XIX
RESUMO
Polihidroxialcanoatos (PHAs) são poliésters biodegradáveis e biocompátiveis,
produzidos por uma ampla variedade de microorganismos e estocados como fonte de
carbono e energia. Poli-(3-hidroxibutirato) (P(3HB)) é o membro mais comum desta
família e tem sido usado na obtenção de carreadores de fármacos. Na maior parte dos
casos, a liberação de fármacos a partir de microesferas de P(3HB) ocorre em taxas
excessivas e tem sido assumido que o fenômeno de liberação é mais dependente da
velocidade de dissolução do fármaco do que da degradação da matriz. A estratégia de
misturar diferentes materiais em uma formulação pode ser empregada para modificar as
propriedades físico-químicas de microesferas e controlar a liberação. Neste contexto,
este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da formação de blendas de P(3HB) com
trimiristato de gricerila (TMG) ou poli (D,L-ácido lático)-b-poli (etilenoglicol) (PLA-PEG) e
da obtenção de partículas compostas de P(3HB) e gelatina (GEL) sobre as
características físico-químicas das microesferas e o perfil de liberação do ibuprofeno. O
método de emulsão/evaporação do solvente foi empregado no preparo das microesferas
de P(3HB):TMG (9:1, 4:1, 3:1 e 1:1) e P(3HB):PLA-PEG (3:1 e 1:1), usando clorofórmio
ou diclorometano/ álcool isopropílico como solventes. As microesferas de P(3HB):GEL
10:1 foram preparadas usando o procedimento de dupla emulsão/evaporação do
solvente. Elevados valores de eficiência de encapsulação foram verificados em todas as
formulações testadas. Partículas esféricas e de superfície rugosa, apresentando
diâmetro médio entre 21,93 e 41,55 µm, foram obtidas. A utilização de diclorometano e o
aumento da proporção de TMG na blenda conduziram à redução da porosidade das
partículas. Entretanto, os estudos de liberação em tampão fosfato 0,02 M pH 7,4
mostraram que a associação de P(3HB) e TMG não conduz ao controle de liberação do
IBF, a qual foi bastante pronunciada na primeira hora de ensaio. Elevados valores de
liberação inicial (efeito burst) também foram observados nas microesferas preparadas a
partir das blendas de P(3HB) e PLA-PEG 3:1 e P(3HB):GEL 10:1. Neste último caso, a
adição de etanol acelerou a liberação do IBF, indicando que a adição do solvente afeta a
localização do fármaco na matriz. As análises por calorimetria exploratória diferencial
(DSC) e difração de raios-x indicaram a redução da cristalinidade do P(3HB) somente
quando a blenda P(3HB):PLA-PEG 1:1 foi testada. Entretanto, independente das
condições de preparo das microesferas, o IBF pareceu estar parcialmente disperso na
sua forma amorfa ou molecular na matriz. Apesar da utilização da blenda de P(3HB) e
PLA-PEG 1:1 ter conduzido à redução da cristalinidade, a velocidade de liberação foi
mais prolongada quando as microesferas de P(3HB):PLA-PEG 3:1 foram testadas,
sugerindo que o grau de hidratação da matriz pode ter interferido na cinética de
liberação. A avaliação in vivo do ibuprofeno encapsulado nas microesferas de
P(3HB):PLA-PEG 3:1 foi conduzida em ratos artríticos (modelo CFA). Os resultados
obtidos indicaram redução do edema articular e da migração celular após administração
das microesferas contendo IBF, quando comparado aos grupos tratados com IBF livre e
microesferas brancas, respectivamente.
Palavras-chave: microesferas, poli-(3-hidroxibutirato), ibuprofeno, liberação controlada,
blendas poliméricas, compósitos.