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geral, temos de olhar a civilização ocidental do século XIX como o apogeu da fé na ciência e
na tecnologia sob a rubrica de ‘domínio sobre a natureza’”.
Helfrich (1974) aborda questões envolvendo conceitos essenciais da idéia do
homem contra a natureza. Para ele, este é um conceito fundamentalmente moderno, no qual se
destacam de início, três pensadores dos séculos XVI e XVII, a saber, Bacon, René-Descartes
e Gottfried Wilhelm von Leibnitz.
Segundo Helfrich (1974, p. 130)
Um dos mais famosos aforismos de Bacon foi que não podemos comandar a
natureza, exceto obedecendo-lhe e, aqui, talvez possamos pensar na palavra
‘obedecer’ como implicando, também, ‘conhecer’. Existem muitas imagens
pertinentes, mas vou limitar à sua The New Atlantis, na qual vemos um
filósofo ambicioso rejeitar a filosofia escolástica como um ensinamento de
inatividade, para promover as artes e as ciências, encorajando a invenção
para mudar a natureza e adaptá-la aos usos humanos.
Agora sobre Descartes, Helfrich (1974) destaca o seu trabalho filosófico Discurso
Sobre o Método, considerando que este analisa muito as impropriedades da filosofia
escolástica.
[...] Tal como Bacon e Leibnitz, ele via o conhecimento prático para
podermos ganhar ascendência sobre a filosofia especulativa; ‘precisamos
conhecer os elementos – o fogo, o ar, a terra e a água – além de conhecer os
ofícios de nossos artesãos e assim, nos tornarmos, por assim dizer, donos e
senhores da natureza’. (HELFRICH, 1974, p. 130).
Helfrich (1974, p. 131) considera ainda sobre o trabalho de Leibnitz, onde
apresenta que para este pensador o domínio da natureza era bem um sinal de progresso.
[...] A filosofia de Leibnitz foi uma das mais exaltadas tentativas para
relacionar o progresso da civilização com o desenvolvimento gradual da
terra por mãos humanas para a tornar um planeta habitável. O progresso da
humanidade estava ligado com o cultivo da terra, que se transformou num
espelho das atividades empreendedoras do homem. Na sua obra, a idéia de
progresso está ligada, portanto, ao domínio sobre a natureza, à medida que o
homem progredia, a terra, guiada por sua mão, ia ficando cada vez mais
perfeita.
A partir desses fragmentos, é possível, ainda que de maneira inicial, exemplificar
como foi se formando à idéia de domínio da natureza. Parte-se do princípio da necessidade
de: primeiro, constatação do elemento; segundo, conhecer o elemento (análise científica);
terceiro, dominar e explorar o elemento. Somente após este ponto, o homem poderia se
colocar como dono e senhor da natureza.
Esse processo pode ser também trabalhado por meio dos conceitos que embasam o
tema racionalização. Não se pode pensar em modernização sem pensar na crescente
estruturação da racionalização.