerário técnico das culturas desenvolvidas na unidade inicia-se no mês de outubro
com o preparo da terra, estendendo-se até o mês de abril, período em que inicia a colheita do
trigo (Quadro 19).
242
Quadro 20 - Itinerário técnico das culturas da unidade (subsistema produtivo soja cultivos de
inverno)
Cultivo
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
DEZ
SOJA
Controle
de
pragas
Aplica
fungicida
Colheita
Colheita
Preparo
desseca
Plantio
Controle
de pragas
TRIGO
Desseca Plantio Trato
doenças
Aplica
fungicida
Colheita
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Atividades de Criação: Quanto às atividades de criação, a unidade é composta por ovinos
(efetivo com 50 cabeças) e bovinos (efetivo com 30 cabeças), para consumo familiar e
comercialização na região. A comercialização destes produtos tem como principal finalidade a
manutenção do efetivo da unidade, não sendo objetivo do produtor ampliá-lo.
Mão-de-Obra: A mão-de-obra da unidade de produção é familiar, constituída pelo produtor, sua
esposa e um filho, todos envolvidos integralmente nas atividades agrícolas da propriedade (3
UTHs). Além disso, o produtor conta com o auxílio de um filho engenheiro-agrônomo em tempo
parcial (0.5 UTH/ano). Nos períodos de colheita e plantio há a contratação de um diarista, por
um período de 65 dias de trabalho na unidade ao ano (0,21 UTH/ano).
Benfeitorias, Equipamentos e Instrumentos de Trabalho da Unidade Produtiva: A unidade
produtiva apresenta como benfeitorias três galpões e duas casas. Conta também com um alto
nível de maquinaria, especialmente para lavoura (Quadro 20). Cabe destacar que, quando se
compara este sistema de produção com outros, apresentados nesta pesquisa, que também se
compõem por culturas de lavoura, o produtor deste sistema apresenta as melhores condições
tecnológicas e de maquinário.
Quadro 21 - Benfeitorias e principais equipamentos e instrumentos de trabalho
(subsistema produtivo soja – cultivos de inverno)
Tipo - Benfeitoria Ano de fabricação
Galpão 2007
Galpão 1981
Galpão 1977
Casa 1981
Casa 1971
Tipo - Maquinaria Ano de fabricação
Caminhão MB 1513 1977
Colheitadeira SLC 6200
1985
243
Trator ford 6600 1979
Trator MF 95 1977
Trator MF 85 1974
Plantadeira PS8
1993
Plantadeira TD 300 1986
Pulverizador Hidráulico jacto m12 1997
Carroção graneleiro 1995
Tipo - Implementos Ano de fabricação
Cortador de forragem
2002
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Investimentos Recentes na Unidade: Como investimento recente, foi adquirida uma
plataforma adaptável à técnica de plantio direto, financiada pelo Banco do Brasil. Outra prática
também utilizada pelo produtor é o uso de crédito agrícola para o financiamento de parte do
custeio das lavouras de soja e trigo.
Análise Econômica das Atividades da Unidade Produtiva: O produto bruto total das
atividades desenvolvidas na unidade está alicerçado na plantação de soja, representando 80,29%
do total da produção agrícola, ao passo que a produção de trigo atinge 12,83%. A produção
animal (para comercialização), compreendida como renda complementar aos cultivos de verão e
inverno, participa com 6,11% em relação ao produto total obtido. A produção destinada ao
consumo animal chega a 1,43% do produto total da unidade (Tabela 39).
Tabela 39 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 (subsistema
soja – cultivos de inverno) – Superfície de área (Total e Agrícola Útil), Produto Bruto
Total e Produto por Cultivos na Unidade.
Indicador (Superfície total e superfície
agrícola útil e Produto Bruto por
cultivo)
Em Reais (R$)
e Hectares (ha) Participação %
Superfície Total (ST) 200 -
Superfície Agrícola Útil (SAU) 178 -
Pb total(R$) R$ 439.761,00 100,00
Soja R$ 353.100,00 80,29
Trigo R$ 56.448,00 12,83
Produção Animal R$ 23.910,00 6,11
Consumo animal R$ 6.303,00 1,43
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
244
O valor agregado líquido das atividades desenvolvidas na unidade de produção é R$
90.611,66, enquanto a renda agrícola apresenta o valor de R$ 86.811,66 (Tabela 40).
Tabela 40 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 - (subsistema
soja – cultivos de inverno)
Indicador Sistema de Produção Soja – Cultivos de inverno
Pb total (R$)
R$ 439.761,00
CI total (R$)
R$ 337.131,00
DEP
R$ 12.018,33
VAB
R$ 102.630,00
VAL
R$ 90.611,66
DVA
R$ 3.800,00
RA
R$ 86.811,66
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A contribuição de cada unidade de trabalho-homem para a geração de riqueza à unidade
familiar é R$ 24.423,62 (VAL/UTH), e a superfície agrícola útil de uma unidade de trabalho-
homem corresponde à área de 47 ha. O indicador renda agrícola por unidade de trabalho-homem
(familiar) apresenta um valor de R$ 23.399,37 (Tabela 41)
.
Tabela 41 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 4 – Combinação
de Indicadores (subsistema soja – cultivos de inverno)
Indicador Sistema de Produção Soja – Cultivos de inverno
VAB/SAU R$ 576,57
VAL/SAU
R$ 509,05
RA/SAU
R$ 487,70
RA/UTH
R$ 23.399,37
SAU/UTH 47 ha
VAL/UTH
R$ 24.423,62
VAB/UTHf
R$ 26.322,85
VAL/UTHf
R$ 25.889,04
RA/UTHf
R$ 24.803,33
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A análise dos indicadores econômicos revela eficiência no aproveitamento de área, por
meio da rotação entre os cultivos de verão e inverno realizadas pelo produtor, reduzindo os
custos de produção da unidade.
245
5.4.2.2 Análise da Trajetória de Evolução de uma Unidade de Produção Agrícola com o
Subsistema de Produção Soja – Cultivos de Inverno (Tipo 4.2)
A seção seguinte analisa a trajetória dos sistemas de produção desenvolvidos na unidade
em análise.
Sistema de Produção 1 (1970/1988) Soja, Trigo e Culturas para Alimentação: O produtor
iniciou suas atividades na unidade, na década de 1970, com a produção de trigo e soja para
comercialização. Concomitantemente, produzia alimentos para consumo familiar e,
eventualmente, trocava ou comercializava os excedentes com vizinhos. Culturas como arroz,
feijão, mandioca, hortaliças, frutas (pomar) e criação de galinhas destacavam-se para esta
finalidade. Residiam na unidade o produtor, seus pais e três irmãos, todos envolvidos
integralmente com as atividades desenvolvidas na propriedade. O núcleo familiar deste produtor
logo se modificou com a saída de uma irmã, no início da década de 1970, e de um irmão, em
1972.
A superfície total da unidade era composta por 250 ha (180 ha de propriedade da família
e 70 ha arrendados de um tio do produtor), com 190 ha cultivados com soja, 100 ha cultivados
com trigo e 10, com milho para alimentação animal (Tabela 42).
Tabela 42 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1970 a 1988 (subsistema soja – cultivos de inverno)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 190 (hectares) Comercial
Milho 10 (hectares) Alimentação animal
Aveia e azevem 12 (hectares) Alimentação animal
Trigo 100 Comercial
Mandioca Nd Consumo Familiar
Cevada 20 (hectares) Venda para maltarias da região
Arroz N/d Consumo Familiar
Feijão N/d Consumo Familiar
Galinhas N/d Consumo Familiar
Suínos 30 Consumo Familiar/eventual comercialização
Bovinos 40 Consumo Familiar/eventual comercialização
Vacas de Leite 9 Consumo Familiar/comercialização de queijo
Fonte: Dados de campo, 2008.
246
Durante parte da década de 1970, a cultura do trigo foi responsável pela inserção da
unidade nas culturas de lavoura. O ingresso do produtor neste tipo de atividade deveu-se,
principalmente, ao acesso às políticas de financiamento agrícola criadas pelo Estado para compra
de máquinas, assistência técnica e estímulo ao sistema de cooperativas. Para desenvolver esses
processos ligados à agricultura destacavam-se as instituições Banco do Brasil, Embrapa Trigo,
Cooperativa Coopasso e EMATER.
Fruto da crescente mecanização das lavouras e uso de insumos químicos, nesse período o
modo de produção da cultura da soja e do trigo gerou fortes mudanças nas relações de trabalho
rural, tanto do tipo permanente como do temporário. A unidade em estudo mostra-se
emblemática para caracterizar essa situação. Na década de 1970, 15 trabalhadores estavam
envolvidos na lavoura da soja entre os processos de lavração, gradeação, plantação, retirada
manual de pragas, colheita, novo preparo de área, ao passo que para a lavoura de trigo, oito
pessoas eram contratadas durante o processo (um operador, duas pessoas para juntar o trigo e
jogar no caminhão, duas pessoas para ensacar, duas pessoas para costura dos sacos para o trigo,
duas pessoas para o processo de plantio). Com a aquisição de tratores, colheitadeiras e demais
implementos (Quadro 21), a quantidade de mão-de-obra necessária ao desenvolvimento das
atividades alterou-se sensivelmente, gerando a necessidade de contratação somente de um
funcionário em tempo integral e de quatro diaristas, sobretudo para o período de colheita dos
produtos da lavoura.
Além das culturas de inverno e verão, praticava-se na unidade a criação de bovinos (em
torno de 40 cabeças) e suínos (em torno de 30 cabas) para eventual comercialização. O
produtor destaca que esta atividade ainda persistia neste sistema de produção pela pressão
exercida por seu pai, em razão de seu envolvimento, durante décadas, unicamente com a
atividade de criação. Além disso, a unidade mantinha nove vacas de leite para produção e
comercialização de queijo na região.
Quanto ao nível tecnológico da unidade, constante e continuamente eram adquiridos
tratores, colheitadeiras, veículos e implementos. Essas aquisições se concretizavam,
normalmente, com o uso de crédito subsidiado pelo Estado. O aporte tecnológico, financiado
pelo Estado, foi tão significativo que parte da maquinaria adquirida (uma colheitadeira e dois
tratores) foi doada para um dos irmãos do produtor, que migrou para o estado de Mato Grosso
247
em 1972. Durante a entrevista, o produtor afirmou que a renda da terra na unidade e os
financiamentos para aquisição de maquinaria no período mantiveram seu irmão no estado mato-
grossense por cerca de três anos, até ele não mais necessitar de auxílio financeiro.
Quadro 22 - Benfeitorias, principais equipamentos e instrumentos de trabalho da
unidade, durante o Sistema de Produção 1 (subsistema soja – cultivos de inverno)
Tipo – Benfeitoria Ano de fabricação
Casa
1971
Casa
1891
Galpão
1977
Galpão
1984
Tipo – Maquinaria Ano de fabricação
Trator Delta DM 75
1967
Trator MF 95
1977
Trator MF 65
1979
Trator ford 6600
1979
Trator Valmet
1970
Trator CBT 1090
1970
Caminhão FNM 1975
Camionete C10 1971
Caminonete C10 1974
Colheitadeira New Holland 1975
Colheitadeira Calison 1971
Tipo – Implementos Ano de fabricação
Conjunto de implementos (2) 1970
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Além dos investimentos em tecnologia, a unidade recorria a crédito também para custear
as despesas de plantação das áreas ocupadas com as culturas de trigo e soja. O produtor relata,
enfaticamente, que sua permanência na atividade deve-se, sobretudo, à estratégia adotada de
recorrer constantemente ao sistema de crédito rural no período
10
.
10
A unidade caracteriza-se pela inserção de alto padrão de investimentos na produção, tecnologia e comercialização
com o apoio do Estado e de sua política de crédito rural. A modernização da unidade deu-se durante a década de
1970, moldando-se de acordo com a evolução tecnológica e com as técnicas poupadoras de insumos e mão-de-obra,
engendradas pelas instituições ligadas ao Estado no seu projeto de sistema nacional de crédito rural. A unidade é
representativa de um modelo que permitiu, de fato, a modernização de um parque industrial voltado para a
agricultura. Assim, a modernização da agricultura foi desenhada em razão das demandas da política econômica do
país entre as décadas de 1970 e 1980.
248
Elementos de Transição do Sistema de Produção 1 (Soja, Trigo e Culturas para
Alimentação ) para o Sistema de Produção 2 (Sistema Culturas de Verão ): A passagem
para um novo sistema produtivo iniciou com a decisão do produtor de abandonar as culturas de
inverno, que se apresentavam pouco rentáveis em comparação com a valorização da cultura da
soja no período. A escassez de mão-de-obra e o término do contrato de arrendamento do
produtor com seu tio levam também à diminuição da área cultivada com soja na unidade (Figura
62).
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Redução de área (arrendada);
Ampliação da aquisição de máquinas e implementos;
Queda de mão-de-obra na unidade(associada a tecnologia);
Abandono dos cultivos de inverno (substituição por cultivos de verão)
Elementos de Transição, Externos à Unidade que Contribuíram
à Passagem a um Novo Sistema de Produção
Participação do Estado (via financiamento agrícola
Investimento na pesquisa agropecuária, investimento em extensão)
Incremento do Cooperativismo;
Queda nos preços dos cultivos de inverno.
Sistema de Produção 2 – 1988/1998
(Sistema Culturas de Verão)
Soja e Milho;
Bovinos e ovinos para eventual
comércio,;
Venda de queijo.
Sistema de Produção 1 - 1970/1988
(Sistema soja, Trigo e Culturas para
Alimentação)
Soja;
Alta participação do Estado
com financiamentos e crédito subsidiado
Trigo;
Cultivo de Cultura de subsistência
(arroz, feijão, mandioca)
Milho p/alimentação animal
Cevada;
Queijo para venda externa;
Bovinos e suínos p/ eventual venda.
Figura 62 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 1 para o Sistema 2 da unidade de
produção (Subsistema Soja – Cultivos de Inverno).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
Sistema de Produção 2 (1988/1998) Sistema Culturas de Verão: O Sistema de Produção 2
iniciou com a expressiva queda da área ocupada com as atividades agrícolas da unidade. A
redução de área deveu-se à partilha das terras da família do produtor, que, após a morte de seu
pai, tornou-se proprietário de 40 ha, arrendando mais 110 ha, totalizando 150 ha de superfície
total na unidade no período.
A característica principal deste sistema é a intensificação das lavouras de verão em uma
área ocupada com 100 ha de soja e 30 ha de milho. O produtor também mantém na unidade uma
pequena área com azevém para alimentação animal (Tabela 43). Para o produtor, as dificuldades
249
enfrentadas na atividade agrícola durante o Sistema de Produção 2 explicam-se pelas incertezas
quanto aos valores dos montantes e das parcelas a serem pagas dos financiamentos concedidos
pelas instituições do Estado, em razão dos distintos planos econômicos do governo para
combater a inflação, durante a década de 1980 e parte da década de 1990
11
.
Tabela 43 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1988 e 1998 (subsistema soja – cultivos de inverno)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 100 (hectares) Comercial
Milho 30 (hectares) Alimentação animal
Galinhas N/d Consumo Familiar
Suínos 3 Consumo Familiar
Ovinos 20 Consumo Familiar/eventual comercialização
Bovinos 40 Consumo Familiar/eventual comercialização
Vacas de Leite 7 Consumo Familiar/comercialização de queijo
Fonte: Dados de campo, 2008.
Entre as atividades de criação o produtor mantinha um pequeno efetivo de ovinos,
bovinos e vacas de leite, para consumo familiar e eventual comercialização de carne e peças de
queijo com vizinhos da região.
O produtor ampliou a maquinaria da unidade com a aquisição de máquinas (colheitadeira
e plantadeira) apropriadas à técnica do plantio direto, implantada na unidade a partir do início da
década de 1990 (Quadro 22). Novamente o produtor moldou-se às inovações tecnológicas e às
técnicas das culturas de lavoura do período, mantendo a produção e a produtividade das culturas
plantadas na unidade. Durante a década de 1990, o produtor constatou uma forte queda na
rentabilidade da cultura da soja, mesmo tendo aderido às inovações ditas poupadoras de
recursos, como o plantio direto.
