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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO: MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
PAULO ELIAS BEDRAN JÚNIOR
A DINÂMICA DE MOTIVAÇÃO NO TRABALHO DOS AGENTES DE
POLÍCIA FEDERAL
Porto Velho
2009
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1
PAULO ELIAS BEDRAN JÚNIOR
A DINÂMICA DE MOTIVAÇÃO NO TRABALHO DOS AGENTES DE
POLÍCIA FEDERAL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação: Mestrado em Administração, Linha de
Pesquisa Controladoria das Organizações, da Fundação
Universidade Federal de Rondônia, como exigência
parcial para obtenção do Título de Mestre em
Administração.
Orientador: Jorge Luiz Coimbra de Oliveira
Porto Velho
2009
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2
FICHA CATALOGRÁFICA
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Ozelina Saldanha
Biblioteca Central / UNIR
Bedran Júnior, Paulo Elias
B413d
A dinâmica de motivação no trabalho dos agentes de polícia federal / Paulo
Elias Bedran Júnior. Porto Velho, Rondônia, 2009.
Dissertação (Mestrado em Administração) Fundação Universidade Federal de
Rondônia / UNIR.
Orientador: Profº. Drº. Jorge Luiz Coimbra Oliveira.
1. Motivação no trabalho 2. Teoria dos dois fatores 3. Gestão de pessoas
I. Oliveira, Jorge Luiz Coimbra. II. Título.
CDU: 658.3
99 f.: il.
3
PAULO ELIAS BEDRAN JÚNIOR
A DINÂMICA DE MOTIVAÇÃO NO TRABALHO DOS AGENTES DE
POLÍCIA FEDERAL
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de Mestre em Administração,
e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação: Mestrado em Administração
(PPGMAD) da Fundação Universidade Federal de Rondônia (UNIR), em 04 de novembro de
2009.
.......................................................................................................................................................
Prof. José Moreira da Silva Neto, Dr. (Coordenador do PPGMAD/UNIR)
Banca examinadora:
.......................................................................................................................................................
Prof. Jorge Luiz Coimbra Oliveira, Dr. (Orientador – PPGMAD/UNIR)
.......................................................................................................................................................
Profª. Maria Berenice Alho da Costa Tourinho, Dra. (Membro interno – PPGMAD/UNIR)
.......................................................................................................................................................
Profª. Maria do Carmo dos Santos, Dra. (Membro externo – NUCH/UNIR)
4
DEDICATÓRIA
A minha esposa Janaína, pela compreensão e cumplicidade com
as quais me acompanha; a minha tia Paula, pela dedicação com a qual
orientou esta pesquisa; aos colegas policiais federais que dedicam
suas vidas à construção de um Brasil mais justo.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Universidade Federal de Rondônia pela
oportunidade de crescimento pessoal ofertada pelo Programa de
Mestrado em Administração, bem como pela oportunidade a mim
conferida de contribuir, ainda que modestamente, para melhoria das
instituições públicas brasileiras;
Agradeço ao professor Jorge Luiz Coimbra de Oliveira, pelo
interesse e esforço dedicado ao desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço a professora Maria Berenice Alho da Costa Tourinho,
pelas contribuições e proposições formuladas na qualificação do
projeto de dissertação, pela bibliografia sugerida, pelos livros
emprestados, pela disponibilidade e pelo apoio.
6
RESUMO
Este trabalho se propôs a diagnosticar e avaliar o grau de satisfação no trabalho dos
agentes de polícia federal, lotados e em exercício na Delegacia Regional Executiva da
Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal em Rondônia
(DREX/SR/DPF/RO), procurando identificar e avaliar os fatores que influenciam a categoria
funcional na motivação no trabalho. Para o melhor entendimento da dinâmica de motivação
da população abordada a pesquisa identificou, através da revisão da literatura, os aspectos
ambientais que influenciam o indivíduo quanto à satisfação no trabalho. Os fatores ambientais
listados pela teoria dos dois fatores, elaborada por Frederick Herzberg, representam o ponto
de partida da pesquisa; tendo a referida teoria da motivação orientado o estudo. Através de um
levantamento, foram diagnosticados os fatores que promovem a implicação do universo
pesquisado na realização do trabalho; técnica de pesquisa que serviu também para avaliar o
grau de motivação dos servidores, e subsidiar a construção de uma escala de importância dos
fatores. a explicação da influência dos fatores ambientais na dinâmica de motivação no
trabalho foi alcançada utilizando-se da análise do conteúdo dos discursos dos policiais
federais a respeito da realidade funcional no órgão. Os resultados auferidos apontam para a
necessidade de o Departamento de Polícia Federal rever suas estratégias de gestão de pessoas,
tendo em vista o baixo grau de satisfação dos policiais, bem como a falta de oferta de fatores
ambientais capazes de estimular a satisfação dos servidores.
Palavras-chave: motivação no trabalho – teoria dos dois fatores – gestão de pessoas
7
ABSTRACT
This study aims to diagnose and assess the degree of satisfaction at work of the federal
agents crowded and exercise at the unit of the Department of Federal Police in Rondônia,
seeking to identify and evaluate the factors that influence the functional category in
motivation at work. For a better understanding of the dynamics of motivating people
addressed the research identified through the literature review, environmental aspects that
influence the individual and the job satisfaction. Environmental factors listed by the theory of
two factors, developed by Frederick Herzberg, represent the starting point for research, and
the theory of motivation that guided the study. Through a survey, we diagnosed the factors
that promote the involvement of the universe surveyed on job performance, research
technique that also served to evaluate the degree of motivation of the servers, and subsidize
the construction of a scale of importance of factors. Since the explanation of the influence of
environmental factors on the dynamics of motivation at work was achieved using the content
analysis of speeches by federal agents about the reality in the functional organ. The results
received indicate the need for the Federal Police Department to review their strategies for
managing people, given the low level of satisfaction of police officers and the shortage of
environmental factors capable of stimulating the satisfaction of the servers.
Keywords: motivation at work - the theory of two factors - people management
8
LISTA DE SIGLAS
CF – Constituição da República Federativa do Brasil
DPF – Departamento de Polícia Federal
DREX/SR/DPF/RO Delegacia Regional Executiva da Superintendência Regional do
Departamento de Polícia Federal em Rondônia
MARE – Ministério da Administração Federal e da Reforma do Estado
NAP – Nova Administração Pública
PDRAE – Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Classificação das afirmativas do questionário.................................................... 28
Figura 2 – Classificação dos aspectos ambientais............................................................... 29
Figura 3 – Posição versus valor de importância.................................................................. 30
Figura 4 – Fatores higiênicos versus fatores motivacionais................................................ 41
Figura 5 – Resultado da avaliação dos fatores motivacionais e higiênicos......................... 66
Figura 6 – Grau de motivação no trabalho........................................................................... 67
Figura 7 – Análise da presença dos fatores motivadores..................................................... 67
Figura 8 – Escala de importância dos aspectos ambientais..................................................
70
Figura 9 – Escala de importância dos fatores.......................................................................
71
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 11
1 A NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.................................................................... 16
2 O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL....................................................... 19
3 METODOLOGIA........................................................................................................... 25
3.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA..................................................................................... 25
3.2 LEVANTAMENTO.......................................................................................................
25
3.3 ANÁLISE DE CONTEÚDO......................................................................................... 30
4 SOBRE A MOTIVAÇÃO.............................................................................................. 35
4.1 AS TEORIAS DA MOTIVAÇÃO NO TRABALHO................................................... 36
4.1.1 Teoria da hierarquia das necessidades....................................................................
37
4.1.2 Teoria X e teoria Y.................................................................................................... 40
4.1.3 Teoria higiene-motivacional de atitudes no trabalho............................................ 41
4.1.4 Teoria ERG................................................................................................................ 45
4.1.5 Teoria das necessidades de McClelland.................................................................. 46
4.1.6 Teoria da avaliação cognitiva...................................................................................
48
4.1.7 Teoria da fixação de objetivos..................................................................................
49
4.1.8 Teoria do reforço....................................................................................................... 51
4.1.9 Teoria da equidade....................................................................................................
53
4.1.10 Teoria da expectação.............................................................................................. 55
4.2 A TEORIA ELEITA PARA BALIZAR A PESQUISA................................................ 57
5 O DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACINAL........................................ 64
5.1 AVALIANDO O AMBIENTE ORGANIZACIONAL................................................. 65
5.2 CONSTRUINDO A ESCALA DE IMPORTÂNCIA DOS FATORES QUE
INFLUENCIAM A MOTIVAÇÃO NO TRABALHO.......................................................
68
6 ANALISANDO O DISCURSO DOS SERVIDORES SOBRE A MOTIVAÇÃO
NO TRABALHO................................................................................................................
73
CONCLUSÃO.................................................................................................................... 84
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 87
OBRAS CONSULTADAS................................................................................................. 93
ANEXO I............................................................................................................................. 97
11
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem por objetivo principal diagnosticar e avaliar o grau de satisfação
no trabalho dos agentes de polícia federal, lotados e em exercício na Delegacia Regional
Executiva da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal em Rondônia
(DREX/SR/DPF/RO), além de explicar os fatores que influenciam a categoria funcional na
motivação no trabalho.
Para alcançar o entendimento da dinâmica de motivação da população abordada a
pesquisa buscou identificar e diagnosticar os fatores que promovem a implicação dos
servidores na realização do trabalho, avaliar o grau de motivação no trabalho, construir a
escala de importância dos fatores, e explicar a influência dos fatores ambientais na dinâmica
de motivação no trabalho.
O projeto que deu origem a esta dissertação partiu de indícios de descontentamento do
quadro de servidores do Departamento de Polícia Federal (DPF) com suas atividades
funcionais. A relevância deste estudo se fundamenta na constatação de que a motivação
influencia diretamente o desempenho e a produtividade, e que a eficiência e ênfase nos
resultados são diretrizes contemporâneas do Estado.
“[...] no Brasil, o número de pesquisas na área de comportamento organizacional em
organizações públicas ainda é bastante reduzido” (MACIEL e SÁ, 2007, p. 64), situação que
justifica o presente estudo também, em função da escassez de pesquisas orientadas para o
estudo da motivação dos servidores públicos brasileiros no trabalho.
Outro aspecto que confere importância à pesquisa diz respeito à influência do clima
organizacional na saúde física e mental do servidor, sendo o ambiente de trabalho responsável
por contribuir para o surgimento das doenças ocupacionais. Estudos importantes (DEJOURS,
1996) apontam para a função decisiva do trabalho na constituição física e psíquica do
indivíduo, podendo o mesmo ser um dos causadores de saúde e doença, como também fonte
de prazer e desprazer, o que nos leva a supor que a motivação no trabalho pode assegurar, em
parte, a saúde física e mental do trabalhador.
Maciel e (2007, p. 63) salientam que a desmotivação no trabalho é capaz de gerar
problemas não para as organizações quanto para as pessoas: “Da parte das pessoas, as
consequências negativas estão ligadas à saúde física e mental, ao stress, ao absenteísmo, à
baixa produtividade e desempenho no trabalho, sem contar a falta de comprometimento com
sua organização” [grifo do autor].
12
Werneck (2008) apresenta alguns resultados auferidos por uma pesquisa sobre clima
organizacional realizada em novembro de 2006 pelo serviço de psicologia do DPF. Ressalta
um trecho do relatório onde o pesquisador afirma que os resultados mostraram-se alarmantes,
pois apresentam, dentre os problemas mais frequentes entre os servidores: estresse,
alcoolismo, depressão, suicídio, síndrome do pânico, doenças cardíacas e uso de drogas.
A sociedade convive atualmente com uma realidade de descrédito em relação às suas
instituições públicas, Rezende (2009, p. 359) explica que a burocracia brasileira se encontra
numa “[...] crise de esgotamento de sua organização, gestão, e modelo de avaliação de
desempenho na provisão de políticas públicas”. Fato que tornam convenientes os estudos
voltados para o interesse de aprimoramento do envolvimento dos protagonistas de tais
instituições na preocupação com a sua posição de responsabilidade ética na condução de sua
prática.
Na delimitação do tema deste trabalho considerou-se não somente a relevância
acadêmica, mas, sobretudo, sua relevância social. A sociedade brasileira atual, imersa em
tantas e tão graves contradições, carece de contribuições científicas voltadas à melhoria da
qualidade de suas instituições, que pode ter como consequência efeitos no bem-estar social.
Da observação do cotidiano no órgão, percebeu-se que os recém chegados ao DPF
para ocupar o cargo de agente de polícia federal, portadores de diploma de nível superior, na
sua maioria entre 25 e 30 anos, interessados em construir uma carreira profissional, perdiam,
rapidamente, a euforia ostentada no ingresso. Intrigante se mostrou a dinâmica deste
fenômeno, bem como a hipótese de manipulá-lo.
Em graus diferentes, os neófitos têm o moral significativamente diminuído com o
passar do tempo o moral definido por Abraham Maslow (1987) como o nível médio de
satisfação ou motivação de uma pessoa. Desta forma, o baixo grau de motivação da categoria
de servidores públicos representa o problema de pesquisa deste estudo.
Ciente dos múltiplos elementos constitutivos do contexto focalizado, nesse trabalho de
dissertação, faz-se necessário ressaltar o desafio da tarefa de analisá-lo, evitando o risco da
simplificação redutora.
A complexidade do problema – a motivação do agente de polícia federal no trabalho –
exige também um pensar complexo. Para Morin (1996, p. 274), na complexidade sempre
estará presente a dificuldade, “Podemos dizer que complexidade onde quer que se produza
um emaranhamento de ações, de interações, de retroações. E esse emaranhamento é tal que
nem um computador poderia captar todos os processos em curso”.
13
Nesse emaranhado de elementos também que se levar em conta, coerente com os
preceitos de ciência contemporânea, a presença legítima do observador naquilo que ele
observa, já que contrariamente à ciência tradicional, a neutralidade do observador é utópica.
Coerente com o pensamento de Morin, a constatação de que não é neutro o recorte
realizado nesta pesquisa está associada ao esforço de se criar um metaponto de vista, na
tentativa de minimizar a situação do pesquisador ser uma parte do todo pesquisado. O prefixo
meta refere-se à transcendência, à reflexão crítica sobre algo. Assim sendo, o metaponto de
vista proposto por Morin representa o alcance do distanciamento necessário à observação de
uma situação para além da parte, o que permite tratar a contradição sujeito/objeto, pois, o
observador torna-se objeto do próprio conhecimento ao se observar observando.
que se ressaltar também que em um sistema de circularidade de relações, no qual
as interações são de um alto nível de complexidade, a busca de culpados é, no mínimo,
simplista e não levaria a nenhum ganho significativo no sentido de avanço para a análise do
problema.
Junto a essa ponderação se associa outra na direção de reconhecer a existência de
pessoas responsáveis e éticas que lutam por uma corporação mais justa e eficiente, a despeito
de todas as dificuldades relatadas nesse trabalho.
Por que estudar a motivação? Motivação representa o conjunto de fatores psicológicos
que agem entre si determinando a conduta de um indivíduo, o ser humano motivado apresenta
maior comprometimento com a organização onde trabalha. De acordo com Stoner e Freeman
(1999, p. 322), “Um administrador pode ser um planejador habilidoso, um tomador de
decisões criterioso e um estudante sagaz da organização e mesmo assim fracassar caso não
possa fazer a conexão humana necessária para motivar os outros”.
Portanto, conhecer a dinâmica de motivação no trabalho de seus colaboradores oferece
a oportunidade da intervenção objetiva no processo de gestão de pessoas visando
compatibilizar a produtividade dos talentos aos objetivos organizacionais. Para Lopes e Regis
Filho (2004), as pesquisas sobre o fenômeno da motivação tornam possíveis tomadas de
decisões mais efetivas, a aplicação do conhecimento gerado implica num melhor
aproveitamento dos recursos disponíveis.
As considerações de trabalhos desta natureza podem auxiliar decisões futuras da
administração pública referentes à gestão de pessoas, contribuindo para melhor orientação da
mesma em prol do cumprimento de um dos seus princípios constitucionais, o da eficiência,
princípio que determina que o administrador público deva fazer o melhor com os recursos que
possui.
14
O alcance das metas organizacionais depende diretamente da motivação dos
colaboradores, tendo em vista representar o processo pelo qual o comportamento é mobilizado
e sustentado (DUBRIM, 2003). Gondim (2004, p. 145) garante que “A premissa é a de que
altos níveis de motivação são capazes de melhorar o desempenho e garantir ganhos de
produtividade”.
Apesar do desempenho e produtividade não representarem o foco direto deste estudo,
não se pode ignorar a influência da motivação nestes aspectos. Dentre os autores das teorias
da motivação é consenso que da motivação do indivíduo no trabalho depende seu
engajamento na instituição; comprometimento este que se traduz em melhores resultados.
Além do mais, conforme preceitua Rezende (2009, p. 362), as “Reformas gerenciais da
Administração Pública sugerem o gradual movimento em direção a uma gica de
organização orientada pela performance” [grifo nosso].
Destarte, a eficácia das instituições depende da compreensão dos fatores que
determinam o processo de motivação das pessoas. A motivação é uma função gerencial;
apesar de habitar o interior dos indivíduos, pode ser significativamente influenciada por
fatores extrínsecos ou pelo próprio trabalho em si.
Apesar da unidade de pesquisa estar contida numa regional do órgão, as sínteses
obtidas podem ser consideradas no norteamento da gestão de pessoal do DPF, pois, o universo
analisado em muito se assemelha às demais regionais. Além disso, quando da tentativa de
esclarecer a realidade funcional do órgão, a pesquisa considerou o discurso de servidores
lotados em diversas localidades do país, o que conferiu às inferências alcançadas o caráter de
universalidade.
O beneficiário primário deste estudo é a Polícia Federal, tendo em vista a possibilidade
de influir na satisfação de seus servidores no trabalho. No entanto, considerando-se a
importância do órgão para a sociedade brasileira contemporânea, as inferências alcançadas
pela pesquisa poderão contribuir para a melhoria das suas atividades junto aos cidadãos
brasileiros.
Tendo em vista a riqueza do universo interior dos seres humanos e a participação desta
subjetividade na determinação da conduta individual, depreende-se que não há que se falar em
princípio universal que explique a dinâmica motivacional; para Tachizawa (2001, p. 245) “O
processo motivacional é demasiado complexo para ser explicado por uma única teoria”.
Segundo Wagner III e Hollenbeck (2003, p. 88) “Há muitas teorias diferentes sobre a
motivação para o trabalho, a maioria delas compartilhando alguns elementos em comum”
15
[grifo do autor]; Robbins (2002) corrobora este entendimento ao destacar que – dentre as mais
influentes – a maioria não compete entre si, são complementares.
Considerando que diversas são as teorias que buscam explicar a problemática que
envolve a motivação no trabalho, a pesquisa iniciou-se pela revisão da literatura; as diversas
teorias foram avaliadas e confrontadas entre si, tendo como orientação do estudo a obtenção
do conteúdo teórico necessário à condução da pesquisa de campo.
Em seguida, balizado pelo referencial teórico eleito pela pesquisa bibliográfica, foi
realizado um levantamento com intuito de diagnosticar o ambiente organizacional. Por fim, na
busca de explicar a influência dos fatores ambientais no processo de satisfação dos servidores,
bem como os resultados obtidos pelo levantamento, foi analisado o conteúdo dos discursos
dos servidores policiais federais a respeito da realidade funcional do órgão, sendo utilizado
como método de pesquisa a análise de conteúdo.
Tendo em vista a pesquisa realizada estar em consonância com os pressupostos
contemporâneos em relação à gestão pública, o primeiro capítulo se dedica a caracterizar a
Nova Administração Pública (NAP), bem como suas origens no Brasil e suas relações com a
gestão de pessoas.
O segundo capítulo trata do Departamento de Polícia Federal, da caracterização da
instituição pública e da dinâmica de trabalho de seus servidores. O assunto mereceu tal
destaque, pois, por representar o local onde foi desenvolvida a pesquisa, o entendimento de
seus atributos, de suas atribuições e de sua organização tornou-se imprescindível ao
desenvolvimento da pesquisa.
Na sequência encontra-se o capítulo destinado à apresentação da metodologia, onde
estão explicadas todas as ações desenvolvidas no caminho do trabalho de pesquisa: os tipos de
pesquisa, o instrumental utilizado, o universo abordado, o processo de construção do
instrumento de coleta de dados, etc.
O quarto capítulo apresenta a sistematização alcançada através da revisão da literatura
que versa sobre a motivação no trabalho. Além da conceituação da motivação, estão
apresentadas as principais teorias da motivação, o motivo da escolha da teoria que balizou a
pesquisa, bem como a avaliação prévia de sua aplicabilidade à instituição estudada.
Os resultados auferidos pelo levantamento e pela análise de conteúdo estão apresentados
nos capítulos subsequentes. O diagnóstico do ambiente organizacional e a escala de
importância dos fatores ambientais, auferidos pelo levantamento, serão discutidos no capítulo
5; enquanto as inferências obtidas pela análise de conteúdo, no capítulo 6.
16
1 A NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A administração pública vem sendo repensada, não no Brasil como no mundo. Os
padrões vigentes e as limitações impostas por estes às atividades desempenhadas pelas
organizações públicas deixam clara a necessidade de redirecionamento das práticas
organizacionais (SARAIVA, 2002). O conjunto de novos paradigmas gerenciais teorizados
no intuito de modernizar a gestão pública tem sido rotulado por diversos autores como Nova
Administração Pública (NAP). No Brasil, desde meados da cada passada a administração
pública gerencial passou a representar referência quanto a modelo de gestão. Portanto, a
proposta desta dissertação mostra-se em consonância com as diretrizes governamentais
contemporâneas.
Em novembro de 1995, o então presidente da República Federativa do Brasil,
Fernando Henrique Cardoso, aprova o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado
(PDRAE). Elaborado pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado
(MARE), trata-se de um plano que define objetivos e estabelece diretrizes para a reforma da
administração pública brasileira.
De acordo com Faller (2004, p. 15-16), o PDRAE “[...] descreveu o que viria a ser o
novo modelo da nova administração pública brasileira” [grifo nosso]. A reforma proposta
representa a primeira tentativa de introdução da cultura e das técnicas gerenciais modernas na
administração pública, tendo por objetivo o aumento da qualidade e eficiência dos serviços
públicos. A administração pública gerencial passa a ser o novo modelo a ser adotado, cujos
alicerces são os modernos conceitos de administração e eficiência.
No prefácio, o presidente ressalta a necessidade de se reorganizar as estruturas da
administração com foco na qualidade e produtividade do serviço público, e na
profissionalização do servidor. Afirma que a restauração da criatividade, da responsabilidade,
da dignidade e da motivação profissional do servidor público depende de sua valorização.
Um dos motivos apontados como responsáveis pela crise do Estado é a superação da
forma de administrar o Estado, isto é, a superação da administração pública burocrática.
Voltada para si própria e para o controle interno, considerada rígida e ineficiente, a
administração pública burocrática se distanciou de sua missão principal, que é servir à
sociedade.
A administração pública gerencial representa a nova forma de gestão da res publica,
que vem atender as demandas contemporâneas do Estado. O novo modelo de gestão
representa um avanço em relação a sua antecessora a administração pública burocrática.
17
Avanço, pois, apóia-se na anterior, embora flexibilizando alguns de seus princípios
fundamentais, como a admissão segundo critérios de mérito, a existência de um sistema
estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de desempenho, o
treinamento sistemático.
