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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PÓS-GRADUAÇÃO EM PAISAGEM E AMBIENTE
PARQUE DO IBIRAPUERA UM ÍCONE DA PAISAGEM
PAULISTANA
Rosa Italica Miglionico
São Paulo - 2007
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ROSA ITALICA MIGLIONICO
Parque do Ibirapuera um ícone da paisagem paulistana
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação de Arquitetura e Urbanismo da
FAU/USP - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo,
como requisito para obtenção do grau de
Doutor em Arquitetura e Urbanismo
Área de Concentração: Paisagem e
Ambiente
Orientadora: Profª. Dra. Maria de
Assunção Ribeiro Franco
São Paulo – 2007
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
ASSINATURA:
Miglionico, Rosa Itálica
M634p Parque do Ibirapuera: um ícone da paisagem paulis-
tana / Rosa Itálica Miglionico. - - São Paulo, 2007.
288 p. : il.
Tese (Doutorado – Área de Concentração: Paisagem
e Ambiente) – FAU/USP.
Orientadora: Maria de Assunção Ribeiro Franco.
1.Parques - História – São Paulo (SP) 2.Paisagem –
São Paulo (SP) 3.Arquitetura paisagística I.Título
CDU 712.25(816.11)
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Giuseppe e Itália, com
carinho, respeito e saudade.
A meu avô, Domenico Sorrentino (in
memoriam) – Engenheiro e Poeta.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que me propiciaram um berço cultural de altíssimo nível,
voltado para as ciências e artes, me apoiando e incentivando para a execução da
meta a ser atingida e que mesmo separados por um oceano,continuam sua atuação.
A minha orientadora Prof. Dr. Maria de Assunção Ribeiro Franco, que
acompanhou parte do desenvolvimento da pesquisa de Mestrado na Universidade
Mackenzie e que por mim foi escolhida pela competência na área paisagística e
afinidade, que me levou a reflexões profundas sobre os questionamentos e
desenvolvimento desta Tese.
A Prof. Élide Monzeglio (in memoriam), pelos sábios ensinamentos,
bondade e amizade.
As funcionárias da Biblioteca FAU Maranhão, Filó, Estelita e Maria José,
pela amizade e colaboração.
Aos funcionários do Arquivo Histórico Municipal, seção de Manuscritos e
Biblioteca, que muito me auxiliaram na realização desta pesquisa.
A minha grande amiga e colega de profissão Arq. Iracy Sguillaro, que me
incentivou para que realizássemos juntas o árduo percurso de pesquisa para a
elaboração da tese.
Ao Prof. Dr. Roberto Mônaco pela inestimável contribuição para a
realização deste trabalho.
Aos colegas e amigos da Universidade São Judas Tadeu, Prof. Dr.
Roberto Coelho Barreiro Filho, Prof. Miguel de Frias Vasconcellos, Prof. José de
Oliveira, Profª. Cristina Montenegro, o jornalista Prof. José Edward Janczukowicz,
Profª. Paula Belfort, e tantos outros, pelas discussões acadêmicas e culturais de
muita valia, pelo apoio e compreensão nos momentos difíceis.
Aos amigos e colaboradores, Denise Delfin, Arq. Maria Bonafi e Arq.
Cássia Mariano.
A meus grandes amigos Suely Alonso Prestes Corrêa, Vânia da Silva,
Esmeraldo Feitosa, pela paciência e apoio nos “desânimos”.
A minha querida e estimada ex-aluna do curso de Educação Artística,
Flávia Panissi, pela sua atuação como assistente de registros de imagens
documentais e montagens, e pelos dias e madrugadas que esteve ao meu lado na
montagem desta tese, meu carinho e profundos agradecimentos.
A Robinson Pereira, dedicado profissional da área de design gráfico, que
despendeu horas a fio com trabalho na composição e melhoria digital de mapas e
projetos.
EPÍGRAFE
Uma cidade é uma organização mutável
com fins variados, um conjunto com
muitas funções criado por muitos, de
modo relativamente rápido. Uma
especialização total, uma engrenagem
perfeita são improváveis e indesejáveis. A
forma tem, de certa forma, que ser não
comprometedora, moldável aos propósitos
e às percepções dos cidadãos.
Kevin Lynch (1980: p.103)
RESUMO
MIGLIONICO, Rosa Itálica. Parque do Ibirapuera: um ícone da paisagem paulistana.
Tese (Doutorado – Área de Concentração: Paisagem e Ambiente). Orientadora:
Maria de Assunção Ribeiro Franco.São Paulo, FAU/USP 2007. 288 p. : il.
A presente tese tem como foco o Parque do Ibirapuera e sua evolução até a
consolidação como área de importância paisagística, arquitetônica, cultural e de
lazer para a população de São Paulo. Levantamentos e análise de documentos,
processos, cartas, medidas governamentais, mapas e projetos conduzem a
cronologia de sua criação. As análises da expansão urbana dos bairros
circunvizinhos e do sistema viário delimitam seu perímetro e desenham sua forma.
As comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo tornam-no uma
realidade. Aspectos de relevância cultural, de lazer e paisagístico serão detalhados
como forma de afirmação de sua popularidade. Este trabalho traça um paralelo entre
o Parque do Ibirapuera e o parque romano de Villa Borghese, com apresentação de
elementos pares e díspares em atividades e preservação. Também serão abordados
problemas e medidas elaboradas pelo poder público no sentido de reestruturação,
preservação e adequação de seu patrimônio natural e edificado, para desfrute de
seus usuários. Posto isso, os resultados permitem concluir a diminuição da área
total reservada ao parque, sua devida valorização e preservação como maior área
verde no centro da metrópole, culminando com a afirmação de sua adoção, por parte
da população, como Ícone Paisagístico de São Paulo.
PALAVRAS-CHAVE: 1.Parques - História – São Paulo (SP) 2.Paisagem – São
Paulo (SP) 3.Arquitetura paisagística I.Título
ABSTRACT
MIGLIONICO, Rosa Itálica. Parque do Ibirapuera: um ícone da paisagem paulistana.
Tese (Doutorado – Área de Concentração: Paisagem e Ambiente). Orientadora:
Maria de Assunção Ribeiro Franco.São Paulo, FAU/USP 2007. 288 p. : il.
This thesis has as its focus Ibirapuera’s Park and its evolution until the consolidation
as an important landscaping, architectural, cultural and leisure area for the population
of Sao Paulo. Analyzing documents, processes, letters, maps and projects we drive
the chronology of Ibirapuera’s creation. The analysis of the urban expansion of the
neighborhoods and the road system delimit Ibirapuera’s perimeter and draw its
shape. The commemorations of the IV Centenary of Sao Paulo city make it become a
reality. Aspects of cultural relevance, leisure and landscaping will be detailed as a
way to affirm its popularity. This work traces a parallel between Ibirapuera’s Park and
the roman park of Villa Borghese, with the presentation of equal and unequal
elements in activities of preservation. We will also approach some problems and
solutions elaborated by the government in order to reorganize, to preserve and
adequate both the natural and the built patrimony, for their users enjoyment. The
results allow us to conclude the reduction of the park’s total reserved area, and its
valuation and preservation as the biggest green area in the center of Sao Paulo, so
that the population may adopt the place as the most important landscape symbol of
Sao Paulo.
KEY WORDS: 1.Parks - History - Sao Paulo (SP) 2.Landscape - Sao Paulo (SP) 3.
Landscape Architecture I. Heading
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................11
INTRODUÇÃO..........................................................................................................13
CAPÍTULO 1 - A GENEALOGIA DO PARQUE DO IBIRAPUERA E A HISTÓRIA
DA URBANIZAÇÃO DA VILA DE SÃO PAULO DE PIRATININGA........................20
1.1 - MORFOLOGIA DA CIDADE DE SÃO PAULO..................................................20
1.2 - TERRAS DO ROSSIO, OCUPAÇÃO E A ÁREA DO FUTURO PARQUE ........24
1.3 - SÉCULO XX, A EXPANSÃO URBANA E A ÁREA DO PARQUE: ANÁLISE
CARTOGRÁFICA VISUAL: 1897, 1914, 1930, 1952 e 2005. ..................................39
CAPÍTULO 2 - EVOLUÇÃO DOS BAIRROS QUE CIRCUNDAM O PARQUE DO
IBIRAPUERA............................................................................................................43
2.1 - VILA MARIANA .................................................................................................43
2.2 - VILA CLEMENTINO..........................................................................................50
2.3 - JARDIM AMÉRICA E JARDIM EUROPA..........................................................55
2.4 - IBIRAPUERA E JARDIM LUZITÂNIA................................................................64
2.5 - ITAIM – BIBI E VILA OLIMPIA .........................................................................67
CAPÍTULO 3 - SÉCULO XX E A IDEALIZAÇÃO DE UM GRANDE PARQUE PARA
A CIDADE DE SÃO PAULO.....................................................................................76
3.1 - A GESTÃO DO PREFEITO WASHINGTON LUÍS ............................................76
3.2 - GESTÃO DO PREFEITO PIRES DO RIO: DECRETO PARA CRIAÇÃO DO
PARQUE E PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS NA ÁREA ..............................................82
3.3 - PRESTES MAIA E O PLANO DAS AVENIDAS................................................85
3.4 - FORMAÇÃO DA COMISSÃO DO IV CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO
PAULO ......................................................................................................................92
3.5 - TOMBAMENTO DA ÁREA DO PARQUE ......................................................111
CAPITULO 4 - PROJETOS PARA O PARQUE DO IBIRAPUERA .......................113
4.1 - PROJETOS DE REYNALDO DIERBERGER .................................................120
4.2 - FRANCISCO PRESTES MAIA........................................................................129
4.3 - REVISÃO DO PROJETO PARA O PARQUE ................................................130
4.4 - WERNER HACKER .......................................................................................135
4.5 - PROJETO DE 1948 .......................................................................................136
4.6 - CHRISTIANO STOCKLER DAS NEVES ........................................................139
4.7 - SERCELLI.......................................................................................................140
4.8 - PRIMEIRA EQUIPE DE PLANEJAMENTO ....................................................142
4.9 - OSCAR NIEMEYER .......................................................................................144
4.10 - ROBERTO BURLE MARX ...........................................................................152
4.11 - OTAVIO AUGUSTO TEIXEIRA MENDES ....................................................156
CAPITULO 5 - PARQUE DO IBIRAPUERA ..........................................................160
5.1 - MUSEUS, ESPAÇOS CULTURAIS E CURSOS.............................................164
5.2 - MUSEU A CÉU ABERTO: OBRAS DE ARTE NO PARQUE ..........................184
5.3 - ÁREAS DE ESPORTE E LAZER PARA A POPULAÇÃO...............................187
5.4 - VIVEIRO MUNICIPAL MANEQUINHO LOPES...............................................197
CAPÍTULO 6 - VILLA BORGHESE (ROMA/ITÁLIA): PARALELO COM O PARQUE
DO IBIRAPUERA ...................................................................................................202
6.1 - HISTÓRICO DE VILLA BORGHESE .............................................................202
6.1.1 - 1ª Fase - A Villa do Século XVII .....................................................203
6.1.2 - 2ª Fase - Século XVIII .....................................................................207
6.1.3 - 3ª Fase – Século XIX .......................................................................207
6.1.4 - 4ª Fase - Século XX – Villa Borghese: Patrimônio Municipal .....209
6.2 - ÁREA OCUPADA E LOCALIZAÇÃO NA PLANTA GERAL DA CIDADE .......214
6.3 - MUSEUS E ....................................................................................................217
6.4 - ATIVIDADES CULTURAIS E DE LAZER........................................................237
6.5 - PARALELO ENTRE VILLA BORGHESE E O PARQUE DO IBIRAPUERA ...239
CAPÍTULO 7 - PARQUE DO IBIRAPUERA UM ÍCONE DA METRÓPOLE
PAULISTA DO SÉCULO XXI ................................................................................246
7.1 - LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ESPECÍFICA SOBRE O PARQUE ....................247
7.2 - PROBLEMAS AMBIENTAIS E SEU SOLUCIONAMENTO: LAGOS .............253
7.3 - FAUNA E FLORA: PRESERVAÇÃO E ESPÉCIES EXISTENTES ................254
7.4 - PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DAS ÁREAS EM EXECUÇÃO ..................257
7.5 - EVENTOS CULTURAIS NO PARQUE ..........................................................260
7.6 - A POÉTICA PLÁSTICA DO PARQUE DO IBIRAPUERA ..............................264
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................267
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................270
11
APRESENTAÇÃO
A tese apresentada constitui mais uma etapa na longa jornada das
pesquisas por mim realizadas na área de Artes e Arquitetura.
Sou natural de Londrina, PR, de descendência italiana. Em minha casa,
muito cedo se iniciou o processo de incentivo ao estudo e à pesquisa por parte de
meus pais, onde o saber científico estava sempre presente, principalmente em
literatura especializada por meu pai, Giuseppe, químico-físico, formado pela
Universidade de Roma. Sob a influência de minha mãe, Italia, iniciei os estudos em
música – piano – aos seis anos de idade.
Aprofundei meus estudos até a conclusão do curso Superior de
Instrumentista, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, sendo discípula
do folclorista Rossini Tavares de Lima, do crítico musical de renome Prof. Caldeira
Filho. Também participei de cursos com o Prof. e compositor Francisco Mignone,
com a grande pianista Magda Tagliaferro, entre outros. Na década de 1970, segui a
carreira profissional, realizando concertos e participando de concursos.
Acompanhando o veio artístico, dediquei-me aos cursos de Licenciatura
em Desenho e Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, também
na década de 1970; Posteriormente, já como docente na mesma instituição, graduei-
me no curso de Arquitetura e Urbanismo (década de 1990).
Ingressando na carreira docente universitária muito jovem, ministrei
disciplinas para os cursos de Música, Artes Plásticas, Design de Interiores e
Arquitetura durante 32 anos. Paralelamente por algum tempo ministrei aulas em
Escola Técnica e escola particular. Atualmente, sou docente da Universidade São
Judas Tadeu, na área de Desenho Industrial.
Durante minha docência no Centro Universitário Belas Artes (dezoito
anos) ministrei disciplinas como: Folclore, Expressão Musical, Expressão Corporal,
Didática do Projeto Visual e Desenho Geométrico no curso de Artes Visuais
12
(Educação Artística); Em Arquitetura e Urbanismo ministrei Plástica III e IV e
Desenho III. Atualmente, leciono na USJT as disciplinas de História do Design,
Design e Sociedade, Introdução ao Projeto e Projeto da Imagem e do Objeto.
Também realizei orientação de Pesquisa de Iniciação Científica e de TCC
para muitos alunos. Administrativamente, fui membro de Colegiado do Curso e criei
o Laboratório de Música e Teatro do Unicentro Belas Artes, com a fundação do Coral
de mesmo nome e um grupo de Teatro; participei de montagens de exposições dos
dois cursos, dentro e fora da Instituição; apresentei palestras, cursos e trabalhos em
congressos como a “Bacia Hidrográfica Billings” no Internacional Urbanismo 2003
em La Habana - Cuba e VI Congresso de Ecologia do Brasil, em Fortaleza - Ceará,
2003.
Mestre em Arquitetura pela Universidade Mackenzie, desenvolvi a
dissertação: Arquitetura do Cenário: um contraponto entre a Evolução Histórica do
Espaço Arquitetônico e Cênico. Neste período freqüentei disciplina ministrada pela
minha atual orientadora, que me incentivou durante a pesquisa. Em seguida,
ingressei na FAU/USP para realização do doutorado, selecionando a área de
Paisagem e Ambiente. As disciplinas cursadas mostraram-me o caminho a seguir,
na área de preservação da natureza, principalmente a de Desenho Ambiental,
escolhendo como objeto de estudo o Parque do Ibirapuera.
Dedico-me a pintura de aquarelas e a fotografia, especialmente ligadas ao
meio ambiente e arquitetura.
E como docente espero que a tese aqui apresentada sirva de incentivo e
valia para alunos e futuros pesquisadores da paisagem urbana. Urge o
conhecimento e preservação de nosso patrimônio paisagístico para as atuais e
gerações futuras.
13
INTRODUÇÃO
A natureza por muito tempo foi vista pelo homem como um objeto passivo
de domínio e onde o homem seria o usuário ou preservador, dependendo de seus
interesses.
A conscientização ecológica, forma atual da abordagem ambiental,
aponta questionamentos quanto às atitudes tomadas pelo ser humano, e a busca
pelo reconhecimento de algumas afirmações, criando uma divisão no pensamento
dos pesquisadores e filósofos envolvidos.
As questões propostas se referem, inicialmente, aos limites que a
natureza impõe em seu processo dinâmico de reprodução da vida, sendo a vida um
direito primordial.
Os modelos de desenvolvimento adotados mundialmente não podem
visar apenas o presente. Devem criar condições para a continuidade da vida,
adotando medidas com aplicação a curto, médio e longo prazo.
O meio ambiente é dinâmico da mesma forma que a biosfera e os
ecossistemas, independente da ação do homem, ocasionando constantes
movimentos e adaptações entre eles.
O homem por sua vez vive em agrupamentos, desde os primórdios, que
em sua evolução deram origem às nossas metrópoles.
Segundo REISSMAN (in SERRA, 1987), as cidades são conjuntos de
interações entre pessoas, o espaço e as instituições nelas compreendidas.
Conceitos de cidade e urbanização apresentam variações de acordo com
a óptica de cada autor, voltada para economia, aspectos históricos ou sociais.
14
Adotamos cidade e ambiente urbano como aglomerações que utilizam
adaptações de espaços.
A expressão espaço natural costuma ser utilizada em casos de
explanações sobre áreas verdes não construídas, mas segundo SERRA (1987:
p.29),
o espaço físico natural ou simplesmente espaço natural, quando se
refira a uma parte de superfície da terra que não tenha sofrido
qualquer adaptação, ou simplesmente espaço adaptado, uma parte
da superfície da terra que já sofre modificações pela ação humana.
Não podemos afirmar que exista no mundo uma área totalmente natural,
pois em todas as partes o homem ocasiona modificações ao meio ambiente, seja de
forma direta, como estradas, construções ou como alterações de ordem ambiental
com a contaminação da atmosfera por gases e substâncias poluentes que retornam
como chuvas ácidas, contaminando o solo e as águas dos rios. Qualquer projeto terá
impacto não apenas em seus limites mas além deles, não sendo contido nos muros.
Para HOUGH (1998: p.12), as dependências de um sistema de vida com
outro, o desenvolvimento inter-relacionado dos processos físicos e vitais da terra, o
clima, a água, as plantas, os animais, a contínua transformação e reciclagem dos
materiais vivos e não, são os elementos da auto-suficiência da biosfera, que
permitem a vida na terra e que dão lugar à paisagem física. São os elementos
determinantes que originam, ou dão forma, às atividades humanas na terra.
A atuação do homem, sobre um ecossistema com um projeto urbanístico
ou construtivo, não afetará apenas o local de sua intervenção mas também os
ecossistemas nas proximidades e até os da biosfera.
A espécie humana faz parte da natureza, é um componente biótico do
ecossistema da terra, como a fauna, a flora e os microorganismos.
Na segunda metade do século XX é que irá surgir a problemática
ambiental, com a poluição e degradação do meio, a crise de recursos naturais
15
energéticos e de alimentos, caracterizando-se como uma “crise de civilização”, onde
se questionam a racionalidade econômica e tecnológica.
Através de várias perspectivas ideológicas, surgem explicações para esta
crise, como sendo o resultado da pressão exercida pelo crescimento populacional
sobre os limitados recursos do planeta; como efeito da acumulação de capital e alta
na taxa de lucro de curto prazo, induzindo a padrões tecnológicos de uso e ritmos de
exploração da natureza.
Também é atribuída a formas de consumo que paulatinamente vem
esgotando as reservas de recursos naturais, minimizando a fertilidade dos solos e
alterando as condições de regeneração dos ecossistemas.
O homem é um ser dotado de percepção, mas precisam ocorrer situações
críticas ou catástrofes para que ele volte seu olhar para o ambiente destruído e inicie
uma reflexão sobre sua participação no processo degenerativo ambiental.
A percepção humana conduz ao equacionamento dos problemas
ambientais enquanto base de preservação da vida. A sustentabilidade compete a
todo o mundo e seus laços com natureza e cidades são fundamentais para
sobrevivência.
Desde os anos 1980, o movimento meio ambiental é consciente de que
os processos ecológicos que operam na cidade formam uma base indispensável
para restaurar a paisagem urbana e que ela deveria ser estudada por seus múltiplos
usos e pelo muito que proporciona em troca de pouco esforço, pois o meio fornece
naturalmente sustento ao homem, proporciona alimento a partir do simples semear,
por exemplo.
Partindo destas colocações, o desenho ambiental começa a ganhar seu
espaço, apresentando-se um instrumento apropriado para a elaboração de soluções
ecologicamente adequadas, configurando-se como processo orientador nas
alternativas ao tratamento tradicional da paisagem urbana.
16
Os parques surgiram para completar e melhorar a qualidade de vida das
pessoas, proporcionando lugares para exercícios, relaxamento e momentos de
contemplação.
Qualidade de vida pode ser interpretada também como a capacidade de
decisão humana por lugares, estilo de vida levando-se em consideração o interesse,
o prazer, os estímulos sensoriais proporcionados e a diversidade da paisagem.
A vida em uma metrópole como São Paulo não é tarefa fácil para
qualquer um de seus cidadãos, independentemente da classe social à qual
pertença. Os problemas enfrentados no trabalho, no deslocamento diário através da
cidade, moradia em áreas afastadas, interferências climáticas, tornam a vida mais
estressante a cada dia.
Segundo ROGERS (2000), deve existir nas cidades uma relação com a
beleza, espaço público e qualidade de vida sendo de grande importância a
proporção entre o espaço público e o privado.
Muitas das áreas verdes tornaram-se quase que reféns das “muralhas de
concreto” criadas pela ação do homem, ao seu redor.
A urbanização alonga-se em todas as direções em nossa metrópole,
ilhando praças e parques, que, por questões de segurança, são cercados por grades
e portões marcando de forma categórica seus limites.
Partindo destas premissas selecionamos como objeto de estudo para a
tese o Parque do Ibirapuera, um ícone da paisagem paulistana.
Ibirapuera deriva do tupi-guarani Ypy-ra-ouêra, que significa ‘árvore
apodrecida’ ou ‘árvore podre’, e não sem razão, afinal era uma área de charco
alagadiça e pantanosa.
Propomos o estudo do Parque do Ibirapuera inicialmente pelas
características diferenciadas e peculiares em relação aos demais parques da cidade
17
e por constituir-se em um patrimônio arquitetônico e paisagístico além de área de
preservação ambiental urbana.
Sua localização, qualidades ambientais e diversificação de atividades,
proporcionam uma instigante pesquisa multidisciplinar abrangendo geografia,
evolução histórica geral da cidade e específica para a área, projetos arquitetônicos e
paisagísticos.
Outros pontos de destaque são as atividades culturais concomitantes que
ocupam várias construções dentro do Parque contribuindo como um grande centro
de exposições e debates, onde a arte erudita e popular ganham seu merecido
espaço.
O Parque do Ibirapuera tem participação ativa na manutenção do bem
estar de muitos paulistanos.
Criou-se um percurso objetivando expor soluções a questionamentos de
ordem geral e específica sobre o Parque.
A tese é composta por 7 capítulos tendo imagens elucidativas com o
objetivo de conduzir o leitor às considerações almejadas pelo presente estudo.
O primeiro capítulo constitui-se dos aspectos ligados à gênese da área do
futuro parque, partindo da formação geomorfológica do sítio de São Paulo,
destacando a região em questão, sua topografia, altimetria, hidrologia e drenagem
natural.
Focamos a expansão urbana geral da cidade da vila de São Paulo, a área
do rossio correspondente a seu perímetro inicial de meia légua do núcleo, sua
ampliação no século XIX e destino legal das terras referentes ao futuro parque.
A relação entre a área objeto de estudo e a zona urbanizada será
complementada por uma análise comparativa visual cartográfica de mapas em
ordem cronológica a partir de 1897 a 2005.
18
O segundo capítulo versa sobre um levantamento histórico do
desenvolvimento da malha urbana dos bairros que têm relação direta com a área de
estudo, apresentando Vila Mariana, Vila Clementino, Jardim Luzitânia, Jardins, Itaim
Bibi e Vila Nova Conceição. A importância dos diversos caminhos e meios de
transporte que levaram o progresso e o surgimento dos núcleos urbanos. Para todos
os bairros foram selecionados, a partir de mapas da cidade, detalhes pertinentes a
sua expansão.
No capítulo três será abordada a legislação pertinente à área do parque,
representada por resoluções, decretos, portarias e atos municipais, na sua
constituição, apropriação e realização.
Já no capítulo quatro apresentaremos e comentaremos os projetos
realizados a partir de 1929 até sua concretização efetiva, culminando com o projeto
de Oscar Niemeyer e de Otávio Augusto Mendes Teixeira.
O capítulo cinco aborda o Parque do Ibirapuera como ente único,
multifacetado, descortinando suas atividades culturais e recreativas, a
representatividade de seus elementos arquitetônicos e a beleza e variedade das
perspectivas paisagísticas que ele proporciona aos cidadãos da metrópole que
nunca pára, em sua contribuição ativa à melhoria da qualidade de vida.
A apresentação do Parque de Villa Borghese em Roma, no capítulo seis,
decorre da análise de suas características quanto a sua relevância paisagística,
função sócio-cultural, extensão e localização estar em consonância com a
abordagem dada ao Parque do Ibirapuera na presente tese. O referido parque é
considerado um patrimônio artístico e ambiental, o que, no decorrer do estudo, nos
instigou a realização de um paralelo com o Parque do Ibirapuera, que poderá ser
apreciado no final do capítulo .
No sétimo capítulo serão abordados os aspectos ambientais e de
preservação do Parque, planos de revitalização e manejo, tecnologias, atrativos
oferecidos para a população, embelezamentos, sua função artístico-cultural e social,
19
destinada a melhorias na qualidade de vida dos cidadãos, bem como seu destaque
na verticalizada paisagem paulistana.
20
CAPÍTULO 1 - A GENEALOGIA DO PARQUE DO
IBIRAPUERA E A HISTÓRIA DA URBANIZAÇÃO DA VILA
DE SÃO PAULO DE PIRATININGA
1.1 - MORFOLOGIA DA CIDADE DE SÃO PAULO
A cidade de São Paulo está localizada em planalto formado por colinas,
pertencente ao Planalto Atlântico, entre os Rios Tietê e Tamanduatehy como eixos
centrais de sua fundação, com uma série de córregos e riachos afluentes que
percorriam largas várzeas formando terraços fluviais até os fundos de vales. Estas
colinas possuem uma altitude de 820m, no ponto mais alto até o mínimo de 715 m
em relação ao nível do mar.
De forma geral podemos subdividir a região a partir das vastas planícies
de inundações regionais, cuja cota varia entre 718 a 720m de altitude, passando por
terraços fluviais com cotas entre 720 a 725m de altitude, seguindo por patamares
intermediários com 740 a 750m de altitude e por rampas com graus variados de
aclividade até atingir o topo plano das colinas do espigão central correspondendo a
Avenida Bernardino de Campos, Avenida Paulista e Avenida Dr. Arnaldo, cujo ponto
mais alto encontra-se a 828m.
Os jesuítas subindo a Serra do Mar, passando por Santo André e as
paragens de João Ramalho, continuaram a caminhada e ao chegarem ao planalto a
procura de um local que apresentasse vantagens quanto à situação estratégica de
visibilidade das áreas próximas como forma de prevenção contra ataques de índios
hostis e vizinhanças de cursos d’água, ali estabeleceram pousada, escolhendo para
implantação da vila a colina entre os vales do Rio Tamanduateí e Anhangabaú.
O primeiro apresentava-se assimétrico entre a colina escolhida e a região
do Cambuci, sendo o principal afluente da margem esquerda do Rio Tietê, que
navegável na época viria favorecer a exploração das terras do sertão do estado. O
21
segundo de natureza simétrico, corria entre as áreas dos patamares intermediários
de 745m de altitude em relação ao nível do mar.
As várzeas dominavam imensas áreas, principalmente a do Carmo, que
era mais próxima, bem como as várzeas do Tietê, em direção a Santana e as do Rio
Pinheiros que adentravam as áreas do Itaim Bibi atual, onde eram irrigadas por uma
série de córregos que desciam as encostas mais altas da região da Vila Mariana.
Após a retificação do Rio Tamanduateí, no final do século XIX, a várzea
começa a dar lugar aos bairros do Pari, Mooca, Cambuci e a movimentada várzea
do Carmo, com a implantação do Mercado, vias e ladeiras de acesso ao núcleo
central de cunho comercial e de serviços.
O coração da Vila, pelas características físicas de seu patamar,
desenvolve-se em forma de triângulo isósceles, com lados irregulares ligado às
várzeas por ladeiras íngremes, tornando-se um ponto de referência para tribos
indígenas e auxiliando na missão catequética.
Os vértices da base do triângulo encontravam-se no patamar da
Liberdade, Praça Clóvis e alto do Largo São Francisco, com 750m de altitude. Assim
a vila manteve-se por quase trezentos anos, sendo que aos poucos nos topos das
outras colinas iam-se formando pequenos núcleos separados por vales de leitos de
córregos e riachos. A área de estudo proposta enquadra-se no nível das várzeas na
direção Sul do Rio Caaguassú e conseqüentemente do Rio Pinheiros.
Altimetricamente falando, o nível de 745-750m é o mais bem definido no
relevo de São Paulo, formado de largas colinas e patamares, de dorso ondulado ou
tabular, entrecortadas por pequenos afluentes dos rios principais em forma de rede.
A este nível, correspondem atualmente os bairros do Jardim América, Jardim
Europa, Cidade Jardim, Vila Nova Conceição, Vila Olímpia e Itaim Bibí, que
constituem as áreas limítrofes do Parque do Ibirapuera.
A região hoje ocupada pelo Parque era uma várzea entrecortada pelo
córrego do Sapateiro, córrego Boa Vista ou Caaguassú que vinha da região do
22
Bexiga, formando lagoas naturais na área onde atualmente existe um dos lagos, na
região onde está instalada a Assembléia Legislativa e seu estacionamento e
algumas sazonais na área próxima ao Instituto Biológico. De vegetação de capoeira
com algumas árvores esparsas foi necessário implantar eucaliptos no final da
década de 20, já no século XX, para que a própria vegetação se incumbisse de fazer
a drenagem do solo para posterior utilização. Esta área bem como outras com
mesmas características foram as que tiveram uma urbanização mais tardia sendo
consideradas inóspitas e insalubres.
De acordo com os Mapas: “Topográfico e de Drenagem” e o
“Geomorfológico Esquemático”, apresentados a seguir podemos analisar as
informações apresentadas e iniciar o mapeamento da área do Parque.
Figura 1 - Mapa Geomorfológico esquemático do sítio urbano de São Paulo, 1956 (AB’SABER,
1957: fig.14).
23
Figura 2 - Mapa Topografia e Drenagem do sítio urbano de São Paulo, 1956 (AB’SABER, 1957:
fig.14).
Figura 3 - Mapa Topográfico da área metropolitana de São Paulo, 1968. (CAMPOS, 2004: p.16)
24
1.2 - TERRAS DO ROSSIO, OCUPAÇÃO E A ÁREA DO FUTURO
PARQUE
Portugal ao iniciar o processo de colonização das terras do Brasil, utilizou-
se de uma forma de divisão administrativa já aplicada nas Ilhas da Madeira e a dos
Açores, com bom resultado, que era o das Capitanias Hereditárias originando as
províncias conseqüentemente os estados atuais. Estas foram doadas pelo Rei,
obrigando os herdeiros a guardar os nomes de família sob a pena de perda da
capitania e quando da passagem para um novo herdeiro, este deveria confirmá-la
junto à Coroa.
Cada capitania teve seus limites fixados por linhas imaginárias, traçadas
no rumo sudeste a noroeste atual, da costa em direção ao interior, até o limite
desconhecido e vago, dos espanhóis, no Tratado de Tordesilhas, forma esta
imprecisa por falta de conhecimento do território. Nelas estariam compreendidas
também as ilhas existentes até uma distância de 3.000 braças, equivalentes a 66 km
da costa.
Martim Afonso de Souza recebeu de “El Rei” D. João III uma Capitania de
cem léguas de costa no Brasil e seu irmão Pero Lopes de Souza uma de cinqüenta
léguas dividida em três partes, uma das quais era a Barra do Bertioga, atual ilha de
Santo Amaro, no meio da Capitania de São Vicente, do irmão, que começava, na
barra do Bertioga, passava pela Ilha de Guaimbé, atual cidade de Santos e
terminava na Ilha do Mel na entrada da bacia de Paranaguá.
O território do Brasil foi assim dividido em 12 capitanias inicialmente até
Pernambuco e depois subindo até o Rio Amazonas.
Cada donatário recebia o título de Capitão Mor e o direito a usufruto da
capitania, não sendo proprietário das terras que eram da Coroa Portuguesa, com o
compromisso de povoá-las criando vilas às suas expensas e com toda a
responsabilidade administrativa, jurídica e militar.
25
Martim Afonso de Souza foi incumbido da divisão das outras, distribuídas
entre seus companheiros expedicionários.
A política para povoamento dava preferência à ocupação da zona
litorânea, criando assim núcleos que pudessem rechaçar as invasões dos
estrangeiros, franceses e espanhóis para a extração do Pau-Brasil, marcando a
presença dos portugueses como donos das terras. Foram construídos fortes em
pontos onde a madeira abundava, que também serviam para a armazenagem do
produto.
A Vila de São Paulo, por estar no planalto e não ter localização na costa
distando mais de seis léguas do litoral, foi uma exceção.
Quanto à intenção da coroa portuguesa na adoção das capitanias e
sesmarias para o desenvolvimento de atividades econômicas com rentabilidade
comercial na Europa, obteve resultado parcial com as lavouras de cana-de-açúcar
no litoral e, grandes fazendas no interior, o mesmo não ocorrendo com as terras do
planalto circundantes a Vila de São Paulo, constituindo-se de uma zona de transição
para o interior e outras partes do Brasil.
As divergências quanto à forma de distribuição de terra, de acordo com as
diretrizes impostas pelo Governo, foi diferenciada na Vila, pois as sesmarias eram
distribuídas gratuitamente a particulares com o compromisso do pagamento de foros
(dízimos) à “Ordem do Mestrado de Cristo” ou no caso das datas de terra (fração
menor em que poderia ser dividida uma sesmaria, destinada à lavoura) do rossio, os
foros seriam pagos à Câmara dos Vereadores.
A extensão de terras ao redor da Vila era grande, não havendo tamanho
pré-estabelecido para as datas, nem legislação que impedisse a um colono a posse
de várias, o que dará origem a vastas propriedades para cada família agraciada.
De acordo com MÔNACO (2004), a aplicação da lei das sesmarias não
obteve o resultado esperado devido à imensa área do território brasileiro, as
diferenças geográficas, falta de material humano para povoá-las, originando
26
posteriormente grandes latifúndios improdutivos e legalizados até 1822, quando da
suspensão da distribuição das Sesmarias no aguardo da convocação da Assembléia
Geral Constituinte, e a criação de novos atos jurídicos com a finalidade de
adequação às necessidades prementes do período.
Como medida elucidativa serão apresentados os significados dos
seguintes termos:
Sesmaria refere-se a :
Terra inculta ou abandonada, que os reis de Portugal cediam a
sesmeiros que se dispusessem a cultivá-las. Atualmente ainda é
usada no Rio Grande do Sul, como medida agrária para superfície de
Campo de criação. Utilizada por alguns historiadores como sinônimo
de capitania. (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1999).
As capitanias consistiam em um conjunto de Comarcas que eram divididas
em “Termos”, nos quais sua sede, a Vila e a área próxima era denominadas “rossio”.
Segundo Nestor Goulart Reis Filho:
o rossio era uma parcela do termo demarcada junto aos núcleos
urbanos, utilizada para atender ao crescimento das formações
urbanas, para pastagens de animais de uso dos moradores e para o
recolhimento de lenha por parte das pessoas de condição mais
humilde. (REIS FILHO in MÔNACO, 2004: p. 43)
O rossio constituía-se no patrimônio fundiário da Vila e era então
destinado aos pastos públicos, aos edifícios, logradouros e também em parte,
poderia ser disponibilizado para a formação de povoado a particulares.
A Vila de São Paulo teve seu rossio demarcado, de acordo com
documento de 1598: “Registro do autoamento da carta da Câmara do rocio desta vila
e carta de demarcação”, a partir do centro, por meio de quatro marcos de acordo
com os principais caminhos de saída, seja acompanhando vias fluviais como o Rio
Tamanduateí até o Rio Tietê, por este até o Rio Pinheiros e caminhos como o em
direção ao Mar.
27
A elevação à categoria de cidade em 1711, dá-se pela Carta Régia de 11
julho e após trezes anos, em 25 de janeiro de 1724 é feita nova concessão ao rossio
da sesmaria pela Carta do Marco de Meia Légua, equivalente a 3,3 Km, em que a
área estipulada era menor que a anterior existente. A demarcação somente ocorreu
em 1769 de acordo com os pontos cardeais.
Do centro da vila, Largo da Catedral da Sé, para Norte em direção a
Santana, pelo aterro do Convento da Luz, até a “paragem do Areal”, atual Rua
Voluntários da Pátria, no Carandiru; para o Sul em direção ao Ipiranga, caminho do
Mar e também ao caminho do Carro para Santo Amaro, (via atuais Avenida
Liberdade, Rua Vergueiro, Avenida Domingos de Moraes e Ibirapuera); para leste
passando pelas terras de José Braz, Avenida Rangel Pestana, no bairro do Brás, em
direção à Penha e para o Oeste atravessando o Vale do Anhangabaú em direção ao
caminho para Pinheiros, estendendo-se posteriormente para Itapecerica de um lado
e Carapicuíba, Barueri pelo outro.
As áreas concedidas por Portugal, inicialmente aos “capatazes” serviam
de vínculo ao poder da Coroa sendo que a Câmara que administrava o rossio da
vila, no raio de demarcação, realizava concessões de datas de terras (denominação
dos lotes urbanos), que eram restritas a moradores da vila e pessoas influentes com
um certo grau de favoritivismo, o que podemos observar até os dias atuais.
Entre 1559 e 1822, foram distribuídas 183 sesmarias, além das áreas do
rossio doadas à Câmara dos Vereadores.
No decorrer dos levantamentos, nos deparamos com o relatório de
William Fillinger (1941), arquiteto e consultor técnico da Procuradoria do Patrimônio
Imobiliário do Cadastro do Estado, sobre as terras devolutas da gleba Matadouro-
Saúde, onde são analisados os dez volumes de processos com os laudos dos
arbitradores na descriminação entre 1911 e 1914, esclarecendo-nos em relação aos
métodos adotados, descritos abaixo e quanto às discrepâncias da documentação.
As terras do rossio subdividiam-se em pequenos núcleos de ocupação,
denominando-se freguesias, caracterizadas por circunscrição religiosa, ligada às
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Paróquias, que eram consideradas como partes da administração civil sob a
jurisdição da Câmara da Vila, onde os Vigários recebiam atribuições fiscais, que
apesar de leigos no assunto, criaram métodos (nem sempre corretos),
principalmente por falta de dados geodésicos. Desta maneira criava-se um princípio
legal como forma de regularizar e controlar o domínio imobiliário.
Este registro, de forma facultativa é o primeiro esforço do Poder Público
para uma apuração da propriedade territorial, constituindo-se no ponto de partida
para o moderno cadastro imobiliário.
Após o registro, deveria ocorrer a medição e legitimação de posse por
Juízes Comissários Distritais, o que poucas vezes ocorria.
Esta era a origem da discriminação das terras devolutas, confiadas a
estes inspetores de medição, beneficiando as propriedades privadas com domínio e
localização.
Falta de recursos governamentais e pessoal para a execução dificultaram
os trabalho, deixando um legado reduzido de processos que são de grande valia e
possibilitam a discriminação das terras devolutas das de domínio particular,
registrando localização e confrontantes.
Outro problema indicado é o registro das denominações dos ribeirões,
bem como as representações nas diversas plantas, seja por mudança de nome,
alteração do curso e braços existentes, dificultando a demarcação das propriedades
mais antigas além de títulos com alterações fraudulentas comprobatórios de posse.
Em seu relatório estão anexadas plantas, com as demarcações de
propriedades e nomes dos proprietários, constantes dos arquivos de processos mais
antigos da Câmara Municipal, onde podemos observar, do lado esquerdo, as terras
referentes a parte da área do Ibirapuera, em seqüência a partir de 1607, nomeadas
como devolutas (planta I e II) e a partir de 1731 a 1829 (planta III e IV) como
devolutas ou municipais.
29
Figura 4– Mapa do antigo sítio Geribatiba de 1607, mostrando o caminho que vai para Santo
Amaro, tendo na parte superior esquerda as terras devolutas (área do Ibirapuera) (FILLINGER,
1941: ANEXOS).
Figura 5 – Mapa que mostra os então proprietários das sesmarias, incluindo a área antes tida
como devoluta no canto superior direito (FILLINGER, 1941: ANEXOS).
30
Figura 6 – Área do Ibirapuera aparece como devoluta ou municipal, constam também o nome
dos ‘proprietários’ das terras vizinhas (FILLINGER, 1941: ANEXOS).
Figura 7 – Planta mostrando alterações em relação a fig. 6 (FILLINGER, 1941: ANEXOS).
31
Além destas existe uma Planta V, correspondente aos anos entre 1829 e
1890, com cada área numerada acompanhada da listagem dos proprietários desde
os períodos anteriores, onde encontramos o nome de Leopoldo Couto de Magalhães
(Capítulo 2), referente aos bairros envolvidos com a área em questão.
Figura 8 – Demarcação contendo as indicações das diversas propriedades (e proprietários)
existentes na época (FILLINGER, 1941: ANEXOS).
Abaixo observamos a transcrição feita por FILLINGER (1941: pp 43 - 45)
dos diversos proprietários das glebas apresentadas na figura 8, desde 1660 até 1913
Gleba A
Terrenos devolutos ou Municipais desde o ano de 1660
Gleba B
- Rev. Joaquim Morais de Oliveira e Castro – 1820
- Sargento Mor Antonio Coedes Nogueira – 1831
- Dr. Augusto Araújo de Azambuja – 1843
- Bernardo Pinto Ferraz – 1851
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- Carlos Ablas – 1858
- Dr. João Ribeiro de Camargo – ...
- Dr. Rego Freitas – ...
- Dr. Bento de Camargo – ...
- General J.V. Couto de Magalhães - 1890
Gleba C
- João José de Jesus Colaço – 1829
- Leonardo José Barbosa – 1830
- Manoel Joaquim dos Santos, Boiadeiro – 1832
- João Antonio de Borba Cujo – 1857
- Manuel José da Luz (vulgo Juca Calção) – 1869
- Antonio Augusto Monteiro de Barros – 1890
Gleba D
- Herdeiros do Sargento Mor Antonio Safino da Fonseca – 1828
- Bernardo Francisco de Azevedo - 1833
- Cap. Manuel José de Moraes – 1834
- Jacinto Ozório de Lócio e Silva – 1868
- Joaquim Pedro Celestino – 1870
- Dr. Fernando Ares Junior e outros – 1913
- Companhia territorial Paulista e outros – 1913
Gleba E
- Desde o ano de 1820 a 1851 (vide supra a gleba B)
- Cap. Manuel José de Moraes – 1853
- Desde o ano de 1868 a 1913 (vide supra a gleba D)
Gleba F
- Hers. do Sargento Mor Antonio Safino da Fonseca – 1828
- Bernardo Francisco de Azevedo – 1833
- Cap. Manuel José de Moraes – 1834
- Da. Rosa Emilia de Moraes – 1890
- Herdeiros de Da. Rosa Emilia de Moraes – 1913
Gleba G
- Terrenos pertencentes a João Moreira Garcia – 1731
Gleba H
- Parque Jabaquara, diversas transações desde – 1771
Gleba I
- Sitio “Olho dágua ou Tabatinga”, diversas transações e
medição judiciária dede o ano de 1771.
(FILLINGER, 1941: ANEXOSV).
No século XIX inicia-se a fase de crescimento da cidade de São Paulo
com a produção de cana-de-açúcar, a ampliação do comércio de exportação, a
produção de farinha na região, o comércio de gêneros alimentícios e as atividades
agropecuárias entre as vilas próximas e a capital.
33
O comércio estava localizado nas ruas do centro da cidade e como os
Rios Tamaduateí e Tietê eram navegáveis, o porto mais importante era o “Porto
Geral”, no final da ladeira de mesmo nome, atualmente e próximo ao Mercado.
A cidade funcionava como pólo em relação às áreas circunvizinhas e mais
afastadas, sendo
circundada por duas faixas concêntricas: o “Cinturão de
chácaras” e o “cinturão caipira”. Além das chácaras com sua
função de residência e secundariamente de produção frutícola,
o cinturão encerrava uma série de elementos funcionalmente
ligados à cidade, e que aí se situavam por requererem maior
espaço, por seu caráter repulsivo (recomendando seu
isolamento), ou por ter a localização campestre considerada
ideal. (LANGENBUCH,1971: p.76).
Nestas áreas estavam terrenos com pousos para viajantes; hospitais,
como no caso da Chácara do Pacaembu, que na parte alta abrigava um hospital de
isolamento, destinado aos escravos negros que contraíam a varíola; cemitérios como
o da Consolação e Araçá, cujas terras foram-lhes destinadas por estarem fora do
perímetro urbano e de colégios.
O “cinturão caipira”, que se seguia ao das chácaras, se
caracterizava pela cultura de subsistência e pela produção
agrícola extrativa (lenha, madeira, pedras de cantaria e
produtos cerâmicos) e artesanal (objetos de barro) destinados
ao abastecimento de São Paulo. (LANGENBUCH; op.cit.)
As atividades exercidas neste cinturão vieram a contribuir para a criação
de caminhos e estradas entre estas áreas e a cidade de São Paulo.
O cinturão das chácaras propiciará através de benfeitorias realizadas nas
terras por seus proprietários, por arruamentos ou sua subdivisão em lotes, o início da
expansão da cidade no raio de meia légua no rossio.
Aos poucos o vale do Anhangabaú é ultrapassado e inicia-se a formação
da “cidade nova”, principalmente pela distribuição de datas de terras nesta área a
pessoas influentes e a representantes do clero, a partir de 1808, como o coronel
34
Francisco dos Santos que recebeu data de terra correspondente ao morro que
margeava o ribeirão Anhangabaú pelo lado esquerdo, denominado Morro do Chá,
pela plantação por ele realizada no local.
O marechal José Arouche de Toledo Rendon por sua vez recebeu data
extensa no lado oposto, providenciou a abertura de ruas cujo núcleo central era uma
praça, denominada hoje de Largo do Arouche e iniciando assim o arruamento na
”cidade nova”, o que lhe valeu a nomeação em 1826, pela Câmara Municipal de
“encarregado dos arruamentos da cidade“. (Porto;p.41). Posteriormente esta
propriedade passou a Antonio Pinto de Rego Freitas denominando-se Sítio do
Sertório, que dará lugar ao bairro de Vila Buarque.
Próxima a esta região estava a Chácara do Bexiga, entre a Rua Santo
Amaro e a da Consolação, na qual localizava-se uma estalagem citada pelo viajante
francês, Augusto de Saint-Hilaire em seus escritos sobre sua viagem ao Brasil.
Entre o ‘Acu’ (denominação da passagem sobre o ribeirão Anhangabaú,
oriunda de ‘Yacuba’, significando água venenosa) e o ‘Piques’ (Ladeira da Memória)
havia a Chácara do Barão de Itapetininga que cedeu terras para a abertura da Rua
Formosa tornando-se a ligação entre a Luz e a freguesia de Santa Efigênia e desta
para os Campos Elíseos, através da Chácara do Campo Redondo.
No lado oposto da cidade estavam: a Chácara do Osório, a Chácara dos
Ingleses e a da Glória com vasta área que se estendia desde as cabeceiras do
córrego Cambuci, Tamanduateí e Ipiranga até a estrada para Santo Amaro.
A primeira Planta da cidade de São Paulo é realizada por Jules Martim em
1810 e publicada em 1849, que também foi autor de uma série de obras na cidade.
Neste período, a distribuição de datas chega a uma centena de cartas de
concessão, sendo que metade delas era para a área da “cidade nova”.
Segundo MONACO (2004: p.48), pouca atenção era dada à forma como
ocorria a expansão urbana e somente em 1830 é expedido um documento pela
35
Câmara Municipal denominado de “Regulamentação para Concessão de Cartas de
Datas” que não trará mudanças na abrangência do rossio ou no sistema de
concessão.