Quadro 23 - Maquinaria adquirida durante os anos de 1888 e 1998; Sistema de
Produção 2 (subsistema soja – cultivos de inverno)
Tipo - Maquinaria Ano de aquisição
Colheitadeira SLC 6200
1996
Plantadeira PS8
1993
Pulverizador Hidráulico Jacto m12
1997
Carroção graneleiro
1995
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
11
Segundo relato do produtor, a inclusão da correção monetária e de juros positivos nos contratos financiados para
agricultura dificultou os pagamentos às instituições financeiras. Este quadro se alterou somente a partir do plano
econômico Real, em 1994.
250
Uma consequência adicional ao cenário econômico e de inovações tecnológicas da época
foi a redução de mão-de-obra na unidade, em razão do desligamento de um funcionário
permanente da unidade, fato incentivado principalmente pela implantação da técnica do plantio
direto na produção de soja da unidade.
Elementos de Transição do Sistema de Produção 2 (Sistema Culturas de Verão) para o
Sistema de Produção 3 (Sistema Soja e Cultivos de Inverno ): A transição para um novo
sistema de produção na unidade efetivou-se com a aquisição de equipamentos adaptados para o
plantio direto em culturas de inverno, promovendo o retorno, na unidade de produção, do cultivo
do trigo, da cevada e da aveia (Figura 63).
Elementos de Transição, Internos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Aquisição de máquinas e implementos agrícolas apropriados a
técnica de plantio direto de cultivos de inverno na unidade;
Ampliação da área cultivada (herança da esposa)
Utilização de sementes trangênicas (redução de custos de produção);
Queda de mão-de-obra na unidade (dispensa de um funcionário
permanente).
Elementos de Transição, Externos à Unidade, que Contribuíram à
Passagem a um Novo Sistema de Produção
Financiamentos do Estado para agricultura (investimento e custeio)
Inicio das técnica do Plantio direto;
Utilização de sementes transgênicas.
Sistema de Produção 3 – 1998/2008
(Sistema Soja e Cultivos de Inverno)
Ampliação da área plantada de soja
na unidade;
Retomada da plantação de culturas
de inverno (trigo);
Eventual comércio de bois e ovinos;
Venda de queijo em pequena escala.
Sistema de Produção 2 – 1988/1998
(Sistema Culturas de Verão)
Soja e Milho
Bovinos e ovinos para eventual comércio
Venda de queijo
Figura 63 Elementos, internos e externos, determinantes à passagem do Sistema 2 para o Sistema 3 (atual) da
unidade de produção (subsistema soja – cultivos de inverno).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
No período, o produtor ampliou a área disponível para produção na unidade em
decorrência da aquisição de 20 ha, oriundos da herança familiar de sua esposa.
251
Sistema de Produção 3 (1998/2008) Sistema Soja e Cultivos de Inverno: O Sistema de
Produção 3, praticado atualmente pelo produtor na unidade, iniciou-se com ao retomada da
produção de culturas de inverno, em associação com as culturas de verão. Dentre os 178 ha de
superfície agrícola útil (sendo 200 ha de área total, dos quais 60 ha são próprios e 140 arrendados
da família), a produção de soja corresponde a 150 ha e a de trigo, a 40 ha (Tabela 44).
Tabela 44 - Área de produção vegetal e efetivo animal por finalidade na unidade
produtiva entre 1998 e 2008 (subsistema soja – cultivos de inverno)
Atividade Quantidade Finalidade
Soja 150 (hectares) Comercial
Trigo 40 (hectares) Comercial
Galinhas N/d Consumo Familiar
Suínos 3 Consumo Familiar
Ovinos 20 Consumo Familiar/eventual comercialização
Bovinos 40 Consumo Familiar/eventual comercialização
Vacas de Leite 7 Consumo Familiar/comercialização de queijo
Fonte: Dados de campo, 2008
Neste sistema de produção os investimentos persistem, havendo a aquisição de trator,
plataforma e implementos adaptáveis às culturas de inverno e ao plantio direto,
concomitantemente ao uso de sementes transgênicas para as culturas de soja e trigo. O sistema
de produção atual apresenta-se bem organizado em termos de produção, técnicas de produção e
comercialização, pois o produtor vem realizando, constantemente, investimentos na unidade de
produção, os quais estão em consonância com as tendências para agricultura comercial ao longo
de toda sua trajetória.
A Dinâmica dos Sistemas de Produção Principais Trajetórias do Tipo 4 ( Sub-sistema
Soja-Cultivos de Inverno): A dinâmica dos três sistemas de produção que perpassam pela
trajetória da unidade tem início com a produção de soja, trigo, cevada e culturas para
alimentação, em conjunto com a criação de bovinos e suínos para eventual comercialização,
assim como, com a venda de queijo para vizinhos e na área central de Passo Fundo.
Através da análise da trajetória do sistema de produção percebe-se que o produtor adota
na unidade uma gica de acordo com os pressupostos do processo de modernização da
agricultura. Brum (1983) ressalta que os primeiros a se lançaram à produção mecanizada de trigo
não foram os agricultores tradicionais - os colonos. Foram, sim, pessoas da cidade com algum
252
tipo de vinculação com a agricultura: comerciantes, profissionais liberais e pequenos industriais.
Tendo uma visão mais ampla dos negócios e habituados a lidar com os bancos, perceberam e
aproveitaram as condições favoráveis que então se apresentavam.
O produtor investigado recorreu a diferentes modalidades de crédito ao longo do sistema
de produção 1. Esta situação reflete o padrão de oferta de crédito a determinados produtores no
período. O crédito de investimentos, durante o SNCR, esteve concentrado no item máquinas e
melhoramentos, com destaque para a aquisição de tratores, que absorveu a maior parte destes
recursos. Quanto ao crédito de custeio agrícola, houve, no período de 1969-78, um
favorecimento aos produtos agrícolas destinados a exportação e à indústria. Ou seja, seis
produtos (algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, milho, soja e trigo) recebiam cerca de 75% do
total do crédito (MASSUQUETTI, 1998).
A transição para um novo sistema (Sistema de produção 2) gestou-se com a busca do
produtor por investimentos significativos em máquinas e em implementos apropriados à cultura
da soja e do milho. A constante queda na rentabilidade das culturas de inverno, especialmente o
trigo, redefiniu as escolhas de produção do produtor, que, temporariamente, abandonou a
plantação dos cultivos de inverno. Outro fato marcante, derivado da ampliação técnica, foi a
redução de mão-de-obra na unidade, tanto familiar quanto contratada (Figura 64).
SISTEMA 1
1970/1988
(Sistema Soja, Trigo
e Culturas para
Alimentação)
SISTEMA 2
1988/1998
(Sistema Culturas
de Verão)
SISTEMA 3
1998/2008
(Sistema Soja e
Cultivos de
Inverno)
Fatores Internos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória dos
Sistemas de Produção ao Longo do Tempo.
Queda expressiva do uso de mão-de-obra
Substituição de culturas de alimentação por lavoura
Investimentos em tecnologia e técnicas de produção
Fatores Externos à Unidade de Produção para Análise da Trajetória
dos Sistemas de Produção ao Longo do Tempo.
Políticas públicas para lavoura de trigo e soja
Insumos modernos poupadores de mão-de-obra
Políticas de estado para custeio da lavoura
Figura 64 A dinâmica dos sistemas de produção: principais trajetórias do Tipo 4 (Subsistema Soja - Cultivos de
Inverno).
Fonte: Dados de pesquisa, 2008.
253
O Sistema de produção 2 é caracterizado pela consolidação das culturas de verão (embora
o produtor continuasse, no período, com a eventual venda de queijo, bovinos e ovinos na
unidade). O produtor mantém seu sistema dependente dos cultivos de verão, especialmente da
soja, em consonância com a demanda governamental que incentiva, no período, uma agricultura
modernizada destinada à exportação. A soja foi a principal cultura a receber estímulos oficiais e,
em torno dela, se ampliou e consolidou definitivamente o processo de modernização da
agricultura na região e no país (Brum, 1983).
A transição para o terceiro sistema de produção ocorreu a partir do financiamento de
máquinas e implementos adaptados ao plantio direto, para culturas de inverno e de verão,
associado ao início do uso de sementes transgênicas. Neste sistema destaca-se a prevalência da
cultura da soja e pelo retorno à produção de culturas de inverno, sobretudo, do trigo.
A trajetória seguida pelo produtor nesta unidade de produção apresenta-se como legítima
representante do modelo de modernização da agricultura, implementado no Planalto Médio e no
município de Passo Fundo. Suas características principais são a adoção de mecanização pesada,
a redução de mão-de-obra empregada durante a modernização das culturas de lavoura e a
aplicação dos novos insumos e novas técnicas de produção na propriedade.
5.5 A diversidade e as estratégias das unidades de produção agrícolas do município de
Passo Fundo
Os processos recentes de transformação dos sistemas produtivos da maior parte das
unidades rurais de Passo Fundo estão relacionados, predominantemente, a elementos
pertencentes à formação da história regional/local e às estratégias de produção articuladas pelos
produtores.
A agricultura do ponto de vista setorial, aponta para a prevalência de um tipo de
agricultura dependente de cultivos ligados a um padrão de agricultura tecnificado, com ênfase
em culturas de lavouras comerciais, como, por exemplo, a soja, o milho e o trigo, que estão
presentes, respectivamente, em 87,65%, 79, 01% e 28,39% das unidades investigadas na
pesquisa de campo. Nas unidades de produção do município, além das lavouras comerciais, estão
254
presentes, embora em menor escala, as atividades de criação de bovinos (82,71%), suínos
(67,90%) e a produção de leite (74,07%).
Além disso, em 93,82% das propriedades a mão-de-obra composta por membros da
família, que residem na unidade de produção. As características encontradas nas unidades
pesquisadas área rural do município sugerem a forte presença de um tipo de agricultura familiar.
As diferenças entre agricultores familiares estão associadas à própria formação dos grupos ao
longo da história, às várias heranças culturais, à experiência profissional e de vida particulares,
ao acesso e à disponibilidade variável de um conjunto de fatores, entre os quais os recursos
naturais, o capital humano, o capital social, entre outros. Essa diferenciação também está
associada à inserção dos grupos em paisagens agrárias diferenciadas umas das outras, ao acesso
diferenciado aos mercados e à inserção socioeconômica dos produtores, que resultam tanto das
condições particulares dos grupos como de oportunidades criadas pelo movimento da economia
como um todo, por meio de políticas públicas, etc. (Buainain, 2006).
Na análise das trajetórias das unidades de produção representativas dos quatro sistemas
de produção presentes na área rural foram identificadas algumas estratégias que são inerentes aos
agricultores e aos sistemas de produção implementados. Concomitantemente à presença da
produção para consumo familiar, existem os sistemas de produção com diversidade de atividades
(integração direta entre produtor e indústria; criação e cultivos de inverno), além do sistema de
produção que tem inserido os produtores em novos mercados, os quais demandam produtos
diferenciados.
A relevância da produção animal e/ou vegetal para autoconsumo tem-se apresentado
como uma importante lógica de minimização de custos de alimentação nas unidades familiares
de Passo Fundo. O que de fato surpreende é sua representatividade: dentre as unidades
pesquisadas, 85% têm horta, 92% têm pomar e em 90% delas permanece, pelo menos, um tipo
de atividade de criação, ou seja, a maior parte dos tipos de produtores identificados nesta
pesquisa mantém em seus sistemas de produção áreas destinadas à produção animal e/ou vegetal,
alocadas, pelo menos em parte, para o consumo familiar.
Detalhando os resultados encontrados, ressalta-se a relevância do autoconsumo na
unidade que representa o Tipo 3 (Sistema Leite) ao dispensar o dispêndio monetário para a
aquisição desses produtos no mercado e, dessa forma, ampliar a situação de segurança alimentar
dos membros residentes na unidade de produção (Tabela 45). Cabe destacar que, mesmo
255
impactando, de forma contundente, no sistema leite, a maior parte das unidades analisadas no
trabalho de campo destina uma parcela de sua produção animal e vegetal ao consumo familiar.
Tabela 45 - Indicadores socioeconômicos do Sistema de Produção Tipo 3 (Sistema
Produtivo Leite) – Rendas da Unidade
Indicador Sistema de Produção Leite
Autoconsumo vegetal R$ 1.792,00
Autoconsumo animal R$ 12.889,00
Renda total proveniente do Autoconumo
R$ 14.681,00
Renda Agrícola R$ 12.856,74
Renda de aposentadoria R$ 4.980,00
Rendas Externas (arrendamento) R$ 4.000,00
Renda Total
R$ 21.836,74
Participação da Renda do Autoconsumo na Renda
Total
67, 23%
Fonte: Pesquisa de campo 2008
O agricultor familiar, ao garantir sua segurança alimentar produz também, num mesmo
processo social, a sua autonomia parcial e relativa perante o mercado, os mecanismos de preços e as
condições de troca que este lhe imputa. Além disso, a produção própria assegura a reprodução social
e forma uma espécie de “lastro” de apoio, pelo qual o agricultor familiar pode reagir a sua situação
social, buscando diversificar as suas estratégias de vivência pela ampliação das suas atividades
produtivas, rendas, ativos e capacidades de obtê-los (Ellis, 2000). O fortalecimento desta produção
permite ao agricultor familiar a diversificação das suas estratégias de vivência e representa um dos
caminhos viáveis para o combate da pobreza rural.
As estratégias de produção diversificadas implementadas pelos agricultores,
especificamente no município em estudo, remetem a tempos passados, por meio das suas
relações comerciais desenvolvidas ao longo do tempo. A prevalência do caráter comercial,
identificado pelo envolvimento dos agricultores com comerciantes na construção da agricultura e
da integração regional, empreendendo moinhos, cooperativas e comércios, permitiu a rápida
assimilação por parte dos produtores desses novos processos de modernização da agricultura no
município.
Nesse prisma, especialmente, o sistema de integração do tipo avícola desenvolveu-se, a
partir de 1990 na área rural. Elementos facilitadores, como baixo custo da mão-de-obra,
ingressos contínuos de renda, entre outros, incentivaram a implantação e ampliação deste tipo de
integração nas unidades de produção. Esta prática é compreendida como uma estratégia de
256
diversificação, sobretudo a produção da monocultura da soja. A Tabela 46 apresenta a
importância de renda proveniente desta atividade na unidade.
Tabela 46 - Produto Bruto Total, Participação Monetária dos Produtos Principais da
Unidade e Participação Percentual em Relação ao Total da Produção do Sistema de
Produção 2 (Avícola)
Indicador (Produto Bruto Total e por
atividades principais na unidade)
Em Reais (R$) Participação %
Pb total (R$)
R$ 193.840,00 100
Participação da Soja
R$ 88.000,00 45,39
Participação do Milho
R$ 33.840,00 17,45
Participação dos Aviários
R$ 72.000,00 37,14
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
A diversificação de atividades também está presente entre os produtores responsáveis
pelas unidades de produção que apresentam sua centralidade na produção da soja, incluindo e/ou
ampliado um maior contingente de atividades agrícolas nos sistemas de produção atualmente
praticados. Detalhando a análise, verifica-se que no Subsistema de Produção Soja-criação tem
sido desenvolvida, recentemente, a atividade de criação de suínos, em parceria com indústrias da
região. Mesmo apresentando um
a participação de 7,49% em relação à receita do total da produção
da unidade, este tipo de atividade agrega ao produtor ingressos contínuos de renda, por meio do
contrato existente entre o produtor e indústrias da região que compram os lotes de suínos da unidade.
Já na análise do Subsistema de Produção Soja-Cultivos de Inverno, que, da mesma forma, possui
na produção de soja a sua centralidade, a receita dos cultivos de inverno participa com cerca de
13% da receita da produção total da unidade. A lógica econômica principal deste subsistema está
alicerçada na possibilidade de otimização de área e de recursos para plantação dos cultivos de
verão e inverno conjuntamente.
Outra estratégia implementada está na inserção do cultivo de produtos da horta e de frutas
em mercados alternativos (ou diferenciados), pela organização dos produtores em redes de
comercialização (as feiras de produtores). As unidades que aderem a este tipo de produção
(hortifrutigranjeira), em caráter comercial, possuem escassez de área agriculturável para cultivos
de lavouras (soja, milho e trigo); dessa forma, otimizam os recursos e agregam valor a sua
produção. A escolha desta produção rural também pode ser compreendida como uma forma de
manutenção de parte dos agricultores na atividade agrícola da área rural do município e de
257
combate à pobreza rural. A Tabela 47 apresenta o significativo valor da renda auferida na
produção conjunta dos produtos comercializados em feiras especializadas pelo produtor.