O paradigma gerencial contemporâneo diferencia-se pela forma de controle, que deixa
de se concentrar nos processos, para dar ênfase aos resultados; fundamenta-se nos princípios
da confiança e da descentralização da decisão, exige formas flexíveis de gestão,
horizontalização de estruturas, descentralização de funções, incentivos à criatividade.
O PDRAE traz um diagnóstico da administração de recursos humanos, onde ressalta a
ausência de uma política adequada às necessidades do aparelho do Estado. Reconhece que os
administradores públicos carecem de instrumentos para motivar seus funcionários, e que a
administração de recursos humanos necessita de um sistema de incentivos para o profissional.
Destaca, ainda, ser explícita a ausência de uma política de formação, capacitação
permanente e de remuneração condizente com a valorização do exercício da função pública.
Define como superados os modelos de seleção, avaliação, promoção e treinamento. Afirma
que a rigidez do modelo burocrático dificulta a adoção de mecanismos de gestão de recursos
humanos fundamentados em princípios de valorização pelo efetivo desempenho profissional.
Realidade confirmada por Pires (2009), segundo o qual o Estado convive com
significativa insatisfação do servidor público. A incapacidade do modelo vigente em transferir
valor às tarefas e a forma de seleção são apontadas como origens do problema. O servidor,
além da necessidade de visualizar o resultado de seu trabalho, precisa ter desafios
profissionais que o estimulem.
Lopes e Regis Filho (2004, p. 63) ressaltam a necessidade de o gestor público
reconhecer a importância do ser humano nas organizações, afirmam que o desenvolvimento e
a modernização da máquina pública dependem de “[...] esforços no sentido de propiciar um
ambiente salutar e livre de pressões políticas, interesses particulares ou de grupos [...]”; para
tanto, destacam a relevância das políticas de gestão de pessoas, pois, influenciam diretamente
o comportamento dos indivíduos.
A Direção-Geral do DPF tem demonstrado estar ciente e desperta para esta
problemática, que não é exclusiva do universo recortado nesta pesquisa, mas comum às
instituições públicas em geral. Em fevereiro deste ano, o dirigente máximo do órgão, em
mensagem oficial dirigida aos servidores da Polícia Federal, afirmou que esforços têm sido
despendidos no intuito de implementar um programa de modernização da gestão visando a
18
excelência na gestão de pessoas. Destaca que uma das principais metas almejadas é a
adequação dos recursos humanos às atribuições do órgão.
Portanto, a oportunidade de contribuir, ainda que modestamente, para o
aprimoramento das políticas de gestão de pessoas do DPF representou o motivo de ser deste
estudo. A pesquisa, ao confrontar a administração de recursos humanos do DPF a partir da
visão do servidor – com os pressupostos teóricos da administração, identificou algumas
disfunções do modelo vigente. As inferências auferidas podem representar um ponto de
partida para o órgão alinhar sua gestão aos pressupostos gerenciais modernos, de forma a
atingir o cumprimento do dever constitucional de zelar pela eficiência de seus serviços.
19
2 O DEPARTAMENTO DE POLÍCIA FEDERAL
Este capítulo se destina à caracterização do Departamento de Polícia Federal e da
dinâmica de trabalho no órgão; por representar o lócus onde foi desenvolvida a pesquisa, sua
estrutura organizacional constitui matéria prima do estudo.
O DPF é um órgão blico subordinado ao Ministério da Justiça, cuja função, de
acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil (CF) de 1988, é garantir a
segurança pública. Dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, a segurança pública
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio.
De acordo com o artigo 144, § da Constituição Federal, a Polícia Federal é
instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira. Atua, assim, na clássica função institucional de polícia. Ainda de acordo com o
mesmo, são funções adicionais da Polícia Federal: apurar infrações penais contra a ordem
política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme; prevenir e reprimir o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho; exercer as funções de polícia
marítima, aeroportuária e de fronteiras; exercer, com exclusividade, as funções de Polícia
Judiciária da União.
A sede da Polícia Federal situa-se na capital federal, havendo unidades
(superintendências) em todas as capitais dos estados da federação e delegacias e postos
avançados noutras localidades do país. Com área de atuação que abrange todo território
nacional, o DPF conta com coordenações e divisões técnicas e de apoio, em Brasília,
incumbidas das tarefas de planejamento, coordenação e controle; para as atividades de
execução, dispõe de 27 Superintendências Regionais.
Dentre os cargos que compõem a carreira policial federal, temos o de agente de
polícia federal, categoria funcional que representa o objeto de estudo desta pesquisa. O anexo
à Portaria 523/89 do Ministério do Planejamento, de 28 de julho de 1989, publicado no Diário
Oficial da União, número 144, de 31 de julho de 1989, traz como atribuições do agente de
polícia federal, dentre outras, as seguintes:
1. Investigar atos ou fatos que caracterizem ou possam caracterizar infrações penais;
20
2. Auxiliar na reunião de dados e na instrução de procedimentos relacionados com
assuntos da área policial;
3. Executar todas as atividades necessárias à prevenção e repressão de infrações penais da
competência do Departamento de Polícia Federal;
4. Proceder à busca de dados necessários ao plano de informações do Departamento de
Polícia Federal;
5. Canalizar dados para os setores de produção de conhecimentos de informações;
6. Executar todas as tarefas necessárias à identificação, ao arquivamento, à recuperação, à
produção e ao preparo de documentos de informações;
7. Executar atividades necessárias ao desempenho do estabelecimento de ensino policial e
auxiliares na gerência e administração dos meios e recursos do DPF;
8. Executar as medidas de segurança orgânica.
Considerando a importância da carreira para os estudos da motivação, torna-se
imprescindível a devida análise dos aspectos que envolvem sua estruturação no DPF; pois,
dela depende a implementação efetiva das proposições da Nova Administração Pública
como a descentralização das decisões e delegação de poder (REZENDE, 2009).
Para compreensão da problemática que envolve a discussão sobre a carreira no DPF,
relevante se faz conhecer um pouco da estrutura do órgão. A administração pública difere da
gestão das organizações privadas, pois, o princípio da legalidade limita a atuação do gestor
público. O presente estudo encontra-se orientado pelos pressupostos das ciências da
administração, no entanto, nota-se que em determinadas ocasiões a dissertação assume
discussões próprias das ciências jurídicas, pois, a análise do ordenamento legal, por vezes
apresentou-se imprescindível à contextualização do modelo de gestão determinado às
instituições públicas brasileiras.
As diretrizes que obrigam a administração blica nem sempre se esgotam na
legislação propriamente dita; as lacunas deixadas pelas normas jurídicas são preenchidas pela
doutrina e pelas jurisprudências, momento no qual passam a habitar a ordem legal vigente.
A carreira policial federal e seus cargos foram criados em 1985, pelo decreto-lei n
o
2.251. Os cargos, também chamados de categorias funcionais, foram divididos em classes; de
acordo com o artigo da referida norma jurídica: Classe, Classe e Classe Especial.
Assim sendo, o candidato aprovado em concurso público, quando investido no cargo, passou
a ocupar a classe inicial (2ª Classe) do cargo específico. Através do instituto da progressão
funcional, o policial avança para a classe seguinte.
21
João Batista de Abreu, ministro do planejamento no governo José Sarney de 1988 a
1990, ratificou a norma que definiu as características das classes pertinentes às categorias
funcionais da carreira policial federal através da Portaria n
o
523/89 do Ministério do
Planejamento, publicada no Diário Oficial da União, número 144. Desde sua publicação, a
norma encontra-se vigente e as atribuições dos cargos permanecem inalteradas.
Em 15 de março de 1996, o então presidente da república em exercício, Marco
Antônio de Oliveira Maciel, sanciona a lei n
o
9.266, reorganizando as classes da Carreira
Policial Federal em: Delegado de Polícia Federal, Censor Federal, Perito Criminal Federal,
Agente de Polícia Federal, Escrivão de Polícia Federal e Papiloscopista Policial Federal. O
cargo de censor federal foi extinto em 1998, pela lei n
o
9.688, sendo seus ocupantes
enquadrados noutros cargos da mesma carreira.
Desde a publicação da lei n
o
9.266, em 18 de março de 1996, passou-se a exigir
diploma de conclusão de curso superior em nível de graduação ao candidato a cargo da
carreira policial federal, no entanto, a hoje, apenas os cargos de perito e delegado são
considerados formalmente cargos de nível superior pela norma jurídica que os definem.
No dia 14 de janeiro de 2005 foi publicada a lei n
o
11.095, sancionada pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, a qual, dentre outras medidas, reorganiza as classes da carreira
policial federal. Em síntese, a lei cria uma quarta classe, passando, o ingresso nos respectivos
cargos, a ser feito sempre na terceira classe. No entanto, esta nova classe permanece sem
atribuições e características definidas até os dias atuais.
Para o melhor entendimento da conceituação da carreira no serviço público tomemos
como referência a ementa do acórdão refente à Ação Direta de Inconstitucionalidade n
o
231,
na qual o relator Moreira Alves, ministro do Supremo Tribunal Federal, explica que:
O critério do mérito aferível por concurso público de provas ou de provas e
títulos é, no atual sistema constitucional, ressalvados os cargos em comissão
declarados em lei de livre nomeação e exoneração, indispensável para cargo ou
emprego público isolado ou em carreira. Para o isolado, em qualquer hipótese; para
o em carreira, para o ingresso nela, que se fará na classe inicial e pelo concurso
público de provas ou provas e títulos, não o sendo, porém, para os cargos
subseqüentes que nela se escalonam até o final dela, pois, para estes, a investidura
se fará pela forma de provimento que é a “promoção”.
Depreende-se da explicação da corte maior que carreira compreende o escalomento de
cargos, no qual o ingresso ocorre apenas pela classe inicial, por concurso público e, cujo
alcance dos cargos subsequentes acontece somente através da promoção. Portanto, carreira
representa a sucessão de cargos, estruturados em níveis de acordo com sua natureza,
22
complexidade das atribuições e grau de responsabilidade; cargo, por sua vez, representa o
conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades específicas cometidas a um servidor.
Como exemplo de carreira devidamente estruturada temos a Policial Rodoviário
Federal, visto que, dentre os órgãos públicos, representa o que mais semelhanças tem com o
DPF. Além da natureza policial, a Polícia Rodoviária Federal, assim como o DPF, de acordo
com a CF/88, é um órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em
carreira; os servidores de ambos são considerados servidores públicos civis da União, regidos
pela lei n
o
8.112, de 11 de novembro de 1990.
De acordo com a lei n
o
11.784/08 a qual dispõe sobre a reestruturação do Plano
Geral de Cargos do Poder Executivo a Polícia Rodoviária Federal é composta do cargo de
policial rodoviário federal, estruturada, em ordem decrescente de hierarquia funcional, nas
classes de Inspetor, Agente Especial, Agente Operacional e Agente; sendo a investidura na
carreira na classe de Agente, onde seu titular permanece até obter o direito à promoção à
classe subsequente, e assim por diante, conforme regulamentação específica.
A Constituição Federal prevê, em seu artigo 39, § 2º, a promoção na carreira como
forma de desenvolvimento funcional no serviço público, visto que, diz respeito à passagem
entre cargos de uma mesma carreira. Bandeira de Mello (2004, p. 282) conceitua promoção
como forma de provimento derivado vertical. Provimento corresponde à designação de
alguém a ocupar determinado cargo público, no caso da promoção, é classificado como
derivado vertical, pois, através dele “[...] o servidor é guindado para cargo [...] mais alto
dentro da própria carreira”, sendo utilizados para tanto os critérios merecimento e
antiguidade. Meirelles (2001, p. 78) explica que a promoção “[...] se faz por seleção interna
pelo sistema de mérito e tempo no serviço, na forma estatutária”.
O doutrinador refere-se ao estatuto como norma competente por regulamentar a
referida modalidade de provimento, portanto, depreende-se que dele também dependa a
determinação do trâmite entre os cargos de uma carreira. Estatuto representa a lei orgânica
que determina os princípios que regem uma organização; entenda-se lei no sentido amplo, ou
seja, qualquer norma jurídica. A lei n
o
11.095/95 delegou ao Poder Executivo a tarefa de
regulamentar os requisitos e condições de progressão e promoção na carreira policial federal,
todavia, a determinação legal ainda não foi cumprida.
Em síntese, a Polícia Federal, conforme preceitua a CF/88, é um órgão estruturado em
carreira (no singular); por sua vez, a lei n
o
9.266/96 define os cargos que compõem a carreira
policial federal: Delegado de Polícia Federal, Censor Federal (extinto pela lei n
o
9.688/98),
Perito Criminal Federal, Agente de Polícia Federal, Escrivão de Polícia Federal e
23
Papiloscopista Policial Federal. Cada cargo apresenta suas atribuições e características
definidas pela Portaria n
o
523/89 Ministério do Planejamento, porém, a falta de norma legal
que regulamente o plano de carreira faz com que inexista hierarquia formal determinada entre
os respectivos cargos.
Avaliando os pressupostos legais apresentados, pode-se deduzir a inexistência da
aplicação do instituto promoção funcional no DPF; quando investido no cargo para o qual
se candidatou – o neófito passa a ocupar a classe inicial do respectivo cargo, com o passar dos
anos, o servidor avança pelas classes (progressão funcional) até a última classe do mesmo
cargo, e só.
No serviço público brasileiro existem dois tipos de cargos, distintos quanto à forma de
provimento: os de caráter efetivo e os comissionados. A ocupação de um cargo público
efetivo depende da aprovação em concurso público; enquanto, o preenchimento de um cargo
em comissão é de livre nomeação.
Os cargos de chefia, direção e assessoria do DPF são exclusivamente comissionados,
via de regra, preenchidos por servidores ocupantes de cargo efetivo da carreira policial
federal, que deixam, temporariamente, de ocupar o cargo efetivo para assumir o cargo de
confiança, nome pelo qual também é tratado o cargo de livre nomeação. Portanto, as chefias
no órgão são definidas por decisões políticas, numa sequência hierárquica onde o diretor-
geral, que é nomeado pelo Ministro da Justiça, nomeia os Superintendentes Regionais e assim
por diante.
A falta de definição da estrutura organizacional parece ser comum a outros órgãos
públicos; ao avaliar a gestão de recursos humanos da administração pública brasileira, Torres
(2007, p. 200) afirma que para muitas carreiras a estruturação encontra-se inconclusa, “[...]
causando aflição, angústia e desmotivação entre os servidores que chegaram recentemente à
administração pública”.
O DPF tem como função primeira a atribuição de polícia judiciária da União, portanto,
seu objetivo maior é apurar os crimes cometidos em desfavor da União. A apuração de um
crime cometido no Brasil é realizada, quando pela polícia, através de um procedimento
administrativo informativo denominado inquérito policial. A legislação brasileira determina
que o delegado de polícia presida o inquérito policial.
O fato do delegado de polícia ser o responsável legal pelo procedimento
administrativo informativo, aliado à ausência de dispositivo legal estruturando a carreira
policial federal, gerou uma cultura organizacional onde os cargos de direção e chefia de
livre nomeação – são ocupados, em sua maioria, por delegados.
24
Toda esta problemática que caracteriza a estrutura organizacional do Departamento de
Polícia Federal exerce influência direta no processo motivacional dos seus servidores, o que
será demonstrado no decorrer do trabalho.
25
3 METODOLOGIA
Para o melhor entendimento da dinâmica de motivação da população abordada o
estudo teve início com uma pesquisa bibliográfica, onde foram identificados os aspectos
ambientais que influenciam o indivíduo quanto à satisfação no trabalho. Em seguida, através
de um levantamento, foram diagnosticados os fatores que promovem a implicação do
universo pesquisado na realização do trabalho; técnica de pesquisa que serviu também para
avaliar o grau de motivação dos servidores, e subsidiar a construção de uma escala de
importância dos fatores. a explicação da influência dos fatores ambientais na dinâmica de
motivação no trabalho foi alcançada utilizando-se da análise do conteúdo dos discursos dos
policiais federais a respeito da realidade funcional no órgão.
3.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Predominantemente exploratória, a pesquisa bibliográfica compreendeu a revisão
teórica e conceitual do assunto-tema. Segundo Gil (2007, p. 44), a pesquisa bibliográfica é
“[...] desenvolvida com base em material elaborado, constituído principalmente de livros e
artigos científicos”. O autor complementa ainda que o instrumental analítico fornecido pela
pesquisa bibliográfica pode subsidiar qualquer outro tipo de pesquisa. Nesta primeira etapa foi
realizado um estudo direcionado das fontes bibliográficas que dissertam sobre o problema
pesquisado e, teve por objetivo fornecer o conteúdo teórico necessário à condução da pesquisa
de campo.
3.2 LEVANTAMENTO
Valendo-se dos pressupostos teóricos eleitos na revisão da literatura, foi realizado um
levantamento com intuito de diagnosticar os fatores que promovem a implicação dos
servidores pesquisados na realização do seu trabalho, e avaliar o seu grau de motivação no
trabalho, utilizando-se de um questionário (anexo I).
De acordo com Gil (2007, p. 50), o levantamento caracteriza-se “[...] pela interrogação
direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer”. O procedimento técnico eleito
tem por objetivo avaliar a realidade à luz dos pressupostos teóricos sobre o problema. O
questionário, segundo Siena (2006, p. 56), “[...] é um instrumento contendo questões para
respostas escritas do informante sem a presença do pesquisador”.
26
A técnica de pesquisa e o instrumento de coleta atenderam ao objetivo de avaliar o
universo através de técnicas estatísticas, o que conferiu cunho quantitativo à etapa do estudo.
O inquérito foi construído através de questionário e posteriormente aplicado ao universo
pesquisado. A teoria higiene-motivacional de atitudes no trabalho balizou o desenvolvimento
desta fase do estudo.
De acordo com o mapa de controle de lotação, a Delegacia Regional Executiva
contava no período em que foi realizado o levantamento julho de 2008 com o efetivo de
33 agentes de polícia federal em exercício. Destes, 29 participaram da pesquisa respondendo
aos questionários, 3 não responderam por opção ou por não se encontrarem na lotação, 1 se
absteve por ser o autor do trabalho.
Em síntese, a teoria que norteou a construção do instrumento de coleta apresenta dois
grupos de fatores que se relacionam diretamente com a motivação e a satisfação no trabalho; a
partir dos fatores enumerados pela teoria dos dois fatores, foram construídas afirmativas
relacionadas ao trabalho dos inquiridos.
Contribuíram para adequar as afirmativas textualmente, à realidade funcional do
universo pesquisado, as inferências obtidas do discurso dos próprios servidores policiais
federais. Nesta etapa, o pesquisador valeu-se do conteúdo dos textos que, naquele instante,
estavam sendo selecionados para compor o corpus a ser submetido à análise de conteúdo.
Embora a intenção da seleção dos referidos artigos fosse subsidiar a análise de
conteúdo, realizada posteriormente, com objetivo de explicar os resultados auferidos por esta
etapa, a avaliação primeira deste material acabou por contribuir na elaboração do
questionário.
Foi possível extrair desta análise preliminar considerações relevantes, pois, o conteúdo
submetido à avaliação foi retirado do arquivo de publicações do sítio da Federação Nacional
dos Policiais Federais (FENAPEF), os quais continham manifestações, dissertações e
desabafos de policiais – lotados por todo Brasil – acerca da realidade funcional no DPF.
Da leitura destes textos foram observadas afirmações que se repetiam com
considerável frequência: a subutilização dos policiais, tendo em vista a inadequação das
atribuições à formação dos mesmos; a falta de valorização profissional; a ausência de
reconhecimento efetivo pelas realizações; a percepção de ilegitimidade na estrutura
organizacional imposta pelo órgão; a falta de perspectiva de crescimento profissional e
ascensão funcional (para alguns cargos); a falta de lideranças autênticas; o sentimento da
inexistência de equidade nos processos de remoção; a sensação de pessoalidade na
distribuição de viagens e vagas em eventos de capacitação; a existência de um DPF dividido,
27
onde detentores do poder se valem de suas prerrogativas para intimidar a livre manifestação
do pensamento dos subordinados; a falta de condições razoáveis de trabalho; a necessidade de
modernizar procedimentos policiais.
O pré-teste, realizado com intuito de avaliar a eficácia do instrumento de coleta de
dados, mostrou que a adequação textual foi alcançada; não foram identificadas quaisquer
dúvidas em relação ao entendimento do texto do questionário, tão pouco, relativas ao
preenchimento do mesmo.
Cinco escrivães de polícia federal, em exercício no mesmo ambiente organizacional da
população alvo, participaram do pré-teste. Assim foi determinado, pois, como se tratava de
um censo, apresentar o instrumento de pesquisa previamente ao universo abordado
comprometeria os resultados da pesquisa. Visto que, aquele que contribuísse com o pré-teste,
necessariamente responderia o questionário novamente, após as devidas alterações sugeridas
pela avaliação. A escolha dos escrivães se justifica por representarem categoria funcional
cujas características do cargo mais se aproximam das do cargo de agente de polícia.
Aos pesquisados foi solicitada a avaliação de doze afirmativas. Considerando a
realidade do trabalho, cada qual manifestou seu nível de concordância com cada afirmação;
tendo sido utilizada, para tanto, escala tipo Likert, com as seguintes opções de resposta: 1.
discordo totalmente; 2. discordo; 3. concordo; 4. concordo totalmente.
Neste tipo de escala bipolar, usualmente são utilizados cinco níveis de respostas; no
entanto, no instrumento de coleta de dados construído para esta pesquisa foram usados apenas
quatro itens, visando forçar o sujeito pesquisado a uma escolha positiva ou negativa, uma vez
que a opção central (indiferente) foi suprimida.
O questionário, ao solicitar ao pesquisado que classificasse cada uma das 12
afirmativas, de acordo com a concordância com a mesma, considerando a realidade de seu
trabalho, representou instrumento capaz de apontar se o fator avaliado estava presente no
ambiente organizacional em escopo, conforme será demonstrado na análise dos resultados.
Herzberg (1997) apresenta como fatores motivadores: as execuções, o
reconhecimento pelas execuções, o trabalho em si, responsabilidade e crescimento ou
progresso; e como fatores higiênicos: a política e administração da empresa, a supervisão,
os relacionamentos interpessoais, a vida pessoal, as condições de trabalho, o salário, o
status e a segurança.
No intuito de demonstrar que o questionário aplicado estava coerente com a teoria de
Herzberg, as afirmativas foram previamente classificadas segundo os fatores apresentados
pela teoria dos dois fatores. As afirmativas foram vinculadas ao fator a que mais se
28
relacionam e, em seguida, reunidas de acordo com o grupo de fatores ao qual pertencem
(figura 1).
Afirmativas Fatores
Tenho um trabalho desafiador e interessante O trabalho em si/Execuções
Tenho o devido reconhecimento pelo trabalho que realizo
Reconhecimento pelas
execuções
Meu trabalho me oferece oportunidades de progresso na carreira Progresso/Carreira
Tenho autonomia e responsabilidade no meu trabalho Responsabilidade/Autonomia
Minhas atividades funcionais me proporcionam oportunidades de
crescimento pessoal.
Crescimento
Fatores Motivacionais
Meu trabalho condiz com minha qualificação profissional O trabalho em si/Execuções
Sinto-me seguro contra arbitrariedades
Segurança
Tenho bom relacionamento com meus superiores hierárquicos Relacionamentos interpessoais
Tenho uma vida pessoal satisfatória Vida pessoal
Meu trabalho me proporciona prestígio/status
Status
Tenho boas condições de trabalho Condições de trabalho
Fatores Higiênicos
Os regulamentos e políticas organizacionais do DPF são isonômicos Políticas organizacionais
Figura 1: Classificação das afirmativas do questionário.
