estranho enfim;
254
de uma vila disciplinada e vigilante, militarmente
armada, contingenciada e prontificada ao menor sinal de perigo;
255
e
b) O cosmopolitismo mercantil, convidativo, dinâmico e promissoramente
diplomático desses templos que guardam a chegada das especiarias e
artigos da gente comercial, de outras terras das tendências dos
modismos, do capital enfim.
256
Compreende-se, assim, como tais campos a religiosidade, o comércio
mercantil e o militarismo,
257
que foram também parâmetros às ações funcionais
e sociais do homem colonial recifense, e do mulato Manoel Jácome em
particular. Daí porque, entre os baluartes das prisões e fortes,
258
os balaústres
e abóbadas e torres das igrejas e ou edificações civis; entre as “logeas”
comerciais no andar térreo dos sobrados e os óculos nas construções cívicas e
religiosas transitou a arquitetura do cenário urbano recifense em que viveu e
atuou o mulato olindense.
259
Uma dicotomia que a vivência das artes ajudava a
254
Ver: BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o Império: o Rio de Janeiro no século XVIII.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 60-93; CAVALCANTI, 2004, 44-48.
255
COUTO, 1981, p. 101; KOSTER, 1978, p 32-33; TOLLENARE, 1978, p. 19, AHU_ACL_CU,
015. Cx. 127, D.9963. AHU_ACL_CU, 015. Cx. 128, D.9967.
256
KOSTER, 1978, p 32-33; Ibidem op. cit., 1978, p. 118; FREYRE, 1985, p. 162.
257
A influência militar não é um dado peculiar às obras pernambucanas, podendo ser
observada – em sua expressão máxima talvez – nos dois canhões adicionados às torres da
Igreja de São Francisco de Ouro Preto, muito embora se constate no legado setecentista
recifense a presença de micro-capelas no interior de fortes como o “das cinco pontas” (Recife),
e “Orange” (Itamaracá), destinadas à devoção das entidades (santos ou oragos) específicas e
inerentes aos quadros militares; além da igreja de N. S. da Conceição dos Militares (Recife),
erguida e administrada pelos castrenses locais, e cujo vínculo histórico com essa categoria – e,
consequentemente, seus ritos e modos de ver, sentir e exercer a fé – permaneceu vivo desde a
sua construção (1723) até os dias atuais. Era também partindo da perspectiva do panoptismo
castrense que as igrejas recifenses foram edificadas individualmente voltadas para o mar e
para o centro urbano e, em termos de conjunto, dispostas semi-circularmente (em forma de
“C”) à região portuária a partir da (linha do oceano. Por fim, foi fruto da ambiguidade
panoptismo-cosmopolitismo que houve reformas constantes e mesmo projetos de
refucionalização dos fortes da costa recifense, como é o caso do “Forte do Matos”, na Vila-
porto pernambucana, de onde se fazia a estocagem e escoamento de madeira nobre para
serem exportadas para a Europa e do “Forte de São Tiago das Cinco Pontas” que serviu de
presídio durante os séculos XVIII e XIX.
(Ver DUARTE, Luiz Vidal (Org.). Conceição dos militares: Religião, arte e civismo. Recife:
Tipografia Marista, 1979).
258
Elementos indiciários da influência militar na arquitetura do Barroco, assim como a cadência
rítmica na música, e a pintura cartográfica na pintura.
259
Uma correlação de elementos estético-simbólicos que indicia a abrangência, a ambiguidade
de uso, a flexibilidade estética, as influências sociais (das categorias e grupos humanos ou
econômicos), o universo de saberes técnicos, os campos operacionais em atividade e,
sobretudo, o percurso sócio-funcional dos artífices. (Ver: VELOSO, Van-Hoeven. Jaboatão
dos meus avós. Recife: SP/FIANI, 1978; ROCHA, Leduar de Assis. Do Forte do Matos à Rua
da Aurora: Subsídios para a história do “palácio Joaquim Nabuco”. Recife: ALPE, 1967, p. p.
29; ALBUQUERQUE, Marcos e LUCENA, Valéria. Forte do Arraial do Bom: Jesus. Resgate
arqueológico de um sítio histórico. Recife: CEPE, 1988, p. 9-32; NETO, Ulisses Pernambucano