Tabela 47 - Superfície utilizada para produção de hortifrutigranjeiros na unidade e
renda agrícola da unidade de produção (sistema produtivo hortifrutigranjeiro)
Indicador Valores (em Reais)
Superfície com hortifrutigranjeiros 1,5 hectares
RA R$ 90.371,87
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Observação: o produtor realiza, nesta superfície, a produção de morango, melão, melancia, pêssego, alface, rúcula, beterraba, milho verde,
brócolis, repolho e couve-flor.
A produção de produtos do tipo orgânico
12
na unidade investigada amplia substancialmente o
valor de venda dos produtos comercializados nas feiras. Porém, deve-se ressaltar que os agricultores
inseridos nesta rede realizam frequentes investimentos no que toca aos processos produtivos e à
tecnologia empregada, garantindo também um padrão de procedência e qualidade desses produtos
vendidos ao consumidor final, que apresenta forte preocupação com os atributos ligados à saúde e à
filosofia da produção destes bens.
Em suma, embora a produção de soja seja marcante na região entre os produtores
pesquisados na área rural, a análise da trajetória desses produtores permitiu concluir que existem
no município estratégias diferenciadas de produção, de acordo com os tipos de atividades
desenvolvidas nas unidades e a sua inserção nos mercados na região.
Entretanto, outros elementos também influenciaram nas trajetórias desenvolvidas nas
unidades, entre os quais se destaca a participação das políticas públicas no desenvolvimento da
agricultura. A seguir realizam-se considerações adicionais sobre este tema.
12
Alternativamente aos modos de produção ditos “convencionais”, a produção orgânica aparece como um dos
principais vieses de possibilidade, principalmente após a década de 90. Em se tratando de um produto que possui
melhores condições nutricionais, a expansão da produção em escala mundial se à medida que se expande a busca
por melhor qualidade de vida, tendo os países desenvolvidos onde a população possui uma renda mais alta – como
principais consumidores desse tipo de alimento. O fato de a produção orgânica incorrer em custos mais elevados, e
por isso ter seu preço também mais alto que o dos produtos convencionais, também é condicionante deste tipo de
produto ser comercializado principalmente em regiões onde a renda é mais alta (Freitas et al., 2005).
258
5.6 A Participação das Políticas Públicas para a Agricultura na Trajetória de Evolução das
Unidades de Produção Agrícolas de Passo Fundo
A participação do Estado como peça fundamental no processo de modernização da
agricultura no Brasil é indiscutível. Entre as principais políticas orquestradas para o setor
agrícola podem-se citar as políticas agrícola e agrária, as políticas ou programas de
desenvolvimento, além da participação da política da previdência rural no Brasil (LEITE, 2001).
Segundo Flexor e Leite (2007), o tratamento das políticas públicas requer, para sua
análise, alguma forma de abordagem que abarque suas diversas dimensões e diferenciações,
permitindo contextualizar tais programas, bem como verificar sua capacidade de inserção e
efetividade social, complementações e superposições entre estruturas governamentais, etc. Os
autores deixam claro que o termo “políticas públicas” não se refere necessariamente às políticas
do Estado, mas pode incluir outras ações igualmente públicas, originárias de instituições não
governamentais, de movimentos, etc. Também diferenciam as políticas de caráter distributivo
(crédito rural, por exemplo), de caráter regulatório (como a política de preços), de políticas
redistributivas (reforma agrária) e, finalmente, das institucionais (onde se enquadram os
conselhos municipais, regionais, nacionais de diferentes naturezas).
Os resultados da participação das políticas públicas nas unidades de produção
pesquisadas na área rural do município de Passo Fundo impactaram de forma distinta na história
recente dessas propriedades. Nesse sentido, esta pesquisa, ao retratar a trajetória desenvolvida
nas unidades (pela análise dos diferentes sistemas de produção implementados), identificou as
principais políticas públicas que foram determinantes para as escolhas de produção dos
produtores e para a evolução dos processos produtivos nas unidades ao longo do tempo. O
estudo, igualmente, reconheceu entre as unidades pesquisadas em campo as formas de acesso ou
mesmo a falta de acesso aos mecanismos de Estado para agricultura. Na sequência são tecidas
algumas percepções coletadas empiricamente durante a análise da trajetória das unidades de
produção.
A maior parte das unidades da amostra investigada recorreu, historicamente, a políticas
do tipo setorial, sobretudo na esfera agrícola. Este tipo de política agiu, notadamente, durante o
processo de modernização da agricultura, para a aquisição de tecnologia (maquinarias e
implementos agrícolas), sobretudo em unidades que se adequavam ao modelo vigente.
259
Em Passo Fundo, o uso de políticas setoriais para mecanização de grande parte das
unidades de produção foi um fato constante, contribuindo para uma série de mudanças na área
rural do município. Como um dos resultados deste tipo de política, a análise dos dados desta
pesquisa apontou para a perda expressiva na mão-de-obra (permanente e temporária) do campo,
o que, certamente, contribuiu para o processo do êxodo rural, com deslocamento de um
contingente de produtores para a área urbana do município. Segundo Tedesco (2006), a partir da
década de 1950 o êxodo em Passo Fundo iniciou-se, evoluindo, notadamente, durante a década
de 1970, paralelamente à modernização do processo técnico, que transformou as relações de
produção, levando à substituição de parte da mão-de-obra e à consequente redução da população
rural.
Detalhando a análise, com a investigação da trajetória desenvolvida nas unidades de
produção da área rural identificou-se a redução de uso efetivo de o-de-obra ao longo do
tempo (assalariada e permanente), sobretudo no Sistema de Produção Aviário (Tipo 2) e no
Sistema de Produção Soja (Tipo 4), durante as décadas de 1960 a 1990. Outro resultado destaca
a relação entre o êxodo rural e a ampliação de área plantada com as culturas de verão e inverno
(soja e trigo), ambas as atividades, historicamente, poupadoras de recursos humanos na
agricultura. Nesses sistemas (Tipos 2 e 4), da mesma forma, houve a ampliação de recorrentes
investimentos em maquinarias, implementos e novas técnicas de produção para agricultura.
O rápido avanço de culturas de verão e inverno, em conjunto com a tecnificação das
unidades, formula um conjunto de exigências que passaram a comandar o panorama de Passo
Fundo. Dois modelos se formam: de um lado, um ciclo de prosperidade prometeu se instalar; de
outro, acirram-se as contradições agrícolas. A produção de alimentos não prosperava,
tornando-se sempre menor; a mão-de-obra era dispensada das atividades agrícolas, à medida que
a mecanização avançava e se expandia, enquanto o sistema tradicional de trabalho tornava-se
obsoleto (DAL’MORO; RÜCKERT, 2004).
Por outro lado, uma parcela significativa de agricultores adequa-se à política de
expansão, principalmente de cultivo de grãos, via constante aquisição de subsídios e técnicas
modernas de produção. Segundo Rückert (2003), no Planalto Médio o período entre 1965 e 1976
pode ser caracterizado por créditos altamente subsidiados, o que gerou uma alta concentração de
260
riqueza para os capitalistas da agricultura
13
. Essas transformações foram catalisadas pelas
políticas do Sistema Nacional de Crédito Rural
14
(SNCR), por políticas de extensão e
investimentos em pesquisa agrícola, que, em conjunto, criaram as condições necessárias à
estruturação dos novos processos da agricultura de Passo Fundo e região.
Este ciclo de prosperidade, em conjunto com as contradições no campo, foi identificado
nas unidades pesquisadas neste estudo. Na análise da pesquisa de campo destacam-se duas
situações notadamente identificadas nas unidades da área rural do Sistema Hortifrutigranjeiro e
do Sistema Leiteiro: (1) a venda de área de terras dos produtores com poucos recursos a
produtores capitalizados, e/ou (2) a inserção dos produtores em atividades compatíveis com os
recursos de produção disponíveis nas propriedades. Esses resultados são explicados, ainda que
em parte, pela história agrária desses agricultores, que enfrentaram dificuldades de acesso à terra,
à tecnologia e demais recursos do Estado.
Em complemento ao acesso a políticas aplicadas à agricultura
15
, ressalta-se a parceria
entre as indústrias e os produtores do município. Este mecanismo foi diagnosticado na pesquisa,
notadamente, nos sistemas de produção que têm sua centralidade na integração avícola (Tipo 2)
e no Subsistema Soja-Criação, em que os produtores diversificaram as atividades praticadas nas
unidades.
Um contingente de produtores com menores condições de acesso a políticas clássicas de
Estado à agricultura (setoriais distributivas e regulatórias) reordenam-se, em razão de novos
arranjos produtivos locais e regionais, de acordo com novas demandas de mercados emergentes.
Os produtores pertencentes ao Sistema Hortifrutigranjeiro, por exemplo, recorreram a outras
modalidades de políticas públicas. Com o envolvimento em associações (Associação Municipal
dos Feirantes)
ligadas ao poder público municipal (Conselho Municipal de Desenvolvimento
13
Neste cenário desponta em Passo Fundo uma “nova categoria” de empresários rurais, que ganhou espaço no
estado do Rio Grande do Sul e, sobretudo, no Planalto Médio no final da década de 1950: os granjeiros. Definem-se,
através da interação técnica, entre as indústrias que produzem para agricultura, entre a agricultura e as agroindústrias
processadoras, o complexo agroindustrial de Passo Fundo a partir de 1965, passando a existir um conjunto de
atividades econômicas, agrícolas, industriais e financeiras com elevado grau de integração entre si (Tedesco et al.,
2005).
14
O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), implantado em 1965, cumpriu papel determinante na
transformação da base técnica dos estabelecimentos agrícolas, no aumento da produtividade do setor, na
consolidação dos complexos agroindustriais e cadeias agroalimentares. Os vinte anos iniciais da política de crédito
rural (1965 a 1985) caracterizaram-se pela relativa facilidade de expansão creditícia e condições de repasse aos
beneficiários (Leite, 2001).
15
Os produtores do sistema aviário e do Subsistema Soja-Criação, normalmente, recorrem a crédito para custeio da
plantação de soja em suas unidades de produção (Dados da Pesquisa, 2008).
261
Agrário, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Embrapa, entre outras instituições), os produtores
organizaram-se de acordo com as novas demandas locais em relação aos processos de produção
e comercialização da produção desta natureza. Flexor e Leite (2007) destacam como políticas
institucionais a construção de arenas específicas para o exercício de determinados programas ou
políticas. Para os autores, a criação dessas arenas deve ser entendida como resultado de uma
dada política, na qual se enquadram os conselhos municipais, regionais, nacionais de diferentes
naturezas.
Também a previdência rural, presente em cerca de 50% das unidades entrevistadas na
pesquisa de campo, apresenta-se na área rural de Passo Fundo como uma importante fonte
monetária. Para Delgado (2006), o seguro universal da previdência rural se contrapõe a duas
tendências excludentes da agricultura brasileira: (1) a herança histórica do setor de subsistência
da agricultura brasileira e (2) a ampliação conjuntural desse setor a partir da liberação comercial
e estagnação econômica vigentes na década de 1990.
Nas unidades de Passo Fundo a renda oriunda deste benefício auxilia, sobretudo, aquelas
com menor ingresso de renda agrícola (como, por exemplo, unidades pertencentes ao Sistema
Leite). No entanto, foi diagnosticada a presença deste benefício em unidades pertencentes a
todos os sistemas identificados na pesquisa.
Por fim, evidencia-se a participação de uma diversidade de modalidades de políticas
públicas utilizadas atualmente pelas unidades de produção e em distintos períodos durante sua
trajetória. A evolução dos projetos de governo e seus mecanismos destinados à agricultura
certamente contribuiu para o desenho do quadro atual. Além disso, nesta pesquisa se identificou
a busca por um conjunto de políticas públicas diferentes, em sua essência, para o
desenvolvimento das unidades deste município. Por exemplo, muitos produtores recorrem
atualmente, conjuntamente, a mecanismos de políticas diferenciadas e a programas especiais
para custeio de parte da produção (Pronaf); a políticas institucionais (associações, cooperativas e
organizações não governamentais) e também ao benefício universal da previdência rural.
Portanto, a agricultura familiar desenvolvida na área rural tem se inserido na busca de
mecanismos apropriados a cada atividade desenvolvida no interior de suas unidades de
produção.
262
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A opção do Estado brasileiro pela modernização conservadora se enquadra no modelo
econômico brasileiro capitalista, dependente, concentrador, exportador e excludente. Neste
sentido o processo de modernização da agricultura esteve ligado a fatores como cessão de
crédito, assistência técnica e formas associativas. Esses elementos ocuparam a função de
catalisadores do processo desenvolvido no país, sobretudo, a partir da década de 1950. Esta
opção foi liderada pelos grupos econômicos norte-americanos e mundiais, através da chamada
revolução verde, avançando no Brasil, sobremaneira, a partir de 1964 (BRUM, 1983).
No Rio Grande do Sul a modernização da agricultura, amplia-se sobretudo, com o
incremento da produção de trigo. O aumento de produção do cereal se deu através da ação
conjunta entre investimentos do Estado na agricultura, pesquisa agropecuária e pelo sistema
cooperativo de produção. A partir da década de 1960, com a expansão do capital monopolista
multinacional, os triticultores capitalistas sofrem sérios recuos. Os governos de transição, pré-
1964, adotam tendências internacionalistas na política econômica, incentivando o plantio de soja
como produto de destaque à agricultura de exportação (RÜCKERT, 2003).
No período, na região do Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul, com a entrada
de grandes agroindústrias, inicia o processo de divisão internacional do trabalho, passando pela
infraestrutura (subsidiada pelo Estado) e pela necessidade de modernização da agricultura.
Engendrou-se, um contexto, em nível nacional e regional, que mobilizou e convenceu os
agricultores a aderirem a esses processos. Destaca-se a estruturação de agroindústrias, via
intervenção das multinacionais do setor genético, de rações, de equipamentos e produtos
veterinários, até a transformação de hábitos alimentares da população.
Na região do Planalto Médio, o município de Passo Fundo tornou-se representante destas
transformações. A relevância do Município para o Planalto Médio está relacionado a elementos
ligados as principais fases de sua história agrária (como, por exemplo, sua localização geográfica
de passagem obrigatória aos caminhos que comunicavam entre si rios estabelecimentos
jesuíticos; a ocupação de suas áreas com a vinda de imigrantes alemães, judeus e, sobretudo,
italianos nos processos de colonização; e a construção da linha férrea que leva o município à
condição de importante centro comercial regional). No município, a partir dos anos de 1950, o
cenário da agricultura regional se modifica, ocorrendo a implantação de novas técnicas na
263
lavoura, com o processo de mecanização e o uso de implementos e insumos modernos. em
1960 a dobradinha da produção de trigo/soja destaca-se. Esse sistema produtivo contribui para o
estímulo ao crescimento econômico da região, dando início a um processo agroindustrial,
desenvolvido por agricultores e por profissionais liberais que estabeleceram seus negócios na
área agroindustrial e comercial, contando com o auxílio do sistema cooperativista regional
(Tedesco et al., 2005).
Entre os principais sistemas de produção desenvolvidos pelos produtores em suas
unidades de produção, o cultivo da soja está presente na maior parte das propriedades rurais, a
partir da década de 1970 até o início dos anos de 1990. Nessa década (1990), mesmo com a
manutenção da cultura da soja, ampliam-se novos arranjos produtivos, como os processos de
integração entre as indústrias de aves, suínos e os produtores rurais (integração agroindustrial). A
integração se desenvolve facilitada pelas características culturais, de produção e envolvimento
comercial regional, inerente a parte dos agricultores, ampliando, rapidamente, o número de
unidades de produção que implementam, sobretudo, a integração avícola no município.
Paralelamente, amplia-se no Município a produção de leite. O leite ao apresentar forte
liquidez monetária, configurando-se como importante produto no interior dos sistemas de
produção, sobretudo, em momentos de crise agrícola das culturas da soja e trigo. Neste sentido,
outra atividade que amplia sua participação, principalmente em unidades com poucas áreas
agriculturáveis, é a produção comercial de culturas de horta e pomar (produção
hortifrutigranjeira). A opção dos produtores, por estes cultivos, justifica-se como uma estratégia
de maximização de recursos, por vezes escassos.