Em seguida, utilizando-se da mesma escala Likert modificada, o instrumento de coleta
questiona o pesquisado sobre como avalia o seu próprio grau de motivação no trabalho. O
questionário limitou-se às seguintes opções de resposta: 1. desmotivado; 2. pouco motivado;
3. motivado; 4. muito motivado. Esta etapa do questionário buscou coletar dados capazes de
gerar informações suficientes a indicar o grau de motivação dos servidores pesquisados.
A última parte do questionário foi elaborada com intuito de subsidiar a construção da
escala de importância dos fatores ambientais. No pré-teste foi solicitada a avaliação de doze
aspectos ambientais quanto ao grau de importância; tendo sido utilizada, para tanto, escala
tipo Likert, com as seguintes opções de resposta: 1. sem importância; 2. pouco importante;
3. importante; 4. muito importante.
Como nas demais partes do instrumento de coleta de dados, foram usados apenas
quatro níveis de resposta, visando forçar o sujeito pesquisado a uma escolha positiva ou
negativa, uma vez que a opção central (indiferente) foi suprimida.
29
A cada aspecto ambiental seria atribuído o valor correspondente à opção do
pesquisado; os valores atribuídos a cada aspecto seriam somados, e os resultados ordenados
decrescentemente de forma a construir a escala de importância dos fatores.
Porém, os resultados da avaliação do instrumento de coleta apontaram para a
necessidade de alterações. Foram aplicados cinco questionários, onde quase a totalidade das
respostas estavam compreendidas entre as opções 3 e 4 (importante ou muito importante). O
instrumento de coleta, apesar de demonstrar a capacidade de confirmar a importância dos
fatores para o indivíduo na organização, mostrou-se incapaz de subsidiar a construção da
escala pretendida, pois, o objetivo do trabalho é diferenciar os fatores avaliados quanto ao
grau de importância.
Reformulado, o questionário passou a solicitar aos pesquisados que ordenassem os
fatores em ordem decrescente de importância; passando a representar instrumento capaz de
auferir o grau de importância percebida pelo indivíduo, conforme será demonstrado na análise
dos resultados.
No intuito de demonstrar que o questionário aplicado estava coerente com a teoria dos
dois fatores, os aspectos ambientais foram previamente classificados segundo os fatores
propostos por Herzberg. Cada aspecto foi vinculado ao fator a que mais se relaciona e, em
seguida, reunido ao grupo de fatores ao qual pertence (figura 2).
Aspectos Ambientais Fatores
Um trabalho desafiador e interessante O trabalho em si/Execuções
Oportunidade de crescimento pessoal por meio do exercício das
atividades funcionais
Crescimento
Reconhecimento e apreço pelo trabalho que realiza
Reconhecimento pelas
execuções
Oportunidade de progresso na carreira Progresso/Carreira
Um trabalho adequado à qualificação profissional O trabalho em si/Execuções
Fatores Motivacionais
Um trabalho que confira autonomia e exija responsabilidade Responsabilidade/Autonomia
Regras e políticas organizacionais isonômicas Políticas organizacionais
Boas condições de trabalho Condições de trabalho
Um bom relacionamento com os superiores hierárquicos Relacionamentos interpessoais
Uma vida pessoal satisfatória Vida pessoal
Um trabalho de prestígio/status Status
Fatores Higiênicos
Proteção contra arbitrariedades no trabalho Segurança
Figura 2: Classificação dos aspectos ambientais.
30
Na avaliação individual, o entrevistado ordenou os aspectos ambientais a ele
apresentados, de acordo com sua percepção de importância, decrescentemente. Para análise
dos dados, foi criado um quadro (figura 3) atribuindo valores de importância a cada uma das
doze posições, inversos aos valores das posições, pois, considerando que a ordenação se deu
de forma decrescente, o valor de importância varia de forma inversa à posição da escala.
Posição atribuída pelo pesquisado
1
º
2
º
3
º
4
º
5
º
6
º
10
º
11
º
12
º
12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
Valor de importância
Figura 3: Posição versus valor de importância
3.3 ANÁLISE DE CONTEÚDO
Realizado o diagnóstico do ambiente organizacional, o estudo recorreu à análise de
conteúdo no intuito de explicar os fatores envolvidos na dinâmica motivacional. A pesquisa
adotou uma perspectiva qualitativa, tipo de pesquisa que não se pauta nos moldes de um
estudo quantitativo, sua finalidade “[...] não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário,
explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”
(BAUER e GASKELL, 2000, p. 68). Marconi e Lakatos (2007, p. 269) complementam que a
“[...] metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,
descrevendo a complexidade do comportamento humano”.
Análise de conteúdo, de acordo com Bardin (1977, p. 38):
[...] pode ser considerada como um conjunto de técnicas de análises de
comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens [...] A intenção da análise de conteúdo é a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção e de recepção das mensagens,
inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não).
Produzir inferências é a razão de ser da análise de conteúdo, é o que confere relevância
teórica ao método, pois, as deduções auferidas pelo raciocínio pressupõem ao menos uma
comparação da informação descritiva do conteúdo com pressupostos teóricos.
Cabe ressaltar que a cnica de pesquisa utilizada foi a análise de conteúdo, e não
análise de discurso; tratam-se de técnicas distintas, frequentemente confundidas em razão da
tênue linha que as separam. Não se deve confundir análise do conteúdo do discurso com a
análise do discurso propriamente dita.
31
Para Caregnato e Mutti (2006, p. 683), a análise de conteúdo “[...] trabalha com o
conteúdo, ou seja, com a materialidade lingüística através das condições empíricas do texto,
[...] fixa-se apenas no conteúdo do texto, sem fazer relações além deste”. Enquanto a análise
de discurso “[...] trabalha com o sentido e não com o conteúdo; [...] preocupa-se em
compreender os sentidos que o sujeito manifesta através do seu discurso”.
Notar-se-á na seção que expõe as inferências obtidas nesta fase que, em determinados
momentos, o estudo se atreveu a analisar o sentido do discurso, invadindo temporariamente o
ambiente da análise de discurso, entretanto, não sendo suficiente para caracterizar a pesquisa
como tal. A proposta desta etapa da pesquisa encontra-se em consonância com os objetivos da
análise de conteúdo: descobrir um real pré-construído encoberto pelo texto, atendo-se ao
conteúdo do mesmo (ROCHA e DEUSDARÁ, 2005).
Precedeu à análise a escolha dos documentos, ou seja, a determinação do universo de
narrativas consideradas aptas a fornecerem as informações sobre o problema abordado.
Segundo Bardin (1977, p. 96), “O corpus é o conjunto de documentos tidos em conta para
serem submetidos aos procedimentos analíticos” [grifo do autor]. Para constituição do corpus
avaliado por este estudo, primeiramente foi demarcado o universo: artigos publicados no sítio
da Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF). O campo do corpus foi assim
definido, por representar a mais rica fonte escrita de narrativas sobre o ambiente
organizacional do DPF disponível.
Os artigos dos quais foram extraídos os discursos submetidos à análise de conteúdo
apresentam um viés reivindicatório; não haveria de ser diferente considerando-se a natureza
sindical da associação responsável por publicá-los.
Pode-se até inferir certa parcialidade, visto que, o meio de comunicação representa um
canal pelo qual os policiais federais manifestam suas insatisfações, tornam públicos seus
descontentamentos e desabafos. O diagnóstico do ambiente organizacional, no entanto, foi
realizado de forma imparcial e objetiva pelo censo estatístico realizado pelo levantamento.
A técnica investigativa teve por atribuição permitir a produção de inferências relativas
aos aspectos intrínsecos dos servidores, para tanto, nesta perspectiva, conforme preceitua
Bardin (1977), à análise de conteúdo permite-se recorrer a indicadores não quantitativos. O
instrumento de pesquisa não foi eleito para aferir a coerência formal do discurso, pois, “A
análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se
debruça” (PÊCHEUX apud FRANCO, 2005, p. 10).
Tendo em vista a subjetividade que permeia o fenômeno da motivação, a exploração
da passionalidade que envolve as manifestações dos pesquisados mostrou-se relevante ao
32
estudo; a metodologia aplicada permitiu ao pesquisador percorrer o subjetivo dos servidores
policiais federais no que tange os aspectos envolvidos na satisfação no trabalho.
A análise de conteúdo foi utilizada como um procedimento exploratório-descritivo, as
técnicas sistemáticas que compreendem este método de pesquisa foram empregadas com
intuito de apreender a partir dos próprios textos e descrever as ligações entre as variáveis
que influenciam o processo de motivação no trabalho. O conteúdo descritivo do corpus foi
confrontado com os pressupostos teóricos eleitos na pesquisa bibliográfica e com o
diagnóstico apresentado pelos levantamentos anteriores.
Procede à definição das unidades de análise, a categorização, que, de acordo com
Franco (2005, p. 57) representa “[...] uma operação de classificação de elementos
constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de um reagrupamento baseado em
analogias, a partir de critérios definidos”. Os fatores motivacionais e higiênicos apresentados
pela teoria da motivação de Herzberg representaram as categorias, assim, os trechos
analisados foram agrupados conforme o fator ao qual seu conteúdo dizia respeito.
Conforme disposto em seu estatuto, a FENAPEF é uma sociedade civil de direito
privado, uma entidade sindical de grau superior, sem fins lucrativos, fundada em 25 de agosto
de 1990, com caráter federativo, para fins de defesa, organização, coordenação, proteção dos
direitos e interesses coletivos e individuais e representação profissional dos servidores da
Polícia Federal e de seus sindicatos filiados. Representa os sindicatos regionais e disponibiliza
em seu sítio na internet espaço para publicação da opinião dos servidores policiais federais a
respeito das questões que envolvem o cotidiano funcional dos mesmos.
Quando do início da pesquisa no referido sítio, a entidade disponibilizava artigos
publicados desde o ano de 2001. Os artigos encontravam-se distribuídos em duas seções
principais: uma intitulada Sindical, outra Opinião. A seção opinião por sua vez, subdivide-se
em Tribuna Livre e Fala Brasil. Os textos foram – a princípio – avaliados quanto ao
conteúdo geral, da leitura foram selecionados os que apresentavam conteúdo relacionado com
os fatores elencados pela teoria da motivação que norteou a pesquisa, a teoria dos dois fatores
de Herzberg.
Aqueles cujo discurso fazia menção a situações relacionadas com os fatores
apresentados por Herzberg – fosse motivacional ou higiênico – foram selecionados para
compor o corpus, concebido somente por conteúdo estreitamente vinculado com o referencial
teórico considerado pela pesquisa.
Na sequência, os setenta e quatro artigos selecionados foram submetidos aos
procedimentos analíticos necessários à extração dos trechos específicos que tratavam de
33
circunstâncias relacionadas aos fatores que influenciam, direta ou indiretamente, a dinâmica
motivacional dos servidores policiais federais. A operacionalização desta etapa do estudo se
deu utilizando como ferramenta o programa de planilha Microsoft Office Excel.
Os grupos de fatores apresentados por Herzberg motivacionais e higiêncios
encabeçaram as colunas, representando as categorias, enquanto as referências dos artigos
iniciaram as linhas da tabela. Nas células da tabela, ou seja, nos cruzamentos entre uma linha
e uma coluna, foram inseridos os trechos extraídos do texto representado pela linha, cujo
conteúdo fazia referência ao grupo de fatores representado pela coluna. De forma que, ao final
da tabulação originou-se um quadro contendo o conteúdo do corpus relevante ao estudo, onde
cada coluna apresenta, de forma sistemática, os trechos referentes a um determinado grupo de
fatores.
A partir deste quadro foi possível construir uma síntese da opinião dos servidores
policiais federais sobre a realidade funcional no DPF. A análise do conteúdo considerou os
pressupostos teóricos eleitos para subsidiar o estudo, de forma que o conteúdo extraído do
corpus foi confrontado, principalmente, com as premissas fornecidas pela teoria dos dois
fatores.
A análise de conteúdo foi utilizada com intuito de explorar o espectro de juízos
contidos nas narrativas, o que conferiu o viés qualitativo à etapa da pesquisa. Portanto, a
técnica de pesquisa ignorou a contagem das opiniões, preocupou-se com o entendimento das
diferentes representações sobre os fatores envolvidos na motivação no trabalho, na tentativa
de descrever a complexidade do comportamento dos servidores através da análise e
interpretação dos aspectos mais profundos do discurso da população abordada.
Inicialmente, o plano de pesquisa tinha por objetivo discutir cada fator presente no
ambiente organizacional do DPF de forma sistemática; através de subdivisões do capítulo
destinado às inferências obtidas através da análise de conteúdo, os fatores motivacionais e
higiênicos – seriam abordados em tópicos específicos. Porém, com o desencadear da pesquisa
tornou-se claro que a intenção inicial não se adequava à natureza da discussão proposta.
Apesar do criador da teoria dos dois fatores elencar os fatores de forma sistemática, no
ambiente organizacional os mesmos encontram-se entrelaçados. Os discursos considerados
nesta fase do trabalho tornaram nítida a interdependência entre os fatores. Não há como
ignorar, por exemplo, o reconhecimento pelas execuções quando se fala de outro fator como a
oportunidade de progresso na carreira. Ambos apresentam aspectos influenciados por motivos
em comum, apesar de apresentarem aspectos peculiares a cada um.
34
Destarte, as inferências alcançadas pelo exame do corpus foram distribuídas ao longo
do capítulo 6, sendo apresentadas na sequência em que surgiram no momento da construção
da síntese da problemática debatida.
A teoria dos dois fatores emprestou a esta etapa da pesquisa os principais pressupostos
teóricos que a orientaram. Conforme será observado na sistematização do referencial teórico,
diversas são as teorias que se relacionam com as premissas formuladas por Herzberg, seja
corroborando-as ou até mesmo complementando o seu entendimento. Assim sendo, as teorias
consideradas complementares foram naturalmente referenciadas no decorrer da discussão
sobre o conteúdo avaliado.
Outro ponto que carece de ser previamente ressaltado diz respeito a certos conceitos
utilizados na análise de conteúdo. A revisão da literatura sobre a teoria dos dois fatores
revelou, como uma de suas principais inferências, a conclusão de que os fatores envolvidos na
satisfação no trabalho diferem dos fatores que causam a insatisfação no trabalho. De acordo
com Herzberg (1997, p. 61) “O oposto de satisfação no trabalho não é a insatisfação no
trabalho, mas sim ausência de satisfação; e da mesma forma, o oposto de insatisfação no
trabalho não é satisfação no trabalho, mas sim ausência de insatisfação”; sendo a satisfação
tratada como condição para que a motivação exista.
A formulação teórica de Herzberg utiliza tal metodologia como recurso para
diferenciar os fatores motivacionais dos higiênicos, tendo em vista que cada grupo exerce
influência sobre aspectos diversos do indivíduo. No entanto, não se mostrou razoável à
pesquisa considerar as acepções propostas pelo autor quando da avaliação semântica dos
discursos submetidos à análise, visto que, considera-se que a construção dos textos orientou-
se pelas regras da língua portuguesa, à revelia das diferenciações propostas pela teoria dos
dois fatores. Desta forma, vocábulos como insatisfação, em determinadas circunstâncias foi
considerado sinônimo de ausência de satisfação, desmotivação como ausência de satisfação e
assim por diante, conforme o contexto em que a palavra encontrava-se inserida.
35
4 SOBRE A MOTIVAÇÃO
Além de representar o ato ou efeito de motivar, motivação, diz respeito à influência
exercida pelo conjunto de fatores psicológicos de natureza fisiológica, intelectual ou afetiva
sobre a conduta de um indivíduo. Robbins (2002, p. 151) define motivação “[...] como o
processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma pessoa para
o alcance de uma determinada meta”. A motivação pode ser conceituada como o esforço e
tenacidade exercidos pela pessoa para fazer algo ou alcançar algo.
A motivação é a pressão interna surgida de uma necessidade, também interna,
que excitando (via eletroquímica) as estruturas nervosas, origina um estado
energizador que impulsiona o organismo à atividade iniciando, guiando e mantendo
a conduta até que alguma meta (objetivo, incentivo) seja conseguida ou a resposta
seja bloqueada [...] (SOTO, 2002, p. 118)
A compreensão dos fatores que conduzem a ação do homem é imprescindível à
formulação da hipótese que intente explicar como influir sobre sua motivação no trabalho.
Hersey e Blanchard (1986, p. 17) afirmam que conhecer o quadro de referência teórica sobre a
motivação confere ao administrador a oportunidade de “[...] prever, modificar e até controlar
o comportamento futuro”. Soto (2002) confirma que o estudo da dinâmica motivacional
permite o entendimento do comportamento humano, de forma a prevê-lo e controlá-lo.
Os psicólogos acreditam que grande parte das razões da diversidade das
condutas individuais decorra de um processo denominado de motivação. Poucos
colocariam em dúvida a afirmativa de que esse seja um dos mais importantes
processos que explicam a conduta humana, especialmente no ambiente de trabalho.
(GONDIM, 2004, p. 145)
Da revisão da literatura que discute a motivação humana, depreende-se que a
variabilidade humana é enorme, as pessoas apresentam profundas diferenças individuais. Pois,
as personalidades derivam-se da história pessoal do indivíduo, de seus conhecimentos e
habilidades, de seus objetivos, motivações, bem como de suas limitações pessoais.
O comportamento humano como manifestação de seu universo mental é fruto de
nebulosa interação do indivíduo com o ambiente em que está inserido. “Os impulsos que
determinam nossos padrões comportamentais [...] são em grande parte subconscientes, o que
dificulta a sua análise e avaliação” (HERSEY e BLANCHARD, 1986, p. 17).
36
Segundo DuBrin (2003, p. 110), “A motivação é complexa e contempla uma ampla
faixa de comportamentos [...]”. Gondim (2004, p. 145) explica que “[...] a ação humana é
multicausal e contextual, envolvendo aspectos biológicos, psicológicos, históricos,
sociológicos e culturais [...]”. Fenômeno multidimensional é como devem ser consideradas as
pessoas, tendo em vista serem afetadas por uma enormidade de variáveis. Herzberg (1997, p.
55), em meados do século XX, ressaltava que a “[...] psicologia da motivação é
tremendamente complexa [...]”; complexidade conferida pela subjetividade que envolve o
fenômeno da motivação. A conduta de cada um é determinada pela interação de fatores
extrínsecos e intrínsecos ao mesmo. Estes últimos encontram-se impregnados com valores
sociais e culturais peculiares ao indivíduo.
Portanto, a motivação representa um fenômeno diretamente influenciado pelas
características de personalidade, aspirações, valores e percepções individuais. Cada ser
humano tem motivações próprias, geradas por distintos fatores. As diferenças individuais não
devem ser negligenciadas pelos estudos da motivação, pelo contrário, o correto tratamento da
variável subjetividade é capaz de conferir mais clareza aos resultados e credibilidade à
pesquisa. Vergara (2007) salienta que compreender as diferenças representa uma exigência
que se impõe ao estudo da motivação.
Fatores internos e fatores externos concorrem como condicionantes do
comportamento humano. Fatos objetivos e concretos do ambiente organizacional influenciam
o comportamento, porém, não são suficientes para determinar a conduta do indivíduo; o
comportamento humano depende da percepção pessoal e subjetiva dos fatos, o que torna o
lidar com pessoas um desafio muito maior do que lidar com coisas lógicas e determinísticas.
Contribuíram para o surgimento das teorias sobre motivação: a valorização do
indivíduo na organização e a mudança da percepção das pessoas no ambiente de trabalho. De
simples componente do processo produtivo, passaram a diferencial competitivo na disputa por
posição de mercado.
4.1 AS TEORIAS DA MOTIVAÇÃO NO TRABALHO
A sistematização do trabalho de pesquisa bibliográfica demonstra que em meados do
século passado, surgiu nos Estados Unidos a chamada Teoria Comportamental. Mais do que
uma teoria, representa a corrente de pensamento que marca a aplicação das ciências do
comportamento na gestão das organizações, momento em que a Administração passa a
considerar a necessidade de se conhecer os mecanismos motivacionais para melhor gerenciar
37
as pessoas. As novas proposições acerca da motivação humana consolidaram o pensamento
comportamental e, dentre os pensadores mais influentes encontram-se: Abraham Maslow,
Douglas McGregor e Frederick Herzberg.
De acordo com Marras (2000), a experiência da fábrica de Hawthorne é considerada o
primeiro experimento relevante dos cientistas do comportamento. No entanto, estudos
relevantes sobre o fenômeno da motivação surgiram em meados do século passado, após o
fim da Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos experimentaram período de
grande crescimento econômico, e suas organizações buscavam desenvolver meios para
melhorar a eficácia operacional, frente às novas condições de mercado e exigências externas.
Três relevantes teorias da motivação surgiram na década de 50, são elas: hierarquia
das necessidades, as teorias X e Y e a teoria dos dois fatores. Robbins (2002, p. 152) as
classifica como antigas teorias da motivação, contudo, destaca sua importância ao afirmar que
“[...] representam os fundamentos sobre os quais as teorias modernas se desenvolveram [...]”.
O autor ressalta ainda que executivos contemporâneos utilizam os conceitos e terminologias
das antigas teorias na gestão de pessoas de suas organizações.
Da revisão das antigas teorias da motivação nasceram as teorias contemporâneas sobre
a motivação, das quais destacam-se: a teoria ERG, a teoria das necessidades de McClelland, a
teoria da avaliação cognitiva, a teoria da fixação de objetivos, a teoria do reforço, a teoria da
equidade e a teoria da expectativa. Segundo Robbins (2002, p. 156), apesar da classificação,
não necessariamente representam teorias recentes, porém, “[...] representam o atual estado da
arte de explicar a motivação dos trabalhadores”.
4.1.1 Teoria da hierarquia das necessidades
A teoria da hierarquia das necessidades formulada pelo psicólogo comportamental
americano Abraham Maslow na década de 50 – representa uma das teorias clássicas da
necessidade de motivação. Grupo das teorias que defendem que as pessoas são propensas a se
esforçarem com o objetivo de alcançarem uma meta; sendo o auto-interesse a força motriz.
Para a teoria, a busca em satisfazer determinada necessidade é o que motiva o ser humano a
tomar alguma direção (VERGARA, 2007).
A teoria formulada por Maslow prevê a existência de uma pirâmide de necessidades
paralela ao ciclo de vida das pessoas, organizada dentro de cada indivíduo na seguinte
hierarquia: necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de estima e de auto-realização.
38
Para o idealizador, ao passo em que cada uma delas é satisfeita, a subsequente torna-se
dominante, ou seja, quando o vel de necessidades anterior está satisfeito, passa-se ao
seguinte. De acordo com Muchinsk (2004), Maslow pressupõe que o que faz com que as
pessoas comportem-se de determinada maneira é o processo de satisfação de suas
necessidades; processo que resulta em um senso de suficiência, quando satisfeita a
necessidade, ou sentimento de desamparo e inferioridade quando da frustração.
DuBrin (2003, p. 111) ressalta que “Antes que as necessidades de nível maior sejam
ativadas, as necessidades de nível mais baixo precisam ser satisfeitas”. No entanto, ao ser
satisfeita, a necessidade deixa de ter força, perde seu efeito motivador. Marras (2000, p. 33)
explica a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow da seguinte forma:
[...] os indivíduos possuem necessidades distintas de acordo com uma série
de variáveis intrínsecas e/ou extrínsecas (o momento, o tipo de trabalho etc.) e
somente passam a buscar a satisfação de uma necessidade de nível superior quando
a imediatamente inferior já estiver satisfeita de modo pleno.
