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JOSÉ DE SÁ PESSOA
AGROBIODIVERSIDADE E CARACTERIZAÇÃO DE
ETNOVARIEDADES DE MANDIOCA DA RESERVA EXTRATIVISTA
CAZUMBÁ-IRACEMA, ACRE
RIO BRANCO
2009
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2
JOSÉ DE SÁ PESSOA
AGROBIODIVERSIDADE E CARACTERIZAÇÃO DE ETNOVARIEDADES DE
MANDIOCA DA RESERVA EXTRATIVISTA CAZUMBÁ-IRACEMA, ACRE.
Dissertão apresentada ao Programa de
s-graduação em Agronomia, Área de
Concentrão em Prodão Vegetal, da
Universidade Federal do Acre, como parte
das exincias para a obtenção do título de
Mestre em Agronomia.
Orientador: Prof. Dr. Amauri Siviero
RIO BRANCO
2009
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3
© PESSOA, J. S. 2009.
Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da Universidade Federal do Acre
P475a
PESSOA, José de Sá. Agrobiodiversidade e caracterização
de etnovavariedades de mandioca da Reserva Cazumbá-
Iracema, Acre. 2009. 91f. Dissertação (Mestrado em
Agronomia Produção Vegetal) Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação, Universidade Federal do Acre, Rio Branco
Acre, 2009.
Orientador: Prof. Dr. Amauri Siviero
1. Unidades de conservação, 2. Recursos genéticos, 3.
Manihot esculenta - descritores, 4. Melhoramento genético,
I. Título
CDU 633.493 (811.2)
4
AGROBIODIVERSIDADE E CARACTERIZAÇÃO DE ETNOVARIEDADES DE
MANDIOCA DA RESERVA EXTRATIVISTA CAZUMBÁ-IRACEMA, ACRE.
Dissertão apresentada ao Programa de s-
graduação em Agronomia, Área de Concentração em
Produção Vegetal, da Universidade Federal do Acre,
como parte das exigências para a obtenção do título
de Mestre em Agronomia.
Prof. Dr. Amauri Siviero Embrapa Acre
Prof. Dr. Josué Bispo da Silva UFAC
Dr. Moacir Haverroth Embrapa Acre
Prof. Dr. Amauri Siviero
(Embrapa Acre)
(Orientador)
RIO BRANCO
2009
5
Dedicatória
A Keynou e Akeelah Ágatha
Semente e Promessa de Deus;
À Rosângela:
Minha eterna paixão;
A minha querida mãe Suzete:
Exemplo de vida e perseverança;
Aos meus irmãos:
Marilene, Edivan, Suzy, Luzivan e
Marcicleo:
Pelo incentivo para superação das
adversidades;
6
AGRADECIMENTOS
Ao Supremo criador do universo, o Senhor Deus, por permitir a conclusão
deste trabalho.
A Universidade Federal do Acre pela oprotunidade.
Aos moradores da Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema pelo apoio,
compreensão e paciência ao responder as perguntas e questionários e por terem
proporcionado-me momentos incríveis na minha vida.
Ao Sr. Luciano pelos ensinamentos, apoio e humildade. Homem de extrema
simplicidade, mas que diante das dificuldades jamais demonstrou tristeza ou
desânimo em permanecer e ser um defensor da floresta Amazônica, em especial na
Reseva Cazumbá-Iracema.
Ao pesquisador da Embrapa-Acre Lauro Lessa pelo apoio e troca de
experiências ao longo dessa empreitada.
Ao Prof. Dr. Josué Bispo pela sapiência demonstrada nas suas colocações a
respeito dessa pesquisa, que contribuíram significativamente ao engrandecimento
e aperfeiçoamento deste trabalho.
Ao pesquisador da Embrapa-Acre Dr. Moacir Haverroth, que proporcionou
através de suas críticas construtivas o aperfeiçoamento deste estudo.
Ao amigo e parceiro de pesquisa Ricardo Chaim pelo empenho, dedicação e
profissionalismo durante as expedições na reserva.
Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade AC, pelo
empenho das logísticas para a realização das expedições científicas.
Em especial ao meu orientador Dr. Amauri Siviero pelo empenho, paciência e
principalmente pelos direcionamentos e posicionamentos para o engrandecimento
desse trabalho.
À Embrapa - Acre, pelo apoio institucional.
Ao Programa Biodiversidade Brasil-Itália pelo apoio institucional para
realização desta pesquisa.
Aos amigos do curso de Mestrado em Agronomia, área de concentração em
Produção Vegetal, em especial a “turma de 2007”, pela amizade e oportunidade de
intercâmbio de experiências, em especial :
À amiga Lizete Aquino, pela simplicidade e companheirismo;
7
À amiga Jannifer, pela sapiência e humildade demonstrada durante o curso;
Ao amigo Sérgio, pelo empenho e dedicação nas aulas;
À amiga Eleksandra, pela amizade e simplicidade demonstradas no decorrer
do curso;
Ao Me. Roberval Mendes, colega de graduação e de Mestrado, que contribuiu
significativamente para a conclusão deste curso, principalmente pelos incentivos;
À colega Bianca, pelos momentos incríveis e difíceis, mas compensadores
durante os trabalhos de campo;
A todos que contribuíram de forma direta e indiretamente para que este sonho
se tornasse realidade.
8
RESUMO
A interface do conhecimento tradicional com científico é imprescindível para a
valorização dos agroecossistemas, uso da terra e valoração da agrobiodiversidade.
Este trabalho teve como objetivo analisar a agrobiodiversidade e caracterizar
etnovariedades de mandioca da Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema. O trabalho
foi desenvolvido junto a agricultores familiares ribeirinhos do Rio Caeté, Sena
Madureira, Acre. A pesquisa foi realizada usando informações de dados
secundários, aplicação de questionário, visita técnica e condução de três
experimentos de campo. Aspectos da riqueza da agrobiodiversidade, uso da terra,
dinâmica dos agroambientes foram obtidos em visitas técnicas junto a 40
moradores. Foram usados 25 descritores na caracterização das etnovariedades de
mandioca, sete dos quais informados pelos 24 agricultores entrevistados. Os
estudos da agrobiodiversidade local revelaram o uso de 118 espécies vegetais
exploradas na Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema. Nos agroambientes quintal,
roçado e capoeira foram detectadas a ocorrência de 68 espécies, sendo que 28
espécies foram detectadas somente nos quintais. No agroambiente floresta
ocorreram 50 espécies florestais não madeireiras e espécies madeireiras. Nos
quintais foi observada a ocorrência de 9 espécies animais. Quanto ao uso da terra
se observou a ocorrência de até sete agroambientes manejados pela família com
funções complementares na integração extrativismo-lavoura-pecuária-floresta.
Foram caracterizadas sete novas etnovariedades de mandioca, cinco das quais
mansas. A etnovariedade Pirarucu é a mais prevalente na região sendo a mais
produtiva nos ensaios de campo mostrando alta adaptação local. O sistema
agroflorestal composto pelos agroambientes construídos pelos agricultores, somado
com a interface constante com a coleta de produtos na floresta, têm se mostrado
eficiente na conservação de recursos genéticos. Futuramente este sistema será
valorado como serviço ambiental pela conservação da agrobiodiversidade, água e
solo com retorno de capital para os moradores de unidades de conservação.
Palavras-Chave: Unidades de conservação. Recursos genéticos. Descritores de
Manihot esculenta. Melhoramento vegetal.
9
ABSTRACT
The interface of traditional wisdom and scientific knowledge is indispensible in
assessing agroecosystems, land use and agricultural biodiversity. The goal of the
present study is the analysis of the agrobiodiversity as well as the categorization of
the ethnovarieties of manioc in the Extractivist Reserve Cazumbá-Iracema in the
Brazilian state of Acre. The study was conducted with the riverbank dwelling family
farmers of the Caeté river in Sena Madureira, Acre. The analysis was performed
using secondary data sources, a questionnaire, visits to the site and three field
experiments. Information regarding the degree of agrobiodiversity, land uses and the
nature of the agroevironments was obtained via technical visits to 40 area
inhabitants. 26 multicatagoric agronomic descriptors were used to categorize the
ethnovarieties of manioc, 8 of which were selected by the 24 family farmers
interviewed. The agrobiodiversity results revealed the use of up to 118 species of
plants both cultivated. In agroenvironment backyard, brushed and poultry were
detected the occurrence of 68 species, of which 28 species were detected only in
backyards. In agroenvironment forest there were 50 non-timber forest species and
timber species. In backyards was observed the occurrence of 9 animals species.
The land use analysis revealed up to seven agroenvironments managed by the
families with complementary uses in the integration of extractivism, agriculture,
raising livestock and the forest. Of the seven ethnovarieties of manioc cataloged,
five were considered “mild”. The ethnovariety “Pirarucu” is the most prevalent in the
region as it was the most productive in field tests and demonstrated the best
adaption to the local environment. The agroforestry system, composed of the
various agroenvironments constructed by the farmers, combined with the constant
influx of wild harvest products from the forest has proved to be an efficient means for
the conservation of genetic resources. In the future, this system will be recognized
for the environmental function that it serves in preserving the biodiversity of the land
and water while providing a capital return for the inhabitants of protected nature
preserves.
Key words: Units of conservation. Genetic resources. Descriptors of Manihot
esculenta. Plant breeding.
10
LISTA DE FIGURAS
FIGURA - 1
Localização geogfica da Resex Cazumbá-Iracema........................................
36
FIGURA - 2
Ocupão humana na Resex Cazumbá-Iracema..............................................
37
FIGURA - 3
Aspectos da cobertura vegetal da Resex Cazumbá-Iracema e áreas
antropizadas do município de Sena Madureira, AC............................................
38
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO - 1
Principais espécies florestais madeireiras .................................................
43
GRÁFICO - 2
Principais espécies florestais não madeireiras ..........................................
44
GRÁFICO - 3
Principais fruteiras exploradas em quintais, roçado e capoeiras ...............
45
GRÁFICO - 4
Principais espécies hortícolas exploradas em quintais, roçado e
capoeiras.....................................................................................................
46
GRÁFICO - 5
Principais espécies medicinais exploradas em quintais ............................
46
GRÁFICO - 6
Principais espécies cultivadas nos roçados................................................
47
11
LISTA DE TABELAS
TABELA - 1
41
TABELA - 2
49
TABELA - 3
52
TABELA - 4
53
TABELA - 5
55
TABELA - 6
58
TABELA - 7
60
TABELA - 8
61
TABELA - 9
62
TABELA - 10
63
TABELA - 11
63
12
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A
Nome vulgar, nome comum, Agroambiente de ocorrência, uso e
freqüência de ocorrência de espécies vegetais ..........................................
76
13
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO..............................................................................................................
14
2
REVISÃO DE LITERATURA........................................................................................
16
2.1
ASPECTOS GERAIS ....................................................................................................
17
2.2
USO DA TERRA ...........................................................................................................
19
2.3
AGROBIODIVERSIDADE VEGETAL E ANIMAL...............................................
22
2.4
ETNOVARIEDADES DE MANDIOCA ..........................................................................
28
2.5
A CULTURA DA MANDIOCA .......................................................................................
33
3
MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................................
36
3.1
LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS GERAIS DA RESEX CAZUMBÁ IRACEMA..............
36
3.2
ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE...............................................
39
3.3
ESTUDO SOBRE AS ETNOVARIEDADE DE MANDIOCA...............................
40
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................
43
4.1
RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE .......................
43
4.2
RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE DOS
QUINTAIS .....................................................................................................................
45
4.3
RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE DOS
ROÇADOS....................................................................................................................
47
4.4
RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE ANIMAL.. .......
49
4.5
RESULTADO DOS ESTUDOS SOBRE A CARACTERIZAÇÃO DE
ETNOVARIEDADES DE MANDIOCA ..........................................................................
52
4.6
RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA E
PERDAS DE VARIEDADES DE MANDIOCA ..............................................................
53
4.7
RESULTADOS DOS ESTUDOS ESPECÍFICOS SOBRE PRODUTIVIDADE,
AMIDO, MATÉRIA SECA E RESISTÊNCIA A PODRIDÃO DA MANDIOCA ...............
57
4.7.1
Localidade Cazumbá.....................................................................................................
57
4.7.2
Localidade Cuidado.......................................................................................................
59
4.7.3
Localidade Alto Caeté..................................................................................................
60
4.8
INTERAÇÃO GENÓTIPO VERSUS AMBIENTE..........................................................
61
5
CONCLUSÃO................................................................................................................
65
REFERÊNCIAS.............................................................................................................
66
APÊNDICES..................................................................................................................
76
14
LISTA DE SIGLAS
ARPA
- Áreas Protegidas da Amazônia
CDB
- Convenção sobre Diversidade Biológica
DIUSP15
- Diretoria de Unidades de Uso Sustentáveis e Populações Tradicionais
FAO
- Organismo da ONU para a Agricultura e Alimentação
HCN
- Ácido Cianidríco
IBAMA
- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
ICMbio
- Instituto Chico Mendes de Conservação de Conservação da
Biodiversidade
INCRA
- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
MMA
- Ministério do Meio Ambiente
PBBI
- Programa Biodiversidade Brasil-Itália
PPG 7
- Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
PROBOR
- Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal
Resex
- Reserva Extrativista
SAFs
- Sistemas Agroflorestais
SEAPROF
Secretaria de Estado de Extensão Agro-florestal e Produção Familiar
SNUC
- Sistema Nacional de Unidades de Conservação
UC
- Unidade de Conservação
15
1 INTRODUÇÃO
As principais discussões sobre a preservação da Amazônia estão associadas
aos temas: redução do desmatamento, adoção de novos arranjos de uso da terra
adaptados à região, valorização do ativo ambiental, recuperação de áreas
degradadas devido à ação antrópica e a criação e fortalecimento de unidades de
conservação.
As unidades de conservação na Amazônia têm importante papel na
conservação da biodiversidade, além de prestarem serviços ambientais ligados à
água, solo e fixação de carbono, contribuindo para redução do aquecimento global.
Os principais aspectos da agrobiodiversidade em unidades de conservação
estão relacionados com segurança alimentar, composição da renda, conservação de
recursos genéticos, agroecologia, preservação da diversidade cultural associada às
populações locais compostas por ribeirinhos e povos indígenas (MACHADO et al.,
2008).
O sistema de produção rural na Amazônia, em diversos agroecossistemas
locais, é do tipo familiar e tem como base a produção de alimentos, principalmente,
para subsistência. A agrobiodiversidade tem funções, interfaces e sentidos distintos
em qualquer propriedade rural na Amazônia, notadamente, naquelas situadas em
unidades de conservação. A agricultura de derruba e queima praticada em unidades
de conservação na Amazônia em pouco difere daquela adotada pelos ribeirinhos e
povos indígenas de outras áreas.
O baixo nível tecnológico de uso da terra na abertura de novas áreas
agrícolas e adoção da pecuária extensiva em larga escala acarretam desequilíbrios
ecológicos como: perda da rica biodiversidade, erosão e degradação dos solos
agrícolas, poluição e esgotamento de recursos naturais não-renováveis. A ação
antrópica causa também conseqüências ambientais nas áreas destinadas à
conservação e nas áreas habitadas por agricultores familiares, como elevadas taxas
de desmatamentos e perda progressiva da fertilidade dos solos.
A biodiversidade agrícola oferece aos agricultores uma base diversificada de
produtos que asseguram a soberania alimentar, renda obtida pela comercialização
do excedente e auxílio ao tratamento de doenças. A seleção e a conservação das
16
espécies e variedades agrícolas são práticas que se inscrevem no tempo e refletem
a interação homem-natureza (COOPER et al., 1994).
