119
Educar para o exercício da liberdade
203
e da razão
204
é dever fundamental do Estado e
constitui, para o cidadão, o direito inalienável de ser educado, um direito fundamental que se
sobrepõe, pela importância, a qualquer outro direito.
É urgente educar para a convivência ética, para a liberdade e para a fraternidade, e é
aqui, no campo da fraternidade, que tentaremos ir além dos gregos, “pois o mundo grego é um
mundo aristocrático, quer dizer, um universo que repousa inteiramente na convicção de que
existe uma hierarquia natural dos seres.”
205
É urgente educar para o exercício consciente do livre-arbítrio,
206
pois como bem expõe
Luc Ferry,
A força, a beleza, a inteligência, a memória etc., em resumo, todos os dons
naturais herdados no nascimento, são, com certeza, qualidades, mas não no
plano moral, pois todos podem ser postos a serviço do pior ou do melhor. Se
você utiliza sua força e inteligência ou beleza para realizar o crime mais
abjeto, você demonstra, por esse fato mesmo, que os talentos naturais não
têm absolutamente nada de virtuosos em si.
207
203
Talvez, quem sabe, lográssemos vivenciar, verdadeiramente o sentido de liberdade e o
princípio da liberdade que, em muitas democracias ainda são mais formais que reais. Maria
Garcia chama atenção para o fato, quando notícia que, em muitos países europeus e
Constituições, as liberdades individuais são garantidas mais formalmente do que
materialmente. Sua validez absoluta estará restringida por cláusulas limitativas, de forma que
somente poderão ser exercidas dentro dos limites das leis gerais. (Maria Garcia.
Desobediência civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 288).
204
Spinoza, afirma: “Por vida Humana entendo a que se caracteriza, não pela circulação do
sangue e outras funções comuns a todos os animais, mas pela razão, sobretudo pela virtude e a
verdadeira vida.” (Tratado político. Tradução Norberto de Paula Lima. São Paulo: Ícone,
2005, p 59).
205
Luc Ferry. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007,
p. 91.
206
Luc Ferry lembra, quando fala de ética, liberdade, igualdade e fraternidade que “O que é
moral ou imoral é a liberdade de escolha, o que os filósofos vão chamar de livre-arbítrio, e, de
modo algum, os talentos da natureza enquanto tais. Esse ponto pode lhe parecer secundário ou
evidente...Para falar com clareza: com o cristianismo, saímos do universo aristocrático para
entrar no da meritocracia, quer dizer, num mundo que vai, inicialmente e antes de tudo,
valorizar não as qualidades naturais da origem, mas o mérito que cada um desenvolve ao usá-
las. Assim, saímos do mundo natural das desigualdades parar no mundo artificial, no sentido
em que é construído por nós, da igualdade. Pois a dignidade dos seres humanos é a mesma
para todos, quaisquer que sejam as desigualdades de fato, já que ela repousa, desde então, na
liberdade e não mais nos talentos naturais. A argumentação cristã é ao mesmo tempo simples
e forte. Substancialmente, ela nos diz o seguinte: existe uma prova indiscutível de que os
talentos herdados naturalmente não são intrinsecamente virtuosos, que não têm nada de moral
em si mesmos, e que todos, sem exceção, podem ser utilizados tanto para o bem como para o
mal. (Aprender a viver: filosofia para os novos tempos, p. 92-93).
207
Aprender a viver: filosofia para os novos tempos , p. 91.