A análise da amostra de unidades de produção investigadas
1
permitiu a visualização de
um quadro, caracterizado por atividades muito semelhantes, nas unidades pesquisadas no campo.
Destaca-se uma agricultura com mão-de-obra familiar e forte presença da produção comercial de
grãos em associação com algum tipo de atividade de criação. Adicionalmente, constata-se que
metade das unidades de produção investigadas possui transferências governamentais
1
Resultados do perfil da amostra composta com 81 unidades de produção entrevistadas na área rural de Passo
Fundo. Quanto à produção vegetal prevalecem os cultivos de soja, milho e trigo (com percentuais em torno de 87%,
79% e 28% respectivamente). Ocorre atividades de criação em 74,0% das unidades, a produção de leite se fez
presente em 82,71% das unidades e a atividade de criação de bovinos em 67,80% das propriedades. A maior parcela
das unidades apresenta a benfeitoria galpão e o equipamento trator. O fator mão-de-obra de base familiar prevalece
em cerca de 93% das unidades. Cerca de 51% das unidades de produção recorrem a financiamento para a
agricultura. Cerca de 46% das unidades entrevistadas tem, pelo menos, um membro da família que recebe o
benefício aposentadoria rural.
264
(previdência rural) e acesso a financiamento agrícola (principalmente para custeio da produção
de grãos como soja, milho e trigo).
Em um segundo momento, a construção de tipologias, para unidades de produção de
Passo Fundo, evidenciou a diversidade de critérios de gestão adotados pelos produtores em seus
sistemas de produção implementados. Os modelos tipológicos foram configurados de acordo
com a evolução da história agrária do município, suas atividades agrícolas, categorias sociais de
produtores, recursos técnicos e políticas de Estado para a agricultura.
Foram identificados quatro sistemas de produção na área agrícola do município de Passo
Fundo. No sistema de produção Hortifrutigranjeiro (Tipo 1) destaca-se a prevalência de unidades
de produção com pequenas áreas agriculturáveis, voltadas exclusivamente para produção
especializada de hortifrutigranjeiros. Estes produtores imobilizam capital em áreas reduzidas
(irrigação, estufas, mudas..), mantendo um sistema de produção intensivo em trabalho e insumos
diversos.
O sistema de produção Aviário (Tipo 2) caracteriza-se pela integração avícola, a partir de
1990, em conjunto com os cultivos de verão, ampliando suas alternativas de produção em
relação a cultura da soja. Como característica marcante, os produtores, no decorrer de sua
história agrária, realizam a venda de sua produção final via mercados, trocas de autoconsumo
entre vizinhos, uso de crédito, arrendamento de terras e locação de material, além da busca de
mão-de-obra assalariada quando necessário.
O sistema de produção Leite (Tipo 3) é composto por unidades de produção que
realizaram investimentos na ampliação da atividade leiteira. Além disso, estas unidades
normalmente se valem, em grande parte, da produção animal e vegetal para autoconsumo,
reduzindo a vulnerabilidade e ampliando as situações de segurança alimentar dos membros da
família.
O sistema de produção Soja (Tipo 4), segmentado em (a) Subsistema soja-criação e (b)
Subsistema cultivos de inverno, está presente em unidades de produção pautadas sobretudo na
cultura da soja. Os produtores das unidades classificadas nestes dois subsistemas de produção
adotaram a motomecanização dos tratos culturais com menores quantidades de trabalho
aplicados por unidade de área, em sistemas de produção mais extensivos em relação aos demais
tipos. Aparentemente, as unidades de produção progrediram, adquirindo novos meios de
265
produção, desenvolvendo suas atividades, aumentando suas dimensões econômicas e suas
produções.
A análise dos processos históricos, através dos quais os produtores foram levados a
praticar diferentes sistemas de produção, permite a identificação dos critérios mais pertinentes a
elaboração de tipologias. A compreensão de como as unidades de produção tornaram-se objeto
de uma acumulação muito desigual de capital e como os sistemas de produção praticados se
diferenciam, podem distinguir diferentes trajetórias de evolução.
Neste sentido a pesquisa analisou as trajetórias desenvolvidas nas unidades de produção
da área rural de Passo Fundo, através da compreensão dos fatores que impactaram nas unidades
investigadas ao longo do processo de modernização da agricultura. O estudo apoiou-se,
sobretudo, na prerrogativa de caracterizar, entender e analisar as evoluções passadas que levaram
aos tipos atuais de sistemas de produção desenvolvidos pelos produtores. Nesse estudo, também
foram verificadas as dinâmicas que ocorreram no interior dos sistemas de produção
implementados ao longo do tempo.
Como categorias de análise da trajetória das unidades de produção, foram identificados
os fatores internos e externos que contribuíram para a evolução dos sistemas de produção
implementados. Os fatores internos estiveram associados à apropriação e à gestão dos recursos
locais, à implantação de serviços de equipamentos e de infra-estruturas, ao investimento em
capital e mão-de-obra, entre outros. Os fatores externos relacionaram-se com a influência do
mercado, das legislações e das políticas agrícolas e da gestão do território. Os fatores externos
representam, muitas vezes, a conseqüência de decisões tomadas a nível nacional e regional, em
espaços de concentração do poder político e econômico.
No estudo da trajetória desenvolvida nas unidades de produção agrícola, a produção de
soja é marcante entre os produtores pesquisados. Na análise da dinâmica dos sistemas de
produção praticados ao longo do tempo, identificou-se que todos produtores passaram, no
interior de seus sistemas produtivos, por períodos com forte ligação com a produção deste cereal.
Outro fato marcante na trajetória dos estudos de caso é a manutenção de atividades de criação,
resultado que está em consonância com a tradição neste tipo de atividade na área em estudo, que
remonta o sistema agrário pecuária. Adicionalmente, percebe-se a presença de produtos da horta
e criação destinado, sobretudo, ao consumo familiar, contribuindo para minimização de
problemas de insegurança alimentar nestas unidades de produção.
266
Entre os fatores externos que impactaram nas trajetórias percorridas nas unidades de
produção, destacam-se as políticas públicas implementadas. A evolução dos projetos de governo
e seus mecanismos de intervenção na agricultura foram determinantes para a formação do
quadro produtivo atual da agricultura na área estudada. Estes processos impactaram de forma
homogênea na maior parte dos sistemas estudados. Unidades que em sua trajetória, durante a
década de 1970, recorreram a crédito para Investimento em motomecanização e em custeio de
lavouras extensivas, atualmente estão inseridas em programas de financiamento semelhantes, de
acordo com as normas vigentes. As políticas diferenciadas e os programas especiais para custeio
de parte da produção (por exemplo, o Pronaf) em conjunto com as políticas institucionais (por
exemplo associações, cooperativas e organizações não governamentais), além do benefício
universal da previdência rural, são importantes fontes de recursos para a produção e
comercialização dos produtos.
Nesta etapa do trabalho, de considerações finais, é importante retomar o problema de
pesquisa do estudo. Quanto ao problema delineado nesse estudo, foi possível confirmar que o
processo de modernização agrícola, ao propor um modelo pautado em uso intensivo de insumos
industriais, máquinas, equipamentos, produtos químicos, métodos e técnicas de preparo e cultivo
do solo impactou nas formas tradicionais de agricultura e consequentemente nas trajetórias
percorridas pelos produtores nas unidades de produção investigadas pela pesquisa. Ressalta-se
que este fenômeno não foi um fato isolado no município em estudo, impactando de formas
distintas em diferentes regiões do país.
Aparentemente os processos de modernização da agricultura brasileira levaram a
homogeneização de uma parcela dos sistemas de produção desenvolvidos no interior das
unidades de produção de Passo Fundo em consonância com a escolha política do Estado (que
adotou o aumento da produção e da produtividade agropecuária mediante a renovação
tecnológica, visando contemplar os pressupostos da revolução verde e das políticas de governo
do período). No entanto a pesquisa igualmente sugere uma forte tendência a diversificação de
atividades e estratégias no interior das unidades. Ou seja, os produtores mesmo aderindo aos
cultivos hegemônicos, não se distanciaram totalmente de alternativas de produção, de
subsistência e geração de renda, de acordo com seus saberes e práticas produtivas arraigadas em
sua trajetória, contribuindo para sua permanência na atividade agrícola.
267
Por fim, neste trabalho ao aproximar a noção de trajetórias das unidades de produção com
a teoria dos sistemas agrários, algumas dificuldades foram enfrentadas. Um problema enfrentado
no decorrer da pesquisa foi a carência de informações oficiais acerca das características próprias
de cada unidade de produção no município de Passo Fundo. Além disso, a falta de precisão no
relato de determinados agricultores, durante as entrevistas de campo (provavelmente derivadas
da insegurança dos produtores quanto aos objetivos da pesquisa) dificultou o andamento do
cronograma de atividades pré-estabelecido, dada a necessidade de descartar determinadas
entrevistas realizadas. Através das limitações apontadas a este estudo, novas discussões sobre a
análise das trajetórias das unidades de produção serão sugeridas. Porém, com este estudo, foi
possível agregar à teoria dos sistemas agrários, a análise das trajetórias tomadas pelos
produtores, permitindo a compreensão de um quadro socioeconômico mais amplo aliado as
transformações nos sistemas de produção implementados nas unidades de produção ao longo do
tempo.
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278
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Espaço Acadêmico, Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá (P.R.), n.48, maio.2005.
279
APÊNDICE 1 - Questionário aplicado aos informantes–chave ligados ao setor agrícola da
área rural do município de Passo Fundo
1. Análise dos principias elementos e eventos que contribuíram para as mudanças na
estrutura produtiva e técnica ao longo das ultimas cadas, na região do Planalto dio e
especialmente no município de Passo Fundo.
a) Quais os principais processos responsáveis pelas modificações e mudanças na agricultura da
região?
b) Que fatores contribuíram para a evolução das atividades que hoje integram as práticas de
produção locais?
c) No decorrer da história recente agrícola e agrária da região quais foram os principais fatos que
induziram ao desenvolvimento dos principias processos de mudança na agricultura regional?
d) As transformações agrícolas foram responsáveis pela emergência de novas atividades? Quais?
e) Na geografia do município de Passo Fundo (área rural e região do Planalto Médio) ocorreram
diferenças marcantes sob o ponto da agricultura, ou seja, as novas atividades se fixaram em
pontos diferentes da região? Porque isto ocorre desta forma? Que conseqüências elas
provocaram?
2. Análise da composição da estrutura produtiva (sistemas de produção) das unidades de
produção atualmente existentes na área rural do município de Passo Fundo.
a) Quais as categorias sociais de produtores que hoje estão em atividade agrícola em Passo
Fundo?
b) Qual a composição das principais atividades destes tipos de produtores?
280
c) Como você descreve os principais sistemas de produção implantados nas unidades de
produção de Passo Fundo atualmente? (detalhe o tipo de produção, de mão-de-obra, de
tecnologia, de mercados, de área, localização geográfica das unidades de produção na área rural
do município, entre outras).
d) Qual o papel das políticas de Estado nos modificações dos principais sistemas implantados?
281
APÊNDICE 2 - Caracterização produtiva das unidades de produção da área rural de Passo
Fundo
Entrevistador:_________________________________ Data:__/__/__ Localidade:____________________ N°:
Entrevistado:_________________________Idade:______Escolaridade:_______Telefone:______________
1. Área
2. Atividades realizadas na Unidade de Produção
a) ÁREA TOTAL
(ha)
Área (ha)
Própria
Parceria Arrendamento
Outra forma(qual)
De terceiros
Para terceiros
De terceiros Para terceiros
a) CULTURA Situação atual
Área
(ha)
Fat/
Produ
Comercialização*
Externa
Consumo na Unidade de Produção
Soja (SIM)
(NÃO)
( )____
( ) _______________________
Milho (SIM)
(NÃO)
( )____
( ) ________________________
Trigo (SIM)
(NÃO)
( )____
( ) ________________________
Aveia (SIM)
(NÃO)
( )____
( ) ________________________
Pastagem (natural) (SIM)
(NÃO)
( )____
( )______________________
Pastagem (Cultivada) (SIM)
(NÃO)
( )____
( )_________________________
Outro:____ (SIM)
(NÃO)
( )____
( )__________________________
Marque uma alternativa,porém se for necessário informe a proporção para cada item NO CASO DE
COM. EXTERNA E CONSUMO NA UPA
b) CRIAÇÃO
Tipo
Comercialização*
Externa (detalhar
canais de venda) Consumo na Upa
Bovino
( ) cria/Rec ( )_______________
( )
( ) Ciclo completo ( )_______________
( )
( ) Terminação ( )_______________
( )
Suíno
( ) Consumo ( )_______________
( )
( ) indústria ( )_______________
( )
Ovino
( )_______________
( )
Aviário
( ) Postura ( )_______________
( )
N.______ ( ) Corte ( )_______________
( )
( ) Ovos ( )_______________
( )
Leite (l/dia)
( ) Indústria ( )_______________
( )
( ) Familiar ( )_______________
( )
Outro:____
( )___
_____________ ( )
282
3. Receitas de outras atividades
4. Financiamento
c) Outras atividades
Faturamento
Comercialização*
Sim o R$ Externa Na UPA
Olarias (sim) (não)
Horta (sim) (não)
Pomar (sim) (não)
Agroindústria (sim) (não)
Qual:__________ ____ ____
Outro:_________ (sim) (não)
*Detalhar
Receita de Outras atividades
Valor
(R$)
a) Rendas adicionais (Sim)
(não)
b) Aposentadorias (sim)
(Não)
c) Outro:_________ (Sim)
(não)
Possui Financiamento
(sim) (não) Valor(R$)
Tipo:_______________ _____ ______ ____________
Obs:___________
283
5. Mão-de-obra
6. Máquinas, equipamentos e benfeitorias da unidade de produção
7. Permanência dos filhos na Unidade de Produção
Observações Adicionais:
___
___
___
___
___
___
___
___
___
___
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________
Modalidade
Idade
(ordem)
Número
pessoas
Escolaridade
Funções
a) Mão-de-obra
familiar*
(sim)
(não)
b) Assalariada (sim) (não)
c) Outros (sim) (não)
Especificação Quantidade
Estado/idade
a) Galpão sim não
b) Caminhão sim não
c) Caminhonete sim não
d) Tração animal (junta
de bois) sim não
e) Trator sim não
f) Arado sim não
g) Semeadora sim não
h) Pulverizador sim não
i) Ordenhadeira sim não
j) Resfriador de leite
sim não
k)Outros sim não
1.Possui filhos? sim não
Se sim, prossiga para a próxima questão.
2. Residem na Upa? sim não
Se sim, prossiga para a próxima questão.
3. Participam das atividades da Upa? sim não
4.Nível de escolaridade
Fundamental
Médio
Secundário
Terceiro grau
Pós-graduação
5. Objetivam continuar na Upa? sim não
Se não, detalhe___________
284
8 Objetivos do Produtor em relação a Unidade de Produção
Pretende permanecer na UPA? ( ) Sim ( ) Não. Por quê?_________________________________________
Se sim:
( ) Busca comprar/arrendar terra? Por quê:_____________________________________________________
( ) Busca ampliar a alguma atividade em especial? Qual? _________________________________________
( ) Busca inserir novas atividade(s) ?Detalhe:___________________________________________________
( ) Investir em novas tecnologias?Qual(is):_____________________________________________________
( ) Outro:________________________________________________________________________________
9 História da Propriedade
9.1 Relate brevemente como e quando o senhor iniciou suas atividades na Upa.
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
Reconstituição dos Principais momentos da evolução da Unidade de Produção Agrícola
10 Situação da Unidade produtiva durante o período de 1970.
Situação da Upa no período composto pela década de 1970
Como descreve a UPa na década de 1970 (área, Sistema produtivo, mão-de-obra, criação....)
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________
a) Área:____ha.
Em relação a área:
( ) própria ( ) arrendada ( ) da família ( ) outro. Qual:___________________________________________
Comprou terra neste período? ( ) sim ( ) não. Quando:_______(ano).
