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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Edinilson Quintiliano dos Santos
Concepção e representação espacial do Oriente Médio em
sítios educativos e livros didáticos de Geografia
MESTRADO EM GEOGRAFIA
SÃO PAULO
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Edinilson Quintiliano dos Santos
Concepção e representação espacial do Oriente Médio em
sítios educativos e livros didáticos de Geografia
MESTRADO EM GEOGRAFIA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de
MESTRE em Geografia, sob a
orientação da Profª. Drª. Marísia
Margarida Santiago Buitoni.
SÃO PAULO
2009
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Banca Examinadora
_____________________
_____________________
_____________________
À
MINHA SANTA
MÃEZINHA EXEMPLO VIVO
DA FIBRA DA MULHER NORDESTINA
AGRADECIMENTOS
A Profª. Marísia Margarida Santiago Buitoni, pela orientação deste
trabalho.
Aos demais membros da banca de exame de qualificação, Profª. Márcia
Maria Cabreira Monteiro de Souza e o Prof. André Roberto Martin, pelas
pertinentes sugestões ao trabalho.
A minha mãe, pelo amor incondicional em todas as etapas da vida.
Ao meu pai, meu verdadeiro mestre na árdua tarefa de viver na
complexidade do mundo.
A minha esposa Lúcia, pelo carinho e amor, mesmo nas horas difíceis.
Aos meus filhos, Leonardo e Diogo, que até se acostumaram com as
minhas ausências.
Ao meu quase irmão Clodoaldo Gomes Alencar Junior, pela leitura
atenta e oportuna dessa dissertação.
A vovó Neide, pelo apoio e incentivo.
“Mais do que no choque manufaturado de civilizações,
precisamos concentrar-nos no lento trabalho conjunto de
culturas que se sobrepõem, tomam isto ou aquilo emprestado
uma à outra e vivem juntas de maneiras muito mais
interessantes do que qualquer modo abreviado ou inautêntico de
compreensão poderia supor. Acontece que esse tipo de
percepção mais ampla exige tempo, paciência e indagação
crítica, construídos a partir da em comunidades voltadas para
a interpretação, tão difíceis de manter num mundo que exige
ação e reação instantâneas.”
Edward Said
RESUMO
A pesquisa tem como finalidade estabelecer uma reflexão em torno
do conceito de Oriente Médio, com o objetivo de compreender a origem das
várias representações que o termo apresenta. Assim como, verificar se os
livros didáticos de geografia do Ensino Médio, selecionados pelo Programa
Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), apresentam incorreções
teóricas ou disseminam visões preconceituosas em relação ao Oriente Médio.
Partimos de uma breve reconstituição do conceito de região na
história do pensamento geográfico, buscando compreender a influência desse
conceito na delimitação espacial do Oriente Médio. Essa reflexão se fez
necessária, em decorrência da conotação regional que a expressão Oriente
Médio comporta.
Investigamos em diversas fontes sites, paradidáticos e periódicos
como o Oriente Médio é representado espacialmente e estabelecemos as
semelhanças e diferenças presentes nessas representações, bem como
buscamos contextualizar o momento em que a expressão é criada e quais
fatores foram determinantes nesse processo. Para então analisarmos de que
forma esse conceito é apresentado nos livros didáticos de Geografia do Ensino
Médio.
A averiguação evidenciou a imprecisão territorial e a fragilidade
teórica conceitual que a expressão representa além de encontrar na geopolítica
as bases para essas representações.
A pesquisa possibilitou compreender que as várias visões de mundo
produzidas a partir do Imperialismo europeu do século XX, criaram diversas
representações do Oriente dio e que os livros didáticos de geografia
reproduzem essas representações, porém não esclarecem aos seus leitores
quanto à polêmica que envolve a abrangência espacial do Oriente Médio.
Palavras-chave: Oriente Médio, Região, Livros didáticos, Geopolítica.
ABSTRACT
The aim of this study is to reflect upon the concept of The Middle East so
as to understand the origin of several representations related o the term as well
as to verify if the Geography textbooks for Ensino Médio (EM) selected by
Programa Nacional do Livro para o Ensino dio (PNLEM) have theoretical
inadequacies or show prejudiced views of the Middle East.
We start from a brief reconstitution of the concept of region in the history
of geographical thought, seeking to understand its influence in the Middle
Eastern spatial delimitation. This reflection is necessary due to the regional
connotation of expression Middle East.
We investigated different sources such as sites, Para didactic books and
journals to see how the Middle East is represented spatially and we established
the differences and the similarities in those representations as well as
contextualized the moment when the expression was created and what factors
were determinants in that process. After that, we analyzed the way the Middle
East was represented in the Geography textbooks for EM.
The investigation highlighted territorial imprecision as well as theoretical
and conceptual weaknesses in the expression. Besides that, it found the bases
of those representations in Geopolitics.
The study made it possible to understand that the various views of world
produced since European Imperialism in XX Century created various
representations of the Middle East and that the Geography textbooks reproduce
them, but they do not make clear for the readers the polemics related to spatial
reach of the Middle East.
Key Words: Middle East, Region, Textbooks, Geopolitcs.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa da acepção Britânica de Oriente Médio - séc. XX
.............................................34
Figura 2: Mapa da acepção de Oriente Próximo – séc. XX
........................................................34
Figura 3: Mapa das duas concepções correntes de Oriente Médio – sé. XXI
............................34
Figura 4: Mapa do Oriente Médio (site kliceducação)
................................................................36
Figura 5: Mapa do Oriente Médio (site folha.uol)
........................................................................37
Figura 6: Mapa do Oriente Médio (guia do estudante)
...............................................................38
Figura 7: Mapa do Oriente Médio (Publifolha)
............................................................................39
Figura 8: Mapa “O Mundo de Mackinder”
...................................................................................42
Figura 9: Mapa “O Mundo de Spykman”
.....................................................................................43
Figura 10: Mapa “O Mundo das Civilizações segundo Huntington”.
..........................................47
Figura 11: Mapa do Mundo árabe
...............................................................................................50
Figura 12: Mapa “Oriente Médio: países e pontos estratégicos”
................................................54
Figura 13: Mapa do Oriente Médio
.............................................................................................55
Figura 14: Mapa “Oriente Médio – Oleodutos”
............................................................................56
Figura 15: Mapa “Colonização européia no Oriente Médio (1918)
.............................................57
Figura 16: Mapa “Expansão territorial do Islamismo”.
................................................................62
Figura 17: Mapa “Expansão do Império Otomano até o século XVII”
........................................65
Figura 18: Mapa da Evolução territorial de Israel – 1947 a 1979
...............................................84
Figura 19: Mapa “Israel e territórios palestinos”
..........................................................................84
Figura 20: Foto do muro na Cisjordânia separando áreas israelenses e palestinas
..................86
Figura 21: Mapa “Colônias judaicas na Faixa de Gaza”
.............................................................87
Figura 22: Mapa “Colônias judaicas na Cisjordânia”.
.................................................................87
Figura 23: Mapa “Colônias judaicas nas Colinas de Golã”
.........................................................87
Figura 24: Mapa da escassez de água no mundo
......................................................................90
Figura 25: Gráfico – Água: Consumo diário per capita 2005
......................................................92
Figura 26: Mapa “A questão palestina e a água”
........................................................................92
Figura 27: Mapa “Produção de gás natural, segundo regiões geográficas – 2003”
...................98
Figura 28: Mapa “O petróleo na economia mundial – 2002”
......................................................99
Figura 29: Mapa “Regiões geopolíticas da Eurásia segundo Brzezinski”
................................110
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1: O CONCEITO DE REGIÃO E SUA INFLUÊNCIA NA DELIMITAÇÃO
DO ORIENTE MÉDIO ..............................................................................................................19
1.1
A Região e o pensamento geográfico..............................................................................19
1.2 O Poder e a Identidade Cultural na definição do espaço regional.............................27
CAPÍTULO 2: O CONCEITO DE ORIENTE MÉDIO E SUAS REPRESENTAÇÕES
ESPACIAIS................................................................................................................................31
2.1 A origem e a evolução das representações espaciais.................................................31
2.2 A influência da Geopolítica no conceito de Oriente Médio..........................................39
2.3 Identidade Cultural e regionalização: outras possibilidades........................................45
CAPÍTULO 3: ALGUMAS ABORDAGENS DO ORIENTE MÉDIO NOS LIVROS
DIDÁTICOS................................................................................................................................52
3.1 Definindo os critérios de análise......................................................................................52
3.2 Representações cartográficas do Oriente Médio..........................................................53
3.3 Configuração espacial: Contexto Histórico/Cultural......................................................59
3.4 A formação do Estado de Israel.......................................................................................76
3.5 Recursos minerais e Geopolítica.....................................................................................90
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................100
BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................104
ANEXOS...................................................................................................................................110
11
INTRODUÇÃO
A escolha do tema dessa dissertação se deve, em muito, a minha
trajetória acadêmica e profissional. Durante os anos no curso de graduação os
eventos que abordavam o Oriente Médio aguçavam a minha curiosidade e
despertavam um interesse especial, devido à diversidade e complexidade das
relações que envolvem essa temática, fato que influenciou na escolha do tema
do TGI - Trabalho de Graduação Individual que teve como título “Os 50 anos
do Estado de Israel”.
O exercício do magistério, em instituições públicas e privadas,
vivenciando o cotidiano dos profissionais da educação nos proporcionou o
contato direto com professores e alunos, o que facilitou a constatação, de que
as temáticas que abordam o Oriente Médio são de difícil compreensão para os
educandos das mais variadas séries e até mesmo para alguns colegas de
profissão. Vânia Vlach, professora do Instituto de Geografia da Universidade
Federal de Uberlândia, em uma pesquisa realizada com alunos e professores
do Ensino Fundamental e Médio, onde um dos temas era a “guerra contra o
terrorismo”, por parte da administração George W. Bush. A pesquisa constatou
que:
“Das entrevistas realizadas com as professoras de Geografia, é
pertinente registrar que três das quatro professoras do Ensino
Fundamental e a professora do Ensino Médio admitiram dificuldades
na abordagem de tais temas em sala de aula, bem como no
acompanhamento da dinâmica política no Brasil e no mundo.
Reclamam da carência de diversificação dos recursos didáticos, de
sua falta de adequação, das condições de trabalho (os baixos
salários exigem um número maior de aulas, o que reduz o tempo para
pesquisarem), e da falta de cursos para o professor. Por isso mesmo,
o livro didático ainda é o que orienta as suas aulas (os Atlas das
12
escolas são antigos).” (VLACH,
www.ub.es/geocrit/sn/sn-
24563.htm acessado em 17.08.09
)
Diante desta comprovação começamos a indagar o porquê da
dificuldade de compreender este tema e se os livros didáticos e outras fontes
estão respondendo às expectativas dos professores e alunos. A partir de
então, passamos a pesquisar as causas deste problema e a buscar respostas
para essa indagação.
O termo Oriente Médio tem a sua definição espacial apresentada de
forma pouco específica, sem determinação de fronteiras precisas, pois
vários critérios possíveis para se definir a sua representação. Historicamente, é
uma região estratégica funcionando desde a Antiguidade como eixo de ligação
entre a Europa e o sudoeste Asiático.
É importante destacar que, a partir da II Guerra Mundial, o Oriente Médio
é foco de conflitos que despertam grande interesse internacional, em razão das
grandes reservas de petróleo que concentra, da complexidade das relações
políticas, religiosas, étnicas, entre outras, que fazem desta parte do mundo um
lugar sui generis e de conteúdo quase que obrigatório nos currículos escolares
de vários estados brasileiros.
O fim da velha ordem mundial, conhecido como Guerra Fria, baseado na
bipolarização mudou a geopolítica mundial e desviou a atenção do mundo e
dos estudiosos para outro foco de tensão, que embora existisse, era
relegado a um segundo plano, em virtude de um possível confronto entre as
duas superpotências desse período, Estados Unidos e União Soviética. Os
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos,
13
desencadearam vários conflitos armados no Oriente Médio, estigmatizando o
lugar e as pessoas dessa região.
A esse respeito, como a imagem do Oriente Médio e da cultura árabe-
israelense tem sido trabalhada de modo a não reforçar o preconceito e o
estereótipo que podem chegar ao conhecimento dos educandos por meio das
diferentes mídias?
De maneira geral, pode-se dizer que pelo tempo decorrido da imigração
no Brasil, esses grupos seguem as regras de convivência da sociedade
brasileira, freqüentando inclusive as mesmas instituições de ensino,
principalmente nas universidades.
Contextualizando esta temática, o Brasil apresenta uma ligação histórica
com o Oriente Médio, em decorrência do processo de imigração, que trouxe
levas de imigrantes provenientes daquela área, assim como, pelo grande
número de brasileiros que vivem ou mantém relações econômicas e sociais
naquela parte do mundo.
Acreditamos que a educação de qualidade é um importante instrumento
de conscientização e formação de opinião, capaz de auxiliar no combate das
várias formas de manifestação do preconceito.
Na busca pelo Ensino de qualidade o Ministério da Educação, por meio
do PNLD - Programa Nacional do Livro Didático -, tem investido parcela
significativa de recursos públicos, ligados ao salário-educação e a recursos do
Orçamento Geral da União, na aquisição e distribuição desses livros em todo o
território nacional. Sendo assim, é de extrema relevância social que ocorram
estudos que visem analisar a qualidade desse importante recurso pedagógico.
14
Outro aspecto que merece destaque está relacionado ao papel que o
livro didático, ainda hoje, desempenha no universo da cultura escolar. Apesar
das críticas que recebem os livros didáticos se constituem em um relevante
material de pesquisa ao lado de outras fontes escritas e iconográficas, por
apresentar conteúdos reveladores de representações e valores predominantes
em uma sociedade num dado período histórico, contribuindo para desvendar
intenções e projetos de construção e de formação da sociedade. Para
FONSECA (1999:204), o livro didático e a educação formal não estão
apartados do contexto político, cultural e das relações de dominação.
Participam como mediadores entre concepções e práticas políticas e culturais,
tornando-se parte importante do mecanismo de manutenção de determinadas
visões de mundo.
No que diz respeito ao livro didático, decidimos por fazer um recorte no
Ensino Médio devido aos alunos nessa etapa da escolarização já apresentarem
um grau de desenvolvimento cognitivo, capaz de compreender a complexidade
de relações que envolvem o tema.
Cabe salientar que o Ensino Médio, segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais
1
, tem o objetivo de aprofundar os conteúdos abordados
no Ensino Fundamental. Para tanto orienta que o professor desenvolva o seu
trabalho de forma contextualizada, ou seja, agregando significação aos temas
/assuntos a serem estudados pelo educando, de tal forma que possam
construir conhecimentos e a autonomia intelectual (senso crítico) a partir da
problematização de situações baseadas em referências concretas e diversas,
1
BRASIL (PAÍS). Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+
Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares para o Ensino
Médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 2002.
15
rompendo com verdades absolutas ou deterministas. PONTUSCHKA afirma
que:
“Faz-se necessário questionar os conteúdos geográficos que
estão sendo ensinados e os métodos utilizados perguntando-se
sempre se o saber transmitido está realmente a serviço do
estudante”. ( PONTUSCHKA, 1999: 132).
Relevante também é a discussão que gira em torno do uso da
informática como ferramenta pedagógica. É notório o interesse que esse
recurso desperta nos jovens, que constantemente estão interagindo com os
sistemas eletrônicos de comunicação. Essas novas fontes de informação estão
cada vez mais presentes no cotidiano escolar e se constitui em uma fonte
rápida de pesquisa e informação, tanto para os alunos, quanto para os
professores, que devido ao exíguo tempo da sua jornada de trabalho destinado
à pesquisa e preparação das aulas, encontram nesses meios uma alternativa
instantânea de pesquisa.
O processo de globalização produziu espaços geográficos com suas
diferentes regiões interagindo de modo dinâmico e contraditório. As inovações
tecnológicas e a aceleração dos fluxos de informação fazem parte desse
cotidiano. Logo, essas informações produzem uma variedade de
representações simbólicas que passam a fazer parte do imaginário dos jovens.
