50
corpo, ou aquele navio em chamas. Estamos de qualquer modo,
lidando com um outro gênero de memória, completamente diferente,
que pode ser partilhada por povos diversos, não importa a língua
que eles falem.( CARRIÈRE,1995, p.21)
Para Martin ( 2007,p.21), também não é diferente o elemento que constitui a
base da linguagem cinematográfica, ou seja, a matéria prima fílmica é a imagem,
como já havia sugerido Carrière. Portanto, ao analisarmos um filme, é necessária
uma detalhada observação das imagens que o constituem, para penetrarmos na
complexidade de sua estrutura dessas imagens.
Ao considerarmos a questão da adaptação de um texto literário, ressaltamos
a importância da criação do roteiro, já que, se tentarmos uma comparação entre
imagem e palavra, por mais que o roteirista busque o equivalente imagético da
significação do conceito literário, veremos a impossibilidade de tal coisa, pois a
palavra designa um conceito genérico, ou seja, podemos construir este conceito de
acordo com nossa vivência, com nosso imaginário, nossa práxis social. De seu lado,
a imagem visual tem significação precisa e limitada; vemos aquilo que está diante de
nossos olhos, não podemos supor ser outra coisa, não há como modificar ou
construir um significado diferente daquilo que estamos vendo.
Ao analisarmos um filme, ou parte dele, devemos olhar quadro a quadro,
cena a cena, muitas vezes no todo; não percebemos certas particularidades que são
fundamentais para o desenrolar de um enredo.
Nesta análise é preciso um envolvimento em que o observador deve olhar,
ouvir, examinar cada detalhe do filme, criando hipóteses para refletir sobre cada
fragmento do objeto estudado, relevando a importância dos detalhes, que darão o
tom ao filme. De acordo com Vanoye:
Analisar um filme ou um fragmento é, antes de mais nada, no sentido
científico do termo, assim como se analisa , por exemplo, a
composição química da água, decompô-lo em seus elementos
constitutivos. É despedaçar, descosturar, desunir, extrair, separar,
destacar e denominar materiais que não se percebem isoladamente
“a olho nu”, pois se é tomado pela totalidade. Parte-se, portanto, do
texto fílmico para “desconstruí-lo” e obter um conjunto de elementos
distintos do próprio filme. (VANOYE, 2006, p.15).