Quantos ha?_______Porque?________________________________________________________________
b) Que atividades a unidade produtiva desenvolvia no período?
a. Culturas: b. Criação: c. Outras Atividades
( ) soja.___ha ( ) Bovino (criação). Efetivo:______ ( ) rendas não-agrícolas
( ) milho.___ha ( ) Leite ( ) agroindústria
( ) trigo.__ha ( ) Ovino. ( ) reflorestamento
( ) aveia.___ha ( ) Outro. Especifique:___________ ( ) outro. Qual_______
( ) outro.Especifique:___________ ( ) Pastagem._____ha
c) Principais meios (RECURSOS de produção) o produtor dispunha para a realização das atividades praticada no
período?
Mão-de-obra e maquinaria existente na UPa no período
285
d) Tecnologia:
O produtor ampliou os recursos tecnológicos? ( ) sim ( ) não.Porque:_______________________________
Se sim marque os recursos tecnológicos adquiridos no período:
( ) recurso Trator.________________________________________________________________________
( ) recurso colheitadeira.___________________________________________________________________
( ) Outros recursos detalhe._________________________________________________________________
e) De que forma o produtor adquiriu os recursos tecnológicos acima citados?
( ) empréstimos. Detalhe: __________________________________________________________________
( ) venda de ativos (terra, máquina) __________________________________________________________
( ) faturamento da Upa.____________________________________________________________________
( ) faturamento de novas atividades implantadas com os recursos adquiridos _________________________
( ) Outro. Detalhe.________________________________________________________________________
f) Que fator colaborou para a modificação das atividades desenvolvi das na UPa durante este período?
(a). Mudanças Técnicas. Especifique:_________________________________________________________
(b). Intervenção do Estado através dos mecanismos:
( ) Extensão rural ( ) crédito agrícola ( ) incentivos de governo. ( ) Outro.
Detalhe:________________________________________________________________________________
(c). Dificuldade em relação a mão-de-obra.____________________________________________________
(d). Falta de mercado para determinada atividade._______________________________________________
(f). Outra razão. Detalhe: __________________________________________________________________
No que diz respeito a políticas Pública:
a) Obteve financiamento ou empréstimos ? ( ) sim ( ) não
Em caso afirmativo:
Modalidade
Número
função Observações
a) Mão-de-obra familiar*
(SIM)
(NÃO)
b) Assalariado permanente
(SIM) (NÃO)
c) Trabalhador temporário
(SIM) (NÃO)
Outro:______________
(SIM) (NÃO)
a) Trator
(SIM) (NÃO)
b) Arado
(SIM) (NÃO)
c)
(SIM) (NÃO)
d)
(SIM) (NÃO)
Outro:______________
(SIM) (NÃO)
Modalidade Fonte*
Finalidade
valor Observações
Custeio
Comercialização
Investimento
Outros
286
* Complementar (especificar os bancos, cooperativas, programas e linhas): 1. Bancos; 2. Cooperativas; 3.
Recursos municipais; 4. Empresas privadas; 5. Pronaf; 6. Outros.
ObsAdicionais:_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
11. Situação da Unidade produtiva durante o período de 1980
Modificações sofridas pela Upa
Como descreve a UPa na década de 1980 (área, Sistema produtivo, mão-de-obra, criação....)
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
a) Área.____ha.
Em relação a área:
( ) própria ( ) arrendada ( ) da família ( ) outro. Qual: ___________________________________________
Comprou terra neste período? ( ) sim ( ) não. Quando :________(ano)
Quantos ha?__________________Por quê?_____________________________________________________
b) Que atividades a unidade produtiva desenvolvia no período?
a. Culturas: b. Criação: c. Outras Atividades
( ) soja.___ha ( ) Bovino (criação). Efetivo:______ ( ) rendas não-agrícolas
( ) milho.___ha ( ) Leite ( ) agroindústria
( ) trigo.__ha ( ) Ovino. ( ) reflorestamento
( ) aveia.___ha ( ) Outro. Especifique:___________ ( ) outro. Qual_______
( ) outro.Especifique:___________ ( ) Pastagem._____ha
c) Tecnologia:
O produtor ampliou os recursos tecnológicos? ( ) sim ( )
não.Porque:____________________________________________________________________________
Se sim marque os recursos tecnológicos adquiridos no período:
( ) recurso Trator._______________________________________________________________________
( ) recurso colheitadeira.__________________________________________________________________
( ) Outros recursos detalhe.__________________________________________________________________-
______________
d) De que forma o produtor adquiriu os recursos tecnológicos acima citados?
( ) empréstimos ( ) venda de ativos (terra, máquina) ( ) faturamento da Upa.
( ) faturamento de novas atividades implantadas com os recursos adquiridos.
( ) Outro.
Detalhe.________________________________________________________________________________
e) Que fator colaborou para a modificação das atividades desenvolvidas na UPa durante este período?
(a). Mudanças Técnicas. Especifique:_________________________________________________________
(b). Intervenção do Estado através dos mecanismos:
( ) Extensão rural ( ) crédito agrícola ( ) incentivos de governo.( ) Outro.
Detalhe:________________________________________________________________________________
(c). Dificuldade em relação a mão-de-obra.____________________________________________________
(d). Falta de mercado para determinada atividade.______________________________________________
Modalidade Fonte*
Finalidade
Valor Observações
Custeio
Comercialização
Investimento
Outros
287
(f). Outra razão. Detalhe:__________________________________________________________________
No que diz respeito a políticas Pública:
f) Obteve financiamento ou empréstimos ? ( ) sim ( ) não
Em caso afirmativo:
* Complementar (especificar os bancos, cooperativas, programas e linhas): 1. Bancos; 2.
Cooperativas; 3. Recursos municipais; 4. Empresas privadas; 5. Pronaf; 6. Outros.
Observações Adicionais:
_____________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
12. Situação da Unidade produtiva durante o período de 1990
Modificações sofridas pela Upa
Como descreve a Upa na década de 1990 (área, Sistema produtivo, mão-de-obra, criação....)
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
a) Área.____ha.
Em relação a área:
( ) própria ( ) arrendada ( ) da família ( ) outro. Qual:___________________________________________
Comprou terra neste período? ( ) sim ( ) não. Quando:________(ano)
Quantos ha?__________________Porque?_____________________________________________________
b) Que atividades a unidade produtiva desenvolvia no período?
a. Culturas: b. Criação: c. Outras Atividades
( ) soja.___ha ( ) Bovino (criação). Efetivo:______ ( ) rendas não-agrícolas
( ) milho.___ha ( ) Leite ( ) agroindústria
( ) trigo.__ha ( ) Ovino. ( ) reflorestamento
( ) aveia.___ha ( ) Outro. Especifique:___________ ( ) outro. Qual_______
( ) outro.Especifique:___________ ( ) Pastagem._____ha
c) Tecnologia:
O produtor ampliou os recursos tecnológicos? ( ) sim ( ) não.Porque:________________________________
Se sim marque os recursos tecnológicos adquiridos no período:
( ) recurso Trator._________________________________________________________________________
( ) recurso colheitadeira.____________________________________________________________________
( ) Outros recursos detalhe.__________________________________________________________________
d) De que forma o produtor adquiriu os recursos tecnológicos acima citados?
( ) empréstimos
( ) venda de ativos (terra, máquina)
( ) faturamento da Upa.
( ) faturamento de novas atividades implantadas com os recursos adquiridos.
( ) Outro.
Detalhe.________________________________________________________________________________
e) Que fator colaborou para a modificação das atividades desenvolvidas na UPa durante este período?
(a). Mudanças Técnicas. Especifique:_________________________________________________________
(b). Intervenção do Estado através dos mecanismos:
( ) Extensão rural
( ) crédito agrícola
( ) incentivos de governo.
( ) Outro. Detalhe:________________________________________________________________________
(c). Dificuldade em relação a mão-de-obra.
(d). Falta de mercado para determinada atividade.
288
(f). Outra razão. Detalhe:___________________________________________________________________
No que diz respeito a políticas Pública:
F) Obteve financiamento ou empréstimos ? ( ) sim ( ) não
Em caso afirmativo:
Modalidade Fonte*
Finalidade
valor
Observações
custeio
comercialização
investimento
Outros
* Complementar (especificar os bancos, cooperativas, programas e linhas): 1. Bancos; 2. Cooperativas; 3.
Recursos municipais; 4. Empresas privadas; 5. Pronaf; 6. Outros.
Observações adicionais:
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
289
APÊNDICE 3 - Roteiro para análise de variáveis e indicadores da estrutura produtiva,
econômica e da trajetória das unidades de produção agrícola na área rural do município de
Passo Fundo-RS.
DATA: LOCALIDADE:
1. Perfil
a. IDADE:___________________________________________________________________________
b. INÍCIO/ FIM do ANO AGRÍCOLA:
2. Questões Fundiárias
a. Superfície total (ST):
c. Superfície encostas:
b. Superfície agrícola útil (SAU):
d..4Superfície baixadas:e. Áreas proteção/ não agrícolas: f. estimativa do preço da terra/ situação em
relação a especulação fundiária:g. situação fundiária (Própria/ Posse/ Arrendada/ Outra situação):
3. Atividades de Produção Vegetal
a. Cultivo b. Rendimiento
por ha
c. Superf.
cultivada
d. Destino da Produção
e. OBSERVAÇÕES
a. rotação de cultivos e modo de reprodução da fertilidade:
4. CUSTO DE PRODUÇÃO POR ATIVIIDADE
* Especificar as unidades
Itinerário técnico para cada cultivo (tipo de operação agrícola; necessidade de mão de obra em dias homem por
hectare):
Cultivo JAN FEV MAR
ABR
MAI
JUN JUL AGO
SET OUT NOV
DEZ
a. cultura b. Insumo c. Quantidade d. Preço (unitário
290
Insumos e serviços de terceiros utilizados:
Tipo Destinação Quantidade Custo médio Observações
Método de formação e manutenção de pastagens:
Atividades de transformação da produção agrícola:
5. Atividades de Produção Animal:
a. Inventário das
criações /raças
b. Efetivos médios
c. Valor médio
d. Venda e
Autoconsumo
(n°/ tipo)
Observações
a. Principais problemas sanitários (doenças, mortalidade, etc.):
b. Alimentação animais:
-comprada:
-produzida na propriedade:
c. Modo de condução/ manejo das criações (por categoria animal):
Criação JAN FEV MAR
ABR
MAI
JUN JUL AGO
SET OUT NOV
DEZ
d. Insumos e serviços de terceiros utilizados:
Tipo Destinação Quantidade Custo médio Observações
e. Complementaridade entre as Diferentes Atividades Produção Vegetal e Animal:
291
6. Outras Atividades Econômicas fontes de renda (assalariado, artesanato, aposentadoria,
venda de serviços, etc.)
a. Tipo atividade/
n°pessoas
b. Época do ano/
Duração
Remuneração Observações
7. A Família do Proprietário
a.número de pessoas vivendo na propriedade:
b. número de pessoas trabalhando na propriedade:
a. Categoria e número
b. Idade aproximada Observações
c. Valor da contribuição social patronal (FUNRURAL):
8. Mão de Obra Externa à Família (empregados fixos e diaristas)
a. Categoria e número
b. Remuneração Observações (carteira, carga horária, etc.)
c. Distribuição da Utilização de Mão de Obra
- Períodos de sobrecarga de trabalho? (motivo, atividades, épocas)
- Períodos de menor utilização de mão de obra? (motivo, atividades, épocas)
9. Equipamentos e Instrumentos de Trabalho Utilizados
a. Tipo/ Número b. Idade/ vida útil c.Valor d. Finalidade Observações
e. Gastos com manutenção
f. Financiamento para compra (origem do recurso)
10. SUCESSÃO FAMILIAR COMO OCORREU NA UPA?
a. Os filhos como lidam com a upa?
11. Benfeitorias Utilizadas
292
a.Tipo/ Número b. Idade/ vida útil c. Valor
d. Finalidade Observações
e. Gastos com manutenção
f. Financiamento para compra (origem do recurso)
12. Financiamentos/ Empréstimos/ Dívidas (datas, taxas, destino, valor, reembolso médio anual):
a. Desembolsos em Impostos (ITR, Imposto de Renda, ICMS, etc.):
13. Comercialização da Produção:
a. Cultivo/criação b. Quantidade c. Preço médio Observações
d. Situação da propriedade em relação as condições de transporte e comercialização da produção:
14 Investimento na Unidade
a. Investimentos:
15 ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA (análise
da história e do percurso do produtor desde o início das atividades na UPA. Busca captar
os diferentes sistemas de produção por que passaram as unidades de produção da região)
* Esta parte do questionário trabalha com a hipótese de modificações entre distintos sistemas de produção no
decorrer da existência da Unidade de produção. De acordo com a entrevista cada propriedade pode
apresentar um maior ou menor número de sistemas (durante sua história). Este formulário contempla,
inicialmente, o sistema atual (com a análise agro econômica), o SISTEMA INICIAL (1) - HISTÓRIA
RECENTE DA U.P.A., e os SISTEMAS 2 e 3 (EVOLUÇÃO PARA UM NOVO SISTEMA DE PPRODUÇÃO
NA UPA). Porém se necessário serão agregados campos adicionais ao formulário de acordo com O NÚMERO
DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE CADA UNIDADE.
SISTEMA INICIAL (1) - HISTÓRIA RECENTE DA U.P.A. (procura estabelecer, dentro do marco inicial das
atividades deste produtor, qual o sistema produtivo implementado no período, assim como, os determinantes
internos e externos que condicionaram este sistema até o momento de seu esgotamento)
293
1.
Aspectos históricos
a. Quando (década/ano) o senhor iniciou as atividades na propriedade?
b. Porque o senhor começou a explorar esta unidade?
c. Nesta década (nestes anos) como era a estrutura produtiva da região (o que as UPAs vizinhas produziam, de que
forma, para que finalidade...)
2.Aspectos Técnicos
a. Área e composição da Upa no período
3. Produção Vegetal
a. Que culturas o senhor produzia em sua propriedade neste período?
b. Área d. Observações adicionais
CULTURAS
a. Situação do
Sistema no
período (ha)
c. Produtividade
a) Soja (SIM) (NÃO)
b) Milho (SIM) (NÃO)
c) Trigo (SIM) (NÃO)
d) Aveia (SIM) (NÃO)
e)Horta (SIM) (NÃO)
f) Pomar (SIM) (NÃO)
Outro: (SIM) (NÃO)
Pastagem
(natural) (SIM) (NÃO)
Pastagem
(cultivada) (SIM) (NÃO)
- Detalhe o grau de importância de cada cultura para a Unidade no período (sobre a renda, comercialização, grau de
aproveitamento das condições da unidade e demandas externas a Unidade, ou seja, que causas levaram o produtor a
produzir, naquele momento, cada cultura e sua relevância para o Sistema de Produção da unidade).
4.Atividades de Criação
Que atividades de criação o senhor possuía na sua propriedade no período?
a.
CRIAÇÃO b. Efetivo Característica c. Comercialização*
d. Observações
adicionais
ÁREA
TOTAL
(ha)
Área (ha)
Própria Parceria Arrendamento
Outra
forma
(qual)
De terceiros Para terceiros
De terceiros Para terceiros
294
aproximado
Externa
Consumo na
Upa
bovino
( ) cria/Rec ( )_____ ( )
( ) Ciclo completo
( )_____ ( )
( ) Terminação ( )_____ ( )
Obs:
suíno
( ) Consumo ( )_____ ( )
( ) indústria ( )_____ ( )
Obs:
Ovino
( ) ( )
Aviário
( ) postura ( ) ( )
N. ( ) corte ( ) ( )
( ) Prod. Ovos ( ) ( )
Leite (l/dia)
( ) Industria ( ) ( )
( ) Familiar ( ) ( )
Outro: ( ) ( )
- Detalhe o grau de importância de cada atividade de criação para a Unidade no período impactos na renda, na
comercialização, no grau de aproveitamento das condições da unidade e nas demandas externas a Unidade e que
causas levaram a implantação destas atividades, naquele momento, destacando sua importância para o Sistema de
Produção da unidade.