Neste contexto, a Geografia apresenta a possibilidade de trabalhar o
cotidiano do aluno, dentro de suas aulas. É a partir deste que a Geografia
escolar pode contribuir para o entendimento do mundo atual e para dissolver
representações distorcidas ou preconceituosas de lugares ou de grupos
sociais.
16
Cabe salientar que a nossa dissertação insere-se na linha de pesquisa
do Programa de Estudos Pós-graduados em Geografia da PUC-SP, o qual
abrange pesquisas direcionadas a refletir sobre o instrumental teórico
metodológico dos saberes vinculados ao campo de conhecimento geográfico.
A pesquisa tem como finalidade estabelecer uma reflexão em torno do
termo Oriente Médio, com o objetivo de compreender de que forma as várias
concepções desta parte do mundo influenciaram nas representações espaciais
que o termo apresenta e que estão presentes em vários sítios educativos.
Assim como, identificar os principais componentes que o caracterizam
para, a partir de então estabelecer um parâmetro comparativo com o que é
apresentado nos livros didáticos de geografia do Ensino Médio, selecionados
pelo Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM).
Tem-se como problemática central que o Oriente Médio apresenta uma
variedade de concepções e representações, e que essa variedade representa
um dos elementos complicadores no entendimento do tema por parte dos
professores e alunos.
Os procedimentos metodológicos adotados consistiram na realização de
levantamentos bibliográficos, consulta a sítios com conteúdo educativo,
estabelecimento de comparações entre várias representações cartográficas
procurando identificar diferenças e semelhanças, análise de livros didáticos de
Geografia destinados ao Ensino Médio com base em critérios pré-
estabelecidos.
Para o estudo do conceito de região foram importantes referenciais
teóricos as obras dos seguintes autores: GOMES (2006), LENCIONI (1999),
SCHAEFER (1977), LACOSTE (1988), FRÉMONT (1980), BRITTO (1986) que,
17
com diferentes pontos de vista, agregaram importantes contribuições a
pesquisa.
Os autores que embasaram a discussão quanto à geopolítica foram:
VESENTINI (2008), BECKER (2006) entre outros.
No que diz respeito ao Oriente Médio os autores que serviram de
referencial teórico são: SMITH (2008), VLACH (1991), DEMANT (2004),
HOBSBAWM (2006), MARTIN (2004), SILVA (2003), SAID (2007) entre outros.
Para as discussões relativas aos livros didáticos e ao ensino de
Geografia foram importantes os seguintes autores: PONTUSCHKA (1996),
SPOSITO (2004), FONSECA (1999), entre outros.
Cabe salientar que esta dissertação não tem a pretensão de encerrar as
discussões acerca do conceito de Oriente Médio, também, não busca realizar
análises detalhadas e aprofundadas dos livros didáticos, propõe-se a refletir
sobre a origem do conceito de Oriente Médio e sua espacialidade e a apontar
as divergências entre o que foi produzido e debatido sobre a região e o que
apresenta os livros didáticos.
Procurando deixar uma contribuição para o entendimento do Oriente
Médio e para o Ensino Básico, este trabalho foi estruturado da seguinte forma:
O capítulo inicial, de caráter teórico-conceitual, busca por meio de uma reflexão
epistemológica do conceito de região, encontrar elementos que possam auxiliar
na compreensão do objeto. Tendo em vista que ele se apresenta atrelado a
uma conotação regional.
O capítulo II busca compreender as circunstâncias em que a expressão
é forjada, estabelecendo uma relação contextualizada entre diferentes visões
de mundo, sob a perspectiva geopolítica, e a diversidade de representações
18
que ela promoveu. No segundo momento, buscamos apresentar outras
possíveis formas de análise regional, estabelecidas a partir de aspectos
culturais.
No terceiro capítulo buscamos analisar de que forma o livro didático de
Geografia do Ensino Médio apresenta aos seus usuários finais, alunos e
professores, as discussões e temas relacionados a essa região. Para tanto,
são selecionados alguns fatores que julgamos essenciais na compreensão da
realidade do Oriente Médio. Esses fatores são apresentados e discutidos com
base em fatos e interpretações que apresentam comprovação histórico-
científica.
Em seguida confrontamos o que se tem discutido com o que é
apresentado nos livros didáticos, procurando encontrar divergências
significativas que possam comprometer o entendimento do tema ou a finalidade
a que se destinam os livros didáticos.
19
CAPÍTULO 1: O CONCEITO DE REGIÃO E SUA INFLUÊNCIA NA
DELIMITAÇÃO DO ORIENTE MÉDIO
1.1 - A Região e o Pensamento Geográfico
Quando optamos por elaborar uma análise do conceito de Oriente
Médio, tínhamos plena consciência de que essa região representa um recorte
espacial produzido pela regionalização do espaço mundial. Sendo assim, cabe
aqui uma reflexão acerca do conceito de região e regionalização na história do
pensamento geográfico.
A Geografia não é o único campo do conhecimento que utiliza o termo
região, ela aparece nas ciências matemática, na geologia, na biologia etc.
Mesmo fora das ciências, no senso comum idéia de região é amplamente
difundida, e relacionada fundamentalmente aos princípios de localização e o de
extensão. Nas palavras de GOMES,
“Ela pode assim ser empregada como uma referência associada à
localização e à extensão de um certo fato ou fenômeno, ou ser ainda
uma referência a limites mais ou menos habituais atribuídos à
diversidade espacial”. (GOMES, 2006:53).
Não existe um compromisso em relação a critérios ou precisão de seus
limites, limitando-se apenas a uma mera referência.
Segundo GOMES,
“A palavra região deriva do latim regere, palavra composta pelo
radical reg, que deu origem a outras palavras como regente,
regência, regra, etc. Regione nos tempos do Império Romano era a
denominação utilizada para designar áreas que, ainda que
dispusessem de uma administração local, estavam subordinadas às
20
regras gerais e hegemônicas das magistraturas sediadas em Roma”.
(GOMES, 2006:50).
Com base nessas afirmações, identificamos uma relação muito próxima
da origem da palavra região com a função administrativa do território.
Na Geografia, o conceito de região tem uma importância fundamental,
tendo em vista que em determinados momentos da história do pensamento
geográfico chegou a ser o próprio objeto de estudo da Geografia.
O conceito de região, na Geografia, apresenta várias definições, por
isso, para que possamos compreendê-las é essencial contextualizar o
momento em que são criadas.
Na Antiguidade clássica, período em que o Império Romano apresenta
uma nova realidade administrativa baseada na centralização do poder em
Roma e na extensão desse domínio sobre uma área de grande diversidade
cultural e natural que GOMES afirma que surge o conceito de região, nas suas
palavras:
“Desta forma, os mapas que representam o Império Romano são
preenchidos pela nomenclatura destas regiões que representam a
extensão espacial do poder central hegemônico, onde os
governadores locais dispunham de alguma autonomia, em função
mesmo da diversidade de situações sociais e culturais, mas deviam
obediência e impostos à cidade de Roma”. (GOMES, 2006:51).
A fragmentação do Império Romano pôs fim a essa realidade, muito
embora o clero tenha se apropriado desta forma de divisão e administração
espacial para exercer de forma hierárquica os poderes eclesiásticos.
Na Europa a formação dos Estados modernos trouxe de volta as
reflexões em torno dos conceitos de região, nação e território. A partir deste
21
momento a Geografia passa a enriquecer o seu debate sobre o seu campo
disciplinar com a inclusão destes novos temas e conceitos.
Para LENCIONI (1999:188) “foi com Bernhard Varenius, no século XVII,
que o conhecimento geográfico assumiu a distinção entre a Geografia Geral e
Geografia especial, esta última com o sentido de Geografia regional”.
Vidal de La Blache não se dedicou à formulação de uma definição de
região. Seus estudos marcaram o desenvolvimento da Geografia regional, pois
segundo o seu ponto de vista, as pesquisas deveriam por meio da observação
e descrição compreender a singularidade dos lugares. Segundo LENCIONI
(1999:189) “O ponto de vista de La Blache era que a região podia ser
objetivamente distinguida na paisagem e que os homens têm consciência da
existência das regiões à medida que constroem identidades regionais”.
Embora em sua obra, La Blache tenha sofrido forte influência da
Geologia, onde o conceito de região está associado à natureza, ele não separa
o homem da natureza, uma vez que eles são percebidos como elementos de
um mesmo todo.
Contribuindo com essa discussão GOMES afirma que:
“O conceito de região natural nasce, pois, desta idéia de que o
ambiente tem um certo domínio sobre a orientação do
desenvolvimento da sociedade. Surge daí o primeiro debate que tem
a região como um dos epicentros, o conhecido debate entre as
determinações e as influências do meio natural”. (GOMES, 2006:55).
Esse debate muito conhecido dos geógrafos devido a sua grande
influência no pensamento geográfico e pela ampla bibliografia produzida
conduziu a outras perspectivas que questionavam a determinação do meio
sobre a sociedade. Nas palavras de GOMES (2006:56) “a região natural não
22
pode ser o quadro e o fundamento da Geografia, pois o ambiente não é capaz
de tudo explicar”.
Do ponto de vista do possibilismo, as regiões são sínteses da ação
antrópica em um determinado ambiente, e constitui uma unidade da ciência
geográfica que busca por meio das indagações sobre os gêneros de vida, de
La Blache, e os modos de civilização entender uma determinada região.
Segundo Gomes,
“Nasce daí a noção de região geográfica, ou região-paisagem na
bibliografia alemã e anglo-saxônica, unidade superior que sintetiza a
ação transformadora do homem sobre um determinado ambiente,
este deve ser o novo conceito central da geografia, o novo patamar
de compreensão do objeto de investigação geográfica”. (GOMES,
2006:56).
O estudo regional de certa forma resolvia um antigo dilema da
Geografia, que enfrentava a quebra da unidade de seu campo de
conhecimento alicerçado na análise das relações homem e meio. Agora é
LENCIONI quem comenta:
“Desse modo, o espectro da cisão da disciplina e o comprometimento
de sua identidade se resolviam pelo estudo regional que tentava
relacionar os fenômenos físicos e humanos de uma dada área. Por
isso é que se consagraram os estudos regionais como a alternativa
de manutenção da unidade da disciplina geográfica”. (LENCIONI,
1999:189).
Esse período alavancou a produção científica de cunho regional, as
monografias regionais que, em sua maioria, utilizavam uma metodologia
centrada na descrição e nos trabalhos de campo. Gomes descreve assim esse
método:
23
“Neste plano se deve começar pela descrição das características
físicas seguida da descrição da estrutura da população e de suas
atividades econômicas. O objetivo final é encontrar para cada região
uma personalidade, uma forma de ser diferente e particular”.
(GOMES, 2006:56).
Kant um dos grandes expoentes do Iluminismo influenciou as reflexões
de Alfred Hetter, outro defensor do estudo regional. Sua concepção baseava-se
no estudo das diferenciações da superfície terrestre, pois, para ele, as regiões
não estão em evidência na paisagem, como afirmava La Blache, e sim fruto de
uma construção mental.
No pensamento de outro geógrafo, Richard Hartshorne, encontramos
ecos da leitura de Hetter. Para Hartshorne, a Geografia deve se interessar por
todos os fenômenos que tem uma dimensão espacial, e enfatizar o estudo das
diferenciações regionais. Segundo GOMES (2006:59) “O método regional, ou
seja, o ponto de vista da Geografia, de procurar na distribuição espacial dos
fenômenos a caracterização de unidades regionais, é a particularidade que
identifica a Geografia das demais ciências“. Em seguida, afirma que:
“Para ele, a região não é uma realidade evidente, dada, a qual
caberia apenas ao geógrafo descrever. A região é um produto mental,
uma forma de ver o espaço que coloca em evidência os fundamentos
da organização diferenciada do espaço”. (GOMES, 2006:59-60).
Embora admita que em todos os campos da ciência exista a
necessidade do estabelecimento de esquemas, enfatiza que vários fenômenos
estudados pela Geografia apresentam uma certa singularidade incompatível
com qualquer tipo de generalização.
24
Nas décadas seguintes os geógrafos influenciados pelo positivismo
lógico criticavam o que Schaefer denominou de excepcionalismo em Geografia,
quando afirmou que: “a história e a geografia acham-se em uma posição
excepcional, diferente daquela das chamadas ciências sistemáticas”
(SCHAEFER, 1977:13). Argumentava que a ciência deveria buscar o rigor
científico por meio da padronização de procedimentos em relação ao método e
da formulação de leis gerais.
A região, que durante a Geografia clássica encontrava-se em destaque,
pois mantinha a unidade fundamental da ciência geográfica, na medida em que
promovia o encontro do físico e do humano, produzindo assim uma síntese
dessas relações. Exerceu papel de destaque nos debates centralizando a
atenção dos geógrafos, que formularam diversas críticas, dentre as mais
significativas, nas palavras de GOMES (2006:62): “O argumento fundamental
desta crítica é a de que em um mundo sem teorias, sem modelos, todos os
fatos são únicos”. Como resposta a essas críticas o discurso geográfico se
distanciou da historicidade e da idéia de processo na gênese dos fenômenos.
Optou por aproximar-se da matemática e passou a utilizar modelos
matemáticos nas suas explicações, buscando claramente achar uma ordem
lógica na organização espacial. Percebemos claramente esse momento nas
palavras de LENCIONI (1999:192) quando afirma que “na análise regional,
utilizou-se da teoria geral dos sistemas tentando resolver várias questões,
como a delimitação funcional da região, a definição da escala regional e a
coesão do conteúdo regional”. Dessa forma regionalizar passou a ser
reconhecido como uma técnica geográfica, denominada análise regional cuja
finalidade era contribuir para o entendimento de um problema. Consistia em
25
dividir o espaço, à luz de alguns critérios pré-estabelecidos que conduzissem a
uma classificação da região. Para LENCIONI (1999:192) “a região se colocou,
assim, como uma classe, sendo determinada teoricamente. Nesse sentido,
regionalizar passou a significar classificar regiões”.
O então estudo regional enquanto técnica abriu caminho para que o foco
da Geografia fosse direcionado ao espaço. Cresceu a idéia de que o espaço é
fruto das relações sociais, ou seja, é construído pela sociedade. Como as
bases de sustentação do positivismo lógico na Geografia encontravam-se
estabelecidas na forte influência do meio natural, o seu discurso passou a
receber diversas críticas e outras correntes do pensamento geográfico se
estabeleceram, dentre elas destacamos a Geografia Crítica.
A corrente marxista buscava que por meio do materialismo histórico e
dialético compreender a gênese dos processos que reproduziam no espaço as
desigualdades sociais geradas pelo sistema capitalista.
O espaço era tido como uma produção social não harmônica e cabia a
geografia pesquisar os interesses dos grupos sociais que participavam no
processo de produção espacial.
Em relação à região, LACOSTE considera que:
“Fruto do pensamento vidaliano, a “região geográfica”, considerada a
representação espacial, senão única, ao menos fundamental,
entidade resultante, pode-se dizer, da síntese harmoniosa e das
heranças históricas, se tornou um poderoso conceito-obstáculo que
impediu a consideração de outras representações espaciais e o
exame de suas relações”. (LACOSTE, 1988:64).
26
Neste aspecto LENCIONI (1999:195-196) acrescenta que “de imediato,
enfrentou o problema teórico-metodológico quanto ao fato de a região não se
constituir uma categoria de análise marxista”, embora a Geografia, influenciada
pelo marxismo, também contribuísse para o estudo regional, ao destacar o
processo de produção capitalista nas análises regionais.
Com o pensamento pós-moderno vieram as críticas à corrente marxista,
pautada na utilização exagerada da análise das relações de produção nos
diferentes períodos históricos. Os pós-modernistas trouxeram de volta a
subjetividade, negando as concepções de totalidade e as leis
homogeneizadoras do pensamento moderno, resgatando o papel da cultura na
produção do espaço e enfatizando a espacialidade no entendimento da
realidade. Desta forma, valorizou-se a diferença, o heterogêneo criando uma
expectativa que podia ser respondida por meio da análise regional.