As necessidades elencadas por Maslow dividem-se em dois grupos: as de nível baixo e
as de nível alto. As necessidades fisiológicas e de segurança – por serem satisfeitas por fatores
extrínsecos ao indivíduo são consideradas de nível baixo; enquanto as necessidades sociais,
de estima e de auto-realização – por serem satisfeitas internamente – de nível alto.
Dentre as necessidades de vel baixo, as fisiológicas representam as necessidades
físicas básicas do ser humano: a fome, a sede, o sono, o sexo, etc. As de segurança estão
relacionadas à necessidade de proteção, seja contra ameaças reais ou imaginárias, tais como: o
emprego, a casa própria, o salário, a aposentadoria, etc. Ambas compreendem necessidades
afetas à sobrevivência das pessoas.
No âmbito das necessidades de nível superior, as necessidades sociais dizem respeito
ao desejo de amar e ser amado, de afiliar-se a pessoas, de pertencer a um grupo. As de estima
incluem o desejo de ser reconhecido, o auto-respeito fundamentado em realização genuína, o
prestígio, o status. No topo da pirâmide de Maslow encontram-se as necessidades de auto-
realização, desenvolvimento pessoal e crescimento, representam o desejo de realização do
potencial do indivíduo.
Maslow (1987) considera que os seres humanos têm uma tendência inata a buscarem
níveis mais altos de saúde, criatividade e auto-satisfação. A eficiência nos negócios e o
39
crescimento pessoal não são incompatíveis; sendo, o processo de auto-realização, responsável
por levar o indivíduo a níveis mais altos de eficiência.
Outra necessidade é lidar com o problema da motivação inconsciente. Um
estudo cuidadoso da vida motivacional consciente apenas, freqüentemente deixará
de fora o que é o importante quanto ou até mais importante do que pode ser visto
na consciência. (MASLOW, 1987, p. 5)
À luz desta teoria, as necessidades representam os fatores motivacionais nos seres
humanos. No momento em que uma necessidade é satisfeita, extingue-se a motivação.
Portanto, para influir sobre a motivação, é necessário compreender em que nível da hierarquia
o indivíduo se encontra, para que possam ser trabalhados fatores que correspondam ao nível
identificado ou noutro imediatamente superior.
Muchinsk (2004, p. 369) apresenta as três proposições de Maslow que sintetizam sua
teoria da motivação:
O comportamento é dominado e determinado pelas necessidades insatisfeitas.
Um indivíduo satisfará sistematicamente suas necessidades, começando pela mais
básica e subindo na hierarquia. As necessidades sicas têm precedência sobre as
demais na hierarquia.
De acordo com Robbins (2002), apesar de intuitivamente lógica, a velha teoria
proposta por Maslow é alvo de relevantes questionamentos científicos, pois, pesquisas
posteriores não a validam. Wagner III e Hollenbeck (2003, p. 94) reforçam o entendimento ao
afirmarem que “[...] Maslow não conseguiu fornecer aos pesquisadores mensurações claras de
seus conceitos, e sua teoria não recebeu muita sustentação empírica”. Schermerhorn (1999)
ressalta que por mais lógica que pareça, as pesquisas científicas não confirmam a existência
exata da hierarquia das necessidades tal qual é apresentada por Maslow; argumenta ser mais
provável que as necessidades funcionem numa hierarquia flexível e que variem de acordo
com as circunstâncias e os indivíduos.
Contudo, os estudos deste psicólogo comportamental americano representam o ponto
de partida para outros pesquisadores responsáveis por pesquisas de maior relevância
acadêmica. A teoria da hierarquia das necessidades é considerada um dos modelos pioneiros
de motivação e precursora das teorias mais modernas.
40
4.1.2 Teoria X e teoria Y
Douglas McGregor foi um dos pensadores mais influentes na área das relações
humanas, complementa as idéias de Maslow ao afirmar que as necessidades encontram
satisfação no próprio trabalho (MARRAS, 2000). Nascido em Detroit, tornou-se doutor pela
Universidade de Harvard, onde lecionou psicologia social, foi também professor de psicologia
no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Depois de observar as opiniões dos executivos
americanos em relação à natureza dos seres humanos, sintetizou a visão dos mesmos em
premissas e as dividiu em dois grupos: a Teoria X e a Teoria Y.
De acordo com Gondim (2004), as teorias de McGregor não ofereceram uma nova
perspectiva de entendimento da motivação humana no trabalho, ao contrário, surgiram da
análise crítica da prática administrativa norte-americana.
Segundo Robbins (2002, p. 153), McGregor sintetiza a Teoria X como a premissa
“[...] de que os funcionários não gostam de trabalhar, são preguiçosos, evitam a
responsabilidade e precisam ser coagidos para mostrar desempenho”, e a Teoria Y como o
pressuposto “[...] de que os funcionários gostam de trabalhar, são criativos, buscam
responsabilidades e podem demonstrar auto-orientação”.
As implicações motivacionais da análise de McGregor podem ser expressas pela
estrutura apresentada pelo modelo motivacional de Maslow; onde a Teoria X defende que as
necessidades de nível baixo se sobrepõem nos indivíduos, ao contrário da Teoria Y, que
considera que o indivíduo é dominado pelas necessidades de nível alto. Para McGregor, as
premissas que caracterizam a Teoria Y prevaleciam sobre as da Teoria X.
McGregor conclui que a prática gerencial apoiada na Teoria X desconsiderava as
conclusões dos estudos da motivação realizados por Maslow, no entanto, outra parte dos
administradores pensava diferente, suas ações eram influenciadas pelas teorias das relações
humanas até então divulgadas, modo alternativo de gerenciar nomeado pelo teórico como
Teoria Y, a qual considera o trabalho como fonte potencial de satisfação ou punição, defende
que as pessoas estão dispostas a se autodirigirem, a aceitarem responsabilidades e a colocarem
em prática seu potencial criativo.
Os estudos de McGregor fizeram parte dos primeiros ensaios sobre a motivação, sua
contribuição deve ser avaliada considerando a natureza exploratória e não explicativa de
sua pesquisa. As considerações deste pensador, apesar de não conclusivas, serviram para
delinear uma forma de se equacionar as variáveis de cunho subjetivo que envolvem o
fenômeno motivacional.
41
Como a teoria de motivação de Maslow, as premissas de McGregor não tiveram
convalidação científica, tampouco sua preferência pela Teoria Y foi validada. No entanto, de
acordo com Marras (2000), a teoria de McGregor reforçou a maneira de ver as pessoas na
sociedade industrial como indivíduos, e não somente como membros de grupos.
4.1.3 Teoria higiene-motivacional de atitudes no trabalho
Na década de 60, utilizando como referência os estudos de Abraham Maslow e
influenciado pelo movimento das relações humanas nas organizações, o psicólogo Frederick
Herzberg apresentou uma nova abordagem da dinâmica motivacional, a teoria higiene-
motivacional de atitudes no trabalho, ou teoria dos dois fatores.
O referido modelo de abordagem da motivação no trabalho parte do princípio de que o
trabalho pode ser, ao mesmo tempo, fonte de satisfação ou de aborrecimento. Herzberg
alicerça sua teoria no ambiente externo e no trabalho do indivíduo.
Como Herzberg fundamenta sua teoria no ambiente de trabalho e no próprio trabalho
do indivíduo, trata-se de uma abordagem extra-orientada, diferente de Maslow que adotou
uma perspectiva intra-orientada, onde foca a dinâmica motivacional nas diferentes
necessidades do ser humano.
Uma das principais contribuições desta teoria foi a conclusão de que os fatores
envolvidos na satisfação no trabalho diferem dos fatores que causam a insatisfação no
trabalho (figura 4). Para Herzberg (1997, p. 61) “O oposto de satisfação no trabalho não é a
insatisfação no trabalho, mas sim ausência de satisfação; e da mesma forma, o oposto de
insatisfação no trabalho não é satisfação no trabalho, mas sim ausência de insatisfação”.
Figura 4: Fatores higiênicos versus fatores motivacionais.
Fatores
Motivadores
Fatores
Higiênicos
Satisfação
Insatisfação
Ausência de
insatisfação
Ausência de
satisfação
42
A insatisfação e a satisfação são tratadas como dimensões isoladas, porém,
relativamente independentes, pois, os fatores higiênicos influenciam a eficácia dos fatores
motivacionais, afetando o desempenho do indivíduo na organização. Os fatores higiênicos são
limitados em capacidade de motivar, porém, a eliminação da insatisfação faz com que os
fatores motivacionais apresentem um efeito máximo.
Portanto, os sentimentos de satisfação e insatisfação no trabalho não são antagônicos
e, os fatores que os determinam devem ser analisados separados. “Os fatores higiênicos, se
presentes, deixam de causar insatisfação às pessoas, mas não chegam a causar satisfação. [...]
Se presentes [os fatores motivacionais], causam satisfação. Se ausentes, deixam de causar
satisfação, mas não chegam a causar insatisfação” (VERGARA, 2007, p. 45).
Gondim (2004) reforça este entendimento ao afirmar que os fatores higiênicos não são
capazes de satisfazer ou motivar pessoas, no entanto, devem ser objeto de atenção e
preocupação dos gestores, pelo fato da insatisfação afetar negativamente o desempenho no
trabalho.
A insatisfação no trabalho relaciona-se com necessidades derivadas da própria
natureza animal humana. Para Herzberg (1997, p. 61) “[...] a pulsão interna em evitar a dor
causada pelo ambiente, associada às pulsões aprendidas que ficam condicionadas às
necessidades biológicas básicas” representam as variáveis que determinam o nível de
insatisfação no trabalho ou a ausência de insatisfação; tais variáveis extrínsecas ao trabalho
foram classificadas como fatores de higiene, e assim sugeridas: as condições de trabalho, a
remuneração, o status, a segurança, os relacionamentos interpessoais, a supervisão e a política
e administração da organização.
De acordo com Schermerhorn (1999, p. 90), os fatores de higiene estão “[...] no
contexto ou ambiente de trabalho, têm mais a ver com o ambiente em que as pessoas
trabalham do que com a natureza do trabalho em si”.
A motivação no trabalho está relacionada com uma característica humana peculiar, o
crescimento psicológico auferido pelo exercício da capacidade de execução. Segundo
Herzberg (1997, p. 61), “Os estímulos para as necessidades de crescimento são tarefas que
induzem ao crescimento; [...] são o conteúdo do trabalho”.
Os fatores motivacionais ou de crescimento dizem respeito aos sentimentos de auto-
realização e reconhecimento, são intrínsecos ao trabalho, tais como: as execuções e o
reconhecimento pelas execuções, o próprio trabalho em si, as oportunidades de promoção, as
oportunidades de crescimento pessoal, a responsabilidade e a realização.
43
Para Herzberg, somente a presença dos fatores motivacionais é capaz de levar o
indivíduo a um comportamento energético mais positivo, pois, provocam a satisfação com o
cargo e consequente melhorias no desempenho. Para a teoria dos dois fatores o maior fator
motivador para o indivíduo encontra-se no interior do seu próprio trabalho.
Representam formas práticas de proporcionar ou ativar os fatores motivacionais:
delegar responsabilidade; oferecer oportunidades de promoção na carreira; conceder liberdade
para se exercer discrição; possibilitar o uso pleno das habilidades pessoais; estabelecer metas
e avaliar o cumprimento das mesmas; permitir a simplificação do cargo pelo próprio
ocupante; enriquecer ou ampliar o cargo, tanto horizontal como verticalmente.
Para minorar a insatisfação no trabalho ou alcançar a ausência da mesma, as
organizações devem atuar sobre os fatores higiênicos buscando atender as necessidades de
seus colaboradores. Porém, se o objetivo for ter funcionários motivados, as organizações
deverão atentar-se para os fatores motivacionais ligados ao conteúdo do trabalho –, criando
condições organizacionais adequadas, onde os fatores de crescimento possam ser percebidos
pelos funcionários.
Para Tamayo e Paschoal (2003) as teorias da motivação podem ser divididas em dois
grupos: as endógenas e as exógenas. As que compõem o primeiro grupo se limitam a explicar
a motivação, enquanto as que pertencem ao segundo grupo se dedicam a sugerir ações a
serem implementadas no sentido de influenciar a motivação no trabalho.
A teoria dos dois fatores faz jus a pertencer a ambos os grupos; ao mesmo tempo em
que identifica o conteúdo da motivação, apresenta características do trabalho passíveis de
serem modificadas, tais como: oportunidades de promoção, condições de trabalho e o
enriquecimento da tarefa.
Assim sendo, torna-se questionável a afirmação de Gondim (2004) de que a teoria dos
dois fatores se distancia da ação ao passo que se esforça unicamente a identificar o conteúdo
da motivação, sendo insuficiente para orientar a conduta humana. Pois, o enriquecimento
científico da função representa importante ferramenta gerencial capaz de influenciar de
forma positiva e controlada – a dinâmica de motivação no trabalho.
De acordo com Dubrim (2003, p. 114), “A teoria dos dois fatores explica como
projetar cargos para torná-los motivacionais”. A teoria higiene-motivacional sugere o
enriquecimento científico da função como oportunidade de crescimento psicológico e,
consequentemente, instrumento de motivação no trabalho. Também nominado de
enriquecimento do cargo ou empowerment, representa o processo pelo qual se atribui
44
influência ou poder acrescido a uma posição, concede-se autonomia ao colaborador ao
envolvê-lo no processo de tomada de decisões.
Toro (1992) considera como maior aporte da teoria de Herzberg, o interesse gerado
por esta em muitos pesquisadores em desenvolver conhecimento e tecnologia nos campos
de enriquecimento e complexificação do trabalho. Para o autor, as organizações que
desenham de forma apropriada e conveniente os postos de trabalho e se asseguram de certas
condições organizacionais e administrativas, passam contar com níveis elevados de
rendimento e satisfação da sua força de trabalho.
A sobrecarga vertical ou oferta de fatores motivacionais representa uma forma de
alcançar a motivação através do enriquecimento do cargo. Dentre os princípios da sobrecarga
vertical estão: a retirada de controles, mantendo a responsabilidade; o aumento da
responsabilidade pelo próprio trabalho; e a concessão de autoridade adicional e liberdade no
cargo. (HERZBERG, 1997)
Robbins (2002, p. 156), apesar de apresentar a teoria dos dois fatores dentre as antigas
teorias da motivação, destaca sua importância chamando a atenção para o fato de que “[...]
poucos são os executivos que não conhecem suas recomendações”. Salienta ainda sua
atualidade ao confirmar a contemporânea popularidade da verticalização das funções nas
organizações.
Os postulados de Herzberg, em determinadas circunstâncias, mostram-se atuais e
suficientes para embasar estudos contemporâneos. Para Maciel e Sá (2007, p. 69), atualmente,
a teoria dos dois fatores representa “[...] umas das teorias motivacionais que mais tem sido
explorada [...]”.
A teoria de Herzberg tornou-se relevante por enfatizar fatores que, normalmente, são
negligenciados pelas organizações, e também pelo surgimento de outros estudos que
corroboram suas conclusões. Schermerhorn (1999) apresenta algumas limitações da teoria, no
entanto, ressalta a existência de pesquisas que confirmam seus pressupostos. DuBrin (2003)
confirma que a teoria dos dois fatores é responsável por contribuições duradouras para a
motivação no trabalho.
Apesar das diferenças de abordagem entre as teorias formuladas por Maslow e
Herzberg, existem relações entre elas, os fatores higiênicos relacionam-se com as
necessidades de nível baixo, enquanto os motivacionais, com as necessidades de nível alto.
Ambas apresentam pontos de concordância que contribuem para o entendimento mais amplo
e aprofundado a respeito da motivação do comportamento humano.
45
A teria dos dois fatores de Herzberg pode ser considerada uma evolução das idéias
defendidas por Maslow. Lacunas deixadas pela teoria da hierarquia das necessidades foram
devidamente consideradas pelos estudos de Herzberg. Uma das principais críticas a Maslow
diz respeito à rigidez hierárquica apresentada por seu modelo de dinâmica motivacional onde
necessidades superiores apenas motivam o indivíduo quando a imediatamente inferior for
plenamente satisfeita. Críticos desta teoria sugeriam a existência de uma hierarquia flexível
onde as necessidades variassem de acordo com as circunstâncias e os indivíduos. Herzberg
aprimorou o entendimento de Maslow ao propor a atuação independente dos fatores, bem
como a diferenciação entre aqueles relacionados à satisfação e aos atrelados à insatisfação.
4.1.4 Teoria ERG
Outro pesquisador utilizou a mesma linha de raciocínio de Maslow, Clayton Alderfer.
No final da cada de 60, de uma revisão da hierarquia das necessidades de Maslow com
objetivo de alinhá-la às exigências da pesquisa empírica, surgiu a teoria ERG. Para a teoria
ERG três grupos de necessidades essenciais: o da existência, o que se refere às
necessidades de relacionamento e o grupo que engloba as necessidades de crescimento. A
sigla ERG diz respeito às palavras da língua inglesa existence, relationship e growth, que
significam – respectivamente – existência, relacionamento e crescimento.
O grupo das necessidades de existência abrange os itens definidos por Maslow como
necessidades fisiológicas e de segurança, representam o desejo de bem-estar fisiológico e
material, nas palavras de Robbins (2002, p. 156) “[...] se refere aos nossos requisitos materiais
básicos”. No grupo das necessidades de relacionamento, Alderfer reuniu as necessidades
sociais da teoria de Maslow com os aspectos externos da necessidade de estima. Por último,
as características intrínsecas da categoria de estima de Maslow e as necessidades de auto-
realização compõem o grupo das necessidades de crescimento, que representam o desejo de
crescimento e desenvolvimento pessoal.
A teoria ERG não só reagrupa as necessidades em três categorias, como apresenta uma
nova abordagem da interação das mesmas. Maslow defendia a hierarquia das necessidades e,
como consequência, propunha uma progressão rígida onde a satisfação da necessidade
subsequente depende de prévia satisfação da anterior; segundo Schermerhorn (1999, p. 88), na
abordagem proposta por Alderfer, “[...] mais do que uma necessidade pode influenciar
ativamente a motivação ao mesmo tempo”, ou seja, necessidades de grupos diversos podem
coexistir.
46
Outra dimensão importante inserida pela nova teoria refere-se à dinâmica da
frustração-regressão. Segundo Gondim (2004, p. 151), Alderfer afirmou “[...] que a motivação
da conduta humana não obedeceria a um sentido apenas progressivo, mas também regressivo,
descendente”. O autor da teoria ERG sugeriu que o indivíduo que tem uma necessidade de
alto nível frustrada, tende a regressar a uma necessidade de vel mais baixo. Diferente de
Maslow que garantia a permanência do indivíduo em determinado nível de necessidade até
que a mesma fosse satisfeita.
A teoria ERG mostra-se mais coerente com o conhecimento existente em relação às
diferenças individuais, pois, variáveis como o nível de educação ou o ambiente cultural
podem influir no grau de importância que cada grupo de necessidades representa para uma
pessoa.
Diversos estudos têm dado embasamento a esta teoria, mas também existem
evidências de que ela não funciona em determinadas organizações. De maneira
geral, contudo, a teoria ERG representa uma versão mais válida da hierarquia das
necessidades. (ROBBINS, 2002, p. 158)
Schermerhorn (1999) confirma que conclusões de pesquisas empíricas apóiam a teoria
de Alderfer, acrescenta ainda que suas inovações proporcionam uma abordagem mais flexível
do comportamento humano nas organizações, o que facilita a compreensão das necessidades
individuais e sua influência nas atitudes dos trabalhadores.
4.1.5 Teoria das necessidades de McClelland
A teoria das necessidades de McClelland, também conhecida por teoria das
necessidades adquiridas, identifica três necessidades secundárias adquiridas socialmente, e as
classifica como bases motivacionais, são elas: realização, poder e afiliação. As três
necessidades elencadas pelo psicólogo David McClelland coexistem no indivíduo, porém, se
manifestam em graus diferentes, caracterizando-o pela que se sobressai, ou seja, a necessidade
que predomina denota o padrão de comportamento do indivíduo. “A motivação no trabalho
irá depender da qualidade dos arranjos entre esse três tipos de necessidades” (GONDIM,
2004, p. 151).
Necessidade de realização na visão McClelland e Burnham (1997, p. 125) representa
“[...] o desejo de fazer alguma coisa melhor ou de forma mais eficiente do que foi feita”.
DuBrin (2003, p. 116) explica a necessidade de realização como “[...] o desejo de conseguir
47
algo difícil por seus próprios méritos”. Chamadas de grandes realizadoras, as pessoas que se
caracterizam por esta necessidade “[...] buscam a realização pessoal mais do que a
recompensa pelo sucesso em si” (ROBBINS, 2002, p. 158). Pessoas motivadas por realização
são orientadas para tarefas e buscam a excelência no que fazem. Apreciam desafios
moderados e metas realistas, que possibilitem o controle relativo dos mesmos, pois, não se
satisfazem com sucesso que se dá por acaso, precisam sentir que o resultado dependeu de suas
próprias ações.
Segundo McClelland e Burnham (1997), em termos motivacionais, as pessoas nas
quais prevalece a necessidade de poder, valorizam a possibilidade de influenciar outras
pessoas. Portando, necessidade de poder representa a necessidade de influenciar ou controlar
o comportamento alheio, fazendo com que o outro aja de acordo com a vontade do
influenciador. Diferente dos grandes realizadores, as pessoas dominadas por esta necessidade
preferem participar de situações que envolvam competição e status, preocupam-se mais com o
prestígio e a influência do que com a eficácia de seu desempenho.
A terceira necessidade apresentada por esta teoria é a de afiliação que surge do desejo
do indivíduo de estabelecer e desenvolver relacionamentos pessoais próximos e pertencer a
grupos, chamada também de motivo de agregação (MCCLELLAND e BURNHAM, 1997).
“As pessoas que têm esta orientação buscam a amizade, preferem situações de cooperação em
vez de competição e desejam relacionamentos que envolvam um alto grau de compreensão
mútua” (ROBBINS, 2002, p. 159).
De acordo com DuBrim (2003), as pessoas em que a necessidade de realização se
sobrepõe buscam constantemente novas formas de se realizarem no cargo, de crescimento
pessoal, procuram responsabilidades e desejam feedback sobre seu desempenho; as com muita
necessidade de poder se dedicam a progredir na carreira e ganhar status; as motivadas pela
afiliação concentram-se nas relações interpessoais.
Apesar de organizados de forma distinta, os aspectos ou fatores enumerados estão
presentes nas demais teorias das necessidades, podem ser enquadrados num grupo de
necessidades da teoria de Maslow ou da teoria de McGregor, como também serem
classificados segundo os fatores da teoria de Herzberg, por exemplo.
As necessidades apresentadas são adquiridas pelo indivíduo no decorrer do tempo,
através de suas relações sociais. De acordo com Schermerhorn (1999), este aspecto
apresentado pela teoria de McClelland representa o principal fator que a diferencia das demais
teorias das necessidades. Vergara (2007) confirma a proximidade dos postulados de
McClelland à teoria de Maslow, contudo, ressalta que a diferença está na origem das
48
necessidades. Portanto, por serem aprendidas, as necessidades podem ser desenvolvidas ou
ensinadas.
Existem ferramentas capazes de avaliar os motivos internos de uma pessoa,
determinando qual necessidade prevalece na mesma, porém, a composição observada na
avaliação deve ser considerada numa perspectiva transversal, levando em consideração a
possibilidade de alteração do arranjo.