5. Demais atividade no interior da unidade de produção
a. O senhor praticava outros tipos de atividades na unidade de produção? (em caso positivo detalhar a atividade, as
causas para a prática da atividade e sua importância para o sistema de produção da unidade).
b. O senhor possuía rendas provenientes de outras fontes que auxiliavam na unidade produtiva (rendas externas,
aposentadoria detalhando a importância destas fontes para o sistema da unidade)?
6. Mão-de- obra
a) Detalhe a utilização da mão-de-obra neste sistema (composição, funções, tipos, o peso da família no uso de mão-
de-obra....).
7. Máquinas, equipamentos e benfeitorias
Como era a estrutura da Unidade Produtiva (benfeitorias, maquinaria....)
a. Especificação b. quantidade
c. Estado/idade
(modelo) d. Via financiamento
Galpão sim não
(sim) (não)
Caminhão sim não
Caminhonete sim não
Tração animal (junta de
bois) sim não
Trator sim não
Arado sim não
Semeadora sim não
295
Pulverizador sim não
Ordenhadeira sim não
Resfriador de leite sim não
Outros sim não
- Os equipamentos e benfeitorias foram adquiridos/construídos com recursos de que natureza?(detalhar, de acordo
com o quadro acima, os tipos de recursos próprios, via crédito, assim como, neste caso, as formas de acesso
importância para a estrutura da unidade).
- O senhor utilizou alguma técnica agrícola na unidade de produção? O senhor teve acesso a órgãos ligados a
extensão rural ou entidades ligadas ao ensino de determinadas práticas na agricultura? As técnicas foram
importantes para a manutenção ou modificações de suas atividades na unidade? (Detalhe).
8. ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DO SISTEMA INICIAL 1
Determinantes externos à UPa
a. Quais as principais razões e os incentivos - sociais, econômicos - para que o senhor praticasse estas atividades
em sua propriedade?(o entrevistador deve relembrar ou retomar os sistemas até o momento identificados em
conjunto com o produtor entrevistado para a construção da resposta desta questão)
b. O senhor teve acesso a crédito agrícola neste período (detalhe a modalidade, finalidade e efetiva utilização do
crédito por parte do produtor)?
Em caso afirmativo:
Modalidade Fonte* Finalidade
Valor
Observações
Custeio
Comercialização
Investimento
Outros
c. Qual a importância do crédito para a implantação e manutenção deste sistema de produção?
d. O senhor destacaria outros mecanismos locais e/ou regionais que contribuíram para a construção/manutenção de
seu sistema produtivo no período? Qual (is)?
9. MUDANÇA DE SISTEMA PRODUTIVO (neste momento, antes de avançar nas questões,
o entrevistador deve realizar a retrospectiva do sistema de produção descrito pelo produtor)
Situação do sistema de produção(campo do entrevistador):
a. Até que momento (década e/ou anos) suas atividades foram organizadas desta forma (Sistema de Produção)?
b. O que levou a mudança nesta forma de organização e utilização da Unidade Produtiva? (detalhar os
condicionantes principais positivos e negativos - levantados pelo produtor em relação aos aspectos técnicos,
sociais internos e externos à Unidade produtiva que pressionaram e contribuíram a um novo arranjo produtivo na
Unidade)
296
16 EVOLUÇÃO PARA UM NOVO SISTEMA DE PRODUÇÃO NA UPA – SISTEMA DE
PRODUÇÃO 2 (procura estabelecer, após o a identificação precedente - Sistema Inicial 1-
os novos encadeamentos, características, combinações de recursos e interações internas e
externas responsáveis pela manutenção do novo sistema até seu esgotamento)
1. Aspectos históricos
a) O senhor pode descrever os principais eventos e as principais causas que o levaram a modificar as
atividades realizadas na unidade? Em que períodos ocorrem? (década/anos).
b) Quais as principais mudanças no sistema produtivo em sua propriedade?
c) Nesta década (nestes anos) o senhor percebeu modificações na estrutura da região? Detalhe:
2. Aspectos Técnicos
a. A área da unidade foi ampliada: ( ) sim ( ) não
Detalhe:
Área e composição da Upa no período
3.
Produção Vegetal
a. Que culturas o senhor produzia em sua propriedade neste período?
Área Observações adicionais
CULTURAS
Situação do
Sistema no
período (ha)
Produtividade
a) Soja (SIM) (NÃO)
b) Milho (SIM) (NÃO)
c) Trigo (SIM) (NÃO)
d) Aveia (SIM) (NÃO)
e)Horta (SIM) (NÃO)
f) Pomar (SIM) (NÃO)
Outro:____ (SIM) (NÃO)
Pastagem (natural) (SIM) (NÃO)
Pastagem
(cultivada ) (SIM) (NÃO)
b. Detalhe o grau de importância de cada cultura para a Unidade no período (sobre a renda, comercialização, grau de
aproveitamento das condições da unidade e demandas externas a Unidade, ou seja, que causas levaram o produtor a
produzir, naquele momento, cada cultura e qual sua importância para o Sistema de Produção da unidade).
ÁREA
TOTAL
(ha)
Área (ha)
Própria
Parceria Arrendamento
Outra forma
(qual)
De terceiros Para terceiros
De terceiros Para terceiros
297
c. Quais as causas que levaram o produtor a ampliar/extinguir cultuas na unidade (detalhamento dos fatores que
levaram a modificação de culturas na unidade)?
4. Atividades de Criação
a) Que atividades de criação o senhor possuía na sua propriedade no período?
CRIAÇÃO Efetivo Característica Comercialização* Observações adicionais
aproximado
Externa
Consumo
na Upa
bovino
( ) cria/Rec ( )_____ ( )
( ) Ciclo completo ( )_____ ( )
( ) Terminação ( )_____ ( )
Obs:
suíno
( ) Consumo ( )_____ ( )
( ) indústria ( )_____ ( )
Obs:
Ovino
( ) ( )
Aviário
( ) postura ( ) ( )
N.______ ( ) corte ( ) ( )
( ) Prod. Ovos ( ) ( )
Leite (l/dia)
( ) Industria ( ) ( )
( ) Familiar ( ) ( )
Outro:____ ( ) ( )
a.Houveram mudanças relacionadas com as atividades de criação da unidade (detalhe os fatores que contribuíram
para a escolha do produtor em não mais possui determinado efetivo de criação ou, contrariamente, ampliá-lo)?
b. Detalhe o grau de importância de cada atividade de criação para a Unidade no período impactos na renda, na
comercialização, no grau de aproveitamento das condições da unidade e na demanda externas a Unidade e que
causas levaram a implantação destas atividades, naquele momento, e qual sua importância para o Sistema de
Produção da unidade.
5. Demais atividade no interior da unidade de produção
a. O senhor praticava outros tipos de atividades na unidade de produção? (em caso positivo detalhar a atividade, as
causas para a prática da atividade e sua importância para o sistema de produção da unidade).
b. O senhor possuía rendas provenientes de outras fontes que auxiliavam na unidade produtiva (rendas externas e
aposentadoria com destaque para a importância destas fontes para o sistema da unidade)? Neste quesito se houve
mudança em relação ao sistema anterior, por favor, detalhe.
6. Mão-de-obra
a. Detalhe a utilização da mão-de-obra neste sistema (composição, funções, tipos, o peso da família no uso de mão-
de-obra....).
b. Que fatores levaram a modificação na composição da mão-de-obra?
298
7. Máquinas, equipamentos e benfeitorias
a.Estrutura da Unidade Produtiva (benfeitorias, maquinaria....)
Especificação Quantidade
Estado/idade (modelo)
Via financiamento
Galpão Sim
Não
(sim) (não)
Caminhão Sim
Não
Caminhonete Sim
Não
Tração animal (junta de
bois) Sim
Não
Trator Sim
Não
Arado Sim
Não
Semeadora Sim
Não
Pulverizador Sim
Não
Ordenhadeira Sim
Não
Resfriador de leite Sim
Não
Outros Sim
Não
b. Porque o senhor adquiriu novos equipamentos e/ou construiu/ampliou as benfeitorias da unidade (causas que
levaram o produtor a empreender determinando investimento na unidade)?
c. Os equipamentos e benfeitorias foram adquiridos/construídos com recursos de que natureza?(detalhar, de acordo
com o quadro acima, os tipos de recursos próprios, via crédito, assim como, neste caso, as formas de acesso e a
importância para a estrutura da unidade)
d. O senhor utilizou alguma técnica agrícola nova em relação às técnicas utilizadas no período passado (sistema
anterior) na unidade de produção? O senhor teve acesso a órgãos ligados a extensão rural ou entidades ligadas ao
ensino de determinadas práticas na agricultura? As técnicas foram importantes para a manutenção ou modificações
de suas atividades na unidade? (detalhe).
8. Determinantes externos à UPa
a. Quais as principais razões e os incentivos - sociais, econômicos - para que o senhor praticasse estas atividades em
sua propriedade? (o entrevistador deve relembrar ou retomar os sistemas até o momento identificados em conjunto
com o produtor entrevistado). Em que medida estes incentivos foram responsáveis (mesmo que em parte) pela
configuração do sistema atual da unidade?(detalhe)
b. O senhor teve acesso a crédito agrícola (detalhe a modalidade, finalidade e efetiva utilização do crédito por parte
do produtor) neste período? O crédito foi determinante para as mudanças do sistema anterior para o atual? Que
modificações de fato o crédito ou financiamento gerou na propriedade?
Em caso afirmativo:
Modalidade Fonte*
Finalidade
Valor
Observações
Custeio
Comercialização
299
Investimento
Outros
* Complementar (especificar os bancos, cooperativas, programas e linhas): 1. Bancos; 2. Cooperativas; 3.
Recursos municipais; 4. Empresas privadas; 5. Pronaf; 6. Outros.
- O senhor destacaria outros mecanismos locais e/ou regionais que contribuíram para a construção/manutenção de
seu sistema produtivo no período? Qual (is)?
9. Mudança de sistema produtivo
(neste momento, antes de avançar nas questões, o entrevistador deve
realizar a retrospectiva do sistema de produção 2 descrito pelo produtor confirmando com o mesmo as
característica até o momento levantadas, além de procurar agregar informações adicionais para o estudo)
Situação do sistema de produção:
a. Até que momento (década e/ou anos) suas atividades foram organizadas desta forma (Sistema de produção)?
b. O que levou a mudança nesta forma de organização e utilização da Unidade Produtiva? (detalhar os
condicionantes principais positivos e negativos - levantados pelo produtor em relação aos aspectos técnicos,
sociais internos e externos à Unidade produtiva que pressionaram e contribuíram a um novo arranjo produtivo na
Unidade)
EVOLUÇÃO PARA UM NOVO SISTEMA DE PPRODUÇÃO NA UPA SISTEMA DE
PRODUÇÃO 3 (
procura estabelecer, após o a identificação precedente - Sistema 2- os novos
encadeamentos, características, combinações de recursos e interações internas e externas responsáveis pela
manutenção do novo sistema até seu esgotamento)
1. Aspectos históricos
a. O senhor pode descrever os principais eventos e as principais causas que o levaram a modificar as
atividades realizadas na unidade? Em que períodos ocorrem? (década/anos).
b. Quais as principais mudanças no sistema produtivo em sua propriedade?
c. Nesta década (nestes anos) o senhor percebeu modificações na estrutura da região? Detalhe:
2. Aspectos Técnicos
a. A área da unidade foi ampliada: ( ) sim ( ) não
Detalhe:
Área e composição da Upa no período
ÁREA
TOTAL
(ha)
Área (ha)
Própria
Parceria Arrendamento
Outra forma
(qual)
De terceiros
Para terceiros
De terceiros Para terceiros
300
2. Culturas Vegetais
Que culturas o senhor produzia em sua propriedade neste período?
Área Observações adicionais
CULTURAS
Situação do
Sistema no
período (ha)
Produtividade
a) Soja (SIM) (NÃO)
b) Milho (SIM) (NÃO)
c) Trigo (SIM) (NÃO)
d) Aveia (SIM) (NÃO)
e)Horta (SIM) (NÃO)
f) Pomar (SIM) (NÃO)
Outro: (SIM) (NÃO)
Pastagem
(natural) (SIM) (NÃO)
Pastagem
(cultivada)
(SIM) (NÃO)
- Detalhe o grau de importância de cada cultura para a Unidade no período (sobre a renda, comercialização, grau de
aproveitamento das condições da unidade e demandas externas a Unidade, ou seja, que causas levaram o produtor a
produzir, naquele momento, cada cultura e qual sua importância para o Sistema de Produção da unidade).
- Quais as causas que levaram o produtor a ampliar/extinguir cultuas na unidade (detalhamento dos fatores que
levaram a modificação de culturas na unidade)?
3. Atividades de Criação
- Que atividades de criação o senhor possuía na sua propriedade no período?
CRIAÇÃO
Efetivo Característica Comercialização*
Observações
adicionais
aproximado
Externa
Consumo na
Upa
Bovino
( ) cria/Rec ( )_____ ( )
( ) Ciclo completo
( )_____ ( )
( ) Terminação ( )_____ ( )
Obs:
Suíno
( ) Consumo ( )_____ ( )
( ) indústria ( )_____ ( )
Obs:
Ovino
( ) ( )
Aviário
( ) postura ( ) ( )
N.______ ( ) corte ( ) ( )
( ) Prod. Ovos ( ) ( )
Leite (l/dia)
( ) Industria ( ) ( )
( ) Familiar ( ) ( )
Outro:____ ( ) ( )
301
a. Houveram mudanças relacionadas com as atividades de criação da unidade (detalhe os fatores que contribuíram
para a escolha do produtor em não mais possui determinado efetivo de criação ou, contrariamente, ampliá-lo)?
b. Detalhe o grau de importância de cada atividade de criação para a Unidade no período impactos na renda, na
comercialização, no grau de aproveitamento das condições da unidade e na demanda externas a Unidade e que
causas levaram a implantação destas atividades, naquele momento, e qual sua importância para o Sistema de
Produção da unidade.
4. Demais atividade no interior da unidade de produção
a) O senhor praticava outros tipos de atividades na unidade de produção? (em caso positivo detalhar a atividade, as
causas para a prática da atividade e sua importância para o sistema de produção da unidade).
b) O senhor possuía rendas provenientes de outras fontes que auxiliavam na unidade produtiva (rendas externas e
aposentadoria com destaque para a importância destas fontes para o sistema da unidade)? Neste quesito se houve
mudança em relação ao sistema anterior, por favor, detalhe.
5. Mão-de- obra
a. Detalhe a utilização da mão-de-obra neste sistema (composição, funções, tipos, o peso da família no uso de mão-
de-obra....).
b. Que fatores levaram a modificação na composição da mão-de-obra?
6. Máquinas, equipamentos e benfeitorias
a. Estrutura da Unidade Produtiva (benfeitorias, maquinaria....)
Especificação quantidade
Estado/idade
(modelo) Via financiamento
Galpão sim
não
(sim) (não)
Caminhão sim
não
Caminhonete sim
não
Tração animal (junta de
bois) sim
não
Trator sim
não
Arado sim
não
Semeadora sim
não
Pulverizador sim
não
Ordenhadeira sim
não
Resfriador de leite sim
não
Outros sim
não
302
b. Porque o senhor adquiriu novos equipamentos e/ou construiu/ampliou as benfeitorias da unidade (que causas
levaram o produtor a empreender determinando investimento na unidade)?
c. Os equipamentos e benfeitorias foram adquiridos/construídos com recursos de que natureza?(detalhar, de acordo
com o quadro acima, os tipos de recursos próprios, via crédito, assim como, neste caso, as formas de acesso e a
importância para a estrutura da unidade)
d. O senhor utilizou alguma técnica agrícola nova em relação às técnicas utilizadas no período passado (sistema
anterior) na unidade de produção? O senhor teve acesso a órgãos ligados a extensão rural ou entidades ligadas ao
ensino de determinadas práticas na agricultura? As técnicas foram importantes para a manutenção ou modificações
de suas atividades na unidade? (detalhe).
7. Determinantes externos à UPa
a. Quais as principais razões e os incentivos - sociais, econômicos - para que o senhor praticasse estas atividades em
sua propriedade? (o entrevistador deve relembrar ou retomar os sistemas até o momento identificados em conjunto
com o produtor entrevistado). Em que medida estes incentivos foram responsáveis (mesmo que em parte) pela
configuração do sistema atual da unidade?(detalhe)
b. O senhor teve acesso a crédito agrícola (detalhe a modalidade, finalidade e efetiva utilização do crédito por parte
do produtor) neste período? O crédito foi determinante para as mudanças do sistema anterior para o atual? Que
modificações de fato o crédito ou financiamento gerou na propriedade?