O distanciamento dos processos globais e a fragmentação da realidade
colocavam em xeque a análise regional como forma de compreensão da
realidade. Segundo LENCIONI,
“A busca por novos caminhos de análise na geografia surgiu no
momento em que o lugar, o regional e o global se recompuseram
diante da recente reestruturação do capitalismo. Atualmente, com o
processo de globalização essa reestruturação traz à tona o
questionamento da pertinência da escala de análise regional e
também o esclarecimento de sua relevância como instância particular
de análise que se situa entre o local e o global”. (LENCIONI,
1999:199).
O processo de globalização tem como característica o estabelecimento
do processo de homogeneização do espaço, promovida pela aceleração dos
fluxos em decorrência da rápida evolução dos meios técnico-científicos. Sendo
27
assim, os conceitos de região, território e fronteiras estariam fadados a
desaparecer.
Contudo, o que se tem observado após a Guerra Fria está longe das
previsões de homogeneização do espaço. Crescem em todo o mundo os
movimentos nacionalistas e os discursos regionalistas que buscam reafirmar as
diferenças. Para GOMES,
“A tão decantada globalização parece concretamente não ter
conseguido suprimir a diversidade espacial, talvez nem a tenha
diminuído. Se hoje o capitalismo se ampara em uma economia
mundial não quer dizer que haja uma homogeneidade resultante
desta ação”. (GOMES, 2006:72).
Entendemos que a análise regional, tal qual, se aplicava na Geografia
clássica, não tem espaço frente aos novos desafios impostos pela
mundialização, porém essa nova realidade o foi capaz de suprimir a
consciência da diversidade, ou mesmo padronizar o espaço geográfico a ponto
de tornar obsoletos esses conceitos.
Concluímos após essa rápida explanação sobre o conceito de região, no
decorrer da história do pensamento geográfico, apontaram que os critérios
definidores da região sofreram várias mudanças, influenciados pelos diferentes
momentos e correntes do pensamento geográfico.
1.2 - O Poder e a Identidade Cultural na definição do espaço regional
A proposta da fenomenologia resgatou o humanismo na Geografia,
relegado a um segundo plano pelo positivismo lógico. Apresentou uma visão de
28
mundo centrada no homem, onde os fenômenos poderiam ser entendidos
por meio da percepção que os homens têm das experiências vividas nas
relações sociais e nas manifestações culturais presentes no espaço vivido.
Para FRÉMONT, que se destacou na contribuição desta temática. A
região:
se existe, é um espaço vivido. Vista, apreendida, sentida, anulada ou
rejeitada, modelada pelos homens e projetando neles imagens que os
modelam. É um reflexo. Redescobrir a região é pois procurar captá-la
onde ela existe, vista pelos homens.(FRÉMONT, 1980:17).
O espaço vivido, diante de toda a sua complexidade, segundo
FRÉMONT (1980), é revelador de identidades regionais, essas, certamente,
repletas de componentes econômicos, histórico-culturais, naturais e, além
disso, psicológicos.
A noção de região passou a ser novamente valorizada. Segundo
Pellegrino citado por GOMES (2006:67) “consciência regional, sentimento de
pertencimento, mentalidade regional são alguns dos elementos que estes
autores chamam a atenção para revalorizar esta dimensão regional como um
espaço vivido”. LENCIONI (1999:194) completa esse pensamento ao afirmar
que “a identidade dos homens com a região se tornou então um problema
central na Geografia regional de inspiração fenomenológica”.
A região sob este ponto de vista era resultado da história e da cultura,
desenvolvida pela subjetividade coletiva e não mais vista como uma realidade
auto-evidente.
Embora a fenomenologia tenha enriquecido o conhecimento geográfico
com as discussões do percebido e do vivido, não lhe faltaram críticas em
29
relação à fragilidade de sua metodologia e do total desprezo pela geografia
física.
Outros autores trouxeram novas contribuições para os debates sobre a
temática regional. Destacamos Luiz Navarro de Britto, que no seu livro: Política
e espaço regional, editado em 1986, enfatiza o papel desempenhado pela
política, tida até então, como uma dimensão pouco privilegiada pelas análises
regionais. Com base nesta perspectiva analisa a interação entre o conjunto de
forças políticas e o espaço regional.
O autor afirma que o sistema político ao estabelecer uma comunicação
com o seu meio ambiente, este último, dotado de variáveis ltiplas,
proporciona uma relação de influências recíprocas.
Ao comentar o conceito de região, BRITTO destaca que:
“Do ângulo político, parece-me que a idéia de região repousa na
presença de um campo de força em torno de um pólo. Devem-se
encontrar, num território, ligações entre os habitantes e as
características comuns que explicam ou justificam, segundo Bernard
Kayser, “sua organização em torno de um centro dotado de certa
autonomia e sua integração funcional numa economia global”.
”(BRITTO, 1986:28).
Dessa forma, o autor admite que o termo região remeta a idéia de uma
parte que integra um conjunto maior. Porém, rejeita a idéia de que esse
conjunto seja somente o Estado, sendo possíveis outras unidades espaciais, a
partir do momento em que seu território se divida em partes polarizadas.
Entende que a região é o espaço polarizado, onde alguns agentes e
atividades estabelecem uma linha de comunicação e de dependência que os
30
direcionam para um centro de forças. Assim a polarização é definida,
primordialmente por relações de poder.
A definição de regionalismo, de BRITTO (1986), aproxima-se muito da
corrente Humanística da Geografia. Em suas palavras:
“Mas o regionalismo é antes de tudo um sentimento, um
estado de espírito nascido da combinação de formas físicas e
humanas que dão a uma comunidade, num certo quadro territorial,
como que uma individualidade psicológica em relação em relação a
seus vizinhos. Na medida em que tal predisposição se associa a
agentes operacionais de ordem geográfica, econômica ou
administrativa, perde sua condição de força não organizada, pois a
região se estrutura. O regionalismo será uma força não organizada
enquanto a tomada de consciência o chegar à organização dos
comportamentos e das atitudes políticas.” (BRITTO, 1986:44).
Conclui afirmando que o regionalismo, enquanto manifestação de uma
consciência regional, pode ser apropriado pelo discurso político, tornando-se
assim uma ideologia política, capaz de agir na gênese ou na fragmentação de
um Estado.
31
CAPÍTULO 2: O CONCEITO DE ORIENTE MÉDIO E SUAS REPRESENTAÇÕES
ESPACIAIS
2.1 – A origem e a evolução das representações espaciais
O termo Oriente Médio é amplamente utilizado por diversos setores da
sociedade. Sua origem vem da tradução da palavra inglesa Middle East, e está
fortemente influenciada pelo eurocentrismo, pois as potências européias
consideravam esta região a porta de entrada para estender seus domínios
imperiais no Oriente.
uma grande polêmica em relação à dimensão regional do Oriente
Médio. A representação cartográfica da região presente nos Atlas Geográficos,
nos livros didáticos e paradidáticos, nas revistas e na mídia em geral, varia de
forma significativa provocando dúvidas. Isto ocorre porque não uma única
definição de Oriente Médio aceita mundialmente.
DEMANT (2004: 15) reforça essa afirmação quando escreve que “aliás,
o próprio termo Oriente Médio, usado para definir a região geográfica que é
hoje o lar de cerca de 400 milhões de muçulmanos, comporta discussões”.
Outro autor que também destaca essa polêmica é SILVA (2003:47) ele
admite que “A expressão Oriente Médio é evasiva, uma vez que não existe
consenso sobre seu limite regional”. Esclarece, também, que a expressão
Oriente Médio apresenta uma origem puramente eurocêntrica e a partir do
século XX, principalmente após a segunda Guerra Mundial, passou a ser
amplamente utilizada e, hoje, tornou-se um termo consagrado, apesar das
críticas que lhe são atribuídas.
32
É na obra de Edward Said, sobre o orientalismo, que encontramos uma
contundente reflexão sobre a origem do termo “Oriente”. SAID (2007:13) afirma
que “nem o termo “Oriente” nem o conceito de “Ocidente” têm estabilidade
ontológica; ambos são constituídos de esforço humano – parte afirmação, parte
identificação do Outro.” Assim são facilmente manipulados.
Segundo SAID (2007), o orientalismo produziu representações do
Oriente, definindo suas principais características e contornos, ou seja, o
Oriente é uma criação do Ocidente e esconde uma relação de poder e de
dominação complexa. Essas representações foram fundamentais para a
construção de uma identidade ocidental capaz de legitimar suas pretensões
imperialistas no Oriente.
Percebemos nas palavras de SAID essa construção:
“Em outras palavras, essa prática universal de designar mentalmente
um lugar familiar, que é o “nosso”, e um espaço não familiar além do
“nosso”, que é “o deles”, é um modo de fazer distinções geográficas
que pode ser inteiramente arbitrário.Uso a palavra arbitrário” neste
ponto, porque a geografia imaginativa da variedade nossa terra
terra bárbara” não requer que os bárbaros reconheçam a distinção.
(...) Numa certa medida, as sociedades modernas e primitivas
parecem obter a percepção de suas identidades de modo negativo”.
(SAID, 2007:91).
Por ser uma construção política, ela sofre alterações diante dos
vários contextos em que foi pensada. É SMITH quem afirma que:
“No uso britânico de princípios do século 20, o termo se referia à
Arábia, à Mesopotâmia, ao golfo Pérsico e à Pérsia. “Oriente
Próximo” (Near East) se empregava para designar os Bálcãs, a
Anatólia, o Levante e o Egito, ao passo que Extremo Oriente” (Far
East) abrangia o Sudeste Asiático, a China, a Coréia e o Japão. Em
algumas acepções contemporâneas, o termo “Oriente Médio” engloba
até o Marrocos, bem para ocidente; inclui o Sudão, ao sul; e alcança
e abarca o Paquistão e o Afeganistão, a leste. O National Geographic
Atlas of the Middle East [Atlas National Geographic do Oriente Médio]
33
deixa de fora o Paquistão, o Afeganistão e o Sudão, junto com a
maior parte do norte da África, mas incorpora Chipre e a Turquia”.
(SMITH, 2008:8).
Do ponto de vista da perspectiva Imperial Britânica, o continente asiático
era reconhecido como “Oriente”. Por representar uma vasta área, foi preciso
estabelecer divisões internas para diferenciar áreas como a China e o Japão, o
Extremo Oriente, e a parte dominada pelo Império Otomano, o Oriente
Próximo.
A região já foi conhecida por outras denominações, segundo SILVA
(2003:47) “Até o começo do século era mais usual a expressão Oriente
Próximo, designação dada pelo europeu para referir-se à porção oriental do
Império Otomano (...), Ásia Menor é outra expressão em desuso”.
A seguir, com o auxílio dos mapas 01 e 02 podemos comparar as
representações cartográficas dos termos: Oriente Médio e Oriente Próximo, no
início do século XX. Percebemos que são áreas distintas, mas componentes
de uma área maior que, se estendia de parte do Norte da África às Filipinas, e
que foi, de certa forma, delimitada a partir das pretensões das potências
imperiais européias. Evidenciando o caráter eurocêntrico dessas acepções.
34
Mapa: 01 Mapa: 02
Extraídos de Smith, Dan. O Atlas do Oriente Médio: conflitos e soluções. São Paulo: Publifolha,
2008.p. 9-10.
No início do século XXI, a abrangência territorial do termo Oriente Médio
apresentava variáveis significativas, em alguns casos, a diferença de área
entre um mapa e outro pode representar quase o dobro da extensão territorial,
conforme podemos observar no mapa 03.
Mapa: 03
35
Extraído de Smith, Dan. O Atlas do Oriente Médio:
conflitos e soluções. São Paulo: Publifolha, 2008.
p.10.
Nos livros paradidáticos, nas publicações destinadas aos estudantes e
em importantes sites, com conteúdo educativo, essa variedade de
representações e abrangência contribuem de forma significativa para aumentar
as dúvidas, uma vez que o é esclarecido ao leitor o motivo de tamanha
diversidade, bem como quais foram os critérios utilizados pelo editor para a
adoção de determinada representação.
Em relação à variedade de representações encontradas percebemos
que um cleo em comum, constituído pelos países da Península Arábica e
do Golfo rsico (Arábia Saudita, Iêmen, Omã, Emirados Árabes Unidos,
Catar, Kuwait, Bahrein, Iraque e Irã), além de Jordânia, Síria, Líbano, Israel e
dos territórios palestinos ocupados. Esse núcleo comum, também foi percebido
por SILVA (2003:47) “(...) uma certa unanimidade quanto ao
reconhecimento do sudoeste asiático, especialmente a península Arábica, e
que se estende em direção norte até a Síria, como área core da região”.
Com exceção dos países apresentados a controvérsia é ampla. O sítio
do Klickeducação, mapa 04, apresenta o Oriente Médio com os países
anteriormente citados, acrescentando apenas, as partes asiáticas dos
territórios da Turquia e do Egito. Essa representação cartográfica da região
corresponde à adotada por SILVA (2003:98).
36
Mapa: 04
Extraído do Site www.klickeducacao.com.br/2006/enciclo/encicloverb/0,5977,IGP-
10929,00.html. Acesso em 05/11/2008.
Outro importante sítio, o folha.uol, mapa 05, apresenta além do núcleo
comum os territórios do: Chipre, Turquia, Afeganistão e Paquistão, excluindo o
Egito da região.
37
Mapa: 05
Extraído do site www1.folha.uol.com.br/.../ult94u105499.shtml. Acesso em 05/11/2008.
O guia do estudante, da editora Abril, apresenta uma acepção de
Oriente Médio, mapa 06, divergente da anterior em relação aos territórios do
Afeganistão e Paquistão que são retirados da representação e da inclusão dos
territórios do Uzbequistão, Turcomenistão, Azerbaijdão, Armênia, Geórgia,
Egito, Sudão e da Eritréia.
38
Mapa: 06
Extraído do guia do estudante atualidades vestibular 2008. ed. 06. São Paulo: Editora Abril,
2008. p.72.
Por fim, o Atlas do Oriente Médio (mapa 07), uma publicação do
Publifolha, apresenta uma das mais extensas definições, que acrescenta ao
núcleo comum os territórios do: Egito, Líbia, Argélia, Tunísia, Marrocos.
Também traz uma polêmica ao excluir a Turquia da região.
Cabe salientar, que das fontes pesquisadas foi à única que justificou a
escolha da representação adotada e preocupou-se em esclarecer ao leitor a
existência de outras possíveis representações para a região do Oriente Médio.
39
Mapa: 07
Extraído de Smith, Dan. O Atlas do Oriente Médio: conflitos e soluções. São Paulo: Publifolha,
2008. p.10.
Selecionamos apenas algumas das possíveis representações
cartográficas da região, divulgadas em periódicos, sites e livros paradidáticos,
de fácil acesso aos professores e educandos. Julgamos não se fazer
necessário expor todas as figuras encontradas nesta pesquisa, pois o nosso
objetivo foi o de realçar a discussão acerca deste tema.
2.2 – A influência da Geopolítica no conceito de Oriente Médio
Em 1905, um jurista sueco Rudolf Kjellén utiliza a expressão geopolítica
em um artigo intitulado “As grandes potências”. Em 1916, lança o livro “O
Estado como forma de vida, que segundo VESENTINI (2008:15) “sua
preocupação fundamental nessas obras era com o poderio mundial e ele
definiu a geopolítica como a ciência que estuda o Estado como organismo
geográfico”. A fonte inspiradora de Kjellén encontra-se na Geografia Política do
40
Alemão Friedrich Ratzel que, para BECKER (2006:277) “(...) teorizando
geograficamente o Estado (1897), constitui uma fonte crucial para a análise das
relações entre o Estado e o poder, e para a própria criação da Geopolítica (...)”
A geopolítica tem se definido, desde então, pelas relações de poder que
ocorrem no espaço mundial. Essas relações de força, inicialmente entendida
apenas como militar, foram ampliadas para o campo econômico, político e
social.
Ao longo da história, a geopolítica criou diversas visões de mundo, da
qual se dedicou a compreendê-las e também a redefini-las. Nesse esforço, a
escala global de análise passou a ser amplamente adotada, mas, não
exclusivamente. Diferentes representações cartográficas foram produzidas
para representar esses pensamentos e algumas delas permanecem, até os
dias de hoje, influenciando a representação cartográfica de diversas partes do
mundo.