Entretanto, a expansão de modelos homogêneos e padronizados de produção
agrícola causa modificações nos agroecossistemas e nas práticas de manejo
tradicional. As atuais demandas econômicas são traduzidas em termos de
mecanização no campo e de restrição do número de espécies cultivadas.
A transformação de áreas ricas em biodiversidade em monoculturas
uniformizadoras das condições ambientais desencadeia um processo de erosão
genética que, geralmente, está associada à perda do conhecimento sobre as
espécies e as variedades cultivadas. O risco de perda de biodiversidade e dos
saberes associados tem motivado o interesse dos acadêmicos, órgãos do governo e
demais instituições públicas e privadas no desenvolvimento de pesquisas e ações
voltadas para conservação da agrobiodiversidade (SILVA, 2005; CUNHA e
ALMEIDA, 2002).
O estudo sobre a diversidade agrícola na Amazônia tem peculiaridades como:
a) alta associação com a agricultura familiar e extrativismo, b) relação com a
dinâmica evolutiva das espécies, c) processos de domesticação e d) riqueza e
abundância de espécies importantes como recursos genéticos para a humanidade.
Neste processo, nota-se claramente, através da seleção consciente ou não-
intencional de espécies realizada pelo homem, a amplificação e conservação de
espécies e estabelecimento de forte ligação homem-natureza (PERONI e MARTINS,
2004; EMPERAIRE, 2005).
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
Atualmente, cerca de 6,5 milhões de pessoas vivem nas florestas da
Amazônia, distribuídas em mais de 30 mil comunidades. Representam uma grande
diversidade de categorias sociais, como índios, caboclos, seringueiros, camponeses,
quilombolas, castanheiros, pescadores, quebradoras de coco-de-babaçu, ribeirinhos
e pequenos agricultores.
As agências de desenvolvimento e organizações não governamentais
nacionais e internacionais são as principais responsáveis pelo financiamento e
execução de programas e projetos de pesquisa e desenvolvimento na Amazônia. A
presença técnico-financeira das agências internacionais encontra-se em toda a
Amazônia, como por exemplo, nas intervenções que realizam através do Programa
Piloto para a Proteção de Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), do Programa Áreas
Protegidas (ARPA) e do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado Acre.
Somente o projeto ARPA tem o objetivo de proteger 50 milhões de hectares de
floresta amazônica e promover o desenvolvimento sustentável através da
consolidação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) (IBAMA,
2000).
As Reservas Extrativistas (Resex) o Unidades de Conservação (UC)
criadas por demanda de comunidades extrativistas interessadas em manter seu
modo de vida tradicional. A incorporação das Reservas Extrativistas ao SNUC
representou o reconhecimento de sua importância como instrumento para
conservação e trouxe também a necessidade de sua adequação a novas exigências
legais (SILVA, 2005).
A Resex tem valor especial para as comunidades que nela habitam, sendo
vital para sua sobrevivência. Os serviços ambientais e os recursos naturais por ela
oferecidos contribuem para a redução da pobreza destas populações através do
fornecimento de alimento, água, abrigo, remédios, combustível e possibilidades de
desenvolvimento econômico (MAINKA et al., 2005).
18
2.1 ASPECTOS GERAIS DA RESEX CAZUMBÁ-IRACEMA
A Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema (Resex Cazumbá-Iracema) é uma
unidade de conservação federal, de uso sustentável, sendo o Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) o órgão gestor. A Unidade está
vinculada à Diretoria de Unidades de Uso Sustentável e Populações Tradicionais
(DIUSP15). Uma vez que o ICMBio ainda não possui estruturas regionais ou
representações estaduais, e subordinada à Superintendência do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente (IBAMA) no Estado do Acre (IBAMA, 2004).
A área da Resex Cazumbá Iracema é de aproximadamente 750 mil hectares,
onde residem, atualmente, cerca de 300 famílias. O processo de organização
comunitária na Resex Cazumbá-Iracema se encontra em construção. Nos anos
subseqüentes ao da sua criação surgiram cinco associações que representam
moradores de todas as macro-regiões: Alto Caeté, Médio Caeté, Núcleo do
Cazumbá, Jacareúba-Redenção e Riozinho Cachoeira (AMARAL et al, 2006).
As expedições de reconhecimento do vale do Purus iniciaram a partir da
segunda metade do século XIX. A ocupação da região e a produção da borracha
cresceram até o início do século XX. Neste período, a ocupação dos seringais
alcançava o rio Iaco e seus principais afluentes, os rios Macauã e Caeté. Próximo à
foz do rio Iaco surgiu o município de Sena Madureira, na época uma das cidades
mais desenvolvidas da Amazônia Ocidental. As comunidades que vivem ao longo
dos Rios Caeté e Macauã e igarapés menores são constituídas de ex-seringueiros e
pequenos agricultores descendentes dos primeiros grupos de nordestinos que
ocuparam a Amazônia Ocidental na segunda metade do século XIX (MELO, 2002;
ACRE, 2006).
A comunidade Cazumbá é a mais importante localidade da Resex Cazumbá-
Iracema. O núcleo Cazumbá está localizado no seringal Iracema, às margens do rio
Caeté, Sena Madureira-AC, e possui cerca de 30 famílias (IBAMA, 2004; AMARAL
et al., 2006).
Em 1976, o Instituto Nacional de colonização e Reforma Agrária (INCRA)
desapropriou vários seringais no município de Sena Madureira para a implantação
do Projeto de Colonização Boa Esperança, dentre eles, o seringal Iracema. Até
1990, não houve ampliação dos limites da Localizão geográfica da Resex
Cazumbá-Iracema da área do núcleo do Cazumbá. A criação das primeiras reservas
19
extrativistas pelo governo federal e os constantes conflitos entre agricultores da
comunidade Cazumbá e o INCRA forçaram a comunidade a solicitar, ao IBAMA em
1999 a criação de uma Resex na região. A área pretendida compreendeu onze
seringais localizados na margem dos Rios Cae e Macauã, abrangendo
aproximadamente 300 famílias extrativistas. Em 2002, o Ministério do Meio ambiente
e o Gabinete da Presidência da República, através de decreto, criaram a Reserva
Extrativista Cazumbá- Iracema (BRASIL, 2007).
A área da Resex Cazumbá-Iracema é importante para a proteção da
microbacia do Rio Caeté e para o município de Sena Madureira via injeção de
recursos aplicados em sua implantação e gestão. A Resex também colabora para
evitar o êxodo rural e minimizar a formação de bolsões de pobreza na periferia das
cidades.
No entanto, uma das principais contribuições da Resex Cazumbá-Iracema é
para a conservação da biodiversidade. Ela é considerada uma área de alta
importância para répteis e para a biota aquática, de extrema importância para
conservação de mamíferos e de alta prioridade para conservação da flora segundo o
Seminário Consulta de Macapá, realizado no Amapá em 1999. A área abriga ainda
espécies ameaçadas da fauna e da flora, apresentando potencial para ocorrência de
espécies raras e endêmicas (BENSUSAN, 2006).
As principais atividades econômicas desenvolvidas na Resex Cazumbá-
Iracema se concentram em torno de três atividades sicas: extrativismo, agricultura
e pecuária. O recebimento de diárias, salários, pensões e de recursos de programas
de distribuição de renda do governo federal, como aposentadorias e bolsas,
complementam a renda familiar. A maioria dos produtos usados na alimentação e
combate às doenças são extraídos da floresta pelos moradores. O uso de produtos
e matérias primas de diversos agroambientes manejados pelos agricultores garante
a segurança alimentar (BRASIL, 2007).
O Projeto Cazumbá-Iracema é uma das ações do Programa Biodiversidade
Brasil-Itália (PBBI), que envolve instituições governamentais do Brasil e da Itália,
organizações não governamentais e representantes da Resex Cazumbá-Iracema. O
PBBI procurou implantar ações voltadas a facilitar o acesso ao uso sustentável de
tecnologias apropriadas, incluindo a biotecnologia e outras ferramentas avançadas,
destinadas à conservação e valorização dos recursos biológicos e da
agrobiodiversidade. O Projeto Cazumbá-Iracema teve como objetivo geral melhorar
20
a qualidade de vida e a segurança alimentar da população da Resex Cazumbá-
Iracema. Os planos de ação do Projeto Cazumbá-Iracema/PBBI foram focados nas
potencialidades dos óleos vegetais, plantas medicinais, plantas inseticidas, criação
de abelhas sem ferrão, borracha, castanha, agricultura familiar e pecuária (AMARAL
et al., 2006; BRASIL, 2007; PBBI, 2009).
SANTOS (2007) analisou a participação comunitária no Projeto Cazumbá-
Iracema, do Programa Biodiversidade Brasil-Itália, a partir de indicadores de
governança e identificou evidências de reduzida participação democrática das
lideranças locais comunitárias nos centros decisórios do PBBI.
2.2 USO DA TERRA NA RESEX CAZUMBÁ-IRACEMA
As principais modalidades de uso da terra na Amazônia são: a) agricultura de
derruba e queima, migratória, itinerante, coivara caracterizada pela baixa adoção de
tecnologia; b) agricultura de várzea que é praticada por pequenos agricultores em
áreas de várzeas inundadas numa parte do ano; c) agricultura empresarial ou
“sulista” que é adotada, notadamente, por agricultores emigrados de outras regiões
do país usando grandes extensões de terra; e d) os sistemas agroflorestais que
podem ser definidos como consórcios de espécies anuais e perenes, sendo,
necessariamente, obrigatória a presença de pelo menos uma espécie florestal no
sistema (KITAMURA, 1994).
A agricultura familiar ocupa, atualmente, um espaço importante na economia
das reservas extrativistas, tendo em conta seu significado em termos de suprimento
de produtos alimentares para as comunidades, bem como sua contribuição à renda
monetária mediante a venda do excedente. A combinação de diversos subsistemas
produtivos é uma máxima do modelo de agricultura de base ecológica que é
praticada pelos pequenos agricultores familiares na Amazônia. Os sistemas de
produção agroflorestal, notadamente, empregados em Unidades de Conservação e
Terras Indígenas na Amazônia são compostos de diversos agroambientes como:
quintais, roçados, pastagens, floresta e capoeiras como áreas de repouso. (SILVA,
2005).
21
O manejo, desenho e função de cada um dos agroambientes da área
explorada pelos agricultores familiares pouco variam entre os agricultores
(FERNANDES e NAIR, 1986).
Boa parte da produção é destinada para alimentação e uso na propriedade
(segurança alimentar), outra parte da produção agropecuária e extrativista é
destinada para venda (mercado) (SIVIERO, 2000; ALDRICH et al., 2006).
O agroambiente roçado compreende áreas de plantações adensadas de
mandioca, cana, citros, abacaxi e banana, entre outras. As áreas de roçados variam
entre agricultores. Os agroambientes são derivados da agricultura de derruba e
queima, implicando na abertura de novas áreas destinadas à agricultura usando a
derrubada e a queima de áreas de floresta ou capoeiras velhas (MENDES, 2008).
Nesses agroambientes abertos, são realizados três plantios consecutivos de
arroz, milho e mandioca, conforme as condições de solo e preferência do agricultor.
As plantações são progressivamente enriquecidas com fruteiras como banana,
citros, cana, mamão, abacaxi, abacate, pupunha e outras que permanecem no
sistema após a formação da capoeira (ALDRICH et al., 2006).
Os principais equipamentos utilizados para a implantação dos roçados são:
terçado, usado na broca, roçagem e outros usos; motosserra, usada na derruba; e o
machado, usado na produção de lenha para torração da farinha e também na
derruba (SEIXAS, 2008).
O modelo de desenvolvimento rural predominante no Acre nos últimos anos
tem se caracterizado como prejudicial a dois setores, o meio ambiente enquanto
recurso natural e a agricultura familiar enquanto segmento social. Ainda sem
pressionar de forma significativa os recursos florestais, esta atividade é praticada de
forma ambientalmente inadequada e com acentuadas limitações tecnológicas,
resultando em baixos níveis de produtividade. Aos problemas produtivos, somam-se
os derivados da comercialização, decorrentes das distâncias dos mercados
consumidores e as deficiências de transporte (REGO, 2003).
Roçados que evoluem para pomares são agroambientes oriundos do
enriquecimento com fruteiras, constituídos de culturas perenes cultivadas em antigos
roçados localizados próximos da casa. Os pomares, notadamente, estão situados
entre os quintais e os roçados em produção que são compostos por plantas anuais e
bianuais (SEIXAS, 2008).
22
Os sistemas produtivos adotados pela maioria dos agricultores familiares do
Acre apresentam predominância de culturas alimentares que servem para o
consumo familiar, com destinação do excedente para o mercado. Faz parte da
estratégia da agricultura familiar, quando atuam por iniciativa própria, cultivar e criar
maior diversidade para atender a demanda interna familiar e ter sempre algo para
comercializar, gerando renda. Criando o “sentido da policultura” neste segmento,
embora o retorno financeiro seja pequeno, às vezes, aperdem grande parte da
produção. As culturas são implantadas em áreas variando de 1,0 a 4,0 ha após a
derrubada e queima da mata ou de capoeiras velhas e são “abandonadas” após
duas colheitas. Em média, utiliza-se 1,0 a 4,0 ha a cada ano para o cultivo de
espécies anuais. Uma área medindo cerca de 1,0 ha é destinada de quintal
agroflorestal com múltiplas funções na propriedade (RESENDE e MACHADO, 1988;
SIVIERO, 2000).
Os diversos sistemas agroflorestais (SAFs) como: quintais, roçados,
agrossilvopastoril e capoeiras enriquecidas são considerados altamente
conservadores da diversidade agrícola e cultural em todas as faixas tropicais do
mundo. O manejo, desenho e função das espécies do local pelos agricultores são os
principais aspectos nos estudos da agrobiodiversidade. A biodiversidade é o
principal componente de um sistema agroflorestal (DUBOIS et al., 1996).
Os quintais agroflorestais são considerados como sistemas de produção
adequados aos trópicos, pois contribuem para a conservação da biodiversidade,
evitam erosão e lixiviação e proporcionam segurança alimentar e renda. O
componente arbóreo promove maior diversidade de microambientes, abrigando flora
e fauna no solo do agroecossistema, permitindo maior ocorrência de insetos
polinizadores e organismos benéficos (FERNANDES e NAIR, 1986).
O excedente da produção dos quintais tem permitido o consumo e
comercialização, devido ao grande número de espécies presentes no sistema com
várias utilidades, como: remédio caseiro, alimento, ornamental, atração para caça,
material de construção e outros (MILLER e NAIR, 2006).
O sistema de produção rural na Amazônia, em diversos agroecossistemas
locais, é do tipo familiar e tem como base a produção de alimentos, principalmente,
para o consumo da própria família.
Aproximadamente 60% da economia das famílias da Resex Cazum-
Iracema se baseia na combinação da agricultura familiar e do extrativismo. O
23
recebimento de diárias, salários públicos e benefícios sociais oriundos de programas
sociais são responsáveis por 20% da renda das famílias. A maioria dos produtos
alimentícios de primeira necessidade é produzida ou extraída pelos moradores a
partir da exploração de diversos agroambientes (BRASIL, 2007).
No caso especifico da Resex Cazumbá-Iracema, o uso da terra explorando a
floresta, roçados, capoeiras, pasto e quintal agroflorestal não difere em grandes
proporções, quando comparado ao modelo de uso da terra adotado por agricultores
ribeirinhos de outras unidades de produção familiar do Acre (AMARAL et al., 2006;
SIVIERO et al., 2009).
