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“delinquência juvenil”, ao longo daquela década, ganhou espaço nos debates nos meios de
comunicação, entre políticos, psicólogos, professores e educadores. Isso porque cada vez
mais o comportamento transgressor e violento, até então sempre associado aos
adolescentes das camadas sociais mais baixas, estava começando a fazer parte do dia-a-dia
das famílias de classe média norte-americanas. De fato, a delinquência juvenil tornou-se
um problema tão grande que autoridades e especialistas diversos começaram a dar cada
vez mais atenção a ela, o que é confirmado por uma série de instituições correcionais e
programas que foram criados nos Estados Unidos, a partir de 1950, para disciplinar os
adolescentes-problema. É o caso da Youth Correction Division, fundada em 1951, que
servia para reabilitar infratores com menos de 22 anos. Em 1953, o Senado criou o
Subcomitê Sobre a Delinquência Juvenil, sendo que no ano seguinte foi criada a seção para
a delinquência juvenil do Children’s Bureau do governo federal. Já em 1961, o presidente
Kennedy formou o Committee on Youth Employment, com a função de estudar e discutir os
problemas dos jovens. Os delinquentes juvenis teriam se tornando um problema social tão
grande
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que, citando os trabalhos do psicólogo Edgar Friedenberg sobre a juventude,
Luisa Passerini afirmou que:
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O fenômeno da rebeldia juvenil, primeiro identificado nos Estados Unidos, acabou se estendo a outros
países, onde gerou a mesma preocupação. Tanto é que, em 1962, a Unesco reuniu-se para discutir o problema
do adolescente rebelde, conforme revela matéria do jornal Folha de S. Paulo, de 10 de julho daquele ano.
Curiosamente, ao contrário do que aconteceu na década de 1950, no início dos anos 1960, o cinema e a
música já não eram considerados tão culpados pelos desvios de conduta entre os adolescentes: “O problema
da juventude transviada não é muito novo, pois já se encontraram, em sânscrito, textos deplorando que as
crianças da nova geração não obedeciam aos pais. Desde essa época, jovens transviados fizeram algum
progresso, e é sua proliferação no mundo inteiro que acaba de motivar a reunião, na UNESCO, de peritos
vindos de 12 paises. O primeiro cuidado dessa reunião efetuada em Paris foi definir o adolescente normal, de
maneira a poder compreender aquele que não o é. Ora, que é um adolescente normal? Que é, mesmo um
adolescente? (...) A adolescência é uma idade da vida mal reconhecida, aceita com indiferença ou até a
contragosto pela sociedade; e essa lacuna é tanto mais grave quanto a adolescência, hoje, dura muito mais do
que há 50 anos. Em 1962, uma menina francesa deixa de ser criança desde a idade de 12 anos, enquanto sua
avó atingia o mesmo resultado somente aos 14 anos. Como a entrada para o mundo dos adultos também é
tardia, o período de formação estende-se pelo menos por 8 anos. Em nossos dias, a adolescência não acaba
mais. Nessa multidão de rapazes e de moças, muitos estão zangados. Por quê? Porque a sociedade não
compreende suas necessidades; porque o mundo está cheio de desequilíbrio; porque os pais, tanto quanto as
escolas, não estão preparados para ajudá-los. Apenas um delegado emitiu um juízo rigoroso contra os "blusas
pretas": o representante soviético, que aliás se felicitou por não possuir o seu país adolescentes perdidos. A
isso o delegado egípcio respondeu que isso não era forçosamente um sinal de saúde. A presença de uma
adolescência infeliz é o tributo pago à evolução da sociedade; é o sinal de uma evolução do progresso.
Afinal, as sociedades imóveis, as da idade de pedra, ignoravam o problema das crianças revoltadas.A verdade
é que é preciso remediar essas perturbações. Até agora, nenhum estudo sistemático foi realizado a esse
respeito, pelo menos em escala internacional. O congresso da UNESCO fixou um primeiro objetivo: levantar
o inventário da adolescência mundial. (...) Ao mesmo tempo, os peritos elaboram um vasto programa para
que sejam concedidos aos adolescentes os cuidados que eles reclamam. Não se trata de denunciar mais uma
vez os venenos da época moderna, os malefícios do cinema ou de certa literatura, pois o cinema continuará a
produzir filmes e os escritores a publicar seus livros. Aliás, a maioria dos delegados não acha que o cinema
exerça a influencia perniciosa que lhe atribuem freqüentemente.Como quer que seja, aceitam as coisas como