O período das grandes navegações ilustra bem esse período, o mundo e
a percepção que se tinha dele foram alterados. Os aspectos físicos passaram a
ser dotados de significativa relação de poder, nesse momento, a facilidade de
acesso ao mar e o posicionamento geográfico eram valorizados e tidos como
fundamentais. Para BECKER (2006:276) “valorizam-se, nesse contexto, os
fatores físicos como determinantes do poder, na medida em que graças à
navegação e à cartografia, forneceram aos Estados meios para a conquista de
espaços”.
Com a afirmação do Estado moderno na Europa e as transformações
ocorridas após a revolução industrial, o interesse e a importância das colônias
da África e Ásia ganham nova dimensão e despertam o caráter expansionista
41
do imperialismo europeu. SILVA (2003:44) ressalta que as ambições e
incursões imperialistas franco-britânicas na eurásia ocorriam, antes mesmo,
da institucionalização da Geografia enquanto ciência sistematiza. Porém aceita
que “(...) a brotação teórica da Geografia tenha sido dinamizada pela ação
imperialista, forçando os emergentes geógrafos a refletir sobre o espaço
político do uso do território”.
O período que compreendeu o final do século XIX até o final da segunda
Guerra Mundial, foi marcado por severas disputas territoriais, protagonizadas
pelas potências mundiais, que competiam, principalmente, pelos mercados e
recursos naturais da Ásia e África.
A geopolítica clássica se desenvolveu nesse cenário mundial, motivo
pelo qual as suas formulações, segundo VESENTINI (2008:16) “(...) terem sido
em geral explicações a respeito da importância estratégica de determinados
territórios, da necessidade de expansão territorial ou controle de espaços
(rotas marítimas ou áreas geoestratégicas) - (...)”, de modo a garantir um
Estado forte e hegemônico. Destacaremos a seguir algumas dessas
explicações.
O geógrafo inglês Halford J. Mackinder, um dos grandes nomes da
geopolítica clássica, acreditando na importância do poder terrestre,
desenvolveu em suas formulações alguns conceitos como: Pivot área (área
base), heartland (terra coração), world island (ilha mundial), entre outros.
Mackinder formulou a sua teoria geoestratégica considerando fatores políticos
e geográficos. Para ele, haveria uma área, a heartland (mapa 08), que
corresponderia atualmente ao leste europeu, e o seu domínio representaria o
controle da pivot área e por conseqüência o domínio da world island e da
42
supremacia mundial. Para VESENTINI (2008:18) “Mackinder criou conceitos
que foram reproduzidos por praticamente todos os demais geopolíticos e se
tornaram clássicos (...)”.
Mapa: 08
Extraído do site:
http://www.deepspace4.com/pages/answers/swarming/images/mackindersworld.gif acessado em
22/08/09
Assim como Mackinder estava a serviço dos interesses do império
britânico, as formulações de Nicolas Spykman, após a II Guerra Mundial
estavam direcionadas ao imperialismo americano. Spykman, influenciado pelo
poder marítimo de Mahan
2
e também por Mackinder, estabelece uma nova
área estratégica para o poder, a qual passou a denominar Rimland (mapa 09).
O controle dessa área seria a chave para o controle do mundo.
As duas teorias geoestratégicas criaram representações cartográficas,
conforme podemos observar no mapa 08, que apresenta o “mundo de
Mackinder” e no mapa 09 que nos trás o “mundo de Spykman”. Essas
representações, além de expressar o seu pensamento em um determinado
2
Alfred T. Mahan foi almirante da marinha norte-americana. É apontado como um dos grandes clássicos
da geopolítica após a publicação ,em 1890, da obra “A influência do poder marinho sobre a história”.
43
contexto, utilizam algumas expressões que são usadas para classificar as
áreas do globo terrestre.
Mapa: 09
Extraído de: CASTRO, Iná Elias de, GOMES, Paulo Cesar da Costa, CORRÊA, Roberto Lobato
(organizadores). Geografia: conceitos e temas. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2006.p.281
Essa breve reconstrução histórica da origem da geopolítica, não tem a
pretensão de esgotar ou mesmo aprofundar essas discussões. Apenas
demonstrar a influência da política e dos interesses externos na criação de
termos, expressões ou conceitos sobre um determinado lugar ou região. Eles
correspondem ao momento histórico e o contexto em que são pensados,
refletindo visões de mundo distintas.
Acreditamos que a expressão Oriente Médio e sua correspondência
territorial foi estabelecida a partir das pretensões de dominação do
imperialismo europeu, ou seja, os aspectos e fatores externos interferiram,
decisivamente, na regionalização e na abrangência territorial.
Vários autores destacam o caráter político do termo Oriente
Médio, e tem apontado os interesses políticos e estratégicos das grandes
44
potências, como o elemento aglutinador, formador da região. Ou seja, os
fatores externos vêm definindo o que vem ser a região Oriente Médio ao longo
da história. Para SMITH (2008:8) pelo fato do conceito de Oriente Médio ser
político “ao definir-se o Oriente Médio, estabelecem-se juízos sobre as
questões fundamentais que o absorvem e os fatores fundamentais que lhe dão
forma”.
Em relação à Região do Oriente Médio, após vários estudos e à luz de
Fisher, Mackinder, e outros. SILVA (2003:59), admite que: “Cremos, portanto,
ser o critério geopolítico a pedra angular para lastrear uma regionalização,
porém não de forma isolada na designação regional”. Ainda destaca como
importantes elementos para a regionalização da região, a religião Islâmica e a
distribuição étnico- cultural, o cenário natural, que se considere, também a
disposição oceânica, o petróleo e o aspecto histórico de formação da região,
com especial destaque para o território. Ressalta que: Todos estes elementos
influenciaram no que entendemos como Oriente Médio, e cremos que todos
eles interagem harmonicamente, formando um todo na designação de uma
região, (...)”. SILVA (2003:59).
O termo Oriente dio passou a ser amplamente divulgado, após a
segunda Guerra Mundial, que se considere o papel desempenhado pelo
imperialismo Franco- Britânico e posteriormente Norte americano. É a partir
dos conflitos que se desencadearam na região com o novo cenário geopolítico
da Guerra Fria, com a criação do Estado de Israel, a crescente importância
econômica e estratégica do petróleo no século XX e com a Revolução Islâmica
no Irã, que a região foi colocada no centro das discussões, facilitando a
45
propagação da expressão nos diversos meios e, principalmente, nos meios de
comunicação atingindo, então, o cidadão comum.
2.3 – Identidade Cultural e Regionalização: Outras possibilidades
outras formas de regionalização, que abarcam a região em escalas
distintas, destacaremos inicialmente as que estariam próximas da corrente
Humanística da Geografia, que valoriza os conceitos ligados à cultura,
entendendo que os homens criam sentimentos de pertencimento a uma
determinada região. Desta forma os aspectos e fatores externos não
interferem, decisivamente, na regionalização e na análise regional.
O Mundo Muçulmano é estabelecido a partir de único, mas decisivo
fator: a religião, mais especificamente o Islã. Com cerca de 1,3 bilhão de
adeptos e compreendendo uma vasta área que se estende da África Ocidental,
incluindo a maior parte do Oriente Médio e da Ásia Central, chegando até a
Indonésia. É uma forma de regionalização que desperta polêmicas e críticas
contundentes quanto à validade desta escala de análise para o entendimento
do mundo atual.
Na própria obra de DEMANT (2004) encontramos elementos capazes de
colocar em xeque a validade dessa escala de regionalização. O autor nos
esclarece que “Muito embora a própria religião seja para eles experienciada e
praticada das mais diversas maneiras. contrastes não apenas nas formas
visíveis, rituais e sociais, mas até no núcleo das crenças e na maneira de
aplicá-las à sociedade.” DEMANT (2004:14), em outros momentos o autor
afirma que: “Na verdade, o mundo muçulmano se divide em quatro grandes
46
blocos, geográfica e culturalmente distintos. Além do Oriente Médio, ou seja, do
bloco médio-oriental, há ainda o indiano, o malaio e o africano.” DEMANT
(2004:15).
Ao comentar o conceito de Mundo Muçulmano, SILVA (2003:57) foi
categórico ao afirmar que essa proposta “não serve como parâmetro regional”.
Todavia, essa proposta passa a receber um viés Geopolítico, em 1993, quando
o estrategista e professor de Relações Internacionais, Samuel P. Huntington
retomou as idéias do “Choque de Civilizações”, em um ensaio do mesmo título
publicado na revista Foreign Affairs.
Huntington em seu esforço para compreender o mundo, no período pós-
Guerra Fria, marcado por incertezas da nova ordem mundial que se instalava,
propôs, o paradigma civilizacional. Onde as diversas identidades culturais, em
função do sentimento de pertencimento em relação à Civilização, passariam a
se agrupar, inclusive, os Estados. Os conflitos não seriam mais ideológicos ou
econômicos, mas motivados por diferenças culturais.
Para Huntington os conflitos ocorreriam, com maior intensidade, no que
ele classificou de “linhas de cisão entre as civilizações”. As principais batalhas
deveriam ocorrer entre as Civilizações Ocidentais e Islâmicas. Vejamos, no
mapa 10, a regionalização geopolítica
3
proposta por Huntington.
33
O conceito de Geopolítica adotado nesta pesquisa , é entendido como uma variável da Geografia
Política.
47
Mapa: 10
Extraído de Vesentini, José William. Novas geopolíticas. São Paulo: Contexto, 2008.p.55
Observamos que o autor divide o mundo em nove civilizações, sendo
que, a que foi classificada como Islâmica na verdade corresponde ao Mundo
Mulçumano.
Em 1996, Huntington promove uma ampliação das suas propostas e
publica o livro “Choque das Civilizações: e a recomposição da ordem mundial”,
onde lança o conceito de “Estado – Núcleo de uma civilização”. Argumenta que
cada bloco civilizacional deveria ter um Estado- Núcleo, uma nova forma de
48
poder que exercesse um papel de liderança dentro do bloco, interferindo no
sentido de mediar os conflitos dentro e fora dos blocos.
O bloco Islâmico é apontado pelo autor como o que apresenta o maior
grau de dificuldade para definir o seu Estado- Núcleo. Do seu ponto de vista, a
disputa ocorreria entre: Arábia Saudita, o Irã, o Iraque, o Paquistão, o Egito, a
Líbia e a Turquia.
Por fim, defende que cada civilização principal mantivesse ao menos um
assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, fato que não ocorre
na realidade, visto que, atualmente, apenas três das civilizações propostas por
Huntington possuem tais representações como membros permanentes do
Conselho.
A proposta de Huntington para o entendimento da realidade geopolítica
mundial sofreu várias críticas, que se fundamentavam principalmente na visão
reducionistas frente às reais causas dos conflitos mundiais, na
desconsideração da influência da evolução dos meios técnico-científicos e da
globalização nas diferentes culturas, além de favorecer uma imagem deturpada
do Islã, associando-o ao fundamentalismo religioso. As mais duras críticas a
esse modelo são encontradas nas palavras de SAID :
“Desejo concluir insistindo neste ponto: os terríveis conflitos
reducionistas que agrupam as pessoas sob rubricas falsamente
unificadoras como América”, “Ocidente” ou “Islã”, inventando
identidades coletivas para multidões de indivíduos que na realidade
são muito diferentes uns dos outros, não podem continuar tendo a
força que têm e devem ser combatidos; sua eficácia assassina
precisa ser radicalmente reduzida tanto em eficácia como em poder
mobilizador.” (SAID, 2007:25).
49
Alguns atores defendem a validade desta forma de critério regional,
baseado na cultura e na divisão civilizacional. Dentre eles, destacamos o
comentário de Demant em relação às críticas elaboradas por Said, Segundo
DEMANT:
“Edward Said tem sem dúvida razão quando desmascara a
polarização Ocidente- Oriente como uma construção ideológica e
interesseira; mas isto não implica que algo como civilizações
diferentes não exista. Ao contrário de Estados territoriais, civilizações
não têm fronteiras claras, mas elas se justapõem e se influenciam
reciprocamente.” (DEMANT, 2004:345).
A professora Bertha K. Becker, em um capítulo intitulado: “A geopolítica
na virada do Milênio: Logística e desenvolvimento sustentável”, expressa a sua
opinião sobre o assunto, afirmando que: “Em que pesem as críticas ao
paradigma de Huntington, é lícito o reconhecimento da lógica cultural, em
termos de valores civilizacionais, como um poder de resistência à lógica
instrumental.” BECKER in CASTRO (2006:305).
Outro recorte espacial que inclui a maior parte do Oriente dio é o
Mundo Árabe. Neste caso, o elemento definidor é o étnico-cultural, que no
período da expansão Islâmica difundiu o Islã e a cultura árabe pelos territórios
do Norte da África, da Península Arábica, da Pérsia, entre outros (mapa 16).
Criando laços lingüísticos, históricos, religiosos e culturais que justificariam a
constituição de um “Mundo Árabe”.
Deste conjunto fazem parte os Estados que atualmente são membros da
Liga de Estados Árabes, representados no mapa 11: Arábia Saudita, Argélia,
Bahrein, Catar, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Ilhas Comores,
Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Omã, Palestina
50
(ANP), Somália, Síria, Sudão e Tunísia. A área correspondente ao Saara
Ocidental encontra-se em litígio.
Mapa: 11
Extraído do Site: http://sudanmissions.com/Map_Arab%20World%202-edit.JPG
acessado em
24/07/09
Percebemos que este conjunto regional, apresenta um discurso de
unidade baseado na identidade cultural, segundo SMITH (2008:34) “O
nacionalismo pan-árabe é uma filosofia política cuja premissa é cultural.”
BRITTO (1986), no capítulo anterior havia refletido sobre a
apropriação do regionalismo, enquanto sentimento de pertencimento, pela
política. A formação de uma unidade regional a partir do regionalismo está
destacada nas suas palavras:
“É a similitude de seus problemas, necessidades, modo de
vida, a afinidade de suas aspirações e lembranças numa base
territorial comum que os impele inconscientemente a manifestações
políticas sincronizadas. (...) Uma desejada articulação de
51
comportamentos se esboça, e vemo-nos então tentados a declarar
que uma unidade regional se está organizando.” BRITTO (1986:44).
SILVA (2003:48), apoiado nas pesquisas realizadas por Zidane Zéraoui,
em 1981, a respeito do Mundo Árabe, destaca que “durante a expansão
islâmica, geógrafos árabes criaram duas designações para dividir o vasto
mundo conquistado: Magreb e Mashraq”. A primeira expressão corresponde à
área do norte da África, mais precisamente o Marrocos, Tunísia e Argélia, e por
vezes Mauritânia e Líbia completam a lista de Estados. O Mashraq
corresponderia ao Egito e a península Arábica. Para SILVA (2003:48) “(...)
expressões plenamente satisfatórias para a identificação regional(...)”.
O Mundo Árabe se apresenta como uma importante forma de
regionalização do espaço mundial, apesar da histórica falta de integração
política. Para o entendimento do Oriente Médio, objetivo principal dessa
dissertação, esse conjunto regional sente a ausência de importantes Estados
não árabes, como a Turquia, o Irã, Israel, e o Curdistão, apesar deste último
não se constituir um Estado.
52
CAPÍTULO 3 - ALGUMAS ABORDAGENS DO ORIENTE MÉDIO NOS
LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO
3.1 – Definindo os critérios de análise
Neste capítulo passaremos a analisar os livros didáticos de Geografia
avaliados e aprovados no Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio
(PNLEM) 2007, que deveriam ser escolhidos no ano de 2008 para serem
utilizados em 2009 por professores e alunos da rede pública de ensino. A
análise se restringirá ao tema Oriente Médio, objetivando analisar como a
região é apresentada pelos autores e como seus temas afins são discutidos.
Acreditamos que a região deve ser entendida como um todo. Discutir
fatos isolados, sem contextualização, pouco ou nada contribui para
compreender questões tão complexas quanto as que encontramos na região
do Oriente Médio.
