dançam e encenam com os índios, chegando a ensinar a eles até mesmo a prática de
instrumentos musicais tipicamente europeus: flauta, cravo, órgão, fagote, viola, charamelas,
trombetas e baixões.
Aos filhos dos colonos, classe que compõe a elite local, é reservada uma educação
mais ampla para além da “Escola de ler e escrever”. Tal educação se desenvolve segundo
padrões europeus, é de caráter humanista e submete-se às determinações da Ratio
Studiorum
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. São criados três cursos: letras humanas; filosofia e ciência (ou artes); teologia e
ciências sagradas. Aranha (1996) aponta um dado interessante: “em alguns colégios, como
o de Todos os Santos, na Bahia, e o de São Sebastião, no Rio de Janeiro, são também
oferecidos outros dois, de artes e teologia, já de grau superior” (p. 101).
A música permeava várias atividades desenvolvidas pelos jesuítas no cotidiano
escolar. O canto, em estilo cantochão, mostrava-se útil para cativar os alunos fortalecendo-
lhes a fé. Música, moral e religião caminhavam de mãos dadas, potencializando-se
mutuamente. Além de perpassar a rotina escolar dos níveis mais adiantados, a música
passou a integrar o currículo das “Escolas de ler e escrever”. A importância da matéria no
processo da catequese e na formação moral dos educandos justificava sua implantação.
Loureiro (2003) menciona a criação de uma cartilha, denominada Artinha, usada pelos
mestres nas aulas de iniciação musical.
Frente ao panorama exposto, é possível conjecturar que os jesuítas “foram os
primeiros professores de música européia no Brasil” (KIEFER, 1997, p. 11). Primeiros,
porém não únicos visto que a eles se juntam os Mestres de Capela
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advindos de Portugal ou
criados aqui na nova terra. Estes últimos estabelecem escolas domiciliares onde se ensina
música, latim e outras matérias consideradas essenciais. Eram verdadeiros conservatórios
onde os meninos se alimentavam, viviam e aprendiam.
Aos negros, os jesuítas deram atenção reduzida. Aranha (1996) afirma que “as
mulheres encontram-se excluídas do ensino, da mesma forma que os negros, cujos filhos
nunca despertaram o interesse dos padres, como acontecia com os curumins” (p. 115).
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A Ratio Studiorum (Esquema de Estudos) consiste num plano pedagógico elaborado pelos jesuítas,
promulgado como Lei geral da Companhia em 1599. Estabelece os studia superiora e os studia inferiora. Os
studia supeiora eram ministrados àqueles cujas aspirações se direcionavam para o sacerdócio ou para as
carreiras liberais. Aos primeiros eram oferecidos estudos de filosofia, com exegese, moral e cauística. Aos
segundos, filosofia, com aulas de ciências exatas. Os studia inferiora correspondem ao atual ensino
secundário, abrangendo disciplinas como: retórica, humanidades, gramática superior, gramática média e
gramática inferior.
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São músicos responsáveis pela prática musical de um conjunto, a Capela, subsidiado pela igreja ou por
particulares (reis, nobres, aristocratas). Os mestres, além de organizarem todo o conjunto, compõem, regem,
tocam e, por vezes, se incumbem da afinação dos instrumentos.