Um indivíduo, no qual prevaleça a necessidade de poder, poderá no futuro
determinar-se por outra necessidade. Estudos apresentados por McClelland e Burnham (1997)
confirmam esta possibilidade, seus exemplos retratam executivos que, no intuito de se
adequarem aos anseios organizacionais, implicaram-se em desenvolver uma necessidade
específica, auferindo êxito na investida. Robbins (2002) destaca a existência de treinamentos
específicos para se estimular determinada necessidade sendo aplicados pelas organizações.
4.1.6 Teoria da avaliação cognitiva
Elaborada por Edward Deci, a teoria da avaliação cognitiva defende que as variáveis
externas (recompensas extrínsecas) são importantes e que devem ser geridas com cautela,
pois, quando percebidas como meio de controle do comportamento individual, tendem a
diminuir a motivação intrínseca. A teoria da avaliação cognitiva “[...] afirma que as pessoas
tendem a avaliar as suas ações com base nas atribuições que fazem de suas causas ou razões”
(GONDIM, 2004, p. 155). Fundamenta-se na premissa de que as recompensas externas
concedidas em favor de comportamentos que foram recompensados intrinsecamente
contribuem para minorar o moral do indivíduo. A idéia de que recompensas externas podem
diminuir a motivação intrínseca é considerada polêmica e controversa por alguns autores.
Para teoria de Deci, a avaliação que o indivíduo faz de sua motivação depende do tipo
de controle do comportamento individual no trabalho adotado pela organização, se focado em
fatores da própria pessoa ou em fatores externos. Esta proposta diverge do entendimento de
outros pensadores da motivação abordados nesta revisão da literatura que separam as
motivações intrínsecas das extrínsecas ao afirmarem suas independências, onde os estímulos
dispensados a um grupo não interfere o outro; pois, sustenta que ao recompensar
extrinsecamente os desempenhos superiores, mitigam-se as recompensas internas geradas por
se fazer o que gosta.
De acordo com Robbins (2002, p. 160), a explicação popular para o fenômeno
motivacional descrito “[...] é que a pessoa experimenta uma perda de controle sobre seu
49
próprio comportamento, diminuindo a motivação intrínseca que existia”, e que, além disso, a
supressão da recompensa externa pode influir na percepção do indivíduo quanto à origem – de
externa para interna da motivação para determinada tarefa. Do ponto de vista motivacional
existe significativa diferença entre fazer algo porque deve (causa externa) ou porque gosta
(causa interna).
Robbins (2002) argumenta que apesar da necessidade de novas pesquisas que visem
dirimir algumas ambiguidades existentes, evidências apontam para a conclusão da existência
de interdependência entre as recompensas intrínsecas e extrínsecas. Complementa ainda que,
apesar de real, o impacto do fenômeno sobre a motivação no trabalho parece ser menor do que
se pensava, pois, pessoas com níveis elevados de motivação intrínseca mostram-se pouco
sensíveis ao impacto redutor das recompensas externas. Outra ressalva à aplicação da teoria
envolve as tarefas desagradáveis, caso em que a recompensa externa pode aumentar a
motivação intrínseca; o que o faz concluir limitada sua aplicabilidade nas organizações, onde
a maior parte das funções de nível mais baixo não é gratificante o suficiente para garantir
motivação intrínseca.
4.1.7 Teoria da fixação de objetivos
Edwin Locke, ao final da década de 60, apresentou a teoria da fixação de objetivos ou
teoria da fixação de metas, a qual aborda os efeitos sobre o comportamento gerados pela
fixação de objetivos, do desafio e do feedback. A proposta de Locke girava em torno da
premissa de que o propósito de lutar por um objetivo representa a mais relevante fonte de
motivação no trabalho. Por representarem os comportamentos pretendidos, os objetivos
influenciam o desempenho da tarefa (MUCHINSKY, 2004).
Para a teoria de Locke, objetivos específicos tornam superiores os desempenhos; a
dificuldade da meta geralmente influencia direta e positivamente o desempenho; metas devem
estar vinculadas a feedback e recompensas. Gondim (2004) complementa ao afirmar que a
clareza de objetivos, as dificuldades das tarefas, a aceitação da meta pelo indivíduo, as
características pessoais e o feedback gerencial constituem fatores moderadores que interferem
no processo de motivação, sendo imprescindíveis à manutenção da motivação em níveis
elevados. A eficácia da fixação de objetivos depende do indivíduo ter consciência da meta e
saber claramente o que deve fazer, além de aceitar o objetivo como algo pelo qual está
disposto a se esforçar (MUCHINSK, 2004).
50
Evidências comprovam a importância dos objetivos no desempenho individual
(ROBBINS, 2002). De acordo com Wagner III e Hollenbeck (2003, p. 101-102), “[...] mais de
100 pesquisas apresentaram resultados que apóiam a afirmação de que o desempenho é
melhorado por metas ao mesmo tempo específicas e difíceis” [grifo do autor].
De acordo com a teoria da fixação de objetivos, ao especificar um objetivo, cria-se um
estímulo interno no indivíduo capaz de produzir resultados mais elevados do que as metas
genéricas do tipo “faça o melhor que puder”. Gondim (2004, p. 154) afirma a existência de
estudos cujos resultados concluem que “[...] as metas claramente especificadas são os
verdadeiros fatores motivadores da conduta humana no trabalho”.
Gondim (2004) ressalta a importância de que as metas, além de específicas, sejam
desafiadoras; contudo, a dificuldade embutida ao objetivo, para ser eficaz, depende de duas
outras variáveis a serem consideradas pela organização: a capacitação e a aceitação do
desafio. Estes fatores devem ser mantidos constantes para que os objetivos mais difíceis se
traduzam em alto nível de desempenho.
Da aceitação da meta depende o comprometimento com a mesma. Nas palavras de
Wagner III e Hollenbeck (2003, p. 102) “Metas específicas e difíceis apenas resultam em
melhoria de desempenho quando existe um alto comprometimento com a meta[grifo do
autor]. Partindo do pressuposto de que objetivos mais difíceis geram melhores resultados, mas
a resistência aos mesmos é maior, torna-se relevante especular sobre a possibilidade de
intervir no processo de aceitação.
Na visão de Robbins (2002) a participação do colaborador na determinação das metas
minora a não aceitação das mesmas, pois, decorre do método participativo, o maior
comprometimento com as escolhas nas quais atuou. Wagner III e Hollenbeck (2003)
discordam, afirmam que os estudos contemporâneos que buscam validar esta premissa têm
fracassado; contudo, cita outros fatores apresentados por pesquisas recentes capazes de
influir na majoração do envolvimento individual com metas elevadas: a publicidade das metas
e a necessidade de realização. Ou seja, quando os objetivos se tornam públicos aumenta-se o
comprometimento do indivíduo com as metas, o que também acontece quando no indivíduo
prevalece a necessidade de realização.
O feedback auxilia para que o indivíduo alinhe seus esforços aos necessários para se
atingir as metas estabelecidas. O retorno relativo ao seu progresso permite ao mesmo perceber
as divergências entre o que tem feito e o que deve ser feito, guiando seu comportamento.
Robbins (2002, p. 162) apresenta duas modalidades de feedback: o autogerenciado (quando o
indivíduo monitora seu próprio progresso) e o externo. De acordo com este autor, o primeiro
51
“[...] tem se mostrado um motivador mais poderoso que o feedback externo” [grifo do autor].
Wagner III e Hollenbeck (2003) reforçam a importância do feedback, ao afirmarem que o
monitoramento do progresso torna ainda mais eficaz a fixação de objetivos.
A relação objetivo-desempenho sofre a influência dos seguintes fatores: o feedback,
comprometimento do indivíduo com o objetivo, a auto-eficácia, as características intrínsecas
da tarefa e a cultura nacional. Apesar da aceitação da teoria como referência para se auferir
motivação individual, não existem evidências de que o estabelecimento de objetivos
específicos e difíceis interfira no grau de satisfação com o trabalho.
O termo auto-eficácia, de acordo com Wagner III e Hollenbeck (2003, p. 100), “[...]
refere-se aos juízos que as pessoas fazem sobre sua capacidade de executar cursos de ação
exigidos no trato com situações esperadas”. Representa a convicção do indivíduo de que é
capaz de realizar determinada tarefa. A transformação do desejo (necessidade) em esforço
depende da auto-eficácia, que por sua vez, pode ter como origem: as realizações passadas do
indivíduo, a observação dos outros, a persuasão verbal e/ou a verificação lógica.
DuBrin (2003, p. 120) explica que a motivação gerada pelo estabelecimento de metas,
na verdade, é uma consequência indireta do processo. Para o autor, apesar da contribuição
para o desempenho, tecnicamente, as metas não são motivacionais em si; “Pelo contrário, as
discrepâncias criadas pelo que os indivíduos fazem e ao que aspiram cria auto-insatisfação”
(sic). À insatisfação gerada é atribuída a criação do desejo de minorar a distância entre o real
e o ideal.
A teoria de Locke, em certos aspectos, relaciona-se com outras teorias da motivação.
“O estabelecimento de metas é um processo básico e faz parte direta ou indiretamente de
todas as teorias de motivação no trabalho” (DUBRIN, 2003, p. 118). A premissa de que os
objetivos estabelecidos devem ser valorizados pelo indivíduo e percebidos como desafiadores
converge com as necessidades de auto-realização apresentadas por Maslow, e está em
consonância com a idéia de Herzberg de que o conteúdo do trabalho é determinante na
motivação do indivíduo. Ao sugerir que as metas devem estar vinculadas a feedback e
recompensas, Locke concorda com Herzberg quando afirma que o reconhecimento pelas
execuções representa um fator motivador no trabalho.
4.1.8 Teoria do reforço
Fundamentalmente comportamentalista, a teoria do reforço considera o
comportamento como resultado do ambiente e o reforço como condicionante do
52
comportamento; defende a premissa de que o comportamento humano é determinado por suas
consequências. Os teóricos desta teoria ignoram os eventos cognitivos internos, atribuindo o
controle do comportamento humano aos reforços. De acordo com Marras (2000), Burrhus
Frederic Skinner foi um dos principais estudiosos da psicologia comportamental, professor na
universidade de Harvard (EUA), defendia que um comportamento recompensado tende a ser
repetido.
Wagner III e Hollenbeck (2003) classificam as teorias que explicam a motivação
através do reforço de teorias da aprendizagem, e afirmam que estas prestam auxílio na
tentativa de esclarecer a interação entre comportamento e recompensas. Apresentam dois
tipos de aprendizagem: a operante e a social.
A aprendizagem operante se baseia na premissa de que o comportamento específico no
qual se engaja um indivíduo foi reforçado por um resultado específico. Robbins (2002, p. 40)
define este processo como “Um tipo de condicionamento em que um comportamento
voluntário desejável conduz a uma recompensa ou evita uma punição”.
A aprendizagem social propõe que a partir da observação dos outros, o indivíduo
modela os comportamentos considerados eficazes. Robbins (2002) explica que a teoria da
aprendizagem social apresenta a visão de que as pessoas podem aprender através da
observação, como também pela experiência direta. Para Wagner III e Hollenbeck (2003, p.
98), modelar um comportamento significa “[...] recompensar aproximações sucessivas rumo a
um comportamento desejado [...]”; para Robbins (2002, p. 41), representa o “Reforço
sistemático de cada uma das etapas que conduzem o indivíduo para mais perto da resposta
desejada”.
DuBrin (2003) explica que, ao contrário das teorias das necessidades de motivação, a
teoria do reforço suprime o foco na compreensão das necessidades a serem satisfeitas pelo ser
humano. Robbins (2002, p. 164) corrobora este entendimento ao afirmar que “A teoria do
reforço ignora as condições internas do indivíduo, concentrando-se apenas no que acontece a
ele quando realiza uma ação qualquer”. A teoria de Skinner foca o aumento do desempenho
individual com base na programação de recompensas recebidas por comportamento emitido,
independente da satisfação do trabalhador. Metodologia eticamente questionável, pois, gera
uma tensão capaz de prejudicar o bem-estar físico e mental dos trabalhadores (MUCHINSK,
2004).
Portanto, ao desconsiderar as origens do comportamento humano, a teoria do reforço
não se enquadra na definição estrita de teoria da motivação; sempre é levada em consideração
53
nas discussões que abordam o tema por oferecer relevantes meios de análise dos
condicionantes do comportamento.
4.1.9 Teoria da equidade
John Stacy Adams, psicólogo behaviorista, desenvolveu a teoria da equidade partindo
da observação do fenômeno: confronto dos resultados-entradas. O resultado-entrada é
definido como a comparação entre o esforço individual despendido no trabalho (entrada) e o
que se recebe pelo empenho (resultados). As entradas também são chamadas de subsídios, e
abrangem todos os recursos que a pessoa traz para o trabalho, como: as habilidades, a
experiência profissional, a capacidade intelectual, a formação, a capacidade de execuções, o
nível de esforço. Já os resultados, também chamados de recompensas, dizem respeito ao
conjunto de benefícios que uma pessoa obtém do trabalho, como por exemplo: as condições
de trabalho, as remunerações, o prestígio social proporcionado por um cargo ou função.
No entanto, o foco da teoria da equidade encontra-se na avaliação comparativa entre
os resultados-entrada pessoais e os resultados-entradas alheios. Para Adams “Os indivíduos
comparam as entradas e os resultados de seu trabalho com aqueles de outros funcionários, e
respondem de maneira a eliminar quaisquer injustiças” (ROBBINS, 2002, p. 165). DuBrin
(2003) acrescenta que, para a teoria da equidade, uma pessoa determina, com base nas
comparações com os esforços dos outros, o quanto de esforço pessoal a ser empenhado no
trabalho. A motivação do indivíduo depende de sua avaliação quanto à presença de justiça e
da igualdade nas relações de trabalho (VERGARA, 2007).
Wagner III e Hollenbeck (2003) explicam a teoria de Adams da seguinte forma: a
princípio, as pessoas elaboram julgamentos quanto a justiça percebida nas relações, daí
constroem uma razão entre o que consideram ter investido e os resultados advindos. Num
segundo momento, elas acareiam a razão preestabelecida com a razão que percebem como os
custos e benefícios auferidos por outra pessoa. Quando consideram a existência de justiça
entre as razões, concluem a presença de um estado de equidade.
Porém, quando a percepção é de desigualdade, desperta-se no indivíduo uma tensão de
equidade, também denominada percepção de iniquidade, responsável por gerar emoções
desagradáveis. A desconfortável tensão surge tanto da constatação de estar recebendo
recompensas a menor, quanto a maior. A emoção resultante da percepção de uma razão
desfavorável é mais intensa do que a inversa, contudo, ambas as tensões favorecem uma
reação no sentido de minimizar a iniquidade. Adams (apud ROBBINS, 2002) aventa que este
54
estado de tensão acaba por desencadear uma ação corretora. “Quanto maior a iniquidade entre
a Pessoa e o Outro, maior a tensão e maior a motivação para reduzi-la” (DUBRIN, 2003, p.
372).
Na visão de Robbins (2002, p. 165) “O ponto de referência escolhido pelo funcionário
aumenta a complexidade da teoria da equidade”. O autor explana sobre quatro pontos de
referência, e ressalta que o referencial representa variável relevante para compreensão desta
teoria; são eles: próprio-interno; próprio-externo; outro-interno e outro-externo.
O funcionário que se vale de suas experiências noutra posição na mesma organização
como ponto de referência na comparação, utiliza-se do próprio-interno; o que argumenta
referenciando vivências em situação ou posição dentro de outra organização, explora o
próprio-externo. Tomar como ponto de referência outra pessoa ou grupo pertencente à mesma
organização, caracteriza o uso do outro-interno; sendo o outro, indivíduo ou grupo de fora da
organização, a pessoa utiliza-se do outro-externo.
De acordo com Wagner III e Hollenbeck (2003) representam manifestações da tensão
de equidade: a alteração dos investimentos pessoais; a alteração dos resultados pessoais; e a
distorção cognitiva. A primeira manifestação pode ser exemplificada com a atitude do
colaborador que se abstém de contribuir com opiniões numa equipe de decisões da qual
participa ao perceber que suas colocações não estão sendo levadas em consideração. A
segunda, com a atitude do indivíduo que ao perceber estar recebendo remuneração aquém
da praticada pelo mercado passa a reivindicar aumento e ameaçar com a própria demissão.
A terceira reação apresentada encontra exemplo naquele que ciente de que recebe menos do
que outro que desempenha tarefa idêntica à sua passa a racionalizar os resultados de suas
acareações, justificando a diferença percebida ao declarar que, embora melhor recompensadas
financeiramente, as atividades desenvolvidas por aquelas pessoas são menos prazerosas,
embora fossem idênticas.
Robbins (2002) elenca como ações corretoras advindas da percepção de injustiça: a
modificação de suas entradas; a modificação de seus resultados; a distorção de sua auto-
imagem; a distorção da imagem de outros; a busca por outro ponto de referência; e o
abandono do terreno.
A atitude de se esforçar menos caracteriza uma modificação de entrada. O aumento de
produção – por parte daquele remunerado por produção –, em detrimento da qualidade do que
produz, representa uma modificação de resultado. O indivíduo que pensava trabalhar num
ritmo moderado e passa a achar que trabalha substancialmente mais do que os companheiros,
manifesta o efeito da distorção da auto-imagem. Afirmar a mudança da percepção em relação
55
ao outro pode caracterizar uma distorção da imagem dos outros, como quem afirma descobrir
que o trabalho alheio é menos atrativo do que pensava. O indivíduo que frente ao fato de que
percebe remuneração inferior à do fulano se conforta em ganhar mais que beltrano, utiliza-se
da busca por outro ponto de referência. A demissão voluntária concretiza o abandono de
terreno.
A teoria da equidade baseia-se no princípio da comparação social, ignorando as
pesquisas fundamentadas na premissa de que o processo de motivação no trabalho também é
influenciado por fatores de origem biológica, necessidades do ser humano.
A origem da motivação para Adams encontra-se nos sentimentos de tensão gerados
pela percepção de iniquidade. Schermerhorn (1999, p. 91) cita que, de acordo com Adams,
“[...] quando as pessoas avaliam o resultado do seu trabalho, qualquer diferença percebida em
relação ao dos outros é um estado de consciência motivador”.
No entanto, os efeitos da aplicação desta teoria são controversos. DuBrin (2003)
ressalta que a insatisfação no trabalho representa uma consequência da atividade de se
estimular a iniquidade com o objetivo de causar o sentimento de receber recompensas aquém
do que o indivíduo percebe como justo. O autor chama atenção para estudos que apresentam o
ganho de desempenho gerado pela indução da iniquidade como de curta duração.
4.1.10 Teoria da expectação
Professor da universidade de Yale (EUA), o canadense Victor Vroom apresentou, na
década de 60, a teoria da expectativa, também conhecida por teoria da expectação ou modelo
de expectância; segundo a qual o indivíduo se sente motivado a se empenhar em determinada
tarefa quando percebe estar sendo bem avaliado pela sua execução, e acredita que deste
processo resultarão recompensas consoantes às suas metas pessoais (VERGARA, 2007).
Vroom apresenta três fatores determinantes da motivação em uma organização:
expectativas, recompensas e relações entre expectativas e recompensas. As expectativas
representam os objetivos individuais e o impulso fruto do desejo de se alcançar estes
objetivos. As recompensas compreendem a relação percebida pelo indivíduo entre sua
produtividade e a satisfação de suas expectativas. As relações entre as expectativas e as
recompensas dizem respeito à capacidade adquirida pelo indivíduo de manipular sua
produtividade, alinhando-a à obtenção das recompensas. Para a teoria da expectativa, a
interação dos três fatores é condicionante no nível de motivação. Segundo Robbins (2002, p.
167), a teoria da expectativa abrange três relações entre expectativas e recompensas: a
56
esforço-desempenho, a desempenho-recompensa e a recompensa-metas pessoais. Por relação
esforço-desempenho entende-se a razão percebida pelo indivíduo entre o esforço despendido e
suas consequências em termo de desempenho. A relação desempenho-recompensa representa
a correlação construída pelo indivíduo entre o nível de desempenho e a recompensa a ele
atribuída; relação que o orienta rumo à obtenção de um determinado resultado desejado. Por
fim, a relação recompensa-metas pessoais surge da avaliação do impacto das recompensas
organizacionais na satisfação das necessidades do indivíduo, e do grau de atratividade destas
recompensas. Como ntese, explica que “A força da tendência para agir de uma determinada
maneira depende da força da expectativa de que esta ação trará um resultado, e da atração que
este resultado exerce para o indivíduo”.
Soto (2002) chama a teoria proposta por Vroom de Teoria VIE, e a coloca como
espécie do gênero teorias da instrumentalidade, intencionalidade ou da expectativa de
resultados, junto com a Teoria do path/goal e a Teoria de Porter e Lawler. Para o autor a
essência da proposta de Vroom é constituída pelos diversos processos mentais responsáveis
pela determinação do comportamento humano, traduzidos e agrupados nos conceitos de
valência, instrumentalidade e expectativa.
Valência diz respeito à satisfação esperada por um indivíduo em relação ao alcance de
determinado resultado ou o grau de atratividade que determinado resultado exerce sobre o
indivíduo; nas palavras de DuBrin (2003, p. 123) “[...] refere-se ao valor que a pessoa a
determinado resultado”. Por instrumentalidade entende-se a percepção de determinada
pessoa referente à relação entre a realização de um comportamento e a obtenção de
determinado resultado. A expectativa representa a crença individual relativa à interação
existente entre esforços e desempenho.
A teoria da expectativa, portanto, define a motivação em termos de desejo e
esforço, por meio dos quais a realização de resultados desejados resulta da
interação de valências, instrumentalidades e expectativas. O desejo ocorre
quando valência e instrumentalidade são altas, e o esforço ocorre quando todos
os três são altos. (WAGNER III e HOLLENBECK, 2003, p. 90-91)
Robbins (2002, p. 168) considera como essência da teoria da expectativa “[...] a
compreensão dos objetivos de cada indivíduo, e a ligação entre esforço e desempenho,
desempenho e recompensa e, finalmente, entre recompensa e alcance das metas pessoais”.
Afirma que a teoria de Vroom auxilia na compreensão da não motivação de muitos indivíduos
em seu trabalho, ajuda no entendimento daqueles que fazem apenas o necessário para se
57
manterem no emprego. Schermerhorn (1999, p. 92) completa que “A teoria da expectação
ainda ajuda a explicar como os resultados de trabalhos diversos podem afetar a motivação”.
Robbins (2002) considera a teoria da expectativa uma das formulações mais aceitas
sobre a motivação. Para Muchinsk (2004), trata-se de uma das mais populares e importantes
teorias da motivação dos últimos 35 anos. A teoria formulada por Vroom conta com relevante
convalidação científica por parte de diversas pesquisas. “A maior parte dos especialistas
parece concordar que a teoria da expectação é uma fonte útil de análise da motivação no
trabalho” (SCHERMERHORN, 1999, p. 93).
Para teoria de Vroom, as recompensas exercem relevante influência no processo de
motivação no trabalho, o que a aproxima da teoria dos dois fatores; pois, considerando-se o
conceito amplo de recompensas, como resultados – extrínsecos e/ou intrínsecos – do empenho
do indivíduo em determinada tarefa, parte significativa dos fatores apresentados por Herzberg
fazem jus à classificação de recompensa.