A lei de Terras de 1850, regulamentada pelo decreto de 1854, apresenta
algumas diretrizes em relação às Terras Devolutas das Freguesias, Municípios ou
Comarcas, mas mantém suas divisões e forma de uso em vigor anteriormente.
Surgem os primeiros bondes a tração animal com a inauguração da
primeira linha que ligava o Centro à Estação da Luz, em 1872. Suas linhas se
multiplicam e seus pontos finais vão além das áreas construídas, constituindo-se em
elementos eficazes na expansão da cidade.
Os primeiros trechos concluídos da Estrada de Ferro pela Companhia
Inglesa São Paulo Railway, em 1875, com sua estação no bairro da Luz, foram o
inicial da Sorocabana e o da ferrovia que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro.
A ferrovia além de ser de extrema importância para o escoamento da
produção cafeeira, em alta, para a exportação, contribuirá para o progresso em
áreas mais distantes da capital, tornando-se ponto de referência para abertura de
industrias nas proximidades da linha e conseqüente formação de vilas operárias,
diminuindo as distâncias entre as freguesias e o centro. Também são instalados
ramais para o novo Matadouro Municipal em Vila Mariana, que abordaremos no
capítulo 2, e na ligação com o Município de Santo Amaro.
Após a Proclamação da República e a instauração da primeira
Constituição em 1891, as terras devolutas pertencentes ao Império passam à União
que, por sua vez as repassa aos estados onde se situam, sendo incumbidos da
formulação de políticas regionais, que terão soluções diferenciadas entre eles, mas
cuja tônica similar indica o favorecimento, proteção e culmina com o incentivo à
formação dos latifúndios.
Desde os primeiros séculos da colonização até o final do século XVIII, a
área correspondente ao Parque do Ibirapuera constituía-se em várzea alagadiça,
36
distante do centro da Vila de São Paulo de Piratininga, relegada ao seu ambiente
natural de pouca vegetação, servindo de passagem para boiadas destinadas ao
Matadouro e como pasto, no aguardo do abate. Estava fora da área de meia légua
da demarcação do primeiro rossio, passando a compor área da municipalidade, na
demarcação de 1891.
O Estado de São Paulo, no mesmo ano, ao criar uma lei para a
organização dos municípios, amplia a área do rossio dos municípios com mais de mil
habitantes para um raio de 6km a partir do centro, que deveria ser demarcada por
cada município reservando áreas inalienáveis para a implantação de logradouros
públicos.
Nas cidades, por falta de regras específicas, claras e rígidas, as terras
devolutas acabaram sendo dominadas pela ação privada.
Segundo LANGENBUCH (1971), em 1900 São Paulo contava com
239.829 habitantes, sendo a população quatro vezes maior do que em 1890.
Surgem arruamentos nas áreas em expansão e, também de forma isolada
em outras áreas sem loteamentos, o que levará a uma expansão de forma desigual
que irá avançar invadindo até terras devolutas.
A Companhia Light & Power de energia substitui, entre 1900 e 1905, os
bondes a tração animal por bondes elétricos com ampliação das linhas para bairros
mais afastados, chegando, em 1914, até Santana, Penha, Vila Prudente, Ipiranga,
Bosque da Saúde, Lapa, Pinheiros. O município de Santo Amaro, servido por trem,
que utilizava o antigo “Caminho do Carro para Santo Amaro” (abordado no Capítulo
2) passa a ter o serviço de transporte do bonde elétrico em 1906.
Desde o final do século XIX, o aumento da produção cafeeira gerando
lucros e a chegada das primeiras levas de imigrantes como forma de mão-de-obra
barata, seja na zona rural como urbana, no início da era industrial, irá auxiliar na
expansão urbana através do desmembramento de parcelas de chácaras criando
37
habitações de aluguel, valorização dos terrenos e o surgimento da especulação
imobiliária.
Terras devolutas agora pertencentes à área do rossio são alvo dos
investidores privados, que apresentam propostas ao município, no intento da isenção
de imposto entre 20 e 25 anos e aforamento dos terrenos, por parte do município
para a realização de empreendimentos habitacionais de vilas operárias,
comprometendo-se o empreendedor a ceder áreas para realização de obras de infra-
estrutura por parte do município.
Várias foram apresentadas e indeferidas ou aprovadas para posterior
suspensão, até que em 1900, a Lei 498 regulamenta áreas passíveis deste tipo de
empreendimento, em bairro fora do perímetro definido, prevê a isenção de impostos
municipais para o caso e é complementada, oito anos depois pela Lei 1098, com a
busca de recursos em instituição financeira determinada (Caixas Econômicas), e a
isenção de taxas e impostos estaduais.
A expansão capitalista instala-se a partir deste período, não apenas em
determinadas áreas já em ampliação, mas através da visão futura de
empreendedores, em áreas não ocupadas como o fez a Cia. City de foi detentora de
imensa gleba no município, iniciando seus empreendimentos em 1913 e que
contribuirá de forma expressiva na constituição de inúmeros bairros, seja de alto
padrão como Jardim América, Europa, Pacaembu como também os destinados a
classes intermediárias, com visão urbanística diferenciada de outros loteamentos de
bairros da capital.
No início do século XX muitas foram às mudanças, desde a iluminação
pública que tem seus lampiões substituídos pela energia elétrica, ruas com calçadas,
a chegada do automóvel e sua movimentação, a consolidação dos bairros com a
instalação de equipamentos e serviços, a instalação de grupos de imigrantes em
vários bairros com seus costumes que vão concorrer para a mudança da paisagem
urbana.
38
O processo de expansão foi acelerado com os transportes, tanto os
urbanos como os privados. Oportunidades para empreendimentos imobiliários,
tiveram impulso dado pelos prefeitos por meio de legislação de uso e ocupação de
solo, incentivo fiscais e isenções, modificação de leis e concessões de loteamentos,
desde 1900. A legislação pertinente à área do parque e os dirigentes municipais com
envolvimento direto em modificações na área objeto de estudo serão alvo de estudo
específico no Capítulo 3.
O Mapa a seguir refere-se à localização de chácaras, sítios e fazendas,
nas quais estavam divididas as terras do Município de São Paulo, pertencentes ao
rossio da cidade e fora do limite de sua extensão para 6Km, elaborado pelo escrivão
Aguirra, quando da venda de propriedades, ao longo de sua vida. Podemos notar
que a área do Parque do Ibirapuera encontra-se no limite da nova demarcação do
rossio .
Figura 9 - Detalhe Mapa n°1220 (Cópia) do Arquivo Aguirra, mostrando chácaras, sítios e
fazendas, com indicações da área aproximada do parque atual em verde (MONACO, 2004).
39
1.3 - SÉCULO XX, A EXPANSÃO URBANA E A ÁREA DO PARQUE:
ANÁLISE CARTOGRÁFICA VISUAL: 1897, 1914, 1930, 1952 E 2005
Elaboramos uma seqüência simplificada de mapas, em ordem
cronológica, para proporcionar o acompanhamento visual do desenvolvimento da
área urbana da cidade de São Paulo e sua relação com a antiga Várzea de Santo
Amaro, também conhecida como Várzea do Ibirapuera que se tornaria o nosso
Parque do Ibirapuera.
Os mapas mais antigos quase não possibilitam a visualização da área,
pois não havia a necessidade do registro de terras isentas de qualquer tipo de
aglomerado urbano, utilizadas como passagem de carroças e animais. Por eles,
observamos a construção da malha de nosso habitat citadino, evoluindo mais rápido
em algumas direções do que em outras.
Figura 10 – Detalhe - Planta da Capital de São Paulo, Gomes Cardim, 1897. A marcação em
vermelho mostra o centro da cidade e a verde mostra a localização aproximada do futuro
parque (fonte: COMISSÂO do IV CENTENARIO DA CIDADE DE SÃO PAULO).
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Figura 11- Detalhe da Planta Geral da Cidade de São Paulo com indicações diversas, org.
Commissão Geographica e Geológica, 1914. A marcação em vermelho mostra o centro da
cidade e a verde mostra a localização aproximada do futuro parque (fonte: DAHM-DPH).
41
Mapas da década de 1930 em diante mostram o perímetro do Parque em
formas diferentes de acordo com as intervenções urbanas, no sistema viário ou
formas de disposição diferenciadas aos usos do terreno da área.
Figura 12 – Mappa Topographico do Município de São Paulo, executado por Sara Brasil S/A,
1930, mostrando a área do Parque do Ibirapuera (fonte: Arquivos da Biblioteca FAU/USP)
42
Figura 13 - Detalhe do Mapa Falk, São Paulo (MELHORAMENTOS, 1952).
Figura 14 – Mapa Digital da Cidade de São Paulo, 2007, mostrando em amarelo o sistema
viário, inclusive o túnel Ayrton Sena que passa sob o Parque do Ibirapuera
(GOOGLE/MapLink/Tele Atlas, 2007).
43
CAPITULO 2 - EVOLUÇÃO DOS BAIRROS QUE
CIRCUNDAM O PARQUE DO IBIRAPUERA
2.1 - VILA MARIANA
A Vila de Piratininga, por volta de 1770, estava cercada por vilas e
freguesias com distâncias variadas e em diversos estágios de desenvolvimento.
Nesta época, quase todas as vilas pertenciam a expoentes e
beneméritos, desbravadores proprietários de Sesmarias, como a Vila de Santo
Amaro, de Borba Gato e Belchior Pontes; Carapicuíba, dos Raposo Tavares; São
Miguel, dos Jesuítas.
As vilas possuíam paróquias com párocos e eram administradas por
capitães escolhidos pela Câmara de São Paulo. Neste período, a Vila Mariana não
estava relacionada em nenhum cadastro pois sua população era insignificante.
Setenta anos mais tarde, este quinhão de terras já fazia divisa com o
Morro Vermelho (Paraíso, Rua Vergueiro), conhecido como “Meio Caminho do
Carro” ou “Cruz das Almas”. O “Caminho do Carro” para Santo Amaro saía do atual
Largo da Pólvora, seguia pela Rua Vergueiro e Morro Vermelho, passando pelo alto
das ribanceiras das vertentes do Anhangabaú, no vale do Itororó, chegava a Rua
Paraíso, percorrendo a Rua Domingos de Moraes até a Rua Luís Góes e seguia à
direita na Rua Guatás, entrando pelo bairro de Mirandópolis, considerado divisa
entre os municípios de São Paulo e Santo Amaro.
Estes caminhos, como muitos outros da época, eram picadas e trilhas que
cortavam campos, cerrados, matas e florestas para o deslocamento de carros e
bestas entre a Vila de Piratininga, a Vila de Santo Amaro, São Bernardo da Borda do
Campo e a descida ao litoral ou “Estrada do Mar”. Deste período há apenas vagas
informações de habitantes locais. Segundo Masarolo,
44
os primeiros moradores do bairro, consta que vieram do Tabuão,
mais ou menos por volta de 1820, e se estabeleceram num campo
junto ao caminho,onde atualmente encontra-se a caixa d’água,
centro do bairro. (MASAROLO, 1971: p.17)
As casas próximas ao largo que ali se formava eram simples e abrigavam
muitos moradores mestiços. Estes moradores plantavam pequenas roças, onde
brancos e índios conviviam no mesmo espaço, caçando como bugres.
Nomear o local de “Rancho dos Tropeiros” deveu-se ao fato de servir para
pernoite das tropas de burros com cargas que vinham do interior como Itu, Parnaíba
e Sorocaba, com destino a São Bernardo da Borda do Campo e Santos. Possuía
muitas árvores que proporcionavam sombra aos animais, além de goiabeiras e
pitangueiras.
Deste largo originou-se o bairro da Vila Mariana. Foi local de tropas
durante a Guerra do Paraguai, pouso de postilhões do Correio para Santos e
também de viajantes vindos do litoral com destino ao interior que, saindo do largo,
seguiam o caminho para Pinheiros, diminuindo assim o percurso de viagem.
A partir do 2º Império, iniciam-se as melhorias nos serviços públicos e a
abertura de novas estradas, o que aproxima as vilas entre si e com a cidade.
Com o aumento e desenvolvimento da atividade comercial, a Estrada do
Mar adquire importância, os sítios à margem dos caminhos que a ela levam tornam-
se mais conhecidos, com um número maior de moradores que lá estabelecem-se e o
“Rancho dos Tropeiros” (Largo da Vila Mariana posteriormente) é de mais fácil
acesso.
Saindo da Liberdade, passando pelo Morro Vermelho e seguindo pelo
espigão da atual Rua Domingos de Morais se alcançava o Campo das Pitangueiras,
também conhecido como “Pouso”. A partir dali, os viajantes, já refeitos, seguiam em
demanda para o litoral.
45
Também de Osasco e Pinheiros, ao passar pelo sítio do Bibiano (BIBI),
depois da encruzilhada de Santo Amaro e da Capelinha, margeando o campo do
Barreto (Ibirapuera) e subindo o caminho (Rua França Pinto) podia-se chegar ao
”Rancho“ para pernoite. Passavam por ali não só viajantes e cargueiros, mas
também os negros vindos do litoral e destinados à lavoura do Interior.
Aos poucos o futuro bairro da Vila Mariana progride com a instalação de
grandes famílias, a demarcação de sítios e chácaras e caminhos de servida. Após a
Guerra do Paraguai, o Imperador D. Pedro II doa sítios da região e circunvizinhanças
a combatentes e famílias de soldados que tombaram.
A família portuguesa Vaz ocupa uma área ao lado da Rua Estela e
baixada da Avenida Rubem Berta (Vila Clementino).
Por volta de 1870, numa iniciativa do Senador Vergueiro, político influente
junto ao Imperador, são trazidos oficialmente imigrantes italianos e alemães.
Em 1878, as primeiras famílias italianas se estabelecem na Vila Mariana e
na Chácara de Glória, recebendo um lote de terra para moradia e cultivo,
contribuindo para o abastecimento de frutas e legumes.
Segundo MASAROLO (1971), gradualmente, estes imigrantes foram
aumentando em número, pois as famílias aqui residentes escreviam chamando seus
parentes na pátria. O local foi então denominado “Colônia”, em substituição à “Cruz
das Almas”, nas proximidades da Rua Afonso Celso, num atalho do caminho de
carros que ia para a Rua Santa Cruz, (onde haviam duas cruzes plantadas) e
posteriormente Vila Mariana.
O avanço e maior desenvolvimento do bairro ocorre a partir de 1883, com
o início da construção da Estrada Carril de Ferro que ligava São Paulo a Santo
Amaro. Concluída em 1886, a obra realiza aterro do Vergueiro e cortes para
assentamento dos trilhos no Morro Vermelho (Colégio Santo Agostinho-Paraíso) até
a Rua Paraíso.
46
A linha saía da Liberdade, frente à Rua São Joaquim, subindo a atual Rua
Vergueiro, passava pela Rua Paraíso, aproveitando o terreno de cota mais alta na
região, seguia a atual Rua Domingos de Moraes quase paralela à estrada do
Vergueiro, com cota topográfica mais baixa, até o antigo “Rancho dos Tropeiros”,
posterior Largo da Vila Mariana, onde foram construídas a Estação de Bondes e as
oficinas de reparo de máquinas e vagões. Esta era chamada de Parada “Chave”
pois do largo saíam ramais para o bairro do Cambuci, descendo pela atual Avenida
Lins de Vasconcelos até o largo, continuando pela Baixada do Glicério até o
mercado Municipal e Rua 25 de Março. Do largo, outro tronco seguia pela atual
Avenida Senna Madureira de onde saía um ramal para o Matadouro Municipal, em
construção na época.
Também da Parada Chave, um ramal saía em direção à Capela da
Saúde, Parada Bosque (Praça da Árvore) estação Nova e a estação do Encontro (no
final da atual Avenida Jabaquara), com chefe de manobras do tráfego procedente de
Santo Amaro. Continuando nesta direção havia a Parada Elias Chaves (sítio da
família e atual pista do Aeroporto de Congonhas), depois a do Buraco do Peixe
(Bairro do Aeroporto) com reservatório de água para as máquinas a vapor, seguida
da Estação Volta Redonda que já contava com chefia e telefonia, depois Parada
Cordeiro e Galinheiro (atual Vila Helena – onde havia granjas), Alto da Boa Vista
(Chácara Flora), São José (próxima ao Convento São José) e a Estação Terminal
Santo Amaro (Grupo Escolar Lineu Prestes e Corpo de Bombeiros). A composição
neste ramal era constituída de quatro vagões: dois de passageiros e dois de carga.
A estrada Ferro Carril teve como superintendente o engenheiro Alberto
Kullman, também responsável pelo projeto do Matadouro, inaugurado em 14 de
março de 1886. O deslocamento do Matadouro Municipal, antes locado na Rua
Humaitá, bairro da Liberdade, representou importante evento para a formação do
bairro. Iniciou suas atividades em 1887 (onde atualmente funciona, após a
restauração da construção, a Cinemateca São Paulo, no atual Largo Senador Raul
Cardoso), e era servido por dois caminhos: um pela atual Rua França Pinto, antigo
caminho do Matadouro, outro pela linha de trem do ramal da Avenida Senna
Madureira.
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O ramal do Matadouro inaugurado em 23 de setembro de 1887 fazia o
transporte de reses para o tendal no Largo dos Ingleses (antigo Largo São Paulo).
As boiadas procediam do Ipiranga, eram desembarcadas na estação do
mesmo nome, percorriam a Avenida Sena Madureira e finalmente descansavam sob
as mangueiras localizadas próximas ao Matadouro, até o abate.
As boiadas provenientes da Lapa, após o desembarque do trem, eram
levadas ao lado do cemitério do bairro, seguiam pela Estrada as Corujas (atual
Estrada da Boiada), os Campos de Pedro Criste, atravessando a Rua Teodoro
Sampaio, entravam na Estrada do Bibi (atual bairro do Itaim-Bibi), passavam pelo
charco do Ibirapuera chegando até as mangueiras (Rua das Mangueiras à direita do
Matadouro).
O trem do ramal da Sena Madureira também fazia o transporte da carne
verde até a estação São Joaquim, de onde, em carroções especiais, o produto era
levado para comercialização até o Tendal do Largo São Paulo.
Algum tempo depois, ao lado do Matadouro e onde se situa atualmente a
Escola do Senai, foi construído o Curtume, cujas atividades tingem o Córrego do
Sapateiro com o vermelho do sangue dos animais. É o início do processo de
poluição deste córrego.
A partir de 1888, o Largo da Estação é denominado Largo da Vila Mariana
e torna-se o centro do bairro. Por ali passavam carros de boi carregados em direção
ao centro e retornavam vazios. Havia botequins e baldeações para Santo Amaro,
Cambuci e Matadouro.
O Largo, ladeado com casas caiadas, tornou-se o “centro dos negócios”.
Um quiosque servia cerveja, bebidas, refrescos e refeições aos empregados das
oficinas da Ferro Carril, aos vendedores, viajantes e artesãos.
Aos poucos se estabeleceram nas proximidades do Matadouro os
Tripeiros, italianos que realizavam o comércio de miúdos, incentivando os parentes a
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ali também residir, estabelecendo-se nas atuais ruas França Pinto, Joaquim Távora,
Humberto I, Álvaro Alvim, Rio Grande.
Uma grande área da Vila Mariana pertencia aos irmãos portugueses Vaz
Porto. Denominada Chácara Boa Vista, a área estendia-se da atual Rua José
Antonio Coelho até as proximidades da Igreja Nossa Senhora da Saúde. Os irmãos
Vaz venderam a chácara ao Sr. José Antonio Coelho que a loteou, dando origem às
ruas: Central, Garibaldi, dos Italianos e a antiga Rua do Matadouro, atual Rua Álvaro
Alvim. Cada lote media 12 metros de frente por 100 metros de profundidade e o
comprador que o adquirisse em leilão tinha direito a uma “escritura de mão”.
A partir de 1887/1888 surge nas Atas da Câmara Municipal de São Paulo
a 1ª referência à área do Ibirapuera.
Indico que esta Câmara represente ao Ministério da Agricultura por
intermédio do Ministério do Império que não convém a continuação
da venda de terras da ”Várzea de Santo Amaro“ (bairro do
Matadouro) por constituírem tais terras a um campo dos moradores
do município e a apresentação do gado, de corte diário – Sessão de
29 de novembro de 1887 – Vicente Fernando Silva. (ATAS DA
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO,ano 1887, pág. 339, Arquivo
Municipal, in MASAROLO, 1971: p. 54/55.)
Esta solicitação refere-se à área do Parque do Ibirapuera, local onde
ficavam as boiadas magras vindas do interior para um período de engorda e as
reses para estoque do Matadouro no caso de falta ou retardo da chegada das
procedentes do interior.
Próximo ao Matadouro entre 1900 e 1905 havia uma olaria (foi instalada
uma cerâmica) que fabricava telhas e tijolos de propriedade de Luiz Nosé, no bairro
do Sapo, nas margens do córrego do Sapateiro.
Luiz Nosé também consertava as ruas esburacadas dos bairros com as
caçambas da olaria.
Outra Instituição de importância para o bairro foi o Instituto Biológico. Em
1924, uma praga denominada “broca” atacava as plantações de café do Estado e
49
para contê-la foi criada a “Comissão de Estudo e Debelação da Praga Cafeeira”,
cujas ações resultaram no estabelecimento do Instituto Biológico de Defesa Agrícola
e Animal, em 26 de dezembro de 1927, obedecendo a Lei nº 2.243, e que, em 1937
passou a denominar-se Instituto Biológico.
Inicialmente o Instituto foi locado em vários prédios adaptados e distantes
uns dos outros (Rua Brigadeiro Luiz Antonio, Rua Marques de Itu, Rua Florisbela -
hoje Nestor Pestana -, Rua Washington Luiz, Rua Pires do Rio e até mesmo na
Cidade de Santos), fato que provocava óbvias inconveniências operacionais.
Em 1928, uma área de aproximadamente 239.000m² foi doada para a
construção do Instituto. Era uma área pouco valorizada, conhecida como “Campo do
Barreto” e que englobava parte do Parque do Ibirapuera, sendo uma várzea cheia de
pássaros. Todo esse conjunto era chamado de Invernada dos Bombeiros, cortado
pelo Córrego do Sapateiro. Essa área é hoje definida pelas Avenidas Ibirapuera,
Brasil e Conselheiro Rodrigues Alves.
A conclusão da obra que sediaria o Instituto demorou dezessete anos,
sendo inaugurado em 25 de janeiro de 1945, com a presença de Fernando Costa,
interventor do Estado.
Durante este longo período de construção, vários fins foram dados ao
prédio. Em novembro de 1930, durante um mês, o Instituto Biológico serviu de
abrigo a 800 soldados e respectiva cavalhada, o 5º batalhão de engenharia.
Em 1932, durante a revolução, o Instituto foi utilizado como acampamento
dos soldados gaúchos.
No ano de 1937, temendo que o prédio fosse ocupado por Getúlio
Vargas, Henrique da Rocha Lima, 2º Diretor do Instituto e alguns de seus discípulos
deslocaram-se rapidamente de seus laboratórios nas casas alugadas e instalaram-
se ainda inadequadamente no prédio, apossando-se assim do Instituto semi-
construído.
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O projeto do edifício principal é do arquiteto Mário Whately, em estilo Art
Déco, concepção artística européia na década de 30, sendo um dos exemplares da
primeira modernidade da arquitetura paulista, com sua forma monumental. Em 1939,
Dácio A. de Morais Junior assume a obra. O Instituto Biológico foi tombado como
bem cultural de interesse histórico, arquitetônico e urbanístico conforme a Resolução
SC-113, de 25/02/02:
O Secretário da Cultura, nos termos do artigo 1º do Decreto – Lei
149, de 15 de agosto de 1969 e do Decreto 13.426, de 16 de março
de 1979, resolve:
Artigo 1º - Fica tombado como bem cultural de interesse histórico,
arquitetônico e urbanístico, o Conjunto Arquitetônico do Instituto
Biológico, situado à Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252,
nesta Capital.
2.2 - VILA CLEMENTINO
O surgimento da Vila Clementino deveu-se à instalação do novo
Matadouro na Vila Mariana e à concessão de terrenos próximos, por parte da
prefeitura que pretendia o início da urbanização naquelas paragens.
Esses terrenos, com prazos de 30 anos para quitação, foram inicialmente
concedidos a funcionários públicos municipais, muitos deles funcionários do
Matadouro, como o Major Eleutério Borges de Azevedo Lagoa, administrador do
Matadouro em 1891, que posteriormente teve seu nome escolhido para umas das
principais vias do bairro. Neste mesmo ano de 1891. um grupo de funcionários
solicitou aumento de salário ao presidente da Câmara Municipal, Clementino de
Souza e Castro, cujo pronunciamento foi:
indico como solução ao pedido de aumento de ordenado feito por
diversos empregados desta intendência que se defira o pedido
aumentando-lhes 15% sobre o que recebem, isto quanto aos que
não tiveram acréscimo. (Assinatura de Clementino de Souza e
Castro)
Este aumento foi de tal forma bem recebido que os funcionários decidiram
homenagear o presidente de Câmara e, mediante uma petição contendo cento e
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vinte e sete assinaturas, entre estas as de Leandro Dupré e do major Eleutério
Borges de Azevedo Lagoa, solicitavam a utilização do nome Clementino à área onde
estavam locados seus lotes.
Ao Conselho de Intendência da Capital de São Paulo.
os empregados públicos abaixo assinados, gratos ao Dr. Clementino
de Souza e Castro, pedem seja dado o nome de Vila Clementino à
parte de Villa Marianna, em que estão situados os lotes de terrenos
que lhes foram concedidos.
Em 5 de dezembro de 1891, em sessão solene a Câmara Municipal
resolve aprovar a petição:
Requerimento assinado por cento e vinte e sete cidadãos. Pedindo
que seja dado o nome de Vila Clementino à parte da Vila Marianna
em que estão situados os lotes de terrenos que lhes foram
concedidos. O Conselho deliberou deferir a petição. (ATA DA
CÂMARA MUNICIPAL, 1891)
A partir de 1887 até 1914, a Vila Clementino recebe muitos imigrantes, em
maioria italianos de Salerno, região do Cilento, como ocorrera na Vila Mariana pois
os dois bairros, na época, pertenciam à mesma região. Os italianos exerciam o
lucrativo comércio de miúdos bovinos e suínos, e eram chamados de tripeiros. Não
abandonaram sua cultura, mantendo os costumes, crenças e comemorações.
Segundo Masarolo, alguns destes estrangeiros, de conduta duvidosa e considerados
briguentos, impingiram considerável má fama à região do Matadouro.
A Vila Clementino é registrada em 1897, no mapa geral da cidade de São
Paulo por Gomes Cardim, na época intendente de obras da Prefeitura.
Estabelecia os limites: ao norte pela Rua Ribeirão Preto (atual Gandavo);
ao sul pela Rua Loefgren; a leste pela Rua José Rebouças (atual Marselhesa) e a
oeste: pela Rua José de Magalhães. As ruas Pedro de Toledo e Borges Lagoa
terminavam na Rua Marselhesa e posteriormente foram prolongadas até a Rua
Domingos de Moraes.
52
A Vila Clementino era servida por bondes, com três linhas: a do
Matadouro, a de ligação Ponte Grande (Santana) - Vila Mariana que passava em
frente ao Liceu Pasteur, marco do bairro, e o ramal que ia para o Bosque da Saúde.
O ramal do Matadouro saía do largo Ana Rosa, descia a Avenida
Rodrigues Alves indo aos limites da zona sul e norte e ajudando a expansão da
malha urbana no sentido do Parque do Ibirapuera e levando, assim, grande
desenvolvimento à Vila Clementino.
Segundo relatos de antigos moradores do bairro, registrados por Danilo
Angrimani, havia muitas chácaras que forneciam verduras, campos abertos, brejos
onde se caçavam rãs, trechos de mata densa e matagais. A infra-estrutura era
precária com ruas de terra sem calçadas, inexistência de rede de esgoto, de
distribuição de gás encanado ou energia elétrica.
Rebanhos de cabras e bois passavam por ali, mas a Vila Clementino era
considerada um bairro poético cercado de áreas verdes, que receberia
melhoramentos públicos a partir de 1958.
Em 1908 a Missão Cultural Francesa chega ao Brasil com objetivo de
incrementar o relacionamento cultural com intercâmbio educacional e de pesquisa,
resultando na fundação do Liceu Pasteur em 1924, inicialmente alocado nas salas
de aula e estudos do Liceu de Artes e Ofícios.
Em 1926, o Liceu Pasteur passa a funcionar na Rua Mairinque, com sede
definitiva construída e projetada por Ramos de Azevedo em terreno de sua
propriedade, cercado por pinheiros e ciprestes. A escola sempre teve cunho elitista e
seus freqüentadores eram da classe dominante e média alta, mantendo certo
isolamento da comunidade do bairro.
Além desta unidade que continua funcionando na região, há uma nova e
mais moderna na Chácara Klabin, travessa da Rua Vergueiro.
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A Escola Paulista de Medicina é outro empreendimento importante para o
desenvolvimento da Vila Clementino. Inicialmente sediada à Rua Coronel Oscar
Porto, em sua fundação por Otavio de Carvalho em 1933, transfere-se para a Rua
Botucatu em 1936. Em setembro do mesmo ano é fincada a estaca fundamental
para início da construção do Hospital São Paulo, no local da antiga chácara Schiffini,
na Rua Napoleão de Barros.
Em 1939 foi fundada a Escola de Enfermagem, a primeira do gênero no
Brasil e em 1940 inauguram-se os cinco primeiros pavilhões do Hospital.
No bairro há ainda a Igreja de São Francisco de Assis, a Rua Borges
Lagoa, inaugurada em 1941. Fundado em 1942, o Externato de mesmo nome e
pertencente à Paróquia funcionou por quase quatro décadas e atualmente ministra
cursos profissionalizantes e presta serviço de apoio social a carentes. Em 1952 foi
inaugurado o Teatro João Caetano que continua em atividade.
Figura 15 - Detalhe da Planta da Capital de São Paulo, Gomes Cardim, 1897. A marcação em
laranja mostra a V. Mariana e a verde mostra a V. Clementino (fonte: COMISSÂO do IV
CENTENARIO DA CIDADE DE SÃO PAULO).
54
Figura 16 - Detalhe da Planta Geral da Cidade de São Paulo com indicações diversas, org.
Commissão Geographica e Geológica, 1914. A marcação em laranja mostra a V. Mariana e a
verde mostra a V. Clementino (fonte: DAHM-DPH).
Figura 17 - Detalhe da Planta da cidade de São Paulo mostrando todos os arrabaldes e
terrenos arruados, 1924 – Vl. Mariana e V. Clementino (fonte:
www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico).
55
Figura 18 – Detalhe do Mapa do Município de São Paulo, 2005, mostrando a V. Mariana, V.
Clementino e um trecho do Parque do Ibirapuera.
2.3 - JARDIM AMÉRICA E JARDIM EUROPA
A partir de 1915 a companhia empreendedora inglesa City implantou um
projeto de bairro jardim. A área era considerada insalubre e inóspita na qual não
havia nenhum caminho significativo, já que as tropas que seguiam para o interior do
estado no período das bandeiras e o gado que seguia para o Matadouro, a partir de
1887, percorriam caminhos que passavam mais ao sul desta área.
O processo de desenvolvimento urbano e crescimento da cidade de São
Paulo como centro econômico do país dá-se a partir da 2ª metade do séc. XIX, com
a alta da produção cafeeira, o comércio exportador, a abertura das ferrovias, o
estabelecimento dos primeiros bancos, o início da imigração e a introdução da
modernização pelos ingleses.
Sítios e chácaras próximas ao centro foram loteados a diferentes
camadas populacionais, enquanto as regiões periféricas próximas à estrada de ferro
56
sofrem a ocupação das primeiras indústrias e as conseqüentes vilas e bairros
operários.
Inicia-se a organização dos transportes urbanos com troles, bondes a
tração animal, linhas de trem a vapor. A partir de 1890, com a instalação da Light &
Power, a iluminação pública a lampião é substituída pela distribuição da eletricidade,
também utilizada no transporte, instituindo os bondes elétricos.
O centro expande-se, são implementadas a Avenida São João e o
Viaduto do Chá, as antigas residências das ruas São Bento, Quinze de Novembro e
Direita dão lugar a casas comerciais. As mais deterioradas são substituídas por
novas construções e iniciam-se os loteamentos nos Campo Elíseos e Higienópolis
(1882 e 1890) destinados à classe mais abastada, fazendeiros de café e à burguesia
emergente.
A partir de 1910, na ampla Avenida Paulista, erguem-se suntuosos
palacetes das poderosas famílias dos industriais, os Matarazzo, os Dumont Villares,
os Cardoso de Almeida entre outros.
São Paulo torna-se uma cidade com belos jardins, largas avenidas,
apresentando uma arquitetura ditada pelas escolas européias da época,
evidenciando as influências das culturas francesa e inglesa na moda, na decoração
e nos hábitos alimentares. Enquanto as colônias de imigrantes alemães e italianos
caracterizam os bairros de maior agrupamento com seu “modus viventi”.
A história das terras que formarão futuramente o bairro do Jardim
América, inicia-se em 1911 com a fundação, assinada em 25 de setembro, da City of
São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited, na Inglaterra, tendo
como sócios o Sr. Edouard Fontaine Laveleye, comerciante, capitalista e banqueiro
francês e os irmãos Bouton, banqueiros londrinos.
A idealização da empresa fora do Sr. Edouard, pois possuía negócios no
Brasil, mais precisamente no Paraná, sendo acionista do Porto da Bahia e da South
Brazilian Railway Co. Antevendo negócios futuros, o capitalista realiza estudos em
São Paulo acompanhado pelo arquiteto Joseph Bouvard. Como pessoa conhecida e
57
influente, apresenta o arquiteto ao governo paulista e, é por este solicitado a
elaborar planos concernentes a melhorias urbanas e redimensionamento dos futuros
projetos da capital.
O Sr. Edouard, seguindo as sugestões de Bouvard, adquire grandes
áreas em São Paulo em negociações com o Dr. Cincinato da Silva Braga e seu sócio
Dr. Horácio Belfort Sabino que compravam áreas para exploração em novos
loteamentos. Estas áreas situavam-se abaixo do Espigão englobando a Vila América
e a Vila Nova Tupi.
As áreas adquiridas pertenciam às zonas sul e oeste da capital, dentre
elas a Vila América, Vila Nova Tupi, Jardim América, Pacaembu, Anhangabaú, Alto
da Lapa, Bela Aliança, Alto de Pinheiros, Vila Romana, Butantã, Boaçava, Jardim
Guedalla e outros terrenos em Vila Mariana, Ibirapuera, Mooca, Vila Leopoldina e
Ipiranga.
Fontaine, após firmar o contrato de aquisição das terras no Brasil,
transfere as propriedades à Companhia City.
Além da empresa na Inglaterra, a City tinha escritórios em Paris, com a
denominação de Societé Génerále et Imobilière et d’Embelissement de la Ville de
San Paolo, gerenciada pelos arquitetos Bouvard que iniciaram estudos urbanos e
administravam os negócios. Também uma filial em São Paulo, que, a partir de 25 de
janeiro de 1912, tem por nomeação seu primeiro diretor, o Sr. Louis Vergé e como
presidente o Sr. Herbert Guedalla.
Logo após a nomeação, o Sr. Vergé vem a São Paulo acompanhado por
Roger Bouvard para a realização do levantamento topográfico das áreas
pertencentes à companhia e iniciar as vendas.
A City inicia oficialmente seus negócios no Brasil em 3 de março de 1912,
pelo Decreto Nº 9439 (publicado no Diário Oficial da União em 19 de março). Um
ano depois, devido a críticas e morosidades apontadas por Herbert Guedalla à
matriz inglesa, o diretor de São Paulo é substituído por Mr. Douglas Gurd, que dará
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as diretivas de comercialização e urbanização das propriedades da City em
determinadas áreas. Algumas delas, por apresentarem desvantagens para
implantação dos loteamentos nos padrões determinados pela empresa inglesa, ou
por se localizarem em bairros com início de industrialização ou definidos como
povoamento, são vendidos em blocos. Entre estas regiões, citam-se: Ipiranga
(48.100m2), Moóca (400.000m2), Vila Leopoldina (10.000m2), Vila Mariana
(211.643m2), Ibirapuera (320.345m2), Vila América e Vila Nova Tupi, pois
evidenciavam loteamentos realizados pelos proprietários anteriores que mantiveram
os locais com perspectivas para instalações industriais.
Os terrenos da zona sudoeste, fora do perímetro urbano, foram o alvo das
atenções das diretorias francesa e inglesa a partir de 1912. Com intento de
otimização no aproveitamento dos mesmos, contratando o escritório dos grandes e
conhecidos arquitetos Barry Parker e Raymond Unwin em 1915, estes conceberam o
projeto cidade-jardim no bairro (projeto anteriormente desenvolvido pelos mesmos).
A concepção urbanística da Garden City, tenta unir, no plano social o
espaço coletivo idealizado pelos utópicos ao conceito da habitação
unifamiliar. Como haviam ocorrido experiências anteriores das
cidades-jardins por Ruskin (John, que em sua obra apresenta o
fundamento do urbanismo culturalista, e que funda em 1917, Saint
George Gould, ou a G. Codbury, em Bourniville), mas o mérito é de
Ebenezer Howard que formula uma teoria coerente, utilizando as
experiências arbitrárias dos contratadores particulares; e ao mesmo
tempo fechando a linha do pensamento dos utópicos, separando a
parte abstrata e irrealizável da realizável, e observando
razoavelmente quais aspectos da vida urbana são indispensáveis
para coletivizar-se e quais devem-se deixar à iniciativa privada.
(BACCELLI,1882: p.43)
A City realizou loteamentos e vendas em diferentes períodos para cada
bairro. A proposta era estruturar inicialmente bairros modelo de alto padrão,
direcionados à classe de maior poder aquisitivo, como o Jardim América, Pacaembu
e Anhangabaú, e depois implantar os loteamentos para a classe média: Alto da
Lapa, Alto de Pinheiros e Bela Aliança. Também implantaram loteamentos para a
classe operária como o Butantã e Vila Romana. Estes loteamentos prosseguem até
1950, quando são loteadas as áreas remanescentes da aquisição de 1911.
59
Uma preocupação constante da Companhia City foi a de criar infra-
estrutura adequada para cada loteamento, desde a realização de contratos com o
governo, empresas prestadoras de serviços privados, subsidiar empresas do
transporte coletivo para fácil acesso aos loteamentos (Auto-ônibus Pinheiros Ltda,
Empresa Jardim Paulistano de Auto-Ônibus).
Além destas benfeitorias direcionadas a seus empreendimentos, a
empresa também participa ativamente do desenvolvimento da cidade, como nas
obras da retificação do Rio Pinheiros, da canalização do Rio Tietê (1928) e na
abertura da Avenida Anhangabaú, hoje Avenida 9 de Julho, cujo prolongamento até
o Jardim América viabiliza novas ruas nas áreas de sua propriedade. A Companhia
City teve presença marcante em muitas outras obras públicas realizadas:
arborização de vias, construção de praças, pavimentação e conservação de ruas,
instalação de distribuição de gás, linhas de bonde, encanamentos para fornecimento
de água e esgoto, doação de terreno e construção do Estádio do Pacaembu, doação
de terras na Lapa para construção de terminal ferroviário e terrenos para
reservatórios, além do Hospital São José do Alto da Lapa.
Conseqüentemente, com seus empreendimentos valorizados pelas
inúmeras melhorias, a contribuição na evolução da malha urbana e, inclusive,
participação na elaboração de Leis referentes ao Código de Obras da cidade de São
Paulo, a Companhia City passa a ser reconhecida como a maior empresa imobiliária
do Brasil a partir de 1937.
A implantação do bairro do Jardim América ocorreu em uma área de
1.091.118 metros quadrados, abaixo do Espigão Central, próximo à várzea do Rio
Pinheiros (antiga propriedade dos Coronéis Joaquim e Martinho Ferreira da Rosa),
localizada na Freguesia do Espírito Santo da Bela Vista, que estava na várzea do
Caaguassu e como única via de acesso a Rua Augusta, ainda sem pavimentação.
A área era extremamente úmida, com charcos localizados, e considerada
inóspita a qualquer tipo de residência. A Rua Itapirussu, atual Avenida Rebouças, no
cruzamento com a atual Avenida Brasil, era o berço do encontro das águas pluviais
60
oriundas do Espigão, formando um lago e tornando-a intransitável no período das
chuvas. Assim, o acesso a Pinheiros dependia da Rua Cardeal Arcoverde.
Em 1913 iniciam-se as obras do loteamento, com drenagens de vasta
área da região alagadiça. As primeiras providências foram a elevação das ruas para
escoamento das águas pluviais, celebração de acordos com o Estado e companhias
particulares para realização da infra-estrutura necessária à distribuição de água
potável, gás e canalização de esgoto. A iluminação pública é inaugurada em 1931,
época em que se solicita pavimentação da Rua Augusta e o prolongamento da linha
de bonde para a Rua Colômbia até a Avenida Brasil. O calçamento do Jardim
América foi realizado em 1928 e uma linha de ônibus para servir o bairro partia da
Praça Patriarca, já em 1934.
Barry Parker e Raymond Unwin planejaram para o bairro uma avenida
central, hoje Avenida Brasil, com trinta metros de largura seccionados
longitudinalmente por canteiro de nove metros entre as duas pistas que se
estenderiam até o Ibirapuera; uma praça central na esquina com a Rua Colômbia
onde deveriam se localizar os edifícios públicos e outras praças nos cruzamentos
com outras vias de importância.
O projeto é modificado por Parker entre 1917 e 1919 com alterações nos
jardins internos, a abertura de vielas e a criação de ruas mais largas denominadas
“boulevards”, nas ruas Canadá e Guadalupe, necessárias à circulação dos veículos
particulares dos compradores dos lotes, famílias de alto padrão aquisitivo. Também
estava prevista uma área destinada a práticas esportivas, que posteriormente foi
vendida para a instalação do Clube Atlético Paulistano.
O lançamento do bairro do Jardim Europa em 1921 por outra empresa, foi
seguido pelo lançamento do bairro Cidade Jardim, que apresentava desenho com
fortes influências de Barry Parker, e aproveitando a especulação imobiliária da
região, este foi concebido para as classes mais ricas. Nos mapas da cidade de São
Paulo de 1924, estes dois novos bairros já figuram, juntamente com o Jardim
Paulista, mais antigo e de malha urbana no formato de tabuleiro de xadrez.
61
Em 1938, pelo ato nº 1341, de 22 de janeiro, inicia-se o processo de
abertura da Avenida 9 de Julho, ligando o Vale do Anhangabaú à Praça Vaticano no
Jardim Europa. Esta via já fora planejada pela Companhia City, mas seu traçado
implicava na desapropriação de terrenos na quadra 47. Em 14 de outubro de 1942 a
Prefeitura assina os contratos de compra dos lotes necessários à execução da
referida avenida.
O Jardim América será totalmente concluído na década de 50 com o
término das últimas construções.
O sucesso dos bairros jardins seguirá sua trajetória na cidade de São
Paulo após os anos cinqüenta, quando a expansão urbana passa ao outro lado do
Rio Pinheiros, com o loteamento de boa parte do Morumbi, voltado à classe com
maior poder aquisitivo.
Figura 19 - Detalhe da Planta da Capital de São Paulo, Gomes Cardim, 1897. Apresenta a
ausência de demarcações –local que abriga hoje o Jardim America (fonte: COMISSÂO do IV
CENTENARIO DA CIDADE DE SÃO PAULO).
62
Figura 20 - Detalhe da Planta Geral da Cidade de São Paulo com indicações diversas, org.
Commissão Geographica e Geológica, 1914. Jardim América (fonte: DAHM-DPH).
Figura 21 – Jardim América, Projeto de Barry Parker, 1914 (BACELLI, 1982).
63
Figura 22 - Detalhe da Planta da cidade de São Paulo mostrando todos os arrabaldes e
terrenos arruados, 1924 – Jardim América, Jardim Europa e Jardim Paulista (fonte:
www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico).
Figura 23 - Detalhe do Mapa do Município de São Paulo, 2005, mostrando a Região dos
Jardins, no alto a esquerda o Jardim América, abaixo o Jardim Europa e a direita abaixo, um
trecho do Parque do Ibirapuera.
64
2.4 - IBIRAPUERA E JARDIM LUZITÂNIA
O Ibirapuera (atual sub-distrito de Ibirapuera) foi formado por terras entre
a Vila Mariana e Santo Amaro, mas não margeia o parque, ficando deste separado
pelo Bairro de Indianópolis .
Em 23 de fevereiro de 1935, pelo decreto nº 6983, o então Município de
Santo Amaro passa a ser subprefeitura subordinada à Prefeitura de São Paulo,
quando se estabelecem seus limites com o sub-distrito do Ibirapuera, por sua vez
legalizado através do decreto nº 6518 de 28 de junho de 1934, por Ademar de
Barros, interventor à época.
Quando a denominação subprefeitura é substituída por sub-distrito e
atualmente Regional, o sub-distrito do Ibirapuera ficou parcialmente subordinado à
Regional de Santo Amaro com outra região subordinada à Vila Mariana e
Indianópolis, compondo-se então de vilas, bairros e jardins com nomes próprios
como a Vila Luzitânia, ao lado do Parque.
Nos três primeiros séculos de existência da Cidade de São Paulo, a área
próxima ao Parque e a do próprio Parque apresentava ocupação rarefeita e esparsa,
podendo-se observar um desenvolvimento mais intenso somente em meados do
século XX.
Como Santo Amaro abastecia o mercado central da Capital com produtos
da região (como verduras, legumes, etc.), o caminho que ligava São Paulo a Santo
Amaro era de grande importância, com intenso trânsito de carros e cavaleiros que
conviviam com a passagem do gado proveniente dos verdes campos das invernadas
de Santo Amaro com destino ao Matadouro (tanto em sua localização anterior como
a partir de 1887, locado em Vila Mariana). Este caminho, dos dois existentes na
época, era conhecido como o “Caminho do Carro para Santo Amaro”, e seguia pelas
terras que cederam espaço ao bairro e ao Parque do Ibirapuera. Atualmente o
‘Caminho do Carro’ é a Avenida Ibirapuera que cruza a Avenida Indianópolis,
65
prossegue com a denominação de Avenida Vereador José Diniz, terminando no
centro de Santo Amaro.
A várzea de Santo Amaro, como era denominada a área que também
compreendia o futuro Parque, constituía-se na região rural com ribeirões, matas e
capoeiras e, em certas épocas do ano, com zonas alagadas. Localizada a uma
légua do centro, pertencendo ao rossio da Cidade, era atravessada pelo ‘Caminho
do Carro’, trilhados pelos carros de boi, por muito tempo, manteve precárias
condições e péssimo estado de conservação de pontes. Somente após três séculos
da fundação de São Paulo recebe cunho de bairro com suas vilas em que se
destacam Indianópolis, Moema, Campo Belo, Brooklin Paulista, Alto da Boa Vista,
Jardim Luzitânia, Jardim das Acácias, Jardim Cordeiro.
A expansão da zona sul de São Paulo, que compreende a zona entre
Santo Amaro e o centro urbano, deveu-se a sua localização entre o planalto e o
Caminho do Mar, como também entre o interior, inicialmente a cidade de Itu como
produtora de açúcar, e a Baixada Santista. A zona sul, até a segunda metade do
século XIX, era predominantemente de terrenos devolutos, muitos dos quais
demarcados apenas a partir de 1865.
Com a chegada da ferrovia, construída pela companhia inglesa São Paulo
Railway, ligando a capital ao interior e ao litoral, há acentuado desenvolvimento das
zonas norte e leste, expandindo-se para oeste, deixando estagnada a evolução
urbana da zona sul por algum tempo.
Concessões de datas eram requeridas à Câmara Municipal, mas os
processos eram morosos, principalmente pelas questões patrimoniais do Município,
ainda ligado a cartas das Sesmarias e seus alvarás, dentro do entorno de meia
légua da capital.
A primeira menção à ocupação desta área data de 1918, quando o então
prefeito Washington Luis divide em lotes parte desse terreno, acompanhando a
tendência inovadora implantada pela Companhia City em seu empreendimento do
Jardim América iniciado em 1913. O loteamento é aprovado pela Lei n° 2.122 de
66
1918, e os terrenos vendidos em hasta pública, darão origem ao atual Jardim
Luzitânia. Somente por volta de 1952, é que esta área será loteada pelos
proprietários da Loja da China, de origem portuguesa, que influenciam nas
denominações das novas ruas homenageando sua terra natal e expoentes da
História de Portugal, tais como Rua D. Henrique, Açores, D. Diniz.