Em caso afirmativo:
Modalidade Fonte*
Finalidade
Valor
Observações
Custeio
Comercialização
Investimento
Outros
* Complementar (especificar os bancos, cooperativas, programas e linhas): 1. Bancos; 2. Cooperativas; 3.
Recursos municipais; 4. Empresas privadas; 5. Pronaf; 6. Outros.
- O senhor destacaria outros mecanismos locais e/ou regionais que contribuíram para a
construção/manutenção de seu sistema produtivo no período? Qual (is)?
- Fazendo um balanço no período que importância o crédito agrícola teve em sua trajetória na UPA?
SISTEMA 4 - EVOLUÇÃO PARA UM NOVO SISTEMA DE PPRODUÇÃO NA UPA
(procura estabelecer, após o a identificação precedente - Sistema 2- os novos
encadeamentos, características, combinações de recursos e interações internas e externas
responsáveis pela manutenção do novo sistema até seu esgotamento)
1. Aspectos históricos
a. O senhor pode descrever os principais eventos e as principais causas que o levaram a modificar as
atividades realizadas na unidade? Em que períodos ocorrem? (década/anos).
b. Quais as principais mudanças no sistema produtivo em sua propriedade?
c. Nesta década (nestes anos) o senhor percebeu modificações na estrutura da região? Detalhe:
303
2. Aspectos Técnicos
a. A área da unidade foi ampliada: ( ) sim ( ) não
Detalhe:
Área e composição da Upa no período
3. Produção Vegetal
- Que culturas o senhor produzia em sua propriedade neste período?
Área Observações adicionais
CULTURAS
Situação do
Sistema no
período
(ha)
Produtividade
a) Soja (SIM) (NÃO)
b) Milho (SIM) (NÃO)
c) Trigo (SIM) (NÃO)
d) Aveia (SIM) (NÃO)
e)Horta (SIM) (NÃO)
f) Pomar (SIM) (NÃO)
Outro:____ (SIM) (NÃO)
Pastagem
(natural) (SIM) (NÃO)
Pastagem
(cultivada) (SIM) (NÃO)
- Detalhe o grau de importância de cada cultura para a Unidade no período (sobre a renda, comercialização, grau de
aproveitamento das condições da unidade e demandas externas a Unidade, ou seja, que causas levaram o produtor a
produzir, naquele momento, cada cultura e qual sua importância para o Sistema de Produção da unidade).
- Quais as causas que levaram o produtor a ampliar/extinguir cultuas na unidade (detalhamento dos fatores que
levaram a modificação de culturas na unidade)?
4. Atividades de Criação
a) Que atividades de criação o senhor possuía na sua propriedade no período?
CRIAÇÃO Efetivo Característica Comercialização*
Observações
adicionais
aproximado
Externa
Consumo na
Upa
bovino
( ) cria/Rec ( )_____ ( )
( ) Ciclo completo
( )_____ ( )
( ) Terminação ( )_____ ( )
Obs:
suíno
( ) Consumo ( )_____ ( )
( ) indústria ( )_____ ( )
Obs:
Ovino
( ) ( )
ÁREATOTAL
(ha)
Área (ha)
Própria Parceria Arrendamento
Outra forma
(qual)
De terceiros Para terceiros
De terceiros Para terceiros
304
Aviário
( ) postura ( ) ( )
N.______ ( ) corte ( ) ( )
( ) Prod. Ovos ( ) ( )
Leite (l/dia)
( ) Industria ( ) ( )
( ) Familiar ( ) ( )
Outro:____ ( ) ( )
- Houveram mudanças relacionadas com as atividades de criação da unidade (detalhe os fatores que contribuíram
para a escolha do produtor em não mais possui determinado efetivo de criação ou, contrariamente, ampliá-lo)?
- Detalhe o grau de importância de cada atividade de criação para a Unidade no período impactos na renda, na
comercialização, no grau de aproveitamento das condições da unidade e na demanda externas a Unidade e que
causas levaram a implantação destas atividades, naquele momento, e qual sua importância para o Sistema de
Produção da unidade.
5. Demais atividade no interior da unidade de produção
a. O senhor praticava outros tipos de atividades na unidade de produção? (em caso positivo detalhar a atividade, as
causas para a prática da atividade e sua importância para o sistema de produção da unidade).
b. O senhor possuía rendas provenientes de outras fontes que auxiliavam na unidade produtiva (rendas externas e
aposentadoria com destaque para a importância destas fontes para o sistema da unidade)? Neste quesito se houve
mudança em relação ao sistema anterior, por favor, detalhe.
5.1 Mão-de-obra
a) Detalhe a utilização da mão-de-obra neste sistema (composição, funções, tipos, o peso da família no uso de mão-
de-obra).
b) Que fatores levaram a modificação na composição da mão-de-obra?
6. Máquinas, equipamentos e benfeitorias
a)Estrutura da Unidade Produtiva (benfeitorias, maquinaria....)
Especificação Quantidade
Estado/idade
(modelo)
Via financiamento
Galpão sim
não
(sim) (não)
Caminhão sim
não
Caminhonete sim
não
Tração animal (junta de
bois) sim
não
Trator sim
não
Arado sim
não
Semeadora sim
não
Pulverizador sim
não
Ordenhadeira sim
não
Resfriador de leite sim
não
305
Outros sim
não
- Porque o senhor adquiriu novos equipamentos e/ou construiu/ampliou as benfeitorias da unidade (que causas
levaram o produtor a empreender determinando investimento na unidade)?
- Os equipamentos e benfeitorias foram adquiridos/construídos com recursos de que natureza?(detalhar, de acordo
com o quadro acima, os tipos de recursos próprios, via crédito, assim como, neste caso, as formas de acesso e a
importância para a estrutura da unidade)
- O senhor utilizou alguma técnica agrícola nova em relação às técnicas utilizadas no período passado (sistema
anterior) na unidade de produção? O senhor teve acesso a órgãos ligados a extensão rural ou entidades ligadas ao
ensino de determinadas práticas na agricultura? As técnicas foram importantes para a manutenção ou modificações
de suas atividades na unidade? (detalhe).
7. Determinantes externos à UPA
a.Quais as principais razões e os incentivos - sociais, econômicos - para que o senhor praticasse estas atividades em
sua propriedade? (o entrevistador deve relembrar ou retomar os sistemas até o momento identificados em conjunto
com o produtor entrevistado). Em que medida estes incentivos foram responsáveis (mesmo que em parte) pela
configuração do sistema atual da unidade?(detalhe)
b. O senhor teve acesso a crédito agrícola (detalhe a modalidade, finalidade e efetiva utilização do crédito por parte
do produtor) neste período? O crédito foi determinante para as mudanças do sistema anterior para o atual? Que
modificações de fato o crédito ou financiamento gerou na propriedade?
Em caso afirmativo:
Modalidade Fonte*
Finalidade valor
Observações
Custeio
Comercialização
Investimento
Outros
*
Complementar (especificar os bancos, cooperativas, programas e linhas): 1. Bancos; 2. Cooperativas; 3. Recursos
municipais; 4. Empresas privadas; 5. Pronaf; 6. Outros.
- O senhor destacaria outros mecanismos locais e/ou regionais que contribuíram para a construção/manutenção de
seu sistema produtivo no período? Qual (is)?
- Fazendo um balanço no período que importância o crédito agrícola teve em sua trajetória na UPA?
306
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta por 81 entrevistas aplicadas na área
rural do município de Passo Fundo
Código
Área Culturas Criação Leite Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite
Olaria
Horta
Comerhort
1
11 5 - milho
- aveia
pasn
- bovcr - ovino
- leitf - horta
exter
2
7 8,5 - milho
- - pasn
- bovcr - - - leitf - horta
exter
3
22 0,5 - - - - - - . . . . . - horta
exter
4
12 3 - - - aveia
pasn
-
bovcr
suinoi
- - leitf - horta
exter
5
13 20 - milho
trigo - - -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
exter
6
16 11 soja
milho
- - - - - suinoc
- - leitf - horta
exter
7
8 24 soja
milho
- - - - - - - - - - horta
exter
8
15 8 - milho
- - - -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
9
15 54
soja
milho
- - - -
bovcr
suinoc
- aviário leiti/leitf - horta
na UPA
10
21 30
soja
milho
- - - pasc
bovcr
suinoc
-
aviário
leitf - horta
na UPA
11
3 110 - milho
-
aveia
- pasc
bovcr
- -
aviário
leiti/leitf - horta
na UPA
12
7 22
soja
- -
aveia
pasn
- - - ovino
aviário
- - horta
na UPA
13
1 98
soja
milho
trigo - pasn
-
bovcr
suinoc
-
aviário
leitf - horta
na UPA
14
1 8
soja
milho
- aveia
- -
bovcr
- -
aviário
leitf - horta
na UPA
15
45 45
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
aviário
leitf - horta
na UPA
16
6 15,1
soja
milho
- aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
-
aviário
leitf - horta
na UPA
17
8 100
soja
milho
trigo - - - - - -
aviário
- - - -
18
9 20,5
soja
- - - pasn
-
bovcr
- -
aviário
leitf - horta
na UPA
19
14 29
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
- Leiti/leitf
- horta
na UPA
20
23 44
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leiti/leitf - horta
na UPA
21
11 15
soja
milho
-
aveia
pasn
-
Bovcr
suinoc
- - leiti/leitf - horta
na UPA
22
10 65
soja
milho
-
aveia
- pasc
Bovcr
- - - leiti/leitf - horta
na UPA
23
7 21 - milho
- - pasn
pasc
- - - - leiti/leitf - horta
na UPA
24
23 29 - milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
- leiti/leitf - horta
-
25
16 100
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
- leiti/leitf - horta
na UPA
26
27 30
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leiti/leitf olaria horta
na UPA
27
14 40
soja
milho
- - - pasc
- - ovino
- leiti/leitf - horta
na UPA
28
26 150
soja
milho
trigo aveia
pasn
- bovcr suinoc
- - leiti/leitf - horta
na UPA
(Continua)
307
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta por 81 entrevistas aplicadas na área
rural do município de Passo Fundo (Continuação)
(Continua)
Código
Área Culturas Criação Leite
Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite
Olaria
Horta
Comerhort
29
10 100
soja
milho
trigo aveia
- - - suinoc
- - - - horta
na UPA
30
12 81
soja
milho
trigo - - pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
31
21 45
soja
milho
trigo
aveia
- -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
32
18 98
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
na UPA
33
17 60
soja
milho
trigo
aveia
- -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
34
14 123
soja
milho
trigo - - -
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
35
10 100
soja
milho
trigo aveia
- -
bovcr
suinoi
- - - - horta
na UPA
36
5 180
soja
milho
trigo - pasn
pasc
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
-
37
2 220
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
38
15 142
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
39
11 181
soja
milho
trigo
aveia
- - - - - - - - horta
na UPA
40
10 47
soja
- trigo
aveia
- - bovcr - - - - - horta
na UPA
41
14 100
soja
- trigo
aveia
- pasc
- - - - - - - -
42
4 7
soja
- trigo
aveia
- -
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
na UPA
43
2 8
soja
milho
-
aveia
pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
44
20 16,5
soja
milho
- - pasn
- - suinoc
- - leitf - horta
na UPA
45
16 14
soja
milho
-
aveia
- pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
46
13 13
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
- ovino - leitf - horta
na UPA
47
22 85
soja
milho
-
aveia
pasn
- - - - - - - horta
na UPA
48
28 126
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
49
17 35
soja
milho
-
aveia
- -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
50
3 38
soja
milho
- - pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
51
24 30
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
52
2 27
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf olaria
horta
na UPA
53
9 48
soja
milho
-
aveia
pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf olaria
horta
na UPA
54
8 26
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
na UPA
308
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta por 81 entrevistas aplicadas na área
rural do município de Passo Fundo (Continuação)
Código
Área Culturas Criação Leite Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite Olaria
Horta
Comerhort
55
12 200
soja
milho
trigo
aveia
- -
bovcr
- ovino - leiti/leitf
- horta
na UPA
56
9 45
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
57
6 33
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leitf - - -
58
5 50
soja
milho
-
aveia
pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
59
3 120
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf olaria horta
na UPA
60
4 260
soja
milho
-
aveia
- pasc
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
-
61
11 11
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
62
19 9
soja
milho
trigo - - -
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
63
8 28
soja
milho
- - - - - suinoi
- - leiti/leitf
- horta
na UPA
64
9 80
soja
- - - - -
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
65
6 40
soja
milho
-
aveia
- -
bovcr
suinoc
ovino - - - horta
na UPA
66
13 278
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoi
ovino - - - horta
na UPA
67
12 90
soja
- -
aveia
- -
bovcr
- ovino - - - horta
na UPA
68
1 330
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
69
25 12,5
soja
- - - pasn
-
bovcr
suinoi
- - - - horta
na UPA
70
13 20
soja
milho
- - - -
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
71
4 167
soja
milho
- aveia
- -
bovcr
suinoc
ovino - - olaria horta
na UPA
72
6 44
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - - -
73
5 28
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
74
13 47
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
75
24 5
soja
- - - - -
bovcr
suinoc
- - leitf - - -
76
3 24
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
77
18 34
soja
milho
- - - pasc
bovcr
- - - leitf olaria - *
78
7 60
soja
- - - pasn
-
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
79
20 56
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
80
19 72
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
- - - - - horta
na UPA
81
15 63 - - - - pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - - -
309
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta por 81 entrevistas aplicadas na área
rural do município de Passo Fundo (Continuação)
Código
Pomar Rendas adicionais Financiamento
Mão-de-Obra Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam
Pomar Rend.ad Apo Financiamento
Familiar Galpão
Trator
Arado
Pulv
Ordenha
1
11 pomar sim apo financiamento m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
2
7 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
3
22 - não não -
m.o.f
- - - - -
4
12 pomar não não -
m.o.f
galpão
- -
pulv
ordenha
5
13 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
6
16 pomar não não financiamento
m.o.f
-
trator
- - -
7
8 - não não -
m.o.f
galpão
trator
arado pulv
-
8
15 pomar sim apo -
m.o.f
- - - - -
9
15 - sim apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
10
21 pomar não não -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
11
3 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
12
7 pomar não apo
financiamento
-
galpão
trator
arado
pulv
-
13
1 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
14
1 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
- - - -
15
45 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
16
6 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
17
8 - não não - -
galpão
trator
arado
pulv
-
18
9 pomar não não financiamento
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
19
14 pomar sim não -
m.o.f
galpão
- - - -
20
23 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
21
11 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
22
10 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
23
7 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
24
23 pomar não * -
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
25
16 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
26
27 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
27
14 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
28
26 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
29
10 - não apo financiamento -
galpão
trator
-
pulv
-
(Continua)
310
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta por 81 entrevistas aplicadas na área
rural do município de Passo Fundo (Continuação)
Código
Pomar Rendas adicionais
Financiamento
Mão-de-Obra
Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam
Pomar Rend.ad Apo Financiamento
Familiar Galpão
Trator
Arado
Pulv Ordenha
30
12 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
31
21 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
32
18 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
33
17 pomar não apo -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
34
14 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
35
10 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
36
5 pomar sim não
financiamento
-
galpão
trator
-
pulv
-
37
2 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
38
15 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
39
11 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
40
10 pomar não não
financiamento
m.o.f
- - - - -
41
14 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv -
42
4 pomar sim apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
43
2 pomar sim apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
44
20 pomar não apo -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
45
16 - sim apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
46
13 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
47
22 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
48
28 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
49
17 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
50
3 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
51
24 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
52
2 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
53
9 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
54
8 - o não -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
55
12 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
-
arado
pulv ordenha
56
9 pomar não apo -
m.o.f
galpão
- - - -
57
6 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
58
5 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
(Continua)
311
APÊNDICE 4 - Tabela dos principais indicadores da base de dados composta por 81 entrevistas aplicadas na
área rural do município de Passo Fundo (Continuação)
Código
Pomar Rendas adicionais Financiamento
Mão-de-Obra Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam
Pomar Rend.ad Apo Financiamento
Familiar Galpão
Trator
Arado
Pulv
Ordenha
59
3 pomar não apo -
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
60
4 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
61
11 - não apo -
m.o.f
galpão
-
arado
pulv
-
62
19 pomar não apo -
m.o.f
-
Trator
arado
pulv
ordenha
63
8 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
Trator
-
pulv
ordenha
64
9 pomar não apo -
m.o.f
galpão
Trator
arado
- -
65
6 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
66
13 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
67
12 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
-
arado
pulv
-
68
1 pomar não apo
financiamento
-
galpão
Trator
arado
pulv
-
69
25 pomar não não -
m.o.f
-
Trator
-
pulv
-
70
13 pomar sim apo -
m.o.f
galpão
Trator
- - -
71
4 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
72
6 pomar não apo -
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
73
5 pomar não * -
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
74
13 - sim não
financiamento
m.o.f
galpão
Trator
-
pulv
-
75
24 - sim apo
financiamento
m.o.f
galpão
- - - -
76
3 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
77
18 - não apo -
m.o.f
galpão
Trator
- - -
78
7 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
79
20 pomar não apo -
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
80
19 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
Trator
arado
pulv
-
81
15 pomar sim não - m.o.f
galpão
-
arado
- -
Observações (Lista de Abreviaturas referentes as Tabelas): Pasn = Pastagem Natural; Pasc = Pastagem Cultivada; Bovicr = Bovino
Cria/Recria; Bovcc = Bovino Ciclo Completo; Suínos = Suíno Criado para Indústria; Suínoc = Suíno Criado para Consumo na Unidade
de Produção Agrícola; Leitf = Leite Familiar; Leiti = Leiteira para Indústria; Comerhort = Comercialização da Horta; Exter =
Comercialização Externa; Na UPA = Consumo na Unidade de Produção Agrícola; Ext e UPF = Comercialização Externa e Consumo na
Unidade de Produção Agrícola; Rend. Ad. = Rendas Adicionais; Apo = Aposentadoria; M.O.F. = Mão-de-Obra Familiar; Pulv =
Pulverizador; Ordenha = Ordenhadeira.