O reconhecimento pelas execuções, o senso de realização experimentado ao se
completar uma tarefa particularmente desafiadora, o crescimento pessoal auferido pelo
desempenho de determinada tarefa, dentre outros fatores, representam recompensas
intrínsecas resultantes diretas do desempenho do indivíduo; assim como a remuneração
representa uma recompensa extrínseca. Assim sendo, a teoria da expectativa acaba por
explicar de forma mais ampla e pormenorizada aspectos contidos na teoria dos dois fatores.
4.2 A TEORIA ELEITA PARA BALIZAR A PESQUISA
A sistematização da literatura sobre a motivação teve por finalidade eleger os
pressupostos teóricos ideais a balizar a pesquisa de campo. Depreende-se desta revisão que as
teorias da motivação relacionam-se entre si, em geral, se complementam. Contudo,
considerados os objetivos deste estudo, a teoria dos dois fatores mostrou-se mais apropriada à
condução da pesquisa, uma vez que, apresenta de forma sistemática e analítica os fatores
que influenciam a satisfação e a insatisfação do indivíduo no trabalho.
Considerando-se que a proposta desta pesquisa tem como escopo avaliar os fatores
ambientais responsáveis por interferir na dinâmica de motivação no trabalho, relevante torna-
se a abordagem extra-orientada apresentada pela teoria de Herzberg. Entretanto, a teoria dos
dois fatores não será considerada de forma isolada, visto que, outras teorias apresentam
proposições capazes de complementá-la. Assim sendo, no decorrer da pesquisa, outras teorias
emprestam suas premissas à análise.
58
Como a teoria dos dois fatores apresenta o enriquecimento do cargo como meio pelo
qual instrumentalizar a aplicação de seus pressupostos, torna-se relevante a análise da
possibilidade de aplicação da técnica ao tipo de organização abordada pela pesquisa.
Os novos paradigmas gerenciais buscam a implantação das modernas técnicas de
gestão à administração pública, no entanto, conforme ressalta Rezende (2009, p. 345), um dos
principais desafios encontrados “[...] é o de como produzir sistemas hierárquicos de
autoridade compatíveis com a expansão das liberdades, competição política e da demanda
crescente por delegação de poder”.
As relações de poder numa instituição relacionam-se diretamente com a estrutura
organizacional da mesma. Os arranjos de poder surgem do desenho organizacional, e
constituem meios pelos quais as organizações tentam ser eficazes. Do ponto de vista da
psicologia social, a forma pela qual o poder é distribuído numa organização gera
consequências relevantes de serem abordadas nas relações interpessoais, e impacta a
motivação dos indivíduos no trabalho.
A teoria higiene-motivacional de atitudes no trabalho sugere o enriquecimento
científico da função como oportunidade de crescimento psicológico e, consequentemente,
instrumento de motivação no trabalho. Na literatura o método motivacional também é tratado
por enriquecimento do cargo, empowerment, sobrecarga vertical, oferta de fatores
motivacionais ou verticalização das funções; segundo Herzberg (1997), representa o processo
responsável por oferecer oportunidades de elevação da satisfação no trabalho, através da
atribuição de influência ou poder acrescido a uma posição, e da concessão de autonomia ao
colaborador, envolvendo-o no processo de tomada de decisões.
Dentre os princípios da sobrecarga vertical encontram-se: a retirada de controles,
mantendo a responsabilidade; o aumento da responsabilidade pelo próprio trabalho; a
concessão de autoridade adicional e liberdade no cargo. O enriquecimento de cargos consiste
em aumentar de forma ponderada e gradativa o poder atribuído a um cargo ou função.
Poder no sentido amplo, incluindo as metas, as responsabilidades e os desafios.
A verticalização das funções é um método popular em vigor nas organizações
contemporâneas (ROBBINS, 2002). A adequação do cargo ao indivíduo é responsável por
minorar os conflitos nas relações de trabalho e por motivar os colaboradores, influindo
direta e positivamente na satisfação dos mesmos. Oportuno destacar a importância dada por
Herzberg aos fatores que envolvem ou determinam o cargo.
Nas organizações, o poder representa o direito de deliberar, agir e mandar; nas
organizações burocráticas o poder é conferido a uma autoridade formal que surge da aplicação
59
das regras formais; o cargo representa a fonte de poder desta autoridade, ou seja, sua posição
na estrutura hierárquica.
A compreensão da relação entre o arranjo de poder e o comportamento do indivíduo
na organização depende do correto entendimento do conceito de poder, bem como da forma
de obtê-lo. Para Robbins (2002, p. 342) “O poder se refere à capacidade que A tem para
influenciar o comportamento de B, de maneira que B aja de acordo com a vontade de A”
[grifo do autor]. Segundo Soto (2002), o poder concede a capacidade de mandar, ordenar,
determinar o que deve ser feito; o autor ressalta que a manifestação mais típica do poder é a
autoridade. Portanto, entende-se por autoridade o detentor do poder de se fazer obedecer, de
dar ordens, de tomar decisões. A autoridade formal representa o detentor do poder nas
organizações.
Quando essa autoridade formal surge de uma previsão legal, ou seja, da aplicação das
regras formais e procedimentos, é classificada como burocrática ou legal-racional
(MORGAN, 1996). Robbins (2002) chama o poder que advém da posição na hierarquia
formal da organização, de legítimo; e Soto (2002, p. 211), define o poder legítimo como
aquele “[...] que se ostenta derivado da organização estruturada hierarquicamente [...]”.
Wagner III e Hollenbeck (2003, p. 275) acrescentam que o poder legítimo tem como base
“[...] normas, valores e crenças no sentido de que certos indivíduos possuem direito legítimo
de governar ou influenciar os outros”.
A estrutura organizacional determina a forma como as tarefas são distribuídas e
agrupadas; logo, pode-se inferir que a mesma define as relações formais de poder nas
organizações. Assim sendo, os arranjos de poder representam meios pelos quais as
organizações tentam ser eficazes. Para compreender as relações de poder nas organizações
faz-se necessário o entendimento de dois conceitos: bases do poder e fontes de poder.
Para Hall (2004, p. 107) “[...] as pessoas nas organizações obtêm poder por meio do
controle das bases e das fontes de poder”; o meio pelo qual o detentor do poder o exerce é
chamado de base do poder, enquanto o modo pelo qual controla as bases, de fonte de poder.
As bases de poder servem de referencial para o destinatário do poder.
A legitimidade, por exemplo, representa a base de poder pela qual a autoridade
racional-legal o exerce através de cargo ou posição na estrutura, fonte de poder. Morgan
(1996) considera a legitimidade como forma de aprovação social essencial para a
estabilização das relações de poder. Krausz (1991) defende que a eficiência do poder depende
do nível de aceitação do influenciado.
60
Do ponto de vista das relações interpessoais, o conceito de legitimidade é complexo,
tem sua fundamentação na percepção de equidade construída pelo destinatário do poder.
Depende do destinatário reconhecer o direito de se fazer obedecer, de dar ordens, de tomar
decisões, conferido ao detentor. Trata-se de importante aspecto a ser considerado quando da
estruturação organizacional, pois, as fontes de poder não são suficientes para garantir o seu
exercício.
As organizações públicas brasileiras – categoria de instituição na qual o DPF encontra-
se inserido quando avaliadas quanto à forma de distribuição de poder, enquadram-se na
classificação de instituições burocráticas. A burocracia representa uma das formas pela qual o
poder é distribuído nas organizações. Concebida pelo sociólogo alemão Maximillian Carl
Emil Weber (Max Weber), a teoria da burocracia propõe um modelo ideal de organização
administrativa caracterizado pela alta divisão de responsabilidade através de um sistema
hierárquico, onde as pessoas que o compõem executam invariavelmente regras e
procedimentos padrões.
A estrutura organizacional determina a forma pela qual as tarefas são distribuídas,
agrupadas e organizadas. Partindo do entendimento de que o desenho organizacional define as
relações de poder, torna-se fundamental a devida conceituação do modelo burocrático. A
burocracia diz respeito à forma de gestão baseada na hierarquia; a organização burocrática é
aquela onde “[...] as regras são escritas e as relações de poder claramente especificadas”
(HALL, 2004, p. 103).
A burocracia é caracterizada por tarefas operacionais rotineiras, realizadas
através de especialização, regras e regulamentos muito formalizados, tarefas que
são agrupadas em departamentos funcionais, autoridade centralizada, pequena
amplitude de controle e processo decisório que acompanha a cadeia de comando.
(ROBBINS, 2002, p. 441)
Na concepção de Weber a aplicação da teoria da burocracia torna a organização
eficiente e eficaz através da racionalização das atividades. É comum ver o termo sendo
utilizado como referência às organizações caracterizadas pelas disfunções do modelo
burocrático decorrentes da interação do elemento humano com o modelo idealizado onde
o excesso de divisões, regras e procedimentos, comprometem a eficácia das mesmas. Nas
palavras de Saraiva (2002, p. 189):
[...] a administração burocrática no serviço público, embora tenha sido
criada para esse fim, não garante rapidez, nem boa qualidade, nem custo baixo para
61
os serviços prestados ao público, sendo na verdade lenta, cara, auto-referida, e
pouco ou nada orientada para o atendimento das demandas dos cidadãos.
Nas organizações altamente burocratizadas as relações de poder são facilmente
identificadas, pois, as autoridades são definidas através de um modelo hierárquico. O arranjo
do poder é especificado de forma rígida e prévia aos próprios relacionamentos, dando forma à
estrutura organizacional. O modelo burocrático de gestão tem na estrutura organizacional, nas
regras e regulamentos instrumentos determinantes da distribuição de poder.
Para entender a Administração Pública brasileira, basta tomar o ordenamento jurídico
como referencial teórico; ela norteia-se pelos princípios constitucionais consagrados pela
Carta Magna. No caput do artigo 37 da Constituição Federal, de forma expressa, o
constituinte de 1988 determinou que a gestão pública se subordinasse aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. A compreensão do princípio da
legalidade é imprescindível ao entendimento da classificação do modelo de gestão pública
brasileiro, quanto à forma de distribuição de poder, como burocrático.
De acordo com o princípio da legalidade, um ato da administração pública somente
será válido se respaldado em lei, ou seja, o administrador público somente pode fazer o que a
lei expressamente autorizar ou determinar. Nas palavras de Di Pietro (2006, p. 82) “[...] a
Administração Pública só pode fazer o que a lei permite”. Sua imposição restringe a atuação
do Estado, no intuito de garantir proteção ao administrado em relação ao abuso de poder e
minorar a influência política sobre os servidores. O princípio da legalidade torna burocráticas
as organizações que compõem o sistema de serviços públicos brasileiro.
O inciso II, do artigo 37, da Constituição da República Federativa do Brasil, determina
que a nomeação em um cargo público de caráter efetivo “[...] depende de aprovação prévia
em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei [...]”. De acordo com o artigo
3º, da Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990, “Cargo público é o conjunto de atribuições e
responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um
servidor”; o parágrafo único do artigo supracitado acrescenta que os cargos públicos fontes
de poder são criados por lei. Logo, a explanação a respeito das normas legais confirma a
adoção do modelo focado na burocracia, onde o poder advém da aplicação das regras e
regulamentos, sendo as autoridades decorrentes dos cargos.
O idealizador da teoria dos dois fatores confere ao enriquecimento do cargo a
responsabilidade pela motivação no trabalho. No serviço público brasileiro os cargos e suas
atribuições são criados e definidos por lei; desta forma, o gestor público, por si só, dispõe de
62
discricionariedade limitada para implementar os princípios da sobrecarga vertical formulados
por Herzberg. Como a técnica motivacional depende do conteúdo do trabalho, infere-se que
sua aplicação está atrelada ao ordenamento jurídico.
Conforme exposto, no modelo adotado no Brasil as regras e regulamentos advêm do
ordenamento jurídico; sendo os cargos públicos e suas atribuições, respectivamente, criados e
definidas por lei. Lei no sentido estrito, norma elaborada e votada pelo poder legislativo,
sancionada pelo poder executivo, que depois de promulgada, obriga de forma perene toda
a coletividade. Assim sendo, depreende-se da análise dos dispositivos legais que regem a
administração pública que a aplicação da sobrecarga vertical no serviço público depende
diretamente do Poder Legislativo.
A carreira, do ponto de vista da gestão, representa relevante artifício jurídico ao
processo motivacional, pois, é capaz de propiciar a verticalização das funções no serviço
público através do escalonamento de cargos, de acordo com a complexidade de suas
atribuições, e determinar critérios – baseados no mérito – para a promoção.
No modelo burocrático de distribuição de poder, o cargo público representa a fonte de
poder e a legitimidade, sua base. Do ponto de vista técnico-jurídico torna-se difícil contestar o
meio pelo qual o ocupante do cargo público efetivo exerce o poder, pois, a posição
hierárquica advém das próprias regras que caracterizam o modelo.
Contudo, no contexto da motivação, a construção da legitimidade funciona sob outra
dinâmica, depende da percepção de equidade por parte do indivíduo; a obediência não
significa, necessariamente, um resultado positivo da aplicação do poder. Um colaborador
obediente não representa um colaborador satisfeito. Assim sendo, reforça-se a relevância da
correta consideração do mérito na construção da estrutura organizacional de um órgão
público; quando da elaboração das normas que definirão uma carreira, imprescindível se faz
ao legislador atribuir justiça às mesmas.
Portanto, a oferta de valores motivacionais é passível de ser aplicada pela
administração pública, desde que observados os princípios que a regem. Conforme
demonstrado, a proposta de enriquecimento vertical dos cargos depende diretamente da
elaboração do conteúdo do trabalho, da determinação das atribuições do cargo; no entanto,
frente ao princípio da legalidade, tais atividades dependem da legislação que regulamenta a
estrutura do órgão.
Consideradas as características do processo legislativo, cujas sínteses obrigam de
forma perene e universal, pode-se deduzir que a gestão pública encontra limitações em
relação às organizações privadas quanto à utilização do enriquecimento vertical do cargo.
63
As organizações privadas dispõem de maior discricionariedade em relação aos seus atos, o
que confere dinamismo e lhe capacita a realizar uma abordagem individualizada.
Saraiva (2002) reconhece as limitações que o modelo burocrático impõe à gestão
pública; a impessoalidade das normas transforma o padrão descritivo de critérios e relações
em padrão prescritivo, o que dificulta a implantação de medidas mais flexíveis de
gerenciamento e negligencia o elemento humano na organização.
As dificuldades em se reformar o modelo de administração vigente não se limitam à
gestão de pessoas, os esforços para implementar as diretrizes da Nova Administração Pública
têm encontrado consideráveis limites para estruturar e institucionalizar novas soluções
capazes de alterarem as formas tradicionais de controles burocráticos (REZENDE, 2009).
Entretanto, tais limitações não se mostram impeditivas. A motivação representa um
estado de espírito, identificável através de suas influências no comportamento individual,
subjetivamente quantificada em graus de acordo com a intensidade de sua manifestação; não
se trata de um atributo absoluto, que existe ou não existe. Desta forma, relevante se torna o
meio capaz de propiciar o desenvolvimento da motivação no contexto de um ambiente
organizacional, mesmo que de forma diversa da condição ideal considerada pela teoria.
Conforme apresentado, o ordenamento jurídico brasileiro dispõe de institutos legais
capazes de proporcionar a elevação da satisfação dos servidores públicos no trabalho. A
carreira e a promoção previstas pela Constituição Federal podem representar a
materialização da aplicação do enriquecimento vertical do cargo na administração pública.
64
5 O DIAGNÓSTICO DO AMBIENTE ORGANIZACIONAL
Este capítulo encontra-se subdividido em duas seções. A primeira apresenta uma etapa
da pesquisa que teve por finalidade avaliar o ambiente organizacional das Delegacias e
Núcleos que compõem a Delegacia Regional Executiva da Superintendência Regional da
Polícia Federal em Rondônia. Tal etapa teve por finalidade diagnosticar os fatores ambientais
influentes no processo de motivação no trabalho, bem como, mensurar o grau de motivação
no trabalho do universo pesquisado.
A seção subsequente apresenta uma parte do estudo que teve por objetivo identificar
tomando como referência a percepção do universo avaliado a escala de importância dos
fatores relacionados por Frederick Herzberg em sua teoria de motivação no trabalho.
O conteúdo das referidas seções tem sua origem na análise dos dados extraídos de um
mesmo instrumento de coleta de dados, no entanto, o teor das discussões se difere, motivo
pelo qual se optou por tratá-las em separado.
A adaptação das organizações públicas às modernas práticas de gestão depende da
compreensão de como os fenômenos organizacionais são afetados (SARAIVA, 2002).
Portanto, o foco da discussão apresentada nestas seções encontra-se nos fatores ambientais
capazes de influir no processo de satisfação do indivíduo no trabalho. Considerar os fatores
motivadores é imprescindível ao projeto de um ambiente salutar e facilitador ao bom
desempenho (LOPES e REGIS FILHO, 2004). Pois, apesar de derivar-se das necessidades
interiores do indivíduo, a motivação pode ser provocada através de estímulos e incentivos
(VERGARA, 2007). As abordagens contemporâneas devem considerar que o fenômeno da
motivação decorre da interação do indivíduo com os fatores ambientais (STONER e
FREEEMAN, 1999).
Para Maciel e Sá (2007, p. 66):
[...] é imprescindível deixar claro que a tarefa da administração não é a de
motivar as pessoas que trabalham numa organização. Até porque isto é impossível,
levando-se em consideração que a motivação é um processo intrínseco; íntimo para
cada pessoa. No entanto, a organização pode e deve criar um ambiente motivador,
onde as pessoas devem buscar satisfazer suas necessidades próprias.
De acordo com Hersey e Blanchard (1986, p. 31), “Os motivos, ou necessidades, de
um indivíduo são dirigidos para objetivos, que são aspirações no ambiente[grifo nosso]; os
fatores externos aqueles decorrentes do ambiente organizacional afetam
significativamente o comportamento da pessoa dentro da organização (TACHIZAWA, 2001),
65
desta forma, o envolvimento do indivíduo com os objetivos da organização depende das
condições oferecidas ao mesmo.
Tamayo e Paschoal (2003, p. 34) destacam importante mudança nas estratégias
motivacionais, a tendência das organizações é buscar “[...] um estilo de vida organizacional
que promova o bem-estar e a felicidade do empregado no trabalho”. Os autores afirmam que,
para tanto, o ambiente organizacional deve propiciar ao trabalhador oportunidades de
satisfazerem suas necessidades no trabalho e se realizar profissionalmente nele; pois, as
teorias da motivação buscam identificar as fontes de prazer para o trabalhador, fontes estas
que “[...] parecem encontrar-se no próprio trabalhador, no ambiente de trabalho e na interação
entre os dois”. Daí a importância da análise do ambiente organizacional, dos fatores que o
compõem e dos resultados da interação do indivíduo com o mesmo.
5.1 AVALIANDO O AMBIENTE ORGANIZACIONAL
A etapa da pesquisa de que trata esta seção teve por objetivo alcançar respostas a duas
perguntas principais: O ambiente organizacional das delegacias e núcleos que compõem a
Delegacia Regional Executiva oferece condições favoráveis ao desenvolvimento da
motivação no trabalho? Os agentes de polícia federal, lotados e em exercício nesta Delegacia
Regional Executiva, encontram-se motivados no trabalho?
A população-alvo do estudo foi diretamente abordada através de instrumento de
pesquisa construído com base nas premissas de Herzberg. Conforme exposto no capítulo que
trata da metodologia, foram considerados os fatores ambientais listados pela teoria dos dois
fatores como capazes de influir no comportamento individual; tanto os motivacionais, por se
relacionarem diretamente com o processo de satisfação no trabalho, quanto os higiênicos, por
estarem vinculados ao fenômeno da insatisfação no trabalho.
A pesquisa desenvolvida apresentou os seguintes resultados quanto à avaliação das
afirmativas que contemplavam a presença dos fatores motivadores no ambiente
organizacional abordado (figura 5): 90% dos pesquisados não concordam que o seu trabalho
oferece oportunidades de progresso na carreira; 76% dos pesquisados não concordam que seu
trabalho condiz com sua qualificação profissional; 72% dos pesquisados discordam de que
suas atividades funcionais proporcionam oportunidades de crescimento pessoal; 66% dos
pesquisados discordam de que têm autonomia e responsabilidade no trabalho; 62% dos
pesquisados não concordam que têm o devido reconhecimento pelo trabalho que realizam;
48% dos pesquisados discordam de que têm um trabalho desafiador e interessante. Em cinco
66
dos seis aspectos relacionados a fatores motivadores avaliados, a maioria dos pesquisados
discordam que os mesmos são oferecidos pelo ambiente organizacional do DPF.
Quanto à avaliação das afirmações que envolviam os fatores higiênicos, a pesquisa
apresentou os seguintes resultados (figura 5): 97% dos pesquisados não consideram os
regulamentos e políticas organizacionais isonômicos; 83% dos pesquisados consideram ter
um bom relacionamento com os superiores hierárquicos; 79% dos entrevistados consideram
ter uma vida pessoal satisfatória; 72% dos pesquisados não se sentem seguros contra
arbitrariedades no trabalho; 59% dos pesquisados discordam ter boas condições de trabalho;
55% discordam de que seu trabalho lhe proporciona prestígio/status.
Fatores Motivacionais
Fatores MotivacionaisFatores Motivacionais
Fatores Motivacionais
48
62
90
66
72
76
52
38
10
34
28
24
Tenho um trabalho desafiador e
interessante
Tenho o devido reconhecimento pelo
trabalho que realizo
Meu trabalho me oferece
oportunidades de progresso na carreira
Tenho autonomia e responsabilidade
no meu trabalho
Minhas atividades funcionais me
proporcionam oportunidades de
crescimento pessoal.
Meu trabalho condiz com minha
qualificação profissional
% dos entrevistados
Concordam
Discordam
Fatores Higiênicos
Fatores HigiênicosFatores Higiênicos
Fatores Higiênicos
17
21
55
59
97
72
83
79
45
41
3
28
Tenho bom relacionamento com meus
superiores hierárquicos
Tenho uma vida pessoal satisfatória
Meu trabalho me proporciona
prestígio/status
Tenho boas condições de trabalho
Os regulamentos e políticas
organizacionais do DPF são
isonômicos
Sinto-me seguro contra arbitrariedades
% dos entrevistados
Concordam
Discordam
Figura 5: Resultado da avaliação dos fatores motivacionais e higiênicos.
Quanto ao grau de motivação no trabalho, apenas 6,90% dos servidores pesquisados
escolheram a opção muito motivado; 24,14% consideram-se motivados; 44,83% dos
inquiridos escolheram a opção pouco motivado e 24,14% consideram-se desmotivados
(figura 6). Para melhor avaliar a realidade, as respostas foram agrupadas em: 1. desmotivado
ou pouco motivado e 2. motivado ou muito motivado. Desta forma, 69% dos servidores
pesquisados consideram-se desmotivados ou pouco motivados no trabalho; o restante, 31%,
consideram-se motivados ou muito motivados.
67
Grau de Motivação no Trabalho
Grau de Motivação no TrabalhoGrau de Motivação no Trabalho
Grau de Motivação no Trabalho
24,14% 44,83% 24,14% 6,90%
Desmotivado Pouco motivado Motivado Muito motivado
Figura 6: Grau de motivação no trabalho.