2.3 AGROBIODIVERSIDADE VEGETAL E ANIMAL
A agrobiodiversidade pode ser definida como a biodiversidade encontrada nos
agroecossistemas que incluem espécies nativas e exóticas. A biodiversidade pode
ser dividida em nível genético (diferenças moleculares), de espécies (níveis
taxonômicos) e de ecossistemas (diversidade alfa, beta e gama). No meio
acadêmico, a quantificação da biota é usada para diversas finalidades, como
estudos de ecologia, conservação e manejo de recursos biológicos, variabilidade
genética de espécies e populações, fluxos gênicos, amplificação e perda de
espécies e melhoramento genético (ODUM, 1993).
Os recursos biológicos se constituem de animais, plantas, micro-organismos
benéficos e controladores de pragas que oferecem serviços ambientais,
desempenhando múltipla funcionalidade nos ambientes agrícolas (THRUPP, 2000).
A agrobiodiversidade é definida como a variedade e a variabilidade das
diferentes espécies e variedades de animais, plantas e micro-organismos que são
utilizados direta ou indiretamente em agricultura (FAO, 2004).
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) define agrobiodiversidade
como um termo amplo que inclui todos os componentes da biodiversidade que têm
relevância para a agricultura e alimentação e todos os componentes da
biodiversidade que constituem os agroecossistemas: as variedades e a variabilidade
de animais, plantas e micro-organismos em nível genético, espécies e ecossistemas,
os quais são necessários para sustentar funções chaves dos agroecossistemas,
suas estruturas e processos (STELLA et al., 2006).
24
Boef et al. (2007) relatam que os termos utilizados para definir biodiversidade
foram desenvolvidos no campo da ecologia. No entanto, são usados para descrever
a diversidade na agricultura, ou seja, a agrobiodiversidade. A agrobiodiversidade
compreende a diversidade de sistemas de produção ou diversidade genética na
agricultura, refere-se às variedades de espécies cultivadas, animais e micro-
organismos.
Na agrobiodiversidade, procura-se analisar a diversidade de sistemas de
produção ou de agroecossistemas; diversidade de espécies cultivadas, animais,
microbiota, manejo conservação e notadamente, a diversidade varietal e outras
diversidades genéticas (FAO, 2004).
A agrobiodiversidade pode ser caracterizada por uma população ou por um
grupo de variedades dentro de uma espécie; correspondendo a uma população em
um determinado cultivo, como exemplos; a) Pirarucu, uma variedade local de
mandioca de Sena Madureira-AC; e b) Cultivos existentes numa unidade de
produção familiar.
A biodiversidade agrícola resulta da interação entre os recursos genéticos, o
ambiente e as práticas utilizadas pelas comunidades tradicionais e indígenas, ou
qualquer agricultor resultando em diferentes formas de utilização dos recursos
naturais para a produção. O conhecimento local e a cultura podem ser considerados
partes integrantes da agrobiodiversidade e desta forma, as atividades humanas na
agricultura moldam e conservam a biodiversidade. A manutenção in loco da
diversidade genética na agricultura torna-se importante para a subsistência de
populações tradicionais.
No meio acadêmico, as pesquisas com enfoque nas variedades locais e na
conservação dos recursos biológicos em seus ambientes de cultivo buscam
entender, por meio de registros sobre o conhecimento associado às espécies e
variedades agrícolas, os fundamentos desta diversidade biológica em diferentes
contextos sociais e culturais (BROWN, 2000; CLEMENT et al., 2006).
A diversidade de espécies promove a formação de nichos ecológicos
diversificados importantes no desenvolvimento e na reprodução de espécies e
variedades agrícolas. A funcionalidade ecológica do ambiente agrícola pela
diversificação da composição florística torna o ambiente favorável aos insetos
polinizadores e aos microrganismos no solo como melhoradores da disponibilidade
de nutrientes. A utilização de espécies restauradoras de solo, visando o
25
enriquecimento de capoeiras com espécies diversas, é outra estratégia dentro dos
sistemas agroflorestais recomendada para as regiões úmidas para que o período de
pousio seja reduzido (FEARNSIDE, 1999).
A riqueza em biodiversidade e seu manejo adequado são considerados
importantes aliados dos agricultores dos trópicos úmidos. Os agricultores podem se
valer do patrimônio biológico que detêm e, desta forma, reivindicar dividendos
financeiros ou subsídios sobre a conservação de espécies da floresta e de espécies
agrícolas (agrobiodiversidade). Atualmente, desenvolvem-se métodos para testar
ferramentas que liguem as perspectivas de vendedores e de compradores,
considerando a biodiversidade como um serviço ambiental (FEARNSIDE, 1999;
BENSUSAN, 2006; HAAL, 2008).
Na Amazônia, ainda o existem iniciativas de aplicação do método de
quantificação da biodiversidade para conservação e de outros serviços ambientais.
No norte da Tailândia, pesquisadores realizaram com muito sucesso um trabalho
sobre a valoração ambiental na província de Jambi, Sumatra Central e com
seringueiros na Indonésia (KUNCORO et al., 2006).
A mensuração da biodiversidade pode ser realizada através de listas de
espécies que expressa a riqueza biológica vegetal e animal local. A diversidade de
uma comunidade (ou ambiente) está relacionada com a riqueza, isto é, o número de
espécies de uma comunidade, e com a abundância, que representa a distribuição do
número de indivíduos por espécie.
A peculiaridade de cada trabalho envolvendo análises de dados de
biodiversidade é que define o melhor método para se avaliar a riqueza biológica de
uma espécie ou local, permitindo comparações entre e dentro de espécies e suas
relações com a ocorrência espacial e temporal. Para cada conjunto de dados
biológicos coletados, haverá sempre um modelo mais apropriado para mensuração
da biodiversidade (SIMPSON, 1949; MINGOTI, 2005).
A erosão genética da biodiversidade agrícola é afetada pela perda da
cobertura vegetal, atrelada ao crescimento populacional e maior competição por
recursos naturais. As perdas de biodiversidade na agricultura estão diretamente
relacionadas com as ações dos seres humanos, apesar destes também poderem
atuar na manutenção da agrobiodiversidade.
A perda da diversidade na agricultura ocorre quando os agroecossistemas
sofrem ação antrópica danosa e algumas espécies podem ser dizimadas. O
26
desmatamento de extensas áreas de cobertura vegetal na Amazônia tem provocado
perdas imensuráveis de recursos genéticos da agrobiodiversidade. O processo mais
expressivo da erosão genética na agricultura se pela substituição de
etnovariedades por variedades comerciais “modernas” de alto rendimento e
exigentes em insumos (FAO, 2004; SILVA, 2005).
O conhecimento destas interfaces da agrobiodiversidade pode revelar o grau
de harmonia entre homem-natureza e, ainda, indicar caminhos para conservação e
manejo de espécies. No futuro próximo, em trabalhos de valoração da
biodiversidade, a diversidade agrícola manejada será a ferramenta essencial para
que pessoas que vivem em unidades de conservação possam ser remuneradas em
dinheiro pelo serviço ambiental que prestam a toda humanidade (FEARNSIDE,
1999; EMPERAIRE, 2005).
A recuperação e o intercâmbio por parte dos agricultores e técnicos
envolvidos com o conhecimento de populações tradicionais (extrativistas, caboclos,
ribeirinhos) e de grupos étnicos indígenas das práticas agroecológicas e florestais
têm permitido evidenciar avanços significativos no campo em termos de tolerância a
riscos fitossanitários, eficiência produtiva de misturas simbióticas de culturas,
reciclagem de nutrientes e resíduos agrícolas, conservação do solo, água e da
agrobiodiversidade potencializando o uso dos recursos genéticos locais (CUNHA e
ALMEIDA, 2002).
Em diversas comunidades no Acre, se observa a ocorrência de sistemas de
consórcio de espécies, mistura varietal, culturas solteiras em pequenas parcelas;
sistemas de criação de grupos de animais; sistemas de processamento dos produtos
agrícolas adaptados e ocorrência de atividades complementares como extrativismo,
prestação de serviços ambientais e a combinação dos sistemas de cultura com os
de criação (SIVIERO, 2000; PANTOJA FRANCO et al., 2002; MENDES, 2008;
SEIXAS, 2008).
No Acre, os sistemas agroflorestais foram estudados quanto à riqueza em
biodiversidade de espécies vegetais em diversos municípios. O índice de
diversidade de espécies foi maior para sistemas agroflorestais quando comparados
com índices de capoeiras abandonadas com a mesma idade e histórico de
antropização (RODRIGUES, 2005).
As espécies agrícolas nativas e exóticas, anuais e perenes, podem ser
encontradas em agroambientes roçado, sistemas agroflorestais, quintais, pomares
27
caseiros e cultivos mistos adotados por agricultores da Amazônia. No Acre,
verificou-se a ocorrência de até 187 espécies vegetais conservadas por agricultores
ribeirinhos nas cercanias de Rio Branco, gerando altos valores de índices de
agrobiodiversidade (MENDES, 2008).
No caso específico da agrobiodiversidade animal em unidades de
conservação, a caça e a pesca são atividades necessárias à sobrevivência e
fortemente presentes na cultura dos moradores da Resex Cazumbá-Iracema. O
mesmo fato ocorre nas Reservas Extrativistas Chico Mendes (CNPT, 1997) e no Alto
Juruá (CUNHA e ALMEIDA, 2002).
Na Resex Cazumbá-Iracema, ainda não estudos com ênfase na
distribuição (locais de ocorrência) e abundância da fauna. A compilação das
informações da literatura, dos registros de campo realizados em 1998, 2003 a 2006,
revelou a ocorrência de uma fauna diversificada com 250 espécies animais
representadas por mamíferos, aves, répteis e peixes, distribuídos em 96 famílias e
37 ordens (BRASIL, 2007).
Os produtos do extrativismo animal são de grande importância social e
econômica para os moradores, pois seu consumo evita um gasto extra expressivo
para a suplementação da dieta (AMARAL et al., 2006).
As caças mais apreciadas pelos moradores da Resex Cazumbá-Iracema são:
veado (Mazama spp.), queixada (Tayassu pecari), porquinho (Pecari tajacu), anta
(Tapirus terrestris), paca (Agouti paca) e jabuti (Geochelone denticulata). Recente
análise das ações de proteção realizadas na Resex Cazumbá-Iracema por equipes
de fiscalização do IBAMA revelou que a caça ilegal para comercialização foi a
principal infração registrada (82%), seguida por desmatamento (9%). A maioria das
infrações ocorreram na área da Resex Cazumbá-Iracema e foram cometidas por
moradores de áreas urbanas (45%) (BRASIL, 2007).
A escassez de animais silvestres pode ainda impulsionar a abertura de novas
áreas de floresta para possibilitar a ampliação da criação de animais domésticos
como bois, porcos, galinhas e outros, em razão da necessidade de complementação
da dieta protéica pela comunidade.
Os animais silvestres podem causar danos nos roçados de macaxeira,
pomares e em animais de criação. As onças (Panthera onça e Puma concolor), gato-
maracajá (Leopardus pardalis) e gaviões foram os animais mais mencionados
por atacarem animais domésticos de pequeno porte como galinhas e aves
28
menores. A paca (Agouti paca), queixada (Tayassu pecari), porquinho (Pecari
tajacu), cutia (Dasyprocta sp.), ratos, abelhas e insetos (besouros e lagartas)
foram citados como causadores de danos e prejuízos às culturas de mandioca,
arroz, feijão, milho e espécies frutíferas (AMARAL et al., 2006).
A maioria dos moradores da Resex pescam regularmente e a pescaria é
praticada o ano todo, mais freqüentemente no período de estiagem, é realizada,
notadamente, com anzol, tarrafa e malhadeiras, em rios e igarapés. Os moradores
relataram 33 espécies de peixes capturados na Resex Cazumbá-Iracema, sendo os
principais o mandi, piau e curimatã. Até o momento, não espécies de peixes da
Resex Cazumbá-Iracema relacionadas na lista de espécies de peixes ameaçadas de
extinção no Brasil (IBAMA, 2004).
A exploração de produtos florestais, como a coleta de frutos e sementes que
servem de alimento aos animais, visando a geração de renda para os extrativistas,
por exemplo, pode comprometer a manutenção de algumas populações animais e,
conseqüentemente, da própria floresta, dado que muitas espécies atuam como
polinizadoras e dispersoras de sementes, ajudando a manter a estrutura e
diversidade desses ambientes (WRIGHT, 2002).
A produção animal de criação é composta basicamente pelo rebanho bovino
de corte e leite e avícola e suínos. A produção animal é uma das principais
atividades econômicas do setor primário do Acre. Em 2002, as atividades de
pecuária bovina de corte e leite, respectivamente, foram responsáveis por 71% e
16% do valor bruto da produção animal. A suinocultura, a avicultura e outras
criações animais representam 7%, 4% e 2% do valor bruto da produção animal
respectivamente (ACRE, 2006).
Em 2002, computava-se na Resex um plantel em torno de 1.306 cabeças de
gado, dando um salto no ano seguinte para 1.678 cabeças, num crescimento de
aproximadamente 29% (IBAMA, 2004).
A pecuária bovina possui papel secundário na economia da Resex Cazumbá-
Iracema. Caracteriza-se como garantia de renda ou alimento para casos
emergenciais. Em 2003, 55% das famílias criavam gado, resultando na conversão
de 580 ha de floresta em pastagem, representando cerca de 0,08% da unidade. No
entanto, dados apontam que a pecuária é uma atividade em franca expansão com
tendência a se transformar na principal fonte de renda na Resex, como acontece
com alguns moradores. (AMARAL et al., 2006).
29
A agrobiodiversidade tem funções, interfaces e sentidos distintos em qualquer
propriedade rural na Amazônia, notadamente, naquelas situadas em unidades de
conservação. Os principais aspectos da agrobiodiversidade estão relacionados com:
segurança alimentar, composição da renda, conservação de recursos genéticos,
agroecologia, preservação da diversidade cultural associada às populações locais
compostas por ribeirinhos e povos indígenas (etnoagrobiodiversidade) (MACHADO
et al., 2008).
2.4 ETNOVARIEDADES DE MANDIOCA
Brown (1978) define etnovariedades, como populações ecológica ou
geograficamente distintas que se diferenciam em sua composição genética interna e
entre outras populações, tendo sido resultantes da seleção local realizadas pelos
agricultores-melhoristas.
As etnovariedades são cultivadas por pequenos agricultores, que não foram
submetidas a processo convencional de melhoramento, apresentando diversidade
genética em relação a outras populações pela impossibilidade de fluxo gênico
quando cultivado em diferentes locais, constituindo-se num reservatório de genes, o
qual pode ser utilizado para formar novas variedades melhoradas ou até mesmo
transmitir características desejáveis as variedades comerciais (VALLE, 1990).
A variabilidade genética vegetal mantida on farm (quintais, roçados e
sistemas agroflorestais) e in situ (floresta e capoeiras) associada ao processo de
seleção contínua realizada pelos agricultores locais no decorrer da história da
agricultura, promoveu a domesticação de algumas espécies alimentares
importantes, como mandioca (Manihot esculenta), batata doce (Ipomea batatas),
taioba (Xanthosoma sp.), pupunha (Bactris gasipaes) e amendoim (Arachis sp.)
(CLEMENT et al., 2006)
A mandioca, Manihot esculenta Crantz, é uma planta dicotiledônea
pertencente à família Euphorbiaceae, sendo a mais antiga planta cultivada no Brasil.
A família Euphorbiaceae é composta por mais de 1700 espécies, abriga plantas
herbáceas importantes economicamente, como a mamona (Ricinus comunis), e
lenhosas, como a seringueira (Hevea spp.), e, ainda, espécies de valor medicinal e
ornamental. Uma característica comum da família é a produção de uma secreção
leitosa, o látex, quando feridas (CEBALLOS, 2002).