O Bairro do Ibirapuera será formado entre os dois principais caminhos,
sendo um:
a estrada de Santo Amaro, continuação da atual Avenida Brigadeiro
Luis Antonio, também denominada estrada do Caaguaçú, tomando a
direção levemente a Sudeste, até que, cruzando o Córrego da
Traição, irá atingir o município de Santo Amaro, o antigo Virapoeira...
(TORRES, 1977: p.58).
O outro, a Estrada do Vergueiro, continuação da Avenida Liberdade,
orientada para sudeste, subindo pelo Paraíso, entrando pela Domingos de Morais,
descendo a Conselheiro Rodrigues Alves, passando o Matadouro e continuando
pela atual Avenida Ibirapuera até Santo Amaro.
Figura 24 - Detalhe da Planta da cidade de São Paulo mostrando todos os arrabaldes e
terrenos arruados, 1924 – locais que hoje são ocupados pelos Bairros do Ibirapuera, do Jardim
Luzitânia e pelo Parque do Ibirapuera (fonte: www9.prefeitura.sp.gov.br/sempla/historico).
67
Figura 25 - Detalhe do Mapa do Município de São Paulo, 2005, mostrando a Região do
Ibirapuera, do Jardim Luzitânia e a acima o Parque do Ibirapuera.
2.5 - ITAIM – BIBI E VILA OLÍMPIA
Os caminhos que atravessavam a província de São Paulo do centro em
direção a Pinheiros, ao Interior (Sorocaba) e Santo Amaro, passavam
obrigatoriamente pela várzea da chácara do Itaim.
O Itaim-Bibi foi um dos bairros de ocupação mais tardia pois era área de
inundação do rio Pinheiros e córregos tributários: o da Traição, o Uberabinha, o das
68
Pedras ou do Sapateiro que vinha da Vila Mariana e o córrego Verde de Pinheiros,
local de muita lama e charco com dificuldades na obtenção de água potável.
De acordo com os dados apresentados em obra literária sobre o Bairro do
Itaim, destacamos:
No séc. XIX fez parte do sítio de Dona Joaquina Duarte Ferraz,
(escritura de 19 de abril de 1858), que a vendeu a Carlos Ablas; este
o transferiu por contrato de compra e venda a João Ribeiro da Silva
(30 de abril de 1864). A massa falida deste último ficou de posse do
Dr. Antonio Pinto do Rego Freitas (20 de dezembro de 1882); por
morte deste passou a sua mulher e depois a seu genro, Dr. Bento
Ribeiro dos Santos, que vendeu a propriedade, em 1896 ao Gal.
José Vieira Couto de Magalhães.
Nesta ocasião a chácara tinha uma área de 120 alqueires e fazia
divisa com a Estrada de Santo Amaro, até o Córrego Uberabinha,
nas proximidades da rua das Fiandeiras, o Córrego Verde, atual área
próxima ao Shopping Center Iguatemi e nos fundos, uns 3 km, com o
Rio Pinheiros. (LOPES e TOLEDO, 1988: pág. 35)
O General José Vieira Couto de Magalhães, ao morrer, legou a
propriedade ao filho mameluco, José Couto de Magalhães (que faleceu jovem) e era
fruto de seu relacionamento com uma índia. Com a morte deste, a chácara foi a
leilão público em 1907, sendo arrematada por seu tio, Dr. Leopoldo Couto de
Magalhães, contando com área de 148 alqueires equivalentes a mais de 358 mil
metros quadrados e efetivando a primeira ocupação definitiva.
Em 1916, após a morte do Dr. Leopoldo Couto de Magalhães, as terras
são divididas entre seus herdeiros.
Entre 1910 e 1920 inicia-se o loteamento de chácaras de um hectare a
italianos e portugueses imigrantes ou moradores de outros bairros, e são abertas às
primeiras ruas de passagem entre elas.
Estas chácaras abasteciam a área e os bairros vizinhos com a produção
de verduras e legumes, e com a criação de vacas forneciam também o leite, vendido
a domicílio pelas carrocinhas. Algumas chácaras cultivavam flores que eram
comercializadas aos moradores mais ricos.
69
A ocupação inicial deu-se nas áreas mais elevadas, sendo que a várzea
manteve-se por muito tempo com altos capinzais margeando o sinuoso córrego do
Sapateiro que a seccionava. Havia algumas olarias que fabricavam telhas e tijolos
que podiam ser vistos expostos ao sol para secagem.
Na época das enchentes, surgiam portos de areia retirada do Rio
Pinheiros, que, peneirada e seca, era vendida para as edificações. Esta areia era
carregada por caçambas, enquanto barcaças navegavam lentamente trazendo-a até
os portos.
Além da exploração de particulares, a Companhia City e a Light,
possuidora de bondes para o transporte, exploravam o local adequando-o a seus
empreendimentos.
Este trabalho foi interrompido com a enchente de 1929 que ocasionou
grande destruição na região e paralisação das atividades de extração da areia. A
The São Paulo Tramway Light and Power Company LTD, por concessão do Governo
do Estado obtida em 27 de novembro de 1927, obtém direito às obras de retificação,
alargamento, aprofundamento e canalização do Rio Pinheiros e afluentes.
Aproveitando-se deste fato, a Light amplia sua área de posse e aos poucos vai
limitando a atividade de extração e venda de areia.
Desta forma, a extração de areia ocorre em minas dentro de chácaras que
se estendem até a chácara Santo Antonio, com portos no local do atual Clube
Pinheiros, Rua Horácio Lafer, denominada antigamente Rua do Porto e outras vias
da Vila Olímpia.
O loteamento do bairro foi realizado sem qualquer plano urbanístico,
pelos proprietários e herdeiros que dispunham de amplos terrenos arborizados,
pomares e grandes habitações.
Segundo Helena Q. F. Lopes e Vera Lúcia V. de Toledo, Leopoldo Couto
de Magalhães Jr. era conhecido como Bibi e residia na casa grande da chácara até
1927, quando de sua venda e transformação em casa de saúde.
70
Dr. Arnaldo Couto de Magalhães, filho de Bibi realizou um loteamento
para comerciantes, empregados do comércio e artesãos em geral, implementando o
desenvolvimento do bairro a partir da década de vinte. Foram instaladas fábricas e
bairros vizinhos dos Jardins contribuíram com o acréscimo de construções. As
oportunidades de trabalho traziam mais moradores à região, valorizando as terras do
Itaim.
Antes da urbanização, o Itaim-Bibi destinava-se essencialmente ao lazer
da família possuidora da área, para pescarias e caçadas. Posteriormente, a área foi
destinada a atividades sociais do futebol onde chacareiros e operários reuniam-se
nos finais de semana e a realização de campeonatos esportivos com participação de
agremiações de outros bairros.
O Itaim-Bibi sofreu sua maior modificação na década de 1970, com o
início da verticalização motivada por suas várias áreas vazias, bons preços de
terrenos, ausência de restrições de loteamento, boa localização entre os Jardins e
Santo Amaro e por sua característica como bairro comercial de boas perspectivas
futuras. Obras viárias e de saneamento valorizaram ainda mais o bairro.
Pertencente à mesma área da chácara do Itaim, e estendendo-se desde a
parte baixa dos terrenos alagados da atual Avenida Juscelino Kubitschek, até as
proximidades da Avenida Nações Unidas e da parte alta da Avenida Santo Amaro
até a Avenida dos Bandeirantes, a Vila Olímpia também era ocupada por chácaras
até o início do século XX.
Nas primeiras décadas do século XX, poucos fatos destacariam a região.
Após a inundação de 1929, algumas chácaras da Vila Olímpia passaram a hospedar
minas de extração de areia e pequeno cultivo de hortaliças e legumes. A partir de
1930, iniciam-se pequenos loteamentos com edificações modestas de cunho
residencial, galpões com finalidades de armazenamento, alguma atividade de
comércio e um campo de futebol.
71
As ruas eram identificadas apenas por numeração. A primeira rua a obter
um nome foi a Rua Casa do Ator em 1937, denominação motivada pelo
estabelecimento de uma entidade para abrigo de artistas aposentados no nº 275.
Gradualmente, entre as décadas de 1970 e 1980, toda a área foi ocupada
por residências, pequenos prédios, comércio em geral e indústrias. Como forma de
defesa das enchentes constantes, tanto na parte alta (Avenida Santo Amaro) como
nas áreas mais baixas, as construções eram concebidas com pisos mais elevados,
principalmente os depósitos e as fábricas das quais destacamos a Gelatto, a antiga
Phebo e o Laboratório de Revelação Curt.
A década de 90 foi marcada pela realização de grandes obras públicas
pela Prefeitura na área do Itaim e Vila Olímpia, facilitando o acesso a estas
localidades, com os traçados da Avenida Nova Faria Lima e Avenida Hélio Pellegrini,
o alargamento da Rua Funchal. Estas vias fazem a ligação com o Brooklin, Rua
Gomes de Carvalho, e Avenida Berrini. Também para minimizar os problemas das
enchentes são realizadas obras de alargamento das galerias subterrâneas dos rios
Uberaba e Uberabinha.
Todas estas melhorias trouxeram ao bairro um grande interesse na
realização de empreendimentos imobiliários residenciais e comerciais. Com a
inauguração de bares, restaurantes, choperias, danceterias, centros de cultura,
casas de shows e eventos, como o Tom Brasil e a Via Funchal, galerias de arte, ele
proporciona uma nova referência de cultura e ao lazer aos paulistanos.
No início do século XXI, muitos edifícios comerciais e de alta tecnologia
são construídos na região (os chamados ‘edifícios inteligentes’, que se utilizam dos
benefícios da fibra ótica), atraem assim inúmeras empresas, com destaque às
relacionadas à mídias eletrônicas.
Grandes áreas são utilizadas como estacionamentos, atendendo à
demanda de veículos no local. A área do antigo campo de futebol foi ocupada por
um condomínio de imensas torres onde residem mais de mil pessoas.
72
Também no bairro e desde 1973, está localizada a Faculdade de
Comunicação Social Anhembi-Morumbi, atual Universidade, com oito unidades
espalhadas pelas ruas Quatá, Casa do Ator e Cardoso de Melo. Numa grande área
da Avenida Hélio Pellegrini a IBMEC São Paulo está construído o novo campus, que
prevê maior sociabilização da comunidade local.
Atualmente, o bairro pacato e silencioso do passado, conta com quase
duzentos edifícios de pequeno, médio e grande porte, que abrigam mais de setenta
mil pessoas criando intensa circulação nas áreas comerciais, culturais e residências,
estimada em cento e vinte mil pessoas por dia.
Figura 26 - Detalhe da Planta Geral da Cidade de São Paulo com indicações diversas, org.
Commissão Geographica e Geológica, 1914. Abaixo da denominação ‘PINHEIROS’, seria o
local hoje ocupado pelo bairro do Itaim-bibi (fonte: DAHM-DPH).
73
Figura 27 – Mapa das Chácaras do Itaim e dos Proprietários, s/d (LOPES e TOLEDO, 1988).
Figura 28- Itaim, localização das primeiras chácaras, Rio Pinheiros antes e depois da
retificação (parte superior) e Avenida Santo Amaro (parte inferior),1930 (LOPES e TOLEDO,
1988).
74
Figura 29 - Detalhe do Mapa do Município de São Paulo, 2005, mostrando a Região do Itaim-
Bibi e V. Olímpia.
75
Figura 30 – Imagem de satélite. Projeto Google Earth. Ibirapuera e bairros que o circundam.
(fonte: Google Earth, Europa Tec. Image, Digital Globe, 2006)
76
CAPÍTULO 3 - SÉCULO XX E A IDEALIZAÇÃO DE UM
GRANDE PARQUE PARA A CIDADE DE SÃO PAULO.
Apresentamos por meio de documentação histórica e bibliográfica,
estudo da legislação municipal referente à área do Parque; inicialmente a
documentação examinada refere-se a Prefeitura e a Câmara Municipal, e na
fase de viabilização, entre a Comissão do IV Centenário, o Município e Estado,
indicando como funcionava a tramitação legal para uso e disposição de terras
do Município, sempre acompanhadas de morosidade nas decisões.
3.1 - A GESTÃO DO PREFEITO WASHINGTON LUÍS
Na gestão de Washington Luís Pereira de Souza (15/01/1914 -
15/08/1919) ocorreram várias providências para melhorias da cidade em
desenvolvimento. Foi a primeira vez que temos uma clara definição da área,
pois esta foi objeto do estudo e documentada em pedidos, por ele efetuado a
Câmara Municipal, com a insistente proposta de um loteamento, que 34 anos
mais tarde levaria a uma contenda judicial de alguns proprietários contra a
ação de permuta e desapropriação para realização do Parque do Ibirapuera.
Em ofício, de protocolo nº 180432, de enviado à Câmara em 27 de
Outubro de 1917, ele comunica a incorporação ao patrimônio municipal, após
serem julgados devolutos 2.023.582 metros quadrados, e entre eles 1.641.332
metros quadrados pertencentes à Várzea de Ibirapuera, cuja denominação
geral anterior era Várzea de Santo Amaro:
...em virtude do decreto estadual n° 2669 de 17 de Maio de
1916, já foram incorporadas ao patrimônio municipal duas
áreas na várzea de Ibirapuera, caminho de santo Amaro, uma
com superfície de 382.250 metros quadrados, limitadas pelas
ruas José Antonio Coelho e Abílio Soares e córrego da Boa
77
Vista ou Caguassú, e outra com a superfície de 1.641.332
metros quadrados, limitada pela Rua do Cortume, largo em
frente ao Matadouro, Rua das Mangueiras, Rua Nova, córrego
das Éguas, Ribeirão Uberaba, linha perimétrica, estrada velha
de Santo Amaro, córrego do Sapateiro ou Matadouro e linha de
divisa da Invernada do Corpo de Bombeiros.
Desde ultima, a parte da Várzea de Ibirapuera
, limitada pela
estrada de Ferro de Santo Amaro (Avenida Rodrigues Alves),
linha perimétrica, estrada velha de rodagem para Santo Amaro
e córrego do Sapateiro ou matadouro, com a superfície de
993.630 metros quadrados, como mostra a planta junta, foi
dividida em lotes, para nelles serem estabelecidos pequenas
granjas com o intuito de, auxiliadas com medidas
complementares, desenvolver os arredores na pequena cultura
pra parateamento da vida...
Segue solicitando medidas para a facilitação da venda, com a
isenção de parte dos impostos alegando que
Para attingir a esse fim, parece á Prefeitura preferível vender
esses lotes em hasta publica a aforal-os, porque o aforamento
é um instituto archaico que não se compadece com os nossos
tempos, em os quaes, ao lado da segurança, se requer
presteza na transmissão da propriedade, para fácil manejo do
crecito.
Os contractos constitutivos ou translativos de direitos reaes
sobre immoveis de valor superior a 1:000$000 dependem de
escripturas publicas, e sempre, qualquer que seja o seu valor,
de pagamento de sisa para passarem de uma mão para a
outra.
Pol-os em situação ainda de pagamento de foros annuaes e de
laudêmios nas transmissões, de obtenção de consentimento do
senhorio directo; de medidas e avaliações; de duvidas e
hesitações levantadas pela timidez burocrática; de difficuldades
nos longuíssimos processos administrativos que acompanham
esses actos e seus numerosos cortejos, é crear novos e inúteis
embaraços ao desenvolvimento da riqueza territorial, sem
entretanto constituir nem salvaguardar o patrimônio municipal.
Como reforço a sua colocação, faz um pequeno histórico da situação
das terras municipais e propõe o valor de venda, assinando o ofício:
Sob este ultimo aspecto basta considerar que há 300 annos o
Município era proprietário da vastíssima extensão territorial que
lhe foi doada por Martim Affonso de Souza; que há 200 annos
ainda era de uma área de meia légua para cada lado, ambas
encerrando o centro e a parte urbana, e que, entretanto, hoje
para ter alguma terra, anda elle disputando, dentro da recente
doação do Estado, num raio de circulo de seis kilometros,
78
contados da praça municipal, rostos inundáveis da Várzea do
Tiete e pedaços das bandas de Santo Amaro, ou incertas
heranças de aldeias de índios, mantidas ainda nesse estado
pela ignorância e pelo temor dos moradores vizinhos.
Muito mais útil ao munícipe e á municipalidade será pois
vender esses terrenos; assim tenho a honra de solicitar da
Camara approvação da divisão dos mesmos em lotes e
auctorização para a venda delles em hasta publica, ao preço
mínimo de $800 reis por metro quadrado, de accordo com o
art.3° da lei estadual n° 1551 de 2 de Outubro de 1917.
No ofício resposta, de 29/10/1918, protocolo 5° fls. 205 N°192, da
Câmara Municipal ao prefeito sobre o processo Lei 2122/18 consta apenas em
andamento na Comissão de Justiça e finanças, sem algum parecer.
Em seguida, a Diretoria do Patrimônio Estatístico e Archivo
encaminha, em 26 de Dezembro 1917, novo ofício sobre o loteamento a
Commissão de Justiça e Finanças e ao presidente da Câmara, a justificativa
dos termos constantes do documento anterior, juntamente com a planta do
loteamento e o planejamento viário proporcionando o acesso ao mesmo:
Conforme verá a Camara da planta original, que junto ors vae,
foram planejados dois meios de communicação: viação rural,
que dá accesso a todos os lotes, verdadeiras estradas internas,
com 6 metros de largura, desemboccando nas vias largas de
communicação, de 26 a 20 metros, como a Avenida Rodrigues
Alves, o prolongamento da Rua França Pinto e de accordo com
ellas foram medidas todas as áreas; e viação urbana, com ruas
de 16 metros de largura, ficando os lotes com menor área que
a marcada. A Prefeitura prefere o primeiro meio, visto como,
pelo destino que vão ter os terrenos, divididos em lotes com a
superfície media de 1 hectare, serão verdadeiras granjas para
exploração agricula e portanto lhes basta a viação rural muito
mais econômica aos cofres municipaes.
79
Figura 31 – Planta anexa a Lei 2122/18, correspondendo a área do Jardim Luzitânia e
fundo do Parque. (fonte: DAHM/DPH)
Reitera o valor mínimo, flexibilizando-o em virtude da variabilidade
na cotação de terrenos:
...Quanto ao preço, a Prefeitura estimou-o, no mínimo, em 800
reis por metro quadrado, para base das avaliações, porque tem
sido esse o valor médio ahi cotado; entretanto o preço pode ser
fixado em menor valor dos terrenos, ora subindo e ora
descendo, é de toda a conveniência dar certa elasticidade às
alienações, que serão feitas sempre acima da avaliação, como
é de lei, e ficando sempre sob a responsabilidade moral e
administrativa do Prefeito...
Aborda também a problemática de muitos terrenos da cidade de São
Paulo até os dias atuais, sobre a incidência de posseiros e intrusos:
...Quanto ao item e do pedido de informações da digna
Comissão de Justiça, tenho a informar à Camara que nesses
terrenos, considerados devolutos pelo estado e por isso
incorporados ao patrimônio municipal, não há posseiros, mas
apenas intrusos, que tem sido e serão despejados
opportunamente.
Alias os únicos intrusos, viúva Nastari, perto do prolongamento
da Rua França Pinto, à beira do córrego do Matadouro,
reconhece a propriedade da Prefeitura, e o da casa figurada no
lote de 10.000 metros quadrados à margem da estrada, em
continuação da Rua Pedro de Toledo, tem que reconhecer a
posse da Municipalidade, pois perdeu a acção de manutenção
80
de posse que intentou. (Arquivo Histórico Municipal, cópia do
documento anexo ao Processo 1884/53).
Pela morosidade na decisão, é enviado mais um oficio, de 16 de
janeiro de 1918, no qual, prefeito Washington Luís apresenta novamente uma
solicitação para vender em hasta pública, de acordo com a Lei estadual nº
1551 de 2 de outubro de 1917, já promulgada, o loteamento constante da
planta anexa, de parte da área da Várzea do Ibirapuera:
...a parte comprehendida entre a Avenida Rodrigues Alves,
linha do raio de circulo de seis kilometros, estrada velha para
Santo Amaro e córrego do matadouro, foi dividida em lotes
para pequenas granjas, afim de serem vendidos em
concorrência publica...
Esta parte correspondente ao atual Jardim Luzitânia, mas ainda
propõe uma outra parte a ser loteada ao lado do Matadouro e região próxima,
de acordo com a Figura 32 que seria:
...uma outra parte desses terrenos, comprehendida entre a
Avenida Rodrigues Alves (lado esquerdo indo para Santo
Amaro), linha perimétrica, Rua Nova (que divide os terrenos
municipaes de Villa Clementino) e Rua das Mangueiras,
também foi dividida em lotes de 2000 e poucos metros
quadrados cada um, que tem todos a superfície total de
322.112 metros quadrados, como mostra a planta junta, por
estar já em zona suburbana e já relativamente bem edificada.
O valor proposto estipulado era, para todos os terrenos, de $800 reis
o metro quadrado.
No final do documento existe um reforço ao pedido no sentido de
agilizar as vendas, voltando a mencionar o ofício, supra apresentado no termos
de “...penso que a auctorização deve ser para a venda, evitando-se tanto
quanto possível o prejudicial e archaico aforamento”.
Dez dias depois, em 26 de Janeiro, é expedido outro ofício onde
solicita a venda de terrenos na Várzea de Pinheiros, limítrofes com os já
adquiridos pela São Paulo City Improvements and Frehold land, e novamente
81
menciona o ofício acima apresentado, da Várzea do Ibirapuera, com a única
diferença que os de Pinheiros teriam o valor estipulado de no mínimo de 1$000
reis por metro quadrado.
Finalmente, em sessão de 9 de março de 1918, a Câmara Municipal
dá sua aprovação ao projeto da Lei 2122, sendo decretada em 14 de março de
1918 com ata assinada pelo Presidente Raymundo Duprat, e promulgada pelo
Prefeito em 16 de março de 1918, com o texto na íntegra abaixo:
Lei n° 2122 de 16 de março de 1918
Approva a planta que dividiu em lotes os terrenos de Pinheiros
e da Várzea do Ibirapuera, e dá outras providencias.
Washington Luis Pereira de Souza, Prefeito do Município de
S.Paulo:
Faço saber que a Camara, em sessão de 9 de março do
corrente anno decretou e eu promulgo a seguinte lei:
Art° 1° - Fica approvada a planta que dividiu em lotes os
terrenos de Pinheiros e da Várzea do Ibirapuera.
Art° 2° - Fica o Prefeito auctorizado a vender os lotes de
terrenos de que trata o art° 1°, mediante concorrência publica,
e ao preço mínimo de quinhentos réis por metro quadrado, pela
fórma estabelecida pela lei estadoal n° 1.551, de 2 de outubro
de 1917, publicados editaes com o prazo mínimo de 20 dias.
Art° 3° - Revogam-se as disposições em contrario.
O Director Geral da Prefeitura a faça publicar.
Prefeitura do Município de São Paulo, 16 de Março de 1918,
365° da fundação de São Paulo.
O prefeito,
(assinado)
Washinton Luis P.de Souza.
82
Figura 32 – Área em vermelho mostra o loteamento da Vila Clementino. (fonte:
DAHM/DPH)
Pode-se observar que o loteamento autorizado pela Câmara
corresponde em parte à área a ser utilizada pelo Parque na direção sul, início
da atual Avenida Ibirapuera, Avenida IV Centenário e Jardim Luzitânia.
3.2 - GESTÃO DO PREFEITO PIRES DO RIO: DECRETO PARA
CRIAÇÃO DO PARQUE E PRIMEIRAS PROVIDÊNCIAS NA ÁREA.
O mandato de Pires do Rio (16/01/1926 - 23/10/1930) foi marcado
por uma série de obras relevantes para o desenvolvimento da cidade. Entre
estas tiveram início os projetos para retificação do Rio Pinheiros concedidos e
realizados pela “The São Paulo Tranways Light and Power Company” e a
instituição da Comissão de Obras do Rio Tietê, na qual foi presidente, o
engenheiro João Floriano de Ulhôa Cintra, para obras de canalização do rio.
83
Logo no início de seu mandato, Pires do Rio vislumbra na área da
Várzea do Ibirapuera a realização de um grande parque, próxima ao centro, e
apresenta um relatório à Câmara com solicitação para reserva de 300 hectares
de uma vasta área ”útil à higiene da população urbana”, como os existentes
nas grandes cidades européias e americanas, que
a menos de 10 minutos da Liberdade ou de Higienópolis, nas
vizinhanças da Vila Mariana e do Jardim da Aclimação há uma
vasta extensão de terreno público vazia de construções e
situada no sopé da colina da Avenida Paulista, entre o fim da
Rua Brigadeiro Luiz Antônio, a Estrada de Santo Amaro, o
córrego Uberaba, a cuja margem esquerda fica Indianópolis,
limitados pela Vila Clementino e Vila Mariana, esses terrenos
da Invernada dos Bombeiros e da Chácara Ibirapuera se
prestam admiravelmente, a construção de um imenso jardim ou
parque, com área igual a do “Hyde Park” de Londres, igual a
metade do “Bois de Boulogne”, de Paris. (Arquivo Histórico
Municipal, relatório 1926, prefeito Pires do Rio, p.10).
A Câmara Municipal com a Resolução n.º 407 de 3 de julho de 1926,
é aprovada a abertura de crédito para o início das obras de terraplanagem
numa parte da área, levantamento cadastral, e como havia posseiros, o
pagamento de benfeitorias por eles realizadas, e até as despesas jurídicas
referentes à posse da área do futuro parque, pelo Município, referindo-se
também a quantia de 200.000$000 réis de crédito.
No ano seguinte é promulgada a Lei n
o
:3123, assinada e publicada
em 23 de dezembro de1927, Folha 1, com a seguinte ementa:
autoriza a Prefeitura a abrir no tesouro municipal, por conta do
ultimo empréstimo, um credito de 200:000$000 para
continuação das obras do parque municipal, e da outras
providencias.
Dentre elas e com solicitação de 9 de novembro, documentos esses
constantes dos autos do processo nº 58.609/27, 27, encontram-se os que
tratam do encaminhamento para a Câmara de autorização para realizar
negócio com parte das terras da Invernada dos Bombeiros, do Estado,
constituída de 1.448.908,00m² , através da permuta com terreno na Avenida
84
Água Branca de 126.556m², atual Avenida Francisco Matarazzo. No local
estava instalado o viveiro de plantas da Prefeitura, que foi transferido para a
área da várzea do Ibirapuera, local atual dando início à concretização do
Parque.
Do relatório do prefeito Pires do Rio, de 1927, temos uma descrição
pormenorizada da área na época, limítrofe ao terreno adquirido, pertencente ao
Município,
...por onde correm as Avenidas França Pinto e Rodrigues Alves
e que, além desta via ocupada pelos trilhos da Linha de Santo
Amaro, constitue a zona da Villa Clementino e os terrenos do
Matadouro Municipal.
Já o município vendeu grande parte de suas terra na Villa
Clementino, possui, entretanto, quase toda a superfície que vai
da Avenida França Pinto ao Córrego Sapateiro. Por ´permuta
com o governo do Estado, adquiriu a zona comprehendida
entre o córrego e o do Caguassú, parte maior da Invernada dos
Bombeiros. Por compra adquiriu o terreno situado entre este
córrego e o fim da Rua Abílio Soares.Sobre toda esta vasta
extensão, que mede perto de 2.000.000 de metros quadrados,
estamos construindo um grande parque, futuro logradouro de
valor incomparável para a cidade de São Paulo. (Arquivo
histórico Municipal, relatório de 1927, Prefeito Pires do Rio,
p.25.)
O viveiro Municipal da Divisão de Matas, Parques e Jardins, foi
deslocado para a área do Parque em 1928, sendo nomeado como responsável
pela divisão, o entomologista, pesquisador e jornalista, Manuel Lopes de
Oliveira (Manequinho Lopes), para as providências necessárias a drenagem do
solo.
Ainda em sua gestão, Pires do Rio promove a execução do Mapa
Topográfico do Município de São Paulo, pela contratação da Empresa Sara
Brasil S/A, que se utilizava do moderno levantamento aerofotogramétrico, para
a época, obtendo precisão no mapeamento da cidade.
Os mapas gerados estão na escala de 1:20.000 e 1:500, que foram
de imensa valia para os futuros projetos urbanos na cidade e que nos
85
permitiram o instrumental básico para a reconstrução do caminho percorrido na
definição e conformação perimétrica da área do Parque do Ibirapuera, sendo
entregues em 1930.
Também, mediante pedido do Prefeito ao então diretor de Obras e
Viação do Município, engenheiro Arthur Saboya, foi elaborado o Código de
Obras, promulgado pela Lei nº 3427 em 19 de novembro de 1929 e a
apresentação e publicação em 1930, do “Plano das Avenidas para a cidade de
São Paulo”, projeto urbanístico viário concebido por Francisco Prestes Maia e
João Florence de Ulhôa Cintra, que inauguraria uma nova era urbanística na
cidade, com as primeiras modificações realizadas em 1935.
3.3 - PRESTES MAIA E O PLANO DAS AVENIDAS
Várias versões foram apresentadas partindo do conceito de uma via
de irradiação, da qual sairiam outras vias nas várias direções, seguidas por
avenidas perimetrais e assim por diante. No plano, com início na Praça da
República sairiam três avenidas em direções diversas e a terceira,
atravessando o vale do Saracura, daria origem ao sistema denominado “Y”,
com as atuais Avenida 9 de Julho de um lado e, a posteriormente realizada,
Avenida 23 de Maio, de outro, que tornou-se a ligação norte-sul.
No projeto elaborado por Ulhôa Cintra, o sistema viário é
esquematizado com formas geométricas circulares, apresentando as radiais, e
incluindo a área do Parque, representada entre as Avenidas Brigadeiro Luís
Antonio e Rodrigues Alves, como existente no local. Pela proposta, o Vale do
Anhangabaú, cuja antiga denominação era Itororó, seria desobstruído das
antigas construções para a abertura da Avenida 23 de Maio e encontrar a
Avenida 9 de Julho, formando um “V” criando a coluna dorsal do sistema e
utilizando os fundos de vale.
86
As perimetrais fariam a conexão entre os bairros e as radiais e, uma
terceira serviria para a circulação entre as áreas verdes, de acordo com o
conceito americano das “Parkways”, aplicado pela primeira vez por Frederick
Law Olmsted (1822-1903) no Parkway de Boston (1886), que se constituía de
um caminho entre dois pontos da cidade margeado por paisagens de aparência
natural, inicialmente formado pelas Avenidas marginais dos rios Tietê e
Pinheiros, e aproximando-se das áreas de parques.
Prestes Maia, então secretário de Viação e Obras Públicas, inclui em
seu Plano de Avenidas diretrizes para o futuro parque, que apresentaremos
mais adiante (Capítulo 4).
Figura 33 – Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia, 1935. (TOLEDO, 2004)
87
Ainda em 1929 ocorreu a solicitação de uso parcial da área do novo
Parque do Ibirapuera por parte do Jockey Clube de São Paulo, para o
deslocamento do Hipódromo situado na Mooca. A primeira autorização é
concedida pela Câmara Municipal pela Lei nº 3256, assinada e publicada em
21 de janeiro de 1929, autorizando a Prefeitura a promover, mediante acordo, a
sua transferência para os terrenos públicos do Ibirapuera.
As negociações com esta finalidade entre o Jockey Club e a
Prefeitura se arrastaram por quase cinco anos, gerando uma série de
documentos, além de vários processos, reunidos sob o nº 0.015.223/ 8/ 2004
(DAHM/DPH). O desacordo entre as partes, inicialmente, foi causado pela
diferença de valores a serem equalizados, entre a totalidade dos terrenos da
Mooca e os do Ibirapuera, aos quais, sucessivamente, se juntaria a valorização
por parte do Jockey das benfeitorias por ele realizadas na área do Hipódromo,
que reverteriam em ônus para a Prefeitura na efetivação da transação.
É interessante mencionar que em uma citação de 1932, constante
dos autos, na qual o Jockey Club afirma sua posse com usufruto vitalício sobre
os terrenos da Mooca e que o valor dos mesmos era de 40$000 contos de reis
por metro quadrado, enquanto os do Ibirapuera não deveriam ter avaliação
maior do que 10$000 de reis o metro quadrado, valor que já havia sido adotado
anteriormente em outra transação pela Prefeitura.
Em 1934, pelo Ato 706/34, a Prefeitura revoga o artigo 2° da Lei
referente ao assunto, nunca concretizando a transferência. Anos mais tarde ela
concederia área na marginal de Pinheiros para esta finalidade, onde o Jockey
Club está situado atualmente.
Este fato repercutirá entre os primeiros anos da década de 1930
(1930 a 1934), devido às modificações solicitadas nos vários projetos para o
parque, entre estes, podemos mencionar como exemplo o de Reynaldo
Dierberger (1932).
88
A primeira construção de porte a ocupar terrenos na Várzea do
Ibirapuera, nos terrenos da Invernada dos Bombeiros, que pertenciam ao
Estado, foi o Instituto Biológico.
O aparecimento de uma praga, denominada “broca”, nos cafezais
paulistas em 1924, desvalorizou o produto, e foi motivo para constituir uma
Comissão de Estudos, presidida por Arthur Neiva, que visava identificar o
parasita e os estragos causados à lavoura cafeeira, para tanto foram
convidados vários pesquisadores da área científica e técnica.
Após o controle da praga, ficou comprovada a necessidade de uma
organização fitossanitária permanente, e em decorrência deste fato o então
Presidente Carlos de Campos envia à Câmara dos Deputados o projeto da
fundação de um Instituto de Biologia e Defesa Agrícola, que foi aprovado em
26 de dezembro de 1927, sob a Lei nº 2.243, como Instituto Biológico de
Defesa Agrícola e Animal e que, em 1937, passou a denominar-se Instituto
Biológico.
De acordo com a Dra. Márcia Rebouças, diretora do órgão, que
realiza pesquisas históricas e documentação do acervo:
Em 1928 foi doada uma área de aproximadamente 239.000 m²
para a construção do Instituto. Era uma área pouco valorizada,
conhecida como "Campo do Barreto" que englobava também,
parte do parque do Ibirapuera. Era uma várzea cheia de
pássaros e todo esse conjunto era chamado de Invernada dos
Bombeiros, cortado pelo Córrego do Sapateiro. Essa área é
hoje definida pela Av. Ibirapuera, Av. Brasil e Conselheiro
Rodrigues Alves. O terreno para a construção do Instituto
Biológico foi permutado por um terreno de propriedade
municipal (Parque Fernando Costa), situado à Av. Água
Branca, esquina da Rua Sarapuhy, hoje Rua Ministro Godoy,
distrito Perdizes. Assim, foi autorizada a permuta. "Fica a
Secretaria da Fazenda e do Tesouro do Estado autorizada a
fazer a permuta de quinhentos e cinqüenta mil metros
quadrados de terreno pertencente ao patrimônio do Estado
contidos na área da Invernada do Corpo de Bombeiros
(Invernada dos Bombeiros), no distrito de Villa Mariana, no
município e comarca da Capital, com 124.000 m², pertencente
à Municipalidade da Capital, contidos na área dos que
89
constituem a Escola e Promologia, à Av. Agua Branca, distrito
da Lapa, também no município e comarca da Capital. Palácio
do Estado de São Paulo, em 20 de janeiro de 1928. Julio
Prestes de Albuquerque.
A construção da sede atual na Avenida Conselheiro Rodrigues
Alves, 1252, Vila Mariana, demorou 17 anos para sua conclusão, sendo
inaugurado em 25 de janeiro de 1945.
O registro das diversas fases da obra, formado por imagens
fotográficas (década de 1930), que apresentam a exata dimensão da
vegetação existente e de partes alagadiças, na futura localização do parque,
anterior a qualquer projeto.
Figura 34 - A esquerda a continuação Rua França Pinto, ao centro várias zonas
pantanosas na direção do atual prédio do Detran e à direita uma praça circular, década
1930. (Acervo Histórico do Instituto Biológico)
Em 1941, são publicados por William Fillinger os resultados de uma
pesquisa, já apresentada no Capítulo 1, sobre a demarcação de terras do
Estado, onde, após solicitação da Prefeitura, demonstra a legalidade da posse
da gleba do Ibirapuera pela Municipalidade.
O relatório de Fillinger demonstra a confusão instalada na
demarcação entre terras do Estado, da Prefeitura e particulares, que abrangem
90
também a área destinada ao futuro parque e a qual denomina como célebre
“caso” do Ibirapuera ou também “grilo do Ibirapuera”.
Segue em sua explanação dizendo,
…o Ibirapuera foi levantado e medido e as suas extensões,
divisas e rumos forma exatamente determinados, dentro da
gleba concedida pelo Governo Federal à Intendência Municipal
em 1890 e aprovada a medição em 28 de julho de 1891,
procedida por profissional acima de qualquer suspeita: o Juiz
Comissário Dr. Leandro Dupré…
Mais adiante afirma constar dos Arquivos da Procuradoria do
Patrimônio Imobiliário e Cadastro de Estado, um memorial pormenorizado, com
dados de marcação, onde 1.006 hectares correspondem à área do terreno
desocupado e 101 hectares ocupados. Disponibiliza as cópias dos principais
documentos provando que:
…aquelas terras foram devolutas e que, como tais, foram
concedidas à Intendência Municipal de São Paulo pelo
Governo Federal e, depois de processada e concluída a
medição oficial, passaram para o patrimônio do Município.
Relata sobre a documentação de cunho histórico sobre a gleba
dizendo:
É de lamentar-se terem sido arquivados, naquela época, todos
esses documentos, de uma maneira inadequada, passando
olvidados, na ocasião da ação discriminatória de 1911-14.
Finaliza concluindo sobre a importância deles e que:
Hão de prevalecer sobre os documentos falsificados,
constantes dos autos processuais, fornecendo a inconfundível
prova objetiva, real e palpável, sobre a realidade incontestável
do domínio que cabe à Municipalidade de São Paulo.
(FILLINGER, 1941: p. 81-84)
Ao final de década de 1930 pouco havia sido realizado em prol da
concretização do parque.
91
Desta vez a atitude advém do Estado, com a encomenda o projeto
para o Monumento as Bandeiras, a Victor Brecheret, aprovando sua
localização no final da Avenida da Brasil, esquina com a Avenida Indianópolis e
os terrenos do parque, pela Lei nº3543 de 10 de dezembro de 1936. As
disposições sobre sua construção são regulamentadas pelo Decreto Lei nº 304
de 12 de outubro de 1945.
No ano seguinte, pela Lei nº 3624, de 4 de agosto de 1937, é
aprovada a construção do Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 32,
tendo como local de destino inicial a praça Santos Dumont. Somente em 1949,
pela Lei nº 3759, de 20 de maio, é regulamentada a execução de obras para o
alicerce, dispondo o local da praça circular do futuro Parque do Ibirapuera,
como localização definitiva, através do Decreto Lei nº 1078, de 6 de junho.
Durante gestão de Francisco Prestes Maia (01/05/1938 -
10/11/1945), várias áreas foram adquiridas, permutadas ou declaradas de
utilidades públicas sempre com o intuito de regularização do perímetro,
conforme o Decreto Lei 31, de 7 de maio de 1940. Em 1942, 3 áreas de
terrenos da Várzea do Ibirapuera são declaradas de utilidade pública.
Em 1945, no Plano de Melhoramentos para cidade, de Prestes Maia,
novas soluções são apresentadas para o Parque, e motivados em encontrar
soluções originais, membros internos da Prefeitura, em 1948, elaboram outra
proposta, datada de 14 de janeiro, como apresentaremos Capítulo 4.
Antes da formação da Comissão do IV Centenário, durante a curta
gestão de Paulo Lauro (29/08/1947 e 25/08/1948), consta um projeto similar ao
do engenheiro Werner Hacker, datado de 1948, com o prolongamento da
Avenida Brasil, a alça inferior com a demarcação ao centro, já aprovado pelo
governo.
92
3.4 - FORMAÇÃO DA COMISSÃO DO IV CENTENÁRIO DA
CIDADE DE SÃO PAULO
Em 1948 iniciam-se as primeiras providências para os futuros
festejos do IV Centenário e é constituída uma comissão especialmente com
esta finalidade.
A principal responsabilidade atribuída foi da escolha do local mais
adequado para as comemorações, que antes da definição pela área
atualmente ocupada pelo Parque do Ibirapuera, avaliaram a Cidade
Universitária, Interlagos, área na Marginal de Pinheiros e região do Jaraguá.
Segundo MARIANO (1997: p.11), “a simbologia histórica do pico era
emblemática na comemoração, acrescida de um recente plano de
urbanização”.
Apenas uma aquarela representando a entrada da área assinada por
José Wasth Rodrigues encontrou-se, alem do fato da inadequação de
implantação do anteprojeto, elaborado pela equipe de Oscar Niemeyer, devido
à topografia local.
A Comissão foi criada pelo então governador Lucas Nogueira
Garcez (1951 - 1955), pelo Decreto Lei nº 4052 de 30 de maio de 1951, sendo
regulamentada com o Decreto Lei nº 1379 de 20 de junho de 1951, composta
por representantes dos poderes públicos e da iniciativa privada, Joaquim
Canuto Mendes de Salmeida, Carlos Alberto Carvalho Pinto, João Pacheco
Chaves, José de Melo Moraes, Mario Beni e Oscar Pedroso Horta - para que o
Parque do Ibirapuera se tornasse o marco das comemorações do IV
Centenário da cidade.
O presidente da Comissão era Francisco Matarazzo Sobrinho. Foi
ele quem decidiu pelo local, por ser uma área extensa, próxima ao centro,
93
apresentando expansão urbana naquela direção, de fácil acesso e
praticamente isenta de ocupação.
Cicillo Matarazzo conduziu a composição e contratação da Equipe
de Planejamento, que seria responsável por todos os eventos das
comemorações, que será efetivada em 20 de setembro de 1951, segundo
convite formalizado por Matarazzo aos arquitetos: Rino Levi, Oswald Bratke,
Eduardo Kneese de Melo, Ícaro de Castro Mello, Roberto Cerqueira Cezar,
Carlos Brasil Lodi, Carlos Alberto Gomes Cardim Filho (Diretor do
Departamento de Urbanismo) e Alfredo Giglio (Diretor do Departamento de
Arquitetura da Prefeitura Municipal).
Inicialmente sua tarefa foi analisar o último projeto apresentado por
Stockler das Neves, recusando a proposta e idealizando um estudo
completamente contrário em relação a uma nova concepção arquitetônica e
urbanística, contando com o apoio do Governo do Estado e do Prefeito.
A partir da elaboração do estudo do anteprojeto, com área a ser
ocupada definida, iniciaram-se processos da Prefeitura contra particulares
ocupantes de áreas dentro do perímetro estabelecido.
Num primeiro momento apenas o programa geral de estudos é
realizado. É apresentada a sugestão da transformação da Comissão em
Autarquia, mas ocorreram divergências financeiras sobre a forma dos
pagamentos entre a Comissão e a equipe causando a dissolução da mesma.
Em 1952, “Cicillo” Matarazzo formula convite ao arquiteto Oscar
Niemeyer para a elaboração do projeto para o parque, que organiza sua
equipe, sendo que a Comissão torna-se uma Autarquia, composta pelos
arquitetos Eduardo Kneese de Mello, Hélio Cavalcanti, Zenon Lotufo com
colaboração de Gauss Estelita e Carlos Lemos.
94
Entre a providencias tomadas pela Comissão estão as ações da
Prefeitura de desapropriação e permuta de lotes em área de fronte a então Rua
França Pinto, dentro do perímetro do Parque. Podemos citar entre eles o
Processo de nº 307/52 que se refere a dez lotes, o de nº 500/52, nº 585/52 e o
de nº 310/52.
O processo nº 585/52, refere-se a valores de indenizações, pedidos
pelos proprietários dos lotes, vendidos em 1918, durante a gestão de
Washignton Luis, que já haviam iniciado as construções ou mesmo até
concluídas, pelas desapropriações previstas pela Prefeitura.
Nos autos estão listados os seguintes proprietários:
Imóveis na Rua França Pinto nº 1822 de Dr. Carlos Adolpho
Schmidt Sarmento. - Valor de Cr$ 350.000,00.
Terreno e construção de Dna. Laura Beatriz de Maura
Ribeiro Schmidt Sarmento, sito a Rua Dr. Sarmento, nº 53. -
Valor de Cr$ 250.000,00.
Imóvel de Caio Lacerda de Arruda Botelho sito a Rua
Sarmento, 67. - Valor de Cr$ 800.000,00.
Terreno e construção de José Roberto de Paula sito a Rua
Sarmento, nº 48, sendo que possui plantas aprovadas na
Prefeitura em dezembro de 1951 e abril de 1952. - Valor de
Cr$ 800.000,00.
Terrenos do Sr. Justo di Giulio, Luiz Sátira, Augusto Cinquini
na área de Ferdinando Matarazzo.
As permutas pretendidas pela Prefeitura seriam por terrenos no
bairro de Indianópolis, portanto mais distantes no sentido Jabaquara.
Por questões dos altos custos reivindicados, o ganho de causa foi
dos proprietários, cujas construções compõe as vilas fechadas da Avenida IV
95
Centenário, localizadas na área do Parque, de acordo com planta de
localização a seguir.
Figura 35 - Planta dos terrenos a permutar (em vermelho e marrom claro) e a expropriar
(em azul) Processo nº 585/52. (fonte: DAHM/DPH)
No processo n° 310/52 está à deliberação que defere o pedido para
sustar a construção de vários galpões para o uso de cocheiras além dos
destinados à guarda de materiais. Também intima o Departamento e Divisão
de Limpeza Pública a retirada de depósitos de lixo situado em terrenos do
Ibirapuera.
Naquela época, o Instituto Biológico mantinha, na área o Instituto
Futebol Clube, na parcela onde seria construído o Pavilhão das Indústrias,
atual Edifício da Bienal. As dependências eram compostas por um campo de
futebol com arquibancadas e um galpão coberto com quadra, onde eram
realizadas festas, além das instalações sanitárias e bar.
96
Figura 36 – Instituto Biológico Futebol Clube, Galpão, década de 1940. (fonte: Acervo
Histórico Instituto Biológico)
A área foi cedida pela Secretaria da Agricultura em troca de uma
concessão para o Clube em terreno localizado em Santo Amaro , constante da
documentação do Processo nº 1282/52.
O período seguinte fica registrado por uma contenda judicial para a
concessão da área do atual Ginásio do Ibirapuera e do Velódromo,
pertencentes ao Estado e cedido para complementação do panorama
paisagístico para complementação do Parque. Apresentando a planta com a
área municipal e parte final da Invernada dos Bombeiros do Estado na qual
podemos identificar a parte que posteriormente será ocupada pela Assembléia
Legislativa, Quartel do 2º Comando Militar de Sudoeste do Estado e Círculo
Militar, área da Prefeitura, no Processo de nº 1884/53.
Dos autos consta um ofício datado 24 de abril de 1953, de Francisco
Matarazzo Sobrinho ao secretário de Estado dos Negócios da Viação e Obras
Públicas de São Paulo,Sr. Nilo Andrade Amaral, acusando o recebimento do
ofício de n° 550, de 20 de março a respeito das dúvidas levantadas pela
Comissão em relação a obras no terreno de propriedade do Estado no Parque,
cuja resposta pauta sobre
97
...oficio 807, de 7 de abril de 1952, o senhor Diretor do
Departamento de Esportes do Estado pôs à disposição da
Autarquia o terreno situado a Rua Manuel da Nóbrega, a
começar em o marco cinco, esquina do projetado
prolongamento da Rua Curitiba, com 276,80 metros para
aquela primeira rua até o marco 4, e daí confinando com a área
destinada ao IV 2° R.C.D. com 379,30 metros até à Rua Abílio
Soares, marco 6, à esquina do projetado prolongamento da
Rua Curitiba, e daí seguindo por esse prolongamento na
distancia de 311,20 metros até o ponto inicial do marco n.5.
Esse terreno segundo aquele oficio citado estava destinado ao
Departamento de Esportes do Estado que o pós a disposição
da Autarquia, com o conhecimento do Senhor Secretário do
Governo, conforme a mesma comunicação. (Arquivo Histórico
Municipal, Processo 1884/53).
O qual teve como respostas uma carta de teor não muito amigável
pelo major Sylvio de Magalhães Padilha, diretor do Serviço de Esportes a pelo
oficio recebido da Secretaria da Viação e Obras Públicas do Estado, onde
apresenta:
Primeiramente, deve notar que fatos, pela sua ingenuidade, ou
então pelo reverso, pela sua manifesta má fé, deixam-nos até
mesmo desconcertados, e inibidos momentaneamente de
pensar qual resposta que devemos das às argüições que eles
acarretam.