Foram tabulados os dados de 29 questionários; pois, dos 33 servidores que compõem o
universo focado pelo estudo, 3 não responderam e 1 foi excluído, tendo em vista ser autor da
pesquisa. Os 29 pesquisados se manifestaram em relação a 6 afirmativas relacionadas a
fatores motivacionais, dando um total de 174 respostas. Destas, 120 discordaram da existência
do fator motivacional contido na afirmação, enquanto 54 concordaram com a presença do
mesmo. No geral, 69% das respostas manifestaram desacordo com as afirmações que
atestavam a presença de fatores motivacionais no ambiente organizacional (figura 7).
Análise da Presença dos Fatores Motivadores no
Análise da Presença dos Fatores Motivadores no Análise da Presença dos Fatores Motivadores no
Análise da Presença dos Fatores Motivadores no
Ambiente Organizacional
Ambiente OrganizacionalAmbiente Organizacional
Ambiente Organizacional
69%
31%
Discordam das afirmativas
que atestam a presença
do fator motivador no
ambiente organizacional
Concordam com as
afirmativas que atestam a
presença do fator
motivador no ambiente
organizacional
Figura 7: Análise da presença dos fatores motivadores.
Os 29 inquiridos se manifestaram em relação a 6 afirmativas relacionadas à presença
de fatores higiênicos no ambiente organizacional, dando um total de 174 respostas. Destas, 93
discordaram da existência do fator contido na afirmação, enquanto 81 concordaram com a
68
presença do mesmo. No geral, 53% das respostas manifestaram desacordo com as afirmações
que atestavam a presença de fatores higiênicos no ambiente organizacional em destaque.
Considerando a teoria proposta por Herzberg, o ambiente organizacional favorável ao
surgimento e manutenção da motivação no trabalho deve proporcionar os fatores motivadores.
Portanto, a ausência dos mesmos caracteriza um ambiente organizacional como não
estimulador da motivação. Os resultados auferidos pela pesquisa apontam para o fato de que o
ambiente organizacional das delegacias e núcleos que compõem a Delegacia Regional
Executiva em escopo não oferece condições propícias ao desenvolvimento da motivação no
trabalho.
A conclusão citada foi confirmada pelos resultados da análise dos dados coletados na
segunda etapa do instrumento de pesquisa. Os valores apresentados mostraram que a grande
maioria dos agentes de polícia federal não se consideram motivados no trabalho. A relação
proposta por Herzberg se confirma quanto se confronta a avaliação do ambiente
organizacional, à luz dos fatores motivadores, com a avaliação do grau de motivação no
trabalho percebida pelos próprios servidores; na primeira, 69% das respostas discordam das
afirmativas que atestam a presença de um determinado fator motivador no ambiente
organizacional, na segunda, aproximadamente 7 em cada 10 servidores não se consideram
motivados no trabalho.
5.2 CONSTRUINDO A ESCALA DE IMPORTÂNCIA DOS FATORES QUE
INFLUENCIAM A MOTIVAÇÃO NO TRABALHO
A discussão apresentada a seguir decorre como complementação à pesquisa
apresentada na seção anterior, a qual analisou as características do ambiente organizacional
em relação à motivação no trabalho da população-alvo. Dos resultados auferidos depreende-se
que o ambiente organizacional em escopo não oferece condições propícias ao
desenvolvimento da motivação no trabalho. Considerando-se a influência dos fatores
ambientais na dinâmica de satisfação do indivíduo, relevante se faz a avaliação dos mesmos
pelos pesquisados.
O objetivo desta etapa do estudo foi construir tomando como referência as
percepções dos entrevistados a escala de importância dos fatores ambientais. Através da
escala de importância auferida pela pesquisa torna-se possível identificar quais fatores, no
contexto da população abordada, merecem maior atenção do administrador.
69
Conclusão relevante, pois, os fatores contidos em ambos os grupos exercem influência
sobre o desempenho do indivíduo e podem ser analisados e trabalhados individualmente.
Hersey e Blanchard (1986) ressaltam a importância dos gestores conhecerem quais objetivos
as pessoas querem satisfazer, para poderem determinar os que devem ser colocados no
ambiente de trabalho para motivar tais indivíduos.
Considerando que os resultados auferidos demonstram a ordem de relevância dos
aspectos abordados para o universo pesquisado, tal escala apresenta-se capaz de subsidiar
tomadas de decisões relacionadas à gestão de pessoas, bem como auxiliar no delineamento de
pesquisas futuras voltadas à análise aprofundada dos fatores que mais impactam a dinâmica
motivacional da população em escopo.
Conforme apresentado anteriormente, Herzberg sistematizou os fatores que se
relacionam com a motivação no trabalho, bem como os fatores que contribuem para minorar a
insatisfação no trabalho. Entre motivadores e higiênicos, os aspectos relacionados ao trabalho
foram avaliados quando do diagnóstico do ambiente organizacional: segurança contra
arbitrariedades; relacionamento com superiores hierárquicos; vida pessoal; condições de
trabalho; prestígio proporcionado pelo trabalho; regras e regulamentos organizacionais;
reconhecimento pelas realizações; oportunidade de progresso na carreira; autonomia e
responsabilidade no trabalho; oportunidade de crescimento pessoal; relação entre a
qualificação profissional e as exigências do trabalho; grau de atratividade e desafio oferecido
pelo trabalho.
O interessado em estudar as pessoas dentro de uma organização tem a oportunidade de
considerá-las como pessoas ou como recursos. Tratar pessoas como pessoas depende de uma
abordagem pessoal e individualizada; tratar pessoas como recursos pressupõe tratamento pela
média, igual e genérico.
As teorias contemporâneas sobre gestão de pessoas defendem tratar as pessoas como
pessoas e, simultaneamente, como importantes recursos organizacionais. A etapa da pesquisa
apresentada encontra-se em consonância com tal entendimento, ao passo em que obteve uma
escala representativa do universo abordado, partindo das avaliações individuais dos elementos
que o compõe.
Considerando a premissa de que motivação representa um fenômeno complexo, que se
determina de acordo com a subjetividade do indivíduo, importante se faz o esforço no sentido
de racionalizar o estudo do tema; a escala resultante é uma representação matemática da
realidade subjetiva do universo em escopo.
70
Foram considerados tanto os fatores motivacionais quanto os higiênicos. Os primeiros
por estarem diretamente envolvidos no alcance da motivação no trabalho; os do segundo
grupo, por influenciarem a eficácia dos fatores motivacionais, ou seja, afetam o desempenho
do indivíduo na organização.
Os fatores higiênicos são limitados em capacidade de motivar, porém, a eliminação da
insatisfação faz com que os fatores motivacionais apresentem um efeito máximo. Gondim
(2004) reforça este entendimento ao afirmar que os fatores higiênicos não são capazes de
satisfazer ou motivar pessoas, no entanto, devem ser objeto de atenção e preocupação dos
gestores, pelo fato da insatisfação afetar negativamente o desempenho no trabalho.
O estudo apresentado nesta seção avaliou os fatores propostos pela teoria de Herzberg
quanto à importância dos mesmos para a população pesquisada, de forma a tratar as
subjetividades individuais de forma quantitativa, auferindo-se a realidade estatística do grupo.
Cada indivíduo construiu sua própria escala de importância dos fatores ao ordenar os doze
aspectos relacionados ao trabalho a ele apresentados; os dados coletados foram tabulados e
tratados de modo a permitir a construção de uma escala unificada que representa a percepção
do grupo.
Escala de Importância
103
134
149
156
170
175
199
206
220
226
236
288
Um trabalho de presgio ou status
Estabilidade no cargo e proteção contra arbitrariedades
Um bom relacionamento com os superiores hierárquicos
Um trabalho desafiador e interessante
Regras e políticas organizacionais isonômicas
Um trabalho adequado à qualificação profissional
Boas condições de trabalho
Um trabalho que confira autonomia e exija responsabilidade
Oportunidade de crescer por meio das atividades funcionais
Oportunidade de progresso na carreira
Reconhecimento e apreço pelo trabalho que realiza
Uma vida pessoal satisfatória
Figura 8: Escala de importância dos aspectos ambientais
71
Tabulados os dados dos 29 questionários, os valores atribuídos a cada aspecto foram
somados, e estes ordenados decrescentemente conforme a pontuação obtida (figura 8). Os
valores apresentados ao lado das barras que compõem o gráfico representam a pontuação
obtida pelo aspecto em referência. As barras hachuradas representam aspectos ambientais que
retratam fatores higiênicos, enquanto as negras, aspectos relacionados a fatores motivacionais.
Com base nas informações apresentadas foi possível a construção da escala pretendida
pelo presente estudo (figura 9). Os fatores apresentados por Frederick Herzberg em sua teoria
foram ordenados conforme a posição obtida pelo aspecto ambiental correspondente, conforme
os resultados da pesquisa realizada. O fator “vida pessoal” é classificado por Herzberg (1997)
como higiênico, no entanto, como o foco da discussão encontra-se nos fatores ofertados pelo
ambiente organizacional, o respectivo fator não foi considerado na construção da escala.
Mais
importante
1º Reconhecimento pelas execuções
2º Progresso na carreira
3º Crescimento pessoal
4º Responsabilidade/Autonomia
5º Condições de trabalho
6º O trabalho em si
7º Políticas organizacionais
8º Execuções
9º Relacionamento com superiores hierárquicos
10º Segurança
11º Status
Menos
importante
Figura 9: Escala de importância dos fatores
O estudo realizado nesta etapa da pesquisa alcançou o objetivo pretendido a
construção de uma escala onde os fatores que influenciam na motivação fossem ordenados de
acordo com o grau de importância dos mesmos para a população-alvo. Os resultados
auferidos conferem maior clareza à avaliação do universo pesquisado no contexto da
72
dinâmica motivacional, apontando para os fatores que merecem maior atenção, tanto do ponto
de vista acadêmico como gerencial.
Tamayo e Paschoal (2003, p. 40) argumentam que “[...] um programa de motivação
não pode atender às metas e aos interesses de cada um dos empregados, mas pode ser
elaborado a partir de metas e interesses compartilhados na organização [...]”. Deste modo, no
contexto considerado, a utilização da escala obtida poderá minorar as dificuldades peculiares
aos estudos sobre a motivação conferidas pela complexidade e subjetividade do ser humano
ao passo em que representa uma síntese das percepções individuais acerca dos aspectos
avaliados.
Interessante destacar que das seis primeiras posições da escala auferida, cinco foram
ocupadas por fatores motivacionais. Conclui-se que, no geral, os fatores motivadores são
considerados mais importantes do que os fatores de higiene. Vale confrontar a escala de
importância com o diagnóstico alcançado pela primeira etapa do levantamento.
O fator reconhecimento pelas execuções foi considerado, pelos entrevistados, como o
mais importante; porém, 62% dos inquiridos discordam que o mesmo é oferecido pelo
ambiente organizacional. o fator motivacional progresso na carreira, ocupa a posição
na escala de importância; entretanto, 90% dos pesquisados não concordam que o seu trabalho
ofereça oportunidades de progresso na carreira. Quanto ao terceiro colocado, o fator
crescimento pessoal, apenas 28% dos servidores concordam que suas atividades funcionais
proporcionam oportunidades de crescimento pessoal. Em relação ao fator
responsabilidade/autonomia, 4º colocado, apenas 34% da população abordada considera que
o trabalho que desempenham confere autonomia e exige responsabilidade. O fator o trabalho
em si ocupou a posição; para 72% dos entrevistados o trabalho que desempenham não
condiz com sua qualificação profissional.
Infere-se que os fatores motivacionais, considerados pela teoria que baliza esta
pesquisa como imprescindíveis à satisfação no trabalho, são considerados pelos servidores
policiais entrevistados como os fatores ambientais mais importantes; ao mesmo tempo, os
resultados da pesquisa retratam que, na percepção dos inquiridos, os fatores motivadores não
são oferecidos pelo ambiente organizacional do DPF. Tais considerações explicam, em parte,
o baixo grau de motivação dos servidores no trabalho, visto que, 69% destes consideram-se
pouco ou nada motivados no trabalho.
73
6 ANALISANDO O CONTEÚDO DO DISCURSO DOS SERVIDORES SOBRE A
MOTIVAÇÃO NO TRABALHO
Partindo do pressuposto de que motivação compreende o conjunto de fatores
psicológicos que determinam a conduta humana, a análise dos fatores que influenciam o
processo motivacional é imprescindível à elaboração de proposições capazes de conferir
novas perspectivas motivacionais para os servidores.
Assim sendo, a discussão apresentada neste capítulo facilita a compreensão dos
componentes psicossociais que envolvem a dinâmica de motivação no trabalho através da
análise de manifestações do comportamento dos servidores pesquisados, mais
especificamente, da expressão verbal, seus enunciados e suas mensagens.
Alcançado o maior entendimento dos fatores identificados no ambiente
organizacional que se relacionam diretamente com dinâmica de motivação no trabalho,
surgem subsídios relevantes à formulação de explicações sobre a dinâmica de motivação no
trabalho do universo estudado.
Em seguida serão apresentadas as inferências obtidas da análise do conteúdo dos
discursos dos policiais federais contidos no corpus, construído conforme explicitado no
capítulo destinado à metodologia.
O baixo grau de satisfação no trabalho de parte significativa dos policiais federais
mostra-se evidente no conteúdo analisado. Nas palavras de Pasqualetti (2008), “Poucos são os
que acordam para o trabalho com vontade, com pujança, com força”; acrescenta que,
atualmente, o sentimento que domina seus pares é o de descrença, de desânimo. De acordo
com Cidreira (2008), todos os policiais percebem a situação extremamente grave na qual vive
o DPF em relação à gestão de pessoas, “A desmotivação dos policiais chega a níveis
alarmantes e o que vemos são uns poucos administradores tentando fazer algo [...] a respeito”.
Segundo Lima (2006) “A Polícia Federal vivencia há bastante tempo um nível bastante
elevado de insatisfação. Existe um sentimento contagiante de desmotivação no órgão [...]”.
Tal constatação explica em parte os resultados, apresentados por Rocha (2009), de
uma pesquisa realizada pelo DPF, entre os servidores do próprio órgão, através de uma
enquete disponibilizada na rede interna de computadores. Apenas 24,14% estão satisfeitos
com a carreira e pretendem nela continuar até a aposentadoria. Os resultados auferidos
revelaram o desinteresse dos servidores pela profissão, 57,8% dos entrevistados manifestaram
não terem interesse em permanecer como servidor da Polícia Federal (52,95% pretendem
74
concorrer a outro cargo público e 4,86% pretendem migrar para a iniciativa privada). Os
outros 18% gostariam de permanecer no órgão, porém, noutro cargo.
A falta de satisfação no trabalho parece não assolar somente o DPF, Pires (2009)
afirma que “Ao mesmo tempo em que discute melhorias gerenciais e traça metas para
profissionalizar a máquina pública, o Estado convive com bolhas de insatisfação espalhadas
pelo funcionalismo”. Considerando que as instituições públicas brasileiras estão subordinadas
aos mesmos princípios gerais e, em grande parte, à mesma legislação reguladora, a
constatação do autor mostra-se coerente.
Para Penha (2005, p. 66), “A bem da verdade, regra geral, o servidor, hoje em dia, é
um ser desmotivado pelas más condições de trabalho e pela falta de perspectivas”. O autor
ressalta que a tendência mundial é de que o serviço público ande atrás do dinamismo da
iniciativa privada, contudo, no Brasil, a distância entre as práticas de gestão destes gêneros de
organização é tamanha, a ponto de prejudicar a vida dos cidadãos e comprometer o
crescimento do país.
Segundo Pires (2009), a gênese da falta de satisfação dos servidores públicos
brasileiros está na baixa capacidade que a burocracia tem de transferir valor às tarefas
executadas pelo servidor. Tal constatação encontra-se em consonância com os pressupostos
elaborados por Herzberg (1997), quem credita ao conteúdo do trabalho o mérito pela
motivação do indivíduo.
Em seu texto, Pires cita trechos de entrevistas realizadas com especialistas que
corroboram sua afirmação: para Wanderley Codo, professor de psicologia social e do trabalho
da Universidade de Brasília, “[...] a frustração e o sentimento de derrota dos servidores estão
associados ao fato de que raramente o esforço diário se traduz em algo concreto”; já Juliana
Barral, mestre em administração pública, adverte que “[...] do ponto de vista estrutural, ainda
há muito o que se avançar no Brasil. [...] Se a pessoa não consegue ver o resultado do que faz,
ela trabalha para quê? A organização precisa dar desafios ao profissional, estimulá-lo
sempre”.
A boa remuneração, a estabilidade e o prestígio proporcionado pela carreira típica de
Estado têm se mostrado insuficientes para proporcionar a satisfação dos servidores policiais
federais. A falta de motivação no trabalho dos policiais tem gerado considerável evasão de
servidores dos quadros do DPF.
Werneck (2008) demonstra evidências da migração dos servidores através dos
seguintes dados obtidos da análise do histórico de efetivo do DPF: de 1994 a 2002, houve a
vacância de 256 cargos de agentes, escrivães e papiloscopistas; enquanto de 2003 a 2006,
75
foram 401. Considerando que a vacância ocorre quando é declarado vago o cargo do servidor
por motivo de exoneração ou posse em outro cargo inacumulável, constata-se um aumento
substancial no êxodo dos servidores do DPF.
Dentre outras, Werneck apresenta como causas da evasão: a ausência de perspectiva
profissional dos servidores que ocupam tais cargos e a falta de reconhecimento efetivo.
Acrescenta que outras instituições públicas e privadas oferecem melhor estrutura e visão
de futuro, características que estariam influenciando a migração dos servidores do DPF.
Lima (2006) afirma que a grande maioria dos novos policiais não quer permanecer na
Polícia Federal, “[...] sentem-se desiludidos com a realidade vivenciada no órgão”, pois, já
percebem a ausência de oportunidades de ocuparem funções estratégicas e de comando, bem
como participarem do processo decisório. Acrescenta que “Um percentual elevado dos novos
policiais está se submetendo a novos concursos públicos [...] em virtude da política adotada
[...]”; para o servidor, o baixo grau de satisfação dos policiais “[...] tem sua origem na
estrutura da carreira [...]”.
De acordo com a FENAPEF (2009), a direção do DPF está a par desta realidade, cita
inclusive um projeto de lei elaborado pelo Ministério da Justiça o qual prevê a criação de
mecanismos para tentar reduzir a evasão de recém-aprovados em concursos. A estratégia a ser
implementada pelo órgão implica na exigência de uma permanência mínima no cargo, sob
pena do aprovado ter que pagar as despesas com o curso de formação policial.
O prazo de carência no cargo representa um artifício para remediar o considerável
índice de evasão de servidores do DPF, no entanto, apresenta-se como uma medida paliativa.
Considerando a hipótese de que a evasão é provocada, em grande parte, pela ausência de
satisfação dos servidores com a realidade funcional do órgão, dificultar sua saída através da
imposição de pena pecuniária não contribuirá com a motivação dos mesmos, tão pouco
resolverá as aparentes deficiências do órgão em relação à sua gestão de pessoal.
Um importante aspecto observado na análise do conteúdo é o foco do discurso dos
servidores policiais federais, o principal assunto discutido no material estudado é a carreira;
que por sua vez, representa um dos fatores motivacionais apresentados por Herzberg. Outra
inferência obtida da avaliação das exposições é que os demais fatores motivacionais giram em
torno da discussão sobre carreira.
Fatores como as execuções e o reconhecimento pelas execuções, o próprio trabalho em
si, as oportunidades de promoção, as oportunidades de crescimento pessoal, a
responsabilidade e a realização, encontram-se intimamente relacionados com a oportunidade
de progresso na carreira.
76
Conforme exposto na seção que se destinou a caracterizar a dinâmica de trabalho no
DPF, o órgão ainda não dispõe de um plano de carreira que cumpra com as determinações
constitucionais. A falta de estruturação da carreira impossibilita a implementação da
promoção funcional, que por sua vez representa a forma de provimento aos cargos de carreira;
tal realidade impacta diretamente o processo motivacional dos servidores policiais federais,
pois, a promoção representa instituto do ordenamento jurídico capaz de proporcionar a
elevação da satisfação dos servidores públicos no trabalho, tendo em vista que corresponde à
materialização da aplicação do enriquecimento vertical do cargo na administração pública.
Portanto, à luz do referencial teórico que orienta a pesquisa, a carreira representa um
aspecto fundamental à análise da dinâmica de motivação no trabalho. Primeiro, pelo estreito
relacionamento entre o cargo e o conteúdo do trabalho, segundo, pela dependência imposta
pela carreira à oportunidade de progresso na profissão e crescimento pessoal; além disso, pela
sucessão de cargos significar oportunidade de promoção e reconhecimento efetivo pelas
execuções.
A conclusão de tal importância explica o fato do discurso dos servidores policiais
federais estar centrado na reivindicação por um plano carreira. No corpus, a ansiedade para
que tal estruturação ocorra encontra-se explícita, frente à necessidade de se dirimir as
divergências que vigem sobre o assunto.
Para Cidreira (2008), a ausência de perspectiva de promoção funcional provocada pela
falta de um plano de carreira é responsável pelo baixo grau de motivação do efetivo policial
no trabalho. Segundo Lima (2006), “[...] o modelo atual caracteriza-se numa situação
anômala, pois é composto por cinco cargos estanques [...] não possibilitando o
desenvolvimento funcional, isto é: o crescimento na carreira”.
Considerando carreira representar a sucessão de cargos, estruturados em níveis de
acordo com sua natureza, complexidade e grau de responsabilidade, necessária se faz o
hierarquização formal dos cargos. A estruturação da carreira através do escalonamento dos
cargos que a compõe apresenta-se como o primeiro passo a ser dado na definição das regras
para promoção funcional, pois, determinará o caminho a ser seguido pelo servidor no
processo de desenvolvimento funcional.
Fajardo (2001) explica “[...] que não é permitido ao policial que ingressou na Polícia
Federal para atuar na área de investigação, chegar a ocupar cargos de comando na instituição,
hoje todos reservados a delegados, independente da capacidade funcional de um ou de outro”.
Para Lima (2006) a estrutura organizacional imposta pelos costumes é contraditória, a
ausência de critérios claros na distribuição de poder, ao excluir parte dos policiais do processo
77
decisório, gera conflitos que influem negativamente sobre o rendimento do trabalho policial,
que por natureza deve ser feito em equipe.
Depreende-se do conteúdo analisado a insatisfação dos policiais não-delegados com as
barreiras existentes ao desenvolvimento funcional no DPF. Alves (2008) considera positivo o
fato dos cargos de chefia serem ocupados por servidores efetivos do próprio quadro do órgão,
porém, lamenta que tal escolha ocorra ignorando critérios técnicos como competência,
experiência, formação e perfil profissional adequados à função. Para a FENAPEF (2007), os
policiais federais devem se mobilizar por uma polícia verdadeiramente democrática, onde as
promoções ocorram por mérito; para tanto, ressalta a necessidade da estruturação efetiva da
carreira policial federal, pois, a hierarquia funcional depende de regras claras.
Noutro comunicado, a FENAPEF (2008) explica que para o DPF se modernizar e
tornar-se uma instituição democrática e eficiente depende de um plano de carreira capaz de
ofertar aos servidores a oportunidade de promoção funcional baseada no “[...] mérito,
experiência, competência e qualificação [...]”. Segundo Silva (2008), a maioria dos policiais
federais almeja “A estruturação de uma carreira [...] que possibilite o reconhecimento da
competência, da capacidade, da experiência [...]”.