A região apresenta uma longa história e que segundo SMITH (2008: 8)
“tem sido moldada pela interação de seis fatores cruciais; O Islã, o Império
Otomano, o Colonialismo europeu, a fundação do Estado de Israel, o Petróleo
e a influência Norte-americana”.
É DEMANT (2004:16) que reforça a importância desses fatores ao
afirmar que: “a justaposição de tantos fatores religiosos, estratégicos e
econômicos – explica por que o Oriente Médio capta tanta atenção de políticos,
jornalistas e da opinião pública internacional”. Com base nesses fatores
organizamos uma seqüência de análise para a região, na qual procuramos
contemplar os principais aspectos destacados pelos autores acima citados.
53
Iniciaremos pelas representações cartográficas do Oriente dio,
apresentadas e debatidas no capítulo anterior.
3.2 - Representações cartográficas do Oriente Médio
Em relação aos livros didáticos de Geografia para o Ensino Médio,
destacamos que dos treze exemplares selecionados pelo PNLEM/2007, objeto
de análise desta pesquisa, somente três autores apresentaram, de forma
direta, a representação cartográfica da Região. São eles:
ALMEIDA e RIGOLIN: No capítulo 18 - Oriente Médio: território e
territorialidade - p. 174, os autores trazem uma representação cartográfica da
região que apresenta (mapa: 12); o núcleo comum acrescido dos territórios do
Afeganistão, do Egito, do Chipre e da Turquia.
54
Mapa: 12
SILVA: No capítulo 20 Ásia: Oriente Médio p. 304, (Mapa: 13), o
mapa apresenta os Estados que formam o núcleo comum, além dos territórios
do Afeganistão, Turquia, Chipre e a parte asiática do Egito. Neste caso
específico, ocorre um grave erro de divergência entre a informação contida no
mapa e o texto que acompanha o capítulo. O autor descreve a região do
Oriente Médio da seguinte forma: “Essa área corresponde a um território que
ultrapassa 6,8 milhões de quilômetros quadrados e está subdividida em 15
países, onde vivem mais de 260 milhões de habitantes (Ver tabela)”. A tabela
encontra-se ao lado do mapa, onde podemos encontrar os quinze países
citados no texto, suas áreas e população, a fonte da tabela é: L’état du monde,
2003. O mapa indica como fonte o: Atlas geográfico escolar. IBGE, 2003, que
apresenta 17 países. A divergência entre o mapa e a tabela citada no texto
corresponde ao Chipre e ao Egito. Esta divergência, muito provavelmente
ocorreu em virtude de o autor utilizar fontes diferentes para compor o seu texto
55
e para representar cartograficamente a região, negligenciando a diversidade de
representações do Oriente Médio apresentada neste capítulo.
Mapa: 13
Na figura abaixo (Mapa: 14), o autor incide no mesmo erro ao
apresentar o mapa: Oriente Médio Oleodutos, p. 309, extraído de uma
terceira fonte (Geografia dos continentes Ásia. São Paulo, 1997.). Notamos que
a parte asiática do território do Egito é excluída e que partes de outros
territórios são acrescentadas à região, são elas: Turcomenistão, Uzbequistão e
Cazaquistão.
56
Mapa: 14
VESENTINI: No capítulo 6 Contrastes nos países do Sul p. 65.
(Mapa: 15). Apresenta o núcleo comum de países, acrescido apenas dos
territórios do Afeganistão, Chipre e Turquia.
57
Mapa: 15
Não temos a intenção de selecionar a “melhor” representação, pois
temos claro que o conceito de região, conforme explanado no capítulo anterior,
sofreu diversas alterações no decorrer da história do pensamento geográfico e
sua delimitação carrega consigo uma grande dose de ideologia, podendo
assim ser facilmente manipulado.
Ressaltamos que, essas controvérsias são reproduzidas no cotidiano
escolar gerando dúvidas nos educandos e insegurança na maioria dos
professores, que devido as suas péssimas condições de trabalho, má formação
e jornada excessiva de trabalho não têm condições adequadas de realizar uma
pesquisa de qualidade sobre alguns temas abordados em suas aulas, ou
mesmo esclarecer a contento as dúvidas trazidas pelos alunos. SPÓSITO
apresenta assim essa realidade:
58
“Mal formados intelectualmente e com a remuneração em
declínio, os professores encontram-se reféns dos currículos e
instrumentos didáticos, como os livros didáticos que lhes são
apresentados [...] em parte, porque a ampliação da jornada de
trabalho e do número de escolas em que realizam seu trabalho
tornam exíguo seu tempo livre para a formação continuada e
preparação de seu material de trabalho”. (SPÓSITO, 2004:309).
Cabe sim aos autores dos livros didáticos esclarecerem aos seus
leitores o porquê da diversidade de definições e quais foram os seus critérios
na escolha da sua representação do Oriente Médio. Afinal, essa região
influencia a vida de pessoas em todo o mundo, ocupa constantemente os
noticiários da mídia internacional, devido à importância que o petróleo exerce
nas sociedades contemporâneas, aos constantes conflitos e à geopolítica das
grandes potências mundiais na região. Soma-se, ainda, a importância que a
religião desempenha nas sociedades e muitas vezes na própria política dos
Estados, pois ali se encontram as origens das três maiores religiões
monoteístas do mundo, abrigando importantes lugares sagrados, como as
cidades de Meca e Jerusalém. Por conta de tal diversidade, recorreremos à
história, destacando o período dos impérios até o fim da Guerra Fria. Daremos
ênfase à fundação do Estado de Israel e comentaremos alguns conflitos
relevantes, bem como, a influência do petróleo e principalmente do Islã, com
vistas a realizar uma análise contextualizada da região.
3.3 - Configuração espacial: Contexto Histórico/Cultural
59
O Islã surge na península Árabe, no século VII d.C., e juntamente com o
cristianismo e o judaísmo compõem as três grandes religiões monoteístas.
Entre os vários pontos em comum está o lugar de origem das três grandes
religiões do mundo, o Oriente Médio.
Como grandes impérios imprimiram marcas na paisagem da região e
estão presentes na história da formação do Oriente Médio, o seu estudo
permite compreender o atual mosaico territorial e social.
O império Bizantino formou-se entre os mares Egeu e Negro onde
existia a antiga colônia grega de Bizâncio, local privilegiado e estratégico
devido à proximidade entre, o que o orientalismo
4
convencionou, Oriente e
Ocidente. A influência cultural dos gregos foi marcante no império Bizantino,
sendo no século VII, o grego reconhecido como língua oficial. Surgiu da divisão
do poderoso império Romano, na década de 330 d.C., sendo conhecido como
Império Romano do Oriente. Estabeleceu à cidade de Constantinopla,
atualmente Istambul, como a capital desse império.
O cristianismo instituiu-se como a religião oficial mantendo forte
influência na política, suas doutrinas eram aceitas na Anatólia e nos Bálcãs,
regiões centrais do então império. O Imperador bizantino era considerado como
representante de Deus, detentor de grande poder dirigia a Igreja e o exército,
essa característica foi marcante durante o império.
4
Segundo Edward Said “Orientalismo, um modo de abordar o Oriente que tem como fundamento o lugar
especial do Oriente na experiência ocidental européia” (SAID, 2007:27).
60
As constantes agitações populares provocadas por Monofisistas
5
e
Iconoclastas
6
contrários à religião oficial levaram o império a adotar políticas
intervencionistas nos assuntos eclesiásticos, conhecida como cesaropapismo
7
.
As doutrinas religiosas do cristianismo ocidental, orientadas pelo papa, e
o cristianismo do oriente culminaram, no século XI, com o Cisma do Oriente,
período em que Constantinopla determina a autonomia da igreja bizantina,
Ortodoxa, em relação à igreja Católica Apostólica Romana, dividindo assim a
cristandade.
Na periferia do império, os monofisistas de origem étnica próxima dos
árabes e contrários às doutrinas oficiais sofreram perseguições imperiais e
entraram em contato com o Islã trazido do deserto árabe para o Crescente
Fértil.
Constantinopla controlava um importante eixo comercial de caravanas,
conhecido como rota da seda, que transportavam produtos da China com
destino aos mercados do Mediterrâneo, utilizando a Pérsia como caminho,
porém os constantes conflitos atrapalhavam o comércio e obrigavam o
estabelecimento de novas rotas comerciais alternativas. Essas novas rotas
traçavam a ligação entre a Pérsia e o mar Vermelho e acabou por beneficiar
áreas isoladas na Arábia, em especial a cidade de Meca.
A origem do Islã ocorreu no começo do século VII, a península Arábica,
região constituída por desertos e com a predominância do clima quente e seco.
5
Segundo Demant (2004, p.394) Trata-se de uma tendência cristã, majoritária no Oriente Médio,
acreditando que Jesus Cristo tem uma única natureza, a divina, (monos physis).
6
No âmbito do Cristianismo é uma doutrina contrária ao culto de imagens, por seguir literalmente os dez
mandamentos.
7
Subordinação da Igreja ao poder Imperial, o imperador passa a ser o líder da igreja e assim, confrontar o
poder papal.
61
A região era habitada por povos de diferentes origens, organizados em tribos
sem uma unidade política.
O profeta Muhammad
8
(570 – 632 d.c), traduzido para o português como
Maomé, nasceu em Meca, devido a sua atividade comercial que exigia
constantes viagens de negócios passou a ter contato e sofrer influência de
grupos cristãos e judaicos, religiões monoteístas.
Em 610, Muhammad teria começado a receber visões do anjo Gabriel
que lhe revelou a palavra de Deus. Passou a exercer o papel de profeta e a
difundir uma religião monoteísta, o Islã que significa submissão.
A elite comercial de Meca viu na nova religião uma ameaça para seus
negócios, pois a peregrinação para o templo religioso, a Caaba
9
, que reunia
várias imagens dos principais deuses cultuados pelas diferentes tribos árabes,
constituía em importante fonte de riqueza do clã dominante de Meca, os
Coraixitas. Muhammad pregava a destruição dessas imagens e em represália
foi obrigado a fugir com seus seguidores, essa fuga é conhecida como hégira e
marca o início do calendário muçulmano.
Em Yatreb, posteriormente chamada de Medina, o profeta recebeu o
apoio dos comerciantes e beduínos, então com apoio financeiro e militar
organizou uma força combatente que após várias batalhas, em 630 conquista
Meca, unificando a política e a religião da península Arábica.
8
Nome próprio escrito em árabe “padrão”, adotado por Demant (2004), para se referir ao profeta
fundador do Islã.
9
Ka’aba: Caaba – De acordo com Demant (2004:393) trata-se de um prédio quadrado em Meca que
abriga a pedra negra, supostamente parte do primeiro templo a Deus.
62
Após a morte do profeta, em 632, a aristocracia comercial de Medina e
de outras cidades iniciou uma expressiva expansão com forte apelo religioso,
liderado pelos califas, representantes do profeta que combinavam as funções
religiosas e políticas, essa expansão ocorreu em três fases, e foi responsável
pela grande influência da cultura árabe muçulmana no norte da África e da
expansão do islamismo pela antiga Pérsia e Turquia. Conforme ilustra o mapa
16.
Mapa: 16
Extraído de Vlach, Vânia. Geografia em construção. Belo Horizonte: 1991.p.20.
A primeira fase, de 632 a 661, liderada por Abu Bakr, sogro e seguidor
de Muhammad, conquistaram significativas porções fora da península Arábica,
destacamos: o Egito, a Síria, a Palestina, a Pérsia e partes do Cáucaso.
A segunda fase, de 661 a 750, ficou marcada pela dinastia dos califas
Omíadas que governou, a partir da cidade de Damasco. Expandiram seu
63
império para o norte da África, noroeste da China e grande parte da Península
Ibérica.
Esse período é caracterizado por representar uma fase de transição de
um grupo religioso para o estabelecimento de um reino centralizado, dominado
por uma casta que detinha o controle militar. A composição multiétnica do
crescente império muçulmano, não se refletia na divisão do poder, que
permanecia centralizada nos árabes.
Embora a religião tenha sido a principal responsável pela expansão da
língua árabe, não conseguiu trazer a unidade ao império, pois após a
conflitante sucessão do profeta se transformou em uma sociedade dividida pelo
sectarismo e pela insatisfação dos não-árabes, marginalizados durante o
império Omíada.
A terceira fase, de 750 a 1258, iniciou com a derrota dos Omíadas e a
ascensão da dinastia dos califas Abássidas que igualaram os direitos de todos
os muçulmanos, determinando a decadência da supremacia árabe. Os persas
se converteram ao Islã e passaram a ter grande influência na administração.
Com a mudança da capital do império Islâmico para Bagdá essa influência foi
ampliada devido à proximidade com a Pérsia.
O Estado muçulmano devido a graves crises internas fragmentou-se em
três califados independentes: O de Córdoba, na atual Espanha, o califado de
Bagdá e o califado do Cairo, no Egito. As divergências ideológicas no seio do
Islã representavam um importante fator no declínio do Império Islâmico. Com o
enfraquecimento do império, em 1258, os mongóis conquistam Bagdá pondo
fim à dinastia Abássida. Na península Ibérica, os portugueses e espanhóis,
64
começam a guerra de reconquista e em 1492, os muçulmanos foram expulsos
da região.
Em Anatólia várias tribos turcas se fixaram e contribuíram para difundir o
Islã em áreas controladas pelo decadente império Bizantino.
A expansão do império Otomano tem início em 1300 quando as forças
militares do líder Osman I derrotam o exército Bizantino.
No século XIV consolidam a sua expansão em direção aos Bálcãs e pela
Anatólia. Em 1453, conquistam Constantinopla tornando-a a capital do Império
e decretando assim o fim do império Bizantino. Contudo à igreja Ortodoxo-
cristã, predominante nas terras bizantinas foi preservada.
Nos séculos XV e XVI, principalmente sob o comando do sultão,
Solimão, o império Otomano passou a controlar importantes territórios no leste
europeu, na parte oriental do antigo império muçulmano e no norte da África,
mapa 17. A ambição de expansão pela Europa foi frustrada nos séculos
seguintes por importantes derrotas militares, destacando-se entre elas a de
1683, nos arredores de Viena, e a de 1687 que libertou a Hungria do julgo
Otomano.
65
Mapa: 17
Extraído de Vlach, Vânia. Geografia em construção. Belo Horizonte: 1991.p.21.
O século XIX representou o enfraquecimento do império e o
fortalecimento de grupos separatistas, no norte da África, e de grupos
nacionalistas nos Bálcãs que impuseram grandes perdas territoriais aos
otomanos e encorajaram as potências européias a disputar partes do território
do império em crise. A proximidade de interesses com a Alemanha levou os
otomanos a lutarem, na Primeira Guerra Mundial ao lado da Alemanha contra a
Tríplice Entente.
Na península Arábica, uma revolta apoiada pela Grã-Bretanha que havia
prometido ao Sharif Hussein de Meca, um reino independente aos árabes,
resultou na conquista da Palestina, Síria e Mesopotâmia pelas forças árabe-
inglesa. Promessa semelhante também foi apresentada aos judeus Sionistas
em 1917, na Declaração de Balfour, onde o império Britânico se comprometia a
apoiar a criação de uma pátria nacional para o povo judeu na Palestina. Essas
66
promessas eram contraditórias e foram realizadas para obter o apoio desses
grupos na guerra contra o império Otomano. A história nos mostra que apenas
a promessa aos sionistas, de certa forma, se concretizou.
A derrota frente à Tríplice Entente foi desastrosa para o império. As
potências européias procuraram dividir o Império por meio do tratado de
Sèvres, que previa ainda o estabelecimento de um processo para a criação do
Curdistão, um Estado curdo na região da Anatólia e Iraque. Os gregos com o
apoio dos aliados ocuparam Esmirna, o resultado foi um grande movimento
nacionalista turco, iniciado em 19 de maio de 1919 e liderado por Mustafa
Kemal Pasha. Mustafa Kemal mobilizou a sociedade turca para questionar o
tratado assinado pelo sultão, em 10 de Outubro de 1920, esse processo
desencadeou a Guerra de Independência Turca. Em 1922, com a derrota das
forças estrangeiras de ocupação foi instiuída a Assembléia Nacional Turca que
formalmente aboliu o sultanato, pondo fim ao domínio otomano.
