84
Se, como já foi destacado anteriormente, Peirce relacionou a Semiótica à Lógica,
tratando-as como análogas e chegando a dizer que ambas são sinônimas, convém destacarmos
aqui que este autor propôs a divisão triádica também da referida ciência. Segundo ele,
a lógica (...) tem três departamentos. Lógica obsistente, lógica em sentido estrito, ou
Lógica Crítica, (...) é a teoria das condições de verdade. Lógica Originaliana, ou
Gramática Especulativa, é a doutrina das condições gerais dos símbolos e outros
signos que têm o caráter significante. (...). Lógica Transuasional, que denomino de
Retórica Especulativa, é substancialmente, aquilo que é conhecido pelo nome de
metodologia ou, melhor, metodêutica. (PEIRCE, 2000, p.29)
Não contemplaremos aqui um estudo desse levantamento relativo à tripartição da
Semiótica. O enfoque dado à teoria Semiótica peirceana se concentrará no levantamento das
características das três tricotomias basilares de sua teoria, não sem antes destacarmos o
conceito de signo.
O termo signo para Peirce (2000) é usado para significar um objeto que se pode
perceber ou somente imaginar. A prerrogativa para que algo possa se instituir como signo é
que esse algo represente outra coisa. Assim,
[...] um signo, ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo,
representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa,
um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado
denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu
objeto. Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a
um tipo de ideia, que eu, por vezes, denominei fundamento do representâmen.
(PEIRCE, 2000, p.48)
Através desta noção de Peirce podemos depreender que o signo ou representâmen
apresenta-se intrinsecamente ligado ao fundamento, ao objeto e ao interpretante. Tal conexão
explica a divisão da Semiótica em três ramos, a saber, a gramática pura, a lógica, e a retórica
pura. Parece-nos haver uma relação direta entre fundamento e gramática pura, entre objeto e
lógica, e, por fim, o interpretante e a retórica pura.
Os preceitos semióticos peirceanos declaram que os signos são divisíveis em três
tricotomias básicas
23
, sendo que estas se destacam pelo fato de terem sido extensa e
exaustivamente tratadas por Peirce, o que acarretou uma sedimentação teórica muito
significativa das mesmas (PINTO, 1995, p.59).
Ressaltamos que cada uma dessas tricotomias é definida de acordo com os elementos
da relação de representação. Portanto, a primeira tricotomia baseia-se, de acordo com Pinto
23
No livro Semiótica consta que, por volta de 1906, e no desenvolvimento de seus estudos, Peirce verificou a
existência de dez tricotomias, totalizando, então, sessenta e seis classes de signos. (PEIRCE, 2000, p.51)