Este é um caso, o da Escola de Educação Física, motivado,
sabe-se bem, pela situação em que se encontram os seus
dirigentes, desnorteados e confundidos, procurando por todos
os meios que lhe parecem mais fáceis, para poderem realizar
alguma coisa. No entanto, Sr. Presidente, nada se consegue
sem trabalho e sem suor, e neste sentido V.Sa. bem sabe
como nós temos agido, qual o nosso modo de encarar as
coisas, qual o nosso feitio.
No presente caso, desejo responder aquela destituída
pretensão como Diretor de esportes dessa Comissão, e
sobretudo no caso mais deretamente, como Diretor do
Departamento de Esportes.
Quem deseja de fato realizar alguma coisa de concreto e
duradouro não deve esperar que ela venha ao seu encontro:
deve-se procura-la pelos meios lícitos de a conseguir,
afastando-se dos processos da deslealdade, e repudiando a
má fé, evitando apropriar-se indvidamente do que não lhe
pertence. O Departamento de Educação Física do Estado está
cansado de saber que o terreno em apreço não lhe pertence.
Sabe perfeitamente, porque não ignora a lei e o seu valor, que
98
ele foi destinado, por permuta, com o Município, ao
Departamento de Esportes do Estado de São Paulo, e isto está
claro e insofismável no explicito teor do Decreto-Lei de número
13.291 de 31 de março de 1943.
Continua referindo-se e questionando a pretensão por parte da
Escola de Educação Física, atacando veementemente os dirigentes pela
reivindicação da posse do terreno, cedida para a Comissão do IV Centenário.
[...] Lembramos com bastante ufania, que se tal projeto existe
porque fomos nós que o fizemos quando na direção daquele
Departamento, o qual nasceu de trabalhosos estudos
sugeridos na Secretaria da Viação, e mais tarde modificados
por novo arquiteto. E assim, nos é que devemos estranhar a
pretensão da Escola de Educação Física; a nós compete
inquirir do direito que se assumem, e porque pretendem ali
construir, quando invadem propriedade alheia, porque o terreno
legalmente nos pertence, porque estamos em nossos próprios
domínios.
Além de tudo, possuímos assentados já os nossos planos de
ocupação daquela área, e não podemos, nem desejamos abrir
mão de uma coisa por que lutamos para conseguir, e que
positivamente nos pertence.
É muito cômoda, não há duvida, a situação dos pretendentes
do nosso terreno, mas para a salvaguarda do direito, é
necessário que se esclareça o erro dessa situação [...]
Na seqüência, frisa a posse do terreno pelo Departamento de
Esportes, ressalta o uso em concessão para outra instituição, afirmando que a
Escola de Educação Física, busque outro local para sua instalação, em
terrenos disponíveis ou nas margens do Rio Tietê, no local da cidade náutica.
99
Figura 37 – Planta anexa ao Processo de nº 1884/53. (fonte: DAHM/DPH)
Em 21 de maio de 1954, por solicitação de Rodriguez Alves Neto é
enviado Oficio n. acb/1194 Departamento de Esportes – que em anexo
apresenta o Decreto de concessão do referido terreno à Prefeitura com a
reserva de área pra instalação de esportiva do Departamento, apresentado:
DECRETO-LEI n° 13.291 de 31/3/1943
(Escritura lavrada no 5° Tabelionato, livro 566 – fls. 5 – em
7/6/44).
[...]
O Interventor Federal no Estado de S.Paulo, na conformidade
do disposto no artigo 6°, n. 4, do Decreto-Lei n. 1.202, de
8/4/1939,
DECRETA:
100
Artigo 1° - Fica a Fazenda do Estado autorizada a transferir à
Prefeitura Municipal de S.Paulo os imóveis abaixo
caracterizados, a saber:
[...]
c) A área sita no Ibirapuera, remanescente da antiga Invernada
dos Bombeiros, limitada pela Rua Manuel da Nóbrega, pelo
terreno anexo ao Quartel do esquadrão de Cavalaria, (terreno
esse definido pelo Decreto-Lei n.13.009, de 24/10/1942), Rua
Abílio Soares, primeiro córrego que atravessa essa rua logo
abaixo do terreno anterior, e auto Estrada até o entroncamento
com a Rua Manoel da Nóbrega, - ponto onde se fecha o
perímetro.
Artigo 2° - As áreas acima descritas receberão os seguintes
destinos:
[...]
III – (3a.) – A indicada na alínea “c”, a completar o Parque de
Ibirapuera e proporcionar ambiente arquitetônico e paisagístico
ao monumento das Bandeiras, assim como estabelecer ligação
do parque com a Avenida Brasil.
§ 1° - Da área referida na alínea 3
a
(III), supra, será reservada
para instalação escolar esportiva da Diretoria de Esportes, uma
fração sita na sua extremidade superior, medindo 105.340 m2
(cento e cinco mil, trezentos e quarenta metros quadrados),
podendo o estado construir e fazer funcionar na mesma
instalação, sem outra restrição que a de manter o aspecto do
parque e apresentar seus projetos à aprovação arquitetônica e
paisagística da Prefeitura para harmonização do conjunto.
§ 2° - Não poderá ser dado aos imóveis referidos neste artigo
destino diverso dos óra prescritos, devendo a Prefeitura
Municipal, desde logo, promover os trabalhos necessários ao
aproveitamento deles, sendo que, da mesma forma a fração
reservada à Diretoria de esportes, reverterá à Prefeitura
Municipal, incorporando-se ao Parque, caso não seja
aproveitada no fim previsto.
[...]
Artigo 3° - Em compensação pela transferência operada nos
termos deste Decreto Lei, e tendo em vista a conexão dos
interesses urbanísticos locais, ficará a cargo da Prefeitura
Municipal da Capital, a execução restante do Monumento das
Bandeiras, atualmente objeto de contrato com o Governo do
Estado, ficando por conta desse a liquidação de todos os
serviços, obras já executadas e despesas até a data do
respectivo instrumento, a ser, para o efeito do disposto neste
artigo. Assinado com a mesma Prefeitura Municipal. Ficará,
ainda a cargo da Prefeitura Municipal, a execução da
Esplanada ou Praça em torno do Monumento assim como os
motivos decorativos complementares.
Artigo 4° - Este Decreto Lei entrará em vigor na data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário.
Palácio do Governo do Estado de S.Paulo, aos 31 de março de
1954
(a) Fernando Costa
(a) Abelardo Vergueira Cesar
101
Publicado na secretária da Justiça e Negócios do Interior, aos
31 de março de 1943.
Paulo Egydio de O. Carvalho
Figura 38 - Planta com a demarcação das áreas do Estado e da Prefeitura já existentes e
as áreas a constarem da permuta, Processo nº 1884/53. (fonte: DAHM/DPH)
Para encerrar as possíveis lacunas, deste moroso e complexo
processo na composição da área final para o Parque e sua edificações, foi
também anexada uma certidão da “Escritura de cessão e transferência do
domínio de imóveis, direitos e obrigações” registrada no 5° Tabelionato –
Cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, Norberto Acácio França, lavrada
em 7 de junho de 1944, entre o Governo do Estado e a Prefeitura de São
Paulo, no valor de Cr$ 5.000.000,00, referentes ao terreno da Invernada dos
Bombeiros e outros dois imóveis, nos seguintes termos:
...outorgante a Fazenda do estado de S.Paulo, nos termos do
decreto-lei n° 13291 de 31 de março de 1943, e neste ato
represen- representada pelo Dr. José Edgard Pereira Barreto,
1° sub-procurador judicial do Estado, devidade autorizado pelo
102
seu Secretario da Justiça, conforme oficio n°8736, de 26 de
maio ultimo e pelo Dr. Raul Romeu Loureiro, Procurador Fiscal
do Estado; como outorgada a Prefeitura Municipal de S.Paulo,
representada pelo Prefeito Municipal de S.Paulo, Dr. Francisco
Prestes Maia, no exercício de suas atribuições, e para este ato
também autorizado pelo citado decreto n° 13291 de 1943; e
como anuente Victor Brecheret, escultor, brasileiro, casado,
domiciliado nesta Capital, os presentes reconhecidos pelos
próprios de que trato, por mim tabelião e das mencionadas
testemunhas do que dou fé...
Constando como anuente temos o escultor Vitor Brecheret, que
estava completando sua obra, o Monumentos às Bandeiras, contratada pelo
Estado, e o qual, através deste documento transfere a dívida com o artista para
a Prefeitura, como citamos abaixo:
[...] B) Que a Fazenda do estado confiou ao anuente Victor
Brecheret a execução do Monumento das Bandeiras, no
Parque Ibirapuera, nos termos do contrato lavrado em livro
próprio da secretária da fazenda, e que consta por copia a fls. 1
e seguintes do processo administrativo n° 7310/39 da
Secretaria da Fazenda; C) – que pelo decreto lei 13291 de 31
de março de 1943, foi a Fazenda do estado autorizada a
transferir para a Prefeitura Municipal de S.Paulo, os imóveis
adeante referidos e descritos, destinandos aos fins expressos
no artigo 2° do citado decreto lei, e assumindo a Prefeitura, em
compensação, tendo em vista a sua conexão com os
interesses urbanísticos locaes, a execução restante do
Monumento das Bandeiras; D) que para efetivação do disposto
no referido decreto lei, a Fazenda do estado por este ato, cede
e transfere à Prefeitura Municipal de S.Paulo, toda a posse,
domínio, direito e ações que exercia sobre os seguintes
imóveis de sua propriedade, todos situados no município e
comarca desta Capital a saber: [...]
[...] III) A área sita no Ibirapuera, remanescente da antiga
Invernada dos Bombeiros, em Vila Maria, 10
a
. Zona distrital,
limitada pela Rua Manoel da Nóbrega, pelo terreno anexo ao
Quartel do Esquadrão de Cavalaria, (terreno este adquirido
pelo decreto lei n° 13009 de 24 de outubro de 1942), Rua Abílio
Soares, primeiro córrego que atravessa esta rua, logo abaixo
do terreno anterior e auto-estrada até entrocamento com a Rua
Manoel da Nóbrega, ponto onde se fecha o perímetro, área
esta ultima também constante da planta anexa autenticada
pelas partes e por mim tabelião, e desta escritura integrante [...]
São determinados os devidos valores:
103
[...] E) que para os efeitos da transcrição da presente escritura,
estima os imóveis referidos [...] itens [...] III da clausula anterior
de respectivamente de CR$2.000,000,00; F) que os imóveis
descritos se acham livres e desembaraçados de quaesquer
ônus ou responsabiliddes e foram havidos pelas Fazenda do
Estado, pela seguinte forma: o imóvel acima descrito, [...]; o
imóvel acima descrito no item III, foi adquirido do Banco de
Credito Real de S. Paulo, pela escritura de 7 de janeiro de
1905, das notas do 6° Tabelião, transcrita sob o n° 40410, no
Registro de Imóveis da 1a. Circunscrição desta Comarca; e que
a Fazenda do estado se obriga ainda a fazer esta transmissão
sempre boa, firme e valiosa, respondendo pela evicção de
direitos [...]
São definidas as diretivas para o uso da área de forma clara com a
reserva de parte dela :
[...] G) que nos termos do decreto lei n° 13291 de 1943,
referidos, a presente transferência é feita sob as condições
seguintes: [...]
[...]
1a.) [...] e a área indicada no item III, da mesma letra D, a
completar o Parque de Ibirapuera, e proporcionar ambiente
arquitetônico e paisagístico ao Monumento das Bandeiras,
assim como a estabelecer a ligação do Parque com a Avenida
Brasil; 2a.) da área referida no item III, da letra D, será
reservada para a instalação escolar e esportiva da Diretoria de
Desportes uma fração sita na sua extremidade superior,
medindo 105.340 m2, - assinalada na referida planta, podendo
o Estado construir e fazer funcionar nesse local a citada
instalação, sem outra restrição que a de manter aspecto do
parque e apresentar seus projetos à aprovação arquitetônica e
paisagística da Prefeitura, para harmonização do conjunto; 3a.)
– Não poderá ser dado aos imóveis referidos neste artigo,
destino diverso dos ora prescritos, devendo a Prefeitura
Municipal desde logo promover os trabalhos necessários ao
aproveitamento deles, sendo que da mesma forma, a fração
reservada à Diretoria de Esportes, reverterá à Prefeitura
Municipal, incorporando-se ao parque, caso não seja
aproveitada no fim previsto [...]
Novamente reafirma a transferência do pagamento das despesas e
honorários do artista.
4a.) Por força da presente escritura, passa desta data em
deante para a responsabilidade da Prefeitura, a execução
restante do Monumento das Bandeiras, a cargo do anuente
104
Victor Brecheret, subrogando-se à Prefeitura nos direitos e
obrigações constantes do contrato respectivo, já referido neste
instrumento, continuando porem a outorgante responsável pela
liquidação dos serviços, obras executadas e despesas até esta
data, tudo conforme o disposto no artigo 3° do decreto lei
13291 de 31 de março de 1943; 5a.) A Prefeitura Municipal se
obriga ainda a executar a sua custa as obras relativas a
esplanada ou praça em torno do monumento assim como os
motivos decorativos a ele complementares...
A escritura encerra isentando a Prefeitura do pagamento dos
impostos de transmissão, e assinam como testemunhas, além do tabelião e
escrevente, José Edgard Pereira Barreto, Raul R. Loureiro, Francisco Prestes
Maia, Victor Brecheret, Manoel C.S.Braga e Gregório de Oliveira, em 21 de
maio de 1954. Através desta escritura que porta em anexo o mapa dos
terrenos, conseguimos compreender a variação de construções do Estado e
Prefeitura, numa área que geograficamente pertenceria à original gleba
destinada ao Parque, limítrofes a última parte da Invernada dos Bombeiros.
Figura 39 – Mapa de 2005, com sobreposição da Planta do Processo nº 1884/53 (Figura
38) e apresentando em vermelho a área atual do parque. (fonte: DAHM/DPH)
105
Descobriu-se também, que no processo de nº 224/52, consta a
descrição do local onde estavam instalados barracos da favela do Ibirapuera,
denunciados pelo então Chefe da Divisão de Matas, Parques e Jardins, que
acabou por originar uma comissão especial para solucionar o problemas da
retirada dos mesmos. O relatório gerado indicava a existência de
aproximadamente cem barracos, com população estimada em trezentas
pessoas, entre o final da Rua Abílio Soares e a Avenida Brigadeiro Luis
Antonio, onde há, parte das instalações do pólo esportivo e ginásio do
Ibirapuera, uma subestação da Eletropaulo e uma agência do Banco Itaú,
atualmente.
Na área do parque, próxima a continuação da Rua França Pinto,
atual Avenida IV Centenário, entre o portão 5 e o 6, existiu por quase cinqüenta
anos, o Hospital Zoófilo, que mantinha atendimento veterinário, clínica e um
cemitério para animais. O processo de desapropriação da área causou grande
polêmica por parte da população, artigos em jornais e entrevistas com usuários
descontentes com a situação. O processo que registra os fatos é o de nº
310/52, ao final do qual, o Hospital obteve concessão de um terreno em Santo
Amaro para seu novo assentamento.
De 1952 a época da conclusão do Parque a documentação é ampla
e variada em relação aos processos empreendidos seja pela Prefeitura como
por particulares.
Após a aprovação do projeto de Oscar Niermeyer e equipe, começa
a fase de execução, não estando completamente pronto para ser inaugurado
no aniversário da cidade, 25 de janeiro, mas apenas em 21 de Agosto de 1954,
com grande pompa e a abertura da Exposição internacional como centro das
atenções de paulistanos, paulistas, brasileiros e estrangeiros.
Resolvemos abordar um último caso, que criou polêmica em 2006,
referente a parte do terreno da Prefeitura, entre a continuação da Avenida
Brasil e Rua Curitiba, com apenas uma escola municipal ocupando parte da
106
área na época, sendo que a outra foi concedida posteriormente em regime de
comodato para o Círculo Militar na gestão de Adhemar de Barros (1957 –
1961), pela:
Lei nº 5.178,de 17/05/57 – Cede em comodato, por trinta anos,
o terreno de propriedade municipal, à Rua Abílio Soares, para
construção do edifício do Círculo Militar.
Constando do mesmo ano, outra lei vem beneficiar a outro clube,
instalado nas vertentes da Avenida Rubem Berta do outro lado da Avenida
Ibirapuera com IV Centenário, antigo quinhão de terra pertencente à várzea do
Ibirapuera, que receberá as instalações do Ipê Clube:
Lei nº 5.230 – 19/06/57 Cede em comodato ao Ipê Clube, um
terreno de propriedade municipal, destinado a fins sociais e
esportivos, e a realizar de maneira efetiva, assistência social e
educacional a infância.
Na gestão Jânio Quadros, é renovada a concessão ao Clube Círculo
Militar pela:
Lei n
o
: 10070 assinatura23/05/86 publicação24/05/86, folha 2
dispõe sobre concessão administrativa de uso de area
municipal ao circulo militar de São Paulo, e da outras
providencias.
concessão de uso de áreas municipais a título gratuito.
prazo: 25 anos (término em 2011). área: 31.005,20 m².
localização da área: terreno localizado na Rua Curitiba, Vila
Mariana.
Apresentamos o caso, pois foi motivo em 2006 de rescisão da
concessão que autorizava o Círculo Militar a utilizar o terreno municipal até
2012, durante a gestão José Serra, em razão do descumprimento de
obrigações contratuais.
Segundo artigo publicado no jornal Estado de São Paulo de 05 de
janeiro de 2006:
107
[...] O prefeito José Serra (PSDB) decidiu desalojar o Círculo
Militar de São Paulo, clube instalado há quase 50 anos no
quadrilátero formado pelas ruas Abílio Soares, Curitiba e
Marechal Maurício Cardoso, próximo ao Parque do Ibirapuera
[...]
No entanto, Serra vinha manifestando interesse em reaver a
área para ampliar o Parque do Ibirapuera. No fim do ano
passado, a Prefeitura determinou que o Departamento de
Edificações (Edif) e a Companhia de Processamento de Dados
do Município (Prodam) deixassem imóveis vizinhos. "O clube
não cumpriu o contrato com a Prefeitura e nós revogamos" [...]
Para o engenheiro João Oliva, assessor da presidência do
clube, o terreno do Círculo Militar não faz parte do parque. "Em
48 anos, só o Serra entendeu que houve descumprimento.
Da afirmação do assessor do clube constatamos que a referida área
pertencia ao perímetro que poderia ser usado para parque, desde os idos de
1926, mas de acordo com alguns dos projetos ela não estava incluída, e como,
não o foi pelo projeto de Oscar Niemeyer, ficou à deriva do parque e teve outra
utilização.
O Círculo Militar foi à Justiça, representado pelo advogado Manuel
Alceu Affonso Ferreira, alegando que a Prefeitura não havia instaurado
formalmente um procedimento administrativo para rescindir o contrato de
concessão, sendo que área é ocupada mais de 48 anos, tem cerca de 15 mil
associados e que quando solicitado pela Prefeitura, o clube fornece utilização
da área para fins educacionais e recreativos.
O Caso acabou na Assembléia Legislativa, sendo analisado pela:
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO PARA APURAR
DENÚNCIAS DE IRREGULARIDADES NA CESSÃO DE
ÁREAS PÚBLICAS A ENTIDADES PRIVADAS
- RDP-08-0005/2001.
7- CLUBE CÍRCULO MILITAR DE SÃO PAULO
LEI Municipal 10.070 de 26/05/86.
NATUREZA JURÍDICA DO ATO: Concessão de uso de áreas
municipais a título gratuito.
PRAZO: 25 ANOS (término em 2011).
ÁREA: 31.005,20 m².
108
LOCALIZAÇÃO DA ÁREA: terreno localizado na Rua Curitiba,
Vila Mariana.
VALOR APROXIMADO DA ÁREA: incluídas as benfeitorias,
aproximadamente R$ 50.000.000,00.
IRREGULARIDADES: descumprimento de contrapartidas
assumidas; inexistência de benefício para o Município na
cessão da área.
FINALIDADE:
ÁREAS MUNICIPAIS com necessidade de
MELHORAMENTOS PÚBLICOS, cedida para funcionamento
do clube.
CONTRAPRESTAÇÃO:
Manutenção na área cedida de sua sede e instalações sociais,
recreativas e esportivas para uso de seus associados;
Admitir, em todas as suas dependências a prática esportiva e
de educação física, bem como, nos diversos cursos de
formação física, adultos e crianças encaminhadas pela
Secretaria Municipal de Esportes, em número não superior a
20% de sua capacidade global;
Ceder suas instalações recreativas, cobertas ou descobertas,
para competições que vierem a ser programadas pela
Prefeitura;
Enviar à Secretaria Municipal de Esportes, suas programações
para cursos de Educação Física de adultos e crianças, para o
fim de atendimento da letra "b" da escritura;
Não ceder a área à terceiros, seja a que título for, no todo ou
em parte;
Resguardar a área de esbulho, turbação ou invasão de
qualquer natureza;
Não realizar quaisquer acessões ou benfeitorias sem prévia
aprovação dos órgãos municipais;
Responder por danos causados a terceiros;
Extinção ou dissolução da concessão pela alteração do destino
da área, ou inobservância das contrapartidas;
Devolução da área à Municipalidade terminado o prazo da
concessão, deixando todas as benfeitoria realizadas sem
qualquer direito de retenção ou indenização;
Responder por todos os encargos tributários.
Histórico
A CPI de Áreas Públicas convocou para esclarecer fatos o Sr.
Luiz Carlos Prestes de Faria Bidart, Presidente do Clube.
Of. 186/01-CPI-AP à Secretária Municipal de Finanças,
Solicitando o encaminhamento da Certidão sobre Tributo
Imobiliário do Círculo Militar de São Paulo, respondido pelo Of.
376/2001-RI-6.
109
Documentos apresentados pelo Círculo Militar de São Paulo:
Estatuto Social, Regulamento Geral, 1ª Assembléia Geral
(29.11.47); 2ª Reunião da Diretoria; Executiva (11.10.48);
Planta Auto de regularização; Diretoria Social; Diretoria Médica;
Diretoria Cultural; Relatório Atividades 1999
No que tange à denúncia, defendeu-se a diretoria alegando
que a contrapartida, mencionada no item anterior, é
incompatível com a capacidade de funcionamento do clube,
pois seria prejudicial à estrutura e dinâmica do mesmo. O clube
afirma ainda, que as áreas são cedidas regularmente para
eventos, quando solicitada pela Municipalidade.
Foram expedidos ofícios à Secretaria de Finanças -
Departamento de Rendas Imobiliárias - Divisão de Cadastro
Imobiliário Fiscal RI-6, que certificou que o Clube nada deve a
título de IPTU até o exercício de 1997 e 1999. Referentemente
aos exercícios de 1998 (deve dez parcelas no valor total de
R$268.227,20) e 2001 (deve quatro parcelas no valor total de
R$113.980,36) deve com prestações vencidas; e no exercício
de 2000 deve com prestações vincendas a partir de 01º de
Maio de 2001. Relativamente aos exercícios de 98/99 e 2000
foram solicitadas isenções em processos administrativos, que
foram parcialmente deferidas em 50% (cinqüenta por cento do
valor); no que tange a 2001 também pediram isenção que
ainda está sob análise.
O Depoente apresentou Auto de Regularização da Obra no
imóvel, expedido pela Secretaria de Habitação e
Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do Município de São
Paulo; e Planta aprovada. Entretanto, segundo o IPTU de 2001
a obra está irregular - Cód.:32 (reforma com obra de mais de
30 metros sem habite-se e terreno regular.
Conclusão
A Comissão Parlamentar de Inquérito decide um arbitramento
entre a Prefeitura e o Clube de contraprestação mensal
pecuniária, compatível com a localização tamanho e destinação
da área, para que se estabeleça equilíbrio econômico
financeiro do contrato e não se viole os caros princípios da
Administração Pública: da moralidade e do interesse público.
Na eventualidade do clube não aceitar a negociação, deve-se
revogar a concessão.”
(fonte:
www.camara.sp.gov.br/central_de_arquivos/vereadores/cpi-
ap.pdf)
A decisão parlamentar foi seguida pela resolução judicial, dando
ganho de causa ao Clube que movia o processo em sua defesa, em 2 de
agosto de 2006, em despacho de desembargador Canguçu de Almeida, vice-
presidente do TJ paulista, com liminar confirmada. (ESTADÃO online,
06/06/2007)
110
Ainda em 1957, Adhemar de Barros solicita projetos de lei para o
Parque Ibirapuera e outros parques para instalação de equipamentos
esportivos. Relacionados nos itens abaixo:
Esportes e Lazer (8)
1. 13/12/57 – Determinados estudos para execução
imediata de vários solários e piscinas públicas, com pequeno
restaurante e bar, incluindo-se urbanização suplementar, nos
seguintes locais: Parque D. Pedro II, Jardim da Aclimação,
Praça da Estação da Luz, Parque do Ibirapuera e Mooca.
2. 19/12/57 – Inauguração do parque de diversões do
Ibirapuera destinado às crianças e com aparelhamentos
modernos
3. 26/05/59 – Decreto nº 4.226 – Institui a Comissão
Especial do Parque Ibirapuera – CEPI.
4. 06/08/60 – Projeto de lei visando à criação de uma
universidade no Parque Ibirapuera com a proposta de
utilização de áreas do parque para esse fim. As principais
faculdades a serem criadas serão de Medicina, Engenharia,
Filosofia, Odontologia, Ciências Econômicas e Belas Artes.
Esses institutos de ensino superior seriam instalados na
medida do possível em prédios já existentes no Ibirapuera.
E institui a Escola Municipal de Astrofísica em área anexa ao
Planetário em 16/12/60 – Decreto nº 5.004 – Institui a Escola Municipal de
Astrofísica, com Início da construção em 1960, com Inauguração em 25/01/61,
quando inicia o curso de Astronomia.
Quanto ao Estado, nas suas áreas, na década de 1960, foram
realizados e concluídas as obras para abrigar a Assembléia Legislativa de 1961
a 1968 e o Quartel da 2ª Região Militar do sudoeste, no mesmo período,
interrompendo a paisagem que integrava o Ginásio do Ibirapuera ao
Monumento às Bandeiras e o Parque.
Juvenal Lino de Mattos, em sua passagem pela Prefeitura entre
02/07/1955-10/04/1956, muda a sede municipal paras as instalações do
Parque, ocupando o Palácio das Nações e distribuindo outras repartições, no
palácio das Indústrias, onde até bem pouco tempo estava a Prodam.
111
Com isto o Parque do Ibirapuera inaugura uma fase de poderíamos
denominar política, onde será conhecido como sede administrativa municipal
da Cidade de São Paulo, o que não pertencia ao escopo para utilização dada
ao Parque.
Jânio da Silva Quadros na Prefeitura entre 01/01/1986-31/12/1988
procede à instalação de grade no perímetro do Parque para aumento da
segurança e o fechamento do mesmo a partir das 21:00 horas.
Essa situação de sede administrativa será mudada no final da
gestão de Luiza Erundina em 1992, com a saída definitiva da Prefeitura do
Parque do Ibirapuera.
3.5 - TOMBAMENTO DA ÁREA DO PARQUE
Encerrando a série legal e normativa, apresentamos a resolução
ligada a sua preservação, que provavelmente não foi à última sendo seguida
por muitas outras.
A primeira resolução para o tombamento do Parque do Ibirapuera
data 25/01/1992, com nº 1 que:
...DISPOE SOBRE O TOMBAMENTO DO PARQUE
IBIRAPUERA NO MUNICIPIO DE SAO PAULO (INCLUINDO-
PAVILHAO MANOEL DA NOBREGA/ PREDIO PRODAM/
MUSEU AERONAUTICO/ MUSEU FOLCLORE/ PAVILHAO
ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA E GRANDE MARQUISE)
OBS: PUBLICADA NO DOE DE 250192, P.22, SECAO I.
O que vem a efetivar-se com a resolução
RESOLUÇÃO N
O
: 6 ANO: 1997 SECRETARIA: SMC
DEPARTAMENTO: CONPRE
TOMBAMENTO DO PARQUE IBIRAPUERA E AREAS
RESIDENCIAIS AJACENTES, VISANDO A PRESERVACAO
DE SEU VALOR HISTORICO E URBANISTICO.
112
O processo iniciado em 1992 será concluído e publicado em 1998 de
acordo com documento onde consta a área aproximada sendo que de acordo
com medição atual é de 154,8 hectares.
PATRIMÔNIO HISTORICO PAULISTA
Parque do Ibirapuera
Av. Pedro Álvares Cabral – Ibirapuera
Processo 25767/87 Tomb.: Res. SC 1 de 25/1/92 D.O.: 25/1/92
O Parque do Ibirapuera se destaca como área verde
expressiva, contando com aproximadamente 1.600.000 m2,
implantado em área que, até meados da década de 1930,
correspondia a uma várzea irrigada pelos córregos do
Sapateiro e Caaguaçu. O local foi terraplenado, iniciando-se o
plantio de árvores e, em 1927, foi instalado o Viveiro
Manequinho Lopes destinado à produção de mudas para a
arborização urbana.
Na década de 1950, foram construídos vários edifícios
interligados por uma grande marquise projetada por Oscar
Niemeyer para os festejos do IV Centenário da cidade de São
Paulo: o Palácio da Indústria, atual prédio da Bienal, o Palácio
das Nações, onde funciona a Prefeitura, o Palácio dos Estados,
que foi ocupado pela Prodam e o Palácio das Exposições
atuais museus da aeronáutica e do Folclore. Atualmente conta
com prédios mais recentes como o pLanetário, o Instituto de
astrofísica e o Pavilhão Japonês. Existem áreas destinadas à
prática de esportes, equipamentos de lazer, lanchonetes, entre
outros. (KAMIDE, 1998: p.206)
113
CAPÍTULO 4 - PROJETOS PARA O PARQUE DO
IBIRAPUERA
A natureza sempre esteve presente na vida do homem, circundando-
o seja como meio de sobrevivência, para caçadas, em áreas próximas para a
agricultura e numa paisagem artificial para adornar palácios e mansões sob a
forma de jardins como meio de embelezamento e lazer.
Desde a antiguidade há menções de áreas delimitadas com
vegetação viçosa de plantas ornamentais, separado do ambiente natural
externo considerado hostil.
O jardim foi considerado a essência da vida na antiguidade e o
termo é de concepção moderna destacando o aspecto filosófico e moral. Na
cultura Persa o termo estava associado ao de paraíso.
Na Grécia, o espaço interno das Academias onde eram realizados
estudos e reuniões de caráter educativo, possuía uma área com vegetação, um
jardim, que era contornado por pórticos.
No período romano, o jardim adquiriu uma forma estrutural
retangular, de acordo com o desenho urbano por eles aplicado na constituição
das cidades.
No mundo Islâmico, os jardins representavam a tranqüilidade e o
repouso, partes do paraíso descrito no Alcorão.
No século XV na Europa, após uma infinidade de lutas, guerras e
epidemias, inicia-se o período denominado Renascimento, onde na Itália, reis,
príncipes e comerciantes buscaram inspiração na civilização romana. Os
jardins começam a se destacar como forma de arte, tomando como base os
114
escritos de Plínio, que se constituíram na linha mestra para as conceituações
de Alberti. Para ele o jardim deveria estar integrado a construções através de
pórticos, arcadas ou elementos arquitetônicos que se projetassem na
paisagem.
As irregularidades dos terrenos seriam amenizadas por intermédio
de larga escada interligando áreas de terraços ajardinados com alamedas
formando eixos ligando jardins a partes edificadas.
Os jardins renascentistas serviriam para deleite, reuniões de caráter
filosófico, e até mesmo político e onde sob o frescor da sombra as árvores, nos
dias quentes, artistas poderiam criar obras.
Os jardins italianos renascentistas foram à representação da
modelagem do espaço natural com elementos decorativos greco-romanos,
constituindo-se na extensão das vilas e palácios em direção ao campo.
A união dos elementos de um jardim é dada pela perspectiva e os
elementos que o caracterizam são as alamedas de acesso à vila, pilares,
estátuas, bustos, templos, fontes e espelhos d’água, escadas de uma ou duas
rampas, pórticos, torres, grutas, depósitos, cantinas e capelas.
Segundo LAURIE (1983), um dos melhores exemplos do período
são os jardins de Médici, em Florença, datado de 1450, com projeto de
Michelozzo, que utilizou um terreno com declive, onde a edificação foi
localizada na parte alta para desfrutar da vista e da brisa no verão, sendo o
jardim distribuído em dois terraços e utilizando um caminho contornando a
ladeira, ligando os desníveis entre eles até a entrada da Vila. Na parte posterior
encontrava-se um jardim particular, denominado jardim secreto, por ser de uso
exclusivo da família, independente do outro ao qual tinham acesso hóspedes,
visitantes, empregados e fornecedores. Podemos ainda mencionar os jardins
de Boboli e Pitti em Florença, os jardins do Vaticano, com projeto de Bramante
115
de 1503, Villa Borghese, Villa Aldobrandini, Villa Médici e os de Vila d’Este em
Roma.
Os jardins italianos migraram para a França no final do século XV,
com a visita de Carlos VII a Nápoles, de onde voltou com grande número de
artistas, obras de arte e idéias sobre a utilização do sistema construtivo italiano.
Iniciou-se uma remodelação das áreas dos castelos para a criação de jardins,
que tiveram que passar por adaptações, em razão dos fossos existentes ao
seu redor.
Os jardins franceses diferenciaram-se dos italianos pelas
características topográficas predominante plana, áreas de bosques,
principalmente no norte da França e pela grande utilização da água na
formação de lagos artificiais, cais e espelhos d’água acompanhados com
bosques.
Uma característica marcante é o uso dos parterres (canteiro baixo),
originados do cultivo de ervas medicinais que eram separadas por “cercas
vivas”, no período medieval, que foram substituídas por arbustos com flores,
folhagens de pequeno porte, e espécies com folhas coloridas. Laurie apresenta
como sendo Jacques Boysseau quem desenvolveu a arte do parterre e os
fundamentos teóricos que serviram como base para as criações de André Lê
Nôtre no século XVII, sendo utilizados também na Alemanha, Áustria e
Holanda. Para tornar visíveis estas criações foram realizados suaves desníveis
no terreno.
Nos jardins o desenho paisagístico está fundamentado em uma
distribuição axial, onde a simetria, a perspectiva e o rigoroso uso das
proporções matemáticas refletem a inflexibilidade social, o poder do reinante
sobre os homens e o domínio da natureza, bem como a prosperidade.
116
Os jardins de Versalhes, de autoria de Lê Nôtre, são um grande
exemplo da aplicação destes conceitos, bem como os castelos Chantilly, Vaux-
le-Vicomte entre outros.
Também desta época surge o modelo em estrela, que tem origem
nas construções de casas nos bosques e das quais partiam caminhos radiais
em várias direções. Foi utilizado como ponto focal de alamedas, nos jardins,
em cujo centro se erguiam fontes com estátuas ou elementos decorativos,
transportado para as zonas urbanas na realização da confluência de avenidas
e praças como em Paris, Washington.
A Inglaterra, em oposição aos jardins formais franceses e ingleses
repletos de elementos escultóricos, arquitetônicos e geometricamente
organizados, iniciou uma era naturalista com o movimento romântico,
revolucionando a concepção tradicional e inserindo a maneira informal,
orgânica, sinuosa influenciada pela arte oriental e os princípios da pintura.
Desta forma a paisagem apresenta variedade, simulação, surpresa e
perspectivas idílicas (LAURIE, 1883: p.53), entre gramados e pequenos
bosques com a articulação entre luz e sombra acompanhando as formas
expressivas das pinturas do período.
Os jardins para constituírem-se como parte da paisagem natural,
deveriam adaptar-se à topografia ou criando-a, quando inexistente,
conseguindo efeitos na associação de cursos d’água, lagos, formando um elo
entre o criado artificialmente e a paisagem natural , dando origem a arte do
paisagismo atual.
Segundo CALCAGNO (1983) a filosofia inglesa da organização
paisagística do espaço calcava-se na recriação do equilíbrio entre o homem e a
natureza.
117
Os parques atuais tiveram sua origem a partir desta concepção de
espaço aberto, posta em prática com os primeiros parques públicos ingleses,
originários dos jardins de palácios.
No século XVIII os jardins ingleses “migram” para a França, onde
vastos jardins privados serão transformados em espaços públicos.
As transformações de vulto na área paisagística ocorrem entre a
metade do século XIX e o seu final, com os projetos paisagísticos e
arquitetônicos de J.C. Alphand com o Bois de Boulogne, o Barão Haussman e
seu plano das grandes avenidas de Paris, Joseph Paxton, engenheiro
jardineiro inglês fundador da Sociedade de Horticultura na Inglaterra. Os
primeiros parques com o objetivo de saúde e lazer para a população operária,
principalmente, em virtude da opressão sofrida por esta classe, nas vilas
próximas as fábricas, no início da era industrial.
O Regent Park inaugurado em 1812, em Londres, foi o primeiro
parque público oficial, a partir de uma residência real, constituído por sinuosas
alamedas e jardins botânicos com variadas espécies, seguido pelo St. James
Park e o Green Park, destinados ao lazer e a criação de jardins botânicos e
jardins zoológicos para o crescimento intelectual da população.
O conceito paisagístico atual nasce nos Estados Unidos, no mesmo
século, com a instauração do Sistema de Parques, destinados à recreação
pública, com a utilização de grandes áreas urbanas em Chicago, São Francisco
e Nova Iorque.
F.L. Omlsted foi um dos protagonistas do movimento de proteção e
promoção de parques nos Estados Unidos, sendo um dos fundadores do
Parque Nacional de Yellowstone em 1872, e imbuído da essência deste
grandes parques transplantou-a na criação dos parques públicos urbanos. Sua
filosofia é fundamentada na valorização do espírito da natureza, transcendendo
de maneira que a natureza torne-se o modelo da ação humana.
118
O Central Park projetado por Frederick Law Olmsted,
Superintendente de Parques da cidade e Calvert Vaux arquiteto inglês e sócio
de Andrew Jackson Dowing conhecido paisagista, tornou-se o exemplo de
parque público com financiamento governamental que se utilizou o paisagismo
para melhoria urbana e benefícios à comunidade, valorizando o espaço público
e sua importância na qualidade de vida do cidadão. Muitos outros foram os
projetos por eles desenvolvidos e que também foram responsáveis pela criação
na Universidade de Harward do curso de arquitetura da paisagem a partir de
1895.
Com área de 853 acres correspondentes 341,15 hectares, surgiu no
centro de Manhathan, após a aprovação em 1853 de lei para utilização de área
pública e incluiu a desapropriação de casas de 1600 habitantes em condições
de pobreza; uma comunidade negra, três igrejas e uma escola, um sítio entre
outros.
O desenho paisagístico foi baseado no estilo inglês romântico dos
jardins, criando uma paisagem campestre, onde à circulação de pedestres,
veículos e cavalos era em alamedas separadas.
Para sua realização pela topografia foram removidos mais de três
milhões de metros cúbicos de terra, criados os lagos e na implantação
paisagística foram utilizadas 270.000 plantas entre árvores e arbustos.
Foi inaugurado em 1859 e a partir de 1865 o parque recebe mais de
sete milhões de visitantes por ano. O zoológico do parque é inaugurado em
1871, e os primeiros equipamentos de playground são montados em 1927.
São realizadas reestruturações e criação de novas áreas de lazer a
partir da década de 1930. Empresas e industriais, em parceria com as
administrações municipais, proporcionam melhorias entre as décadas de 1950
e 1960, e neste período também ele se tornará palco de eventos e shows de
119
rock. De 1990 em diante o Central Park passa das mãos do município para ser
administrado por uma fundação de conservação privada.
No final da década de 1920, após a crise financeira, a política
paisagística é implementada na ampliação de parques e na valorização da
arquitetura da paisagem com a difusão do organicismo, que se constituí em
uma forma de contato com a paisagem, através do apelo às sensações do
indivíduo, numa simbiose entre este e a natureza, levando-o a vivenciar a
paisagem.
De acordo com a classificação de MACEDO (1999), no Brasil as
correntes projetuais na área paisagística dividem-se em três períodos segundo
suas conceituações e projetos específicos.
O Ecletismo cuja característica está ligada a uma visão pitoresca do
mundo, representada nos espaços livres por recriações de paraísos, campos
bucólicos ou jardins dos palácios reais, destinados à contemplação, ao passeio
e às divagações, não dispondo de áreas para a prática esportiva, advinda do
pensamento europeu do século XIX.
O período moderno representa uma reação aos conceitos e
referências adotados anteriormente, voltando-se para a valorização da
vegetação autóctone de cada país e conseqüente postura nacionalista,
associado ao paisagismo americano, principalmente no pós-guerra, com novos
padrões paisagísticos. Em seus programas além de espaços paisagísticos
contemplativos estão inclusas áreas para o lazer associado a práticas
esportivas. Orientado pelas fortes influências dos movimentos pictóricos do
século XX, utilizadas nas representações gráficas dos projetos e na variedade
de elementos e materiais, aonde texturas e cores virão a compor as paisagens.
Contemporâneo a organização dos espaços livres é orientada por
novos posicionamentos ecológicos, principalmente a partir da década de 90
associando-se as diretrizes existentes além das tendências pós-moderna na
120
utilização de ícones do passado. Os métodos europeus, em especial os
implantados na França e Espanha reascenderão a cenografia paisagística do
passado através de figurações deste movimento arquitetônico. Também
constituem influências o atual paisagismo japonês e tendências americanas
que se alternam com o nacionalismo ecológico radical e a tentativa de ruptura
dos princípios modernistas e nacionalistas do período anterior. As
denominações utilizadas para esta corrente são de neo-ecletismo ou pós-
modernista.
Serão abordados a seguir os projetos apresentados a partir de 1929
para o Parque do Ibirapuera, dos quais alguns vieram a conhecimento após
uma extensiva pesquisa, realizada nos diferentes departamentos municipais
em 2004 pela Seção Técnica de estudos e Pesquisa, do Departamento de
Patrimônio Histórico do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, chefiado
pela Arquiteta Manuella Marianna C. R. de Andrade, organizando-os. A
realização da mesma deu-se por solicitação, na gestão de Martha Suplicy
(1/01/2001-1/01/2005), com a intenção realizar uma exposição sobre o Parque,
constante dos festejos para os 450 anos da cidade, que não foi efetivada
durante.
4.1 - PROJETOS DE REYNALDO DIERBERGER
Arquiteto-paisagista realizou seus estudos e especialização
juntamente com seu irmão, em Dresden, Alemanha. O pai, João Dierberger,
imigrante alemão radicado em São Paulo, foi fundador da empresa Dierberger
& Companhia, em 1893. Iniciando de forma modesta seu trabalho na
propriedade de Dona Veridiana Prado como jardineiro, fato que lhe valeu a
admiração da família e a cessão de pequena chácara delimitada pelas atuais
ruas da Consolação, Caio Prado e Augusta - hoje a Praça Roosevelt - para a
produção de hortaliças, de flores e de plantas em dezembro do mesmo ano.
Foi ampliando sua produção e serviços, tornando-se profissional respeitado e
solicitado na composição e manutenção de jardins na elite cafeeira. Portanto
121
desde cedo, o paisagismo passou a integrar o universo de Dierberger, que
após seu retorno da Europa torna-se o diretor da “Seção Paisagismo" da
empresa, que realiza inúmeros trabalhos na capital, em cidades do interior
paulista e em outros estados, cujo carimbo integra os seus projetos
consultados.
Figura 40 –Carimbo da empresa de Dierberger (Detalhe Figura 50), 1932. (fonte:
DAHM/DPH)
Figura 41 - Assinatura Dierberger (Detalhe Figura 50), 1932. (fonte: DAHM/DPH)
As preocupações do inicio do século XX, nas cidades em
desenvolvimento, eram voltadas ao embelezamento e as melhorias em relação
à saúde pública, o que levou Reynaldo Dierberger a conceber um projeto
destinado a um parque na área do Ibirapuera que será apresentado à prefeitura
em 1929.
122
Em sua concepção paisagística observa-se a busca por uma
perfeição estética e artística como forma de proporcionar ambiente adequado
ao lazer público. O projeto contemplava soluções arquitetônicas para as
edificações de lazer e esportes e todas as áreas paisagísticas.
Observando a implantação do projeto, constatamos que sua entrada
principal se daria pelo final da avenida Brasil, e que o futuro traçado da
continuação da mesma, já delineado, não é observado. Sua área entende-se
até o loteamento existente de 1918, incluindo-o, em seu perímetro como parte
integrante do projeto, além de, no sentido oposto, também ocupar todo o
terreno até a Rua Curitiba com Rua Manuel da Nóbrega. A ligação entre a Rua
Abílio Soares e a estrada para Santo Amaro, atual avenida República do
Líbano, seria através de uma larga avenida que cortaria o Parque na
transversal e, onde estaria outra entrada prevista no encontro da Rua França
Pinto.
Figura 42 - Reynaldo Dierberger: Planta baixa, Projeto para o Parque o Ibirapuera, 1929
(fonte: DAHM/DPH)
O projeto paisagístico apresenta características européias do século
XIX com notada influência do paisagismo alemão, da divisão de áreas. Desta
forma apresenta uma zona central simetricamente estruturada em duas partes,
onde uma é composta por desenhos em formato de estrela e a outra
concentrando a maioria das instalações esportivas.
123
Valoriza as perspectivas utilizando-se de grandes jardins, extensos
gramados, maciços arbóreos de porte, circundando edificações como a quadra
de tênis e teatro ao ar livre, para a proteção contra os ventos; “cercas vivas”
como elementos divisores entre gramados, e jardins delineando a geometria do
traçado, além de áreas específicas, como um roseiral e vegetação nativa.
Figura 43- Reynaldo Dierberger: Detalhe em perspectiva da cascata e jardim de espécies
nativas, 1929.(fonte: DAHM/DPH)
Figura 44 - Reynaldo Dierberger: Entrada junto à Avenida Washington Luís, 1929. (fonte:
DAHM/DPH)
A circulação no Parque seria por largas avenidas, ruas, caminhos
para passeios e pistas para cavalos, predominantemente retilíneas, articuladas
com os jardins em disposição simétrica em relação a eles.
124
Figura 45 - Reynaldo Dierberger: Perspectiva do Cassino e piscina (entrada Av. Brasil),
1929. (fonte: DAHM/DPH)
O complexo arquitetônico era composto por edifícios com as
instalações do Cassino, restaurante, sede do Estádio Olímpico para futebol e
jogos, vestiário para a piscina, quadra de tênis, teatro ao ar livre, quiosque e
uma hípica, que apresentam características arquitetônicas Art Decó.
Figura 46 - Reynaldo Dierberger: Canal, 1929. (fonte: DAHM/DPH)
O elemento água é tratado de diferentes formas, utilizando-o como
meio esportivo nas instalações da piscina que tem um canal afluente, para
utilização da água nas estiagens, de acordo com relatório existente que
acompanhou o projeto.
125
Também é elemento expressivo, quando se transforma um lago
natural, posicionado atrás do Teatro ao Ar Livre, na direção da Vila Mariana,
aproveitando o curso natural do córrego do Sapateiro; além de constituir um
canal no eixo da avenida transversal, com uma pequena cascata ao seu final
formando um lago menor ao redor de uma torre.
Este projeto, sob o título de Parque Municipal do Ibirapuera, foi
publicado na revista Arquitetura e Construção, de junho de 1930 .
Existe ainda, um segundo projeto de Reynaldo Dierberger para o
Parque do Ibirapuera, decorrente de um convite oficial da municipalidade, que
foi apresentado em 1932.
Figura 47 - Reynaldo Dierberger: 2° Projeto, 1932. (fonte: DAHM/DPH)
126
Foi o primeiro projeto aprovado legalmente pelo Ato n° 378, de 29 de
julho de 1932, durante gestão de Goffredo Teixeira da Silva Teles (24/5/1932-
2/10/1932).
Esta nova proposta tem caráter diferenciado da anterior, dispondo
de uma área para o Hipódromo, que de acordo com a lei aprovada de nº 3.256
de 21 de janeiro de 1929, abordada no Capítulo 3, previa a transferência deste,
da Moóca para a área do Parque.
As influências do paisagismo europeu continuam mas notamos que
o traçado perde sua simetria e rigidez, passando a ser composto por caminhos
sinuosos, em sua maioria, perdendo a monumentalidade das largas avenidas
que o atravessam.