É formada a República da Turquia sob a liderança de Kemal,
posteriormente chamado de Atatürk, pai dos turcos. A Turquia estabeleceu
politicas de modernização e secularização, individualizou o poder do Estado,
afastando-o da religião. Promoveu a educação e incentivou a emancipação das
mulheres.
As migrações entre as populações gregas e turcas que foram balizadas,
principalmente, por critérios religiosos, determinaram a predominância
muçulmana da sociedade turca.
67
Para DEMANT (2004:90), a secularização da sociedade turca, embora
não realizada como havia sido idealizada por Kemal, afastou a Turquia do
restante do mundo árabe.
A forma como o império administrava a diversidade populacional e
cultural foi marcada pela dualidade, ao passo em que as populações
dominadas podiam manter suas crenças religiosas dispares da praticada pelo
governo, com um considerável grau de tolerância para os padrões da época,
em outras situações, principalmente quando crescia a oposição ao império e
também no período da sua decadência o governo agia com extrema violência e
arbitrariedade, como no caso dos gregos da ilha de Quio, do massacre contra
os levantes búlgaros e Armênios, que ilustram bem esse momento. Essa
forma arbitraria de governar ainda hoje é comum na região.
Os problemas sociais que o Oriente Médio persiste em não resolver,
mesmo diante da riqueza gerada pela exploração de petróleo, provocaram a
insatisfação das camadas populares, terreno fértil para os movimentos radicais,
contra os quais a repressão e a arbitrariedade herdada do período do império
continuam a ser usada.
As potências européias, vencedoras do conflito da primeira Guerra
Mundial, ja´em 1915, haviam feito um acordo secreto o Sykes-Picot que previa
a partilha da parte árabe do império Otomano, muito embora a configuração
política do Oriente Médio assumisse outra forma, diferente da prevista no
acordo, as estruturas de dominação britânica e francesa para a região foram
estabelecidas no Sykes-Picot. O colonialismo foi consolidado, porém resistiu
relativamente pouco tempo, pois chegaram enfraquecidos ao final do conflito.
68
A partilha do crescente fértil concedeu a Grã-Bretanha o controle do
Iraque e Palestina cabendo a França a Síria e o Líbano.
O interesse das potências na região era essencialmente estratégico
como demonstra DEMANT:
para a Grã-Bretanha, a questão era assegurar a comunicação com a
India, ainda sua principal colônia. para a França, a proximidade
com a África do Norte era fundamental. Motivos econômicos ainda
eram secundários: o petróleo despertava um interesse crescente,
mas sua exploração como fonte energética imprescindível se
tornaria um pouco central no estágio seguinte.(DEMANT,2004:91).
A geopolitica do Oriente Médio está diretamente relacionada ao período
colonialista, de onde partiram as bases para os Estados e fronteiras nacionais,
que formam hoje o mosaico político da região. A maioria dos conflitos atuais do
Oriente Médio estão de certa medida ligados aos acontecimentos do período
pós guerra. Conforme descreve DEMANT:
Desse nascimento ilegítimo dos Estados árabes, seguiu-se
uma tradição de intromissão e intervenção mútua através de
fronteiras consideradas no melhor dos casos provisórias. A
proximidade lingüística, religiosa e de costumes facilitava o
intercâmbio de ativistas entre um Estado e outro, tendência que
continua em voga até hoje. (DEMANT,2004:92).
O autor destaca o final do período colonialista para retratar a grande
fragmentação que o mundo árabe sofreu, desfazendo o sonho dos
nacionalistas árabes que idealizavam um Reino árabe liderado por Hussein.
Porém, desconsidera em sua fala a luta dos diversos grupos árabes contra o
sistema então vigente.
69
Para realçar a importância das lutas pela independência, SILVA
argumenta que:
Em 1925, um levante árabe pôs em risco o domínio francês
na Síria e, durante os quinze anos subseqüentes, movimentos
contestatórios reivindicando a independência eclodiram, não em
Damasco, mas em várias partes do país. A força dos protestos levou
a França a reconhecer a independência Síria, pela primeira vez, em
1936; instalou-se um gabinete franco-árabe, mas a potência voltaria
atrás quando eclodisse o conflito mundial de 1939-1945. (SILVA,
2003:128).
MARTIN também destaca esse período ao escrever que:
“Após a Segunda Guerra Mundial, quando o movimento de
descolonização tornou-se irrefreável no mundo afro-asiático, o
imperialismo lutou para que se procedesse a maior fragmentação
política possível, a fim de se evitar a constituição de novas potências.
Com isso, viram-se frustrados os movimentos pan-africano, pan-
árabe, pan-indochino, pan-indonésio e pan-indostânico”. (MARTIN,
2004:31).
A Síria, então centro do nacionalismo pan-árabe liderado pelos
muçulmanos sunitas
10
, contrários à divisão do mundo árabe, era palco de
tensões e conflitos entre os vários grupos étnico-religiosos presentes no
território. Temendo um levante, a França, promoveu a fragmentação do
território sírio, anexando áreas ocupadas por maioria muçulmana, como o vale
do Bekaa e algumas áreas litorâneas ao Líbano. A separação do Líbano jamais
foi aceita pela Síria, que também reclama os territórios da Jordânia e Palestina,
esse último atualmente dividido e ocupado por Israel.
10
Grupo majoritário no Islã, muçulmanos ortodoxos que seguem a sunna. Utilizado para identificar os
que, após a morte do profeta, aceitaram a sucessão dos quatro primeiros califas do Islã.
70
Esses novos Estados criados pelo imperialismo colonial europeu não
representavam à realidade territorial, tendo em vista que não foram levadas em
conta as territorialidades estabelecidas no mundo árabe. DEMANT reforça essa
idéia quando comenta que:
O mundo árabe tinha suas divisões internas: entre
agricultores e citadinos; entre abastados effendis (proprietários) e
mercadores e um proletariado urbano e rural faminto; entre
muçulmanos, judeus e cristãos das várias congregações e seitas;
entre nacionalistas e aqueles que continuavam ligando sua identidade
coletiva a critérios religiosos. Havia também dialetos e costumes
diferentes. Entretanto, nada havia preparado o terreno para a partilha
de 1920. (DEMANT, 2004:91-92).
As potências coloniais enfraquecidas após o conflito sofriam constantes
e variadas ameaças a seu poder. Optaram por favorecer as minorias étnicas,
muitas vezes armando-as para controlar a maioria, no caso os sunitas. Assim
mantinham a ordem e garantiam a governabilidade dos territórios.
As conseqüências dessa política representam mais um elemento
complicador para que as minorias pudessem se integrar com a maioria da
nação árabe, conforme descreve Peter DEMANT (2004:92): “Assim, armênios,
judeus, xiitas, druzos e outros se associaram, na percepção da maioria, aos
colonizadores, e se tornaram objeto do ódio da maioria: os muçulmanos”.
Além da influência negativa que deixaram na geografia política do
Oriente Médio, as potências coloniais também tentaram implantar a
modernidade em suas colônias, por meio de uma infra-estrutura bem mais
moderna e da introdução dos novos produtos da fase industrial. Promoveram o
avanço da educação, embora que para uma pequena parcela da população,
71
pois essa modernidade exigia uma mudança no pensar das comunidades
locais.
A modernidade exportada da Europa, pela Grã-Bretanha e França, se
constituiu em uma nova forma de pressão e não demorou muito para se
confrontar com o modo de vida local, e principalmente com o Islã.
A elite tradicional e a emergente classe média inseriram-se nos meios da
administração pública e militar formando uma base que no período entre
guerras estaria à frente dos movimentos por independência e mais tarde na
composição do governo dos recém independentes Estados.
Nesse período também surgiram as bases ideológicas de importantes
movimentos como o pan-arabismo que vieram a fracassar. Porém seus ideais
continuam até hoje influenciando os discursos de importantes líderes locais.
Os movimentos pela independência se espalhavam pelo mundo árabe
resultado do descontentamento provocado pelo domínio colonial. Na Síria
alguns intelectuais e políticos defendiam ideais mais amplos e idealizavam a
integração de todos os membros da nação, o pan-arabismo. A unidade estava
baseada em fatores culturais e lingüísticos que supostamente teriam forjado
uma identidade coletiva.
Os expoentes dessa ideologia foram os sírios Sati al-Husri e Michel
Aflaq, esse último um dos responsáveis, em 1947, pela fundação do partido
Baath, principal partido de orientação pan-arabista.
O auge deste movimento está vinculado à figura do líder egípcio Gamal
Abdel Nasser, pelo desfecho vitorioso no episódio da disputa pelo controle do
72
canal de Suez, embora a influência das superpotências, em especial, a
americana tenha sido decisiva, a repercussão no mundo árabe foi
extremamente positiva. Aproveitando desse momento, em 1958, a Síria e o
Egito fundam a República Árabe Unida (RAU).
Os interesses das elites governantes eram divergentes em vários
aspectos, principalmente no tocante a quem deveria dirigir essa futura nação.
Esse descompasso facilmente percebido pelas ações descoordenadas revelou
a ausência de um programa político para a RAU. Os fracassos nas investidas
contra Israel enfraqueceram ainda mais o movimento que em setembro de
1978 recebe outro duro golpe, quando o presidente egípcio, Anuar Saddat,
surpreende e assina um acordo de paz com Menahem Begim, primeiro ministro
israelense.
As dificuldades em aceitar as diferenças no seio das populações árabes
e as disputas e divergências entre os governos árabes foram os complicadores
determinantes para o fracasso do pan-arabismo. O que restou desse período
foi à criação, em 1945, da Liga árabe que também não conseguiu superar as
diferenças entre seus membros.
O desgaste do ideal defendido pelo pan-arabismo abriu caminho para
outras ideologias, em especial, para o islamismo. Nas palavras de DEMANT
(2004:108): “Pode-se dizer, portanto, que a linha de tensão principal desse
período opôs um arabismo moribundo e uma variedade de regionalismos
particulares a uma nova proposta universalista: “O islã é a solução”.”
O crescimento dos movimentos que lutavam por independência e o
enfraquecimento das potências européias após a segunda Guerra Mundial,
73
levaram nas duas décadas seguintes ao desencadeamento dos processos de
independência no Oriente Médio e no resto do mundo.
O panorama mundial foi alterado após o conflito com o estabelecimento
de novas lideranças mundiais, para a região essas mudanças significaram a
conclusão dos processos de independência, nas palavras de SMITH:
No Oriente dio, mais que em qualquer outra região, as potências
coloniais também encaravam o crescente poder dos EUA e da URSS.
A tradicional importância estratégica da região, sua contigüidade com
as fronteiras meridionais da URSS e, sobretudo, seu petróleo levaram
as novas superpotências globais a procurar expandir sua influência
ali. Com todos esses fatores em jogo, era inevitável o fim da era
colonial européia.”(SMITH, 2008:29).
A influência das superpotências, EUA e URSS, na política mundial
durante todo o período da Guerra Fria não influenciou somente a
descolonização da região, interferiu significativamente nos principais dilemas
do Oriente Médio, entre eles a fundação e a afirmação do Estado de Israel no
interior do mundo muçulmano.
Em relação ao contexto histórico – cultural na formação do espaço
geográfico, em especial do Oriente Médio, observamos que apenas alguns
autores, dos livros didáticos analisados, abordaram diretamente a região do
Oriente Médio, são eles: ALMEIDA e RIGOLIN; LUCCI, BRANCO e
MENDONÇA; MAGNOLI e ARAUJO; SILVA; SILVA FILHO, ANASTASIA,
MARTINI e GAUDIO; TAMDJIAN e MENDES; TERRA e COELHO; e
VESENTINI. Os demais autores, presentes no corpus da pesquisa, apresentam
temas relacionados à região, apenas com a finalidade de ilustrar ou
74
exemplificar um eixo temático norteador do capítulo, sem o compromisso,
então, de aprofundar ou esclarecer o tema.
Dos autores que tratam diretamente à região, encontramos problemas
nos textos das seguintes obras:
TERRA e COELHO: No capítulo 7 Globalização e pluralidade cultural:
conflitos regionais e tensões no mundo – p. 77. Ao tratar as áreas de conflito no
mundo, aborda o Oriente Médio, resumindo assim os conflitos da região: “No
Oriente Médio, os confrontos decorrentes das invasões estrangeiras e do
expansionismo prolongam-se até os dias atuais, envolvendo Israel, Palestina,
Síria, Líbano, Egito e Jordânia”, no parágrafo seguinte resume o conflito árabe
israelense. O texto apresenta ao leitor os conflitos da região de forma
simplista, descontextualizada, incapaz de responder as questões elementares
que envolvem os conflitos da região. Os professores e alunos de posse desse
texto, não terão as mínimas condições de estabelecer um entendimento
razoável sobre o tema, pois os temas que são abordados com referência ao
tempo atual, dificultam a compreensão das dinâmicas dos processos políticos,
culturais e sócio-econômicos constituintes do espaço geográfico.
O texto didático também apresenta uma pequena caixa de texto, onde
os autores passam informações sobre o islamismo. O que chama a atenção é o
tratamento dado ao termo jihad, que é relacionado à expressão “guerra santa”,
o que segundo vários autores
11
trata-se de um equívoco capaz de gerar
estereótipos em relação aos muçulmanos.
11
Para maiores detalhes, ver: SOUZA, Ana Gomes de. O Islã nos livros didáticos de História de 5ª s 8ª
séries do ensino fundamental no período de 1985 a 2004. Dissertação (mestrado em letras). Universidade
de São Paulo. São Paulo: FFLCH/USP, 2005.
75
SILVA: O capítulo 20 Ásia: Oriente Médio -. Aborda a região de forma
tradicional, compartimentada. Apresenta a localização geográfica, aspectos do
quadro natural, aspectos do quadro humano, aspectos do quadro geopolítico e
aspectos do quadro econômico.
No primeiro parágrafo do quadro geopolítico, p.308, o autor discorre
sobre os vários fatores que envolvem os conflitos na região, dentre eles afirma
que: “sua posição no contexto geopolítico mundial, em que a disputa
capitalismo/socialismo da Guerra Fria foi substituída pela disputa
cristianismo/islamismo”. Desta forma, o autor ao afirmar que duas das maiores
religiões monoteístas do mundo encontram-se em conflito, comete um grave
equívoco e um erro conceitual. Ao fornecer aos leitores uma informação errada,
a obra pode contribuir para que os educandos construam uma visão errônea de
mundo. Principalmente, porque após os fatídicos acontecimentos de 11 de
setembro de 2001, os muçulmanos passaram a sofrer com os estereótipos, que
os associam a terroristas e a fanáticos religiosos.
76
3.4 - A Formação do Estado de Israel
O Estado de Israel, um país ímpar, dentro do Oriente Médio e que
constantemente faz parte dos noticiários da mídia mundial, nos remete a
reflexão acerca do seu processo de formação territorial, de sua geopolítica e da
suas perspectivas futuras. Para tanto faremos um resgate histórico de Israel,
visando compreender os motivos que conduziram à escolha da Palestina como
sede do Estado Nação judeu. Utilizaremos o auxilio de outras formas de
linguagem: mapas, gráficos e tabelas, que ao serem lidos conjuntamente
facilitaram a comparação e o entendimento dos temas.
A pesquisa em jornais e revistas tem o caráter de recortar a história
factual do processo de paz, as transformações da região, as questões árabes e
os efeitos da mundialização do capitalismo em Israel. No entanto, a
reivindicação do direito de posse das terras de Canaã, que corresponde à
Palestina, tem seus fundamentos baseados na religião e estão registrados em
várias passagens do judaísmo.
A Palestina teria sido dominada por vários povos entre eles: Assírios,
Babilônios e gregos e posteriormente pelos romanos que para sufocar as
rebeliões judaicas contra a sua dominação promoveram uma grande diáspora
do povo judeu pelo território do Império Romano, pela Europa, Rússia e África.
Alguns grupos resistiram à dominação e permaneceram na Palestina.