312
APÊNDICE 5 - Sistema de produção hortifrutigranjeiro - Tipo 1
Código Área Culturas Criação Leite
Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite
Olaria
Horta
Comerhort
1 11 5 - milho - aveia
pasn
-
bovcr
- ovino
- leitf - horta
exter
2 7 8,5 - milho - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
exter
3 22 0,5 - - - - - - . . . . . - horta
exter
4 12 3 - - - aveia
pasn
-
bovcr
suinoi
- - leitf - horta
exter
5 13 20 - milho trigo - - -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
exter
6 16 11
soja
milho - - - - - suinoc
- - leitf - horta
exter
7 8 24
soja
milho - - - - - - - - - - horta
exter
8 15 8 - milho - - - - bovcr suinoc
- - leitf - horta
exter
(Continua)
APÊNDICE 5 - Sistema de produção hortifrutigranjeiro - Tipo 1 (Continuação)
Código
Pomar Rendas adicionais
Financiamento Mão-de-Obra
Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam
Pomar Rend.ad Apo Financiamento Familiar Galpão
Trator
Arado Pulv Ordenha
1 11 pomar sim apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
2 7 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
3 22 - não não -
m.o.f
- - - - -
4 12 pomar não não -
m.o.f
galpão
- -
pulv
ordenha
5 13 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
6 16 pomar não não financiamento
m.o.f
-
trator
- - -
7 8 - não não -
m.o.f
galpão
trator
arado pulv -
8 15 pomar sim apo -
m.o.f
- - - - -
Observações (Lista de Abreviaturas referentes as Tabelas) : Pasn = Pastagem Natural; Pasc = Pastagem Cultivada; Bovicr = Bovino
Cria/Recria; Bovcc = Bovino Ciclo Completo; Suínos = Suíno Criado para Indústria; Suínoc = Suíno Criado para Consumo na Unidade de
Produção Agrícola; Leitf = Leite Familiar; Leiti = Leiteira para Indústria; Comerhort = Comercialização da Horta; Exter =
Comercialização Externa; Na UPA = Consumo na Unidade de Produção Agrícola; Ext e UPF = Comercialização Externa e Consumo na
Unidade de Produção Agrícola; Rend. Ad. = Rendas Adicionais; Apo = Aposentadoria; M.O.F. = o-de-Obra Familiar; Pulv =
Pulverizador; Ordenha = Ordenhadeira.
313
APÊNDICE 6 - Sistema de produção aviário - Tipo 2
Código Área Culturas Criação Leite Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite Olaria
Horta
Comerhort
9 15 54
soja
milho
- - - -
bovcr
suinoc
-
aviário
leiti/leitf - horta
na UPA
10 21 30
soja
milho
- - - pasc
bovcr
suinoc
-
aviário
leitf - horta
na UPA
11 3 110 - milho
-
aveia
- pasc
bovcr
- -
aviário
leiti/leitf - horta
na UPA
12 7 22
soja
- -
aveia
pasn
- - - ovino
aviário
- - horta
na UPA
13 1 98
soja
milho
trigo - pasn
-
bovcr
suinoc
-
aviário
leitf - horta
na UPA
14 1 8
soja
milho
- aveia
- -
bovcr
- -
aviário
leitf - horta
na UPA
15 45 45
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
aviário
leitf - horta
na UPA
16 6 15,1
soja
milho
- aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
-
aviário
leitf - horta
na UPA
17 8 100
soja
milho
trigo - - - - - -
aviário
- - - -
18 9 20,5
soja
- - - pasn
- bovcr - -
aviário
leitf - horta
na UPA
Código Pomar Rendas adicionais Financiamento Mão-de-Obra Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam Pomar Rend.ad Apo Financiamento Familiar Galpão
Trator
Arado Pulv Ordenha
9 15 - sim apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
10 21 pomar não não -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
11 3 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
12 7 pomar não apo
financiamento
-
galpão
trator
arado
pulv
-
13 1 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
14 1 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
- - - -
15 45 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv ordenha
16 6 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
17 8 - não não - -
galpão
trator
arado
pulv
-
18 9 pomar não não financiamento m.o.f -
trator
arado
pulv
-
Observações (Lista de Abreviaturas referentes as Tabelas): Pasn = Pastagem Natural; Pasc = Pastagem Cultivada; Bovicr = Bovino Cria/Recria; Bovcc
= Bovino Ciclo Completo; Suínos = Suíno Criado para Indústria; Suínoc = Suíno Criado para Consumo na Unidade de Produção Agrícola; Leitf = Leite
Familiar; Leiti= Leiteira para Indústria; Comerhort = Comercialização da Horta; Exter = Comercialização Externa; Na UPA = Consumo na Unidade de
Produção Agrícola; Ext e UPF = Comercialização Externa e Consumo na Unidade de Produção Agrícola; Rend. Ad. = Rendas Adicionais; Apo =
Aposentadoria; M.O.F. = Mão-de-Obra Familiar; Pulv = Pulverizador; Ordenha = Ordenhadeira.
314
APÊNDICE 7 - Sistema de produção leite - Tipo 3
Código Área Culturas Criação Leite Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite
Olaria
Horta
Comerhort
19 14 29
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
- Leiti/leitf - horta
na UPA
20 23 44
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - Leiti/leitf - horta
na UPA
21 11 15
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - Leiti/leitf - horta
na UPA
22 10 65
soja
milho
-
aveia
- pasc
bovcr
- - - Leiti/leitf - horta
na UPA
23 7 21 - milho
- - pasn
pasc
- - - - Leiti/leitf - horta
na UPA
24 23 29 - milho
- aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino
- Leiti/leitf - horta
-
75 24 5
soja
- - - - -
bovcr
suinoc
- -
Leiti/leitf
- - -
26 27 30
soja
milho
trigo aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - Leiti/leitf olaria horta
na UPA
27 14 40
soja
milho
- - - pasc
- - ovino
- Leiti/leitf - horta
-
61 11 11
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
- -
Leiti/leitf
- horta
na UPA
43 2 8
soja
milho
- aveia
pasn
pasc
bovcr
suinoc
- -
Leiti/leitf
- horta
na UPA
Código Pomar Rendas adicionais Financiamento Mão-de-Obra Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam Pomar Rend.ad Apo Financiamento Familiar Galpão
Trator
Arado Pulv Ordenha
19 14 pomar sim não -
m.o.f
galpão
- - - -
20 23 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
21 11 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
22 10 pomar sim não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
23 7 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
24 23 pomar não *
financiamento
m.o.f
galpão
- - - -
75 24 - sim apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
26 27 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
27 14 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
61 11 - não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
43 2 pomar sim apo -
m.o.f
galpão
-
arado
pulv
-
Observações (Lista de Abreviaturas referentes as Tabelas): Pasn = Pastagem Natural; Pasc = Pastagem Cultivada; Bovicr = Bovino Cria/Recria; Bovcc =
Bovino Ciclo Completo; Suínos = Suíno Criado para Indústria; Suínoc = Suíno Criado para Consumo na Unidade de Produção Agrícola; Leitf = Leite
Familiar; Leiti = Leiteira para Indústria; Comerhort = Comercialização da Horta; Exter = Comercialização Externa; Na UPA = Consumo na Unidade de
Produção Agrícola; Ext e UPF = Comercialização Externa e Consumo na Unidade de Produção Agrícola; Rend. Ad. = Rendas Adicionais; Apo =
Aposentadoria; M.O.F. = Mão-de-Obra Familiar; Pulv = Pulverizador; Ordenha = Ordenhadeira.
315
APÊNDICE 8 - Sistema de produção soja e seu subsistema soja – criação
Código Área Culturas Criação Leite Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite Olaria
Horta
Comerhort
56 9 45
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
57 6 33
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leitf - - -
58 5 50
soja
milho
-
aveia
pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
59 3 120
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf olaria horta
na UPA
60 4 260
soja
milho
-
aveia
- pasc
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
-
63 8 28
soja
milho
- - - - - suinoi
- - leiti/leitf
- horta
na UPA
64 9 80
soja
- - - - -
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
65 6 40
soja
milho
-
aveia
- -
bovcr
suinoc
ovino - - - horta
na UPA
66 13 278
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoi
ovino - - - horta
na UPA
67 12 90
soja
- -
aveia
- -
bovcr
- ovino - - - horta
na UPA
68 1 330
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
69 25 12,5
soja
- - - pasn
-
bovcr
suinoi
- - - - horta
na UPA
70 13 20
soja
milho
- - - -
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
71 4 167
soja
milho
- aveia
- -
bovcr
suinoc
ovino - - olaria horta
na UPA
72 6 44
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - - -
73 5 28
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
74 13 47
soja
- - - pasn
-
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
76 3 24
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
77 18 34
soja
milho
- - - pasc
bovcr
- - - leitf olaria - -
78 7 60
soja
- - - pasn
-
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
79 20 56
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
80 19 72
soja
milho
- - pasn
-
bovcr
- - - - - horta
na UPA
81 15 63 - - - - pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - - -
316
APÊNDICE 8 - Sistema de produção soja e seu subsistema soja – criação (Continuação)
Código Pomar
Rendas adicionais Financiamento o-de-Obra
Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam
Pomar
Rend.ad Apo Financiamento Familiar Galpão Trator
Arado Pulv Ordenha
56 9 pomar
não apo -
m.o.f
galpão
- - - -
57 6 pomar
não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
58 5 pomar
não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
59 3 pomar
não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
60 4 pomar
não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
63 8 pomar
não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
64 9 pomar
não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
65 6 pomar
não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
66 13 pomar
não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
67 12 pomar
não não
financiamento
m.o.f
galpão
-
arado
pulv
-
68 1 pomar
não apo
financiamento
-
galpão
trator
arado
pulv
-
69 25 pomar
não não -
m.o.f
-
trator
-
pulv
-
70 13 pomar
sim apo -
m.o.f
galpão
trator
- - -
71 4 pomar
não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
72 6 pomar
não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
73 5 pomar
não * -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
74 13 - sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
76 3 pomar
não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
77 18 - não apo -
m.o.f
galpão
trator
- - -
78 7 pomar
não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
79 20 pomar
não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
80 19 pomar
não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
81 15 pomar
sim o -
m.o.f
galpão
-
arado
- -
317
APÊNDICE 9 - Sistema de produção soja e seu subsistema soja – cultivos de inverno
Código Área Culturas Criação Leite Olaria
Horta
Ref
Cam
Hectare
Soja
Milho
Trigo
Aveia
Pasn
Pasc
Bovino
Suíno
Ovino
Aviário
Leite Olaria
Horta
Comerhort
29 10 100
soja
milho
trigo aveia
- - - suinoc
- - - - horta
na UPA
30 12 81
soja
milho
trigo - - pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
31 21 45
soja
milho
trigo
aveia
- -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
32 18 98
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
na UPA
33 17 60
soja
milho
trigo
aveia
- -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
34 14 123
soja
milho
trigo - - -
bovcr
suinoc
- - - - horta
na UPA
35 10 100
soja
milho
trigo aveia
- -
bovcr
suinoi
- - - - horta
na UPA
36 5 180
soja
milho
trigo - pasn
pasc
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
-
37 2 220
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
38 15 142
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
39 11 181
soja
milho
trigo
aveia
- - - - - - - - horta
na UPA
40 10 47
soja
- trigo
aveia
- - bovcr - - - - - horta
na UPA
41 14 100
soja
- trigo
aveia
- pasc
- - - - - - - -
44 20 16,5
soja
milho
- - pasn
- - suinoc
- - leitf - horta
na UPA
45 16 14
soja
milho
-
aveia
- pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
46 13 13
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
- ovino - leitf - horta
na UPA
47 22 85
soja
milho
-
aveia
pasn
- - - - - - - horta
na UPA
48 28 126
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
49 17 35
soja
milho
-
aveia
- -
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
50 3 38
soja
milho
- - pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
51 24 30
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf - horta
na UPA
52 2 27
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leitf olaria horta
na UPA
53 9 48
soja
milho
-
aveia
pasn
pasc
bovcr
suinoc
- - leitf olaria horta
na UPA
54 8 26
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
na UPA
55 12 200
soja
milho
trigo
aveia
- -
bovcr
- ovino - leiti/leitf
- horta
na UPA
25 16 100
soja
milho
-
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
ovino - leiti/leitf
- horta
na UPA
28 26 150
soja
milho
trigo
aveia
pasn
-
bovcr
suinoc
- - leiti/leitf
- horta
na UPA
42 4 7
soja
- trigo
aveia
- -
bovcr
suinoc
ovino - leitf - horta
na UPA
62 19 9
soja
milho
trigo - - -
bovcr
- - - leitf - horta
na UPA
318
APÊNDICE 9 - Sistema de produção soja e seu subsistema soja – cultivos de inverno (Continuação)
Código Pomar Rendas adicionais Financiamento
Mão-de-Obra Maquinas e Equipamentos
Ref
Cam
Pomar Rend.ad Apo Financiamento
Familiar Galpão
Trator
Arado
Pulv
Ordenha
29 10 - não apo financiamento -
galpão
trator
-
pulv
-
30 12 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
31 21 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
32 18 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
33 17 pomar não apo -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
34 14 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
35 10 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
36 5 pomar sim o
financiamento
-
galpão
trator
-
pulv
-
37 2 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
38 15 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
39 11 pomar não apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
40 10 pomar não não
financiamento
m.o.f
- - - - -
41 14 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
44 20 pomar não apo -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
-
45 16 - sim apo
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
46 13 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
47 22 pomar sim não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
48 28 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
49 17 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
50 3 pomar não apo financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
-
51 24 pomar não apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
52 2 pomar não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
53 9 pomar não não financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
-
54 8 - não não -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
55 12 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
-
arado
pulv
ordenha
25 16 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
arado
pulv
ordenha
28 26 pomar não não
financiamento
m.o.f
galpão
trator
-
pulv
ordenha
42 4 pomar sim apo -
m.o.f
galpão
trator
arado
- -
62 19 pomar não apo -
m.o.f
-
trator
arado
pulv
ordenha
319
ANEXO1 – Localização geográfica do município de Passo Fundo e da Região do
Planalto Médio do estado do Rio Grande do Sul.
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