A área ocupada abrange da Rua Curitiba até esquina com a Rua
Manoel da Nóbrega, passando pela Avenida Brasil, continuando pela Estrada
de concreto para Santo Amaro, como indicada na planta (Avenida República do
Líbano) atravessa a continuação da Rua França Pinto (Avenida IV Centenário),
mais adiante a da continuação da Avenida Conselheiro Rodrigues Alves (atual
Avenida Ibirapuera) até encontrar a Rua Nova (Avenida Rubem Berta),
retornando por ela até a continuação da Avenida Brasil, até a Rua Pelotas no
cruzamento com a Rua Curitiba.
Neste projeto o prolongamento da avenida Brasil com traçado
definido é incorporado, incluindo uma ligação com a Rua Pelotas.
O loteamento de 1918 continua desconsiderado, ignorando sua
utilização por particulares, bem como os terrenos ocupados desde 1928 pelo
Viveiro, onde situa o Hipódromo, e reservando uma área bem mais adiante
para um jardim com exposição de plantas, o que poderia representar o
deslocamento do viveiro para lá.
127
As edificações para as atividades fazem referencia ao estilo
ArtDecó, e encontram-se situadas em grande parte da área. Há exceção das
próximas a Avenida Brasil, encontro com Rua Manoel da Nóbrega e lateral na
direção do Instituto Biológico.
Foram pesquisados e encontrados onze projetos referentes às
edificações contendo, planta, elevação principal e perspectivas, dos quais
apresentamos alguns exemplos a seguir.
Figura 48 - Reynaldo Dierberger: Projeto do Quiosque, 1932. (fonte: DAHM/DPH)
128
Figura 49 - Reynaldo Dierberger: Projeto do Estadio, 1932. (fonte: DAHM/DPH)
Figura 50 - Reynaldo Dierberger: Projeto do Cassino, 1932. (fonte: DAHM/DPH)
129
Figura 51 - Reynaldo Dierberger: Projeto do Teatro ao ar livre, 1932. (fonte: DAHM/DPH)
Ainda constam no projeto quatro lagos que se aproveitam da
passagem dos córregos pelo terreno.
Este projeto apesar de aprovado, não será executado em
conseqüência canos de água e esgoto detectados em 1933.
4.2 - FRANCISCO PRESTES MAIA
O projeto contendo o plano urbanístico viário para a cidade, que
representa o início de uma nova era nesta área, é apresentando em 1929 por
Prestes Maia, que ocupava na época, o cargo de secretário de Viação e Obras
Públicas, tendo sua publicação efetivada em 1930, como Plano de Avenidas
. O
futuro Parque consta do projeto através das indicações de diretrizes a serem
seguidas, com representação esquemática na planta do sistema circular, de
acordo com Figura 33, no Capítulo 3.
130
Em suas diretrizes constam: a divisão em duas áreas diferenciadas
para usos separadas, pelo loteamento de 1918, consoante às concepções de
Ebenezer Howard para as Cidades Jardins. A mais próxima aos bairros dos
Jardins, com predominância de classe alta e mais central, receberia tratamento
‘com mais arte e delicadeza’, adequado ao status da região e contemplado com
área maior. O divisor físico entre elas seria o loteamento, que deveria seguir as
características dos bairros jardins. A área apresentando depressões em sua
topografia seria aproveitada para atividades dedicadas à recreação e
construção de campos para esportes.
Somente na publicação do Plano de Melhoramentos
para cidade, em
1945, teremos uma representação parcial do Parque, onde uma grande praça
circular, contendo um marco ao centro, constitui-se em um ponto focal das
avenidas.
Figura 52 - Detalhe do Projeto do Plano de Melhoramentos, com praça circular e
obelisco. (TOLEDO, 2004)
4.3 - REVISÃO DO PROJETO PARA O PARQUE
A Repartição de Águas e Esgotos da Prefeitura, em janeiro de 1933,
realiza uma análise do projeto de Reynaldo Dierberger, anteriormente
131
aprovado, para deferir sua execução, o que no entanto não ocorre, em virtude
da constatação de problemas.
Segundo alegações da Repartição, as galerias para drenagem de
águas pluviais e as referentes ao esgoto, principalmente na área da
continuação da avenida Brasil, não estavam de acordo com os estudos e
indicativos realizados por este departamento, levando a recusa do projeto. Este
fato dará origem a uma nova proposta, elaborado pela Repartição de Águas e
Esgoto de São Paulo (RAE), intitulada como “Revisão do Projeto do Parque do
Ibirapuera”, que será aprovada pelo Ato n° 459, de 11 de maio de 1933.
Figura 53 – Planta da proposta feito pela RAE (detalhe no canto inferior direito foi
alterado para aparecer o carimbo oficial e assinatura). (fonte: DAHM/DPH)
132
A área ocupada é bem menor, iniciando na Rua Curitiba, mas tendo
como limite na parte posterior o loteamento existente, a partir da continuação
da Rua França Pinto em todo este seguimento.
Podemos observar que no cruzamento da continuação da avenida
Brasil com a atual avenida Dante Pazzanesi, sem nome na planta, é criada
uma praça circular fazendo a ligação com a Rua Pelotas, Rua Caravelas, Rua
Farina, e no sentido oposto com uma rua que desembocaria na Rua do Tanque
(atual Rua Estado de Israel), em vila Clementino e ainda uma de ligação com o
prolongamento da Rua França Pinto. Ao centro da praça há a indicação de
uma fonte. Também consta uma avenida com pista dupla separada por um
canteiro terminando em um largo circular, na frente do Cassino com uma fonte
ao centro.
São mantidas as edificações, formando um conjunto, do Cassino, do
Estádio para Natação com uma grande piscina, um playground, o Estádio
Olímpico, o Teatro ao ar livre, as quadras de Tênis, o jardim das rosas e um
pequeno quiosque com colunas no estilo clássico, dois lados e uma escola
próxima ao cruzamento da Rua Manoel da Nóbrega com Rua Curitiba.
Figura 54- RAE: Planta do Teatro ao ar Livre (1), 1933. (fonte: DAHM/DPH)
133
Figura 55 - RAE: Planta do Cassino, 1933. (fonte: DAHM/DPH)
134
Figura 56 - RAE: Planta do Teatro ao ar Livre (2), 1933. (fonte: DAHM/DPH)
A grande área em branco há a anotação “Terreno reservado ao
Hippodromo Paulistano”, evento já mencionado e ocupando o terreno onde o
Viveiro de Plantas funcionava e que teria de ser deslocado.
Manequinho Lopes, diretor do Viveiro de Plantas no final de 1934,
manifesta sua indignação em uma carta ao prefeito Fabio Prado (07/09/1934-
31/01/1938), pela ocupação do deste no projeto do Parque, que a área deveria
passar às mãos da Diretoria de Matas, Parques e Jardins para melhorias na
qualidade e fornecimento de plantas, fim para o qual fora criado.
O memorial descritivo do projeto leva a assinatura do engenheiro
Marcial Fleury de Oliveira, justificando as construções mantidas em um único
135
nível pelo efeito perspectivo que desta forma resultaria um conjunto. Dispostos
em uma mesma dimensão criariam um efeito perspectivo na área.
4.4 - WERNER HACKER
O engenheiro Werner Hacker, através da Seção de Diretoria de Obras
do município, apresenta em 1935 proposta intitulada “Um Projeto para o
Parque Ibirapuera”.
Alterações podem ser notadas no deslocamento na implantação das
edificações, em relação ao projeto anterior, como a do Cassino e a do Teatro
ao ar livre com deslocamento para e situação próximo ao primeiro.
A praça circular é mantida com a mesma conformação, sendo
acrescida de uma alça de acesso de forma arredondada, para as edificações
supra citadas e o alargamento da via, com o aproveitamento da mesma
avenida de acesso ao Cassino, do projeto de 1933, na bifurcação da Rua
Farina, inclusive com a fonte.
Figura 57 - Detalhe do Projeto de Werner Hacker, 1935, mostrando praça circular, com
uma alça viária. (fonte: DAHM/DPH)
136
O problema da retirada do Viveiro continuava, apesar dos protestos de
Manequinho Lopes, por sua persistência e que através das justificativas
apresentadas em relação à adequação do terreno que ocupava, proximidade e
função do mesmo, ser de extrema valia para a manutenção do Parque, o que
consegue através da cessão dos terrenos, pela prefeitura, a Divisão de Matas,
Parques e Jardins, que chefiava.
4.5 - PROJETO DE 1948
Durante a gestão Paulo Lauro (29/08/1947-25/08/1948) surge mais
uma proposta para o Parque do Ibirapuera, datada de 14 de janeiro 1948 e
realizada por membros internos da Prefeitura.
Figura 58 – Foto aérea da área do futuro Parque do Ibirapuera, 1940. (fonte: DNPM)
137
O perímetro do Parque continua demarcado da mesma maneira. A
praça circular com a avenida para a Rua Farina e alça adentrando o Parque
também são mantidas. O monumento as Bandeiras, com sua construção
regulamentada pelo Decreto Lei nº 304, de 12 de outubro de 1945, tem sua
posição definitiva apresentada neste projeto.
Outras posições são determinadas para as edificações, inclusive em
relação à ocupação dos terrenos voltados para a Rua Curitiba. O terreno
anteriormente destinado ao Hipódromo, passa a conter as instalações do
viveiro com desenho definido.
Os lagos representados de maneira significativa são quatro e notam-
se áreas totalmente sem ocupação de vegetação na lateral com a Avenida
República do Líbano, próximos ao viveiro e terrenos até a continuação da
avenida Brasil que correspondem a áreas particulares. Há também um terreno
retangular na Rua Manoel da Nóbrega, que de acordo com plantas da
Invernada dos Bombeiros, nesta época já pertenceria ao 2º Batalhão de
Cavalaria.
Figura 59 - Prefeitura Municipal: Projeto para o Parque Ibirapuera, 1948. (fonte:
DAHM/DPH)
138
Do início dos projetos até 1945, efetivamente nos terrenos
destinados ao Parque, apenas parte do sistema viário foi executado, incluindo
a praça circular, que de acordo com resolução estadual deveria receber o
Monumento ao Soldado Constitucionalista de 32, implantado em seu centro.
Por sua vez também este projeto não passou de uma intenção na
materialização do Parque, constituindo-se em mais um registro para pesquisa,
após receber críticas em 1951 e ter arquivamento.
Figura 60 – Construção do Instituto Biológico, vista dos fundos do Instituto, mostrando
área de implantação do Palácio da Agricultura (atual Detran), final década de 1930.
(Acervo Histórico do Instituto Biológico)
Figura 61 - Construção do Instituto Biológico, vista da praça circular e continuação da
Av. Brasil, final década de 1930. (Acervo Histórico do Instituto Biológico)
139
4.6 - CHRISTIANO STOCKLER DAS NEVES
Engenheiro Arquiteto realizou severa crítica ao projeto anterior e
mediante um extenso parecer, expões suas idéias sobre as mais adequadas
soluções quanto ao estilo paisagístico e arquitetônico a ser seguido para o
Parque. Nesta época as comemorações para o IV Centenário da cidade faziam
parte das discussões com início de propostas variadas, nos meios políticos e
Stockler das Neves, com este pensamento elabora e apresenta proposta
pessoal para a área do Parque.
Figura 62 – Projeto de Christiano Stockler das Neves, 1951. (fonte: DAHM/DPH)
As conceituações e partidos defendidos em seu parecer, surgem de
forma plena em sua proposta retomando no paisagismo as características dos
jardins do final do século XIX , o uso de simetria na distribuição de jardins,
ruas, largas avenidas, massas vegetais e fontes e espelhos d’água, como
podemos observar na planta.
A ocupação dos terrenos apresenta-se a mesma do projeto anterior
bem como a praça circular e o obelisco, ponto focal para uma área que se
constitui em eixo, centralizada por um lago artificial simetricamente
esquadrinhado pelas alamedas arborizadas.
140
O programa arquitetônico, que apresenta certas semelhanças ao do
primeiro projeto de Reynaldo Dierberger, observaria a monumentalidade nas
construções, mas condições para definição de estilo por não haver alusões em
seus escritos. Também, quanto ao assunto do viveiro mantém-se a favor de
seu deslocamento para outra área.
Neste período a Comissão do IV Centenário estava sendo formada e
o arquiteto insistiu na apresentação da proposta, que , após a composição da
Equipe de Planejamento e realização de avaliação por parte mesma, rejeitando
o projeto por considerá-lo inadequado representatividade das comemorações
orientadas ao progresso, evolução tecnológica e crescimento da cidade de São
Paulo.
4.7 - SERCELLI
Datado de 1951, foi encontrado um anteprojeto nas documentações
do Fundo do IV Centenário para o Parque, constituído por um desenho
colorido, com detalhamento de elementos construtivos em perspectiva ao seu
redor.
Apesar do perímetro estender-se como nos anteriores até a Rua
Curitiba a área usada para implantação limitava-se entre a avenida Brasil e o
curso do córrego do Sapateiro, aproximadamente.
Seu ponto focal é a praça circular, dividida por avenidas em forma
de cruz, com o Obelisco do Monumento ao Soldado Constitucionalista ao
centro.
Uma fonte estaria inserida próxima a Avenida Brasil, seguida de
edificação de grande porte na direção do obelisco,que na parte posterior
apresentaria dois lagos com fontes próximas a avenida que conduz a mais
edificação de porte representada em perspectiva.
141
Figura 63 - Anteprojeto de Sercelli, 1951. (fonte: DAHM/DPH)
Distribuídas ao redor da praça e separadas por avenidas,
encontram-se conjuntos de edificações para abrigar eventos das
comemorações.
Figura 64 e 65 – Detalhes do ante-projeto de Sercelli, mostrando o Monólito (Obelisco) e
o centro do Parque onde ele seria instalado, 1951. (fonte: DAHM/DPH)
Os dois lagos naturais permanecem nos locais de origem,
margeando a Avenida Brasil. Através da análise das perspectivas determina o
142
estilo arquitônico com características da ArtDecó. Este desenho foi
apresentado na Exposição do IV Centenário e atualmente encontra-se
indisponível por ser encaminhado à Seção de Restauro do Arquivo Histórico
Municipal, por apresentar fragilidade pela ação do tempo.
4.8 - PRIMEIRA EQUIPE DE PLANEJAMENTO
Presidente da Comissão do IV Centenário, Francisco Matarazzo
Sobrinho convida para a composição da Equipe de Planejamento os arquitetos:
Rino Levi, Oswald Bratke, Eduardo Kneese de Melo, Ícaro de Castro Mello,
Roberto Cerqueira Cezar, Carlos Brasil Lodi, Carlos Alberto Gomes Cardim
Filho (Diretor do Departamento de Urbanismo) e Alfredo Giglio (Diretor do
Departamento de Arquitetura da Prefeitura Municipal).
A diretiva para a realização deste projeto deveria seguir partidos
arquitetônicos e urbanísticos mais modernos e arrojados, com uso de novas
tecnologias e que pudessem representar condignamente o progresso e pujança
de São Paulo.
A Equipe seria responsável pela íntegra do programa das
comemorações, com a criação de espaços culturais e artísticos, esportivos,
recreativos e paisagísticos no âmbito da cidade como um todo, selecionando
além da área do Parque do Ibirapuera, outras áreas para acontecimentos
específicos e diferenciados.
No Parque do Ibirapuera seria realizada uma grande exposição com
a participação de empresas nacionais e internacionais, além de atividades
culturais e recreativas.
Dando início à primeira fase dos trabalhos, denominado de Plano de
Conjunto, foram realizadas pesquisas e análises de dados referentes ao
sistema viário existente e em projeto, levantamentos de equipamentos
143
esportivos e tipos de esportes praticados com maior freqüência, estudos
relativos a equipamentos culturais na capital, e estudo das disposições gerais,
todos acompanhados por mapas de localização das áreas e percentuais.
Na seqüência determinaram grupos de atividades, discriminando
cada uma delas. Após esta seleção, poderiam definir os locais mais adequados
para cada uma. Do extenso relatório originou-se uma proposta arquitetônica
definindo inicialmente construções de caráter permanentes, em pequeno
número, mas de destaque e uma infinidade de construções provisórias,
principalmente para abrigarem instalações de empresas e indústrias na
exposição internacional, contando também com as partes de serviços, como
restaurantes, lanchonetes, bancos, postos de atendimento médico, sanitários
entre outros.
Figura 66 - Equipe de planejamento, anteprojeto, 1951. (fonte: DAHM/DPH)
A proposta encaminhada ao presidente da Comissão, apresenta
novas concepções arquitetônicas de caráter modernista, em forma de prismas
de dimensões diferentes, implantados na área central do terreno com a
formação de um lago seguindo o córrego do Sapateiro e também utilizando
parte do terreno entre Rua Manoel da Nóbrega e Avenida Brasil.
144
Por tratar-se de um anteprojeto, não consta detalhamento
paisagístico, sendo que este não foi concluído devido a dissolução da primeira
Equipe por problemas de ordem financeira, relacionado aos pagamentos.
4.9 - OSCAR NIEMEYER
O arquiteto Oscar Niemeyer é convidado por “Cicillo” Matarazzo, em
janeiro de 1952, para a idealização de um projeto que representasse a pujança,
o desenvolvimento e a tecnologia, e ligado ao estilo moderno para as
comemorações do IV Centenário da cidade.
Os arquitetos convidados para a composição da Equipe foram:
Zenon Lotufo, Eduardo Kneese de Mello e Hélio Cavalcanti, com colaboração
de Gauss Estelita e Carlos Lemos que apresentaram o primeiro anteprojeto em
maio do mesmo ano, introduzindo os preceitos da moderna arquitetura em
escala monumental, compondo uma nova paisagem urbana para São Paulo.
Seguindo os passos dos novos modelos construtivos fundamentados
nos cinco pontos equalizados e sintetizados por Le Corbusier sob a forma de
pilotis elevando o volume construtivo, fachadas e planta livre, disposição das
janelas horizontais com a proteção dos brise-soleils das fachadas de maior
incidência solar e, finalmente, o telhado-jardim de cobertura plana, a equipe
estruturou sua criação.
O programa a ser desenvolvido, além do complexo arquitetônico
principal, abrangia também todas as atividades culturais, exposições e
diversões, como a implantação de pista para passeios ciclísticos e hípicos,
local para um parque de diversões, equipamentos para uso dos lagos, como
embarcadouros e barquinhos, circo e teatro, um mini jardim zoológico e
botânico, com possível aproveitamento do viveiro, áreas de playground,
restaurantes, quiosque para atendimentos de ocorrências médicas, policiais, e
dos bombeiros.
145
Duas das principais atribuições da Comissão do IV Centenário e da
Equipe de Planejamento eram: a aprovação das plantas de todos os pavilhões
temporários, que seriam ocupados pelas empresas expositoras, e a seleção da
programação visual da totalidade dos eventos.
O primeiro anteprojeto aprovado apresentava uma disposição
diferenciada na implantação das edificações permanentes, maiores do que as
executadas com proximidade do lago, cujo elemento de ligação entre eles era
uma marquise de forma orgânica, e entrada monumental defronte a praça do
Obelisco (em construção).
Em decorrência de uma série de problemas relativos a verbas, a
demolição das edificações provisórias e até a previsão de incluir a própria
marquise neste rol levou a uma reformulação da proposta que, através das
adequações e mudanças, tornariam viável a execução do projeto.
O tempo era extremamente curto entre as etapas a serem
superadas.
O complexo arquitetônico ficou definido obedecendo a seguinte
volumetria: três pavilhões em formato de prismas retangulares, sendo dois
deles implantados na mesma área e de proporções praticamente idênticas: o
Pavilhão dos Estados e o das Nações; Entretanto, o Pavilhão das Indústrias
com maior volumetria em relação aos outro tem sua fachada principal voltada
para o Parque, está posicionado sobre um platô construído artificialmente, com
uma rampa proporcionando maior leveza à construção, que conduz o visitante
ao seu interior.
O Pavilhão da Agricultura composto de três blocos é o mais alto,
apresentando nove pavimentos e está situado na parte de terreno do Instituto
Biológico, cedido pelo Estado, na construção do complexo edificado. Em troca,
a Secretaria da Agricultura ocuparia o pavilhão nele construído, denominado de
Pavilhão da Agricultura. Esta parte do ‘trato’ nunca se concretizou, pois
146
imediatamente após a desocupação das instalações da exposição
internacional, o Detran veio a ocupá-lo permanecendo até o atual momento no
local.
A composição arquitetônica terá ainda duas edificações
diferenciadas que são respectivamente o Palácio das Exposições, atual Oca,
que manteve seu caráter cultural desde sua inauguração, constituído de uma
cúpula esférica de concreto apoiada em uma base circular de 76 metros de
diâmetro, apresentando janelas redondas próximas ao piso, objetivando levar
iluminação natural ao seu interior, e o Auditório, em formato de um grande
prisma triangular, que por problemas financeiros não teve a aprovação para
construção, na época.
Cinqüenta anos depois da apresentação do projeto original, em
2002, cercado de polêmicas e sob uma série de protestos, sua construção foi
aprovada e liberada em 2004, não estando pronto para as modestas (em
relação a 1954), comemorações dos 450 anos da cidade.
Também constava uma entrada monumental e um restaurante, que
sucumbiram pelos cortes da Autarquia.
A ligação entre as estruturas construídas dos Pavilhões das Nações,
dos Estados e da Industria, foi contemplada pela grande marquise dando a
impressão de estar suspensa pelo recuo dos pilares de apoio, na concepção de
Gauss Estelita e Carlos Lemos, harmonizando as formas geométricas dos
prismas com sua insinuante forma curvilínea.
Sua área de implantação, como em alguns dos projetos anteriores
ocupava o terreno até a Rua Curitiba, respeitando o traçado viário com as alças
de acesso, incluindo a praça do Obelisco ao do Parque.
É interessante notar que os terrenos, anteriormente abordados no
Capítulo 3, nos fundos da área do Parque não estão demarcados, apesar de
147
serem propriedades particulares. Entretanto, a faixa de terrenos limítrofe com a
avenida República do Líbano, estão demarcadas e possuem as mesmas
características dos anteriores.
Figura 67 – Oscar Niemeyer, Planta da situação do Parque Ibirapuera (1). (FANTASIA
BRASILEIRA, 1998)
Figura 68 - Oscar Niemeyer, Planta da situação do Parque Ibirapuera (2). (fonte:
DAHM/DPH)
148
Figura 69 - Oscar Niemeyer, Planta da situação do Parque Ibirapuera (3). (fonte:
DAHM/DPH)
Figura 70 - Oscar Niemeyer, Maquete do 1° Projeto. (fonte: DAHM/DPH)
Para as Comemorações do IV Centenário, empresas de âmbito
nacional e internacional disputavam os pavilhões para um lugar na magnífica
exposição. Muitos dos pavilhões seguiam a corrente da arquitetura moderna
originando projetos arrojados e representativos.
149
Figura 71 e 72 – Pavilhões do Rio Grande do Sul e da Eternit, Parque Ibirapuera, 1954.
(fonte: DAHM/DPH)
Figura 73 – Pavilhão da Shell, Parque Ibirapuera, 1954. (fonte: DAHM/DPH)
Na época da exposição, a prefeitura de São Paulo confeccionou
uma planta de localização de todos os tipos de edificações, facilitando a
circulação de milhares de visitantes.
150
Figura 74 – Mapa geral do Parque do Ibirapuera, realizado pela Prefeitura, 1954. (fonte:
DAHM/DPH)
Figura 75 - Mapa geral do Parque do Ibirapuera, Comissão do IV Centenário, 1954. (fonte:
DAHM/DPH)
151
Outro projeto que se tornou de caráter efêmero foi à escultura
símbolo das Comemorações. Ela ocupou todas as páginas dos jornais,
revistas, folhetos de propaganda, publicidade em geral, impresso nos mais
variados tipos souvenires. Porém, devido a sua amplitude de linhas arrojadas e
esteticamente harmoniosas, não permitiu sua execução visto à inclinação
acentuada que impossibilitava o seu equilíbrio e ao peso do material utilizado.
Após varias experiências, o símbolo foi construído com materiais de
pouca densidade e em contrapartida baixa resistências às intempéries; foi
construído especialmente para a abertura das comemorações.
Figura 76 e 77 – Projeto do Símbolo do Ibirapuera, realizado por Walter Neumann e
maquete do símbolo. (fonte: DAHM/DPH)
O conjunto arquitetônico do Ibirapuera consta dos livros que abordam a
arquitetura moderna, nas palavras dos mais conceituados autores e arquitetos
como exemplar significativo na arquitetura brasileira moderna. Ele antecedeu a
criação de grandiosos projetos, como o de Brasília, nos anos subseqüentes à
sua inauguração.
Após a aprovação da revisão do projeto em 1953, Oscar Niemeyer
indica para a realização do projeto paisagístico uma reconhecida personalidade
na área: Burle Marx, com o qual realizava parceria na execução de projetos.
152
Figura 78 - Oscar Niemeyer, Maquete final. (fonte: DAHM/DPH)
4.10 - ROBERTO BURLE MARX
Natural de São Paulo com origem alemã, por parte de pai e franco-
holandesa, de mãe, toma contato com a flora exótica brasileira no jardim
Botânico de Berlim-Dahlem, em 1928, numa viagem com a sua família à
Alemanha.
Permanece por um ano e meio estudando canto e pintura,
realizando inúmeros desenhos de plantas e flores no jardim botânico, seguindo,
quando de sua volta ao Brasil, após o curso da Escola de Belas Artes, a
carreira de pintor, que o acompanhará ao longo de sua vida, proporcionando
características de composições plásticas aos seus projetos da paisagem.
Inicia uma atividade de pesquisa botânica que culminará com a
descoberta de várias espécies da flora brasileira, a qual associa a elementos
minerais como o cascalho e os seixos dos rios, pedras e cerâmicas,
desenhando caminhos a serem percorridos.
153
No anteprojeto apresentado em 1953 para o Parque, a vegetação é
distribuída criando desenhos com seus maciços florais, que seriam apreciados
e vivenciados pela passagem do freqüentador sobre uma passarela suspensa
que atingiria a altura máxima de três metros do solo, vislumbrando deste modo
a composição paisagística.
Uma das características das concepções dos jardins de Burle Marx,
segundo LEENHARDT (1996), é a forma de “registro estético da experiência do
corpo e da percepção visual.
Para cada implantação de área do projeto utiliza-se de composições
diferentes. Ao observarmos o projeto, a primeira impressão é de nos
depararmos com uma composição abstrata de elementos geométricos
retilíneos ou não, unidos por sobreposições e associações, que sob a
concepção paisagística representam a articulação entre estruturas
arquitetônicas e massas vegetais. A resultante é uma harmonia entre a arte na
aplicação das cores, através do colorido contrastante existente na variedade
vegetal, a geometria e a botânica.
No carimbo de seu projeto estão listados os quatorze jardins e os
elementos compositivos:
No primeiro parterre, o pavimento era composto de mosaico de
vidros e canteiros. O segundo teria a composição com jatos d’ água. No
terceiro a associação de jatos d‘água e esculturas. O quarto ao lado do
Pavilhão das Indústrias e marquise, seria o do caminho suspenso (Figura 81).
O quinto seria geométrico com pavimentação de mosaico português. O sexto
teria o caminho das pontes. O sétimo teria um jardim aquático com painel duplo
em vidrotil. O oitavo seria o jardim das estátuas ao ar livre. Os próximos
estariam no grupo saxícolas, com gnais graníticos, calcário e canga,
encerrando com jardim das orquídeas, campo das flores selvagens e também
um deck.
154
De acordo com MARIANO (2004) durante o processo de aprovação
do projeto houve desavenças entre Burle Marx e Oscar Niemeyer, segundo
comentários da época, sobre o jardim do caminho suspenso, o qual Niemeyer
julgava que as passarelas trariam interferências junto à extremidade da
marquise.
O resultado foi a negativa na aprovação do projeto e posteriormente
uma ruptura nas parcerias profissionais entre os dois.
Em 1974, Burle Marx foi chamado para realizar projeto entre a Oca e
o MAM. Cria uma integração dos espaços, na qual utiliza-se de elementos
secos em contraste com pequenos canteiros, o gramado as esculturas que ali
seriam colocadas e principalmente entre as áreas edificadas.
Figura 79 – Burle Marx, ante-projeto. (MARIANO, 1997: p.110)
155
Figura 80 – Burle Marx, Planta para Jardim Parque Ibirapuera. (FANTASIA BRASILEIRA,
1998)
Figura 81 – Burle Marx: Detalhe do jardim com passarela suspensa. (fonte: ROBERTO
BURLE MARX: The Missing Link http://rbm.yumyum.at/de/)
156
4.11 - OTAVIO AUGUSTO TEIXEIRA MENDES
A verdadeira denominação de Parque, com o sentido paisagístico da
palavra, veio a concretizar-se através do projeto, em 1953, elaborado pelo
engenheiro agrônomo, pós-graduado em arquitetura, planejamento e
preservação na Universidade de Columbia (EUA) e diretor do Serviço Florestal
do Estado de São Paulo, na época, Otávio Augusto Teixeira Mendes.
Foi indicado por “Cicillo” Matarazzo, pois cultivava sólidas relações
políticas com membros da Equipe e possuía um excepcional currículo.
Apesar de ter enveredado inicialmente para a carreira artística
estudando música, seguindo os passos de sua mãe que era professora e
pianista, após os trinta anos sob as pressões do pai, ilustre professor e
pesquisador na Esalq (Escola Superior de Agronomia Luis de Queiroz), foi
levado a realizar o curso de engenharia agrônoma.
Grande parte da família já estava ligada ao trabalho e pesquisas na
área de engenharia florestal ou agronomia.
Otavio Augusto foi agrônomo chefe do Horto Florestal em
Araraquara, para a Estrada de Ferro, transferindo-se em 1945, para o horto
florestal de São Paulo como chefe da Divisão de Parques, Jardins e
Arborização, e posteriormente ocupou o cargo de diretor geral, segundo Cássia
Mariano.
Otavio Augusto foi pouco tempo neste cargo em virtude de
divergências com o então governador Adhemar de Barros quanto da ocorrência
de ocupação de uma área na reserva florestal, criada naquela época no Pontal
do Paranapanema, que, se por um lado promoveu sua exoneração do serviço
florestal, de outro propiciou uma bolsa de estudos na Universidade de
Columbia, como forma de afastamento. Com isso, Otávio Augusto realizou sua
pós-graduação obtendo o contato direto com os modernos conceitos e desenho
157
paisagístico americano, que muito lhe valeram para suas criações no âmbito
dos projetos da paisagem.
Associando sua sensibilidade e percepção artística musical aos
conhecimentos adquiridos, será Teixeira Mendes o realizador do projeto
paisagístico que consolidará a área da Várzea do Ibirapuera, como Parque da
metrópole paulistana.
Para MARIANO (2005) ele rompe os antigos conceitos paisagísticos
europeus, que mesclavam estilo inglês e francês, associados a elementos dos
jardins portugueses e espanhóis com a inserção de vegetação exótica
nacional, até então utilizados nos jardins brasileiros.
O projeto foi desenvolvido com a observância primordial da relação
entre o conjunto arquitetônico principal, segundo a nova estética da arquitetura
moderna, e o tratamento paisagístico consoante com as edificações mantendo
um olhar acerca da totalidade do Parque.
Além das edificações permanentes, seriam construídos uma série de
pavilhões provisórios para a ocasião da exposição internacional incluindo entre
eles quiosques de atendimento.
A topografia da área apresentava-se na forma predominantemente
plana, onde a construção de um platô traria benefícios na implantação de um
dos pavilhões em especial: o das Indústrias,o que o conduz a definir a criação
de massas de vegetação de porte, como referência visual, tratamento
minucioso no entorno das edificações de maneira a ressaltá-las, e com áreas
de vegetação de arbustos e de pequeno porte, tendo a escala humana, seus
ângulos de visão e a cota do piso como referência nas perspectivas.
Foram elaborados, entre cortes longitudinais mestres, transversais
secundários e perspectivas, uma quantidade estimada entre oitenta e cento e
158
cinqüenta desenhos, segundo ampla pesquisa realizada sobre Otavio Augusto.
(MARIANO, 2005).
O desenho paisagístico compõe-se por alamedas sinuosas, de
forma orgânica que transitam pelas áreas verdes e interligando indiretamente
os edifícios, em perfeita harmonia com o estilo da grande marquise.
Com isso utiliza-se de vegetação autóctone para a reprodução de
ambientes e perspectivas familiares à população. Utiliza-se dos maciços de
eucaliptos, buscando manter a maioria dos existentes, onde o contraponto é
fundamental na estrutura dos elementos, aplicando estas relações para a
paisagem, no caso referente a marquise os eucaliptos.
Figura 82 – Otavio Augusto Teixeira Mendes: Maquete paisagística. (fonte: DAHM/DPH)
No lago foi fundamental sua formação acadêmica, na perfeita
execução do traçado e seguindo especificações de profundidade, abrangendo
a interligação dos córregos, assentamento das terras e reforço para as
margens, criando um desnível suave na transição entre os elementos água e
terra.
159
Muitas espécies foram plantadas destacando-se árvores
representativas brasileiras, pela nobreza das madeiras associadas a uma
composição com a flora regional. Concebeu um bosque atrás do lago à partir
de plantas já existentes complementadas por árvores autóctones, além
plantadas, como o carvalho brasileiro, pau-brasil, guatambu, cedro-rosa, e
jatobá, plantadas em substituição às retiradas em outros locais.
A execução completa do projeto somente foi possível após a
demolição dos pavilhões provisórios, a reconstituição do nivelamento destas
áreas e das utilizadas como bolsões de estacionamento, a regularização e
abertura de novos caminhos, para a colocação da cobertura vegetal
pretendida, para a formação das paisagens imaginadas a serem descobertas
pelos freqüentadores.
Figura 83 – Aerofoto: Vôo comemorativo do 4° Centenário, 1954. (fonte: DAHM/DPH)
160
CAPÍTULO 5 - PARQUE DO IBIRAPUERA
Figura 84 - Parque do Ibirapuera, vista do lago maior, fonte e Obelisco ao fundo. Autor, 2006.
O Parque do Ibirapuera começa sua transição do ideário onírico dos
paulistanos em 1951, com a criação da Comissão do IV Centenário cujo presidente
Francisco “Cicillo” Matarazzo organizou a Equipe de Planejamento, dando inicio aos
preparativos para os grandes festejos dos 400 anos de São Paulo, para tornar-se
realidade em 1954.
Os projetos arquitetônicos e paisagísticos, além da implantação dos
pavilhões provisórios para a grande feira, conforme foi visto no Capitulo 4, tiveram
uma proposta sob a óptica modernista, totalmente diferente das concepções
anteriores para o Parque. Após as comemorações, os pavilhões definitivos
receberam os destinos e usos apresentados a seguir:
Palácio das Indústrias, atual sede da Fundação Bienal de São Paulo,
foi concebido originalmente para abrigar as exposições permanentes
da indústria paulista.
161
Palácio das Exposições é atualmente denominado Pavilhão Lucas
Nogueira Garcez, também identificado como a OCA. No projeto original
deveria abrigar o Planetário, mas para as Comemorações a Exposição
da História de São Paulo o ocupou. Sua estrutura é uma casca de
cobertura em forma de cúpula de concreto armado, sem qualquer
forma de apoio criando um imenso vão livre com base de 76m de
diâmetro e 18m de altura. Sua área total é de 11.000m², com 3
pavimentos, constituindo-se em uma edificação das mais arrojadas do
projeto.
Palácio das Nações destinado a abrigar as representações dos vários
paises na Exposição Internacional do IV Centenário foi sede da II
Bienal de São Paulo, depois abrigou a Prefeitura do Município de São
Paulo que lá permaneceu até 1993, passando, posteriormente a
pertencer ao Estado de São Paulo, que instalou em 2004 o Museu de
arte afro-brasileira.
Palácio dos Estados, atual Pavilhão Engenheiro Armando Arruda
Pereira, serviu de sede para a exposição dos vários Estados do Brasil
nas comemorações do IV Centenário. Em seguida dividiu a exposição
da II Bienal de Artes Plásticas de São Paulo com o Palácio das
Nações, e a partir de 1976 foi sede da Prodam - SP.
Palácio da Agricultura, construído com recursos financeiros do
Estado de São Paulo, com previsão para sediar, após as
Comemorações do IV Centenário, a Secretaria da Agricultura do
Estado, por sua localização, tendo aos fundos o Instituto Biológico, foi
ocupado pelo Detran-SP.
Auditório, constava do projeto original, destinado a congressos,
seminários e exibições artísticas. Teve discussões retomadas na
gestão da prefeita Marta Suplicy em 2002, 2003 por questões
ambientais quanto área permeável no Parque e alteração no
162
tombamento do conjunto arquitetônico do Parque realizado pelo
CONDEPHAAT, mas teve sua construção aprovada sendo inaugurado
no início de 2005 .
Figura 85 - Auditório, entrada. Autor. 2006.
A Grande Marquise constitui uma “ligação” entre o atual MAM, a OCA
e vai até o Pavilhão dos Estados ocupado até pouco tempo pela
PRODAM e o Pavilhão das Nações atual Museu Afro-Brasileiro, para
abrigar as pessoas nos dias de chuva, proporcionando movimentação
entre as edificações que se tornou área de lazer para crianças e jovens
com patins, bicicletas pequenas, skates e atividades.
Integrando as edificações dos pavilhões das Indústrias, Nações e
Estados, de conformação assimétrica e curvilínea, a Marquise tem
620m de comprimento, e largura alternada entre 15 e 80m. Sua área
total é de 28.800m². Durante sua construção foi utilizada a maior
percentagem de ferro já utilizada na América do Sul.
163
Figura 86 - Grande Marquise. Autor, 2006.
Ao lado da grande marquise encontra-se um dos playgrounds com uma
série de brinquedos construídos com troncos e tubos de cimento para
divertimento das crianças.
Figura 87 - Playground – Vista 1. Autor, 2006.
Também integram o complexo do Ibirapuera, apesar de sua localização
estar afastada do Parque, atualmente pelo terreno e estacionamento da Assembléia
Legislativa de São Paulo e o Quartel General da divisão Sudeste, o Ginásio do
Ibirapuera e o velódromo, no terreno entre a Rua Manoel da Nóbrega, Rua Curitiba e
Rua Abílio Soares, antiga área da Invernada dos Bombeiros do Estado.
164
5.1 - MUSEUS, ESPAÇOS CULTURAIS E CURSOS
Pavilhão da Bienal - Ocupa desde 1953 o edifício do Pavilhão das
Indústrias, quando da realização da II Bienal Internacional de São
Paulo.
Danilo Di Prete pintor de origem italiana, radicado no Brasil, é o mentor
da idéia para a realização de uma exposição de arte internacional em
São Paulo, como as realizadas na Itália, trazendo pintores
abstracionistas da geração do pós-guerra europeu e americano. Em
1949 o Museu de Arte Moderna realiza uma exposição, "Do
Figurativismo ao Abstracionismo" que não obteve o sucesso esperado,
e Danilo sugere a Francisco Matarazzo Sobrinho, admirador,
empresário e mecenas de arte, a realizar um evento deste tipo.
Na Bienal de Veneza de 1951, a idéia toma corpo e no retorno de
Matarazzo, com a assessoria de Sergio Milliet e Lourival Gomes
Machado, é tomada a resolução da realização de uma exposição,
sendo o local escolhido o Parque Trianon, onde seria construído um
Pavilhão (local hoje ocupado pelo Masp), projetado pelos arquitetos
Luís Saia e Eduardo Kneese de Mello.
O evento que se denominou de I Bienal de São Paulo teve sua
abertura em 20 de outubro de 1951, com a participação de artistas de
21 países, com 1.800 obras. Pintores brasileiros, como Portinari, Di
Cavalcanti e Lasar Segall ao lado de Picasso, Léger, Rouaut, Morandi,
Max Ernest, Henry Moore, Max Bill, Alexander Calder, considerados
grandes artistas do século XX. Os anfitriões eram Iolanda Penteado e
Francisco Matarazzo Sobrinho, que contaram na abertura com 5000
pessoas da elite paulistana, A I Bienal foi visitada durante o período por
100.000 pessoas.
165
Francisco Matarazzo Sobrinho tinha por objetivo trazer a cultura das
artes plásticas ao conhecimento do povo, e afirmava:
O que eu quero fazer é na rua. (... ) Nós, que constituímos uma certa
elite, temos que instruir o povo.Francisco Matarazzo Sobrinho
(Cicillo).
Desta forma, inicia-se a introdução dos movimentos artísticos da época
que irão influenciar artistas brasileiros e trarão ao conhecimento do
público a arte internacional.
A II Bienal foi instalada no Pavilhão das Indústrias, no parque do
Ibirapuera, que estava sendo preparado para as Comemorações do IV
Centenário, em dezembro de 1953. Para esta Bienal, foi trazida a obra
Guernica, de Picasso, pintada em 1937, inédita no Brasil. Além de
Constantin Brancusi, de Giorgio Morandi de futuristas italianos, e outros
grandes nomes da arte moderna internacional.
O evento é consolidado com a III Bienal, em 1955, quando são trazidas
obras dos muralistas mexicanos além de trabalhos de Sophie Taeuber-
Arp.
A IV Bienal, em 1957, traz obras surrealista e a participação da obra de
Jackson Pollock.
Inovações são apresentadas na V Bienal com uma área para teatro,
que passa a dividir o espaço com as mostras de filmes, com as artes
plásticas e a arquitetura. À medida que os eventos vão se sucedendo a
Bienal adquire um caráter grandioso, uma constante daí em diante.
A Bienal também é afetada no período da ditadura militar, sendo que a
X Bienal é assinado um manifesto em Paris, por artistas que se
opunham à ditadura, denominado “Não à Bienal”, ocorrendo a
diminuição da participação internacional. Retoma seu prestígio na
166
década de 80 e sua montagem se dá com a ajuda de arquitetos. A
década de 90 amplia sua área de atuação cultural com a presença de
espetáculos de teatro, música e dança, levando um público cada vez
maior para sua apreciação.
Em 2006 foram realizados os preparativos para XXVII Bienal, sendo
sua mantenedora a Fundação Bienal de São Paulo, entidade sem fins
lucrativos que também promove a Bienal Internacional de Arquitetura,
Urbanismo e Design de São Paulo, terá sua sétima edição no corrente
ano (2007).
A cada ano as Bienais levam ao Parque do Ibirapuera milhões de
paulistanos de todas as idades além de visitantes estrangeiros,
contando com serviços de monitoria e horários especiais para escolas.
O edifício do Pavilhão da Bienal abriga também eventos de natureza
variada, como feiras de calçados, as primeiras UD (Feira de Utilidades
Domésticas), algumas Bienais do Livro, exposições de veículos e
motos e até a São Paulo Fashion Week, cumprindo seu papel sócio
cultural.
Figura 88 - Pavilhão da Bienal. Autor, 2006
167
MAM - O primeiro Museu de Arte Moderna da América Latina, ocupará
uma construção sob a Grande Marquise, em frente ao Pavilhão da
Bienal, a partir de 1968.
Esta construção fora destinada, nas Comemorações do IV Centenário
ao Pavilhão Bahia para exposição do Estado de mesmo nome.
Posteriormente, veio a abrigar o Museu dos Presépios e em 1968 é
indicada para sede do MAM., sendo submetido a uma reforma de
adequação às normas museográficas podendo assim abrigar o museu.
Seu espaço físico é composto de um auditório, duas salas de
exposições, uma loja com livros de arte e produtos licenciados, e um
café. Além de importantes exposições culturais, atua na área educativa
direta proporcionando cursos variados de caráter artístico,como o
laboratório de criação que é dirigido a profissionais e interessados em
exercitar a criatividade por meio da reflexão sobre o processo de
criação e exercícios em ateliê, introdução à pintura, ateliê de aquarela
e história da arte.
O MAM também oferece visitas monitoras e gratuitas às exposições
realizadas ao longo do ano, para grupos. de 10 a 45 pessoas e a partir
de 6 anos de idade. Para professores, existe um programa de grupos
de estudo, denominado "Contatos com a Arte" que propõe reflexões
sobre a educação e o conhecimento relacionando às diferentes
disciplinas como a história da arte e o ensino artístico. É destinado ao
corpo docente de escolas públicas e particulares, deste a educação
infantil até o ensino universitário e ocorre aos sábados incluindo
atividades reflexivas no espaço expositivo e atividades práticas no
ateliê; privilegiando o conteúdo da exposição em cartaz e com entrega
de certificados.
168
Figura 89 - MAM, entrada. Autor, 2005.
MAC - O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São
Paulo (MAC USP) foi criado em 1963, a partir da transferência das
obras do Museu de Arte Moderna (MAM/SP) à Universidade de São
Paulo.
O espaço ocupado no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, pavilhão da Bienal é
considerado histórico e sua sede está no campus central na Cidade
Universitária, sendo visto também como um espaço de pesquisa, de
formação educacional e de informação.
Seu acervo constitui-se na primeira coleção especializada em arte do
século XX na América Latina composta principalmente por obras
pertencentes a coleções particulares, como a do Sr. Francisco
Matarazzo Sobrinho e de sua esposa D. Yolanda Penteado, mecenas
das artes e fundador das Bienais. Da doação de obras internacionais,
realizada pela Fundação Nelson Rockfeller e obras premiadas das
Bienais Internacionais de São Paulo. Foi graças ao esforço e a luta de
pesquisadores e artistas associados a intelectuais de visão com as
perspectivas modernas que o museu foi criado.
169
O acervo do MAC é composto por cerca de 8 mil obras de artistas
como Boccioni, Chagall, De Chirico, Modigliani, Picasso e dos
brasileiros Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Hélio Oiticica, Portinari, Tarsila
do Amaral e Vicente do Rego Monteiro, entre pinturas a óleo,
desenhos, gravuras, esculturas, objetos e trabalhos conceituais,
consistindo em um grande patrimônio cultural com decorrências
sociais, nacionais e internacionais.
Segundo a Profª. Dra. Elza Ajzenberg, atual diretora do Museu, além
das exposições de seu acervo, que oferece ao público variados
recortes e muitas possibilidades de leituras da arte moderna e
contemporânea, realiza também uma série de exposições temporárias,
com obras de artistas brasileiros e estrangeiros, novos e consagrados,
que não pertence ao seu acervo. “Torna-se assim, um espaço para
experimentação, para o surgimento e discussão de novas tendências,
novos caminhos da arte contemporânea”.
Também são disponibilizados ao público diversas atividades e serviços
como: atividades de ateliês, visitas orientadas, disciplinas optativas
para graduação, cursos de extensão cultural, biblioteca, sitio na
Internet, loja e está em estudos a abertura de um cybercafé.
Em algumas exposições mais arrojadas, as obras expostas em seu
espaço do Ibirapuera interagiam com o público ocupando a rampa de
acesso ao Museu e causando curiosidade entre os freqüentadores que
passavam pelo gramado.
OCA - Palácio das Exposições, atual Pavilhão Lucas Nogueira Garcez,
também conhecido como OCA. Para os festejos do IV Centenário de
São Paulo, o Palácio das Exposições foi sede da Exposição de História
de São Paulo, organizada pela equipe encabeçada pelo historiador
Jaime Cortezão que ocupou dois pavimentos, com nove seções, nas
quais foram apresentados documentos, a partir do período dos
descobrimentos até o republicano, muitos dos quais inéditos.
170
Figura 90 - Oca, parte posterior. Autor, 2006.
Esta exposição foi visitada pelo então Presidente da República, Sr.
Café Filho, em 16 de abril 1955, sendo agraciado com a medalha
Comemorativa do IV Centenário da Cidade de São Paulo por
Guilherme de Almeida.
Também foi realizada uma exposição de Arte e Técnicas Populares
juntamente com o Festival Brasileiro de Folclore onde se apresentaram
grupos de danças de outros estados além dos de São Paulo.
A partir de 1959, a Fundação Santos Dumont cria o Museu da
Aeronáutica, que ocupará este Pavilhão em dois pavimentos, com
subvenções da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo e com a
colaboração do Ministério da Aeronáutica, da Prefeitura Municipal de
São Paulo e empresas particulares. Mantinha em seu acervo, além de
documentos como o da compra do primeiro relógio de pulso de que se
tem notícia, encomendado por Alberto Santos Dumont ao fabricante
francês Cartier, biblioteca, filmes, peças, maquetes, peças originais
apresentando a história da aviação mundial e brasileira e além aviões
de importância nacional, que vieram desmontados e ali foram
remontados.
171
Ali poderiam ser apreciados:
a réplica do “14 Bis” - o avião mais pesado que o ar - de Santos
Dumont, apresentado à Comissão Oficial do Aeroclube da França,
no campo de Bagatelle em 23 de outubro de 1906,em seu
primeiro vôo oficial, tendo como dimensões: 10 metros de
Comprimento, 12 metros de largura, 160Kg de peso e um motor
de 50 H.P.