Com o surgimento do islamismo, no século VII, os muçulmanos
conquistaram Jerusalém, a terceira cidade mais importante do Islã depois de
Meca e Medina, respectivamente, passando a ser o grupo majoritário e
77
dominante na Palestina. Sobre as ruínas do antigo templo de Salomão e ao
lado do muro das lamentações o califa Abd al-Malik constrói o Haram al-Sharif,
composta pelas mesquitas de Omar, também chamada de Domo do Rochedo,
e de Al-Aksa.
Os turcos otomanos também dominaram a região de 1516 a 1918,
quando do final da Primeira Guerra Mundial são derrotados e perdem o
controle da Palestina para os britânicos que irão dominar até 1947.
Os judeus dispersos pela Europa e outras partes do mundo preservaram
sua língua, costumes religião e cultura, embora em graus distintos, dificultando
a sua integração com os grupos majoritários da população.
As perseguições violentas e sistemáticas a que eram submetidos
inspiraram o jornalista Theodor Herzl a estruturar e divulgar os ideais sionistas.
Quando publica “O Estado Judeu”, argumenta que os judeus deveriam ter seu
próprio território nacional a fim de se protegerem do crescente sentimento de
anti-semitismo.
Nos primeiros anos do século XX, o movimento sionista passa a ser
reconhecido internacionalmente e a apresentar divergências internas sobre a
sua implantação. È criado um fundo nacional judaico visando adquirir terras
palestinas, boas para o cultivo, para estabelecer as colônias judaicas. Entre
1900 e 1914, o número de colônias na Palestina havia dobrado, passando de
aproximadamente 20 para mais de 40 novas colônias.
A Declaração de Balfour, em que o governo Britânico declarava-se
favorável ao estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo
judeu, sem como isso prejudicar os direitos das comunidades não judaicas,
78
desencadeou um processo de radicalização nos populações locais contra a
ocupação inglesa e a crescente imigração de judeus para a região. Em contra
partida, os judeus intensificaram, progressivamente, a imigração para a
Palestina, mesmo com o documento de Londres, onde a Grã-Bretanha tentava
frear e limitar o processo de imigração não surtiu o efeito desejado, pois os
grupos sionistas mais radicais patrocinados pela organização Haganah,
passam a promover a imigração clandestina que dura até o final da Segunda
Guerra Mundial.
Os Kibutzims, comunas agrícolas, onde a propriedade da terra era
coletiva, constituía o destino da população que chegava à Palestina e
desempenhava um importante papel no processo de povoamento e na
manutenção da segurança local. A crescente imigração para esta área, aliada a
um sentimento de comoção mundial com a descoberta e divulgação do
holocausto da Segunda Guerra Mundial, criou um ambiente favorável a votação
da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 1947, que dividia o mandato
Britânico da Palestina entre um Estado judaico e um Estado árabe, devendo
ficar a cidade de Jerusalém sob o controle da autoridade Internacional. As
novas superpotências da época apoiaram a formação por motivos distintos: de
um lado, os EUA sofriam pressões da comunidade judaica americana e
buscavam firmar aliados na região, enquanto a URSS via na organização dos
Kibutzims uma semelhança com a ideologia defendida pelo seu sistema de
governo e, por outro, apoiariam qualquer medida que representasse o
afastamento britânico da região.
Os sionistas aceitaram a partilha e após a retirada dos soldados
britânicos, em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclamou a fundação do
79
Estado de Israel e assumiu a liderança do novo governo. Como primeiro
desafio enfrentou a reação hostil dos árabes no que seria a primeira das
guerras entre os dois povos.
O processo de imigração tem uma importância fundamental na formação
do Estado de Israel e na sua política de construção de assentamentos judaicos
nos territórios ocupados.
Israel presenciou o crescimento acelerado da sua população que nos
primeiros 50 anos de sua existência passou de, aproximadamente 800 mil
pessoas na sua fundação, em 1948, para os quase seis milhões de habitantes
em 1998.
Essa onda migratória, embora constante, pode ser representada em dois
períodos, conforme nos mostra o gráfico 01. O primeiro relacionado a sua
fundação em 1948, estende-se até 1951. Quando os vários grupos judeus
dispersos pela Europa durante as perseguições nazistas, e os provenientes do
mundo árabe dirigem-se a Israel.
A característica deste primeiro grupo de imigrantes é marcada pela
escassez de recursos financeiros, dada a dura realidade que enfrentaram nas
circunstâncias da sua vinda, e pela baixa escolaridade em relação à população
anterior. Por terem vivenciado os horrores da guerra tiveram papel fundamental
na defesa do território.
A segunda onda migratória ocorre entre os anos de 1990 a 1996,
mantendo-se em menor intensidade a hoje. A principal causa desta onda
migratória está relacionada à fragmentação do território da ex-União Soviética
e pela crise que tomou conta da principal ex-república soviética, a Rússia.
80
Embora também não possuíssem recursos financeiros este segundo
grupo de imigrantes gozava de boa escolaridade, adquirida pela política
desenvolvida no bloco socialista. Estimativas apontam que a imigração de
cérebros levou a Israel em torno de cinco mil cientistas e 50 mil engenheiros
que foram incorporados à força de trabalho do país.
A pressão social que esta nova onda migratória provocou, levou um dos
principais partidos políticos o Likud, cujo apoio político advém das colônias
judaicas a anunciar um plano de construção de 3.800 casas para colonos na
Cisjordânia que absorveria e acomodaria afluxo de mão de obra.
A integração dos imigrantes a sociedade é, geralmente, lenta e difícil. A
diversidade cultural trazida pelos vários grupos de imigrantes comprova que a
sociedade israelense esta longe de ser homogênea como idealizava a proposta
sionista. conflitos no convívio das diferentes comunidades originárias de
vários países, esses atritos não surtem tanta repercussão dada à gravidade
das questões relacionadas aos árabes.
Após o anúncio da partilha do território proposto pela ONU, começaram
os confrontos armados entre os dois grupos. Durante a guerra de 1948 que os
israelenses chamam de “guerra de independência”, a Liga árabe querendo
transformar a causa palestina em projeto pan-árabe invade a Galiléia, iniciando
o período de combates entre árabes e judeus.
O resultado da guerra foi um cessar fogo imposto pela ONU
determinando o fim das hostilidades, porém os israelenses não desocupam as
terras palestinas conquistadas e estabelecem o Novo Estado judaico sobre
quase 75% do antigo mandato britânico. O projeto de internacionalização de
81
Jerusalém é descartado e a cidade passa a ser dividida em duas partes uma
controlada por Israel e outra pela Jordânia que também passa a controlar a
Cisjordânia, e o Egito ocupa a faixa de Gaza.
Para os palestinos foi uma catástrofe, pois, o ideal de fazer parte de um
grande Estado pan-árabe fracassou e o Estado Palestino nunca se concretizou.
DEMANT descreve assim essa situação:
“Já o Estado independente palestino nunca se tornou
realidade. A maior parte dele, a Cisjordânia, foi conquistada e, em
1950, anexada pela Transjordânia (a partir de então, Jordânia),
enquanto o Egito passou a administrar a Faixa de Gaza. Cerca de
750.000 palestinos fugiram em circunstâncias controversas para os
países vizinhos, onde sua presença se perpetuou ano a ano e logo
constituiu um problema humanitário e político de grande magnitude”.
(DEMANT, 2004:104).
Os palestinos se organizam e criam a Al-Fatah, movimento armado de
luta contra a ocupação israelense, liderado por Yasser Arafat. Anos mais tarde
os grupos guerrilheiros palestinos liderados pela al-Fatah formam a
Organização para a Libertação da Palestina (OLP), entidade que objetivava a
formação de um Estado Palestino e que futuramente passou a ser reconhecida
como a legítima representante do povo palestino.
A nacionalização do Canal de Suez promovido pelo governo de Nasser,
em 1956, contrariou os interesses britânicos. O Egito também bloqueou a
entrada de navios israelenses pelo golfo de Ácaba isolando o Porto de Eilat,
vital para Israel na época.
A França demonstrava insatisfação com o governo de Nasser devido ao
apoio a que o Egito oferecia ao grupo argelino denominado Frente de
82
Libertação Nacional (FLN), cujo principal objetivo era alcançar a independência
da Argélia, então colônia da França.
Israel decide em conjunto com a França e Grã-Bretanha invadir o Egito.
Em outubro de 1956, em uma ação combinada Israel ocupa a península do
Sinai, reabre o golfo de Ácaba e destrói as bases dos guerrilheiros palestinos.
A Grã-Bretanha e França lançam um bombardeio no canal de Suez e passam a
controlar o canal.
As superpotências, EUA e URSS, se posicionam publicamente
contrárias à ação dos beligerantes que devido às pressões são persuadidos a
recuar. A ONU ocupa a região, pondo fim ao conflito e determinando o retorno
às antigas fronteiras.
O conflito que representou a supremacia militar de Israel e a conquista
de importantes territórios aconteceu, em julho de 1967, com a Guerra dos Seis
Dias. Israel atacando em três frentes simultâneas promove a invasão da Faixa
de Gaza, do deserto do Sinai e de parte do canal de Suez, decretando a
derrota do Egito. As tropas israelenses ocuparam também a parte oriental de
Jerusalém e a Cisjordânia e em direção a Síria conquistaram as Colinas de
Golã, importantes áreas de mananciais.
Israel contraria a decisão da ONU de retirada das tropas dos territórios
ocupados. O ganho territorial nesse conflito foi impressionante, porém para os
palestinos representou uma nova diáspora, formada por aproximadamente 1,6
milhão de refugiados de guerra.
Os refugiados palestinos seguiram em direção aos países vizinhos,
como Líbano e Jordânia. Desprovidos de recursos financeiros passaram a se
83
concentrar em áreas carentes, desprovidas de infra-estrutura. A situação de
miséria em que se encontravam favoreceu a formação de milícias armadas
para combater Israel. Contudo passaram a representar um problema aos olhos
dos governos dos países que os receberam.
A Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, quando a Síria e Egito
promovem um ataque surpresa a Israel com o objetivo de reconquistar os
territórios perdidos em 1967. Acabou por determinar novas fronteiras para
Israel que embora conseguisse manter as Colinas de Gola e a Cisjordânia,
perdeu para o Egito parte do deserto do Sinai e de Suez.
Com a assinatura dos acordos de Camp David, em 1978 entre Egito e
Israel, cessam as hostilidades entre os dois Estados e o Egito obtém de volta o
controle do Sinai.
Os mapas a seguir têm como objetivo representar, por meio da
cartografia as transformações das fronteiras de Israel no período mais agudo
da guerra com os árabes.
84
Mapa: 18
Extraído do guia do estudante atualidades vestibular 2008. ed. 08. São Paulo: Editora Abril,
2008. p.57.
Mapa: 19
Extraído do guia do estudante atualidades vestibular 2008. ed. 08. São Paulo: Editora Abril,
2008. p.56.
85
O progresso econômico de Israel e o desempenho de sua economia, ao
longo dos seus sessenta anos de existência podem ser percebidos com
facilidade. Segundo dados do Banco Mundial de 2005, o crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) foi neste período de 5,2%. Cabe lembrar que o
papel do Estado na economia é marcante, porém para se adequar à economia
mundial vem reduzindo a sua participação.
Israel enfrenta desafios de grande complexidade dada às várias
variantes envolvidas. A primeira de política interna diz respeito às questões
com os palestinos e a segunda está relacionada à convivência com seus
vizinhos muçulmanos. Não temos dúvidas de que as duas questões estão
intimamente ligadas, e parte de sua solução encontra-se na devolução dos
territórios ocupados.
O avanço dos processos de paz com os palestinos tem esbarrado na
postura radical de grupos, tanto palestinos quanto israelenses. As dificuldades
passam pelo controle da cidade sagrada de Jerusalém cobiçada pelos dois
lados, quanto por entraves físicos e políticos gerados a partir dos anos 70, com
a construção de colônias judaicas nos territórios ocupados, dificultando
sobremaneira a devolução dessas áreas ao controle dos árabes.
A política segregacionista de Ariel Sharon, do partido Likud,
materializada com a construção de estradas exclusivas para colonos judeus e
mais recentemente com a construção de um muro na Cisjordânia, figura 20,
separando as populações árabes e judaicas. Deixa clara a intenção de
promover uma segregação espacial, criando outro obstáculo nas negociações
86
de paz, além de repercutir de forma negativa no mundo muçulmano,
principalmente árabe, e na opinião pública mundial.
Figura: 20
Extraído do guia do estudante atualidades vestibular 2008. ed. 08. São Paulo: Editora Abril,
2008. p.59.
Outro desafio é reduzir os consideráveis gastos em defesa que tem
reflexos negativos na economia. Para tanto é preciso estabelecer uma paz
duradoura com os árabes, principalmente com a Síria e o Líbano. O que
representaria para Israel a perda do controle de importantes recursos hídricos e
a ira dos colonos judeus assentados nestas áreas, vide mapas 21,22 e 23.
87
Mapa: 21
Extraído de Brener, Jayme. As Guerras entre Israel e os Árabes. São Paulo: Editora Scipione,
1997.
Mapa: 22 Mapa: 23
Extraído de Brener, Jayme. As Guerras entre Israel e os Árabes. São Paulo: Editora Scipione,
1997.
88
Os livros didáticos que propõem a discussão do tema são: ALMEIDA e
RIGOLIN; KRAJEWSKI, GUIMARÃES e RIBEIRO; LUCCI, BRANCO e
MENDONÇA; MAGNOLI e ARAUJO; SILVA; SILVA FILHO, ANASTASIA,
MARTINI e GAUDIO; TAMDJIAN e MENDES; TERRA e COELHO. No geral os
textos didáticos apresentam o histórico de formação do Estado de Israel, sua
evolução territorial, apresentada por meio de mapas e as dificuldades para o
estabelecimento de acordos de paz duradouros. Alguns autores apresentam o
tema atualizado, ou seja, os debates em relação à construção do muro
israelense, separando as populações palestinas dos territórios ocupados das
populações israelenses. Dos autores anteriormente citados, apenas SILVA;
TAMDJIAN e MENDES; e TERRA e COELHO não trazem esse debate em
seus textos didáticos, apesar da construção do muro ter sido iniciada em 2002
e declarada ilegal, em 2004, pelo Tribunal Internacional de Justiça de Haia,
essa atualização do tema não consta em seus livros.
Encontramos nos textos didáticos de SILVA e TERRA e COELHO, sobre
a questão árabe-israelense as seguintes colocações:
SILVA: “Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, esse território
ficou sob o controle do governo britânico, que era absolutamente contra a
formação de um Estado judeu na região. No entanto, terminada a Segunda
Guerra Mundial, em 1945, o governo britânico foi rapidamente perdendo o
controle político sobre essa região e a questão da formação de um Estado
judeu na Palestina foi transferida para a ONU (que havia sido criada em 1945)”.
(p. 311).
89
Ao fazer essa afirmação o autor isenta o governo Britânico de qualquer
responsabilidade em relação à fundação do Estado de Israel, desconsidera a
Declaração de Balfour (1917) cometendo assim, uma divergência factual.
Quando as informações básicas contidas no livro didático, não se
encontram corretas, o processo ensino-aprendizagem passa a ficar
comprometido, tendo em vista que os alunos tendem a formular idéias e
conceitos errados em relação a um determinado tema.
TERRA e COELHO: “Após a Segunda Guerra Mundial, muitos judeus
voltaram para o território que ocupavam e de onde haviam sido expulsos
quase dois mil anos, fundando, em 1948, o Estado de Israel. Os palestinos,
então, passaram a lutar pelo reconhecimento e pela demarcação de fronteiras
que configurassem um Estado palestino independente”. (p. 77).
A imigração de judeus para a palestina começou muito antes do final da
Guerra Mundial, como afirma o texto. A divergência factual compromete as
informações básicas sobre o tema e assim o seu pleno entendimento. Aliás, o
texto apresenta uma simplificação exagerada do tema e um reducionismo de
conceitos, que comprometem as práticas pedagógicas que por ventura forem
advindas do mesmo.