30
O gênero Manihot é um taxon americano com o centro de origem e
domesticação ainda em discussão (CEBALLOS, 2002). ALLEM (1994) propõe três
subspécies para M. esculenta: M. esculenta subsp. esculenta, M. flavellifolia subsp.
flavellifolia e M. peruviana subsp. peruviana, sendo que a hibridação das duas
últimas teria originado a M. esculenta.
A domesticação de M. esculenta pode ter sido feita pelo homem a partir de
alguns híbridos naturais interespecíficos que o mais abundantes nos centros de
diversidade genética. A facilidade de obtenção de bridos entre as variedades e as
espécies silvestres corrobora a hipótese da origem da espécie (JENNINGS, 1959).
A cultura da mandioca apresenta uma ampla diversidade genética
concentrada, principalmente, na América Latina. Trabalhos realizados por OLSEN e
SCHAAL (1999) confirmam os estudos de ALLEM (1994) de que o centro de origem
da mandioca é a região sudoeste da Amazônia, incluindo Acre, Rondônia e Bolívia.
A mandioca é extremamente diversificada e rica em numerosos
tipos/cultivares/variedades na Amazônia, o representa um incontestável reservatório
genético para o mundo. O tema é transversal e requer, para seu entendimento,
estudos agronômicos, etnológicos e outras áreas das ciências sociais como
antropologia, sociologia e das relações homem-natureza.
Estudos de Emperaire et al. (2003) confirmam a distribuição de grupos
distintos de Manihot, com alta variabilidade genética, sendo conservadas e
manejadas por agricultores familiares na Amazônia.
Rogers (1972) relata que, em roçados antigos de mandioca “abandonados,
são encontradas numerosas espécies silvestres que podem cruzar-se e originar
novas raças colonizadoras.
A diversidade genética da espécie Manihot sp. se deu devido à seleção
natural ocorrida durante o processo de evolução e na pré e pós-domesticação da
espécie, conservando genes de interesses agronômico e adaptados aos
agroecossistemas. Nesse contexto, as populações tradicionais desempenham papel
relevante na conservação da agrobiodiversidade, por associarem demandas sociais
com o uso sustentável dos ecossistemas e recursos genéticos (ALLEM, 1994;
EMPERAIRE, 2005; MACHADO et al., 2008).
Peroni e Martins (2004) reportaram aspectos da conservação genética de M.
esculenta cultivada por populações humanas locais em sistemas agrícolas e
concluíram que as trocas de variedades criam um efeito tampão à erosão genética
31
varietal local e que o cultivo multivarietal e o comportamento alógamo da espécie
favorecem cruzamentos em nível de roça, como também, as perdas de diversidade
varietal e do conhecimento tradicional associados ao cultivo e ao uso da diversidade
de mandioca tendem a ser irreversíveis, embora o estoque de diversidade genética
conservada pelos agricultores seja grande. Estes fatos tornam a região Amazônica
prioritária para a conservação de recursos genéticos cultivados on farm,
especialmente no caso da mandioca.
Os principais detentores de possíveis materiais silvestres e etnovariedades de
mandioca no Acre são os índios e ribeirinhos amazônicos distribuídos nas diversas
terras Indígenas e os agricultores situados em terra firme e nas barrancas dos rios,
denominados de ribeirinhos amazônicos (EMPERAIRE, 2005).
O modelo de dinâmica evolutiva da mandioca, proposto por Cury (1993),
indica que o roçado é a unidade básica evolutiva onde atuam os processos de
geração, amplificação e manutenção da variabilidade genética. Portanto, a
variabilidade genética está concentrada dentro do roçado, confirmando as
pressuposições existentes no modelo de dinâmica evolutiva para a espécie.
Os termos Crioullo, landrace, folk variety, wild germoplasm ou primitive
variety, são definidos para populações de plantas ecológica ou geograficamente
distintas originadas a partir da seleção local realizada por agricultores, ou seja,
espécies conservadas no tempo por populações tradicionais (SILVA et al., 2001).
Visando maior uniformização terminológica, o pesquisador Paulo Sodero
Martins, ex-professor do Departamento de Genética da Escola Superior de
Agricultura Luíz de Queiróz, da Universidade de São Paulo, sugeriu o termo
etnovariedade. O termo etnovariedade então compreende espécies cultivadas por
agricultores (populações locais) em ambientes manejados historicamente onde a
diversidade biológica interage com diversidade cultural (SILVA et al., 2001).
As etnovariedades são vistas pelos melhoristas vegetais como um rico
reservatório genético, podendo ser útil no melhoramento genético, na transferência
de caracteres genéticos de interesse agronômico para as variedades comerciais
(PEREIRA, 2008).
A nomenclatura popular de uma variedade de mandioca é variada, o que gera
enorme dificuldade na separação ou agrupamento dos tipos/cultivares. O nome
comum da mandioca é largamente difundido. No entanto, regionalmente, assume
32
diversas denominações, como aipim e macaxeira, este último mais comum na
Amazônia.
Uma variedade local de mesmo nome não raro assume características
morfológicas próprias como cor do caule e do pecíolo ou a forma das folhas que
muitas vezes não são considerados pelos agricultores. Desta forma, em cada
roçado na Amazônia, pode ser encontrada uma diversidade considerável de
variedades da mandioca. No entanto é possível definir com exatidão as
características específicas ou comuns de uma variedade ou, ainda, o número exato
de variedades utilizadas num mesmo local.
As variedades de mandioca mais prevalentes entre os agricultores na região
de Cruzeiro do Sul, por ordem decrescente de importância, são: Caboquinha,
Branquinha, Amarela, Chico Anjo, Mansa e Brava, Curumim e Mulatinha. A
variedade caboquinha é do tipo brava, sendo a mais usada pelos agricultores na
fabricação da farinha (SIVIERO et al., 2007).
Dentre as diversas variedades (roças) de mandioca na região da Reserva
Extrativista do Alto Juruá, estão: Mulatinha-a*, Milagrosa-a, Bambu, Mata-gato,
Cumaru, Olho verde, Roça-preta, Surubim-a, Amarelinha, Campa, Ararão-a, Santa
Rosa, Fortaleza, Juriti, Amarelão e Curuméia. As variedades assinaladas com a
letra (a) foram classificadas pelos agricultores como bravas (amargas). O estudo
incluiu também variedades usadas em aldeias indígenas da região (PANTOJA
FRANCO et al., 2002).
Segundo Seixas (2008), as principais variedades de mandioca cultivadas no
Juruá por ordem decrescente de uso são: Caboquinha, Rasgadinha-Amarela, Maria-
faz-ruma, Curumim-roxa, Santa-maria, Chico-anjo, Rasgadinha-Branca, Roxa,
Amarelona, Curimem-doida, Canela-de-nambu, Ligeirinha, Branquinha-do-talo-
verde, Branquinha-do-talo-vermelho, Curumim-branca, Fortaleza, Arara e Mulatinha.
Nas microrregiões do Baixo e Alto Acre, predominam as variedade Paxiúba,
Araçá, Chica-de-coca, Amarela, Manteguinha, Pão, Panati e Caipora (RITZINGER,
1991).
Em 1998, a Embrapa Acre, após vários testes, recomendou duas variedades
de mandioca para farinha, denominadas Panati e Araçá, indicadas para o cultivo na
microrregião do Alto Purus (MOURA e CUNHA, 1998).
A variedade Araçá, recomendada para farinha, foi prontamente substituída
por agricultores localizados no Rio Yaco, à jusante do município de Sena Madureira,
33
onde a extensão rural e a assistência técnica é mais atuante. Em 2005, houve a
recomendação das variedades Caipora e Colonial, indicadas para consumo de mesa
(SIVIERO et al., 2005).
ocorrência, entre os povos indígenas, de variedades de macaxeira com
polpa amarela e de rápido cozimento, significativas na conservação de material
genético de macaxeiras biofortificantes nas cabeceiras dos rios do Acre e Amazônia
que são um verdadeiro patrimônio genético local (MARTINS, 1994; EMPERAIRE et
al., 2003).
As ações na cultura da mandioca no projeto Cazumbá Iracema/PBBI foram
executadas com o objetivo de melhorar a eficiência e agregação de valor no
processo produtivo e de transformação da mandioca. As ações propostas envolviam
um conjunto de atividades orientadas à seleção de variedades mais produtivas, à
integração da cultura nos sistemas agroflorestais e à construção de unidades de
produção comunitária, garantindo condições apropriadas de eficiência, higiene e
segurança (BRASIL, 2007; SIVIERO et al., 2009).
A diversidade de variedades de mandioca utilizadas pelos agricultores no
Acre é elevada. Nota-se a ocorrência de um processo não intencional de
conservação e expansão do patrimônio genético da espécie Manihot esculenta na
região. A ampliação da variabilidade genética ocorre através de diversos
mecanismos, tais como, através do cultivo de mais de uma variedade na mesma
área de plantio; hábito local de realizar trocas de germoplasma na Resex Cazumbá-
Iracema, revelado pelos agricultores que também possuem alto grau de parentesco,
o que facilita o intercâmbio de material genético; a manutenção de roçados antigos
com a finalidade específica de coleta de manivas-semente, permitindo ao agricultor
acessar híbridos naturais do banco de sementes em roçados velhos e
“abandonados” (SIVIERO et al., 2009).
Os principais processos de amplificação da variabilidade genética de Manihot
spp. que ocorrem na região da Resex Cazumbá-Iracema são através da ocorrência
de espécies silvestres convivendo com espécies cultivadas de mandioca (SIVIERO
et al., 2008; OLSEN e SCHAAL, 1999).
34
2.5 A CULTURA DA MANDIOCA
A mandioca (Manihot esculenta) é uma planta perene, que pode crescer
indefinidamente, alternando períodos de crescimento vegetativo, armazenando
carboidratos nas raízes, tendo períodos de quase dormência, provocada por
condições climáticas severas de baixa temperatura e falta de água. A cultura da
mandioca é capaz de alcançar produções satisfatórias mesmo sob condições
adversas de solo e clima, o que tem contribuído para o aumento da sua área
plantada em solos marginalizados, geralmente ácidos e com baixo teor de
nutrientes, deficiência hídrica e inaptos para outros cultivos (ALVES, 2006).
A mandioca apresenta ampla adaptabilidade a diversos ecossistemas, mas,
não tolera geadas, exige boa luminosidade e apresenta bom desenvolvimento em
temperaturas entre 20 e 24
o
C, e precipitação média variando entre 500 e 3.000 mm
anuais (SOUZA et al., 2006).
A principal destinação da mandioca produzida é o uso doméstico como
farinha, fabricação industrial de amido e produtos derivados como álcool e nutrição
animal. Estima-se que mais de 600 produtos derivados das raízes podem ser
elaborados pela indústria do amido. O potencial desta planta encontra-se ainda
praticamente inexplorado, que toda a tecnologia do processamento continua se
preocupando basicamente em produzir a farinha (CEREDA e VILPOUX, 2003).
A cultura da mandioca é importante em termos sociais e econômicos para o
estado do Acre, sendo tipicamente de exploração familiar e envolvendo
aproximadamente 20 mil pequenos agricultores. Ocupa uma área estimada em
18.500 ha e a produtividade é em torno de 18,5 t/ha, destacando-se como o principal
produto agrícola de valor econômico do Acre e respondendo por 48% do valor bruto
da produção agrícola acreana (IBGE, 2009).
O Acre produz, anualmente, cerca de 750.000 sacas de farinha de mandioca,
exportando para Goiânia e demais estados da Amazônia cerca de 200.000 sacas de
farinha. A produção de mandioca do Acre gira em torno de 455.581 t/ano. O
município de Sena Madureira responde por 12,7 % do total de mandioca produzida
no Estado com, produtividade de 18,63 t/ha, ainda muito aquém do potencial
produtivo da espécie (IBGE, 2009).
No estado do Acre, a cultura da mandioca apresenta expressiva importância
econômica e social. A mandioca é a base energética da alimentação de boa parte da
35
população e tem grande participação na renda familiar de milhares de pequenos
produtores locais.
No entanto, outras formas de consumo, como a tapioca, tucupi, caiçuma
(cerveja indígena) e a mandioca para mesa, mais conhecida como macaxeira ou
mandioca mansa, são comuns entre os habitantes do estado. A mandioca é o
principal produto agrícola do Acre em termos de geração de renda e segurança
alimentar, sendo tipicamente de exploração familiar.
Mendonça et al. (2003) relataram que vários são os fatores que afetam a
produtividade da mandioca, como o uso de genótipos pouco produtivos e com baixa
porcentagem de amido, reduzida população de plantas por área, tratos culturais
inadequados, uso de diversas variedades numa mesma área e problemas
fitossanitários.
O principal problema fitossanitário da mandioca é o controle do mato. O
principal problema de pragas é o ataque da lagarta do mandarová (Erynis ello)
restrito ao vale do rio Juruá. A principal doença da mandioca no Acre e da Amazônia
é a podridão mole de raiz, causada pelo fungo Phytophthora drechsleri. A maioria
das variedades de mandioca cultivadas no Acre é classificada como resistente e
moderadamente resistente ao patógeno (SIVIERO et al., 1996).
As lavouras de mandioca na Resex Cazumbá-Iracema são implantadas em
áreas de capoeiras de até 1,0 há, após a derrubada e queima da floresta, voltando a
ser utilizadas cerca de cinco anos após duas colheitas. As áreas de cultivo da
mandioca estão localizadas em terra firme, sendo cultivada, geralmente, solteira, a
denominada lavoura branca, e, eventualmente, é consorciada com espécies anuais
como o milho, feijão, abacaxi e outras (SIVIERO et al., 2007).
Apesar da disponibilidade de uma ampla diversidade genética de variedades
locais de mandioca, poucas variedades apresentam uma combinação razoável de
resistência a todos os estresses que afetam a cultura. A introdução de novos
genótipos produtivos e adaptados às condições do Acre pode ocasionar aumento da
produtividade, do rendimento, da quantidade de farinha produzida pelos agricultores
e, consequentemente, aumento na renda familiar.
As variedades locais de mandioca sofrem seleção realizada pelo agricultor
seguindo vários critérios não estritamente agronômicos. Diversos aspectos sociais,
com repercussão direta na adoção de variedade, estão envolvidos na escolha dos
genótipos pelos agricultores locais. As variedades de maior prevalência em área
36
plantada na Resex Cazumbá-Iracema são de variedades com alto teor de ácido
cianídrico (HCN), denominadas “bravas”, destinadas à produção de farinha,
destacando-se a cultivar Pirarucu. São cultivadas, ainda, em menor área, cultivares
com baixo teor de HCN denominadas mansas ou “macaxeira” (SIVIERO et al.,
2007).
As variedades de macaxeira indicadas para o Acre, até agora, são a Colonial
e a Caipora, sendo a segunda pertencente ao grupo das mandiocas tipo
“Manteguinha”, com polpa de cor amarela e cozimento rápido. O uso das
macaxeiras de mesa é estritamente para consumo na propriedade, sendo o
excedente destinado para fabricação de farinha ou goma (SIVIERO et al., 2005).
Esta pesquisa tem como objetivo principal identificar os elementos
responsáveis pela conservação da agrobiodiversidade entre as famílias de
agricultores Resex Cazumbá-Iracema.
Como objetivos específicos o estudo se propõe a: analisar a diversidade de
agroambientes, espécies vegetais e animais manejadas pelos agricultores da Resex
Cazumbá-Iracema e b: caracterizar as etnovariedades de mandioca utilizadas pelos
agricultores da Resex Cazumbá Iracema incluindo aspectos botânicos, agronômicos
e do manejo varietal adotado pelos agricultores.