A meritocracia deve ser devidamente considerada pelo gestor preocupado com a
satisfação de seus colaboradores, pois, representa a qualidade do modelo de gestão baseado no
mérito, onde a distribuição de poder ocorre fundamentada no merecimento; merecimento este
avaliado pela qualificação e competência. As condições colocadas como caracterizadoras do
modelo de gestão têm relevante papel nas teorias da motivação. Recompensar o merecimento,
conforme colocado por Herzberg, é extremamente relevante à motivação do indivíduo no
trabalho.
Silva (2007) classifica a estrutura atual do DPF como estanque e considera como
consequência desta limitação a desvalorização dos servidores e o baixo grau de motivação no
trabalho. Considerações coerentes com os pressupostos de Herzberg, quem afirma que o
aumento do grau de satisfação no trabalho depende da capacidade da gestão do órgão em:
delegar responsabilidade; oferecer oportunidades de promoção na carreira; conceder liberdade
para se exercer discrição; possibilitar o uso pleno das habilidades pessoais; estabelecer metas
e avaliar o cumprimento das mesmas; permitir a simplificação do cargo pelo próprio
ocupante; enriquecer ou ampliar o cargo, tanto horizontal como verticalmente.
Para Tognolli (2008) os agentes de polícia federal almejam um plano de carreira que
lhes permita a oportunidade de se tornarem delegados. Considerando o fato dos cargos de
chefia serem ocupados quase que exclusivamente por delegados de polícia, os policiais não-
78
delegados apresentam, através dos discursos analisados, a proposta de que se criem meios
pelos quais estes se tornem delegados diferentes do concurso público tradicional, pois,
argumentam que a própria natureza policial do trabalho dedicação integral e exclusiva
diminui as chances de êxito do policial não-delegado no certame convencional, por privá-lo
de tempo suficiente ao estudo.
Considerando-se a legislação vigente, infere-se que o pleito dos servidores encontra-se
em consonância com o ordenamento legal, pois, conforme a Carta Magna, o cargo de
delegado de polícia federal não é um cargo isolado, representa um dos cargos que compõem a
carreira policial federal. Caso seja quando da estruturação da carreira legalmente
posicionado no topo do escalonamento, deverá ser alcançado através da promoção funcional,
e não através de concurso público, conforme ocorre atualmente.
No discurso dos servidores nota-se que, mesmo inexistindo um plano de carreira
estruturado, a cultura organizacional do órgão é responsável por atribuir status de chefia ao
cargo de delegado de polícia. Considerando a existência de apenas uma carreira policial, o
referido cargo encontra-se informalmente posicionado pela cultura organizacional nos
níveis superiores do escalonamento de uma carreira fictícia, não havendo, portanto, maneira
pela qual as categorias funcionais subordinadas o alcancem através da promoção, meio de
provimento adequado ao desenvolvimento funcional dentro de uma carreira.
Hoje, ingressa-se diretamente no cargo de delegado de polícia através de concurso
público; a forma de ingresso no cargo representa um dos pontos de insatisfação apresentado
pelos servidores, pois, considerando a cultura organizacional vigente no órgão, representa o
procedimento pelo qual são selecionados os ocupantes dos cargos de chefia.
Os servidores apresentam uma agravante, grande parte dos delegados formados pela
Academia Nacional de Polícia, tomam posse no cargo sem nenhuma experiência policial,
muitas vezes com pouca experiência de vida, dada a juventude do neófito. Destarte, Barreto
(2008) questiona a capacidade que um curso de formação policial tem em habilitar um garoto
recém saído dos bancos escolares, sem experiência profissional, a assumir complexas
investigações e consequentes cargos de chefia.
Fajardo (2001) critica a realidade onde policiais experientes e qualificados são
comandados por jovens com conhecimento teórico suficiente para serem aprovados em
concurso público, porém, sem nenhuma experiência em lidar com situações adversas, que em
muitas vezes lhe obriga a optar entre a vida e a morte, considerando-se a natureza do ofício.
Nas palavras de Gonçalves (2008) o DPF precisa de “Uma carreira que impeça
neófitos de entrarem no meio dela, com o agravante de chefiarem homens experientes num
79
ofício onde matar ou morrer é uma concreta possibilidade”. Alves (2005) considera como
vesga a concepção de hierarquia imposta pela cultura organizacional do DPF onde experientes
policiais são subutilizados e subordinados a superiores neófitos, em geral, sem nenhuma
experiência policial. Castro (2007) classifica como a aberração mais danosa à instituição
Polícia Federal o fato de pessoas com pouca experiência de vida e nenhuma profissional, que
uma vez tendo sido investidas no cargo de delegado de polícia, passem a comandar e a dirigir
profissionais possuidores do mesmo curso superior e com a experiência policial que os
primeiros não possuem.
Do discurso dos policiais depreende-se que o DPF é dirigido por delegados de polícia
em função de uma anomalia jurídica causada pela ausência de regulamentação legal da
carreira policial federal prevista pela Carta Magna. Na visão dos servidores o modelo de
distribuição de poder vigente na instituição negligencia a competência e a qualificação
profissional dos servidores policiais ocupantes dos demais cargos, que não o de delegado.
Silva (2007) ressalta que os policiais não-delegados não podem ficar sem perspectiva
de promoção funcional, pois, em sua maioria dedicam suas vidas à causa da segurança
pública, têm aptidão e vocação para o trabalho policial, gostam do que fazem e se sacrificam
pelo trabalho policial durante as investigações e operações.
Nos textos analisados o emprego da expressão carreira única ocorre com
significativa frequência, visto que, representa a principal reivindicação dos policiais federais.
“Ainda sonhamos com o dia em que seremos uma carreira única, como manda a Constituição
Federal” (GARISTO, 2004). Para Castro (2007), a estruturação da polícia em carreira única é
imprescindível à satisfação no trabalho, pois, introduzirá a meritocracia como mecanismo de
valorização do servidor policial. Explica que isso ocorrerá na medida em que o ingresso à
carreira policial federal somente será possível pela base da carreira e, a promoção aos cargos
subsequentes estará atrelada a critérios que ponderem suas aptidões intelectuais, sua
qualificação e experiência profissional.
Em 24 de junho de 2008, o Jornal do Brasil publicou, em sua edição on-line, matéria
tratando da ausência de desenvolvimento funcional no DPF, onde afirma que no centro da
discussão “[...] está a luta por carreira única na corporação, o que implicaria na divisão de
poderes dentro do órgão. Na carreira única, os agentes poderiam crescer na corporação e
dividiriam o poder interno com os delegados”. Silva (2007) destaca que a implantação da
carreira única definida pela CF/88 “[...] é fundamental para a qualificação, valorização e
modernização da Polícia Federal”.
80
Nas palavras de Nedel (2009), “A falta de perspectiva funcional e a falta de uma
carreira têm levado a uma desmotivação crescente e sem precedentes dos servidores da
Polícia Federal. Policiais e administrativos desiludidos abandonam a Instituição atrás de
melhores perspectivas e paz”.
Os dois objetivos citados como impulsionadores da migração não se relacionam com
um mesmo aspecto do ambiente organizacional. Melhores perspectivas diz respeito a
oportunidades de progresso na carreira, enquanto, a palavra paz, no contexto dos discursos
analisados, refere-se à vontade do servidor se distanciar dos conflitos interpessoais que
tornam insalubre o ambiente de trabalho, em grande parte gerados pela insatisfação do efetivo
policial não-delegado com a estrutura do órgão.
Os relacionamentos interpessoais são considerados, por Herzberg, como higiênicos,
relacionam-se com a insatisfação, no entanto, merecem atenção dos estudos motivacionais,
pois, a eliminação da insatisfação é capaz de maximizar o efeito dos fatores motivacionais.
Apesar de incapazes de motivar ou satisfazer pessoas, os fatores higiênicos podem afetar
indiretamente o processo de motivação no trabalho.
Na narrativa de Wink (2008) os conflitos internos são retratados tendo como fato
gerador a “[...] sistemática de imposição hierárquica das autoridades [...]”, cujas vítimas
maiores são os agentes, escrivães e papiloscopistas. Classifica o processo instalado no DPF
por tais desavenças como autofágico. Nas palavras de Castro (2007), as normas que regem a
distribuição de poder no DPF são “[...] draconianas e anti-democráticas [grifo nosso].
Fajardo (2001) considera esdrúxula “[...] a injustificável concentração de poder nas mãos de
um único segmento dentro do corpo funcional, que despreza a qualificação profissional em
detrimento do corporativismo”. De acordo a FENAPEF (2008), as divergências internas
encontram-se evidentes, constituem grave problema “[...] face ao descontentamento que hoje
aflige a esmagadora maioria dos policiais federais” [grifo nosso].
Percebe-se da análise das narrativas o uso frequente de palavras que conferem um tom
de indignação e agressividade ao discurso, fato que sugere ao leitor um desconfortável clima
imperando no ambiente organizacional da instituição.
Para Hall (2004), a liderança se difere do poder por requerer certa congruência entre os
interesses do líder e dos liderados. Para o autor, liderança pressupõe a motivação dos
funcionários e a resolução de conflitos que surgem da insatisfação ou da ausência de
satisfação. Insatisfação, que por sua vez, acontece quando o indivíduo percebe que as regras e
regulamentos impostas pela organização – não se alinham com seu trabalho, ou ausência de
satisfação fruto da percepção do insuficiente reconhecimento por suas contribuições.
81
Segundo Keinert (2000, p. 137), “A implementação de carreiras profissionais é um
reflexo direto de uma concepção de Estado vinculada à idéia de um corpo de funcionários
especializados [...]”; portanto, recrutar policiais com formação superior e não considerar seus
respectivos cargos como de vel superior, além de incompatível com os modernos
paradigmas gerenciais, parece representar outro obstáculo à satisfação destes servidores.
Para Orihuela (2004), uma parcela considerável dos policiais federais estão
desempenhando serviços que exigem pouco ou nenhum conhecimento especializado; o autor
classifica esta realidade como desvio de função e ressalta que os policiais que estão nessa
condição encontram-se subutilizados e desmotivados.
Rocha (2009) ilustra a situação descrita ao transcrever para seu artigo o seguinte
trecho de uma entrevista realizada com um escrivão de polícia federal: “Tenho capacitação e
conhecimento jurídico, mas não utilizo no meu trabalho. Entrei na polícia com garra e
esperando ajudar a fazer um País melhor, mas com o tempo fui perdendo o interesse porque
fui assumindo atribuições menores”. O entrevistado, descontente com o trabalho no DPF, está
estudando para prestar concurso para outro cargo público. A evasão dos servidores dos
quadros funcionais do DPF reforça o indício de falta de satisfação dos servidores com o
trabalho oferecido pelo órgão.
As considerações relativas ao conteúdo do trabalho são importantes ao entendimento
da realidade funcional no DPF, pois, o trabalho em si é considerado fator motivacional pela
teoria de Herzberg, quem assegura que o trabalho pode ser, ao mesmo tempo, fonte de
satisfação ou de aborrecimento. Maciel e (2007) ressaltam que o indivíduo não se submete
passivamente ao desempenho de atividades que lhe sejam impostas e que não tenham para ele
significado algum. Tamayo e Paschoal (2003, p. 36) afirmam que ambiente organizacional
deve ser capaz de propiciar ao indivíduo “[...] oportunidades para satisfazer as suas
necessidades e atingir os seus objetivos por meio da própria atividade do trabalho”.
Segundo Marras (2000), para Douglas McGregor, influente pensador na área das
relações humanas, as necessidades humanas encontram satisfação no próprio trabalho; do
ponto de vista motivacional, a premissa torna-se relevante, pois, de acordo com Abraham
Maslow a busca em satisfazer determinada necessidade é o que motiva o ser humano a tomar
alguma direção (VERGARA, 2007).
Assim, as atribuições de um determinado cargo público determinam as atividades a
serem desenvolvidas por quem nele estiver investido. Tais atribuições representam importante
aspecto na análise da dinâmica motivacional de um servidor público, pois, de acordo com
82
Herzberg (1997), os aspectos intrínsecos do trabalho estão diretamente envolvidos no
processo da motivação. O autor confere ao conteúdo do trabalho a responsabilidade de
propiciar o crescimento psicológico indispensável à satisfação do indivíduo no trabalho.
A mudança do perfil dos novos servidores decorrente das imposições da lei n
o
9.266/96 frente à obsolescência da norma legal que define as atribuições dos cargos que
compõem a carreira policial federal Portaria n
o
523/89 do Ministério do Planejamento
explicam os resultados auferidos pelo levantamento realizado por este estudo, onde ficou
constatado que 76% dos pesquisados manifestaram que o trabalho a eles atribuído não está
coerente com sua qualificação profissional.
As colocações citadas ajudam a explicar os resultados obtidos no levantamento
realizado em relação ao grau de motivação dos agentes de polícia federal no trabalho. A
pesquisa realizada junto aos agentes em exercício na Delegacia Regional Executiva da
Superintendência Regional da Polícia Federal em Rondônia constatou que 69% dos
pesquisados não se consideram motivados no trabalho.
A maioria dos documentos submetidos à análise apresenta manifestações referentes
aos aspectos funcionais que desagradam os servidores policiais federais. Nos discursos
avaliados pouco se fala em situações que dizem respeito aos fatores higiênicos. A
remuneração, que muitos erroneamente consideram como influenciadora do processo
motivacional, parece não representar relevância significativa para a população estudada.
Segundo Pasqualetti (2008), atualmente, os servidores policiais federais são bem
remunerados, enfatiza afirmando que tal realidade é inegável, contudo, ressalta que o que a
categoria almeja é o reconhecimento efetivo pelo trabalho realizado. Argumenta ainda que os
policiais federais não podem se contentar em “[...] ser ‘reconhecidos’ através de viagens,
diárias, cursos e viaturas” (sic).
Pasqualetti apresenta a palavra reconhecidos entre aspas, na escrita coloquial, este
recurso é utilizado para realçar palavras a que se quer dar um sentido particular ou figurado; o
que denota que o autor questiona a autenticidade das ações listadas como práticas informais
de recompensa pelas execuções, sugerindo representarem uma forma de controle do indivíduo
no trabalho baseada em fatores externos.
Vale ressaltar que “[...] o reconhecimento, em seus vários aspectos de abordagem,
representa um elemento de grande importância para o desempenho profissional [...]
(BATISTA et al, 2005, p. 86), entretanto, segundo Edward Deci, criador da teoria da
avaliação cognitiva, as recompensas extrínsecas devem ser geridas com cautela, pois, quando
83
percebidas como meio de controle do comportamento individual, tendem a diminuir a
motivação intrínseca (GONDIM, 2004).
Ao se confrontar o texto de Pasqualetti com os demais submetidos à análise de
conteúdo, infere-se que o artifício linguístico faz referência a duas questões discutidas pelos
servidores: a autenticidade dos referidos meios como forma de recompensa e, a forma pela
qual as recompensas são atribuídas.
As recompensas representam fatores que influenciam, de forma direta e significativa,
as atitudes do indivíduo, portanto, necessário se faz o correto entendimento destas variáveis
no processo motivacional. Conforme apresentadas na revisão das teorias da motivação, as
recompensas ocupam importante posição na teoria da motivação criada pelo canadense Victor
Vroom, bem como na teoria dos dois fatores postulada pelo psicólogo norte-americano
Frederick Herzberg.
No contexto da motivação no trabalho, recompensa diz respeito aos resultados –
extrínsecos e/ou intrínsecos do empenho de um indivíduo em determinada tarefa. Assim
sendo, grande parte dos fatores motivacionais apresentados por Herzberg fazem jus à
classificação de recompensa.
Vale relembrar que o diagnóstico auferido pelo levantamento demonstra que 62% dos
pesquisados não concordam que têm o devido reconhecimento pelo trabalho que realizam.
Além do reconhecimento pelas execuções, são consideradas recompensas intrínsecas
resultantes diretas do desempenho do indivíduo: o senso de realização experimentado ao se
completar uma tarefa particularmente desafiadora e o crescimento pessoal auferido pelo
desempenho de determinada tarefa. No entanto, a referida etapa do estudo acrescentou que
48% dos pesquisados discordam de que têm um trabalho desafiador e interessante e 72% dos
pesquisados discordam de que suas atividades funcionais proporcionam oportunidades de
crescimento pessoal.
84
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que o presente estudo alcançou seu objetivo principal: diagnosticou e
avaliou o grau de satisfação no trabalho dos agentes de polícia federal, lotados e em exercício
na Delegacia Regional Executiva da Superintendência Regional do Departamento de Polícia
Federal em Rondônia (DREX/SR/DPF/RO), além de ter explicado em parte a influência
dos fatores ambientais no processo de motivação dos servidores no trabalho.
Na revisão da literatura sobre a motivação foram identificados os fatores que
promovem a implicação do indivíduo na realização do seu trabalho. Os pressupostos teóricos
eleitos nesta primeira etapa da pesquisa foram eficazes e suficientes para condução das fases
subsequentes: a pesquisa de campo e a análise de conteúdo.
A aplicação da teoria de Herzberg no desenvolvimento do trabalho confirmou sua
atualidade, corroborando os argumentos dos autores contemporâneos que a consideram
importante ferramenta de gestão. A sistematização com a qual o autor formulou sua teoria,
listando e agrupando os fatores que agem sobre o processo de motivação do indivíduo,
proporcionou uma avaliação abrangente do ambiente organizacional.
O levantamento realizado proporcionou o diagnóstico do ambiente organizacional das
Delegacias que compõem a DREX/SR/DPF/RO em relação aos fatores ambientais relevantes
ao processo motivacional. A técnica de pesquisa utilizada nesta etapa do estudo foi capaz de
avaliar a presença dos fatores que interferem na dinâmica motivacional, avaliar o grau de
motivação no trabalho, além de ter subsidiado a construção da escala de importância dos
respectivos fatores.
Os resultados auferidos mostram que o ambiente organizacional no DPF, avaliado à
luz da teoria dos dois fatores, não oferece condições propícias ao desenvolvimento da
satisfação do servidor policial federal no trabalho; 69% das respostas referentes à avaliação
das afirmativas que retratavam determinado fator motivacional apontaram para ausência do
fator no ambiente de trabalho.
As consequências desta realidade podem ser visualizadas através dos números que
representam a percepção dos entrevistados quanto ao grau de motivação no trabalho, onde
aproximadamente 7 em cada 10 entrevistados consideram-se pouco ou nada motivados.
As informações geradas na avaliação do ambiente deixam clara a necessidade de
medidas capazes de oferecer oportunidades de progresso na carreira policial federal, de
adequar as atividades funcionais à qualificação profissional dos servidores, de se projetar
85
cargos capazes de contribuir com o crescimento pessoal e de conferir mais autonomia ao
policial, de recompensar o servidor através do reconhecimento efetivo pelo trabalho realizado.
O baixo de grau de motivação dos agentes de polícia federal no trabalho representou o
problema de pesquisa. Inicialmente tratado como indício, no decorrer da pesquisa ficou
comprovado, não pelos dados estatísticos obtidos pelo levantamento, como também pelas
inferências obtidas da análise do conteúdo dos discursos dos policiais federais. Inferências
estas que ajudam a explicar os fatores ambientais dentro do contexto analisado.
Da análise do discurso dos servidores policiais federais infere-se que a falta de
estruturação da carreira policial federal representa o principal obstáculo ao alcance da
satisfação destes servidores, pois, os fatores motivacionais – em sua maioria – são diretamente
influenciados pela estrutura de distribuição de poder na organização. Tais inferências foram
corroboradas pelos resultados obtidos no levantamento, onde 90% dos entrevistados
consideram que o seu trabalho não oferece oportunidades de progresso na carreira.
Da coerente definição dos cargos e suas atribuições, do escalonamento dos cargos em
níveis de acordo com o grau de complexidade e da implantação da promoção baseada na
meritocracia depende o alcance dos aspectos ambientais capazes de estimular a satisfação dos
servidores, tais como: a oportunidade de progresso na carreira, o reconhecimento efetivo pelas
execuções, o próprio conteúdo do trabalho, as oportunidades de crescimento pessoal e
realização.
Nota-se nas induções obtidas que as definições e características formais dos cargos
policiais contribuem com o baixo índice de satisfação dos seus ocupantes. O levantamento
estatístico identificou a incompatibilidade entre as atribuições conferidas às categorias
funcionais e o perfil, a formação profissional e o potencial dos servidores; 76% dos inquiridos
consideram suas atividades funcionais não coerentes com a qualificação profissional dos
mesmos. Dedução confirmada pelos discursos analisados quanto ao conteúdo, onde as falas
deixam claro o descontentamento com as tarefas que lhe são impostas e o consequente
sentimento de subutilização que os assola.
A discussão apresentada por este trabalho deixa clara a importância, para as
organizações, da satisfação dos seus colaboradores; portanto, as humildes contribuições
conferidas pelo presente estudo reforçam a necessidade das instituições públicas reverem seus
procedimentos em prol da maior eficiência dos seus serviços.
No contexto da motivação no trabalho, o DPF parece carecer de uma política de gestão
de pessoas que utilize dispositivos legítimos de avaliação de competência. Pois, frente à
dinâmica conjuntura atual e aos novos paradigmas gerenciais da administração pública, a
86
gestão dos recursos humanos adotada pelo órgão mostra-se obsoleta para acompanhar as
crescentes demandas por desempenho.
87
REFERÊNCIAS
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março de 2008.
97
ANEXO I
Você está convidado (a) a responder este questionário anônimo que faz parte da coleta de
dados para pesquisa sobre A Dinâmica de Motivação no Trabalho dos Agentes de Polícia
de Federal sob responsabilidade do pesquisador APF Paulo Elias BEDRAN Júnior,
mestrando em Administração pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR.
Atenção! O questionário é composto por 3 (três) partes.
Classifique cada uma das 12 afirmativas abaixo, de acordo com sua concordância
com a mesma, considerando a realidade do seu trabalho.
Concordo
totalmente
Concordo Discordo Discordo totalmente
4 3 2 1
A. Tenho um trabalho desafiador e interessante
B. Tenho bom relacionamento com meus superiores hierárquicos
C. Tenho o devido reconhecimento pelo trabalho que realizo
D. Meu trabalho me oferece oportunidades de progresso na carreira
E. Tenho uma vida pessoal satisfatória
F. Meu trabalho me proporciona prestígio/status
G. Tenho autonomia e responsabilidade no meu trabalho
H. Tenho boas condições de trabalho
I. Os regulamentos e políticas organizacionais do DPF são
isonômicos
J. Minhas atividades funcionais me proporcionam oportunidades de
crescimento pessoal.
K. Meu trabalho condiz com minha qualificação profissional
L. Sinto-me seguro contra arbitrariedades
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Como avalia o seu grau de motivação no trabalho?
Desmotivado
Pouco motivado
Motivado
Muito motivado
Agora, de acordo com sua análise pessoal, avalie a importância dos fatores relativos
ao trabalho. Para tanto, ordene, em ordem decrescente de importância, os 12 fatores
relacionados ao trabalho listados abaixo:
1 = Mais importante até 12 = Menos importante
A. Um trabalho desafiador e interessante
B. Um bom relacionamento com os superiores hierárquicos
C. Reconhecimento e apreço pelo trabalho que realiza
D. Oportunidade de progresso na carreira
E. Uma vida pessoal satisfatória
F. Um trabalho de prestígio/status
G. Um trabalho que confira autonomia e exija responsabilidade
H. Boas condições de trabalho
I. Regras e políticas organizacionais isonômicas
J. Oportunidade de crescimento pessoal por meio do exercício das
atividades funcionais
K. Um trabalho adequado à qualificação profissional
L. Proteção contra arbitrariedades no trabalho
Obrigado pela colaboração,
APF Bedran
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