Figura 91 - Réplica no Museu, 1960. (fonte: Arquivo Museu. Acervo Prodam).
Figura 92 - Imagem do primeiro vôo do 14 Bis. (fonte: Museu da
Aeronáutica).
o único exemplar existente do "Demoiselle”, apresentado em 13
de novembro de 1909, por Santos-Dumont, oito vezes menor que
o 14-Bis e capaz de voar a 96 Km/h.
172
Figura 93 - Réplica do Museu, s/d (fonte: Arquivo da Aeronáutica).
O avião "Jahú" no qual João Ribeiro de Barros atravessou o
Atlântico no famoso raide entre Gênova (Itália) e Santo Amaro
(Brasil), em 1927, num avião Savoia Marchetti S.55, com toda
documentação do vôo, objetos, folhetos e troféus recebidos
pelos tripulantes.
Figura 94 - Jahú (fonte: Arquivo do Museu da Aeronáutica).
Também faziam parte do acervo dois de seus aviões que
realizavam o serviço do Correio Aéreo Nacional, o Waco CSO,
de 1932 e um Curtiss Wright, de 1935.
173
Figura 95 - Waco CSO em exposição no museu. (fonte: Arquivo Museu.
Acervo Prodam).
Figura 96 - Curtiss Wright, Expo do Museu (fonte: Arquivo Museu. Acervo
Prodam).
Criado para o transporte de mensagens e cartas pela Aviação Naval
e Aviação da Força pública de São Paulo ,na década de 20, passou
a ser um serviço regular em 1931, coma denominação CAM Correio
Aéreo Militar, funcionando entre Rio e São Paulo. A partir da criação
do Ministério da Aeronáutica, em 1942, passa a ser CAM, Correio
Aéreo Nacional.
Durante todos estes anos, mais de oito milhões de pessoas, dentre
elas muitos estudantes, visitaram o museu.
Em 2000, por meio do
Despacho: nº: 90706, da Prefeitura , com Publicação em
07/06/00, Folha 1, tendo como Ementa: RESCINDE TERMO DE
OCUPACAO DE AREA DO PAVILHAO GOVERNADOR GARCEZ,
NO PARQUE IBIRAPUERA, FIRMADO COM A FUNDACAO
SANTOS DUMONT, PARA INSTALACAO DO MUSEU DA
174
AERONAUTICA. (PROCESSO 1994-0.000.183-5). (Prefeitura
Municipal de São Paulo, Despachos, 2000.)
Outra mostra cultural que também ocupou O Pavilhão em seu
pavimento superior foi a do Museu do Folclore, que era mantido pela
Associação Brasileira de Folclore.
Os festejos do IV Centenário da Cidade, propiciaram a oportunidade
para a criação do Museu Folclórico de São Paulo. Anteriormente,
existia uma coleção de peças do norte e nordeste, principalmente da
Bahia e Pernambuco, no espaço denominado de Museu Folclórico da
Discoteca Pública Municipal, sob a direção de Oneyda Alvarenga.
O mentor das primeiras expedições científicas de folclore, entre 1937 e
1938, foi Mario de Andrade, que na época era diretor do Departamento
de Cultura da Prefeitura de São Paulo. Ele incumbiu para a primeira
Camargo Guarnieri, seguido por Luís Saia. O museu foi aberto em
1950.
Nesta mesma época Rossini Tavares de Lima, estudioso do Folclore
iniciou uma pesquisa traçando como meta à arte popular do Estado de
São Paulo. Iniciou em 1945, juntamente com colaboradores, a coleta
de material do folclore paulista e organizou o Museu do Centro de
Pesquisas no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, na
Avenida São João, em 1947.
Em 1949 é realizada a II Semana Nacional de Folclore, tendo a
colaboração do Centro de Estudos Folclóricos do Grêmio da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo, realizando uma exposição oficial do
folclore paulista de 16 a 22 de agosto. Do acervo contavam peças de
técnicas populares, arte popular, ciência, religião, brinquedos
populares, instrumentos musicais e vestimentas de folguedos.
175
Este museu funcionou no local até 1953 e com os preparativos para o
IV Centenário são realizadas reuniões com a Comissão, para a
Exposição Interamericana de Artes e Técnicas populares a ser
realizada num dos pavilhões do Parque. Destes entendimentos criam-
se convênios firmados com Francisco Matarazzo Sobrinho, diretor da
Comissão, com Renato de Almeida representante da Comissão
Nacional de Folclore e Rossini Tavares de Lima, da Comissão Paulista
de Folclore.
Esta exposição foi inaugurada em 10 de setembro de 1954, na
Marquise do Ibirapuera e organizada por Oswald de Andrade Filho e a
equipe paulista. Para tal foram construídos vários stands para outros
estados e países participantes.
Após o encerramento desta exposição, as peças e os ambientes
ecológicos brasileiros continuaram em exposição no local, até sua
transferência para o Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, ao lado dividindo
o espaço com a exposição de História, recebendo a denominação de
Exposição de Artes e Técnicas Populares, que originará em 1961 o
Museu de mesmo nome, mais conhecido como Museu do Folclore.
Houve uma redistribuição de peças no espaço e ao subir a rampa de
acesso ao Museu, havia uma casa de pau a pique, que foi
especialmente construída para o local, além de uma jangada de 7 paus
completa, sendo uma das maiores peças do Museu, que contava com
um acervo de dez mil peças.
O diretor na década de 1970 foi o professor e folclorista paulista
Rossini Tavares de Lima, sendo o autor seu discípulo no estudo de
folclore e colaborando com o acervo do museu. Segundo ROSSINI
(1968: p.18). “folclore é uma ciência socio-cultural que estuda a cultura
espontânea, porque é sempre aceita coletiva e espontaneamente, sem
a intervenção direta da comunicação erudita, populesca ou de
massas”.
176
O museu era freqüentado por muitas escolas tanto da rede pública
estadual e municipal como particulares. Lá também funcionava a
Escola de Folclore que ministrava cursos de especialização na área.
O Museu funciona no Pavilhão até final da década de 90, quando são
necessárias reformas na edificação que apresentava infiltrações,
sendo que no ano de 2000 a Prefeitura rescinde o contrato da área
emitindo um
DESPACHO N
o
: 91908 , da Prefeitura do Município de São Paulo,
com Publicação : 19/08/00, Folha 1, tendo como Ementa:
RESCINDE O TERMO DE OCUPACAO DE PARTE DO "PAVILHAO
GOVERNADOR GARCEZ", NO PARQUE IBIRAPUERA, FIRMADO
COM O MUSEU DO FOLCLORE ROSSINI TAVARES DE LIMA ,EM
RAZAO DE DESOCUPACAO DO IMOVEL PELA ENTIDADE.
(PROCESSO 1996-0.031.986-3)
Após o pavilhão ter passado por uma reforma e adequação tecnológica
no que se refere à climatização para preservação das obras de arte
quanto a problemas de umidade e temperaturas excessivas e também
em relação à acessibilidade para deficientes, com a construção de um
elevador hidráulico, re-inaugurou o espaço, com a Mostra do
Descobrimento.
Ela abrigou a exposição de Picasso, a da China, a exposição “Fashion
Passion” – 100 anos de moda e a Bienal de Design em julho de 2006.
177
Figura 97 - Oca entrada. Autor, 2006.
MUSEU AFRO-BRASIL - Criado pelo:
DECRETO N
o
: 44816 , Assinatura 01/06/04, Publicação : 02/06/04,
Folha 1 - Ementa: DISPÕE SOBRE A CRIACAO DO MUSEU AFRO-
BRASIL
Utiliza o Pavilhão Manoel da Nóbrega que foi usado pela prefeitura até
1993, e posteriormente abrigou o Projeto Pinacoteca no Parque do
Ibirapuera, e parte da exposição dos 500 anos de Brasil.
Figura 98 - Edifício do Museu Afro Brasil.Autor, 2006.
178
PAVILHÃO JAPONÊS - Quando a colônia japonesa tomou
conhecimento das iniciativas para as Comemorações do IV Centenário
de São Paulo e do projeto para o Parque do Ibirapuera, resolveu
demonstrar sua gratidão à terra que os acolhera de forma hospitaleira
através de uma construção artística arquitetônica de seu, criando, por
sua vez, uma Comissão Colaboradora da Colônia Japonesa Pró - IV
Centenário de São Paulo.
A proposta teve anuência da Comissão do IV Centenário, que designou
como local mais adequado para a construção uma área a oeste do
centro do Parque Ibirapuera, voltada para o lago artificial em forma de
península, com 7.500m². O projeto foi encomendado ao arquiteto
professor de renome Sutemi Horiguti, da Universidade de Tokyo,
tomando como partido à arquitetura tradicional nipônica, mas projetado
como residência moderna.
A obra iniciada em meados de 1953, pela Empresa Construtora
Takenaka, de Tókio, foi completada no Japão em janeiro de 1954,
sendo pavilhão trazido desmontado para São Paulo.
Figura 99 - Pavilhão Japonês. Autor, 2006.
A remontagem foi executada no meio da área reservada ocupando
cerca de 1.500 m², com as construções orientadas para o norte, o
179
pavilhão principal com 240,5m², o anexo com 313 e o corredor de
ligação com 16,5m, somando no total, 570m² e o acabamento, foram
concluídos em agosto do mesmo ano supervisionado por quatro
arquitetos e dois técnicos especializados vindos do Japão, auxiliados
por dezenas de técnicos e trabalhadores da colônia (oriundos de todo o
Estado para oferecer seus serviços com a maior boa vontade).
A arquitetura do pavilhão apresenta pureza e simplicidade, criando um
elo harmônico com a natureza, de forma encantadora que, na época,
recebeu acertadamente a denominação de Jóia do Parque do
Ibirapuera, tornando-se um símbolo da amizade entre o Brasil e o
Japão.
Para os festejos no Centenário foi construída ao lado uma edificação
para abrigar uma exposição de objetos japoneses como forma de
difusão de suas tradições, arte e cultura. Todos os materiais utilizados,
assim como as pedras, seixos e outros empregados no jardim, foram
trazidos do Japão.
Figura 100 - Salão de exposição, piso superior. Autor, 2006.
180
Ele é composto por um Salão de Exposição de Arte Japonesa, com
esculturas do século XI, roupas de samurais, estatuetas e vasos de
diversas dinastias ao centro em frente, dois metros acima está o salão
nobre de 80 metros quadrados e mais acima o salão de chá “Tchá-
Shitsu” com 16 metros quadrados com um anexo para a copa na
Cerimônia do Chá.
A frente do salão nobre há uma varanda dando vista ao jardim de fiel
concepção tradicional e ao lago cujo fundo e margens foram revestidos
de seixos brancos e pretos, formando desenhos assimétricos, e com
magníficas carpas japonesas.
Figura 101 - Lago com carpas. Autor, 2006.
Desde sua primeira exposição durante os festejos do IV Centenário,ele
é palco de eventos de ordem cultural, seja em relação às artes
181
plásticas bem como à literatura, música e dança de artistas japoneses
e nipo-brasileiros.
PLANETÁRIO - O Planetário de São Paulo é uma construção posterior
ao projeto para as Comemorações do IV Centenário, sendo inaugurado
em 26 de janeiro de 1957.
O projeto é de autoria dos arquitetos Roberto Goulart Tibau, Eduardo
Corona e Antonio Carlos Pitombo, um dos conjuntos mais
representativo da arquitetura modernista da cidade de São Paulo é
parte integrante do conjunto da Escola de Astrofísica. O edifício foi
implantado semi-enterrado, com uma suave rampa para o acesso de
público, criando no visitante a sensação de uma espécie de mergulho
no mistério à medida que ele desce e penetra no interior do Planetário.
Num primeiro momento, parece curioso que para observarmos o
cosmo deveríamos sair da Terra. No entanto, segundo a tradição
alquímica, ao penetrarmos no nosso interior (no seio da Terra – aí está
o sentido correto da metáfora) poderemos também desvendar os
segredos do Universo.
Figura 102 - Planetário. Autor, 2006.
182
O Planetário propriamente dito é um projetor Zeiss Oberköchen modelo
III, de procedência alemã, sendo o primeiro planetário adquirido no
hemisfério sul (em 1952) e o segundo a entrar em funcionamento,
recebendo a mesma denominação também o edifício.
O projetor reproduz artificialmente, o céu estrelado, projetando cerca
de 8.900 estrelas, o Sol, a Lua com as suas fases e os cinco planetas
visíveis à vista desarmada: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno.
O projetor encontra-se fixado no centro de uma sala de projeções, cujo
teto é formado por uma cúpula de concreto com 20 metros de diâmetro
e 13 metros de altura; a sala tem capacidade para 350 espectadores.
Desde sua inauguração, em 41 anos de atuação, foram mais de 20.500
apresentações, assistidas por cerca de 3,8 milhões de pessoas.
As apresentações do Planetário duram aproximadamente 50 minutos e
sempre reproduzem o aspecto do céu na data da visita, iniciando com
o pôr do Sol e terminando com o nascer do Sol do dia seguinte. As
programações são renovadas a cada 2 meses.
O edifício do Planetário esteve fechado para realização de uma
reforma e restauro da edificação e troca da aparelhagem por parte da
Prefeitura de São Paulo prevendo a aquisição de novo equipamento
com características tecnológicas diferentes do anterior, sendo
necessário à realização de adaptações em seu interior.
Um dos aspectos mais relevantes deste projeto de restauração está
ligado ao fato de que o Planetário é uma das edificações que compõem
o conjunto de obras do Parque do Ibirapuera, que talvez seja a
edificação de forma e estrutura muito singular, com uma cúpula de
concreto armado semi-esférica, recoberto por uma estrutura radial
composta de arcos parabólicos de madeira laminada e cobertura de
folhas de alumínio.
183
Com o projeto de restauro foi criado um espaço interno para o público,
com um novo mezanino totalmente voltado para o uso de exposições e
convívio dos visitantes, alocando todas as funções administrativas e de
serviços para o piso inferior do mezanino.
O peculiar no restauro deste patrimônio cultural é que se trata de uma
obra com autor vivo e contou com a participação efetiva do arquiteto
Roberto Goulart Tibau para a primeira versão da proposta. A volumetria
foi conservada mas como uma estreita relação entre o aparelho
projetor e a cúpula: O raio de projeção do aparelho é fixo e a tela
(cúpula semi-esférica) deve acompanhá-lo tornando-se necessária à
instalação de uma terceira cúpula, que seria a tela de projeção, em
placas de alumínio com micro furos, dentro da de concreto armado,
necessária para as projeções do novo equipamento (o antigo
necessitava raio de 20m e o novo, 18m).
Com a criação do novo sistema de projeção, não poderá ser
reconstituído o antigo recorte da linha do horizonte (skyline) de São
Paulo. A razão é que, no novo sistema, poderão ser projetadas, pelos
aparelhos periféricos (como imagem e não mais como recorte), as
linhas do horizonte de qualquer lugar que se queira, inclusive a partir
de outros planetas. O anel em tubo metálico que contornava toda a
cúpula e que foi removido é novamente colocado, pois, de acordo com
o arquiteto Tibau, constituí-se em um elemento importante na
concepção do projeto, por seccionar visualmente o volume da cúpula
em duas partes, dando maior equilíbrio ao conjunto.
A reabertura do Planetário ocorreu sete anos após o início das obras
em setembro de 2006.
Escola Municipal de Astrofísica - Situada ao lado do Planetário tem
por objetivos fornecer noções básicas e informações atualizadas de
Astronomia estimulando o interesse por esta ciência.
184
Os cursos de Astrofísica são especialmente voltados para alunos a
partir da 3ª a 6ª série do ensino fundamental,com dez alunos por turma
e 15 horas-aula de duração.
O programa aborda os seguintes temas:
1. O Sistema Solar
2. A Terra e a Lua
3. O Sol e as estrelas
4. As Principais constelações
5. Galáxias, Nebulosas e Aglomerados de Estrelas
6. Instrumentos Astronômicos
No término do curso é expedido um certificado pela Prefeitura do
Município de São Paulo, aos alunos que obtiverem notas iguais ou
superior a 5,0 (cinco) na avaliação final e freqüência mínima de 70 %
das aulas ministradas. Atualmente o edifício está passando por uma
reforma e os cursos estão suspensos.
5.2 - MUSEU A CÉU ABERTO: OBRAS DE ARTE NO PARQUE
O Jardim de Esculturas, localizado em frente à sede do MAM, entre os
pavilhões da Bienal e da Oca, com uma área de 6 mil metros quadrados, formados
por 25 obras da arte tridimensional brasileira, tendo projeto paisagístico de Roberto
Burle Marx, é uma exposição permanente de esculturas de acordo com a concepção
de arte pública.
185
Figura 103 - Jardim das esculturas. Autor, 2005.
Em 1993, Prefeitura de São Paulo, a Fundação Roberto Marinho e o
Banco Real, através da campanha “Mais Ibirapuera para você”, realizam o projeto
dedicado a criar uma interação entre o museu, sua parte interna com a área externa
próxima do parque,onde são locadas esculturas com parte do acervo do Museu.
Figura 104 - Jardim das Esculturas, frente a Bienal, Autor, 2005.
Um outro atrativo para o público que passa sob a Marquise ao lado do
MAM é a escultura de uma gigantesca aranha em bronze, colocada em uma vitrine
186
circular, intitulada “Spider”, de autoria de Louise Bourgeois, que foi exposta na XXIII
Bienal de São Paulo, e adquirida em parceria com o Bando Itaú pelo museu e
inaugurada em 1997. Além do Jardim das esculturas, temos em vários pontos do
Parque, esculturas de bronze em vários tamanhos dedicados a personalidades,
soldados da Revolução de 32 ou alusivos aos locais onde estão.
Figura 105 – MAM, Vitrine com escultura Spider. Autor, 2005.
Figura 106 - Jardim das esculturas. Autor, 2006.
187
Atualmente, nos finais de semana vários jovens artistas, em pontos
diferenciados do parque como próximo à ponte de ferro sobre o lago, no bosque
atrás da Praça da Paz realizam performances como estátuas vivas, instalando-se
sobre pedestais, com vestimentas e maquiagem apropriadas a cada personagem a
ser representado, permanecendo imóveis por muito tempo, agrupando muitas
pessoas ao seu redor e aguçando a curiosidade principalmente das crianças. Estes
artistas utilizam a performance como meio de auxílio nos ganhos mensais, pois as
pessoas dão alguns trocados pela apresentação.
Figura 107 – Ponte sobre o Lago. Autor, 2007.
5.3 - ÁREAS DE ESPORTE E LAZER PARA A POPULAÇÃO
A fonte de jatos múltiplos é a atração principal do Parque do Ibirapuera.
Instalada no lago três (o maior), que tem margem para a avenida Pedro Álvares
Cabral e frente á Assembléia Legislativa. Foi inaugurada em 2003, em substituição
aos antigos jatos de água em número de dois, obsoletos e com bombas aparentes.
188
Figura 108 - Fonte, A Dança das águas. Autor, 2006.
Resultado de um sofisticado projeto computadorizado que sincroniza
águas, sons e luzes coloridas, apresentando o espetáculo da “Dança das Águas”
que ocorre entre 11h00 e 14h00 voltando a ser ligado das 20h às 21h.
O espetáculo nos finais de semana reúne grande número de
espectadores, chegando a parar o trânsito na avenida ao anoitecer. Excursões ali
param ao entardecer para a filmagem por parte dos turistas. O projeto foi
patrocinado pelo Grupo Pão de Açúcar.
A Grande Marquise, que faz a ligação entre o Pavilhão da Bienal, Oca e
antigo edifício da PRODAM, foi projetada para servir de abrigo aos usuários nos dias
chuvosos e que, em virtude do piso extremamente liso, tornou-se palco de manobras
de patins e skates Nos dias de semana abriga também atividades artísticas, jogos e
brincadeiras promovidas pelo CERCO e ASSUAPI.
O Parque possui em sua área quadras de basquete, vôlei e futebol de
salão. Algumas estão próximas a Praça da Paz e ficam lotadas aos finais de
semana.
189
Figura 109 - Quadra de vôlei. Autor, 2006.
Há dois parques infantis ou Playground, um ao lado da marquise e outro
ao lado da Praça da paz, nos quais a maioria dos brinquedos foi confeccionada em
madeira rústica, tubos de concreto além das balanças, gangorras e carrossel, para a
felicidade dos pequenos freqüentadores.
Figura 110 – Playground: Vista (2) Autor, 2006.
190
A pista de Cooper está situada próxima ao portão de numero 5 , com
extensão de 1.500m ocupando trilha de terra.
Muitas pessoas além de utilizarem a pista realizam percursos mistos,
pista de terra e asfalto, com extensões maiores realizando rotas diferenciadas, que
em geral acompanhados de personal training, no horário matutino.
Há o percurso estacionamento do MAM, planetário, contorno do lado
maior e retorno. Outros atravessam a ponte em direção praça da Paz, Bosque de
leitura, caminho do bambu, ponte terminando no MAM. Muitos são os percursos nos
quais alternam-se caminhadas e corridas, com os cidadãos em busca de boa forma.
Posicionados em partes do percurso utilizado para o Cooper, existem
alguns aparelhos de ginástica, também confeccionados em partes de troncos de
eucalipto e barras de ferro, onde freqüentadores se concentram nos horários
matutinos para os alongamentos.
Figura 111 – Entrada (e saída) da Pista de Cooper. Autor, 2006.
191
A ciclovia é demarcada sobre o anel interno asfaltado, que percorre o
parque, com uma largura de 1,80m delimitada em cor tijolo, para separar os ciclistas
dos usuários pedestres. Para os aficionados das bicicletas há um local atrás do
edifício da Prodam conhecido por as “Bicicletas do Maisena”, figura folclórica do
Parque, que há 29 anos, presta serviço de mecânica e reparos de borracharia para
bicicletas, além da locação de bicicletas, triciclos, tandens e patins. Formam-se
enormes filas no local para locação de meia hora e uma hora.
Figura 112 – Fila para locar uma bicicleta, no ‘Bicicletas do Maisena’. Autor, 2006.
Figura 113 - Triciclos e bicicletas. Nota-se à direita a marcação da
ciclovia. Autor, 2006.
192
Próximo à antiga construção da serraria, e ao bosque de leitura temos
uma pérgula com bancos para a leitura, meditação sombreada por primaveras que
dão um colorido especial a este recanto.
Figura 114 – Antiga Serraria. Autor, 2006
Figura 115 - Pérgula após a serraria. Autor, 2006.
193
Vários bosques possuem mesas para piquenique a bancos em alvenaria
para desfrute das famílias de almoços cercados pela natureza nos finais de semana.
Estas áreas também são muito concorridas.
Figura 116 – Um dos bosques localizados no Parque. Autor, 2006.
Também existe um bosque anterior ao monumento da Praça da Paz com
estruturas de ferro com ganchos, espaçadas para a colocação de redes. Muito
interessante os ‘descansos’ sob a sombra das árvores nos dias quentes, sendo
muito freqüentado nos finais de semana. A ligação entre a as faixas gramadas é
feita por pontes e caminhos que cortam os lagos.
A Praça da Paz é uma grande área gramada, com arbustos e árvores de
pequeno porte ao seu redor. É utilizada para shows ao ar livre, apresentações de
orquestra, eventos teatrais, que recebe um grande número de usuários. Quando não
é ocupada por algum evento, a Praça é usada para empinar pipa, jogar frisbee, jogar
bola na grama, correr com os cachorros e conviver um pouco com a natureza.
Quanto à alimentação, o Parque conta com um restaurante estilo buffet e
uma sorveteria na área da grande marquise. Há também aproximadamente 160
194
ambulantes, com pontos prefixados, espalhados pelas alamedas. São
comercializados sorvetes, salgadinhos, refrigerantes, sucos, água de coco e água,
não sendo permitidas bebidas alcoólicas e lanches não industrializados.
Distribuídas em áreas próximas aos playgrounds, estão três áreas com
serviços sanitários e alguns bebedouros espalhados.
Figura 117 - Sanitários. Autor, 2006.
Muitas lixeiras estão espalhadas pela área total do Parque, mas nos finais
de semana a quantidade de lixo abandonada nos gramados ainda é muito grande,
demonstrando a falta de educação ambiental de parte da população. Próximo ao
Pavilhão Japonês, foi instalado um totem (com patrocínio/ propaganda da Prefeitura
de São Paulo e da empresa Purina ProPlan) que nos dias de calor, mediante um
toque de botão, borrifa água para os usuários poderem se refrescar.
195
Figura 118 - Totem com esguicho. Autor, 2006.
Uma pequena casa entre grupos de árvores é o Bosque de Leitura. Local
tranqüilo, com área de piso sintético, bancos, cadeiras e tem pequeno acervo de
revistas e livros. Tem infra-estrutura sanitária e bebedouros. Usuários aos finais de
semana entregam-se à leitura sob sombra das árvores ou tomando sol.
Figura 119 - Bosque da Leitura. Autor, 2006
196
Outras duas construções de pequeno porte são a Administração do
Parque que tem um serviço de informações e a Secretaria do Verde e Meio
ambiente. Neste local aos finais de semana há serviço de emergência com
ambulância.
A ASSUAPI, Associação de Usuários e Amigos do Parque do Ibirapuera,
localizada próxima ao portão 8, desde sua fundação em 1984, tem por finalidade
preservar as características originais do Parque e garantir bom atendimento ao
usuário. Mantém uma exposição permanente de material sobre o IV Centenário e
participa da organização de equipes de treinamento esportivas, caminhadas e na
promoção de atividades educacionais e ambientais.
Uma outra casa é a sede da Escola de Jardinagem, pertencente ao
Departamento de Parques e áreas Verdes que ministra há 27 anos um curso sobre
jardinagem e recursos paisagísticos.
Os estacionamentos do Parque encontram-se: o maior atrás do Pavilhão
da Bienal, outro entre ele e o MAM e um de pequenas dimensões entre a OCA e o
Teatro. Não é permitida a circulação de veículos em outras áreas do Parque, a não
ser que haja permissão expedida pela administração, como é o caso dos carros da
segurança do parque.
Figura 120 – Patrulhamento interno do Parque. Autor, 2006.
197
5.4 - VIVEIRO MUNICIPAL MANEQUINHO LOPES
Figura 121 – Placa na entrada do Viveiro. Autor, 2007.
A história do Viveiro está intimamente ligada à da criação do Parque, pois
quando o prefeito José Pires do Rio decidiu criar um Parque seguindo os moldes dos
parques europeus, uma várzea deveria ser drenada para dar condições à
implantação futura, garantindo a posse para a municipalidade e que seria seu
primeiro administrador; Foi então chamado Manuel Lopes de Oliveira, o
“Manequinho Lopes”, que iniciou a plantação de eucaliptos australianos, que teriam
o papel de agentes saneadores, ‘enxugando’ parte do solo da várzea. Alguns
exemplares destes eucaliptos ainda podem ser vistos marcando até hoje a paisagem
do Parque.
Depois de recuperar o solo, Manoel Lopes principiou a organizar o
‘Viveiro’ (implantado por ele em 1928), importando sementes de diversas espécies
ornamentais estrangeiras, buscando também por sementes nacionais de qualidade,
que fossem exemplares característicos do país, como o Pau-Brasil, o Ipê e outras
espécies. Estas sementes tornaram-se mudas e foram utilizadas para a arborização
198
da cidade e de seus parques e jardins; Além das plantas ornamentais, também havia
plantas arbustivas e rasteiras, produtoras de flores, cujas mudas eram fornecidas
gratuitamente, inclusive a particulares.
Manoel Lopes, que foi entomologista e jornalista, mantendo durante
alguns anos uma coluna sobre agricultura no “O Estado de São Paulo”. Em 1934,
tornou-se Chefe da Divisão de Matas, Parques e Jardins.
O Viveiro recebeu seu nome através de um decreto do então prefeito
Fabio Prado. Graças ao Viveiro o Município assegurou a posse da área, que em 21
de agosto de 1954, por ocasião do IV Centenário da Cidade de São Paulo, viria a se
chamar: Parque Ibirapuera.
Figura 122 – Viveiro visto de fora. Autor, 2007.
O Viveiro ‘Manequinho Lopes’ ocupa 48.000 m2 no Parque; Com entrada
principal pela Avenida IV Centenário, portão 8 (ou 7A). Atualmente a Secretaria
Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura do Município de São Paulo,
através do Depave (Departamento de Parques e Áreas Verdes) administra o Viveiro,
que continua a produzir (e manter) mudas, além de executar serviços de
199
ajardinamento (externos) e a reforma de vasos de ornamentação (interna) para
órgãos públicos.
O Viveiro divide-se em 32 quadras para plantio, dez estufas e demais
estruturas. Para conhecê-lo é possível agendar com antecedência visitas
monitoradas e fonoguiadas.
Figura 123 – Mapa de localização do Viveiro Manequinho Lopes. (fonte: DEPAVE)
O projeto para modernizar o Viveiro Manequinho Lopes, de Burle Marx,
pretendia integrar o espaço ao Parque Ibirapuera e valorizar as edificações
históricas e árvores extraordinárias.
Foram recuperados: os ripados antigos (onde as mudas são ‘feitas’); as 6
(seis) estufas recobraram a sua aparência original, e 5 delas abrigam orquídeas,
filodendros, heras e outras. A estufa n°6 é usada para experimentação e pesquisa.
200
Encontram-se plantadas, ao redor de cada estufa, matrizes de espécies
de plantas que serão futuramente distribuídas nos parques e ruas da cidade.
Com seu projeto, Burle Marx introduziu na praça do Viveiro novas
espécies, tornando o espaço mais atraente aos visitantes e proporcionou maior
diversidade à produção do Viveiro.
Os canteiros coloridos plantados ao redor da antiga serraria realçam o
espaço e proporcionam matrizes de novas espécies.
O Galpão de Exposições também teve a sua estrutura restaurada, e
atualmente ali ocorrem apresentações infantis.
Figura 124 – Estufa, vista lateral com os canteiros. Autor, 2007.
201
Figura 125 – Entrada da estufa. É possível
notar as pequenas mudas dentro da
edificação. Autor, 2007
Figura 126 – Detalhe da plantas
‘armazenadas’ no Viveiro. Autor, 2007.
Entre as espécies existentes de árvores que podemos ver no Parque,
graças à produção e o cuidado de Manequinho Lopes, temos:
Figura 127 – Árvores semeadas por Manequinho Lopes, fonte: Site da Secretaria Municipal do
Verde e do Meio Ambiente, 2001.
Pau-Brasil
Pau-ferro
Pau-Jacaré
Sibipiruna
Tipuana
Ipê
202
CAPÍTULO 6 - VILLA BORGHESE (ROMA/ITÁLIA):
PARALELO COM O PARQUE DO IBIRAPUERA.
6.1 - HISTÓRICO DE VILLA BORGHESE
Muitos autores discorrem sobre os grandes parques das cidades
européias e americanas como Hyde Park, Central Park. A escolha por este parque
romano deve-se por ele ser considerado um patrimônio artístico e ambiental e por ter
comemorado em 2003 o centenário de sua abertura ao público (em 1903), pois,
inicialmente, tratava-se de uma Villa privada.
Localizada no centro urbano de Roma, sua história inicia-se em 1606 com
o Cardeal Scipione Borghese. Desenvolve-se ao longo de quatro séculos, recebendo
em 2005 o título de “Parco delle Culture”, ou seja, Parque das Culturas.
O histórico divide-se em 4 períodos, correspondentes aos séculos XVII,
XVIII, XIX e XX quando de sua abertura oficial ao público como pertencente à
municipalidade de Roma.
Ocupa uma área de 80 hectares, com 15 edifícios menores, 10
construções de pequeno porte, um dos quais é o Cinema dei Piccoli, 35 fontes, 10
monumentos, a hípica, o Jardim Zoológico, um lago e um grande número de
esculturas valiosas pertencentes à coleção do Cardeal Scipione Borghese que era
proprietário da área desde 1580.
Nele estão a Galleria Borghese, a Galleria Nazionale d'Arte Moderna, o
Museu Etrusco de Villa Giulia, o Museu Pietro Canonica, o Museu Cívico de
Zoologia, ao lado das Academias culturais de vários países, como Holanda, Bélgica,
Egito, Romênia, Áustria, envolvidos por árvores seculares pequenos lagos, jardins a
italiana e espaços abertos. Desde 1997 está em execução um projeto para
revitalização e adequação às novas exigências para melhoria de uso pela
população.
203
6.1.1 - 1ª Fase - A Villa do Século XVII
O início da constituição de Villa Borghese deu-se com a ascensão ao
trono Papal de Camilo Borghese (1605 a 1621), que adotou o nome de Paulo
V. A família Borghese era originária de Siena, passando a integrar a
sociedade romana a partir deste evento.
Nesta época havia a tradição da escolha de um parente próximo
como Cardeal, prova do nepotismo eclesiástico. A escolha beneficiou
Scipione Caffarelli, seu sobrinho predileto, filho da irmã Ortensia e
Alessandro, que adotou o sobrenome da mãe, Borghese, para fazer jus a esta
posição privilegiada, com a denominação de “Cardeal Sobrinho”, com ganhos
adequados à sua categoria.
Em suas funções o Cardeal Scipione revelou-se um político hábil e
em pouco tempo passou por diversos cargos chegando a secretário de
Estado do Vaticano, com vultuosos benefícios financeiros, que lhe permitiram
adquirir uma série de propriedades, edifícios, Villas e obras de arte,
ampliando o patrimônio familiar.
Tornou-se não só um grande colecionador de obras mas também um
mecenas descobrindo e valorizando artistas como Gian Lorenzo Bernini,
Giovanni Lanfranco, Guido Reni e outros de sua época. Realizou aquisições
de bens móveis e imóveis sem limite de gastos, dos quais Villa Borghese é
sua maior realização.
A intenção do Cardeal foi à criação de uma Villa magnífica como
símbolo do status da família.
A Família Borghese já era possuidora, desde 1580, de terrenos com
vinhedos (área da atual Piazza di Siena), fora dos limites de Porta Pinciana. O
Cardeal Scipione, a partir de 1606 até 1609, numa primeira fase adquire mais
terrenos vizinhos ao seu.
204
Figura 128 – S.Felice Delino, Planta do jardim do Exmo. Sr. Princepe Borghese, fora de
Porta Pinciana, 1676. (CAMPITELLI, 2003b:p.13)
Figura 129 - Planta de Villa Pinciana com todos os terrenos adquiridos entre 1600 e
1838. (CAMPITELLI, 2003b:p.20)
O projeto da Villa é do arquiteto Flamínio Ponzio (1560-1613) que
também realizou o projeto viário para ligação dos vários terrenos por meio de
alamedas, nivelamentos do terreno em algumas áreas e a realização de
muros na propriedade.
A obra passa ao arquiteto Giovanni Vasanzio, em 1613, com o
falecimento de Ponzio. Neste período, a área é acrescida com mais dois
205
terrenos, para a criação de uma zona para caça, o que era comum no período
nas grandes propriedades, correspondendo ao atual Vale dos Plátanos e
Jardim Zoológico.
Em 1621, ano da morte do Papa Paulo V a área da expandiu-se.
Foram construídos o edifício principal (denominado nos projetos como
Casino Nobile”), o pavilhão das aves, uma série de fontes, jardins com
plantas e flores raras e exóticas, com uma grande área de caráter rural para
produção agrícola e caça.
E a propriedade tornou-se um modelo de Villa Suburbana, que unia
edifício urbano, parque, alamedas e área rural em prefeita harmonia, não
sendo superada por nenhuma outra da época.
O falecimento do Papa Paulo V, fez com que o Cardeal Scipione,
diminuí-se os gastos com melhorias e aquisições de arte, manutenção,
pautando as sua realizações num âmbito mais discreto.
Ao lado do edifício principal, estavam as construções menores
regiamente decoradas, numerosas fontes e um parque constituído segundo
tipologia adotada nas villas do século anterior, de onde advém, de acordo
com a tradição clássica a divisão do parque em “Pars Urbana“ e “Pars
Rústica”, onde os refinados jardins estavam ao lado das terras destinadas ao
cultivo agrícola e área de caça.
A propriedade que atingiu um total de 80 hectares era dividida em três
partes distintas, separadas por muros, onde o acesso se dava através de
portais ou portões de ferro.
A primeira, compreendia o edifício principal, atual Museu Borghese e
a Alameda Fiorello La Guardia, Praça frontal até o Aviário. A segunda, era a
área verde, posterior a edificação principal, atual Parque dos Veados (Parco
206
dei Daini). A terceira, compreendia a atual Praça de Siena até o Jardim
Zoológico.
A divisão entre a primeira e a segunda parte era o trecho que
compreende o primeiro e o segundo jardim Secreto.
Com o falecimento do Cardeal Scipione Borghese, a propriedade
passou ao primo Marcantonio, que a manteve da mesma forma, limitando-se
a realização de manutenção.
Em 1658 ele falece. A Villa passa ao sobrinho Giovan Battista, criado
pelos avós, pois perdera o pai com apenas oito anos, constituindo-se no mais
digno herdeiro do Cardeal, pois abraça a política do mecenato, atingindo
também Villa Pinciana.
Ele contrata, em 1680, o arquiteto Carlo Rainaldi, para a realização do
projeto do pavilhão que seria construído ao lado do Pavilhão das Aves
(Uccelliera), denominado de “Meridiana”, com um relógio solar na parte
superior do frontão da fachada voltada para a residência da família.
Entre as duas construções foi realizado o terceiro jardim secreto por
Rainaldi, concluindo a série dos jardins de cunho particular da família
Borghese. Apaixonado por flores, transformou-o em uma exposição de
espécies raras, mencionadas em relatos de viajantes estrangeiros, como a de
um francês que vira um “jacinto branco dobrado”, que na época o bulbo tinha
um custo muito alto.
Na Villa, de acordo com pinturas da época que representam a praça
frontal repleta de luxuosas carruagens, eram realizadas festas e espetáculos
que reuniam as famílias nobres romanas.
207
Figura 130 - Casino di Villa Borghese, J.W. Barr, têmpera, 1641. (CAMPITELLI,
2003b:p.61)
6.1.2 - 2ª Fase - Século XVIII
Este século inicia-se com praticamente nenhuma alteração em Villa
Borghese, sendo apenas realizadas manutenções no legado existente desde
sua criação. A partir de 1766, o Príncipe Marcantonio IV iniciou uma série de
modificações e transformações na área, ligadas inicialmente à construção
principal, as construções menores, e uma grande intervenção no parque com
a realização de um lago em uma área plana.
Muitas fontes foram espalhadas pelo parque, dentre as quais a Fonte
da água Felix e a dos cavalos marinhos, além das construções em estilo
neoclássico do pequeno templo de Diana, o Templo de Antonino e Faustina e
imponente Templo de Esculápio no lado posterior do lago.
6.1.3 - 3ª Fase – Século XIX
O herdeiro da área, após a morte do pai em 1800, foi Camillo
Borghese (1775-1832), seguido pelo irmão Francesco (1776-1839).
208
Personalidade de destaque, principalmente pelo casamento com
Paolina Bonaparte, irmã de Napoleão, Camillo aumentou a propriedade com a
aquisição de áreas vizinhas, estendendo-a até a Piazza Del Popolo e ao final
das muralhas romanas aurelianas, denominadas “Muro Torto”.
Entre as villas adquiridas estão a da família Giustiniani, conhecida
pela beleza e imensa coleção de esculturas antigas (desde o século XVII)
próxima a Porta Del Popolo e a villa da família Doria Pamphili.
O arquiteto contratado para realizar a interligação harmoniosa entre
as propriedades foi Luigi Canina, que se ocupou também com projetos de
reformas e decoração da maioria das construções, bem como da construção
de uma entrada monumental, voltada para a Praça do Flamínio, inaugurada
em 1829; além de um grande número de construções, criando cenários
diferenciados em vários pontos da propriedade, de acordo com os tratados
paisagísticos dos parques ingleses do período. Podemos citar a reprodução
do Arco de Settímio Severo em um dos acessos a Villa, recolocação de arcos
triunfais romanos, os Propileus da Praça Flaminia, de inspiração grega; o
Pórtico dos Leões, que além da função decorativa também servia como elo de
ligação entre as várias áreas da propriedade e encontros das largas
alamedas. Além destas obras, o arquiteto realizou projeto paisagístico, para o
qual utilizou a consultoria de Ferdinando Gennero, botânico de renome.
Neste período, a Villa atingiu o ápice do reconhecimento com a visita
de muitos estrangeiros, dentre os quais artistas como Ingres, Corot, Sabler
que a imortalizaram em suas obras; festas memoráveis com a participação da
nobreza da época e também a população, principalmente na Praça de Siena
e nos Jardins do Lago.
Camillo Borghese, pouco tempo antes de falecer, foi forçado pelo
cunhado, Napoleão Bonaparte a vender uma centena de estátuas para a
constituição do Museu Napoleônico.
209
O sucessor de Francesco Borghese, que patrocinou inúmeras
escavações arqueológicas, realizando, com os achados a reposição das
obras enviadas a França, foi seu filho Marcantonio V. Este período áureo da
área foi interrompido pelos combates dos franceses contra o exército de
Ranieri Mazzini na defesa da República Romana. O conflito ocasionou
destruição e muitos danos à propriedade Borghese.
Imediatamente após a final dos combates, Marcantonio empreendeu
um intenso programa de reconstrução e reparos que foram concluídos com a
abertura à visitação pública da Villa em 1856.
Na metade final do século XIX, a família decide introduzir a venda de
ingressos para a visitação e desfrute do Parque, a impressão de panfletos
com eventos ali realizados para ajudar nos altos custos da manutenção do
mesmo. Instalou locação de bicicletas para competições na área da Casa de
Rafael, de barcos para passeios no Lago e pesca, venda de mudas de
plantas e flores exóticas e pela visita a um pequeno zoológico no Jardim do
Lago, no Parque dos Veados, atrás ao edifício principal havia tiro ao pombo,
uso de um velódromo e saída de dirigíveis na Praça de Siena, e comer em um
restaurante luxuoso instalado na Casa do Relógio ou um lanche com pães,
biscoitos e leite da propriedade na Casa das Rosas.
6.1.4 - 4ª Fase - Século XX – Villa Borghese: Patrimônio Municipal.
A constituição do Estado Italiano pela unificação das províncias e a
definição da capital do reino em Roma iniciarou uma expansão imobiliária
com a criação de novos bairros residenciais e a construções de edifícios
públicos de grande porte, para a instalação dos ministérios. Ao mesmo tempo
em que edifícios e villas antigas eram demolidos, as propriedades eram
loteadas, dando lugar aos novos bairros. A população romana começa a
realizar manifestações que de nada adiantam.
210
Muitos nobres de situação econômica privilegiada tornaram-se
empreendedores com altos investimentos. Na última década do século XIX,
ocorreu uma crise econômica levando muitos a falência incluindo o último
herdeiro, Paolo Borghese. Ele foi obrigado a vender algumas das valiosas
obras da coleção, como o edifício Borghese no centro da cidade, chegando a
planejar o loteamento parcial da área do parque da Villa.
Já em 1883, o Prefeito de Roma havia apresentado à família uma
proposta de compra da área, que não se concretizou. Em 1885, com a
proibição de passagem, entretenimento da população e acesso a Villa por
Marcantonio Borghese, a situação ficou patente: houve um protesto geral da
população, somado a fortes críticas por parte da imprensa o que levou a
prefeitura de Roma a abrir um processo de intervenção por parte do poder
público para preservação, uso público da propriedade e aquisição da área.
Neste período, também foi vendida toda a balaustra adornada com
imensos vasos e baixos relevos em travertino, que coroava a praça frontal da
residência, original do século XVII. O comprador, Lord Astor, a remontou em
sua propriedade em Cliveden, região de Buckinghamshire, na Inglaterra. Em
seu lugar foi construída uma cópia em menor escala.
Ao tomar conhecimento do desmonte, a Prefeitura de Roma, em
1895, envia uma carta ao Ministro da Educação Pública alertando o fato da
família Borghese estar dilapidando o patrimônio com vendas a especuladores
de peças em mármore, objetos antigos e até da balaustra de valor histórico. O
processo arrasta-se por vários anos, até que, pela situação financeira da
família totalmente minada e uma dívida de alto montante, a propriedade é
avaliada por peritos e levada a leilão público.
...con l’ aprovazzione della legge 519 del 1901, il Governo italiano fu
autorizzato ad acquistare l’ intera Villa all’asta pública per l’ importo di
tre milioni di lire
1
. (CAMPITELLI,2003b, p. 490)
1
Tradução: “com a aprovação da lei de nº 519 de 1901, o Governo italiano foi autorizado para realizar
a aquisição em leilão púlbico pela quantia de três milhões de liras”
211
No corpo da lei estava designado que a sede da Villa, denominada
Casino Nobile”, com toda a coleção ficaria sob a égide do Estado e o parque
seria concedido à Prefeitura, de forma gratuita mas com a condição de que a
ela fosse agregado o mirante do Pincio, que o parque recebesse o nome do
Rei Humberto I e fosse realizado um monumento em sua homenagem. A
prefeitura também deveria realizar as obras necessárias ao embelezamento
da área e administrá-la. Ao Estado, se reservava uma área de 50.000m²,
destinada à construção de edifícios, museus para abrigar coleções de arte e
históricas de sua posse e do Instituto das Belas Artes.
Villa Borghese, renomeada Villa Umberto I de Savoia, após o
assassinato do rei em 1900, foi aberta oficialmente ao público em 12 de julho
de 1903.
Figura 131- Cartaz proclamando a abertura do Parque – Villa Borghese. (CAMPITELLI,
2003b:p.491)
Muitos foram os problemas a serem resolvidos, incluindo um viaduto
para unir a área do mirante com a Villa, passando sobre a rua em grande
desnível do Muro Torto romano. A área próxima a Villa Giulia foi modifica em
1911 para dar lugar aos edifícios da Galeria de Arte Moderna e aos pavilhões
212
para a Exposição Internacional de Belas Artes, no mesmo ano. Dando acesso
a Villa foram criadas rampas na direção da alameda que conduz a Meridiana
e Museu e uma imensa escadaria para o lado oposto. Também neste ano foi
inaugurado o Zoológico, agora ocupando parte da área original de caça, com
uma entrada monumental de formas arredondadas para harmonizar-se ao
estilo barroco das outras construções.
No final da década de 1930, com o recuo para ampliação da rua
Pinciana, parte do terreno foi sacrificado. Todas as grades de ferro e detalhes
de monumentos em bronze foram retirados para serem reutilizados nas
fundições, pois a Itália estava sob um ‘bloqueio na importação de ferro’.
Isto trouxe enormes prejuízos ao patrimônio artístico espalhado pelo
Parque pois ficou à mercê de vândalos e intrusos que se instalavam nas
construções sem uso.
Nos anos seguintes, ocorreram muitas modificações de traçado de
alamedas, demolições de construções menores, deslocamento e introdução
de novos monumentos e diminuições de alguns portais.
Durante a 2ª Grande Guerra, a Praça de Siena e os jardins secretos
tornaram-se hortos com plantações de batatas, couves e trigo, assim como
muitos dos espaços verdes da cidade.
Após o término da guerra, iniciaram-se novamente as manutenções,
tarefa complexa em vista uma vasta área de parque, de muitas construções a
serem reformadas e restauradas, da diversificação dos trabalhadores:
pedreiros, marceneiros, restauradores especializados entalhes, pinturas,
esculturas, cantaria, engenheiros, paisagistas e arquitetos, sem contar os
altos custos.
Nas áreas próximas ao Museu Nacional de Arte Moderna foram
construídas, em terrenos da propriedade, as Academias Culturais do Egito,
Bélgica, Holanda, Dinamarca, Suécia, Romênia, Casa de Cultura do Japão,
213
Academia Francesa. Tem presença marcante a Faculdade de Arquitetura de
Vale Julia, inserida neste contexto cultural.
Em 1997 foi iniciado um projeto para constituir a área da Villa
Borghese, em Parque dos Museus, criando uma unidade entre todos os
museus e instituições culturais ali existentes dentro de um parque de
qualidades paisagísticas e históricas inestimáveis, e dando novamente uma
identidade a Villa.
Seu centenário foi comemorado em 2003, com grandes eventos
culturais e a inauguração do Silvano Toti Globe Theater.
Em 10 de outubro de 2006 foi oficialmente lançado o projeto “Villa
Borghese: Parco delle Culture”.
ROMA: VILLA BORGHESE DIVENTA PARCO DI CULTURE
Roma, 10 ott. 2006 - Un progetto avviato nel 1997 dall'allora Ministro
per i Beni Culturali Walter Veltroni e dal sindaco Francesco Rutelli,
prende oggi finalmente forma trasformando Villa Borghese in
'PARCO DI CULTURE'.