37
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS GERAIS DA RESEX CAZUMBÁ-IRACEMA
O estudo foi realizado na Resex Cazumbá-Iracema (Figura 1). A vegetação é
composta por formações de floresta densa e floresta aberta (Figura 3). Apenas 4%
da cobertura natural foi antropizada. A unidade de conservação de uso indireto
compreende 750.000 ha. Na área, habitam cerca de 300 famílias ribeirinhas (Figura
2), localizadas ao longo dos Rios Caeté e Macauã e igarapés (BRASIL, 2007;
AMARAL et al., 2006).
FIGURA 1 - Localizão geogfica da Resex Cazum-Iracema.
FONTE: Brasil (2007).
38
FIGURA 2 - Ocupação humana na Resex Cazumbá-Iracema.
FONTE: BRASIL (2007).
A Resex Cazumbá-Iracema situa-se no estado do Acre, Amazônia Ocidental,
bacia do rio Purus, nos municípios de Sena Madureira (94% da área total) e Manuel
Urbano (6%), abrangendo uma área de 750.794,70 hectares, entre as coordenadas
09º 01’ 10º 12’ S e 68º 50’ 70º 11’ W (Figura 1). A Resex Cazumbá-Iracema
possui 589,05 km de perímetro. Esta área integra o Corredor Oeste da Amazônia,
um dos sete grandes corredores ecológicos propostos para o Brasil (BRASIL,
2007).
O acesso se a partir do município de Sena Madureira pelos rios Caeté e
Macauã na época chuvosa/inverno. No seu interior, diversos igarapés menores dão
acesso às moradias mais distantes, como o Santo Antônio, Canamary e Maloca, no
rio Caee igarapé Riozinho, no rio Macauã. Na época de estiagem, as principais
vias de acesso se dão pelo Ramal do 16, com 30 km de extensão, que liga a BR-364
à localidade Cazumbá, e pelo Ramal do Narcélio, com 126 km de extensão,
chegando até o seringal Cachoeira, atendendo apenas parte das famílias da Resex
Cazumbá-Iracema.
O clima da região é classificado como tropical chuvoso (tipo Am, segundo
classificação de Köpen). O volume anual de chuvas atinge de 2.000 a 2.500 mm.
Ocorrem na região duas estações bem definidas: período chuvoso (inverno), que vai
39
de novembro a março, e período de seca (verão), que vai de maio a setembro. As
temperaturas reinantes na região são uniformes, apresentando média anual de 24,5
ºC e máxima em torno de 32 ºC. A umidade relativa do ar permanece elevada o ano
todo, com médias de 80 à 90% (CPTEC, 2007).
À margem dos rios e grandes igarapés, ocorrem planícies e terraços aluviais,
que são áreas aplainadas, resultantes de materiais acumulados trazidos pelas
enchentes. Estas áreas estão sujeitas a inundação periódica ou permanente e
podem incluir meandros abandonados pelos rios. (AMARAL et al., 2006).
A vegetação mais abundante na Resex Cazumbá-Iracema é a Floresta
Ombrófila Aberta com Palmeiras, com ocorrência em menor escala de Floresta
Ombrófila Aberta com Bambu e Floresta Ombrófila Aberta Aluvial com Palmeiras,
sendo esta encontrada às margens do rio Caeté (ACRE, 2006) (Figura 3).
FIGURA 3 - Aspectos da cobertura vegetal da Resex Cazumbá-Iracema e áreas
antropizadas do município de Sena Madureira, AC.
FONTE: BRASIL (2007).
Os solos da Resex Cazumbá-Iracema são quimicamente pobres e mal
drenados, com alguns trechos férteis. Quatro classes de solo foram descritos:
40
a) Argissolo eutrófico: são os solos predominantes na região. Apresentam
profundidade entre média e rasa e fertilidade considerável, boa suscetibilidade à
erosão e drenagem moderada a boa; b) Alissolos hipocrômicos: solos constituídos
por partículas minerais, de profundidade mediana (1,5 a 2,0 m) e bem drenados e
ácidos; c) Cambissolos eutróficos: solos de profundidade média, ácidos ou
moderadamente ácidos, e devido à sua fertilidade natural, são potencialmente
interessantes para a agricultura, havendo restrições apenas em função do relevo e
da drenagem; d) Gleissolos háplicos: apresentam fertilidade alta ao longo das
planícies e dos terraços fluviais, mas com sérias limitações devido à presença de
lençol freático a pouca profundidade. A aeração é inadequada, o que leva ao
consumo rápido do oxigênio do solo por micro-organismos e plantas, inibindo o
crescimento das raízes. Esse tipo de solo geralmente requer drenagem e aplicação
de corretivos e fertilizantes para uso agrícola (ACRE, 2006).
3.2 ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE
Os estudos de agrobiodiversidade foram realizados por meio de entrevistas
junto a 40 famílias de moradores. Os agricultores/extrativistas familiares
entrevistados são ribeirinhos do médio Rio Caeté.
Um questionário estruturado foi usado para obtenção de dados primários. No
caso de dados secundários, foi realizado um levantamento de informações sociais e
econômicas básicas; dados dos sistemas de produção agropecuários; extrativismo
vegetal e animal adotado; espécies mais exploradas nos diversos agroambientes;
comercialização e os principais problemas agropecuários locais. Ao todo, foram
entrevistados 40 agricultores, localizados nas comunidades Cazumbá e Cuidado,
entre os anos de 2007 e 2008, representando aproximadamente 13% do número
total de famílias.
No estudo da estrutura e função dos agroambientes, foram pesquisados
aspectos de manejo da agrobiodiversidade local considerando a floresta
(extrativismo) e os diversos agroambientes (agricultura), estrutura e funções
desempenhadas na área explorada pela família. Na parte animal, foram pesquisados
apenas os animais introduzidos e domesticados mantidos nas redondezas das
casas e os animais de grande porte alocados em áreas de pastagens.
41
O objetivo central do diagnóstico é a descrição do agroecossistema e as
relações sociais e culturais da comunidade nele inserida. Para tanto, foram
levantadas informações referentes às atividades desenvolvidas, distribuição do
trabalho, participação dos produtores na elaboração dos SAF´s e nos processos
decisórios, histórico e tamanho das áreas, espécies introduzidas nos SAF´s, formas
de implantação, estado nutricional e fitossanitário das espécies, manejo adotado,
apoio financeiro recebido, assistência técnica, principais dificuldades encontradas,
organização comunitária, beneficiamento e comercialização de produtos, entre
outras. As informações foram levantadas utilizando a metodologia da sondagem,
através de entrevistas semi-estruturadas. As informações obtidas junto aos
produtores foram sistematizadas após a cada dia de trabalho e devolvidas aos
produtores para análises e correção.
Estas atividades foram realizadas com a participação de membros da
comunidade em todas as etapas, através de reuniões e/ou visitas individuais em
parceria com a equipe de técnicos do projeto Arboreto do Parque Zoobotânico da
Universidade Federal do Acre (PZ-UFAC) e da Secretaria Estadual de Assistência
Técnica e Produção Familiar e Extensão Agroflorestal (SEAPROF).
3.3 ESTUDO SOBRE AS ETNOVARIEDADE DE MANDIOCA
A pesquisa com a agrobiodiversidade envolvendo o estudo das variedades de
mandioca utilizadas na Resex Cazumbá-Iracema foi realizada através de entrevistas
realizadas junto a 24 (vinte e quatro) agricultores ribeirinhos dos rios Caeté e
Macauã, afluentes do rio Yaco, situados a montante de Sena Madureira.
Os dados foram obtidos durante cinco expedições científicas realizadas entre
novembro de 2006 e março de 2009. O trabalho foi desenvolvido com recursos do
Projeto Cazumbá-Iracema do Programa Biodiversidade Brasil-Itália (PBBI).
Diversos descritores agronômicos e botânicos das etnovariedades foram
levantados com a ajuda e consentimento dos agricultores que concordaram em
fornecer as informações. Nenhuma coleta de material genético de mandioca foi
realizada. Foram também entrevistados técnicos da SEAPROF lotados no escritório
de Sena Madureira e lideranças locais. Os estudados aspectos agronômicos,
42
sociais, culturais, ambientais e econômicos que auxiliassem no entendimento do
manejo e da conservação das variedades de mandioca.
Foram instalados três experimentos em delineamento inteiramente
casualizado com quatro repetições em três microambientes representando as
localidades: Cazumbá, Cuidado e Alto Caeté. Os experimentos foram implantados
em outubro de 2006 e colhidos em novembro de 2007. Não foram utilizados insumos
agrícolas. Foram realizadas três capinas de limpeza em cada área.
TABELA 1 - Principais características agronômicas das variedades de mandioca
Genótipo
Origem
Uso
Cor da
polpa
Resistência a
podridão
M/B*
AM 202
CRZAC
FM
creme
média
Mansa
Araçá
RBAC
F
creme
alta
Brava
Branquinha14
XAC
F
amarela
alta
Brava
Branquinha106
CRZAC
F
branca
alta
Mansa
Caipora
RB AC
F
amarela
média
Mansa
Chapéu-de- Sol
SMAC
FM
branca
alta
Mansa
Colonial
BVRR
M
branca
média
Mansa
Panati
RBAC
F
branca
alta
Brava
Pãozinho
SM AC
M
branca
alta
Mansa
Pirarucu
SMAC
F
branca
média
Brava
Milagrosa
RB AC
F
branca
alta
Mansa
Novo Ideal
AAC
FM
creme
alta
Mansa
*M = Mansa, baixo teor de HCN; B = Brava, alto teor de HCN, AM 202= Amarela 202, CRZAC=
Cruzeiro do Sul- AC; RBAC= Rio Branco-AC; XAC= Xapuri-AC; SMAC= Sena Madureira AC;
BVRR= Boa Vista-Roraima; FM= Farinha e Mesa; F= Farinha; M= Mesa; AAC = Acrelândia AC.
Na localidade Cazumbá, foram implantados oito genótipos de mandioca:
Panatí, Araçá, Milagrosa 102, Branquinha 106, Colonial, Caipora, Amarela 202 e
Pirarucu. Na localidade Cuidado foram avaliados os genótipos Panatí, Araçá,
Colonial, Caipora, Branquinha 14, Chapéu de Sol, Amarela 202 e Pirarucu. Na
localidade Alto Caeté foram testados seis genótipos de mandioca: Panatí, Araçá,
Novo Ideal, Colonial, Pãozinho e Pirarucu.
Na Tabela 1, estão descritas algumas caracteristicas dos genótipos de
mandioca testados.
Para cada localidade, foram realizadas as análises individuais dos
tratamentos (genótipos), analisando os seguintes caracteres: número de raízes por
genótipo (NRZ), número de raízes podres (NRP), porcentagem de amido (AMD),
porcentagem de massa seca da raiz (MSR), resistência a podridão de raízes
43
(número de raízes podres/planta/genótipo); produtividade (t/ha) e rendimento de
farinha (t/ha).
Além da análise individual, fez-se a análise conjunta, conforme metodologia
de ambientes e genótipos fixos, sugerida por VENCOVSKY e BARRIGA (1992), para
os mesmos caracteres, levando-se em conta os genótipos Panatí, Araçá, Colonial e
Pirarucu. Os teores de matéria seca e amido foram mensurados utilizando-se o
método da balança hidrostática (GROSSMAN e FREITAS, 1950).
Após as avaliações, os dados foram tabulados e submetidos à análise de
variância por meio do programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000) e os efeitos
significativos dos tratamentos submetidos aos teste de Tukey (para quatro
tratamentos) e ao de Scott e Knott (1974) (acima de quatro tratamentos), ao nível de
5% de probabilidade.
44
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre as principais atividades econômicas da Resex Cazumbá-Iracema, se
destaca o extrativismo de borracha e da castanha-do-Brasil, observou-se que os
agricultores utilizam os agroambientes: floresta, capoeira, quintal agroflorestal,
roçado, pasto e açude.
4.1 RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE
Na floresta, os agricultores praticam extrativismo de madeira (GRÁFICO 1).
Parte da madeira é usada para obras na própria Resex Cazumbá-Iracema, outra
parte é vendida para terceiros. A fiscalização da venda ilegal de madeira tem
aumentado, o que vem intimidando o desmate.
28
32
35
38
46
48
52
52
55
65
67
68
72
74
77
90
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Mogno
Pau d'arco
Tauari
Jatobá
Angelim
Castanheira
Cumaru Cetim
Guariúba
Cumaru ferro
Quariquara
Mulateiro
Massaranduba
Cerejeira
Cedro
Intba
Amarelão
%
GRÁFICO 1 - Principais espécies florestais madeireiras.
Os principais produtos não madeireiros explorados na Resex são usados
como alimentos, óleos e medicinal. Entre as espécies não madeireiras mais
exploradas para geração de renda, se destacam a castanha, a seringa e a copaíba
(óleo). Para uso medicinal da família, o ainda usadas a casca de cerejeira, jatobá,
unha-de-gato e quina-quina. As palmeiras jaci, ouricuri e jarina são usadas para
construção civil e artesanato. Os cipós titica e imbé são usados no artesanato e o
timbó e tingui para pesca. As palmeiras açaí, bacaba, buriti e patauá são usadas
para alimentação (vinhos) (GRÁFICO 2).
45
GRÁFICO 2 - Principais espécies florestais não madeireiras.
O extrativismo da borracha é uma atividade produtiva tradicional, exercida por
22% das famílias, apesar dos baixos preços atuais. No conjunto de colocações em
uso, existem cerca de 16 mil seringueiras distribuídas em mais de 2 mil estradas de
seringa, das quais 16% são exploradas. O processo de produção ainda é artesanal,
mas encontra-se em aperfeiçoamento. As inovações tecnológicas proporcionaram o
melhoramento da qualidade e a diversificação dos produtos à base do látex,
surgindo o couro ecológico e artesanatos de borracha (AMARAL et al., 2006).
Outra fonte de renda é a coleta da castanha, realizada atualmente por 42%
das famílias. O principal limite para a exploração da castanha é sua distribuição
restrita a uma pequena área da Resex.
As famílias extraem óleos, madeira, açaí, mel, patauá e outros produtos
florestais. A madeira é utilizada na construção de moradias, casas de farinha,
cercados, arcos e instalações de uso comum, enquanto que os demais produtos são
utilizados para a alimentação e remédios (BRASIL, 2007).
46
4.2 RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE DOS
QUINTAIS
O agroambiente denominado quintal agroflorestal compõe-se de uma ampla
diversidade agrícola composta por espécies trazidas da mata (domesticação),
frutíferas (GRÁFICO 3) além de dezenas de plantas medicinais e hortaliças
destinadas ao consumo da família ou trocas com vizinhos e parentes (escambo).
Cerca de 150 espécies agrícolas são manejadas e exploradas pelos agricultores
locais.
Entre as principais fruteiras ocorrentes em quintais agroflorestais, capoeiras
de diversas idades e roçados, foram destaque: os citros (laranjas, tangerinas e
limões), o cajú, a banana e manga (GRÁFICO 3).
12
12
15
21
21
21
44
54
56
69
69
70
81
85
91
95
98
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Abacaxi
Bacaba
Biribá
Cajá
Mamão
Pupunha
Coco
Jambo
Urucum
Gioaba
Graviola
Abacate
Cupuacú
Manga
Banana
Cajú
Citros
%
GRÁFICO 3 - Principais fruteiras exploradas em quintais e capoeiras.
47
As espécies hortícolas mais ocorrentes em quintais agroflorestais e roçados
da Resex Cazumbá-Iracema foram à chicória, a cebola de palha, as cucurbitáceas, a
couve e o coentro (GRÁFICO 4).
7
9
12
20
23
24
25
25
28
32
34
42
47
54
67
74
89
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
quiabo
pimeta doce
inhame
cebola
alface
pimenta ardida
pepino
pimentao
tomate
batata doce
melancia
maxixe
coentro
couve
curcubitácias
cebola palha
chicória
%
Principais escies hortícolas
GRÁFICO 4 - Principais espécies hortícolas exploradas em quintais, roçado e
capoeiras.
