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6. Agora, uma vez que as pisteis não só advém das demonstrações
lógicas, mas também de discurso que revela caráter (pois nós acreditamos
no orador através de sua forma de ser um tipo de pessoa, e esse é o caso
se ele parece ser bom ou de boa disposição para nós ou ambos) nós
deveríamos estar acostumados aos tipos de caráter distintos de cada forma
de constituição, pois o caráter distintivo de cada um é mais persuasivo para
cada um. O que esses tipos de caráter são será entendido a partir do que
foi dito acima, pois os caracteres tornam-se claros pela escolha deliberada
e a escolha deliberada é direcionada a um fim
66
.
Após teorizar sobre êthos no livro 1, Aristóteles discute no livro 2 a adaptação
de discursos aos caracteres da plateia, que foi dividida em vários segmentos, dentre
eles por idade (jovens, adultos e velhos).
Teofrasto, discípulo de Aristóteles, elaborou um livro apenas com o retrato de
estereótipos, Os Caracteres, cuja inspiração parece ter advindo dos escritos de
Aristóteles
67
, dado que muitas de suas representações de caráter se baseiam nos
exemplos de virtude e vício elencados por este autor
68
. Diferentemente do modelo
aristotélico, provavelmente Teofrasto, ao invés de generalizar os tipos descritos,
exemplificava-os com cidadãos reais do século IV
69
. Tais representações são,
66
Traduções nossas a partir do inglês Kennedy (2007).
67
Em destaque a Retórica e Ética a Nicômaco. Entretanto, a natureza da obra é debatida levando-se em conta
três possibilidades: “1) os Caracteres seriam parte de um tratado de Retórica bastante influenciado pelo livro II
da Retórica de Aristóteles; 2) Teofrasto teria escrito um volume de ºqikoπ caraktÁrej inseridos em uma obra
literária, da qual restaram apenas os trinta capítulos reunidos posteriormente na forma atual; essa obra
apresentaria uma teoria moral, daí sua ligação com o livro IV da Ética a Nicômaco de Aristóteles; 3) os
Caracteres constituíram um suplemento de perπ poihtÁj, tratado de poética, logo sua intenção é doutrinária e de
ordem estética.” Malhadas; Sarian (1978, p. 19). A última hipótese, parece ser a mais convincente para Malhadas
e Sarian uma vez que não se pode dissociar os Caracteres dos seguintes tratados perdidos: perπ kwmJd∂aj Sobre
a Comédia e o perπ gelo∂ou Sobre o ridículo. “Não nos parece, entretanto, que esse opúsculo seja uma simples
compilação de textos de natureza cômica, tirados da Comédia [...], mas uma obra concebida como um repertório
de retratos cômicos, exagerados até a caricatura, frutos da observação do comportamento psicológico de um
contexto social determinado.” Malhadas; Sarian (1978, p. 21).
68
Diggle (2004, p. 7).
69
Id.