Grazie alla sinergia tra la Fondazione Bioparco di Roma, l'Azienda
Speciale Palaexpo e Zetema Progetto Cultura in collaborazione con il
Comune di Roma, prende vita un progetto per la promozione,
valorizzazione e tutela del Parco di Villa Borghese che sara' gestito
come un sistema integrato di cultura e consumo del tempo libero,
variegato contenitore di iniziative naturalistiche, culturali e di
intrattenimento. Walter Veltroni, Sindaco di Roma”
2
(fonte:
www.comune.roma.it/was/wps/portal)
2
Tradução: Roma: Villa Borghese torna-se Parque das Culturas – “Roma, 10 de outubro de 2006 -
Um projeto encaminhado em 1997 pelo então Ministro dos Bens Culturais Walter Veltroni e pelo
prefeito Francesco Rutelli, toma corpo hoje finalmente, transformando Villa Borghese em “Parque das
Culturas”. Graças a sinergia entre a Fundação BioParco de Roma, a Empresa Especial Palaexpo e a
Projeto Cultura Zetema em cooperação com a prefeitura de Roma, nasce um projeto para promoção,
valorização e proteção do Parque de Villa Borghese, que será administrado como um sistema
integrado de cultura e lazer, diversificado por abranger iniciativas naturalistas, culturais e de
entretenimento. Walter Veltroni – Prefeito de Roma”
214
6.2 - ÁREA OCUPADA E LOCALIZAÇÃO NA PLANTA GERAL DA
CIDADE.
Villa Borghese possui 80 hectares e se localiza na região central de
Roma. É de fácil acesso pelo sistema de transportes urbanos, ônibus e Metrô e
pelos seis portais existentes no perímetro.
O Portal Villa Burghesia, onde originalmente era entrada principal da
propriedade, ficava voltada para Rua Pinciana, do arquiteto Flamínio Ponzio de
1609.
Figura 132 – Portal do Arquiteto Flaminio Ponzio, voltado para a Via Pinciana. Autor, 2007.
O Propileu das Águias, original de 1790, projeto do arquiteto A. Asprucci,
localiza-se na entrada da avenida que atravessa o parque paralela ao Muro Torto,
cuja denominação neste trecho é de Alameda San Paolo Del Brasile, próximo a
Porta Pinciana e ao lado da Piazzale Brasile.
215
Figura 133– Propileu das Águias, início da Via San Paolo Del Brasile, Porta Pinciana. Autor,
2007.
Figura 134 - Portal Neoclássico, do arquiteto Luigi Canina, final de 1827, na Praça do Flaminio
ao lado de Porta e Praça do Povo. Autor, 2007.
Existem também os Portais:
Portal do Leão, entrada pelo Parque dos Veados, atrás da Galeria Borghese;
Portal do Dragão, ao lado da Galeria Borghese para Rua Pinciana;
Arco de Settimio Severo, de L. Canina, ao lado do jardim do lago;
Portal dos Vasos, saída para Avenida das Belas Artes, Museu de Arte
Moderna.
216
Figura 135 - Arco de Settimio Severo. Autor, 2007.
Figura 136 - Mapa de Villa Borghese (fonte: www.Villaborghese.it)
217
6.3 - MUSEUS E PAVILHÕES
Uma melhor compreensão do Parque de Villa Borghese como um
complexo de atividades culturais variadas induz a um passeio histórico pelas
diversas construções, elementos arquitetônicos e paisagísticos, com características
diferenciadas, que paulatinamente se transformaram em locais para lazer, atividades
e adequados a museus:
GALERIA BORGHESE - Constitui-se na obra arquitetônica mais
importante da Villa, sendo o edifício principal, “Casino Nobile”, em estilo
barroco, localizado na parte mais alta do terreno, posição privilegiada,
dominando o cenário paisagístico da Villa.
O edifício possui dois andares e duas pequenas torres, um terraço na
parte superior e um pórtico na inferior frontal, e na posterior, no primeiro
andar, abria-se em pórticos com vista para o Parque dos Cervos. Sua
entrada é por uma escadaria dupla, que após os restauros de 1997, voltou
a ser reconstruída na forma original. A fachada era totalmente decorada
com baixo relevo originário de edificações dos tempos dos romanos e uma
série de esculturas em nichos e sobre o beiral do terraço. Nos forros havia
afrescos, alguns deles do artista Giovanni Lanfranco. O espaço consiste
em um salão central, com teto em arco que servia de eixo a todas as salas
ao seu redor, projetadas para expor peças definidas da coleção do
Cardeal.
Segundo CAMPITELLI (2003b), em descrições encontradas no arquivo da
família, escritas por Montelarici, um dos camareiros do Cardeal, referentes
ao ano de 1700,
i prospetti erano adorni da bem 144 bassorilievi, disposti in ogni parte
com bellissimo ordine, guerniti com freggi, cornici e festoni e altri
lavori gentilissimi di stucco e inoltre da 70 busti, da 43 statue e da
218
molte opere simili di marmo, quase tutte antiche, d´eccelente e
meraviglioso artifício (CAMPITELLI ALBERTA, p. 61).
3
A decoração das fachadas projetada por Vasanzio, na época foi
duramente criticada, considerada por demais elaborada e redundante. No
século XVIII, o arquiteto Antonio Asprucci foi encarregado da decoração
interna da Villa e do fechamento dos pórticos do primeiro andar.
Grande parte das obras ornamentais, no período napoleônico, foi vendida
à França, rompendo a harmonia e requinte originais das fachadas.
No início do século XIX, o arquiteto Luigi Canina realizou uma
reestruturação delas, dando-lhes as características atuais de aparência
mais severa e com poucos ornamentos, segundo regras neoclássicas,
recriando uma homogeneidade e harmonia.
Figura 137 - Palazzo Borghese, atual Galeria Borghese. Autor, 2007.
3
Tradução: “as fachadas erma adornadas por 144 baixos relevos, colocados em toda parte em
perfeita ordem, guarnecidos com ornamentos, molduras e festões e outros acabamentos em gesso
estuque e além destes de 70 bustos, de 43 estátuas e muitas obras em mármores semelhantes,
quase todas antigas, de excelente e maravilhosa manufatura”.
219
A Galeria Borghese ficou fechada por treze anos para restaurações de
1983 a 1997, quando de sua reabertura com sistemas modernos de
segurança e proteção das obras de arte da coleção.
Figura 138 - Detalhe do balaústre anterior a praça da Galeria Borghese. Autor,
2007.
O PAVILHÃO DAS AVES OU “UCCELLIERA” - Foi construído entre
1617/1618, a pedido do Cardeal, como um complemento da área ao redor
da construção principal da Villa, o que era de relevância na época para as
Villas da nobreza, além de constituir-se em um hobby e local de exposição
de aves para os hóspedes e visitantes. Os aviários nas residências
abastadas tiveram origem nas Villas do período romano, sendo que as do
século XV o tinham, como Villa Giulia, residência do Papa Julio III, e atual
Museu Etrusco, anexada aos terrenos de Villa Borghese, e Villa D’Este em
Tívoli.
Foi erguido após a conclusão da construção principal e dos dois jardins
secretos anexos a ela, elaborada com grande ornamentação, criando uma
separação entre a área rústica do campo e o complexo monumental
construtivo.
220
O projeto é atribuído ao arquiteto Giovanni Vasanzio, pois na época não
havia o hábito da assinatura nos documentos encontrados sobre os
trabalhos construtivos no local, que tinham descrição minuciosa de cada
etapa, desde a fundação até a colocação do brasão da família, em
mármores e toda a ornamentação em estuque e pinturas executadas em
seu interior.
É composto de duas amplas salas em formato de gaiola retangular,
abertas na parte superior, cobertas por estruturas de vergalhões de ferro e
de retículas de fios de cobre, em forma de cúpulas, iguais às existentes na
parte externa das grandes janelas.
Estão separadas por um corredor e, arco com aberturas laterais,
permitindo a visão dos pássaros raros e exóticos ali mantidos.
A composição arquitetônica é simétrica, com duas grandes janelas em
arco como a abertura da passagem e tendo em cada lado janelas menores
para auxiliar na iluminação das salas.
Toda a construção é ornamentada com peças esculpidas em mármores:
brasão do cardeal Borghese, um “cordeiro e um busto” do período romano
do século III D.C., emoldurado por duas águias e globos em travertino.
Também compunham a ornamentação festões e capitéis em estuque, na
fachada voltada para o edifício principal, sendo mais simples no lado
posterior, voltado para o campo.
Quando da realização do terceiro jardim secreto e do pavilhão da
Meridiana, a fachada para este jardim foi totalmente reestruturada,
segundo projeto do Arquiteto Carlo Rainaldi.
221
Figura 139 – Uccelliera, vista frontal. Autor, 2007.
Figura 140 – Uccelliera, vista posterior. Autor, 2007.
OS JARDINS SECRETOS - Juntamente com a construção do edifício
principal, foram implantados dois jardins denominados secretos,
diametralmente opostos, em relação aos lados da Villa, que compunham
uma extensão externa das salas do térreo, pelas quais se tinha acesso,
que eram cercados por muros altos.
Os jardins secretos têm sua origem nos “Hortus conclusos” do período
medieval, com ampla utilização nas Villas renascentistas, destinados ao
cultivo e exposição de flores raras e exóticas, se constituído em “quartos
abertos” que compunham as coleções naturais ao lado das obras de arte
apresentadas no interior das mesmas.
222
Os muros altos os tornavam propícios a plantações de espécies cítricas,
em vasos ou ao longo dos muros, enquanto que canteiros abrigavam
flores e ervas medicinais. A partir do ano de 1600, a voga entre os nobres
possuidores de jardins era as coleções de plantas “bulbosas”, como
jacintos, tulipas, narcisos, anêmonas, a tal ponto que trocavam entre eles
exemplares raros, trazidos de toda a Europa, alguns atingindo preços
astronômicos.
O primeiro jardim localizado na lateral voltada para Via Pinciana
denominado “Giardino de Melangoli”, designação das espécies Citrus
Aurantium ou laranja amarga. O segundo jardim, simétrico a este,
denominado Jardim das flores, cercado por arbustos cítricos com canteiros
de plantas originárias de bulbos.
O terceiro e último, entre o Aviário e a Meridiana, concretizado por volta de
1680, formado por canteiros com flores raras e delicadas, dentre as quais,
segundo documentos do arquivo da família, estavam listadas plantas de
ananás.
Os jardins passaram por muitas modificações, de acordo com as épocas e
atualmente foram restaurados, procurando-se usar muitas das espécies
plantadas na época do Cardeal Scipione.
Figura 141 - Primeiro Jardim secreto, ao fundo os prédios de Rua Pinciana. Autor,
2007
223
Figura 142 – Citrus medica Digitaba, primeiro Jardim Secreto. (CAMPITELLI, 2003b,
p.123)
Figura 143 - Terceiro Jardim Secreto. Autor, 2007.
MERIDIANA - Projetada pelo arquiteto Carlo Rainaldi com a colaboração
de Tommaso Mattei, sua forma foi orientada para compatibilizar-se com o
Aviário e o edifício principal tendo os trabalhos concluídos em 1688. Seu
nome deveu-se a um relógio solar colocado na fachada voltada para a
Villa.
No local, anteriormente havia o galinheiro com quatro salas para a criação
e mantendo a estrutura foram construídas novas fachadas, além de um
frontão mais alto, escondendo desta forma o teto original irregular. As
janelas, por sua vez não correspondiam a todas as projetadas, portanto a
solução era de pintar algumas mantendo a simetria.
224
Figura 144 – Meridiana. Autor, 2007.
O tratamento decorativo lhe valeria a denominação de fachada,
guarnecida com esculturas, pois foram colocados bustos, estátuas e
vasos. Seu interior era simples e sem afrescos como as demais
construções. Na Meridiana funciona a central de informações, com a
distribuição de folders e mapas com a programação do mês, e também
venda de livros sobre o Parque.
Figura 145 - Detalhe do relógio solar da Meridiana. Autor, 2007.
OS JARDINS DO LAGO - A área onde está situado, pertence à terceira
fração da propriedade, onde o terreno apresentava entre uma série de
elevações e depressões, com vegetação de lecci, espécies arbóreos
européia, pinheiros e arbustos de louros entre outras plantas.
Freqüentados por cervos e veados, uma parte plana em formato
quadrangular, se destacava na paisagem no limite dos muros da
propriedade e pelos arcos de um aqueduto. Estando em posição
privilegiada, de acordo com as descrições constantes do século anterior,
225
era denominada de “Piano Bello” ou “Piano dei Licini”. Esta parte pertencia
à reserva de caça e era formada por várias outras propriedades adquiridas
pelo Cardeal com as respectivas construções originais.
No local existia uma pequena construção que foi transformada, para
abrigar leões que seriam apreciados pelos visitantes; e onde também
estava locado um imenso sarcófago romano, adornado com alto-relevos,
com cena de batalha. Os trabalhos para realização do lago duraram 6
anos, de 1783 a 1790, com muitas mudanças no projeto, sendo
encarregados da obra os arquitetos Antonio e Mario Asprucci
conjuntamente a artistas, paisagistas e jardineiros.
Sua intenção era a criação de alamedas e caminhos de traçado
geométrico que tivessem ao fim monumentos, reproduzindo modelos
arquitetônicos do passado, principalmente do período grego, criando
perspectivas. Foram construídos portanto o pequeno Templo de Diana
caçadora, o de Antonino e Faustina, o majestoso templo de Esculápio à
beira de um espelho d’água e a colocação de uma série de estátuas
antigas caracterizando a presença neoclássica no local.
Figura 146 e 147 – Respectivamente Templo de Diana caçadora e Templo de
Antonino e Faustina. Autor, 2007.
226
Este templo estaria próximo ao muro limítrofe da propriedade, com uma
estátua de Esculápio originária do Mausoléo de Augusto, adquirida e
restaurada pelo escultor Vicanzo Pancetti, defronte a um pesqueiro de
forma retangular. Durante a ralização das obras, seu projeto foi modificado
pelo príncipe Marcantonio com a ajuda do pintor de paisagens inglês
Jacob More, que deu ao lago e seu entorno as características dos famosos
jardins ingleses da época. Foi auxiliado pelo jardineiro Francesco Bettini
empregado do Cardeal Giuseppe Doria Pamphili, dono da propriedade
vizinha.
Ao final da obra, o jardim havia sido de tal forma modificado, apresentando
um exagero em vegetação e elementos escultóricos esparsos,
descaracterizando o estilo inglês e francês da época.
Figura 148 – Foto do lago, com o Templo de Esculápio ao fundo. Autor, 2007.
CASA DAS ROSAS - Vinhedo de propriedade da família Manfroni,
registrado em plantas desde 1748 e adquirido em 1833. A área atual é de
difícil reconhecimento pelo traçado viário que a atravessa, atual parte da
Alameda, denominada “Viale San Paolo Del Brasile” e pelas modificações
urbanísticas efetuadas no acesso a “Porta Pinciana”, com a realização de
pequena praça denominada Praça Brasil.
227
A construção foi reestruturada pela primeira vez em 1834, pelo arquiteto
Luigi Canina e, posteriormente modificada para sediar um restaurante,
pelo arquiteto Stefano Giovannini.
Possui uma lateral voltada ao referido acesso que sofreu danos nos
bombardeios de 1849, do exército francês contra as tropas da República
Romana de Mazzini, sendo restaurada em 1854, servindo posteriormente
como residência dos empregados, curral e depósito.
Quando da aquisição da propriedade pela municipalidade, foi reformada e
seu interior adquiriu características de um chalé suíço para transformar-se
em boate, freqüentada pela sociedade romana. Foi fechada no final da
década de 70, por reformas sem permissão por parte dos arrendatários do
local, caindo no abandono e degradação.
Em 2002 iniciaram-se os restauros para a festa do centenário de Villa
Borghese dando lugar a espaços dedicados ao cinema com exibições,
sala de exposições e parte da fachada recebendo características
arquitetônicas modernas com uma parede substituída por pele de vidro,
recebendo a denominação de Casa Do Cinema e o espaço externo de
Praça Marcello Mastroianni.
Figura 149 – Casa do Cinema, na Praça Marcello Mastroianni, fundo da Casa das
Rosas. Autor. 2007.
228
A outra parte da construção tornou-se um agradável café com mesas ao
longo da “loggia” lateral e um jardim.
A Casa de Raffaelo tem na parte posterior uma capela e abriga atualmente
uma Ludoteca, com atividades infantis.
Figura 150 - Casina de Raffaelo e capela de Imaculada Conceição. Autor, 2007.
VILLA DORIA - Pista para treinamento hípico - Antiga propriedade do
cardeal Giuseppe Doria Pamphili, vizinha a Villa Borghese, constituía-se
de uma construção maior de uso residencial, numa série de pequenas
construções e de um fabuloso jardim no estilo inglês, alvo de cobiça de
Marcantonio Borghese, a ponto de dar origem ao jardim do Lago por ele
construído.
A residência denominada de Casa de Raffaelo, recebeu esta denominação
por ter em sua decoração afrescos atribuídos a Girolamo Sermoneta,
discípulo da escola rafaelina. Ao ser adquirida em 1831, boa parte do
renomado jardim perdera suas características, parte da área foi
transformada em pista para montar a cavalo e da residência foram
retirados os afrescos e remontados na residência Borghese para
exposição.
229
Praticamente todas as construções da propriedade foram destruídas nos
bombardeios franceses de 1854. Seu uso atual é a pista para hípica com
áreas isoladas e incultas, pelas saídas de ar do estacionamento público
subterrâneo construído na década de sessenta.
A PEQUENA FORTALEZA – Museu Pietro Canônica - Denominada
pelas características medievais dadas aos muros ao seu redor após
reformas no final do século XVIII. Era parte de um vinhedo adquirido no
século XVII pelo Cardeal Scipione Borghese, com dois andares, de caráter
rústico, utilizada como residências do carroceiro e dos empregados que
tratavam das criações. Reestruturada na época de Marcantonio pelo
arquiteto Antonio Asprucci, recebeu decoração pictórica e o acabamento
atual. No final do século XIX abrigou escritórios administrativos municipais
e em 1919 após um incêndio foi interditada.
Após 1929 foi concedida como atelier e residência ao escultor Pietro
Canônica, originário da região do Piemonte em troca de uma reforma e
doações de inúmeras obras para a cidade. Com seu falecimento em 1959,
a viúva doou o atelier com desenhos, modelos, obras e uma coleção de
pinturas de artistas de sua região do século XVIII a Prefeitura de Roma,
que transformou parte da casa em museu do escultor em 1961. A partir de
1987, quando da morte da viúva, toda a casa integrou o atual museu.
Figura 151 – Fachada do Museu Pietro Canônica. Autor, 2007.
230
ARANCIERA - MUSEO CARLO BILOTTI - Era chamada de Casa dos
jogos de água, um dos mais requintados e com rica decoração, da
primeira fase da Villa, onde o Cardeal realizava magníficas festas e
reuniões.
Foi quase que totalmente destruída nos bombardeios no ano de 1849,
sendo reconstruída fora de estilo e perdendo todos os afrescos e
elementos decorativos, sendo usada como depósito de frutas, dando
origem ao nome.
Após os restauros reabriu suas portas em maio de 2006, como Museu
Carlo Bilotti, nome do empresário e colecionador ítalo americano, que fez
doação de sua preciosa coleção da qual constam desenhos, pinturas e
esculturas de artistas modernos como Giorgio de Chirico, Andy Warhol,
Giacomo Manzu entre outros. O andar térreo é para exposições
contemporâneas internacionais e o andar superior para o acervo, estando
circundado por um esplendido jardim que será palco para instalações.
CASA DE GRAZIANO - Adquirida em 1616, inicialmente para abrigar uma
parte da coleção de estátuas e pinturas, era usada como local para
descanso durante as caçadas do Cardeal Scipione. Localizado ao lado do
Vale dos Platanos, antiga reserva de caça e atual área destinada para
cães. Seu nome deve-se ao fato de ter sido propriedade de Stefano
Graziani, ilustre jurista.
CASINA VALADIER - Casa que pertenceu aos freis de Santo Agostinho
da igreja de Santa Maria Del Popolo, localizada mais abaixo na Praça do
Povo e reformada entre 1815 e 1834 pelo arquiteto Valadier onde foi
instalado um café. No início do século XX, foi restaurada e modificada em
parte e passou a ser um restaurante. No final da 2ª Guerra, foi requisitada
pelos americanos tornando-se uma danceteria. Passou por um período de
decadência até encerrar suas atividades. Atualmente, após ter sido
231
restaurada voltou a ser restaurante dançante e na parte superior há salas
para a realização de exposições.
Figura 152 - Casina Valadier. Autor, 2007.
Outras casas pertencentes à área são a Casa do Relógio ao lado da Praça
de Siena, Villa Poniatowski, antiga residência do Papa Julio III e residência
do Príncipe Stanislao Poniatowski, sobrinho do rei da Polônia e atualmente
integrante do complexo do museu etrusco de Villa Julia, adquirida para
tanto pelo governo em 1988; a Villa Strohl Fern, Casino Cenci Giustiniani,
Casino degli Uffizi.
Figura 153 e 154 – Villa Strohl Fern e Casino Degli Uffizi (fonte:
www.Villaborghese.it).
232
Figura 155 – Caso do Relógio. Autor, 2007.
GALERIA NACIONAL DE ARTE MODERNA - Criada em 1883, teve o
majestoso edifício construído para a Exposição Internacional de 1911, com
projeto de Cesare Bazzani. De seu acervo fazem parte obras
neoclássicas, romantismo, dos movimentos do final do século XIX frances
e italiano, até chegar à arte conceitual. O múseu está passando por
ampliações e adequações para melhor abrigar um número maior de obras
contemporâneas.
Figura 156 - Museu Nacional de Arte Moderna. Autor. 2007
SILVANO TOTI GLOBE THEATER - Idealizado pelo ator e diretor teatral
Gigi Proietti, de forma circular em madeira, construído em uma depressão
233
do terreno próximo ao lago, réplica do teatro elisabetano onde
Shakespeare apresentava suas peças. Foi construído em uma parceira
com a Fundação Silvano Toti e a prefeitura de Roma.
Formado por uma platéia e três andares de balcões tem a capacidade
para 1250 pessoas.
Figura 157 - Silvano Toti Globe Theater. Autor, 2007.
Figura 158 - Lateral com entradas abaixo do nível da rua. Autor, 2007.
FONTES - O parque possui quinze fontes espalhadas pela área, de
origens e materiais variados. Dentre elas, podemos destacar a Fonte dos
Cavalos Marinhos, a do Sarcófago, das Tartarugas na praça Bruno Zevi
defronte ao Museu de Arte Moderna e Fonte Obscura.
234
Figura 159 – Fonte dos Cavalos Marinhos. Autor, 2007.
ACADEMIAS DE ARTE E INSTITUTOS CULTURAIS - Têm por objetivo a
pesquisa nas áreas literárias, filosóficas, históricas, arqueológicas,
científicas, arquitetônicas e artísticas na Itália, promovendo o intercâmbio
de estudantes, pesquisadores e professores universitários.
Promovem eventos culturais e exposições de arte, concertos, palestras e
cursos. Cada instituto mantem publicações sobre suas atividades. Todos
foram criados através de acordos culturais com a Itália e promovem
também bolsas de estudos a pesquisadores e alunos italianos, para seus
países.
São ao todo onze edificações representando cada país: a Bélgica, criado
em 1902; O Egito, em 1929 e com sede no local atual de 1965; A Austria
em 1937; A Holanda e a Romenia em 1922; A França, Inglaterra e Suécia
em 1925 (sendo a Suècia e a partir de 1940 na sede atual); A Dinamarca e
o Japão, que estava em tratativas no período que anteceu a 2ª Grande
Guerra, em 1954 (porém a sede atual japonesa foi terminada em 1962).
235
Cada país conta com uma sede em área pertencente ao Parque, mas fora
dos limites, fechados com as grades por motivos de segurança.
O mais recente é o IsIAO, Instituto Italiano para África e Oriente, criado
pelo decreto lei nº 505/1995, resultando da união do Instituto Ítalo-Africano
e do Instituto italiano para Médio e Extremo Oriente, que realiza pesquisas
sobre a realidade contemporânea nas áreas político, econômico e sociais
além das voltadas à história das culturas.
Figura 160 – Academia de Arte da Romênia. Autor, 2007.
Figura 161 - Academia de Arte da Dinamarca. Autor, 2007.
MONUMENTOS - Distribuídos pelas áreas do parque encontra-se
dezenove monumentos, estando o do Rei Humberto I numa área de altos
pinherios, ao lado da alameda que conduz à Galeria Borghese.
BIOPARCO OU JARDIM ZOOLÓGICO e MUSEU CÍVICO DE
ZOOLOGIA - Ocupa uma área de 17 hectares (recém reestruturado), onde
foram criados ambientes adequados às espécies ali mantidas, estando
livres dentro de cada recinto.
236
Tem por objetivo a preservação das espécies. Através de visitas com
monitoria realiza um trabalho de educação ambiental, o que se pode notar
desde a entrada onde há uma série de placas elucidativas próximas a um
aviário com espécies de outros países, inclusive araras brasileiras.
Também na mesma área encontra-se o edifício do Museu com um imenso
acervo, organizado didaticamente para apresentar a evolução da
biodiversidade da região e de maneira geral.
Figura 162- Entrada do Jardim Zoológico e Museu de Zoologia. Autor, 2007.
Do mesmo modo próximo ao local encontra-se o Valle dei Cuccioli onde
são encontrados cães para adoção e os que estão recolhidos nos canis
municipais.
Figura 163 – Valle dei Cuccioli – Vale dos Filhotes. Autor, 2007.
237
6.4 - ATIVIDADES CULTURAIS E DE LAZER
Os freqüentadores podem dispor de tipos diferenciados de programas no
uso do parque.
Pode-se observar um público variado nos freqüentadores do parque.
Muitos se dirigem a visitas aos museus, principalmente a Galeria Borghese, que
regulamentou os horários dos grupos de duas em duas horas, e muitas vezes só
com agendamento, evitando acúmulo de pessoas na circulação das salas. Na parte
inferior está instalado um Café e um centro de pesquisa com computadores.
Todos os museus mantêm programas de atividades educativas e cursos.
Na Casa Do Cinema são realizados eventos, apresentações e exposições da área.
No Globe Theather, na primavera e verão, são apresentadas peças do repertorio
tradicional e atual, aberto a grupos experimentais. Não funcionando no inverno.
Após as visitas, os freqüentadores caminham apreciando o paisagismo
até alguma cafeteria, como a Casa das Rosas, ou lanchonetes espalhadas pelo
parque e ali conversam e descansam, sem contar os freqüentadores do restaurante
com música à noite.
Há muitos bancos que fazem a alegria de leitores e demais usuários, pois
a topografia do Parque é acidentada e as caminhadas são longas. Nos dias quentes
encontram-se pessoas sentadas sob as árvores reunidas para conversas e
brincadeiras.
Professores, com pequenos grupos de crianças de ensino fundamental,
usam o Parque para aulas de educação ambiental, bem como mantém atividades
específicas infantis na Ludoteca, mantida na Casa de Rafael, já descrita.
Filmes podem ser assistidos no Cinema dos Pequenos, considerado o
menor cinema do mundo, com capacidade apenas para 63 pessoas, em horários
diurnos para crianças e no vespertino para adultos. Ao lado, encontra-se um
238
carrossel. Há também um teatro de marionetes, o Teatro San Carlino, no Jardim do
Lago, que realiza apresentações e workshop para crianças ficando fechado do
período de inverno.
Há pessoas que praticam caminhadas, corridas e exercícios. Outros
alugam as bicicletas e se deslocam pelas alamedas. Saindo da frente do Cinema
dos Pequenos, um trenzinho percorre várias alamedas até o Zoológico.
O terraço do Pincio, sobre a Praça do Povo e o mirante da Casa Valadier
sempre estão repletos de adultos e crianças para verem a cidade e registrarem o por
do sol.
O Valle dei Platani é destinado ao lazer dos cães, e esta área é
freqüentada diariamente.
Figura 164 - Valle dei Platani (Vale dos Plátanos), área de lazer para cães. Autor, 2007.
O lago dispõe de pequenos barcos que podem ser alugados para
passeios, tradição há mais de 200 anos, além do belo paisagismo ao seu redor.
Há policiamento constante realizado pela guarda municipal a cavalo, em
veículo elétrico e pela polícia na zona dos mirantes.
Internamente circula um micro ônibus por três alamedas que conduzem
as pessoas até a avenida que atravessa o parque, em conexão com as linhas de
239
transporte normal. Apenas idosos ou pessoas com crianças fazem uso deste meio,
pois usual é caminhar.
6.5 - PARALELO ENTRE VILLA BORGHESE E O PARQUE DO
IBIRAPUERA
Cinqüenta anos após a abertura ao público romano do Parque de Villa
Borghese estavam em andamento as obras na área do futuro Parque do Ibirapuera
para as comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo.
As duas áreas tiveram como mentores, para seu desenvolvimento,
figuras de destaque na sociedade das épocas correspondentes, pela
visão artística, mecenato e como colecionadores de arte: Cardeal
Scipione Borghese e Francisco Matarazzo Sobrinho.
A constituição dos parques deu-se de maneira contrária: para Villa
Borghese o Cardeal Borghese partiu de um vinhedo de pequenas
proporções e adquiriu muitas propriedades vizinhas, para constituir a
área atual. Mais tarde, no século XX, sob a administração pública,
ouve outras incorporações. Já a área do Parque do Ibirapuera, em
estado virgem, tinha maior dimensão que a atual. O próprio poder
público iniciou a sua redução de acordo com os dados levantados no
Capítulo 3.
Os dois parques apresentam uma configuração geométrica
semelhante apesar do Parque do Ibirapuera apresentar quase o
dobro das dimensões de Villa Borghese: 158,4 hectares em relação a
80 hectares.
240
Figura 165 e 166 – Plantas de Orientação estilizadas, respectivamente de Villa
Borghese e Parque do Ibirapuera.
Os dois parques são relevantes exemplos da arquitetura de sua
época, sendo que as construções principais de Villa Borghese
constituem-se num dos exemplares mais importantes da arquitetura
barroca italiana e o complexo edificado do Ibirapuera, da arquitetura
moderna.
As construções de Villa Borghese foram projetadas por renomados
arquitetos italianos, iniciando-se por Flamínio Ponzio, Vasanzio e
finalmente Carlo Rainaldi. O projeto do Ibirapuera pertence ao maior
expoente da arquitetura Moderna Oscar Niemeyer e equipe formada
também por grandes arquitetos, Eduardo Kneese de Mello, Zeno
Lotufo, Hélio Uchoa, Ícaro de Castro Melo e, como colaboradores,
Gauss Estelita e Carlos Lemos.
Figura 167 e 168 – Respectivamente, Galeria Borghese e Pavilhão da Bienal.
Autor, 2007.
241
A quantidade de construções de Villa Borghese é em maior número
em virtude das diversas áreas agregadas, mas que possuem
dimensões menores, sendo todas utilizadas atualmente com
finalidade cultural, sem espaços ociosos. Apesar de edificações de
porte. No Parque do Ibirapuera os espaços são sub utilizados,
dispondo mais para eventos artísticos e feiras de negócios de curta e
média duração, a exceção do MAC, MAM, Museu Afro e a Oca que
proporcionam exposições contínuas.
Em Villa Borghese na re-qualificação e restauro do parque para as
comemorações de seu centenário passou a vigorar a proibição de
circulação de veículos, deixando apenas uma pequena área de
estacionamento desde a alameda de acesso até a entrada do Jardim
Zoológico, e excepcionalmente na praça do belvedere do Pincio para
pessoas com necessidades especiais.
No Ibirapuera também há limitação na circulação para usuários e
estacionamentos: ao lado do MAC, frente do Pavilhão da Bienal, lado
do MAM, lateral e pequena área próxima aos portões 1 e 2. Um
pequeno próximo ao portão 7 (Avenida República do Líbano),
contando ainda com a entrada pelo portão 10, próximo da Assembléia
Legislativa, de veículos e bolsão de estacionamento para
funcionários.
Na maioria das alamedas de Villa Borghese foi retirada toda a
cobertura asfáltica e substituída por cascalho, a exceção de um
pequeno circuito por onde transita um micro ônibus (menor que o
padrão brasileiro) o que em nosso parque não ocorre, tendo a maioria
dos percursos com cobertura asfáltica, exceto a pista de cooper
(cascalho) e os caminhos dentro do Viveiro Manequinho Lopes.
242
Figura 169 e 170 – Respectivamente, Alamedas dos Parques: Villa Borghese e
Parque do Ibirapuera. Autor, 2007.
Villa Borghese possui dois pontos de locação de bicicletas e
quadriciclos para dois e quatro lugares, sendo os únicos permitidos a
circular pelas alamedas delimitadas. Enquanto que no Parque do
Ibirapuera há somente uma bicicletaria, a do Maisena, que fica com
imensas filas nos finais de semana. Além de muitos freqüentadores
trazerem suas próprias bicicletas, circulando dentro e fora da faixa de
ciclovia existente nos caminhos do Parque.
Figura 171 e 172 – Respectivamente, Pontos de Locação de bicicletas
(triciclos e quadriciclos) dos Parques: Villa Borghese e Parque do Ibirapuera.
Autor, 2007.
Há uma área especial dedicada ao lazer dos cães que é sinalizada,
sendo proibida a circulação dos mesmos pelas alamedas e em outras
áreas de Villa Borghese; O mesmo não ocorre no Ibirapuera, onde
muitos visitantes levam seus cães sem guias e/ou focinheiras para
passear livremente, desobedecendo às normas da prefeitura. Além
disso a sinalização de proibição aparece apenas nos playgrounds, o
que também não impede o transito dos mesmos.
243
Figura 173 e 174 – Respectivamente, Placas: Espaço para cães do Villa
Borghese, e a restrição do cães ao playground no Parque do Ibirapuera (os
demais locais são livres para cães). Autor, 2007.
Em relação à preservação ambiental observa-se maior manutenção e
cuidado seja nas grandes áreas verdes como nos jardins secretos e
jardins posteriores à galeria, reformulados para manterem as
características originais botânicas em toda Villa Borghese, e o
cuidado especial com as plantas durante o inverno. Também a
limpeza das alamedas e caminhos é impecável.
O Parque do Ibirapuera por apresentar uma área muito maior requer
uma manutenção mais dispendiosa, grande número de funcionários e
a falta de educação ambiental por grande parte dos freqüentadores,
dificulta a adequada preservação da área.
Figura 175 e 176 – Respectivamente, Villa Borghese e Parque do Ibirapuera.
Autor, 2007.
244
Existe apenas um lago com vegetação de porte e em bom estado de
conservação em Villa Borghese o que não corresponde aos quatro
lagos que formam a superfície aquática do nosso Parque, que sofre
um processo da constante poluição. Mesmo após o tratamento
realizado em 2004. A estação de tratamento de águas instalada pela
Sabesp, reincide por motivos variados: à reprodução das espécies de
peixes superior ao recomendado para a quantidade de água existente
tornando a oxigenação prejudicada. Detritos orgânicos e inorgânicos,
não biodegradáveis porém recicláveis (garrafas e copos plásticos,
embalagens de salgadinhos e sorvete, papeis, latas de refrigerantes,
etc.) saão descartados por usuários e odor forte em dias de calor.
Quanto ao paisagismo, Villa Borghese apresenta menor área de
gramado contínuo e um maior adensamento de frondosas árvores,
pela sua topografia acidentada, com diversificação de tipologia
paisagística alternando jardins com características renascentistas,
estilo inglês e jardim italiano do século XVII, em harmonia com as
construções.
No Parque do Ibirapuera temos áreas com maior densidade arbórea,
alternada com vegetação de arbustos e gramados e grande variedade
de espécies, na maioria autóctones. O paisagismo criado por Otávio
Augusto Teixeira Mendes harmoniza-se com as áreas edificadas,
colocando-as em destaque na paisagem e delineando as alamedas,
na maioria com percurso sinuoso. O grande lago em posição frontal
cria uma paisagem tranqüila e harmoniosa ao transeunte da avenida.
Pela topografia quase plana e com poucos desníveis, torna a
caminhada mais agradável e permite o maior desfrute da paisagem.
Em Villa Borghese são permitidos pontos restritos de ambulantes
limitados a três áreas: próximo ao terraço do Pincio, na alameda perto
do lago e em frente ao jardim zoológico. Não são permitidos pic-nics e
possuindo mais cafés e lanchonetes, com serviços sanitários
adequados. O Ibirapuera, até a década de 1990 contava com três
245
quiosques de lanches. Atualmente (2007) funcionam um único
restaurante e sorveteria sob a marquise, próximo ao Museu Afro-
Brasil e cerca de 160 ambulantes com seus carrinhos, registrados
pela prefeitura para desenvolverem seu comércio, espalhados por
todo o perímetro do parque, principalmente nos finais de semana,
cooperam indiretamente com o acúmulo de detritos alimentares com
uma área reservada para pic-nic.
Figura 177 e 178 – Respectivamente, ponto de venda de lanches e souvenires
em Villa Borghese (portão do Zoológico), e Carrinhos de Ambulantes no
Parque do Ibirapuera (entrada da pista de Cooper). Autor, 2007.
246
CAPÍTULO 7 - PARQUE DO IBIRAPUERA UM ÍCONE DA
METRÓPOLE PAULISTA DO SÉCULO XXI
A cidade de São Paulo possui uma cobertura vegetal equivalente a 21%
de seu território, segundo dados do Atlas Ambiental, que identifica os 32 parques
municipais implantados, cobrindo uma área de 15.534.197m². Estão previstas as
criações de novos parques: 8 já estão na fase final de implantação. Também existe a
determinação da criação de parques lineares, que acompanhem o curso de rios e
córregos .
Figura 179 – Detalhe, Satélite 2, Atlas Ambiental do Município de São Paulo, Cobertura Vegetal.
(fonte: Secretaria do Verde e do Meio Ambiente)
Notemos que o aumento das preocupações com os problemas ambientais
do planeta está, a cada dia, participando mais de nossa vida. Nunca antes se falou
tanto sobre o aquecimento global, emissão de poluentes, contaminação da água do
mar e dos rios, importantes para a vida dos ecossistemas aquáticos, para a lavoura
e principalmente para a população.
247
O homem em seu afã capitalista e de índole predatória usou mais do que
podia e preservou pouco o meio ambiente.
A realidade da situação faz-se sentir pela brusca mudança climática em
nosso planeta, aonde temperaturas chegam a extremos nunca atingidos nos
períodos de inverno e verão, principalmente devido a atual dificuldade de determinar
os períodos corretos de sua ocorrência.
Épocas de estiagem, em contraponto a precipitações pluviométricas em
excesso, causam situações de calamidade nas cidades, zonas rurais, prejuízos
inestimáveis ao homem e à própria natureza.
No âmbito internacional e nacional, conferências, reuniões, congressos e
palestras estão sendo realizados para a tomada de posicionamentos e decisões
quanto à problemática ambiental.
São Paulo (e as grandes cidades do planeta) nos últimos anos tem
realizado diagnósticos para medir o impacto ambiental e suas conseqüências sobre
o ambiente urbano. A partir da criação de legislação própria, no sentido de fiscalizar,
punir os infratores e preservar áreas verdes como parques, reservas florestais,
mananciais e definir atitudes e diretrizes voltadas para garantir a qualidade de vida.
Devido a sua importância ambiental, foi elaborada uma legislação
específica para o Parque do Ibirapuera, a qual apresentaremos partes com
exemplos das mais recentes em vigor.
7.1 - LEGISLAÇÃO AMBIENTAL ESPECÍFICA SOBRE O PARQUE
Muitos Projetos de Lei e Leis foram elaborados para as áreas verdes,
incluindo o Parque, nas últimas décadas, mas realmente pouco foi realizado antes
do início do século XXI.
248
Podemos citar algumas Leis (projetos, decretos e demais) que tramitaram,
e foram aprovadas:
Projeto de Lei 191/90 - Institui as Brigadas Ecológicas no âmbito do Município
de São Paulo - Roberto Tripoli e outros vereadores - aprovado Lei 10.952 -
24/01/91 - Decreto 30092, de 02/09/91;
Projeto de Lei 314/90 - Dispõe sobre convênios a serem celebrados pela
Prefeitura Municipal de São Paulo para a despoluição do Rio Tietê;
Emendas do Projeto de Lei 343/90 - Proposta orçamentária para 1991;
Despoluição do Lago da Aclimação;
Tratamento do Lago Ibirapuera;
Desassoreamento do Lago Alfredo Volvi e Correção Erosão;
Emenda na Lei Orgânica do Município - Parágrafo único do artigo 181;
A obrigação anual do Executivo em prestar contas à Câmara Municipal de
São Paulo e à população;
No final da década de 1990, o vereador Roberto Trípoli, de forte atuação
com meio ambiente, apresenta:
Projeto contendo metas sobre a preservação, defesa, recuperação,
conservação e melhoria do Meio Ambiente - Tripoli e outros vereadores;
Projeto de Lei 904/97 - Dispõe sobre incentivo fiscal para Criação,
Recuperação e Conservação de áreas verdes no Território do Município de
São Paulo, e dão outras providencias.
As primeiras providências com fundamentação no relatório dos
Indicadores Ambientais Paulistanos serão tomadas a partir de 2004, de acordo com
a:
Resolução nº 82/CADES/2003 de 11 de dezembro de 2003
Dispõe sobre a aprovação da proposta de Matriz dos Indicadores
Ambientais Paulistanos.
249
O Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável -
CADES, usando das atribuições e competências que lhe são conferidas por Lei:
R E S O L V E:
Art. 1º - Aprovar, durante a 58ª Reunião Plenária Ordinária, realizada em
11 de dezembro de 2003, a Matriz dos Indicadores Ambientais Paulistanos,
para os fins previstos no Decreto
nº 41713/92 em seu art. 8º parágrafo 1º, de acordo com o Parecer
Técnico CADES nº 05/2003, da Comissão Especial para Proposição
de Indicadores Ambientais para a Elaboração do Diagnóstico
Ambiental do Município de São Paulo.
Art. 2º - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Adriano Diogo
Presidente do Conselho Municipal do Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável – CADES e conselheiros presentes.
Nas laudas do Parecer Técnico, de 05/CADES/2003, temos a indicação
direta para o Parque:
CÂMARA TÉCNICA III - Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo,
Complexos Urbanos e Habitação
Empreendimento:
Plano Diretor do Parque do Ibirapuera e Respectivas Intervenções
Empreendedor:
Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
Do qual apresentamos a introdução com a fundamentação dos dados:
PARECER TÉCNICO CADES n
o
03/2003
1. INTRODUÇÃO
A Câmara Técnica III de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo,
Complexos Urbanos e Habitação do Conselho Municipal do Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – CADES, reuniu-se nesta
data para deliberar sobre o pleito formulado pela Secretaria Municipal
do Verde e do Meio Ambiente, acerca do empreendimento
denominado Plano Diretor do Parque do Ibirapuera e Respectivas
Intervenções. Trata-se de avaliação do Estudo de Viabilidade
Ambiental - EVA elaborado pela empresa VRL Arquitetos
Associados, em setembro de 2003, apresentado pela Secretaria
Municipal do Verde e do Meio Ambiente para fins de obtenção da
Licença Ambiental Prévia – LAP, nos termos da Resolução
61/CADES /2001, de 05/10/2001.
250
A Câmara Técnica reuniu-se regularmente para estudar o
documento, procurando informações sobre a obra, assim como sobre
detalhes da formulação do EVA, com o objetivo de subsidiar as
discussões e fundamentar o parecer final. O empreendedor e outros
atores envolvidos participaram das reuniões, quando solicitados,
contribuindo com informações. Quando as informações fornecidas
não foram consideradas suficientes, foram solicitadas
complementações, trazidas pelo empreendedor, que possibilitaram a
discussão de cada uma das intervenções propostas.
A Câmara Técnica reuniu-se dez (10) vezes, respectivamente nos
dias: 02/10, 09/10, 16/10, 23/10, 30/10, 06/11, 11/11, 13/11, 14/11 e
17/11.
Cabe ressaltar que, no dia 13 de outubro de 2003, foi realizada uma
Audiência Pública no Centro Cultural São Paulo.
Os seguintes documentos foram utilizados para a análise do estudo
proposto:
Termo de Referência aprovado pelo CADES, através da
Resolução 77, de 10 de julho de 2003, para o EVA do Plano Diretor
do Parque do Ibirapuera e respectivas intervenções;
Estudo de Viabilidade Ambiental, volumes 1 e 2
Documento Plano Diretor Parque Ibirapuera, apresentado pelo
arquiteto Marcos Cartum, da Secretaria do Verde e do Meio
Ambiente, em 23 de outubro de 2003;
Nota Técnica Básica sobre as Garagens Subterrâneas,
apresentada pela empresa VRL em 30 de outubro de 2003;
Parecer Técnico nº 01/DECONT/2003, de 06 de novembro de
2003;
Transcrição da Audiência Pública realizada em 13 de outubro de
2003 e entregue em 11 de novembro de 2003;
Diretrizes para o Plano de Manejo, entregues pelo empreendedor
em 06 de novembro de 2003;
Constam medidas para a área geral e em particular para o Parque do
Ibirapuera e adjascências no Plano Regional Estratégico da Subprefeitura Vila
Mariana, de 2 de maio de 2007, principalmente na:
Subseção V – Da Área de Intervenção Urbana Parque do Ibirapuera
Seção IV – Rede Estrutural de Eixos e Pólos de Centralidade
Art. 17 – Ficam definidos como centralidades neste Plano Regional
Estratégico os eixos
viários e centros regionais e de bairro a seguir especificados:
II. Centralidades Polares: [...]
[...]
g) Parque do Ibirapuera, incluindo o Ginásio do Ibirapuera, o
Conjunto Esportivo, a Assembléia Legislativa e o DETRAN;
h) Pólo Hospitalar da rua Pedro de Toledo.
251
Capítulo II – Do Zoneamento
Seção I – Das Zonas Exclusivamente Residenciais – ZER
Art. 23 – Fica enquadrada a seguinte categoria de ZER:
I. ZER-1 – Zonas Exclusivamente Residenciais de Baixa Densidade,
definidas na Parte III
desta Lei: [...]
b) ZER-1/02 – Vila Paulista e Vila Nova Conceição;
c) ZER-1/03 – Jardim Lusitânia; [...]
Mais adiante na Seção VI, das Zonas de Ocupação Especial – ZOE:
Art. 31 – Ficam enquadradas como Zonas de Ocupação Especial
ZOE no território da Subprefeitura de Vila Mariana:
I. ZOE/01 Parque Ibirapuera – o território ocupado pelo Parque do
Ibirapuera;
II. ZOE/02 Círculo Militar – o território ocupado pelo Círculo Militar de
São Paulo;
III. ZOE/03 Clube Monte Líbano – o território ocupado pelo Clube
Monte Líbano;
IV. ZOE/04 Ipê Clube – o território ocupado pelo Ipê Clube;
V. ZOE/05 Clube Armênio – o território ocupado pelo Clube Esportivo
Armênio;
VI. ZOE/06 Clube Sírio – o território ocupado pelo Esporte Clube
Sírio;
VII.ZOE/07 Clube Helvetia – o território ocupado pelo Clube
Esportivo Helvetia.
§ 1º No perímetro do Parque do Ibirapuera deverão ser respeitadas
as diretrizes e restrições de ocupação estabelecidas no Plano Diretor
do Parque, aprovadas pelos
Conselhos de Tombamento – CONPRESP, CONDEPHAAT e
IPHAN.
Seção V – Das Áreas de Intervenção Urbana
Art. 37 – Constituem Áreas de Intervenção Urbana na subprefeitura
de Vila Mariana:
[...] V. AIU-5 – Área de Intervenção Urbana do Parque do Ibirapuera;
Nesta Subseção V – Da AIU-5 Área de Intervenção Urbana do Parque do
Ibirapuera, as medidas a serem adotadas são:
Art. 42 – Fica criada a Área de Intervenção Urbana do Parque do
Ibirapuera compreendendo o conjunto de edificações e
equipamentos públicos do seu entorno constituído pelo Ginásio do
Ibirapuera, Centro Esportivo, Assembléia Legislativa, DETRAN e
Instituto Biológico.