No Gráfico 5 estão demonstradas as principais espécies medicinais exploradas
em quintais na Resex Cazumbá-Iracema.
Espécies medicinais em quintais
21
24
24
27
27
30
33
33
33
36
39
45
54
63
63
66
0
10
20
30
40
50
60
70
Açafroa
Capeba
Gergelim
Gengibre
Rinchão
Horte
Crajiru
Malvarisco
Mastruz
Cidreira
Boldo
Capim santo
Caramelita
Alfavaca
Pinhão
Vassorinha
%
GRÁFICO 5 - Principais espécies medicinais exploradas em quintais.
48
Merecem destaque a vassourinha, pinhão-branco e roxo, alfavaca, carmelita,
capim-santo e boldo. Algumas espécies medicinais são trazidas para perto da casa.,
enquanto outras são exploradas na mata ou cultivadas em trilhas que ligam os
agroambientes, imitando a luz e as condições da floresta.
Os agricultores adotam práticas agrícolas agroecológicas como no manejo
agropecuário e florestal que permitem bom desenvolvimento das plantas e
ambiência aos animais.
4.3 RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE DOS
ROÇADOS
O agroambiente roçado é a estrutura básica de uso da terra na Resex
Cazumbá-Iracema. Este agroambiente é a principal unidade de produção agrícola,
gera renda, alimentos e participa do manejo estratégico de agroambientes, tendo
diversos sentidos culturais. A mandioca é o cultivo principal dos roçados, seguido
por outras espécies (GRÁFICO 6).
15
18
21
24
32
32
33
54
66
87
90
92
100
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Café
Cana
Tabaco
Cajú
Abacaxi
Banana
Abóboras
Citros
Mamão
Feijão
Arroz
Milho
Mandioca
%
Principais escies
exploradas no roçado
GRÁFICO 6 - Principais espécies cultivadas nos roçados.
Os roçados são locais onde se observam o maior número de plantas da
mesma espécie sendo cultivada em escala. Nesse agroambiente, predomina a
cultura da mandioca, milho, arroz e feijão. No entanto, nos dois últimos anos de uso,
o roçado é enriquecido com espécies de fruteiras nativas, como abacaxi e cupuaçu;
49
exóticas, como citros, banana e essências florestais. Outras espécies anuais, como
cana, abóbora, tabaco e mamão são cultivadas solteiras ou em consórcio, formando
um sistema agroflorestal através do enriquecimento de capoeira.
Os roçados são abertos na floresta e depois são abandonados para
regeneração natural ou dirigida, formando-se capoeiras ou pastagens. As áreas de
roçados variam de 1 a 3,0 há, sendo exploradas por até 3 anos continuamente com
uso de plantas anuais, leguminosas e enriquecimento de espécies perenes como
frutíferas ou florestais. Alguns roçados são transformados em áreas de pasto. Não
se observou o uso de implementos e máquinas agrícolas, bem como de corretivos e
fertilizantes agrícolas e outros insumos no roçado. A capina é realizada
manualmente com o uso de enxada. Este trabalho é realizado solitário ou
comunitariamente nos chamados mutirões.
Desta forma, os roçados não o abandonados completamente. Estes locais
são visitados para colheitas temporais e para coleta de material vegetativo de
mandioca, banana, cana e batatas para composição de novas áreas de roçados. No
caso específico da mandioca, o manejo e cultivo de diversas variedades e a
presença no local de espécies silvestres permitem a amplificação do pool genético
das espécies. As espécies de mandioca silvestre e cultivada apresentam
cruzamentos interespecíficos, não perdendo ao longo do tempo a capacidade de
produzir sementes.
A mandioca para produção de farinha é o principal produto agrícola. As
demais plantas exploradas em pequenas quantidades nos diversos agroambientes e
na floresta (extrativismo) são: fruteiras, espécies medicinais, hortícolas, forrageiras e
essências florestais.
Todas as famílias dependem da agricultura para subsistência ou como fonte
de renda. Cerca de 21% das famílias têm a agricultura como fonte exclusiva de
renda e outros 44% associam-na a outras atividades. Cerca de 40% da produção
agrícola é consumida, sendo o excedente comercializado no mercado local.
A macaxeira é o único produto cultivado o ano inteiro, assumindo papel
importante na geração de renda regular, representando, por vezes, uma das poucas
opções de comercialização. Os roçados ocupam, em geral, menos de dois hectares,
sendo a maioria de apenas um ha (75%) ou menos (25%). Geralmente, a área
mantém-se produtiva por um período de três a quatro anos, após os quais, é
abandonada, transformando-se em capoeira (BRASIL, 2007).
50
4.4 RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A AGROBIODIVERSIDADE ANIMAL
Os animais silvestres constituem um dos principais componentes da base
alimentar dos moradores. A comunidade do Cazumbá investiu em projetos de
manejo e criação de animais silvestres. Foi implantada uma criação semi-intensiva
de capivaras através de um projeto financiado pelo MMA. Um novo projeto foi
submetido à apreciação e pretende implantar o manejo extensivo de queixadas,
tendo como pré-requisito um acordo de caça que está sendo cumprido por todas as
famílias da comunidade. A tabela 2 mostra plantel de animais descrevendo os
nomes comuns, nomes científicos, os agroambientes e a média de ocorrência de
espécies animais mais exploradas na Resex Cazumbá-Iracema.
TABELA 2 - Nome comum, nome científico, agroambiente e média de ocorrência de
espécies animais
Nome comum
Nome científico
Agroambiente
Média
Galinha
Gallus gallus domesticus
quintal
23,3
Jabuti
Geochelone carbonaria
quintal/floresta
2,11
Porco
Sus domesticus
quintal
1,48
Burro
Equus asinus
pasto
0,09
Cavalo
Equus caballos
pasto
0,32
Bovinos
Bos taurus
pasto
19,3
Queixada
Tayassu pecari
floresta
0,14
Pato
Anas plathynchos
quintal
1,45
Capote
Numida meleagris
quintal
0,17
A puerária é a espécie de leguminosa usada para recuperação de áreas
degradadas mais utilizada pelos agricultores. A grande disseminação desta espécie
é o reflexo da implantação de seringais de cultivo financiados pelo programa
PROBOR. Naquele sistema, se recomendava o uso de puerária nos seringais como
forma de combate às ervas daninhas e para fixação de nitrogênio. A segunda
espécie mais usada é a mucuna (branca e preta) seguida de feijão guandu, feijão de
porco e Arachis pintoi.
51
O sistema agroflorestal composto pelos agroambientes agroecológicos
construídos pelos agricultores, somado com a interface constante com a coleta de
produtos na floresta, têm se mostrado eficiente na reprodução da agricultura familiar,
redução do êxodo e geração de renda. Possivelmente no futuro este sistema será
valorado como serviço ambiental pela conservação da biodiversidade, água e solo
com retorno de capital para o agricultor.
Portanto, a economia dos extrativistas não deve ser analisada apenas pelo
montante de dinheiro obtido (economia financeira), mas também pelos produtos e
materiais que a floresta e o roçado lhes fornecem (economia doméstica), garantindo
sua subsistência (BRASIL, 2007).
O sistema agroflorestal adotado na Resex Cazumbá-Iracema é composto pela
integração dos agroambientes floresta-capoeira-roçado-quintal-pasto-açude,
revelando um sistema complexo de atividades. A sustentabilidade econômica vem
da comercialização da farinha de mandioca, escambo e uso de muitas espécies de
plantas e animais.
O manejo, a estrutura e as funções de cada agroambiente exigem do
agricultor planejamento, divisão do trabalho, alta versatilidade e conhecimento. O
grau de contato e harmonia revelado entre o homem e a natureza indica caminhos
para conservação e manejo de espécies e da agrobiodiversidade em todos os seus
sentidos, principalmente da sociodiversidade.
O extrativismo, a caça e a pesca ainda têm importância relevante na vida dos
moradores locais. A renda do extrativismo e da agricultura familiar, juntamente com
os recursos de programas de distribuição de renda e os salários públicos vindos da
educação e saúde, compõe a renda familiar dos moradores.
O sistema agroflorestal descrito apresenta sustentabilidade econômica,
garante a reprodução familiar, é agroecológico e conserva recursos genéticos. A
agrobiodiversidade vegetal explorada ultrapassa 150 espécies neste estudo. Dados
semelhantes foram detectados no Acre em outro estudo sobre a agrobiodiversidade
(SEIXAS, 2008).
A venda de excedentes de algumas espécies agrícolas e do extrativismo
assegura sustentabilidade econômica para as famílias. Com relação à segurança
alimentar, as plantas anuais cultivadas, essências e fruteiras da floresta e cultivadas,
constituem energia e fontes de nutrientes de boa qualidade para a família.
52
A atividade agrícola teve uma expansão significativa nesta unidade, sendo
destacável o cultivo da mandioca para produção de farinha. Aproximadamente 60%
da produção de farinha é comercializada em Sena Madureira.
As atividades agrícolas realizadas em uma unidade padrão da agricultura
familiar, praticada por ribeirinhos, está associada a agroambientes classificados
como: quintais agroflorestais, roçados, capoeiras de diversas idades, pastagens
para criação de gado e açudes para criação de peixes e quelônios (AMARAL et al.,
2006; SIVIERO et al., 2009).
A pequena criação doméstica de animais, a caça e a pesca são fontes
importantes de proteína animal dos moradores. A integração entre atividades de
extrativismo, agricultura e o manejo da agrobiodiversidade de espécies e ambientes
sugere que a população local está contribuindo para conservação da
agrobiodiversidade.
A maior parte dos agricultores coleta espécies da floresta e cultivam espécies
hortícolas, fruteiras e florestais com grande importância para a conservação in situ e
on farm de recursos genéticos vegetais. A reafirmação da valorização dos recursos
genéticos dentro das comunidades deverá assegurar a permanência do processo de
conservação in situ e on farm.
A implantação de políticas de preservação dos recursos genéticos, em nível
local e nacional, necessita de melhor conhecimento do manejo tradicional da
agrobiodiversidade e do seu papel nos sistemas de produção.
No futuro próximo, em trabalhos de valoração da biodiversidade, a
diversidade agrícola manejada será ferramenta essencial para que pessoas que
vivem em unidades de conservação possam ser remuneradas de alguma forma pelo
serviço ambiental que prestam à toda a humanidade.
A elevada diversidade biológica presente em cada um dos agroambientes
manejados pelos ribeirinhos da Amazônia funciona como componente de um
sistema complexo. Em algumas regiões, se observam atividades complementares
como extrativismo, prestação de serviços ambientais e a integração entre floresta-
extrativismo-lavoura-pecuária.
53
4.5 RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A CARACTERIZAÇÃO DE
ETNOVARIEDADES DE MANDIOCA
As principais características das variedades de mandioca e macaxeira usadas
na Resex Cazumbá-Iracema estão descritas na Tabela 3.
TABELA 3 - Caracterização botânico-morfológica das principais etnovariedades de
mandioca utilizadas pelos agricultores
Descritores
Variedades
Varejão
Primavera
Chapéu
de sol
Macaxeira
do índio
Sutinga
amarela
Bom
lugar
Goela
de jacú
Pirarucu
Cor folha
adulta
V
V
V
V
V
V
VE
V
Cor brotação
nova
VA
VA
V
VA
VA
VC
R
V
Nº de lóbulos
5,81
5,40
5,00
6,40
5,00
6,50
6,20
6,50
Comp. lóbulo
médio (cm)
15,50
15,20
13,50
14,00
11,25
16,80
22,0
9,86
Larg. lóbulo
médio em cm
2,66
3,28
3,75
3,88
3,00
1,70
4,50
2,67
Cor do
pecíolo
VE
VE
V
VA*
V
VA
VE*
VA
Morfologia do
lóbulo
OL
L
O
L
L
R
EL
O
Sinuosidade
do lóbulo
L*
L*
L*
L*
L*
L*
L*
L*
Comp. do
pecíolo (cm)
19.16
19,00
12,50
16,15
9,75
20,10
23,60
11,64
Altura
ramificação
(m)
0,25
0,24
0,50
0,43
1,00
0,46
0,40
1,88
Nº de hastes /
ramificação
TRIC
TRIC
DIC
TRIC
DIC
TRIC
DIC
TRIC
Altura planta
(m)
2,68
2,39
1,75
3,80
3,80
2,50
1,70
3,49
Distância
entre
cicatrizes cm
10,80
8,20
8,20
3,80
12,00
5,80
15
9,50
Cor do caule
P
MC
P
P
P
MC
P
P
Cor ramos
terminais
VA
VA
V
V
V
V
R
V
Cor folha
adulta
V
V
V
V
V
V
VE
V
Cor brotação
nova
VA
VA
V
VA
VA
VC
R
V
Nº de lóbulos
5,81
5,40
5,00
6,40
5,00
6,50
6,20
6,50
VA verde arroxeado; V verde; VC verde claro; R roxo; VE verde escuro; VA*- verde
avermelhado; VE* - verde esverdeado; OL oblongo-lanceolada; L lanceolada; O ovóide; R
reta; EL elíptica-lanceolada; L* - liso; TRIC tricotômico; DIC dicotômico; P prateado; MC
marrom claro.
54
4.6 RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE A CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA
PERDAS DE VARIEDADES DE MANDIOCA
As principais características das variedades de mandioca e macaxeira usadas
na Resex Cazumbá Iracema estão descritas na TABELA 4.
TABELA 4 - Caracterização agronômica das principais etnovariedades de mandioca
utilizadas pelos agricultores (dados fornecidos pelo agricultor)
Variedade
Geral
PDT
FAR
NR/P
RP
DESC
CP
FRR
Amarela
mansa
++
médio
36
media
Fácil
Amarela
1
Bom lugar
Mansa
++
bom
34
média
Médio
Branca
1
Chapéu de sol
F-M-P
++
médio
48
resistente
Fácil
Branca
4
Goela de jacú
mansa
+
médio
40
media
Fácil
Creme
1
Macaxeira do índio
Mansa
++
médio
38
resistente
Fácil
Branca
5
Olho Roxo
FAM
++
médio
43
suscetível
Fácil
Branca
3
Pãozinho
mansa
++
bom
55
media
Fácil
B/A
4
Pirarucu
BP
+++++
bom
48
média
Médio
Amarela
10
Primavera
Mansa
+
médio
40
média
Fácil
Creme
1
Sutinga amarela
mansa
+
médio
39
media
Médio
Amarela
1
Varejão
CCM
++
médio
33
resistente
Fácil
Branca
2
CRM casca-roxa-mansa; PDT= produtividade; FAR = rendimento de farinha; RP resistente à
podridão; DESC descascamento; CP = cor da polpa; FRR = freqüência nos roçados; BP = brava e
precoce; BA = branca ou amarela; FMP = fribosa-mansa-precoce; FAM = fibrosa-amarela-mansa;
CCM = casca- creme- mansa; NR/P= número de raízes/planta
Os plantios são realizados em roçados usando 2 a 6 cultivares por propriedade,
sempre separados em lotes medindo cerca de um quarto de ha por variedade.
Observou-se sempre a ocorrência de áreas menores para o cultivo da macaxeira
que é destinada ao consumo próprio. As áreas maiores de até 1,0 ha abrigam
variedades de mandioca brava destinadas para farinha. A principal e mais popular
variedade de mandioca brava usada pelos agricultores é a Pirarucu.
Durante as visitas e entrevistas, detectou-se a ocorrência de pequenos
plantios de variedades de mandioca mansa e de cor amarela observados na área da
Terra Indígena Jaminawá, localizada na região central da Resex Cazumbá- Iracema,
como: Goela de Jacu e Sutinga amarela, além de outras quatro (Varejão, Chapéu de
Sol, Primavera e Olho roxo) descritas na Tabela 4.
