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A Literatura é um tipo de conhecimento expresso por meio de palavras de sentido
polivalente. A Literatura é ficção. Se os conteúdos da ficção são imagens deformadas e
transfundidas do mundo real, ficção e imaginação se equivalem. Sendo assim, é um tipo
de conhecimento, fundado na imaginação e expresso pela palavra escrita de valor
multívoco e individual: “Literatura é a expressão dos conteúdos da ficção, ou da
imaginação, por meio de palavras de sentido múltiplo e pessoal” (MOISÉS, 2003, p. 38).
Além de forma de conhecimento, a Literatura é, essencialmente, um fenômeno
estético, uma arte. Por isso, não visa a informar, ensinar, doutrinar, etc.
Secundariamente, no entanto, pode realizar essas tarefas, pois o literário ou o estético
inclui o social, embora transformado em estético. (COUTINHO, 1978). O valor
significativo da Literatura reside, pois, em seu aspecto estético-literário, o que lhe é
garantido por elementos próprios de sua estrutura e por sua finalidade específica de
despertar no leitor o sentimento estético, espécie de prazer que não pode ser confundido
com informação, documentação ou crítica.
Não sendo documento, a Literatura é monumento. A Literatura parte dos fatos da
vida e os contém. Mas como Literatura é arte, esses fatos não existem nela como tais,
mas apenas como ponto de partida, porque a Literatura, sendo arte, conforme já
asseguramos, é uma transfiguração do real, a realidade recriada pelo espírito do artista.
Porque o mundo literário é o mundo do possível, a Literatura fala do que poderia ter sido.
Mesmo assim, a criação literária nasce de uma imaginação que tem a realidade como
referência. Por isso, aquilo de que ela trata tem sempre um fundo de verdade: “[...] o
compromisso da Literatura com o mundo possível não abandona o projeto de fazer do
presente seu ponto de partida e de chegada” (LAJOLO, 2001, p. 48).
O produto literário é cultural. A literatura serve-se de signos linguísticos que
representam o mundo e desvelam profundas dimensões do mesmo, para traduzir a
cultura de uma sociedade. Por ser um conceito polissêmico, destacamos a definição de
cultura em Edgar Morin (2007, p. 15), como “um corpo complexo de normas, símbolos,
mitos e imagens que penetram o indivíduo em sua intimidade, estruturam os instintos,
orientam as emoções”. Literatura e cultura encontram-se, pois, intimamente vinculadas, e
seu discurso se caracteriza pela complexidade, revelando realidades que alcançam
espaços de universalidade.
A literatura cria significantes e funda significados. Para Proença Filho (2004), a
multissignificação é um traço marcante do texto literário, o que possibilita, por exemplo,
as múltiplas leituras da obra de João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de
Andrade, Guimarães Rosa. E conclui que “a permanência de determinadas obras se