252
§ 1º O projeto urbanístico específico da AIU-5 Parque do Ibirapuera
deverá considerar na sua elaboração as seguintes diretrizes:
I. Incorporar, no médio e longo prazo, algumas áreas que já fizeram
parte do Parque do Ibirapuera originalmente e que poderão
enriquecer o conjunto, tais como: o conjunto esportivo, o prédio do
DETRAN e áreas junto a ele, os espaços livres junto ao Instituto
Biológico, à Assembléia Legislativa, ao Círculo Militar e às
instalações da SABESP;
II. Elaborar projeto de paisagismo que garanta a inclusão dos
espaços acima ao Parque, incluindo arborização massiva dos seus
limites leste;
III. Reorganização dos espaços livres junto à passarela que dá
acesso ao DETRAN;
IV. Desenho de calçadas homogêneas, com redução de área
impermeável;
V. Implantação de dispositivos de iluminação no nível dos pedestres
nas vias e nas praças;
VI. Implantação de dispositivos de acessibilidade em todas as
quadras da AIU, não apenas nos cruzamentos, aí incluídos os
dispositivos para deficientes visuais;
VII. Implantar transposições da avenida Pedro Álvares Cabral para
acesso mais convidativo e seguro ao Parque;
VIII. Incorporar o estacionamento da Assembléia para uso do
Parque, especialmente nos finais de semana ou alternativamente
projetar praça sobre o estacionamento através de cobertura do
mesmo;
IX. Organizar o estacionamento dos ônibus de turismo;
X. Implantar estacionamentos subterrâneos em locais estratégicos e
adequados do parque a serem construídos e geridos pela iniciativa
privada;
XI. Implantar melhorias nos pontos de parada de ônibus, incluindo
mobiliário urbano e sinalização;
XII. Estudar o caminho preferencial de pedestres a partir da estação
projetada do Metrô mais próxima ao Parque do Ibirapuera – Pedro de
Toledo;
XIII. Compatibilização das propostas da AIU com o Plano Diretor do
Parque em elaboração pelo DEPAVE;
XIV. Estabelecer parcerias com proprietários de imóveis de modo a
viabilizar as propostas;
XV. Trabalho junto aos moradores, comerciantes e prestadores de
serviços para que o projeto venha a ser de interesse de todos, assim
como futuramente sua manutenção.
§ 2º Na AIU-5 Parque do Ibirapuera ficam estabelecidos os mesmos
índices de ocupação das Zonas de Uso do entorno.
§ 3º Só poderão ser aplicados na AIU-5 Parque do Ibirapuera os
seguintes instrumentos urbanísticos:
I. Transferência do Direito de Construir;
II. Concessão Urbanística;
III. Relatório de Impacto Ambiental e de Vizinhança.
A partir desta decisão teremos as medidas em curso no momento,
distribuídas a curto, médio e longo prazo.
253
7.2 - PROBLEMAS AMBIENTAIS E SEU SOLUCIONAMENTO: LAGOS
Os três lagos do Parque apresentam problemas com a poluição das
águas há mais de dez anos. Mas por questões de verbas a serem empregadas pela
prefeitura, o problema da despoluição era adiado.
No ano de 2006, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp) apresentou um relatório sobre os programas de despoluição de
lagos na região metropolitana, afetados por aproximadamente 60 mil ligações
irregulares e/ou clandestinas, da rede de esgoto privado, que desemboca nos
córregos e bacias. A problemática apresentada deve-se à dificuldade de acesso a
rede, por estar, em muitos casos, sob as avenidas. Foi descoberto que um dos
problemas do Córrego do Sapateiro, que alimenta os lagos do Parque, eram pontos
de ligações da favela da Rua Dr. Mario Cardim, na Vila Mariana, onde foram
realizadas várias intervenções, eliminando as ligações.
São obras de alto custo, e ao todo, os trabalhos contemplam seis bacias
por ano, das 200 existentes. O custo no caso do Parque está estimado em R$ 5
milhões de reais, por tratar-se primeiro da retirada do lodo, posterior tratamento da
água, e pela área ocupada por eles de 157 mil m².
Desta forma, há um projeto de parcerias para manutenção com o setor
privado, onde seriam “adotados” 14 lagos existentes na cidade de São Paulo; mas
não basta realizar a despoluição sem uma manutenção continuada. As enchentes
também contribuem com a poluição dos lagos, pois os detritos acabam sendo
dirigidos para lá.
Ao despoluir os lagos, segundo a bióloga Vânia Soares Alves (UFRJ), a
população de urubus que habita o Parque tenderia a diminuir, pois a alimentação se
tornaria escassa pela redução da quantidade de peixes mortos. Por outro lado a
Prefeitura não assume o nível de poluição dos mesmos a ponto de serem atrativos a
estas aves. Atualmente foram registrados 130 espécimes de aves habitando o
Parque.
254
7.3 - FAUNA E FLORA: PRESERVAÇÃO E ESPÉCIES EXISTENTES
De acordo com o diagnóstico ambiental realizado no Parque do
Ibirapuera, a maior parte dos freqüentadores não tem idéia de que convivem cento e
trinta e oito espécies catalogadas.
Destas, oito estão ameaçadas de extinção e protegidas pelo Decreto
Estadual 42838/98, a exemplo do maracá-nobre, a jandaia-de-testa-vermelha, o
papagaio-verdadeiro e o gavião-de-cabeça-cinza.
Mergulhão e biguá podem ser vistos no segundo lago empuleirados sobre
uma plataforma de cimento, bem como o socó-grande, socozinho, garça-branca-
grande, garça-branca-pequena, cisnes, savacu, marreca-caneleira, irerê, gansos,
gavião-de-cabeça-cinza e gavião-carijó.
Figura 180 e 181 – Aves do Parque do Ibirapuera. Autor, 2007.
Da família falconidae, dos quais podem ser vistos em Vila Mariana e
Jardins, o falcão-de-coleira, falcão-peregrino, gavião-de-cabeça-cinza, gavião-carijó,
além do frango-d’água-comum, quero-quero, pombo-doméstico, asa-branca, rolinha,
juriti, corujinha-do-mato, coruja-orelhuda, andorinhão-do-temporal, andorinhão-de-
coleira, beija-flor-de-peito-azul, beija-flor-de-banda, beija-flor-preto-e-branco, martim-
pescador-grande, martim-pescador-verde, pica-pau-de-cabeça-amarela, pica-pau-
anão-barrado e joão-de-barro.
255
Vários tipos de sabiás como sabiá-una, sabiá-de-coleira, sabiá-poca,
sabiá-barranco, sabiá-ferreiro e sabiá-laranjeira.
Habitam o parque várias espécies de mamíferos, répteis, anfíbios e de
invertebrados, dentre eles o gambá-de-orelha-preta e o caxinguelê, sapo-cururu,
cágado-pescoço-de-cobra, tigre-d’água, cobra-de-duas-cabeças, cobra-d’água e
dormideira.
Encontramos também quatro tipos de morcegos: morcego-beija-flor,
morcego-das-listas-brancas-na-cabeça, morcego–das–listas–brancas–na–cabeça–e
–nas–costas, morcego-insetívoro.
Nos lagos, a população esta dividida entre carpa-comum, curimbatá,
surubim, acará, tilápia-do-nilo.
Para o atendimento e tratamento dos animais silvestres do Parque, o
Departamento de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE), órgão municipal, instalou a
Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre, objetivando
sua recolocação na natureza.
Um assunto que foi muito comentado pela imprensa é a família dos urubu-
de-cabeça-preta que são vistos pela manhã se alimentando de peixes mortos, ovos
e filhotes de outras espécies, ou procurando comida no lixo deixado nas ruas e em
terrenos entorno do parque. Costumam voar e fazer incursões pelas varandas e
coberturas dos edifícios próximos, muitas vezes fazendo até seus ninhos, pois
procriam nas alturas, segundo relatos da bióloga Vânia Soares Alves (UFRJ -
Universidade Federal do Rio de Janeiro).
256
Figura 182 – Urubu no Parque. (Foto: GUTOO - fonte: www.skyscrapercity.com)
Durante à tarde, nos finais de semana (e feriados, quando o Parque se
encontra lotado), geralmente podem ser encontrados no maciço de eucaliptos atrás
do Planetário. Através de observação constatou-se que seu número vem
aumentando. Já durante a semana, o melhor horário para vê-los é no período da
manhã, podendo ser encontrados na margem do lago 2.
Ao falarmos de flora devemos lembrar que muitas das espécies de
árvores e arbustos existentes no Parque são frutos remanescentes do projeto
paisagístico de Otavio Augusto Teixeira Mendes. Dentre as mais significativas:
figueira-benjamim, chichá, carvalho brasileiro, ipê-rosa, bosques de jaqueira e
guapuruvus, além de conjuntos de sete capotes e araribá.
Outras espécies como pau-ferro, banyan-da-índia, paineira e tamareira-
das-canárias também podem ali ser admiradas.
257
7.4 - PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DAS ÁREAS EM EXECUÇÃO
Uma constante nos comunicados da Prefeitura e da Secretaria do Verde e
do Meio Ambiente é em relação a melhorias da infra-estrutura, nas áreas
paisagísticas, culturais, de sinalização, arquitetura e problemas ambientais.
Devido à extensão do Parque, sua manutenção é de alto custo para a
Prefeitura e algumas das obras a serem executadas tornam-se demoradas em
demasia.
Uma das soluções que estão sendo adotadas para agilizar a re-
qualificação do Parque é o de parcerias com grandes empresas e bancos, como:
Grupo Pão de Açúcar, TIM, Santander Banespa, Honda, Fiat, Kaiser e outros.
Podemos mencionar que a partir da restauração das características
paisagísticas do projeto original, durante estes cinqüenta anos, muitas modificações
ocorreram, além de árvores de mais idade serem atacadas por cupins.
Algumas obras de maior custo já foram concluídas e entregues à
população, dentre elas estão:
O Auditório constante do projeto original de Oscar Niemeyer e que não teve
sua construção aprovado em 1953, por limitação das verbas para os festejos
do IV Centenário.
Envolto em polêmica pela subtração de área verde, pelo tombamento já
efetuado do Parque e através da revisão do projeto, o processo durou
aproximadamente um ano até sua liberação e colocação da pedra fundamental, em
2003, o que acarretou atraso na conclusão do mesmo, que estava prevista para
entrega em agosto de 2004, quando o Parque completaria 50 anos, o que ocorreu
apenas em 2005.
258
O projeto foi viabilizado graças à parceria com o grupo da Telecom Itália
América Latina, TIM, ao custo de 20 milhões de reais, como forma de presentear
São Paulo em seus 450 anos.
Houve modificações do projeto original, e o prisma triangular teve sua
posição modificada, sem a construção de outra marquise entre ele e a Oca, que não
foi autorizado. Tem capacidade para 840 espectadores, sendo que ao fundo do
palco há uma porta reversível, proporcionando abertura e a possibilidade da
utilização para grandes shows ao ar livre, com 15.000 espectadores
(aproximadamente) ocupando o gramado.
Figura 183 – Fundo do Auditório, Performance da Apresentação da Tocha dos Jogos Pan
Americanos. Autor, 2007.
Possui áreas para convenções e congressos, bar, foyer, sanitários e
camarins, sendo que já ocorreram vários shows, como em abril de 2007, dos
percussionistas internacionais.
O Planetário foi re-inaugurado em dezembro de 2006, após reforma,
principalmente por problemas estruturais (internos e externos). Recebeu nova
decoração e todo o equipamento de projeção (de alta tecnologia) foi
259
instalado. A reforma, com parceria da construtora Cyrela, começou em 1999 e
durou 7 anos.
Também previstas pelo Plano Diretor do Parque a reformulação das ruas
internas, com vias separadas para pedestres e ciclistas e a retirada da
camada asfáltica realizando a substituição por piso de areia com cascalho
fino, o que já vem ocorrendo em parques no exterior, aumentando a
permeabilidade do terreno.
Calçadas, guias e sarjetas serão transformadas em áreas gramadas ao lado
de alamedas que asseguram o acesso de idosos e portadores de deficiências.
Garagens subterrâneas (projeto em estudo) serão construídas para permitir a
remoção dos bolsões de estacionamentos.
Como maneira de ‘regulamentar’ os ciclistas desobedientes, o plano prevê a
construção de uma ‘ciclofaixa’ com percurso pelos principais pontos do
Ibirapuera, permitindo o trânsito moderado de bicicletas, adequado para
passeios de famílias. E uma ciclovia com percurso orientado para locais
afastados sendo, adequada para aqueles que gostam de correr.
O Viveiro Manequinho Lopes já foi reaberto ao público após a reforma e
oferece visitas fonoguiadas aos interessados.
O Pavilhão Manoel da Nóbrega também foi inaugurado abrindo outro foco
cultural: o Museu Afro-Brasil, com a exposição de 700 peças da coleção de
seu curador, Emanuel Araújo. Há uma sala para espetáculos, também
disponibilizada para sessões de cinema, dança e teatro.
A Prefeitura, em novembro de 2003, anunciou uma obra que causou grande
polêmica, a integração do Obelisco à área do Parque, a partir de um desvio
da Avenida Pedro Álvares Cabral, adicionando a área da via pública e
gramando o local, a um custo de R$ 2 milhões, em contrato de parceria. Até o
260
momento (agosto/2007) a obra não foi viabilizada. Da mesma maneira o
Monumento às Bandeiras, que foi também criticada por ambientalistas e não
constava do licenciamento ambiental autorizado.
Ocorreu em junho passado o remanejamento dos estacionamentos,
proporcionando um total de 925 vagas, com uso de zona azul.
O Detran, que ocupa o Palácio da Agricultura desde 1959, está destinada a
desocupá-lo até 2009, para dar lugar ao MAC. Segundo a atual diretora,
Lisbeth Rebollo Gonçalves, o prédio do Detran e todos seus anexos, de
propriedade do Estado, serão doados para a Universidade de São Paulo, que
cederá o espaço para o museu. E segundo a assessoria do MAC, no contrato
haverá uma cláusula que impedirá que a USP use o local para outros fins que
não seja o de pólo cultural. Os responsáveis pelo projeto serão o Museu de
Arte Contemporânea e a Secretaria da Cultura. As reformas para adequação
do imóvel estão estimadas em R$ 30 milhões, que serão subsidiadas pelo
Estado. (DELFIM, Denise. Pedaço da Vila, maio de 2007)
7.5 - EVENTOS CULTURAIS NO PARQUE
O primeiro e grande evento marca a data de seu nascimento, nas
Comemorações do IV Centenário, com a magnífica Exposição da Indústria. Mas, o
objetivo de sua construção também era de tornar-se um centro para a cultura e
lazer, o que foi conseguido com a abertura da 2ª Bienal Internacional de Arte, trazida
para o local por Francisco Matarazzo, envolvido com o movimento modernista da
Semana de 22, além de apreciador e colecionador de arte. De lá até nossos dias
são incontáveis atividades culturais, artísticas e de negócios que ali foram
realizadas.
O Auditório Ibirapuera foi inaugurado com o espetáculo “Saudades do Brasil”,
com a participação do pianista Marcelo Bratke, o percussionista Naná
Vasconcelos e os jovens músicos do Morro da Conceição, Recife, para um
261
público selecionado para a ocasião com representantes políticos e
personalidades.
Em 1961 foi promovida, em parceria com o Museu de Arte de São Paulo, a 1ª
Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, que se repetiu em 1963 e
65. Esses eventos serviram de ensaio para a 1ª Bienal Internacional do Livro,
custeada exclusivamente pela CBL. Realizada entre 15 e 30 de agosto de
1970, no mesmo edifício da Bienal de Arte, essa primeira feira reuniu algumas
centenas de editoras nacionais e estrangeiras e atraiu milhares de pessoas,
adultos, jovens e crianças. Já na 2ª Bienal, em 1972, o total de visitantes
chegou a 80 mil e o de expositores passou de 700. Rapidamente, a 9ª Bienal,
em 1986, recebeu um número muito maior de pessoas, o que vem sendo
constante a cada edição.
Em 1996, para abrigar um maior número de expositores e proporcionar maior
conforte ao público, ela passou a ser realizada no Expo Center Norte.
Os 50 anos da Bienal de São Paulo foram comemorados em 2001,
organizando uma mostra em homenagem a Ciccillo Matarazo. Segundo os
curadores da exposição Maria Alice Milliet, Daniela Bousso, Pedro Cury e
Marili Brandão, ela foi dividida em um núcleo histórico da Bienal e outro
voltado para a arte contemporânea, dando ênfase à cidade e o seu cotidiano
e sua importância nas criações dos artistas contemporâneos.
O Pavilhão da Bienal, atualmente, é um espaço que sedia alguns dos
acontecimentos mais importantes de São Paulo. O primeiro grande evento
que abre o calendário anual da capital paulista acontece lá. É o São Paulo
Fashion Week, que reúne os nomes mais famosos da moda brasileira e traz
para a cidade uma verdadeira “constelação” de modelos. O SPFW acontece
duas vezes por ano – em janeiro (moda inverno) e em julho (moda verão) – e
está incluído no calendário mundial de moda.
Também no espaço da Bienal alterna-se ano após ano outros dois eventos de
prestigio: nos anos pares, a Bienal de Artes, e nos ímpares, a de Arquitetura.
Ainda no Pavilhão da Bienal acontecem feiras e congressos, como a
262
Adventure Sports Fair, a maior feira de esportes e turismo da América Latina,
que no ano de 2005 recebeu mais de 64 mil pessoas.
O Seminário Final do CEPF-Mata Atlântica ocorreu entre os dias 24 e 27 de
maio de 2007, juntamente com o evento ‘Viva a Mata’ realizado anualmente
pela Fundação SOS Mata Atlântica, no Parque do Ibirapuera em São Paulo.
O seminário contou com a participação de 167 pessoas que representaram
184 projetos apoiados pelo CEPF (Critical Ecosystem Partnership Fund) -
63% contemplados pelo Fundo no bioma – e expostos 200 projetos
ambientais na Marquise do Parque, por onde circularam cerca de 75 mil
pessoas. Foram discutidos temas como planejamento da paisagem,
restauração florestal e conservação entre outros.
Em junho de 2006, ocorreu o 1º Encontro Brasileiro de Observação de Aves
(Avistar) - Durante o evento a SVMA lançou o Guia das Aves do Parque
Ibirapuera, com fotos para identificação elucidativas ao público, além da
Divisão de Fauna promover, nos últimos anos, no mês de outubro,
mini-cursos de observação de aves, tendo a promoção do SENAC de
São Paulo.
No mês de junho, dia 30, 2006, a prefeitura e a Secretaria de Verde e Meio
Ambiente lançou o Guia dos Parques Municipais, com 116 páginas, ilustrado,
contendo informações básicas de infra-estrutura, funcionamento, fauna e
flora, as benfeitorias realizadas. Nele, consta também, uma lista dos parques
em fase de implantação (editado pela SVMA).
263
Figura 184 – Atleta segurando a Tocha dos Jogos Pan Americanos. Autor, 2007.
Em julho de 2007, a tocha de abertura dos Jogos Pan-americanos - Rio 2007,
passou por São Paulo, finalizando seu percurso no Parque do Ibirapuera.
Outro grande acontecimento que ocorre na área e a instalação das árvores de
Natal para apreciação e alegria de adultos e crianças.
A parceria foi realizada entre o Banco Santander Banespa e a Prefeitura, que
tem instalado anualmente a maior árvore de Natal da cidade, com iluminação,
ao lado do Obelisco do Ibirapuera.
Em 2006 foi a maior construída com uma altura equivalente a um prédio de 20
andares, tendo 60 metros – a altura– e 28 metros de diâmetro, com estrutura
pesando 210 toneladas, e que levando duas semanas para ser montada.
264
Figura 185 – Árvore de Natal, Parque do Ibirapuera. Autor, Dezembro de 2006.
Ano passado foi, adornada por 12 esculturas, com 2 metros de altura
representando anjos e a estrela em seu topo pesava uma tonelada e 6 metros
de altura.
Uma inovação foi à inclusão de aparelhagem de som com músicas natalinas e
jogo de luzes que alternam os desenhos formados, criando imagens
diferentes. Mais um espetáculo que escolhe o Parque como palco para sua
atuação.
7.6 - A POÉTICA PLÁSTICA DO PARQUE DO IBIRAPUERA
A Dança das Águas, um espetáculo que encanta. Uma parceria bem
sucedida entre o Grupo Pão de Açúcar e a Secretaria do Verde para a instalação, no
265
lago maior que faz limite com a Avenida Brasil, e constitui-se na parte frontal do
Parque, de uma fonte multimídia flutuante.
Seu custo foi de 6 milhões de reais. Tem 110 metros de comprimento e
um jato central que chega a 60 metros de altura.
A empresa contratada foi espanhola a Ghesa, famosa por instalações em
muitos países de fontes neste gênero, adotando tecnologia de ponta, com sistema
computadorizado para o bombeamento da água produzindo os jatos e seus
movimentos sincronizando-os as músicas programadas.
Os estudos preliminares foram extremamente detalhados, observando
todas as normas de impacto sobre o lago e seu ecossistema, devido a ter uma
movimentação de 61 mil litros por minuto.
Além disso, foram também avaliados a integração da fonte com o
conjunto arquitetônico e paisagístico do Parque. A fonte foi inaugurada no
aniversário de São Paulo, em 2004.
A fonte em durante o ano é acionada diariamente, entre 11horas e
14horas e entre 19horas e 21horas. Na época natalina de 2006 a fonte recebeu,
iluminação especial e contou com 250 árvores iluminadas à sua volta, tornando-se
uma atração não só para os milhares de paulistanos que ali acorrem, como para os
turistas que vem a nossa metrópole para fazer suas compras de final de ano.
Neste aspecto a prefeitura soube valorizar este ícone da cidade,
disponibilizando dois roteiros turísticos que mostram o Parque do Ibirapuera e sua
árvore de natal, a fonte e a iluminação especial. Através da SP Turis (São Paulo
Turismo) os passeios funcionaram de 9 de dezembro até o dia 23, antevéspera do
Natal, sendo que o primeiro roteiro partia do Viaduto do Chá até o Ibirapuera e o
segundo passava pela Avenida Paulista e região dos Jardins, aproveitando a bela
iluminação de lojas e residências da área que recebem incentivos por parte da
prefeitura para decoração.
266
Figura 186 – Fonte no Natal: Show de luzes. Autor, 2007.
267
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Parque do Ibirapuera por seus aspectos geográficos, históricos,
normativos, arquitetônicos e paisagísticos apresentados mostra a ascensão de
uma área com poucas probabilidades de utilização. E evoluiu para uma de
grande potencial artístico, paisagístico e cultural, ao ser selecionada para a
sede de um grande evento histórico da cidade.
As Comemorações do IV Centenário de São Paulo expressaram o
progresso, o avanço industrial e tecnológico, poderio econômico,
representatividade cultural e artística do povo paulistano.
A construção do Parque do Ibirapuera, desta maneira, constituiu-se
no cerne do desenvolvimento do processo do valor simbólico das
comemorações.
Apresentando-se como distinto exemplar de uma arquitetura
inovadora, se relacionava diretamente com os ideais a serem alcançados.
A monumentalidade das comemorações e a grande exposição
ocupando as dependências do Parque levaram o público a vivenciar o novo
espaço de uma forma intensa, fixando-o no imaginário popular como
representação viva da cidade.
Ao término das comemorações teve o devido tratamento paisagístico
complementado, e o início dos eventos cultural atraiu o paulistano a desfrutá-lo
como área de lazer.
Aos poucos, foi instalando-se no imaginário popular pelas múltiplas
referências, principalmente ligadas à expressão paisagística e melhoria da
qualidade de vida, adquirindo valor simbólico da cidade.
268
A cultura moderna desenvolveu-se pelo poder da imagem, criando
seus ícones como expressões máximas da sua realidade.
O Parque do Ibirapuera pelo caráter dinâmico inerente ao seu
espaço físico e paisagístico passou a, cada vez mais, integrar a simbologia
popular da metrópole.
Cabe a colocação de que, o significado semiótico, segundo Pierce,
Santaella e outros autores para ícone, refere-se a signos onde existe
semelhança topológica entre significado e significante, outrossim, na
compreensão popular ele é traduzido pela expressão símbolo.
A tese também questionou a diminuição de sua área total de 200
hectares requisitados inicialmente para os 158,4 hectares atuais. A diferença
dilapidada do patrimônio público ambiental foi de 41,6 hectares em
aproximadamente 50 anos. Através da analise documental concluiu-se em
primeiro lugar que a própria Municipalidade iniciou o processo de redução com
a aprovação de loteamentos, em segundo a associação de interesses entre
empreendedores do setor imobiliário, a Municipalidade e o Estado, além da
negligencia, omissão, e da oportuna lentidão na tramitação legal. Desta
maneira, ficam objetivados os interesses e benefícios financeiros decorrentes
destas transações em detrimento de áreas livres, dispendiosas em sua
manutenção se comparadas ao lucro com a especulação imobiliária na região,
ligada principalmente à valorização em relação ao apelo de mais adequada
qualidade de vida e ao valor paisagístico ao seu alcance na atualidade.
Outro ponto constatado foi à expansão e ampliação do sistema
viário, a partir do Plano de Avenidas, de Prestes Maia, que priorizou a indústria
automobilística, subtraindo parte da área verde do Parque.
O Parque do Ibirapuera é reconhecido no país e exterior como pólo
cultural e de lazer por meio dos eventos relevantes que abriga e também por
constituir-se no parque com maior freqüência, chegando a 130.000 usuários
aos finais de semana, e constituindo-se um dos cartões postais da cidade.
269
O Parque tem como referência visual o Monumento as Bandeiras de
um lado e o Monumento ao Soldado Constitucionalista de 32, com seu
Obelisco, do outro. No centro do percurso entre eles, o Monumento a Pedro
Álvares Cabral, de braços abertos, como que convidando o público.
Partindo dos aspectos abordados nesta tese, nas qualidades
ambientais e contribuições sócio-culturais para com a cidade de São Paulo,
concluímos a comprovação de que o Parque do Ibirapuera é um ícone da
paisagem paulistana, que deve ser respeitado e preservado em sua plenitude
pelo poder público e população, como um rico legado ambiental e cultural de
nossa metrópole, para as gerações futuras compreenderem a sua história.
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o
: 4768
Assinatura 08/07/55 Publicação 09/07/55, Folha 45 Retificação 12/07/55, Folha 56
Ementa: AUTORIZA O EXECUTIVO A DESPENDER ATE A IMPORTANCIA DE
CR$20.000,00, NA CONSTRUCAO DO MONUMENTO E MAUSOLEU AO
SOLDADO PAULISTA DE 32, JA INICIADA NO PARQUE IBIRAPUERA, E DA
OUTRAS PROVIDENCIAS.
LEI N
o
: 5081
Assinatura 16/11/56 Publicação17/11/56, Folha 5
Ementa: DISPOE SOBRE ABERTRUA DE CREDITO ESPECIAL DE
CR$57.000.000,00 DESTINADO A LIQUIDACAO DOS DEBITOS DA EXTINTA
COMISSAO DO IV CENTENARIO DA CIDADE DE SÃO PAULO, E A
MANUTENCAO, NO EXERCICO DE 1956, DO PARQUE IBIRAPUERA, E DA
OUTRAS PROVIDENCIAS.
LEI N
o
: 5123
Assinatura 20/03/57 Publicação 21/03/57, Folha 5 Retificação 22/03/57, Folha 5
Ementa: AUTORIZA PROMOVER, JUNTAMENTE COM O GOVERNO DE SAO
PAULO, A INSTITUICAO DA FUNDACAO IBIRAPUERA, E DA OUTRAS
PROVIDENCIAS.
LEI N
o
: 9872
Assinatura 18/01/85 Publicação 19/01/85, Folha 1
Ementa: DISPOE SOBRE A OCUPACAO E ACESSO AO PARQUE IBIRAPUERA.
LEI N
o
: 10413
Assinatura 04/12/87 Publicação 05/12/87, Folha 2
280
Ementa: REVOGA DISPOSITIVOS DA LEI 9872/85, QUE DISPOE SOBRE
OCUPACAO E ACESSO AO PARQUE IBIRAPUERA.
LEI N
o
: 10929
Assinatura 11/01/91 Publicação 12/01/91, Folha 1
Ementa: DISPOE SOBRE A PROTECAO E A OCUPACAO DO PARQUE DO
IBIRAPUERA.
LEI N
o
: 11496
Assinatura 11/04/94 Publicação 12/04/94, Folha 1
Ementa: INSTITUI, NO AMBITO DO MUNICIPIO DE SAO PAULO, FEIRA DE
LIVROS.(PL 136/91)
LEI N
o
: 11985
Assinatura 16/01/96 Publicação 17/01/96, Folha 1
Ementa: DISPOE SOBRE CONCESSAO DE DIREITO REAL DE USO DO
PAVILHAO "CICCILLO MATARAZZO" A FUNDACAO BIENAL DE SAO PAULO.(PL
303/92)
LEI N
o
: 12972
Assinatura 22/03/00 Publicação 23/03/00, Folha 1
Ementa: DENOMINA PROFESSOR ARISTOTELES ORSINI O PLANETARIO E A
ESCOLA MUNICIPAL DE ASTROFISICA. (PL 500/98)
LEI N
o
: 13171
Assinatura 15/08/01 Publicação 16/08/01, Folha 1
Ementa: DISPOE SOBRE A DENOMINACAO DA PISTA DE "COOPER"
LOCALIZADA DENTRO DO PARQUEDO IBIRAPUERA, EM SAO PAULO. (PL
256/99)
LEI N
o
: 13688
Assinatura 19/12/03 Publicação 20/12/03, Folha 1
Ementa: DISPOE SOBRE CONCESSAO DE SERVICO PUBLICO, PRECEDIDA DE
EXECUCAO DE OBRA PUBLICA, PARA CONSTRUCAO DE GARAGENS
SUBTERRANEAS E EXPLORACAO DE SERVICO DE ESTACIONAMENTO DE
VEICULOS, EM AREAS SITUADAS NOS DISTRITOS DA SE E REPUBLICA, E NO
PARQUE IBIRAPUERA. (PL 304/03
LEI N
o
: 13747
Assinatura 15/01/04 Publicação 16/01/04, Folha 2
281
Ementa: DISPOE SOBRE A PARTICIPACAO DE ENTIDADES PUBLICAS E
PRIVADAS NA RECUPERACAO, CONSERVACAO, CONTROLE, MANUTENCAO E
PRESERVACAO DOS LAGOS EM PARQUES MUNICIPAIS, E DA OUTRAS
PROVIDENCIAS. (PL 560/01)
LEI N
o
: 13835
Assinatura 03/06/04 Publicação 10/06/04, Folha 152
Ementa: INSTITUI NO CALENDARIO OFICIAL DE EVENTOS DA CIDADE DE SAO
PAULO O FESTIVAL DO JAPAO, E DA OUTRAS PROVIDENCIAS. (PL 324/03)
PROJETOS DE LEI
PROJETO DE LEI N
o
: 219 Ano: 1992 Secretaria: CAMARA
Publicação 25/06/92, Folha 69
Ementa: DISPOE SOBRE O FUNCIONAMENTO E A ADMINISTRACAO DO
PARQUE DO IBIRAPUERA, E DA OUTRAS PROVIDENCIAS.(MARCOS
MENDONCA)
PROJETO DE LEI N
o
: 372 Ano: 1992 Secretaria: CAMARA
Publicação 19/11/92, Folha 48
Ementa: DA NOVA REDACAO AO INCISO I, DO ARTIGO 3. DA LEI 10.929/91,
QUE DISPOE SOBRE A PROTECAO E OCUPACAO DO PARQUE DO
IBIRAPUERA.(WALTER ABRAHAO)
PROJETO DE LEI N
o
: 134 Ano: 1993 Secretaria: CAMARA
Publicação 18/03/93, Folha 37
Ementa: O MUNICIPIO DE SAO PAULO NAO PODERA REMOVER, SOB
QUALQUER PRETEXTO, A ESTATUA DE "IBRAIM NOBRE", LOCALIZADA NO
PARQUE DO IBIRAPUERA, DEFRONTE AO MAUSOLEU DO SOLDADO
CONSTITUCIONALISTA DE 1932. (NELO RODOLFO)
PROJETO DE LEI N
o
: 500 Ano: 1998 Secretaria: CAMARA
Publicação 08/08/98, Folha 53
Ementa: DENOMINA PROFESSOR ARISTOTELES ORSINI O PLANETARIO E
ESCOLA MUNICIPAL DE ASTROFISICA. (TONINHO PAIVA)
PROJETO DE LEI N
o
: 256 Ano: 1999 Secretaria: CAMARA
Publicação 03/06/99, Folha 97
282
Ementa: DISPOE DA DENOMINACAO DA PISTA DE "COOPER" LOCALIZADA
DENTRO DO PARQUE DOIBIRAPUERA, NO IBIRAPUERA, EM SAO PAULO.
(RUBENS CALVO)
PROJETO DE LEI N
o
: 278 Ano: 1999 Secretaria: CAMARA
Publicação 19/06/99, Folha 40
Ementa: DISPOE SOBRE A PROIBICAO DE ESTACIONAMENTO, A TITULO
ONEROSO, DE AUTOMOVEISPARTICULARES, MOTOCICLETAS E DEMAIS
VEICULOS MOTORIZADOS NO INTERIOR DO PARQUE DO IBIRAPUERA E DOS
DEMAIS PARQUES MUNICIPAIS. (CARLOS NEDER)
PROJETO DE LEI N
o
: 207 Ano: 2001 Secretaria: CAMARA
Publicação 27/04/01, Folha 45
Ementa: DISPOE SOBRE A CRIACAO DE UMA ESCOLA DE ARTES E OFICIOS,
NO PREDIO ONDE HOJE FUNCIONA A PRODAM, NO PARQUE DO IBIRAPUERA.
(ANTONIO CARLOS RODRIGUES)
PROJETO DE LEI N
o
: 304 Ano: 2003 Secretaria: CAMARA
Publicação 05/06/03, Folha 80
Ementa: DISPOE SOBRE CONCESSAO DE SERVICO PUBLICO PRECEDIDA DE
EXECUCAO DE OBRA PUBLICA PARA CONSTRUCAO DE GARAGENS
SUBTERRANEAS E EXPLORACAO DE SERVICO DE ESTACIONAMENTO DE
VEICULOS NO PARQUE IBIRAPUERA. (OFICIO ATL 240/03)
PROJETO DE LEI N
o
: 74 Ano: 2004 Secretaria: CAMARA
Publicação04/03/04, Folha 83
Ementa: CRIA NAS DEPENDENCIAS DO PARQUE IBIRAPUERA, O "ESPACO
VIDA", DESTINADOEXCL USIVAMENTE AO USO POR CRIANCAS E
ADOLESCENTES PORTADORES DE DEFICIENCIA FISICA, MENTAL, VISUAL OU
AUDITIVA, E DA OUTRAS PROVIDENCIAS. (CELSO CARDOSO)
PROJETO DE LEI N
o
: 192 Ano: 2004 Secretaria: CAMARA
Publicação 15/04/04, Folha 69
Ementa: DENOMIMA BOSQUE DA LEITURA "WALY SALOMAO" O ESPACO
PUBLICO CHAMADO BOSQUE DA LEITURA, SITUADO NA AV. REPUBLICA DO
LIBANO, 1151, NO PARQUE IBIRAPUERA. (CARLOS GIANNAZI)
PROJETO DE LEI N
o
: 510 Ano: 2004 Secretaria: CAMARA
Publicação 15/12/04, Folha 70
283
Ementa: DENOMINA "AUDITORIO OSCAR NIEMEYER" O AUDITORIO SITUADO
NO PARQUE IBIRAPUERA. (OF ATL 640/04)
PROJETO DE LEI N
o
: 247 Ano: 2005 Secretaria: CAMARA
Publicação 11/05/05, Folha 74
Ementa: ACRESCENTA PAPA JOAO PAULO II AO NOME DO PARQUE
IBIRAPUERA, QUE PASSA A DENOMINAR-SE PARQUE IBIRAPUERA PAPA
JOAO PAULOII. (TONINHO PAIVA)
PROJETO DE LEI N
o
: 454 Ano: 2005 Secretaria: CAMARA
Publicação 04/08/05, Folha 78
Ementa: AUTORIZA O EXECUTIVO MUNICIPAL CRIAR O MUSEU AFRO BRASIL.
(CARLOS GIANNAZI)
PROJETO DE LEI N
o
: 630 Ano: 2005 Secretaria: CAMARA
Publicação 14/10/05, Folha 58
Ementa: DENOMINA PRACA RONALD GOLIAS, ATUAL AREA VERDE,
CONFLUENCIA DA RUA DOS ACORES COM RUA NUN ALVARES, NO SETOR
041 QUADRA 069, LOCALIZADO NO BAIRRO JARDIM LUZITANIA/IBIRAPUERA
DA SUBPREFEITURA DA VILA MARIANA. (RUSSOMANO)
PROJETO DE LEI N
o
: 641 Ano: 2005 Secretaria: CAMARA
Publicação 14/10/05, Folha 59
Ementa: DENOMINA PRACA EMILINHA BORBA, ESPACO LIVRE SEM
DENOMINACAO E ATUAL AREA VERDE, CONFLUENCIA DA RUA SANTELMO
COM RUA CEUTA, NO SETOR 041, QUADRA 047, LOCALIZADA NO BAIRRO
JARDIM LUZITANIA/IBIRAPUERA DA SUBPREFEITURA DA VILA MARIANA.
(RUSSOMANO)
ATOS
ATO N
o
: 378 Ano: 1932 Secretaria: PREF
Assinatura 29/07/32 Publicação 29/07/32, Folha 1
Ementa: APROVA O PROJETO ORGANIZADO, PARA A CONSTITUICAO DO
GRANDE PARQUE MUNICIPALDO IBIRAPUERA.
ATO N
o
: 459 Ano: 1933 Secretaria: PREF
Assinatura 11/05/33 Publicação 11/05/33, Folha 1
Ementa: APROVA A REVISAO DO PROJETO DO PARQUE IBIRAPUERA
DECRETO LEI N
o
: 31 Ano: 1940 Secretaria: PREF
284
Assinatura 07/05/40 Publicação 07/05/40, Folha 1
Ementa: REVOGA O PLANO DE LOTEAMENTO DE TERRENOS MUNICIPAIS NA
VARZEA DE IBIRAPUERAE AUTORIZA A PREFEITURA MUNICIPAL A ADQUIRIR
MEDIANTE PERMUTA, AREAS PARTICULARES VIZINHAS.
RESOLUÇÕES
RESOLUÇÃO N
o
: 106 Ano: 1984 Secretaria: SEMPLA Departamento: CZ
Publicação 11/08/84, Folha 5
Ementa: DISPOE SOBRE A INTEGRACAO DA ALCA DE LIGACAO ENTRE A
AV.BANDEIRANTES E AV.IBIRAPUERA AO CORREDOR DE USO ESPECIAL Z8-
CR4, DA AV.BANDEIRANTES.
RESOLUÇÃO N
o
: 1 Ano: 1992 Secretaria: SC
Publicação25/01/92, Folha 22
Ementa: DISPOE SOBRE O TOMBAMENTO DO PARQUE IBIRAPUERA NO
MUNICIPIO DE SAO PAULO (INCLUINDO - PAVILHAO MANOEL DA NOBREGA/
PREDIO PRODAM/ MUSEU AERONAUTICO/ MUSEU FOLCLORE/ PAVILHAO
ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA E GRANDE MARQUISE) OBS: PUBLICADA NO
DOE DE 250192, P.22, SECAO I.
RESOLUÇÃO N
o
: 3 Ano: 1994 Secretaria: SVMA Departamento: CADES
Publicação21/10/94, Folha 3
Ementa: APROVA O EIA/RIMA DO COMPLEXO VIARIO FORMADO PELA "ALCA
SENA MADUREIRA", "CEBOLINHA" E "VIADUTO DANTE PAZZANEZE" -
PROJETO DENOMINADO "CORREDOR VIARIO SUDOESTE - SUDESTE".
RESOLUÇÃO N
o
: 6 Ano: 1997 Secretaria: SMC Departamento: CONPRE
Publicação 20/12/97, Folha 8
Ementa: TOMBAMENTO DO PARQUE IBIRAPUERA E AREAS RESIDENCIAIS
AJACENTES, VISANDO A PRESERVACAO DE SEU VALOR HISTORICO E
URBANISTICO.
RESOLUÇÃO N
o
: 5 Ano: 2003 Secretaria: SMC Departamento: CONPRE
Publicação 03/10/03, Folha 14
Ementa: ALTERA A R 6/97, REFERENTE AO TOMBAMENTO DO PARQUE
IBIRAPUERA E AREAS RESIDENCIAIS ADJACENTES.
RESOLUÇÃO N
o
: 77 Ano: 2003 Secretaria: SVMA Departamento: CADES
Publicação 25/07/03, Folha 21
285
Ementa: APROVA O TERMO DE REFERENCIA PARA ESTUDO DE VIABILIDADE
AMBIENTAL DO PLANO DIRETOR DO PARQUE IBIRAPUERA E RESPECTIVAS
INTERVENCOES.
RESOLUÇÃO N
o
: 80 Ano: 2003 Secretaria: SVMA Departamento: CADES
Publicação 28/11/03, Folha 26
Ementa: APROVA ESTUDO DE VIABILIDADE AMBIENTAL DO PLANO DIRETOR
DO PARQUE DO IBIRAPUERA E RESPECTIVAS INTERVENCOES.
PUBLICAÇÕES
PUBLICAÇÃO N
o
: 90510 Ano: 1991 Secretaria: PREF
Publicação05/10/91, Folha 2
Ementa: TERMO DE COOPERACAO ENTRE O ESTADO DE SAO PAULO E A
PMSP, OBJETIVANDO O USO, PELO ESTADO, DO PAVILHAO MANOEL DA
NOBREGA, NO PARQUE IBIRAPUERA,E DO PALACIO DAS INDUSTRIAS, PELA
PREFEITURA.
PUBLICAÇÃO N
o
: 90111 Ano: 1994 Secretaria: SVMA
Publicação 01/11/94, Folha 3
Ementa: CONCEDE A PRESENTE LICENCA AMBIENTAL PREVIA PARA AS
OBRAS DA 1A. ETAPA DO PROJETO COMPLEXO VIARIO SUDESTE-
SUDOESTE.
PUBLICAÇÃO N
o
: 92810 Ano: 1994 Secretaria: SVMA
Publicação 28/10/94, Folha 7
Ementa: ALVARA DE LICENCA AMBIENTAL PREVIA 02/94 - PROJETO
COMPLEXO VIARIO SUDOESTE-SUDESTE - ALCA SENA MADUREIRA/VIADUTO
DANTE PAZZANESE/CONJUNTO VIADUTO-CEBOLINHA.
PUBLICAÇÃO N
o
: 91207 Ano: 1995 Secretaria: SVMA
Publicação12/07/95, Folha 3
Ementa: CONVENIO ENTRE PMSP X INSTITUTO SUPERIOR DE
COMUNICACAO PUBLICITARIA P/ IMPLANTAR "PROJETO DE MONITORIA NO
PARQUE IBIRAPUERA" P/ ATENDIMENTO AOS USUARIOS.
PUBLICAÇÃO N
o
: 92407 Ano: 1996 Secretaria: SVMA
Publicação 24/07/96, Folha 1
Ementa: PLANO DIRETOR PARA O PARQUE IBIRAPUERA ELABORADO PELO
ARQUITETO OSCAR NIEMEYER - 1996.(SUPLEMENTO)
286
PUBLICAÇÃO N
o
: 1 Ano: 1996 Secretaria: SAR
Publicação 11/12/96, Folha 9
RePublicação19/12/96, Folha 6
Ementa: TERMO DE COOPERACAO ENTRE SADIA X PMSP PARA ILUMINACAO
FESTIVA NATALINA DO PALACIO DAS INDUSTRIAS/VIADUTO DO CHA/TUNEL 9
DE JULHO/OBELISCO PARQUE IBIRAPUERA/PONTE ATTILIO
FONTANA/ARCOS RUA ASSEMBLEIA.
PUBLICAÇÃO N
o
: 90911 Ano: 2000 Secretaria: SVMA Departamento:
DECONT
Publicação 09/11/00, Folha 17
Ementa: ALVARA DE LICENCA AMBIENTAL DE OPERACAO - LAO 5/00 - PARA
ESTACAO DE FLOTACAO E REMOCAO DE FLUTUANTES DAS AGUAS DOS
LAGOS DO PARQUE IBIRAPUERA.
PUBLICAÇÃO N
o
: 92706 Ano: 2003 Secretaria: SVMA Departamento:
DECONT
Publicação 27/06/03, Folha 34
Ementa: ESCOPO MINIMO PARA OS ESTUDOS AMBIENTAIS DA IMPLANTACAO
DO AUDITORIO, DAS GARAGENS SUBTERRANEAS DO PARQUE IBIRAPUERA.
PUBLICAÇÃO N
o
: 90806 Ano: 2005 Secretaria: PREF
Publicação 08/06/05, Folha 72
Ementa: SECRETARIA MUNICIPAL DO VERDE E DO MEIO ABIENTE LANCOU O
PROJETO UNIVERSIDADE ABERTA DO MEIO AMBIENTE (UMA PAZ) A PARTIR
DE 2006, COM SEDE NO PARQUE IBIRAPUERA.
PUBLICAÇÃO N
o
: 90812 Ano: 2005 Secretaria: PREF
Publicação 08/12/05, Folha 1
Ementa: CIA DE PROCESSAMENTO DE DADOS DO MUNICIPIO DE S.PAULO -
PRODAM. MUDANCA PARQUE IBIRAPUERA / BARRA FUNDA. HISTORICO DA
PRODAM. (CAPA, PAGINA I)
PUBLICAÇÃO N
o
: 90702 Ano: 2006 Secretaria: SVMA
Publicação07/02/06, Folha 29
Ementa: RELATORIO PRELIMINAR DO ESTADO DOS LAGOS DOS PARQUES
MUNICIPAIS.
287
INTERNET
ANDRADE, Manuella Marianna. O Parque do Ibirapuera: 1890 a 1954. Portal
VITRUVIUS - www.vitruvius.com.br/.../arq051/arq051_01.asp - múltiplos acessos
2005/2006/2007.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÂO PAULO –
http://www.al.sp.gov.br - múltiplos acessos 2005/2006/2007.
DIERBERGER PLANTAS – http://www.fazendacitra.com.br - múltiplos acessos
2006.
SKYSCRAPERCITY - http://www.skyscrapercity.com/ - fórum com assuntos
variados e postagem de fotos de seus usuários. (GUTOO – autor da foto do urubu) –
múltiplos acessos 2007.
FUNDAÇÃO BIENAL – http://www.bienalsaopaulo.globo.com - múltiplos acessos
2005/2006.
GOOGLE MAPS – MAPLINK - http://maps.google.com/maps?tab=wl - múltiplos
acessos 2006/2007.
MUNDO CITY (mapas de Roma) - http://www.mundocity.com/europa/plano-
roma.html - múltiplos acessos 2007.
O ESTADO DE SÃO PAULO - http://www.estadao.com.br - múltiplos acessos
2005/2006/2007 (último:06/06/2007)
PEDAÇO DA VILA – http://www.pedacodavila.com.br - múltiplos acessos 2006/2007.
PREFEITURA DE SÃO PAULO: SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE: FAUNA e
FLORA - http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/meio_ambiente/servicos/
herbario/001 e http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/meio_ambiente/ fauna_
flora/fauna/0001200.230.190.125/atlas/conteudo/metro/metro_14.htm - múltiplos
acessos 2006/2007.
ROBERTO BURLE MARX: The Missing Link – oder Die Kunst der
Landschaftsarchitektur - http://rbm.yumyum.at/ - ultimo acesso julho/2007
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE - http://www.ambiente.sp.gov.br - múltiplos
acessos 2005/2006/2007
VILLA BORGHESE - http://www.villaborghese.it - múltiplos acessos 2006/2007.
TV CULTURA – FUNDAÇÃO PADRE ANCHIETA - http://www.tvcultura.com.br/ -
múltiplos acessos 2006.
288
ZÈTEMA - http://www.zetema.it - Site de turismo italiano – múltiplos acessos
2006/2007.
ASSOSSIAÇÕES, INSTITUTOS E DEPARTAMENTOS
CONSULTADOS
AHMSP - Arquivo Histórico Municipal “Washington Luis”: Arquivos, correspondência
oficial, plantas, mapas, decretos e documentação em geral.
ASSUAPI - Associação dos Usuários e Amigos do Parque do Ibirapuera:
Informações sobre a estrutura e funcionamento do Parque do Ibirapuera (2003 -
antes do fechamento)
DEPAVE - Departamento de Parques e áreas verdes de São Paulo: Estrutura e
funcionamento do Viveiro Manequinho Lopes.
DPHM/SP: Documentação Comissão do IV Centenário.
FUNDAÇÃO BIENAL: Catálogos.
INSTITUTO BIOLOGICO – Acervo histórico – fotografias.
SECRETARIA DO VERDE E MEIO AMBIENTE: Documentação histórica.
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