55
Porém, observa-se, no entorno da Resex Cazumbá-Iracema o crescimento do
plantio da variedade Araçá, recomendada pela Embrapa Acre, para a região, para
farinha, em 1998 (MOURA E CUNHA, 1998).
A variedade Pirarucu é a mais prevalente na região devido às características
de precocidade, produtividade e bom rendimento de farinha. No entanto, ela
apresenta suscetibilidade à podridão mole das raízes causada por Phytophthora, à
medida que permanece mais tempo no campo (SIVIERO et al., 1996).
56
TABELA 5 - Resultado dos levantamentos realizados junto aos agricultores sobre as
perdas de variedades de mandioca
Variedades
Perdida há
menos de
cinco anos
Perdida há
menos de dez 10
anos
Mandioca
(brava)
Macaxeira
(mansa)
Mineira
X
X
Vinagreira
X
X
Poré
X
X
Sutinga brava
X
X
Cruvelinha
X
X
Arrebenta burro
X
X
Zé Miguel
X
X
Intala gato
X
X
Caboquinha
X
X
As informações prestadas por agricultores locais revelam a perda de
variedades ao longo dos tempos, como é o caso do desaparecimento da variedade
Poré e/ ou Guaporé, conhecida pelos ribeirinhos como amarela, brava e bastante
produtiva (TABELA 5).
Observando o manejo, número e a utilização de mais uma variedade na
propriedade empregada pelos agricultores, conclui-se que a diversidade de
cultivares de mandioca é elevada e que existe um processo, não intencional, de
conservação e expansão do patrimônio genético da espécie Manihot esculenta na
região, realizada pelos agricultores.
A ampliação da variabilidade genética ocorre através de diversos
mecanismos: a) cultivo de mais de uma variedade numa mesma área de plantio; b)
hábito local de realizar trocas de germoplasma, revelado pelos agricultores que
também possuem alto grau de parentesco, o que facilita o intercâmbio de material
genético; e c) a manutenção de roçados antigos com a finalidade específica para
coleta de manivas-semente, permitindo ao agricultor acessar híbridos naturais do
banco de sementes da capoeira “abandonada” (SIVIERO et al., 2008).
A mandioca na Amazônia é cultivada em pequenos roçados no sistema
itinerante de uso da terra, adotando-se a prática de derruba e queima da floresta. A
propagação da mandioca é efetuada com a utilização de manivas obtidas em
57
roçados antigos. No entanto, a espécie produz sementes botânicas e permite
cruzamentos intra e interespecíficos.
O roçado tradicional é a unidade básica evolutiva onde atuam os processos
de geração e manutenção da variabilidade genética da mandioca na Amazônia. Os
estudos agroambientais locais revelaram a ocorrência na região de: a) espécies
silvestres de Manihot spp. observadas em capoeiras; b) plântulas originadas de
sementes botânicas (híbridos) germinadas em roçados de até 20 anos de pousio; c)
21 cultivares de mandioca distintos ocorrendo em roçados (= etnovariedades); e d)
constantes trocas de variedades entre indígenas, ribeirinhos, extrativistas e
agricultores ao longo dos rios Caeté e Macauã.
Três processos de ampliação da variabilidade genética de Manihot sp. na
Amazônia foram encontrados na área de estudo: a) grande número de
etnovariedades em cultivo simultâneo; b) coexistência de espécies obtidas por
seleção local realizada por agricultores trocando genes com espécies silvestres de
Manihot spp; e c) intercâmbio de variedades de mandioca entre agricultores criando
um efeito tampão a possíveis perdas de germoplasma local devido ao fogo ou êxodo
rural. Estes estudos revelam que a região é prioritária para a conservação de
recursos genéticos cultivados on farm, onde as espécies cultivadas por populações
tradicionais, em ambientes manejados historicamente, a diversidade biológica
interage fortemente com a diversidade cultural.
Estudos da dinâmica evolutiva da mandioca Manihot spp. na Amazônia assim
como o manejo varietal local versus espécies silvestres versus agricultor, são
considerados como modelo harmônico referencial na relação ambiente-sociedade-
conservação de recursos genéticos. A dinâmica evolutiva da mandioca ocorre nas
áreas de produção de agricultores ribeirinhos via mistura varietal e o fluxo gênico
dado pelo intercâmbio de recursos genéticos entre agricultores/comunidades,
contribuindo para conservação e ampliação da variabilidade genética da espécie.
58
4.7 RESULTADOS DOS ESTUDOS ESPECÍFICOS SOBRE PRODUTIVIDADE,
AMIDO, MATÉRIA SECA E RESISTÊNCIA À PODRIDÃO DA MANDIOCA
4.7.1 Localidade Cazumbá
Na Tabela 6, estão demonstradas as médias oriundas da análise de variância
simples para os caracteres número de raízes (NRZ), número de raízes danificadas
(NRP), amido (AMD), massa seca de raízes (MSR), produtividade (PRD) e
rendimento de farinha (RNF), em oito variedades de mandioca avaliadas na
localidade Cazumbá.
No caráter número de raízes por variedade, observou-se a formação de dois
grupos, segundo o teste de Scott e Knott (P < 0,05). No primeiro grupo, as
variedades Branquinha e Amarela 202 obtiveram as maiores médias, sendo
superiores, estatisticamente, às demais variedades (TABELA 6).
Observando a Tabela 6, verifica-se que o número de raízes danificadas por
podridão radicular apresentou um coeficiente de variação bastante elevado,
indicando que, além da existência de variabilidade entre os materiais, houve
diferenças, também, dentro das variedades. Essa forte variação pode ser advinda de
influência ambiental, fator este não controlado.
O patógeno causador da doença podridão mole das raízes foi identificado no
campo e confirmado em laboratório de Fitopatologia da Embrapa Acre como o
patógeno Phytophthora drechsleri. A doença é comum na Amazônia, sendo a mais
destrutiva doença da cultura na região (FIGUEIREDO e ALBUQUERQUE, 1970;
SIVIERO et al., 1996).
O teor de amido numa planta de mandioca está diretamente relacionado com
o rendimento de farinha, já que esse derivado constitui-se no amido contido e
armazenado nas raízes da planta durante seu ciclo até a colheita. Neste estudo, a
porcentagem de amido apresentou pouca influencia ambiental, caracterizado pelo
coeficiente de variação baixo (TABELA 6), mostrando um efeito basicamente
genotípico. Neste caso, houve a formação de três grupos (P < 0,05), em que as
variedades Araçá e Pirarucu obtiveram as maiores médias, 31% e 30,75%
respectivamente. O grupo intermediário foi formado pelas variedades Panati,
Branquinha 106 e Colonial, com médias variando entre 30% (Branquinha 106) e
29,75% (Panati e Colonial).
59
Não diferente da porcentagem de amido, a massa seca das raízes apresentou
baixo efeito ambiental, expresso pela baixa variação do Coeficiente de Variação
(CV). Para este caráter, observou-se a formação de dois grupos, em que as
variedades Milagrosa 102, Caipora e Amarela 202 apresentaram menores dias,
como pode ser visto na Tabela 6. A porcentagem de massa seca de raiz constitui-se
no somatório daquilo que não for inerte, como o amido, cinzas, casca e outros. Esta
variável apresenta alta correlação com o teor de amido, com a magnitude de r =
0,98**, conforme estudos de FUKUDA e BORGES (1991).
TABELA 6 - Médias da análise de variância simples de número de raízes (NRZ),
número de raízes podres (NRP), amido (AMD - %), massa seca de
raízes (MSR - %), produtividade (PRD t ha
-1
) e rendimento de farinha
(RNF t ha
-1
), em oito variedades de mandioca na localidade Cazumbá
Variedades
NRZ
NRP
AMD
(%)
MSR
(%)
PRD
(t ha
-1
)
RNF
(t ha
-1
)
Panati
3,75 b
0,00 a
29,75 b
34,25 a
28,82 b
8,54 b
Araçá
3,75 b
0,50 a
31,00 a
35,25 a
36,80 a
11,29 a
Milagrosa
2,75 b
1,00 a
27,50 c
32,00 b
20,15 b
5,50 c
Branquinha
5,50 a
0,25 a
30,00 b
35,00 a
29,87 b
9,02 b
Colonial
4,00 b
0,25 a
29,75 b
34,75 a
40,50 a
12,06 a
Caipora
3,50 b
0,25 a
27,75 c
32,75 b
42,05 a
11,69 a
Amarela
4,75 a
0,00 a
27,50 c
32,25 b
38,62 a
10,79 a
Pirarucu
3,00 b
0,50 a
30,75 a
35,00 a
45,80 a
13,97 a
Média
3,87
0,34
29,25
33,90
35,32
19,80
CV (%)
24,14
148,45
2,09
2,06
19,74
10,33
*Médias seguidas de mesma letra na coluna pertencem ao mesmo grupo segundo o teste de Scott e
Knott a 5 % de probabilidade.
Na produtividade, observa-se que as variedades Araçá (36,8 t ha
-1
), Colonial
(40,5 t ha
-1
), Caipora (42,05 t ha
-1
), Amarela 202 (38,62 t ha
-1
) e Pirarucu (45,8 t ha
-1
)
não diferiram entre si, obtendo as maiores médias. As variedades apresentaram,
também, os maiores rendimentos de farinha, com médias variando de 13,97 t ha
-1
(Pirarucu) a 10,79 t ha
-1
(Amarela 202). Tal resultado é um reflexo do alto teor de
amido dessas variedades, além da boa produtividade alcançada pelos materiais.
Observando a variedade Milagrosa 102, nota-se que sua produtividade, embora
tenha alcançado valor intermediário (Tabela 6), seu rendimento de farinha obteve a
menor média. Tal efeito foi influenciado pelo baixo teor de amido desta variedade.
60
4.7. 2 Localidade Cuidado
Na Tabela 7, encontram-se as médias oriundas da análise de variância
simples para os caracteres número de raízes (NRZ), número de raízes danificadas
(NRP), amido (AMD), massa seca de raízes (MSR), produtividade (PRD) e
rendimento de farinha (RNF), em oito variedades de mandioca avaliadas na
localidade Cuidado (Médio Caeté).
As variedades Chapéu de sol, Branquinha 14, Colonial e Pirarucu, obtiveram
as maiores médias para o caráter número de raízes por variedade, sendo superior
às demais (P < 0,05). Por outro lado, no caráter número de raízes danificadas, o
houve diferença entre variedades. Uma possível causa para este efeito não
significativo seria a forte influência ambiental, caracterizada pelo alto valor do
coeficiente de variação (TABELA 7).
Quanto à porcentagem de amido, verifica-se a formação de quatro grupos, em
que as variedades Panati (30,75 %), Branquinha 14 (30 %) e Pirarucu (29,75 %)
obtiveram as maiores médias, sendo superior estatisticamente às demais. O mesmo
ocorreu para o caráter porcentagem de massa seca das raízes. Quanto à
produtividade nesta localidade, verifica-se que houve a formação de três grupos,
pelo teste de Scott & Knott (P < 0,05). A variedade Chapéu de Sol obteve a maior
produtividade (138,65 t ha
-1
), apresentando, também, o maior rendimento de farinha
(38,43 t ha
-1
) (TABELA 7).
No entanto, apenas um ciclo não é o mais apropriado para a seleção de
variedades de mandioca superiores, visto que as variedades passam por um
processo de adaptação ao ambiente para, posteriormente, expor todo o seu vigor.
61
TABELA 7 - Média da análise de variância simples de número de raízes (NRZ),
número de raízes danificadas (NRD), amido (AMD - %), massa seca de
raízes (MSR - %), produtividade (PRD t ha
-1
) e rendimento de farinha
(RNF t ha
-1
), em oito variedades de mandioca na localidade Cuidado
Variedade
NRZ
NRD
AMD
(%)
MSR
(%)
PRD
(t ha
-1
)
RNF
(t ha
-1
)
Panati
4,75 b
0,00 a
30,75 a
35,25 a
51,67 c
15,81 c
Araçá
3,75 b
0,50 a
28,50 b
33,50 b
33,32 c
9,52 c
Chapéu de sol
7,50 a
0,50 a
27,50 c
32,25 c
138,65a
38,43 a
Branquinha
5,75 a
0,25 a
30,00 a
34,50 a
66,07 c
19,75 c
Colonial
6,00 a
0,25 a
26,00 d
30,75 d
50,92 c
13,17 c
Caipora
3,50 b
0,00 a
27,00 c
31,75 c
43,82 c
11,90 c
Amarela
4,25 b
0,00 a
25,75 d
30,25 d
63,70 c
16,35 c
Pirarucu
5,75 a
0,00 a
29,75 a
34,50 a
97,37 b
28,98 b
Média
5,15
0,18
28,15
32,24
68,19
19,24
CV (%)
32,10
203,67
2,54
2,22
32,99
32,71
* Médias seguidas de mesma letra na coluna pertencem ao mesmo grupo segundo o teste de Scott &
Knott a 5 % de probabilidade.
4.7.3 Localidade Alto Caeté
Na localidade Alto Caeté, foram avaliadas seis variedades de mandioca.
Observando a Tabela 8, verifica-se que não houve efeito significativo para os
caracteres número de raízes por variedade e número de raízes danificadas. Porém,
para este último caráter, observa-se forte influência ambiental, podendo concluir
que, nas condições deste estudo, o caráter número de raízes danificadas é
fortemente influenciado pelo meio. Uma possível causa deste dano seria a
incidência do fungo Phytophthora drechsleri, causador da podridão mole das raízes.
Observa-se ainda que nenhuma das variedades avaliadas foi totalmente resistente a
este patógeno (TABELA 8).
Diferentemente das demais localidades, nesta em especial, a variedade Araçá
apresentou uma baixa porcentagem de amido (TABELA 8). Neste caso, tal efeito
ocorreu devido à incidência de formigas de roça (segundo o produtor), que,
consequentemente, atrasou o ciclo de crescimento de todas as variedades.
Neste caso em particular, as variedades Panati, Colonial, Pãozinho e Pirarucu
obtiveram as maiores médias para o caráter porcentagem de amido. O mesmo
ocorreu para a variável massa seca das raízes. Mesmo apresentando baixa
porcentagem de amido, a variedade Araçá apresentou elevado rendimento de
62
farinha (10,63 t ha
-1
), dado pela boa produtividade (42,42 t ha
-1
), não diferindo
estatisticamente das variedades Panati e Pirarucu (TABELA 8).
TABELA 8 - Médias da análise de variância simples de número de raízes (NRZ),
número de raízes danificadas (NRD), amido (AMD - %), massa seca de
raízes (MSR - %), produtividade (PRD t ha
-1
) e rendimento de farinha
(RNF t ha
-1
), em seis variedades de mandioca na localidade Alto
Caeté
Variedade
NRZ
NRD
AMD
(%)
MSR
(%)
PRD
(t ha
-1
)
RNF
(t ha
-1
)
Panati
4,75 a
0,25 a
30,75 a
35,75 a
31,90 a
9,92 a
Araçá
5,25 a
0,25 a
25,00 c
30,00 c
42,42 a
10,63 a
Novo Ideal
2,75 a
0,50 a
28,00 b
32,25 b
18,76 b
5,19 b
Colonial
4,00 a
0,50 a
30,50 a
34,75 a
24,60 b
7,44 b
Pãozinho
3,25 a
0,25 a
30,75 a
35,25 a
18,82 b
5,78 b
Pirarucu
4,50 a
0,25 a
30,00 a
34,75 a
42,50 a
12,78 a
Média
4,08
0,33
29,17
33,79
29,84
8,62
CV (%)
29,43
158,11
2,36
1,94
28,83
26,49
* Médias seguidas de mesma letra na coluna pertencem ao mesmo grupo segundo o teste de Scott &
Knott a 5 % de probabilidade.
