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Trabalho Infantil: "saúde" e "desenvolvimento"
Segunda, 22 de Setembro de 2008
Marcos e João Paulo estudam na mesma sala. Ambos têm 12 anos e estão na 6ª série. Marcos é popular e possui vários
amigos. Gosta de brincar e tem grande facilidade de se comunicar e relacionar com pessoas novas. Primeiro da classe, já
participou de olimpíadas e competições promovidas pela escola, tendo inclusive conquistado algumas delas. Motivo de
orgulho para o colégio, irá representá-lo na próxima olimpíada de matemática com a participação de outros colégios do
estado. João Paulo, ao contrário de Marcos, não possui muitos amigos e tem dificuldade de se relacionar com a turma.
Chega quase sempre atrasado nas aulas e não consegue atingir média na maior parte das matérias. É visto constantemente
dormindo na classe e tem dificuldade em respirar. Quando não está na escola, trabalha na coleta de material reciclável com
o pai. O longo período de exposição ao clima, objetos contaminados e ambiente insalubre, sua respiração está afetada.
Mesmo fictícia, essa história é realidade de cerca de 4.900 milhões de crianças e adolescentes do Brasil. Da mesma forma
que João Paulo, muitas crianças e adolescentes se vêem obrigados a trabalharem precocemente para poder ajudar no
sustento da família. No Sul chega a quase 830 mil. Contudo, a entrada precoce no mercado de trabalho pode trazer danos
irreversíveis à saúde, danos que afetarão não somente o desenvolvimento físico da criança, mas como também seu lado
afetivo, emocional e psicológico. E no Paraná podemos dizer que cerca de 330 mil crianças e adolescentes, de cinco a 17
anos, passam por isso.
A rede de atendimento à criança e ao adolescente deve estar atenta quando casos de suspeita de trabalho infantil chegarem
a sua instância, pois são nesses espaços que os encaminhamentos e os direitos de crianças e adolescentes são garantidos. A
capacitação dos profissionais da saúde deve ser constante e diversificada para atender a demanda. Visando esses fatos, o
Centro Estadual de Saúde do Trabalhador (CEST) realizará o curso de Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adolescentes
Economicamente Ativos, nos dias 23 e 24/9. O encontro tem o objetivo de sensibilizar e capacitar os profissionais do
Sistema Único de Saúde (SUS) na identificação e notificação de problemas de saúde apresentados por crianças e
adolescentes em decorrência do trabalho infantil.
Problemas causados à saúde
Problemas na coluna, na vista, de sociabilização, aprendizado e exposição a condições insalubres são apenas algumas das
conseqüências da inserção da criança e do jovem no mercado de trabalho. Como ambos ainda se encontram no processo de
desenvolvimento, seja fisco ou emocional, estão mais sujeitos a danos à saúde do que um adulto. Além disso, por não
possuírem equipamentos adequados, tanto para o trabalho quanto para a segurança, correm mais riscos de sofrerem
acidentes. Muitos não conseguem conciliar a escola com o trabalho, o que acaba por acarretar na dificuldade de
aprendizagem. Isso afeta o seu desenvolvimento profissional, pois não têm a oportunidade de uma qualificação melhor,
além de os levarem a se sentir excluídos em relação aos outros indivíduos por não terem a mesma chance de estudo e
qualificação.
Orientação e Capacitação
O profissional que estiver capacitado para atender crianças e adolescentes em situação de trabalho precoce poderá
identificar o foco do problema, encaminhá-lo para que a rede de proteção possa tomar conhecimento sobre o acontecido e
buscar ação em prol da solução. Alguns profissionais até identificam os sinais de que há algo errado com a criança ou
adolescente, mas não conseguem identificar o porquê dessa situação. A partir do momento em que há a capacitação do
profissional de saúde para o atendimento, poderá ser feito todo um trabalho especial em cima dessa criança e jovem, assim
como um trabalho de educação e conscientização com suas respectivas famílias.
O curso vai abordar os conceitos básicos sobre o trabalho infantil e apresentará dados mais recentes sobre o assunto em
âmbito nacional e paranaense. O evento também vai apresentar as diretrizes para a atenção integral à saúde de crianças e
adolescentes economicamente ativos, elaboradas pelo Ministério da Saúde. O resultado esperado é construir coletivamente
um conjunto de ações que possam ser aplicadas na área da saúde para contribuir com a erradicação do trabalho infantil e
proteção do trabalhador adolescente.
Sugestões de abordagem
•
Procure saber se a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná prevê pesquisas sobre o tema;
•
Pesquise sobre os cursos voltados para capacitar e orientar esses profissionais;
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Conheça a realidade dos municípios e se eles têm subsídios para atender e encaminhar as crianças e adolescentes
identificados no trabalho infantil;
•
Procure saber como funciona a rede de proteção à criança;
•
Tente achar um personagem. Qual é a visão da criança sobre a sua realidade, como ela se sente ao ter que
trabalhar cedo e em condições precárias.
O que diz o ECA
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas
que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.