Jean-Claude Bernardet (1985) comenta:
Todas essas pessoas já tinham com certeza viajado ou visto um trem verdadeiro na
tela, logo não havia por que assustar-se.A imagem na tela era em preto e branco e
não fazia ruídos, portanto não podia haver dúvida, não fazia ruídos, portanto não
podia haver dúvida, não se tratava de um trem de verdade.Só podia ser uma
ilusão.É ai que residia a novidade: na ilusão.Ver o trem na tela como se fosse
verdadeiro.Parece tão verdadeiro - embora a gente saiba que é de mentira - que dá
para fazer de conta, enquanto dura o filme, que é verdade.
Um pouco como num sonho: o que a gente vê e faz num sonho não é real, mas isso
só sabemos depois, quando acordamos.Enquanto dura o sonho, pensamos que é
verdade.(BERNARDET, 1985, p.12).
Em decorrência da complexa relação as organizações mais conservadoras da sociedade,
pensadores e lideres de opinião passaram a demonizar o cinema.
Walter Benjamin (1985) diz:
Esses dois processos resultaram num violento abalo da tradição, que constitui o
reverso da crise atual e a renovação da humanidade. Eles se relacionam
intimamente com os movimentos de massa, em nossos dias. Seu agente mais
poderoso é o cinema. Sua função social não é concebível, mesmo em seus traços
mais positivos, e precisamente neles, sem seu lado destrutivo e catártico: a
liquidação do valor tradicional do patrimônio da cultura. Esse fenômeno é
especialmente tangível nos grandes filmes históricos, de Cleópatra e Bem Hur até
Frederico, O Grande e Napoleão. E Quando Abel Gance, 1927, proclamou com
entusiasmo: "Shakespeare, Rembrandt, Beethoven, farão cinema...Todas as lendas,
todas as mitologias...Aguardam sua ressurreição luminosa, e os heróis se
acotovelam às nossas portas", ele nos convida, sem o saber talvez, para essa grande
liquidação. (BENJAMIN,1985, p.169).
No começo dos anos 30 o sistema vertical monopolista implementado pela Paramount
obrigava os exibidores a comprar pacotes
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fechados de filmes produzidos pelo estúdio se
desejassem exibir determinados filmes das grandes “estrelas
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”. No meio desses pacotes de
filmes estavam aqueles considerados imorais e a Paramount não se interessava se o exibidor
iria ou não veicular o filme, no entanto ele pagaria o mesmo valor. Como os estúdios não
tinham capacidade de se defender diretamente da onda de protestos, eles se uniram e criaram
a National Association of The Motion Picture (NAMPI), que veio a ser rapidamente
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Essa prática se tornou comum até a década de 40, quando o governo americano colocou um ponto final nessa
prática por meio de ações legais.
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Nessa época seus atores como Mary Pickford, Douglas Fairbanks, Rudolph Valentino, Clara Bow, Gary
Cooper, etc, eram ótimas ferramentas de barganha para o estúdio.