4.8 INTERAÇÃO GENÓTIPO VERSUS AMBIENTE
Segundo Vencovsky e Barriga (1992), num sentido amplo, entendemos por
ambiente, todos os fatores intra e extra-celulares que influem na expressão do
caráter. Portanto, é importante o estudo da interação genótipo versus ambiente.
As condições ambientais que contribuem com as interações entre os
genótipos podem ser agrupadas em duas categorias: previsíveis e imprevisíveis. Na
primeira estão incluídas as variações de ambiente que ocorrem de região para
região, dentro da área de distribuição da cultura. Enquadram-se as características
gerais de clima e solo e aquelas que flutuam de maneira sistemática, como o
comprimento do dia e o grau de insolação, além de outros fatores que estão sob
controle do homem, como as práticas agronômicas (época de semeadura e colheita,
doses e rmulas de adubação e outros). Quanto às variações imprevisíveis,
compreendem, por exemplo, as climáticas, no âmbito de uma mesma região, como
quantidade e distribuição das chuvas, oscilações de temperatura e outros que não
se podem prever (ALLARD e BRADSHAW, 1964).
63
O conhecimento desta interação influencia diretamente o planejamento de
estratégias de melhoramento, além da recomendação de variedade para uma ou
mais regiões.
Desta maneira, observa-se que o houve interação significativa entre
variedades versus ambiente para os caracteres de número de raízes e número de
raízes danificadas (Tabela 6). Porém, observou-se efeito significativo (P<0,05), no
caráter número de raízes, apenas entre ambientes, o ambiente 2 (comunidade do
Cuidado médio Caeté) obteve efeitos significativos com valore mais expressivos
que os demais. O mesmo não ocorreu para o caráter número de raízes danificadas,
onde não se observou diferença significativa entre os ambientes e as variedades
(Tabela 9).
TABELA 9 - Médias da análise conjunta de número de raízes e número de raízes
danificadas de quatro variedades de mandioca avaliadas em três
localidades
Variedade
Número de raízes
Número de raízes danificadas
Cazumbá
Cuidado
Alto
Caeté
Cazumbá
Cuidado
Alto Caeté
Panati
3,75
4,75
4,75
0,00
0,00
0,25
Araçá
3,75
3,75
5,25
0,50
0,50
0,25
Colonial
4,00
6,00
4,00
0,25
0,25
0,50
Pirarucu
3,00
5,75
4,50
0,50
0,00
0,25
Média
3,62B
5,06 A
4,62 AB
0,31 A
0,18 A
0,31 A
* Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.
Quanto à porcentagem de amido e porcentagem de massa seca das raízes,
verifica-se interação significativa (Tabela 10). Para estes caracteres, observou-se
uma tendência à estabilidade para as variedades Panati e Pirarucu, nos três
ambientes estudados. A variedade Pirarucu é a mais cultivada entre os residentes
na Resex Cazumbá- Iracema, tendo um amplo tempo de adaptação e como se pode
observar, as médias da variedade Panati, num contexto geral, não diferiram
estatisticamente dela, mostrando o grande potencial de utilização desta variedade
na Resex Cazumbá-Iracema.
64
TABELA 10 - Médias da análise conjunta de amido e matéria seca de raiz de
mandioca, de quatro variedades de mandioca, avaliadas em três
localidades
Variedade
Amido (%)
Massa Seca de raiz (%)
Cazumbá
Cuidado
Alto
Caeté
Cazumbá
Cuidado
Alto Caeté
Panati
29,75 Aa
30,75 Ba
30,75 Ba
34,25 Aa
35,25 Ba
35,75 Ba
Araçá
31,00 Aa
28,50 Bb
25,00 Bb
35,25 Aa
33,50 Bb
30,00 Bb
Colonial
29,75 Aa
26,00 Bc
30,50 Ba
34,75 Aa
30,75 Bc
34,75 Ba
Pirarucu
30,75 Aa
29,75 Bab
30,00 Ba
35,00 Aa
34,50 Bab
34,75 Ba
Média
30,31
28,75
29,06
34,81
33,50
33,81
* Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.
Quanto aos caracteres produtividade e rendimento de farinha, verifica-se que
não houve estabilidade entre as variedades avaliadas, mostrando o efeito do
ambiente sobre os resultados (TABELA 11).
TABELA 11 - Médias da análise conjunta de produtividade e rendimento de farinha
de quatro variedades de mandioca avaliadas em três localidades
Variedade
Produtividade (t ha
-1
)
Rendimento de Farinha (t ha
-1
)
Cazumbá
Cuidado
Alto Caeté
Cazumbá
Cuidado
Alto Caeté
Panati
28,82 Ba
51,67 Ab
31,90 Ba
8,54 Ba
15,81 Ab
9,92 Ba
Araçá
36,80 Ba
33,32 Ab
42,42 Ba
11,29 Ba
9,52 Ac
10,63 Ba
Colonial
40,50 Ba
50,92 Ab
24,60 Ba
12,06 Ba
13,17 Abc
7,44 Ba
Pirarucu
45,80 Ba
97,37 Aa
42,50 Ba
13,97 Ba
28,98 Aa
12,78 Ba
Média
37,98
58,32
35,36
11,46
16,87
10,19
* Médias seguidas de mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.
Analisando individualmente os ambientes, observa-se que o ambiente 2
(localidade Cuidado Médio Caeté) obteve as maiores médias para ambas as
variáveis (produtividade e rendimento de farinha) (TABELA 11). Uma possível causa
para esse forte efeito pode ser devido ao plantio em roçado novo, ou seja, área
recém aberta, rica em matéria orgânica e minerais primários.
65
A prospecção e o desenvolvimento de variedades de mandiocas
biofortificadas, ou seja, ricas em carotenos, é outro desafio da pesquisa no Acre e
que deve ser incentivado, pois, nesse Estado, observa-se a ocorrência de
variedades de mandioca de mesa biofortificadas em diversos povos indígenas e
populações locais (ribeirinhos). A incorporação dos genótipos em plantios comerciais
de mandioca (agronegócio) é uma tarefa trabalhosa, no entanto, compensadora.
66
5 CONCLUSÃO
As plantas mais exploradas na Resex Cazumbá-Iracema, por ordem
decrescente de importância, nos diversos agroambientes e na floresta (extrativismo),
são: espécies frutíferas, hortícolas, medicinais, anuais agrícolas, essências florestais
e forrageiras.
O sistema agroflorestal composto pelos agroambientes construídos pelos
agricultores, somado com a interface constante com a coleta de produtos na floresta,
tem se mostrado eficiente na conservação de recursos genéticos.
Foram caracterizadas sete novas etnovariedades de mandioca, cinco das
quais mansas. A etnovariedade Pirarucu é a mais prevalente na região, sendo a
mais produtiva nos ensaios de campo, mostrando alta adaptação local.
Houve forte influência ambiental nos estudos sobre potencial produtivo da
mandioca na Resex, no entanto, as variedades Panati e Araçá apresentaram
tendência à adaptação na Resex Cazumbá-Iracema, podendo ser incorporadas ao
seu sistema produtivo de mandioca para produção de farinha.
67
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77
APÊNDICE
APÊNDICE A Lista de nomes comuns, científicos, agroambiente de ocorrência, uso e
freqüência de ocorrência de espécies vegetais da Resex Cazumbá-Iracema.
NOME
VULGAR
NOME CIENTÍFICO
AGROAMBIENTE
USO
FREQUÊNCIA
Abacate
Persea americana
Q R - C
Alimentação
28
Abacaxi
Ananas comosus
Q R - C
Alimentação
13
Abóbora
Curcubita pepo
R
Alimentação
13
Açafroa
Curcuma longa
Q
Corante e medicianal
8
Acerola
Malphigia glaba
Q R C
Alimentação
2
Alfavaca
Hyptis brevipes
Q R C C*
Medicinal
24
Amarelão
Aspidosperma
vargasii
F
Construções em Geral
36
Amora
Desmodium axillare
Q R C
Alimentação
2
Anador
Justicia pectoralis
Q R
Medicinal
3
Angelim
Hymenolobium
petraeum
F
Construções em Geral
18
Angico
Anadenanthera
peregrina
F
Construções em Geral
3
Araça boi
Psidium araca
Q
Alimentação
2
Arroz
Oryza sativa
R
Alimentação
36
Arruda
Ruta graveolens
Q
Medicinal
3
Azeitona
Olea europaea
Q C*
Alimentação
2
Bacaba
Oenocarpus bacaba
R Q C
Alimentação
5
Bacuri
Platonia esculenta
Q R - C
Alimentação
1
Banana
Musa paradisiaca
R Q - C
Alimentação
36
Batata de
Purga
Operculina
macrocapa
Q
Medicinal
1
Biribá
Q R C
Alimentação
6
Boldo
Plectranthus
barbatus
Q
Medicinal
16
Breu
Protium sp
F
Construções em Geral
3
Cabacinha
R
Medicinal
2
Cacau
Theobroma cacao
Q R C*
Alimentação
1
Café
Coffea arabica
R
Alimentação
6
Cajá
Spondias mombin
Q R C
Alimentação
8
Cajarana
Spondias cytherea
Q - R C
Alimentação
2
Cajazinho
Q R C
Medicinal
2
Cana-de-
açúcar
Saccharum
officinarum
Q R C
Alimentação
8
Capeba
Piper umbellata
Q
Medicinal
17
Capim santo
Cymbopogon
densiflorus
Q R C
Medicinal
23
Carambola
Averrhoa carambola
Q
Alimentação
2
Carmelita
Q
Medicinal
18
Castanheira
Bertholletia excelsa
F
Construções em Geral
e Alimentação
36
Catinga de
Mulata
Tanacetum vulgare
Q R
Medicinal
4
Catuaba
Anemopaegma
arvense
F
Construções em Geral
2
Cebola Branca
Q
Medicinal
1
Cedro
Cedrella odorata
F
Construções em Geral
34
Cerejera
Prunus avium
F
Construções em Geral
29
Cerejera casca
Prunus avium
FNM
Medicinal
17
Cidreira
Lippia Alba
Q
Medicinal
14
Cipó Ambé
Virola surinamensis
F
Pesca
10
78
Cipó Timbó
Paullinia trigonia
F
Pesca
10
Citros
Citrus sinensis
Q R C
Alimentação
40
Coco
Cocos nucifera
Q R C
Alimentação
17
Copaíba
Copaifera reticulata
FNM
Medicinal
39
Corama
Bryophyllum
calycinum
Q R
Medicinal
12
Crajiru
Arrabidaea chica
Q
Medicinal
13
Cravo de
Defunto
Tagetes pátula
Q
Medicinal
4
Crista de Galo
Heliotropium
elongatum
Q
Medicinal
5
Cucuí da Mata
Não identificado
Q R C
Alimentação
2
Cumarú Cetim
Apuleia molaris
F
Construções em Geral
21
Cumarú Ferro
Dipteryx spp
F
Construções em Geral
22
Cumaruzinho
Dipteryx odorata
Q
Medicinal
1
Cupuacú
Theobroma
grandiflorum
Q R C
Alimentação
32
Dendé
Elais guinensis
Q R - C
Alimentação
1
Envira Tauari
Não identificado
F
11
Erva de Jabuti
Peperomia pellucida
Q C
Medicinal
5
Feijão
Phaseolus vulgaris
R
Alimentação
35
Folha de
mamão
Carica papaya
Q
Medicinal
1
Frutapão
Artocarpus incisa
Q R C
Alimentação
2
Gengibre
Zingiber offcinale
Q
Medicinal
11
Gergelim
Sesamum indicum
Q
Medicinal e
Alimentação
10
Gioaba
Psidium guayaba
C
Alimentação
28
Graviola
Annona muricata
Q
Alimentação
28
Guariúba
Clarisia racemosa
F
Construções em Geral
21
Hortelã
Mentha rotundifolia
Q C*
Medicinal
11
Hortelã
Mentha sp
Q
Medicinal
12
Ingá
Inga edulis
Q R C C*
Alimentação
8
Intaúba
Ocotea megaphylla
Construções em Geral
31
Jaboticaba
Myrtus jaboticaba
Q
Alimentação
1
Jaca
Artocarpus
integrifólia
Q
Alimentação
2
Jaci
Attalea phalerata
F
Construções em Geral
14
Jambo
Syzygium
malaccense
Q R C
Alimentação
22
Jambú
Spilanthes acmella
Q C*
Medicinal
7
Jarina
Plytelephas
macrocarpa
F
Construções em Geral
3
Jatobá
Hymenaea
stigonocarpa
F - FNM
Construções em Geral
e Medicinal
31
Genipapo
Genipa america
C
Alimentação
1
Jucá
Caesalpinia férrea
C
Alimentação
1
Jutaí
Hymenaea courbaril
Construções em Geral
3
Lacre
Vismia guianensis
Q - C
Medicinal
3
Malvarisco
Pothomorphe
umbellata
Q
Medicinal
13
Mamão
Carica papaya
Q R - C
Alimentação
27
Mamona
Ricinus communis
Q
Medicinal
1
Mandioca
Manihot esculenta
R
Alimentação
40
Manga
Mangifera indica
Q R - C
Alimentação
34
Mangerioba
Cassia alata
Q C C*
Medicinal
9
Manjogome
Talinum paniculatum
Q - R
Medicinal
4
79
Mapati
Pourouma
cecropiaefolia
R
Medicinal
1
Maracujá
Passiflora
quadrangulares
Q
Alimentação
2
Marupari
Eleutherine plicata
C*
Medicinal
1
Massaranduba
Pouteria ramiflora
F
Construções em Geral
28
Mastruz
Chenopodium
ambrosioides
Q
Medicinal
13
Melhoral
Justicia pectoralis
Q
Medicinal
1
Milho
Zea mays
R
Alimentação
39
Mulateiro
Calycophyllum
spruceanum
F
Construções em Geral
27
Pariri
Arrabidaea chica
C*
Medicinal
1
Pataua
Oenocarpus bataua
F
Construções em Geral
e Alimentação
3
Pau d’arco
Tebebuia
impetiginosa
F
Construções em Geral
17
Picão
Bidens pilosa
Q R C*
Medicinal
1
Pinhão Branco
e roxo
Jatropha curcas
Q R - C
Medicinal
31
Pupunha
Bactris gasipaes
Q
Alimentação
11
Quariquara
Minquartia
guianensis
F
Construções em Geral
26
Quina Quina
Aspidosperma sp
Q, F
Construções em Geral
9
Relógio
Sida rhombifolia
Q C
Medicinal
6
Rinchão
Stachytarpheta
jamaicensis
Q
Medicinal
11
Sabugueiro
Sambucus nigra
Q
Medicinal
1
Seringa
Hevea brasiliensis
F
Produção de borracha
9
Sucuuba
Hymatanthus
drasticus
F
Construções em Geral
5
Tabaco
Nicotiana tabacum
R
Consumo e venda
8
Tauari
Couratari
oblongifolia
F
Construções em Geral
14
Titica
Heteropsis flexuosa
F
Objetos artesanais
3
Trevo Roxo
Hyptis atrorubens
Q
Medicinal
1
Unha de Gato
Uncaria tomentosa
F
Medicinal
12
Urucum
Bixa orellana
Q R C
Alimentação
22
Valmoura
Hamelia patens
Q
Medicinal
1
Vassorinha
Scoparia dulcis
Q C*
Medicinal
36
Q quintais; R roçado; C capoeira; C* - campo; FM Florestal Madeireira; FNM Florestal não
madeireira.
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