90
3.5 - Recursos minerais e Geopolítica
Os recursos minerais mais importantes para a região são atualmente a
água e o petróleo. Os motivos dessa importância são antagônicos, a água
devido a sua escassez, mapa 24, e o petróleo pela sua abundância, ambos
estão presentes em várias disputas que ocorrem no Oriente Médio.
A grande maioria dos territórios que formam o Oriente Médio está
localizado em áreas de climas desértico e semi-árido, cujas principais
características o os baixos índices pluviométricos, inferiores a 250 mm/ano.
A hidrografia da região também é restrita e mal distribuída, destacando-se as
bacias do rio Nilo, do rio Jordão e dos rios Tigre e Eufrates, além de bacias de
menor expressão como as bacias dos rios Litani e Asi no vale do Bekaa.
Mapa:24
Extraído do site:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/08/060821_faltaaguarelatoriofn.shtml
91
O agravamento dos efeitos do aquecimento global e a pressão
provocada pelo grande crescimento demográfico causam nas áreas mais
áridas do planeta a exposição de grupos sociais a mudanças bruscas em seus
modos de vida. A água além de ser essencial à vida está presente nas mais
variadas atividades humanas, dentre elas destacamos a agricultura que
segundo dados da National Geographic representam 69% do uso humano da
água. SMITH (2008:132) destaca essa importância na origem da formação do
Estado de Israel ao afirmar que: “Israel foi em parte fundado com base na
irrigação e exploração agrícola do deserto; a água é questão, e questão
particularmente delicada, de segurança nacional”.
A água é utilizada também como fonte de poder, gerando assim
discórdias. Desde os anos 60, Israel agrupou todas as fontes de água potável
em um sistema de comunicação integrado, cuja principal via, o Conduto
Nacional capta a água proveniente do norte do país e do centro e a distribui
nas áreas secas do sul, tudo isso por meio de uma rede de estações de
bombeamento, tubulações, áreas de armazenamento e canais abertos, vide
mapa nº 26.
Israel passou a controlar a quantidade de água destinada aos palestinos,
distribuindo de forma bem desigual à quantidade de água destinada aos
assentamentos judaicos, em relação à oferecida aos palestinos dos territórios
ocupados. O que podemos notar com facilidade ao compararmos os números
apresentados no gráfico abaixo.
92
Gráfico: 01
Adaptado: Smith, Dan. O Atlas do Oriente Médio:conflitos e soluções. São Paulo: Publifolha,
2008. p. 57.
Mapa: 26
Extraído de: Panorama do mundo-2, São Paulo: Scipione,1996.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
2005
litros
ÁGUA: Consumo diário per capita 2005
israelense
s
93
Há um risco substancial de que ocorrem conflitos entre países que
compartilhem os mesmos recursos hídricos. Os Estados que possuem seus
territórios à jusante de importantes rios acabam ficando reféns de projetos que
envolvam a utilização da água dos rios nos países mais a montante; o Egito
temendo a redução do volume de água do rio Nilo, exerce forte pressão política
sobre os governos da Etiópia e do Sudão, no sentido de evitar a construção de
barragens.
Essa preocupação aparece na obra de PINTO, nas suas palavras:
“A alocação de recursos escassos, especialmente no que se refere
aos rios (Tigre e Eufrates), constitui uma fonte de tensão na região. O
aumento da escassez de água coloca em perigo as estratégias de
segurança alimentar destes países. As necessidades das populações
em crescimento e dos planos de desenvolvimento começaram a
aproximar-se e, por vezes, a exceder os limites hidrológicos.” (PINTO,
2003:164).
Nos anos 90, a construção da represa de Ataturk, na Turquia, provocou
conflitos com o Iraque e a Síria devido à dependência que esses países têm
em relação às águas dos rios Tigre e Eufrates.
Durante a Guerra do Golfo, Saddam Hussein ordenou a destruição das
caras usinas de dessalinização da água do mar, instaladas no então inimigo
Kuwait.
Somente o respeito à diversidade étnica e cultural poderá resultar em
um entendimento entre os Estados, capaz de promover a paz e o uso racional
da água.
94
Sob as bacias sedimentares do golfo Pérsico encontram-se as principais
reservas petrolíferas do planeta. As estimativas apontam que
aproximadamente dois terços das reservas mundiais de petróleo situam-se no
Oriente Médio, além disso, a região responde atualmente com 36% da
produção mundial de petróleo em estado bruto. À luz desses números,
podemos deduzir que esse recurso mineral exerce forte influência nas relações
estabelecidas entre os Estados que formam a região e o restante do mundo.
Segundo HOBSBAWM (1998:95) “[...] Nem a política atual no Oriente
Médio, que está longe de ser explicável apenas em termos econômicos, pode
ser discutida realisticamente sem levar em conta o petróleo”.
Durante o período da Guerra Fria marcado pela disputa de poder entre
EUA e URSS, o Oriente Médio passou a ser uma região de confronto das
superpotências. Porém quando, em 1973, por meio da OPEP os Estados
árabes passam a utilizar o peso político do petróleo como forma de pressionar
os EUA e seus aliados, pró Israel, na Guerra do Yom Kippur. Cortando
fornecimentos e reduzindo a produção, provocaram a Primeira Crise Mundial
do Petróleo que quadruplicou o preço do produto.
HOBSBAWM ao explicar o isolamento americano em relação aos seus
aliados diante da pressão imposta pelo cartel do petróleo, descreve assim esse
momento:
“E, se o Vietnã não bastasse para demonstrar o isolamento dos EUA,
a guerra do Yom Kippur de 1973 entre Israel que os americanos
permitiram tornar-se seu mais estreito aliado no Oriente Médio e as
forças de Egito e Síria, abastecidas pelos soviéticos, mostrou isso de
forma mais evidente. Pois quando Israel, duramente pressionado,
com poucos aviões e munição, apelou aos EUA para mandar
95
suprimentos depressa, os aliados europeus, com a única exceção do
último bastião do fascismo pré-guerra, Portugal, se recusaram até
mesmo a permitir o uso das bases aéreas americanas em seu
território para esse fim”. (HOBSBAWM, 2006:241-242).
No Irã dos anos 50, o líder nacionalista Mohammad Mossadeq tentou
implantar sua plataforma de governo assentada na nacionalização da
exploração de petróleo, foi vítima de um golpe idealizado pela CIA e que
contou com a participação do serviço secreto britânico. Em seu lugar foi
colocado no poder o jovem Reza Pahlevi, favorável aos interesses
ocidentais. Anos mais tarde, em 1979, também seria derrubado do poder pela
que Revolução Islâmica que HOBSBAWM (2006:440) classificou como sendo
“[...] de longe a maior de todas as revoluções da década de 1970, e que entrará
na história como uma das grandes revoluções sociais do século XX”. As
principais conseqüências dessa revolução foram à nacionalização do petróleo e
a Segunda Crise Mundial do Petróleo.
Para o Iraque, país de maioria xiita, porém controlado pelos sunitas do
partido Baath, personificados na figura de Saddam Hussein, temiam a
expansão da revolução islâmica para dentro do território iraquiano, sendo
assim se aventuraram em um conflito que durou oito anos e trouxe várias
seqüelas para ambos os lados.
As duas superpotências também temiam a expansão do Islã político e o
avanço do regime dos Aiatolás na região, com a possível derrota do Iraque no
conflito. Decidiram, então, por apoiar Saddam Hussein.
Em Relação à política adotada pelos países árabes vizinhos em relação
ao conflito, DEMANT nos afirma que:
96
“O que nos interessa é o apoio árabe (e ocidental) a Saddam: as
elites árabes temiam mais o islamismo do que o imperialismo pan-
árabe ba’athista, e pretenderam usar a força bélica do Iraque para
conter, e se possível, destruir o Irã islamista”. (DEMANT,2004:119).
O petróleo ainda motivaria Saddam Hussein a entrar na Guerra do Golfo,
em 1990, aproveitando-se do espaço deixado vago com enfraquecimento da
URSS no cenário mundial. O objetivo era controlar o petróleo do rico vizinho
Kuwait e posteriormente dominar a região. Os EUA dessa vez se posicionaram
contrário ao regime beligerante de Saddam Hussein e por meio de uma ação
conjunta com seus aliados derrotaram o Iraque, porém não conseguiram depor
o ditador.
O Iraque passou a sofrer uma série de sanções internacionais que
conduziram o país a um caos social nunca visto. A imagem norte-americana no
mundo muçulmano piorou, provocando ondas de sentimento antiamericano e
ocidental que se materializaram nos episódios de 11 de setembro de 2001. Por
sua vez esses episódios também se desdobraram nas atuais guerras do
Afeganistão e do Iraque.
Em relação à economia mundial e a atual fase do capitalismo,
percebemos que o petróleo desempenha papel fundamental, seja na indústria
enquanto importante matéria-prima e principal matriz energética mundial, ou
como commodities influenciando nos fluxos de capital financeiro. O que ocorre
é que as riquezas geradas com o petróleo permanecem sob o controle das
oligarquias locais que pouco ou quase nada tem feito para reverter à renda
97
gerada pelo petróleo em prol das melhorias de infra-estruturas e das condições
de vida das suas populações.
Os livros que formam o corpus apresentam uma variedade de escolhas
teórico-metodológicas, que por sua vez são responsáveis pela coerência
interna do livro didático. Essa variedade de escolhas permite, também, que os
temas apareçam organizados em capítulos respeitando a coerência interna da
obra.
Todos os autores analisados abordam de forma direta ou indireta as
questões relacionadas ao petróleo e a água, sempre respeitando a unidade e a
articulação didático-pedagógica da obra.
Os autores que optaram em relacionar esses temas à realidade do
Oriente Médio, mesmo que em graus distintos de aprofundamento temático,
foram: ALMEIDA E RIGOLIN; BOLIGIAN E BOLIGIAN; FILIZOLA; LUCCI,
BRANCO e MENDONÇA; MAGNOLI e ARAUJO; MOREIRA e SENE;
TAMDJIAN e MENDES; TERRA e COELHO; e VENSENTINI. divergência
factual e contradição entre a linguagem textual e a visual nas obras dos
autores:
ALMEIDA e RIGOLIN: Ao discutir a produção de gás natural no mundo
apresenta o mapa: Produção de Gás Natural, segundo regiões geográficas, p.
407, abaixo ilustrada (mapa: 27), onde notamos uma regionalização do Espaço
Mundial, em que o Oriente Médio, representado no mapa, é contraditória a
representação adotada pelos autores no capitulo 18 Oriente Médio: território
e territorialidades (mapa: 08), comentada na análise das representações
regionais do Oriente Médio. Os autores não esclarecem em momento algum a
98
origem dessa contradição, o que nos leva a acreditar que a utilização de
representações, de fontes distintas, sem o devido cuidado com as acepções
adotadas, provoca divergências de representações da região nos livros
didáticos de Geografia.
Mapa: 27
TERRA e COELHO: No capítulo em que os autores discutem o petróleo,
p. 189, encontramos divergências entre as informações apresentadas na
representação abaixo, mapa 28, e o corpo do texto didático dos autores.
Notamos que a legenda indica que a cor amarela representa os países
da OPEP. No Oriente Médio, observamos facilmente a Turquia inclusa na
representação deste cartel e na África o Gabão, enquanto que texto apresenta
99
o cartel formado por onze países, sendo eles: Arábia Saudita, Argélia, Catar,
Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria e
Venezuela.
Mapa: 28
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossa investigação nesse trabalho concentrou-se no entendimento da
concepção e representação espacial do Oriente Médio em sítios educativos e
livros didáticos de Geografia. Devido à conotação regional que o termo Oriente
Médio apresenta se fez necessário uma reflexão teórica do conceito de região,
bem como compreender o contexto em que essa expressão foi concebida.
Assim, conforme as considerações feitas ao longo desse trabalho
constataram, o conceito de região é utilizado por outros campos do
conhecimento e no senso comum e vem passando por um processo de
renovação no decorrer da história do pensamento geográfico.
Em relação à regionalização, destacamos que FRÉMONT (1980) abre a
possibilidade de estabelecer uma região por meio da identidade cultural e
BRITTO (1986) aceita este argumento, desde que, essa região, também se
apresente como um espaço polarizado.
Em relação ao termo Oriente Médio alguns aspectos podem ser
destacados:
O primeiro se relaciona com a noção de Oriente, que segundo SAID
(2007) foi uma concepção européia baseada em relações de poder e
dominação, que produziu representações do Oriente, definindo suas principais
características e contornos. Logo, foram fundamentais para a construção de
uma identidade ocidental que justificasse seus projetos imperialistas no
Oriente.
101
Dessa forma, o continente asiático era do ponto de vista britânico, o
Oriente, e a necessidade de estabelecer divisões internas criaram a expressão
Middle East – Oriente Médio - que ficou consagrada.
No segundo destacamos que as relações de poder no espaço mundial
criaram diferentes visões de mundo no decorrer da história. Essas concepções
produziram representações espaciais para cada um desses momentos
históricos. Neste sentido, a concepção de Oriente Médio vem sendo definida
por interesses externos.
Podemos concluir que as várias visões de mundo produzidas a partir do
imperialismo europeu do culo XX, determinaram a imprecisão territorial e a
fragilidade teórica conceitual que a expressão Oriente Médio carrega.
Em relação as representação cartográfica em tios educativos, além de
constatar a variedade de representações do Oriente Médio, a análise
comparativa evidenciou a existência de um núcleo comum formado pelos
países da Península Arábica e do Golfo Pérsico (Arábia Saudita, Iêmen, Omã,
Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Bahrein, Iraque e Irã), além de
Jordânia, Síria, Líbano, Israel e dos territórios palestinos ocupados. SILVA
(2003) também identificou a existência desse núcleo, o qual denominou área
core da região.
Cabe ressaltar que essa variedade de representações cartográficas
dificulta o entendimento do tema, aumentando as vidas e gerando
insegurança nos professores.
Por fim, buscamos analisar de que forma o livro didático de Geografia do
Ensino Médio apresenta aos seus usuários finais, alunos e professores, as
discussões e temas relacionados ao Oriente Médio, assim, constatamos por
102
meio da pesquisa, que embora essas coleções tenham passado por um
processo de aprimoramento, ainda encontramos obras que apresentam erros
ou imprecisão conceitual.
Em relação à representação cartográfica, encontramos obras em que a
legenda não esta de acordo com as convenções cartográficas e outra em que o
texto contradiz o mapa.
Outro aspecto verificado diz respeito à contextualização histórica do
Oriente Médio, encontramos autores que apresentaram divergência conceitual
e exageraram na simplificação dos fatos históricos.
O terceiro elemento analisado refere-se à fundação do Estado de Israel,
onde constatamos erros de interpretação histórica.
O último item analisado refere-se aos recursos minerais, os erros
encontrados referem-se à cartografia, no mais, eles são trabalhados em
distintos graus de aprofundamento de acordo com a proposta dos autores.
Diante do apresentado recomendo aos autores de livros didáticos e a
outros profissionais que fazem uso da expressão Oriente Médio, que
esclareçam aos seus leitores quanto à diversidade de concepções e
representações espaciais que o termo comporta.
Finalizo essas considerações finais, apontando as lacunas que esse
trabalho apresenta. Acreditamos que são muitas, mas gostaríamos de destacar
a que consideramos que precisa ser melhor investigada: De que forma o tema
Oriente Médio vem sendo efetivamente abordado em sala de aula, ou seja, um
estudo das práticas docentes, Quais elementos os professores e alunos
identificam como complicadores para o tema? Nossa pesquisa é importante
para oferecer elementos para o professor de Geografia, mas é essencial, em
103
novos estudos, escutar, entender, refletir sobre a prática desse professor, e
como ele, apesar de todas as adversidades baixos salários, péssimas
condições de trabalho, salas lotadas, entre outras coisas – consegue combater,
por meio do ensino de Geografia, as mais variadas formas de manifestação do
preconceito.
104
BIBLIOGRAFIA
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núm. 245 (63). <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24563.htm> [ISSN: 1138-9788]
acessado em 17.08.09
110
ANEXOS
Extraído de: VESENTINI, José William. Novas geopolíticas. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
p. 101
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